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Sumário

Agradecimentos
Prefácio
Introdução
1. O Modelo da Casa de Deus: Uma Casa de Oração!
2. O Estilo de Vida Dia e Noite
3. Batalha Espiritual Centrada em Deus
4. Movimento de Oração dos Últimos Dias
5. Dicas Práticas para Uma Vida de Oração
Sobre o Autor
Agradecimentos

Em primeiro lugar, minha gratidão vai ao Aba Pai e seu Filho Jesus
Cristo, o amado da minha alma, aquele que me alcançou em sua
graça e colocou em meu coração fogo e anseio por sua presença.
À minha amada esposa, que teve coragem para me seguir e
abraçou a aventura de caminhar em direção ao chamado de Deus
para a nossa família. Obrigado por toda a entrega e dedicação à
causa do reino de Deus. Você é a melhor esposa e mãe, e eu sou
abençoado por tê-la ao meu lado. Benjamin e Maria, vocês são
flechas em nossas aljavas; papai ama vocês.
Aos meus pais, Alcy e Rosa, vocês foram os intercessores que
me alcançaram no lugar de oração. Papai e mamãe, nunca poderei
pagar pelo que fizeram por mim. Eu honro a vida de vocês.
Aos mentores Harold Walker e Robert Walker, homens
responsáveis pelo meu primeiro despertar para o valor do altar e da
oração coletiva. Vocês terão uma recompensa por tocar e despertar
uma geração.
A todos da comunidade do Rei e sala de oração Betânia. Foi
nesse lugar que a mensagem que carrego foi gerada. Sou grato
pelos momentos que vivemos juntos em busca e oração. Obrigado,
Fábio e Danielly Bravo, Junior e Camila Oliveira, começamos isso
juntos na piscina quebrada!
Aos meus filhos espirituais da casa de oração Liberdade Rio,
vocês são um solo fértil e produtivo. Obrigado por abraçar o sonho
do salmo 132. Vamos juntos construir um lugar de descanso para o
nosso Deus.
A Eduardo e Eliana Oliveira e a todos da editora Impacto,
obrigado por acreditar e investir tempo e esforço para que esse livro
se tornasse realidade. Vocês terão uma herança e participação nos
frutos desta obra.
A todos os guerreiros de oração espalhados por toda nação
brasileira. A todos os líderes de casas de oração que estão
cooperando para fortalecer uma Igreja que ora e levantar uma
cultura de oração. Eu dedico esse pequeno livro a vocês! Não
desprezem os pequenos começos!
Michael Duque Estrada
Prefácio

Deus está agindo no mundo hoje para preparar o cenário para a


segunda vinda do seu Filho. As coisas estão mudando numa
velocidade alucinante. Precisamos de muita disposição para
abandonar conceitos antigos a fim de acompanhar as novas coisas
que ele está fazendo.
Uma das mudanças é que o foco de Deus não está mais no
indivíduo e sim no coletivo. Antigamente, intercessores individuais
se levantavam como gigantes espirituais e mudavam a história de
nações e regiões. Hoje Deus está enfatizando a oração coletiva, a
oração de concordância, o clamor harmonioso e uníssono da igreja.
É óbvio que a oração pessoal, devocional, é indispensável. Se
não fecharmos a porta do nosso quarto e falarmos diariamente com
o nosso Pai que nos vê em secreto, não temos condições de orar
junto com outros. Mas a prioridade de Deus hoje não é encontrar
pessoas que oram longas horas sozinhas. Aliás, isso pode até ser
perigoso, pois foi através de retiros espirituais solitários que grandes
"revelações" falsas foram recebidas e milhões de pessoas têm sido
enganadas. O processo de revelação tão necessário para a igreja
hoje funciona por meio de dois ou três (ou mais) "reunidos em meu
nome" e concordando no Espírito. Não precisamos apenas de
pessoas que oram, mas de uma Cultura de Oração.
Desde o primeiro dia que conheci Michael, num encontro de
jovens em Campinas em 2004, era evidente que ele exalava o zelo
e o amor por Deus e pelos perdidos por todos os seus poros. Muitos
jovens ministros começam assim, mas no meio das lutas do
caminho, perdem o ânimo ou se desviam atrás de outros alvos. Não
tem sido assim com Michael. A perseverança tem purificado e
aprimorado os dons que Deus lhe deu, mas o fogo interior não
diminuiu.
Apesar da disponibilidade de muitos bons livros sobre oração,
o livro que você tem em suas mãos não é apenas mais um, cheio de
conselhos e dicas. Esse livro é um clamor apaixonado para que a
igreja do século 21 se levante para cumprir sua missão crucial
nesse momento da história. Ao ler esse texto, permita que o Espírito
Santo aqueça seu coração para deixar de ser apenas um
observador e se tornar um participante dessa nova onda do Espírito
que está começando a varrer o globo.

Harold Walker
Jundiaí, SP, outubro de 2016
Introdução

É sempre um grande desafio falar sobre esse assunto. Não conheço


ninguém que esteja plenamente satisfeito com a própria vida de
oração. Parece que a vida eterna, que consiste em conhecer ao
Senhor, está sempre exigindo mais de cada um de nós nessa área
que, apesar de muito simples, também é muito profunda.
Gostaria de dar um panorama geral do que está acontecendo
exatamente agora no mundo inteiro. Apesar de acontecimentos
similares já terem surgido em outras épocas na história da Igreja,
estamos vivendo um tempo em que o Senhor tem se movido de
uma forma peculiar nas nações.
Deus levantou muitas pessoas na história da Igreja que se
posicionaram como atalaias, como sentinelas do Senhor. Às vezes,
começava com um indivíduo, e o Espírito Santo ia movimentando
cidades inteiras, impulsionando pessoas a reunir-se em torno da
oração. E, se observarmos nossos antepassados, veremos que todo
grande avivamento e todo grande avanço na Igreja sempre foram
precedidos por um movimento de oração alinhado e focado.
Um exemplo disso é o avivamento em Azusa. Havia uma torre
de oração na mansão de Charles Parham onde oravam dia e noite.
No dia 1º de janeiro de 1901, uma menina chamada Agnes Ozman
foi batizada com o Espírito Santo e falou por dias e dias em
mandarim. Muito se fala sobre a Rua Azusa ressaltando os sinais e
poder que aconteciam naquele lugar, mas pouco se comenta sobre
esse avivamento ter sido gerado em intercessão e durante estudos
das Escrituras.
Outro testemunho disso é o movimento dos morávios, que
surgiu de um movimento de oração numa época em que o
racionalismo havia tomado proporções muito grandes. Após
decidirem não mais causar divisões no Corpo por causa de
pensamentos divergentes, 24 irmãos e 24 irmãs iniciaram uma
reunião de oração que duraria 24 horas por dia. Essa reunião de
oração começou no dia 26 de agosto de 1727 e terminou somente
depois de 26 de agosto de 1827. Foram mais de cem anos de
oração ininterrupta. Aquelas pessoas se revezavam em turnos e
oraram por mais de cem anos! Durante esse tempo, o zelo
evangelístico cresceu de tal maneira que, em 25 anos, eles
enviaram mais missionários do que todas as igrejas protestantes
reunidas.
Mas esses movimentos de oração eram movimentos isolados
que aconteciam em um país ou outro. O que o Espírito Santo está
fazendo agora, neste exato momento, é muito diferente. Estou muito
empolgado e entusiasmado e penso que esta é a melhor época para
se viver. O Espírito Santo está mobilizando nações inteiras na Terra.
Eu poderia citar lugares muito remotos, onde ele está convidando o
seu povo a orar.
Já estive em Kansas City, na Casa de Oração. Passei alguns
dias lá, com minha esposa Maíra e mais alguns brasileiros, num
treinamento sobre intercessão. Os irmãos desse ministério já estão
orando há 15 anos, dia e noite, sem parar. Às vezes, eu ia tarde da
noite ao local, às vezes, bem cedo pela manhã, e sempre tinha
alguém orando naquela sala. Mas o que me deixou impressionado
foi o fato de eles terem um lugar, que é a sala de oração das
nações. Essa sala de oração funciona, em média, por 16 horas
diárias, e cada turno é ministrado num idioma por uma nação. Há
turnos em chinês, coreano, russo, português e espanhol.
Dentre todos os idiomas, o que me chamou a atenção, porém,
foi o turno em farsi. Você faz ideia de onde vem essa língua? Do Irã!
Existem missionários em tempo integral que vieram do Irã; aliás, do
mundo inteiro.
Se você quer descobrir o que o Senhor está fazendo hoje,
posso lhe dizer: ele está convidando o seu povo ao altar de uma
forma totalmente nova. A Igreja está orando como nunca orou. É um
movimento ainda imaturo? Sim. É pequeno? Sim. É fraco? Sim. Mas
é inédito. Estou muito empolgado com isso! As nações estão
unindo-se ao intercessor, o Espírito Santo, e estão começando a
rogar pelo casamento, aproximando-o dos nossos dias.
Na China, existem duas mil igrejas caseiras orando dia e noite.
Na Indonésia, são mais de 40 torres de oração funcionando 24
horas sem cessar. No norte da África, talvez a parte mais
muçulmana, existem centenas de jovens que foram enviados para
plantar fornalhas de oração, unidos ao movimento de implantação
de igrejas. No Egito, existem salas de oração dia e noite.
A igreja está despertando do seu sono e clamando pelo
casamento, com as súplicas: “Vem, Senhor! Vem se casar conosco”.
E é nisso que eu quero estar envolvido. É nisso que eu quero
investir a minha vida. É para isso que o Espírito Santo está
convocando jovens e mais jovens.
No IHOP (International House of Prayer, Kansas City - Casa
Internacional de Oração), existem 1.500 jovens que poderiam estar
envolvidos em qualquer outra atividade, mas decidiram abrir mão da
própria vida visando ao Propósito Eterno. Conheci uma jovem de 29
anos, advogada, formada, que lidera um dos ministérios mais
poderosos do IHOP, o ExodusCry. Eles trabalham com a libertação
do tráfico de humanos, uma realidade escondida para a igreja. Eu a
ouvi falando.
Na verdade, o Espírito Santo criou uma amizade entre mim,
minha esposa e ela. Essa jovem ficou alguns dias na minha casa, e
sua presença exerceu um impacto muito grande sobre os jovens.
Nossa igreja inteira estava envolvida nisso. Pessoas que nunca
pregaram o Evangelho foram pregar, da maneira mais radical, para
prostitutas e travestis.
Por que estou falando isso? Essa menina está investindo sua
vida nesse propósito. Ela poderia ser qualquer outra coisa, e isso
não seria ruim ou errado. Mas existe um chamado do Espírito Santo
nesses dias convocando jovens, crianças, adolescentes, adultos e
velhos. Frequentei turnos liderados por crianças de 13 anos. São 12
horas ministradas só com crianças. Lá, os pais ensinam os filhos a
profetizar, curar os doentes e a orar.
Gostaria de encorajá-lo e dizer: você está vivendo na época
mais incrível de todos os tempos. Mas é preciso abrir seu coração
para o convite que o Espírito está fazendo. Ele está orquestrando
um movimento de retorno à principal identidade da Igreja.
1
O Modelo da Casa de Deus: Uma Casa de
Oração!

Nestes dias de mudanças que estamos vivendo, já entramos numa


fase de transição. Muito se tem refletido sobre as estruturas da
Igreja e sobre um novo odre, capaz de suportar o novo que Deus irá
derramar. Livros e mais livros enchem o mercado, indicando
soluções, modelos viáveis e bíblicos de como fazer e ser Igreja.
Alguns termos como igreja caseira ou orgânica, grupos pequenos ou
células de convívio tornaram-se comuns em nossa geração.
Acredito que muitos desses autores são bem-intencionados e têm
mensagens relevantes. No entanto, penso que temos deixado de
dar atenção ao verdadeiro padrão da casa de Deus. Não temos
autorização para construir a Igreja como bem entendemos.
Moisés encontrou um modelo da casa de Deus que, segundo
o escritor de Hebreus, é uma sombra das coisas celestiais. A
palavra modelo é significativa nesse texto, pois aponta para uma
realidade que existe no céu, ou seja, há um projeto na eternidade
que precisa ser reproduzido ou imitado na Terra. Davi foi outro
homem que viu essa planta, ou esse protótipo, da Casa de Deus.
Em 1 Crônicas 28.19, lemos que tudo (isto é, todas as obras do
templo celestial) foi mostrado a Davi e escrito pela mão do Senhor.
A planta da casa de Deus, construída por Salomão, teve um modelo
que foi desenhado pelas mãos do próprio Deus.
Ao descrever a Nova Jerusalém, é interessante notar que o
texto de Apocalipse, que é a revelação de Jesus Cristo, diz que nela
não existe santuário (ou templo), pois o seu santuário é o Senhor
Todo-poderoso e o Cordeiro (Ap 21.22). Jesus é o verdadeiro
modelo do santuário. Ele é a planta da casa de Deus. O que Moisés
e Davi viram? Eles viram o próprio Cordeiro, o Templo vivo!
Jesus é a pedra angular, ou o fundamento da casa. Por isso,
precisamos entender o modelo existente nos céus, para só então
construirmos um aqui na Terra. Todas as vezes que Deus revelou o
modelo da sua casa a alguém, ele também revelou o propósito da
construção dessa casa. Êxodo 29.43,45 diz: “virei aos israelitas ali,
e a tenda será santificada pela minha glória. Santificarei a tenda da
revelação e o altar... Habitarei no meio dos israelitas e serei o seu
Deus”. Ele quer uma casa na Terra onde possa habitar, ter
comunhão com o seu povo e estabelecer a sua vontade em todas
as nações.
A Igreja precisa entender que ela tem uma identidade e essa
identidade está em Jesus. Portanto, vale a pena observar o que ele
falou a respeito da casa de Deus. Vamos olhar o evangelho de
Marcos: E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto
tudo em redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze.
E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. E, vendo
de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia
alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque
não era tempo de figos. E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca
mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto. E
vieram a Jerusalém; e Jesus, entrando no templo, começou a
expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derrubou as
mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E
não consentia que alguém levasse algum vaso pelo templo. E os
ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada,
por todas as nações, casa de oração? Mas vós a tendes feito covil
de ladrões (Marcos 11.11-17).
O primeiro ponto que me chama a atenção é a figueira que
não produz frutos – ela representa Israel. Na Palestina, as folhas
aparecem nas figueiras em março e são acompanhadas de uma
colheita de pequenos botões comestíveis, chamados taksh, que
caem antes da formação dos verdadeiros figos. Porém, já era o mês
de abril e essa figueira só tinha folhas, sem os taksh. Isso significa
que ela não daria frutos. Só tinha folhas, mas não frutos.
Logo em seguida, Jesus condena as atividades na casa de
Deus. Eles estavam realizando todo tipo de práticas (como as folhas
da figueira): sacrifícios, religiosidade, comércio. Mas nada disso
produzia frutos.
A promessa feita a Abraão é que todas as famílias da Terra
seriam benditas; todavia, os judeus se fecharam em suas atividades
e deixaram de tocar as outras nações. A comissão dada à igreja é a
mesma: fazer discípulos de todas as nações. Mas será que nossas
atividades têm gerado discípulos? Estou falando de discípulos, não
de evangélicos ou membros de igreja!
A igreja é uma Casa de Oração para todas as nações.
Produzir o verdadeiro fruto de discipular as nações, só será possível
se deixarmos as muitas atividades e nos tornarmos uma Casa de
Oração para todos os povos. O propósito principal da casa de Deus
é ser um lugar aonde Deus possa vir e comunicar-se com seu povo;
é ser uma porta para os céus (Gn 28.17). Que essa mensagem
ecoe por toda a Terra: “A minha casa será chamada Casa de
Oração para todos os povos!” (Mt 21.13) A Identidade da Igreja
como Casa de Oração Há uma forte aceleração no que diz respeito
ao fim dos tempos. De forma geral, parece que as contrações das
dores de parto estão ficando cada vez mais fortes e agudas. As
nações estão sendo abaladas. Tudo o que é abalável está sendo
removido. O mundo vai começar a procurar respostas. Indagações e
questionamentos vão surgir. A Igreja, o povo de Deus, precisa estar
pronta para apresentar às pessoas a razão de sua fé e para trazer
revelação e direcionamento em meio ao caos e à escuridão.
Quando penso em como discernir esse tempo, em como servir
à nossa geração e tocar o mundo, sempre me vem à mente a
expressão “identidade primária”. A clareza quanto à nossa
identidade, ou à falta dela, pode muito bem nos colocar numa
posição de cooperação, ou alienação, no que se refere aos planos
de Deus para este tempo. Como podemos dar respostas de fé se
não sabemos quem somos em Deus?
A revelação prática da nossa identidade nos levará a
realizações pontuais e relevantes no cumprimento da missão como
filhos de Deus. Segundo a profecia de Isaías, citada por Cristo no
evangelho de Mateus, nossa identidade está entrelaçada à
comunhão com o nosso Pai. Ser uma casa de oração significa ser
um lugar de diálogo com os céus, pois a oração está totalmente
ligada a ouvir e falar, ouvir e comunicar uma realidade celestial.
O Senhor está edificando sua Igreja, que é identificada como
uma Casa de Oração para todas as nações. Precisamos parar e
refletir sobre a importância da declaração de Jesus a nosso
respeito. Somos sua casa e ele nos nomeia “casa de oração”.
Temos de refletir se nossas ações como Igreja têm sido
afetadas pela identidade que nos foi conferida. Basta respondermos
a essas perguntas:
Qual é a nossa relação com a oração?
Qual é a qualidade da nossa oração?
Quanto realmente acreditamos na oração como algo
fundamental para a nossa vida?
Será que a igreja atual está gastando tempo no que é
preciso para se dedicar à oração?
Quantos programas e eventos são realizados sem
oração?
É necessário começarmos a nos mover de acordo com o que
somos. O “ser” precede o “fazer”. O entendimento da nossa
identidade primária irá conectar-nos a um senso de propósito e
realização a partir do que somos em Deus.
O Espírito Santo está movimentando o Corpo de Cristo em
toda a Terra, para se posicionar em cooperação com ele por meio
da parceria em adoração e intercessão. Esse movimento global de
oração não é uma moda ou algo passageiro; está relacionado ao
cumprimento das profecias bíblicas, de como a igreja vai entrar em
maturidade de parceria para o pleno estabelecimento do Reino de
Deus na Terra.
A nossa identidade coletiva como Casa de Oração é
construída a partir da nossa identidade como indivíduos. Nosso
primeiro comissionamento e chamado está vinculado a nos
posicionarmos como sacerdotes, como homens e mulheres de
oração, como pedras vivas conectadas umas às outras, construindo
um lugar de movimentação espiritual, onde incenso de intercessão,
adoração e súplicas são oferecidos ao Pai por meio do Filho.
A igreja é uma casa de oração não apenas porque tem
orações ocasionais, mas porque é edificada, fundamentada e
mantida pelo ministério da oração. E quando falamos o nome “casa
de oração”, a compreensão ainda é pequena, pois sempre
pensamos em estruturas paralelas à Igreja cuja única atividade é
orar. Mas acredito ser a vontade de Deus que, no tempo do fim, um
pouco antes da volta de Jesus, a igreja venha a alcançar maturidade
em oração. Chamo isso de identidade de parceria.

A tríplice identidade Todo cristão possui uma tríplice identidade, e


essas três esferas estão relacionadas ao fim dos tempos e à
parceria: somos filhos, somos um povo sacerdotal e somos a Noiva.
O Senhor não fará uma obra na Terra de forma desencarnada. Ele
precisa que o seu povo se levante e entre em concordância com o
seu coração para atrair o céu para a terra. Mas isso acontece a
partir da nossa identidade, de quem nós somos.
A principal identidade da igreja é ministrar ao Senhor. O seu
trabalho, o que você faz, seja ministerial, seja secular, é a sua
identidade secundária. Você é médico? Não. Você é um sacerdote e
está médico. Você é dentista? Não. Você é um sacerdote e está
dentista. Imagine se tivéssemos centenas de médicos com esse
entendimento dentro dos hospitais, orando em outras línguas,
clamando em espírito e dizendo: “Venha o seu reino aqui nesta
cirurgia”. Imagine essa consciência.
Nós estamos pregando isso há dezenas de anos e ainda
temos uma mentalidade dicotomizada. Separamos as diversas
áreas da nossa vida como nunca antes, afirmando que uma parte é
do Senhor e outra, não. Mas ele está trazendo um entendimento
sobre sacerdócio. É uma parceria.
O sacerdócio está totalmente vinculado a homens e mulheres
que vivem diante do altar, entregando-se para realizar o plano de
Deus na Terra independentemente da vocação que tenham
escolhido. Afinal de contas, sua identidade primária é ministrar ao
Senhor, é estar próximo ao seu coração. A maioria das pessoas tem
apresentado todo tipo de desculpas para não fazer isso. Estão sem
tempo, cansadas, ocupadas e muito envolvidas com as atividades
do Senhor na igreja. Mas não há mais desculpas e não há mais
tempo a perder para ministrarmos a ele, ministrarmos ao seu
coração. Portanto, penso que as três esferas da nossa identidade
espiritual, a saber, filho, sacerdote e Noiva, estejam conectadas com
essa Casa de Oração, com esse movimento de parceria. Agora,
como vamos mergulhar de cabeça nisso? Não basta simplesmente
saber que somos filhos de Deus, sacerdotes e a Noiva.

1-Somos filhos O conhecimento de quem Deus é revela quem nós


somos e como devemos nos mobilizar e funcionar como cristãos.
Logo, o primeiro ponto é: você é filho. Parece algo simples, mas
Satanás é muito astuto. Note que as figuras que mais estão ferindo
as pessoas hoje na sociedade são as duas mais ligadas à nossa
identidade no tempo do fim: o pai e o marido. Isso é uma estratégia
de Satanás para gerar uma distorção de quem é Deus.
Os pais são muito duros e violentos ou extremamente liberais.
Nenhuma das duas posturas comunica o caráter paterno de Deus,
pois ele não é libertino, muito menos legalista. Ele é um Pai de
amor. Deus não é um marido grosso, mas também não é um
“banana”. Percebe? As gerações estão nascendo debaixo desse
conceito do que é ser pai e do que é ser marido. E quando
encontram nas Escrituras que Deus é pai e noivo, o que pensam?
Qual o parâmetro que esta geração de jovens, adolescentes e até
mesmo adultos tem de quem é Deus, pela perspectiva de quem foi o
seu pai ou de quem é o seu marido?
Por isso, há essa sensação de orfandade tão comum em
nossos dias. As pessoas estão sempre correndo atrás de algo para
sentir-se aceitas — inclusive de cargos na igreja, ministérios e
posição; querem aparecer, gravar um CD, tornar-se pregadores
famosos, ou seja lá o que for, porque sentem a necessidade de
autoafirmação e de ser bem-vistas pela sociedade. Sendo assim,
gastam todo o seu tempo para alcançar esse objetivo de aprovação
e aceitação.
Quantos anos da minha vida gastei tentando achar um pai
num pastor de igreja! E por quantos anos procurei me moldar de
acordo com o que aquele pastor queria para que pudesse ser aceito
por ele! Será que estou sozinho? Não. Essa é uma ferida aberta na
nossa geração. Não é um assunto resolvido. É por esse motivo que
existe falta de comunhão com Deus. Você deve estar se
perguntando o que tudo isso tem a ver com intercessão. Tem tudo a
ver. Porque o sacerdócio é precedido pela paternidade de Deus.
Sem o entendimento de que Deus é pai, não há sacerdócio.
Em Romanos 8.15, lemos: “Porque não recebestes o espírito
de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas
recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba,
Pai.” Ele nos deu um espírito de adoção que nos confere o poder de
clamar por Aba.
A maior parte do ministério de Jesus se constituiu em revelar
quem Deus era. Principalmente no evangelho de João, vemos
claramente que ele revelou o Pai. Em todos os sinais, em cada cura,
em cada intervenção miraculosa de Jesus, havia um propósito:
mostrar o Pai. Seu alvo não era promover o ministério pessoal, nem
os sinais e maravilhas por si só, mas expressar o amor do Pai.
Quando um enfermo era curado, o que estava sendo comunicado
era: o Pai o ama. Quando os pobres eram alimentados, uma única
mensagem estava sendo transmitida: Aba Pai. Quando uma viúva
era acolhida, o que ele estava querendo dizer era: Aba se importa
com você.
As Escrituras dizem que Jesus é a expressão exata de quem
Deus é (Hebreus 1.3). Ele é a exegese de Deus. Jesus explicou
Deus. Ele deixou o seu ambiente de santidade, encarnou numa
cultura de impiedade, comeu com pecadores e comunicou com
perfeição quem era aquele Deus do Velho Testamento que
fumegava no monte. Esse Deus terrível, esse Deus de santidade, ira
e zelo também é Aba.
O termo “Aba” foi extraído do aramaico. Jesus fez questão de
não usar a linguagem litúrgica, em hebraico; em vez disso, usou
uma palavra em aramaico que, na verdade, era o balbucio de uma
criança desmamada. Essa expressão era usada na cultura da
época. Quando deixava de mamar, a primeira palavra que uma
criança pronunciava era Aba. Trazendo para a nossa linguagem, é
como se ela dissesse “papai”. Por isso que os fariseus ficaram
possessos de raiva quando Jesus começou a dizer que era o Filho
de Deus e que viera revelar o Pai. O que ele estava dizendo é que
agora a forma de se relacionar com Deus era por meio do balbucio
de uma criança — uma intimidade próxima, de filhos que não
deixam de clamar por seu Pai.
Eu fico pensando no meu filho, Benjamin, e em quantas vezes
ele repetia a palavra “papai” num dia e quantas vezes ele ainda fala
“papai” quando quer alguma coisa. O Benny não está preocupado
se vai me incomodar com seu clamor, pois tem confiança no meu
caráter paterno. E ele sabe que sou o único que pode lhe dar o que
quer; então, fica insistindo.
É isso que Jesus está introduzindo na nossa vida e no nosso
relacionamento. Ele está dizendo que aquele Deus terrível é Aba
também. Ele é terrível sim, e é santo, é fogo, mas também é Aba.
Isso escandalizou a religião da época, porque a religião dos fariseus
estava vinculada ao desempenho. Era como se Deus estivesse com
uma prancheta na mão anotando tudo o que faziam de certo e
errado. E quando falhavam, ele logo dizia: “Não disse que iriam
errar?”. Essa era a perspectiva que tinham do relacionamento entre
os homens e Deus.
Na verdade, essa nem era a Lei, mas apenas uma
interpretação oral de como a viam, pois o propósito da Lei sempre
foi aproximar o homem de Deus. Os fariseus estavam usando algo
que não era a Lei, mas o legalismo. Estavam comunicando um Deus
rabugento, sem qualquer traço de paternidade. Essa característica,
contudo, seria trazida por Jesus, pois os textos das Escrituras que
falam de Deus como Pai no Velho Testamento são apenas três, e
são afirmações que não apontam para um relacionamento. É por
meio de Jesus que essa relação com Deus como Pai acontece.
Quando Cristo ensina sobre oração, qual é a primeira palavra
que ele usa? Pai nosso (Mateus 6.9). Tenho uma boa notícia: o Pai
de Jesus é o seu Pai também!
A maioria de nós vive como se Deus estivesse com essa
prancheta na mão, achando que ele olha para a Terra e diz: “Veja só
que hipócrita!”. Deixe-me dizer algo que vai libertá-lo: hipocrisia não
tem a ver com pregar algo que não se vive. Hipocrisia tem a ver com
pregar algo que não se deseja viver. Cinismo e teatro são hipocrisia.
Quanto do que prego ainda não vivo plenamente, mas estou
buscando viver! Deus não o enxerga como um rebelde, mas como
uma criança imatura. Muitas vezes, pensamos que Deus vai quebrar
nossas pernas, porque não sabemos andar. Não; ele vai nos
levantar novamente.
É claro que é preciso ser sincero e andar na luz. Não estou
abrindo precedente para uma graça barata, mas comunicando como
Deus pensa, quem ele é. Ele é Aba. O que ele sente? Prazer em
você.
Em Lucas 15, Jesus conta três parábolas que indicam como
Deus age. Elas são dirigidas diretamente aos fariseus como uma
forma de provocá-los.
A primeira parábola mostra Deus encontrando o pecador em
seu pecado e celebrando a vida dele. Isso é escandaloso! O
versículo 4 diz: “Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e
perdendo uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai atrás
da ovelha perdida, até encontrá-la?”.
Até quando ele nos busca? Até nos encontrar. O que essa
ovelha estava fazendo? Jejuando e orando? Não, ela estava
desviada. E o que é estar desviado? É ir para a balada? Não. Todas
as vezes em que erramos o alvo, nós nos desviamos dele. Por
exemplo, quando você deixou de orar aquilo que prometeu orar, o
que fez? Desviou-se dele. Claro que há níveis de desvios, mas o
texto está falando que, quando Deus encontra o que está em seu
pecado, vai atrás dele para buscá-lo.
O texto prossegue: “Quando o encontra, coloca-o sobre os
ombros cheio de alegria” (Lucas 15.5). Esse é o nosso Deus: capaz
de nos encontrar em nosso pecado e nos colocar sobre o ombro,
cheio de alegria. Compreender essa verdade mudou a minha vida.
Já preguei essa mensagem centenas de vezes, mas, um dia, na
sala de oração em Kansas City, às 7 da manhã, eu estava sentado
com a Bíblia aberta e ouvi a voz de Deus audível, dizendo: “Venha.
Pare de tentar me agradar com sua disciplina. Eu já estou feliz”. Isso
pode não parecer nada demais, mas faz muito sentido para mim.
Ele disse: “Você precisa entender o que estou sentindo por você, e
não tem a ver com o seu desempenho”. Sabe o que isso gerou em
mim? Mais vontade de estar com ele.
As pessoas estão orando como nunca, porque entenderam ou
começaram a entender o que isso significa. Romanos 8 diz que ele
não nos deu um espírito de medo. Essa sensação de que Deus está
buscando desempenho gera em nós medo. Quantos de vocês já
prometeram que, diariamente, iriam orar e jejuar, e falharam? E
quantas pessoas abandonaram durante muito tempo o lugar da
oração por causa de condenação? Mas a condenação não é de
Deus, é da sua mente, pela falta de perspectiva correta de quem ele
é. Lucas 15 revela isso de uma forma muito poderosa.
A segunda parábola está em Lucas 15.8,9: ...ou, qual é a
mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não
acende uma candeia, varre a casa e procura com cuidado, até
encontrá-la? E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas,
dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha
perdido. Deus está procurando com cuidado aquele que se perde.
Jesus continua contando a terceira parábola: E, levantando-se,
foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e,
compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse:
Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser
chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei
depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e
sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado.
Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e
reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se.
(Lucas 15.20-24) Ele fala que o filho voltou para casa não porque se
arrependeu, mas porque estava com fome. Diariamente, o pai se
levantava e colocava-se à espera do filho. Naqueles tempos, todas
as vezes em que alguém requeria sua herança com o pai ainda vivo,
era como se dissesse que, para ele, o pai já estava morto. Ele só
deveria tomar aquela herança perto da morte do pai, mas o fez
enquanto ele ainda vivia. Mesmo assim, todos os dias, o pai se
levantava e ficava esperando a volta daquele filho que o
amaldiçoara.
Todas as vezes que você peca e se desvia, ele se levanta e
sorri para você. Deus sorri para você — não apenas quando você
está certinho, não apenas quando você está em pura santidade.
Deus sorri todos os dias. A maioria das pessoas vai se escandalizar
quando chegar diante do trono, pois vai encontrar um homem judeu
de 33 anos, sorrindo. A minha Bíblia afirma que ele foi ungido com o
óleo de alegria mais do que os seus companheiros (Salmo 45.7).
Também declara que, na presença de Deus, há plenitude de alegria
e, na sua destra, delícias para sempre (Salmo 16.11). Diz que a ira
dele dura um pouco e sua alegria para todo o sempre (Salmo 30.5).
A ira e o juízo estão reservados para remover tudo o que impede o
amor.
Quando passar por um aperto financeiro, por exemplo, não
construa sistemas para se proteger, pois é ação de Deus. Pare de
querer amarrar o Senhor. As pressões financeiras servem para nos
aproximar dele. As pressões políticas, ou quaisquer que sejam elas,
acontecem porque ele permite que aconteçam. Ele só está lhe
ensinando: “Ei, filho, gostaria tanto que você confiasse em mim e
não em Mamon”. Deus está apenas removendo aquilo que impede o
filho de entregar-se plenamente. Mas o que fazemos quando vêm as
dificuldades? Construímos estruturas. Quando Gideão passou
aperto econômico, o que ele fez? Foi pisar uvas onde não deveria
pisá-las. Ele estava tentando dar um jeito para se proteger. As
pressões da vida, os juízos, julgamentos e disciplinas de Deus
existem para nos levar até ele.
Cada palmada que ele nos dá tem a finalidade de nos tornar
participantes da sua santidade, pois quem não passa pela disciplina
é bastardo. Ele é um Pai que disciplina, pois ama muito. O Aba tem
um amor compenetrado e furioso por sua vida. Sendo assim, ele
está removendo tudo o que impede o amor e continuará a fazê-lo
até obter a sua atenção total.
Nessas três parábolas, o que você vê? Um Deus que se
alegra em nós, mesmo quando pecamos, que nos busca quando
desviamos, que nos procura quando nos perdemos e dá amor e
alegria quando voltamos.
Existe alegria diante da face dos anjos quando um pecador se
arrepende (Lucas 15.10). Quem está diante da face dos anjos?
Deus. O que os anjos estão vendo? Um Deus que sorri, porque
achou alguém que estava pecando e não está mais. O que nós
pensamos quando nos desviamos? Que ele vai nos castigar e
lançar na nossa face tudo o que fizemos de errado; afinal, foi isso
que os nossos pais fizeram conosco. Quem nunca ouviu a frase: “Eu
não lhe disse?”. Esse não é o seu Deus. Ele vai colocá-lo no ombro
e se alegrar em você.
Deus está levantando intercessores felizes, porque ele mesmo
é alegre e tem tudo sob seu controle. No final, nós vamos vencer;
estamos do lado do time que ganha.

2 – Somos um povo sacerdotal Há uma grande fome de Deus


surgindo no mundo hoje. Uma geração inteira está sendo desperta
para buscar a face de Deus, para dedicar tempo e esforço a
aprender a desenvolver um relacionamento de amor e comunhão
com o Senhor. Contudo, é notória a falta de revelação e de domínio
bíblico que trazem uma orientação objetiva, clara e correta sobre
como desenvolver essa vida de devoção a partir da vida devocional
individual. Por isso, gostaria de deixar alguns princípios das
Escrituras que ressaltam a importância dessa prática.
O primeiro ponto está ligado ao nosso sacerdócio pessoal. A
Bíblia fala de dois tipos de chamado: o sacerdotal, que se refere à
nossa vocação primária, e o ministerial, ligado ao nosso serviço à
igreja e ao mundo. Sem o desenvolvimento do nosso sacerdócio por
meio da prática da comunhão, da adoração e da intercessão, nosso
serviço ministerial ao Corpo e ao próximo fica debilitado. O
sacerdócio está ligado a ministrar a Deus em primeiro lugar:
Chegando-vos a ele, a pedra viva... Vós também, como pedras
vivas (indivíduos), sois edificados como casa espiritual (coletiva)
para sermos sacerdócio santo, a fim de oferecer sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo (1 Pedro
2.4,5).
Além disso, precisamos entender que, sem o sacerdócio
individual, ou seja, sem a prática da comunhão pessoal com o
Senhor, a casa de Deus (coletiva) fica prejudicada. Devemos ser
pedras vivas – cada indivíduo se comportando como um sacerdote.
Dessa maneira, a casa espiritual será edificada. Cada cristão é
chamado como sacerdote para oferecer, individual e coletivamente,
sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus. Se, como indivíduos,
falhamos em nossa função sacerdotal, comprometemos o
funcionamento coletivo de toda a casa. O coletivo depende do
individual.
O fato de as Escrituras afirmarem que você é um sacerdote
não o torna um. O que define um sacerdote é o exercício da função
sacerdotal de ministrar ao Senhor. Porque é isso que as Escrituras
dizem: que esses sacerdotes oferecem “sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por meio de Jesus” (1 Pedro 2.15). Se você não
tem oferecido sacrifícios espirituais, então está fazendo qualquer
coisa, menos exercendo a sua identidade primária. Logo, esse não
é um conceito para entendermos apenas mentalmente; precisamos
assimilá-lo internamente.
Toda identidade cristã está misteriosamente escondida em
quem Deus é, no que ele fez e no que ele sente por você. Isso é
teologia. Os místicos diziam que a teologia se dedicava a estudar os
atributos de Deus. Hoje, a teologia inclui até administração
eclesiástica, o que é um absurdo. Administração eclesiástica se
refere à gestão da igreja como instituição ou empresa, aprofunda-se
em temas como, por exemplo, gerenciar a parte financeira,
conhecer técnicas de reunião, saber administrar os sacramentos,
celebrar casamento religioso com efeito civil, entre outros. Isso não
é teologia. Os místicos meditavam em quem Deus era. Ele é amor,
juízo, e também é Pai e é santo. Mas ele come com pecadores?
Então, gastavam horas e horas pensando sobre isso, pois era o que
formava a sua identidade e a maneira que deveriam agir como
cristãos. Quem é Deus para você? Quem é Deus para a igreja dos
nossos dias? Parece uma pergunta fácil.
A falta do conhecimento de Deus, citada em Oseias 4.1,6, faz
com que ele contenda contra as nações. Ele diz ali que a Terra
inteira está sendo destruída. Quando lemos essa passagem, parece
que estamos diante de um jornal dos dias de hoje. Há homicídio,
destruição, adultério, violência, e Deus afirma que o motivo de tudo
isso é a falta de conhecimento de quem ele é. Mas, de repente, o
alvo da contenda de Deus muda das nações para os sacerdotes,
uma vez que as pessoas não o conhecem devido à ausência do
sacerdócio. As nações estão sendo destruídas pela iniquidade,
porque o seu povo abandonou o altar.
Não existe reino sem sacerdote. Reino significa justiça e
equidade na Terra. Isto é, as nações estavam sendo chacoalhadas
pela injustiça como consequência de o sacerdócio ter-se
corrompido. Não existia revelação de quem Deus era. Se nem
aqueles que se dedicavam integralmente a ministrar ao altar
conheciam a Deus, quanto mais as nações.
A nossa segunda identidade também está vinculada à
revelação de quem Deus é. Ele é Pai, mas também é Sumo
Sacerdote. O que ele fez por você e quem ele é como Sumo
Sacerdote? O que fará e o que sente como Sumo Sacerdote?
Em Hebreus 6.19,20 lemos: “a qual temos por âncora da alma,
segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como
precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para
sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”.
O texto está dizendo que existe um caminho para o Santo dos
Santos (ou seja, a comunhão com Deus), e que Jesus foi o
precursor em abri-lo para nós. Preste atenção ao cenário: Jesus
está tomando o próprio sangue e apresentando-o no propiciatório,
diante do Pai; afinal a única forma de chegar a Deus é pelo
derramamento de sangue. E foi o que ele fez: abriu um caminho
com o próprio sangue derramado em favor daqueles que creem. A
justiça de Deus foi feita.
Deus está satisfeito com o sangue de seu Filho. Quando ele
olha para a sua vida, vê o sangue de seu Filho e diz: “Justo!” — não
porque você de fato seja justo, mas por causa da obra realizada
pelo sangue perfeito de Jesus. Logo, é uma declaração factual: você
é justo.
Quantas pessoas acham que, para orar, precisam fazer tudo
correto? Sim, você também precisa. Mas se sua confiança está nas
suas boas obras, eu lhe afirmo: você não confia no sangue. As
obras não nos aproximam de Deus; pelo contrário, é o sangue que
nos conduz a ele e, quando isso acontece, recebemos poder para
viver o Sermão do Monte e praticar boas obras. A Lei será cumprida
dentro de mim, pois estou perto daquele que a colocou em meu
coração e, como consequência disso, ele me dará poder para andar
em santidade — uma santidade alegre.
A Palavra diz que bem-aventurados são os puros de coração.
Ser bem-aventurado significa ser mais do que feliz. As pessoas
associam santidade com sofrimento, com pagar o preço. Santidade
significa ter prazer em Deus. Quando tenho prazer em Deus, não
tenho prazer no mundo. Quando sou fascinado por ele, o mundo
não me atrai.
O escritor C. S. Lewis fala que somos como crianças num
parquinho enchendo a boca de lama enquanto os pais querem
oferecer-nos sorvete. Nós nos contentamos com prazeres inferiores.
Quando entendermos que é o sangue que nos habilita a estar diante
dele, provaremos do “sorvete”, do prazer de sua presença. Isso é
santidade, isso é andar em pureza. Não é possível ser santo longe
dele. Não tente se esforçar para conseguir isso sozinho. Deus está
satisfeito com o sangue derramado.
Precisamos entender o que é a graça de Deus, pois ela não é
um cheque em branco para pecar, ela é poder para não pecar.
Graça não é só favor imerecido. Há um entendimento muito limitado
sobre o assunto. Existem expressões que pegamos e guardamos
como uma verdade infalível.
Deixe-me explicar, por meio de um exemplo, o que significa
graça: você chega à sua casa e encontra alguém que acabou de
assassinar o seu filho. Tente imaginar-se na situação. Ele está com
o sangue do seu filho nas mãos e, ao deparar-se com essa cena,
você pega uma escritura e uma chave, dá a ele e diz: “Assassino,
eis aqui uma casa própria em seu nome”. Resumindo, graça é
receber o melhor presente quando se merece o pior castigo.
Era assim que a igreja do primeiro século entendia a graça.
Por isso, os cristãos primitivos queriam correr o mundo inteiro
anunciando a cruz. Ninguém precisava exortá-los a evangelizar. A
graça é escandalosa, e o desejo deles era proclamá-la a todos que
encontrassem. Esse entendimento os aproximava mais de Deus.
Permita-me usar outro exemplo sobre a graça: imagine-se
chegando a um banco. Logo na entrada, o gerente o avista e
dispara: “Olá, como vai? Rapaz, vejo que você está no vermelho
aqui, não é? Está no cheque especial. Mas vamos fazer o seguinte:
vou perdoar sua dívida e, além disso, estou depositando hoje
mesmo, um milhão de dólares na sua conta”. Tentou imaginar a
cena? Sabe o nome disso? Graça. É o que Romanos 4 chama de
justiça imputada. Você tinha uma dívida e ela foi perdoada. Isso, por
si só, já é incrível. Mas, além de ter a dívida perdoada, Romanos 4
afirma que ele nos atribui justiça; a vida do próprio Cristo é
depositada dentro de nós.
O Sumo Sacerdote proporcionou um caminho por meio da
justificação para que você nunca mais saísse de perto dele e
andasse em santificação. Como vamos ser sacerdotes e ministrar
no altar se não temos entendimento da obra do sangue?
O sacerdócio de Melquisedeque não tem a ver com regras e
leis, mas com pão e vinho. É outra aliança que nos leva à
comunhão. Não se baseia em esforçar-se para cumprir princípios,
mas em relacionar-se com aquele que é maior do que o princípio.
Ele é a Palavra, a Vida, a Santidade. Está tudo nele.
O Salmo 110 foi um dos salmos mais misteriosos para mim até
pouco tempo atrás. O primeiro versículo diz: “Disse o Senhor ao
meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus
inimigos debaixo dos teus pés”.
Convido-o a viajar um pouco comigo nesse versículo. O que
está acontecendo é que Davi recebe uma revelação muito profunda.
Creio que algumas coisas que ele escrevia eram uma espécie de
“êxtase profético”; ele tinha visões abertas. Acredito inclusive que,
nesse momento, o rei Davi estava tendo uma visão do trono e, nele,
havia duas pessoas. “Disse YHWH a Adonai.” No português: “Disse
Jeová a Adonai: assenta-te comigo até que eu ponha os teus
inimigos debaixo dos teus pés”.
Certa vez, o profeta Natã afirmou que Davi teria um filho, o
qual, por sua vez, teria um reino eterno (2 Samuel 7.11-13). Davi vê
Jeová dizendo para Adonai sentar-se no trono e logo pensa: “Como
assim? Adonai é meu filho? Ele é o filho do homem? O meu filho vai
reinar para sempre?”. Imagino quanto o rei deve ter ficado confuso;
afinal viu Adonai como o filho do homem e como o Cristo. Ele está
dizendo que Cristo realiza o sacerdócio segundo Melquisedeque
sentado, pois já foi consumado, o sangue já foi derramado e a cruz
derrotou todos os principados e potestades. Nenhum sacerdote no
Velho Testamento ministrava sentado, mas o sacerdócio de Cristo é
assim, esperando que seus inimigos sejam colocados debaixo de
seus pés, que é a Igreja.
Em Efésios 1.20-22, Paulo ora para que a igreja tenha uma
revelação profética. Ele clama para que os olhos do coração da
igreja de Éfeso sejam abertos, a fim de que vejam a posição de
Cristo à destra do Pai, tenham uma visão do trono e daquele que
está reinando, Adonai, e também percebam que ele está acima de
todo tipo de influência maligna que se possa nomear. O Sumo
Sacerdote entrou no Santo dos Santos, derramou seu sangue,
cumpriu toda a sua obra, minou o poder de principados e potestades
e agora está descansando e esperando que a Igreja na Terra seja
seus pés por meio do sacerdócio. Quando os inimigos de Deus
serão esmagados? Quando a Igreja assumir sua posição sacerdotal.
Porque os sacerdotes da Terra, na verdade, não estão na Terra.
Lemos em Efésios 2.6 que não é só Cristo que está à destra
de Deus. O Senhor nos ressuscitou e nos assentou com Cristo nas
regiões celestiais. Isso significa que você não ora a partir da Terra,
você ora do céu para a Terra.
O sacerdócio de Melquisedeque está relacionado às regiões
celestiais, a assentar-se e governar com ele. Essa é a sua posição e
a sua identidade como sacerdote. Sua vida está acima de toda
potestade e influência. Pense no seu bairro, na sua escola, no seu
trabalho e em todos os poderes malignos que estão atuando nesses
lugares. As Escrituras dizem que Cristo o ressuscitou e o colocou
acima disso. De lá, puxamos o Céu para a Terra clamando: “Venha
o teu reino”. No entanto, não existe reino sem sacerdotes.
É preciso gastar tempo nas Escrituras estudando esse
assunto. Medite, leia, decore passagens relacionadas. Demanda
tempo, mas é necessário ter um contato objetivo com as Escrituras
e refletir sobre esse tema até que o conteúdo seja metabolizado e
traga vida, mudando até a sua maneira de interceder. E suas
orações começam a operar a partir da perspectiva de que você
também está assentado com ele, acima de toda influência, seja na
política, na sociedade ou onde for. É um chamado de parceria para
se unir ao coração dele e trazer essa realidade para cidades,
nações e onde você estiver.
Temos experimentado frutos incríveis por meio de pessoas
que estão compreendendo sua posição em Cristo e colocando-se
como intercessores. Já estamos vendo resultados físicos que
começaram a acontecer no ano de 2014, e gostaria de compartilhar
um pouco sobre isso a seguir.
Há um tempo, a nossa equipe do Liberdade Rio[i] se
posicionou para contender contra o tráfico de humanos e passou a
orar firmemente contra a exploração sexual infantil, o tráfico de
prostitutas e todo esse tipo de injustiça que tem acontecido na Terra.
No dia 1º de junho de 2014, 80 apartamentos, que eram usados
como casa de prostituição, foram interditados num bairro de Niterói
em plena Amaral Peixoto, no centro da cidade. Isso aconteceu
depois que começamos a orar.
No dia 3 de junho, suspeitos de exploração sexual na Vila
Mimosa, Rio de Janeiro (no mesmo lugar onde existe uma casa de
oração), foram presos. No local, foram acolhidas duas meninas de
17 anos que estavam se prostituindo. Uma delas era analfabeta. De
acordo com o delegado, elas disseram aos policiais que
trabalhavam ali para sustentar-se.
No dia 5 de junho, em Fortaleza, Ceará, o Ministério Público
fechou oito prostíbulos e prendeu dez pessoas, inclusive a ex-
secretária de justiça, que beneficiava os cafetões da região.
No dia 12 de junho, a polícia fechou um bar e um hotel por
prostituição infantil. Uma adolescente de 13 anos foi encontrada no
local.
No dia 18 de junho, 17 pessoas foram detidas e fecharam a
casa de prostituição conhecida como Casa das Primas.
Orar funciona. Essa é a sua posição de parceria: trazer o Céu
para a Terra. O tráfico de humanos, as leis a favor do aborto e todas
as outras desgraças e impiedades que estão acontecendo nesta
nação podem ser impedidas. Cidades inteiras podem ser salvas,
familiares podem ser resgatados do mundo das trevas. Mas é
preciso saber quem é Deus e quem é você.
O que nos fará permanecer nesse lugar de intercessão é a
revelação dos sentimentos de Deus e de quem ele é. Deus mudou a
minha vida assim.
A Bíblia diz que ele levantará pastores segundo o seu coração.
Essa expressão “segundo o coração” é mal traduzida em português.
O certo seria “segundo as emoções de Deus”. O Pai levantará
líderes que sentem o que ele sente. Eu pastoreava as pessoas
segundo o que sentia por elas: raiva. Talvez você seja bem santo e
nunca tenha sentido raiva de alguma ovelha. No meu caso, ficava
desapontado com o seu comportamento, por chegarem atrasadas e
se sentarem no fundo da igreja. Além disso, ficava irritado com a
falta de comprometimento e criava um sentimento pessoal contra
elas.
Um dia, o Senhor me disse: “Michael, celebre as pessoas”. Foi
a partir daí que comecei a, inclusive, autorizá-las a ficar em casa
assistindo à novela. Mas nunca ficaram. Todos começaram a ir para
o templo orar. Tirei o peso que carregava e comecei a ensinar-lhes a
Bíblia, o amor de Deus e o que ele sente por nós. Parei de cuidar
delas de acordo com o que sentia. Entendi que não devo tentar
consertar ninguém. Graças a Deus por isso!
O que herdei do discipulado me levava a tentar consertar as
pessoas, mas elas não são consertáveis, elas são transformadas
por Deus. Agora, eu as coloco diante do Aba e saio da frente. Se
fizermos isso como liderança, evitaremos muitos anos de
aconselhamento. Se as pessoas encontrarem as Escrituras,
passarem tempo com o Senhor e entenderem quem são, não mais
aconselharemos, apenas confirmaremos aquilo que Deus já está
falando com elas. Essa é a Nova Aliança. Ninguém ensina mais ao
próximo: “Conheça ao Senhor”.
Hoje, estou leve. Antes, falava dos problemas das pessoas o
dia inteiro; agora, quero celebrá-las, ensinar o que Deus sente por
elas. O movimento de oração contínuo não é sustentável sem isso.
As pessoas não vão orar porque estão sendo obrigadas.
Quando faltam à reunião, não fico mais chateado, continuo amando-
as do mesmo jeito e sendo amigo delas. Isso as constrange. Deus
levantará uma geração inteira de líderes conscientes do que ele
sente pelo mundo, pela dor do fraco. O que acontecia com a maioria
das pessoas que eu tratava mal é que elas estavam com tantos
problemas que não conseguiam ter uma vida de oração. Então,
coloquei o meu coração nas suas misérias. Isso se chama
misericórdia. Mas nem sempre foi assim.

3 – Somos Noiva Mesmo que a Igreja esteja na situação em que se


encontra hoje, o Senhor a vê como uma Noiva perfeita; sente
compaixão, tem o coração repleto de misericórdia por ela e a
enxerga como uma princesa. Deus não está olhando para a igreja
com condenação, mesmo no estado em que ela está. Isso é
fundamental para que entendamos e conheçamos esse Deus-
marido. Na verdade, a revelação disso é que posicionará o coração
da Igreja no lugar correto para expulsar os amantes e os amores
rivais.
Em Isaías 62.4,5, existe uma expressão chamada Hefzibá,
que significa “meu deleite” ou “minha delícia”. Essa declaração do
Senhor sobre Israel é muito poderosa, pois aconteceu num período
em que a nação estava completamente desviada. Eram dias em que
o povo honrava a Deus com os lábios, com tradições humanas, mas
o seu coração estava completamente longe dele. E é exatamente
nesse momento de desvio que o Deus Noivo faz a declaração:
“Você é minha delícia, eu me deleito em você”.
Pense no que você mais gosta de comer. Eu amo churrasco.
Gosto de fazer, de comer e até estudo qual o melhor jeito de cortar a
carne. Quando alguém encontra o seu prato predileto, qual a
sensação que isso lhe causa? Fica cheio de prazer. Se me permite,
ouso afirmar que o Senhor nos vê como pessoas cheias de
gostosura. A impressão que tenho é que o Aba vem e levanta o
rosto dessa Igreja que está sob condenação. Muitas vezes, ela se
comporta como uma prostituta que não se acha boa o suficiente
para o marido. Esse tipo de sentimento não produz a Noiva que ele
quer.
Em Jeremias 3.14, ele diz: “Voltem, ó filhos rebeldes, diz o
Senhor; porque eu sou o vosso esposo e vos tomarei, um de cada
cidade e dois de cada família, e vos levarei a Sião”. É o clamor de
um marido que está indo atrás de uma esposa cheia de amantes.
Em Oseias 2.14, lemos que Deus está atraindo essa Noiva para o
deserto. A expressão em hebraico é que, além de atraí-la ao
deserto, ele está cantando uma serenata de amor. Pense num Deus
romântico. Você gosta de filmes de romance? Eu amo. De uma
forma incompleta, filmes românticos traduzem o coração de Deus.
Note que ele está seduzindo a Igreja, reconquistando-a, e sabe que
a melhor forma é levá-la para o deserto. E o que tem lá? Nada;
“apenas” ele, se é que essa expressão “apenas” existe quando se
trata de Deus.
John Piper diz que Deus é mais glorificado quando temos
prazer nele, e é nisso que encontramos felicidade. Muitos pensam
que Deus é egocêntrico porque quer receber glória. Mas entenda
que é dando-lhe glória que nos sentimos felizes e completos. É o
que ele está tentando fazer com a Igreja: conquistar o seu coração.
Deus está numa batalha de épocas pelo amor dessa mulher e ele
terá êxito.
Vamos considerar alguns fatores. É impossível que a Igreja se
apaixone por uma determinação própria. Na verdade, ninguém pode
simplesmente se apaixonar por querer. Em algum momento da sua
vida, você já deve ter se apaixonado. Acaso lembra como foi? Você
não olha para uma pessoa e decide que vai pagar um preço e fazer
brotar amor de dentro do seu coração. Quem gera paixão em nós é
o outro.
Quando eu vi minha esposa Maíra pela primeira vez, o meu
coração foi estranhamente aquecido, e pensei: “Essa é a mulher
com quem quero me casar. Preciso conquistar sua atenção”. Ela
passou duas semanas me ignorando, mas algo mudou dentro de
mim. Não paguei preço algum para me apaixonar; eu apenas a vi. O
que a Igreja precisa para cumprir o primeiro mandamento não é
pagar o preço, mas ver o homem judeu de 33 anos que está
assentado no trono.
O problema é que não o vimos. Foi-nos apresentado um
pacote de sistemas e regras que compõem lei evangélica. Muitas
vezes, a Igreja se comporta como uma mulher que precisa se
embriagar com álcool para suportar o marido chato chamado
“religião”. Mas ele não é um tédio; pelo contrário, é fascinante e
intrigante. Ao mesmo tempo em que exige tudo de nós, ele também
come com pecadores. Enquanto diz para tomarmos nossa cruz, ele
coloca o coração nas nossas fraquezas. Isso é emocionante e
cativante. O que precisamos é de revelação de quem ele é, pois
isso irá gerar em nós um amor de todo o coração, com toda a alma
e com toda a força. O primeiro mandamento será cumprido antes do
retorno de Jesus. A Igreja terá um único amor. Esse poder de amar
não está em nós mesmos, está nele.
É por esse motivo que precisamos ser expostos às Escrituras,
estudar seus atributos, ler biografias e constantemente buscar
encontrar esse homem judeu de 33 anos chamado Jesus. Eu estou
me apaixonando novamente por ele, e meu coração está voltando a
queimar. Passei sete anos da minha vida criticando tudo e todos até
que comecei a vê-lo. Foi então que parei de criticar as pessoas e
voltei-me para ele. Desde então, o Senhor tem colocado amor pela
Igreja no meu coração, porque a Igreja é a sua Noiva. Esta é a hora
de os amigos do Noivo se levantarem, aqueles que vão cooperar
com ele, sentir o seu coração pela Noiva e lavá-la com uma
mensagem profética que atrai dizendo que ela é a delícia do Senhor.
Em João 17.24, pode-se ouvir o clamor de um Deus Noivo.
Jesus está orando ao Pai. E a oração do Deus Noivo é esta: “Pai, o
meu desejo é que aqueles que me deste estejam comigo onde eu
estiver, para que orem e desfrutem a minha glória”. Jesus tem um
desejo afetuoso que está expressando ao seu Pai. No texto original,
a palavra “glória” significa beleza moral. Ele está clamando ao Pai
que a sua Igreja esteja com ele. Todos os dias, achamos que o
desejo de fazer devocional é nosso, mas é ele que deseja fazer
devocional conosco. Jesus está focado em encontrar o nosso
coração a todo custo, e ele vai vencer.
Jesus explicou como ninguém o Deus Noivo do Velho
Testamento. Ele trouxe a definição exata e declarou que entregara a
vida na cruz para ter uma Noiva gloriosa e sem manchas. Isso lhe
custou tudo. A grande questão é que não existe motivação capaz de
nos levar a permanecer diante de Deus se não estudarmos os seus
sentimentos por nós.
2
O Estilo de Vida Dia e Noite

Existe um livro chamado “A Arte Perdida da Intercessão”, de autoria


do irmão James Goll.[ii] É um dos livros que mais me impactaram.
Ele conta sobre uma palavra profética que recebeu quando visitou o
cemitério dos morávios, na Tchecoslováquia. Ele subiu no mesmo
lugar onde ficava a torre de oração dos irmãos moravianos. Ao lá
chegar com uma equipe de intercessores, o Espírito Santo começou
a soprar palavras em seu coração e a fazer uma pergunta: “James,
podem esses ossos reviver? O Senhor pode levantar um movimento
de oração tão focado, sóbrio e poderoso como fiz com os irmãos
moravianos?”. James W. Goll recebeu essa palavra em 1993. Logo
em seguida, em diversos lugares do mundo, irrompeu um
movimento de pessoas dedicando-se à oração dia e noite.
Exatamente no ano de 1999, o irmão Mike Bickle, da cidade
de Kansas, iniciou uma sala de oração que não parou de funcionar
até hoje. Há mais de 15 anos, estão orando dia e noite. Existem
cerca de 1.500 jovens, incluindo músicos e intercessores,
ministrando em tempo integral. Independentemente do momento em
que você chegue ao lugar, seja às 3 da madrugada ou às 15 horas,
encontrará uma equipe orando.
O Espírito Santo está fazendo isso em toda a Terra. Já citamos
o exemplo da Indonésia, que talvez seja um dos países mais
muçulmanos do mundo. Lá, existem cerca de 40 casas de oração
com pessoas que oram 24 horas por dia.
Quando falo em oração, não me refiro apenas a reuniões de
oração feitas ocasionalmente como mais um elemento que compõe
a programação da igreja. O que quero dizer é que, antes do retorno
do Senhor, a igreja vai orar muito, tanto em termos de quantidade
(tempo), quanto em termos de qualidade. Essa é a nossa
identidade, e tudo o que fizermos fluirá a partir de quem nós somos.
O Pai tem falado sobre sermos sacerdotes. E o que percebo é
que nossa geração está muito preocupada com a vocação
secundária, deixando de lado sua identidade principal. Todos nós
somos chamados para o aposento da oração, para oferecer
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por meio de Cristo Jesus.
Precisamos posicionar-nos de acordo com o nome que o Senhor
nos deu.
Isaías 56.6,7 contém uma profecia sobre a restauração da
glória de Israel no reino milenar. Eu interpreto a Bíblia e as profecias
para Israel como literais, mas precisamos analisar alguns pontos
nessa palavra. O texto descreve um tempo em que Jesus, ao voltar,
estabelecerá o seu reino a partir de Sião. Para o monte de Sião, ele
levará judeus e gentios, e o centro governamental do Messias será
uma casa de oração. Você já parou para pensar nisso? A nossa
identidade no reino futuro está ligada a ser uma casa de oração no
Monte Sião. Outra passagem, em Amós 9.11-14, aponta para a
restauração do tabernáculo de Davi, que representa o governo do
Messias a partir de Sião, no contexto da segunda vinda de Jesus.
Isaías 16.5 diz que um rei se assentará no tabernáculo de Davi
e governará as nações da Terra com justiça. O tabernáculo de Davi
e a casa de oração são a sede de governo do Messias. Em outras
palavras, são a resposta da oração que o nosso Senhor nos
ensinou: “Venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra
como no céu”.
Os céus são governados por adoração e intercessão dia e
noite. Existem uma sala e um trono onde quatro seres viventes
estão oferecendo culto ao Senhor sem parar. Essa será a nossa
identidade no Milênio. Portanto, devemos assumi-la agora, enquanto
estamos do lado de cá da eternidade. Se realmente seremos uma
Casa de Oração no Milênio, significa que precisamos praticar muito
daquilo que faremos no reino vindouro.
Há muito tempo, tem-se falado sobre oração 24/7, que
significa orar 24 horas por dia, sete dias por semana. Mas isso é
apenas programação humana, não está na Bíblia. Embora Davi
tenha adotado esse sistema, não é um mandamento, mas
simplesmente uma forma de organizar a oração na prática. Mais
importante do que o termo 24/7 é a expressão "dia e noite". Ela
aparece na Bíblia de Gênesis a Apocalipse e, quase todas as vezes,
está relacionada ao sacerdócio.
Deus está levantando homens e mulheres que são “dia e
noite”. O que isso significa? Pessoas que são intensas, que não
apenas oram, mas que são elas mesmas a oração. Isso é um
chamado e está na Bíblia. Lucas fala sobre uma mulher chamada
Ana (Lc 2.36-38), que não saía do templo, com oração e jejum dia e
noite. Essa mulher perdeu o marido quando era ainda muito jovem e
passou a vida em oração.
O chamado de Ana não é para pessoas que oram de 15
minutos a uma hora. É um chamado para aqueles que são
consumidos pela oração. Deus está levantando muitos com esse
dom.
O movimento de oração precisa ser sustentado por pessoas
intensas. Existem alguns textos que falam sobre isso: Levítico 6.12;
8.33-35; Isaías 62.6-7; Lucas 2.36-37; Apocalipse 4.8.
A oração pode mudar tudo, pode sacudir cidades inteiras,
mudar situações familiares e casamentos. Por isso, ele está
convocando jovens, crianças, adolescentes, adultos e aposentados
dia e noite, pessoas que vão dedicar a vida à oração.
Alguns rejeitam essa ideia alegando que não faz parte do
Novo Testamento. Paulo aborda esse assunto em várias cartas,
principalmente em 1 Tessalonicenses 3.10,11, na qual afirma estar
em oração dia e noite para conseguir suprir as necessidades
daquela comunidade. Em outra passagem, na mesma carta, ele
convida a igreja a participar dessa prática, dizendo: “orai sem
cessar” (1 Ts 5.17).
Sempre que eu lia esse versículo, pensava que Deus queria
que eu ficasse orando sozinho sem parar. Contudo, observe que
essa carta foi endereçada à igreja da cidade de Tessalônica. Assim
sendo, se chegasse uma carta à sua comunidade cristã de um
apóstolo pedindo que vocês orassem sem cessar, não importa como
fariam isso acontecer: se por uma torre de oração, um relógio de
oração ou qualquer outra estratégia. O importante seria que um
grupo de pessoas estivesse em oração o tempo todo. O que Paulo
estava dizendo àquela comunidade é que se engajassem no
ministério da intercessão.
Gostaria de contar um sonho que uma irmã de Toronto teve e
que me tocou profundamente. Acredito que o Senhor quer conduzir-
nos a um processo de intensidade precedido pela intimidade. À
medida que nos envolvemos com a simples devoção a Cristo, nosso
coração vai sendo inflamado. A intensidade gerada pela intimidade
produz também sofrimento, pois vamos participar das dores do
coração de Cristo.
O sonho foi assim:
"Um dia, enquanto orava, o Senhor começou a abrir meus
olhos para um encontro espiritual. Eu me vi sendo levada para
o Céu e, diante de mim, pude ver uma enorme casa com
muitos quartos. Percebi, rapidamente, que aquela era a Casa
do Pai. Senti seu amor por mim me atraindo. Foi então que
comecei a correr para entrar na casa. Quando entrei, o Senhor
foi-me mostrando vários quartos, todos cheios de significado
espiritual.
Silenciosamente, convidou-me para entrar com ele no cômodo
mais lindo de toda a casa. Era o quarto da intimidade. O
ambiente era belo, extravagante. Quando entrei, fiquei
maravilhada com tanto amor e quis ficar ali para sempre. Em
espírito, podia ouvir outras pessoas, outros cristãos que
estavam em diferentes cômodos da casa.
Alguns estavam estudando na biblioteca, buscando
conhecimento, outros estavam bebendo vinho novo na adega
espiritual. Fiquei um pouco surpresa por todos não estarem no
quarto da intimidade, já que era o lugar mais interessante e
mais formoso de toda a casa. Enquanto admirava a câmara da
intimidade, notei uma portinha no chão bem ao lado da cama.
Pareceu-me algo muito estranho, pois não era sofisticada e
não combinava com o resto do quarto.
Perguntei ao Senhor por que a porta estava ali, e ele me disse
que era uma passagem para outro cômodo da casa. Quis
saber por que a porta estava tão próxima da parte mais
encantadora do quarto, que é a cama. Ele explicou: ‘Ela fica aí,
porque passo a maior parte do tempo lá em baixo’. Fiquei
muito curiosa e perguntei: ‘O que tem lá em baixo, Senhor?’.
Ele me informou então que o cômodo se chamava "o quarto do
choro".
Apesar de parecer o tipo de lugar onde eu não gostaria de
ficar, havia um clamor no meu coração, dizendo: Se é lá que
ele passa a maior parte do tempo, é lá que eu quero estar.
Pedi para descer com ele, ao que respondeu: ‘Poucos
escolhem ir para o quarto do choro. Esse cômodo não é bonito,
é solitário; não é muito confortável e você precisa se abaixar
muito para passar pela porta’.
Eu disse que não me importava com as condições para chegar
até lá; só queria estar onde ele estivesse. Em seguida, abrimos
a portinha e começamos a descer, lentamente, até chegar
àquele pequeno quarto. Precisei me ajoelhar, pois a porta era
muito pequena. Quando entramos, a decoração era muito
simples, só tinha uma pequena cadeira de madeira, e uma das
janelas dava para fora. O Senhor sentou-se na cadeira e
começou a olhar. Logo, pude perceber por que o cômodo se
chamava quarto do choro.
Olhando pela janela, era possível ver e ouvir o clamor da Terra.
Dava para ver todos os atos de injustiça ao mesmo tempo,
cada criança com fome, cada pedido por alimento, mulheres
sendo estupradas e o gemido dos rejeitados. Eu podia ouvir as
orações, os clamores ao mesmo tempo. O Senhor sentava-se
em sua cadeira e via e ouvia a dor que subia da Terra.
De uma vez, fui tomada pela dor da intercessão e comecei a
chorar. Chorei durante horas pelos que estavam feridos. Mas
mais que isso, eu estava desconsertada com esse Deus que
escolhia prestar atenção ao que estava quebrado. Ele estava
cheio de compaixão pelo ferido. Durante o tempo em que fiquei
sentada com o Senhor chorando, comecei a compreender o
seu coração, e a minha ambição egoísta começou a
desaparecer.
Enquanto estava ali, notei que havia outra porta ao lado do
quarto do choro. Perguntei: ‘O que fica naquele quarto,
Senhor?’. Ele me contou que era o quarto da estratégia. Ao
falar essas palavras, logo senti em meu espírito que lá era o
cômodo onde estava disponível a estratégia divina para o
derramamento do Espírito dos últimos dias. Apesar de a porta
estar fechada, pude reconhecer que a sabedoria e a revelação
estavam dentro daquele quarto. Portas celestiais foram abertas
para vermos o cumprimento do seu reino vindo à Terra. Era
como se aquele fosse o quarto escondido que todo homem
procura.
Todos querem ter estratégias divinas. Imediatamente, indaguei
se poderia ir àquele cômodo, e o Senhor respondeu, de forma
muito sóbria, que eu não conseguiria passar pela porta.
Entendi, então, que precisava gastar mais tempo no quarto do
choro, pois à medida que compreendesse o coração de Deus
pelos pobres e quebrados, minha natureza almática seria
despida, permitindo que eu me tornasse pequena o suficiente
para passar por aquela porta. O quarto da estratégia só
poderia ser acessado por pessoas quebrantadas e humildes.
Naquele momento, tudo ficou claro: a única maneira de
acessar a estratégia divina seria a partir de um local de
intimidade. Deus nos convida a um nível mais profundo, nos
convoca ao quarto do choro, um local onde escolhemos ver o
que ele vê, sentir o que ele sente e, conforme passamos tempo
conhecendo o seu coração, vamos despindo-nos das coisas da
nossa carne e nos tornamos pequenos o bastante para passar
pela porta que nos leva à estratégia.
Creio que, entrando pelo quarto da estratégia, seremos
constrangidos e movidos pelo que vimos e sentimos no quarto
do choro. Tenho a impressão de que alguns entraram no
quarto da estratégia antes de nós, mas, infelizmente, a maioria
rapidamente se esqueceu do propósito da estratégia e a usou
para construir seu próprio reino.”
A intimidade nos leva ao lugar do choro. Porém, nunca
podemos abandonar a intimidade e o choro, pois essa é a única
forma de permanecermos de pé quando recebermos a estratégia de
Deus para os últimos dias.

Por que adorar dia e noite?

1 – O zelo pela dignidade de Cristo.


O nome de Jesus é blasfemado em toda a Terra todos os dias.
O zelo pela dignidade de Cristo será o nosso zelo.

2 – Para advogar pela causa do Reino.


Existem duas atividades que acontecem o tempo todo diante
do trono de Deus. A primeira é a adoração. A segunda é a
acusação. Satanás nos acusa diante de Deus e acusa Deus diante
de nós. Os intercessores funcionam como defensores, por meio do
Grande Advogado, Jesus.

Três premissas que vão incentivar a nossa posição diante de


Deus em oração: 1 – Revelação da beleza de Deus.
Apocalipse 4.3-8 diz:
E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à
pedra de jaspe e de sardônica; e o arco celeste estava ao
redor do trono e era semelhante à esmeralda. E ao redor do
trono havia vinte e quatro tronos; e vi assentados sobre os
tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e
tinham sobre a cabeça coroas de ouro. E do trono saíam
relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam sete
lâmpadas de fogo, as quais são os sete Espíritos de Deus. E
havia diante do trono um como mar de vidro, semelhante ao
cristal, quatro animais cheios de olhos por diante e por detrás.
E o primeiro animal era semelhante a um leão; e o segundo
animal, semelhante a um bezerro; e tinha o terceiro animal o
rosto como de homem; e o quarto animal era semelhante a
uma águia voando. E os quatro animais tinham, cada um,
respectivamente, seis asas e, ao redor e por dentro, estavam
cheios de olhos; e não descansavam nem de dia nem de noite,
dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-
Poderoso, aquele que era, e que é, e que há de vir.
Esses versículos descrevem o maior show da beleza de Deus
de todo o universo. Existe um ser sentado no trono, que tem a
aparência de uma pedra preciosa. Sobre a sua cabeça, existe um
arco como uma esmeralda, e, desse lugar, saem relâmpagos, vozes
e trovões. Há um grande mar de cristal e anciãos colocando suas
coroas diante dele. Ali, estão também quatro criaturas viventes, que
são cheias de olhos e dizem apenas uma coisa: “Santo”.
“Santo” não é só o contrário de impuro. Quando algum objeto
era santificado no templo, ele se tornava fora do comum, era um
item separado, não de algo, mas para algo. O nosso Deus não é
como outros deuses. Os judeus traduzem a palavra “santo” como
beleza transcendente.
As criaturas viventes descritas no texto acima são cheias de
olhos. É sobre isso que Davi fala em Salmo 27.4: “Uma coisa pedi
ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na tua casa para olhar
a tua formosura”. Não sei como Davi descobriu esse cenário de
Apocalipse, mas é muito parecido. Em outras palavras, o que os
quatro seres estão fazendo por toda a eternidade é proclamar:
“Admirável Deus, que beleza transcendente! Não nos cansamos de
dizer”.
Isaías foi tomado pelo mesmo sentimento. É um senso de
fascínio que faz com que permaneçamos diante daquele que nos
encanta. A revelação da beleza de Deus nos liberta do tédio
espiritual. Pense na emoção que você sente quando vai a um
grande monte, ou quando vê um quadro bem pintado e não se
cansa de contemplá-lo, ou até mesmo quando assiste a um filme.
As empresas de entretenimento sabem desse desejo que está
dentro do nosso coração: o anseio pelo que é belo. Elas gastam
milhões em produções cinematográficas porque, de alguma forma,
descobriram nossa vontade de ficarmos deslumbrados. Essa beleza
divina será plenamente revelada no Milênio, mas é possível ter
acesso a ela hoje. Contemple o Deus belo e seja tomado pela santa
fascinação por ele.

2 – Fome de justiça
Justiça significa transformar situações erradas em certas. Em
2013, a fome de justiça tomou conta do nosso país. Milhares de
pessoas foram às ruas protestar, não apenas pelo aumento de 20
centavos na taxa de transporte público, mas porque estavam
saturadas de ver tanta corrupção e depravação tomando conta do
Brasil.
A fome de justiça vai alcançar o povo de Deus, e pequenas
atitudes de oração produzirão grandes mudanças por causa dessa
angústia interior. A Terra está marcada pela dor. As nações estão
sendo sacudidas por causa do pecado e da injustiça do homem. As
estatísticas são de apavorar: uma dentre sete pessoas sofre sob o
peso da escassez e desnutrição. Hoje, a fome mata mais do que a
Aids, a tuberculose e a malária juntas. Fome não é ficar doze horas
sem comer; é passar uma semana comendo terra e arroz. Essa é
uma realidade que acontece logo ali, no Piauí. Catorze por cento da
população vai dormir hoje sem fazer nem sequer uma refeição
básica de arroz e feijão. Sabe qual o nome disso? Injustiça. Cinco
milhões de crianças morrem de fome por ano.
Na África, 50 milhões de crianças ficam órfãs todo ano. Isso é
equivalente a juntar a Alemanha e a Inglaterra e remover todos os
pais e mães.
A fome de que ele venha e faça justiça na Terra irá nos motivar
a permanecer diante de sua presença. Toda a justiça de Deus será
feita na volta do Senhor, mas é um erro não começar a implantá-la
hoje. Precisamos viver o máximo do “ainda não” agora. Muitas
vezes, somos fatalistas afirmando que tudo será feito quando o
Messias vier reinar. Porém, o Reino já está aqui. É claro que, no
Milênio, sob o reinado de Jesus, haverá plenitude, mas precisamos
ferir a Terra com a justiça do Reino nos nossos dias. Nossas
orações devem ser nesse sentido.

3 – Segunda vinda de Cristo Pouco antes da volta do Senhor, a


igreja estará cheia dessa expectativa de oração pela segunda vinda.
Apocalipse 5.1 diz: “E vi na destra do que estava assentado sobre o
trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos”.
Acredito que esse livro selado com sete selos seja o livro de
escritura da Terra que o Pai quer dar por herança ao Cordeiro. No
decorrer da passagem, percebemos que João começa a chorar
dizendo que não há ninguém digno de governar a Terra, de fazer
uma reforma social, de estabelecer uma nova ordem; ninguém que
tenha direito a essa Terra. De repente, ele é consolado: “Não
chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu
para abrir o livro e os seus sete selos” (Ap. 5.5).
O movimento de oração vai desatar os sete selos e liberar as
sete trombetas e as sete taças. Em Apocalipse 5.8, lemos: “e,
quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro
anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma
harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos
santos”. Aqui, podemos concluir que há harpa no Céu e taças que
estão sendo cheias de incenso e, que quando essas taças
começarem a ser cheias, o Senhor liberará seus juízos sobre a
Terra e iniciará o processo da segunda vinda de Jesus. O trecho de
2 Pedro 3.12 diz que nós podemos apressar a vinda do Senhor. Não
sabemos o dia nem a hora, mas podemos fazer com que seja mais
breve. Isso está conectado ao movimento de adoração dos últimos
dias.
Existe um livro chamado “Nove Divisões da Bíblia”, de John
Walker,[iii] que fala sobre sete cenas de adoração no livro de
Apocalipse. Ele diz que, para cada cena de adoração, existe uma
manifestação da justiça e do juízo de Deus na Terra. Creio que os
selos sejam juízos contra o sistema do mundo, que as trombetas
sejam juízos contra o sistema do anticristo e as taças, juízos contra
o próprio anticristo e a Babilônia. E quem vai liberar esse movimento
é a Igreja. A Igreja vai desatar os juízos de Deus e apressar a
segunda vinda do nosso Senhor por meio da adoração e da
intercessão.
Precisamos entender que nossa atuação é diante do trono de
Deus; não há mais barreiras. Davi conseguiu reproduzir isso na
Terra de certa forma. Ele constituiu um sistema de adoração muito
ousado. Existia um modelo pré-estabelecido de átrio, santo lugar e o
santo dos santos separado por um véu. De repente, ele colocou
uma tenda sem véu e vários sacerdotes ao redor do trono,
oferecendo incenso 24 horas por dia.
A arca não representava apenas a presença de Deus, mas
todo o seu trono, pois ele está assentado entre os querubins.
Apocalipse 8.3 diz que diante do trono também existe um altar de
ouro, que é a adoração, mas não há mais véu. Muitos afirmam que
não enxergam a Igreja em Apocalipse. Contudo, é muito claro ver o
movimento sacerdotal da Igreja no livro das Revelações,
provocando uma reação da Terra para o Céu.
Posso imaginar Jesus ao lado do Pai intercedendo assim: “Pai,
envia-me à Terra, eu quero casar. Vamos, está na hora!”. E a Igreja
o provoca dizendo: “Vem, vem. Maranata, vem!”. Os Céus e a Terra
vão se tornar um só, pois essa é a vontade de Deus. Mas é
necessário que sejamos consumidos por esse desejo até que ele
volte.

Uma coisa é necessária


Existem muitos recursos motivacionais para encorajar as
pessoas a permanecer diante do Senhor. Eu mesmo já usei vários
deles. O primeiro, e mais comum, é o medo do juízo e do inferno.
Diversas vezes, preguei sobre isso visando a incentivá-las a
aproximar-se de Deus. É um método que tem alguma base bíblica;
porém, pela minha experiência e por onde tenho passado, não tem
sido o mais eficaz.
Outro recurso que adotei muitas vezes foi o medo de ficar de
fora do avivamento. Em minhas pregações, dizia que, se as pessoas
não pagassem um preço, não fizessem um voto de aliança e não
jejuassem, o avivamento viria e elas não participariam dessa unção,
perderiam o poder de Deus e a sua visitação. O fato, porém, é que
as pessoas vão ao altar para fazer votos e alianças, mas, no dia
seguinte, é como se aquela promessa se tornasse uma força
contrária.
Você vai à igreja, compromete-se a gastar mais tempo em
oração, faz voto de santidade, e parece que, quanto mais faz isso
no domingo à noite, com mais peso as tentações do mundo o
esmagam na segunda-feira. E então, ao deparar-se com suas
fraquezas e pecados, você não consegue continuar acreditando que
o Pai o ama. Sabe por que Davi era um homem segundo o coração
de Deus? Certamente não foi por cumprir a Lei com perfeição. Na
verdade, quando construiu o tabernáculo e estabeleceu a ordem de
adoração contínua, ele quebrou quase todos os mandamentos. Mas
Davi era um erudito nas emoções de Deus e alcançou aquilo que
era superior às regras: a comunhão. Saul cometeu erros bem
menores e foi rejeitado, mas Davi achou o coração de Deus.
A maior motivação para permanecermos diante do trono e da
presença de Deus é estudar seus sentimentos. Isso não vem rápido
nem acontece da noite para o dia, mas existe um princípio para que
isso ocorra: a meditação. Vamos promover um avivamento da
contemplação. Salmo 27.4 era a chave de Davi: “UMA COISA peço
ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor
todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e
meditar no seu templo”.
Davi declarou que estava buscando UMA COISA. Ele era um
rei e, como tal, tinha muitas atividades e problemas para resolver.
Mas ele tinha um foco, uma coisa, que era contemplar a formosura
de Deus e meditar no seu templo.
Convido você a empenhar-se e gastar horas e horas
estudando as Escrituras. Uma sugestão é selecionar todos os
versículos que retratam o que Deus sente por você: seu amor, sua
alegria, a misericórdia e a graça. Então, dedique tempo, de forma
objetiva, tentando encontrar esse judeu de 33 anos na sua Bíblia.
Busque descobrir o Homem por trás da letra. Era isso que Davi
fazia: ficava com os olhos espirituais atentos em quem Deus é,
estudava sua beleza e seus sentimentos. Isso é contemplação. Isso
é escolher a melhor parte.
Na Bíblia, existem três pessoas que buscaram essa “uma
coisa”. A primeira, como vimos, foi Davi. A segunda foi Maria. Em
Lucas 10.42, Jesus afirma que ela escolheu a boa parte. Quando
honramos quem ele é, meditamos no Logos, sua Palavra escrita,
com profundo anseio por vê-lo, e alcançamos essa “uma coisa”. Isso
leva tempo. Ao longo de dois anos seguidos, tenho orado os
versículos de João 17.24-27. Eu os leio e peço a revelação do Pai
sobre esse Homem. Dois anos orando e, um dia, isso se tornou real
dentro de mim.
O seu papel é escolher a boa parte. Estamos sob muita
pressão e sujeitos a um espírito tirano que dita o ritmo das nossas
atividades com base na urgência. A consequência é que temos
abandonado esse lugar de intimidade, pois não há abertura em
nossa agenda para algo que demande tempo e seja processual.
Em 1 Timóteo 4.7, Paulo diz: “Exercita-te na piedade”. A
expressão “exercita-te”, no grego, significa “treine pequenos
espaços para correr uma grande corrida”. O que Paulo está
ensinando é que não adianta tentar correr a maratona de São
Silvestre se mal conseguimos caminhar. Ele está encorajando a
igreja a praticar pequenos percursos. Comece devagar, mas
comece. Mesmo que seja durante 30 minutos estudando as
Escrituras. Como podemos correr a carreira se não estamos sequer
nos exercitando?
A palavra “piedade” é eusebeia, que significa “fidelidade, andar
de acordo com o que se crê”. Se você crê que a oração tem o poder
de mudar, treine um pouco por dia. Falo isso por experiência
própria, pois ela mudou e continua mudando a minha vida.
Eu não tinha condição alguma de ser o que sou hoje ou de ter
a família que tenho, muito menos de contar com os amigos que
estão ao meu lado e com tudo o que o Senhor tem me dado. Eu não
tinha nada. Toda a minha história é de dependência química e
envolvimento com criminalidade. Não havia nada a que pudesse me
apegar. Alguém me ensinou que orar em línguas uma hora por dia
funcionava, e foi o que eu fiz. Além disso, devorei todos os livros
sobre oração. Decidi orar, porque entendi que Deus era o único em
quem eu poderia me agarrar. Não precisei ir para um centro de
recuperação, nem fazer libertação ou cura interior. A oração nos
transforma. Deus está levantando intercessores, mas não é um
movimento de intercessão de qualquer jeito. É algo constante,
regular, contínuo e sustentável.
A terceira pessoa que buscava essa “uma coisa” foi Paulo. Ele
escreveu uma carta aos filipenses no final da sua carreira e disse
ainda não ter alcançado aquilo para o qual havia sido chamado. Se
Paulo, no fim de sua vida, depois de ter feito tudo o que fez, falou
isso, será que não estamos desistindo rápido demais da corrida?
Ele anuncia: “Uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que
ficaram para trás, avanço para as que estão diante de mim” (Fp
3.13).
O apóstolo se desfez, não apenas das coisas ruins, mas
também das boas. Ele possuía um vasto currículo de conquistas e
realizações: toda a sua intelectualidade, o seu ensino, a sua
bagagem teológica, a sua oratória, com quem estudou e o que
produziu, até mesmo antes da sua conversão. Ele se dispôs a
deixar tudo isso para trás, pois o que estava adiante dele era bem
maior. Paulo almejava alcançar essa “uma coisa”, encontrar aquele
que o achara e participar da comunhão dos sofrimentos do seu
Amado. Ele queria sofrer o que Jesus sofreu.
Estava obstinado a ganhar uma coroa. Seu intuito era chegar
ao final e conquistar uma melhor ressurreição. Em outras palavras,
ele queria reinar com Cristo no Milênio e ser premiado, galardoado
por isso. Essa é uma ambição linda.
Há muito sobre a ressurreição que desconhecemos. Essa falta
de conhecimento nos leva a viver sem perspectiva de um futuro com
Cristo. Quando Paulo afirma que prossegue em busca de um
prêmio, ele está se referindo a uma melhor ressurreição, algo pelo
qual os cristãos vão passar. Essa ressurreição está ligada à posição
que ocuparemos no Milênio. Isso mesmo: o reino do Messias é um
reino físico, e assumiremos lugares neste reino. Se não
compreendermos essa realidade, perderemos a noção de
hierarquia. O nosso nível de santificação determina quem seremos
no Milênio.
O Senhor disse aos sacerdotes em Deuteronômio 10.9: “Eu
sou a sua herança”. Ele é nosso prêmio, e era isso que Paulo
estava querendo. Enquanto tivermos fôlego de vida, deveremos ter
fome dessa “uma coisa”. Quero terminar a vida com a minha Bíblia
bem velhinha e ainda assim amando o Senhor e meditando todos os
dias em sua Palavra.
3
Batalha Espiritual Centrada em Deus

Normalmente, quando ouvimos o termo "intercessão", logo o


associamos a brigar com o diabo. Neste capítulo, falaremos sobre
batalha espiritual segundo a perspectiva de Paulo.
Não acredito ser possível haver um movimento de oração
sustentável e contínuo sem uma assimilação abrangente do carinho
e da paternidade de Deus por nós. É imprescindível que a igreja
disponha seu coração a compreender esse atributo de Deus e,
assim, torne-se uma igreja que caminha em parceria com ele.
Frequentemente, oramos para Deus nos usar. Entramos no
lugar secreto e depois queremos sair e produzir algo a fim de
impressionar a ele e às pessoas. Deus, ao contrário, quer encontrar-
se conosco para nos apreciar. Ele não quer trabalhadores, mas
amantes. Não conseguiremos permanecer no lugar de oração se a
nossa visão for a de um Deus que está sempre nos criticando e nos
rejeitando de "cara feia". Por isso, foram enfatizados até aqui o amor
do Pai e a maneira como sua paternidade está relacionada ao
sacerdócio, a fim de criar um fundamento para uma intercessão
alegre, duradoura e leve que vai mudar o mundo.
No capítulo 6 de Efésios, Paulo começa a descrever a batalha
que é travada entre a Igreja e os principados e potestades. O verso
12 diz: “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim
contra os principados e potestades, contra os dominadores deste
mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões
celestes”.
Em Efésios 1.18, Paulo faz uma oração. Vale ressaltar que a
maior parte de suas orações é pela Igreja. Ele era um conhecedor
extraordinário do plano eterno de Deus. Sendo assim, sabia que,
para que seu plano fosse cumprido na Terra, a Igreja precisaria ter
uma profunda revelação sobre isso: Iluminados os olhos do vosso
coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento,
qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a
suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo
a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo,
ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sent.ar à sua direita
nos lugares celestiais (Efésios 1.18-20) No trecho acima, Paulo ora
para que a Igreja tenha os olhos espirituais abertos e consiga
discernir o que aconteceu com Cristo e qual a posição que
conquistou, que é acima de todo principado, potestade e autoridade.
Satanás não é rival de Deus, mas da Igreja. Ele é nosso conservo e
só pode atuar se o Senhor o autorizar. Não existe luta entre Deus e
o diabo. Ele poderia aniquilá-lo neste momento, mas não o faz,
porque quer esmagar a cabeça da serpente por intermédio da sua
Noiva. É por isso que Paulo gastou seu vasto vocabulário para
explicar qual é a posição da Igreja.
Primeiro, ele se dedica a esclarecer a posição de Cristo. Há
algum tempo, no Rio de Janeiro, saiu uma matéria no jornal sobre
uma denominação evangélica que estava entrando na justiça para
decidir quem seria o padroeiro da Pavuna: se determinada entidade
ou Cristo. Isso demonstra a falta de entendimento da Igreja quanto
ao lugar de autoridade que o nosso Senhor assumiu quando foi
ressuscitado. Paulo, então, ora com fervor para que seja derramado
o espírito de sabedoria, um espírito profético que abra os olhos da
Igreja para ver que Cristo está acima de toda maldade. Ele está
acima da pedofilia, da pobreza, da dependência química, de toda
escravidão moral, da destruição da família e de toda atuação e
influência maligna. Mas quem consegue acreditar nisso?
Penso que a nossa mente funciona da seguinte forma: cremos
que Deus pode fazer tudo, mas não cremos que ele fará tudo de
fato. Acreditamos que tem poder para curar o doente, mas não
sabemos se o curará. Deus pode transformar regiões inteiras, mas
não estamos certos de que agirá assim. Paulo ora para que vejamos
justamente essa parte que nos falta.
No capítulo 2 de Efésios, o apóstolo afirma que essa posição
não é apenas de Cristo: “e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e
nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6).
Nós estamos assentados com ele no trono, e nossas orações
partem do Céu para a Terra. Paulo está testificando que Cristo está
acima de toda influência maligna que atua nas nossas cidades e
que a Igreja está com ele. Na prática, cremos na mente, mas não no
coração, o que nos leva a duvidar de que ele vá fazer algo.
Sabe por que não há avivamento? Porque você consegue
viver os próximos anos sem ele. O problema é que, para nós, não
faz mais tanta diferença se Deus está nos visitando ou não. É por
esse motivo que o apóstolo Paulo se desespera, para que a Igreja
veja que está numa posição de autoridade, na qual pode fazer com
que as coisas mudem. Ele não está ignorando a oposição que existe
nas regiões celestiais, mas orando para que a Igreja entenda que
essa resistência maligna não significa absolutamente nada
comparada à nossa posição em Cristo.
Se a Igreja dos últimos dias deseja cumprir a Grande
Comissão e implantar a justiça de Deus na Terra, precisa ser liberta
dessa mentalidade passiva e pessimista de que tudo vai acabar mal
e de que só conseguiremos solucionar os problemas da Terra
quando Cristo voltar. Além de passiva e pessimista, essa visão é
também antibíblica. É óbvio que existem aspectos que só serão
resolvidos na segunda vinda, no reino milenar. Porém, não existe
base na Palavra para sermos fatalistas e convivermos perfeitamente
bem com a desordem e a confusão atual do mundo. E,
normalmente, colocamos a culpa do fatalismo na própria teologia.
Muitas vezes, fui tomado por um pensamento de engano sobre
o que Deus queria fazer em determinada região, e a desculpa que
eu usava era o fato de que o reino de Deus já veio e ainda não.
Essa é uma teologia saudável e bíblica, mas que, quando
interpretada de forma errada, pode ser desastrosa. O reino já veio,
porque Jesus morreu na cruz, ressuscitou dentre os mortos, está
reinando e derrotou os principados e potestades. Logo, toda a
influência do reino está liberada. Contudo, este reino também não
veio ainda, porque só virá plenamente quando o Messias estiver
reinando na Terra fisicamente. Baseando-me nisso, sempre que me
deparava com a destruição, o pecado e o cativeiro na minha cidade,
eu os colocava na conta do "ainda não", alegando que seriam
resolvidos apenas quando Cristo voltasse. Isso não é bíblico.
Precisamos viver o máximo do "ainda não" hoje e puxar o poder do
mundo vindouro para os nossos dias.
Antes do retorno de Jesus, algumas cidades inteiras serão
transformadas pelo poder do Evangelho e outras serão julgadas
pela ira de Deus. Todas essas coisas acontecerão pelo poder da
Igreja que ora. Teremos condições de ligar e desligar, de autorizar e
desautorizar o poder de Deus, concordando com ele, em parceria
com o seu coração.
Gostaria muito que você despertasse para a realidade de que
uma pessoa dentro do quarto com os joelhos dobrados é mais
influente do que o presidente dos Estados Unidos. Uma senhora de
80 anos ajoelhada aos pés da cama tem mais recursos que o líder
do G-20, pois está em contato com o Rei de todas as nações, o
Governador do Universo, aquele que comprou a Terra com seu
sangue. Ele tem o direito legal a essa terra, pois a reconquistou e
está nos chamando para entrar em parceria com essa autoridade e
mudar situações. Eu creio nisso com todo o coração. Mais de 15
prostíbulos foram fechados no Rio de Janeiro quando começamos a
orar contra o tráfico humano sem nunca termos visitado esses
lugares.
Sinto que estamos prestes a viver uma visitação rompimento
muito grande do Espírito Santo na Igreja, no mundo e nas nações.
Meu coração está cheio de esperança. Esperança é diferente de
expectativa, que é um sentimento humano e pode ser frustrado.
Conforme manifestamos o poder do reino que já veio,
discipulando as nações, preparamos o caminho para o reino que
ainda não veio e para a segunda vinda de Jesus. Existe uma
medida de poder de Deus liberada e disponível agora que pode ser
acessada por meio da oração.
Em Lucas 11.1,2, os discípulos pedem que Jesus os ensine a
orar, assim como João ensinou a seus discípulos. Qual é o contexto
desse momento? Eles haviam observado qual era o efeito produzido
pelo ministério de João e de seus seguidores, e perceberam que
cerca de dez cidades inteiras estavam arrependendo-se, e que o
reino de Deus estava se manifestando.
Se existe uma oração que precisa ser feita hoje, essa oração
é: “Ensina-nos a orar, Senhor, para que o teu reino se manifeste”.
Esse reino não é teoria, mas demonstração de poder. Era isso o que
Paulo dizia em suma: “Minha pregação não é apenas blá-blá-blá,
mas é poder de Deus”.
Não sei por que tememos o poder de Deus. Talvez, esse medo
seja consequência de traumas do século passado. Nestes dias,
porém, o Espírito Santo não vai derramar poder apenas sobre um
homem, como vimos anteriormente. Hoje, o poder de Deus quer
irromper sobre todo o Corpo de Cristo. Joel fala sobre o profético de
todos os santos; servos, servas, crianças, filhos, filhas, pais, velhos,
todos entrando embaixo de um espírito profético. Isso significa que,
quando um adolescente for ao shopping comer hambúrguer e
encontrar um paralítico por ali, irá puxá-lo da cadeira de rodas, curá-
lo em nome de Jesus e sair quietinho, sem avisar a ninguém. Ele
não irá receber glória por aquilo. Cenas como essa já estão
acontecendo em muitos lugares.
Em nossa congregação, temos uma sala de oração liderada
somente por crianças. É espantoso o que o Senhor está fazendo por
intermédio delas. Meninos e meninas de 8, 9 anos têm recebido
espírito de profecia, palavra de conhecimento assertiva e feito
oração pelos enfermos. É muito mais simples para as crianças. Nós
as ensinamos: “Orem pelos enfermos assim e assim”. Elas seguem
às instruções, oram e a pessoa é curada, sem complicação alguma.
O Espírito Santo está sendo derramado sim neste exato
momento. Há avanços no reino de Deus sendo conquistados e, se
você se conectar, irá perceber que nem tudo vai mal. É tremendo
fazer parte disso.
Os discípulos pediram: “Ensina-nos a orar”. Jesus começou a
ensiná-los, orando. A primeira palavra que saiu de sua boca foi
“Pai”. Pois a paternidade de Deus diz respeito à nossa identidade, a
quem somos, e está ligada à intimidade.
Logo em seguida, ele disse: “Santificado seja o teu nome”. À
medida que entendemos quem Deus é, mudamos o nosso
formalismo religioso e entramos em admiração. A palavra
“santificado” significa “não há outro como ele”. Somos tomados por
um senso de assombro, pois como pode um Deus que não precisa
de nada ser o meu pai? Ele é santo. A paternidade gera o serviço de
adoração, mas de forma íntima. O formalismo é quebrado.
Você já reparou como algumas pessoas oram? Elas
confundem formalismo com reverência: “Senhor Deus de Abraão,
Isaque e Jacó, adentrar-me-ei em vossa presença”. Acham que usar
o português culto as torna espirituais. Quando você vai pedir algo
para o seu pai terreno, é dessa maneira que se dirige a ele? Jesus
veio revelar o Aba, e isso nos deixa estarrecidos. Afinal, o Pai de
Jesus é o nosso Pai! Prosseguimos, então, à próxima frase da
oração de Jesus, a intercessão: “Venha o teu reino”.
Na nossa base missionária, estamos ganhando espaço,
combatendo o tráfico humano de joelhos. Trazer o reino significa
que o governo do Senhor começa a manifestar-se produzindo
justiça e fazendo com que o que está errado fique certo. Você não
gostaria de viver isso na sua região?
Por que abandonamos a oração? Por que soa estranho
quando falamos em ter pessoas orando em tempo integral? Meu
lema ministerial é: “Para tudo é ora”. Deus fará algo que ainda não
vimos, algo inédito, e eu abençoo seu coração para ter esperança
nisso.
Deus está levantando uma Casa de Oração que enfrenta o
mundo, que não fica apenas adorando e contemplando, mas
combate o tráfico humano, as falsas ideologias nas universidades e
tantos outros tipos de pecados. Existem, hoje, mais de 30
universidades com sala de oração em várias regiões do país.
Lugares que foram colocados nas mãos de Satanás e de suas
mentiras estão sendo retomados pela Igreja.
Em nossa comunidade cristã, temos uma menina de 13 anos
que implantou uma sala de oração na sua escola de ensino
fundamental. Na primeira semana, apareceram duas pessoas. Duas
semanas depois, havia 20 adolescentes orando ali. A professora
chorava ouvindo o testemunho. Eram jovens que estavam à toa e
começaram a ser convocados pelo Espírito Santo para contender e
atacar filosofias humanistas, a corrupção e tudo que se levanta
contra o conhecimento de Deus.
Em Mateus 16, existe um segredo poderoso. Jesus estava em
Cesareia de Felipe e, naquele lugar, Pedro teve a revelação de que
ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo. O Messias respondeu:
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá
sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado
nos céus (Mateus 16.19).
O Senhor estava dando uma chave para a Igreja ligar e
desligar mediante a revelação da beleza de quem ele é. Jesus
estava usando uma linguagem militar, uma linguagem de
agressividade, não de passividade. É comum lermos esse versículo
e interpretarmos que as portas do inferno vão correr atrás de nós.
Mas são as portas do inferno que não prevalecerão contra a Igreja.
Portas não andam; elas não virão correndo atrás de nós. Ou seja,
nós é que as derrubaremos, e, juntamente com elas, cairão as
influências do inferno. Portas remetem não somente a acesso, mas
também a governo. Os juízes se assentavam às portas para decidir
o destino das cidades.
A cidade em que Jesus se encontrava nesse momento,
Cesareia de Felipe, nos tempos bíblicos, era um dos principais
locais de adoração a Baal, onde, além de prestarem culto a ele,
tinham relações sexuais com os sacerdotes. Por isso, Jesus
escolheu aquele lugar para dizer que a revelação de quem ele é
derrubaria as portas do inferno.
Na entrada dessa cidade, havia uma gruta cheia de ídolos.
Nos dias de Herodes, as pessoas adoravam um deus chamado Pan,
que era metade homem e metade bode. Dizia-se que ali Pan
reinava com suas ninfas, e era cultuado pela imoralidade sexual.
Caso não saiba, a prostituição é um culto ao diabo, e aquele local
era conhecido como o “Portão do inferno”. Os judeus não o
frequentavam, pois acreditavam que aquela era uma porta de
influência de Satanás. E foi precisamente lá que Jesus anunciou
que sua Igreja triunfaria quando descobrisse quem ele é. Por isso,
enfatizo que a intimidade precede a intercessão. Quem é Jesus para
você? O povo que conhecer esse Deus irá derrubar as influências
dos lugares mais terríveis de toda a Terra.
No centro da Vila Mimosa, existem cinco mil prostitutas nuas
nas portas dos bares. Porém, a Luz está brilhando ali e isso é
inédito. Deus está acordando o seu povo, e é por essa razão que
você está lendo este livro.
Jesus usa a linguagem de um exército invadindo e derrubando
potestades, libertando cidades inteiras que estão sofrendo,
dominadas pela imoralidade. Esse é o nosso chamado. Não
podemos nos acomodar sob um "espírito de férias", defendendo a
ideia de que está tudo bem, de que o pecado é assim mesmo, que
Satanás é um chato e que as pessoas é que preferem ficar sem
Jesus, jogando, assim, a culpa nelas, que não querem nada com
Deus. E nós, o que queremos? Ser um crente bonitinho de domingo
à noite ou alguém que vai mudar a História?
O apóstolo Paulo não se conformava com as situações que
presenciava. Em Romanos 15.30, ele começa a descrever o quanto
valorizava a oração corporativa na Igreja: “E rogo-vos, irmãos, por
nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais
comigo nas vossas orações por mim a Deus”. Você consegue ouvir
o seu clamor? Paulo estava implorando para que a igreja de Roma
se juntasse a ele num coliseu, num octógono. O apóstolo usa até
um termo que remete ao ambiente de luta de gladiadores. Ele se
apoiava na autoridade e na importância que Jesus dá à oração. É
por causa dessa importância e também do amor ágape, que essa
expressão é usada nesse contexto. O amor ágape do Espírito é a
motivação principal para nos unirmos em oração.
Conforme o Senhor tem explicado e ensinado esses
princípios, tenho sido cheio de amor pela igreja. Há cinco anos, eu
era o maior crítico da igreja como se estivesse fora dela. Mas tudo
isso tem mudado por causa da perspectiva que Paulo trouxe à tona
sobre a oração corporativa. O apóstolo tinha uma visão sobre o
avanço da Igreja e do reino de Deus mediante a oração coletiva. Ele
dependia da oração dos irmãos de verdade. Sua linguagem era de
extrema urgência, apelando à autoridade e ao amor de Jesus.
Existia uma luta sendo travada naquele exato momento, e seu
clamor era para que a igreja romana não ficasse passiva com uma
mentalidade de derrota e fracasso.
No versículo 31, ele começa a falar sobre a causa dessa luta:
“Para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judeia, e que
este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos”.
Paulo acreditava que 90% do seu sucesso ministerial
dependia de uma igreja inteira orando. Não sei se era uma
perseguição política ou religiosa, mas, basicamente, o fato é que
existia um impedimento para que ele ministrasse com qualidade
diante da igreja de Jerusalém.
Lemos em 1 Tessalonicenses 2.17,18: “Nós, no entanto,
amados irmãos, privados momentaneamente da vossa companhia
pessoal, mas não distante do vosso coração, trabalhamos
incessantemente com o objetivo de ir ver a vossa face. Eu, Paulo,
quis vos saudar face a face, não somente uma vez, mas duas;
porém, Satanás nos provocou impedimentos”.
A história aqui é interessante. Paulo havia visitado essa cidade
havia cinco anos. Juntamente com sua equipe, fundou uma igreja
em Tessalônica, mas, por causa da perseguição, ele e Silas não
puderam permanecer ali o tempo devido; apenas três semanas. O
costume era que ficassem um período bem maior nas igrejas que
implantavam, gerando discípulos. Mas a oposição e a opressão de
Satanás os impeliram a partir rapidamente.
Era como se aquela igreja tivesse ficado órfã, sem o subsídio
necessário. Paulo orou e pediu aos tessalonicenses que se unissem
a ele no clamor para que os impedimentos do inimigo fossem
removidos, e que ele pudesse visitá-los a fim de ministrar o que
precisava ser derramado. O apóstolo segue exortando os irmãos:
“Suplicando continuamente, dia e noite, com máximo empenho, para
vos ver pessoalmente e reparar as deficiências da vossa fé” (1 Ts 3.
10).
Aquela igreja ainda era imatura. Existiam empecilhos para que
Paulo e sua equipe chegassem ali. Por isso, ele os convocou a orar
dia e noite. Paulo acreditava com todo o coração que a oração
corporativa, incessante e regular derrubaria as influências satânicas.
Outro ponto forte em sua teologia é que ele cria que regiões
inteiras poderiam ser transformadas pela oração da Igreja. O
apóstolo tinha o entendimento de que a liberação do poder de Deus
dependia da prioridade que a Igreja dava à oração. Vejamos: Antes
de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações,
intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens, em
favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade,
para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e
respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o
qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno
conhecimento da verdade (1 Timóteo 2.1-4).
Paulo usa a expressão “antes de tudo”. Isso significa antes de
aconselhamento, de evangelismo, de missões, colocando a oração
em primeiro lugar.
Ele utiliza uma linguagem chamada intercessão
governamental. Por exemplo, quando um amigo o encontra para
conversar, o resultado é uma conversa informal. Mas se você se
reunir com o governador do Estado, a conversa será governamental.
É isso o que acontece quando entramos na presença do Rei do
Universo, pois estamos falando com o Governador das Nações.
Paulo apela para que isso se torne prioritário. Ele suplica para que
sejam feitas orações pelos reis e autoridades a fim de que tenham
uma vida tranquila e pacífica. Sua instrução é que a Igreja ore para
que os governantes produzam leis que não impeçam a pregação do
Evangelho e o avanço do reino de Deus.
É interessante a visão que os apóstolos tinham sobre
intercessão. Eles consideravam que os governos físicos eram
regidos por governos espirituais, ou seja, um governante era
influenciado por anjos ou por demônios. As expressões usadas em
Efésios 6 para se referir às autoridades espirituais são as mesmas
empregadas para reis e governadores físicos. Eles acreditavam que,
nas regiões celestiais, os principados influenciavam a mentalidade
da política, e essa mentalidade gerava uma cultura que afetava a
sociedade.
Trazendo esse conceito para os dias de hoje, analise se não é
assim mesmo. As políticas públicas estão formando a opinião geral
no que diz respeito, por exemplo, ao aborto e ao casamento com
pessoas do mesmo sexo, e estão manipulando a sociedade inteira
por meio da mídia. Essa mudança de valores e padrões não ocorre
por acaso, de maneira neutra e natural, nem é simplesmente porque
um prefeito decidiu pensar daquele jeito. Existem principados e
potestades, governos espirituais atuando e controlando a nossa
política e as autoridades da nossa nação.
Os apóstolos criam que o mundo espiritual regia o mundo
físico, gerando leis justas ou injustas, dependendo de quem
estivesse influenciando aquela região. Vamos estudar alguns
exemplos bíblicos. Em Daniel 9.3, lemos: “Então voltei o meu rosto
ao Eterno Elohim, a fim de buscá-lo mediante orações e súplicas,
em jejum, vestido de luto, em panos de saco, e coberto de cinza”.
Daniel está orando uma profecia. Muito melhor do que recebê-
la é poder orar uma profecia. Daniel toma o que foi profetizado por
Jeremias, de que o cativeiro duraria determinado período de tempo,
e se posiciona no lugar de intercessão. Nos versos 23 e 25, chega a
revelação, e uma movimentação angelical acontece. O anjo Gabriel
lhe dá uma visão e diz que, desde o primeiro momento em que
Daniel entrou em oração, uma batalha começou a ser travada nas
regiões celestiais, pois o principado da Pérsia estava impedindo que
ele recebesse aquela revelação. Note que ele estava orando para
que Israel saísse do cativeiro. Quem dominava Israel nesse
período? O rei da Pérsia. E o nome do principado que estava
retendo a resposta da oração de Daniel era príncipe da Pérsia.
No trecho de Daniel 10.12,13, podemos acompanhar o conflito
causado por esse principado: Então, me disse: Não temas, Daniel,
porque, desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a
compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as
tuas palavras; e, por causa das tuas palavras, é que eu vim. Mas o
príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém
Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive
vitória sobre os reis da Pérsia.
Já em Esdras 1.1-3, a oração de Daniel faz com que Deus
libere os anjos, que, por sua vez, começam a ministrar ao rei da
Pérsia, que autoriza o povo a sair do cativeiro: No primeiro ano de
Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor, por
boca de Jeremias, despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da
Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também
por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus
dos céus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe
edificar uma casa em Jerusalém de Judá (Esdras 1.1-3).
Existe hoje, nos Estados Unidos, um ministério que combate o
aborto. São mais de cem jovens que vão à Suprema Corte com uma
fita vermelha na boca escrito “Vida”. É um protesto e, ao mesmo
tempo, uma intercessão contra o aborto. O resultado é que centenas
de clínicas estão fechando, e juízes que eram favoráveis a essa
prática estão mudando sua concepção sobre essa lei. A oração
movimenta o reino espiritual, que começa a tocar os reis da Terra,
levando-os para produzir leis justas. Esse é o motivo pelo qual
Paulo pede que se façam súplicas por reis e autoridades (1 Tm 2.1-
4). É claro que haverá o tempo da perseguição, mas devemos
aproveitar a nossa liberdade para avançar.
Sempre pensei que, se tudo fosse resolvido na volta de Jesus,
para que orar então? Talvez não mudemos tudo. Mas devemos nos
incomodar com o fato de não mudarmos nada.
Há outro exemplo em Atos 12. No decorrer do capítulo, lemos
a respeito do assassinato de Tiago e que Pedro estava na prisão.
As Escrituras dizem que a Igreja orava continuamente por Pedro até
que um anjo foi enviado, soltou o apóstolo da cadeia e matou o rei
Herodes. Ou seja, o anjo removeu quem estava impedindo o avanço
do Evangelho. A Igreja não orou para que o rei fosse morto, mas
para que Pedro fosse libertado. Nós podemos mudar as leis da
nossa nação!
Temos liberdade de nos reunir em qualquer lugar e devemos
orar para que os governadores proporcionem leis justas a fim de
que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, mas também a fim de
que tenhamos piedade e dignidade. Nossa sociedade está
impregnada de uma imoralidade hiperssexualizada, autenticada pelo
governo.
Um exemplo que ilustra esse quadro é que, no período que
antecedeu a Copa de 2014, o governo financiou curso de idiomas
para prostitutas. Iniciativas como essas não vão promover a
piedade, mas a promiscuidade.
Uma vida de dignidade, no original, significa uma vida
respeitável. Existem leis que denigrem a humanidade como é o caso
da lei do aborto, que fere a dignidade de um ser humano indefeso.
Outro exemplo é que existem hoje nas universidades vários
professores favoráveis à legalização da pedofilia. Na Alemanha, o
assunto já é bem discutido. Existem cartilhas de sexualidade para
crianças e há rumores a respeito de se reduzir a idade mínima para
a relação sexual consensual. Isto é, se isso acontecer, um adulto
poderá tocar uma criança de 12 anos sem que isso seja
considerado crime. É abominável e existem pedagogos que
defendem esse pensamento.
Lutar contra principados e potestades é muito mais complexo,
pois não é um demônio que se manifesta no corpo de alguém, mas
se trata de algo que gera uma cultura maligna na sociedade. Há
alguns anos, as pessoas não falavam sobre assuntos que, hoje em
dia, são discutidos de forma natural. As novelas cooperaram muito
para gerar uma mentalidade de tolerância e aceitação.
Quando conversamos com as adolescentes, elas contam que,
nas escolas, as meninas estão “ficando” com outras meninas para
“experimentar” a sensação — e isso acontece, muitas vezes, com o
apoio dos professores. Nós estamos entrando no tempo mais
escuro da história da humanidade. Na Alemanha, estão tentando
legalizar relações sexuais com animais. São leis assinadas por
governantes, e não podemos nos conformar com isso. Não, essa
situação não vai ficar assim, pois a Igreja vai se levantar para
contender.

Ponto importante na intercessão


Nenhuma oração do Novo Testamento, principalmente as dos
apóstolos, é dirigida aos demônios. Paulo orava ao Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo. Suas orações são batalhas espirituais
centradas em Deus. O foco é sempre o Pai: para que ele faça
justiça, derrame avivamento, restaure a Igreja e mude a condição da
sociedade. O apóstolo não direcionava suas orações aos
principados, mesmo sabendo que havia uma luta; o seu assunto era
com o Pai.
É claro que, no caso de possessão física, expulsa-se o
demônio em nome de Jesus. Todavia, no que diz respeito à batalha
espiritual, a oração de Paulo não cita demônios. Ele orava ao Pai
para que vencesse a luta.
Um conceito que talvez seja novo para muitas pessoas é que
intercessão significa concordar com as promessas de Deus. Ele
prometeu derramar avivamento; então oramos concordando.
Prometeu derramar justiça; logo, oramos por isso. Ele prometeu que
traria leis justas se orássemos pelos governadores; então devemos
seguir nessa direção. O nome disso é batalha espiritual: oramos ao
Pai, e ele põe o "bicho" para correr. Esse era o conceito de Paulo
sobre intercessão.
O apóstolo passava a maior parte do seu tempo orando pela
igreja, pelo fortalecimento do povo, para que as portas fossem
abertas para a pregação do Evangelho (Ef 3.16).
Essa é uma linguagem saudável de oração. Não é
simplesmente focar nos demônios. De certo, o Espírito Santo pode
nos direcionar, em determinado momento, a repreender algum
espírito maligno. Mas o que quero enfatizar é que, teologicamente,
isso não acontecia com tanta frequência.
Romanos 16 diz que devemos ser inocentes para o mal. O
sentido dessa expressão é que não podemos ficar fascinados por
aquilo que o diabo faz. Você já viu alguém deslumbrado com o
poder do diabo, que vive falando do que ele é capaz? Conheço
alguns amigos que tomavam soco do vento após ler o livro de certa
autora, cujas literaturas são voltadas para assuntos de batalha
espiritual. Eles ficaram encantados com as trevas.
Fascine-se com o seu Pai, fique maravilhado com o tamanho
de sua grandeza, ore para que ele expulse a escuridão. Não
precisamos nos deslumbrar com a obra de Satanás. Não significa
que vamos subestimá-lo, mas não devemos supervalorizá-lo nem
nos concentrar nele, pois seria um desperdício de tempo.

DICAS PRÁTICAS PARA UMA INTERCESSÃO COLETIVA


- Ensine as pessoas a orar orações, não a pregar orações ou
mandar recados.
Costumamos pregar orações o tempo todo. Algo como:
“Senhor, a tua Palavra diz...”. Queremos pregar para Deus o que ele
mesmo disse como se tivesse esquecido. Mas, pior ainda, é quando
queremos mandar um recado para outro irmão por meio da oração.
O irmão não o visitou, e então você ora na igreja: “Senhor, enche o
coração dos nossos irmãos de amor, para que façam visitas aos
outros”.
O que é orar uma oração? Pedir a Deus. Uma das frases mais
usadas nesse caso é: “Pai, eu te peço”. Você não está pregando,
está pedindo. Intercessão é fazer petição por outros, e o mais
recomendado é que vá direto ao assunto.

- Evite orações muito longas na congregação.


Normalmente, quando ouvimos orações muito longas, nossa
mente tem a tendência de divagar. Certamente, existem exceções.
Evan Roberts, por exemplo, orava cerca de uma hora e o ambiente
era transformado. Mas são casos isolados. Uma oração mais curta
costuma manter melhor o foco e o grupo mais unido.
Não estou querendo dizer que Deus não use orações longas.
Pode haver um momento e um ambiente adequados para que
ocorram. Estou apenas constatando que é algo que o Senhor vai
mudar.

- Não faça devocional na oração coletiva.


Nos momentos de oração em grupo, coloque suas frases no
plural, envolva seus irmãos. A oração coletiva é uma arte a ser
desenvolvida, e o seu sucesso depende de prestarmos atenção ao
que o outro está orando, a fim de que haja concordância, e ao que
está sendo direcionado pelos irmãos.

- Ore por aquilo que o Espírito colocou no seu coração. Não


precisa abranger todos os assuntos; seja específico.
Orar por algo que esteja queimando em seu espírito traz peso
e profundidade às suas palavras, ainda que numa oração rápida e
sucinta. Tentar abranger muitos tópicos torna a oração tediosa e
superficial, parecida com uma lista de exigências e demandas.
Objetividade é muito importante numa reunião de oração
intercessória. Quanto mais específicos formos, mais resultados
alcançaremos em nossas orações.

- Quando alguém levantar a voz para orar, não faça orações


paralelas.
Concorde com a oração de seus irmãos. Entenda o que está
sendo pedido e manifeste, de tempos em tempos e em voz alta, o
seu apoio. A concordância é vital para o sucesso da oração coletiva
e, para concordar, é preciso ouvir o que os outros estão orando.

- É muito importante incrementar a oração com música, pois


torna o ambiente agradável e sustentável.
Criou-se um paradigma de que intercessão é uma coisa e
adoração é outra, sendo que, na verdade, elas se completam.
Adoração é concordar com quem Deus é: ele é santo, ele é digno.
Quando concordo com quem ele é, estou adorando. Quando
concordo com o que ele prometeu, estou intercedendo. Das duas
formas, ele é adorado. Quando oro por suas promessas, seja
cantando, seja falando, estou afirmando o seu caráter fidedigno;
isso é louvor.
Batalha espiritual centrada em Deus é a forma bíblica de
permanecermos inabaláveis contendendo por justiça e combatendo
as obras das trevas. As orações bíblicas nos dão o apoio para nos
focar em Deus enquanto nos dedicamos a liberar o seu poder sobre
as investidas do inimigo.
4
Movimento de Oração dos Últimos Dias

E aos filhos dos estrangeiros que se chegarem ao Senhor,


para o servirem e para amarem o nome do Senhor, sendo
deste modo servos seus, todos os que guardarem o sábado,
não o profanando, e os que abraçarem o meu concerto,
também os levarei ao meu santo monte e os festejarei na
minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus
sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa
será chamada Casa de Oração para todos os povos. (Isaías
56.6,7) Mais adiante, no Novo Testamento, Jesus repete essa
profecia de Isaías. É muito importante darmos atenção quando
o Senhor Jesus repete uma profecia do Velho Testamento, pois
significa que está querendo comunicar algo de extrema
urgência. Ele não chama a casa de Deus de casa de
evangelismo, ou de justiça social, nem mesmo de missões,
mas de Casa de Oração. Todas essas atividades fazem parte
da vida da igreja. Porém, a identidade que Jesus quer
reafirmar para nós como o seu povo nestes últimos dias é que
somos uma casa de oração — não apenas porque temos
oração, mas porque somos formados a partir da oração.
Essa palavra tem soprado no mundo inteiro. O Espírito Santo
está orquestrando, em todas as nações da Terra, um grande
movimento de oração que enfatiza a oração dia e noite para a volta
de Jesus.

Características ligadas ao movimento de oração 1 - A glória de


Deus
Existe um culto de adoração na sala do trono. Em Apocalipse
4, João descreve uma visão de como a adoração está acontecendo
naquele ambiente do trono. Lá, existem quatro criaturas que são
chamadas de seres viventes. Eles estão ao redor do trono, são
cheios de olhos e declaram uma única coisa durante toda a
eternidade: “Santo, Santo, Santo!” (Ap 4.8). O que chama a atenção
é que esses quatro seres não estão adorando porque foram curados
de uma enfermidade, porque foram salvos, porque tiveram seus
pecados perdoados ou mesmo porque Deus irá derramar um
avivamento. Estão adorando por causa da dignidade da glória
divina. A. W. Tozer diz que a adoração é uma resposta que o
homem dá à revelação de quem Deus é. Os quatro seres estão
contemplando a beleza de Deus.
A palavra “santo” seria traduzida melhor como “beleza
transcendente de Deus”, pois santo não é apenas o contrário de
impuro, mas também “aquilo que é fora do comum”. Não há outro
como ele. De alguma forma, Davi teve a mesma visão, pois colocou
os sacerdotes ao redor do trono contemplando o resplendor de
Deus 24 horas por dia. Davi viu o trono e enxergou os seres cheios
de olhos que não paravam contemplar aquela formosura — um
Deus que parece uma pedra preciosa!
O Senhor o comprou para vê-lo funcionando como um
sacerdote que honra a sua dignidade. Não é uma adoração
produzida a partir de emoções e arrepios, mas simplesmente porque
ele merece e quer ser adorado na Terra como é no céu.

2 - Justiça
A justiça está totalmente interligada à intercessão. Lucas 18.7
afirma que Deus fará justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam
dia e noite. Esse versículo é direcionado aos sacerdotes, aos
escolhidos, ao povo eleito. A palavra justiça, nesse contexto, quer
dizer retidão ou posição correta. Justiça não é igualdade; justiça é
fazer o que é correto. Deus vem com seu trono e conserta o que
está errado: a pobreza, a miséria, a dor e a enfermidade. Justiça
não é apenas juízo. Existe o lado positivo também quando, por
exemplo, oramos, e ele julga a pedofilia. Ele diz que vai fazer justiça
rápida.
Em Lucas 18.8, está escrito: “Quando vier o Filho do Homem,
achará, porventura, fé na terra?”. Não penso que essa seja uma
pergunta negativa, pois ele encontrará fé na Terra, achará um povo
orando dia e noite antes da sua volta. A Terra está sendo sacudida
pela injustiça.
No Camboja, existem pais que almejam que as esposas deem
à luz filhas meninas, para que possam vendê-las. O nome disso é
injustiça! O papel da Igreja é reunir-se ao redor do Senhor clamando
pela justiça rápida que ele prometeu. Injustiça social não pode ser
combatida com cesta básica, pois é uma consequência direta do
pecado e um ataque do diabo. É claro que precisamos nos
mobilizar, fazer coisas práticas que revelem o caráter justo de Deus.
Mas devemos combater a injustiça nas regiões celestiais com
intercessão.
Justiça também está ligada a avivamento e derramamento do
Espírito. Existem milhares de pessoas, neste momento, envolvendo-
se com o movimento de justiça social desassociado do poder de
Deus. Isso é um equívoco que beira ao humanismo. Não vamos
melhorar as pessoas; elas precisam ter o coração transformado.
Temos de ir e tocar os pobres, as prostitutas sim. Porém,
precisamos ganhá-los de joelhos.

3 – Preparação dos precursores A sala de oração é como uma


fornalha onde os precursores são forjados e treinados para ser os
mensageiros dos últimos dias. A palavra profética de Malaquias se
encerra com 400 anos de silêncio. Em Lucas 1, o cenário é o
seguinte: Zacarias estava cumprindo um turno de oração no templo.
Havia uma grande fome e expectativa pela palavra do Senhor.
Quatrocentos anos haviam-se passado, e Deus não falava mais na
Terra. Esse homem estava dedicando-se ao seu turno de forma
disciplinada quando, de repente, a Palavra de Deus veio falando
sobre João Batista. Os precursores serão formados num ambiente
de oração regular, focada e sóbria. É dali que virá a palavra que
restaurará a Igreja.

4 – A batalha espiritual será centrada em Deus Nós não


ficaremos brigando com o diabo, mas nos voltaremos ao Pai, para
que ele resolva o problema com o diabo. Se olhar nas Escrituras as
orações de Paulo, verá que ele nunca se dirige a Satanás. Paulo ora
ao Pai e ao Filho Jesus, pedindo que o Pai faça aquilo que deve ser
feito.
Outro paradigma é a passagem de Daniel 10. Deus revelou ao
profeta que estava acontecendo uma grande batalha espiritual
descrita nos versos 12 e 13, em que um anjo estava indo levar-lhe
uma revelação e, no meio do caminho, foi impedido por uma
espécie de principado.
O que Daniel fez? Começou a repreender o diabo e a fazer
mapeamento espiritual? O verso 2 afirma que, naqueles dias, Daniel
chorou por três semanas inteiras. O verso 12 diz que ele se dedicou
e aplicou o coração a compreender e a humilhar-se diante de Deus.
Ele não gastou um minuto de sua oração amarrando o diabo,
pois estava focado em conhecer a Deus e, ao concentrar toda a sua
atenção nele, a Bíblia diz que os céus liberaram um anjo forte,
Miguel, que prendeu aquele estava obstruindo o caminho da
revelação. Se continuar lendo o capítulo, você perceberá que,
quando o principado foi derrotado, Daniel começou a receber
revelações profundas a respeito de como seriam os últimos dias.

5 – Cumprimento da Grande Comissão Precisamos mudar,


urgentemente, o conceito errôneo de que orar não é algo prático.
Orar é trabalhar em parceria com Deus. A Igreja é chamada para
assumir sua identidade de Casa de Oração para todas as raças (Is
56.6,7). O testemunho das Escrituras e da história da igreja mostra
que todo avanço missionário e de evangelização foi fruto da entrega
em oração fervorosa e apaixonada.
Podemos citar aqui o exemplo da igreja primitiva: “Todos estes
perseveravam unânimes em oração” (At 1.14). O início da tão
admirada igreja de Atos foi pela oração unida e perseverante. A
palavra “unânime”, em grego, é homothumadon, que significa unidos
no mesmo zelo. Jesus saiu de cena fisicamente sem deixar
nenhuma instrução de como deveria ser a igreja. Aos discípulos, só
restava orar, pois não sabiam o que fazer. Jesus havia dito que
ficassem em Jerusalém aguardando a descida do Espírito Santo (Lc
24.49). Eles obedeceram e se reuniram num único zelo. Isso
significou orar “até que” acontecesse algo.
Se eu tivesse o poder de mobilizar todas as igrejas do Brasil, e
se pudesse estabelecer uma ordem para elas, seria: “Parem tudo e
orem!”; apenas isso.
A atitude que eles tiveram em Atos 1.14 promoveu a
conversão de três mil almas. Qual foi a última vez que você viu uma
comunidade nascer com três mil pessoas? A oração coletiva
direcionada, contínua e desesperada tornou isso possível.
Tanto o derramar do Espírito como a conversão de três mil
almas foram frutos práticos da reunião de intercessão no aposento
superior. Atos 2.42 diz que eles perseveravam nas orações. A
devoção dedicada e constante é parte da vida normal da igreja que
deseja avançar de forma poderosa no cumprimento da Grande
Comissão.
Em Atos 4, os discípulos começam a ser perseguidos. Logo
em seguida, mais uma vez, unem-se em oração fervorosa, pedindo
ousadia e coragem para continuar pregando o Evangelho com poder
e feitos extraordinários (At 4.24-31). O movimento de oração de
Atos 4 gera o avanço missionário de Atos 8, quando os samaritanos
recebem o Evangelho com demonstração de poder por intermédio
do evangelista Felipe.
Em Atos 10, temos o exemplo do irmão Cornélio. Sabia que
você só está aqui por causa dele? Eu nomeei esse acontecimento
de “a primeira casa de oração italiana da Bíblia”. Cornélio estava
colocando em prática o Sermão do Monte: doando, orando e
jejuando. O versículo 4 diz que essa sua atitude sobe como um
memorial. Uma coisa é Deus marcar sua memória; outra é você
marcar a memória de Deus. As orações de Cornélio afetaram
gerações inteiras e abriram a porta da salvação para os gentios.
Nós estamos aqui hoje porque alguém orou. Orações tocam a
eternidade, tocam gerações futuras. Você e eu somos frutos da
oração dos santos do passado que nem sequer conhecemos.
Avançando mais um pouco, chegamos a Atos 13.1: “Havia na
igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, simeão, por
sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o
tetrarca, e Saulo”. Esses profetas e mestres estavam oferecendo a
Deus oração e jejum. Isso impulsionou as viagens de Paulo e
Barnabé. Desde então, começou um avanço missionário sem
precedentes: cidades inteiras foram sacudidas pelo poder do
Espírito, igrejas foram plantadas e pessoas, discipuladas. Tudo teve
início nesse lugar de ministrar ao Senhor.
Já em Atos 15, Tiago tomou a palavra e explicou o que estava
acontecendo. Os gentios estavam convertendo-se em massa sendo
que, até então, acreditava-se que essa fé era apenas para os judeus
ou para aqueles que cumprissem a Lei de Moisés e fossem
circuncidados. Era um fenômeno totalmente novo.
Lendo a Bíblia, a conversão dos gentios parece algo comum e
corriqueiro, mas imagine na cabeça dos primeiros apóstolos judeus,
dos sacerdotes fariseus que se tinham convertido. Os gregos
estavam unindo-se à mesma fé e servindo ao mesmo Deus. Tudo
parecia uma bagunça. Foi nesse contexto que Tiago se pronunciou:
Depois que eles terminaram, falou Tiago, dizendo: Irmãos, atentai
nas minhas palavras: expôs Simão como Deus, primeiramente
visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu
nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está
escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo
caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para
que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os
gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o
Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos (Atos 15.13-
18).
Ele usou a profecia de Amós, dizendo que as missões e o
alcance das almas eram fruto do ministério sacerdotal de
Melquisedeque. Davi era rei e sacerdote, e o tabernáculo de Davi
era a melhor figura para descrever o papel de Melquisedeque no
Velho Testamento. Naquele momento, esse era o cenário, pois a
igreja era sacerdotal e estava ministrando ao Senhor em oração e
intercessão, abalando o mundo e discipulando as nações.
O movimento de oração dos últimos dias é missionário, a Casa
de Deus é uma casa de oração para as nações. Atualmente,
pessoas estão convertendo-se no Irã graças às orações dos santos.
Os iranianos estão recebendo visitações de Jesus e sonhando com
Cristo sem ter contato com nenhum evangelista. A oração move os
anjos, e eles são enviados a lugares remotos. Depois de ter essas
experiências com Cristo, os muçulmanos procuram as igrejas e os
cristãos para pedir explicações.
Eu gosto da frase do Lou Engle que diz que “a história
pertence aos intercessores”. As nações estão sendo tocadas pelas
orações dos santos.
Jesus nos orienta a rogarmos ao Senhor da seara para que
ele envie trabalhadores. A palavra “enviar” vem do grego ekbalo,
que significa “ser chutado”, lançado como uma bala de canhão. Se
vamos cumprir a Grande Comissão como missionários, precisamos
ser empoderados da unção e da graça do Espírito, pois discipular as
nações não é apenas ensinar a Bíblia ou um dialeto evangélico. É
levar cada indivíduo a viver como Jesus viveu. É por isso que ele
está nos convocando a dedicar-nos à nossa identidade de ser uma
Casa de Oração para todos os povos.

COMO SERÁ ESSE MOVIMENTO DE ORAÇÃO

1 – Será um movimento global Durante toda a História, Deus


levantou focos de oração. Os morávios são um exemplo disso. Na
época, não existia praticamente ninguém orando como eles.
Em outros períodos, também aconteceu isso. Na França, um
monge chamado Bernardo de Claraval estabeleceu 300 anos de
oração dia e noite baseado em entoar o canto antifonal do livro de
Cantares. Mais tarde, ele fundou mosteiros em toda a Europa, onde
se dedicaram à oração ininterrupta. Mas isso era apenas num lugar
isolado.
Creio que o que acontecerá nos últimos dias está conectado a
um movimento global. Ao mesmo tempo, em todas as nações,
pessoas se dedicarão de forma consistente e sóbria à oração.
Uma passagem que fala sobre isso é o Salmo 96.1: Cantai ao
Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, todas as terras.
Também Isaías 42.10 e 13 diz: Cantai ao Senhor um cântico
novo e o seu louvor até as extremidades da terra, vós, os que
navegais pelo mar e tudo quanto há nele, vós, terras do mar e seus
moradores [...] O Senhor sairá como valente, despertará o seu zelo
como homem de guerra; clamará, lançará forte grito de guerra e
mostrará sua força contra os seus inimigos.
Em lugares de difícil acesso, as pessoas vão cantar um novo
cântico ao Senhor. No Tibete, onde vivem os monges budistas, o
povo do Senhor estará ministrando uma nova canção a ele. Isso já
está acontecendo hoje e ficará cada vez mais intenso no decorrer
do tempo à medida que entendemos a nossa identidade como Casa
de Oração.

2 – Será um movimento musical Ainda citando Isaías 42.10 e 13,


vemos que ele está chamando as nações da Terra a emitir um
cântico novo. A expressão “cântico novo” aparece nove vezes na
Bíblia e, em todas elas, está relacionada à segunda vinda de Jesus.
Ou seja, todas as nações da Terra se unirão numa única música que
fala sobre o retorno do nosso Senhor. O versículo 13 revela qual é o
conteúdo do cântico: “O Senhor sairá como valente, despertará o
seu zelo como homem de guerra e mostrará sua força contra seus
inimigos.” Ele está voltando como um guerreiro para despertar o
zelo do seu povo e julgar as nações.
Quando leio esse versículo, fico imaginando as cenas do filme
Coração Valente, e William Wallace passando em frente aos
guerreiros escoceses que nem sequer tinham um armamento
apropriado. Usavam enxadas e material de agricultura, mas, mesmo
assim, aquele homem incentivava o exército pequeno e fraco de
camponeses contra uma multidão de ingleses. Essa é a imagem
que me vem à mente. O Senhor está voltando, não mais como um
cordeiro. Ele está vindo como um leão para julgar as nações da
Terra. Essa canção encherá os céus de cada cidade, de cada bairro
e de cada pedacinho deste mundo. Vamos puxar os céus para a
terra, dizendo: “Vem, zeloso guerreiro!”.
Esse movimento será musical porque a música torna a oração
agradável. Não estou falando de um “Louvorzão”, mas sim de
músicos que irão profetizar com a música. Precisamos restaurar a
posição correta da música na casa de Deus, pois, durante muito
tempo, ela foi apenas um entretenimento precedendo “a parte mais
importante do culto”: a palavra.
Os músicos precisam ser teólogos, e creio que Deus está
levantando teólogos músicos que cantarão a Bíblia. Você ouve mil
pregações e as esquece. Porém, quando ouve uma música, ela
marca sua mente. Imagine músicos cheios das Escrituras e da
meditação na Palavra cantando canções que falem a respeito da
segunda vinda, da beleza, do amor e da graça de Deus, enchendo a
Igreja da sã doutrina, como fazia Carlos Wesley e tantos outros
irmãos que escreveram hinos bíblicos.
Há uma carência, em nossos dias, de músicas que estejam
pautadas nas Escrituras. Quem é músico e cantor precisa exercer o
ministério da palavra de forma cantada. Foi isso o que o rei Davi fez
quando, em 1 Crônicas 16.1, levantou aquela tenda. Ele pagou do
seu próprio bolso quatro mil músicos e 288 cantores do próprio
tesouro do reino e ordenou que profetizassem com harpa e lira. Os
músicos eram videntes do Senhor. Hemã era vidente; Asafe era
profeta.
Eu sempre me perguntava o que significava profetizar com
música. Descobri que nada mais é do que perceber uma realidade
eterna e traduzi-la em melodia e harmonia. Existem melodias
cantadas em reuniões que incentivam a oração de guerra; outras
que incentivam o pranto. Precisamos de músicos que acessem a
eternidade. Davi conseguiu ouvir a música que era tocada diante do
trono e, no tabernáculo de Davi, ordenou que os músicos
profetizassem aquilo que estavam vendo, que cantassem algo novo
ao Senhor.
Existe uma história no Talmude (livro de histórias judaicas) que
conta que Davi ficava na porta do palácio e, quando os músicos
começavam a cantar uma canção antiga, ele descia e dizia:
“Cantem um cântico novo ao seu Deus, pois essa música já está
velha”. Profecia não é somente predizer o futuro, mas também
entrar nas regiões celestiais e ver a realidade sob a perspectiva de
Deus.
Em Apocalipse 4.1, o Senhor diz: “Sobe para aqui, e te
mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas”. Deus estava
convidando João a enxergar com seus olhos. João viu o Dia do
Senhor como se fosse acontecer na manhã seguinte. Ele entrou na
realidade de Deus e começou a escrever todas as profecias do livro
de Apocalipse. Eu acredito, com toda a minha força, que Deus está
levantando tangedores que vão subir pela porta, ver aquilo que o
Senhor está comunicando, traduzir a mensagem divina em melodia
e canções e profetizar.
O convite do Senhor é que a oração se torne agradável; por
isso ele diz: “Os levarei ao meu Monte e os alegrarei na Minha Casa
de Oração”. Quantas pessoas você conhece que, ao ser chamadas
para uma reunião de oração, ficam felizes e contentes? Somos
tomados por uma depressão na certeza de que ficaremos
entediados. Existem, de fato, muitas reuniões de oração chatas.
Mas há a promessa de que, conforme a volta de Jesus se aproxima,
ele tornará a oração agradável. Precisamos aprender a cantar a
Palavra nas nossas reuniões.
Em São Gonçalo, temos reunião toda quinta-feira com
músicos intercessores. Adotamos um modelo chamado “harpa e
taça”, que consiste em cantar a Bíblia de forma antifonal. Todas as
nossas orações são baseadas nas orações apostólicas e nos
decretos proféticos. Se vamos orar pelo Rio de Janeiro, por
exemplo, usamos Efésios 1.17: “Pai, abre os olhos do coração e
derrama espírito de sabedoria e revelação no pleno conhecimento
sobre a Igreja no Rio de Janeiro”. Em algum momento, eu isolo uma
palavra dessa oração e os músicos começam a cantar de forma
espontânea aquilo que acabei de orar, até que o líder de intercessão
levante outro tópico de oração e continue no mesmo formato. Essa
dinâmica culmina em aproximadamente duas horas de oração toda
quinta-feira. Meu sonho e meu alvo é ter esse tipo de reunião todos
os dias. Estamos praticando isso.

3 – Será um movimento regular e perseverante Sobre os teus


muros, ó Jerusalém, pus guardas, que todo o dia e toda a noite
jamais se calarão; vós, os que fareis lembrado o Senhor, não
descanseis, nem deis a ele descanso até que restabeleça
Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra. (Isaías 62.6,7)
Hoje, Jerusalém tem sido objeto de louvor? O primeiro versículo do
mesmo capítulo de Isaías diz que Jerusalém brilhará como uma
tocha de justiça. A palavra “justiça”, nesse contexto, é tsdek, que
significa posição correta. Ele colocará Jerusalém na posição correta,
e as nações da Terra verão o seu brilho. E isso tem a ver com saber
desenvolver o nosso chamado para a oração, pois nos dedicaremos
a ela até que Jerusalém seja um objeto de louvor.
Existem muitos lugares que oram dia e noite literalmente
falando. Porém, o que entendo por “dia e noite” está mais
relacionado a uma prática regular e consistente. Alguns lugares não
oram 24 horas por dia, mas têm oração todos os dias.
Isso pode parecer muito bonito e legal, mas não é romântico.
Às quintas-feiras, quando vou dirigir o turno de intercessão,
acontece algo muito ruim na maioria das vezes. Apesar disso,
preciso ser fiel em estar ali toda semana, mesmo quando não quero.
Pense que, num movimento regular de oração, seja ele 24 horas ou
não, vão existir dias em que você poderá discutir com seu cônjuge
ou acordar com dor de cabeça e não conseguir ligar para a igreja
para avisar que não comparecerá, porque não está se sentindo feliz
naquele dia. Esse é um chamado de Ana, para ficar todos os dias
no templo, dia e noite, em jejum e oração esperando pelo Messias.
Um movimento de oração contínuo e perseverante exige de
nós esforço, dedicação e disciplina. Nossos olhos precisam estar
focados no alvo: que Jerusalém seja um objeto de louvor. Lemos em
Lucas 18.7,8: Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a Ele
clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los?
Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o
Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?
A palavra intercessão, no hebraico, significa “provocar Deus”.
Intercessores são pessoas que provocam a Deus com as
promessas que ele fez: “Pai, eu te provoco, porque o Senhor
prometeu. É a tua Palavra, e o Senhor não mente. E eu te provoco
dia e noite por causa de toda a injustiça que está acontecendo na
Terra”. Interceder é lembrar Deus de suas promessas. Certamente,
ele não se esquece do que prometeu, mas espera uma ação vinda
da Terra.
As Escrituras dizem que o Espírito e a Noiva dizem: “Vem!”. O
Espírito Santo é naturalmente um intercessor, mas a Igreja não é.
Ela deveria ser, pois faz parte do seu trabalho de parceria com o
Espírito. Ele sopra em nós a vontade de Deus, já que não sabemos
orar como convém. Mas é preciso que haja uma resposta da Igreja,
unindo-se ao mesmo clamor do Espírito e dizendo: “Vem, Jesus!”.
Esse movimento de oração tem a ver com saudade. Você
sente falta de um lugar onde nunca esteve? Quando ele diz que
colocou a eternidade dentro de nós, podemos deduzir que a fome e
o vazio que sentimos não têm início nem fim. Ora, vem, Senhor
Jesus!
Precisamos ser libertos da ideia de que, se Jesus voltar,
atrapalhará nossa carreira e os nossos planos de casar e ter filhos.
Pelo contrário, seremos tomados por um clamor intenso, que
envolverá toda a nossa rotina e consumirá totalmente os nossos
pensamentos. Então, nos uniremos ao Espírito Santo para
estabelecer em toda a Terra essa oração focada, precisa e contínua.
5
Dicas Práticas para Uma Vida de Oração

Deus está levantando uma companhia de precursores. Precisamos


agir de forma responsável com a mensagem que o Senhor está
comunicando e submeter-nos à palavra que ele tem liberado para a
nossa vida.
Há dez anos, o irmão Mike Shea foi usado para proclamar a
todo o Brasil que Deus estava preparando uma geração de João
Batista, uma geração de nazireus. Mas me parece que, de alguma
forma, essa palavra não foi tratada com muita seriedade. Nós
pulamos, cantamos as canções, compramos os CDs, vestimos as
camisetas de conferência, mas poucos se dispuseram a ir para o
deserto.
Alguns historiadores dizem que, quando João Batista recebeu
a palavra profética sobre sua vida, passou entre 18 e 20 anos no
deserto sendo forjado por Deus até que se manifestasse a Israel
como a voz profética. Portanto, ouvir mensagens sobre sermos a
geração precursora não nos transformará nisso automaticamente. O
exemplo de João Batista estabelece um princípio que podemos
seguir: ele recebeu a palavra profética e foi ao deserto.
O que é ir para o deserto hoje? É achar um espaço na sua
vida no qual não existe mais nada além de Deus. O que tem no
deserto além de terra, pedra, calor e Deus? Em Oseias 2.14, o
Senhor atrai a sua Noiva para o deserto e, ali, fala ao seu coração.
E ele está fazendo isso de propósito, pois sabe bem que ela tem
uma inclinação muito grande a procurar outros amores. Deus está
conduzindo a Igreja para um lugar onde só exista ele. Lá, ele
reconquistará o nosso coração.
Em Lucas 1.80, lemos que João Batista crescia em espírito no
deserto. É para esse estilo de vida que o Senhor está nos
convidando: desenvolver a nossa vida no espírito.
Por que é importante ter uma vida de oração pessoal e diária?

1 – Porque a sua devoção vai cooperar com a formação da casa


de Deus.
Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos
homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós
mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de
Jesus Cristo. (1 Pedro 2.4,5) A primeira lição que podemos
extrair desse texto é que, para ser sacerdote, é necessário
achegar-se a ele. O pré-requisito para um ministério sacerdotal
é ter intimidade e devoção com o Senhor.
Essa passagem aponta para dois tipos de funcionamentos: o
coletivo e o individual. Ela também fala a respeito de uma casa
espiritual (representando o coletivo) que é edificada à medida que
cada pedra se achega à pedra viva principal que é Jesus. Isso
significa que a nossa vida individual de oração compromete o
coletivo. Na igreja, a maioria das pessoas passa a semana inteira
como se Deus não existisse e, no domingo à noite, transfere ao
ministro de louvor o encargo de conduzi-las ao santo dos santos. Se
não desenvolvermos esse hábito de aproximar-nos dele
individualmente, comprometeremos o grupo todo.
Temos um costume muito estranho de fazer avaliações sob
uma perspectiva geral e dizer: “A igreja não é gloriosa, não é santa,
não é isso ou aquilo”. E a culpa sempre cai na conta do coletivo.
Mas se o coletivo está ruim é porque o individual também está.
Precisamos começar a assumir nossas responsabilidades.
A importância de uma vida de oração individual e diária é que
ela contribui para a formação da casa de Deus. O termo que Pedro
usa para casa espiritual é “casa pneumática”, que quer dizer uma
casa guiada pelo Espírito Santo por meio do funcionamento
sacerdotal de cada pedra conectada uma à outra. A sua devoção
particular coopera com o avanço do plano de Deus coletivo na Terra.
Efésios 2.21,22 diz: “no qual todo o edifício, bem ajustado,
cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós
juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no
Espírito”. A sua edificação espiritual vai colaborar para a construção
de uma casa, para que o Senhor possa habitar em nosso meio.

2 – Porque é um mandamento que nos leva à maturidade.


Em Mateus 6.6, está escrito: “Tu, porém, quando orares, entra
no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em
secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”.
Jesus usa a expressão “quando orar”, o que passa a ideia de
que todo discípulo teria uma vida de oração. A passagem está
inserida no Sermão do Monte e, no capítulo 7, ele diz que quem
edificasse sua vida na obediência àquele mandamento estaria
construindo uma vida espiritual robusta, sobre uma rocha. Assim,
mesmo diante de provações e tempestades, o indivíduo não seria
abalado.
Nesse texto, Jesus ensina como orar, e sua ênfase é maior na
recompensa do que na resposta da oração em si. A palavra
“recompensa” pode ser traduzida por “galardão”. A vida de oração
está associada à maturidade, pois galardão também está.
Em Filipenses 3.14, Paulo diz: “prossigo para o alvo, para o
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Ele afirma
que não chegou ao fim e que ainda está correndo a carreira porque
já vê um galardão, um prêmio.
A carta aos Filipenses talvez seja a última carta de Paulo. Ele
estava na prisão por causa do Evangelho. Logo, podemos concluir
que, no final da carreira, o apóstolo não tinha obtido o que buscava.
Quando li esse texto, sentime muito condenado; afinal, ele não
estava saciado mesmo depois de tudo o que havia feito. Na mente
dos apóstolos, herança era algo relacionado à maturidade. É muito
diferente da nossa cultura, em que as pessoas recebem heranças
materiais dos pais mesmo sem saber usá-las.
Jesus está dizendo que a vida de oração no lugar secreto é o
que fará com que você receba a recompensa. Ele não está se
referindo apenas a um quarto físico. É muito comum estarmos num
aposento sozinhos e lá não ser um lugar secreto. Ele está falando
de um lugar para duas pessoas.
Algumas vezes, estou no quarto com minha esposa, mas toda
a congregação “está na cama” conosco, pois estamos pensando
nos problemas da igreja num ambiente onde deveríamos nos
dedicar um ao outro com aquilo que só podemos fazer ali e que
ninguém mais vai saber. Conversas que só teremos em intimidade.
Nem sempre um quarto vazio é um lugar secreto.
Jesus está fazendo uma comparação com o santo dos santos.
Ele usa a palavra “lugar secreto”, usada também no Salmo 91.1:
“Aquele que habita no lugar secreto, à sombra do Onipotente
descansará”. Cristo está discorrendo sobre um estilo de vida de
oração no espírito, a parte mais íntima do homem, sobre uma vida
de oração que não depende das suas emoções, nem do seu corpo.
Depende da fé que você tem no espírito. Trata-se de um
desenvolvimento espiritual, não simplesmente de encontrar uma
vida devocional. Muitas pessoas adotam a prática do devocional,
separam um tempo para ficar sozinhas, mas não encontram Deus.
Esse não é o lugar secreto.
Pode ser que encontremos tudo, inclusive o falso eu, que, em
boas palavras, é a pessoa que quer mostrar espiritualidade para
Deus. Sabe aquele homem que está doido para bater na esposa e,
então, com muita raiva no coração, vai orar e até muda a voz para
dizer: “Senhor, eis-me aqui, envia-me às nações”? Esse é o falso
‘eu’ sendo apresentado a Deus. Aprendi com o irmão Brennan
Manning que Deus não ouve a oração do falso ‘eu’.
Se olharmos para a vida de oração de Davi, perceberemos
que ele apresenta a Deus seu verdadeiro ‘eu’. Ele expõe sua alma,
muitas vezes, angustiada pelos problemas e pelas perseguições.
Por isso que Davi foi considerado um homem segundo o coração de
Deus. Se queremos encontrar o Pai no lugar secreto, temos de
entender que ele deseja ouvir o nosso espírito do jeito como se
encontra: em sinceridade. Ali, o Pai verá a realidade e nos conduzirá
à maturidade.
Podemos, inclusive, chegar ao lugar secreto numa reunião
coletiva, criando um ambiente sem distrações e com foco, onde os
corações estejam unidos como o de um só homem na expectativa
de que o Senhor nos toque. Ali Deus vai encontrar-se com seu
povo.

3 – Porque Deus não faz nada na Terra a não ser por meio da
comunhão com o seu povo.
Tem uma questão que sempre me deixava em crise: se Deus
tem uma vontade, por que ele não a realiza logo? Você acha que é
a vontade de Deus restaurar a igreja? Se o Senhor é soberano e
esse é o seu desejo, por que ele não a restaura? Porque existe um
princípio de que Deus é pessoal. Nós somos impessoais; Deus não
é. Suponhamos que Deus aparecesse para mim durante a noite e
fizesse uma proposta: “Michael, vou dar-lhe a oportunidade de
acabar com todo pecado da humanidade, e você tem o direito de
escolher o método para que isso aconteça”. Sabe qual eu usaria?
Um botão que, ao ser apertado, desse fim a todo pecado. Percebe a
impessoalidade? Queremos solucionar os problemas sem nos
envolver com eles.
Quando Deus quis resolver o pecado, ele veio pessoalmente.
Deixou a sua esfera de santidade perfeita, sem pecado, sem dor,
sem miséria e habitou no meio de uma cultura ímpia.
Temos uma capacidade incrível de nos relacionar com o que é
“espiritual” de forma impessoal. Conseguimos ler a Bíblia e não
encontrar Deus. Ele mesmo disse: “vocês vão às Escrituras
tentando achar poder e vida eterna, mas não vêm a mim?” (Jo 5.39).
Jesus, a palavra encarnada, estava ali em forma de homem e,
embora lessem a Lei, não conseguiam tocar o verbo vivo de Deus,
que era Jesus. Lemos a Bíblia como um livro de receita, de forma
impessoal.
Somos ensinados a instruir nossos filhos no caminho em que
devem andar (Pv 22.6). Então, um de nossos filhos cresce, torna-se
um traficante e ficamos ofendidos com Deus. Afinal, lemos a Bíblia!
O que ela disse deve acontecer. Só tem um problema: não
encontramos o Deus que escreveu o versículo. Para obedecer,
precisamos ouvir a voz de Deus, ter contato com quem escreveu e
inspirou cada parte da Bíblia. É por isso que o Pai precisa
comunicar os seus planos, pois ele nada fará na Terra sem que isso
aconteça.
Em Amós 3.7, lemos que “o Senhor Deus não fará coisa
alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os
profetas”. Vocês, por acaso, contam seus segredos ao padeiro a
menos que ele seja um amigo íntimo? Da mesma forma, Deus conta
seus segredos a quem é seu amigo.
Funciona mais ou menos assim: Deus tem uma vontade, e
você precisa descobri-la. Em seguida, você ora a vontade dele e, só
então, ele a realiza. Por quê? Porque Deus decidiu assim. Isso é um
escândalo para o homem. Deus faz tudo em parceria com você, um
mero mortal, cheio de pecado.

Como desenvolver uma vida sólida de oração?


É Deus que acende o fogo do altar.
Depois, Arão levantou as mãos para o povo e o abençoou; e
desceu, havendo feito a oferta pelo pecado, e o holocausto, e a
oferta pacífica. Então, entraram Moisés e Arão na tenda da
congregação; e, saindo, abençoaram o povo; e a glória do
Senhor apareceu a todo o povo. E eis que, saindo fogo de
diante do Senhor, consumiu o holocausto e a gordura sobre o
altar; o que vendo o povo, jubilou e prostrou-se sobre o rosto.
(Levítico 9.22-24) Um ponto essencial é que nós não temos
poder de produzir fogo. Essa função pertence a Deus. Cabe
aos sacerdotes apenas a responsabilidade de seguir as ordens
dadas por Deus a fim de que a chama permaneça acesa sobre
o altar. Quando Nadabe e Abiú ofereceram fogo estranho,
foram consumidos, porque estavam oferecendo um fogo que
não tinha sido produzido por Deus. Em Levítico 6.9, 12, está
escrito: Dá ordem a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei
do holocausto: o holocausto ficará na lareira do altar toda a
noite até pela manhã, e nela se manterá aceso o fogo do altar
[...] O fogo, pois, sempre arderá sobre o altar; não se apagará;
mas o sacerdote acenderá lenha nele cada manhã, e sobre ele
porá em ordem o holocausto, e sobre ele queimará a gordura
das ofertas pacíficas.
Deus nos dá o fogo do Espírito e a graça da salvação. Ao
nascer de novo, você recebe uma fome que é plantada em seu
coração. Eclesiastes 3.11, chama isso de eternidade. Em João 17.3,
Jesus diz que a vida eterna consiste em conhecer Deus. Então, a
fome de conhecer a Deus é plantada no interior de todo homem,
cristão ou não, mas é ativada quando ele nasce de novo. O nosso
trabalho para desenvolver a vida de oração é responder a essa
fome. É nossa responsabilidade nutrir a vida de Deus em nós.
A graça não é algo estático. Declara 2 Pedro 3.18: “Antes,
crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo”. Significa que podemos crescer na graça. Geralmente,
associamos graça a perdão. Essa associação também está correta.
Mas o que significa graça? Receber poder de Deus para fazer aquilo
que não conseguimos. À medida que posicionamos o coração
diante do Senhor, ele é expandido em graça, e vamos sendo
capacitados pelo próprio Deus a realizar o que, humanamente, não
teríamos condições de fazer — como, por exemplo, ser santo.
O nosso Mestre cresceu, e nós também podemos crescer.
Algumas pessoas acham que, quando criança, Jesus ficava
quebrando a cabeça dos passarinhos e curando-os. Isso não é
verdade. A passagem de Lucas 2.52 diz que Jesus cresceu em
graça diante de Deus e dos homens. Podemos traduzir a palavra
“graça” como favor. Só podemos encontrar favor, segundo a Bíblia,
diante da face de Deus.
Eu gosto da palavra “crescer”, que, no original, é procopto e
pode ser ilustrada por um ferreiro que bate com um martelo no ferro
quente, para que seja esticado. Quantos querem ser martelados
pelo Senhor? Há fogo diante da face de Deus, e o fogo tem o poder
de nos deixar maleáveis. Mas, para crescer na graça, você precisa
dedicar-se a ela.
A resposta que damos à graça de Deus é chamada pelos
mestres da vida de devocional de disciplina. Precisamos entender
que o esforço não se opõe à graça. Para desenvolver uma vida de
oração, é preciso esforçar-se. E Deus não é contra o esforço; ele é
contra o merecimento. Se achamos que somos dignos porque
oramos, estamos errados; o motivo de orarmos é que alguém
morreu na cruz por nós e abriu o caminho.
O merecimento é errado, mas o esforço é necessário. Não
vamos acordar radiantes amanhã de manhã com um desejo intenso
de orar. Vamos precisar esforçar-nos até mesmo para acordar, e
Deus ama isso.
A palavra “disciplina” vem de “discípulo”. “Basta ao seu
discípulo ser como o seu mestre e seu servo como o seu senhor”
(Mt 10.24). Não existe discípulo que não seja disciplinado. Há um
custo, um empenho, uma entrega, uma dedicação, e somos nós que
escolhemos isso, não Deus.
Jesus foi o maior exemplo de disciplina. A Bíblia o chama de
filho do homem, que também pode ser filho de Adão. Ele veio como
humano para mostrar como praticar uma vida de oração.
Em Mateus 14.13, vemos que Jesus tinha a disciplina de ficar
sozinho: “Assim que Jesus ouviu essas coisas, retirou-se de barco,
em particular, para um lugar deserto”.
Em Lucas 6.12,13, antes de escolher os doze apóstolos, Jesus
passou a noite inteira orando. Qual foi a última vez que você passou
a noite em oração porque precisava tomar uma decisão importante?
Em Marcos 1.32, Jesus passou o dia todo curando enfermos e
expulsando demônios e libertou uma cidade inteira. O texto diz que,
depois de ter feito tudo isso, levantou-se de manhã cedo, ainda
escuro, e procurou um lugar para orar.
Muitas pessoas pensam que Jesus vivia à toa e não
trabalhava. Eu já passei por experiências de expulsar demônio das
pessoas e sei o quanto cansa fisicamente. Na sua cidade, existem
endemoninhados? Imagine libertar todos eles e, no dia seguinte
bem cedo, acordar para orar e perguntar: “Pai, qual é a sua
programação para hoje?”.
Você pode dizer que não tem tempo, mas posso afirmar sem
receio: ninguém tem falta de tempo, o que existe é falta de
prioridade. Quando achar algo que valorize, você encontrará tempo.
Os nossos valores estão naquilo em que investimos mais dinheiro,
tempo e esforço. Quer que eu fale quem você é? Diga-me a que
você dedica o seu tempo, em que gasta seu dinheiro e onde está
empreendendo esforço físico. Jesus disse que, onde estivesse
nosso tesouro, ali também estaria nosso coração (Lc 12.31).
Lembro que minha época mais frutífera em oração foi quando
eu trabalhava num escritório de contabilidade. Meu único tempo era
ao levantar-me, às 5 horas da manhã. Somos muito mais
disciplinados na correria do que quando estamos de férias. Parece
que, quanto mais tempo sobra, menor é a disciplina. Enchemos
nossa vida de muitas coisas, menos do que é mais importante.
O que é uma disciplina espiritual? É esforçar-se para fazer o
que você pode a fim de receber poder para realizar o que não pode.
Quantos de nós têm facilidade de amar os inimigos? Não temos
capacidade para isso. Contudo, podemos separar 30 minutos do
nosso dia para orar e posicionar o nosso coração diante daquele
que pode dar-nos graça para amar os inimigos.
Disciplina não é apenas restrição, é caminhar para a liberdade.
Pense num ginasta que dedica anos de sua vida disciplinadamente
a realizar um treinamento. Quando assistimos à sua apresentação
nas Olimpíadas, temos a impressão de que seus movimentos são
fáceis de executar, como se nós mesmos pudéssemos realizá-los,
de tão graciosos que são.
João Batista gastou 20 anos no deserto para ministrar
publicamente por apenas seis meses. Nós queremos ministrar 20
anos e ficar seis meses no deserto. Somos precoces, “banda larga”,
micro-ondas e queremos tudo muito rápido.

Existem três fatores que nos impedem de começar uma


disciplina. Vou listá-los a seguir.

1 – Condenação
Muitos de nós já nos comprometemos a orar e oramos um dia,
dois, três, mas logo abandonamos o lugar da oração e nunca mais
voltamos por vergonha de Deus. Ou até mesmo uma discussão com
alguém nos afasta da intimidade com o Pai, porque não fomos tão
“bonzinhos”. A questão é que o que nos qualifica a entrar na
presença de Deus não é se fazemos tudo certo. O que nos qualifica
é o sangue de Jesus. Hebreus 10.19 diz que devemos entrar com
coragem e ousadia no santo dos santos.
Quando Deus olha para a sua vida, ele vê o sangue do seu
Filho. Sendo assim, quando você cair, levante-se e ande. Se falhou
um dia, comece novamente no outro. Deus não olha para nós como
pessoas rebeldes, mas como filhos imaturos. Quando meu filho
Benjamin cai, não arranco as suas pernas; muito pelo contrário, eu o
ajudo a levantar-se, pois está aprendendo a andar. Com o Aba
também é assim. Ele não nos enxerga como hipócritas que não
oram, mas como filhos amados. Mesmo que você nunca mais leia a
sua Bíblia nem ore, Deus continuará o amando.
A oração não é para fazer com seja aceito, pois você já o foi. E
Deus o ama tanto que deseja dar mais do seu coração.

2 – Emocionalismo
Preciso compartilhar que, 90% das vezes em que vou orar,
não sinto nada. Tem pessoas que leem a Bíblia e pensam que ela é
como novela: os eventos do capítulo seguinte se passam no mesmo
dia do anterior.
Daniel foi para a Babilônia com aproximadamente 12 anos de
idade, mas só recebeu visitações angelicais aos 84 anos. A prática
de Daniel era estar três vezes ao dia de frente para Jerusalém,
orando.
A Bíblia diz para termos fé, pois Deus é galardoador daqueles
que o buscam. Sem fé, é impossível lhe agradar. As emoções não
são erradas na nossa devoção, elas são muito importantes, mas
depender delas para desenvolver uma vida espiritual é estar fadado
ao fracasso.

3 – Comparação espiritual Quantos já leram o livro “Bom dia,


Espírito Santo” e, ao acordar na manhã seguinte, disseram “Bom
dia, Espírito Santo” e não sentiram passar nem uma pena de anjo
ao seu lado? Tentamos reproduzir em um dia experiências de
pessoas que levaram anos da vida buscando o Senhor.
Quando li a biografia de John Wesley, fiquei deprimido. Ele
tinha o hábito de dormir às 20 horas. Há uma história em que, certo
dia, ele chegou à sua casa às 20h05. Estando ainda na escada,
dormiu ali mesmo tamanha era sua disciplina. Não podemos olhar
para o que John Wesley viveu em 30 anos de estrada e tentar vivê-
lo amanhã de manhã, pois será depressivo e frustrante. E quem
sabe Deus nem queira que você tenha a mesma experiência.
Talvez, ele tenha algo novo, diferente e pessoal para você.
O resultado de observar a vida espiritual de alguém mais
maduro e tentar imitá-la no dia seguinte, muitas vezes, é a
frustração por fracassar. Conheci um irmão que orava durante doze
horas, todos os dias. Na segunda-feira, após ouvir seu testemunho,
fui tentar pôr em prática sua disciplina. Orei durante 15 minutos,
mas parecia que já estava há seis dias no quarto. Pensei: “Deus,
como será que ele consegue?”. Talvez, porque esteja fazendo isso
desde 1967. Não procure executar num único dia o que alguém
conquistou ao longo de muitos anos de dedicação, empenho e
disciplina. Comece pequeno, mas seja fiel.
A vida devocional é um exercício. Em 1 Timóteo 4.7, Paulo
disse para nos exercitarmos na piedade. Ele usa uma palavra no
grego, gumnasia, que significa “treine pequenos percursos para
correr uma maratona”. Em outras palavras, Paulo está querendo
dizer que, se você deseja ser como Jesus, é melhor que faça todos
os dias pelo menos 15 minutos de devoção, até que ganhe
condicionamento espiritual para fazer mais tempo.
Comece pequeno e humilde. Separe alguns minutos todos os
dias e seja fiel a esse tempo. Desligue-se de tudo e fique apenas
com o Senhor. Antes de correr com Deus, caminhe com ele. A Bíblia
usa a palavra “correr” e a relaciona a vocação. As pessoas desejam
saber se são missionários, profetas ou apóstolos para correr a
carreira vocacional sem mal conseguir andar ainda e praticar o
básico. Antes de correr a maratona, comece a treinar na caminhada.
Um exemplo bíblico relacionado a esse assunto é o de Maria
de Betânia. Em João 12, lemos que ela derramou um perfume sobre
Jesus. Aquele ato foi tão extravagante que Mateus 26.13 declara
que ela seria lembrada em todos os lugares onde o testemunho
fosse contado. Maria marcou a memória de Deus, e ele testemunha
sobre ela. Uma coisa é você testemunhar sobre o Senhor; outra
bem diferente é ele testemunhar sobre você. Essa mulher rompeu
com muitos paradigmas, como, por exemplo, a cultura machista,
pois uma mulher não poderia estar na sala quando os homens
estivessem reunidos.
Precisamos ler a Bíblia de forma literal. Ela juntou um ano de
salário; em torno de sete mil reais se fosse um salário mínimo.
Pense num perfume de sete mil reais derramado. Maria usou o
cabelo, a parte do corpo com a qual a mulher mais gasta dinheiro
hoje. Só tem um detalhe: não havia asfalto nem tênis em Jerusalém.
Os pés de Jesus deviam estar bem sujos e malcheirosos. Mesmo
assim, ela usou o cabelo para honrá-lo.
Esse movimento de adoração é extravagante e marca o
Senhor. Mas você sabe onde começa essa extravagância? A
resposta está em Lucas 10.48: Maria estava sentada aos pés de
Jesus e ouvia a sua palavra. No original, “palavra” significa “uma
palavra que produz instrução”. O texto diz que ela escolheu fazer
uma coisa. O convite do Senhor hoje é: sente-se aos pés dele,
mesmo que seja por pouco tempo.

Passos práticos para uma vida de devoção 1 – A quem


oramos?
Quando Jesus foi ensinar sobre oração em Lucas 11, os
discípulos já estavam exercendo o ministério, mas ainda não sabiam
orar. E pediram: “Senhor, ensina-nos a orar como também João
ensinou aos seus discípulos” (Lc 11.1). Provavelmente, eles olharam
o resultado do ministério de João e ficaram admirados. As primeiras
palavras de Jesus, ao ensinar sobre oração, é “Pai nosso”. O Pai de
Jesus é o seu Pai. As duas figuras que mais ferem a sociedade,
hoje, são pai e marido. As duas figuras que mais transmitem afeto
na Bíblia são Deus Pai e Deus Noivo.
Existem inúmeras pessoas que sofreram abuso da parte dos
pais ou de alguma figura paterna. Quando vão orar, começam a
relacionar-se com Deus sob a perspectiva da revelação terrena do
pai que tiveram. Se o seu pai sempre chegou atrasado, é normal
pensar que Deus vai deixá-lo na mão. Se ele sempre foi duro,
grosso e agressivo, naturalmente enxergará Deus como alguém
disposto a puni-lo por ter falhado.
A nossa geração precisa entender que Deus nos ama como
um pai. Quem Deus Pai ama mais: Jesus ou você? Vamos conferir
nas Escrituras. Lemos em João 17.23,26: ...eu neles, e tu em mim, a
fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo
conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a
mim [...] Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a
fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles
esteja.
O Senhor nos ama na mesma proporção que ama Jesus. É
um amor furioso, violento, apaixonado. Cantares 8.6, fala que esse
amor é como chamas de fogo. É mais forte que a morte e inflexível
à sepultura. Esse amor é tão violento que, quando nos atinge,
resiste à morte e ao sofrimento.
Por que os cristãos conseguiam ver seus filhos assassinados
e não negavam a fé? Porque o amor era mais forte do que a morte.
O Pai de Jesus é o seu Pai e ele o ama violentamente. Quando
descobrimos isso, deixamos a formalidade de lado. Oramos em
nome de todos os profetas, menos daquele que nos dá o Espírito
que clama Aba Pai. A Bíblia diz que ele colocou um Espírito que
está gritando dentro de nós por paternidade.
A linguagem que usamos em nossas orações é estranha
demais. Tratamos nosso Pai por Vossa Excelência, como alguém
distante. Idolatria significa adorar ao longe, cultuar um deus
impessoal que não se envolve com suas dores. É muito importante
saber a quem oramos.
Eu oro para que você receba revelação da paternidade de
Deus, e para que todo espírito de orfandade seja quebrado; para
que você pare de procurar em homens aquilo que somente seu Pai
pode lhe dar. Oro para que o espírito de adoção clame em seu
interior pela paternidade do Aba. Eu o abençoo para que, de agora
em diante, você se comporte como um filho e não mais como um
bastardo.
Durante muito tempo, procurei Deus nos homens. Sempre quis
ter um pai. Um dia, ele me falou: “Pare com isso, Michael, eu sou
seu Pai. Seja você um pai para os outros. Muitos estão por aí
esperando que você os adote”. Ainda estou descobrindo essa faceta
de Deus; não sei tudo sobre ele como Pai. De vez em quando, sinto-
me abandonado como um órfão, e ele vem, dizendo que está
comigo.

2 – Quando e onde orar


Se você não tiver uma agenda, dificilmente conseguirá orar. A
oração se tornou tão importante em minha vida que organizo toda a
minha agenda em torno dela. Por exemplo, eu deixo a roupa que
vou usar no dia seguinte separada e já tenho uma cadeira e um
lugar arrumado para me encontrar com Deus. Assim, não perco
tempo decidindo ou ajeitando nada. Também tenho um horário
específico para orar todos os dias.
Muitos podem pensar que isso é religiosidade. Vamos a uma
analogia para explicar melhor: você quer se casar, conhece uma
pessoa interessante e diz a ela: “Gostaria tanto de conhecê-la
mais... Mas a gente se esbarra por aí”. É assim que acontece? Se
fizer isso, provavelmente nunca vai se casar. Semelhantemente,
com Deus precisa ter hora e lugar, pois ele é uma pessoa.
Enfim, você precisa ter uma agenda e escolher o melhor
horário. Para mim, é pela manhã, para outros, durante a
madrugada. Não importa, desde que seja quando você estiver
acordado. E não faça como um amigo que estava com tanto sono
que evangelizou a Deus. Muito sonolento, ele disse: “Senhor, Jesus
o ama, Deus!”.

3-Escolha uma posição confortável Uma dica simples é escolher


uma posição que não o deixe sonolento. Eu, por exemplo, prefiro
ficar sentado, pois se ajoelhar, acabarei dormindo. Algumas pessoas
andam enquanto oram. Quando estou com sono, também faço isso.
Já cheguei, inclusive, a orar com a cabeça embaixo da torneira de
água gelada para não dormir.

4-Separe um horário “B”


É bom pensar numa segunda opção de horário para quando a
primeira falhar. Pessoas com crianças pequenas, por exemplo,
costumam não ter um horário fixo para dormir ou passam por
mudanças repentinas de rotina por causa das necessidades do filho.
Daí a importância de ter um horário B caso não consiga acordar.
5-Forme um grupo de pessoas para prestação de contas
devocional Forme um grupo de, pelo menos, cinco pessoas.
Combine com elas o horário em que estarão orando para que,
durante a semana, vocês se monitorem e saibam se estão
cumprindo o planejamento e como está sendo. Costumamos colocar
isso em prática com os irmãos de São Gonçalo, e tem funcionado
bastante.
Precisamos gerar uma cultura de oração. A palavra cultura
vem de cultivo da terra. Para você cultivar algo, precisa depositar
atenção e cuidado. Precisamos de outros irmãos para nos ajudar a
gerar uma cultura de oração em nosso meio.

6 - Faça uma lista de oração Um ponto muito importante: muitas


vezes, você já sabe que Deus é seu Pai e que ele o ama. Você já
separou um local para orar, mas, no momento da oração, não sabe
o que dizer, nem por onde começar, já que ele é uma pessoa com
quem raramente se encontra. Nesse momento, entra o que aprendi
com o irmão Mike Bickle; é que chamo de “lista de oração”.
Ter uma lista de oração é fundamental para nos direcionar na
hora da devoção. Vou ilustrar como seria essa lista.
As listas de oração são feitas a partir de tópicos a ser
desenvolvidos numa vida de devoção. Por exemplo, no tópico
intimidade, escolho versículos que falem sobre a questão.
Suponhamos que eu tenha escolhido a passagem de Êxodo
33.3. Então, oro: “Pai, se eu achei graça aos teus olhos, peço que
me mostres teus caminhos para que eu continue te conhecendo”.
O que eu fiz aqui foi parafrasear o versículo. Simples, não é?
Existem pessoas que nunca tinham orado por meia-hora e, após se
organizarem fazendo suas próprias listas, passaram a gastar mais
tempo em oração.
Não se sinta obrigado a ficar preso à lista. Se, em
determinados dias, o Espírito direcioná-lo a fazer algo diferente,
obedeça. O que acontece é que nem sempre estamos inspirados;
por isso oramos a Palavra.

Meditação
Acredito que podemos ler a Bíblia de três maneiras. Pode
haver outras, mas vou citar apenas essas três.
A primeira é ler a Bíblia toda, de capa a capa, para ter
um conhecimento geral.
A segunda maneira é lê-la estudando-a. Talvez, você
não tenha disponibilidade de estudar a Bíblia todos os
dias. Então, uma boa dica é estudar todo o conselho de
Deus ao invés de estudar livros ou temas isolados.
A terceira forma é ler a Bíblia meditando nela. Você não
estuda nem decora nada. Nesse modelo de leitura,
podemos dizer que é a Bíblia que lê você. É quando a
Palavra de Deus começa a esquadrinhá-lo.

Dicas para meditar

1 – Leia a Bíblia
Quando for meditar, não use textos muito longos. Não dá para
meditar lendo todo o Salmo 119, por exemplo. No começo, você
pode escolher passagens mais fáceis como os evangelhos, Salmos
ou mesmo um versículo de que goste muito. Às vezes, na leitura
geral, algum versículo vai sobressair. Separe-o para que possa
meditar nele depois. Vamos supor que você tenha lido o Salmo 27.4:
“Uma coisa pedi ao Senhor, é o que procuro: que eu possa viver na
casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a
bondade do Senhor e buscar sua orientação no seu templo”.
Leia-o devagar, duas, três, quatro vezes ou quantas achar
necessário. De repente, algo dentro do texto lhe saltará aos olhos —
uma frase ou uma palavra. Quando li esse versículo, o que me
chamou a atenção foram as palavras “uma coisa”. Em silêncio,
comecei a fazer perguntas a Deus: “Senhor, o que significa ‘uma
coisa’ para a minha vida em São Gonçalo? O que é ter um coração
de uma coisa?”. Faça perguntas a ele sobre aquilo que acabou de
ler. Essas perguntas naturalmente se transformam em orações.

2 – Tenha um diário
Atualmente, meu princípio é: ler, escrever, orar e cantar. Eu
leio o texto na Bíblia, depois o escrevo no meu diário, pois, se
continuar lendo na Bíblia, vou me distrair com outros trechos. Em
seguida, destaco o que me salta aos olhos e escrevo novamente
embaixo. Só então, começo a fazer perguntas. Logo, vêm
impressões ao meu espírito que podem parecer imaginação. Anoto
tudo o que estou pensando e depois oro com base nisso.
Finalmente, passo para o versículo seguinte.
Esse método de meditação ajuda também a memorizar as
Escrituras. Os mestres devocionais chamam isso de Lectio Divina,
que significa interiorizar as Escrituras.
Muitas vezes, levo esses versículos para o meu dia, colo
lembretes na geladeira e coloco frases no meu celular dentre tantas
outras coisas. Um dos termos para a palavra meditação é “ruminar”.
Você precisa interiorizar aquilo que está sendo lido.
Deixe que a Palavra entre em seu coração, preencha o seu
espírito e o conduza à presença do nosso amado Noivo e querido
Pai. Permita que as verdades das Escrituras o ensinem a orar e a
entender quem você é e o que Deus sente por você. Que a sua vida
de oração aumente em intensidade, qualidade e quantidade à
medida que você se encontrar, numa prática regular, disciplinada e
constante, com o Homem mais belo e encantador de todo o
universo.
Sobre o Autor

Michael Duque Estrada é casado com Maíra e pai de Benjamin e


Maria. Michael atua no ministério há quinze anos, plantou uma
comunidade e uma sala de oração na cidade de São Gonçalo, RJ,
como também tem desenvolvido um forte ministério de ensino da
Palavra por todo o Brasil. Atualmente, ele é o diretor da Casa de
Oração Liberdade Rio, que funciona dentro da maior zona de
prostituição do Rio de Janeiro.
NOTAS

[i]
O Projeto Liberdade é uma casa de oração e adoração
que atua com intervenções evangelísticas em zonas de
prostituição.

[ii]
GOLL, James W. - A Arte Perdida da Intercessão. São
Paulo: Editora Vida, 2009.

[iii]
WALKER, John. Nove Divisões da Bíblia. Americana:
Impacto Publicações, 2014.

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