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Atividade prática: Densidade de sólidos homogêneos e regulares

1. Objetivos
2. Introdução
3. Procedimento experimental
4. Análise de dados
5. Referências
6. Apêndice: Propagação de incertezas
7. Apêndice: Análise dos resultados
8. Apêndice: Valores medidos para as grandezas de interesse

1. Objetivos

O objetivo desta atividade consiste em medir a densidade de objetos sólidos


homogêneos e regulares, em particular, cilindros metálicos. A densidade de um sólido não
pode ser obtida a partir de uma medição direta; é preciso medir a massa e o volume do
objeto para em seguida determinar sua densidade. Portanto, o valor da densidade e sua
incerteza irão depender de outras duas medições, ou, em outras palavras, a avaliação de
incerteza para a densidade é do tipo C. Esse processo leva à propagação (combinação)
de incertezas que iremos estudar nesta aula. Também iremos discutir como combinar
medições com diferentes incertezas e a compatibilidade entre duas medições ou entre
uma medição e um valor esperado.

2. Introdução

A densidade de um sólido homogêneo é definida por:

onde m é a massa do sólido e V é o seu volume (para condições fixadas de temperatura,


pressão, umidade do ar, etc.). Para a identificação de um material, a incerteza na densidade
é tão importante quanto o próprio valor medido. Por exemplo, se a densidade obtida de
um plástico X é ρX = 1,15 g/cm3 e a incerteza correspondente é uX = 0,20g/cm3, o resultado
é praticamente inútil para a identificação do plástico, pois a grande maioria dos plásticos
têm densidades entre 0,9 g/cm3 e 1,4 g/cm3. Se, por outro lado, a incerteza é
uX = 0,052 g/cm3, então o número de possibilidades é bem menor e o plástico pode ser
identificado com a ajuda de outros critérios mais simples, tais como transparência,
consistência e coloração. Assim, podemos perceber a necessidade de uma teoria para a
propagação das incertezas das medições diretas (volume e massa) para obter a densidade
e, em particular, o cálculo da incerteza no resultado final.

3. Procedimento Experimental

A parte experimental desta aula consiste em determinar a massa m e o volume V


de um cilindro metálico. A massa é determinada por meio de balanças e o volume deve
ser calculado a partir das dimensões geométricas do sólido, medidas por meio de fitas,
réguas e paquímetros. O volume será também aferido diretamente por meio de um copo
béquer contendo água.
Cada equipe receberá um cilindro metálico, uma fita métrica, uma régua, um
paquímetro e um copo béquer. Serão disponibilizadas balanças digitais e recipientes com
água para encher parcialmente os béqueres.
Cada equipe deverá proceder a 4 determinações diferentes da densidade do sólido,
envolvendo determinações indiretas e diretas do volume.

Determinação 1:
Meçam primeiramente a massa do sólido utilizando uma balança digital. Meçam
suas dimensões (altura e circunferência) com uma fita métrica. Determinem um modelo
de medição para ρ, que contemple explicitamente as grandezas medidas.

Determinação 2:
Meçam as dimensões do cilindro (altura e diâmetro) utilizando uma régua.
Determinem um novo modelo de medição para ρ, que contemple explicitamente as
grandezas medidas (utilize o valor da massa precedentemente aferido).

Determinação 3:
Meçam as dimensões do cilindro (altura e diâmetro) utilizando um paquímetro.
Determinem um novo modelo de medição para ρ, que contemple explicitamente as
grandezas medidas (utilize o valor da massa precedentemente aferido).

Determinação 4:
Desta vez, utilize o béquer parcialmente preenchido com água e mergulhe nele o
cilindro para determinar diretamente o volume do sólido. Mais uma vez escrevam um
novo modelo de medição para ρ, contemplando explicitamente as grandezas medidas
diretamente (utilize o valor da massa precedentemente aferido).

Exemplo: No caso da Determinação 4 o modelo de medição é simplesmente:

Importante 1:
Como regra geral de procedimento em física experimental, é fundamental anotar
os dados da maneira mais clara e organizada possível. O significado de um determinado
número pode ser perfeitamente claro quando se faz a experiência, mas pode se tornar um
pouco obscuro alguns dias após e totalmente confuso depois de algumas semanas. O
melhor, neste caso, é desenhar uma figura para cada objeto (no caso em que meçam as
dimensões lineares de sólidos diferentes isso é ainda mais importante!), indicando as
grandezas relevantes (massa, comprimento, diâmetro, etc.) e posteriormente anotar em
tabelas os valores medidos de cada grandeza. Também devem ser anotadas as
características dos instrumentos utilizados, em particular, as resoluções.
Importante 2:
Determinem primeiramente a massa do objeto. Repitam algumas vezes a medição
da massa com a balança digital e confiram que as flutuações dos valores de m não são
significativas. Isto é, verifiquem que para m a avaliação de incerteza é do tipo B.
Repitam também algumas vezes as medições das dimensões do cilindro com a fita
métrica e o paquímetro e, mais uma vez, verifiquem que para tais grandezas a avaliação
de incerteza é do tipo B.
No caso da aferição do volume com o copo béquer, não é possível repetir a
medição, portanto, a avaliação de incerteza será necessariamente de tipo B.

Importante 3:
∆𝑟
Para avaliação de incerteza de tipo B: ux = , onde ∆r é a resolução do
√3
instrumento.

4. Análise de dados
Para determinar a densidade nas quatro situações propostas, determine a expressão
analítica do volume V do cilindro em função das dimensões medidas nas Determinações
1, 2, 3 e 4 (no caso da Determinação 4, o volume é aferido diretamente).

Exemplo: Na Determinação 1 medem-se a altura h e a circunferência c da base


do cilindro, portanto:

A partir disso, explicitem os modelos de medição, ou seja, expressem a densidade


como função das grandezas medidas diretamente.

Exemplo: Na Determinação 1, em virtude dos cálculos anteriores, obtém-se:

Organizem os resultados obtidos em cada situação em tabelas diferentes. Calculem


também as incertezas relativas sobre as grandezas medidas diretamente. Isso poderá
sucessivamente simplificar enormemente os cálculos relativos à propagação das
incertezas. Lembrem que as incertezas devem ser propagadas corretamente a partir das
incertezas das grandezas medidas diretamente. Leiam o Apêndice no final destas notas e
consultem o capítulo 8 da Ref. [1] e o capítulo 3 da Ref. [2].

Novamente com o auxílio da teoria de propagação das incertezas, determinem a


densidade do cilindro (e sua incerteza!), considerando as três situações.
Organizem os valores de densidade estimados nos quatro diferentes procedimentos
numa mesma tabela, a fim de comparar os resultados obtidos por instrumentos de medição
diferentes. Qual situação propiciou o resultado com menor incerteza? Por quê? Os
resultados são compatíveis, isto é, eles concordam entre si? Como podemos comparar os
resultados? Para serem considerados compatíveis é preciso que os valores numéricos das
medições sejam iguais? Que critério usar para definir a compatibilidade entre os
resultados?

Utilizando uma tabela de densidade de materiais (disponível, por exemplo, em


http://www.euroaktion.com.br/Tabela%20de%20Densidade%20dos%20Materiais.pdf),
identifiquem o material do cilindro a partir da compatibilidade do valor obtido com as
medições com o valor esperado. Os valores de densidade que vocês obtiveram permitiram
uma identificação do tipo de material (sem ambiguidades)? Todas as quatro situações de
medições realizadas permitem essa identificação? Discutam em detalhes.

5. Referências:
[1] J. H. Vuolo, Fundamentos da Teoria de Erros, Editora Edgard Blucher, São Paulo,
2ª edição (2012)
[2] J. R. Taylor, Introdução à Análise de Erros: O Estudo de Incertezas em Medições
Físicas, Editora Bookman, Porto Alegre (2012).

6. Apêndice: Propagação de incertezas

Quando medimos uma grandeza física de forma indireta, o resultado apresentará


uma incerteza final que dependerá das incertezas das grandezas (medidas diretamente),
que entram na definição matemática da grandeza em estudo. De que forma as incertezas
das grandezas de entrada irão influir na incerteza da grandeza de saída a ser determinada?
Para exemplificar, consideremos a Determinação 2 ou a Determinação 3 da
densidade do cilindro. Como sabemos, o modelo de medição é dado pela equação:

onde d e h são, respectivamente o diâmetro, e a altura do cilindro, medidos com o


paquímetro.
Fica claro, que a incerteza na densidade do cilindro depende das incertezas sobre o
diâmetro, sobre a altura e sobre a massa. Diâmetro, altura e massa influirão da mesma
maneira na incerteza da densidade?
A resposta é não, pois a densidade do cilindro varia com o diâmetro d de uma
maneira diferente do que varia com a altura h. Da mesma forma a densidade varia de
maneira diferente em relação à massa e ao diâmetro. Dessa forma, as influências de
diâmetro, altura e massa serão diferentes no resultado final.

Pode-se mostrar que a incerteza σw de uma grandeza hipotética w = w(x,y,z,...,),


que depende das variáveis x, y, z, ... , é dada pela equação:
onde os termos dentro dos parênteses são derivadas parciais da função w = w(x,y,z,...,)
com relação as variáveis x, y, z, ... . A soma quadrática pode ser justificada pelo fato de
que não seria razoável somá-las simplesmente, porque isto implicaria dizer que cada vez
que o efeito da grandeza x estivesse no seu extremo, as demais também deveriam estar.
Faria menos sentido ainda combiná-las com uma subtração, uma vez que quando
combinamos várias grandezas com incertezas, o resultado final deve ter uma incerteza
maior e não menor.

Ainda no exemplo do cálculo da densidade do cilindro na Determinação 2, a


incerteza uρ no cálculo da densidade é dada pela expressão:

onde as expressões dentro dos parênteses são os resultados das derivadas parciais de ρ
com relação a m, d e h, respectivamente.

Importante:
Muitas vezes é vantajoso calcular as incertezas relativas, pois isso simplifica os
cálculos da incerteza final. De fato, quando a incerteza relativa de uma (ou mais) das
grandezas de entrada é pelo menos uma ordem de grandeza menor em relação às outras
grandezas de entrada, a incerteza sobre tal grandeza pode ser desprezada.
7. Apêndice: Análise dos resultados

O objetivo deste trabalho é, com o uso de diferentes instrumentos de medição, determinar


um valor experimental para a densidade volumétrica de alguns sólidos, supostos
homogêneos. A partir dos dados obtidos, cabe avaliar qual procedimento de medição
permite identificar de forma melhor a densidade do material estudado.

Recomendações sempre úteis


• Reportem todos os dados experimentais de maneira correta, focando especialmente
na expressão das incertezas e, por consequência, no número de algarismos significativos.
Lembrem-se, por exemplo, que qualquer incerteza associada a uma medição tanto direta
quanto indireta deve ser expressa com, no máximo, 2 (dois) algarismos significativos.

• Não esqueçam das unidades de medida na apresentação de cada uma das medições
realizadas.

Essa atividade deve ser dividida essencialmente em quatro partes experimentais: a


primeira que envolve medições e resultados obtidos por meio de uma fita métrica e de
uma balança; a segunda que envolve medições e resultados obtidos utilizado uma balança
e uma régua; a terceira que envolve medições e resultados obtidos utilizado uma balança
e um paquímetro; a última que envolve medições e resultados obtidos por meio de uma
balança e de um copo béquer. A partir de medições diretas das dimensões dos objetos
estudados, assim como as de suas respectivas massas, devem ser obtidos valores para a
densidade ρ ± uρ, através dos procedimentos precedentemente mencionados.
É necessário deixar claro qual foi o modelo de medição adotado, ou seja, qual é a
expressão analítica utilizada para determinar a grandeza medida indiretamente como
função das grandezas medidas diretamente. Além disso, é fundamental descrever como
foram estimadas as incertezas sobre as grandezas de entrada e a grandeza de saída no
modelo de medição. Para isso deve ficar claro ao leitor quais são as hipóteses feitas para
cada determinação, ou seja, quais são as hipóteses e as limitações de cada modelo de
medição, dentre as quais podem ser citadas, por exemplo, a homogeneidade da
distribuição de massa dos objetos, assim como as características regulares de suas
geometrias.
Perante os resultados obtidos para as densidades, é importante comentar se os
procedimentos utilizados permitem identificar com clareza qual o material que constitui o
objeto. Caso não seja possível, é preciso comentar sobre o motivo disso (caso seja
conhecido) ou realizar alguma conjectura.

Exemplo: Algum dos procedimentos adotados permite a obtenção de medições com uma
menor incerteza associada? Se sim, expliquem o porquê e como isso se relaciona com a
boa identificação do material estudado.

Sobre o critério de compatibilidade


Em metrologia não se fala de igualdade ou diferença entre resultados de medições
para a mesma grandeza obtidos a partir de diferentes instrumentos ou técnicas.
Lembrando que os resultados de processos de medição são intervalo de valores, de
forma simples e rápida, podemos afirmar que dois resultados são compatíveis se os dois
intervalos têm pontos em comum, ou melhor, se a interseção não é vazia. Se a interseção
é vazia ainda há possibilidade de os resultados serem compatíveis, pois temos que lembrar
que o intervalo deve ser interpretado probabilisticamente. Esse argumento será tratado
com mais detalhes nas próximas aulas.
Vamos aqui enunciar o critério de compatibilidade que é adotado
convencionalmente na física experimental e que, portanto, será utilizado para analisar se
os diferentes resultados obtidos para a densidade são compatíveis entre si e eventualmente
com um valor de referência.
Supondo que os valores experimentais resumidos em x= x±ux e y= y±uy, diremos
que eles são compatíveis (confira o capítulo 5 da Ref. [2]) se:

|𝑥̅ − 𝑦̅|
≤ 2,5
√𝑢𝑥2 + 𝑢𝑦2

no caso contrário diremos que são discrepantes.


Se a grandeza y for um valor de referência o critério de compatibilidade é o mesmo.
Quando y é um valor exato, simplesmente o critério é utilizado considerando uy = 0.
8. Apêndice: Valores medidos para as grandezas de interesse

Todos os valores reportados abaixo foram aferidos diversas vezes e todas as leituras
obtidas com os diferentes instrumentos foram sempre iguais, por isso, um único valor para
cada grandeza é reportado a seguir.

m = 70 g → utilizando uma balança digital cuja resolução é 1 g

h = 5,000 cm → utilizando um paquímetro cuja resolução é 0,05 mm

h = 5,0 cm → utilizando uma régua cuja resolução é 1 mm

h = 5,0 cm → utilizando uma fita métrica cuja resolução é 1 mm

d = 2,550 cm → utilizando um paquímetro cuja resolução é 0,05 mm

d = 2,6 cm → utilizando uma régua cuja resolução é 1 mm

d = 2,5 cm → utilizando uma fita métrica cuja resolução é 1 mm

c = 8,4 cm → utilizando uma fita métrica cuja resolução é 1 mm

V = 30 ml → utilizando um copo béquer cuja resolução é 5 ml

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