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Notas de aula – Característica de carga do conversor buck

A curva característica de carga de um conversor CC-CC expressa a relação entre o ganho


estático (𝑀) do conversor e a carga que alimenta, levando em consideração os modos de
condução descontínua e contínua, e tornando evidente a operação crítica, que ocorre no limite
da descontinuidade.
Para se obter a curva característica de carga do conversor buck, considere a priori o
modo de condução descontínua (MCD). Durante um período de operação 𝑇, a variação do fluxo
magnético no indutor é constante, de modo que:
𝑡on 𝑡d
∫ 𝑣𝐿 (𝑡)𝑑𝑡 = ∫ 𝑣𝐿 (𝑡 ′ )𝑑𝑡 ′ (1)
0 0
(𝑉𝑖 − 𝑉𝑜 ) ⋅ 𝑡on = 𝑉𝑜 ⋅ 𝑡𝑑 (2)
em que
𝑡on = 𝐷𝑇 é o tempo de condução da primeira etapa de operação no intervalo 0 < 𝑡 < 𝑡on ,
i.e., quando a chave é fechada e conduz a corrente 𝑖𝑆 durante uma razão cíclica 𝐷;
𝑡d é o tempo de condução descontínua da segunda etapa de operação durante o intervalo
0 < 𝑡 ′ < 𝑡d , i.e., quando o diodo está diretamente polarizado e conduz uma corrente 𝑖𝐷 ;
𝑉𝑖 é a tensão média de entrada;
𝑉𝑜 é a tensão média de saída.
A equação (2) pode ser obtida também analisando a área da curva de 𝑣𝐿 ilustrada na
Figura 1, ou seja, determinando o valor médio de 𝑣𝐿 , ou seja, 𝑉𝐿 = 0, durante o período de
operação 𝑇.
1 1
[(𝑉𝑖 − 𝑉𝑜 ) ⋅ 𝑡on ] + (−𝑉𝑜 ⋅ 𝑡𝑑 ) = 0 (3)
𝑇 𝑇
De (2) ou (3), obtém-se:
𝑉𝑖 − 𝑉𝑜
𝑡𝑑 = ⋅ 𝑡on (4)
𝑉𝑜
iS iD

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

-0.1

vL

40

20

-20

-40

-60

-80

0.0396 0.0397 0.0398 0.0399 0.04


Time (s)

Figura 1. Formas de onda de 𝑖𝑆 , 𝑖𝐷 e 𝑣𝐿 do conversor buck durante operação MCD, em que


𝑉𝑖 = 100 V e 𝑉𝑜 = 60 V.

Sabe-se que corrente média de saída 𝐼𝑜 é igual à corrente média do indutor 𝐼𝐿 , logo se
analisa as áreas das curvas de 𝑖𝑆 e 𝑖𝐷 , e verifica-se que
1 𝑡on 𝐼𝑀 1 𝑡𝑑 𝐼𝑀
𝐼𝑜 = 𝐼𝐿 = 𝐼𝑆 + 𝐼𝐷 = ⋅ + ⋅ (5)
𝑇 2 𝑇 2
em que 𝐼𝑀 é a corrente máxima do indutor. Além disso, durante a etapa de carregamento do
indutor, verifica-se que
𝑉𝑖 − 𝑉𝑜
𝑖𝑆 (𝑡) = 𝐼𝑚 + 𝑡 (6)
𝐿
𝑉𝑖 − 𝑉𝑜
𝑖𝑆 (𝑡 = 𝑡on ) = 𝐼𝑀 = 𝐼𝑚 + 𝑡on (7)
𝐿
em que 𝐼𝑚 é a corrente mínima do indutor. Considerando a operação MCD, tem-se 𝐼𝑚 = 0,
portanto, de (7), tem-se:
𝑉𝑖 − 𝑉𝑜 𝑉𝑖 − 𝑉𝑜
𝐼𝑀 = 𝑡on = 𝐷𝑇 (8)
𝐿 𝐿
Substituindo (4) e (8) em (5), obtêm-se:
𝑇𝑉𝑖 𝑉𝑖 (9)
𝐼𝑜 = ⋅ ( − 1) 𝐷 2
2𝐿 𝑉𝑜
2𝐿 1
𝐼𝑜 = 𝛾 = ( − 1) 𝐷 2 (10)
𝑇𝑉𝑖 𝑉𝑜 /𝑉𝑖
Vale lembrar que o ganho estático de um conversor é representado por 𝑀 = 𝑉𝑜 /𝑉𝑖 de
modo que, para o buck, 𝑀 = 𝐷 é válido na operação MCC até a região crítica de operação.
No limite da descontinuidade, sabe-se que 𝑀 = 𝑎, em que 𝑎 = 𝐸𝑐 /𝑉𝑖 para 𝐸𝑐 uma
tensão no lado da carga (e.g., tensão interna ou f.e.m.). Assim, a equação (10) pode ser reescrita
como
1 1
𝛾=( − 1) 𝐷 2 ⇒ 𝛾 = ( − 1) 𝐷 2 (11)
𝑉𝑜 /𝑉𝑖 𝑎
Para se obter a curva que descreve o limite entre as regiões entre MCD e MCC,
representa-se 𝛾 em função de 𝑎, lembrando que no limite da descontinuidade pode-se
considerar
𝑀=𝐷⇒𝐷=𝑎 (12)
Substituindo (12) em (11), obtém-se:
𝛾 = 𝑎 − 𝑎2 (13)
Observe que (13) descreve a relação entre o ganho estático no limite da
2𝐿
descontinuidade, ou seja, 𝑉𝑜 /𝑉𝑖 = 𝑎, e a carga representada por 𝛾 = 𝑇𝑉 𝐼𝑜 . A partir de (13),
𝑖
plota-se a curva ilustrada na Figura 2.
Portanto, na operação MCD, a partir de (10), o ganho estático em função de 𝐷 é
expresso por
𝑉𝑜 𝐷2
= 2 (14)
𝑉𝑖 𝐷 + 𝛾
enquanto, na operação MCC, tem-se
𝑉𝑜
=𝐷 (15)
𝑉𝑖
A partir de (14) e (15), plota-se a Figura 3 com base na Figura 2. Observa-se que a curva
tracejada (a operação no limite da descontinuidade) divide as regiões de operação MCD e MCC.
Além disso, pode-se verificar, na Figura 3, a resposta de conversor buck para vários valores de
razão cíclica.
Figura 2. Curva característica de carga no limite da descontinuidade do conversor buck.

Figura 3. Curva característica de carga do conversor buck para vários valores de razão cíclica.

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