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Índice

Introdução..........................................................................................................................3

Objectivos do trabalho.......................................................................................................4

Metodologias.....................................................................................................................5

Administração pública “sentidos desta expressão”...........................................................6

Conceito do Estado moderno.............................................................................................8

Estado e administração pública.........................................................................................8

Modelos de administração pública....................................................................................9

Modelo patrimonial...........................................................................................................9

Modelo burocrático.........................................................................................................10

Modelo gerencial.............................................................................................................10

Evolução histórica da administração pública em Moçambique......................................12

Processo de formação e desenvolvimento do Estado moçambicano...............................12

Período de vigência do sistema colonial (1884/5 - 1975)...............................................12

Processo de luta anti-colonial..........................................................................................13

Transição do regime colonial rumo á independência política: Governo de Transição


(1974 – 1975)..................................................................................................................13

A independência política e a trajectória do Estado moçambicano (1975 - 2006)...........14

Edificação do Estado socialista (1975 - 1986)................................................................14

Reconstrução do Estado sob signo do liberalismo (1986 - 1994)...................................15

Transição democrática e consolidação de instituições democráticas (1994 -2001)........15

Considerações finais........................................................................................................16

Referências bibliográficas...............................................................................................17

1. Introdução
3

A Administração Pública Moçambicana vem passando por mudanças em termos


tecnológicos, políticos, sociais e económicos, buscando um modelo de gestão baseado
nos princípios da Nova Gestão Pública (NGP), que têm suas raízes ideológicas nos
governos conservadores de Reagan e Thatcher, (Jacobsen, 2005). Essas mudanças são
resultado das exigências políticas em relação a actuação do Estado, elas não são
dirigidas a uma tomada de poder de Estado, mas argumentam a favor do direito de todos
serem incluídos na vida pública da sua própria sociedade, não são apenas mudanças
estruturais, mas também tentativas de mudar os processos, (Abrahamsson & Nilsson,
1998; Ferlie et al., 1999).

Jacobsen (2005), refere que as causas para essas mudanças variam substancialmente de
nação para nação, mas existe um consenso em mencionar-se como principais, a
globalização financeira, os deficits fiscais, o ajustamento estrutural e a democracia,
(Bangura 2000; Bresser Pereira, 1997; Penengo, 1997). Autores como Homes & Shand
apud Abrúcio (1996) e Huntington apud Bresser Pereira (1997), aumentam a questão da
ingovernabilidade, ao argumentarem que os governos estavam inaptos para resolver os
seus problemas.

É no âmbito destas mudanças, que o País passou de um modelo de economia


centralizada com base na iniciativa do Estado, para uma economia de mercado com base
na iniciativa privada. Transitou-se de um modelo de Estado unitário centralizado,
autocrático para um Estado pluritário, democrático gradualmente descentralizado e no
qual foram consolidadas as relações regulares entre o Executivo e o Parlamento,
(CIRESP, 2001; Nipassa, 2009 & De Renzio, 2011).

1.1.1. Objectivos do trabalho


4

Objectivos geral

 Problematizar os contornos dos modelos de gestão pública em Moçambique.

Objectivos específicos

 Identificar os modelos de gestão da administração pública;


 Contextualizar os aspectos históricos da administração pública em Moçambique;
 Conhecer as novas perspectivas da administração pública em Moçambique.

1.1.2. Metodologias
5

Segundo Gil (2002), pode-se definir pesquisa como o processo formal e sistemático de
desenvolvimento do método científico, tendo como objectivo fundamental, descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. A pesquisa
busca o progresso da ciência, procura desenvolver os conhecimentos científicos sem a
preocupação directa com suas aplicações e consequências práticas.

Fazer pesquisa é defender uma ideia, fundamentando-a com bibliografias, observando-


se, deste modo, que a pesquisa não é neutra, baseando-se em colecta, análise e
interpretação de dados. É neste tratamento de investigação dos pensamentos e acções
que se busca um determinado conhecimento.

Neste sentido, Rother (2007, p. 2), afirma que “os artigos de revisão, assim como outras
categorias de artigos científicos, são uma forma de pesquisa que utilizam de fontes de
informação bibliográficas ou electrónicas para obtenção de resultados de pesquisas de
outros autores, com o objectivo de fundamentar teoricamente um determinado
objectivo”.

Quanto ao método, Richardson (1999) descreve como sendo o caminho pelo qual se
chega a determinado resultado, ainda que esse caminho não tenha sido fixado de
antemão de modo reflectido e deliberado. Na ciência os métodos constituem os
instrumentos básicos que ordenam de início o pensamento em sistemas, traçando de
modo ordenado a forma de proceder do cientista ao longo de um percurso para alcançar
um objectivo.

1.1.3. Administração pública “sentidos desta expressão”


6

A administração pública é o aparelhamento do Estado, organizado para a realização de


seus serviços, visando à satisfação das necessidades colectivas. Para Meirelles (1994, p.
55), o estudo da administração pública em geral, “compreendendo a sua estrutura e as
suas actividades, deve partir do conceito de Estado, sobre o qual repousa toda a
concepção moderna de organização e funcionamento dos serviços públicos a serem
prestados aos administrados”.

O termo administração pública, devido à amplitude de seu campo de actuação, carrega


diferenciações em sua conceituação, conforme a especificidade que se pretende
apresentar em determinada situação. Junquilho (2010, p. 16), ressalta que “definir o
conceito de Administração Pública não é fácil, dada a sua amplitude e complexidade”.
Isso faz com que esse conceito seja desdobrado [incluindo a grafia] para englobar a
amplitude de sua expressão e, assim, contemplar diversas referências. Em sentido
amplo, refere-se ao conjunto de órgãos de governo com função política e de órgãos
administrativos, com função administrativa. Em sentido estrito, define-se a
Administração Pública como o conjunto de órgãos, entidades e agentes públicos que
desempenham a função administrativa do Estado.

Segundo Paludo (2012), o sentido amplo compreende tanto o governo responsável por
tomar as decisões políticas a estrutura administrativa, bem como à administração que
executa essas decisões. Já o sentido estrito compreende apenas as funções
administrativas relacionadas à execução dos programas de governo, prestação de
serviços e demais actividades.

A expressão administração pública “além de suas divisões em sentido amplo e sentido


estrito e sua diferenciação gráfica” é tratada e diferenciada em
subjectivo/orgânico/formal em sua essência, relacionado aos órgãos da administração
pública e pelos termos objectivo/material/funcional em sua essência, relacionado às
actividades executadas pela administração, (Meirelles, 2001).

Meirelles (2001) diferencia esses dois termos e destaca a respeito:

“Um, normalmente chamado de subjectivo, orgânico ou formal, no qual essa


expressão compreenderia as pessoas jurídicas, seus órgãos e agentes que
executam a actividade administrativa; outro, conhecido como objectivo,
material, operacional ou funcional, compreendendo a actividade empreendida
por esses agentes”, (Meirelles, 2001, p. 59).
7

Pessoa (2003) descreve que a Administração Pública, em seu sentido orgânico ou


subjectivo, designa a estruturação e organização dos órgãos, repartições, unidades e
entidades Públicas. Cretella Júnior (1966), lembra que em:

“Adoptando-se o critério subjectivo ou orgânico, administração é o complexo


de órgãos aos quais se confiam funções administrativas, é a soma das acções e
manifestações da vontade do Estado, submetidas à direcção do chefe do
Estado”, (Cretella Júnior, 1966, p. 24).

Ao considerar o sentido subjectivo, esse engloba a estrutura administrativa, conjunto de


órgãos da administração que são utilizados para atender à sociedade na execução das
funções administrativas:

“O sentido subjectivo/formal/orgânico: corresponde ao conjunto de pessoas


jurídicas e órgãos públicos criado para realizar a função administrativa do
Estado, cujas actividades são desempenhadas pelos seus agentes portanto,
nesse sentido, temos as pessoas jurídicas de Direito Público Interno, as
pessoas jurídicas da Administração indirecta, os órgãos da Administração
directa e os agentes públicos. O conjunto orgânico corresponde à
Administração Pública directa e indirecta dos três poderes”, (Paludo, 2012, p.
21-22).

A Administração Pública, tomada pelo sentido objectivo ou material, designa as


próprias actividades administrativas do Estado. Sobre isso, Cretella Júnior (1966),
destaca que ao se decidir pelo critério objectivo, considera-se “a administração como a
actividade concreta do Estado dirigida à consecução das necessidades colectivas de
modo directo e imediato”, (Cretella Júnior, 1966, p. 24).

Desse modo, faz referência à função administrativa. Ou seja, às actividades realizadas


pela administração para o atendimento aos cidadãos, bem como às actividades de sua
própria existência, o que para Bobbio, Mattteucci e Pasquino (1986, p. 10) é designado
como “o conjunto das actividades directamente destinadas à execução concreta das
tarefas ou incumbências consideradas de interesse público ou comum, numa
colectividade ou organização estatal”.

2. Conceito do Estado moderno


8

Segundo Bobbio (1983), o conceito de Estado não é universal, daí a existência de


diferentes acepções. Todavia, serve para referir-se a uma forma de ordenamento político
surgida na Europa a partir do século XIII, até fins do século XVIII ou inícios do século
XIX, tendo em conta pressupostos e motivos específicos inerentes ao processo da
história europeia. Posteriormente, se estendeu libertando-se das suas condições originais
e concretas de seu nascimento, passando a fazer parte de todo o mundo civilizado.

“A partir do sucesso diferente e dos vários graus de domínio que as velhas e


novas forças sociais apresentaram, surgiram as diferenças verificadas em
diversos países e em diversos momentos históricos em torno do modo geral de
organização das relações sociais, como variantes do mesmo modelo geral de
Estado, detentor do monopólio da força legitima”, (Sousa; Garcia &
Carvalho, 1998, p. 428).

Ao se inteirarem sobre o Estado, Boudon e Bourricaud (2000) argumentam que há uma


dificuldade de defini-lo, por que: (1) sua concepção associa, arbitrariamente, o ponto de
vista normativo e o descritivo; (2) o Estado pode designar uma forma política e
historicamente definida; (3) a definição do Estado coloca o problema inerente à lista e à
morfologia de seus órgãos, (Bouden & Bourricaud, 2000). Muitas vezes confundem-se
os órgãos do Estado tais como a Administração Pública 1, o governo, as instituições
públicas, etc. Com o próprio Estado. Gramsci (2000), por exemplo, considera Estado ao
conjunto de instituições por meio das quais a classe dominante garante o exercesse do
seu poder e influência sobre o povo. De acordo com esse autor, as instituições estatais
abarcam o aparato político-administrativo, incluindo outras instituições que,
independentemente da sua natureza, difundem a cultura e a ideologia estatal.

2.1.1. Estado e administração pública

As relações entre o Estado e a administração pública estão cada vez mais revigoradas,
por meio da intrínseca complementaridade entre seus órgãos, o que contribui para
intensificar a confusão entre os dois aparatos. No contexto do Estado racional moderno,
a administração pública e a burocracia racional-legal caminham juntas, (Prates, 2007),
com o intuito de responder às demandas emanadas do ambiente social, por meio de suas
estruturas institucionais. Por conseguinte, o exercício das funções básicas e, ou sociais
do Estado, com vista à efectivação de políticas públicas, é garantido através de órgãos
de administração pública que corporizam o aparelho burocrático.
9

“O rigor, a administração pública constitui um fenómeno do Estado moderno


no qual a burocracia, com maior ou menor grau de racionalidade legal,
passou a ser a estrutura predominante de administração. Assim, pode-se
afirmar que o marco definitivo do surgimento da administração de natureza
pública seja o advento do Estado burocrático moderno”, (Prates, 2007, p.
118).

De acordo com Heady (1970, p. 13), “a administração pública como um aspecto da


actividade governamental existe desde que os sistemas políticos funcionam e tentam
alcançar os objectivos programados e estabelecidos pelos que tomam decisões
políticas”. A administração pública é vista como o desempenho perene e sistemático,
legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em prol da
colectividade, (Meirelles, 1993).

Assim, a administração pública refere-se ao conjunto de órgãos e de servidores,


suportados através de recursos públicos, cujas actividades são realizadas com base em
regras impessoais e legais, responsáveis pela tomada de decisões e implementação das
políticas, assim como as normas e acções necessárias na gestão da coisa pública para o
alcance do bem-estar social.

2.1.2. Modelos de administração pública

Caiden (1991), revela que existe uma relação intrínseca entre o momento político
paradigmático e os modelos de gestão pública. Neste sentido, as reformas, operadas no
seio do aparato estatal, pressupõem a reestruturação administrativa com base num
determinado paradigma estatal, visto que a administração pública é responsável pelo
funcionamento das instituições do Estado na sua globalidade. Assim, em estreita ligação
com a modernização das instituições estatais, a administração do Estado evoluiu
baseando-se em três modelos: administração pública patrimonial, burocrática e
gerencial.

2.1.3. Modelo patrimonial

O aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano. A


característica principal é a indistinção entre a “res publica” (coisa pública, património
do povo) e a “res principis” (património do príncipe ou do soberano). Essa indistinção
colabora para que haja uma grande confusão entre o património público e o privado e
essa confusão proporciona aos Soberanos um cenário propício para a apropriação
10

indevida dos bens públicos. A corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de
administração, (Bresser-Pereira, 1998).

Conforme Paludo (2012), mesmo de forma desorganizada, o patrimonialismo foi o


primeiro modelo de administração do Estado. Neste modelo administrativo não havia
distinção entre a administração de bens públicos e bens particulares: “tudo que existia
nos limites territoriais de seu “reinado” era tido como domínio do soberano, que podia
utilizar livremente os bens sem qualquer prestação de contas à sociedade”, (Paludo,
2012, p. 50).

3. Modelo burocrático

O surgimento da burocracia moderna, no século XIX, está ligado, também, à


necessidade que o poder estatal teve de se afirmar, em oposição a poderes feudais ou
regionais. Neste contexto, processou-se a substituição das formas patrimonialistas de
administrar o Estado, por meio de uma reorganização do Estado sob perspectiva
burocrática, (Bresser-Pereira, 2002). Na perspectiva de Motta e Bresser-Pereira, (1986,
p. 9):

“A organização burocrática é o tipo de sistema social dominante nas sociedades


modernas; é uma estratégia de administração e de dominação; é fruto e berço da
burocracia, com a qual pode inclusive ser identificada. A burocracia pode constituir-se
em um grupo ou uma classe social, mas é também uma forma de poder que se estrutura
através das organizações burocráticas”.

3.1.1. Modelo gerencial

A administração gerencial surge com o objectivo de corrigir as disfunções da


burocracia. Possui um posicionamento que privilegia a inovação, contrariando a
administração burocrática, com mecanismos de gestão que valorizam o cidadão,
objectivando oferecer serviços de qualidade. Um novo modelo de Administração
baseado “em valores de eficiência, eficácia e competitividade”, (Secchi, 2009, 354).

A administração pública gerencial é orientada para o cidadão. Barzelay (1992, p. 8)


diferencia os momentos e foco ao referir que “a agência burocrática concentra-se em
suas próprias necessidades e perspectivas, a agência orientada para o consumidor
concentra-se nas necessidades e perspectivas do consumidor”. Esse tipo de
administração parte do princípio de que é preciso combater o nepotismo e a corrupção,
11

mas que, para isso, não são necessários procedimentos rígidos, (Bresser-Pereira &
Spink, 2006, p. 29).

De acordo com Prado (2011, p. 264), “a emergência do gerencialismo se deveu à crise


de credibilidade que a administração pública atravessava em vários países, abrindo
espaço para uma demanda crescente por práticas da administração empresarial”. A
abordagem gerencial, também conhecida como “nova administração pública:

“Parte do reconhecimento de que os Estados democráticos contemporâneos não são


simples instrumentos para garantir a propriedade e os contratos, mas formulam e
implementam políticas públicas estratégicas para suas respectivas sociedades tanto na
área social quanto na científica e tecnológica. E para isso é necessário que o Estado
utilize práticas gerenciais modernas, sem perder de vista sua função eminentemente
pública”, (Bresser-Pereira & Spink, 2006, p. 7).

Os autores acima citados ressaltam que “à nova administração pública não basta ser
efetiva em evitar o nepotismo e a corrupção: ela tem de ser eficiente ao prover bens
públicos e semipúblicos, que cabe ao Estado diretamente produzir ou indiretamente
financiar” (2006, p. 27).

Patrimonialismo Burocracia Gerencialismo


Apadrinhamento Individualismo; Especialização; Divisão do trabalho; Flexibilidade;
Cada caso considerado pessoalmente; Padronização; e Rotinização do Transparência; Uso de
Cada caso é uma excepção em trabalho. práticas gerenciais do sector
potencialismo; Orientação legal Impessoalidade; Privado no domínio público;
Características Dominação tradicional sem base legal. Profissionalismo; Maior transparência na acção
Excesso de formalidade Baixo do Estado; Efectividade e
desempenho. qualidade.

Objectivos Emprego Racionalidade Economia Busca resgatar a cidadania


gerais Bem-estar do empregado Tratamento Eficiência
preferencial
Consequências Baixa capacidade de atingir objectivos Bem-estar do empregado Igualdade Torna menos rígida a
administração pública
Quadro1: Síntese dos três principais modelos administrativos. Fonte: Bresser-Pereira
(1998); Oliveira (2002).

3.1.2. Evolução histórica da administração pública em Moçambique

Dentro da região austral da África está situada a República de Moçambique, um Estado


cuja independência política foi alcançada em 1975, deixando por essa via de ser colónia
portuguesa. Depois da consumação deste fato histórico, o governo instituído procurou
12

criar ou construir instituições fortes para consolidar esse Estado, numa trajectória que
conheceu fases distintas obedecendo a certa lógica administrativa de acordo com seu
posicionamento ideológico.

3.1.3. Processo de formação e desenvolvimento do Estado moçambicano

A análise da evolução do Estado moçambicano é fundamental para se poder


compreender o seu processo de reforma política e administrativa dentro do período em
estudo (1975 - 2006), identificando: as similitudes entre os ciclos de reforma e os
principais modelos de administração pública; as características que o sector público
adquiriu em decorrência das reformas estatais; a lógica administrativa do Estado através
da análise do desenvolvimento sócio histórico das instituições políticas; e algumas
especificidades que contribuem para as mudanças institucionais.

4. Período de vigência do sistema colonial (1884/5 - 1975)

Embora a presença portuguesa em Moçambique que era constituído, inicialmente, por


Estados ciânicos e chefaturas tenha sido iniciada no século XV, altura em que se
desenvolviam algumas actividades comerciais na costa moçambicana (onde tinham sido
criadas feitorias e entrepostos comerciais), o processo de institucionalização do poder
político-administrativo colonial começou no século XIX.

Segundo Hedges (1999), a implantação do sistema administrativo colonial processou-se


em diferentes fases, nas diversas partes do país, o que revela que foi um processo
gradual que obedeceu a vários estágios. Ainda no começo do século XIX, entre 1884 e
1885, teve lugar a Conferência de Berlim (Alemanha) aonde se reuniram várias
potências europeias para se tomar à decisão sobre a partilha de África. Como resultado
desse evento, coube a Portugal as terras que constituem o Estado moçambicano, dentre
outras ao nível do continente africano (UEM, 1988).

Na sequência, Portugal ocupou efectivamente tais territórios tendo delimitado o espaço


geográfico de Moçambique, em Maio de 1891.

4.1.1. Processo de luta anti-colonial

Em 1962, objectivando pôr fim à opressão secular portuguesa, três movimentos (União
Democrática Nacional de Moçambique - UDENAMO; União Nacional Africana para
Moçambique Independente - UNAMI; Mozambique National African Union - MANU)
13

constituídos no exílio uniram-se, passando a designar-se de Frente de Libertação de


Moçambique (FRELIMO) sob a liderança de Eduardo Mondlane. Assim, a FRELIMO
congregou todas as camadas patrióticas da sociedade moçambicana num mesmo ideal
de liberdade, unidade, justiça e progresso, (Moçambique, 1990).

Dois anos depois, em 1964, a FRELIMO iniciou a luta de libertação nacional mostrando
claramente que buscava instaurar uma nova ordem social que devia ser contrária a
defendida pelos colonizadores, (Reis, 1975). A independência não, apenas, equivalia à
soberania política, mas, também, deveria levar a uma nova sociedade, reestruturada e
planejada para servir necessidades das grandes massas, principalmente as massas
camponesas, (Borges, 2001). O processo de luta armada alvejava a liquidação do
colonialismo e a transformação revolucionária da sociedade, (Buendia, 1999).

4.1.2. Transição do regime colonial rumo á independência política: Governo de


Transição (1974 – 1975)

Os acordos de Lusaka estabeleceram os passos que seriam seguidos até a obtenção


formal da independência política, cuja data21 foi determinada no contexto das
negociações entre as partes envolvidas. A série de questões abordadas, entre a delegação
portuguesa e da FRELIMO, com vista a solucionar o conflito incluía a transição política
de um regime colonial à um novo que estivesse livre da dominação estrangeira. Essas
negociações resultaram na fixação de sete de Setembro de 1974 como data para término
do conflito.

Entre a assinatura desses acordos e a declaração da independência “houve apenas nove


meses de administração provisória, (Newitt, 1995, p.466). Essa administração foi
marcada pela presença de membros seniores da FRELIMO num governo que ficou
conhecido por Governo de Transição, devido à sua missão histórica de transferência
progressiva e completa de poderes do sistema colonialista ao povo moçambicano,
(Buendia, 1999).

4.1.3. A independência política e a trajectória do Estado moçambicano (1975 -


2006)
14

No período pós-independência, Moçambique sofreu abruptas transformações de modo a


dotar os sistemas políticos e administrativo do Estado de mecanismos capazes de lhe
conferir maior racionalidade. Procurou-se, sempre, criar um aparato para servir de
catalisador do progresso social. As mudanças nesse sentido iniciaram com a tentativa de
implantação de um Estado socialista, prosseguiram com o processo de liberalização
política dentro do quadro da democratização que é acompanhada por uma ampla
reestruturação do sector público.

O fim do Sistema colonial em Moçambique, que se deu através da independência


política, constitui a primeira transição política. Essa ruptura com a velha ordem
significou a construção de um novo Estado. A segunda geração de reforma política
inicia com a adopção de medidas inseridas no liberalismo económico acelerado pela
globalização. A terceira transição política foi inaugurada com o advento do processo de
democratização, que se deu com o colapso do regime monopartidário e a consequente
abertura política. Nesta geração de reformas, tem se focalizado a reestruturação
administrativa do Estado para impulsionar o desenvolvimento socioeconómico deste
país.

5. Edificação do Estado socialista (1975 - 1986)

Nas vésperas da passagem definitiva do poder, por parte do governo português, ao povo
moçambicano, a cúpula da FRELIMO (Comité Central) reuniu-se na sua VII Sessão, no
Tofo, na Província de Inhambane, com o intuito de definir as orientações básicas do
Estado, sua natureza e fins do poder estatal, do poder da aliança operário-camponesa,
para edificar a nova sociedade. Nesse encontro, foi aprovada a Constituição da
República Popular de Moçambique24 (CRPM) que estabeleceu as directrizes básicas do
Estado, onde são definidas as estruturas do poder do Estado (FRELIMO, 1976).

A seguir, foi proclamada a independência política, no dia 25 de Junho de 1975, que


representou não apenas um marco histórico, mas também e, fundamentalmente, o
cumprimento de uma etapa essencial do ideal de construir uma nação sólida,
(FRELIMO, 1999).

5.1.1. Reconstrução do Estado sob signo do liberalismo (1986 - 1994)


15

No que tange à periodização das reformas estatais em Moçambique, o ano de 1986 é


considerado como o momento que marca o início da segunda fase da reforma do Estado
(transição do sistema socialista ao sistema liberal). Nesse ano, dá-se início a um
processo de reformas económicas, políticas e sociais, que se desencadearam, com a
revisão profunda do modelo político implantado após a proclamação da independência
nacional.

“O contexto, porém, de liberalização política e económica em que essa reconstrução


começou a ser efectuada implicou em condições particularmente difíceis: o Estado, ao
mesmo tempo em que precisava se reconstruir – repor e (re) legitimar perante a
população, sua presença administrativa na maior parte do território nacional - devia
também se “retirar” da economia, se “democratizar” nas suas relações com a
sociedade e se “internacionalizar” se integrar na economia e política regional e
internacional em linha com as exigências de um ambiente globalizado”, (Viera, 2005,
p. 187).

5.1.2. Transição democrática e consolidação de instituições democráticas (1994


-2001)

Conforme constatação feita na sessão anterior, o sistema monolítico entrou em colapso,


nos finais da década de 1980, devido a uma série de factores que possibilitaram a
transição para a democracia. O cenário político institucional sofreu alterações para que
o país passasse a funcionar de acordo com os princípios democráticos. Foi criada uma
estrutura institucional, cuja configuração se adequa ao sistema democrático que se
encontra, ainda, em processo de fortalecimento. Essas mudanças político-estruturais
mobilizaram alterações de atitude concernentes aos padrões político-culturais
moçambicanos.

“Elaborou-se um “paradigma de transição” para a democratização, em parte com base na


experiência, mas principalmente com base nas expectativas gerais. O paradigma indica
globalmente que a transição de uma forma autocrática de governação para a democracia
atravessa três fases: abertura, catalisação e consolidação. Em Moçambique as primeiras duas
fases coincidiram com o processo de paz. A aprovação de uma nova constituição (1990) e as
negociações de paz podem ser consideradas como a abertura. A implementação do Acordo Geral
de Paz e as primeiras eleições multipartidárias constituem, de acordo com a lógica de transição, a
fase da catalisação. O que restava era a consolidação da jovem democracia”, (Tollenaere, 2002,
p. 229).

6. Considerações finais
16

O estudo nos permite identificar a importância da Administração Pública no quotidiano


do cidadão. Nos mostra como a Administração pode prejudicar a colectividade quando
age de forma a beneficiar determinados grupos tendo a “pessoalidade” como critério na
tomada de decisões. Nos mostra os benefícios que uma Administração Pública
consciente e “actualizada” pode trazer para a população a qual administra.

A revisão conceitual de características marcantes dos modelos administrativos também


nos permite identificar o quão é importante termos uma Administração que evolua em
suas acções sem perder, é claro, sua característica principal que é ser pública.

De frisar que este trabalho foi realizado com o intuito de identificar diferentes
momentos histórico-políticos do Estado moçambicano e as principais transformações
administrativas que incidiram sobre este Estado no contexto sócio-político das reformas
estatais. O Estudo partiu do pressuposto de que, a compreensão dos processos de
mudanças políticas, em Moçambique, requer uma análise do contexto em que se
operaram tais mudanças, destacando o impacto da colonização, da implantação do
modelo socialista e da sua substituição pelo modelo liberal.

Apesar das limitações deste trabalho, foi possível identificar a dinâmica da lógica
administrativa seguida pelo Estado moçambicano durante o seu percurso histórico.

Entre 1975 e 2006, o Estado que é focalizado nesta análise sofreu abruptas
transformações no âmbito do seu sistema político-administrativo. Nas etapas centrais da
transformação e desenvolvimento institucional, destacam-se: 1) a tentativa de edificação
de um Estado socialista; 2) a reforma resultante da adopção do modelo liberal; 3) a
consolidação do novo quadro político e económico; 4) a adequação do aparato estatal ao
sistema de democracia multipartidária.

7. Referências bibliográficas
17

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história de desenvolvimento durante 1974 – 1992. Maputo: Gegraf, 1994.
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5. Abrucio, F. L. Os avanços e os dilemas do modelo pós-democrático: a reforma da
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Fiscal, Managerial and Capacity-Building Reforms. Occasional Paper nº 3, Geneva,
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