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INGRES E DELACROIX
São Paulo
2010
DANILO COATSWITH ALEXANDRE
INGRES E DELACROIX
São Paulo
2010
Análise das obras de dois pintores que resumem o espírito da primeira metade do
século XIX, Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867) e Ferdinand Victor Eugène
Delacroix (1798-1863).
Com a Revolução Francesa (1789 – 1799), parte das nações adotou as formas
governamentais republicanas que substituíram os Estados monárquicos absolutistas.
E, o início de uma Revolução Industrial, em meados do século XVIII, trocou oficinas e
tendas de artesãos por grandes manufaturas e abriram caminho a um avanço
tecnológico decisivo na história da economia ocidental.
O século XIX foi fruto das revoluções que ocorreram no século XVIII, a Revolução
Francesa e a Revolução Industrial, que geraram novas forças e resultaram na
formação da sociedade moderna. O rápido aumento da população, a difusão da
produção industrial e o enriquecimento de seus empresários geraram uma mudança
das áreas rurais para a urbana e, conseqüentemente, o aumento do proletariado
urbano. Esses fatores resultaram no crescimento de novas estruturas sociais que não
puderam ser regularizadas pelo velho sistema de governo, baseado na noção de
ordem estática e valores imutáveis.
No meio desse turbilhão, vemos que os artistas foram afetados, assim como outras
pessoas, pelos conflitos sociais e políticos do começo do século XIX. E essa situação
- que dominou grande parte do século XIX – está exemplificado nos trabalhos de
Ingres e Delacroix.
Figura 1 Jean Auguste Dominique Ingres, Auto-retrato aos 24 anos, 1804. Óleo sobre tela, 77 x 64 cm.
Museu Condé, França.
Figura 2 Jean Auguste Dominique Ingres, A Banhista de Valpinçon, 1808. Óleo sobre tela, 146 x 97 cm.
Musée du Louvre, Paris
Este trabalho que apresenta uma mulher no toalete é conhecido pelo nome de um dos
seus proprietários no século XIX. Foi uma das obras enviadas para Paris, enquanto
estudava na Academia Francesa, em Roma. Esta obra de linhas harmoniosas e luzes
delicadas causou grande impressão no artista, que retornou a este tema em várias
obras posteriores, principalmente em “O Banho Turco” (1863).
Esta mulher sentada, como foi intitulada originalmente, é uma das três telas que ele foi
obrigado a enviar a Paris, enquanto estudante da Academia. O que chama atenção é
o tema, estranho para sua condição. Os poucos críticos que se pronunciaram sobre o
trabalho não se impressionaram muito. A obra só obteve reconhecimento na
Exposição Universal, em 1855, quando recebeu críticas favoráveis, incluindo a dos
irmãos Goncourt (Edmond de Goncourt e Jules de Goncourt), que escreveram: “O
próprio Rembrandt teria inveja da cor âmbar deste torso pálido”.
Figura 3 Jean Auguste Dominique Ingres, A Grande Odalisca, 1814. Óleo sobre tela, 91 x 162 cm. Musée
du Louvre, Paris
As críticas se deram especialmente pelo fato desta mulher, deitada nua em um divã,
estar se oferecendo ao espectador, pelo simples fato de olhar para fora do quadro, o
que denota um convite a se juntar a ela. Mas a mulher é discreta, pois está de costas
e nos deixa entrever apenas parte de um dos seios. Ingres transpõe o nu para uma
terra distante, o que ele considerava o Oriente sensual. O tema orientalista iria
permear grande parte de sua produção, como o Banho Turco (1862), um de seus
últimos trabalhos.
O desenho sempre foi muito importante para Ingres. Aqui ele faz uso de grandes
linhas sinuosas, como exemplo, nas costas da mulher, criando um trabalho de grande
beleza e sensualidade. O nu, banhado por uma luz uniforme, é diluído em um espaço
sem profundidade. Ingres foi influenciado pelas pinturas maneiristas. Ele consegue um
acabamento nos tecidos que é totalmente ilusório, o que remete ao grande escultor da
época Antonio Canova (1757-1822). O uso econômico de cores também define este
trabalho, Ingres trata o tema sensual com uma harmonia fria, desencadeada pela
cortina azul. O ouro dos outros tecidos ajuda a tornar esta odalisca uma figura
misteriosa e cativante.
Figura 4 Eugène Delacroix, Auto Retrato, 1837. Óleo sobre tela, 65 x 54,5 cm. Musée du Louvre, Paris
Eugéne Delacroix nasceu em 26 de abril de 1798, em meio a uma época tumultuada
da história da França. Ele seria extremamente influenciado por essas revoluções que
estavam ocorrendo. O trabalho de Delacroix poder ser visto como um balanço de uma
vida agitada, repleta de descobertas quanto ao uso das cores e à antecipação de
soluções cromáticas que seriam retomadas no impressionismo. Em um claro exercício
de liberdade, Delacroix optou por sua visão, pela tradução de sua impressão pessoal.
Acima da visão objetiva ou narrativa, a força da expressão se torna patente nos rostos,
gestos, olhares, nas distorções e na dramaticidade.
Figura 5 Eugène Delacroix, Liberdade Guiando o Povo, 1830. Óleo sobre tela, 260 x 325 cm. Musée du
Louvre, Paris
A insurreição que tomou Paris nos dias 27, 28 e 29 de julho de 1830 e que ficaram
conhecidas como Trois Glorieuses (Três Dias Gloriosos) foi iniciado pelos
republicanos liberais, pela violação da Constituição pelo governo da Segunda
Restauração. Delacroix, que testemunhou a revolta, percebeu-a como um tema
moderno para pintura.
Ele traduziu as emoções sentidas na rua para as telas, renovando seu estilo. O
envolvimento pessoal, por meioda amizade com os protagonistas do conflito, explica
também a força de sua interpretação. Delacroix começou sua interpretação alegórica
dos acontecimentos em Paris, em setembro de 1830. Sua pintura foi realizada entre
outubro e novembro e apresentada no Salão em maio de 1831.
Como era de hábito, ele desenvolveu o tema usando esboços preliminares para cada
elemento. Ele completou o trabalho em três meses, como foco no impacto dramático e
visual de cena: a multidão rompendo a barricada para o ataque final ao campo inimigo.
Figura 6 Eugène Delacroix, Mulheres de Argélia em seus Aposentos, 1834. Óleo sobre tela, 180 x 229
cm. Musée du Louvre, Paris
Esta foi sua primeira obra impregnada pela vivência experimentada em sua viagem à
Argélia. A naturalidade da cena assume características realistas por ser resultado de
experiências vividas pelo artista. Delacroix obteve permissão para visitar um harém e,
nas poucas horas que passou lá dentro, fez desenhos e aquarelas. Ao retornar a
França, o artista realizou essa pintura a partir de suas anotações.
No contato com o Oriente, o pintor conquistou a ousadia das cores, maior liberdade
formal e elaborou composições mais complexas. O encontro com a luminosidade e as
cores do continente africano encorajou o artista, além de intensificar o uso das cores
primárias e suas complementares, com ênfase no contraste entre vermelho e verde.
Ele conseguiu criar uma intensa vibração cromática.
Localizado no centro da composição, concebida como um espiral, as três mulheres
sentadas no chão parecem esperar algo da criada em pé. As quatro mulheres se
vestem à moda argeliana da época. A variedade de padrões nas vestes, nos objetos
da decoração e nos ornamentos dos azulejos são frutos do estudo de porcelanas e
tapeçarias que Delacroix realizou.
GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. 688 p.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes,
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Wilkin, Karen. "Ingres at the Metropolitan." New Criterion 18.3 (1999): 48. Art &
Architecture Complete. EBSCO. Web. 30 Oct. 2010.