PROFESSOR: GIORGIO BORGHI EQUIPE: VALDENEIR ALVES BRITO
RESENHA
Tomando por base o artigo “O não saber socrático e a educação: o desafio de
aprender a pensar” de Giorgio Borghi, temos uma visão ampla da novidade chamada de “espiritualidade do conhecimento” encarnada por Sócrates à visão filosófica da educação, partindo de uma análise descritiva e crítica de sua condenação, frente a acusação de Meleto, discorrendo acerca do perigo do não saber socrático, a espiritualidade filosófica monoteísta e também do misticismo filosófico e educação. Embora no texto apareça várias citações de diversos autores (Wener Jaerger, Maria Zambrano e etc.), a centralidade e a construção da problemática textual é baseada nas obras de Platão, discípulo e autor dos escritos mais próximos à Sócrates. Dessa forma, assim como Platão, Borghi Explora e coloca o problema da educação dos homens e da organização da cidade centro da filosofia socrática, como causas da condenação de Sócrates, a partir dos argumentos dos acusadores de não aceitar os deuses reconhecidos pela polis, introduzir novas divindades, e, por corromper a juventude através de suas ideias. Segundo o ponto de vista do autor, o processo educativo socrático rompe com a visão tradicional da educação colocando na mesma equivalência o pensar e o saber. Analisa que o processo educativo deve oferecer “condições de aprender a pensar, pensando”, e a finalidade do filósofo-educador é conduzir as pessoas, por meio do autoconhecimento, à sabedoria, libertando-os da arrogância do saber e da tristeza da ignorância. É interessante como é levantado alguns problemas pertinentes ainda presentes na atualidade: o problema do saber, com a falsa ideia da certeza; a dimensão transcende do processo educativo, com a presença do mistério da realidade; A diferença entre pensar e saber, onde um não deve anular o outro; além de como pensamos a educação e qual a figura do educador. A forma de vincular e despertar o leitor para o senso crítico das coisas, tona-se um elemento singular do presente trabalho. Se observamos, das nove perguntas diretas notadas no texto, embora, estejam por vezes nas falas de alguns personagens, não se limita apenas a eles, mas faz aquele que socráticas assegura como finalidade do filósofo, conduzir ao pensar. Considero este o motivo pela qual o artigo tem grande relevância a ser estudado. O texto faz de uma forma direta a defesa de Sócrates, colocando-o como “bode expiatório” de uma suposta ameaça à democracia ateniense, já que seu pensamento se opõe ao movimento dos sofistas. Sob esse horizonte pode-se notar, a partir do texto, a superioridade do “saber socrático”, frente seu acusador Meleto, que não consegue acompanhar o método do diálogo reflexivo e “pensar a educação”, quando questionado sobre o sistema educacional. “Sócrates mal interpretado” é outro elemento de defesa citado no texto. Borghi afirma que Sócrates não desprezava as instituições da polis e para ele o problema não estava nas leis, mas no modo como eram usadas. No segundo subtítulo, o autor apresenta a filosofia e a educação de Sócrates originadas e alimentadas de uma atitude de espírito, chamada de “Espiritualidade filosófica monoteísta”. Para ele a verdadeira sabedoria implica o reconhecimento da dimensão transcendente da verdade, e o filosofar socrático está ordenado para o bem individual e coletivo. Tal tese valida o nascer do sagrado como pretensão do conhecimento humano de se relacionar com o mistério. Assim, para explanar sobre a estreita relação entre conhecimento e sabedoria em Sócrates, o autor utiliza de outros pensadores posteriores a Platão desvelando a verdade como originalmente divina. No terceiro ponto, “misticismo filosófico e educação” é apresentada dois elementos como grande novidade da concepção do divino de Sócrates. O primeiro é deus como fonte de sua piedade e o segundo é a importância dada por ele a verdade e a virtude, duas realidades unidas de modo intrínseco de uma pessoa. No que se refere ao conteúdo do texto, o artigo não parece querer responder de forma esgotada, sobre o conflito entre a visão tradicional e a visão filosófica da educação. Poderíamos por assim dizer, que o diálogo reflexivo socrático que liga o homem a uma realidade transcendente desperta no ser humano a consciência da sua própria ignorância e limitação frente a verdade. Em resumo, a abordagem apresentada no texto sobre um tema tão discursivo, “a educação”, leva-nos a questionar a realidade da educação brasileira a partir do que é oferecido pelo Estado. É possível notar a ênfase dada à escola como único lugar da educação, com ensino direcionado a tornar os alunos repetidores de fórmulas, mas sem uma consciência crítica, incapaz de pensar e anseio pela busca da verdade. O texto tenta colocar Sócrates, como preocupado em tornar as pessoas críticas e responsáveis pelo seu próprio conhecimento. Se por um lado no brasil temos uma política pública que visa a educação como ponto de chegada, o sistema educativo socrático contrapõe a isto, assegurando que pela filosofia a educação da polis torna-se eficaz. Aos que pensam desvincular a filosofia e disciplinas sociais da formação básica das pessoas, podemos responder que a aplicação da filosofia à educação é a maneira mais eficiente de formar o indivíduo numa consciência reflexiva para uma existência pessoal e coletiva. Ao concluir esse trabalho, a análise crítica deixada pelo autor é o reconhecimento da falibilidade perante a verdade, e que o despertar do não saber socrático pode revelar o grande passo no caminho de aprender a aprender.