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USP – Escola de Comunicações e Artes

Departamento de Biblioteconomia e Documentação


Disciplina: Representação Descritiva
Professora: Cristina Dotta Ortega (crortega@usp.br)
2o semestre de 2006 6a feira

CÓDIGO DE LOCALIZAÇÃO DO DOCUMENTO

O código de localização é composto por um grupo de elementos que


objetiva remeter a representação do documento – realizada na descrição
bibliográfica – à localização espacial do mesmo em uma determinada coleção (de
uma biblioteca ou rede de bibliotecas ou outras unidades de informação). Por este
motivo, este código deve individualizar (ou singularizar) o documento, ou seja,
tornando-o único em todo o sistema, de modo a possibilitar os processos de
controle e de acesso aos documentos da coleção.
A princípio, as bibliotecas utilizavam uma localização fixa dos documentos,
isto é, os mesmos eram organizados de acordo com seu tamanho e ordem de
chegada, possuindo, portanto, um lugar permanente na estante. Tal prática
impossibilitava o acesso direto às estantes pelos usuários. Por isso, passou a ser
difundido em bibliotecas o método da localização relativa, que consiste no arranjo
dos documentos de acordo com as relações de assunto existentes entre eles, de
forma que possa haver descarte ou incorporação de documentos sem que a
seqüência de assuntos seja afetada. Com este arranjo, os usuários passaram a
realizar suas buscas a documentos de interesse pelo acesso às estantes.
Deve-se considerar que, a esta época, os catálogos eram inexistentes ou
embrionários e, portanto, não havia representação dos documentos satisfatória de
forma a evitar ou diminuir a busca pela estante, ou seja, por browsing. Com o
maior uso dos catálogos, decorrentes da sedimentação de regras de catalogação,
do desenvolvimento da catalogação cooperativa e da incorporação dos avanços
da tecnologia eletrônica e de telecomunicações, o código de localização passou a
assumir, cada vez mais, o papel de ligação (ou de relacionamento) entre a
representação do documento e o próprio. Neste modelo de organização, o
instrumento de busca é prioritariamente o catálogo e não a estante de
documentos. Isto é mais comum em bibliotecas e centros de documentação
especializados onde os documentos representam poucos assuntos genéricos que
os distingam, tornando pouco útil uma organização de documentos por assuntos;
por outro lado, este tipo de organização é mais adequado em coleções de
bibliotecas em que os assuntos são mais diversos e/ou o público demanda
também a busca e exploração de documentos pelas estantes (como a
comunidade em geral e o público infantil).
Com a inserção do texto completo do documento no catálogo, este código
de localização perdeu sua utilidade, pois o objeto físico “documento” e sua
representação estão ancorados no mesmo ambiente informacional e relacionados
entre si. Desta forma, ocorrem apenas codificações realizadas pelo sistema

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informatizado entre cada documento e sua representação em toda a coleção nele
armazenada.
No caso das coleções tradicionais, alguns métodos para a composição do
código de localização do documento adotam critérios como:
- ordem de chegada do documento na coleção (critério cronológico ou
seqüencial)
- por assunto e autor
- por tipo de material, assunto e autor,
- por tipo de material e ordem de chegada
Contudo, o método que se consagrou em bibliotecas de coleções
compostas por documentos convencionais (em especial, obras de referência e
livros) é aquele nomeado número de chamada, e que é constituído
essencialmente por elementos que representam um assunto genérico e a
indicação de autoria.

A estrutura básica do número de chamada é a que segue:

Código relativo ao assunto genérico do


Código de classificação documento, retirado de um sistema de
classificação. Objetiva reunir na estante, de forma
relativa, todos os documentos de mesmo assunto
ou de assuntos correlatos.

Código relativo à indicação de autoria (ou ao


Notação de autor título, caso seja este o ponto de acesso principal
determinado na descrição bibliográfica do
documento). Possibilita a inclusão de informações
a respeito do idioma, forma (comentário,
dicionário, enciclopédia, etc.) e outros
responsáveis (tradutor, biógrafo, etc.) do
documento, de forma a distingui-lo de outros com
o mesmo código de classificação.

Elementos adotados para finalizar a


Outros elementos de individualização do documento quando
individualização necessário: n. da edição, n. do volume, data de
publicação, n. do exemplar no acervo, ou ainda,
para indicar a disposição de tipos de documentos
distintos em espaços separados.

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Código de classificação:
Os códigos que representam os assuntos são retirados de sistemas de
classificação, os quais consistem em listas estruturadas de assuntos
representados por notações numéricas ou alfanuméricas.
Os dois grandes sistemas de classificação internacionalmente empregados
são a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal
(CDU), que foi inicialmente baseada na CDD.
Há ainda sistemas adotados por bibliotecas que participam de redes
temáticas de informação, como o sistema de classificação da National Library of
Medicine (NLM), dos Estados Unidos. Também bastante conhecido é o sistema de
classificação da Library of Congress (LC), também dos Estados Unidos, uma vez
ser esta biblioteca depositária de coleção significativa em termos internacionais.
Os sistemas de classificação inicialmente objetivavam possibilitar a
localização de um documento por seu assunto e a organização dos mesmos no
espaço da biblioteca. Contudo, estes sistemas foram amplamente desenvolvidos
posteriormente de forma a virem a se constituir em linguagens para representação
e recuperação da informação dos documentos.
Por este motivo, este tópico será tratado em disciplina relativa ao
tratamento do conteúdo dos documentos.

Notação de autor:
Código que representa a indicação de autoria ou o título, segundo aquele
determinado como ponto de acesso principal na catalogação do documento.
Charles Ami Cutter criou, em 1880, a primeira tabela numérica para
representar nomes de autores. A esta tabela, seguiu-se a de Cutter-Sanborn,
elaborada por Kate Sanborn, e a segunda tabela do próprio Cutter, ambas
utilizando três algarismos.
A tabela de Cutter-Sanborn, mais conhecida como “Tabela Cutter”, embora
seja amplamente empregada no Brasil, é mais adequada aos nomes de língua
inglesa. Pode-se dizer que a versão brasileira da Tabela Cutter – a Tabela PHA –
surgiu em 1964, de autoria da bibliotecária Heloísa de Almeida Prado. Esta tabela
apresenta uma melhor distribuição dos números para os nomes portugueses e
brasileiros.
Em geral, a notação de autor se faz pela inicial do sobrenome do autor – no
caso de autor pessoal – seguida dos três algarismos correspondentes
encontrados na tabela. Considera-se as iniciais da entidade no caso de autor
corporativo, e do título, dependendo do ponto de acesso principal.
Apesar do grande uso destas tabelas, outros métodos são adotados para a
determinação da notação do autor. Como o objetivo é individualizar o documento
em uma dada coleção, muitas bibliotecas utilizam apenas o código formado pelas
três primeiras letras do sobrenome do autor. Por exemplo:
Albuquerque, Lins (ponto de acesso principal de autor): ALB
Planejamento...... (ponto de acesso principal de título): PLA

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De qualquer forma, deve-se consultar o catálogo para verificar se a
notação de autor utilizada vai possibilitar a formação de uma codificação que
individualize o documento na coleção.

Orientações para uso das tabelas de notação de autor:

1. Procurar na tabela o grupo de letras correspondente às primeiras letras do


sobrenome do autor (ou primeiras letras do ponto de acesso principal) e
verificar o número a ele correspondente. Ex.:
Cutter=C991
Tabela: Cutt 991

2. Se as primeiras letras do nome não constarem na tabela, usar o número


correspondente às letras mais próximas alfabeticamente anteriores. Ex.:
Campello=C193
Tabela: Campe 193
Campen 194

3. Se o número encontrado já tiver sido usado, sugere-se acrescentar à tabela


um outro, porém sempre em forma decimal. Recomenda-se não usar o
número 0 pois este pode ser confundido com a letra O. Ex.:
Sanchez, Jaime=S211
Sanchez, Raul=S2113 (criado)

4. Inicialmente, a notação do autor era composta como citada acima, mas era
recomendado que se acrescentasse a primeira letra do título após os três
algarismos retirados da tabela de autor, no caso de bibliotecas maiores,
para garantir maiores possibilidades de singularização do número de
chamada (ver LEHNUS, 1978). Contudo, atualmente, as bibliotecas que
utilizam o número de chamada incluem a primeira letra do título. Ex.:

autor: Sanchez, Jaime n. de chamada: 370.98


tíitulo: Historia de la educación en América Latina S211h

5. Se houver dois ou mais títulos do mesmo autor classificados sob o mesmo


código e se suas iniciais coincidirem, diferenciá-los acrescentando outra
letra do título. Ex.:

autor: Pérez Galdós, Benito n. de chamada: 863.5


tíitulo: Cánovas P438c

autor: Pérez Galdós, Benito n. de chamada: 863.5


tíitulo: Los cién mil hijos de San Luís P438ci

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6. No caso de autores que escrevem séries de livros cujos títulos se iniciam
com as mesmas palavras, acrescentar outra letra de palavras significativas
do título ou acrescentar números. Ex.:

autor: Hergé
títulos: Tintim no Tibete
Tintim na América

respectivamente:
843 ou 843
H545tt H545t

843 ou 843
H545ta H545t2

7. Para traduções, pode-se usar codificação especial que as reúna por seu
título original. Ex.:

autor: Laski, H. J. n. de chamada: 320


tíitulo: El Estado en la teoría y en la práctica L345s.Eh
título original: The state in theory and practice
tradutor: Vicente Herrero

onde:
L=Laski (sobrenome do autor do documento)
s=state (primeira palavra significativa do título original)
E=idioma espanhol (idioma da tradução)
h=Herrero (sobrenome do tradutor)

8. Para biografias, distingue-se o biógrafo e o biografado da seguinte maneira:

autor: Monduci, A. n. de chamada: B869.1


tíitulo: Henriqueta Lisboa, vida e obra L769m

onde:
L=Lisboa (sobrenome do biografado)
m=Monduci (sobrenome do biógrafo)

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9. Para livros anônimos e para publicações institucionais, publicações oficiais
e congêneres, não finalizar a notação de autor pela primeira letra do título.
Exs.:

autor: Brasil. Ministério do Planejamento n. de chamada: 309.23


tíitulo: Metas e bases de ação do Governo B823

título: Enciclopédia Mirador Internacional n. de chamada: 030


E56

autor anônimo n. de chamada: 398.21


título: O livro das mil e uma noites M788
tíitulo uniforme:Mil e uma noites

10. Outros elementos distintivos:

 indicação relativa a tipos de documentos distintos, que se queira armazenar


em separado:
R (para documentos de referência)
015

AV (para documentos audiovisuais)


025.32

 indicação de edições distintas de uma mesma obra:


002
R666d (primeira edição)

002
R666d
2. ed. (segunda edição)

 indicação de data, no caso de congressos, conferências e outros eventos,


que se repetem em períodos estabelecidos:
020.6381
C749a
1987

020.6381
C749a
1989

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 indicação de volume, no caso de obras publicadas em mais de um volume:
036.9
E56
3. ed.
v. 1

036.9
E56
3. ed.
v. 2

 indicação de exemplar, no caso da existência de mais de um exemplar do


mesmo documento na coleção; é a última codificação do número de
chamada:
002 (primeiro exemplar)
R666d
v. 1

002 (segundo exemplar)


R666d
v. 2
ex. 2

O arranjo dos documentos na estante segue, após a seqüência dos códigos de


classificação, a ordem decimal da notação de autor que é apresentada nas
tabelas. Exs.:
869
L23p

869
L233p

BIBLIOGRAFIA:

LEHNUS, Donald J. Notação de autor: manual para bibliotecas. Rio de Janeiro:


BNG/Brasilart, 1978.
MEY, Eliane Serrão Alves. Introdução à catalogação. Brasília: Briquet de
Lemos/Livros, 1995.
PRADO, Heloísa de Almeida. Tabela "PHA": para individualizar os autores dentro
das diversas classes de assunto, isto é, dentro dos mesmos números de
classificação. 3. ed. rev. São Paulo: T.A. Queiroz, 2001. 109 p.

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