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A Rota para a Ciência Normal

KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2013. Primeira
Edição: 1962. Coleção Debates.

Ciência Normal: “Pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas.
Estas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica
específica como proporcionando os fundamentos para sua prática posterior” (KUHN, 2013, p. 71).

Obras que ocuparam a posição de fundamentos de pesquisa, segundo Kuhn (idem):


Física, de Aristóteles;
Almagesto, de Ptolomeu;
Princípia, de Isaac Newton;
Óptica, de Isaac Newton;
Eletricidade, de Benjamin Franklin;
Química de Lavoisier;
Geologia de Lyell;

Obras que ocuparam a posição de fundamentos de pesquisa em áreas da música:

Características das realizações relatadas nas obras fundamentais (KUHN, 2013, p. 72):

“(…) foram suficientemente sem precedentes para atrair um grupo duradouro de partidários,
afastando-os de outras formas de atividade científica dissimilares”.
“(…) eram suficientemente abertas para deixar que toda espécie de problemas fosse resolvida pelo
grupo redefinido de praticantes da ciência”.

“Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados estão comprometidos com as
mesmas regras e padrões para a prática científica. Este comprometimento e o consenso aparente que
produz são pré-requisitos para a ciência normal, isto é, para a gênese e a continuação de uma
tradição de pesquisa determinada” (idem).

Kuhn, 2013, pp. 73-75: resumo da sucessão entre paradigmas da ótica.

Metafísicas concorrentes: Luz = Partículas X Modificação do Meio X Emanação do olho;


Newton (XVIII): Luz = Corpúsculos de matéria;
Young e Fresnel (XIX): Luz = Movimento ondulatório transversal;
Planck e Einstein: Luz = Fótons (entidades quântico-mecânicas).

Kuhn, 2013, pp. 75-77: resumo da sucessão entre paradigmas da elétrica.

Metafísicas concorrentes contemporâneas: Hauksbee, Gray, Desaguliers, Du Fay, Nollet, Watson,


Franklin, e outros; filosofia mecânico-corpuscular.
Séc. XVII: Fenômenos Fundamentais = Atração e Fricção; não explicavam a repulsão.
Gray: Condução elétrica. Fenômenos Fundamentais = Atração e Repulsão.
Terceiro grupo: fluido X eflúvio Não explicavam a repulsão.
Experimentos de Franklin e sucessores conseguiram explicar todos os efeitos observados e
estabeleceram o primeiro paradigma unificado sobre a eletricidade.

“A história sugere que a estrada para um consenso estável na pesquisa é extraordinariamente árdua.
Contudo, a história sugere igualmente algumas razões para as dificuldades encontradas ao longo
deste caminho. Na ausência de algum paradigma ou de algum candidato a paradigma, todos os fatos
que pertencem ao desenvolvimento de determinada ciência têm a probabilidade de parecerem
igualmente relevantes” (KUHN, 2013, pp. 77-78).

“Nenhuma história natural pode ser interpretada na ausência de pelo menos um corpo implícito de
crenças metodológicas e teóricas interligadas que permita seleção, avaliação e crítica. Se este corpo
de crenças já não está implícito na coleção de fatos - quando então temos à disposição mais do que
“meros fatos” - precisa ser suprido externamente, talvez por uma metafísica em voga, por outra
ciência ou por um acidente pessoal e histórico” (KUHN, 2013, p 79).

A Natureza da Ciência Normal

KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2013. Primeira
Edição: 1962. Coleção Debates.

“(…) Na ciência, um paradigma raramente é suscetível de reprodução. Tal como uma decisão
judicial aceita no direito costumeiro, o paradigma é um objeto a ser melhor articulado e precisado
em condições novas ou mais rigorosas” (KUHN, 2013, p. 88).

“Os paradigmas adquirem seu status porque são mais bem-sucedidos do que seus competidores na
resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas reconhece como graves. Contudo, ser bem-
sucedido não significa nem ser totalmente bem-sucedido com um único problema, nem
notavelmente bem-sucedido com um grande número” (idem).

“A maioria dos cientistas, durante toda a sua carreira, ocupa-se com operações de acabamento. Elas
constituem o que chamo de ciência normal. (…) A ciência normal não tem como objetivo trazer à
tona novas espécies de fenômeno; na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma
frequentemente nem são vistos. (…) A pesquisa científica normal está dirigida para a articulação
daqueles fenômenos e teorias já fornecidos pelo paradigma” (KUHN, 2013, pp. 88-89).

“As áreas investigadas pela ciência normal são certamente minúsculas; ela restringe drasticamente a
visão do cientista. Mas essas restrições, nascidas da confiança no paradigma, revelaram-se
essenciais para o desenvolvimento da ciência. Ao concentrar a atenção numa faixa de problemas
relativamente esotéricos, o paradigma força os cientistas a investigar alguma parcela da natureza
com uma profundidade e de uma maneira tão detalhada que de outro modo seria inimaginável. E a
ciência normal possui um mecanismo interno que assegura o relaxamento das restrições que
limitam a pesquisa toda vez que o paradigma do qual derivam deixa de funcionar efetivamente.
Nessa altura os cientistas começam a comportar-se de maneira diferente e a natureza dos problemas
de pesquisa muda. No intervalo, entretanto, durante o qual o paradigma foi bem-sucedido, os
membros da profissão terão resolvido problemas que mal poderiam ter imaginado e cuja solução
nunca teriam empreendido sem o comprometimento com o paradigma. E pelo menos parte dessas
realizações sempre demonstra ser permanente” (KUHN, 2013, p. 89).

Tipologia dos Fatos Investigados pela Ciência Normal (KUHN, 2013, pp. 90-95):

1. “(…) Classe de fatos que o paradigma mostrou ser particularmente reveladora da natureza das
coisas. Ao emprego-los na resolução de problemas, o paradigma tornou-os merecedores de uma
determinação mais precisa, numa variedade maior de situações. (…) As tentativas de aumentar a
acuidade e extensão de nosso conhecimento sobre esses fatos ocupam uma fração significativa da
literatura da ciência experimental e da observação”.
2. “(…) Fatos a serem determinados, diz (em) respeito àqueles fenômenos que, embora
frequentemente sem muito interesse intrínseco, podem ser diretamente comparados com as
predições da teoria do paradigma. (…) Essa tentativa de demonstrar esse acordo (entre a natureza e
a teoria) representa um segundo tipo de trabalho experimental normal que depende do paradigma de
uma maneira ainda mais obviado que o primeiro tipo mencionado. A existência do paradigma
coloca o problema a ser resolvido. Frequentemente a teoria do paradigma está diretamente
implicada no trabalho de concepção da aparelhagem capaz de resolver o problema”.
3. “(…) Trabalho empírico empreendido para articular a teoria do paradigma, resolvendo algumas
de suas ambiguidades residuais e permitindo a solução de problemas para os quais ela anteriormente
só tinha chamado a atenção”. Subdivisão interna: 3.1. Determinação de Constantes; 3.2.
Formulação de Equivalências Quantitativas (“leis”); 3.3. Experiências que permitam a escolha entre
modos alternativos de aplicação do paradigma a outros fenômenos relacionados a um conjunto de
problemas diferentes já resolvidos.

Tipologia da Teoria da Ciência Normal (KUHN, 2013, pp. 95-100):

1. “Uma parte (embora pequena) do trabalho teórico normal consiste simplesmente em usar a teoria
existente para prever informações fatuais dotadas de valor intrínseco. (…) Manipulações da teoria,
empreendidas não porque as predições que delas resultam sejam intrinsecamente valiosas, mas
porque podem ser verificadas diretamente através de experiências. Seu objetivo é apresentar uma
nova aplicação do paradigma ou aumentar a precisão de uma aplicação já feita”.
2. Pesquisa pelos pontos de contato entre a teoria e a natureza;
3. Articulação da teoria;

“Os homens que conceberam as experiências para distinguir entre as várias teorias do aquecimento
por compressão foram geralmente os mesmos que haviam elaborado as versões a serem
comparadas. Estavam trabalhando tanto com fatos como com teorias e seus trabalhos produziram
não apenas novas informações, mas um paradigma mais preciso, obtido com a eliminação das
ambiguidades que haviam sido retidas na versão original que utilizavam. Em muitas ciências, a
maior parte do trabalho normal é desse tipo” (KUHN, 2013, p. 100).

A Ciência Normal como Resolução de Quebra-cabeças.

KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2013. Primeira
Edição: 1962. Coleção Debates.

“Os termos ‘quebra-cabeça’ e ‘Solucionador de quebra-cabeças’ colocam em evidência vários dos


temas que adquiriram uma importância crescente nas páginas precedentes. (…) O critério que
estabelece a qualidade de um bom quebra-cabeça nada tem a ver com o fato de seu resultado ser
intrinsecamente interessante ou importante. Ao contrário , os problemas realmente importantes em
geral não são quebra-cabeças, em grande parte porque talvez não tenham nenhuma solução
possível. (…) Embora o valor intrínseco não seja critério para um quebra-cabeça é a certeza de que
este possui uma solução” (KUHN, 2013, p. 106).

“Já vimos que uma comunidade científica, ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um
critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito podem ser considerados
como dotados de uma solução possível. Numa larga medida, esses são os únicos problemas que a
comunidade admitirá como científicos ou encorajará seus membros a resolver. Outros problemas,
mesmo muitos dos que eram anteriormente aceitos, passam a ser rejeitados como metafísicos ou
como parte de outra disciplina. Podem ainda ser rejeitados como demasiado problemáticos para
merecerem o dispêndio de tempo. Assim, um paradigma pode até mesmo afastar uma comunidade
daqueles problemas sociais relevantes que não são redutíveis à forma de quebra-cabeças, pois não
podem ser enunciados nos termos compatíveis com os instrumentos e conceitos proporcionados
pelo paradigma. Tais problemas podem constituir-se numa distração para os cientistas, fato que é
brilhantemente ilustrado por diversas facetas do baconismo do século XVIII e por algumas das
ciências sociais contemporâneas. Uma das razões pelas quais a ciência normal parece progredir tão
rapidamente é a de que seus praticantes concentram-se em problemas que somente a sua falta de
engenho pode impedir de resolver” (KUHN, 2013, pp. 106-107).

“O empreendimento científico, no seu conjunto, revela sua utilidade de tempos em tempos, abre
novos territórios, instaura ordem e testa crenças estabelecidas há muito tempo. Não obstante isso, o
indivíduo empenhado num problema de pesquisa normal quase nunca está fazendo qualquer dessas
coisas” (KUHN, 2013, p. 107).

“Para ser classificado como quebra-cabeça, não basta um problema possuir uma solução
assegurada. Ele deve obedecer a regras que limitam tanto a natureza das soluções aceitáveis como
os passos necessários para obtê-las.
(…) Se aceitarmos uma utilização consideravelmente mais ampla do termo ‘regra’ - identificando-o
eventualmente com ‘ponto de vista estabelecido’ ou ‘concepção prévia’ - então os problemas
acessíveis a uma determinada tradição de pesquisa apresentam características muito similares às dos
quebra-cabeças” (KUHN, 2013. p. 108).

“Restrições semelhantes ligam as soluções admissíveis aos problemas teóricos. Durante todo o
século XVIII, os cientistas que tentaram deduzir o movimento observado da Lua partindo das leis
de Newton de movimento e gravitação fracassaram sistematicamente. Em vista disso, alguns deles
sugeriram a substituição da lei o quadrado das distâncias por uma lei que se afastasse dessa quando
se tratasse de pequenas distâncias. Contudo, fazer isso seria modificar o paradigma, definir um novo
quebra-cabeça e deixar sem solução o antigo. Nessa situação, os cientistas preferiram manter as
regras até que, em 1750, um deles descobriu como se poderia utiliza-las com sucesso” (KUHN,
2013, p. 109).

Revisão da Literatura

YOUNG, Gregory; SHANAHAN, Jenny Olin. Undergraduate Research in Music: A Guide for
Students. New York and London: Routledge, 2018.

Definição: “Discussão organizada e informada de trabalhos publicados que são significativos para o
assunto do estudo. Ele permite entender qual é a relação entre o estudo presente e aquilo que já foi
publicado na área” (YOUNG & SHANAHAN, locais do Kindle 308).

Propósitos Gerais:

- Compreender o que outros disseram sobre o tópico;


- Apresentar as vozes do debate e discutir como elas se relacionam umas com as outras;
- Determinar as contribuições que ainda podem ser dadas.

Objetivos Específicos:

- Escrever resumos breves dos principais pontos das publicações mais importantes sobre o assunto
estudado;
- Explicar as relações entre os trabalhos descritos no passo acima (respondendo, por exemplo, como
um estudo de grande relevância mudou o campo de estudo, porque alguns pesquisadores chegaram
a diferentes conclusões a respeito de uma questão-chave, como a introdução de um novo fator ou de
uma nova variável em um estudo levou a resultados surpreendentes);
- Listar com base no que foi visto na literatura onde estão as questões em aberto, aquelas que ainda
não foram resolvidas ou examinadas. *É daqui que sai a justificativa do estudo.
Revisão da Literatura é diferente de Bibliografia Comentada. A bibliografia comentada é um
registro produzido pelo pesquisador que resume e descreve em poucas sentenças, uma a uma, as
obras e os trabalhos consultados. A bibliografia comentada é um passo que deve ser completado
ANTES de se fazer a revisão da literatura. A bibliografia anotada é uma LISTA, organizada em
ordem alfabética, onde nenhum outro critério além do tópico agrupa os itens. A revisão bibliográfica
é uma NARRATIVA, que se sustenta de forma autônoma como um ensaio coerente, dividida em
parágrafos e articulada por transições entre os assuntos.

Fontes Adequadas para Pesquisa:

- Publicações Revisadas por Pares; (Artigos, Livros, Sci-hub)


- Indexadores; (EBSCOhost, Academic Search Premier, JSTOR, ProQuest’s Music Periodicals
Database, Gale’s Fine Arts and Music Collection, Grove Music Online, Scielo, Periódicos Capes,
Bancos de Teses, Academia.edu, Research Gate)

Fontes Primárias e Secundárias:

Fontes primárias: Objetos e fenômenos estudados que precedem a análise (diários de músicos,
cartas, cadernos, composições escritas, partituras, letras de música, novelas, poemas, obras de arte
em geral, documentos históricos ou legais, gravações de áudio ou video, eventos históricos, eras,
dados experimentais ou estatísticos, vidas de pessoas, palavras, ações, etc);
Fontes secundárias (também chamadas de pesquisas já existentes): análises anteriores sobre as
fontes primárias.

Roteiro:

1. Ler o resumo; (relevância)


2. Ler a conclusão; (síntese)
3. Sublinhar os sub-títulos e procurar figuras e gráficos; (estrutura)
4. Ler o corpo do texto; (lógica)

* Cuidado com o “Hallo Effect”. (Procure por nuances)


* Releia, já que todo artigo, para ser produzido, é reescrito.
* Responda: Como o trabalho ajuda a contextualizar o problema?
* Responda: O estudo responde satisfatoriamente a sua questão de pesquisa?
* Responda: O trabalho serve para demonstrar as metodologias empregadas anteriormente e
estabelecer uma referência para a metodologia do trabalho que você quer fazer?
* Procure o contexto da publicação;
* Dê preferência a comportamentos mais ativos de seleção: escreva notas e comentários, transcreva
citações; não se contente em circular e sublinhar;
* Produza registros detalhados sobre as fontes.

Organização:

A revisão bibliográfica normalmente é organizada em torno de TEMAS, objetivos e relevantes.


TRANSIÇÕES entre as seções temáticas mostram como um tema se relaciona com o outro (como
novos métodos se desenvolveram de métodos antigos, como pesquisadores em diferentes partes do
mundo ou de escolas diferentes de pensamentos investigaram questões similares de maneiras
distintas).
A melhor estratégia é agrupar partes de fontes diferentes.
Conceitos-chave para o agrupamento de trechos (os mais comuns): métodos, descobertas,
implicações.

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