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FICHA DE COMPREENSÃO DA LEITURA 2

NOME: _________________________________________ N.º: ______ TURMA: _________ DATA: ________

Artigo de opinião

SERVIÇO PÚBLICO DA LÍNGUA PORTUGUESA


GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS1

26.09.2016

É de uma partilha de responsabilidades que falamos, de que todos serão beneficiários.

A língua portuguesa tem uma difusão planetária. Tal obriga que as instituições de ensino superior e de
investigação, em especial as que se dedicam à cultura e à defesa do nosso idioma, desenvolvam ações
articuladas, coerentes e persistentes, em ligação com os Estados que usam o português como língua oficial,
5 bem como com as instituições da sociedade civil, no sentido de pôr em comum as ações necessárias com
vista à preservação, salvaguarda e desenvolvimento da língua e da cultura.
A Universidade de hoje deve saber aliar a compreensão das raízes e o conhecimento perene da huma-
nidade com a capacidade inovadora — não só para seguir as transformações científicas, técnicas,
sociais, económicas e culturais, mas também para poder antecipar novos caminhos e para compreender a
10 incerteza e o que Bernardo Soares designa como desassossego. Eis por que razão falar de capacidade
criadora significa perceber que o processo do cientista é em tudo semelhante à força do artista. Os dois
processos encontram- -se, apesar de existir a tentação de os considerar diversos e separados, erro em que
comummente se incorre. O caso de Leonardo da Vinci é significativo. Aí encontramos as duas tendências
reunidas na mesma persona-lidade fascinante, o que nos permite entender que, em momentos de
15 criatividade extraordinária, a capaci-dade humana é capaz de seguir diversos caminhos e apressar-se na
busca e encontro do conhecimento. E se falamos das raízes e do conhecimento perene da humanidade,
lembramos o fecundo diálogo entre o trivium e o quadrivium, em que a ciência, a cultura, a arte, a educação, a
economia e a sociedade se encontram natu-ralmente. E assim a ciência deixa de ser vista como
compartimentada entre duas culturas, antes se baseando numa sã complementaridade, especialidade e
20 interdependência. A complexidade obriga à cooperação e ao espírito de equipa. O diálogo cultural e
científico é o grande desafio contemporâneo. A lógica, a gramática e a retórica, do trivium, nas antigas artes
liberais, projetam-se naturalmente na aritmética, na música, na geome-tria e na astronomia, do quadrivium. E
veja-se como o desafio contemporâneo é, afinal, o estímulo duradouro em que, no entanto, e cada vez mais,
as antigas artes mecânicas se tornam interdependentes do pensamento e da capacidade criadora. Quando a
25 música e a poesia se aproximam e integram no pensamento científico, são a complexidade, a diversidade, o
conhecimento, a compreensão que melhor se podem entender. E assim prudência e arte se articulam, com a
ciência e a sabedoria. A prudência como pensamento coerente e humano, das pessoas para as pessoas,
e a arte como pensamento aplicado ao saber fazer.
Quando Charles Percy Snow falou, em Cambridge, do «abismo da incompreensão mútua», acusou os
30 dois lados de falta de lucidez. «Já reparou como a palavra "intelectual"é usada hoje em dia?» O matemático
Hardy sentia-se, assim, excluído do conjunto do conhecimento… Como se a complexidade fosse uma qui-
mera ou uma ilusão… Que bizarra tão perigosa separação! Como se Pico della Mirandola não tivesse exis-
tido… A Universidade de hoje está, assim, confrontada com o poderoso desafio da cultura científica capaz
de ligar complexidade, rigor e diálogo entre saberes. E a Universidade Aberta e o ensino à distância encon-
35 tram-se na linha da frente desse exigente compromisso. Estamos numa zona central e não marginal da
difusão do conhecimento.
A Universidade Aberta deve, assim, ser encarada como catalisador relativamente a um novo tipo de
serviço público — o serviço público da língua portuguesa no mundo. A vocação própria da Universidade
de ensino à distância de qualidade deve assim constituir-se em fator de enriquecimento: do sistema de
40 educação permanente, da rede do ensino superior, do serviço público de comunicação social, do desen-
volvimento das novas tecnologias de informação e das culturas da língua portuguesa, da cultura científica,
do desenvolvimento humano e da afirmação global. Ora, é de uma partilha de responsabilidades que

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falamos, de que todos serão beneficiários e em que toda a Universidade tem de estar envolvida, sem ciúmes
nem exclusivismos. Eis por que razão temos de considerar uma instituição como a Universidade Aberta uma
peça crucial na Universidade portuguesa… Eduardo Lourenço tem-nos ensinado, com lucidez, que a nossa
cultura e as culturas que a nossa língua gera obrigam à vivência de uma identidade aberta e complexa que
45 precisa de fazer das fraquezas forças. Não podemos responder às ambições dos nossos filhos com as audá-
cias dos nossos pais. Temos de olhar para diante, descrendo do improviso e apostando na exigência, na
organização e no empenhamento.

https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/servico-publico-da-lingua-portuguesa-1745087,
consultado em 26 de setembro de 2016 (com adaptações)

(1) Guilherme d’Oliveira Martins (autor do artigo) — Administrador da Fundação Gulbenkian. Texto com base na
intervenção do doutoramento honoris causa na Universidade Aberta, em que foi apadrinhado pelos Professores
Roberto Carneiro e Carlos Reis.

1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.7, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

1.1. Na opinião do autor, a Universidade deve


(A) buscar o conhecimento e, em menor grau, a inovação.
(B) apostar nas capacidades criadoras.
(C) conjugar as dimensões científica e criativa.
(D) ter como objetivo primordial a difusão planetária da língua portuguesa.
1.2. A passagem «para compreender a incerteza e o que Bernardo Soares designa como desassossego»
(linhas 8 e 9)
(A) refere-se à perturbação existencial no homem.
(B) sublinha que a inquietação e a incerteza são inerentes à vida.
(C) alude, indiretamente, à afirmação «Minha pátria é a língua portuguesa», do Livro do desassossego.
(D) veicula uma crítica às Universidades portuguesas.
1.3. O quarto e o quinto períodos do segundo parágrafo (linhas 12 e 14), relativamente aos períodos
anteriores, apresentam
(A) uma comparação. (C) uma exemplificação.
(B) uma generalização. (D) uma síntese.
1.4. Na linha 7, o segmento introduzido por um travessão
(A) constitui um aparte.
(B) apresenta uma oposição.
(C) acrescenta uma informação, destacando-a.
(D) explicita o sentido de uma palavra.
1.5. No contexto em que ocorre, a palavra «catalisador» (linha 35) significa
(A) «estimulador». (C) «agitador».
(B) «desincentivador». (D) «apaziguador».
1.6. Segundo o autor, a Universidade Aberta tem um papel fundamental na difusão planetária da língua
portuguesa
(A) devido à sua vocação de instituição de ensino à distância.
(B) por ser uma instituição de excelência de difusão do conhecimento.
(C) porque procura a complexidade, o rigor e o diálogo entre saberes e é uma instituição de ensino à
distância.
(D) por ser necessário partilhar responsabilidades.
1.7. A afirmação «não podemos responder às ambições dos nossos filhos com as audácias dos nossos pais»
(linhas 45 e 46) aponta para
(A) a falta de recursos e capacidades das gerações mais velhas.
(B) a intenção de aproveitar os recursos do passado.
(C) a impossibilidade de aproveitar os recursos do presente.
(D) a necessidade de explorar os recursos do presente.

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FICHA DE COMPREENSÃO DA LEITURA 2

1. 1.1 (C); 1.2 (B); 1.3 (C); 1.4 (C); 1.5 (A); 1.6 (C); 1.7 (D).

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