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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1 Introdução
Nesta aula, estudaremos a gênese e a consolidação do capitalismo até as primeiras duas décadas do século XX.
Para Hunt (2002, p. 26), o modo de produção capitalista se define a partir de quatro pressupostos básicos. São
eles:
“Produção de mercadorias, orientada pelo mercado; propriedade privada dos meios de produção;
um grande segmento da população que não pode existir, a não ser que venda sua força de trabalho
Para ele, o capitalismo se caracteriza pela produção de bens e mercadorias que tenham um valor de uso e de
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Para melhor entendermos, vamos usar como exemplo dois homens, em que cada um compra quatro garrafas de
água.
• O primeiro homem se dirige a uma mesa e, junto a mais três pessoas, bebe a água das garrafas. Para eles,
a água tem um valor de uso, matar a sede.
• O segundo homem vai embora com as garrafas fechadas com o objetivo de vendê-las na praia por um
preço maior do que o comprado obtendo, assim, um lucro. Para esse homem, a água tem um valor de
troca. Com isso, esse homem transforma o seu dinheiro em capital.
Outro ponto salientado por Hunt (2002) é a propriedade privada dos meios de produção. Vimos anteriormente
que o homem era o proprietário das suas ferramentas de trabalho e o dono final do produto que produziu.
Porém, no capitalismo, grande parte dos homens perde a propriedade sobre suas ferramentas e sobre o seu
produto final.
Os meios de produção, as máquinas, as ferramentas, as matérias primas etc., passam a pertencer a um seleto
grupo de homens, os burgueses. Como conseqüência desse processo, o homem que não possui os meios de
produção se vê obrigado a vender a única coisa que lhe restou, a sua mão de obra e torna-se um trabalhador
assalariado.
capitalismo.
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O indivíduo deve pensar em satisfazer as suas necessidades sozinho, deixando de lado o pensamento coletivo, já
que pensar coletivamente é ter força de negociação que abalam as estruturas do sistema. A aquisição de bens e
produtos é imperiosa para os capitalistas, o trabalhador deve consumir para gerar lucro aos burgueses.
2 Consolidação do capitalismo
Visto isso, devemos buscar entender de que forma o capitalismo se consolidou como um modo de produção
A disseminação do comércio de longa distância foi um dos fatores que levou ao final do feudalismo. No entanto,
devemos perceber que o surgimento desse comércio está intrinsecamente associado à economia europeia da
época.
O desenvolvimento da produção gera um excedente que precisa encontrar novos mercados. Nesse caso, o
mercado externo, o desenvolvimento tecnológico de novas fontes de energia, do transporte tornam necessária e
O comércio de longa distância inaugura uma nova forma de comercialização e de divisão do trabalho. O artesão
que produz e vende seus produtos diretamente não tem condições de vender seus produtos em terras tão
A partir desse movimento, o homem vai perdendo a propriedade de seus produtos. O artesanato enquanto
prática social dominante cede lugar à manufatura e posteriormente à maquinofatura. É o início da separação do
Esse processo de substituição do artesanato pela maquinofatura foi lento e gradual. Conforme o comércio e a
necessidade de mais produtos manufaturados se expandirem, maior é o controle do processo produtivo pelo
capitalista.
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Com o desenvolvimento das forças de produção, o processo produtivo se modifica e o capitalista passa a ser o
proprietário dos meios de produção, restando aos não proprietários a venda de sua força de trabalho em troca
de um salário. Nesse estágio, o trabalhador não vende mais o produto para o comerciante, ele vende a sua mão
de obra.
capitalismo, como por exemplo, os cercamentos dos campos, que se iniciou na Inglaterra por volta do século XIV
Essa prática expulsou os camponeses do campo, enchendo as cidades e formando, assim, um contingente grande
Ademais, dois marcos são reconhecidos como fatores determinantes para a consolidação das práticas
capitalistas:
a Revolução Francesa.
Ambas as revoluções são influenciadas pelas ideias dos chamados iluministas. Vários intelectuais que anunciam
o mundo contemporâneo, novo Estado, novas instituições, novos valores que condizem com o progresso
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Esses intelectuais lançaram as bases do racionalismo e do mecanicismo. Podemos destacar, da esquerda para a
direita:
• Rosseau;
• Locke;
• Montesquieu;
• O iluminista econômico Adam Smith, o pai do liberalismo.
Vejamos o que Marx e Engels (2001, p. 27) nos alertam sobre a burguesia e sobre o fim das relações feudais:
“Onde quer que tenha chegado ao poder, à burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais,
idílicas. Estilhaçou, sem piedade, os variegados laços feudais que subordinavam o homem e seus
superiores naturais, e não deixou substituir entre os homens outro laço senão o interesse nu e cru,
Com base nos ideais iluministas de razão e cientificidade, a Revolução Industrial intensifica o processo de
desenvolvimento do capitalismo.
Essa revolução inicia a mecanização industrial, desviando a acumulação de capitais da atividade comercial para o
setor de produção. Isso acarreta mudanças em todas as relações sociais, sejam econômicas, sociais, culturais etc.,
possibilitando, dessa forma, o desaparecimento dos restos do feudalismo e a implantação do modo de produção
capitalista. Entre essas mudanças, podemos citar a criação de um forte sistema bancário, a revolução agrícola
A Revolução Industrial consolidou a hegemonia burguesa na ordem econômica e também acelerou o êxodo rural,
a formação da classe operária e o crescimento urbano. As bases econômicas do capitalismo estão fixadas, a busca
por inovações tecnológicas que garantam a reprodução ampliada do capital, o conflito entre capital e trabalho e a
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Para Marx e Engels (2001, p. 26), a burguesia moderna é “o produto de um longo processo de desenvolvimento,
de uma série de profundas transformações no modo de produção”. Podemos afirmar que a Revolução Industrial
lança as bases econômicas do capitalismo, entretanto, as bases sociais são lançadas pela Revolução Francesa. É
correto inferir que essa revolução é a prova definitiva da maturidade da burguesia, já que sepulta os entraves ao
capitalismo.
sistema político baseado no privilégio da nobreza e do clero sob a tutela do rei absolutista é substituído por um
Para Marx e Engels (2001, p. 27), “um governo moderno é tão somente um comitê que administra os negócios
O sistema de governo adotado foi à República – etimologicamente significa “coisa pública” – e em 1789 foi
proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que sintetiza os preâmbulos do liberalismo.
“Art. 1º Os homens nascem e permanecem iguais nos direitos; as distinções sociais só podem ser
à opressão.
“Art. 3º O princípio da soberania reside essencialmente na nação, nenhum corpo ou indivíduo pode
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Art. 4° Liberdade consiste em poder fazer tudo o que não prejudica aos outros. Assim, o exercício dos
direitos de cada homem tem como limite apenas aqueles que garantem aos demais membros da
sociedade o gozo destes mesmos direitos; estes limites são determinados somente pela Lei. (...)”
(Adaptado de: S. e P. Coquerelle e L. Genet. La fin de l’Ancien Régime et lês débuts monde
Lançadas as bases do capitalismo uma nova doutrina de ideais políticos e econômicos que defendem os conceitos
de liberdade e autonomia individual foi criada para dar conta das novas relações sociais, o liberalismo.
Apesar de muitas vezes o liberalismo ser confundido com a democracia, não podemos deixar de entender que, na
época em que essa doutrina foi posta em prática a democracia não era uma realidade. O liberalismo enquanto
uma teoria política e econômica prega a liberdade, a divisão dos três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário
– o Estado de direito regido por uma constituição, a autorregulamentação do mercado, sem a intervenção estatal
A liberdade que os liberais pregam é a liberdade de pensamento e de religião, é um estado que evita o arbítrio e
as lutas religiosas. “a liberdade apregoada pelos liberais tem algo de unívoco, a defesa de que o Estado limite a
liberdade natural ou o espaço de arbítrio de cada indivíduo” (LIMA, WIHBY, FAVARO, 2008, p. 02).
Vale ressaltar que a liberdade na doutrina liberal é primordial para a formação de uma sociedade que tem como
pilar fundante a propriedade privada consubstanciada por um contrato social que visa à formação da sociedade
civil, ao qual os homens devem aderir “livremente”. Outro aspecto dessa liberdade é que a maioria da população
que não tem propriedade deve ser livre para vender a sua mão de obra e sobreviver por meio do seu trabalho.
Passemos agora a analisar alguns dos grandes pensadores liberais, dentre eles destacamos Adam Smith, Malthus
e David Ricardo.
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Adam Smith foi um dos maiores defensores do liberalismo, Hunt (2002) afirma que Smith se diferencia dos
outros pensadores por ter sido o primeiro a elaborar uma teoria sobre a sociedade capitalista.
Malthus credita a miséria e a pobreza ao número elevado da população. Ele entende que a classe subalterna é a
própria culpada pela sua miséria. Essa crítica nasce de uma defesa acalorada de propriedade privada.
Assim como Smith e Malthus, Ricardo tenta justificar a desigualdade social favorecendo a camada dominante da
população. Trataremos a frente apenas da doutrina chamada por ele de “Lei Férrea dos Salários”.
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Adam Smith: o tema que permeia toda a sua análise é a “mão invisível” do mercado que conduz as pessoas no
sentido de promover o bem social de forma involuntária. Entre seus estudos, encontramos a teoria do preço que
Ele distinguiu o preço de mercado e o preço natural das mercadorias. Para ele, o preço de mercado é aquele
definido pela lei da oferta e da procura e o preço natural é o que cobre os custos da produção e oferece um
Smith acredita que o capitalismo é o mais alto grau de desenvolvimento que a sociedade pode alcançar e esta
evolução atingiria o seu ápice no momento em que o governo, o Estado, não mais interferisse na economia. O
mercado se autorregularia baseada na lei da oferta e da procura. Com isso, haveria um equilíbrio entre o preço
natural e o preço do mercado, beneficiando a todos, o capitalista e o consumidor. Ademais, ele entendia que todo
individuo, no mercado livre sem intervenção do Estado, age de forma egoísta e que a “mão invisível do mercado”
Para Smith, todo indivíduo que emprega seu capital na promoção da indústria interna esforça-se para que o
produto desta indústria tenha o maior valor possível. O produto da indústria é o que ela adiciona às matérias-
Na medida em que o valor desse produto seja grande ou pequeno, os lucros do empregador serão grandes ou
pequenos, mas é apenas visando ao lucro que alguém emprega um capital na indústria, e, portanto, ele sempre se
esforçará para empregá-lo na indústria cujo produto tenha probabilidades de ter o maior valor ou de poder ser
A receita anual de toda sociedade, porém, é sempre precisamente igual ao valor de troca de todo o produto anual
de sua indústria.
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Portanto, quando todo indivíduo se esforça o mais que pode, não só para empregar seu capital na indústria
interna, como também para que seu produto tenha o maior valor possível, trabalha, necessariamente, no sentido
de aumentar o máximo possível a renda anual da sociedade. Na verdade, ele geralmente não pretende promover
Preferindo aplicar na indústria interna e não na externa, só está visando à sua própria segurança; dirigindo a
indústria de tal maneira que seu produto possa ter o maior valor possível, está querendo promover seu próprio
interesse e está, neste e em muitos outros casos, sendo levado por uma “mão invisível” a promover um fim que
Do mesmo modo, nem sempre é pior para a sociedade que não tenha sido esta a sua intenção. Cuidando do seu
próprio interesse, o indivíduo, quase sempre, promove o interesse da sociedade mais eficientemente do que
Smith acredita que por tudo isso a intervenção estatal não é bem-vinda. Para ele, as concessões e as
regulamentações do governo alocam mal o capital, o que restringe o grande papel do capitalismo, o bem social.
Porque, quanto mais o capitalista aumenta a sua produção e consequentemente o seu lucro, mais o trabalhador é
A lógica de Smith somente beneficia um seleto grupo de proprietários dos meios de produção. O modo de
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Portanto, não é possível que o desenvolvimento do mercado sem intervenção do Estado dilua essa oposição
ontológica.
O conflito entre as classes sociais do capitalismo se resolve pela “mão invisível” do mercado, segundo Smith e
propicia a felicidade humana, ou seja, proporciona a harmonia social. Mas, é claro que isso não ocorre.
Ainda para Smith, o Estado tem três funções básicas na sociedade capitalista:
• proteger a sociedade da violência e invasão de outras sociedades;
• proteger todo indivíduo, na medida do possível, da injustiça;
• fazer e conservar obras e instituições que não sejam do interesse de particulares, por não possibilitar o
lucro necessário para sua manutenção, mas que são essenciais à sociedade.
Malthus: ele credita a miséria e a pobreza ao número elevado da população. Ele entende que a classe subalterna
é a própria culpada pela sua miséria. Essa crítica nasce de uma defesa acalorada de propriedade privada. Alguns
autores, como Godwin, acreditam que a desigualdade social tem origem nas instituições humanas e na
propriedade privada.
Em resposta, Malthus afirma que o cerne da questão se encontra na escassez de alimentos frente ao grande
número de pessoas. Ele assim explica o que considera “causa profunda de impureza que corrompe a fonte e
“A população, quando não controlada, aumenta numa razão geométrica. A subsistência aumenta
apenas em proporção aritmética. Isso significa um controle forte e constante sobre a população,
provocado pela dificuldade de subsistência. Essa dificuldade deve recair nalguma parte e deve
necessariamente ser fortemente sentida por grande parte da humanidade...” (apud HUBERMAN,
1972, p. 293).
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Podemos, então, concluir que para Malthus a pobreza se justifica pelo aumento da população que não é
acompanhada pela produção, e não pela exploração do trabalhador e pela busca do lucro exorbitante.
Malthus ainda vai mais fundo nessa questão quando afirma que movimentos sociais, como greves e associações
de nada adiantam para resolver tal problema, já que a culpa é dos trabalhadores que têm filhos demais.
Assim como Smith e Malthus, Ricardo tenta justificar a desigualdade social favorecendo a camada dominante da
população. Diferentemente de Smith, a leitura de Ricardo é complicada e cansativa, pois se trata de um texto que
busca exemplos abstratos e que não tem familiaridade com o leitor. Trataremos aqui apenas da doutrina
“O trabalhador simples, que depende apenas de suas mãos e sua indústria, não tem senão a parte de
seu trabalho de que pode dispor para os outros. Vende-a a um preço maior ou menor; mas esse
preço alto ou baixo não depende apenas dele; resulta de um acordo que fez com a pessoa que o
emprega. Esta lhe paga o menos possível, e, como pode escolher entre muitos trabalhadores, prefere
o que trabalha por menos. Os trabalhadores são por isso obrigados a reduzir seu preço em
concorrência uns com outros. Em toda espécie de trabalho, deve acontecer, e na realidade acontece,
que os salários do trabalhador se limitam apenas ao que é necessário à mera subsistência.” (apud
É muito similar com a Lei da Oferta e Procura desenvolvida por Smith. Quanto mais trabalhadores
Essa teoria é aceita até os dias atuais. Por isso podemos afirmar que no modo de produção capitalista é muito
improvável que o emprego seja pleno, ou seja, todas as pessoas estejam empregadas. É necessário que exista um
“exército de desempregados”, garantindo que os salários continuem baixos e que os lucros continuem altos.
No mais, sabemos que a desigualdade social não tem base nos salários baixos e sim nas práticas inerentes ao
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Esses teóricos deram base às práticas sociais durante o período de consolidação do capitalismo até o final da
década de 20.
E mais, os operários criam movimentos de resistência a essas práticas, como a formação de sindicatos e
associações. Esses trabalhadores não recebem passivamente as ordens de seus patrões, eles lutam e se revoltam,
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Aprendeu a identificar as bases históricas e conceituais do liberalismo;
• a problematizar o liberalismo, entendendo as suas determinações na base do sistema capitalista atual.
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