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‘SERIE AUTOMACAO E MECATRONICA INDUSTRIAL IMPLEMENTAGAO DE MAQUINAS E EQUIPAMENTOS EM MANUFATURA DOCUMENTAGAO TECNICA ‘A-empresa que elabora o projeto de um sistema integrado de manufatura geralmente for- nece todos os documentos necessérios a sua implementacao na linha de producao.0 plano de Instalagao, 0 lelaute de implantagao do sistema, os diagramas elétricos, os diagramas hidréu- licos e pneumatics, e os desenhos dos conjuntos mecanicos serao os principais documentos técnicos apresentados neste capitulo. Como exemplo de implantacao de um sistema integrado de manufatura, com a funcao de realizar 0 processamento e manipulacdo de pecas plasticas e metalicas em uma linha de pro- ducao automatizada, teremos células compostas por quatro estagios: alimentacao, transporte, processamento e armazenagem, operando de forma auténoma e integrada. Veremos algumas caracteristicas e fungdes de um projeto como esse, a fim de estudarmos aspectos fundamen- tais da documentacéo técnica de projetos de manufatura. 2.1 PLANO DE INSTALAGAO O plano de instalacdo deve ser lido e interpretado cuidadosamente, pois serve como apoio técnico para as pessoas envolvidas no transporte, montagem e instalacao dos equipamentos da linha de producéo automatizada. Seria como um manual de procedimentos de instalacao elaborado pelo fabricante, e suas recomendacdes devem ser seguidas para garantir a precisao, a produtividade e a durabilidade dos equipamentos. $talago servem para proporcionar o bom funciona- ‘mento das células. No caso de nosso exemplo de sistema integrado de manufatura, o plano de ins- talago ou 0 manual de providéncias iniciais, como muitos conhecem, descreve uma série de pro- cedimentos e requisitos que devem ser providenciados antes da sua instalagao no chao de fabrica. 2.1.1 REQUISITOS AMBIENTAIS Antes de efetuar a montagem do sistema integrado de manufatura em local definitivo, a equipe responsavel pela instalacao deve estar atenta a alguns requisitos importantes na hora da escolha do local a ser instalada a célula. @ AUTOMAGAO E MECATRONICA INDUSTRIAL Com relagdo aos equipamentos que compéem o sistema, antes da definicao do local, as seguintes situ- ages devem ser evitadas: a) néo instalar os equipamentos em locais sujeitos a incidéncia de luz solar direta; ) nao posicionar os equipamentos préximos a fontes de calor; ©) naoinstalar em locais com mudanca excessiva de temperatura; 4) no posicionar em locais com alta umidade relativa do ar; @) nao instalar equipamentos pesados em locais onde o piso seja frégil; £) evitar posicionar equipamentos préximos a fontes geradoras de vibracéo. Com relacao aos sistemas de controle l6gico e comandos numéricos dos equipamentos, como so aparelhos compostos por componentes eletronicos, alguns cuidados devem ser tomados durante a sua instalagao: a)a temperatura ambiente deve estar dentro da faixa de 0 a 40 °C com 0 equipamento em funcionamento; b) aumidade relativa do arno local em que estéo sistema de comando deve ser inf 2 90%, sem condensacso; ©) érecomendavel que o nivel de vibracao no comando, durante a operacao, sea inferior a0:5G (metade da acele- racio da gravidade que é 9,8 m/s’, ou seja, 4,9 m/s’); 4) caso a célula de manufatura sejainstalada em local com muita poeira, em ambientes corrosivos ou com alta concentragao de gas, deve-se consulta ofabricante para serem tomadas as medidas de seguranca apropriadas. 2.1.2 FUNDAGAO Em alguns casos, os equipamentos que compdem um sistema integrado de manufatura podem operar em alta velocidade e trabalhar com baixissimas tolerancias no processamento. Para garantir essas con ‘GOes, esses equipamentos devem estar bem fixos ao piso da empresa, totalmente nivelados e precisamen- te instalados. Para equipamentos de grande porte, geralmente é indicado que sejam fixados sobre uma fundagao de concreto, A fundagao serve como base de apoio para a fixagao da maquina no piso da fabrica. E ela que garante a estabilidade e a resisténcia as vibracées para o equipamento. Nesses casos, o fabricante do equi pamento fornece um desenho como referéncia para a construcio da fundacao. ‘As dimensées da fundaco de concreto podem variar de acordo com as condigées do solo e do piso. 0 solo deve estar bem compactado e com uma boa camada de concreto, a fim de suportar um equipamento pesado e suas vibragdes durante a opera¢o. Na Figura 1, é apresentado o desenho das pecas que compdem 2 fundacdo recomendada para a fixacdo de um determinado equipamento automatizado de manufatura. zoocuneco roe Figuat- Peas que acompanham okt deface do equpamento Fonte: SENN RS 2.1.3 INSTALAGAO ELETRICA E de fundamental importancia que a capacidade de energia elétrica do local, no qual ser’ instalado 0 sistema integrado de manufatura, seja suficiente para suprir a alimentacao elétrica dos equipamentos que compéema linha de produce, a fim de evitar desligamentos inesperados, superaquecimento dos condu- totes elétricos ou queda de tensdo durante a operacao. Os requisitos sobre a rede de alimentacao elétrica para os equipamentos automatizados de manufatura geralmente se situam nas seguintes faixas: a} tenso de rede monofésica: 127 V ou 220 V (depende do tipo de equipamento); b) tensao de rede trifésica: 220, 380 V ou 440V (depende do tipo de equipamento}; ©) flutuacao de tensao maxima permissivel: + 10%; 4d) variagao de frequéncia maxima permitida: 60 Hz +2 Hz. Dimensionamento dos condutores elétricos Em fungao da poténcia elétrica de cada equipamento e da influéncia de fatores externos como tipo do eletroduto, comprimento da rede e temperatura ambiente maxima, é feito o dimensionamento dos condu- totes elétricos da rede de alimentacao de cada equipamento. Para isso, é recomendavel que 0 técnico faca uso das tabelas de capacidade de conducdo de corrente encontradas na norma ABNT NBR 5410:2008, item 6.2°Selecdo e instalacao das linhas elétricas” @ AUTOMAGAO E MECATRONICA INDUSTRIAL No Quadro 1, é apresentado um exemplo de especificacao dos condutores e elementos de protecao de um equipamento automatizado de manufatura de grande porte, relacionando a poténcia instalada com a bitola dos condutores elétricos ea corrente nominal do disjuntor ou chave seccionadora com fusiveis. *considerando um cabo com comprimento maximo de 30 metros. *insigntfica coment elétrica nominal co rempl de epecticaho ds contort lament de proto Forte: 2DNTADODEPRENSAIUNDIN SA, 20-7 Com a rede elétrica geral da fabrica desenergizada, 0 técnico habilitado e autorizado deve fazer a li- ago elétrica do cabo multivias na chave seccionadora da maquina, seguindo a sequéncia indicada no esquema elétrico, cuidando para identificar corretamente os condutores fase, neutro e terra. A Figura 2 mostra um exemplo dessa ligacao. Figur2- Cone do cabo ds rede de alimertacsoem um equpamentotetico Fonte: SENARS Aterramento elétrico O aterramento elétrico é um item muito importante para garantir a seguranga elétrica em um sistema integrado de manufatura e, principalmente, proteger as pessoas que irao operar os equipamentos de uma eventual descarga elétrica. Por isso, é fundamental que a instalacdo da haste de aterramento seja apro- priada para cada maquina, obedecendo a configuragao e 0 valor maximo de resisténcia de aterramento sugeridos pelo fabricante. 2DOCUMENTACAO TECNICA BoB Norma Regulamentadora n.° 10 - Seguranca em instalagdes e servicos em eletricidade, no seu item 10.34, cita que no projeto elétrico deve estar definida a configuragao do esquema de aterramento das mé- quinas. O projeto deve citar se é obrigatério ou nda interligacao entre o condutor neutroe ode protecao, ea conexdo a terra das partes condutoras da maquina no destinadas a condugéo de eletricidade. No caso especifico de um dos equipamentos que compdem nosso exemplo de linha de produgao au- tomatizada, o fabricante recomenda que a realizagdo da medicdo de resisténcia da haste de aterramento indique um valor maximo de 10 ohms por maquina. Essa medicao ¢ feita com um aparelho eletranico cha- mado Terrémetro (FIGURA 3). Valores maiores que 0 recomendado pelo fabricante podem comprometer a seguranga das pessoas e da propria maquina. Vermetho Amarelo Es (i ) TERRA 610m 6.10m Figue3- Tender efrma de iardo da adonashastes Fonte: SEMAN RS Figura 4 mostra a condicao ideal de aterramento: uma haste para cada maquina, cada uma com valor maximo de 10 ohms. Figur Condotel dio era do stevaento nas mig Fonte: ENA Na Figura 5, so trés maquinas ligadas na mesma haste, por isso, aresisténcia na haste fica com um valor menor que o recomendado por maquina, pois ele é dividido pelo ntimero de maquinas. Maquina geese ere L ae VEI Figura S- UgagSoeleica ds miquinas mum ni aterramento Fonte SENAVRS @ ‘AUTOMAGAO E MECATRONICA INDUSTRIAL Exemplo: Resisténcia recomendada por maquina: 10 ohms Numero de maquinas: 3 unidades Resisténcia de aterramento medida na haste = 10/3 = 3,33 ohms ou menos Ha ainda a possibilidade da ligago de varias maquinas na mesma rede de aterramento, como é 0 caso da Figura 6. E uma rede de hastes cravadas na configuracdo triangulo, interligadas por uma malha de ater- ramento. sso é feito para baixar 0 valor da resisténcia total a fim de que se possa atender o valor minimo solicitado pelos equipamentos. Caso ndo se atinja o valor ideal, podem ser cravadas mais hastes no peri- metro dessa malha. aterramento Figuas- Ugacaoelerca de vais maqunasem coniguassowingulo Fonte: SENAIRS Analisando a Figura 7, a configuracao representada nao deve ser implementada, pois se trata de uma ligacdo em série do cabo de aterramento entre as trés maquina. Essa ligacdo nao é permitida, pois pode deixar as maquinas sem protecdo, caso 0 cabo de aterramento venha a romper-se entre 0s pontos. Flgua7 - Forms erada da igi eléica do atrrament nas miqunas Fonte SENAIRS 2 DOCUMENTACAO TECNICA BoB 2.1.4 REDE DE AR COMPRIMIDO ‘Antes de instalar os equipamentos automatizados de manufatura na fabric, o cliente deve providen- iar a instalagao da rede de ar comprimido, com presso e vazo recomendadas no plano de instalagao. Além disso, é necessario fornecer ar comprimido de qualidade, isento de impurezas e seco, e em quantida- de suficiente para evitar oscilagdes nos acionamentos. Para isso, devem ser instalados purgador e unidade de conservacao de ar (lubrefi). Essa unidade de conservacao é constituida de lubrificador, regulador e filtro, como mostra a Figura 8. [Tmt Fonte SENN RS 0s fabricantes dos equipamentos automatizados de manufatura geralmente descrevem os seguintes requisitos para cada ponto de ar: a) pressao de trabalho recomendada: 0,6 MPa (6 bar) ou mais; ) vazdo minima disponivet: 50 litros/minuto (1.76 pés/minuto) ou mais. Avazio disponivel para cada equipamento depende diretamente das caracteristicas de vazdo do com- pressor que supre a rede de ar e da quantidade de maquinas que ele alimenta. Por exemplo, um compres- sor que possui um deslocamento volumétrico de 1133 litros/minuto, fomecendo ar comprimido somente para um grupo de equipamentos, cada um necessitando de 50 litros/minuto de ar. Nesse caso, 0 compres- sor poderia alimentar até 22 maquinas simultaneamente. 2.1.5 ELEVAQAO, MOVIMENTAGAO E TRANSPORTE A partir do momento em que os equipamentos chegam para serem instalados na empresa, é hora de realizar seu posicionamento no chao de fabrica. Para isso, é muito importante saber 0 peso bruto de cada equipamento, quais s0 0s pontos de amarracao e como deve ser feito o icamento, pois qualquer erro co- metido pode afetar a estrutura e a propria geometria da maquina, 6 [AUTOMAGAO E MECATRONICA INDUSTRIAL Durante a elevacdo, movimentacdo e transporte das maquinas pesadas de grande porte, as seguintes precaugdes devem ser tomadas: a) sdo necessérias duas ou mais pessoas treinadas e autorizadas para movimentar um equipamento pesado; b) somente pessoas habilitadas e autorizadas podem operar equipamentos para movimentacdo vertical e horizon- tal da méquina (empithadeira, ponte rolante, grua e outras); €) deve ser verificado se 0s cabos de a¢o utilizados na elevacdo tém capacidade de carga apropriada para suportar © pesoa ser levantado; d) antes de fazera elevacdo da maquina, verficar se nao hé pecas, ferramentas ou qualquer outro objeto solto que 1possa cair durante a movimentagdo; e) amaquina deve ser levantada cui para verificarse ela est bem equilibrada. jadosamente observando o centro de gravidade, ele vando um pouco do chao ‘AFigura 9 mostra como deve ser feita a elevacdo de um equipamento pesado, destacando que devern ser observados os pontos de engate e amarracao determinados pelo fabricante, pois eles garantem que o equipamento esteja em equilibrio e nivelado. Figua9- Bevo da maquina e detes dos pontas de engate ‘Ap6s a movimentacéo e posicionamento das maquinas sobre as sapatas da fundacao, devem ser retira- dos todos os grampos, travas, abracadeiras e demais calcos utilizados para fazer o travamento das partes méveis e girantes durante o transporte. Imediatamente apés o recebimento dos equipamentos, o cliente deve fazer uma inspegao visual com- pleta a fim de verificar possiveis danos que possam ter ocorrido durante o transporte. 2DOCUMENTACAO TECNICA B 2.1.6 NIVELAMENTO ajuste fino do nivelamento das maquinas de grande porte ¢ feito por meio dos parafusos nivela- dores de base que acompanham o equipamento. Esse ajuste deve ser feito apds a secagem do concreto nos chumbadores, utilizando dois instrumentos niveladores de preciso, com sensibilidade de 0.02 mm/m (FIGURA 10). C2 Fgura 10- Nive preciso madeotinear Fonte: SENAIRS Como regra geral, deve-se, inicialmente, nivelar os equipamentos ajustando o nivel no sentido longi- tudinal e, posteriormente, o nivel no sentido transversal, repetindo a operacao até que ambos os niveis estejam estabilizados na tolerancia especificada. Os pontos de aplicago dos niveis de preciso geralmente séo na mesa e no barramento das maquinas. A Figura 11 mostra um exemplo de pontos de nivelamento em um equipamento de manufatura. Nivel longitudinal Nivel transversal Detalhe do parafuso de nivelamento Figura fxemplodospontos de ivsament emum equipamento de manus Fonte: SENA RS Um equipamento de grande porte, por mais que tenha sido bem fixado, seu nivelamento nao se man- tém ao longo do tempo. A prépria acomodagio natural da sua massa aliada aos movimentos e trepidacdes constantes favorece para que 0 equipamento possa sair do nivel apropriado. Portanto, a maioria dos fa- bricantes recomenda que a cada seis meses sejam feitas revises para saber se o nivelamento mantém as tolerancias indicadas no plano de instalagao. 6 [AUTOMAGAO E MECATRONICA INDUSTRIAL 2.1.7 LIMPEZA E PREPARAGAO PARA 0 USO Depois dos equipamentos estarem fixados e nivelados, € hora de providenciar a limpeza e prepa- ragao para uso. Essa etapa ¢ iniciada com a remocao da poeira, areia e demais materiais acumulados durante o transporte. Antes da colocago dos equi mentos em funcionamento, as seguintes precaugdes devem ser tomadas: a)remover a camada protetora anticorrosiva das superficies usinadas, passando um pano mido com liquido de limpeza indicado pelo fabricante; b) verificar se todos os pontos de lubrificago do equipamento esto supridos com dle e se o nivel do leo hidréu- lico esté correto, observando esses pontos no manual de manutencao do fabricante; ©) verifcar se foram retiradas todas as travas e calgos localizados nas partes mévels e girantes do equipamento; 4) verificar se ndo ha pecas soltas sobre o equipamento; € verificar se 0s tubos e mangueiras dos sistemas raulicos e pneuméticos esto bem conectados. 2.2 LEIAUTE Cleiaute é um método de representagio grafica que visa demonstrar como esto dispostos fisicamente 605 recursos que ocupam espaco em um determinado ambiente. Um bom leiaute procura utilizar os espa- 605 fisicos disponiveis no ambiente de forma eficiente, buscando reduzir e simplificar a movimentagao, e melhorar 0 fluxo de pessoas e materi Determinados tipos de leiaute podem apresentar os dados técnicos relativos as dimensdes dos equipa- ‘mentos automatizados de manufatura, trazendo orientagdes quanto as areas de recuo e afastamento de Paredes e outros objetos que possam causar interferéncias. O leiaute também pode indicar 0 raio de aca0 de determinada maquina, como é 0 caso dos robés industriais, em que s8o demarcadas as dreas de traba- Iho por questdes operacionais e de seguranca. De uma maneira geral, os leiautes podem ser classificados em quatro tipos: a)leiaute por processo: também conhecido por leiaute funcional, Cada setor de trabalho tem seus equipamentos especificos agrupados no mesmo local. Por exemplo, quando o arranjo fisico da fabrica é setorizado por tipos de maquinas (setor de usinagem, setor de conformacao, setor de montagem e outros) estamos diante de um leiaute por processo (FIGURA 12);

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