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Reflexões Existenciais - Vol.

O VELHO SEMEADOR
(Conversas com quem está ficando velho)
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Reflexões Sobre a Vida, a Velhice e o Envelhecer

EDSON MEIER
Primeira orelha da capa:

Ao ler este livro, imagine-se em uma sala de aula, participando de um seminário sobre a velhice.
Com você estão outras pessoas na mesma faixa etária, acima dos 60 anos.
Você não encontrará aqui um mestre a lhe ensinar verdades, apenas um coordenador, que lhe
apresentará diferentes autores com textos para gerar o nosso debate e posicionamento crítico. Não
queira ler os textos todos de uma só vez. São muito variados nas temáticas e estão misturados.
Organize-se. Como se fosse realmente um seminário, faça sessões diárias de leitura. Leia três, quatro
textos por dia. Permita-se ser surpreendido pelas temáticas e reflita sobre o que leu. Questione,
posicione-se e procure fazer um comparativo entre o conteúdo e a sua vida. Se você puder debater o
assunto com alguém, melhor ainda.
Tenho certeza, de todo o conteúdo, dois ou três textos lhe impactarão o pensamento de uma
forma bem especial. Tome resoluções e modifique a sua vida. Sempre há situações que podem ser
melhoradas. Quando você foi jovem, provavelmente elaborou um projeto de vida. E como esse
planejamento foi importante para muitos objetivos que alcançou. Lembre-se, também o período da
aposentadoria e da velhice merecem um bom projeto. Vamos conversar sobre isso?

Editorial:

Este livro, por uma questão de custos, ainda não foi publicado nem impresso. A maioria dos
textos têm autoria diferente, conforme consta na Bibliografia Consultada no final do livro. Em
eventual divulgação ou impressão em forma de apostila, no todo ou em parte, essas referências
bibliográficas precisam aparecer, até por uma questão de mérito dedicado aos respectivos autores.
No caso de uma publicação e impressão com objetivos comerciais, as autorizações precisam ser
adquiridas junto aos respectivos autores e editoras. As imagens provêm da internet e são de uso livre.
Em caso de publicação e impressão, é prudente buscar a fonte e citar as autorias das fotos.
Esta obra é um simples arquivo E-book/PDF, para que, desta forma despojada, possa
justamente chegar com rapidez em lugares onde o livro impresso e publicado talvez nem chegaria,
contribuindo assim com a proclamação gratuita e graciosa do Evangelho de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo.
Que o Senhor abençoe, através do seu Santo Espírito, a você, sua família e seu trabalho, com a
leitura e a divulgação deste manancial.

Joinville/SC, agosto de 2020

02 – O velho semeador – Edson Meier


As flores que colheres e presenteares a outro, a ti mesmo alegrarão

Cada um do seu jeito, mestres na vida e no amor

Meus pais

Horst e Irmgard Meier

Saudades e gratidão.
PREFÁCIO

“Ainda que as figueiras não produzam frutas, e as parreiras não deem uvas; ainda que não
haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher; ainda que não haja ovelhas nos campos nem
gado nos currais, mesmo assim eu darei graças ao Deus Eterno, e louvarei a Deus, o meu Salvador.
O Senhor, o Deus Eterno, é a minha força” (Habacuque 3.17-19a).
Conta-se que, certa vez, em uma plenária de universidade, celebrando-se a longa vida de
trabalho de um velho professor, este ficou longo momento em silêncio e cabisbaixo, quando se
esperava a sua resposta ao discurso elogioso que lhe dirigiram. As pessoas presentes acreditavam que
tivesse tido um apagão, que não sabia o que falar, que tivesse perdido o fio do pensamento. Mas, não.
Era um silêncio intencional. Quando começou o seu discurso ele disse: “Vocês sabem, a velhice tem
também suas vantagens...”. E levantou a cabeça para declarar: “Estou aqui pensando, tentando
encontrá-las, mas não as encontro! ”.
Ninguém quer envelhecer. Essa conversa de “melhor idade” ou “feliz idade” é papo balela,
propaganda de lar de idosos. E quando a gente visita esses lugares, o que se observa na maioria deles?
Isolamento vertical. Depósitos de pessoas idosas, isoladas da vida social e familiar. Felizmente, há
também alguns lares com propostas bem diferentes.
Mas, querido, estimada, este livro tem como objetivo lhe “empoderar”. Embora a velhice seja
uma realidade incômoda, você tem o poder de decidir, em muitos aspectos, como será a sua velhice.
Tome decisões melhores. Reavalie a sua vida, seus valores e prioridades. Tenha mais altruísmo e
autonomia. Segure as rédeas da sua vida enquanto puder. Não queira ser servido e bajulado enquanto
isso não for estritamente necessário... E você verá, vivenciará muitas alegrias, bênçãos e realizações,
também no tempo do entardecer da sua vida.
A velhice de cada pessoa é essencialmente reflexo de tudo o que ela foi e decidiu ao longo da
sua vida. Portanto, há boas notícias e há expectativas de que essa fase da vida possa também ser um
período muito significativo e fascinante. Por isso, é tão importante conversar sobre esse assunto;
quanto mais cedo melhor, quem sabe, o mais tardar, quando se está entrando no tempo da
aposentadoria.
É essencial, logo de início, destacar. Não estamos sozinhos nesta empreitada. “O Senhor, o Deus
Eterno, é a minha força”, proclama o profeta Habacuque. Vejam, mesmo que todas as evidências
digam o contrário, que haja derrotas e múltiplas dificuldades, Deus é a nossa Esperança, que preenche
todos os espaços e se espalha por todos os tempos. É assim que se compreende a inexplicável
tenacidade daqueles que, mesmo quando tudo lhes diz que seus valores foram derrotados e
superados, continuam a plantar sementes que só darão frutos para os filhos e os filhos de seus filhos.
São sementes de Esperança, que apenas nascem e crescem onde existe o amor e a vivência da partilha.

05 – O velho semeador – Edson Meier


1 – O semeadorzinho

Em certa região, havia um homem meio esquisito. Ele procurava todos os lugares onde havia
ervas daninhas, arrancava-as e semeava flores muito preciosas. Depois de alguns meses, as mais belas
flores embelezavam estes lugares, onde antes havia apenas inço. Viam-se as mais diversas qualidades:
margaridas, calêndulas, papoulas e outras. As pessoas daquela região quebravam-se as cabeças e não
conseguiam descobrir quem poderia ter semeado aquelas flores. Depois de muito tempo, elas
descobriram que era aquele homem esquisito que as havia semeado. A partir daí elas o chamavam de
‘semeadorzinho ’.
Vamos nos tornar também semeadores, que incansavelmente lançam a semente da palavra de
Deus pelo caminho desta vida a fora? Nós só passamos uma vez por este mundo. Nesta passagem
única, é muito importante que sejamos portadores de bênçãos.
Se você é do nosso time de semeadores, verá que nossas mãos estão aparentemente vazias,
pois semeamos no sopro do vento do Espírito, testemunhos de Fé, Esperanças e Valores, no prazer de
ver o fruto na semente. E assim, cada dia terá importância, até o último dos nossos dias, pois a
Eternidade está na mão aberta, de quem vive e morre no amor.
“O semeador colhe no momento em que semeia, porque já saboreia na imaginação a futura
colheita”.

2 – A generosidade no semear

06 – O velho semeador – Edson Meier


A natureza é abundante ao semear. De milhares de sementes espalhadas pelos ventos, pelos
frutos, pelas ramas partidas na tempestade, pelas bocas e intestinos de aves e animais, apenas poucas
dezenas irão germinar. A natureza se desenvolve na diversidade, no bioma, onde nada se perde, tudo
soma na transformação do lugar.
Um ou vários grãos caem em vãos e fendas de troncos e pedras. Lá no seu cantinho,
humildemente esquecidos e abandonados, escondidos de predadores, brotam entre restos de morte,
folhas em decomposição. E nada mais os segura. O seu guia, seu Norte, é a luz forte, a vida, o sol. Têm
vida breve. A terra que é pouca não lhes assegura aumento de seiva e nem lhes segura o peso da copa
erguida. Tombam e secam. Mas, no seu lugar de breve vida, a próxima semente encontrará um leito
enriquecido, melhor. E o arbusto já ficará maior.
Conheci de perto a “Agricultura de Precisão” que é aplicada nas extensas plantações de
monoculturas no nosso país. Em termos de produtividade, é uma técnica fantástica, que exige, no
entanto, análise e correção do solo o tempo todo. Quando Deus nos chama para sermos semeadores
de bênçãos, a partir da sua palavra, Ele não exige que avaliemos as pessoas, se merecem ou não o
nosso empenho. Deus também não nos cobra metas de produtividade. Apenas nos chama para
sermos suas testemunhas, seus semeadores. Sejamos generosos no semear, assim como se dá a
semeadura na natureza. O crescimento virá de Deus, a partir de muitos lugares, inclusive, que jamais
planejamos ou vislumbramos.

07 – O velho semeador – Edson Meier


3 – Apresentação do tema

O teólogo e pedagogo Rubem Alves afirma no início de um de seus livros:


“O mundo acadêmico é algo aterrorizador. Nietzsche dizia que, entre suas paredes, todos se
comportam como aranhas, esperando aquele que anda com pernas trôpegas. Daí que escrever é
uma coisa que produz medo. E todos tratam de se proteger, pelo estilo rebuscado e excessivamente
técnico, na esperança de que os leitores tomem águas barrentas por águas profundas. E vem as
infindáveis notas de rodapé e as inúmeras defesas. Nenhum flanco pode ficar aberto. Não se deve
dar ao leitor/adversário a mínima chance de falar. De fato, o ideal de um texto científico é de algo
tão perfeitamente tecido, tão provado e comprovado, que o leitor fique mudo, só lhe restando o
silêncio. Eu tomei a decisão de pular fora deste jogo, que me parece muito vazio de risos. Por uma
razão muito simples. Se eu sou capaz de conversar com alunos e amigos, em absoluta descontração,
sem notas de rodapé e sem respostas, dando asas à minha imaginação, sem que, por isto, eu seja
considerado ou louco, ou irresponsável, ou superficial, por que não fazer com que o livro seja a
continuação desta conversa, com mais gente? E foi então que me propus a escrever da forma como
eu falo. Estou seguindo um conselho de Nietzsche: ‘escrever com sangue’. Em outras palavras: é
necessário que o texto, como continuação do meu corpo, participe das minhas sombras e das minhas
luzes. O texto tem de abrigar o desejo. É isto que faz com que ele se ligue existencialmente com o
leitor. E, assim, a experiência de escrever e de ler se torna uma experiência de fraternidade... ”
Este livro, como aconteceu com meus livros anteriores, aparecerá na mesa e principalmente
nos computadores de muitos acadêmicos, mestres, doutores e, quem sabe, até de profissionais e
entendidos no assunto, cuidadores, enfermeiros, fisioterapeutas, médicos geriatras, estudiosos da
gerontologia, diretores de lares de idosos, etc. E então se dirá: “Quanta coisa já foi pesquisada,
comprovada e escrita nessa área por entendidos e bem formados. O que poderá vir de novo de alguém
que não é especialista no assunto? ”.
Tomo como minhas as palavras de Rubem Alves. Façam de conta que estamos numa sala de
aula, debatendo, falando sobre o tema. Eu apenas lanço sugestões, coordeno as falas, reflexões e
testemunhos, mas não sou o dono da verdade. Cada um pode opinar, questionar e propor algo
diferente. Destaco, no entanto, que não podemos perder o foco do nosso encontro. Queremos gerar
reflexões existenciais sobre o tema “A Vida, a Velhice e o Envelhecer”. Logo, todos os alunos,
independentemente da sua formação e especialidade, estão na mesma experiência, no mesmo barco,
pois todos verificamos o envelhecimento nos nossos próprios corpos. Assim, por exemplo, não se
busca saber do médico geriatra a porcentagem de perda de massa muscular ou de cálcio nos ossos a
partir dos 60, 70 ou 80 anos de idade. Mas, com certeza, seria interessante ouvir o seu testemunho
de como ele, sendo um médico formado e atuante na área, está vivendo a sua própria velhice.
Parafraseando Rubem Alves, que colocou em um de seus livros o título de “Conversas com quem
gosta de ensinar”, proponho então como subtítulo para o presente livro: “Conversas com quem está
ficando velho”. Não conheço alguém que esteja “gostando” de envelhecer. Por isso a questão precisa
ser colocada de outra forma. Se tantas pessoas falecem no auge de sua força e vigor ou até na infância
de suas vidas, não é o caso de sermos gratos e encararmos o nosso próprio envelhecimento como
benção e privilégio? Que Deus amplie nosso entendimento, através de seu Santo Espírito, também na
leitura deste manancial de textos.
4 – O macaco e o peixinho

Num canto do Brasil viviam um macaco e um peixinho. O macaco era conhecido por sua extrema
bondade e por gostar de ajudar os outros animais daquela mata. Naquela floresta tropical nunca fazia
frio, tudo era tranquilo e o macaco passeava de galho em galho, procurando alguém para ajudar.
Um dia, aproximou-se de um rio e, como não sabia nadar, ficou observando maravilhado as
suas águas claras. Viu então um pequeno peixe, que passeava em busca de alimento, sem se importar
com a sua presença. O macaco ficou então muito preocupado, achando que o peixe estava com frio e
poderia morrer afogado naquele rio imenso. Resolveu ajudar o pobre peixinho. Arriscando-se em cima
de um tronco que flutuava, conseguiu agarrar o peixe em seu passeio. Sentiu então que ele estava
gelado e pensou no frio que o coitado sempre teria passado, sem que ninguém o ajudasse. Isso o
deixou ainda mais satisfeito com a sua boa ação. Depois da operação salvamento, o macaco ainda não
estava contente. Acreditava que poderia ajudar muito mais o pobre peixinho. Decidiu, então, levá-lo
para casa e esquentá-lo com seus pelos. Na manhã seguinte, ao acordar, viu que o peixinho estava
morto. Ficou triste, mas não se preocupou demais, pois sabia que tinha tentado de tudo para ajudar
o amigo. Consolou-se mais, quando concluiu que o peixinho só poderia ter morrido devido a um
resfriado, o qual tinha contraído durante o tempo vivido na água, sem receber a ajuda de ninguém.
Em pouquíssimos casos apenas, você estará ajudando alguém, tomando decisões por ele e
retirando-o do seu lugar, do seu habitat, por melhores que sejam as suas intenções. Estimado filho ou
filha, pense nisso antes de retirar os seus pais idosos da sua casinha, do lugar onde viveram
praticamente toda a sua vida adulta. Esta deveria ser a última alternativa. Queridos velhos, não
sonhem em trocar a imensidão do mar azul pelo nado num aquário. Principalmente se vocês residirem
em área urbana, não se iludam, se forem morar em um quarto na casa de um de seus filhos, perderão,
inevitavelmente, amizades e o resto de liberdade e autonomia que ainda tinham. Esta deveria ser
apenas uma solução em casos severos, onde vocês realmente necessitam de cuidados o tempo todo.

5 - A Velha

Desci rapidamente as escadas. Precisava ainda fazer algumas compras. No portão de saída,
encontrei-me com a vizinha do piso de baixo:
- Bom Dia, vizinha! Como foi o Natal?
- A rotina de sempre. Culto, ceia, família reunida e troca de presentes.
- Legal. Sempre é bacana encontrar todos os irmãos e sobrinhos na casa dos pais, enquanto isso
é possível... E a virada de ano, vão passar novamente na praia?
- Sim. Mas o nosso problema é a Velha. Esse ano estou pensando em não a levar junto. Você
sabe, ela está praticamente cega por causa da idade. Quando come, faz aquela sujeira toda. E ela tem
e gosta da sua rotina aqui no pátio. Lá na praia, a rotina muda totalmente. Junta muita gente. Os
adultos comem, bebem e bagunçam o tempo todo. Os jovens deixam aquele som alto até tarde à
noite. Isso já não é mais ambiente para a Velha. Você vai passar o Ano Novo aqui no apartamento?
- Provavelmente...
- Seus filhos virão?
- Estão crescidos. Esse ano decidiram passear, conhecer novos lugares.
- Não sei como você consegue passar essas festas assim, sozinho. E quase nunca lhe vejo sair de
casa.
- Depois da minha aposentadoria, passei a trabalhar em casa com livros e o computador. No
momento, ocupo-me com as leituras para o meu próximo livro.
- Entendi. É por isso que está muitas vezes lá no banco da nossa pracinha, lendo ou escrevendo.
Mudando de assunto, posso deixar a Velha com você? Serão apenas dez dias...
Não posso negar. Gosto bastante da Velha. Ela me olha alegre toda vez que percebe a minha
presença na área comum do condomínio. Seus olhos cegos me encaram e brilham. Ela ouve e conhece
a minha voz e cheira a minha presença. Às vezes acordo com a sua tosse no piso de baixo. Ela tosse
quase todas as madrugadas. Coisa de velho. Mas isso não chega a me incomodar. Agora, conviver e
dormir na mesma moradia, somente eu e a Velha, por dez dias? Hesitei. Realmente estava com
dúvidas a respeito do pedido. Percebendo o meu vacilo e insegurança, a vizinha complementou:
- Você não precisa ficar com receio. Vai dar conta do recado. A Velha é um amor. Apesar da
idade e das suas limitações, ela ainda é muito independente. Você vai ver, tudo o que conseguir fazer
ela fará sozinha. Em nenhum momento ela exigirá, como alguns idosos fazem, que você a sirva. Ela
apenas necessita de cuidado. Você vai cuidar dos remédios, para que os tome na hora e dosagem
corretas. Você cuidará do preparo dos alimentos, congelados em sua maioria, que deixarei contigo.
Você vai cuidar da sua integridade física, principalmente acompanhando-a no seu passeio diário pelo
nosso jardim e pomar, rotina que ela adora.
- Tudo bem. Você me convenceu. Deixe a Velha comigo.
Na manhã seguinte, bem cedo, a Velha estava na minha porta. Com ela veio sua cama, roupas,
comida, um pouco de dinheiro, bilhete de telefones de contato e uma caixa de sapatos, cheia de
remédios, alguns deles administrados de doze em doze horas. Logo percebi que, por dez dias, teria
uma rotina rígida. Remédios, alimentação e passeio diário.
Para a minha surpresa, a Velha não sentiu falta da minha vizinha. Desde o começo, acostumou-
se aos cheiros e às paredes da sua nova morada. Adora rotina. É incrível como gosta de fazer todos os
dias a mesma coisa. Aprecia dormir. É o que mais faz, também durante o dia. Mas, quando percebe
que vou sair, já está do meu lado, pronta para ir junto. Às vezes sou obrigado a explicar que precisa
ficar e que retorno logo. Ela não fica chateada e deita novamente na sua cama ou diretamente no
chão, por causa do calor que faz nessa época do ano. Quando retorno, ela me escuta e cheira. Olha-
me alegre com seus olhos cegos.
Passamos a virada sozinhos. Nós dois e os fogos, os quais, aliás, ela odeia. Penso que tem medo
dos estampidos, até porque não enxerga a beleza das cores nas explosões. Naquela noite, fiz uma
comida especial. A vizinha estava certa. Em nenhum momento ela exige ser servida. Cumpre
rigorosamente e do seu jeito a sua rotina fisiológica. Não gosta de ser carregada, nem mesmo nas
escadas. Tem paciência para descê-las e voltar a subi-las no seu ritmo, lento e seguro. E, num convívio
assim leve e amistoso com a Velha, tornou-se então prazeroso exercer a função de cuidador.
Ah! Esqueci de explicar. A Velha é um cachorro e seu nome é “Pelota”. Minha vizinha, sua dona,
a chama carinhosamente de “Pepê”. A Pelota é uma cachorrinha idosa e cega. Já está com quase
dezessete anos de idade. Ontem a vizinha retornou da praia. Vocês nem imaginam a festa que a Velha
fez quando ouviu sua voz e sentiu seu cheiro.

6 - A Velha (2)

11 – O velho semeador – Edson Meier


Escrevi o texto “A Velha” há mais de dois anos. A Pelota ainda está entre nós. No entanto,
necessita de maiores cuidados. Não é mais possível deixá-la sozinha no pátio. Há dias que tem energia
sobrando, pende a cabeça para o lado e começa a andar em círculo, sempre para o mesmo lado, sem
parar. Então alguém vai lá e a pega no colo, livrando-a daquele “encalhe” no movimento repetitivo. E
há os dias em que está trôpega, que cai sozinha, não se aguentando em pé. Contudo, ela não desiste
da busca por sua rotina. Adora cheirar as plantas, as pedras e escolher o lugar ideal para o seu xixi,
demarcando assim o seu pequeno mundo.
Estimado velho, se você for abençoado com longevidade na sua velhice, é bem provável que
passará por uma fase em que precisará de cuidados maiores. Talvez, alguém terá que lhe ajudar a sair
da cama, sentar na cadeira de rodas, etc. Se você está consciente de tudo o que está acontecendo,
poderá tomar atitudes positivas, que farão toda a diferença. Lembre-se de amigos seus, que não
passaram por essa experiência. Por que? Porque já faleceram. Faleceram mais novos. Você é um
sobrevivente. Há um propósito nisso, que somente você poderá entender. Há coisas que ainda
consegue fazer. Faça questão de fazê-las. Procure animar-se com pequenas coisas e vitórias. Converse.
Alimente seu espírito, lendo e meditando. Se você não consegue mais ler, peça para alguém reler para
você o seu livro preferido, o texto diário do seu devocionário ou um capítulo da Bíblia. Tome banho
de sol e tenha contato com a natureza. Se ainda consegue, alimente-se sozinho, de preferência na sua
cadeira e mesa. Mantenha organizados seu quarto, suas fotos, seus documentos, suas lembranças e
alimentos da alma, que sempre lhe foram significativos. Acompanhe o noticiário na TV e, se possível,
na internet, e então terá mais assunto para conversar com filhos, netos e amigos. Mantenha-se
“ligado” no que está acontecendo. Não permita que lhe desliguem e alienem da vida.
(Em tempo: Hoje, dia 10/08/2020, a Velha, nossa cachorrinha Pelota, foi embora. Adeus,
querida amiguinha!).

7 – Velho ou Idoso?

O que combina com velho é jovem. O que combina com idoso é nenê. O que combina com
velho é teimosia e autonomia. O que combina com idoso é firula e fila especial. O que combina com
velho é careca, barbeiro e dentadura. O que combina com idoso é implante, cabelereiro e fina
educação. O que combina com velho é xixi no mato. O que combina com idoso é cuidador e cheiro
bom. O velho acorda à noite e incomoda. O idoso dorme a noite toda, na sua cama cheirando talco
- Pompom. O velho adora Seguridade Social, Posto de Saúde e atendimento no SUS. O idoso
também.
Construí no terreno dos meus pais. Eles já faleceram. Deixaram-nos, como herança, a sua casa.
Por enquanto, está lá, fechada. É uma casa idosa.
Meu veículo é um carro idoso.
Não! Isso não combina. A casa dos meus pais é uma casa velha. O meu carro, ano 2000, é um
veículo velho, e não vejo nenhum mal nisso.
Se meu filho me disser um dia “E aí, velho, tudo de boa? ”, responderei tranquilo: “Tudo nos
conformes. Deus lhe abençoe, tenha êxito e envelheça! ”. Mas, se ele vier com esse papo de “idoso”,
não vou gostar muito, pois esse termo me passa a ideia de especial, de isolamento vertical (como
agora, na pandemia), de incapacitação para tarefas e decisões normais e corriqueiras. Ninguém deve
abdicar de sua autonomia e decisões, enquanto tiver consciência do que está fazendo e do que está
acontecendo.

Velho é velho. Há tantas coisas velhas que funcionam bem e têm seu valor especial justamente
porque já o provaram, através das experimentações ao longo do tempo. Idoso dá a ideia de alguém
que precisa ser reverenciado e respeitado. Porém, no dia a dia, é visto como um problema. É isolado,
ignorado e retirado da vida ativa e social. Existe, pelo menos, essa tentativa. É claro que cada idoso
aceita mais ou menos esse condicionamento social.
Nesse sentido, eu lhe peço: Não me chame de avozinho ou velhinho. Nem mesmo de idoso.
Pode, sim, me chamar de ancião ou velho, pois Velho é um jovem que vingou, que deu certo, cresceu
e amadureceu. É isto o que eu sou.

8 – Você tem plano?

- A pergunta é se tenho plano? Tenho: Plano de internet, plano de telefonia celular, plano de
assinatura de TV, plano de segurança privada na nossa rua, plano de contribuição na igreja...
- Não enrola! Eu perguntei se você tem plano de saúde, plano odontológico e plano funeral.
- Caramba! Meu ex-colega de empresa, agora você me pegou. Depois da minha aposentadoria,
não consegui manter esses benefícios. Não tenho nenhum dos três. Talvez seja até uma
irresponsabilidade não ter pelo menos o plano funeral, porque este, com certeza, um dia vou precisar.
13 – O velho semeador – Edson Meier
A vida segue. Dei de ombros para o assunto. Como a maioria dos aposentados brasileiros, não
tenho condições financeiras para manter esses planos assistenciais. Esses dias, tive que suspender o
meu seguro de vida, pois simplesmente dobraram o valor da mensalidade por ter entrado numa nova
“faixa de idade”. Até parece que, de uma hora para a outra, cheguei mais próximo da morte.

9 – Ponte móvel ou implante?

Como já falei, não tenho plano odontológico. Contudo, sei que é prudente fazer uma reserva
financeira para tratamento dentário, pois, cedo ou tarde, necessitaremos de um procedimento mais
oneroso. E aqui não há atendimento especializado no SUS.
Aconteceu comigo esse ano. O lanche estava pronto. Adoro sanduíche com queijo e presunto
no café da manhã. O pão francês era do dia anterior, daquele que fica “meio dormido”. Mas isso é
apenas um detalhe. Dei aquela primeira mordida, onde a gente puxa um pouco o pão para rasgá-lo.
Tive a nítida impressão de que mordi num osso. Verifiquei o pão. Não achei nada. Então senti o meu
principal dente da frente, na parte superior, totalmente solto. Havia quebrado bem no meio da raiz,
um pouco acima da linha da gengiva. Perda total. Não era uma janela. Tenho os dentes enormes. Ficou
uma porta escancarada no meu sorriso e até na fala. Que paulada na autoestima.
Na verdade, eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Tenho problemas de
gengiva. Em alguns dentes ela se retraiu e subiu, deixando à mostra as raízes. A raiz é uma parte mais
frágil do dente, pois não é recoberta de esmalte. Naturalmente, essa raiz exposta vai se desgastando
e afinando, tornando o dente mais fraco com o passar dos anos, principalmente os dentes da frente,
onde há uma raiz apenas.
Na consulta ao dentista do meu bairro, profissional que eu já conhecia e que é da minha
confiança, fui colocado diante do dilema: Ponte móvel ou implante? Incrível. É quase unanimidade
entre eles. O dentista quer nos vender o implante. “Tem um senhor idoso de oitenta anos, aqui do
nosso bairro, que investiu R$ 16.000,00 na compra de sete implantes dentários na arcada superior e
está ‘rindo de alegria’”. São histórias que nos contam. Também o meu dentista não teve muita
paciência para me explicar outras alternativas.
Fiz uma pesquisa na internet. Fiquei surpreso com a quantidade de vídeos postados por
dentistas, o que me ajudou bastante na minha decisão. Não vou falar aqui qual foi a minha opção, até
porque cada paciente é um paciente, o qual tem as suas expectativas e a avaliação profissional do seu
dentista. No entanto, como existe muita propaganda de vendas nessa área, quero apenas deixar aqui
algumas observações quanto ao assunto.
Apenas o nosso dente natural é dente. Não existe nenhum produto no mercado mundial que
se iguale a ele ou o substitua em 100% de similaridade. Hoje a gente vê jovens desgastando dentes
naturais e sadios para a colagem de próteses de porcelana por um mero apelo midiático e estético,
quando a gente sabe que a nossa beleza está justamente naquilo que temos de único e exótico, e isso
inclui a nossa arcada dentária.
Implante dentário não é dente. Implante dentário é prótese fixa, uma imitação, uma
substituição do dente perdido. Os dentistas normalmente falam apenas das vantagens do implante.
Existem também algumas limitações e cuidados que precisam ser tomados. Tem a questão de
doenças, como o Diabetes ou Doenças Periodontais (relacionadas à gengiva e estrutura óssea). Outra
questão importantíssima é a higienização dos dentes. Como o idoso fará a escovação e a limpeza de
seus dentes? Conseguirá fazer isso sozinho? A prótese fixa sempre demandará um cuidado maior
nessa questão, pois a dificuldade de limpeza é maior. A prótese móvel poderá ser retirada da boca e
higienizada. Ali estarão apenas os restos de alimentos decorrentes da última refeição. Restos de
comida não retirados dos dentes e das próteses fixas formam placas bacterianas, que por sua vez
irritarão e até poderão gerar inflamações nas gengivas, gerando mau hálito ou complicações mais
severas.
A gente nunca imagina que um dia poderá necessitar da ajuda de um cuidador para escovar os
nossos próprios dentes ou, de igual modo, se ver na obrigação de escovar os dentes do nosso pai ou
mãe idosa. Mas, este é um fato. Em algum momento da nossa vida seremos cuidadores de alguém ou
até mesmo pessoas acamadas, necessitando de cuidados alheios. E, então, já estamos conscientes de
que dentes naturais e próteses fixas exigirão muito empenho e boa vontade do cuidador para
higienizá-las ali na boca do paciente atendido.
São estas algumas das questões que eu avaliei para a tomada da minha decisão. A propaganda
enaltece a nossa vaidade e expectativas imediatas. Mas, é importante avaliar também as questões
práticas e de médio e longo prazo. No que me diz respeito, apesar de ter afirmado que não revelaria
o procedimento que faria, estou bem propenso a optar pelo implante, pois necessito da prótese para
um dente apenas. A ponte móvel, por um dente, demandará ganchos em outros dentes e uma
estrutura no céu da boca, algo que sempre incomoda um pouco, principalmente até a gente se
acostumar.

10 – Há coisas que merecem ser desfrutadas

15 – O velho semeador – Edson Meier


Há coisas que devem ser usadas e coisas que devem ser desfrutadas. Quando eu uso algo, este
algo é sempre um meio para outro objetivo, não importa que eu esteja usando coisas, pessoas ou
palavras. Mas quando desfruto alguma coisa, este desfrutar é sempre um fim em si mesmo. Brinquedo
de criança é isto: um fim em si mesmo, para ser desfrutado, algo que distribui o prazer, a alegria.
Usufruir sem produzir: negação radical de tudo aquilo que consideramos normal e decente na
vida adulta responsável. Com o que concordaria o filho mais velho da parábola de Jesus, que oferecia
como credenciais de sua identidade espiritual aquilo que ele havia produzido, contabilizado agora
como crédito seu e dívida do pai... Não é de causar surpresa que ele justamente se indignasse com a
festa, em que a graça do pai oferecia àquele que nada havia produzido a alegria do prazer.
Até parece que tudo, em nosso mundo, tem a marca da lógica do filho mais velho: usar as coisas
para produzir e contabilizar.
Feliz e sábio é aquele que começa a entender, na medida em que vai chegando à velhice, que a
vida e o corpo não são meios para alguma coisa. Eles são fins em si mesmo. A rotina do corpo e da
vida são diários. O sentido da vida está mais em saber usufruir o prazer e alegria do amor, da amizade
e do encantamento do que nos resultados práticos de nossa atividade, muitas vezes decrescentes em
volume e eficiência.

11 – Quando o desapego é amor

Aprenda a desapegar-se em vida, no centro da sua existência, na boa vida de realizações,


prazeres e saúde. E você viverá melhor. Descobrirá que o nome dessa grandeza é amor.
Podemos dizer, com segurança, que o apego é a raiz de muitos males, de quase todos os
sofrimentos. Por nos julgarmos “donos” de tantas coisas, da nossa própria vida ou de pessoas,
acabamos por tornar-nos “posse” dessas coisas, do nosso ego e dessas pessoas. Por isso sofremos
tanto. Perdemos nosso próprio controle, nossa capacidade de ação, tornando-nos objeto dessa
possessão incontrolável.
E isto acontece porque, pensando que se tem a posse, o controle de tudo, criamos uma ilusão,
uma mentira, já que é impossível controlar, de forma absoluta, tudo o que se move e se modifica a
todo instante. Descobrindo esta realidade indiscutível, de que tudo é impermanente no universo em
que vivemos, descobriremos ser impossível ter posse absoluta de todas ou qualquer coisa e pessoa,
da nossa própria vida, de cargos e títulos, de bens ou o que quer que exista nesta realidade
impermanente de espaço e de tempo.
Confundimos apego com amor, e desapego com desinteresse. Distinguindo bem essas duas
coisas, interagiremos em nosso dia a dia com todas as pessoas, a nossa própria existência, títulos,
cargos e bens materiais de maneira mais saudável, sempre levando em conta que, se tentarmos
agarrar firmemente aquilo que julgamos possuir, correremos o risco de esmagá-lo entre nossos dedos.
Mas, se lidamos com ele com desprezo, certamente iremos igualmente perdê-lo.
Relacionar-se com amor, mas sem ser apegado, é a melhor maneira de tudo ter, mesmo de
nada tendo posse absoluta. Só assim conseguiremos ser verdadeiramente felizes.
Uma lição para ser bem lembrada: toda vez que nos julgamos donos, tornamo-nos posse!
12 – Somos todos mortais

Em um mito grego, Sísifo havia desafiado os deuses por ter acorrentado a Morte e por ter
esquecido de voltar às profundezas da terra após a sua morte. Os deuses o condenam à imortalidade.
O problema maior não passa a ser a sua imortalidade, mas a mortalidade dos outros, de todos os que
convivem com ele. Toda pessoa que ele conhece e com quem se relaciona, por ser mortal, acaba
morrendo em determinado momento. Somente ele sobrevive e fica só. Passa a relacionar-se com a
próxima geração e assim sucessivamente.
O mito caracteriza essa condenação como um pesado fardo. É como se Sísifo arrastasse uma
pesada pedra para o topo da montanha. Chegando quase ao topo, a pedra lhe escapa, devido ao seu
peso, rolando até o pé da montanha. E ele se vê condenado a iniciar tudo de novo, o mesmo esforço,
as mesmas dificuldades, sem que veja sentido no seu trabalho, sem que haja a perspectiva de que um
dia a tarefa seja concluída e termine. Os deuses tinham pensado muito bem no castigo, pois não há
castigo mais terrível do que o trabalho inútil, pesado, interminável e sem esperança.
Sempre temos encarado a morte como algo negativo. Mas, na verdade, ela é o que de mais
certo e igualitário temos na vida. Morrer é um dado estruturante de nossa existência. Todo ser vivo
que está aí neste mundo é um ser para a morte. Felizmente, nenhum dos nossos semelhantes foi
“condenado” à imortalidade, por mais dinheiro e poder que possua. O dinheiro de uma pessoa tem
data de validade. Quem morre com as mãos cheias de dinheiro e bens morre absolutamente sem
nada, assim como seu irmão pedinte, que morre sozinho na rua.
Esse é o lado bom dessa realidade. Temos apenas uma vida e ela é finita. E é nesta vida que
temos a oportunidade de realizar os nossos projetos e sonhos. Sábio é aquele que leva em
consideração essa realidade sua e de seus parceiros de caminhada na existência terrena.

13 – O contrário da sabedoria é a tolice

Um empresário brasileiro, que passou a investir em projetos de desenvolvimento em favor de


pessoas necessitadas, foi muito sábio. Perguntado pelo motivo que o levava a fazer isso, respondeu:
“Morrer rico é a maior falta de imaginação, é a maior prova de tolice! ”.
O contrário da sabedoria é a tolice. Quando o homem rico da parábola de Jesus tomou a decisão
inteligente e autossuficiente de usufruir suas riquezas pelo resto da vida, Deus lhe disse: “Seu tolo!
Esta noite você vai morrer, e quem ficará com tudo o que você guardou? ” (Cf. Lucas 12.20).

14 – A curva da vida

O psicoterapeuta C. G. Jung equipara a vida ao percurso do sol. Este nasce, vai se elevando no
horizonte, encontra-se a pino ao meio-dia, passando então a realizar um movimento descendente;
põe-se no final da tarde – isto é, morre – e então percorre o outro lado da Terra durante a noite. A
vida humana teria esse mesmo ritmo, numa curva parabólica. Jung enfatiza o momento do meio-dia,
ou a metade da vida, que denomina de “metanoia” (termo grego, que significa “mudança de
sentimento”, “arrependimento”), como constituindo a ocasião de a consciência abrir-se para o outro
lado, isto é, tendo se diferenciado e afastado da escuridão e sentindo-se mais fortalecida, passa então
a reconsiderar o valor do inconsciente e a se voltar para o que lhe falta ainda desenvolver.
Depois o sol começa a declinar no horizonte, em analogia ao que acontece com o corpo. A
consciência, no entanto, continua em expansão, tendo agora de considerar mais atentamente as
crescentes limitações físicas e a perspectiva do final da existência do corpo. Jung diz que no meio-dia
da vida nasce a morte, e que esta passa a ocupar um lugar fundamental na consciência, devendo
mesmo constituir o principal centro de interesse no envelhecimento.
É evidente que é uma forma didática de falar. Sabemos que a morte das células nos acompanha
durante toda a vida. As células se renovam. Umas morrem e outras nascem. Mas, sob o ponto de vista
do desenvolvimento biológico, é visível e comprovado que existe a subida da montanha e a descida,
após os quarenta anos de vida. Nesse sentido, há coisas que são normais para quem sobe. Já para
quem desse, é normal a visão mudar e passar a valorizar outras coisas. Jung afirma que é tão neurótico
(anormal) o idoso que não se preocupa com a morte quanto o jovem que reprime suas fantasias sobre
o futuro.

18 – O velho semeador – Edson Meier


Aos vinte anos de idade, fui instrutor no centro de treinamento para funcionários novos em
uma empresa metal mecânica da minha cidade. Praticamente todos os alunos que passavam pelo
nosso treinamento tinham menos de quarenta anos. Uma das minhas palestras tinha como título “A
curva da vida”. E eu nem sabia que era uma teoria do Jung. Como foram maravilhosos aqueles tempos
jovens. Toda a vida pela frente. Todos olhando para cima, o topo da montanha - os objetivos que
queríamos alcançar antes dos quarenta anos de idade. É desafiador. Quando a gente está subindo é
hora de agregar forças, competir e comparar. Testar todos os limites. Planejar. Executar. Vivenciar.
Conhecer novos projetos, pessoas e lugares. É o tempo de grandes decisões, de eleger e cultivar os
valores, que certamente direcionarão o nosso caminho e nos acompanharão por toda a vida.
O tempo passou, e hoje estou na descida, entrando na velhice. Quero apenas dar uma dica
animadora. Também na descida há coisas fantásticas e surpreendentes, porque a gente não desce
pelo mesmo lado que subiu. Mesmo descendo, a vida vai para a frente e se renova a cada dia. A
passada, contudo, é dada em outro ritmo, e a nossa visão e pensamentos mudam bastante. Sabemos
que estamos chegando mais próximos de Deus e dos que já morreram e vão morrendo antes de nós.
A natureza conhece a morte e se prepara para ela, afirma Jung. Na velhice, a contemplação, a reflexão
e as imagens interiores vão assumindo importância crescente e a maioria das fantasias, sonhos e ideias
que surgem são antecipações, exercícios preparatórios. Objetivamente, o que a consciência pensa a
respeito da morte é indiferente. Mas, subjetivamente, a diferença é enorme, podendo significar saúde
ou patologia, sentido de vida ou vazio insuportável.

15 – A existência desnuda aos quarenta

19 – O velho semeador – Edson Meier


“Dois cegos, assentados à beira do caminho, tendo ouvido que Jesus passava, clamaram:
‘Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós! ’ ... Condoído Jesus, tocou-lhes os olhos, e
imediatamente recuperaram a vista, e o foram seguindo” (Mateus 20.30 e 34).
Conta-se que a águia, quando chega à metade da sua existência, precisa decidir se quer viver
mais ou não, pois suas unhas e bico ficam moles e as penas das suas asas ficam oleosas e pesadas,
diminuindo sua capacidade para caçar. Ou ela decide renovar ou morre de fome. Para a renovação,
ela sobe numa montanha rochosa e bica na pedra até arrancar seu bico. Com bico novo, arranca suas
unhas e as penas velhas das asas. Em cento e cinquenta dias, a ave está novamente em condições de
caçar. A decisão da águia exige uma atitude. E esta lhe garante a continuidade da vida.
Já se disse tantas vezes que “a pior cegueira é aquela em que não queremos ver”. Os dois cegos
do texto querem voltar a ver e por isso tomam uma atitude. Eles gritam para Jesus pedindo ajuda.
Jesus os cura. O milagre perpassa a dimensão física da cura e desafia a uma reflexão profunda sobre
as nossas atitudes de vida, sobre as nossas cegueiras, que marcam e alteram os corações, que
impedem de se ver coisas boas e positivas nas pessoas; que ofuscam nosso entendimento e prática
do respeito nos relacionamentos amorosos, profissionais e familiares; que nos deixam insensíveis à
solidariedade humana; que nos tornam agressivos, intolerantes e indiferentes; que nos impedem de
amar...
É importante falar bastante da chegada aos quarenta ou cinquenta anos e do quanto é
importante parar para fazer uma “revisão”, uma reavaliação de toda a vida. Essa idade se caracteriza
como o ponto alto da realização profissional, mas também como o auge do desencanto com a vida
adulta. Normalmente, o idealismo social da juventude já se transformou em conformismo,
individualismo e resignação. Infelizmente, muitos dos que ainda se angustiam diante da contradição
que agora vivem acabam aceitando a mornização das emoções, através da química dos remédios
“faixa preta” ou de outras formas de entorpecentes. Já está constatado que nos homens, p. ex., essa
é a idade em que mais ocorre a incidência da tristeza crônica, a depressão.
O psicoterapeuta Jung, provavelmente, foi pioneiro ao explicar que as pessoas que são felizes
durante a vida têm uma segunda adolescência. Geralmente, se acontecer, isso ocorre entre os
quarenta e os sessenta anos de idade. Nessa oportunidade de desenvolvimento, modificamos nossa
orientação original, que nos tornava preocupados com as opiniões dos outros, e passamos a nos
preocupar com o crescimento e vir a ser de nosso próprio ser. Muitos não passam por esse estágio.
Outros tentam e fracassam, geralmente retornando mais rígida e concretamente àquilo que eram
antes da tentativa. Quando chega o período final da vida, o Tempo de Morrer, é possível observar a
diferença entre os que passaram por esse estágio de desenvolvimento e os que ainda não passaram.
Os que realizaram essa mudança encontram a morte com muito menos amargura, tristeza e
desespero. Eles têm menos necessidade de ajuda; são seus próprios companheiros, aceitos e
conhecidos, durante a jornada. O Tempo de Morrer é a última oportunidade para se ter uma segunda
adolescência. É importante que a pessoa tenha ajuda para isso, mesmo que há muitos anos ela tenha
tentado fazer essas mudanças e tenha fracassado.
Paradas, revisões e mudanças são importantes em qualquer fase da nossa vida, pois não
precisamos nos conformar com uma vida “mais-ou-menos”, que não nos agrada e realiza. Podemos
tomar uma atitude, decidindo pela diferença, valorizando e apostando em projetos novos e
alternativos até o último momento da nossa existência. Ao suplicarmos pela misericórdia de Deus,
para que nos conceda a vontade de voltar a ver, é importante e essencial mudarmos de fato o nosso
modo de viver. Que possamos ensaiar paradas periódicas de livre desprendimento, que nos
possibilitem um encontro com a nossa existência desnuda (sem bico, penas e unhas), antes que a
própria vida nos leve, sem o nosso consentimento, a esse encontro inevitável, pegando-nos
despreparados ou, inclusive, não nos dando uma outra oportunidade de restabelecimento e mudança
de rumo, na direção de uma existência nova e jovial, plena de sentido, livre, única e marcante.
“Um adulto que se assenta num balanço é porque perdeu a vergonha. E perder a vergonha é
o início da felicidade”.

16 – Paz e força em meio à turbulência

“O homem justo é corajoso como o leão” (Provérbios 28.1b).

“Os ácidos da injustiça modificaram a química da minha alma”. Assim escreveu uma médica
certa vez ao missionário americano Stanley Jones. Esta afirmação deixa muito claro a que ponto a
gente chega por fim com o nosso Idealismo. Quase toda pessoa jovem tem uma generosa dose de
gana pela vida e por aquilo que é o certo e o justo para o mundo e a humanidade, o que chamamos
de “Idealismo” e “Humanismo”. E assim, numa visão inicial, o jovem realmente se parece com um leão
novo, cheio de gás e energia. Mas aí vão surgindo as pessoas, a vida e o mundo. Sem nos darmos
conta, somos cooptados, acorrentados no nosso dia a dia. A maré de injustiças é forte demais.
Preparam-nos desilusões e traições, vindas de instituições e pessoas que até então julgávamos sérias
e éticas. Por fim, “a química” da nossa própria alma vai sofrendo uma grave mutação. Aos poucos,
desistimos dos nossos próprios ideais. E então passamos a conviver com os nossos complexos, brigas
e discussões inúteis, estupidez, inimizades e menosprezos, arrogâncias e vaidades mesquinhas,
ofensas e rancor acumulado. E se tudo isso não bastasse, envelhecemos. As forças e a aparência física
já não são mais as mesmas. Para completar, há também o nosso ateísmo e a consciência pesada por
termos sido tão covardes, ao trairmos os nossos ideais e até antigos companheiros, tudo isto só para
nos darmos bem na vida ou, como diríamos, para “sobreviver” e alimentar as nossas crianças. Não há
como deixar de perguntar: isto é vida?
O problema todo não está no Idealismo nem no Humanismo, pois são filosofias boas e
propositivas. O problema está na nossa arrogante autossuficiência. Por isso, sempre é cruel “cairmos
na real” e percebermos que fracassamos, que somos frágeis e limitados.
Mas, por outro lado, vermo-nos como de fato somos é um presente de Deus. A Bíblia não nos
coloca coisas inalcançáveis diante dos olhos. Trata de coisas factíveis e reais. Quando ela diz que
podemos ser “corajosos como o leão” é porque de fato podemos ter uma vida assim, bastando
pertencermos ao grupo dos “homens justos”. Mas que tipo de pessoas são estas? São pessoas que
Deus mesmo declarou justas, porque creem no Senhor Jesus Cristo. A Ele confessaram os seus pecados
e fraquezas. E Jesus os lavou com o seu próprio sangue. Por Ele se tornaram filhos de Deus. E isto
consola e dá paz.
Em Provérbios 30.30 ainda nos é dito: “O leão, o mais forte entre os animais, por ninguém
torna atrás”. O intrépido leão encontra grandes perigos e obstáculos no seu estreito caminho. Mas
ele avança sobre eles com voracidade. O que isso significa para os cristãos já explicou Lutero numa
carta que escreveu para Michael Drossel: “Vocês procuram e anseiam por paz, mas da forma e no
lugar errado. Saibam, pois, que Deus se mostra de uma forma tão maravilhosa entre seu povo,
justamente porque Ele coloca a paz ali onde não reina a paz, em meio a todo tipo de privações e
tentações. A paz de Deus não é uma paz que a ninguém incomoda e que nem é percebida. Quem é
agraciado com a paz de Deus suporta tudo pacientemente, mesmo quando tudo preocupa e ameaça”.

22 – O velho semeador – Edson Meier


Ainda um exemplo da Bíblia. Próximo a uma ilha, chamada Malta, navegava um barco com
muitos viajantes a bordo. A tempestade açoitava a embarcação, a ponto de lhe danificar a frágil
estrutura. O que aconteceria com eles? O naufrágio era eminente. O pânico tomou conta de todos, o
que lhes impedia qualquer reação coordenada. Em meio a esse povo apavorado, o apóstolo Paulo
toma a palavra. A sua condição era talvez pior do que a deles, pois ele seguia em direção à sua
eminente condenação e morte. Que situação, a morte o rondava de uma ou de outra forma. Mas no
convés, todos ouvem agora os berros e comandos da sua voz quando propõe: “Eu vos rogo que comais
alguma cousa; porque disto depende a vossa segurança... Tendo dito isto, tomando um pão, deu
graças a Deus na presença de todos e, depois de o partir, começou a comer. Todos cobraram ânimo
e se puseram também a comer” (Atos 27.34a,35 e 36).
“O homem justo é corajoso como o Leão”. Por que? Por causa da sua justificação, que Deus lhe
presenteou através de Jesus Cristo. Quem crê em Jesus é justo perante Deus, e isto consola, dá força
e paz, mesmo em meio à turbulência.

17 – Batalhas

Tenho orgulho de vitórias, de diplomas e de metas que atingi.


Porém, há lutas que a gente perde, não por fraqueza ou covardia, mas por coerência a valores,
grandeza de alma leve e solidária, que não se submete ao arbítrio, ao canalha.
E, então, na velhice, na memória, tantas vezes até solitária, há um prazer que nos inunda e
transcende. Aquelas batalhas de amor são nosso vigor para sempre, eternamente.
O antropólogo Darci Ribeiro declara, já nos seus tempos de velhice:
“Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não
consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas
vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.

18 – A ovelha estraçalhada

Há lutas que a gente perde por fraqueza, negligência ou incompetência. E então o lobo chega
antes de nós, forte e voraz, e estraçalha a ovelha. Seguidamente me vejo avaliando minha atuação
como pastor de paróquia. E então lembro daquela família carente, que eu sabia que estava em sérias
dificuldades; daquela pessoa doente ou enlutada, que não visitei e ajudei com mais empenho. É duro
reconhecer as nossas limitações e falhas. Mais difícil ainda é conseguir perdoar a si mesmo.
Há um livro que fala sobre a fase terminal da vida de um professor chamado Morrie Schwartz.
Em seu leito de morte, ele fala sobre o sentido da vida e faz uma revisão da sua existência. Ele afirma:
“Não é só aos outros que precisamos perdoar... Precisamos nos perdoar também”. A prática do perdão
precisa ser uma constante na nossa vida, não só no final dela.
Jesus, felizmente, não contou a “parábola da ovelha estraçalhada”, pois então teria que falar
da nossa atuação, como pastores e líderes, como cristãos humanos e limitados. Na “parábola da
ovelha perdida” Jesus está falando de Deus, d’Ele mesmo. Ele é o bom pastor. É isso o que importa.
Ele não nos chama para sermos um “pequeno Jesus” ou um “pequeno Deus” para os nossos
semelhantes. Não temos essa onipotência. Somos chamados para sermos “testemunhas” do poder e
amor de Deus, luzes que refletem a claridade de Deus no mundo. E isto apenas é possível quando
estamos conectados na corrente de energia que vem de Deus, quando somos ramos que estão na
videira. E aí sim, produziremos frutos de amor.
Por mim mesmo, há coisas que não consigo perdoar. Há mortes e injustiças que não consigo
aceitar. Há desejos de vingança que não consigo evitar e superar. Somente na comunhão com Deus
posso sobrenadar esse universo tenebroso e acordar para um novo e radiante dia.
Jesus perdoou a Pedro e também perdoaria a Judas pela traição. Jesus perdoa a mim e a você.
Ele sabe o que se passa no nosso coração, especialmente agora, neste momento, no dia de hoje. Se
Jesus lhe perdoou, não queira você ser o cabeça dura. Saiba se perdoar também. Você ainda tem a
chance de ser uma pessoa melhor e mais feliz.

19 – Natal no aeroporto
(Conto de Christina Rocha)

Ele já havia perdido a conta das vezes que desembarcava no mesmo aeroporto. Podia percorrer
os corredores sem que precisasse pensar em seus trajetos. Talvez fosse mesmo assim... Já percorria
muitos de seus caminhos pessoais sem que estivesse atento às escolhas de seus passos. Parecia
desconectado de seu corpo, seus gestos eram automatizados. Enfim, o que podia ser diferente numa
sexta-feira, após voltar de uma viagem de negócios?
Respirou fundo e se deu conta de uma leve irritação. Havia chegado mais cedo, o que era
surpreendente. Isso não acontecia normalmente. Dessa vez, considerando a impontualidade do
tempo, havia solicitado que alguém viesse buscá-lo, prevendo um atraso de meia hora, e agora estava
ali, aguardando.
Sentou no hall de desembarque e, antes que se envolvesse com sua agenda e alguma anotação,
percebeu-se surpreso com o que via e ouvia. Quase à sua frente, estava o Papai Noel, tocando músicas
natalinas ao piano. “Mas já? ”, pensou consigo. Retomou em sua mente dia, mês e ano. Ainda havia
tanto por fazer.
Tudo parecia tão fora do contexto, havia tanto despropósito em ouvir músicas de Natal num
aeroporto, tocadas num piano, por um homem de barbas brancas, fantasiado de vermelho, em meio
a pessoas que iam e vinham, na chegada de dezembro.
Mas a fantasia vermelha tão descabida, a música que parecia inapropriada ao ritmo do lugar,
fez com que seus pensamentos divagassem. Como relances, cenas pareciam surgir em sua mente com
as mesmas cores, nuanças e ternura dos momentos em que foram experienciadas. Por quantas vezes
vivemos as mesmas cenas e que impactos elas têm em cada um agora que as revivemos? A família,
seus pais, os preparativos para o Natal, a ceia, os presentes, os cantos de celebração. Os símbolos, os
ritos, os cantos, os abraços, sorrisos e gestos que os acompanhavam pareciam ter se distanciado de
seu mundo pessoal. Quando havia se perdido de todas essas coisas?
Pergunta incômoda. Havia tantas coisas perdidas em si. Uma cena que julgara tão cheia de
despropósito lhe fazia perguntar sobre o que acontecia com as coisas esquecidas em sua própria vida.
Em meio a essas lembranças seus olhos observam a porta de entrada. Viu seu filho adolescente
e a esposa à sua procura. Levantou-se e fez um breve gesto chamando a atenção dos dois. Como seu
filho estava crescido, sua esposa parecia diferente, enfim tudo parecia tão diferente. Encontrou-os e
os cumprimentos lhe pareceram frios e distantes. Sentiu falta do aconchego das lembranças que
guardava em si, das celebrações de Natal. Percebeu o quanto tinha para resgatar.
Distanciou-se da cena do hall de desembarque e parecia reencontrar-se com os desafios de sua
vida. Queria celebrar o Natal como um novo nascimento. Precisava disso. Passou o braço pelo ombro
de seu filho e apertou suavemente a mão de sua esposa. Estava voltando para casa.

20 – O velho piano de Albert Schweitzer

Conta-se que certa vez um visitante distinto estava passando alguns dias na casa do pastor e
médico Albert Schweitzer, na África. Ao entrar na sala de jantar, o visitante viu um piano velho,
arruinado e torto. Após terminarem a refeição, o Dr. Schweitzer, seguindo o seu costume, assentou-
se ao teclado do instrumento envelhecido e começou a tocar. E logo ecoaram pela sala belas e
majestosas melodias.
Descrevendo o caso mais tarde, o visitante escreveu em seu diário: “Em suas mãos o velho piano
parecia perder a sua pobreza”.

25 – O velho semeador – Edson Meier


21 – Viva hoje intensamente!
(Texto atribuído à Gabriel Garcia Márquez)

Se por um instante Deus esquecesse de que sou uma marionete de pano e me presenteasse
com mais um pouco de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria
em tudo o que digo.
Daria valor às pequenas coisas, não pelo que valem, mas sim, pelo que significam. Escutaria
quando os demais falariam, e como iria saborear um delicioso sorvete de chocolate!
Se Deus me concedesse mais um pouco de vida, vestir-me-ia simplesmente. Deitaria de bruços
ao sol. Não deixaria passar um só dia sem dizer a toda gente, que as quero muito. Viveria apaixonado
pelo amor.
Aos homens, provaria o quanto estão equivocados ao pensar que deixam de apaixonar-se
quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de apaixonar-se.
A uma criança, daria asas, mas deixaria que ela sozinha aprendesse a voar.
Aos idosos, ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas sim, com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês homens. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com
seu pequeno punho, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem conquistado para sempre. Aprendi
que um homem somente tem direito de olhar outro de cima para baixo, quando for ajudá-lo a
levantar-se...
O amanhã é incerto. Velho ou jovem, ninguém tem certeza se o viverá. Hoje pode ser a última
vez que você verá as pessoas que ama. Por isso, não espere mais para demonstrar amor. Faça-o hoje,
já que o amanhã nunca chega. Com certeza lamentará o dia que não tomou tempo para um sorriso,
um abraço, um beijo e que esteve muito ocupado para conceder a quem ama, um último desejo.
Mantém a todos que ama perto de si. Demonstra a seus amigos quanto você se importa com
eles. Ninguém lembrará de você por seus pensamentos secretos. Pede ao Senhor a força e a sabedoria
para expressá-los.
Lembre-se sempre: Viva hoje intensamente! Coloque em prática os seus sonhos. O momento é
este!

22 – A velhice nos campos


(Relato de Cícero / 106-44 a.C. O texto a seguir foi escrito há mais de 2000 anos, antes do nascimento de Jesus Cristo. Portanto,
não existia ainda o Cristianismo nem o Islamismo. Na terra de Cícero, a Roma antiga, já havia a crença na imortalidade da alma e a religião
era politeísta. Vários deuses eram reverenciados. Havia praticamente um deus para cada expectativa e dimensão da vida humana. É
importante destacar também que vinhedos, uvas e vinho representam para os antigos greco-romanos aquilo que a vida pode oferecer de
mais prazeroso e agradável para ser usufruído).

Chego agora às alegrias da agricultura. Para mim, seu encanto é incomparável. De modo
nenhum elas são incompatíveis com a velhice e me parecem convir muito bem a uma vida de sábio.
Os agricultores têm uma espécie de crédito na terra; esta jamais se recusa ao trabalho deles e sempre
restitui o que recebeu com juros às vezes modestos, mas geralmente consideráveis. Aliás, não é
apenas o que o solo produz que me agrada, é também a potência generosa da própria terra. Quando
suas profundezas revolvidas e trabalhadas recebem o grão semeado, elas primeiro o retêm protegido
da luz, depois calor e pressão o fazem eclodir e germinar. Dele surge um broto verde que, das raízes,
logo se eleva num caule nodoso e embainhado em sua casca. Quando sai para fora desta, faz
desabrochar uma espiga de grãos bem ordenados, protegidos, por trás da muralha de suas pontas, da
voracidade dos passarinhos.

Devo lembrar como se planta, cresce e se corta a vinha? Não me canso desse prazer (Ides
conhecer assim o que descansa e distrai minha velhice). Não insistirei sobre o vigor próprio a todos os
produtos da terra, capazes de engendrar troncos e ramos de belo porte a partir de sementes tão
minúsculas quanto as do figo, da uva e de outros frutos. As pequenas vagens, os chantões, sarmentos,
plantas vivas ou mergulhões de videira não encantam toda gente? A vinha, sabemos, tende a vergar-
se se não for sustentada. Vemo-la agarrar-se espontaneamente a tudo o que encontra com suas
gavinhas que são outras tantas mãos. Quando ela impele em todos os sentidos suas ramagens
serpentinas e vagabundas, o agricultor, armado de uma lâmina, vem cortá-las adestradamente para
impedi-la de produzir uma floresta de sarmentos anárquica e desmesurada. Na primavera, sobre os
nós dos sarmentos, surgem excrescências que chamamos botões e dos quais nascerá o cacho de uvas.
Este logo aumenta de tamanho graças à seiva que tira do solo e ao calor e luz do sol. No início, seu
gosto é muito ácido, mas aos poucos se torna açucarado.
As parras que o protegem detêm os raios mais penetrantes do sol, sem, todavia, privá-lo de um
calor benfazejo.
Pode-se imaginar algo mais proveitoso e mais belo que esse cacho de uvas? Como já vos disse,
não é o caráter rentável da vinha que mais me seduz, é todo o resto: a maneira de cultivá-la, a natureza
mesma da planta, as fileiras de ramos, a reunião dos sarmentos, a ligadura e a mergulhia, a poda de
alguns sarmentos que favorece o desenvolvimento dos outros. Devo ainda mencionar a irrigação, a
cava, a sachadura que revolvem e fertilizam a terra? Direi a utilidade da adubação? Tratei de todas
essas questões em meu livro sobre os trabalhos dos campos. O encanto da agricultura não se resume
aliás às colheitas, campinas, vinhedos e arbustos; é preciso também contar com as hortas, jardins e
pomares, o gado no pasto, as colmeias de abelhas e as flores inumeráveis. Enfim, somando-se ao
prazer de plantar, há o de enxertar, a mais engenhosa descoberta da agricultura.

(Chantões: Ramos de árvores para plantar sem raiz. Sarmentos: Ramos delgados e longos,
trepadeiras. Ligadura: Amarrações de sarmentos. Mergulhões e Mergulhia: Tipo de reprodução
vegetal que consiste em enterrar um ramo de planta, ainda preso a ela, para constituir, depois de
enraizado, novo exemplar, uma vez separado da planta mãe, prática comum no cultivo de vinhas.
Sachadura: Trabalho de revolver superficialmente a terra com o sacho, uma pequena enxada com
borda larga).
28 – O velho semeador – Edson Meier
23 – Envelhecer
(Poema de Ilga Knorr)

Entra pela velhice com cuidado, / Pé ante pé, sem provocar rumores. / Que despertem
lembranças amargas do passado, / Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado, / Apanha os frutos e recolhe as flores. / Mas lavra ainda e
planta o teu eirado, / Que outros virão colher quando te fores.

24 – Quem vai nos servir agora?

29 – O velho semeador – Edson Meier


Ela escrevia muito bem. Eu gostava de corrigir os seus trabalhos. Tinha apenas treze anos e
estava na sétima série do Ensino Fundamental. Sua letra era corrida, desenhada no capricho. Coisa de
menina talentosa e aplicada, que adorava desenhar, ler, escrever e desvendar os mistérios do mundo
e do conhecimento.
A Edite era minha aluna do Ensino Confirmatório. Na subida do vale, margeando a descida do
rio, em direção à sede da comunidade, localizada naquele pequeno povoado do interior, à meio
caminho do trajeto, a estrada passava na frente da sua casa. Ela morava com os seus avós, numa
pequena propriedade rural. Em dias de chuva, quase sempre pegava carona comigo. Tínhamos um
combinado: esperar na beira da estrada com o hinário da igreja na mão. Aí eu já sabia que estávamos
indo para o mesmo lugar. Era comum também ela solicitar carona nos domingos, para participar da
celebração do culto.
Algumas vezes, em outros roteiros pastorais, passando em frente àquela propriedade, via a
Edite agachada, sozinha no meio do pasto, arrancando “matabast”. Essa tarefa de arrancar o inço, o
mato que cresce no meio da pastagem, era desempenhada principalmente pelas crianças e
adolescentes naquele interior, quase sempre nos dias de chuva.
A Edite crescia e se desenvolvia com vigor e beleza jovial, como seus colegas adolescentes. Mas
algo já me chamava a atenção: era muito branca. Parecia que estava anêmica. O posto de saúde estava
ali, anexo à escola municipal, entre as duas igrejas, a Católica e a Protestante. Como ela estudava
naquela escola, o acompanhamento médico e de saúde era constante e eficiente.
No entanto, aconteceu. A Edite faltou ao Ensino Confirmatório. Seus colegas disseram que
também estava faltando na escola. Na aula seguinte veio a notícia. Está doente. Algumas semanas
depois, foi encaminhada para um hospital especializado na capital do estado vizinho ao nosso.
Diagnóstico: Leucemia. Sua mãe a acompanhou. Conseguiu vaga em uma casa de apoio. Passou dias
e semanas naquela rotina, que muitas pessoas do interior conhecem. Longe de casa, dos seus afazeres,
o triste vai e vem: casa de apoio, hospital, casa de apoio... E o pior, o organismo da sua filha não reagia
favoravelmente ao tratamento. A cada dia, estava mais fraca e debilitada.
Numa sexta-feira cedo, de madrugada, eu e seu pai viajamos até a capital para visitá-las. A Edite
ficou muito feliz quando nos viu no seu quarto. A luta, porém, estava árdua. Suas veias se
apresentavam secas e estouradas. As enfermeiras tentavam achar ainda alguma veia na sua testa.
Naquele final de tarde, retornamos para a nossa cidade do interior. No dia seguinte, ela e sua
mãe também retornaram. A Edite faleceu, poucas horas depois da nossa visita.
Eu havia levado vinte papéis, vinte mensagens para ela. Cada colega do seu grupo de Ensino
Confirmatório tinha escrito um bilhete, um texto para a amiga doente: Boas melhoras, brincadeiras,
fofocas... aquelas coisas tão próprias dos jovens adolescentes. Sua mãe me relatou que naquela noite
leram em conjunto todas as mensagens. A Edite somente se entregou para o sono após lerem o último
bilhete. E então adormeceu e não acordou mais. Adormeceu pensando nos amigos, nas mensagens,
naquele bilhetinho que julgou especial, que fez seu coração bater mais forte. Faleceu fazendo o que
mais amava na sua jovem vida.
Os avós da Edite não eram idosos acamados ou gravemente doentes. Estavam apenas
enfraquecidos para o trabalho, em decorrência da sua idade. O avô passava a maior parte do dia
sentado na varanda da sua casa, de onde se tinha uma vista privilegiada para a estrada. A avó ainda
caminhava e conseguia desempenhar algumas atividades, principalmente dentro de casa. No
sepultamento da Edite, um fato me chamou a atenção. O avô não chorava de tristeza, pela perda
prematura da menina, sua neta. Ele chorava e dizia: “Quem vai nos servir agora? ”. Ele chorava,
aparentemente, pela perda da pessoa que trabalhava para eles. A Edite estudava na escola e
frequentava o Ensino Confirmatório. Em casa, não tinha folga. Preparava as refeições, cuidava da
roupa, da casa, do gado, das aves, das plantações e do manejo e limpeza do pasto. Provavelmente
havia um acordo, de que um dia a propriedade passaria para os pais da menina. Após a morte dela,
num arranjo familiar, seus pais se mudaram para aquela propriedade e passaram a “servir” o casal de
idosos.
Eu, como pastor moleque e crítico que já era naqueles tempos, além de estar profundamente
comovido com a morte da minha aluna, fiquei intrigado com aquele lamento do senhor idoso: “Quem
vai nos servir agora? ”. Esse “servir” não me soava bem. Passava a impressão de que haviam exigido
trabalho demais da Edite, que era apenas uma menina adolescente, que gostava de estudar. A
pergunta não deveria ser “Quem vai nos ´ajudar` ou quem vai `cuidar` de nós agora? ”.
Penso que a Bíblia, quando fala em “honrar pai e mãe”, não está se referindo a servidão, mas
em valorizar, respeitar, levar a sério e em consideração – em amar. Não vejo, no relato bíblico, jovens
abdicando da sua carreira, do seu chamado/vocação, da sua história de vida para serem apenas
servidores do pai e da mãe ou dos avós. Há muitos relatos de parceria, de filhos que trabalham com
os pais, de pais que preparam seus filhos para serem seus sucessores na liderança da grande família e
propriedades. Jesus mesmo aprendeu o ofício do seu pai e provavelmente trabalhou nessa área até
os seus trinta anos. É possível dizer que Jesus honrou e amou os seus pais terrenos. Mas, quando a
sua vocação passou a ocupar toda a sua vida, nem mesmo a opinião contrária da sua mãe e irmãos o
fez mudar de direção. Apto para o Reino de Deus é quem deixa pai e mãe e segue ao seu Senhor. Mas,
o trabalho para o Senhor não pode, por outro lado, servir de desculpa para deixar de honrar e amar
os pais. A Palavra de Deus é radical, realista e, ao mesmo tempo, maravilhosa.
Nesse sentido, em cada situação familiar é importante buscar o melhor caminho para o convívio
e o cuidado mútuo entre as gerações. Não existe um caminho único, aplicável a todas as famílias em
todos os lugares e contextos.
No interior, nas propriedades rurais familiares, há uma dinâmica e uma rotina de vida e de
manejos diários, onde uma distribuição de tarefas se torna mais fácil de organizar. Normalmente, as
pessoas idosas cuidam da casa e do preparo das refeições. Os demais ficam encarregados do serviço
mais pesado nos ranchos e campos. Na vida urbana, isso tudo fica mais difícil. As famílias são menores
e as pessoas precisam sair para os seus compromissos. A casa passa a maior parte do dia ou da noite
vazia, fechada. É triste constatar isso, mas provavelmente a geração dos nossos filhos terá uma vida
mais difícil do que a vida da nossa geração. Basta observar a questão do desemprego e da mudança
na idade mínima para a aposentadoria. Sinceramente, é preciso ser bem realista. Se exigirmos ser
servidos pelos nossos filhos na velhice, provavelmente seremos servidos por profissionais
contratados, isso se houver recursos financeiros disponíveis, pois nossos filhos e netos não terão
disponibilidade para ficarem ao nosso lado em tempo integral.

25 – O amor de pai e mãe é único

31 – O velho semeador – Edson Meier


Família reunida. Hora do jantar. O pai começa a falar com altivez, testando o seu comando e
liderança: “Não vejo a hora de me aposentar. E aí vai ser assim. Quero só descansar e desfrutar da
vida. Você, filha, vai cuidar das minhas roupas e calçados. Você, filho, vai manter o carro e o pátio
sempre limpos. Vou querer as refeições servidas sempre na hora certa, de acordo com o cardápio
definido. E, após o meu banho, sabem quem vai escovar os meus dentes e pentear o meu cabelo? ” “O
agente funerário! ”, responde a sua mulher.
Há pessoas idosas que pensam de forma semelhante. Na velhice, os filhos têm o dever de
retribuir tudo o que os pais fizeram por eles, principalmente quando foram crianças. Há idosos que
querem ser servidos. Certamente, nessa exigência, a probabilidade de serem atendidos e servidos por
profissionais contratados é bastante grande.
O idoso não necessita de alguém que lhe sirva, mas de alguém que lhe cuide, acompanhe e
ajude. Essa supervisão provavelmente estará dentro das possibilidades e motivações dos filhos.
Nós, que estamos envelhecendo, precisamos levar em consideração pelo menos dois fatores
em relação aos nossos filhos (ou ao nosso filho único).
Como já falei no texto anterior, eles não terão uma vida muito fácil. Não se aposentarão tão
cedo como nós nos aposentamos. Terão que batalhar muito para criar e formar os seus próprios filhos
e, inclusive, para se manterem depois, quando o seu envelhecimento também acontecer. Até por uma
questão de amor, que nos mantenhamos ativos, fazendo tudo o que ainda estiver ao nosso alcance.
O segundo fator é a ideia errônea da retribuição. Pensamos: “Eu fiz tudo por eles. Agora eles
têm a obrigação de retribuir, fazendo tudo por mim”. Essa equação, em termos psicológicos e reais,
está equivocada. Não funciona. Existem estudos sérios, os quais demonstram que aquele que recebeu
ajuda lembrará por menos tempo da ajuda que recebeu do que aquele que ajudou. Isso a gente
constata facilmente, olhando para a nossa própria vida. Conseguimos lembrar em detalhes dos
momentos em que ajudamos alguém. Quanto às ajudas que recebemos, nem sempre somos muito
“generosos” nas nossas lembranças. Mas, lembre-se, não é apenas uma questão de ingratidão ou falha
de caráter. Esquecemos mais facilmente os momentos em que fomos ajudados do que os momentos
em que ajudamos alguém.
Nesse sentido, como pais, lembramos em detalhes do que fizemos pelos nossos filhos quando
eram pequenos e sentimos orgulho disso. Posso falar um pouco da minha vida, de uma fase muito
difícil, por causa do desemprego. Eu tinha duas crianças que ainda usavam fraldas. Lembro dos
detalhes. Havíamos vendido o nosso carro. Eu pegava a bicicleta e atravessava o perímetro urbano
todo, até o outro lado da cidade, onde no mercado atacadista o preço das fraldas e do leite era menor.
A gente chamava aquela bicicleta de “carniça”, porque era velha, torta e ruim de pedalar. Mas, vejam,
são lembranças minhas, porque meus filhos nem lembram do tempo em que usavam fraldas. E,
quando lembram de alguma coisa da sua infância, logo vem o pensamento: “Pois é, mas pai é pai, mãe
é mãe. Fizeram as suas obrigações”. Não vejo pessoas excepcionalmente gratas porque foram
alimentadas, abrigadas e agasalhadas na infância pelos pais.
Repito. Não é uma questão de ingratidão. É a vida. O amor de pai e de mãe é único e durará a
vida toda. O amor de filho pelo pai será diferente. Jamais serão moedas de troca. Colherá apenas
decepção quem achar que o filho o amará da mesma forma que ele ama o filho. Criamos os filhos para
a sua própria vida e o mundo. Teremos êxito quando pudermos ver o nosso amor que lhes dedicamos
sendo replicado, quando eles tiverem e amarem da mesma forma os seus próprios filhinhos. E então,
sejamos agradecidos se eles tiverem uma preocupação de cuidado e consideração conosco, seus pais
envelhecidos. Uma pessoa cuida de alguém porque gosta dela, não porque está retribuindo favores
recebidos.
Busquemos um envelhecimento ativo. Não deixemos de fazer a nossa parte, de empreender a
nossa própria rotina, no movimento diário da vida, cultivando e concretizando, inclusive, o grande
amor que sentimos pelos nossos filhos, família e amigos.

26 – Saber envelhecer
(Relato de Cícero / 106-44 a.C.)

Por certo, os que não obtêm dentro de si os recursos necessários para viver na felicidade
acharão execráveis todas as idades da vida. Mas todo aquele que sabe tirar de si próprio o essencial
não poderia julgar ruins as necessidades da natureza. E a velhice, seguramente, faz parte delas! Todos
os homens desejam alcançá-la, mas, ao ficarem velhos, se lamentam.
Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a velhice, ao passo que a
aspereza, o temperamento negativo e a rabugice são deploráveis em qualquer idade.
As melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes. Cultivados em
qualquer idade, eles dão frutos soberbos no término de uma existência bem vivida. Eles não somente
jamais nos abandonam, mesmo no último momento da vida – o que já é muito importante -, como
também a simples consciência de ter vivido sabiamente, associada à lembrança de seus próprios
benefícios, é uma sensação das mais agradáveis.

27 – Sabedoria
(De uma prédica do teólogo Karl Barth)
Sabedoria é algo diferente e melhor que inteligência. Alguns são inteligentes, mas não são
sábios. Sabedoria é também algo diferente e melhor que conhecimentos que podem ser adquiridos
em livros e na escola. Vocês podem acreditar no que digo: existem pessoas cheias de conhecimentos,
mas que não são sábias.
Sabedoria é também algo diferente e melhor que esperteza. Sabedoria é conhecimento de vida.
Se poderia dizer também: é arte de viver. E o maior conhecimento e a arte mais difícil é saber viver.
Quem sabe viver corretamente, este é um sábio.
Mas como se chega a ser sábio? A gente ouve dizer que, para isto, basta ficar idoso. Pois, eu sou
um homem idoso e, justamente por isto, eu sei: assim a gente não se torna sábio.
A gente também ouve que seriam as experiências que fazem as pessoas sábias. Mas que
experiências já fizemos! Nos tornamos mais sábios por isto? Não.
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Provérbios 9.10).
Este temor, que não é medo ou pavor de Deus, é saber que a capacidade de perceber o que é
justo e bom vem de Deus, o que nos orienta com mais clareza diante das decisões que temos que
tomar.

28 – Você sabe brigar?

Fico imaginando os galos de briga que eram os anciãos de antigamente. Os anciãos sentados
nas portas de entrada das cidades, os velhos dos Conselhos de anciãos, os anciãos do Senado de Roma,
debatendo acirradamente os problemas e soluções para a cidade e o povo. Também textos do Antigo
Testamento relatam a liderança firme exercida pelos patriarcas em seus clãs e famílias, praticamente
até o final de suas vidas. Já nessas narrações antigas é possível constatar o que também é fato nos
tempos atuais: todo exercício de liderança se depara com tensões e conflitos. E é nesse “saber brigar”
que se destaca o líder dotado de sabedoria.
A briga em si pode ser algo necessário e construtivo. Briga no sentido de discussão séria em
torno de um assunto. Briga no sentido de reinvindicações e exigências de justiça. A ausência de
conflitos não é sinônimo de paz. Paz apenas existe ali onde há justiça. Por isso, em situações de
injustiça são necessárias atitudes enérgicas para a obtenção da equidade e da paz.
O nosso grande problema é que temos pouca habilidade em brigar construtivamente. Nossas
brigas são destrutivas. Logo às levamos para o terreno pessoal, inclusive, com ameaças à integridade
física, emocional e social dos envolvidos. Que motivos nos levam a essa briga destrutiva?
A covardia do murmúrio e da fofoca. Temos a língua afiada para murmurar pelos cantos, sem
ter a coragem de falar diretamente com a pessoa envolvida e buscar a veracidade dos fatos e a solução
do problema.
Muitos de nós têm pouca autoestima. Gostam pouco demais de si mesmos e das suas
qualidades e dons. Por isso, estão cheios de inveja e ciúme. Têm inveja das capacidades dos outros.
Não aguentam ver o progresso alheio e passam a torcer por sua derrota. Ainda não conseguem
entender que na vida mais vale o que somos do que aquilo que temos e acumulamos. Inveja e ciúme
tem aquele que ainda não descobriu o seu valor próprio e único diante do seu Criador.
Já outros brigam porque sua autoestima é exagerada. Pensam que são os únicos humanos
dotados de inteligência. Não conseguem se colocar ao lado dos outros e sentir o que sentem, tendo
empatia com eles. Vivem arrogantes, orgulhosos e donos da verdade. Pisam e humilham as pessoas,
principalmente aquelas que veem como ameaça ao seu pedestal e seu modo de pensar.
Outro motivo de briga é a cobiça. Aquela mania de sempre querermos mais. Queremos aquilo
que pertence ao outro, sem nos preocuparmos se isso vai lhe fazer falta ou não.
Outros brigam porque não sabem ouvir. Quanto mais ideologizada for a nossa forma de pensar,
tanto menos capacidade teremos para ouvir e compreender verdades diferentes da nossa. Quando
formos muito rígidos e extremos nas nossas posições, teremos dificuldades no diálogo construtivo e
na aceitação do outro naquilo que ele é e pensa.
Brigamos muitas vezes porque nos falta autenticidade e sinceridade. Usamos máscaras. Temos
duas caras. Somos falsos. Uma coisa é você omitir a verdade por uma questão de amor e consideração,
silenciando sobre o que pensa. Já diferente é você pensar uma coisa e falar exatamente o contrário.
A falsidade prejudica bastante os nossos relacionamentos de valor.
Muitos desentendimentos acontecem por falta de equidade. É bastante triste ver famílias onde
o pai ou a mãe visivelmente discriminam filhos em detrimento de outros.
Por vezes, a briga surge por motivos externos: Dificuldade financeira, bebida alcoólica, drogas
ou tensões e nervosismos, causados por preocupações, doenças, medos ou problemas no trabalho ou
na família. Há momentos em que é importante reconhecermos a nossa fragilidade ou até doença,
buscando e aceitando ajuda.
Outros motivos para a briga destrutiva ainda poderiam ser listados. Cada dia apresenta novos
desafios. Não estamos sempre com o mesmo humor. Sempre haverá aquele momento em que
faremos ou diremos algo desagradável. Há um ditado popular que diz: “Errar é humano, persistir no
erro é burrice”. Eu diria: “Brigar é humano, ficar de mal e guardar rancor é burrice”. Quando as brigas
destrutivas nos pegarem desprevenidos, é importante termos a capacidade de dar a volta por cima.
Precisamos aprender a arte de perdoar e fazer a reconciliação. Penso que é isso o que se espera de
um ancião dotado de sabedoria.

Seja bom de briga. Mas, acima de tudo, seja um ótimo reconciliador, pois é mais prazeroso viver
agregado do que disperso.

29 – Qual dos filhos você ama mais?

Certa vez, perguntaram a um pai, que tinha 10 filhos, qual deles ele amava mais. “Sim”, disse o
pai, “sempre amo mais a um do que a outro”. E prosseguiu: “Quando o mais velho está fora de casa,
é a ele que eu amo mais. Quando o mais novo está doente, é a ele que eu amo mais. Quando o do meio
está com dificuldades na escola, é a ele que eu amo mais”. Resumindo, o pai amava a todos
igualmente, mas amava mais aquele que, no momento, mais necessitava da sua proteção e do seu
amor.

30 – A Vida

“Eles semeiam vento e colhem tempestade” (Oséias 8.7).


Albert Einstein afirma que a vida é como jogar uma bola na parede. Se for jogada uma bola azul,
ela voltará azul. Se for jogada uma bola verde, ela voltará verde. Se a bola for jogada fraca, ela voltará
fraca. Se a bola for jogada com força, ela voltará com força. Por isso, diz ele, “nunca jogue uma bola
na vida de forma que você não esteja pronto a recebê-la”. A vida não dá nem empresta; não se comove
nem se apieda. Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós lhe oferecemos.

Mahatma Gandhi acenou na mesma direção, quando afirmou: “A vida me ensinou que as
pessoas são amigáveis, se eu sou amável; que as pessoas são tristes, se estou triste; que todos me
querem, se eu os quero; que todos são ruins, se eu os odeio; que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio;
que há faces amargas, se eu sou amargo; que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva
e que as pessoas são gratas, se eu sou grato. A vida é como um espelho: se você sorri para o espelho,
ele sorri de volta. A atitude que eu tomo perante a vida é a mesma que a vida vai tomar perante mim”.

37 – O velho semeador – Edson Meier


O profeta Oséias fala de vidas vazias e cheias de tormentas. Para ele, semeamos ventos quando
agimos por conta própria, sem levar em consideração a vontade do Senhor. Naturalmente, quem
planta uva colhe uva, quem planta abacaxi colhe abacaxi. Assim, também, quem semear o bem colherá
o bem. Quem semear o mal colherá o mal. Quem semear amor colherá cada vez mais amor. Quem
semear o ódio será vítima do ódio e quem semear ventos colherá ainda mais ventos, uma verdadeira
tempestade.
Não podemos impedir que as pessoas nos odeiem, que nos persigam e prejudiquem. Podemos,
contudo, melhorar a qualidade daquilo que estamos semeando. A vida, certamente, reagirá de forma
favorável.

31 – A existência da vida é o seu significado

Conta-se que uma senhora perguntou a Beethoven, depois de haver ele executado ao piano
uma de suas composições: “Que queria o senhor dizer com esta peça? ”.
“O que queria eu dizer? É muito simples”. Assentou-se ao piano e executou-a novamente.
A peça não significa nada. Ela não se encontra no lugar do apenas símbolo. Ela é a coisa.
Também a vida não significa algo. Ela é algo único e exclusivo. A sua existência é o seu significado.

32 – Camada após camada

38 – O velho semeador – Edson Meier


O poeta Henrik Ibsen escreveu um drama chamado “Peer Gynt”, no qual, em dado momento
surge uma cena marcante. O já idoso Peer Gynt, após todas as desilusões da sua vida, está parado em
pé diante de uma cabana no mato, falando sozinho. Numa das mãos ele segura uma cebola, a qual ele
desfolheia com desleixo. Em seguida, ele passa a comparar a sua vida com a cebola. Fragilizado e
inseguro ele pergunta: “Após as camadas não deveria surgir um cerne, um miolo? ”. E ouvimos ele
dizer: “Isso não para nunca. Sempre camada após camada. Quando surgirá finalmente o cerne? Até a
mais interna de todas, e o que se vê não muda: uma membrana de cebola, a última camada”. Então
ele resmunga raivoso: “Assim é a minha vida! ”. E com ira arremessa o que sobrou da cebola contra a
cabana.
A melhor maneira de enxergar as pessoas é realmente como cebolas. Nós não temos caroço.
Nós somos os invólucros. Não é tirando as roupas e acessórios que encontraremos “quem somos
realmente”. Somos também roupas e acessórios. A imagem que passamos para os outros de nós
mesmos tem muito a ver com aquilo que de fato somos. Muitas vezes ouvimos a frase: “Você me ama
porque sou bonita, não por mim mesma”. Mas o que é “mim mesma? ”. Quem somos realmente?
Quem é você senão a pessoa que fez isso ou aquilo na vida, que acumulou coisas, que foi mesquinho
ou solidário, que é bonita ou querida, positiva ou negativa? Mas achamos, equivocadamente, que
essas coisas são só superficiais. E essa sensação de que a nossa imagem não representa aquilo que
realmente somos se tornou uma grande fonte de sofrimento hoje em dia, pois nos impede de
interferirmos positivamente para melhorar a nossa vida e a nossa imagem.

A vida é a camada que vivemos hoje. Não há algo esperando por nós no futuro, que será
substancialmente diferente daquilo que somos hoje, a não ser que hoje o Senhor mude a essência do
que somos. Se queremos ser felizes amanhã, precisamos achar um jeito de já sermos felizes hoje. Se
sonhamos em nos tornarmos benfeitores no futuro, precisamos achar um meio de hoje já ajudar
alguém necessitado. Nas pequenas e rotineiras coisas e atitudes do dia-a-dia a gente mostra quem de
fato é.

33 – Versões
(Crônica de Luís Fernando Veríssimo)

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas
tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele
emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para
Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...
Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás,
o nome do bar é Imaginário – sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.
- Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato.
Levava uma grande vida. Até que um dia...
- Eu sei, eu sei... – Disse alguém sentado ao lado dele.
Olhamos para o intrometido. Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que
nós. Ele continuou:
40 – O velho semeador – Edson Meier
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça,
largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com
tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei
entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me atirei. Levei um chute
na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria como aposentado e só
faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante...
- Ele chutaria para fora.
Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou:
- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira
continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o
futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com
festa no Rio...
- E o que aconteceu? – Perguntamos os três em uníssono.
- Lembra aquele avião da Varig que caiu na chegada em Paris?
- Você...
- Morri com 28 anos.
Bem que tínhamos notado sua palidez.
- Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo...
- E ter levado o chute na cabeça...
- Foi melhor – continuei – ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu
tivesse passado...
- Você deve estar brincando.
Disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e
desanimado.
- Quem é você?
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.
Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no
serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As consequências de anos de decisões erradas,
alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o
bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente.
Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O
barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara,
só com mais rugas.
- Quem é você? – Perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E...
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo.
Não alimente os seus arrependimentos. Se você chegou à velhice é porque a sua vida vingou
por bastante tempo, é um jovem que deu certo.

34 – Veja como estão agradecidas


(Relato de Rubem Alves)

Quando chovia, meu pai gostava de se assentar num tamborete junto à janela da cozinha da
casa velha. Os tomateiros, hortelãs e manjericão exalando seus perfumes. As folhas de couve e
espinafre, brincando de juntar gotas de água, redondas e brilhantes. As árvores e os arbustos
executando seus passos de dança, balançando as folhas sob os pingos que caíam.
Olhava, sorria, sorvia um gole do café preto e dizia: “Veja como estão agradecidas...”.
Como se cada ervinha se parecesse com ele e tivesse, secretamente, alegria de viver. Daí sua
gratidão vegetal.

35 – A melhor mulher do mundo

42 – O velho semeador – Edson Meier


Eu e o Carlos Alberto tínhamos uma boa amizade. Ele era meio matuto, assim como eu. A gente
participava da liderança do grupo, mas era xucro na hora de falar com as meninas. Dava aquele nó na
garganta, aquele nervoso, onde se esquece até o que poderia falar.
Uma noite, estávamos numa festinha de aniversário na casa de uma das meninas do nosso
grupo de jovens da igreja. O Carlos recebeu de presente uma dica de ouro, de outro amigo nosso:
“Aquela moreninha ali está gostando de você”. Era uma menina recém-chegada ao grupo, mais nova
do que nós. O meu amigo ficou “louco”. Na primeira oportunidade, foi convidá-la para dançar.
Casaram. Tiveram três filhos e construíram suas vidas e sua família lado a lado. O Carlos faleceu
cedo, aos 55 anos. A mãe das suas crianças, seu amor desde os tempos da mocidade, estava lá, ao seu
lado, também nesses últimos momentos em que ainda esteve entre nós.
Ao longo da sua vida, você conhecerá muitas mulheres que terão interesse em você. Porém,
encontrará apenas uma, duas ou três que lhe terão um lugarzinho especial no seu coração. Se você
encontrou uma parceira assim, sabe do que estou falando.
A melhor mulher do mundo não é a rainha do baile, a mais bonita do lugar. A melhor mulher
do seu mundo é aquela que ama você. Mantenha esta mulher abrigada e segura no seu coração.

36 – Quando a gente se depara com o limite da vida


(Relato de Gilberto Dimenstein)

43 – O velho semeador – Edson Meier


O jornalista e escritor Gilberto Dimenstein descobriu no ano de 2019 um câncer de pâncreas,
com metástase no fígado. Ele conta sobre a doença, o tratamento e as mudanças em sua forma de
enxergar a vida e as relações humanas. Para ele, ver o limite da vida pode ser uma dádiva. O Jornal
Folha de São Paulo publicou o seu testemunho, sobre o momento de crise que estava vivendo, no dia
31 de dezembro de 2019:
“Fiquei encasquetado com um sonho que tive e com algumas coisas que estava sentindo.
Fui aos médicos, fiz colonoscopia, endoscopia, ultrassonografia, não acharam nada, mas eu
continuava me sentindo estranho. Um gastroenterologista pediu uma tomografia, ‘só para tirar a
dúvida’.
Fui às 22h, o resultado começou a demorar. Veio um enfermeiro e perguntou se não sentia muita
dor, porque tinha pancreatite, mas eu não sentia dor. Procurei na internet: pancreatite dá em quem
bebe – sou abstêmio há seis anos – e em quem tem vesícula – que eu já tinha tirado. Era câncer.
No dia seguinte já estava no hospital. Tirei o tumor bem no comecinho, o que aparentemente
era boa notícia.
Mas, passadas três semanas, ele estava no fígado. Fizemos quimioterapia para operar, mas em
vez de parar, o tumor cresceu. Passei quatro meses recebendo más notícias... muita febre todo dia,
comecei a já me preparar para a despedida. Foi o meu período pessimista.
Hoje – é até difícil falar isso – estou vivendo o momento mais feliz da minha vida. Aquele Gilberto
Dimenstein de antes do câncer morreu. Nasceu outro.
Câncer é algo que não desejo para ninguém, mas desejo para todos a profundidade que você
ganha ao se deparar com o limite da vida. Não queria ter ido embora sem essa experiência.
44 – O velho semeador – Edson Meier
Grande parte da minha vida foi marcada pelo culto a bobagens: ganhar prêmio, assinar matéria
na capa, o tempo todo pensando no próximo furo de reportagem. É como se estivesse passando por
um lugar lindo num trem em alta velocidade, vendo tudo borrado.
Quando você tem um câncer (ainda mais como o meu, de metástase e de pâncreas, um tipo
muito agressivo), não há alternativa. Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno.
E aí começam a aparecer coisas incríveis. Gosto de andar de bicicleta, e comecei a sentir o vento
no rosto, como se estivesse sendo beijado. Você vê seu neto deitado com você (Dimenstein tem um
neto de dois anos e espera o segundo para daqui a seis meses). Acorda com os bem-te-vis e escuta os
bem-te-vis.
Falar em sentidos é importante, porque meu tratamento tira o gosto, até a água fica ruim. Com
o tratamento também acaba a vida sexual, você fica impotente.
Tudo isso poderia fazer um cara muito infeliz. Mas as relações emocionais se sofisticam.
Descobri só agora a profundidade da relação homem-mulher. Você está com enjoos, dores não apenas
físicas, e a pessoa do seu lado o tempo todo. Não conhecia essa cumplicidade nesse nível.
Nós vivemos nos meios digitais a era da indelicadeza, 500 mil pessoas criticando. Eu acabei
entrando no mundo das gentilezas. Cada pessoa tem uma palavra, um chá, uma dica de oração, um
olhar gentil. O outro mundo vai ficando ridículo.
Com ou sem câncer vamos todos morrer, e se pudermos antecipar essa sensação, vamos evitar
várias bobagens. A clareza maior da morte é uma dádiva. Não é o fim, mas um começo.
Pode ser o começo de um belo fim de vida, vivendo esses momentos com a família, ou um ‘pit
stop’ para voltar melhor. O cara tem que ser muito, muito, muito idiota para não voltar melhor.
Não é que ache que morrer é bom, mas você começa a questionar por que existe, e a conclusão
é que, se não podemos escolher como entramos na vida, podemos decidir como sair dela.
Quando o médico me disse que eu estava com câncer, passou um dia, dois, três, e não tive medo.
Só temia o impacto da minha morte nos outros. Não me senti desesperado. Nada, nada, nada. Até me
espantei comigo mesmo.
Em inglês se chama ‘surrender’ (render-se). Você não está mais no comando, e isso é motivo de
alívio. De felicidade, até.
Descobri que meu pavor era passar a vida sem propósito. Olhei para trás, e, apesar de todas as
minhas delinquências – que não foram poucas – acho que fiz mais bem do que mal”.
O relato de Dimenstein é bastante extenso, ele ainda faz uma avaliação da sua atuação e opção
jornalística, posiciona-se criticamente quanto ao cenário social, político e econômico no nosso país
(causa que sempre o acompanhou nos seus escritos e atuação) e fala do seu tratamento, em que
participa de um experimento com um medicamento novo, o que lhe dá alguma esperança de
superação e cura da sua doença. Gilberto Dimenstein faleceu na manhã do dia 29 de maio de 2020,
aos 63 anos.

37 – A perspectiva de morrer
(Relato de Cícero / 106-44 a.C.)
Para ser aplaudido, o ator não tem necessidade de desempenhar a peça inteira. Basta que seja
bom nas cenas em que aparece. Do mesmo modo, o sábio não é obrigado a ir até o aplauso final. Uma
existência, mesmo curta, é sempre suficientemente longa para que se possa viver na sabedoria e na
honra. E se acaso ela se prolonga, não iremos nos queixar, como tampouco fazem os camponeses, de
que após a clemência da primavera venham o verão e o outono. A primavera, em suma, representa a
adolescência e a promessa de seus frutos; as outras estações são as da colheita, da seara.
Os frutos da velhice, tenho dito e repetido, são todas as lembranças do que anteriormente se
adquiriu. Ora, tudo o que é conforme à natureza deve se considerar como bom. Que há de mais natural
para um velho que a perspectiva de morrer? Quando a morte golpeia a juventude, a natureza resiste
e se rebela. Assim como a morte de um adolescente me faz pensar numa chama viva apagada sob um
jato d’água, a de um velho se assemelha a um fogo que suavemente se extingue. Os frutos verdes
devem ser arrancados à força da árvore que os carrega; quando estão maduros, ao contrário, eles
caem naturalmente. Do mesmo modo, a vida é arrancada à força aos adolescentes, enquanto deixa
aos poucos os velhos quando chega sua hora. Consinto de tão boa vontade tudo isso que, quanto mais
me aproximo da morte, parece que vou me aproximando da terra como quem chega ao porto após
uma longa travessia.
A maneira mais bela de morrer é, com a inteligência intacta e os sentidos despertos, deixar a
natureza desfazer lentamente o que ela fez. Aquele que construiu um barco ou erigiu um prédio é o
mais indicado para destruí-lo; assim também é pela natureza que o cimentou que o homem é melhor
desagregado. Conclusão: os velhos não devem nem se apegar desesperadamente nem renunciar sem
razão ao pouco de vida que lhes resta. Ninguém é bastante velho para não esperar viver um ano mais.
Mas, é importante sentir-se cada vez mais leve e desapegado, sabendo que planta árvores que
crescerão para outros, quem sabe para os deuses imortais, que querem que nós, tendo recebido
dádivas dos que nos antecederam deixemos também o nosso legado para os que nos sucederão.
Após a morte, ou não há nada, ou essa apreensão se transforma em beatitude. Quereis saber
minha convicção, meu sentimento? A substância que engloba uma viva inteligência, uma vasta
memória do passado, uma sólida presciência do futuro, tantos talentos, saber e descobertas, não
poderia ser mortal. A alma está sempre em movimento: este não tem começo – a alma é seu próprio
motor – e não terá fim, pois a alma não abandonará a si mesma. Além disso, como a alma é
homogênea por natureza e não contém elemento estranho díspar, ela não pode ser fracionada. Ora,
sem fracionamento não há morte possível. Descobri que Pitágoras e os pitagóricos jamais duvidaram
que nossas almas fossem a emanação do espírito divino que anima o universo. Também me foram
expostas as teses sobre a imortalidade da alma desenvolvidas por Sócrates no dia mesmo de sua
morte.

38 – Meu primeiro dia de trabalho


(Conto de Leonardo da Silva Pires)

“É meu primeiro dia de trabalho.


Estou feliz por ter conseguido este emprego.
Não é exatamente o trabalho dos sonhos para mim, é apenas um trabalho de escritório comum,
mas vai me ajudar a pagar as contas enquanto tento ser um escritor.
O diretor conversa comigo por um tempo e depois me apresenta para os outros que trabalham
aqui. A maior parte deles são completos desconhecidos para mim.
Eu sento na minha mesa.
Alguém me ensina algumas coisas.
Outra pessoa me ensina outras coisas.
Por um momento, não há nada para eu fazer. Eles não confiam totalmente no meu serviço.
Ainda não.
Eu penso na minha namorada. Alguns dias atrás, ela se mudou para morar comigo.
Eu escrevo algumas ideias para meu livro em um pedaço de papel.
Eu trabalho mais um pouco.
Está na hora do almoço. Eu vou sozinho.
De vez em quando eu almoço com o pessoal do escritório, mas hoje quero ficar sozinho. Nós
nem somos muito próximos, afinal.
Eu como.
Eu ando pelo centro da cidade.
Eu passo numa farmácia. Os preços altos me assustam. Eu peço desconto.
Eu passo em frente a uma livraria e vejo a estante dos livros mais vendidos. Imagino um livro
escrito por mim sendo exibido ali.
Eu volto para o trabalho.
Meus joelhos doem um pouco. Eu não deveria ter andado tanto.
Há muitas tarefas na minha mesa.
Me sinto com sono. Acordei várias vezes durante a noite para cuidar do bebê.
Escuto uma voz por perto dizer: “Conheça o nosso novo colega de trabalho. Ele chegou hoje”.
Eu aperto a mão de um rapaz jovem.
Eu trabalho bastante. Sou provavelmente o que mais trabalha por aqui.
Explico algo para alguém.
Atendo um telefonema.
Olho para o relógio, ansioso para ir embora.
Pesquiso sobre novos escritores e o mercado da literatura.
Me sinto entediado. O tempo parece passar devagar.
Pesquiso sobre imóveis caros em que eu poderia morar com minha mulher e minha filha caso
tivesse mais dinheiro.
Por um momento, não há nada para eu fazer. Eles não confiam totalmente no meu serviço. Não
como antes.
Sinto dor nas costas. Trabalhar nesta posição todos os dias acaba tendo alguns efeitos
colaterais.
Eu tomo um analgésico.
Já é quase hora de ir embora.
Uma mulher chega perto de mim e diz: “Tem bolo para você hoje”.
Eles me chamam até a mesa de confraternização.
Eu vou até lá, sendo parado algumas vezes para receber cumprimentos e agradecimentos.
Eu paro na frente do bolo.
A diretora está fazendo um discurso. Eu não presto atenção.
As pessoas estão reunidas ao redor da mesa. A maior parte deles são completos desconhecidos
para mim.
Eu percebo como estranhamente jovens alguns deles são e, no meio deles, vejo minha filha. Ela
provavelmente já tem idade para começar a trabalhar em um lugar como este.
Minha mulher também está aqui. Com tantas pessoas jovens ao seu redor, percebo o quão velha
ela está. Quase tão velha quanto eu.
Eu como um pedaço de bolo.
Eu faço um pequeno discurso, afinal, é minha festa de aposentadoria.
Finalmente é hora de ir embora para casa.
É meu último dia de trabalho”.
Este conto me impressionou quando o li pela primeira vez numa revista: A aposentadoria,
representando o término de uma carreira. Lembrei do dia da aposentadoria do meu avô Teodoro, que
também me marcou bastante, pois eu era um menino e vivenciava pela primeira vez um momento
assim. Ele era tecelão e trabalhou a vida toda na mesma empresa de fiação e tecelagem. Aquele era
o seu último dia de trabalho. Naquele final de dia, toda a família se reuniu na sua casa para esperá-lo.
Mesa posta com café e bolo. E então ele chegou de bicicleta, carregado de presentes. Ele se alegrou
com a família, mas chorou quase a noite toda. Eu nunca tinha visto o vô Teodoro chorando...
Felizmente, o vô tinha vocação e ânimo para o trabalho e viveu ainda muitos anos, roçando
gramados, plantando e colhendo nos cultivos da sua pequena propriedade rural.
Nas carreiras públicas e privadas é praticamente certo que o dia da aposentadoria chegará. Por
isso é tão importante investirmos, desde jovens, no nosso “Beruf” (chamado), na nossa vocação, pois
esta certamente nos acompanhará até o final das nossas vidas.

39 – A vontade de aprender e experimentar

Os últimos anos do grande pintor Renoir de certa maneira foram para ele anos de triunfo.
Apesar de ter sido caluniado como um dos primeiros impressionistas, por fim ele conseguiu ampla
reputação, e mercadores de arte do mundo inteiro disputavam seus trabalhos. Mesmo debilitado, ele
não deixou de pintar. Seu filho Jean escreveu o seguinte:
“Seu corpo ficou cada vez mais enrijecido. Suas mãos, com os dedos encurvados para dentro,
não podiam mais pegar nada. Sua pele havia ficado tão sensível, que o contato com o cabo de madeira
do pincel a machucava. Para resolver essa dificuldade, ele colocava um pedacinho de pano na concha
da sua mão. Seus dedos retorcidos mais prendiam que seguravam o pincel. Foi sob tais condições que
ele pintou o seu quadro ‘Mulheres no banho’, agora exposto no Louvre. Ele o considerou a coroação
da obra de sua vida. Ele achava que tinha resumido nesta pintura todas as suas pesquisas e feito um
trampolim, do qual poderia mergulhar em novas pesquisas. De sua paleta, simplificada ao extremo, e
das minúsculas ‘gotas’ de tinta perdidas na sua superfície procedia um esplendor de fascinantes cores
de ouro e púrpura, o brilho de carne repleta de sangue jovem e saudável, a magia da luz que tudo
conquista”.
Jean Renoir também conta o que seu pai estava fazendo no dia em que morreu:
“Uma infecção que havia atacado os seus pulmões o prendeu no seu quarto. Ele mandou trazer
sua caixa de tintas e seus pincéis e desenhou as anêmonas que Nénette, nossa bondosa empregada,
tinha colhido para ele. Durante várias horas ele se identificou com estas flores e esqueceu sua dor.
Então acenou para que alguém levasse o pincel e disse: ‘Acho que estou começando a entender a
beleza dessas flores e como posso melhor pintá-las’. Ele aprendeu e pesquisou até o seu último dia de
vida”.
A grande causa de muitas existências vazias é o fato de que estas pessoas se acomodam e se
contentam em serem expectadoras da vida alheia. Bons terapeutas insistem com seus clientes para
que se ocupem o máximo possível com a arte e a música, e que façam mais do que só olhar e escutar.
Deveriam pintar, desenhar, esculpir, cantar, servir... Certa vez, alguém disse que precisávamos mais
era de música ruim, e com isso queria dizer que precisamos de mais música no lar, criada de improviso,
por mero prazer ou louvor. A existência humana tem o seu sentido pleno quando é vivida como algo
único - uma história que vai sendo escrita com soberania individual diante de Deus, até o último dia.

40 – Vivendo cada dia

Quando a senhora Owens festejou o seu aniversário de 104 anos, ela disse que “o riso, o Senhor
e as pequenas coisas” fizeram-na seguir adiante na vida. Ela ainda encontra prazer todos os dias em
conversar com pessoas, em caminhar e em ler a Bíblia, como tem feito desde a sua infância. Ela disse:
“Eu não sei quanto tempo Ele ainda vai me deixar aqui. Eu simplesmente agradeço ao Senhor pelo que
já me deu”.
Podemos aprender desta senhora idosa como desfrutar cada dia que nos é dado.
O RISO – “A alegria do coração transparece no rosto, mas o coração angustiado oprime o
espírito” (Provérbios 15.13). A verdadeira felicidade começa bem no interior e transparece nos nossos
rostos.
O SENHOR – “O temor do Senhor ensina a sabedoria, e humildade antecede a honra”
(Provérbios 15.33). Quando Deus é o centro dos nossos corações, Ele pode nos ensinar seus caminhos,
através de toda a experiência da vida.
AS PEQUENAS COISAS – “É melhor ter verduras na refeição onde há amor do que um boi gordo
acompanhado de ódio” (Provérbios 15.17). Manter relacionamentos de amor e desfrutar das coisas
básicas da vida é mais importante do que a riqueza, o sucesso e a ostentação.
50 – O velho semeador – Edson Meier
41 – O prazer da partilha na refeição
(Relato de Cícero – 106-44 a.C.)

Cada dia convido vizinhos à minha mesa e prolongamos a refeição até bem tarde da noite,
discutindo sobre várias coisas. De minha parte, é porque amo a conversação que me aprazem as
refeições prolongadas; não apenas com pessoas da minha idade – restam poucas – mas também com
pessoas mais jovens.

51 – O velho semeador – Edson Meier


Admitindo que há prazer em comer – e não pretendo colocar-me como adversário encarniçado
do prazer, muito natural dentro de certos limites -, quero também reconhecer que a velhice não é
insensível a ele. Quanto a mim, gosto de presidir a uma refeição como o faziam nossos antepassados.
Gosto dos discursos pronunciados com um copo de vinho à mão depois do banquete principal, como
quer a tradição. Gosto do frescor das salas de refeições de verão, assim como, no inverno, gosto das
salas de refeições bem aquecidas e ensolaradas...
No entanto, evito os exageros. Ao renunciarmos aos banquetes, às mesas que desabam sob os
pratos e as taças inumeráveis, renunciamos ao mesmo tempo à embriaguez, à indigestão e à insônia.
Se a velhice deve evitar banquetes excessivos, ela pode bem desfrutar o prazer das refeições
equilibradas.

42 – Eu te abençoo em nome de Jesus!

Numa das instituições caritativas de Betel, Alemanha, para a correção de menores, o diretor do
lar observava preocupado um moço, que sempre foi agitado e agressivo. Neste dia, o rapaz estava
sentado quieto em um canto. Que estaria tramando? Perguntado sobre o motivo da sua calma, o
jovem respondeu: “Hoje, no jardim, fui chamado pelo nosso velho pai (o pastor Von Bodelschwing),
que estava sendo levado a passeio em sua cadeira de rodas. Ele perguntou pelo meu nome e em que
lar eu morava. Em seguida, colocou sua mão sobre a minha cabeça e, após um breve silêncio, disse:
‘Eu te abençoo em nome de Jesus! ’. Já rolei bastante pelo mundo, levei muita pancada, mas jamais
alguém antes me disse algo assim”, concluiu o jovem, bastante emocionado.
Pouco tempo depois, ele deixava a instituição e ninguém teve notícias suas. Receava-se que
tivesse recaído. Finalmente, veio uma carta sua ao encarregado do lar: “O senhor não pense que eu
tenha voltado a roubar. Estou estudando e trabalhando como aprendiz. Jamais esquecerei do nosso
velho pai, que falou amigavelmente comigo e me disse: ‘Eu te abençoo em nome de Jesus! ’”.
O mundo, cheio de violência, de medo e maldição, clama por benção. Seja uma fonte de
afirmação e bênçãos. Quando foi a última vez que você colocou a mão sobre a cabeça de alguém e o
abençoou em nome de Jesus?

43 – Uma mão cheia de espinhos

“Rendam graças ao Senhor por sua bondade, e por suas maravilhas para com os filhos dos
homens! ” (Salmo 107.21).
Jeremy Taylor foi um clérigo britânico, do século 17, severamente perseguido por causa da sua
fé. Mas, embora sua casa tenha sido saqueada, sua família empobrecida e a sua propriedade
confiscada, ele continuou a contar as bênçãos que não podia perder. Em certa ocasião, ele escreveu:
“Eles não me tiraram o meu semblante feliz, meu espírito alegre e uma boa consciência; ainda me
deixaram com a provisão de Deus e todas as suas promessas... minhas esperanças do Céu e também
meu carinho por eles, e eu ainda durmo e tenho digestão, como e bebo, leio e medito. E aquele que
tem tão grandes motivos de alegria, nunca deveria sentar-se sobre sua pequena mão cheia de
espinhos”.

44 – As forças da idade
(Relato de Cícero / 106-44 a.C.)

Em qualquer idade, é preciso servir-se daquilo que se tem e, não importa o que se faça, fazê-lo
em função de seus meios, em função de suas forças e condições. Então não sentimos mais frustração
nem fraqueza. Conta-se que Mílon fez sua entrada no estádio de Olímpia carregando um boi sobre os
ombros. O que vale mais? Ter esse vigor físico ou aquele, inteiramente intelectual, de Pitágoras? Em
suma, usemos tal vantagem quando a tivermos e não a lamentemos quando ela desapareceu. Acaso
os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A
vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso a
fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos e a maturidade da velhice são
coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.
A velhice só é honrada na medida em que resiste, afirma seu direito, não deixa ninguém lhe
roubar seu poder e conserva sua ascendência sobre os familiares até o último suspiro. Gosto de
descobrir o verdor num velho. Com efeito, jamais assumi aquele provérbio muito antigo e famoso que
recomenda ser velho cedo se quisermos sê-lo por muito tempo. De minha parte, prefiro ser velho por
menos tempo do que sê-lo prematuramente.
Trabalho atualmente no sétimo livro de minhas “Origens”. Reúno todos os testemunhos sobre
a Antiguidade. Organizo, nesse exato momento, todos os discursos que pronunciei a favor de causas
célebres. Ocupo-me do direito augural, pontifical e civil. Estudo assiduamente a literatura grega e,
para exercitar minha memória, aplico o método caro aos pitagóricos: toda noite, procuro lembrar-me
de tudo o que fiz, disse e ouvi na jornada. Eis como mantenho meu espírito, eis a ginástica a que
submeto minha inteligência. Suando e me esfalfando dessa maneira, não me ocorreria pensar em me
lamentar sobre o declínio de minhas forças físicas. Meus amigos podem sempre contar comigo. Vou
ao Senado regularmente e sem que me forcem. Faço ali proposições maduramente refletidas e as
defendo com todas as minhas forças intelectuais – não físicas. Permaneço ativo.
Muitos velhos são tão fracos que não podem mais sequer assumir qualquer dos encargos
ligados a uma função ou simplesmente à vida. Mas essa limitação não é própria da velhice. É uma
questão de saúde. Felizmente, não estou nesta condição de ter de passar o tempo todo no divã,
pensando no que doravante me é interdito. Contudo, sempre é importante lembrar que não basta
estar atento ao corpo; é preciso ainda mais ocupar-se do espírito e da alma. Se o corpo se afadiga sob
o peso dos exercícios, o espírito se alivia exercitando-se.

45 – Aprender todo dia alguma coisa nova


(Relato de Cícero / 106-44 a.C.)

53 – O velho semeador – Edson Meier


Certos velhos, em vez de se repetirem, continuam mesmo a estudar coisas novas. Sólon, por
exemplo, se deleita, em seus versos, de aprender todo dia alguma coisa nova, ao envelhecer. Fiz como
ele, descobrindo a literatura grega numa idade avançada. Entreguei-me a esse estudo com avidez,
como se quisesse estancar uma sede premente. Ao ficar sabendo que Sócrates agiu do mesmo modo
estudando música, um instrumento chamado lira, cogitei fazer o mesmo. Mas foi à literatura que
finalmente consagrei meus esforços.

46 – O homem que queria eliminar a memória


(Conto de Ignácio de Loyola Brandão)

Entrou no hospital, mandou chamar o melhor neurocirurgião. Disse que era caso de vida e
morte. Não se sabe como, o melhor neurocirurgião foi atende-lo, sem que precisasse esperar muito.
Estava na sala diante do doutor, que pergunta:
- Sim?
- Quero me operar. Quero que o senhor tire um pedaço do meu cérebro.
- Um pedaço do cérebro? Por que vou tirar um pedaço do seu cérebro?
- Porque eu quero.
- Sim, mas precisa me explicar. Justificar.
- Não basta eu querer?
- Claro que não.
- Não sou dono do meu corpo?
- Em termos.
- Como em termos?
- Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que o senhor está impedido de fazer. Ou melhor, eu
é que estou impedido de fazer no senhor.
- Quem impede?
- A ética, a lei.
- A sua ética manda também no meu corpo? Se pago, se quero, é porque quero fazer do meu
corpo aquilo que desejo. E se acabou.
- Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nesta discussão boba. E não tenho tempo a perder. Por que
o senhor quer cortar um pedaço do cérebro?
- Quero eliminar a minha memória.
- Para que?
- Gozado, as pessoas só sabem perguntar: o que? Por que? Para que? Falei com dezenas de
pessoas e todos me perguntaram: por que? Não podem aceitar pura e simplesmente alguém que
deseja eliminar a memória.
- Já que o senhor veio a mim para fazer esta operação, tenho ao menos o direito dessa
informação.
- Não quero mais me lembrar de nada. Só isso. As coisas que passaram, passaram. Fim!
- Não é tão simples assim. Na vida diária, o senhor precisa da memória. Para lembrar pequenas
coisas. Ou grandes. Compromissos, encontros, coisas a pagar, etc.
- É tudo isso que vou eliminar. Marco numa agenda, olho ali e pronto.
- Não dá para fazer isso, de qualquer modo. A medicina não está tão adiantada assim.
- Em lugar nenhum posso eliminar a minha memória?
- Que eu saiba não.
- Seria muito melhor para os homens. O dia a dia. O dia de hoje para a frente. Entende o que eu
quero dizer? Nenhuma lembrança ruim ou boa, nenhuma neurose. O passado fechado, encerrado.
Definitivamente bloqueado. Não seria engraçado? Não se lembrar sequer do que se tomou no café da
manhã? E para que quero me lembrar do que tomei no café da manhã?
- Se todo mundo fizesse isso, acabaria a história.
- E quem quer saber de história?
- Imaginou o mundo?
- Feliz, tranquilo. Só de futuro. O dia em vez de se transformar em passado de hoje, mudando-
se em futuro. Cada instante projetado para a frente.
- Não seria bem assim. Teríamos apenas uma soma de instantes perdidos. Nada mais. Cada
segundo eliminado. A sua existência comprovada através do que?
- Quem quer comprovar a existência?
- A gente precisa.
- Para que?
O médico pensou. Não conseguiu responder. O homem o tinha deixado totalmente confuso.
Pediu ao paciente que voltasse outro dia. Despediram-se. O médico subiu para os brancos corredores
do hospital, passou pela sala de operações. Chamou um amigo.
- Estou pensando em tirar um pedaço do meu cérebro. Eliminar a memória. O que você acha
disso?
- Muito boa ideia. Por que não pensamos nisto antes? Opero você e depois você me opera.
Também quero.
(Moral do conto: Ninguém sabe que é médico, nem sabe como iniciar uma cirurgia sem
memória. Somos do jeito que somos graças à nossa memória, à nossa história de vida).

47 – O fio da lembrança
(Relato de Cícero / 106-44 a.C.)

Certo. Mas com a velhice, dirão, a memória declina!


É o que acontece, com efeito, se não a cultivamos ou se carecemos de vivacidade de espírito.
No que me concerne, conheço bem o nome de meus contemporâneos e também o de seus pais e
avós. Ao ler os epitáfios, não temo perder o fio da lembrança, como se diz; muito pelo contrário, essa
leitura me refresca a memória. E, além disso, jamais vi um velho esquecer o lugar onde esconde seu
dinheiro. Os velhos se lembram sempre daquilo que os interessa: promessas sob caução, identidade
de seus devedores e credores, etc.
E os jurisconsultos? Os pontífices? Os senadores? Os conselheiros e filósofos? Certamente são
idosos, mas que memória! Aliás, os velhos a conservam tanto melhor quanto permanecem
intelectualmente ativos.

48 – Quando a memória tem vida própria


(Relato de Rubem Alves)

Memória é onde se guardam as coisas do passado. Há dois tipos de memórias: memórias sem
vida própria e memórias com vida própria.
As memórias sem vida própria são inertes. Não têm vontade. Sua existência é semelhante à das
ferramentas guardadas numa caixa. Não se mexem. Ficam imóveis nos seus lugares, à espera. À espera
de que? À espera de que as chamemos. Ao chegar a um hotel, a recepcionista me entrega uma ficha
para ser preenchida. Lá estão os espaços em branco onde deverei escrever meu nome, endereço,
número da carteira de identidade, do CPF, número do telefone, e-mail. Abro a minha caixa de
memórias sem vida própria e encontro as informações pedidas. Se desejo ir do meu apartamento à
casa de um amigo eu pergunto: que ruas tomar para chegar lá? Abro a caixa de ferramentas e lá
encontro um mapa do itinerário que devo seguir.
São essas memórias que os neurologistas testam para ver se uma pessoa está sofrendo do mal
de Alzheimer. O médico, como quem não quer nada, vai discretamente fazendo perguntas sobre a
cidade onde se nasceu, o nome dos pais, onde moram os filhos. Se a pessoa não souber responder é
porque sua caixa de memórias está vazia. Essas memórias são muito importantes. Sem elas não
poderíamos nos virar na vida. Estaríamos sempre perdidos.
As memórias com vida própria, ao contrário, não ficam quietas dentro de uma caixa. São como
pássaros em voo. Vão para onde querem. E podemos chama-las que elas não vêm. Só vêm quando
querem. Moram em nós, mas não nos pertencem. O seu aparecimento é sempre uma surpresa. É que
nem suspeitávamos que estivessem vivas! A gente vai calmamente andando pela rua e, de repente,
um cheiro de pão. E nos lembramos da mãe assando pães na cozinha.... Viajando, olhando a paisagem
com pensamentos perdidos, vemos um rio. E a alma começa a recitar: “O Tejo é mais belo que o rio
da minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o rio da minha aldeia. Porque o Tejo não é o rio da
minha aldeia”. E nos lembramos então do riachinho em que brincávamos quando crianças.
“Alma” é o nome do lugar onde se encontram esses pedaços perdidos de nós mesmos. São
partes do nosso corpo como as pernas, os braços, o coração. Circulam em nosso sangue, estão
misturadas com os nossos músculos. Quando elas aparecem o corpo se comove, ri, chora...
É com esses cacos de memória, pedaços de nós mesmos, que se escrevem romances, estórias
infantis, poesia, lendas, mitos, utopias. Guimarães Rosa dizia a seus leitores que, para se ser escritor,
é preciso conhecer a alquimia do sangue do coração humano.
Quando eu contava uma estória para minha filha pequena ela me perguntava: “Papai, essa
estória aconteceu mesmo? ”. Traduzindo em linguagem de adulto: essas memórias são memórias de
coisas que aconteceram ou são invenções? Eu ficava quieto, sem saber o que dizer. A explicação seria:
“Não aconteceu nunca para que aconteça sempre...”. O corpo se alimenta do que não existe. Temos
saudade do que nunca aconteceu.
É muito fácil contar o passado usando as memórias sem vida própria. É só coletar os fatos e
organizá-los numa ordem temporal e espacial. É assim que se busca escrever a “história”.
Tenho raiva dos gramáticos. Fernando Pessoa também tinha. Os gramáticos se sentem no
direito de proibir palavras. Tiraram “estória” do dicionário. Agora só se pode dizer “história”. Mas o
que tem “história” a ver com “estória”? “A estória não quer tornar-se história”, dizia Guimarães Rosa.
A história acontece no tempo que aconteceu e não acontece mais. A estória mora no tempo que não
aconteceu para que aconteça sempre.
O personagem Riobaldo sabia que era difícil contar as memórias com vida própria. Dizia:
“Contar é muito dificultoso, não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas
passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em
trechos diversos; uns com os outros acho que nem não se misturam. Contar seguido, alinhavado, só
mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente
do que outras de recente data. Toda saudade é uma espécie de velhice...”.
As coisas se complicam quando é um velho contando estórias da sua infância. A saudade
mistura tudo. A saudade não conhece o tempo. Não sabe o que é antes nem depois. Tudo é presente.
“A lembrança pura não tem data. Tem uma estação. Que sol ou que vento fazia nesse dia memorável?
O devaneio não conta histórias...” (Bachelard).
O que aprendemos com essa reflexão? A importância da tolerância. Nenhuma geração é melhor
do que outra. Velhos e jovens têm o direito de ter saudades e de sonhar, contando as suas estórias e
planos. Cada um tem, no entanto, individualmente, o direito e o dever de construir a sua verdade e,
aí sim, a sua história de vida.

49 – Vivências
(Autoria desconhecida)

Era uma vez um menino chamado Guilherme Augusto Araújo Fernandes. Sua casa estava ao
lado de um lar de pessoas idosas, e ele conhecia todo mundo que vivia lá. Uma vez por semana, o lar
promovia “o dia da vizinhança”, e Guilherme adorava jogar futebol no campinho do lar nas tardes
daquele dia.
Ele gostava da Sra. Silvano, que tocava piano. Ouvia as histórias que lhe contava o Sr. Cervantes.
Brincava com o Sr. Valdemar, que adorava remar e pescar. Ajudava a Sra. Madalena, que tinha
dificuldades para andar e admirava o Sr. José Carlos, com sua voz forte e grossa.
Mas de quem ele mais gostava era da Sra. Antônia Maria Diniz Cordeiro, porque ela também
tinha quatro nomes, assim como ele. Ele a chamava de Dona Antônia.
Um dia, Guilherme descobriu que Dona Antônia havia perdido a memória. “O que é uma
memória? ”, perguntou Guilherme Augusto. “É algo de que você se lembra”, respondeu o pai.
Mas Guilherme Augusto queria saber mais. Então ele procurou a Sra. Silvano. “O que é uma
memória? ”, perguntou. “Algo quente, meu filho, algo quente”. Perguntou também ao Sr. Cervantes,
que lhe respondeu: “Algo bem antigo, meu caro, algo bem antigo”. Já o Sr. Valdemar disse: “Algo que
o faz chorar, meu menino, algo que o faz chorar”. A Sra. Madalena respondeu: “Algo que o faz rir, meu
querido, algo que o faz rir”. Também ao Sr. José Carlos ele perguntou. E ele respondeu: “Algo que vale
ouro”.
Então, Guilherme foi procurar memórias para Dona Antônia, já que ela havia perdido as suas.
Pegou uma caixa cheia de conchas, guardadas há muito tempo, e colocou-as numa cesta. Ele achou a
marionete, que sempre fizera todo mundo rir, e colocou-a na cesta também. Lembrou-se, com muita
tristeza, da medalha que seu avô tinha dado a ele e colocou-a ao lado das conchas. Depois achou sua
bola de futebol, que para ele valia ouro. Por fim, entrou no galinheiro e pegou um ovo fresquinho.
Aí foi visitar Dona Antônia e deu a ela, uma por uma, cada coisa de sua cesta. E então ela
começou a se lembrar...
Ela segurou o ovo e falou sobre um ovinho azul que havia encontrado uma vez dentro de um
ninho na casa da sua tia. Ela encostou uma concha no ouvido e lembrou de quando tinha ido à praia
de bonde e como sentira calor com suas botas de amarrar. Ela pegou a medalha e lembrou, com
tristeza, de seu irmão mais velho, que morrera na guerra. Ela sorriu para a marionete e lembrou da
vez em que mostrara uma para sua irmãzinha, que rira às gargalhadas com a boca cheia de mingau.
Ela jogou a bola de futebol para Guilherme Augusto e lembrou do dia em que se conheceram ali
mesmo no lar e de todos os segredos que haviam compartilhado.
E os dois sorriram. A memória perdida de Dona Antônia tinha sido encontrada.
Eu fico pensando... O que marca a minha memória desde a minha infância não são tanto as
coisas que meus pais diziam, mas as coisas que eles faziam com a gente. O trabalho na horta aos
sábados de manhã. A ida ao culto no domingo. Os passeios. As visitas aos parentes. Do meu tio e
padrinho, que faleceu jovem num acidente de barco, lembro da partilha. Ele não conseguia comer
uma melancia nas noites de verão sem convidar a gente.
Vivências. Esse é o ensino que fica marcado para sempre. Que nós, pais, mães e avós possamos
levar a sério essa nossa vocação de líderes nos nossos lares. Que tenhamos ânimo para criarmos uma
rotina positiva, de afeto, amor e partilha. Que as vivências experimentadas na nossa família possam
servir de suporte para a personalidade e o caráter dos nossos pequenos. E que, quando forem adultos
e até idosos, possam ter essa referência nas suas memórias.

50 – Lembranças douradas

“Schiá-schaaah.... Schiá-schaaah.... Pluomb!!! Schschsch... Schiá-schaaah.... Schiá-schaaah....


Pluomb!!! Schschsch...”.
“Pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá...”.
- Pai, acorda! O barco do peixe está chegando!
- Ahhrg-ahhhhh.... Ah, filho! É madrugada ainda. Volta a dormir. Os barcos estão saindo agora
para recolher as redes. Ainda vão demorar para voltar com os peixes. Depois a gente vai lá na praia.
E eu furunguei de volta para debaixo da coberta, no beliche do nosso quartinho de madeira na
casa de praia. Adormeci novamente, ao som das ondas quebrando, vindo e voltando.
“Schiá-schaaah.... Schiá-schaaah.... Pluomb!!! Schschsch...”.
O dia estava amanhecendo. Nossos pais nos acordaram. Fomos até a Ponta da Barra, onde,
naqueles tempos, as canoas ainda saiam do mar direto para a areia da praia. Os homens as
empurravam e rolavam sobre troncos roliços até a parte seca. Eram ainda aquelas baleeiras pequenas,
redondas, tipo charuto comprido, com a proa alta para furar as ondas. Os peixes eram negociados e
vendidos ali mesmo na canoa. A gente ia de uma canoa para a outra e escolhia exatamente aquele
que estava procurando. Opções não faltavam: pescada, cação, tainhota, parati-gato, anchova,
bagre.... Às vezes aparecia robalo, linguado e até raia. A tainha era pescada em grandes quantidades
na época da tainha. Alguns barcos faziam arrasto de camarão.
Meus pais e meus avós adoravam esse verdadeiro ritual matinal da compra de peixe, desde os
tempos em que alugavam uma casa por alguns dias no verão na praia de Barra Velha. Depois
compraram uma casa velha e simples, bem próxima do mar, no Balneário de Barra do Sul. Não preciso
dizer que, para nós crianças, isso tudo era mágico e fantástico.
Tenho lembranças um pouco mais antigas, justamente do tempo em que a gente ia para o
veraneio em Barra Velha. A viagem de 60km era uma verdadeira aventura. Nosso pai tinha um
“Fordeá”, um “calhambeque” (como se diria nos dias de hoje), daqueles que somente a parte da frente
era revestida com lataria. O resto do carro era feito de madeira. Não tinha janelas laterais, apenas
aquelas lonas plásticas, que a gente puxava para baixo para proteger do vento e da chuva. Saíamos de
Joinville de madrugada. No meio do trajeto começava a nascer o sol. E ele vinha da praia para onde
estávamos indo. Era muito bonito. Minha vó ia cantando até Barra Velha... músicas do hinário da
igreja. Que memória ela tinha.
Estas são praticamente as minhas memórias e saudades mais antigas. E hoje estão tão presentes
na minha lembrança como se as vivências tivessem ocorrido em recente data. É que a casa da Barra
do Sul está meio abandonada e está à venda. Sem a vó e o vô e, agora, sem a mãe e o pai, essa fase
dourada da nossa vida chegou ao fim.
Lembranças do pai e mãe, a gente tem muitas. A gente tem também lembranças ruins e parece
que essas nos marcam fortemente. Procuro ser grato a Deus pelo amor e as coisas boas que Ele me
concedeu através dos meus pais. Quanto às vivências negativas, procuro ser realista e lembrar sempre
que eu mesmo já marquei meus filhos com experiências que não lhes foram agradáveis. Lembrando
com carinho dos meus pais, compartilho aqui também o desejo de que meus filhos possam valorizar
sempre momentos bons que já tivemos e que ainda teremos nessa nossa vida.

51 – A canção de Minnie
(Relato de Lawrence Leshan)

Nunca trabalhei com alguém cujas mudanças e crescimento positivos, mudanças que trariam
uma diferença fundamental em suas experiências individuais de vida, fossem impossíveis. Também
nunca trabalhei com alguém que não tivesse uma canção particular para cantar, uma música
completamente individual para tocar que, quando encontrada, não possuísse as seguintes
características: era prazerosa para a pessoa, socialmente positiva e melhorava seus relacionamentos.
De todos os pacientes que atendi, a que testou essas características com maior intensidade foi Minnie.
Minnie nasceu na Europa Oriental no final do século passado (final do século 19). Naquele
tempo, nas famílias emigrantes, era costume o pai viajar primeiro, deixando a esposa e os filhos, até
se estabelecer nos Estados Unidos, quando então providenciava a mudança deles. O pai de Minnie
emigrou quando ela estava com nove anos. Havia também três crianças mais novas. Alguns meses
depois que o pai partiu, a mãe faleceu subitamente.
Com a ajuda da comunidade local, Minnie cuidou das crianças mais novas e, quando tinha dez
ou onze anos, abandonou o país, seguindo um guia para atravessar ilegalmente a fronteira, através
de pântanos, com as crianças amarradas firmemente com uma corda em suas cinturas. O pai as
encontrou nos Estados Unidos.
Ele estava com dificuldades para ganhar a vida no novo país e a família passava por enormes
dificuldades. Minnie cursou a escola durante um ano e começou a trabalhar em uma fábrica de
agulhas. Com pouca ajuda do pai, acabou criando os irmãos e mandando-os para a escola. Nessa
época, o pai morreu e logo depois Minnie se casou. Minnie teve três filhos e continuou a trabalhar
quase continuamente em fábricas de roupas para complementar o salário do marido. Este faleceu
mais ou menos quinze anos depois do casamento e Minnie trabalhou o suficiente para mandar os três
filhos para a faculdade. Todos se tornaram profissionais. Durante algum tempo, Minnie acompanhou
o mais novo aos lugares onde ele trabalhava e cuidava da sua casa, mas percebeu que ele queria ser
independente. Ela mudou-se para um quarto de uma pensão em Nova York e passava o tempo
olhando pela janela, andando pela praça, visitando lojas e ouvindo rádio. Depois de menos de um ano
desse tipo de vida, ela desenvolveu um câncer do estômago e acabou no hospital em que eu
trabalhava.

Todos adoravam Minnie. Ela estava sempre bem-humorada e era muito agradável. Nenhum
paciente era tão fácil de lidar quanto ela. Quando lhe perguntavam como estava se sentindo, ela
sempre dava a resposta adequada a um “bom” paciente: “Estou me sentindo melhor hoje”.
Conhecendo-a em uma das visitas, também comecei a amá-la. Iniciamos um trabalho juntos.
Para mim, ficou claro que ela era uma mulher com muita energia, que havia sido extremamente ativa
durante toda a vida. Agora não havia espaço para ela extravasar toda a sua energia. Durante a vida
inteira ela cuidara das pessoas; assim, a sugestão óbvia era que ela continuasse a fazê-lo: uma cidade
como Nova York necessitava muito de alguém com sua capacidade de doar-se. Os hospitais
precisavam de gente que desse amor e cuidados às crianças, as instituições sociais tinham
necessidades semelhantes, e assim por diante. Foi a primeira vez (e única) que vi Minnie ficar zangada.
Ela já dedicara tempo demais cuidando das pessoas.
Comecei a pesquisar mais. Qual teria sido o sonho perdido? Quando e onde ele se perdera?
Qual o talento natural de Minnie de ser e criar; o talento que, se pudesse encontrar agora, seria a
maneira de ela canalizar energia e inteligência, bem como fazer brotar habilidades que jamais se
manifestaram? Quanto mais procurávamos, mais claro ficava que não existia nada.
De acordo com minha teoria, todas as pessoas possuem uma maneira natural de ser, de
relacionar-se, de criar; quando elas a encontram, estão usando a si mesmos da forma que mais as
satisfaz. E toda a minha experiência mostrava que, quando se comprometiam a encontrar e a viver
dessa nova maneira, as defesas do corpo intensificavam seu funcionamento e frequentemente elas
começavam a reagir muito mais positivamente ao tratamento médico. Com Minnie, não somente não
consegui encontrar nenhum indício dessa outra maneira de ser e criar, como também ela estava lenta
e regularmente se enfraquecendo fisicamente.
Minnie, contudo, gostava das minhas visitas, e continuei o trabalho com ela. Um dia, um famoso
grupo de balé veio à cidade e fez um enorme sucesso. Um amigo conseguiu-me uma entrada para
uma apresentação vespertina, no último instante. Telefonei para Minnie e perguntei-lhe se poderia
adiar nosso encontro das três horas, até a manhã seguinte. Ela foi mais delicada do que nunca e disse
que qualquer hora estava bem para ela e que era muito gentil de minha parte vê-la tão
frequentemente, e coisas assim.
Na manhã seguinte, quando a encontrei, contei-lhe por que havia cancelado nosso encontro. E,
então, descobri o segredo de Minnie.
Quando ela tinha treze anos, e depois novamente quando completou quinze, um parente que
emigrara para este país antes de seu pai, vendo como aquela menina trabalhava e o fardo que
carregava, levou Minnie ao balé em seu aniversário. A primeira vez foram ver Giselle e a segunda, O
Lago dos Cisnes. Estas foram as duas únicas vezes em que ela foi a um balé, mas apaixonou-se por ele
desde o primeiro momento. Ainda agora, ela se lembrava dos bailarinos daquelas apresentações,
feitas há mais de cinquenta anos, e como haviam dançado cada movimento. Apenas outra pessoa
conhecia seu segredo, pois ela jamais o contara a ninguém, desde criança. Na casa de cômodos em
que vivia, havia um homem que comprava o jornal impresso todos os dias. Sempre que havia
publicidade ou crítica sobre balé, ele guardava a página para ela.
Eu me achava nitidamente diante de um tema sério. Tinha uma amiga que era a principal
bailarina do corpo de baile de uma casa de shows da cidade; telefonei-lhe e pedi que ficasse no
hospital uma hora, com uma amiga minha que se interessava por balé.
No dia seguinte, Nina apareceu no começo da tarde e disse que teria um ensaio às quatro e
meia, mas poderia ficar uma hora com Minnie. Eu as apresentei e deixei-as sozinhas. Quando voltei,
uma hora depois, estavam conversando tão animadamente que nem sequer me viram. Voltei às três
horas, e elas ainda continuavam a conversar, de mãos dadas. Às quatro horas voltei e disse a Nina que
sabia que estava atrasada e que havia um táxi esperando lá embaixo. Enquanto a acompanhava até o
elevador, Nina me olhou espantada e comentou: “Ela sabe mais do que eu sobre balé! ”. Voltei ao
quarto de Minnie. Ela virou-se para mim e, com um radiante brilho nos olhos, exclamou: “Esta foi a
tarde mais maravilhosa de toda a minha vida”.
Como se pode imaginar, Minnie e eu conversamos muito sobre essa experiência e sobre seus
sentimentos com relação ao balé. Em algum momento de nossa conversa (nunca ficou muito claro
para mim quem falou primeiro) surgiu a ideia de que Minnie iria escrever um livro sobre a história do
balé na cidade de Nova York. Jamais houve uma conversa sobre publicar um livro; ela desejava
realmente apenas escrevê-lo.
Fui à biblioteca pública e trouxe todos os livros que encontrei relacionados ao assunto. Arrumei
também blocos de anotações, canetas e lápis. Minnie começou a trabalhar alegremente.
E, então, a coisa explodiu. De repente, eu estava em apuros. Primeiro, com os parentes dela.
Seus filhos investiram contra mim, furiosos. O que eu estava tentando fazer com essa velha senhora
de pouco estudo? Quem eu pensava ser? Estaria tentando dar-lhe “esperança”? (Nunca compreendi
o significado dessa pergunta, que me foi feita muitas vezes na vida. Nem entendi como e por que a
esperança e o empenho no futuro são tantas vezes considerados como algo inconveniente).
O segundo grupo com que me meti em apuros foi o das enfermeiras que cuidavam da ala em
que Minnie permanecia. Ela não era mais uma “boa” paciente. Sua cama, a mesa-de-cabeceira e o
chão sob sua cama estavam atulhados de papel e livros. Quando alguém tentava tirá-los e limpar o
lugar, ela gritava como uma vendedora de peixe. Muitas vezes, acordava no meio da noite, acendia a
luz e começava a escrever. Ela não era mais tão docemente agradável nas visitas. Em lugar do “Sim,
doutor, estou me sentindo muito melhor hoje”, era mais provável que dissesse: “Quando vou estar
suficientemente bem para ir para casa? Tenho muito o que fazer lá e quero ir ao museu de artes
verificar a coleção de programas e cartazes”. Muitos dos meus colegas de trabalho estavam zangados
comigo pelo que eu havia feito a essa senhora.
Ela começou a ganhar peso. Suas forças estavam aumentando. Era ainda impossível dizer o que
estava acontecendo em seu estômago, mas, pelas indicações, ela apresentava uma reação nova e
positiva ao tratamento médico. Ainda necessitava de cuidados hospitalares, mas certamente parecia
melhorar. Pouco depois, observando sua melhora física, os filhos puseram mãos à obra e começaram
a ir a bibliotecas procurar livros sobre balé. Isso me aliviou de grande parte de meu trabalho.
No início de agosto, naquele ano, tivemos uma onda de calor. Estava terrivelmente quente, e o
hospital não conseguiu solucionar os problemas com o ar-condicionado. Tentamos transferir os
pacientes, mas não conseguimos encontrar nenhum lugar melhor para a maioria dos internados. Isso
complicou a sobrevida de muitos pacientes com câncer. Alguns morreram nesse período. Minnie
também faleceu.
No funeral, o filho mais velho descreveu Minnie como uma árvore florida, que durante toda a
sua vida, disse ele, viveu em cores esmaecidas e iguais; somente pouco antes de morrer havia
resplandecido em tons vermelhos, rosa e laranja. Todos nos comovemos com as suas palavras.
Não se preocupe demais com aquilo que o mundo deseja de você. Preocupe-se com aquilo
que o faz sentir-se vivo, pois o que o mundo precisa é de pessoas mais vivas, que sintam o prazer e
o entusiasmo, ao viverem da maneira para a qual foram criadas.
63 – O velho semeador – Edson Meier
52 – Somos um todo integrado

Antes de nossa morte, todos precisamos compreender o propósito de nossa vida. Qual o seu
significado? Em seus últimos dias de vida, uma pessoa tem a liberdade de considerar a si própria não
como uma pessoa dominada pela doença, morrendo indefesa em um quarto de hospital, mas, sim,
como parte de uma tapeçaria de vida ou de uma sinfonia na qual todas as partes interagem entre si,
e sua vida é um todo integrado, rico e multicolorido.
Não podemos verdadeiramente dizer adeus a alguma coisa sem saber o que ela foi. A tentativa
de desistir, de dizer adeus, de renunciar à nossa vida antes de aceitá-la totalmente tende a conduzir-
nos a uma morte amarga e triste.
Quando estamos ativamente cantando nossa própria canção, não precisamos mais ficar
prisioneiros da pergunta pelo significado da vida. Quando estamos agindo da maneira para a qual
fomos criados, nós sabemos.

53 – Carta de uma máquina que deixou de ser máquina


(Conto de autoria desconhecida)

“Eu era uma máquina muito estimada na empresa onde operava. Vivia cercada de atenção.
Lubrificavam-me nas datas previstas e se alguma das minhas peças se deteriorava, logo era consertada
ou trocada por uma nova. Já fui tratada até por técnicos estrangeiros. Meu dono me amava. Certa feita,
depois que os operários saíram da fábrica, ficou um tempão perto de mim, olhando-me com satisfação
indisfarçável. Ao despedir-se pôs carinhosamente sua mão sobre mim, acariciando-me, sorrindo feliz e
dizendo umas palavras que não entendi. Muitas vezes fui apresentada com orgulho às visitas
importantes que me analisavam minuciosamente entre comentários e gestos de admiração.... Eu
produzia bem. Dava grandes lucros à firma.
Não sei como aconteceu. O fato é que imperceptivelmente eu fui me transformando, ganhando
alma, convertendo-me num ser humano. Demorou um tempo, mas aconteceu.
Um dia – eu estava estreando minha humanidade – vi uma criança olhando um besourinho
amarelo que caminhava sobre uma folha de eucalipto que o vento atirara ao chão. O menino tinha os
olhos enormemente abertos como se contemplasse um prodígio que o fascinasse. Eu olhei melhor e vi.
Era realmente um prodígio. Quando o menino foi embora peguei a folha de eucalipto. O besourinho
saiu voando, mas a folha, vista contra a luz, me oferecia o espetáculo que desenha sua nervura,
entusiasmando-me. Naquele momento percebi em quanto o homem supera as máquinas. Mas eu iria ter
novas e melhores surpresas.
Eu era já um ser que pensava, sentia, sonhava, desejava, se entristecia e se alegrava. Um dia me
enamorei... Nossa, aquilo era totalmente imprevisto. Era como se uma fonte parada, que dormia em
mim, começasse a cantar... como se uma primavera nova transformasse de repente minha alma num
campo de cores e risos. Nunca mais quis ser máquina.
Outro dia entrei numa igreja deserta e senti saudades de Deus. Fiquei uma hora bebendo aquele
silêncio e de repente, sem saber o motivo, me encontrei chorando. Nunca pensei que lágrimas pudessem
deixar tanto alívio na alma. Saí de lá prometendo-me a mim mesmo que voltaria outras vezes.
Na rua vi um homem com deficiência física e lembrei que em certa ocasião, quando era máquina,
esmaguei o braço de um operário. Naquele tempo eu continuei trabalhando como se nada tivesse
acontecido, porque as máquinas não têm consciência. Agora sentia um grande remorso. Parei para
pensar num banco do parque enquanto observava as pessoas que passavam. Pensei: “Agora penso, amo,
sinto... Agora vejo como vale a pena ser um ser humano”.... Mas uma tristeza se insinuava no meu
íntimo. Eu via as pessoas passando apressadamente, sem brilho nos olhos, como se não tivessem alma.
Senti que uma neblina me subia aos olhos e me pareceu que os homens que passavam iam se
transformando em máquinas.
Por isso resolvi escrever esta carta, para alertar as pessoas sobre uma coisa horrível que lhes está
acontecendo. Estão virando automatizadas. A grande máquina da produção as conclama para o
rendimento e as absorve como peças submissas de um todo produtor bem engrenado. São estimuladas
com a promessa de que poderão consumir um maior volume dos próprios produtos que produzem e
muitas pessoas acabam mesmo querendo ser apenas peças eficientes, peças bem lubrificadas, com altos
salários. A vida delas passa a consistir somente em produzir e consumir.... Eu já fui máquina e essa era
a minha existência. Não vale a pena. O ser humano tem nascido para coisas melhores. É preciso
produzir, mas é preciso também reservar tempo e energia para outras coisas, igualmente humanas.
Soube que meu antigo dono não gostou da minha transformação. Talvez ele tenha também virado
máquina”.

54 – Os prazeres da vida
(Relato de Cícero / 106-44 a.C.)

65 – O velho semeador – Edson Meier


Se a velhice não aproveita os prazeres da mesma maneira que a juventude, ela, no entanto, não
está totalmente privada deles. Uma boa apresentação de teatro diverte sobretudo os espectadores
da primeira fila, mas os do fundo aproveitam igualmente seu espetáculo. Do mesmo modo, a
juventude, que vê os prazeres de perto, os usufrui intensamente, mas a velhice, que os considera de
mais longe, tira deles um proveito suficiente.
A volúpia desenfreada é a causa da derrota e destruição de muitas pessoas na juventude e, na
velhice, seria causa de vazio e desonra. Onde reina a devassidão, obviamente não há lugar para a
temperança e a virtude. A volúpia corrompe o julgamento, perturba a razão, turva os olhos do espírito,
se posso me exprimir assim, e nada tem a ver com a virtude. Se o bom senso e a sabedoria são
esperados dos jovens para afastá-los da devassidão, muito mais se espera dos velhos, uma vez que a
alma está mais liberada das obrigações da volúpia, da ambição, das rivalidades e das paixões de toda
espécie. Na velhice, as pessoas têm o direito de viverem mais “consigo mesmas”. Se podemos nos
alimentar de estudos e de conhecimentos, poderá ser um período agradável e tranquilo. O saber se
vale das competências acumuladas e se enriquece à medida que envelhecemos. Sim, nenhum prazer
é superior ao do espírito.

55 – Sexualidade e intimidade na velhice

A busca pelo relacionamento sexual, a busca por intimidade com alguém certamente é algo que
nos acompanha até o final da nossa vida. Na velhice, até mais do que sexo genital e troca de carícias
eróticas, a intimidade se caracteriza muito pelo carinho, pela cumplicidade, pelo companheirismo,
pela vida e história construídas em conjunto.
66 – O velho semeador – Edson Meier
A dificuldade se apresenta quando esse companheiro ou companheira falece. O filósofo grego
Arquitas de Tarento caracteriza bem essa solidão quando afirma: “Suponhamos que alguém suba ao
céu e lá penetre com o olhar a natureza do mundo e o esplendor dos astros. Teria algum sentido todo
esse encanto e maravilhamento se não tivesse alguém a quem contá-lo? ”. É praticamente dessa forma
que se sente o viúvo ou a viúva, quando perde seu companheiro de longa data. É compreensível
também que busque uma nova companhia.
E então surge o conflito com os filhos. A pensadora Simone de Beauvoir, em seu livro “Velhice,
a realidade incômoda”, descreve a terrível realidade com a qual os velhos se defrontam nessa questão
da sexualidade. Para ela, os pais se aliam para conspirar contra o corpo dos filhos, quando estes são
solteiros e jovens. Eles, por sua vez, se aliarão para conspirar contra os corpos dos pais, querendo
controlar a sua sexualidade na velhice. Para a escritora, todos amam os velhinhos mansos, sorridentes,
pacientes, que não mais se pertencem, perderam a vontade e se entregaram à vontade dos outros.
Mas ai daquele que, de repente, sentir o amor desabrochar de novo em seu corpo e tiver o desejo de
carícias e arrepios eróticos. Dirão os jovens que não passa de um velho tarado que perdeu o juízo.
Nesse seu livro, Beauvoir trata especificamente do problema da sexualidade na velhice, num
capítulo intitulado “A alegria de viver”. Nesse capítulo, a autora fala sobre vários estereótipos da
velhice. Existe, por exemplo, a ideia corriqueira de que a velhice é a fase da vida em que o ser humano
consegue libertar-se do seu próprio corpo, significando com isso sobretudo a liberdade dos impulsos
sexuais. Nessa visão, o velho ideal é aquele em que as paixões da carne deixaram de existir. É evidente
que a autora discorda frontalmente dessa concepção da velhice.
Beauvoir chama a atenção para o fato de que na velhice a pessoa continua a existir como ser
sexual, apesar de não ter toda a expressão genital da sexualidade que caracteriza o ser humano
normal em fases adultas da vida. Seria absurdo imaginar, diz Simone de Beauvoir, que o que ocorre é
simples retorno à sexualidade infantil. De modo algum se pode dizer que a velhice é “segunda
infância”, visto que, por definição, a infância é movimento para cima e para frente. Além disso, a
sexualidade infantil está em busca de si mesma, enquanto a pessoa idosa retém na memória o que foi
sua maturidade. Há diferença radical entre os fatores sociais que afetam os dois níveis etários.
Podemos dizer, portanto, que a capacidade de se expressar sexualmente na velhice, mesmo em face
das limitações impostas pelo processo de envelhecimento, é condição fundamental à alegria de viver
entre as pessoas idosas. É lamentável que muitos, por medo do ridículo, por conformismo aos
estereótipos da sociedade, ou por atitudes psicológicas negativas, se privem da atividade sexual, para
seu próprio prejuízo, tornando suas vidas menos atraentes e menos interessantes.

O que prejudica um novo relacionamento conjugal, um novo vínculo de intimidade para uma
pessoa idosa é o peso social que um “novo casamento” carrega. Meu pai, viúvo, aos setenta anos
resolveu casar de novo. Ela era uma senhora também idosa, viúva como ele, conhecida nossa da igreja
que frequentávamos. Meus irmãos todos eram contra. Eu me coloquei a favor. Achava que ele tinha
o direito de decidir sobre a sua vida. O casamento aconteceu. Não houve cerimônia na igreja. O pastor
foi no local da festa e fez uma benção. Ela alugou a sua casa e veio morar na casa do meu pai.
Como me arrependi por ter apoiado essa união. É inacreditável, mas os dois, aos setenta anos,
casaram por interesses materiais, sem terem necessidade disso. Ela estava de olho na aposentadoria
e pensão do pai. Ele, da mesma forma, queria controlar todo o dinheiro, também o dinheiro dela, o
aluguel da casa, a sua aposentadoria e a pensão do marido falecido. E ela seguido passava dinheiro
para as suas filhas casadas. Ele era contra. Mas, nosso pai também às vezes nos ajudava em momentos
de necessidade. Porém, era algo que fazia escondido, porque ela não podia ficar sabendo. Ele, então,
fraquejou fisicamente e começou a precisar de alguma ajuda. É óbvio que ela não tinha amor para
isso. Os filhos tiveram que intervir. Nós acolhemos o nosso pai. Eles acolheram a sua mãe.
Vejo que é nesse sentido que os filhos querem controlar os pais, porque existe a questão dos
cuidados, que o idoso poderá vir a precisar, e as obrigações, até de ordem legal, dos filhos para com
os seus pais. Igualmente, existe a questão dos bens, que muitas vezes já são administrados, pelo
menos em parte, pelos filhos.
Fico pensando. O pai chegou muito bem fisicamente aos seus setenta anos. Ainda dirigia o seu
carro. Fazia a sua comida e vivia com autonomia e liberdade na sua própria casa. Ela tinha uma vida
semelhante. Inclusive, dirigia também o seu veículo e vivia com liberdade na sua própria residência.
Deveriam ter desenvolvido apenas uma boa amizade, quem sabe até um relacionamento de
intimidade e parceria, sem passarem a morar juntos. Quem iria impedi-los de passear, viajar e até de
passar finais de semana em conjunto? Ninguém.

56 – Recordações de Anita
(Traduzido e adaptado a partir do texto de Donna Swanson)

São vinte anos de viuvez. Sou respeitada. Sorriem para mim. Mas nenhum contato físico. Jamais
aquela proximidade, que torna possível esquecer a solidão.
Lembro-me de como minha mãe costumava amparar-me. Quando eu estava machucada ou
magoada, puxava-me os cabelos sedosos, e acariciava-me com suas mãos bondosas. Oh! Deus, sinto-
me tão só!
Lembro-me de Pedro e dos bebês. Como poderia recordar-me de um, sem pensar nos outros?
E à medida que eles cresciam, crescia também o nosso amor. E, Deus, Pedro não parecia importar-se
se meu corpo se avolumava e murchava um pouco. Ainda assim o amava. E o tocava. Não nos
importava o fato de já sermos menos atraentes. As crianças me abraçavam muito! Oh! Deus, sinto-
me tão só!
Meus filhos cumprem o seu dever. Visitam-me. Sobem até meu quarto para cumprimentar-me.
Conversam animadamente e recordam o passado. Mas não me tocam. Não prendem minhas mãos
nas suas. Chamam-me “Mãe” ou “Mamãe” ou “Vovó”. Nunca Anita. Esqueceram meu nome. Minha
mãe chamava-me Anita. Meus amigos também. Pedro chamava-me Anita. Mas eles já não estão aqui.
Nem Anita. Aqui está somente vovó. E, oh! Deus! Ela está tão só!
57 – A tristeza solitária

“Compadece-te de mim, Senhor, porque me sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se


consomem, e a minha alma e o meu corpo. Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos em
gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem”
(Salmo 31.9-10).
Há pessoas que enfrentam forte solidão, culpas e depressão bastante cedo, entre os 50 e 60
anos. Alguns não conseguem reagir e mudar sua postura diante da vida e de lá em diante decaem em
solidão apática, o que muitas vezes as leva a ficarem acamadas e doentes.
O caminho para a velhice é marcado por profundas transformações. São acontecimentos de
crise com profunda dor, com decepções e com mágoas. Estes momentos machucam muito. Provocam
tristeza que, se estamos sós, pode encurtar a vida, ou levar a sofrimentos sem fim.
Há estudos que mostram que: A força muscular da mão, por exemplo, pode regredir até os 60
anos em 50% em situação de tristeza depressiva. Em pessoas tristes, o oxigênio no sangue decai em
40%, provocando inflamações nas articulações por falta de regeneração das células. O risco de infarto
do miocárdio é 10 vezes maior em momentos de luto, de desespero e de desesperança,
principalmente quando se está só. A nossa resistência imunológica é reduzida em até 70% na luta
contra o câncer numa tristeza solitária...
Na verdade, estamos todos conscientes de que a tristeza solitária é prejudicial ao nosso bem-
estar e à nossa saúde. A questão é tomar uma atitude. Sair da solidão e experimentar a força da
comunhão. Participe de grupos de idosos ou de trabalhos voluntários. Busque novas amizades, novos
aprendizados e novos desafios. Seguidamente, a gente vê pessoas idosas que voltam a estudar e a se
empenhar em novas atividades e rotinas. E, o principal, busque a comunhão diária com Deus, pois Ele
é, por excelência, o médico do nosso coração.

58 – Aí está você!

Muitas vezes, o passar dos anos nos deixa encurvados e amoitados em nosso brilho e vigor. No
filme “Hook – A volta do capitão Gancho”, Peter Pan tinha crescido, envelhecido e engordado. Não se
parecia nem um pouco com o Peter que os meninos perdidos conheciam. Enquanto os meninos
gritavam que esse não era Peter, um dos meninos menores o pegou pela mão e puxou até seu nível.
Então colocou suas mãos no rosto de Peter e começou a mexer em sua pele, dando nova forma a seu
rosto. O garoto olhou nos olhos de Peter e disse: “Aí está você, Peter! ”.
Escute. Você está ouvindo? Deus está dizendo a mesma coisa para você, encontrando a beleza
que os anos enterram, o brilho que o tempo tenta tirar. Deus está vendo você e adorando a pessoa
que ele vê: “Aí está você. Aí está você, Francisco! Maria!...”.
Você não precisa de roupagens e estacas de ostentação. Você é especial e único, naquilo que
Deus lhe deu.

59 – A quietude na presença de Deus

“Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Salmo 46.10a).


A oração, independentemente de ser formulada em voz alta ou apenas formulada em silêncio
na mente, muitas vezes não nos leva realmente a um encontro com Deus. Quem se ajoelha ou senta
e começa a orar normalmente não constata que enquanto fala está distraído. Isso não fica aparente,
pois as suas palavras faladas em voz alta abafam o vozerio e a confusão da sua cabeça e do seu
coração.
Um pastor nos fala de uma senhora idosa, que nunca sentia a presença de Deus quando orava,
isso que nos últimos quatorze anos ela estava orando de forma fiel e regular. “A senhora tem dado
oportunidade para Deus lhe falar alguma palavra? ”, ele lhe perguntou. No que ele sabia que esta
senhora adorava tricotar, propôs a ela que levasse o seu material de tricô para a capela do ansionato
no seu próximo momento de oração. “Sente todo dia na capela e faça tricô na presença de Deus por
quinze minutos. Você não precisa falar nada”. Poucas semanas depois, ela lhe disse: “Quando eu oro
a Deus, ou seja, quando eu falo a Ele, muitas vezes, percebo que estou falando apenas comigo mesma.
Já, ao contrário, quando silencio na sua presença, quando me sento em silêncio diante d’Ele, então me
sinto realmente envolvida pela sua existência. E então eu falo tudo o que me passa pelo coração”.

60 – Aumente o ângulo da visão!

Numa altura de aproximadamente 27 metros do solo, num jardim botânico, trabalhadores


instalaram uma câmera sobre o ninho de uma família de águias, e os observadores “on-line” tinham
permissão de observá-las pela internet. Quando os ovos se abriram, mamãe e papai águia estavam
atentos à sua prole e revezavam-se para buscar comida e guardar o ninho. Porém, um dia, quando os
filhotes ainda pareciam umas bolas de penugem com bicos, os pais desapareceram. Num primeiro
momento houve uma grande preocupação nos que observavam a imagem. Será que alguma coisa
tinha acontecido com as aves adultas? Mas a preocupação não tinha fundamento. O operador
aumentou o ângulo de abertura da câmera e lá estava a mamãe águia, empoleirada num galho
próximo.
Ao refletirmos nessa cena com o “novo enquadramento”, nos recordamos de momentos da
nossa vida em que tememos que Deus nos tivesse abandonado e, somente mais tarde, percebemos
que enxergávamos apenas uma pequena parte de todo o cenário. Independentemente do que possa
parecer, Deus não está longe de cada um de nós (cf. Atos 17.27).

61 – Um costume estranho

Tenho um amigo que adora viver e fazer as coisas com intensidade. Quando ele ri, por exemplo,
as paredes de madeira da nossa casa chegam a tremer. Mas ele tem um costume estranho e intrigante.
Já faz muito tempo que sempre no último dia do ano ele escolhe um novo versículo, o qual ele deseja
que seja usado na pregação do seu enterro. Muitas vezes, ele também anota hinos que devem ser
cantados. Por que ele faz isso? Ele mesmo responde: “No final do ano eu quero saber exatamente o
que eu aprendi com esse texto e o que mais se tornou importante para mim naquele ano na leitura da
Bíblia”. Nos últimos anos, porém, nas nossas festas de final de ano, quando lhe pergunto “Qual é o
versículo da vez? ”, sempre vem a mesma resposta. No dia do seu sepultamento ele deseja que o
pastor fale sobre o final do Salmo 73. “Esse texto sempre está correto”, diz ele, “inclusive no último
dia! ”.

“Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio” (Salmo 73.28a).

62 – A angústia existencial de morte

O teólogo e pensador Paul Tillich fala da “angústia existencial de morte”. Ele diz que a única
angústia que existe é o sentimento de culpa em relação a você mesmo. Esta culpa em relação a você
mesmo surge se você não se atualizar, se não realizar o próprio potencial. Quando você tem potencial
para crescer, para aprender, para viver intensamente, desde que você nasce até que você morra,
existe possibilidade. Quando você não obedece a este potencial, quando esmaga isto dentro de si,
quando permite que atrofie dentro de você mesmo, tem um sentimento de culpa muito grande em
relação a você mesmo e em relação à vida dentro de você. E este sentimento de culpa se transforma
em angústia, e esta angústia é a angústia de morte. Quando você está cumprindo todos os seus papéis,
vivendo intensamente, você pode até morrer. O pesquisador W. Reich já dizia que a sensação do
orgasmo e da morte são muito semelhantes e estão associadas. Quer dizer, a expressão do orgasmo
é uma expressão de morte. Quando você alcança a plenitude, você pode até terminar e relaxar. É
neste sentido que, quanto mais plena for a vida, não que você deseje a morte, mas aceita, porque não
está sendo roubado de nada.
E isto traz a coisa paradoxal: quanto melhor a pessoa vive, mais ela vai ser capaz de enfrentar o
envelhecimento, mais vai ser capaz de enfrentar a morte. Trata-se de um crescimento, um
desligamento gradual de algumas coisas e causas que não têm mais tanto valor. A maneira saudável
desse desapego gradual acontece quando ela vai transformando aquele seu mundinho estreito (seus
filhos, sua casa, etc.) para uma visão mais ampla de mundo e a sua independência destes fatores. A
pessoa vai se relacionando cada vez mais com o mundo como um todo. Isso ficou visível na vida do
psicoterapeuta Rogers. Na medida em que envelhecia, passava a se preocupar cada vez menos com a
psicoterapia e cada vez mais com a guerra nuclear. A ideia do desengajamento é essa, você vai se
preparando para a morte, assumindo interesses cada vez mais amplos. A prática não mostra isso,
mostra que as pessoas vão crescendo espiritualmente e, com isso, é claro, elas vão se desligando um
pouquinho mais. E muitas vezes esse desligamento tem a ver com pessoas que vão realmente se
tornando apáticas, quando, na verdade, poderiam estar buscando engajamento em novas temáticas
e experiências. Ser um idoso dependente não é necessariamente um problema. Contudo, é bastante
penoso ser cuidador de um idoso rabugento e apático, angustiado e revoltado com sua própria
condição.

63 – Pela causa, até o último dia

“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas
montanhas, longe dos predadores, das ameaças e dos perigos, e mais perto de Deus, devemos
cuidar de nossas crianças como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-las,
no limite das nossas forças e possibilidades”.
Foram achados por acaso, pois ninguém sentiu a sua falta e nem procurou por eles. Alguém,
que passava por aquele monte de escombros, ouviu gritos de crianças. Em meio a todo o caos, quatro
dias após o forte e terrível terremoto no Haiti, foi difícil encontrar ajuda. Então esse alguém apelou
para uma equipe de jornalistas estrangeiros. Estes conseguiram acionar um grupo de bombeiros, que
com a ajuda de cães farejadores, constataram que ali havia pessoas soterradas que ainda estavam
vivas. Após horas de minuciosas escavações, encontraram duas crianças. A primeira a ser retirada dos
escombros foi um menino, que aparentava ter uns seis anos. Exaurido e debilitado pela falta de
alimentos e água, ele sorria, feliz por ver novamente a vida e a luz. Por fim, retiraram também a sua
irmã, que aparentava ter uns treze anos. Igualmente debilitada, ela juntava todas as suas forças para
avisar aos estranhos e, ao mesmo tempo, prantear a sua tristeza: “Kelvi morreu! Kelvi morreu! Kelvi...”.
No rosto dos bombeiros e jornalistas, estrangeiros e estranhos àquela menina, via-se claramente a
pergunta: “Quem é Kelvi? ”. Quando procuraram com mais atenção, naquele cantinho entre os
escombros, onde as crianças haviam permanecido por tanto tempo entre a morte e a vida,
encontraram o corpo de um pequeno menino, quase nenê. Era Kelvi, o irmãozinho mais novo que não
havia resistido com vida àquelas condições precárias.
Kelvi, você morreu tão anônimo. Não sabemos nada sobre você, se você tinha mãe e pai.... Se
alguém procurou por você após a tragédia. Mas, sabemos que você tinha uma irmã de ouro, que lhe
amava muito e não se conformava com o fato de não ter podido salvar a sua vida, diante de condições
que ela não entendia e nem ao menos tinha como controlar. Sabe, Kelvi, imagino que você, nessa sua
travessia solitária, encontrou a vovó Zilda, porque ela também partiu naquela tarde. Posso até ver, ela
vindo ao seu encontro, com aquele sorriso, com os braços abertos, feito as asas de um grande avião,
que se encurvam, para planar e abraçar o chão, no pouso. Vejo ela lhe abraçando, afagando as suas
feridas e o seu choro e lhe carregando nos braços, lhe levando para casa. E quando chegam, seu sorriso
já é igual ao dela, no momento em que recebem o abraço carinhoso do Pai, ao mesmo tempo em que
diz: “Entrem, meus anjos. Missão cumprida! ”.

Sim, o terremoto no Haiti, na tarde de terça-feira, dia 12 de janeiro de 2010, também silenciou
a voz de uma brasileira e cristã solidária: a médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, que
estava no país havia três dias, disseminando o trabalho da Pastoral da Criança e participando de
algumas conferências promovidas pela missão de paz da ONU.
Já estudante de Medicina, ao fazer treinamento cirúrgico em animais, percebeu que a salvação
dos que estavam ao seu encargo se dava mais pelos cuidados posteriores, como a alimentação, do
que apenas pelo ato cirúrgico. Foi um sinal poderoso que a fez enveredar pela pediatria e perceber
que a sobrevivência infantil dependia de uma cadeia de providências.
Um dos principais projetos da Pastoral da Criança da sua igreja, da qual ela era fundadora, é a
Alimentação Enriquecida, que consiste em educar as populações carentes sobre meios de enriquecer
a alimentação do dia a dia com produtos disponíveis na região, o que, na prática, contribuiu para
diminuir significativamente os índices de mortalidade infantil no Brasil.
No Haiti, seu tema, claro, seriam as crianças, razão de suas únicas queixas. Também eram a
razão de sua vida: em cada dez palavras suas, uma se referia às crianças. Não por coincidência,
portanto, o final de sua última palestra, dada na terça-feira em que morreria, foi dirigido a elas.
Obrigado, Dona Zilda, por nos ter ensinado que um discurso simples não é um simples discurso
quando é escrito com a própria vida.
75 – O velho semeador – Edson Meier
“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas
montanhas, longe dos predadores, das ameaças e dos perigos, e mais perto de Deus, devemos
cuidar de nossas crianças como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-las,
no limite das nossas forças e possibilidades”.

64 – A pedra

Na propriedade em que moramos, o terreno é corte de morro. Em tempos antigos, era uma
propriedade rural. Esses dias, fiz uma escavação, removendo barro para um aterro próximo, coisa
pequena, com pá cortadeira e carrinho de mão. Deparei-me com um solo argiloso, compactado, duro
de cortar e remover. Numa profundidade de aproximadamente um metro e meio, no meio daquela
argila, encontrei uma pedra solitária, de cor branca, mesma cor da argila, toda pontuda e irregular, no
tamanho de um ovo grande de galinha.
A pedra está sobre a minha escrivaninha. E agora a tenho na palma da mão. Fico pensando:
antes de eu nascer, quando meu avô comprou essas terras, a pedra já estava lá. E me pergunto,
quantas centenas de anos levou para a argila endurecer e se transformar nessa pedra? É uma sensação
interessante. Parece que estou segurando o infinito e a eternidade aqui na palma da minha mão.

Segurar uma pedra. Contemplar os detalhes de uma flor. Sentir-se integrado em meio à boa
criação de Deus nos traz uma grande energia e paz. Tudo ao nosso redor tem o seu sentido e a sua
existência. A nossa vida também.

76 – O velho semeador – Edson Meier


65 – O fluxo sem descanso
(Texto de Rubem Alves)

Pense, por um momento, nas coisas que o cercam: as nuvens, o mar, o vento que sopra a areia,
as cores que se alternam no céu, as plantas que nascem e morrem, os animais que crescem e
envelhecem. Tudo flui, tudo escoa, nada permanece. Por mais que procuremos, não encontramos um
só ponto fixo onde nos ancorar. Na natureza tudo é transitório, nada se repete. Inútil apelar para os
rochedos. A areia das praias testemunha também de sua vida efêmera...
Mas vem o espanto quando nos damos conta de que o fluxo sem descanso não desemboca no
caos. O transitório, ao contrário, parece cavalgar uma realidade invisível, eterna, racional,
compreensível, da mesma forma como no olho do furacão se encontra o repouso absoluto. Será que
o visível efêmero nada mais é que uma sombra de um ser imutável, que se esconde no centro de tudo?

66 – A saciedade e o término da vida


(Relato de Cícero / 106-44 a.C.)

Em geral, parece-me, perdemos o apetite de viver quando nossas paixões são saciadas. Devem
os adolescentes lamentar a perda do que adoravam quando crianças? E poderiam os homens maduros
ter saudade do que amavam quando adolescentes? Também eles têm seus gostos, que não são os dos
velhos. A velhice, enfim, tem suas inclinações próprias. E estas por sua vez se desvanecem como
desapareceram as das idades precedentes. Quando esse momento chega, a saciedade que sentimos
nos prepara naturalmente para a proximidade da morte.

77 – O velho semeador – Edson Meier


Que há, portanto, de positivo na vida? Não oferece ela sobretudo provações? Seguramente, ela
comporta muitas vantagens, mas, seja como for, no final restam apenas a saciedade e o término. Não
tenho vontade de queixar-me sobre a morte como o fizeram com frequência alguns, inclusive entre
os sábios; tampouco vou lamentar ter vivido, posto que, minha vida o testemunha, não foi inútil. Aliás,
deixo a vida não como quem sai de sua casa, mas como quem sai de um albergue onde foi recebido.
A natureza, com efeito, nos oferece uma pousada provisória e não um domicílio. Oh, como será bela
a jornada quando eu partir para juntar-me, no além, à assembleia divina formada pelas almas, quando
eu deixar o tumulto e o lamacento caos deste mundo! Então reencontrarei não apenas todos os
homens de quem falei aqui, mas sobretudo meu querido Catão, o melhor de todos, o filho mais amável
e o mais respeitoso. Fui eu que queimei seu corpo quando ele é que deveria ter queimado o meu. Mas
sua alma não me abandonou; ela vela sobre mim desde aquele lugar aonde ela sabe que devo ir.
Viram-me aceitar corajosamente meu luto; não era resignação de minha parte. Eu apenas
reconfortava-me à ideia de que a separação e o afastamento seriam de curta duração.

67 – A galeria celestial
(Texto de Max Lucado)

Quando todos nós chegarmos ao céu, montaremos uma enorme galeria, onde cada um poderá
pintar e expor uma tela, que caracterize a sua história individual. Você poderá montar também uma
instalação, onde seus convidados visitarão um local que possibilite a vivência de um momento
importante da sua vida.
Esta é minha ideia. Sei que pode ser maluca, mas e se, quando todos nós chegarmos ao lar,
fizermos uma galeria? Não sei se algo assim é permitido no céu. Mas algo me diz que o Pai não vai se
importar. Afinal de contas, há espaço de sobra e muito tempo disponível.
Isso é que é um quebra-gelo! Que maneira de fazer amigos! Você é capaz de imaginar? Lá está
Jonas, com uma baleia imensa. Moisés diante de um arbusto em chamas. Davi dando lições de
estilingue e Abraão descreve uma pintura cujo nome é “A noite das mil estrelas”.
Você pode se sentar ao lado de Zaqueu em sua árvore. Um rapaz lhe mostra um cesto com cinco
pães e dois peixes. Marta o saúda em sua cozinha. O centurião o convida a tocar a cruz.
Lá está Martinho Lutero com o livro de Romanos. Susana Wesley conta como orou pelos filhos
Charles e John. E Dwight Moody fala do dia em que largou a sapataria para pregar.
Alguns são famosos, a maioria não é – mas todos são heróis. Um soldado deixa que você entre
numa trincheira, escavada de modo a relembrar aquela na qual ele encontrou Cristo. Uma dona de
casa mostra seu Novo Testamento, manchado de lágrimas. E ao lado de um homem negro está outro
homem branco. Abraçados, relatam como enfrentaram a discriminação racial em seu país.
Em algum lugar, no meio dessa arena de esperança está a sua história. Cada vez mais pessoas
estão chegando. Elas ouvem como se tivessem todo o tempo do mundo (e na verdade têm!). Você é
tratado como se fosse único e especial (o que de fato é!). Salomão lhe faz perguntas. Jó elogia a sua
perseverança. Josué exalta a sua coragem. E quando todos eles aplaudem, você aplaude também.
Porque, no céu, todos sabem que todo louvor vai para uma única fonte.
E, por falar na fonte, ele também está representado na galeria celestial. Vire-se e dê uma
olhada. Bem acima dos outros. No lugar de maior destaque. Exatamente no meio. Ali está um quadro
bem no alto, colocado numa plataforma acima de todos os outros. Visível de qualquer ponto da galeria
está uma enorme pedra. Ela é redonda. É pesada. Um dia, ela serviu para fechar a abertura de um
sepulcro.
Mas não serve mais para isso. Pergunte a Maria. Pergunte a Pedro. Pergunte a Lázaro. Pergunte
a qualquer um naquela galeria. Todos eles vão lhe dizer. As pedras e a morte nunca foram páreo para
Deus.

68 – O que você possui, Paulo?


(Conto de Max Lucado)

“Sento-me a poucos metros de um homem no corredor da morte. Judeu por nascimento.


Construtor de tendas por profissão. Apóstolo por chamado. Seus dias estão contados. Fico curioso para
saber o que sustenta esse homem à medida que ele se aproxima de sua execução. Assim, faço algumas
perguntas.
- Você tem família, Paulo?
- Não tenho ninguém.
- Como vai sua saúde?
- Meu corpo está ferido e cansado.
- O que você possui?
- Tenho meus pergaminhos. Minha pena e tinta. Uma capa...
- E quanto à sua reputação?
- Bem, não é das melhores. Sou herege para alguns, desertor para outros.
- Você tem amigos?
- Tenho, mas até mesmo alguns deles me viraram as costas.
- Algum prêmio?
- Aqui na terra, não.
- Então, o que você possui, Paulo? Nenhum pertence de maior valor. Nenhum familiar. Criticado
por alguns, zombado por outros. O que você possui, Paulo? O que você tem de importante?
Sento-me em silêncio e assisto. Paulo cerra o punho. Ele olha para sua mão. Eu olho também. O
que ele está segurando? O que ele tem ali?
Ele estende a mão para que eu possa ver. Enquanto me inclino para frente, ele abre os dedos.
Olho para a palma de sua mão. Está vazia.
- Tenho a minha fé. É tudo que tenho. Mas é tudo de que preciso. Guardei a fé.
Paulo se inclina para trás, contra a parede da cela, e sorri. E eu encosto na outra parede e olho
para o rosto de um homem que aprendeu que existem mais coisas na vida do que os olhos podem ver”.
Querido semeador, há histórias/projetos de vida que aparentemente se desfazem com o passar
do tempo, sobrando apenas alguns pergaminhos, algumas páginas manuscritas. Mas, vejam o que
Deus fez com os manuscritos do Apóstolo Paulo. Nenhuma história de vida é insignificante para Deus.
“Porém, em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha
carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”
(Atos 20.24).

80 – O velho semeador – Edson Meier


Bibliografia consultada

Prefácio – O exemplo do professor idoso aparece no texto de André Berge no livro de Alzira C. Lopes. In.: COMO VIVER FELIZ
SEUS 100 ANOS. Edições Paulinas. São Paulo/SP. 1993. P. 26s. A reflexão sobre a tenacidade do semeador foi baseada no
texto de Rubem Alves. In.: VARIAÇÕES SOBRE A VIDA E A MORTE. Edições Paulinas. São Paulo/SP. 2ª Ed. P. 62.
1 – O exemplo do semeadorzinho foi adaptado a partir do texto de Arno Pagel/Kalbertal-Alemanha. Traduzido por Astrid
Dietz. In.: ANUÁRIO EVANGÉLICO. 1985. Sinodal. São Leopoldo/RS. P. 52-4. A citação final, aparece em uma fala do Irmão
Francisco, no romance de Nikos Kazantzakis. O POBRE DE DEUS. São Paulo/SP. Círculo do Livro. 1956 (obra original). P. 207.
2 – Texto de Edson Meier.
3 – Texto de Edson Meier. Citação conforme Rubem Alves. In.: VARIAÇÕES SOBRE A VIDA E A MORTE. P. 7s.
4 – Adaptado a partir de texto de autoria desconhecida, trabalhado em seminário de preparação de voluntários para o CVV
(Centro de Valorização da Vida/Programa Como Vai Você).
5 – Texto de Edson Meier.
6 – Texto de Edson Meier.
7 – Texto de Edson Meier.
8 – Texto de Edson Meier.
9 – Texto de Edson Meier.
10 - Adaptado a partir do texto de Rubem Alves. In.: VARIAÇÕES SOBRE A VIDA E A MORTE. P. 166-177.
11 - Adaptado a partir do livro de Evaldo A. D’Assumpção. In.: SOBRE O VIVER E O MORRER. Manual de Tanatologia e
Biotanatologia para os que partem e os que ficam. Editora Vozes. Petrópolis/RJ. 2010. P. 83s.
12 - Texto de Edson Meier. Mito de Sísifo, conforme se encontra no texto de Maria Júlia Kovács. In.: MORTE E
DESENVOLVIMENTO (Maria Júlia Kovács – coordenadora e organizadora). Casa do Psicólogo. São Paulo/SP. 1992. P. 147 e
173.
13 - Adaptado a partir do texto de Johannes F. Hasenack. In.: CASTELO FORTE. 1996. Sinodal/Concórdia. São Leopoldo/RS e
Porto Alegre/RS. 10/jun.
14 - Texto de Edson Meier. A temática de Jung foi adaptada a partir do texto de Laura Villares de Freitas. In.: MORTE E
DESENVOLVIMENTO HUMANO (Maria Júlia Kovács – coordenadora e organizadora). P. 114 e 116s.
15 - Texto de Edson Meier, adaptado a partir da meditação de Maurício Haacke. In.: CASTELO FORTE. 2003. 07/out e do texto
de Lawrence Leshan. In.: O CÂNCER COMO PONTO DE MUTAÇÃO. P. 174s. Citação final de Rubem Alves. In.: O VELHO QUE
ACORDOU MENINO. Planeta. São Paulo/SP. 2015. 2ª Ed. P. 200s.
16 - Traduzido e adaptado a partir do texto de Wilhelm Busch. In.: 365 MAL ER. Tägliche Andachten. Schriftenmissions-Verlag.
Gladbeck/Westfalen. 1973. 4ª Ed. P. 247-8.
17 - Texto de Edson Meier. Citação de Darci Ribeiro, conforme aparece no texto eletrônico de Afrânio Silva Jardim no DCM
(Diário do Centro do Mundo) – blog da internet, em 01/06/2018, em referência ao texto original que é de J. Renato Briganti.
18 - Texto de Edson Meier. Citação do professor Morrie Schwartz, conforme aparece no texto de Eloir E. Weber. In.: CASTELO
FORTE. 2003. 26/jul.
19 - Conto de Natal de Christina Rocha. In.: Revista Novo Olhar. Dezembro de 2003. Sinodal. São Leopoldo/RS. P. 41.
20 – Adaptado a partir do texto de Jairo dos Santos. In.: CASTELO FORTE. 1986. 25/jun.
21 - Adaptado a partir do texto de Gabriel Garcia Márquez, conforme foi publicado na internet em
17/02/2002(http://bacaninha.globo.com/home/mensagens/reflexao/2002/02/despedida_de_u.../despedida_de_um_geni
o.htm).
22 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. L & PM Editores. Porto
Alegre/RS. 1997. P. 44-46.
23 - Adaptado a partir do poema de Ilga Knorr. In.: ROTEIRO DA OASE. 1990. Sinodal. São Leopoldo/RS. P. 77.
24 – Texto de Edson Meier. Não faz muito tempo, antes da pandemia da Covid-19, assisti a uma entrevista na internet com
um prefeito de uma grande cidade brasileira, essencialmente de ocupação urbana. Ele destacava que está havendo uma
diminuição na população infantil e um aumento no número de idosos. Como consequência, estavam constatando uma
crescente ociosidade na estrutura e nos espaços destinados ao ensino infantil, enquanto aumentava a carência no
atendimento municipal aos idosos. Como as escolas estão inseridas nas comunidades, nos lugares onde as pessoas moram,
vivem e circulam, ele demonstrava que existe a possibilidade de, num futuro não muito distante, transformar parte desses
espaços em “creches para idosos” (Ou, em uma terminologia mais adequada: “Unidade de apoio psico-físico-social ao
cidadão ancião”). Seria então um local de cuidado público, onde os filhos deixariam os pais de manhã e os levariam de volta
para casa à noite. Em um primeiro momento, é uma proposta que talvez cria algum estranhamento. Mas, quando se faz um
comparativo com os lares de internamento permanente para idosos, um bom projeto de integração e abrigo, apenas durante
o dia, certamente trairia inúmeras vantagens. É uma proposta que merece ser estudada e debatida.
25 – Texto de Edson Meier.
26 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. P. 11 e 13s.
27 - Texto de Karl Barth (1886-1968), conforme é citado por Ricardo Nör. In.: CASTELO FORTE. 1988. 15/set.
28 - Texto de Edson Meier.
29 – Adaptado a partir do texto de Luís A. S. dos Santos. In.: CASTELO FORTE. 2007. 15/set.
30 - Adaptado a partir do texto de Albert Einstein. In.: HISTÓRIAS PARA MEDITAR. Felipe Aquino (organizador). Cléofas.
Lorena/SP. 2003. P. 18s, do texto atribuído a Mahatma Gandhi, que circula na internet, e do texto de Ana Cláudia Gusso e
Antônio Renato Gusso. In.: PÃO DIÁRIO. 2007. Rádio Trans Mundial. São Paulo/SP. 02/ago.
31 - Adaptado a partir do exemplo de Beethoven, que aparece no texto de Rubem Alves. In.: VARIAÇÕES SOBRE A VIDA E A
MORTE. P. 84s.
32 - Traduzido e adaptado a partir do texto de Wilhelm Busch. In.: 365 MAL ER. P.233.
33 - Crônica de Luís Fernando Veríssimo, conforme aparece publicada na internet em 17/12/2011, no Facebook de Ida Maria
de Oliveira da UFRG.
34 - Adaptado a partir do texto de Rubem Alves. In.: O VELHO QUE ACORDOU MENINO. P. 225.
35 - Texto de Edson Meier.
36 - Adaptado a partir do relato feito para o jornal Folha de São Paulo, no dia 31 de dezembro de 2019, numa reportagem
de Ana Estela de Sousa Pinto. Gilberto Dimenstein é autor de vários livros, entre eles “Cidadão de papel” e “Aprendiz do
futuro”, utilizados como paradidáticos para o tema transversal “cidadania”, quando fui professor em turmas na 7ª e 8ª série
do ensino fundamental. Atualmente comandava o blog “Catraca Livre” na internet.
37 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. P. 25 e 56-62.
38 – Texto elaborado por Edson Meier, a partir do conto de Leonardo da Silva Pires, da cidade de São Paulo, um dos seis
contos selecionados entre os mais de 500 textos enviados para a edição de 2019 do tradicional Concurso de Contos do Grupo
Livrarias Curitiba. In.: Revista (Informe publicitário. Distribuição gratuita) LER & CIA. Livrarias Curitiba. Edição 90 – JAN/FEV
2020. Curitiba/PR. P. 38s.
39 – Adaptado a partir do texto de Alan Loy McGinnis. AUTOCONFIANÇA. Sinodal. São Leopoldo/RS. 1993. P. 96-100.
40 - Adaptado a partir do texto de DCM. In.: NOSSO ANDAR DIÁRIO. 2007. Ministérios RBC. Curitiba/PR. 01/fev.
41 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. P. 39-41.
42 – Adaptado a partir do texto de João Pedro Brueckheimer. In.: CASTELO FORTE. 1990. 08/fev.
43 – Adaptado a partir do texto de VCG. In.: NOSSO ANDAR DIÁRIO. 2008. 10/out.
44 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. P. 27 e 30-35.
45 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. P. 26s.
46 - Adaptado a partir do texto de Ignácio de Loyola Brandão. In.: PARA GOSTAR DE LER (Vol. 8). Editora Ática. São Paulo/SP.
1983 (Texto encontrado em uma folha impressa, onde não constava a página no livro original).
47 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. P. 23.
48 – Adaptado a partir do texto de Rubem Alves. In.: O VELHO QUE ACORDOU MENINO. P. 13-17.
49 – Texto de Edson Meier. O relato sobre a memória perdida de Dona Antônia é uma adaptação de Mem Fox. Editora
Bringebook (Não foram encontradas maiores informações sobre essa fonte).
50 – Texto de Edson Meier.
51 - Adaptado a partir do texto de Lawrence Leshan. In.: O CÂNCER COMO PONTO DE MUTAÇÃO. Summus. São Paulo/SP.
1992. 2ª ed. P. 58-67.
52 - Adaptado a partir do texto de Lawrence Leshan. In.: O CÂNCER COMO PONTO DE MUTAÇÃO. P. 152 e 134.
53 – Adaptado a partir de um conto de autoria desconhecida, publicado no Jornal do Comércio em 30/06/1978.
54 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. P. 36s e 42-44.
55 - Texto de Edson Meier. Citação de Arquitas de Tarento, conforme aparece no texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER
ENVELHECER e A AMIZADE. P. 136. Temática da velhice em Simone de Beauvoir, conforme citado por Rubem Alves. In.:
VARIAÇÕES SOBRE A VIDA E A MORTE. P. 172 e por Alzira C. Lopes. In.: COMO VIVER FELIZ SEUS 100 ANOS. P. 83s.
56 - Adaptado a partir do texto de Donna Swanson, “Minnie Remembers” (Não foram citadas maiores informações sobre
essa fonte. Tradução e adaptação de Linda Gerab). In.: ROTEIRO DA OASE. 1990. P. 79s.
57 - Adaptado a partir do texto de Hans Burger. In.: ANUÁRIO EVANGÉLICO. 1993. P. 80s.
58 - Adaptado a partir do texto de Max Lucado. In.: VIVA A VIDA - O Caminho de Deus para Vencer o Medo e a Ansiedade.
Thomas Nelson Brasil. Rio de Janeiro/RJ. 2014. P. 32.
59 - Adaptado e traduzido a partir do texto de Peter Lincoln: Der Raum in mir. Schrite auf dem Weg zur Stille. 160 S., (Brendow
Verlag, Moers). In.: NEUKIRCHENER ANDACHTSBUCH 2006. Editora Sinodal e União Cristã. São Leopoldo/RS e São Bento do
Sul/SC. 20/fev.
60 - Adaptado a partir do texto de JAL. In.: NOSSO ANDAR DIÁRIO. 2008. 13/mai.
61 - Traduzido e adaptado a partir do texto de Ako Haarbeck. In.: NEUKIRCHENER ANDACHTSBUCH 2006. 16/jul.
62 – Adaptado a partir do texto de Rachel Léa Rosenberg. In.: MORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO (Maria Júlia Kovács –
coordenadora e organizadora). P. 87s.
63 – Texto de Edson Meier, elaborado a partir de filmagens veiculadas em canal aberto de televisão no Brasil e de reportagem
do Jornal Diário Catarinense. Quinta-feira, 14 de janeiro de 2010. P. 5.
64 - Texto de Edson Meier.
65 - Adaptado a partir do texto de Rubem Alves. In.: VARIAÇÕES SOBRE A VIDA E A MORTE. P. 95.
66 - Adaptado a partir do texto de Cícero, Marco Túlio. In.: SABER ENVELHECER e A AMIZADE. P. 60s e 66. Quero lembrar,
neste espaço, com carinho e saudades, de colegas da minha geração, de nomes que consigo recordar, da escola, do ensino
confirmatório, do grupo de jovens da igreja, da faculdade... que já foram chamados para subirem e hoje são membros da
Igreja Triunfante, a Igreja do Alto: Mônica, Paulo, Carlos Alberto, Denise, Mari, Almiro, Davidson, Tânia, Osmar, José Rude,
Dietmar, Marno, Reiner, Alfredo, Elcio, Ademir, Guilherme.... Um dia todos nos reencontraremos. Essa é a nossa Fé e
Esperança.

67 - Adaptado a partir do texto de Max Lucado. In: DEUS ESTÁ NO CONTROLE. Mundo Cristão. São Paulo/SP. 2012. P. 95s.
68 - Adaptado a partir do texto de Max Lucado. In.: DEUS ESTÁ NO CONTROLE. P. 117s.
Reflexão: Tempos de pandemia – Covid-19

Tenho na minha estante o livro “A Peste” de Albert Camus desde 1989. Li o livro somente em janeiro e
fevereiro do ano passado (2019). Na última página, fiz a seguinte anotação: “Gostei da obra. Um romance em
estilo de crônica, que usa a doença/a peste como analogia à guerra, num relato profundamente existencialista,
sem saídas pela fé ou outras luzes. Por isso mesmo, o personagem principal é um médico, atuando na linha de
frente e concreta de todo o drama humano relacionado à doença/vida/morte...”. Lembro muito bem, não anotei,
apenas pensei: “Ainda bem que isso nunca acontecerá no Brasil, pelo menos enquanto eu ainda viver, a peste
nem a guerra”.
A partir de março deste ano estamos passando pelas duas experiências. Sim, é possível falar de tempos
de guerra, pois estão sendo tomadas medidas que em tempos de paz seriam impensáveis e incabíveis.
Igualmente, assim como em uma guerra, não sabemos como e quando tudo isso vai passar. Também não
podemos garantir que a nossa vida voltará ao antigo normal, até porque, antes disso, a grande maioria de nós
será infectada pelo vírus, e alguns ou muitos ainda perecerão em decorrência dessa infecção.
Como o tema da nossa reflexão neste livro é a velhice, quero destacar dois aspectos que estão me
chamando a atenção nestes tempos de pandemia.
A máxima “Idoso/preferencial/fila especial” foi convertida para “Idoso/rotulado/retido em
casa/isolamento vertical”. Esses dias, quando passei minhas compras na bancada do mercado do meu bairro e
fiz o pagamento, após me atender, a mocinha do caixa passou tanto álcool gel na bancada e nela mesma que
pensei que abriria o frasco para lavar literalmente as suas roupas. O seu equívoco é que ela não teve o mesmo
procedimento após atender clientes mais jovens antes de mim. Está sendo criada uma pecha, uma verdadeira
discriminação em cima dos idosos, como se os idosos fossem os transmissores da doença. Alguém precisa
explicar às pessoas que é justamente o contrário, o cuidado precisa ser tomado para que esta mocinha
atendente não transmita o vírus para o idoso ou qualquer outra pessoa que esteja atendendo, até porque é
justamente ela que tem contato com centenas de pessoas ao longo do seu expediente. Tendo um procedimento
padrão com todos, protegerá a si mesma e aos clientes, independentemente da idade destes.
Esses dias fui comprar parafusos numa loja de ferragens. Tive que provar, apresentando documentos,
que ainda não tinha 60 anos. Um decreto municipal proibia a entrada nas lojas de pessoas com mais de 60 anos.
Soube que, numa cidade de médio porte do Mato Grosso, os idosos foram proibidos de entrar nos mercados
até para comprar alimentos. Trata-se de uma discriminação escancarada, pois as demais pessoas, aquelas que
também pertencem ao grupo de risco, não foram atingidas pelo decreto. E o que fizeram os idosos diante desse
ataque à sua cidadania? Nada! Aliás, soube que um conhecido meu do Mato Grosso mandou fazer um
documento falso, onde constava uma data de nascimento fictícia, indicando que tinha apenas 58 anos. Foi pego
e ainda se complicou na justiça, pois basta olhar para seu rosto e concluir com facilidade que já passou das 80
velinhas de aniversário. Excluindo essas tentativas individuais de se safar do problema, um fato chama a atenção.
Os idosos foram transformados em cidadãos dóceis e domesticados, que não oferecem grande resistência
quando são “patrolados” em seus direitos, basta constatar o que fizeram com a aposentadoria e as pensões.
Igualmente é inaceitável o que se faz com as mensalidades dos planos de saúde e seguros de vida, que são
corrigidos de forma absurda justamente quando o idoso chega na idade em que necessita de maiores cuidados.
Não deveria haver uma reação mais enérgica por parte deles?
Aqui na nossa cidade o prefeito é um senhor bem idoso. Como poderemos compreender que ele atropela
o direito de ir e vir dele próprio e dos demais idosos? Nesse sentido, é possível constatar outra perversidade no
nosso país. Somos o país dos privilégios e da desigualdade. Seguido vemos políticos idosos decidindo e legislando
contra idosos pobres, pois pensam apenas a partir e para si próprios - os que já pertencem a uma elite com
privilégios garantidos.
Teremos muita coisa para ser resgatada após a pandemia. Conclamo os idosos domesticados a voltarem
a ser apenas velhos teimosos. Há coisas das quais não podemos abrir mão facilmente. O direito de ir e vir é
apenas uma delas.
Certa vez, um colega pastor me perguntou: “Conheço a paróquia onde você foi pastor por quase oito
anos. Faz bastante tempo que você saiu de lá, e as pessoas ainda gostam de você. Qual é o segredo? ”. Respondi:
“Não existe segredo. Basta ser uma pessoa simples, que atende a todos do mesmo jeito, sem privilegiar ninguém.
Investi também no trabalho com crianças, adolescentes e jovens, por isso até hoje os adultos se lembram de mim
com carinho, pois nos tornamos parceiros já naquela época, quando estavam na sua jovem vida. Isso marca para
sempre”.
Quando fui pastor no Mato Grosso, ampliei as minhas prioridades. Além das crianças, adolescentes e
jovens, incluí nas minhas prioridades os idosos. Dessa forma consegui fechar o ciclo de vida e atingir com mais
eficiência também os adultos. Cada adulto tem, na absoluta maioria, filhos ou pelo menos pais ou avós velhos.
Numa pequena cidade que eu atendia, tinha como prioridade visitar mensalmente todos os idosos. Aproveitava
e convidava para o culto. O resultado era muito bom. Por incrível que pareça, as crianças e os velhos conseguiam
trazer as suas famílias para o culto dominical. Recordo com carinho desses meus velhos parceiros dessa pequena
cidade isolada do interior do Mato Grosso, os quais, hoje, possivelmente já estão na Igreja do Alto.
Queridos colegas de ministério, penso que é hora de olharmos mais para os nossos anciãos e
aposentados. Temos sido negligentes com a sua existência, suas necessidades e opiniões e o seu conhecimento
de vida. Que este livro nos alimente com subsídios e ânimo para esse trabalho.

O melhor antídoto para o vírus da desinformação

Esses dias assisti a um debate na Televisão sobre “memes”. Há estudos sérios relacionados ao assunto,
com os mais variados objetivos. Para muitos grupos políticos e até ideológicos, a criação e divulgação em massa
de memes já faz parte da estratégia de convencimento e cooptação de seguidores e eleitores.
O meme é considerado como um “vírus”, que tem o poder de infectar o nosso intelecto, sem passar pelo
nosso raciocínio. A contaminação se dá de uma forma tão direta, objetiva, rápida, resumida e eficiente, que não
oferece ao indivíduo tempo para ativar suas “defesas imunológicas”; ou seja, não se oferece opções para a
pessoa parar, comparar, avaliar, questionar e criticar. A estratégia é o bombardeio de mensagens curtas e
incisivas. Mensagens de ódio ou sátira têm um poder de fogo e infecção ainda maior.
As pessoas não gostam de “textões” na internet. Poucos leem textos com mais de dois ou três parágrafos.
Nos sites de notícias, nos acostumamos a ler apenas os títulos, as chamadas das reportagens.
E a gente continua escrevendo livros.... Não é sem razão que o mercado livreiro atravessa uma de suas
maiores crises. Quem ainda lê um livro, do começo até o final? Você lembra do último livro que leu?
Nesses tempos de pandemia da Covid-19, é importante atentarmos para a necessidade de “puxar o freio
de mão”. De quarentena, trabalhando ou obrigatoriamente parados em casa, estamos sendo bombardeados
por milhões de informações, a maioria delas, inclusive, repetitivas. Essa sobrecarga vai gerar um estouro
psíquico e emocional em algum momento, até porque não existe uma previsão de saída imediata dessa situação.
Aproveitemos essa oportunidade de “pit stop” nas nossas vidas. É hora de criarmos uma rotina nova e
diferenciada. Desliguemos as nossas TVs e os nossos celulares em horas planejadas para a leitura de um bom
livro, talvez até aquele livro que está na nossa estante desde os tempos da faculdade.
O livro é o melhor antídoto para o vírus da desinformação. O livro nos faz viajar para outros mundos, nos
desafia, nos questiona e nos leva à crítica construtiva e ao posicionamento pessoal. O livro tem o poder de
remover nossas profundezas armazenadas, esquecidas e soterradas por entulhos sem valor. Boas leituras nos
ajudam a tecer uma teia de proteção, que nos municiará com valores, argumentos e teses contra os vírus do
ódio, da intolerância e da desinformação. O livro nos faz mergulhar em suas tramas e temas por dias ou semanas.
Ninguém sairá ileso, sem deformação (no bom sentido) e aprendizado após a leitura de um bom livro ou de um
bom “textão” de pesquisa.

Sumário

PREFÁCIO .............................................................................................................................................................04
1 – O semeadorzinho ............................................................................................................................................06
2 – A generosidade no semear ..............................................................................................................................06
3 – Apresentação do tema ....................................................................................................................................08
4 – O macaco e o peixinho .....................................................................................................................................09
5 – A Velha ............................................................................................................................................................10
6 – A Velha (2) .......................................................................................................................................................11
7 – Velho ou Idoso? ...............................................................................................................................................12
8 – Você tem plano? ..............................................................................................................................................13
9 – Ponte móvel ou implante? ..............................................................................................................................14
10 – Há coisas que merecem ser desfrutadas ........................................................................................................15
11 – Quando o desapego é amor ...........................................................................................................................16
12 – Somos todos mortais .....................................................................................................................................17
13 – O contrário da sabedoria é a tolice ................................................................................................................17
14 – A curva da vida ..............................................................................................................................................17
15 – A existência desnuda aos quarenta ...............................................................................................................19
16 – Paz e força em meio à turbulência .................................................................................................................21
17 – Batalhas .........................................................................................................................................................23
18 – A ovelha estraçalhada ...................................................................................................................................23
19 – Natal no aeroporto ........................................................................................................................................24
20 – O velho piano de Albert Schweitzer ...............................................................................................................25
21 – Viva hoje intensamente .................................................................................................................................26
22 – A velhice nos campos ....................................................................................................................................27
23 – Envelhecer ....................................................................................................................................................29
24 – Quem vai nos servir agora? ...........................................................................................................................29
25 – O amor de pai e mãe é único ..........................................................................................................................31
26 – Saber envelhecer ...........................................................................................................................................33
27 – Sabedoria ......................................................................................................................................................33
28 – Você sabe brigar? ..........................................................................................................................................34
29 – Qual dos filhos você ama mais? .....................................................................................................................36
30 – A vida .............................................................................................................................................................36
31 – A existência da vida é o seu significado ..........................................................................................................38
32 – Camada após camada ....................................................................................................................................38
33 – Versões .........................................................................................................................................................40
34 – Veja como estão agradecidas ........................................................................................................................42
35 – A melhor mulher do mundo ..........................................................................................................................42
36 – Quando a gente se depara com o limite da vida .............................................................................................43
37 – A perspectiva de morrer ................................................................................................................................45
38 – Meu primeiro dia de trabalho ........................................................................................................................47
39 – A vontade de aprender e experimentar .........................................................................................................49
40 – Vivendo cada dia ...........................................................................................................................................50
41 – O prazer da partilha na refeição ....................................................................................................................51
42 – Eu te abençoo em nome de Jesus! .................................................................................................................52
43 – Uma mão cheia de espinhos ..........................................................................................................................52
44 – As forças da idade ..........................................................................................................................................53
45 – Aprender todo dia alguma coisa nova ...........................................................................................................53
46 – O homem que queria eliminar a memória .....................................................................................................54
47 – O fio da lembrança ........................................................................................................................................56
48 – Quando a memória tem vida própria .............................................................................................................57
49 – Vivências .......................................................................................................................................................58
50 – Lembranças douradas ...................................................................................................................................59
51 – A canção de Minnie .......................................................................................................................................60
52 – Somos um todo integrado .............................................................................................................................64
53 – Carta de uma máquina que deixou de ser máquina .......................................................................................64
54 – Os prazeres da vida ........................................................................................................................................65
55 – Sexualidade e intimidade na velhice ..............................................................................................................66
56 – Recordações de Anita ....................................................................................................................................69
57 – A tristeza solitária ..........................................................................................................................................70
58 – Aí está você! ..................................................................................................................................................71
59 – A quietude na presença de Deus ...................................................................................................................71
60 – Aumente o ângulo da visão! ..........................................................................................................................72
61 – Um costume estranho ...................................................................................................................................72
62 – A angústia existencial de morte .....................................................................................................................73
63 – Pela causa, até o último dia ...........................................................................................................................74
64 – A pedra ..........................................................................................................................................................76
65 – O fluxo sem descanso ....................................................................................................................................77
66 – A saciedade e o término da vida ....................................................................................................................77
67 – A galeria celestial ...........................................................................................................................................78
68 – O que você possui, Paulo? .............................................................................................................................79
Bibliografia consultada ........................................................................................................................................81
Reflexão: Tempos de pandemia – Covid-19 ..........................................................................................................84
O melhor antídoto para o vírus da desinformação ................................................................................................85

87 – O velho semeador – Edson Meier


Segunda orelha da capa:

O autor/organizador dos textos nasceu em Joinville/SC. Formou-se em Teologia em São


Leopoldo/RS em 1988. Atuou como pastor em Jaraguá do Sul/SC e como professor de Filosofia e
Ensino Religioso em Joinville. Em seguida, transferiu-se para o Mato Grosso, onde também atuou
como pastor, nas cidades de Campo Novo do Parecis, Brasnorte, Sapezal e Campos de Júlio.
Dispensado do pastorado na sua igreja, voltou para Santa Catarina, onde passou a trabalhar como
representante comercial. Atualmente, aposentado, reside em Joinville e uma de suas ocupações é a
pesquisa, a produção independente e a divulgação de literatura cristã.

Leia, do mesmo autor:


Meu Companheiro de Viagem: 700 vezes Ele. Este livro já está publicado e impresso e pode ser
adquirido na livraria Martin Luther da Editora Otto Kuhr de Blumenau/SC (Tel: 47 3337-1110. E-mail:
gráfica.ok@terra.com.br).
OS SINOS DOBRAM POR VOCÊ! Reflexões sobre a Vida, a Morte e o Morrer (Reflexões
Existenciais – Vol. 1). Este livro está sendo divulgado apenas em arquivo eletrônico (solicite o seu, sem
custos, pelo e-mail: edmeierjoinville@gmail.com). Em complementação a este livro, foi publicado no
YouTube um vídeo sobre o Suicídio. Basta clicar e assistir: https://youtu.be/0W2_qqVeCMI
VOCÊ NÃO EXISTE POR ACASO! Reflexões sobre a Existência Humana (Reflexões Existenciais –
Vol. 2). Este livro também está sendo divulgado apenas em arquivo E-book/PDF.

Indicação de vídeo no YouTube: “O que é ficar velho? ”, publicado pelo filósofo Paulo Ghiraldelli
no dia 20 de dezembro de 2019 (youtube.com/watch?v=i8pKaC723Ek).
Contracapa:

Semear é um dom divino, concedido às plantas, aos animais e aos seres humanos. Não é
maravilhoso ser participante desse milagre da multiplicação da vida, todos os dias, enquanto estamos
aqui? Mesmo que lhe digam que está velho, não abandone sua vocação de espalhar sementes. Seja
um VELHO SEMEADOR!

Ninguém quer envelhecer. Essa conversa de “melhor idade” ou “feliz idade” é papo enganação,
propaganda de lar de idosos. Por isso, a questão precisa ser colocada de outra forma. Se tantas
pessoas falecem no auge de sua força e vigor ou até na infância de suas vidas, não é o caso de sermos
gratos e encararmos o nosso próprio envelhecimento como benção e privilégio?

Embora a velhice seja uma realidade incômoda, cada um tem o poder de decidir, em muitos
aspectos, como será essa fase da sua existência. Importante é tomar decisões melhores, no momento
certo e apropriado.

A velhice de cada ancião, de cada senhora idosa é essencialmente reflexo de tudo o que ela foi
e vivenciou ao longo da sua vida. Portanto, há boas notícias e há expectativas de que também essa
fase da vida poderá ser um período muito significativo e fascinante. Uma boa conversa e reflexões
sobre essas questões certamente serão de grande valia e crescimento para todos nós.

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