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Curso: “Emagrecimento”

Versão 1.0

Dietas da Moda

Letícia F. Campos
A busca pelo método ideal para promover perda e manutenção da perda de peso
intriga e motiva pesquisadores e profissionais de saúde há décadas. Atualmente, entretanto,
os avanços das pesquisas sobre perda de peso não são acompanhados de progressos nas
ferramentas disponíveis para o seu tratamento, o que faz com que a perda de peso com
tratamento clínico constitua importante desafio para os profissionais de saúde.
Mais da metade da população brasileira está a cima do peso, e este grande número de
indivíduos espera ansiosamente pelo método ideal para perda de peso efetiva. A busca pelo
emagrecimento imediatista e ¨milagroso¨ incentiva a criação de dietas novas, ou adaptações
novas de dietas antigas. Muitas vezes estas dietas são restritivas e podem causar efeitos
indesejáveis, incluindo riscos para saúde. Atualmente, na era da tecnologia da comunicação,
estas dietas da moda são promovidas em velocidade assustadora e ganham cada vez mais
seguidores.
As dietas da moda são as mais variadas possíveis, desde dieta do tipo sanguíneo, dieta
da sopa e dos sucos, até as famosas dietas low carb em suas variações como Dr Atikins, South
Beach e Dukan e mais recentemente a dieta paleolítica e o jejum intermitente. Estas dietas
podem levar a perda de peso? Sim, sem dúvida. E alguma destas dietas é superior à
reeducação alimentar? Não! Dieta restritivas não promovem reeducação alimentar e mudança
de comportamento, e dificilmente podem ser seguidas por um longo período de tempo. Além
disso, são dietas que não facilitam o convívio social e o prazer em se alimentar.
Vamos avaliar mais a fundo o que são estas dietas e quais os efeitos de cada uma
delas:

Dieta do Tipo Sanguíneo:


Não existe comprovação científica da eficácia desta dieta. Os alimentos são divididos
nas categorias benéfico, neutro e nocivo. Indivíduos com tipo sanguíneo O seriam caçadoras
carnívoras, os do tipo A seriam vegetarianos dóceis, os do tipo B seriam onívoros e do tipo AB
vegetarianos dóceis e onívoros.
Efeitos da dieta: Pode levar a carências nutricionais quando realizada sem
acompanhamento nutricional, uma vez que exclui grupos de alimentos importantes, não
incentiva adesão à alimentação saudável e não é adaptada aos hábitos alimentares da
população brasileira.

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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei no. 9.610 de
19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material de qualquer forma,
sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e intelectual.
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Dieta dos Sucos:


A dieta consiste em limitar a alimentação a exclusivamente sucos de frutas e
hortaliças.
Efeitos da dieta: Não existem evidências científicas sobre sua eficácia. A perda de peso
é rápida, pelo déficit calórico importante, mas com grande perda de massa muscular
associada, pelo consumo proteico praticamente inexistente. Não promove reeducação
alimentar e compromete a vida social do indivíduo. A saciedade da dieta também é mínima,
pela restrição de proteína e gordura. Se seguida por um período longo pode resultar em
carência de vitaminas lipossolúveis e desnutrição energético-proteica.

Dieta da Sopa:
Existem muitas variações desta dieta, mas basicamente consiste no consumo de sopas
nas refeições principais e frutas e sucos de frutas nos intervalos.
Efeitos da dieta: Dependem muito das receitas de sopas indicadas. A perda de peso
pode ser efetiva nos casos de sopas hipocalóricas, mas também pode não resultar em perda
de peso se as sopas forem mais calóricas. Muitas receitas divulgadas não incluem fontes
proteicas, então a dieta também pode resultar em perda de massa magra. No caso de sopas
com unicamente hortaliças e proteína se torna também uma dieta low carb. Independente da
variação esta é uma dieta restritiva, que limita o convívio social e incompatível com os hábitos
de algumas regiões do país devido ao clima. Além disso a saciedade também pode ser
prejudicada, pois em grande parte das receitas as sopas são batidas.

Dieta do Dr Atkins:
A primeira versão low carb a ganhar grande número de seguidores. A dieta propõe
restrição total do consumo de carboidratos (massas, pães, doces, leite e açúcares) e permite
sem restrição o consumo de carne vermelha, ovos, queijos e gorduras em geral.
Efeitos da dieta: A perda de peso é rápida, mas associada a sintomas como fraqueza,
cansaço, dores de cabeça, mau hálito e constipação pelo baixo consumo de fibras. Também
pode causar deficiência de vitaminas e minerais em longo prazo, pela restrição do consumo de
frutas e vegetais, e constipação pela deficiência de fibras. O excesso de gordura pode
aumentar o risco de doenças cardiovasculares, e o excesso de proteína em longo prazo pode
levar a sobrecarga renal. Pacientes diabéticos em uso de hipoglicemiantes orais ou insulina
não devem seguir a dieta pelo risco de hipoglicemia grave. Esta dieta também limita a prática
de atividade física, que aumenta a produção de corpos cetônicos.

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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei no. 9.610 de
19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material de qualquer forma,
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Dieta de South Beach


Variação mais amena e equilibrada da dieta do Dr Atkins. Estimula o consumo de
gorduras monoinsaturadas (azeite de oliva e oleaginosas), estimula consumo de carnes
magras, frango sem pele, e carnes gordas e bacon com moderação. A partir da terceira semana
de dieta sugere a introdução de frutas, leite desnatado e carboidratos integrais.
Efeitos da dieta: A proposta é de evoluir para uma dieta equilibrada, mas durante os
primeiros 15 dias a dieta possui as mesmas limitações que a Dieta do Dr Artkins.

Dieta Dukan:
Mais uma variação de dieta que restringe o consumo de carboidratos, com exceção de
uma pequena porção de farelo de aveia. Além disso, a dieta restringe gordura e estimula o
consumo de proteínas magras. A dieta se baseia em quatro fases, e cada fase é consequência
da anterior. Na fase 1, que é a fase de Ataque, só é permitido o consumo de proteínas magras.
Na fase 2, de Cruzeiro, intercala com a adição limitada de vegetais todos os dias. A fase 3 é de
Consolidação, além de acrescentar mais vegetais todos os dias esta fase inclui algumas frutas.
Na fase 4, de Estabilização, o indivíduo pode se alimentar normalmente, mas toda quinta-feira
deve consumir apenas os alimentos permitidos na fase 1. A dieta estimula a prática de
caminhada por 20 minutos todos os dias e ingestão de farelo de aveia diariamente.
Efeitos da dieta: As fases iniciais também podem resultar em efeitos colaterais
parecidos com os da dieta do Dr Atkins pela presença de cetonas: mau hálito, boca seca,
cansaço, fraqueza, tontura insônia e náusea. A constipação também é uma queixa frequente,
mesmo com o consumo de aveia. A dieta é mais equilibrada que a do Dr Atkins, mas também é
restritiva, principalmente na fase inicial: até mesmo hortaliças com baixo teor de carboidratos,
como as folhas, são proibidas. Em longo prazo a dieta também pode resultar em vitaminas e
minerais, por isso a dieta recomenda ingestão de polivitamínicos. Além disso o consumo de
dieta hiperproteica em longo prazo pode levar a sobrecarga renal, conforme comentado
anteriormente.

Dieta Paleo ou Paleolítica:


Esta dieta propõe retorno aos hábitos alimentares da época paleolítica, excluindo o
consumo de alimentos processados, incluindo farinha, leite, grãos e sal e principalmente fast
food. Carnes, ovos, frutas e verduras são consumidos livremente.
Efeitos da dieta: A nova pirâmide alimentar brasileira estimula e redução do consumo
de alimentos ultra processados, o que sem dúvida pode acarretar em inúmeros benefícios para
o organismo. A dieta paleo, entretanto, estimula também a redução do consumo de grãos,
cereais e leguminosas, grupos extremamente saudáveis e importantes nos hábitos alimentares
brasileiros. A dieta frequentemente exclui glúten e lactose, além disso reduz o consumo de
carboidratos, por incentivar moderação no consumo de frutas doces e tubérculos. Ou seja, a
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dieta não é tão inovadora como alega ser. Alguns princípios, como a redução de consumos
ultra processados, incentivo ao consumo de hortaliças e redução do consumo de carboidratos
simples são estratégias saudáveis, porém sem o extremismo proposto pela dieta.

Dieta do Jejum Intermitente


A utilização do jejum intermitente no processo de perda de peso ganhou destaque na
mídia médica e leiga nos últimos anos. Esta é uma modalidade de jejum intencional
programado em intervalos de tempos pré-estabelecidos, intercalados com períodos sem
restrição alimentar. Não há consenso quanto ao tempo de jejum, que pode durar de 12 até 24
horas, pode restringir totalmente o consumo de alimentos ou limitar as calorias ingeridas (em
geral para 25% das calorias diárias), e pode ainda liberar o consumo de determinados
alimentos. Existe ainda o jejum intermitente noturno, que inclui as 8 horas de sono e mais 4
horas em que o indivíduo já esteja acordado. Com relação à frequência, pode ser programado
para todos os dias, ou em dias alternados da semana, ou até mesmo uma vez por semana – o
mais comum é que seja programado entre 1 a 4 vezes na semana.
Efeitos da Dieta: Grande parte dos estudos disponíveis na literatura foram realizados
em animais de experimentação, os quais demonstram resultados promissores. Em alguns
estudos clínicos a restrição calórica imposta nos diversos protocolos revisados resultou em
perda de peso, pois o consumo aumentado em períodos sem restrição alimentar parece não
compensar a restrição calórica do jejum intermitente. Esta perda de peso muitas vezes é
associada com melhora no padrão metabólico. Entretanto, a limitação da grande maioria dos
estudos é incluir um número pequeno e carecer de grupo controle e, portanto de comparação
com outros métodos de perda de peso. Além disso, a maioria dos estudos não avalia a perda
de peso e manutenção da perda em longo prazo. Alguns estudos se destacam pelo número
maior de participantes e existência de grupo controle, e alguns destes mostram que a perda de
peso é superior utilizando o jejum intermitente quando comparado com restrição calórica
contínua convencional. Alguns estudos, entretanto, não mostram diferença significativa entre
os métodos. Uma revisão sistemática de 2014, inclusive, mostrou que a perda de peso foi
maior nos estudos de restrição calórica contínua quando comparados com jejum intermitente
ou restrição calórica em dias alternados. Nenhum dos estudos identificados na literatura
relatou complicações significativas com o método.
Os resultados encontrados na literatura são divergentes, o que pode ser explicado pela
grande variedade de protocolos aplicados e pela heterogeneidade dos participantes incluídos.
Entretanto, é possível concluir que a prática do jejum intermitente é eficaz para perda de peso.
Mas, é importante destacar também que, até o momento, a prática do jejum intermitente não
pode ser considerada superior à restrição calórica contínua convencional. O profissional que
optar por esta prática deve se basear nas individualidades de cada paciente para avaliar o real
benefício da utilização do jejum intermitente em substituição a outras modalidades
convencionais de perda de peso.

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Como podemos observar as dietas da moda não promovem reeducação alimentar e


mudança de comportamento. Dificilmente estas dietas são seguidas por um longo período de
tempo (muitas nem deveriam ser) por não facilitarem o convívio social e o prazer em se
alimentar. Além disso são dietas que muitas vezes resultam em reganho de peso rápido.
Grande parte dos pacientes busca solução única e efetiva para perda de peso, mas a obesidade
é considerada como doença multifatorial, o que faz com que o tratamento também exija
estratégias que atuem de diferentes maneiras. Programas estruturados que enfatizem
mudanças no estilo de vida, incluindo adoção de hábitos alimentares saudáveis e incentivo à
prática de exercício regular física são fundamentais para promoção de perda de peso a longo
prazo. Com relação ao plano alimentar o ideal, sem dúvida, é que seja prescrito e
acompanhado por nutricionista, de maneira individualizada. Um plano alimentar balanceado e
adaptado para cada indivíduo pode ser implementado em longo prazo, se tornando hábito.

Bibliografia consultada

1. http://pt.atkins.com/nova-atkins/o-programa/fase-1-indução.html
2. http://www.southbeachdiet.com/home/index.jsp
3. http://www.dukandiet.com

4. http://www.endocrino.org.br/cuidado-com-dietas-milagrosas/

5. http://vogue.globo.com/beleza/fitness-e-dieta/noticia/2016/07/mitos-e-verdades-sobre-
dietas-da-moda.html

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individualizado para maximizar a sua saúde – como alcançar o equilíbrio emocional e
combater o envelhecimento. 2001; Rio de Janeiro: Elsevier.

10. D’Adamo PJ, Whitney C. A Dieta do tipo Genético: saúde, vida longa e peso ideal para seu
tipo genético. 2008; Rio de Janeiro: Elsevier.

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11. Diretrizes Brasileiras de Obesidade – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e


da Síndrome Metabólica 2009-2010

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