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Tradução: Cris /Isis

Revisão Inicial: Ana Cláudia/Cibele


Revisão final: Hígia
Leitura Inicial: Mitra
Leitura Final: Monaisa/Taciana
Formatação: Kytzia/Cibele
Disponibilização: Grupo Rhealeza Traduções
02/2019
O amor pode fazer truques em seu coração...

Depois de cumprir vários anos no Corpo de Fuzileiros dos Estados


Unidos, o sargento Tucker Patton decide pendurar seu uniforme e ir
trabalhar em uma firma de investigação privada de propriedade de seu
amigo. Suas malas estão prontas e ele está com o pé fora da porta quando
uma visita muda tudo.

Em vez de ir para a Carolina do Norte, ele se dirige à cidade de New


York para, literalmente, entrar na vida de seu irmão gêmeo, que morreu em
circunstâncias suspeitas. Mas fingir ser outra pessoa não é fácil.

Especialmente quando a pessoa que você deveria ser, está morta.

Não só isso, mas ele está saindo da sua feliz vida de solteiro para viver
com a mulher de seu irmão. Uma advogada tensa e arrogante.

****

Charlotte Rose Carter não tem tempo para diversão e brincadeira. Ela
se formou com honras e fez todos os movimentos certos fora da faculdade
para alavancar sua carreira como uma jovem advogada de sucesso. Ela
ainda conseguiu o solteiro mais cobiçado do mundo corporativo de New
York.

Então, e se o relacionamento dela e de Max não estiver pegando fogo?


Então, e se a vida deles não for lida como um capítulo de um romance
emocionante? Este é o mundo real, e no mundo real essa coisa é apenas
fantasia.

...Até que não seja.

De repente, apenas o leve toque ou um simples olhar de Max faz seu


coração dar cambalhotas. De repente, o relacionamento sem brilho começa
a acender e Charlotte se vê amarrada em um nó de desejo.

Mas ela não tem ideia sobre os truques sendo jogados bem debaixo do
seu pequeno e alegre nariz.

ealeza
PRÓLOGO

Max

A s portas do elevador se abriram com apenas um som. A luz

amarelada brilhava do teto de concreto e iluminava tudo com um brilho


fraco enquanto eu entrava no estacionamento do subsolo. Era tarde, mas
isso não era novidade. Eu trabalhava até tarde todas as noites.

A maioria das vagas de estacionamento tinham sido desocupadas


horas atrás, as pessoas estavam indo para casa, para suas famílias ou para a
academia para desestressar. Eu não tinha tempo para desestressar. Eu
estava muito ocupado construindo uma carreira.

E então, o FBI apareceu na minha porta.

Eles ameaçaram minha carreira. Eles ameaçaram a minha reputação.


O meu nome.

Eu não tive escolha, a não ser fazer o que eles pediram.

O som baixo de um tumulto atrás de mim me fez olhar por cima do


meu ombro enquanto eu caminhava. Não havia ninguém lá, mas isso não
impediu que os pelos do meu braço se eriçassem. Eu fiquei paranoico nos
últimos meses. No entanto, parecia que as pessoas paranoicas eram assim
por algum motivo.

Eu acelerei meus passos e peguei as chaves do meu Lincoln MKZ


preto do meu bolso. Elas deslizaram dos meus dedos e fizeram um som
estridente no pavimento frio. Eu me abaixei para recuperá-las, percebendo
o movimento de uma sombra sob um carro a várias fileiras de distância.
Eu sabia que a minha paranoia não estava apenas na minha cabeça.

Pegando as chaves, andei até meu carro e deslizei para trás do


volante, jogando minha pasta no banco de trás. Pouco antes de ligar o
motor, ouvi outro motor rugir para a vida.

Meu coração pulou na minha garganta e bateu desconfortavelmente


enquanto eu saía com o carro rapidamente do estacionamento. Por causa
do tamanho e da forma da garagem, acelerar como eu queria era quase
impossível. Ao virar a esquina para o próximo corredor de carros, meu pé
pairou ansiosamente sobre o pedal do acelerador.

Um sedã escuro de quatro portas saiu atrás de mim. Eu olhei para o


meu espelho retrovisor, observando o brilho sinistro das luzes do veículo.

Eu não acelerei porque eu não queria dar qualquer indicação de que


eu sabia que o carro lá atrás era uma ameaça para mim. Quanto mais tempo
eu pudesse encenar, melhor eu estaria.

Concentrando-me na próxima curva, guiei o MKZ para o canto,


observando a maneira como as luzes do corredor tremeluziam como um
filme de terror ruim. Eu tinha certeza de que se baixasse a janela ouviria o
zumbido da conexão elétrica ruim que mal mantinha as luzes acesas.

Um ruído repentino e o solavanco do meu carro me fez olhar ao


redor, pela janela de trás.

—Merda! —Eu gritei, incapaz de conter o nervosismo girando


dentro de mim. O veículo bateu na traseira mais uma vez, empurrando
meu carro para frente e fazendo com que ele derrapasse levemente. Segurei
o volante com força e lutei pelo controle enquanto o lado do passageiro do
MKZ por pouco não atingia uma grande divisória de concreto.

Como se estivesse dirigindo como uma avó.

Meu pé bateu no acelerador e o motor respondeu imediatamente. O


carro disparou para frente enquanto eu girava o volante, pegando ainda
outra curva. Merda! Até onde eu tenho que ir para chegar ao nível da rua?
Não parece que demorou tanto tempo para chegar aqui.

Claro, eu não estava sendo perseguido.

O Lincoln lidou bem, mas a velocidade e a força da curva fizeram


com que a traseira se chocasse contra um dos carros estacionados nas
proximidades. O som de metal esmagando e vidro quebrando encheu o ar
e eu cerrei os dentes e pisei no acelerador novamente.

Meu carro derrapou para frente, e a saída para a rua apareceu.


Mantendo o volante firme, concentrei-me em sair para a rua.

O sedã preto atrás me atingiu novamente e um xingamento alto saiu


da minha garganta. Eu sabia que as chances de ser pego eram altas, mas
nunca pensei que elas viriam até mim assim.

O som de um motor acelerando me fez olhar pelo espelho


retrovisor, notando novamente o quão perigosamente perto o carro estava
de me atingir.

Meu pé manteve o acelerador pressionado durante todo o caminho,


enquanto eu arrebentava o pequeno portão onde eu deveria parar e
devolver o bilhete do estacionamento na máquina. Eu não tinha tempo
para essa merda.

O som de metal rangendo e madeira quebrando me seguiu quando o


carro preto acelerou da saída do estacionamento para o tráfego que se
aproximava. Motoristas ao meu redor buzinavam furiosamente, gritando
sua raiva quando eu cheguei ao centro da rua com o MKZ, não prestando
atenção nas linhas amarelas que dividiam o asfalto.

O som de metal esmagando contra metal me fez estremecer, mas eu


não parei para avaliar o dano que causei. Em vez disso, continuei dirigindo.
A fumaça da queima dos meus pneus permaneceu no ar, enquanto eu
corria pela estrada. As poucas pessoas nas calçadas pararam para olhar e as
luzes acesas das ruas projetavam sombras atrás delas, fazendo todos os
prédios parecerem escuros e sinistros.

Uma verificação rápida no espelho retrovisor me disse que eu ainda


estava sendo perseguido. Afrouxei a gravata em volta do meu pescoço e
respirei fundo, porém, sem desacelerar. O suor escorria pelas minhas costas
e se acumulava em minhas axilas, e meu coração batia tão rapidamente que
parecia que poderia explodir a qualquer momento.

O semáforo em um cruzamento logo à frente ficou vermelho,


sinalizando que era hora de parar. Mas eu não consegui parar. Em vez
disso, atravessei a via de quatro pistas, por pouco não batendo em alguns
carros e quase perdendo o controle do volante.

Minhas mãos estavam suadas. Meu aperto deslizando.

—Porra! —Eu rugi quando o carro atrás de mim não parou.

Eu fiz uma curva muito brusca e a traseira virou, literalmente indo


para o lado no meio de uma rua. Onde diabos estão os policiais? Eu não deveria
ao menos ouvir sirenes agora? Eu estava dirigindo como um maldito maníaco.

Dentro do bolso do meu paletó estava meu celular e eu tirei e


apertei um botão.

—Sim? —A voz veio na linha.

—Eles sabem. —Eu disse, endireitando o veículo e correndo pela


rua.

—Onde você está? —Ele perguntou, calmo.

—No meu carro. Eles estão me seguindo. Tenho certeza que eles
não querem conversar.

Como se para pontuar minhas palavras, meu carro foi atingido


novamente. A força do golpe me empurrou para frente quando o meu
cinto de segurança apertou tão fortemente que foi doloroso contra o meu
peito. Todo o ar saiu do meu corpo e eu ofeguei por mais.

—Onde está a prova?

—Em algum lugar seguro.

—Onde! —A voz exigiu.

Uma calma mortal tomou conta de mim. Era o medo. Era a


verdade. Era o meu futuro. Eu poderia estar falando com o mocinho
agora... mas até os mocinhos às vezes quebram as regras. Se eu lhe dissesse
onde o item que ele queria estava, ele me deixaria morrer. Ele me
consideraria nada mais que um dano colateral.

—Envie ajuda. Então eu mesmo vou te mostrar onde está. —Eu


disse, minha voz soando estranha aos meus próprios ouvidos. No meio de
tanto caos, muita adrenalina correndo pelas minhas veias, eu parecia quase
entediado.

—Onde você está? —Ele perguntou, e eu pude ouvir papéis sendo


arrastados e o movimento das cadeiras ao fundo.

Eu dei a ele a minha localização e a direção em que eu estava indo.


—É melhor você chegar aqui rápido.

—Estamos a caminho. —Disse ele secamente.

O alívio momentâneo que senti me fez perder o foco e fui para o


meio-fio, atingindo um poste de eletricidade de madeira marrom que
pareceu surgir do nada. O impacto foi forte, fazendo-me voar para frente e
bater a cabeça no volante. O impulso me jogou de volta ao meu lugar, e eu
pisquei através de olhos lacrimejantes no meu carro agora imóvel.

Os airbags não haviam sido acionados. Isso era bom, certo? Isso
significava que o carro não estava tão mal que eu não conseguiria continuar
dirigindo.
Tentando me livrar da dor de cabeça e náusea que estavam me
atingindo com força, olhei através do para-brisa para frente do meu carro.
Foi destruído. Uma bagunça quebrada. Um dos faróis quebrou e não
funcionava mais e o motor estava fazendo um som estranho de chiado.

—Max. —O homem disse através do celular, que havia caído no


banco do passageiro após o impacto.

Eu peguei o celular e segurei no meu ouvido. —Ainda estou aqui.

—Diga-me onde está. —Ele pediu, desespero tomando conta de seu


tom.

Eu virei minha cabeça para o lado, olhando pela janela, e vi. O sedã
preto estava parado não muito longe. As janelas estavam tão escuras que
ver o interior era impossível. Mas não importava quem era.

Eu sabia quem me queria morto.

A porta do lado do passageiro se abriu e um sapato preto saiu,


seguido pelo resto do corpo de um homem vestindo um terno preto. Havia
uma arma na mão dele.

Ver a arma me trouxe de volta à realidade e eu me apressei,


colocando o carro em marcha ré. Ficar parado aqui era como convidar a
morte.

—Max! —O homem no outro lado da linha chamou.

Eu sabia que tinha que contar a ele. Eu não poderia usar minha vida
como moeda de troca pela verdade. Eu sabia que isso era perigoso quando
assinei. Eu sabia que isso era uma possibilidade.

Eu nunca pensei que iria falhar.

Eu recuei rapidamente, o carro saindo da calçada com um estrondo.


Engatei a marcha e comecei a me afastar quando o homem e sua arma me
alcançaram. Uma bala atravessou a janela de trás, quebrando o vidro.
—Max! Porra! Conte-me!

—Está a caminho.

—Que diabos isso significa? —Ele rugiu.

As balas continuavam vindo, uma delas perfurando o pneu traseiro.


O veículo inteiro ficou instável quando o pneu chiou e fez um barulho alto.
Eu não ia parar. Eu não podia.

Eu dirigi pela rua, o aro faiscando contra o pavimento, fazendo


parecer que eu estava soltando algum tipo de fogo de artifício pela janela
traseira.

—A ajuda está a caminho, Max. —O homem prometeu, e eu


acreditei nele. Mas eu não pensei mais que eles chegariam a tempo. —Por
favor, me diga onde está.

Eu abri minha boca para contar a ele. Para dizer a ele exatamente o
que ele queria saber.

Mas as palavras nunca foram ditas.

O sedã preto veio do nada, batendo na traseira do meu carro, me


fazendo girar em uma pirueta na calçada. Eu girei em grandes círculos,
como se o carro estivesse em um par de patins de gelo e isso fosse algum
tipo de show. E então eu bati em um hidrante.

O MKZ virou e começou a rolar pela rua, todas as janelas


quebradas, o vidro espalhando em todas as direções. O celular voou da
minha mão e meus olhos já não viam.

É verdade o que dizem.

Sua vida realmente passa diante de seus olhos antes de morrer.

Memórias de ser jovem, ser despreocupado, inundaram minha


cabeça. Eu não sentia mais os ferimentos que estavam latejando em meu
corpo. Não sentia mais o vidro cortando minha pele ou o puxão de um
cinto de segurança apertado demais.

Eu vi meu primeiro animal de estimação, meus pais, meu velho


treinador de beisebol.

E então o carro parou de girar. Aterrissou em uma pilha em algum


lugar da rua. Até que eu ouvi sirenes em algum lugar à distância.

Os guinchos de pneus me fizeram piscar, passando pela viscosidade


úmida que estava em meus olhos. Os homens ainda estavam aqui,
esperando para ver se eu sairia daquele desastre, esperando para ver se
tinham que terminar o trabalho.

Um rosto exatamente como o meu brilhou em meus pensamentos.


Mas não era eu que eu estava vendo. Era meu irmão. Meu gêmeo. Tão
parecidos e tão diferentes.

Eu não podia morrer por nada. Eu não podia deixá-los fugir com o
que eles fizeram.

Eu tossi, testando minha voz. —Ache o Tucker. —Eu disse, minha


voz um mero sussurro. Isso não foi bom o suficiente.

—Ache o Tucker! —Eu disse, pronunciando as três palavras o mais


alto que pude. A dor atravessou minhas entranhas. Tudo doía... doía muito.

Se aquele celular ainda estivesse em algum lugar dentro desse carro,


se ainda estivesse funcionando, eles me ouviriam. Eles saberiam o que
fazer.

Se havia alguém que podia terminar esse trabalho, era Tucker.

De repente, me arrependi de todas as horas que passei trabalhando.


Todo o tempo que eu deixei escapar. Quando foi a última vez que vi meu
irmão? Um ano? Dois?

Mesmo assim, eu sabia que ele viria.


Eu só não estaria aqui quando ele chegasse.

O cheiro forte de gasolina rompeu minha névoa de dor e


lembranças, e eu comecei a lutar para tentar me libertar. Consegui me livrar
do cinto de segurança e meu corpo caiu sobre o teto do carro. A janela do
lado do motorista estava estourada e eu alcancei a abertura, pronto para
usar toda a minha força para me arrastar.

Quando minha cabeça chegou à janela, pisquei para a noite,


procurando o cara com a arma. Ninguém estava lá. Nem mesmo o sedã
escuro. Eles estavam do outro lado dos destroços. Eles não me viram
tentando me libertar.

O som das sirenes aumentou, insistente e alto, e eu dei um suspiro


de alívio quando soube que eles estavam muito perto. Talvez aqueles não
tenham sido meus últimos minutos. Talvez eu realmente saísse disso.

Esperança era como bálsamo para o meu corpo esfarrapado. Senti


meus lábios secos e rachados se abrirem em um sorriso.

Esses idiotas estavam afundando. E eu estava recebendo uma


segunda chance. Uma segunda chance na vida. Eu não iria trabalhar dessa
vez. Desta vez eu ia viver.

Meu tronco passou pelos destroços e parei para respirar.

Uma súbita explosão de calor me pegou desprevenido. Amarelo


brilhante e laranja explodiram na minha visão. Antes que eu pudesse
registrar qualquer dor intensa, a explosão derreteu completamente meu
corpo e transformou-o em cinzas.

Não haveria segunda chance para mim, afinal.


CAPÍTULO 1

Tucker

Minha boca parecia estar cheia de algodão. Você sabe aquela


sensação seca, mas um pouco pegajosa? Movi minha língua e a esfreguei
contra o céu da minha boca e parecia como algodão.

Eu resmunguei e abri meus olhos apenas para imediatamente fechá-


los novamente. Eu não estava pronto para o amanhecer. Merda, quanto eu
bebi ontem à noite? Meu corpo ainda estava pesado de sono, meus membros
não querendo cooperar para eu levantar.

Um dos meus braços estava escancarado e eu o puxei para esfregar a


mão no meu rosto sonolento, esperando que isso me acordasse um pouco
mais. Eu sabia que precisava me levantar... Eu simplesmente não conseguia
pensar em qual era o motivo.

Algo se mexeu ao meu lado e senti as cobertas se erguerem e caírem.


O som suave de passos chegou aos meus ouvidos. Não era uma coisa. Era
uma pessoa.

Eu vim para a casa de alguém ontem à noite.

Abrindo meus olhos de novo, olhei para a esquerda a tempo de ver


uma mulher vestindo apenas uma calcinha rosa indo para o banheiro ao
lado e silenciosamente fechando a porta. Bem, agora me lembrei do motivo
pelo qual a acompanhei para casa.

Sua bunda era deliciosa.

Flashes vagos da noite passada filtraram-se através da minha


memória nebulosa embebida de cerveja, de pele contra pele e uma risada
baixa e sedutora. Qual era o nome dela mesmo? Veronica? Violet? Merda,
eu não tinha ideia.

Empurrando de lado as cobertas, eu joguei minhas pernas para o


lado do colchão e olhei para baixo. Eu estava nu. Procurei minhas roupas,
que estavam em uma pilha perto da porta do quarto.

Deve ter sido pressa para ficar nu. Eu sorri. Eu estava sempre com
pressa de ficar nu. Especialmente quando eu estava com uma mulher com
uma bunda assim.

Olhei de relance para a porta fechada do banheiro enquanto a


descarga era acionada e a água da torneira era aberta. Essa era a minha
sugestão para sair. Eu já tinha vestido minha cueca boxer e meu jeans
quando a porta se abriu.

Sair apressado pela porta com a camiseta na mão parecia um pouco


imaturo, então eu me virei. E, cara, eu dei uma olhada. Não havia nenhuma
maneira no mundo que seus seios fossem reais. Eles eram perfeitos demais.
Seios grandes, redondos e sedosos. Abaixo deles vinha uma barriga lisa
com um piercing que refletia a luz em seu umbigo. A calcinha rosa ainda
estava no lugar, mas deixava pouco à imaginação e suas pernas longas e
bronzeadas se estendiam até o chão.

Seu cabelo era escuro, suas feições exóticas e seus lábios eram
cheios.

Mesmo bêbado, eu tinha bom gosto.

Acenei com o queixo, um pequeno gesto de “tudo bem” e coloquei


minha camiseta por cima do ombro.

—Saindo tão cedo? —Ela perguntou, atravessando o tapete em


minha direção.
Eu nem fingi não olhar para os seios dela. Merda, isso tinha sido um
caso de uma noite só. Ela poderia pensar o quanto quisesse que sou um
cafajeste. Inferno, ela estaria certa.

Claro, ela claramente não era o tipo de garota que se ofenderia com
meus olhos errantes. Ela caminhou até mim, passou os braços em volta da
minha cintura nua e apertou os seios perfeitos contra o meu peito. Então
ela se esfregou como se fosse um gato e eu o seu poste sendo arranhado.

—Você não quer ficar para o café da manhã? —Ela ronronou.

—Eu gostaria, mas não posso. Tenho um lugar para ir.

A mulher, cujo nome pode ou não ser Veronica, recuou e balançou


sua bunda pela sala até uma mesa de cabeceira de madeira ao lado da cama.
Ela se inclinou para frente, me dando uma visão perfeita do seu traseiro
enquanto rabiscava algo em um pedaço de papel.

Eu considerei ficar mais tempo, mas se eu fizesse isso, ela pensaria


que isso poderia não ser apenas um caso de uma noite. As garotas eram
complicadas assim. Se a nossa noite se estendesse pela manhã, elas teriam
ideias. Ideias de que talvez elas seriam as únicas a capturar o cara que
ninguém mais poderia. Elas entendiam algo a mais sobre sexo matinal do
que sobre o sexo que ocorria tarde da noite, quando nossas línguas tinham
gosto de cerveja.

Eu poderia dormir por aí, eu poderia gostar de uma variedade de


mulheres, mas nunca dei falsas esperanças onde não havia nenhuma. Eu
poderia ser um cafajeste, mas eu não era um idiota.

Bunda Gostosa (eu tive que chamá-la de algo) balançou seus quadris
atravessando o quarto e estendeu um pedaço de papel para mim. —Ligue
para mim. —Disse ela, jogando o cabelo atrás do ombro.

Eu olhei para os seios dela mais uma vez, então enfiei o pedaço de
papel no bolso da frente da minha calça jeans.
Ela se inclinou e pressionou os lábios nos meus, passando a língua
entre eles. Eu a beijei de volta rapidamente e então lentamente me afastei.
Contornando-a, eu espalmei sua bunda. —Obrigado pela noite passada. —
Eu disse e saí de seu quarto sem sequer olhar para trás.

Junto à porta da frente, encontrei meus sapatos e jaqueta de couro e


rapidamente terminei de me vestir antes de sair para o ar frio da manhã. Eu
não ia sentir falta desse frio. Eu estava realmente ansioso para seguir em
frente, tentar algo novo.

Uma fina camada de gelo cobria o para-brisa da minha caminhonete.


Em vez de sair e raspá-lo, liguei o motor e deixei o carro em marcha lenta,
deixando-o derreter sozinho. Enquanto esperava, peguei o pedaço de papel
amassado que acabara de receber. Relaxando, olhei para baixo, meus olhos
percorrendo o número que eu nunca iria ligar, procurando o nome dela.

Eu ri, amassei o papel e joguei no chão da caminhonete.

Rachel.

Droga. Eu não tinha nem chegado perto.


CAPÍTULO 2

Charlotte

Meus olhos se fecharam pela quinta vez desde que me sentei no sofá
e liguei o noticiário noturno. Com um suspiro, apertei o botão do meu
celular para iluminar a tela e verificar a hora. Já passava das onze. Ele não
voltou para casa.

Novamente.

Realmente, não fiquei surpresa. Na verdade, me surpreendia mais


que eu estivesse sentada aqui esperando por ele. Eu já estava acostumada.
Normalmente, eu apenas ia para a cama e não pensava duas vezes sobre ele
se atrasar.

Muitas noites passadas no escritório eram necessárias quando você


estava a caminho de se tornar um executivo todo-poderoso. Era comum
que Max passasse três noites por semana no trabalho e depois passasse
muito mais aqui em casa, trabalhando em um laptop até as primeiras horas
da manhã. Eu não me importava. Eu trabalhava muito também.

Uma pessoa não se tornava bem sucedida em sua carreira sem


sacrifício.

Eu desliguei a TV e verifiquei se a porta da frente do apartamento


estava trancada. Deixando uma pequena lâmpada acesa na sala de estar, fui
em direção ao quarto com um bocejo. Enquanto caminhava, fiz uma lista
mental das coisas que precisava realizar amanhã e decidi que acordar cedo
seria uma boa ideia.

Depois de fazer minha rotina de cuidados com a pele e vestir um


pijama de seda limpo, subi entre os lençóis brancos e coloquei a minha
cabeça no travesseiro. Com um último olhar para os números vermelhos
brilhantes no meu despertador ao lado da cama, eu caí em um sono sem
sonhos.

Mas o sono não durou muito tempo.

Algo me acordou. Não era necessariamente um som ou algo


específico. Era um sentimento estranho, algo próximo da intuição de que o
sono desaparecia e a consciência tomava conta. Mesmo com os olhos ainda
fechados, reconheci que estava muito escuro aqui.

A escuridão era mais penetrante, mais profunda.

Abri os olhos, querendo confirmar o que estava sentindo. O relógio


não estava mais aceso. A luz fraca que geralmente infiltrava para dentro do
quarto, vinda da sala de estar, também não estava lá.

Todo o apartamento estava envolto em escuridão e sombra.

Meu coração começou a bater descompassadamente quando o


pânico atingiu meu peito. Acalme-se, Charlotte, eu disse a mim mesma. A
energia acabou. Não é como se isso nunca tivesse acontecido antes.

Ainda assim algo parecia fora de lugar.

Algo não estava certo.

Puxando as cobertas, eu joguei minhas pernas para o lado do


colchão e me levantei. Rastejando em direção à janela, eu alcancei as
persianas, querendo ver do lado de fora até onde a queda de energia
chegou esta noite.

Um som penetrante interrompeu a quietude e eu gritei e tropecei


para trás. Meu calcanhar pegou a bainha longa demais do meu pijama de
seda e eu caí na cama. Fiquei deitada ali, sentindo meu coração bater contra
as minhas costelas, enquanto os alarmes de incêndio dentro do prédio
tocavam com urgência.

Havia fogo?
No corredor do prédio, eu podia ouvir portas se abrindo e
fechando, o murmúrio de vozes enquanto as pessoas iam em direção às
saídas.

Ótimo. Eu acho que não era apenas um alarme falso. Com um


suspiro, eu me levantei da cama e peguei um suéter de lã mohair1 super
macio e vesti, envolvendo-o na minha cintura.

Sim, tecnicamente os alarmes de incêndio significavam se apressar,


mas eu não estava com pressa de sair no meio da noite para a calçada no
frio. Não, obrigada.

Caminhar pelo apartamento escuro não deveria ser um problema; a


mobília estava sempre no mesmo lugar. Saí pela porta do quarto e caminhei
alguns passos pelo pequeno corredor até o resto do apartamento.

Onde eu colidi com algo duro e grande.

Que diabos?

Eu sabia que meus móveis não estavam neste lugar.

Uma palma grande e quente envolveu meu braço, enganchando


como um torno e me empurrou para frente. —Se você gritar, eu vou te
matar.

Eu gritei de qualquer maneira.

Eu abri minha boca e soltei um grito assustado quando meu corpo


inteiro se afastou da voz. Isso não era a mobília. Isso não era bom.

Sua outra mão cobriu minha boca, abafando o meu grito.

—Eu disse para calar a boca! —Ele exigiu em um sussurro áspero,


pressionando a palma da mão contra a minha boca e mandíbula. Sua mão
estava suada e pegajosa. Eu queria vomitar.

1
Fibra obtida do pelo da cabra angorá
Eu fiquei imóvel, parcialmente em choque. Havia realmente um
incêndio? Ou o alarme era apenas para que os ladrões pudessem roubar
esse prédio com a distração de uma emergência?

Agora me arrependia de não ter corrido para a calçada como todo


mundo no prédio.

O homem afastou a mão da minha boca.

—Se você queria roubar o prédio, você deveria ter feito isso no
meio do dia, quando quase todo mundo estava no trabalho. —Eu disse a
ele.

Eu senti seu olhar através da escuridão. Eu mal conseguia distinguir


suas feições, mas ele era um homem grande, provavelmente com mais de
um metro e oitenta e me superando em pelo menos vinte quilos. Ele
aproximou seu rosto do meu e seu hálito de alho soprou no meu rosto.

—Que parte de calar a boca você não entendeu?

Meu estômago revirou. Acalme-se, Charlotte. Eu me lembrei. Ficar


calma em situações de alto estresse é para o que eu fui treinada. —Minha
bolsa está no balcão e todas as minhas joias estão no quarto. Estou indo
embora. Não vou contar a ninguém que te vi.

Eu comecei a passar por ele a caminho da porta.

Eu dei dois passos antes de ele me agarrar.

Não achei que seria assim tão fácil, mas pelo menos tentei.

Eu fui levantada e tropecei para trás, contra a parede sólida do seu


corpo. Senti sua respiração roçar contra a parte de trás da minha orelha e
pequenos arrepios cobriram meu pescoço. Ele se inclinou para perto, até
que eu podia literalmente ouvir a inspiração e a expiração de sua
desagradável respiração bucal.

—Eu não estou aqui pelo seu dinheiro. —Ele entoou.


Ele poderia fazer facilmente a narração de um filme de terror.

—Você está aqui para o quê? —Eu perguntei, orgulhosa por minha
voz não estar tremendo.

Ele riu. Era mal e vil. Um arrepio começou na ponta dos meus pés e
lentamente percorreu todo o meu corpo.

—Você.

Eu tinha duas escolhas. Eu poderia:

A) Dissolver em uma poça de mendicância e lágrimas

Ou

B) Colocar a aula de defesa da mulher que eu tive em bom


uso.

Eu puxei meu pé e bati com força no peito do pé dele. Ele estava


usando botas pesadas e eu estava descalça.

Ele riu.

Eu não achei engraçado.

Eu joguei meu cotovelo e acertei-o na costela. No segundo que ouvi


o chiado de dor, girei e chutei-o nas bolas.

Ele fez um pequeno som sufocante que eu gostei, e eu saí pela


escuridão em direção à porta. Não fiquei surpresa ao descobrir que a porta
nem estava fechada. Na verdade, um fino raio de luz apareceu através da
fenda. Os geradores do prédio deviam estar ligados e iluminando os
corredores e mantendo os elevadores funcionando.
O alarme de incêndio ainda estava tocando tão alto que meus
ouvidos começaram a zumbir quando eu abri a porta e adentrei o corredor
mal iluminado. Mas pelo menos havia luz suficiente para que eu pudesse
ver aonde estava indo.

A essa altura, os outros já tinham desocupado o andar e eu estava


sozinha. Corri pelo corredor acarpetado, passando por portas de
apartamentos numerados e paredes brancas.

Alguém me atacou por trás e eu caí de cara no carpete xadrez.


Ambos os meus braços estavam presos nas minhas costas e então um
joelho os segurou no lugar. Um puxão forte na minha nuca tirou meu rosto
do chão, e eu olhei para cima em uma das luzes de emergência.

—Só por isso, vou ter que me divertir um pouco com você antes de
te entregar.

Entregar? Eu não era uma pizza que precisava ser entregue.

Comecei a lutar por baixo dele, que puxou com mais força o meu
cabelo, fazendo o couro cabeludo arder e queimar. O joelho pressionando
minhas costas de repente se foi, e eu comecei a girar, mas antes que eu
pudesse virar completamente, ele me escarranchou, prendendo minhas
mãos contra mim e afundando sua virilha contra elas.

Então ele girou seus quadris ao redor. —Sente isso? —Ele


perguntou grosseiramente. —Eu vou gostar de obter respostas de você.

Tenho certeza de que foi a coisa mais desagradável que já ouvi. —


Que respostas? —Eu perguntei, tentando ignorar os quadris do homem
com hálito de alho esfregando-se em mim.

O alarme de incêndio parou abruptamente, mas meus ouvidos ainda


estavam zumbindo. Eu tentei recuperar o fôlego, para chegar a um plano
inteligente, para descobrir uma maneira de sair do que diabos estava
acontecendo comigo.
—Ei, você a pegou ou o quê? —Alguém chamou do corredor. Era
outro homem. Ele tinha um forte sotaque de New York.

—Eu a peguei. —Disse o hálito de alho.

—Apresse-se! Vamos lá!

A próxima coisa que eu sabia era que estava sendo levantada do


chão e forçada em direção à escada. As sirenes dos caminhões de
bombeiros se aproximaram, e eu sabia que a ajuda estaria aqui muito em
breve. Eu só precisava ganhar alguns minutos.

O homem me empurrou rudemente e eu estiquei minhas mãos para


conseguir equilíbrio, me endireitando. Mas quando me movi, notei que a
porta de um dos apartamentos não estava trancada. Na pressa, alguém
esqueceu de fechá-la.

—Nós temos que ir! —O homem perto da escada gritou


ansiosamente enquanto os atendentes de emergência paravam perto do
prédio.

Eu caí no chão, fingindo que meu pé ficou preso nas minhas calças.
Eu bati minhas mãos e joelhos e mantive meu corpo rígido.

O homem acima de mim murmurou algumas blasfêmias e se


abaixou para me puxar para cima.

Mas eu estava pronta.

Quando ele se inclinou, eu joguei meu corpo com força. Usando


minha cabeça, eu bati em seu queixo e mandíbula, estalando a cabeça para
trás e fazendo-o gemer. A dor explodiu na parte de trás do meu crânio e eu
tropecei, mas rapidamente me concentrei e me afastei dele e corri para a
porta aberta.

Os dois homens gritaram quando eu me joguei e bati a porta. Eu


virei a fechadura assim que a maçaneta começou a sacudir freneticamente.
—Abra essa maldita porta! —O homem lá fora rugiu.

O outro cara com o sotaque silenciou-o.

Eu corri para a cozinha e puxei uma faca gigante do bloco de facas


no balcão. Se ele entrasse aqui, eu iria esfaqueá-lo. Então eu peguei o
telefone no balcão e coloquei no meu ouvido.

Nenhum sinal.

Eu recoloquei o fone e caminhei de volta para a porta, brandindo a


faca como se estivesse em algum tipo de jogo da morte na cozinha.

A maçaneta da porta parou de tinir. As batidas na porta silenciaram.


O som fraco de uma porta batendo no final do corredor, perto da escada,
foi tudo o que ouvi.

Segurei a faca com força e olhei para a porta. Meu peito arfava com
a respiração irregular, e o pijama de seda estava preso à minha pele suada e
escorregadia.

Eu esperei. Eu observei.

Os homens foram embora.

Eles se foram.

Meus pulmões expeliram um grande suspiro de alívio.

Vários longos minutos se passaram até que ouvi os bombeiros


percorrendo o prédio, procurando por sinais de fogo.

Eu sabia que eles não encontrariam nenhum.

Seja lá o que aconteceu, não tinha nada a ver com um incêndio.


CAPÍTULO 3

Tucker

Tudo que eu possuía cabia na parte de trás da minha caminhonete.


O Dodge preto foi a primeira coisa que comprei depois de passar por
treinamento e estar na Carolina do Norte quando entrei para o Exército.
Desde então, eu adquiri mais posses, mas não tanto quanto alguns dos
caras com quem trabalhei.

A maioria deles eram casados, alguns eram casados e divorciados e


estavam em um segundo casamento. Por que você sairia de um
relacionamento ruim e depois entraria em outro, estava além da minha
compreensão. Especialmente quando havia tantas mulheres por aí para
provar.

Quer dizer, eu acho que entendia até certo ponto. O Exército de


Fuzileiros Navais nem sempre era fácil. As horas eram longas, o salário não
era tão bom e envolvia muita movimentação e viagem. Alguns caras
queriam alguém para quando voltassem para casa, alguém que eles sabiam
que estaria lá esperando por eles, sentindo falta deles.

O problema era quando você esperava que alguém esperasse e se


preocupasse por muito tempo, e eles acabavam se cansando disso. Você
não pode embasar um relacionamento na ausência.

Eu aprendi isso da pior maneira.

Eu também aprendi que encontros de uma noite e fugas rápidas


expeliram muita solidão e cuidaram de muitas das minhas necessidades sem
o drama de tentar ter certeza de que alguém estava feliz.

Depois de vários anos morando em Camp Lejeune, Carolina do


Norte e um ano de serviço em uma zona de guerra, fui enviado para onde
estou agora, Allentown, Pensilvânia. Era muito mais calmo aqui do que os
outros lugares em que estive, exceto por todo aquele negócio com meu
amigo Nathan e sua mulher, Honor. Mas isso acabou, Nathan se afastou, e
agora tudo o que eu possuía estava encaixotado na parte de trás da minha
caminhonete.

Depois de verificar novamente as amarras dos meus pertences,


peguei as chaves do bolso e subi as escadas até o apartamento que eu
dividia com outros dois fuzileiros navais. Eles ainda estavam no trabalho;
eles ainda estavam alistados.

Eu planejei deixar a chave da casa no balcão da cozinha e depois ir


embora sem olhar no espelho retrovisor. Assim que eu estava abrindo a
porta, um sedã preto de quatro portas parou na calçada cheia de cascalho,
bloqueando minha caminhonete.

Três homens de terno preto e gravata cinza saíram. Isso me lembrou


do filme Men in Black2. Inferno, se não estivesse tão nublado hoje, eles
provavelmente estariam usando aqueles óculos escuros também.

—Eu estava prestes a sair. —Disse para eles, esperando que


pegassem a dica e saíssem do meu caminho. Eles poderiam caçar
alienígenas em outro lugar.

—Você é o sargento Tucker Patton? —Um dos homens perguntou,


ignorando completamente a minha sugestão de que ele saísse do caminho.

Suspeita tomou conta de mim. Imediatamente tentei lembrar da


noite passada. Sim, muito dela estava confusa por culpa de toda a cerveja
que eu ingeri, mas eu estava quase cem por cento certo de que eu não fiz
nada que justificasse a visita de alguns policiais fingindo ser estrelas de
cinema.

—Quem está perguntando? —Perguntei.

2
Men in Black, no Brasil o filme é conhecido como MIB – Os homens de preto
O homem que dirigia exibiu um distintivo de ouro com as letras do
FBI à vista na frente.

Que porra é essa?

Os três homens subiram os degraus em minha direção.

—Isso é sobre o quê?

—É ele. —Disse um dos homens nos degraus, como se ele fosse de


alguma forma capaz de confirmar minha identidade sem que eu lhe
mostrasse meus documentos.

—Só precisamos de um momento do seu tempo. —Disse o agente


mais próximo de mim.

Eu os estudei por mais um momento, depois a curiosidade venceu.


Não era todo dia que o FBI chamava. Empurrando a porta mais uma vez,
eu fiz sinal para eles entrarem.

Depois de fechar a porta atrás de nós, eu fiquei lá olhando para eles


em silêncio.

—Sou o agente Collier. Talvez você devesse sentar-se. —Disse o


homem que estava dirigindo o carro.

—Estou bem onde estou. —Eu não estava prestes a oferecer-lhes


café ou chá. Eu nem ia apertar as mãos deles. De fato, quanto mais eu
ficava na presença deles, mais eu entendia que isso não seria uma conversa
agradável.

—Estamos aqui em nome de seu irmão, Maxwell Patton.

Max era mais do que apenas meu irmão. Ele era meu irmão gêmeo.
Nós nascemos a poucos minutos de distância, eu sendo o “mais novo”, e
apesar de parecermos exatamente iguais, nossas personalidades eram como
dia e noite. Mamãe costumava brincar que alguém errou quando estava nos
dando traços, porque em vez de cada um ter uma personalidade
equilibrada, nós dois éramos extremos.

Max tem todos os traços responsáveis, bem-sucedido e de


determinação. E eu?

Eu tenho que ser o charmoso e irresponsável, com uma garota em


cada braço.

É claro que eu saí ganhando.

Foi por causa do grande desvio da diferença entre nós que Max e eu
não éramos tão próximos quanto a maioria dos gêmeos. Eu não via Max
desde que entrei para o Exército, mas mesmo assim achei muito difícil (se
não impossível) acreditar que Max estava com problemas com a lei.

—Max pediu-lhes para vir aqui? —Eu questionei.

O silêncio carregado preencheu o espaço entre os agentes e eu. A


tensão acumulou em meu corpo, fazendo parecer que todos os músculos e
nervos estavam mais enrijecidos do que uma tábua.

O agente Collier limpou a garganta. —Sinto muito em informá-lo


que Maxwell está morto.

As palavras me atingiram com força. O choque percorreu meu


corpo enquanto a descrença enchia minha cabeça. Tinha que haver algum
engano. Max não estava morto. Ele era jovem demais para morrer. Ele não
tinha nem trinta anos. Voltei a olhar para os homens que me observavam
com expressões solenes.

—Pode repetir? —Eu perguntei, pensando que ouvi errado.

O homem pigarreou e se mexeu em seus sapatos pretos polidos.


—Aconteceu ontem à noite. Foi um acidente de carro.

Então eu tinha ouvido direito. Uma sensação de dor e vazio se abriu


no centro do meu peito. Estabeleceu-se logo abaixo das minhas costelas,
onde a dor se alojou e continuou a doer. Era o tipo de dor que ninguém
nunca me descreveu antes; Eu não tinha certeza se esse sentimento poderia
ser colocado em palavras. Se pudesse, eram palavras que ninguém deveria
ouvir.

De repente me senti mais leve, como se parte do que quer que me


segurasse no chão não estivesse mais ali. Eu olhei para os meus pés, para as
botas ainda ancoradas no chão. Era estranho porque parecia que eu deveria
estar flutuando.

Parte de mim se foi.

Destroçada.

Esvaziada.

O vazio dentro de mim explodiu e eu tive que fazer um esforço para


não me curvar. Eu tive que trabalhar para não deixar esses homens de
terno perceberem o quanto a morte do meu irmão gêmeo doía.

—Estou pensando que o FBI geralmente não faz visitas domiciliares


para informar as pessoas sobre a morte de seus parentes.

—A morte de Maxwell não foi um acidente.

—Você veio aqui para me dizer que meu irmão foi assassinado? —
Eu perguntei com calma mortal. Eu poderia não estar perto de Max, mas
ele era meu irmão, minha família e eu o amava.

—Maxwell estava ajudando o FBI em um caso de espionagem


corporativa. Ele era o homem infiltrado. O fato de ele estar trabalhando
conosco foi mantido em sigilo.

—Não se alguém o matou por causa disso, obviamente.

O silêncio que seguiu minha declaração encheu a sala. Se esses


homens achavam que podiam vir aqui, me dizer que meu irmão morreu
ajudando-os, e que não se deparariam com algum tipo de animosidade
enfurecida, eles não sabiam com quem estavam lidando.

O fato de Max ter feito isso me surpreendeu. Parte de mim queria


perguntar se eles tinham certeza de que tinham o cara certo, mas o respeito
manteve a questão. Respeito pelo meu irmão. Só porque não era típico de
Max se envolver em algo assim, não significava que ele não tinha se
envolvido. Ele era um cara trabalhador, sempre no caminho correto da lei.
Ele nunca se desviou de seus objetivos; ele nunca teve tempo para diversão
ou qualquer coisa que considerasse desperdiçar tempo.

Mas ele tinha um forte senso de certo e errado.

Essa foi provavelmente a única qualidade de personalidade que


compartilhamos.

Então, sim, seria improvável que Max se envolvesse em algum tipo


de caso criminal, mas não era impossível. Especialmente se o que quer que
estivesse acontecendo, estivesse bloqueando o caminho que ele estava
percorrendo.

O respeito por ele cresceu dentro de mim como uma garrafa de


refrigerante chacoalhada. Aquele sentimento oco ameaçou me puxar para
baixo e a dor tinha um sabor forte no fundo da minha garganta.

Ele não pode ir embora.

Ele é jovem demais para morrer.

O homem à minha frente limpou a garganta. —Ninguém sabe do


falecimento de Maxwell. Você é o único que foi informado.

Eu engoli em seco, afastando a emoção borbulhante dentro de mim.


Eu pensei em minha mãe, meu pai, minha irmã. Eu devastaria o mundo
deles hoje. Eu engoli de novo. —Eu vou cuidar disso. —Eu disse a eles.

Eles não disseram nada, mas senti a mudança na sala. Eu olhei para
cima, diretamente nos olhos de um dos agentes. Havia uma razão pela qual
eu estava sendo informado primeiro. Havia uma razão para que ninguém
mais tivesse sido notificado sobre sua morte.

—A cena do acidente? —Eu perguntei.

—Foi limpa.

Sim, definitivamente havia algo mais acontecendo.

—Sargento, pouco antes de seu irmão morrer, ele falou conosco.

—O que ele disse? —Quais foram as últimas palavras que meu irmão
falou?

—Ele nos disse para encontrá-lo. Para encontrar Tucker.

Ele chamou por mim. O último pensamento de Max, seu último pedido
foi para mim.

De repente, entendi as palavras do homem. É ele. Claro que eles


sabiam que era eu. Eu parecia exatamente como Max. Nós éramos
idênticos.

—Precisamos que você continue de onde Maxwell parou. Para


assumir a identidade do seu irmão.

Era loucura. Isso nunca funcionaria. As pessoas saberiam no minuto


que eu abrisse minha boca, que eu não era Max.

Talvez a expressão no meu rosto tenha feito os homens pensarem


que eu ia dizer não.

—Este caso está em andamento há mais de um ano. Se você não


ajudar, todo o trabalho que fizemos será em vão. Aqueles homens vão se
safar.

—Aqueles homens mataram meu irmão. —Eu disse. Uma sensação


de vingança me superou.
Ninguém disse nada.

Ninguém, além de mim.

—Eu vou fazer isso.


CAPÍTULO 4

Charlotte

Se havia um estereótipo que eu odiava acima de todos os outros, era


o que todas as loiras eram burras. Nascida uma loira natural eu lutei contra
o estereótipo toda a minha vida. Eu até considerei pintar meu cabelo de
castanho, mas isso seria como admitir a derrota ou tentar esconder quem
eu realmente sou para apaziguar algumas pessoas com bocas grandes que
tinham tendências para agir como idiotas.

Mas eu era um testemunho ambulante de que as loiras não eram


burras.

Além disso, cabelos castanhos não combinam comigo.

Uma vez que eu tive certeza de que Hálito de Alho e seu amigo
foram embora, eu saí do apartamento do meu vizinho (Eles precisavam de
uma aula de organização) de volta para o corredor. Eu podia ouvir os
bombeiros subindo as escadas e experimentei um momento de pânico.

Então percebi que não havia feito nada de errado.

Bem, exceto por não ter desocupado um prédio que estava


potencialmente em chamas.

Corri de volta para meu apartamento assim que a porta da escada se


abriu e os homens entraram no corredor.

Eu sabia o que tinha que fazer.

Tirei o grampo do meu cabelo e sacudi os fios loiros para que


parecessem bagunçados e que eu dormi. Eu mal tinha encostado a cabeça
nos travesseiros, mas os tempos desesperados exigiam medidas
desesperadas.
Abrindo a porta do meu apartamento, eu tropecei para o corredor,
fingindo um bocejo e esfregando os olhos como se eu ainda estivesse meio
adormecida.

Todos os homens no corredor pararam e olharam para mim.

—O que está acontecendo? —Eu perguntei, tentando parecer


cansada. Na minha opinião, eu soava como alguém fazendo uma imitação
pobre de uma pessoa bêbada.

—O que você está fazendo aqui, senhora?

Ótimo. Não só eu era uma loira burra com cabelo despenteado hoje,
mas eu também era uma senhora. Eu deveria ir até a prefeitura municipal e
pedir meu cartão de idoso enquanto eu estava assim.

—Eu moro aqui. —Eu disse, piscando os olhos para eles como se
estivesse confusa. Então eu olhei por cima de seus trajes à prova de fogo e
equipamentos. —Há fogo?

—Você não ouviu o alarme? —Um dos outros caras perguntou, em


um tom claramente divertido.

—Eu durmo com fones de ouvido e um aparelho antirruído, —Eu


disse. —Uma menina tem que ter seu sono de beleza.

Deus. Eu soei como uma completa idiota.

—Nós vamos ter que pedir-lhe para desocupar o prédio enquanto


terminamos de verificar a área.

Eu assenti. —Claro. —Eu apontei para o meu apartamento. —Esse


é o meu. Não há fogo lá.

Eu fechei a porta, esperando que eles não fossem procurar o


aparelho antirruído com o qual eu alegava dormir. Um dos homens abriu a
porta para mim e, ok, sim, eu posso ter espiado seu físico. Ele era um
bombeiro de boa aparência.
Eu ouvi os homens rirem quando a porta se fechou atrás de mim.
Dei um enorme suspiro de alívio que não me fizeram mais perguntas. Eu
não tinha certeza se estava pronta para contar às pessoas o que aconteceu
comigo. Eu queria pensar nisso. Eu queria pesar a situação em minha
mente, pensar em todas as possibilidades do que aconteceu esta noite.

Lá embaixo, no saguão, o ar frio rodopiou para dentro da porta que


dava para a calçada. Eu diminuí meus passos. Eu deveria ir lá, mas não
estava usando meias ou sapatos. Eu seria congelada em minutos. New
York no final de janeiro pode ser brutal. O vento, a neve, as baixas
temperaturas, e este inverno deveria ser muito longo e tudo, menos ameno.

E se eu, de alguma forma, evitasse o congelamento, eu teria alguma


doença estranha, andando desprotegida na calçada da cidade. Minha pele se
arrepiou só de pensar no que poderia estar crescendo lá fora.

Algumas das pessoas que moravam no prédio ainda vagavam pela


porta, então eu me posicionei ao lado delas. Examinei os rostos, não
procurando por alguém familiar, mas por dois homens que pareceriam não
pertencer.

Eu não dei uma boa olhada nos homens no andar de cima, mas eu
sabia que se eu visse Hálito de Alho de novo eu o reconheceria. Ele não
estava à vista, não dentro e não do lado de fora, na multidão de pessoas na
calçada.

O que isso significa?

Você está aqui para o quê?

Você.

Sua resposta de uma única palavra sussurrada causou arrepios por


meus braços e pernas. Por que ele diria isso? O que ele poderia querer
comigo?
—Garotos idiotas. —Alguém ao meu lado murmurou. —O que esta
cidade está se tornando?

—O que você quer dizer? —Eu perguntei antes que eu pudesse me


lembrar que ele provavelmente não estava falando comigo.

—Você não ouviu?

Eu balancei a cabeça. —Eu dormi pela maior parte disto. —Fiz um


gesto para a multidão, os policiais e o caminhão de bombeiros estacionados
no meio-fio.

A mulher do outro lado do homem riu. —Ah, ser jovem


novamente. Eu costumava ser capaz de dormir com qualquer coisa
também. Agora tenho sorte de conseguir quatro horas seguidas.

O homem entre nós assentiu empaticamente. Eles eram um casal


mais velho, ambos com cabelos grisalhos e rugas no canto externo dos
olhos.

—Parece que algumas crianças puxaram os alarmes de incêndio e


esperaram até as pessoas começarem a evacuar para entrar em alguns
apartamentos e roubá-los.

Meu primeiro pensamento ao ouvir essa notícia foi descrença. Não


foi o que aconteceu aqui hoje à noite...

Foi isso?

—Quem disse que foi o que aconteceu?

O homem me deu um olhar estranho antes de responder. —A


polícia. —Ele gesticulou para o lado de fora, onde dois oficiais com
uniformes azuis estavam conversando com algumas das pessoas que eu
reconheci serem moradores do prédio. —Parece que as crianças apenas
assaltaram o primeiro andar. Eles não tiveram tempo para o resto.
Isso era o que Hálito de Alho e seu amigo estavam fazendo?
Esperando ganhar dinheiro fácil no meio do caos que eles mesmos
criaram? Eu não tinha dado uma boa olhada neles, mas sabia que eles não
eram crianças.

É claro que os bombeiros me chamaram de senhora e esta mulher


aqui em baixo estava desejando que ela fosse tão jovem quanto eu.
Claramente, todos tinham sua própria definição de idade.

Eu estava ficando confusa com esses pensamentos. Isso nunca


aconteceu. Normalmente eu era analítica e concisa com meus
pensamentos. Eu estava apenas cansada, em choque, e sim, ok... talvez eu
estivesse um pouco assustada.

Eu me encontrei desejando que Max estivesse aqui. Seria bom não


estar sozinha esta noite.

Voltei-me para o homem para tirar mais algumas informações dele,


quando um dos policiais entrou. Toda a sua atenção estava em mim.

—Senhora. —Disse ele. —Nós precisamos ter sua declaração.

—Claro. —Concordei e me afastei do casal mais velho para dar a ele


toda a minha atenção.

Comecei a explicar por que me atrasei, mas ele me interrompeu para


perguntar: —Você viu alguém no prédio? Qualquer um que parecesse
estranho?

—Isso é sobre os roubos? —Eu questionei. Um bom advogado


sempre respondia uma pergunta com uma das suas.

Ele assentiu rapidamente. —Estamos tentando obter descrições de


todos aqueles que poderiam tê-los visto quando estavam desocupando o
prédio.

—Eu me atrasei para sair. Eu uso fones de ouvido à noite. —A


mentira foi mais fácil de ser contada, uma vez que eu acabei de contá-la no
andar de cima, isso não importava mais. Eu me perguntei se é assim que os
criminosos se sentem. Como depois do primeiro crime, os que se seguiam
nem importavam.

—Você viu alguém no seu caminho? Alguém que você não


reconheceu? Alguém que estava agindo de forma suspeita?

Pensei no Hálito de Alho e no jeito que ele parecia no meu


apartamento escuro. Pensei em como ele não estava interessado em
nenhuma das minhas posses materiais, nem mesmo depois que eu disse
que ele poderia tê-las.

Eu pensei por longos momentos.

E então eu menti novamente.

—Não. As únicas pessoas que vi foram os bombeiros limpando o


prédio.

O oficial pareceu desapontado, mas ele não questionou minha


declaração. Depois de mais algumas perguntas gerais e minha breve
explicação de como eu não vi absolutamente nada, o oficial passou para o
próximo entrevistado.

Eu nunca menti. Mentir só deixa as pessoas em apuros, um fato que


eu vi dia após dia no meu trabalho como advogada.

Mas eu acabei de mentir esta noite. Para um oficial da lei, nada


menos.

Por quê?

Algo dentro de mim me disse para manter minha boca fechada.


CAPÍTULO 5

Tucker

A viagem inteira da Pensilvânia até a cidade de New York foi


passada sentado na traseira de um SUV preto e sendo informado sobre a
vida do meu irmão. A fim de ser capaz de literalmente andar em seus
sapatos, eu tinha que saber o máximo que pudesse sobre ele.

Acho que os federais presumiram que eu sabia mais. Eu não me


incomodei em corrigi-los. Na verdade, fiquei um pouco embaraçado por
não saber mais sobre Max e sua vida nos dias de hoje. Cada detalhe que
eles me disseram parecia me afetar de uma forma ou de outra. Eu me senti
divertido com o quão concentrado e focado no sucesso Max estava, mas
isso não significava que eu não estivesse impressionado. Max estava
alcançando seus objetivos. Eu nunca duvidei que ele conseguiria.

Enquanto dirigíamos, recebi inúmeros itens, como uma carteira de


motorista com o nome do Max, um celular programado com os contatos,
as chaves do apartamento e cartões bancários com o nome dele também.

Parecia errado tocar no dinheiro que pertencia ao meu irmão. Não


era legalmente meu e, provavelmente, era tudo para nossos pais. Quando
tentei recusar, fui recebido com um silêncio frio e olhares de desaprovação.

Eu quase ri.

Como se eu desse a mínima se eles gostassem de mim ou não.

—Pegue os cartões. —O homem à minha esquerda finalmente


disse. Ele deve ter percebido que não me curvo sob pressão. —Os caras
que queriam Max morto acham que ele está morto. Quando você aparecer,
eles ficarão chocados e provavelmente desconfiados. Se você começar a
usar um banco diferente ou qualquer coisa, mesmo que pareça simples, eles
saberão.

Coloquei o cartão do banco e os outros documentos no bolso da


minha jaqueta de couro.

O homem à minha direita limpou a garganta. —Certifique-se de usar


as roupas do Max. Ele nunca usou jaquetas de couro.

—Eu vou fazer o meu trabalho. —Eu disse, não deixando espaço
para mais pedidos que eles quisessem apresentar como sugestões. Eu
provavelmente queria os homens que os federais estavam atrás mais do que
eles. Este era apenas um caso para eles, um cheque na caixa, um trabalho
bem feito.

Não para mim.

Para mim, esta era a vida do meu irmão.

Isso era justiça.

A cidade apareceu, com prédios arrebatadores, ruas lotadas e


calçadas desordenadas. As pessoas se movimentavam em volta agasalhadas
em casacos e cachecóis. Algumas carregavam maletas; outras carregavam
copos brancos com o famoso logo verde na frente. O café que vinha
naqueles copos estava aparentemente disponível em todos os quarteirões
desta cidade monstruosa.

Nós só tínhamos viajado por um curto período, mas a diferença


entre New York e a cidade da Pensilvânia, de onde eu vinha, era muito
grande. Havia uma energia nessa cidade, uma agitação de atividade que eu
apostaria que jamais conseguiria dormir. Chiados estridentes e cheiros dos
muitos vendedores nas calçadas pressionavam-me, fazendo-me sentir como
se estivesse em um mundo diferente.

—Você já esteve na cidade antes? —Um dos homens perguntou-me


enquanto eu olhava pela janela.
—Não desde que eu era criança. —Eu poderia muito bem nunca ter
estado aqui antes. Ver algo através dos olhos de uma criança nunca era o
mesmo que através dos olhos de um homem adulto.

O homem começou a falar de novo, contando-me todos os lugares


habituais de Max, o café que ele visitava todas as manhãs, os restaurantes
que frequentava.

Eu fiz um som e o homem parou de falar. —Estou surpreso que


meu irmão saísse para comer. Eu imaginei que ele estaria comendo em sua
mesa.

Os homens no carro trocaram um olhar.

—O quê? —Eu disse, sabendo imediatamente que havia algo que


estava perdendo.

O SUV deslizou até a calçada em frente a um imponente prédio de


apartamentos de pedra cor de creme.

—Este é o seu apartamento.

—Apartamento de Max. —Eu corrigi.

—Lembre-se. —Disse o de terno preto número três. —Precisamos


que você encontre o pen drive que Max tinha em sua posse. Contém
registros e declarações que afastarão muitos homens poderosos por muito
tempo.

—Como você sabe que não foi destruído no acidente de carro que
matou meu irmão?

—Ele nos disse que estava em algum lugar seguro.

Senti uma pontada de tristeza pelo meu irmão. Por sua perda. Eu
desejei que ele estivesse em algum lugar seguro.
Espalmei as chaves do apartamento e preparei-me para sair do
carro. Eu precisava de um pouco de ar. Precisava de algum tempo para
pensar. Sofrer.

—Não confronte os homens que mataram Max. Eles vão receber o


castigo. Não faça nada que possa deixar alguém desconfiado de quem você
realmente é. Encontre o pen drive, entre em contato conosco e você
poderá enterrar seu irmão como ele merecia.

Eu me virei. —Você tem o corpo dele?

O homem ao meu lado fez uma careta. —Não sobrou muito.

Então não teria como enterrar meu irmão. Ele foi roubado da vida e
de um funeral apropriado. A raiva inflamou minhas entranhas,
percorrendo-me como um fogo violento. Eu queria dar um soco em
alguma coisa.

Eu comecei a sair do SUV.

—Espere. —Disse um dos homens de preto atrás de mim. —Você


sabe que seu irmão não morava sozinho.

Não era realmente uma pergunta; foi dito mais como uma
declaração, como uma confirmação de um conhecimento.

Uma sensação forte de medo pressionou meu estômago. —Não.

—Desde o ano passado, seu irmão tem vivido com alguém.

—Ele tem um companheiro de quarto. —Eu disse, realmente


esperando que fosse o que eles queriam dizer.

O homem limpou a garganta. —Namorada.

Porra.
—Então, eu tenho que brincar de namorado com... —Minha voz
sumiu quando percebi que não sabia o nome da mulher que estava
morando com meu único irmão.

—Charlotte Rose Carter. —Ele informou. —Percebemos que isso


pode ser desconfortável.

Eu fiz um som que os garotos do Exército me ensinaram. Não era


educado. Eles queriam que eu fosse até lá fingir ser outra pessoa, olhar nos
olhos de uma mulher que amava meu irmão e que agora seria traída. Ela
iria apenas continuar seu dia como se ele não tivesse ido embora, como se
tudo estivesse certo com o mundo, quando realmente tudo estava errado.

—Não é como se estivéssemos pedindo para você dormir com ela.


—Disse o homem.

Eu soltei uma risada. Dormir com a mulher do meu irmão era a


última coisa em minha mente.

—Eu entro em contato quando tiver o pen drive. —Eu disse


brevemente. Eu estava mais do que de saco cheio com essa conversa. Eu
percebi que esses homens estavam apenas tentando fazer o trabalho deles,
mas eles eram idiotas.

Bati a porta do SUV no segundo em que meus pés bateram na


calçada. Eles desapareceram no trânsito de New York segundos depois. Eu
respirei fundo e olhei para o prédio. Ar frio soprou, batendo contra a
minha pele e cabelos. Eu não me importava com o frio. Era uma boa
maneira de ajudar a entorpecer essa dor oca no centro do meu peito.

Ainda não pronto para entrar, peguei o celular que recebi e disquei
um número que conhecia de memória. Quando a linha tocou, aproximei-
me do edifício, percebendo que alguém poderia me reconhecer se eu
ficasse no meio da calçada.

—Reed falando. —Uma voz veio na linha.


—É Patton.

—Patton? Por que você não ligou do seu telefone? —Nathan e eu


éramos amigos desde que estivemos juntos alguns anos atrás. Realmente
não tinha sido tanto tempo, mas foi tempo suficiente para nós
reconhecermos que éramos farinha do mesmo saco. Nathan e eu
compartilhamos as mesmas experiências, os mesmos hobbies, a mesma
mentalidade dos Fuzileiros Navais que muitos dos homens com quem
trabalhamos exibiam.

O alerta instantâneo estava claro em seu tom, o desejo instantâneo


de entrar em ação quando sentiu que algo não estava certo. Nós nos líamos
bem. Era isso, combinado com tudo o mais, que nos fez próximos.
Inferno, nos fez irmãos.

—É uma longa história. —Expliquei, não querendo falar sobre


tudo, aqui, ao ar livre. —Eu estou em NYC, coisas de família. Você pode
segurar o trabalho para mim até eu poder ir para a Carolina do Norte?

Nathan tapou o celular para que sua voz fosse um pouco abafada.
—Patton quer que eu mantenha o seu trabalho. —Disse ele com um toque
de humor em seu tom.

Eu não pude deixar de sorrir. Honor, a esposa de Nathan veio para


a linha. —Patton já se meteu em problemas?

—Você sabe.

Ela riu, mas então sua voz ficou séria. —Ligue se você precisar dele.

Por ele, eu sabia que ela se referia a Nathan. Um cara pensaria que
depois de tudo que ela passou, ela não iria querer que Nathan se envolvesse
em algo perigoso. Isso só mostra o quanto a Honor era realmente forte.

—Obrigado. —Respondi, e eu quis dizer isso.

Segundos depois, Nathan estava de volta na linha. —O que eu


posso fazer? —Ele perguntou, seu tom sério.
—Eu consigo lidar com isso.

—Não tenho dúvidas, cara. —Ele disse. —Você sabe que tem um
lugar aqui. Eu apenas irei falar suavemente com Honor para sair de trás
daquele computador e ela poderá me ajudar com os primeiros dois casos.

Ouvi a risada de Honor ao fundo e revirei os olhos. Aqueles dois


eram suficientes para enlouquecer uma pessoa. Todo mundo sabia que eu
gostava de mulheres, mas me contentar com apenas uma? Não ia
acontecer.

—Já temos trabalho? —Eu perguntei, surpresa e orgulho inchando


em mim. Quando Nathan me convidou para ir a Jacksonville para fazer
parte de uma firma de investigação particular, eu sabia que era algo que
queria fazer. Eu só esperava que pudéssemos fazer isso funcionar.

—Sim. Já temos alguns contratos com o Exército.

—Ótimo. —Uma pontada de arrependimento me atingiu porque eu


queria estar lá. Mas isso era importante. Isso era por meu irmão.

—Você tem certeza de que está tudo bem? —Nathan perguntou,


lendo-me de novo, mesmo através do celular. Às vezes esse cara era tão
perceptivo que era assustador.

—Tudo bem.

—Ligue para mim se isso mudar.

Depois que eu concordei, nós dois desligamos e eu empurrei o


celular de volta no bolso e olhei para as novas chaves do meu novo
apartamento.

O apartamento que agora compartilharei com a namorada do meu


irmão.
CAPÍTULO 6

Charlotte

A água quente deslizou sobre a minha pele nua, deixando um rastro


de formigamentos ao longo da minha carne e fazendo um profundo
gemido sair da minha garganta.

Não havia nada como uma ducha quente para liberar a tensão que
sempre parecia penetrar nos meus músculos durante o dia. Massagens
também eram boas, mas quem tinha tempo para isso?

Recuando sob o jato, a água caiu em cascata sobre minha cabeça,


molhando meu cabelo e pressionando os fios sedosos contra minhas
costas. Eu passei o condicionador restante através das pontas do meu
cabelo e quando o produto descia até o ralo, eu fechei meus olhos e
respirei fundo.

Como eu gostaria de poder vestir um pijama de cetim e me enrolar


no canto do sofá, talvez com um filme dos meus tempos de escola que
todos nós costumávamos dar risadinhas no cinema enquanto comíamos
ursinhos de goma e Sour Patch Kids.

Não haveria filme bobo, doce ou até mesmo pijama para mim hoje à
noite. Eu tinha que trabalhar. A única razão pela qual eu estava em casa, era
porque eu queria me trocar antes de encontrar um cliente para jantar, em
um dos cafés perto da Times Square.

Era um caso novo, um novo cliente, e eu tive o “privilégio” de


garantir que eles assinassem com a Keller, Krane e Associates. Enquanto
permanecia sob o jato resfriando, demorando-me no silêncio do chuveiro,
lembrei a mim mesma desse jantar, essa reunião era apenas mais uma
maneira de melhorar minha posição na empresa. Era mais uma maneira de
provar meu valor para os parceiros e solidificar minha posição.

Eu estava trabalhando nisso há tanto tempo quanto eu conseguia


lembrar. Ter sucesso na minha carreira era o meu sonho, o trabalho da
minha vida.

Então, por que me sentia tão cansada?

Eu desliguei a água e peguei a toalha branca pendurada na barra da


cortina do chuveiro. Depois de me secar, pisei no tapete branco em frente
ao espelho e passei a mão pelo vidro embaçado. Minha marca de mão era
apenas o suficiente para ver meu reflexo no espelho.

Depois de passar um creme na bagunça emaranhada que,


infelizmente, era meu cabelo, comecei a pentear com um pente de dentes
largos.

Talvez a minha exaustão fosse apenas porque eu mal dormi na noite


passada. Acordar com um alarme estridente e um homem assustador no
meu apartamento, que então tentou me sequestrar, era o suficiente para
deixar qualquer um cansado.

Sem mencionar que passei o dia inteiro revivendo o que aconteceu e


repassando todos os detalhes na minha cabeça, de novo e de novo. Várias
vezes eu me encontrei pegando o telefone para ligar para o policial com
quem falei no saguão, mas em todas elas, eu mudei de ideia.

Não era como se eu pensasse que eu não entendi o que aconteceu


comigo; foi exatamente o oposto. Eu entendi claramente que aqueles
“arrombamentos” no andar de baixo e o alarme de incêndio tinham sido
apenas uma distração. Uma distração para chegar ao que eles realmente
queriam.

Eu.

O que eu não entendi foi o porquê.


E sendo a pessoa analítica e orientada por objetivos que eu era, eu
sabia que não poderia simplesmente chamar a polícia e contar-lhes minhas
suspeitas sem algo mais. Eu era curiosa por natureza.

A curiosidade matou o gato. O pensamento ecoou na minha cabeça


como uma canção de ninar infantil.

Ainda bem que eu não era um gato.

Eu coloquei o pente na bancada e peguei um pote de hidratante


quando um som congelou meus movimentos. Eu fiquei lá completamente
imóvel enquanto meu coração batia embaixo das minhas costelas. Imagens
da noite passada brilharam atrás dos meus olhos. Um homem rastejando
no escuro. Uma palma suada me agarrando. A sensação absoluta de pânico
agitando meu corpo.

Eu tranquei a porta quando cheguei em casa.

Não tranquei?

Eu olhei para o meu celular no balcão. Prestes a chamar a polícia.


Mas meu celular não estava no banheiro. Estava guardado inutilmente no
fundo da minha bolsa na cozinha.

Eu me perguntei o que era pior: ter seu cadáver descoberto usando


uma calcinha de vovó ou nenhuma calcinha...?

Outro som veio da sala de estar. Eu inclinei a cabeça para o lado,


tentando descobrir o que era. Mas eu não sabia.

Gritar por ajuda só alertaria o intruso que eu sabia que estava lá.

Havia apenas uma coisa que eu poderia fazer.

Afastando meu medo, apertei a toalha em volta de mim e peguei a


maçaneta da porta.

Eu estava saindo daqui.


CAPÍTULO 7
Tucker

Eu estava esperando que ela não estivesse em casa.

Assim que entrei no apartamento, ouvi o chuveiro ligado e soube


que ela estava.

Eu provavelmente deveria ter tido tempo para pedir mais


informações sobre ela. Como o que ela fazia para viver. Certamente ela
tinha um emprego, mas eu não sabia qual era. Teria sido útil para descobrir
sua agenda diária e horários. Mas era tarde demais agora.

Eu não perguntei e não consegui pensar muito sobre isso. Isso não
era sobre ela. Eu não precisava conhecê-la para fazer esse trabalho. De
fato, quanto menos eu soubesse dela, menos eu a visse, melhor para todos.

Meus olhos observaram a sala, concentrando-me no espaço


pequeno, mas limpo. Este era o lugar onde meu irmão morava. Este era o
lugar onde ele passava seu tempo livre e suas noites.

Essa dor insistente no meu peito se intensificou e meu coração se


apertou. Isso era difícil. Mais difícil do que pensei que seria. Não só eu
estava olhando para a vida do meu irmão, mas a vida da qual eu não sabia
nada. Meu próprio irmão.

Como eu pude deixar passar tantos anos sem estender a mão para
ele?

Sinto muito, Max.

Fechando a porta silenciosamente atrás de mim, eu entrei mais na


sala, meus olhos absorvendo tudo, mas na verdade apenas querendo ver
uma coisa.
Você pensaria que eu realmente não precisaria ver uma foto do meu
irmão, sendo que nós tínhamos rostos iguais, mas não são as características
das pessoas que fazem delas quem realmente são. Acho que entendi isso
melhor do que a maioria das pessoas porque compartilhei meu rosto. No
entanto, Max e eu... nós os usamos de maneira diferente.

Esperava que eu encontrasse o pen drive antes que alguém


percebesse isso.

Analisei as superfícies da sala, a mesa de café, a pequena estante de


madeira abarrotada de livros. A arte genérica pendurada nas paredes de
vistas panorâmicas e ondas do mar. O sofá era cinza sólido com algumas
almofadas brancas em cada extremidade e pequenas mesas laterais
redondas flanqueavam cada extremidade. A única coisa nas mesas era um
abajur.

Não havia fotos emolduradas. Não havia imagens de casal sorrindo.


Nada realmente que falasse das pessoas que moravam aqui. Não havia
revistas de hobby. Não havia caixas de filmes no rack abaixo da tela plana.

Eu nunca fiquei muito tempo no mesmo lugar por causa do


Exército, mas até eu tinha coisas por aí que dariam uma pista do tipo de
cara que eu era.

Andei até a estante de livros e me inclinei, olhando as fileiras de


livros enchendo as prateleiras. A maioria deles era sobre Direito e negócios.

Esta mulher era advogada?

Ótimo. Apenas o que eu precisava. Alguma mulher teimosa,


intrometida, cheia de perguntas que iria discutir e encontrar defeitos em
cada coisa que eu dissesse.

Ou talvez os livros fossem do meu irmão. Talvez ele estivesse se


acostumando com a lei por causa das coisas em que estava envolvido.
Deus, eu esperava que sim. Eu não queria lidar com uma advogada agora.
Levantei-me e olhei para trás, para o bar que separava a área de estar da
cozinha. Havia uma bolsa de couro marrom em cima de uma pasta preta.

Eu encontraria respostas sobre essa garota lá. Corri pela sala e, na


minha pressa, esbarrei na mesa e derrubei-a. Com um palavrão leve, eu a
peguei, mas não antes do abajur cair no tapete. Era feito de metal prateado,
então felizmente não havia quebrado.

Peguei o abajur e ele escapou caindo no chão novamente. Eu


xinguei um tipo viril de palavrões e então peguei-o e coloquei no lugar.

Por que diabos um homem precisa de um abajur? Era para isso que
serviam as luzes do teto.

Eu comecei a ir para a bolsa no balcão mais uma vez quando a porta


do outro lado da sala se abriu e uma mulher saiu correndo. Ela não passava
de um borrão em movimento, avançando vigorosamente enquanto um
grito de determinação saía de sua garganta.

Antes que eu pudesse perguntar a ela o que diabos era toda a


agitação, ela me abordou.

Derrubando-me no chão.

Nós aterrissamos no carpete amontoados, comigo embaixo dela e


um par de longas pernas bronzeadas rodeando minha cintura.

Suas pernas estavam nuas.

Santa mãe de Deus, ela não estava usando nada além de uma toalha.

Ela estava molhada. Ela estava quase nua. Ela estava sentada no meu
colo.

O desejo inchou dentro de mim e todo pensamento saiu da minha


cabeça. Eu não podia nem ficar chocado que ela conseguiu me atacar
porque eu estava muito ocupado pensando sobre o peso dela em meus
quadris. Porra, ela era deliciosa.
Meu corpo começou a reagir por conta própria; ele nunca precisou
de nenhum estímulo de mim. Na verdade, eu ficava duro por muito menos
do que algo assim. Eu pisquei, tentando me concentrar no fato de que ela
claramente significava danos corporais.

Meu irmão curtia essas coisas?

Talvez ele não tivesse sido tão certinho como eu pensava...

Enquanto considerava a possibilidade dessa mulher girar seus


quadris em cima de mim e exigir que eu tirasse minhas roupas, ela recuou o
braço e desceu.

Graças a Deus eu tinha reflexos tão automáticos quanto o


endurecimento do meu pau.

Minha mão pegou seu pulso pouco antes de ela me bater com
alguma coisa.

—Que porra é essa! —Eu gritei, saindo do meu sonho sexual e de


volta à realidade. Eu pisquei, olhando para o que eu parei antes de bater em
minha cabeça.

Era uma escova de cabelo gigante. Era grande e redonda com cerdas
que realmente pareciam deixar uma marca se ela conseguisse um bom
golpe. E a julgar por suas ações apenas alguns segundos antes, se eu tivesse
sido mais lento na captação, estaria ostentando um ferimento daquela coisa
e uma dor de cabeça.

—Max! —A demônia-detentora-da-escova exclamou. Ela afrouxou o


aperto da escova que caiu de sua mão, me acertando bem no nariz.

—Droga! —Eu rugi e joguei para longe, atingindo o fundo do


balcão na cozinha com um baque.

—Eu sinto muito! —Ela engasgou, inclinando-se para pegar meu


rosto e inspecionar onde a escova bateu.
Nossos olhares se encontraram.

Por longos segundos, o tempo parou.

Naquele momento fugaz eu percebi duas coisas:

1) Claramente esta não era uma hora do dia em que Max


estaria em casa.

2) Seus olhos eram lindos pra caralho.

Eles eram redondos e grandes, quase inocentes. Esferas cor de avelã


me encaravam, e dessa distância eu podia distinguir as manchas verdes e
douradas que os rodeavam, combinando para fazer uma cor única. As
bordas externas eram em um tom verde floresta, o tipo de verde que eu só
via quando morava na Pensilvânia. Era o tipo de verde que florescia no
fundo da floresta, um verde natural que até agora eu pensava que só a Mãe
Natureza poderia criar.

A forma amendoada de seus olhos estava coberta de cílios


dourados, longos e arrebatadores, que apareciam nos cantos externos.

—Você sempre cumprimenta Max assim quando ele chega em casa?


—Eu perguntei, as palavras literalmente saindo dos meus lábios antes que
eu pudesse pensar sobre o que eu estava dizendo.

Uma única gota de água pingou da ponta de seu cabelo em cascata e


espirrou na minha bochecha, instantaneamente rolando para o lado do meu
queixo.
A ação parecia interromper o que diabos estava acontecendo.

Ela franziu a testa e usou o polegar para limpar a gota de água. —O


que você disse? —Ela perguntou, endireitando-se quando a água se foi.

Meus olhos deslizaram para seu peito, onde a toalha branca enrolada
em seu corpo estava se soltando.

Não era uma toalha muito grande.

Eu olhei para ela e o sangue em minhas veias começou a circular


mais rápido, começando a descer furiosamente direto para a força
descontrolada dentro do meu jeans. Seu cabelo longo e úmido se enredou
em seu rosto e os fios se agarraram aos ombros como velcro.

Porra, sua pele estava lisa. E úmida. Eu assisti com a devida atenção
quando outra gota de água escapou dos fios e deslizou para baixo,
deixando uma trilha úmida sobre o volume de seu seio e desaparecendo
sob o pano branco.

—Max? —Ela perguntou, lembrando-me que ela estava esperando


por uma resposta. Sua voz estava sem fôlego e a fraqueza dela roçou meus
sentidos, fazendo meu pau latejar.

Minhas mãos coçaram para deslizar para dentro de suas coxas e


puxar a toalha para que eu pudesse banquetear-me em toda a sua glória
nua. Eu limpei minha garganta. —Eu disse que não estava esperando que
você estivesse em casa. —Eu finalmente respondi, esperando, por Deus,
que o que eu estava dizendo fosse realmente preciso.

Eu precisava tirar essa mulher de cima de mim.


IMEDIATAMENTE. O único cérebro que estava operando agora era o da
minha calça. Normalmente, eu gostava desse jeito, mas não era um bom
momento.

Esta era a mulher do meu irmão.

Merda.
—Eu tenho uma reunião de negócios durante o jantar e eu queria
me trocar antes de conhecer o cliente. —Ela respondeu com um aceno de
cabeça.

Envolvendo minhas mãos ao redor de sua cintura estreita, levantei-a


do meu colo e coloquei-a de lado. Sua boca formou um pequeno O de
surpresa, e eu me perguntei o que diabos eu estava fazendo que era tão
digno de surpreendê-la.

Eu sorri. Não era a primeira vez que via aquela expressão. Todas as
garotas pensaram que eu era digno delas, uma vez ou outra.

—Você me deixou assustada pra caramba! —Ela disse, um riso


aliviado em seu tom.

—Eu não queria. —Eu disse, levantando-me do chão e me virando


para a cozinha. Quando eu fui ao redor do balcão, eu discretamente movi a
dureza no meu jeans e esperei que ele amolecesse antes que ela notasse.
Mantendo minhas costas viradas, fui em direção à geladeira. Eu precisava
de uma cerveja.

Não havia nenhuma.

Abajur e geladeira sem cerveja. Essa era a porra da Twilight Zone3?

Eu peguei uma garrafa de água (era isso ou Snapple4). Que homem


realmente bebia Snapple?) e torci a tampa, atirando-a na pia como uma
bola de basquete. Tomei um longo gole e percebi que o silêncio na sala era
um pouco intenso.

Eu olhei, limpando a boca com as costas da minha mão. Ela chegou


mais perto. Qual diabos era o nome dela mesmo? Ela estava apenas
segurando a toalha com uma das mãos e pensei em dizer para ela se vestir.

3
- Série norte americana do fim da década de 50 e início da década de 60, traduzida para” Além da Imaginação”.
Era famosa por tratar de temas sobre ficção científica, suspense, fantasia e terror.
4
A Snapple é uma marca de bebidas à base de chá e sucos que é de propriedade da Keurig Dr Pepper
Quero dizer, que tipo de mulher simplesmente desfila molhada e
praticamente nua?

Uma mulher que acha que está em casa com o homem dela.

Seus olhos estavam arregalados quando ela me observou e percebi


que ainda estava usando minhas roupas. Roupas que eu sabia que Max
provavelmente não seria pego usando.

—Onde você conseguiu essas roupas? —Ela perguntou, começando


dos meus pés, pegando meu jeans velho, camiseta e jaqueta de couro preta.

Sim. Ela tinha que ser uma advogada.

—Eu peguei emprestado de alguém no trabalho.

Sua sobrancelha de cor clara se levantou desafiadora. —Alguém no


escritório usa jeans e couro?

Dei de ombros. Foi o melhor que pude fazer.

—Você cortou o cabelo? —Ela perguntou, me estudando de novo.

Eu coloquei a água no balcão e passei a palma da mão sobre o topo


da minha cabeça. Claro que meu cabelo era mais curto que o de Max. O
meu tinha que ser curto por causa do Exército. Eu estava fora agora e
poderia deixar crescer, mas era um hábito mantê-lo curto.

—Sim. Eu pensei que seria mais fácil, você sabe, com o meu
horário. —Eu disse, esperando que ela acreditasse em mim.

—Fica bem em você. —Ela me deu um pequeno sorriso. Um leve


levantar da sua boca cheia, em forma de coração. Lábios completamente
beijáveis.

Mentalmente, eu me dei um tapa. Pare com isso! Esta é a mulher do seu


irmão! Meu cérebro gritou, felizmente assumindo a situação.
—Obrigado. —Eu murmurei, dando toda a atenção para a garrafa
de água gelada no balcão.

—Você conseguiu dormir na noite passada?

Onde ela achou que eu fiquei a noite toda? Ela não parecia
preocupada, nem um pouco. Isso meio que me irritou. Ela deveria estar
preocupada, frenética até, que Max não tivesse voltado para casa ontem à
noite. Quero dizer, merda, era final da tarde e ela ainda não ouvira nada
dele. No entanto, ali estava ela, tomando banho e se preparando para sair
para jantar. Eu peguei a água e tomei um longo gole, esperando reprimir
minha irritação. Eu sabia com certeza que Max não era do tipo que ficava
irritado facilmente. Eu era o cabeça quente, não ele.

Atrás de mim, ouvi ela se mover para a cozinha, seus pés descalços
quase fazendo um som contra o azulejo. Eu me virei quando ela estendeu a
mão e pegou a garrafa de água que eu tinha acabado de beber. Eu assisti
seus lábios em forma de coração envolverem a garrafa enquanto ela tomava
um gole delicado.

Apenas quando eu pensei que estava ganhando o controle da


situação, ela foi e usou seus lábios. Na minha garrafa. —Eu sei que dormir
em seu escritório não é o lugar mais ideal. —Ela respondeu.

Então ela pensou que eu passei a noite no trabalho. Ela não ficou
surpresa também. Isso era uma coisa normal?

Eu assenti. —Eu dormi algumas horas. Então eu derramei café por


todo o meu terno e tive que pedir uma muda de roupa.

—Você tem que voltar? —Ela se mexeu e um leve aroma floral


flutuou em minha direção. Ela cheirava bem. Fresco e... calmo.

Eu nunca soube que uma pessoa poderia ter o cheiro de calma. Ela
tinha essa quietude sobre ela; não calma em sentido literal, mas de forma
figurada. De maneira estável. Como se ela fizesse parte de um painel
elétrico, ela seria o fio terra. Ela seria o fio que impediria os outros fios ao
seu redor de eletrocutar todos com quem entrassem em contato.

A irritação que eu estava sentindo momentos antes desapareceu e eu


mantive minha compostura. —Não, eu não vou voltar a trabalhar hoje à
noite. —Eu ignorei o fato de que minha voz caiu uma oitava.

Seus já grandes olhos se arregalaram ainda mais. Ela estava tão


surpresa que eu não estava planejando voltar correndo para o trabalho? Eu
já fiz a coisa errada?

Antes que eu pudesse fazer uma tentativa de consertar o que diabos


eu acabei de fazer, o som de um celular tocando perto dela a levou até a
bolsa marrom no balcão. Eu observei enquanto ela segurava o celular preto
em sua orelha.

—Charlotte Carter falando.

Charlotte! Esse era o nome dela!

—Sim. —Ela estava dizendo. —Eu vejo, sim, claro. Amanhã está
ótimo...

Ela continuou falando, mas eu parei de ouvir enquanto meu olhar


percorria seu corpo e suas pernas novamente. Suas unhas estavam pintadas
de vermelho.

Era sexy.

Ela suspirou e afastou o celular dela, colocando-o no balcão.

—Tudo certo? —Eu perguntei, forçando meu olhar para cima.

—O cliente teve que reagendar para amanhã.

—Então você faltará ao trabalho?

Ela colocou um olhar engraçado no rosto e olhou para mim. Então


ela disse: —Eu suponho que sim.
—Podemos jantar, então. —Eu disse. Eu não tinha planejado jantar
com ela. Eu planejava passar o mínimo de tempo possível com ela.

Mas isso foi antes de ela me atacar, meio nua, e me acalmar com um
único olhar de seus olhos dourados.

Além disso, eu poderia usar esse jantar como uma espécie de


investigação. Esta mulher, Charlotte, morava com meu irmão. Talvez eu
pudesse aprender coisas que me ajudariam a encontrar os malditos que
assassinaram meu irmão gêmeo. Talvez ela soubesse onde estava o pen
drive.

—Jantar? —Ela perguntou. O jeito que ela disse me fez pensar que
essa sugestão foi uma surpresa. Meu irmão nunca a levou para comer fora?

Dei de ombros. —Estou de folga. Você está de folga. Estou


faminto. Você está magra. Você poderia usufruir de uma refeição. Vamos
comer juntos.

A julgar pelo olhar em seu rosto, eu fiz e disse algo que não era
como Max agiria, novamente. Porra, ser outra pessoa era difícil.

—Você acha que eu estou muito magra?

Bem, merda. Não apenas falei algo fora do personagem, mas cometi
o pecado principal que todo homem sabia que nunca deveria cometer. Eu
comentei sobre o peso de uma mulher.

Eu decidi culpar a atmosfera de Twilight Zone deste minúsculo


apartamento.

Suspirei pesadamente. —Eu não acho que você está muito magra.
Eu acho que você é linda. Vá se vestir para que possamos ir.

Seu rosto suavizou e ela sorriu. —Ok.

Bem, isso foi fácil.


Antes de sair para encontrar uma calça (Por favor, Deus, deixe-a cobrir
aquelas pernas) ela inclinou a cabeça para o lado. —Você não vai se trocar?

Certo.

Era hora de trocar minha jaqueta de couro por algo muito menos
confortável. —Claro. —Eu segui atrás dela, em direção ao quarto, que
estava ao lado da sala de estar.

Meu pau estava se contraindo novamente porque eu estava


imaginando nós dois no quarto nos vestindo...

Charlotte não entrou no quarto, voltando para o banheiro. —Eu


estarei pronta em poucos minutos. —Ela falou quando fechou a porta atrás
dela.

Meus ombros caíram em alívio quando entrei no quarto. Eu não


pude deixar de olhar para a cama, a grande cama que ocupava o quarto.

Imaginei as longas pernas nuas de Charlotte e ela me mostrando os


seios. Eu deveria compartilhar uma cama com ela e não tocá-la. Eu nunca
tinha compartilhado uma cama com uma mulher que eu não planejava
tocar.

Seria uma noite muito longa.


CAPÍTULO 8

Charlotte

Inclinei-me contra a porta do banheiro, pressionando a mão contra


o peito como se o movimento pudesse de alguma forma acalmar meu
coração acelerado. O ritmo acelerado contra a palma da minha mão só
serviu para me lembrar de como eu estava nervosa.

Quando minha vida se tornou tão louca que, quando me deparo


com um barulho na outra sala, eu imediatamente penso que é um intruso
em vez da outra pessoa que realmente mora aqui?

Eu me afastei da porta e fiquei na frente do espelho e olhei para o


meu reflexo. Minhas bochechas estavam vermelhas, meus olhos brilhantes.
Meu cabelo parecia que alguém pegou um batedor de ovos e girou em
torno da minha cabeça na maior velocidade possível.

Assuma o controle de si mesma, Charlotte! Eu exigi de mim mesma. Não


era um intruso.

Então, por que meu corpo reagiu com tamanha surpresa quando vi
Max? Era quase como se meu cérebro não o tivesse reconhecido
imediatamente. Eu estava prestes a espancá-lo com a minha escova de
cabelo. Ele provavelmente pensou que eu era louca porque eu nunca agi
tão impulsivamente durante este ano em que estamos juntos.

A noite passada me assustou mais do que eu percebi. Alterou minha


maneira de reagir às situações. Isso me fez sentir menos no controle. Isso
me fez sentir mais vulnerável. Parecia bobo que um “quase” sequestro
pudesse ter tal efeito em mim. Eu estava levemente envergonhada. Quero
dizer, eu praticamente ataquei o pobre Max.
Ele não pareceu se importar... uma voz sussurrou no fundo da minha
mente.

O rubor já em minhas bochechas se aprofundou e eu olhei ao redor


do ambiente como se para ter certeza de que ninguém estava me
observando. Eu me senti como se tivesse sido pega fazendo algo que não
deveria. Um pouco de emoção percorreu meu corpo. A julgar pelo
comprimento sólido que senti contra a minha coxa antes, Max
definitivamente não tinha se importado com o meu ataque. Sua reação me
surpreendeu. Eu nunca pensei que ele era o tipo de cara que ficaria tão
excitado tão rápido.

Ele parecia diferente esta noite, começando com o jeito que ele
estava. O penteado mais curto definia sua mandíbula, fazendo com que
parecesse mais quadrada, suas feições mais angulosas. Também parecia que
ele não havia se barbeado naquela manhã, o que era muito diferente dele.

E então havia suas roupas. A roupa foi definitivamente emprestada


porque Max não se vestia assim; ele era um cara de terno e gravata. Mas
esta noite tinha um jeans azul desgastado e pendurado baixo em seus
quadris, solto e relaxado. A calça jeans que ele usava normalmente era
escura, e justa. A jaqueta de couro que também estava usando se ajustava
perfeitamente a parte superior de seu corpo, como se fosse um pouco
confortável demais, mas em vez de fazer a jaqueta parecer pequena demais,
fazia com que ele parecesse grande e musculoso.

E sua pegada... querido Deus, sua pegada. A maneira como ele


espalmou minha cintura e me tirou dele como se eu não pesasse nada tinha
sido... Bem, tinha sido sexy. Max nunca me maltratou de qualquer maneira.
Ele também era tão respeitoso, tão cuidadoso comigo, como se eu fosse
quebrar. Essas eram coisas sobre ele que eu sempre achei que eram doces e
cavalheirescas. Mas esta noite, ele não tinha sido doce.

Eu gostei.
Claramente os eventos da noite passada me afetaram muito mais do
que eu percebi. Além de me tornar exageradamente paranoica, eu também
me tornara... Bem, eu não tinha certeza. Mas se eu continuasse de pé aqui
examinando tudo que eu sentia, eu nunca estaria pronta para o jantar.

Pela primeira vez em muito tempo, me senti um pouco tonta ao


pensar em um jantar. Eu não queria mais me enrolar com um filme em um
par de pijamas. A ideia de sair para jantar com Max era excitante. Não era
como se fosse a primeira vez que saíamos, mas esta noite parecia diferente.

Depois de pentear novamente meu cabelo, secar os longos fios com


o secador e aplicar uma rápida rotina de maquiagem de cinco minutos,
vesti a calcinha, o sutiã e a camisola que levei no banheiro comigo. Então
alisei meus fios finos e emaranhados em um coque bem arrumado na base
do meu pescoço.

Eu entrei no quarto com antecipação pulsando em meu abdômen.


Meus olhos imediatamente foram para o lado dele do armário, onde eu
esperava vê-lo em pé.

O quarto estava vazio.

Sentindo uma pontada de desapontamento, rapidamente me vesti


com uma saia preta, uma blusa de seda branca e um blazer preto. Depois
de escorregar em um par de saltos pretos, saí para a sala em busca de Max.

Ele estava esparramado, não sentado, mas esparramado no sofá,


fazendo-o parecer muito menor do que realmente era. Ambos os braços
estavam abertos em seus lados no encosto do sofá, uma perna estava em
cima da mesa de café e a outra estava jogada com o pé apoiado no chão.

Eu nunca o vi parecer tão relaxado. A primeira coisa que pensei foi


que ele iria enrugar o terno que estava usando.

—Você está assistindo o canal de esportes? —Eu perguntei,


absorvendo sua aparência mais uma vez.
Ele sentou-se abruptamente e desligou a televisão. —Era o
noticiário, mas eles estavam falando sobre o jogo. —Ele respondeu,
levantando-se.

Eu esqueci de esportes.

O terno que ele usava não era nada que eu não tivesse visto antes.
Na verdade, era apenas um terno azul comum com um paletó e calça
combinando.

Mas o jeito que ele estava usando... Parecia novo.

O paletó parecia se ajustar aos seus ombros um pouco mais do que


antes. A calça se agarrava à espessura das coxas, em vez de cair. E ele não
estava usando gravata. A camisa branca foi deixada aberta no pescoço,
expondo a pele lisa do pescoço.

Ele ainda não tinha se barbeado.

O contraste de sua mandíbula por barbear contra as linhas elegantes


de seu terno era... impressionante.

Apenas quando eu pensei que meu batimento cardíaco estava de


volta ao controle, ele começou a bater irregularmente mais uma vez. Eu
engoli em seco, incapaz de afastar meu olhar do seu pescoço.

—Está pronta? —Max perguntou. Algo em seu tom me fez olhar


em seus olhos cor de chocolate.

Eu limpei minha garganta e me recompus. —Sim.

—Onde você quer ir? —Ele perguntou, segurando a porta do


apartamento para mim enquanto eu pegava minha bolsa do balcão.

Comecei a responder, contornando-o e entrando no corredor,


quando a forma escura de um homem correndo chamou minha atenção.
Flashes da noite passada me agrediram e, com um grito, tropecei
para trás, tentando fugir. O calcanhar do meu salto preto estalou com um
som, fazendo com que meu corpo balançasse e eu caísse.

Braços sólidos me envolveram por trás, e um peito inflexível me


impediu de cair completamente.

—Calma. —Disse ele, sua voz ao lado da minha orelha, e o barítono


profundo em que ele falou fez os nervos na minha nuca formigarem com
consciência. —Peguei você.

E ele pegou. Era como se seu corpo tivesse se tornado minha rede
de segurança e eu soubesse que, enquanto seus braços estivessem ao meu
redor, nada de ruim iria acontecer.

O homem que estava correndo em minha direção continuou,


murmurando xingamentos enquanto passava. Eu observei, da segurança do
abraço de Max, quando o homem encurralou algo no final do corredor. Ele
inclinou-se e pegou-o e um som raivoso encheu o ar.

Ele girou e olhou para nós, desculpando-se. —Eu sinto muito. O


gato da minha namorada saiu e, embora eu ache que ele é um idiota, ela o
adora.

O gato parecia ofendido e começou a balançar o rabo para frente e


para trás, batendo na coxa do carcereiro com a ponta do rabo branco.

Eu soltei uma pequena risada aliviada e me endireitei, afastando-me


de Max e de seu incrível calor (ele sempre estivera tão quente?). —Sem
problemas.

O homem começou a sorrir, mas foi de curta duração porque atrás


de mim, Max não era tão indulgente. —Veja onde você está indo na
próxima vez. —Disse ele, breve. —Ela poderia ter se machucado.

—Sinto muito. —Disse o homem novamente, correndo de volta


pelo corredor, nos dando um amplo espaço. Olhei de relance para Max,
chocada por ele dizer alguma coisa, e fiquei ainda mais chocada que ele
estivesse olhando para o homem enquanto ele e seu gato corriam para a
entrada de seu apartamento. Antes de entrar, ele olhou para trás para me
dar um olhar de desculpas, mas quando ele pegou o olhar de Max, ele
correu para dentro e fechou a porta.

Eu me virei para perguntar a Max qual era o problema dele, mas


antes que pudesse perguntar, tropecei de novo, esquecendo que o salto no
meu sapato estava quebrado.

Max me pegou pelo cotovelo, me equilibrando.

—Eu quebrei meu sapato. —Eu disse, então me perguntei por que
eu estava dizendo o óbvio.

—Entendo. —O canto da boca dele inclinou.

Nós nos olhamos por longos segundos antes que ele me liberasse
para abrir a porta novamente. —Eu esperarei enquanto você troca.

Dentro do apartamento, respirei fundo. Eu não tinha certeza do que


havia de errado comigo esta noite. Eu estava tão nervosa e assustada.

Claro, isso não foi o que mais me incomodou, porque essas coisas
podem ser explicadas depois da noite passada.

O que mais me incomodou foi a minha reação toda vez que Max me
tocou.

Eu não queria admitir isso.

Mas eu não podia ignorar o que meu corpo estava dizendo


descaradamente. Em todo esse ano em que Max e eu estamos juntos, o
toque dele nunca, nem uma vez, provocou uma enxurrada de borboletas
dentro de mim.

Até agora.
A advogada em mim ficou perplexa com isso. Minha lógica interna
me dizia que não era possível. No entanto, a evidência estava girando
dentro de mim com cada batida irregular do meu coração.

Isso me deixou com uma pergunta retumbante.

Por quê?
CAPÍTULO 9
Tucker

A consciência veio a mim lentamente, como a forma como um fogo


espalha calor em um dia frio de inverno. Ele rastejou sobre minha pele,
trazendo consciência para o meu mundo induzido pelo sono.

A primeira coisa que notei foi o peso ao meu lado, a sensação de


algo ao meu redor. Automaticamente, eu me aproximei; a sensação de sua
pele era tão atraente.

Eu senti como se meu corpo estivesse apoiando seu peso, como se


ela tivesse se enrolado em mim e eu fosse seu colchão. Ela ainda estava
quentinha. O comprimento do braço dela enrolou na minha cintura com as
pontas dos dedos entre mim e os lençóis, como se os dedos dela não
quisessem que eu tocasse em nada além dela.

Sua bochecha estava pressionada contra o meu peito, sua respiração


se espalhava sobre a minha camiseta, e por um minuto fugaz eu desejei que
meu peito estivesse nu para que eu pudesse sentir o efeito completo dela
contra mim.

Meus dedos se contraíram, e foi então que percebi que meu braço
estava em volta de sua cintura, minha mão estava estendida sobre sua
barriga e sua barriga estava nua.

Meus dedos se contraíram novamente.

Meu pau já duro empurrou sob os lençóis com antecipação. Eu


nunca fiz sexo de manhã com um encontro de uma noite... mas eu poderia
fazer uma exceção apenas desta vez.
Meu pau contraiu de novo e eu gemi. A necessidade de me enterrar
em algo úmido e quente era um pouco esmagadora. Droga, a noite passada
não tinha me saciado.

Ela se mexeu em seu sono, sua coxa enganchando minhas pernas e


descansando lá. Comecei a desenhar círculos lentos e deliberados sobre a
pele nua de sua cintura. Aproximando-me enquanto me movia para o cós
do pijama dela...

Meus olhos se abriram.

Pijama.

Eu não estava na cama com um encontro de uma noite só.

Eu estava na cama com Charlotte.

Eu congelei, imaginando o que diabos eu estava pensando. Meu


Deus, se eu não tivesse percebido o que estava fazendo, provavelmente
começaria a masturbá-la!

O que diabos ela estava fazendo em cima de mim como um


cobertor? Quando fomos para a cama na noite passada, tive a certeza de
ficar do meu lado da cama. Longe dela. No começo, eu estava preocupado
que ela achasse estranho, mas ela não pareceu achar estranho. Claro, eu
deveria ter percebido que ela e meu irmão provavelmente não transavam
todas as noites quando ela ia para a cama vestindo aquele ridículo pijama de
cetim.

Calças e uma camisa.

Ela realmente dormia assim o tempo todo?

Sim. E julgando pelo interior das gavetas de Max, ele também. Que
diabos era isso, Leave it to Beaver 5?

5
Série de TV Americana, de 1957, sobre um garoto (Cleaver) curioso e muitas vezes ingênuo
O pensamento de usar uma camisa de manga comprida de cetim
para dormir, ofendeu a minha masculinidade, então me comprometi
vestindo as calças (Graças a Deus elas eram azuis; ultrapassaria o meu
limite se fosse uma cor feminina) e uma camiseta branca.

Se Charlotte notou a mudança na minha roupa de dormir, ela não


tinha dito. O que significa que ela provavelmente não tinha notado. Ela
não perdia nada.

E ela definitivamente era uma advogada.

Eu descobri isso no jantar ontem à noite… junto com um monte de


outras informações inúteis.

Algumas das coisas que aprendi são as seguintes:

1) Max bebia vinho tinto no jantar. (Eu estava em


abstinência de cerveja.)

2) Max e Charlotte não saíram para jantar juntos em meses.

3) Eles eram ambos viciados em trabalho.

4) Seu cabelo parecia estúpido em um coque.

5) Ela não sabia onde estava o pen drive.

Muito por usar a refeição da noite passada como minha primeira


rodada de investigação.

Tanto quanto eu poderia dizer, ela não sabia nada sobre um pen
drive. Ela nem parecia perceber que Max estava tendo problemas no
trabalho (o problema era que seus colegas de trabalho queriam matá-lo).
Francamente, eu estava pronto para descrevê-la como inútil para o
caso, mas algo me impediu disso.

Porque em meio a toda a informação inútil e chata da conversa de


jantar, eu peguei algo. Algo que me interessou.

Charlotte estava nervosa. A maneira como seus olhos observaram o


restaurante, a rua, os corredores do prédio... me dizia que ela tinha medo
de alguma coisa.

Mas do quê?

Pensei em perguntar a ela, mas não tinha certeza se deveria.

Ela meio que agiu como se não quisesse que eu visse seu medo.

Oh, Charlotte, o que está acontecendo nessa linda cabeça? Minha mão se
moveu com o pensamento, gentilmente roçando seu cabelo, meus dedos
emaranhando um pouco nos fios macios.

Eu congelei.

Eu não acariciava o cabelo das mulheres.

Nunca.

A ação deve ter parecido estranha para ela também, porque ela
acordou imediatamente e, a julgar pela forma como seu corpo ficou tenso,
nossa pequena posição de dormir não era uma coisa típica.

Ela era frígida ou algo assim?

Usando o cabelo em um coque apertado na base do pescoço, um


terninho preto e saltos para o jantar e um pijama para dormir... talvez ela
fosse péssima na cama. Talvez ela fosse uma daquelas mulheres que
odiavam sexo. Talvez meu irmão tivesse sido infeliz nesse relacionamento e
estivesse procurando uma saída.

Uma imagem de suas unhas vermelhas brilhou em minha mente.


Mulheres frígidas não pintavam as unhas de vermelho.

Elas pintavam?

Ela inclinou a cabeça para trás, sua bochecha roçando meu músculo
peitoral, fazendo meu mamilo endurecer como uma pedra. Havia um
pouco de surpresa em seus olhos. —Bom dia. —Ela disse, com a voz
rouca de sono.

—Oi. —Eu murmurei, meus dedos em sua cintura. Ela reprimiu um


suspiro.

Isso me deu uma ideia. Uma divertida.

Eu ia descobrir se mulheres com unhas pintadas de vermelho


poderiam ser frígidas ou não.

Eu acariciei a área de sua cintura que estava nua, logo abaixo de


onde sua camisa tinha subido. Sua pele era lisa e quente, macia ao toque, e
eu a acariciei novamente. Ela me observou com olhos arregalados, sem
desviar o olhar, enquanto eu ficava mais ousado, descendo meus dedos,
roçando o osso do quadril que se projetava suavemente para baixo,
acariciando a carne macia de sua barriga e desenhando um círculo em torno
de seu umbigo.

Eu a ouvi engolir, um movimento longo, junto com uma ingestão


suave de ar.

Eu estava afetando-a.

Avançando um pouquinho mais ao sul, brinquei com o cós de suas


calças de cetim, deslizando logo abaixo delas, como se estivesse pensando,
como se estivesse planejando... ir mais abaixo.

Eu senti a batida do coração dela ao meu lado. Estava acelerado,


batendo pesadamente em seu peito. Colocando meus dedos dentro de suas
calças, olhei para ela. Eu peguei seu olhar avelã com o meu e uma pequena
onda de ternura me encheu.
Era uma sensação que eu não estava acostumado e fechei os olhos
contra ela. Mas mesmo quando eles fecharam, eu ainda podia senti-la. Eu
podia sentir a maciez de sua pele, o bater de seu coração. Sem pensar,
inclinei-me, colocando meus lábios contra o couro cabeludo, respirando
aquele aroma fresco e calmante.

Eu permiti que minha boca se demorasse, roçasse sua testa quando


me afastei. Sua mão apertou minha cintura e então começou a se mover,
deslizando para cima em direção ao meu peito e se acomodando bem
acima do meu coração. Seus dedos torcidos no algodão macio da camisa, e
eu juro que era como um convite aberto para seus lábios em espera.

Respondi ao convite instantaneamente.

Movendo-me rapidamente, eu rolei sobre ela, prendendo seu corpo


no colchão, e desci, reivindicando sua boca com a minha.

Um choque elétrico de satisfação passou através de mim como um


raio em uma tempestade. Eu aumentei a pressão, aproximando-nos ainda
mais, absorvendo a sensação da sua boca em forma de coração, esfregando
meus lábios nos dela, criando um delicioso atrito entre nós.

Ela gemeu suavemente e eu passei minha língua por dentro da sua


boca, passando por seus dentes e roçando o céu da boca. A palma da mão
dela achatou contra o meu ombro, me puxando ainda mais para perto.

Eu a beijei, nossos lábios se uniram e eu não interrompi o contato,


nem por um segundo sequer. Era como se nossos lábios fossem dois imãs
que não aguentavam mais a distância.

Meus quadris se moveram por vontade própria, avançando para


frente, balançando contra seu núcleo. Eu estava tão duro que era quase
doloroso. Meu corpo clamava por liberação, e naquele momento, eu só
conseguia pensar em uma coisa: enterrar-me profundamente em seu corpo
e bater até despejar nela cada gota de desejo de dentro de mim.
Abaixo de mim, Charlotte engasgou, afastando nossos lábios e
olhando nos meus olhos. Sua respiração estava pesada e com cada
respiração, seu peito empurrava contra o meu. O desejo em seus olhos era
inegável. Todos os pensamentos desta mulher sendo frígida desapareceram
completamente e a fome brutal tomou conta.

Abaixando-me para capturar seus lábios, um sinal sonoro alto


interrompeu o momento.

—Oh! —Ela disse, balançando para fora de mim para rolar e apertar
um botão no despertador ao lado da cama.

Eu desmoronei nos lençóis e enfiei a cabeça em um travesseiro.

Dormir com Charlotte não estava no plano.

Estar excitado por Charlotte não estava no plano.

Pela primeira vez, eu teria que mantê-lo na minha calça. Como


diabos eu manteria isso na minha calça quando ele estava se esforçando
para sair?

—Max? —Uma voz à minha esquerda perguntou baixinho. Senti


seu tímido toque no meu ombro.

Eu me virei, olhando para o teto. —O quê? —Eu perguntei


rispidamente.

—Não importa. —Ela respondeu, afastando-se de mim e da cama.


Pouco antes de ela sair completamente, eu rolei e peguei seu pulso.

—Eu não estou bravo com você. É do alarme que estou com raiva.
—Eu fui um idiota antes. Normalmente eu não me importo, mas eu teria
que viver com ela por mais algum tempo e, ela não sabia disso ainda, mas
ela teria que passar por um péssimo momento. Descobrir que meu irmão
estava morto seria o suficiente para ela lidar.
Eu não queria que ela pensasse que ela tinha feito algo errado, algo
que me fez não a querer. A verdade era que se aquele alarme não tivesse
disparado, eu provavelmente estaria profundamente nela neste momento.
A realização fez meus dentes rangerem. Eu não conseguia lembrar da
última vez que eu quis tanto uma mulher.

Ela olhou por cima do ombro. Parte do cabelo dela havia caído
daquele coque ridículo que ela fez ontem e emoldurou seu rosto. —
Está bem.

Pensei em afastar os fios loiros para poder ver melhor os olhos dela.
Eu não fiz isso. Eu não confiava em mim para tocá-la agora.

Ela saiu da cama e eu a observei quando ela foi até a cômoda de


madeira e tirou o que parecia ser uma calça preta e uma blusa de lycra.
Definitivamente não eram roupas de advogada. Olhando para o relógio,
percebi que eram apenas seis horas da manhã.

Lembrei-me do ginásio que vi no primeiro andar quando cheguei


ontem.

Um treino parecia uma boa ideia agora. Se eu não pudesse fazer


sexo, eu poderia liberar minha tensão na esteira.

Meus pensamentos pararam quando ela começou a desabotoar sua


camisa. Eu deveria desviar o olhar.

Eu deveria desviar o olhar agora.

Para o inferno com isso. Eu não iria olhar para longe.

O último botão se soltou e o cetim branco de sua camisa escorregou


para baixo, sobre os braços. Ela não estava usando sutiã. Ela estava
completamente nua.

Seus seios eram cheios e firmes. Globos sedosos que se


arredondavam fortemente em sua pequena estrutura, com mamilos rosados
que estavam enrugados em pequenos grumos. Quando ela se inclinou
levemente para pegar a regata, eles se moveram para frente, pendendo um
pouco, e eu tive a visão de capturar um daqueles globos perfeitos na minha
boca e provocar aquele pequeno montículo rosa com a minha língua.

Oh, os sons que eu poderia fazê-la gemer.

Sim, eu precisava de uma corrida. Uma longa corrida seguida por


uma ducha gelada.

Ela levantou os braços e puxou a regata cinza sobre a cabeça e por


alguns momentos eu fiquei boquiaberto em seu torso nu sem me conter.
Seu rosto estava perdido na regata e tudo que eu podia ver era toda aquela
pele sedosa e perfeita...

—Se importa se eu me juntar a você na academia? —Eu disse,


pulando para fora da cama e desviando meu olhar para longe dela.

Ela fez uma pausa. —Você não vai malhar na academia do


escritório hoje?

Merda. Eu fiz uma careta para a parede. Max normalmente


trabalhava no escritório. Ele dormia no escritório. Ele ia para casa alguma
vez?

—Eu preciso trabalhar durante o almoço. —Eu menti. —Dia cheio.

—Ah. Parece bom, então.

Depois de ajustar meu pau (eu juro que é tudo que eu faço por
aqui), eu fui em direção ao armário. Eu dei dois passos.

Lá no final da cama ela estava curvada, tirando o pijama e


empurrando sua bunda coberta pela calcinha na minha cara.

Essa mulher achava que eu era um santo?

Ela não sabia que tinha que guardar as coisas se não queria que eu
avançasse em cima dela?
Ela se abaixou um pouco mais, puxando as leggings sobre os pés.
Sua bunda era em forma de coração assim como sua boca...

Pigarreei, mudei de curso e entrei no banheiro. Só depois de ouvi-la


na cozinha eu voltei para o quarto para encontrar um par de moletons para
me exercitar.

Ela me encontrou na porta da frente e estendeu uma garrafa de água


para mim, que eu peguei. —Obrigado.

Eu a segui até a academia no primeiro andar, alternando meu olhar


entre a bunda dela e aquele coque horrível. Por que ela punia o cabelo
dessa maneira?

Ela tinha um belo corpo. Era claramente visível nas roupas de


ginástica e não escondido sob uma roupa de freira ou pijamas folgados.
Enquanto eu a observava no Elíptico6, percebi que o que eu estava vendo
agora era provavelmente o mais “descontraída” que ela conseguia ficar.

Charlotte Rose Carter era uma viciada em trabalho tensa e sensata.


Se minha teoria estava certa, ela provavelmente era uma defensora da
rotina, nunca se divertia (o que ela provou no jantar digno de cochilar) e
nunca fez sexo.

Não admira que meu irmão tenha dormido no trabalho.

Eu olhei para a bunda dela saltando enquanto ela treinava.


Afastando meu olhar, me virei na esteira e comecei a me aquecer. Quando
meus olhos começaram a se desviar em sua direção novamente, aumentei a
velocidade e comecei a correr.

6
Ela com certeza agia como se nunca tivesse feito sexo, e enquanto
eu sentia pena do meu irmão, eu não pude deixar de lembrar o jeito que ela
reagiu ao meu toque esta manhã, quando ela estava presa embaixo de mim.
Houve um incêndio dentro de Charlotte. Estava enterrado sob suas roupas
fechadas, cabelo preso e comportamento adequado.

Isso me fez pensar se Max nunca se preocupou em cavar fundo o


suficiente para encontrá-lo.
CAPÍTULO 10

Charlotte

Eu não conseguia me concentrar. Não importava quantos cafés eu


consumia ou quantas águas geladas eu bebia. Eu abri a janela do meu
escritório para deixar entrar o ar fresco. Eu coloquei uma música de rock
irritante e agitada no fundo enquanto eu passava por depoimentos.

Nada funcionou.

Minha mente repetiu esta manhã uma e outra vez.

Meu corpo reviveu a sensação das pontas dos dedos de Max contra
a minha pele. A sensação de arrepios subindo em minha pele quando seus
lábios roçaram meu couro cabeludo foi um eco recorrente em todo o meu
corpo.

Minhas roupas pareciam apertadas. Minha pele estava muito quente.


E eu estava com fome. Mas nada que eu comia ou tentava comer era
apetitoso.

Nunca, ele nunca me fez sentir assim. Ninguém nunca me fez sentir
assim.

Isso era desejo?

Era por isso que todas as garotas no escritório ficavam em volta do


bebedouro na segunda-feira de manhã rindo?

Eu pensei que conhecia o desejo. Eu pensei que entendia a atração


entre um homem e uma mulher.

Eu não sabia de nada.


Antes de guardar os documentos que precisaria mais tarde,
reconfirmei com meus clientes que a reunião do jantar ainda estava
marcada. Depois juntei tudo que eu precisaria e comecei a caminhar para
casa.

Meu escritório ficava a vários quarteirões do nosso apartamento,


mas ainda era um passeio administrável. Quando o tempo estava ruim, eu
normalmente só pegava um táxi, mas por outro lado gostava de andar,
mesmo que estivesse frio.

Muitos dias a minha caminhada de ida e volta do trabalho era o meu


momento de silêncio. Meu tempo para relaxar entre trabalho, obrigações
sociais, exercício... Era o meu tempo de simplesmente ser eu.

Eu não tinha certeza do que isso dizia sobre mim, que o meu tempo
“tranquilo” acontecia nas ruas lotadas e barulhentas da cidade de New
York, e foi a única coisa que eu não tentei analisar. Provavelmente porque
temia a resposta a que poderia chegar.

Hoje meu tempo de silêncio foi invadido.

Não por pensamentos do encontro do meu trabalho hoje à noite.

Não pelas memórias do meu tempo na cama com Max esta manhã.

Eu fui invadida por um sentimento. Uma sensação arrepiante de


estar sendo observada. Isso não era como aquele sentimento excessivo de
livros e filmes. Não era um arrepio na nuca, ou a sensação de parar e olhar
para trás e não ver nada.

Era uma consciência. O tipo de consciência que parecia um vento


frio roçando sua pele. Um poço de medo que se instalava em seu estômago
e te deixava esperando. Esperando que algo ruim acontecesse.

Eu não me incomodei em olhar para trás. Como eu disse, ninguém


estaria lá. Pelo que eu sabia, esse era apenas outro efeito colateral da outra
noite.
Seria possível ter um transtorno de estresse pós-traumático de
tentativa de sequestro? Isso pareceu bastante dramático e eu não era um
tipo de pessoa dramática.

Eu era sensata. Eu era esperta.

Parei de andar e chamei um táxi.

Eu fiquei o resto do caminho para casa em silêncio. Mas não foi


silencioso.

Minha mente estava cheia de mais pensamentos do que o habitual.


Como se alguém derramasse tudo no meu cérebro e sacudisse tudo.
Normalmente meu cérebro era como um arquivo. Arrumado e ordenado.
Eu pensei em Max e seus lábios. Eu pensei sobre os pontos de discussão
que eu inventei para o jantar. Eu pensei sobre o que eu deveria usar para o
jantar. Pensei em Max e na maneira como ele parecia naquela jaqueta de
couro ontem à noite. Eu pensei sobre aquela sensação assustadora que eu
tinha e me perguntei se era seguro entrar no meu apartamento e ficar
sozinha.

No momento em que cheguei ao prédio, paguei ao motorista e me


dirigi para dentro, não me importando se havia um exército de ursos
raivosos em minha casa. Eu estava chateada, frustrada e levemente
assustada. Se alguém estivesse lá em cima esperando por mim, eu os
espancaria com a minha pasta e chamaria a polícia.

Eu sabia que Max não estaria em casa, ainda era cedo demais, mas
eu esperava vê-lo novamente. Eu me perguntei se ele me daria aquela
sensação de vibração dentro de mim. Eu me perguntei se ele me tocaria... e
qual seria o efeito desse toque.

Eu mal notei o pequeno papel preso na porta da frente quando a


destranquei e entrei.
Era branco e amarelo com as palavras “primeira tentativa”
circuladas ao lado. Revirei os olhos e tirei-o da porta antes de fechá-la e
tranquei a fechadura.

—Mãe. —Eu gemi em voz alta. —Quantas vezes eu te disse para


me mandar coisas no trabalho?

Eu poderia simplesmente parar de dizer a ela; ela não ouviria. Ela


não entendia a quantidade de horas que eu trabalhava. O fato de que eu
nunca estava em casa quando o cara da UPS7 fazia entregas e, em seguida,
eu teria que ir até a agência da UPS para reivindicar o meu pacote, era algo
que ela nunca entenderia.

Eu ri enquanto seguia para o quarto. Ela provavelmente fez isso de


propósito. Era sua maneira de me fazer sair do trabalho mais cedo, pelo
menos de vez em quando, para chegar ao correio antes que eles fechassem.

—Bela jogada, mãe. —Eu disse para mim mesma. —Bela jogada.

Enfiei o papel de tentativa de entrega da UPS na minha bolsa e


joguei-a na cama. Eu não senti vontade de tomar banho de novo hoje,
então em vez disso, eu mudei para uma saia e casaco preto e reapliquei
minha maquiagem para que ela parecesse fresca. O coque em que eu
penteei meu cabelo ainda estava no lugar, então não me incomodei em
voltar a pentear os cabelos.

Eu parecia profissional. Eu parecia uma mulher para ser levada a


sério.

Eu tirei minhas anotações para ler antes da reunião. Conhecer os


detalhes pessoais gerais e pormenores sempre ajudava a fechar um acordo
porque mostrava que a empresa fazia o dever de casa e era minuciosa.

7
Empresa de transporte expresso e entrega de pacotes, também é uma fornecedora líder em transporte
especializado, logística, capital e serviços de e-commerce.
O tempo todo em que eu lia, meus olhos se desviavam para a porta
da frente. Fiquei me perguntando sobre Max, sobre a que horas ele estaria
em casa hoje à noite.

Eu queria vê-lo novamente. Eu não entedia o porquê, mas algo


estava diferente em Max, algo havia mudado. Não só isso, mas havia uma
tensão entre nós que nunca senti antes. Quando estávamos juntos, o ar da
sala parecia mais quente, parecia crepitar.

Eu senti o sangue fugir do meu rosto.

Será que ele estava com raiva de mim?

Eu fiz algo errado sem perceber? Max estava pensando em terminar


nosso relacionamento?

Isso explicaria seu comportamento rude, suas respostas atrasadas


quando eu fazia uma pergunta. E quando ele falava às vezes ele era tão
vago que era como se eu estivesse conversando com outra pessoa. Max
nunca foi vago. Ele ia direto ao ponto. Ele odiava perder tempo com
detalhes que não importavam.

E o jeito que ele me beijou esta manhã...

Seus lábios me deixaram em chamas. Ele nunca me beijou assim


antes.

Mesmo em um sábado.

Talvez não tenha sido desejo o que eu estava sentindo. Talvez o


calor, essa faísca, fosse raiva.

Talvez houvesse outra pessoa. Talvez Max tivesse se apaixonado


loucamente por outra mulher e simplesmente não soubesse como me dizer.

Eu arrumei minhas anotações e alisei minhas roupas. Meu estômago


parecia revirar. Sim, Max e eu nunca tivemos um ótimo romance ou
namoro épico. Nenhum de nós teve tempo para encontros, dias
preguiçosos ou viagens de fim de semana. Isto não era um filme. Esta era a
vida real e nós dois tínhamos objetivos de carreira elevados. Nós dois
sabíamos o que queríamos.

Era natural que dois profissionais em ascensão no mundo


corporativo de New York fossem uma combinação perfeita. Suas conexões
se tornaram minhas conexões e as minhas as suas. Todos sempre diziam
que éramos o par perfeito quando estávamos em eventos e jantares
corporativos.

Eu pensei que ele estava feliz.

Eu pensei que eu estava feliz.

Eu mal notei o frio quando saí para a calçada e levantei o braço para
pegar um táxi. Meus pensamentos conturbados eram muito mais
arrepiantes do que o vento jamais poderia ser.

Se eu estava tão feliz, então por que a ideia de Max terminar nosso
relacionamento não me reduziu a um monte de lágrimas?
CAPÍTULO 11

Tucker

O prédio alto era todo de vidro e aço, imponente, rodeado pela


calçada e rua movimentada como uma espécie de castelo entre os
camponeses.

Não me fez sentir inferior; apenas me irritou.

Este foi o prédio onde meu irmão encontrou sua morte. Este foi o
edifício que em alguns aspectos, em última análise, reivindicou sua vida.
Sim, ok, então os edifícios não podiam matar pessoas... mas as coisas que
aconteciam dentro das paredes dos edifícios certamente podiam.

A camisa e a gravata em volta do meu pescoço pareciam uma corda,


e eu rolei meus ombros para trás, tentando afastar a sensação e os
pensamentos da morte do meu irmão. Eu desejei que eu pudesse entrar lá,
esmagar algumas cabeças e quebrar algumas mandíbulas..., mas eu não
podia.

Sim, seria satisfatório, mas isso não me ajudaria a encontrar o


assassino de Max.

Inclinei a cabeça e olhei para o prédio mais uma vez, vendo-o sob
uma nova perspectiva.

O assassino de Max estava lá dentro.

Subi para as largas portas de vidro que davam para a calçada e,


quando cheguei, elas se abriram e um porteiro apareceu em um terno
apertado, com um sorriso.

—Bom dia, Sr. Patton!


Eu não estava acostumado a ser chamado de Sr. Patton. Eu estava
acostumado a apenas Patton. Mas ele não estava falando comigo. Ele
estava falando com o Max.

—Bom dia. —Eu disse, inclinando o queixo. —Tenha um bom dia.

—Você também! —O porteiro falou quando pressionei o botão do


elevador para me levar ao décimo segundo andar. Infelizmente, eu não era
o único no elevador, mas ninguém falou nada enquanto todos nós
subíamos em silêncio, fazendo várias paradas ao longo do caminho.

Quando chegamos ao meu andar, as portas se abriram


silenciosamente e eu saí para a sala de recepção do escritório em um piso
de ladrilho de cores claras e paredes pintadas de creme. A recepção era
grande e ocupava uma enorme quantidade de espaço no andar, e enquanto
eu caminhava, uma recepcionista de cabelos escuros em um terno
vermelho-brilhante olhou para cima.

Ela deu uma segunda olhada.

—Sr. Patton! —Ela disse, levantando-se, o cabelo escuro caindo


sobre os ombros.

—Bom dia. —Eu disse, segurando minha pasta um pouco mais


apertada. Eu esperava que ela não esperasse conversa fiada, porque eu
planejava ir direto ao meu escritório e me fechar. Eu não queria lidar com
ninguém que eu não precisasse. Quanto menos eu falasse, mais fácil seria
me passar pelo Max.

A recepcionista me observou com aquele olhar estranho no rosto e


comecei a sentir pequenos sinais de alerta. Ela não estava me esperando
hoje? Porque se ela não estivesse, então isso significava que ela estava na
trama para matar Max.

—Algo está errado? —Eu perguntei friamente, olhando ao redor


procurando algum tipo de crachá ou placa de mesa. Eu não vi um.
—Não... eu... —Ela gaguejou e eu parei de caminhar em direção ao
corredor que eu sabia que levava ao escritório de Max e me virei para olhar
diretamente para ela.

—Isso não soou muito confiante.

Ela se mexeu na cadeira. —Eu só não esperava ver você... —Sua


voz desapareceu.

—Por quê? —Eu perguntei, sem expressão.

—Porque... —Ela começou a molhar os lábios com a língua. —Eles


me disseram que você não voltaria. Eles estão limpando seu escritório.

Filhos da puta.

Senti meus olhos se estreitarem e a raiva obscurecer minha visão.


Aqueles idiotas não sabiam com quem estavam lidando. —São eles? —Eu
perguntei, meu tom assumindo uma calma absoluta. —Eu não tinha
percebido que tinha sido demitido.

A garota olhou para mim com uma mistura de simpatia e alarme em


seus olhos.

—Eu vou descobrir o que está acontecendo agora.

Ela não tentou me impedir enquanto eu caminhava pelo corredor,


passando por escritórios e cubículos enquanto eu seguia adiante. Várias
pessoas gritaram saudações e eu as devolvi, mas quando me aproximei de
onde sabia ser meu escritório, comecei a ter uma sensação mista. Sensação
de surpresa. Sensação de confusão.

Se eu tinha alguma dúvida de que alguém nesta empresa matou meu


irmão, eu com certeza não tinha mais.

Eu me perguntei o que essas pessoas tinham dito quando ele não


apareceu ontem e agora alguém estava em seu escritório, limpando todas as
suas coisas.
O pensamento fez meu coração começar a bater furiosamente. Eles
provavelmente estavam procurando em seu escritório, procurando pelo
pen drive.

Eu tinha que encontrar primeiro.

Apressando meus passos, aproximei-me do pequeno escritório que


Max ocupava. A porta estava entreaberta e por dentro eu podia ouvir
alguém vasculhando papéis e abrindo as gavetas da escrivaninha.

Coloquei a palma da mão na frente da porta de madeira, a porta que


ainda tinha o nome de Max, e a abri.

O homem em pé atrás da minha mesa levantou a cabeça, irritado.

A irritação desapareceu rapidamente e eu fiquei muito contente de


ver um choque evidente em todo o seu corpo.

Eu soube então que esse bastardo tinha uma mão no assassinato do


meu irmão.

Manchas vermelhas que pareciam suspeitosamente com sangue,


nadavam diante dos meus olhos, bloqueando muito minha visão e me
fazendo pensar em causar-lhe uma dor séria. Eu nunca odiei alguém apenas
à vista até agora. Mesmo que ele não tivesse me dado um olhar tão óbvio
de culpa, eu o odiaria.

Ele parecia sarcástico. Ele parecia sujo. Ele parecia um homem de


negócios corrupto que não se importava com ninguém além de si mesmo.

Seria um prazer absoluto fazer esse imbecil sofrer.

Inclinei a cabeça para o lado e olhei de relance para a caixa na minha


mesa, os papéis bagunçados e o olhar culpado aparente em seu rosto feio.
—Alguém esqueceu de me dizer que fui demitido?

—Maxwell. —Disse o homem, puxando casualmente a mão da


gaveta em que vasculhava. Ele deu uma risada nervosa e então olhou para a
porta, a porta que eu estava bloqueando. Ele olhou para mim, colocando
um sorriso falso em seu rosto. As pequenas gotas de suor que se
acumularam em sua testa me deram uma imensa quantidade de prazer.

—Quem disse que você foi demitido?

—Bem, a recepcionista pareceu surpresa em me ver. Juntamente


com vários outros funcionários. Por que outro motivo você estaria
mexendo na minha mesa e empacotando meus pertences?

Ele limpou a garganta. —Você certamente não está demitido! —Ele


tentou rir. Parecia mais como se ele estivesse sendo estrangulado. —
Ficamos preocupados ontem quando você não chegou para trabalhar. Nós
tentamos ligar, mas você não estava respondendo. Nós estávamos com
muito medo de que algo estivesse errado.

—Então você veio aqui automaticamente para guardar minhas


coisas?

—Eu só não queria que nada acontecesse com seus itens enquanto
estávamos descobrindo onde você estava.

Que filho da puta. Eu sinceramente queria bater os nós dos meus


dedos na boca desse imbecil. Esse filho da puta achava que meu irmão
estava morto.

Eu tomei um fôlego, segurando meu temperamento prestes a


explodir. —Então eu não estou demitido?

—Claro que não! Nunca demitiríamos um dos homens mais


brilhantes, jovens e promissores desta firma.

Aham.

E uma mãe gosta de ver seus filhos saindo para a guerra.

—O que aconteceu ontem? Não é comum você faltar. Não ligar.


Algo está errado? Charlotte está bem?
Meus dentes de trás rangeram. Eu não gostei de ouvir o nome de
Charlotte nos lábios desta escória.

—Charlotte está bem. —Eu disse, baixinho. —Eu tive um pequeno


acidente.

—Oh? —Ele disse. O suor em sua testa era muito mais


pronunciado agora.

—Alguém tirou meu carro da estrada. —Eu disse, observando-o


com muito cuidado.

Seus olhos se arregalaram e seus lábios se separaram. Era uma boa


expressão de surpresa. —Meu Deus! Você não ficou ferido?

—Não, mas meu carro foi destruído. Foi uma grande bagunça para
limpar. —Eu disse, calmo. —E meu celular foi destruído, então eu não
pude ligar. Tenho certeza que você vai entender. —Eu olhei diretamente
nos olhos dele, não recuando, nem mesmo desviando o olhar.

—É claro, é claro. —Ele deu a volta na mesa e apontou para meu


escritório. —Estou tão feliz que você está bem.

Eu quase ri. Eu considerei pegar o grampeador no final da mesa e


bater na cabeça dele. Eu considerei confrontá-lo aqui e agora sobre seus
negócios sujos e dissimulados.

Mas eu não fiz isso.

Eu precisava me controlar.

O autocontrole não era algo em que eu era bom.

—Havia algo que você precisava? —Eu disse, mudando de assunto


abruptamente. Eu queria mantê-lo apreensivo.

—Desculpe?
—Você estava mexendo na minha mesa. Existe algo que você
precisava? Um arquivo? Um número de telefone? —Um pen drive.

—Ah, sim. —Disse ele, olhando ao redor. —Eu estava procurando


o arquivo de conta do Matthews.

—Provavelmente estava no meu carro na outra noite. Nada foi


aproveitado.

Seu rosto empalideceu. —Você tem muita sorte de não ter sido
ferido.

—Oh, eu não sei sobre sorte. —Eu disse, andando e me sentando


na cadeira preta atrás da minha mesa. Depois de ficar confortável, olhei
para cima. —Eu chamaria de intervenção divina.

—Você chamaria?

—Não era minha hora de morrer. Ainda há algumas coisas aqui na


Terra que eu preciso fazer. —Eu gostei do tom sinistro das minhas
palavras. Eu esperava que ele entendesse exatamente o que eu estava
dizendo.

Eu estou vindo para você, filho da puta.

—Bem, estamos certamente felizes em ter você de volta, Maxwell.


—Disse ele, virando-se para sair.

—Sr. Wallace. —Eu chamei e ele se virou de volta. Graças a Deus,


os federais me fizeram aprender alguns dos nomes das pessoas que
trabalhavam aqui (ou melhor, os suspeitos).

—Vou pegar outra cópia do arquivo que você estava procurando e


passar para você o mais rápido possível.

—O arquivo? —Ele disse, como se não tivesse ideia do que eu


estava falando.
—O arquivo de Matthews? —Eu disse o que era óbvio.

Idiota.

—Ah, sim. Por favor, pegue-o para mim. Eu preciso dele


imediatamente.

—Vou apenas pegar a informação do meu pen drive aqui e imprimi-


lo. —Eu dei um tapinha na minha pasta enquanto ele se afastava.

Minhas palavras pararam seus passos.

Ele se virou para olhar para mim.

—O que você disse?

—Eu disse que a informação que você estava procurando está no


meu pen drive.

Nossos olhares se travaram.

Nos momentos que se passaram, nós dois sabíamos exatamente do


que estávamos falando.

—Seu filho da puta. —Ele murmurou.

Eu sorri.

Foi um sorriso real. O sorriso de um predador. —Algo errado, Sr.


Wallace? —Eu perguntei inocentemente.

Seu rosto corou e ele deu um passo para frente. Eu não podia
esperar para ouvir a ameaça que ele estava prestes a soltar. Isso me fez
desejar estar usando uma escuta.

Antes que ele pudesse falar, alguém entrou no meu escritório atrás
dele. Era um homem de cerca de sessenta anos, com cabelos grisalhos e
um terno impecável.

—O que está acontecendo... —Suas palavras pararam.


Ele olhou para mim.

Ele olhou para o Sr. Wallace. O seu filho.

Sr. Wallace pai, era a força motriz por trás desta empresa. Ele estava
no comando há quase trinta anos. Nos últimos cinco anos, seu filho,
Johnathan Wallace (o pequeno merdinha que eu queria socar), veio a bordo
e foi aí que a lavagem de dinheiro, a fraude e a espionagem começaram a
acontecer. Foi o que o FBI me disse.

Olhando para os dois lagartos agora, eu diria que os federais


estavam certos.

—Maxwell. —Disse Sr. Wallace pai. —Estávamos preocupados


com você.

Eu sorri e me recostei no meu lugar. —Eu estava apenas dizendo ao


seu filho aqui que tudo estava bem.

Sr. Wallace olhou para Sr. Wallace Jr. Eles trocaram uma palavra
silenciosa.

—Maravilhoso! —Sr. Wallace pai disse.

—Se algum de vocês precisar de alguma coisa, estarei no meu


escritório o dia todo, atualizando.

—Bem, então. —Sr. Wallace começou. —Tenha um ótimo dia.

Eu os observei saírem da sala e então me levantei para fechar a


porta do meu escritório. Antes disso, vi os dois homens entrarem num
grande escritório no canto e fechar a porta.

Eu sorri.

Eles estavam ligando para os seus assassinos agora e exigindo saber


por que eu ainda estava respirando.
Eu ri e fechei a porta do meu pequeno escritório. As paredes
estavam vazias e ele tinha literalmente a forma de uma caixa. Isso me fez
sentir claustrofóbico. Eu não conseguia entender como Max passou tanto
tempo aqui.

Eu não tinha que entender. Eu só tinha que fazer o que vim fazer
aqui.

A julgar pelo olhar no rosto de Wallace Jr., ele não encontrou o pen
drive. O que significava que eu ainda tinha tempo para chegar primeiro.

Eu arranquei o paletó e joguei-o em uma cadeira próxima. Então


arregacei as mangas da minha camisa branca e comecei a procurar.
CAPÍTULO 12

Charlotte

As horas hoje pareciam intermináveis. Como se isso fosse uma


forma distorcida do Dia da Marmota 8e eu estivesse condenada a viver esse
dia por toda a eternidade.

Ou talvez eu só precisasse tirar esses saltos estúpidos.

Os saltos são um tipo de tortura aceitável para as mulheres nos dias


de hoje. O pior é que as mulheres em todos os lugares do mundo
realmente pagam por isso. Mas nada complementa um par de pernas
melhor do que um par de saltos sexy.

Estava escuro e eu estava exausta, então chamei um táxi assim que


saí do restaurante e afundei na traseira do carro amarelo, tentando ignorar
o cheiro pungente de cebolas. Meu estômago revirou. Isso me lembrou do
homem no meu apartamento.

O motorista partiu, seguindo descontroladamente pela rua e


desviando-se de alguns pedestres que começaram a gritar por causa de seu
jeito insano de dirigir. Eu nem sequer pisquei. Todos os taxistas em New
York dirigiam assim. Eu costumava rezar toda vez que eu sentava no banco
de trás de um. Agora eu mal notava. Uma vez o motorista do táxi em que
eu estava bateu em um ciclista. Ele não parou. Na verdade, ele começou a
murmurar em algum idioma que eu não conseguia entender.

Meu jantar de negócios poderia ser classificado como um sucesso.


Os clientes iriam ao escritório amanhã para assinar os papéis finais. Eu já

8
O Dia da Marmota (Groundhog Day) é uma festa tradicional nos Estados Unidos e no Canadá, que se celebra no
dia 2 de Fevereiro. Segundo a tradição, as pessoas devem observar uma toca de uma marmota: se o animal sair da
toca por estar nublado, isso significa que o inverno terminará mais cedo; se, pelo contrário, o sol estiver brilhando
e o animal se assustar e voltar para a toca, então o inverno durará mais seis semanas.
enviei um e-mail para os parceiros e seus assistentes para que eles
pudessem preparar a papelada, então tudo que precisava eram algumas
assinaturas.

Eles ficariam satisfeitos. Esta era uma grande conta, a maior que eu
fechei. Eu estava esperando que eles me deixassem participar da reunião de
amanhã. Afinal de contas, fui eu quem fez o trabalho para conseguir que
eles assinassem. Era meu direito estar lá pelo bom serviço.

Logo eu estaria lidando com casos e esperançosamente algum dia


como associada. Todas aquelas aulas adiantadas no ensino médio, todos
aqueles créditos extras e carga horária pesada que eu fiz na faculdade...
tudo foi para isso. Meu pai ficaria orgulhoso. Eu gostaria que ele estivesse
aqui para eu ligar e contar a ele sobre esta noite.

Eu olhei pela janela para o céu e suspirei. Todos os edifícios e luzes


da cidade tornavam quase impossível ver as estrelas. Às vezes eu sentia que
se desse para ver as estrelas, eu poderia me sentir mais perto do meu pai...
Eu poderia ter uma sensação mais forte de que ele estava me observando e
que ele aprovava.

Meu prédio apareceu e eu soltei um suspiro de alívio. Uma taça de


vinho cairia muito bem agora. Depois de lidar com os clientes por duas
horas, talvez eu precisasse de mais que uma taça.

Eu gostei que o interior do prédio estivesse silencioso enquanto


esperava o elevador. Segundos se passaram (pareciam horas), até que ouvi
o barulho do elevador chegando e as portas se abriram.

Eu fiquei cara a cara com Max e recuei de surpresa. —Max! —Eu


disse, e um tremor percorreu meu corpo. Ele me observava com ilegíveis,
mas intensos olhos escuros. Nós nos encaramos por tanto tempo que as
portas começaram a fechar e meu coração falhou uma batida porque eu
não estava pronta para me separar dele ainda.
Antes que isso pudesse acontecer, ele esticou as mãos, impedindo
que as portas se fechassem completamente e empurrando-as de volta, e ao
mesmo tempo chegando seu corpo mais para perto do meu. Pequenos
arrepios subiram pela minha espinha quando o calor do seu corpo me
envolveu.

—Você está usando colônia nova? —Eu falei quando inalei. Seu
perfume era mais masculino do que o habitual. Isso atormentou meus
sentidos e fez com que algo dentro de mim acordasse.

Ele ergueu o canto do seu lábio com o que parecia ser uma diversão
velada. —Sim.

—Eu gosto dela.

—Que bom que você aprova. —Sua voz era baixa e ele invadiu meu
espaço. Em vez de ir para o lado, ele ficou ali, bem perto de mim, e mais
uma vez pequenos arrepios subiram pela minha espinha. Era uma delícia.

Eu pigarreei. —Você vai voltar a trabalhar?

Ele suspirou como se a ideia o tivesse exaurido, e eu olhei para cima,


inclinando a cabeça para trás para poder olhar para o rosto dele.

—Na verdade, eu estava saindo para uma bebida.

—Uma bebida? —Eu não tinha certeza se entendia.

—Sim. Eu estou com vontade de tomar uma cerveja.

—Você bebe cerveja?

Ele fez uma cara como se tivesse bebido um pouco de leite azedo.
—Normalmente não. Esta noite parece uma noite para cerveja.

—Você teve um dia ruim no trabalho? —Eu perguntei, uma


sensação de tristeza caindo sobre mim.
—Foi bom. —Respondeu ele, finalmente recuando, colocando uma
pequena distância entre nós.

Então eu estava certa.

Ele estava tentando terminar o relacionamento. Ele estava tão infeliz


que sairia para beber cerveja só para não ter que estar perto de mim.

Bem, eu certamente não o faria ficar em um relacionamento que ele


não queria. Eu prefiro ficar sozinha. Eu não ia esperar que ele ganhasse
coragem para me dizer que queria sair de casa. Eu ia dizer a ele que sabia o
que estava errado e depois me ofereceria para sair.

Claro, antes que isso acontecesse, teríamos que chegar a um acordo


sobre o aluguel e as contas que compartilhamos.

—Terra para Charlotte. —Ele estava dizendo, acenando com alguns


dedos na frente do meu rosto.

—O quê? —Eu disse, saindo dos meus pensamentos.

—Eu disse que você parece precisar de uma cerveja também.

Eu enruguei meu nariz.

Ele fez um som rude. —Ok, uma taça de vinho. —Ele emendou.

—Eu estava pensando em tomar uma taça. —Eu admiti.

—Dia difícil?

—Na verdade, consegui fechar o contrato. Os clientes vão assinar!


—Era bom compartilhar minhas boas novas com alguém.

—Que bom! —Ele disse, me dando um sorriso. Então ele levantou


a mão entre nós.

Eu olhei para ele.

Ele queria que eu batesse na mão dele?


Sim. Ele queria que eu batesse na mão dele.

Eu ri e bati minha mão contra a dele. Quando a puxei de volta, seus


dedos se fecharam ao redor dos meus.

—Venha comigo.

—Para onde? —Eu perguntei sem fôlego. Como eu nunca havia


percebido o quão frágil minha mão era antes? E onde ele conseguiu esses
calos?

Ele deu de ombros e me deu um sorriso de menino. —Primeiro bar


em que chegarmos.

Eu esqueci tudo sobre como eu estava cansada. Eu esqueci a dor


que meus sapatos estavam infligindo aos meus pés. Tudo o que eu
conseguia pensar era na sensação da minha mão na dele e no fato de que
ele queria me levar para tomar cerveja.

—Ok. —Eu disse, de repente animada com o encontro


improvisado. Esta era a primeira vez que fazíamos algo espontâneo.

Ele soltou minha mão e pegou minha pasta, tomando e jogando-a


atrás de um vaso gigante.

—O que você está fazendo? —Eu exigi.

—Largando o trabalho. Podemos pegá-lo na volta.

Ele jogou minha pasta atrás de uma planta. Ele queria que eu
deixasse lá. Eu ri. Ele não riu comigo. Eu dei a ele um olhar incrédulo. —
Você está falando sério.

Ele levantou uma sobrancelha. —Você realmente pensa que alguém


vai roubar uma pasta cheia de documentos?
Eu abri minha boca para dizer a ele que sim, é o que eu pensava. Ele
não me deixou dizer nada, me interrompendo para fazer um som como se
ele estivesse roncando.

—Chato. —Disse ele.

Eu dei um passo para recuperar minha pasta maltratada. Max passou


a mão no meu cotovelo. —Não, você não irá pegar. Vamos lá.

Ele me arrastou para a calçada. Fiquei tão surpresa que nem


consegui protestar. Ele me soltou, olhando para um lado e para o outro na
rua como se decidisse para onde ir.

Um táxi passou e ele sinalizou, segurando a porta para mim e


subindo logo atrás. —Leve-nos para o bar mais próximo. —Disse ele ao
motorista.

—Você bateu com a cabeça recentemente? —Eu perguntei. Se eu


não fosse tão sensata, eu poderia pensar que alienígenas invadiram seu
corpo.

Ele não respondeu, o que me fez pensar que ele tinha batido a
cabeça. Então pensei em outra coisa. —Onde está o seu carro? —Eu não o
tinha visto estacionado na rua perto do prédio ultimamente.

Ele resmungou algo que soou suspeitamente como “advogado em


pânico” antes de se virar para mim para responder. —Está no escritório.

Nós fomos em um bar que eu nunca tinha notado antes, apenas a


algumas quadras do nosso apartamento. Eu estava um pouco receosa em
entrar. Quero dizer, e se fosse perigoso? E se esse fosse o tipo de lugar em
que os pedófilos se reuniam para pensar em seu próximo sequestro?

Eu parei de andar.

E se os homens que tentaram me sequestrar estivessem lá dentro?

—Charlotte? —Max disse, virando-se para mim.


—Este lugar pode estar cheio de criminosos. —Eu disse.

Ele riu. Foi uma risada profunda. —É um piano bar.

—Um piano bar?

—Sim, você não consegue ouvir o piano tocando?

Bem, agora que ele mencionou isso... —Criminosos podem gostar


de pianos. —Eu apontei.

—Existe um interruptor para a advogada em você?

Eu senti meus olhos se arregalarem. —Desculpe?

—Vamos, Charlie, você precisa de uma bebida.

—Quem diabos é Charlie? —Eu gritei quando ele me arrastou para


a entrada.

—Charlotte. —Ele corrigiu.

—Charlie é nome de menino. —Eu murmurei quando ele pagou a


taxa de couvert9 e fomos direcionados para dentro.

A música vinda do piano encheu o ar, junto com o tom profundo de


alguém cantando o que soava como uma música de Elton John. A
iluminação era baixa, mesas redondas estavam espalhadas pelo salão, e no
centro havia um piano de madeira gigante junto com um pequeno palco e
vários outros instrumentos apoiados na parede. As pessoas estavam rindo e
cantando junto com a música. Garçonetes passavam pelas mesas com
bandejas cheias de bebidas e batatas fritas.

—Então, o que você acha? —Max perguntou quando se virou para


mim. —Vamos ficar? —Ele deu um sorriso torto enquanto pegava minha
mão, esperando que eu cedesse.

9
Expressões. couvert artístico: quantia que se cobra a mais num restaurante ou em casas de diversão para o
pagamento de uma apresentação artística.
A advogada em mim estava pronta para dar um motivo forte do
porquê deveríamos sair.

O resto de mim...

O resto de mim queria ficar.

Ele deve ter visto o olhar de rendição no meu rosto porque seu
sorriso se tornou presunçoso quando ele me levou mais para dentro do
bar.
CAPÍTULO 13

Tucker

Eu não encontrei. Eu procurei no escritório de Max sem parar. Eu


olhei em todos os lugares possíveis no pequeno espaço e não achei nada.

E o telefone.

Seu telefone na mesa tocou o dia todo. Parei de responder depois de


um tempo porque não tinha respostas para nenhuma das perguntas que me
foram feitas. Eu não entendia o trabalho dele ou o que ele fazia. O mundo
corporativo estava longe da função de ser um armeiro no Exército de
Fuzileiros Navais.

Não me entenda mal, eu gostava de dinheiro. Provavelmente seria


bom ter muito. Mas para alguém que nunca teve muito, eu não entendia
porque alguém iria querer trabalhar com isso e as pessoas que tinham uma
tonelada disso o dia todo.

O dinheiro não era tudo.

Mas claramente Max tinha sido bom em seu trabalho. Seu escritório
era meticulosamente organizado, suas anotações eram completas e todos
no escritório pareciam gostar dele e respeitá-lo.

Exceto, claro, os homens Wallace. Com certeza foi bom dizer que
eu sabia que ele tentou me matar e que eu ainda tinha o pen drive que ele
queria. Era como mergulhar uma faca em um terrorista e torcer um pouco
para vê-lo se contorcer.

Eu fiz isso uma vez. Eu faria de novo.


É claro que ao observá-los e ver os olhares que lançavam na minha
direção, comecei a perceber que, embora o enfrentamento com Wallace Jr.
tenha sido bom, não foi a coisa mais inteligente que já fiz.

Eu praticamente pintei um alvo nas minhas costas que gritava venha


me pegar. Eles me queriam morto antes e agora queriam mais ainda. Eles
viriam para mim. Só restava saber quando.

Eu estaria pronto.

Depois que vasculhei o escritório de cima a baixo e tive o suficiente


do maldito telefone tocando, eu saí. Eu não contei a ninguém que estava
saindo. Até deixei meu escritório destrancado. Por que não? O que eles
queriam não estava lá. Notei alguns olhares arregalados quando eu saí, mas
eu os ignorei.

O que eles iam fazer? Me demitir?

Era improvável. Eles iam querer me manter por perto para que
pudessem me vigiar.

Eu fui à academia do escritório e verifiquei o armário que Max


mantinha lá (eu disse ao atendente que eu perdi minha chave e pedi para
que eles cortassem o cadeado e disse que eu compraria um novo), mas a
única coisa no armário eram roupas de ginástica e uma toalha.

Em seguida, fui ao banco para perguntar sobre o meu cofre,


imaginando que Max tivesse um. Ele não tinha.

Frustrado, voltei ao apartamento e procurei. Foi tedioso porque eu


não podia simplesmente jogar as coisas. Eu tinha que ter cuidado, não
querendo que Charlotte percebesse que eu estava procurando por tudo.

Passei o dia todo sexualmente frustrado, irritado e praticamente


vendo dois idiotas tramando meu assassinato. Ah, e eu não encontrei o
maldito pen drive.

Eu precisava de uma cerveja. Eu precisava de várias cervejas.


E então eu corri para Charlotte.

Ela parecia tão exausta quanto eu me sentia. Mesmo assim, meu pau
endureceu em minhas calças. Eu deveria ter inventado uma desculpa e
deixado ela sozinha. Eu deveria ter saído de lá rapidamente.

Mas quando olhei para ela, lembrei-me de quando Wallace Jr.


perguntou sobre sua segurança. Uma onda feroz de proteção percorreu
minhas veias. O pensamento daqueles bastardos vindo atrás dela fez meu
estômago doer. Homens que machucam mulheres mereciam apodrecer no
inferno.

E eu pessoalmente os escoltaria até lá.

Eu não poderia deixá-la sozinha esta noite.

E então, estávamos andando em um piano bar e eu brincava com ela


sobre seu nome. Inferno, foi um maldito milagre que eu tenha me
lembrado do nome dela.

Eu olhei para ela do outro lado da mesa redonda. Ela estava


vestindo um daqueles malditos terninhos e tinha o cabelo puxado
severamente para longe do rosto. Seus grandes olhos cor de avelã
observaram o bar, era como se ela estivesse vendo tudo pela primeira vez.
Ela era tímida, mas no fundo estava curiosa, isso era óbvio. Ela tinha uma
criança interior só esperando para ser libertada.

Uma garçonete vestindo uma blusa preta de lycra e um par de jeans


apertados aproximou-se da mesa com uma pequena bandeja na mão. —O
que eu posso servir pra vocês? —Ela perguntou em seu sotaque de Jersey.

Eu pedi uma longneck e Charlotte pediu uma taça de vinho tinto.


Sim, talvez eu devesse ter pedido algo mais parecido com Max, mas,
caramba, eu precisava de uma cerveja.

Alguns minutos depois, a garçonete voltou e eu peguei a cerveja e


dei um longo gole. Ambas estavam me observando. Era como se nunca
tivessem visto um cara beber antes. —Continue trazendo. —Eu disse à
garçonete.

Charlotte me estudou sobre a borda da taça. Eu sabia que seu


cérebro estava trabalhando sem parar e me perguntei o que diabos ela
poderia estar pensando agora.

Ela colocou a taça à sua frente como se fosse algum tipo de escudo.
—Você está tentando terminar comigo? —Ela perguntou, à queima-roupa.

Eu engasguei com a cerveja que estava engolindo e afastei a garrafa


dos meus lábios. Uma gota da bebida escorreu pelo meu queixo e usei a
manga do meu paletó para limpá-lo. —O quê? —Eu perguntei, incrédulo.

—Você tem agido estranho. Às vezes é como se você estivesse com


raiva. Às vezes é como se você fosse uma pessoa totalmente diferente. E
agora estamos aqui, em um bar, e você está bebendo cerveja como se
precisasse da coragem líquida.

Qual seria a resposta adequada para esta situação?

Eu bebi mais cerveja.

Ela nivelou aqueles olhos cor de avelã mesclados de verde com os


meus. —Se você quer ir embora, diga que quer ir embora.

Eu respeitava a abordagem dela. Eu estava acostumado com


mulheres que tentavam forçar um relacionamento, que tentavam usar o
sexo para se agarrar a um homem. Nunca estive com uma mulher que me
chamasse a atenção pelo meu comportamento e me desse um fora.

Eu coloquei a cerveja na mesa com um baque. —Eu não quero ir


embora.

—Então o que diabos está acontecendo com você?


A garçonete escolheu aquele momento para entregar outra cerveja e
uma taça de vinho. Aceitei com gratidão. —Melhor beber. —Eu disse a
Charlotte.

—Você está tendo problemas no trabalho? É disso que se trata?

—Eu realmente não quero falar sobre isso. —Eu disse, sabendo que
essas palavras a fariam praticamente espumar pela boca por respostas. Era
a minha maneira de realmente manter a conversa sem ter que dar
informações. Eu queria que ela dissesse o que sabia.

—Max. —Ela disse, estendendo a mão sobre a mesa e pegando uma


das minhas mãos. Uma carga elétrica passou pelo meu corpo, como se eu
fosse uma bateria completamente descarregada que alguém ligou para
recarregar. A tensão sexual e o desejo ameaçavam tomar conta do meu
cérebro.

Eu usei minha mão livre para fornecer mais cerveja ao meu sistema,
esperando que isso me tranquilizasse. O jeito que ela me fazia sentir era
inquietante. Eu não gostei disso.

—Você sabe que pode falar comigo. Você mencionou antes sobre
algumas coisas acontecendo na empresa. Isso ainda está acontecendo?

Então Max tentou falar com Charlotte sobre isso?

—Sim. —Eu disse, limpando a garganta.

—Diga-me o que está acontecendo. Você sabe que eu posso te


ajudar.

Eu fiz uma careta como se estivesse em dúvida e ela balançou a


cabeça e apertou meus dedos. —Eu sei que você disse que não queria que
eu me envolvesse, mas já estou envolvida. Eu posso ver o que isso está
fazendo com você. Talvez eu possa ajudar. Talvez os parceiros do
escritório possam ajudá-lo.
Ela se inclinou sobre a mesa em minha direção, seu aroma fresco
flutuando ao meu redor como uma espécie de lenço. —Você precisa de um
advogado, Max?

Então ele não disse nada a ela. Ele estava tentando protegê-la. Se eu
já não estivesse me sentindo ferozmente protetor com ela, então estaria
agora. Saber que ele a queria segura, era apenas mais um incentivo para
garantir que ninguém a machucasse.

—Eu não preciso de um advogado. —Eu disse, inclinando-me para


ficarmos a centímetros de distância. —O que eu preciso é de outra cerveja
e uma noite em que não tenhamos que falar sobre isso.

Na hora, a garçonete colocou outra cerveja para mim. Quando olhei


para cima, ela me deu uma piscada. Ela era bem gostosa.

Charlotte suspirou e recostou-se, puxando a mão para envolvê-la na


taça. Ficamos em silêncio por longos minutos, ouvindo o pianista. Percebi
que ela estava bebendo seu vinho mais rápido agora e isso me fez pensar
no jeito que ela estava quando as portas do elevador se abriram e nos
encontramos.

—Eu não sou o único que teve um longo dia. —Disse.

—Sim, mas eu consegui um grande cliente para a empresa.

Eu bati minha garrafa contra o copo dela e nós dois tomamos um


gole. —Parabéns. —Eu disse a ela, estudando suas feições. —Você sabe o
que eu acho?

—O quê?

—Eu acho que você não gosta de ser uma advogada.

Seus olhos encontraram os meus e ela automaticamente começou a


sacudir a cabeça. Mas eu vi a verdade quando falei isso pela primeira vez.

—Você sabe o quanto trabalhei para ter sucesso.


—Mas você está feliz? —Eu perguntei, inclinando-me para frente,
genuinamente interessado.

Era uma pergunta invasiva, uma que Max nunca fez, a julgar pelo
olhar assustado que eu estava recebendo. Ela bebeu um pouco de vinho,
terminando sua primeira taça e pegando a segunda.

—Você já tomou uma cerveja? —Eu perguntei, encostando o


queixo na garrafa e mudando de assunto.

Ela franziu o nariz. —Você sabe que eu não gosto de cerveja.

—Você já tentou?

—Que horror. —Ela falou arrogantemente.

Eu revirei meus olhos. —Então, como você pode dizer que não
gosta se nunca tentou? —Eu empurrei a garrafa de cor âmbar pela mesa
em direção a ela. —Tente.

Ela olhou para mim como se eu fosse louco. Eu fiz o que sempre
fazia quando uma garota não queria fazer a minha vontade.

Eu coloquei meus cotovelos sobre a mesa e me inclinei para frente,


olhando em seus olhos e dando-lhe um meio sorriso. —Por favor?

Ela engoliu em seco. Ficou claro que eu tinha um efeito sobre ela.
Ela olhou para mim por longos momentos, nossos olhos não
interrompendo o contato. Então ela pegou a garrafa.

Observando aqueles lábios em forma de coração envolvendo a


borda tive uma contração no estômago. Eu queria aquela boca em volta do
meu pau.

Porque a minha cerveja estava ocupada de outra forma, eu peguei o


vinho dela e tomei um gole.
Ela timidamente inclinou a garrafa até que o líquido caiu em sua
boca e eu imaginei o sabor distinto se espalhando por sua língua e
deslizando sem esforço pela garganta.

Ela inclinou a garrafa novamente e fechou os olhos brevemente,


seus cílios dourados desceram para esconder o que poderiam ser
considerados armas em certos países.

Depois de alguns momentos, ela levantou a garrafa para mim. —Eu


gostei.

Seus lábios brilhavam com a umidade da garrafa.

—Fique com ela. —Eu disse. —Ver você colocar seus lábios em
torno dessa garrafa é muito mais prazeroso do que beber dela.

Eu ouvi seu pequeno suspiro como se fosse o único som na sala.

Eu sinalizei para a garçonete que precisávamos de mais bebida.

Charlotte tomou outro gole da garrafa e olhou para o piano. —Este


lugar é muito legal. Eu gosto do piano.

As pessoas jogavam pedacinhos de papel em um gigantesco aquário


de vidro em cima do piano, fazendo pedidos de algumas músicas. Assim
que uma música terminasse, o pianista pegaria outra e então começaria a
tocar novamente.

—Você toca? —Eu perguntei, esquecendo que era algo que eu


deveria saber.

Ela balançou a cabeça. —Sempre quis aprender. Nunca tive tempo.

Em um impulso coloquei a mão na sua nuca e encontrei o maldito


grampo que segurava seu cabelo para trás tão ferozmente e tirei.

—Ei. —Disse ela quando eu deixei cair o grampo na mesa entre


nós.
Cabelos compridos desciam pelas costas dela. Estava ondulado,
provavelmente por ser torcido com tanta força.

—Eu gosto dele solto. —Eu anunciei, pegando minha cerveja


recém-entregue.

Ela passou os dedos por ele, separando as ondas e deixando-o cair


sobre os ombros e ao redor do rosto. —Você gosta?

Eu assenti. —Combina com você.

—Eu gostei daquela jaqueta de couro. —Ela desabafou. Então suas


bochechas ficaram vermelhas.

Um sorriso lento se espalhou pelo meu rosto. —É?

Ela assentiu, dando toda a atenção para a cerveja e o homem do


piano. Tirei o paletó que estava usando e joguei sobre o encosto da cadeira.
Então eu desabotoei minhas mangas e as dobrei para acima dos cotovelos.
Eu tinha perdido a gravata horas atrás. Eu esperava nunca mais vê-la.

Charlotte voltou seus olhos para mim, espiando através do cabelo


cor de mel. Para uma advogada, ela não tinha uma boa expressão
impassível. Seu desejo era claro como o dia. Como podia uma mulher em
um relacionamento estar tão necessitada de uma boa e velha foda?

—Você não respondeu à minha pergunta. —Eu a lembrei.

—Sua pergunta?

—Você está feliz?

—Estou feliz por ter realizado quase tudo que me propus a fazer.
Eu gosto de pensar que meu pai estaria feliz também.

Ah, merda. Ela tinha problemas com o papai. Isso explicava muito.
Dez para um, tudo que ela fez na vida foi obter a aprovação de um
cara que não se importava. Mas ela tentou de qualquer maneira, pensando
que algum dia ele perceberia tudo o que estava perdendo.

—Eu queria ligar para ele hoje, depois que eu fechei o negócio. —
Ela disse suavemente, tomando outro gole da cerveja. Estava vazia, então
eu empurrei outra para ela. —Às vezes eu esqueço que ele se foi.

Se foi, tipo, morreu?

Bem, merda.

—Tenho certeza que onde quer que ele esteja, Charlie, ele está
orgulhoso.

Ela olhou para cima quando o apelido saiu. Eu achei que ela gritaria
comigo por chamá-la por um “nome de menino”, mas ela só deu outro
gole na cerveja.

—Você acha que eles podem nos ver? Você sabe, do céu? —Sua
voz era tão suave que tive que me inclinar para ouvir sobre a música. Eu
sabia que este não era um tópico que ela mencionava com frequência, e
algo no meu peito se expandiu percebendo que ela confiava em mim o
suficiente para falar comigo.

Ela acha que você é o Max. Eu me lembrei. Eu mal ouvi isso, porque
ela estava me fascinando com o efeito daqueles olhos. Eu entrelacei nossos
dedos. —Sim. Eu acho que eles podem.

Deus, eu esperava que sim. Eu pensei em todos os amigos que perdi


no deserto que eu não ia esquecer. Eu queria que eles soubessem que
embora eu vivesse, não ia me dar por vencido.

—Às vezes me pergunto o que meu pai pensaria de mim, sabe? —


Ela se inclinou um pouco mais perto e era como se tudo o mais na sala
deixasse de existir. O piano, o barulho do bar, o bêbado cantando... tudo
foi embora. Nós estávamos em nossa própria pequena bolha, uma bolha na
qual ela me cativou completamente e ainda assim de alguma forma fez meu
coração bater um pouco rápido demais.

—Quanto tempo passou, desde então? —Eu perguntei casualmente.

—Sete anos. —Ela mostrava um olhar distante em suas feições. —


Ainda me lembro do dia do ataque cardíaco dele como se fosse ontem.

Eu dei aos seus dedos um aperto suave. Ela olhou para cima. —Eu
já disse a você que fui eu quem o encontrou?

Um nó se formou na boca do meu estômago. —Não.

—Ele chegou em casa no meio do dia, talvez tenha deixado algo em


seu escritório, e foi quando teve um ataque cardíaco. Ninguém estava lá
para ajudá-lo.

Ela parou por um momento e eu dei a ela o tempo que ela


precisava.

—Quando cheguei da escola, ele estava lá... deitado na sala de estar,


com a mão a poucos centímetros de distância do telefone. Ele estava roxo
e imóvel.

—Não. —Eu disse a ela. Eu sabia como era reviver a visão de um


corpo morto. Olhar para alguém que já esteve em sua plenitude, mas agora
estava completamente desprovido de vida. Eu sabia que as pessoas às vezes
ficavam inchadas e manchadas quando ficavam por muito tempo sem que
ninguém soubesse que elas estavam ali.

Lembrei-me do cheiro, do olhar vazio que não enxergava mais.

—Max? —Sua preocupação interrompeu a névoa de lembranças que


se infiltravam em minha mente.

—Sim. —Eu respondi.

—Você está bem?


—Claro. —Eu olhei para minha cerveja e pensei em pegá-la. Mas
então percebi que, se fizesse isso, teria de afastar uma das minhas mãos das
dela.

Eu não estava com tanta sede assim.

—Então... —Comecei, voltando a conversa para ela. —Eles sabem


o que causou o ataque cardíaco?

—Bloqueio da artéria. Estresse. Falta de atividade física.

Eu tinha a sensação de que era por isso que ela se levantava todos os
dias ao amanhecer para se exercitar.

Seu cabelo era tão comprido que alguns dos fios caindo sobre o
ombro pendiam sobre a mesa enquanto ela se inclinava para perto de mim.
Parecia brilhante, mesmo neste piano bar escurecido.

Peguei um fio que estava perto de nossas mãos e enrolei nos meus
dedos, deixando a suavidade envolver minha pele.

O ar entre nós estava carregado, tanto que praticamente vibrava em


mim.

Eu queria beijá-la. Eu queria me encostar o máximo que eu


conseguisse.

Uma luz brilhante se acendeu e fez com que o momento fosse


interrompido. Nós dois apertamos os olhos e procuramos por onde o
inferno estava vindo.

O cara ao piano estava segurando um holofote sobre nós. Um


maldito holofote.

Sua voz ecoou pelo microfone que estava preso ao piano. —


Vocês sabem que é a hora da noite que eu faço uma pausa e que alguém na
plateia entretém a todos nós.
É sério isso?

—E eu não pude deixar de notar os pombinhos sentados ali. —


Disse ele, piscando a luz sobre nós mais uma vez. —Então, o que acham?
Precisamos de algum entretenimento!

Eu olhei para Charlotte. Seus olhos estavam arregalados e ela estava


balançando a cabeça inflexivelmente. —Oh, não. —Ela disse, e eu poderia
dizer que ela estava pronta para fugir.

Eu não estava pronto para ela sair.

Eu tirei minhas mãos dela e me afastei da mesa. Todos no bar


gritaram e incentivaram.

Nada como um monte de gente bêbada para dar confiança a um


homem.

Ouvi Charlotte chamar meu nome e lhe dei um sorriso, depois


caminhei em direção ao piano.
CAPÍTULO 14

Charlotte

Eu estava bebendo cerveja.

Em um piano bar.

Em um dia de semana.

Não só isso, mas eu estava gostando. Tipo, realmente gostando.

Sua presença era excitante, como se estar ao seu lado fosse de


alguma forma uma aventura. E o jeito que ele olhou para mim... eu nunca
tinha visto esse olhar antes. Era como se eu fosse uma barra gigante de
chocolate e ele quisesse tirar a embalagem para que pudesse inspecionar
cada centímetro.

Isso me fez sentir nua, mas eu estava completamente vestida.

Também soltou minha língua.

Ou talvez tenha sido a cerveja. Ou o vinho. Fosse o que fosse, eu


apenas disse a ele coisas que eu sempre mantinha para mim mesma. Eu
nunca deixei ninguém saber o quanto eu me perguntava sobre o meu pai e
o que ele pensaria de mim agora. Eu nunca falei com ninguém sobre chegar
em casa da escola naquele dia e encontrá-lo deitado morto no tapete.

Essas coisas me afetaram. Me afetaram de maneiras que eu ainda


sentia até hoje. E nunca falava sobre isso porque me fazia sentir fraca. Isso
me fazia sentir constrangida.

Mas seu toque parecia como um adubo milagroso para uma flor.
Senti minhas pétalas, meus sentimentos se desenrolando de dentro de mim
e abrindo-se, florescendo bem na frente dele.
E ele não olhou para mim como se eu fosse fraca. Ele não olhou
para mim como se meus sentimentos fossem bobos.

Ele parecia entender.

Como nunca tivemos uma conversa como essa antes?

Eu me perguntava sobre o que mais nós teríamos falado se não


fosse pelo homem do piano que, até aquele momento, eu realmente
gostava. Até ele sugerir que eu me levantasse e cantasse.

Eu não cantava.

Tanto quanto eu sabia, Max também não.

Ele cantava?

Eu observei com fascinação enquanto ele caminhava em direção ao


pequeno palco. A calça social envolvia seu traseiro um pouco mais forte do
que o habitual e os músculos das suas costas esticaram sob a camisa branca.

Algumas das mulheres sentadas em volta gritaram e assobiaram, e a


sensação dolorosa de ciúmes queimou a minha garganta como ácido. Era a
primeira vez que sentia ciúmes de uma mulher cobiçando o Max.

Geralmente eu achava lisonjeiro.

Esta noite achei irritante.

Ele parou ao lado do piano e falou brevemente com o homem que o


chamara lá em cima. Ele sorriu e então cruzou atrás do grande instrumento
de madeira e se inclinou, pegando alguma coisa contra a parede.

Max colocou uma correia grossa sobre o ombro e balançou um


violão.

As pessoas na plateia aplaudiram quando ele atravessou o palco e


sentou-se, deixando seus pés baterem no chão. Um silêncio caiu sobre a
sala. Até o cantor bêbado calou a boca (graças a Deus por isso).
Antecipação serpenteava pela sala como uma cobra mortal, e meu
estômago se contraiu por Max, imaginando o que diabos ele iria fazer.

E então ele começou a tocar.

Seus dedos grossos dedilhavam os acordes com perfeição. Uma


música que eu não conhecia, mas ele parecia conhecer bem.

E então ele começou a cantar.

Choque tomou conta de mim. Sua voz era absolutamente


deslumbrante. Extasiante. Tudo desapareceu, foi como se apenas uma
pessoa existisse.

Ele.

Sua voz era rouca e sensual. Havia tanta emoção por trás das
palavras, que eram sobre amor e perda, que meu coração começou a doer.
Cada pessoa no bar estava completamente fascinada.

Eu não acho que alguém tenha desviado o olhar; ninguém sequer se


atreveu a respirar.

Meu Deus, como eu vivi com esse homem por quase um ano e
nunca o vi assim? Deveria começar a abastecer a geladeira com cerveja?

A música caiu um pouco o tom e sua voz deslizou para dentro


daquele lugar profundo e suave que literalmente levantou os pelos finos do
meu braço. Eu estava concentrada em cada palavra dele.

Ele cantou uma frase sobre nunca ir embora e, quando o fez,


levantou os olhos, atravessou a penumbra que cobria a sala e olhou para
mim. Meu coração falhou uma batida. Eu levantei minha mão em direção a
minha garganta, minha palma descansando no meu pescoço.

Ele me observava enquanto seus dedos se moviam. Ele tocava o


violão com tanta delicadeza e não desafinou, nem uma vez. Sua voz
manteve o ritmo perfeito com a música... e então o piano começou a tocar
novamente.

Não sobressaía sobre sua voz porque ele era tão dominante que nem
uma bomba faria isso. A música apenas o acompanhava; flutuava através
dele como a carícia de um amante.

Eu me perguntei se seus dedos me acariciariam como acariciavam o


violão.

Eu apertei minhas coxas juntas e me contorci um pouco na cadeira


de madeira. Ele me fez sentir inquieta por dentro.

Então ele fechou os olhos, baixou a cabeça e soltou as últimas frases


da música, seu tom rouco e profundo desaparecendo com a música.

Você poderia ter ouvido um alfinete cair nos segundos que se


seguiram.

E então todos explodiram em aplausos enlouquecidos. Mas eu não.


Eu ainda não conseguia me mexer. Eu ainda estava me perguntando sobre
esse homem, sentindo-o de maneiras que eu nunca esperei.

Meus olhos ficaram presos no modo como os seus quadris se


moviam enquanto ele atravessava o bar, de volta para nossa pequena mesa
de duas pessoas. Mesmo seus movimentos pareciam novos para mim,
como se eu tivesse ficado cega todo esse tempo, mas agora eu podia ver.

Era tão confuso.

No entanto, era tão dolorosamente maravilhoso.

Ele sentou-se e me deu um meio sorriso, e eu poderia jurar que vi


um pouco de insegurança em seus olhos.

—Eu sinto muito. —Murmurei, minha voz literalmente difícil de


sair.
Ele arqueou as sobrancelhas. —Pelo que você sente muito?

Peguei a garrafa de cerveja e deslizei para mais perto de mim, quase


a abraçando contra o peito. —Por nunca ter te visto do jeito que eu te vejo
agora.

O olhar fugaz que passou por seus olhos era de alarme e tristeza.
Mas foi tão rápido que não pude perguntar a ele o que foi aquilo.

—Como você me vê agora, Charlie? —Ele perguntou.

—De verdade. —Eu disse, sem saber mais o que dizer.

—O quê?

—Eu só... —Eu comecei, colocando uma mecha de cabelo atrás da


minha orelha. —Eu sempre pensei em você como esse cara perfeito. O
cara que sempre sabia o que queria. O cara que nunca deixava a emoção
dominar sua cabeça ou seu coração. O tipo de cara que nunca tropeçou em
nenhum dia de sua vida.

—E agora? —Max sussurrou. Eu juro que seu rosto parecia mais


pálido do que apenas alguns segundos atrás.

—Agora eu sei que estava errada. Não há como alguém ter esse tipo
de coragem, esse tipo de alma em sua voz, se não tivesse vivido a dor. Não
há como esse tipo de emoção poder ser tirado do ar. Você não é perfeito,
não é, Max? —Sussurrei a última parte, deslizando a mão pela mesa em
direção a ele.

Ele abriu os dedos e os meus deslizaram na palma da sua mão,


como se fosse exatamente onde eles pertenciam.

—Não. Não, definitivamente não sou perfeito. Eu acho que não sou
o cara que você pensou que eu fosse. Eu não sou o cara que você queria.

Por que havia tanta tristeza em seu tom?


—Posso te contar um segredo? —A sensação de agitação no meu
estômago era tão selvagem que eu senti como se estivesse sentada no topo
de uma montanha-russa muito íngreme.

—Sim.

—Eu gosto mais desse cara.

Ele recuou com tanta força que sua mão se afastou da minha e sua
cadeira deslizou alguns centímetros para trás. Então ele pegou uma garrafa
da mesa e bebeu o resto.

—Eu tenho que mijar. —Anunciou ele e disparou para o banheiro


do outro lado do bar.

Eu me perguntei o que eu disse que estava tão errado.


CAPÍTULO 15

Tucker

Meu pau estava quebrado.

Estava tão duro que era desconfortável, e eu não podia sair do


banheiro até decidir o que fazer.

Ok, tudo bem. Meu pau não estava quebrado. Claramente, estava
funcionando muito bem.

Eu precisava transar.

Tipo, imediatamente.

Eu deveria colocar Charlotte em um táxi, mandá-la fazer as malas e


depois escolher uma garota, qualquer garota, no bar e ir para casa com ela.
Isso resolveria o problema.

Pensei em algumas das garotas que notei sentadas no bar. A loira era
bem gostosa. Uma imagem de Charlotte surgiu em minha mente.

Ok, sem loiras.

Havia também uma morena. Morenas eram boas.

Eu pensei em Charlotte novamente. Eu ouvi as palavras que ela


acabou de admitir.

Ela gostava de mim mais do que de meu irmão.

Caramba.

Puta que pariu!


Fui até o mictório e desabotoei minha calça jeans. Claro, ele saiu
como um agente secreto em uma missão. Mijar com um pau duro não era a
tarefa mais fácil. Requeria uma inclinação forçada.

Pare de pensar na mulher do seu irmão, Patton! Pense em outra pessoa!

Eu pensei na morena no bar. Ela tinha cabelos longos e escuros,


puxados para cima em um rabo de cavalo saltitante. Seu top era apertado e
suas botas iam até os joelhos. Ela parecia o tipo de garota que eu levaria
para casa em qualquer noite da semana. Ela era exatamente o que eu
precisava agora.

Eu olhei para baixo.

Eu não estava mais duro.

Aparentemente, pensar em gastar meu tempo com a morena não era


atraente para a minha outra cabeça.

Com um suspiro, terminei no banheiro e voltei para a mesa. Percebi


que não cheguei a uma resposta no banheiro. Eu estava muito ocupado
tentando acalmar minha libido.

Ela provavelmente esperava que eu dissesse que a amava ou alguma


merda assim. Eu não dizia às mulheres que as amava, mesmo que isso fosse
o que elas queriam ouvir. Se eu dissesse isso, seria verdade.

Mais uma razão para colocar sua bunda pequena em um táxi.

Quando cheguei à mesa, Charlotte não estava sozinha. Ela estava


acompanhada por uma bandeja de copos, todos cheios de um líquido claro.

Fúria me atingiu como um dia tempestuoso. Que cara enviou todas


essas malditas bebidas? Ele provavelmente me viu sair e esperava deixá-la
bêbada e se aproveitaria dela.

Eu iria dar uma surra nele.


Comecei a levantar as mangas um pouco mais e me sentei.

—Quem enviou isso? —Eu exigi.

Ela parecia um pouco surpresa com o meu tom áspero, mas eu não
me importei.

—Parece que você tem um fã-clube. —Ela cuspiu, seu tom


correspondente ao meu.

Espere, o quê? Eu olhei pedindo explicação.

—Aquelas garotas lá enviaram para você. Junto com seus


cumprimentos. —Ela disse, calmamente.

Eu olhei para o bar. Loirinha e sua amiga de cabelos escuros


acenaram. Eu inclinei meu queixo para elas em agradecimento. Elas riram e
se viraram.

—Vagabundas sem noção. —Charlotte murmurou.

A cerveja espalhou-se por toda a mesa quando comecei a engasgar.


—O que você acabou de dizer? —Eu perguntei com uma voz tensa.

Ela me deu um olhar. —Que mulher que se preza manda bebidas


para um homem que está sentado com outra mulher? —Ela perguntou,
suas bochechas realmente corando.

Eu sorri abertamente. —Alguém está com ciúmes?

Ela parecia muito infeliz com isso. Ela terminou sua cerveja e se
levantou. Acho que ela não estava com ciúmes; ela estava puta. Ela
provavelmente estava indo embora.

Ela não estava indo embora.

Eu observei quando ela desabotoou o blazer que usava e deslizou-o


de seus braços. Embaixo, ela usava uma blusa de seda branca sem mangas
que tinha algum tipo de tecido extra em volta do pescoço, amarrado em
um laço. Parecia um lenço. Não era como se eu soubesse alguma coisa
sobre moda feminina.

A blusa envolvia seus seios redondos e revelava uma saia apertada


que moldava sua bunda perfeitamente. Ela sacudiu as mechas loiras,
enrolando-as nos ombros, depois inclinou-se sobre a mesa, pegou uma das
doses e cumprimentou as meninas no bar.

Os olhos das garotas se arregalaram e Charlotte bebeu a dose em


um só gole. O copo vazio fez um baque pesado quando ela bateu no
tampo da mesa.

Quando o álcool desceu em sua garganta, ela fez uma careta,


franzindo o rosto como se fosse a primeira vez tivesse bebido isso.

Eu não pude deixar de rir.

Ela sentou-se e tomou um gole da minha cerveja. —Elas viram isso?


—Ela perguntou, os olhos lacrimejando.

Eu olhei de volta para o nosso público. As garotas não estavam mais


olhando. Charlotte fez seu ponto.

—Não.

—Isso é uma coisa sobre nós, advogados. —Disse ela. —Nós não
gostamos de perder.

Em vez de responder, peguei uma das doses. Vodka.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas bebendo e ouvindo


a música. Eu não olhei para ela. Eu temia que, se fizesse isso, ela lembraria
do que estávamos falando antes de ir ao banheiro. Mas seus movimentos
chamaram minha atenção e me virei para ela. Ela estava balançando com a
música, em seu assento.

Olhei para a mesa cheia de garrafas vazias, copos e taças de vinho.


—Quanto você bebeu, Charlie?

—Duas doses. —Disse ela, caindo ligeiramente em seu assento. Ela


pegou uma cerveja, mas eu a tirei de seu alcance.

—Sem mais. —Eu conhecia a aparência de uma mulher bêbada.

Ela mostrou a língua para mim.

—É melhor mantê-la em sua boca a menos que você planeje usá-la.


—Eu brinquei antes de poder me conter.

—Sábado é... —Ela fez uma pausa e contou com os dedos...


—Daqui a três dias.

—Então? —Eu perguntei, imaginando que tipo de conversa bêbada


isso seria.

Ela mexeu as sobrancelhas para mim.

Eu ri.

A garçonete veio e pedi-lhe que trouxesse um pouco de água para


Charlotte.

—Isso foi divertido. —Disse ela, dando-me um sorriso.

—Foi?

Ela assentiu. —Sua voz é incrível. Eu não sabia que você podia
cantar tão bem.

—Obrigado. —A música era apenas um hobby. Algo para passar o


tempo quando eu estava no deserto. Foi uma maneira de lidar com toda a
merda que vimos lá. Eu realmente não queria começar a cantar, mas assim
que meus dedos tocaram os acordes naquele violão, ela borbulhou para
fora de mim e eu deixei.

—Eu tenho que fazer xixi. —Ela anunciou, mas não se levantou.
—Você sabe que precisa ir ao banheiro, certo?

Ela riu. —Dã. Eu não estou bêbada.

—Não, mas você com certeza está engraçada.

Ela revirou os olhos. Eu gostava de vê-la assim. Relaxada. Ela se


levantou e deu a volta na mesa. É claro que ela não estava olhando para
onde estava indo e seu pé ficou preso na perna da minha cadeira e ela
tropeçou.

Bem no meu colo.

Ela se encaixou perfeitamente.

Ela chiou e eu passei meus braços ao seu redor.

—Esses malditos saltos machucaram meus pés. —Ela choramingou.

—Então por que você os usa?

Ela ergueu uma das suas longas pernas para o ar. —Eles fazem
minhas pernas ficarem boas.

—Sim, sim, eles fazem. —Respondeu o homem sentado atrás da


nossa mesa.

Meu corpo inteiro ficou tenso. Eu girei rapidamente, fazendo


Charlotte envolver seus braços em volta do meu pescoço para manter o
equilíbrio.

—Você está olhando para as pernas da minha mulher? —Eu


perguntei, minha voz mortalmente calma.

Ele olhou para mim. —Bem, ela estava mostrando-as.

—Se você quiser manter os dentes, sugiro se virar.

Charlotte ofegou. —Max!


O cara se virou, resmungando em seu assento. Eu agarrei sua coxa e
empurrei sua perna para baixo. —Eu sei quão boa suas pernas são, querida,
mas ninguém mais aqui precisa saber.

Ela suspirou e encostou a bochecha no meu ombro.

Foi bom.

Que. Porra. É. Essa.

O que diabos eu estava fazendo agora? Chamando-a de minha


mulher. Chamando-a de querida? Chamando algum cara para brigar por
olhá-la...

Eu estava perdendo minha maldita sanidade. O que diabos tinha


naquela vodka? E agora, ela estava sentada no meu colo com a cabeça no
meu ombro e eu estava gostando.

—Você não estava indo para o banheiro? —Eu perguntei a ela.

—Oh, sim.

Eu a ajudei para que não caísse naqueles sapatos novamente e a vi se


dirigir ao banheiro. Eu sabia que estava agindo como louco, mas mesmo
sabendo isso, não era o suficiente para não ficar de olho enquanto ela ia.

Quando a garçonete voltou, entreguei-lhe algum dinheiro para pagar


a conta e gorjeta. As garotas no bar se aproximaram e eu queria gemer. Eu
tive emoções o suficiente esta noite com Charlotte. Normalmente eu daria
as boas-vindas à atenção de mais de uma mulher, mas parecia que Charlie
precisava de muito mais cuidado do que a maioria.

—Nós gostamos da sua música. —Disse a morena, parando ao lado


da minha cadeira. Ela era muito gostosa, com olhos azul-claros e cabelo
longo e brilhante.

—Obrigado. —Eu disse, dando-lhes um sorriso educado.


Todos os pensamentos de levar uma delas para casa desapareceram
completamente de minha mente.

—Sua irmã foi embora? —A loira perguntou, e eu tive que dar


créditos para sua esperteza. A maioria dos caras já as levariam para fora do
bar.

—Eu não sou irmã dele. —Uma voz veio de trás de nós.

Eu me virei para ver Charlotte em pé, com as mãos nos quadris e a


cabeça inclinada para o lado. Ela nem olhou para mim. Em vez disso, ela
encarou as mulheres com um olhar frio e nivelado.

—Bem, você não poderia estar com ele. —A morena respondeu.

—E por que não?

Oh merda, isso estava saindo do controle. Eu me levantei entre as


mulheres. —Bem, nós temos que ir.

Elas me ignoraram.

—Porque você não se parece exatamente com o tipo que alguém


como ele namoraria.

Eu estava ofendido. Por mim e por Charlotte.

—Bem, eu acho que ele tem um gosto melhor do que para


prostitutas. —Cuspiu Charlie.

Eu sufoquei uma risada.

Então ela começou a puxar os saltos de que ela reclamou, para usá-
los um como uma arma.

Hora de ir.

Eu passei meus braços em volta de sua cintura e a puxei para mim.


—Calma, menina. —Depois de tirar meu paletó e o blazer dela das
cadeiras, eu praticamente a carreguei para a calçada, onde o ar frio nos
cumprimentou.

—Coloque-me no chão. —Ela reclamou.

—Só se você prometer não me bater com o seu sapato.

Ela riu. —Eu prometo.

Eu a abaixei, mantendo o braço estendido apenas para o caso de ela


tropeçar.

—Eu não estou bêbada. —Ela disse, me dando um olhar maligno.

—Bem, você com certeza não está sóbria.

—Está congelando!

—Coloque seu sapato. —Eu a lembrei secamente.

Ela colocou e caiu ao fazer isso. Revirei os olhos e me abaixei para


pegá-la da calçada.

—Ok, talvez eu esteja um pouco bêbada. —Ela permitiu que eu a


levantasse.

—Você acha?

Ela caiu contra mim e inclinou sua cabeça para trás de forma que ela
pudesse olhar para o meu rosto. —Eu te disse que eu gostei da sua música?

—Sim. —Meus olhos vagaram até seus lábios.

Ela me observou olhando para eles. —Você pode, você sabe. —Ela
disse suavemente.

O sangue corria nas minhas veias a uma velocidade extraordinária.


Parecia que eu tinha uma britadeira dentro do meu corpo e estava criando
todos os tipos de caos.
Eu abaixei meu rosto um pouco mais, então nossos lábios mal
roçaram um ao outro. Ela suspirou e seus olhos se fecharam.

Talvez o cara perfeito pudesse resistir a tal ação.

Charlotte já apontou que eu não era perfeito.

Eu a puxei ainda mais contra mim, levantando seus pés do chão


completamente, e suas mãos subiram para envolver meus bíceps,
segurando firmemente enquanto minha boca reivindicava a dela.

Deus, sua boca era pecaminosa. E quente. Seus beijos eram um


contraste direto com o vento que soprava ao nosso redor, eu envolvi meu
outro braço ao redor dela, segurando-a firmemente no lugar para que
pudesse passar minha língua por seus lábios e explorar as profundezas de
sua boca.

Ela tinha gosto de cerveja (meu favorito) e eu rosnei enquanto


lambia ainda mais sua boca. Nossas línguas se encontraram quando nossos
lábios se aproximaram, tentando desesperadamente se esmagar um contra
o outro.

Sua inspiração profunda pressionou seus seios contra mim e até


através de nossas roupas eu podia sentir seus mamilos duros como pedra.
Uma das minhas mãos deslizou para baixo e segurou sua bunda deliciosa,
inclinando seu corpo ainda mais perto. Mas não perto o suficiente. Eu
queria as pernas dela em volta da minha cintura. Eu queria sentir a umidade
entre suas pernas no meu abdômen e pau.

Uma de suas mãos deslizou pela minha nuca, seus dedos enfiando-
se no meu cabelo curto e criando atrito contra o meu couro cabeludo.

Puta merda, eu queria empurrar a saia e tomá-la bem aqui na


calçada. Eu nem me importava com quem visse. Nunca na minha vida meu
corpo exigiu tanto sexo.
Ela afastou a boca, ofegando, e inclinou sua cabeça para frente, de
modo que sua testa descansava contra a minha.

Um pequeno arrepio começou dos seus pés e sacudiu seu corpo. Eu


me afastei, deslizando-a lentamente pelo meu corpo. Eu sabia que ela podia
me sentir duro; não havia como esconder isso.

—Aqui. —Eu disse, minha voz soando estranha aos meus próprios
ouvidos. Eu levantei o blazer e o segurei para que ela pudesse deslizar os
braços para dentro.

—Obrigada. —Ela disse suavemente enquanto eu abotoava a


cintura. Quando terminei, minhas mãos demoraram um pouco mais do que
o necessário na área logo abaixo de seus seios.

—Vamos. —Eu disse, colocando um braço por cima do ombro e


colocando-a ao meu lado. Começamos a andar enquanto eu ficava de olho
em um táxi.

Não era uma caminhada longa, mas era tarde e estava frio aqui fora.
É claro que essa seria a única noite em que eu não via nenhuma das
dezenas habituais de táxis voando perigosamente pelas ruas. —Parece que
teremos que andar por todo o caminho.

—Eu não me importo. Eu gosto de andar. É bom para pensar.

—E o que você pensa quando anda, Charlie?

Eu a senti encolher debaixo do meu braço e não insisti. Eu senti que


já descobri muito sobre ela esta noite. Geralmente, descobrir qualquer coisa
que não fosse o tamanho do sutiã de uma mulher era apenas informação
demais para mim, mas, por alguma razão, Charlotte era diferente.

—Você vai me dizer o que está acontecendo com você? —Ela


perguntou enquanto caminhávamos.

—Eu estou realmente tão diferente ultimamente? —Eu não tinha


certeza do porquê eu queria os detalhes de quão terrível em ser Max eu
realmente era, mas acho que eu era um masoquista. Ele sempre foi o único
que teve sua vida organizada.

—Eu estive preocupada.

—Não se preocupe. —Eu disse a ela. Eu queria acrescentar que


tudo ficaria bem, mas eu não poderia prometer isso porque as coisas não
estavam bem agora.

Na rua, ouvi um carro se aproximando e virei-me para ver um táxi


vindo em nossa direção. Eu me afastei de Charlie para ir até o meio-fio e
chamá-lo.

Então todo inferno desabou.


CAPÍTULO 16

Charlotte

Eu adorava vê-lo se mover. Ele tinha esse jeito, essa confiança que
chamava a atenção. Seus ombros pareciam mais quadrados, sua postura um
pouco mais ereta. Além do mais, eu amava a sensação dele quando se
movia contra mim.

Eu pensei que poderia morrer quando ele me pegou na calçada,


deixando meus pés balançando no ar da madrugada. Eu tinha sido
suspensa. Suspensa em momentos de perfeita felicidade, onde tudo que eu
podia sentir eram os contornos duros de seu corpo, seus braços parecidos a
um torno me ancorando contra ele, e a maneira como sua boca se movia
sobre a minha.

A ereção em suas calças foi levemente surpreendente, mas


completamente sedutora. Apenas sentindo-o pressionado contra o meu
abdômen fez minha calcinha ficar escorregadia com a umidade.

Meu corpo doía por dentro. Parecia pulsar com necessidade. Ele
implorava pelo clímax como se soubesse que da próxima vez que Max e eu
estivéssemos juntos, seria muito mais satisfatório do que antes.

Eu sorri para mim mesma, todo o álcool que ingeri me fazendo


sentir relaxada e despreocupada. Ele se afastou de mim, na direção do
meio-fio para pegar um táxi. Recuei para trás para que eu pudesse me
encostar ao prédio. Meus ombros atingiram a parede primeiro, mas não
estava tão frio quanto eu esperava que o contato fosse. Na verdade, não era
nada como eu esperava.

Percebi que não havia recuado para uma parede.

Mas para um homem.


Seu braço rodeou minha cintura, quase me puxando contra o corpo
dele. Eu comecei a gritar, mas a sensação do metal frio contra minha
cabeça me fez reprimir qualquer som.

Ele tinha uma arma. Ele estava apontando para a minha cabeça.

Eu estava literalmente a segundos de uma bala no meu cérebro


acabar com a minha vida.

Para sempre.

Com os olhos já cheios de lágrimas, olhei para Max onde ele estava
na rua, com o braço no ar. Eu não estava pronta para morrer.

—Dê-me sua bolsa. —O homem exigiu no meu ouvido.

Eu choraminguei e a segurei firme.

Outro homem apareceu na minha frente. Ele também estava


segurando uma arma... Ele também estava usando uma máscara de esqui
preta.

Ele pegou a bolsa da minha mão e, por cima do ombro, vi Max


começar a se virar.

—Max, corra! —Eu gritei, arriscando levar um tiro para avisá-lo.


Enquanto eu gritava, forcei meu corpo a cair. O homem segurando a arma
na minha cabeça amaldiçoou e lutou para segurar meu corpo enquanto eu
caía em direção ao chão.

Eu ouvi um grito e o bater de pés, mas eu não vi o que estava


acontecendo porque o atirador agarrou um punhado do meu cabelo e me
puxou de volta. Ele puxou tão forte que manchas pretas apareceram diante
dos meus olhos. Eu gritei, incapaz de reprimir o som.

E em seguida ele me empurrou com tanta força que meus joelhos


bateram no pavimento, raspando o concreto áspero. Enquanto ficava
ajoelhava lá, completamente à sua mercê, ele forçou a arma sob o meu
queixo, machucando a carne delicada na parte de baixo.

—Chegue mais perto e ela estará morta antes de você piscar. —A


voz acima de mim advertiu.

Forcei meus olhos lacrimejantes a se concentrarem em Max, que


estava a poucos metros de distância com uma arma apontada diretamente
para o peito pelo atirador número dois. Em vez de vasculhar minha bolsa,
ele estava segurando-a como se nem se importasse com ela, soltando-a no
chão sem pensar duas vezes.

Ele manteve os olhos em Max, enquanto Max manteve os olhos em


mim.

—Deixe-a ir. Sou eu quem você quer. —Ele disse.

Eu sei que meu cabelo estava sendo puxado com muita força, mas
tenho certeza que meu cérebro ainda funcionava e essa frase não fazia
sentido. Eles queriam nosso dinheiro, não a ele.

—Dê-me sua carteira. —O atirador número dois exigiu de Max.

Os olhos de Max se estreitaram e se dirigiram para ele. Ele não


parecia assustado. Ele parecia chateado. Ele também não fez nenhum
movimento para pegar sua carteira.

—Dê a ele! —O homem que me segurava gritou e torceu um pouco


mais a mão. Mordi o lábio para não gritar. Eu olhei para o chão,
procurando por algo que eu pudesse usar como arma.

Esta tinha que ser a única rua de New York que tinha calçadas
impecáveis?

Max olhou para mim de novo, tentando me dizer alguma coisa com
os olhos. Prepare-se para se mover.
Então ele desviou o olhar. —Vou alcançar meu bolso de trás e
pegar minha carteira. —Ele disse devagar. Pareceu demorar uma eternidade
para que seu braço finalmente encontrasse seu bolso de trás.

—Rápido! —O homem me segurando gritou e empurrou a arma na


minha pele. Eu não pude evitar, eu gritei. Minha pele queimava de dor
quando as lágrimas encheram meus olhos. Eu esperei pelo som de estalo da
arma. Eu esperei minha vida terminar.

Max sacudiu a carteira e estendeu-a. O atirador número dois chegou


a ela, mas Max tinha outras ideias. Movendo-se mais rapidamente do que
eu já tinha visto ele se mover, entrou em ação, jogando a carteira para o
homem e tirando a arma de sua mão que caiu com um baque na calçada.
Max então a chutou, enviando-a para a rua e para longe do homem que a
empunhava.

Eu observei enquanto ele rapidamente torcia o braço do homem


para trás com tanta força que pude ouvir seu ombro sair do lugar. O
homem gritou e se curvou. Max estava pronto e deu uma joelhada no rosto
mascarado.

—Mova-se! —Ele gritou comigo.

Eu não pensei.

Eu me virei para o lado, afundando meus dentes na coxa do meu


agressor, e mordi.

Tão desagradável.

Vai saber onde esteve sua coxa...

Mas uma garota tinha que fazer o que devia ser feito.

Ele gritou e eu soltei meus dentes, afastando-me para fugir.

Eu dei dois passos.


Ele me bateu bem no meio das costas. A dor explodiu entre meus
ombros e eu caí com as mãos e joelhos no chão. Tentei me levantar, mas o
homem agarrou meu tornozelo, fazendo-me cair de cara no chão. Com ele
ainda segurando meu tornozelo, eu girei, para vê-lo (ele também estava
usando uma máscara) em cima de mim.

Ele deu um sorriso maníaco por baixo do tecido preto e levantou a


arma. —Você não pode superar uma bala.

Max investiu contra ele por trás, vindo para baixo como uma
espécie de linebacker10 fora de controle. Ele passou os braços ao redor da
cintura do homem e o puxou pela calçada, empurrando o atirador para
dentro do prédio de tijolos.

Eles se esparramam na calçada com Max por cima, que recuou o


punho e acertou vários socos sólidos antes que o atirador os virasse e
prendesse Max ao chão.

—Max! —Eu gritei quando adrenalina bombeou através do meu


sistema. Eu não conseguia nem pensar. Tudo o que eu pude fazer foi sentir
quando uma onda de emoção bateu em meu corpo de uma só vez.

Era quase paralisante.

Eu não podia pensar.

Eu tinha que pensar.

O atirador golpeou Max no rosto e o som revirou meu estômago.


Eu olhei ao redor para ver o outro homem deitado inconsciente no chão,
minha bolsa ao lado dele.

Corri para a bolsa e despejei o conteúdo no concreto. Encontrando


a única coisa que pensei que poderia ajudar, eu corri de volta em direção
aos homens, que estavam lutando pela arma.

10
Posição de jogadores no futebol americano
Eu corri, segurando a minha arma, pronta para atacar, quando Max
sacudiu o homem maior e deu um soco no rim dele. O homem fez um
som de chiado e Max pegou a arma, girando-a para tirá-la.

Nosso atacante era um homem persistente, agarrando o pulso de


Max e puxando a arma de volta. Max se inclinou enquanto os dois lutavam
pelo controle da arma.

O som de uma bala disparada encheu a noite.

Eu gritei e fechei a distância entre nós quando os dois homens


desabaram, emaranhados em uma pilha, não lutando mais.

A mancha escura e inconfundível de sangue esgueirou-se por baixo


deles, serpenteando pela calçada e juntando-se aos meus pés.
CAPÍTULO 17

Tucker

Eu era um fuzileiro naval (sim, eu estava fora do exército agora, mas


uma vez fuzileiro naval, sempre fuzileiro naval). Eu era treinado em guerra.
Eu era treinado para lutar.

Não significava que eu gostasse.

Mas quando saí de cima do idiota que atirou em si mesmo enquanto


tentava atirar em mim e que antes ameaçou atirar em Charlotte, eu gostei
de vê-lo sangrar.

Idiota.

Na verdade, enquanto estava de pé, considerei atirar nele


novamente.

—Max! —Charlotte gritou e se jogou em minhas costas. Eu girei,


pegando seu peso e apoiando-o enquanto plantava meus pés no chão para
nos impedir de cair.

Ela se afastou, procurando freneticamente pelo meu corpo,


correndo os dedos frios ao longo dos meus membros e no meu peito.

Eu estaria amaldiçoado se meu pau não começasse a responder a


isso.

Aparentemente, “ele” não se importava que quase fomos mortos.

—Onde você foi baleado? —Ela perguntou, suas palavras cheias de


emoção.

—Charlie. —Eu disse.


—Onde está o meu celular? —Ela gritou. —Eu vou ligar para a
emergência!

—Charlie...

—Oh meu Deus, você está sangrando. Você está sangrando! —Ela
engasgou, colocando as mãos sobre a frente da minha camisa branca, que
agora estava saturada de vermelho.

Eu peguei as mãos dela e apertei. —Eu não estou sangrando.

—O quê? —Ela perguntou, como se minhas palavras não


estivessem fazendo sentido para ela.

Soltei as mãos dela e agarrei-a pelo rosto, segurando sua mandíbula


com as palmas das mãos e olhando diretamente em seus olhos selvagens.
—Querida, escute. Eu não fui atingido. Este não é meu sangue. Estou
bem.

—Você não está morrendo? —Ela perguntou, sua voz vacilante.

—Não. —Minha mão roçou seu pescoço para afastar um pouco do


cabelo que estava grudado na bochecha manchada de lágrimas.

Um soluço saiu de sua garganta enquanto seus braços me


envolviam. Charlotte enterrou o rosto no meu peito e chorou. —Eu pensei
que você estava morrendo! —Ela lamentou. —Morrendo!

—Eu não estou morrendo.

—O sangue…

—Não era meu.

—Eles tentaram nos assaltar. —Ela endureceu e se afastou. —Eles


tentaram nos assaltar!

Era estranho eu achar que era fofo o jeito que ela parecia lembrar
que estávamos em uma situação mortal?
O homem que atirou em si mesmo (que estúpido) gemeu e se
ajoelhou. Eu me virei, colocando Charlotte entre mim e a parede, meus
músculos tensos.

Eu me abaixei ao lado dele e peguei a arma, inclinando-a e


apontando-a para sua cabeça. —Você tem uma pontaria de merda. —Eu
disse a ele. —Eu não.

—Isso deveria ser fácil. —Ele gemeu, pressionando a mão na ferida


de bala na lateral de seu corpo.

Guiei os dedos de Charlotte, que estava atrás de mim, para o meu


cinto. —Fique comigo, querida.

Eu me movi ao longo da parede, mantendo a arma pronta para


disparar enquanto caminhávamos até o cara que estava desmaiado e fácil de
matar. Eu o chutei. —Levante-se.

Ele não respondeu.

Eu o chutei de novo.

Ele acordou como se alguém tivesse jogado água fria nele.

—Pegue seu amigo sangrando e dê o fora daqui.

Seus olhos se arregalaram quando ele viu quem estava no controle


agora, e ele pulou da calçada, correndo para seu amigo idiota. Eles
começaram a se afastar.

—Temos que ligar para a polícia! —Charlotte sussurrou ferozmente


atrás de mim.

Eu a ignorei.

—Ei. —Chamei os Debi e Loide.

Eles olharam para cima.


—Você diz a quem os mandou que, se ele me quer morto, ele vai ter
que tentar muito mais do que isso.

Os idiotas fizeram uma careta.

Apenas para me divertir, eu disparei um tiro que ricocheteou na


calçada bem na frente de seus pés. Eles se espalharam como as baratas que
eram.

—Eles estão fugindo! —Charlotte gritou, saindo detrás de mim e


correndo atrás dos homens.

Eu a agarrei e puxei de volta para o meu lado. —Deixe-os irem.

—Está maluco?

Estreitei meu olhar em seu rosto. —Você está machucada.


—Suavemente, corri meu polegar na parte de baixo do queixo, onde uma
marca roxa já estava se formando.

—Assim como você.

Eu levei um soco no rosto, um que eu não teria tomado se meus


malditos reflexos não tivessem sido retardados pela cerveja. Sem mais
bebidas até que isso acabe. —Eu já estive pior.

Ela fez uma careta. —Já esteve?

Nos inclinamos para pegar sua bolsa e pertences espalhados. Eu me


certifiquei de examinar tudo, esperando ver um pen drive. Não havia um.

Eu evitei a pergunta dela. —Você vai ficar bem?

—Precisamos chamar a polícia.

Eu tirei o celular de suas mãos, colocando-o no meu bolso.

—Dê-me o meu celular.


Eu apontei para meu quadril. —Se você quiser, vai ter que vir pegá-
lo.

Se olhares pudessem matar, eu estaria morto.

Eu ri.

—Como você pode rir em um momento como este? —Ela exigiu.

Eu suspirei, cansado. Porque se eu não risse, eu poderia perder o


controle.

—Sem polícia. Vamos lá.

Claro que um táxi escolheu aquele minuto para aparecer. O último


nos abandonou no minuto em que viu o problema se formando. Se ele viu
o sangue na minha camisa quando nos aproximamos do carro, ele não
demonstrou.

Nós andamos a curta distância até o apartamento em silêncio e, em


seguida, nos arrastamos até o prédio. Enfiei a arma no cós da calça e o
peso dela era familiar e reconfortante.

Enquanto esperava o elevador, ela pegou sua pasta atrás da planta.


Imaginei que ela iria se lembrar de que estava lá. No andar de cima, eu
destranquei a porta e entrei primeiro, mantendo meu corpo inclinado de
forma a proteger Charlote. Eu estava esperando que tivesse alguém no
apartamento, pronto para terminar o que os idiotas da rua não conseguiam.

Parecia estar vazio.

Mas eu não estava disposto a baixar minha guarda tão facilmente.

Eu olhei para Charlotte por cima do meu ombro e coloquei um


dedo nos meus lábios em sinal para fazer silêncio. O rosto dela
empalideceu um pouco, mas ela assentiu e endireitou os ombros.
Passamos pela cozinha e paramos em frente à porta do banheiro.
Puxando a arma da minha cintura, abri a porta e levantei a arma.

O banheiro estava vazio.

Mantendo a arma na minha frente, entrei no quarto. Depois de


verificar os armários, eu sabia que ninguém estava aqui.

Nós estávamos seguros.

Por agora.

Charlotte desabou na beirada da cama, jogando os calcanhares no


chão e esticando os dedos dos pés descalços. Ela parecia exausta e
assustada.

—Como você está lidando com todo o álcool que você bebeu mais
cedo? —Eu perguntei, querendo ter certeza de que ela não passaria a noite
colocando os bofes para fora.

Ela fez um som de escárnio. —Qualquer sinal de embriaguez, foi


completamente apagado quando alguém colocou uma arma na minha
cabeça.

—Que desperdício de bom álcool. —Eu suspirei, balançando a


cabeça.

Ela sorriu, mas o sorriso desapareceu quando seus olhos se


concentraram no sangue manchando minha camisa.

—Eu vou me limpar um pouco. —Eu disse, deixando-a e me


fechando no banheiro.

Eu fui até a pia e olhei no espelho. A área ao redor do meu olho


direito estava arroxeada e sensível. Eu provavelmente teria um olho preto
pela manhã.
Tirei a camisa arruinada e joguei na lata de lixo. Depois, lavei as
mãos e o rosto na pia e peguei uma toalha para me secar.

Depois do que aconteceu hoje no escritório e agora na rua, as coisas


iriam direto ao inferno rapidamente.

Eu odiava que Charlotte estivesse envolvida nisso. Eu não queria ser


responsável por ela, por sua segurança. Eu não queria a morte dela na
minha consciência. Era pesado o suficiente tudo o que tinha acontecido.

O som da porta sendo aberta me fez tirar a toalha do meu rosto.

—Max, nós realmente precisamos conversar sobre o que


aconteceu... —Charlotte estava dizendo. E então suas palavras pararam.

Ela ofegou.

Eu não estava vestindo uma camisa.

Eu me virei de frente para ela, mas pelo olhar em seu rosto, eu sabia
que ela tinha visto.

Ela começou a falar e parou. Sua testa se enrugou e eu observei


enquanto ela lutava internamente, imaginando se ela estava vendo coisas.

Eu acho que deveria ter trancado a porta.

Ou talvez eu não devesse porque no fundo eu estava esperando que


ela visse.

—Quando você fez uma tatuagem? —Ela perguntou, sua voz baixa
e ligeiramente confusa.

Este foi o meu momento para escolher. Eu poderia inventar uma


história escandalosa e convencê-la de que era verdade.

Ou eu poderia dizer a verdade sobre quem eu realmente era.


Eu gosto mais desse cara. Eu ouvi as palavras dela no fundo da minha
mente.

O FBI me disse para não contar a ela.

Eu não gostava de obedecer.

Eu coloquei a toalha ao lado da pia. —Eu tenho ela há vários anos.

—Você a tem há vários anos. —Ela repetiu, tentando entender o que


eu disse.

Eu assenti.

Seus olhos analisaram meu peito nu, meus braços e, finalmente, o


meu rosto. Seus lábios se separaram, e eu a ouvi suspirar.

—Charlotte, precisamos conversar.

Ela permaneceu em silêncio por longos momentos, depois,


lentamente, começou a sacudir a cabeça.

Isso seria mais difícil do que eu pensava. Enquanto procurava pelas


palavras, pela explicação que lhe devia, ela se virou e fugiu.
CAPÍTULO 18

Charlotte

Eu sabia.

Todas as pequenas coisas estranhas que ele disse, a jaqueta de couro,


o cabelo curto. O violão.

Eu sabia.

Como eu não tinha percebido isso antes? Como eu tinha sido


incrivelmente fácil de enganar?

Meu estômago se contraiu enquanto corria pelo apartamento, indo


para o quarto, em direção ao criado-mudo ao lado da cama.

Eu o ouvi me seguindo, mas não me virei para olhar. Eu não


conseguia olhar para ele. Ainda não.

Eu tinha que ter certeza que o que eu sabia era real e não estava
perdendo minha sanidade. Eu caí de joelhos, ignorando uma dor
penetrante, na frente da mesa de cabeceira e abri a gaveta de baixo.
Procurei no fundo e tirei um envelope branco e despejei o conteúdo no
chão.

Eu embaralhei as imagens, arremessando-as de todas as maneiras até


que a que eu procurava chamou minha atenção. Sentei-me em minhas
coxas e olhei para baixo, como se estivesse amaldiçoada e, se eu a tocasse,
poderia virar pedra.

Por que não pensei nisso antes?

Porque é insano. Porque esse tipo de coisa só acontece nos filmes.


Eu podia senti-lo de pé atrás de mim, em silêncio, esperando...

Meus dedos se fecharam ao redor do acabamento frio do papel de


quatro por seis e eu me levantei do chão e me virei.

Eu olhei para baixo novamente, ondas de cabelo caindo sobre meus


ombros e escondendo meu rosto da vista. Dois menininhos, com sete anos
de idade, estavam de braços dados em uma parede de tijolos. Ambos
sorriam alegremente e seguravam picolés vermelhos, brancos e azuis nas
mãos.

Eles pareciam exatamente o mesmo.

Ambos tinham cabelos escuros e grossos que se enrolavam em


torno de seus rostos. Seus olhos eram escuros e adornados com cílios
impossivelmente escuros. A pele deles estava bronzeada do sol, os lábios
vermelhos do picolé, e ambos estavam vestidos com shorts jeans azuis e
camisetas listradas de vermelho e branco.

Eles eram irmãos.

Eles eram gêmeos.

Eu virei a foto e olhei para a escrita no verso.

Tucker e Max, irmãos para sempre.

Eu levantei meus olhos para olhar para o homem que estava


morando em minha casa. Em quem eu acordei aninhada. Ele parecia
totalmente diferente para mim agora.

O olho vê o que espera ver. Quantas vezes eu tinha advertido um júri


sobre isso? Quantas vezes eu lhes disse para olhar além do que eles
achavam que era óbvio, para olhar além do que eles esperavam ver?

Seu rosto parecia mais afiado, mais esculpido, e não era porque seu
cabelo estava mais curto. Seus olhos tinham algum tipo de dureza que uma
pessoa só obtinha com a experiência. Seus ombros estavam mais largos, o
peito ligeiramente mais musculoso. E seu abdômen... muito mais definido.

Junto com a tatuagem que eu sabia que decorava suas costas, ele
tinha uma faixa em torno de seu bíceps esquerdo. Uma faixa preta e sólida
envolvia o músculo e no centro estavam as palavras Sempre Fiel.

—Tucker. —Eu disse, segurando a imagem entre nós. Max não


falava sobre seu irmão gêmeo com muita frequência, mas ele me contou
sobre ele quando começamos a namorar. Ele disse que eles pareciam
exatamente iguais, mas não poderiam ser mais diferentes. Eu sempre achei
que poderia encontrar Tucker algum dia...

Mas nunca assim.

Ele olhou para ela, mas não fez nenhum movimento para tirá-la da
minha mão. Quando ele olhou, eu vi uma dor severa atravessar suas feições
e seu peito se expandiu com respirações ofegantes.

—Onde está Max? —Eu disse, um sentimento horrível me fazendo


sentir pesada. —O que diabos você fez com Max?

Tucker levantou os olhos da foto e olhou para mim.

Eu sabia que o que ele ia dizer não seria bom.

A foto voou para o chão, flutuando ao lado da cama, quando me


lancei para ele. Eu bati no seu peito quente e sólido, investindo contra ele
com todo o meu peso.

Ele nem sequer se mexeu.

—Onde ele está! —Eu exigi, batendo em seu peito com os lados
dos meus punhos.

—Vamos nos sentar. —Disse ele, tentando me levar para a sala de


estar.
—Eu não farei nada até que você me fale sobre o Max! —Eu gritei,
me afastando dele e firmando meus pés no chão.

Tucker se virou, me dando um olhar duro e irritado. —Max está


morto.

Choque me atingiu como um balde de água gelada.

O silêncio desceu sobre o quarto deixando-o como se tivesse sido


mergulhado na escuridão. Era um silêncio espesso e carregado, do tipo que
dificultava a respiração.

—Você está mentindo. —Eu acusei.

—Eu juro por Deus.

A dor por trás de suas palavras não era algo que pudesse ser fingido.
A dor brutal que ele não se incomodou em esconder em seus olhos de
chocolate não podia ser negada.

—Não. —Eu disse, minha voz um mero gemido.

—Sinto muito. —Disse ele, sua voz grave e baixa.

Lágrimas inundaram meus olhos, bloqueando minha visão, e a dor


tomou conta de mim. Max estava morto. Meu melhor amigo do mundo se
foi e eu nem sabia disso. Eu continuei a minha vida como se tudo estivesse
bem. Eu trabalhei. Eu comi. Eu dormi. Eu não questionei o
pressentimento de que algo estava diferente. Eu não percebi que algo
poderia estar errado.

Meu Deus, eu beijei seu irmão.

Eu gostei.

As comportas se abriram e lágrimas caíram pelas minhas bochechas.


Um soluço saiu da minha garganta e eu coloquei minha mão sobre a minha
boca para tentar conter os soluços.
Um sofrimento como este não podia ser contido.

A dor de perder alguém que você amava é poderosa demais para ser
mantida dentro de você.

Meus ombros caíram e tremeram quando chorei e lágrimas


pingaram na minha blusa. Quão facilmente seu mundo inteiro pode mudar
em apenas alguns minutos.

Eu senti o calor dele primeiro, como um cobertor quente que


acabou de sair da secadora. Seu calor irradiava entre nós e fiquei balançada.
Tucker passou os braços em volta de mim, me puxando para o peito nu,
pressionando a mão contra a minha nuca e me segurando com força.

Eu chorei mais porque gostei.

Eu chorei mais forte porque o toque dele era tão bom.

Eu era uma pessoa horrível.

Meu namorado morreu e seu irmão veio para esta casa, fingindo ser
ele, e eu nem sabia disso.

E mais, eu disse a ele mais cedo que eu gostava mais do “novo” ele.

Minhas costas tremeram com cada soluço, soluços que agora saíam
em silêncio. Era como se meu corpo não tivesse energia para produzir
sons.

—Shhh. —Tucker cantarolou, embalando-nos para frente e para


trás enquanto estávamos no centro do quarto com fotos e papéis
espalhados aos nossos pés.

Minhas lágrimas caíam por toda sua pele, umedecendo seu peito que
servia como um lenço para o meu sofrimento. Ele não reclamou. Na
verdade, parecia que ele estava me segurando mais forte. Era o tipo de
abraço que ancorava uma pessoa, o tipo de apoio que me fez sentir que
mesmo que eu estivesse desmoronando, todas as minhas peças iriam ficar
onde elas pertenciam.

Eu solucei por um longo tempo, até meus olhos ficarem sem


lágrimas e minha garganta doer. Mesmo depois que comecei a me acalmar,
ele ainda me segurou. Nós ainda balançamos para frente e para trás em um
ritmo reconfortante até que pouco a pouco meu cérebro começou a
trabalhar novamente.

Lentamente a realidade voltou, entrando na minha mente e


passando pelos meus olhos inchados. Meu corpo estava exausto e fatigado.
Mas até mesmo minha pobre condição física não conseguia impedir meu
cérebro de querer saber tudo.

Eu tinha que saber.

Eu me afastei e olhei para cima. —Eu quero saber tudo.

Tucker encarou meus olhos por longos momentos e depois deu um


breve aceno de cabeça. —Vamos.

Eu o segui até a sala de estar e me encostei no canto do sofá.


Quando eu dobrei meus joelhos para enfiar minhas pernas debaixo de
mim, eles queimaram de dor. Eu olhei para baixo e percebi pela primeira
vez desde que cheguei em casa que ambos os meus joelhos estavam feridos
e sangrentos.

Deve ter acontecido lá fora quando estávamos sendo assaltados.

O sangue secou, mas meus movimentos fizeram com que os cortes


se abrissem e os dois estavam sangrando.

Em vez de puxar minhas pernas abaixo de mim, eu as estiquei e


descansei meus pés na mesa de café.

Eu olhei para cima a tempo de ver o músculo da mandíbula de Ma...


Tucker saltar, então ele entrou silenciosamente no banheiro. Ouvi a
abertura e o fechamento do gabinete e ele reapareceu com um pequeno kit
de primeiros socorros.

Eu olhei para ele. —Meus joelhos não são importantes agora.

Ele colocou o kit aos meus pés e sentou-se ao meu lado. Ele não se
inclinou para trás, mas sentou-se para frente, apoiando os cotovelos nos
joelhos. Deste ângulo, eu podia ver a ampla extensão de suas costas
musculosas e uma visão clara da tatuagem que me fez perceber que ele não
era Max.

Em uma única linha no lado direito de suas costas havia cinco


estrelas negras. Todas exatamente iguais.

Observei-as se moverem quando ele estendeu a mão e soltou o kit,


colocando alguns suprimentos na mesa de centro de madeira.

—Tucker. —Eu disse, parando sua tentativa de primeiros socorros e


agarrando seu braço. —Conte-me.

Ele abandonou o Band-Aid e a pomada, sentando-se e olhando para


frente, mantendo o olhar longe de mim.

—Alguns dias atrás, o FBI apareceu na minha porta. Eles queriam


que eu entrasse na vida de Max, que não contasse a ninguém e terminasse o
que ele começou.

—O FBI pediu para você vir aqui?

Ele assentiu.

—Max não morreu apenas, não foi? Ele foi assassinado. —O FBI
não bate, sem motivos, na porta de ninguém.

—Sim, e eu vou pegar os bastardos que tiraram a vida dele. —Ele


jurou, soando mortalmente calmo e totalmente sério.
—Isso tem a ver com o seu trabalho? —Eu sabia que ultimamente
Max tinha estado sob mais pressão do que o habitual, mas ele nunca iria se
abrir e me dizer o que estava acontecendo. Eu deveria ter pressionado
mais. Eu não deveria ter aceitado um não como resposta. Se eu não tivesse,
talvez Max ainda estivesse vivo.

—Aparentemente, alguns dos superiores de sua empresa estão


envolvidos em espionagem corporativa e lavagem de dinheiro. Os federais
foram até Max para que ele trabalhasse secretamente, como uma espécie de
informante, pesquisando para obter provas físicas dos crimes.

—Como ele poderia concordar e não falar comigo sobre isso! Eu


poderia tê-lo ajudado! —Eu gritei e levantei do sofá. Eu não podia ficar
sentada nem mais um momento. Comecei a andar pela sala de estar,
pensando nas maneiras que eu poderia ter ajudado.

Eu era uma advogada, pelo amor de Deus. Trabalhava para um dos


escritórios de advocacia mais poderosos e influentes da cidade de New
York. Eu poderia tê-lo ajudado a reunir as informações de que precisava.
Havia maneiras de coletar informações em silêncio sem que ninguém
soubesse.

—Eu não acho que os Federais lhe deram muita escolha. —Disse
Tucker, sombrio.

—Então ele estava infiltrado e as pessoas que ele estava tentando


derrubar descobriram e o mataram por isso. —Eu supus.

—Sim.

—Como você se encaixa em tudo isso? —Talvez eu ainda estivesse


confusa devido ao choro e tudo mais que aconteceu esta noite, mas eu não
estava fazendo a conexão.

—Antes de Max morrer, ele conseguiu as provas que os federais


precisavam para pegar esses caras.
—Por que eles não estão na cadeia, então! —Eu exigi. A advogada
em mim começou a pensar no caso que eu poderia construir e qual juiz
seria o melhor para presidir o caso.

—Porque os federais não sabem onde ele escondeu o pen drive com
as provas.

Eu parei de andar e olhei para ele. —E eles enviaram você aqui para
encontrá-lo.

Ele assentiu.

A compreensão me atingiu. —É por isso que eles vieram atrás de


mim. —Eu disse a mim mesma, a peça que faltava da minha tentativa de
sequestro, finalmente se encaixando.

—O quê? —Tucker disse.

—Eles acham que eu sei onde está. —Eu sussurrei.

—De que diabos você está falando!? —Tucker exigiu, levantando-se


do sofá.

Contei a ele sobre a noite em que os homens entraram no


apartamento e tentaram me arrastar para longe. Ele ouviu com um olhar
sombrio no rosto.

Enquanto eu falava, pensava em outra coisa. —Aqueles homens esta


noite, eles não estavam realmente tentando nos assaltar, estavam?

—Não. Quando entrei no escritório hoje, muitas pessoas ficaram


surpresas que eu ainda estava respirando. Eles pretendem terminar o
trabalho. Eles também não sabem onde o pen drive está, e nos querem
mortos antes que possamos levá-lo ao FBI.

—Temos que encontrar esse pen drive. Aqueles homens que


mataram o Max têm que pagar.
Tucker olhou para mim, um olhar determinado se espalhando por
suas feições. —Exatamente o que eu penso.
CAPÍTULO 19

Tucker

Suas lágrimas me enervaram. Eu estava acostumado a sofrer, mas eu


não estava acostumado a ver o sofrimento tão claramente exibido.

Eu não a classificara como um tipo emocional, então a sensação de


suas lágrimas frias contra o meu peito e o som de seus soluços estridentes
vieram como uma surpresa.

Mas, de um jeito doentio, as lágrimas dela aliviaram um pouco da


minha própria tristeza. Foi bom poder compartilhar com alguém que ele
foi embora. Era bom que agora houvesse outra pessoa que sentia a
ausência do meu irmão como uma ferida de bala no peito.

Quando ela chorou, eu a segurei, não porque eu estava esperando


que ela chorasse menos, mas porque suas lágrimas eram minhas lágrimas.
Ela não sabia, mas Charlotte chorou por nós dois. O desabafo de sua
tristeza de alguma forma liberou alguns dos meus próprios. Eu não tinha
percebido o quão pesado era o fardo de carregar a morte dele. Quão
verdadeiramente irritante era ver o mundo ao meu redor como se nada
tivesse mudado, quando de fato tudo mudou.

Finalmente, alguém entendia. E embora eu não desejasse a dor da


morte para ninguém, fiquei aliviado por não ter que sentir isso sozinho.

Exceto agora que ela estava em perigo.

Mais perigo do que alguém percebeu. Aqueles homens vieram atrás


dela na noite em que mataram meu irmão. Eles vieram atrás de nós
novamente esta noite. Agora, mais do que nunca, lamentei ter enfrentado
Wallace Jr. hoje porque, se Charlotte pagasse o preço, eu nunca me
perdoaria.
—Você já procurou no apartamento? —Ela perguntou, analisando
o quarto.

—Sim. E no escritório do Max. Mas podemos olhar aqui


novamente. Você pode pensar em lugares para olhar que eu não pensei.

Ela assentiu com a cabeça e o movimento fez com que ela


balançasse levemente em seus pés.

—Você precisa sentar-se. —Eu disse a ela, levantando-me.

Seus olhos foram diretamente para o meu peito.

Eu ignorei o flash de calor no meu sistema e me virei, indo para a


cozinha para pegar algumas garrafas de água da geladeira. —Aqui. —Eu
disse, colocando uma na mão dela e guiando-a para o sofá.

Eu analisei seus joelhos inchados enquanto ela destampava a água e


tomava um gole. Parecia que tinha se passado muito tempo desde que esses
caras nos atacaram. Parecia que eu estava aqui há semanas, em vez de dias.

Eu ouvi uma fungada e olhei para ela. Ela estava chorando de novo.

Porra, as mulheres eram como torneiras.

Não havia nada que eu pudesse dizer, então mantive minha boca
fechada. Eu provavelmente estava fazendo um favor a ela, de qualquer
maneira. Eu não era o tipo de cara que tinha um arsenal de palavras bonitas
para fazer uma garota se derreter. Meu arsenal estava carregado de armas.
E granadas.

Mas eu era bom em curar uma ferida.

Sentei, inclinando-me para frente, pegando um lenço antisséptico e


abrindo-o com os dentes. O cheiro me lembrou da estação de ajuda do
batalhão (também conhecida como BAS11) quando eu estava alistado e
tinha que atender a uma chamada.
11
Battalion Aid Stattion, que significa Estação de ajuda do batalhão
—Não temos tempo para isso. —Disse Charlotte, olhando para a
limpeza.

—Então você é um desses pacientes. —Eu brinquei.

—Desculpe? —Ela fungou.

—O tipo que luta contra as enfermeiras, mesmo quando elas estão


apenas tentando ajudar.

—Você está se comparando a uma enfermeira? —Ela perguntou,


erguendo uma sobrancelha delicadamente arqueada.

—Eu tenho uma excelente postura profissional. —Eu arqueei


minhas sobrancelhas para ela.

Ela sorriu, mas depois ficou séria rapidamente. A culpa nublou seus
olhos.

—Sorrir não faz você menos triste por ele. —Eu disse a ela
baixinho, sentando-me na mesa diretamente na frente dela e pegando sua
perna.

—Eu sei, mas parece errado.

—Eu entendo. —Eu disse. Era a verdade. Às vezes, viver depois


que outra pessoa morria era pior do que a dor de ela não estar lá.

Eu coloquei minha mão ao redor de seu joelho, tocando a pele


sensível e puxando sua perna para que seu pé descansasse na beira da mesa
entre as minhas pernas.

—Isso provavelmente vai doer.

Eu não esperei por mais de seus protestos, mas comecei a limpar o


sangue seco. Ainda estava levemente sangrando e eu fiquei com raiva de
novo pelo que aqueles caras tentaram fazer.

Imbecis.
Usei dois lenços para limpar a área e, em seguida, sequei-a
suavemente com um pedaço de gaze. Como ainda estava escorrendo
sangue, escolhi um band-aid grande e o cobri com uma fina camada de
pomada. Ela não disse nada enquanto eu alisava a grande mancha sobre a
área ralada e machucada com cuidado. Se meus dedos se demoraram sobre
sua pele sedosa, nenhum de nós reconheceu isso.

Então eu peguei o outro joelho dela. Quando eu coloquei no lugar,


não pude deixar de notar os arrepios ao longo de sua pele. Eu olhei para
cima; ela estava me observando.

—Está com frio?

—Um pouco. —Disse ela, olhando para longe.

Eu peguei um cobertor do lado do sofá e fiz sinal para ela inclinar-se


para que eu pudesse envolvê-lo em seus ombros. Quando ela se recostou
para trás, eu coloquei as pontas em volta dela, sobre os braços, mas
tomando cuidado para deixar as mãos livres para que ela pudesse segurar a
água.

O cobertor escorregou de um braço quando me afastei e corri para


empurrá-lo de volta ao lugar.

Minha mão roçou seu seio.

Pequenas faíscas de eletricidade subiram e desceram pelos meus


membros. Seu suspiro fez com que minhas entranhas se apertassem.
Lentamente, eu retirei minha mão, a parte de trás roçando contra ela
novamente, e era impossível não notar o jeito que seu mamilo respondia
mesmo através de suas roupas.

Eu me lembrei da perfeição daqueles mamilos rosados e do jeito que


eles enrugavam no meio de seus seios cheios e belos...

E eu não deveria estar pensando isso.


Voltei minha atenção para o joelho dela, abrindo outro lenço
antisséptico. Quando eu rasguei, ele voou para fora da minha mão e caiu
no chão entre o sofá e a mesa. Eu me inclinei para frente para recuperá-lo.

O movimento repentino fez seu pé encostar no meu pau.

Eu recuei como se alguém tivesse jogado água quente em mim. O


desejo foi instantâneo. A necessidade esmagadora. Claro que comecei a
ficar duro; o único toque dela contra essa parte de mim foi o suficiente
para me deixar necessitado.

Eu juro que desde o segundo que coloquei os olhos nela, cada


momento que compartilhamos tinha sido algum tipo de preliminares.
Nunca uma mulher me provocou tanto, mesmo sem querer.

Peguei o lenço e me sentei, certificando-me de que seu pé não


estivesse perto do meu pau. Claro que o dano já estava feito.

Eu não olhei para ela, com medo de que apenas me fizesse palpitar
ainda mais. Em vez disso, concentrei-me apenas nos arranhões dela e na
limpeza da lesão. Ela fez um ligeiro assobio quando passei na ferida aberta,
e suavizei meu toque, percebendo que estava sem querer descontando
minha frustração sexual nela.

—Desculpe. —Eu murmurei, ainda não olhando para cima.

As escoriações nesse joelho não eram tão ruins quanto a do outro.


Não estava sangrando. Depois de um pouco de debate interno, decidi não
cobrir este, optando por deixar o ar chegar a ele.

—Você está ferida em outro lugar? —Eu perguntei, colocando de


lado todos os suprimentos e finalmente erguendo os olhos para os dela.
Pareciam mais verdes do que antes, como se as partículas verdes dentro do
avelã tivessem se expandido.

—Em nenhum lugar que um band-aid possa curar. —Suas


bochechas ainda estavam molhadas de suas lágrimas.
Suavemente, coloquei o pé dela de volta no chão e então estendi a
mão para limpar o que restava de sua tristeza.

Ela inclinou a bochecha no meu toque.

Meu coração literalmente parou no meu peito.

—Eu não posso acreditar que ele realmente foi embora. —Ela
sussurrou.

A ponta do meu polegar roçou a parte superior de sua bochecha.

—Alguém tentou me matar na noite em que ele morreu. Eles


tentaram me matar esta noite.

—Eles não vão parar até nós estarmos mortos ou eles estarem na
cadeia.

—Tanta morte. —Disse ela. —Eu preciso de um pouco de vida.

Seus olhos se moveram para encontrar os meus. A necessidade era


inconfundível. Seu desejo espelhava o meu. Meu toque não se tornou gentil
e quando dei por mim, eu a estava puxando para cobrir sua boca com a
minha.

O primeiro contato queimou e eu gemi. Seus lábios eram como uma


xícara de café quente num dia frio de inverno: caloroso e acolhedor. Sua
paixão deslizou por toda a minha garganta e cobriu meu interior,
iluminando-me como um fósforo e deixando meu sangue em chamas.

Eu empurrei minha língua através de seus lábios e para dentro de


sua boca, explorando as pontas afiadas de seus dentes e a textura de sua
língua. Eu não parei de beijá-la mesmo quando meus pulmões imploraram
por ar. Eu precisava de seu beijo muito mais do que meus pulmões
precisavam de oxigênio.

Quando finalmente me afastei o suficiente para respirar


irregularmente, ela fez um som de protesto e se aproximou, prendendo
meu lábio inferior entre os dentes e sugando-o de volta em sua boca úmida
e lambendo-o com sua língua.

Eu enfiei minhas mãos sob seus braços e a puxei rudemente para o


meu colo. Ela me montou com facilidade, envolvendo as longas pernas na
minha cintura e encostando-se completamente no meu colo. Quando meu
comprimento duro roçou seu núcleo, ela estremeceu e se esfregou contra
mim.

Nossos dentes bateram quando eu aprofundei o beijo, deslizando


minha língua apenas um pouco mais dentro de sua boca. Eu queria estar
nela; eu queria estar dentro dela com tudo que eu pudesse.

Com as duas mãos eu apertei sua bunda e ela se esfregou contra


mim novamente, fazendo um baixo som de prazer. Charlotte interrompeu
o beijo e sentou-se, olhando para mim com os olhos arregalados e os lábios
inchados.

—Nunca me senti assim antes. —Disse ela, sua voz um sussurro


baixo.

—Querida, você não sentiu nada ainda.

Eu sabia que ia dormir com ela. Eu ia fazer sexo com Charlotte e eu


ia aproveitar cada segundo disso.

Ela iria aproveitar cada segundo disso.

Não haveria mais morte hoje à noite. Haveria vida.

E muito, muito sexo.


CAPÍTULO 20

Charlotte

Ele alcançou a ponta do tecido amarrado em um laço ao lado do


meu pescoço.

Eu não o parei.

Lentamente, ele puxou, arrastando a minha expectativa e criando


uma dor agonizante entre as minhas coxas. Quando o laço foi desfeito, ele
abandonou as tiras de seda, separando-as e deslizando os dedos ao redor
para habilmente abrir os botões na base do meu pescoço.

Em todos os lugares que ele tocou, senti o beijo de desejo. O único


pensamento em minha cabeça naquele momento foi: não pare.

Quando ele pegou a barra da minha blusa e olhou para mim


pedindo permissão, eu não pude fazer nada além de acenar com a cabeça.

Ele não precisou ser informado duas vezes. A seda foi levantada e
desapareceu, onde eu não podia ver. Suas mãos se curvaram ao redor dos
meus quadris enquanto seus olhos sorriam para mim.

—Puta merda, Charlie. Você é linda. —Ele disse isso como uma
oração, como se de alguma forma ele tivesse tropeçado em algo sagrado.

Meus joelhos começaram a tremer. A necessidade dentro de mim


era tão intensa que meu corpo estava tendo dificuldade em contê-la.

Tucker soltou meu corpo e levantou suas mãos, em direção ao meu


sutiã de cetim cinza e branco. Eu sabia que meu peito estava amplamente
exposto para ele, o alto dos meus seios suaves aparecendo pelo tecido
macio.
As palmas das mãos dele deslizaram sobre meus seios, cobrindo-os,
apertando-os levemente. Ele soltou um suspiro irregular e começou a
apertá-los, massageando-os com os dedos e os polegares. Minha pele
começou a formigar e uma incrível vontade de arquear minhas costas para
exibi-los ainda mais, vergonhosamente me encheu.

Ele mergulhou os dedos sob as bordas do tecido e puxou para


baixo. Foi um movimento rápido. O sutiã ainda estava preso em torno do
meu torso e o material se agrupava sob meus seios, empurrando-os para
cima em direção ao seu toque. O ar frio roçou minha pele já aquecida e
senti meus mamilos endurecerem.

As pontas do meu cabelo estavam soltas, fazendo cócegas no


mamilo já inchado e sensível, me dando vontade de sacudir a cabeça
apenas para sentir os fios sedosos aumentarem ainda mais o meu prazer.
Mas Tucker queria ser o único a me dar prazer.

Ele usou as costas das mãos para empurrar meu cabelo para trás e
colocou seus polegares em cada um dos meus mamilos duros. Eu me
contorci com felicidade e sua boca se curvou em um sorriso onisciente.

Era como se ele soubesse todos os segredos do meu corpo e ele não
pudesse esperar para compartilhá-los comigo.

Ele continuou a tortura requintada traçando um amplo círculo ao


redor dos meus mamilos, arrastando as unhas levemente sobre a pele e, em
seguida, beliscando os dois exatamente ao mesmo tempo.

Eu engasguei quando a umidade quente escorreu pela minha


calcinha. Minha saia tinha subido, expondo um pouco do algodão branco
da minha calcinha, e eu inalei, notando que o ar ao nosso redor estava
começando a ter o cheiro inebriante do desejo.

Ele inclinou a cabeça morena para levar sua boca ao meu seio.

Eu parei de pensar.
Ele sugou a pele delicada, puxando-a em sua boca e esfregando-a
com a língua. Então ele soltava para lamber meu mamilo como se fosse
uma sobremesa deliciosa. Quando eu pensei que ele iria passar para o
próximo, ele estendeu a mão para desatar habilmente o material e jogá-lo
para longe, desnudando meu torso completamente. Meu seio encheu sua
mão completamente quando ele espalmou, levantando-o para que ele
pudesse inclinar-se para lamber e chupar a parte de baixo.

Eu gemi e minha cabeça caiu para trás. Cedendo, arqueei minhas


costas, oferecendo cada centímetro dos meus seios aos lábios dele.

Enquanto sua boca trabalhava meu mamilo, beliscando sua dureza e


depois o lambendo com sua língua ligeiramente áspera, suas mãos
deslizaram ao redor do meu traseiro, onde ele pegou minha bunda e
apertou. O movimento me fez esfregar contra ele, minha virilha aquecida e
lisa entrando em contato com o comprimento rígido de seu pau.

Tucker levantou-se abruptamente, sem me soltar, e foi em direção


ao quarto. Eu ancorei minhas pernas em volta da sua cintura e aguentei o
passeio. Enquanto ele caminhava, sua boca encontrou meu outro seio e ele
chupou e rosnou. O som vibrou pela minha carne e eu me empurrei mais
contra sua boca.

Eu me sentia cheia de necessidade. Abalada e desesperada por


liberação.

O quarto estava escuro, a única luz vinha do corredor. Tucker me


deitou na cama, ajoelhando-se entre as minhas coxas e olhando para o meu
corpo seminu.

Eu praticamente me contorcia sob seu olhar, não porque não


gostasse, mas porque eu gostava.

Tucker reuniu meus pulsos e os levantou acima da minha cabeça,


prendendo-os contra o colchão com uma das mãos. O peso do seu corpo
veio sobre mim, seu peito nu roçando o meu quando ele reivindicou minha
boca com a dele.

Ele me beijou com uma paixão que eu nunca tinha conhecido. A


maneira como seus lábios pareciam saber cada ângulo, cada ponto de
pressão, me fez querer implorar por mais. Ele me beijou longa e
profundamente; e também me beijou curta e brevemente. Ele beijou o
canto da minha boca, arrastando seus lábios através do meu queixo e,
enterrou o rosto no meu pescoço.

Seus dentes beliscaram o lóbulo da minha orelha e sua voz


sussurrou frases maliciosas que ninguém nunca havia sussurrado para mim
antes.

—Vou abrir suas pernas e você vai sentir cada centímetro de mim.

Eu me contorci debaixo dele. Eu tentei libertar minhas mãos. Eu


ansiava por raspar minhas unhas nas costas dele, sentir o jeito que seus
músculos se contraíam e segurar seu rosto quando ele me beijasse.

Mas ele não deixava eu me mexer. Ele me ancorou na cama e tudo


que eu pude fazer foi suportar a doce tortura que ele deu ao meu corpo.
Sua língua viajou pelo meu pescoço, onde seus dentes beliscavam e
raspavam. Eu tremi tanto que meu corpo se estabeleceu em um tremor
contínuo. Ele desceu a língua, traçando um caminho entre meus seios até o
meu abdômen, onde sua língua circulou meu umbigo e depois deslizou
para o lado.

Eu tentei apertar minhas coxas juntas, mas ele não deixou. Em vez
disso, ele puxou o joelho para cima, empurrando-o para a minha calcinha
molhada e usando a pressão de sua coxa para adicionar calor ao fogo. Sua
boca aumentou a pressão quando ele puxou um monte de pele da minha
barriga em sua boca e chupou, criando uma dor mínima que me fez ofegar
por mais.
Enquanto ele chupava aquele determinado local, ele moveu seu
joelho, esfregando-se contra mim enquanto meus músculos do estômago
se apertavam.

Eu estava ofegante quando ele me soltou.

Usando suas mãos, ele abriu minhas coxas até onde minha saia
permitia e pressionou beijos suaves no interior das minhas pernas. Ele
passou a língua por minha virilha, e eu gemi seu nome, enfiando meus
dedos profundamente em seu cabelo escuro.

Ele sentou-se, colocando a palma da mão no meu clitóris inchado, e


começou a esfregar em um movimento circular, provocando-o, usando a
umidade da minha própria calcinha para aumentar ainda mais o meu
prazer.

Arqueei minhas costas para fora do colchão e sua boca capturou


meu seio mais uma vez. Eu queria tocá-lo. Minha mente continuava
sussurrando para eu passar minhas mãos pelo seu corpo.

Mas eu não podia.

Meu desejo e minha necessidade eram tão intensos que fizeram meu
corpo pesar. Fez meu cérebro ficar lento. A única coisa que eu podia fazer
era deixar onda após onda de prazer passar por mim.

Tucker recostou-se, erguendo-se sobre mim, como uma espécie de


mestre, para me olhar através da escuridão. Observando meu rosto, ele
abaixou o zíper lateral da minha saia, deslizando as mãos no cós, puxando-
a para baixo sobre meus quadris e pernas. Eu não conseguia controlar o
jeito que minhas pernas tremiam. Eu tentei acalmá-las, mas não adiantou.
Era quase como se eu não estivesse mais no controle do meu próprio
corpo, mas ele estava.

Ele não disse uma palavra quando tirou minha calcinha, arrastando-
a sobre o meu corpo até que ela se foi completamente e eu estava
totalmente exposta.
Ele fez um som profundo e mergulhou seus dedos entre meus pelos
curtos e arrumados, logo acima da minha entrada. Ele acariciou levemente
a pele, como se estivesse estudando algum tipo de mapa.

Peguei seu cinto, querendo ver o que estava criando uma tenda na
frente de suas calças. Ele pegou minha mão e trouxe-a para cima,
pressionando um beijo na ponta dos meus dedos e balançando a cabeça
negativamente.

Tucker guiou minha mão para longe dele e descaradamente colocou-


a entre os lábios da minha boceta. Minha pele imediatamente ficou
escorregadia com umidade do meu corpo.

—Eu quero ver você se tocar.

Ele queria que eu me tocasse.

Eu nunca me toquei. Foi algo que eu nunca fiz. Talvez ele


entendesse isso, ou talvez ele só quisesse se envolver, mas ele pegou meu
dedo indicador e começou a deslizar para cima e para baixo nas minhas
dobras. Eu gritei.

—Você está encharcada. —Ele ronronou, e eu senti um flash de


satisfação que meu corpo o agradava.

Ele recuou as mãos e agarrou meus quadris e levantou, gentilmente


me virando. Meu estômago se agitou com ansiedade porque eu não tinha
ideia do que ele estava planejando fazer.

Mas eu confiei nele.

Eu confiei nele completamente.

Seu peso veio sobre mim novamente, me pressionando nos


cobertores e roçando no cabelo do meu pescoço. Sua língua brincou ao
longo da minha nuca, lambendo e depois soprando sobre a área
umedecida.
Eu me mexi um pouco sob ele, meu corpo procurando algo mais.
Seus quadris se acomodaram contra o meu traseiro, acalmando a ação, mas
criando ainda mais anseio dentro de mim. Ele passou as mãos pelas minhas
costas, descendo pela curva da minha espinha. Então ele sentou-se para
massagear minhas nádegas e eu gemi seu nome.

Em seguida ele estava se acomodando em mim, o peito dele contra


as minhas costas com os cotovelos apoiados em ambos os lados de mim,
me cercando totalmente.

Ele não estava mais usando as calças. A dureza inconfundível de sua


ereção nua e a textura áspera do cabelo aninhado entre suas coxas roçaram
minha bunda e me fizeram gemer.

Ele beijou minha bochecha, o canto do meu olho. Sua língua


acariciou minha orelha e ele puxou o lóbulo em sua boca.

—Eu quero sentir você. —Ele sussurrou no meu ouvido.

Eu choraminguei. Deus, eu nunca em toda a minha vida quis tanto


algo quanto eu o queria dentro de mim.

Uma de suas mãos deslizou pelo meu corpo e alcançou entre o


colchão e minha pélvis. Ele me levantou e então meus quadris estavam
inclinados para cima e seus dedos sondaram o ninho dos meus cachos.
Segurando-me nessa posição, senti a ponta de seu pau provocar minha
abertura. Minhas mãos se torceram nos cobertores enquanto seu dedo
roçava meu clitóris inchado, fazendo-o pulsar ainda mais com doce
antecipação.

Ele entrou em mim com um único golpe. Eu gemi e enterrei meu


rosto nos cobertores, tentando abafar a quantidade de barulho que eu
estava fazendo. Eu não pude evitar.

Tão. Bom.
Seu pau estava duro como pedra e esticou as paredes da minha
boceta, esticando-me e enchendo-me.

No meu ouvido, sua respiração estava irregular enquanto ele


lentamente começou a se mover. Dentro e fora, dentro e fora. Ele manteve
seu corpo contra o meu, então experimentamos um contato corporal
completo junto com seus impulsos incríveis. Ele beijou meus ombros; ele
beijou minha nuca.

A umidade da minha excitação cobria seu pênis com facilidade e ele


deslizou para frente e para trás, criando atrito e me encharcando de forma
épica.

Era totalmente erótico que eu pudesse senti-lo, que eu sabia o quão


grande e quão duro ele estava..., mas eu ainda tinha que colocar os olhos
no membro causador dessa delícia.

Então ele se afastou e fiquei com uma tristeza dolorosa que quase
me fez chorar. —Vire-se para mim, querida. —Disse ele.

Eu virei ansiosamente, fixando meu olhar em seu magnífico corpo


nu. Seu pau era grosso e grande, e se projetava de seu corpo como um
guerreiro pronto para a batalha.

Antes que eu pudesse olhar o bastante, ele se estabeleceu entre as


minhas coxas e empurrou para dentro de mim mais uma vez. Pequenos
arrepios de êxtase correram pela minha pele. Eu passei meus braços em
torno de suas costas, cavando minhas unhas na pele lisa esticada sobre o
músculo enquanto ele batia dentro de mim.

Os músculos dentro de mim começaram a contrair e ele se


equilibrou em suas mãos, olhando para mim enquanto continuava a se
mover.

—Eu quero que você goze agora. —Ele ordenou.


Foi como se ele tivesse acionado um interruptor dentro do meu
corpo. Um orgasmo explodiu através de mim, fazendo-me gritar de novo e
de novo quando ondas de felicidade me atingiram.

Senti-o se contrair, seu corpo ficando rígido quando ele enfiou o


braço debaixo de mim, levantando meu corpo lânguido do colchão e me
aproximando. Eu senti os jatos de seu gozo dentro de mim. Meu corpo o
acolheu; meu corpo ansiava por isso. Seu gemido abafado era como uma
sinfonia para meus ouvidos.

E então ele desmoronou em cima de mim. Eu podia sentir a batida


errática de seu coração enquanto a satisfação enchia cada célula minha.

Eu nunca soube.

Eu nunca imaginei.

Este era o tema sobre o qual os filmes foram escritos. Essa era a
coisa que eu achava que só vivia em livros.

Não era apenas um conto de fadas.

Era real.
CAPÍTULO 21

Tucker

Melhor. Sexo. De. Todos.

E eu tive muito sexo na minha vida, então para eu estar deitado aqui
(ainda em cima da mulher) e estar instantaneamente desejando mais,
significa alguma coisa.

Porra, ela era o par perfeito. Ela me deixou assumir a liderança, ela
me deixou arrebatar seu corpo, e os sons que ela fez... os sons me deixaram
louco. Seu corpo era apertado e meu pau se encaixava dentro dela como
um carro esportivo em uma garagem personalizada. Como se ela fosse feita
apenas para mim.

Apenas repassar o que aconteceu entre nós me fez despertar para a


vida com energia renovada. Meus braços ainda estavam em volta do corpo
dela. Eu provavelmente a estava esmagando, mas ela não reclamou. Eu
deslizei para fora de sua boceta, meu pau me odiando por isso, e comecei a
me afastar.

Seus olhos se abriram e ela olhou para cima, me dando um sorriso


relaxado. Foi o mais relaxado que já vi. Deus, ela era linda. Eu abaixei
minha cabeça, conectando nossas bocas para pressionar um beijo profundo
e gentil naqueles lábios em forma de coração.

Eu rolei para longe dela, deitando no lado vazio da cama.

Eu apenas a beijei... de bom grado. O pensamento fez meu pênis


enrijecer e minha mente se perguntou o que diabos estava errado comigo.

Eu nunca beijei mulheres depois que fizemos sexo.


Eu nunca encostava nelas também. Normalmente eu me levantava e
iria para casa, ou se ainda estivesse bêbado, rolava e iria dormir.

Eu nunca disse que eu era do tipo romântico.

Por isso eu achei que meu comportamento parecia estranho. Beijar e


tocar geralmente me deixava desconfortável. Fazia sexo pela satisfação,
pelo puro prazer que isso dava ao meu corpo. Eu não fazia isso porque me
dava borboletas no estômago ou fazia meu coração bater mais leve.

Essa merda era para meninas.

Então, por que eu estava deitado aqui pensando em enfiar os dedos


dela nos meus? Por que eu já estava antecipando a próxima vez que eu
poderia me enterrar dentro dela?

Senti-a se mover ao meu lado e virei a cabeça. Charlotte estava


deitada de lado, de frente para mim com a mão de ossos finos enrolada no
travesseiro ao lado dela. Havia apenas luz suficiente para eu distinguir suas
feições, a maneira como o cabelo dela se espalhava pelo travesseiro.

Pela primeira vez em muito tempo desejei ser melhor nisso. Eu


gostaria de saber algo que eu poderia dizer, algumas palavras bonitas que
ela gostaria de ouvir.

A mão descansando entre nós levantou e seus dedos frios


acariciaram o lado do meu rosto levemente. Antes de se afastar, ela segurou
o lado do meu queixo e seus lábios se curvaram para cima.

Eu não tinha que dizer nada. Nenhuma palavra bonita iria competir
com o que acabamos de fazer... e como esse toque singular me fez sentir.
Então me acomodei apenas observando-a, para os vislumbres que eu podia
pegar no escuro.

Mais uma vez meu pau começou a mexer. Claramente, não


satisfeito. Claramente, uma sessão de sexo épica não seria suficiente.
Por que ela? algo dentro de mim perguntou. Por que a única mulher
que deveria estar fora dos limites seria a que eu mais queria?

A razão não importava porque não mudaria nada.

Charlotte era namorada do meu irmão. Eu quebrei o código de


irmão, dormindo com ela esta noite. Sim, talvez eu pudesse dar o desconto
dessa noite ter tido muita cerveja, muita emoção e ser atacado na rua. Ou
acreditar que estava sendo insano porque meu irmão gêmeo tinha ido
embora.

Todas essas razões eram muito melhores do que admitir para mim
mesmo que eu era o maior idiota do mundo.

Eu me perguntava o que Charlie estava pensando agora.

Ela estava olhando para mim, com a respiração regular e o rosto


relaxado. Ela provavelmente estava pensando em quão bom na cama eu
era.

Quanto mais ficamos ali, mais longe ficamos do “clarão” do sexo. O


ar ao nosso redor começou a mudar, a ficar mais tenso, e a impressão de
satisfação que senti no seu lado da cama começou a diminuir.

Eu sabia exatamente o que estava acontecendo.

Ela estava começando a se arrepender. A realidade do nosso sexo de


momento estava batendo, e ela estava olhando para mim e me vendo... não
Max.

A percepção doeu, e o pensamento de que talvez eu não fosse bom


o suficiente para ela criou um gosto amargo na minha boca.

—Vou tomar um banho. —Disse ela depois de um tempo. Ela


deslizou para o lado vazio da cama e ficou de pé, arrastando o lençol com
ela e enrolou-o em seu corpo nu.
Eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei desapontado por não
conseguir observar a sua deliciosa bunda enquanto ela andava.

Charlotte atravessou o quarto e parou na porta. À sua frente, a luz


dos outros ambientes brilhava, criando um efeito de auréola dourada ao
redor dela, fazendo-a parecer apenas uma sombra. Ela descansou a mão no
batente da porta e olhou por cima do ombro, o cabelo caindo em cascata
pelas costas.

Eu não conseguia ver seus olhos nesse tipo de luz, mas os senti.

E então ela se virou e entrou no banheiro, silenciosamente fechando


a porta atrás de si. O fechamento daquela porta indicava que nosso tempo
havia acabado. Isso geralmente era minha deixa para sair. Para vestir
minhas roupas, subir na minha caminhonete e dirigir para casa.

Eu empurrei o cobertor e me levantei. Minhas calças estavam no


chão ao pé da cama.

Eu as ignorei.

Eu não ia me vestir.

O chuveiro já estava ligado quando eu entrei no banheiro. O lençol


branco jazia amarrotado no chão e vapor subia por trás da cortina,
dissipando-se no ar, criando umidade no pequeno banheiro.

Eu me senti irritado por algum motivo. Enganado. Eu não gostei e


não ia aceitar.

A cortina do chuveiro fez um som afiado de raspagem quando eu a


puxei pela haste. Charlotte engasgou e pulou sob o jato. Por vários longos
segundos, fiquei paralisado com a água correndo livremente sobre sua pele
nua.

—Tucker! Que diabos está fazendo? —Ela perguntou, cruzando os


braços sobre o peito como se estivesse envergonhada.
Era divertido. —Eu já conheço cada centímetro desses seios,
intimamente. Cobri-los é um desperdício de energia. —Eu disse
sombriamente.

—Nós não deveríamos ter feito isso. —Disse ela, virando as costas
para mim completamente. Eu tinha uma boa visão da bunda dela.

Raiva queimou minha garganta e eu engoli tudo.

—A água está espirrando por todo o chão. —Ela se agitou sem se


virar.

Entrei no chuveiro e fechei a cortina. A água estava quente,


escaldante até. Como se ela estivesse tentando me lavar de sua pele. Eu não
permitiria isso.

Charlotte girou, choque escrito em seus traços.

—Você gostou. —Eu disse, um desafio no meu tom.

A água jorrou sobre a cabeça dela escoando em seus cabelos, e


pequenas gotas se agarravam aos cílios dourados.

—Diga-me que você gostou. —Eu exigi.

—Se eu te disser, você vai sair?

Eu a observei em silêncio. Eu não estava prometendo nada.

Eventualmente ela suspirou cansada. —Sim, eu gostei. —Sua voz


era baixa como se ela estivesse sussurrando um segredo.

—Eu não terminei com você ainda.

Seus olhos se voltaram para os meus e ela afastou os fios molhados


que caíram em seus olhos. —Sim, você terminou. Nós não deveríamos ter
feito isso! Você é irmão de Max. —À menção do meu irmão, seu lábio
inferior tremeu e seus ombros caíram.
Eu odiava ver a tristeza que corria dentro dela. Eu queria beijá-la.

Sim, era errado, mas era assim que me sentia.

Ficamos parados lá com a água caindo ao nosso redor, as gotas


caindo de sua pele e pousando na minha. Parecia que estávamos em um
impasse.

—Uma noite. —Eu me ouvi dizer.

—O quê? —Ela perguntou, inclinando-se para mim um pouco.

—Me dê uma noite com você. Uma noite para nós tirarmos essa
atração do nosso sistema. Uma noite sem culpa, sem nos dizer como
somos horríveis. —Isso fazia todo o sentido. Charlotte estava fora dos
limites para mim, e é exatamente por isso que eu a queria tanto.

Tudo o que tínhamos que fazer era remover as barreiras entre nós,
as tentações. Nossas sedes seriam saciadas e, de manhã, nenhum de nós iria
querer o outro.

Eu podia vê-la pensando nisso. Eu podia vê-la pesando os prós e


contras. Eu sabia que, em sua mente, ela estava criando uma pequena lista e
verificando mentalmente as coisas.

—E de manhã? —Ela perguntou.

—De manhã, eu serei o irmão de Max e você pode me ajudar a


encontrar esse pen drive. Assim que o entregarmos, irei para a Carolina do
Norte e você não terá que me ver novamente.

—Eu o amava. —Disse ela, como se tivesse que ter certeza de que
eu sabia.

—Eu também o amava.


Eu soube o momento exato em que ela cedeu, quando ela decidiu
me deixar passar o resto da noite. Algo no meu peito se iluminou. Eu senti
como se um peso de cem quilos tivesse sido removido dos meus ombros.

—Uma noite. —Ela concordou.

Eu não estava prestes a perder um segundo sequer. Aproximando-


me, passei meus braços ao redor dela e girei, deixando o jato cair sobre
minhas costas e ombros. A água quente escorreu entre nós, fazendo a
nossa pele deslizar. Eu tomei sua boca em um beijo faminto. Eu me sentia
como um homem esfomeado, um homem que ficou sem comida por
muito tempo.

Nossas línguas se misturaram; nossa respiração se misturou. Eu


puxei seu lábio inferior em minha boca e chupei enquanto seus braços
subiam para agarrar meu bíceps. Minha mão encontrou a massa pesada e
úmida de seu cabelo e eu peguei um punhado dele, puxando sua cabeça
para trás para expor seu pescoço.

Eu lambi a água que escorria pela pele sensível de seu pescoço,


apreciando o modo como seu corpo tremia. Deslizando entre nós,
belisquei seu mamilo e ela arqueou em minha direção.

Eu trouxe nossos lábios juntos mais uma vez, beijando-a o mais


profundamente que pude.

Charlotte ficou ousada, a mão descendo enquanto ela tomava o meu


pau em sua palma. Usando a água do chuveiro, ela começou a me acariciar,
deslizando para cima e para baixo ao longo do comprimento e fazendo a
minha respiração passar quase assobiando entre meus dentes. Meu corpo
estremeceu quando ela atingiu aquele ponto doce na minha cabeça, o
ponto mais sensível em todo o meu corpo.

Meus dedos dos pés se curvaram no chão do chuveiro enquanto sua


mão viajava para baixo para segurar minhas bolas em sua mão quente e
acolhedora.
Eu amava a sensação das suas mãos em mim. Eu amava o jeito que
o toque dela era ousado, mas ainda hesitante. Eu amava a maneira
cuidadosa que ela me acariciava como se ser gentil fosse uma forma de
adoração.

Depois de vários longos minutos sem nada além do toque dela, eu


não aguentava mais. Meu sangue começou a ferver; meu pau começou a
exigir mais. Eu agarrei seu rosto e inclinei sua cabeça para trás para olhar
em seus olhos.

—Isso não vai ser como da última vez. Eu não vou demorar. Eu te
quero tanto que dói. Eu quero você aqui. Agora.

—Então me tome.

As palavras mal saíram da sua boca quando me movi. Em poucos


segundos, eu tinha as pernas dela em volta da minha cintura e suas costas
presas contra a parede do chuveiro. A água corria sobre nossos corpos
enquanto eu entrava em sua boceta já molhada e pronta.

Eu gritei, enterrando meu rosto em seu pescoço, e parei, permitindo


que seu corpo se esticasse ao meu redor me permitindo um momento para
recuperar o fôlego. O êxtase puro rolou pelos meus membros. A sensação
de sua boceta apertada e quente contraindo em torno de mim foi quase o
suficiente para me fazer gozar.

Quase.

Eu queria mais.

—Espere, querida. —Eu falei e comecei a fodê-la com força. Ela


não podia se mover porque eu a tinha presa entre mim e a parede do
chuveiro. Eu empurrei nela de novo e de novo, meus músculos da coxa
queimando pelo esforço e meu pau tão duro que latejava.

Charlotte balançou a cabeça de um lado para o outro, ofegante e


pedindo por mais.
Eu fui fundo dentro dela, mas eu queria mais fundo. Eu liberei um
pouco da pressão em seu corpo e ela deslizou pela parede, enterrando a
cabeça do meu pau nos lugares mais privados dentro dela.

Eu não conseguia me segurar por mais tempo e me inclinei,


movendo-me contra ela, e nós dois atingimos o clímax.

Suas unhas arranharam minhas costas e seus dentes afundaram no


meu ombro. Os pequenos sons de miado que saíram de sua garganta
enquanto ela se balançava contra mim eram como música para meus
ouvidos.

Comecei a bombear de novo, despejando até a última gota do meu


orgasmo. Quando acabou, nós desmoronamos contra a parede, nós dois
respirando pesadamente. A água esfriara, e eu inclinei minhas costas para
impedir que a maioria das gotículas frias borrifassem seu corpo.

Quando eu finalmente recuei para desligar a água, ela deslizou para


baixo, como se suas pernas fossem incapazes de segurá-la. Eu ri e a prendi
mais uma vez na parede enquanto desligava o jato frio e pegava sua toalha.
Enrolei-a em torno de seu corpo e, em seguida, peguei-a, passando pela
beirada da banheira e levando-a para fora do banheiro e de volta para a
cama.

—Estou encharcada. —Ela protestou quando eu tentei deitá-la na


cama.

Então a deixei de pé e tomei a toalha. Eu sequei cada parte de seu


corpo. Duas vezes.

Depois que ela retribuiu o favor, nós abandonamos a toalha e


deslizamos por baixo do cobertor. Eu a puxei contra mim, maravilhado
com o quão bem seu corpo se ajustava ao meu. Minha mão segurou sua
bunda, amassando a carne nua e redonda.
—É melhor você descansar um pouco enquanto pode. —Eu avisei
ela. —Ainda temos o resto da noite e eu nem estou perto de terminar com
você ainda.

—Você promete? —Ela perguntou.

Eu sorri no escuro. Foi uma promessa que eu ficaria feliz em


manter.
CAPÍTULO 22

Charlotte

Eu não sabia que havia tantas maneiras diferentes de fazer sexo.


Ontem à noite foi a educação de uma vida. Eu não tinha ideia de onde ele
aprendeu algumas das coisas que ele fez comigo e, francamente, eu estava
com medo de perguntar.

Mas, porra, foi bom demais.

Fizemos isso na cama, no chuveiro, contra a parede, no chão, e com


ele sentado em uma cadeira e eu em seu colo.

Ele tocou cada centímetro do meu corpo como se fosse fazer um


exame escrito no dia seguinte e precisasse saber cada lugar; me fazendo
ronronar com seu toque.

Eu nunca me senti tão sexualmente necessitada... tão desejada.

Tucker me fez sentir corajosa. Ele me fez sentir como se eu pudesse


fazer qualquer coisa com ele e não ficar envergonhada. Ele estava tão
ousadamente confortável com seu corpo que eu de alguma forma me
esqueci de ficar desconfortável com o meu. Quando eu toquei seu pau,
seus olhos ficaram pesados, suas pálpebras se fecharam e ele sussurrou
meu nome.

Eu amava quando ele sussurrava meu nome.

Ele me pediu uma noite e eu estava incrivelmente feliz por ter dado
a ele. Por horas e horas eu não pensei em prazos ou trabalho. Eu não me
preocupei com o fato de meu blazer ficar amassado ou o meu cabelo ficar
bagunçado. Eu não chequei meu e-mail a cada dez minutos e senti que
podia respirar.
E agora a escuridão no céu estava dando lugar à nova luz do dia,
lentamente se espalhando pelo horizonte e transformando o céu em um
tom profundo de damasco.

Meus pés descalços mal fizeram um som quando eu caminhei para a


cozinha escura. Não acho que tenha dormido mais de uma hora na noite
passada, mas não estava nem um pouco cansada. Pressionei o botão de
ligar na cafeteira e, em seguida, virei para pegar uma caixa de suco de
laranja da geladeira.

O forte aroma de café coando flutuou no ar e eu inalei o aroma rico


enquanto enchia um copo com suco.

Braços fortes deslizaram em torno de mim por trás, envolvendo


minha cintura e me puxando de volta contra um peito firme. Fechei meus
olhos e tentei gravar a sensação dele na minha memória. Eu não queria
esquecer isso.

Tucker acariciou o lado do meu pescoço e depois me soltou. Eu


segurei o copo de suco de laranja por cima do meu ombro, oferecendo-lhe
a bebida.

Ele pegou, e eu me ocupei com a tampa da caixa e guardei. Sentia


seus olhos em mim o tempo todo em que me movia. Eu sentia a
intensidade de seu olhar escuro, o calor envolvendo meus ossos. Embora
minhas partes íntimas estivessem inchadas e um pouco doloridas, eu o teria
recebido novamente sem hesitação.

Mas era de manhã.

Nossa única noite juntos estava acabando.

Depois que eu coloquei um pouco de café em uma caneca, devolvi a


jarra da cafeteira e me virei para olhar para ele.
Ele parecia quase exatamente como Max, mas ele era tão
incrivelmente diferente. Eu queria saber mais sobre ele, mais sobre seu
passado, seus sentimentos, sua vida.

Você não está namorando ele. Eu me lembrei. Você está namorando o irmão
dele.

Pelo menos eu estava... até que ele foi assassinado.

Emoção borbulhou dentro de mim, ameaçando me sobrecarregar,


então eu abandonei minha caneca me desculpei e fui para o banheiro.
Segurei o balcão de mármore frio até meus dedos ficarem brancos,
inclinando a cabeça, e fechando meus olhos contra todos os pensamentos e
sentimentos confusos.

Sendo uma advogada, eu sabia que não podia esconder a verdade de


mim mesma. A verdade sempre viria à tona.

Eu mantive o forte aperto no balcão, mas forcei meus olhos para


que eu pudesse olhar para o espelho. Eu mal me reconhecia.

Minha pele estava corada e rosada com marcas suaves do rosto não
barbeado de Tucker. Meus lábios estavam inchados e cheios, meus olhos
claros e brilhantes como eu nunca tinha visto. Meu cabelo loiro dourado
estava uma bagunça emaranhada, caindo nos meus ombros e no meu peito.

Eu estava acostumada a ser alguém muito mais composta, alguém


com o cabelo preso para trás, olhos focados e pele pálida e sem marcas.

Eu parecia muito mais jovem assim, muito mais relaxada... feliz.

Isso me fez sentir incrivelmente culpada.

Como eu poderia parecer tão feliz? Como eu poderia me sentir tão


relaxada quando descobri que Max estava morto?

Mais ainda, como eu poderia ter dormido com seu irmão, seu irmão
gêmeo?
Eu era uma vadia depravada e desprezível.

Tecnicamente, eu não havia traído Max, e no mundo da lei, um


tecnicamente era mais que suficiente para conseguir absolver alguém. Mas
isso não era um tribunal de justiça e o que eu fiz ainda era uma traição.

Uma única lágrima percorreu meu rosto até cair no balcão.

Durante dias eu estive morando aqui com Tucker, tão cega pela
minha atração por ele, tão admirada com o súbito ataque de desejo que me
consumia por dentro que eu não parei para realmente examinar as
evidências. Se eu tivesse, saberia que não era o Max. Eu saberia que algo
estava errado.

—Eu sinto muito, Max. Por muitas coisas. —Sussurrei, enxugando


mais lágrimas das minhas bochechas.

Eu não podia mudar a noite passada. Na verdade, eu realmente não


queria. Sim, eu estava com vergonha de tão rapidamente pular na cama
com Tucker, mas não me arrependi. Eu não podia. Meu corpo ainda tremia
de satisfação. Eu me senti livre de uma maneira que nunca senti antes.

Isso não significava que eu teria que repetir a noite.

Meu relacionamento com Tucker (se é que você poderia chamar


assim) daqui em diante seria, estritamente, sobre encontrar a evidência que
Max deixou para trás e obter justiça por seu assassinato. Depois disso,
faríamos exatamente o que Tucker disse. Nós seguiríamos nossos
caminhos separadamente.

Houve uma batida suave na porta do banheiro. —Você caiu? —


Tucker perguntou do outro lado.

Eu revirei meus olhos. Ele tinha as maneiras de um ogro.

—Não. —Eu respondi.


—Bem, ficar aí segurando o balcão e se sentir culpada não irá
melhorar nada.

Eu parei. Como ele poderia ser tão bárbaro em um momento e no


próximo ser tão estranhamente perceptivo?

—O café está ficando frio. —Ele insistiu.

Com um suspiro, abri a porta do banheiro e fui recebida por uma


parede sólida de homem. Puta merda, ele tinha um belo peito, todo largo e
musculoso. A tatuagem em seu braço chamou minha atenção.

Ele precisava de uma camisa.

Tipo agora mesmo.

Meu café estava preso em seus dedos longos e grossos. Algo dentro
de mim formigou com a memória de quão bem ele usou aqueles dedos...

Eu me empurrei para fora do meu sonho pornô (O que diabos


estava acontecendo comigo? O próximo passo seria eu pesquisando no
Google fotos de homens nus na internet. Indecente.) E peguei minha
caneca, tomando um longo gole.

—Devemos conversar. —Disse ele, com os olhos ficando sérios.

Nós definitivamente precisávamos conversar. —Sim, nós


deveríamos. —Eu andei em torno dele e caminhei em direção à sala de
estar, olhando para trás para me certificar de que ele estava seguindo. Ele
não estava. Ele estava olhando para as minhas pernas.

Eu precisava de uma calça.

E uma camisa que não fosse a dele. Uma camisa que não cheirava
como ele.

Eu mudei de curso e fui diretamente para o quarto, deixando meu


café de lado e passando por cima de todos os papéis e fotos que eu deixei
no chão ontem à noite para pegar um par de leggings e uma blusa. Acho
que vou pular a academia hoje de manhã. Eu ficaria feliz por isso, se eu não
me conhecesse bem o suficiente para perceber que pular hoje seria igual a
um treino mais longo amanhã.

Eu hesitei antes de tirar a camisa que estava usando, mas depois me


senti boba. Não era como se ele já não tivesse visto a mercadoria.

—Então, precisamos encontrar um pen drive que contenha


evidências de espionagem corporativa que Max escondeu em algum lugar,
para que os agentes federais possam prender os homens que o mataram?
—Eu resumi e me virei, puxando as pontas do meu cabelo para fora da
gola da minha blusa.

—Sim. —Disse Tucker, pegando meu café e tomando um gole.

A visão de seus lábios envolvendo a borda da caneca me deu


arrepios. Eu tinha uma memória gritante dele puxando meu dedo em sua
boca e, em seguida, lentamente, puxando seus lábios até a ponta.

—Charlie. —Ele chamou, sua voz invadindo o pensamento erótico.

Eu olhei para cima, minhas bochechas esquentando de vergonha


porque eu fui pega no ato de reviver o que fizemos na noite passada. —
Sim? —Eu perguntei, esperando que ele não percebesse o que eu estava
pensando.

Um pequeno sorriso torto curvou sua boca muito talentosa. Ele


sabia. Claro que ele sabia. —Eu perguntei, você tem alguma ideia de onde
Max poderia ter colocado um pen drive neste apartamento?

Eu sabia onde Max guardava tudo. Eu sabia como ele gostava de


dobrar suas meias. Eu conhecia seu tipo favorito de xampu. Que ele não
gostava de guardar o garfo excêntrico na gaveta de talheres porque tinha uma
alça de “formato engraçado”. Eu sabia o jeito que ele arquivava seus
documentos, as palavras abreviadas que ele usava em sua agenda e sua
gravata favorita.
E agora ele nunca mais voltaria.

A tristeza esmagadora se expandiu dentro de mim, como um balão


sendo inflado com muito ar. O pensamento de nunca mais vê-lo, de nunca
ser capaz de falar sobre estratégias ou assistir filmes juntos, deixou um tipo
de dor no centro do meu peito.

Eu me perguntei se a tristeza iria embora. Eu me perguntei se ele


poderia me perdoar pela maneira como passei minha primeira noite sem
ele.

Mesmo que ele tivesse ido embora, ainda havia algo que eu poderia
fazer por ele. Ainda havia uma maneira que eu poderia pelo menos tentar
compensar o que eu fiz.

Eu poderia derrubar seus assassinos. Eu podia ver seus assassinos


na cadeia. Talvez eu arranjasse para que eles tivessem um companheiro de
cela chamado Tiny Tim, só que ele não seria tão pequeno assim.

—Se estiver aqui, eu vou encontrá-lo. —Eu jurei.

Tucker esticou a caneca para mim quando passei por ele. Alternei
meu olhar entre ele e a caneca. A caneca que ele tinha praticamente
esvaziado.

Ok, então ele não esvaziou ela.

Mas seus lábios a tocaram. Complicado para mim.

—Fique com ela. —Eu disse. —Eu vou pegar outra.

Sua risada debochada me seguiu até a sala de estar. Eu o ignorei. Eu


tinha um pen drive para encontrar.
CAPÍTULO 23

Tucker

Nós procuramos pela casa inteira. Charlie olhou em lugares que eu


nunca pensei. Ela conhecia todos os pequenos cantos e recantos neste
lugar, e cada um deles estava vazio.

Não achar foi uma decepção.

Passar por todos os pertences do meu irmão era pior.

Eu sentia falta dele, e o fato de nos separarmos nos últimos anos era
algo que eu nunca me perdoaria. A distância entre nós era minha culpa, um
fato que eu nunca quis admitir para mim mesmo até agora.

Era óbvio que Charlie se importava com ele. Eu podia ver as linhas
de dor gravadas em suas feições bonitas. Eu observei seus ombros caírem
toda vez que ela encontrava algo que significava muito para Max.

Eu era um idiota. Um idiota do mais baixo nível.

Eu aproveitei sua tristeza na noite passada. Eu aproveitei o medo


dela de ser atacada. Ela era uma participante voluntária, mas fui eu que
iniciei tudo.

—Não está aqui. —Disse Charlotte, tirando-me de pensamentos


profundos.

—Eu já procurei no escritório dele e no armário dele no ginásio. Ele


não tinha um cofre no banco. Você pode pensar em outro lugar que
poderia estar? Havia alguém em quem Max confiasse, realmente confiasse,
que ele pudesse ter entregue para guardar?
Depois de pensar um momento, uma luz entrou em seus olhos. —
Há um lugar que podemos tentar.

—Ótimo, vamos lá.

—Nós não podemos.

Eu me virei, me perguntando se ela perdeu a cabeça. —Que diabos


você quer dizer com não podemos?

—O lugar não abre tão cedo. —Ela olhou para o relógio e suspirou.
—Além disso, vou me atrasar para o trabalho.

—Você vai trabalhar? —Eu perguntei, incrédulo.

—Eu tenho que trabalhar. Os clientes que eu consegui obter um


contrato estão chegando para assinar os papéis hoje. Eu tenho que estar lá.

—Você vai colocar o seu trabalho à frente da justiça para Max? —


Eu rosnei.

Ela se empertigou mostrando toda a sua altura (que ainda era menor
do que eu) e me deu um olhar. —Como ousa dizer uma coisa dessas para
mim?

Eu cruzei meus braços sobre o peito.

—Se eu disser que estou doente, parecerá suspeito. Eu nunca faltei


por doença em minha vida. As pessoas vão se perguntar o que está
acontecendo. Quem matou Max provavelmente está nos observando. A
melhor coisa a fazer é continuar como se tudo estivesse normal.

—Não vou entrar em seu escritório e fingir ser ele. Aquele lugar é
uma merda.

Charlie revirou os olhos e voltou para o quarto. Eu a segui. —Bem.


Fique aqui e lide com a bagunça que fizemos procurando.
Eu levantei uma sobrancelha. Ela acabou de sugerir que eu ficasse
em casa e a limpasse? Talvez eu devesse assar alguns cupcakes com
cobertura rosa enquanto eu estava fazendo isso.

Com uma braçada de roupas, ela se virou para mim. —Eu vou,
participarei da reunião, e então direi aos parceiros que vou descer para
fazer alguma coisa e voltarei para casa. Até lá, o restaurante estará aberto e
veremos se Max foi para lá.

—É em um restaurante?

Ela assentiu. —O melhor amigo de Max é dono de um restaurante


aqui na cidade. É um lugar muito elegante.

Elegante = sem cerveja.

—Eu mal posso esperar. —Eu disse sarcasticamente.

Ela sorriu e foi ao banheiro, fechando a porta. Foi muito ruim


porque eu estava esperando por um relance de um pouco de sua pele.

Alguns minutos depois, ela saiu vestida com um par de calças pretas
folgadas e o que parecia ser uma camisa verde-escura encaixada por dentro
do cós da calça. Isso acentuava sua barriga lisa e a forma como sua cintura
se curvava como uma ampulheta. Seu cabelo estava puxado para trás
naquele coque estúpido.

Ela correu para a porta, colocando um par de saltos altos pretos nos
pés e pegando um blazer preto acinturado. Sua pasta de trabalho estava ao
lado da porta onde ela a deixava junto com a bolsa.

—Charlie. —Eu disse, impedindo-a de sair.

Ela voltou-se.

—Sobre a noite passada... —Eu comecei não tendo certeza por que
eu queria trazer isso à tona, mas incapaz de deixá-la sair daqui sem falar
sobre isso. Nós não falamos sobre isso. Fiel ao nosso acordo, quando o sol
apareceu, nosso foco mudou para Max.

Concentrar-se em Max era bom. Mas olhando para ela agora...

Ela ergueu a mão, parando minhas palavras e meus pensamentos.


—Isso não pode acontecer novamente.

Suas palavras feriram meu orgulho viril. Tivemos um sexo


espetacular. Eu me superei para agradá-la. Eu sabia que nós tínhamos um
acordo, mas eu pensei que uma vez que ela sentisse o gosto disso, ela iria
querer mais.

Então fiz o que qualquer homem com orgulho ferido faria. Eu


menti.

—Eu não estava falando sobre o sexo. —Eu disse, limpando a


garganta. —Eu só queria te lembrar de ter cuidado lá fora. Claramente
esses caras ontem à noite estavam nos seguindo. Esperando. Preste atenção
à sua volta hoje. Se alguma coisa parecer fora do comum, qualquer coisa,
você chega a uma área lotada e me liga. Ok?

Uma mancha rosa floresceu em suas maçãs do rosto e ela se mexeu


desconfortavelmente. —Ah. Certo.

Eu não gostava de fazê-la se sentir como se ela fosse a única que


estava pensando sobre as faíscas incríveis entre nós. Mas eu não sabia mais
o que fazer. Era mais fácil assim. Menos doloroso.

Ela deixou o apartamento sem um único olhar para trás.

Suspirei e passei a mão por cima da minha cabeça.

Eu me perguntei o que ela teria dito se eu tivesse contado a verdade.


Eu me perguntei se a culpa em seus olhos daria lugar a algo mais.

Eu me perguntei se eu era o único que pensava que uma noite não


tinha sido suficiente.
CAPÍTULO 24
Charlotte

Muse estava localizado em Manhattan, em um prédio antigo que foi


completamente reformado por dentro. Tinha tetos altos, paredes de tijolos
expostos, pisos de madeira lustrosa e vigas por cima. A obra de arte nas
paredes era abstrata e superdimensionada; as mesas eram todas de madeira
chique e escura, com estofamento de couro real. A música suave de jazz
fluía pelo sistema de som nas paredes, e havia um bar gigante, redondo e
independente no centro do estabelecimento que era composto
principalmente por vidro.

Cavalli Overcraft havia sido um sério empresário por muitos anos,


com aspirações de trabalhar com o mercado de ações. Ele até se formou
com honras. Max e Cavalli estavam no caminho certo para se tornarem
estrelas corporativas quando Cavalli decidiu que a pressão e o estresse do
mundo corporativo não era o que ele queria da vida.

Então ele largou o emprego e foi para a escola de culinária para


estudar sua paixão secreta: comida. Uma vez que ele terminou, ele colocou
o seu conhecimento de negócios e conexões que ele fez enquanto
trabalhava em New York para o bom uso e abriu Muse, onde ele não era
apenas o proprietário, mas o chefe de cozinha.

O ambiente luxuoso e a atmosfera relaxante reunia pessoas para este


lugar, e a comida fazia-os voltar.

A maioria das pessoas achava que Cavalli era completamente insano.


Secretamente, eu o admirava.

Embora Max continuasse com sua carreira no mundo corporativo,


ele e Cavalli continuaram amigos, e eu diria que Cavalli era provavelmente
o único amigo verdadeiro que Max tinha.
Além de mim, claro.

Então, quando Tucker me perguntou se havia alguém em quem Max


confiaria o pen drive, imediatamente pensei em Cavalli.

—Lugar legal. —Disse Tucker enquanto caminhávamos para dentro


do prédio.

—Lembre-se, você já esteve aqui antes. —Eu lembrei a ele. Agora


que eu sabia que ele não era realmente Max, era tão completamente óbvio
que eu não pude deixar de me preocupar que alguém mais pudesse
perceber.

—Eu deveria ter ligado com antecedência para uma reserva? —Ele
perguntou, inclinando-se para sussurrar no meu ouvido. Sua respiração
roçou a parte externa da minha orelha e eu queria gemer.

Você pensaria que uma noite inteira de nada além de sexo me


satisfaria por um bom tempo. Isso só me fez desejar mais.

—Ainda é cedo o suficiente, não devemos precisar de uma. —Eu


disse, afastando meus desejos para me concentrar no assunto em questão.

Nós não tivemos que esperar muito quando uma recepcionista


vestida completamente de preto nos escoltou a uma mesa no lado mais
distante do salão, atrás do bar. Ela nos entregou um cardápio e depois saiu,
deixando-nos sozinhos.

—Cavalli sempre sai da cozinha para conversar com os convidados.


Ele nos verá e virá, e nós podemos descobrir se está com ele, então. —Eu
disse a Tucker.

—Estou morrendo de fome. —Ele reclamou, olhando por cima do


cardápio.

Eu também estava com fome. Eu não tinha comido nada o dia todo.
—Estamos aqui. Nós também podemos comer.
Depois que nós fizemos os pedidos (uma salada verde fresca com
camarão para mim e um bife para ele), ficamos em silêncio, sem saber
realmente o que dizer. Parecia que já tínhamos vivido muito juntos, mas eu
mal o conhecia.

—Max nunca falou sobre você. —Eu soltei, porque claramente eu


não conseguia pensar em uma maneira mais educada de ser rude.

—Isso não me surpreende. —Disse Tucker, agindo como se meu


pronunciamento abrupto fosse normal. —Não somos próximos há alguns
anos.

—Mas por que? —Eu questionei. —Eu pensei que gêmeos eram
inseparáveis.

Ele sorriu fracamente. —Nós éramos, enquanto crianças. Mas as


crianças crescem. E Max e eu não éramos nada parecidos.

—Você está no Exército de Fuzileiros Navais? —Eu perguntei,


pensando na tatuagem em seu braço.

—Eu estava. Sai no mês passado. Eu fiquei por cerca de seis anos.

—Por que você saiu?

—Eu senti que era hora de seguir em frente. Eu estava cansado de


que me dissessem onde morar, o que vestir, o que fazer.

—Parece sufocante.

—Não mais sufocante que a vida que você está vivendo.

Suas palavras cortaram meu peito e me pegaram de surpresa. —


Minha vida não é sufocante.

Ele levantou o canto da boca. —Se você diz. —Ele disse, pegando
seu copo de chá gelado. Depois que ele engoliu, ele fez uma careta para o
copo. —Eu não posso esperar para ir ao sul.
—Você está indo para o sul?

Ele assentiu. —Deveria estar lá agora.

—Onde?

—Jacksonville, Carolina do Norte. Meu amigo Nathan acabou de se


mudar para lá com sua esposa Honor. Ele estava no exército também.
Estamos abrindo uma empresa de investigação privada. Já temos algum
trabalho para o qual o Exército nos contratou.

—Eu nunca fui ao sul antes.

—É mais quente, as pessoas são mais amigáveis e sabem como fazer


um copo de chá doce.

Eu poderia dizer que ele estava ansioso para chegar lá, estar em um
lugar que ele realmente queria estar. Por alguma razão, isso me deixou com
uma sensação ruim no estômago.

—Então o que aconteceu entre você e Max? —Eu perguntei.

Ele encolheu os ombros. —É principalmente minha culpa. Ele foi


para a faculdade, tornou-se um figurão aqui e eu entrei para os fuzileiros
navais. Ele sempre foi o garoto de ouro de nós dois. Aquele que seria o
mais bem-sucedido.

—Eu diria que servir seu país é bastante impressionante. —Eu


refutei. Ele mais ou menos soou como se achasse que Max era melhor que
ele. Max nunca agiu como se fosse melhor que ninguém; ele sempre tratou
todos igualmente.

—Nem sempre foi fácil. —Ele disse com um olhar distante em seus
olhos.

—Você já foi para o exterior?


—Duas vezes. Ambas em zonas de guerra. Eu vi mais do que eu
gostaria. Muitos homens bons morreram. Alguns deles eram meus amigos.

A garçonete chegou, então, fazendo com que interrompêssemos a


conversa. Eu não pude evitar pensar sobre as coisas horríveis que ele
provavelmente tinha visto. Eu não esperava que ele continuasse falando
quando a garçonete foi embora, mas ele continuou.

—Nosso comboio foi atacado um dia enquanto seguia para uma


nova base. Eles explodiram um hummer na nossa frente. Destruiu tudo.
Os caras lá dentro morreram instantaneamente.

Eu ofeguei e automaticamente estiquei minha mão sobre a mesa e a


coloquei sobre a dele. Ele olhou para as nossas mãos unidas em silêncio
por um momento e depois olhou para cima.

Pensando que fiz a coisa errada, comecei a escorregar minha mão.


Ele virou-se e capturou meus dedos que eu afastava, deslizando os seus
através deles e dando-lhes um aperto.

—O motorista do hummer em que estávamos parou e nós três


saímos, procurando pela ameaça, pelos homens que mataram nossos
irmãos.

—Você saiu! —Eu perguntei. —Por que você não se afastou


rapidamente?

Ele me deu um olhar inexpressivo. —Nós não deixamos os homens


para trás.

Eu assenti.

—O hummer que foi atingido estava a quinze metros de distância, e


eu corri para ele enquanto os outros me cobriam. Estava em chamas e
carbonizado, mas eu tinha que ter certeza de que ninguém estava vivo. O
cheiro de seus corpos em chamas... é algo que nunca vou esquecer.
Eu tremi, tentando imaginar um grupo de homens no centro de uma
zona de guerra, com armas e uniformes, viajando pelo deserto enquanto
bombas e tiroteios tinham a intenção de tirar a vida deles.

—Enquanto eu estava checando o hummer, o que nós estávamos


andando levou um tiro. O ataque não tinha sido como o anterior, e o lado
do passageiro do veículo explodiu, fazendo com que ele capotasse. Passou
por cima de Govern, o homem que estava dirigindo.

Eu abaixei meu garfo, incapaz de comer. —Então o que aconteceu?

Connors estava em pé ao ar livre completamente vulnerável ao


ataque. Então eu sai de trás do hummer que estava pegando fogo e corri
em direção á ele para cobri-lo, enquanto ele corria para um local seguro.
Havia atiradores de elite em um aglomerado de rochas não muito longe de
onde estávamos e eles podiam nos eliminar com facilidade. De qualquer
forma, o meu movimento distraiu o atirador e o próximo tiro foi a esmo,
direto na areia à nossa frente. Quando cheguei a Connors, o sol refletiu na
arma do atirador e eu engatilhei minha arma. Eu nunca esquecerei aquele
momento... Meus olhos se conectaram com os do homem tentando nos
matar, e ficamos ali congelados por longos momentos, encarando um ao
outro através da mira de nossas armas.

—Tucker. —Eu sussurrei, lágrimas enchendo meus olhos.

—Nós puxamos o gatilho ao mesmo tempo. —Ele piscou e olhou


para mim. —Minha bala o matou. Sua bala teria me matado, mas Connors
me tirou do caminho, levando o tiro no meu lugar.

Eu ofeguei, pensando o quão incrivelmente perto ele esteve da


morte. —E Connors? —Eu perguntei, rezando para Deus que ele estivesse
bem.

—Foi um tiro no estômago. —Disse ele, sombrio. —Ele não


conseguia andar, então eu o carreguei. Eu andei dezesseis quilômetros
antes que alguém nos encontrasse.
Ele carregou um homem ferido e sangrando por dezesseis
quilômetros pelo deserto, e a cada passo ele provavelmente se perguntava
se seria o último. Que tipo de consequência mental uma situação como
essa trazia para uma pessoa?

—Ele morreu? —Eu sussurrei.

—Foi por pouco, mas não, ele não morreu. Ele ainda está vivo. Ele
saiu do exército depois disso e vive em Dakota do Norte com sua esposa e
filho.

—Você salvou a vida dele.

—Ele salvou a minha primeiro.

Tucker olhou para as nossas mãos unidas e então olhou para cima.
—Essa experiência me mudou. Observar homens com quem eu me
importava, homens que eu considerava família, morrerem.... Deixou uma
marca na minha alma, algo que sempre estará lá. Eu meio que me afastei
das pessoas depois disso. Eu não me aproximei. Eu deixei os
relacionamentos, como o que eu tinha com Max, escaparem. Era muito
difícil estar perto das pessoas, muito difícil amá-las.

—E Nathan? —Eu perguntei, pensando no amigo que ele


mencionou antes.

Ele sorriu, um sorriso genuíno que iluminou seus olhos. —Eu só


conheço Nathan há alguns anos. Ele meio que acabou de se tornar
indispensável na minha vida. Ele entende a guerra. Ele tem cicatrizes
próprias. Por um bom tempo, foi só eu e ele.

—Você não disse que ele é casado?

—Com uma escritora. Ele a salvou de ser sequestrada. Ela escreveu


um livro sobre isso. Eles estão juntos desde então.

Eu senti meus olhos se arregalarem. —Você está falando do livro


sobre o qual fizeram um filme? Text?
Ele sorriu. —Você já ouviu falar sobre ele?

—Todo mundo já ouviu falar dele.

Ele riu.

—Eu não posso acreditar que você é amigo de Honor Calhoun.


—Eu disse com admiração. Eu amava seus livros. Bem, quando eu tinha
tempo para ler.

—É Honor Reed agora. —Ele corrigiu.

A garçonete veio e parecia preocupada que nenhum de nós tinha


tocado em nossa comida. Eu assegurei a ela que estava maravilhoso; nós
estávamos apenas conversando. Ela não pareceu convencida quando se
afastou.

—Eu não deveria ter deixado meu relacionamento com Max


deteriorar-se. Passei todo esse tempo evitando ficar perto dele, com medo
de ser morto na minha próxima missão, que isso fosse machucá-lo
demais...

—E então ele morreu. —Eu sussurrei.

—Sim, e agora eu tenho uma mente cheia de arrependimento, bem


como um buraco no meu coração.

—Se isso faz diferença. Max nunca pareceu zangado com você. Ele
nunca pareceu se sentir traído.

—Pensei que ele não tinha falado sobre mim.

—Ele não falou. Na verdade, não. Mas eu saberia se o seu


relacionamento distante o machucasse.

—Obrigado. —Ele disse levemente, suspirando.


Não sei se minhas palavras lhe trouxeram algum conforto, mas
sinceramente esperei que sim. Ele passou por muita coisa e parecia que não
precisava de mais nada para pensar no escuro da noite.

Um homem vestindo um casaco branco imaculado aproximou-se da


mesa e Tucker endureceu. Eu olhei para cima e sorri. —Cavalli! —Eu
disse, então Tucker saberia com quem estávamos conversando.

O rosto de Cavalli se abriu em um largo sorriso. —Max! Charlotte!


Ele disse, parando ao lado da mesa. Tucker ofereceu sua mão para um
aperto vigoroso antes de Cavalli se inclinar e beijar minha bochecha.

—Eu tenho que dizer que estou surpreso em ver você aqui. É tão
cedo. Eu pensei que vocês dois viciados em trabalho não sairiam do
escritório até pelo menos às sete.

—Bem, nossas agendas estavam livres esta tarde, então decidimos


sair juntos. —Respondi.

Cavalli sorriu. —Bem, quando a garçonete me disse que tinha


clientes que não estavam comendo, fiquei alarmado! Eu pensei que havia
algo errado com a comida!

—A comida está perfeita. Nós estávamos apenas conversando.

Cavalli olhou para Tucker e eu prendi a respiração, imaginando se


ele iria perceber que não era realmente Max. —Muito tempo sem te ver,
Max! Como o mundo corporativo está tratando você?

Tucker sorriu. —Ocupado como sempre, Cavalli. O restaurante


parece ótimo. Parece ainda melhor do que a última vez que estive aqui.

Eu observei Cavalli procurando sinais de que algo estava errado. Ele


não pareceu notar nada. Dei um suspiro de alívio.

Cavalli sorriu. —Eu saí do mundo corporativo para não ter que
trabalhar tanto, mas aqui estou trabalhando tanto quanto antes. Quem diria
que administrar um restaurante seria difícil?
Tucker sorriu. —Quando você está fazendo o que ama, não é
trabalho.

—Ah, você fala a verdade, meu amigo. —Cavalli concordou.

Algo dentro de mim se contorceu com as palavras de Tucker. Eu


me esquivei do sentimento porque me deixou desconfortável.

—Eu preciso te perguntar uma coisa. —Disse Tucker, seu tom


tornando-se mais sério.

—É claro. —Respondeu Cavalli, puxando uma cadeira de uma mesa


próxima e sentando-se conosco.

—Provavelmente não fará sentido, e eu sinto muito, mas não posso


explicar agora. Eu irei, quando puder. Mas é importante.

—Você sabe que eu vou te ajudar se eu puder.

Eu olhei para Tucker. Naquele momento, ele não apenas parecia


com Max, mas ele soava como ele. Max sempre era tão sério quando falava.
Ele sempre foi tão direto. Eu admirava isso porque sempre sabia o que
esperar.

Antes que Tucker continuasse a conversa, ele me deu uma


olhadinha, obviamente percebendo que eu estava encarando. Eu limpei
minha garganta e tomei um gole da minha água.

—Eu recentemente te dei uma coisa para guardar por segurança?


Um pen drive?

Para seu crédito, Cavalli não agia como se a pergunta fosse louca.
Ele pareceu levar isso em consideração e meu coração começou a bater de
excitação. Ele devia saber o que estávamos perguntando!

Justiça está chegando, Max.


Cavalli ficou sentado na cadeira observando Tucker por um longo
momento. —Isso é sobre o quê? Você está com problemas, Max?

—Eu gostaria de poder explicar. —Disse Tucker, inclinando-se para


frente.

—Não. —Ele respondeu. —Você não me deu nada por segurança.


Eu não vejo você há semanas. Você não lembra?

Tucker sorriu. —Claro. Eu só preciso de confirmação.

Cavalli sentou-se para frente. —Max, você sabe que se precisar de


ajuda, eu estarei aqui.

Algo mudou no fundo dos olhos de Tucker. Tristeza talvez. Depois


desapareceu. —Você tem sido um grande amigo para… para mim. Bons
amigos são difíceis de encontrar hoje em dia e você é um deles. Obrigado.

Ele estava agradecendo a esse homem por ser tão bom com seu
irmão. Por estar lá para ele mesmo quando ele não estava. Eu senti a
ameaça de lágrimas nos meus olhos e as contive.

Tucker carregava muita culpa dentro dele. Pelos homens que


morreram que ele não pôde salvar. Pelo o irmão dele que ele afastou e
agora nunca conseguiria dizer que estava arrependido...

Eu me perguntei que outras peças compunham o homem que


Tucker era. Eu queria conhecê-las. Eu queria saber tudo o que pudesse
sobre ele. Percebi que não estava simplesmente atraída por ele. Ele não
apenas fazia minha pulsação acelerar... eu gostava dele.

Cavalli sorriu. —Nada que você não teria feito por mim. —Ele se
levantou e bateu nas costas de Max. — A refeição é por conta da casa.

Ele plantou um leve beijo na minha bochecha e depois voltou para a


cozinha.

Ficamos sentados em silêncio carregado e desapontado.


—Eu não estava aqui quando ele mais precisava de mim. —Disse
Tucker em voz baixa.

—Bem, eu estava aqui e nem sabia que ele estava em apuros. —Eu
adicionei.

—O pen drive não está aqui. Precisamos continuar procurando.


—Ele se levantou. Depois de deixar uma gorjeta generosa sobre a mesa, ele
se afastou sem olhar para ver se eu o seguiria.

Às vezes, seu humor era desconcertante.

Eu olhei ao redor do restaurante uma última vez, lembrando da


última vez que estive aqui. Foi com Max. Nós viemos para o jantar,
conversamos muito sobre o trabalho, mas também demos algumas boas
risadas. Aquele jantar foi o último encontro que tivemos.

Tucker reapareceu ao lado da mesa. Inclinei a cabeça para trás para


olhar para ele. —Você está bem?

Eu balancei a cabeça, engolindo em seco.

—Desculpe-me, eu fui um idiota.

Eu senti meus lábios se inclinarem. —Isso foi difícil para você, não
foi?

—O quê?

—Pedir desculpas.

—Eu geralmente prefiro entregar minhas desculpas de uma maneira


diferente. —Ele disse sugestivamente. O desejo que sacudiu seu corpo
literalmente me afetou.

Eu não sabia como responder. A maioria dos homens com quem eu


conversava e interagia, não tinham nem metade da sexualidade de Tucker.
Era como se ele pensasse em sexo a cada três segundos.
Felizmente, fui salva pelo meu celular na minha bolsa. Eu peguei,
notando na tela que era minha mãe. Eu teria deixado ir para o correio de
voz, mas eu precisava resolver essa conversa.

—Oi, mãe. —Eu disse, colocando o celular no meu ouvido.

—Charlotte! Como vai você, querida?

Eu me levantei da mesa e segui Tucker pelo chão polido em direção


à saída.

—Estou bem, mas na verdade estou no meio de uma coisa. Eu


poderia te ligar de volta daqui a pouco?

—Claro. Eu só queria te dizer que estou atrasada em enviar sua


caixa. —Eu quase gemi alto pensando na caixa mensal que minha mãe
sempre me enviava. As caixas que eu sempre tinha que ir buscar na agência
da UPS12.

Espera.

A agência da UPS. O papel de tentativa de entrega foi deixado na


minha porta.

—Você não enviou ainda? —Eu perguntei curiosa.

—Não, querida, sinto muito. Mas eu encontrei uns chinelos lindos


na internet. Eles serão perfeitos para você nas noites frias..., mas a cor que
eu queria estava esgotada, então tive que esperar que eles chegassem. Eles
chegaram hoje, então eu enviarei sua caixa no prazo de um dia ou dois.

Tucker abriu a porta para o lado de fora e eu saí para a fria calçada
da cidade de New York. Se minha mãe não tinha me enviado um pacote,
quem enviou?

—Mãe, eu ligo para você depois. —Eu disse rapidamente, não


esperando que ela dissesse adeus antes de desligar.
12
United Parcel Service – Empresa norte Americana de transporte e entrega
Eu girei, praticamente batendo em Tucker. —Nossa. —Disse ele,
agarrando-me pelos ombros. —Quem era?

Havia alguém em quem Max confiasse, realmente confiasse, que ele pudesse ter
entregue para guardar? A pergunta de Tucker saltou ao redor na minha mente
rodopiante.

Eu conhecia alguém em quem Max confiava.

Eu.

Meus olhos encontraram os de Tucker. —Eu sei onde o pen drive


está.
CAPÍTULO 25

Tucker

—Você realmente acha que está lá? —Eu perguntei, em pé na frente


de uma agência da UPS, olhando pela grande janela de vidro para todas as
caixas e suprimentos de transporte.

—Se não estiver, então eu estou sem ideias sobre onde procurar.
—Respondeu Charlotte, vasculhando em sua bolsa em busca de um papel
de tentativa de entrega que a UPS deixou na porta do apartamento
referente a um pacote há apenas alguns dias.

Orei a Deus que estivesse naquele pacote e que tivesse todas as


provas que os agentes federais precisariam para prender Sr. Wallace e
Wallace Jr. e quem quer que fosse o culpado da espionagem corporativa e
por matar meu irmão.

—Achei! —Ela exclamou, segurando um pedaço de papel


amassado.

Nós entramos e eu praticamente andei de um lado para o outro


enquanto esperava que eles pegassem o embrulho e o entregassem. Era um
pequeno envelope pardo endereçado a Charlotte em caligrafia elegante.
Nós dois olhamos para baixo como se segurasse uma bomba.

Depois que ela assinou, passei um braço em volta do seu cotovelo e


a guiei até o canto da loja, perto de um grande balcão onde as pessoas
podiam arrumar as caixas. —Abra.

—Aqui?
Caramba, sim, aqui. Eu não podia esperar mais um minuto para ver
se era o que estávamos procurando. —Aqui é tão bom como qualquer
outro lugar.

Charlotte abriu o envelope e virou de cabeça para baixo. Uma


pequena caixa e um pedaço de papel dobrado caíram no balcão. Eu não
pude deixar de notar o jeito que a mão de Charlie tremia quando ela pegou
a caixa. Era do tamanho de uma caixa de joias, um pequeno retângulo. Ela
levantou a tampa e depois virou-a na palma da mão. Quando ela puxou o
fundo da caixa, eu olhei para baixo...

Para o pen drive preto.

Senti um sorriso sádico curvar minha boca. Peguei vocês, filhos da puta.

O orgulho inchou dentro de mim quando pensei em Max e suas


ações inteligentes. O lugar mais seguro para esse pen drive era exatamente
onde ele o colocara. Ninguém pensaria em procurar pelo correio, já que
muitas pessoas não enviavam material para sua própria casa.

Mesmo se tivessem invadido este lugar, provavelmente não o


encontrariam porque o entregador o colocaria em seu caminhão todos os
dias para tentativa de entrega. Exigir a assinatura de Charlotte foi um golpe
de gênio porque garantiu que o pacote tinha que ser entregue diretamente
em suas mãos.

Você fez bem, irmão. Você fez bem.

—Oh, Max. —Disse Charlotte, tirando-me dos meus pensamentos.


Nós estávamos de pé, próximos, a lateral de seu ombro praticamente
roçando meu peito. Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para mim,
segurando o pen drive em sua mão entre nós. —Isso parece ser uma coisa
tão insignificante pela qual morrer.

A tristeza encheu seus olhos castanhos e seu lábio inferior tremeu


muito ligeiramente. Eu cobri a mão dela com a minha. —Vamos garantir
que a morte dele não seja insignificante. —Eu prometi.
Ela fungou e assentiu. —E agora?

—Agora eu chamo os federais e marco uma reunião com eles para


entregar o pen drive. Esperançosamente, o que quer que seja, será
suficiente para obter mandados e prisões. E então tudo vai acabar.

Fiz uma pausa, usando meus dedos para habilmente liberar seu
cabelo do estilo frígido. O coque se desfez rapidamente, caindo pelas
costas. Eu enfiei uma das mechas atrás da orelha dela. —Você estará
segura.

—E você vai para a Carolina do Norte. —Ela acrescentou


suavemente. Isso foi tristeza que ouvi em seu tom?

—Nós devemos ir. —Eu disse, pegando o envelope vazio e me


virando para jogá-lo no lixo a poucos metros de distância.

Quando voltei, Charlotte estava de pé rigidamente, segurando o pen


drive e o pedaço de papel que estava com ele. Seu olhar estava preso em
algo fora das janelas de vidro.

—Charlie? —Eu perguntei, indo para o lado dela, observando o


modo como todo o sangue foi drenado de seu rosto, deixando-a pálida. —
Ei. —Eu passei um braço em volta do ombro dela, puxando-a para o meu
peito.

—É ele. —Ela sussurrou.

—Quem? —Alerta fez meu sangue correr e pela primeira vez eu


olhei para cima para ver o que a fez ficar paralisada no lugar.

Ela não estava olhando para alguma coisa, mas alguém.

—Hálito de alho. —Ela sussurrou enquanto um pequeno tremor


sacudia seu corpo.

Não entendendo realmente quem era esse homem, mas sabendo que
não era bom, olhei de volta para o homem a quem Charlie se referia como
hálito de alho. Seus olhos estavam fixos nela e seu olhar era frio e
calculado.

Ele se moveu, fazendo com que seu casaco balançasse, e eu peguei o


contorno inconfundível de uma arma em sua cintura. —Esse é o homem
que tentou sequestrá-la? —Eu sussurrei, notando que ele não estava
sozinho. Vários de seus “amigos” estavam saindo de um carro estacionado
no meio-fio.

Ela assentiu.

Eu realmente não precisava da confirmação dela, porque no


segundo em que as palavras saíram dos meus lábios, o homem puxou a
arma com ousadia e apontou-a diretamente para nós. Eu conhecia o olhar
de um homem decidido a atingir seu alvo. Eu conhecia o olhar de um
homem que não tinha medo de atirar.

Ele tinha esse olhar.

—Vá! —Eu gritei, virando meu corpo para que ele criasse um
escudo na frente de Charlie enquanto eu me impulsionava no chão de
ladrilhos para longe da janela.

Atrás de nós, o som agudo de vidro quebrando penetrou no ar.


Milhares de cacos se espalharam pela agência enquanto a bala cortava a
janela como uma faca quente no bolo de sorvete.

Eu empurrei Charlie com força para o chão, cobrindo seu corpo


com o meu. Outra bala cortou o ar enquanto as pessoas gritavam, buzinas
soavam e o caos reinava. Pequenos cortes feriram minha pele, mas ignorei
a dor, concentrando-me em sobreviver.

Flashbacks da guerra, flashbacks do som dos meus irmãos gritando


prestes a morrer, e o som de chamas rugindo tomaram conta da minha
mente.

De novo não.
Uma bala atingiu o ladrilho, bem ao nosso lado, muito perto de nós,
e fez o chão se quebrar e explodir, chovendo ainda mais objetos
contundentes em nosso caminho.

Eu pulei, praticamente pegando Charlie pelas costas de sua camisa e


empurrando-a rudemente em direção à parte de trás da agência. —Corra!
—Eu gritei. —Saia já daqui!

Ela não precisou ouvir duas vezes e correu para trás do balcão,
derrapando nos escombros do vidro quebrado e se protegendo antes de
quase ser atingida. Eu não estava muito atrás dela, sabendo que os homens
que estavam dispostos a causar tal cena em público não iriam parar até que
estivéssemos mortos e o pen drive fosse deles.

O som de uma arma sendo engatilhada me fez parar. Eu me virei


quando o homem que trabalhava atrás do balcão se levantou e mirou nos
homens que tentavam nos matar.

Desta distância, eu podia ver o suor na testa e eu sabia que ele nunca
pensou que teria que usar essa arma. Ninguém nunca achava que teria que
usar uma.

Ele hesitou em puxar o gatilho.

Hálito de Alho, não.

Sua bala foi fiel ao seu alvo e dentro de segundos atingiu bem no
centro da cabeça do homem. Sangue espalhou-se pelo balcão e espirrou na
parede.

Charlotte gritou.

A arma caiu da mão do homem, enquanto ele estava caindo no


chão.

Eu empurrei Charlotte novamente, lembrando-a de se mover, e


arranquei a arma das mãos do morto. Ele não ia precisar mais.
Eu dei um tiro enquanto eu seguia para a parte de trás, incapaz de
mirar enquanto nós nos arrastávamos, mas conseguindo segurar nossos
perseguidores para ganharmos alguns segundos muito necessários.

O som de caixas caindo me fez virar a tempo de ver Charlotte


tropeçar em uma pilha de correspondências e cair no chão.

—Levante-se. —Eu pedi. —Encontre a porta dos fundos!

Eu a ouvi se levantar enquanto o homem que matou o cara do


correio veio correndo do canto atrás de nós.

Eu apontei e disparei.

A bala rasgou seu ombro, arrancando músculos dos ossos enquanto


o sangue se espalhava por sua bochecha. O impacto do tiro jogou-o para
trás e ele caiu. A arma que ele estava carregando caiu no chão e derrapou
para debaixo de um armário.

Ele deu um grito de dor e, em seguida, como um animal ferido,


começou a lutar para se levantar.

Mais alguns homens apareceram, com a atenção desviada para o


amigo que sangrava, e mirei novamente.

—Tucker! Vamos lá! —Charlotte gritou, e senti o ar frio nas minhas


costas. Ela deve ter encontrado a porta. O som de armas sendo
engatilhadas me disse que mais de um homem nos tinha em vista.

Mantive a arma apontada e firme enquanto recuei em direção ao ar


frio. Quando cheguei perto o suficiente, senti a mão de Charlotte no meu
ombro quando ela me puxou pela saída e bateu a porta.

Deixei escapar o ar que estava segurando e olhei para ela.

Havia sangue no rosto dela.


Eu agarrei seu queixo, puxando-a para que eu pudesse averiguar o
quanto ela estava ferida. Flashbacks de Connors deitado no deserto,
sangrando e gemendo encheram minha mente.

Eu balancei a cabeça. Eu não tinha tempo para isso agora. Charlotte


precisava de mim.

—Onde você está ferida? —Eu exigi, apertando o queixo dela.

—Não é o meu sangue. —Ela respondeu, sua voz sem emoção.

Nós estávamos muito perto do homem que foi morto bem na nossa
frente. Eu provavelmente tinha um pouco do seu sangue no meu rosto
também.

Um estrondo na porta atrás de nós fez meu corpo ficar tenso, e eu


olhei para o beco, observando o tráfego passando lá no final. —Vamos lá.

Nós saímos correndo. O som dos nossos pés batendo contra o chão
parecia longe comparado com o som do meu coração nos meus ouvidos.

A porta da agência da UPS bateu contra a parede quando os homens


a abriram, dando um grito quando nos viram correndo e nos perseguiram.
Uma bala atingiu a lateral de um prédio ao nosso lado e Charlotte gritou,
estendendo a mão para cobrir a cabeça com os braços. Continuei correndo,
pegando-a enquanto andávamos, e a puxei pelo resto do caminho pelo
beco.

Outro tiro soou e eu praticamente joguei Charlotte para longe de


mim e saí para uma calçada movimentada.

Voltei-me e disparei outra rodada, as cápsulas fazendo um ruído oco


quando batiam no chão. Um dos homens caiu e eu sorri.

Mas o sorriso durou pouco.

Porque Charlotte gritou.


Esquecendo tudo sobre os homens nos perseguindo, eu corri para a
calçada, olhando descontroladamente ao redor. Ela não foi difícil de
encontrar.

Porque ela era a única na rua com uma arma na cabeça.

Eu dei um passo à frente, segurando minhas mãos em sinal de


rendição. Eu não estava totalmente pronto para largar a minha arma
porque se eu tivesse a oportunidade de atirar, eu faria isso.

O homem segurando Charlotte era a quem ela se referia como


Hálito de Alho. Ele estava suando muito, estava pálido e sangrando
abertamente pelo buraco que eu fiz em seu ombro.

Francamente, fiquei impressionado que ele ainda estava de pé.

Ele apertou uma pistola preta contra a têmpora de Charlotte, e ela


estava tentando fugir, mas a outra mão dele estava segurando-a pela nuca,
prendendo-a no lugar. Algumas pessoas se reuniram em volta, observando
o desdobramento do horror. Outras pessoas estavam se afastando. Eu
mantinha meus olhos diretamente em Charlotte e naquela arma quando
alguém atrás de mim sussurrou em seu celular para quem eu esperava que
fosse a polícia.

Eu tentei não me distrair com os olhos cheios de terror de


Charlotte. Tentei não me distrair com a forma como a pele dela estava
completamente pálida. As mãos dela estavam fechadas com o pen drive e o
pedaço de papel apertados, juntas ao seu corpo.

—Deixe-a ir. —Eu disse, mais uma vez mostrando que eu iria me
render.

—Largue a arma. —Ele ordenou.

Eu hesitei. Ele puxou o cabelo de Charlotte, fazendo-a gritar.

Lentamente, abaixei a arma no chão e coloquei-a aos meus pés.


—Chute-a para longe.

Rangendo meus dentes, eu fiz o que ele pediu, chateado que isso
estava acontecendo. Eu mal podia pensar porque o medo tomava meu
corpo, lentamente se espalhando como algum tipo de doença contagiosa.
Eu vi homens mortos bem na minha frente. Homens que eu considerei
meus amigos. Isso me assombrava até hoje, mas eu sobrevivi.

Algo me dizia que se eu assistisse Charlotte morrer antes de mim, eu


não sobreviveria.

—Dê para mim, vadia. —O homem rosnou em seu ouvido.

Ela recuou. —Não.

Ele bateu nela com a coronha da arma, fazendo sua cabeça balançar.
Eu pulei para frente e a arma se virou para mim.

Eu vi o dedo dele no gatilho se contrair.

—Aqui! —Charlotte gritou, segurando o pequeno pen drive preto.


—Pegue!

Os sons distantes de sirenes chegaram aos meus ouvidos. Já era


hora.

Hálito de Alho arrancou o pen drive de sua mão e depois empurrou-


a rudemente para o chão. Ela caiu de quatro, ofegante.

Ele nivelou a arma nas costas dela, um sorriso sádico em seu rosto
pálido.

—Não! —Eu rugi quando a bala disparou, e me lancei em sua


direção.

Eu colei nela e a bala atingiu meu corpo. Uma dor afiada


ricocheteou por todo o meu corpo e senti como se alguém tivesse me
queimado. Com um gemido profundo, eu caí em cima dela, esmagando-a
contra o pavimento, envolvendo meus braços sobre a cabeça para protegê-
la ainda mais.

Senti o sangue começar a sair do meu corpo, mas não sabia onde
tinha sido atingido. Estava machucado em todos os lugares.

—Tucker! —Charlotte gritou, tentando sair de baixo de mim, mas


eu não deixei.

—Fique quieta. —Eu pedi quando peguei a arma a poucos metros


de distância. No meio-fio, um sedã de cor escura parou bruscamente e a
porta se abriu. Eu vi um sapato preto extremamente polido sair para a rua.

A arma desapareceu.

Mãos me alcançaram, me puxando de Charlotte. Ela começou a


gritar e eu comecei a lutar. A adrenalina me ajudou a me mover; o medo
por Charlotte me manteve em pé.

Acertei alguns socos nos homens que estavam tentando me separar


de Charlotte e então alguém me prendeu por trás, segurando meus braços,
torcendo-os nas minhas costas. Outro homem, um dos homens do beco,
aproximou-se segurando um pequeno dispositivo.

Um taser.

Comecei a lutar de novo, mas não adiantou.

Ele me bateu no meio do peito, enviando faíscas de eletricidade,


sacudindo meu corpo e me fazendo tremer. Eu girei, caindo em direção ao
chão, mas as mãos me pegaram.

A última coisa que vi foi Charlotte sendo forçada a entrar na traseira


do carro, e a última coisa que ouvi foi ela gritando meu nome.
CAPÍTULO 26

Charlotte

Eles apenas o deixaram sangrar.

O vermelho encharcou sua camisa, saturando o tecido da camisa


branca que estava usando. Sua pele, que usualmente tinha um tom
bronzeado, agora estava pálida, e toda vez que eu olhava para ele, a mancha
estava maior do que antes. Foi um lembrete muito sombrio que o tempo
não estava do nosso lado. Se não saíssemos daqui em breve, ele iria morrer.

Eu não posso perder os dois.

O pensamento me fez ficar um pouco mais ereta. Max se foi, sua


vida foi curta demais. Mas Tucker ainda estava aqui e ele passou a significar
muito para mim em tão pouco tempo. Eu sabia que provavelmente iríamos
nos separar e isso estava bem, mas o pensamento dele não sobreviver... me
machucou.

—Você conseguiu o que queria. Por favor, apenas deixe-nos ir. —


Eu implorei pela quinquagésima vez desde que os homens que nos levaram
nos arrastaram para este prédio abandonado e amarraram nossos corpos
em cadeiras.

Olhei de novo para Tucker, notando a maneira como seu queixo


tocava o peito e como sua respiração se tornava superficial. A maneira
como amarraram suas mãos às costas apenas aumentou o sangramento na
sua lateral, e eu não conseguia parar de imaginar o modo como a ferida
estava sendo mais aberta por sua posição forçada.

—Para então você correr para a polícia? Não vai acontecer. —


Disse um dos homens do outro lado da sala.
Havia quatro deles. Eles estavam todos sentados em volta de uma
mesa com um laptop no centro. Eu podia ver o pen drive que fez eu me
render para impedir que Tucker fosse baleado (não ajudou em nada)
posicionado ao lado dele. Também estavam na mesa vários sacos de papel
de fast food. O cheiro forte e gorduroso literalmente me fez querer
vomitar. Eu não podia imaginar como alguém poderia comer em um
momento como este.

Eu acho que o sequestro e a tentativa de homicídio foram um


verdadeiro estimulante de apetite para esses caras.

Eu não pude deixar de pensar em todas as acusações que poderiam


ser feitas contra esses homens quando eles fossem pegos. Assédio.
Perseguição. Destruição de propriedade, sequestro, tentativa de homicídio,
e isso só para começar. Ah, como eu adoraria levá-los ao tribunal e colocar
atrás das grades esses comedores de batatas fritas e hálito de alho por ter
atirado em Tucker.

Mas para fazer isso, teríamos que sair daqui. Desistindo da ideia de
que esses homens apenas cortariam as cordas que prendiam meus pulsos,
comecei a analisar nosso entorno. Procurei por todas as saídas e por
qualquer coisa que pudesse ser usada como uma arma.

Infelizmente, minhas escolhas eram limitadas.

Era uma espécie de prédio abandonado e estava vazio, além do lixo


espalhado pelo chão aqui e ali.

—É o que o chefe precisa? —Um dos bandidos que nos


sequestraram perguntou, chamando minha atenção. Ele estava de pé atrás
do homem no laptop, comendo algum tipo de hambúrguer gigante, e
enquanto eu olhava para ele, uma grande gota de ketchup caiu do
sanduíche para o peito dele.

Ele não era um exemplo de boas maneiras? Aposto que garotas se


amontoavam para levá-lo para casa para apresentá-lo as suas mamães.
Só que não.

—Ainda está abrindo! —O cara por trás do computador disse.

Eu me perguntei que tipo de evidência estava naquele pen drive. Eu


me perguntei se era a única cópia que Max tinha. Meu palpite era que sim.
Era nossa única chance de conseguir justiça.

Eu também me perguntei o que eles fariam conosco quando


percebessem que tinham a evidência e nós não éramos mais necessários.

De algum lugar do prédio, ouvi um homem gritar uma série de


palavrões. Reconheci sua voz como Hálito de Alho, o homem que invadiu
meu apartamento, o homem em que Tucker atirou, e o homem que
retribuiu e atirou em Tucker.

Parecia que ele estava com muita dor e qualquer tipo de primeiros
socorros que seus amigos de bandidagem estivessem administrando não
estava ajudando.

Um tiro ecoou no edifício.

Com o canto do olho, vi o corpo mole de Tucker enrijecer, mas não


olhei para ele porque não queria chamar a atenção para nenhum de nós.

O único som estalando bateu nas paredes e desapareceu, deixando


tudo e todos em silêncio. Hálito de Alho não estava mais gritando.

Havia um sentimento doentio dentro de mim que sussurrava que ele


não podia mais gritar porque estava morto.

Que tipo de pessoas matavam seus próprios aliados quando estavam


feridos? Doentes. Definitivamente pessoas mentalmente instáveis.

E nós estávamos à mercê delas.


O homem atrás do computador resmungou baixinho. Eu olhei para
cima, observando seu rosto enquanto ele olhava para a tela. —Agora eu sei
o porquê ele queria tanto essa merda.

O cara do computador olhou para mim. Seus olhos pareciam brilhar


com a luz artificial do computador. —Você está morta.

Eu estremeci.

Um homem saiu das sombras. Ele vestia um terno de três peças,


tecido bem cortado e de aparência cara. A gravata dele era feita de seda e
os sapatos dele estavam brilhando, então nem uma partícula de sujeira os
cobria.

Seu rosto estava barbado e ligeiramente áspero. Seu cabelo era


grisalho.

Seus olhos encontraram os meus.

Eu o reconheci instantaneamente. Era o Sr. Wallace, o CEO da


empresa em que Max trabalhava. Nós estivemos em incontáveis jantares de
caridade com esse homem. Nós visitamos sua casa para um jantar festivo.
Eu compartilhei uma refeição com este homem. Trocamos conversa fiada
e ele e Max brincavam sobre esportes.

—Senhora Carter. —Sr. Wallace inclinou a cabeça. —Minhas


desculpas por você estar envolvida nesta situação infeliz.

Senti o desgosto me dominar e contorcer as minhas entranhas. Eu


soltei uma risada severa e lutei contra as amarras. —Infeliz? —Eu rebati.
—Seu pequeno verme repugnante. Como você pôde?

Ele não pareceu ofendido pelo meu insulto. —São negócios.

Como se isso de alguma forma fizesse tudo o que ele fez estar certo.

—Eu espero que você apodreça no inferno. —Eu rebati.


—Eu bem que poderia, Srta. Carter, mas eu diria que você vai
chegar lá muito antes de mim.

Sua atitude arrogante e soberba me deixou tão brava que tudo que
eu conseguia pensar era enfiar as unhas em seus pequenos olhos redondos.

—Está tudo aí? —Ele perguntou ao homem que controlava o


computador.

Em resposta, ele virou a tela para que Wallace pudesse dar uma
olhada no que estava no arquivo. Enquanto ele lia, seu rosto ficou
vermelho de raiva. —Você certamente tem sido um menino ocupado, Max.

O homem comendo o hambúrguer de ketchup olhou para seu chefe


e recebeu um leve aceno de cabeça. Meu estômago revirou quando ele
atravessou a sala em nossa direção. Seus olhos estavam voltados para
Tucker e eu queria chorar.

—Ei, idiota. —Eu zombei, tentando desviar sua atenção de Tucker.


—Você já ouviu falar de um guardanapo? Ou talvez um banho?

Ok, sim, aqueles eram insultos horríveis, mas era tudo que eu tinha.

Ele me mostrou o dedo.

Seu insulto também foi uma porcaria.

Tucker ainda estava desmaiado, a cabeça ainda baixa, os olhos


fechados. Eu estava começando a me preocupar que ele tivesse entrado em
coma... ou pior.

O homem atacou rapidamente, batendo em Tucker na lateral da


cabeça com tanta força que o som de carne batendo em carne me fez
gritar.

—Pare com isso! —Eu lamentei, lutando de novo. A cadeira em que


eu estava sentada foi empurrada no chão.
A cabeça de Tucker virou em seu pescoço e então caiu para frente
novamente. O homem agarrou o topo de sua cabeça, segurando o cabelo
curto em seu punho, e puxou a cabeça para trás para olhar em seu rosto.

—Acorde. —Ele rosnou.

Quando Tucker não obedeceu, o homem usou sua mão livre para
enfiar dois dedos na ferida de bala ainda sangrando.

Tucker gritou e levantou na cadeira. Seus olhos se arregalaram e seus


dentes bateram. Lágrimas quentes rolaram pela minha bochecha. Não
porque eu estava triste. Não porque eu tivesse desistido. Porque eu estava
incrivelmente zangada. Eu estava tão irritada que estava tremendo. Eu não
queria nada mais do que sair desta cadeira e atacar cada idiota nesta sala. Eu
nunca fui uma pessoa violenta. Na verdade, eu sempre acreditei na lei, mas
isso...

Isso me deu uma perspectiva totalmente nova.

Algumas pessoas não mereciam prisão. Algumas pessoas não


mereciam um julgamento justo.

Algumas pessoas mereciam ser baleadas e deixadas para morrer.

Se alguém me desse uma arma naquele momento, eu não teria


hesitado em puxar o gatilho. Eu esvaziaria a câmara inteira e procuraria por
mais balas.

—Onde estão as cópias? —O homem torturando Tucker exigiu.

Tucker olhou para ele em silêncio absoluto.

O homem aproximou o rosto o mais perto de Tucker que pôde.


—Onde. Estão. Elas? —Ele cuspiu quando falou. Eu podia ver as
pequenas bolhas saindo de sua boca aterrissarem no rosto de Tucker.
Então ele enfiou os dedos de volta na ferida de bala.
Eu choraminguei e comecei a mexer na minha cadeira mais uma
vez. Eu vi a dor atravessar o rosto de Tucker. Eu vi as pequenas linhas que
se formaram nos cantos dos olhos dele.

No entanto, ele não fez nenhum som.

E ele não desviou o olhar do homem determinado a convencê-lo a


falar.

O homem empurrou Tucker para trás, balançando a cadeira e se


afastou, depois voltou e o encarou. —Você é muito mais duro do que eu
esperava de um homem de negócios. —Disse ele.

Mais uma vez, Tucker não disse nada.

Homem Ketchup voltou-se para o Sr. Wallace, que assentiu.

—Por favor. —Eu implorei, apenas querendo que parassem. Eu não


podia permanecer aqui e vê-lo ser espancado. Eu não podia ver o corpo
que deu tanto prazer a mim. Eu não podia assistir os olhos que olhavam
para mim tão intensamente quando ele entrava em mim de novo e de
novo, apertando de dor.

Homem Ketchup virou a cabeça como se estivesse se preparando


para algum tipo de evento esportivo. E então ele recuou seu punho sólido
e o moveu para frente.

Assim que o punho estava prestes a atingir seu alvo, Tucker se


moveu. Seus braços se moveram para frente, contornando seu corpo, e ele
pegou o punho na palma da mão direita. Eu observei sua mão fechar em
torno dos dedos do homem. Eu observei os ossos dos dedos de Tucker se
esticarem contra sua pele enquanto ele aumentava seu aperto até que
doesse.

O homem que pensou estar por cima gemeu pela dor.

Mantendo o controle, Tucker levantou-se da cadeira, chutando-a


para trás, fazendo-a deslizar pelo chão e colidir com uma parede próxima.
—Eu não sou um homem de negócios. —Tucker rosnou, torcendo
os braços do homem até que ele caiu de joelhos.

—Eu sou um fuzileiro naval.

Todos olharam em volta, chocados, como se não tivessem ideia do


que estava acontecendo.

O homem à sua mercê gemeu e Tucker recuou primeiro o punho e


deu um soco no lado da cabeça dele. Ele caiu para frente, de quatro, e
Tucker aproveitou a oportunidade para dar um chute forte em suas
costelas.

Eu ouvi um som de estalo e Homem Ketchup se esparramou pelo


chão.

—E você amarra nós de merda. —Acrescentou Tucker, levantando


o pulso esquerdo, que ainda tinha uma corda amarrada nele. Quando ele
estava desamarrando, os homens na mesa se levantaram e correram para
ele.

—Cuidado! —Eu gritei quando dois homens se aproximaram, mas


Tucker não precisava dos meus avisos. Ele passou uma rasteira no primeiro
homem, fazendo-o cair de bunda, e depois acertou o salto baixo do sapato
na virilha do homem.

O homem ficou em posição fetal e começou a vomitar


profusamente.

—Alguns caras simplesmente não merecem as bolas que têm. —


Tucker cuspiu.

O outro cara empalideceu, mas ainda avançou contra ele, então


Tucker o pegou pelo pescoço em um estrangulamento e, em seguida, usou
a corda de seu pulso para criar um garrote. O homem ofegou quando sua
via respiratória foi bloqueada, e Tucker deu a volta em suas costas,
praticamente escarranchando-o para aplicar ainda mais pressão. Os olhos
do homem começaram a se arregalar enquanto ele puxava a corda,
estrangulando-o.

Tucker estava fingindo esse tempo todo? Ele realmente estava


acordado, mas não queria que ninguém soubesse disso?

Ele ainda parecia machucado, com o suor criando um brilho em sua


pele, sua camisa encharcada de sangue, e olheiras pronunciadas sob os
olhos, mas mesmo em seu esgotamento, ele não estava disposto a desistir.

De repente, entendi como ele conseguiu andar dezesseis


quilômetros no deserto enquanto carregava um homem ferido.

Determinação.

Foco.

E uma boa quantidade de dureza.

A luta do homem para fugir começou a diminuir e eu sabia que ele


estava a poucos minutos de perder a consciência.

Eu estava tão interessada em Tucker e no que ele estava fazendo


que eu não tinha notado o Sr. Wallace se aproximar de mim. Até que ele
colocou uma arma na minha cabeça.

Deus. Este não era o meu dia.

Quantas vezes uma garota poderia ser mantida sob a mira de uma
arma antes de enlouquecer (ou ser baleada)?

—Se você quer que ela viva, é melhor você deixá-lo ir. —Wallace
disse calmamente.

Tucker soltou sua presa e o homem caiu no chão, ofegando e


sugando desesperadamente o ar.

—Se você tem um problema comigo. —Disse Tucker. —Você vem


até mim. Você não ameaça uma mulher.
Nossa, se eu não estivesse amarrada a esta cadeira, eu mostraria a ele
que as mulheres também poderiam ser duronas.

—Você não ameaça a minha mulher. —Acrescentou ele, seu olhar


encontrando o meu por apenas alguns segundos.

Ok, este não era o momento para gestos românticos, mas isso fez
meu coração acelerar totalmente. Talvez ele estivesse apenas atuando.
Talvez ele estivesse fazendo o papel de Max. Mas Max nunca me telefonou
durante o ano inteiro em que namoramos. Max nunca havia levado uma
bala por mim também.

—Se você tivesse morrido na noite do acidente como deveria, ela


nunca teria se envolvido. —Disse o Sr. Wallace.

Tucker deu vários passos em nossa direção. A mão que segurava a


arma na minha cabeça vacilou. —Fique onde está.

—Não.

Eu olhei para Tucker, imaginando o que diabos ele estava pensando.


Ele estava provocando um homem que estava segurando uma arma na
minha cabeça.

Inferno.... Não devíamos irritar esse homem louco nesse momento.

—Eu vou matá-la! —Ele disse, pressionando a arma um pouco mais


na minha cabeça.

—Quando eu estava no Iraque, aprendi algumas coisas


interessantes. —Disse Tucker. —Como quebrar a espinha de um homem,
deixando-o paralisado, mas ainda capaz de sentir.

A arma contra minha cabeça vacilou. Tucker deu mais um passo,


rondando em direção ao homem com um olhar selvagem em seus olhos
focados. Se eu não o conhecesse, ficaria com medo. O contraste de sua
pele pálida contra seus olhos escuros e avermelhados era assustador.
Adicionado ao fato de que ele literalmente tinha sangue em cima dele, ele
parecia um cadáver ambulante.

—Você sabe o tipo de dor que eu poderia infligir a você? —E tudo


o que você seria capaz de fazer, é ficar aí e sofrer.

—Você está mentindo. —Disse Sr. Wallace. Eu poderia dizer que


ele estava abalado.

—Oh, posso assegurar-lhe que não estou. —Respondeu ele. —E


talvez depois que eu terminar de usar você como um morto-vivo, eu posso
colocá-lo em um carro, conduzi-lo em alta velocidade e batê-lo, então
deixar você dentro do metal amassado enquanto eu encho o seu corpo de
gasolina e coloco fogo. Você não poderá correr. Mas você será capaz de
sentir o calor das chamas. Você será capaz de ouvir o gemido do metal
enquanto o fogo te persegue. E então, quando você começar a queimar,
não será apenas a pior dor de toda a sua vida, mas você sentirá o cheiro da
sua carne.

A imagem que Tucker pintou com essas palavras viveria em meus


pesadelos por muitos anos.

—Quem diabos é você? —Sr. Wallace sussurrou, horror em seu


tom.

—Eu sou a outra metade de Max. —Ele rosnou.

E então ele atacou.


CAPÍTULO 27

Tucker

Você sabe, eu sou um tipo de cara descontraído. Eu gosto de beber


cerveja, sair com meus amigos e levar meninas aleatórias para casa para
sexo casual (sim, eu uso camisinha; não sou descuidado). Eu demoro a me
irritar e demoro ainda mais para me abrir a ponto de me preocupar com
alguém.

Mas quando eu fico irritado. Eu fico irritado.

E ver Charlie com uma arma na cabeça me irritou pra caralho.

Ela devia ser a primeira pessoa desde o colegial a passar por minhas
defesas e ganhar meu afeto tão rápido. Nem mesmo Nathan conseguiu se
tornar tão familiar para mim tão rapidamente.

Como diabos uma pessoa mandona, tensa, com uma agenda tão
rígida como ela poderia virar minha cabeça, estava completamente além da
minha compreensão.

Mas então eu pensei em seus lábios em forma de coração, seus


olhos cor de avelã com cílios dourados e os pequenos sons que ela fazia
sempre que eu colocava meus lábios em sua pele.

E a risada dela.... Ela tinha uma risada muito boa.

Ser atacado era combustível para o fogo, e quando fiquei amarrado a


uma cadeira, pingando sangue por todo o chão de concreto imundo, e
ouvindo Charlotte implorar aos homens que nos deixassem ir, comecei a
ficar furioso.

Mas mesmo furioso, permaneci de cabeça fria. O Exército de


Fuzileiros Navais me ensinou muito. Autocontrole, autoconfiança,
autodefesa. Também me ensinou como manter a boca fechada e usar o
elemento surpresa. Fingindo estar inconsciente, fingindo ser fraco.... Bem,
isso me deu uma vantagem.

Também era uma vantagem que esses babacas não conseguissem


dar um nó para salvar suas malditas vidas.

Ser amarrado e jogado no fundo de uma piscina durante o


treinamento me ensinou como sair de um nó, rápido. Muito rápido.

E sim, eu estava fraco por causa da perda de sangue, nervoso por ter
sido desmascarado, e realmente irritado pra caralho.

Ah, e o buraco de bala na minha lateral doía terrivelmente.

Mas não era o suficiente.

Não era o suficiente para me derrubar. Não era o suficiente para me


fazer desistir. Nós não morreríamos aqui, esta noite. Eu não permitiria isso.

E então eu usei a chance que tive.

E agora, aqui, fiquei de frente para o Sr. Wallace, um cara velho que
abusava do poder, e mais uma vez ele estava me irritando segurando uma
arma na cabeça de Charlie.

Quando terminei de dizer a ele exatamente o que eu faria se ele


tentasse machucá-la, acho que ele finalmente entendeu a mensagem.

A mensagem de que eu não seria destruído.

—Quem diabos é você? —Ele sussurrou.

Ele queria saber quem era eu. Quem era eu?

Eu era alguém que não queria admitir ser há muito tempo. E essa
falta de admissão me assombraria pelo resto da minha vida.
Eu parei de esconder essa parte de mim. Fazer isso não me deixava
nada além de arrependimento.

—Eu sou a outra metade do Max.

Eu me lancei para frente. Mesmo machucado, eu agi rapidamente.


Ele puxou a arma para longe de Charlotte e apontou para mim, disparando
um tiro e tudo ficou insano. Eu me joguei, derrubando-o no chão e
aterrissando em cima dele. A arma estava entre nós e ele apontou para o
meu peito.

Eu cuspi em seu rosto, bem em seus olhos. Pequenos bocados de


saliva misturados com sangue espirraram em seus olhos e ele xingou,
fechando-os, tentando clarear a vista. Com um movimento dos meus
pulsos, eu o desarmei, usando a coronha da arma para atingi-lo na lateral da
cabeça.

Seu corpo amoleceu embaixo de mim.

Não querendo baixar a guarda, mantive a arma apontada para sua


cabeça enquanto eu me levantava, a ferida no meu lado sangrando
intensamente e o mundo ao meu redor girando.

Wallace estava inconsciente.

Atrás de mim, Charlotte lutava, então eu fui até ela, soltei as amarras
que a seguravam, e ela se levantou da cadeira e correu para o meu peito.

Eu gemi quando ela me tocou, e ela se afastou com um suspiro. —


Oh meu Deus! —Ela se desesperou. —Tucker, precisamos levá-lo para um
hospital!

—Eu vou ficar bem, querida. —Eu disse, mesmo que estivesse me
sentindo péssimo.

O homem cuja virilha eu pisei gemeu e rolou de costas. Seu rosto


estava sujo e ele tinha vomitado em sua camisa. Ele se atrapalhou com o
cós da calça e em dois passos, eu estava ao seu lado desarmando-o da arma
com a qual ele estava tão gentilmente tentando me matar.

—Obrigado. Eu estava quase sem balas. —Eu disse.

Ele gemeu e rolou de volta para a posição fetal.

Charlotte correu para o computador e pegou o pen drive. Sua bolsa


estava no canto da sala, seu conteúdo espalhado por toda parte, e ela foi
buscar a bolsa, a carteira e o papel que estava com o pen drive. Ela deixou
todo o resto lá.

Sabendo que Wallace provavelmente tinha um celular com ele, me


virei para procurar em seu paletó.

Um de seus lacaios estava em pé sobre seu corpo com uma arma


apontada diretamente para mim.

—Estou muito cansado dessa merda. —Eu suspirei cansado.


—Largue a arma ou eu vou atirar na sua bunda.

—Eu não p-posso deixar você sair com esse pen drive. —Disse
ele, a arma tremendo ligeiramente em sua mão. Ele provavelmente me viu
derrubando todos os outros na sala, e se minhas suspeitas estivessem
corretas, é provável que tenha sido ele quem matou o cara em que eu havia
atirado. Ele provavelmente não tinha planejado sair do seu canto até que
percebeu que ele era a última esperança de Wallace manter esse pen drive.

Ele não poderia ter mais de dezenove anos de idade. Um garoto que
foi pego em algo que ele não sabia como sair.

Eu não queria atirar nele.

Não significa que eu não iria.

—Olha, garoto... —Eu tentei argumentar com ele. —Abaixe a arma


e dê o fora daqui. Eu não direi a ninguém que você esteve aqui. Deixe isso
ser uma lição para você. Você anda com idiotas, você se torna um idiota.
Ele não abaixou a arma, mas eu vi o desejo em seus olhos. O desejo
de dar o fora daqui.

—Eu só estou oferecendo uma vez.

Ele colocou a arma no chão e saiu correndo.

Minha arma seguiu-o até que ele estava fora de vista.

No caminho até o corpo de Wallace, tropecei. A maldita sala estava


realmente girando e estava ficando mais escuro aqui.

—Tucker. —Charlotte se preocupou e apareceu ao meu lado,


deslizando seu corpo debaixo do meu braço e dando apoio.

—Veja se ele tem um celular. Tenho que ligar para os federais.


Nossos celulares foram confiscados antes de chegarmos aqui, e eu não
tinha ideia de onde eles estavam.

—Sente-se. —Ela exigiu.

Sentar-me parecia uma boa ideia. Eu me abaixei contra a parede, em


um ponto em que eu podia ver a sala e observar os homens que eu
nocauteei. Eles não ficariam assim por muito mais tempo. Nós teríamos
que nos mover. Em breve.

A respiração assobiou entre meus dentes quando me encostei na


parede. Charlotte se levantou e puxou a camisa verde sobre a cabeça. Meus
olhos se fixaram nas taças de renda cor de pêssego que sustentavam seus
seios empinados.

O quê? Eu fui baleado, não morto.

O jeito que sua pele suave praticamente saiu do topo das taças fez
minha boca salivar.

Claro que este não era o momento para uma rapidinha.

—Que diabos você está fazendo? —Eu perguntei a ela.


Ela se ajoelhou e pressionou a camisa na minha ferida.

—Merda! —Eu resmunguei.

—Não seja um bebê. —Ela repreendeu, pressionando com mais


força.

Não seja um bebê, ela disse. —Eu tenho uma bala embutida no meu
corpo e você está apertando isso.

—Precisamos parar o sangramento. —Disse ela. —Aperte!

Coloquei minhas mãos sobre as dela e adicionei alguma pressão.

Suas mãos estavam quentes. Era bom. —Você sabe. —Eu disse,
inclinando a cabeça contra a parede. —Em um filme, geralmente é o cara
que tira a camisa para parar o sangramento de sua garota.

O lado do lábio dela se curvou. —Ainda bem que isso não é um


filme.

—Se fosse, você seria minha garota. —Eu disse, puxando a ponta
do cabelo dela.

Claramente eu estava ficando delirante por causa da perda de


sangue, provável choque e muita adrenalina bombeando através do meu
sistema. Eu estava começando a soltar aquelas palavras bonitas que eu não
sabia como dizer.

—Por favor, não morra. —Ela sussurrou, sua voz embargada.

—Morrer? —Eu zombei. —Isso não é nada. Já te disse que andei


dezesseis quilômetros carregando um cara que foi baleado?

Ela assentiu. —Sim, você me disse.

—Eu te disse que eu tinha sido baleado também?

Ela arregalou os olhos. —Não.


Eu sorri. —É preciso muito mais do que uma bala para me matar,
querida.

A palma de Charlotte estava quente quando ela segurou meu rosto e


sorriu.

—Eu preciso desse celular.

Havia um celular preto no bolso interno do paletó de Wallace e ela


se virou, erguendo-o triunfalmente. Sorri e tentei lembrar o número que os
federais me deram.

Charlotte gritou.

Eu abri meus olhos. Wallace estava acordado e tinha a mão em volta


do tornozelo dela, tentando derrubá-la.

Eu levantei a arma e atirei nele. Ele gritou e a soltou, rolando sobre


o braço ensanguentado.

A porta lateral do prédio explodiu e as pessoas começaram a


adentrar a sala. Eu me levantei do chão, segurando minhas duas armas e
me coloquei na frente de Charlotte.

—Parado! —Uma voz profunda gritou, apontando uma arma para


mim.

Eram os policiais. Até que enfim, porra.

Um dos Homens de Preto entrou pela porta, contornando todos os


homens vestidos de preto com a palavra SWAT na parte de trás de suas
jaquetas.

—Eles estão conosco. —Ele disse, apontando para mim e


Charlotte.

—Por que demorou tanto? —Eu resmunguei quando ele se


aproximou.
—Precisamos de médicos! —Ele gritou, e algumas pessoas saíram
para cumprir sua ordem. —Você conseguiu o pen drive? —Ele
perguntou.

—Sim. Sim, nós conseguimos.

Charlotte entregou-lhe o pen drive de sua bolsa. Ele colocou em um


saco transparente rotulado como prova. Todos na sala estavam olhando
para nós e eu estava começando a me sentir como o grande homem no
campus até que percebi que eles não estavam olhando para mim.

Charlotte estava de pé vestindo apenas seu sutiã na parte de cima do


corpo, dando a cada homem aqui um show.

—Ei. —Eu disse ao homem de preto.

—É Carson. —Disse ele, dando-me um nome.

—Carson, você se importa de dar à minha namorada aqui a sua


jaqueta?

Ele riu e a colocou em volta dos ombros dela.

—Mantenha isso coberto. —Eu disse a ela enquanto os médicos


corriam para a sala, me cercando com seus equipamentos.

Ela se afastou, dando-lhes espaço para trabalhar, mas eu mantive


meus olhos nela. Mesmo quando a sala começou a girar e meus olhos
ficaram pesados, não desviei o olhar.

Gritos encheram a distância e a comoção irrompeu ao meu redor;


pessoas lotaram e bloquearam minha visão. Eu a ouvi chamar meu nome...
tentei responder...

Sombras desciam, me cobrindo na solidão, e então não havia nada


mais.
CAPÍTULO 28

Charlotte

O som de tênis brancos guinchando sobre um piso polido


reverberou no corredor. O quarto estava escuro, mas a luz fluorescente do
lado de fora da porta tornava difícil dormir. Bem, isso e o fato de eu estar
sentada na cadeira mais desconfortável conhecida pelo homem.

Toda vez que eu fechava meus olhos e tentava dormir, ouvia o som
de tiros e sentia Tucker se mover contra mim enquanto a bala destinada a
mim rasgou em seu lado. Depois de um tempo lutando para dormir, eu
desisti, em vez disso me inclinei para trás na cadeira e o observei dormir.

Ele parecia confortável. O remédio que os médicos deram a ele


manteve a dor sob controle. Enquanto ele dormia, aproveitei para estudar
seu rosto.

É engraçado porque eu teria pensado que olhar para o seu queixo


quadrado, cabelos escuros e nariz reto seria como um soco no estômago
toda vez que eu o fizesse. Eu pensei que ele poderia ser um lembrete
constante de Max, que estar perto dele machucaria e causaria mais
sofrimento do que eu já sentia.

Mas não era nada disso.

Sim, ele parecia com Max. No entanto, quando olhava para ele, tudo
o que via era Tucker. Ele era um homem diferente, uma versão não
replicada de si mesmo.

Quando pensei em Max, sorri. Senti orgulho por termos estado


juntos. Nós fomos uma grande equipe. Juntos nós éramos imbatíveis.
Sempre haveria um pedaço de mim que sentiria falta dele, um pedaço do
meu coração reservado apenas para ele.
Quando pensava em Tucker...

Quando eu pensava nele, o calor me percorria. Paixão como eu


nunca tinha conhecido antes assumia meu corpo e fazia minhas mãos
doerem para tocá-lo. Com ele, tudo parecia imprevisível; tudo era sem
roteiro. Não era tão assustador quanto pensei que esses sentimentos
pudessem ser. Ao contrário, eles me fizeram sentir viva.

Todos esses sentimentos eram bons..., mas, eles me fizeram sentir


incrivelmente culpada.

Culpada por não me sentir assim por Max. Culpada que meu
primeiro pensamento quando soube que Max morreu foi que eu tinha
perdido meu amigo. Eu não deveria ter sentido mais? Observar Tucker
sucumbir à sua ferida na noite passada me assustou profundamente. O
medo implacável dele morrer ainda deixava meu estômago dolorido e
fraco.

Inconscientemente, eu disse a Tucker que eu gostava mais dele.

Era verdade.

E por isso eu nunca me perdoaria.

Um ligeiro movimento na cama chamou minha atenção e eu me


sentei, inclinando-me para frente. Tucker piscou, seus olhos abrindo
lentamente enquanto olhava ao redor do quarto.

—Você está no hospital, Tucker. Você foi baleado.

Ele virou a cabeça, me analisando com aqueles profundos olhos


negros. —Ei. —Ele murmurou, sua voz um pouco rouca. Ele sorriu e isso
iluminou meu universo.

—Devo chamar a enfermeira?

—Você sabe o que dizem que é o melhor remédio para curar um


homem ferido? —Ele perguntou.
—O quê? —Eu respondi, sabendo que o que quer que ele pedisse,
eu me certificaria de que ele tivesse.

—Contato humano.

Não era isso que eu esperava ouvir.

—Venha aqui. —Ele exigiu, puxando a mão de debaixo do lençol e


estendendo-a para mim.

Eu não podia negar nada a um homem que quase morreu por mim.
Eu levantei da cadeira torturante e andei até o lado da cama. Ele deslizou,
fazendo uma careta quando se moveu. Mordi o lábio, pensando que
precisava chamar a enfermeira.

—Estou bem. —Ele disse e estendeu o braço.

Tão cuidadosamente quanto pude, eu deslizei para a cama, dando


um grande suspiro de alívio quando estiquei meus músculos doloridos e
tensos ao lado dele. Ele passou o braço em volta de mim e me puxou para
mais perto, então o único lugar para descansar minha bochecha era em seu
peito.

—Você está com frio. —Ele murmurou contra o meu cabelo.

—Eu coloquei o cobertor que eles me deram sobre você.

Senti seus lábios se moverem em meu cabelo e fechei meus olhos.


—Está tudo bem? —Eu perguntei, não querendo machucá-lo.

—Perfeito. —Ele sussurrou.

—Obrigada. —Eu disse, torcendo meus dedos no lado de sua roupa


de hospital. —Por me proteger. Eu gostaria de ter feito um trabalho
melhor em proteger você.

Sua respiração era uniforme e profunda, fazendo-me pensar que ele


mais uma vez caiu no sono. Alguns longos momentos se passaram
enquanto seu calor penetrava minha pele gelada e minha bochecha se
apoiava em seu peito.

—Levar uma bala foi fácil. —Disse ele. —Você tem o trabalho
duro.

Eu não entendi o que ele quis dizer. Talvez ele estivesse confuso de
todos os remédios. —Meu trabalho não é difícil.

—Querida... —Ele murmurou, sonolento. —Eu posso garantir a


você que ser a guardiã do meu coração definitivamente não vai ser fácil.

Minha respiração ficou presa. Meu corpo inteiro ficou dormente.


Ele acabou de me dizer que eu tinha o coração dele?

Eu recuei para olhar para o rosto dele.

Seus olhos estavam fechados e um leve ronco saía de sua boca. Ele
estava dormindo. Eu me abaixei contra ele, com cuidado para não bater em
nenhum dos fios e tubos.

Ele provavelmente não se lembraria do que disse.

Mas eu... eu nunca esqueceria.


CAPÍTULO 29

Tucker

Tensão latente.

Ela fervia sob a superfície como um pote borbulhante ameaçando


transbordar a qualquer momento.

Por quase duas semanas, consegui ignorá-la. Nós dois podíamos


fingir que não estava lá. Mas quando a ferida na minha lateral se curou e a
dor penetrante e latejando no meu peito se tornou um pouco mais
suportável depois do funeral de Max, a tensão foi muito mais difícil de
ignorar.

Eu ainda estava em New York, primeiro porque os médicos me


disseram para não viajar enquanto minha ferida ainda estava se curando e
depois porque o FBI gentilmente me pediu para ficar enquanto eles
construíam um caso sólido contra Wallace e seu bando de criminosos.

Charlotte ficou comigo até eu ser liberado do hospital. Ela nunca


saiu do meu lado, mesmo quando eu tentei mandá-la embora. Ela insistiu
que eu ficasse no apartamento dela, e eu não discuti porque, honestamente,
eu queria estar lá. Charlie e eu passamos por algo juntos, algo que a maioria
das pessoas nunca tinha passado.

Nós também estávamos de luto pelo meu irmão, lamentando pela


pessoa que tanto amamos e perdemos. O funeral foi realizado aqui na
cidade, e a catedral estava tão cheia que as pessoas tiveram que ficar de pé.
Eu queria que Max pudesse ver a quantidade de pessoas que vieram para
homenagear sua curta vida. Meus pais ficaram por vários dias, minha mãe
chorou muito e meu pai sacudia a cabeça constantemente.
Charlotte voltou ao trabalho e minha mãe passava no apartamento
constantemente, checando minha ferida como se ela fosse de alguma forma
se abrir e me engolir inteiro. Mas eu não reclamei. Certificar-se de que seu,
agora, único filho vivo não iria a lugar algum era parte de seu processo de
cura. Eu sabia que isso tinha sido um choque para eles. Ninguém esperava
que Max fosse morrer tão jovem. De qualquer forma, minha família
sempre se preparou para a minha morte prematura. Considerando a minha
antiga profissão, não era improvável.

Mas à medida que os dias se arrastavam, minha mãe começou a


perceber que eu não ia morrer e meu pai finalmente a convenceu a voltar
para casa.

O apartamento estava quieto durante o dia, e passei muito tempo


olhando as coisas de Max, lembrando do meu irmão e me arrependendo de
todo o tempo que perdemos.

Eu esperava que onde quer que ele estivesse, ele soubesse o quanto
significava para mim.

Nathan e Honor vieram para o funeral. Na verdade, eles vieram


quando eu disse que estava no hospital, e eles ficaram até depois do
enterro. Foi bom vê-los novamente. Eles se tornaram minha família e
percebi que nada na vida seria tão importante quanto isso.

Eu estava finalmente pronto para parar de afastar tantas pessoas


para longe. Eu estava pronto para assumir essas relações, para abraçá-las,
porque a vida era curta demais para me arrepender.

Nathan sabia como eu me sentia no minuto em que ele viu


Charlotte e eu juntos. Eu nunca disse nada a ele e ele nunca perguntou.
Mas ele sabia. Logo antes de Honor e ele voarem de volta para a Carolina
do Norte, ele veio ao apartamento e sem que eu perguntasse, me deu
alguns conselhos.
—Tuck. —Ele disse. —Não se martirize muito pelo jeito que você
se sente. Max não iria querer isso. De qualquer forma, ele quer que você
seja o único a cuidar dela.

—Esse é o problema. —Eu disse a ele. —Não sinto que faço por
obrigação. Eu sinto isso porque é real.

Nathan sorriu. —Você sabe que a firma de IP13com certeza poderia


usar uma advogada na equipe para manter você e eu na linha.

A sugestão se instalou dentro de mim; isso me trouxe uma sensação


de paz. Ter Charlotte comigo o tempo todo parecia certo.

Logo antes de ele sair naquele dia, ele me deu um abraço muito
másculo. —O amor nunca é um erro, meu irmão. Não deixe com quem ela
estava no passado mantê-lo distante no futuro. —Ele disse em meu
ouvido. —Vejo você em casa.

Eu não amava Charlotte. Ainda não. Eu não me permitiria. Mas eu


sabia que quando, se, eu baixasse aquelas paredes dentro de mim, mesmo
que só um pouco, amá-la seria a coisa mais fácil que eu já fiz.

Eu não trouxe a sugestão de Nathan para Charlotte porque eu sabia


como ela reagiria. Ela estava de volta a dedicar-se longas horas no trabalho,
levantando-se e trabalhando nas primeiras horas da manhã, e enquanto eu
sabia que ela me queria aqui, eu não pude deixar de notar como ela se
esforçou para evitar o meu toque.

Eu poderia ser capaz de superar o fato de que ela era do meu irmão,
mas eu não tinha certeza se ela poderia.

Eu entendi isso.

E agora era hora de seguir em frente. Para eu ir para casa.

13
Investigação Particular
A chave na porta era um som distinto, e eu olhei para a minha
posição no sofá, vendo Charlotte entrar.

Ela estava usando um terninho recatado, saltos, e seu cabelo estava


severamente penteado para trás. A exaustão em seu rosto era clara e
também sua infelicidade.

—Ei. —Eu chamei.

—Ei. —Ela largou a pasta e a bolsa no balcão e se aproximou ao


lado do sofá. —Como foi a sua consulta hoje?

—O médico me deu alta.

—Oh. —Ela disse, não parecendo tão feliz quanto eu esperava. —


Isso é maravilhoso.

—Sim. —Eu disse, decidindo testar as águas. —Ele disse que eu


estava bem para viajar. Então isso significa que eu posso ir para a Carolina
do Norte.

—Você está indo? —Ela perguntou, sua voz levemente alarmada e


resignada.

E foi quando eu soube.

Eu sabia que não poderia sair daqui sem pelo menos tentar. Eu a
queria muito e esperava que ela também me desejasse.

—Nathan não pode fazer todo o trabalho na empresa de IP para


sempre.

—Eu suponho que você esteja certo. —Disse ela, voltando para a
cozinha.

Voltar = fugir.
Alguns armários se abriram e fecharam, e ouvi um pouco de líquido
sendo despejado em um copo. Eu me levantei e olhei para ela. Ela estava
enchendo uma taça de vinho.

Eu abafei um sorriso.

—O que você está fazendo em casa tão cedo? —Eu perguntei,


notando que era só o começo da tarde.

—Eu queria ver como foi a sua consulta. —Ela tomou um gole de
vinho. —E agora eu sei. —Outro gole de vinho desceu pela garganta.

—Tenho certeza que você vai ficar feliz em me tirar do seu sofá e
ter o banheiro para você.

Charlotte pegou a taça de vinho e girou, virando-se de volta para


mim. —Você ronca.

Eu ri.

Quando ela ficou de costas para mim, eu sabia que ela estava
chateada.

—Venha comigo. —Eu disse.

Ela endureceu e girou novamente, segurando a taça na frente dela.


—O quê?

—Venha para a Carolina do Norte comigo. A empresa precisa de


uma boa advogada para me manter longe de problemas.

A ânsia em seus olhos praticamente parou meu coração. Droga. Eu


sabia que ela sentia algo por mim, mas eu sempre tive medo de que não
fosse tão forte quanto o que eu estava sentindo.

Eu estava errado.
O brilho das lágrimas cobria seus olhos, fazendo-os brilhar contra o
sol da tarde que entrava pela janela da cozinha. —Eu não posso. —Disse
ela, sua voz saindo com dificuldade.

Charlotte girou outra vez, virando-se para que eu não pudesse ver
seu rosto. O apartamento ficou quieto e silencioso. Nenhum de nós se
mexeu.

Eu perguntei. Ela respondeu. Eu deveria ter ido embora antes que


ficasse mais difícil.

Que. Porra.

—Há mais para viver do que apenas estar vivo. —Eu disse
suavemente. Minha voz era como a gota que você podia ouvir em uma sala
silenciosa.

Sua respiração ficou presa e eu sabia que tinha uma audiência cativa.

—Há mais do que apenas passar pelos momentos cotidianos da


vida. —Eu dei um passo à frente.

Quando me movi, ela olhou por cima do ombro, nossos olhos se


fixando. Era como se estivéssemos amarrados juntos, amarrados pelas
palavras que saíam suavemente da minha boca.

—Mais do que colocar um terno e sentar atrás de uma mesa por


oitenta horas por semana. Mais do que agendar tempo para tudo, desde
comer até escovar os dentes. —A distância entre nós diminuía a cada passo
que eu dava, e era como se houvesse essa atração invisível, essa gravidade
que me puxava para ela.

Ela engoliu em seco. Eu senti o movimento mais do que eu vi. Eu


sabia como ela estava sentindo-se. Eu sabia exatamente o que ela sentia por
dentro.

Era a sensação que você tinha como se você houvesse acabado de


sair de um redemoinho que girava em círculos erráticos e aleatórios. Era a
sensação que você tinha quando ficava chocado com algo. Pequenos
chiados de eletricidade corriam logo abaixo da pele, fazendo tudo vibrar,
tudo agitar.

Eu sabia que era o que ela estava sentindo...

Porque eu também sentia isso.

Eu cheguei perto e seu corpo se inclinou em minha direção, como


se lutar contra a atração entre nós estivesse se tornando muito difícil. —Eu
sei que você quer deixar seu pai orgulhoso. —Eu disse, estendendo a mão
para soltar o cabelo dela. —Você quer seguir os passos dele, mas ele não
iria querer isso para você. Ele não gostaria que você trabalhasse tanto e tão
duramente a ponto de ter um ataque cardíaco fatal.

O grampo deslizou para fora do seu cabelo sem esforço, e eu deixei


cair dos meus dedos para o chão. Mechas de grossos cabelos cor de mel
ondularam, caindo pelas costas.

Segurei-a pelos ombros e guiei-a para que eu pudesse afundar não


apenas uma, mas ambas as minhas mãos no volume espesso e puxar meus
dedos pelas ondas sedosas, espalhando-a sobre os ombros.

—Você é linda demais para isso. —Eu sussurrei, puxando as pontas


dos fios. Sua respiração ficou presa quando a junta de meu dedo roçou seu
seio. —Você é linda demais para passar sua vida fechada de todos, fazendo
apenas as coisas que você listou para fazer e recusando-se a desviar desse
caminho.

Inclinando-me para frente, pressionei um beijo no canto de seus


lábios, apenas o suficiente para provocar a plenitude de sua boca, mas não
o suficiente para um contato completo. Quando encostei nela novamente,
eu provei a umidade salgada de uma lágrima. Eu segurei seu rosto,
inclinando a cabeça para trás e olhei em seus olhos. Singelas lágrimas
silenciosas estavam caindo sob os cílios e derretendo na minha pele.
—Venha comigo, Charlie. Dê uma chance para a vida. Dê-me uma
chance. Vou te fazer feliz.

Eu capturei seus lábios. Segurei seu rosto com firmeza ao meu


alcance e devastei sua boca. Eu derramei tudo que eu tinha naquele beijo,
provocando e provando. Provocando e dando. Seus lábios eram um bufê e
eu planejava saborear até estar saciado.

Charlotte colocou as mãos ao redor dos meus pulsos e apertou,


chegando um pouco mais perto, aplicando um pouco mais de pressão
contra os nossos lábios. Ela traçou o contorno do meu lábio inferior com
sua língua, e o chupou em sua boca, me fazendo gemer. Inclinei a cabeça
na direção oposta e a beijei daquele jeito, acariciando-a com minha língua.

Mas não era o suficiente.

Sem delicadeza, eu puxei a cabeça dela para trás para me dar melhor
acesso, e eu passei minha língua em sua boca, liberando seu rosto e
deixando minhas mãos vagarem sobre seu corpo. Eu não me incomodei
com os botões na frente de seu blazer, em vez disso rasguei-o. O som de
botões batendo pelo chão.

O peito de Charlotte arfou e seus seios cheios encostaram em meu


peito enquanto eu arrancava o blazer e o jogava de lado.

Deslizando minhas mãos ao redor da sua cintura, eu as abaixei,


apertando sua bunda, e segurei, inclinando sua pélvis para que entrasse em
contato com o pau duro em minhas calças.

Ela gemeu e eu empurrei contra ela, pressionando-a contra o balcão


e me esfregando nela, através de nossas roupas.

Meus lábios deslizaram pelo seu pescoço, descendo mais, até que eu
consegui fechar minha boca em torno de seu mamilo rígido perfurando
suas roupas. Ela gritou quando eu apertei em torno dele, a umidade da
minha boca encharcando suas roupas e deixando um anel de desejo em seu
seio.
Seus dedos passaram pelo meu cabelo, apertando meu couro
cabeludo e me incentivando, pedindo-me mais.

Eu abandonei o seio e me agachei, gentilmente passando minhas


mãos até suas panturrilhas, atrás dos joelhos, para levantar a saia de malha
apertada ao redor de seus quadris. Excitação bateu nas minhas veias e
minhas mãos tremiam levemente. Não era segredo que eu gostava de sexo,
mas isso...

Isso era além da excitação.

Sua bunda bateu no balcão quando eu a sentei nele, afastando suas


coxas com meus quadris e ficando no meio.

Ela estava longe demais para o tipo de contato que eu queria, então
eu agarrei seus joelhos e puxei sua virilha para o meu pau latejante e
ansioso. Ela gritou e sua cabeça caiu para trás, derramando longas ondas de
cabelos sobre minhas mãos, onde eu apertava sua cintura.

Eu peguei a mão dela e corajosamente a coloquei entre nós,


esfregando-a ao longo do meu comprimento duro. —Você pode sentir o
quanto eu te quero? Uma noite não foi suficiente, Charlie. Eu quero mais.

Sua pequena mão envolveu a cabeça do meu pau e apertou. Meus


olhos reviraram-se. —Mais. —Eu sussurrei.

Ela apertou novamente, e meu pênis pulsou, lutando contra o jeans,


que o mantinha contido.

—Diga-me que você me quer. —Eu exigi, recuando e olhando em


seus olhos vidrados pelo tesão.

—Eu quero você. —Ela obedeceu.

Nossos lábios colidiram novamente, lutando um contra o outro,


criando pequenas faíscas que pairaram no ar ao nosso redor, criando uma
carga elétrica no ambiente. Eu fui para os botões em sua camisa. Eu queria
estar nu e dentro dela. Agora.
—Espere. —Ela disse, mas eu estava longe demais para ouvi-la.

Ela puxou os lábios para longe, encostando-se no gabinete. Os sons


de sua respiração eram rápidos e fortes. —Tucker, espere. —Ela disse
novamente, mais forte desta vez, colocando uma mão no meu ombro e me
impedindo de puxá-la novamente.

—Eu não posso fazer isso. —Ela engasgou.

—Sim, você pode. —Eu a peguei novamente.

—Não. —Charlotte apertou os lábios e olhou para mim com olhos


suplicantes. —Eu não posso fazer isso com ele. Com Max.

—Nós já fizemos. —Argumentei, pensando na noite cheia de sexo


que compartilhamos.

—Eu posso viver com um lapso momentâneo de julgamento, mas


isso... estamos falando... —Sua voz parou.

—Para sempre. —Eu terminei. —Estamos falando de sempre


porque você e eu sabemos que a atração entre nós nunca vai desaparecer.

—Eu sei. —Ela disse, frustrada. —Mas, eu só... eu não posso.

Raiva me percorreu, de mim mesmo, de meu irmão e dela. —


Diga-me que o que você sentiu por ele é mais forte do que o que você
sente por mim.

Ela fechou os olhos e balançou a cabeça. Eu agarrei-a pelos ombros.


—Diga-me, Charlotte. Diga-me que a paixão ferveu tanto entre vocês dois
que queimou sua pele. Diga-me que ele tomou você na parede do banheiro
e depois novamente no chão. Diga-me que você gritou o nome dele do
jeito que você gritou por mim. Diga-me que você não agendou sexo com
ele um dia por semana, como se fosse mais uma coisa para riscar na sua
lista de tarefas.
Ela ofegou e seus olhos se abriram. —Sábado. —Ela sussurrou. Eu
não tinha certeza se ela estava chocada ou não por eu ter percebido isso.

—Você vai contestar isso? —Eu exigi, segurando o queixo dela e


forçando-a a olhar em meu rosto.

—Não.

—Então por quê? —Por que você não arrisca comigo?

—Ele era meu melhor amigo. Eu não posso traí-lo. Nem mesmo a
memória dele.

Eu ouvi a determinação em seu tom, a decisão. Eu recuei do balcão,


meu punho cerrado, e tudo que eu queria fazer era bater em alguma coisa.
Ela estava escolhendo meu irmão morto a mim.

Doía pra caramba.

Expelindo uma respiração profunda, eu sai para o quarto, onde


cheguei no armário e tirei minha jaqueta de couro. Uma rápida olhada ao
redor me disse que eu não possuía mais nada aqui; não havia nada para eu
empacotar.

Tudo nesta casa pertencia a Max. Incluindo a mulher com meu


coração.

Ela ainda estava sentada no balcão quando eu voltei para a cozinha.


Eu permaneci no lado oposto do balcão, mantendo-o entre nós como uma
espécie de defesa.

—Eu não vou forçar você. Você já passou o suficiente.

—Tucker. —Disse ela, uma única lágrima rolando pelo seu rosto.

—Não há nada sobrando para mim aqui, então vou para minha
casa. —Eu não estava prestes a arrastar isso mais ainda. Esse não era meu
estilo.
Eu dei uma última olhada para ela, então me virei e fui embora.

Ela me deixou ir.


CAPÍTULO 30

Charlotte

Eu o deixei ir.

Eu vi a mágoa em seus olhos, e ainda assim, o deixei sair.

Assim que a porta da frente se fechou, comecei a chorar. Soluços


fortes, altos e feios saindo de algum lugar dentro do meu peito. Eu me
senti vazia, totalmente vazia.

As últimas duas semanas foram uma bênção e uma maldição. Uma


bênção porque Tucker ficou. Ele me deixou cuidar dele, e tê-lo aqui era
como ir para uma festa surpresa. Eu nunca sabia o que iria acontecer.

Certa noite, encontrei-o fazendo pizza na cozinha. A farinha estava


por toda parte, os armários estavam salpicados de molho e o queijo estava
espalhado pelo chão. O forno estava cheio de fumaça, e não sei como
aconteceu, mas a pizza ainda estava crua.

Nós pedimos pizza naquela noite.

As pizzas da Domino's têm um gosto melhor do que a pizza de


Tucker.

Poucos dias depois, quando cheguei em casa, ele estava no


chuveiro... cantando. Sua voz tocou uma parte da minha alma que eu nunca
soube que existia. Cada palavra, cada melodia que saía de sua boca mexia
comigo de alguma maneira.

À noite, eu ficava deitada na cama sozinha, desejosa de levantar e ir


até ele, querendo tanto que ele saciasse minha sede por seu corpo. Às vezes
ele roncava tão alto que eu ficava deitada rindo, porque ele parecia um
cortador de grama.
E agora ele se foi.

Não haveria mais bagunça na cozinha. Não haveria mais música que
chegava à minha alma. Não haveria mais risos.

Meu corpo ainda iria querê-lo. Meu corpo iria implorar até que eu
morresse. Era uma afirmação ousada, mas eu sabia que era verdade, porque
ele foi o primeiro homem que me ensinou sobre paixão, sobre o tipo de
prazer que um homem poderia provocar em uma mulher.

Mas, mesmo assim, não consegui trair Max desse jeito.

Como eu poderia seguir em frente, vivendo uma vida que me


deixava loucamente feliz, quando percebi que minha vida com Max tinha
sido tudo, menos isso?

E para piorar, o homem que parecia ser capaz de me dar a felicidade


que Max nunca conseguiu era seu próprio irmão, sua outra metade.

Limpando as lágrimas que corriam pelas minhas bochechas, pulei do


balcão, meus joelhos ameaçando se dobrar abaixo de mim. Com outro
soluço saindo do meu corpo, eu me joguei no sofá, sentindo como se a dor
fosse me rasgar em duas.

Eu queria que Max estivesse aqui. Eu precisava do meu melhor


amigo.

Eu me lembrei da carta. O único pedaço de papel dobrado que


estava no envelope com o pen drive que ele me enviou. Eu saí do sofá e
corri para o quarto, onde eu a tinha colocado em uma gaveta quando eu
estava pegando as roupas para levar para o hospital quando Tucker estava
lá.

Eu não podia acreditar que eu esqueci disso até agora.

Minha mão se fechou ao redor do papel e me sentei na beira da


cama, enxugando outra lágrima. Desdobrei o papel enrugado e olhei para
baixo.
Era uma carta. Escrita à mão, por Max.

Lágrimas brotaram de novo, apenas olhando para a última coisa que


ele iria me dizer. Olhando para as últimas palavras que eu saberia dele.

Com uma fungada, me concentrei. E comecei a ler:

Charlotte,

Se você está lendo isso, então provavelmente estou morto.


Lamento nunca ter contado a você, mas fui procurado pelo FBI
para reunir provas contra Sr. Wallace e Wallace Jr., por
espionagem corporativa. Eles não são os únicos culpados dentro da
empresa, mas são os principais atores. Eu encontrei as provas que
os federais precisam, Charlotte. E agora minha vida está em
perigo.

Por favor, me perdoe por nunca ter contado sobre isso. Eu


fiz isso pela sua proteção. Se você soubesse, eles também estariam
atrás de você.

Infelizmente, devo enviar-lhe isto porque tenho medo de


não conseguir entregá-lo sozinho. Eu confio em você mais do que
em qualquer outra pessoa nesta cidade, e sei que você vai garantir
que esses homens sejam levados à justiça.

Dê este pen drive para o agente Carson, do FBI. Ele saberá o


que fazer.

Além disso, estou enviando Tucker, meu irmão gêmeo. Se há


alguém que pode mantê-lo seguro até que você possa entregá-lo, é
ele. Você pode confiar nele. Ele é o melhor homem que conheço.
Você vai gostar dele. Ele é exatamente o tipo de cara que você
precisa. Ele é o yin para o seu yang. O açúcar para o seu café. Por
favor, diga-lhe que, embora tenhamos nos separado ao longo dos
anos, ele será sempre a minha outra metade. Minha melhor
metade.

Você e eu… somos muito parecidos, não somos? Foi fácil


estarmos juntos porque nunca desafiamos um ao outro. Nós
coexistimos, mas nunca nos unimos como um casal.

Eu não estou dizendo isso para te machucar. Eu te amo. Eu


sempre amarei. Estou lhe dizendo isso porque quero que você
tenha mais em sua vida. A luz em seus olhos se desvanece um
pouco mais a cada dia, Charlotte. Agora que estou diante da
morte, percebo que há muito mais na vida do que trabalho. Meu
tempo pode ter acabado, mas o seu pode estar apenas começando.

Use minha morte como um catalisador, um catalisador para


grandes mudanças, grande felicidade. Pois então, minha morte
servirá a um propósito maior.

Você é minha melhor amiga, Charlotte. Eu quero que você


seja feliz. Quando você encontrar o amor, quando você encontrar
o homem que fará você se sentir viva, agarre-o e não o solte.

Eu te amarei sempre,

Max
A carta escorregou de minhas mãos e caiu no chão. Quão horrível
deve ter sido pensar que ele ia morrer. No entanto, Max abordou da
mesma forma que fez com tudo: com planejamento direto e metódico.

Meu coração doeu por ele; meu peito inteiro fisicamente latejava.

Sob toda a dor e tristeza, sob as lágrimas e a culpa, percebi outra


coisa da carta de Max. Ele sentiu o mesmo que eu. Ele percebeu que não
tínhamos uma história de amor épica; ele percebeu que nós éramos mais
amigos do que qualquer outra coisa.

E ele estava certo.

Nós coexistimos. Nós éramos como companheiros de quarto que


compartilhavam uma cama, parceiros de negócios que colaboravam em
casa. E não havia nada de errado com isso. Funcionou para nós. Nós
éramos algo um para o outro que ninguém nunca tinha sido: melhores
amigos.

E em face de sua morte, Max sabia que ele tinha que me dizer. Ele
entendeu que eu seria leal a ele, mesmo que isso significasse ficar sozinha.

Ele é o yin para o seu yang. O açúcar para o seu café.

Max sabia que eu iria me apaixonar por Tucker. E ele aprovava.

Um peso enorme foi tirado de mim naquele momento, aliviando


minha culpa e arrependimento. Amar Max não significava afastar Tucker,
assim como amar Tucker não queria dizer não amar Max.

Eu tinha a sensação de que o amor que eu desenvolvi por Tucker


seria tão diferente do amor que eu sentia por Max como os irmãos eram de
personalidade.

Eu o deixei ir embora.

Eu deixei meu futuro sair por aquela porta. Eu o afastei.


Engoli em seco e fugi da cama, correndo pelo apartamento para a
porta da frente. Talvez ele ainda estivesse lá fora. Talvez ele não tivesse
pegado um táxi ainda.

Talvez eu ainda pudesse alcançá-lo.

A porta bateu na parede quando a abri e eu corri para o corredor,


descalça e tudo. —Tucker! —Eu gritei, sabendo que ele não podia me
ouvir de fora, mas incapaz de impedir que seu nome saísse do meu peito.

Alguém se moveu no corredor e eu ofeguei, me desequilibrando


para trás.

Tucker se afastou da parede que ele estava encostado e me encarou.


—Eu estava começando a pensar que você não viria.

Um som estrangulado em algum lugar entre um gemido e uma


risada me escapou. Eu fui em direção a ele, correndo pelo tapete e me
joguei em seu peito. Ele riu enquanto meus braços o envolviam sob a
jaqueta de couro que ele usava e meus dedos se uniram em suas costas.

—Cuidado, querida. —Ele resmungou, e eu gentilmente segurei a


área que ainda estava se curando.

—Eu nunca deveria ter deixado você sair. —Eu chorei contra seu
peito.

—Eu sei.

—Eu pensei que estava traindo Max. —Eu enterrei meu rosto no
couro macio e inalei. Ele cheirava tão bem.

—Eu sei.

Eu ri. —Existe alguma coisa que você não sabe?


Ele se inclinou, enganchando um braço sob minhas pernas e me
balançando em seus braços. —Sim, eu não sei por que ainda estamos aqui
fora.

Em alguns longos passos, estávamos no apartamento, com Tucker


chutando a porta atrás de nós. Colocando-me de pé, seus olhos assumiram
um olhar aquecido e senti um tremor percorrer meu corpo porque eu sabia
o que estava por vir.

Ele me empurrou, então eu estava presa entre ele e a porta. Os


botões da minha camisa cederam com um puxão forte e voaram em todas
as direções. Uma vez que a camisa estava completamente fora do meu
corpo, ele inclinou a cabeça e chupou meu mamilo, molhando o tecido
rendado e usando a textura áspera para estimular ainda mais a minha
excitação. Enquanto ele lambia e chupava, suas mãos se juntaram nas
minhas costas para soltar o fecho, liberando as taças completamente.

—Eu quero você nua. —Ele rosnou. —Eu não quero


absolutamente nada entre nós.

O sutiã foi jogado de lado e ele abriu o zíper na minha saia, tirando-
a do meu corpo, puxando minha calcinha ao mesmo tempo. Quando eu
estava completamente nua, ele deu um passo para trás e me incendiou com
seu olhar semicerrado.

Em segundos ele se lançou sobre mim, prendendo-me mais uma vez


contra a porta, e pressionou a palma contra o calor escorregadio da minha
virilha, segurando o espaço privado e deslizando um dedo para dentro do
meu interior dolorido.

Mas então ele se afastou.

Respirando pesado e me contorcendo de necessidade, observei


Tucker se despir lentamente. Ele começou com sua jaqueta, deslizando o
couro de seu corpo. Sua camisa era a próxima, e eu não pude deixar de
olhar para os músculos tonificados e duros que compunham seu torso.
Olhar para ele era uma coisa, mas tocar era outra coisa.

Ele pegou o cinto em seu jeans e eu caí de joelhos diante dele.


Quando ele desafivelou o couro, eu envolvi minha boca em torno de seu
pau duro, deixando meu hálito quente sobre seus jeans.

Ele gemeu e um arrepio percorreu sua espinha. Eu o lambi através


de seu jeans, apreciando os sons de prazer que irromperam de sua garganta.

Logo ele tinha o cinto e o botão de seus jeans abertos, e eu deslizei


meus dedos no cós e puxei para baixo.

Ele não estava usando roupas íntimas.

Não consegui esperar até que o jeans estivesse completamente


aberto, eu inclinei para frente, deslizando na minha boca todo o
comprimento do pau dele. A pele era como um cetim esticado sobre uma
haste implacável. A excitação de dentro de mim jorrou, cobrindo o interior
das minhas coxas.

Tucker me agarrou pelos cabelos e me puxou para trás, longe dele, e


chutou o resto de suas roupas. E agora não havia nada entre nós.

Sem arrependimento. Sem culpa. Sem roupas.

—Tucker. —Eu gemi, envolvendo minhas mãos em sua nuca e


puxando o rosto para baixo para um beijo esfomeado.

Suas mãos fortes envolveram meus quadris e me levantaram. Antes


que minhas pernas estivessem trancadas em torno de sua cintura, ele
empurrou para dentro de mim, tão fundo que eu gritei.

Segurando-me perto, ele andou alguns passos até o tapete, onde


chutou a mesa do café para fora do caminho e caiu de joelhos. Meu corpo
estremecia ao redor dele. Ele era tão delicioso que meu corpo estava
pronto para explodir pelo contato.
—Ainda não, querida. —Ele ronronou, colocando-me sobre o
tapete, mas mantendo-nos unidos. Apoiando-se nos cotovelos, ele olhou
para baixo, passando os dedos pelo meu cabelo.

—Você está pronta?

—Por favor. —Eu implorei, levantando meus quadris, implorando


para ele se mexer. Seu pau empurrou dentro de mim, raspando contra as
minhas paredes internas e me fazendo gemer. Arqueei minhas costas
contra o chão e seus lábios se fecharam ao redor do meu mamilo, sugando
profundamente, enviando faíscas de prazer do seio até o centro do meu
corpo.

Ele avançou, batendo nossas pélvis juntas, e criou pressão no meu


clitóris já inchado.

—Goze para mim, querida. —Disse ele, levantando a boca do meu


seio.

Eu me soltei. Fragmentos de mim se lançaram em um bombardeio


dentro do meu corpo, explodindo em uma onda de prazer tão grande que
minha boca se abriu, mas nenhum som saiu.

Eu não conseguia falar. Eu mal podia respirar.

Ele começou a bombear dentro de mim, entrando e saindo,


deslizando a incrível extensão de seu pau duro como pedra em meu corpo
de novo e de novo.

Eu não podia fazer nada além ficar lá deitada e deixar o ataque


violento após o ataque de prazer intenso rolar sobre o meu corpo.

E então ele saiu. Foi tão abrupto e tão repentino que eu gritei. Eu
procurei por ele, tentando arrastá-lo de volta. Eu o queria dentro de mim.
Eu queria sentir o desejo dele.

—Charlotte, olhe para mim. —Ele ordenou.


Eu abri meus olhos e encontrei os dele.

—Você está pronta?

—Sim. —Eu falei, impaciente. Eu já respondi a essa pergunta antes.

Ele balançou a cabeça e nivelou seu corpo para que ele roçasse no
meu e seu pau estivesse explorando minha entrada, prometendo mais
prazer.

—Você. Está. Pronta?

—Para quê? —Eu choraminguei, tentando puxá-lo para mim. Ele se


afastou, dando-me um sorriso malicioso.

—Para sempre. Você está pronta para sempre?

Meus olhos se abriram. Ele estava me pedindo para ser dele. Para
sempre. Eu nem precisei pensar a resposta. Eu sabia. Eu sentia.

—Sim. —Eu sussurrei. —Sim.

Ele rosnou e bateu contra mim, envolvendo o braço em volta da


minha cintura e ancorando nossos corpos juntos enquanto ele gritava em
seu êxtase. A alegria de sentir ele gozando dentro de mim era diferente de
tudo que eu conhecia.

Quando nossos corpos pararam de tremer, ele rolou, trazendo-me


com ele, colocando meu corpo saciado em seu peito.

—Tucker? —Eu sussurrei.

—Hmm?

—Obrigada por não ir embora.

—Eu sabia que você cederia a seus sentimentos.

Eu apoiei meu queixo no peito dele. —Como você sabia?


Ele me deu um sorriso torto. —Porque sou irresistível.

Bem, eu certamente não poderia discutir com isso.


EPÍLOGO

Tucker

Mais tarde naquele ano…

As ondas do oceano bateram contra a linha costeira da praia de


Topsail, Carolina do Norte. Eu inclinei a longneck de volta para os meus
lábios, esperando a descida da cerveja satisfazer minha boca.

A garrafa estava vazia.

Eu olhei para a casa sobre a areia e me perguntei onde diabos estava


Nathan com a nossa cerveja.

Era um lindo dia de verão, arejado e não muito quente. As pessoas


vagavam pela costa procurando por conchas e jogando frisbees para seus
cães. Normalmente, a essa hora do dia, Nathan e eu estávamos atrás de
nossas mesas, trabalhando em casos.

O negócio de IP era um sucesso. Nossos contatos com os fuzileiros


navais e nosso profissionalismo para fazer o trabalho nos tornaram os
sujeitos para praticamente todo tipo de serviço investigativo que era
necessário.

Ontem mesmo assinamos um grande contrato com o Exército para


um acordo que nos manteria ocupados por muitos anos. Todo o dinheiro
que Charlotte negociou foi um bom bônus também.

Foi por isso que decidimos tirar o dia de folga, para aproveitar os
espólios de nossas riquezas. Bem, isso e o fato de que Honor e Nathan
tinham uma casa de praia na areia.
Agora que o acordo foi assinado, Charlotte e eu planejávamos
construir uma bem ao lado da deles. Pensamentos de Charlie aqueceram
meu sangue, e eu tive a conhecida sensação de felicidade e desejo que
sentia quando pensava nela. Ela foi a melhor coisa que já me aconteceu.
Um fato que Honor me lembrava todos os dias.

Não que eu precisasse ser lembrado.

Uma sombra caiu na areia e eu sorri. —Até que enfim. Você teve
que ir até a loja buscar a cerveja? —Eu disse, olhando para quem eu pensei
ser Nathan.

—Pedi a Nathan que ficasse em casa com Honor por alguns


minutos. —Disse Charlie, afastando o cabelo do rosto.

Porra, ela era linda. Pernas longas e bronzeadas, emaranhados


cabelos dourados e olhos que eram como uma sirene para o meu navio
perdido.

—Ei, querida. —Eu disse, batendo na areia ao meu lado. —Você se


divertiu fazendo compras com Honor?

Ela pigarreou. —Na verdade, nós não fomos fazer compras.

Havia algo em seu tom que me colocou em alerta.

Eu me virei para poder encará-la completamente, separando minhas


pernas para que ela ficasse entre elas. —O que está acontecendo?

—Eu teria dito algo antes. Eu só... eu queria ter certeza.

Ela estava começando a me assustar. Ela parecia um pouco


assustada. —Charlie, você pode me dizer qualquer coisa. —Eu enfiei uma
mecha de cabelo atrás de sua orelha.

—Estou grávida. —Disse ela, as palavras reverberando entre os


lábios e sendo levadas pelo vento.
Demorou um momento para eu registrar, para eu entender.

—Você está grávida?

Ela olhou para mim, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.


—Nós não temos sido exatamente cuidadosos.

Bem, não, nós não fomos. Eu praticamente a queria a qualquer hora,


em qualquer lugar, e ela nunca me recusou.

Sua mão foi protetora para sua barriga, a barriga que agora segurava
meu filho. —Tucker? —Ela perguntou, sua voz um pouco insegura.

Eu dei um grito de alegria e a peguei, deixando sua bunda firme


sentar no meu colo. Minha mão deslizou sobre a dela e eu sorri. —Você
está me dando um bebê. —Eu não consegui manter a maravilha fora do
meu tom.

—Você está feliz? —Ela perguntou. —Eu sei que não foi planejado.

Eu agarrei seu rosto e a beijei profundamente até que meu peito


gritou por ar. —As melhores coisas da vida nunca são planejadas.

Ela riu.

—Eu não consigo pensar em nada que eu queira mais do que meu
filho crescendo dentro de você.

Ela sorriu. Era um sorriso que rivalizava com o oceano cintilante


sob o sol.

—Você está feliz? —Eu perguntei, inclinando minha testa contra a


dela.

—Muito feliz. —Seus olhos ficaram enevoados.

—Hormônios da gravidez já? —Eu provoquei. —Acho que vou ter


que começar a carregar lenços no bolso para secar os olhos.
Ela riu. —Eu estou na verdade com doze semanas já.

Eu coloquei minha mão de volta contra sua barriga. —Você é um


pequeno sorrateiro, não é filho?

—Filho? —Ela perguntou, levantando a sobrancelha.

—É um menino. —Eu disse. Eu podia sentir isso nos meus ossos.

—Espero que ele seja como o pai dele. —Ela sussurrou.

Eu a beijei.

—É seguro aí embaixo? —Uma voz profunda veio de cima.

Afastei meus lábios da mãe do meu filho e olhei para onde Nathan e
Honor estavam abraçados, olhando para nós.

—Pegue os charutos! —Eu gritei. —Vamos ter um bebê!

O grito de alegria de Nathan encheu o ar.

Charlie riu. Ela estava absolutamente radiante. —Eu te amo muito.

—Não tanto quanto eu amo você. —Respondi. Eu estava ficando


muito bom em dizer palavras bonitas.

—Esta vida é muito melhor do que a que eu planejei para mim. —


Disse ela, descansando a cabeça no meu ombro.

Eu não pude deixar de envolver minha mão ao redor de sua barriga


novamente. —Fique comigo, amor. Vai ser um passeio e tanto.

...E foi...

FIM

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