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M_LICENCIATURAS 3 A COMUNICAGAO COM AS MAOS Os dedos da mao humana movem-se (com excegdo do polegar) por acao de tendées ligados a misculos no antebraco e de outros pequenos misculos que ligam as falanges. 0 polegar move-se ainda por agdo dos misculos flexores ¢ rotadores, que se encontram na palma da mao, ligados ao primeiro metacarpal’. Estéo divididos em polegar, dedo indicador, dedo médio, ane- lar e dedo minimo (WILLIAMS, DYSON, e WARWICK, 1996) (Fig. 1). Polegar indicador Dedo medio Anelar Dedo minimo Figura 1: Dedos da mao Fonte: Para a maioria da populacao a mao tem a fungao ba- sica de prender, de forma correta, objetos das atividades quotidianas, mas, para a maioria dos surdos, a mao vai além disso; serve também como canal de comuunicacao. Entretanto, nem todo surdo é “sinalizado”; muitos sao “oralizados” e outros nao conhecem a LIBRAS, utl- zando outras formas de comunicagdo. As linguas de sinais possuem uma madalidade diferente das linguas orais, pois as informacées linguisticas ocorridas entre 0s interlacutores sdo recebidas pelos olhos e produzidas pelas maos, diferentemente da modalidade das linguas orais-auditivas, nas quais a informagao ¢ recebida pelos ouvidos e produzida/articulada pelo aparelho fonaterio- articulador e pelo sistema respiratorio, 8 O metacarpo equivale @ porgda média da mao, i.e, 0 conjunto de ossos dos membros anteriores (ou das extemidades supe- rlores, no homer) que articulam com os oss0s do carpo e com as flanges proximais dos dedos, em todas os vertebrados que apresentam aqueles membros. O metacarpo é formado pelos ‘ossos metacarpais ov metacarpianos, que sto em ndmero de cinco. Nos vertebrados com § dedos, 0 carpo é formado por 5 0ss0s alongados. No homem, é 0 metacarpo que suporta a “palma” da méo (PINHEIRO, 2006, p. 36). | | TESOL MacNellage (2008) considera a evolucdo das maos e da boca paralelas, em vez de considerar que as maos tivessem fornecido o trabalho inicial para o desenvolvi- mento da boca em relagao a linguagem. Fornece um ar- gumento sobre como as méos “acompanham” a lingua falada, Ambas formam uma unidade em que cada uma desempenha uma fungao complementar, A boca envia a mensagem linguistica usando a capacidade linguistica combinatéria-sequencial da modalidade vocal-auditiva, enquanto a mao, simultaneamente, despacha uma mensagem imagistica. Dessa forma, a comunicacao humana pode ocorrer de diversas maneiras, inclusive com 0 uso das méos Desde a Revolucao Industrial ocorrida na Europa, uma série de mudangas tecnolégicas allerou o proces- so de produgdo econdmica e social, e as sociedades assistiram a invasdo das indistrias, suplantando com suas maquinas 0 que era, até entdo, aloangado através da mao de obra humana, o que tornou urgente a neces- sidade de interagao e dominio dessas novas tecnologias e sua linguagem prépria A palavra linguagem sempre nos remete a lingua falada, a todo discurso verbal, oral ou escrito que coti- ianamente expomos em nosso idioma materno. Mas existem variadas formas de linguagem nao exatamente restrtas ou sequer ligadas a escrita ou a oralidade. Nem sempre recorremos a linguagem verbal, seja essa linguagem falada, nas linguas orais, ou sinalizadas, nas linguas gestuais. A comunicagéo humana pode ocorrer de diferentes formas. Falantes de uma mesma lingua podem langar mao de outros recursos para se fazer entender. Sacks (1998) afirma que a existéncia de uma lingua visual demonstra que o cérebro humano é rico em potenciais que nunca teriamos imaginado e também revela a quase ilimitada flexibilidade ¢ capacidade do sistema nervoso, do organismo humano, quando se depara com o novo e precisa adaptar-se. Coelho Netto (1999) aponta que a linguagem nao deve ser entendida como simples sistema de sinali zacao, mas como matriz do comportamento humano, meio pelo qual o homem informa seus atos, vontades, sentimentos, emogdes e projetos. Essas informacdes podem ser transmitidas através de desenhos, pinturas, esculturas ou quaisquer outros meios pelos quais a comunicagdo se faga concretizar E possivel, por exemplo, para qualquer individuo fami- liarizado com as regras de transito e seus sistemas, entender quando deve seguir e quando deve parar ao pretender atravessar uma via publica sinalizada. A maio- ria das informacdes que assimilamos e decodificamos, todos os dias, nao inclui, como elemento principal da mensagem, a palavra escrita ou a falada Para Santaella (1983), a comunicagéo humana tam- bém se dé através de imagens, graficos, sinais, luzes, cores, objetos, sons entre tantas outras possibilidades. Somos uma espécie animal téo complexa, quanto sao complexas e plurais, com intrincadas combinacoes de signos, as linguagens que nos constituem como seres simbélicos, isto é, seres de linguagem. Coelho Netto (1999) nos ensina que uma mensa- gem qualquer é composta pelo falante/emissor a partir de uma selego promovida num repertério de signos. Pode-se dizer que signo é tudo aquilo que representa outra coisa, ou melhor, é algo que esta no lugar de outra coisa. Assim, um signo é aqullo que, sob certo aspecto, representa alguma coisa para alguém. Dirigindo-se a essa pessoa, esse primeiro signo criard na mente desta um signo equivalente a si mesmo, Um contetido exposto por alguém (emissor) a outrem (receptor) esta sempre carregado de signios que devem ser reconhecivels por quem recebe a informagdo. Por exemplo: alguém que fale de urso polar para um indio da Amazénia que nunca viu ou ouviu falar deste tipo de animal. Existe 0 emissor e o receptor, porém, mesmo que os dois falem a mesma lingua, se o signo urso polar nao representa algo para o receptor, a mensagem nao sera compreendida, nem mesmo decodificada, porque © Indio ndo teria na sua estrutura cognitiva a imagem mental de um urso polar. Segundo Battro (1976), um dos autores que inves- tigou a fundo a questéo das imagens mentais foi Jean Piaget. Para ele, a percepcao, a imitagao e a imagem mental so as funcées do imagético que retratam os estados momentaneos ou estaticos da realidade. A percepgdo pura apenas fotografa o objeto, mas a ativ- dade perceptiva é a movimentacdo cognitiva do sujeito para entender o que esta percebendo. Essa atividade de interpretacdo imediata se deflagra na mente para que o individuo possa produzir respostas e produzir insights. O insight pode ser estimulado a surgir constantemente através das experiéncias e relagGes de troca direta com 0 objeto. Essa troca empirica pode ser muito eficaz no estimulo do pensamento, auxliando diretamente na compreenséo de novos concettos. Tais conceitos referentes aos objetos da observa- do possuem um significante para sua representacdo, representante grafico ou sonoro, que o denomina ou referencia, e um conceito ou significado, construgao intelectual que the fornece atributos comuns. 0 con- ceito nao ¢ individual e proporciona ao objeto meter-se numa classe, nao é 0 individuo que assim decide, mas 0 préprio sistema. Ja a significagao € pessoal € intransferivel. Entende-se por significant, segundo Coelho Net- to (1999), a parte material do signo (0 som que 0 ‘conforma ou os tragos pretos sobre o papel branco, formando uma palavra, ou os tragos de um desenho {que representa, por exemplo, um cdo) e por significado, © conteiido veiculado por essa parte material. Nao ha signo sem significado. Apalavra ZOOLOGICO é 0 significante daquele local (objeto) onde se pode observar animais em jaulas se- paradas por categorias (significado), mas as emogées, impressdes e lembrancas que cada um guarda e que sto despertadas ao depararem-se com o significante ZOOLOGICO ¢ a significado pessoal que cada um da a partir do que foi experienciado. Nas linguas de sinais, os sinais s4o os significantes. E sendo essas linguas verbals, a literatura atual as trata neste contexto, por isso temos 0 termo “fonologia” da lingua de sinais. Na verdade, tanto o significante quanto 0 significado séo abstratos. O significante nao pode ‘ser confundido com a realizagao concreta dos sons ou gestos. Ao se pensar no signo ZOOLOGICO da Lingua Brasileira de Sinais, nao é relevante se o sinalizante realiza © sinal mais rapidamente ou de forma mais lenta; ou se 0 sinalizante deixa os dedos das maos um pouco mais fechados e tensos ou mais abertos e relaxados; se os bragos formam 70° ou se formam 85°; etc., tudo isso ‘sd0 detalhes fonéticos (da realizagao concreta do sinal), mas 0 que é apreendido pela mente so os detalhes fo- noldgicos (a realizagao psiquica do sinal ZOOLOGICO). Tendo em vista que o significante nao é a realizagao cconcreta do signo (mas sim uma representacao mental abstrata), 0 conceito de signiticante ou signo pode se aplicar a lingua oral ou a lingua de sinais. Trata-se de um fenémeno psiquico, que se realiza por meio de mais do ‘que uma modalidade (sonora ou gestual) Para Coelho Netto (1999), esta significagao conduz, de imediato, a questdo da denotagao e conotacao do signo. De um signo denotativo pode-se dizer que ele vei- cula 0 primeiro significado derivado do relacionamento entre um signo e seu objeto, JA 0 signo conotativo poe em evidéncia outros significados que vém agregar-se 0 primeiro naquela mesma relacao signo/objeto. M_LICENCIATURAS Todos esses agentes da comunicacao (0 emissor, © receptor, 0 objeto e seus significado e significante, provocando diversas significagGes em cada individuo), ganham novas personificagdes quando colocadas no palco das informagdes geradas pela interagdo homem- sociedade. Faz-se importante também lembrar a distingao entre “gesto” e “sinal”. Muitos sinais apresentam formas icd- nicas, i.e., uma forma linguistica da lingua de sinais que tenta copiar o referente real das caracteristicas visuais. Os sinais das linguas visuoespaciais, como detalhare- mos mais adiante no estudo, pertencem ao conjunto de unidades minimas que formam unidades maiores € ‘sao formados a partir da combinagao dos parametros fonolégicos de configuragdo de maos, locagao, movi- mento, orientagdo das maos e expressdes ndo-manuais, dessa forma, 40 convencionais, ou seja, possuem significados combinados por um grupo social. Ja os ‘estos nao apresentam correspondéncia com os itens lexicais do padrao adulto nas linguas sinalizadas e nao apresentam um contexto linguistico, mas constituem-se ‘apenas como a arte da imitagao. 550 ee

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