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ICTR Revista

Brasileira de
ASSOCIE-SE dezembro 2004 Nº 2 • www.fsp.usp.br/nisam • www.ictr.org.br Ciências Ambientais
Benefícios:
Os sócios do ICTR participarão de uma rede entre os professores e
pesquisadores de todas as instituições públicas brasileiras de ensino
e de pesquisa, proporcionando a integração e atualização do
conhecimento na área de resíduos e desenvolvimento sustentável.
Poderão participar dos projetos organizados pelo instituto, assim
como propor e coordenar projetos por meio do ICTR. Os sócios
receberão, ainda, revista publicada pelo instituto e terão descontos
especiais em todos os eventos organizados por este.

Requisitos:
Os sócios do ICTR devem ser professores, pesquisadores ou alunos
de graduação ou pós-graduação das instituições públicas de ensino
e de pesquisa brasileiras, bem como pessoas jurídicas interessadas.

As categorias de sócios são:


Sócios Fundadores – Os professores e pesquisadores com atuação
na área de resíduos, saúde, educação, meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, ligados às universidades públicas do
estado de São Paulo – USP, Unesp, Unicamp, UFSCar, UNIFESP – e
também ao IPT e ao IPEN, que subscreverem a ata de fundação do
ICTR, a qual será mantida aberta pelo prazo de quatro meses a
contar da data do competente ato de registro.
Sócios Regulares – Os professores e pesquisadores e alunos com
atuação na área de resíduos, saúde, educação, meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, ligados às instituições públicas brasileiras
de pesquisa e ensino superior, após o transcurso do prazo
mencionado no item anterior.
Sócios Beneméritos – Os que contribuírem com recursos, materiais
ou humanos, para o desenvolvimento das atividades do instituto.
Sócios Honorários – Os que, por decisão conjunta dos órgãos
colegiados do instituto e por proposta, de iniciativa subscrita por ao
menos dez sócios, merecerem este título em virtude de atuação
destacada na defesa dos ideais pelos quais o instituto propugna,
consoante os objetivos estabelecidos.
Sócios Institucionais – As pessoas jurídicas que vierem a associar-se.

Formulários de inscrição em: www.ictr.org.br/associe.htm


Revista
Brasileira de NISAM/ ICTR
Ciências Ambientais CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO
Núcleo de Informações em Instituto de Ciência e Tecnologia em
Instituições Participantes Saúde Ambiental Resíduos e Desenvolvimento Sustentável
PRESIDENTE
USP COORDENADOR CIENTÍFICO
Arlindo Philippi Jr. Arlindo Philippi Jr. Adelaide Cássia Nardocci (FSP/USP) Francisco Suetônio Bastos Mota (UFCE) Maria Regina Alves Cardoso (FSP/USP)
VICE-PRESIDENTE Alaôr Caffé Alves (FD/USP) Gilberto Passos de Freitas (TJ/SP) Mario Thadeu Leme de Barros (EP/USP)
VICE-COORDENADOR CIENTÍFICO Jorge Alberto Soares Tenório
UNICAMP Pedro Caetano Sanches Mancuso
DIRETORIA EXECUTIVA
Alcides Lopes Leão (Unesp/BOT) Gilda Collet Bruna (Mackenzie) Mary Dias Lobas de Castro (SVMA/PMSP)
Alexandre de Oliveira e Aguiar (NISAM/USP) Guido Fernando Silva Soares (FD/USP) Milo Ricardo Guazelli (ANVISA)
Sabetai Calderoni
Angela M. Magosso Takayanagui (EERP/USP) Guilherme J. Purvin de Figueiredo (PGESP) Mônica Porto (EP/USP)
UNESP CONSELHO DELIBERATIVO
Presidente DIRETORIA DE TECNOLOGIA E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Antonio Carlos Rossin (FSP/USP) Helder Perdigão Gonçalves (INETI/Portugal) Murilo Damato (SENAC)
Arlindo Philippi Jr. Gilda Collet Bruna
Diretores Adjuntos Antonio Fernando Pinheiro Pedro (ABAA) Helena Ribeiro (FSP/USP) Nemésio N. Batista Salvador (UFSCar)
UFSCAR Alaôr Caffé Alves
Carlos Celso do Amaral e Silva Márcio J. Estefano de Oliveira Antonio Herman Benjamín (IDPV) Heliana Comin Vargas (FAU/USP) Oswaldo Massambani (IAG/USP)
Gilda Collet Bruna João Sérgio Cordeiro
Aracy Witt de Pinho Spínola (FSP/USP) Hilton Felício dos Santos (Consultor Ambiental) Paulo Affonso Leme Machado (UNIMEP)
IPEN Jorge Alberto Soares Tenório
Marcelo de Andrade Roméro
DIRETORIA DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO
Angela Maria Magosso Takayanagui
Aristides Almeida Rocha (FSP/USP) Isak Kruglianskas (FEA/USP) Paulo Artaxo (IF/USP)
Márcia Faria Westphal Diretores Adjuntos Arlindo Philippi Jr. (FSP/USP) Ivete Senise (FD/USP) Paulo de Tarso Siqueira Abrão (NISAM/USP)
IPT Maria Cecília Focesi Pelicioni Edson A. Abdul Nour
Jorge Hamada
Armando Borges de Castilhos Jr. (UFSC) Jair Lício Ferreira Santos (FMRP/USP) Paulo H. Nascimento Saldiva (FM/USP)
Maria Regina Alves Cardoso
Attilio Brunacci (NISAM/USP) João Antônio Galbiati (Unesp) Paulo Renato Mesquita Pellegrino (FAU/USP)
Paulo Hilário Nascimento Saldiva DIRETORIA EDITORIAL
Pedro Caetano Sanches Mancuso Bastiaan Reydon (Unicamp) João Sergio Cordeiro (UFSCar) Pedro Caetano Sanches Mancuso (FSP/USP)
Marcelo de Andrade Roméro
Sergio Colacioppo Diretores Adjuntos Bruno Coraucci Filho (FEC/Unicamp) João Vicente de Assunção (FSP/USP) Pedro Roberto Jacobi (PROCAM/USP)
Maria Cecília Focesi Pelicioni Carlos Celso do Amaral e Silva (FSP/USP) Jorge Alberto Soares Tenório (EP/USP) Petra Sanchez Sanchez (Mackenzie)
Roberto Nunes Szente
Carlos Eduardo Morelli Tucci (UFRGS) Jorge Gil Saraiva (LNEC/Portugal) Philip O. M. Gunn (FAU/USP)
DIRETORIA DE PESQUISA
Carlos Malzyner (SEMPLA) Jorge Hajime Oseki (FAU/USP) Raul Machado Neto (ESALQ/USP)
Ruben Bresaola Junior
Diretores Adjuntos Celina Lopes Duarte (Ipen) Jorge Hamada (Unesp) Renata Ferraz de Toledo (NISAM/USP)
João Antonio Galbiati Célio Bérman (IEE/USP) José Carlos Derísio (Consultor Ambiental) Ricardo Toledo Silva (FAU/USP)
EDITOR Jorge Alberto Soares Tenório
Marcelo de Andrade Roméro Cíntia Philippi Salles (NISAM/USP) José Damásio de Aquino (FUNDACENTRO) Roberto Nunes Szente (IPT)
Bernardo A. do Nascimento Teixeira
Claudio Fernando Mahler (COPPE/UFRJ) José de Ávila Aguiar Coimbra (NISAM/USP) Roque Passos Pivelli (EP/USP)
DIRETORIA DE EVENTOS
CONSELHO EDITORIAL Leny Borghesan Alberghini Cleverson V. Andreoli (UFPR) José Eduardo R. Rodrigues (Fundação Florestal) Ruben Bresaola Jr. (FEC/Unicamp)
Presidente
Diretores Adjuntos Daniel Joseph Hogan (Unicamp) José Fernando Thomé Jucá (UFPE) Ruth Sandoval Marcondes (FSP/USP)
Marcelo de Andrade Roméro Eglé Novaes Teixeira Daniel Roberto Fink (MPSP) José Luiz Negrão Mucci (FSP/USP) Sabetai Calderoni (NAIPPE/USP)
Arlindo Philippi Jr. Celina Lopes Duarte
Celina Lopes Duarte Nemésio N. Batista Salvador Daniel Silva (UFSC) José Maria Soares Barata (FSP/USP) Sebastião Roberto Soares (UFSC)
Eglé Novaes Teixeira Delsio Natal (FSP/USP) Leila da Costa Ferreira (Unicamp) Sergio Eiger (FSP/USP)
CONSELHO DE ORIENTAÇÃO
Jorge Alberto Soares Tenório Alaôr Caffé Alves Denise Crocce Romano Espinosa (EP/USP) Léo Heller (UFMG) Severino Soares Agra Filho (UFBA)
Márcio J. Estefano de Oliveira Alcides Lopes Leão Dimas Floriani (UFPR) Luis Enrique Sánchez (EP/USP) Sheila Walbe Ornstein (FAU/USP)
Maria Cecília Focesi Pelicioni Carlos Celso do Amaral e Silva
Roberto Nunes Szente Édis Milaré (NISAM/USP) Luiz Roberto Tomasi (FUNDESPA) Solange Teles da Silva (NISAM/USP)
Celina Lopes Duarte
Edson A. Abdul Nour Edson A. Abdul Nour (FEC/Unicamp) Luiz Sérgio Philippi (UFSC) Tadeu Fabrício Malheiros (FSP/USP)
Eglé Novaes Teixeira Edson Leite Ribeiro (PRODEMA/UFPB) Marcel Bursztyn (UNB) Umberto Cordani (IGc/USP)
DATA Guilherme Ary Plonski Eglé Novaes Teixeira (FEC/Unicamp) Marcelo de Andrade Roméro (FAU/USP) Vahan Agopyan (EP/USP)
Dezembro de 2004 Jorge Hamada
Enrique Leff (PNUMA) Marcelo Pereira de Souza (EESC/USP) Vanderley Moacyr John (EP/USP)
TIRAGEM
Leny Borghesan Alberghini
Maria Zanin Eugênio Foresti (EESC/USP) Márcia Faria Westphal (FSP/USP) Vera Lúcia Ramos Bononi (NISAM/USP)
2.000 exemplares
Vahan Agopyan Fábio Luiz Teixeira Gonçalves (IAG/USP) Márcio Joaquim Estefano Oliveira (Unesp) Vicente Fernando Silveira (NISAM/USP)
Vanderley Moacyr John Fábio Nusdeo (FD/USP) Marcos Reigota (UNISO) Walter Lazzarini (NISAM/USP)
CONSELHO FISCAL Fábio Taioli (IGc/USP) Marcos Rodrigues (EP/USP) Wilson Edson Jorge (FAU/USP)
Titulares
Mario Sérgio Rodrigues Fabiola Zioni (FSP/USP) Maria Cecília Focesi Pelicioni (FSP/USP) Witold Zmitrowicz (EP/USP)
PROJETO E PRODUÇÃO GRÁFICA
Laboratório de Programação Gráfica da Nemésio N. Batista Salvador Fernando Fernandes da Silva (NISAM/USP) Maria José Brollo (IG/SMA/SP) Yara Maria Botti M. de Oliveira (Mackenzie)
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Pedro Caetano Sanches Mancuso Francisco Radler (UFRJ) Maria Olímpia Rezende (IQSC/USP)
Suplentes
João Antonio Galbiati
Luis Enrique Sánchez
Bruno Coraucci Filho
Índice

2 Palavras do Presidente
ARLINDO PHILIPPI JR.

3 Editor
MARCELO DE ANDRADE ROMÉRO

Entrevista
4 ANGELA AMIN
Prefeita de Florianópolis

Gerenciamento de Resíduos
EXPERIÊNCIAS MUNICIPAIS SOBRE RESÍDUOS PERIGOSOS: AVALIAÇÃO,
PERCEPÇÃO E COMUNICAÇÃO DE RISCOS

5 Regina Maria A. Carneiro, Angela M. Magosso Takayanagui, Adriana A. Nery, Ana


Lúcia M. Barbosa

Reciclagem
14 RECICLAGEM DE BATERIAS: ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL NO BRASIL
Denise Crocce Romano Espinosa, Jorge Alberto Soares Tenório

Educação Ambiental
CAPACITAÇÃO, REPRESENTAÇÃO SOCIAL E PRÁTICA EM EDUCAÇÃO

21 AMBIENTAL
Andréa Focesi Pelicioni, Helena Ribeiro

Energia e Ambiente
A BIOMASSA COMO ALTERNATIVA ENERGÉTICA PARA O BRASIL

25 Celso Roberto Alves da Silva, Maria Teresa Flosi Garrafa, Paulo Laguna Navarenho,
Rodolfo Gado, Sérgio Yoshima

Saneamento Ambiental
A APLICAÇÃO DE NITRATO DE AMÔNIO PARA O CONTROLE DE ODORES

37 EM SISTEMAS DE COLETA DE ESGOTOS SANITÁRIOS


Teodosia Basile Liliamtis, Pedro Caetano Sanches Mancuso

MONITORAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS COMO


INSTRUMENTO DE OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE LODOS ATIVADOS E
SUAS IMPLICAÇÕES

46 Solange Vieira da Silva, Rosemara Augusto Pereira, Roque Passos Piveli, Hernan
Junqueira Criscuolo
Fotos: Marcelo de Andrade Roméro

A QUESTÃO DA BALNEABILIDADE NAS PRAIAS: O CASO DOS MUNICÍPIOS

60 DE SANTOS E SÃO VICENTE


Kátia Simões Parente

Eventos
70 AGENDA DE EVENTOS
COMUNICADO – ICTR´2004 / NISAM´2004

dezembro 2004
1
Palavras
do Presidente

Arlindo Philippi Jr.

Presidente do Instituto de Ciência e Tecnologia em A movimentação da comunidade de pesquisa e instituições afins,


Resíduos e Desenvolvimento Sustentável – ICTR científica das ciências ambientais para contribuindo tanto para a produção e
Presidente do Conselho Deliberativo do Núcleo de
divulgar resultados de suas atividades de difusão de conhecimento em bases cada
Informações em Saúde Ambiental da Universidade de
São Paulo – NISAM pesquisa tem crescido significativamente. vez mais sólidas e interativas como para
Essa movimentação tem encontrado nos a articulação e integração de grupos e
congressos, fóruns e outros eventos um instituições.
canal inicial para as comunicações e Com base nos resultados dos
revelado importante contribuição para o eventos – fóruns, congressos,
desenvolvimento da ciência e tecnologia conferências, encontros acadêmicos,
ambiental. promovidos pelo ICTR e NISAM, tem-se
A Revista Brasileira de Ciências verificado uma ampliação gradativa de
Ambientais – RBCIAMB, ao trabalhar trabalhos que, por sua quantidade e
com os diversos campos da área qualidade, revelam a necessidade de
ambiental, reforça seus objetivos de ser contar com a RBCIAMB, como relevante
um dos principais canais de divulgação veículo de divulgação científica da área
científica dos estudos e pesquisas ambiental.
desenvolvidos por essa comunidade, O crescimento da pós-graduação
contando para isso com um corpo relacionada a questões ambientais, com
editorial expressivo que reflete e o crescente aumento do número de
representa as características das ciências mestrados e doutorados, encontra,
ambientais. nessa revista, espaço tanto para
O Instituto de Ciência e Tecnologia em submeter seus trabalhos para publicação
Resíduos e Desenvolvimento Sustentável como também para alimentar o
– ICTR e o Núcleo de Informações em conhecimento nos estudos e pesquisas
Saúde Ambiental – NISAM da USP, ao em desenvolvimento.
somarem energias para a consolidação Este segundo número da revista
da revista, reforçam a importância da confirma e revela essa tendência.
construção de parcerias entre Usemos e demonstremos, pois, o que é
professores, pesquisadores e conquista e produção desta
profissionais das universidades, institutos comunidade.

2 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Revista Brasileira de
Ciências Ambientais Editor
Envio de Artigos,
Opiniões e Sugestões
Cartas para
Marcelo de Andrade Roméro
NISAM/Revista Brasileira de Ciências
Ambientais
Av. Dr. Arnaldo, 715 – Cerq. César –
São Paulo - SP – CEP 01246-904

A/c Marcelo de Andrade Roméro ou


e-mail: maromero@ictr.org.br Lançamos, oficialmente, a Revista Brasileira de Ciências Ambientais – RBCIAMB,
no evento ICTR´2004 – Congresso Nacional de Ciência e Tecnologia em Resíduos e
Desenvolvimento Sustentável e NISAM´2004 – Ciclo de Conferências sobre Política e
•••
Gestão Ambiental, no dia 17 de outubro de 2004, em Florianópolis, para um público
composto por cerca de 700 pessoas, provenientes de todo o Brasil. Da mesma forma,
Assinatura
lançamos a RBCIAMB na sede da Faculdade de Saúde Pública, em novembro de 2004,
para professores e alunos de pós-graduação do NISAM e de diversas unidades da
ICTR – Av. Paulista, n. 509, Piso P, Universidade de São Paulo. Outros dois lançamentos foram realizados em novembro
Cj. 4 – São Paulo - SP de 2004, sendo o primeiro na USP de Ribeirão Preto, no dia 29, e o segundo na USP
telefones: (11) 287-2327 / 287-4965 de São Carlos, no dia 30, de maneira a conceder ampla divulgação para profissionais e
e-mail: ictr@ictr.org.br acadêmicos presentes nesses eventos.
Foi muito prazeroso participar da editoração do segundo número da
••• RBCIAMB, porque, a cada número, percebo que a revista vai atingindo os seus
objetivos. Iniciamos, desta vez, a seção Entrevista, a qual contou com a participação da
Sites prefeita de Florianópolis, no período de 1997 a 2004, que abordou sua experiência no
tocante à implantação de questões ambientais, como a Agenda 21 local, entre outras,
www.ictr.org.br no município de Florianópolis. Para o terceiro número programamos uma entrevista
www.fsp.usp.br/nisam com o engenheiro Rui Manuel Carvalho Godinho, administrador da VALORSUL,
empresa responsável pelo tratamento de resíduos sólidos da região metropolitana de
Lisboa. No âmbito dos tópicos temáticos, os quais organizam a revista por áreas de
••• interesse, acrescentamos dois novos: Saneamento ambiental e Energia e ambiente
visando caracterizar, por meio dos artigos científicos veiculados, o aspecto multidisciplinar
Para anunciar da revista. Este, presente na busca pela diversidade de assuntos, é parte da linha
editorial desta publicação e, ao mesmo tempo em que a caracteriza, diferencia-a.
Iniciamos, também neste número, a seção Agenda de eventos que, doravante,
ICTR – Av. Paulista, n. 509, Piso P, integrará o periódico, apresentando algumas chamadas de participação em eventos
Cj. 4 – São Paulo - SP nacionais e internacionais na área ambiental, facilitando, assim, a busca do leitor pelos
fóruns mais adequados para a apresentação e publicação de seus trabalhos. Do ponto
telefones: (11) 287-2327 / 287-4965
de vista formal, o rigor pela estética continua sendo uma preocupação, para que a
e-mail: ictr@ictr.org.br revista seja cada vez mais bonita e, seu conteúdo, de fácil comunicação.

•••

dezembro 2004
3
A visão que temos da área
ambiental é bem diferente
da visão de nossos filhos.

...

O melhor fiscal é o cidadão,

Entrevista e ele será um melhor fiscal a


partir do momento em que
entender a importância dos
ecossistemas para si.
Angela Amin
Prefeita de Florianópolis

Angela Regina Heinzen Amin Helou houve uma região onde a comunidade Como costumo dizer, a questão
nasceu no município de Indaial, em possuía várias organizações ambientais e ambiental aqui no Brasil ainda é muito
Santa Catarina. Formada em matemática entendeu que deveria seguir as diretrizes nova, e nós nos deparamos, em nosso
pela UFSC, desde cedo realizou trabalhos de um documento que já possuíam. processo, com dois extremos: aqueles
voltados para a área social. Durante os Bem, em meu entendimento, apesar da que não querem saber de preservar e
anos de 1983 a 1986 desenvolveu para iniciativa dessa comunidade, o de cuidar, e o extremo do “simplesmente
o governo do estado o Programa Pró- documento já existente deveria ser preservar”.
Criança, reconhecido pela Unicef do atualizado com base no que preconizava RBCIAMB: Houve algum processo de
Brasil. Em 1988, Angela Amin se elegeu a Agenda 21 local. Esse caso ocorreu na educação ambiental nas escolas, para
vereadora por Florianópolis, com a maior Lagoa da Conceição, que possui um dos crianças, decorrente da Agenda 21?
votação até então e, posteriormente, ecossistemas mais frágeis do município A.A.: Já existia um processo de educação
tornou-se a primeira mulher prefeita da de Florianópolis. Mesmo não ambiental no próprio regimento escolar
mesma cidade, a qual governou entre concordando inteiramente com a da rede pública municipal. Em alguns
1997 e 2004. A prefeita concedeu comunidade, respeitamos suas definições locais ele era mais forte e em outros
entrevista a Marcelo de Andrade Roméro, e determinações e acatamos suas menos, mas a partir da Agenda 21, o
editor da Revista Brasileira de Ciências diretrizes inteiramente. processo se intensificou na rede pública
Ambientais, na abertura do evento RBCIAMB: Estas foram as principais municipal e alcançou as escolas
ICTR’2004 e NISAM’2004, no dia 17 de dificuldades encontradas? estaduais e as particulares. Isso
outubro de 2004, em Florianópolis. A.A.: Isso é interessante, porque quando considero um grande avanço. É por
tu te propões a fazer um chamamento meio da educação que poderemos
RBCIAMB: Prefeita Angela Amin, como foi para a comunidade, para promover alcançar resultados na área ambiental e
desenvolvido o processo de construção discussões, eles se consideram eu sempre digo, a visão que temos da
da Agenda 21 de Florianópolis? soberanos e acham que prevalece, única área ambiental é bem diferente da visão
Angela Amin
Amin: Ele foi bastante analisado. e exclusivamente, aquilo que eles têm, e de nossos filhos.
Fizemos uma reunião inicial de não se nota uma posição de serenidade. RBCIAMB: Quais foram as principais
lançamento; depois dividimos o RBCIAMB: Quais foram, a seu ver, os conseqüências para o cidadão no
município em diversas regiões e principais resultados do processo de processo de implantação da Agenda
essas regiões sofreram novas divisões em implantação da Agenda 21 até o 21 em Florianópolis?
sub-regiões para que a gente pudesse momento? A.A.: Entendo que foi, sem dúvida, a
chegar o mais próximo possível do A.A.: Entendo que hoje há uma visão questão da fiscalização e da
cidadão. O objetivo era que estivesse diferente. O resultado, em meu entender, conscientização, porque o melhor fiscal é
realmente espelhado, nesse documento, foi a criação de uma sistemática de ação o cidadão, e ele será um melhor fiscal a
o sentimento ideal do cidadão de da administração pública municipal. Sem partir do momento em que entender a
Florianópolis, em relação ao que ele dúvida, houve uma nova visão interna na importância dos ecossistemas para si
espera para o desenvolvimento de sua discussão, por exemplo, o novo plano mesmo. Não é dever somente do poder
comunidade. Entendo que foi uma diretor municipal e também um avanço público ou do fiscal público.
experiência bastante válida, apesar de em relação ao gerenciamento costeiro do RBCIAMB: É do munícipe então?
ainda ser, em número de participantes, município de Florianópolis. A forma de A.A.: Sim, e nós só teremos a grande
uma experiência pequena; talvez por ser discussão do gerenciamento costeiro em vitória a partir do momento em que o
no Brasil um processo ainda novo, mas nosso município, hoje, serve de base, grande fiscal for o cidadão.
como experiência foi amplamente para discussões semelhantes no Brasil. RBCIAMB: Mas, ele já é um pouco de
positivo. Algumas comunidades Também destaco a mudança de certa forma...
participaram com mais identidade, outras mentalidade e da visão de participação A.A.: Sim, já avançamos muito sem
com menos. Vou citar um exemplo: comunitária nas questões ambientais. dúvida, mas precisamos avançar mais.

4 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Gerenciamento
de Resíduos

RESUMO EXPERIÊNCIAS
Os problemas ambientais atuais se caracterizam por sua magnitude, complexidade e diversidade,
diretamente relacionados a fatores de ordem política, social, econômica e de saúde, envolvendo
direta ou indiretamente a comunidade, que nem sempre é comunicada ou consultada sobre MUNICIPAIS SOBRE
questões que podem levar a um risco ambiental e de saúde. Além disso, há uma grande lacuna em
relação ao compromisso do setor produtivo e do regulador da poluição ambiental, nos aspectos
relativos à comunicação de risco à população. No Brasil, o processo de avaliação, percepção e
RESÍDUOS PERIGOSOS:
AVALIAÇÃO,
comunicação de risco começou, recentemente, a ter destaque em pesquisas na área ambiental;
porém, em países do Primeiro Mundo, o uso dessa estratégia pode ser identificado desde meados
do século passado. Este estudo tem como objetivo discutir a participação da comunidade, diante de

PERCEPÇÃO E
riscos ambientais causados por resíduos perigosos, oficialmente divulgados, a partir do conceito de
percepção e comunicação de risco como instrumentos de gerenciamento de risco ambiental.
Tomou-se como base a divulgação oficial de dois episódios de contaminação ambiental por esse
tipo de resíduo, ocorridos no estado de São Paulo, de 2000 a 2002, tendo sido trazido, também, caso
similar no Canadá, em 1990, a fim de subsidiar a discussão. Os dados foram extraídos de fontes de
informação acadêmica e de reportagens de jornais de grande circulação nacional, regional e local, da
COMUNICAÇÃO DE
imprensa falada e escrita, bem como da imprensa eletrônica. Os resultados apontam para um
necessário incremento das ações públicas, no sentido de favorecer o processo de comunicação e
percepção de risco ambiental no Brasil.
RISCOS
Regina Maria A. Carneiro
PALAVRAS-CHAVE
Avaliação de risco, percepção de risco, comunicação de risco, resíduos perigosos, áreas contaminadas.
Engenheira florestal – Mestranda do Programa de

ABSTRACT Enfermagem em Saúde Pública do DEMISP – EERP/


USP.
The environmental problems nowadays are characterized by its magnitude, complexity, and diversity tuia@terra.com.br
related to the social, economic, political, and health order factors, attacking directly the community, that
is not always consulted and informed about the tasks that can get to health and environmental risk.
Besides, there is a big fend related to the people accomplishment. In Brazil the risk assessment, risk Angela M. Magosso Takayanagui
perception, and risk communication process have started recently to be outstanding in environmental Professora doutora – Escola de Enfermagem de
area researchs but in the most developed countries this strategies can be identified since the half of Ribeirão Preto/USP –
last century. The aim of this study is to discuss the community participation before the environmental ammtakay@cerp.usp.br
risks caused by hazardous wastes officialy communicated, from the concepts of risk perception and
risk communication as a skill of environmental risk management. It was taken two official cases of
environmental contamination by that kind of waste held in São Paulo State, from 2000 to 2002, and Adriana A. Nery
a similar case was held also in Canada, in order to help the discussion. The data sources are from the Enfermeira, doutoranda do Programa de Enfermagem
academic information and reports on the best read nation newspapers as well as online information. em Saúde Pública – EERP/USP.
The results point to a necessary public actions increment for the decision-makers in order to improve
the risk perception and risk communication of the environmental area in Brazil.
Ana Lúcia M. Barbosa
KEY WORDS Enfermeira, mestranda do Programa Enfermagem em
Risk assessment, risk perception, risk communication, hazardous wastes, contaminated areas. Saúde Pública – EERP/USP.

dezembro 2004
5
INTRODUÇÃO aumentando em grande escala em
todas as sociedades, sendo causadas,
de substâncias ou resíduos que nela
tenham sido depositados, acumulados,
O crescimento urbano e a principalmente, pelo desenvolvimento armazenados, enterrados ou infiltrados
conseqüente expansão industrial trazem humano e excesso de consumo de de forma planejada ou acidental, no
benefícios à sociedade; mas, por outro bens e produtos, cada vez maiores. qual os agentes de contaminação
lado, carream também uma contínua Os diversos tipos de resíduos sólidos podem concentrar-se no ar, nas águas
deterioração do ambiente natural e dos urbanos são provenientes de atividades superficiais, no solo, nos sedimentos ou
recursos primários necessários à humanas realizadas no contexto nas águas subterrâneas. Os
manutenção da vida, como a água, o domiciliar e nos processos produtivos, contaminantes podem ser transportados,
solo e o ar. como as indústrias que geram os propagando-se por diferentes vias,
Os problemas ambientais se resíduos Classe I, conforme a norma alterando suas características e
caracterizam, atualmente, por sua NBR-10.004 (ABNT, 1987), determinando impactos negativos e/ou
magnitude, complexidade e diversidade, denominados como resíduos perigosos, riscos sobre populações humanas,
diretamente relacionados a fatores de por suas características e pela recursos naturais e infra-estrutura
ordem política, social, econômica e de conseqüente possibilidade de causar localizados na própria área ou em
saúde (BRILHANTE; CALDAS, 1999). danos à saúde e ao ambiente, outras áreas sob influência direta ou
Historicamente, o ser humano principalmente quando não há um indireta (CETESB, 2003).
sempre demonstrou uma certa planejamento adequado para Um aspecto fundamental para a
preocupação com o ambiente; mas a tratamento e destinação final desses determinação de risco em áreas
partir da década de 60 do século 20 resíduos. contaminadas é representado pelo tipo
houve um considerável desenvolvimento No que se refere aos riscos de uso e ocupação do solo do entorno.
da consciência ambiental dos povos, ambientais e os efeitos à saúde humana, Um risco só existirá se as concentrações
quando se iniciaram os primeiros eventos ainda há uma considerável distância em de contaminantes excederem os limites
internacionais voltados para a discussão relação ao conhecimento científico sobre considerados aceitáveis e se os
sobre a relação homem-ambiente, como os danos causados por agentes tóxicos, receptores sensíveis estiverem em
o famoso relatório produzido pelo Clube principalmente os de origem química, contato direto ou indireto com o
de Roma, que propôs limites para o dado o elevado número de substâncias contaminante (CETESB, 2003).
crescimento populacional ante os químicas existentes, representando, Uma das ferramentas utilizadas no
problemas decorrentes do crescimento e portanto, cada vez mais, um importante gerenciamento de áreas contaminadas é
desenvolvimento urbano (COIMBRA, tema a ser investigado e significando a o sistema de cadastro, que recebe
2002). ponta de um iceberg, quando se informações sobre as áreas,
Seguindo esse evento, houve várias considera que das cinco milhões de potencialmente, contaminadas, áreas
outras reuniões que geraram novos substâncias químicas conhecidas pelo suspeitas de contaminação e áreas
rumos ao desenvolvimento da homem, somente sete mil já foram confirmadas como contaminadas. A
consciência ambiental da humanidade e testadas quanto à carcinogenicidade Companhia de Tecnologia de
dos dirigentes de estado, especialmente (CANADÁ, 1991). Saneamento Ambiental – Cetesb, a qual
a II Conferência das Nações Unidas Preocupações com a contaminação atua no estado de São Paulo, no
sobre Meio Ambiente e dos solos tornaram-se mais evidentes a gerenciamento das questões ambientais,
Desenvolvimento, ocorrida em 1992 no partir do final da última década de 70, aplicando a legislação existente nos
Rio de Janeiro – ECO-92, que foi o após a ocorrência de incidentes de processos de licenciamento e fiscalização
maior evento dessa natureza e, mais proporções históricas em diversos países de atividades potencialmente
recentemente em setembro de 2002, a do mundo, em que foram identificados degradantes do meio ambiente, mantém
Conferência RIO+10, realizada em sérios danos no solo causados por e alimenta um cadastro dessa natureza,
Johannesburgo, África do Sul. rejeitos, sobretudo, de indústrias químicas. que subsidia a adoção de medidas
Dentre os diferentes problemas Uma área contaminada pode ser voltadas à remediação de áreas
ambientais, destacam-se os ligados à definida como um local onde há, contaminadas, ao controle ambiental, ao
produção de resíduos sólidos, oriundos comprovadamente, poluição ou planejamento urbano e ocupação do
de diferentes fontes, que vêm contaminação causada pela introdução solo (CETESB, 2003).

6 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


A saúde ambiental, ciência que se Conway apud Brilhante e Caldas, informações sobre avaliações de risco,
ocupa das questões ambientais as quais 1999, define “avaliação de risco anteriores ou futuras, por pesquisadores,
ameaçam a qualidade de vida de ambiental (ARA) como o processo de legisladores, grupos envolvidos e de
indivíduos ou comunidades, vem avaliação conjunta de dados científicos, interesse no tema, e pelo público em
lançando mão de diferentes estratégias e sociais, econômicos e de fatores políticos geral.
instrumentos metodológicos para que precisam ser considerados para a No Brasil, oficialmente, a comunicação
subsidiar os estudos nesse campo, com tomada de decisão (...), sendo que a de risco ocorre em situações de
vista a uma participação mais efetiva de decisão final envolve a medição científica Audiência e de Consulta Públicas,
centros de pesquisas nas questões do risco e o julgamento social, no qual conforme previsto nas resoluções
político-administrativas da comunidade. os benefícios dos produtos ou atividades Conama n. 001 de 23/1/86 e n. 009
Para Brilhante e Caldas (1999), uma são comparáveis ao risco” (p. 52). de 03/12/87 (CONAMA, 1986;
política de saúde ambiental deve ser Ainda, segundo esses autores, “o CONAMA, 1987), sendo pouco comum
pautada em instrumentos bem claros e processo de Avaliação de Impacto por outro meio.
eficazes, constituídos de: legislação Ambiental (AIA) é definido como um A percepção de risco ambiental está
ambiental e de saúde, caracterização e conjunto de procedimentos realizados relacionada com a concepção que a
valoração ambiental, instrumentos de para identificar, prever e interpretar, população tem sobre sua saúde e as
mercado, avaliação de impacto assim como prevenir as conseqüências condições do meio ambiente, bem como
ambiental, avaliação de risco ambiental, ou efeitos ambientais que determinadas com a forma em que se dá a
uso e ocupação do solo, manejo de ações, planos, programas ou projetos comunicação dos riscos, com a
recursos ambientais, recuperação de podem causar à saúde, ao bem-estar finalidade de despertar e/ou sensibilizar
áreas degradadas e educação ambiental. humano e ao entorno” (p. 48). as comunidades envolvidas para a
Em relação à avaliação de risco A legislação brasileira atual determina problemática de saúde ambiental, no
ambiental, em meados do século o uso de mecanismos destinados à que diz respeito aos riscos a que estão
passado, na década de 60, foram avaliação de impactos ambientais: o expostas.
iniciados estudos envolvendo a estratégia Estudo de Impacto Ambiental e As imprensas escrita e falada têm
de avaliação e gerenciamento de risco respectivo Relatório de Impacto atuado de maneira importante na
na saúde ambiental, mais Ambiental, de acordo com as Resoluções comunicação de riscos, embora muitas
especificamente como instrumentos Conama n. 001 de 23/1/86 e n. 237 vezes de forma alarmista. Por outro lado,
metodológicos utilizados em estudos da de 19/12/97 (CONAMA, 1986; tem servido ao processo de ampliação
área de toxicologia. CONAMA, 1997). da percepção de riscos pela sociedade,
Para a agência americana de Registro No contexto do processo de avaliação resultando em maior consciência crítica
de Doenças e Substâncias Tóxicas de risco há também outras estratégias da população sobre os problemas de
(ATSDR, 1990), o processo de avaliação que devem estar presentes em situações saúde ambiental na sociedade
de risco compreende a avaliação de de risco ambiental no espaço urbano, contemporânea.
propriedades de um dado elemento constituídas pelo processo de No entanto, ainda é um instrumento
químico em condições de exposição comunicação de risco, partindo de de gerenciamento de risco pouco
humana, determinando a probabilidade agências de controle e serviços públicos utilizado em nosso país, guardando um
de efeitos adversos a indivíduos ambientais e de saúde, e pelos histórico de forte domínio do setor
expostos a essas substâncias. responsáveis pelo dano; e também o produtivo sobre as decisões políticas e
O Conselho Nacional de Pesquisas processo de percepção de risco pelos administrativas dos municípios,
(NRC) da Academia Nacional de Ciências indivíduos ou pela coletividade envolvida. principalmente dos menos populosos.
dos Estados Unidos desenvolveu um O processo de comunicação de risco Nos últimos anos, esse
esquema de avaliação em situações de guarda uma estreita ligação com a comportamento vem se modificando,
risco urbano, que consiste de quatro percepção de risco por indivíduos ou tanto por parte dos responsáveis por
grandes componentes: identificação de comunidades sobre situações existentes processos de geração e controle da
risco, avaliação da dose-resposta, ou em vias de concretizar-se. produção de resíduos, ou substâncias
avaliação da exposição e caracterização Para Leiss (1995), comunicação de nocivas ao ambiente e à saúde pública,
do risco (CANADÁ, 1991). risco pode ser definida como o fluxo de quanto pela comunidade envolvida em

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7
situações de risco. Isso se deve, em com as conseqüências ambientais agrotóxicos por ano no município,
parte, pela contribuição da mídia na (CETESB, 2003). utilizados no controle de pragas
divulgação de alguns episódios Partindo-se dos conceitos de agrícolas. Desde o ano 2000, foram
envolvendo grupos de comunidades em percepção e comunicação de risco, detectados quatro casos de anencefalia
situação de exposição a poluentes buscaram-se informações sobre dois ocorridos no município, sendo um em
perigosos, até mesmo com casos fatais episódios de contaminação ambiental, 2000, um em 2001 e dois em 2002
como o acontecido em Goiânia com a recentemente divulgados no estado de (ROSSI, 2002 a, b, c).
ampola de Césio violada por um São Paulo, de 2000 a 2002, A principal hipótese para os casos de
pequeno grupo de pessoas que respectivamente nos municípios de anencefalia recaiu sobre a contaminação
desconheciam seu potencial de perigo, Guaíra e Paulínia, realizando-se um ambiental, a exemplo do ocorrido em
causando um desastre ambiental e estudo de caso sobre a temática, Cubatão na última década de 80,
humano para toda a população do baseado nos dados disponíveis, e considerando-se que restos de
entorno de onde sucedeu o fato (CÉSIO trazendo o relato de uma situação de agrotóxicos presentes em embalagens,
137, 2003). percepção e comunicação de risco descartadas de forma não controlada,
Assim, este trabalho visa discutir a ambiental ocorrida no Canadá, no início poderiam estar contaminando as águas
questão da participação da comunidade da década de 90 (BAXTER et al, 1999), do Ribeirão Jardim, principal manancial
diante de riscos ambientais, oficialmente para subsidiar as discussões, que abastece a cidade, com a ajuda das
declarados, tomando-se como base o considerando-se, obviamente, as chuvas.
conceito de percepção e comunicação evidentes diferenças de natureza A hipótese levantada por técnicos das
de risco, a partir de episódios de socioeconômica e cultural entre as áreas de saúde e meio ambiente,
contaminação de áreas urbanas, realidades dos referidos locais. estaduais e municipais, baseava-se em
ocorridos recentemente no estado de As informações sobre os casos análises anteriores que haviam detectado
São Paulo. ocorridos no estado de São Paulo a presença de substâncias orgânicas e
Com isso, espera-se, também, propiciar constituíram-se de revistas científicas e de agrotóxicos nas águas do manancial,
uma reflexão sobre a atuação dos reportagens de jornais de grande contaminando seus consumidores
geradores de resíduos perigosos e das circulação nacional, regional e local, da (ROSSI, 2002 a, c).
agências fiscalizadoras governamentais, imprensa on-line e de revistas técnicas Considerando a experiência ocorrida
no que diz respeito à comunicação de relatando casos de contaminação em Cubatão, quando casos de
riscos para as comunidades envolvidas, ambiental. A utilização de artigos anencefalia foram relacionados à
bem como na promoção de medidas de divulgados pela imprensa deve-se ao contaminação ambiental e, adotando as
proteção e reparação dos danos gerados fato de serem, os episódios, bastante orientações da Secretaria de Estado da
à saúde e ao ambiente. recentes e, portanto, ainda não- Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde
divulgados em revistas indexadas. realizou exames de sangue em 111
Os três casos se encontram em forma pessoas residentes nas zonas rural e
METODOLOGIA de perfil descritivo, sintetizando as
ocorrências verificadas no período de
urbana, em uma tentativa de abranger
toda população que pudesse estar
tomada de consciência da existência real sendo atingida (ROSSI, 2002 a).
A busca de algumas situações paulistas de risco. Os resultados das análises de sangue
de risco ambiental revelaram baixa quantidade de oxigênio
O estado de São Paulo possuía, até O caso de Guaíra, SP em 50,45% das pessoas analisadas, o
maio de 2002, 145 áreas Guaíra, cidade situada no nordeste que significa um número superior a 17
comprovadamente contaminadas, com do estado de São Paulo, possui uma mil moradores com taxa de oxigênio
processo de remediação em curso. população de aproximadamente 35.000 abaixo do normal (ROSSI, 2002 c).
Entretanto, é sabido que ainda existem habitantes, cuja economia está centrada Segundo observações dos técnicos
muitos casos não-cadastrados, os quais na produção de grãos e cana-de-açúcar, do Centro de Vigilância Sanitária,
aos poucos virão à tona, tendo em vista em área agrícola de 85 mil hectares e freqüentemente são recolhidas das
que muitos rejeitos industriais foram cerca de 500 produtores. São matas e acostamento de rodovias
descartados, no passado, sem cuidados manipulados mais de 15 mil litros de regionais embalagens descartadas de

8 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


agrotóxicos, sem qualquer norma de Uma ex-moradora de Guaíra, por três é incompatível com a vida; muitos
segurança. Uma central de recebimento anos, tendo engravidado nesse período, anencefálicos são abortados ou
de embalagens, reivindicada pelos procurou a Secretaria Municipal de natimortos; lactentes vivos, geralmente,
produtores rurais há cerca de 20 anos, Saúde, informando ter perdido um filho, sobrevivem apenas algumas horas e a
está em processo de licenciamento em vítima de anencefalia, em 2001. Ao etiologia está relacionada à
Guaíra (ROSSI, 2002 c). tomar conhecimento das investigações, hereditariedade e também a fatores
A Lei Federal n. 9.974 de 6/6/2000, manifestou interesse em realizar os ambientais (MUSCARI,1998;
que altera a Lei n. 7.802 de 11/7/89, exames de sangue (ROSSI, 2002 b). MARCONDES, 1992).
obriga os usuários de agrotóxicos a Já entre as autoridades responsáveis
efetuarem a devolução da embalagem observou-se que percebiam a situação e O caso do bairro Recanto dos Pássaros,
vazia aos estabelecimentos comerciais posicionavam-se sobre o caso, algumas Paulínia, SP
em que foram adquiridos, podendo, a vezes de forma contraditória: O bairro Recanto dos Pássaros se
devolução, ser intermediada por posto “Três casos muito próximos de situa no município de Paulínia, próximo
ou centro de recolhimento autorizado e anencefalia numa cidade como Guaíra ao rio Atibaia, local em que
fiscalizado por órgão competente levantam a hipótese de que, se houver predominavam chácaras e pequenas
(BRASIL , 2003). uma contaminação ambiental, as duas propriedades agrícolas. Em 1977 foi
O Ministério Público, por meio da coisas podem estar relacionadas” – instalada, nesse bairro, uma fábrica de
Promotoria do Meio Ambiente de Guaíra, coordenador do programa Saúde da praguicidas no Centro Industrial da Shell,
instalou inquérito civil para apurar Criança, Secretaria de Estado da Saúde produzindo até 1990 agroquímicos
possível contaminação e intoxicação dos (ROSSI, 2002 c). organoclorados, pertencentes à família
moradores, bem como os responsáveis “A central (de recolhimento de dos Drins. Esses produtos foram
pelo fato (ROSSI, 2002 a, b, c), tendo embalagens) é importante para que o amplamente divulgados e assimilados
sido criada uma Comissão da Câmara de armazenamento indevido e a queima pelo setor agrícola do país, naquele
Vereadores, com a finalidade de de embalagens sejam interrompidos” – período em que as leis ambientais
acompanhar as pesquisas realizadas na engenheiro agrônomo; enquanto a brasileiras, ainda rudimentares, não faziam
água da cidade, abastecida pelo Ribeirão Cetesb informava não ter como controlar grandes exigências para a instalação e
Jardim e poços subterrâneos. o descarte irregular de embalagens de operação de indústrias, as quais foram
A divulgação oficial da ocorrência de agrotóxicos, a não ser por meio de incentivadas a partir da explosão industrial
casos de anencefalia levou a população denúncia (ROSSI, 2002 c). ocorrida (SILVEIRA, 2001).
a preocupar-se com a possibilidade de A Secretaria Municipal da Saúde A partir de 1985, o uso de inseticidas
estar sendo contaminada e com o acreditava que a alteração no sangue organoclorados na agricultura foi
provável agente causador da tivesse sido provocada por algum tipo proibido pelo Ministério da Saúde. No
contaminação. Essa preocupação foi de contaminação por praguicida e entanto, a fábrica da Shell, em Paulínia,
captada em manifestações da população solvente orgânico utilizado na agricultura continuou com sua produção, visando
afetada, tomadas de reportagens da ou pela água. Em outro momento, a atender o uso desses produtos em
época, a exemplo de alguns mesma Secretaria Municipal da Saúde reflorestamentos, que não haviam sido
depoimentos: emitia declaração no sentido contrário proibidos, e também para exportação
“Devido ao fato de Guaíra ser ao que vinha manifestando: “Guaíra (SILVEIRA, 2001; CONTAMINAÇÃO,
extremamente agrícola, pode ser que enfrenta um inimigo invisível, já que a 2001).
tenha ocorrido algum tipo de água e o agrotóxico, que eram Segundo a Cetesb, houve um
contaminação” – secretário da Saúde apontados como principais suspeitos, acompanhamento das atividades e
(ROSSI, 2002 a). estão praticamente descartados.” mudanças ocorridas na empresa, desde
Sem uma explicação definitiva, os (PAGNAN, 2002) sua Licença de Instalação, tendo sido, a
moradores de Guaíra tentam evitar a Sabe-se que a anencefalia é um empresa, punida por aquele órgão com
ingestão de água da cidade, temendo defeito grave, que envolve ausência de sete advertências e duas multas durante
que a contaminação possa estar vindo todo o cérebro ou dos hemisférios o período. Também foram oficialmente
por ela. “Eu só bebo água mineral”, cerebrais; o tronco cerebral e o cerebelo registrados, durante esses anos de
relata uma moradora (PAGNAN, 2002). podem estar intactos. A anencefalia total produção de organoclorados, três casos

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de vazamento dessas substâncias 88 adultos (44%) e 27 crianças (13%) feridas nas mãos, bronquite, manchas no
(SILVEIRA, 2001), mas sem o caráter de tinham um quadro de contaminação corpo, inchaço no rosto. Ainda, o irmão
comunicação oficial dos riscos à crônica (GUAIUME, 2001). dessa moradora, também residente na
comunidade. Tornados públicos esses resultados, mesma chácara, apresenta problemas
Entretanto, a contaminação do solo e mesmo descartando a hipótese de motores e neurológicos desde o início de
do lençol freático do Recanto dos contaminação, a Shell resolveu fornecer 2001 (GUAIUME, 2001).
Pássaros por Drins e solventes voláteis água potável à população, comprar a Alguns depoimentos ressaltaram a
não foi detectada pela Cetesb e pelos produção de frutas e hortaliças das indignação e revolta pela situação, como:
demais órgãos fiscalizadores na época, chácaras atingidas, bem como adquirir –“Nós nos sentimos cobaias da Shell.
vindo à tona somente em 1994, por os terrenos dos proprietários que Queremos que a empresa se
ocasião da auditoria ambiental desejassem sair de lá (SHELL, 2003). responsabilize pelo que fez e nos
contratada pela Shell. Constatada a Atualmente, de acordo com a ficha indenize. Se ela tivesse contaminado
contaminação do solo e do aqüífero na técnica do cadastro de áreas moradores da Holanda, onde fica sua
área e no entorno, a Shell efetuou contaminadas da Cetesb, a área do sede, as sanções seriam mais rigorosas.
autodenúncia ao Ministério Público Centro Industrial Shell de Paulínia Ela estaria fechada.” Líder dos
Estadual. Essa conduta foi adotada apresenta-se contaminada com moradores do Recanto dos Pássaros
porque a indústria se encontrava em praguicidas organoclorados, solventes (SILVEIRA, 2001).
processo de venda à Cyanamid Industrial halogenados e fenóis clorados. Assim, O Secretário de Defesa e
Comercial Ltda. (SILVEIRA, 2001). foram recomendadas ações imediatas Desenvolvimento do Meio Ambiente de
Em 1995, a multinacional anglo- para resguardar os receptores de risco, Paulínia relata: “Aqui, a partir de 1970,
holandesa assinou um acordo de tais como: isolamento da área, quando começou a funcionar a
recuperação ambiental com a Promotoria monitoramento ambiental, prevenção de Refinaria de Paulínia, as indústrias
de Meio Ambiente, o que motivou o consumo de água e de alimentos foram instaladas às margens de um rio
arquivamento do inquérito civil movido produzidos nas imediações, remoção piscoso, habitadas por chacareiros e
contra a empresa. Em fevereiro de 2001, dos resíduos e tratamento dos líquidos pescadores. Vinte e cinco anos depois,
quando foram divulgados os resultados contaminados (CETESB, 2003). os peixes e as matas nativas se foram e
de contaminação ambiental fora dos A comprovação técnica de as pessoas estão doentes.” (SILVEIRA,
limites da fábrica, esse inquérito foi contaminação do solo desencadeou 2001)
reaberto, graças à atuação dos para os moradores do bairro uma De acordo com o promotor
moradores do bairro Recanto dos mudança repentina em suas vidas, responsável pelo inquérito civil: “A
Pássaros, que passaram a reunir-se e levando-os a manifestações públicas em autodenúncia da Shell não se deu por
buscar uma solução para o problema protesto ao dano sofrido, mas sem preocupação com o Meio Ambiente ou
(MARGARIDO, 2001). muita perspectiva de solução. A com a saúde dos moradores. Seu
Por exigência do Ministério Público, percepção do problema pelos interesse foi exclusivamente comercial,
cerca de 200 moradores das 66 moradores pode ser, em parte, verificada pois estava vendendo suas fábricas de
chácaras vizinhas à fábrica foram por relatos e manifestações também defensivos agrícolas para outra
submetidos aos exames clínicos e de tomados da imprensa escrita: empresa, que não queria ficar com o
sangue realizados pelo Centro de – Moradora há 33 anos no bairro, passivo ambiental. Sem a autodenúncia
Análises Toxicológicas da Universidade reclama de coceiras, gosto de veneno na a venda não se concretizaria.” (SILVEIRA,
Estadual Paulista de Botucatu. Os boca e estômago ruim, manifesta seu 2001)
resultados dos exames apontaram que dilema: “Não quero sair daqui, mas não Em Paulínia, a atuação da associação
70% das pessoas apresentavam posso ficar”, precisou parar de vender de moradores possibilitou o
sintomas clínicos compatíveis com a seus produtos agrícolas, depois que a engajamento da população envolvida. A
presença destes contaminantes em seus notícia da contaminação se espalhou partir desse movimento, foi criada a
organismos, sendo que 86% (GUAIUME, 2001). Rede Brasileira Contra a Contaminação
apresentavam contaminação por, pelo – Moradora no bairro há nove anos, Química, com a participação de pelo
menos, uma substância química. descreve problemas de saúde menos 92 entidades ambientais do
Detectou-se que, dos 200 moradores, apresentados pelos filhos jovens, como: estado de São Paulo, para atuar nas

10 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


temáticas jurídica, médica e ambiental e
dar suporte à população atingida, a qual,
Nesse local foi realizado um estudo
por especialistas da área de avaliação,
DISCUSSÃO
na maioria das vezes, encontra percepção e comunicação de risco na A despeito das limitações dos dados
dificuldades em requerer seus direitos comunidade local, visando avaliar a levantados para este estudo, bem como
(ROSSIT, 2002). Ainda hoje há algumas compreensão da população sobre o de algumas de suas fontes, é possível
famílias que permanecem no local, risco de contaminação potencial da área fazermos uma discussão referente à
mesmo com a área sendo considerada em sua cercania, bem como a visão percepção e comunicação de riscos
contaminada. dessa mesma população sobre a atuação ambientais da comunidade afetada.
Sabe-se que praguicidas dos técnicos da IWA. Essa investigação Pela forma como ocorreram os dois
organoclorados, contendo carbono e tomou por base uma amostra de 30 episódios selecionados no Brasil, pode-
cloro em suas moléculas, englobam: entrevistas efetuadas com moradores das se observar que a comunicação de risco
DDT, BHC, lindane, heptacloro, endrin, três subáreas consideradas: cidade, local só aconteceu a partir da manifestação
aldrin, dieldrin, clordame, dodecacloro, do aterro e zona rural. Entre os de alterações na saúde da população,
endosulfan, telodrin e outros. Quando entrevistados, figuravam moradores da diretamente, envolvida ou exposta aos
presentes no corpo humano, área, dentre os quais havia alguns agentes contaminantes presentes no
acumulam-se, preferencialmente, no membros de diferentes grupos de ambiente e pela contaminação
tecido adiposo e nas substâncias lipídicas oposição à instalação do aterro e constatada de área localizada no
dos fluídos. O homem, que se encontra membros da equipe técnica da IWA entorno de uma fonte poluidora.
no ápice da cadeia alimentar, tende a (BAXTER et al, 1999). Nos dois casos paulistas, houve
acumular maiores quantidades desses As entrevistas revelaram diferentes formas e níveis de
resíduos (MATUO et al, 1990). preocupações, por parte dos moradores, representatividade e engajamento da
em relação às conseqüências futuras população exposta, resultando na
O caso na região da Grande Toronto, sobre: a qualidade da água, saúde, valor formação de instâncias de manifestação
Canadá econômico das propriedades, das incertezas e temores da população
Em novembro de 1990, o governo surgimento de pragas e vetores, efeitos envolvida. Observou-se, nesses casos, a
da província de Toronto, Canadá, iniciou sobre as crianças, representando o efetiva participação do Ministério Público
o planejamento para o manejo dos aterro sanitário uma ameaça aos valores Estadual, representando os interesses da
resíduos sólidos domésticos, por e expectativas da comunidade. comunidade, porém com solução não-
intermédio da Interim Waste Authority Houve uma ampla divulgação da imediata e/ou definitiva, haja vista o
(IWA) – Autoridade Interina de problemática pela imprensa oficial, longo período de tomada de decisão
Resíduos, agência governamental, buscando-se a participação da por parte de autoridades e da própria
incumbida pela seleção de três áreas de comunidade. No entanto, a população comunidade, ocorrido com o caso da
deposição controlada, tomando-se por local reagiu contrariamente à ação dos Shell em Paulínia (de 1994 a 2001).
base critérios que minimizassem os técnicos do IWA, alegando Por outro lado, quando se analisa a
efeitos negativos sobre os ambientes direcionamento pelo governo, em sentido situação vivenciada pela comunidade
social e natural, os quais foram contrário aos seus anseios. Moradores canadense, o estudo demonstra que a
submetidos à apreciação pública. entrevistados relataram o distanciamento população envolvida ampliou,
Dentre as áreas consideradas, foi entre a população e os técnicos, rapidamente, sua consciência crítica
indicado um local nas proximidades de possibilitando que barreiras à aceitação sobre os problemas ambientais, que
Caledon, localidade com cerca de dos mesmos e de seus pareceres fossem resultou em manifestações de protesto à
35.000 habitantes e densidade criadas. Assim, após muitas discussões, o decisão do governo da província. Nesse
populacional de 51 habitantes/km2. A projeto de instalação do aterro foi caso analisado, foi também possível
principal atividade econômica em interrompido, decorrente também do fato perceber que as apreensões dos
Caledon era a agricultura, cuja de ter havido mudança na situação moradores extrapolaram a síndrome de
população era composta por moradores política, por eleições do governo da NIMBY (Not in my back yard), visto que
tradicionais e por novos moradores, os província, revelando o poder de o risco apresentado significava ameaças
quais buscaram ali uma alternativa à vida influência da comunidade na tomada de a valores e expectativas em relação ao
estressante dos grandes centros. decisões público-administrativas. futuro, e não apenas a questões de

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11
caráter unicamente econômico, as ações por parte dos potenciais CANADÁ. Environmental Protection Office.
culminando na desistência da instalação poluidores quanto dos órgãos de Department of Public Health. City of Toronto.
do aterro sanitário proposto pelo controle e fiscalização ambiental, e a Determining the human health risks of
Environmental chemicals. Resource manual.
governo. própria comunidade.
Toronto: Canadian Standards Association, nov.
Nos casos paulistas apresentados, Este estudo nos leva a considerar que
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houve diferentes formas de perceber os a população, quando mobilizada, possui
riscos e de controlá-los, quando se importantes ferramentas para interferir CETESB. Cadastro de áreas contaminadas.
observa a forma de reação e os tipos de nas decisões tecno-burocráticas, Disponível em: <http://
manifestações da comunidade exposta podendo exercer a cidadania na busca www.cetesb.sp.gov.br> Acesso em: 3 mar.
2003.
diante de uma situação de risco de seus direitos. No entanto, é
socioambiental e de saúde. Em relação necessário um incremento das ações CÉSIO 137. Tragédia da desinformação.
ao processo de comunicação de risco, públicas, no sentido de favorecer o Universidade Federal de Juiz de Fora.
também nos casos paulistas, não ficou processo de comunicação e percepção Faculdade de Engenharia. Disponível em:
evidenciada uma política clara e de risco ambiental no Brasil. <http://www.tgfd.hpg.ig.com.br/cesio.html>.
organizada, por parte dos órgãos Consideramos, ainda, que, para Acesso em: 3 mar. 2003.

públicos responsáveis, nem pelas enfrentar os problemas de saúde CONAMA. Conselho Nacional do Meio
empresas poluidoras. ambiental, são necessárias articulações, Ambiente. Resolução n. 001, de 23 de janeiro
Observou-se que, no caso relatado buscando-se a intersetorialidade e de 1986. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
do Canadá, houve, ainda que estabelecendo-se alianças, por meio de 17 fev. 1986. Disponível em: <http://
questionada pela população, uma implantação e/ou implementação de www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm>.
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atuação mais rigorosa por parte dos políticas públicas favoráveis à saúde e ao
órgãos gerenciadores das questões meio ambiente. . Resolução n. 009, de 03 de dezembro
envolvendo a saúde ambiental, além, é de 1987. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5
claro, de uma forma mais organizada e jul. 1990. Disponível: em <http://
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13
Reciclagem

RECICLAGEM DE RESUMO
O descarte de pilhas e baterias é um problema que tem adquirido maior amplitude nos últimos anos,

BATERIAS: ANÁLISE DA devido ao grande aumento do uso de produtos portáteis os quais necessitam de pilhas ou baterias
como fonte de energia. Pilhas e baterias podem conter elementos tóxicos, como cádmio, mercúrio
e chumbo, fazendo com que seu descarte precise ser controlado. O Brasil foi o primeiro país da
SITUAÇÃO ATUAL NO América Latina a ter uma legislação para a regulamentação do descarte e tratamento de pilhas e
baterias. A Resolução n. 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece limites

BRASIL
de concentração de metais pesados em pilhas e baterias para que elas possam ser dispostas com
o lixo doméstico. Como as pilhas e baterias são produtos consumidos pela população, o controle de
seu descarte torna-se difícil. Para que a coleta seja eficiente é necessário um engajamento da
população e, para que isto ocorra, a população precisa ser informada tanto do conteúdo da resolução
como da importância de não se colocar as pilhas e baterias com o lixo doméstico. No mundo, já
existem tecnologias consagradas para a reciclagem de alguns tipos das mesmas. No Brasil, a reciclagem
de baterias automotivas de chumbo-ácido já é realizada em grande escala; entretanto, a reciclagem de
outros tipos de pilhas e baterias ainda é bastante incipiente. Este trabalho traça uma análise da
Resolução n. 257 do Conama e apresenta algumas sugestões e iniciativas de outros países, nessa
área, as quais possam auxiliar no gerenciamento desse tipo de resíduo sólido urbano.

Denise Crocce Romano Espinosa PALAVRAS-CHAVE


Doutora em engenharia metalúrgica, Escola Politécnica, Reciclagem, baterias, NiCd.
USP.

Jorge Alberto Soares Tenório ABSTRACT


Professor associado, Escola Politécnica, USP. The discharge of batteries is a problem that has acquired bigger amplitude in the last few years due
jtenorio@usp.br to the increase on the use of portable devices, which use batteries as energy source. Batteries may
contain toxic metals such as cadmium, mercury and lead; so their disposal must be controlled. Brazil
was the first country in the Latin America to have a law that rules the discharge and treatment of
batteries. The brazilian law establishes limits of concentration of heavy metals within batteries, if the
concentration of such metals is under the limits, the battery can be disposed of along with the
municipal waste. Since batteries are products used by the population, their discharge is difficult to
control. In order to have an efficient collection, the population must be engaged with the collection;
and for the population became engaged with the collection, it must be informed about the law and
the importance of discharge batteries separately from the domestic garbage. In the world, there are
some long-established processes to recycle batteries. In Brazil, automotive (lead-acid) batteries are
recycled for several years, whereas the recycling of other types of batteries is still incipient. This work
does an analysis of the brazilian law for battery recycling and presents some suggestions and
examples of the initiatives of other countries in order to help the managing of this kind of dangerous
waste.

KEY WORDS
Recycling, batteries, NiCd.

14 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


LEGISLAÇÃO BRASILEIRA o com até 0,400% em peso de
chumbo, quando forem do tipo zinco-
uma vez que elas contêm cerca de 17%
de cádmio (Cd) (VON STURM, 1981,
SOBRE DESCARTE DE PILHAS E manganês e alcalina-manganês;
o com até 25 mg de mercúrio,
ADAMS, & AMOS 1993). Isso faz com
que sua coleta e destinação sejam
BATERIAS quando forem do tipo pilhas miniaturas
e botão.”
regulamentas pela Resolução n. 257/99
do Conama. A reciclagem das baterias
O Conselho Nacional do Meio “Art. 6o. A partir 10 de janeiro de de NiCd é uma das alternativas
Ambiente (Conama), em 30 de junho 2001..: propostas pela resolução para a
de 1999 regulamentou a fabricação e o o com até 0,010% em peso de destinação desse tipo de baterias. A lei
descarte de pilhas e baterias. A seguir mercúrio, quando forem do tipo zinco- de crimes ambientais, n. 9.605, prevê
serão transcritos trechos dessa manganês e alcalina-manganês; punição aos infratores flagrados jogando
Resolução do Conama, n. 257/99. o com até 0,015% em peso de esses materiais no lixo comum: 1 a 4
“... Considerando os impactos cádmio, quando forem do tipo zinco- anos de prisão e multa. O Brasil é o
negativos causados ao meio ambiente manganês e alcalina-manganês; único país da América do Sul com leis
pelo descarte de pilhas e baterias o com até 0,200% em peso de sobre o assunto.
usadas. chumbo, quando forem do tipo zinco- Atualmente, as empresas que
Considerando a necessidade de se manganês e alcalina-manganês.” comercializam baterias as quais
disciplinar o descarte e o gerenciamento Os fabricantes e importadores necessitam de coleta e destinação
ambientalmente adequado de pilhas e deverão implementar sistemas de coleta, adequadas já possuem um sistema de
baterias usadas, no que tange à coleta, transporte, armazenamento, reutilização, coleta organizado, e a destinação das
reutilização, reciclagem, tratamento ou reciclagem tratamento e/ou disposição baterias recolhidas depende da empresa.
disposição final...” final, em prazos definidos na resolução. Segundo Reidler (2002), que estudou a
“Art. 1o. As pilhas e baterias que As pilhas e baterias que estiverem dentro situação atual das pilhas e baterias no
contenham em suas composições das especificações acima poderão ser município de São Paulo, o maior
chumbo, cádmio, mercúrio e seus dispostas à população, com os resíduos problema detectado no sistema de
compostos... deverão, após seu domiciliares. coleta e destinação das pilhas e baterias
esgotamento energético, ser entregues A resolução parece bastante foi o desconhecimento da legislação por
pelos usuários aos estabelecimentos conservadora, uma vez que a maioria parte da população e de comerciantes.
que as comercializam ou à rede de dos limites propostos já está dentro do
assistência técnica autorizada pelas que os fabricantes de pilhas alcançam
respectivas indústrias, para repasse aos
fabricantes ou importadores, para que
há alguns anos. Assim, principalmente
as baterias de NiCd e chumbo-ácido
SITUAÇÃO INTERNACIONAL
estes adotem diretamente ou através de estão sujeitas a maior controle pelas As legislações específicas para pilhas e
terceiros, os procedimentos de empresas. baterias portáteis, no total, foram
reutilização, reciclagem, tratamento ou Destaca-se que o efeito dos metais implementadas na década de 90. No
disposição final ambientalmente pesados depende muito de seu estado geral, o foco está na restrição do
adequada ...” no produto. Por exemplo, usa-se mercúrio em pilhas alcalinas e secas e
“Art. 5o. A partir de 1o de 2000, a mercúrio (Hg) nos amálgamas dentários. tipo botão e também nas baterias de
fabricação, importação e comercialização A resolução permitirá até 250 ppm NiCd. Contudo, em alguns países como
de pilhas e baterias deverão atender aos (0,025%) de Hg nas pilhas; entretanto, Suíça, Noruega, Suécia e Alemanha, a
limites estabelecidos a seguir: não se considera o mesmo estar, em exigência para a coleta é geral, não se
o com até 0,025% em peso de sua maioria, solúvel nas pilhas e, assim, limitando a tipos específicos de pilhas ou
mercúrio, quando forem do tipo zinco- estas seriam consideradas resíduo classe baterias (USEPA, 2002a).
manganês e alcalina-manganês; 1, se submetidas à mesma sistemática de Muitos tipos de pilhas e baterias
o com até 0,025% em peso de classificação de resíduos industriais. possuem metais pesados e tóxicos em
cádmio, quando forem do tipo zinco- As baterias de NiCd não estão dentro sua composição. Assim, esses materiais
manganês e alcalina-manganês; dos limites estabelecidos pela legislação, são potencialmente perigosos. Nos

dezembro 2004
15
aterros sanitários, eles são a principal
fonte de mercúrio e cádmio, os quais
A tendência é todas as pilhas e
baterias serem coletadas em todos os
RECICLAGEM DE PILHAS E
podem ser lixiviados e, portanto, causar
contaminações ao solo e aos lençóis
países da Europa, principalmente as de
NiCd.
BATERIAS
freáticos. Em 1989, 54% do Cd e 88% A proposta da Associação Européia Devido a pressões políticas e novas
do Hg contidos nos aterros sanitários de Fabricantes de Pilhas é limitar a legislações ambientais, que
eram provenientes desses materiais. quantidade de mercúrio nas pilhas em regulamentaram a destinação de pilhas e
Além disso, outras substâncias tóxicas, 5 ppm e a coleta de todos os tipos de baterias em diversos países, alguns
cloreto de amônio e hidróxido de pilhas e baterias em 2003 (USEPA, processos foram desenvolvidos visando
potássio, também são, normalmente, 2002a). à reciclagem desses produtos.
usados como base do eletrólito A legislação austríaca é mais restritiva Em 1999, na Europa, cerca de 76%
(FISHBEIN, 2002). que a diretiva da União Européia, pois das baterias de NiCd de uso doméstico
A tendência observada é a requer a coleta de todos os tipos de ainda eram colocadas em aterros ou
eliminação de mercúrio em pilhas secas baterias. Nesse caso, a responsabilidade incineradas (COX & FRAY, 1999). Esse
e alcalinas e o incentivo ao uso de pela coleta e destinação fica a cargo dos panorama era semelhante nos EUA
sistemas com maior vida útil, como as fabricantes e importadores. O plano da (VALIANTE, 1999). A agência ambiental
baterias recarregáveis. As baterias de Agência de Proteção Ambiental da dos EUA, Environmental Protection
NiCd apresentam tendência de Dinamarca é: a partir de 2002, coletar Agency (EPA) estima que, em 1999, as
diminuição de seu consumo; entretanto, pelo menos 75% das pilhas e baterias. baterias de NiCd representavam apenas
trata-se de um tipo de bateria para o Na Alemanha, desde 1998 (Germany’s 0,1% em peso do lixo urbano. Todavia,
qual existe tecnologia de reciclagem, Batteries Ordinance), a responsabilidade elas se constituíam na maior fonte de
enquanto praticamente todas as outras de coleta e destinação também recai cádmio nos incineradores; era estimado
baterias portáteis não são totalmente sobre o fabricante ou importador. Os que cerca de 75% do cádmio
recicláveis. consumidores são obrigados a devolver encontrado em incineradores de
A legislação específica para pilhas e qualquer tipo de pilha, de qualquer resíduos urbanos fosse proveniente de
baterias aplicadas em todos os estados fabricante ou comerciante a um sistema baterias de NiCd (VALIANTE, 1999).
dos EUA passou a vigorar a partir de de coleta, no qual todos os fabricantes
1996 (Mercury-Containing and participam. Estima-se que 900 milhões Coleta
Rechargeable Battery Management Act), de pilhas de uso doméstico, o que Um grande problema, quando se
(USEPA, 2002b). equivale a aproximadamente 30.000 pensa na reciclagem de baterias, é a
A legislação da União Européia foi toneladas de pilhas, sejam devolvidas coleta, pois sua eficiência depende não
aprovada em 1991 (91/157/EEC – anualmente (USEPA, 2002a). apenas da cooperação da população,
Batteries and Accumulators Directive). Existem poucas empresas capacitadas mas, principalmente, das indústrias,
Em resumo, essa diretiva visara limitar a para reciclar pilhas na Europa. Destaca- distribuidores e governo. Pode-se
concentração de mercúrio, cádmio e se a Accurec Deutschland, em Mühlheim verificar esse problema tomando como
chumbo nas pilhas, padronizar a (Alemanha), com o processo TERA, exemplo um programa voluntário para
identificação das pilhas que podem ser subsidiada pelo Ministério do Meio reciclagem de baterias de NiCd iniciado
recicladas e desenvolver programas de Ambiente alemão. Existem também na Suécia, em 1993, o qual tinha como
reciclagem (USEPA, 2002a). restrições quanto ao uso de metais objetivo a reciclagem de 90% das
Além disso, a diretiva européia visa tóxicos em pilhas, de maneira que as baterias de NiCd produzidas até o verão
atingir metas progressivas, como: até pilhas contendo esses metais devem de 1995. O programa falhou,
2008 desenvolver o sistema de coleta de possuir identificação. conseguindo apenas a taxa de
tal forma, que 75% das pilhas e baterias A Agência de Proteção Ambiental de reciclagem de 35% (VALIANTE, 1999).
domésticas e 95% das baterias Taiwan estabelece o recolhimento A questão da coleta é bastante
industriais sejam coletadas; até 2009 decrescente de taxas com a quantidade complexa uma vez que, apesar de a
todo o cádmio deve ser eliminado, e de metais tóxicos presentes, visando responsabilidade ser do setor público, os
recuperar 55% dos materiais por meio estimular a redução destes elementos custos associados inviabilizam esta
de processos de reciclagem. (USEPA, 2002a). operação. Em alguns países existem

16 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


legislações específicas a tratarem desse algumas cidades do interior de São lacuna a ser coberta pela legislação.
tipo de problema, baseadas no princípio Paulo, fazem a aquisição das baterias Assim, deve caber ao poder público
do poluidor-pagador. Ou seja, a usadas pelo uso de veículos utilitários formular leis que promovam e
empresa a qual produz ou importa o com alto-falantes que circulam pela responsabilizem as empresas a
material é também a responsável por sua cidade, de maneira semelhante aos desenvolverem sistemas de
destinação, após o uso pelo consumidor. vendedores de verduras e frutas. gerenciamento de resíduos sólidos,
Apesar de no país ainda não existir tal Nos EUA, a coleta de baterias de mesmo quando os mesmos são
legislação, há setores em que ocorrem chumbo-ácido acontece pela cobrança classificados como urbanos e,
iniciativas muito interessantes a serem de um depósito de US$ 5-10, caso o principalmente, para os casos de
analisadas. O alumínio é um forte consumidor não devolva a bateria resíduos sólidos com elementos tóxicos
exemplo da iniciativa empresarial no usada. Esse sistema de coleta fez com ou que possam trazer problemas ao
sentido de reciclar materiais usados pela que a reciclagem desse tipo de bateria, meio ambiente.
população. Atualmente, os índices de nos EUA, chegasse a cerca de 95-99%, Apesar de vários países terem
reciclagem de alumínio alcançados no em 1998 (VALIANTE, 1999). legislações específicas para a destinação
Brasil estão entre os maiores do mundo No caso brasileiro, os exemplos de de baterias, muitas vezes a coleta não é
(ABAL, 2001). Além disso, a indústria de coleta citados acontecem sem incentivo eficiente. Na Europa, em 1995, cerca de
reciclagem de latas de alumínio gera ou mesmo obrigação do governo. Nota- 5% das baterias de NiCd consumidas
milhares de empregos em todo o país, se que para os três resíduos existem três pela população eram recicladas, já as
sendo a atividade de “catação” de latas estratégias diferentes encontradas, baterias de NiCd industriais
de alumínio fonte de renda para segundo o perfil da população e do apresentavam uma taxa de reciclagem
milhares de famílias carentes no país. produto. No caso do alumínio e do bem mais elevada, aproximadamente
Lâmpadas fluorescentes contêm chumbo, a segregação desses materiais 48% (DAVID, 1995).
mercúrio na forma de vapor em sua realiza-se, principalmente, movida por Cada país pratica uma estratégia de
constituição. A quebra dessas lâmpadas fatores econômicos, mas as formas coleta diferente. Por exemplo, na
promove a liberação do mercúrio para o encontradas para adquirir esses resíduos Alemanha foi testada uma estratégia de
ambiente. No Brasil existe uma são bastante diferentes. coleta conscientizando-se o consumidor
companhia que recebe essas lâmpadas Para o caso das latas houve, durante a separar e devolver as baterias. Essa
e promove a extração do mercúrio de um intervalo de tempo, uma eficiente estratégia teve uma eficiência muito baixa,
forma segura, reintroduzindo o bem no divulgação e conscientização da pois cerca de 50% das baterias não
mercado e evitando a contaminação do população, usando os meios de eram de NiCd. Melhor resultado foi
solo. Nesse caso, a iniciativa de publicidade, sendo esta, em grande obtido incentivando-se o consumidor a
reciclagem fica por conta das empresas parte, patrocinada pelo produtor de devolver as baterias usadas aos
que enviam, em caixas especiais, as latas, que não era reciclador na ocasião, revendedores, que as separam e
lâmpadas usadas para a empresa a qual mas sim interessado em manter a encaminham para as empresas
realiza o tratamento das mesmas. imagem de seu produto. No caso do recicladoras (DAVID, 1995).
De forma análoga ao alumínio, as chumbo, a estratégia encontrada foi No Brasil, o sistema de coleta de
baterias de chumbo-ácido também são totalmente diferente, ou seja, existem baterias recarregáveis está começando e
recicladas por empresas especializadas. A postos de troca. sua eficiência ainda é difícil de inferir.
forma de coleta dessas baterias acontece O caso das lâmpadas fluorescentes é Além disso, nenhuma empresa
em duas estratégias: na primeira, o bastante interessante, uma vez que o importadora de baterias de NiCd recicla
usuário devolve a bateria na compra de custo da segregação é totalmente no país. Atualmente, todas as baterias
uma nova; porém existem locais onde é coberto pelas empresas ou entidades recarregáveis são passíveis de serem
possível comprar baterias sem a com efetivo interesse ambiental. recolhidas pelos revendedores.
necessidade da troca, sendo a Para alguns resíduos, entretanto, não
substituição no carro feita pelo próprio há interesse das empresas geradoras do Reciclagem
consumidor, dispensando-se a ajuda de produto em contribuir para o Existem diversos processos
um eletricista ou mecânico de encaminhamento ambiental aceitável do consagrados para a reciclagem de pilhas
automóveis. Assim, os recicladores, em problema. Nesses casos, existe uma e baterias no mundo, os quais estão

dezembro 2004
17
sendo empregados, principalmente, em As baterias de NiMH e de íons de lítio para recuperação é o cobalto. Entretanto,
países mais ricos como EUA, países da não apresentam metais pesados pesquisas visando ao desenvolvimento
Europa e Japão. A legislação brasileira restringidos pela lei, mas a tendência de novos materiais para eletrodos para o
não obriga a reciclagem de pilhas secas internacional é para a reciclagem das sistema de íons de lítio tendem a tentar
e alcalinas, pois estas já apresentam mesmas. Sua utilização pela população substituir o cobalto por um metal mais
concentrações de metais pesados tem aumentado, em substituição das barato, a fim de diminuir o custo final da
inferiores aos limites estipulados. baterias de NiCd. bateria, atualmente mais caro quando
Os principais tipos de baterias Infelizmente, a distinção dos diversos comparado com as baterias de NiCd e
recarregáveis de uso doméstico são tipos de pilhas e baterias, externamente, NiMH.
chumbo-ácido, NiCd, NiMH e íons de lítio. nem sempre é fácil, fazendo com que Processos para a separação de
Destas, as baterias de chumbo-ácido elas sejam coletadas juntas. Um fator baterias e pilhas, em função de sua
foram as primeiras a serem desenvolvidas importante enfatizado na literatura é o composição química, já estão sendo
e sua utilização extensiva pela população efeito da contaminação da carga para desenvolvidos. Um desses processos
também é mais antiga. O processo para ser reciclada com outros tipos de pilhas efetua a análise e separação das baterias
sua reciclagem é consagrado e elas são ou baterias. Em geral, os processos para por raios X (RAUSCH, 1998; SATTER,
recicladas em diversos países do mundo, reciclagem de pilhas secas e alcalinas 1998; WATSON, 1999).
os quais também desenvolveram não aceitam contaminação com baterias
programas de coleta desse tipo de de NiCd e vice-versa.
bateria. Assim, mesmo que elas
contenham chumbo, um metal tóxico,
A mistura de baterias de NiCd com
pilhas secas e alcalinas, nos processos
DISCUSSÃO
continuam em uso, não oferecendo pirometalúrgicos de reciclagem de pilhas, Hoje, existem vários processos em
muitos riscos ao meio ambiente, já que atualmente deve ser evitada, pois, se operação para a reciclagem de baterias
apresentam altas taxas de reciclagem e houver contaminação da carga, o zinco de NiCd. Já o sistema de coleta desse
não são dispostas em aterros. obtido ficaria contaminado com cádmio. produto ainda não está tão estabelecido
A utilização de baterias de NiCd pela O mesmo valeria para os processos de quanto no caso das baterias de
população começou a tornar-se mais reciclagem de baterias de NiCd, nos quais chumbo-ácido. Nos EUA, a empresa
significativa na segunda metade do o cádmio ficaria contaminado com zinco. Rechargeable Battery Recycling
século 20, a partir da década de 80, Outro metal volátil que pode Corporation (RBRC) atua na coleta de
com o aumento do uso de aparelhos contaminar os produtos dos processos baterias de NiCd e envia-as para o
eletroeletrônicos. Nessa época, a pirometalúrgicos é o mercúrio, o qual, processo Inmetco para serem recicladas.
disposição de baterias de NiCd de uso além de contaminar o metal reciclado, Desde 2000, a RBRC também coleta
doméstico em aterros sanitários ainda é um metal tóxico. outros tipos de baterias para serem
começou a ser questionada, apesar de Os processos de reciclagem de recicladas. Além das enviadas pela RBRC,
ainda não ser considerada um baterias de NiCd também tratam baterias o Inmetco ainda coleta pelo correio
problema. As previsões de descarte de de NiMH. Contudo, nesses processos, a (LANKEY, 1998).
baterias indicavam que este seria um reciclagem se restringe à recuperação do Na Europa, a European Portable
problema em curto período de tempo. níquel contido nas baterias de NiMH. Os Battery Association (EPBA) atua na área
Foi realizado um estudo de 100 dias, a outros elementos, como as Terras Raras, de coleta de pilhas e baterias, além de
mostrar que as pilhas de mercúrio eram não são recuperados. Com o intuito de incentivar programas de coleta e
corroídas em aterros, liberando seu recuperá-las também, processos separação por intermédio de
conteúdo. As pilhas secas também hidrometalúrgicos estão sendo propagandas e palestras.
apresentaram corrosão evidente. As desenvolvidos, mas ainda em fase de No Brasil, não há uma associação ou
baterias de NiCd foram perfuradas, pesquisa. empresa responsável pela coleta das
durante o estudo, mas seu conteúdo Outro tipo de bateria de uso baterias de NiCd, a qual centralize
não tinha sido liberado. Estimou-se que doméstico bastante comum é o de íons esforços não apenas para isso, mas
este, dispondo de maior tempo, também de lítio. Ainda não há um processo também para a informação da
seria lixiviado para o chorume do aterro estabelecido para a reciclagem desse tipo população. Essa coleta ficou restrita à
(STEVENS & WRIGHT, 1980). de bateria, na qual o metal mais visado iniciativa das empresas importadoras e é

18 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


feita de maneira dispersa. Não há um e íons de lítio. Como dito anteriormente, Portanto, uma das alternativas para se
órgão público, associação ou empresa estas, apesar de serem consideradas avançar na direção de um
encarregada de coletar esses resíduos. A menos agressivas ao meio ambiente, desenvolvimento sustentável nesse setor
população, em geral, não está ciente da ainda não contam com um processo de seria a elaboração de metas específicas
resolução, com força de lei, que obriga a reciclagem consagrado, como no caso de reciclagem, tal como acontece
devolução de alguns tipos de pilhas e das de NiCd, além de terem um custo atualmente para os pneus (Resolução
baterias, nem se possui algum dos tipos mais elevado para o consumidor. n. 258), associada a uma estrutura de
destas, as quais não podem ser O atual modelo de gestão de baterias gerenciamento e promoção da coleta e
dispostas com o lixo doméstico no Brasil possui as contradições e falhas reciclagem de todos os tipos de baterias,
(REIDLER, 2002). apontadas, mas não se pode tirar o ficando os custos desse sistema
A Resolução n. 257 do Conama, a mérito do Conama na iniciativa, pioneira embutidos nos produtos.
regulamentar o descarte de pilhas e na América Latina. Tais ações propiciariam não apenas a
baterias, não estabelece metas específicas Contudo, ao contrário do que implementação de sistemas de
para a coleta das pilhas e baterias que acontece em outros países, notadamente educação, coleta e reciclagem, mas
precisam ser coletadas, como acontece Estados Unidos e Europa, a possuírem também o desenvolvimento de novas
na Europa, fazendo com que o esforço legislação específica sobre baterias, baterias mais facilmente recicláveis e
para a coleta não seja tão eficiente e a legislação nacional não promoveu a contendo menores quantidades de
deixa a resolução mais branda. reciclagem, nem mesmo das que metais tóxicos.
Geralmente, as empresas sofreram maiores restrições (como as de
importadoras de baterias de NiCd chumbo-ácido e de NiCd). Talvez a
apenas as recebem usadas, caso o
cidadão a devolva, e somente a aceitam
principal conseqüência seja o
desaparecimento do mercado das
BIBLIOGRAFIA
quando é da mesma marca, ficando a baterias de NiCd usadas para telefonia ADAMS, P. A.; AMOS, C. K. Batteries. In: LORD,
cargo daquele “descobrir” como devolvê- celular. Todavia, elas ainda são usadas H. F. The McGraw-Hill recycling handbook.
la, quando isso é possível. Não há uma em outras aplicações. Nova York: McGraw-Hill Inc., 1993.
campanha de conscientização que O banimento do cádmio, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALUMÍNIO
informe e incentive as pessoas a preconizado por algumas diretivas (ABAL). Números da Indústria Brasileira de
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trocar a bateria. Entretanto, existem íons de lítio, as de NiCd têm um ciclo de
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20 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Educação
Ambiental

RESUMO CAPACITAÇÃO,
A diversidade de representações sociais e práticas em Educação Ambiental – EA, bem como os
resultados de um levantamento nacional que mostrava a falta de capacitação específica entre
executores de projetos de EA, motivaram o desenvolvimento desta pesquisa qualitativa, de douto- REPRESENTAÇÃO
rado, que buscou identificar representações sociais e práticas em EA, presentes entre educadores
ambientais, conhecer os motivos que os levaram a participar de um curso de especialização em EA,
e os impactos do mesmo, entre outros objetivos específicos. Quanto aos resultados, foram identifi-
SOCIAL E PRÁTICA EM
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
cados quatro tipos de representações sociais em EA – conservacionista, romântica, ecossocialista e
tecnocêntrica; em relação às práticas relatadas havia uma gradação entre as que focalizavam o
indivíduo e suas relações com o mundo, e outras, as quais privilegiavam a resolução de situações-
problema; entre as razões que levaram os educadores a fazer o curso destacaram-se a procura de
subsídios teóricos e práticos, de intercâmbio de experiências e de valorização profissional. Conside-
raram que o curso trouxe impactos positivos, pois ampliou o entendimento sobre a EA, possibilitou
articular teoria e prática e o exercício da interdisciplinaridade.

PALAVRAS-CHAVE
Educação ambiental, educador ambiental, curso de especialização em educação ambiental, Faculdade
de Saúde Pública. Andréa Focesi Pelicioni
Mestre e doutora em saúde pública pela Faculdade

ABSTRACT de Saúde Pública da Universidade de São Paulo –


FSP/USP, especialista em educação ambiental
The variety of social representations and practices in Environmental Education – EE , as well as the pela FSP/USP e pela Macquarie University (Austrália),
results of a national survey that showed that most environmental educators have not been through professora do Centro Universitário das Faculdades
continuing education programs in this field motivated the development of this Doctorate research Metropolitanas Unidas – UniFMU.
which aimed to identify existing social representations and practices in EE among environmental andreapelicioni@uol.com.br
educators, to know the reasons why they decided to attend a postgraduate specialization program in
EE and the impacts of that. The main results showed that there were four types of social representations
about EE – conservationist, romantic, ecosocialist and technocentric; their practices varied from Helena Ribeiro
those more related to the individual and his relationship to the world and those that focused on Mestre em geografia pela University of California –
problem-solving situations; the main reasons why they attended the course were: to get theoretical Berkeley (EUA), doutora em geografia pela Faculdade
and practical subsidies, to exchange experiences, and to improve their professional recognition. They de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
considered that the impacts of the course were positive, for it allowed the participants to improve Universidade de São Paulo – FFLCH/USP, livre-
their understanding about EE, to articulate theory and practice as well as to exercise interdisciplinarity. docente em saúde pública pela Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo – FSP/USP.
KEY WORDS Professora Titular do Departamento de Saúde
Environmental education, environmental educator, especialization course in environmental education, Ambiental da FSP/USP
Faculdade de Saúde Pública. lena@usp.br

dezembro 2004
21
INTRODUÇÃO problemática ambiental, à divulgação de
informações e/ou o ensino de algumas
soluções para problemas complexos;
3) promover o intercâmbio de
A educação ambiental, por ser uma técnicas de dinâmica de grupos. conhecimentos e experiências trazidas
construção social, reflete uma ampla Já em algumas instituições de ensino pelas diferentes formações profissionais
gama de representações sociais e superior existem programas de de alunos e professores; 4) favorecer o
práticas. Essa diversidade se justifica em graduação ou de pós-graduação stricto desenvolvimento de interlocutores em
função das diferentes interpretações a sensu, em que a disciplina “Educação instituições públicas e privadas, bem
respeito das causas e soluções possíveis Ambiental” é oferecida, e existem ainda como a realização de projetos
em relação à problemática cursos de especialização em Educação intersetoriais (PHILIPPI Jr.; PELICIONI,
socioambiental da atualidade e o papel Ambiental, cujos objetivos são mais 2000).
atribuído à educação ambiental como amplos e a carga horária maior (no A existência de representações sociais
uma das principais formas de mínimo 360 horas) do que as diversificadas a respeito da educação
enfrentamento e reversão dessa modalidades mencionadas, pois se trata ambiental e da problemática
incômoda realidade. de formar especialistas em educação socioambiental, bem como os dados do
O Levantamento Nacional de Projetos ambiental, capacitando-os para que levantamento nacional anteriormente
de Educação Ambiental (MMA/MEC, incorporem a dimensão educativa em referido, o qual mostrava que na área
1997), elaborado para desvelar o suas áreas de atuação. de educação ambiental predominavam
“estado da arte” e subsidiar as Dentro dessa perspectiva, foi criado, executores de projetos que não tinham
discussões presentes na Primeira em 1994, o curso de especialização em capacitação específica, motivaram a
Conferência de Educação Ambiental Educação Ambiental oferecido pela realização de pesquisa de doutorado
realizada em Brasília (DF), em outubro Faculdade de Saúde Pública da (PELICIONI, 2002) com educadores
de 1997, mostrou que o estado de São Universidade de São Paulo – FSP/USP. A ambientais participantes, na qualidade de
Paulo apresentava o maior porcentual estrutura do curso foi inicialmente estudantes, dos cursos de especialização
de trabalhos em educação ambiental delineada por docentes dos em Educação Ambiental promovidos
(17,7%), seguido do estado do Rio de Departamentos de Saúde Ambiental e pela Faculdade de Saúde Pública da USP
Janeiro (11,7%). A maior parte dos de Prática de Saúde Pública e, em entre 1998 e 2000.
projetos era realizada em ambiente seguida, foi submetida à discussão e Constituíram objetivos da tese de
urbano (45,9%), mata atlântica (30,4%), aprimoramento por meio de um doutorado o desvelamento das
bacias hidrográficas (20,8%) e workshop, do qual participaram, além representações sociais sobre a educação
ecossistemas costeiros (15,1%). dos professores da FSP/USP, ambiental, a identificação das práticas
Contudo, no que se refere ao pessoal educadores de diversas instituições, sociais em educação ambiental
envolvido com a execução dos projetos, ambientalistas e outros profissionais desenvolvidas pelos educadores, a
apenas 36% tinham feito cursos de envolvidos com a área. verificação dos motivos que os levaram a
capacitação na área. O curso de especialização foi fazer a especialização e os impactos do
Em relação à capacitação de recursos concebido com os objetivos de: 1) criar curso sobre suas vidas pessoais e
humanos, necessidade enfatizada desde condições para que seus participantes, profissionais, entre outros objetivos
a década de 70 em todos os encontros profissionais com nível superior, específicos, os quais não serão
internacionais de educação ambiental, provenientes de diferentes áreas do abordados neste artigo devido à
identifica-se uma progressiva oferta de conhecimento, tivessem a oportunidade limitação de espaço.
cursos de Educação Ambiental, bastante de analisar criticamente as inter-relações
diversificados em termos de carga entre o ser humano, a sociedade em
horária, objetivos, conteúdos,
profissionais e instituições envolvidas.
que vive, sua cultura e o ambiente
biofísico em que está inserido;
METODOLOGIA
Há, por exemplo, em todas as regiões 2) propiciar a experimentação de Para desenvolver esta pesquisa se
do país, cursos de curta duração, métodos e técnicas educativas coerentes optou pela abordagem qualitativa. Em
caracterizados como cursos de extensão com as abordagens teóricas da relação à coleta dos dados, foram
que têm se voltado, geralmente, à educação ambiental, privilegiando aplicados 100 questionários e realizadas
sensibilização dos participantes para a enfoques integrados na busca de 21 entrevistas em profundidade, tendo

22 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


como sujeitos da pesquisa educadores 19, também atribuía à educação • o aprimoramento profissional em
que, antes de iniciar o curso de ambiental o objetivo de promover decorrência da solidificação de conceitos
especialização, já trabalhavam com mudanças atitudinais e comportamentais, e do desenvolvimento da visão crítica
educação ambiental. Buscou-se mas por meio da estratégia do sobre as próprias práticas em educação
assegurar que a amostra fosse autoconhecimento, da promoção da ambiental;
constituída por educadores com integração do ser humano à natureza e • a reformulação ou aperfeiçoamento
diferentes tipos de formação universitária do estreitamento das ligações afetivas do trabalho realizado, o aumento do
e experiência profissional nesse campo, com o mundo. escopo de atuação e/ou a geração de
por exemplo, em órgãos governamentais Nos dois primeiros tipos, portanto, as idéias para novos projetos;
municipais e estaduais, instituições de propostas se apresentavam reduzidas a • a troca de experiências entre os/as
ensino, unidades de conservação, mudanças individuais, como se isso participantes e a formação de vínculos
organizações não-governamentais, fosse suficiente para enfrentar a com diferentes interlocutores,
autarquias, empresas privadas, entre complexa problemática socioambiental representantes de diversas instituições.
outras. da atualidade. Em alguns casos foram gerados
No 3o tipo, a educação ambiental teria trabalhos interinstitucionais;
um objetivo mais amplo, qual seja, • o exercício da interdisciplinaridade e
RESULTADOS promover transformações não apenas
no indivíduo, mas na sociedade, à
a articulação entre teoria e prática por
meio do desenvolvimento dos projetos
Entre os motivos que levaram os semelhança das propostas do de pesquisa e intervenção, atividade
educadores ambientais a fazer o curso ambientalismo ecossocialista. obrigatória do programa curricular;
de especialização em Educação O 4o tipo atribuía à educação • a ressignificação do papel do/a
Ambiental destacou-se a procura de ambiental o objetivo de prover educador/a;
subsídios os quais possibilitassem o instrumentos de gestão ambiental, • o aumento da motivação para atuar
aprimoramento de sua atuação configurando uma representação social na área ao encontrar pessoas
profissional, a sistematização do trabalho alinhada ao restrito ideário do portadoras de ideais semelhantes;
realizado e a ampliação do alcance dos ambientalismo tecnocêntrico. • a difusão e discussão de idéias
projetos que vinham desenvolvendo. Em relação às práticas relatadas pelos oriundas das aulas e dos textos lidos,
Outras razões, como a possibilidade de educadores, verificava-se uma gradação tanto no ambiente doméstico quanto no
avaliar as próprias práticas, de trocar entre aquelas cujo foco inicial era o de trabalho;
experiências com pessoas atuantes na indivíduo e suas relações com o mundo • a melhoria das relações
área e obter diploma de especialista e, outras, cujo propósito era a resolução interpessoais;
diante de um mercado de trabalho em de situações-problema. Os resultados • a ampliação das perspectivas
expansão, também foram mencionadas. demonstraram existir discrepâncias entre profissionais.
Por meio da análise dos discursos as representações sociais e as práticas
foram identificados quatro tipos de realizadas pelos educadores,
representações sociais a respeito dos
objetivos e estratégias da educação
principalmente devido à falta de apoio e
de recursos humanos e financeiros para
ANÁLISE E CONCLUSÕES
ambiental ante a problemática a realização de projetos sistemáticos, Um dos aspectos que mais
socioambiental. planejados e interdisciplinares de chamaram a atenção nos discursos dos
O 1o tipo atribuía à educação educação ambiental. educadores em relação ao papel da
ambiental o objetivo de mudar atitudes e Quanto aos impactos relatados, educação ambiental se referia ao
comportamentos de indivíduos por meio consideraram que o curso colaborou objetivo de mudar comportamentos
de informações, assemelhando-se às para: individuais, como se isso fosse suficiente
propostas da educação conservacionista, • a ampliação do entendimento a para reverter a situação preocupante em
abordagem delineada no início do respeito da problemática socioambiental, que a humanidade se encontra
século 20. da educação ambiental e do processo atualmente. Essa tônica não causa
O 2o tipo, inspirado por um ideário pedagógico ao conferir novos subsídios estranhamento, tendo em vista o fato
característico do romantismo do século teóricos e práticos; que é a abordagem preferencial de

dezembro 2004
23
documentos oficiais da área ambiental,
da mídia e de um número expressivo de
uma visão ampla e crítica da
problemática socioambiental (PELICIONI; BIBLIOGRAFIA
publicações, os quais refletem as idéias PHILIPPI, 2002), não ficando confinadas [MMA/MEC] MINISTÉRIO DO MEIO
dos patrocinadores e não têm interesse a objetivos imediatistas, restritos ao AMBIENTE, DOS RECURSOS HÍDRICOS E DA
em provocar transformações realmente âmbito do indivíduo ou do grupo AMAZÔNIA LEGAL/MINISTÉRIO DA
significativas nas sociedades. participante de determinada atividade, e EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Relatório:
A ênfase na mudança de que tampouco promovam uma visão Levantamento nacional de projetos de
comportamento individual ofusca a acusatória de um “homem destruidor do Educação Ambiental. Brasília, DF, 1997.
dimensão política das questões meio ambiente”, destituído de PELICIONI, A. F. Educação ambiental na
socioambientais e, como ressalta a qualificações maiores e falsamente escola: Um levantamento de percepções e
vertente ambientalista ecossocialista, pertencente a uma humanidade práticas de estudantes de primeiro grau a
contribui para o prolongamento do portadora de possibilidades e interesses respeito de meio ambiente e problemas
status quo e para o atraso nas homogêneos (PELICIONI, 1998). ambientais. 1998. Dissertação (Mestrado em
transformações estruturais necessárias. Enfim, as práticas sociais em educação Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
Portanto, é preciso que se realizem, ambiental não devem mascarar a
concomitantemente, mudanças dimensão política da problemática, sob . Educação ambiental: Limites e
individuais e estruturais. pena de estarem contribuindo para seu possibilidades de uma ação transformadora.
Também foi possível verificar em agravamento. Além disso, é necessário 2002. Tese (Doutorado em Saúde Pública) –
alguns discursos a utilização da serem desenvolvidas ações, tanto em Faculdade de Saúde Pública, Universidade de
expressão “passar conhecimentos”, âmbito microssocial quanto macro, que São Paulo, São Paulo, 2002.
indicativa de uma abordagem tradicional possam realmente ser instituintes de PELICIONI, M. C. F.; PHILIPPI JR., A. Meio
do processo ensino-aprendizagem. Ora, novas relações e promotoras da ambiente, direito e cidadania: Uma interação
se a educação ambiental enseja um melhoria da qualidade de vida. necessária. In: PHILIPPI, JR. A.; ALVES, A. C.;
processo de transformação, e se o Tomando como referência os ROMERO, M. de A.; BRUNA, G. C. (Eds.). Meio
educando é considerado sujeito desse depoimentos dos sujeitos deste estudo, ambiente, direito e cidadania. São Paulo:
processo, a ser realizado em conjunção é preciso reconhecer que cursos de pós- NISAM/Faculdade de Saúde Pública/Signus
com outros sujeitos, por meio de um graduação delineados e desenvolvidos Editora, 2002.

processo participativo e dialógico, há de forma coerente com os princípios da PHILIPPI Jr., A.; PELICIONI, M. C. F. (Org.)
uma grande incoerência em adotar-se educação ambiental – os quais, entre Recursos humanos em educação ambiental:
uma abordagem tradicional na educação outras recomendações, advogam o O papel da Faculdade de Saúde Pública da
ambiental (PELICIONI, 1998). Em termos desenvolvimento da visão crítica da Universidade de São Paulo. Educação
práticos, a adoção dessa abordagem problemática socioambiental, o exercício ambiental: Desenvolvimento de cursos e
pode acarretar no fracasso do processo da interdisciplinaridade e a participação projetos. São Paulo: NISAM/Faculdade de
Saúde Pública/Signus Editora, 2000.
pedagógico e no limite da própria ativa do educando no processo de
educação ambiental enquanto uma das ensino-aprendizagem –, embora não
formas de enfrentamento da sejam a única forma, conferem
problemática socioambiental. possibilidades significativas de aprimorar
É preciso chamar a atenção para a a qualidade dos trabalhos em educação
necessidade de as práticas em educação ambiental desenvolvidos a potencializar a
ambiental contribuírem para promover ação transformadora da realidade.

24 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Energia e Ambiente

RESUMO A BIOMASSA COMO


A geração de energia elétrica no Brasil provém, essencialmente, de duas fontes energéticas: o
potencial hidráulico e o petróleo, com grande predominância da primeira. Apesar da importância
dessas fontes, elas tendem a sofrer um processo de esgotamento no futuro. O Brasil dispõe de ALTERNATIVA
várias alternativas para geração de energia elétrica, dentre as quais se destaca o uso da biomassa.
Esta, particularmente, provém de uma grande variedade de recursos energéticos, desde culturas
nativas até resíduos de diversas origens. No entanto, a pouca informação a respeito do potencial
ENERGÉTICA PARA O
BRASIL
energético desses resíduos limita seu efetivo aproveitamento.
No intuito de consolidar as informações existentes, o presente trabalho mostra um panorama do
potencial de biomassa no Brasil como fonte energética e seus aspectos sociais, econômicos e
ambientais.

PALAVRAS-CHAVE
Biomassa, fonte de energia, impactos socioeconômicos, energia limpa, cana-de-açúcar, biodiesel,
biogás.

ABSTRACT Celso Roberto Alves da Silva


There are two essential power sources that have provided electricity in Brazil, and the most used is
Engenheiro civil, formado pela Universidade Mackenzie.
by hydroelectric power stations and oil. celsorobsilva@sabesp.com.br
Nowadays, these sources have occupied an importance place in the world power matrix but there is
a tendency to suffer a break due to be drained in the future and more they have left negative impacts
to the environmental. However, Brazil has several alternatives to get electricity, where biomass is one Maria Teresa Flosi Garrafa
of them. A great variety resources provides biomass, since those extracted from native cultures until Engenheira eletrônica, formada pela Faculdade de
those gotten by waste of different ways. But the few information about the real power potential of Engenharia Industrial (FEI).
wastes has difficulty using them more effectively. thegarrafa@uol.com.br
This work shows Brazil potential figures of biomass as power source, joining several existent information

Paulo Laguna Navarenho


and exploring its economical, social and environmental aspects.

KEY WORDS Engenheiro civil, formado pela Faculdade de


Biomass, power source, social and economical impacts, clean energy, sugar cane, biodiesel, biogas. Engenharia São Paulo (FESP).
pnavarenho@sabesp.com.br

Rodolfo Gado
Engenheiro civil, formado pela Universidade Mackenzie.
rgado@sabesp.com.br

Sérgio Yoshima
Engenheiro eletrônico, formado pela Universidade São
Judas Tadeu.
syoshima@sabesp.com.br

dezembro 2004
25
INTRODUÇÃO A maioria das negociações ambientais
relacionada à energia ainda está a meio
eletricidade, o racionamento de 2001
demonstrou que a manutenção da
Todos os processos da cadeia termo. A padronização dos critérios de dependência de mais de 90% da
energética (produção, transformação, segurança no transporte de petróleo e hidreletricidade é estrategicamente
transporte, distribuição, armazenagem e as diretrizes internacionais para arriscada. Além disso, o potencial hídrico
uso final) envolvem uma série de perdas construção de grandes hidrelétricas de geração de eletricidade a baixo custo
que reduzem a quantidade de energia, estão em debate e a Convenção sobre é, hoje, bastante limitado, sendo os
efetivamente útil à sociedade, a apenas Segurança Nuclear, assim como o melhores sítios encontrados na região
uma fração do total de energia captada Protocolo de Kyoto, ainda aguardam a Norte, distante dos grandes centros
da natureza. Por contingência das ratificação dos países signatários. consumidores.
próprias leis físicas, um certo nível de No âmbito brasileiro, até a década de A crítica ambientalista ao plano de
perdas é inevitável ao longo da cadeia 70, as grandes barragens e centrais instalação de um parque termoelétrico
de transformações energéticas. hidrelétricas eram consideradas ícones do movido a gás natural, uma fonte
Como contrapartida a toda desenvolvimento energético e considerada mais limpa que o petróleo,
incorporação de um aporte de fontes desfrutavam da convicção de serem reside, justamente, no aumento da
energéticas, existe a perda da energia projetos de baixo impacto, com emissão nacional de óxidos de
degradada, rejeitada para o ambiente possibilidade de agregar usos múltiplos nitrogênio (NOx), resultantes do
externo na forma de calor ou de (atenuação de cheias e abastecimento de processo de queima, e de ozônio de
resíduos (gases, material particulado). água na região circunvizinha, habilitação baixa altitude (O3), formado pela reação
Além disso, o uso de energia também de áreas para lazer e aqüicultura), sem fotoquímica do NOx à radiação solar.
origina impactos sociais e econômicos oferecer riscos ambientais como a Além dos resíduos produzidos no
decorrentes do próprio aproveitamento emissão de poluentes. processo de queima, a alta porcentagem
de recursos naturais. Alguns deles As mudanças produzidas no de metano (CH4), contido no gás natural
podem ser significativos, mesmo no caso ambiente construído se encarregariam (90%), transforma as perdas potenciais
de fontes, em virtude das áreas extensas de demonstrar conseqüências mais (estimadas em 1% do total) na rede de
as quais são necessárias para a drásticas do que se poderia mensurar. O transporte e distribuição em fontes com
produção em grande escala. elevado nível de eutrofização (aumento contribuição significativa para o aumento
Durante muito tempo, utilizando as de nutrientes na água resultante da do efeito estufa, conforme veremos
forças disponíveis da natureza e decomposição orgânica submersa), adiante.
adequando-as à sua localização, o associado ao descontrole do grau de O século 20 ficará conhecido como o
homem pode gerar, transmitir e consumir assoreamento de rios represados século dos combustíveis fósseis, uma vez
energia sem alterar significativamente o favoreceram, em grande parte dos casos, que o carvão, o petróleo e o gás,
ambiente global, o uso do espaço e os a proliferação de determinadas espécies praticamente, dominaram o sistema
modos de produzir ou distribuir bens, de vegetais e animais (algas, mosquitos, energético de todos os países
acordo com os modelos sociais, políticos parasitas), comprometendo o equilíbrio industrializados. O desenvolvimento e a
e culturais prevalecentes. Apesar de ter se ecológico e a qualidade de vida em seu otimização das tecnologias para utilização
confrontado com vários episódios de entorno. desses combustíveis e alguns dos
escassez, provocados pela apropriação Resultados de pesquisas recentes progressos extraordinários os quais
intensa das fontes disponíveis, como foi o apontam outro problema a ser testemunhamos, tais como as viagens
caso da lenha durante a idade média, até considerado: a decomposição orgânica aéreas e a geração de eletricidade por
a Revolução Industrial a humanidade da biomassa, submersa nos lagos das turbinas a gás, são verdadeiramente
evoluiu com um consumo de energia represas, produz dióxido de carbono notáveis.
relativamente moderado. A inserção de (CO2) e metano (CH4) em quantidades Por esses motivos, a tendência era
uma nova tecnologia – a máquina a similares às termoelétricas, quando esquecer que, até a metade no século
vapor – no modo de produção considerados períodos históricos 19, mais de 85% do total da energia
provocou uma ruptura no sistema, relativamente pequenos (menos de 100 usada no mundo era biomassa, na
exigindo uma nova ordem de grandeza anos). Com relação à necessidade da forma de lenha, resíduos da agricultura e
no uso da energia. busca de alternativas para a geração de de animais.

26 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


A tecnologia utilizada naquela época forma indireta de energia solar. A energia assim, estimativas da Agência
era um tanto primitiva, e não evoluiu de solar é convertida em energia química, Internacional de Energia (IEA) indicam
forma significativa devido à pela fotossíntese, base dos processos que, futuramente, a biomassa ocupará
predominância das tecnologias mais biológicos de todos os seres vivos. uma menor proporção na matriz
avançadas de uso dos combustíveis Embora grande parte do planeta energética mundial. Outros estudos
fósseis. Não é surpresa, portanto, que a esteja desprovida de florestas, a mostram que, ao contrário da visão
‘’biomassa’’, enquanto fonte de energia, quantidade de biomassa existente na geral, o uso da biomassa deverá se
tenha acabado com uma péssima terra é da ordem de dois trilhões de manter estável ou até mesmo aumentar,
reputação. A esses dados acrescente-se toneladas; o que significa cerca de 400 devido a duas razões, a saber:
que em grande parte dos países menos toneladas per capita. Em termos crescimento populacional; urbanização e
desenvolvidos, ainda é muito importante energéticos, isso corresponde a mais ou melhoria nos padrões de vida.
a utilização da lenha, seja para cozinhar menos 3.000 EJ por ano; ou seja, oito Um aumento nos padrões de vida
ou aquecer, em fornos rudimentares, de vezes o consumo mundial de energia leva pessoas de áreas rurais e urbanas
eficiência bastante reduzida. primária (da ordem de 400 EJ por ano). de países em desenvolvimento a usar
Essa situação está começando a Uma das principais vantagens da mais carvão vegetal e lenha, em lugar de
mudar: os combustíveis fósseis não biomassa é que, embora de eficiência resíduos (pequenos galhos de árvore,
durarão para sempre, sua utilização é a reduzida, seu aproveitamento pode ser restos de material de construção, etc.).
causa de a maioria das agressões ao feito diretamente, pela combustão em Ou seja, a urbanização não conduz
meio ambiente, as quais hoje fornos, caldeiras, etc. Para aumentar a necessariamente à substituição completa
testemunhamos, e as tecnologias para eficiência do processo e reduzir da biomassa por combustíveis fósseis. A
aumentar a eficiência da biomassa impactos socioambientais, tem-se precariedade e falta de informações
estarem evoluindo bastante nos últimos desenvolvido e aperfeiçoado tecnologias oficiais sobre o uso da biomassa para
anos. de conversão eficiente, como a fins energéticos deve-se, principalmente,
Apresenta-se, assim, a possibilidade gaseificação e a pirólise. aos seguintes fatores:
do ‘’renascimento’’ da biomassa nas A médio e longo prazos, a exaustão • Trata-se de um energético
próximas décadas, de maneira a tornar- de fontes não-renováveis e as pressões tradicionalmente utilizado em países
se uma fonte de energia tão importante ambientalistas acarretarão maior pobres e setores menos desenvolvidos;
quanto há 200 anos. O sucesso do aproveitamento energético da biomassa. • trata-se de uma fonte energética
programa de biomassa no Brasil – Mesmo atualmente, a biomassa vem dispersa, cujo uso tradicional é muito
especialmente a expansão do uso do sendo mais utilizada na geração de ineficiente;
etanol, proveniente da cana-de-açúcar eletricidade, principalmente em sistemas • uso tradicional da biomassa para
como alternativa ao uso da gasolina, são de cogeração e no suprimento de fins energéticos é indevidamente
fortes indicadores que as estratégias eletricidade de comunidades isoladas da associado a problemas de
para se atingir, no futuro, um sistema rede elétrica. desflorestamento e desertificação.
sustentável, na área de energia, são Embora grande parte da biomassa Contudo, essa imagem relativamente
possíveis e realísticas. seja de difícil contabilização, devido ao pobre da biomassa está mudando,
uso não-comercial, estima-se que, graças aos seguintes fatores:
atualmente, ela representa cerca de 14% • Esforços recentes de mensuração
A BIOMASSA COMO FONTE DE de todo o consumo mundial de energia
primária. Esse índice é superior ao do
mais acurada de seu uso e potencial,
por meio de novos estudos,
ENERGIA carvão mineral e similar ao do gás
natural e ao da eletricidade. Nos países
demonstrações e plantas piloto;
• uso crescente da biomassa como
Do ponto de vista energético, em desenvolvimento, essa parcela um vetor energético moderno (graças
biomassa é toda matéria orgânica (de aumenta para 34%, chegando a 60% ao desenvolvimento de tecnologias
origem animal ou vegetal) que pode ser na África. eficientes de conversão), sobretudo em
utilizada na produção de energia. Assim Hoje, várias tecnologias de países industrializados;
como a energia hidráulica e outras aproveitamento estão em fase de • reconhecimento das vantagens
fontes renováveis, a biomassa é uma desenvolvimento e aplicação. Mesmo ambientais do uso racional da biomassa,

dezembro 2004
27
essencialmente no controle das emissões biológicos (digestão anaeróbia e elétrica e a cogeração (produção
de CO2 e enxofre. fermentação). A Figura 1 apresenta os combinada de calor útil e energia
No Brasil, além da produção de principais processos de conversão da mecânica).
álcool, queima em fornos, caldeiras e biomassa em energéticos. Embora seja difícil avaliar o peso
outros usos não-comerciais, a biomassa relativo da biomassa na geração mundial
apresenta grande potencial no setor de de eletricidade, por conta da falta de
geração de energia elétrica. Os setores informações confiáveis, projeções da
sucroalcooleiro e de papel e celulose
geram uma grande quantidade de
GERAÇÃO DE ELETRICIDADE A Agência Internacional de Energia indicam
que ela deverá passar de 10 TWh em
resíduos, a qual pode ser aproveitada
na geração de eletricidade,
PARTIR DE BIOMASSA 1995 para 27 TWh em 2020.
No Brasil, a biomassa representa cerca
principalmente em sistemas de Embora ainda muito restrito, o uso de de 20% da oferta primária de energia. A
cogeração. A produção de madeira, em biomassa para a geração de eletricidade imensa superfície do território nacional,
forma de lenha, carvão vegetal ou toras tem sido objeto de vários estudos e quase toda localizada em regiões tropicais
também gera uma grande quantidade aplicações, tanto em países desenvolvidos e chuvosas, oferece excelentes condições
de resíduos, que pode, igualmente, ser como em países em desenvolvimento. para a produção e o uso energético da
aproveitada na geração de energia Entre outras razões estão a busca de biomassa em larga escala. Apesar disso, o
elétrica. fontes mais competitivas de geração e a desmatamento de florestas naturais vem
O aproveitamento da biomassa pode necessidade de redução das emissões de acontecendo por razões essencialmente
ser feito pela combustão direta (com ou dióxido de carbono. não-energéticas, como a expansão da
sem processos físicos de secagem, Na busca de soluções para esses e pecuária extensiva e da agricultura
classificação, compressão, corte/quebra, outros problemas subjacentes, as itinerante.
etc.), processos termoquímicos reformas institucionais do setor elétrico Segundo dados do Balanço Energético
(gaseificação, pirólise, liquefação e têm proporcionado maior espaço para a Nacional de 1999, a participação da
transesterificação) ou processos geração descentralizada de energia biomassa na produção de energia elétrica
é resumida em 3%, dividida entre o
bagaço de cana-de-açúcar (1,2%), os
Figura 1 – Diagrama esquemático dos processos de conversão energética da biomassa resíduos madeireiros da indústria de
papel e celulose (0,8%), resíduos
agrícolas e silvícolas diversos (0,6%) e a
lenha (0,2%).
Contudo, a conjuntura atual do setor
elétrico brasileiro sinaliza um novo quadro
para a biomassa no país. Entre outros
mecanismos de incentivo ao uso da
biomassa para a geração de energia
elétrica, destaca-se a criação do Programa
Nacional de Incentivo às Fontes
Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA
–, instituído pela Medida Provisória n. 14,
de 21 de dezembro de 2001. Esse
programa tem a finalidade de agregar ao
sistema elétrico brasileiro 3.300 MW de
potência, instalada a partir de fontes
alternativas renováveis, cujos prazos e
regras estão sendo definidos e
regulamentados pela Câmara de Gestão
Fonte: Elaborado a partir de MME, 1982 da Crise de Energia Elétrica – GCE – e

28 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


pelo Ministério de Minas e Energia – autoprodutores e produtores setor elétrico em alguns países e à
MME, com a colaboração de outras independentes, levando em consideração adoção de políticas de racionalização do
instituições, entre elas a ANEEL e a as peculiaridades e custos desse tipo de uso da energia. No final dessa década
Eletrobrás. geração em sistemas elétricos isolados e passou a ser valorizada também pela
Os principais mecanismos de incentivo interligados. minimização dos impactos ambientais,
previstos no PROINFA são a garantia de com redução das emissões globais de
compra, por um prazo de até 15 anos, CO2 (o sistema consome quantidade
da energia gerada, e o estabelecimento
de um valor de referência compatível com
COGERAÇÃO menor de combustível, comparado com
os sistemas convencionais) e pela maior
as características técnico-econômicas do Cogeração é um vocábulo de origem possibilidade de emprego de
empreendimento. Entre outros incentivos, americana empregado desde os anos 70 combustíveis renováveis, como a
destaca-se a redução não-inferior a 50% para designar a geração simultânea de biomassa.
nos encargos de uso dos sistemas de calor e trabalho (energia mecânica/ Devido às limitações econômicas do
transmissão e distribuição de energia elétrica). Nas unidades de cogeração, o setor elétrico, dependente da participação
elétrica. calor e o trabalho são produzidos a partir do capital privado, a cogeração se
No que diz respeito à biomassa, da queima de um único combustível, apresenta como uma opção interessante
particularmente, está sendo elaborado com a recuperação de parte do calor na contribuição à oferta de energia
pelo MME e pela GCE um programa de rejeitado, qualquer que seja o ciclo elétrica, permitindo a geração
incentivo específico, com a finalidade de termodinâmico empregado. descentralizada, com unidades menores,
agregar ao sistema elétrico nacional, até Dessa forma trata-se de um processo mais flexíveis, próximas aos centros de
dezembro de 2003, 2.000 MW de de geração de energia mais eficiente do consumo, além de serem sistemas mais
geração de energia elétrica a partir de que simplesmente a geração de energia eficientes e menos poluentes.
biomassa. Além dos incentivos previstos elétrica, pois a partir da cogeração As tecnologias de cogeração podem
pelo PROINFA, deverá haver um ocorrem dois produtos. Em conseqüência ser separadas em dois grandes grupos,
programa de financiamento com taxas de imediata da maior eficiência, tem-se a de acordo com a ordem relativa de
juros reduzidas e prazos de carência e menor emissão de poluentes, desde que geração de potência e calor: os ciclos
amortização coerentes com a natureza seja utilizado o mesmo combustível. topping (Figura 2) e os ciclos bottoming
dos investimentos. É uma tecnologia conhecida e (Figura 3).
Além disso, a ANEEL tem estimulado e empregada desde o início do século 20, Nas tecnologias que operam segundo
procurado regulamentar o uso da porém, com o passar dos anos, foi o ciclo topping, os gases de combustão a
biomassa na geração de energia elétrica. perdendo a importância (meados dos uma temperatura mais elevada são
Entre outras ações, destaca-se a definição anos 70) e a partir da década de 80 foi utilizados para geração de eletricidade ou
de regras para a entrada de novos recuperando sua posição devido às de energia mecânica. O calor rejeitado
empreendedores, particularmente tendências de desregulamentação do pelo sistema de geração de potência é

Figura 2 – Sistema de cogeração tipo topping Figura 3 – Sistema de cogeração tipo bottoming
Fonte: VELASQUEZ (2000) Fonte: VELASQUEZ (2000)

dezembro 2004
29
utilizado para atender aos requisitos de por ano, entre faturamentos diretos e processo industrial. Esse tipo de utilização
energia térmica do processo; assim, essa indiretos, o que corresponde a 2,3% do do vapor é chamado de cogeração.
modalidade de cogeração produz energia PIB brasileiro, sendo responsável por
elétrica ou mecânica para depois aproximadamente 1 milhão de Aspectos socioeconômicos e ambientais
recuperar calor, fornecido geralmente na empregos diretos. – Geração descentralizada, próxima
forma de vapor para o processo O estado de São Paulo é também o aos pontos de carga: em particular, nas
(podendo também fornecer água quente maior produtor de açúcar e álcool do regiões Sudeste e Centro-Oeste ocorre
ou fria e ar quente ou frio). Essa é a país, produzindo cerca de 60% do total durante o período de baixa
configuração mais comum dos processos nacional. hidraulicidade, podendo complementar
de cogeração. O período de safra na região Centro- de forma eficiente a geração hidrelétrica.
As tecnologias que operam segundo o Sul acontece entre os meses de maio e A cogeração de eletricidade poderia
ciclo bottoming envolvem a recuperação novembro, enquanto na região Norte- colaborar com esse objetivo,
direta de calor residual (que Nordeste o período é de dezembro a fornecendo esta às regiões rurais
normalmente é descarregado na abril. próximas às usinas/destilarias. Com uma
atmosfera), para a produção de vapor e eletrificação rural, poderiam ser
energia mecânica ou elétrica (em turbinas Bagaço de cana oferecidas melhores condições de vida
de condensação e/ou contrapressão). O bagaço de cana é um grande àquela população, colaborando para
Nesse tipo de tecnologia, primeiro a empecilho nas usinas, pois é produzido fixar o trabalhador no campo e
energia térmica é usada no processo, e em grandes quantidades (30% da reduzindo o êxodo rural.
então a energia dos gases de exaustão é cana), ocupa grandes áreas e pode vir a – Utilização de mão-de-obra na zona
utilizada para a produção de energia sofrer combustão espontânea. Por outro rural: a geração de empregos é
elétrica ou mecânica. lado, possui grande porcentagem de particularmente importante. Na
Apenas os ciclos topping podem fibras, o que lhe concede boas agroindústria canavieira, a mão-de-obra
fornecer real economia na energia características combustíveis; por esse representa 48% do custo total de
primária, pois a maioria das aplicações motivo, juntamente como fato de ser um produção.
dos processos requer vapor de baixa combustível gratuito, o bagaço de cana é – Combustível limpo e renovável: a
pressão, convenientemente produzido queimado nas caldeiras visando à queima de energéticos oriundos da
neste ciclo. geração de vapor para o processo. cana-de-açúcar apresenta balanço de
A produção de eletricidade em um carbono nulo, pois o carbono emitido
ciclo a vapor, de forma geral, é feita por Tecnologias para geração de eletricidade pela combustão desses materiais é
meio do ciclo de Rankine tradicional com A tecnologia utilizada na indústria absorvido e fixado pela cana-de-açúcar
turbina a vapor, o que corresponde a sucroalcooleira é baseada no ciclo durante seu crescimento. No entanto, a
uma tecnologia em uso comercial há mais convencional de vapor (ciclo Rankine), queima desses combustíveis emite
de 100 anos. usando-se, em grande parte, o bagaço óxidos de nitrogênio; isto ocorre porque
de cana, in natura, com 50% de o nitrogênio faz parte da constituição
umidade, para a queima em caldeiras química dos vegetais. Esse problema
SETOR SUCROALCOOLEIRO que produzem vapor com pressão de
21 kgf/cm2 e temperatura de 300 ºC em
pode ser reduzido aplicando-se
lavadores de gases e filtros, já disponíveis
O setor sucroalcooleiro no Brasil média. Esse vapor aciona uma turbina comercialmente no país.
possui 377 usinas cadastradas no acoplada a um gerador, produzindo
Ministério da Agricultura, Pecuária e parte da energia elétrica necessária para
Abastecimento; destas, 272 unidades
estão localizadas na região Centro-Sul. O
sua operação.
O vapor gerado pela caldeira não é
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
estado de São Paulo possui o maior usado, exclusivamente, para a geração O setor de produção de papel e
número de usinas; no total são 165 de energia elétrica, porque também é celulose se caracteriza por um processo
unidades produtoras. empregado como fluido de trabalho produtivo que apresenta uma excelente
O mercado sucroalcooleiro para equipamentos de preparação, relação entre as demandas de
movimenta em torno de R$ 12,7 bilhões moagem da cana e para utilização no eletricidade e de calor (vapor) para

30 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


efeito de cogeração, além da geração de contribuição social do segmento não é sendo o restante de outras espécies. A
um combustível importante; intrínseco ao claramente representada por essa produção de celulose é, exclusivamente,
processo – o licor negro. imagem, e sim pelos valores de impostos feita a partir de madeira oriunda de
Além do licor negro (o efluente arrecadados anualmente e por seus florestas plantadas, nas quais se
combustível inerente ao processo, com benefícios socioeconômicos, observados incorporam modernas técnicas de
um poder calorífico em torno de 13.400 nas regiões as quais cercam os setores silviculturas e de manejo florestal
kJ/kg), produzido a uma taxa entre 1,0 e das empresas (florestal, industrial, sustentável.
1,4 kg de licor concentrado por quilo de comercial, etc.). • Reciclagem: Como um rótulo
celulose, o setor conta com outros Dando seguimento aos aspectos ecológico importante, a reciclagem do
insumos energéticos agregados como sociais, não pode ser deixado de lado papel carrega consigo um apelo, não
cascas, lascas e resíduos de madeira, e avaliar a relação existente entre a somente ambiental, mas sim uma
cavacos de lenha, utilizados como instalação da unidade produtora de solução para a diminuição ou “controle”
combustíveis complementares para papel e celulose e o desenvolvimento de aterros sanitários e também uma
atender às necessidades energéticas do local. A maioria das unidades solução financeira para algumas pessoas
processo. produtoras, no Brasil, localiza-se próxima que dependem da coleta seletiva para
O sistema de cogeração utilizado na à sua área de reflorestamento, levando sobreviver. A indústria de papel e
planta de uma indústria de papel e em conta os altos custos de extração e celulose, tendo como principal matéria-
celulose é composto de turbina a vapor transporte que seriam gerados, caso prima a madeira e gerando resíduos
de condensação com duas extrações suas fábricas ficassem localizadas a orgânicos em seu processo, é um forte
para atender às demandas térmicas do grandes distâncias de seus exemplo de utilização da biomassa
processo. reflorestamentos, provocando, assim, um como uma alternativa energética
Em um sistema de cogeração, o vapor fenômeno de descentralização e fuga ambiental.
é gerado pela queima de licor negro na dos grandes centros urbanos. • Lixívia: A lixívia (licor negro), um
caldeira de recuperação química, e de Tal descentralização, dentro do resíduo inevitável do processo de
resíduos de madeira e lenha em segmento de papel e celulose, exerce fabricação da celulose, altamente tóxico e
caldeiras do tipo leito fluidizado (este um papel de suma importância, pois poluente, comporta inúmeras vantagens
último, quando necessário para suprir a consegue obter bons índices de em sua recuperação. Nela estão
demanda de vapor no processo). desenvolvimento regionais, gerando presentes todos os produtos químicos
O processo de produção de celulose empregos e construindo uma estrutura utilizados no processo “sulfato” de
demanda vapor a ser utilizado, para suportar as necessidades do fabricação de celulose, e, se não fosse
sobretudo, nos secadores e digestores e crescimento da região. utilizada como combustível, na caldeira
vapor de baixa pressão empregados nos O tema meio ambiente é um assunto de recuperação (com a finalidade de
evaporadores, entre outros setores. de grande importância e preocupação recuperar esses produtos químicos e
A central de utilidades recebe da para as indústrias produtoras de papel e gerar vapor), deveria ser descartada com
planta industrial a lixívia e os resíduos/ celulose, visto que sua matéria-prima elevados impactos ambientais em rios,
cascas de madeira, queimados em básica é fornecida diretamente da lagos e lençóis freáticos. Como exemplo,
caldeira de recuperação e leito fluidizado, exploração controlada de madeira, o fato ocorrido em março de 2003 na
respectivamente, gerando vapor de alta respeitando leis e normas ambientais Indústria de Papel Cataguases, onde
pressão, que aciona o sistema de rigorosas. Como principais aspectos toneladas de licor negro poluíram a
cogeração fornecendo energia elétrica, ambientais do segmento de papel e bacia do rio Paraíba do Sul.
vapor de média e de baixa pressão para celulose, destacam-se:
o processo de fabricação. • Reflorestamento: No Brasil, as

Aspectos socioeconômicos e ambientais


principais matérias-primas utilizadas pelo
segmento de papel e celulose são o
BIODIESEL
O segmento de celulose e papel gera, eucalipto e o pinus. O setor conta com A idéia da utilização de óleos vegetais
hoje, cerca de 130 mil empregos, se em torno de 1,4 x 106 hectares de em motores a combustão é quase tão
forem considerados os de natureza reflorestamentos próprios, principalmente antiga quanto a própria invenção
direta e indireta. Mas a relevante eucalipto (69,2%) e pinus (29,3%), destes. Há mais de 100 anos foram

dezembro 2004
31
realizados testes com óleos vegetais em de combustíveis fósseis em motores de Fontes de matérias-primas para a produção
motores estacionários, sendo Rudolf ignição por compressão interna de biodiesel
Diesel um empreendedor pioneiro (motores do ciclo Diesel). • Óleos Vegetais: Todos os óleos
nesse sentido. No entanto, apesar de vegetais, enquadrados na categoria de
fazer o motor funcionar de modo Processo de produção de biodiesel óleos fixos ou triglicerídicos, podem ser
satisfatório, os primeiros testes de longa A transesterificação é um processo transformados em biodiesel: grão de
duração revelaram que a utilização de químico que consiste da reação de óleos amendoim, polpa do dendê, amêndoa
óleos vegetais apresentava alguns vegetais com um produto intermediário do coco de dendê, amêndoa do coco
inconvenientes. Além disso, com a ativo (metóxido ou etóxido), oriundo da da praia, caroço de algodão, amêndoa
redução do custo de prospecção do reação entre álcoois (metanol ou etanol) do coco de babaçu, semente de girassol,
petróleo e aumento da oferta do e uma base (hidróxido de sódio ou de baga de mamona, semente de colza,
produto, algumas frações derivadas do potássio). Os produtos dessa reação semente de maracujá, polpa de abacate,
refino do óleo cru mostraram-se química são a glicerina e uma mistura de caroço de oiticica, semente de linhaça,
bastante adequadas à utilização como ésteres etílicos ou metílicos (biodiesel). O semente de tomate, entre muitos outros
combustível em motores de combustão biodiesel tem características físico- vegetais em forma de sementes,
interna. Assim, e com o passar dos químicas muito semelhantes às do óleo amêndoas ou polpas.
anos, novos melhoramentos foram diesel e, portanto, pode ser usado em • Gorduras de Animais: Os óleos e
realizados tanto no combustível motores de combustão interna, de uso gorduras de animais possuem estruturas
derivado do petróleo quanto no motor veicular ou estacionário. químicas semelhantes as dos óleos
que o utilizava, levando ao
esquecimento a idéia da utilização direta
de óleos vegetais para esse fim. A
origem das limitações ao uso
automotivo de óleos in natura está
relacionada com certas características
intrínsecas aos óleos vegetais, tais como
alta viscosidade, composição em ácidos
graxos e presença de ácidos graxos
livres, assim como pela tendência que
apresentam à formação de gomas por
processos de oxidação e polimerização,
durante sua estocagem ou combustão.
No entanto, vários estudos
demonstraram que uma simples reação
de transesterificação poderia dirimir
muito dos problemas associados à
combustão de óleos vegetais, tais como
a baixa qualidade de ignição, ponto de
fluidez elevado e altos índices de
viscosidade e densidade específica,
gerando um biocombustível
denominado biodiesel, bastante
compatível com o óleo diesel
convencional. De modo geral, biodiesel
é definido como derivados monoalquil
éster de fontes renováveis como óleos
vegetais ou gordura animal, cuja Figura 4 – Processo de obtenção de biodiesel
utilização está associada à substituição Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVE

32 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


vegetais. Como moléculas triglicerídicas participação do setor privado, como matriz energética brasileira. Desses, cabe
de ácidos graxos, também podem ser institutos de pesquisa, indústrias destacar o PL n. 6983/2002, o qual
transformadas em biodiesel: o sebo automobilísticas e de óleos vegetais, prevê a mistura de 5% de biodiesel no
bovino, os óleos de peixes, o óleo de fabricantes de peças e produtores de diesel, a partir de janeiro de 2004, e
mocotó, a banha de porco, entre outras lubrificantes e combustíveis. 15% a partir de 2006, e o PL n. 526/
matérias graxas de origem animal. Embora tenham sido desenvolvidos 2003, que regulamenta o uso do
• Óleos e Gorduras Residuais: Os vários testes com biocombustíveis, dentre biodiesel no Brasil.
óleos e gorduras residuais, resultantes os quais o éster etílico de soja puro e a
de processamentos domésticos, mistura 30% de éster etílico de soja e Aspectos socioeconômicos e ambientais
comerciais e industriais: as lanchonetes e 70% de óleo diesel (cujos resultados O biodiesel é um combustível
as cozinhas industriais, comerciais e constataram a viabilidade técnica da renovável e, portanto, uma alternativa
domésticas, onde são praticadas as utilização do biodiesel como aos combustíveis tradicionais, obtidos do
frituras de alimentos; as indústrias nas combustível) e realizadas diversas petróleo. Sua utilização traz uma série de
quais processam frituras de produtos tentativas para o desenvolvimento de vantagens ambientais, econômicas e
alimentícios, como amêndoas, tubérculos, mercado para o produto, os elevados sociais.
salgadinhos, e várias outras modalidades custos de produção em relação ao óleo Em termos ambientais, uma das mais
de petiscos; os esgotos municipais, onde diesel impediram seu uso em escala expressivas vantagens trazidas pelo
a nata sobrenadante é rica em matéria comercial. biodiesel refere-se à redução da emissão
graxa, é possível extrair-se óleos e Com a elevação dos preços do óleo de gases poluentes. Estudos realizados
gorduras; águas residuais de processos diesel e o interesse do governo federal pela Universidade de São Paulo
de certas indústrias alimentícias, como as em reduzir sua importação, o biodiesel demonstram que a substituição do óleo
indústrias de pescados, de couro, etc. passou a ser visto com maior interesse, diesel mineral pelo biodiesel resulta em
levando o Ministério da Ciência e reduções de emissões de 20% de
Biodiesel no Brasil Tecnologia a lançar o Programa Brasileiro enxofre, 9,8% de anidrido carbônico,
Os estudos e testes sobre de Desenvolvimento Tecnológico do 14,2% de hidrocarbonetos não-
combustíveis alternativos e renováveis no Biodiesel (Probiodiesel), em 30 de queimados, 26,8% de material
Brasil não são recentes. Na década de outubro de 2002, pela Portaria particulado e 4,6% de óxido de
20, o Instituto Nacional de Tecnologia Ministerial n. 702. Ele tem como objetivo nitrogênio.
(INT) já desenvolvia pesquisas nessa fomentar a produção e utilização do Os benefícios ambientais podem,
direção. Desde a década de 70, esse biodiesel no país, de modo a atingir sua ainda, gerar vantagens econômicas. O
instituto, com o Instituto de Pesquisas viabilidade técnica, socioambiental e país poderia enquadrar o biodiesel nos
Tecnológicas (IPT) e com a Comissão econômica. Na primeira fase, encerrada acordos estabelecidos no Protocolo de
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira em 2003, foram testados o éster etílico e Kyoto e nas diretrizes dos Mecanismos
(CEPLAC), vêm desenvolvendo pesquisas metílico de soja e etanol. Na fase II, que de Desenvolvimento Limpo (MDL), já
relativas à utilização de óleos vegetais deverá se estender até 2005, serão que existe a possibilidade de venda de
como combustível, dentre as quais desenvolvidas as cadeias produtivas do cotas de carbono por intermédio do
merece destaque o DENDIESEL, baseado biodiesel produzido a partir de outros Fundo Protótipo de Carbono (PCF), pela
no óleo de dendê. óleos vegetais e/ou óleos residuais. O redução das emissões de gases
Em 1983, o governo federal, programa prevê, para 2005, o uso poluentes e também créditos de
motivado pela alta nos preços de comercial de misturas com 5% de “seqüestro de carbono”, por meio do
petróleo, lançou o Programa de Óleos biodiesel e 95% de óleo diesel (mistura Fundo Bio de Carbono (CBF),
Vegetais (OVEG), no qual foi testada a B5), esperando-se para 2010 o administrados pelo Banco Mundial.
utilização de biodiesel e misturas aumento da participação do biodiesel Outra vantagem econômica é a
combustíveis em veículos que para 10% (B10) e até 2020 para 20% possibilidade de redução das
percorreram mais de 1 milhão de (B20). importações de petróleo e diesel
quilômetros. É importante ressaltar que Além do Probiodiesel, há alguns refinado. Segundo estatísticas da Agência
essa iniciativa, coordenada pela Secretaria projetos de lei tramitando no Congresso, Nacional do Petróleo (ANP), o consumo
de Tecnologia Industrial, contou com a prevendo a inclusão do biodiesel na brasileiro de óleo diesel apresentou um

dezembro 2004
33
crescimento acumulado de 42,5%, no Diante do grande volume de um tipo de energia em outro. No caso
período de 1992 a 2001. Para suprir a resíduos provenientes das explorações do biogás, a energia química contida em
demanda crescente, foi necessário agrícolas e pecuárias, assim como suas moléculas é convertida em energia
aumentar o volume importado do aqueles produzidos por matadouros, mecânica por um processo de
combustível, de 2,3 milhões de m3, em destilarias, fábricas de laticínios, combustão controlada. Essa energia
1992, para 6,6 milhões de m3, em 2001. tratamentos de esgotos domésticos e mecânica ativa um gerador o qual a
É importante destacar que, em 1992, aterros sanitários, a conversão converte em energia elétrica.
8,5% do consumo brasileiro de óleo energética do biogás se apresenta Não podemos esquecer de
diesel era suprido via importações. Em como uma solução a agregar ganho mencionar o uso da queima direta do
2001, essa participação já havia saltado ambiental e redução de custos na biogás em caldeiras para cogeração e do
para 16,5%. De acordo com a ANP, medida em que reduz o potencial surgimento de tecnologias
cada 5% de biodiesel misturado ao óleo tóxico das emissões de metano, ao remanescentes, porém atualmente não
diesel consumido no país representa mesmo tempo em que produz energia comerciais, como a da célula combustível.
uma economia de divisas em torno de elétrica. Mas as turbinas a gás e os motores de
US$ 350 milhões/ano. combustão interna do tipo “ciclo Otto”
O aproveitamento energético de óleos Processo de formação do biogás são as tecnologias mais utilizadas para
vegetais e a produção de biodiesel são O processo consiste na esse tipo de conversão energética.
também benéficos para a sociedade, decomposição do material pela ação de
pois gera postos de trabalho, bactérias (microrganismos acidogênicos Aspectos socioeconômicos e ambientais
especialmente no setor primário. Outro e metanogênicos). Trata-se de um O primeiro fator a ser analisado é o
aspecto positivo de sua utilização refere- processo simples, que ocorre da utilização de um gás combustível de
se ao aumento da oferta de espécies naturalmente com quase todos os baixo custo, uma vez que o biogás é um
oleaginosas, as quais são um importante compostos orgânicos. subproduto de um processo de
insumo para a indústria de alimentos e O tratamento e o aproveitamento digestão anaeróbica e, normalmente, é
ração animal, além de funcionarem energético de dejetos orgânicos desprezado, ora emitido diretamente na
como fonte de nitrogênio para o solo. (esterco animal, resíduos industriais, atmosfera e agravando o impacto
etc.) podem ser feitos pela digestão ambiental por meio da emissão de gases
anaeróbica em biodigestores, na qual o de efeito estufa, ora pela queima em
BIOGÁS processo é favorecido pela umidade e
aquecimento. Este é provocado pela
“flares” para minimizar o impacto
ambiental.
Até há pouco tempo, o biogás era própria ação das bactérias, mas, em Uma receita adicional pode ser
simplesmente encarado como um regiões ou épocas de frio, pode ser gerada pela venda do gás ou pelo uso
subproduto, obtido a partir da necessário calor adicional, pois a do mesmo na geração de energia
decomposição anaeróbica (sem temperatura deve ser de pelo menos elétrica. É importante salientar que, no
presença de oxigênio) de lixo urbano, 35 °C. caso do tratamento de esgoto, o uso
resíduos animais e de lodo proveniente Em termos energéticos, o produto do biogás para geração de energia
de estações de tratamento de efluentes final é o biogás, composto, elétrica possibilita a redução do
domésticos. No entanto, o aquecimento essencialmente, por metano (50% a consumo de energia, enquanto, no
da economia nos últimos anos e a 75%) e dióxido de carbono. Seu caso de um aterro sanitário, possibilita a
subida acentuada do preço dos conteúdo energético gira em torno de venda da energia elétrica gerada à rede.
combustíveis convencionais têm 5.500 kcal por metro cúbico. A emissão do biogás para a
encorajado as investigações na atmosfera provoca impactos negativos
produção de energia, a partir de novas Principais tecnologias de conversão do ao meio ambiente e à sociedade, pois
fontes alternativas e economicamente biogás contribui para o agravamento do efeito
atrativas, tentando, sempre que possível, Existem diversas tecnologias para estufa pela emissão de metano (CH4)
criar formas de produção energética que efetuar a conversão energética do na atmosfera (o impacto do metano é
possibilitem a redução do uso dos biogás. Entende-se por conversão 24 vezes maior que o do dióxido de
recursos naturais esgotáveis. energética o processo que transforma carbono (CO2), provocando odores

34 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


desagradáveis pela emissão de gases
fétidos e tóxicos, sobretudo pela
CONSIDERAÇÕES FINAIS • balanço de carbono praticamente
nulo, o que incentiva a venda de
concentração de compostos de enxofre O Brasil apresenta condições créditos de carbono para os países
presentes no gás, além de uma favoráveis para se tornar uma grande desenvolvidos.
pequena, mas não-desprezível, potência no que diz respeito a fontes A experiência nacional de geração de
presença de bactérias responsáveis pela renováveis de energia, sobretudo a energia a partir da biomassa tem maior
digestão anaeróbica dos resíduos biomassa, dado os seguintes fatores: tradição na indústria sucroalcooleira,
orgânicos. A presença do metano no – Vasta extensão territorial, propícia à mostrando-se plenamente viável sob os
biogás sugere que o mesmo seja agricultura alimentícia e possível de pontos de vista técnico, operacional e
queimado em “flare”, por exemplo, para (re)florestamento; econômico.
que seja convertido para dióxido de – condições bioclimáticas e a É recomendável, portanto, que as
carbono (CO2) pelo processo de experiência atingida quanto ao trato e experiências operacionais de geração de
combustão, com o objetivo de exploração florestal a permitirem a energia elétrica com biomassa florestal
minimizar o impacto ambiental obtenção de produtividade quatro a na região Norte, como as dos sistemas
provocado pela emissão de gases de cinco vezes superiores às obtidas nos eletricamente isolados e a dos
efeito estufa. países de clima temperado reservatórios de usinas hidrelétricas
O aproveitamento energético do (essencialmente os países concretizem-se, possibilitando o
biogás, gerado pela digestão anaeróbica desenvolvidos); aproveitamento de grande potencial
de resíduos, contribui com a preservação – a existência de grande florestal o qual estará disponível nos
do meio ambiente e também traz quantidade de biomassa disponível pela próximos anos. No caso do bagaço de
benefícios para a sociedade: expansão da fronteira agrícola e cana, cuja experiência operativa se
• Promove a utilização ou implantação de grandes projetos na encontra mais aprofundada, requer-se
reaproveitamento de recursos região Norte e a existência de excedente incentivos institucionais, técnicos e
“descartáveis” e/ou de baixo custo (o de bagaço de cana na indústria financeiros por parte do governo federal
biogás é considerado como um gás sucroalcooleira; a possibilitar a implantação de um
residual de processo); – o aprimoramento das tecnologias programa de cogeração na indústria
• colabora com a não-dependência de transformação e o surgimento de sucroalcooleira.
de uma única fonte de energia fóssil novas, possibilitando melhores Quanto ao aproveitamento das
(oferecendo uma maior variedade de rendimentos. extensas áreas reflorestáveis, recomenda-
combustíveis); Como conseqüência, os fatores acima se programas pilotos que desenvolvam a
• possibilita a geração descentralizada apresentados trazem alguns benefícios, experiência florestal e tecnológica de
de energia (gerando-a em comunidades dentre os quais citamos: usinas com alto rendimento energético
isoladas); • incentivo à produção agrícola e de modo a possibilitar, em um futuro
• aumento da oferta de energia; florestal, ambas em ascensão; próximo, a execução de programas de
• geração de empregos para pessoas • incentivo ao desenvolvimento de geração térmica da biomassa florestal de
menos qualificadas; novas tecnologias; porte tal, que venham a contribuir com a
• reduz os odores e as toxinas do ar • geração de energia descentralizada complementação do sistema hidrelétrico,
que contribuem para a poluição do ar e possibilidade de fornecimento de principalmente nas regiões nas quais já
local; energia excedente às concessionárias se vislumbra o esgotamento do potencial
• diminui as emissões poluentes pela locais; de recursos hídricos.
substituição de combustíveis fósseis; • geração de empregos na zona rural, Considerando-se as alternativas
• colabora para a viabilidade diminuindo o êxodo para as grandes apresentadas hoje e as perspectivas para
econômica dos aterros sanitários e metrópoles; o setor elétrico no Brasil, discute-se a
estações de tratamento de esgoto, • desenvolvimento sustentável potencialidade do uso de biomassa nas
aumentando a viabilidade do (qualidade de vida, transporte e usinas termoelétricas já existentes. O
saneamento básico; energia); custo de produção de MWh (nuclear,
• reduz significativamente a emissão • menor emissão de poluentes na carvão ou óleo) é elevado em relação às
de gases efeito estufa. atmosfera; hidrelétricas, apesar de apresentarem

dezembro 2004
35
períodos de construção, no caso das
termoelétricas a óleo, de três anos
aspectos críticos com relação ao
processo de conversão. Praticamente o
BIBLIOGRAFIA
somente. Foi considerada a possibilidade único efluente a requerer controle ATLAS de Energia Elétrica do Brasil. Brasília, DF:
de operação de termoelétricas a bagaço específico em uma termoelétrica é Agência Nacional de Energia Elétrica. 2002.
de cana com operação em 11 meses/ material particulado dos gases de 153 p.
ano, ampliando-se a discussão sobre a combustão. O uso de precipitadores ou COELHO, S. T. Mecanismos para
possibilidade de trabalhar não só com filtros de mangas leva o nível de implementação da cogeração de eletricidade
bagaço excedente, mas também com a emissão desse poluente a valores a partir de biomassa. Um modelo para o
palha da cana-de-açúcar, resíduos aceitáveis pelas legislações mais estado de São Paulo. 1999. 278 p. Tese
(Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade
provenientes do processo de fabricação rigorosas.
de São Paulo, São Paulo, 1999.
de papel e celulose, e até mesmo O assunto mostra outra face quando
bagaço de laranja. se aborda o lado da obtenção do COELHO, S. T; SILVA, O. C.; CONSÍGLIO, M.;
Energeticamente, as vantagens para o combustível. É inegável que para PISETTA, M.; MONTEIRO, M. B. C. A.
Panorama do potencial de biomassa no Brasil
país são devidamente atraentes. algumas situações o aproveitamento de
– Projeto BRA/00/029 – Capacitação do setor
Lançando mão de uso de recursos biomassa pode ser extremamente
elétrico brasileiro em relação à mudança
locais e renováveis, diminuindo-se a benéfico, como no caso de resíduos global do clima. Brasília, DF: ANEEL – Agência
pressão futura sobre o balanço de urbanos agrícolas e industriais (lixo, Nacional de Energia Elétrica, 2002. 80 p.
pagamentos, com uma importação de esgoto), evitando problemas com a
COSTA, D. F. Biomassa como fonte de
petróleo compatível às receitas das disposição final.
energia, conservação e utilização. 2002. 38 p.
exportações e a despesa das Finalmente, entendemos que o uso Monografia (Especialização). Instituto de
importações totais, além de da biomassa na geração de energia Energia / Escola Politécnica – Universidade de
internacionalizar a geração de benefícios. elétrica constitui-se em uma das opções São Paulo, São Paulo, 2002.
Afora isso, a remuneração das usinas mais viáveis para a participação do
PARENTE, E. J. S. Biodiesel: Uma aventura
sucroalcooleiras, pelas noções de custo capital privado, no atendimento da tecnológica num país engraçado. Fortaleza:
evitado, gera nova receita aos parcela do mercado de eletricidade no Tecbio Tecnologias Bioenergéticas Ltda, 2003.
produtores e transfere ao setor privado, Brasil. 66 p.
que já produz álcool combustível, Algumas questões ficam no ar após a
VELÁZQUEZ, S. M. S. G. A cogeração de
também a responsabilidade pela geração realização do trabalho: energia no segmento de papel e celulose:
de energia, evitando a construção de 1 – Como a prática da biomassa, tão Contribuição à matriz energética do Brasil.
novas centrais térmicas pelas antiga e ambientalmente correta, pôde 2000. 205 p. Dissertação (Mestrado) – Escola
concessionárias de energia elétrica. ser esquecida pela humanidade? Politécnica, Universidade de São Paulo, São
Como autoprodutores, essas empresas 2 – Por que o combustível à base de Paulo, 2000.
também economizariam na construção cana-de-açúcar (o álcool), nacional e de Visita à Unidade Fabril da Klabin Monte Alegre
de redes de transmissão de energia, tamanho valor de interdependência – Telêmaco Borba/PR.
com a eliminação das linhas de energética, não se perpetuou com
Sites:
transmissão, pois o abastecimento seria sucesso? www.cenbio.org.br
obtido da própria fonte. 3 – O que se pode fazer para que a www.aneel.org.br
Quanto à questão ambiental, a implementação desses programas se www.iee.usp.br
energia da biomassa não apresenta tornem ações definitivas e permanentes? www.unica.com.br

36 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Saneamento
Ambiental

RESUMO A APLICAÇÃO DE
A presença de sulfetos, freqüentemente o sulfeto de hidrogênio, é responsável pela geração de odor,
como também pela corrosão nas instalações de tratamento de esgotos. O presente trabalho foi
desenvolvido com o objetivo de identificar e analisar a questão da geração de maus odores na rede NITRATO DE AMÔNIO
coletora de esgotos do município de Pereira Barreto, com ênfase na formação do sulfeto de hidrogê-
nio, focalizando a questão como problema de saúde pública, e também analisar o método de controle
implantado em sua rede de esgotos para minimizar o odor freqüente e intenso. Dos resultados
PARA O CONTROLE DE
ODORES EM SISTEMAS
obtidos, concluiu-se que o método de nitrificação com a aplicação do nitrato de amônio, revelou-se
eficaz em inibir a produção de concentrações de gás sulfídrico (H2S) superiores a 1,0 mg/L de H2S.
Entretanto, para a região na qual se encontra a lagoa de estabilização, a dosagem de nitrato de amônio

DE COLETA DE ESGOTOS
ao esgoto apresentou-se inadequada, sendo necessário reavaliá-la. Os sintomas apresentados pelos
entrevistados decorrentes da exposição ao odor freqüente e ofensivo, como dor de cabeça, náusea,
ardor nasal, tontura e alterações no estado de humor, vieram a desaparecer, quando o odor passou
a ser controlado e sua intensidade diminuída.

PALAVRAS-CHAVE
SANITÁRIOS
Odor, gás sulfídrico, nitrato de amônio, saúde pública.

ABSTRACT Teodosia Basile Liliamtis


The presence of sulfides, particularly the hydrogen sulfide, are caused to emanate odor and corrosive Engenheira química pela Universidade de Mogi das
attack on pipe line from the wastewater treatment facilities. The present research work was developed Cruzes, mestre e doutoranda em saúde pública pela
in order to identify and analyze the creation of bad odors matter in the sewer system in the city of Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Pereira Barreto, giving emphasis to the formation of hidrogen sulfide, focusing it as a public health Paulo.
problem, and also analyzing the control method implemented in the sewer system to reduce Teodosia@usp.br
frequent and intense odor. The nitrification method with the ammonia nitrate is eficient to inhibit the
production of the sulphydric gas concentrations were at over 1,0 mg/L H2S. However, the area that
is found the stabilization lagoon, the dosage of the ammonia nitrate in the sewer system was not Pedro Caetano Sanches Mancuso
inadequate, it is necessary to evaluate again. The symptoms presented by the people had been Engenheiro industrial pela Faculdade de Engenharia
exposed to the frequent and ofensive odor were: headache, nausea, nose irritation, dizziness and Industrial da Pontifícia Universidade Católica de São
mood alterations. These symptoms were disappeared as soon the odor was once controlled and the Paulo, mestre e doutor em saúde pública pela
intensity was reduced. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo, professor doutor do Departamento de Saúde
KEY WORDS Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da
Odor, sulphydric gas, ammonium nitrate, public health. Universidade de São Paulo.
mancuso@usp.br

dezembro 2004
37
INTRODUÇÃO A bibliografia consultada, até o
momento, permitiu identificar que em
O PROBLEMA DA GERAÇÃO DE
A problemática do odor associada
aos sistemas de esgotos urbanos é uma
vários países existe preocupação com
relação à ocorrência de odores.
ODOR NO SISTEMA DE ESGOTO
questão extremamente complexa e
pouco abordada no campo da saúde
No Brasil, a problemática da emissão
de odores provenientes de fontes de
DE PEREIRA BARRETO
pública e ambiental. poluição como: plantas industriais, usinas
Uma causa importante de odor nas de tratamento de resíduos sólidos e Histórico
coleções de águas residuárias é atribuída estações de tratamento de esgotos, Em 1979, a Companhia Energética de
à geração de sulfetos, principalmente ao ainda não vem sendo regulamentada de São Paulo (Cesp) iniciou a construção
sulfeto de hidrogênio (H2S). A presença forma específica. da Usina Hidroelétrica (UHE) de Três
de sulfetos é também responsável pela No tocante ao H2S existe legislação, Irmãos, no município de Pereira Barreto,
corrosão das tubulações de concreto nas em âmbito estadual, para o controle de com a finalidade de exploração do rio
instalações de tratamento de esgotos. emissão do gás na água, expressa no Tietê para a produção de energia elétrica.
O processo de geração de odor Decreto n. 8.468 de 8 de setembro de A obra foi concluída em março de 1991,
ocorre, fundamentalmente, pela presença 1976, em seu artigo 19-A, a restringir o contudo, produziu sérios danos ao meio
de sulfetos em esgotos, principalmente limite de lançamento de sulfeto em ambiente, apontados, inclusive, no
em decorrência de atividade biológica. sistemas de esgoto a 1 mg/L. Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
Por outro lado, a formação de Assim sendo, problemas Dentre eles devemos ressaltar a elevação
atividades biológicas favorece a produção relacionados a exposições contínuas de do lençol de água e a contaminação do
de gases não derivados de sulfetos, os seres humanos a substâncias esgoto urbano, cujo sistema de
quais podem ser odoríferos e inodoros. odorantes, como os trabalhadores de disposição entrou em colapso.
Em algumas situações, a produção de ETEs, além de moradores, transeuntes e O antigo e precário tratamento de
odor no esgoto não resulta de atividade trabalhadores em áreas próximas às esgotos sanitários que atendia em torno
química ou biológica, mas da introdução estações de tratamento, devem ser de 63% da população urbana da
de fatores externos, como os despejos priorizados à luz da saúde pública e cidade foi reformulado pela Cesp.
industriais. ambiental. O novo sistema de esgoto implantado
De acordo com o guia de primeiros pela Cesp e elaborado pela Coplasa
socorros para o sulfeto de hidrogênio da Engenharia de Projetos S/A, em 1983,
USEPA (2001), a toxicidade do H2S
ocorre por inalação ou pelo contato com
OBJETIVOS inclui cinco sub-bacias de esgotamento
com vazão total de 8.800 m3/dia
a pele e olhos. Os efeitos do odor na • Identificar e analisar a questão da (coeficiente de retorno de 0.8), cada
saúde são vários como: geração de maus odores na rede uma delas contando com uma estação
• exposição aguda – taquicardia, coletora de esgotos do município de elevatória. Cada sub-bacia bombeia seus
palpitações cardíacas, arritmias cardíacas, Pereira Barreto, com ênfase na geração efluentes para a sub-bacia vizinha. Assim,
bronquites, edemas pulmonares, do sulfeto de hidrogênio, focalizando a os efluentes da EE-2 são bombeados
depressão respiratória e também, questão como problema de saúde para a EE-1 e desta para a EE-5. O
possivelmente, uma paralisia respiratória; pública; esgoto da EE-4 é recalcado para a EE-3
• os efeitos neurológicos incluem: • Analisar o método de controle de e desta para a EE-5. As estações
vertigem, irritabilidade, dor de cabeça, odor utilizado para combater os maus elevatórias EE-1, EE-2 e EE-3 localizam-se
tontura, tosse, convulsões e até o estado odores exalados pelo sistema de esgoto na área urbana, enquanto a EE-4 e a
de coma. Náusea, vômito e diarréia são da cidade; e, EE-5 na área rural.
geralmente observados. • Identificar, por meio de um Da EE-5 o esgoto é recalcado pelo
A exposição ao gás sulfídrico pode questionário “próprio”, os efeitos do emissário até a caixa de passagem e
também provocar irritação na pele, odor na saúde da população e a desta por gravidade, até a estação de
lacrimejamento, incapacidade de percepção desta com relação ao odor tratamento, constituída por um conjunto
percepção de odores, fotofobia e visão antes e depois da técnica da aplicação de lagoas de estabilização (anaeróbia e
embaçada. do nitrato de amônio implantada. facultativa), de onde o efluente é

38 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


encaminhado para o lago do aumento no teor de sulfetos, em função f) estabelecimento de programa de
reservatório da UHE de Três Irmãos, a do depósito de matéria orgânica, fato desconexão dos ralos de drenagem
jusante da cidade. Esse sistema foi agravado pela temperatura do esgoto. ligados ao sistema de esgotos. Foram
proposto em função do relevo Próximo de 7,5% da extensão da rede enviadas correspondências à Secretaria
topográfico da cidade e das urbana apresentaram esse problema; de Saúde e prefeitura municipal de
possibilidades de assentamento dos d) a existência de diversas obstruções Pereira Barreto, para que as
coletores. parciais e/ou totais de trechos da rede, irregularidades detectadas fossem
dificultando o escoamento e provocando corrigidas.
Ação pública ambiental deposições de matéria orgânica que
Em novembro de 1991, a Promotoria poderão entrar em decomposição. Esse Solução escolhida para eliminação do odor
Pública do Meio Ambiente entrou com problema de obstrução está relacionado A Cesp optou pelo método da adição
uma ação civil pública ambiental cautelar com as ligações indevidas, caixas de de nitrato de amônio; sua aplicação foi
(Processo n. 318/91 da 2a. Vara da gordura ou passagens mal construídas intensamente pesquisada pela Sabesp,
Comarca de Pereira Barreto) contra a (ou ligações diretas sem sifão) que que utilizou esse produto de forma
Cesp por danos causados ao meio acabam carregando grandes pioneira. A Sabesp, no período de 1988
ambiente, estipulando multas e prazos quantidades de areia e terra para o a 1993, desenvolvia método de combate
para a solução dos problemas. sistema coletor de esgotos; à formação do gás sulfídrico, adicionando
Entre os danos ambientais temos a e) falhas nos trechos hídricos das nitrato de amônio ao esgoto nas cidades
remessa de resíduos de esgoto in natura instalações prediais de esgoto e a de Santos e Monte Aprazível, ambas no
no rio Tietê e o odor desagradável existência de ralos de drenagem pluvial estado de São Paulo, com ótimos
produzido e exalado pelo esgoto em ligados indevidamente ao sistema, sem resultados. Como esse método também
todas as estações elevatórias, nas caixas fecho hídrico, bem como a não- era preconizado pela Coplasa, a Cesp,
de passagens, em algumas regiões da existência de sistema de ventilação às com a supervisão da Sabesp, implantou
cidade e dentro das residências. redes das casas. um campo experimental em Pereira
Barreto, com a finalidade de resolver os
Caracterização do odor proveniente do Medidas corretivas propostas visando à dois problemas: odor e corrosão.
sistema de esgoto redução do odor Desde o início foi definido que as
Da análise do desempenho hidraúlico As medidas corretivas necessárias e elevatórias e a lagoa seriam pontos de
do sistema de esgoto realizado pela implantadas para amenizar o problema aplicação e monitoramento, pois
Cesp, constatou-se que vários foram os de odor gerado pelo esgoto em Pereira próximo a estes locais se verifica o maior
fatores a propiciarem a decomposição Barreto, propostas pela Cesp, no número de reclamações.
de material orgânico e, período anterior a 1995, foram: Os parâmetros analisados são:
conseqüentemente, ao desprendimento a) limpeza da rede coletora e das (a) Temperatura ambiente e do
do gás sulfídrico em tempo insuficiente elevatórias, tendo a finalidade de eliminar esgoto (º C) – Determinada por meio
de atingir-se o sistema de tratamento. os depósitos e obstruções existentes; de um termômetro de mercúrio;
Dentre eles, destacam-se: b) rebaixamento do nível das bóias (b) PH – Método eletrométrico;
a) A elevada temperatura do esgoto, de acionamento dos conjuntos de (c) Potencial de oxirredução, POR
em torno de 35o C, aumentando a recalque das elevatórias, para diminuir o (mV) – O POR mede a capacidade de
velocidade de decomposição anaeróbica intervalo de tempo de retenção do oxidação ou redução de uma
da matéria orgânica. A solubilidade do esgoto; substância. A medida é feita utilizando-se
gás sulfídrico é inversamente c) implantação de um programa de um pHmetro digital na escala de
proporcional à temperatura. Nesses limpeza constante dos cestos de milimetragens com eletrodo específico a
níveis constatados de temperatura, é retenção de sólidos das estações medir a minitensão, a qual é
propiciada uma maior liberação do gás; elevatórias; correlacionável com o grau de
b) o elevado teor de sulfato existente d) instalação de caixas de gordura; oxidabilidade ou redutibilidade de uma
na água de abastecimento; e) remanejamento de todos os mistura (BRAILE & CAVALCANTI, 1993).
c) trechos da rede coletora, com trechos da rede coletora com Em Pereira Barreto a aplicação de
baixa declividade que propiciam um declividades baixas; e nitrato de amônio elevou o POR do

dezembro 2004
39
esgoto e, conseqüentemente, interferiu I. Identificação – seis questões residência de pelo menos 5 anos; este
na formação de sulfetos; referentes a (o): Município/ Data/ Nome valor foi estipulado para avaliar o odor
(d) Teor de sulfeto de hidrogênio do entrevistado/ Sexo/ Idade/ Endereço. nas áreas críticas estabelecidas no
(mg/L) – O teor de sulfeto de II. Urbanidade – duas questões presente trabalho, antes e após a
hidrogênio é obtido por meio de uma referentes a (o): Tempo de moradia/ aplicação do nitrato de amônia,
técnica de análise adotada pela Sabesp. Localização do imóvel em relação a utilizando-se uma escala de intensidade
Com base no Standard Methods for outras fontes potenciais de incômodos de odor.
the Examination of Water and (cemitério, lixões, indústrias). A percepção olfativa humana
Wastewater (CLESCERI et al, 1992), o III. Descrição do odor – seis questões apresenta grande variabilidade. A
teste de sulfeto é qualitativo e consiste referentes a (o): Localização do variabilidade é o resultado de diferentes
na reação da amostra de esgoto com entrevistado quando da percepção do percepções dos odores (a percepção
acetato de chumbo e utilização de um odor/ Classificação do odor (antes da varia devido às diferentes classes de
catalisador (CO2). solução do problema)/ Descrição do compostos odorantes); aceitar ou rejeitar
A reação do gás liberado da amostra odor propriamente dita/ Permanência um odor depende muito de experiências
produz uma coloração na membrana do odor na vizinhança/ Percepção anteriores, das circunstâncias nas quais o
branca. A coloração obtida é comparada atual do odor/ Classificação do odor odor é determinado, da idade, saúde e
com uma tabela, na qual encontramos (após o controle do problema). atitudes do receptor humano (WPCF,
seis níveis de coloração diferentes que IV. Problemas de saúde causados pelo 1979).
correspondem a valores compreendidos odor – três questões referentes aos (a):
entre 0 a 5 mg/L de H2S. Problemas de saúde que o entrevistado Amostragem estabelecida
Dessa forma, avalia-se, então, o teor já manifesta/ Problemas de saúde O tipo de amostragem adotada é dita
de sulfeto de hidrogênio contido na manifestados após exposição ao odor/ amostragem não-probabilística
água do esgoto. Insistência dos problemas de saúde intencional, ou seja, as unidades que
Cabe frisar que, atualmente, em Pereira surgidos, após o controle do odor. compõem a amostra são escolhidas pelo
Barreto existem 11 pontos de aplicação V. Questões ligadas à empresa de pesquisador, não servindo,
do produto, nos quais a quantidade saneamento – três questões referentes a conseqüentemente, os resultados
aplicada é verificada diariamente em três (o) (s): Conhecimento acerca da obtidos nessa amostra, para se fazer
horários diferentes e 14 pontos de empresa prestadora dos serviços de uma generalização à população “normal”
monitoramento, redefinidos conforme saneamento/ Conhecimento acerca das (RUDIO, 1989).
remanejamento dos pontos de providências do órgão responsável com Considerou-se, para fins de pesquisa,
gotejamento de nitrato. A freqüência relação ao problema de odor/ Forma de o domicílio como unidade amostral.
estipulada é de uma medição semanal. manifestação adotada pelo entrevistado
para reclamar do odor. Aplicação do questionário
Para aplicação do mesmo, resolveu-se Na aplicação do questionário foram
ESTUDO DE CASO – adotar, para fins de pesquisa, os
seguintes critérios:
adotados os seguintes procedimentos
básicos:
QUESTIONÁRIO PARA • Um raio de cerca de 500 metros do
foco de propagação, no caso, as
• Quando da abordagem dos
entrevistados, foram dadas informações
ENTREVISTAS estações elevatórias EE-1, EE-2, e um
posto de visita (PV) na região central de
referentes à pesquisa, objetivo e
procedência;
O questionário utilizado para Pereira Barreto. Esse raio foi fixado • Foram respeitados os indivíduos
identificar os efeitos do odor na saúde levando-se em conta a repercussão de que preferiram, por qualquer motivo,
das populações circunvizinhas à ETE de impactos, como proliferação de odores não responder ao questionário,
Pereira Barreto é do tipo de perguntas os quais se constitui na principal queixa tomando-se a residência imediatamente
fechadas e de contato direto. contra as estações de tratamento de seguinte;
O questionário elaborado é esgotos próximas às áreas urbanas; e, • No caso de residência fechada
composto por um total de 20 questões • Os domicílios em que os (ausência de moradores), foi tomada a
objetivas, divididas nos seguintes itens: moradores possuem um tempo de residência mais próxima;

40 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


• Aos entrevistados se garantiu a d) Reg ião 4 – Estação elevatória 5.
Região 1,0 mg/L, valor este adotado pela
manutenção de sua identidade em PV da entrada da EE – 5. legislação vigente. Nessa abordagem foi
anonimato, quando da publicação dos e) Reg ião 5 – Entrada da lagoa de
Região analisado se a aplicação de nitrato de
resultados da pesquisa, podendo estabilização (caixa de areia) e saída da amônio conseguiu eliminar o odor fétido
responder livremente às questões, sem lagoa de estabilização (lagoa facultativa). em todo o sistema de coleta do
medo de ficarem expostos a críticas ou Na análise dos resultados procurou- município.
represálias de quaisquer ordem ou se verificar se as concentrações de H2S As Figuras 1, 2 e 3 mostram as
procedência. para o sistema de esgotos da cidade concentrações de gás obtidas nas
Foram realizadas 17 entrevistas, com atendia ao limite máximo permitido de regiões 1, 2 e 5, comparando-se os
uma média de duração de 30 minutos
cada uma.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Região 1

Análise dos valores de sulfeto de


hidrogênio obtidos no monitoramento da Figura 1 – Concentração de H2S
rede de esgotos (mg/L) nos esgotos da EE-1, nos
anos de 1995 e 2001,
O sulfeto de hidrogênio é o principal comparando-se com o limite
máximo permitido
parâmetro a ser analisado, pois sua
Fonte: Autores
ausência define o sucesso da utilização
da tecnologia que emprega o nitrato de
amônio.
Segundo experiências executadas pela
Sabesp, apenas concentrações superiores
Região 2
a 1.0 mg/L, na massa líquida, causam
odor, procedente do gás sulfídrico.
O monitoramento para o parâmetro
Figura 2 – Concentrações de H2S
em questão restringiu-se aos seguintes (mg/L) nos esgotos da EE-2, nos
períodos: 10 de maio a 18 de setembro anos de 1995 e 2001,
comparando-se com o limite
de 1995 e 3 de janeiro a 25 de julho máximo permitido
de 2001. Fonte: Autores
Para cada amostra há dados
correlatos de gás sulfídrico medidos ao
longo da rede.
Como forma de melhor avaliar a
eficácia desse método no controle de
odor, resolveu-se dividir a cidade de
Região 5
Pereira Barreto em cinco regiões distintas:
a) Reg ião 1 – Estação elevatória 1.
Região
PV (posto de visita) da rua Auto Leite
Figura 3 – Concentrações de H2S
com a avenida D. Pedro II, próximo à (mg/L) nos esgotos da saída da
EE – 1 e PV da avenida D. Pedro II lagoa de estabilização (lagoa
facultativa), no ano de 1995 e
anterior à EE–1.
2001, comparando-se com o
b) Reg ião 2 – Estação elevatória 2.
Região limite máximo permitido
c) Reg ião 3 – Estação elevatória 3.
Região Fonte: Autores
PV da avenida Francisco Pacca com a
rua Washington Luís, próximo à EE – 3.

dezembro 2004
41
anos de 1995 (início da implantação da efeitos do odor na saúde da população Indicadores estipulados
tecnologia da adição de nitrato de e a descrição do odor antes e depois da No que se refere ao indicador 1, 11
amônio) e 2001 (seis anos após o alternativa escolhida pela Cesp, para entrevistados (64,7% do total)
nitrato ser implantado) com o limite solucionar o problema de geração de classificaram o odor como forte, e seis
máximo permissível de sulfeto. odor intenso em Pereira Barreto. entrevistados (35,0%) como muito
Observa-se, pela Figura 1, que no É evidente que nessa abordagem não forte.
ano de 1995 a região 1 se apresentou foram analisados todos os parâmetros Quanto ao indicador 2, dividiu-se da
crítica em termos de odor, pois a maioria considerados no questionário, pois isso seguinte forma: a grande maioria
dos valores obtidos de sulfeto está cabe a trabalhos de pesquisa posteriores correspondente a 47,0% dos
acima de 1.0 mg/L. Para o ano de e complementares a este. entrevistados afirma que, hoje, o odor é
2001, verifica-se que quase não se As variáveis consideradas foram: fraco; 41,0% moderado; 6,0%
registrou a presença de gás sulfídrico Variável 1 – sexo dos entrevistados; e muito fraco; e os outros 6,0% dos
nessa região. Variável 2 – idade dos entrevistados. entrevistados disseram que o odor é
De acordo com os dados Os indicadores são: não-perceptível.
apresentados, a aplicação de nitrato de 1. Intensidade do odor (antes) – tem O indicador 3 mostrou que a maioria
amônio, na região 2, conseguiu por objetivo analisar como os dos entrevistados, correspondendo a
praticamente inibir a formação de entrevistados classificaram o odor gerado 76,5% do total, apresentou algum
sulfetos, pois a maior parte de suas pela ETE antes de o problema ser sintoma, enquanto os 23,5% do
concentrações se encontram abaixo de solucionado; restante afirmaram não sentirem
1.0 mg/L. 2. intensidade do odor (atual) – este absolutamente nada diferente.
A dosagem de nitrato de amônio, indicador analisa como os entrevistados Dos 76,5% dos entrevistados a
supostamente suficiente para esse classificam o odor hoje, após manifestarem alguma anomalia, os
trecho, não conseguiu impedir a implantado o método de nitrato de sintomas mais comuns em ordem
produção de gás, tornando esta uma amônio no sistema de esgotamento da decrescente foram: dor de cabeça,
região crítica em termos de odor. cidade; náusea e ardor nasal; outros sintomas
A Tabela 1 resume os resultados 3. efeitos do odor na saúde dos (piora de rinite/sinusite; azia); tontura e
obtidos no monitoramento da rede de entrevistados após sua exposição ao alterações do estado de humor.
esgotos de Pereira Barreto. odor ofensivo – dentre os sintomas
potenciais surgidos, quais os que a Comportamento da variável 1 em relação aos
Análise dos resultados obtidos na população manifestou com maior indicadores
pesquisa de campo intensidade. Com relação à variável 1, pode-se
O questionário foi aplicado no Os indicadores foram estudados um afirmar que a disposição feminina em
período de 11 a 13 de julho de 2001. a um, e depois se buscou apresentar o responder ao questionário foi bem
Na análise dos resultados, optou-se comportamento das variáveis (sexo e maior que a masculina. O número de
por abordar as questões referentes aos idade) em face de cada um deles. mulheres (10) correspondeu a 58,8%

Tabela 1 – Resultados
do monitoramento
Fonte: Autores

42 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


do total das entrevistas, e o número (7)
foi de 41,2% do total.
O comportamento de homens e
mulheres em relação aos indicadores
estudados pode ser observado nas
Figuras 4, 5 e 6.
A Figura 4 apresenta o
comportamento de ambos os sexos em
relação à intensidade de odor antes da
aplicação de nitrato de amônio.
Observa-se, na Figura 4, que tanto a
maioria das mulheres (seis entrevistadas,
perfazendo 60% do total feminino) Figura 4 – Sexo dos entrevistados x classificação do odor (antes) – (variável 1 x indicador 1)
quanto a maioria dos homens (cinco Fonte: Autores

entrevistados, perfazendo 71,4% do total


masculino) classificou como forte o odor
na cidade, antes do nitrato.
Na classificação do odor, hoje, o
comportamento da variável 1 é
demonstrado na Figura 5.
De acordo com a Figura 5, a
classificação do odor, hoje, segundo a
opinião de ambos os sexos, divide-se da
seguinte forma:
• Não-perceptível – 10% das
mulheres contra 0% dos homens;
• Muito fraco – 10% das mulheres
contra 0% dos homens;
• Fraco – 40% das mulheres contra
57,1% dos homens;
• Moderado – 40% das mulheres Figura 5 – Sexo dos entrevistados x classificação do odor atualmente – (variável 1 x indicador 2)
Fonte: Autores
contra 42,9% dos homens;
• Forte – 0% das mulheres contra
0% dos homens;
• Muito forte – 0% das mulheres
contra 0% dos homens.
Com relação aos efeitos do odor na
saúde dos entrevistados, a Figura 6
apresenta o comportamento de homens
e mulheres.
Pela Figura 6 percebe-se que as
mulheres apresentaram uma maior
susceptibilidade a problemas de saúde
que os homens, quando da exposição
freqüente ao odor intenso.

Figura 6 – Sexo dos entrevistados x efeitos do odor na saúde dos entrevistados – (variável 1 x indicador 3)
Fonte: Autores

dezembro 2004
43
Comportamento da variável 2 com relação aos
indicadores
A variável 2 – idade dos entrevistados,
aparece no questionário dividida em
faixas etárias de 10 a 15; 16 a 25; 26 a
35; 36 a 45; 46 a 55; 56 a 65, e acima
de 65 anos.
Para facilitar a análise dessa variável
ante os indicadores de percepção,
decidiu-se agrupar as faixas etárias, da
seguinte forma:
• Jovens – grupos de 10-15; 16-25
Figura 7 – Idade dos entrevistados x classificação do odor antes – (variável 2 x indicador 1) (anos);
Fonte: Autores
• Adultos – grupos de 26-35; 36-45;
46-55 (anos);
• Idosos – grupos de 56-65; acima
de 65 (anos).
De acordo com a variável 2 (idade),
os 17 entrevistados da pesquisa de
campo ficaram divididos em:
• Jovens = 1 (6%);
• Adultos = 8 (47%);
• Idosos = 8 (47%).
Conforme se observa, a porcentagem
de adultos e idosos que respondeu ao
questionário foi equivalente.
Nas Figuras 7, 8 e 9, observa-se as
diferenças de comportamento dos
grupos etários considerados.
Figura 8 – Idade dos entrevistados x classificação do odor atualmente – (variável 2 x indicador 2)
O comportamento da variável 2, em
Fonte: Autores face da classificação do odor antes do
nitrato de amônio, é objeto da Figura 7.
A partir dos dados apresentados na
Figura 7, observa-se que tanto a maioria
dos adultos (75% dos indivíduos)
quanto 50% dos idosos entrevistados
classificaram o odor como forte em
Pereira Barreto, antes do nitrato de
amônio.
Em termos da classificação do odor,
hoje, na Figura 8, encontram-se os
resultados em face da variável 2.
A classificação do odor, hoje, para os
grupos etários considerados,
apresentaram os seguintes resultados:
• Não-perceptível – 0% dos jovens,
Figura 9 – Idade dos entrevistados x efeitos do odor na saúde dos entrevistados – (variável 2 x indicador 3) contra 12,5% dos adultos e 0% dos
Fonte: Autores idosos;

44 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


• Muito fraco – 0% dos jovens, contra se, pelas pessoas entrevistadas, que o BRAILE, P. M.; CAVALCANTI, J. E. W. A. Manual
0% dos adultos e 12,5% dos idosos; odor na cidade de Pereira Barreto, antes de tratamento de águas residuárias
• Fraco – 0% dos jovens, contra 50% da aplicação do nitrato, era forte. Em industriais. São Paulo: Cetesb – Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental,
dos adultos e 50% dos idosos; 2001, foi classificado como fraco. Isso
1993.
• Moderado – 100% dos jovens, vem comprovar que o método de
contra 37,5% dos adultos e 37,5% dos nitrificação com o nitrato de amônio é CLESCERI, L. S.; EATON, A. D.; GREENBERG,
idosos; eficiente no controle de odor. A. E. Standard methods for the examination
• Forte – 0% dos jovens, contra 0% • Os sintomas mais freqüentes of water and wastewater. 18 th ed.
dos adultos e 0% dos idosos; apresentados pelos entrevistados foram: Washington (DC): American Public Health
Association, 1992.
• Muito forte – 0% dos jovens, contra dor de cabeça, ardor nasal, náusea,
0% dos adultos e 0% dos idosos. alterações do estado de humor e COMPANHIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO
O desempenho da variável 2, em vista tontura. (CESP). Implantação do sistema
dos efeitos do odor freqüente e ofensivo • As mulheres se mostraram mais experimental de adição de nitrato de amônia
na saúde dos entrevistados, apresenta- susceptíveis aos efeitos do odor, no esgoto de Pereira Barreto. Ilha Solteira:
se na Figura 9. provavelmente pelo fato de existir uma CESP, 1996.
Da Figura 9, destacam-se como os maior ligação feminina com a residência RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de
mais sensíveis os adultos, seguidos pelos e seu entorno (o bairro, a vizinhança, pesquisa científica. 13. ed. Petrópolis: Vozes
idosos e jovens. entre outros). Ltda., 1989.
• Vale comentar que os sintomas
SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 8.468, de 8
apresentados pelas pessoas
de setembro de 1976. Aprova o regulamento
Conclusões entrevistadas vieram a desaparecer,
assim que o método da aplicação do
da Lei n. 997, de 31 de maio de 1976, que
dispõe sobre a prevenção e o controle da
Dos resultados obtidos se concluiu: nitrato de amônio foi implantado no poluição do meio ambiente. Disponível em:
• O nitrato de amônio aplicado em sistema de esgotos de Pereira Barreto, <http://www.ambiente.sp.gov.br/leis
trechos da rede coletora, minimizando o odor intenso. internet/76.8468.zip.> Acesso em: 18 out.
correspondente às regiões 1, 2, 3 e 4 • Deve-se ressaltar que os resultados 2004.
do município de Pereira Barreto, revelou- apresentados neste trabalho devem ser SOUZA, R. C. Avaliação de impactos sociais
se eficaz em inibir a produção de encarados com reserva, mais como uma dos processos de implantação e gestão dos
concentrações superiores a 1,0 mg/L de tendência do que uma regra, dado o serviços de tratamento de esgotos
H2S, sendo eficiente no controle de odor fato de a amostragem estipulada para a sanitários. 1998. Dissertação (Mestrado) –
procedente deste gás para os anos de aplicação do questionário ser não- Universidade Federal de São Carlos, São
1995 (início do experimento) e 2001 probabilística intencional. Carlos, 1998.
(seis anos após o método de controle [U. S. EPA] United State Environmental
do odor ser implantado). Protection Agency. Emergency first aid
• Para a região 5, na qual se encontra
BIBLIOGRAFIA
treatment guide for hydrogen sulfide. [on-
a lagoa de estabilização, a dosagem line] Avaliable from: <URL: http://
aplicada de nitrato ao esgoto www.epa.gov/swercepp/ehs/firstaid/
AZEVEDO, A. D. P. et al. Redução do odor 7783064.txt > Acesso em: 01 ago. 2001.
apresentou-se inadequada para inibir a
através da aplicação de nitrato de amônio. In:
formação de sulfetos nesse local, sendo CONGRESSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA [WPCF] Water Pollution Control Federation.
necessário reavaliá-la. E AMBIENTAL. 1993, Natal. Anais ... São Odor control for wastewater facilities.
• Analisando-se os resultados obtidos Paulo: Companhia de Saneamento Básico do Washington (DC); 1979. (WPCF Manual of
com a aplicação do questionário, verifica- Estado de São Paulo, 1993, p. 693-704. Practice, 22).

dezembro 2004
45
Saneamento
Ambiental
MONITORAMENTO DAS RESUMO
CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS
As variações na composição dos esgotos que chegam às estações de tratamento de esgoto (ETE)
causam grandes transtornos operacionais. Em geral, dados os procedimentos operacionais padrão e
a concepção de projetos rigidamente estruturados, não há como adotar uma atitude preventiva. O
COMO INSTRUMENTO DE caráter dinâmico do funcionamento de uma ETE também dificulta a realização de mudanças drásti-
cas de operação quando em situações adversas. Nesse sentido, um programa de monitoramento

OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE pode auxiliar para que o processo de tratamento dos esgotos atinja seu máximo de eficiência. A
adoção de parâmetros que possibilitem averiguar as características dos esgotos encaminhados à

LODOS ATIVADOS E SUAS ETE, em pontos estratégicos de monitoramento, pode orientar na escolha de estratégias operacionais
eficazes. Conhecer o ambiente dos microrganismos responsáveis pelos processos metabólicos
envolvidos na degradação de matéria carbonácea e de nitrificação, possibilita antecipar quais parâmetros
IMPLICAÇÕES devem ser controlados. O monitoramento também pode auxiliar na identificação das possíveis
fontes geradoras de poluição, possibilitando a transferência de custos de tratamento por meio da
aplicação do princípio poluidor-pagador. No presente trabalho foram analisados parâmetros de
Solange Vieira da Silva caracterização do afluente e efluente das ETEs Barueri e Franca.
Mestre em história social da ciência pela FFLCH-USP,
PALAVRAS-CHAVE
especialista em engenharia de saneamento básico
pela FSP-USP. Especialista em entomologia
Monitoramento de esgotos sanitários, caracterização de esgotos, processo de lodos ativados.
médica pela FSP-USP. Graduada em ciências
biológicas pelo Instituto de Biociências da USP. ABSTRACT
sovieira@usp.br
Variations in the wastewater composition can cause serious operational problems in the wastewater
treatment plant. Very often, the strategies adopted to overcome problems related to the biochemical
Rosemara Augusto Pereira process, usually caused by toxic compounds are not effective. Moreover, the concept and the
operation of the wastewater treatment plants are not structured to support changes in function of the
Engenheira civil formada pela PUC-Campinas,
wastewater characteristics. In this way, a very structured monitoring program can help operators to
especialista em engenharia de saneamento básico
achieve the maximum treatment efficiency. The precise specification of the monitoring parameters
pela FSP-USP. Responsável pela coordenação dos
and the strategic points of measuring them can lead to a more efficient operation. Another important
projetos da Empresa VSTECH.
question is the knowledge of the biological process responsible for the carbonaceous degradation
rosemara@ustech.com.br
and the nitrification process. This knowledge can anticipate which parameters must effectively be
controlled to guarantee the microorganisms growing and adaptation. Besides, the wastewater monitoring
Roque Passos Piveli can identify the wastewater sources and transfer these costs to the wastewater generators by the
Engenheiro civil pela Escola de Engenharia de São
application of principle of “who pollutes must pay for that”. In this work, the influent and the effluent
Carlos – USP (EESC-USP). Doutor em engenharia of two wastewater treatment plant using sludge activated processes characteristics where analyzed.
hidráulica e sanitária pela Escoloa Politécnica da USP e Despite of the less pollutant concentrations in the Barueri treatment plant, Franca treatment plant is
mestre em engenharia hidráulica e saneamento pela more efficient. One of the reasons for that is the huge dimensions of the Barueri treatment plant, the
EESC-USP. operation complexity and great wastewater volume treated contribute to a lower treatment efficiency.
roque.piveli@poli.usp.br
KEY WORDS

Hernan Junqueira Criscuolo Wastewater monitoring, sludge activated process, wastewater parameters characterization.

Engenheiro civil pela Autarquia Municipal de Ensinos


de Poços de Caldas – atua PUC-Poços de Caldas.
Especialista em engenharia de saneamento básico
pela FSP-USP.
hjcriscuolo@sabesp.com.br

46 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


INTRODUÇÃO Também foi considerado um conjunto
de dados isolados específicos às estações
confiáveis obtidas a partir de dados
observados nas diversas fases do fluxo
Considerando os riscos ambientais a de tratamento de esgotos estudadas, de um sistema de esgotos, para um
que estão submetidos os corpos cuja análise possibilitou evidenciar efetivo conhecimento do que está
hídricos, sujeitos ao recebimento das aspectos representativos de cada uma ocorrendo no meio. É assim que os
mais diversas cargas poluentes, delas, os quais indicaram particularidades sistemas de monitoramento de esgotos
decorrentes do lançamento direto de das regiões a elas associadas. devem ser planejados, pois de nada
esgotos e dos efluentes finais de uma A escolha dos parâmetros utilizados adianta obter dados isolados os quais
estação de tratamento de esgotos, a na análise comparativa entre as duas não possibilitam conclusões acerca do
determinação das principais estações de tratamento de esgotos levou meio em questão.
características dos mesmos, em consideração a relevância para a O conceito de monitoramento das
identificando suas propriedades físicas e caracterização e a constância no período características dos esgotos é muito mais
seus principais constituintes químicos e de referência, e para a análise de amplo do que simplesmente verificar se
biológicos, constitui ferramenta eficiência no tratamento consideraram-se os padrões legais de emissão e
poderosa a auxiliar na tomada de as concentrações dos vários parâmetros lançamento de efluentes estão sendo
medidas, cujo objetivo seja o de presentes no afluente e no efluente final. obedecidos ou não. Um plano de
otimizar os processos operacionais de No que se refere ao efluente devem monitoramento eficaz deve atender às
uma ETE. Uma análise da viabilidade do ser considerados não só os riscos necessidades de responder o que está
monitoramento das características dos ambientais, mas também o fato de suas divergindo das características esperadas
esgotos submetidos ao processo características apresentarem grande e por que está ocorrendo, para que
biológico de tratamento, a partir de interferência na segurança e na saúde medidas eficientes sejam tomadas.
dados de monitoramento das dos trabalhadores que operam o
características dos afluentes e efluentes sistema, e na preservação das instalações
finais das estações de tratamento de
esgotos de Barueri e Franca, referentes
de coletas e transporte dos esgotos,
permanentemente sujeitos à corrosão,
METODOLOGIA
ao período de agosto a dezembro do incrustação ou mesmo obstrução e Este estudo se baseou em dados
ano de 2002, obtidos na Companhia condições que podem gerar explosões. secundários gerados a partir das
de Saneamento Básico do Estado de Os resultados obtidos a partir do informações que constam nos relatórios
São Paulo (Sabesp), possibilitou não só monitoramento do afluente e efluente técnicos das estações de tratamento de
caracterizar os esgotos brutos dessas permitem não só avaliar a eficiência do esgotos de Barueri e Franca, fornecidos
estações de tratamento como também tratamento efetuado pelas ETEs em pela Companhia de Saneamento Básico
permitiu uma avaliação geral de suas questão, mas também possibilitam do Estado de São Paulo, nos quais
condições de funcionamento. identificar problemas em potencial, constam valores médios mensais para
Este estudo possibilitou definir quais orientando nas ações que conduzem a diversos parâmetros de caracterização
parâmetros físicos, químicos e biológicos uma otimização dos processos dos esgotos. Salienta-se que neste
são fundamentais na caracterização dos operacionais dentro dessas ETEs. trabalho foram selecionados os dados
afluentes e efluentes, assim como a correspondentes ao período de agosto
comparação entre os dados obtidos do Monitoramento das características dos a dezembro de 2002. Esses dados são
monitoramento das características dos esgotos apresentados no item reservado à
afluentes e efluentes finais das estações O monitoramento das características análise de dados.
de tratamento de esgotos de Barueri e dos esgotos deve basear-se em um
Franca permitiu avaliar a eficiência dessas conjunto de ações que tenha por Processo de tratamento dos dados
estações em função do afluente que objetivo avaliar a eficiência do sistema de Primeiramente, os dados foram
recebem. Essa análise foi possível pelo tratamento de efluentes por meio de tabulados em Excel (Microsoft Office
fato de essas unidades utilizarem o medições repetitivas, de forma discreta 2000 Premium), a partir do qual foram
processo de lodos ativados no ou contínua. Essa avaliação só é possível gerados os gráficos temporais que
tratamento. quando se dispõem de informações auxiliaram no processo de análise.

dezembro 2004
47
A definição dos parâmetros utilizados rios Tietê, Pinheiros, Tamanduateí, além O esgoto chega à ETE pelo emissário
para análise considerou, como aspectos dos reservatórios Billings e Guarapiranga. dos Bagres. Nessa fase é realizado um
importantes, a constância durante o O processo de tratamento dos tratamento preliminar; em seguida, o
período de referência e os valores esgotos do sistema Barueri é do tipo efluente é enviado para o poço de
médios mensais. Para a análise de lodos ativados convencional e em nível sucção da estação elevatória de esgoto
eficiência no tratamento consideram-se as secundário. bruto, de onde é bombeado até a
concentrações desses vários parâmetros O tratamento compreende: torre de controle de nível e, em seguida,
presentes no afluente e no efluente final tratamento preliminar, pelo gradeamento para os decantadores primários,
e, posteriormente, a análise de dados e desarenação; decantação primária em seguido de aeração por ar difuso;
isolados possibilitou o reconhecimento tanques retangulares; aeração por ar clarificação final em decantadores e
de particularidades inerentes a cada uma difuso em dois conjuntos de tanques de tratamento de lodos.
das estações de tratamento estudadas. O aeração; clarificação final em
estudo comparativo a partir desses decantadores circulares com extração de Apresentação dos dados
dados foi possível, uma vez que ambas lodos por sifonamento; tratamento de As Tabelas 1 e 2 apresentam,
se utilizam do processo de lodo ativado lodos por adensamento, por gravidade respectivamente, as características dos
para tratamento dos esgotos que para lodos primários e por flotação para esgotos afluentes às ETEs Barueri e
chegam nas estações de tratamento. lodos secundários; digestão anaeróbia e Franca, e as Tabelas 3 e 4 apresentam,
desidratação mecânica dos lodos respectivamente, as características do
produzidos. efluente final das ETEs Barueri e Franca.
DESCRIÇÃO DOS MÉTODOS A ETE Barueri lança seu efluente final
no rio Tietê, o qual pertence à classe 04,
ANALÍTICOS de acordo com o Decreto n. 10.755/77.
Atualmente, a ETE Barueri tem
DISCUSSÃO
Foram objetos de estudo deste capacidade nominal estabelecida em A análise foi feita a partir de dados
trabalho as estações de tratamento de 9,5 m³/s e trata cerca de 6,0 m³/s. A apresentados nos relatórios da Sabesp
esgotos de Barueri e Franca, para as configuração final prevista, no atual para as estações de tratamento de
quais foram analisadas as características plano diretor da Sabesp, é de 28,5 m³/s, esgotos de Barueri e de Franca. Foi
dos esgotos que chegam às estações de correspondendo a três módulos de considerado o período de agosto a
tratamento e do efluente final, a fim de 9,5 m³/s. dezembro de 2002 pelo fato de os
identificar a eficiência de ambas. parâmetros usados para a comparação
Estação de tratamento de esgotos de entre as duas ETEs estarem presentes
Estação de tratamento de esgotos de Franca nos dois relatórios. Não foi possível fazer
Barueri O município de Franca é atendido uma análise comparativa para as
O sistema de esgotos de Barueri é por cinco subsistemas de esgotos. Nesse concentrações de metais nem para as
responsável pela coleta, transporte e projeto estão sendo estudados apenas características da microfauna que
tratamento das contribuições de esgoto os esgotos encaminhados à ETE Franca. compunham o lodo do tanque de
provenientes das regiões: centro, norte, A ETE de Franca está localizada na aeração (reator), porque nos relatórios
sul e oeste da região metropolitana de margem esquerda do córrego dos não há informações para esses dados
São Paulo, além de municípios das Bagres, a jusante do cruzamento deste no período considerado. Também não
regiões oeste e sudoeste da Grande São com a rodovia SP-345. há indicações sobre as metodologias
Paulo, que são: Osasco, Taboão da A ETE Franca lança seu efluente final aplicadas para a obtenção e análise das
Serra, Carapicuíba, Barueri, Cotia, Jandira do córrego dos Bagres, o qual pertence amostras. Assim sendo, não podemos
e Itapevi. à classe 04, de acordo com o Decreto descartar a possibilidade que as
Esse sistema de esgotos possui a n. 10.755/77. discrepâncias apresentadas possam ser
maior e a mais complexa rede de coleta O processo de tratamento dos resultantes da aplicação de metodologias
e transporte de esgotos da RMSP, esgotos da ETE Franca é do tipo lodos diferenciadas. Contudo, a análise dos
abrangendo uma área de cerca de ativados convencional e em nível parâmetros considerados permite avaliar,
1.200 km², na qual estão presentes os secundário. individualmente, as condições gerais nas

48 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Tabela 1 – Características do esgoto bruto afluente à ETE Barueri * Tabela 3 – Características do efluente final da ETE Barueri *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003 * Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003
** Valores não-determinados

Tabela 2 – Características do esgoto bruto afluente à ETE Franca * Tabela 4 – Características do efluente final da ETE Franca *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003 * Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003

dezembro 2004
49
quais essas ETEs estão funcionando, O valor máximo atingido ocorreu no Por outro lado, a DQO envolve a
fornecendo indicativos da eficiência mês de outubro e chegou a 285 mg/L. oxidação tanto de matéria biodegradável
obtida por cada uma delas. A relação DQOaflu/DBOaflu ficou ao redor quanto da inerte, presentes no despejo.
Foram analisados, para o afluente e o de 1,9, que segundo os valores aceitos, Dependendo da matéria presente na
efluente das ETEs Barueri e Franca, os é típico de esgotos domésticos brutos, amostra, pode haver uma
parâmetros: sólidos suspensos totais cujo valor varia entre 1,7 a 2,4 (BRAILE e superestimativa do oxigênio requerido
(SST), sólidos suspensos voláteis (SSV), CAVALCANTI, 1979; VON SPERLING, no afluente em questão, quando ocorre
demanda química de oxigênio (DQO), 1996a). também a oxidação de matéria
demanda bioquímica de oxigênio A análise para a DQOaflu e DBOaflu, inorgânica. A análise dos demais
(DBO), nitrogênio total kjeldhal (NTk) respectivamente, mostra que, em geral, parâmetros pode auxiliar na confirmação
(KEENEY e NELSON, 1982), nitrogênio nessa ETE, os valores de DBO foram em ou não das estimativas feitas a partir
orgânico (N-org), nitrogênio amoniacal torno de 52% menor. Isso significa que desses valores.
(N-NH3), metais, coliformes, índice próximo de 52% da matéria orgânica O parâmetro SSTaflu, que quantifica os
volumétrico (IVL). A escolha desses presente no afluente bruto de Barueri sólidos suspensos totais presentes no
parâmetros teve como base a deveriam corresponder à matéria esgoto bruto e, portanto, a matéria
possibilidade de verificação, a partir de orgânica carbonácea biodegradável, já orgânica total (fração biodegradável e
seus valores referentes ao afluente e que a DBO5,20 mede apenas a fração fração inerte) e inorgânica da ETE de
efluente, das condições gerais de biodegradável. Quanto mais este valor se Barueri teve o valor médio de
funcionamento das estações de aproximar da DQO, mais facilmente 195,4 mg/L, no período considerado.
tratamento de esgotos (ETEs) Barueri e biodegradado será o esgoto. O O parâmetro SSVaflu quantifica a
Franca. Outros parâmetros igualmente tratamento biológico, normalmente, é matéria volátil. Caracteristicamente, a
importantes para inferir as condições de recomendado quando a relação matéria orgânica volatiliza totalmente a
funcionamento das ETEs são a DQO/DBO5,20 for menor a 3/1, e valores 550 ºC. O valor médio, de agosto a
caracterização da fauna microbiológica e muito elevados desta relação indicam dezembro de 2002, foi de 150 mg/L. O
a idade do lodo (T). Não havendo grandes possibilidades de insucesso, valor médio encontrado para o SSVaflu
dados sobre a fauna microbiológica que uma vez que a fração biodegradável se do esgoto bruto da ETE de Barueri é
compõe os lodos dessas ETEs, no torna pequena, ficando o tratamento cerca de 76% do valor médio
período considerado, não foi possível biológico prejudicado pelo efeito tóxico encontrado para o SST. Esse valor indica
fazer a correlação com o parâmetro exercido pela fração não-biodegradável que cerca de 76% da quantidade total
idade do lodo (T), para a avaliação da sobre os microrganismos (CETESB, de sólidos suspensos corresponde à
diversidade dessa fauna e a composição 2003). matéria orgânica.
relativa entre os organismos Esse valor, no entanto, pode estar A análise de DBOaflu mostra que 48%
constituintes. O correlacionamento mascarado por alguns fatores que da matéria orgânica total presente no
desses dois parâmetros permitiria inferir interferem na medição da DBO. Por esgoto bruto do afluente de Barueri não
os possíveis agentes a comprometerem exemplo, a presença de metais pesados é biodegradável, o que corresponde
o bom funcionamento do sistema. no esgoto bruto pode estar inibindo o próximo de 36,48% do total de sólidos
processo metabólico dos suspensos totais. Isso indica que
Condições de funcionamento da ETE microrganismos presentes no tanque de 39,52% do valor de SSTaflu é composto
Barueri aeração, ou estes microrganismos de matéria orgânica biodegradável,
Para a ETE Barueri, a temperatura podem não estar adaptados às restando 24% que corresponde à
média nos pontos de coleta manteve-se condições do ambiente. Também a fração inorgânica.
em 26º C e o pH médio esteve por volta reação de nitrificação pode interferir na Para o efluente de Barueri, o valor
de 7,2. Para o período considerado, a medida da DBO, ou seja, a presença de médio da DQO foi de 70,4 mg/L. O valor
medida para a DQOaflu do afluente nitrogênio, em meio aeróbio, favorece a máximo ocorreu no mês de setembro
mostra um valor médio de 473,2 mg/L. ação das nitrosomonas, as quais de 2002, chegando a 95 mg/L.
O valor máximo atingido foi de 529 mg/L convertem a amônia a nitrito (NO2-), e Para a DBOeflu, o valor médio
e ocorreu no mês de agosto. Para a das Nitrobacter, que convertem nitrito a permaneceu por volta de 42 mg/L. O
DBOaflu, o valor médio foi de 247,4 mg/L. nitrato (NO3-). valor máximo foi de 55 mg/L e ocorreu

50 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


nos meses de setembro e outubro de O valor médio para SSVeflu de Barueri, A amônia é o produto primário do
2002. Segundo o Decreto n. 8.468/76, no mesmo período, foi de 20,6 mg/L. E nitrogênio em muitos processos de
para a DBO, o valor máximo permitido o valor máximo ocorreu no mês de tratamento de esgoto. Isso acontece
para lançamento no corpo receptor é de novembro e foi de 35 mg/L, no mês de porque a ação das bactérias nitrificantes
60 mg/L. setembro de 2002. para oxidar a amônia a nitrito (NO2-) e,
A relação DQOeflu/DBOeflu média foi de Observa-se que o valor médio a partir daí, a nitrato (NO3-), requer
1,67, que, segundo a literatura, é encontrado para o SSVeflu, no período abundância de O2 e os sistemas de
característico de esgotos domésticos considerado, foi cerca de 78% do valor aeração encarecem o tratamento de
brutos. No entanto, como enfatizado por para SSTeflu, significando que perto de esgotos (MANAHAN, 1994). Assim, se o
von Sperling (1996b), o valor para essa 78% dos sólidos totais presentes no processo de lodos ativados for operado
relação deve aumentar após o efluente correspondem a material sob condições que favoreçam a
tratamento biológico e, usualmente, é orgânico. Desse total, 46,02% manutenção do nitrogênio na forma de
superior a 3,0 no efluente final do correspondem à fração orgânica amônia (NH3), este pode ser retirado da
tratamento biológico, uma vez que a biodegradável e 31,98% a material água por arraste pelo ar, desde que o
biodegradação leva à redução da orgânico não-biodegradável. A fração pH seja mantido em nível superior ao
matéria orgânica biodegradável, inorgânica corresponde a 22%. pKa do íon amônio (NH4+), favorecendo
mantendo inalterada a quantidade de Assim, o efluente final da ETE Barueri a forma gasosa do NH3. Na prática, o pH
material inerte. possui as seguintes características: é mantido em níveis superiores a 11,
Comparando o valor obtido para a 46,02% corresponde à matéria orgânica usualmente 11,5, pela adição de cal
relação DQO/DBO do afluente e do biodegradável; 31,98% material orgânico (MANAHAN, 1994). A desvantagem
efluente, houve uma diminuição de 1,9 não-biodegradável, aproximadamente; e desse processo é a poluição atmosférica.
para 1,67, quando se esperava um cerca de 22% corresponde a material No caso específico da ETE Barueri,
aumento desse valor. inerte, que passou incólume pelo esse procedimento parece não ser a
Considerando que 41% do material é processo. melhor solução. Talvez seja mais
inerte, e observando que a remoção da Para a verificação da eficiência na conveniente e tenha menor custo
DQO foi superior a 90% e a remoção remoção do nitrogênio, a Tabela 5 promover o processo completo,
de DBO foi em torno de 87%, há mostra os valores obtidos na ETE Barueri. favorecendo o processo de
indicativos que embora tenha havido A análise dos dados mostra que desnitrificação, logo após a nitrificação.
eficiência na remoção de material inerte, houve uma baixa eficiência na remoção A desnitrificação é catalisada por
a remoção de matéria orgânica está do nitrogênio amoniacal. Particularmente, bactérias desnitrificantes e ocorre em
sendo comprometida em algum ponto no mês de agosto de 2002, de acordo ambiente anaeróbio, podendo requerer
do processo biológico. Pode haver com o relatório da Sabesp (2003), uma fonte adicional de matéria orgânica
material tóxico comprometendo os somente 20% do nitrogênio total foi – neste caso, o metanol pode ser
processos bioquímicos, ou o mais removido. A Sabesp, em seu relatório de adicionado. Contudo, o parâmetro,
provável é haver problemas 2003, enfatiza que esta ETE não foi usualmente, utilizado para favorecer a
operacionais, como, por exemplo, perda projetada para a remoção de compostos remoção do nitrogênio é o tempo de
de lodo ou controle inadequado da nitrogenados e isso, certamente, vem retenção (Sludge retention time – SRT)
idade do mesmo, levando a um causando problemas operacionais. (GRADY, 1999).
desequilíbrio no qual há excesso de
processo de degradação endógena em Tabela 5 – Valores médios para NTK, N-NH3 e N-org, (valores em mg/L), na ETE Barueri
detrimento da exógena.
Para os valores de sólidos suspensos
totais do efluente de Barueri, o valor
médio obtido para o SSTeflu, no período
de agosto a dezembro de 2002, foi de
26,4mg/L. O valor máximo obtido no
período foi de 44 mg/L, no mês de
setembro de 2002. Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Barueri, 2003

dezembro 2004
51
As concentrações de metais pesados Tabela 6 – Metais presentes no afluente e efluente da ETE Barueri
que chegam ao reator (ou tanque de
aeração) tiveram as seguintes médias,
apresentadas na Tabela 6, para o
período considerado.
A remoção de metais solúveis deve
ser feita a partir de reações de oxidação
que tornem o metal em questão
insolúvel, facilitando sua retirada por
outros processos.
No caso do ferro e do manganês,
esse processo deve garantir oxidação
próxima ao mais alto estado de oxidação
insolúvel. A taxa de oxidação é pH-
dependente, e, quanto maior for o pH,
mais rapidamente ocorre a oxidação
(MANAHAN, 1994). * Valores obtidos a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003
* * Valores a partir dos quais há o comprometimento dos processos bioquímicos
Os metais pesados, tais como cobre, Fonte: METCALF & EDDY, 1991
cádmio, mercúrio e chumbo são
encontrados em águas residuárias de Tabela 7 – Mostra os valores obtidos para compostos orgânicos, para a ETE Barueri
processos industriais. Devido à toxicidade
de muitos metais pesados, há uma
preocupação em removê-los ou, pelo
menos, reduzi-los aos níveis mais baixos
durante os processos de tratamento
dessas águas.
A ação tóxica de muitos metais ocorre
por haver afinidade com o enxofre,
causando a quebra da cadeia protéica e
formando ligações com o enxofre em
muitas enzimas, comprometendo a ação * Valores obtidos a partir do relatório técnico fornecidos pela Sabesp, 2003
* * Valores a partir dos quais há o comprometimento dos processos bioquímicos
enzimática. O grupo carboxila (-CO2H) e Fonte: METCALF & EDDY, 1991
amina (-NH2), presentes em proteínas, é
também atacado por muitos metais correspondentemente, uma eficiência de deles no efluente é preocupante por
pesados. 20% na remoção do nitrogênio serem cumulativos ao longo da cadeia
Cádmio, cobre, chumbo e mercúrio amoniacal. Esses resultados, entretanto, alimentar.
se ligam à membrana celular, não são conclusivos e dependem da Outro aspecto a requerer atenção
bloqueando o transporte celular. Os avaliação de outros parâmetros. O cobre são as condições dos corpos d’água
metais podem precipitar biocompostos também apresenta concentrações de que recebem esses efluentes os quais,
fosforados ou participarem da risco, com valores bem próximos dos segundo a Cetesb (2003), apresentam
catalisação dessas substâncias. limites comprometedores (Tabela 6). condições elevadas desses metais.
No afluente de Barueri, o zinco O efluente final da ETE Barueri A Tabela 7 mostra os valores obtidos
apresentou valores que comprometem apresenta concentrações para metais para compostos orgânicos, presentes no
os processos bioquímicos de (níquel, manganês, chumbo, cobre, afluente e efluente da ETE Barueri, no
degradação de matéria carbonácea e os cromo total e ferro) abaixo dos limites período considerado.
processos de nitrificação. Dado isolado, máximos de lançamento. Embora a A remoção ou a diminuição das
do mês de agosto de 2002, apresentou eficiência na remoção de alguns desses concentrações dos compostos orgânicos
um valor de 1,17 mg/L no afluente e, metais esteja acima de 70%, a presença presentes no efluente é importante pelo

52 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


fato de, na presença de cloro, ocorrer a Jordão (1998), em seu trabalho, em estado de intumescimento (JORDÃO,
cloração de alguns desses compostos discute o valor para o IVL que melhor 1998). As relações entre o IVLD e IVL
encontrados na água, particularmente, representaria uma boa sedimentalidade são da ordem de 0,58 a 0,77. Assim,
substâncias húmicas, levando à formação para o lodo. Mostrou que em algumas para lodos com IVL de 149 mL/g, o
dos trihalometanos. situações nas quais o lodo apresentava IVLD correspondente foi de 86 mL/g.
A presença de estruturas fenólicas altas concentrações e não sedimentava, Desse modo, o método utilizado para
ocorre naturalmente no meio ambiente, o valor encontrado para o IVL estava medição do índice volumétrico deve ser
como resultado da decomposição de ao redor de 130 mL/g. De acordo com escolhido com precaução para evitar
vegetais no solo, no metabolismo a literatura clássica sobre operações de falsos resultados que possam levar a
secundário de plantas e aparecem como estações de tratamento, o autor cita o estratégias operacionais inadequadas.
intermediários na formação de húmus MOP-11 da WEF (1990), o qual Os dados fornecidos para o IVL da
(VILLAS BÔAS, 1999). O aumento nos sugere um valor acima de 200 mL/g, ETE Barueri mostram valores superiores
níveis de fenol no ambiente é devido às indicando um lodo de má qualidade. a 200 mL/g para os meses de agosto/
atividades industriais, principalmente, No entanto, Jordão (1998) 2002 (251 mL/g), setembro/2002
naqueles efluentes provenientes de demonstrou: (288 mL/g), outubro/2002 (203 mL/g).
refinarias, siderúrgicas e indústrias de (i) a viscosidade e resistência do lodo Em média, o valor do IVL para a ETE
produtos químicos orgânicos (BASTOS não estão relacionadas aos valores de Barueri foi de 198,8 mL/g, no período
et al,1997 apud VILLAS BÔAS, 1999). IVL; considerado. Esses resultados não são
A presença desse e de alguns outros (ii) a temperatura afeta a viscosidade satisfatórios e indicam problemas
compostos no reator pode da amostra, alterando os resultados do operacionais.
comprometer os processos bioquímicos teste; A Tabela 9 mostra as concentrações
envolvidos na degradação de material. (iii) os ensaios devem ser feitos em de coliformes presentes no esgoto bruto
Villas Bôas (1999) demonstrou, em seu proveta padrão. e efluente, para a ETE Barueri.
trabalho, que ocorre uma seleção dos A utilização do índice volumétrico de Não há dados para avaliar os
microrganismos presentes no lodo do lodo diluído (Diluted Sludge Volume microrganismos que compunham o
reator biológico, quando submetidos a Index – IVLD) pode ser aplicado a lodos lodo do reator da ETE Barueri, para o
ambientes estressantes, necessitando de com altas concentrações de sólidos ou período considerado.
um certo tempo para que haja uma
reconfiguração da microfauna presente Tabela 8 – Valores obtidos para os parâmetros IVL; F/M, idade do lodo T da ETE Barueri
nesse lodo. Em ambientes restritivos,
observamos uma diminuição da
diversidade desses microrganismos. Na
presença de concentrações variáveis de
fenol, Villas-Bôas mostrou que, à medida Fonte: SABESP, 2003
que a concentração aumenta, ocorre
uma seleção em favor de alguns grupos, Tabela 9 – Comparativa dos valores para coliformes na ETE Barueri
tais como as do grupo Sporosarcina,
Klebsiella (por exemplo, a Klebsiella
pneumoniae).
As vazões médias para esgoto bruto
apresentadas pela ETE Barueri foi de
6.105 L/s e estão dentro dos valores de
projeto. Assim, esse parâmetro não deve
interferir no desempenho do sistema. A
Tabela 8 mostra o IVL, a relação
alimento/microrganismos (F/M) e idade
do lodo (T), para o lodo retirado do
reator. Fonte: SABESP, 2003

dezembro 2004
53
Condições operacionais da ETE de Franca O valor médio para a DQOeflu do A avaliação dos sólidos totais (SSTeflu)
A temperatura média no local de efluente da ETE de Franca para os para o efluente mostrou valor médio de
coleta das amostras foi de 23,5º C, e o meses de agosto a dezembro 10,96 mg/L, para os meses de agosto a
pH médio foi de 6,5. A DQOaflu da ETE apresentou o valor de 42,36 mg/L e dezembro.
de Franca atingiu o valor médio de atingiu valor máximo no mês de O valor para os sólidos suspensos
728,6 mg/L entre os meses de agosto a setembro com valor de 49 mg/L. voláteis (SSVeflu) do efluente mostrou
dezembro. O valor máximo ocorreu no No mesmo período, o valor médio valor médio de 8,76 mg/L, no período
mês de agosto e chegou a 959 mg/L. para a DBOeflu foi de 9,9 mg/L e o valor considerado (agosto a dezembro de
A DBOaflu apresentou um valor médio de máximo foi de 11,5 mg/L no mês de 2002). O SSVeflu corresponde a 80%
362,0 mg/L e atingiu um valor máximo agosto. A relação DQO/DBO para o dos sólidos suspensos totais. Desses
no mês de agosto, chegando a efluente da ETE apresentou valor 4,278. 80%, 23% correspondem à fração
454 mg/L. A relação DQO/DDBO para o Observamos que a relação DQO/DBO biodegradável, e o restante à
afluente da ETE de Franca resultou em do efluente é cerca de duas vezes fração inerte (77%). O SSVeflu
2,01, e, de acordo com a literatura, maior que o valor obtido para o esgoto corresponde a 80% dos SSTeflu, restando
caracterizaria esgoto doméstico bruto bruto. Esse resultado está de acordo cerca de 20% para a fração inorgânica.
(BRAILE e CAVALCANTI, 1979; VON com o esperado, segundo Braile e Assim, podemos caracterizar o efluente
SPERLING, 1996a). Cavalcanti (1979), uma vez que há como tendo as seguintes frações: 20%
O SSTaflu médio do afluente nos uma diminuição da matéria orgânica de inorgânica; 18,4% de orgânica
meses de agosto a dezembro ficou em biodegradada, sem que haja diminuição biodegradável; e 61,6% de matéria
313 mg/L. O SSVaflu médio do afluente significativa da matéria inerte. Esse valor orgânica não-biodegradável.
para o mesmo período ficou em é bastante satisfatório e sugere boas Para o afluente, o valor médio para o
261,8 mg/L. Esses valores mostram que, condições dos processos biológicos. nitrogênio total (NTKaflu) foi de 59,2 mg/L.
em média, 83% do esgoto bruto que Outros parâmetros podem ser Para o nitrogênio orgânico o valor
chega à ETE Franca é constituído por: considerados para confirmação do médio, no mesmo período, foi de
41,6% de matéria orgânica biodegradável; observado. 32 mg/L. Para o nitrogênio amoniacal, o
42,2% de matéria orgânica inerte e 17% A DBO foi próximo de 23% da DQO, valor foi de 27 mg/L, valores obtidos no
de matéria inorgânica. no mesmo período considerado. período de agosto a dezembro de
2002.
A presença de nitrogênio amoniacal,
Tabela 10 – Valores medidos para NTK, N-NH3 e N-org do afluente da ETE Franca, (valores em mg/L) em condições aeróbias e pH<8, está na
forma do íon amônio (NH4+), e na
presença de bactérias nitrificantes reduz
o nitrogênio a nitrito (NO2-), e,
posteriormente, a nitrato (NO3-), em um
processo que consome oxigênio.
A Tabela 10 mostra os valores
Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Franca, 2003
medidos para NTK, N-NH3 e N-org do
afluente da ETE Franca.
Nitrogênio no efluente de Franca – os
Tabela 11 – Valores medidos para NTK, N-NH3 e N-org do efluente da ETE Franca valores médios para o efluente da ETE
de Franca estão mostrados na Tabela 11.
A eficiência na remoção do nitrogênio
amoniacal manteve-se ao redor de 58%,
em média, para o período de agosto a
dezembro de 2002. Para o nitrogênio
orgânico, esse valor ficou cerca de 66%
e para o nitrogênio total esse valor foi de
Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Franca, 2003 56%.

54 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Tabela 12 – Valores médios para NKT, N-NH3 e N-org, para a ETE Franca, período considerado A Tabela12 mostra valores médios
(valores em mg/L)
para NKT, N-NH3 e N-org (valores em
mg/L).
A Tabela 13 mostra valores para
coliformes totais e Escherichia coli (107
NMP/100 mL) no afluente geral.
As concentrações para Escherichia coli
Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003) e coliformes totais, para os meses de
agosto a dezembro de 2002,
Tabela 13 – Valores para coliformes totais e Escherichia coli (107 NMP/100 mL) no afluente geral
apresentaram como valores médios no
afluente 2,25.107 NMP/100 mL e 14.107
NMP/100 mL, respectivamente. A Tabela
14 mostra a concentração de coliformes
no efluente da ETE Franca.
Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)
Os valores do IVL, idade do lodo (T)
Tabela 14 – Valores para E. coli e coliformes no efluente final da ETE Franca e relação F/M no lodo no reator da ETE
Franca são mostrados na Tabela 15.

Análise comparativa entre as ETEs de


Barueri e Franca
A comparação das vazões para as
ETEs de Barueri e Franca mostra que,
em média, os valores para o período
compreendido entre os meses de
agosto e dezembro de 2002 foram de
Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003) 6.105 L/s e 308 L/s, respectivamente. A
ETE de Franca possui uma vazão cerca
Tabela 15 – IVL, idade do lodo para a ETE de Franca de 20 vezes menor que a de Barueri. O
valor para o SST de Franca é de 1,6 vez
maior que o valor presente na ETE
Barueri e o SSV de Franca é ao redor de
Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003) 1,74 vez maior que o valor encontrado
na ETE Barueri.
Tabela 16 – Comparação entre as ETEs Barueri e Franca*
A DQOaflu em Franca é 1,5 vez maior
que a de Barueri. Para a DBOaflu, o valor
de Franca é de 1,4 vez maior que a de
Barueri. A relação DQOaflu/DBOaflu para o
esgoto bruto de Franca foi 2,01 e de
Barueri foi 1,9. Para ambas, os valores
permaneceram dentro da faixa
característica para esgotos domésticos.
No efluente, esses valores ficaram em
1,67 para Barueri e 4,278 para Franca.
As Tabelas 16 e 17 resumem os valores
apresentados pelas duas ETES.
A Tabela 16 mostra os parâmetros
* Valores calculados a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003 considerados para análise e os
Fonte: SABESP, 2003 respectivos valores.

dezembro 2004
55
Tabela 17 – Compara a composição das frações orgânicas e inorgânicas nas duas ETES* cujo valor poderia estar comprometendo
os processos de biodegradação
carbonácea e a nitrificação.
De maneira geral, o desempenho da
ETE Barueri se mostrou bastante
comprometido. Os dados analisados
para essa ETE não são suficientes para
uma avaliação conclusiva, contudo, as
inferências possibilitadas pela análise
podem auxiliar na adoção de medidas
corretivas que visem à melhora das
* Valores calculados a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003
condições operacioanais dessa ETE.

A ETE Barueri apresentou um valor Verificamos que, embora, o esgoto


DQO/DBO bastante anormal, já que
indica um aumento de matéria orgânica
bruto de Franca apresente uma
quantidade de sólidos suspensos totais
O MONITORAMENTO E A
biodegradável no final do processo. Isso
pode ser um indício de problemas
bastante superior ao da ETE Barueri, os
valores apresentados no efluente de
EFICIÊNCIA EM UMA ESTAÇÃO
operacionais, tais como ineficiência do
processo bioquímico por causa de
Franca são inferiores, sugerindo uma
maior eficiência na remoção de sólidos
DE TRATAMENTO DE ESGOTOS
agentes contaminantes ou, muito mais na ETE Franca – devemos considerar A função de uma ETE é tratar os
provável, perda de lodo no processo. que a relação entre os volumes de esgotos que possam causar impactos
Comparando os valores do SSV para o Franca e Barueri é cerca de 5%. ambientais nos corpos d’água os quais
afluente e efluente da ETE Barueri, Também para a DBO e DQO verificamos irão receber esses efluentes. Muito
verificamos um aumento ao final do uma maior eficiência de remoção na ETE embora os processos de tratamento
processo, quando o esperado seria a Franca. ofereçam alternativas diversas, um
diminuição da fração biodegradável. Uma O IVL apresentado pela ETE Barueri aspecto bastante preocupante é a
provável solução seria aumentar a mostra um lodo com baixa capacidade dificuldade em determinar as
relação F/M, diminuindo a quantidade de compactação. Dados da literatura características do esgoto que está
de lodo na linha de recirculação, de mostram como possíveis causas o chegando na estação de tratamento.
forma a garantir uma maior oferta de seguinte (JORDÃO, 1998): Alguns aspectos são previstos no
alimento a ser degradada pelos (i) baixas concentrações de oxigênio projeto, porém, o processo de
microrganismos. Contudo, devemos dissolvido; urbanização e industrialização nem
considerar que, nesse caso, sendo altas (ii) baixa carga de floco na entrada sempre seguem o que foi projetado. A
as concentrações de metais presentes no do reator; poluição ambiental é, hoje, um dos
lodo do tanque de aeração, uma maior (iii) deficiência de nutrientes; grandes desafios que o homem do
oferta de alimento significaria também (iv) óleos e graxas emulsionados. século 21 terá de enfrentar. Não basta
uma maior atuação de compostos Para identificar a causa do IVL tão-somente ter a noção do que seja
tóxicos sobre a microfauna do lodo do elevado, seria necessária a observação gestão ambiental, mas é preciso criar
reator, o que provocaria uma piora nas de certas características, tais como: mecanismos de ação que possibilitem
condições de funcionamento da ETE. presença ou não de grumos de lodo no não só a tomada de medidas
O valor obtido para o SST do efluente decantador secundário, presença ou preventivas, dentro de uma concepção a
de Barueri é em torno de 2,4 vezes não de bolhas de gás envolvidas no priori dos problemas ambientais, mas
maior que o valor verificado em Franca, floco, baixa concentração de bactérias garantir que a legislação seja cumprida.
embora o valor inicial do SST de filamentosas ou grande concentração de O monitoramento de parâmetros
Franca fosse maior que o de Barueri. bactérias filamentosas. ambientais é uma ferramenta poderosa
Para o SSV, Franca obteve um valor 2,3 O afluente da ETE Barueri para a gestão ambiental sob vários
vezes menor que o de Barueri. apresentou uma concentração de zinco, aspectos:

56 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


(i) possibilita localizar fontes (vi) caso não seja possível localizar a estruturais de projeto ou, se forem
poluidoras; fonte poluidora, pode-se pensar em propostas e factíveis, devem considerar
(ii) possibilita identificar fatores de alternativas, como, por exemplo, grupos os custos envolvidos. Um programa de
risco; de empresas custeando uma ETE monitoramento bem projetado poderia
(iii) possibilita a tomada de medidas projetada para tratamentos de lodos, ser uma alternativa, por possibilitar a
preventivas; com características mais específicas; identificação dos fatores que afetam a
(iv) possibilita a tomada de medidas (vii) garantir o monitoramento a operação. Esse programa poderia
corretivas. montante e a jusante da ETE; também auxiliar na identificação dos
No que se refere à gestão dos (viii) promover estudos urbanísticos e agentes causadores e suas fontes.
recursos hídricos, um dos problemas econômicos para definir estratégias; Os problemas decorrentes da
enfrentados é justamente a identificação (ix) promover pesquisas para a necessidade de alterações operacionais
de fontes poluidoras. escolha de parâmetros que sejam para a correção de parâmetros, tais
Entre os fatores que causam grande significativos; como: pH, temperatura e outros, podem
variação nas características dos esgotos (x) promover um aumento na ser minimizados com a adoção de
que chegam às ETEs para tratamento, eficiência das ETEs. tratamentos específicos em estações de
podemos considerar os seguintes: A ETE Barueri recebe esgotos de uma pequeno porte.
temperatura, pressão, pluviosidade, região da cidade de São Paulo bastante No que se refere à ETE de Franca, os
aumento na concentração de problemática, já que, além de esgotos dados mostraram uma maior eficiência
substâncias que, normalmente, domésticos, há os industriais e, com eles, no tratamento do esgoto recebido, cujas
aparecem no esgoto, presença de os chamados compostos xenobióticos características eram bastante ruins. Esse
substâncias não-usuais, presença os quais comprometem, grandemente, o fato reforça a idéia que estações de
intermitente de certas substâncias desempenho nessa estação. As pequeno porte possibilitam um controle
causando variações abruptas em suas mudanças necessárias para que esta operacional mais eficiente.
concetrações, compostos tóxicos. ETE possa aumentar sua eficência é Contudo, não dispomos de dados os
Esses fatores interferem grandemente dificultada por vários motivos. Podemos quais possibilitem uma averiguação dos
no desempenho de uma ETE. Contudo, citar pelo menos dois principais. Por ser custos envolvidos para o funcionamento
podem ser adotados procedimentos uma estação de grande porte, mesmo das duas ETEs e a correlação com o tipo
cujo objetivo seja identificar essas as soluções operacionais imediatas, de afluente recebido.
variações nas características de como, por exemplo, correção de pH ou Os valores iniciais para os parâmetros,
determinados aspectos do esgoto, as alcalinidade, exigem grandes que caracterizam o esgoto recebido
quais possibilitem as adequações quantidades de reagentes que, para nessas ETES, mostram que as condições
operacionais convenientes, para garantir atuarem de forma adequada, exigem iniciais de operação na ETE de Franca é
um efluente de qualidade. um sistema de mistura eficiente – o que pior que as de Barueri, ou seja, o esgoto
Monitoramento bem planejado, nem sempre é possível. Como recebido pela ETE Franca apresenta
visando caracterizar o esgoto antes que observado no relatório da Sabesp piores condições do que o recebido
ele chegue à estação de tratamento, (2003), essa estação não foi projetada pela ETE Barueri.
pode trazer os seguintes benefícios: para remover compostos nitrogenados. Os valores finais os quais caracterizam
(i) ao conhecer a composição do As soluções para amenizar esse o efluente nas duas ETEs estão
afluente, é possível propor mudanças problema devem evitar alterações apresentados na Tabela 18.
operacionais antecipadamente;
(ii) identificação dos possíveis
Tabela 18 – IVL, idade do lodo
poluidores;
(iii) verificar o cumprimento da
legislação;
(iv) possibilita uma fiscalização ativa;
(v) possibilidade de aplicar o princípio
poluidor-pagador, para minimizar os
custos com o tratamento do esgoto; Fonte: SABESP, 2003

dezembro 2004
57
A comparação entre os valotres (iii) no entanto, esses parâmetros O conceito de monitoramento de
obtidos para o IVL (F/M) e idade do permitem que se façam avaliações dos esgotos pode ser ampliado e não se
lodo. riscos em potencial e, quando analisados limita apenas em verificar se os padrões
A remoção de nitrogênio amoniacal conjuntamente aos parâmetros legais estão sendo obedecidos. Mais do
mostrou-se bastante comprometida nas operacionais, auxiliam na orientação das que isso, um efetivo monitoramento
duas ETEs. Como a idade do lodo no ações corretivas dentro da ETE; deve atender às necessidades de
reator pode influenciar na remoção do (iv) é preciso que os pontos de responder o que está sendo alterado, e
nitrogênio, talvez, para Franca, um monitoramento se estendam por toda a por que essas modificações estão
aumento nesse parâmetro pudesse região abrangida pela ETE; acontecendo.
tornar mais eficiente a remoção de (v) a partir desses dados mais gerais, A adoção de uma postura a priori,
nitrogênio amoniacal. No caso de dois caminhos podem ser adotados: no que se refere à utilização do
Barueri, talvez fosse recomendado primeiro, promover ações que auxiliem monitoramento, constitui uma poderosa
diminuir o lodo na linha de circulação, na mudança das características do ferramenta de orientação, já que
de tal forma a promover um aumento afluente, identificando as fontes identifica as causas de grande parte dos
na relação F/M. Contudo, não podemos poluidoras e orientando quanto às problemas enfrentados em uma estação
deixar de considerar as altas alternativas possíveis de tratamento, ou de tratamento de esgotos. Esse
concentrações de metais presentes no quanto a processos de produção conhecimento permite que sejam
afluente do tanque de aeração, o que menos agressivos ao meio ambiente, efetuadas não só as mudanças na rotina
comprometeria todo o processo possibilitando transferências de custos de operação da estação de tratamento,
bioquímico. Também, ineficiência na do tratamento. Como segundo caminho, mas, principalmente, serve de suporte
aeração pode estar dificultando o é possível utilizar os indicativos do para a identificação das fontes de
processo de nitrificação, como discutido monitoramento do afluente ou mesmo lançamento e, eventualmente, a
anteriormente. efluente, para sugerir medidas transferência do aumento nos custos de
preventivas de correções operacionais tratamento, partindo da aplicação do
dentro da ETE; princípio poluidor-pagador.
CONCLUSÃO (vi) o conhecimento das condições
sociais, econômicas, políticas, ambientais
Dessa forma, é crucial a elaboração
de medidas corretivas ou de controle a
A partir das considerações são importantes para um planejamento partir da identificação dos fatores da
possibilitadas pela análise dos dados de ações possíveis. degradação ambiental.
fornecidos pela Sabesp, referentes às Assim, os parâmetros SST, SSV, DQO,
estações de tratamento de esgotos de DBO, presença de nitrogênio, fósforo,

BILBLIOGRAFIA
Barueri e de Franca, e considerando que metais e compostos orgânicos,
um programa de monitoramento bem mostraram-se eficazes na identificação de
planejado seja capaz de identificar afluentes problemáticos e, portanto,
BARTH, F. T. A nova política estadual de
problemas em potencial, os quais comprometedores dos processos recursos hídricos: Princípio usuário pagador
possam comprometer o funcionamento bioquímicos envolvidos no tratamento e recursos hídricos no meio urbano. São
de uma ETE e, conseqüentemente, por lodos ativados. Quando esses Paulo: Instituto de Estudos Avançados da
contribuir para a degradação ambiental, parâmetros são analisados levando-se USP, 1992.
foi possível verificar os seguintes aspectos: em consideração também os parâmetros
BRAGA, B. (Org.). Introdução à engenharia
(i) é preciso escolher um conjunto de operacionais no reator, tais como ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
parâmetros que possam, de fato, trazer oxigênio dissolvido (OD), pH,
informações úteis e eficazes na indicação temperatura, índice volumétrico (IVL), BEZERRA M. C. L.; MUNHOZ, T. M. T. (Coord.)
Gestão dos recursos hídricos naturais:
de ações alternativas; idade do lodo (T), relação alimento/
Subsídios à elaboração da Agenda 21
(ii) a análise de parâmetros que microrganismo (F/M), constituição da
brasileira. Ministério do Meio Ambiente, dos
caracterizem o afluente e efluente são microfauna do lodo do reator, é possível Recursos Hídricos e da Amazônia Legal
limitados, no sentido de não trazerem sugerir alterações em parâmetros (MMA). Brasília: Consórcio TC/BR/FUNATURA;
nenhuma informação sobre os aspectos operacionais, garantindo um efluente de 2000. Disponível em: <URL: http://
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dezembro 2004
59
Saneamento
Ambiental

A QUESTÃO DA RESUMO
O tratamento de esgotos dos municípios de Santos e São Vicente até o final do século 19, a

BALNEABILIDADE NAS disposição dos efluentes domésticos era feita individualmente por cada residência, em sistemas de
fossas, ou apenas lançavam in natura nos córregos e rios da região. Com isso houve problemas de
saúde da população e casos de óbito por doenças de veiculação hídrica.

PRAIAS: O CASO DOS No início da década de 70 a qualidade das praias era imprópria para banho, apesar de a ligação dos
esgotos ser encaminhada para o emissário da Praia Grande, mas este não dava mais conta de tratar
todo o esgoto de Santos e São Vicente, levando à construção do emissário de José Menino.

MUNICÍPIOS DE A construção desse emissário conduziu à melhoria da balneabilidade das praias e, portanto, uma
prevenção de doenças pela falta de saneamento adequado. Dessa forma, este trabalho apresenta

SANTOS E SÃO VICENTE


dados de balneabilidade das praias de Santos e São Vicente no início da década de 70 e do ano de
2003, possibilitando uma comparação a qual permite concluir que, atualmente, as condições sanitá-
rias das praias estão próprias para banho em boa parte do tempo.

PALAVRAS-CHAVE
Saneamento, balneabilidade, saúde pública, meio ambiente.

ABSTRACT
Until the end of 19th century, the domestic sewage from Santos and São Vicente municipal districts
was treated individually, by each house, in cesspools or just discharged in natura in their local
streamlets and rivers. This caused health problems in the population and death cases caused by

Kátia Simões Parente hydric propagation diseases.


In the beginning of 1970 decade, the quality of the beaches was improper for bathing in spite of
Engenheira química pela Faculdade de Engenharia sewages was going into the submarine outfalls of Praia Grande beach which was enable to treat all
Industrial – FEI, especialista em engenharia de the sewage that was coming from Santos and São Vicente; this forced the construction of a new
saneamento básico e mestre em saúde ambiental submarine outfalls in Jose Menino beach.
pela Faculdade de Saúde Pública da USP. The construction of this outfalls improved the balneal feasibility of the beaches, therefore preventing
spkatia@usp.br diseases by lack of adequate sanitation. This way, the data on balneal feasibility in Santos and Sao
Vicente beaches, in the period of 1970 to 2003, shows a comparison that draws us to the conclusion
that actually the sanitary conditions of the beaches are proper for bathing in most part of the time.

KEY WORDS
Sanitation, balneal feasibility, public health, environmental.

60 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


INTRODUÇÃO assim, o saneamento passou a ser um
aliado para melhorar esses aspectos do
problemas causados por um sistema de
saneamento que não satisfez por
A saúde pública é a ciência que meio ambiente (BARROS, 1995). completo as necessidades da
estuda as condições de saúde de uma Com base na necessidade de manter comunidade.
população, seja mental, física ou saúde a qualidade do meio ambiente foram A região da Baixada Santista no estado
do ambiente em que vive esta desenvolvidas instituições com o objetivo de São Paulo foi porta de entrada para o
população. Dentro dessa ciência se inclui de controlar a poluição ambiental e Brasil no século 16, quando se deu o
o saneamento ambiental que trata, realizar obras de saneamento básico nas início da colonização brasileira pelos
especificamente, da saúde do meio cidades. No caso do estado de São portugueses. Com o estabelecimento de
ambiente. Paulo, foi criada a Companhia de imigrantes e a construção do Porto de
O saneamento, segundo a Tecnologia e Saneamento Ambiental do Santos, a baía de Santos se tornou local
Organização Mundial da Saúde – OMS, Estado de São Paulo (Cetesb), de disposição de todos os tipos de
é o controle de todos os fatores do responsável pelo controle e dejetos, desde resíduos domésticos até
meio físico do homem, os quais exercem monitoramento da qualidade ambiental, resíduos dos navios que ali aportavam
ou podem exercer efeitos nocivos sobre abrangendo diversos fatores: poluição (DEGASPARI, 2002).
seu bem-estar físico, mental e social, isto do ar, solo e água. Já a Companhia de O crescimento da população sem um
é, sobre sua saúde (HELLER, 1995). Saneamento Básico do Estado de São sistema de saneamento adequado,
Um exemplo da importância do Paulo (Sabesp) é responsável pela principalmente na Ilha de São Vicente,
saneamento a ser destacado, e muito construção e manutenção das obras de provocou a degradação ambiental e
comum no Brasil, são as construções saneamento como as Estações de trouxe epidemias que afetaram boa
irregulares em locais de várzea dos rios Tratamento de Água (ETAs) e Estações parte da população.
a impedir a vazão da água, causando de Tratamento de Efluentes (ETEs), para Houve, então, a implantação de
inundações e afetando a população, o esgotos domésticos. projetos com o objetivo de sanear a
que ocorre desde o século 19 (LUCCI, No Brasil, especialmente as cidades região, impedindo que ocorressem
1997). litorâneas enfrentam problemas de novos casos de doenças causadas pela
As inundações e a falta de sistemas de contaminação do estuário, e, falta de higiene. O principal projeto,
esgotamento sanitário adequados criam principalmente, de suas praias, pois os servindo de alavanca para o saneamento
o problema de contaminação das águas dejetos lançados nos rios desaguam no ambiental da Ilha de São Vicente, foi de
com dejetos lançados in natura. O mar, provocando a contaminação da Saturnino de Brito, concluído em 1914, e
contato humano com a água orla litorânea e das praias, deu origem aos canais de drenagem da
contaminada resulta em doenças de conseqüentemente, interferindo na cidade de Santos, separando os esgotos
veiculação hídrica, como cólera e febre qualidade de vida da população local. da água pluvial. O município de São
amarela, assim como o acúmulo de água Sabe-se que em grande parte dos Vicente levou alguns anos a mais para
em poças, devido à falta de drenagem municípios litorâneos brasileiros a iniciar sua preocupação com as obras de
urbana, facilitam o desenvolvimento de população vive do turismo e também da saneamento, e ainda hoje boa parte da
insetos, como é o caso da dengue. Essas pesca e caça de animais de manguezal, população é desprovida de tratamento
doenças, entre outras, são conseqüências como caranguejos, camarões e ostras. de esgotos domésticos (DEGASPARI,
da falta de saneamento adequado. Com a água contaminada a caça desses 2002).
A contaminação de corpos hídricos animais é prejudicada, desfavorecendo As obras de saneamento seriam
com efluentes não-tratados se tornou as comunidades, cujo sustento provém suficientes para o local se houvesse uma
comum em todo o país, tratando-se da da comercialização desses crustáceos e política habitacional, controlando a
poluição por efluentes industriais e moluscos, além de prejudicar o turismo construção de moradias em locais
domésticos, em função do aumento das local, pois praias poluídas não atraem irregulares. O crescimento demográfico
indústrias e também do crescimento da turistas. deveria ser acompanhado de fiscalização,
população nas zonas urbanas, Devido à importância de estudar a evitando, assim, a construção de palafitas
causando um desenvolvimento qualidade da água para manter a saúde nos manguezais, casas nos morros e em
descontrolado de centros urbanos sem pública, este trabalho aborda uma região locais de difícil acesso para as tubulações
ligações de esgoto regulares. Sendo afetada durante muitos anos com os de esgotos. Sem esse controle, o

dezembro 2004
61
lançamento de esgotos nos canais Cetesb, na década de 70, com suas por poluição e contaminação das
tornou-se freqüente, sendo direcionados condições atuais, possibilitando concluir águas. Poluição é qualquer alteração das
para o mar sem qualquer tratamento. se houve uma melhora na características físicas, químicas ou
O histórico do saneamento em balneabilidade dessas praias. biológicas, podendo pôr em risco a
Santos e São Vicente foi marcado por saúde, a segurança e o bem-estar da
momentos edificantes, como a construção população, ou que comprometa a fauna
dos canais de Santos e também do
emissário, mas também por momentos
METODOLOGIA local e a utilização das águas para fins
agrícolas, comerciais, industriais e
cruciais, como as críticas condições em Esta pesquisa é considerada descritiva, recreativos. Contaminação é um caso
que se encontravam as praias desses pois foi baseada em pesquisas particular de poluição, provocado pela
municípios na década de 70. bibliográficas, incluindo dados fornecidos introdução de elementos em
Durante os últimos 30 anos de pela Companhia de Tecnologia e concentrações nocivas à saúde humana,
crescimento da baixada santista, muitas Saneamento Ambiental do Estado de tais como organismos patogênicos,
atitudes foram tomadas para beneficiar a São Paulo (Cetesb). substâncias tóxicas e radioativas (GENDA,
população, como a construção da Os dados de balneabilidade das 1988).
rodovia Anchieta e, posteriormente, praias do litoral paulista são publicados O comprometimento de águas
da rodovia dos Imigrantes; o crescimento anualmente no Relatório de destinadas à recreação pode se dar pela
do pólo industrial de Cubatão e também Balneabilidade, elaborado pela Cetesb. contaminação oriunda da presença de
o controle ambiental sobre estas Os dados foram computados e organismos patogênicos, pois o contato
indústrias; aperfeiçoamento do Porto de relacionados em tabelas apresentadas com a água é direto – pelo banho ou
Santos; jardinagem da orla marítima ao longo deste trabalho. de alguns esportes aquáticos, havendo
de Santos, e reconstrução dos quiosques Foram contados, ao longo de cada possibilidade de ingestão do líquido, o
de praia em São Vicente, entre outras ano estudado, os resultados com valores qual aumenta o risco de doenças de
obras não-relevantes para a abordagem abaixo do padrão previsto na Resolução veiculação hídrica, ou a intoxicação por
presente. Conama n. 20/86, de máximo 1.000 outros produtos, quando há casos de
Isso mostra o interesse na melhoria NMP coliformes fecais/100 mL de poluição por efluentes industriais.
das condições de vida da população e amostra. Os valores que estiverem O que define se as águas de
relata que é possível realizar projetos abaixo são considerados satisfatórios, recreação estão em condições favoráveis
para o benefício da economia na região, isto é, de pouco risco de contaminação ou não para contato humano é a
sem prejudicar o ambiente ou a saúde por patógenos. balneabilidade, isto é, a qualidade das
da população, por meio da melhoria da A quantidade de amostras águas de recreação de contato primário.
qualidade ambiental, favorecendo o satisfatórias foi comparada com o total Para haver uma avaliação dessa água é
movimento de turistas. de amostras recolhidas no mesmo ano; necessário o estabelecimento de critérios
desta maneira é possível avaliar a objetivos. Tais critérios devem ser
situação das praias ao longo do ano. baseados em indicadores a serem
OBJETIVO Essa contagem foi feita para o ano de
1976, início do monitoramento das
monitorados e seus valores devem ser
confrontados com padrões
Devido à importância de manter as praias, em seguida para os anos de preestabelecidos, identificando se estão
praias litorâneas em condições de serem 1990 até 2002 e, finalmente, para o ano favoráveis ou não ao contato humano.
freqüentadas por banhistas, este 2003, representando a situação atual É preciso entender que águas para
trabalho tem como objetivo geral avaliar das praias. fins recreacionais podem ser doces,
as condições sanitárias das praias dos salobras e salinas, e o contato humano
municípios de Santos e São Vicente, pode ser primário ou secundário. O
segundo valores de balneabilidade, ao
longo dos últimos 30 anos.
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS contato primário se dá por meio de
natação, mergulho, esqui-aquático; o
O objetivo específico desta pesquisa é Para melhor entendimento dos contato secundário se dá por meio de
comparar as condições sanitárias das aspectos abordados neste trabalho é atividades desportivas como a pesca e a
praias no início do monitoramento da interessante esclarecer o que se entende navegação (CETESB, 2000).

62 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Há alguns fatores que influenciam na No estado de São Paulo a coleta e uma questão discutida atualmente em
balneabilidade das águas como, por análise de amostras é feita pela Cetesb, relação ao grupo coliformes. As
exemplo, derrame acidental de petróleo seguindo os métodos descritos na bactérias coliformes estão presentes
ou a ocorrência de maré vermelha, Resolução Conama n. 20/86. São nos animais de sangue quente,
provocada por uma grande presença de elaborados relatórios anuais com os indicando o contato de fezes humanas
algas tóxicas na água. Entretanto, resultados das análises para todas as com a água, mas não indicam,
considerando que esses são fatores praias do litoral paulista, sendo necessariamente, a presença de
esporádicos, a quantidade de esgotos publicado com o título de Relatório de organismos patógenos na água,
lançada nas praias é um fator que balneabilidade das praias do litoral responsáveis pela transmissão de
influencia, constantemente, a qualidade paulista. doenças, estes não são analisados.
das águas de recreação, como é o caso Além dessa publicação em relatórios, Em função disso, em outros
das praias. também são hasteadas bandeiras nas relatórios elaborados por pesquisadores
Sendo assim, o governo brasileiro praias, especificando as condições de da Cetesb, foi utilizada a Salmonella para
estabeleceu, por intermédio da Resolução balneabilidade das águas. identificar a presença de esgotos na
Conama n. 20, que a balneabilidade das A bandeira de cor verde significa água água. Em outros estudos efetuados por
águas seja medida pela densidade de própria para banho, vermelha significa alunos de pós-graduação da
coliformes fecais, hoje conhecidas como estado de alerta, água imprópria para Universidade de São Paulo foi analisada
bactérias termotolerantes. banho, isto é, pode ter algum risco de a presença de ovos de helmintos como
contaminação se houver contato indicador de patógenos na água,
Padrão de balneabilidade, segundo a humano. Essas bandeiras representam demonstrando um resultado mais
Resolução Conama n. 20/86 um resumo das condições da praia em seguro em relação a organismos
Entre outras resoluções, o Conama um período de um mês, não transmissores de doenças.
dispôs, em 18 de junho de 1986, a significando que exatamente naquele dia
Resolução n. 20, modificada em em que a bandeira está vermelha a Pontos de monitoramento das praias de
novembro de 2000, sendo publicada água está contaminada, ou vice-versa. Santos e São Vicente
como Resolução n. 274/00. Esta Isso ocorre devido ao período de 48 O litoral paulista possui 122 pontos
resolução descreve os métodos para horas necessário para se determinar o de coleta de amostras, e as praias de
coleta e análise das amostras de água índice de coliformes na água. Santos e São Vicente somam, atualmente,
para contato humano e define o padrão Além do fator de tempo de 11 pontos, como representado na
de balneabilidade de águas de publicação dos resultados, também há Tabela 1 (CETESB, 2002).
recreação, devendo este ser seguido
para classificação de águas próprias ou
Tabela 1 – Pontos de amostragem das praias de Santos e São Vicente
impróprias para banho.
O padrão de balneabilidade para
águas salinas, definido pela Resolução
Conama n. 20/86 e utilizado pela Cetesb,
é medido em coliformes fecais pela
técnica de medição por tubos múltiplos,
sendo a média máxima aceitável como
própria de 1.000 NMP coliformes fecais/
100 mL (NMP = número mais provável),
até o ano de 1999, considerando um
total de cinco amostras em um período
de tempo predeterminado. A partir de
2000, com a revisão da resolução,
passam a ser analisadas as bactérias
Escherichia coli ou enterococos, cujo limite
é de 800 e. coli /100 mL (MMA, 2003). Fonte: CETESB, 2000

dezembro 2004
63
O acompanhamento da qualidade emissário da Ponta de Itaipu, na Praia sistema de disposição de efluentes.
dessas praias é feito em caráter Grande. Embora essa fosse considerada Dessa forma é apresentada, a seguir, a
preventivo. Se forem constatados índices uma excelente obra da engenharia avaliação dos resultados das amostras
de coliformes fecais que indiquem sanitária, com o crescimento urbano da de água no ano de 1976, quando foi
presença de esgoto em suas águas em região e o aumento do número de concluída a construção da rodovia dos
quantidades significativas, elas passam a habitantes, não era mais um sistema de Imigrantes.
ter monitoramento semanal (CETESB, tratamento de esgotos adequado. É importante ressaltar que, segundo o
2000). O número de ligações clandestinas padrão adotado pela Resolução
havia aumentado, e os canais de Santos Conama n. 20/86, o número máximo
recebiam, constantemente, efluentes sem de coliformes fecais para se considerar a
O SANEAMENTO DAS PRAIAS tratamento, prejudicando a qualidade
das praias de Santos. Em São Vicente, as
praia em condições satisfatórias é de
1.000 NMP coli. fecais/100 mL de água.
DE SANTOS E SÃO VICENTE NA praias mais fechadas, como dos
Milionários e Gonzaguinha, obtinham
As Tabelas 2 e 3 apresentam o
número de amostras com resultados
DÉCADA DE 70 resultados com elevado número de
coliformes, demonstrando a ineficiência
acima de 1.000 NMP/10mL, amostras
satisfatórias, comparadas com o total das
O sistema de tratamento de esgoto do sistema de disposição de efluentes analisadas durante o ano para os
dos municípios de Santos e São Vicente utilizado. municípios de São Vicente e Santos.
na década de 70, era efetuado por As condições das praias desses Como pode ser observado nas
disposição oceânica por meio do municípios são um reflexo da eficácia do Figuras 1 e 2, o número de amostras

Tabela 2 – Número de amostras satisfatórias em São Vicente – 1976 Tabela 3 – Número de amostras satisfatórias em Santos – 1976

Fonte: PARENTE, 2004 Fonte: PARENTE, 2004

Figura 1 – Número de amostras satisfatórias em relação ao total Figura 2 – Número de amostras satisfatórias em relação ao total
São Vicente – 1976 Santos – 1976

Fonte: PARENTE, 2004 Fonte: PARENTE, 2004

64 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


satisfatórias é muito pequeno em mar, onde encontram com a corrente com o objetivo de verificar a eficácia do
relação ao total de amostras recolhidas do Atlântico Sul, afastando-se para leste emissário (MARTINS et al, 1981).
em 1976. No município de São Vicente (HIDROCONSULT, 1975). Como pode ser observado após a
as praias dos Milionários e Dessa forma, o lançamento do construção do emissário submarino, o
Gonzaguinha não chegam a 50%, e a efluente entre essas duas correntes seria resultado da colimetria sofreu uma
praia de Itararé tem 57% das amostras levado para alto mar e dispersaria-se, queda significativa, caindo para menos
satisfatórias, entretanto, este também é sendo depurado por ação das da metade em todos os pontos de
considerado um resultado baixo, visto características químicas e biológicas do amostragem, chegando a menos de 1/4
que esta praia é muito freqüentada por mar. É importante destacar que antes de em alguns casos, como na Praia dos
turistas. seu lançamento no emissário, o esgoto Milionários, em São Vicente, e Ponta da
O município de Santos apresenta entra em uma Estação de Pré- Praia, em Santos, anteriormente
resultados críticos, pois todos os pontos Condicionamento – EPC, na qual passa conhecidas como as mais críticas.
de coleta apresentaram resultados por grades, caixas de areia e peneiras Mas com o decorrer dos anos, os
impróprios para banho, principalmente a rotativas, retirando o material sólido. municípios de Santos e São Vicente
Ponta da Praia, próxima ao canal do Também sofre uma pré e pós-cloração cresceram e houve um aumento da
Porto de Santos. Esses resultados talvez como ação bactericida. construção de moradias, sem o
sejam críticos por essas praias receberem Após a construção do emissário, as acompanhamento de uma política
grande vazão de esgotos clandestinos condições das praias desses municípios habitacional, pois foram construídas
originados dos canais de Santos, cuja melhoraram sensivelmente. A Tabela 4, casas irregulares, o que leva ao
função é apenas receber águas pluviais elaborada por funcionários da Cetesb lançamento de esgotos em córregos ou
e não esgoto doméstico.
Tabela 4 – Comparação dos resultados das amostras de água antes e após a construção do emissário
submarino de José Menino

PROJETOS PARA MELHORAR AS


CONDIÇÕES SANITÁRIAS DOS
MUNICÍPIOS DE SANTOS E SÃO
VICENTE
Em vista das condições em que se
encontravam as praias de Santos e São
Vicente, era necessário elaborar um
novo projeto para melhorar a situação
do saneamento básico em relação ao
tratamento de esgotos.
Em 1978 foi concluído o projeto do
emissário submarino de José Menino,
localizado na baía de Santos, próximo
ao Canal 1. Essa localização foi estimada
como a mais adequada em virtude das
correntes marítimas predominantes na
n = número total de amostras analisadas
baía. A primeira, vinda do canal do
* = antes da construção do emissário (1974 – 1976)
Porto de Santos, e a segunda, do canal ** = após a construção do emissário (1979 – 1980)
de São Vicente, também conhecido Fonte: MARTINS et al, 1981
como Mar Pequeno. Essas duas
correntes são direcionadas para alto

dezembro 2004
65
diretamente nos canais de Santos;
conseqüentemente, as praias são
afetadas (PARENTE, 2004).
Em meados da década de 80, mais
precisamente a partir de 1984, houve
novamente um aumento no número de
Tabela 5 – Amostras satisfatórias, município de Santos – 1990 – 2002 coliformes fecais nas amostras analisadas
pela Cetesb. Como forma de amenizar o
problema, em 1990 a Sabesp, com a
prefeitura de Santos, tomaram a iniciativa
de fechar as comportas dos canais de
Santos, evitando, assim, que o esgoto
lançado nos canais desaguasse nas
praias.
Em paralelo, foram elaborados
programas para identificar as ligações
clandestinas e regularizar a situação,
para que todos os esgotos fossem
encaminhados para a EPC, e,
posteriormente, para o emissário
submarino. O mesmo aconteceu em
São Vicente, onde alguns córregos
receptores de esgoto foram fechados e
secos, evitando seu lançamento nas
n = ausência de resultado
Fonte: PARENTE, 2004 praias.
Com as comportas fechadas e a
eliminação das ligações clandestinas
houve uma melhora significativa na
Tabela 6 – Amostras satisfatórias do município de São Vicente – 1990 – 2002
qualidade da água das praias. As
Tabelas 5 e 6 apresentam os dados de
amostras satisfatórias para cada
município, nos anos entre 1990 e
2002, para um total de 52 amostras
recolhidas durante cada ano,
lembrando que as amostras satisfatórias
são definidas como as de resultados
inferiores a 1.000 NMP/100 mL até
2000, e a partir desse ano inferiores a
800 NMP e.coli/100 mL, segundo a
Conama n. 274/00.
Os dados foram calculados pelos
resultados publicados do laboratório da
Cetesb, nos Relatórios de
balneabilidade das praias do litoral
paulista.
O município de Santos apresentou
n = ausência de resultado melhoras significativas nos resultados de
Fonte: PARENTE, 2004 balneabilidade das praias, principalmente

66 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


nas praias de Aparecida e Ponta da melhorar o sistema de saneamento e, últimos anos, e, no ano de 2003,
Praia, as quais apresentavam, no início conseqüentemente, a qualidade de vida apresentou resultados satisfatórios
da década de 90, resultados críticos. da população. durante boa parte do ano, como pode
Essas praias estão próximas ao canal do A qualidade de vida no município de ser observado na Tabela 7.
Porto de Santos, uma de suas fontes de Santos é considerada pela população e O município de São Vicente também
poluição. por pesquisadores entre as melhores no apresentou melhoras, entretanto ainda
Os resultados apresentaram estado de São Paulo. Esse dado há algumas praias com resultados
melhoras, talvez em virtude de ações também considera a qualidade das impróprios para banho, como pode ser
desenvolvidas pelo porto para diminuir praias, as quais melhoraram muito nos observado na Tabela 8.
a contaminação do canal, além do
procedimento de manter as comportas
Figura 3 – Crescimento das amostras satisfatórias nas praias de Santos e São Vicente na década de 90
dos canais fechadas, visto que o Canal
7, na Ponta da Praia, não possui
comporta.
Segundo os dados do município de
São Vicente, houve um crescimento em
mais de 40% no número de amostras
satisfatórias, exceto nas praias dos
Milionários e Gonzaguinha, como pode
ser observado na Figura 3.
Essa situação pode ser atribuída ao
fato de essas praias não receberem
influência dos canais de Santos, ou seja,
mesmo os canais permanecendo
fechados, essas praias continuam
recebendo vazão de córregos poluídos
Fonte: PARENTE, 2004
com esgoto doméstico. Além disso,
recebem influência do canal do Mar
Pequeno e também são localizadas em Tabela 7 – Número de amostras satisfatórias para o município de Santos em 2003
uma baía que não possui grande
circulação das marés quanto às outras
praias, o que dificulta a dispersão do
esgoto lançado e, portanto, sua
depuração.

AS CONDIÇÕES SANITÁRIAS DA Fonte: PARENTE, 2004

ILHA DE SÃO VICENTE NO


INÍCIO DO SÉCULO 21 Tabela 8 – Número de amostras satisfatórias para o município de São Vicente em 2003

A avaliação das condições atuais das


praias dos municípios de Santos e São
Vicente se faz necessária como forma de
comparação com os anos anteriores,
além de trazer informações sobre os
resultados dos projetos realizados para Fonte: PARENTE, 2004

dezembro 2004
67
Figura 4 – Comparação entre o número de amostras recolhidas e as amostras Figura 5 – Comparação entre o número de amostras recolhidas e as amostras
satisfatórias em São Vicente, em 2003 satisfatórias em Santos, em 2003

Fonte: PARENTE, 2004 Fonte: PARENTE, 2004

As Figuras 4 e 5 apresentam uma e 50%, respectivamente, de amostras canais de Santos havia aumentado
comparação entre o total de amostras satisfatórias ao longo do ano, o que significativamente, poluindo as praias de
recolhidas e o número de amostras representa ainda um estado calamitoso Santos.
satisfatórias para cada praia dos em relação à balneabilidade; essas Essa situação levou à construção do
municípios estudados no ano de 2003. praias recebem influência do canal do emissário de José Menino, em Santos,
Como pode ser observado nos Mar Pequeno, onde estão as palafitas, concluído em 1978. Após a construção
gráficos acima, o município de Santos um tipo de moradia que não possui desse emissário submarino, houve um
conta com suas praias próprias para estrutura para instalação de tubulações progresso na qualidade da água das
banho em mais de 75% do ano, o que de esgoto ou água. praias, melhorando os resultados de
ainda não pode ser considerado como balneabilidade das praias de Santos e
um resultado satisfatório, visto que a São Vicente.
Resolução Conama n. 274/00 especifica
águas de qualidade excelente, aquelas a
CONCLUSÕES Em meados da década de 80,
especificamente após 1984, o número
apresentarem resultados próprios em Sobre a qualidade das praias de de amostras satisfatórias por ano sofreu
80% ou mais das amostras. Santos e São Vicente, ao longo dos uma queda significativa, prejudicando a
Entretanto, houve uma melhora últimos 30 anos, pode-se concluir que situação das praias nesse período. A
significativa e os resultados estão bem no ano de 1976, início do queda pode ser atribuída ao
próximos do especificado na resolução, monitoramento das praias pela Cetesb, a crescimento populacional sem
demonstrando um quadro evolutivo na qualidade da água era imprópria para fiscalização adequada, possibilitando a
qualidade das praias em relação à banho; no caso de Santos, todas as construção de moradias sem ligação de
balneabilidade, mas que não deve ser praias possuíam ao redor de 90% das esgoto na rede pública.
considerado estável ou em crescimento, amostras com resultados impróprios Em 1990, com o procedimento de
pois isso deve ser observado ainda nos para banho. manter fechadas as comportas dos
próximos anos. Com esses resultados conclui-se que canais, com a eliminação das ligações
O município de São Vicente o sistema de coleta e tratamento de clandestinas e remoção das pessoas
apresenta qualidade excelente nos esgotos por meio do emissário de Itaipu, instaladas nos mangues, percebeu-se
pontos de coleta da Praia de Itararé, na Praia Grande, não era mais suficiente uma melhora significativa na
mas as praias dos Milionários e do para a população local, sua capacidade balneabilidade das praias estudadas,
Gonzaguinha ainda apresentam havia sido ultrapassada e o número de resolvendo em parte o problema de
resultados críticos, pois totalizaram 48% ligações clandestinas com saída para os contaminação das mesmas por esgotos

68 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


domésticos. Ocorrendo que, em dois municípios, trouxeram benefícios CONAMA. Conselho Nacional de Meio
períodos de chuvas fortes, as comportas para os moradores e os turistas, Ambiente. Resolução Conama n. 20,
dos canais devem ser abertas para evitar entretanto, não devem ser estabilizadas, Classificação de águas doces, salobras e
salinas destinadas à balneabilidade
inundações; com as águas pluviais, o devem ser continuadas e elaborada
(recreação de contato primário). 18 de junho
esgoto clandestino lançado nos canais uma política habitacional para que seja
de 1986.
corre para o mar. removida a população instalada no
A situação atual das praias apresenta mangue, pois além de ser uma DEGASPARI, F. Histórico do saneamento
resultados satisfatórios em comparação condição de vida inaceitável, também é básico de Santos – SP com ênfase para
balneabilidade das praias. 2001. Dissertação
aos anos anteriores para o município de uma das fontes de poluição das praias
(Mestrado) – Universidade Monte Serrat,
Santos, pois o número de amostras locais.
Santos, 2001.
satisfatórias ao longo deste ano A remoção dessa população dos
aumentou em comparação aos anos mangues, a identificação e eliminação HIDROCONSULT CONSULTORIA e Projetos
anteriores. das ligações clandestinas de esgoto e o SA. Plano Diretor de esgotos da Baixada
Santista. São Paulo: Hidroconsult, Cons. e
No município de São Vicente, a Praia monitoramento constante da qualidade
Projetos S/A., 1975.
de Itararé apresenta resultados dos corpos d´água do estuário santista
satisfatórios, o que não ocorre nas são as principais ações a serem LUCCI, E. A. O homem no espaço global. São
praias dos Milionários e Gonzaguinha. realizadas para a conservação da Paulo: Saraiva, 1997.
Segundo apresentado nos resultados qualidade de vida dos municípios de MARTINS, M. T.; ALVES, M. N.; SANCHEZ, O.
de balneabilidade dessas praias, pode- Santos e São Vicente. S.; AGUDO, E. G. Levantamento das
se concluir que nesse município ainda condições sanitárias de praias de Santos e
há algumas obras a serem realizadas São Vicente, antes e após a construção do
para melhorar suas condições
sanitárias.
BIBLIOGRAFIA emissário submarino de esgotos. In: 11O
CONGRESSO BRAS. DE ENG. SANIT. E
Como pode ser observado, há um AMBIENTAL. 1981, São Paulo. Anais, São
BARROS, R. T. V.; CHERNICHARO, C. A. L.;
Paulo: Cetesb, 1981. 27 p.
interesse por parte da prefeitura HELLER, L.; SPERLING, M. (Ed.) Manual de
municipal e também do estado de São saneamento e proteção ambiental para os MOTA, S. Saneamento. In: ROUQUAYROL, M.
Paulo em melhorar as condições municípios, 1: O município e o meio Z.; ALMEIDA Filho, N. (Org.) Epidemiologia e
sanitárias desses municípios. Tanto Santos ambiente. Departamento de Engenharia saúde. 5. ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1999.
como São Vicente são cidades turísticas Sanitária e Ambiental. Fundação Estadual do
PARENTE, K. S. As condições sanitárias dos
Meio Ambiente Belo Horizonte, 1995.
que representam o início da colonização municípios de Santos e São Vicente nas
do Brasil, portanto, não devem ser CETESB – Companhia de Tecnologia e décadas de 1970, 1980, 1990 e início do
classificadas como cidades poluídas, com Engenharia em Saneamento Ambiental. século XXI. 2004. Dissertação (Mestrado) –
praias sujas, sem condições de serem Relatório de balneabilidade das praias Faculdade de Saúde Pública, Universidade de
freqüentadas por turistas. paulistas. São Paulo: Cetesb, 2000. São Paulo, São Paulo, 2004.

As obras realizadas na Ilha de São ___. Relatório de balneabilidade das praias PHILIPPI JR., A. (Org.) Saneamento do meio.
Vicente, na qual está a maior área dos paulistas. São Paulo: Cetesb, 2002. 1. ed. São Paulo: Fundacentro, 1988.

dezembro 2004
69
Eventos
Agenda 2005

V FSM – FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. FSM 2005: GT ENVIROEXPO & CONFERENCE 2005
SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE May 3-4, 2005 – Seaport World Trade Center, Boston ,
26 a 31 janeiro de 2005 – Porto Alegre/RS Massachusetts, USA
http://www.forumsocialmundial.org.br Michael Scheibach, Ph.D., Conference Director, Tel: 816-350-2049
Email: mscheibach@enviroexpo.com
ENVIRONMENT 2005 http://www.environmental-center.com
Abu Dhabi International Exhibition Centre
January 30-February 2, 2005 – Abu Dhabi, United Arab Emirates LAND DEVELOPMENT EAST
http://www.environmental-center.com/ May 4-6, 2005 – Marriott Waterfront Hotel, Baltimore, Maryland
http://www.environmental-center.com
ENERGIA SCOTTISH & CONFERÊNCIA AMBIENTAL 2005
February 8, 2005 – Scotland WORLD WATER & ENVIRONMENTAL RESOURCES
http://www.envirowise.gov.uk/ CONGRESS 2005
May 15-20, 2005 – Anchorage Convention Center, Anchorage, AK,
HELECO ’05 – EXHIBITION AND CONFERENCE CENTRE OF ATTICA, USA
HELEXPO, ATHENS, GREECE http://www.environmental-center.com
February 3-6, 2005 – Athens, Greece
http://www.environmental-center.com EECO 2005
May 26-27, 2005 – Toronto, Canada
POWER-GEN RENEWABLE ENERGY http://www.environmental-center.com
March 1-3, 2005 – Las Vegas Hilton, Las Vegas, Nevada, USA
http://www.environmental-center.com WASTETECH 2005
May 31-June 3, 2005 – Moscow, Rússia
E-WORLD 2005 http://www.environmental-center.com
March 15-17, 2005 – Messehaus Ost, Norbertstraße, 45131 Essen,
Germany WATERSHED MANAGEMENT 2005
http://www.environmental-center.com July 19-22, 2005 – Williamsburg, Virginia, USA
http://www.environmental-center.com
EFFICIENT 2005 - III CONFERENCIA INTERNACIONAL SOBRE USO Y
GESTIÓN 230 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
Marzo 14 -18, 2005 – Santiago – Chile AMBIENTAL
http://www.efficient2005.com 18 a 23 de setembro de 2005 – Campo Grande/MS
http://www.abes-dn.org.br/eventos/abes/23cbes/index.htm
URBAN RESEARCH SYMPOSIUM 2005
Third Urban Research Symposium on “Land Development, Urban Policy LAND DEVELOPMENT WEST
and Poverty Reduction” November 2-4, 2005 – SunBurst Resort, Scottsdale, Arizona
The World Bank – Institute of Applied Economic Research – IPEA Michael Scheibach, Ph.D., Conference Director, Tel: 816-350-2049
April 4-6, 2005 – Brasília, DF, Brazil Email: mscheibach@ldconference.com
http://www.worldbank.org/urban/symposium2005/concept_note.htm http://www.environmental-center.com

70 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


2004

Eventos
Comunicados

2004

Seção de apresentação de pôsteres


ICTR´ 2004
Foto: Marcelo de Andrade Roméro
Congresso Nacional de
Ciência e Tecnologia em
O ICTR 2004 – Congresso Nacional
de Ciência e Tecnologia em Resíduos e
governamentais. Desse total, 599
trabalhos foram aceitos para Resíduos e Desenvolvimento
Desenvolvimento Sustentável e o apresentação na forma de pôster e nove
NISAM’2004 – Ciclo de Conferências
sobre Política e Gestão Ambiental
trabalhos receberam premiação ao
término do evento.
Sustentável
ocorreram na cidade de Florianópolis O evento contou com a participação
entre 17 a 20 de outubro de 2004. de 21 palestrantes do Brasil e do

NISAM´ 2004
A Comissão Organizadora recebeu exterior, além da presença da prefeita de
cerca de 1.000 trabalhos produzidos Florianópolis, Angela Amin. Na
por mais de 3.000 autores e co-autores oportunidade houve o lançamento da
de todo o Brasil, que colaboraram na Revista Brasileira de Ciências Ambientais
discussão dos problemas nacionais e
internacionais bem como na
e dos livros da Coleção Estudos e
Pesquisas Ambientais Curso de gestão
Ciclo de Conferências
disseminação do conhecimento científico
e tecnológico, promovendo a interação
ambiental, Curso interdisciplinar de
direito ambiental, Educação ambiental e sobre Política e
Gestão Ambiental
entre pesquisadores, profissionais, sustentabilidade e Saneamento, Saúde
empresários e representantes e Ambiente.

dezembro 2004
71
Normas para publicação Normas de publicación Publication norms
1. A Revista Brasileira de Ciências Ambientais é 1. La Revista Brasileira de Ciências Ambientais es 1. The Revista Brasileira de Ciências Ambientais is
uma publicação do ICTR e do NISAM, tem por una publicación del ICTR y del NISAM, que tiene a review of the ICTR and the NISAM that has by
objetivo a divulgação de trabalhos na área. por objeto la divulgación de trabajos de la área. object to divulgate the works of the area.
2. O Conselho Editorial com o Conselho Editorial 2 El Consejo Editorial, con el Consejo Editorial 2. The Editorial Council, with the Editorial Scientific
Científico decidirão quais os artigos selecionados a Científico; decidirán caules artículos serán Council, will decide about which articles will be
serem publicados, considerando a qualidade, o aceptados para publicación, considerando la accepted for the publication, considering the
potencial de inovação, a originalidade e a cualidad, el potencial de innovación, la originalidad quality, innovation, originality and the theme
pertinência do tema em face da linha editorial da y la pertinencia del tema de acuerdo con la línea pertinence to the editorial line.
revista. editorial.
3. The contributions presented to the publication
3. Os artigos submetidos para apreciação da 3. Los artículos sometidos para evaluación de la must appertain to the environmental sciences.
revista devem pertencer à área das ciências revista deben pertenecer a la área de las ciencias
4. The originals must be sended with the following
ambientais. ambientales.
patterns:
4. Os originais deverão ser encaminhados 4. Los originales deberán ser enviados atendiendo
a) Presented by electronic files.
seguindo os seguintes padrões: las seguientes normas:
b) To use the Word program, whithout format,
a) Apresentados em arquivos eletrônicos. a) Presentados en archivo electrónico.
only defining the paragraphs beginning.
b) Utilizar o processador Word, sem formatação, b) Utilizando el processador Word sin formatear,
c) The works must have a maximum of 20
determinando apenas a abertura dos parágrafos. definiendo solamente el inicio de los párrafos.
(twenty) pages including the text and the
c) Os trabalhos deverão ter no máximo 20 (vinte) c) Los trabajos deberán tener un máximo de 20 illustrations.
laudas, incluindo todos os componentes do texto e (veinte) páginas incluyendo el texto y las
d) Each page will have until 20 (twenty) lines
das ilustrações. ilustraciones.
composed by until 60 (sixty) signs with the
d) Utilizar laudas de 20 (vinte) linhas com 60 d) Utizar página tendrá hasta 20 (veinte) líneas spacements included.
(sessenta) caracteres e intervalos de com hasta 60 (sesenta) caracteres incluso los
e) The works must present: the tittle, the
espaçamentos inclusos. espaciamientos.
name(s) of the author(s), their(s) professional
e) Dos trabalhos apresentados devem constar: o e) Los trabajos deberán constar de: título, qualification(s) and institution(s).
título, o(s) nome(s) do(s) autor(es), sua(s) nombre(s) y apellido(s) del(de los) autor(es),
5. It’s obbligatory the presentation of the abstracts
qualificação(ões) e instituição(s). su(s) título(s) profesional(es) y instituiciones.
in portuguese, english and spanish languages,
5. São obrigatórios o resumo, o resumem e o 5. Es obligatório presentar el resumen en los containing a minimum of 500 (five hundred) and
abstract, respectivamente nas línguas portuguesa, idiomas portugués, español y inglés, conteniendo a maximum of 700 (seven hundred) signs each,
espanhola e inglesa, com no mínimo 500 un mínimo de 500 (quinientos) y un máximo de with the spacements included.
(quinhentos) e no máximo 700 (setecentos) 700 (setecientos) caracteres cada uno, incluyendo
6. The notes and bibliographic references will be
caracteres cada um, intervalos de espaçamentos los espaciamientos.
presented at the end of the text, referred and
inclusos.
6. Las notas y referencias bibliográficas serán grouped, also for the citations, according the
6. As notas e referências bibliográficas devem vir presentadas en el final del texto referenciadas y norms of the ABNT–NBR-6023.
apresentadas agrupadas no final do texto, e agrupadas, así como las citaciones textuales, de
7. The illustrations must be sended in separated
deverão ser referenciadas, assim como também acuerdo con a las Normas de la ABNT – NBR-
papers containing the credit indications and the
as citações, de acordo com as normas da ABNT- 6023.
inscriptions must be referred in the text.
NBR-6023.
7. Las ilustraciones deberán ser enviadas en hojas
8. The draws must be sended in theirs originals or
7. As ilustrações deverão ser entregues em folhas separadas indicando las leyendas y los créditos y
by floppy disks using compatibles programs (CAD,
separadas com as devidas indicações de créditos e deberán ser referenciadas en el texto.
Corel Draw, Photoshop, PM6.5). The images may
legendas e referenciadas no texto.
8. Los dibujos deberán ser presentados en arte- be in black and white or in color.
8. Os desenhos devem ser entregues em arte- final. Se presentados en disquetes formateados
9. After their presentation the originals will have
final. Se apresentados em formatação/disquete, en programas compatibles (CAD, Corel Draw,
the critical analysis by the Editorial Council and
utilizar programas compatíveis (CAD, Corel Draw, Photoshop, PM6.5), en blanco y negro o en
Editorial Scientific Council. The works not approved
Photoshop, PM6.5). As imagens podem ser em colores.
will be devolved to theirs authors.
branco-e-preto ou em cores.
9. Después de la entrega de los originales, ellos
9. Após o recebimento, os originais serão serán analizados criteriosamente por lo Consejo
criteriosamente analisados pelo Conselho Editorial Editorial e por lo Consejo Editoial Cientifico y los
e pelo Conselho Editorial Científico e os trabalhos trabajos que no hayan sido aprobados serán
não aceitos serão devolvidos. devueltos a sus autores.

72 Revista Brasileira de Ciências Ambientais


Revista
Brasileira de NISAM/ ICTR
Ciências Ambientais CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO
Núcleo de Informações em Instituto de Ciência e Tecnologia em
Instituições Participantes Saúde Ambiental Resíduos e Desenvolvimento Sustentável
PRESIDENTE
USP COORDENADOR CIENTÍFICO
Arlindo Philippi Jr. Arlindo Philippi Jr. Adelaide Cássia Nardocci (FSP/USP) Francisco Suetônio Bastos Mota (UFCE) Maria Regina Alves Cardoso (FSP/USP)
VICE-PRESIDENTE Alaôr Caffé Alves (FD/USP) Gilberto Passos de Freitas (TJ/SP) Mario Thadeu Leme de Barros (EP/USP)
VICE-COORDENADOR CIENTÍFICO Jorge Alberto Soares Tenório
UNICAMP Pedro Caetano Sanches Mancuso
DIRETORIA EXECUTIVA
Alcides Lopes Leão (Unesp/BOT) Gilda Collet Bruna (Mackenzie) Mary Dias Lobas de Castro (SVMA/PMSP)
Alexandre de Oliveira e Aguiar (NISAM/USP) Guido Fernando Silva Soares (FD/USP) Milo Ricardo Guazelli (ANVISA)
Sabetai Calderoni
Angela M. Magosso Takayanagui (EERP/USP) Guilherme J. Purvin de Figueiredo (PGESP) Mônica Porto (EP/USP)
UNESP CONSELHO DELIBERATIVO
Presidente DIRETORIA DE TECNOLOGIA E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Antonio Carlos Rossin (FSP/USP) Helder Perdigão Gonçalves (INETI/Portugal) Murilo Damato (SENAC)
Arlindo Philippi Jr. Gilda Collet Bruna
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UFSCAR Alaôr Caffé Alves
Carlos Celso do Amaral e Silva Márcio J. Estefano de Oliveira Antonio Herman Benjamín (IDPV) Heliana Comin Vargas (FAU/USP) Oswaldo Massambani (IAG/USP)
Gilda Collet Bruna João Sérgio Cordeiro
Aracy Witt de Pinho Spínola (FSP/USP) Hilton Felício dos Santos (Consultor Ambiental) Paulo Affonso Leme Machado (UNIMEP)
IPEN Jorge Alberto Soares Tenório
Marcelo de Andrade Roméro
DIRETORIA DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO
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Aristides Almeida Rocha (FSP/USP) Isak Kruglianskas (FEA/USP) Paulo Artaxo (IF/USP)
Márcia Faria Westphal Diretores Adjuntos Arlindo Philippi Jr. (FSP/USP) Ivete Senise (FD/USP) Paulo de Tarso Siqueira Abrão (NISAM/USP)
IPT Maria Cecília Focesi Pelicioni Edson A. Abdul Nour
Jorge Hamada
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Maria Regina Alves Cardoso
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Paulo Hilário Nascimento Saldiva DIRETORIA EDITORIAL
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Marcelo de Andrade Roméro
Sergio Colacioppo Diretores Adjuntos Bruno Coraucci Filho (FEC/Unicamp) João Vicente de Assunção (FSP/USP) Pedro Roberto Jacobi (PROCAM/USP)
Maria Cecília Focesi Pelicioni Carlos Celso do Amaral e Silva (FSP/USP) Jorge Alberto Soares Tenório (EP/USP) Petra Sanchez Sanchez (Mackenzie)
Roberto Nunes Szente
Carlos Eduardo Morelli Tucci (UFRGS) Jorge Gil Saraiva (LNEC/Portugal) Philip O. M. Gunn (FAU/USP)
DIRETORIA DE PESQUISA
Carlos Malzyner (SEMPLA) Jorge Hajime Oseki (FAU/USP) Raul Machado Neto (ESALQ/USP)
Ruben Bresaola Junior
Diretores Adjuntos Celina Lopes Duarte (Ipen) Jorge Hamada (Unesp) Renata Ferraz de Toledo (NISAM/USP)
João Antonio Galbiati Célio Bérman (IEE/USP) José Carlos Derísio (Consultor Ambiental) Ricardo Toledo Silva (FAU/USP)
EDITOR Jorge Alberto Soares Tenório
Marcelo de Andrade Roméro Cíntia Philippi Salles (NISAM/USP) José Damásio de Aquino (FUNDACENTRO) Roberto Nunes Szente (IPT)
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Claudio Fernando Mahler (COPPE/UFRJ) José de Ávila Aguiar Coimbra (NISAM/USP) Roque Passos Pivelli (EP/USP)
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CONSELHO EDITORIAL Leny Borghesan Alberghini Cleverson V. Andreoli (UFPR) José Eduardo R. Rodrigues (Fundação Florestal) Ruben Bresaola Jr. (FEC/Unicamp)
Presidente
Diretores Adjuntos Daniel Joseph Hogan (Unicamp) José Fernando Thomé Jucá (UFPE) Ruth Sandoval Marcondes (FSP/USP)
Marcelo de Andrade Roméro Eglé Novaes Teixeira Daniel Roberto Fink (MPSP) José Luiz Negrão Mucci (FSP/USP) Sabetai Calderoni (NAIPPE/USP)
Arlindo Philippi Jr. Celina Lopes Duarte
Celina Lopes Duarte Nemésio N. Batista Salvador Daniel Silva (UFSC) José Maria Soares Barata (FSP/USP) Sebastião Roberto Soares (UFSC)
Eglé Novaes Teixeira Delsio Natal (FSP/USP) Leila da Costa Ferreira (Unicamp) Sergio Eiger (FSP/USP)
CONSELHO DE ORIENTAÇÃO
Jorge Alberto Soares Tenório Alaôr Caffé Alves Denise Crocce Romano Espinosa (EP/USP) Léo Heller (UFMG) Severino Soares Agra Filho (UFBA)
Márcio J. Estefano de Oliveira Alcides Lopes Leão Dimas Floriani (UFPR) Luis Enrique Sánchez (EP/USP) Sheila Walbe Ornstein (FAU/USP)
Maria Cecília Focesi Pelicioni Carlos Celso do Amaral e Silva
Roberto Nunes Szente Édis Milaré (NISAM/USP) Luiz Roberto Tomasi (FUNDESPA) Solange Teles da Silva (NISAM/USP)
Celina Lopes Duarte
Edson A. Abdul Nour Edson A. Abdul Nour (FEC/Unicamp) Luiz Sérgio Philippi (UFSC) Tadeu Fabrício Malheiros (FSP/USP)
Eglé Novaes Teixeira Edson Leite Ribeiro (PRODEMA/UFPB) Marcel Bursztyn (UNB) Umberto Cordani (IGc/USP)
DATA Guilherme Ary Plonski Eglé Novaes Teixeira (FEC/Unicamp) Marcelo de Andrade Roméro (FAU/USP) Vahan Agopyan (EP/USP)
Dezembro de 2004 Jorge Hamada
Enrique Leff (PNUMA) Marcelo Pereira de Souza (EESC/USP) Vanderley Moacyr John (EP/USP)
TIRAGEM
Leny Borghesan Alberghini
Maria Zanin Eugênio Foresti (EESC/USP) Márcia Faria Westphal (FSP/USP) Vera Lúcia Ramos Bononi (NISAM/USP)
2.000 exemplares
Vahan Agopyan Fábio Luiz Teixeira Gonçalves (IAG/USP) Márcio Joaquim Estefano Oliveira (Unesp) Vicente Fernando Silveira (NISAM/USP)
Vanderley Moacyr John Fábio Nusdeo (FD/USP) Marcos Reigota (UNISO) Walter Lazzarini (NISAM/USP)
CONSELHO FISCAL Fábio Taioli (IGc/USP) Marcos Rodrigues (EP/USP) Wilson Edson Jorge (FAU/USP)
Titulares
Mario Sérgio Rodrigues Fabiola Zioni (FSP/USP) Maria Cecília Focesi Pelicioni (FSP/USP) Witold Zmitrowicz (EP/USP)
PROJETO E PRODUÇÃO GRÁFICA
Laboratório de Programação Gráfica da Nemésio N. Batista Salvador Fernando Fernandes da Silva (NISAM/USP) Maria José Brollo (IG/SMA/SP) Yara Maria Botti M. de Oliveira (Mackenzie)
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Pedro Caetano Sanches Mancuso Francisco Radler (UFRJ) Maria Olímpia Rezende (IQSC/USP)
Suplentes
João Antonio Galbiati
Luis Enrique Sánchez
Bruno Coraucci Filho
ICTR Revista
Brasileira de
ASSOCIE-SE dezembro 2004 Nº 2 • www.fsp.usp.br/nisam • www.ictr.org.br Ciências Ambientais
Benefícios:
Os sócios do ICTR participarão de uma rede entre os professores e
pesquisadores de todas as instituições públicas brasileiras de ensino
e de pesquisa, proporcionando a integração e atualização do
conhecimento na área de resíduos e desenvolvimento sustentável.
Poderão participar dos projetos organizados pelo instituto, assim
como propor e coordenar projetos por meio do ICTR. Os sócios
receberão, ainda, revista publicada pelo instituto e terão descontos
especiais em todos os eventos organizados por este.

Requisitos:
Os sócios do ICTR devem ser professores, pesquisadores ou alunos
de graduação ou pós-graduação das instituições públicas de ensino
e de pesquisa brasileiras, bem como pessoas jurídicas interessadas.

As categorias de sócios são:


Sócios Fundadores – Os professores e pesquisadores com atuação
na área de resíduos, saúde, educação, meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, ligados às universidades públicas do
estado de São Paulo – USP, Unesp, Unicamp, UFSCar, UNIFESP – e
também ao IPT e ao IPEN, que subscreverem a ata de fundação do
ICTR, a qual será mantida aberta pelo prazo de quatro meses a
contar da data do competente ato de registro.
Sócios Regulares – Os professores e pesquisadores e alunos com
atuação na área de resíduos, saúde, educação, meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, ligados às instituições públicas brasileiras
de pesquisa e ensino superior, após o transcurso do prazo
mencionado no item anterior.
Sócios Beneméritos – Os que contribuírem com recursos, materiais
ou humanos, para o desenvolvimento das atividades do instituto.
Sócios Honorários – Os que, por decisão conjunta dos órgãos
colegiados do instituto e por proposta, de iniciativa subscrita por ao
menos dez sócios, merecerem este título em virtude de atuação
destacada na defesa dos ideais pelos quais o instituto propugna,
consoante os objetivos estabelecidos.
Sócios Institucionais – As pessoas jurídicas que vierem a associar-se.

Formulários de inscrição em: www.ictr.org.br/associe.htm

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