Você está na página 1de 19

Cultura Organizacional:

Análise da Produção Científica no Brasil no Período de 2005-2015


Autoria: Mariane Lemos Lourenço, Vanusa Cristina Dario, Maria Eduarda Vendramin

RESUMO: Este artigo tem o objetivo de analisar a produção acadêmica relacionada ao tema
cultura organizacional no âmbito das principais revistas em Administração do Brasil, e dos
principais eventos nacionais na área da Administração entre os anos de 2005 a 2015,
utilizando-se da metodologia de estudo bibliométrico. Os resultados mostraram uma
predominância de publicações sobre o tema cultura organizacional nos eventos nacionais
como: EnANPAD e EnEO. Essa predominância justifica-se pela temática “cultura
organizacional” estar entre os temas de interesse que compõem os eventos. Os resultados
trazem a predominância de publicações de pesquisas de cunho empírico de 75%, e pesquisas
qualitativas de 66%. A pesquisa revelou autores que têm se destacado no cenário brasileiro,
como Alexandre de Pádua Carrieri, Maria Ester de Freitas, Fernando Prestes Motta e Rafael
Alcadipani. Assim como, a prevalência de autores internacionais como Schein, Geert,
Hofstede, Smirch, e Morgan. As considerações finais destacam que os temas clássicos ligados
ao estudo das culturas nacionais apareceram com intensidade nos estudos de cultura
organizacional da última década, o que expressa a força e o interesse para as pesquisas de
autores como Hofstede e seus estudos transculturais, e os trabalhos de Motta ligados ao
estudo da cultura brasileira. Este “olhar” para as pesquisas sobre cultura organizacional na
última década mostrou a emergência de novos temas e autores, e simultaneamente, a presença
marcante de autores e temas já consagrados dentro deste campo de estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura organizacional. Metodologia. Pesquisa bibliométrica.

1
INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo geral analisar a produção acadêmica relacionada ao
tema cultura organizacional no âmbito das principais revistas em Administração do Brasil:
(Organizações & Sociedade (O&S); Cadernos EBAPE.BR, Revista de Administração de
Empresas (RAE), Revista de Administração de Empresas Eletrônica (RAE Eletrônica),
Revista de Administração Contemporânea (RAC), Revista de Administração Contemporânea
Eletrônica (RAC Eletrônica); Revista de Administração Pública (RAP), Revista de
Administração da USP (RAUSP), Brazilian Business Review (BBR), Brazilian
Administration Review (BAR) e Revista de Administração Mackenzie (RAM), e dos
principais eventos na área da Administração (EnANPAD; ENEO; EnGPR e 3Es), por meio de
pesquisa bibliométrica entre os anos de 2005 a 2015.
Como um campo dos estudos organizacionais, a cultura organizacional vem no Brasil
e no exterior, ao longo das últimas décadas, recebendo atenção por parte dos acadêmicos e
dos profissionais da área de Administração. Para Goulart (2012), a Administração constitui
uma área de conhecimento relativamente nova, e que se assenta sobre uma discussão
filosófica a respeito do homem e das organizações por ele criadas; por isto, as descobertas de
algumas ciências como a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, entre outras, têm oferecido
contribuição relevante para a gestão. Enquanto o pensamento filosófico se detém em analisar
homem e organização formal, as ciências acima mencionadas abordam o comportamento
humano, avaliando suas bases biológicas, psicológicas e sociais. Analisam ainda, a relação do
homem com os outros seres humanos, a influência da cultura sobre suas ações e a maneira
pela qual ele produz a riqueza e administra sua vida e a vida de sua empresa.
De acordo com Carrieri, Cavedon e Silva (2008), os estudos dedicados à cultura
organizacional são fundamentais, pois propiciariam maior clareza a respeito da vida
organizacional, promovendo uma reflexão mais crítica sobre as ideias, normas, valores, em
suma, sobre a realidade social e cultural das organizações. Nessa abordagem, estaria centrada
a ideia de cultura como uma metáfora da organização, que seria estudada em termos
ideológicos e simbólicos.
Nesse mesmo sentido, os estudos de Morgan (1998), apontam para a metáfora da
cultura como meio de criar e estruturar as atividades organizadas, por meio de ideologias,
valores, crenças, linguagem, normas e outras práticas que determinam e orientam a ação
organizada, sendo definida como “uma metáfora de considerável relevância para nossa
compreensão das organizações”. (MORGAN, 1998, p.137).
Com base nisso, pretende-se com este trabalho oferecer uma contribuição para o
estado do conhecimento sobre o tema cultura organizacional, na área dos estudos
organizacionais brasileiros. O trabalho está organizado em quatro seções. A primeira
apresenta uma breve revisão conceitual relacionada ao tema cultura organizacional. A
segunda parte relaciona-se à metodologia empregada na pesquisa. A terceira parte traz os
resultados alcançados. E, por fim, a conclusão. Espera-se que este estudo traga bases para a
compreensão do estado da arte do tema cultura organizacional nos estudos organizacionais no
Brasil, visto que dentre os temas desenvolvidos nas pesquisas que compõem a área de
Comportamento Organizacional, a relação organização e individuo, mais especificamente
sobre cultura organizacional, tem se destacado (SOBRAL; MANSUR, 2013).

2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Como um campo dos estudos organizacionais, a cultura organizacional vem no Brasil


e no exterior, ao longo das últimas décadas, recebendo atenção por parte dos acadêmicos e
dos profissionais da área de Administração. (CAVEDON; FACHIN, 2008; GIORGI;
LOCKWOOD; GLYNN, 2015). Na literatura sobre o tema, os conceitos de cultura fornecem
diferentes formas de conhecer o fenômeno cultural. O tema cultura organizacional é
recorrente nos estudos organizacionais, e um grande número de autores tem se dedicado a
escrever sobre suas origens, elementos, e sobre sua importância dentro do contexto das
organizações. (SMIRCICH, 1983; GEERTZ, 1989; PETTIGREW, 1979; MARTIN, 1992;
FLEURY; FISCHER, 1996; MOTTA; CALDAS, 1997; MORGAN, 1998; MACHADO-DA-
SILVA; NOGUEIRA, 2000; MARTIN; FROST, 2001; FISCHER; MAC-ALLISTER, 2001;
FREITAS, 1991, 1999, 2007; CARRIERI; CAVEDON; SILVA, 2008; FLEURY, 2009;
GIORGI; LOCKWOOD; GLYNN, 2015). A diversidade destes estudos se relaciona com a
própria indefinição conceitual de cultura em ciências mais voltadas ao tema, como a
Antropologia e a Sociologia. (AKTOUF, 2012; CARRIERI; LEITE-DA-SILVA, 2008).
Para uma melhor compreensão sobre o tema, elaborou-se um referencial teórico que
busca explicar as origens, e as diferentes conceituações sobre a cultura organizacional. Para
isso, primeiramente, se faz necessário esclarecer o significado da palavra cultura, desde as
suas origens na antropologia até a teoria organizacional. Porém, antes destas análises, é
preciso deixar claro ao leitor, utilizando as palavras de Freitas (2007), “que é preciso ter
clareza de que o conceito de cultura não é universal, tampouco inequívoco”. (FREITAS,
2007, p.11).
O termo cultura tem sua origem atribuída à antropologia, onde os estudos de Geertz
(1989), se destacam. O autor discorre sobre as várias interpretações que a cultura já teve,
como quando comparada a uma realidade “superorgânica”, “com forças e propósitos em si
mesma, uma reificação”. (GEERTZ, 1989, p. 8). O que White (1959, p. 239), chamaria de
“uma entidade mística”. Até a cultura sendo definida como composta por estruturas
psicológicas, por meio das quais os indivíduos ou grupos guiam seu comportamento. Geertz
(1989), traz essas concepções sobre cultura, dentre outras, com o intuito de demonstrar o
quanto as teorias de significado, podem ser perigosas ou distorcidas para a descoberta da
verdade. Para ele, a prática de insinuar teorias, esconde a falta do poder de expressá-las, ou
seja, mais importante do que a conceituação, está a capacidade de interpretação.
Assim, na tentativa de uma integração de interpretações, o autor propõe duas ideias
principais. A primeira é de que a cultura seria um conjunto de mecanismos de controle, como
planos, receitas, regras, instruções, para governar o comportamento. A segunda, seria que o
homem é dependente de tais mecanismos de controle de tais padrões culturais, para ordenar
seu comportamento. Ou seja, na primeira visão, a cultura agencia e controla o comportamento
humano. Na segunda visão, o homem constrói seu comportamento, com a finalidade de
adequar-se, ou não, ao padrão cultural existente. Dessa maneira, o autor quer chamar a
atenção para a relação entre a cultura e o homem. Segundo ele, o conceito de cultura tem
impacto sobre o conceito do homem, como afirma na citação a seguir: “A cultura fornece o
vínculo entre o que os homens são intrinsecamente capazes de se tornar, e o que eles
realmente se tornam, um por um”. (GEERTZ, 1989, p. 37).
Dentro desta temática, Berger e Luckman (1998), com a intenção de explorar o
processo de elaboração do universo simbólico, discorrem acerca de como a realidade é
percebida pelos indivíduos, construída socialmente, e como se dá o processo de legitimação
das regras instituídas pelos grupos. Para estes autores, os indivíduos por meio de processos

3
como o aprendizado, a linguagem e as tradições, passam a compreender a realidade à sua
volta, e compartilhar esta realidade com os outros, por meio destes mesmos processos, as
sociedades legitimam as atitudes consideradas corretas dentro de determinado grupo, assim
como, não aceitam as consideradas incorretas, e punem os seus transgressores. Ao encontro
dessa perspectiva, Fleury e Fischer (1996), afirmam que os indivíduos percebem a existência
da correspondência entre os significados atribuídos aos objetos, e compartilham entre si estes
significados, criando nos grupos um senso comum sobre a realidade.
Nesse sentido, dentro de uma corrente mais interpretativa, a cultura organizacional é
vista como um sistema de significados que é aceito publica e coletivamente por dado grupo
durante certo tempo, assim, significado, compreensão e sentidos compartilhados são todas as
diferentes formas de descrever a cultura organizacional. (PETTIGREW,1996; MORGAN,
1998).
A transição do conceito de cultura para sua aplicação nos estudos organizacionais,
começa a acontecer em meados da década de 1960, de acordo com Fleury (2009), quando as
empresas europeias e norte-americanos tornaram-se multinacionais, expandindo suas
operações para outros continentes, e levando consigo suas práticas de gestão. Morgan (1998)
afirma que o interesse especial pela cultura e suas ligações com a vida organizacional surge,
com efeito, a partir dos anos 80 em decorrência da eficiência das empresas japonesas na
década anterior sobre o modelo americano da produção em massa que havia prosperado
hegemônico até então. Mesmo sem consenso entre os pesquisadores e práticos da
administração até os dias atuais sobre todos os fatores que determinaram tal sucesso da
indústria japonesa, a maioria concorda que a cultura e o modo de vida no Japão
desempenharam um papel importante. Para Cuche (1999), a noção de uma cultura na empresa
não nasceu naturalmente das ciências sociais, mas sim como uma ideia do mundo dos
negócios que foi beber nas fontes da sociologia e antropologia para responder a questões
práticas das organizações.
Smircich (1983) relacionou, em seu artigo considerado clássico, “Concepts of culture
and organizational analysis” (Conceitos de cultura e análise organizacional), cinco
paradigmas representativos das pesquisas antropológicas que foram, segundo sua análise, a
origem das cinco principais correntes de estudos da cultura nas organizações. Para a autora, o
primeiro é o funcionalismo de Malinowski, no qual a cultura é um instrumento a serviço das
necessidades biológicas e psicológicas humanas; este paradigma encontra sua referência nos
estudiosos da Teoria Clássica em Organizações, onde se crê que estas sejam instrumentos
sociais. O segundo paradigma antropológico é o funcionalismo-estrutural, de Radcliffe-Brow,
onde a cultura é um mecanismo adaptativo regulador; sua correlação nos estudos
organizacionais é a Teoria Contingencial, onde organizações são organismos adaptativos em
troca com o ambiente. Estas duas abordagens tem em comum um olhar objetivista da
organização e, por conseguinte, da cultura organizacional. A autora constatou ser esta a
corrente predominante nos estudos científicos, principalmente os norte-americanos e ingleses
dos estudos de cultura organizacional. (SMIRCICH, 1983).
Os outros paradigmas, seguindo com a classificação de Smircich (1983), são
constituídos na perspectiva subjetivista. O terceiro destes é a Etnociência, de Goodenough,
onde a cultura é vista como um sistema de cognições compartilhadas; sua correspondente em
Estudos Organizacionais é a Teoria da Cognição, onde as organizações são vistas como
sistemas de conhecimentos, como rede de significados subjetivos. O quarto é Antropologia
Simbólica, de Geertz (1989), onde cultura é tida como sistema de símbolos compartilhados;
nesta visão, em Estudos Organizacionais tem-se a Teoria do Simbolismo, onde as
organizações são modelos de discurso simbólico. E, em quinto está o paradigma do
Estruturalismo de Lévi-Strauss, onde cultura é uma projeção da infraestrutura universal da

4
mente, são os processos inconscientes; a sua correspondente em Estudos Organizacionais é a
Teoria da Transformação Organizacional, na qual formas e práticas organizacionais são
manifestações de processos inconscientes. (SMIRCICH, 1983).
Juntamente com o interesse pela cultura, como campo fértil nos estudos
organizacionais, nasceram também as discussões epistemológicas sobre o uso dos termos
emprestados da antropologia, portanto normalmente utilizados de modo superficial ou fora de
seu contexto de origem, e consequentes críticas às limitações das diferentes abordagens
(AKTOUF, 2012; CARRIERI, 2008). Por exemplo, ao se assumir a cultura organizacional
como algo possível de ser controlado tem-se como efeito a atribuição de maior poder à alta
administração (SCHEIN, 1992; PETTIGREW, 1996). Motivo pelo qual é chamada de “porta
de emergência do gerente ocidental” nos anos da crise da indústria americana (AKTOUF,
2012).
Schein (1992), ao referir-se ao termo cultura, defende que esta é aprendida, envolve
novas experiências, e pode ser mudada se entendida a dinâmica deste processo. Porém, para
isso é necessário aprender sobre crenças complexas e suposições que realçam o
comportamento social dos indivíduos. Ainda para Schein (1992), a palavra cultura tem muitos
significados e conotações, é um fenômeno profundo, complexo e difícil de entender, porém os
esforços para entender são necessários, uma vez que muitos dos mistérios das organizações
podem se tornar claros quando entendemos a cultura desta organização. Segundo o autor, o
termo cultura é tido como taken for granted na visão das organizações, porém, a cultura
deveria ser vista como uma unidade social estável, e um produto do aprendizado de um grupo,
através de suas experiências, pois o conceito de cultura está enraizado nas teorias dos grupos
que a cultura envolve.

Muitos de nós vivemos em organizações e nos ocupamos com elas. O campo da


psicologia organizacional e sociologia tem desenvolvido uma variedade de conceitos
para entender o comportamento individual nas organizações, e as formas como as
organizações se estruturam, assim o conceito de cultura organizacional procura
elucidar esta área (SCHEIN, 1992, p.430).

Na perspectiva de Hofstede (1990), ao falar de dimensões culturais, afirma que não há


consenso sobre a definição de cultura organizacional, mas a maioria dos autores,
provavelmente, chega a um acordo sobre as seguintes características do construto cultura
corporativa organizacional: a cultura organizacional é global, determinada historicamente,
relacionada com os conceitos antropológicos, construída socialmente, e difícil de mudar.
Para Hofstede (1985), as organizações têm sistemas de valores predominantes que
fazem parte da cultura da organização. Estes sistemas de valores mostram um componente
nacional de acordo com a nacionalidade dos fundadores da organização e da elite dominante.
O autor afirma que em uma escala menor, as organizações têm suas culturas e seus sistemas
de valores. Como as histórias de organizações são mais acessíveis do que as de nações, as
relações entre os valores e a dos fundadores, os valores da organização são mais claramente
rastreáveis.
De acordo com a pesquisa de Hofstede (1985), os sistemas de valores predominantes
nas organizações são: Distância do poder, para a qual se entende que o poder em instituições e
organizações são distribuídos inadequadamente; Prevenção da incerteza, o que os leva a
acreditarem em crenças que prometem certeza e a se manterem em instituições que protegem
a conformidade; Individualismo, significando uma preferência por uma estrutura social pouco
unida na sociedade em que os indivíduos supostamente deveriam tomar conta de si mesmos e
seus familiares próximos somente; e a Masculinidade, significando uma preferência para a
realização, o heroísmo, a assertividade e materiais de sucesso, em oposição a feminilidade,
5
que significa uma preferência por relações, modéstia, cuidar dos mais fracos e a qualidade de
vida
Para Martin (1992), a questão da cultura nas organizações, tem outras três possíveis
perspectivas: a da Integração, da Diferenciação e da Fragmentação. Na perspectiva da
Integração temos a cultura organizacional na visão funcionalista, vista como uma variável
administrável. Diferenciação, na qual existe além da cultura abrangente da organização
coexistem também as subculturas dos grupos. Fragmentação o que temos são valores
partilhados temporariamente pelos indivíduos na organização, num processo historicamente
construído. Esta abordagem entende que culturas em organizações são processos contínuos,
que necessitam ser analisados de forma interpretativa e, mergulhada no contexto, na história
social-cultural e na biografia dos trabalhadores (CARRIERI, 2008). O uso do termo no plural,
com culturas nas organizações, denotando a existência de várias culturas ou subculturas
coexistindo em uma mesma organização com a cultura organizacional, é fruto desta linha de
estudos. (MARTIN, FROST, 2001).
Os pressupostos ontológicos que os pesquisadores assumem quanto às definições a
cerca de o que entendem por “organização” e “cultura”, combinados com suas visões sobre a
natureza humana, os estudos do tema cultura organizacional sobre duas formas distintas
apresentam-se de forma dicotômica, mas sobretudo, antagônicas segundo a já comentada
análise de Smircich (1983).
Existe, contudo, certo consenso no fato de que a representação mais consistente de si
que as organizações compõem é a própria cultura que se desenvolve entre seus membros
(ENRIQUEZ, 2002). Para Morgan (1998), a metáfora da organização vista como cultura
remete a repensar o funcionamento corporativo sob praticamente todos os aspectos, como a
estratégia, a estrutura e a natureza de líderes e da gestão. Isto leva ao pressuposto que as
organizações são realidades socialmente construídas. Se entendermos as empresas como
construções sociais, sujeito e objeto da realidade da qual fazem parte, não é difícil identificar
sua participação nas transformações do mundo nas últimas décadas, pois seja pelo poder
econômico que possuem, seja pelo conjunto de competências técnicas de que dispõem, as
organizações estão entre as instituições mais influentes nos rumos da sociedade nos dias
atuais. (VERGARA, BRANCO, 2001; MORGAN, 1998).
Na perspectiva do antropólogo Dupuis (2012, p.246), temos a seguinte definição para
cultura em organizações:

A cultura organizacional não é determinada pelo ambiente; ela se estrutura,


sobretudo, pelo jogo dos atores que agem na organização e o fazem em um ambiente
de múltiplas interações. Todo este processo não é unidirecional, determinista, pois,
em um mesmo movimento de volta, as organizações e os atores participam da
estruturação da sociedade, de suas instituições, de sua cultura, que lhes serve de
quadro para a ação.

A partir desta conceituação tem-se um prisma ampliado de influência da cultura na


organização em todas as suas dimensões, à medida que pressupõe a cultura como uma
construção social da qual participam todos os membros organizacionais ela traz a cultura
como estruturante na constituição da própria institucionalização da organização.
Não cabe a este estudo apontar caminhos ou abordagens sob quaisquer pontos de vista,
mas antes apresentar as diferentes vertentes do estudo da cultura organizacional. Não podendo
deixar de citar, desta forma, algumas das perspectivas críticas sobre o tema cultura
organizacional que levaram a reflexões sobre os mais diversos temas relacionados à relação
das organizações com os indivíduos. Como os efeitos gerados pelo poder (PAGÉS, 1987;
CHANLAT, et al., 2012; CLEGG, 1994; ENRIQUEZ, 2006; SEGNINI, 1996; FLEURY,

6
FISHER, 1996), a sedução e o carisma das organizações (FREITAS, 1999), o feitiço do
universo organizacional (SCHIRATO, 2000), ou a neurose profissional no contexto
organizacional (AUBERT, 2012). Todas estas pesquisas abordam questões complexas dos
aspectos culturais nas organizações e remetem às representações que as organizações retratam
de si, uma vez que o conceito de cultura organizacional não pode ser materializado, mas
adquire tangibilidade por meio da maneira de se fazer e pensar na organização.
Na produção científica brasileira da primeira década deste século foram identificados
como temas mais recorrentes associados com a cultura organizacional, em ordem decrescente
de importância: a mudança organizacional, a identidade organizacional, o comprometimento
no trabalho, a formação profissional, a aprendizagem organizacional, o ambiente
organizacional, a cultura, a teoria das organizações e organizações públicas (PEREIRA et al.,
2010).
Estudos indicaram, por exemplo, que a sustentação de uma organização inovadora
passa por sua cultura, pois a capacidade de inovar está nas habilidades e atitudes das pessoas,
que podem ser encorajadas por uma cultura organizacional que evoque a participação,
propicie o trabalho em equipe ou estimule a criatividade e a inovação como condutas
habituais (DOBNI, 2008; STEELE, MURRAY, 2004; KAASA, VADI, 2010; LAEGREID et
al., 2011). Outra pesquisa identificou forte evidência da relação da cultura organizacional com
a cultura de inovação, mostrando que a cultura de inovação é parte da cultura maior de uma
organização. (BRUNO-FARIA; FONSECA, 2014). A cultura organizacional também tem
despertado interesse no campo dos estudos mercadológicos, ao ser reconhecida como a base
da cultura de marca e influenciadora da criação desta (YANG, 2010).
Em relação aos artigos relativos ao campo do Comportamento Organizacional podem-
se citar os seguintes estudos encontrados na referida pesquisa, que representam a corrente
positivista e integracionista: como o desempenho organizacional e a atividade inovadora
(LAEGREID et al., 2011); o efeito da autonomia no trabalho sobre a satisfação no trabalho e
o comprometimento organizacional (NAQVI et al., 2013); a produção local de conhecimento
e estrutura (FINE; HALLETT, 2014).
Muitas ainda são as motivações para se estudar as questões que envolvem a cultura
nas organizações, mesmo após tantas abordagens diversas. Este campo de estudos
organizacionais mostra-se ainda fértil para novas investigações que tragam luz aos processos
de interação entre homem e organizações. A partir destes elementos conceituais, aqui
apresentados, foi possível conduzir a pesquisa, segundo os procedimentos metodológicos
detalhados a seguir.

METODOLOGIA

De acordo com Fleury e Fischer (1996), a proposta de estudar o tema cultura


organizacional apresenta o desafio de encontrar caminhos metodológicos inovadores e
interessantes. Observa-se, porém, que o tema guarda uma simplicidade aparente, que
confunde a maioria dos pesquisadores. Dessa maneira, procurou-se sintetizar linhas teóricas, e
discutir suas potencialidades e limites para a pesquisa no campo da cultura das organizações.
Para a realização deste trabalho, utilizou-se de uma pesquisa qualitativa, por meio de
um estudo bibliométrico, que tem por escopo analisar a produção acadêmica relacionada ao
tema cultura organizacional no âmbito das principais revistas em administração do Brasil, e
dos principais eventos na área da Administração, por meio de pesquisa bibliográfica entre os
anos de 2005 a 2015.

7
Em relação ao procedimento adotado para a elaboração e a efetivação da pesquisa,
foi escolhido o método denominado bibliometria. Os estudos bibliométricos são aqueles que
tentam quantificar os estudos de determinada área. Esse método de estudos é importante por
mostrar os trabalhos, as teorias e os autores que estão sendo usados para a difusão e o
desenvolvimento do capital científico da área estudada e para o seu desenvolvimento
cronológico. A bibliometria é um método de análise de produção científica estatístico, ou não,
de baixo custo, que permite traçar o perfil do capital científico, e que possibilita identificar
tendências e crescimento do conhecimento no campo tratado (Vanti, 2002). Ainda, a
bibliometria permite a construção de indicadores que possam embasar uma análise
quantitativa das publicações mais relevantes (Guedes & Borschiver, 2005).
Considerando que a unidade de análise desta pesquisa são publicações, os dados
deste trabalho constituíram-se de artigos publicados entre 2005 a 2015 nos principais
periódicos de Administração brasileiros que estão classificados de acordo com os critérios da
CAPES (Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) partindo-se das notas
entre A2 e B2. E, nos eventos da Associação Nacional de Pós-graduação e pesquisa em
Administração (ANPAD).
Os periódicos e eventos selecionados precisariam ter em suas publicações o tema
“cultura organizacional” para focar no tema, em sua terminologia mais clássica. No entanto, é
necessário destacar que entre os periódicos selecionados, alguns não figuraram na análise,
pois apesar de possuírem a nota entre os critérios da CAPES, não tinham artigos quando
selecionada a busca pelo título, ou pela palavra-chave: cultura organizacional. Deste modo,
obteve-se os seguintes periódicos: Organizações & Sociedade (O&S); Revista de
Administração de Empresas (RAE), Revista de Administração de Empresas Eletrônica (RAE
Eletrônica), Revista de Administração Contemporânea (RAC), Revista de Administração
Contemporânea Eletrônica (RAC Eletrônica), Revista de Administração Pública (RAP),
Revista de Administração da USP (RAUSP), Cadernos EBAPE.BR, Brazilian Business
Review (BBR), Brazilian Administration Review (BAR) e Revista de Administração
Mackenzie (RAM). Em relação aos eventos nacionais, foram estabelecidos com base no
título, ou nas palavras-chave “cultura organizacional” e, obtiveram-se os seguintes:
EnANPAD; ENEO; EnGPR e 3Es.
Posterior a seleção das revistas e dos periódicos que comporiam este estudo,
executou-se uma investigação nas bases de dados destas revistas e também dos periódicos,
empregando-se o termo “cultura organizacional”. Após o procedimento de análise destes
artigos, verificou-se que apesar de contemplarem a palavra “cultura organizacional” em seus
títulos, resumos ou palavras-chave, não possuíam o escopo que esta pesquisa possui, de
contemplar pesquisas na área de estudos organizacionais, estando mais ligados a outras áreas
como marketing, por exemplo.
Dessa forma, chegou-se ao número final de 108 artigos, que atenderam aos critérios
estabelecidos para a pesquisa. A partir deste resultado, procedeu-se um estudo de cada um
destes trabalhos, para se chegar aos elementos que serão mostrados na próxima seção. O
estudo detalhado dos artigos selecionados na pesquisa, foram realizados por todos os
pesquisadores envolvidos no trabalho, que procederam a análise em separado, e depois os
resultados foram confrontados pelo grupo de pesquisadores, que em conjunto procederam a
análise de cada trabalho.
Na dimensão perfil metodológico foi adotada a categorização que divide os estudos
em empíricos; teórico-empíricos e teóricos. foram classificados em qualitativos, quantitativos
ou mistos. Foram delineadas sete classificações possíveis para os trabalhos qualitativos
(Grounded Theory, etnografia, revisão teórica e estudo de caso). Em todos os estudos, foram
coletados dados sobre os diversos procedimentos de coleta e análise de dados.

8
Quanto à temática abordada nos artigos, a interseção da teoria da organização e
teoria da cultura é manifesta em várias áreas de conteúdo que sejam de interesse para a
organização e gestão de estudiosos. Assim, foi possível destacar uma maior frequência de
pesquisas que focam o tema cultura organizacional em relação com os seguintes temas:
Simbolismo, Estudos Teóricos propondo a comparação entre autores no campo, Estratégia,
Gestão de Pessoas, Cultura Comparativa, Práticas, Aprendizagem Organizacional, Identidade,
Poder, entre outros.
Os procedimentos aqui detalhados, serviram de base para o estudo dos 108 artigos
publicados em periódicos e eventos no período de 2005 a 2015. A discussão e os resultados
obtidos serão apresentados a seguir.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta parte do trabalho serão trazidas as informações e discussões alcançadas com


base na análise dos 108 artigos selecionados sobre “cultura organizacional”, segundo a
metodologia proposta para este estudo.
Tabela 1 – Relação Local de Publicação e Ano

Local de
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Total
publicação
ENANPAD 2 4 10 5 3 3 5 3 2 4 5 46
EnEO 0 2 0 4 0 3 0 2 0 3 0 14
3Es 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 1 3
EnGPR 0 0 2 0 2 0 0 0 1 0 3 8
EnEPQ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
ERA 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 2
RAUSP 0 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 4
RAM 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 3
O&S 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 2
RAC 0 2 0 0 1 1 0 0 0 1 1 6
RAC
0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 2
Eletrônica
BAR 0 0 0 0 1 1 1 0 0 0 1 4
RAE
1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1
eletrônica
BBR 0 0 0 0 0 1 0 0 0 2 0 3
Cadernos
0 1 0 0 0 0 1 1 0 2 1 6
EBAPE.BR
RAP 0 1 0 1 0 0 1 0 0 0 1 4
Total Geral 3 11 15 10 10 10 10 7 5 13 14 108

Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

Os artigos foram analisados segundo a sua distribuição nos anos em que foram
publicados e também quanto ao local de publicação, conforme mostra a tabela 1, que retrata
que o maior índice de publicações em relação ao tema em Eventos aconteceu no ano de 2007,
9
com 12 publicações, somando-se os trabalhos do EnANPAD e EnGPR. Já com relação aos
periódicos, o ano de 2014, apresentou o maior índice de publicações com 06 artigos, nos 11
anos em que a pesquisa foi realizada. Entre os locais de publicação, pode-se constatar uma
predominância dos eventos nacionais como o EnANPAD e EnEO. Essa predominância pode
justificar-se devido a amplitude e destaque destes eventos no cenário nacional de estudos
organizacionais e por apresentarem a temática relacionada à “cultura organizacional“ dentre
os temas de interesse que o compõem cada edição. Nestes eventos, as discussões envolvendo
o tema “cultura organizacional” pautam-se em: “globalização e cultura de negócios; poder e
simbolismo em organizações; identidade em organizações; espaço, tempo e territorialidade no
trabalho” (EnANPAD, 2015), entre outros aspectos.
Para uma verificação mais detalhada dos locais de publicação, uma vez separados em
periódicos e eventos, destacam-se 71 artigos publicados em 4 diferentes eventos, este valor
corresponde a 76,68% do total de publicações. Com destaque para o evento EnANPAD que
publicou no período de 2005 até 2015, 46 artigos, de modo que representam 49,68% do total
de artigos que foram encontrados nos periódicos e eventos no período analisado. Com relação
às publicações realizadas nos 11 periódicos que foram analisados, destacam-se dois
periódicos que possuem o mesmo número de artigos publicados, a Revista de Administração
Contemporânea (RAC) e o Cadernos Ebape, cada uma com 6 artigos, o que corresponde a
32,43% dos 37 artigos publicados em periódicos. Uma vez que existe uma diferença entre a
quantidade de publicações em periódicos e eventos, a figura 1 representa a distribuição de
publicações no decorrer do período analisado.

Figura 1 – Publicações Eventos e Periódicos

Fonte: Elaborado pelos autores, 2016.

Dentre o total de 108 artigos selecionados, foi analisado o tipo de estudo dentre as
pesquisas empíricas e ensaios teóricos (Tabela 2) de modo que é possível destacar a
predominância de publicações de pesquisas de cunho empírico (75%).

10
Tabela 2 – Tipo de Estudo

Tipo de Estudo Frequência Absoluta Frequência Relativa


Pesquisa
Empírica 81 75%
Ensaio Teórico 26 24%
Misto 1 1%
Total Geral 108 100%

Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

Com relação a natureza do estudo dos artigos analisados, a classificação ocorreu de


acordo com a esfera qualitativa, quantitativa ou mista. Grande parte dos artigos analisados
utilizam-se de pesquisas qualitativas para delinear seus estudos (tabela 3). Possivelmente, a
escolha por pesquisas qualitativas, se deve não só porque as bases fundamentais iniciaram-se
com essa natureza de estudo, mas por apresentar fundamentos que possibilitam analisar a
complexidade do tema frente aos diferentes contextos sociais pelos quais a cultura se
desenvolve. À abordagem qualitativa de acordo com Creswell é “um processo de investigação
baseada em distintas tradições metodológicas que exploram um problema social ou humano”
(2010, p. 15).

Tabela 3 – Natureza do Estudo

Natureza do
Frequência Absoluta Frequência Relativa
Estudo
Qualitativo 71 66%
Quantitativo 33 30%
Misto 4 4%
Total Geral 108 100%

Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

Quanto à temática abordada nos artigos, percebe-se que os estudos sobre a cultura
organizacional tem se dedicado a entender novas relações com o tema. Por exemplo,
relacionando a cultura organizacional com a estratégia como o trabalho de Kich e Pereira
(2011); com o poder, como o trabalho de Pereira, Santos e Brito (2006), Cavalcanti e Duarte
(2012); Ferraz (2011); com a cultura de inovação como o trabalho de Bruno-Faria e Fonseca
(2014); com as práticas culturais e competências como o trabalho de Fleury (2009); com a
aprendizagem organizacional, como o trabalho de Queiroz, Lima e Ferraz (2012). Já o estudo
de Barreto et al., (2013) mostrou existir uma inter-relação entre cultura e liderança, no que diz
respeito aos mecanismos para o desenvolvimento cultural e o reforço de normas e
comportamentos expressos dentro das fronteiras da cultura. Neste estudo foi possível destacar
uma maior frequência de pesquisas que focam o tema cultura organizacional em relação com
os seguintes temas: Simbolismo, Estudos Teóricos propondo a comparação entre autores no
campo, Estratégia, Gestão de Pessoas, Cultura Comparativa, Práticas, Aprendizagem
Organizacional, Identidade, Poder, entre outros temas, conforme mostra a Tabela 04
apresentada a seguir.

11
Tabela 4 – Temas de Estudos Relacionados à Cultura Organizacional

Frequência
Tema relacionado Frequência Relativa
Absoluta
Simbolismo 18 17%
Estratégia 14 13%
Revisão Teórica 13 12%
Gestão de Pessoas 12 11%
Aprendizagem organizacional 8 7%
Cultura comparativa 7 6%
Outros 6 6%
Comunidades de Prática 6 6%
Identidade 5 6%
Inovação 4 4%
Poder 4 4%
Administração Pública 3 3%
Mudança Organizacional 3 3%
Liderança 2 2%
Marketing 2 2%
Empreendedorismo 1 1%
108 100%

Continuação da Tabela 4
Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

A partir dos temas de estudo em cultura organizacional, foi possível verificar as


estratégias de pesquisa utilizadas nestes estudos. Por sua vez, destaca-se uma predominância
de pesquisas que utilizam estudo de caso. A escolha pelo estudo de caso pode revelar uma
preocupação dos pesquisadores em analisar de maneira aprofundada a “cultura
organizacional”, bem como os significados e características subjacentes apresentadas pelos
entrevistados (CRESWEL, 2010; RICHARDSON, 2012). Embora, a identificação da
estratégia de pesquisa possa ser passível de ser identificada de outras formas, destaca-se aqui
a questão da necessidade de uma melhor especificação dos critérios metodológicos que são
empregados pelos autores, principalmente nas pesquisas empíricas.

12
Tabela 5 – Estratégias de Pesquisa

Estratégia de Estudo Frequência Absoluta Frequência Relativa


Estudo de Caso Único 40 37%
Estudo de Casos Múltiplos 33 30%
Revisão Teórica 20 18%
Etnografia 7 6%
Bibliométrico 6 5%
Grounded Theory 2 2%
Total Geral 108 100%

Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

As tabelas abaixo, tabelas 06 e 07, ilustram os principais autores citados nos 108
artigos selecionados, divididos entre os autores brasileiros e internacionais. Destaca-se em
especial, os 3 mais mencionados: Edgar Schein com 85 menções (internacional), Fernando
Prestes Motta com 64 citações (nacional) e Hofstede com 52 menções (internacional).
Tabela 6 – Principais Autores Internacionais

Autores Internacionais Número de Citações


Edgar Schein 91
Geert Hofstede 54
Joanne Martin 29
Linda Smircich 22
Gareth Morgan 20
Joseph F. Hair Jr. 18
Henry Mintzberg 16
Andrew Pettigrew 15
Clifford Geertz 15
Omar Aktouf 12
Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

Os autores internacionais mais citados configuram-se como autores de referência para


o tema de cultura. É interessante notar o distanciamento entre o autor mais citado, Schein (91
menções) e Hofstede que assume a segunda colocação (com 54 menções). A média para os
autores internacionais na tabela acima é de 29,2, valor que muito se aproxima da média dos
autores nacionais, a qual vem a ser 28,7, essa não disparidade entre os valores demonstra que
a há grande equilíbrio em relação à escolha de referências nacionais e internacionais.

13
Tabela 7 – Principais Autores Nacionais

Autores Nacionais Número de Citações


Fernando C. Prestes Motta 64
Maria Ester de Freitas 52
Maria Tereza Leme Fleury 38
Neusa Rolita Cavedon 32
Roberto DaMatta 24
Rafael Alcadipani 21
Lívia Barbosa 20
Alexandre de Pádua Carrieri 13
Miguel Pinto Caldas 12
Pedro Jaime Júnior 11
Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

A amplitude dos autores nacionais é menor do que a dos internacionais e assim como
nesses, a presença de brasileiros referência no tema de cultura é notória. A participação dos
autores mais citados e sua importância para o estudo do tema cultura é de extrema
importância, o que é destacado pelo fato de que em 108 trabalhos analisados, 91 deles leva o
nome de Edgar Schein, seguido por outras participações expressivas já citadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve a finalidade principal de analisar a produção acadêmica


relacionada ao tema cultura organizacional no âmbito das principais revistas em
Administração do Brasil, e dos principais eventos nacionais na área da Administração entre os
anos de 2005 a 2015. Assim, a investigação realizada se apresenta como uma importante
contribuição para a descrição e o entendimento da produção científica contemporânea sobre
cultura organizacional, no âmbito da Administração.
As pesquisas sobre o tema “cultura organizacional” têm se mostrado prevalentes na
última década, atraindo os pesquisadores para o assunto, revelando a importância do tema
para os estudos organizacionais. Os dados revelaram a presença marcante do tema em
Eventos, como o EnANPAD e EnEO, e, em periódicos com destaque para o Cadernos Ebape
e a Revista de Administração Contemporânea (RAC).
Um aspecto relevante foi a prevalência de pesquisas qualitativas, e novos temas de
estudo, relacionados a Gestão de Pessoas, Simbolismo e Comunidades de Prática, além dos
estudos mais clássicos relacionados a Cultura Comparativa.
Os novos temas de estudo ligados por exemplo, aos temas de Gestão de Pessoas,
Simbolismo e Identidade, marcam autores que têm se dedicado ao tema no cenário brasileiro,
como Alexandre de Pádua Carrieri, ao lado de trabalhos já clássicos como os Maria Ester de
Freitas, Fernando Prestes Motta e Rafael Alcadipani. Assim como a prevalência de autores
internacionais, mais clássicos, como Edgar Schein, Geert Hofstede, Joanne Martin, Linda
Smirch, e Gareth Morgan, com trabalhos escritos entre os anos 1980 e 1990.
Os temas clássicos ligados ao estudo das culturas nacionais aparecem com força nos
estudos da última década, o que expressa a força e o interesse para as pesquisas de autores
como Hofstede e seus estudos através das culturas, e os trabalhos de Motta ligados ao estudo
da cultura brasileira.
14
Este “olhar” para as pesquisas sobre “cultura organizacional” na última década mostra
a emergência de novos temas e autores, e simultaneamente a presença marcante de autores e
temas já consagrados dentro deste campo de estudo.
Porém, conforme Freitas (1991), “No Brasil, o tema cultura organizacional é, ainda,
tratada de maneira bastante secundária”. (FREITAS, 1991, XVIII). Diante deste cenário,
muitas ainda são as motivações para se estudar as questões que envolvem a cultura nas
organizações, mesmo após tantas abordagens diversas. Este campo de estudos organizacionais
mostra-se ainda fértil para novas investigações que tragam luz aos processos de interação
entre homem e organizações.
Outra abordagem importante dos estudos críticos da cultura organizacional refere-se
a questão da contracultura. Para Freitas (1991), assumir a existência de uma contracultura,
implica aceitar que numa organização podem coexistir diversas culturas, questão ainda muito
polêmica. Porém, mais do que aceitar a existência de várias culturas, é ter que aceitar o
antagonismo presente nesta relação.
Assim, sugere-se que estudos futuros busquem aprofundar a análise da cultura
organizacional, e as relações que esta mantêm com outros processos organizacionais.
Recomenda-se ainda, estudos críticos da cultura organizacional, como a questão da
contracultura, conforme sugerido por Freitas (1991).

REFERÊNCIAS

AKTOUF, O. O simbolismo e a cultura de empresa: dos abusos conceituais às lições


empíricas. In: CHANLAT, J. F. (Coord.). O indivíduo na organização: dimensões
esquecidas. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2012, 2 v.

AUBERT, N. A neurose profissional. In: (Org.) CHANLAT et al. O indivíduo na


organização: dimensões esquecidas. Trad. Ofélia Torres. Atlas: São Paulo, Vol II, p.163-
194. 2012.

BARRETO, L. M. T. S.; KISHORE, A.; REIS, G. G.; BAPTISTA, L. L.; MEDEIROS, C. A.


F. Cultura organizacional e liderança: uma relação possível? Revista de Administração, v.
48, n. 1, p. 34–52, 2013.

BERGER, P. L.; LUCKMAN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia


do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1998.

BRUNO-FARIA, M. DE F.; FONSECA, M. V. DE A. Cultura de Inovação: Conceitos e


Modelos Teóricos. Revista de Administração Contemporânea, v. 18, n. 4, p. 372–396, 2014.

CARRIERI, A. P; CAVEDON, N. R; SILVA, A. R. L. Cultura nas organizações: uma


abordagem contemporânea. Ed. Juruá, 2008.

CARRIERI, A. P; LEITE-DA-SILVA, A. R. Cultura organizacional versus cultura nas


organizações: conceitos contraditórios entre o controle e a compreensão. In: MARCHIORI,
M. et al. Faces da cultura e da comunicação organizacional. 2. ed. São Paulo: Difusão
Editora, 2008.

15
CAVALCANTI, M. F. R.; DUARTE, M. F. Cultura Organizacional e Poder: a
Possibilidade de Utilização da Noção de Poder Focaultiana na Análise da Cultura
Organizacional. VII Encontro de Estudos Organizacionais da ANPAD. Mai. 2012.

CAVEDON, N. R; FACHIN, R. C. Homogeneidade versus heterogeneidade cultural: um


estudo em universidade pública. In: CARRIERI, A. P; CAVEDON, N. R; SILVA, A. R. L.
Cultura nas organizações: uma abordagem contemporânea. Ed. Juruá, 2008.

CHANLAT, J.F. et al. O Indivíduo na Organização: Dimensões Esquecidas. Trad. Ofélia


Torres. v. lII. Atlas: São Paulo. 2012.

CLEGG, S. Poder, linguagem e ação nas organizações. In: CHANLAT, J. F. (coord.) O


indivíduo na organização: dimensões esquecidas – v. II. pp. 47-66, São Paulo: Atlas, 1994.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto.


Tradução Luciana de Oliveira da Rocha. - 2. ed. - Porto Alegre: Artmed, 2010.
CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. Tradução Viviane Ribeiro. Bauru:
EDUSC. 1999.

DOBNI, C. B. Measuring innovation culture in organizations: the development of a


generalized innovation culture construct using exploratory factor analysis. European
Journal of Innovation Management, 11(4), p. 539-559. 2008.

DUPUIS, J. P.; Antropologia, Cultura e Organização: Proposta de um Modelo Construtivista.


Tradução: Maria Helena C. V. Trykinski. In:(Org.) CHANLAT et al. O Indivíduo na
Organização: Dimensões Esquecidas, V.III, p. 231-252. São Paulo, Atlas. 2012.

ENANPAD 2015. EOR. Estudos Organizacionais. Temas de Interesse. Tema 08.


Simbolismos, Culturas e Identidades em Organizações. Disponível em:
<http://www.anpad.org.br/~anpad/eventos.phpcod_evento=1&cod_evento_edicao=78&cod_e
dicao_subsecao=1135> Acesso em: 19 set. 2015.

ENRIQUEZ, E. O homem do século XXI: sujeito autônomo ou indivíduo descartável


Université Paris VII. RAE-eletrônica, v. 5, n. 1, Art. 10, jan./jun. 2006.

ENRIQUEZ, E. Vida psíquica e organização. Trad. Maria Ester de Freitas. In: MOTTA, F. C.
P.; FREITAS, M. E. DE. Vida psíquica e organização. Rio de Janeiro: FGV. p.11-22. 2002.

FERRAZ, Deise Luiza da Silva. Processos decisórios e aspectos simbólicos: um estudo das
culturas organizacionais da Feira do Livro de Porto Alegre. Organ. Soc., Salvador, v. 18,
n. 56, p. 77-98, mar. 2011

FINE, G. A.; HALLETT, T. Group Cultures and the Everyday Life of Organizations:
Interaction Orders and Meso-Analysis. Organization Studies, v. 35, n. 12, p. 1773–1792,
2014.

16
FISCHER, T.; MAC-ALLISTER, M. Jogando com cultura organizacional. In: CLEGG, S;
HARDY, C; NORD, W. R. Handbook de estudos organizacionais. Vol. 2. São Paulo: Atlas,
2001.

FLEURY, M. T. L. Organizational Culture and the Renewal of Competences. BAR,


Curitiba, v. 6, n.1, p. 1-14, 2009.

FLEURY, M. T. L.; FISCHER, R. M. Cultura e poder nas organizações. 2 ed. São Paulo:
Atlas, 1996.

FREITAS, M. E. DE. Cultura organizacional: identidade, sedução e carisma? Rio de


Janeiro: Editora FGV, 1999.

FREITAS, Maria Ester. Cultura organizacional: evolução e crítica. Ed. Cencage Learning.
2007.
FREITAS, Maria Ester. Cultura organizacional: formação, tipologias e impactos. São
Paulo: Makron, McGraw-Hill, 1991.

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. 1.ed., Rio de Janeiro: LTC Editora, 1989.

GIORGI, S; LOCKWOOD, C; GLYNN, M. A. The Many Faces of Culture: Making


Sense of 30 Years of Research on Culture in Organization Studies. The Academy of
Management Annals, 2015.

GOULART, I. B. Subjetividade nas organizações. In: VIEIRA, A; GOULART, I. B.


(coords.). Identidade e subjetividade na gestão de pessoas. Curitiba: Juruá, 2012.

GUEDES, V. L. S., & BORSCHIVER, S. (2005). Bibliometria: uma ferramenta estatística


para a gestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de
comunicação e de avaliação científica e tecnológica. Recuperado em 15 set., 2010, de
Diálogo Científico: http://dici.ibict.br/archive/00000508/

HOFSTEDE, G. The interaction between national and organizational value systems.


Journal of Management Studies, v. 22, n. 4, 1985.

HOFSTEDE, G.; NEUIJEN, B.; OHAVY, D. D.; SANDERS, G. Measuring Organizational


Cultures: a qualitative and quantitative study across twenty cases. Administrative
Science Quarterly, v. 35, 1990.

KAASA, A., VADI, M. How does culture contribute to innovation? Evidence from
European. 2010.

KICH, J. I. F.; PEREIRA, M. F. A influência da liderança, cultura, estrutura e


comunicação organizacional no processo de implantação do planejamento estratégico.
Cad. EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 9, n. 4, p. 1045-1065, dez. 2011.

LAEGREID, P.; RONESS, P. G.; VERHOEST, K. Explaining the Innovative Culture and
Activities of State Agencies. Organization Studies, v. 32, n. 10, p. 1321–1347, 2011.

17
MACHADO-DA-SILVA, C. L.; NOGUEIRA, E. P. S. Instituições, cultura e identidade
organizacional. EnEO, 2000. Curitiba. Anais...Curitiba: Cromos, 2000.

MARTIN, J. Cultures in organizations: three perspectives. New York: Oxford University


Press, 1992.

MARTIN, J.; FROST, P. Jogos de guerra da cultura organizacional: a luta pelo domínio
Intelectual. In: CLEGG, S.; HARDY, C.; NORD, W. R. Handbook de Estudos
Organizacionais. São Paulo: Atlas, 2001.

MORGAN, G. A criação da realidade social: as organizações vistas como culturas. In:


MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo, Atlas, 1998.

MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo, Atlas, 1998.

MOTTA, F. C. P; CALDAS, M. P. Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São


Paulo: Atlas, 1997.

NAQVI, S. M. M. R.; ISHTIAQ, M.; KANWAL, N.; ALI, M. Impact of Job Autonomy on
Organizational Commitment and Job Satisfaction: The Moderating Role of
Organizational Culture in Fast Food Sector of Pakistan. International Journal of Business
and Management, v. 8, n. 17, p. 92, 2013.

PAGÈS, M. et al. O poder das organizações. São Paulo: Atlas, 1987.

PEREIRA, M. C.; SANTOS, A. C.; BRITO, M. J.. Tecnologia da informação, cultura e


poder na Polícia Militar: uma análise interpretativa. Cad. EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v.
4, n. 1, p. 01-18, Mar. 2006.

PEREIRA, V.S.; PASSOS, J.C.; CARVALHO, L. Cultura O Quê? Um Estudo


Bibliométrico da Produção Científica Brasileira e Administração sobre Cultura
Organizacional da Última Década (1998-2009). Anais SIMPOI, 2010.

PETTIGREW, A.M. A cultura das organizações é administrável. In: FLEURY; M.T.L;


FISHER, R. M. Cultura e poder nas organizações. 2 ed. p.145-154. São Paulo: Atlas, 1996.

PETTIGREW, A.M. On Studying Organizational Cultures. Administrative Science


Quarterly, v. 24, 1979. 

QUEIROZ, G. C.; LIMA, T. C. B.; FERRAZ, S. B. Cultura de Aprendizagem e


Privatização. Estudo de Caso na Transnordestina. XXXVI Encontro da ANPAD. Rio de
Janeiro. Set. 2012.

RICHARDSON, R. J.; Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas, 2012.

SCHEIN, E. H. Organizational Culture and Leadership, Jossey-Bass Publishers, San


Francisco, CA. 1992.

18
SCHIRATO, M. A. R. O Feitiço das Organizações: Sistemas Imaginários. São Paulo: Atlas.
2000.

SEGNINI, L.R.P. Sobre a identidade do poder nas relações de trabalho. In: In: FLEURY;
M.T.L; FISHER, R. M. Cultura e poder nas organizações. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1996.

SMIRCICH, L. Concepts of Culture and Organizational Analysis. Administrative Science


Quartely, v.28, p:339-358. 1983.

SOBRAL, F. J. B.A.; MANSUR J. A Produção científica brasileira em comportamento


organizacional no período 2000-2010. RAE. São Paulo v. 53 n. 1. p. 21-34. jan/fev. 2013.

STEELE, J., MURRAY, M. Creating, supporting and sustaining a culture of innovation.


2004. Disponível em
<http://www.emeraldinsight.com/doi/full/10.1108/09699980410558502>.

VANTI, N. A. P. Da bibliometria à webometria: uma exploração conceitual dos


mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do
conhecimento. Ciência da Informação, v. 31, n.2, p.52-62, 2002.

VERGARA, S. C.; BRANCO, P. D. Empresa humanizada: a organização necessária e


possível. Fundação Getúlio Vargas/ Escola de Administração de Empresas de São Paulo.
RAE-publicações: Revista de Administração de Empresas, v. 41, n. 2, p. 20–30, 2001.

WHITE, L. A. The Concept of Culture. American Anthropologist, v. 61, n. 2, p. 227–251,


1959.

YANG, Y. The Construction of Brand Culture Based on Corporate Culture. International


Journal of Business and Management, v. 5, n. 4, p. p223, 2010.

19

Você também pode gostar