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ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM JUuRANDYR LUCIANO SANCHES ROSS GEOMORFOLOGIA Makisa De SouTo MaTOs FIERZ, s pesquisas em Geomorfologia, como em qualquer outro ramo das ciéncias que estudam a Terra, percorrem trés etapas: trabalho de gabinete ou escrit6rio, trabalho de campo e trabalho de laborat6rio © ‘trabalho de gabinete constitui-se, sobretudo, na elaboragio do projeto, nas pesquisas € na interpretagio de dados. Para as pesquisas bibliogriticas, cartograficas e de documentacao pré-existente, podem ser utilizados diversos materiais, como livros, artigos de revistas, jornais, teses, dissertagoes, arquivos de fotos aéreas, imagens de radar, imagens de satélites, arquivos de mapas topogréficos e mapas teméticos de Geologia, Pedologia, Geomorfologia, vegetacio, usos da terra, climaticos, dados hidrol6gicos entre intimeros outros. Inclui-se no trabalho de gabinete a interpretacao de fotos aéreas ¢ de imagens para producdo de mapas teméticos preliminares, que serio confrontados com os dados obtidos em campo e em laboratério. Entre as pesquisas que podem ser consultadas, destaca-se 0 trabalho desenvolvido pela divisio de recursos naturais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, 1995), que inclui mapeamentos ¢ trabalhos de campo em Geomorfologia. Esta divisio produziu um manual técnico que oferece roteiro detalhado para abservacées, descrig6es e interpretacdes de fatos geomorfoldgicos geoldgicos e pedoldgicos e que pode servir de apoio as pesquisas sobre o relevo e sua dindmica atual e pretérita, Outra obra de referéncia € Geomorfologia:exerccios, téenicas eaplicagées, organizado por Guerra e Cunha (1996). Esse trabalho, produzido com a colaboracao de varios profissionais, foi 0 primeiro livro de aplicacao de técnicas em Geomorfologia no Brasil A pesquisa de campo pode ser dividida em trés momentos: 0 primeiro caracteriza-se pela observagio e descricao dos fatos com a maior precisio possivel; © segundo diz respeito & interpretacio de fotos e imagens de radar e de satélites para construir mapas; ¢ o terceiro refere-se & producao de ensaios de campo ¢ experimentos. Este capitulo € uma contribuicao a sistematizagao das técnicas aplicadas em Geomorfologia, sem a pretensio de abranger sua totalidade 5.1 CARTOGRAFIA GEOMORFOLOGICA COMO SUPORTE TECNICO DA PESQUISA A cartografia do relevo ganhou importancia na Europa, principalmente no Leste europeu, apés a Il Guerra Mundial por dois principais motivos. 69 PRATICANDO GEOGRARIA 70 O primeiro foi o desenvolvimento de bases tecnolégicas, avides ¢ fotografiss aéreas e — a partir da década de 1970 — a utilizagao de sensores remotos com plataforma em avides a jato ¢ em satélites, Isto permitiu a produgio de imagens de radar e de satélite, que passaram a ter ampla aplicacio em pesquisas de recursos naturais, como: relevo, solo, rochas, gua, clima, vegetagio. O segundo motivo foi a necessidade dos entao paises comunistas — com destaque para a URSS, Polénia, Tchecoslovaquia ¢ Alemanha Oriental ~ de demonstrar a utilidade da Geomorfologia como instrumento para desenvolvimento econémico ¢ social, através do uso de mapeamentos de recursos naturais e do planejamento territorial No Brasil e na Australia, paises com grande dimensao territorial, a Gcomorfologia firmou-se por sua contribuicio para projetos de levantamento dos recursos naturais com mapeamentos geomorfolégicos, utilizados no Projeto Radambrasil (Brasil, 1970/1985) e da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization) (a partir de 1945) O mapa geomorfolégico é um importante instrumento na pesquisa do relevo e corresponde ao que Tricart (1965) apresenta como aquilo que constitui a base da pesquisa, ¢ ndo a concretizagio gréfica da pesquisa jé realizada, Ele é, ao mesmo tempo, o instrumento que direciona a pesquisa ¢ sua sintese, produto da conclus8o desta. A carta geomorfoldgica € indispensavel na questio do inventério genético dou relevo. Para claboré-la, € nccessério conhecer os elementos de deserig¢io do relevo; identificar a natureza geomorfolégica de todos os elementos do terreno & datar as formas. Para Tricart (1965) os elementos de descricao do relevo sto informagoes que devem ser obtidas em cartas topogrificas, acrescidas de informacées que estas nao fornecem, como rupturas topogréticas ¢ rebordos de pequenos patamares. A identificagao da natureza_geomorfolégica dos elementos do terreno € realizada por meio de simbologia gréfica e tem carter genético. Quando se registra um front de cuesta, ou uma crista sinclinal, fornece-se informacées ligadas & sua génese. A datagio das formas, ainda que relativa, € primordial para identificar as formas herdadas de formas vivas que continuam se desenvolvendo na atualidade; a0 mesmo tempo, ajuda na explicagao de sua génese Tricart (1965), discute a concepgao € os principios da carta geomorfolégica detalhada e lembra que a descrigio razodvel dos fatos geomorfolégicos representa categorias de fendmenos muito diferenciados e depende da escala adotada ‘Afirma que as cartas de pequena escala sao orientadas para representar fendmenos morfoestruturais ¢ lidam com ordens de grandeza superiores, acima de uma a algumas dezenas de km2, Ja as cartas de escalas maiores, de detalhe, enquadram-se em ordens de grandeza inferior ¢ seu uso é mais adequado as formas de dimensbes iguais ou inferiores a uma dezena de km?, 0 que favorece as formas esculturais assumirem maior significado. Afirma também que as cartas geomorfolégicas detalhadas devem ser compostas por dados de quatro naturezas diferentes a) dados morfométricos, obtidos a partir de carta topografica; b) informagées _morfograficas, registradas por meio de simbologia que indique no s6 o fenémeno, mas também a sua origem, como escarpa de falha ao invés de apenas escarpa; 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA c) dados morfogenéticos, indicagao da génese das formas registradas no mapa por meio do uso de simbolos, como terraco fluvial, planicie fhivio- lacustre etc. Os simbolos devem oferecer, a0 mesmo tempo, a informagio descritiva e a genética, 0 que torna as informagées morfograficas estreitamente ligadas as morfogenéticas, 4d) cronologia, estabelecimento da idade das formas, distinguindo as formas funcionais das formas herdadas (paleoformas). As paleoformas indicam os processos pretéritos, enquanto as formas atuais permitem definiro sistema mortogenético operante na regiao. A cartografia geomorfolégica deve mapear o que € observavel € nao o que se deduz da anélise geomorfolégica. Em primeiro plano, os mapas devem representar os diferentes tamanhos de forma de relevo, dentro da escala compativel. Os planos secundérios tratam da representagio da morfometria da morfogénese ¢ da morfocronologia, que se vinculam diretamente a tipologia das formas, A cartografia geomorfoldgica utiliza os mesmos principios adotados nas cartografias de solos e nas geolégicas, que representam os tipos de solos ¢ as formacoes rochosas para, entio, fornecer outras informacdes relativas & sua idade, génese e demais caracteristicas de um modo descritivo no corpo da legenda A cartografacio € andlise geomorfol6gica podem seguir os pressupostos da metodologia proposta por Ross (1990 e 1992) Moroestatures« Moroescullurasno Esta de S80 Pau Morfoostuturas 1 Morfoestutura om estrturas dobradas -rochascrstalinas (no detaadas neste exemplo} 2- Morfoestutura om bacia sedimentar~rochas sedimentares. 2.-Morfoescultura em planalto (esculido em rochas sedimentares) 2.11 Tipos de formas ou padres de formas semelhantes — colinas de topos pequenos e convexos 2.12. Tipas de formas ou padrdes de formas semelhantes —colinas de topos ampls e convexos 2.13- Tipos de formas ou padres de formas semelhantes —colins de topos ampls eplanos 2.14. Formas om escarpa com patamares estuturais 2.2 Morfoescutura em depressio peifrica {LL1-Tipos de formas somelhantes~colinas de topos amplos e convexcs 122-Tipos de formas somelnantes~colinas de topos amplose planos Formas de vertontos 2112.1- Forma em colina de topo comvexo O primeiro taxon representa maior extensio em area e corresponde as unidades morfoestruturais. E identificado em imagens de radar e de satélite € controlado em trabalho de campo e cartas geolégicas. Na representacao cartogréfica, cada unidade morfoestrutural é identificada por uma familia de tons de cores. Fig. 5.1 Morfoesiruturas¢ rorfoesclturas no Estado de Sao Paulo 7 PRATICANDO GEOGRAFIA 72 O segundo téxon refere-se as unidades morfoesculturais contidas em cada morfoestrutura. Do mesmo modo que o anterior, € identificado com o auxilio de produtos de sensores remotos e controlado por meio da investigacio de campo. As unidades morfoesculturais sao identificadas por tons de determinada cor. Por exemplo, se a cor verde indica determinada morfoestrutura, 0s variados tons de verde indicarao suas unidades morfoesculturais O terceiro taxon representa as unidades morfol6gicas ou padrées de formas semelhantes contidos nas unidades morfoesculturais. Corresponde &s manchas de menor extensao territorial e so definidas por conjuntos de tipologias de formas (tipos de relevo), que guardam entre si elevado grau de semelhanga quanto ao tamanho ¢ ao aspecto fisiondmico. Esses padres caracterizam-se por diferentes intensidades de dissecacao do relevo ou rugosidade topografica, por influéncia dos canais de drenagem temporérios € perenes. As unidades morfolégicas ou padrdes de formas semelhantes podem ser, segundo sua natureza genética, de dois tipos: formas agradacionais (acumulacao) € formas denudacionais (erosio). Para sua identificacao, podem ser seguidos os procedimentos de mapeamento geomorfolégico adotados pelo Projeto Radambrasil: as formas agradacionais recebem a letra maitiscula A (de agradacao) acompanhada de duas letras mindsculas, que determinam a génese ¢ 0 processo de geracio da forma de agradacao. Por exemplo, Apf—A de agradagao ou acumulacao; p de planicie e f de fluvial. Outras formas de agradacao possiveis sao as planicies marinhas (Apm), planicies lacustres (Apl) etc. No caso das formas denudacionais, a letra maitiscula D é acompanhada de uma letra mintiscula que indica a morfologia do topo da forma individualizada, reflexo de seu proceso morfogenético. As formas podem apresentar caracteristicas de topos agueados (a), convexos (c), tabulares (t) ou absolutamente planos (p). conforme apresentado na Tab. 5.1 Tab. 5.1 Padrdes de formas de relevo D - Denudacio (erosdo) ‘A -Acumulagao (deposigao) a - Formas com topos agucados ‘Apf - Formas de planicie fluvial Dc - Formas com topos convexos ‘Apm - Formas de planicie marinha t- Formas com topos tabulares Apl- Formas de planicie lacustre Dp - Formas de superficies planas Api- Formas de planicie intertidal (mangue) De - Formas de escarpas ‘Ad- Formas de campos de dunas Dv-- Formas de vertentes AAtf- Formas de torracos fluviais ‘Atm - Formas de terragos marinhos Os conjuntos de formas denudacionais sio batizados de Da, De, Dt e Dp ou outras combinagdes que aparecam durante o mapeamento. Estas denominagGes si0 acrescidas de algarismos arabicos extrafdos da matriz dos indices de dissecacao. Por ‘exemplo, Dc31 significa forma denudacional de topo convexo com entalhamento do vale de indice 3 (20 a 40 metros) e dimensao interfluvial de tamanho médio (300 a 700 metros) 5. ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA A Timensio Beil 37800 ‘soma mena il i a ee oa e 2 @ 20840m eon Tae ® rN ea 4028m we 3 @ eNO oN 100 an © 6 EN x 100m an 8 ovat ONY aerate Va bt LOUIS © quarto téxon é representado pelas formas individualizadas indicadas no conjunto. A unidade morfolégica ou padrao de formas semelhantes tipo Dc33 constitui-se por formas de topos arredondados ou convexos ¢ vales entalhados que, individualmente, caracterizam-se como morros. A forma individualizada é um morro de topo convexo com determinadas caracteristicas de tamanho e inclinacao de vertentes, gerada por erosio fisica e quimica, ¢ faz parte de um conjunto maior, © padrao de forma semelhante (© quinto téxon refere-se as partes que compéem as formas do relevo, as vertentes. Fle s6 pode ser totalmente representado cartograficamente com auxilio de fotografias aéreas em escalas de detalhe de 1:25.000, 1:10,000, 1:5.000 Tab. 5.2 Matriz dos indices de dissecagao do relevo (escala 1:100.000) Muito Fraco(1) (< de 10m) " 2 8 “ 15 Fraco (2) (10a 20m) a 2 B a B Maio (3) (20.2 40m) 31 32 3 4 5 Forte (4) (40 a 80m) a 2 8 “4 5 3 54 5 Muito Forte (5) (> 80m) 51 82 Fig. 52 Paadroesdedissecagio do relevo (A) eexemplos de padres de disecagito aplcdoes a escalas médias (1:400.000, 1250.00) 73 PRATICANDO GEOGRAFIA Fig. 53 Setores de verte. ‘Mapa de relevo com Caplicéoe! para escalas 1:25.000, 1:10.000¢ 45.000 7 ou imagens de satélite de alta resolugio espacial. Nestes casos, as vertentes so indicadas por seus diversos setores que estabelecem determinadas caracteristicas genéticas. Os setores de vertentes podem ser identificados como: escarpado (Ve), convexo (Ve), retilineo (Vr), céncave (Vcc), em patamares planos (Vpp), em patamares inclinados (Vpi), topos convexos (Te), topos planos (Tp) ete Ve = Vertente atiines Ve - Vertante convex Ver - Vertantectncava Pe - Patamar convexo Po ~ Patamar plano Te Topo convexo Tp. - Topo plana, O sexto téxon corresponde as pequenas formas de relevo que se desenvolvem a0 longo das vertentes, geralmente por interferéncia humana. Sio formas geradas pelos processos erosivos e acumulativos atuais. Nesses casos destacam-se as ravinas, vocorocas, terracetes de pisoteio de gado, deslizamentos, corridas de lama, pequenos depdsitos aluvionares de indugao antrépica e bancos de assoreamento. Também se enquadram nesse téxon os cortes, aterros, desmontes e outras formas produzidas pelo Homem. Estas formas de relevo s6 podem ser representadas em escalas grandes nas quais € possivel cartografar detalhes dos fatos geomérlicos indicados em fotos aéreas ou no campo 5.2 MORFOMETRIA COMO RECURSO TECNICO PARA ANALISE GEOMORFOLOGICA Existem varios recursos técnicos para medir as formas do relevo, que se aplicam tanto aos mapas quanto ao trabalho de campo. As declividades das vertentes podem ser medidas em campo com o uso de clinmetro ou de buissola geol6gica, ou por meio da elaboracao de mapas clinograficos, bastante divulgados em nosso meio desde a contribuigao de De Biasi (1992) Atualmente, sistemas de informagdes geograficas como o Arcview, Spring, Idris, Ilwis etc, possibilitam a construgio de mapas isoclinograficos pelo processamento 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA digital de dados numéricos topo- grificos, Antes do uso dessa tecnologia, os mapas clinogréficos ou de declividade eram elaborados manualmente, utilizando como ponto de partida mapas topograficos de diferentes escalas. Para tal claboragio, monta-se 0 ébaco (Fig. 5.5) com os intervalos de Fig 54 declividades que se deseja representar, em funcao da escala e da eqitidistancia — Esjuematopoyéico das curvas de nivel ou isofpsas. Em seguida, percorre-se com 0 dbaco as curvas de nivel do mapa e elabora-se a divisio dos espacos entre curvas por poligonos demarcaveis pelo percurso das classes de declividades estabelecidas no abaco, conforme descreve De Biasi (1992). Acetato /Fenda Hi outras técnicas de morfometria, como aquelas que tém sido utilizadas Fig. 55 para a dissccacao do relevo através da contagem de crénulas (reas amostrais Abaco estabelecidas dentro dos polfgonos de formas homogéneas separados na interpretagio das imagens) nas imagens de radar, a técnica da matriz de dissecagio do relevo desenvolvida pelo Projeto Radambrasil e modificada por Ross (1992) que opera com as dimensdes dos interflivios na horizontal ¢ com os entalhamentos dos vales na vertical, as técnicas de medidas de freqtiéncia de rios (Fr) ou canais de drenagem, e as de densidade de drenagem (Dd). Esta tiltima medigao se expressa na formula, Dd = Ctlcomprimento total dos canais de drenagem) A (area) Para calcular o comprimento dos canais de drenagem utiliza-se o curvimetro, que consiste de uma roldana com medida de diferentes escalas. LItiliza-se 0 espago adequado & escala do mapa com o qual se esté trabalhando ou software de mapeamento O comprimento total dos canais (Ct) ¢ a drea (A) podem ser calculados para determinada bacia hidrografica; sub-bacia; mancha individualizada por foto- identificagao ou por amostras circulares aplicadas no interior das manchas nas bacias hidrograficas. O célculo da freqtiéncia de rios (Fr), da mesma forma que a densidade de drenagem, pode ser utilizado para se estabelecer indices de dissecacio do relevo 75 PRATICANDO GEOGRAFA, Este célculo se expressa pela férmula Fr = NT (iwimero total de canais (area) Outro indicador que pode ser utilizado é a razao de textura (T), cujo calculo se expressa pela férmula T= —_NT (nsimero de canais) P (perimetro da bacia ou da amostra) Para calcular 0 perimetro também se utiliza 0 curvimetro ou software de mapeamento Essas formulas podem ser aplicadas com diferentes escalas de trabalho € com a utilizagdo de diferentes sensores (imagens de radar, de satélite, fotos aéreas) ou de forma simplificada, apenas com 0 auxilio de boas cartas topogréficas. Entretanto, quando se trata de areas em que a intensidade de dissecagio do relevo € elevada, as cartas topograficas tendem a apresentar a rede de drenagem simplificada, o que impede seu uso exclusivo. Nesses casos, € imprescindivel a utilizacao de fotos aéreas. Outra situagao que dificulta a aplicagao dessas medicées é em situagées com escalas pequenas, como 1:100.000 ou 1:250.000, em relevo de elevada dissecagao. Em tais escalas, tanto imagens de radar quanto imagens de satélites apresentam grande dificuldade para identificar a rede de drenagem, devido a sua clevada densidade. Isso torna praticamente impossivel a obtencao de medidas de densidade de drenagem (Dd), freqiiéncia de rios (Fr) ou razio de textura (T). Nesses casos pode-se aplicara mesma formula de razio de textura (T), substituindo-se o némero total de canais (NT) pelo niimero total de crénulas: T = NeCiwimero total de erévalas A (rea) A rugosidade topografica é representada por meio da razdo de textura, mas ao invés do niimero total de canais, utiliza-se no célculo o ntimero total dos pequenos divisores ou espacos interdrenos, que representam as formas do relevo. Para facilitar 0 trabalho, deve-se optar pela utilizagio de amostras circulares de area conhecida ¢ proceder & contagem, dentro de cada amostra, de cada uma das tipologias de padrao de forma do relevo, representadas por manchas pré- identificadas de padrdes de formas semelhantes, Tais propostas de mensuragio para estabelecimento de indices de dissecacao do relevo séo mais apropriadas para escalas pequenas e médias (1:250.000, 1;100.000, 1:50.000). Com escalas maiores, que ressaltam maiores detalhes (1:25.000, 1:10.00, 1:5.000), deve-se utilizar 0 mapeamento de elementos das formas, identificando a tipologia de segmentos de vertentes. Nesses casos, os indices de dissecacao serao dados pelas classes de declividade, nao pelos métodos anteriormente discutidos. 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA 5.3 TECNICAS DE CAMPO: ENSAIOS E EXPERIMENTOS: Os ensaios € experimentos de campo constituem 0 terceiro momento das pesquisas em Geomorfologia. O primeiro é observare descrever os fatos; 0 segundo ¢ interpretar fotos e imagens de radar e de sat¢lites para construir mapas; ¢u terceinu & produzir ensaios de campo e experimentos com o objetivo de obter informagées para confrontar resultados e extrair conclusdes das pesquisas realizadas. As técnicas de campo em Geomorfologia utilizam também as empregadas nas pesquisas em Pedologia, pois ambas estdo intrinsecamente relacionadas. Desse modo, sugere-se consultar 0 Cap. 6, que trata das técnicas em Pedologia para melhor compreensao dos fatos. 5.3.1 EXPERIMENTOS DE CAMPO Entre os experimentos mais utilizados em campo estéo as parcelas para medir erosao dos materiais particulados dos solos provocada pela aco mecanica das éguas das chuvas. Esses experimentos devem ser instalados em diferentes condigdes de relevo, solos e cobertura vegetal para que os dados produzidos possam ser utilizados para comparacao ¢ andlise. Deve-se sempre tomar locais com algumas variéveis fixas ¢ investigar a variagao das demais. Por exemplo, toma-se como varidveis fixas a morfologia da vertente, a declividade fixa do sctor da vertente escolhida 0 tipo de solo — vertente cOncava, com declividade de 20% e solo de textura média (argilo-arenosa). Os experimentos sao instalados em terrenos com essas caracteristicas de relevo € solo, € variam-se os sitios em fun¢ao da cobertura vegetal ¢ do uso da terra instalam-se parcelas sob a mata natural, sob um bosque de silvicultura, em terrenos com pastagem, em terrenos com agricultura de ciclo curto (soja, milho, trigo, algodio etc.), em terrenos com agricultura de ciclo longo (citricultura, café, cacau, pimenta do reino, frutas arbéreas etc.). As variagdes do parimetro estudado podem ser realizadas em fungao das estacoes climaticas a0 longo do ano ou dos tipos climaticos regionais. Enfim, ha uma grande gama de possibilidades para se trabalhar com os experimentos de campo. i) Procedimentos técnicos para os experimentos com calhas de Gerlach A finalidade desse experimento é analisar a dinamica erosiva com remanejamento/transporte de materiais dos solos, comparando-se diferentes situacdes, como: diferentes tipos de cultivo; solos diferenciados, variagao de volume ¢ intensidade das chuvas, tipos de vertente e grau de inclinagao, Os experimentos com parcelas delimitadas e fechadas com calhas para coletas, de sedimentos e gua constituidas por laminas ou placas de metal galvanizado que fecham trés lados de um retingulo, com um quarto lado posicionando na parte mais baixa da drea de amostragem, onde se instala a calha coletora, também de lamina de ferro. A calha é concctada a um tambor através de saida lateral de Agua, conforme Fig. 5.6. O trabalho do pesquisador e seus auxiliares é coletar, a cada chuva, o volume d’égua ¢ sedimentos armazenados na calha e no tambor, medindo-os, secando-os e pesando-os em balanga de preciso Importante lembrar que, 20 lado do experimento, € preciso instalar um pluvidmetro ou pluvidgrafo, para se obter simultaneamente dados sobre o volume das chuvas que ocorreram no episédio que transportou aquela quantidade de 7 PRATICANDO GEOGRAHA Fig. 5.6 arcela bara mmonitoramento de run-off (Guerra, £996 moficado) Fig. 5.7 ino deeosio visto em perfil (Guera, 1990, modifcado} 78 a aha coletora Tevey sedimentos contidos nas aguas da calha e do tambor. Esse procedimento devers ser permanente durante toda a experimentacao, que convém ser de pelo menos um ano, para conseguir melhor percepcio da dinamica erosiva em funcao dos periodos chuvosos e secos ) Procedimentos técnicos para experimento com os pinos de erosao A finalidade dos experimentos cof pinos de erosao é semelhante & finalidade do uso das calhas, analisar a dinamica erosiva frente as diferentes condigoes de relevo, solo, usos e clima. Os pinos de erosio devem ser instalados segundo os mesmos critérios adotados para as parcelas com as calhas de Gerlach — escolhem-se os sitios para experimentagio, tomam-se varidveis fixas ¢ uma varidvel seré testada, como a vegetacio ¢ 0 uso da terra. Pode-se também utilizar como varidvel fixa a cobertura vegetal/uso da terra e variar o relevo e o solo, Depende do que se quer investigar. A quantidade ea distribuigao dos pinos de erosao nos sitios de experimentacio pode ser variével, mas recomenda- aaa se dispor de mais que trés pinos por unidade de area pré-estabelecida como cinco pinos regularmente distributdos instalados em dois metros quadrados. Os pinos devem ser graduados de um em um centimetro e introduzidos no solo por impacto até atingir a medida escolhida, Monitora-se ao longo de certo tempo pré-estabelecido (meses ou ano), para verificar 0 quanto a erosio retirou de sedimentos ou para verificar a sedimentagao, no caso de areas em que esteja ocorrendo deposicéo de material. O valor € dado em centimetros de rebaixamento ou elevacao da superficie do solo. E muito importante verificar 0 comportamento do rebaixamento erosive nos espagos entre os pinos e espacos mais afastados, porque ha uma tendéncia 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA da ago de turbilhonamento da agua ao redor de cada pino que promove mais erosio ali do que nas partes em que nao ha pinos. Esse procedimento pode ser executado com uma linha nivelada nos topos dos pinos, medindo-se sua altura em relagdo & superficie du terrenu ci vérivs puntos. Com base nas medidas, extrai-se 0 valor médio das alturas, do qual se subtrai o valor inicialmente deixado acima da superficie do terreno, quando os pinos foram fixados. 5.3.2 ENSAIOS DE CAMPO: TESTES DE INFILTRAGAO_ Os testes de infiltracao indicam a capacidade do solo de receber volumes “agua e sta capacidade de armazenamento, estabelecendo relagdo com o tempo gasto no proceso. Os testes para medir infiltracgo de volumes d’égua podem scrrealizadosnasuperficic e sub-superficie do terreno. Para 05 testes de superficie utiliza-se © infiltrémetro de superficie, aes constituido por um tubo de metal ‘ua rigido ou de PVC vazado de ambos os lados, cujas dimensdes esto especificadas na Fig. 5.8 Para os testes de sub-superficie, perfura-se com trado pedolégico um orificio de até 70 cm de profundidade e pasea-se a operar as_medigdes, preenchendo-se seqiiencialmente 0 orificio com gua. Diameto da burota Disimetra da clindro i) Procedimentos técnicos para os testes de infiltracio Para os testes de infiltracao de superficie, se fixa o tubo de metal ou plistico no solo a até 5 cm de profundidade (Fig. 5.9) e passa-se a adicionar volumes pré- conhecidos de agua. Por exemplo, adiciona-se cinco litros d'égua a cada vez medem-se dois parimetros: 0 volume de gua consumido até a saturacao do solo € © tempo cronometrado para seu consumo, Procedimento semelhante é adotado para os testes de subsuperficie. Tanto nos testes de superficie como de subsuperficie pode-se medir 0 tempo total de consumo d'gua, 0 rebaixamento parcial do nivel gua € 0 tempo gasto para isso. Por exemplo, cronometra-se o rebaixamento de cada 5 ou 10 cm d’égua até 0 consumo total e adiciona-se novo volume de 5 litros até a saturagio do solo. A saturagio poderd nao ocorrer em fungao das caracteristicas texturais e da permeabilidade do solo. Quando isto for percebido, deve-se estabelecer um limite de tempo ou de volume d’égua adicionado para interromper o teste Os resultados obtidos por meio das medicées de infiltragio podem ser trabalhados com métodos estatisticos simples, como sua organizacao e comparagao Fig. 58 Infiltrometro de tubo de PVC com bureta sraduada (Coelbo Netto « Avelar, 1996, mnodificado) 79 PRATICANDO GEOGRAFIA 80 Fig. 5.9 Inftmer singles (Guer, 1996) ure em planilhas ou tabelas para elaboragao de grificos de de- CID ' monstracao. Tais resultados devem sercorrelacionadoscomosdados i subre sulos, relevo, cobertura =| yields vegetal e periodo _climatico yi (seco-timido) para _verificacao das diferengas comportamentais das infiltracbes. 5.3.3. ENSAOS DE CAMPO: TESTES DE RESISTENCIA A PENETRACAO. Os testes de resisténcia & penetragao de hastes metilicas no solo servem para medir 0 grau de resisténcia que os solos timidos, mas nio saturados d’égua, oferecem a penetracio sob impacto ou sob pressio. Estes testes indicam estado de compactagao dos solos. Os valores sio dados por kgf/cm? e podem ser obtidos com 0 uso de penetrémetro portatil ou de bolso ¢ penetrémetro de percussao. O penetrémetro portatil € normalmente utilizado para medir a resisténcia dos horizontes dos solos em cortes, perfis ou trincheiras com penetracio horizontal. O penetrémetro portétil tem uma pequena haste metilica graduada de 0.2455 kef que oferece leitura direta do resultado da resisténcia de penetracao. CS cgomis O valor indicado pelo anel medidor apés 1 Suporte para movimento do &mbolo 4 Anol mel -medigBo da presséo 2-Embolo conectado em mola interna 5 Esc 3- Haste ou pino da penetragio Fig. 5.10 Pevetrometo portstil a penetragio total da haste no perfil do horizonte do solo € o resultado do grau de resisténcia do solo, que variaré de sradadade0e4Skaion? 0 a 4,5 kgf/cm? Devem ser realizadas em tomo de cinco medidas para cada horizonte de solo para que se possa avaliar a tendéncia comportamental da resisténcia de cada horizonte de solo em cada um dos lugares selecionados, O penetrémetro de percussio ou de impacto é também conhecido como Penetrometro de Stolf, nome de seu criador. Esse equipamento foi desenvolvido Por pesquisadores do antigo IAA (Instituto do Agticar e do Alcool) Os testes com o penetrometro de percussio ou de impacto séo tealizados com a aplicagao vertical da haste metélica que recebe impactos de 4 kg através do cilindro de ago e se desloca 40 cm apoiado em vareta metilica, conforme Fig. 5.11 A haste metélica tem comprimento de 70 cm e imprimem-se quantos impactos forem necessérios para penetri-la no solo até seu limite de comprimento. A haste € graduada de 10 em 10 cm, ¢ devem ser contados quantos impactos so necessérios ara penetrar cada 10 cm, Sao realizados no minimo trés ensaios em cada local escolhido. Os testes devem ser efetuados com o solo imido, porém nao saturado de gua, preferencialmente no perfodo chuvoso de verso. 5. ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA a ih ofa ‘| Detalhe de f fT is aS ism len egal a um cr Fig. 5.11 Poverneto de § FR, toe mivl para apratarmanarne epeRINMATDA eee = Planalsucar— Sto Peaeaeeratiee, R, Ferman, J aro 6) pos0 que provera impacto Neto, Vil Kanag +) chapa para sorfxeds ne superficie do Maquina e Implements Solo, dando o nivel de referencia daleitura — Agrcolas Lida e protundiade, f Naess are Existem penetrémetros importados para medir a resisténcia dos solos, mas nao sao facilmente encontrados. © penetrémetro de percussao desenvolvido no Laboratorio de Geomorfologia da USP por Ross (1997) € montado em estrutura metélica desmontével, composto de um tripé com pernas de trés metros de comprimento, com uma delas regulavel. No vértice, possui uma roldana por onde corre 0 cordao que sustenta ¢ permite a elevacao do peso (cilindro de 16 kg). A haste é de ago, com comprimento de 1,40 me diametro de 3 cm. A seqiiéncia para sua aplicagao obedece as seguintes etapas i. selegdo dos locais dos testes a partir do mapeamento geomorfolégico, ii. escolha do ponto de instalagio do equipamento com regulagem de uma das pernas em funcao da declividade da vertente; iii fixacdo da haste a até 20 cm de profundidade, posicionada precisamente sob o prumo do martelo (cilindro); iy, aplicagao dos impactos, contando-se sua quantidade e a profundidade de penetracao da haste, graduada de 10 em 10 cm; v. altura da queda livre do cilindro deve ser constante nos ensaios experimentais utilizou-se a distancia de 1,2 m entre a base do cilindro ea topo da haste; vi. retirada da haste do solo ¢ feita mediante perfuragao lateral mesma com o trado. Os dados obtides com os penetrémetros podem ser trabalhados com métodos estatisticos simples tabulados em planilhas (tabelas) ¢ elaboracio de graficos que evidenciem as diferencas entre os resultados das medigbes de um mesmo lugar (ponto) e as diferengas entre os varios lugares (pontos) mensutados. 81 PRATICANDO GEOGRAFIA Fig. 5.12 Teste com penetrometro de perewssio (Ross, 1997) 82 a-b-c -Hastes de apoio ~3m © Haste regulével em fungo da inelinagéo do tereno 4 Haste de ago—1,20 m de didmetro3em aradvads de 10em 10cm © -Peso~martla de impacto —16kg { —-Roldanalcarretiha 9 Corda para impulsionaro martelo de impacto Pode-se aplicar testes estatisticos para verificar o desvio padrio entre os resultados das medicées. Os resultados gerais devem ser correlacionados com os tipos de relevo, solos, coberturas vegetais para se avaliar as diferengas ¢ estabelecer conclusdes. Os testes com os penetrémetros visam fornecer informagées sobre a resistencia que os solos oferecem & penetracao de hastes metélicas, permitindo perceber quais tipos de solos, em detetminadas condicGes de relevo, apresentam-se mais ou menos vulneraveis s atividades erosivas 5.4 TECNICAS DE PFSQUISAS GFOMORFOLOGICAS FM AREAS COSTEIRAS As técnicas de anélise geomorfolégicas aplicadas 3s regides litoraneas sto grandemente diferenciadas das técnicas aplicadas as éreas continentais, devido as diferencas morfodinamicas. O litoral apresenta interface com trés ambientes —o continental, 0 marinho © o atmosférico -, enquanto nas terras interiores a interagio ocorre mais entre atmosfera e litosfera. Entre as técnicas de andlise da geomorfologia costeira sero destacadas algumas das mais utilizadas. 5.4.1 ANALISE GRANULOMETRICA, Na pesquisa voltada para a anlise granulométrica de amostras de areias 0 método utilizado compreende coleta em campo ¢ andlise em laboratério. Para coleta do material em campo € necessério abrir trincheiras no sentido transversal & praia para identificar as camadas de sedimentagdo, como apresenta Muehe (1996). Podem-se aproveitar as trincheiras para estudar, desenhar ¢ fotografar a disposigao dos estratos, com a possibilidade de identificar os paleoambientes de rio, dunas e praias. Se o objetivo principal da pesquisa for apenas identificar a granulometria do material, nio seré necessério preservar as camadas. Caso contrario, € necessario utilizar um tudo de PVC ou de aluminio para testemunhar (coletar) a amostra. O tamanho do tubo vai depender da profundidade que se deseja atingir. 5 ALGUMAS TECNICAS DE PESQUISA EM GEOMORFOLOGIA Em laboratério, as amostras coletadas em testemunhos precisam ser conservadas sob refrigeragdo para que as camadas nio se desfacam no momento da abertura do tubo. O tubo deve ser partido ao meio para facilitar a observacao das camadas, porquie sas Interais ficam alteradas e ha migracéo de material Em seguida, inicia-se a observagio visual dos padrées de textura, cor, estrutura, presenga de materiais biodetriticos. Esses tiltimos podem ser datados. Procede-se, entéo, 2 andlise granulométrica do material de cada camada, Durante a observagio do testemunho € importante produzir um desenho com escala, descrever suas caracteristicas e fotografé-lo 5.4.2 PERFIL PRAIAL Outra técnica muito utilizada na anélise geomorfol6gica € a do perfil praial, porgao emersa e submersa. O uso do teodolito de nivelamento topografico é muito utilizado para determinar a variagio do perfil praial. Utiliza-se o nivel topogréfico ou teodolito em conjunto com uma mira topografica, espécie de régua graduada de até 4 m de altura, que possibilita a visualizagao com 0 teodolito. Segundo Mehe (1996), o nivelamento € feito medindo-se a diferenga de altura entre o nivel ou teodolito, cuja altura € previamente determinada, e a superficie do terreno ao longo do perfil. As distancias entre os pontos de amostragem € pré-determinada e pode ser medida em campo com uma trena, as medidas de distancia podem ser feitas por leitura dtica por meio do método de estadimetria © método é baseado na semelhanga de tridngulos, em que a relagao entre a distancia focal (altura do triangulo) e a distancia entre duas marcagoes (retfculos) na ocular do nivel do teodolito (base do triangulo) serve para a determinagio da distancia entre o aparelho e a mira. Para isso, basta determinar a altura da base do novo triéngulo na posicao da mira através da diferenca das leituras na mira, do reticulo superior e inferior. Esta diferenca, multiplicada por 100, que € a relacio distancia focal/base do triangulo na ocular, forece a distancia em metros. Equipamentos topogréficos modernos permitem a determinacao de distancias por emissao e recepcao de ondas eletromagnéticas na faixa do infravermelho, mas sio de custo relativamente elevado, Muehe (1996) Método mais simples para determinagio do perfil praial ou perfil subaéreo. citado por Muehe (1996) € 0 método das balizas de Emery, que consiste em duas balizas de 1,5 m de altura, pintadas em faixas de cores alternadas com largura de 2 cm, € montada numa base que as mantém em pé. A diferenca de altura entre dois pontos, ao longo do perfil, é determinada pelo observador da baliza de ré, obtida pela projecdo de uma linha imaginéria que liga a linha do horizonte ao topo da baliza mais baixa, que pode ser a baliza de vante ou a de ré. A diferenga de altura é determinada por contagem das faixas de 2 cm pintadas nas balizas e permite aproximacdo de até 1 cm, preciso suficiente para este tipo de ambiente. A distancia horizontal, entre as balizas, é medida com uma trena ou pelo comprimento da baliza tal como mostra a Fig. 5.13. Os dados obtidos com as medig6es em campo podem ser anotados em forma de tabela e ser transferidos para uma planilha eletrdnica, que permite a claboragio de graficos. Os graficos dotados com as cotas de altitude e distancia mostram o perfil da praia. 83 PRATICANDO GEOGRAFIA _horizonte bala Fig. 5.13, Balizas de Emery para 84 smedir perfil de praia (Komar, 1908) Para a determinacao do perfil da regiao submersa adjacente ou continuagio do perfil de praia é necesséria a utilizagdo de um equipamento chamado ecobatimetro acoplado a um barco. Para tanto, € preciso fazer uma calibragem do aparelho no ponto em que se encerrou a medicio do perfil praial com iétodo de estadimetria € apoio do equipamento instalado a montante, ou ainda, se pode utilizar equipamentos eletrnicos. As leituras angulares sio feitas em intervalos de tempo constantes, por exemplo, de 3 em 3 minutos, sendo o instante da leitura transmitida via rédio para a embarcacao, quando o operador do ecobatimetro efetua uma marcacao no perfil com registro do horario da leitura arb rvariagso de nivel corda 5.5 CONSIDERAGOES FINAIS Os procedimentos técnicos de campo € de laboratério em Geomorfologia so parcialmente interativos com os procedimentos de dreas do conhecimento como Pedologia e Geologia, pois estas especialidades pertencem as Ciéncias da Terra. A escolha de aplicacio de um experimento em detrimento de outro ocorre em fungio dos objetivos da pesquisa ¢ da escala de anélise. A preocupagio central é aplicar os experimentos mais adequados a cada tipo de pesquisa, sempre com 0 objetivo de tornar o produto da pesquisa mais consistente e menos empfrico-intuitivo, de modo a demonstrar as hipsteses ou responder 8s questdes inicialmente formuladas com os resultados Os conceitos, técnicas € aplicagdes utilizados em Geomorfologia aqui apresentados nao tém a intengao de abranger sua totalidade ou encerrar o assunto, ja que cxistem indimeras outras técnicas que podem ser aplicadas. 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA m Pedologia, a escolha da técnica a ser utilizada € definida pela problematica abordada. As técnicas para estudar solos sao numerosas © envolvem observacao, anilise, representagio cartogréfica € abrangem diferentes niveis de complexidade, ‘As pesquisas cientificas relacionadas ao estudo de solos sio extremamente amplas € compreendem desde questées ligadas prépria Pedologia (génese, funcionamento hidrico, fertilidade, erosio, canservacio, uso, producao, gestéo, classificacdo, mapeamento), aquelas mais gerais, decorrentes do papel de interface desempenhado pelo solo na superficie terrestre — espaco de trocas entre atmosfera, litosfera, hidrosfera e biosfera Algumas questées relacionadas ao papel do solo como interface sao: produgao ¢ qualidade de agua em bacias hidrograficas, balangos hidrogeoquimicos em micro- bacias; mudancas climaticas, processos geomorfogenéticos e morfodinamica atual de vertentes; sistema solo-planta-atmostera; ciclo de CO2 no planeta através de processos de alteragdo das rochas ¢ dos processos pedolégicos de precipitagio, de carbonatos e de argilas; ciclos de elementos quimicos na superticie terrestre; poluigao ambiental e outras, relacionadas a Geotecnia e Engenharia Civil De um modo geral, as técnicas para estudos de solos sao distribuidas em trés Ambitos de trabalho distintos, mas complementares ¢ interdependentes: gabinete, campo e laboratério. H4 menor niimero de livros que tratam das técnicas de campo. Em Portugués sao apenas duas as obras de referéncia: Lepsch (2002) € Lemos ¢ Santos (1996). As técnicas de laboratério so as mais difundidas, com vasta literatura nacional e internacional. A obra de referéncia nacional € 0 trabalho publicado pela Embrapa em 1997; técnicas de micromorfologia de solos foram publicadas por Castro et al (2003) e uma referéncia basica sobre a quimica do solo €0 livro de Luchese et alii (2002). As técnicas de gabinete incluem desde técnicas de levantamentos gerais bibliograficos e cartograficos para estudo do meio fisico, até aquelas para confeccao de mapas de solos Neste capitulo, serio abordadas apenas as técnicas de base para trabalhos de campo, as que permitem realizar uma descrigio das caracteristicas morfolégicas dos solos no terreno, O solo pode ser caracterizado pela natureza de seus constituintes € por suas diversas escalas de organizacées que abrangem desde a microscépica (organizagées elementares dos constituintes) até as organizagées macroscépicas (agregados, horizontes, perfis). Estas tiltimas podem ser de dois tipos: bidimensionai expresso vertical (sucessao vertical de horizontes) ¢ expresso lateral (distribuigao com SIDNEIDE MANFREDINI SONIA MARIA FURIAN Dias JOSE PEREIRA DE Queiroz NETO DEBORAH DE OLIVEIRA ROSELY PACHECO Dias FrkkeaKa, PRATICANDO GEOGRAFIA 86 de horizontes ao longo da vertente); ¢ tridimensionais (distribuicio de solos ou de sistemas de solos numa bacia hidrogréfica e na paisagem) Cada nivel de organizag’o pode ser apreendido por parimetros mor- fologicos, fisicos, quimicos e mineralégicos. Normalmente, os parametros morfol6gicos, como cor, textura, estrutura, porosidade, feicées pedolégicas, atividades biolégicas, sio estudados e descritos em trabalhos de campo. Trabalhos de campo em Pedologia para descricao das caracteristicas morfolégicas dos solos constituem etapas preliminares basicas das pesquisas em solos. Tal descricio permite delimitar horizontes e estabelecer relacdes entre eles, isto €, permite fazer inferéncias sobre fatores e processos envolvidos em suas formagdes, seus funcionamentos atuais e suas relagdes com a dinémica evolutiva da paisagem. Sao previstas as seguintes etapas para o trabalho em campo * Escolha dos pontos de observacao do solo na paisagem © Técnicas de observagio — Tradagem — Trincheira ou barranco * Descrigao das caracterfsticas morfoldgicas do solo: cor, textura, estrutura, porosidade, atividade biolégica, feigées pedoldgicas © hurizuntes 6.1 ESCOLHA DOS PONTOS DE OBSERVAGAO A escolha dos pontos de ébservacio do solo esté totalmente vinculada aos objetivos da pesquisa ¢, sobretudo, a escala do trabalho ¢ a area de estudo. Como o solo é um corpo tridimensional que se distribui na paisagem, os pontos de observacao podem ser estabelecidos a partir de ages conjuntas de gabinete — consulta © interpretacao de cartas geolégicas, geomorfoldgicas, pedolégicas, fotos-aéreas (padréo de drenagem, estruturas geol6gicas, litologia, padroes macro-morfol6gicos do relevo, dentre outras) — e de campo — observacio das caracteristicas superficiais como cor, rugosidade, padrio de distribuigio da vegetacéo e das formas das vertentes como rupturas de declive, sinais de erosio, estado da superficie etc. Apesar do solo ser um corpo anisotrépico (apresenta variagdes de uma deter- minada propriedade conforme a diregio que se examine), a variagio espacial de suas principais caracteristicas nao sao casuais. O perfil de solo tem anisotropia vertical devido a presenca de horizontes pedogenéticos, a passagem lateral de um tipo de solo para outro produz anisotropia horizontal. (Curi et al, 1993), Os processos pedogenéticos envolvem transferéncias de matéria e energia tanto na interface solo-atmosfera quanto no interior de seu préprio corpo ¢ sao fortemente condicionados pelo relevo. Em conseatiéncia, os pontus de ubservagao devem, sempre que possivel, ser locados ao longo das vertentes na linha de maior declive (toposseqiiéncia) ou em transectos preestabelecidos ligando, por exemplo, o interflévio ao eixo de drenagem, ou dois interfiivios entre si Dependendo do grau de detalhamento descjado, pode-se proceder a descrigao das caracteristicas morfolgicas do solo baseadas em amostras coletadas com trado ou em pedolitos (trinchciras ou barrances). 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA 6.2 TECNICAS DE OBSERVACAO No campo, a observacio do solo vale-se de instrumentos para seu exame € coleta. Sao eles: martelo pedolégico, trado de rosca (a); trado holandés (b); trado de caneco (c); enxadao; pi quadrada, pé reta € taca; fita-métrica e pedocomparador ~ caixa de madeira utilizada para organizar amostras de solo coletadas no campo, segundo sua organizacio macro-morfolégica, isto é, sucessio vertical ¢ distribuicao lateral de horizontes 6.2.1 TRADAGEM 120.om Tiadagem € a coleta de solo em profundidade com trado, utilizando com mais freqtiéncia 0 trado holandés, Em geral, a coleta é realizada de 0,10 em 0,10 m ou onde hé mudanca significativa de core textura do solo, pois a estrutura ¢ a porasidade sao dectndas pela gitn do trada no momento da coleta. As tradazens geralmente sao feitas onde nao ha cortes de estrada que permitem a visualizacao do perfil do solo. 6.2.2. TRINCHEIRA OU BARRANCO Em locais onde a coleta de solo por tradagem deixa dtividas sobre a organizagao do solo, devem ser abertas trincheiras com o uso de enxadas e pas. As trincheiras devem apresentar largura suficiente para que seja realizada a descri¢ao do solo (no minimo 1 m?) e, se possivel, atingir a rocha mae Os barrancos devem ser limpos com 0 auxilio do martelo pedolégico € da cenxada de cima para baixo antes de comecar a observagio e descricao, de forma a evitar contaminacao com materiais das camadas suprajacentes. A camada externa, sujeita & lavagem e dessecagio, deve ser completamente eliminada 6.3 DESCRIGAO E INTERPRETAGAO DAS CARACTERISTICAS MORFOLOGICAS DO SOLO Para realizar a descrigao do solo, a primeira coisa a observar € sua macro- organizac3o, seja numa secéo vertical, numa trincheira ou barranco ou nas amostras coletadas com trado, A macro-organizacio é observada pela presenca ou Fig. 6.1 Tnstrumentos atilizados para oexameecoleta de solo no campo (Lemos ¢ Santos, 1996) 87 PRATICANDO GEOGRAFIA 88 no de camadas horizontais mais ou menos distintas ¢ mais ou menos paralelas & superficie do terreno: os borizontes. Portanto, a primeira observacdo a ser feita é a distingao e a diferenciacao dessas camadas ou borizontes, Para diferencid-los, usa-se © parametro visual das cores. Pela delimitagdo das diferentes cores apresentadas pelo material, faz-se uma primeira distingio dos horizontes, Fm seauida, com © auxilio de uma faca, pode-se acrescentar ao visual, 0 parametro tatil, que implica sentir a resisténcia do material 3 penetracéo da ponta da faca por meio de sucessivas ¢ suaves batidas, para testar se 0s limites dos horizontes efetuados pela diferenciacao de cor representam, também, um limite de resisténcia do material, ja que esses critérios sao indicativos de caracteristicas morfoldgicas do solo.Os horizontes diferenciam-se uns dos outros por um conjunto de suas caracteristicas morfolégicas, conforme veremos a seguir: 6.3.1 COR Eamnisevidente das caracteristicas morfoldgicas do solo ¢ expressaa natureza € 0 estado de seus constituintes. De forma geral, a cor expressa a proporgio dos diferentes constituintes da fase sdlida do solo, Os principais constituintes minerais do solo sio a argila e o quartzo, que interagem diferentemente com os constituintes coloridos (6xidos de ferro e matéria organica). Alguns exemplos. * Matéria organica humificada: apresenta cores que vao do negro, castanho escuro ao cinza escuro. * Oxidos ¢ hidréxidos de ferro: desenvolvem cores que vio do vermelho escuro (hematita) ao amarelo e bruno amarelado (goetita) em meio oxidante; € cinza ao cinza azulado ou esverdeado, em meio redutor © Oxidos de manganés: aparecem como areia preta nos solos originados de rochas basicas. Sua caracterizagao pode ser feita com auxilio de ima comum. Desenvolve cores muito escuras, pretas ¢ cinzas escuros a muito escuiros, brilhante a opaca. * Argilas: sao opacas e esbranquicadas (incluindo a gibbsita) © Areias: sio transhicidas (quartzo), esbranquigadas (feldspatos), escuras (turmalina, dentre outros), opacas (manganés) ete. As argilas opacas © esbranquigadas atenuam a cor, enquanto 0 quartzo transliicido as ressalta. Podemos ter solos que apresentem teores de ferro e de matéria orgénica bastante contrastantes e expressem a mesma cor, em funcao da proporcéo argila/areia neles presentes, como apresentado na Tab. 6.1 ‘Como é€ impossivel descrever em palavras de forma precisa a cor do solo em todas suas nuances, utiliza-se, para isto, a tabela de cores Munsell (1994). Trata-se Tab. 6. Perfis 42 ¢ 43 do Levantamento de Reconhecimento dos Solos do Estado de Sao Paulo — Servigo Nacional de Pesquisas Agranémicas (SNLS}, Boletim 12, 1960 é z ~geareia Materia Varied 0 ila : ae fariedades de solos Yanga Toarcia "TEN FO P42 Latossolovermelho-escuro orto. 16 16 20 1295 PA3-Latossolo vermelho-escurofese erenosa 19 2 148 496 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA de um sistema universal que parte das cores primédrias do espectro e classifica as misturas entre elas, que representam as cores secundérias. Cada pagina da tabela corresponde a um matiz, Por exemplo, paginas correspondentes ao vermelho (R) € av amarelo (Y) as misturas (YR) entre elas; © 10R — 100% vermelho # 2,5YR— mistura contendo 1 parte de amarelo para 3 de vermelho # 5YR— mistura contendo 1 parte de amarelo para 1 de vermelho 7,5YR ~ mistura contendo 3 partes de amarelo para 1 de vermelho 10Y — 100% amarelo De acordo com a tabela de Munsell, a cor dos latossolos vermelho-escuro citados na Tab. 6.1 € 2,5YR 1 (vermelho-escuro). O que isso significa? Em cada pagina (matiz) da carta de Munsell, as colunas correspondem a tonalidades possiveis da car, ne valores (nalue) A primeira colina A esquerda corresponde a 10 tonalidades de cinza, entre 0 preto eo branco. No exemplo citado, a notagao 3 corresponde ao cinza muito escuro, que representa uma mistura de 3 partes de preto e 7 de branco, Horizontalmente da esquerda para a direita, € assinalada a intensidade de saturacao da cor (croma = chroma), que representa a mistura da cor do matiz com o cinza: quanto maior o ntimero que varia de 1 a 8, mais intensa é a cor. No exemplo, a notagao 4 significa uma mistura de 4 partes da cor com 4 partes de cinza muito escuro, A notagio da cor ¢ feita sempre na mesma ordem: em primeiro lugar o matiz, seguido da tonalidade (oalue), terminando com a intensidade (chroma) (Fig. 6.2). A umidade exerce grande efeito sobre a cor. A amostra de solo timido é mais escura do que a do seco. Estrutura e umidade interagem na manifestaggo da cor. A amostra de solo mothada e amassada tende a apresentar cor mais viva que a amostra estruturada timida. A amostra seca e triturada apresenta cor mais clara que a estruturada igualmente seca Em condigées de campo, nao temos controle sobre a umidade do solo no momento da descrigéo, A umidade pode variar de um ponto a outro, em profundidade, no interior do perfil e numa mesma profundidade ao longo da vertente, Para comparar as cores de amostras diferentes de um mesmo perfil ou de perfis diferentes, deve-se ter 0 cuidado de eliminar o efeito destas duas variaveis estrutura € umidade), adotando-se um procedimento padronizado para descrigao da cor na condigao de campo: © Cor umida: a amostra naturalmente estruturada € aspergida com gua € deixada em repouso por alguns momentos, para que a gua seja absorvida e se distribua homogeneamente. Em seguida, descreve-se a cor desse torrio timido com ajuda da tabela Munsell, * Cor molhada ¢ amassada; a amostra deve ser saturada com agua ¢ amassada entre os dedos até se transformar em uma pasta. Entao, procede-se & descricio da cor da mesma maneira. A cor de determinada camada de solo pode nao ser homogénea. Pode apresentar manchas (mosqueamento) que indicam segregacdes dos constituintes 89 PRATICANDO GEOGRAFIA ou presenca de feigdes pedolégicas diferenciadas, como estruturas, nédulos ou concrecées ferruginosas, calcérias, organicas. Faz-se necessério definir a cor destas diferentes feigGes ¢ explicitar seu tamanho, sua distribuigio ¢ abundancia, 6.3.2 TEXTURA ‘A textura do solo expressa a composicao granulométrica dos constituintes minerais do solo individualizados. Estes constituintes apresentam tamanhos bastante variados, por isso séo separados em classes. O limite entre classes definido em funcao do conhecimento que se tem das relagdes existentes entre 6 tamanho das particulas, sua natureza mineralégica e sua fungio no solo. As principais classes granulométricas sao: © Agila: (fragio < 0,002 mm de didmetro) € cons- eee titurda pelos minerais de argila propriamente ditos ; (filossiticatos), hidréxidos de aluminio (gibsita), °ee8 Gxidos € oxihidréxidos de ferro. De dimensoes 6 coloidais e superficie especifica clevada, esta fragio Fig. 62 ina da abel de Mansel 90 : compée, junto com a matéria organica humificada, a fase efetivamente ativa do solo, tanto quimica quanto 8 fisicamente. = « Silte. (fragao de 0,002 2 0,05 mm de diametro) constituida basicamente por minerais primiarivs, evéntualmente por secundérios (gibsita, por exemplo) Quanto maior 0 teor de silte, menor 0 grau de intemperismo quimico do solo. Dependendo da natureza mineralégica, esta frac3o pode representar uma reserva de nutrientes. Do ponto de vista fisico, solos com alto teor de silte apresentam estrutura adensada, pouco porosa, 0 que compromete a circulagao da agua e as trocas gasosas. Arca: (fragio de 0,05 a 2,0 mm de diametro) € constituida basicamente por quartzo. Quimicamente inerte, esta fragio funciona como esqueleto do solo. M No trabalho de campo, devem ser descritos o tamanho, forma, distribuigéo, grau de intemperismo € natureza mineral6gica provavel desses elementos Num primeiro momento, a avaliagio da textura no campo permite, em conjunto com a cor, diferenciar/delimitar horizontes. Num segundo momento, permite fazer inferéncias sobre a filiago com o material de origem do solo ¢ o grau de intemperismo. Para identificar a textura no campo, uma pequena amostra de solo saturada ‘com 4gua deve ser trabalhada entre os dedos, de forma a destruir completamente os agregados. Fsfregando-se a pasta assim obtida, delicadamente entre 0 polegar ¢ 0 indicador, pode-se ter a percepgao das proporcdes de seus diferentes constituintes. Primeito, percebe-se a relagio argila/areia: 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA Textura arenosa: material grossciro ¢ solto; pouco material fino resta ade- rido a pele. Textura média. equilibrio nas proporcées argila/areia, os grios de areia, embora abundantes, estio envoltos pela massa fina de argila que adere aos dedos. TTexturaargilosa: material fino, pastoso, que precisa ser trabalhado em estado quase liquido para que se perceba a arcia. Toxtura muito argilosa: material pastoso, semelhante ao anterior, no qual pra- ticamente no se percebe grios de areia Pode-se também, durante a manipulacao da amostra, distinguir a granulometria da fracao areia entre areia grossa e areia fina e a presenca de cascalho mais fino. A textura descrita no campo pode ser verificada ¢ quantificada por meio de anélises granulométricas efetuadas em laboratdrio. Com a porcentagem de cada fracao (areia, silte, argila), pode-se usar 0 triangulo de reparticao das classes, que permite classificar quantitativamente a textura (Fig. 6.3) Conforme o grau de detalhamento desejado, a classe textural da areia, por exemplo, pode ser dividida em subclasses no laboratério: Tab, 6.2 Classes de tamanho das areias segundo Wentworth Areia muito grossa Areia grossa Areia média Areia fina Araia muito fina 1000 a 2,000 (0500 1,000 0250 a 0500 0,125 a 0,250 (0050 a 0,125 Fig. 63 Tridngulo de repartcao de classes de textura (Embrapa. 4997) Os solos podem conter elementos com didmetro maior que 2,0 mm. O papel funcional que eles exercem é menos importante na evolugao da estrutura do solo do que o das fragdes menores que 2,0 mm, mas podem representar importantes subsidios para a compreensio dos processos pedogenéticos e suas relagées com a evolucao da paisagem. Esses elementos sio classificados em: Tab. 6.3 Classes de tamanho dos fragmentos de rocha maiores que 2,00 mm matacto calhau cascalho >200 2200 2.00 320 1 PRATICANDO GEOGRAFIA Fig. 6.4 Expos de manipula de anosra desl para tested texture (Cocke 1985) Fig. 65 (Os diversos gras de struturagao enbatidos ‘em agrgades de un torrdo (Ruellane Doss, 1902) 92 Em geral, as solos no Brasil apresentam baixos teores de silte, o que torns dificil diferencié-lo da argila no campo. Entretanto, manipulando a amostra entre os dedos até que esteja seca, pode-se perceber a presenca de silte por sua texturs sedosa, semelhante a de um talco. (Fig. 6.4) -malhar a aniosra de sole formar uma bla de dem de eitmeto dic cair obalnh, sel se desu, tortura se ebaina nao se desu formar um clindro de 6 8 7em do comprimento, se oclindra se dest, a wer € cone oad olin oe ln 1 8em F “fararuna iets mati rst vent 2 Qo 96 Oo Set A ee ‘tenure € mut argios, 6.3.3 ESTRUTURA A estrutura & a caracteristica morfol6gica mais importante do solo, pois expressa toda a camplexidade das interacdes entre os constituintes ¢ os fatores de formacao (material de origem, clima, relevo ¢ atividade bioldgica) do solo. A estrutura condiciona o funcionamento atual do solo, definindo a geometria dos ‘espacos vazios (poros) por onde a agua a circula ou é retida, através dos quais acontecem as trocas gasosas Mediante mecanismos de flocu \— lagio, cimentagio ¢ fissuracdo, os constituintes do solo vao se agregando ese reorientando, originando unidades maiores individualizadas denominadas agregados. (Fig. 6.5) Em acordo com a presenca ou auséncia de agregados a estrutura do solo pode ser continua sem agregados, ou fragmentéria, com agregados. A estrutura continua pode ser formada por grios simples (particulas soltas, sem cimentagio) ou pode ser maciga (quando hé cimentacio, mas nao fissuracio). Fesuras A estrutura fragmentéria pode ser descrita quanto a forma, dimensio, grau de desenvolvimento ¢ consisténcia. 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA Quanto a forma, os agregados podem ser (Fig. 6.6): © Arredondados. granulares ou grumosos ‘¢ Angulosos: blocos angulares ou subangulares; prismaticos; colunares © Laminares ae aS He eS eo Ce er Gee mms eek Oe a ame Laminar fees ae SZ Horizonte ¢ Quanto a0 tamanho, os agregados podem ser classificados segundo suas dimensfies: muito pequenos, pequenos, médios, grandes a muito grandes, em escalas varidveis para cada tipo de agregado (Tab. 6.4) Comumente, a estrutura global Tab. 6.4 Classes de tamanhos de agregados do solo é composta por diferentes tipos _/™ lggses 7 de agregados, que por sua vez podem ser em mm compostos por agregados menores de Stamler oe diferentes tipos. relagio entre a forma Sames® eee de macroagregados e a dos agregados —pransuen ae menores que os constituem permite onncnar 108100 avaliar o grau de desenvolvimento da tafing, ei estrutura: ** Fraca: 0 macroagregado se desfaz em poucas unidades similares menores, com predominio de material solto; ‘© Moderada: 0 macroagregado se desfaz em unidades similares menores com pouco material solto, * Forte. o macroagregado se desfaz em agregados similares menores, que por sua vez podem ser subdivididos, mantendo a mesma forma, sem material solto. A consisténcia, que expressa a resisténcia da estrutura do solo & deformagio, € condicionada pela natureza das interagGes fisicas e quimicas que se estabelecem entre seus constituintes. A Agua, por sua afinidade com as superficies ativas do solo, atua no sentido de afrouxar as ligagdes quimicas. Ao mesmo tempo, em seu estado liquido, ela funciona como uma espécie de lubrificante, facilitando o deslizamento das particulas entre si. Como resultado, quanto maior o teor de umidade, menor a resisténcia & deformacio. Classifcagao representagdoesquaticn dhs esrturas do solo (Kiebl, 1979) 93 PraTIcANDo Geacearia Tab. 65 Forma e dimensé s padronizadas dos agregados dos solos (adaptado de Lemos e Santos, 1996) Arrodondados: a tices arresondedos ide modo a nao so ‘Angulosos:blocas como poliadros com as és imensbes da mesma ordem de grandeza,cujas ‘ {ace do cofats estojutaponas ena Dinensta peep ae 7 Bisa Blocos Blocos Colunar: Granular Grumose: ea angulares: —suangulares: _prismaticos: similar’ formads por a horzontsis faces bastante ‘Tsturafacesdominam faces prismética, ——a97099008 —porsidag finace™ —"hunccon”verlaadoe, gir come vip pornes, PCagee? «clits alesevarces ““panase’” —paresuperar "ayect” fasta mangos “Srevondados, véricor nos ‘ereengago compat mo pavers i0mm —>0mm > 100mm 10mm No campo, a caracterizacio da consisténcia deve ser realizada em trés estados de umidade: H © Consisténcia a seco: solta, macia, dura (Fig. 6.7) ‘© Consisténcia timida: solta, fridvel, firme (Fig. 6.8) # Consisténcia molhada: plasticidade ~ de nao plastica a muito plastica (Fig. 6.9); Pegajosidade — de nio pegajosa a muito pegajosa (Fig. 6.10) Fig. 68 Fig 67 9. cote a dure Consiséncia do 9.gonn 3 -firme Consisténcia do solo 1- macia 4 muito dure solo imido (Coche, 1 myitofriavet 4 - muito firme seco (Cocke, (985) 2 ligeiramente dura 5-extemamente dra 4985) 2-frével—S-extemamont firme of 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA A Ze Brit Fig. 6.10 Consistecia do solo nfo pogsiosa 2-pogojose rolbado: egajosidade 1 -ligeiamente pegajosa 3-muite pegejasa (Cache, 1985) Fig 69 Consistincia do solo mothado 0 no plstico 2-plisteo ‘lgpramentepléstico 3-mutoplastion _plasicidade (Cocke, «985) 63.4 POROSIDADE Fig 6.1 Porosidade do solo A porosidade é, a0 lado da estrutura, um aspecto essencial da morfologia [ianafodeRullane do solo. E exatamente a porosidade que faz com que o solo desempenhe um Dow, 1993) papel fundamental no funcionamento geral das paisagens. Além de constituir wind imerface enue aunuslera, litusfera © biosfera, é também o local por onde gua ar e solutos circulam ou sio retidos no interior da crosta terrestre continental A porosidade refere-se ao volume de solo nio ocupado por constituintes s6lidos, mas por ar, Agua e seres vivos Sao vias preferenciais de transferéncia de matéria (em estados sélido, liquido e gasoso) ¢ da atividade biolégica. Grande parte da porosidade é invisivel a olho nu e & lupa, pois se constitui em poros resultantes de organizagoes (assembléias) elementares entre constituintes argilosos, dentre outros, Contudo, certos tipos de poros, cujas dimensées sio visiveis, podem ser observados com os olhos ¢ com ajuda Go @ sareno-limanitc, a porosidade textural esté om preto ® vesios pres) de aigom aiiea ® wirwraisds roche maiz, em vias de lupas, de atorcio No campo, a descricao da porosidade © ® Porosidades de € feita através da forma, do tamanho, da © okeraeas PRATICANDO GEOGRAFIA 96 abundancia e da origem dos poros (Fig. 6.11). Quanto origem a porosidade pode ser. Porosidade de alteracio Porosidade textural: de particulas ou intersticial Porosidade estrutural: entre os agregados do solo # Porosidade biolégica (tubular e vesicular): resultado da atividade de raizes, formigas, minhocas, cupins etc Tab. 6.6 Classes e diametros de macroporos Quanto 20 tamanho, se identificados no campo (Curi, 1983) family Tans G Gants esta) a Classe demaciopores | Diamewolmm) | porosidade estd dividida em macro e . microporosidade. A microporosidade pores a Pee 2 € definida pelos pequenos poros, Poros pequenos 192 capazes de reterdgua porcapilaridade Poros médios 205 € a macroporosidade, por poros Poros grandes 510 maiores, que nio sio capazes de ee es a reter 4gua por capilaridade. 6.3.5 ATIVIDADE BIOLOGICA As atividades bioldgicas nos solos sio muito variadas ¢ extremamente complexas, uma vez que se superpéem c interagem, integrando tanto macro ‘quanto microorganismos vegetais e animais (Brady e Weil, 1996), como: © Vegetais superiores: parte subterranea dos vegetais com atividade organica como rafzes € caules subterraneos; * Fauna — macrofauna: mamiferos (tatu etc), répteis (cobra etc), — mesofauna: vermes (minhoca), insetos (formiga, cupim ete), artrépodes (aranhas). ‘* microorganismos: fauna € flora microscépicas (bactérias, fungos, algas etc). © papel da fauna é homogeneizar o material do solo, as diferencas de material intemperizado provenientes de diferentes rochas sfo apagadas pela acao da fauna A flora homogeneiza os elementos quimicos, através de seus ciclos biolégicos absorgio de elementos em sitios especificos do solo e devolugao, pela superficie, mediante a queda de restos vegetais 6.3.6 FEICOES PEDOLOGICAS As feigdes pedolégicas mais comuns nos solos tropicais sio ferripas, duripas, caliches, concregies ferruginosas e couracas ferruginosas, © Ferripa: camada ou horizonte endurecido de solo, na qual o 6xido de ferro € 0 principal agente cimentante; 6 TECNICAS EM PEDOLOGIA © Duripa ou silcrete: nédulos ou horizontes cimentados pela silica (mais conhecido como silerete); Galiche, crosta calcéria (CaCO3), nédulos: materiais consistentes de argila e ferro, mas menos duros que as concreg6es, encontrados nos solos tropicais; Concregdes ferruginosas: termo utilizado na Africa pela Pedologia africana para designar ferripas em blocos angulares ou subangulares, Couragas ferruginosas: corpos endurecidos formando _horizontes subsuperticiais cimentados por ferro 6.3.7 HORIZONTES Os horizontes, volumes pedolégicos mais ou menos paralelos & superficie do terreno, com espessura variando de alguns centimetros a varios metros, apresentam limites superior e inferior. A descricao de seus limites € de fundamental importancia, pois indicam processos pedoldgicos passados ¢ atuais. Esses limites podem ser claros, progressivos ou abruptos, A extensio de um horizonte pode variar de alguns metros a quilémetros. Lateralmente, ele desaparece ou da origem a.um outro horizonte. As transigies, ou limites, entre um horizonte e outro sao descritas quanto & nitidez € topografia. © Nitidez: < 2,5 cm —abrupta 2,5a7,5cm—clara 7,5a 12,5 cm — gradual >12,5 cm — difusa * Topografia: pode ser plana, ondulada, irregular ¢ descontinua (Fig. 6.12) Plana Ondulada Irreguiar is ae 5 oe a Certos tipos de horizontes sao considerados diagnésticos para efeito de classificagao. Os solos tropicais apresentam horizontes diagndsticos expressando grau de intemperismo e grau de perda/acumulacao em argila. Sao eles (Curi, 1993; Oliveira, 2001): Descontinus Fig. 6.12 Topografia da transi entre borizontes (adaptado de Schoeneberger tal, 2002 97 PRATICANDO GEOGRAFIA * Horizonte B latossdlico ou 6xico: horizonte mineral subsuperficial com pelo menos 50 cm de espessura, que apresenta elevado grau de intemperizagio. E predominantemente constituido por quantidades varidveis de 6xidos ¢ hidréxidos de ferro ¢ de aluminio argilominerais, do tipo 1:1 constituides por folha silicato tetraédrica ¢ folha hidréxido octaédrica, empilhadas regularmente na proporgao 1:1. Pertencem a esse agrupamento 0s minerais do grupo da caulinita, quartzo e outros minerais mais resistentes ao intemperismo. Apresenta-se_geralmente em solos profundbs, fridveis e com muitos macroporos. © Horizonte iluvial ou textural ou argilico: horizonte mineral subsuperficial, onde houve incremento de argilas. E resultante de acumulagio ou concentragio absoluta ou relativa de argila decorrente de algum desses processos: iluviagao, formacio in situ efou herdada, e/ou destruigao de argila no horizonte A e/ou perda de argila no horizonte A por erosio diferencial Horizonte eluvial: horizonte formado pelo processo de eluviagao (horizonte de perda). Por meio da anilise criteriosa das caracteristicas morfolégicas, pode-se fazer inferéncias sobre a natureza da interacdo entre os diferentes fatores de formacio e os decorrentes processos pedogenéticos, ¢ estabelecer hipsteses sobre © funcionamento atual da cobertura pedologica. 98 TECNICAS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DE BACIAS HIDROGRAFICAS 9.1 BACIA HIDROGRAFICA: CONCEITO E PROCESSOS ENVOLVIDOS bacia hidrogréfica € uma das referéncias espaciais_mais consideradas em estudos do meio fisico. Atualmente subsidia grande parte da legislacao e do planejamento territorial e ambiental no Brasil e em muitos outros paises, Entretanto, em grande parte de seus estudos raramente existe uma definigao conceitual precisa desse sistema que é, a0 mesmo tempo, hidroldgico e geomorfolégico A escolha dos procedimentos mais adequados de pesquisa depende de conceitos precisos. Desta escolha depende também a eleicao das técnicas, que sempre dependerao da utilizagdo correta dos conceitos cientfficos disponiveis. Por isso, especialmente para as disciplinas relacionadas as ciéncias da Terra, a definigio precisa do conceito-categoria bacia hidrografica € dé fundamental importancia. Tal definicao implica, também, a definicdo dos limites espaciais internos e externos em que diversos e interligados processos desse sistema operam Apesar de sua importancia, € ainda comum encontrar tentativas de definigio de bacias hidrogréficas na literatura com problemas desse tipo. Ha alguns anos, a tradugio direta da expresso inglesa drainage basin tem se sobreposto e se confundido ao termo bacia hidrogrdfica, j consagrado em portugués. Isto tem ocorrido devido a freqitente utilizagao da expresso bacia de drenagem, sem o cuidado de definir se hd ou nao diferenca entre seu significado € o significado de bacia hidrogréfica Neste capitulo, reafirma-se a adequagdo do uso do termo bacia hidrogrdfica, tendo em vista diminuir confusdes entre esse sistema e o de rede de drenagem, que tém significados bastante diferentes. Os erros mais comuns de definigdo da bacia hidrogréfica sio aqueles que a definem como dre, drenada por uma rede de cursos fluviais interligados. Ha também intimeros esquemas ou representagées grificas que, pretendendo clareza € didatismo, acabam por consolidar a visio bidimensional. Deixam de apresentar, por exemplo, os limites internos desse sistema por onde circula e atua grande parte da agua envolvida, Tomando cuidado para nio incorrer em tais equivocos, € possivel definir bacia hidrogréfica como um sistema que compreende um volume de materiais, predominantemente sélidos e liquidos, préximo & superficie terrestre, delimitado interna e externamente por todos os processos que, a partir do fornecimento de égua pela atmosfera, interferem no fluxo de matéria e de energia de um rio ou de uma rede de canais fluviais. Inclui, portanto, todos os espagos de CLeIDERODRIGUES — SAMUEL ADAMI 147 PRATICANDO GEOGRAFIA 148 circulagio, armazenamento, ¢ de saidas da égua e do material por ela transportado, que mantém relacdes com esses canais. A rede fluvial também denominada rede hidrografica ou rede de drenagem, € composta por todos os rios de uma bacia hidrogrifica, hierarquicamente interligados. E um dos principais mecanismos de safda (output) da principal matéria em circulagio no sistema bacia hidrogritica: a 4gua. Tanto a rede hidrogrética quanto a bacia hidrogréfica nao possuem dimensoes fixas. Seu tamanho depende mais de subdivisdes ¢ denominagdes que Ihes atribuimos voluntariamente, apesar de existirem bacias e redes hidrograficas de tamanhos diferentes. Como veremos adiante, pode-se subdividir uma bacia hidrografica considerando-se as ordens hierrquicas de seus canais, até o nivel de uma bacia de primeira ordem, ou seja, do volume que interfere no funcionamento de um rio sem nenhum tributério, a menor unidade desse ponto de vista Os processos de circulagao de matéria e de energia que operam em bacias hidrogréficas nfo envolvem apenas canais fluviais € planicies de inundagio, mas incluem as vertentes, nas quais os processos internos séo de fundamental importancia. Um exemplo desse tipo de proceso € 0 escoamento basal que rrr eee eet eee eee ee std interligada & planicie de inundacio ou ao canal fluvial localizado na base dos sistemas de vertentes, Tais consideragbes implicam a afirmacio de que para se reconhecerem os limites espaciais de bacias hidrogratficas € preciso, em primeiro lugar, levar em consideragio a distribuicio espacial do conjunto dos processos envolvidos em todos os seus subsistemas. Entdo, a prépria bacia hidrografica estard delimitada Para areas do meio tropical dimido, essas definigdes conceituais e espaciais sio ainda mais necessérias, pois grande parte da égua que precipita em bacias hidrogrrficas pode ficar reservada ou circular em varios niveis e subsistemas: copas, folhas, caules, troncos e rafzes da cobertura vegetal € da serrapilheira, diversos horizontes pedolégicos; rochas, superficie das vertentes € suas depressdes; e, finalmente, canais fluviais e planicies de inundagao. Assim é que aos estudos de bacias hidrogréficas aplica-se a nogio de sistema aberto, composto por outros subsistemas, os principais sendo os sistemas de vertentes © os dos canais fluviais € das planices de inundago. A Fig, 9.1, organizada com base em representagdes de outros autores, demonstra os diversos niveis por onde a gua poderé entrar, permanecer ou circular numa bacia hidrogréfica, destacando cada um dos subsistemas acima mencionados c alguns de seus processos particulares Bacia hidrografica compreende 0 volume de agua considerando todos os processos relativos ao funcionamento de uma rede fluvial. Isto significa que af também estarao inclufdos todos os processos de alteracao desencadeados direta ou indiretamente pela Agua, O fato da 4gua ser, a0 mesmo tempo, agente de transporte de matéria e agente de mudangas fisicas, quimicas e bioquimicas nos ambientes por onde circula, possibilita afirmar que numa bacia hidrografica estarao incluidos até 08 processos pedogenéticos 9 TECNICAS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DE BACIAS HIDROGRAFICAS Ao tratarmos das técnicas de anélise de uma bacia hidrogrifica, deve ficar claro que estaremos incluindo as técnicas de um grande rol de especialidades das ciéncias da Terra, destacando-se as técnicas voltadas as anilises hidrolégicas ¢ geomorfoldgicas. Isso significa afirmar que cada um dos processos da Fig. 9.1 dentre outros ainda mais particulares, pode ser considerado em estudos de bacias hidrogréficas. Existem técnicas especificas para levantamento ¢ tratamento de cada um deles, conforme se apresenta ao longo desse manual. Neste capitulo destacamos técnicas ainda nao abordadas nos demais capitulos, enfatizando aquelas que possibilitam gerar informacdes passiveis de utilizagao em generalizagoes sobre Armazenamento fs rocks a} Procossns hirdrlégiene fe vegetagao i | Processos hdra-geomorfol6gicos vertentes, solo orocha Fig. 9.1 Bacia Hidrogrifca limites «processes Ong: Rodrigues, Ce Fron, S Vv Limite superior da zona de saturagao ou nivel d'équa AAs ~ Armazenamento nas copas Fb -Escoamonto basal ‘Ar ~Armazenamenta no nivel da rocha Fg. Fluxo de gotejamento AAs -Armazenamento no solo Fi -Infitragao ‘Asp-Armazenamento na serrapiheiraFq_ ~Fuxo vial ai peeassen gremataspene E -Evaporagao Fr -uxode tronco de cenal ede planicie de inundaao Fa -Fluxode atravessamento P_ -Precipitagao 149 PRATICANDO GEOGRAFIA 150 bacias hidrograficas. As técnicas de levantamento selecionadas pertencem a dois conjuntos de andlises: 0 das anélises morfonétricas € das andlises hidrodinamicas. No conjunto das andlises morfométricas, tem sido de fundamental importancia 0 reconhecimento da espacialidade do sistema quanto a: limites externos, érea, hierarquia da rede de drenagem, densidade de drenagem, gradiente de canais, comprimento da bacia, curva hipsométrica, coeficiente orogréfico etc Esses tipos de dados, quantitativos ¢ espaciais, podem gerar outros e permitir correlagdes com determinados dados produzidos pela anélise hidrodinamica Por exemplo, € possivel interpretar a circularidade da bacia hidrogréfica com sua suscetibilidade aos processos de inundagao. Portanto, dados morfométricos ¢ morfolégicos podem também ser interpretados, revelando tendéncias espaciais de desenvolvimento de processos na bacia estudada. Esse € um raciocinio freqtientemente utilizado em Geomorfologia O outro conjunto de andlises comumente utilizadas em estudos de bacias hidrograficas diz respeito aos aspectos dindmicos da agua e dos materiais por ela transportados, envolvendo todas as fases de entrada, circulagao e armazenamento hidricos. Nesse conjunto estéo incluidas as técnicas para levantamento de dados de entrada de 4gua no sistema, aquelas relacionadas a circulagao de 4gua nas vertentes ¢ as relacionadas ao funcionamento dos cursos fluviais propriamente ditos. Técnicas para coleta de dados como entrada de Agua no sistema (pluvidgrafos e pluviémetros), de escoamento superficial em vertentes (calhas, pinos de erosio, microtopografia etc), técnicas para o levantamento de dados como vazio de cursos fluviais, carga em suspensdo, niveis d'égua, sio exemplos classicos. Os dados gerados por essas técnicas de levantamento também podem ser relacionados aos dados anteriores. Cada tipo de dado, cada escala de anilise e cada objetivo de estudo poder requerer técnicas, recortes espaciais ¢ séries temporais préprias. O fato desses dois conjuntos de andlises revelarem as formas mais consagradas de se estudar bacias hidrogréficas, nio significa que sio suficientes e que vém sendo desenvolvidos, em sua maior parte, de forma complementar ou associada O primeiro conjunto vem sendo mais desenvolvido na arca de Geomorfologia, que também estuda os aspectos dinamicos dos subsistemas envolvidos numa bacia hidrografica. O segundo conjunto mostra-se mais desenvolvido na area de Hidrologia. Mais recentemente, varidveis desses dois conjuntos de dados vém sendo consideradas em levantamentos ¢ tratamentos que utilizam SIGs. A maior parte dos estudos de bacias hidrogrificas refere-se a aspectos hidrodinamicos e morfométricos. Os primeiros tém sido desenvolvidos principalmente em fungio da necessidade de se inventariar 0 potencial hidroenergético de bacias hidrogréficas. Os morfométricos podem servir para as interpretacées hidrodinamicas ¢ geomorfolégicas, possibilitando interpretagbes sobre a génese a dinamica atual (morfodinamica) do sistema bacia hidrografica. Ainda que em menor niimero, existem também estudos que enfocam aspectos sedimentol6gicos, geoquimicos bioquimicos de bacias hidrograficas. Esses estudos servem aos dois objetivos mencionados, além do reconhecimento da qualidade de gua numa bacia hidrogrétfica 9 TECNICAS FUNDAMENTAIS PARA © ESTUDO DE BACIAS HIDROGRAFICAS Percebe-se que os raciocinios apoiados em dados experimentais de obser- vagdes controladas por instrumentacao adequada nao sao, contudo, os Gnicos raciocinios possiveis para propor generalizacdes sobre uma bacia hidrogréfica Em Gcomorfologia, por exemplo, & possivel inferir alguns comportamentos hidrodinamicos por meio de levantamento de dados morfoldégicos desse sistema ¢ scus sub-sistemas, pois algumas correlagdes freqiientes entre aspectos da forma © comportamento hidrolégico j4 foram descobertas e confirmadas para alguns contextos morfocliméticos ¢ morfoestruturais. Assim € que se justifica a presenca das técnicas referentes a levantamento de dados morfoldgicos e morfométricos de uma bacia hidrogréfica ou de seus subsistemas. As técnicas aqui selecionadas visam a subsidiar leituras © interpretagoes do conjunto de uma bacia hidrografica. Por exemplo, os dados hidrodinamicos gerados por essas técnicas podem ter sua série temporal de observacoes submetida a interpretagées estatisticas, uma das técnicas de tratamento de dados das mais usuais em estudos hidroclimatolégicos. Podem também ser correlacionados (correlagies estatisticas ou espaciais) a outros dados, como: uso ¢ manejo da terra, mudancas na cobertura vegetal, além dos prdprios dados morfométricos que abordaremos adiante. Como exemplo, a bacia hidrografica pode ser vista como rea fonte de sedimentos para o assoreamento, mudancas na cobertura vegetal € suas implicagées com freqiiéncia de inundagdes. Como se vé, dados diversos podem ser associados para generalizacées no plano das bacias hidrograficas 9.2 ANALISES HIDRODINAMICAS Os estudos hidrodinamicos de bacias hidrograficas compreendem basi- camente os dados gerados por observagies de campo ou por experimenios laboratoriais que envolvem principalmente os processos relacionados aos diversos tipos de fluxos hidricos. Esse tipo de dado pode ser tratado estatisticamente ou auxiliar na proposigéo de modelos ¢ simulagdes fisicos (como os modelos reduzidos), mateméticos ou conceituais. Habitualmente, esses estudos sio realizados com base no levantamento de algumas variéveis hidrodinamicas ou hidrolégicas fundamentais, tanto relacionadas a entrada de agua no sistema como a circulagio hidrica, destacando-se os dados de séries temporais de precipitagao, escoamento superficial e vazdo fluvial (volume de agua em movimento pelo tempo, comumente medidos em m3/s). Sao também importantes outras varidveis hidrolégicas, como mostrado na Fig. 9.1: interceptagao, fluxo de tronco, gotejamento, modalidades de fluxos superficinis, dados piezométricas, estocugem na serrupilhcins, entre outras. Técnicas de medic&o sao ilustradas na Fig. 9.2 Exemplos de detalhamentos no subsistema canal também podem ser lembrados: levantamento de velocidades de fluxo ao longo de uma segao transversal, levantamento de niveis d'agua em vazbes extremas, vazdes de margens plenas. Esses estudos devem auxiliar a compreensio do conjunto do sistema bacia hidrogritica, sendo importantes especialmente para a compreensio dos subsistemas fisicos relacionados. Experimentos de levantamento de escoamento superficial na vertente, por exemplo, podem ser apenas realizados com o intuito de entender 151 PRATICANDO GEOGRAFIA al Equipamento para madigo de fluxo de tronca Fig. 92 A dgua na bacia bidroaréfa: exemplos de processaseténicas de 152 bseroagao Ne a Fone ¢} Um dos diversos tpos de bhinttrémetro de anel duplo correntimetros para a pra medida de infltragso medio de fluxo fluvial 05 processos erosivos pluviais desse sistema, sem a preocupacio de compor um entendimento desse processo quanto ao comprometimento da bacia hidrogréfica Contudo, o entendimento da bacia s6 € possivel com base em estudos analiticos, ‘que serao a base para generalizac6es sobre a bacia hidrogréfica. Pelo fato de muitos modelos hidrolégicos serem compostos por algumas ou por grande conjunto dessas varidveis, decidimos abordar neste capitulo apenas algumas das variéveis € das técnicas mais importantes, tendo em vista que outras s30 consideradas em outros capitulos 9.2.1 FONTES DE INFORMAGAO PARA ANALISES HIDRODINAMICAS Dados hidroclimatolégicos € hidrosedimentol6gicos esto disponiveis na internet por diversos érgaos puiblicos — estaduais ou federais — que tém alguma ingeréncia ou interesse nos recursos hidricos do Pais, ou que tém responsabilidad direta na geracao de dados ou na manutencao de redes de postos. Por exemplo, dados de precipitacao, de vazbes, agregados ou nao, para 0 Estado de Sao Paulo que interessam para célculos de entrada de dgua na bacia hidrogréfica, podem ser obtidos em sites do SIGRH (Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hidricos), do DAFE (Departamento de Agua e Energia Elétrica), da ANA (Agencia Nacional de Agua) ou da ANEEL (Agencia Nacional de Energia Flétrica) 9.2.2. LEVANTAMENTO DE VELOCIDADE E CALCULO DE VAZOES FLUVIAIS Atualmente as medicdes em fluxos fluviais sio consideradas as principais ferramentas para os estudoshidrol6gicos e de Geomorfologia fluvial, principalmente aquelas medidas que auxiliam na determinagao das vaz6es. As medigdes precisas € de séries continuas de descarga fluvial (vaz6es) sao dados indispenséveis para uma série de tomadas de decisoes no plano do gerenciamento de recursos hidricos. Por exemplo, no planejamento e na operacio de hidrelétricas é preciso reconhecer os locais mais apropriados aos eixos de barramentos, 0 cronograma adequado para 0 enchimento dos reservatorios ou as formas de operacao desses reservat6rios. Todas 9 TECNICAS FUNDAMENTAIS PARA © ESTUDO DE BACIAS HIDROGRAFICAS essas questdes envolvem o reconhecimento de dados hidrolégicos fundamentais, entre os quais uma série temporal longa de observagoes de dados de vazao O regime fluvial, por exemplo, s6 pode ser conhecido por meio desses levantamentos, tendo em vista tratar-se do comportamento habitual anual mais freqtiente de vazdes e de niveis d’égua de um rio ¢ secao transversal determinada, no decorrer de um ano hidrolégico. Os dados de vazdes fluviais sio mais comumente obtidos a partir de medigdes de velocidade do fluxo e de profundidades de verticais pré-determinadas O produto de uma sub-drea da secao transversal do rio pela velocidade média da seco permite a obtenco do dado vazio em m/s. Para que essa légica (area x velocidade) tenha maior proximidade com a realidade de campo, si0 necessétios certos procedimentos que dependerio do equipamento disponivel, do porte do rio, da acessibilidade e do objetivo do estudo, Se dados de vazao estao disponiveis em séries Leupurais, pur vezes longas (mais de 50 anos) em diversos postos fluviométricos do Brasil, a densidade espacial desses postos & insatisfatéria para uuma série de quest6es e estudos, como aqueles voltados ao planejamento municipal ou de bacias de menor ordem hierérquica, que muitas vezes sto desprovidas de quaisquer dados dessa natureza. Na Amaz6nia e em outras regiGes brasileiras essa situago é mais precdria, pois bacias ou sub-bacias hidrograficas com a dimensao de um Estado inteiro sio providas com trés ou quatro postos fluviométricos. Os postos sedimentométricos sao ainda mais escassos. Assim, para algumas situagées importantes, nas quais 0 préprio planejamento dos recursos hidricos do pats se insere, ser necessério ampliar a rede de observacdes sistematicas, as tinicas que geram longas séries de observagées. Noutras ocasides, como no caso da pesquisa cientifica, serio indispensaveis campanhas especiais de campo, nas quais variaveis importantes como velocidades e vaz6es de um rio deverao ser especialmente obtidas. Diversos equipamentos podem ser utilizados para a medigio de velocidades € para o calcula de vazées de fluxos fluviais. A grande maioria deles est apoiada na légica anteriormente mencionada, do produto entre a drea da secao transversal pela velocidade média Como exemplo de equipamentos para obtengao de dados de velocidade, podem ser citados desde os mais simples, como os latuadores, os molinetes, que podem ser mecinicos e ter diversos tamanhos (Fig. 9.3) ou eletromagnéticos, velactmeiros actisticos ou a laser. Para medicoes de descarga (vaz0es) existem outras téenivas, como a construcao de vertedouros artificiais e a utilizag3o da curva-chave As curvas-chave so obtidas com base em medigGes multiplas de vazdes em segdes transversais que apresentem formas ajustadas, com tendéncia a estabilidade, podendo existir uma correlacao imediata entre o nivel d’Agua e a vazao associada A plotagem dessa série de dados pode gerar uma curva tinica ou uma série delas, que podem ser ajustadas (Fig. 9.3d). Com 0 estabelecimento de uma curva chave, € possivel considerar unicamente os dados de nivel d’4gua e descobrir a vazao correspondente (com linfgrafos, por exemplo). (Fig. 9.3e) 153 PRATICANDO GEOGRAFIA Fig. 93 Tnstrumentos para coleta « sistematizacdo de dados bidro-sedimentlégicos Font, Kundolf tal (2003) 154 4} Rios de médio e grande porte: instrumentos acoplados a barcos ) Pesquisadorutllzando-se de cabo de aco op de asga Gime p= ap60 oon Ce ee ae Vaz rs) 4) Exempla de curva-chave } Exempla de lnigrafo 4} Exemplo de vertedouro Vertedouros so pequenas segdes artificiais de canais, construidas principalmente para superar situacoes fisicamente adversas ao uso de equipamentos comuns, como os molinetes ou flutuadores, para a medigio de velocidades e de outros parmetros hidrolégicos. Isso se verifica em rios de fluxos muito répidos, ou de segdes transversais muito pequenas. Os vertedouros constituem também 9 TECNICAS FUNDAMENTAIS PARA © ESTUDO DE BACIAS HIDROGRAFICAS um artificio para se estudar experimentalmente (em laborat6rio) as relagdes entre transporte out movimentagio de sedimentos e condigdes do fluxo. Para se estudar as relagdes entre a velocidade critica de erosio segundo a granulometria, tém sido utilizadus experimentus com vertcduurus. (Tig. 9.3) ‘As técnicas que envolvem a medicao direta da velocidade para célculo da vazio obedecem a integragao de dados ao longo de segio do tio dividida em i areas. (Fig. 9.4) Q=EViAi onde: Q = vazao total = somatério V; = velocidade média na érean?i Aj = érea da seco transversal i Selecio dos locais e equipamentos Antes de tudo, deve-se compatibilizar as necessidades do estudo com as condicdes de trabalho em campo ¢ a disponibilidade de equipamentos. Isso significa que havera trabalho de campo preliminar, de reconhecimento, bem como levantamentos e tratamento em gabinete. O procedimento amostral (ntimero de segdes, niimero de medidas, locais, intervals de tempo etc) deve ser conseqiténcia de estudos preliminares, principalmente os realizados cm gabinete, que devem ser exaustivos. Nessa fase estario incluidos os levantamentos e tratamentos de dados morfométricos da bacia hidrogréfica, que em muito poderao auxiliar na definigio de locais mais representativos e na definicao do equipamento adequado. O objetivo do estudo, quando bem tracado, também impée as escolhas do processo amostral ¢ do tipo de equipamento. Por exemplo, quando ha necessidade de se comparar parametros hidrodinamicos de cursos de 1* e 4* ordens, as escolhas deverdo levar em consideracio o reconhecimento prévio do gradiente hidraulico desses cursos (que pode ser obtido a partir do perfil longitudinal), 0 que, por sua vez, pode colocar limites na escolha do equipamento para obter dados de velocidades ¢ segao transversal Para o levantamento de vazées de um determinado rio, ha que se verificar, em primeiro lugar, sua magnitude e sua morfologia, Em rios de pequeno porte pode-se utilizar micro-molinetes, Em rios de porte médio ou superiores (em torno de ou acima de 6* out 7? ordem), podem ser utilizados molinetes maiores. (Fig. 9.3a) Para a instalagao do equipamento € recomendavel percorrer previamente a regido selecionada em campo ¢ observar os documentos de gabinete (cartas topograficas, por exemplo), verificando trechos do canal que apresentam evidéncias de estabilidade ¢ de menor variagio de diregao, ou seja, trechos mais retilineos, 155 PRATICANDO GEOGRAFIA Fig. 9.4 Sega transversal ¢ caleul de vazses Fonte: Kendo a, 156 modificado onde o gradiente de velocidades tende a ser menor. Como 0 calculo das vazGes baseia-se nas velocidades médias, qualquer subestimacao ou superestimagao desse dado poderé falsear 0 célculo. Molinetes com helices de diferentes tamanhos podem ser utilizados de diversas formas, dependendo das condigées fisicas dos rios. E possivel realizar levantamentos a vau percorrendo-se 0 rio a pé, por ponte (requer cavaletes, polia ¢ cabo de ago para controlar a submersao) ou por barco, onde o molinete € acoplado. Para o levantamento a barco um cabo de aco numerado é esticado de uma margem a outra, e serve de guia para o barco que faz o levantamento de dados de velocidade de verticais determinadas. Obtengao de dados de profundidades e velocidades com o uso de molinetes O método mais comum para o levantamento de variaveis ¢ posterior célculo de vazdes € 0 somatério do produto de segdes (ou sub-dreas de verticais) pela velocidade média da vertical correspondente. (Fig. 9.4) Vertical onde & medida avelocidade . Sub-drea Ai Velocidade medida Profundidads h 4 profundidade 0,6 h Para calculos precisos de vazao em rios de porte médio (aproximadamente de 6% a 10° ordens) € recomendavel retirar verticais (dados de profundidade) de metro em metro. Avaliagées menos precisas de rios desse porte suportam intervalos maiores, como de dois em dois metros Quando a rugosidade do leito € significativa e a profundidade ¢ inferior a 0,75 m, sugere-se a obtencao do dado velocidade a 0,1 da profundidade total de cada vertical. Em verticais com profundidade superior a 0,75 m, recomenda-se @ obtengao do dado velocidade as profundidades relativas de 0,2 a 0,8, a partir das quais sc obtém vclocidade média da vertical. As vclocidades devem ser medidas a intervalos de tempo de 20 s a 30 s ¢, em rios de baixas velocidades, deve ser respeitado o intervalo maior. Carter e Anderson (apud Kandolf e Piéga, 2003) estimaram que 0 erro embutido no célculo de vazdes para dados de velocidades retirados a apenas 0,6 da profundidade em relacdo as vaz6es reais € de 4%. Para célculos realizados com dados de velocidade colhidos a profundidades relativas de 0,2 € 0,8, esse erro seria igual ou inferior a 2% A Fig. 9.4 ilustra a légica do método do molinete identificando as verticais, a as sub-seges ou sub-dreas correspondentes € a profundidade a 0,6. A Fig. 9.5

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