Você está na página 1de 877

M a r c o s Ramayana

Direito
Eleitoral
10â edição, revista, ampliada e atualizada
com comentários à Lei na 12.034, de
29 de setembro de 2009.

Niterói, RJ
2010
E m H fflW S S © 2 010, Editora Impetus Ltda.

[HH
Editora Impetus Ltda.
Rua Alexandre Moura, 51 - Gragoatá - Niterói ~ Rj
CEP: 2 4 2 1 0 -2 0 0 - Telefax: (21) 2 6 2 1 -7 0 0 7

P r o je t o Gr á f i c o : E d it o r a Im petu s Lt d a .

E d it o r a ç ã o E l e t r ô n ic a : S B N ig r i A r t e s e T e x t o s Lt d a .

Ca p a : W il s o n C o t r i m

R e v is ã o de P o r t u g u ê s : I n ê s M a r ia
Im p r e s s ã o e encadern ação: S e r m o g r a f A r t e s Gr á f i c a s e E d i t o r a Lt d a .

R136d
Ramayana, Marcos.
Direito eleitoral - 10a edição / Marcos Ramayana -
Rio de Janeiro: Impetus, 2010
928 p .; 17 x 24 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN: 9 7 8 -8 5 -7 6 2 6 -4 2 2 -4

1. Direito eleitoral - Brasil. I. Título. IL Série.

CDD - 342 . 8107

T0D 0S OS DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução, salvo pequenos trechos, mencionando-se a fonte. A
violação dos direitos autorais (Lei ne 9.610/1998) é crime (art. 184 do Código Penal). Depósito legal na Biblioteca
Nacional, conforme Decreto ns 1.825, de 20/12/1907.
O autor é seu professor; resp eite-o : n ão faça cópia ilegal.
A Editora Im petus informa que quaisquer vícios do produto concernentes aos conceitos doutrinários, às
concepções ideológicas, às referências, à originalidade e à atualização da obra são de total responsabilidade do
autor/atuaJizador.
www.editoraimpetus.com.br
D ed icató ria

Para as minhas amadas esposa e filhas,


Lidia Sodré, Christiana e Ana Luiza,
com dedicação e compreensão
na fé de Deus

"Apresente atualização só fo i possível com a


valiosa contribuição doutrinária e de pesquisas dos
louvados conhecimentos jurídicos da Dr* Heidy Ellen".
O A utor

M a rc o s Ram ayana Blum de M oraes é Procurador de Justiça no Estado do Rio


de Janeiro.
0 autor é coordenador das Proraotorias Eleitorais no Estado do Rio de Janeiro.
Formado pela Faculdade de Direito Cândido Mendes, concluiu cursos de extensão
universitária, sendo professor convidado para palestras sobre Direito Eleitoral,
além de lecionar na Fundação Escola Superior do Ministério Público, Associação do
Ministério Público e Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.
Como escritor, ressaltam -se os livros: Resumo de Direito E leitoral e Leis Penais
Especiais, Ed. Impetus; Código E leitoral Com entado, da Editora Roma Victor/RJ;
A Lei de Abuso d e A u toridade e Tortura C om entada (artigo por artigo), da Editora
Destaque/RJ; 0 Estatuto do Idoso Com entado (artigo por artigo), da Editora Roma
Victor/RJ; P rática F orense d a P rom otoria Criminal, da Editora Destaque/RJ, e as
legislações com remissões relativas ã Legislação Eleitoral (Editora Roma Victor/
RJ), ao Código Penal Militar (Editora Idéia Jurídica/RJ), ao Estatuto do Estrangeiro
(Editora Idéia Jurídica/RJ), e ao Ministério Público (Editora Idéia Jurídica/RJ).
O autor é professor de Direito Eleitoral e, em sua experiência profissional, já
exerceu a função de Procurador do Estado de São Paulo, além de já ter participado
da Banca Examinadora do Concurso de Ingresso na Carreira do Ministério Público
Estadual.
P alavras da E d it o r a

O nome Marcos Ramayana já é conhecido no meio jurídico como referência


em Direito Eleitora]. Por esta razão, a obra que vem a lume deve ser festejada com
o entusiasmo daqueles que conhecem suas aulas, seus artigos e sua trajetória
profissional.
Ressaltem-se a clareza e a precisão dos conceitos, aliadas à preocupação com o
rigor acadêmico e à ênfase jurisprudencial, que permeiam este magnífico trabalho,
o qual consegue, ao mesmo tempo, atingir tanto operadores do Direito quanto
concursandos de todos os matizes, sem deixar de despertar o interesse do leitor a
cada capítulo.
Ainda, como destaque, percebe-se a maneira didática do Autor em encadear
os diversos temas, elencados de maneira a seguir e respeitar o processo eleitoral
desde o seu princípio, levando o leitor a uma verdadeira viagem pelos meandros
da matéria eleitoral e, ao mesmo tempo, desmitificando o tema, tornando-o de fácil
compreensão para toda a gente e cativando aqueles que o estudam ou operam.
Constantemente revisada e aprimorada, para esta edição foram reformulados
o sumário e a distribuição de capítulos, com o acréscimo de quadros sinópticos,
veiculados ao final de cada capítulo. Louvemos, pois, o trabalho do Autor com uma
obra referencial para a compreensão do tema.

William Douglas
Juiz Federal, Mestre em Direito e
Membro do Conselho Editorial
O r ien t a ç ã o para L eitu r a

O s ensinamentos contidos na obra Direito E leitoral visam à abordagem de


questões práticas e teóricas, especialmente com a divergência doutrinária e
jurisprudencial das correntes de pensamento.
0 Direito Eleitoral também abrange a análise detalhada das ações eleitorais,
inelegibilidades, perda e suspensão dos direitos políticos, crimes eleitorais e os
recursos em geral, além de conter exercícios específicos de provas de concursos
públicos.
0 livro segue um cronograma de aulas de Direito Eleitoral para ingresso nas carreiras
jurídicas e dos pontos que são exigidos nos concursos públicos, além de servir de rumo
seguro aos consultores, candidatos, membros do Poder Judiciário, Ministério Público,
Defensoria Pública e demais carreiras de Estado.
As controvérsias eleitorais podem ser consultadas pelos estudiosos em geral,
pois trazem a divergência jurisprudencial e doutrinária sob diferentes aspectos.
0 leitor deve procurar acompanhar os capítulos do livro com o Código Eleitoral, a
Constituição da República Federativa do Brasil, a Lei n9 9.504/97 e a Lei n9 9.096/95,
além de valer-se dos pontos do concurso público.
As controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais são enfatizadas e facilitam
a pesquisa para as diversas soluções de concursos públicos e da prática forense
eleitoral.
Su m á r io

Capítulo 1 - DIREITOS POLÍTICOS. NACIONALIDADE. CIDADANIA. SUFRÁGIO E SUAS


ESPÉCIES........................................ ...................................................................................................1
1.1. Sufrágio em sentido irrestrito........ ....................................................................................3
1.2. Sufrágio em sentido restrito.,.............................................................................................3

Capítulo 2 - CONCEITO DE DIREITO ELEITORAL. CONCEITO E ESPÉCIES DE


DEMOCRACIA. PRINCÍPIOS.........................................................................................................13
2.1. Conceito de Direito Eleitoral............................................................................................. 13
2.2. Democracia......................................................................................................................... 15
2.3. Princípios do Direito Eleitoral...........................................................................................22
2.3.1. Princípio da lisura das eleições....,.................................... ............................... 22
2.3.2. Princípio do aproveitamento do voto.............................................................. 2 2
2.3.3. Princípio da celeridade.... ........................................................ ............ ...........24
2.3.4. Princípio da devolutividade dos recursos......................................................26
2.3.5. Princípio da preclusão instantânea.................................................................30
2.3.6. Princípio da anualidade................................................................................... 31
2.3.7. Aumento do número de vereadores. Emenda Constitucional ne 58, de 23 de
setembro de 2009........ ......... ............................................................................. 39
2.3.8. Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos
políticos..................... .......................................................................................... 45
2.3.9. Princípio da irrecorribilidade das decisões do
Tribunal Superior Eleitoral.............................................................................. 49
2.3.10. Princípio da moralidade eleitoral.................................................................... 49

Capítulo 3 - PERDA E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS.......................................... 59


3.1. Conceito e considerações gerais..................................... ................................................. 59
3.2. Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado......................... 60
3.3. Incapacidade civil absoluta..............................................................................................62
3.3.1. Os menores de 16 anos..................................................................................... 62
3.3.2. Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
discernimento para a prática desses atos........................................................63
3.3.3. Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir
sua vontade........... ............................................................................................... 64
3.3.4. Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem
seus efeitos.......................................................................................,.................. 65
3.3.4.1. Contravenção Penal É possível a suspensão dos
direitos políticos, em virtude de condenação por
contravenção penal?....... ................. ............................................... 66
3.3.4.2. Transação Penal. A transação penal imposta pelo Art. 76 da
Lei ns 9.099/95 acarreta a suspensão dos direitos políticos
com subsunção no art. 15, III,da Carta Magna?..............................67
3.3.4.3. Suspensão condicional do processo. A suspensão condicional
do processo suspende os direitos políticos com base no Art. 15,
III, da Carta Magna?.....,.... .................................................................70
3.3.4.4. Condenação por multa. A condenação criminal transitada em
julgado que aplica a pena de multa acarreta a suspensão dos
direitos políticos (Art. 15, III, da Lei Maior)?............................. ...70
3.3.4.5. Sentença Penal absolutória imprópria. A sentença penal
absolutória transitada em julgado acarreta a suspensão dos
direitos políticos?................................................. ........................... 71
3.3.4.6. Livramento condicional. 0 livramento condicional e o
cumprimento de sursis da pena importam na suspensão dos
direitos políticos?............. ....... .......... ............ ...................................72
3.3.4.7. Extinção da punibilidade. A suspensão dos direitos políticos
subsiste em razão da decretação da extinção da punibilidade
com subsunção nas causas elencadas no Art. 107 do Código
Penal?........................................................................ ....................... 73
3.3.4.S. Juízo competente da execução da pena. Qual o juízo
competente para tratar da execução da pena imposta pela
Justiça Eleitoral?..................... .........................................................74
3.3.4.9. Efeito automático. A suspensão dos direitos políticos é
automática?................................................. ....................... ............ 74
3.3.4.10. Reabilitação. É necessária a reabilitação para o
restabelecimento dos direitos políticos?.... ..................................75
3.3.4.11. Revisão Criminal. A propositura de ação de revisão criminal
afasta a causa de suspensão dos direitos políticos?.....................75
3.3.4.12. Interdependência das decisões. A relativa independência entre
a decisão penal e a proferida no âmbito da Justiça Eleitoral........76
3.3.4.13. Perda do mandato por condenação criminal Mister faz-se
ressaltar a análise dos arts. 15, III, e 55, IV e § 2e, todos da
Constituição da República Federativa do Brasil........................... 76
3.3.4.13.l.E a perda do mandato para os membros do Poder
Executivo?....................................................................................79
3.3.4.14. Inelegibilidades decorrentes de sanções penais. 0 Art. I 9, inciso
1, letra e, da Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990, é
numerus clausus?................ ........... .................................................80
3.3.4.14.1.Crimes contra economia popular.............................................. 80
3.3.4.14.2. Crimes contra fé pública................................................81
3.3.4.14.3.Crimes contra administração pública.......... .......................... 81
3.3.4.14.4. Crimes contra patrimônio público...............................82
3.3.4.14.5.Crimes contra mercado financeiro........................................... 82
3.3.4.14.6.Crimes de tráfico de entorpecentes..........................................82
3.3.4.14.7. Crimes eleitorais..................................................................................
3.3.4.15. Prescrição e decadência reconhecida no registro de candidatos.
A prescrição pode ser conhecida no registro de candidatos?......84
3.3.4.16. Nulidades. Cabe á Justiça Eleitoral analisar, no processo de
registro de candidatos, questões processuais penais relativas
a nulidades?.......................... ............................................................84
3.3.4.17. Ato infracional. A prática do ato infracíonal acarreta a
suspensão dos direitos políticos?....................................... ..........84
3.3.4.18. Moralidade eleitoral e suspensão de direitos políticos.
A questão pode ensejar impugnação fincada na falta de
moralidade eleitoral (art. 14, § 9-, da CRFB}, mas não é caso
de suspensão dos direitos políticos, pois haveria interpretação
extensiva ao sentido excepcional da norma constitucional do
inciso Hí do art. 15............................................................................85
3.4. Escusa de consciência.........................................................................................................86
3.5. Improbidade administrativa............................................................................................. 91

Capítulo 4 - ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL.........................................................103


4.1. Tribunal Superior Eleitoral.............................................................................................109
4.2. Tribunais Regionais Eleitorais............. ..........................................................................110
4.3. Juizes Eleitorais.......... ............ ............ .............................................................................110
4.4. Juntas Eleitorais............. .............................. ..................................................................111

Capítulo 5 - JUSTIÇA ELEITORAL. COMPETÊNCIA,....,........................................................ 115


5.1. Poder Regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral...................................................115
5.2. Fases do Processo Eleitoral............................................. ............................................... 118
5.3. Legislação eleitoral.......................... .............. ........ ......................................................... 118

Capítulo 6 - SISTEMAS ELEITORAIS..................... ..................... ........................................... 127


6.1. Espécies.............................................. .................... .......................................................... 127
6.2. Explicação das sobras ou dos restos.......... ................................................................... 128
6.3. Considerações genéricas sobre o Sistema Bicameral Federativo............................. 134

Capítulo 7 - MINISTÉRIO PÚBLICO 139


7.1. Função institucional............... 139
7.2. Normas funcionais de atuação.........................................................................................141
7.3. Proteção da normalidade e legitimidade das eleições................................................. 142
7.4. 0 Procurador-Geral Eleitoral e os Procuradores Regionais Eleitorais....................... 143
7.5. A impossibilidade de auxílio ao Procurador Regional Eleitoral............................. . 145
7.6. Missão institucional dos Procuradores Regionais Eleitorais e dos
Procuradores-Gerais de Justiça..................................... ...... ......... ..............................146
7.7. Designação de Promotores Eleitorais............... ......... ............................... .................... 147
7.8. Filiação partidária dos membros do Ministério Público. Vedação constitucional.
Exceção na hipótese de aposentadoria ou exoneração.......................... .................... 154
7.9. Falta de intervenção. Nulidade do feito. Princípio da celeridade eleitoral................ 159
7.10. A intervenção do Ministério Público em função do tipo de eleição............................164
7.11. O Promotor Eleitoral pode ser nomeado como juiz eleitoral do
Tribunal Regional Eleitoral?.......................... ................... ................. ................. ...... 165
7.12. Lei n9 7.347/85. Ação civil pública (procedimentos). Não aplicação na matéria
eleitoral. Termo de ajustamento de conduta. Possibilidade.....................................166

capítulo 8 - ALISTAMENTO ELEITORAL. DOMICÍLIO ELEITORAL.................................171


8.1. Base legal das regras sobre o alistamento eleitoral....................................... 174
8.2. Requerimento de alistamento eleitoral - RAE.............................................................174
8.3. Alistamento do brasileiro nato ou naturalizado..................................... ...... ...... 176
8.4. Transferência do título eleitoral..................... ......... ....... .................................... .........176
8.5. Considerações genéricas sobre o título eleitoral............................... ......... ..................177
8.6. Acesso às informações do cadastro eleitoral.................................................. ............ 179
8.7. Fiscalização dos Partidos Políticos.......... ................. ....... .................. .........................179
8.8. Duplicidade e pluralidade......... .............................................................. ....................... 179
8.9. Restrições aos Direitos Políticos....... ........................................................................... 181
8.10. Revisão do Eleitorado....................................................... ............ ................................... 181
8.11. Recursos das decisões de alistamento e transferência de eleitores............................182
8.12. Da justificação do não-comparecimento à eleição..................... ................................... 182
8.13. Domicílio eleitoral do candidato..................................................................................... 183
8.14. Surdos-mudos.................. ........ ............ .................. ..... ................................................... 190
8.15. Multa Eleitoral...................................................................................................................191
8.15.1. Natureza jurídica da multa eleitoral...............................................................191
8.15.2. Multa eleitoral. Competência do juiz eleitoral e substitutos....................... 195
8.15.3. Legitimidade ativa para a cobrança das multas eleitorais.......................... 196
8.15.4. Quitação da multa eleitoral com a finalidade de obtenção do
deferimento do registro de candidaturas...................................................... 199
Capítulo 9 - PARTIDOS POLÍTICOS................................................................ ....................... 207
9.1. Natureza Jurídica..................................................... .................. ..................................... 207
9.2. Fidelidade partidária......................... ................................. ..........................................209
9.2.1. Legitimidade Ativa. Prazo............................................................................... 213
9.2.2. Tutela Antecipada................................................................................................................ 21
9.2.3. Justa Causa....................................................................................................... 215
9.2.4. Impossibilidade de Oposição [intervenção de terceiro)............................ 215
9.2.5. Segunda Desfi liação....................... ................................................................. 216
9.2.6. Competência para o Processo e Julgamento...................................................217
9.2.7. Recurso Cabível das Decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais..............218
9.2.8. Assunção da Vaga. Determinação da Posse. I 9 Suplente........................... 218
9.2.9. Da Constitucionalidade da Resolução do TSE ne 22.610/07..................... 219
9.3. Das convenções partidárias............................................................................................221
9.4. As coligações partidárias................................................................................................ 227
9.4.1. Verticalização das coligações......................................................................... 229
9.5. Prestação de contas...................... ...................................................................................230
9.6. O fundo partidário......... ...................................................................................................233
9.6.1. Fundo partidário. Destinação.........................................................................235
9.6.2. Suspensão das cotas do fundo partidário.......................................................236
9.7. Cláusula de desempenho ou de barreira.......................................................................237
9.8. Militar. Direito à Posse...... ............. ................................................................................. 240
9.9. Responsabilidade do Partido Político............................................................................ 240
9.10. Duplicidade de filiação partidária.................. ................................................................243
9.11. Partido político e mandado de segurança..................................................................... 244

Capítulo 10 - INELEGIBILIDADES. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES....249


10.1. Classificação................................. ..................... ...............................................................249
10.2. Desincompatibüizações..................... .............................. ..............................................251
10.2.1. Contagem do prazo......................................................................................... 254
10.2.2. Período suspeito....................................................... .......................................255
10.2.3. Afastamento de fato............ ...... ............ .................. ...................................... 255
10.3. Casos especiais.................................................................................................................271
10.3.1. Servidor da Justiça Eleitoral............... ........................................................... 271
10.3.2. Prefeito e vice-prefeito. Desincompatibilização........................................... 272
10.3.3. Posições mais atuais do Tribunal Superior Eleitoral sobre regras de
inelegibilidades próprias e reflexas...............................................................277
10.3.4. Desincompatibilização de servidor público para concorrer à
vereança............................................................................................................ 280
10.4. lnelegibilidades previstas na Lei Complementar n9 64,18/05/1990....................... 283
a) Os inalistáveis e os analfabetos............................................................................... 283
b) Membros do Poder Legislativo.................................................................. ..........286
c) Membros do Poder Executivo............................................................................. . 289
d) Condenação em abuso do poder econômico ou político......................................295
e) Inelegibilidade decorrente de crimes........ ............................................................ 296
f) Os que forem declarados indignos do ofícialato, ou com ele incompatíveis
pelo prazo de 4 (quatro) anos................................................................................296
g) Contas julgadas irregulares.............. ...................................................................... 299
h) Servidores que praticam abuso do poder econômico ou político...................... 299
i) Responsáveis por estabelecimentos em processo de liquidação..... .................. 303

Capítulo 11 - PEDIDO DE REGISTRO DE CANDIDATURA,..,,.,,..,,,—.— ..................... ...... 309


11.1. Do processo de registro de candidatura........................... .................................. ....... 309
11.1.1. Número de candidatos a serem registrados............................................. . 309
11.1.2. Competência para registrar........ .............................................. ......... ........ . 312
11.1.3. Forma de apresentação dos pedidos de registros......... ................. ..........313
11.1.4. Requerimento individual de candidatura............................. ........................315
11.1.5. Certidão de quitação eleitoral............................................ ..... ............ ...... 315
11.1.6. Proposta dos candidatos majoritários do poder executivo.................... . 319
11.1.7. Princípio da publicidade e transparência no processo de registro de
candidaturas.............................................................. ........ ............................... 320
11.1.8. Considerações genéricas sobre o registro de candidatos....... ............ .....320
11.2. Ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura...................................321
11.2.1. Base legal........................................................................................................321
11.2.2. Finalidade...................................... .................................. ......... .....................321
11.2.3. Legitimados ativos............ ............................. ..... ................................... .......322
11.2.3.1. Ministério Público..................... ............................................. .......322
11.2.4. Legitimados passivos.................... ............................................................. . 325
11.2.5. Decisão na ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura.... 326
11.2.6. Prazo.................................................... .........-.................................................. 328
11.2.7. Antecipação da tutela.................... ..................................................................330
11.2.8. Julgamento antecipado da lide.......................... ............................................ 330
11.2.9. Competência.... .................................................................................................331
11.2.10. Rito processual.................................... ............................................................. 331
11.3. Processo de registro de candidatura. Prioridade de julgamento...............................333
11.4. Questões relevantes..........................................................................................................334
11.4.1. Filiação partidária. Ministério Publico. Impugnação ao pedido
de registro......................................................................................................... 334
11.4.2. Improbidade administrativa.......................................................................... 336
11.4.3. Rej eição de contas............................................................................................ 337
11.4.3.1. Cargos ou funções públicas.... .......................................................337
11.4.3.2. Decisão irrecorrível...... ........... ............. ........................................ 339
a) Prefeito.......................... ...........................................................340
b) Presidente da Câmara Municipal.......................................... 340
c) Governadores de estado.........................................................341
d) Presidente da República........................................................ 342
11.4.3.3. Irregularidade insanável............................................................... 342
11.4.3.4. Contas rejeitadas........ ....................................................................344
11.4.3.5. Fundamentos do ato de rejeição...................................................347
11.4.4. Duplicidade de filiação partidária.................................................................. 348
11.4.4.1. Filiação de militar ao partido político como condição de
elegibilidade....................................................................................350
11.4.4.2. Afastamento do membro do Ministério Público........................357
11.5. Substituição do candidato. Registro.............................................................................. 358
11.6. Resumo...................... ...... ................................................................................................. 360
11.6.1. Processo de registro de candidatos................................................................ 360
11.6.2. Observações finais............................................................................................ 361

Capítulo 12 - PROPAGANDA ELEITORAL............................................................................. 367


12.1. Conceito e considerações genéricas.............................................................................. 367
12.2. Propaganda política eleitoral..........................................................................................368
12.2.1. Conceito..... ........................................................................................................ 368
12.2.2. Base legal.............................. .............................................................................369
12.2.3. Início......................................... .........................................................................369
12.2.4. Gratuidade..... ....................................................................................................369
12.2.5. Propaganda política eleitoral de ruas e logradouros públicos................... 370
12.2.5.1. Pode uma mesa com propaganda eleitoral ficar apoiada
na rua das 6h às 22h?......................................................................372
12.2.6. Propaganda política eleitoral em bens particulares. Engenhos
publicitários com limites de 4m2 (quatro metros quadrados).
Vedação ao pagamento em troca do espaço.................................................. 373
12.2.7. Propaganda política eleitoral na imprensa escrita....................................... 376
12.2.8. Trios elétricos...................... ............................................................................. 378
12.2.9. Propaganda permitida até as 22 horas do dia que antecede a eleição.... 378
12.3. Propaganda política partidária............................ ............................ .............................. 379
12.3.1. Conceito........................................................... ................................................. 379
12.3.2. Base legal.......................................................... ................................................ 380
12.3.3. Vedações.................................................................................................... ..... 380
12.3.4. Gratuidade... ......................... ;......................................................................... 380
12.3.5. Desvirtuamento. Sanção proporcional à falta............................................. 380
12.3.6. Possibilidade de aplicação da sanção de multa prevista no art. 36, § 32,
quando na propaganda política partidária ficar evidente que ocorreu
desvirtuamento com feição de propaganda política eleitoral antecipada.... 380
12.3.7. Competência para julgamento relativa a propaganda política partidária
veiculada em bloco............. ........ .................................................. ................381
12.3.8. Vedação de recebimento de contribuições pecuniárias pelos partidos
políticos de titulares de cargos demissíveis adnutum da administração
direta ou indireta, quando estes servidores tenham a condição de
autoridades..................................................................................... ................. 382
12.3.9. Legitimidade ativa para a propositura de representação em face da
propaganda política partidária praticada com desvio de finalidade... . 383
12.4. Propaganda extemporânea, antecipada ou prematura...............................................387
12.4.1. Conceito............. .......................................................... ...................................387
12.4.2. Sanção. Propaganda dos candidatos majoritários (obrigação do nome dos
vices e suplentes). Competência..................... ..................................... 389
12.5. Propaganda criminosa................................................................... ....... .................... . 393
12.5.1. Conceito................................................................................... .......................393
12.6. Propaganda captativa ilícita de votos...................................................... ........... 394
12.6.1. Conceito........................................................................................................... .394
12.7. Propaganda abusiva sob o prisma econômico e político............................... .......... . 395
12.7.1. Conceito.................................................................................................... ...... 395
12.7.2. Sanções.................................................................................................. 396
12.8. Propaganda política eleitoral por meio da internet Hospedagem. Mensagem
eletrônica. Cadastro. Blogs, redes sociais e sítios de mensagens instantâneas.
Proibições..................................... ............ ....... ..................................... ........................ 400
12.9. Direito de resposta................................... .................... ................. ............ ................ 408
12.9.1. Competência para a concessão do pedido de resposta............................. 408
12.9.2. Surgimento do direito de resposta no âmbito da competência da Justiça
Eleitoral.......... ................................................... .............................................. 410
12.9.3. Desobediência Eleitoral no direito de resposta...................... .....................410
12.9.4. Terceiros atingidos no horário eleitoral gratuito......................................... 410
12.9.5. Não caracterização do direito de resposta....................................................411
12.10. Diferença entre propaganda institucional e promoção pessoal................................ 411

Capítulo 13 - PRESTAÇÃO DE CONTAS REFERENTES À ARRECADAÇÃO E APLICAÇÃO


DE RECURSOS NAS CAMPANHAS ELEITORAIS.................................................................... 417
13.1. Noções gerais...................................................................................................................417
13.2. Art. 30 da Lei n- 9.504/97. Regularidade das contas..................................................420
13.3. Doações para as campanhas eleitorais......................................................................... 421
13.4. Prestação de contas e quitação eleitoral................................ ......................................425
13.5. Recursos em prestação de contas..................................................................................427
13.6. Relevantes questões sobre a prestação de contas.........................................................427

Capítulo 14 - AÇÃO DE CAPTAÇÃO OU GASTOS ILÍCITOS DE RECURSOS....................... 429


14.1. Base legal.......................... ....... ............ ...........................................................................429
14.2. Legitimados ativos..........................................................................................................429
14.3. Legitimados passivos........................................ ...... ...................................................... 43 0
14.4. Hipóteses de cabimento...... ....................... ....................................................................43 0
14.5. Prazo da representação do art. 30-A da Lei ne 9.504/97............................................431
14.6. Efeitos da sentença.......... ........... ............................. ..................................................... 434
14.7. Prazo do recurso das decisões nas representações do art. 30-A da
Lei ne 9.504/97.......... ................. .................................................................................. 435

Capítulo 15 - CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHAS


ELEITORAIS™.,........ ............................................................................................ 439
15.1. Igualdade de oportunidades entre os candidatos que almejam os mandatos
eletivos. Tipos de garantia de neutralidade.................................................................439
15.2. Sujeito ativo. Agentes. Candidatos ou terceiros........................................................... 440
15.3. Prazo de ocorrência........................................................................................................ 441
15.4. Normas correlatas........................................................................................................... 441
15.5. Condutas vedadas em espécie.... ................................................................................... 441
15.5.1. Art. 73, inciso I da Lei das eleições........................................................441
15.5.2. Art. 73, inciso II da Lei das eleições...................................................... 442
15.5.3. Art. 73, inciso III da Lei ne 9.504/97................................................... 444
15.5.4. Art. 73, inciso IV da Lei n^ 9.504/97....................................................445
15.5.5. Art. 73, inciso V da Lei ne 9.504/97............................................................. 446
15.5.6. Art. 73, inciso VI da Lei n^ 9.504/97............................................................449
15.5.7. Art. 73, inciso VII da Lei ne 9.504/97..... ......................................................451
15.5.8. Art. 73, inciso VIII da Lei ne 9.504/97......................................................... 452
15.5.9. Art. 74 da Lei das eleições. Abuso de autoridade. Art. 37, § l e da
constituição federal....... ........ ........ ...... ........................................................... 453
15.5.10. Shows artísticos pagos com recursos públicos. Vedação. Representação.
Rito..................................................... ............... ............................................... 455
15.5.11.0 ressarcimento das despesas com o uso de transporte oficial.................. 457
15.5.12. Comparecimento dos candidatos nas inaugurações de obras públicas.
Sanções e rito processual................................................................................ 459
15.6. Rito processual da representação para aplicar as sanções decorrentes da violação
ao art. 73 da lei das eleições.......................................................................................... 464
15.7. Prazo final da representação prevista no § 12 doart. 73 da lei das eleições............. 466
15.8. Prazo do recurso...............................................................................................................467

Capítulo 16 - REPRESENTAÇÃO POR VIOLAÇÃO À LEI N- 9.504/90............................469


16.1. Rito processual ............................................... .....................................................470
16.1.1. Representação por propaganda eleitoral irregular.
Prévio conhecimento........ ...............................................................................472
16.2. Objetivo........................ ................................................................... .................................473
16.3. Competência....................................... ................................................ ........... ........... ...474
16.4. Legitimados ativos......................................................................................... ...-....... 479
16.5. A intervenção do promotor eleitoral comofiscal da lei................................................ 480
16.6. Candidatos.......................................................... ...........*.............................. 481
16.7. Partidos políticos e coligações......... .................. .............................................................. . 482
16.8. Provas....................................................................................................... ............ ...... ..485
16.9. Prazo..................................................................................................................... ... ............... —-.
16.10. Representação nas condutas vedadas........................ ..... ............. .............................. ..491
16.11. Resumo........................................................................................... ..................... ..... . 491

Capítulo 17 - INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL POR ABUSO DE PODER


ECONÔMICO E/OU POLÍTICO.................................................. ........................ ----------------495
17.1. Base legal........................................................................................................................495
17.2. Conceito e natureza jurídica.... ....................................................................... -...... 496
17.3. Causa de inelegibilidade.................................... ...................... ..................................497
17.4. Legitimidade ativa.................................. .......... -..........................................................498
17.5. Legitimidade passiva...................... .............. ........................-................ .................... 501
17.6. Bem jurídico tutelado............................... ....................................... ...... ......................503
17.7. Competência................................. ....... ................. ....................... ................................ 504
17.8. Causa de pedir.......... ..................... ................... ............ ............ -.................................505
17.9. Efeitos condicionados ao momento
do julgamento................. ........................... ..................................................................... 506
17.10. Julgamento antecipado da lide..................................................................................... 510
17.11. Prazo...............................................................................................................................510
17.12. Efeitos da decisão na investigação judicial eleitoral.................................................. 513
17.13. Rito processual.............................................................................................................. 516
17.14. Resumo............................................................................................................................ 517
Capítulo 18 - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO AO MANDATO ELETIVO.................................. ,521
18.1. Base legal......................................................................................,............................ .521
18.2. Cabimento......................................................................... ......................................... .522
18.3. Natureza jurídica..................................... ..............................,.................................. .526
18.4. Objetivo............ ...... .............. ...... .............................................................................. .527
18.5. Diplomação. Pré-requisito para impugnação........... ............................................. .530
18.6. Exercício do Mandato Eletivo............ ..................................................................... .532
18.7. Prazo.............. .................................................... ....................................................... ,536
18.8. Independência entre a ação penal e a ação de impugnação ao mandato eletivo... 538
18.9. Gratuidade da ação...... ................................. ........................................................... .539
18.10. A questão da prova.............................. ..................................................................... ,540
18.11. Prova do nexo de causalidade no abuso do poder econômico........................ .... ,543
18.12. Desnecessidade de prévia investigação judicial eleitoral..................................... .548
18.13. Inexistência de coisa julgada material. Possibilidade de julgamento da
impugnação ao mandato eletivo............................................................................ .549
18.14. Segredo de justiça.......... ......... ................................................................................. .550
18.15. Inaplicabilidade de honorários
e custas processuais................................................................................................. .550
18.16. Competência................ ............................................................................................. .551
18.17. Legitimidade ativa..................................................................................................... .551
18.18. Legitimidade passiva................................................................................................ .553
18.19. Possibilidade de substituição de suplente de candidato ao Senado................... .557
18.20. Procedimento..... .................. ................................................................................... .560
18.21. Cautelar preparatória..... ..................... ................................................................... .563
18.22. Recursos....................... ............. ............................................................................... .565
18.23. Efeito........................................................... ............................................................... .565
18.24. Comunicações............................................ ..... ......................................................... .566
18.25. Conseqüências........... ............................. ................................................................. .566
18.26. Conexão entre a ação de impugnação ao mandato eletivo e o recurso contra a
diplomação....................... ........................................................................................ .570
18.27. Matéria constitucional não "preclui". Ausência de decadência........................... .573
18.28. Ministério Público. Substituto processual. Viabilidade jurídica.......................... .575
18.29. Resumo........................................................................ ............................................. .577
18.30. Resumo do cabimento das ações eleitorais...........................................................
Capítulo 19 - VOTAÇÃO E APURAÇÃO................................................................................... 583
19.1. Regras práticas sobre o dia da eleição......................................................................... 585
19.2. Regras genéricas sobre atos preparatórios, recepção de votos, garantias
eleitorais, totalização, fiscalização, auditoria e assinatura digital............................ 592
19.3. Voto. Espécies..... ........................................... ................................................................. 593
19.3.1. Voto censitário.,.............. ................................................................................593
19.3.2. Voto capacitário............................. ............................................................... 594
19.3.3. Voto feminino............... .......................... ....................................................... 594
19.3.4. Voto secreto..... ........................................................... .................................. 594
19.3.5. Voto indireto.................. ...... ................ .......................................... ................595
19.3.6. Voto majoritário................................................. ........................ .................... 596
19.3.7. Voto proporcional.............................. ................................... ....................... -596
19.3.8. Voto de lista aberta.................................................................. ......................596
19.3.9. Voto em lista fechada..................................................................................... 597
19.3.10. Voto eletrônico........................ ....... .............................................................. 597
19.4. Das seções eleitorais..................................................... ...... .......................................... 597
19.5. Impugnação aos mesários............................................................................................ 598
19.6. Sanções aos mesários faltosos.............................................. ................................... . 599
19.7. Locais de votação. Impugnações.............................................................. ..................... 600
19.8. Documentos exigidos para a votação. Proibição de uso de telefone celular e
outros aparelhos na cabine de votação...................................................................... 602
19.9. Voto do eleitor em trânsito para presidente e vice-presidente darepublica.............603
19.10. Voto impresso. Identificação biométrica do eleitor............................. ......................605
19.11. Dia das eleições. Manifestação do eleitor.................................... ................................ 608

Capítulo 20 - AÇÃO DE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO............ ..................................613


20.1. Conceito de captação ilícita de sufrágio.................................. .................. ...................615
20.2. Momento para ocorrer a captação ilícita de sufrágio............................................. . 617
20.2.1. Prazo final para propor a ação...................................................................... 618
20.3. Procedimento judicial cabível para aplicar as sanções decorrentes dacaptação
ilícita de sufrágio...................... .....................................................................................619
20.3.1. Efeitos do julgamento..................................................................................... 620
20.3.2. Deflagração do pedido de captação ilícita. O pedido de captação ilícita
de sufrágio poderá ser deflagrado de forma isolada (única) na IJE ou,
ainda, cumulativamente,com o pedido de inelegibilidade por abuso do
poder econômico, político, fraude ou corrupção......................................... 623
20.3.3. Prova da potencialidade lesiva. É necessária a prova da potencialidade
lesiva para a caracterização da captação ilícita de sufrágio?..................... 625
20.3.4. Participação do candidato. É necessária a participação direta do
candidato no fato caracterizador da captação ilícita de sufrágio?.............627
20.3.5. Captação ilícita de sufrágio e inelegibilidade. O Art.41-A da
Lei n9 9.504/97 não trata de inelegibilidade...... ........................................ 628
20.3.6. Pedido explicito de votos. Para a caracterização da conduta de
captação ilícita de sufrágio é necessário o pedido explícito de votos?.... 637
20.4. Prazo do recurso contra decisões do art. 41-A da Lei das Eleições........................... 638
20.5. Resumo............... ..................................................... ....................................................... 639

Capítulo 21 - AÇÃO RESCISÓRIA ELEITORAL........ ...................................................... 643


21.1. Base legal.............. ...... ..... ................................... ...........................................................643
21.2. Legitimidade ativa.......... .................................................................................... ..........643
21.3. Cabimento.......... ............................. ...............................................................................643
21.4. Competência...... .................... ........................................................................................652
21.5. Procedimento...... .............. ............................................................................................ 652
21.6. Recursos......................................................................................................................... 653
21.7. Suspensão das contas rejeitadas por irregularidade insanável............................!. 653
21.8. Tutela antecipada.........................................................................................................654

Capítulo 22 - RECURSO CONTRA A DIPLOMAÇÃO.............................................................655


22.1. Base legal..... .—.......... ..... ..............................................................................................655
22.2. Conceito.......................................................................................................................... 655
22.3. Natureza jurídica.................... ...................................................................................... 655
22.4. O Recurso contra a diplomação é um recurso?........................................................... 656
22.5. Quem exerce o juízo de admissibilidade do recurso contra a diplomação?.............657
22.5.1. Quanto ao juízo de admissibilidade, cabe:...................................................658
22.6. Legitimados ativos........................ .................. ............................................................. 660
22.7. Legitimados passivos....... ..............................................................................................660
22.8. Qual o rito processual que deve seguir o recurso contra a diplomação?.................661
22.9. O que se entende por prova pré-constituída como requisito de admissibilidade
específico do recurso contra a diplomação?............................................................... 661
22.10. Cabimento___ -...........—.................... ........ ....................................................................662
a) Inelegibilidade................................................ ...................................................... 662
b) Incompatibilidades................................................ ............................................... 663
c) Errônea interpretação da lei, quanto à aplicação do sistema de
representação proporcional..... :.......................................................................... 664
d) Erro de direito ou de fato na apuração final, quanto à determinação do
quociente eleitoral ou partidário, contagem de votos e classificação de
candidato, ou a sua contemplação para determinada legenda......................... 664
e) Concessão ou denegação do diploma em manifesta contradição com a prova
dos autos, nas hipóteses do art. 222 desta Lei e do art. 41-A da Lei n2 9.504,
de 30 de setembro de 1997......... ......................................................................... 668
22.11. Efeitos.................. .................. .......................................................................................... 670

Capítulo 23 - CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS CRIMES ELEITORAIS E


O PROCESSO PENAL ELEITORAL ................................... ....................................................... 671
23.1. Qual a natureza jurídica dos crimes eleitorais?........... ........ .........................................674
23.2. Comentários aos crimes eleitorais tipificados no Código Eleitoral.................................. 677
23.2.1. Art.283 - Funcionários da Justiça Eleitoral.................. ........ ........................677
23.2.2. Art. 284 - Fixação da Pena........ .......................... ......................................... 678
23.2.3. Art. 285 - Aumento e diminuição de pena..... .............................................678
23.2.4. Art. 286 - Pena de multa................................................................. ..............679
23.2.5. Art. 287 - Aplicação subsidiária do Código Penal........ ....... ............... ....... 680
23.2.6. Art. 288 - Crimes eleitorais praticados pelos meios de
comunicação social....................... ...................................... ................... . 680
23.2.7. Crime eleitoral praticado pela imprensa.............. ............. ..................... . 681
23.3. Dos crimes eleitorais em espécie.................................. ............ ....... ................. .........683
23.3.1. Art. 289 - Inscrição fraudulenta.............................. ................ .....................683
23.3.2. Art. 290 - Indução à inscrição fraudulenta............................. ....... .............687
23.3.3. Art. 291 - Fraude no alistamento............. ..................................................... 689
23.3.4. Art. 292 - Omissão judicial............. ....... ............. .................................... . 690
23.3.5. Art. 293 - Impedimento ao alistamento.... ................................... ...... ........691
23.3.6. Art. 295 - Retenção do título eleitoral........ ..................................................692
23.3.7. Art. 296 - Desordem.... .................................................... .............................694
23.3.8. Art. 297 ~ Impedimento ao sufrágio...... ................. ............................... .....695
23.3.9. Art. 298 - Abuso de autoridade................................................ ..................... 697
23.3.10. Art.299 - Corrupção eleitoral.......... .................................................... ........701
23.3.11. Art. 300 - Coação pelo servidor público.............. — ............. .................. 704
23.3.12. Art. 301 ~ Violência ou grave ameaça.......................................... ..................705
23.3.13. Art. 302 - Impedimento, embaraço ou fraude ao exercício do voto...........706
23.3.14. Art.303 - Majoração de preços....................................................................... 708
23.3.15. Art. 304 - Ocultação de alimentos e transportes..........................................709
23.3.16. Art. 305 ~ intervenção indevida nos trabalhos da seção eleitoral............. 710
23.3.17. Art. 306 - Desordem na votação.................................................................... 711
23.3.18. Art. 307 - Cédula marcada..............................................................................712
23.3.19. Art. 308 - Entrega a destempo da cédula oficial.......................................... 713
23.3.20. Art. 309 - Falsa identidade na votação......................................................... 716
23.3.21. Art. 310 - Anulação da votação......................................................................718
23.3.22. Art.311 - Votação em seção diversa.... ............. ............................................ 719
23.3.23. Art. 312 - Sigiío no voto................................................................................... 720
23.3.24. Art. 313 ~ Omissão na expedição de boletins de apuração......................... 721
23.3.25. Art. 314 - Omissão no recolhimento das cédulas.........................................723
23.3.26. Art. 315 - Mapismo................... ............... ...................................................... 724
23.3.27. Art. 316 - Omissão de protestos na ata de eleição....................................... 725
23.3.28. Art. 317 - Violação do sigilo da urna..... ............. ........ ................................. 726
23.3.29. Art. 318 - Contagem de votos sob impugnação............................................727
23.3.30. Art. 319 - Subscrição de fichas de registro de partido................................ 728
23.3.31. Art. 320 - Dupla filiação.................................................................................. 729
23.3.32. Art. 321 - Coletânea indevida de assinatura em ficha de registro
de partido.......... ,.................... .......................................................................732
23.3.33. Art. 323 ~ Divulgação de fatos inverídicos;................................................... 733
23.3.34. Art. 324 - Calúnia......... ................. .............................. ........... .....-...............736
23.3.35. Art. 325 - Difamação........................................................................................741
23.3.36. Art. 326 - Injúria.............................................................................................. 743
23.3.37. Art. 327 - Causas de aumento de pena..........................................................746
23.3.38. Art. 330 - Reparação do dano.........................................................................747
23.3.39. Art. 331 - Inutilização da propaganda...........................................................747
23.3.40. Art. 332 - Impedir a propaganda...................................................................748
23.3.41. Art. 334 - Prêmios e sorteios. “Bingo eleitoral"........................................... 750
23.3.42. Art. 335 ~ Propaganda em língua estrangeira.............................................. 755
23.3.43. Art. 336 - Suspensão de atividade eleitoral.................................................. 758
23.3.44. Art. 337 - Participação de estrangeiro em atividades partidárias............. 759
23.3.45. Art. 338 ~ Prioridade postal. Violação........................................................... 762
23.3.46. Art. 339 - Destruição de votos e documentos.............................................. 763
23.3.47. Art. 340 - Fabricação. Subtração de objetos................................................. 764
23.3.48. Art. 341 - Desídia nas publicações................................................................ 765
23.3.49. Art. 342 - Omissão no oferecimento da denúncia....................................... 766
23.3.50. Art. 343 - Condescendência do juiz..................................... ........................ 769
23.3.51. Art. 344 ~ Recusa ou abandono do serviço eleitoral....................................770
23.3.52. Art. 345 - Descumprimento dos prazos............. .......................................... 771
23.3.53. Art. 346 - Uso indevido de bens públicos..................................................... 772
23.3.54. Art 347 - Desobediência eleitoral................................................................. 774
23.3.55. Art. 348 - Falsidade de documento público.................................................. 779
23.3.56. Art. 349 - Falsidade de documento particular.............................................780
23.3.57. Art. 350 - Falsidade ideológica.... ..................................................................781
23.3.58. Art. 351 - Equiparação de documentos........ ................................................783
23.3.59. Art. 352 - Falso reconhecimento de firma ou letra.....................................784
23.3.60. Art. 353 - Uso de documento falso............................................................... 784
23.3.61. Art. 354 - Obtenção de documento falso.............. ....................................... 785
23.4. Aspectos processuais penais eleitorais.......................................................................786
23.4.1. Art. 355 - Ação Penal.......................................................................................786
23.4.2. Art. 356 - Notícia da infração penal.............................................................. 789
23.4.3. Art. 357 - Prazo da denúncia................................................ ........................ 796
23.4.4. Art. 358 - Rejeição da denúncia..................................................................... 802
23.4.4.1. Ritos processuais no processo...................................................... 806
23.4.5. Art. 359 - Citação.................................. ..........................................................809
23.4.6. Art. 360 - Oitiva de testemunhas............ ................ ...... ................... . 812
23.4.7. Art. 361 - Prazo de sentença............................ .......... ....................... .........813
23.4.8. Art 362 - Decisão final. Recurso.................................................. .................813
23.4.9. Art. 363 - Execução da sentença.................................................................. 814
23.4.10. Art. 364 - Aplicação subsidiária do código de processo penal....................814
23.4.11. Crime doloso contra a vida e crime eleitoral.................. .............................815
23.5. Crimes eleitorais tipificados na Lei n9 9.504/97..................... ....... ............ ...............816
23.5.1. Art.33 - Pesquisas falsas................................................................................. 816
23.5.2. Art. 34 - Impedimento da fiscalização de partidos.............. ................. 819
23.5.3. Art 35 - Responsabilidade de representantes...................... ......... ............ 822
23.5.4. Art. 39 - Boca-de-urna e outros. Dia da eleição.............................. . 823
23.5.5. Art. 40 - Uso indevido de símbolos, frases ou imagens..... ....... . 823
23.5.6. Art 58 - Inobservância do prazo do direito de resposta......... ................. 827
23.5.7. Art. 68 ~ Descumprimento da entrega da cópia do boletim de uma........ 827
23.5.8. Art. 70 - Impedir o exercício da fiscalização. Não mencionar os protestos
em ata......................................................................... ........... ...................... 830
23.5.9. Art 72 - Crimes contra o sistema informatizado de apuração................. 831
23.5.10. Art. 87 - Impedimento do direito de observação da abertura da uma,
cédula e boletins.................................................................................................... ...........
23.5.11. Art. 90 - Responsabilidade penal dos representantes.................................836
23.5.12. Art 91 - Retenção do título eleitoral....................... ......................... ............ 839
23.5.13. Art. 94 - Crime de responsabilidade... ............................. ............................. 840
23.6. Crimes tipificados em outras leis eleitorais..................................... .............................841
23.6.1. Art. 11 - Transporte de eleitores...................................................... ........... 841
23.7. Lei Complementar n9 64/90...........................................................................................847
23.7.1. Art. 25 - Impugnações temerárias................. ........ ....................................... 847
23.8. Lei n- 6.996/98 - Crimes Eleitorais.............................................................................849
23.9. Lei ne 7.021/98 - Crimes Eleitorais..................... ....................................................... 849

Capítulo 24 - RECURSOS ELEITORAIS..,,............................................................................. 853


24.1. Recursos................................................................................................... ........................853
24.1.1. Decisões dos Juizes Eleitorais.................................................. :....................855
24.1.2. Decisões da Junta Eleitoral............................................................................. 856
24.1.3. Decisões do TRE............................................ .................................................. 857
24.1.4. Decisões do TSE................................................................................................859
24.2. Algumas observações sobre os recursos eleitorais.................................................... 860
24.2.1. Resoluções.......................................................... .......... ................................. 860
24.2.2. Duplo grau de jurisdição................................................................................ 861
24.2.3. Prazos...................................... ................................ ....................................... 864
24.2.4. Prevenção especial................................................. -......................................866
24.2.5. Consultas.........................................................................................................867
24.2.6. Reclamações................................. ....... ............................................................ 870
24.2.7. Recurso ordinário............... ............................................................................871
24.2.8. Embargos de declaração................. ...............................................................874
24.2.9. Recurso especial............. ............. ...................................................................876
24.2.10. Agravo de Instrumento....................................................................................880

Bibliografia ...... ........ ....... ...... ...... .............. ............................................................885


C apítulo 1

D I REI TOS P O L Í T I C O S .
N a cio n a lid a d e . C id ad an ia.
S u frágio e suas espécies

Primeiramente, cumpre ser dito que os direitos políticos são direitos públicos
subjetivos, Esta denominação dá-se em razão do objeto ou do bem tutelado pela
ordem jurídica, que lhes confere a natureza pública.
0 conteúdo dos direitos políticos sempre dependerá da ordem jurídica positiva,
sendo que a constitucionalização desses direitos cria uma espécie de imunidade
contra os atos da autoridade pública.
É certo que da condição de eleitor emerge o poder de participação direta ou
indireta, na condução da coisa pública.
A doutrina apresenta diversos conceitos, a saber:
Os direitos políticos são situações subjetivas expressa ou
implicitamente contidas em preceitos e princípios constitucionais,
reconhecendo aos brasileiros o poder de participação na condução
dos negócios públicos: a) votando; b) sendo votado, inclusive
investindo-se em cargos públicos; c) fiscalizando os atos do
Poder Público, visando ao controle da legalidade e da moralidade
administrativa (Antonio Carlos Mendes).
(...) em seu sentido estrito, é o conjunto de regras que regulam os
problemas eleitorais, quase como sinônimo de Direito Eleitoral. Em
acepção um pouco mais ampla, contudo, deveria incluir também as
normas sobre partidos políticos (José Afonso da Silva).
Consistem na disciplina dos meios necessários ao exercício da
soberania popular {Pimenta Bueno).
(...) encarnam o poder de que dispõe o indivíduo para interferir na
estrutura governamental, através do voto (Rosah Russomano).
São classificados em: a) direito de votar; b) direito de ser votado e
ser eleito; c) direito de ser investido e permanecer em cargo público
(Pietro Virga).
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

(...) os direitos políticos são direitos subjetivos públicos, visando à


eficácia do princípio da soberania popular (Enrico Spagna Musso).
A Carta Magna dispõe, nos arts. 14 a 16, sobre os direitos políticos, no sentido
de conjunto de normas que regulam a atuação da soberania popular. Essas normas
referem-se ao consectário lógico natural do art, 1-, parágrafo único, quando diz
que o poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos
diretamente.
Todavia, a Carta Magna traça apenas as linhas mestras dos princípios básicos que
devem ser observados sobre direitos políticos, cabendo ao Código Eleitoral, à Lei
das Inelegibilidades e à Lei dos Partidos Políticos minudenciar os exatos campos de
incidência e limites dos direitos políticos, sem incidirem em inconstitucionalidade,
pois, como visto, a matéria regulada nessas normas infraconstitucionais possui
natureza jurídica definida como normas materialmente constitucionais,
Aproveitando a lição do eminente doutrinador José Afonso da Silva, destacamos,
in verbis:
1) nacionalidade - vínculo territorial estatal por nascimento ou naturalização;
trata-se de um status ligado ao regime político;
2) cidadania - qualifica os participantes da vida do Estado, sendo um atributo das
pessoas integradas na sociedade estatal, atributo político decorrente do direito
de participar no governo e direito de ser ouvido pela representação;
3) cidadão - é o indivíduo titular dos direitos políticos de votar e ser votado e suas
conseqüências.
Já a nacionalidade é um conceito mais amplo e constitui-se como pressuposto da
cidadania, uma vez que só o titular da nacionalidade brasileira pode ser cidadão. A
rigor, a nacionalidade brasileira é pressuposto da aquisição e do gozo dos direitos
políticos.
0 centro nuclear, o átomo dos direitos políticos, pode ser concebido,
indubitavelmente, como o direito eleitoral de votar e de ser votado, que pressupõe
o direito-dever de alistamento eleitoral.
Por causa dessa característica, dessa constatação irreparável feita pela doutrina,
é que se pode subdividir os direitos políticos em ativos e passivos. Então, no
exercício dos direitos políticos é que eles podem ser ativos e passivos; são, em
verdade, modalidades.
Os direitos políticos ativos também denominam-se direitos eleitorais ativos, e os
direitos políticos passivos, direitos eleitorais passivos, referindo-se esses últimos
aos elegíveis e aos eleitos. Sobre elegibilidades, veremos posteriormente.
Vemos, portanto, que os direitos de cidadania são adquiridos mediante o
alistamento eleitoral na forma da lei.

2
D ir e it o s P o l ít ic o s . N a c io n a l id a d e .

C id a d a n ia . S u f r á g io e su a s E s p é c ie s C apítulo 1

1.1. SUFRÁGIO EM SENTIDO IRRESTRITO


Aqui, encarta-se o sufrágio universal, que inadmite as restrições atinentes às
condições de fortuna ou capacidade intelectual; todavia, não significa que o sufrágio
universal o seja para todas as pessoas. Por exemplo: os conscritos não votam durante
suas obrigações militares, nem votam os menores de 16 anos e os estrangeiros.

1.2. SUFRÁGIO EM SENTIDO R ESTRITO


Compreende limitações a determinado tipo de situações.
As modalidades são explicadas pelo mestre José Afonso da Silva, in verbis:
1) sufrágio capacitário - reserva o direito de voto para pessoas que tenham um
determinado grau de instrução;
2) sufrágio censitário - restringe os votos a determinadas pessoas com certas
condições de fortuna.

Embora adotado o sufrágio universal, ele é restrito, porque não desfrutam do


sufrágio, segundo nos ensina o mestre Joel José Cândido:
1} os inalistáveis, aí incluídos os estrangeiros e os conscritos (§ 2 Q do art. 14 da
Carta Magna);
2) os absolutamente incapazes.

Exemplos de sufrágio desigual, nas lições do doutrinador José Afonso da Silva,


verbis:
1) voto múltiplo - o eleitor pode votar mais de uma vez, só que em mais de uma
circunscrição eleitoral. Ex,: Na Inglaterra, até 1948, os titulares de diploma
universitário e os diretores de empresas e outros negócios podiam votar na
circunscrição de seus domicílios, universidade e empresas;
2) voto plural - o eleitor pode votar mais de uma vez, só que na mesma circunscrição
ou distrito. Isso se dá mais no tipo de eleição distrital em que um eleitor pode
votar duas vezes no mesmo candidato;
3) voto familiar - o eleitor pai de família tem direito a um determinado número de
votos, correspondentes ao número de membros do núcleo familiar; não vota a
mulher.

Qual é a natureza jurídica do voto?


Direito público subjetivo, uma função social de soberania popular na democracia
e um dever, ao mesmo tempo.
Quais as características do voto?
a) Personalidade do voto, significa que. somente o eleitor poderá votar. Não se
admitem votos por procuração ou, quiçá, por e-maib,

3
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

b) liberdade de voto, ou seja, é o próprio sigilo ou segredo do voto. 0 eleitor não pode ser
devassado em sua preferência democrática. Ocorrendo embaraços ao exercício do voto,
esta conduta enquadra-se no a rt 297 do Código Eleitoral.
0 art. 60, § 4 9, II, da Carta Magna e o art. 103 do Código Eleitoral regulamentam
o sigilo do voto. Trata-se de cláusula pétrea.
Pode-se concluir que o sufrágio universal é direito público subjetivo, cujo
exercício é pessoal, reconhecido aos brasileiros que preencham as condições de
idade, excluindo-se os absolutamente incapazes e os conscritos. Enquanto direito-
dever, o sufrágio torna obrigatório o alistamento eleitoral e o voto.
Assim, como dito acima, os direitos de cidadania adquirem-se mediante o
alistamento eleitoral na forma da lei. Esse ato formalístico decorre da imposição de
preceitos jurídico-constitucionais.
O órgão competente para promover o alistamento é a Justiça Eleitoral.
Sobre o relevante tema afeto aos direitos políticos preferimos salientar aspectos
fundamentais, conforme abaixo indicados.

PRIMEIRO PONTO
Conscrito. Voto.
Conscrito é o recruta ou o alistado no Exército, na Marinha ou na Aeronáutica
durante o período de prestação do serviço militar. Ultrapassado o período
obrigatório, a pessoa deixa de ser conscrito e surge o dever de se alistar exigível de
todos os brasileiros maiores de 18 (dezoito) anos de idade. A conscrição também
diz respeito aos que são convocados fora do período militar obrigatório.
O Decreto nQ 1.295, de 26.10.1994, regulamenta a Lei de Prestação do Serviço
Militar pelos estudantes de medicina, farmácia, odontologia e veterinária
(conscritos).
Quanto ao impedimento para votar, já decidiu o TSE:
Alistamento eleitoral. Impossibilidade de ser efetuado por aqueles que
prestam o serviço militar obrigatório. Manutenção do impedimento ao
exercício do voto pelos conscritos anteriormente alistados perante a
Justiça Eleitoral, durante o período da conscrição. Resolução ne 20.165,
de 07.04.1998 - Processo Administrativo ne 16.337 - Classe 19-/CO
(Goiânia). Relator: Ministro Nilson Naves. Interessada: Corregedoria
Regional Eleitoral/ GO. Decisão: Unânime, respondido o expediente da
Corregedoria Regional Eleitoral/GO.
Com a introdução do voto facultativo ao maior de 16 (dezesseis) anos e menor de
18 (dezoito) anos, pode ocorrer do conscrito já possuir alistamento eleitoral antes

4
D ir e it o s Po l ít ic o s . N a c io n a l id a d e .
C id a d a n ia S u f r á g io e su a s E s p é c ie s C ap ítulo 1
de se alistar para o serviço militar. Nessa hipótese, não se pode anular o alistamento
eleitoral válido, mas ele ficará impossibilitado de votar na situação de conscrito.
A Constituição Federal, no § 2 - do art. 14, refere-se aos conscritos. 0
doutrinador Alexandre de Moraes, ensina que, segundo lições extraídas da
Resolução n 9 15.850 do Tribunal Superior Eleitoral, incluem-se no conceito
de conscritos os médicos, dentistas, farm acêuticos e veterinários que estejam
prestando serviço m ilitar obrigatório, inclusive os que prestam serviço militar
na condição de prorrogação.
Por fim, ao término do serviço militar obrigatório, o eleitor deve requerer o
restabelecimento pleno de sua inscrição eleitoral, pois ficará obrigado ao exercício
do voto.

Crítica.
O art. 14 da Constituição da República adotou a classificação do sufrágio universal,
que compreende uma ampla abrangência do povo de um determinado território
que forma um Estado. Não se justifica, no atual estágio de evolução democrática,
qualquer restrição ao voto do conscrito.
As Forças Armadas não influenciam na decisão do eleitor, nem tampouco podem
ser responsáveis pela não incidência de norma de conteúdo cidadão, cuja amplitude
só deve ser resolvida na esfera da regular formação dos cadastros eleitorais relativos
ao requerimento de alistamento eleitoral.
Reiteramos que se não é vedada a candidatura do militar, não é crível se
obstaculizar o voto do conscrito, nem o seu alistamento, acaso ainda não o tenha
regularizado aos 16 anos de idade, quando o alistamento e o voto são exercidos
como uma espécie de prerrogativa constitucional (facultativamente).
Sugerimos, portanto, a adoção de emenda constitucional que atenda ao
alistamento e ao voto do conscrito na forma dos demais cidadãos brasileiros e no
rumo da universalidade do sufrágio como norma de maximização constitucional.
Impende observar as sábias lições do Excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes em
Curso de D ireito Constitucional,x quando no item 5.5.6 trata do princípio da máxima
efetividade, nestas doutas linhas:
"De igual modo, veicula um apelo aos realizadores da Constituição para que em
toda situação hermenêutica, sobretudo em sede de direitos fundamentais, procurem
densificar os seus preceitos, sabidamente abertos e predispostos a interpretações
expansivas."
O exercício das capacidades ativas do cidadão-eleitor devem sempre ancorar
interpretação referente a plenitude de realização do sufrágio.

1 MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. São Pauio: Saraiva/Instituto Brasiliense de Direito Público, 2007,
p. 111.

5
M a r c o s R am a ya n a D ig it o E l e it o r a l

SEGUNDO PONTO
Plebiscito. Referendo. Iniciativa Popular.
0 plebiscito, referendo e iniciativa popular são formas especiais de atuação
democrática do cidadão nas questões administrativas, políticas e legislativas em
geral. Trata-se de atributo da democracia participativa.
As formas dessa participação estão infraconstitucionalmente previstas na Lei
n- 9.709, de 18 de novembro de 1998, que regulamenta a execução do disposto nos
incisos I, II e III do art. 14 da Constituição Federal.
Entende-se por plebiscito uma espécie de consulta tipicamente popular sobre
tema previamente estipulado. Diz o art. 2-, § I a, da aludida lei: “O plebiscito é
convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo,
pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido.”
Sobre referendo, afirma o § 2 - do art. 2 - da norma acima: "O referendo é
convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao
povo a respectiva ratificação ou rejeição."
Com relação ao plebiscito, impende destacar que é um instituto fundamenta!
para a criação de novos municípios. Em realce, decisão do Egrégio TSE sobre este
tema:
Eleições - Plebiscito. Mandado de segurança. Consulta plebiscitaria
para criação de município. Instruções expedidas pelo TRE a fim
de regulamentar o plebiscito e acórdão homologando o resultado.
1. Para a criação de novos municípios, é necessária a edição de lei
complementar federal, nos termos do § 4fi do art. 18 da Constituição
Federal. 2 .0 art. 89 da Lei ne 9.709/98 determina que, após a aprovação
do ato convocatório do plebiscito, de competência das assembleias
legislativas, o presidente do Congresso Nacional dará ciência do fato
à Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, entre outras providências, fixar
a data da consulta e expedir as respectivas instruções (Ementário
TSE/2003).
Os plebiscitos e referendos são convocados para questões de relevância nacional;
formação e alteração territoriais dos Estados e Municípios; além da questão
referente à forma e sistema de governo.
O Brasil pós-Constituição de 1988, tratou no dia 21 de abril de 1993 sobre o
plebiscito que deliberou sobre o regime e o sistema de governo: monarquia
parlamentar ou república; e o parlamentarismo ou presidencialismo.
Naquela ocasião firmou-se que o Brasil seria: um regime republicano com o
sistema de governo presidencialista.
Mais recentemente, nos idos de 2005, realizou-se no Brasil o famoso referendo
sobre a questão da proibição da comercialização das armas de fogo, optando-se
pela liberdade comercial.

A
D ir e it o s P o l ít ic o s . N a c io n a l id a d e .

C id a d a n i a S u f r á g io e su a s E s p é c ie s C apítulo 1

A iniciativa popular enseja quorum do eleitorado para apresentação do projeto


de lei, como foi o caso da Lei n- 9.840/99 (Lei dos Bispos), que alterou artigos da
legislação eleitoral, e acresceu o art. 41-A à Lei n9 9.504/97, consagrando a ação de
captação ilícita de sufrágio e prevendo sanções não penais às infrações captativas.
O art. 13 da Lei n- 9.709/96 prevê o quorum de 1% do eleitorado nacional,
distribuído em cinco Estados da Federação com não menos de 0,3% dos eleitores
de cada um deles.
De toda sorte, o quorum nos parece ainda muito quantificativo, quando se
deveria facilitar o acesso mais diminuto dos eleitores na apresentação dos projetos
de iniciativa popular, até porque compete à Câmara a correção de impropriedades
técnicas. Esse projeto não poderá ser rejeitado por vício de forma.
Outrossim temos ainda apontados por parte da doutrina outros mecanismos
de participação popular, a saber: o r e c c a l, cuja tradução é revogar ou demitir,
qúe deveria ser utilizado no Brasil; quando por referendo os eleitores podem ser
chamados a decidir pela revogação do mandato eletivo antes do prazo terminal,
ou seja, a demissão do parlamentar que não cumpriu as promessas de campanha
eleitoral. No Estado da Califórnia é previsto esse sistema, dentre outros Estados e
países; o veto popular, quando o eleitor vota sobre a necessidade de permanência
ou não de uma lei; e a ação popular (neste último caso, não entendemos ser a ação
um mecanismo de sufrágio).

TERCEIRO PONTO
Direitos políticos positivos e negativos.
Sobre o assunto n os valemos das lições do renomado José Afonso da Silva em
Curso de Direito Constitucional Positivo,2 in expressi verbis: “Os direitos políticos
positivos consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de
participação no processo político e nos órgãos governamentais."
Nessa linha enumera o eminente professor que se situam o voto, o plebiscito, o
referendo e a iniciativa popular, dentre outros institutos.
Ainda ancorados nas lições do autor, os direitos políticos negativos são "(...)
aquelas determinações constitucionais que, de uma forma ou de outra, importem
em privar o cidadão do direito de participação no processo político e nos órgãos
governamentais. São negativos precisamente porque consistem no conjunto de
regras que negam, ao cidadão, o direito de eleger, ou de ser eleito, ou de exercer
atividade político-partidária ou de exercer função pública"3
Vemos que na dualidade entre direitos positivos e negativos a interpretação
constitucional deve ser sempre voltada para a aplicação príncipiológica da
harmonização interpretativa, mesmo que este desiderato seja utópico na medida

2 DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 28a ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 346.
3 Ibidem, p. 381.
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

em que ou se positiva ou nega a um dos personagens envolvidos o direito político,


não se pode descurar da importância ponderável dessa regra que é axiomada ao
princípio da máxima efetividade das normas constitucionais e eleitorais.
Por exemplo, as hipóteses de perda e suspensão dos direitos políticos são
restritas ao panorama legal do art. 15 da Lei Fundamental.

QUARTO PONTO
Natureza jurídica do mandato eletivo.
0 mandato eletivo traduz a concretização da representação popular. Assim, o
eleitorado emerge como fator da vontade coletiva para influenciar a vida política.
Distingue-se do mandato imperativo, que é sempre uma relação identificada
com o direito privado, quando o eleito tornava-se vinculado ao eleitor. Verifica-se
este tipo de mandato nas assembleias francesas, no período da Revolução Francesa.
0 eleito tinha de prestar satisfações diretamente ao eleitor, sob pena de ser
revogado o mandato nos moldes do direito privado das relações. Não se tinha uma
característica pública nessa relação.
No mandato imperativo, os eleitos eram representantes dos interesses do rei,
como foi o caso citado historicamente nos idos de Henrique V, na obra referida a
seguir.
já o mandato representativo é envolto pela teoria da representação, quando
em lições de Giovanni S artori4 se dá uma forma de nascimento de uma espécie de
Estado representativo.
No mandato representativo, a ideia de vínculo entre eleito e eleitor dá margem
à criação da representação da Nação como fruto da vontade geral. Sobre essa
teorização Rousseau tratou do governo representativo,
0 mandato político, dizia Paulo Lacerda,5 “é singularíssimo por sua mesma
natureza; sempre outorgado a certa e determinada pessoa (inutito person ae). Por
isso, se não pode ceder, transferir, nem subestabelecer".
Por fim, fala-se hodiernamente na formação de uma mandato partidário que,
trazendo um pouco das características do mandato imperativo, aproximará o eleito
do eleitor e do partido político, assim, cumprem-se metas e programas partidários
pré-definidos.
O eleito é fiel aos programas estatutários e o eleitor vota nessa fidelidade
objetivando a concretização da melhoria da qualidade social, cultural, econômica e
propriamente política.
Sobre o assunto, destacamos notícia publicada no sítio do Egrégio Supremo
Tribunal Federal:

4 “Teoria da Representação no Estado Representativo Moderno”, in Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1962, p. 41.
5 Princípios de Direito Constitucional Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Azevedo, 1929, v. li, p. 33.

8
D ir e it o s P o l í t i c o s . N a c io n a l id a d e .
C id a d a n ia . S u f r á g io e su a s E s p é c ie s C apítulo 1

0 Supremo decidiu que a infidelidade partidária pode gerar perda de mandato.


A decisão decorreu, primeiramente, em função do Mandado de Segurança 26.603-1
Distrito Federal. Rei. Ministro Celso de Melo.
Destacamos significativo trecho do voto do excelentíssimo Ministro Celso de
Melo, in expressi verbis: "A ruptura dos vínculos de caráter partidário e de índole
popular, provocada por atos de infidelidade do representante eleito (infidelidade
ao partido e infidelidade ao povo), subverte o sentido das instituições, ofende
o senso de responsabilidade política, traduz gesto de deslealdade para com as
agremiações partidárias de origem, compromete o modelo de representação
popular e frauda, de modo acintoso e reprovável, a vontade soberana dos cidadãos
eleitores, introduzindo fatores de desestabilização na prática do poder e gerando,
como imediato efeito perverso, a deformação da própria ética de governo, com
projeção vulneradora sobre a própria razão de ser e os fins visados pelo sistema
eleitoral proporcional, tal como previsto e consagrado pela Constituição da
República” (grifos nossos).
Por oito votos o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu nessa quinta-feira (4)
que a infidelidade partidária pode gerar perda de mandato. A decisão passou a valer
a partir do dia 27 de março de 2007, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
disse que o mandato político pertence ao partido, e não ao parlamentar.
0 voto condutor da decisão foi o do Ministro Celso de Mello, para quem a mudança
de partido sem uma razão legítima viola o sistema proporcional das eleições,
determinado no art. 45 da Constituição Federal, desfalcando a representação dos
partidos e fraudando a vontade do eleitor. Seguiram esse entendimento os Ministros
Cármen Lúcia Antunes Rocha, Carlos Alberto Menezes Direito, Carlos Ayres Britto,
Cezar Peluso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Ellen Gracie.
A modulação dos efeitos da decisão, ou seja, a partir de quando ela passará a
valer, foi decidida por maioria, com o voto de seis ministros. Ao todo, três correntes
se formaram sobre o tema. A corrente vencedora foi a que tomou como ponto de
partida o pronunciamento do TSE, e foi defendida por Celso de Mello, Cármen Lúcia
Antunes Rocha, Carlos Alberto Menezes Direito, Cezar Peluso, Gilmar Mendes e
Ellen Gracie.
Outras duas vertentes defendiam que a decisão valesse a partir daquela data
(Joaquim Barbosa) ou desde o início dessa legislatura (Carlos Ayres Britto e Marco
Aurélio),
Os Ministros Eros Grau e joaquim Barbosa disseram que a Constituição Federal
não prevê perda de mandato por infidelidade partidária. O Ministro Ricardo
Lewandowski não chegou a se pronunciar sobre a matéria por entender que ela
não poderia ser discutida por meio de mandado de segurança, uma vez que seria
necessária a produção de provas, o que o Supremo entende ser incabível nesse tipo
de ação.

9
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

A discussão foi feita por meio de três mandados de segurança em que o PPS, o
DEM e o PSDB pediam de volta os mandatos de deputados que abandonaram as
legendas. Ao todo estavam em jogo 23 mandatos, mas somente uma parlamentar
mudou de partido após a consulta ao TSE, a deputada baiana Jusmari Oliveira, que
saiu do DEM para o PR. Por isso, só o cargo dela poderá ser devolvido ao DEM, após
o TSE analisar o caso, oferecendo à parlamentar o direito ao devido processo legal,
à ampla defesa e ao contraditório {site do STF, em 04 de outubro de 2007).
Neste panorama de formação jurisprudencial contemporânea, é possível concluirmos o
que a natureza jurídica do mandato é de espécie partidária, porque os votos atribuídos :
ao candidato não são exclusivamente alinhados dentro de uma relação entre eleitor e
eleito, más principalmente éntre eleitor-partido político e eleito.

10
C id a d a n ia . S ufrágio
D ir e it o s
-H Universal^ amplo; irrestrito |

P o l í t i c o s . N a c io n a l id a d e .
e suas
E spécies
_______________________________________________________
. ^jÇ IZ I .. .. ,1 ..- .,
pássivòs: Positivos Negativos

ser votado participação j restrições


do cidadão |Ex.: inelegíveis!

Marcos Ram ayana • D ireito Eleitoral 10 a EdiçSo • Capftufo 1 - Direitos Poiítios. N acionalidade. Cidadania, Sufrágio e suas espécies
C apítulo 2

C o n c e it o de D ir e it o E le it o r a l .
C o n c e it o e espécies de
d em o cra cia .
P rin cípio s

2 .1 . CONCEITO DE DIREITO ELEITORAL


0 Direito Eleitoral é um conjunto de normas jurídicas que regulam o processo de
alistamento, filiação partidária, convenções partidárias, registro de candidaturas,
propaganda política eleitoral, votação, apuração, proclamação dos eleitos, prestação
de contas de campanhas eleitorais e diplomação, bem como as formas de acesso aos
mandatos eletivos através dos sistemas eleitorais.
Na verdade, o Direito Eleitoral tem por função regulamentar a distribuição do
eleitorado, o sistema eleitoral, a forma de votação, a apuração, a diplomação e garantir a
soberania popular através do voto eletrônico ou do depósito da cédula na urna eleitoral
Não podemos olvidar de que o Direito Eleitoral possui sua fonte principal na
Constituição da República, extraindo do seu texto o conceito, as noções e os
princípios regedores das decisões, resoluções, consultas e legislação em geral,
i Conceitua-se a eleição como um efetivo processo em que o cidadão previamente
alistado e, portanto, titular da capacidade eleitoral ativa, por intermédio do voto,
•v;-manifesta sua vontade na escolha de um representante ou em uma proposta que se
faz apresentar pelos poderes públicos políticos. •••. • '
Especificamente sobre a conceituação didática do Direito Eleitoral, socorremo-
nos das lições dos mestres:
Joel José Cândido:
0 Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público que trata de institutos
relacionados com os direitos políticos e das eleições, em todas as suas
fases, como forma de escolha dos titulares dos mandatos eletivos e das
instituições do Estado.1

1 Direito Eleitoral Brasileiro, 4a ed., Bauru, SR Edipro, 1994, p. 26.


M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Fávila Ribeiro:
0 Direito Eleitoral, precisamente, dedica-se ao estudo das normas e
dos procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento
do poder de sufrágio popular, de modo a que se estabeleça a precisa
adequação entre a vontade do povo e a atividade governamental.2
Torquato Jardim:
O Direito Eleitoral é o liame que une a eficácia social da República
democrática representativa à eficácia legal da Constituição, que lhe
dá forma jurídica. A soberania popular é a pedra angular da República
(Constituição, art. l e, parágrafo único); à proposição sociológica
juridicizada na norma há de corresponder um ordenamento positivo -
o Direito Eleitoral, capaz de concretizá-la na práxis coletiva.3
Gomes Neto:
Ao Direito Eleitoral caberia o papel de harmonizar o quanto possível
as "divergências sociais", trazendo esperança e conforto às minorias
políticas, como também às maiorias exploradas, de cada nação.4
Desta forma, podemos conceituar o Direito Eleitoral como ramo do Direito
Público que disciplina o alistamento eleitoral, o registro de candidatos, a propaganda
política eleitoral, a votação, apuração e diplomação, além de regularizar os sistemas
eleitorais, os direitos políticos ativos e passivos, a organização judiciária eleitoral,
dos partidos políticos e do Ministério Público dispondo de um sistema repressivo
penal especial.
O Direito Eleitoral compreende e abrange o processo das eleições e o aparelho
judiciário especial, como nos ensina Themístocles Brandão Cavalcanti, em sua obra,
A Constituição Federal Comentada, vol. 1, 3a edição, Rio de janeiro, Editora José
Konfino, 1956, p. 114.
A competência da Justiça Eleitoral vai até a fase da diplomação dos candidatos e
prolonga-se no exame das ações propostas durante a fase do processo de propaganda
política eleitoral e votação, bem como em relação à ação de impugnação ao mandato
eletivo e ao recurso contra a diplomação.
O ato da posse dos diplomados refoge à competência da Justiça Eleitoral, porque
demanda análise regimental e é de feição típica da esfera do Poder Executivo ou
Legislativo controladores da atividade funcional do representante político. No
entanto, os atos de improbidade administrativa do mandatário político não estão
imunes ao controle jurisdicional, v.g., mandado de segurança, ação popular e ação
civil pública (Lei n9 8.429/92).

2 Abuso de Poder no Direito Eleitoral, RJ, Forense, 1986, p. 12.


3 introdução ao Direito Eieitoral Positivo, Brasília Jurídica, 1994, p. 10.
4 O Direito Eleitoral e a Realidade Democrática, RJ, Editora José Konfino, 1953, p. 12.

14
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

A franquia eleitora! ou capacidade eleitoral ativa é que faz o indivíduo


transformar-se em eleitor e ter assegurado, pelas normas jurídicas constitucionais
e eleitorais vigentes, o pleno exercício do direito de votar.
Dessa forma, é possível identificar que, nas democracias mais antigas, a franquia
eleitoral era um atributo da própria cidadania.
No direito feudal era um privilégio dos senhores proprietários das terras.
Na fase do constitucionalismo, a franquia era uma espécie de direito natural do
homem.
No direito moderno é uma função pública, e o eleitorado é visto conforme uma
espécie de órgão governamental.
Por fim, hodiernamente, podemos identificar que a franquia ou capacidade
eleitoral, ativa deve ser analisada sob o prisma de se constituir em um atributo
do eleitor na sua formação educacional pública de agente integrante dos destinos
efetivos e imediatos das mutações rotineiras da vida e na formação das leis mais
apropriadas à alteração da qualidade da cidadania. 0 eleitor é a peça chave da
engrenagem política engendrada pelos partidos políticos, formando-se, nesta cadeia
dos sistemas eleitorais, uma aproximação mais real das necessidades emergentes
da modificação do panorama social, econômico, político e cultural da civilização.
0 eleitor não é o Estado, mas parte deste; não é um ente abstrato, mas real,
concreto; e ao deliberar de forma mais próxima, ou até em conjunto com os partidos
políticos, é corresponsável pelos destinos da sociedade.
Nessa transformação da realidade, o eleitor deve ter os atributos mais
aperfeiçoados do controle do voto, caminhando para a plena concretude da
participação popular na apresentação de projetos de lei, bem como no cenário da
própria votação de temas que afetam a qualidade de vida e marcam o futuro das
gerações.
 legislação eleitoral deve sempre procurar formas de aproximação do eleitor
com bs partidos políticos e os representantes do mandato partidário, inclusive
ha votação sobre a tramitação dos projetos de lei e de temas relevantes. 0 eleitor
■ nã.o é apenas um expectador do exercício enigmático do mandato eletivo, mas
agente participante da fidedigna representação popular e partidária.

2 .2 . DEMOCRACIA
A dem ocracia pode ser conceituada como governo em que o povo exerce, de
fato e de direito, a soberania popular, dignificando uma sociedade livre, onde o fator
preponderante é a influência popular no governo de um Estado. Origem etimológica:
dem os ~ povo e k ratos = poder.
Foi o eminente doutrinador Giovanni Sartori que, com singular propriedade
literária, definiu a democracia etimológica. Diz o mestre:

15
M a r c o s R a m ayan a D ir e it o E l e it o r a í

(...) Demos, no século V a.C., significava a comunidade ateniense


reunida em ekklesia. Contudo, mesmo assim definida, demos pode ser
reduzida a plethos, isto é, o plenum, o corpo inteiro; ou a pollói, o grande
número; ou a pléiones, a maioria; ou a óchlos, a massa (sendo este um
significado degenerado). E, no instante em que demos é traduzido para
uma língua moderna, as ambigüidades aumentam. 0 termo italiano
popolo, tão bem como seus equivalentes em francês e alemão (peuple,
volk), transmite a noção de entidade singular, enquanto que a palavra
inglesa people indica pluralidade. No primeiro caso, somos facilmente
levados a pensar que popolo denota um todo orgânico que pode ser
expresso por uma vontade geral indivisível, enquanto que, no último
exemplo dizer a palavra “democracia" é como pronunciar policracía,
uma multiplicidade separável constituída de cada uma das pessoas.
(Assim, não é por mera coincidência que as interpretações puristas
do conceito tenham provindo de estudiosos que raciocinaram em seus
próprios idiomas, alemão, francês ou italiano). Conclui-se daí que o
nosso conceito de “o povo" tem de ser reduzido, pelo menos, a cinco
interpretações:
1- povo significando uma pluralidade aproximada, exatamente com o
um grande número;
2 - povo significando uma pluralidade integral, todas as pessoas;
3 - povo como entidade ou como um todo orgânico;
4 - povo como uma pluralidade expressa por um princípio de maioria
absoluta e;
5 - povo como uma pluralidade expressa pelo princípio de uma maioria
limitada.5
A democracia, em síntese conceituai, exprime-se como um governo do povo,
sendo um regime político que se finca substancialmente na "soberania popular"
compreendendo os direitos e garantias eleitorais, as condições de elegibilidade, as
causas de inelegibilidade e os mecanismos de proteção disciplinados em lei para
impedir as candidaturas viciadas e que atentem contra a moralidade pública eleitoral,
exercendo-se a divisão das funções e dos poderes com aceitação dos partidos
políticos, dentro de critérios legais preestabelecidos, com ampla valorização das
igualdades e liberdades públicas.
Entendemos que a democracia só se aperfeiçoa com o ensinamento ao eleitorado
de lições de cidadania, direitos e deveres, prestações sociais exigíveis dos Poderes
Públicos e dos órgãos existentes, além de permanentes cursos que lecionem, aos
futuros candidatos e mandatários políticos, regras eleitorais, cívicas, legislativas e
de conhecimento amplo sobre vários aspectos culturais.
Como observamos, em sentido geral:

5 Texto extraído de Teoria Democrática, 1a ed., Portugal, Editora Fundo da Cultura, 1962, pp. 32-33.

16
C o n c e it o d e D ir je it o E l e it o r a l C o n c e it o e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia P r in c í p i o s C apítulo 2

(...) democracia designa um modo de vida numa sociedade em que se


acredita que cada indivíduo tem direito a participar livremente dos
valores dessa sociedade. Num sentido mais limitado, democracia é a
oportunidade dos membros da sociedade de participarem livremente
das decisões em qualquer campo, individual ou coletivamente. No seu
sentido mais restrito, o termo designa a oportunidade dos cidadãos
de um Estado de participarem livremente das decisões políticas mais
específicas que lhe afetam a vida individual e coletiva.6
A democracia, ainda, pode ser vista como:
a) democracia liberal ou liberal-democracia, onde o cerne da questão é a abstenção
de interferência do Estado no aspecto econômico, ou seja, nas atividades
econômicas e financeiras. Tipologia democrática ardorosamente defendida
pela "livre iniciativa” deixando o capitalismo e a ordem econômica e financeira
absolutamente livres das ingerências do Estado.
Na verdade, esse sistema, em sua pureza de princípios, revela-se uma utopia, na
medida em que todo Estado intervém na ordem econômica e financeira, basta
a caracterização do sistema tributário de receitas e despesas, lançamentos
e arrecadações para perscrutar-se da intervenção nessa matéria; portanto,
denomina-se liberal-democracia o regime em que essa intervenção faz-se menos
acentuadamente ou em grau menor de padrões de comparação;
b) a democracia social ou social-democracia, caracteriza-se basicamente pela
adequação da ordem econômica e financeira aos parâmetros de justiça social,
onde a liberdade de iniciativa deve respeitar a valorização do trabalho humano.
Pelo exame do texto constitucional em vigor no Brasil, verifica-se a incidência de
premissas da social-democracia, como nos arts. 1 7 0 ,1 7 3 , § 4-, 175, parágrafo único,
1 8 6 ,1 9 4 , 205, 215, 225, todos da Constituição Federal, entre outros.
A democracia popular seria aquela que se estabelece por uma "ditadura do
proletariado” onde é permitida a existência de vários partidos, mas que se unem
sempre numa chapa comum com o Partido Comunista, vivificando-se o sistema
unipartidário.
Seja qual for a forma pela qual se expresse a democracia hodiernamente,
conclui-se que nenhum regime democrático pode ser duradouro se deixar de
lado o nivelamento das camadas sociais, o desenvolvimento gradual na educação,
combatendo-se a pobreza generalizada e a valorização primordial do homem e de
critérios humanísticos, buscando, em cada indivíduo, suas reais potencialidades,
dando-lhe mecanismos de exteriorização plena dessas potencialidades em prol
do desenvolvimento do Estado solidário, democrático, sem que a propriedade
individual atenda, tão somente ao seu titular, mas aos interesses humanos do bem-
estar do w elfare State, combatendo-se todas as formas de corrupção e as práticas
fisiológicas.

6 Texto extraído do Dicionário de Ciências Sociais, 2a ed., FGV, 1987, p. 316.

17
M a r c o s R am ayana D sr jeito E l e it o r a l

J.J. Gomes Canotilho, mestre de Direito Constitucional e professor da Faculdade


de Direito de Coimbra, profundo conhecedor dos princípios estruturantes da
democracia, mostra-nos, claramente, em sua magnífica obra Direito Constitucional,
as várias teorias da democracia, sua caracterização e concretização.
Ao tratar das modernas teorias da democracia, menciona a teoria democrático-
pluralista, que se assenta na formação de grupos, onde as decisões estaduais são
resultados do que denomina de imputs veiculadores das idéias externadas por estes
grupos. Cita o mestre a teoria das elites ou elitista da democracia como forma de
domínio, sendo a democracia não um poder do povo, mas das elites, escolhidas de
forma limitada pelo próprio povo, e a teoria “ordo-liberal” ou seja, o neoliberalismo
manifestando-se como propriedade privada dos meios produtivos, ampla liberdade
econômica na economia livre de mercado.
A democracia classifica-se, também, em: a) democracia direta; b) democracia
representativa ou indireta; e c) democracia semidireta ou mista, também
denominada do tipo plebiscitária.
Por democracia direta, entende-se a ausência de outorga de mandato do povo
aos parlamentares e representantes políticos em geral, sendo as funções políticas
geridas e desenvolvidas pelos próprios detentores do direito de votar.
Historicamente, a democracia direta identifica-se em comunidades de pequena
densidade demográfica, mas a capacidade eleitoral ativa é delimitada apenas a
pequenos núcleos de cidadãos que podem exercer o direito ao voto.
Critica-se a democracia direta, primeiramente pela sua inexpressividade no
contigente eleitoral e, em segundo lugar, por representar uma "antessala da
ditadura, um convite a um partido totalitário da oposição para manobrar a agitação,
organizar o descontentamento e a vontade do povo
Como forma de organicidade estatal, a democracia direta exerce um controle nas
instituições políticas, v.g., Cantões da Suíça.
Na democracia representativa, tipo indireta, manifestam-se duas vontades:
a do grupo, imperativa, à margem de qualquer respaldo jurídico,
e a dos governantes. Sendo assim, o poder legal, o poder do Estado,
talvez não corresponda ao poder do povo. E é nesse hiato eventual
que está a explicação do fenômeno político capital que caracteriza as
democracias modernas: o advento dos poderes de fato ou de forças que
geram agrupamentos, cuja formação decorre de um certo fim desejado
por seus membros.8
Os eleitos detentores do ius honorum representam “em tese1' os ideais do
eleitorado, para cumprir os programas, metas e estratégias administrativas
defendidas no decorrer da campanha eleitoral.

7 Talmon, J. L. The rise of totalitarían democracy. Boston: Beacon Press, 1952, p. 207.
8 Burdeau, G. La democracia. Barceiona: Ariel, 1960, pp. 43-46.

18
C o n c e it o d e D ir e i t o E l e it o r a l . C o n c e it o e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

Na democracia indireta, faz-se presente o princípio da delegabilidade da


soberania popular em sua máxima expressão, pois os eleitores escolherão os
candidatos previamente selecionados pelos partidos políticos para exercerem, por
delegação, o integral cumprimento das promessas feitas.
JJ. Gomes Canotilho, ao pronunciar-se sobre o princípio da imediaticidade do
voto, salienta que:
no sufrágio indireto ou mediato, os eleitores limitam-se a eleger um
colégio de delegados eleitorais (grandes eleitores) que, por sua vez,
escolherão os candidatos para os diversos órgãos do poder político.
Um problema suscitado pelo princípio da imediaticidade é o da
permanência, como deputado, do candidato eleito que abandona a
lista submetida à votação imediata dos eleitores. Se a votação por lista
escolhida pelos partidos tem sido considerada como compatível com
o princípio da imediação, já o abandono do partido da lista do qual
foi eleito pode levantar problemas se o princípio da imediaticidade do
sufrágio for analisado com devido rigor. Os mesmos problemas põem-
se quando existem fracionamentos de partidos ou novas formações
partidárias. A favor da manutenção do mandato, invoca-se o princípio
da representação: o deputado representa o povo, e não os partidos, e
pode inclusivamente ser um candidato independente. A favor da perda
do mandato, esgrime-se com o fato de o deputado, ao abandonar o
partido, renunciar, de fato, ao seu próprio mandato como deputado.9
Rui Barbosa, ao referir-se à Constituição americana, leciona com superior
maestria que os fundadores daquela Constituição,
(...) em cujos sentimentos embeberam-se os autores da Constituição
brasileira, envidaram todos os recursos, para estabelecer nesse
instrumento de limitação de poderes um anteparo sério, não contra
o executivo somente, mas, e talvez mais, contra as assembleias.
Nos governos onde um monarca hereditário reúne em suas mãos
um conjunto de prerrogativas poderosas, desse lado é que está o
perigo da liberdade. Nas democracias, porém, há mais de um século
foi demonstrado pela doutrina de Madíson que "é contra a arrojada
ambição dos corpos representativos que o povo deve observar a maior
desconfiança, e esgotar absolutamente as precauções". A mais grave
das contingências, nesse regime, e mais provável, "está nas usurpações
da legislatura, que, conglobando todo o poder nas mesmas mãos, seria
origem de uma tirania semelhante à das usurpações administrativas",
mais ainda formidável do que a destas, jefferson, o próprio Jefferson, o
mais saturado entre todos os americanos, no contágio das influências
da Revolução Francesa, jefferson mesmo clamava contra essa ameaça:
“Não foi por um despotismo eletivo que nós pelejamos, mas por um
governo que, fundando-se nos princípios liberais, tivesse os poderes

9 Direito Constitucional, Coimbra, Livraria Aimedina, 1993, pp. 433-434.

19
M arcos R a m a y a n a D ir e it o E l e it o r a l

públicos de tal arte repartidos e contrabalançados entre os vários


corpos do Estado, que nenhum conseguisse transcender os confins
legais, sem ser incontinenti detido e contido pelos outros."10
Na democracia semidireta, mesdam~se institutos jurígenos concernentes
a manifestações do exercício do poder de decisão, onde a soberania popular
exterioriza-se mediata e imediatamente.
Esse tipo de democracia fica evidenciada em regimes normativo-constitucionais,
onde se situam institutos como a iniciativa popular, referendos e outros, inerentes
à exteriorização da soberania popular.
Vale registrar que até mesmo regimes que não são declarados democráticos
possuem raízes na participação prévia ou posterior da legislação.
A Constituição do Japão, promulgada em 3 de novembro de 1946 e em vigor
desde 3 de maio de 1947, estabelece, v.g,t no art. 95, que uma lei especial aplicável
a uma determinada entidade local (distrito, circunscrição, "município") não pode
entrar em vigor pela Dieta (que é o mais alto órgão do poder estatal e o único dotado
de função legislativa), sem o consentimento da maioria dos eleitores da entidade
pública local interessada, obtido de acordo com a lei.
Dispõe, ainda, o art. 96 que um referendum especial popular, de natureza nacional,
ratificará as eventuais emendas à Constituição, iniciadas pela Dieta.
A Constituição de Cuba, que é um Estado socialista de operários e camponeses,
de 24 de fevereiro de 1976, disciplina vários institutos da democracia direta, por
exemplo: condicionamento do exercício das funções pelas Assembleias Locais do
Poder Popular, que se apoiam na iniciativa e ampla participação popular e atuam em
estreita coordenação com as organizações sociais e de massas; fixação da iniciativa
das leis pelos cidadãos, estando os mesmos na condição jurídica de eleitores e em
número de dez mil (art. 86, alíneag); os deputados da Assembleia Nacional do Poder
Popular podem ser destituídos a todo o tempo por seus eleitores, na forma e pelo
processo estabelecido em lei; e submissão prévia à consulta popular de aprovações,
modificações e revogações de leis, quando se considerar procedente em atenção à
índole da legislação de que se trate.
A Constituição da Espanha dá-nos exemplos da adoção do referendo do corpo
eleitoral das províncias compreendidas no âmbito territorial delimitado; consultas
populares; da audição dos cidadãos, diretamente ou através das organizações
e associações reconhecidas pela lei, no processo de elaboração das providências
administrativas que lhes digam respeito (art. 105); submissão das decisões
políticas de especial importância ao referendo consultivo de todos os cidadãos,
sendo o referendo convocado pelo rei, sob proposta do presidente do Governo,
previamente autorizado pelo Congresso do Deputados, além de remeter a

10 Rui Barbosa. Os Atos Inconstitucionais do Congresso e do Executivo, Cia. Impressora, 1893, pp. 165-166.

20
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia P r in c íp io s C apítulo 2

legislação infraconstitucional à competência legiferante para disciplinar as diversas


modalidades de referendos (art. 92, n2 3).
Verifica-se que os institutos da democracia direta fazem-se presentes em muitas
Constituições, tendo as susomencionadas servido apenas de ilustração. Esses
institutos apresentam-se tanto em regime democrático como em outros, pois são
mecanismos inalienáveis da soberania popular, restando sua adoção, como base
estrutural dos Estados hodiernos, direito de que não se pode prescindir numa
organização instrumental do poder.
Mas a efetiva adoção dos referendos e demais institutos é de rara incidência
prática e, no dizer de J.J. Gomes Canotilho, ao referir-se à Constituição portuguesa,
de “duvidosa bondade constitucional".
Por outro lado, a democracia indireta é cada vez menos acentuada, em função de
os textos constitucionais adotarem gradualmente os institutos caracterizadores da
democracia direta, podendo-se afirmar que a extinção da democracia puramente
indireta é fato inconteste.
A percepção da democracia semidireta mostra-se em diferentes níveis de
intensidade, que variam segundo o tipo de participação do povo nas decisões.
No Brasil, a Constituição Federal vigente retrata nitidamente a democracia
plebiscitária ou sémidireta, através da adoção de instrumentos democráticos como
o referendo, plebiscito, controle popular nas contas municipais (art. 31, § 39),
í iniciativa popular de projetos de lei e vários outros.
Diversas são, portanto, as doutrinas democráticas e as formas de exteriorização
dos institutos caracterizadores da democracia. Por outro lado, porém, nenhuma
democracia é capaz de ficar imune aos antagonismos fomentados, sem preservar
a moralização eleitoral que consiste, hodiernamente, na higidez das candidaturas
que devem, à época de seus registros, sofrer rigorosa fiscalização dos órgãos
constitucionalm ente incumbidos dessa tarefa, garantindo-se o sigilo absoluto
do voto, a informatização do processo eletivo eleitoral, a igualdade nos gastos
da propaganda eleitoral, extirpando-se aquilo a que o saudoso Rui Barbosa
já se referia, nos idos de 1910: a "intimação e o suborno", e tornando eficazes
os mecanismos jurídicos de controle preventivo e sucessivo das candidaturas
originariamente viciadas ou que se viciaram durante as campanhas eleitorais e
fases do processo eleitoral, estabelecendo-se o “recato impenetrável da cédula
eleitoral" como a ratio essendi das alterações legiferantes em matéria eleitoral,
efetivando-se definitivamente nas escolas, faculdades, universidades e nos
estabelecim entos de ensino público ou privado, cursos básicos de lições sobre
Direito Eleitoral.

21
M a r c o s R a m ayan a D ir e it o E l e it o r a l

2 .3. PRINCÍPIOS DO DIREITO ELEITORAL


2.3.1. Princípio da lisura das e leiçõ es
Toda a atuação da Justiça Eleitoral do Ministério Público, dos partidos políticos
e candidatos, inclusive do eleitor, deve pautar-se na preservação da lisura das
eleições.
A preservação da intangibílidade dos votos e da igualdade de to d o s os candidatos
perante a lei eleitoral e na propaganda política eleitoral ensejam a observância ética
e jurídica deste princípio básico do Direito Eleitoral.
As eleições corrompidas, viciadas, fraudadas e usadas como campo fértil
da proliferação de crimes e abusos do poder econômico e/ou político atingem
diretamente a soberania popular tutelada no art. 1-, parágrafo único, da Constituição
Federal, “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição", ver, ainda, os arts. 5-, LXXI11,
14, 27, 2 9 ,1 a IV, 45, 46, 60, § 4 2, II, e 61, § 2*, todos da Constituição Federal
No âmbito do Direito Eleitoral, o princípio está diretamente tratado no art. 23 da
Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990):

O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos
e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando
para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas
partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral.

A norma ainda indica uma regra de interpretação pelos tribunais e juizes elei­
torais, pois, na tutela da integridade das eleições, as provas indiciárias servem como
base de fundamentação de uma decisão judicia], desde que concatenadas em elos
de interligação para formarem um suporte razoável de convicção e fundamentação.
No entanto, a produção destes indícios não coloca o juiz equidistante da realidade
democrática das eleições, na medida em que poderá, de ofício, produzir as provas
que julgar necessárias à elucidação do abuso do poder econômico, político, captação
de sufrágio e fraude.
Á garantia da lisura das eleições nutre-se de especial sentido de proteção aos
direitos fundamentais da cidadania (cidadão-eIeitor), bem como encontra aíiçèrçe
: jurídico-cònstitucional nos arts. i s, inciso II, e 14, § 9- da Lei Fundamental.:

2.3.2. Princípio do aproveitam ento do voto


O aproveitamento do voto deve pautar a atuação da Justiça Eleitoral, preservando
a soberania popular, a apuração dos votos e a diplomação dos eleitos.
De forma similar ao Direito Penal, que trata do princípio básico do in dubio pro
reo, no âmbito do Direito Eleitoral deve-se adotar o princípio do in dubio pro voto.
Neste sentido, o art. 219 do Código Eleitoral serve como norte de interpretação: "Na

22
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l . C o n c e it o e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia P r in c íp io s C apítulo 2

aplicação da lei eleitoral o Juiz atenderá sempre aos fins e resultados a que ela se
dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo".
0 legislador eleitoral adotou o conhecido princípio da p as de nullité sans g r ie f
Aplica-se de forma subsidiária o art. 566 do Código de Processo Penal, até por
expressa previsão no art. 364 do Código Eleitoral.
Adotou o legislador eleitoral o sistema mitigado do formalismo das nulidades,
pois se contenta em admitir a sanabiíidade de nulidades classificadas como
absolutas, quando as partes interessadas não impugnarem, no momento preciso, os
vícios e fraudes eleitorais. Neste sentido, dispõe o art. 149 do Código Eleitoral: "Não
será admitido recurso contra a votação, se não tiver havido impugnação perante a
mesa receptora, no ato da votação, contra as nulidades arguidas”
Como visto, até mesmo diante de nulidades tidas como absolutas, se não forem
alegadas no momento previsto (votação), não poderão ser conhecidas de ofício pela
Justiça Eleitoral.
Na verdade, o princípio do aproveitamento do voto deve ser correlacionado
com o da lisura das eleições, pois se a fraude, a corrupção e os vícios captativos do
p ro cesso eleitoral forem evidentes, entendemos que o órgão jurisdicional poderá
conhecê-los de ofício nos prazos das ações eleitorais (AIME, 1JE, Captação de
Sufrágio e RCD).
É importante ainda ressaltar que as matérias de ordem constitucional ou de
conhecimento superveniente ao prazo de sua arguição podem ser suscitadas,
conforme dispõe o art. 223 do Código Eleitoral: "A nulidade de qualquer ato, não
decretada de ofício pela Junta, só poderá ser arguida quando de sua prática, não
mais podendo ser alegada, salvo se a arguição se basear em motivo superveniente
ou de ordem constitucional" Em con son ân cia com este artigo, ainda temos o tratado
no art. 259 do Código Eleitoral, "São preclusivos os prazos para interposição de
recurso, salvo quando neste se discutir matéria constitucional”.
Sobre matéria constitucional, entendem-se, por exemplo: a) condições de
elegibilidade dispostas no art. 14, § 32, da Constituição Federal; b) inelegibilidade
reflexa, art. 14, § 7 a, da Constituição Federal; e c) causas de perda e suspensão dos
direitos políticos, art. 15 da Constituição Federal. Assim, se na ação de impugnação
ao pedido de registro de candidaturas não for impugnada a falta de filiação de um
candidato, no prazo de um ano o seu mandato eletivo poderá ser impugnado através de
ação de impugnação de mandato eletivo, no prazo de 15 dias contados da diplomação
(art. 14, §§ 10 e 11, da CF), pois não haverá preclusão ou decadência nesta arguição,
mas, após os 15 dias da diplomação, mesmo sendo matéria de ordem constitucional,
não é possível sua alegação e seu conhecimento pela Justiça Eleitoral.
O princípio do aproveitamento do voto pode ser aviventado para evitar a
nulidade de votos contidos em urnas eletrônicas ou nas cédulas, quando a Junta
Eleitoral verificar que é possível, pela adoção do princípio da razoabílidade, separar

23
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

os votos nulos dos válidos (não contaminados pela fraude). Não é razoável anular
todos os votos de uma urna eletrônica pelo fato de ter sido violado o sigilo de
votação somente após às 14 horas do dia da eleição, desprezando-se todos os votos
já manifestados e armazenados na urna até as 13 horas e 59 minutos.

2.3.3. Princípio da celeridade


Como exemplo, significa que as decisões eleitorais devem ser imediatas, evitando-
se delongas para fases posteriores à data da diplomação, sendo verdadeiras exceções
os casos que possam demandar um julgamento para além da posse. A diplomação
é a última fase do processo eleitoral e, a rigor, admite-se o julgamento da ação de
impugnação ao mandato eletivo (prazo de 15 dias) e o recurso contra a diplomação
(prazo de três dias), ambos tendo como marco inicial a data da outorga dos diplomas,
além do julgamento posterior da ação de investigação judicial eleitoral com base
no art. 22 da Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de
1990).
Admite-se, ainda, o julgamento da ação de impugnação ao pedido de registro
de candidatos, após as eleições (ver os efeitos do art. 15 da LC ns 64/90), mas,
na verdade, em homenagem à preservação da estabilidade das eleições, devem-se
evitar julgamentos após o exercício do mandato eletivo.
A celeridade manifesta-se no próprio cumprimento das decisões da Justiça
Eleitoral. Nesse sentido, dispõe o art. 257, parágrafo único, do Código Eleitoral, "A
execução de qualquer acórdão será feita imediatamente, através de comunicação
por ofício, telegrama, ou, em casos especiais, a critério do presidente do Tribunal,
através de cópia do acórdão". Trata-se da adoção da tutela de imediaticidade,
visando à pronta e eficaz adoção das medidas legais que ocorrem, muitas das vezes,
durante o processo de votação.
Em atenção ao princípio da celeridade, os advogados dos candidatos, partidos
políticos e coligações devem fornecer, de forma obrigatória, o número do fax,
telefone e endereço, inclusive eletrônico, de seus escritórios ou do local de
intimação, indicando o nome da pessoa responsável para recebê-la. Neste sentido,
por exemplo, ver a norma do art. 28, II, da Resolução n~ 22.717/08

DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E PERDA DO MANDATO ELETIVO


A Lei ns 12.034/09 acrescentou o art. 97-A e seus §§ l 2 e 2S na Lei ne 9.504/97,
firmando a necessidade de se observar no devido processo legal eleitoral um período
máximo de julgamento de l(u m ) ano entre a propositura da ação e o resultado final
nas instâncias eleitorais, inclusive sob pena de representação ao Conselho Nacional
de Justiça, além de eventual responsabilidade administrativa funcional e renovação
do pedido na via judicial com supressão de instância, objetivando a celeridade do
julgado, art. 97 e §§ 1 - e 2 - da Lei das Eleições.

24
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

Diz o texto legal,

“Art. 97-A. Nos termos do inciso LXXVIII do art. 5- da Constituição


Federal considera-se duração razoável do processo que possa resultar
em perda de mandato eletivo o período máximo de 1 (um) ano, contado
da sua apresentação à Justiça Eleitoral.
§ l s A duração do processo de que trata o caput abrange a tramitação
em todas as instâncias da Justiça Eleitoral.
§ 29 Vencido o prazo de que trata o caput, será aplicável o disposto no
art. 97, sem prejuízo de representação ao Conselho Nacional de Justiça".
Como se nota, a regra da efetiva proteção jurisdicional se faz presente
no processo eleitoral que conduz à perda do mandato eletivo, como
por exemplo, a ação de impugnação ao requerimento de registro de
candidatos (art. IS da Lei ns 9.504/97); a ação de captação ilícita de
sufrágio (art. 41-A da Lei ne 9.504/97); a ação de captação ou gastos
ilícitos de recursos ou representação (art. 30-A e parágrafos da Lei
n2 9.504/97), a ação de impugnação ao mandato eletivo, (art. 14,§§ I a
e 11 da Constituição Federal), o recurso contra a expedição do diploma
(art. 262 do Código Eleitoral), e a representação sobre condutas vedadas
(art. 73,§5â, e 75, parágrafo único da Lei n9 9.504/97).

Assim, o legislador tratou de contemplar na Lei das Eleições a garantia efetiva


da proteção judicial, pois é cediço que se registrou casos em que o diplomado eleito
exercia o mandato em toda a sua plenitude pelo prazo de 4 (quatro) anos e a ação
ainda não tinha a solução final.
Com a nova regra, imprime-se a celeridade que é já consagrada um princípio do
devido processo legal eleitoral. No entanto, para os demais processos e questões
eleitorais, a norma de regência sempre será o disposto no art. 5 9 LXXVIII da Carta
Magna, pois a norma infraconstitucional retrata uma especialidade relativa ao
prazo, quando firma l(um ) ano entre a apresentação do caso e seu julgamento final
no âmbito de competência da Justiça Eleitoral.

Qual é a conseqüência da inobservância do prazo previsto na lei?


O art. 97-A remete ao art. 97 da mesma lei, impondo:
a) desobediência (medida penal, art. 345 do Código Eleitoral), quando não
cumprido o prazo dolosamente, após determinação da instância superior; b) a
abertura de procedimento disciplinar na esfera das respectivas corregedorias; c)
representação ao Conselho Nacional de Justiça; d) a renovação da representação
(na forma do art. 97,§ 2- da Lei das Eleições) para o C.TSE, quando a omissão no
cumprimento dos prazos decorre dos Tribunais Regionais Eleitorais. Na mesma
linha, é possível a propositura da representação no Tribunal Regional Eleitoral,
quando a omissão decorre de fato atribuível ao juiz eleitoral responsável pelo

25
M a r c o s R am ayan a D ir e i t o E l e it o r a l

julgamento das ações eleitorais que acarretam a perda do mandato eletivo


(anulação do diploma).
A regra do art. 97-A e parágrafos é especial em comparação com o art. 94
da mesma lei das eleições, pois em relação à desídia ainda subsiste a menção
ao crime de responsabilidade. No entanto, não ex iste na lei dos crim es de
responsabilidade um fato típico específico para a hipótese de omissão culposa
ou dolosa no cumprimento dos prazos. Trata-se de remissão indevida, levando-
se em conta que o tipo é natim orto ou suicida. Não existem preceitos prim ários
ou secundários na lei especial para punir essas condutas, restando apenas na
análise dolosa, as figuras típicas dos artigos 3 4 5 ou 347 do Código Eleitoral.

2.3.4. Princípio da devoiutividade d o s recu rso s


Os recursos eleitorais, em regra, possuem apenas efeito devolutivo. Neste
sentido é o art. 257 do Código Eleitoral: "Os recursos eleitorais não terão efeito
suspensivo”. Em contraposição está o art. 2 1 6 do mesmo diploma legal: "Enquanto
o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra a expedição do
diploma, poderá o diplomado exercer o mandato era toda a sua plenitude".
Salientamos as decisões do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral que não acolheram
a suspensividade dos efeitos tratados no art. 216 e, ao contrário, aplicaram em sua
essência o princípio puro da devoiutividade dos recursos:

AIME. Incidência do art. 257, ao invés do 216, ambos do CE.

Acórdão Ne 1.272, DE 12.8.03. Agravo regimental na Medida Cautelar


ne 1.272/SP. Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Medida cautelar.
Agravo regimental. Ação de impugnação de mandato eletivo. Art. 14,
§ 10, da Constituição Federal. Abuso do poder econômico, fraude e
corrupção eleitoral. Execução do julgado. Diplomação do segundo
colocado. Ausência de trânsito em julgado. Aplicação do art. 216 do
Código Eleitoral, impossibilidade. 1. Nos casos em que esta Corte já
se manifestou em ação de impugnação de mandato eletivo, mantendo
decisão que determinou a cassação do mandato, não há que se falar em
óbice à execução por força do art. 216 do CE. Incidência do art. 257 do CE.

E, ainda:
Captação ilícita de sufrágio. Decisão com efeito imediato. Não aplicação do art. 216
do CE.

Medida cautelar. Representação com base no art. 41-A da Lei


ne 9.504/97. Mandado de segurança. Agravo regimental. Liminar.
Concessão. Cassação da sentença na parte que aplicava o art. 15 da LC
n- 64/90. Recurso especial. Efeito suspensivo. Sentença. Efeito imediato.

26
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l C o n c e it o e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r i n c í p i o s C apítulo 2

Art, 15 da LC n9 64/90. Art, 216 do Código Eleitoral, Não aplicação. A


sentença que julga procedente representação fundada no art. 41-A da
Lei ne 9.504/97, e cassa diploma, tem efeito imediato, ou seja, implica
o imediato afastamento do cargo. Nesse entendimento, o Tribunal
indeferiu a medida cautelar. Unânime. Medida Cautelar n9 1.181/SP,
Rei. Min. Fernando Neves, em 2.10.2002.

A Resolução n9 21.635/ 04 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, que trata


da apuração e totalização dos votos, proclamação e diplomação dos eleitos nas
eleições municipais de 2004, no art. 90, § 2 S, inovou quanto aos efeitos da AIME,
ao tratar, "À ação de impugnação de mandato eletivo não se aplica a regra do
art. 216 do Código Eleitoral'*. Neste aspecto, o efeito do recurso da decisão que
julga procedente o pedido de nulidade do diploma em razão de fraude, corrupção
e abuso do poder econômico e/ou político nas eleições passa a ser de efeito
apenas devolutivo, o que significa que o eleito deve sair do mandato eletivo de
forma imediata, sem trânsito em julgado da decisão (ver comentários à Ação de
Impugnação ao Mandato Eletivo).
Se o recurso é recebido no efeito suspensivo, é impedido o comando imediato da
sentença ou acórdão,
A Justiça Eleitoral prima pelo princípio da celeridade, que atualmente é concebido
como norma fundamental no art. 5-, inciso LXXVIII, da Constituição Federal:

"a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a


razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação.
§ l s As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata."

No Código Eleitoral e na legislação em geral sobre o assunto, não existe um


capítulo preestabelecido das hipóteses em que o recurso resulta na dotação do
efeito suspensivo ou apenas devolutivo, optando o texto do art. 257 do Código
Eleitoral, de forma genérica, a contemplar a presença do efeito devolutivo, como já
visto, na condição de regra geral.
Sobre essa questão, é importante registrar que, no âmbito do Processo Civil, a
regra é de os recursos serem aparelhados do efeito suspensivo, especialmente pelo
disposto no art. 4 9 7 do CPC, in expressi verbis:

"Art. 497. O recurso extraordinário e o recurso especial não impedem


a execução da sentença; a interposição do agravo de instrumento não
obsta o andamento do processo, ressalvado o disposto no art. 558 desta
Lei" (grifos nossos).11

11 Art. 497 com redação dada peia Lei ne 8.038, de 25.5.90.

27
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

E, complementa o art. 558 do CPC:

"0 relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil,


adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução
idônea e em outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil
reparação, sendo relevante a fundamentação, suspender o cumprimento
da decisão até o pronunciamento definitivo da turma ou câmara.12
Parágrafo único. Aplicar-se-á o disposto neste artigo às hipóteses do
art. 520" (grifos nossos).13

E, ainda no Código de Processo Civil, art. 520:

"A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será,


no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de
sentença que:14
I - homologar a divisão ou a demarcação;15
U - condenar à prestação de alimentos;16
III - julgar a liquidação de sentença;17
IV - decidir o processo cautelar;18
V - rejeita r lim inarm ente em bargos à execução ou julgá-los
improcedentes;19
VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem;20
VII - confirmar a antecipação dos efeitos da tutela"21 (grifos nossos).

No processo eleitoral, como já visto, a regra é o efeito ser apenas devolutivo, mas
é necessário esclarecer que existem as exceções apontadas a seguir, a saber:
1 - 0 recurso é recebido no efeito suspensivo, quando nega, cancela ou anula o diploma
com base em sentença prolatada nos autos da ação de impugnação ao requerimento
de registro de candidatos ou ação de registro de candidatos, aplicando-se a regra
do art. 15 da Lei Complementar na 64, de 18 de maio de 1990, pois, enquanto
não transitar em julgado a questão registrai, poderá o candidato provisório ou sub
ju dice fazer campanha, ter o seu nome inseminado na urna eletrônica ou constar
seu nome em cédulas confeccionadas, inclusive é possível, em razão do momento
do julgamento desta ação, o exercício do mandato eletivo (grifos nossos).

12 Redação dada pala Lei n9 9.139, d© 30.11.95.


13 Redação dada pela Lei ns 9.139, de 30.11.85.
14 Redação dada peía Lei n$ 5.925, de 01.10.73.
15 Redação dada pela Lei nS 5.925, de 01.10.73.
16 Redação dada pela Lei nc 5.925, de 01.10.73.
17 Revogado pela Lei n9 11.232, de 22.12.2005
18 Redação dada pela Lei na 5.925, de 01.10.73.
19 Redação dada pela Lei ne 8.950, de 13.12.94.
20 Inciso VI acrescentado pela Lei n9 9.307, de 23.09.96.
21 inciso VII acrescentado pela Lei ne 10.352, de 26.12.2001.

28
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

2 -No caso da sentença declarar a inelegibilidade por abuso do poder econômico ou


político (art. 22, incisos XIV e XV, da LC n2 64/90, e Súmula n2 19 do TSE), com
base na aplicação da regra do art. 1°, d, da Lei Complementar ne 64/90, in expressi
verbis:

"Art. 1- São inelegíveis: d) os que tenham contra sua pessoa representação


julgada procedente pela Justiça Eleitoral, transitada em julgado, em
processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a
eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para
as que se realizarem 3 (três) anos seguintes;” (grifos nossos)

Neste caso, percebe-se que a inelegibilidade exige o trânsito em julgado da


decisão.
3 -A decisão penal condenatória ou absolutória, que desafia o recurso inominado ou
também chamado de apelação criminal eleitoral, previsto no a r t 362 do Código
Eleitoral: "Das decisões finais de condenação ou absolvição cabe recurso para o
Tribunal Regional, a ser interposto no prazo de 10 (dez) dias."
Aqui, portanto, se fazem presentes as principais exceções ao efeito devolutivo
como regra geral dos recursos eleitorais.
O Egrégio TSE já firmou jurisprudência correta no sentido de que as decisões
que importara em execução imediata para afastamento do eleito do exercício do
mandato eletivo devem ser esgotadas na instância originária, inclusive para fins de
publicação da sentença e eventual interposição de embargos declaratórios. Neste
sentido:
Agravo regimental no Mandado de Segurança n- 3.631/RN. Relator:
Ministro Caputo Bastos. Ementa: Mandado de segurança. Ato judicial.
Decisão. Ministro. Tribunal Superior Eleitoral. Teratologia da decisão.
Não caracterização. Decisão agravada. Fundamentos não afastados.
1. Não se verifica a alegada teratologia da decisão monocrática concessiva
de liminar em mandado de segurança - que suspendeu a execução de
acórdão regional - uma vez que devidamente fundamentada, inclusive,
em precedentes deste Tribunal Superior. 2. A jurisprudência desta Corte
Superior tem assentado que a deliberação sobre cumprimento imediato
de decisões que implicam o afastamento de candidatos de seus cargos
eletivos deverá aguardar a respectiva publicação da decisão e eventuais
embargos, ponderando-se a necessidade de esgotamento da instância
e até mesmo a possibilidade de acolhimento dos declaratórios. Agravo
regimental a que se nega provimento (D] de 28.9.2007).
Registre-se, por oportuno, que o efeito devolutivo também é compreendido em
sua extensão: tantum devolutum quantum appelattum . E é cediço que a regra geral
é a de que só se devolve ao Tribunal o conhecimento da matéria específica que foi
recorrida. Nesse sentido, aplica-se de forma subsidiária o art. 515 do Código de
Processo Civil.

29
M a r c o s R a m ayan a D ir e i t o E l e it o r a l

No entanto, as questões eleitorais são referentes ao âmbitò democrático, envolvendo


: tutela mais àmplá sobre a tídádania/incluisive matérias constitucionais, que não
estariam simplesmente limitadas ao conhecimento do Tribunal, apenas pelas
razões recursais das partes, ao contrário, a regra do art. 270 do Código Eleitoral,
dá ensejo à produção de prova singela, mas. significativa, no âmbito recursal em
busca do princípio da verdade material e da higidez da democracia e das eleições,
cujo arrimo se perfaz em norma de índole, constitucional, art. 14, § 92, da Lei
Fundamental. V
Caberá ao Tribunal julgar o caso, subsumido na tutela constitucional-eleitoral
de preservação do interesse público de lisura eleitoral, art. 25 da Lei das
Inelegibilidades, além do relator deferir as provas indicadas, emprestadas e que
possam ser produzidas quando o them a decidendum carecer de maior amplitude
da busca da verdade material, conforme disposição expressa do art. 270 do Código
Eleitoral.
Diz o art. 270 do CE:

Se o recurso versar sobre coação, fraude, uso de meios de que trata


o art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou captação de
sufrágios vedado por lei dependente de prova indicada pelas partes ao
interpô-lo ou ao impugná-lo, o relator no Tribunal Regional deferi-la-á
em 24 (vinte e quatro) horas da conclusão, realizando-se ela no prazo
improrrogável de cinco dias.

Por fim, o art. 268 do CE, parte final, contempla como exceção a juntada de
documentos em grau de recurso em razão da incidência do art. 270 do CE.

2.3.5. Princípio da p reclu são instantânea


Este princípio tem correlação com o da celeridade, mas pode ser bem
compreendido pelo disposto no § 1 - do art. 147 do Código Eleitoral: "A impugnação
à identidade do eleitor, formulada pelos membros da mesa, fiscais, delegados,
candidatos ou qualquer eleitor, será apresentada verbalmente ou por escrito, antes
de ser o mesmo admitido a votar”.
Como se nota, após o voto do eleitor, não se admite impugnação quanto à sua
identidade, considerando a consumação do ato do sufrágio. O caso refere-se à
conhecida preclusão instantânea, bem salientada pelo eleitoralista Fávila Ribeiro.
O art. 149 do Código Eleitoral também pode servir como exemplo: "Não será
admitido recurso contra a votação, se não tiver havido impugnação perante a mesa
receptora, no ato da votação, contra as nulidades arguidas". Neste sentido, também
dispõe o art. 223 do Código Eleitoral.

30
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

2.3 .6 . Princípio da anuaiidade


0 princípio é previsto no art. 16 da Constituição da República Federativa do Brasil:

A Lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua


publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data
de sua vigência (A redação foi dada pela Emenda Constitucional n9 4/94).

Toda lei que alterar o processo eleitoral (alistamento, votação, apuração e


diplomação) será publicada um ano antes da data da eleição. A data da eleição é
sempre o primeiro domingo de outubro (arts. 77 da Constituição Federal e l e da Lei
nQ9.504, de 30 de setembro de 1997); portanto, a referência é vista no calendário
eleitoral que coincide com esta data, por exemplo, dia 3 de outubro de 2004
(primeiro turno das eleições). Assim, a lei que alterar de alguma forma o "processo
eleitoral" deverá ser publicada no Diário Oficial da União até o dia 2 de outubro de
2003, sob pena de não ser aplicada às eleições do ano vindouro de 2004.
A aplicação se dá dentro de todo o período do calendário eleitoral das eleições,
não apenas em referência ao dia da eleição.
É importante frisar que o Tribunal Superior Eleitoral possui o poder normativo,
ou seja, o poder de regulam entar as eleições, conforme disciplinado nos arts. I 9,
parágrafo único, e 23, IX, do Código Eleitoral e 105 da Lei n2 9.504, de 30 de
setem bro de 1997. A Lei das Eleições perm ite que as resoluções decorrentes do
poder normativo, por exemplo, resolução do registro de candidatos, propaganda
política eleitoral, apuração e totalização dos votos, prestação de contas etc.,
sejam expedidas até o dia 5 de março do ano da eleição.
Como se nota, as resoluções eleitorais não estão sujeitas ao princípio da
anuaiidade em matéria constitucional eleitoral.
A Emenda Constitucional ne 52, promulgada em 8 de março de 2006, foi ques­
tionada no Egrégio Supremo Tribunal Federal por ações diretas de inconstitucio-
nalidade (Adins 3.685 e 3.686) devidamente propostas pela Confederação Nacional
do Ministério Público (CONAMP)22 e Conselho da Ordem Federal dos Advogados do
Brasil (OAB). A redação assim dispõe:
"Emenda Constitucional n9 52. Dá nova redação ao § 1- do art. 17
da Constituição Federal, para disciplinar as coligações eleitorais.
O art. I 2 § 1- do art. 17 da Constituição Federal passa a vigorar
com a seguinte redação: art. 17, § l 9: É assegurada aos partidos
políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização

22 No presente momento, foi arquivada a ação direta de inconstitucíonalidade (ADI 3.686), proposta peta CONAMP,
pois, segundo entendeu S. Exa. a Ministra Ellen Gracie não havia pertinência temática e, portanto, legitimidade
deste órgão para tratar de preceitos referentes à organização e funcionamento de partidos políticos. A outra ADI
3.685, proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, está em andamento no Egrégio
Supremo Tribunal Federal. A decisão na ADI 3.686 está sub judice por força de interposição de agravo regimental
para reconsideração ou provimento pela Turma. Sustenta-se a pertinência temática da CONAMP para a defesa do
regime democrático e da ordem jurídica. Trata-se de controle sobre o princípio da anuaiidade do art. 16 da CRFB.

31
M a r c o s R amayana D ir e i t o E l e it o r a l

e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de


suas coligações eleitorais,23 sem a obrigatoriedade de vinculação
entre as candidaturas em nível nacional, estadual, distrital ou
municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina
e fidelidade partidária. Art. 22 Esta Emenda Constitucional entra
em vigor na data de sua publicação, aplicando-se às eleições que
ocorrerão no ano de 2006/'
É expressa a intenção do legislador em aplicar no ano de 2006 a liberdade de
alianças (coligações),24 como já era feito até o ano de 2000. Aqui estão em jogo,
de um lado, os valores da segurança jurídica das normas do processo eleitoral;
e, de outro lado, a possibilidade da plena liberdade de formação temporária do
pluripartidarismo impondo aos filiados, e ao universo de eleitores aptos ao
exercício do sufrágio no pleito de 2006, regras novas sem maiores sedimentações
sobre sua pertinência em função do caráter nacional25 dos partidos políticos e da
futura Reforma Política.

23 A coligação é pessoa formal. Sua personalidade nasce com a deiiberação de sua constituição temporária
nas convenções e formaliza-se com o pedido de registro.
24 A coligação, como partido político temporário, perde a sua personalidade jurídica de pessoa formal, após
a diplomação dos eleitos. Neste sentido, Acórdão 1.863 do TSE. No entanto, reconhece-se a legitimidade da
coligação para fins de propositura da ação de impugnação ao mandato eletivo (art. 14, §§ 10 e 11 da CRFB/88),
pois o ente prorroga sua existência para resguardar a fiscalização da lisura das eleições. Igual legitimidade é
atribuída para a interposição de recurso contra a diplomação (art. 262 do Código Eleitoral). A coligação recebe
sempre o mesmo tratamento processual de um partido político.
A regra do art. 69 da Lei n9 9.504/97 pode ser resumidamente exemplificada da seguinte forma: Os partidos
políticos 1, 2, 3 e 4 estão coligados para a eleição majoritária. Assim, estes mesmos partidos podem se coligar
para as eleições proporcionais (deputados). Para as eleições proporcionais os partidos 1 e 2 podem se coligar,
sem que o 3 e 4 participem desta aliança, pois, inciusive, nada impede que os de números 2 e 3 não façam
coligação nenhuma e se lancem sozinhos ao pleito eleitora). Todavia, a norma impede que um destes partidos se
coligue com um outro partido não integrante da coligação majoritária, por. exempio, com o partido 5. Assim
diz a lei em sua parte finai: " (...) formar-se mais de uma coligação para a eleição proporcionai dentre os partidos
que integram a coligação para o pleito majoritário''. Vê-se que existe uma limitação para a livre formação das
coligações proporcionais. O TSE já decidiu sobre esta limitação na Res. 21.049. SP. Gonsulta 766-2002 e em outros
precedentes (Consulta 715, de 26.2.2002).
Pela redação da Emenda Constitucional n9 52/2006, apenas é vedada a obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, sem que haja menção à alteração da regra
estatuída no art. 6° da Lei nS 9.504/97. Desta forma, entendemos que o dispositivo legal foi recepcionado, pois
os critérios de escolha e 0 regime de suas coligações é relacionado à falta de obrigatoriedade das vinculações
(verticalização). A Emenda ne 52/2006, não permitiu a plena liberdade sem que haja a incidência das normas da
Lei ne 9.504/97, bem como as interpretações normativas do Colendo Tribunal Superior Eleitoral.
25 E ainda, o sentido do que venha a ser caráter nacional, conforme dispõe o art. 17, I, da Constituição da
República Federativa do Brasil, reflete-se no compromisso estatutário de consignação de regras direcionadas
para a solução de problemas em toda a circunscrição eleitoral do País. Trata-se de construção de objetivos não
regionais, mas que rumam para uma visão ampía dos problemas na nação brasileira.
O caráter nacional está vinculado aos programas políticos de abrangência nacional e se alinha ao disposto no
art. 5e da Lei n9 9.096/95: “A ação do partido tem caráter nacional e é exercida de acordo com seu estatuto e
programa, sem subordinação a entidades ou governos estrangeiros”; além de se modelar nesta premissa de
alargamento nacional a forma de criação de um partido político com o número de fundadores na base de 101,
com domicílio eleitoral em, no mínimo, 1/3 (um terço) dos estados, conforme dispõe o art. 8e da Lei dos Partidos
Políticos.

32
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l . C o n c e it o e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia , P r in c íp io s C apítulo 2

Não haveria nenhum questionamento jurídico mais profundo, se a regra


cuidasse de postergar a sua aplicabilidade para as eleições futuras. No entanto, a
lide emerge, em razão do efeito imediato da aplicação da norma que horizontaliza
as coligações com alegações de violação ao princípio da anuaiidade consagrado no
art. 16 da Constituição da República Federativa do Brasil.
Os fundamentos das arguições de inconstitucíonalidade podem ser resumidos nos
seguintes pontos fundamentais: a) 0 art. 16, ao fazer menção à expressão "lei", o faz no
sentido genérico, abrigando os atos normativos como a lei complementar, lei ordinária
e as próprias emendas constitucionais; b) a intenção do constituinte é de preservar
a intangibilidade da segurança do processo eleitoral e do regime democrático. A
segurança é tripartida nos seguintes tópicos: 1) segurança dos eleitores em votar
nas regras previamente definidas; 2} dos candidatos, pois quando se filiaram aos
partidos tinham uma expectativa de direito em relação às regras eleitorais a que
iriam se submeter (a filiação é sempre um ano antes da data da eleição, arts. 9~ da
Lei nQ9.504/97 e 18 da Lei ne 9.096/95); e 3) segurança das decisões emanadas
dos juizes e Tribunais Eleitorais, especialmente em função do poder normativo ou
regulamentar, pois as regras são elaboradas até o dia 5 de março do ano eleitoral
(a rt 105 da Lei na 9.504/97). Desta forma, a segurança jurídica tratada no art. 5S
da Carta Magna é um direito fundamental e de garantia individual com repercussões
políticas; portanto, é uma cláusula pétrea que foi atingida (art. 60, § 4 9, IV).
A adoção da verticalização está arrimada não apenas na interpretação por resolução
do Tribunal Superior Eleitoral, mas no próprio art. 17 da Lei Fundamental, na legislação
infraconstitucional, a rt 6 S da Lei n9 9.504/97 (Lei das Eleições) e na Lei dos Partidos
Políticos (Lei n- 9.096/95). Trata-se de proteção necessária ao regime democrático em
função da valorização do caráter nacional atribuído aos partidos políticos.
Aponta-se dentre as vantagens do sistema vertical, que nada mais é do que uma
interpretação eficiente do sentido do caráter nacional, as seguintes: a) o direito de
filiação partidária, que passaria a ganhar um sentido mais duradouro, pois os filiados não
migrariam para outros partidos ao sabor das seduções captativas de legenda; b) para
os eleitores e candidatos, haveria uma maior coerência ideológica partidária; c) aos
poucos se reduziriam a corrupção e as fraudes, bem como os interesses de alianças em
função do maior tempo obtido na propaganda pela televisão e rádio; e d) anteciparia
uma reforma política necessária ao nosso regime democrático, moralizando as eleições.
O art. 16 da Constituição da República Federativa do Brasil consagra a necessidade
de se respeitar os preceitos normativos existentes, evitando-se a surpresa das
alterações legiferantes. Todavia, o artigo está imbricado com a definição do que é
considerado "processo eleitoral". No fundo, trata-se de conceito vago, que a doutrina
e jurisprudência apontam como sedimentado em fases, a saber: alistamento, votação,
apuração e diplomação. Ora, a rigor, nenhuma destas fases está sendo efetivamente
alterada, mas sim, uma subfase antecedente ao registro das candidaturas
concernente às regras de alianças (coligações) nas convenções partidárias.

33
M arcos R am ayan a D ir e i t o E l e it o r a l

As convenções partidárias só ocorrerão entre os dias 10 e 30 de junho do ano


(ano eleitoral), conforme o art. 8 Ü da Lei ns 9.504/97, com reflexos inegáveis no
registro dos candidatos e diplomação em função do quociente partidário, pois
uma coligação é tratada para esta finalidade como um partido único, segundo os
arts. 107 e 109 do Código Eleitoral.26
Tecnicamente, portanto, as regras das formações das coligações para uma
determinada eleição não fazem parte de uma fase do processo eleitoral em sentido
restrito, pois, na verdade, as coligações antecedem ao registro das candidaturas
e são normas de abrangência estatutária e partidária. Dizem respeito à auto-
organização partidária para fins de resultados eleitorais, até porque uma coligação
não permanece após a eleição e diplomação dos eleitos. Na reforma política, a ideia
é de extinção das coligações e criação da federalização dos partidos políticos, e
assim, após as eleições a federação ficaria mantida por aproximadamente três anos.
Numa visão objetiva e literal do que constitui o denominado processo
eleitoral não estariam abrangidas as formas de coligação. A horizontalização ou
verticalização é m atéria de auto-organização partidária cujo escopo é voltado para
os interesses de um pluripartidarismo temporário, que se revela nos anos eleitorais.
Este tema precede ao arcabouço normativo das fases do processo eleitoral e, assim,
apenas se sujeita ao princípio da anualidade porque o regime democrático possui
densidade suficiente para estatuir regras partidárias de criação, extinção, fusão e
outras, não se podendo afastar o sentido de que: tudo aquilo que altera uma norma
constitucional ou infraconstitucional sobre partidos políticos causa reflexos aos
eleitores e aos candidatos, até porque atinge o sistema eleitoral. Nesta conclusão,
podemos incluir na fase do processo eleitoral as regras convencionais e, por via de
projeção, as formas de deliberação das alianças (coligações).
Em resumo: inicia-se o processo eleitoral com a escolha pelos partidos políticos
dos seus pré-candidatos. Deve-se entender por processo eleitoral os atos que
se refletem, ou de alguma forma se projetam no pleito eleitoral, abrangendo as
coligações, convenções, registro de candidatos, propaganda política eleitoral,
votação, apuração e diplomação.27
A questão do poder regulamentar nas eleições sempre foi alvo de especial
valorização jurídica do legislador constituinte.
Na Constituição Política do Império do Brasil, jurada a 25 de março de 1824, o
art. 97 dizia que: "Uma Lei regulamentar marcará o modo prático das Eleições, e o
número dos Deputados relativamente à população do Império"

26 As coligações para fins de divisão de horário na propaganda de rádio e televisão levam em conta o número de
representantes na Câmara dos Deputados em função da soma de todos os partidos políticos que a integram. A
representação de cada partido poiftíco na Câmara dos Deputados será a existente na data do início da legislatura que
estiver em curso, considerando-se o número de deputados que tomaram posse nessa data e a legenda à qual estavam
filiados no momento da votação (Lei n9 9.504/S7, art. 47, § 3S e Res. TSE 21.805, de 8.6.2004).
27 Neste sentido pensam igualmente os renomados Pedro Henrique Távora Niess e Antônio Carlos Mendes (Direitos
Políticos, Elegibilidade, Inelegibilidade, Ações Eleitorais, 2a ed., Edipro, São Paulo, p. 372).

34
C o n c e it o d e D ijrjeito E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

O art, 47, § 3-, da Constituição da República de 1891 assim dispunha: "0 processo
de eleição e de apuração será regulado por lei ordinária".
Na Carta Magna de 1934, com o perfil constitucional da Justiça Eleitoral, competia-
lhe fixar a data das eleições, além de regular a forma e processo de recursos, mas
não havia um artigo expresso sobre o princípio da anualidade eleitoral. Em seguida,
a CRFB/1937 vedava ao Poder Judiciário conhecer de questões exclusivamente
políticas (art. 94), não tratando da anualidade para fins eleitorais.
No texto da Constituição Federal de 1946, especialmente no art. 119, V, competia
à Justiça Eleitoral regulamentar o “processo eleitoral", a apuração das eleições e a
expedição dos diplomas aos eleitos.
Na seqüência, a CRFB/67 não tratava expressamente do princípio da anualidade,
mas no art. 149, VIU, proibia as coligações partidárias.
Em 1969, A Emenda Outorgada especialmente não tratou da regulamentação,
mas remeteu esta questão à lei infraconstitucional, cabendo, na forma da lei, o
processo de apuração das eleições e expedição dos diplomas (art. 137, V). Todavia,
acaba-se com a proibição das coligações partidárias.
Com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi efetivamente
positivado o princípio da anualidade em relação ao processo eleitoral com a seguinte
redação: "Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral só entrará em vigor um ano
após sua promulgação".
0 primitivo art. 16 da CRFB/88 acarretava a possibilidade de incidência de várias
leis alteradoras do processo eleitoral, desde que promulgadas há um ano.
Nos idos das eleições de 3 de outubro de 1992, v.g., a Lei n2 8.214, de 24 de julho
de 1991, em seu art. 55, determinava de forma expressa que sua vigência se daria
nos termos do art. 16 da Constituição Federal. Assim, a aludida lei só entraria em
vigor no dia 25 de julho de 1992. Naquela ocasião vale destacar o teor do Processo
12.257, sendo relator S. Ex.a, o Ministro Vilas Boas, do Tribunal Superior Eleitoral,
que cuidou com acuidade de validar a lei, por Resolução n9 17.770, do Calendário
Eleitoral, conforme destacamos em trecho de real valia:
"(...) 5. Não há dúvida de que muitas das disposições da aludida lei,
incorporadas na minuta de resolução, alteram o processo eleitoral.
Realmente, conforme destacado na exposição da Assessoria, as datas
fixadas no calendário para comprovação de domicílio eleitoral e
transferência de eleitores, por exemplo, têm o condão de modificar o
processo eleitoral, porquanto, nas eleições passadas, os prazos eram
diferentes, consoante destacado na manifestação da Assessoria.
6. Assim, essas normas, a teor do citado preceito constitucional, não
poderiam ter vigência antes de 25 de julho de 1992. Seriam, portanto,
normas inócuas, porque inexequíveis (...).

35
M arcos R a m ayan a D ir e ít o E l e it o r a l

8. Diante do quanto exposto e embora considere que o ideal seria a


edição de uma norma de natureza geral e duradoura e não dirigida
para determinada eleição, como é o caso da Lei ne 8.214/91, não a
tenho por inconstitucional ou inaplicável ao próximo pleito, porquanto
em muitos aspectos ela não inova ou modifica o processo eleitoral."
Conclui sua Ex.aque não haveria na ocasião, nenhum inconveniente em se conciliar
o texto da lei com o art. 16 da le x Legun, ressalvando que as normas inovadoras do
processo eleitoral não deveriam incidir desde logo, protraindo sua vigência para
o dia 25 de julho de 1992. Desta forma, não se aplicariam ao próximo pleito de
1992 as outras regras não inovadoras, ou se)a, as regras já previamente conhecidas
pelos candidatos, partidos políticos e eleitores teriam vigência imediata, desde a
publicação da lei (1991).
0 debate desta questão estava reservado à adequação de uma lei especial para
determinada eleição. Não haviam valores traduzidos em regras constitucionais.
Não existia um debate entre validade de emendas constitucionais naquela época.
Hodiernamente, o panorama é diverso.
Visando sanar as dubiedades da redação do art. 16 da CRFB/88, foi produzida
a Emenda Constitucional ne 04, de 1993, passando o texto com a seguinte regra:
"Art. 16. A lei que alte ra r o processo eleitoral en trará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que o corra até um ano da data de sua
vigência"
Sobre o art. 16 da Constituição Federal leciona Pedro Roberto Decomaín:
"(...) Noutros termos, é preciso que as leis específicas, destinadas a
regular determinada eleição, ou leis genéricas, destinadas a regular
todos os pleitos futuros, como acontece com aquela que está sendo
aqui anotada, estejam em vigor pelo menos um ano antes da data
prevista para a realização do pleito, pena de não serem aplicáveis a ele
(...) (Eleições. Comentários. 2a ed., São Paulo, Editora Dialética, p. 10).
Cumpre ainda frisar o aspecto de que a alteração da regra do processo eleitoral
sobre a maior amplitude de liberdade de coligações (fim da verticalização) é matéria
que não estava regulamentada especificamente em lei, mas em resolução do Tribunal
Superior Eleitoral (Resolução ne 20.993/02 TSE - 26.2.02). Não se pode olvidar que
uma das sólidas bases de fundamentação da norma regulamentar é a interpretação
do art. 1 7 ,1, da Constituição Federal, "ca rá te r nacional dos Partidos Políticos”.
Por outro lado, não se nega o cabimento de ação direta de inconstitucionalidade
no Supremo Tribunal Federal para impugnação de emenda constitucional, quando
houver violação aos limites do poder de reforma da Constituição. Assim, uma
emenda pode estar eivada de inconstitucionalidade material ou formal. No caso,
questiona-se a inconstitucionalidade material da nova Emenda nQ52/06.

36
C o n c e it o d e D ir e i t o E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r i n c í p i o s C apítulo 2

Não se nega que a alteração da regra constitucional em pleno ano de eleições


defluiu de um processo legislativo especial. A questão proposta situa-se em saber se
a emenda constitucional atingiu uma limitação expressa material, cláusula pétrea,
art. 60, § 4-, IV, da Constituição Federal. Se atingir a segurança jurídica, obviamente
é inconstitucional.
A segurança jurídica já havia sido enfraquecida neste campo, quando se tratou de
interpretar, por intermédio do regulamentar do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral,
o disposto no art. 6 e da Lei n9 9.504/97,
Destaca-se: 0 Supremo Tribunal Federal ao julgar o tema verticalização, assim
decidiu para validar posição do Tribunal Superior Eleitoral que no ano de eleição
interpretou a regra do art. 6 e da Lei n- 9.504/97: in verbis: “Verticalização das
Coligações: Ato Secundário. O Tribunal, por maioria, não conheceu de duas ações
diretas de inconstitucíonalidade ajuizadas pelo Partido Comunista do Brasil -
PC do B, Partido Liberal - PL, Partido dos Trabalhadores - PT, Partido Socialista
Brasileiro - PSB, e Partido da Frente Liberal - PFL, contra o § l 9 do art. 4 2 da
Resolução n9 20.993/02 do Tribunal Superior Eleitoral ("Os partidos políticos
que lançarem, isoladamente ou em coligação, candidato à eleição de presidente da
República não poderão formar coligações para eleição de governador/a de Estado
ou do Distrito Federal, senador/a, deputado/a federal e deputado/a estadual ou
distrital com partido político que tenha, isoladamente ou em aliança diversa, lançado
candidato/a à eleição presidencial"). Entendeu-se que o dispositivo impugnado
limitou-se a dar interpretação ao a r t 6 9 da Lei n9 9.504/97, caracterizando-se,
portanto, como ato normativo secundário de natureza interpretativa, de modo
que os eventuais excessos do poder regulamentar da Resolução em face da Lei
n9 9.504/97 não revelariam inconstitucíonalidade, mas sim eventual ilegalidade
diante da Lei ordinária regulamentada, sendo indireta, ou reflexa, a alegada ofensa
à CF, cuja análise é incabível em sede de controle abstrato de normas. Vencidos os
Ministros Sydney Sanches, relator, limar Galvão, Sepúlveda Pertence e Marco Aurélio,
que conheciam da ação por considerarem que a norma atacada é um ato normativo
autônomo, que não se assenta em nenhuma lei, e introduz inovação no bloco da
legislação eleitoral, violando o princípio da anuaiidade e invadindo a competência
legislativa do Congresso Nacional (CF, arts. 16, 2 2 , 1 c/c art. 48). ADIn 2.626-DF e
ADIn 2.628-DF, rei. orig. Min. Sydney Sanches, red. para o acórdão Ministra Ellen
Gracie, 18.4.2002 (ADI-2626)(ADÍ-2628)".
Naquela ocasião, a aludida decisão foi proferida em resposta à consulta
apresentada no mês de agosto de 2 001. A regra valeu para as eleições de 2002, ou
seja, inseriu-se a verticalização por interpretação de legislação infraconstitucional,
mas arrimada no foco do art. 17, I, da Carta Magna visando preservar o caráter
nacional dos partidos políticos.

37
M arcos R amayana D ir e i t o E l e it o r a l

Na atualidade, o processo legislativo de modificação da regra não está baseado


no poder regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral (arts. I 9, parágrafo único,
e 23, IX, do Código Eleitoral e art. 105 da Lei n9 9.504/97), mas, especialmente
em deliberação parlamentar com quorum qualificado para aprovação, além da
necessidade de dupla votação em ambas as Casas, na Câmara e no Senado. Isto não
significa que a regra esteja imune para fins de declaração de inconstitucíonalidade.
É importante lem brar que para fins de aplicação de regras defluentes de emendas
constitucionais no ano das e le iç õ e s , o p r ó p rio Tribunal Superior Eleitoral, quando
expediu a Resolução ne 21.702/04, em 2 de abril de 2004, que trata do número de
vereadores a eleger em função da população municipal, ressalvou, expressamente
no art. 3 S, o seguinte: "Sobrevindo emenda constitucional que altere o art. 29, IV,
da Constituição, de modo a modificar os critérios referidos no art. 1-, o Tribunal
Superior Eleitoral proverá a observância das novas regras”.
Como se nota, já há precedente legal no Tribunal Superior Eleitoral, ressalvando
a incidência de emenda constitucional no ano de eleição, quando já ultrapassada a
data de 5 de março (art. 105 da Lei n9 9.504/97), data destinada à regulamentação
das eleições por resoluções.
O caso Mira Estrela, antes aludido, inovou no âmbito do processo eleitoral,
pois introduziu regra modificadora do número de pré-candidatos que podiam
ser escolhidos nas eleições de 2004, alterando a forma de coligações e, por via
de conseqüência, as regras da diplomação em função do quociente partidário.
De alguma forma a regra projetou-se em artigo constitucional com alteração de
diversas leis orgânicas dos municípios.
A alteração por emenda constitucional não atinge a proteção relativa à
segurança jurídica com garantia individual contida no art. 60, § 4 -, IV, da
Constituição Federal, pois embora seja produzida no ano eleitoral, não modifica
as regras das convenções, quando se deliberará sobre as coligações, que só se
darão entre os dias 10 e 30 de junho, por força do art. 8 9 da Lei n9 9.504/ 97,
sendo, logo em seguida, efetuado o registro das candidaturas. E a opção valorativa
dos parlam entares pela não verticalização não deixa de traduzir uma forma
dem ocrática de pluralismo político tem porário, embora não seja adequada e
oportuna sob o ângulo de diversas e abalizadas posições jurídicas e políticas.
Em recentíssima decisão, o C. STF decidiu a questão: "0 Plenário do Supremo
julgou procedente o pedido formulado na Ação Direta de Inconstitucíonalidade
(ADI) 3.685 que questionava a Emenda Constitucional n9 52. Os ministros decidiram,
por nove votos a dois, que as novas regras que põem fim a verticalização só poderão
ser aplicadas após um ano da vigência da emenda, ou seja, não valerão para as
eleições de 2006. Em seu voto, o ministro Eros Grau, também julgou procedente a
ADI, conferindo interpretação conforme a Constituição ao art. 2- da ECn9 52/06,
para definir que o seu art. 1- não se aplica às eleições de 2006’’ (fonte; site do STF).

38
C o n c e it o de D ir e it o E l e it o r a l C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

Destaca-se que a douta decisão no voto de S. Exa. Ministro Eros Grau entendeu
que não havia violação a cláusula pétrea, conforme destacou no teor do voto, in
verbis:
"... uma emenda constitucional poderia inclusive e até mesmo ter
revogado o preceito vinculado por esse art. 16, o que, contudo, não
ocorreu.
Esse ponto é extremamente relevante. Pois esse art. 16 seria
emendável, até porque decorreu, em sua redação atual, de uma emenda
à Constituição, a EC n9 04/93. Dai porque, como observou na tribuna o
Professor Marcelo Cerqueira, não cabe a atribuição, a esse preceito, do
caráter de cláusula pétrea” (AD1N 3.685-8. STF).
Em conclusão: O Colendo Supremo Tribunal Federal manteve a regra normativa
da verticalização das coligações para as eleições de 2006, cuja interpretação se extrai
do art. 6S da Lei n9 9.504/97 em função do caráter nacional dignificado no inciso 1, do
a rt 17 da Constituição da República Federativa do Brasil, situando a questão no âmbito
da segurança jurídica das relações entre eleitores, candidatos e partidos políticos com
as regras da eleição previamente aprovadas por lei e interpretadas por resoluções
específicas28.

2.3.7. Aumento do número de veread ores. Em enda Constitucional nffl 58,


de 23 de setem bro de 2009.
No dia 24 de setembro de 2009, foi publicada no Diário Oficial da União a Emenda
Constitucional na 58 de 23 de setembro de 2009, que altera a redação do inciso IV
do a r t 29 e do art. 29-A da Constituição Federal, tratando das disposições relativas
à recomposição das Câmaras Municipais.
Ocorre que a referida norma jurídica, aumenta o número de vereadores na
grande maioria dos 5.563 municípios brasileiros, e, pela redação do art. 3 Q, inciso 1,
determina a produção de efeitos de forma retroativa ao processo eleitoral de 2008
(Eleições Municipais), in verbis:

Art. 3-. Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua


promulgação, produzindo efeitos: 1 - 0 disposto no art. I 2, a partir do
processo eleitoral de 2008: e
II - 0 disposto no art. 2-, a partir de 1° de janeiro do ano subsequente
ao da promulgação desta Emenda.

28 A interpretação em conformidade com a constituição é bem explicada pelo renomado Ricardo Cunha Chimenti, em
sua obra Curso de Direito Constitucional, editora Saraiva, p. 428, São Paulo, 3a edição, 2006, in expressi verbis: “{...) o
princípio é aplicado quando se está diante de normas polissêmícas, ou seja, plurissignificativas: a interpretação conforme
só se legitima quando de fato existe um espaço de decisão; caso as interpretações possíveis levem ao reconhecimento
de que há contradição entre a norma interpretada e a Constituição impõe-se o reconhecimento da inconstitucionalidade
da norma; não é legítima a interpretação conforme quando, em iugar do resuitado desejado pelo legislador, se obtém uma
regulação nova e distinta, em contradição com o sentido desejado pelo legislador1'.

39
M arcos R am ayana D ir e j t o E l e it o r a l

Como se observa, a norma jurídica seccionou no tempo a aplicação da aludida


emenda constitucional que aumenta, substancialmente, o número de vereadores no
Brasil, porque no inciso 1 estabelece eficácia retroativa, e no inciso II, em atenção ao
princípio da anualidade, previsto no art. 16 da Constituição Federal, posterga seus
efeitos para o dia l s de janeiro do ano de 2010.
Essa ruptura temporal não está em consonância com diversos princípios
insculpidos na Constituição da República, bem como despreza normas
infraconstitucionais eleitorais que já estão sedimentadas pelo transcurso do tempo.
O art. 16 da Constituição da República Federativa do Brasil consagra o princípio
da anualidade eleitoral, com a necessidade de se respeitar os preceitos normativos
existentes, evitando-se a su rp resa das a ltera çõ es leg iferan tes. Trata-se do
princípio da segurança ju ríd ica das rela çõ es e da igualdade entre os personagens
da eleição (eleitores, partidos políticos e candidatos).
Cumpre salientar, ainda, que a inovação normativa desacredita o sistema
eleitoral, gerando grande instabilidade institucional, uma vez que desconsidera as
disposições referentes ao quociente partidário, que reflete, diretamente, na indicação
dos candidatos pelo Partido. Nesta linha, após essas colocações explicativas, não
se pode alterar sumariamente todos os cálculos e regras materiais arrímadas na
formatação do sistema proporcional. Trata-se da realização de uma interpretação
conforme a constituição, seja no aspecto da temporariedade e periodicidade dos
mandatos eletivos, seja no alcance do voto direto que não pode sofrer restrições.
Ainda assim, pode-se verificar que a Emenda Constitucional ng 58/2009, no que
tange ao disposto no art. 3 e, inciso I, possui um direcionamento casuístico e, no
mínimo, suspeito, quanto à finalidade a ser atingida com o alcance da norma.
Ora, não se revela possível a identificação do interesse público a ser observado
com a previsão de empossamento imediato dos suplentes de vereadores quanto
à Eleição de 2008, o que faz com que tal norma seja de duvidosa impessoalidade,
já que destinada, injustificadamente, ao atendimento dos interesses de cidadãos
determinados quanto ao exercício do mandato almejado.
Nesse diapasão, a regra é dissonante, por completo, do objetivo perquirido com o
princípio da anualidade (art. 16 da Constituição Federal) e todo o sistema eleitoral
vigente (como antes demonstrado), sendo, portanto, desprovida de qualquer
embasamento jurídico que lhe racionalize a existência.
Assim, em consonância com o disposto no art. 5-, inciso LV da Carta da República,
a norma em questão é frontalmente violadora da razoabilidade basilar à atividade
legislativa, mesmo que seja esta de natureza constitucional, uma vez que o devido
processo legal substancial se caracteriza como um direito fundamental intangível
(art. 60, § 4 S da Constituição Federal).

40
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

De outra feita, é inegável que a posse imediata de inúmeros vereadores em


diversas Câmaras Municipais irá gerar gastos públicos, os quais, como cediço,
dependem de prévia dotação orçamentária.
Ocorre que, como a emenda constitucional n9 58 entrou em vigor recentemente,
sem respeitar a anuaiidade eleitoral exigida pela Carta Magna, não houve como se
prever, na lei orçamentária referente ao ano em curso (2009), as despesas que tais
empossamentos irão gerar, o que viola, frontalmente, as disposições orçamentárias
previstas na Carta Magna.
Ora, embora não se trate, à primeira vista, de cláusula pétrea expressa, é inegável
o caráter basilar no Estado Democrático de Direito, que as normas orçamentárias
constitucionais possuem razoabilidade de aprovação e um planejamento. Até porque,
por elas se organiza todo um sistema de gastos públicos, com vistas ao perfeito
atendimento das necessidades precípuas da população, o qual consubstancia
direitos fundamentais intangíveis do cidadão.
Destarte, é valido ressaltar a necessidade de fixação normativa do número exato de
vereadores em cada município. Assim, trata-se de pré-requisito a fixação na própria
lei orgânica municipal do exato número de habitantes de determinado município
para a incidência do correspondente número de vereadores, ou a expedição de
nova resolução pelos Tribunais Regionais Eleitorais para se estabelecer, em cada
município, o número de vereadores, observando-se as alterações da emenda
constitucional n- 58. Sem tal observância, resta inviável saber, ao certo, o número
legal de edis a compor a Câmara Municipal.
O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, ao responder à Consulta n2 1.421, referente
ao projeto da emenda constitucional, expediu a Resolução nfi 22.556/2007, no qual
definiu que "a data-limite para a aplicação da emenda em comento para as próximas
eleições municipais deve preceder o início do processo eleitoral, ou seja, o prazo
final de realização das convenções partidárias (...)". Assim, poder-se-ia admitir que
o aumento do número de vagas fosse aprovado até maio ou junho de 2008, mas
nunca em ano posterior com efeitos retroativos que camuflam nítida violação a
anuaiidade eleitoral e orçamentária.
Com isso, pode ser verificada uma busca por atendimento a interesses não
respaldados juridicamente no ramo do Direito Público e, portanto, plenamente
desarrazoados no que tange às finalidades perquiridas no Direito Eleitoral, que
é eminentemente voltado para o interesse público, com princípios inerentes a
salvaguarda do regime democrático. É cediço que o ato jurídico perfeito é uma
garantia fundamental traduzida na manutenção do ato de diplomação realizado
pela Justiça Eleitoral em relação aos vereadores das mais de cinco mil câmaras
municipais existentes no país.

41
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Vê-se ainda, a violação ao ato jurídico perfeito. 0 comando normativo do


art. 3 9, inciso I da Emenda Constitucional ne 58/2009 não atende a esta garantia
fundamental estabelecida numa trilogia básica entre partidos políticos, Justiça
Eleitoral e eleitores. Trata-se de inequívoca norma ocasional que viola o princípio
da transparência, além de estabelecer o caos generalizado no âmbito do próprio
poder legislativo municipal, criando evidentes diferenciações entre vereadores
eleitos pelo voto direto e aqueles alçados ao mandato por uma norma de exceção
que se traduz em inapropriada forma de eleição indireta.
0 princípio republicano consagrado no art. 1- da Carta Magna engloba a
eletivídade dos veread ores que são representantes nas Câmaras Municipais dos
eleitores locais.
Extrai-se nesse rumo, o p rincíp io rep resen tativo, quando a origem do mandato
eletivo decorre do voto emanado da vontade popular. A relação entre mandatários
e mandantes remonta à necessidade de estrita observância ao calendário das
eleições municipais, quando nos idos de 10 a 30 de junho do ano de 2008 (época das
convenções municipais, art. 8 - da Lei n- 9.504/97) foi estabelecido o real número
de candidatos com base no art. 10 da mesma lei, in verbis:

"Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos
Deputados, Câmara Legislativa, Assembleias Legislativas e Câmaras
Municipais, até 150% (cento e cinqüenta por cento) do número de
lugares a preencher”.
Por isso, a alteração imediata e retroativa de regras já sedimentadas
implica em real desconsideração da vontade dos eleitores, camufla uma
eleição indireta ou reflexa tirando do voto do eleitor a soberania, além
de contradizer a indicação dos próprios Partidos Políticos na formação
e escolha de seus candidatos aptos ao registro de candidaturas (art. 11
da Lei ne 9.504/97).

A interpretação isolada do texto da emenda constitucional 58/2009 reduz e torna


descompassada a compatibilidade constitucional diante de situações concretas, pois
diminui o prazo dos mandatos eletivos dos suplentes em relação aos atuais titulares
gerando uma efetiva desigualdade (art. 5- da Constituição Federal) para situações
absolutamente idênticas, ou seja, v.g., um suplente de vereador que ingresse de
forma superveniente em legislatura que já se encontra em curso ocupando uma
vaga nova estará em situação anômala, pois não é caso de mandato tampão ou
eleição suplementar ou complementar (art. 113 do Código eleitoral: “Na ocorrência
d e vaga, não havendo suplente p a ra preenchê-la, fa r-se-á eleição> salvo se fa lta rem
m enos de 9 (nove) m eses p a ra fin d a r o p eríod o de m an dato”), mas de mandato novo
com tempo reduzido, ou seja, de uma eleição indireta que desatende o disposto
como rol taxativo em norma constitucional originária (art. 81, §1Qda Constituição

42
C o n c e it o d e D ir e i t o E l e it o r a l . C o n c e it o e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

Federal). Nesse contexto, o art, 3 9, inciso I da Emenda Constitucional n2 58, de


23 de setembro de 2 0 0 9 viola expressamente o disposto na norma constitucional
originária do art, 2 9 , 1, da Carta Magna, in expressis:

"I- eleição do Prefeito, do Vice- Prefeito e dos Vereadores, para mandato


de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em

Daí o menoscabo à norma constitucional originária, pois aviltado o tempo de 4


(quatro) anos do exercício dos mandatos eletivos subsumidos na votação popular
(eleição direta).
Noutra feita, frisamos que o art. I 9 da Lei na 9.504/97, proíbe em arrimo
constitucional a quebra da simultaneidade entre as eleições federais e estaduais
versus eleições municipais. Trata-se da organização essencial da otimização do
sistema eleitoral proporcional.
Em destaque:

"Art. l e As eleições para Presidente e Vice-Presidente da República,


Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, Prefeito e
Vice-Prefeito, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado
Distrital e Vereador dar-se-ão, em todo o País, no primeiro domingo de
outubro do ano respectivo.
Parágrafo único. Serão realizadas simultaneamente as eleições:
I - para Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-
Governador de Estado e do Distrito Federal, Senador, Deputado Federal,
Deputado Estadual e Deputado Distrital;
II - p.ara.Hnejfeito^ Vi<^-PrefeitQJg..yexeadftr.,,■(Grifou-se).

Vê-se ainda neste prisma o art. 32, § 1 9 até §3- e art. 77 da Constituição Federal,
conforme frisado,

"Art. 3 2 - 0 Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-


se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo
de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a
promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1- - Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas
reservadas aos Estados e Municípios.
§ 2 2 - A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas as
regras do Art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a dos
Governadores e Deputados Estaduais, para mandato^de igual
duração.
§ 3 - - Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o

43
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Assim, a diretriz constitucional não pode ser desvirtuada sob pena de neutra­
lização do voto direto e das cláusulas pétreas pela regra da incidência retroativa
da norma do art. 3-, I, da Emenda Constitucional ng 58/2009, pois o legislador
constituinte originário primou pela diretriz da simultaneidade das eleições federais,
estaduais versus municipais em seus diferentes níveis.
Pode-se concluir, portanto, que são muitos os argumentos quanto à violação
constitucional pela recente Emenda Constitucional n~ 58, o que a torna, eivada de
inconstitucionalidade e, portanto, inválida quanto a norma contida em seu art. 3-,
inciso I em seus efeitos assimétricos e indesejáveis pela ordem natural dos mandatos
eletivos substanciados no sistema eleitoral proporcional, impossibilitando a posse
imediata aos suplentes beneficiados.
Com a publicação da emenda constitucional, os critérios proporcionais
estabelecidos na Resolução do TSE ne 21.702/ 2004 perdem a vigência.
Recentemente, foi ajuizada ação direta de inconstitucionalidade pelo Exm~
Procurador Geral da República no Supremo Tribunal Federal, ADI n- 4307, obtendo
a brilhante decisão com liminar deferida pela Excelentíssima Ministra Carmen Lúcia
em 2/10/2009, para suspender a eficácia do inciso í do art. 3 - da emenda, a qual foi
referendada pelo plenário em 11/11/2009.
No que tange à propositura da ADI n e 4.307 pelo Excelentíssimo Procurador-
Geral Eleitoral Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, enumeram-se os brilhantes
argumentos utilizados na petição inicial:
a) A aplicação retroativa traz "instabilidade institucional absolutamente conflitante
com os compromissos democráticos assumidos na Constituição da República";
b) Viola o disposto no art. 16 da Carta Magna, que, conjugado com o a r t 5-, LíV,
preserva o exercício da cidadania popular, como uma verdadeira garantia política
intangível (art. 60, §4-, CRFB/88);
c) Atinge o Estado Democrático de Direito, na medida em que altera os modelos
procedimentais adotados, o que compromete a legitimação do resultado e a
confiança do cidadão no Estado;
d) Conflita com o devido processo legal eleitoral, organizado por regras
constitucionais, tendo como subprincípio a proteção da confiança das leis, o que
é indispensável à estabilidade do sistema normativo;
e) Revolvem, na linha do que dito acima, o processo eleitoral, interferindo no
quociente eleitoral e partidário, que, com todas as suas finalidades perquiridas
já alcançadas e estabelecidas, restarão alteradas por norma posterior;
f) Considerando que, à época das eleições de 2008, os realmente eleitos foram
empossados, alterar essa regra no curso do mandato violaria o disposto no
art. 1-, parágrafo único e art. 14 da Constituição;
g) Por fim, sustenta “ofensa a atos jurídicos perfeitos, regidos todos por normas
previamente conhecidas".

44
C o n c e it o d e D ir e it o E l e i t o r a l C o n c e it o e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c í p i o s C apítulo 2

2.3.8. Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e


partidos po lítico s
Este princípio está expresso no art. 241 do Código Eleitoral:

Art. 241. Toda propaganda eleitoral será realizada sob a responsabilidade


dos partidos ou de seus candidatos, e por eles paga, imputando-se-lhes
solidariedade nos excessos praticados pelos seus candidatos e adeptos.

O dispositivo legal consagra o princípio da corresponsabilidade entre partidos


e candidatos. Denomina-se responsabilidade solidária, pois ambas as pessoas,
jurídica de direito privado (partido político) e física (candidato), devem responder
na esfera cível, administrativa eleitoral e penal (esta última sujeita a controvérsias)
pelo abusos e excessos.
Oart. 17 da Lei n - 9.504, de 30 de setembro de 1997, imputa a corresponsabilidade
financeira pelas despesas de campanha aos partidos políticos e candidatos, e o
art. 38 da mesma lei diz que os folhetos, volantes e outros impressos são editados por
corresponsabilidade entre partidos políticos, candidatos e, inclusive, as coligações
(partidos políticos temporários). Destacamos, in verbis-.

Art. 17. As despesas da campanha eleitoral serão realizadas sob a


responsabilidade dos partidos, ou de seus candidatos, e financiadas na
forma desta Lei. (...)
Art. 38. Independe da obtenção de licença municipal e de autorização da
justiça Eleitoral a veiculação de propaganda eleitoral pela distribuição
de folhetos, volantes e outros impressos, os quais devem ser editados
sob a responsabilidade do partido, coligação ou candidato.

A tormentosa questão da responsabilidade de candidatos pela distribuição de


folhetos apócrifos de propaganda política eleitoral irregular, em regra, deflui da
circunstância de que tinham cabal conhecimento dos fatos, tanto que costumam
acompanhar pessoalmente a distribuição do material, especialmente em cidades
do interior. Deve-se analisar que o candidato pretende sempre obter vantagem na
campanha eleitoral, até porque, no próprio dia da eleição, os cabos eleitorais são
previamente instruídos para distribuir o maior número possível de folhetos nas
ruas e nos logradouros públicos, visando o benefício do voto. Entendemos que a
presunção é ju ris tantum.

Quanto à aplicação deste princípio, destacamos as decisões infra-aduzidas.


Responsabilidade solidária. TSE.
Acórdão ns 21.026, de 25.9.03. Embargos de declaração no Agravo
Regimental no Recurso Especial Eleitoral n9 21.026/SP. Relator: Ministro
Carlos Velloso. Ementa: Eleitoral. Embargos de declaração. Agravo

45
M arcos R am ayana D ir e i t o E l e it o r a l

regimental. Recurso especial. Propaganda irregular. Outdoor. Partido


político. Responsabilidade solidária. Incidência do art. 241 da CE.
Inexistência de omissão e contradição. Embargos de declaração rejeitados.

Responsabilidade do diretório estadual pela propaganda política partidária. TSE.


(...) Os diretórios estaduais dos partidos políticos têm autonomia para
a realização de seus programas partidários e por eles respondem,
na forma da lei, sem prejuízo da responsabilidade pelas expressões
faladas ou pelas imagens transmitidas (Res.-TSE ne 20.034/97,
art. 11). É competente para processo e julgamento de representações
que tenham como objeto o desvio de finalidade cometido no espaço de
propaganda partidária, o Tribunal que tenha autorizado a utilização do
respectivo tempo (Lei n9 9.096/95, art. 46, §§ 2- e 6~ , c.c. a Res.-TSE
ne 20.034/97, art. 13) (...)

Propaganda irregular. Retirada. Responsabilidade. TSE.


Acórdão ns 4.291, de l a.8.03. Agravo regimental no Agravo de Instru­
mento ne 4.29 l/SP. Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira. Ementa:
Agravo regimental. Agravo de instrumento. Propaganda irregular.
Notificação para retirada. Candidato. Conhecimento e responsabilidade.
Notificado o candidato da existência de propaganda irregular, não há
falar em aplicação de multa com presunção de responsabilidade e
conhecimento. Regimental a que se nega provimento.

Prova da responsabilidade. Multa eleitoral. TSE.


Acórdão nQ19.797, de 24.6.03. Agravo regimental no Recurso Especial
Eleitoral ne 19.797/MG. Relator: Ministro Carlos Velloso. Ementa:
Agravo regimental em recurso especial. Propaganda eleitoral irregular.
Prova da responsabilidade e do prévio conhecimento. Retirada da
propaganda. Multa. Aplicação. Lei n- 9.504, art. 37, § l e. Alegação
de julgamento extra petíta. 1. Não há que se falar em nulidade por
julgamento extra petíta quando a sanção é aplicada dentro dos
limites do pedido. 2. Restando provada a responsabilidade e o prévio
conhecimento do beneficiário, conforme suas declarações, a retirada
imediata da propaganda irregular não é circunstância suficiente para
elidir a aplicação da muita prevista no § l e do art. 37 da Lei ns 9.504/97.
3. Precedentes. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.

Ausência de responsabilidade.
Conduta vedada. Art. 73 da Lei n9 9.504/97. Propaganda institucional
em período vedado. Placas de obras. Responsabilidade. Falta de
comprovação. Multa. Insubsistência. Para a imposição de multa ao agente
C o m c e it o d e D ír je it o E l e it o r a l . C o n c e it o e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r i n c í p i o s C apítulo 2

público, é imprescindível a comprovação de sua responsabilidade pela


conduta vedada. Nesse entendimento, o Tribunal conheceu do recurso
de Almir Gabriel e a ele deu provimento. 0 Tribunal não conheceu
do recurso de Nicias Lopes. Unânime. Recurso Especial Eleitoral
n9 21.152/PA, Rei. Min. Fernando Neves, em 22.4.2003.

0 Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, mais recentemente, assim decidiu:


"Existindo mais de um responsável pela propaganda irregular, a pena de multa
deverá ser aplicada individualmente e não de forma solidária. O entendimento foi
reafirmado, em decisão monocrática, pelo ministro Cezar Peluso, relator do Recurso
Especial Eleitoral (Respe) 25789, segundo fonte extraída em notícia publicada no
sítio (TSE de 27.06.20073” (grifo nosso).
A individuaíização da pena de multa é necessária, porque acarreta maior sanção
ao candidato ou ao partido político, evitando a divisão desse pagamento entre os
mesmos e desnaturando o sentido da norma.
Sobre o assunto a Resolução TSE n- 22.261/06 (Resolução sobre propaganda
nas eleições de 2006), assim disciplinou: "Art. 9 9 nos bens cujo uso dependa de
cessão ou permissão do poder público, ou que a ele pertençam, e nos de uso comum,
inclusive postes de iluminação pública e sinalização de tráfego, viadutos, passarelas,
pontes, paradas de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de
propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta, fixação de
placas, estandartes, faixas e assemelhados (Lei n9 9.504/97, art. 37, cabeça do artigo,
com nova redação dada pela Lei ne 11.300/06). § l e A veiculação de propaganda
em desacordo com o disposto na cabeça deste artigo sujeita o responsável após
a notificação e comprovação, à restauração do bem e, caso não cumprida no prazo,
à multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a R$ 8.000,00 (oito mil reais) (Lei
n2 9.504/97, art. 37, § 1-, com nova redação dada pela Lei ne 11.300/06)" (grifos
nossos).
A norma jurídica sujeita o responsável às penas de multa e restauração dos
bens. Por isso, a necessidade de se verificar o verdadeiro causador da propaganda
irregular.
Igualmente, o art. 14 da mesma resolução diz: "É permitida, até a antevéspera
das eleições, a divulgação paga, na imprensa escrita, de propaganda eleitoral,
no espaço máximo, por edição, para cada candidato, partido ou coligação, de um
oitavo de página de jornal padrão e um quarto de página de revista ou tabíoide (Lei
nô 9.504/97, art. 43, cabeça do artigo, com nova redação dada pela Lei ne 11.300/06).
§ l s A inobservância do disposto neste artigo sujeita os responsáveis pelos
veículos de divulgação e os partidos, coligações ou candidatos beneficiados a multa
no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 10.000,00 (dez mil reais) ou equivalente
ao da divulgação da propaganda paga, se este for maior (Lei n- 9.504/97, art. 43,
parágrafo único, com nova redação dada pela Lei n9 11.300/06)" (grifos nossos).

47
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

E ainda, a Resolução TSE nQ 22.250/06, que dispõe sobre a arrecadação e a


aplicação de recursos nas campanhas eleitorais e sobre a prestação de contas, no
art. 2 Q, dizia: Juntamente com o pedido de registro de seus candidatos, os partidos
políticos comunicarão à Justiça Eleitoral os valores máximos de gastos que farão
por candidatura em cada eleição em que concorrerem (Lei ne 9.504/97, art. 18,
cabeça do artigo). § 3 a Gastar recursos além dos valores declarados nos termos
deste artigo sujeita o responsável a o p ag am en to de multa no valor de cinco a dez
vezes a quantia em excesso, a qual deverá ser recolhida no prazo de cinco dias úteis,
contados da intimação; o responsável pode responder, ainda, por abuso do poder
econômico, nos termos do art. 22 da Lei Complementar ns 64/90 (Lei n9 9.504/97,
art. 18, § 2 e).
No mesmo sentido é o art. 24: “O candidato é solidariam en te responsável com
a pessoa indicada na forma do art. 20 da Lei n- 9.504/97 pela veracidade das
informações financeiras e contábeis de sua campanha, devendo am bos assinar a
respectiva p restação de contas (Lei n- 9.504/97, art. 21, com nova redação dada pela
Lei ne 11.300/2006). Parágrafo único. O candidato não se exime da responsabilidade
prevista neste artigo, alegando ignorância sobre a origem e a destinação dos
recursos recebidos em campanha, ou deixando de assinar as peças integrantes da
prestação de contas."
Outrossim, o TSE, para as eleições de 2008, manteve a responsabilidade do
beneficiário da propaganda, conforme Resolução ne 22.718/08, art. 3 S, § 4-.
No art. 9 S da aludida Resolução, foi mantida a responsabilidade solidária com
o partido político pela reparação do dano moral em razão de ação ou omissão
praticada pelo ente partidário.
Sobre a responsabilidade civil dos partidos políticos, cumpre ressaltar a recente
modificação introduzida pela Lei ne 11.694/2008, que alterou a lei dos partidos
políticos, in verbis:

Art. 1- A Lei n9 9.096, de 19 de setembro de 1995, passa a vigorar


acrescida do seguinte art. 15-A: "Art. 15-A. A responsabilidade, inclusive
civil, cabe exclusivamente ao órgão partidário municipal, estadual ou
nacional que tiver dado causa ao não cumprimento da obrigação, à
violação de direito, a dano a outrem ou a qualquer ato ilícito, excluída
a solidariedade de outros órgãos de direção partidária.”

Desta forma, o TSE vem pacificando o entendimento de que a multa deve ser
aplicada individualmente aos responsáveis, quando for o caso de propaganda :
política eleitoral irregular/pois, assim, a sanção se torna mais èfetivà é pode inibir
a conduta dos infratores. " •'•1'' ''' *" ‘ :' V:;■:-' v: ;-L '■ -''

48
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a jl C o n c e it o e

E s p é c ie s d e D em ocracia . P r in c íp io s C a p ít u l o 2

2.3.9. Princípio da irrecorribilidade das d e c isõ e s do


Tribunal Superior Eleitorai
0 princípio é extraído do art. 281 do Código Eleitoral:

Art. 281. São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior, salvo as que


declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e
as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança, das quais
caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto
no prazo de 3 (três) dias.

0 § 3 e do art. 121 da Constituição Federal prevê o cabimento de recurso


extraordinário das decisões do TSE que contrariarem a Constituição e, ainda, o
recurso ordinário das decisões que denegarem h a b ea s corpus ou mandado de
segurança.
• O prazo de interposição do recurso extraordinário é de três dias.
♦ O Código de Processo Civil se aplica subsidiariamente.
* O recorrente deve observar a Lei n° 6.055/74.
• O recurso é dirigido ao presidente do TSE, que despachará funda-
mentadamente, remetendo os autos ao Supremo Tribunal Federal.
Cumpre ressaltar que, por exemplo:
ocorrendo a decisão do recurso contra a diplomação, com a
incidência do art. 216 do Código Eleitoral, a interposição de recurso
extraordinário perante o Supremo Tribunal Federal não tem o condão
de suspender a execução imediata desta decisão (art. 257 do Código
Eleitoral), ante o predomínio do interesse público na seara eleitoral,
inviabilizando, assim, a incidência dos arts. 1-, inciso I, alínea d, e 15 da
Lei Complementar ne 64/90 (Acórdão n9 19.825, de 6.8.2002. Recurso
Especial Eleitoral n- 19,825/MS. Relator: Ministro Fernando Neves).

2 .3.10. Princípio da m oralidade eleitoral


Sobre o tema, a posição29 sumulada do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral no
verbete de número 13, in verbis: é no sentido da não aplicabilidade do princípio
da moralidade eleitoral para fins de exame de candidaturas. Neste sentido: “Não
é autoaplicável o § 9 a, art. 14, da Constituição, com a redação da Emenda
Constitucional de Revisão 4 /9 4 " .
Como se verifica, o Tribunal Superior Eleitoral entendeu que se faz necessária
a produção de norma legal (lei de natureza complementar) para fins de explicitar
quais os casos que ensejam a imoralidade eleitoral para fins de inelegibilidade nos
termos da Constituição da República Federativa do Brasil, art, 14, § 9 S.

29 Favor consulíar o capítulo 10 sobre Perda e Suspensão dos Direitos Políticos, no item que trata do princípio da
moralidade pública considerada a vida pregressa do candidato.

49
M arcos R am ayana D ir e ít o E l e it o r a l

Em todas as eleições nacionais, estaduais ou municipais aparecem candidatos


que de uma certa forma apresentam uma vida pregressa repleta de imoralidades
públicas e anotações criminais em suas folhas de antecedentes criminais.
A Lei Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990, no art. I a, I, letra e, trata
de uma especial inelegibilidade por prática de infrações penais. É a inelegibilidade
superveniente à suspensão dos direitos políticos, após sentença penal condenatória
transitada em julgada com pena já cumprida e extinta na forma legal. Trata-se de
uma especial inelegibilidade crim inal. Se um cidadão praticou crime eleitoral e
já cumpriu pena, ainda ficará inelegível por três anos supervenientemente à pena
cumprida.
Primeiramente, cumpre afastarmos qualquer arguição de inconstitucionalidade
do aludido dispositivo legal da lei das inelegibilidades, pois a jurisprudência
pacífica do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral corretamente entendeu que a Carta
Constitucional no art. 15, III, disciplinou o instituto da suspensão dos direitos
políticos, enquanto que a Lei Complementar n9 64/90 tratou de outro instituto,
ou seja, o da inelegibilidade. A suspensão e a inelegibilidade integram os direitos
políticos negativos e são exceções à plena capacidade eleitoral passiva, no entanto, a
suspensão impede o direito de votar, a capacidade ativa, e a inelegibilidade fulmina
por lapso temporal previsto em lei, a capacidade eleitoral passiva, ou seja, o direito
de ser votado. Assim sendo, a suspensão dos direitos políticos é hipótese mais
drástica ao cidadão-candidato, na medida em que lhe impede de votar e ser votado
durante determinado período de tempo.
Impende frisar o verbete sumular número 09 do Tribunal Superior Eleitoral,
que assim dispõe: "A suspensão de direitos políticos d ecorren te de condenação
criminal tran sitad a em julgado cessa com o cum prim ento ou a extinção da
pena, independendo de reabilitação ou de prova de rep aração dos danos". Vê-
se que, uma vez declarada extinta a pena pelo seu cumprimento, o apenado poderá
restabelecer os seus direitos políticos regularizando sua situação eleitoral com a
comprovação da cessação da causa de suspensão dos direitos políticos.
De uma certa forma, a legislação eleitoral já disciplina a imoralidade eleitoral
considerada a vida pregressa, quando o infrator se sujeita ao que denominados de
inelegibilidade crim inal. Todavia, a incidência da letra e, do inciso I, do art. 1Q,
da LC n- 64/90, é ainda insuficiente e não colmata o campo legislativo próprio do
comando constitucional do art. 14, § 9 9, da CRFB. A realidade eleitoral e os princípios
da cidadania, normalidade e legitimidade das eleições obrigam ao legislador
infraconstitucional dotar a Justiça Eleitoral e o Ministério Público com atribuições
para os feitos eleitorais de instrumentos eficientes e moralizadores das eleições.
O Tribunal Superior Eleitoral e todos os órgãos da Justiça Eleitoral contando com
a ampla fiscalização dos partidos políticos, Ministério Público, candidatos e eleitores
estão incumbidos da defesa do regime democrático e autorizados por normas
constitucionais a resguardar este regime contra abusos, fraudes, corrupções e

50
C o n c e it o d e D ir e it o E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

imoralidades púbiicas e decorrentes de uma vida pregressa maculada de anotações


criminais, cuja subjetividade do exame possas causar lesão ao sublime exercício dos
mandatos eletivos.
A produção da norma relativa à moralidade eleitoral imbricada com a vida
pregressa de determinado candidato eleito e que esteja no exercício do mandato
eletivo não está imune ao exame do seu decoro parlamentar como causa de previsão
nos regimentos internos da Câmara, Senado, Assembleias Legislativas e Leis
Orgânicas Municipais, nem tampouco se escusa a análise do decoro dos servidores
públicos em geral em razão das leis próprias de regência da matéria.
A própria Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990, declara que é causa
de inelegibilidade, após o término do mandato, o fato de um senador, deputado,
governador e prefeito violar o decoro parlamentar (moralidade pública e de
comportamento social). Nesse sentido, rezam as alíneas a e b do inciso I, do art. 1-
da Lei das Inelegibilidades.
A improbidade administrativa eleitoral como imoralidade qualificada ou
duplicada é punida pelas normas do art. 73, §§ 4- até 7-, da Lei n- 9.504/97. São as
condutas vedadas aos agentes públicos nas campanhas eleitorais.
A vida de um servidor público deve ser moralmente aceita pela sociedade,
e esta situação de subjugação aos deveres com a ordem democrática defluem da
natural posição do homem representativo dentro do contexto de comunidades
simplesmente primitivas e das altamente organizadas.
Cabe ao órgão jurisdicional competente para o deferimento do pedido de registro de
candidatos (TSE, TREs e juizes eleitorais) perscrutar se o interessado é possuidor de
vida pregressa ilibada aplicando a norma dos arts. 1-, II, e 14, § 99, da CRFB. Se concluir
que as anotações criminais são decorrentes de fatores graves, tais como: processos
criminais hediondos ou assemelhados aos mesmos; crimes de roubo, extorsão,
estelionato, defraudações, sequestros, latrocínios e outros deverão fiscalizar a ordem
constitucional e indeferir os respectivos pedidos, cabendo às instâncias superiores
a análise da razoabilidade destas decisões. As normas são de eficácia contida e não
limitada: no que, neste ponto, d ata venia, ousamos discordar da posição sumulada no
verbete 13 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, conforme acima já destacada.
Na Bélgica, o Código Eleitoral no art. 6 9, com a alteração da Lei de 5 de julho de
1976 (art. 3 S), assim dispõe: “Ficarão definitivamente privados da capacidade
eleitoral, não podendo se r adm itidos à votação, os que tenham sido
condenados a uma pena criminal". A lei não específica se deve haver o trânsito em
julgado. Vê-se, portanto, que na legislação pátria deveria existir um dispositivo legal
que não permitisse o deferimento de pedidos de candidaturas cujos interessados
já estivessem condenados, sem trânsito em julgado. Nestes casos, poder-se-ia
constituir uma espécie de inelegibilidade criminal.

51
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

A Lei Eleitoral da D inam arca de 31 de maio de 1987, no art. 4°, item I, assim
expressa: “A elegibilidade p ara o Parlam ento é atribuída a todo o indivíduo que
gozar do direito de voto, nos term os dos arts. 1 “ e 2 -, salvo se tiver condenado
por um a c to que, aos olhos da opinião pública, o torn e indigno de se r membro
do Parlamento".
Outrossim, a Lei Orgânica nB 5, de 19 de junho de 1985, do Regime Eleitoral
Espanhol no art. 6 9, item 2, disciplina: "Não poderão se r eleitos: a) os condenados
por sentença tran sitad a em julgado, a pena privativa de liberdade, durante o
período de duração da m esm a; b) ainda que a sentença não seja transitada em
julgado, os condenados p or crim e de rebelião ou os m em bros de organizações
terroristas condenados p or crim e contra a vida, a integridade física ou
liberdade das pessoas".
É interessante observar que na Lei Eleitoral de 31 de julho de 1924 (texto
refundido), de Luxemburgo, o eleitor perde a capacidade ativa e, por via de
conseqüência, a capacidade passiva, quando: "Art. 4 -: 2e - os que tiverem sido
objeto de condenação penal; 3 9 - os que tiverem sido condenados, bem como
seus cúmplices, a pena de prisão por furto, receptação, fraude ou abuso de
confiança, contrafacção, em prego de falsificações, falso testem unho, falso
juram ento, suborno de testem unhas, peritos ou intérpretes..."
Como se nota, as aludidas legislações dos países da União Européia procuram
adotar mecanismos impeditivos de candidaturas revestidas de imoralidade pela
vida pregressa, quando já existe uma condenação, mesmo sem que haja o trânsito
em julgado.
A renúncia é um ato unilateral, mas quando decorre de mandato eletivo não deixa
de sofrer o controle vindouro da imoralidade como requisito jurídico-constitucional
de perfeição do ato de investidura em mandatos eletivos, sob pena de ferimento
direto ao PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DO ELEITOR OU DA PESSOA HUMANA,
inserido em âmbito constitucional, art. l s, III, da Constituição de República
Federativa do Brasil. Na verdade existe verdadeira imbricação entre o princípio
da cidadania e da dignidade do eleitor como pessoa humana que merecem respeito
e prestação de contas dos atos dos seus representantes políticos.
Assim sendo, urge concluir que a vida pregressa do candidato fere o princípio da
moralidade administrativa e política, constituindo obstáculo para o deferimento de
registro de candidaturas, mesmo que no Brasil ainda não tenha sido regulamentado o
parágrafo novo do art. 14 da Constituição da República, no que tange especificamente
ao princípio da moralidade em relação à vida pregressa (de anotações penais do
interessado candidato).
Outrossim, o princípio da moralidade administrativa é previsto no art. 37 da
CRFB e está em consonância com os princípios da lealdade e boa-fé. Em igual sentido
são os arts. 5 9, LXXIII, e 85,V, da Constituição Federal. Os acessos ao poder público

52
C o n c e it o d e D ir e it o E le ito ra l. C o n c e ito e

E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

em geral, inclusive aos cargos decorrentes de mandatos eletivos se pautam pelas


normas constitucionais. Todavia, o conceito subjetivo de moralidade é superlativo
e toca ao direito natural de convivência social, ensejando uma sinergia de proteção
pelas autoridades responsáveis pela defesa do regime democrático brasileiro.
Nas eleições de 2006, o Egrégio TSE assim decidiu:
Recurso Ordinário n9 1.069 - Classe 27a - Rio de Janeiro (Rio
de Janeiro). Relator: Ministro Marcelo Ribeiro. Recorrente; Eurico
Angelo de Oliveira Miranda.Advogado: Dr. Luis Pauio Ferreira dos
Santos e outro. Eleições 2006. Registro de candidato. Deputado federal.
Inelegibilidade. Idoneidade moral. Art. 14, § 9°, da Constituição Federal.
1. O art. 14, § 9 9, da Constituição não é autoaplicável (Súmula n9 13
do Tribunal Superior Eleitoral). 2. Na ausência de lei complementar
estabelecendo os casos em que a vida pregressa do candidato
implicará inelegibilidade, não pode o julgador, sem se substituir ao
legislador, defini-los. Recurso provido para deferir o registro. Acordam
os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, vencidos os
Ministros Carlos Ayres Britto, Cesar Asfor Rocha e José Delgado, em
conhecer e prover o recurso, nos termos das notas taquigráficas.Sala
de Sessões do Tribunal Superior Eleitoral. Brasília, 20 de setembro de
2006"
Destacamos trecho do voto do Excelentíssimo Ministro Carlos Ayres de Britto:
"Assim como as leis eleitorais substantivas tanto punem o eleitor
mercenário como o candidato comprador de votos. Mais ainda, esta a
razão por que a nossa Constituição forceja por fazer do processo eleitoral
um exercício da mais depurada ética e da mais firm e autenticidade
democrática. Deixando clarissimamente posto, pelo § 9- do seu art. 14,
que todo seu empenho é g a r a n tir a pu reza do regim e representativo,
traduzida na ideia de "normalidade e legitimidade das eleições contra a
influência do poder econômico ou o abuso de exercício de função, cargo
ou emprego na administração direta ou indireta. Isso de parelha com a
proteção da ‘probidade administrativa e a moralidade para o exercício
do cargo, considerada a vida pregressa do candidato’".
Como se nota, a questão resultou controversa no C. TSE, 4x3 votos a favor da
tese da não aplicabilidade do princípio da moralidade eleitoral considerada a vida
pregressa.
Todavia, a omissão legislativa para o próximo pleito é evidente e a questão
será reiterada perante os juizes e Tribunais Eleitorais, transferindo-se de forma
permanente a dúvida da aplicação ou não do princípio para uma solução judicial,
pois, como já visto, dificilmente se poderá expedir comando judicial para obrigar ao
Poder Legislativo produzir a norma complementar.

53
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Nas eleições municipais de 2008, ocorreu um fato histórico na cidade do Rio de


Janeiro, quando firmou-se o entendimento sobre a aplicabilidade do princípio da
moralidade eleitoral. Destacamos a seguinte notícia disponilizada no site do TRE do
Rio de Janeiro:
"Carta do Rio combate a ficha suja. Na presença do presidente do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Ayres Britto, e do
presidente do TRE-RJ, Roberto Wider, o desembargador Cláudio Santos
leu a Carta do Rio de Janeiro, que traz um resumo dos consensos
entre os 26 presidentes dos TREs que participaram do XLI Encontro
de Presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais do Brasil. A Carta
reafirma a necessidade de a Justiça Eleitoral considerar a vida pregressa
dos candidatos a cargos eletivos, orienta que os juizes facilitem o acesso
aos documentos que instruem o processo de registro de candidatura,
além de aprovar Moção de Congratulações pela atuação do ministro
Ayres Britto na presidência da Corte Superior. O ministro quer que
as propagandas institucionais do TSE alertem o eleitor a examinar a
vida pregressa dos candidatos antes de decidir em quem votar. Carlos
Ayres Britto justificou a sua presença no Encontro como uma maneira
de reconhecer a importância do Colégio de Presidentes. Apesar de o
tema não constar da pauta, ele não se furtou de comentar a polêmica
sobre o veto consensual dos políticos que tenham praticado ilicitudes
incompatíveis com o exercício de cargo eletivo. ‘Diante de um caso
escandaloso, de namoro aberto do candidato com a delituosidade e
desvio de condutas, não se pode negar à justiça eleitoral condições de
barrar o seu ingresso na vida pública', discursou.
Na palestra, o presidente do TSE destacou o momento único na história
da democracia brasileira. Para ele, a vida política está madura e vive
período de maiores liberdades. % discussão sobre a vida pregressa é
fruto desta efervescência democrática. Temos de tirar a Constituição
do papel, pois tudo aquilo que ela não quer é ser um elefante branco',
defendeu Ayres Britto. Aíntegra da Carta jã foi divulgada pela Assessoria
de Imprensa do TRE-RJ"
Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal julgou uma Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental de ne 144, proposta pela Associação dos
Magistrados do Brasil (AMB), rei. Ministro Celso de Mello, em 6.8.2008.
Nessa decisão entendeu-se que a pretensão deduzida pela AMB não deveria
ser acolhida, considerando a garantia do princípio da inocência (ou da não
culpabilidade), que se irradia além dos limites do processo penal.
Firmou-se, mais uma vez, o enunciado ne 13 da Súmula do TSE, quando exige que
Lei Complementar trate dos casos ensejadores da inelegibilidade dos cidadãos para
candidaturas aos mandatos eletivos.
Por fim, o reconhecimento de uma causa de inelegibilidade desta natureza enseja
o trânsito em julgado da decisão criminal.
C o n c e it o d e D ir je it o E l e it o r a l . C o n c e it o e
E s p é c ie s de D e m o c r a c ia . P r in c íp io s C apítulo 2

Todavia, cumpre enfatizar que os casos de condenação criminal transitada


em julgado já estão previstos no art, 15, inciso III, da Constituição Federal como
hipóteses de suspensão dos direitos políticos, e não, de inelegibilidades.
A decisão foi por maioria significativa, ou seja, 9 votos vencedores e 2 vencidos. Os
votos vencidos, ao nosso pensar, estavam mais corretos e se arrimam nos ministros
Carlos Britto e Joaquim Barbosa, que julgavam a arguição parcialmente procedente.
Destaca-se:
"Eleições 2008. Registro de candidato. Prefeito. Vida pregressa.
Condenação. Trânsito em julgado. Ausência. Art. 14, § 9e, da
Constituição Federal. Não autoaplicabilidade. Recurso provido. Agravo
regimental desprovido. 1. Sem o trânsito em julgado de ação penal,
de improbidade administrativa ou de ação civil pública, nenhum pré-
candidato pode ter seu registro de candidatura recusado pela Justiça
Eleitoral (Cta no 1.621/PB). 2. Decidiu o Supremo Tribunal Federal que
a pretensão de impedir a candidatura daqueles que ainda respondem a
processo - sem trânsito em julgado - viola os princípios constitucionais
da presunção de inocência e do devido processo legal (ADPF ne 144/
DF). 3. Não é autoaplicável o disposto no art. 14, § 9° da CF. 4. Agravo
regimental desprovido" (TSE, Agravo Regimental no Recurso Especial
Eleitoral ne 29.028/MG, relator: Ministro Marcelo Ribeiro, publicado
na sessão de 26.8.2008).
Registre-se que o Colégio de Presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais
aprovou a moção que pede urgência na criação de uma lei que regulamente o exame
de vida pregressa para concessão de registro de candidatura em eleições. Pretende-
se agilizar a edição de tal lei de forma que esteja vigorando para as próximas eleições
de 2010.
Em conclusão: aguarda-se a almejada aprovação de projetos de lei complementar,
bem como tenta-se, por intermédio de campanhas esclarecedoras, orientar o eleitor.
E spécies
C
onceito
Anualidade

de

de
D emocracia

D
ireito
E lh to ra l
-M Aproveitamento do Votõ

P r in c íp io s
C
Celeridade

onceito
Representativa ou indireta í Devolutividade

e
dos Recursos

~H Precíusão Instantânea

|Responsabi I idade SõI idária/i


Mista

______________________________________________________
B I® S llw 1

Irrecorribilidade das
Decisões do TSE

-H Moralidade Eleitoral

Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10a Edição ■ Capítulo 2 - Conceito de D ireito Eleitoral. Conceitos e espécies de Dem ocracia e Princípios

<1
C apítulo 3

P erda e Suspensão
dos D ireitos P olíticos

3.1. CONCEITO E CONSIDERAÇÕES GERAIS


0 eminente doutrinador Pimenta Bueno1 já definia os direitos políticos, in
verbis:
Os direitos políticos são as prerrogativas, os atributos, faculdades ou
poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país,
intervenção direta ou só indireta, mais ou menos ampla, segundo a
intensidade do gozo desses direitos.
São ojus civitatis, os direitos cívicos, que se referem ao Poder Público,
que autorizam o cidadão ativo a participar na formação ou exercício
da autoridade nacional, a exercer o direito de vontade ou eleitor, os
direitos de deputado ou senador, a ocupar os cargos políticos e a
manifestar suas opiniões sobre o governo do Estado.
No dizer expressivo do constitucionalista João Barbalho,2 traçam-se as linhas
mestras dos direitos políticos, in verbis:
Políticos se dizem os direitos que entendem com a organização
constitucional do Estado e as relações entre este e os cidadãos no
que pertence à govemação pública. Nesses direitos se compreende o
de intervir e tomar parte no exercício da autoridade nacional. E isto
mostra a importância e fundamento da exigência da posse deles como
condição de elegibilidade para o cargo de Presidente da República.
Por isso não podem ser eleitos os que se acharem compreendidos nas
hipóteses de suspensão e perda dos direitos políticos.
É sobremodo importante assinalar as lições de Savigny, fazendo a distinção
entre o ju s honorum (direito de ser votado) e o ju s suffragii (direito de votar).
Na suspensão dos direitos políticos, o cidadão fica afastado temporariamente
da capacidade eleitoral ativa e passiva (direito de votar e ser votado); na perda
dos direitos políticos, a privação é definitiva.

1 Apud Pinto Ferreira. Princípios Gerais do Direito Constitucional Moderno. RT, 5a ed„ p. 38.
2 Comentários à Constituição. F. Briguiet e Cia. Editores,1924, p. 221.
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Leciona o Mestre Manoel Gonçalves Ferreira Filho que:


As pessoas privadas dos direitos políticos podem recuperá-los. Se essa
privação for a dita definitiva, ou perda, dependerá do cumprimento de
exigências legais.
Se for a privação dita temporária ou "suspensão", a recuperação se fará,
automaticamente, pelo desaparecimento de seu fundamento ou pelo
decurso do prazo.
Perda e suspensão dos direitos políticos têm os mesmos efeitos. Daí
decorre logicamente que a perda ou a suspensão acarretam a perda
dos cargos que não possam ser preenchidos por quem não for cidadão,
bem como dos mandatos representativos.3
Há de considerar-se, ainda, o aspecto relativo ao ponto de diferença fundamental
entre a perda e suspensão dos direitos políticos, pois, na perda, o cidadão ficará
afastado de suas capacidades ativas e passivas (direito de votar e ser votado) por
absoluta impossibilidade de reversibilidade (reaquisição) destes direitos/deveres
ou, ainda, por ato de omissão voluntária. Não haverá estipulação de prazo final do
cerceamento das capacidades eleitorais.
Na suspensão dos direitos políticos, o cidadão sofre a restrição por prazo fixado
na lei ou aguarda a aquisição do direito pelo transcurso do prazo legal como no
caso, v.g., do menor de 16 anos de idade.

3.2. CANCELAMENTO DA NATURALIZAÇÃO POR SENTENÇA


TRANSITADA EM JULGADO
A hipótese está disciplinada no art. 1 5 ,1, da Carta Magna. 0 caso é de perda dos
direitos políticos. No caso de perda dos direitos políticos, a pessoa deixa de votar e
ser votada, pois, de forma definitiva, é privada da capacidade eleitoral ativa e passiva.
0 dispositivo legal trata da perda da naturalização. A naturalização é espécie do
gênero nacionalidade (relação jurídica entre o indivíduo e o Estado).
A nacionalidade pode ser primária ou secundária. Entende-se por nacionalidade
primária, também chamada de originária, a adquirida pelo nascimento pelo critério
do ju s soli ou ju s sanguinis. A secundária ou adquirida dá-se pelo pedido ou opção
do apátrida ou estrangeiro.
O p r o c e s s o de naturalização acarreta a nacionalidade secundária ou adquirida.
Sobre o assunto, o leitor deve consultar a Lei n9 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) e
o Decreto ne 70.436, de 18 de abril de 1972 (regulamenta a igualdade de tratamento
entre brasileiros e portugueses, concernente aos direitos e obrigações civis e ao
gozo dos direitos políticos), Na Carta Magna, ver art. 12.
Cumpre enfatizar que o cancelamento da naturalização é uma restrição imposta
pela legislação pátria.

3 Curso de Direito Constitucional. 23» ed., Editora Sarava, p. 100.

60
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

0 art. 12, § 4 -, da Carta Magna diz que a perda da nacionalidade pode ocorrer:
a) pelo cancelamento da naturalização, por sentença judicial, em decorrência de
atividade nociva ao interesse nacional; e b) aquisição de outra nacionalidade, com
exceção das hipóteses de reconhecimento de nacionalidade originária (caso dos
filhos de italianos) e imposição de naturalização (no Iraque, o brasileiro que desejar
casar com uma iraquiana deverá adquirir a nacionalidade iraquiana).
0 art. 15, I, da CRFB trata como caso de perda dos direitos políticos o
desenvolvimento de atividade nociva ao interesse nacional. Vê-se que o cancelamento
é da "naturalização", não podendo ser cancelada a nacionalidade primária ou
originária.
A perda da nacionalidade (vínculo jurídico de união entre o cidadão e o Estado)
acarreta a perda dos direitos políticos. Este fato se dá em decorrência das ações
caracterizadoras da atividade nociva ao interesse nacional ou da aquisição de outra
nacionalidade.
Impende observar que a perda não é automática (ver Lei nô 818/49), enseja
processo especial e os efeitos são exnunc, considerando que a decisão é constitutiva-
negativa de um anterior direito político.
Analisando a perda da nacionalidade por aquisição de outra, não podemos
descurar que o brasileiro, neste caso, preferiu imigrar para outro país e sujeitar-se,
também, às regras políticas e eleitorais do novo Estado.
A concessão da naturalização por aquisição voluntária ocorre por ato de outro
Estado (país). Todavia, o decreto presidencial que trata da perda da nacionalidade
sempre levará em conta a audiência da pessoa interessada (Lei n9 818/49). Em
suma: a perda da nacionalidade é atingida pela naturalização ocorrida em outro
Estado, sem que haja imposição, mas voluntariedade do interessado.
Cai a lanço notar o fato de que, mesmo não contemplada na CRFB, a aquisição
de outra nacionalidade, como o caso de perda dos direitos políticos, na prática
acarretará efetivamente a perda, pois o nacional estará sujeito ao decreto presidencial
e às conseqüências da decisão administrativa. Decidida a perda da nacionalidade
brasileira, o caso é registrado no Ministério da Justiça e comunicado ao Tribunal
Superior Eleitoral, para os fins legais de cancelamento da inscrição eleitoral.
No caso do desenvolvimento de atividade nociva, a perda não prescinde de
processo específico, assegurada ampla defesa e os recursos inerentes. A Lei
na 818/49 disciplina a perda da nacionalidade, no caso de desenvolvimento de
atividade nociva. 0 cancelamento dá-se por sentença judicial transitada em julgado,
quando só então o brasileiro naturalizado deixará de ser brasileiro. Neste caso,
também teremos uma decisão com efeitos ex nunc.
A atividade nociva está identificada com os seguintes casos: atentados contra
a segurança nacional; ordem política (crimes eleitorais) ou social; a tranqüilidade

61
M arcos R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

ou moralidade pública; e a economia popular, ou, ainda, genericamente, a qualquer


procedimento que se torne nocivo à convivência e aos interesses nacionais.
Posta assim a questão, é evidente que a decisão só produz efeitos com o trânsito
em julgado na Justiça Federal. Portanto, não é de competência da Justiça Eleitoral a
imposição da causa de perda dos direitos políticos. Se esta questão for trazida a exame
numa ação de impugnação ao pedido de registro, o órgão jurisdicional competente não
poderá analisar o mérito do cancelamento da naturalização, mas apenas reconhecer no
âmbito eleitoral os efeitos, negando o pedido de registro com base no art. 15,1, da CRFB.
O Ministério Público Federal atuará nestes casos, conforme preceitua o art. 26 da
Lei n- 818/49. A atuação dá~se na Justiça Federal, pois, na esfera de competência da
Justiça Eleitoral, as atuações podem ser do promotor eleitoral, procurador regional
eleitoral ou procurador geral eleitoral.
Por fim, a decisão que conclui pelo cancelamento da naturalização é remetida,
em cópia, para o Ministério da Justiça e averbada à margem do registro do
respectivo decreto (art. 32 da Lei n9 818/49). A partir desde instante, operam-se os
efeitos, sendo a decisão comunicada à Justiça Eleitoral (TSE), com a finalidade de
cancelamento da inscrição eleitoral, com base no art. 71, II, do Código Eleitoral. Sem
alistamento eleitoral, a pessoa não poderá preencher a condição de elegibilidade
para candidatar-se a mandatos eletivos (art. 14, § 39, III, da CRFB).
A Lei n- 818/49, em seus arts. 36 e 37, não prevê a reaquisição da nacionalidade
na hipótese de cancelamento da naturalização, em ra 2ão de desenvolvimento de
atividade nociva ao interesse nacional.
Por Fim, o aspecto da definitividade é uma característica do instituto da perda dos
direitos políticos, sendo a matéria de natureza constitucional e, portanto, afastada
estará a “preclusão" (art. 259, parágrafo único, do CE).

3.3. INCAPACIDADE CIVIL ABSOLUTA


3.3.1. Os m enores de 16 an os
Os menores de 16 anos são impúberes e, nas relações jurídicas civis, são
representados por seus pais ou tutores.
O Código Civil, em seu art. 3 5, 1, consagra a hipótese (ver dispositivo
correspondente no Código Civil de 1916, art. 5-, 1).
A Resolução n9 21.538/2003 (TSE), no art. 14, estabelece instruções para o
alistamento do menor que venha a completar a idade mínima de 16 anos até a data
das eleições. Em igual sentido, é o teor do art. 12 da Resolução nfi 20.132, de 19 de
março de 1998.
Convém ressaltar sobre a possibilidade de um menor impúbere, com apenas 15
anos de idade, alistar-se. Neste caso, o menor apenas poderá votar se completar a
idade mínima de 16 anos, até a data do primeiro turno das eleições. O direito ao

62
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

voto fica sob uma condição suspensiva. Na verdade, seria um direito condicional
que aguarda um evento futuro e incerto, ou seja, o complemento da idade para o
exercício do voto facultativo.
A causa de suspensão dos direitos políticos não é proveniente de uma sanção
jurídica, política ou eleitoral, mas sim de um fato jurídico biológico. Os fatos
jurídicos, na definição do eminente doutrinador Teixeira de Freitas, são: “todos os
acontecimentos suscetíveis de produzir alguma aquisição, modificação ou extinção
de direitos entram na ordem dos fatos de que trata esta seção”.4 Portanto, a questão
é relativa ao período ordinário da vida, às etapas cronológicas (fatos da natureza).
Outrossim, é vedada a possibilidade de emancipação para atingir a idade mínima
constitucionalmente exigida como condição de elegibilidade. Nesse sentido:
(TSE) Candidato a deputado estadual, com idade inferior a 21 anos, mas
emancipado. 3. Acórdão do TRE que indeferiu o registro, em face da
condição constante do art. 14, § 3 9, VI, c, da Constituição, não suprível
pela emancipação. 4. Recurso interposto pelo próprio candidato, sem
assistência de advogado habilitado. 5. Lei n9 8.906/94, arts. I 2,1, e 4e;
Código de Processo Civil, art. 36. 6. Recurso não conhecido. Acórdão
n- 15.402, de 31.8.1998 - Recurso Especial Eleitoral n9 15.402 - Classe
22a/MG (Belo Horizonte). Relator: Ministro Néri da Silveira. Decisão:
Unânime, recurso não conhecido. No mesmo sentido, os Acórdãos de
ns 15.405, de 31.8.1998, ne 204, de 4.9.1998, e n9 283, de 22.09.1998.

3.3.2. Os que, por enferm idade ou d eficiên cia mental, não tiverem o
discernim ento para a prática d e s s e s ato s
0 Código Civil anterior utilizava a expressão “loucos de todo o gênero". No entanto,
por questões psiquiátricas, a expressão não era consentânea com a evolução dessa
ciência. Assim, o legislador acolheu a melhor definição.
Cumpre~nos assinalar o fato de que a incapacidade civil absoluta nesta
hipótese enseja prévia decisão de interdição e sua devida comunicação
à Justiça Eleitoral.
A sentença de interdição tem força constitutiva-negativa, mas
não prescinde de publicidade. Exigem-se dois requisitos básicos:
a inscrição da decisão no Registro Civil das Pessoas Naturais e a
divulgação editalícia (Pontes de Miranda), Após o preenchimento dos
dois requisitos, a eficácia erga omnes é operante.
Com a cessação da causa que determinou a interdição, é suspensa
a interdição por pedido do interessado e a decisão também será
publicada (de forma idêntica) à decisão que decretou a curatela.

4 Apud, Sílvio Rodrigues, Direito Civil, Editora Saraiva, p. 155.

63
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Para fins de suspensão dos direitos políticos, não podemos adotar


o formalismo exigido pela Lei de Registro Civil (a interdição produz
efeitos ex nunc, a partir do cumprimento dos requisitos da publicidade).
É cabível o acolhimento da causa notória da doença, para fms de
suspensão dos direitos políticos, através da ação de impugnação ao
pedido de registro, ação de impugnação ao mandato eletivo ou recurso
contra a diplomação, competindo ao órgão judiciário eleitoral verificar,
por perícia médica psiquiátrica, o caso concreto, e impedir o registro,
negá-lo, cancelá-lo ou desconstituí-lo.
Aplica-se, na hipótese, a questão da notoriedade, à época em que os
fatos são praticados, pois o pedido de registro do amental é nulo. Como
bem colocou o eminente doutrinador Pontes de Miranda, em seus
valiosos Comentários à Carta Magna de 1967, “ê nulo o ato jurídico que,
por exemplo, foi praticado por louco”, ressalva o autor sobre o processo
de interdição com efeitos desconstitutivos ex tunc,
A nulidade justifica-se por dúplice fundamento: a proteção à segurança
social dos direitos públicos políticos subjetivos e a proteção ao incapaz.
Outrossim, as incapacidades podem ser reconhecidas sem nenhuma
limitação temporal. Nesse sentido, a incapacidade absoluta do nacional
pode ser alegada em qualquer tempo no Direito Eleitoral, quer para que
seja denegado o direito ao registro de candidato, quer para, obtido este,
serem resolvidos os efeitos do diploma, pelo recurso contra a diplomação.
Se a incapacidade sobrevêm ao exercício do cargo eletivo, poderá ser o
nacional destituído, mercê da suspensão dos direitos políticos.5

3 .3 .3 . Os que, m esm o por ca u sa tran sitória, não puderem exprimir sua


vontade
0 dispositivo legal contempla, como exemplo, os seguintes casos: surdo-mudez
por falta de educação adequada, perda de memória, deficiência física e outras causas
temporárias, conforme nos ensina a doutrinadora Maria Helena Diniz.
0 surdo-mudo somente é considerado incapaz, quando não for dotado de educação
específica para comunicar-se. Nesta hipótese, cumpre ao órgão jurisdicional aferir
sobre o comprometimento efetivo da manifestação de vontade.
A deficiência física, por exemplo, não é fato gerador da incapacidade civil
absoluta e, consequentemente, da suspensão dos direitos políticos, exceto se houver
comprometimento real da manifestação da vontade.
De toda sorte, qualquer impugnação ao pedido de registro ou ao mandato eletivo
ensejará análise fática fundamentada pelo órgão jurisdicional competente para
processar e julgar a matéria (juiz eleitoral, Tribunal Regional Eleitoral e o Tribunal
Superior Eleitoral).

5 COSTA, Adriano. Instituições de Direito Eleitoral, p. 77.

64
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

Trazemos as lições de Pontes de Miranda, in expressi verbis:


A incapacidade civil absoluta por doença mental pode proceder ou
sobrevir à capacidade política (isto é, ocorrer antes, ou depois dos 18
anos). Se ocorreu antes, não suspende direitos políticos, porque só se
suspende o que há, e, antes dos 18 anos completos, não hã capacidade
política. Se ocorrer depois, suspende-os, porque já há capacidade
política e o direito de alistar-se e de votar, ou, pelo menos, aquele. Diga-
se o mesmo quanto à incapacidade civil absoluta, por surdo-mudez,
que também pode dar-se antes ou depois dos 18 anos (~.)â
A questão, em nosso pensar, é de suspensão dos direitos políticos,
independentemente da idade, pois a condição de elegibilidade própria ou de
natureza constitucional concernente à idade mínima (art. 14, § 3e, VI, da CRFB) é
verificada na época da posse (art. 11, § 2 Q, da Lei na 9.504/97). Assim, é possível
a ação de impugnação ao pedido de registro, em face de doente mental ou pessoas
que não puderem exprimir a sua vontade, mesmo que só atinjam 18 anos na data
da posse. Trata-se de medida duplamente protetora (segurança das relações do
incapaz e da vontade popular manifestada pelo sufrágio).
Ao abrigo da proteção ao princípio da dignidade da pessoa humana como
núcleo fundamental do Estado Democrático e com lastro no art. 14, § l 9, II, "b",
da Constituição da República, o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral firmou
regulamentação (Resolução ne 21.920/2004) no sentido de que as pessoas
portadoras de deficiência física podem deixar de se alistar e votar, quando for
impossível ou demasiadamente oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais.
No caso dos portadores de deficiência física, o juiz eleitoral, analisando
requerimento do interessado ou representante legal, expedirá a devida certidão de
quitação eleitoral com prazo de validade indeterminado. Na avaliação das condições
especiais, levar-se-á em consideração a situação sócio-econômica do requerente,
bem como a real possibilidade de acesso ao local de votação ou alistamento em
função do trajeto entre a residência e a seção eleitoral.

3.3.4. C ond enação crim inai transitada em julgado, enquanto durarem


seu s e feito s
O art. 15, III, da Carta Magna disciplina esta hipótese de suspensão dos direitos
políticos. Não existem controvérsias na doutrina ou jurisprudência, quanto à
natureza jurídica da norma. A regra constitucional é uma causa de suspensão dos
direitos políticos.
A suspensão dos direitos políticos por condenação criminal é sanção ensejadora
da perda dos mandatos eletivos (art. 55, VI, da CRFB).

6 Comentários à Constituição de 1967, com Emenda nfi t, de 1969, p. 575.

65
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

No Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, destaca-se o Verbete sumular n- 9:


A suspensão de direitos políticos, decorrente de condenação criminai
transitada em julgado, cessa com o cumprimento ou a extinção da pena,
independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos.
Algumas questões emergem sobre a causa de suspensão.

3.3.4.1. Contravenção Pena). É possíve! a suspensão dos direitos políticos,


em virtude de condenação por contravenção penai?
Existem duas correntes: a) a primeira, entende que os direitos políticos
negativos devem ser interpretados restritivamente. No caso, o intérprete somente
poderá fazer uma interpretação literal ou gramatical da expressão ''criminal’'.
Leiam-se as condenações decorrentes de crimes. Posição de alguns julgados
jurisprudenciais, pois o art. 15, III, só alcançaria as penas que acarretassem prisões.
Havia entendimento no sentido do afastamento da causa de suspensão, na hipótese
de aplicação do sursis da pena (posição minoritária); b) a segunda, entende que
o termo "condenação criminal" não faz diferença entre tipos penais dolosos ou
culposos, abrangendo, inclusive, as contravenções penais (delitos anões no dizer do
doutrinador Nelson Hungria). Trata-se de aplicar a norma constitucional dentro do
sistema jurídico vigente. A tutela reside na defesa da ordem democrática contra a
indignidade penal. Nesse sentido, é o voto do Ministro Celso de Mello - STF - Pleno.
Recurso Extraordinário ne 179.502-6(SP). Ementário na 1.799-09. Para cargos
públicos de menor escalão, exige-se que os cidadãos sejam insuspeitos; sendo
assim, para os cargos mais elevados, devemos evitar o acesso de condenados por
delitos dolosos, cu lp o so s e contravenções penais, enquanto as decisões produzirem
seus efeitos jurídicos. Na doutrina, são os ensinamentos de Pontes de Miranda,
josé Afonso da Silva, Alexandre de Moraes, Torquato Jardim, Tito Costa, Joel José
Cândido, Pedro Henrique Távora Niess e Adriano Soares Costa. No sentido de que
a suspensão dos direitos políticos, em razão de condenação criminal transitada
em julgado, é aplicável até nos delitos culposos, ver Acórdão n9 13.027, Recurso
Especial n2 13.207, Relator Ministro Marco Aurélio, 18.9.1996. TSE 09/11, p. 19.
Assiste total razão à segunda corrente, por algumas premissas básicas: não é crível
que se faça distinção entre condenação criminal e condenação contravencional. O
gênero "infração penal" abrange as espécies "crime e contravenção". Na verdade,
o legislador quis dizer: "infração penal" A interpretação constitucional no sentido
favorável à segunda corrente leva em consideração o efeito integrador; o efeito da
justeza ou conformidade funcional (Joaquim josé Gomes Canotilho); a utilidade da
norma no ordenamento jurídico; a interpretação da Constituição deve ser explícita
e implícita, a fim de alcançar o verdadeiro significado; a Súmula ne 9 do TSE não
tratou de diferenciar o crime da contravenção; e, por fim, a Constituição não deve
ser interpretada com o rigor exegético da norma penal, pois o legislador constituinte
busca sempre fixar os princípios básicos.

6
(\ >
P erda e S u spen sã o
dos D ir e i t o s P o l ít ic o s C apítulo 3

3.3.4,2. Transação Penal. A transação penal im posta peío art. 76 da Lei


no 9.099/95 acarreta a suspensão dos direitos políticos com subsunção no
art. 15, III, da Carta Magna?
É possível a transação penal nos crimes eleitorais, independentemente da
ritualídade especial. Nesse sentido, a doutrina majoritária: Damásio E. de Jesus,
Luiz Flávio Gomes, Joel José Cândido, Adriano Soares da Costa e outros renomados
autores. Admitindo a transação penal (princípio da isonomia constitucional) aos
procedimentos especiais, destacam-se as recentes decisões do Superior Tribunal
de justiça. Acórdão n - 36.545/RS, 2.6.2003, Ministro Gilson Dipp, e H abeas Corpus
n9 22,881, de 26.5.2003, Ministro Félix Fischer.
Sobre o assunto, existem duas correntes de pensamento: a primeira é defendida
pelo eminente doutrinador Adriano Soares Costa, no sentido de que "na hipótese de
transação prevista no a r t 76 desta lei, há inflição de pena restritiva de direitos ou
multa, com a incidência do art. 15, III, da CF/88";7 a segunda, sustentada pelo autor,
é no sentido de que a aplicação e aceitação da transação penal não importam na
suspensão dos direitos políticos, porque a natureza da sentença não é condenatória
própria nem imprópria. No dizer sempre expressivo da doutrinadora Ada Pellegrini
Grinover, a sentença é simplesmente "homologatória" da transação. Outrossim,
a decisão é inquestionavelmente uma sentença, que faz coisa julgada material,
acarretando um título executivo penal. Trata-se de sentença sem natureza jurídica
condenatória (Tese 1 - Do 1- Congresso Brasileiro de Direito Processual e Juizados
Especiais). Vê-se, portanto, que a sentença não ingressa no mérito da tipicidade,
Ilicitude e culpabilidade, além de não produzir os efeitos da sentença condenatória
comum.
Impende ainda frisar o fato relativo aos efeitos da transação homologada e transitada
em julgado, ou seja, apenas impedirá ao autor do fato a obtenção de benefício idêntico
(transação penal), no prazo de cinco anos da data da homologação. Conclusivamente,
a aceitação da transação penal não implica considerar o réu reincidente e lançar o
nome dele no rol dos culpados (art. 76, § 6 a, da Lei n9 9,099/95).
A transação penal não acarreta os efeitos civis do art. 9 1 ,1, do Código Penal e, nas
lições de Julio Fabbrini Mirabete:8
não causa a sentença os efeitos civis e administrativos previstos
no art. 92 do Código Penal, eventualmente aplicáveis ao autor da
infração de menor potencial ofensivo, mesmo porque tais efeitos não
são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença
(art. 92, parágrafo único, do CP).
Registre-se a posição do doutrinador Marcellus Polastri Lima, ao comentar sobre
a transação penal, quando traz à baila o art. 202 da Lei de Execução Penal, que
impede o fornecimento de certidão criminal para fins particulares, possibilitando

7 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 3a ed., Editora Del Rey, p. 88.
8 Juizados Especiais Criminais, Editora Jurídica Atlas, p. 151.

67
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

a inserção do autor do fato no mercado de trabalho. Se nem a certidão pode ser


fornecida ao juiz eleitoral do registro de candidatura, exceto se houver requisição
específica, é evidente que o controle jurisdicional da causa de suspensão dos direitos
políticos torna-se inviável.
A ensejo de conclusão, é importante frisar a decisão do Tribunal Superior
Eleitoral, no sentido de que, no crime do art. 334 do Código Eleitoral, não é cabível
a transação penal, pois adota como pena autônoma a cassação do registro do
candidato (agente ativo da empreitada delitiva), in verbis:
(TSE) Resolução n9 21.294, de 7.11.2002. Processo administrativo
ns 18.9S6/DF. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Ementa: Infrações
penais eleitorais. Procedimento especiai. Exclusão da competên­
cia dos juizados especiais. Termo circunstanciado de ocorrência em
substituição a auto de prisão. Possibilidade. Transação e suspensão
condicional do processo. Viabilidade. Precedentes. I) As infrações
penais definidas no Código Eleitoral obedecem ao disposto nos seus
arts. 355 e seguintes e o seu processo é especial, não podendo, via
de conseqüência, ser da competência dos juizados especiais a sua
apuração e julgamento. II) O termo circunstanciado de ocorrência
pode ser utilizado em substituição ao auto de prisão em flagrante, até
porque a apuração de infrações de pequeno potencial ofensivo elimina
a prisão em flagrante. III) O entendimento dominante da doutrina
brasileira é no sentido de que a categoria jurídica das infrações penais
de pequeno potencial ofensivo, após o advento da Lei ne 10.259/01, foi
parcialmente alterada, passando a ser assim consideradas as infrações
com pena máxima de até dois anos ou punidas apenas com multa.
IV) É possível, para as infrações penais eleitorais cuja pena não seja
superior a dois anos, a adoção da transação e da suspensão condicional
do processo, salvo para os crimes que contem com um sistema punitivo
especial, entre eles aqueles a cuja pena privativa de liberdade cumula-
se a cassação do registro se o responsável for candidato, a exemplo do
tipificado no art. 334 do Código Eleitoral. D] de 7.2.2003.
Na análise do art. 334 do Código Eleitoral, a jurisprudência apresenta alguns
exemplos: distribuição de prêmios, sorteios, bingos etc. Comprovada a autoria,
coautoria ou participação do candidato, é possível a imposição de pena privativa
de liberdade, além da pena autônoma de cassação do registro de candidatura.
Todavia, o registro só poderá ser cassado se a sentença transitar em julgado antes
da diplomação, pois, caso contrário, deve-se seguir o sistema processual eleitoral
da ação de impugnação ao mandato eletivo ou do recurso contra a diplomação.
Convém ressaltar o fato de que a cassação do registro imposta no preceito
secundário da norma incriminadora, a princípio, não é óbice à transação penal,
porque, assim como na Lei de Abuso de Autoridade (Lei n2 4.898/65), a perda do
cargo também não é barreira intransponível à transação penal.

68
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

Sobre o relevante tema, trazemos à baila as lições, sempre elucidadoras, da


Professora Ada Pellegrini Grinover, in verbist "Haverá discussão, com certeza, sobre
se tais delitos entram ou não no novo regime jurídico das infrações de menor
potencial ofensivo”.
Aliás, já se salientou a incompatibilidade entre o sistema punitivo da Lei de Abuso
de Autoridade (Lei n9 4.898/65, art. 6 Q) e a transação penal. ImpÕe-se considerar a
seriedade e a gravidade dos delitos de abuso de autoridade, que afetam os direitos
humanos fundamentais. Não é fácil conciliar uma ofensa grave à liberdade (ou
ius libertatis) ou ao domicílio alheio com a noção de infração de menor potencial
ofensivo.
Antes do advento da Lei ne 10.259/01, o sistema dos juizados não se aplicava aos
crimes de abuso de autoridade, em razão de contarem com o procedimento especial
(STF, HC ne 77.216, Rei. Sepúlveda Pertence, DJU de 21.8.1998, p. 4); agora, depois
da citada lei, continuaria impossível essa incidência, porque a Lei n9 4.898/65 prevê
um esp e c ífic o sistema punitivo (inconciliável com os juizados).
Os argumentos que acabam de ser lançados impressionam, mas não seriam
absolutamente inabaláveis pelo seguinte: por força do § 4 - do art. 6- da Lei
ne 4.898/65, "as penas previstas no parágrafo anterior - multa, detenção, perda de
cargo e inabilitação poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente”.
Como se vê, o sistema punitivo previsto para os delitos de abuso de autoridade
é especial (não se pode questionar), mas não é inflexível. Leia-se: a pena de perda
de cargo não deve ser imposta sempre. Cabe ao juiz, em cada caso concreto,
decidir qual ou quais penas irá fixar. Rege aqui o princípio da suficiência (e o da
proporcionalidade). Cada um deve ser punido, na medida de sua culpabilidade.
Ora, se na própria cominação legal nada existe de inflexível, isto é, se cabe ao juiz,
em cada caso concreto, decidir qual a resposta ou quais as respostas penais mais
adequadas, então impõe-se concluir que, doravante, dentre todas as possibilidades
com as quais ele conta, nos delitos que estamos examinando, uma delas (ou melhor,
mais uma delas) é a da transação penal, afastando-se, evidentemente, a possibilidade
de transacionar-se sobre a perda de cargo (que, repita-se, é uma pena que nem
sempre deve ter incidência).
Em fatos graves, gravíssimos, certamente o juiz refutará a transação penal (nos
termos do art. 76, § 2 -), por não ser ela suficiente para reprovar a culpabilidade do
agente, Isso ocorrendo, instaura-se o processo criminal e, no final, o juiz imporá as
sanções cabíveis.
De outro lado, observe-se que o Código Penal (art. 92) pode servir de parâmetro
para o juiz e este diploma legal só permite a pena de perda de cargo quando a
privativa de liberdade alcance pelo menos um ano.9

9 Juizados Especiais Criminais, 4aed., Editora Revista dos Tribunais, pp. 379-380.

69
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

3.3.4.3. Suspensão condicional do processo. A suspensão condicional do


processo suspende os direitos políticos com base n art. 15, lil, da Carta
Magna?
Neste ponto, a questão é, até o presente momento, pacífica na doutrina (Joel
José Cândido e Adriano Soares da Costa). Trata-se de decisão sem julgamento de
mérito. Nesse sentido: Damásio Evangelista de Jesus, Marcellus Polastri Lima, Julio
Fabbrini Mirabete, Afrânio Silva Jardim, Antônio José Campos Moreira, Claúdio
Soares Lopes, Mendelssonh Kielinge outros renomados doutrinadores. Desta forma,
assiste total razão à doutrina, porque a decisão do sursis processual (art. 89 da Lei
ns 9.099/95) evidentemente não ingressa no mérito da culpabilidade. Cumprido
o sursis processual, é declarada a extinção da punibilidade na forma legal (art. 89,
§ 5e, da Lei ns 9.099/95).
Destaca-se:
(TSE). Inelegibilidade. Condenação criminal - Direito Eleitoral. Recurso
ordinário. Registro. Condenação criminal. Suspensão condicional
do processo. Lei n- 9.099/95. Inelegibilidade. Não ocorrência.
Precedentes. Recurso provido. I) A suspensão condicional do processo,
nos moldes do art. 89 da Lei n- 9.099/95, não implica reconhecimento
de culpabilidade e aplicação de pena. II) A suspensão dos direitos
políticos e a conseqüente inelegibilidade somente ocorrem com o
trânsito em julgado de sentença condenatória. Acórdão ne 546, de
10.9.2002. Recurso Ordinário ne 546, Classe 27â/R0 (Porto Velho).
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Decisão: unânime em dar
provimento ao recurso.

3.3.4.4. C ondenação por multa. A condenação crim inai transitada em


julgado que aplica a pena de multa acarreta a suspensão dos direitos
políticos ( a r t 15, III, da Lei Maior)?
Sim, a aplicação da pena de multa, prevista na legislação penal, produz os
mesmos efeitos das penas restritivas de direito e privativas de liberdade para fins
políticos (suspensão dos direitos políticos). Enquanto não pagar a multa e ser
declarada extinta a pena pelo seu cumprimento, o condenado não poderá votar e
ser votado.
O art. 66 da Lei n- 7.210, de 11 de julho de 1994 dá competência para que o juiz
da execução penal declare a extinção da pena pelo seu cumprimento.
Cumpre ainda frisar que o art. 47, I, do Código Penal contempla como espécie
de pena de interdição temporária de direitos a proibição do exercício de mandato
eletivo.
P erda e S u spen sã o
dos D ir e i t o s P o l ít ic o s C apítulo 3

No fundo, a proibição decorre naturalmente do art. 15, III, da Carta Magna, pois
a suspensão dos direitos políticos retira o ius honorum (direito de ser votado) do
pretenso postulante ao mandato eletivo, enquanto durarem os efeitos da condenação
criminal.
Assim, o apenado que cumpre pena específica de interdição temporária de
direitos, por ter praticado delitos vinculados ao abuso dos deveres de cargos,
funções, atividades ou ofícios, enquanto o juiz não declarar a extinção da pena pelo
cumprimento, estará sujeito a causa constitucional de suspensão dos seus direitos
políticos e não poderá obter o registro de sua candidatura.

3.3.4.5. Sentença Penal absolutória im própria. A sentença penal absoiutória


transitada em juígado acarreta a suspensão dos direitos políticos?
Cumpre trazer à baila as valiosas lições do doutrinador Fernando da Costa
Tourinho Filho:
a absolutória imprópria é aquela em que, sem embargo da absolvição,
impõe medida de segurança, tal como previsto no art. 386, parágrafo
único, III, do CPP. A rigor, tal decisão é condenatória, porquanto, no
decisum, o órgão jurisdicional impõe a medida de segurança, que não
deixa de ser, a despeito da sua finalidade, uma sanctio jurís, prevista
pela ordem jurídico-penal.10
Nas letras de Frederico Marques, citando Arturo Santoro, Alfredo de Marsico
e Giuliano Vassali, ensina-nos o mestre sobre a natureza da sentença absolutória
imprópria. Impera uma san ctio juris. Trata-se de verdadeira condenação, inclusive
dando causa à execução forçada (título penal executório). Ora, não é pelo rótulo que
se identifica a ratío essendi de instituto jurídico, mas pela análise sistemática. Se a
medida de segurança é imposta (art. 96 do Código Penal) aos inimputáveis e semi-
imputáveis, sendo suas espécies (detentiva e restritiva), sujeitando o paciente à
internação hospitalar e ao acompanhamento por médico psiquiatra ou a tratamento
ambulatorial, é inegável que é uma forma de sanção penal. Nesse sentido, ver
Damásio de Jesus.11
De certo que, entre os pressupostos das medidas de segurança, reside a análise
de o agente ter praticado fato previsto como crime e a avaliação da periculosidade.
0 art. 171 da Lei n9 7.210/ 84 (LEP) faz menção à expedição de guia para a
execução da medida de segurança. Assim, verifica-se que o paciente cumpre
pelo prazo legal, e durante o tempo que for necessário, a imposição da medida
de segurança, inclusive dentro dos M anicôm ios Ju d iciários e, desta forma, estará
sujeito à suspensão dos direitos políticos durante o prazo em que perdurar a
medida de segurança.

10 FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Prática de Processo Penai. Editora Saraiva, pp, 395-396.
11 Cód/go Penal Comentado.

"71
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

A hipótese pode dar ensejo à interdição pela incapacidade civil absoluta, por
via independente dos efeitos automáticos da sentença absolutória imprópria
(condenatória).

3.3.4.6. Livram ento condicional. O livram ento condicional e o cum prim ento
de sursís da pena importam na suspensão dos direitos políticos?
É majoritário, na doutrina e jurisprudência, que a suspensão condicional da
pena e o livramento condicional não afastam a inelegibilidade (TSE. Ac. n2 13.012,
Relator Ministro Torquato Jardim). Nesse sentido, na doutrina: Adriano Soares da
Costa, Antônio Carlos Mendes, Joel José Cândido e Pedro Henrique Távora Niess.
Mister faz-se ressaltar o disposto no art. 131 da Lei n5 7.210/84 (LEP), ao tratar
do livramento condicional como forma de execução da pena privativa de liberdade.
Só se executa a pena de réus condenados definitivamente. Trata-se de “medida
penal de natureza restritiva da liberdade".12 Seguimos a posição majoritária.
Destaca-se:
(TSE). Ementa: Registro de candidato, impugnação. Impugnado
beneficiado pelo sursis. Direitos políticos suspensos. Exegese do
art. 15, III, e art. 14, § 3e, II, da Constituição Federal. Indeferimento
do registro. Constatando-se dos autos que o requerente está com os
direitos políticos suspensos, em virtude de sentença criminal transitada
em julgado, com o benefício do sursis, é de julgar-se procedente a
impugnação, indeferindo-se seu pedido de registro de candidatura.
Exegese dos arts. 15, III, e 14, § 3 e, II, da Constituição Federal.
Na decisão acima aviventada, o eminente procurador-geral eleitoral salientou
que:
a jurisprudência é tranqüila no sentido de que o dispositivo
constitucional é autoaplicável e que a suspensão dos direitos políticos
decorre automaticamente do trânsito em julgado da sentença
condenatória, não precisando nem mesmo ser nela declarada. É
igualmente pacífico o entendimento de que, estando em curso o
período de suspensão condicional da pena, continuam suspensos os
direitos políticos, a inviabilizar o registro da candidatura. À guisa de
ilustração sobre o tema, citamos os seguintes precedentes do colendo
Supremo Tribunal Federal e deste Egrégio Tribunal Superior Eleitoral.
Condição de elegibilidade. Cassação de diploma de candidato eleito
vereador, porque fora ele condenado, com trânsito em julgado, por
crime contra a honra, estando em curso a suspensão condicional da
pena. Interpretação do art. 15, III, da Constituição Federal. Em face
do disposto no art. 15, III, da Constituição Federal, a suspensão dos
direitos políticos dá-se ainda quando, com referência ao condenado por

12 Ver lições de Damásio de Jesus em sua obra Código Penal Comentado.

72
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

sentença criminal transitada em julgado, esteja em curso o período da


suspensão condicional da pena (Recurso Extraordinário ne 179.502/
SP, Relator Ministro Moreira Alves, DJU de 8.9.1995). Recurso especial.
Recurso contra expedição de diploma. Condenação criminal transitada
em julgado. Sursis. CF, em seu art. 15, III, autoaplicabilidade. 1. A CF,
art. 15, IH, possui eficácia plena (RE n9 179.502, Rei. Min. Moreira
Alves, 8.9.95). 2. Deve-se cassar o diploma de candidato condenado
por sentença transitada em julgado, independentemente da natureza
do crime e mesmo que esteja em curso a suspensão condicional da
pena (Acórdão n9 15.338/DF, Relator Ministro Edson Vidigal, DJU
de 13.8.1999, p. 84. No mesmo sentido: Acórdão n9 174/SP, Relator
Ministro Eduardo Alckmin, publicado em sessão de 2.9.1998).
Incensurável, portanto, o v. acórdão, quando indeferiu o registro da
candidatura do recorrente, ao cargo de deputado estadual por falta da
condição de elegibilidade relativa ao pleno gozo dos direitos políticos,
prevista no art. 39, inciso II, da Constituição Federal. Ante o exposto,
opina o Ministério Público Eleitoral no sentido do não conhecimento
do presente recurso especial.
Registre-se que, da decisão acima:
dissentiu, em primeiro lugar, o eminente Ministro Marco Aurélio: sem
negar a aplicabilidade imediata da norma constitucional questionada,
S. Ex*. lhe reduz o alcance de modo a restringir a suspensão de direitos
políticos à hipótese e à duração do cumprimento efetivo da pena
privativa de liberdade e, consequentemente, entendê-lo inaplicável se e
enquanto vigorar o sursis; na mesma (publicado em sessão de 19.9.2002.
Informativo n° 35, de 28 de outubro a 3 de novembro de 2002).
No Supremo Tribunal Federal, no RE n9 179.502, de 31 de maio de 1995, Relator
Moreira Alves, D] de 8.9.1995, está decidido "que a condenação criminal, seja ela
qual for, implica, ainda quando sustada a execução da pena privativa de liberdade
pelo sursis, suspensão de direitos políticos enquanto durem os seus efeitos”.
Não se podem perder de vista os debates em torno desta relevante questão.
Todavia, as formas de execução de pena não se confundem com a perda do mandato,
em decorrência da suspensão dos direitos políticos.

3.3.4.7. Extinção da punibilidade, A suspensão dos direitos políticos


subsiste em razão da decretação da extinção da punibilidade com
subsunção nas causas elencadas no art. 107 do Código Penai?
A doutrina, nas letras de Joel José Cândido, entende que, por qualquer das causas
enumeradas no art. 107 do Código Penal, decretada a extinção da punibilidade, os efeitos
da suspensão dos direitos políticos não subsistem. Assiste parcial razão ao mestre.

73
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

A questão é que nem sempre o juiz da execução penal, nos casos de graça e
indulto, reconhece a extinção da punibilidade. Conforme nos ensina Damásio E. de
Jesus, “a graça e o indulto podem ser: a) plenos, quando extinguem totalmente a
punibilidade; e b) parciais, quando concedem diminuição da pena ou sua comutação
(substituição da pena por outra de menor gravidade}".13
Nas hipóteses de comutação de pena (indulto parcial), não há extinção de
punibilidade. Idêntica situação o co r r e no indulto incidente, ou seja, apenas sobre
uma das penas sofridas pelo réu e que ainda esteja em cumprimento. Feitas estas
distinções, concordamos inteiramente com a posição do renomado autor.
Destaca-se:
(TSE) Inelegibilidade - Condenação criminal - Indulto. Registro de
candidatura. Indeferimento. Condenação criminal com trânsito em
julgado. Suspensão de direitos políticos. Sentença declaratória da
concessão de indulto posterior ao indeferimento. Indulto parcial,
referente, apenas, ao aspecto da pena restritiva de liberdade, não
se estendendo às penas acessórias e aos efeitos da condenação.
Permanência, in casu, da pena acessória relativa à suspensão dos
direitos políticos. Recurso não provido. Acórdão n~ 95, de 10.9,1998 -
Recurso Ordinário n6 95 - Classe 27a/PR (Curitiba). Relator: Ministro
Eduardo Alckmin. Decisão: Unânime em negar provimento ao recurso.

3.3.4.8. Juízo com petente da execução da pena. Qua! o juízo competente


para trata r da execução da pena im posta pela Justiça Eleitora!?
A questão está devidamente sumulada:
Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas
impostas a sentenciados pela justiça Federal, Militar ou Eleitoral,
quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração
estadual (Súmula ne 192 do Superior Tribunal de Justiça).
Ressalte-se, por oportuno, que a extinção da punibilidade, decorrente do
cumprimento integral da pena, para efeito de elegibilidade, deve ser declarada
pelo juízo da execução penal, depois de observado, também, o pagamento da multa
imposta pelo decreto condenatório. Nesse sentido, há diversos julgados do TSE.

3.3.4.9. Efeito autom ático. A suspensão dos direitos políticos é autom ática?
Como visto, não é necessário que a sentença penal, expressamente, disponha sobre a
suspensão dos direitos políticos. No caso, é suficiente o juiz eleitoral receber a certidão
do juiz criminal e verificar seu trânsito em julgado e se o eleitor pertence à zona eleitoral,
sendo necessária a manifestação do órgão do Ministério Público (Promotor Eleitoral).
0 efeito é automático e é consectário legal do disposto no art. 15, III, da Lei Maior.

13 JESUS. Damásio Evangelista de. Direito Penal. Volume 1. Parte Geral. Editora Saraiva.

74
P erda e S u sp e n sã o
dos D ir e i t o s P o l ít ic o s C apítulo 3

3.3.4.10. Reabilitação. É necessária a reabilitação para o restabelecim ento


dos direitos políticos?
O Verbete sumular n9 9 do TSE é claro ao afirmar que não é necessária a
reabilitação. Uma vez declarada a extinção da punibilidade ou extinção da pena, o
interessado não precisa ser reabilitado.
0 eminente Guilherme de Souza Nucci, em sua obra Código Penal Comentado,
da Editora Revista dos Tribunais, salienta o desinteresse na reabilitação, diante
da norma assecuratória do art. 202 da LEE Nas hipóteses de ações de pedido de
registro de candidatos, o órgão jurisdicional competente para exame e concessão
dos mesmos poderá exigir, a título de complementação da prova das inelegibilidades
decorrentes de condenação criminal transitada em julgado (ver art. I a, I, alínea e,
da Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990), que sejam esclarecidos os
antecedentes criminais dos pré-candidatos.

3.3.4.11. Revisão C rim inal. A propositura de ação de revisão crim inal afasta
a causa de suspensão dos d ireitos políticos?
Registre-se:
(TSE) Agravo regimental. Recurso especial recebido como ordinário.
Eleições 2002. Registro. Inelegibilidade. Art. 1°, I, e e g , da LC n- 64/90.
Crime eleitoral. Rejeição de contas. A propositura de revisão criminal
não suspende a inelegibilidade. Acórdão ns 19.986, de l s.10.2002
Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral ne 19.986 - Classe
22a/ES (Vitória). Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira. Decisão:
Unânime em negar provimento ao agravo regimental.
Igualmente, as revisões crim inais não suspendem a inelegibilidade (REspe.
ns 16.742/SP, Rei. Min. Fernando Neves da Silva, publicada em sessão em
2 7 .9 .2000 ).
Saliente-se, ainda, que o ajuizamento da ação de revisão criminal não suspende a
execução da sentença penal condenatória. Na hipótese, é resguardada a autoridade
da coisa julgada, pois somente com a procedência do pedido da revisão é que será
desfeita a coisa julgada.
A absolvição acarreta o restabelecimento dos direitos políticos.
Impende salientar relevante decisão em que os votos dados ao inelegível são
contados para o partido político:
(TSE). Questão de ordem. Inteligência do art. 175, e seus §§ 3S e 49,
do Código Eleitoral. 0 cômputo de votos conferidos a candidato que
concorreu à eleição por força de liminar concedida em ação de revisão
criminal, que, posteriormente às eleições, foi julgada improcedente,
deve ser feito de acordo com o disposto no art. 175, § 4~, do Código
Eleitoral. Acórdão ns 1.029, de 13.12.2001. Medida Cautelar (Liminar)

75
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

ns 1.029, Classe 15a, Santa Catarina (62a Zona Imaruí). Relatora:


Ministra Ellen Gracie. Requeridos: Diretório Municipal do PTB e outra.
Decisão: Unânime em conceder a liminar.

3.3.4.12. Interdependência das decisões. A relativa independência entre a


decisão penal e a proferida no âmbito da Justiça Eleitoral.
De certo que o fato da ação de impugnação ao mandato eletivo não lograr êxito não
desnatura a procedência da pretensão punitiva no processo penal condenatório. A
relativa independência entre o juiz eleitoral e criminal é consectário jurídico natural
do sistema processual vigente, especialmente na análise do conjunto probatório,
pois as provas para um juízo de culpabilidade podem ser outras não elencadas na
AIME.
No sentido acima, registre-se:
(TSE) Eleitoral. Penal. Recurso especial. Juízo de admissibilidade.
(...) Ação de impugnação de mandato eletivo julgada improcedente.
Inexistência de obstáculo à condenação criminal. A circunstância de
ter sido julgada improcedente ação de impugnação de mandato eletivo
acerca dos mesmos fatos não constituí obstáculo à condenação criminal,
desde que fundada no que apurado no curso da instrução do processo
crime. Acórdão na 2.577, de l e.3.2001. Agravo de Instrumento n° 2.577
- Classe 2a/SP (Urânia). Relator: Ministro Fernando Neves. Decisão:
Unânime em negar provimento ao agravo.

3.3.4.13. Perda do mandato por condenação crim ina!. M ister faz-se


ressaltar a análise dos arts. 15, III, e 55, IV e § 2o, todos da Constituição da
República Federativa do Brasil.
Os deputados federais e senadores que forem condenados criminalmente com
sentença transitada em julgado, no exercício do mandato eletivo, perdem o mandato,
mas estão sujeitos a procedimento interna corporis, conforme disciplina o § 2 S do
art. 55 da CRFB. A perda deverá ser decretada pela Casa a que ele pertencer. Nesse
sentido, o RE nfi 179.502-6/SP. Outrossim, a mesma regra aplica-se aos deputados
estaduais por disciplinamento nas Constituições Estaduais. Ver, ainda, as decisões:
(RE ns 13.053/RN, Relator Ministro limar Galvão, julgado em 11.9.1961; RE
n8 14.119/SP, Relator Ministro Francisco Rezek, julgado em 2.10.1962; o Recurso
Ordinário n 9 174/SP, Relator Ministro Eduardo Alckmin, julgado em 2.9.1983; e o
RE ns 15.338/ES, Relator Ministro Edson Vidigal, julgado em 19.8.1994.
Como se depreende, a antinomia entre o art. 15, III (autoaplicável, segundo
pacífica jurisprudência do TSE) e o art. 55, VI, da CRFB resolve-se, segundo nos
ensina a Ministra Ellen Gracie, pela especialidade. Nesse sentido, o voto do Ministro
Moreira Alves no RE n® 179.502/SP, DJU 8.9.1995.

76
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

Na verdade, o art. 55, VI, da CRFB é especial e destina-se, exclusivamente, aos


deputados federais, estaduais e senadores, não se aplicando aos vereadores. Trata-
se de uma exceção ao art. 15, III, da Lei Maior e, portanto, de âmbito restritivo.
0 art. 55 não está a limitar a incidência do art. 15. Somente, desta forma, os
dispositivos são compatíveis no sistema constitucional brasileiro, resolvendo-se
a aparente antinomia pelo critério da especialidade. Nesse sentido, a doutrina de
Alexandre de Moraes, citando voto do Ministro Nelson Jobim.
Destacamos parte do acórdão do TSE sobre a vexata qu aestío:
A norma inscrita no art. 55, § 2S, da Carta Federal, enquanto preceito
de direito singular, encerra uma importante garantia constitucional
destinada a preservar, salvo deliberação em contrário da própria
instituição parlamentar, a intangibilidade do mandato titularizado
pelo membro do Congresso Nacional, impedindo, desse modo, que
uma decisão emanada de outro poder (o Poder Judiciário) implique,
como conseqüência virtual dela emergente, a suspensão dos direitos
políticos e a própria perda do mandato parlamentar. Não se pode
perder de perspectiva, na análise da norma inscrita no art. 55, § 2e,
da Constituição Federal, que esse preceito acha-se vocacionado
a dispensar efetiva tutela ao exercício do mandato parlamentar,
inviabilizando qualquer ensaio de ingerência de outro poder na esfera
de atuação institucional do Legislativo. Trata-se de prerrogativa que,
instituída em favor dos membros do Congresso Nacional, veio a ser
consagrada pela própria Lei Fundamental da República. O legislador
constituinte, ao dispensar esse especial e diferenciado tratamento ao
parlamentar da União, certamente teve em consideração a necessidade
de atender ao postulado da separação de poderes e de fazer respeitar a
independência político-Jurídica dos membros do Congresso Nacional.
Essa é, portanto, a ratio subjacente ao preceito consubstanciado no
art. 55, § 2S, da Carta Política, que subtrai, por efeito de sua própria
autoridade normativa, a nota de imediatidade que, tratando-se de
cidadãos comuns, deriva, exclusivamente, da condenação penal
transitada em julgado. Esse sentido da norma constitucional em
questão tem sido acentuado, sem maiores disceptações, pela doutrina,
cujo magistério proclama que, nessa particular e específica situação
(CF, art. 55, VI), a privação dos direitos políticos somente gerará a perda
do mandato legislativo, se a instituição parlamentar, em deliberação
revestida de natureza constitutiva, assim o decidir em votação secreta
e sempre por maioria absoluta. Ante esses fundamentos, tenho que a
solução contrária, defendida com o costumeiro brilho pelo ora relator,
Ministro Sepúlveda Pertence, implicaria um esforço hermenêutico que
ultrapassa a liberdade conferida ao juiz pelo ordenamento jurídico,
notadamente em se tratando de interpretação que, afinal, restringiria
a eficácia da norma constitucional. À luz do exposto, acompanho a
divergência, não conhecendo do recurso. Voto O Senhor Ministro

77
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Barros Monteiro: Sr. Presidente, peço vênia ao eminente relator para


acompanhar a divergência inaugurada com o voto da Senhora Ministra
Ellen Gracie, na linha do precedente citado do Supremo Tribunal
Federal. Voto (vencido) 0 Senhor Ministro Luiz Carlos Madeira:
Sr. Presidente, com a devida vênia, acompanho o eminente relator,
porquanto considero, fundamentalmente, o princípio da isonomia
e o disposto no art. 55 da Constituição. Vejo esta a única forma de
conciliar a interpretação que o eminente relator dá ao art. 15, inciso III,
da Constituição Federal. Voto (desempate) 0 Senhor Ministro Nelson
Jobim (Presidente): Acompanho a divergência da Senhora Ministra
EUen Gracie. Publicado em sessão de 19.9.2002.
Posta assim a questão, ao nosso pensar era absolutamente desnecessária a
regra do art. 55, VI, especial e enfraquecedora da executoriedade da decisão
judicial. Trata-se de regra que submete o exame da autoria, materialidade, provas,
tipicidade, ilicitude e culpabilidade ao critério puramente político, quando a causa
foi analisada pelo Poder Judiciário.
Trazemos à reflexão as valiosas lições de Adriano Soares da Costa, in verbis:
Por sua vez, a suspensão dos direitos políticos, decorrente do trânsito
em julgado da sentença penal procedente, é efeito automático,
excluso. Transitada em julgado a sentença penal, opera-se ipso iure
a suspensão dos direitos políticos. Mas a suspensão dos direitos
políticos não tem o efeito de, por si, operar a perda do cargo público
ou do mandato eletivo. Para que isso ocorra, necessária uma nova
ação, não mais de natureza penal, para que a Justiça Cível promova,
com valhacouto na suspensão automática dos direitos políticos, a
perda do cargo público; e, no caso de parlamentares, necessárias as
providências para que o Legislativo promova a perda do mandato
eletivo (art. 55 da CF).14
Completando as explicações do doutrinador Adriano Soares da Costa, não
podemos olvidar o disposto no art. 92, I, letras a e b, do Código Penal. São efeitos
não automáticos da condenação a perda do cargo e da função pública. Assim, o
órgão jurisdicional deverá motivar na sentença a decretação da perda (parágrafo
único do art. 92 do CP).
Desta forma, a motivação, na sentença, para a perda do cargo público, está
vinculada às alíneas a e b à o art. 92. Por exemplo: se a pena aplicada for privativa de
liberdade por período de tempo igual ou superior a um ano, nos crimes funcionais
(Lei n9 4.898/65 e abuso de poder) ou crimes que atinjam a violação do dever com
a Administração Pública, v.g., peculato, concussão, emprego irregular de verbas
públicas etc. Na letra b, quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo
superior a quatro anos.

14 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 3a ed., Del Rey. p- 86.

7*
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

Pergunta-se: e na hipótese de o juiz aplicar pena de anos de reclusão por um crim e


que não seja de abuso de poder ou de violação de dever para com a Administração
Pública? Entendemos que, nesta hipótese, deverá ser proposta a ação civil referida
pelo doutrinador Adriano Soares da Costa, pois, nas letras a e b, se o juiz motivar
na sentença a perda do cargo ou função pública, não haverá necessidade da ação
civil. De toda sorte, sempre que o juiz não motivar a perda do cargo ou da função e a
questão transitar em julgado na esfera penal, não será nenhum óbice a propositura
da ação civil, visando a alcançar o objetivo da perda.
Sobre o assunto, ver art. 16 da Lei n9 7.716/89 (Lei de Racismo), sendo efeito
da condenação a perda do cargo ou da função pública para o servidor, em razão
da prática de crime de racismo. Nesta hipótese, também deverá o juiz motivar a
sentença.

3.3.4.13.1. E a perda do mandato para os membros do Poder Executivo?


Se o Presidente da República for condenado por sentença penal transitada em
julgado, o art. 1 5 ,III, é autoaplicável. Nesse sentido, é o pensamento doutrinário de
Alexandre de Moraes. Em u n ísso n o posicionamento, o Egrégio Supremo Tribunal
Federal (Recurso Extraordinário n- 0179502/SP. Ministro Moreira Alves, D] 8
de setem bro 1995, p. 2 8 .3 8 9 ). O Presidente da República ficará com os direitos
políticos suspensos e perderá o mandato imediatamente. Não é necessária
nenhuma deliberação legislativa. Trata-se de efeito da condenação. 0 mesmo
ocorre com os governadores de Estado e do Distrito Federal. Posição idêntica
encontra-se em Joel José Cândido. Ver, ainda, o art. 86, § 1-, da CRFB: abre-se vaga
para o vice.
Quanto aos prefeitos, o Decreto-Lei ns 201/67 prevê o seu afastamento. Ver lições
em Tito Costa. Trata-se de medida cautelar com dúplice fundamento: preservar as
provas judiciais e garantir a moralidade pública.
Os prefeitos devem perder o mandato por decisão do presidente da Câmara
Municipal (aplica-se a regra do art. 92, I, do Código Penal). A perda, portanto, não
é automática, pois é necessária a declaração de extinção do mandato pela Mesa da
Câmara. Não é hipótese de cassação (ver ainda o art. 6 a, I, do Decreto-Lei nQ 201/67).
Nesse sentido, Joel josé Cândido.
Durante o afastamento e impedimento do prefeito, deve-se consultar a Lei
Orgânica do Município, para se saber as regras específicas do sucessor ou
substituto.

79
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

3.3.4.14. Inelegibilidades decorrentes de sanções penais. O art. 1a, inciso


I, íetra e , da Lei C om plem entar na 64, de 18 de maio de 1990, é n u m e r a s
c la u s u s ?
No dia posterior ao decreto de extinção da pena, o cidadão passa a ser inelegível.
Agora poderá votar, mas durante três anos não poderá ser votado.
Registre-se que o art. 1-, I, e, enumera alguns bens jurídicos tutelados, tais como:
fé pública, Administração Pública e patrimônio público. Em assonância, enumera os
crimes eleitorais, o tráfico de drogas, os crimes contra a economia popular e contra
o mercado financeiro.
A redação da alínea é defeituosa e dá margem à interpretação em sentido amplo.
Os bens jurídicos enumerados podem estar dispostos em leis penais especiais
e no próprio Código Penal. Por exemplo: na Lei de Racismo, na Lei de Abuso de
Autoridade, na Lei de Tortura etc.
Apresentamos um resumido rol que entendemos contemplado pela alínea e.

3.3.4.1 4 .1 . Crimes contra economia popular.


Lei n9 1.521, de 26 de dezembro de 1951, "Crimes contra a economia popular"
(arts. 2 - a 4 9); Lei ns 4.591, de 16 de dezembro de 1964, que "Dispõe sobre
o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias" (art. 65); Lei
nfi 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que "Dispõe sobre a política e as instituições
monetárias, bancárias e creditícias. Cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras
providências" (art. 34); Lei n9 4.728, de 14 de julho de 1965, que "Disciplina o
mercado de capitais e estabelece medidas para seu desenvolvimento"(arts. 72 a 74);
Lei ns 4.729, de 14 de julho de 1965, que “Define o crime de sonegação fiscal e dá
outras providências" (art. 1 H); Lei n9 7.134, de 26 de outubro de 1983, que "Dispõe
sobre a obrigatoriedade de aplicação dos créditos e financiamentos de organismos
governamentais e daqueles provenientes de incentivos fiscais, exclusivamente nos
projetos para os quais foram concedidos" (arts. I 9 e 2 S); Lei n2 7.492, de 16 de
junho de 1986, que "Define os crimes contra o sistem a financeiro nacional e dá
outras providências" (arts. 2 9 a 23); Lei nfi 7.505, de 2 de julho de 1986, que "Dispõe
sobre benefícios fiscais na área do imposto de renda concedidos a operações de
caráter cultural e artístico" (arts. 11 e 14); Lei ne 7.752, de 14 de abril de 1989,
que "Dispõe sobre benefícios fiscais na área do imposto de renda e outros tributos,
concedidos ao desporto amador" (art. 14); Lei n9 8.078, de 11 de setem bro de 1990,
que "Dispõe sobre a proteção ao consumidor"; Lei n 9 8.137, de 27 de dezembro
de 1990, que "Define os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as
relações de consumo, e dá outras providências”; Lei nâ 8.176, de 8 de fevereiro de
1991, que “Define os crimes contra a ordem econômica e cria o Sistema de Estoque
de Combustíveis" (arts. I 9 e 2 S); Lei n9 8,212, de 24 de julho de 1991, que "Dispõe
sobre a organização da Seguridade Social, institui o Plano de Custeio e dá outras

80
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C a p ítu lo 3

providências"; Lei n9 8.884, de 11 de junho de 1994, que “Transforma o Conselho


Administrativo de Defesa Econômica - Cade em autarquia, dispõe sobre a prevenção
e a repressão às infrações contra a ordem econômica e dá outras providências"; Lei
n- 9.249, de 26 de dezembro de 1995, que “Altera a legislação do Imposto de Renda
das pessoas jurídicas, bem como da Contribuição Social sobre Lucro Líquido, e dá
outras providências" (a r t 3 4 ); Lei ne 9.613, de 3 de março de 1998, que "Dispõe
sobre os crimes de ‘lavagem' ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da
utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho
de Controle de Atividades Financeiras - Coaf e dã outras providências"; e Lei n9
10.303, de 31 de outubro de 2001, que "Altera e acrescenta dispositivos na Lei
ne 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que dispõe sobre as Sociedades por Ações, e
na Lei n- 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o mercado de valores
mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários".
A enumeração não é exaustiva e procura identificar os crimes tipificados nas
leis penais especiais, por identidade de bem jurídico tutelado com os crimes de
economia popular. As leis acima aludidas podem ter crimes com dupla objetividade
jurídica, sendo que pelos menos uma é contra a economia popular.

3.3.4.14.2. Crimes contra fé pública.


Compreende os delitos tipificados nos arts. 289 a 311 do Código Penal. Nesse
sentido, Joel José Cândido. Registramos, ainda, os seguintes; a) arts. 36 a 39 da Lei
n9 6.538/78 (Dispõe sobre os serviços postais); art. 25 da Lei ne 7.170/83 (Lei de
Segurança Nacional); arts. 7 9, 9 S, 10, 14, 15, 16, 21 da Lei n- 7.492/86 (Crimes
contra o Sistema Financeiro Nacional); arts. 63, 66 e 71 da Lei n- 8.078/90 (Código
de Defesa do Consumidor); arts. l g a 3 S da Lei n9 8.137/90 (Crimes contra a Ordem
Tributária); art. 64 da Lei ns 8.383/91 (Institui a Unidade Fiscal de Referência, altera
a legislação do imposto de renda e dá outras providências); art. 17 da Lei n9 8.929/94
(Institui a Cédula de Produto Rural e dá outras providências); arts. 192 e 195, I,
U e VIII, da Lei ns 9.279/96 (Regula direitos e obrigações relativos à propriedade
industrial); art. 312 da Lei n2 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro); a r t 66
da Lei n9 9.605/98 (Lei Ambiental); art. 79 da Lei n9 9.615/98 (Normas gerais de
Desporto); art. 49 do Decreto-Lei n9 5.452/43 (CLT); a r t 256 do Decreto ns 3.000/99
(Regulamenta a tributação, fiscalização, arrecadação e administração do Imposto
de Renda e Proventos de Qualquer Natureza); a r t 27-C da Lei n9 10.303/2001
(Comissão de Valores Mobiliários) e arts. 311 a 318 do Código Penal Militar.

3.3.4.14.3. Crimes contra administração pública.


São os arts. 312 a 337-A do Código Penal. O doutrinador Joel José Cândido amplia
até o crimes do art. 359-H, No Código Penal Militar, compreende os crimes dos
arts. 289 a 339; e, ainda, o art. 9 9 da Lei h9 1.079/50 (Crimes de responsabilidade);

81
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

os delitos tipificados no art. 1 - do Decreto-Lei n9 2Q 1/67 (Dispõe sobre os crimes de


prefeitos); Lei n- 8.137/90 (Crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de
consumo); arts. 89 a 98 da Lei n9 8.666/93 (Institui normas de licitações e contratos
na Administração Pública); e arts. 66 a 69 da Lei n9 9.605/98 (Lei Ambiental).
Destaca-se:
(TSE). Recurso Ordinário na 555/SP. Relator: Ministro Sálvio de
Figueiredo. Decisão. Direito Eleitoral. Registro de candidatura. Recurso
ordinário. Condenação criminal. Desacato. Registro de candidato.
Cargo: deputado federal. Eleições 2002. Condenação por crime de
desacato (art. 331 do CP). Delito incluído no rol daqueles praticados
contra a Administração Pública. Inelegibilidade configurada (art. 1-,
inciso I, alínea e, da Lei Complementar ne 64/90). Registro indeferido,

3 .3 .4.1 4 .4 . Crimes contra patrimônio público.


De le g e fe r e n d a assiste inteira razão ao doutrinador Joel José Cândido, que inclui,
entre os crimes contra o patrimônio público, o patrimônio privado. 0 entendimento
do Tribunal Superior Eleitoral não dá essa extensão. Por patrimônio público, deve-
se entender apenas os seguintes delitos: arts. 163, parágrafo único, III; 165, 166,
168-A, 177 a 179, todos do Código Penal; arts. 240, § 59, 251, § 39, 257, § l 9, 259,
parágrafo único, 262 a 266, 268, § l 9, II, 383 a 385, todos do Código Penal Militar;
arts. 38, 40, 49, 62, 63, 64 e 65 da Lei n9 9.605/ 98 (Lei Ambiental).

3 .3 .4 .1 4 .5 . Crimes contra mercado financeiro.


São os delitos tipificados nas Leis ns 4.595/ 64; n9 4.728/65 e n9 7,492/86.

3 .3 .4 .1 4 .6 . C rim es de tráfico de entorpecentes.


Compreende a Lei ns 11.343/2006, além dos crimes dos arts. 290 e 291 do
Código Penal Militar.

3.3 .4 .1 4 .7 . Crimes eleitorais.


No Código Eleitoral, arts. 289 a 3 5 4 ; art. 25 da Lei Complementar n9 64/90; art,
11 da Lei n9 6.091/74; art. 15 da Lei n 9 6.996/ 82; arts. 33, §§ 3 S e 4 9 34, § 2 9, 39,
§ 5 S, 40, 68, § 2 9, 72, 91, parágrafo único, e 94, § 2 S, da Lei n e 9.504/ 97 (Lei das
Eleições).
Conclusão. Os bens jurídicos tutelados pelo legislador na Lei das Inelegibilidades
podem ser de dupla subjetividade passiva. De certo que, em m atéria de
inelegibilidades (restrição aos direitos políticos passivos), a doutrina e o Tribunal
Superior Eleitoral entendem que não se pode fazer interpretação extensiva para
prejudicar a capacidade eleitoral passiva. Todavia, o legislador não adotou critério
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

limitativo, pois, se fosse essa a intenção, teria seguido estritamente um rol de


crimes, por exemplo, como fez o legislador na Lei de Crimes Hediondos (Lei n e
8.072/90). Desta forma, não vemos nenhuma inconstitucionalidade ou ilegalidade
na interpretação conforme à Constituição, colmatando nas leis penais especiais
o texto do art. l ô, I, letra e, com os bens jurídicos indicados pelo legislador
infraconstitucional. O elenco de tipos penais acima enumerados é, portanto,
meramente exemplificativo.
Registramos precedente do TSE, estabelecendo uma simetria de interpretação
da alínea e do inciso 1 do art. 1Qcom o § 9 e do art. 14, todos da CRFB, in verbis:
Inelegibilidade - Condenação criminal - Lei das Inelegibilidades.
1. Inelegibilidade. 2. Lei Complementar n9 64/90, art. 1-, I, e. 3. Candidata
condenada a quatro meses de detenção, sendo o acórdão de 8 de junho
de 1995, por crime de desobediência. 4. A compreensão a ser dada ao
art. I 9, I, e, da LC ne 64/90, quanto a crimes contra a Administração
Pública, há de manter conformidade com as finalidades previstas no
§ 9a do art. 14 da CF, a se resguardarem. 5. Caso concreto em que não se
configura inelegibilidade do art. l e, I, e, da LC na 64/90.6. Recurso a que
se nega provimento. Acórdão ne 171, de 27.8.1998 - Recurso Ordinário
ns 171 ~ Classe 27a/PB (João Pessoa). Relator: Ministro Costa Porto.

A p rescrição pode s e r conhecida no pedido de reg istro de candidatos?


A prescrição é matéria de ordem pública e pode ser reconhecida por qualquer
juízo ou Tribunal, inclusive ex officio. Nesse sentido, é o art. 61 do Código de Processo
Penal.
Reconhecida a prescrição, é declarada a extinção da punibilidade. Não há óbice
a que esse reconhecimento ocorra no pedido de registro de candidatos. Precedente
do TSE, in verbis:
Recurso Ordinário N9 625/MS. Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira.
Despacho: Ementa: Registro de candidatura. Deputado estadual.
Pleito eleitoral de 2002. Sentença condenatória transitada em
julgado. Prescrição retroativa. Art. 114 do Código Penal. Matéria
de ordem pública. Reconhecimento. Possibilidade. Resolução ~ TSE
n9 20.993/2002. Registro deferido. Sendo a prescrição matéria de
ordem pública, pode a mesma ser analisada e reconhecida em feito
de registro de candidatura, mormente tratando-se de crime eleitoral.
Com efeito, se, entre a data do recebimento da denúncia e a sentença
condenatória imposta pelo Tribunal, fluíram mais de dois anos, incide
a prescrição retroativa de que trata o art. 114 do Código Penal e, por
conseguinte, defere-se o registro de candidatura da requerente.

83
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

3 .3 .4 .1 5 . Prescrição e decadência reconhecida no registro de candidatos. A


prescrição pode ser conhecida no registro de candidatos?
De certo que, na competência da Justiça Eleitoral, não cabe o exame de questões
do juízo penal, exceto as m atérias de ordem pública, como a prescrição e decadência.
Precedentes do TSE nesse sentido:
Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral n2 19.322/CE,
Rei. Min. Garcia Vieira, em 28.6.2001. Candidato. Inelegibilidade.
Condenação criminal. Preclusão. Defeito no processo crime. Falta de
pré-questionamento. Não cabe à Justiça Eleitoral, no pedido de registro
de candidatura, analisar a existência de vícios no processo criminal,
entre os quais o atraso na realização da audiência admonitória para o
inicio do cumprimento do sursis. A arguição de preclusão e existência
de defeito no processo-crime não constituíram objeto de análise pelo
acórdão, patenteando-se a falta de pré-questionamento. O Tribunal
negou provimento ao agravo regimental. Unânime.

3 .3 .4 .1 6 . Nulidades. Cabe á Justiça Eleitora! analisar, no processo de


registro de candidatos, questões processuais penais relativas a nulidades?
Convém ressaltar que a Lei ns 9.504/97, em seu art. 11, § 1-, VII, estabelece o
prazo até o dia 5 de julho do ano eleitoral, inclusive o limite de horário, ou seja, até
as 19h. Os prazos são fatais e peremptórios e tra n sco rrem a o s s á b a d o s , domingos
e feriados. A falta de apresentação da certidão criminal acarreta a presunção da
inelegibilidade. Precedente do TSE nesse sentido.
(TSE). Registro de candidato - Documentação - Deficiência. Recurso
ordinário. Candidatura. Impugnação. Documentação. Ausência. 1. A
ausência de certidão de juízo criminal caracteriza desobediência à Lei
ne 9.504/97, art. 11, § 1-, VII. 2. Recurso a que se nega provimento.
Acórdão ne 256, de 16.8.1998 - Recurso Ordinário ns 256 - Classe 27a/
SP (São Paulo). Relator: Ministro Edson Vidigal. Recorrente: Luiz Carlos
Garcia, candidato a deputado estadual. São Paulo. Decisão: Unânime
em receber como recurso especial e negar-lhe provimento. Pedido de
registro. Indeferimento que se mantém, pois não apresentada a certidão
negativa, exigida em lei, relativa a crimes eleitorais. Acórdão n9 281, de
16.9.1998 - Recurso Ordinário ns 281 ~ Classe 27a/Rio Grande do Sul
(Porto Alegre). Relator: Ministro Eduardo Ribeiro. Decisão: Unânime,
recurso não conhecido.

3 .3 .4 .1 7 . Ato infracional. A prática do ato infracionai acarreta a suspensão


dos direitos políticos?
O art. 11, § 2-, da Lei n- 9.504/97, assim reza: “A idade mínima consti­
tucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por
referência a data da posse”.

84
P erda e S u spen sã o
dos D ir e ít o s P o l ít ic o s C apítulo 3

A idade mínima para um cidadão ser eleito ao mandato de vereador é de 18 anos,


conforme preceitua o art. 14, § 3-, VI, d, da Constituição da República Federativa do
Brasil.
Diante da permissibilidade do texto legal (§ 2 9 do art. 11 da Lei ne 9.504/97,
cuja constitucionalidade é duvidosa), é possível na nossa ordem jurídica que um
adolescente possa ser registrado, fazer campanha política eleitoral e, após sua
diplomação, exercer o mandato eletivo.
0 art. 103 do Estatuto da Criança e do Adolescente disciplina que: "Considerar-
se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal".
Sobre o assunto trazemos à baila as valiosas lições do Desembargador Napoleão
X. do Amarante, in expressi verbis: "A infração penal, como gênero, no sistema jurídico
nacional, das espécies crime ou delito e contravenção, só pode ser atribuída, para efeito
da respectiva pena, às pessoas imputãveis, que são, em regra, no Brasil, os maiores de 18
anos. A estes, quando incidirem em determinado preceito criminal ou contravencional,
tem cabimento a respectiva sanção. Abaixo daquela idade, a conduta descrita como
crime ou contravenção constitui ato infracional. Significa dizer que o fato atribuído à
criança ou ao adolescente, embora enquadrável como crime ou contravenção, só pela
circunstância de sua idade, não constituí crime ou contravenção, mas, na linguagem do
legislador, simples ato infracional. O desajuste existe, mas na acepção técnico-jurídica,
a conduta do seu agente não configura outra daquelas modalidades de infração, por
se tratar simplesmente de uma realidade diversa. Não se cuida de uma ficção, mas de
uma entidade jurídica a encerrar a ideia de que também o tratamento a ser deferido
ao seu agente é próprio e específico" (Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado,
3a edição, São Paulo, Malheiros, p. 325).
0 art. 15, III, da Constituição da República Federativa do Brasil faz apenas menção
a "condenação criminal" o que por interpretação simétrica engloba "o crime e a
contravenção", ou seja, como já visto, a norma constitucional optou pelo gênero.
Todavia, o legislador constituinte não contemplou o ato infracional, permitindo ao
candidato com 17 anos de idade e responsável por violação a fato análogo ao crime
sua plena aceitação ao mandato eletivo.

3.3.4.18. M oralidade eleitoral e suspensão de direitos políticos. A questão


pode ensejar im pugnação fincada na falta de m oralidade eleitora! (art. 14,
§ 9C, da CRFB), mas não é caso de suspensão dos direitos políticos,
pois haveria interpretação extensiva ao sentido excepcional da norma
constitucional do inciso Ml do art. 15.
Registre-se que o art. 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente ao tratar
da internação do adolescente, equipara esta medida à hipótese de privação de
liberdade, sendo que o § 5 e, diz: “A liberação será compulsória aos 21 anos de idade".
Assim, pode-se imaginar um candidato eleito vereador que esteja cumprindo medida

85
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

de internação, sendo desinternado aos 21 anos de idade, quando praticamente


findo o mandato eletivo (se não houver cassação do mandato por decisão da Câmara
Municipal, durante a internação). Trata-se de visível situação teratológica que
necessita de urgente modificação legiferante, sob pena de violação ao princípio da
igualdade no seu duplo sentido: a) igualdade na lei; e b) igualdade perante a lei.
Sobre o duplo aspecto do princípio da igualdade, já decidiu o Egrégio STF (Revista
de Direito Administrativo, 183/143).
Como se vê, a omissão do art. 15, III, da Carta Magna em relação ao ato
infracional e, em contrapartida, a perm issão do § 2 5 do art. 11 da Lei n 2 9 .504/ 97
(idade mínima na data da posse), causa efetivo rompimento com o sistem a
isonôm ico, além de superlatívizar a proteção ao adolescente pára a c e s s o ao
mandato eletivo, pois aos 18 anos, o candidato que não foi m enor infrator, mas
que praticou crim e e a sentença transitou em julgado, estará com seus direitos
políticos suspensos, enquanto que o adolescente infrator que aos 17 anos foi
candidato e diplomado e perm aneceu internado por medida do Estatuto da
C riança e A d o le s c e n te por ter praticado fato análogo ao crime, ao com pletar 18
anos, não estará sujeito à causa de suspensão arrimada no inciso III do art. 15
da Carta Magna.

3 .4. ESC U SA DE CONSCIÊNCIA


O art. 15, IV, estabelece a "recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
prestação alternativa, nos termos do art. 5 e, VIU”
O cidadão que recusa a obrigação de servir às Forças Armadas em tempo de paz
ou guerra deixa de participar imediatamente do exercício ou estabelecimento do
poder, como dizia o eminente Teixeira de Freitas.
A escusa de consciência é uma decorrência do direito fundamental de proteção
da crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, visando a eximir-se de
atividades de caráter essencialmente militar. Não se podem restringir direitos
políticos sob a alegação da obrigatoriedade do cumprimento da prestação do serviço
obrigatório militar, salvo se for atribuído o serviço alternativo na forma legal.
O inciso IV é um caso especial de restrição, que conduz à “morte cívica" do
cidadão, no dizer sempre expressivo do constitucionalista Joaquim José Gomes
Canotilho. Também é chamada de imperativo de consciência. Sobre o assunto, ver o
art. 143, § I a, da CRFB. Base legal: art. 5 9, VIII, da Carta Magna.
A Lei n- 8.239, de 4 de outubro de 1991, trata da prestação alternativa. A
regulamentação legal está na Portaria n- 2.681, de 28 de julho de 1992.
O doutrinador Alexandre de Moraes entende que a hipótese do art. 15, IV, da
CRFB é de perda dos direitos políticos e fundamenta, in verbis:

86
m
M
P erjda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

Apesar de a lei referir-se à suspensão, trata-se de perda, pois não


configura uma sanção com prazo determinado para terminar. 0 que a
lei possibilita é a reaquisição dos direitos políticos, a qualquer tempo,
mediante o cumprimento das obrigações devidas.15
Na doutrina, é m ajoritária a posição dos que sustentam ser hipótese de perda
dos direitos políticos a escusa de consciência. Nesse sentido, José Afonso da Silva,
Celso Ribeiro Bastos e Manoel Gonçalves Ferreira Filho. Na doutrina, registramos a
posição de Antônio Carlos Mendes como caso de suspensão dos direitos políticos,
bem como a de Joel José Cândido que, interpretando a Lei n9 8.239/91, entende que
é efetivamente hipótese de suspensão. Seguimos o entendimento minoritário de
Joel José Cândido, pois, a partir da vigência da lei regulamentado ra, são possíveis a
reversibilidade e a reinserção do eleitor, desde que cumpra a prestação alternativa
ou o serviço militar obrigatório. A falta de definitividade na sanção política torna
o instituto mais identificado com a hipótese de suspensão dos direitos políticos.
Nesse sentido, ver art. 4 5, § 2 B, da lei infrarreferida.
0 cidadão que incidir nesta sanção política terá seu título excluído do rol de
eleitores (art. 71, II, do Código Eleitoral]. Todavia, a sanção só incidirá na hipótese
de descumpriraento da prestação alternativa ou recusa.
A autoridade militar deve certificar o descumprimento da prestação alternativa
e, consequentemente, os deveres jurídicos cívicos de votar e ser votado serão
obstados. Como se vê, a autoridade administrativa é incumbida de certificar o
cumprimento ou não dos deveres, inclusive. Após a certificação positiva, o "cidadão"
será reinscrito como eleitor no cadastro do Tribunal Superior Eleitoral.
0 doutrinador Joel José Cândido ensina-nos que:
A recusa, por seu turno, tem aqui acepção ampla, podendo ser total
ou parcial. Na recusa totai, o convocado não cumpre a obrigação ou
o serviço desde o início; na parcial, aceita cumprir a obrigação num
primeiro momento. Esta eqüivale a uma desistência ou cumprimento
apenas parcial. Ambos os casos ensejam a restrição aos direitos
políticos, nos termos em que dispuser a lei respectiva.16
Destacamos:

Lei ns 8.239, de 4 de outubro de 1991.


Regulamenta o art 143, §§ l e e 2S, da Constituição Federal, que dispõem
sobre a prestação de Serviço Alternativo ao Serviço Militar Obrigatório.
0 PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional
decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art. I a O Serviço Militar consiste no exercício de atividades específicas,
desempenhadas nas Forças Armadas - Marinha, Exército e Aeronáutica.

15 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. Editora Atias, p. 257.


16 CÂNDIDO. Joel José. Inetegibilidades no Direito Brasileiro. 2a ed., Editora Edipro, p. 69.

87
M arcos R am ayana
D ir e it o E l e it o r a l

Art. 2- O Serviço Militar inicial tem por finalidade a formação de reservas


destinadas a atender às necessidades de pessoai das Forças Armadas
no que se refere aos encargos relacionados com a defesa nacional, em
caso de mobilização.
Art. 3S 0 Serviço Militar inicial é obrigatório a todos os brasileiros, nos
termos da lei.
§ l 5 Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em
coordenação com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo
aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de
consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente
militar.
§ 2 - Entende-se por Serviço Militar Alternativo o exercício de atividades
de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo,
em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.
§ 32 0 Serviço Alternativo será prestado em organizações militares da
ativa e em órgãos de formação de reservas das Forças Armadas ou em
órgãos subordinados aos Ministérios Civis, mediante convênios entre
estes e os Ministérios Militares, d esd e que haja interesse recíproco e,
também, sejam atendidas as aptidões do convocado.
Art. 4 e Ao final do período de atividade previsto no § 2S do art. 3S desta
lei, será conferido Certificado de Prestação Alternativa ao Serviço
Militar Obrigatório, com os mesmos efeitos jurídicos do Certificado de
Reservista.
§ 1- A recusa ou cumprimento incompleto do Serviço Alternativo,
sob qualquer pretexto, por motivo de responsabilidade pessoal do
convocado, implicará o não fornecimento do certificado correspondente,
pelo prazo de dois anos após o vencimento do período estabelecido.
§ 2~ Findo o prazo previsto no parágrafo anterior, o certificado só será
emitido após a decretação, pela autoridade competente, da suspensão
dos direitos políticos do inadimplente, que poderá, a qualquer tempo,
regularizar sua situação mediante cumprimento das obrigações devidas.
Art. 5S As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do Serviço Militar
Obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, de acordo com suas
aptidões, a encargos do interesse da mobilização.
Art. 6~ 0 Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas baixará, no prazo
de 180 dias após a sanção desta lei, normas complementares a sua
execução, da qual será coordenador.
Art. 7- Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 8 2 Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 4 de outubro de 1991; 170e da Independência e 103s da
República.
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

Da leitura do texto legal retro, emerge uma questão de importância relevante, a


saber: qual a autoridade competente a que o § 2 - do art. 4 2 faz menção?
0 doutrinador Joel José Cândido ensina-nos que a competência para decretar a
suspensão dos direitos políticos é da Justiça Militar Federal, sugerindo a aplicação
do procedimento dos arts. 4 6 3 a 4 6 5 do Código de Processo Penal Militar.
De fato, o procedimento para a decretação da suspensão dos direitos políticos
é de natureza administrativa, assim como o caso de perda da nacionalidade por
naturalização voluntária, conforme dispõe o art. 12, § 4 9, I, c/c art. 1 5 , 1, ambos da
CRFB.
Todavia, o requerimento é ato complexo, pois a reaquisição dos direitos
políticos é dirigida administrativamente ao Ministério da Justiça, após a emissão
de certificado pela autoridade militar (TSE. Processo ns 2.401/01. CGE/RJ. Relator
Ministro Garcia Vieira).
 Portaria nQ2.681, de 28 de julho de 1992, disciplina a questão aqui tratada.
Como visto, compete à autoridade militar decretar a suspensão dos direitos
políticos, em razão da recusa do cumprimento do serviço militar obrigatório ou da
prestação alternativa (§ 4 - do art. 43 da Portaria). Uma vez decretada a suspensão,
o título eleitoral é encaminhado ao Tribunal Regional Eleitoral respectivo para as
devidas anotações.17
O interessado poderá, a qualquer momento, manifestar por escrito que deseja
cumprir o serviço militar ou o serviço alternativo (o pedido é dirigido ao órgão
alistador militar mais próximo da residência), após o qual receberá um novo
certificado militar e passará a concorrer à primeira seleção geral. De posse do
certificado ou atestado, a opção é encaminhada ao Ministério Militar, que a notificará
ao Ministério da Justiça, para a devida anulação da situação de eximido e a natural
reaquisição dos direitos políticos.
No Ministério da Justiça, o interessado preencherá um formulário próprio de
reaquisição dos direitos políticos, de acordo com o art. 40 da Lei ns 818, de 18
de setembro de 1949, que será endereçado ao Ministro da Justiça. Desta forma,
por Decreto, o ministro da Justiça restabelecerá os direitos políticos suspensos,
após exame da documentação apresentada, e comunicará o fato à Justiça Eleitoral
(Resolução do TSE ns 20.132, art. 51).
O Tribunal Superior Eleitoral receberá a comunicação do Ministério da Justiça e o
certificado de cumprimento da prestação alternativa ou do serviço militar obrigatório
(caso do conscrito), fazendo as anotações no cadastro eleitoral e restabelecendo o
título eleitoral, possibilitando ao eleitor o retorno de sua capacidade eleitoral ativa e
passiva.

17 Como, por exemplo, as pessoas que seguem a crença, conhecida por “Testemunha de Jeová" estão proibidas de
servir a qualquer Corporação Míiitar, mas podem, assim que o desejarem, cumprir a prestação aitemativa ou servir às
Forças Armadas.

89
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Do exposto, verifica-se a com plexidade do restab elecim en to dos direitos


políticos nesta hipótese. A au to rid ad e m ilitar d ecreta a su sp en são dos
direitos políticos, em decisão p u ram en te adm in istrativa, sem nenhum a
possibilidade de co n trad itório . Em seguida, o caso é com unicado ao
M inistério da Justiça e ao Tribunal Superior Eleitoral. Se o in teressad o
d esejar a reaq u isição dos d ireitos políticos, deverá p e rc o rre r longo cam inho
b u rocrático e ad m inistrativo: au torid ad e m ilitar, M inistério da Justiça e
Justiça Eleitoral.
De leg e feren d a , entendemos que esta hipótese não prescinde de exame judicial
e deveria ficar sob a responsabilidade da Justiça Eleitoral, até porque é medida
cerceadora dos direitos políticos, cuja natureza é de direito público subjetivo.
Sobre a escusa de consciência, é importante frisar o que dispõe o art. 435 do
Código de Processo Penal, que trata do serviço dos jurados (cidadãos honoríficos)
nos Tribunais do Júri: "A recu sa ao serviço do júri, m otivada p o r convicção
religiosa, filosófica ou política, im p ortará a perda dos direitos políticos
(Constituição, a rt. 1 1 9 , letra b)".
Como se nota, a primeira observação é a de que a remissão do texto legal se
refere à Constituição de 1937, que assim estava redigida: "pela recusa, m otivada
p o r convicção religiosa, filosófica ou política, de encargo, serviço ou obrigação
im posta por lei aos b rasileiro s”.
Atualmente, com a edição da Lei n9 8.239/91 que disciplina a prestação
alternativa, não há como ser aplicada a sanção de perda dos direitos políticos, exceto
por negação ao cumprimento das prestações impostas no caso de não cumprimento
do serviço militar obrigatório em tempo de paz.
Na ausência de norma que discipline uma prestação alternativa para os casos
de jurados que se recusam a cumprir o dever cívico de julgamento, não compete
ao juiz presidente do Tribunal do Júri, ou quiçá aos juizes dos Tribunais Regionais
Eleitorais, nem tampouco aos seus respectivos presidentes ou corregedor impor a
sanção constitucional eleitoral de perda ou suspensão dos direitos políticos com
base no art. 15, IV, da Constituição Federal.
0 art. 435 do Código de Processo Penal prevê uma outra hipótese de escusa de
consciência, mas não é aplicável, pois carece de lei que regulamente a prestação
alternativa no caso de negativa ao cumprimento da função de jurado. 0 dispositivo
não é inconstitucional, mas a sua plena implementação depende de norma especial
nos moldes da Lei ne 8.239/91.
Por fim, poder-se-ia interpretar que caberia ao Ministro da Justiça encetar
providências para cumprir os fins determinados no art. 15, IV, da Constituição
Federal. Todavia, como já enfatizado, a simples recusa ao cumprimento do dever
cívico não acarreta a perda ou suspensão dos direitos políticos.
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

0 art. 5 9, VIII, da Constituição da República assim determina: "ninguém será


privado de direitos por motivo de cren ça religiosa ou de convicção filosófica ou
política, salvo se as invocar p ara exim ir-se de obrigação legal a todos Imposta
e recu sar-se a cum prir p restação alternativa, fixada em lei". Desta forma, a
conjunção aditiva "e", inserida no texto da Carta Magna, importa em afirmar que a
mera recusa ao serviço cívico obrigatório não é causa de sanção política, exceto se
não for cumprida a prestação alternativa. Todavia, sem uma disciplina normativa
desta prestação para fins civis, mas apenas no âmbito militar, conforme disposto na
Lei ne 8.239/91, não há como aplicar uma sanção constitucional ~ eleitoral que vai
gerar restrições na vida cívica política.
A privação dos direitos políticos está associada a duas conjugações básicas:
a manifestação de pensamento contrária ao dever cívico que acarreta o não
cumprimento da obrigação a todos imposta e o efetivo descumprimento da
obrigação da prestação alternativa. Sem que o cidadão se negue a praticar estes
dois atos distintos, não há sanção política.
A objeção de consciência é sempre uma forma livre de manifestação do
pensamento que se concretiza numa negativa ao dever que todos os cidadãos são
compelidos numa ordem jurídica démocrática.
A lei deverá tratar das limitações, prestações e modo de exercício em função da
objeção de consciência alegada pela iminência do cumprimento do dever.
No caso, ao jurado recalcitrante restará a análise de eventual responsabilidade
criminal pelo disposto no art. 3 3 0 do Código Penal (crime de desobediência).

3.5. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


A subsunção legal está no art. 37, § 4 â, da CRFB e na Lei nfi 8.429/92.
A moralidade administrativa é considerada um princípio de natureza
constitucional e, ensina-nos José Afonso da Silva, os atos de improbidade
administrativa são imoralidades qualificadas. A definição é exemplar.
A doutrina identifica o tema como: norma superior que exige dos agentes
honestidade e lealdade (Antônio José de Mattos Neto); proibição de atos desonestos
(Juarez Freitas); função instrumentalizadora da moralidade administrativa (Wallace
Paiva Martins Júnior); ato que fere, agride, macula, tisna a moralidade pública
(Ives Gandra Martins); atos que possuem natureza civil e que ferem os princípios
constitucionais e legais da Administração Pública (Alexandre de Moraes) e a
conduta da autoridade que exerce o Poder Público de modo indevido, beneficiando
interesses privados (Manoel Gonçalves Ferreira Filho).
Algumas premissas básicas podemos extrair dos ensinamentos doutrinários, a
saber:

91
M arcos R am ayana D ir h ít o E l e it o r a l

a) é um ato que atenta contra a moral e a ética no serviço público;


b) a honestidade é a linha mestra da moralidade;
c) o ato legal pode não ser moral;
d) a Lei n- 8.429/92 combate a corrupção administrativa;
e) a natureza civil do ato de improbidade administrativa;
f) o ato de improbidade deve encontrar tipificação na legislação vigente;
g) o agente ativo da improbidade pode ser servidor ou não (arts. l e a 39 da Lei de
Improbidade);
h) a doutrina de Alexandre de Moraes e Marcelo de Figueiredo faz a distinção entre
improbidade própria (praticada por servidor público) e imprópria (praticada
por particular como partícipe); e
i) o sujeito passivo mediato é o Estado; o imediato, são os elencados no art. l s da Lei de
Improbidade.
A Lei de Improbidade trata das seguintes sanções: suspensão dos direitos
políticos; perda da função pública e ressarcim ento ao erário.
A suspensão dos direitos políticos (hipótese que nos interessa neste estudo)
deve ser aplicada de oito a dez anos; cinco a oito anos ou de três a cinco anos, em
razão da violação aos arts. 9 e, 10 e 11 da Lei de Improbidade.
Todavia, a aplicação da sanção de suspensão dos direitos políticos, decorrente
de ato de improbidade administrativa, é efetivada após o trânsito em julgado da
sentença na ação civil (art. 20 da Lei de Improbidade) ou ação popular; portanto,
não é uma sanção propriamente eleitoral, ou seja, obtida no âmbito da competência
da Justiça Eleitoral. O efeito da sentença é que repercute na capacidade eleitoral
ativa e passiva e tem pertinência subjetiva no exame do pedido de registro de
candidatura, bem como na higidez do mandato eletivo.
0 membro do Ministério Público, os partidos políticos, os candidatos e as
coligações podem valer-se da matéria probatória contida nos autos da ação civil
pública ou ação popular (improbidade administrativa) para impugnarem o registro
dos candidatos ímprobos ou, até mesmo, os seus mandatos eletivos (a questão da
improbidade administrativa não preclui, segundo a regra do parágrafo único do
art. 259 do Código Eleitoral); portanto, poderá ser alegada após a diplomação, mas
no prazo da AIME ou do RCD.
0 Ministério Público possui a ferramenta jurídica da ação civil pública para coibir
os atos de improbidade administrativa (arts. 37, § 4-, e 129, III, da CRFB, 3 - da Lei
n B 7.347/85, e 12 da Lei ne 8.429/92). Na doutrina, sustentam a legitimidade Waldo
Fazzio Junior, Alexandre de Moraes, Marino Pazzaglini Filho, Rodolfo de Camargo
Mancuso e outros renomados.

92
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

A competência para o processo e julgamento do ato de improbidade não é da


justiça Eleitoral, mas sim da Justiça Comum ou Federal, considerando o local do
dano ou do ato de improbidade e o foro por prerrogativa de função.18
A ação popular (art, 52, LXXII1, da CRFB) também é meio jurídico de prevenção
ou repressão ao ato de improbidade administrativa, quando o cidadão fiscaliza o
Poder Público.
A Lei ns 4.717/65 trata da ação popular. A sentença transitada em julgado gera
os efeitos da inelegibilidade (art. l e, í, letras g e h, da Lei Complementar ne 64/90).
Trazemos à baila as valiosas lições de Adriano Soares da Costa, lembrando que
a decisão, na ação popular, pode determinar a suspensão dos direitos políticos, in
verbis:
A ação popular, cumpridos tais requisitos elementares, se julgada
procedente, além da decretação da nulidade do ato administrativo,
poderá, acaso tal ato irrito esteja subsumido a uma das hipóteses dos
arts. 9 9, 10 e 11 do Estatuto das ímprobidades, provocar a declaração
de improbidade, a condenação por danos ao erário e a decretação de
suspensão dos direitos políticos, pelo prazo determinado pelo julgador.
Tais eficácias são naturais da própria sentença, não podendo ocorrer
automaticamente. São efeitos anexos, portanto, inclusos ao dispositivo:
fazem parte do conteúdo da resolução judicial.
Por essa razão, a procedência da ação popular contra pré-candidato,
ou candidato, não enseja a suspensão dos direitos políticos, e como
corolário a inelegibilidade, se não houver expressa disposição neste
sentido.19
O eminente doutrinador, analisando os efeitos da ação popular, conclui, entre
outras observações, que a sentença transitada em julgado serve de suporte para
o ajuizamento de ação eleitoral da "inelegibilidade cominada” e, nas hipóteses de
abuso do poder econômico ou político de caráter eleitoral, a ação de impugnação
ao pedido de registro, investigação judicial eleitoral ou impugnação ao mandato
eletivo podem ser propostas com independência da ação civil popular.

18 Recente decisão no AgRg n9 1.883-PR (2002/0106196-6) do Superior Tribunal de Justiça, tendo como relator o Ministro
Gilson Dipp, decidiu que: “Ementa: Constitucional e Processuai. Ação de Improbidade Administrativa. Governador de
Estado. Ausência de competência do Superior Tribunal de Justiça. Agravo interno desprovido precedente. I - A teor
da farta jurisprudência desta Corte, falece competência ao Superior Tribunal de Justiça para analisar processos em
que se discutem supostos atos de improbidade administrativa, fundados na Lei n9 8.492/92, ainda que o requerido
tenha privilégio de foro para as ações penais. It - Nos termos do art. 1 0 5 ,1, a, da Constituição Federal, a competência
originária deste Tribunal é para a ação penal, o que não se confunde com a ação judicial para apurar eventual ato de
improbidade administrativa, cuja natureza é eminentemente administrativa” (18 de junho de 2003, decisão unânime). A
regra do art. 84, § 2S, que foi acrescentado pela Lei ne 10.628, de 24 de dezembro de 2002, é inconstitucional, porque,
dentre outros motivos, nivela a ação penal com a ação civil e administrativa: suprime o grau de jurisdição; estende
o foro por prerrogativa de função para matérias não penais, adulterando o regramento histórico constitucional do
instituto jurígeno; e, além de tudo, contraria entendimento anteriormente sumulado (Súmula n9 394 do STF). Trata-se
de norma de encomenda que, nas últimas décadas, transfigura-se nas premissas mais retóricas na evolução da tutela
dos interesses difusos no País.
19 COSTA. Adriano Soares da. Instituições de Direito Efeitorai. Editora De! Rey, p. 91.

93
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Entendemos que:
1) a sentença de procedência do pedido, transitada em julgado na ação popular
(especificando a suspensão dos direitos políticos com base na Lei de Improbidade]
acarreta a própria suspensão dos direitos políticos, com subsunção no texto
constitucional (art. 15, V, da CRFB). Não há que se falar em inelegibilidade;
2) a sentença de procedência do pedido, transitada em julgado na ação popular
(sem especificação da suspensão dos direitos políticos com base na Lei de
Improbidade) acarreta a inelegibilidade, na forma das alíneas g e h do art. 1Q,
I, da Lei Complementar n9 64/90, desde que a matéria seja a mesma (efeito
erg a om nes). Não é caso de suspensão dos direitos políticos, até porque, como
bem leciona Adriano Soares da Costa, o efeito não é automático, pois deve ser
declarado na sentença;
3) as ações de impugnação ao pedido de registro ou impugnação ao mandato
eletivo podem ser propostas (observando-se a preclusão quanto à matéria
constitucional, art. 259, parágrafo único, do Código Eleitoral e a Súmula n- 1
do TSE), independentemente do resultado final, trânsito em julgado da ação
popular, desde que subsumidas nas alíneas g e h. Nestas hipóteses, a Justiça
Eleitoral estará tratando de inelegibilidades.
Quanto à improbidade adm inistrativa, como vimos, a sentença de procedência
na ação civil ordinária ou ação civil pública é caso de suspensão dos direitos
políticos com arrim o no art. 15, V, da CRFB. Todavia, independentem ente do
trânsito em julgado nestas ações, a Justiça Eleitoral poderá processar e julgar
ações de impugnação ao pedido de registro ou impugnação ao mandato eletivo,
tendo como suporte atos de improbidade adm inistrativa com finalidades elei­
torais (abusos do poder econôm ico e/ou político). Assim, a decisão, no âmbito
da Justiça Eleitoral, poderá até servir como prova e m p re sta d a ao julgamento
da ação civil por im probidade adm inistrativa. Por exemplo: o prefeito de um
determ inado município usa verba pública do Fundo de Educação (Fundef)
para um churrasco eleitoral na véspera do pleito eleitoral, convidando todos os
eleitores da cidade. Essa questão, indubitavelm ente, é um ato de improbidade
administrativa, mas tam bém servirá para a propositura de uma ação de
impugnação ao mandato eletivo. Por fim, o resultado final na ação de impugnação
ao mandato eletivo (provas e a própria sentença) servirá como prova emprestada
na ação civil que acarretará (se julgada procedente com trân sito em julgado) a
suspensão dos direitos políticos.
As decisões com trânsito em julgado nas ações civis e populares que gerem a
suspensão dos direitos políticos, ao nosso pensar, não podem ser reexaminadas
nas ações de impugnação ao pedido de registro ou mandato eletivo, sob pena de
violação da coisa julgada material.

94
P erda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

0 Ministério Público (promotor eleitoral, procurador regional eleitoral ou


procurador geral eleitoral) ou, ainda, os demais legitimados poderão propor a ação
de impugnação (ao registro ou mandato eletivo), com a finalidade de declarar a
causa de suspensão dos direitos políticos. Não se trata de inelegibilidade ou revisão
da coisa julgada material. Somente por ação rescisória será possível o enfrentamento
desta questão.
A falta de trânsito em julgado nas ações civis de improbidade e popular não
inibe as ações eleitorais impugnativas, com lastro nas alíneas g e h (art. I 2, I, da LC
n2 64/90), aí sim, com a finalidade exclusiva de obtenção da inelegibilidade.
A hipótese da alínea h, do art. I 9, I, da LC n9 64/90 poderá ter como efeito a
inelegibilidade posterior à causa de suspensão dos direitos políticos. Nesta
hipótese, como os institutos são diferentes, não há que se falar em ilegalidade ou
inconstitucionalidade. A suspensão acarreta a ausência temporária da capacidade
eleitoral ativa e passiva, enquanto que a inelegibilidade é apenas ancorada na
exclusão temporária da capacidade eleitoral passiva (ver o capítulo sobre a ação de
impugnação ao pedido de registro de candidatos, quando abordamos as alíneas g e
h, do art. 1-, I, da Lei das Inelegibilidades).
As hipóteses de im probidades eleitorais típicas estão descritas no art. 73
da Lei n s 9.504/97 (Lei das Eleições). Vejam que o legislador tratou de remissão
expressa no § 7 S do art. 73:

As condutas enumeradas no caput caracterizam, ainda, atos de


improbidade administrativa, a que se refere o art. 11, inciso I, da Lei
n9 8.429, de 2 de junho de 1992, e sujeitam-se às disposições daquele
diploma legal, em especial às comínações do art. 12, inciso III.

Outrossim, o art. 7 4 da Lei n9 9.504/97 caracteriza como abuso de autoridade


a violação ao disposto no art. 37, § 1-, da Carta Magna. O art. 37, § I a, trata da
publicidade dos atos, programas, obras e serviços que não podem veicular nomes,
símbolos ou imagens de promoção pessoal. O caso também é de improbidade
administrativa.
r ; Em síntese: as enumerações caracterizadoras de abuso dé autoridade ou ecoriômicõ-
-eleitoral também podem sèr casos típicos de improbidade administrativa e as açõès civis
podem ser propostas, independentemente do mómentodo processo eleitoral. No entanto, •
•*j os efeitos do trânsito em julgado, nestas ações, repercutem na candidatura e no mandato

Se o Ministério Público, v.g., vislumbrar um caso de improbidade administrativa


eleitoral, poderá fazer uso de suas atribuições eleitorais para impugnar o registro
ou o mandato eletivo, mas também poderá, através do membro do P arqu et com
atribuições, propor a ação civil pública por improbidade (a competência não é
eleitoral).

95
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Formulamos um caso para reflexão.


Um candidato, após ter seu registro deferido, usou material gráfico da Câmara
Municipal, excedendo sua cota (art. 73, II, da Lei n2 9.504/97). Foi eleito, diplomado
e empossado no mandato de vereador. Não é mais possível propor a ação de
impugnação ao mandato eletivo, pois escoado o prazo legal de 15 dias contados
da diplomação. Este caso não inibe que o promotor de Justiça proponha a ação
civil pública por ato de improbidade eleitoral, cuja competência para processo e
julgamento não é da Justiça Eleitoral. Todavia, os efeitos do trânsito em julgado
podem acarretar a perda do mandato eletivo, na forma da Lei Maior.
0 caso apresenta uma improbidade administrativa tipicamente eleitoral que
acarretará a suspensão dos direitos políticos, após o prazo da ação de impugnação
ao mandato eletivo (não é inelegibilidade). Trata-se, portanto, de uma decisão de
competência não eleitoral, mas com reflexos eleitorais no mandato eletivo em curso
e pelo prazo de três a cinco anos (art. 11 da Lei n- 8.429/92).
Valiosas são as lições de Wallace Paiva Martins Júnior, in verbis:
Aextinção do mandato (renúncia, término etc.) não tolhe a possibilidade
da aplicação das demais sanções radicadas na Lei Federal n- 8.429/92,
nem mesmo a rejeição do processo político-administrativo, como deflui
do art. 21, II, da Lei Federal ne 8.429/92. Por fim, não há que se cogitar,
em razão da natureza jurídica diferenciada, da subordinação entre uma
ou outra instância. Nem mesmo a aposentadoria ou desligamento do
servidor público inibe a aplicação da Lei Federal n9 8.429/92.20
Relembramos, ainda, que os casos de improbidade possuem relação com
eventuais crimes contra a Administração Pública. Sobre esse tema, incide a aplicação
do art. 92 do Código Penal.
A responsabilidade penal aparecerá quando a conduta funcional consistir em
crime contra a Administração Pública, mais propriamente aqueles que resultam
de abuso de poder ou de violação de dever para com a Administração Pública. Na
legislação penal, mais propriamente no Código Penal, corresponderá aos crimes
definidos nos arts. 312 a 326.
Aponte-se que a sentença penal condenatória poderá produzir, como um dos
seus efeitos específicos, a perda do cargo público, na exata previsão constante do
art. 92, inciso I, alínea a, do Código Penal.
A apuração de cada uma das responsabilidades do servidor faz-se de forma
autônoma e independente, podendo haver, desse modo, cumulação de sanções, sem
que represente um bis in idem.
De outra parte, é imprescindível dizer que a decisão penal de cunho absolutório,
em determinadas hipóteses, produzirá repercussões nas demais instâncias.

20 JÚNIOR. Wallace Paiva Martins. Probidade Administrativa. Editora Saraiva, p. 294.

96
P erjda e S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

Assim, a decisão absolutória que afirma a inexistência do fato imputado ao


servidor [art. 3 8 6 ,1, do CPP) ou afasta expressamente sua condição de autor do fato
impedirá que a Administração Pública puna o servidor pelo mesmo fato decidido na
esfera penal.
Por fim, cabe deduzir a repercussão da decisão condenatória penal nos crimes
comuns (não funcionais) praticados pelo servidor, a qual, quando ensejar a aplicação
de pena privativa de liberdade superior a quatro anos, poderá acarretar o efeito
específico de perda do cargo, na forma do disposto no art. 92, inciso I, alínea b, do
Código Penal.
De certo que a matéria suscita um estudo jurídico mais aprofundado,
especialmente na relativa independência entre as instâncias (civil, eleitoral e penal).
Na Lei de Abuso de Autoridade, por exemplo, é prevista "perda do cargo e a
inabílitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três
anos".
0 STF decidiu:
A inabílitação para o exercício de função pública, decorrente da perda
do cargo de Presidente da República por crime de responsabilidade (CF,
art. 52, parágrafo único), compreende o exercício de cargo ou mandato
eletivo. Com esse entendimento, a turma manteve o acórdão da tese
que julgou procedente a impugnação do pedido de registro do ex-
Presidente Fernando Collor (Relator: Ministro Otávio Gallotti, decisão
l s setembro 1998 - Informativo STFns 121, setembro de 1998).
Com o entendimento do Egrégio Supremo Tribunal Federal, podemos
sustentar que a inabílitação é restrição de cunho não meramente administrativo,
mas de natureza política, e atinge o ius honorum , ou direito de ser votado
(capacidade eleitoral passiva). Trata-se de medida de natureza mista e multifária,
compreendendo o âmbito das restrições estatutárias de cunho administrativo e as
políticas pertinentes ao direito de ser votado.
Quanto à competência para processar e julgar os casos de improbidade
administrativa, destacamos as seguintes decisões jurisprudenciais, in verbis:
Decisão no Supremo Tribunal Federal sob re Im probidade Administrativa e
Prerrogativa de Foro.
O Tribunal concluiu julgamento de duas ações diretas ajuizadas pela
Associação Nacional dos Membros do Ministério Público - CONAMP e
pela Associação dos Magistrados Brasileiros - AMB para declarar, por
maioria, a inconstitucíonalidade dos §§ 1- e 2- do art. 84 do Código
de Processo Penal, inseridos pelo art. l e da Lei nfi 10.628/02 — ver
Informativo ns 362. Entendeu-se que o § l s do art. 84 do CPP, além de
ter feito interpretação autêntica da Carta Magna, o que seria reservado
à norma de hierarquia constitucional, usurpou a competência do STF
como guardião da Constituição Federal ao inverter a leitura por ele já

97
M a r c o s R am a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

feita de norma constitucional, o que, se admitido, implicaria submeter


a interpretação constitucional do Supremo ao referendo do legislador
ordinário. Considerando, ademais, que o § 2- do art. 84 do CPP veiculou
duas regras — a que estende, a ação de improbidade administrativa, a
competência especial por prerrogativa de função para inquérito e ação
penais e a que manda aplicar, em relação à mesma ação de improbidade,
a previsão do § 1- do citado artigo — concluiu-se que a primeira
resultaria na criação de nova hipótese de competência originária não
prevista no rol taxativo da Constituição Federal, e a segunda estaria
atingida por arrastamento. Ressaltou-se, ademais, que a ação de
improbidade administrativa é de natureza civil, conforme se depreende
do § 4 9 do a rt 37 da CF, e que o STF jamais entendeu ser competente
para o conhecimento de ações civis, por ato de ofício, ajuizadas contra
as autoridades para cujo processo penal o seria. Vencidos os Ministros
Eros Grau, Gilmar Mendes e Ellen Gracie que afastavam o vício formal,
ao fundamento de que o legislador pode atuar como intérprete da
Constituição, discordando de decisão do Supremo, exclusivamente
quando não se tratar de hipótese em que a Corte tenha decidido pela
inconstitucionalidade de uma lei, em face de vício formal ou material,
e que, afirmando a necessidade da manutenção da prerrogativa de foro
mesmo após cessado o exercício da função pública, a natureza penal da
ação de improbidade e a convivência impossível desta com uma ação
penal correspondente, por crime de responsabilidade, ajuizadas perante
instâncias judiciárias distintas, julgavam parcialmente procedente o
pedido formulado, para conferir aos artigos impugnados interpretação
conforme no sentido de que: a) o agente político, mesmo afastado da
função que atrai o foro por prerrogativa de função, deve ser processado
e julgado perante esse foro, se acusado criminalmente por fato ligado
ao exercício das funções inerentes ao cargo; b) o agente político não
responde a ação de improbidade administrativa se sujeito a crime de
responsabilidade pelo mesmo fato; c) os demais agentes públicos,
em relação aos quais a improbidade não consubstancie crime de
responsabilidade, respondem à ação de improbidade no foro definido
por prerrogativa de função, desde que a ação de improbidade tenha por
objeto ato funcional. AP1-2797/PF e API-2860/PE rei. Min, Sepúlveda,
Pertence. 15/9/2005. (AD1-2797) (ADi-2860).
Ementa: Reclamação. Usurpação da competência do Supremo Tribunal
Federal Improbidade administrativa. Crime de Responsabilidade.
Agentes políticos. I. Preliminares. Questões de ordem. Ll. Questão de
ordem quanto à manutenção da competência da Corte que justificou, no
primeiro momento do julgamento, o conhecimento da reclamação, diante
do fato novo da cessação do exercício da função pública pelo interessado.
Ministro de Estado que posteriormente assumiu cargo de Chefe de Missão
Diplomática Permanente do Brasil perante a Organização das Nações
Unidas. Manutenção da prerrogativa de foro perante o STF, conforme o
P e r d a £ S u spen sã o
dos D ir e it o s P o l ít ic o s C apítulo 3

art. 1 0 2 ,1, "c", da Constituição. Questão de ordem rejeitada. 1.2. Questão


de ordem quanto ao sobrestamento do julgamento até que seja possível
realizá-lo em conjunto com outros processos sobre o mesmo tema, com
participação de todos os Ministros que integram o Tribunal, tendo em
vista a possibilidade de que o pronunciamento da Corte não reflita o
entendimento de seus atuais membros, dentre os quais quatro não têm
direito a voto, pois seus antecessores já se pronunciaram. Julgamento que
já se estende por cinco anos. Celeridade processual Existência de outro
processo com matéria idêntica na seqüência da pauta de julgamentos
do dia. Inutilidade do sobrestamento. Questão de ordem rejeitada.
II. Mérito. II.l. Improbidade administrativa. Crimes de responsabilidade.
Os atos de improbidade administrativa são tipificados como crime
de responsabilidade na Lei n5 1.079/1950, delito de caráter político-
administrativo. II.2. Distinção entre os regimes de responsabilização
político-administrativa. O sistema constitucional brasileiro distingue
o regime de responsabilidade dos agentes políticos dos demais agentes
públicos. A Constituição não admite a concorrência entre dois regimes
de responsabilidade político-administrativa para os agentes políticos: o
previsto no art. 37, § 4- (regulado pela Lei na 8.429/1992) e o regime
fixado no art. 102, I, "c", (disciplinado pela Lei ne 1.079/1950). Se a
competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37,
§ 4 9) pudesse abranger também atos praticados pelos agentes políticos,
submetidos a regime de responsabilidade especial, ter-se-ia uma
interpretação ab-rogante do disposto no art. 1 0 2 ,1, "c”, da Constituição.
11.3. Regime especial. Ministros de Estado. Os Ministros de Estado, por
estarem regidos por normas especiais de responsabilidade (CF, art. 102,
I, "c”; Lei n~ 1.079/1950), não se submetem ao modelo de competência
previsto no regime comum da Lei de Improbidade Administrativa (Lei
ns 8.429/1992). II.4. Crimes de responsabilidade. Competência do
Supremo Tribunal Federal. Compete exclusivamente ao Supremo Tribunal
Federal processar e julgar os delitos político-administrativos, na hipótese
do art. 102, I, "cM , da Constituição. Somente o STF pode processar e
julgar Ministro de Estado no caso de crime de responsabilidade e, assim,
eventualmente, determinar a perda do cargo ou a suspensão de direitos
políticos. 11.5, Ação de improbidade administrativa. Ministro de Estado que
teve decretada a suspensão de seus direitos políticos pelo prazo de 8 anos
e a perda da função pública por sentença do Juízo da 14a Vara da Justiça
Federal - Seção Judiciária do Distrito Federal. Incompetência dos juízos
de primeira instância para processar e julgar ação civil de improbidade
administrativa ajuizada contra agente político que possui prerrogativa de
foro perante o Supremo Tribunal Federal, por crime de responsabilidade,
conforme o art. 102, I, "c", da Constituição. III. Reclamação julgada
procedente. (STF, Rcl. 2138 / DF - Distrito Federal, Rei.: Min. Nelson
Jobim, Rei. p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes (ART 38, IV, b, DO RISTF),
Julgamento: 13.06.2007, Órgão Julgador: Tribunal Pleno).

ao

j Menores de 16 anos i
........................................... ................................

I Enfermidade ou defi- jj
X,
|'■• r<';> v i'^ ^ ;: !í .,JiV i'v ^ í'; ‘j í ;^ 1 ’ ty* r^ v íi^ V , ^ " ' í V ^ Í ? £ V :^ } \ciência mental

Os que não podem


| exprimir sua vontade

S ^ ó í^ è rtá ^ â ^ c rim i na 1;5" Crime culposo ou doloso |


...t z i r z z z i j
>*| Contravenção pena! i

-* j Lei ns 8.429/92 i

Cancelamento da
naturalização por
sentença transitada
em julgado

Marcos Ramayana ■ D ireito Eleitoral 10 a Edição • Capftulo 3 - Perda e Suspensão dos Direitos Políticos
C apítulo 4

O rg an ização da
J u st iç a E leito ral

A justiça Eleitoral possui sua destinação diretamente vinculada à garantia dos


direitos de votar e de ser votado, assegurando o pleno exercício da cidadania em
sua diversas manifestações.
Eleitores, candidatos e partidos políticos fazem parte da engrenagem
dinâmica da cidadania, tendo o Ministério Público Eleitoral a árdua tarefa de
fiscalizar o processo eleitoral lato sensu, ainda que suas atribuições não estejam
minudentemente regulamentadas no âmbito da vasta normatividade positiva de
natureza subconstitucional, mas emergem de uma visão enciclopédica da posição
institucional, diante do preceituado no capu t do art. 127 da Constituição Federal.
Não quer isto dizer, entretanto, que a sociedade, manifestada em suas mais
variadas formas de organicidade, inclusive o principal personagem que é o eleitor,
abstenha-se de fiscalizar, p a ri passu, as vicissitudes eleiçoeiras que possam abalar
o processo democrático, pois, como relembra o eminente professor da Faculdade
de Direito de Coimbra, José Joaquim Gomes Canotilho, existem, como garantia do
direito fundamental, o statu s activus processualis e o status interactivus socialis,
sendo o primeiro ligado à necessidade de as leis e normas dinamizarem maiores
dimensões particípatórias de cunho procedimental, e o segundo, vinculado a uma
dinamização, por parte do legislador, por exemplo, de leis eleitorais que assegurem
igualdade de oportunidades.1
Cumpre, portanto, à Justiça Eleitoral a nobre missão de resguardar a democracia
e o Estado Democrático, nos moldes do disposto no art. 1- e incisos da Constituição
Federal, efetivando, praticamente, a soberania popular, a cidadania e o pluralismo
político como princípios fundamentais trilhados pelo legislador-constituinte.
O art. 118 da Constituição Federal disciplina os órgãos da Justiça Eleitoral.
0 Tribunal Superior Eleitoral é composto de sete juizes: três ministros do
Supremo Tribunal Federal, dois ministros do Superior Tribunal de Justiça e dois
advogados nomeados pelo Presidente da República em lista tríplice (duas listas)
dentre seis advogados indicados pelo Supremo Tribunal Federal.

1 Direito Constitucional, 6a edição, Coimbra, Livraria Almedina,1993, p. 639.


M a r c o s R am a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Algumas observações: a) o STF organiza a lista tríplice para indicação dos


advogados seguindo as regras regimentais; b) os advogados devem ser considerados
de notável saber jurídico e idoneidade moral, possuindo, portanto, esses dois
requisitos; c) os futuros presidente e vice-presidente do TSE são dois ministros do
STF; d) o corregedor eleitoral é um ministro do ST); e) os mandatos duram dois anos,
mas nunca por mais de dois biênios consecutivos; f) os dois anos contam da data de
posse; g) a antiguidade no Tribunal segue a data da posse, a nomeação ou eleição e
a idade; h) o Tribunal funciona em sessão pública, com a presença mínima de quatro
de seus membros; i) não podem fazer parte do Tribunal pessoas que tenham entre
si parentesco, ainda que, por afinidade, até o quarto grau; j) no conhecimento dos
feitos, observa-se a seguinte ordem: h a b e a s corpus originários e recursos de suas
denegações; mandados de segurança originários e recursos de suas denegações;
recursos e outras matérias; k) os juizes efetivos tomarão posse perante o Tribunal e,
os substitutos, perante o presidente; 1) o Tribunal Superior Eleitoral faz a apuração
geral das eleições para Presidente e Vice-presidente da República, pelos resultados
de cada circunscrição eleitoral, verificados pelos respectivos Tribunais Regionais
Eleitorais; m) na sessão imediatamente anterior à data da eleição, o presidente
do Tribunal sorteará, dentre os seus juizes, o relator de cada um dos seguintes
grupos, ao qual serão distribuídos todos os recursos e documentos da eleição nas
respectivas circunscrições, por exemplo, Amazonas, Alagoas e São Paulo (GRUPO 1),
Rio de janeiro, Paraná, Pará e Piauí (GRUPO 4).
Roborando o assunto, algumas observações s o b r e o s Tribunais Regionais
Eleitorais:
I. haverá um TRE na capital de cada Estado e um TRE no Distrito Federal;
II. a composição é, em suma, a seguinte (a rt 120 da Constituição Federal): a) dois
juizes dentre os desembargadores do Tribunal de justiça, que são escolhidos
por e le iç ã o e voto se c r e to ; b) dois juizes dentre os juizes de direito, escolhidos
pelo Tribunal de Justiça; c) um juiz do Tribunal Regional Federal; d) dois juizes
da classe dos advogados, que são nomeados pelo Presidente da República e
escolhidos numa lista tríplice, elaborada pelo Tribunal de justiça, devendo
possuir, igualmente, notável saber jurídico e idoneidade moral;
III.as escolhas por eleição são fiéis à letra da Constituição Federal e regimento
interno, bem como às respectivas leis de organização judiciária locais, e o
Tribunal Regional Federal também segue as normas de cunho regimental;
IV. frise-se mais: 1) o presidente e o vice-presidente são os desembargadores
escolhidos em eleição interna; 2) o Corregedor Regional Eleitoral é escolhido,
por eleição, na forma regimental; 3) os juizes dos TREs servem por um biênio,
no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos
escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada
categoria; 4) compete privativamente ao TRE dividir a respectiva circunscrição
eleitoral em zonas eleitorais, submetendo essa divisão, assim como a criação de

104
O r g a n iz a ç ã o d a J u s t iç a E l e it o r a l C apítulo 4

novas Zonas Eleitorais por desmembramento, à aprovação final pelo Tribunal


Superior Eleitoral; 5) compete, outrossim, ao TRE constituir as Juntas Eleitorais
e designar as respectivas sedes e jurisdições dentre várias outras competências
que seguem regramento normativo, ex rad ice dos regimentos internos;
V. os juizes eleitorais são obrigatoriamente magistrados de carreira, designados pelos
TREs para presidir as zonas eleitorais.
No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a Resolução n9 561, de 28 de abril
de 2003, do Tribunal Regional Eleitoral disciplina o sistema de investidura a
termo nas Zonas Eleitorais, estabelecendo regras para o provimento de juizes
estaduais para acumularem as funções de juizes eleitorais, tratando a referida
norma, dentre outras questões atinentes à investidura, especificamente do
seguinte: a) o exercício da jurisdição é privativo dos juizes de Direito do Estado;
b) a temporariedade na investidura; c) o prazo de dois anos no exercício da função,
sendo possível a recondução por igual período; d) a contagem ininterrupta dos
biênios, independentemente de qualquer espécie de afastamento; e) a possibilidade
da investidura está afeta à condição de o juiz de Direito ser titular da comarca e,
excepcionalmente, com competência nas Regiões Judiciárias; f) preserva-se, durante
o biênio da investidura, a garantia da inamovibilidade pela forma e condições
disciplinadas pela Lei Orgânica da Magistratura Nacional, Código Eleitoral e,
principalmente, a Constituição Federal; g) trata da substituição nas férias e licenças,
sendo de competência do presidente do TRE a designação, a d referendum do Pleno,
observando-se critérios de antiguidade; h) trata de uma hipótese de vacância
quando o juiz perde a titularidade do órgão judiciário estadual; i) inadmite permuta
e remoção, além de disciplinar regras claras e precisas sobre os juizes eleitorais.
Tenha-se presente que o Código Eleitoral foi recepcionado, ao menos em parte, em
razão do disposto no art. 121 da Constituição Federal (TSE - RJTSE 05/365] como lei
de natureza complementar, e sobre designação de juizes eleitorais os TREs possuem
ampla discricionariedade regulamentar - art. 32 do Código Eleitoral inclusive para
designar juizes eleitorais para a propaganda eleitoral por meio de imprensa escrita,
rádio, televisão, ruas e logradouros públicos, seja nas eleições municipais, quando a
circunscrição abranger mais de uma zona eleitoral, seja na formação de comissões, onde
os magistrados funcionem como auxiliares do Pleno do TRE, procedendo à fiscalização e
coordenação em matéria de propaganda eleitoral, bem como na prestação de contas dos
candidatos. Todavia, essas designações ensejam manifestações doutrinárias contrárias,
pois é de real valor a alegação de que somente por lei complementar poder-se-ia criar
outro grau de jurisdição, na medida em que essas delegações de competências por
designações formam um grau intermediário no curso legal das demandas eleitorais,
inclusive com recursos e outras medidas judiciais.
Em nosso pensar, entendemos que inexiste inconstitucionalidade na formação
de comissões e designações de juizes auxiliares para a fiscalização e coordenação
da propaganda eleitoral e para exame da prestação de contas, mas merece maior

105
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

atenção dos estudiosos da matéria que a possibilidade de interposição de recursos


das decisões das comissões em nível colegiado ou monocrático para os TREs, nas
eleições do tipo nacionais e estaduais, implique a legiferação e alteração de regras
de natureza constitucional, v.g., se um juiz auxiliar denegar mandado de segurança
ou h a b e a s corpus e serem estas medidas judiciais de natureza constitucional
ajuizadas novamente para o presidente do TRE que, denegando-as, criaria um grau
intermediário na apreciação da questão, pois já caberia diretamente ajuizamento
das medidas no TSE, gerando eventuais prejuízos aos demandantes (art, 121, § 4 9 ,
inciso V, da Constituição da República Federativa do Brasil). O TSE já se pronunciou
sobre a legalidade das comissões.
As zonas eleitorais são consideradas como uma ideal parte territorial, cuja
divisão é fomentada por critérios legais, tendo ampla jurisdição nos limites que
foram predeterminados e sendo integrante da circunscrição judiciária eleitoral.
Para cada zona eleitoral, haverá necessidade de investidura de um juiz eleitoral,
sendo que a competência fica circunscrita ao local onde ocorreu o fato, ressalvando-
se as questões que envolvam prerrogativas de função e aquelas atinentes ao
ajuizamento de medidas judiciais disciplinadas em lei.
Algumas observações: a) não podem servir como escrivão eleitoral membros
de diretórios de partido político, candidatos, cônjuges e parentes consanguíneos e
afins até o segundo grau dos juizes eleitorais daquela zona eleitoral, onde exerçam
jurisdição eleitoral; b) cabe aos juizes dividirem as zonas eleitorais em seções
eleitorais; c) designar, em até 60 dias antes da eleição, os locais das seções, além de
outras competências previstas geralmente nos regimentos internos dos TREs.
A seção eleitoral é uma subdivisão territorial da zona eleitoral, para fins de
votação e até apuração dos votos, sendo o local destinado ao efetivo exercício do
sufrágio, ao qual o eleitor previamente alistado está vinculado ao ius suffraggL
As Juntas Eleitorais são compostas de um juiz de Direito, que exerce a função de
presidente da Junta Eleitoral, e dois ou quatro membros (juizes de fato) titulares e
dois suplentes que se fizerem necessários.
São as Juntas Eleitorais órgãos não monocráticos, que se situam hierarquica­
mente na mesma posição do juiz de direito que é, na verdade, o presidente da Junta.
O voto, portanto, do juiz presidente terá o mesmo valor do voto do juiz leigo, tendo
a Junta Eleitoral competências fixadas na legislação eleitoral.
Ao presidente da Junta Eleitoral caberá:
a) fiscalizar, coordenar e orientar os trabalhos de escrutinação realizados;
b) nomear um secretário-geral e, na medida em que ocorrer o desdobramento da
Junta em Turmas Apuradoras, deverá nomear um secretário para cada uma das
Turmas, escolhidos dentre os escrutinadores.
O secretário - geral deverá:

106
O r g a n iz a ç ã o d a J u s t iç a E l e it o r a l C apítulo 4

a) lavrar as atas, assinar boletins e urnas, providenciar o controle sobre o real


comparecimento dos escrutinadores, pois é comum ocorrerem faltas injusti­
ficadas ou justificadas;
b) providenciar as assinaturas dos fiscais e representantes dos comitês interpar-
tidários nos respectivos boletins de urnas, separando e orientando a melhor
forma de encaminhar os boletins para a digitação, além de ficar responsável pela
entrega da via dos boletins de urnas ao representante do comitê interpartidário,
afixando, ainda, em quadro, parede ou local de livre disponibilidade visual, uma
via dos boletins de urnas para conhecimento amplo dos interessados, sejam
candidatos, fiscais e pessoas diversas, bem como da imprensa;
c) providenciar o credenciamento dos representantes da imprensa, partidos políticos,
fiscais, autoridades e candidatos, além de outras atribuições ligadas à otimização dos
serviços eleitorais e da fase apuratória do processo eleitoral.
Os escrutinadores devem:
a) efetivar a contagem dos votos atribuídos aos candidatos e legendas partidárias,
mas, antes de tudo, devem separar os votos nulos e em branco para agilizar o
processo de escrutinação, tendo cuidado para, de pronto, colocar o carimbo EM
BRANCO e NULO nesses tipos de voto, pois tal medida evita tentativas de fraudes
eleitorais com o preenchimento, v.g., do voto por integrante da escrutinação ou
terceiros;
b) e, antes de iniciarem o trabalho de contagem de votos, contar se o total de votos
corresponde ao número de votantes daquela seção eleitoral, pois uma substancial
discrepância entre o número de votos e o número de votantes enseja motivo para
impugnação e, consequentemente, anulação dos votos, mas cada caso deverá
m erecer uma análise, evitando-se a decretação de nulidade em hipótese que
possa aproveitar a vontade dos eleitores, diante do princípio do aproveitamento
do voto e do sufrágio.
Cada Turma Apuradora deverá ter um secretário, que terá as funções de:
a) somar os votos e preencher as colunas de fechamento dos boletins de urna;
b) seguir as orientações e as regras de supervisão estipuladas pelo presidente da
Turma; c) ficar responsável pelo preenchimento dos boletins de urna, pois a prática
está a demonstrar que a delegação de função a mais de um escrutinador poderá
ser altamente prejudicial, em razão da parcial ausência de controle quanto aos
mecanismos de fraude eleitoral, na alteração dos resultados dos boletins de urnas,
que podem ser manipulados, daí a importância legal de preencherem-se os boletins
de urna com caneta esferográfica vermelha, evitando-se rasuras que podem indicar
uma tentativa de fraude ou simples erro material.
Caberá aos escrutinadores conferir os m ateriais destinados ao processo de
escrutinação, v.g., canetas, carimbos, envelopes, listas de candidatos. Cai a lanço
notar que é fundamental que o escrutinador tenha se familiarizado com a listagem
dos candidatos, ao menos dos mais votados, pois isso agiliza o processo de apuração
dos votos.

107
M arcos R am ayana D ir e i t o E l e it o r a l

Se o escrutinador, por exemplo, o vogal, sabe o número do candidato XWSZ, deve


esse número ser de conhecimento amplo de toda a Turma, evitando-se a fraude
na indicação de número diverso. Nesse ponto, os fiscais devem estar atentos,
colaborando com os trabalhos de apuração.
Sobre impugnações, recursos e tipos de votos veremos mais adiante, mas cumpre
observar a regra do art. 160 do Código Eleitoral, pois, em razão do número de urnas
a apurar, a Junta poderá subdividir-se em Turmas, até o limite de cinco, sendo todas
presididas por algum de seus componentes.
Em razão de prática costumeira, os juizes eleitorais, substitutos ou titulares de
zonas eleitorais, indicam ao presidente do TRE os nomes dos escrutinadores, em
sessão do Pleno do TRE, que aprova os respectivos nomes. Qualquer impugnação
quanto aos integrantes da Junta Eleitoral deve ser ajuizada no TRE, tendo
legitimidade ativa o Ministério Público Eleitoral, candidatos, partidos políticos,
sendo o prazo de três dias. Essas impugnações devem ser dirigidas ao presidente
do TRE, cabendo recurso inominado para o Pleno do TRE.
Dentre outros impedimentos para exercer a função de escrutinador, são elencados
os seguintes: a) candidatos, parentes de candidatos, ainda que por afinidade até o
segundo grau, e cônjuge; b) membros de diretórios de partidos políticos; c) agentes
policiais; d) funcionários públicos no exercício de funções e cargos de confiança;
e) filiados a partidos políticos; f) pessoas que estejam suspensas dos direitos
políticos, inelegíveis e com a perda dos direitos políticos decretada; g) menores de
21 anos; e h) outras hipóteses.
Nessa questão, a lei é lacônica, deixando ampla margem de possibilidade
à nom eação de pessoas que possam, direta ou indiretam ente, te r influência
na manipulação e escrutinação ilícita dos votos; portanto, uma das m elhores
formas de com bate à fraude eleitoral deveria ser a reform ulação e ampliação
das hipóteses de impedimento da nobre função de escrutinador (juiz de fato) da
Junta Eleitoral, p a r i p assu dos jurados que formam o Conselho de Sentença no
Tribunal do Júri.
Compete às Juntas Eleitorais, primordialmente: a) resolver as impugnações e
os incidentes durante o processo de apuração de votos, dirimindo as questões por
maioria de votos; b) apurar as eleições no prazo de dez dias (art. 40 do CE); c) deve
expedir os boletins de urnas e o diploma dos candidatos eleitos, na última hipótese,
somente nas eleições municipais, pois ao TRE compete a expedição de diplomas nas
eleições para governador, senador, deputado federal, estadual e distrital, e ao TSE,
para as eleições de Presidente e Vice-presidente da República.
Pontos fundamentais:
1) Os órgãos da Justiça Eleitoral são: Tribunal Superior Eleitoral, Tribunais
Regionais Eleitorais, juizes eleitorais e juntas eleitorais.

108
O r g a n iz a ç ã o d a J u s t iç a E l e it o r a l C apítulo 4

2) As zonas eleitorais são divisões de ruas e avenidas, inclusive de parte de


circunscríções (espaço geográfico do município) para fins de organização do
eleitorado. Uma zona eleitoral poderá abranger um único município; e poderá
existir uma zona que abranja dois municípios.
3) As zonas eleitorais não exercem jurisdição eleitoral, pois não são órgãos da
Justiça Eleitoral.
4) A Junta Eleitoral é um órgão eclético, misto e colegiado, sendo formada por três
ou cinco integrantes, o seu presidente é um juiz de direito e mais dois ou quatro
cidadãos de notória idoneidade (art. 36 do Código Eleitoral).
5) O juiz de direito que for presidente da Junta Eleitoral poderá nomear cidadãos
de notória idoneidade como escrutinadores e auxiliares. Todavia, compete ao
Tribunal Regional Eleitoral constituir as juntas eleitorais e ao presidente do TRE
nomear os membros (cidadãos de idoneidade moral) indicados pelo juiz eleitoral
(arts. 30, V, e 38 do Código Eleitoral).
6) A Junta Eleitoral tem uma competência especial, ou seja, expedir o diploma aos
eleitos para prefeito, vice-prefeito e vereador (art. 40, IV, do Código Eleitoral).
7) O art. 64 da Lei n9 9.504/97 veda que os integrantes de uma mesma Junta
Eleitoral sejam parentes. O impedimento atinge qualquer grau.
8) 0 art. 37 do Código Eleitoral permite que o Tribunal Regional Eleitoral constitua
Juntas Eleitorais sem juizes titulares de zonas eleitorais, pois a regra é que para
cada zona exista uma junta; no entanto, é possível existir uma junta eleitoral
presidida por juiz eleitoral temporário, designado somente para a votação,
apuração e diplomação.
9) As seções eleitorais são locais de votação (arts. 117 e 135 do Código Eleitoral), sendo
que para cada seção haverá uma urna eletrônica, mas a lei permite duas cabines por
seção (duas urnas). Uma zona eleitoral possui diversas seções eleitorais.
Objetivamente, podemos resumir a composição da Justiça Eleitoral da seguinte
forma:

4.1. TRIBUNAL SU PERIO R ELEITORAL


(CF, arts. 1 1 8 ,1; 119; CE, art. 16.)
Composição:
- 3 Ministros do STF - Presidente e Vice-Presidente
- 2 Ministros do STJ - Um será o Corregedor Eleitoral
- 2 advogados (classe dos juristas) (Indicados pelo STF e nomeados pelo Presidente
da República)
Observação: Cabe ao Supremo Tribunal Federal eleger os 3 Ministros do TSE, bem
como realizar a organização das listas da classe dos juristas, conforme dispõe o seu
próprio regimento interno.

109
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

4.2. TRIBUNAIS REGIONAIS ELEITORAIS


(CF, arts. 118, II; 120; CE, art. 25.)
Composição:
- 2 desembargadores dos Tribunais de Justiça ~ Presidente e Vice-Presidente.
- 2 juizes estaduais escolhidos pelo Tribunal de Justiça (a escolha segue o
regimento interno e a Resolução-TSE n9 20.958/ 2001).
- 1 juiz federal escolhido pelo Tribunal Regional Federal (a escolha segue o
regimento interno do TRF e a Resolução-TSE n9 20.958/ 2001).
- 2 advogados (classe dos juristas). A indicação deveria ser feita pela OAB,
Conselho Regional ou Seccional. No entanto, os Tribunais de Justiça elaboram
uma lista tríplice (Res.-TSE ns 20.958/ 2001, art. 12) que é encaminhada ao
Tribunal Superior Eleitoral, através dos Tribunais Regionais Eleitorais, e, após
análise pelo TSE, é submetida ao Presidente da República para nomeação de um
dentre os três nomes indicados pelo Tribunal de Justiça.
Atenção: No Brasil existem 27 Tribunais Regionais Eleitorais (um era cada Estado
da Federação e um no Distrito Federal). A competência da Justiça Eleitoral
envolve questões compreendidas nas fases do alistamento, convenções, registro
de candidaturas, propaganda política eleitoral e partidária, votação, apuração e
diplomação dos candidatos, além de competir e fiscalizar a prestação de contas
anuais dos Partidos Políticos.
A função de Corregedor Regional nos Tribunais Regionais Eleitorais pode ser
acumulada pelo Vice-Presidente, que é um desembargador, e regimentalmente
pode recair em qualquer outro membro integrante do Tribunal, No Estado do Rio de
Janeiro a tradição é que a escolha incida sobre um dos juizes estaduais do Tribunal
de Justiça.
É importante frisar que, segundo prevê o art. l s da Res.-TSE n s 20.958/ 2001
(nesta edição), “Os juizes dos tribunais eleitorais, efetivos ou substitutos, servirão
obrigatoriamente por dois anos e, facultativamente, por mais um biênio"

4 .3. JU ÍZ E S ELEITORAIS
(CF, art. 118, III; CE, art. 32.)
Os juizes eleitorais são investidos temporariamente nas respectivas zonas eleitorais
(divisão Territorial dentro dos Estados que compreendem ruas e avenidas para
fins de alistamento eleitoral). Segundo dispõe o art, 37, parágrafo único, do Código
Eleitoral, o Presidente dos Tribunais Regionais Eleitorais pode designar juizes de
direito, exclusivamente, para presidir Juntas Eleitorais e, neste caso, não são os juizes
titulares das zonas eleitorais que já presidem as Juntas referentes às correspectivas
zonas eleitorais, ou seja, pode haver uma zona eleitoral que tenha uma ou mais
juntas eleitorais presididas por outros juizes designados somente para o período
da votação e apuração dos votos.

110
O r g a n iz a ç ã o d a J u s t i ç a E l e it o r a l C apítulo 4

Atenção: Os juizes eleitorais investidos temporariamente nas zonas eleitorais são


de primeira instância ou grau de jurisdição. Das decisões dos juizes caberá recurso
para o Tribunal Regional Eleitoral. Os juizes eleitorais servem por um biênio e,
nas comarcas do interior dos Estados, podem ser reconduzidos, considerando as
peculiaridades do juízo único, segundo a lei de organização judiciária local.
No Estado do Rio de Janeiro existem 2 4 8 (duzentos e quarenta e oito) zonas
eleitorais, sendo 97 (noventa e sete) na Capital e 151 (cento e cinqüenta e uma) no
interior (abrangendo a Baixada Fluminense e comarcas do interior).

4.4. JUNTAS ELEITORAIS


(CF, art. 118, IV; CE, art. 36.)
Composição:
- 1 juiz de direito (Presidente da Junta Eleitoral). Pode ou não ser titular da zona
eleitoral.
~ 2 ou 4 cidadãos de notória idoneidade. Nomeados pelo Presidente do Tribunal
Regional Eleitoral e indicados pelo juiz eleitoral. Os impedimentos estão
no art. 36, § 3 9, do Código Eleitoral e 64 da Lei n9 9.504/97. Para cada zona
eleitoral existe uma junta eleitoral, mas pode haver mais de uma, dependendo da
hipótese local, segundo análise do universo de eleitores de uma região, distrito
ou município.
Atenção: Nas eleições municipais compete à Junta Eleitoral expedir os diplomas aos
eleitos por intermédio do juiz eleitoral mais antigo, quando houver mais de uma
junta eleitoral (art. 40 e parágrafo único do Código Eleitoral).

Registre-se ainda, por oportuno, que o leitor deve consultar as Resoluções do


Tribunal Superior Eleitoral nss 19.994/ 97; 20.958/01 e 21.009/02, que tratam da
organização das zonas eleitorais e da investidura temporária dos juizes eleitorais.

111
O
rganização
3 ministros do STF, sendo que um será I
o Presidente do TSE e o outro |
Vice-Presidente do TSE.
2 ministros do STJ, sendo um deles o No Brasil temos 27 TREs, um para cada

da
estado e o Distrito Federal.

J ustíça
Corregedor
2 advogados
total = 7 membros

E leitoral
I • 1 juiz de direito j
-*■) * 2 ou 4 cidadãos dej
I Idoneidade Moral

constituída 60 dias
Eleitoral antes da eleição
2 desembargadores do Tribunal de |
Justiça. Um deles é o presidente e o;
outro Vice-Presidente j
2 juizes estaduais j
1 juíz federal ,z e s i |citp
2 advogados I investido temporariamente na;
total = 7 membros j zona eleitoral, é um juiz de
direito estadual !
C
a pítulo

Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10a Edíçâo • Capítulo 4 - Organização da justiça Eleitoral
4
C apítulo 5

J u stiça E leito r a l.
C o m petên cia

Diversas competências estão afetas à Justiça Eleitoral: questões de natureza


administrativa, v.g., organização administrativa das zonas eleitorais, tais como
locais destinados à votação, apuração, funcionários e o próprio alistamento
eleitoral de natureza declaratória administrativa; questões atinentes ao poder
regulamentar, pois o Poder Legislativo, ao editar as leis em matéria eleitoral,
deixa sempre uma substanciosa margem de complementariedade afeta ao poder
regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral.

5.1. PODER REGULAMENTAR DO TRIBUNAL SU PERIO R


ELEITORAL
Esse poder regulamentar exteriorizado pelo Egrégio Tribunal Superior
Eleitoral é uma m arcante característica da legislação eleitoral vigente. 0 poder
regulamentar está disciplinado nos arts. 23, inciso IX, que trata da expedição de
instruções convenientes à execução do Código Eleitoral, bem como da legislação
eleitoral lato sensu, e art. l s, parágrafo único, ambos do Código Eleitoral, e nas
respectivas leis específicas que disciplinam as eleições, v.g., art. 105 da Lei
na 9.504/97.
Saliente-se, ainda, que a própria Lei ne 9.504/ 97, em seu art. 105, fixa prazo
para que o Tribunal Superior Eleitoral expeça as resoluções necessárias à
executoriedade da lei, onde são "ouvidos" previamente, em audiência pública, os
delegados dos partidos participantes do pleito eleitoral vindouro.
Formalmente, o poder regulamentar, em matéria eleitoral, processa-se através
de resoluções e instruções sobre propaganda eleitoral, votação, apuração, registro
de candidatos, calendários eleitorais e outras.
Sobre essa matéria, impende observar que o poder regulamentar deve situar-se
secundum e p r a e t e r legem , sob pena de invalidação e, em atendimento ao disposto
no art. 5e, inciso II, da Constituição Federal, pois “ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".
M a r c o s R am a ya n a D i r je it o E l e it o r a l

É cabível, portanto, um controle pelos partidos políticos e Ministério Público,


quando se detectar uma extensão demasiada na regulamentação da matéria, axio-
mada a regulamentação contra leg em ; além de ser viável o ajuizamento do mandado
de injunção (art. 5-, LXXI) nas hipóteses de inércia do órgão regulamentador, ou
seja, na ausência de norma regulamentadora sobre determinada m atéria eleitoral.
Saliente-se, ainda, que é cabível o mandado de segurança, se determinada
resolução, v.g., atingir efeitos concretos.
Todavia, cumpre observar que as com petências do TSE, no que diz respeito ao
reexame de decisões administrativas dos TREs, restringem -se àquelas que tenham
características jurisdicionaís de fundo eleitoral, como no caso dos plebiscitos. Para
que se determine tal competência, a m atéria deve ser atinente à adm inistração das
eleições, que não se confunde com a administração da própria máquina judiciária
eleitoral (Acórdão ne 12.693 - 2.9.1 9 9 6 - Recurso Especial Eleitoral n- 12.693 -
Brasília - DF, Publicado DJ de 11.9.1996, p. 3 2 .8 1 8 ).
A competência da Justiça Eleitoral está cingida dentro das fases elencadas pela
doutrina. A doutrina m ajoritária entende que à Justiça Eleitoral compete processar
e julgar causas que estejam compreendidas entre o alistamento e a diplomação dos
candidatos eleitos, e, por força de ação de natureza constitucional, que é a ação
de impugnação ao mandato eletivo (art. 14, § 10), ainda possui competência para
decidir essas ações que são ajuizadas no prazo decadencial de 15 dias, contados
da diplomação. Fora desse prazo legal, não haverá mais competência da Justiça
Eleitoral, devendo as questões serem dirimidas pela Justiça Comum.
A recente Lei ne 12.034/ 2009 introduziu substancial reforma na disciplina
envolvendo o poder normativo do C. TSE. Disciplina o novo texto legal:

A rtrlOS;.Até o dra 5-de março do ano da efeiçãoro-Tribunal Sttpertor


fifeitoral expedirá tod-as-as-mstm -çõe s ne-eessárias à execttção-desta Lei;
euvtdos-previamentej-em-audtêiteia-pábHcaros delegadeg-dere-partrd&s-
r. (texto revogado).

Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior


Eleitoral, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos
ou estabelecer sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá
expedir todas as instruções necessárias para sua fiel execução, ouvidos,
previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes dos
partidos políticos. (Redação dada pela Lei n3 12.034, de 2009).
§ l e O Tribunal Superior Eleitoral publicará o código orçamentário para
o recolhimento das multas eleitorais ao Fundo Partidário, mediante
documento de arrecadação correspondente.
§ 2 e Havendo substituição da UFIR por outro índice oficial, o Tribunal
Superior Eleitoral procederá à alteração dos valores estabelecidos nesta
Lei pelo novo índice.

116
J u s t iç a E l e it o r a l C o m p e t ê n c ia C apítulo 5

§ 3oSerão aplicáveis ao pleito eleitoral imediatamente seguinte apenas


as resoluções publicadas até a data referida no caput. (Incluído pela Lei
ne 12.034, de 2009).

Verifica-se que a nova redação do art. 105 da Lei ns 9.504/97 confirmou que o
poder regulamentar exercido pela Justiça Eleitoral limíta-se secundum legis. Desta
forma, não seria possível a criação de regras que fossem contra legem .
No entanto, é perceptível que a evolução normativa da legislação eleitoral
decorre, efetivamente, do aprimoramento de matérias contidas dentro do poder de
regulamentação eleitoral. A Lei n9 12.034/ 09 acrescentou parágrafos ao art. 37 à
Lei n2 9.504/97, que, no fundo, possuem a gênese baseada em normas contidas em
resoluções do TSE. Como exemplo, o § 4 9 do art. 37 considera bens de uso comum
aqueles em que a população em geral tem acesso, do tipo clubes, lojas, cinemas etc.,
que já correspondiam à disciplina normativa do C. TSE.
A redação do atual art. 105 revela um retrocesso à evolução da legislação
eleitoral, pois é inegável que a demora do legislador em produzir uma reforma
eleitoral e partidária conduzem ao cenário de vazios normativos intransponíveis,
que demandam uma atuação pioneira do poder normativo do TSE no sentido
primacial de m elhor conduzir os postulados fundamentais que servem de rumo
seguro ao nosso sistem a jurídico eleitoral.
Até os dias atuais, o legislador não tratou da lei que regulamenta a ação de
impugnação ao mandato eletivo, prevista no art. 14, §§ 10 e 11 da CRFB/88, ou seja,
a omissão legiferante, neste exemplo, dentre outros, serve de instrumento indutor
ao poder normativo da Justiça Eleitoral, que procura assegurar a observância da
Constituição e das leis. Não se pode paralisar o trabalho normativo da Justiça Eleitoral,
em razão de uma interpretação mais simples e literal do art. 105 da nova lei.
Assim sendo, as resoluções eleitorais permanecem como instrumentos
normativos fundamentais ao aperfeiçoamento democrático.
É interessante observar que a Lei ne 1 2.034/ 2009 estabeleceu, no § 3 a do art. 105,
uma espécie de p rin cíp io da a n te rio rid a d e d as reso lu çõ es eleitorais, pois, como
visto, o Egrégio TSE terá até o dia 5 de março do ano de eleição o prazo limite
para expedir as resoluções conhecidas como tem porárias, que normatizam o pleito
eleitoral imediatamente seguinte. No entanto, é sabido que em alguns casos, por
culpa do próprio legislador, as leis eleitorais são aprovadas de forma excepcional
no próprio ano de eleição, e ensejam regulamentação posterior, como foi o caso da
Lei ns 11.300, de 10 de maio de 2006, que acarretou a edição da resolução do TSE
n9 22.205, de 23 de maio de 2006.
Não se pode perder de vista que graças ao poder regulamentar do Tribunal
Superior Eleitoral, certos temas fundamentais para a higidez do processo
democrático são efetivamente deliberados e servem para a evolução da legislação.
Não podemos conviver sem os avanços normativos conferidos à Justiça Eleitoral.

117
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Neste sentido, podemos relem brar o teor da Resolução ne 22.610, de 25 de outubro


de 2007, que disciplina o processo de perda de ca rg o eletivo, e que foi declarada
constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, não obstante ter inovado no âmbito
da legislação de direito eleitoral.
Desta sorte, a ju stiça Eleitoral permanecerá regulamentando as eleições sempre
em busca do aperfeiçoamento da votação e das formais mais igualitárias de
manutenção da lisura nas campanhas eleitorais.

5 .2. F A S E S DO P R O C E S S O ELEITORAL
1. Alistamento eleitoral.
2. Convenções nacionais, estaduais ou municipais para a escolha de pré-candidatos
(art. 8 S da Lei ne 9.504/ 97).
3. Pedido de registro de candidaturas (a r t 11 da Lei ns 9.504/ 97).
4. Propaganda política eleitoral (art. 36 da Lei n9 9.504/ 97).
5. Votação.
6. Apuração.
7. Proclamação dos eleitos.
8. Prestação de contas das campanhas eleitorais.
9. Diplomação.

5 .3. LEGISLAÇÃO ELEITORAL


As principais leis eleitorais são: Lei ns 4.737, de 15 de julho de 1965, "Instituí o
Código Eleitoral"; Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990, “Estabelece, de
acordo com o art. 14, § 9 e da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos
de cessação, e determina outras providências"; Lei n - 9.096, de 19 de setem bro de
1995. "Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3e, inciso
V, da Constituição Federal"; Lei n- 9.504, de 30 de setem bro de 1997, “Estabelece
normas para as eleições"; Lei n- 6.091, de 15 de agosto de 1974, "Dispõe sobre o
fornecimento gratuito de transporte, em dias de eleição, a eleitores residentes nas
zonas rurais, e dá outras providências"; Lei n9 6.996, de 7 de junho de 1982, "Dispõe
sobre a utilização de processam ento eletrônico de dados nos serviços eleitorais e dá
outras providências"; e a Lei nõ 7.444, de 20 de dezembro de 1985, "Dispõe sobre
a implantação do processam ento eletrônico de dados no alistamento eleitoral e a
revisão do eleitorado e dá outras providências"
O Código Eleitoral de 1965 deve ter sua leitura atualizada pela legislação
superveniente acima referida, especialmente em razão do texto da Lei ns 9.504, de
30 de setem bro de 1997, pois, sendo lei posterior, rev og ou ex p ressa e tacitam ente
diversos artigos do Código Eleitoral, inclusive regulando de forma diversa algumas
matérias. Como exemplo, podemos salientar os arts. 9 4 e 240 do Código Eleitoral,
que foram revogados respectivamente pelos arts. 11 e 36 da Lei n - 9.504/97.

118
J u s t iç a E l e it o r a l C o m p e t ê n c ia C apítulo 5

No exame dos artigos do Código Eleitoral, o intérprete deve ter atenção e fazer
uma comparação com a Constituição Federal. Por exemplo, o art. 26 do CE faz
menção à figura do terceiro desembargador como Corregedor do Tribunal Regional
Eleitoral, mas o art. 1 2 0 ,1, a, da Constituição Federal, limitou a dois desembargadores
do Tribunal de Justiça como integrantes da composição dos "juizes" dos Tribunais
Regionais Eleitorais. Assim, os corregedores dos Tribunais Regionais Eleitorais
são escolhidos dentre os outros juizes da Corte, exceto os dois desembargadores
estaduais, pois um será o presidente e o outro o vice-presidente.
Cumpre examinarmos, neste passo, uma significativa questão, ou seja, todas as
leis eleitorais são complementadas por resoluções do Tribunal Superior Eleitoral,
conforme já analisado. No entanto, o poder regulamentar está interligado ao
teor legiferante das próprias leis, não podendo ser contra, mas apenas p ra eter e
secundum legem .
O Tribunal Superior Eleitoral expede resoluções temporárias que se referem
a uma determinada eleição, por exemplo, registro de candidatos, propaganda
política eleitoral, e prestação de contas de campanhas. Estas têm curta duração e
específica aplicabilidade, mas podem servir como futuras normas de interpretação
e integração.
Todavia, o TSE também expede resoluções permanentes ou com feição de
maior durabilidade temporal, pois não são alteradas em função de um calendário
eleitoral das eleições; portanto, não se lhes aplica o art. 105 da Lei n- 9.504, de 30
de setembro de 1997.
Como é sabido, o art. 105 da Lei das Eleições fixa o dia 5 de março para que o
TSE expeça todas as resoluções temporárias que vão reger uma eleição específica,
considerando um prazo razoável de antecedência para os partidos políticos, futuros
candidatos, eleitores, membros da Justiça Eleitoral e do Ministério Público. As
resoluções definitivas não têm prazo certo para serem expedidas porque se regem
por normas genéricas previstas no art. 23, XVIII, do Código Eleitoral e art. 61 da Lei
ne 9.096/95.
As resoluções tem porárias podem ser atualizadas por resoluções complementares
após o dia 5 de março do ano de eleição, porque o TSE, por força do art. 23, IX, do
Código Eleitoral, tem o poder de aprim orar a regulamentação das eleições.
Não existe nenhum artigo que impeça que uma resolução de natureza definitiva
possa ser expedida no ano de eleição. As resoluções definitivas não têm prazo para
serem expedidas, porque dentro do poder regulamentar impera a natural eficiência
do aprimoramento da legislação eleitoral.
Dentre as resoluções perm anentes destacamos como exemplo: a Resolução
ns 21.538/03, que dispõe sobre o alistamento eleitoral; Resolução ns 19.406/95,
que trata das instruções para fundação, funcionamento e extinção de partidos

119
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

políticos; Resolução n5 21.841/ 04, que disciplina a prestação de contas dos partidos
políticos, e a Resolução n e 21.975/04, que disciplina o recolhimento de multas
previstas no Código Eleitoral e em leis conexas.
0 intérprete da legislação eleitoral deve: ler o Código Eleitoral em comparação
com a Constituição Federal e as leis posteriores, inclusive as resoluções eleitorais,
priorizando as alterações supervenientes, especialm ente as decorrentes do poder
normativo. Neste sentido, tenha-se sempre presente que as resoluções minudenciam
aspectos da Lei n- 9.504/97, do Código Eleitoral e da Lei das Inelegibilidades e,
portanto, são seguidas pelos juizes eleitorais no cumprimento das regras de
julgamento, ex vi do art. 21 do Código Eleitoral: “Os Tribunais e juizes inferiores
devem dar imediato cumprimento às decisões, mandados, instruções e outros atos
emanados do Tribunal Superior Eleitoral’'.
Por fim, as resoluções eleitorais decorrentes do poder regulamentar do Egrégio
Tribunal Superior Eleitoral devem lim itar-se a preencher e interpretar as normas
do Código Eleitoral e das leis eleitorais, por exemplo, Leis n9s 9.504/97 e 9.096/95.
Assim, as resoluções eleitorais devem ser apenas atos normativos secundários ou
de natureza interpretativa. Nesta hipótese, constatada a desconformidade entre a
lei ordinária e a resolução, estaremos diante de uma ilegalidade não controlável por
ação direta de inconstitucíonalidade, ajuizada em sua maioria por partidos políticos.
Todavia, quando a resolução pode ser vista como um ato normativo autônomo, cuja
feição é de verdadeira lei eleitoral inovadora, podemos vislumbrar a violação ao
princípio da anuaiidade (art. 16 da CF), bem como a consagração da própria invasão
da esfera do legislador, ou seja, um problema de afetação à competência legislativa
do Congresso Nacional (arts. 22, 1, e 48, da Constituição Federal). Neste último
caso, é perfeitam ente possível o controle da constitucionalidade por ação direta de
inconstitucíonalidade em face do texto da resolução. No sentido acima, verificar as
ADINS 2.626-D F e 2 .6 2 8 -DF, relatores Min, Sidney Sanches e redação para acórdão
com a Ministra Ellen Gracie, em 18 de abril de 2002.
0 Supremo Tribunal Federal examinando ação direta de inconstitucíonalidade
em face das Resoluções n2i 21.702/ 04 e 2 1 .803/ 04 do Tribunal Superior Eleitoral,
que disciplinam o número de vereadores em cada Câmara Municipal em relação à
proporcionalidade defluente do número de habitantes, assim decidiu:
"Resolução do TSE e Fixação do Número de Vereadores - 1. 0
Tribunal, por maioria, julgou improcedentes os pedidos formulados
em duas ações diretas de inconstitucionalidade propostas pelo
Partido Progressista - PP (ADI 3345/DF) e pelo Partido Democrático
Trabalhista - PDT (ADI 3365/DF) em face da Resolução ne 21.702/04,
editada pelo Tribunal Superior Eleitoral - TSE, que estabeleceu
instruções sobre o número de vereadores a eleger segundo a
população de cada município. Inicialmente, reconheceu-se inexistir,
em relação aos Ministros Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso e Ellen

1 20
J u s t i ç a E l e it o r a l . C o m p e t ê n c i a C apítulo 5

Gracie, que subscreveram, no TSE, o ato impugnado, qualquer hipótese


de impedimento ou suspeição para julgamento das ações diretas
em questão, haja vista o entendimento predominante do Supremo
no sentido de não se aplicarem, em regra, ao processo de controle
normativo abstrato, os institutos do impedimento e da suspeição.
Em seguida, rejeitando a preliminar de não conhecimento da ação,
suscitada pelo procurador-geral da República, reputou-se dotada de
suficiente densidade normativa a Resolução em causa, revelando-
se, assim, suscetível de fiscalização abstrata de constitucionalidade.
ADI 3345/DF e ADI 3365/DF, rei. Min. Celso de Mello, 25.8.2005.
(ADI-3345) (ADI-3365). Resolução do TSE e Fixação do Número de
Vereadores - 2. Em relação ao mérito, concluiu-se pela inexistência das
apontadas violações aos princípios da reserva de lei, da separação de
poderes, da anterioridade da lei eleitoral e da autonomia municipal.
Esclareceu-se que a Resolução 21.702/04 foi editada com o propósito
de dar efetividade e concreção ao julgamento do Pleno no RE 197917/
SP (DJU de 27.4.2004), já que nele o STF dera interpretação definitiva
à cláusula de proporcionalidade inscrita no inciso IV do art. 29 da CF,
conferindo efeito transcendente aos fundamentos determinantes que
deram suporte ao mencionado julgamento. Salientando que a norma
do art. 16 da CF, consubstanciadora do princípio da anterioridade da
lei eleitoral, foi prescrita no intuito de evitar que o Poder Legislativo
pudesse inserir, casuisticamente, no processo eleitoral, modificações
que viessem a deformá-lo, capazes de produzir desigualdade de
participação dos partidos e respectivos candidatos que nele atuam,
entendeu-se não haver afronta ao referido dispositivo, uma vez que a
Resolução sob análise não ocasionou qualquer alteração que pudesse
comprometera finalidade visada pelo legislador constituinte. Da mesma
forma, foram afastadas as demais alegações de infringência a postulados
constitucionais. Afirmou-se que o TSE, dando expansão à interpretação
constitucional definitiva assentada pelo Supremo - na sua condição de
guardião maior da supremacia e da intangibilidade da Constituição
Federal - em relação à citada cláusula de proporcionalidade, submeteu-
se, na elaboração do ato impugnado, ao princípio da força normativa
da Constituição, objetivando afastar as divergências interpretativas em
torno dessa cláusula, de modo a conferir uniformidade de critérios de
definição do número d e vereadores, bem como assegurar normalidade
às eleições municipais. Vencido o Min. Marco Aurélio que dava pela
procedência dos pedidos, ao fundamento de que o TSE extrapolou
sua competência para editar resoluções - a qual estaria limitada ao
cumprimento do Código Eleitoral (Cód. Eleitoral, art. 23, IX) - ao fixar
tabela quanto ao número de vereadores, cuja incumbência, nos termos
do inciso IV do art. 29 da CF, e desde que observados os limites mínimo
e máximo previstos neste último dispositivo, seria de cada Câmara de

121
M akcos R a m ay an a D ir e it o E l e it o r a l

Vereadores, por meio de Lei Orgânica dos Municípios. ADI 3345/DF


e ADI 3365/DF, rei. Min. Celso de Mello, 25.8.2005. (ADI-3345) (ADI-
3365)”.
Cumpre frisar que recentem ente, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por
maioria, conhecer de ações diretas de inconstitucionalidade em face de resoluções
do Tribunal Superior Eleitoral que disciplinam a desfiliação partidária como
hipótese de perda do cargo eletivo.
Não significa que o STF passe a admitir, como regra g era l o controle da
constitucionalidade pela via abstrata nas resoluções. No caso, mereceu especial
significação o fato de que as resoluções eram decorrentes de determinação em
julgado do próprio STF, quando analisou mandados de segurança sobre a matéria.
Assim, destacamos: “Informativo ns 5 2 8 do STF. Plenário. 0 Tribunal, por
maioria, julgou improcedente pedido formulado em duas ações diretas de
inconstitucionalidade, a primeira ajuizada contra a Resolução n- 22.610/ 2007, pelo
Partido Social Cristão - PSC, e a segunda, também contra a Resolução ns 22.733/ 2008,
pelo Procurador-Geral da República, ambas do Tribunal Superior Eleitoral ~ TSE,
as quais disciplinam o processo de perda de cargo eletivo em decorrência de
desfiliação partidária sem justa causa, bem como de justificação de desfiliação
partidária. Preliminarmente, o Tribunal, por maioria, conheceu das ações. Vencido,
no ponto, o Min. Marco Aurélio que delas não conhecia por reputar não se estar
diante de atos normativos abstratos e autônomos. No mérito, julgaram-se válidas
as resoluções impugnadas até que o Congresso Nacional disponha sobre a matéria.
Considerou-se a orientação fixada pelo Supremo no julgamento dos Mandados de
Segurança n®s26602/DF (DJE de 1 7 .1 0 .2 0 0 8 ), 26603/DF (j. em 4 .1 0 .2 0 0 7 ) e 26604/
DF (DJE de 3 .10.2008), no sentido de reconhecer aos partidos políticos o direito
de postular o respeito ao princípio da fidelidade partidária perante o Judiciário,
e de, a fim de conferir-lhes um meio processual para assegurar concretam ente as
conseqüências decorrentes de eventual desrespeito ao referido princípio, declarar
a competência do TSE para dispor sobre a matéria durante o silêncio do Legislativo.
Asseverou-se que de pouco adiantaria a Corte admitir a existência de um dever,
qual seja, a fidelidade partidária, mas não colocar à disposição um mecanismo ou
um instrumental legal para garantir sua observância. Salientando que a ausência do
mecanismo leva a quadro de exceção, interpretou-se a adequação das resoluções
atacadas ao art. 23, IX, do Código Eleitoral, este interpretado conforme a CF.
Concluiu-se que a atividade normativa do TSE recebeu seu amparo da extraordinária
circunstância de o Supremo ter reconhecido a fidelidade partidária como
requisito para permanência em cargo eletivo e a ausência expressa de mecanismo
destinado a assegurá-lo. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Eros Grau, que
julgavam procedente o pleito, ao fundamento de que as citadas resoluções seriam
inconstitucionais, haja vista não caber ao TSE dispor normas senão tendo em vista a
execução do Código Eleitoral e da legislação eleitoral, que não trataram da perda de
J u s t íç a E l e it o r a l . C o m p e t ê n c ia C apítulo 5

cargo eletivo em razão de infidelidade partidária, e, ainda, porque avançam sobre


áreas normativas expressam ente atribuídas, pela Constituição, à lei. ADI 3999/DF,
rei. Min. Joaquim Barbosa, 12.11.2008.(A D I-3999)A D I 4086/DF, rei. Min. Joaquim
Barbosa, 12.11.2008.(A D í-40863.',
As resoluções são regras legais que devem ser aplicadas pelos juizes de todos os
graus de jurisdição da Justiça Eleitoral. Nesse sentido é a norma expressa do art. 21
do Código Eleitoral:

Art. 21. Os Tribunais e juizes inferiores devem dar imediato cumprimento


às decisões, mandados, instruções e outros atos em anados do Tribunal
Superior Eleitoral.

As instruções são debatidas em sessões administrativas dos Tribunais e no


âmbito do TSE se irradiam para todos os Tribunais Regionais Eleitorais e juizes
eleitorais.
Definitivas j : Àl istaiiiientò EleitòraI
ISillHIIlKÍ Temporárias j Convenções dos partidos políticos
..................................’1 ...................................
| Pedido de registro de candidaturas
1.....................................í .................................
í...... ..... ................. ............................. ...........................
| Propaganda política eleitoral
........................ ................ .....................,,,..1.................... ................ ................ .........
Definitivas ; Votação .-a'
& ; F Í i ; Jr.'r,i\vV' <í , | J o/r^T 1' t f V '■}/
S L

* Temporárias ►
j jÂpurâção

I Proclamação dos eleitos


....................... ...........i ............................. .............
| Prestação de contas das campanhas eleitorais

| ; Principais FaseS I- ; .i:


Diplomàção

Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10a Edição • Capítulo 5 - Justiça Eleitoral. Com petência

d
Ln
C a p Itulo 6

S istem as E leito ra is

Conceito. É um conjunto de técnicas legais que objetiva organizar a


representação popular, com base nas circunscrições eleitorais (divisões territoriais
entre estados, municípios, distritos, bairros etc.).

6 .1. E S P É C IE S
Sistem a m ajoritário. A vitória é do candidato que tiver mais votos,
considerando a maioria absoluta ou relativa. Exemplo: Em eleições para prefeito
em municípios com menos de 200 mil eleitores e para senador é adotada a maioria
relativa. Em eleições para prefeitos em municípios com mais de 2 0 0 mil eleitores
(art. 29, II, da CF), governadores de Estado, distrital e presidente da República,
adota-se a maioria absoluta.
A maioria absoluta dá-se em dois turnos: no primeiro, é eleito o candidato que
tiver mais votos que os votos de todos os concorrentes somados. Não ocorrendo
esta hipótese, é realizado o segundo turno, com os dois mais votados.
O sistema da representação proporcional, "... assegura aos diferentes partidos
políticos no Parlamento uma representação correspondente à força numérica
de cada um. Ela objetiva assim fazer do Parlamento um espelho tão fiel quanto
possível do colorido partidário nacional..”1

O que se entende p or votos válidos?


Os votos válidos são votos da legenda partidária e de todos os candidatos; os
votos nulos e em branco não entram na contagem. 0 art. 106 do Código Eleitoral
determina a contagem dos votos em branco, mas o dispositivo legal não foi
recepcionado pelo art. 77, § 2 Q, da Carta Magna.

0 que se entende p or quociente eleitoral?


O quociente eleitoral (art. 106 do CE) é um mecanismo de cálculo determinado
pela divisão do número total de votos válidos pelo número de lugares na Câmara
dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
1 FERREIRA, Pinto, Código Eleitoral Comentado, 4a ed., RJ, Ed. Saraiva, 1997, p. 169.
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Por exemplo: na Câmara Municipal de Sumidouro, existem nove lugares para


vereadores. 0 número 9 servirá para o critério de divisão dos votos válidos. 90.000
divididos por 9 = 1 0 .0 0 0 votos válidos.

O que se entende por quociente partidário?


É o percentual (art. 107 do CE) obtido por partido ou coligação, através da divisão
do número de votos alcançados pela legenda pelo quociente eleitoral. Atenção: os
votos de um determinado candidato contam para a legenda.
No exemplo anterior, o quociente partidário ocorrerá da seguinte forma: se, na
cidade de Sumidouro, existirem era disputa três partidos políticos e o partido A
teve 60.000 votos, o B, 20.000 e o C, 10.000, o quociente partidário (quantidade de
lugares ou vagas que determinado partido obterá na eleição) dar-se-á pela divisão
com o número do quociente eleitoral. Na hipótese, o partido A - 60.000 divididos
por 10.000 = 6 lugares; B - 2 0 .0 0 0 divididos por 10.000 = 2 lugares; e C - 10.000
divididos por 10.000 = 1 lugar.
Outrossim, pode ocorrer a falta de quociente eleitoral. Nessa hipótese, estarão
eleitos os candidatos mais votados, até preenchimento de todos os lugares (art. 111
do Código Eleitoral). Todavia, questiona-se a constitucionalidade desta regra,
na medida em que estabelece sistema m ajoritário para eleições proporcionais.
Comungamos da opinião de que devem ser realizadas novas eleições com a
decretação da nulidade na forma legai.

6 .2. EXPLICAÇÃO DAS S O B R A S OU D OS R E S T O S


O dispositivo revogou parcialmente a redação original do art. 106 do Código
Eleitoral e, portanto, os votos nulos e os em branco foram equiparados e, assim, não
são contabilizados para os cálculos do quociente eleitoral.
“Autores como Duverger sempre afirmaram que não há sistema
eleitoral perfeito, e que este serve para dar peso desigual aos sufrágios
expressos pelos diferentes eleitores. Talvez por isso se encontrem
tantos sistemas eleitorais para além daquele que, pelo menos em
teoria, seria o mais justo se se pretendesse apenas e tão somente que
o leque de representantes correspondesse ao leque de opções político-
ideológicas do eleitorado - o sistema proporcional puro - sem divisão
territorial alguma e sem imposição de qualquer cláusula barreira. Não
é isso que acontece, e por isso constata-se que em variadíssimos países,
quer tenham sistemas majoritários ou proporcionais, se desenvolvem
adaptações ou mudanças do sistema (ver estudo da UIP “Sistemas
Electorales - Estúdio comparativo mundial”). Lições extraídas do
Dicionário de Legislação Eleitoral, volume 1, Lisboa, Editora Comissão
Nacional das Eleições, 1995.

128
S is t e m a s E l e i t o r a is C a p ít u l o 6

Para o cálculo do sistem a proporcional somam-se os votos válidos que são: os


votos atribuídos aos candidatos e aos partidos políticos ou legenda. Em seguida,
dividem-se os votos válidos, excluindo-se os nulos e os em branco pelo número
de vagas ou cadeiras que serão preenchidas naquela eleição específica. Sobre o
assunto, consultar em relação às eleições de vereador, as Resoluções n2s 21.702/04
e 21.803/04 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral que disciplinam o número de
vagas nas Câmaras Municipais.
Feita esta primeira divisão, obtém -se o quociente eleitoral.
Obtido o quociente eleitoral, procura-se saber quantos votos foram conquistados
por partido ou coligação e, em seguida, dividem-se os votos pelo quociente eleitoral.
Feita esta divisão, chega-se ao número de cadeiras que cada partido ou coligação
preencherá, o que se denomina de quociente partid ário.
Dentro de cada partido ou coligação, observar-se-á a ordem de votação recebida
individualmente por candidato específico para ocupação da vaga, conforme reza o
a r t 109, § 1-, do Código Eleitoral.
O partido que não atingir o quociente eleitoral não poderá eleger nenhum
representante (vereador, deputado estadual, distrital ou federal, ver o art. 109,
§ 29, do Código Eleitoral). No entanto, se nenhum dos partidos atingir o quociente
eleitoral, segue-se o sistem a m ajoritário, ou seja, o número de cadeiras será
colmatado pelos candidatos mais votados. Neste sentido, disciplina o art. 111 do
Código Eleitoral.
É importante frisar que, o sistem a de eleição proporcional não despreza a ordem
de votação de cada candidato de forma individual, pois as vagas que couberem a
determinado partido ou coligação, quociente partidário, serão preenchidas pelos
mais votados dentro da agremiação política.
Os restos ou so b ras são atribuídos em razão da técnica matemática incorporada
ao a r t 109, I e II, do Código Eleitoral. Trata-se do sistem a da m aior ou ideai
média. Os votos dos partidos ou coligações que atingirem o quociente eleitoral
serão divididos pelo número de vagas ou cadeiras, sendo acrescidos de + X, quando
se alcança uma média para cada um dos mesmos, e a correspondência das cadeiras
que devem ser preenchidas.
Exemplo:
No Município de Nilópolis, Baixada Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, existem
11 (onze) cadeiras de vereadores na Câmara Municipal.
Numa determinada eleição, os votos válidos (excluídos os nulos e em branco;
ver a r t 5 - da Lei ns 9.504/ 97) totalizaram 1 1 0 .0 0 0 (cento e dez mil), os quais são
atribuídos aos candidatos e partidos políticos (legendas).
0 número de 1 1 0 .0 0 0 (cento e dez mil) votos deverá ser inicialmente dividido
pelo número de cadeiras a preencher na Câmara Municipal, que, no caso em tela, é
11 (onze).

1 29
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Assim, ter-se-á o quociente eleito ral da Comarca de Nilópolis, que será de


1 0 .0 0 0 (dez mil) votos, o qual deverá ser atingido pelo partido político ou coligação
(partido único).
Nessa hipotética eleição, participaram 3 (três) partidos políticos e 2 (duas)
coligações.
0 Partido A obteve 7 5 .0 0 0 (setenta e cinco mil) votos, que, divididos pelo
quociente eleitoral de 1 0 .0 0 0 (dez mil), totalizam 7,5. Dessa forma, o Partido A
preencherá 7 (sete) cadeiras (esse número de cadeiras corresponde ao primeiro
algarismo do resultado 7,5 obtido na divisão acima).
0 Partido B obteve 1 8.000 (dezoito mil) votos, que, divididos pelo quociente
eleitoral de 10.000 (dez mil), totalizam 1,8. Logo, o Partido B preencherá 1 (uma)
cadeira.
A Coligação C/D obteve 1 6 .0 0 0 (dezesseis mil) votos, que, divididos pelo
quociente eleitoral de 1 0.000 (dez mil), totalizam 1,6. Assim, a Coligação preencherá
1 (uma) cadeira.
0 Partido E obteve 500 (quinhentos) votos, não atingindo o quociente eleitoral,
portanto, não elegerá um candidato.
A Coligação F/G obteve 500 (quinhentos) votos, não perfazendo, portanto, o
quociente eleitoral. Consequentemente, nenhum dos candidatos dela integrantes
será eleito.
Nesses prim eiros cálculos, foram totaIiza das_9 (nove) -vagas^sea do 7 -íset.e)
para o Partido A. 1 (u m a) para_QB_e 1 f a m a ).p ara a CoIi^acãQ_C7I?_-
As sob ras ou resto s são os números de cadeiras faltantes, que, no caso, são 2
(duas). Só podem participar do cálculo para distribuição destas o s Partidos A e B e
a Coligação C/D.
Adotando-se a técnica de m aior m édia, segue-se outro cálculo:
• Os 75.000 votos do Partido A serão divididos pelo número de cadeiras que
ele obteve, ou seja, 7 (sete), e acrescenta-se +1 (esta adição é uma exigência
prevista no Código Eleitoral, art. 109, Inciso I), o que totalizará 8 (oito). Em
seguida, divide-se 7 5 .0 0 0 por 8, resultando 9 .3 7 5 .
O Partido B, com 1 8 .0 0 0 votos, participará de nova divisão pelo número de
cadeiras que obteve, ou seja, 1 (uma), ao qual se acrescentará +1, o que totalizará 2
(dois). Em seguida, divide-se 1 8 .0 0 0 por 2, tendo-se por resultado o número 9 .0 0 0 .
A Coligação C/D, com 1 6 .0 0 0 votos, participará de nova divisão pelo número
de cadeiras que obteve, ou seja, 1 (uma), à qual se acrescenta +1, chegando-se ao
algarismo 2 (dois). Sendo assim, divide-se 16.000 por 2 e obtém -se 8 .0 0 0 .
Feitos o s cálculos acima, terá direito a mais uma cadeira quem tiver feito a m aior
m édia, o que, no caso em q u estão, foi obtido pelo P artid o A, com 9.375-,

10A
S is t e m a s E l e i t o r a is C a p ít u l o 6

Desta feita, tem-se por preenchidas 10 das 11 vagas da seguinte forma: 8 cadeiras
com o Partido A, 1 cadeira com o Partido B e outra cadeira com a Coligação C/D.
Assim, resta repetir os cálculos da técnica da maior média, com o fim de atribuir
a titularidade da cadeira faltante, devendo-se considerar as cadeiras obtidas.
O partido A terá os 7 5 .000 votos recebidos divididos pelo número de cadeiras
que detém, qual seja, 8 (oito), acrescido de +1 (= 9). Dessa divisão, obtém -se o
número 8 .3 3 3 .
O Partido B, com 18.000 votos, participará de nova divisão pelo número de
cadeiras que obteve, ou seja, 1 (uma), ao qual se acrescentará +1 (= 2). Em seguida,
divide-se 18.000 por 2, de cujo cálculo resulta o número 9 .0 0 0 .
A Coligação C/D, com 16.000 votos, participará de nova divisão pelo número de
cadeiras que obteve, ou seja, 1 (uma), à qual se acrescenta +1 (= 2). Em seguida,
divide-se 16.000 por 2, chegando-se ao número 8 .000 .
Verifica-se que, com esse novo cálculo, o Partido B deteve a maior média, razão
pela qual a titularidade da última vaga ser-lhe-á atribuída.
Por fim, as 11 cadeiras restaram assim distribuídas: 8 para o Partido A, 2 para o
Partido B e 1 para a Coligação C/D.
Como se nota, na continuidade dos cálculos, os partidos são mantidos com o
número de cadeiras preenchidas, utilizado na fórmula m ais um (+ 1 ), conforme
disciplina o inciso I do art. 109 do Código Eleitoral.
O sistem a proporcional visa em seus objetivos matemáticos atender a participação
de um número maior de partidos políticos por critérios equitativos, e assim, refletir
na Câmara Municipal, nas Assembleias Legislativas, Câmara Legislativa - Distrito
Federal, e Câmara dos Deputados (eleições de vereadores, deputados estaduais,
distritais e federais), uma mais ampla participação da cidadania ativa pelo exercício
do voto.
No sistem a proporcional de maior média é utilizada a fórmula de D'Hondt, e
ainda, existem as fórmulas apresentadas por Sain te-Laguè e as quotas H are e Droop.
(Sobre o assunto conferir a excelente obra de Jairo Nicolau, Sistem as E leitorais,
5- edição, Rio de |aneiro, Editora FGV, 2 0 0 4 .)
Cada país que adota o sistem a proporcional segue uma destas fórmulas. No
Brasil adotou-se a cota H are na redação do quociente eleitoral e, após, seguiu-se
para a fórmula D'Hondt no cálculo da m aior média ou média ideal.
Cumpre ainda frisar alguns aspectos importantes sobre a representação
proporcional*.
1. O art. 112 do Código Eleitoral trata dos suplentes. 0 suplente é o mais votado
no mesmo partido, mas que, em razão de sua posição alcançada pelo número
de votos individuais, não logrou ingressar na relação das vagas do quociente
partidário.

131
M a r c o s R am a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

2. A atual legislação não enseja sanção política-eleitoral de perda do mandato


eletivo para o eleito e suplente que deixar o respectivo partido político,
inclusive o que praticar alguma hipótese de infidelidade partidária. As normas
sobre disciplina partidária encontram -se nos arts, 23 a 26 da Lei na 9.096/95,
bem como nos Estatutos Partidários.
3. No caso de o suplente desfiliar-se de um partido político e ingressar em
outro (art. 22, parágrafo único da Lei ne 9.096/95), não haverá perda de
sua posição originária na lista do partido pelo qual concorreu. Neste caso,
preservam-se os votos, não havendo a perda da suplência. Neste sentido, ver
a norma do art. 55 da CF, STF, MS n9 20.927/DF, rei. Ministro Moreira Alves
e STF, MS ns 20.916/DF, rei. Ministro Sepúlveda Pertence. Assim, o candidato
diplomado que se filiar a outro partido não perde sua inicial posição na lista
dos suplentes. Ainda sobre suplentes, consultar os §§ 1 - e 2S do art. 56 da
Constituição Federal.
4. O número total de Deputados Federais por Estado é regulamentado pela
Lei Complementar na 78, de 30 de dezembro de 1993, dentro do critério
proporcional (art. 45, § l e, da Constituição Federal).
Todavia, as valiosas observações do doutrinador Alexandre de Moraes
merecem destaque:
"A Constituição Federal, porém, atenua o critério puro da proporcionalidade
população (representados)/(representantes), pois determina a realização
dos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma das
unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de 70 deputados. Além
disso, fixa, independentemente da população, o número de quatro deputados
para cada Território.
Essa atenuação perpetuou a existência de graves distorções em relação à citada
proporcionalidade, favorecendo Estados-membros com m enor densidade
demográfica em prejuízo dos mais populosos, e acabando por contradizer a
regra prevista no art. 14, caput, da Constituição Federal da igualdade do voto
(One Man One Vote)” (Constituição d o B rasil In terp retad a, São Paulo, Editora
Atlas, 2002, p. 9 8 5 ).
5. R edistribuição de vaga p ara o u tro s p artid os que ten ham atingido o
quociente eleitoral. TSE. Resolução ns 20.945, de 04 .1 2 .2 0 0 1 . Processo
Administrativo 18.721/DF. Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Gestot
2 002. Sistema de totalização. Cargos proporcionais. Distribuição. Cálculos.
Processamento. 1. Na hipótese de uma coligação ou partido obter votos
suficientes para assegurar pelo m enos uma vaga e o seu único candidato (que
possua ou não votos) não puder receber essa vaga em decorrência de morte
ou renúncia, a vaga em questão deverá ser redistribuída a outros partidos
ou coligações que tenham atingido quociente eleitoral. 2. No caso de uma

132
S is t e m a s E l e i t o r a i s C a p ít u l o 6

coligação ou partido obter uma quantidade de vagas maior que a quantidade de


candidatos votados, as vagas em questão deverão ser atribuídas a candidatos
sem votação do partido ou coligação. D] de 15.03.2002.
6. D esem pate a favor da legenda. P reced en te do TSE. Acórdão ns 2.895, de
1 4.08.2001. Agravo de Instrumento n- 2.895/PR. Relator: Ministro Sepúlveda
Pertence. Ementa: Representação proporcional: empate entre duas legendas
na média relativa à última vaga: desempate a favor da legenda de maior
votação total, não ao candidato mais idoso: jurisprudência do TSE. DJ de
1 9.10.2001.
7. A ju risp ru d ên cia do TSE é no sentido de que a regra do art. 1 1 0 do
Código Eleitoral não se ap lica à h ipótese de em pate en tre p artid os ou
coligações.
Empate entre legendas. Não aplicação do art. 110 do Código
Eleitoral
Eleição proporcional. Quociente partidário. Empate de médias entre
as legendas. Na hipótese de empate das médias entre dois ou mais
partidos, considerar-se-á o partido com maiorvotação, não se aplicando
o disposto no art 110 do Código Eleitoral, que diz respeito apenas à
hipótese de empate entre candidatos. 0 Tribunal negou provimento
ao agravo de instrumento. Unânime. Agravo de Instrumento 2.895/PR,
Rei. Min. Sepúlveda Pertence, em 14.08.2001.
Acórdão n2 2.845, de 26.04.2001. Agravo de Instrumento 2.845/PJ. Relator:
Ministro Sálviode Figueiredo Teixeira. Agravo de instrumento. Provimento.
Recurso especial. Eleição proporcional. Quociente partidário. Desempate.
Candidato mais idoso. Art 110 do Código Eleitoral. Inaplicabiíidade.
Incidência do critério adotado pela Resolução TSE n9 16.844. Empate na
média entre as legendas e no número de votos recebidos pela coligação.
Terceiro critério de desempate. Número de candidatos eleitos pela
coligação. Inexistência de precedente na corte. Recurso provido. I. A
jurisprudência da Corte é no sentido de que a regra do art. 110 do Código
Eleitoral não se aplica à hipótese de empate entre partidos ou coligações.
II. No caso de ocorrer empate nas médias e no número de votos recebidos
pelas coligações, ter-se-á como terceiro critério de desempate o número
de votos nominais recebidos pelas coligações. Vistos etc. Acordam os
ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em dar
provimento ao agravo de instrumento e, julgando o recurso especial, dele
conhecer e dar-lhe provimento, nos termos das notas taquígráficas, que
ficam fazendo parte integrante desta decisão. Sala de Sessões do Tribunal
Superior Eleitoral. Brasília, 26 de abril de 2001.
8. 0 art. 111 do Código Eleitoral só tem aplicação na hipótese de nenhum
partido haver alcançado o quociente eleitoral. 0 art. 109 do mesmo Código
leva à conclusão de que, existindo vagas, seu preenchimento deverá ser feito

133
M a r c o s R am ayan a D ir e i t o E l e it o r a i
rj

por nova eleição. O art. 113 do citado Código também não poderia socorrer ,
ao agravante, pois a convocação do suplente pressupõe vaga superveniente à f
eleição (TSE, Acórdão ns 5.459, Márcio Ribeiro, BE 268, página 1.303). J
9. Outrossim, como já enfatizado, com relação aos mandatos eletivos pelo I
sistem a m ajoritário, em conformidade com a jurisprudência do Tribunal ;
Superior Eleitoral, quando proposta a ação de impugnação ao mandato eleito |
com base no art. 14, §§ 10 e 11 da CF, não se faz imperiosa a citação do vice- ;
governador e dos suplentes de senador para que venham compor o polo í
passivo da demanda (Recurso Ordinário 534/MT, Rei. Min. Barros Monteiro, \
em 2 0 .0 2 .2 0 0 3 ). j
10. Suplentes. Admissão na condição de assistentes. Natureza da intervenção, f
Embargos de Declaração no Recurso Especial Eleitoral ns 19.809/SR Relator: \
Ministro Fernando Neves. Ementa: Embargos de declaração. Suplentes de -J
vereador anteriorm ente diplomados. Acórdão que determinou a diplomação f
de mais sete vereadores. Pedido de ingresso na lide. Litisconsórcio necessário. I
Não caracterização. Assistência. Nulidade. Inexistência. 1. Não há como [
reconhecer a nulidade arguida pelos embargantes, ao fundamento de que não ,[<
foram chamados nas instâncias ordinárias para integrar a relação processual, J
uma vez que a presença deles não é obrigatória nem por disposição legal f
nem pela natureza da relação jurídica, podendo, contudo, ser admitidos na |
condição de assistentes. Embargos acolhidos para prestar esclarecimentos. Dj |
de 2 8 .0 2 .2 0 0 3 . |
-fi
E ainda, decisão do TSE: "Escolha de candidatos (suplentes de senador) não J
pode ser delegada, pela convenção, à comissão executiva. (Acórdão n° 11.194, I
no Recurso n9 8.845, de 2 1 .0 8 .1 9 9 0 , Relator Ministro Octávio Gallotti). |

6.3. C O N SIDERA ÇÕES G ENÉRICAS S O B R E O SISTEM A [


B1CAMERAL FEDERATIVO J
i
1) Existem três senadores para cada um dos 26 Estados e três para o Distrito |
Federal. Trata-se de acolher a denominada representação igualitária. O mandato j;
do senador corresponde a duas legislaturas. Cada legislatura tem quatro anos. A J
renovação do senado é de 1/3 ou 2/3 a cada quatro anos. |
2) O art. 45, § l 9, da CF diz que nenhum Estado poderá ter menos de oito deputados >
£
federais e que o Estado mais populoso, v.g., São Paulo, será representado por 70 ;jj
deputados federais. |
3) A Lei Complementar n- 78, de 1993, regulamenta a questão e diz que o total de |
deputados federais é de 513.
4) O número de senadores é de 81. O mandato é de oito anos, com dois suplentes. I
5) O Distrito Federal tem oito deputados federais e três senadores, mais um |
governador e vice-governador.
4
S is t e m a s E l e it o r a is C apítulo 6

6) 0 partido que não atinge o quociente eleitoral (art. 106 do Código Eleitoral)
não elege nenhum deputado ou vereador (salvo se nenhum partido atingir o
quociente eleitoral, quando as vagas serão preenchidas pelos candidatos mais
votados, independentemente dos votos dados aos partidos).
7 ) Os Estados possuem uma composição unicam eral Não existe a figura de um
senador estadual que seria "em tese" o representante dos municípios.
8) 0 número de deputados estaduais corresponde ao triplo da representação
do Estado na Câmara dos Deputados è, atingindo 36, será acrescido de tantos
quantos forem os deputados federais acima de 12 . Neste sentido, é o art. 27 da
Constituição Federal.
Exemplo:
A Resolução do TSE ns 20.986/ 00 regula o tema era cada Unidade da Federação,
ou seja, o número de deputados estaduais e federais.
Quanto ao número de vereadores nas Câmaras Municipais, verificar as Resoluções
do Tribunal Superior Eleitoral nes 21.702/ 04 e 21.803/04.
9) As eleições são realizadas de forma simultânea em todo o país, sempre no
primeiro domingo de outubro do ano eleitoral, arts. 1- e 82 da Lei n 9 9.504/97.
10)Nas eleições presidenciais, a circunscrição eleitoral é o território do país; nas
federais, estaduais e distritais, o respectivo Estado ou o Distrito Federal, art. 86
do Código Eleitoral. Quando a eleição é municipal, a circunscrição é apenas o
território do município.
11)0 senador é sempre eleito com a maioria simples dos votos, assim como os
su p len tes com e le registrado. No caso de empate, é eleito o mais idoso, arts. 46
e 77, § 5-, da Constituição Federal.
12) No sistema proporcional, o TSE, por precedente em Resolução n- 22.154/06, art. 164,
III e IV, firmou o seguinte entendimento: Se houver empate de médias entre dois ou
mais partidos políticos ou coligações, será considerado o que tiver maior votação.
Neste sentido, ver ainda. Res. TSE ne 16.844, de 18.9.1990. E, ocorrendo empate na
média e no número de votos dados aos partidos políticos ou coligações, para fins de
desempate ganha quem tiver o maior número de votos nominais recebidos (Res. TSE
nô 2.845, de 26.4,2001).

135
S istem as
•Prefeito e Vice-prefeito em

E l eito r a is
municípios com menos de
|Elegem j- 200.000 eleitores
•Senadores

òuj
Relativo |
Proporcional
^ ” ' T : : :
Elegem

Deputado Federal
Absoluto
Deputado Estadual
ou Total

..................................................................................................................
Deputado Distrital
Vereador •Presidente e vice-presidente
- Governador e vice-gover-
nador nos Estados e D,F.
|Elegem |- * Prefeitos e vice-prefeitos
em municípios com mais de
200.000 eleitores

Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10S Edição - Capítulo 6 - Sistemas Eleitorais


>-*■
U>
C apítulo 7

M I N I S T É R I O PÚBLI CO

7.1. FUNÇÃO INSTITUCIONAL


0 art. 127 da Constituição da República Federativa do Brasil atribui ao
Ministério Público a incumbência de defesa do regime democrático na ordem
jurídica nacional.
A Carta Magna adota a d em ocracia participativa, quando no art. I 9, parágrafo
único, assim dispõe: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos term os desta Constituição ".1
0 Ministério Público, quando exerce suas atribuições no âmbito eleitoral, defende
0 regime democrático como cláusula pétrea e, portanto, como bem enfatizou Sua
Excelência, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, in litteris:
"As cláusulas pétreas da Constituição não são conservadoras,
mas impeditivas do retrocesso. São a salvaguarda da vanguarda
constitucional. A Constituição é aquele documento único que não
1 A democracia, em sentido geral designa um modo de vida numa sociedade em que se acredita que cada
indivíduo tem direito a participar livremente dos valores dessa sociedade. Num sentido mais limitado, democracia é
a oportunidade dos membros da sociedade de participarem livremente das decisões em qualquer campo, individual
ou coletivamente. No seu sentido mais restrito, o termo designa a oportunidade dos cidadãos de um Estado de
participarem livremente das decisões políticas mais específicas que lhe afetam a vida individual e coletiva” {Textos
extraídos do Dicionário de Ciências Sociais, 2ã edição, FGV, 1987, p. 316).
Classifica-se a democracia em: a) democracia direta; b) democracia representativa ou indireta; e c) democracia
semidireta ou mista, também denominada do tipo piebiscítária.
Por democracia direta se entende a ausência de outorga de mandato do povo aos parlamentares e representantes
políticos em gerai, sendo as funções políticas geridas e desenvolvidas pelos próprios detentores do direito de votar.
Historicamente a democracia direta se identifica em comunidades de pequena densidade demográfica, mas a
capacidade eleitora! ativa é deíimiíada apenas a pequenos núcleos de cidadãos que podem exercer o direito ao voto.
Critica-se a democracia direta, primeiramente pela sua inexpressividade no contigente eleitoral e em segundo
lugar por representar uma “antessala da ditadura. Um convite a um partido totalitário da oposição para manobrar
a agitação, organizar o descontentamento 0 a vontade do povo...” (Talmon, J.L. The ríse of totalitarian democracy,
Boston, Beacon, Press, 1952, p. 207).
Como forma de organicidade estatal a democracia direta exerce um controle nas instituições políticas, v.g., Cantóes
da Suíça.
Na democracia representativa, tipo indireta, sobressaem duas vontades: “a do grupo, imperativa, à margem de qualquer
respaldo jurídico, e a dos governantes. Sendo assim, o poder legal, o poder do Estado, talvez não corresponda ao poder
do povo. E é nesse hiato eventual que está a explicação do fenômeno político capitai que caracteriza as democracias
modernas: o advento dos poderes de fato ou de forças que geram agrupamentos cuja formação decorre de um certo
fim desejado por seus membros’’ (Burdeau. G. La democracia. Barcelona, Anel, 1960, pp. 43 e 46).
Os eleitos detentores do ius honorum representam “em tese” os ideais do eleitorado, para cumprir os programas,
metas e estratégias administrativas defendidas no decorrer da campanha eleitora!.
Na democracia indireta, se faz presente o princípio da delegabiiidade da soberania popular em sua máxima expres­
são, pois os eleitores escolherão os candidatos previamente selecionados pelos partidos políticos para exercerem
por delegação o integra! cumprimento das promessas feitas.
M arcos R a m a y a n a __________________ D ir e it o E l e it o r a l j

é produzido pelo Estado, mas diretamente pela nação, através da i


Assembleia Nacional Constituinte. É o único documento que governa .\
permanentemente quem governa provisoriamente. 0 único momento !
que vai da sociedade civil para o Estado e não do Estado para a sociedade
civil é esse momento constituinte. É importante fazer esta distinção
entre poder constituinte e poder reformador. Esta linha divisória I
não pode ser esmaecida porque senão o poder reformador se faz de f
atrevido, se traveste de poder constituinte e golpeia a Constituição... í
Conclui, Sua Excelência: i
"A democracia é o mais pétreo dos valores. E quem é o supremo ;
garantidor e o fíador da democracia? O Ministério Público. Isto está :
dito com todas as letras no art. 127 da Constituição. Se o MP foi erigido à j
condição de garantidor da democracia, o garantidor é tão pétreo quanto .\
ela. Não se pode fragilizar, desnaturar uma cláusula pétrea. O MP pode i
ser objeto de emenda constitucional? Pode. Desde que para reforçar, |
encorpar, adensar as suas prerrogativas, as suas destinações e funções J
constitucionais", explicou (Revista do Ministério Público do Estado do Rio |
de Janeiro nfi 20, páginas 476/7, julho a dezembro de 2004). j
Concluindo: a função constitucional-eleitoral conferida ao órgão do P arqu et f
para dirigir a atividade do setor de fiscalização das fases do processo eleitoral I
(alistamento, votação, apuração e diplomação) obriga-o a atuar por dever de ofício
e intervir na persecução criminal, nas lides decorrentes da propaganda política |
eleitoral, partidária, no registro de candidatos e outras. \f
A atuação institucional e funcional desta árdua missão deve ser reservada a todas v
as fases do conceituado processo eleitoral, inclusive no alistamento dos eleitores, |
quando se percebe em determinadas comarcas as fraudes com a migração de 1
eleitores não residentes na localidade (ver arts. 289, 2 9 0 e 350 do Código Eleitoral). I
Neste ponto, não sustentamos sobre a necessidade do Ministério Público I
funcionar, obrigatoriamente, na fase de expedição de títulos eleitorais (não lhe cabe
assinar títulos). Todavia, sua função institucional lhe exige exercer a fiscalização |
do processo de alistamento, transferência, revisão do eleitorado e correições |
cartorárias (ver a Resolução TSE n- 21.538/ 03). f:
A atuação do Ministério Público deve ocorrer nas eleições nacionais, estaduais, |
municipais, plebiscitárias, referendo e, inclusive, nas que escolhem membros para ?
o Conselho Tutelar previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, que permitem _|
a aplicação subsidiária da legislação eleitoral (neste último caso, a intervenção se
dá pelos promotores da Infância e Adolescência, e não pelos promotores eleitorais). |
I
Por fim, a Lei Complementar n 9 75/93, no art. 72, diz que: “Compete ao Ministério p
Público Federal exercer, no que couber, junto à Justiça Eleitoral, as funções do Ministério .]•;
Público, atuando em todas as fases e instâncias do processo eleitoral". Todavia, o art. 78 |
da mesma lei, assim dispõe: "As funções eleitorais do Ministério Público Federal perante |
os juizes e Juntas Eleitorais serão exercidas pelo promotor eleitoral".
MIMÍSTÉRIO PÚBLICO C apítulo 7

De acordo a interpretação sistemática dos artigos antes referidos, cabe ao


promotor eleitoral atuar com os juizes e juntas eleitorais, exercendo suas atribuições
em todas as fases do processo eleitoral (alistamento, votação, apuração e diplomação),
compreendendo, ainda, as etapas do registro de candidatos, propaganda política
eleitoral e prestação de contas dos candidatos e dos partidos políticos.

7.2. NORMAS FUNCIONAIS DE ATUAÇÃO


A Lei ne 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público), dispõe no a rt. 3 2 ; Além de o u tras funções com etidas nas Constituições
Federal e Estadual, n a Lei O rgânica e dem ais leis, com pete aos prom otores de
justiça, den tro de su as esferas de atrib u ições:

III - oficiar perante a Justiça Eleitoral de primeira instância, com as


atribuições do Ministério Público Eleitoral previstas na Lei Orgânica
do Ministério Público da União que forem pertinentes, além de outras
estabelecidas na legislação eleitoral e partidária.

Como se nota, entre as múltiplas atribuições do Parquet, se notabiliza a magna


tarefa de intervir como fiscal da lei ou parte autônoma perante a Justiça Eleitoral de
primeira instância .2
Sem dúvida, que se reserva aos promotores eleitorais, a função de atuar nas
causas defluentes do processo eleitoral em primeira instância, seja impugnando
por escrito ou verbalmente, seja arrazoando por promoções, pareceres e propondo
ações, v.g., ação de impugnação ao pedido de registro; representações por abuso do
poder econômico; ação de impugnação ao mandato eletivo e outras.
A Lei n 98.625/ 93 nos rem ete para a Lei Com plem entam 97 5, de 20 de maio de 1993
(que dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público
da União), naquilo que for "pertinente"; portanto, aplicar-se-á, subsidiariamente,
aos membros do Ministério Público Estadual (promotores eleitorais), as regras da
aludida lei. Vê-se, assim, a incidência da norma da União de forma complementar ao
vazio da norma nacional.
O art. 72 da LC n 2 75/93 se refere às funções do Ministério Público Federal, sem,
contudo, descurar da atuação conjunta do MP Estadual, pois, nas funções eleitorais
existe verdadeiro compartilhamento de atribuições direcionadas ao escopo de
defesa do regime democrático.
A expressão do artigo: "no que couber", delimita a atuação do MP Federal no
Tribunal Superior Eleitoral e nos Tribunais Regionais Eleitorais, pois, como visto, o
MP Estadual atua na I a instância com os juizes e juntas eleitorais (órgãos da Justiça
Eleitoral, conforme art. 118 da CRFB).

2 O primeiro grau de jurisdição da Justiça Eleitoral é impulsionado por juizes e juntas eleitorais (sobre o assunto
remetemos o leitor ao capítulo que trata da organização da Justiça Eleitoral).

141
M a r c o s R am a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Em resumo: 0 Ministério Público Federal, por intermédio do procurador-geral


eleitoral atua no Tribunal Superior Eleitoral: os procuradores regionais eleitorais,
nos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais e os promotores eleitorais, com os
juizes e juntas eleitorais.
Impende ainda esclarecer que não existe, de forma orgânica constitucional, um
M inistério Público Eleitoral, pois o Ministério Público da União compreende: o do
Distrito Federal, Militar, do Trabalho e Federal; enquanto nos Estados organiza-se o
Ministério Público Estadual. Assim, não há de falar-se em unidade hierárquica, mas
em unidade funcional de atribuições cujo objetivo é o de p ro teg er a norm alidade
e legitim idade das eleições combatendo os abusos do poder econômico e político,
fraudes e captações ilícitas de sufrágio.

7 .3 . PROTEÇÃO DA NORMALIDADE E LEGITIMIDADE DAS


E L E IÇ Õ E S
0 art. 72 da Lei Complementar nQ 75/93, sem dessemelhança ao texto
constitucional do art. 14, § 9 B, expressam ente atribui ao Ministério Público “Federal",
o que não exclui o "Estadual”, a função institucional de proteger a normalidade e a
legitimidade das eleições, contra a influência do poder econômico ou o abuso do
poder político ou administrativo.
A função do Ministério Público é ser o guardião do processo democrático
defendendo a cidadania como interesse substancialmente nacional.
No desiderato desta missão institucional, agem os seus membros imbuídos do
ju s publicium como já observava o renomado Antônio Cláudio da Costa Machado em
seus comentários à intervenção do Ministério Público no processo civil brasileiro.
Como eficaz instrumento de coesão social, deve o órgão m inisterial funcionar de
forma suprapartidária.
A natureza processual interventiva do Ministério Público no processo eleitoral é
atinente à tutela de indisponibilidade impregnada de todas os consectários legais
da capacidade ativa e passiva dos cidadãos. Trata-se de lide pública e envolta na
exclusiva guarda da higidez das eleições .3
Na investigação da corrupção eleitoral, a instituição adquire perfil de intervenção
protetiva da cidadania em elevadíssimas dimensões do supremo interesse social.
As condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais espelham
nos arts. 73 a 78 da Lei ns 9.504, de 30 de setembro de 1 9 9 7 (rol exemplificativo),
a fiscalização pela instituição, seja em relação aos abusos do poder econômico
3 Não restam dúvidas da incidência do a rt 82, III, do Código de Processo Civil que prevê de forma genérica a intervenção
pela natureza da lide, coisa pública primária, na hipótese do processo eleitoral.
Na verdade, a indisponibilidade do interesse evidencia-se de forma materialmente constitucional, pois basta a
verificação dos arts. 14, § 9a e 127 da CRFB, em conjugação com diversos dispositivos da legislação eleitoral, inclusive
da Lei Complementar n® 64, de 18 de maio de 1990, por exemplo, arts. 3e e 22 para se ter a ideia de alcance funcional-
institucional do órgão do Parquet.
M in istér io P úblico C a p ít u l o 7

e político, seja como: na contratação de servidores para cargos de comissão;


realização iiegai de concurso público; aprovação de projetos sociais camuflados com
a nítida função captativa de votos; o uso de servidores em campanhas eleitorais e
o financiamento privado oriundo de fontes vedadas ou não identificadas, além de
várias outras previstas na legislação eleitoral e partidária.
Os agentes administrativos e candidatos, assim como os financiadores de
campanhas eleitorais (pessoas jurídicas ou físicas), costumam não respeitar o
dever de neutralidade que se interliga ao princípio da imparcialidade das entidades
públicas nas eleições.
Ao contrário, não é rara a intervenção de pessoas representativas de entidades
favorecendo concorrentes e violando a neutralidade em detrimento do princípio da
isonomia entre os candidatos.
As interferências exteriores são frem entes no processo de formação da. vontade
dos eleitores, ensejando um sistem a repressivo adequado que possa cautelarmente
impedir a desigualdade.
Os abusos das funções públicas parecem não ter freios nas campanhas eleitorais,
restando à Justiça Eleitoral e ao M inistério Público acompanhar e intervir para
evitar ao máximo a quebra do sistem a equitativo, cujas repercussões podem se dar
na área da improbidade administrativa eleitoral.

7 .4. O PROCURADOR-GERAL ELEITORAL E O S P RO CU R A D O R ES


REGIONAIS ELEITORAIS
A Lei Complementar n Q75/93 assim dispõe:

Art. 7 3 .0 procurador-geral eleitoral é o procurador-geral da República.


Parágrafo único. 0 procurador-geral eleitoral designará, dentre os
subprocuradores-gerais da República, o vice-procurador-geral Eleitoral,
que o substituirá em seus impedimentos e exercerá o cargo em caso de
vacância, até o provimento definitivo.
Art. 74 Compete ao procurador-geral eleitoral exercer as funções do
Ministério Público nas causas de competência do Tribunal Superior
Eleitoral.
Parágrafo único. Além do vice-procurador-geral eleitoral, o procurador-
geral poderá designar, por necessidade de serviço, membros do
Ministério Público Federal para oficiarem, com sua aprovação, perante
o Tribunal Superior Eleitoral.
Art. 75. Incumbe ao procurador-geral eleitoral:
I. designar o procurador regional eleitoral em cada Estado e no Distrito
Federal;
II. acompanhar os procedimentos do corregedor-geral eleitoral;
III. dirimir conflitos de atribuições;

143
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

IV. requisitar servidores da União e de suas autarquias, quando o exigir a


necessidade do serviço, sem prejuízo dos direitos e vantagens inerentes
ao exercício de seus cargos ou empregos.

Como se nota, a chefia do Ministério Público na disciplina eleitoral é de incumbência


do procurador-geral eleitoral que conta em seu auxílio com o vice-procurador-geral
eleitoral, membro escolhido para um biênio na forma legal, tendo assento nas seções
do Tribunal Superior Eleitoral e atuando por parecer nos recursos eleitorais; além de
funções de parte ativa, quando, v.g., propõe ação de impugnação ao mandato eletivo
em face de candidatos a Presidente e Vice-Presidente da República (ver art. 2 - da Lei
Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990).
0 art. 24 do Código Eleitoral atribui funções ao procurador-geral eleitoral. Entre as
nominadas funções, cumpre ao PGE "expedir instruções aos órgãos do Ministério
Público junto aos Tribunais Regionais" (a r t 24, VIII, do Código Eleitoral). Desta
forma, as diretrizes estabelecidas para todos os procuradores regionais eleitorais são
defluentes da chefia institucional (princípio da unidade formal do Parquet).
Os conflitos positivos ou negativos de atribuições que possam surgir entre
procuradores regionais eleitorais devem ser dirimidos pelo procurador-geral
eleitoral, na forma da lei. Quanto aos conflitos entre promotores eleitorais, a solução
fica com o procurador regional eleitoral, e não com o procurador-geral de Justiça.
Na hipótese de conflitos de atribuição entre promotores eleitorais de Estados
diversos, a solução institucional correta é submeter o parecer final ao procurador-geral
eleitoral, pois, não podemos olvidar que as funções eleitorais se submetem ao princípio
da unidade formal com abstração do caráter hierárquico. O eminente Professor Carlos
Roberto de Castro Jatahy também sustenta competir ao PGE dirimir este conflito.
Recente decisão do Supremo Tribunal Federal, em sessão realizada no dia 28 de
setembro, quando se julgava a Petição na 3 .5 2 8 referente ao conflito de atribuição
entre o Ministério Público Federal e Estadual, o plenário do Excelso Pretório na
linha do voto do relator Sua Excelência Ministro Marco Aurélio decidiu que a norma
do § l s do art. 128 da CRFB, não tem ingerência no Ministério Público Estadual,
considerados os princípios federativos. Assim, a com petência para dirimir o referido
conflito é do STF, conforme art. 1 0 2 ,1,/, da CRFB.4

4 Informativo 403 do STF. Conflito de Atribuições e Competência Originária do Supremo. Compete ao Supremo
Tribunal Federal dirimir conflito de atribuições entre os Ministérios Públicos Federai e Estadual, quando não
configurado virtual conflito de jurisdição que, por força da interpretação analógica do art. 105, !, d, da CF, seja
da competência do Superior Tribunal de Justiça. Com base nesse entendimento, o Tribunal, resolvendo conflito
instaurado entre o MP do Estado da Bahia e o Federai, firmou a competência do primeiro para atuação em
inquérito que visa apurar crime de roubo (CP, art. 157, § 29,1). Considerou-se a orientação fixada pelo Supremo
no sentido de ser dele a competência para julgar certa matéria diante da inexistência de previsão específica na
Constituição Federal a respeito, e emprestou-se maior alcance à alínea f do inciso 1 do art. 102 da CF, ante o fato
de estarem envolvidos no conflito órgãos da União e de Estado-membro. Asseverou-se, ademais, a incompetência
do procurador-geral da República para a soiuçâo do conflito, em face da impossibilidade de sua interferência no
parquet da unidade federada. Precedentes citados: CJ 5133/RS (DJU de 22.5.70); CJ 5267/GB {DJU de 4.5.70); MS
22042 QO/RR {DJU de 24.3.95). Pet 3528/BA, rei. Min. Marco Aurélio, 28.9.2005 (Pet-3528).

144
M in istér io Público C a p ít u l o 7

A judiciosa decisão, ao nosso pensar, não pode atingir os conflitos entre


promotores eleitorais de Estados diversos, nem tampouco entre os procuradores
regionais e os promotores eleitorais, na medida da incidência da Lei Complementar
n- 75/93 (arts. 72 a 77), competindo ao procurador-geral eleitoral dirimir os conflitos
com a aplicação do princípio da unificação form al eleitoral e institucional na
p reservação da norm alidade e legitim idade das eleições, especialmente pela
regra do art. 128, § 1-, da CRFB, e no vazio de norma específica para a solução dos
conflitos.
Os procuradores regionais eleitorais são designados pelo PGE entre os
procuradores regionais da República nos Estados. Neste sentido:

Art 7 6 .0 procurador regional eleitoral juntamente com o seu substituto,


será designado pelo procurador-geral eleitoral, dentre os Procuradores
Regionais da República no Estado e no Distrito Federal, ou, ónde não
houver, dentre os procuradores da República vitalícios, para um mandato
de dois anos.
§ l 2 O procurador regional eleitoral poderá ser reconduzido uma vez.
§ 2 a 0 procurador regional eleitoral poderá ser destituído, antes do
término do mandato, por iniciativa do procurador-geral eleitoral,
anuindo à maioria absoluta do Conselho Superior do Ministério Público
Federal.

0 art. 7 6 prevê que nos Estados onde não houver procurador regional da
República para exercer a função de procurador regional eleitoral, o procurador-
geral eleitoral deverá designar um membro vitalício.
É possível a destituição pelo Conselho Superior do Ministério Público Federal
das funções tem porárias exercidas pelo procurador regional eleitoral, desde que
garantido o devido processo de defesa e nos term os regimentais.
Por fim, o mandato do PRE é de apenas 2 anos, admitindo-se uma única
recondução pelo procurador-geral eleitoral.
O art. 27 do Código Eleitoral estabelece regras sobre o procurador regional
eleitoral nos estados.

7.5. A IMPOSSIBILIDADE DE AUXÍLIO AO PROCURADOR


REGIONAL ELEITORAL
O art. 2 7 ,§ 4 e,do Código Eleitoral assim disciplina: "M ediante prévia autorização
do p ro cu rad or-geral, pod erão os p ro cu rad o res regionais requisitar, para
auxiliá-los nas suas funções, m em bros do M inistério Público local, não tendo
estes, porém , assen to nas sessõ es do Tribunal".
O dispositivo legal não tem mais aplicação, porque o exercício das atribuições
eleitorais junto aos Tribunais Regionais Eleitorais é de atribuição dos membros do

145
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Ministério Público Federal. 0 procurador regional eleitoral poderá ter auxílio apenas
dos procuradores da República, recaindo a preferência em membros vitalícios.
0 artigo em comento está revogado tacitamente pelo a rt 77, parágrafo único, da
Lei Complementar n9 75/93, que vedou o auxílio aos membros do Ministério Público
Estadual. Destaca-se: "0 procurador-geral eleitoral poderá designar, por necessidade
de serviço, outros membros do Ministério Público Federal para oficiar, sob a
coordenação do Procurador Regional, perante os Tribunais Regionais Eleitorais".
Outrossim, o art. 10, IX, alínea h, da Lei ne 8.625/93, na parte final, que permite
a designação de promotor eleitoral para atuar com o procurador regional eleitoral,
igualmente está revogado pelo art. 77, parágrafo único da LC n- 75/93 (lei posterior
revoga a anterior, segundo o art. 2 9, § 1-, da Lei de Introdução ao Código Civil).

7.6. MISSÃO INSTITUCIONAL DOS PROCURADORES REGIONAIS


ELEITORAIS E DOS PRO CU RAD ORES-GERAIS DE JU ST IÇ A
A função institucional dos procuradores regionais eleitorais é comandar o
Ministério Público com atribuições eleitorais nos Estados, procurando estabelecer
diretrizes comuns de atuação contra os abusos do poder econômico, político,
captações ilícitas de sufrágios e ações eleitorais.
Em virtude de lhes competir expedir normas e instruções eleitorais aos auxiliares
(procuradores da República) e, principalmente, aos promotores eleitorais, a função
eleitoral é identificada num panorama de uniformidade formal de atuação, sob pena
de fragmentação do conteúdo pétreo de defesa do regime democrático.
Dirigindo as atividades do setor (disciplina eleitoral), entre outras tarefas,
incumbe aos procuradores regionais eleitorais nos estados, por exemplo; disciplinar
a fiscalização do registro de candidatos, propaganda política eleitoral e prestação
de contas. 0 objetivo é otim izar em todas as comarcas regras de posicionamento
no exercício de funções dos promotores eleitorais, sem, obviamente, atingir a
independência funcional; pois, na essência, as orientações são genéricas e destinam-
se a eliminar certas dúvidas durante o processo eleitoral.
No Estado do Rio de Janeiro existe a Coordenação das Prom otorias Eleitorais
(5 e Centro de Apoio), que serve para interm ediar as questões entre os 247
promotores eleitorais e o procurador regional eleitoral, v.g., apresentando planos
de atuação, apoio material e estratégico e implementando a unificação institucional
entre os Ministérios Públicos (Federal e Estadual).5
As funções eleitorais devem ser compartilhadas entre o Ministério Público Federal
(procurador regional eleitoral) e o Estadual (promotores eleitorais), que, contando
sempre com o apoio incondicional do procurador-geral de Justiça, podem, todos,
unidos, combater a corrupção, o abuso e a captação nas fases do processo eleitoral.

5 O procurador-geral de Justiça contribui efetivamente para o aprimoramento da unificação do Parquet, quando indica
o seu assessor para ocupar a função de coordenador das Promotorias Eieitorais.
MíNíSTÊRio Público C a p ít u l o 7

As missões institucionais se imbricam em prol do interesse da cidadania e nos lídimos


termos da Carta Magna, formando uma união entre os Ministérios Públicos "Federais" e
“Estadual", com a imbatível tareia constitucional de preservação da lisura das eleições.
Não temos receio de afirmar que o Ministério Público exerce uma das mais
dificultosas atribuições, sem dúvida, a eleitoral, pois com a plenitude do exercício de
suas atribuições e propositura de ações eleitorais é possível afastar a corrupção. É por
intermédio de suas ações que os partidos políticos podem canalizar suas "denúncias";
e, por sua intervenção, à Justiça Eleitoral pode manter a isenção necessária ao
julgamento das lides político-eleitorais, cuidando de toda gama de conflituosidades,
consoante princípios constitucionais informativos do nosso sistema democrático.
Os promotores eleitorais devem pautar seus atos e atitudes pela coerência,
discrição, firmeza de caráter, independência e senso de oportunidade, que formam
o arcabouço dos predicados inerentes ao exercício das atribuições eleitorais.
Não se deve descurar de que "o Ministério Público, no desempenho de seu
miinus, mesmo quando atua como fiscal da lei, pode requerer providências visando
à escorreita aplicação das normas eleitorais" (TSE-Agravo Regimental no Agravo de
instrumento ne 4.985/MS, Rei. min. Gilmar Mendes, em 9.12.2004).

7.7 . DESIGNAÇÃO DE P R O M O T O R E S ELEITORAIS


A designação dos promotores eleitorais é ato de natureza complexa entre os
procuradores-gerais de Justiça nos Estados e os procuradores regionais eleitorais.
Na prática, o PGJ deve indicar os nomes por critérios de antiguidade na comarca e
rodízio,6 cabendo ao PRE a designação em assinatura de ato conjunto firmado por
ambas as autoridades com lastro no princípio da unidade institucional.
A base legal da designação e indicação dos nomes forma-se pela interpretação
sistêmica dos arts. 27, § 3 e, do Código Eleitoral; 77 a 79 da Lei Complementar
n2 75/93 e 10, IX, 32, III e 73 da Lei n 9 8.625/93.
A Resolução discipíinadora da designação deve ser conjunta e se pautar
pela preponderância do princípio da unidade institucional. Assim, evita-se a
interpretação isolada do art. 79 da Lei Complementar ns 75/93 em detrimento da
missão institucional de proteção aos interesses da cidadania.
Os promotores eleitorais só devem ser designados por prévia indicação do
procurador-geral de Justiça em obediência ao princípio da hierarquia previsto em
sede constitucional, art. 127, § 2 e da CRFB, na medida em que o Ministério Público
Estadual goza de autonom ia adm inistrativa, o que não gera obstáculo, ao ato
conjunto, cuja complexidade se determ ina pela verdadeira união de propósitos, ou
seja, estabelecer de forma coesa a atribuição eleitoral de cada um dos membros
6 O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedente no sentido de que a questão que envolve a designação de
promotores eleitorais não é matéria de competência eleitoral. Hipótese que não se enquadra no art. 2 9 ,1, e, do Código
Eleitoral. Neste sentido: Recurso em Mandado de Segurança nQ234, Juiz de Fora - MG. Brasília, 10 de setembro de
2002. Ministro Nelson Jobim, presidente - Ministro Fernando Neves, reiator. Publicado no DJ de 25.10.2002.
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

(promotores eleitorais) em razão das peculiaridades locais. Neste sentido, ver


decisão do TSE em Recurso Especial Eleitoral 1 2.704; e precedentes em Resolução
n s 20.932/01 (Consulta 737/PB, Relator Ministro Sepúlveda Pertence: Resoluções
TSE n2* 14.442/ 94 e 20.842/01.
E ainda,
Acórdão ne 19.657, de 15.6.2004. Agravo regimental no Recurso
Especial Eleitoral nB 19,657/MA. Relator: Ministro Humberto Gomes
de Barros. Ementa: Recurso especial. Agravo regimental. Designação
de promotor eleitoral. Improvimento. Cabe ao procurador regional
eleitoral a designação de promotor para exercer a função eleitoral,
devendo o procurador-geral de Justiça apenas indicá-lo (£>/ de
6.8.2004).
Em igual sentido,
Resolução ne 20.842, de 7.8.2001 Processo administrativo n9 18.623/
ES. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Ementa: Ministério Público
Eleitoral. Designação de promotor eleitoral. Gratificação eleitoral.
Pagamento. 1. Impossibilidade de designação de promotor de justiça
por ato unilateral do procurador-geral de justiça estadual para atuar
na Justiça Eleitoral (art. 79, caput, da LC ne 75/93). 2. A gratificação
eleitoral prevista pelo art. 70 da Lei n9 8.625/93 não pode ser paga
a membro do Ministério Público local que não o promotor eleitoral,
nos termos do art. 79, caput, da LC n2 75/93. Precedentes: resoluções
TSE ne 14.442/94, 20.447/99, REspe. n9 16.038/99 e RMS 1. DJ de
14.9.200;.
Sobre o assunto não podemos descurar da regra dos arts, 10, IX, h, e 7 3 da Lei
Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei ne 8.625/ 93), que atribui ao procurador-
geral deJustiça o dever de designar os prom otores eleitorais, preservando a
autonomia administrativa e o princípio hierárquico. De fato, os procuradores
regionais eleitorais não são, hierarquicamente, os chefes dos promotores eleitorais,
mas, sim, os responsáveis pelas diretrizes da unificação eleitoral nos estados.
É sempre valiosa a lição de Pedro Roberto Decomain em sua obra C om entários
à Lei O rgânica N acion al do M inistério Público, Editora Obra Jurídica, São Paulo,
pp. 4 5 6 -4 5 7 , quando sustenta a validade do art. 73 da Lei n 2 8.625/93 em relação
ao art. 79 da Lei Complementar n 9 75/93, firmando premissas básicas, a saber: a) o
art. 79 viola o art. 127, § 2-, da CRFB (autonomia administrativa do MP Estadual);
b) a Lei Complementar ns 75/93 é de iniciativa do procurador geral da República
(art. 128, § 5 9, da CRFB), enquanto a Lei n - 8.625/ 93 é de iniciativa privativa do
Presidente da República (art. 61, § 1-, II, d). E neste conflito de iniciativas para reger
a ordem estadual deve prevalecer a Lei n 9 8.625/ 93, bem como as leis estaduais; e
c) a Lei Complementar n- 75/93 só se aplica aos Ministérios Públicos Estaduais de
forma subsidiária. Da mesma posição é o renomado autor Joel José Cândido, em sua
obra D ireito E leitoral B rasileiro, Editora Edipro.

148 -7
M in istério Público C a p ít u l o 7

Quanto à não competência da Justiça Eleitoral (Tribunal Regional Eleitoral) para


decidir sobre atribuição de promotores eleitorais há precedente do TSE, no sentido
de não admitir esta discussão na seara eleitoral por via de mandado de segurança,
pois não incidente o art. 2 9 , 1, e, do Código Eleitoral, in expressi verbis:
"Relator: Ministro Fernando Neves Ementa: Mandado de Segurança.
Adoção do sistema de rodízio para a designação de promotor eleitoral.
Incompetência da Justiça Eleitoral. Hipótese que não se enquadra
no art. 29, I, e, do Código Eleitoral. Recurso não conhecido. D] de
25.10.2002" (Acórdão Ne 234, de 10.9.2002. Recurso em Mandado de
Segurança na 234/MG).
Cumpre observar que compete à União legislar, privativamente, sobre Direito
Eleitoral, art. 22, I, da CRFB. Nesta linha, a LC n 9 75/93 disciplinou, no art. 79 e
parágrafo único, uma regra lacônica sobre a designação do promotor eleitoral,
porquanto não atende as diferenças de auto-organização local e comarcana da
instituição.
Vê-se, portanto, a falência desta regra diante das diversas formas de estruturação
do Ministério Público, tais como: Promotorias de Tutelas Coletivas, de Proteção à
Criança e Adolescentes, Idosos, Centrais de Inquéritos etc.
No fundo, a regra do art. 79 não prescinde da indicação do Procurador-Geral de
Justiça Estadual, que possui a ampla visão da organização interna do Ministério
Público “local", podendo perscrutar diante do critério da territorialidade a melhor
aproximação do promotor eleitoral com o cidadão, protegendo de forma eficaz toda a
sociedade e garantindo um adequado desempenho das funções eleitorais. A exclusão
do chefe institucional do Ministério Público nos Estados do poder de designação
baseado em critérios prévios e legais não contribui para o aperfeiçoamento do
combate às fraudes, corrupção e abusos eleitorais.
Outrossim, o art. 79 faz menção expressa de vinculação do promotor eleitoral
ao “juízo", e não ao juiz eleitoral. Como se nota, numa visão nacional da questão,
diversos Tribunais Regionais Eleitorais não adotam a vinculação ao “juízo", órgão
previamente determinado pelo Tribunal Regional Eleitoral para exercer através
do juiz que estiver ali investido as funções tem porárias da Justiça Eleitoral. Por
exemplo: o "juízo" da I a Vara de Família vincula a I a Zona Eleitoral.
Na verdade, não é o "juízo" que exerce a investidura temporária, mas, sim, o juiz
(pessoa) escolhida por critérios da Resolução n 9 21.009, de 5 de março de 2002.
Pelo texto da Res. TSE n 9 21.009/02, o juiz exerce a jurisdição eleitoral na
comarca por critério de antiguidade e sistem a de rodízio. No fundo, as normas sobre
o assunto têm o propósito de promover aos juizes a vivência desta singular função.
Por outra rama, não se podem engendrar critérios de vinculação dos promotores
eleitorais à pessoa física de um juiz eleitoral, sob pena de desfiguração da autonomia
administrativa prevista na Carta Magna aos Ministérios Públicos Federal e Estadual.

149
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Se, por exemplo, o juiz Pedro fosse promovido ao cargo de desembargador, ou


se fosse removido voluntariamente de uma comarca, por via indireta, o promotor
eleitoral não seria mais o titular daquela Promotoria Eleitoral, fulminando suas
atribuições e atingindo todo um trabalho de investigação eleitoral em prejuízo da
sociedade e da cidadania.
Como bem explicitado pelo eminente Carlos Roberto de Castro Jatahy: "Esta
interpretação permitiria que o magistrado - e não o Ministério Público - investisse
e removesse, a seu talante, o membro do Ministério Público de suas funções
eleitorais" (Curso d e Princípios in stitu cion ais do M inistério Público, Rio de Janeiro,
Editora Roma Victor, p. 82).
Desta forma, faz-se necessária uma legislação uniforme sobre o assunto, cuja
iniciativa legiferante tenha lastro no art. 61, II, d, da CRFB; portanto, ao Presidente
da República caberá a tarefa de propor projeto de lei que efetivamente discipline
a organização do Ministério Público nesta árdua missão em toda a circunscrição
nacional, jamais olvidando do princípio da territorialidade entre o cidadão e o
promotor eleitoral; ou a iniciativa poderá ser de forma concorrente do procurador
geral da República, na linha de entendimento do disposto no art. 128, § Sã, da CRFB,
com apoio na doutrina de Carlos Roberto de Castro Jatahy, Alexandre de Moraes e
Hugo Nigro Mazzilli, entre outros renomados.
Recentemente, o Conselho Nacional do Ministério Público editou a Resolução
n 9 30, de 19 de maio de 2008, objetivando disciplinar os critérios de designação dos
promotores de justiça para exercerem as funções de prom otores eleitorais.
Cumpre salientar que a Resolução possui caráter normativo, e destacamos o seu
inteiro teor para melhor compreensão do tema:

"RESOLUÇÃO N° 30, DE 19 DE MAIO DE 2008.


Estabelece parâmetros para a indicação e a designação de membros do
Ministério Público para exercer função eleitoral em I a grau.
Art. l s Para os fins do art. 79 da Lei Complementar n 9 75/93, a
designação de membros do Ministério Público de primeiro grau para
exercer função eleitoral perante a Justiça Eleitoral de primeira instância,
observará o seguinte:
I - a designação será feita por ato do Procurador Regional Eleitoral, com
base em indicação do Chefe do Ministério Público local;
II - a indicação feita pelo Procurador-Geral de Justiça do Estado recairá
sobre o membro lotado em localidade integrante de zona eleitoral que
por último houver exercido a função eleitoral;
III - nas indicações e designações subsequentes, obedecer-se-á,
para efeito de titularidade ou substituição, à ordem decrescente de
antiguidade na titularidade da função eleitoral, prevalecendo, em caso
de empate, a antiguidade na zona eleitoral;

150
M in istério P úblico C a p ít u l o 7

IV- a designação será feita pelo prazo ininterrupto de dois anos, nele
incluído os períodos de férias, licenças e afastamentos, admitindo-se
a recondução apenas quando houver um m em b ro na circu n scrição da
zona eleitoral;
§ l 9 Não poderá ser indicado para exercer a função eleitoral o membro
do Ministério Público:
I - lotado em localidade não abrangida pela zona eleitoral perante a qual
este deverá oficiar, salvo em caso de ausência, impedimento ou recusa
justificada, e quando ali não existir outro membro desimpedido;
II - que se encontrar afastado do exercício do ofício do qual é titular,
inclusive quando estiver exercendo cargo ou função de confiança na
administração superior da Instituição, ou
III - que estiver respondendo a processo administrativo disciplinar por
atraso injustificado no serviço.
§ 2 Q Em caso de ausência, impedimento ou recusa justificada, terá
preferência, para efeito de indicação e designação, o membro do
Ministério Público que, sucessivamente, exercer suas funções:
I - na sede da respectiva zona eleitoral;
II - em município que integra a respectiva zona eleitoral;
III ~ em comarca contígua à sede da zona eleitoral.
§ 3 C Os casos omissos serão resolvidos pelo Procurador Regional
Eleitoral.
Art. 2- Não será permitida, em qualquer hipótese, a percepção cumulativa
de gratificação eleitoral.
Art. 3- É vedado o recebimento de gratificação eleitoral por quem não
houver sido regularmente designado para o exercício de função eleitoral.
Art. 4 9 A filiação a partido político impede o exercício de funções
eleitorais por membros do Ministério Público pelo período de dois anos,
a contar de seu cancelamento.
Art. 5 9 As investiduras em função eleitoral não ocorrerão em prazo
inferior a noventa dias da data do pleito eleitoral e não cessarão em
prazo inferior a noventa dias após a eleição, devendo ser providenciadas
pelo Procurador Regional Eleitoral as prorrogações eventualmente
necessárias à observância deste preceito.
§ I a Excepcionalmente, as prorrogações de investidura em função
eleitoral ficarão aquém ou irão além do limite temporal de dois anos
estabelecido nesta Resolução, sendo a extensão ou redução do prazo
realizada apenas pelo lapso suficiente ao cumprimento do disposto no
caput deste artigo.
§ 2- Fica vedada a fruição de férias ou licença voluntária do promotor
eleitoral no período de noventa dias que antecedem o pleito até quinze
dias após a diplomação dos eleitos.

151
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Art. 6 9 As autorizações previstas no art. 2e da Resolução CNMP n9 26, de


17.12.2007, que implicarem residência em localidade não abrangida pela
zona perante a qual o promotor eleitoral deva oficiar serão suspensas
por ato do Procurador-Geral, no período a que se refere o art. 5e, § 2S,
desta Resolução.
Art. 1~ Os Procuradores Regionais Eleitorais editarão, no prazo máximo
de sessenta dias, atos prorrogando a investidura dos atuais membros
do Ministério Público Eleitoral de l fi grau indicados e designados para
exercer a função eleitoral por prazo inferior a dois anos, observado o
disposto no art. 5a.
Art. 8s Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 19 de maio de 2008.
ANTONIO FERNANDO BARROS E SILVA DE SOUZA
Presidente do Conselho Nacional do Ministério Público"

Ressaltamos alguns aspectos fundamentais desta Resolução:


1 - A designação dos Promotores de Justiça para e x e rc er em as fu n ç ões eleitorais não
deve se basear em membro que esteja lotado, exclusivamente, na circunscrição
eleitoral (território da zona eleitoral), porque se um Promotor Eleitoral residir
em bairro diverso, ocorrerá extrema dificuldade da designação.
Não foi essa a intenção do legislador. Nesse sentido, o Exmo. Procurador-Geral
de Justiça do Estado de São Paulo, Dr. Fernando Grella Vieira, requereu ao Egrégio
Conselho Nacional do Ministério Público a alteração do art. I a, lí e § 1 1 , do
apontado ato normativo para corrigir este aspecto com a finalidade de exigir que o
Promotor de Justiça Eleitoral resida na comarca que abranja a zona eleitoral em que
esteja lotado, com as ressalvas de eventuais autorizações excepcionais emanadas da
Procuradoria-Geral de Justiça para atender a necessidade do serviço eleitoral.
Desta forma, consagra-se a antiguidade na comarca como critério de designação,
inclusive permanecendo o rodízio na função eleitoral.
2 -A Resolução consagrou que o critério de designação é, efetivamente, um ato
complexo quando temos a manifestação de vontade do Procurador-Geral de Justiça
e do Procurador Regional Eleitoral.
3 -O prazo de designação é de 2 anos, inclusive sendo prorrogado, automaticamente,
em relação aos Promotores Eleitorais já designados no momento de vigência da
Resolução n- 30/2008. O ato de prorrogação não necessita de regulamentação no
âmbito estadual pelo Procurador Regional Eleitoral e Procurador-Geral de Justiça.
Neste caso, entendemos que é suficiente a expedição de um ato de aviso no Diário
Oficial aos Promotores Eleitorais que já estavam designados.
Na verdade, rompe-se os critérios tem porais anteriores para adequação ao prazo
de 2 anos.

152
M in istério Público C a p ít u l o 7

Todavia, entendemos que não é possível a prorrogação da investidura temporária


de membros do Ministério Público que, no momento da vigência da Resolução,
estejam afastados da função eleitoral, v.g., exercendo cargo ou função de confiança
na Administração Superior da Instituição.
Tratando o art. 7 9- de membros "indicados ou designados", não há que se falar
em prorrogação da investidura de quem se encontra afastado temporariamente da
função, pois, ao nosso entender, esses afastam entos transformam-se em definitivos.
4 - 0 a rt l 2, § l e, I, trata do impedimento para a função eleitoral e da recusa justificada.
Estas exceções devem ser analisadas conjuntamente pelo Procurador-Geral de
Justiça e Procurador Regional Eleitoral.
A recusa justificada não pode servir ao pretexto de fomentar a omissão no
exercício da atividade funcional.
Todavia, o Promotor de Justiça que está exercendo funções eleitorais poderá
apresentar a recusa justificada para casos que envolvam relações de parentesco,
suspeição, motivos de saúde, licenças anteriorm ente concedidas e hipóteses
excepcionais.
Cumpre frisar que os membros das Juntas Eleitorais e os mesários também
podem recusar, justificadamente, o exercício desse múnus público (art. 344 do
Código Eleitoral).
5 - 0 art. I a, § 1 Q, III, impede que seja designado membro do Ministério Público que
esteja respondendo a processo administrativo disciplinar em razão do atraso
injustificado do serviço. Trata-se de medida preventiva, uma vez que a desídia
funcional pode prejudicar, consideravelmente, o desempenho eficaz da função
eleitoral, já que os feitos eleitorais, segundo dispõe o art. 94, da Lei n 9 9.504/97,
"no período entre os registros das candidaturas até 5 dias após a realização do
segundo turno das eleições terão prioridade para participação do Ministério
Público..."
Com efeito, o art. 16 da Lei Complementar n 9 64/90 disciplina que os prazos
sobre registros de candidatos, não se suspendem aos sábados, domingos e feriados,
além de serem contínuos e peremptórios e correrem em secretaria e cartório.
E importante frisar que o princípio da celeridade é imbricado nas regras
eleitorais, até porque o art. 1 2 7 da Constituição da República impõe ao Ministério
público o dever de defesa do regime democrático.
Nesta linha de raciocínio, é desarrazoado entendermos que o processo
administrativo deva estar julgado definitivamente para a incidência de tal regra, pois
o mandamento constitucional não pode ceder a uma vontade unilateral do Promotor,
vez que não haverá prejuízo em seus subsídios e prerrogativas institucionais.
6 -E importante frisar que a natureza jurídica do ato de designação e indicação não
é cogente, quando são disponibilizadas escolhas aos Promotores de Justiça de

153
M arcos Ramayana D ir e it o E l e it o r a l

determinadas zonas eleitorais (Prom otorias Eleitorais), até porque a função é


retribuída monetariamente cora a gratificação eleitoral.
Se um Promotor de Justiça é mais antigo do que o outro na comarca, ele poderá
escolher a melhor zona eleitoral para exercer a sua investidura tem porária pelo
prazo de 2 anos. Assim, ele não está obrigado a escolher e ser indicado para a zona
eleitoral da qual não concorreu ou não manifestou vontade, exceto em comarcas
de Juízo único ou em hipóteses que demandem uma designação específica (por
exemplo, acompanhar o sistem a de geração de mídias para as urnas eletrônicas).
Em outras palavras, se um Promotor é mais antigo que o outro, tem o direito de
escolher a zona eleitoral de sua preferência e ser indicado para a mesma.
7 -Os Procuradores Regionais Eleitorais devem editar, juntamente com os Procuradores-
Gerais de Justiça, resoluções específicas para os respectivos Estados-membros,
objetivando preencher eventuais lacunas em razão de peculiaridades locais.

7 .8 . FILIAÇÃO PARTIDÁRIA DOS M EMBROS DO MINISTÉRIO


PÚBLICO. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL. EXCEÇÃO NA H IPÓTESE
DE APOSENTADORIA OU EXONERAÇÃO
Acrescendo sobre o assunto, o art. 80 da Lei Complementar n9 75/93 assim diz:

Art. 80 A filiação a partido político impede o exercício de funções


eleitorais por membro do Ministério Público até dois anos do seu
cancelamento.

Trata-se de dispositivo que impede o comprometimento ou suspeita de envol­


vimento tendencioso do membro do Ministério Público com atribuições eleitorais,
pois, após se desfiliar deve ficar 2 (dois) anos sem atuar nas funções eleitorais.7
Esta regra tem uma destinação tem porária bem reduzida no âmbito interno da
instituição, porque sendo vedada a filiação aos membros do Ministério Público pela
Emenda Constitucional ne 45, os casos transitórios em breve findarão. Todavia,
em relação aos candidatos aprovados nos concursos públicos e recém-ingressos, o
dispositivo terá inteira aplicabilidade. Neste caso, os aprovados devem providenciar,
antes da posse, a devida desfiliação do partido político e aguardar por 2 anos até
estarem aptos a atuar em feito s eleitorais e nas eleições.
Outrossim, a regra do art. 204 da LC ns 75/93, que trata da desincompatibilização
por licença e remuneração,8 é norma de restritíssima aplicabilidade, pois se destina aos

7 Sobre a desfiliação, favor consultar os arts. 21, parágrafo único, e 22 da Lei n9 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos).
8 “{Informativo 409 do STF. ADI: Membros do MP e Exercício de Outros Cargos e Funções). O Tribunal julgou
improcedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Governador do Estado do Rio
de Janeiro contra a alínea c do § 1s do a rt 9e e do art. 165, ambos da Lei Complementar estadual nQ 106/2003 - Lei
Orgânica do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que, respectivamente, estabelece a inelegibilidade para
o cargo de procurador-geral de Justiça dos procuradores e promotores de Justiça que ocupem cargo ou função
de confiança e deles não se desincompatibilizem, por afastamento, pelo menos 60 dias antes da data de eleição; e
assegura aos membros do Ministério Público, admitidos antes da promulgação da CF/88, o que dispõe o § 39 do art. 29

154
M in istér io P úblico C a p ít u l o 7

aprovados no concurso público que fizeram a opção pelo regime anterior, nos moldes
do art. 29, § 3 9, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da CRFB. Quem
optou, ao n osso pensar, fazju s ao respeito pelas garantias; sendo-Ihe permitida a filiação
partidária como condição de elegibilidade constitucional. Trata-se de assegurar o direito
adquirido ao regime transitório em face de emenda constitucional superveniente que
afasta a regra por ser decorrente do poder constituinte derivado, enquanto que o Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias defluiu do poder originário.9
0 Egrégio Tribunal Superior Eleitoral decidiu que; "O membro do Ministério
Público que pretende concorrer nas eleições do próximo ano (2 0 0 6 } poderá
realizar sua filiação partidária até seis m eses antes do pleito. Já o prazo de
desincompatibilização dependerá do cargo para o qual o candidato concorrer. Essa
foi a resposta dada pelo Tribunal Superior Eleitoral à consulta feita pelo Senador
Alberto Silva (PMDB-PI) e relatada pelo ministro Cesar Rocha”.
Registre-se, ainda, a Consulta 22.012/ 05 do Egrégio TSE, nestes termos; “Os
membros do Ministério Público, por estarem submetidos à vedação constitucional
de filiação partidária, estão dispensados de cumprir o prazo de filiação fixado em lei
ordinária, devendo satisfazer tal condição de elegibilidade até seis meses antes das
eleições, de acordo com o art. I 9, inciso II, letra j, da LC n- 64/90, asseverando ser
o prazo de filiação dos membros do Ministério Público, o mesmo dos magistrados.
0 prazo para desincompatibilização dependerá do cargo para o qual o candidato
concorrer, prazos previstos na LC n9 64/90. Brasília, 12 de abril de 2005".
0 Tribunal Superior Eleitoral, analisando a questão após a Consulta 22.012/05,
especificamente, na Resolução ns 22.0 9 5 , de 4 de outubro de 2005 (Consulta
n- 1154), decidiu que a aplicação da Emenda Constitucional n- 45/04 é “imediata e
sem ressalvas, abrangendo tanto aqueles que adentraram nos quadros do Ministério
Público antes, como depois da referida emenda à Constituição" (D iário da Justiça,
volume I, 2 4 de outubro de 2005, p. 8 9 ).10

do ADCT (“Art. 29. Enquanto não aprovadas as íeis compiementares relativas ao Ministério Público... § 39 Poderá optar
pelo regime anterior, no que respeita às garantias e vantagens, o membro do Ministério Público admitido antes da
promulgação da Constituição, observando-se, quanto às vedações, a situação jurídica na data desta.”). Entendeu-se
que o primeiro preceito atacado não autoriza o exercício de outros cargos ou funções de confiança, tal como alegado,
em ofensa ao art. 128, il, d, da CF, mas tão só determina que os que os ocupem, e desejem concorrer à eleição de
procurador-geral de Justiça, deies se afastem, pelo menos 60 dias antes do pleito. Rejeitou-se também a apontada
inconstitucíonalidade relativa ao segundo preceito, ao fundamento de que este apenas repete o disposto no art 29,
§ 38, da CF, não havendo previsão, nem na Constituição Federal nem na Lei Orgânica do Ministério Público União,
acerca do prazo para o exercício da opção nele veiculada. ADI 2836/RJ, rei Min. Eros Grau, 17.11.2005. (ADI-2836)”.
9 A regra da opção pelo regime anterior foi corretamente criticada pelo eminente Hugo Nigro Mazzilli: “Fruto
de poderoso lobby, tal dispositivo transitório, visando a acomodar situações e interesses particulares, acabou
desnaturando em grande parte o perfii constitucional que fora reservado ao Ministério Público. A uma, porque
os membros do Ministério Púbiico Federal que já advogavam poderão continuar a fazê-lo; a duas, porque o
afastamento da carreira, para atividades político-partidárias ou para cargos administrativos, poderá continuar a ser
utilizado quase que irrestritamente...” (Regime Jurídico do Ministério Púbiico, 5^ ed., São Paulo, Saraiva, p. 379).
10 Mesta obra sustentamos a posição contrária, ressaSvando os ingressos antes da aludida Emenda Constitucional,
porque não se trata de aplicação linear em relação a todos os membros, pois existe, ao nosso pensar, um direito
adquirido por norma decorrente do poder constituinte originário no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
rsão podendo esta matéria ser alterada por Emenda Constitucional.

155
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

A questão é relevante e polêmica, inclusive em recente decisão, o Conselho


Nacional do Ministério Público apreciando o exercício da atividade política
partidária (processo 06/ 2005), Relator Exme Conselheiro Hugo Melo, entendeu,
por maioria, que a vedação é absoluta para os ingressados após a EC ne 45, mas
permitiu a atividade aos membros ingressos de 1 9 8 8 até a EC ns 45. Destacam-
se, os doutos votos vencidos dos Excelentíssimos Conselheiros Hugo Melo, Ricardo
Mandarino, Luiz Carlos Madeira, Alberto Cascais e Janice Ascari, no sentido de que
a vedação era absoluta para todos, conforme precedente da Resolução do Egrégio
Tribunal Superior Eleitoral, ressalvando-se os mandatos em curso.
Por fim, a questão referente à filiação partidária de membros do Ministério
Público que optaram pelo regime jurídico anterior foi definida, conforme notícia e
decisão infradestacadas, da seguinte forma:
TSE defere registro de candidatura a deputado estadual ao
promotor paulista Fernando Capez. 0 ministro Cezar Peluso, do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acolheu o recurso para conceder o
registro ao candidato Fernando Capez, que concorreu a uma vaga de
deputado estadual em São Paulo pela coligação PSDB-PFL. De acordo
com informações da Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE,
Fernando Capez recebeu 95.101 votos na eleição do dia 1B de outubro.
A decisão do ministro relator torna necessária a retotalízação dos
votos para deputado estadual em São Paulo.
0 promotor Fernando Capez teve o registro da candidatura impugnado
pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) sob a alegação de que não teria
se afastado definitivamente de suas funções junto ao Ministério Público
de São Paulo. Diante disso, lhe seria vedado o exercício de atividade
político-partidária e, portanto, ele não poderia se candidatar.
Ao julgar o recurso do candidato (RO 1070), em decisão monocrática
(individual), o Ministro Cezar Peluso considerou a alegação de
que Fernando Capez “teria optado pelo regime jurídico anterior à
Constituição Federal de 1988”. Diante da opção, não lhe seria vedado
“o exercício de atividade político-partidária". Na decisão, o Ministro
aduziu que o candidato teria comprovado afastamento do exercício das
funções no prazo legal, por meio do pedido de licença.
O ministro ressaltou que o candidato Fernando Capez pediu
afastamento da carreira em 31 de março deste ano e que o afastamento
foi autorizado a partir da mesma data, "mediante ato do Procurador-
Geral de Justiça".
0 ministro Cezar Peluso lembrou que, no julgamento de recurso
semelhante, o TSE manifestou entendimento de que "o art. 29, § 3-,
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias [da Constituição
Federal], ao assegurar aos membros do Ministério Público, no tocante
às vedações que a Constituição lhes impõe, a observância da situação
jurídica que detinham quando da promulgação da Carta, assegura-lhes

156
M in is t é r io P ü b l ic o C a p ít u l o 7

o direito ao exercício de atividade político-partidária, e tal exercício


antecedia a promulgação"; [...) (Acórdão na 999, de 19.9.2006, Rei. Min.
Gerardo Grossi).
Diante das alegações, o Ministro Cezar Peluso concluiu que “Não há
irregularidade na manutenção de filiação partidária por membro do
Ministério Público que fez a opção a que se refere o § 3a do art. 29 do
ADCT da Constituição Federal".
0 parágrafo 3a do referido artigo 29 diz o seguinte: "Poderá optar pelo
regime anterior, no que respeita às garantias e vantagens, o membro
do Ministério Público admitido antes da promulgação da Constituição,
observando-se, quanto às vedações, a situação jurídica na data desta”.
"Recurso ordinário ne 1070 - São Paulo - SP
Relator: Ministro Cezar Peluso
Recorrente: Fernando Capez
Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmín e outros.
Recorrido: Ministério Público Eleitoral
ELEIÇÕES 2006. Registro de candidato. Promotor de justiça.
Constituição Federal de 1988. Art. 29, § 3 S, do ADCT. Regime anterior.
Opção. Filiação partidária. Manutenção. Ilegalidade. Ausência. Recurso
a que se dá provimento.
DECISÃO
1. A Coligação PSDB/PFL solicitou registro de candidatura de Fernando
Capez ao cargo de deputado estadual (fl. 2}, o qual, segundo relatório
expedido pela Secretaria de Tecnologia da Informação desta Corte,
obteve 95.101 (noventa e cinco mil, cento e um) votos no pleito de 2006.
O Ministério Público Eleitoral impugnou o pedido (fl. 20). Alegou que o
pré-candidato não teria juntado as certidões criminais fornecidas pelos
tribunais competentes em razão do foro por prerrogativa de função.
Afirmou que lhe seria vedado o exercício de atividade político-partidária
e que ele não se teria afastado definitivamente de suas funções.
Manifestação do pré-candidato às fls. 40-60.
O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo acolheu a impugnação e
indeferiu o pedido de registro. O acórdão está assim ementado:
Registro de candidato - Impugnação em razão de inelegibilidade
de pretendente à candidatura, por sua condição de integrante do
Ministério Público do Estado de São Paulo - 'status' assemelhado
nas garantias funcionais, ao Poder Judiciário - Aplicação da Emenda
Constitucional ns 45/2004 - Proibição do exercício de atividade político
- partidária ao membro do Ministério Público tem aplicação imediata
sem ressalvas, aplicando-se a todos, independentemente da data do
ingresso na carreira - Ressalva de posição pessoal - Indeferimento do
registro - Acolhimento da impugnação (fl. 162).

157
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Daí, a interposição deste recurso ordinário (fl. 186). Fernando Capez


alega que teria optado pelo regime jurídico anterior à Constituição
Federal de 1988, não lhe sendo vedado, portanto, o exercício de
atividade político-partidária. Afirma que o art. 29, § 3e, do ADCT não
seria incompatível com a EC n2 45, nem tampouco teria sido por ela
alterado. Sustenta que, por ser norma especial e por assegurar direitos,
a interpretação do a rt 29, § 3-, haveria de ser extensiva, e não restritiva.
Aduz que teria comprovado afastamento do exercício de suas funções
no prazo legal, por meio de pedido de licença. Requer a reforma do
acórdão e o conseqüente deferimento do seu pedido de registro de
candidatura.
Contrarrazões do Ministério Público Eleitoral à fl. 202.
A Procuradoria-Geral Eleitoral opina pelo conhecimento do recurso e,
no mérito, pelo seu improvimento (fl. 228).
2. Viável o recurso.
Quanto à filiação partidária, verifico constar dos autos certidão
expedida pelo juízo da 6a Zona Eleitoral/SP, com a informação de
que o recorrente consta da relação de filiados encaminhada em
20.4.2006 à Justiça Eleitoral pelo PSDB - Partido da Social Democracia
Brasileira, com data de filiação de 27.3.2006" (fl. 11).
Recentemente, quando do julgamento do RO ne 999, em 19.9.2006,
esta Corte entendeu que;
[..J
1 .0 a rt 29, § 32, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, ao
assegurar aos membros do Ministério Público, no tocante às vedações
que a Constituição lhes impõe, a observância da situação jurídica que
detinham quando da promulgação da Carta, assegura-lhes o direito ao
exercício de atividade político-partidária, e tal exercício antecedia a
promulgação.
[...) (Acórdão n- 999, de 19.9.2006, Rei. Min. Gerardo Grossi).
O recorrente pediu (fl. 12) seu afastamento da carreira, a partir
de 31 de março de 2006 tendo, ainda, manifestado, nesta
oportunidade [28.3.2006], opção pelo regime anterior, nos termos do
a rt 29, § 3 e, do ADCX da Constituição Federal."
0 afastamento foi autorizado a partir de 31.3.2006, mediante ato do
Procurador-Geral de Justiça (fl. 13).
Não há irregularidade na manutenção de filiação partidária por
membro do Ministério Público que fez a opção a que se refere o § 32 do
art. 29 do ADCT da Constituição Federal.''
3. Ante o exposto, dou provimento ao recurso.
Brasília, l e de novembro de 2006.
Ministro Cezar Peluso
M in istér io P úblico C a p ít u l o 7

7 .9 . FALTA DE INTERVENÇÃO. NÜLIDADE DO FEITO. PRINCÍPIO


DA CELERIDADE ELEITORAL
O Ministério Público como instituição predestinada à defesa da cidadania e da
amplitude democrática, jamais poderá ser esquecida ou omitida na atuação eleitoral,
seja na condição de fiscal da lei ou de parte autônoma.
O Estado Democrático conta, essencialmente, com a atividade de fiscalização do
Ministério Público nas lides eleitorais e nas diversas fases do processo eleitoral,
cujos interesses são de ordem pública primária e indisponível.
A intervenção do órgão do Parquet, por intermédio do procurador-geral eleitoral,
procuradores regionais eleitorais e promotores eleitorais se evidencia pela natureza
da lide pública na mais sublime grandeza do resguardo da Carta Magna e de todo
o arcabouço da legislação político-eleitoral que afeta diretamente a estrutura e
formação do Estado Democrático.
A obrigatoriedade de intervenção nas ações eleitorais deflui da indisponibilidade
objetiva (natureza da lide), mas não se pode olvidar da questão referente à qualidade
das partes envolvidas: (partidos políticos, candidatos e coligações, inclusive em
alguns casos, o próprio cidadão). Assim, podemos concluir que a intervenção é
dúplice (objetiva: pela natureza da lide; e subjetiva, pela qualidade das partes). Nesta
última hipótese, não estamos diante de incapazes, mas agindo como órgão fiscal
e substitutivo da pulverizada legitimação a d causam . É como se a ordem jurídica
clamasse pela intervenção de órgão suprapartidário e isento, com a finalidade de
carrear aos Tribunais a justiça democrática-constitucional, considerando serem
eventualmente frágeis as partes originalmente legitimadas para sustentar suas
írresignações em grau recursal ou por via impugnativa autônoma.
0 exemplo mais evidente da afirmativa acima se traduz pela análise do art. 22,
incisos XIV e XV, da Lei Complementar nâ 64, de 18 de maio de 1990: que atribui
legitimação ao Ministério Público, quase que como dever indeclinável do seu ofício
para propor a ação de impugnação ao m an á a to eletivo (art. 14, §§ 10 e 11 da CRFB),
ou, ainda, interpor o recurso contra a expedição do diploma (art. 262, IV, do Código
Eleitoral); quando a ação de investigação judicial eleitoral ou representação por abuso
do poder econômico e/ou político for julgada posteriormente à eleição em que se
verificou o fato. Vê-se que, neste caso, a legitimação originária podia ser de qualquer
outro colegitimado para a ação investigativa. Todavia, independentemente da
atitude ativa do colegitimado, c o m p e te ao M inistério Público esta inafastável função
institucional, agindo com todos os meios possíveis na produção da prova dentro de
parâmetros razoáveis, cujo reconhecimento é firme e pacífico na jurisprudência dos
Tribunais Regionais Eleitorais e do Tribunal Superior Eleitoral e doutrina.
, Cumpre observar, no entanto, que o interesse de agir em determinado processo
eleitoral é posição exclusivamente discricionária do membro do Ministério Público,
pois não se pode chegar ao exagero de se exigir a intervenção na assinatura de títulos

1S9
M a r c o s R am a ya n a D ir e it o E leito ral

eleitorais, mas, ao contrário, é possível a fiscalização na transferência de eleitores ou


no alistamento eleitoral. Por exemplo: pode um eleitor fornecer um endereço falso
como sendo de sua residência, o que obriga a intervenção do promotor eleitoral.
Quanto à obrigatoriedade de intervenção do Ministério Público por força da
regra do art. 82, III, do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente para as
questões eleitorais, destacamos as valiosas lições do professor Carlos Roberto de
Castro Jatahy, in e x p r e s s i v e r b is :
"0 dispositivo assume vital importância, eis que os arts. 84 e 246 do CPC
preconizam a nulidade de qualquer feito, em face da não intervenção
do Ministério Público. Como não há norma disciplinando tais
hipóteses, diversamente dos incisos I e II, caberá ao Ministério Público,
discricionariamente, decidir se deverá ou não intervir, submetendo
sua decisão ao crivo do Judiciário (BARBI, 1983, v. X, p. 381), a
quem competirá tão somente aferir a legalidade, ou seja, o exercício
regular deste poder discricionário. Note-se que a obrigatoriedade da
atuação deve ser tida como oportunidade do Parquet estar presente
no processo, sendo devidamente intimado a se manifestar acerca da
existência ou não do interesse público. É importante destacar que só se
vislumbra nulidade por ausência de oportunidade para a intervenção e
não por ausência de efetiva intervenção" (obra acima referida, p. 207).
Sobre a necessidade impostergável de intimação do Ministério Público,
sublinhamos excelente assertiva do eminente promotor de Justiça Emerson Garcia,
ao ressaltar a incidência da Lei Complementar n B 75/93, que disciplina e obriga a
intimação pessoal, in verbis:
"É relevante ressaltar que a LC nB 75/93 é posterior à LC n9 64/90
tendo estabelecido norma específica com relação à intimação dos
membros do Ministério Público, logo, derrogou a norma genérica
prevista no art. 16 da LC na 64/90, a qual somente seria passível de
aplicação aos demais interessados. E ainda, o que reforça a assertiva de
que não poderia ser desconsiderada a prerrogativa prevista na norma
especial" (Abuso de Poder nas Eleições, Rio de Janeiro, Lumen Juris, p.
105).
Em resumo: se o membro do Ministério Público nas funções eleitorais não for intimado
de um processo eleitoral, o feito estará acobertado pela nulidade com base nos arts. 84 e
246 do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente. Nota-se, ainda, que a legislação
eleitoral em diversos artigos contempla de forma expressa a atuação do Parquet.
Impende frisar a hipótese de não intervenção do promotor eleitoral, quando o
juiz eleitoral entende pela sua obrigatoriedade, havendo discordância de posições
(sobre o assunto consultar a obra do Professor Carlos Roberto de Castro Jatahy).
Neste caso, a solução é a rem essa dos autos ao procurador regional eleitoral com
base nos arts. 126 do Código de Processo Civil e 357, § l s, do Código Eleitoral
(adoção de interpretação analógica ao art. 2 8 do Código de Processo Penal).

160
MINISTÉRIO PÚBLICO C apítulo 7

Caberá ao procurador regional eleitoral perscrutar sobre o interesse da intervenção,


e se concluir positivamente, deverá encaminhar ofício ao procurador-geral de Justiça
para a indicação do nome de outro promotor eleitoral para substituir, sem prejuízo de
eventual análise de responsabilidade funcional, inclusive pela observância da regra
do art. 94 da Lei n9 9.504/97, que prioriza a intervenção do Ministério Público no
período entre o registro das candidaturas e até cinco dias após o segundo turno.
Por fim, acaso seja negada a intervenção do P arqu et pelo órgão jurisdicional, é
possível a impetração de mandado de segurança visando tutelar o "direito líquido
e certo" do inciso III do art. 82 do Código de Processo Civil, ou, alternadamente, a
interposição de reclamação ou correição parcial previstos no regimento interno e
Código de Organização Judiciária.
0 Egrégio TSE tem precedente quanto à supressão da intervenção do Ministério Público
pela adoção da regra do § 29 do a rt 249 do Código de Processo Civil, in expressi verbis:
Recurso Especial Eleitoral n9 23.515/TO. Relator: Ministro Humberto
Gomes de Barros Decisão: 1. O recurso especial enfrenta acórdão que
considerou válida convenção homologada pela direção regional do Partido
do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e conferiu à Justiça Comum
competência para dirimir divergências intrapartidárias. Esta, a ementa
(fl. 608): "Recurso eleitoral. Impugnação de registro de candidaturas.
Divergência entre grupos da agremiação. Realização de duas convenções.
Matéria interna corporis. Incompetência da Justiça Eleitoral. Ausência de
intimação do promotor eleitoral. Nulidade. Possibilidade de aplicação
do § 2~ do art. 249, CPC. A nulidade decorrente da ausência de intimação
do promotor eleitoral em impugnação de registro de candidaturas, não
deve ser proclamada, quando for possível decidir o mérito conforme seu
pronunciamento, nos termos do § 29 do art 249 do CPC. Se os membros
do partido realizam duas convenções, deve prevalecer aquela convalidada e
homologada pela direção regional da agremiação, se não houver decisão da
Justiça Comum em sentido diverso. Quaisquer questionamentos decorrentes
devem ser submetidos à apreciação judicial no foro competente".
Cumpre examinarmos, neste passo, o fato de constar em artigos diversos da legislação
eleitoral a obrigatoriedade de intimação do Ministério Público. Por exemplo, na Resolução
n2 21.575/03 (de natureza temporária e disciplinadora das reclamações e representações
ao descumprimento da Lei n9 9.504/97), o a rt 10, § 3 9, dizia: "Nos casos em que o
Ministério Público for parte, sua intimação dar-se-á mediante encaminhamento de cópia
da decisão”, e o a r t 8-, assim dispunha: *'0 juiz poderá encaminhar o feito ao Ministério
Público para parecer, a ser proferido no prazo máximo de 24 horas; vencido esse prazo,
com ou sem manifestação, os autos deverão ser imediatamente devolvidos ao juiz".
É importante frisar que sendo o processo democrático eleitoral substancialmente
de ordem indisponível de interesses da cidadania, não é permitido ao membro do
Ministério Público negar a sua intervenção sob o singelo argumento da falta de

161
M a r c o s R am ayana D ir e it o E leitoral

interesse, ao contrário, o interesse é estatutário jurídico-político constitucional e


a cobrança da sociedade decorre da participação popular, ius su fraggi ensejando a
legitimidade da justiça constitucional.11
Em virtude dessas considerações, em rem ate final, podemos destacar as valiosas
lições de Nelson Nery Júnior:
"Decisão sobre a intervenção do MP. Trata-se de ato complexo.
Somente quando as duas instituições (Magistratura e MP) quiserem
e estiverem de acordo é que se dará a intervenção. Caso uma das
duas não queira, não intervirá o MP. A nenhuma delas cabe, sozinha,
decidir se haverá intervenção do MP. Se só o MP quiser, o juiz poderá
indeferir sua intervenção, que será definitiva, se o Tribunal negar
provimento a eventual recurso. Se só o juiz quiser, não poderá ele,
tampouco o Tribunal, ordenar que o MP intervenha no processo, dado a
independência jurídica e funcional do órgão do MP. incorreta a decisão
que entendeu poder o juiz ordenar a intervenção do MP, que teria de
obedecer (TJ/MG-RT 599/189, e Código de Processo Civil Comentado,
São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 402).
Por fim, o art. 125, § 5 a, da Constituição da República Federativa do Brasil assim
dispõe: “A distribuição de p ro cesso s no M inistério Público se rá im ed iata”.
A novidade foi introduzida pela Emenda Constitucional ns 45/ 04 que tratou da
Reforma do Judiciário.
Com o intuito de estabelecer uma forma de sinergia (associação de vários
fatores que contribuem numa ação coordenada), o legislador constituinte traçou na
reform a do Poder Judiciário, cujos reflexos acarretam transform ações no âmbito do
Ministério Público, inclusive no âmbito eleitoral, a necessidade de otimizar, acelerar
e dar praticidade à prestação jurisdicional em tempo razoável.
A razoabilidade da entrega da prestação jurisdicional é direito subjetivo
constitucional do cidadão em razão da reforma constitucional do Judiciário,
especialmente pelo disposto do art. 5 9, inciso LXXVIII, da CRFB, nos termos seguintes:
"a todos, no âmbito judiciai e adm inistrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tram itação",
Não há dúvidas de que o princípio da celeridade na entrega da prestação jurisdicional
deverá formatar obrigatoriamente um sistema de agilidade entre a entrega dos autos
ao Ministério Público e sua devolução ao Poder Judiciário, ambos, sinergeticamente,

11 (Recurso Ordinário ne 113, Acórdão ns 113, de 1--9.98, rei. Ministro Néri da S i l v e i r a ) A impugnação do Ministério
Público Eleitoral não Joi conhecida, porque intempestiva. Considerou-se aplicável, na espécie, o disposto no art. 30 da Lei
Complementar n9 64/90, regra especial, e não a norma do art. 18, II, letra/?, da Lei Complementar n9 75/93. Nesse sentido,
decidiu a Corte na sessão de 31.8.98, no Recurso Ordinário n9 117/PE, de que fui relator. O prazo para o Ministério Público
flui, também, da data da publicação do edital referente ao pedido de registro, não cabendo, nesta matéria, pretender-se a
intimação pessoal do Ministério Público. Por conseguinte, a questão encontrava-se preclusa, não podendo ser conhecida.
No mesmo sentido: "Registro de candidatura. Perda de mandato (art 1», I, b, da LC n- 64/90). impugnação não oferecida
no prazo previsto no art. 35 da LC ne 64/90, a que se sujeita, também, o Ministério Público. Conhecimento de ofício
da matéria. Inviabilidade, na espécie, por se tratar de ineíegibiiidade infraconsfitudona!. Precedentes. Recurso provido.
Sujeita-se o Ministério Público ao prazo do art. 39 da LC ns 64/90, para o oferecimento de ação de impugnação de registro
de candidatura. Não se conhece de ofício de matéria relativa a causa de inelegibilidade infraconstituciona!

162
M in is t é r io P ú b l ic o C apítulo 7

voltados para cumprir o desiderato constitucional da eficácia da celeridade. Todavia,


embora a Carta Magna tenha se referido ao aspecto da distribuição "no M inistério
Público", o que obriga uma reengenharia de agilização processual dentro da instituição
do Parquet, a norma constitucional não retirou ou mitigou as regras de intimação
pessoal do órgão ministerial. No fundo, o cidadão não poderá submeter-se às delongas
na entrega da prestação jurisdicional, o que enseja uma celeridade na tramitação dos
processos, sem descurar-se do princípio do devido processo legal,
Para cumprir a meta jurígena-constitucional da razoabilidade da duração d os
processos, a distribuição imediata im portará na permanente estruturação da
instituição num sistem a de plantão, inclusive pela regra constitucional do art. 93,
XII, in expressi verbis: "a atividade jurisdicional se rá ininterrupta, sendo vedado
férias coletivas nos juízos e trib u n ais de segundo grau, funcionando nos dias
em que não houver expediente foren se n orm al, juizes em plantão p erm an ente"
Como sugestão, caberá ao Ministério Público incluir nas suas rotineiras atribuições
de plantões forenses diurnos e noturnos a missão de funcionar nos procedimentos
eleitorais, quando não hajam órgãos da Justiça Eleitoral previamente designados
para o registro de candidaturas, propaganda política eleitoral e prestação de contas,
ou seja, pois, nestes casos, nos períodos próprios do calendário eleitoral o princípio
da celeridade na tramitação dos processos já vem sendo exemplarmente cumprido
pela Justiça Eleitoral e Ministério Público, não havendo nenhuma necessidade de
designação complementar. Em suma: nos anos não eleitorais e fora do calendário
do registro de candidatos, propaganda política eleitoral e prestação de contas,
caberá a designação cumulativa de atribuições aos membros do Ministério Público
em relação à disciplina eleitoral, com a finalidade de dar sentido superlativo aos
ditames constitucionais da tutela jurisdicional tempestiva.
De toda sorte, a expressão "imediata distribuição” sublinha um conteúdo
indeterminado, vago ou impreciso, cujos significados podem ser amplos ou restritos.
Podemos entender, a princípio, que a norma constitucional está exigindo modificações
nas regras de autuação dos processos; alteração dos setores administrativos das
secretarias e Tribunais com a pronta remessa dos autos; e instituição de prioridades.
Todas as contribuições que possam conduzir a sinergia processual célere devem ser
adotadas pelos legisladores infraconstitucionais e aplicadores da lei.
Na prática, os Tribunais, juizes e membros do Ministério Público já estão
implementando alterações regimentais e procedimentais, por exemplo, com a instituição
do plantão forense permanente. Todavia, a regra do art. 93, XV, a nosso pensar, possui
contornos de eficácia contida (adotando a classificação tradicional do eminente José
Afonso da Silva), ou seja, o dispositivo se aplica desde já e se sujeita a normatividade
posterior para maior densidade normativa do exato sentido do texto legal.

163
M a r c o s R am ayana D ir e it o E leitoral

7.10. A INTERVENÇÃO DO M INISTÉRIO PÚ BLICO EM FUNÇÃO DO


TIPO DE ELEIÇÃO
As atribuições se dividem de acordo com o tipo de eleição e candidatura:
(presidente, vice-presidente da República, governador, vice-governador, senadores,
deputados federais, estaduais e distritais, prefeitos, vice-prefeitos e vereadores), o
que não exclui a fiscalização sobre a propaganda política eleitoral irregular em cada
município por parte dos promotores eleitorais.
0 procurador geral eleitoral atuará no Tribunal Superior Eleitoral como órgão
interveniente n o s feitos que sejam devolvidos ao conhecimento do mesmo. Todavia,
poderá atuar como parte, não abdicando de sua função de fiscal da lei nas eleições
de Presidente e Vice-Presidente da República e nos plebiscitos e referendos.
0 art. 2 2 da Lei Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990, estabelece uma
divisão dos órgãos jurisdicionais incumbidos de julgar as inelegibilidades, sendo
a expressão interpretada no sentido amplo e abrangente de outras hipóteses de
restrição ao ius honorum , ou seja, os casos de suspensão e perda dos direitos
políticos, inabilitações e falta de condições de elegibilidades.
Os procuradores regionais eleitorais atuam diretam ente nos respectivos
Tribunais Regionais Eleitorais, especialmente nas eleições de governador, vice-
governador, senadores, deputados federais, estaduais e distritais.
Neste prisma de divisão de competência e, consequentem ente, de atribuições
entre o Ministério Público Federal e Estadual, cabe aos prom otores eleitorais nas
eleições de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores propor as ações de reclamação,
representação por abuso do poder econômico ou político, impugnações aos
mandatos eletivos e outras. Ao juiz eleitoral cumpre julgar estas ações.
Outrossim, os Tribunais Regionais Eleitorais por normas internas (Resoluções,
decorrentes do poder normativo), ou seguindo instruções do Tribunal Superior
Eleitoral, estão autorizados a criar c o m issõ es ou d eleg a r a um ou mais juizes
especialmente designados: o poder de processar e julgar, monocraticamente, as
questões referentes ao registro de candidatos, propaganda política eleitoral, prestação
de contas e outros incidentes: competindo aos Tribunais a revisão destas decisões
por recurso da parte interessada ou do Ministério Público. Sobre a legalidade destas
comissões, pedimos ao leitor q u e veja o item 16.4. "Competência" no capítulo sobre a
ação de reclamação em face da propaganda política eleitoral irregular.
Como se nota, cabe ao Ministério Público Federal, por intermédio do procurador
regional eleitoral atuar nas questões eleitorais perante estas comissões ou juiz
especialmente designado, quando a eleição for de governador, vice-governador,
senadores e deputados federal, estad u al e d is tr ita l

164
M in is t é r io P ú b l ic o C apítulo 7

Nestes casos, poderá o procurador regional eleitoral designar, para seu auxílio,
apenas outros membros do Ministério Público Federal, com subsunção no art. 77,
parágrafo único, da Lei Complementar n9 75/93, não incidindo o art. 27, § 4 9, do CE,
conforme já visto acima.
Todavia, não significa que, nas eleições estaduais, os promotores eleitorais
se quedem inertes diante dos abusos do poder político e econômico, fraudes e
captações ilícitas de sufrágios.
Desta forma, devem os promotores eleitorais instaurar peças de informação em
suas comarcas sobre fatos ilegais específicos e encaminhar ao procurador regional
eleitoral por via direta, ou contando com o apoio de coordenações (ex., 5 S CAOP/
RJ, no caso do Rio de Janeiro), visando unificar uma estratégia de atuação. Cabendo
ao PRE deflagrar a medida judicial cabível. Assim, o Ministério Público Estadual,
por intermédio dos promotores eleitorais, exerce especial vigilância nas eleições,
exteriorizando de forma qualificada o direito de petição previsto no art. 5 9, XXXIV,
da Constituição Federal. Havendo delegação de competência para juizes eleitorais
em comarcas do interior, cumpre aos promotores eleitorais dirigir suas petições
aos respectivos juizes, especialmente em relação à aplicação da correta fiscalização
da propaganda política eleitoral, reservando-se ao procurador regional eleitoral a
adoção das medidas judiciais cabíveis.12
Na fase da votação, mesmo se tratando de eleição estadual (governador, senador
e deputados), os promotores eleitorais devem estar presentes nas zonas eleitorais
e funcionando nos incidentes desta fase do processo eleitoral.
Como se depreende, a máxima atuação funcional dos promotores eleitorais se dá
sem sombra de dúvidas, nas eleições do tipo municipais, quando lhes cabe adotar
todas as medidas legais perante os juizes eleitorais designados para o registro,
propaganda e prestação de contas. De certo que caberá ao PRE e PGJ a designação e
indicação dos nomes destes promotores eleitorais cuja árdua tarefa é de preservar
a lisura das eleições.

7.11. O PROMOTOR ELEITO R AL PODE SER NOMEADO COMO


JUIZ ELEITO R AL DO T R IB U N A L R EG IO N AL ELEITO R AL?
0 art. 9 4 da CRFB prevê o instituto do "quinto constitucional" para os membros
do Ministério Público e da advocacia de forma alternada para ocupar as vagas nos
Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados.
A redação do art. 120, § 1-, III, da CRFB, só permite o acesso aos Tribunais Regionais
Eleitorais de pessoas da classe dos advogados. Não há parametricidade nesta matéria entre
os Tribunais Regionais Eleitorais, Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça.

12 As irregularidades na propaganda eleitora! também ficam a cargo de juí2es designados peios Tribunais Regionais
Eleitorais nas comarcas, cabendo aos promotores eleitorais atuar com estes juizes, visando instrumentalizar a prova
necessária para que o procurador regional eleitoral possa ajuizar alguma medida pertinente, reclamação, 1JE etc.

165
M a r c o s R am ayan a D ir h t o E leito ral

Vê-se, portanto, a inaplicabilidade do art. 94, Neste sentido é a posição doutrinária


de Joel José Cândido e outros renomados autores.
Desta forma, não é possível ao promotor eleitoral (membro do Ministério Público ;
Estadual, promotor de Justiça) ter acesso ao Tribunal Regional Eleitoral como juiz
tem porário.13
Convém ponderar, ao demais, que a instituição constitucional da ascensão
profissional aos tribunais (composição mista) por membros do MP e advogados ii
gera calorosos debates sobre os critérios e sua politização in terna e externa na -
escolha das listas sêxtuplas, tríplices e nomeação final. Por outro lado, esta forma
de ingresso é fremente exceção ao concurso público, e embora possa servir de *
grande renovação nos Tribunais, particularm ente somos favoráveis à sua extinção
por emenda constitucional. j

7.12. LEI m
7.347/85. AÇ ÃO C IVIL PÚ B LIC A (PRO CEDIM ENTO S),
NÃO A P LIC A Ç Ã O NA M ATÉRIA ELE ITO R A L. TERMO DE
f

AJUSTAM ENTO DE CONDUTA. P O SS IB ILID AD E . í


A Lei ne 12.034/09 introduziu o art. 105-A na Lei das Eleições com o seguinte f
texto: "Em m atéria eleitoral, não são aplicáveis os procedimentos previstos na Lêi |
n9 7.347. de 24 de julho de 1 9 8 5 ". |
Convém ressaltar que nada impede que o Ministério Público na fu n ção eleitoral, |
v.g., o prom otor eleitoral possa instaurar no âmbito de suas atribuições, peças de |
informação que se assemelhem ao inquérito civil público tratado na Lei n s 7 .3 4 7 /85, |
objetivando uma atividade instrumental probatória, até porque outras normas ^
amparam a atuação da instituição, tais como: (art. 129, III da Constituição Federal, |
art. 6 - da Lei Complementar n- 75/93 e art. 2 6 , 1 da Lei nfi 8.625/93). I
Na atividade investigatória da propaganda política eleitoral irregular, abusiva |
ou captativa, não se pode negar a atuação institucional que prima pela preservação J
da normalidade e legitimidade das eleições, art. 127 da Constituição Federal. í
O interesse público das eleições sobrelevasse ao acordo privado e qualifica o p
Ministério Público 'Eleitoral' nessa atividade persecutória, até porque em alguns J
casos pode se vislumbrar crimes eleitorais correlacionados aos abusos e desvios do |
poder econômico ou político. |
Por exemplo, a compra e venda de votos, além de ensejar análise do art. 41-A da |
Lei n9 9.504/ 97 poderá demandar o oferecimento da ação penal em relação ao tipo '•|
do art. 2 9 9 do Código Eleitoral. \I

13 Por fim, ressalva-se o art. 29, § 39, da CRFB, ou seja, aos membros do Ministério Público que optaram pelo regime '
anterior à Carta Constitucional de 1988, no que respeita às garantias e vantagens podem advogar. Nesta linha de
raciocínio, é possível aos membros inseridos nesta condição excepcional o acesso ao Tribunal Regional Eleitoral pela -j
classe dos juristas ou advogados.
MINISTÉRIO PÚBLICO C apítulo 7

Como se depreende, o procedimento do inquérito civil eleitoral ou peças de


informação não se encontra vedado pelo art. 105-A, pois se trata de medida
administrativa informal, facultativa e restrita ao órgão do Ministério Público.
Independentemente das peças de informação, o Ministério Público poderá
propor as ações eleitorais, inclusive, a ação de impugnação ao mandato eletivo. As
peças coligidas servem para reforçar a proteção da tutela jurisdicional eleitoral na
defesa do regime democrático.
Em consonância com o tema, a nova lei não vedou a formulação do chamado
Termo de Ajustamento de Conduta, previsto no art. 5 Ô, § 6 9 da Lei n9 7.347/85.
A menção referente a não aplicação dos procedimentos da Lei de Ação Civil Pública
em matéria eleitoral significa que não podem valer as regras da própria lei quanto ao
rito processual, legitimados ativos e passivos, formação de litisconsórcio, efeitos da
coisa julgada e temas ligados aos atos sucessivos e contínuos da lei da ação civil pública.
0 Termo de Ajustamento de Conduta é um instrum ento de real valia e de proteção
de norma fundamental democrática que previne lides e deve ser estimulado e usado
em matéria eleitoral, por exemplo, para que os Promotores Eleitorais junto com os
Partidos Políticos nas comarcas do interior possam firmar compromisso de aplicar
os recursos do fundo partidário na educação política escolar; e ainda para que
nas campanhas eleitorais se evite a poluição sonora e o lixo urbano produzido por
cartazes e panfletos jogados na via pública e que atingem questões ambientais.
Os TACs têm previsão em outras normas legais como, por exemplo, na Lei
n9 8.069/90, art. 211 (ECA), CLT, a r t 627-A e Lei n9 9.605/98 (Lei Ambiental),
art. 79-A, não sendo a intenção do legislador proibi-los, pois, se assim o fosse, teria
expressamente feito menção à vedação da celebração desses acordos. Como se nota,
a Lei de Ação Civil Pública não é a única que trata do compromisso de ajustamento
de condutas.
Os termos de ajustamentos de conduta não se configuram como procedimentos, nem
tampouco procedimentos específicos dalei deação civilpública, pois independentemente
da posição doutrinária adotada quanto à sua natureza jurídica (para alguns, transação,
para outros, reconhecimento jurídico do pedido etc.), o que se pode verificar de plano, é
que o TAC é um ato único, e não um procedimento14, já que não se desenvolve num rito
a objetivar uma decisão final. Por ele se tem um acordo de vontades.
E salutar que o acordo celebrado possa s o m a r es fo r ç o s para melhorar o
aperfeiçoamento das eleições em determinadas cidades e locais, especialmente em
função de aspectos ambientais.

14 Procedimento “é o modo pelo qual o processo se forma e se movimenta, para atingir o respectivo fim”. Emane
Rdélis dos Santos, Manual e Direito Processual Civil, Vol. 1, São Paulo, Saraiva, 4a ed., p. 25.

167
Ministério Público -- Defesa do Regime Democrático (Ari. 127 CF)

► É 0 Procurador Geral da República.

São Procuradores Regionais da República


ou Procuradores da República.

Atuam nos respectivos TREs

Atuam com juizes e juntas eleitorais

*- São Promotores da Justiça.

Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10'' Edição • Capítulo 7 - Ministério Público


C apítulo 8

A listam ento eleito ra l.


D o m ic ílio eleitoral

Importa afirm ar que o alistamento é visto como instituto que ordena a


manifestação individual do eleitor. 0 alistamento é a primeira fase do processo
eleitoral e decorre de um procedimento administrativo cartorário que sé perfaz
pelo preenchimento do requerim ento de alistam ento eleitoral (RAE), na forma da
Resolução TSE n^ 21.538/ 2003.
É através do alistamento que a pessoa qualifica-se e inscreve-se como eleitor,
passando a ter o atributo jurígeno constitucional da cidadania, podendo votar e,
portanto, exteriorizar sua capacidade eleitoral ativa.
Diz-se, assim, que a aquisição de direitos políticos, na ordem jurídica vigente,
materializa~se por etapas, fases ou graus de cidadania. A cidadania torna-se um
atributo jurídico-político que o nacional obtém, desde o momento em que se torna
eleitor.

Podemos admitir fases da cidadania?


1) aos 16 anos de idade, o nacional pode alistar-se, facultativamente (voto
facultativo);
2) após 18 anos, é obrigatório alistar-se, podendo candidatar-se a vereador;
3) aos 21 anos, o cidadão (nacional eleitor) incorpora o direito de ser votado para
deputado federal, estadual e distrital, prefeito, vice-prefeito e juiz de paz;
4) aos 30 anos, pode ser eleito governador e vice-governador de Estado e do
Distrito Federal;
5) aos 35 anos, chega-se ao ápice da cidadania formal, com o direito de ser votado
para presidente e vice-presidente da República e para senador federal (art. 14,
§ 3-, da CF).
As idades mínimas elencadas pela Carta Magna levam em consideração a data do
registro, da diplomação ou da posse?
A condição de elegibilidade constitucional, referente à idade para fins eleitorais,
leva em consideração a data da posse. Ver o art. 11, § 2 da Lei ne 9.504/97 (Lei
das Eleições).
TT
|
M a r c o s R a m a ya n a _________________ D ir e it o E leitoral

O doutrinador Adriano Soares da Costa questiona, com razão, o § 2 2 do art. 11 da


Lei n2 9.504/97, arguindo sua inconstitucíonalidade, pelos motivos evidentes que
se destacam:
Logo se vê, portanto, que a data da posse no cargo eletivo não se presta
para estabelecer o momento em que se perfaz, ou deve estar perfeita,
a idade mínima exigível para a obtenção da elegibilidade. Tal idade é
condição de registrabílidade, motivo pelo qual deve estar completa
no momento do pedido de registro da candidatura. Assim, a norma do
a rt 11, § 2e, da Lei n9 9.504/97 é flagrantemente inconstitucional,
devendo ser afastada pela Justiça Eleitoral quando da análise dos
pedidos de registro, valendo-se do controle difuso. Nesse passo,
parafraseio, em certa medida, Pedro Henrique Niess, acima citado: a
idade mínima exigível é condição de elegibilidade, não de exercício
regular do mandato.1
Somente se pode falar em condição de elegibilidade tendo como meta uma
determinada eleição. O candidato A pode ser elegível para a eleição de prefeito e
não o ser para a de presidente da República, porque não tem a idade mínima. Ora,
o correto seria conferir o requisito da idade no momento do registro, ao invés de
postergar-se a análise de um requisito constitucional para a data da posse, quando
a Justiça Eleitoral já perdeu a competência.
Cumpre esclarecer que o m aior óbice à admissibilidade da idade mínima para
um evento futuro e incerto que é a posse, sem dúvida, reside no caso do adolescente
com 17 (dezessete) anos de idade.
É condição de elegibilidade constitucional a idade mínima de 18 (dezoito) anos
para o mandato eletivo de vereador. No entanto, a legislação infraconstitucional
permite expressam ente (art. 11, § 2-, da Lei n9 9.504/ 97) que um adolescente
com 17 (dezessete) anos de idade possa ser escolhido numa convenção municipal,
registrar seu pedido de candidatura, fazer a propaganda política eleitoral, ser eleito,
diplomado e, no ano subsequente à eleição, investir-se no mandato eletivo pela
assunção da posse.
Nesse contexto, podemos observar a inexistência de um tratam ento uniforme da
legislação eleitoral em relação aos adolescentes, senão vejam os:
Primeiramente, o adolescente, ao lançar-se numa campanha eleitoral, poderá
praticar, isoladamente, ou em coparticipação com uma pessoa maior e capaz, atos
abusivos do poder econômico e/ou político; captação ilícita de sufrágio; crimes
eleitorais, como, v.g., a destruição dolosa da urna eletrônica (art. 72, III, da Lei
nü 9.504/ 97); e não será pessoalmente responsabilizado por estas condutas, pois
deverá ser assistido por seu genitor na forma das normas civis e processuais civis, e
ainda, no aspecto penalmente relevante da conduta será inimputável.

1 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitora}. 3a edição, Editora Del fley. p. 108.

172
A lista m en to E leitoral . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

Podemos ainda imaginar o adolescente participando do horário eleitoral gratuito


e praticando delitos contra a honra de natureza eleitoral, por exemplo, difamação.
Neste caso, a competência para processo e julgamento não será da Justiça Eleitoral,
vez que a Justiça da Infância e Adolescência é prevalente no conflito aparente de
normas, considerando a tutela do adolescente e o sistema protetivo constitucional
da infância.
Como explicar ainda a antinomia do art. 11, § 2 9, da Lei n9 9.504/97 com o
disposto no art. 65 do mesmo texto legai? Por exemplo:
A lei permite que um candidato a vereador tenha 17 (dezessete) anos de idade,
mas ao mesmo tempo a escolha de fiscais e delegados de partidos não pode recair
em menor de 18 (dezoito) anos. Assim, não podemos conceber uma divisão de
capacidades eleitorais, pois o candidato é um fiscal essencial, ou nato de sua própria
candidatura e eleição.
Por outro lado, o art. 63, § 2-, da Lei na 9.504/97 é taxativo: "Não podem ser
nomeados presidentes e m esários os m enores de 18 (dezoito) anos".
Os deveres cívicos políticos dos mesários, como agentes honoríficos que exercem
um múnus público de forma gratuita, são incompatíveis com a idade inferior a 18
(dezoito) anos, mas a candidatura, que é um plus ou a exteriorização da plenitude
máxima da capacidade passiva, é admitida aos 17 (dezessete) anos de idade,
subvertendo-se a lógica racional do sistem a equitativo concernente à adolescência.
Outrossim, sempre que a parte for relativamente incapaz, mesmo sendo assistida
em juízo, o Ministério Público deverá intervir, sob pena de nulidade (arts. 82, 1, e
84 do Código de Processo Civil). Pergunta-se: Deveria intervir outro membro do
Ministério Público, sem ser o promotor eleitoral, procurador regional eleitoral
ou procurador-geral eleitoral, dependendo do tipo de procedimento eleitoral?
Obviamente que a resposta seria negativa, mas não haveriam pensamentos em
sentido oposto, talvez preconizando a intervenção do promotor com atribuições na
Vara da Infância e Juventude.
É plausível conjeturar sobre a frontal violação ao princípio da isonomia entre
os candidatos numa determinada eleição, quando um adolescente compete com
seus adversários políticos e a potestade pública lhe atribui especial proteção. Sem
dúvida, as restrições aos demais opositores políticos será manifesta, não havendo
tratamento paritário e, por via de conseqüência, ofensa ao art. 5- da Constituição
Federal.
Outrossim, o art. 45, IV, da Lei n9 9.504/97 veda expressamente às emissoras de
rádio e televisão, em sua programação normal e em noticiários darem tratamento
privilegiado a candidato. Ora, o Estatuto da Criança e Adolescente ainda proíbe a
reprodução de imagens de crianças e adolescentes que possam atingir suas imagens
privadas e até públicas.
M a r c o s R am ayan a D ir eit o E leitoral

Vê-se, portanto, que diversos são os motivos jurídicos vedatórios da postergação de


uma condição de elegibilidade constitucional como a idade mínima para a data da posse.
A idade mínima deve ser verificada tendo por referência a data do pedido de
registro de candidaturas, que ocorre até o dia 5 de julho de ano eleitoral (art. 11
da Lei n9 9.504/ 97); desta forma, podemos considerar que na data da escolha do
nome em convenção, ainda é possível o candidato a candidato ter a idade de 17
(dezessete) anos.
Pelas razões acima expendidas entendemos que a norma do art. 11, § 2 2, da Lei
n5 9.S04/ 97 é inconstitucional em confronto com o art. 14, § 3 e, VI, d, da Constituição
Federal.

8.1. BASE LE G A L DAS REGRAS SO BRE O ALISTAM ENTO


ELEITO R AL
As regras sobre o alistamento eleitoral estão disciplinadas nos arts. 42 a 81
do Código Eleitoral, Lei n9 7.444, de 20 de dezembro de 1985, e na Resolução
ne 21.538/ 03 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral.
No estudo das normas que disciplinam a primeira fase do processo eleitoral, ou
seja, o alistamento, deve-se priorizar o texto da Resolução n s 21.538/03, pois o
mesmo condensou, incorporou e tornou congruentes diversos aspectos da matéria,
facilitando a compreensão do assunto.

8.2. REQUERIMENTO DE ALISTAM EN TO ELEITO R AL - RAE


O requerimento de alistamento eleitoral serve para a entrada de dados,
qualificando e inscrevendo o eleitor numa determinada zona eleitoral. A zona
eleitoral é a menor fração territorial dentro de uma circunscrição eleitoral. Por
exemplo, o Município do Rio de Janeiro tem 97 zonas eleitorais que compreendem
ruas e avenidas, inclusive bairros.
O requerimento de alistamento eleitoral é preenchido apenas por servidor da
Justiça Eleitoral [art. 9 9 da Resolução n s 21.538/ 03), que digitará as informações
pessoais do eleitor. O eleitor deverá estar presente no momento do preenchimento.
Faculta-se ao eleitor exercer uma preferência sobre o local de votação com a
consulta e informação da relação de todas as seções que pertencem à zona eleitoral.
0 analfabeto (alistamento e voto facultativos, art. 14, § l s, II, a, da Constituição
Federal) poderá fazer a aposição da impressão digital do polegar, quando não
souber assinar o seu nome.
O número da inscrição eleitoral é composto de 12 algarismos, por Unidade
da Federação, sendo os estados representados por dois dígitos, por exemplo, 01
- São Paulo, 02 - Minas Gerais e 03 - Rio de janeiro, e os dois dígitos finais são
denominados verificadores.

174
A lista m en to E leito ral . D o m ic íl io E leitoral C a p ít u l o 8

O art. 13 da Resolução n9 21.538/ 03 dispõe:

Art. 13. Para o alistam ento, o requerente apresentará um dos


seguintes documentos do qual se infira a nacionalidade brasileira (Lei
n9 7.444/1985, art. 5®, § 2 S):
a) carteira de identidade ou carteira emitida pelos órgãos criados por
lei federal, controladores do exercício profissional;
Ex.: OAB, Cremerj etc.
b) certificado de quitação do serviço militar;
Admite-se certificado de reservista, certificado de isenção, certificado de
cumprimento de prestação alternativa do serviço militar. Ver o art. 53,
II, b, daRes. n9 21.538/03.
c) certidão de nascimento ou casamento, extraída do Registro Civil;
d) instrumento público do qual se infira, por direito, ter o requerente
a idade mínima de 16 anos e do qual constem, também, os demais
elementos necessários à sua qualificação.

A apresentação do documento a que se refere a alínea b é obrigatória para


maiores de 18 anos, do sexo masculino, conforme disciplina o parágrafo único do
art. 13 da Resolução n e 21.538/03.

A jurisprudência e o art. 14 da Resolução n9 21.538/03 do TSE admitem o


alistamento do menor de 16 anos, ou seja, com apenas 15 anos, desde que complete
16 anos até a data da eleição. Decerto que deve ser a data do primeiro turno, que
sempre o c o r r e n o primeiro domingo de outubro (art. 1- da Lei ne 9.504/97), pois
ninguém pode presumir que haverá segundo turno, embora o termo eleição tenha o
significado de cada turno ( art. 83, VII, da Res. n2 21.238/03).
Como se nota, o m enor de 16 anos poderá votar com o implemento efetivo da
idade até a data do pleito eleitoral vindouro ao da sua inscrição como eleitor. O
direito de votar sujeita-se a uma condição futura e biológica.
É importante frisar que o menor poderá requerer seu alistamento eleitoral até
o encerramento do prazo fixado em lei. Neste sentido é o § l s do art. 14 da Res.
n9 21.538/03.
O prazo está disposto no art. 91 da Lei n9 9.504/97, "Nenhum requerim ento
de inscrição eleitoral ou de tran sferên cia se rá recebido dentro dos 1 5 0
(cento e cinqüenta) dias an te rio re s à d ata da eleição". A regra evita inscrições
fraudulentas de eleitores que migram a pedido de cabos eleitorais e por compra de
votos futuros de uma circunscrição (Município) para outro.

175
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E leitoral

8.3. ALISTAM ENTO DO B R A S ILE IR O NATO OU N ATUR ALIZADO


Os arts. 8 - do Código Eleitora] e 15 da Resolução n2 21.538/ 03 permitem ao
brasileiro nato o alistamento tardio, com 19 anos de idade. É uma exceção expressa à
obrigatoriedade do alistamento e do voto prevista no art. 14, § 1-, I, da Constituição
Federal.
0 não alistado poderá alistar-se aos 19 anos de idade, desde que formule seu
requerim ento no prazo de 151 dias anteriores à data da eleição. A eleição aqui
considerada é apenas a data prevista no calendário eleitoral do primeiro turno
(primeiro domingo de outubro do ano eleitoral), pois, embora cada turno (eleição)
seja integrante de um pleito eleitoral, no caso existe expressa vedação à referência
do imprevisível segundo turno (art. 83, VII, da Res. ne 21.538/ 03).
Quanto ao naturalizado, não existe exceção, pois deverá requerer seu alistamento
eleitoral até um ano depois da aquisição da nacionalidade brasileira, nos termos
previstos no Estatuto do Estrangeiro e legislação correlata. Neste sentido, ver a
regra do art. 15 da Resolução n- 21.538/ 03.

Art. 15. O brasileiro nato que não se alistar até os 19 anos ou o


naturalizado que não se alistar até um ano depois de adquirida a
nacionalidade brasileira incorrerá em multa imposta pelo juiz eleitoral
e cobrada no ato da inscrição.
Parágrafo único. Não se aplicará a pena ao não alistado que requerer sua
inscrição eleitoral até o centésimo quinquagésimo primeiro dia anterior
à eleição subsequente à data em que completar 19 anos (Código Eleitoral,
art. 85, c.c. a Lei ne 9.504/97, a rt 91).

8.4. TRANSFER ÊN CIA DO TÍTU LO ELEITO R AL


As exigências legais elencadas abaixo estão previstas na Resolução n e 21.538/03,
art. 18:

I - recebimento do pedido no cartório eleitoral do novo domicílio no


prazo estabelecido pela legislação vigente;
II - transcurso de, pelo menos, um ano do alistamento ou da última
transferência;
III - residência mínima de três meses no novo domicílio, declarada, sob
as penas da lei, pelo próprio eleitor (Lei nõ 6.996/82, art. 89);
IV ~ prova de quitação com a Justiça Eleitoral.

Quanto à análise e à aceitação do pedido de transferência, é recomendável a


verificação por critérios individuais ou por seleção (amostragem) de alguns pedidos.
O juiz eleitoral ex officio ou por provocação de partido político ou do Ministério
Público (promotor eleitoral) deve promover diligências através da expedição

176 -7
A listam en to E leito ral . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

de mandado de verificação nos locais indicados como domicílio eleitoral, acaso


suspeite de fraude. Neste rumo é a orientação do art. 65 da Resolução do Alistamento
Eleitoral, pois, muito embora esteja inserido o tem a Revisão do Eleitorado, poderá
servir para os pedidos de transferência, evitando-se a consumação dos crimes
tipificados nos arts. 289 e 290 do Código Eleitoral.

Art. 65. A comprovação de domicílio poderá ser feita mediante um


ou mais documentos dos quais se infira ser o eleitor residente ou ter
vínculo profissional, patrimonial ou comunitário no município a abonar
a residência exigida.
§ l e Na hipótese de ser a prova de domicílio feita mediante apresentação
de contas de luz, água ou telefone, nota fiscal ou envelopes de
correspondência, estes deverão ter sido, respectivamente, emitidos ou
expedidos no período compreendido entre os 12 e 3 meses anteriores
ao início do processo revisional.
§ 2ÜNa hipótese de ser a prova de domicílio feita mediante apresentação
de cheque bancário, este só poderá ser aceito se dele constar o endereço
do correntista.
§ 3- O juiz eleitoral poderá, se julgar necessário, exigir o reforço, por
outros meios de convencimento, da prova de domicílio quando produzida
pelos documentos elencados nos §§ 1- e 29.
§ 4 a Subsistindo dúvida quanto à idoneidade do comprovante de
í domicílio apresentado ou ocorrendo a impossibilidade de apresentação
de documento que indique o domicílio do eleitor, declarando este, sob as
penas da lei, que tem domicílio no município, o juiz eleitoral decidirá de
plano ou determinará as providências necessárias à obtenção da prova,
inclusive por meio de verificação in loco.

Exige-se, ainda, que o eleitor, ao pedir a transferência, entregue seu título


eleitoral e esteja quite com a Justiça Eleitoral, pois, caso contrário, o juiz eleitoral
fixará o valor da multa a ser paga.
A base de cálcu lo é o último valor da Ufir, multiplicado pelo fator 33,02, conforme
art. 85 da suprareferida resolução.
Nas hipóteses de perda ou extravio do título eleitoral, o juiz expedirá a segunda
via, mas o eleitor deverá requerê-la ao juiz de seu domicílio eleitoral, e pessoalmente,
sendo que o título inutilizado ou dilacerado deverá instruir o pedido (art. 19 da Res.
n9 21.538/ 03).

8.5. CO NSIDERAÇÕ ES G ENÉRICAS SOBRE O TÍTULO ELEITO R AL


O título é o documento solene e formal que expressa a cidadania brasileira, sendo
impresso nas cores preto e verde com marca d'água, constando ao fundo as Armas
da República, sendo contornado por serrilha.

177
BSESShSESB
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leito ral

0 título faz prova, até a data de sua emissão, que o eleitor está regular com a
Justiça Eleitoral; é a quitação, ou seja, a prova do cumprimento de suas obrigações
cívicas e políticas. No entanto, após sua emissão, poderá o eleitor deixar de votar
em eleições alternadas, burlando a regra do art. 71, V, do Código Eleitoral.
Preconiza o art. 71, V, do CE que, se o eleitor deixar de votar em três eleições
consecutivas (e cada turno é uma eleição), estará na hipótese de cancelamento
de sua inscrição e, por via de conseqüência, o seu título deixará de fazer prova
legal das obrigações eleitorais. Assim, deve-se exigir a certidão de quitação com a
Justiça Eleitoral, no sentido da plenitude dos direitos políticos, com a finalidade de
perquirição da real cidadania.
A Constituição Federal aduz, no art. 14, § 3 -, 11, como condição de elegibilidade
constitucional para fins de deferimento do pedido de registro de candidaturas aos
mandatos eletivos, que o cidadão esteja na plenitude dos seus direitos políticos.
A emissão do título deve ser feita por computador (obrigatoriam ente), sendo
assinado pelo juiz eleitoral, contendo a assinatura do eleitor para fins de conferência
na folha de votação que fica no dia da eleição nas seções eleitorais. No caso do
eleitor analfabeto, poderá constar a impressão digital do seu polegar, o que dificulta
a fiscalização referente ao crime do art. 309 do Código Eleitoral: "Votar ou tentar
votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem".
O ideal para a confecção do título eleitoral seria sua condensação em documento
único de identidade ou cartão que contivesse a fotografia do eleitor, pois, no sistema
atual, não podemos ignorar a possibilidade da prática do delito acima mencionado,
mesmo diante dos mais precavidos mesários (cidadãos honoríficos nomeados para
o dia da votação).
Dispõe ainda o § 2 - do art. 23 da Res. ns 21.538/ 03: "Nas hipóteses de
alistamento, transferência, revisão e segunda via, a data da emissão do título será a
de preenchimento do requerimento".
A entrega do título é sempre pessoal, através de comprovação de documento
oficial de identidade do eleitor.
Por fim, destaca-se da Res. n9 21.538/ 03, o

Art. 25. No período de suspensão do alistamento, não serão recebidos


requerimentos de alistamento ou transferência (Lei n0 9.504/97, art. 91,
caput).
Parágrafo único. O processamento reabrir-se-á em cada zona logo que
estejam concluídos os trabalhos de apuração em âmbito nacional (Código
Eleitoral, art. 70).
A listam ento E leito ra l . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

8.6. ACESSO ÀS INFO RM AÇÕES DO CADASTR O ELEITO R AL


Os órgãos jurisdicionais e o Ministério Público têm acesso aos dados cadastrais,
mas é necessária a vinculação da utilização das informações obtidas com as
atividades funcionais.
Sobre o tema, consultar os arts. 29 a 32 da Resolução n9 21,538/03.

8.7. FISC ALIZAÇ ÃO DOS PARTIDOS PO LÍTICO S


Os partidos políticos se fazem representar na Justiça Eleitoral pelos seus
delegados e fiscais. Na hipótese, para evitar-se o tumulto fiscalizatório durante os
trabalhos cartorários do alistamento eleitoral, apenas admitem-se dois delegados
perante o Tribunal Regional Eleitoral e até três em cada zona eleitoral (art. 28 da
norma já aviventada anteriorm ente).
As irregularidades verificadas pelos fiscais e delegados devem ser encaminhadas
ao juiz eleitoral, obedecendo-se ao rito procedimental dos arts. 77 a 80 do Código
Eleitoral (art. 27, parágrafo único, Res. n9-21.538/03). Na verdade, os partidos
políticos, assim como o Ministério Público, podem receber notícias de tentativas
de inscrições fraudulentas. Por exemplo, no Rio de Janeiro, no Município de Silva
Jardim, em eleição pretérita, 2 0 0 eleitores forneceram o endereço de um poste da
via pública como sendo de seus respectivos domicílios eleitorais (ver os crimes dos
arts. 289, 290 e 3 5 0 do Código Eleitoral).
O promotor eleitoral, que exerce suas atribuições perante o juiz eleitoral titular ou
não de uma zona eleitoral, deverá fiscalizar o processo de alistamento, denunciando
as tentativas de fraudes e zelando pela intangibilidade do regime democrático.
Exerce o Ministério Público a função de fiscal da ordem jurídica eleitoral e,
portanto, sua atuação se dá de forma obrigatória em todos os termos do processo
eleitoral, inclusive nas questões dos procedimentos sobre alistamento eleitoral
(primeira fase do processo eleitoral).

8.8. DUPLICIDADE E PLURALIDADE


O tema refere-se ao batim ento ou cruzamento de informações constantes do
cadastro eleitoral, evitando-se a emissão ou permanência de mais de um título ou
inscrição eleitoral.
O eleitor, de forma não rara, por vezes dirige-se à zona eleitoral para requerer
nova inscrição, quando já detentor de outra(s) em circunscrições diversas.
Cumpre verificar, através de procedimento administrativo cartorário, se agiu o
eleitor de forma dolosa (a pedido de candidato) ou culposa, pois sua inscrição poderá
ser fraudulenta e o eleitor responsabilizado criminalmente (arts. 2 8 9 ,2 9 0 ,2 9 1 e 3 5 0 ).
Todavia, existe uma questão prejudicial, fundada e séria, pois a Justiça Eleitoral deverá

1 -7 0
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E leitoral

adotar um procedimento oficial prévio e independente do penal para constatação


das duplicidades ou pluralidades e, somente após a conclusão final, adotar-se-ão as
providências penais. Neste puro aspecto, o processo administrativo é uma conditio
sine qua non para o exame da tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade do eleitor.
0 art. 41 da Resolução n~ 21.538/ 03 trata da competência para a decisão
administrativa das duplicidades ou pluralidades de inscrições eleitorais
(alistam entos). Em suma, no caso de duplicidade, a competência é do juiz eleitoral
onde foi efetuada a inscrição mais recente. Já na hipótese de pluralidade, será
do juiz eleitoral, mas som ente quando envolver inscrições de uma mesma zona
eleitoral (juiz titular da zona eleitoral), cabendo ao corregedor regional as decisões
que envolvam zonas eleitorais de circunscrições diversas.
Das decisões do juiz eleitoral caberá recurso ao corregedor regional no prazo
de três dias (interposição e razões). E das decisões do corregedor regional caberá
recurso ao corregedor-geral eleitoral que atua no Tribunal Superior Eleitoral,
igualmente no prazo de três dias. Trata-se de recurso INOMINADO.
Os legitimados para a interposição são eleitores, partidos políticos e Ministério
Público. Sempre que o Ministério Público, através do prom otor eleitoral que atua
com o juiz eleitoral ou do procurador regional eleitoral que atua no Tribunal
Regional Eleitoral e com o corregedor regional, não recorrer, obrigatoriamente,
deve em itir parecer, ao nosso entender, no prazo máximo de 2 4 horas, embora a lei
seja silente neste aspecto.
Nos casos de ilícito penal, destacamos o texto da Resolução n~ 21.538/ 03 que é
autoexplicativo,

Art. 48. Decidida a duplicidade ou pluralidade e tomadas as


providências de praxe, se duas ou mais inscrições em cada grupo forem
atribuídas a um mesmo eleitor, excetuados os casos de evidente falha
dos serviços eleitorais, os autos deverão ser remetidos ao Ministério
Público Eleitoral.
§ 1 B Manifestando-se o Ministério Público pela existência de indício de
ilícito penal eleitoral a ser apurado, o processo deverá ser remetido, pela
autoridade judiciária competente, à Polícia Federal para instauração de
inquérito policial.
§ 2 S ínexistindo unidade regional do Departamento de Polícia
Federal na localidade onde tiver jurisdição o juiz eleitoral a quem
couber decisão a respeito, a remessa das peças informativas poderá
ser feita por intermédio das respectivas corregedorias regionais
eleitorais.
§ 3 e Concluído o apuratório ou no caso de pedido de dilação de prazo,
o inquérito policial a que faz alusão o § l 9 deverá ser encaminhado,
pela autoridade policial que o presidir, ao juiz eleitoral a quem couber
decisão a respeito na esfera penal.

180
A lista m en to E leitoral . D o m ic íl io E leito ra l C a p ít u l o 8

§ 4 - Arquivado o inquérito ou julgada a ação penal, o juiz eleitoral


comunicará, sendo o caso, a decisão tomada à autoridade judiciária
que determinou sua instauração, com a finalidade de tornar possível a
adoção de medidas cabíveis na esfera administrativa.
§ 52 A espécie, no que lhe for aplicável, será regida pelas disposições
do Código Eleitoral e, subsidiariamente, pelas normas do Código de
Processo Penal.
§ 6° Não sendo cogitada a ocorrência de ilícito penal eleitoral a ser
apurado, os autos deverão ser arquivados na zona eleitoral onde o eleitor
possuir inscrição regular.
Art. 49. Os procedimentos a que se refere esta resolução serão adotados
sem prejuízo da apuração de responsabilidade de qualquer ordem, seja
de eleitor, de servidor da Justiça Eleitoral ou de terceiros, por inscrição
fraudulenta ou irregular.
Parágrafo único. Qualquer eleitor, partido político ou Ministério Público
poderá se dirigir formalmente ao juiz eleitoral, corregedor regional
ou geral, no âmbito de suas respectivas competências, relatando fatos
e indicando provas para pedir abertura de investigação com o fim de
apurar irregularidade no alistamento eleitoral.

8.9, RESTRIÇÕES AOS DIREITOS POLÍTICOS


0 disciplinamento administrativo cartorário nas hipóteses de perda e suspensão
dos direitos políticos é tratado nos arts. 51 a 53 da Resolução nô 21.538/03. Os
casos de perda e suspensão estão no art. 15 da Constituição da República Federativa
do Brasil.
Sobre o assunto, ver os com entários ao Capítulo 10 desta obra. No entanto, a título
de acréscimo ao tema já enfrentado, as anotações cadastrais sobre as hipóteses de
perda e suspensão ingressam no sistem a FASE, através de certidões comprobatórias
emitidas por outros órgãos jurisdicionais ou públicos, não prescindindo de uma
análise do juiz eleitoral e do membro do Ministério Público (promotor eleitoral).
É importante frisar que as inelegibilidades absolutas ou relativas também devem
ser catalogadas em arquivos próprios do sistema FASE, pois, caso contrário, a
fiscalização torna-se inócua.

8.10. REVISÃO DO ELEITO RADO


O procedimento oficial de Revisão do Eleitorado está detalhado na Resolução
n9 21.538/ 03 e deve ser sempre deflagrado nos casos de denúncias fundadas e
sérias, cuja fraude tenha uma potencialidade efetiva “comprometedora" em relação
às eleições vindouras. Ê o caso de número de eleitores superior ao de habitantes ou de
migração fraudulenta de eleitores de um município para outro, o que inegavelmente

181
vI a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E leito ral

:ausará abalo na igualdade dos candidatos perante as regras eleitorais, além de


)bviamente atentar contra a lisura das eleições e da própria estrutura da Justiça
ileitoral.

3.11. RECURSOS DAS DECISÕES DE ALISTAM EN TO E


TRANSFERÊNCIA DE ELEITORES
0 despacho do juiz eleitoral que d eferir o alistam ento do eleitor poderá ser alvo
i e recurso, interposto pelos partidos políticos e, em bora a lei não faça expressa
menção, pelo promotor eleitoral, no prazo de dez dias. O prazo é contado da
colocação da listagem dos eleitores à disposição dos partidos. Sobre o assunto, ver
a Lei 6.996/82, art. 7 9, e a Resolução n2 21.538/ 03, TSE, art. 16, § l 9.
Ao contrário, do despacho que in d e fe rir o pedido de alistamento, o eleitor (e
entendemos que os partidos políticos e o promotor eleitoral) poderá recorrer, no
prazo de cin co dias.
Os partidos políticos e o Ministério Público possuem legitimidade para todos os
recursos eleitorais, considerando a amplitude de suas fiscalizações e a salvaguarda
da lisura do regime democrático.
Sobre a transferência, a regra é idêntica (arts. 8 fi da Lei n- 6.996/82 e 18, § 5 e, da
Resolução n9 21.538/ 03).

8.12. DA JU S TIFIC AÇ ÃO DO NÃO COMPARECIMENTO À ELEIÇÃO


Como consectário da obrigatoriedade do voto aos maiores de 18 anos,
excluindo-se os votos facultativos previstos ao analfabeto e ao m enor de 18 e
maior de 16 anos e do m aior de 70 anos de idade (não há incidência do Estatuto
do Idoso, que considerou idoso o maior de 60 anos, porque a norma aqui tratada
é de natureza constitucional), o não com parecim ento ao primeiro ou segundo
turnos das eleições enseja a aplicação de multa e, deixando o eleitor de votar
em três eleições consecutivas (art. 71, V, do Código Eleitoral), terá sua inscrição
cancelada.
Diante deste quadro de imposição do voto, a legislação eleitoral permite que o
eleitor pague uma multa ou justifique, acaso não vote no dia da eleição.
Sobre o assunto, destacamos os artigos da Resolução n9 21.538/03 para sua
memorização:

Art. 80. O eleitor que deixar de votar e não se justificar perante o juiz
eleitoral até 60 dias após a realização da eleição incorrerá em multa
imposta pelo juiz eleitoral e cobrada na forma prevista nos arts. 7S e
367 do Código Eleitoral, no que couber, e 85 desta Resolução.

182
A listam ento E l eit o r a l D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

§ l ô Para eleitor que se encontrar no exterior na data do pleito, o prazo


de que trata o ca p u tserá de 30 dias, contados do seu retorno ao país.

Por fim, as regras aqui tratadas referentes ao alistamento eleitoral são de suma
importância, porque se referem ao cotidiano dos serviços cartorários eleitorais e
são fruto do aprimoramento de estudos desenvolvidos pela honrada comissão dos
servidores da Corregedoria-Geral, da Secretaria de Informática/TSE e dos Tribunais
Regionais Eleitorais, que procuraram sintetizar, num texto legal, os artigos de lei
disciplinadores do assunto, além de traduzirem premissas norteadoras para todos
os aplicadores do Direito Eleitoral, num rumo mais seguro e consentâneo com a
prática.

8.13. DO M ICÍLIO ELEITO R AL DO CANDIDATO


0 dom icílio eleitoral é uma ficção jurídica e, na verdade, consagra uma expressão
ímpar, adotada de forma específica no Código Eleitoral, e que tem a finalidade de
organizar o eleitorado, conferindo certeza e segurança ao colégio eleitoral.
Diz o parágrafo único do art. 42 do Código Eleitoral:

é domicílio eleitoral o lugar de residência ou moradia do requerente


e, verificado ter o alistando mais de uma, considerar-se-á domicílio
qualquer delas.

Não existe coincidência entre o domicílio do Código Civil, que é o correto em


sua conceituação por exigir o animus, e o domicílio eleitoral, totalmente atípico,
porque se trata de um domicílio sem intenção de morar ou habitar, violando-se as
regras básicas de herm enêutica sobre o conceito estrutural do próprio instituto do
domicílio.
Assim, basta que o eleitor escolha o local, demonstrando e provando o lugar
de moradia ou residência. A jurisprudência do TSE é iterativa nesse sentido,
entendendo que domicílio eleitoral não se confunde com domicílio civil.
É muito comum que, nos meses de setem bro e outubro de ano não eleitoral,
os aspirantes a candidatos peçam a transferência de seus domicílios eleitorais,
em conformidade com os arts. 9 Q e 11, § 1-, V, da Lei n - 9.504/97. Todavia, cabe
à Justiça Eleitoral exigir a comprovação do elemento objetivo do domicílio. Ao
nosso sustentar, não se pode admitir endereços de terceiros no município da
transferência ou de pessoas não relacionadas diretamente com o interessado.
Nestas hipóteses, é cabível a expedição de um mandado judicial de verificação2 para
certificar a veracidade da residência ou moradia naquele novo endereço fornecido,

2 “TSE (...) Sua palavra pode, no entanto, ser elidida por prova contrária, obtida mediante diligência de verificação
promovida pela Justiça Eleitoral, dispensáveis tanto o inquérito policial quanto a comunicação lavrada a termo (CE,
art 356; TSE, HC n» 196, Rei. Min. Pertence, DJU de 6.5.1993)”.

183
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leito ral

podendo ser indeferido o pedido em desacordo com as informações prestadas,


independentemente da análise de eventual crime tipificado no art. 350 do Código
Eleitoral (falsidade ideológica eleitoral).3
Registre-se ainda que, em outra decisão, afirm a-se:
a jurisprudência desse Tribunal Superior é no sentido de que a
demonstração de interesse eleitoral, de vínculo afetivo, patrimonial e
comunitário do eleitor com o município é requisito necessário para o
seu alistamento eleitoral naquele local. A teor das disposições inscritas
no Código Eleitoral, art. 55, § l e, III, a transferência do domicílio
eleitoral só será admitida se a residência mínima de 3 (três) meses
no novo domicílio for atestada por autoridade policial ou provada por
outros meios convincentes.
Em conclusão: o ânimo definitivo, próprio do Direito Civil, não compõe o conceito
em Direito Eleitoral (TSE, HC ns 210, Rei. Min. M. Aurélio, JTSE 6(1), p. 11; Rec.
ns 14.104, Rei. Min. C. Porto, DJU de 1 4 .4 .1 9 9 7 ; Ag. n9 329, Rei. Min. Rezek, DJU de
6.9.1 9 9 6 ). Esse entendimento é antigo no Tribunal Superior Eleitoral (Ac. n - 2.443,
Rei. Min. Valladão, BE 84-01/ 668; Ac. ne 2.613, Rei. Min. Cunha Vasconcellos, BE 87-
01/262, ambos do ano de 1958).
O art. 14, § 3 e, inciso IV, da Constituição da República enumera como condição de
elegibilidade o domicílio eleitoral na circunscrição, ou seja, no Estado ou Município.
A circunscrição municipal se refere às eleições de Prefeitos, Vice-Prefeitos
e Vereadores; a estadual, abrange as candidaturas de Governadores, Vice-
Governadores, Senadores, Deputados Federais, Estaduais e Distritais. Já para as
eleições aos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, é possível que o
pleiteante tenha domicílio em qualquer Município brasileiro.
Na hipótese de uma zona eleitoral abranger mais de um Município, o domicílio
eleitoral será considerado o local de residência física do interessado.
O prazo de 1 (um) ano é contado até um l(u m ) dia antes da data da eleição.
Exemplo: Eleição de 2006, l e turno ( l e domingo de outubro), dia 1.10.2006. O
prazo de fixação do domicílio eleitoral deve ser até o dia 30,09.2005.
Segundo disciplina o Código Eleitoral:

3 “TSE. Acórdão n9 18.803, DE 11.9.01. Recurso Especial Eleitora! ne 18.803/SR Relaíor: Ministro Sepúlveda Pertence.
Recurso especial: domicílio eleitoral: transferência indeferida com base na negativa do único feto declinado no
requerimento e reafirmado na defesa à impugnação: questão de fato a cuja revisão não se presía a via extraordinária do
recurso especial (Súmula-STF ne 279), 1 .0TSE , na interpretação dos arts. 42 e 55 do CE, tem liberalizado a caracterização
do domicílio para fim eleitoral e possibilitado a transferência ainda quando o eleitor não mantenha residência civil na
circunscrição, à vista de diferentes vínculos com o município (histórico e precedentes). 2. Não obstante, se o requerimento
de transferência funda-se exclusivamente na afirmação de residir o eleitor em determinado imóvel no município e nela
unicamente entrincheira-se a defesa à impugnação, a conclusão negativa das instâncias ordinárias, com base na prova,
não pode ser revista em recurso especial, ainda quando as circunstâncias indiquem que poderia o recorrente ter invocado
outros vínculos locais, que, em tese, pudessem-lhe legitimar a opção pelo novo domicílio eleitoral.
Vistos etc., acordam os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em não conhecer do recurso, nos
termos das notas taquigráficas, que ficam fazendo parte integrante desta decisão. Sala de Sessões do Tribunal Superior
Eleitoral. Brasília, 11 de setembro de 2001. Ministro Nelson Jobim, Presidente. Ministro Sepúlveda Pertence, Relator”.

184
A l ista m en to E leito ra l . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

"Art. 42. 0 alistamento se faz mediante a qualificação e inscrição do


eleitor. Parágrafo único. Para o efeito da inscrição, é domicílio eleitoral
o lugar de residência ou moradia do requerente, e, verificado ter o
alistando mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer delas".

Pela interpretação literal, entende-se que domicílio eleitoral é diferente do civil,


conforme precedentes do TSE, Acórdãos n Ss 16.397, de 29.9.2000, e 18.124, de
16.11.2000. Assim, não se perscruta sobre vínculos subjetivos no local de residência,
mas apenas sobre o aspecto objetivo, ou seja, do local de moradia.
Não se pode negar a importância do conceito preciso de domicílio, pois é natural
que o sujeito fixe em determinado local o centro de seus negócios, atividades,
trabalhos e diversão. Trata-se do local em que se desenvolvem certas atividades
jurídicas, fala-se em certos tipos de domicílio, tais como: de eleição, necessário,
legal, voluntário, ocasional etc.
Recentem ente e em bom momento form a-se jurisprudência que está a exigir que
o eleitor-candidato tenha certos vínculos profissionais, patrimoniais, comunitários
ou familiares no Município, pois a simples comprovação fática objetiva da residência
(casa, apartamento etc.), não preenche o sentido da norma legal. O art. 65 da
Resolução TSE n2 21.538/ 2003 pode servir de base para este entendimento, assim
como já se tem observado em reiteradas decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais
e do próprio Egrégio Tribunal Superior Eleitoral.
A prova do domicílio eleitoral se dá basicam ente pela transferência do título
eleitoral um ano antes do pleito, conforme já assentado na jurisprudência do C.
TSE (Acórdão ns 6,464, de 5.9.78, Cordeiro Guerra, B oletim E leitoral n- 326/485;
Resolução nQ11.317, de 15.6.82, Pedro Gordilho, Boletim E leitoral n9 332/ 338). As
regras para a transferência do título estão disciplinadas no art. 18 da Resolução
TSE ns 21.53 8 / 2 0 0 3 .
Admitem-se outros meios de prova, tais como: contas de luz, comprovantes de
contratos de aluguel etc.
O Colendo TSE possui relevante precedente sobre o aspecto probatório:
"Ementa: Domicílio eleitoral. Transferência. Residência. Antecedência
(CE, art. 55). Vínculos patrimoniais e empresariais. Para o Código
Eleitoral, domicílio é o lugar em que a pessoa mantém vínculos
políticos, sociais e econômicos. A residência é a materialização desses
atributos. Em tal circunstância, constatada a antiguidade desses
vínculos, quebra-se a rigidez da exigência contida no art. 55, III. DJ de
17.12.2004" (TSE, acórdão ne 4.769, de 2.10,2004. Agravo Regimental
no Agravo de Instrumento ne 4.769/RJ; Rei.: Min. Humberto Gomes
de Barros). O art, 55, inciso III foi alterado em sua redação pela Lei
ne 6.996/82, art. 8-, já normatizado na Resolução TSE ne 21.538/2003,
art. 18, inciso III.

185
VIa r c o s R am a ya n a D ir eit o E leito ral

É importante ressaltar que o cancelamento do título em razão da prova de sua


transferência fraudulenta im portará na adoção do procedimento previsto no art. 71
do Código Eleitoral, com a observância da ampla defesa e do contraditório. Assim, o
cancelamento do título afetará as pretensões políticas eleitorais do interessado, que
estará inserido na falta de preenchimento de uma outra condição de elegibilidade,
que está referida no art. 14, § 3-, III, do Código Eleitoral, ou seja, o próprio
alistamento eleitoral.
Por fim, as arguições de falta de domicílio eleitoral na circunscrição podem ser
deflagradas em ação de impugnação ao requerimento de registro de candidatos, no
próprio requerimento de registro, ou ainda, em ação autônoma de impugnação ao
mandato eletivo, considerando que a m atéria é de natureza con stitu cion al e está
im u n e à preclusão, conforme regra do art. 259 e parágrafo único do Código Eleitoral.
r ; Como se nota, o domicílio eleitoral é uma condição de elegibilidade constitucional• •
prevista no art. 14, § 3°, inciso IV, da Constituição Federal, e, se porventura não
:; for identificada qualquer irregularidade no prazo do requerimento de registro de
v candidaturas, ou seja, até o dia 5 de julho do ano eleitoral (art. 11 da Lei n° 9.504/97),
é possível sua, arguição, v.#., na via da .ação de impugnação ao mandato; eletivo v,
(art. 14, §§ 10 e 11, da CF), no prazo de 15 dias contados da data da diplomação
■ (data previamente marcada no calendário das eleições). r ■,)
A arguição sobre a falha com relação ao domicílio eleitoral não está sujeita à
preclusão temporal, pois incide sobre esta m atéria constitucional a ressalva do
art. 259 do Código Eleitoral, in expressi verbis:

Art. 259. São preclusivos os prazos para interposição de recurso, salvo


quando neste se discutir matéria constitucional.
Parágrafo único. O recurso em que se discutir matéria constitucional não
poderá ser interposto fora do prazo. Perdido o prazo numa fase própria,
só em outra que se apresentar poderá ser interposto.

Não preclui uma questão constitucional, por exemplo, filiação partidária. No


entanto, se não for arguida na ação de impugnação ao pedido de registro, só poderá
ser na ação de impugnação ao mandato eletivo.
Outrossim, o verbete sumular na 11 do Tribunal Superior Eleitoral aduz que:
"No processo de registro de candidatos, o partido que não o impugnou não tem
legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de matéria
constitucional."
Vê-se que, sendo a matéria constitucional, qualquer partido pode recorrer da
sentença que deferiu o registro maculado pelo vício da nulidade, não se operando o
instituto da preclusão.

186
A l ista m en to E l eit o r a l D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

Sucintamente, pode-se concluir ainda que a vedação se limita apenas a


interposição de recurso ou ajuizamento de ação fora do prazo legal, contendo ou
não a causa de pedir m atéria de natureza constitucional. Nesse sentido, cumpre
enfatizar a regra do art. 36 8 do Código Eleitoral: "Os atos requeridos ou propostos em
tempo oportuno, mesmo que não sejam apreciados no prazo legal, não prejudicarão
aos interessados."
Cumpre à Justiça Eleitoral aferir com base nas informações constantes de seu
banco de dados se o candidato possui o domicílio eleitoral, não sendo o caso
dos mesmos apresentarem documentos comprobatórios, exceto na falha destes
registros ou para esclarecer certas peculiaridades.
É preciso, porém, fazer uma advertência*, o inciso V do § l e do art. 11 da Lei
ne 9.504/97 faz menção à expedição de uma certidão fornecida pela ju stiça Eleitoral
de que o candidato é eleitor no Município ou Estado (circunscrição) ou requereu
sua inscrição ou a transferência de domicílio no prazo do art. 9 g, ou seja, 1 (um) ano
antes da data da eleição ( I a turno). Exemplo: Eleição Municipal de 2 0 0 8 se realiza
no primeiro domingo de outubro, que é o dia 5 de outubro de 2008, assim, a prova
do domicílio terá de ocorrer até 5 de outubro de 2007 (ano anterior).
0 art. 65 da Resolução do TSE n9 21.538/ 03, assim disciplina:

Art. 65. A comprovação de domicílio poderá ser feita mediante um


ou mais documentos dos quais se infira ser o eleitor residente ou ter
vínculo profissional, patrimonial ou comunitário no município a abonar
a residência exigida.
§ l s Na hipótese de ser a prova de domicílio feita mediante apresentação
de contas de luz, água ou telefone, nota fiscal ou envelopes de
correspondência, estes deverão ter sido, respectivamente, emitidos ou
expedidos no período compreendido entre os 12 e 3 meses anteriores
ao início do processo revisional.
§ 2- Na hipótese de ser a prova de domicílio feita mediante apresentação
de cheque bancário, este só poderá ser aceito se dele constar o endereço
do correntista.
§ 3S O juiz eleitoral poderá, se julgar necessário, exigir o reforço, por
outros meios de convencimento, da prova de domicílio quando produzida
pelos documentos elencados nos §§ l 2 e 25.
§ 4 e Subsistindo dúvida quanto à idoneidade do comprovante de
domicílio apresentado ou ocorrendo a impossibilidade de apresentação
de documento que indique o domicílio do eleitor, declarando este, sob as
penas da lei, que tem domicílio no município, o juiz eleitoral decidirá de
plano ou determinará as providências necessárias à obtenção da prova,
inclusive por meio de verificação in loco.

187
M a r c o s R am ayana D ir eito E leito ral

Como fica um adolescente que, aos 1 6 anos, facultativam ente, exerce o direito
de a listar-se eleitoralm en te e, aos 1 8 anos, alista-se nas Forças Armadas, p ara
cum prir sua obrigação m ilitar?
Como é cediço, o conscrito não pode alistar-se, só que, no caso, antes de o
adolescente ser conscrito, já era alistado facultativamente. Em consulta ne 9.881/90
o TSE, apreciando a matéria, já decidiu que o eleitor inscrito, ao ser incorporado
para prestação do serviço militar obrigatório, deve ter sua inscrição mantida, porém
ficará impedido de votar. A decisão tem assento no art. 6-, inciso II, alínea c, do CE.

O preso pode votar?


Se o preso está cumprindo decisão definitiva com trânsito em julgado (art. 15, III,
da Carta Magna), está na hipótese de suspensão dos direitos políticos (ver capítulo
sobre perda e suspensão dos direitos políticos).
A questão reside quanto às prisões cautelares ou que aguardam decisão definitiva.
O preso temporariamente, em flagrante delito, em decorrência de prisão
preventiva, pronúncia ou condenatória recorrível pode votar, porque não está com
os direitos políticos suspensos. Impedimento legal não existe nenhum. Existe um
impedimento de fato, ou seja, a impossibilidade de o preso comparecer à seção
eleitoral para votar. A solução seria a criação de uma mesa receptora de votos
de natureza especial para estes casos. Sustentamos que cabe à Justiça Eleitoral
disciplinar esta matéria por resolução, possibilitando o exercício do direito de voto
aos presos não condenados por sentença penal transitada em julgado.
O Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Rio de Janeiro editou a Resolução
ns 690/08, que "Estabelece normas para instalação, em caráter experimental, de
Seção Eleitoral nas dependências da 5 2aDelegacia policial, e dá outras providências"
em consonância com o disposto no art. 19 da Resolução do TSE ne 22.712/08, que
dispõe que serão criadas seções eleitorais especiais em penitenciárias, permitindo
que os presos provisórios tenham assegurado o direito de voto.
0 Egrégio TSE expediu a Resolução ne 23.219, de 02 de março de 2010, dispondo sobre
a instalação de seções eleitorais especiais nos estabelecimentos penais e em unidades de
internação de adolescentes, assegurando para as eleições de 2010 o exercício do voto aos
presos provisórios e adolescentes internados entre 16 e 21 anos de idade.
0 alistamento e transferência dos títulos serão realizados por servidores da
Justiça Eleitoral, inclusive com a designação de m esários e servidores públicos para
as eleições, observando-se o calendário eleitoral.

O índio pode votar?


Sim, desde que tenha possibilidade de exprimir-se na língua nacional e seja
habilitado pela Funai. Sobre o assunto, consultar o Estatuto do índio, que faz menção
ao índio integrado, semi-integrado e não integrado.

188
A listam ento E leitoral . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

O Estatuto do índio (Lei ns 6.001, de 19 de dezembro de 1973) dispõe, no art.


42, o seguinte:

Art. 4 S Os índios são considerados:


I - isolados - quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se
possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais com
elementos da comunhão nacional;
II - em vias de integração - quando, em contato intermitente ou
permanente com grupos estranhos, conservam menor ou maior parte
das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos
de existência comuns aos demais setores da comunhão nacional, da qual
vão necessitando cada vez mais para o próprio sustento;
III ~ integrados - quando incorporados à comunhão nacional e
reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem
usos, costumes e tradições característicos da sua cultura.

O índio é considerado brasileiro nato (art. 5e do Estatuto do índio) e, no gozo de


seus direitos políticos, pode ocupar os cargos privativos listados no art. 12, § 3Q, da
Carta Magna. No Brasil, tivemos o famoso índio Juruna que foi Deputado Federal,
mas não chegou a ocupar efetivamente cargo privativo de brasileiro nato. Sobre os
índios, ver ainda os arts. 231 e 232 da CRFB.
Por fim, os direitos civis e políticos dos índios ficam na dependência da verificação
das condições especiais estabelecidas na legislação especial do indigenato. Destaca-
se: "(...) quem pode exercer direitos políticos está habilitado para os atos da vida
civir (Consolidação das Leis Civis de Teixeira de Freitas).
O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedente em termos de resolução
que considera que o silvícola ou índio deve se submeter às mesmas exigências de
quitação eleitoral impostas aos cidadãos em geral. Neste sentido:
Resolução ne 20.806, de 15.5.2001. Processo Administrativo na 18.391/
AP. Relator: Ministro Garcia Vieira. Ementa: Alistamento eleitoral.
Exigências. São aplicáveis aos indígenas integrados, reconhecidos no
pleno exercício dos direitos civis, nos termos da legislação especial
(Estatuto do índio), as exigências impostas para o alistamento
eleitoral, inclusive de comprovação de quitação do serviço militar ou
de cumprimento de prestação alternativa. D] de 24.8.2001.

O estrangeiro pode votar?


Quanto ao estran geiro, pouco importa se sabe a língua nacional; simplesmente
não pode alistar-se, Na verdade, a restrição ao voto do estrangeiro é a consagração
do sufrágio do tipo restrito. Assim, o estrangeiro não poderá votar.
Destacamos do Estatuto do Estrangeiro (Lei ne 6.815/80):
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leitoral

Art. 107.0 estrangeiro admitido no território nacional não pode exercer


atividade de natureza política, nem se imiscuir, direta ou indiretamente,
nos negócios públicos do Brasil, sendo-lhe especialmente vedado:
I - organizar, criar ou manter sociedade ou quaisquer entidades de
caráter político, ainda que tenham por fim apenas a propaganda ou a
difusão, exclusivamente entre compatriotas, de ideias, programas ou
normas de ação de partidos políticos do país de origem;
II - exercer ação individual, junto a compatriotas ou não, no sentido
de obter, mediante coação ou constrangimento de qualquer natureza,
adesão a ideias, programas ou normas de ação de partidos ou facções
políticas de qualquer país;
III - organizar desfiles, passeatas, comícios e reuniões de qualquer
natureza, ou deles participar, com os fins a que se referem os itens I e
II deste artigo.
Parágrafo único. 0 disposto no caput deste artigo não se aplica ao
português beneficiário do Estatuto da Igualdade ao qual tiver sido
reconhecido o gozo de direitos políticos (Ver arts. 14, §§ 26 e 3S, I, e 15,
1, da CF.).
* Ver art. 125, XI, e parágrafo único. Ver art. 2 4 ,1, da Lei n9 9.504, de
30/9/1997. A Lei n- 6.964, de 9/12/1981, renumerou o artigo.

Por fim, a outorga aos brasileiros do direito de voto e gozo dos direitos políticos
em Portugal, quando for comunicada ao Tribunal Superior Eleitoral, acarretá a
suspensão destes mesmos direitos no Brasil, segundo dispõe o Decreto ne 70.391,
de 12 de abril de 1972.

8.14. SURDOS-MUDOS
Quanto aos surdos-mudos, os mesmos só serão considerados absolutamente
incapazes e sujeitos à suspensão dos direitos políticos (art. 15, H, da CRFB), quando
não tiverem a educação adequada para exprimirem corretamente sua vontade.
Os surdos-mudos devem exercer o direito de voto como qualquer pessoa apta e
capaz, desde que tenham conquistado a capacidade especial de exteriorizar o voto.
Sustentamos a urgência na aprovação de lei eleitoral que obrigue as propagandas
políticas (eleitorais e partidárias), através da televisão, à inserção de textos
escritos no horário eleitoral gratuito, possibilitando a compreensão, pelos surdos,
da mensagem dos candidatos. Trata-se de medida de efetividade constitucional
e asseguradora da amplitude da cidadania (O art. 25, § 1-, da Resolução TSE
n- 22.718, determinou a utilização da Linguagem Brasileira de Sinais ou recursos
de legendas para a propaganda eleitoral gratuita pela televisão). Sobre o assunto,
ver os comentários nesta obra sobre a suspensão dos direitos políticos.

190
A l ista m en to E leito ral . D o m ic íl io E leitoral C a p ít u l o 8

A Resolução TSE ns 21.991/05 prevê no art. l e, § 29, que não serão canceladas
as inscrições eleitorais (títulos eleitorais) de eleitores portadores de deficiências
físicas que estejam impossibilitados de votar, ou para quem seja extremamente
oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais. Neste caso será comunicado o
fato no período estipulado no § 8- do art. 80 da Res. TSE na 21.538/03, ou seja, 60
(sessenta) dias da data do batimento que verificar a abstenção eleitoral como causa
de cancelamento.

8.15. MULTA ELEITO R AL


As multas eleitorais estão previstas como sanções decorrentes de cinco tip o s
básicos de p essoas.
Em uma primeira hipótese aplicam-se multas aos eleitores faltosos que não
justificaram a ausência nos pleitos eleitorais, conforme previsão contida no art. 80
e § 6Üda Resolução do TSE n9 21.538/03.
Em outro plano, as multas decorrem de atos de servidores públicos que violam
prazos e instruções da Justiça Eleitoral, por exemplo, os mesários faltosos (agentes
públicos honoríficos, ou seja, que cumprem um múnus público sem remuneração).
Neste caso, prevê o art. 124 do Código Eleitoral a sanção pela via da multa,
independentemente do aspecto penalmente relevante da conduta em face do crime
do art. 3 4 4 do Código Eleitoral.
São cabíveis as multas em face de candidatos e partidos políticos, que tenham
violado as regras sobre a propaganda, praticado atos abusivos e captações ilícitas
de sufrágio.
Os exemplos no caso acima são os tipificados nos arts. 37, § l 9, 41-A e 73, § 4 9 da
Lei ne 9.504/ 97 dentre outros.
Por fim, aos crim in o so s cujos tipos penais eleitorais preveem a aplicação de
multa em seus preceitos secundários, tais como os delitos dos arts. 324 (calúnia
eleitoral) é 325 (difamação eleitoral).

8.15.1. Natureza ju ríd ica da multa eieitorai


Primeiramente, em relação a multas penais, o Código Eleitoral atribui sua
destinação ao Tesouro Nacional. Nesse caso, é importante advertir que, ao contrário
das multas previstas na legislação penal, que se destinam ao Fundo Penitenciário, a
norma de regência eleitoral fixou outra e especializou a regra geral penal.
Dessa maneira, as multas penais eleitorais são dívidas da União e sua natureza
jurídica se identifica como receita deste ente federativo.
Elas, não satisfeitas no prazo de 30 (trinta) dias do trânsito em julgado das
decisões da Justiça Eleitoral, são consideradas dívida líquida e certa da União
Federal.

191
M a r c o s R am a ya n a D irjeito E leitoral

A disciplina jurídica mais atualizada sobre as multas está no texto da Resolução


TSE ne 21.975/04.
Todavia, a multa é recolhida à conta do Fundo Partidário, não sendo propriamente
uma receita que ingresse nos cofres públicos da União, pois a Lei n9 9.096/95 (Lei dos
Partidos Políticos), disciplina no art. 38, inciso 1, que: "O Fundo Especial de Assistência
Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário) é constituído por: I - multas e
penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas."
Considerando que a multa é destinada ao Fundo Partidário, podemos entender
que sua natureza jurídica é tipicamente partidária, sendo seu processo executivo
regido por execução fiscal, especificamente pela Lei de Execução Fiscal (Lei n- 6.830,
de 22 de setembro de 1 980).
Mas ainda há mais a dizer.
Parece que, atualmente, a multa não é dotada apenas de caráter tipicamente
partidário, pois sua inadimplência pode acarretar a negativa da falta de quitação
com a Ju stiça E leitoral, ensejando, por exemplo, para os e le ito re s e servid ores, a
impossibilidade da expedição de certidão de nada consta para fins civis-eleitorais e
funcionais; e, em relação aos candidatos, é possível se negar o registro de candidatura
por ausência de uma condição de elegibilidade referente à própria quitação eleitoral,
considerando que os inadimplentes não se encontram na plenitude dos direitos
políticos (art. 14, § 3 e, inciso II, da Constituição Federal).
0 Egrégio Tribunal Superior Eleitoral firmou precedente no sentido de que a
falta de quitação da multa eleitoral importa em não preenchimento de condição de
elegibilidade. Em destaque.
Eleições 2006. Recurso especial. Quitação eleitoral. Inexistência.
Condição de elegibilidade. Não preenchimento. Dissídio jurispru­
dência!. Similitude fática. Não demonstração. Prequestionamento.
Ausência. Para fins de quitação eleitoral, exige-se que não haja
multas aplicadas em definitivo pela Justiça Eleitoral, e não remi-
tidas, nos termos da Res. TSE ns 21.823/04. Nesse entendimento, o
Tribunal negou provimento ao agravo regimental. Unânime. Agravo
Regimental no Recurso Especial Eleitoral na 26.956/SP, rei. Min. Cezar
Peluso, em 25.9.2007.
Em ratificação.
"Recurso Especial ne 22.383/MA. Relator: Ministro Caputo Bastos. 0
Egrégio Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão reformou sentença
do ilustre juiz eleitoral da 21- Zona Eleitoral daquele estado, que julgou
procedente impugnação de registro de candidatura de Raimundo
Nonato e Silva. Eis a ementa do acórdão regional (fl. 343): "Recursos
eleitorais. Registro de candidatura. Eleições 2004. 1. Alegação de
condenação por improbidade administrativa e ausência de quitação
eleitoral liminar. Suspensão dos efeitos da sentença condenatória.

192
O
A listamento E leitoral . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

2. Multa eleitoral. Incidência da Resolução - TSE ne 21.848/04 a partir


do pleito de 2004. Conhecimento e provimento. 3. O pleno gozo dos
direitos políticos está condicionado entre outros, à inexistência
de multas provenientes de processos eleitorais a partir do pleito
de 2004. 4. Recurso a que se conhece e dá provimento" (grifos nossos).
F ir m a d a e s s a n o v a p r e m is s a , é p o s s í v e l id e n t i f ic a r a n a t u r e z a ju r í d i c a d a m u lt a

como uma típica condição de elegibilidade constitucional qiié se extrai da leitura do


iiart. 14, § 3-, inciso II, da Lei Fundamental, adotando-se ainda o disposto no art. 32
,,do:Código Eleitoral, que trata das condições de elegibilidade para acesso, aos cargos
eletivos.
Significativa é ainda a afirmação do § l 9 do art. 7 9 do Código Eleitoral: "Sem a
prova de que votou na últim a eleição, pagou a respectiva multa ou de que se
justificou devidam ente, não p od erá o eleitor: I - inscrever-se em concurso ou
prova para cargo ou função pública, investir-se ou empossar-se neles."
Conclui-se: não podem inscrever-se, ou seja, registrar-se em concursos, incluindo
os decorrentes do certame popular (eleições), os candidatos, inclusive investir-se
ou empossar-se para o regular exercício do mandato eletivo.
A multa eleitoral em relação aos canditatos é, portanto, uma condição de
elegibilidade constitucional, pois implica na ausência do pleno exercício dos direitos
políticos.
Em reforço à questão da carência de uma condição de elegibilidade, aplica-se o
disposto no art. 11, § l 9, inciso VI, da Lei n9 9.504/97, assim, a quitação eleitoral
é condição para o deferimento do pedido de registro de candidaturas que deve ser
analisada no momento do pedido de registro de candidaturas, não sendo postergada
para prazo após a sentença ou em grau recursal.
Sobre este tema vale a transcrição de decisão do TSE:
Recurso especial eleitoral. Registro de candidatura. Eleições 2006.
Art. 11, § l e, inciso VI, da Lei ne 9.504/97. Quitação eleitoral.
Condições de elegibilidade e inelegibilidade. Aferição no momento
da apresentação do pedido de registro de candidatura. Provimento
do recurso. 1. Para o deferimento do pedido de registro, torna-se
imprescindível que o requerente esteja quite com a Justiça Eleitoral
no momento do requerimento de seu registro de candidatura. 2. A
juntada de certidão de quitação eleitoral não deve ser confundida com
a quitação propriamente dita. Conforme dispõe o art. 26 da Res. TSE
ne 22.156/06, esta justiça Especializada analisa a situação eleitoral
do requerente. In casu, restou certificado que o ora recorrido não
estava quite com a justiça Eleitoral. Desarrazoado seria entender que
uma certidão informando sobre quitação eleitoral ocorrida em data
posterior à do pedido tenha o condão de sanar tal irregularidade.
3. Precedentes: REspe. n- 23.85.1/GO, rei. para o acórdão Min. Carlos
Velloso, D} de 26.8.2005; REspe. nõ 22.611/RS, rei. Min. Gilmar Mendes,

193
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leito ral

DJ de 24.9.2004; REspe. ns 22.676/GO, rei. Min. Caputo Bastos, DJ de


22.9.2004 e REspe. n9 18.313, rei. Min. Maurício Corrêa, DJ de 5.12.2000.
4. Recurso especial do Ministério Público Eleitoral provido. *Acórdão
no Recurso Especial Eleitoral n9 26.387, de 13.9.2006 - Classe 22^/GO
(Goiânia). Relator: Ministro José Delgado. Decisão: Unânime em prover
o recurso. EMENTÁRIO TSE/ELEIÇÕES 2006.
Quando a multa é aplicada aos eleitores, é uma condição cívica-eleitoral.
A multa aplicada aos servidores transmuda-se em sanção de índole funcional.
E a multa sob o ângulo dos delinqüentes eleitorais é dívida da União referente
ao Tesouro Nacional, que não possui caráter tributário.
Por fim, em relação aos Partidos Políticos a multa tem feição de natureza
partidária, sem ser tributária.
É oportuno frisar que o Egrégio TSE também possui precedente sobre a extensão
da multa aplicável, exclusivamente, aos Partidos Políticos, a saber:
Extensão. Efeito. Restrição à obtenção de quitação eleitoral.
Dirigente partidário. Multa aplicada exclusivamente à agremiação
política. Ausência de pagamento. Impossibilidade. Inexistência de
registro no cadastro eleitoral. As multas aplicadas exclusivamente aos
partidos políticos não têm seu registro efetivado no cadastro, uma vez
que este se restringe ao controle do histórico de cada cidadão perante
a Justiça Eleitoral. Limitada a abrangência da quitação eleitoral, fixada
por esta Corte, à órbita pessoal do cidadão, não se podem estender,
à míngua de expressa previsão legal, a partir de penalidade imposta
exclusivamente aos partidos políticos ~ pessoas jurídicas de direito
privado -, os efeitos de restrição inerente ao exercício da cidadania
política, a qual decorre de sanções dirigidas a reprimir condutas
praticadas pelo eleitor, pessoa física. Consulta a que se responde
negativamente. Resolução ne 22.263, de 29.6.2006 ~ Consulta n9 1.240
- Classe 5â/E)í\ (Brasília). Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha. Decisão:
Unânime em responder à consulta.
Todavia, sobre essa questão a Resolução TSE anota em seus cadastros que a multa
não paga pelo Partido Político serve na forma dos arts. 2S e parágrafo da resolução e
73, § 9-, da Lei ns 9.504/97, para "na distribuição dos recursos do Fundo Partidário
(Lei n- 9.096, de 19 de setembro de 1 995) oriundos da aplicação do disposto no
§ 4 9, deverão ser excluídos os partidos beneficiados pelos atos que originaram as
multas".
Como se percebe, além da falta de quitação eleitoral do Partido Político para
com a Justiça Eleitoral, haverá exclusão do valor referente ao Fundo Partidário no
montante da dívida oriunda da multa eleitoral inadimplida, quando por ocasião da
distribuição dos percentuais na forma legal.

194
A listam ento E leitoral . D o m ic íl io E leitoral C a p itu lo 8

0 Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedente sobre a prescrição das


multas eleitorais e sua n atu reza Jurídica, que é identificada como sendo "dívida
não trib u tária". Nesta linha:
Resolução ne 21.197, de 03.09.2002. Processo Administrativo 18.882/
SP. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Ementa: Multas eleitorais.
Cobrança decorrente deausência a eleições posteriores ao cancelamento
da inscrição eleitoral. Cabimento. Prescrição. Termo inicial. 0
cancelamento de inscrição por ausência a três eleições consecutivas
decorre de comando legal (arts. 7-, § 3e, e 71, inciso V, Código Eleitoral)
e constitui medida de depuração do cadastro eleitoral. Não se confunde
com a imposição de penalidade de natureza pecuniária pelo não
comparecimento às eleições (art. 7°, caput, da mesma lei) a que, por
essa razão, estará sujeito o infrator. A multa eleitoral constitui dívida
ativa não tributária, para efeito de cobrança judicial, nos termos
do que dispõe a legislação específica, incidente em matéria eleitoral,
por força do disposto no art. 367, incisos III e IV, do Código Eleitoral.
À dívida ativa não tributária não se aplicam as regras atinentes
à cobrança dos créditos fiscais, previstas no Código Tributário
Nacional, ficando, portanto, sujeita à prescrição ordinária das ações
pessoais, nos termos da legislação civil, conforme já decidiu o Supremo
Tribunal Federal. O termo inicial do prazo prescricional, observado o
disposto no § 3 9 do art. 2a da Lei n9 6.830/ 80, será o primeiro dia
seguinte aos 30 (trinta) dias posteriores à realização da eleição a que
tiver deixado de comparecer e de justificar a ausência. DJ de 04.10.2002.

8.15.2. Multa eleitoral. C om petência do juiz eleitoral e su b stitu to s


O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedente sobre a possibilidade
do juiz eleitoral substituto exercer a jurisdição eleitoral, inclusive impondo multas
eleitorais nos termos do art. 367 do Código Eleitoral, que não se aplica à execução
das multas de natureza penal.
Em destaque:
Eleitoral. Penal. Juiz substituto. Condenação ao pagamento de multa.
Art. 367 do Código Eleitoral. Fundamentação. Reexame de provas. 0
juiz de direito substituto pode exercer as funções de juiz eleitoral,
mesmo antes de adquirir a vitaliciedade, por força do que disposto
no art. 22, § 2°, da Loman. As disposições do art. 367 do Código
Eleitoral, relativas a imposição e cobrança de multas, não se aplicam
às condenações criminais (Art 367. A imposição e a cobrança de
qualquer multa, salvo no caso das condenações criminais, obedecerão às
seguintes normas: 1 - n o arbitramento>será levada em conta a condição
econômica do eleitor; 11 - arbitrada a multa de ofício ou a requerimento
do eleitor, o pagamento será feito através de selo fed era l inutilizado no
próprio requerimento ou no respectivo processo. 111 - se o eleitor não

195
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leitoral

satisfizer o pagamento no prazo de 30 (trintaJ dias, será considerada


dívida líquida e certa, para efeito de cobrança mediante executivo fiscal
a que fo r inscrita em livro próprio no Cartório Eleitoral; IV - a cobrança
judicial da dívida será fe ita por ação executiva na form a prevista para a
cobrança da dívida ativa da Fazenda Pública, correndo a ação perante
os juizes eleitorais; V ~ nas capitais e nas comarcas onde houver mais de
um prom otor de justiça, a cobrança da dívida far-se-á por intermédio do
que fo r designado pelo procurador regional eleitoral; VI ~ os recursos
cabíveis, nos processos para cobrança da dívida decorrente de multa,
serão interpostos para a instância superior da Justiça Eleitoral; VII -
em nenhum caso haverá recurso de ofício; VIII - as custas, nos estados,
Distrito Federal e territórios, serão cobradas nos termos dos respectivos
regimentos de custas; IX - os juizes eleitorais comunicarão aos tribunais
regionais, trimestralmente, a importância total das multas impostas
nesse período e quanto fo i arrecadado através de pagam ento feito na
form a dos incisos II e III; X - idêntica comunicação será feita pelos
tribunais regionais ao Tribunal Superior). Inviável o reexame de provas
em recurso especial. Nesse entendimento, o Tribunal não conheceu do
recurso. Unânime. Recurso Especial Eleitoral n5 I9.260/G0, rei. Min.
Fernando Neves, em 1.3.2001.

8 .1 5 .3 . Legitim idade ativa para a co b ra n ça d as m uftas eleito rais


O inciso V do art. 367 do Código Eleitoral faz menção ao membro do Ministério
Público para exercer esse tipo de atribuição. Todavia, a atribuição não é mais
deflagrada por este órgão do P a r q u e t Trata-se de norma de encerramento de
função.4
A hipótese mencionada não foi recepcionada pelo texto constitucional, pois o
art. 29, § 5-, do ADCT da CF/88 estabeleceu que:

Art. 29. Enquanto não aprovadas as leis complementares relativas ao


Ministério Público e à Advocacia-Geral da União, o Ministério Público
Federal, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, as Consultorias
Jurídicas dos Ministérios, as Procuradorias e Departamentos Jurídicos
de autarquias federais com representação própria e os membros das
Procuradorias das Universidades fundacionais públicas continuarão a
exercer suas atividades na área das respectivas atribuições.
(...)
§ 5S Cabe à atual Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, diretamente
ou por delegação, que pode ser ao Ministério Público Estadual,
representar judicialmente a União nas causas de natureza fiscal, na área
da respectiva competência, até a promulgação das leis complementares
previstas neste artigo.
4 Pedimos ao leitor para verificar o capítulo sobre o Ministério Público.

196
A listam en to E l eito ra l . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

Assim sendo, após a edição da Lei-Compiementar n2 73, de 10 de fevereiro de


1993, as atribuições dos Procuradores da Fazenda Nacional ficaram expressamente
definidas no art. 12, incisos I a VIII, da citada norma, excluindo-se, por conseguinte,
a participação do Ministério Público de qualquer fase do processo de cobrança da
dívida decorrente da multa administrativa prevista, por exemplo, nos arts. 7 a, 8-,
9e, 61 e parágrafos, 124 e parágrafos, 159, § 5 9, e 146, inciso VIII, todos do Código
Eleitoral.
Igualmente, as multas administrativas decorrentes do descumprimento das
regras da propaganda eleitoral e outros institutos eleitorais estão previstas na
Resolução TSE ne 21.975/ 04 quanto ao procedimento destinado à cobrança da
multa, não fazendo menção ao Promotor Eleitoral, mas, sim, à necessidade de
remessa à Procuradoria da Fazenda Nacional.
Com efeito, subsiste apenas em relação ao Promotor Eleitoral a manifestação no
procedimento de aplicação da multa administrativa, cuja inscrição na dívida ativa
da União a torna apta à cobrança pelos Procuradores da Fazenda Nacional.
No que concerne às multas aplicadas em matéria penal eleitoral, da mesma
forma, verifica-se que a sua regular cobrança não há de ser feita pelo Promotor
Eleitoral. Aplicando-se subsidiariamente o Código Penal, por força do art. 287
do Código Eleitoral, conclui-se que a execução da pena de multa se processa no
caso de inadimplemento, mediante inscrição na dívida ativa da União e cobrança
subsequente pelo Procurador da Fazenda Nacional.
É sabido, contudo, que a Procuradoria da Fazenda Nacional não tem procedido
à cobrança dos valores remetidos à mesma, em função da existência de legislação
fedéral (Lei Federal n e 11.033/04) que veda a execução fiscal de valores inferiores
a R $10.000,00 (dez mil reais).
Diante do exposto, não se justifica que o Promotor Eleitoral realize tal função,
diante da vedação constitucional constante no art. 128, § 5 S, inciso II, b, devendo
o feito restar paralisado, ressalvada a hipótese do art. 79 do Código Eleitoral, cujas
conseqüências encontram-se expostas no § l e, incisos I a VI, do próprio art. 79 do
Estatuto Eleitoral. A ausência de pagamento da multa administrativa importa em
uma série de restrições quanto ao eleitor em situação de inadimplemento.
Em resumo: a multa administrativa eleitoral imposta a componente de mesa
receptora que não tenha comparecido ao local, em dia e hora determinados para
a realização de eleição, depois de transcorrido o prazo de 30 (trinta) dias para
justificativa, conforme disciplinado no art. 1 24 do Código Eleitoral, obedece o mesmo
procedimento no que concerne à sua cobrança judicial. O art. 124, § 2e, do Código
Eleitoral possibilita a aplicação de punição disciplinar de suspensão ao mesário
faltoso se este for servidor público ou autárquico, sem prejuízo da deflagração de
ação penal fundada no art. 344 do Código Eleitoral.

197
M a r c o s R am ayana D ir eito E leitoral

Além da situação antes mencionada, o Juiz Eleitoral deve aplicar a multa eleitoral,
quando o eleitor deixar de votar (CE, art. 7 9} e quando proceder ao alistamento
eleitoral tardio (CE, art. 8 e) (Posição publicada em Boletim do Centro de Apoio
Operacional das Promotorias de Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro, Boletim 3, junho
de 2002, pp. 13-14). Registre-se posição contrária, pela legitimidade da cobrança
de multas administrativas pelo Promotor Eleitoral, na Revista do Ministério Público
(próprio Boletim, p. 15), de autores renomados, como Marcos André Chut e Emerson
Garcia, dentre outros. t

Em conclusão: cabe ao juiz eleitoral enviar os autos referentes à multa não paga ; |
ao Tribunal Regional Eleitoral, conforme preconizado no art. 32 da Resolução TSE 5
n2 21.975/04 para fins de inscrição na Dívida Ativa da União, sendo de atribuição
da Fazenda Nacional a sua regular cobrança. :
...... ................... " ' ■'■■■'.... ' M
O Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Rio de Janeiro e a Procuradoria da '%
Fazenda Nacional possuem regra comum sobre o tema das multas, por meio do
ato conjunto ne 01/2007, firmando a competência da 2 § Zona Eleitoral para as
execuções fiscais.

PODERJUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DORIO DEJANEIRO

ATO CONJUNTO N? 01/07


O Desembargador ROBERTO WIDER, Presidente do Tribunal Regional
Eleitoral do Rio de Janeiro e o Dr. EDUARDO GONÇALVES BOQUIMPANl
Procurador-Chefe da Procuradoria da Fazenda Nacional no Rio de
Janeiro, no uso de suas atribuições legais e;
CONSIDERANDO o disposto no art. 367, inciso IV, do Código Eleitoral,
que trata da competência da Justiça Eleitoral para o processo e
julgamento das ações de execução fiscal de multas eleitorais, bem como
a jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça neste sentido;
CONSIDERANDO a divisão da circunscrição eleitoral em duzentas e
quarenta e oito zonas no Estado do Rio de Janeiro e a necessidade de
especialização do juízo eleitoral competente para as ações desta natureza;
CONSIDERANDO que a Procuradoria da Fazenda Nacional no Estado
do Rio de Janeiro conta com nove Procuradorias Seccionais, não
abrangendo a totalidade dos municípios do Estado;
CONSIDERANDO a estatística que aponta um reduzido quantitativo de
ações de execuções fiscais fundadas em multas eleitorais ajuizadas por ano;

198
A listam ento E leitoral . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

CONSIDERANDO, nessa situação excepcional, a necessidade de se


encontrarem alternativas que propiciem uma resposta imediata e
eficaz à demanda ora apresentada;
RESOLVEM:
Art. I a As ações de execução fiscal fundadas em multas eleitorais
serão ajuizadas perante a 2- Zona Eleitoral da Capital, que será o juízo
competente para o processo e julgamento das ações desta natureza, no
Estado do Rio de Janeiro.
Parágrafo único. As ações de execução fiscal de multas eleitorais que,
porventura, venham a ser ajuizadas perante outra zona eleitoral do
Estado, serão remetidas à 2- Zona Eleitoral.
Art. 2 e 0 Tribunal Regional Eleitoral e a Procuradoria da Fazenda
Nacional adotarão providências, no âmbito de suas respectivas
competências, com vistas à edição de atos complementares a este Atõ
Conjunto.
Art. 3 9 Este Ato Conjunto entra em vigor na data de sua publicação.
Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2007.
E ainda, é possível rever o valor das multas pagas, quando são anistiadas, nos
termos da Portaria nQ 40, de 18 de janeiro de 2006 do TSE, que "Dispõe sobre a
restituição dos valores relativos às multas eleitorais anistiadas pela Lei n9 9.996, de
14 de agosto de 2000."

8.15.4. Q uitação da multa eleitoral com a finalidade de o b ten ção do


deferim ento do registro de candidatu ras
O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, com base nas informações contidas no
sistema informatizado, faz a verificação referente à quitação eleitoral de multas
aplicadas pela Justiça Eleitoral contra candidatos que pleiteiam o requerimento de
registro de suas candidaturas (RRC).
Por exemplo, se o candidato Tício, nas eleições passadas, ficou devendo multas
eleitorais decorrentes de propagandas políticas eleitorais irregulares, não poderá
ter o registro de sua candidatura deferido numa próxima eleição se não providenciar
a quitação eleitoral das multas.
Assim> mister se faz que as multas sejam quitadas ou parceladas até a data da
formalização do pedido de registro de candidatura. Trata-se de prazo peremptório
que obriga o candidato interessado a diligenciar junto ao órgão competente para
sanar essa obrigação.

199
M a r c o s R a m ayan a D ir eit o E leitoral

O inciso I do § 8 e do art. 11 da Lei n9 9.504/97 consagra uma permissibüidade


ao candidato para fins de quitação eleitoral, pois o mesmo poderá, até a data da
formalização do seu pedido (mês de julho do ano de eleição), quitar multas de
eleições passadas, observando que o parcelamento dessas multas segue o disposto
na legislação tributária federal (§ 11 do art. 11 da Lei n9 9.504/97).
No capítulo sobre os princípios do direito eleitoral, tratamos da responsabilidade
solidária e subsidiária. Sobre esse assunto, o inciso 11 do § 8 9 do art. 11 da Lei
n- 9.504/ 97 foi categórico ao excluir qualquer modalidade de responsabilidade
solidária quanto ao pagamento da multa para fins de quitação eleitoral, impedindo
que o candidato devedor transfira o pagamento ao partido político ou divida o ônus
dessa responsabilidade com outros candidatos em razão do mesmo fato ensejador
da aplicação da multa eleitoral. Cada um quita o seu débito.
As multas eleitorais, como já visto, decorrem, em sua maioria, de sanções impostas
por violação aos artigos 36, §3 Ô, 37 e 41-A da Lei n9 9.504/97. De certo que a aplicação
das multas defluiu de um devido processo legal eleitoral já transitado em julgado,
pois o que se trata nesse momento é sobre a forma de adimplemento da multa.
O legislador consagrou a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral no sentido
de se evitar a impunidade com a simples transferência do pagamento da multa para
o partido político ou outro candidato que tenha maior condição financeira. Excluiu-
se a responsabilidade solidária, o que significa que nas decisões judiciais, deve-se
especificar a multa imposta individualmente a cada um dos candidatos, quando for
o caso, por exemplo, em relação ao prefeito e vice-prefeito, ou a prefeito e vereador.
No caso do art. 43, § 2- da Lei n9 9.504/ 97, abaixo transcrito, cumpre ressaltar
que a multa no valor de mil a dez mil reais, sujeita "os responsáveis pelos veículos
de divulgação e os partidos, coligações ou candidatos beneficiados" ao devido
pagamento, que deve ser especificado na decisão judicial, podendo ser alvo, no caso
de omissão, de embargos de declaração (art. 275 do Código Eleitoral).

Art. 43. São permitidas, até a antevéspera das eleições, a divulgação paga,
na imprensa escrita, e a reprodução na internet do jornal impresso, de
até 10 (dez) anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas
diversas, para cada candidato, no espaço máximo, por edição, de 1/8
(um oitavo) de página de jornal padrão e de 1/4 (um quarto) de página
de revista ou tabloide. (Redaglo. dada pela Lei n9 12.034. de 2009)
§ l 9 Deverá constar do anúncio, de forma visível, o valor pago pela
inserção. (Incluído pela Lei ng 12.034. de 2009)
§ 29 A inobservância do disposto neste artigo sujeita os responsáveis
pelos veículos de divulgação e os partidos, coligações ou candidatos
beneficiados a multa no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 10.000,00
(dez mil reais) ou equivalente ao da divulgação da propaganda paga, se
este for maior, (renumerado do parágrafo único pela Lei n^ 12.034. de
.2009.)

200
A listam ento E leito ral . D o m ic íl io E leitoral C a p ít u l o 8

Registre-se que o inciso I do § 8 9 do art. 11 da Lei n9 9.504/97 firmou que o


conceito de quitação eleitoral importa no efetivo pagamento da multa até a data
de formalização do registro de candidatura, que é até o dia 5 de julho do ano de
eleição (art. 11 da Lei das Eleições). Formalizar o registro significa a apresentação
inicial dos documentos exigidos por lei até a data limite fixada, que é o próprio
dia 5 de julho, pois a complementação da documentação faltante ao deferimento
do requerimento de registro de candidatura é considerada um ato acessório que
sucede ao elementar.
A comprovação do pagamento, portanto, deve ser feita até a apresentação do
requerimento de registro de candidatura perante a Justiça Eleitoral, que tem como
termo final o dia 5 de julho do ano de eleição, admitindo-se, excepcionalmente,
que possa ser feita em data posterior, na hipótese de substituição do candidato,
pois o substituído não teria ciência dessa medida. Já em relação aos eventuais pré-
candidatos que não constaram da lista inicial apresentada pelos partidos e coligações
na forma do § 4 S do art. 11 da Lei das Eleições, não se pode duvidar que o prazo
seja idêntico aos demais, considerando que todos devem estar com suas obrigações
adimplidas até o dia 5 de julho, sob pena de se deferir condições diferenciadas
entre candidatos que, nesse ponto, possuem condições similares. Assim, o fato de o
partido ou coligação ter omitido o nome de determinado pré-candidato, não garante
o direito de estar o mesmo quite em época posterior aos demais pré-candidatos que
tiveram formalizados os seus requerimentos no momento inicial.
Em relação ao parcelamento da dívida regularmente cumprida, o inciso I do
art. 8- da Lei n a 9.504/97, também obriga que essa medida seja efetivada até a
data da formalização do pedido, o que se significa que o pagamento das prestações
decorrentes deste parcelamento esteja absolutamente em dia no momento da
formalização do requerimento de registro.
Assim, se o pré-candidato tiver parcelado uma multa, por exemplo, de
R$ 10,000,00 (dez mil reais) em 10 parcelas de mil reais, deverá ter quitado as
parcelas vencidas até o momento de formalização do pedido de registro.
O § 9 9 do art. 11 da Lei n- 9.504/97 (alteração da Lei n9 12.034/09), assim
dispõe:

Art. 11. (...)


§ 9 S A Justíça Eleitoral enviará aos partidos políticos, na respectiva
circunscrição, até o dia 5 de junho do ano da eleição, a relação de todos os
devedores de multa eleitoral, a qual embasará a expedição das certidões
de quitação eleitoral.

Como se verifica, criou-se a obrigação da Justiça Eleitoral enviar aos partidos


políticos para os diretórios nacionais, regionais e municipais, até o dia 5 de junho,
ou seja, data que antecede o período das convenções, a relação dos devedores
de multas. Trata-se de medida preventiva que norteará a melhor escolha dos

201
M a r c o s R am ayana D ir eit o E leitoral

‘candidatos a candidatos' e fomentará diligências mais céleres pelos pleiteantes


à pré-candidatura na efetiva quitação das multas, pois, os nomes dos devedores
constam no cadastro da Justiça Eleitoral e servem de base para a emissão da certidão
de quitação na época do registro que se dá logo após a escolha na convenção em
razão do calendário eleitoral.
Nesta linha evita-se que um pré-candidato escolhido na convenção tenha seu
registro indeferido, em data posterior, por falta de quitação eleitoral em razão do
não pagamento da multa.
Observamos, no entanto, que o § 9 S só demanda a obrigação da comunicação
da relação de devedores de m ultas, mas olvidou-se que no item do § 1-, é feita
menção à "apresentação de contas de campanha eleitoral", como requisito para a
quitação eleitoral, pois quem não apresentou suas contas nas últimas eleições está
em débito com a Justiça Eleitoral. No entanto, esse item pode ser sanado em razão
da expedição de resolução eleitoral pelo C. TSE sobre o registro de candidatos ou
consulta pelo próprio Partido Político no site do Tribunal Superior Eleitoral.
Até o advento da Lei ns 12.034/2009, a definição de quitação eleitoral vinha
prevista em resoluções temporárias do TSE, como ocorreu, para as eleições de
2008, com a Resolução ns 22.717/ 2008, alterada pela Resolução n9 22.849/2008.
Como se nota, os candidatos devem quitar os débitos de multas eleitorais
pretéritas, objetivando o deferimento do registro de suas candidaturas.
O TSE definiu, na consulta ne 1.576, D Jde 21.05.2008, página 12, que: "O conceito
de quitação eleitoral reúne a plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular
exercício do voto, salvo quando facultativo, o atendimento a convocações da Justiça
Eleitoral para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a inexistência de multas
aplicadas, em caráter definitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, excetuadas
as anistias legais, e a regular prestação de contas de campanha eleitoral, quando
se tratar de candidatos (Processo Administrativo n~ 19.905, rei. Min. Francisco
Peçanha Martins, DJ de 5.7.2004)".
A recente Lei ne 12.034/ 09 trouxe uma definição assemelhada, assim dispondo
em seu art. 11, § 7 2, verbis:

Art. 11. (...)


§ 7- A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente a
plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o
atendimento a convocações da Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos
relativos ao pleito, a inexistência de multas aplicadas, em caráter
definitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, e a apresentação de
contas de campanha eleitoral.

202
A listam ento E leitoral . D o m ic íl io E leito ral C a p ít u l o 8

A aplicação das multas eleitorais segue o disposto na Resolução do TSE


n9 21.975/2004, especialmente o previsto no art. 39: “As m ultas não satisfeitas
no prazo de trin ta dias do trân sito em julgado da decisão serão consideradas
dívida líquida e certa, para efeito de cobrança, m ediante execução fiscal”.
Primeiramente, a multa deve estar apta a ser cobrada de forma definitiva, pois
não ocorrendo o trânsito em julgado para fins de execução fiscal, não há que se falar
em exigência do valor da multa.
A regular quitação ou purgação da mora não afasta, apenas, o débito com a
justiça Eleitoral, mas permite que seja aperfeiçoada uma condição de elegibilidade
para o acesso aos mandatos eletivos, dentro de critérios básicos da cidadania
(art. 3 9 do Código Eleitoral).
Nesta matéria não se discute a proporção de valores, mas o inadimplemento das
obrigações da cidadania.
Sobre o tema, destacamos decisão do TSE constante do informativo ns 23, de
2008:
“Recurso Especial Eleitoral na 28.941/SC, Rei.: Min. Ari Pargendler.
Ementa: Eleições 2008. Registro de candidatura. Vereador.
Quitação eleitoral. O pedido de registro de candidatura supõe a
quitação eleitoral do requerente; se este não votou em eleições
pretéritas, não justificou a ausência, nem pagou a multa até o
requerimento de registro da candidatura está em falta com suas
obrigações eleitorais. A norma do art. 11, § 3S, da Lei na 9.504, de
1997, que visa ao suprimento de falhas no pedido do registro, dá
oportunidade ao requerente para comprovar que, na respectiva
data, preenchia os requisitos previstos em lei; não serve para
abrir prazo para que o inadimplente com as obrigações eleitorais
faça por cumpri-las extemporaneamente.
Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade,
em não conhecer do recurso, nos termos das notas taquigráficas.
Brasília, 12 de agosto de 2008.
Ministro Carlos Ayres Britto, presidente - Ministro Ari Pargendler,
relator.
RELATÓRIO
0 Senhor Ministro Ari Pargendler: Senhor Presidente, o Tribunal
Regional Eleitoral de Santa Catarina manteve a decisão do MM. Juiz
Eleitoral que havia indeferido o pedido de registro da candidatura de
Marlise Adelina Muller Alves ao cargo de vereador, em acórdão assim
ementado (fl. 55): Recurso. Registro de candidatura. Candidato que não
votou, não justificou e não pagou multa. Ausência de quitação com a
Justiça Eleitoral. Aferição no momento do registro. Desprovimento. As
condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade são aferidas
ao tempo do pedido de registro de candidatura; assim, se o interessado

2 0 3
M a r c o s R am ayan a D ir eit o E slestoral

não estiver quite com a Justiça Eleitoral por não ter votado nem
justificado ou pago a multa respectiva, há que ser indeferido seu pedido
de registro. 0 presente recurso especial ataca o julgado, ao fundamento
de que teria havido erro no sistema de verificação de quitação eleitoral,
bem assim que a decisão foi proferida no primeiro grau de jurisdição
sem o contraditório regular (fl. 64-69). A Procura doria-Geral Eleitoral
opinou pelo não provimento do recurso especial (fl. 74-77).
É o relatório.
VOTO
0 Senhor Ministro Ari Pargendler (relator): Senhor Presidente, o
pedido de registro da candidatura foi articulado em 4 de julho de 2008,
e a quitação eleitoral obtida só em 17 de julho de 2008 mediante o
pagamento da multa. O art. 11, § 3-, da Lei n2 9.504, de 1997, autoriza o
suprimento de falhas no pedido de registro de candidatura, v.g., defeitos
na instrução do requerimento; não autoriza a alteração do estado de
fato no momento do pedido de registro da candidatura. Quer dizer, a
norma do art. 11, § 39 da Lei n9 9.504, de 1997, que visa ao suprimento
de falhas no pedido do registro, dá oportunidade ao requerente para
comprovar que, na respectiva data, preenchia os requisitos previstos
em lei; não serve para abrir prazo para que o inadimplente com as
obrigações eleitorais faça por cumpri-las extemporaneamente.
Tudo a se resumir no seguinte: o pedido de registro de candidatura
supõe a quitação eleitoral do requerente; se este não votou em
eleições pretéritas, não justificou a ausência, nem pagou a multa até
o requerimento de registro da candidatura está em feita com suas
obrigações eleitorais.
Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.
Publicado na sessão de 12.8.2008.”
Por fim, as multas são exigidas após o trânsito em julgado da decisão.
Por exemplo.
Se o candidato Tício foi condenado numa decisão de l 9 grau ao pagamento de
uma multa por propaganda irregular, e desta decisão recorreu ao Tribunal Regional
Eleitoral, o seu recurso não tem efeito suspensivo, conforme disciplina o art. 257 do
Código Eleitoral.
A exigibilidade da multa só ocorre com o trânsito em julgado.
Dessa forma, enquanto não for exigível a multa, o candidato pode concorrer ao
pretendido cargo eletivo.

2 0 4

•restrição dos direitos políticos i
(Art. 51-53, Res. 21538/03) j
• justificação (Art. 80, Res. 21.538/03)]

! Judiciário |
espaço ..........................,
• alistamento brasileiro
• 1 juiz de direito j
nato e naturalizado j
(Art. 8 CEe 15 da Res. 21538/03) j

■ docum entos para tirar juiz eleitoral j


O títu io (Art. 13, Res. 215 38/03} j
•chefe de cartório j
•servidores do
• prazo para tirar o título
(Art. 91, Lei 9504/97) j
quadro próprio i
do TRE ou
• transferência (A rt. is, Res, 21538/03) |
requisitados
• dup licid ad e e pluralidade j
de inscrições (Art. 41, Res. 21538/03) |

• "'meammsâmmi
TZ . (
constituída 60 dias 1 juiz de direito j Prazo
+ : | Competên-; Mesário I 1 ano antes i
antes da eleição 2 ou 4 cidadãos j
í cia do juiz | Faltoso \ da eleição j
I eleitora! ; (A r t. 124 CE) j (Art, 9o, |
I Art. 36 do Código Eleitoral \P ........... i (A r t . 3 2 C E ) j Lei 9 .504/97) j

Marcos Ramayana ■ D ireito Eleitoral i 0a Edição ■Capítulo 8 - Alistamento eleitoral e Dom icfiio eieltorai
GL
a>

0)

oy

Marcos Ramayana ■ D ire ito Eleitora! 10a Edição ■ Capítulo 8


C apítulo 9

Partidos Políticos

9.1. NATUREZA JUR ÍD IC A


0 partido político é pessoa jurídica de direito privado (arts. 17, § 2 S,
da Constituição Federal, 7 S, caput, da Lei n9 9.096/95 e 7 S da Resolução
n- íe^O ó/SS-TSE).^
O requerimento do registro de partido político é de natureza complexa, pois é
dirigido ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas da Capital Federal-Brasília, e, após
o cumprimento de exigências legais mediante certidão de inteiro teor expedida
pelo oficial (arts. 8 S, § 2 a, da Lei n 9 9.096/95 e 9 Ô, § 2a, da Resolução n- 19.406-
TSE), ainda deverá seguir um roteiro de constituição dos órgãos de direção
regionais e municipais com registro nos Tribunais Regionais Eleitorais e, somente
vencidas estas etapas, registrados os órgãos de direção regional em, pelo menos,
um terço dos Estados, o presidente solicitará o registro do estatuto e do órgão
diretivo nacional no Tribunal Superior Eleitoral.
A legislação eleitoral (Resolução n9 19.406/95-TSE) prevê a possibilidade
de impugnações formuladas por qualquer filiado ou partido político, tanto nos
Tribunais Regionais Eleitorais quanto no Tribunal Superior Eleitoral.
É importante frisar que o juiz eleitoral terá ciência da composição dos órgãos
de direção municipal, segundo preceitua o art. 19 da Resolução n- 19.406/95-TSE.
O art. 17 da Constituição Federal dispõe sobre a liberdade de fundação dos
partidos políticos, o que revela um direito subjetivo de cidadania na constituição
das agremiações. Neste ponto, o partido deve aglutinar as classes sociais e
tendências hodiernas de uma sociedade, sendo, nas lições do eminente Joaquim
José Gomes Canotilho, um elo entre a expressão de vontade popular e a participação
de órgãos representativos, e, assim, possui uma qualidade jurídico-constitucional.
"Como elementos funcionais de uma ordem constitucional, os
partidos situam-se no ponto nevrálgico de imbricação do poder
do Estado juridicamente sancionado com o poder da sociedade
politicamente legitimado".

1 Os partidos políticos eram considerados pessoas Jurídicas de direito interno ou púbüco, conforme teor do revogado
art, 49 da Lei ne 5.682, de 21 de julho de 1971. Assim, os registros partidários eram feitos no Tribunal Superior
Eleitoral, sem inscrição na forma da lei civil.
M a r c o s R am ayana D ir eit o E leito ral

A liberdade partidária está associada à isonomia. Numa dimensão fundamental,


a isonomia representa equilíbrio nas propagandas políticas eleitorais e partidárias,
financiamento transparente, prestação de contas e acatamento dos preceitos
dispostos nos incisos do art. 17 da Carta Magna.
A participação dos Partidos Políticos nas eleições de forma mais concreta se dá
pela: propositura de ações, fiscalização dos programas de computador; fiscalização
da propaganda política eleitoral; direito de resposta; atuação na escolha de pré-
candidatos em convenções e outras atribuições fixadas nas Leis n9a 9.504/ 97
e 9.096/95, e no próprio Código Eleitoral e resoluções específicas do Tribunal
Superior Eleitoral.
0 art. 17 da Constituição da República Federativa do Brasil determina os rumos
que devem ser obedecidos na criação dos Partidos Políticos, pois a liberdade não é
plena e irrestrita, mas, ao contrário, se sujeita aos preceitos básicos de dignidade da
pessoa humana, respeito aos direitos do eleitor e de toda a sociedade brasileira na
qualidade de direitos fundamentais.
O registro dos Partidos Políticos é feito no Tribunal Superior Eleitoral, após a
aquisição da personalidade jurídica de direito privado na forma da lei civil, conforme
preceitua o art. 7~ da Lei ne 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos).
Valemo-nos das lições de Renato Ventura Ribeiro, em sua excelente obra Lei
E leitoral C om entada, Editora Quartier Latin do Brasil, São Paulo, 2006, pp. 71/2, in
expressi verbis:
"A norma estabelece duas condições para o partido participar das eleições. Uma,
referente à organização nacional, o registro do estatuto no Tribunal Superior Eleitoral
no prazo de até um ano antes do pleito. Outra, quanto à organização local, exigindo
até a data da convenção órgão de direção constituído na circunscrição, de acordo
com o estatuto partidário. Não basta o registro nacional, deve haver a constituição
de órgãos de direção na circunscrição (diretórios regionais e municipais) para que
o partido esteja apto a participar do pleito, devendo haver a observância dos prazos
de um ano antes da eleição para o deferimento do registro do partido e da convenção
para constituição dos órgãos de direção regionais e municipais".
O art. 11 da Resolução ns 19.406/95 do TSE assim preconiza: "Obtido o
apoiamento mínimo de eleitores no Estado, o partido constituirá, definitivamente,
na forma de seu estatuto, órgãos de direção municipais e regional, designando
os seus dirigentes; organizado em, no mínimo, um terço dos Estados, constituirá,
também definitivamente, o seu órgão de direção nacional (Lei n9 9.096/95, art. 8 e,
§ 3 S)".
A aludida resolução traça as diretrizes de constituição do Partido Político e
registro dos diretórios regionais e municipais.
0 prazo de realização das convenções é o fixado no art. 8 e da lei em comento.

208
P a rtid o s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

Admite-se o registro provisório de um partido político, mas o seu cancelamento


na forma da lei implicará a falta de uma condição de elegibilidade que é a devida
filiação dos candidatos aos partidos políticos, pois, não é possível a candidatura
sem filiação e escolha em convenção.

9.2. FIDELIDADE PARTIDÁRIA


Nesse tema, é preciso diferenciar duas disciplinas: a infidelidade partidária,
tratada pela recente Resolução do TSE n- 22.610/ 07, que acarreta a perda do
mandato; e a infidelidade partidária por violação a algum preceito normativo
constante do estatuto do partido político, a qual vem disciplinada pela Lei
ne 9.096/ 95, nos arts. 23 a 25. Esta última não gera a perda do mandato, mas pode
acarretar algumas sanções, que deverão, igualmente, vir previstas no estatuto
(ex.: advertência etc.).
Iniciaremos o tema tratando da infidelidade partidária decorrente da violação ao
estatuto do partido político, que está correlacionada com os deveres ali impostos
ao seu filiado (eleito ou não). A lei faz menção à fidelidade e disciplina, o que
enseja uma evidente interligação entre as expressões, que no fundo resvalam no
acatamento das diretrizes e dos objetivos partidários.
No entanto, o parlamentar é livre para votar de acordo com os ditames de sua
própria consciência e em respeito ao seu mandante (cidadão eleitor).
No conflito intersubjetivo entre o seguimento das normas impostas sobre
disciplina partidária e a intangibilidade da consciência ética do parlamentar, é
possível impor a sanção partidária.
A tipicídade quanto aos fatos ensejadores das hipóteses de infidelidade deve
estar nos estatutos de cada partido, sob pena de não incidir nenhuma sanção. Trata-
se do princípio da legalidade partidária.
O parlam entar tem o direito de oposição democrática que pode se revelar no uso
das liberdades de expressão e manifestação; direito de informação; e garantias do
direito da palavra nas assembleias na forma regimental.
Os arts. 26 da Lei nQ 9.096/95 e 44 da Resolução n9 19.406/95-TSE dispõem:
“Perderá automaticamente a função ou cargo que exerça, na respectiva Casa
Legislativa, em virtude da proporção partidária, o parlamentar que deixar o partido
sob cuja legenda tenha sido eleito"
Como se nota, o partido político que perde um parlamentar eleito pela sua legenda,
na verdade, torna-se enfraquecido em termos de bancada e representatividade,
além de ser atingido na vaga do quociente eleitoral (arts. 107 e 109, § l 9, do Código
Eleitoral).
Assim, sobre o tema fidelidade p artid ária, ou melhor, infidelidade à identidade
política partidária, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria 6x1,

209
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E leito rai

respondendo à Consulta (CTA) 1398 do Partido da Frente Liberal, hoje com o nome de
DEM (democratas), decidiu que os mandatos conquistados pelos deputados federais
da eleição de 2006, assim como todos os eleitos pelo sistema de representação
proporcional, no fundo, pertencem aos respectivos Partidos Políticos, e não aos
parlamentares.
A pergunta que originou a resposta é a seguinte: “Os partidos e coligações
têm o direito de p re serv ar a vaga obtida pelo sistem a eleitoral proporcional
quando houver pedido de cancelam ento de filiação ou de transferência do
candidato eleito por um partido p ara outra legenda?"
A decisão seguiu a premissa de que o mandato é do partido político e, assim, a
troca de legenda caracteriza ato de infidelidade p artid ária, que sujeita o infrator
à perda do mandato eletivo.
Os argumentos sustentados na douta decisão da consulta 1398 sistematizam os
arts. 14, § 3 e, V, e 17, parágrafo primeiro, da Constituição da República, ou seja,
relembram que a filiação partidária é uma condição de elegibilidade constitucional
e que os partidos podem estabelecer normas de fidelidade partidária, além de
regras de disciplina.
Em consonância ao preconizado, os doutos Ministros utilizam interpretação
sistêmica dos arts. 1 0 8 ,1 7 5 § 4 s e 176 do Código Eleitoral.
Os artigos acima aludidos tratam da preservação dos votos na legenda, quando
a Justiça Eleitoral decreta a nulidade do diploma de um determinado candidato
eleito, ou seja, os votos são contados para o partido e servem para a convocação do
suplente. Desta forma, é lógico que por analogia se possa aplicar as regras para os
casos de mudança voluntária de filiação, após a diplomação.
Ainda de forma resoluta, salientou o douto Ministro Marco Aurélio, a importância
dos arts. 24 usque 26 da Lei dos Partidos Políticos, considerando a existência de
regras objetivas sobre a fidelidade partidária, especialmente a expulsão pela
agremiação do infiel à sua identidade política original. Enfatizou ainda, o relevante
aspecto do art. 3 7 da Carta Constitucional, que disciplina os princípios da moralidade,
eficiência, publicidade, legalidade e impessoalidade como atributos de ingresso aos
cargos e funções públicas.
0 voto divergente™do Ministro Marcelo Ribeiro se baseou em precedente do
Supremo Tribunal Federal, especificamente nos mandados de segurança 2927 e
23 4 0 5 , e no art. 55 da Constituição da República, pois a perda do mandado eletivo
segue rol exaustivo, jiã o sendo o caso de se ampliar hipóteses não contempladas
expressamente no texto legal, ou seja, a infidelidade partidária ensejaria apenas
uma sanção interna corporis, mas jamais a perda do mandato eletivo.
Em suma: a edição da consulta foi altamente moralizadora e serviu para apressar
a votação da Reforma Política no Brasil, quando temas como: fidelidade partidária,

210
P a rtid o s P o lític o s C a p ít u l o 9

extinção das coligações, Financiamento público das campanhas, voto distrital misto
e lista fechada serão a pauta do dia.
Em destaque trecho do voto do Ministro César Peluso: "... Ora, é inequívoco que
as cadeiras se tornam aí disponíveis para o partido à custa da totalidade dos votos
que obteve. Não parece, destarte, concebível que um candidato, para cuja eleição
e posse concorreram recursos de seu partido, e recursos não apenas financeiros,
senão também compreendidos no conceito mesmo de patrimônio partidário de
votos, abandone os quadros do partido após repartição das vagas conforme a ordem
nominal de votação. Embora o candidato possa dar grande contribuição ao partido
com os votos individuais, nem sempre é esse o caso, como o demonstra a rotina da
eleição de candidatos de votação inexpressiva que obtêm vagas na esteira na votação
de outros, bastante populares. Não há como admitir-se, na moldura do sistema, que
representante eleito sob tais condições possa mudar de partido levando consigo o
cargo, até porque, se tivesse concorrido por outro partido, poderia nem sequer ter
sido eleito, o que mostra desde logo que o patrimônio dos votos deve entender-
se, na lógica do sistema proporcional, como atributo do partido,e não, de cada
candidato., "(fonte: site do TSE, 29 de março de 2007).
O Egrégio Supremo Tribunal Federal, em decisão histórica, consagrou que os
mandatos eletivos pertencem aos Partidos Políticos e, no caso de mudança de filiação
partidária de um candidato, após sua eleição, sem que exista justificativa verificada
como justa por órgão da Justiça Eleitoral, o parlamentar perderá o mandato eletivo.
Nos votos dos Excelentíssimos Ministros do Supremo Tribunal Federal, foram
salientados os arts. 14, § 3-, inciso V, 55 e 56, da Constituição da República, e os
arts. 106 a 108 do Código Eleitoral, dentre outros, inclusive o aspecto da natureza
jurídica do mandato eletivo, que evoluiu do imperativo para o representativo, e,
hodiernamente, para o tipo partidário-representativo.
Dessa forma, o Tribunal Superior Eleitoral expediu resolução para regulamentar
o procedimento que acarretará a decretação de perda do mandato eletivo, adotando-
se, conforme orientação jurisprudência!, os arts. 3- a 17 da Lei Complementar
ne 64/90, na criação do rito processual.
Os parlamentares infiéis estarão sujeitos à perda do mandato eletivo, após 27 de
março de 2007, data em que a Consulta do TSE ns 1398 foi amplamente divulgada,
conforme anteriormente enaltecido.
E ainda, em decisão mais recente, o Colendo Tribunal Superior Eleitoral
ampliou em resposta a nova consulta à mesma decisão da consulta 1398 para os
casos de cidadãos eleitos pelo sistema m ajoritário (presidente, vice-presidente,
governadores e vices, inclusive os senadores), que também estarão sujeitos a perda
do mandato eletivo.
Em razão da magnitude do tema, transcrevemos na íntegra o teor da Resolução
ne 22.610/ 07 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral (resolução do tipo definitiva),

211
M a r c o s R am a yan a D ir eit o E leitoral

que regula a perda do mandato por infidelidade partidária em relação aos sistemas
eleitorais proporcionais e majoritários, in expressi v erbis:
Resolução n9 22.610. Relator: Ministro Cezar Peluso. 0 Tribunal
Superior Eleitoral, no uso das atribuições que lhe confere o art. 23,
inciso XVIÍi, do Código Eleitoral, e na observância do que decidiu o
Supremo Tribunal Federal nos Mandados de Segurança nss 26.602,
26.603 e 26.604, resolve disciplinar o processo de perda de cargo
eletivo, bem como de justificação de desfíliação partidária, nos termos
seguintes: Art. t - 0 partido político interessado pode pedir, perante a
Justiça Eleitoral, a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência
de desfíliação partidária sem justa causa. § 1- Considera-se justa
causa: I) incorporação ou fusão do partido; II) criação de novo partido;
III) mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;
IV) grave discriminação pessoal. § 26 Quando o partido político não
formular o pedido dentro de 30 (trinta) dias da desfíliação, pode
fazê-lo, em nome próprio, nos 30 (trinta) subsequentes, quem tenha
interesse jurídico ou o Ministério Público Eleitoral. § 35 O mandatário
que se desfiliou ou pretenda desfiliar-se pode pedir a declaração
da existência de justa causa, fazendo citar o partido, na forma desta
Resolução. Art. 2 fi 0 Tribunal Superior Eleitoral é competente para
processar e julgar pedido relativo a mandato federal; nos demais casos,
é competente o tribunal eleitoral do respectivo estado. Art. 32 Na
inicial, expondo o fundamento do pedido, o requerente juntará prova
documental da desfíliação, podendo arrolar testemunhas, até o máximo
de 3 (três), e requerer, justificadamente, outras provas, inclusive
requisição de documentos em poder de terceiros ou de repartições
públicas. Art. 4 9 0 mandatário que se desfiliou e o eventual partido era
que esteja inscrito serão citados para responder no prazo de 5 (cinco)
dias, contados do ato da citação. Parágrafo único. Do mandado constará
expressa advertência de que, em caso de revelia, se presumirão
verdadeiros os fatos afirmados na inicial. Art. 59 Na resposta, o
requerido juntará prova documental, podendo arrolar testemunhas,
até o máximo de 3 (três), e requerer, justificadamente, outras provas,
inclusive requisição de documentos em poder de terceiros ou de
repartições públicas. Art. 6a Decorrido o prazo de resposta, o tribunal
ouvirá, em 48 (quarenta e oito) horas, o representante do Ministério
Público, quando não seja requerente, e, em seguida, julgará o pedido,
em não havendo necessidade de dilação probatória. Art. 7e Havendo
necessidade de provas, deferi-las-á o Relator, designando o 5e (quinto)
dia útil subsequente para, em única assentada, tomar depoimentos
pessoais e inquirir testemunhas, as quais serão trazidas pela parte
que as arrolou. Parágrafo único. Declarando encerrada a instrução, o
Relator intimará as partes e o representante do Ministério Público,
para apresentarem, no prazo comum de 48 (quarenta e oito) horas,

212
P artid o s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

alegações finais por escrito. Art. 8 e Incumbe aos requeridos o ônus da


prova de fato extintivo, impeditivo ou modificativo da eficácia do pedido.
Art. 9 5 Para o julgamento, antecipado ou não, o Relator preparará voto
e pedirá inclusão do processo na pauta da sessão seguinte, observada
a antecedência de 48 (quarenta e oito) horas. É facultada a sustentação
oral por 15 (quinze) minutos. Art. 10. Julgando procedente o pedido,
o tribunal decretará a perda do cargo, comunicando a decisão ao
presidente do órgão legislativo competente para que emposse,
conforme o caso, o suplente ou o vice, no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 11. São irrecorríveís as decisões interlocutórias do Relator, as
quais poderão ser revistas no julgamento final. Do acórdão caberá, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas, apenas pedido de reconsideração,
sem efeito suspensivo. Art. 12. O processo de que trata esta Resolução
será observado pelos tribunais regionais eleitorais e terá preferência,
devendo encerrar-se no prazo de 60 (sessenta) dias. Art. 13. Esta
Resolução entra em vigor na data de sua publicação, aplicando-se
apenas às desfiliações consumadas após 27 (vinte e sete) de março
deste ano, quanto a mandatários eleitos pelo sistema proporcional,
e, após 16 (dezesseis) de outubro corrente, quanto a eleitos pelo
sistema majoritário. Parágrafo único. Para os casos anteriores, o prazo
previsto no art. l e, § 29, conta-se a partir do início de vigência desta
Resolução. Brasília, 25 de outubro de 2007. Marco Aurélio Presidente.
Cezar Peluso Relator. Carlos Ayres Britto. José Delgado. Ari Pargendler.
Caputo Bastos. Marcelo Ribeiro.

9 .2.1, Legitim idade Ativa. Prazo


No que tange à legitim idade ativa quanto ao prazo para propor a ação de perda
do mandato, emergem três entendimentos: o prim eiro, sustenta que o prazo inicial
de trinta dias é exclusivo do partido político detentor do mandato. Com o término
do prazo de trinta dias inicia-se os trinta dias subsequentes como prazo para um
terceiro interessado ou para o Ministério Público.
Um segundo entendim ento defende que o Ministério Público Eleitoral não teria
um termo final para o ajuizamento da ação; isso em razão do interesse público que o
P arqu et visa tutelar, o que o diferencia dos demais legitimados. Ademais, considera-
se que a expressão "ou" que precede a menção ao Ministério Público estaria por
segregá-lo do limite de prazo previsto. Por este entendimento, o segundo prazo de
trinta dias estaria restrito ao terceiro interessado, e não ao P arquet.
Um te rce iro posicionam ento considera os prazos estipulados, diferenciando-
se, apenas, do primeiro entendimento no que se refere ao prazo para o Parquet, que
engloba o prazo inicial de trinta dias, concorrentemente com os partidos políticos.
A instituição ministerial teria, portanto, sessenta dias para ajuizar a ação.
O Egrégio TSE vem decidindo pela natureza decadencial do prazo, (conforme
ação cautelar n- 2.374/RO, rei. Min, Joaquim Barbosa, em 5.6.2008, Inform ativo TSE

213
M a r c o s R a m ayan a D ir e it o E leitoral

- A n o X -n e 18, Brasília, 2 a 8 de junho de 2 0 0 8 ), ou seja, pelo primeiro entendimento


acima salientado.
Salientam-se as importantes decisões do TSE:
“(...) 2. A princípio, não se revela plausível a alegação de ilegitimidade
do segundo suplente para propor processo de perda de cargo eletivo,
já que, na espécie, o referido feito foi ajuizado contra o titular e a I a
suplente, além do que o art. 2 e, § 2e, da Res. - TSE ne 22.610/2007
estabelece essa legitimidade em relação a quem tenha interesse
jurídico. Agravo regimental a que se nega provimento" (TSE, Agravo
Regimental na Ação Cautelar n9 2.410/R0, Rei.: Min. Caputo Bastos, DJ
de 14.8.2008, Informativo n° 23/08).
"Agravo regimental. Medida cautelar. Desfíliação partidária. Sistema
proporcional. Cargo eletivo. Perda. Limite de prazo. Partido político.
Ilegitimidade ativa. É pacífica a jurisprudência deste Tribunal no
sentido de que partido político não tem legitimidade para pedir a
cassação do mandato de ocupante de cargo eletivo por desfíliação
partidária sem justa causa em data anterior a 27.3.2007 (art. 13 da
Res. - TSE n5 22.610/2007). Nesse entendimento, o Tribunal negou
provimento ao agravo regimental. Unânime" (TSE, Agravo Regimental
na Medida Cautelar n9 2.312/PA, Rei. Min. Eros Grau, em 5.8.2008).

9.2.2 . Tutela A ntecipada


O C.TSE não tem aceitado a antecipação dos efeitos da tutela para a decretação
da perda do cargo eletivo em decorrência de desfíliação partidária sem justa causa.
Tal vedação se justifica em razão do inegável prejuízo que a medida pode resultar
(periculum in m ora inverso). Entretanto, a análise deve ser casuística. Neste sentido:
"... Apesar de a Resolução n9 22.610/2007 admitir a possibilidade do
julgamento antecipado da lide, primeiramente, há de ser resguardado o
exercício do direito à ampla defesa, especialmente quando o requerido
pugnar pela produção de prova testemunhai para demonstrar a
existência de uma das hipóteses de justa causa elencadas no art. I 9,
§ l 9, da citada Resolução...” (TSE - Mandado de Segurança n9 3699,
Acará - PA 11.03.2008, Rei. José Augusto Delgado, D J-D iário da Justiça,
11.4.2008, p. 9).
E ainda:
"... Não cabe no procedimento veiculado pela Res. - TSE ns 22.610/
2007 a antecipação dos efeitos da tutela. A celeridade processual,
inerente aos feitos eleitorais, já está contemplada nos processos
regidos pela resolução em foco, pois, além da preferência a eles
conferida, hão de ser processados e julgados no prazo de 60 dias. Sem
falar que "são irrecorríveis as decisões interlocutórias do relator"
(art. 11 da resolução). 2. É prematuro antecipar os efeitos da tutela

214 O
P a r t id o s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

quando o parlamentar nem sequer apresentou as razões pelas quais se


desfiliou da agremiação partidária- Economia e celeridade processual
não têm a força de aniquilar a garantia do devido processo legal. 3.
Incumbe ao tribunal decretar ou não a perda do cargo, quando do
julgamento de mérito, assegurados a ampla defesa e o contraditório.4.
Liminar deferida" (TSE - Mandado de Segurança 3671, Avelinópolis -
GO 27.11.2007, Rei. Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto, DJ - Diário
de justiça, 11.2.2008, p. 4).

9 .2 .3 . üusta C ausa
As hipóteses de justa causa vêm enumeradas na Resolução TSE nQ22.610/07,
no § 1 - do art. I 9, e encontram-se em rol taxativo, uma vez que se trata de norma
restritiva de direitos. Nesse sentido, o TRE - RS já decidiu que "caso sub ju d ice não
se enquadra em nenhum dos permissivos legais para a desfiliação partidária". Tal
decisão segue abaixo ementada:
"Ementa Ação de perda de mandato eletivo por desfiliação partidária
sem justa causa. Preliminar de inconstitucíonalidade da Resolução TSE
ne 22.610/07 rejeitada. Ato normativo editado em razão de decisão
do próprio Supremo Tribunal Federal, disciplinando a matéria dentro
dos limites das atribuições do TSE. Caso sub judice não se enquadra
em nenhum dos permissivos legais para a desfiliação partidária.
A mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário
não se refere ao modo de atuação política do partido, apoiando ou não
a administração local, mas sim à mudança de estrutura do programa
da agremiação, à sua linha ideológica e programática, o que não se
materializou. Não comprovada, pelo acervo probatório, a ocorrência
da grave discriminação pessoal alegada pelo vereador requerido.
Hipótese que se caracterizaria caso a permanência do parlamentar se
tornasse insustentável. Justa causa para a desfiliação partidária não
configurada. Procedência" (TRE - RS - Petição 582007, Fortaleza dos
Valos - RS 20.02.2008. ReR Dr» Katia Elenise Oliveira da Silva (Auxiliar),
DJE - Diário de Justiça Estadual, tomo 34, 25.02.2008, p. 64)

9 .2 .4 . im possibilidade de O p osição (intervenção de terceiro)


Quanto ao processo, o C. TSE já decidiu ser inviável a intervenção de terceiros na
modalidade oposição. Destaca-se:
"Ementa: Desfiliação partidária. Perda de mandato. Oposição de
terceiro, na forma do art. 56 do Código de Processo Civil, com a
finalidade de que, se procedente a perda de mandato, a vaga seja
ocupada pelo opoente, e não pelo autor do pedido. Inviabilidade da
oposição no regime da Res. - TSE n9 22.610/2007. Agravo regimental

215
M a r c o s R am a ya n a D ir eit o E leitoral

desprovido" (TSE - Agravo Regimental em petição 2.11$, Resolução


22,704 João Pessoa - PB. 19.02.2008, Rei. Ari Pargendler, DJ - Diário de
justiça, 18.3.2008, p. 12"}.

9.2.5. Segunda D esfiliação


Algumas hipóteses peculiares sobre desfiliação podem surgir. Assim, por
exemplo, se um cidadão é eleito pelo partido A, e dele se desfilia antes de 27 de
março de 2007, não será punido com a perda do cargo. Por conseguinte, se este
mesmo cidadão, após ter se filiado ao partido B em data posterior a 27 de março de
2007, deste vier a se desfiliar, não será caracterizada hipótese de perda do mandato,
uma vez que a fidelidade partidária deve ser observada em relação ao partido pelo
qual o infiel foi eleito. Nesse sentido decidiu o TRE - MG:
"Ementa: Agravo Regimental. Feitos Diversos. Pedido de decretação
de perda de mandato eletivo de Vereador por infidelidade partidária.
Decisão do Relator que negou seguimento ao pedido. Desfiliação
ocorrida no ano de 2006, sendo anterior ao marco temporal a partir
do qual a nova orientação quanto à fidelidade partidária surte efeitos
práticos. Observância da determinação contida no art. 13 da Resolução
n9 22.610/2007/TSE. Segunda desfiliação. Não caracterização da
infidelidade partidária. A fidelidade partidária aplica-se somente em
relação ao partido pelo qual o parlamentar foi eleito. O objetivo da
norma é preservar o vínculo originário entre o eleito e seu partido
durante toda a legislatura. Definição da data a partir da qual a
desfiliação partidária injustificada gera a possibilidade da perda de
mandato. Necessidade de proteção à segurança jurídica, inviabilidade
da decretação da perda do mandato do requerido com base na nova
definição de infidelidade partidária. Agravo regimental a que se nega
provimento" (TRE - MG - feitos diversos 11772007, Sete Lagoas - MG
22.01.2008, Rei. Renato Martins Prates, DJMG - Diário do Judiciário ~
Minas Gerais, 12.02.2008, p. 93).
A mesma conseqüência terá o eleito que tenha se desfiliado antes de 27 de
março de 2007 do partido pelo qual foi eleito, e, posteriormente a esta data resolve
retornar à entidade. Nesse caso, se vier a se desfiliar pela segunda vez, mesmo após
aquela data, não perderá o mandato, pois somente deve ser considerada a primeira
desfiliação do partido, com a qual se rompeu o vínculo partidário com o mandato
eletivo de que é titular. Nesse sentido:
"Ementa: Agravo Regimental. Pedido de reconsideração. Feitos
Diversos. Pedido de decretação de perda de mandato eletivo. Vereador.
Eleições 2004. Extinção do processo sem resolução de mérito. Art. 267,
inciso VI, do Código de Processo Civil. Impossibilidade jurídica do
pedido de perda de mandato eletivo em que se cogite de desfiliação
ocorrida antes de 27.3.2007. Art. 13 da Resolução ne 22.610/2007/

216
P a r tid o s P o lític o s C a p ít u l o 9

TSE. Irrelevância do fato de eventualmente haver o agravado


retornado ao partido e novamente dele se desligado em data
posterior ao marco temporal fixado na resolução. Somente
merece análise a primeira desfíliação do partido político, quando
então pôs termo ao vínculo partidário relacionado ao mandato eletivo
de que é titular. Descabe cogitar da segunda desfíliação, ainda que tal
fosse provada, por já não guardar relação com o mandato eletivo do
recorrido. Agravo Regimental que se nega provimento’' (TRE - MG -
feitos diversos 13742007, São Sebastião do Paraíso - MG 03.03.2008,
Rei. Sílvio de Andrade Abreu Júnior, DJMG - Diário do Judiciário - Minas
Gerais, 15.03.2008, p. 109/110).
Por outro lado, caso o candidato eleito viesse a se desfiliar após o termo trazido
pela resolução, mas, logo em seguida, retornasse ao partido, não seria cabível a
formulação de pedido de decretação da perda do mandato, uma vez que o retorno
ao partido político preserva a sua representação. Nesse sentido:
"Ementa: Feitos Diversos. Pedido de decretação da perda do cargo
eletivo. Vereador. Eleições 2004. Preliminar de ausência de interesse
processual acolhida. Desfíliação partidária. Retorno ao grêmio partidário.
Formulação do pedido de decretação de perda do mandato anterior ao
deferimento do pedido de retorno ao partido. Impossibilidade jurídica
do pedido de decretação da perda do mandato eletivo de Vereador que
esteja filiado à legenda da qual se candidatou e se elegeu. A Resolução
n~ 22.610/2007/TSE prestigia o instituto da fidelidade partidária. 0
retorno ao partido político preserva a sua representação. Impossibilidade
jurídica do pedido. Processo extinto sem resolução do mérito. (TRE -MG
- feitos diversos 12722007, acórdão 348 Santa Maria do Suaçuí - MG
21.02.2008, Relator Renato Martins Prates, DJMG - Diário do Judiciário -
Minas Gerais, 07.03.2008, p. 102)”.

9 .2 .6 . C om petência para o P ro c e ss o e Ju lgam ento


É importante observar a competência para processo e julgamento da ação em
comento, que vem disciplinada no art. 2 - da Resolução TSE n9 22.610/07. Assim, a
competência para tais ações nunca será do juízo de l 2 grau. Todavia, neste aspecto,
entendemos que em relação aos mandatos eletivos de prefeitos, vices e vereadores,
a competência deveria ser do juiz eleitoral mais antigo da comarca, pois, além de
ampliar as chances de defesa do mandatário político, firma-se uma real simetria
com os arts. 40, IV, e parágrafo único, e 89, III, do Código Eleitoral, e art. 29 da Lei
Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990,
Em destaque:
"Ementa: Mandado de Segurança. Processo de decretação de perda
de mandato. Resolução ns 22.610/2007/TSE. Vereador. Eleições
2004. Pedido liminar para determinar a sustação dos atos e prazos
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leito ral

do procedimento em trâmite na primeira instância eleitoral. Liminar


deferida. Desfiliação do partido político. Pedido de perda de mandato
aforado perante a justiça Eleitoral do município. Incompetência
absoluta do Juízo a quo para julgar a ação ajuizada contra o impetrante.
Art. 2- da Resolução ns 22.610/2007/TSE. Anulação de todos os atos
praticados. Extinção do feito sem resolução do mérito, com fundamento
no art. 267, IV, do Código de Processo Civil. Segurança concedida” (TRE
- MG - Mandado de Segurança 9512007, acórdão 140 - Carmo da Mata
- MG 29.01.2008, Rei. Tiago Pinto, DJMG ~ Diário do Judiciário ~ Minas
Gerais, 12.02.2008, p. 93)"

9.2.7. R ecu rso Cabível das D ecisõ es d o s Tribunais R eg ionais E leitorais


0 C.TSE já decidiu que na hipótese da decisão ser region al (Tribunal Regional
Eleitoral) mandatos de Governador, Vice-Governador, Deputados Estaduais,
Distritais, Prefeitos, Vices e Vereadores, o recurso é o esp ecial, não sendo aceito o
reexame de provas no Tribunal Superior Eleitoral em função das Súmulas nes 279
do STF e 7 do STJ. Destaca-se:
Agravo regimental. Ação cautelar. Medida liminar. Recurso especial.
Efeito suspensivo. Concessão. Fungibilidade. Fidelidade partidária.
Cargo eletivo. Perda. Cerceamento de defesa. Plausibilidade. Cumpridos
os pressupostos de recorribilidada^apiica-se o princípio da
fomgiibilidade para_receber o recurso, ordinário como.espg.cial
No processo de perda de cargo eletivo por infidelidade partidária, há
de ser resguardado o direito à ampla defesa, especialmente quando o
requerido pugnar pela produção de prova testemunhai para comprovar
a existência de justa causa para a desfiliação. Nesse entendimento, o
Tribunal negou provimento ao agravo regimental. Unânime. Agravo
Regimental na Ação Cautelar nfi 2.363/PA, rei. Min. Marcelo Ribeiro,
em 12.6.2008".

9.2.8 . A ssu n ção da Vaga. D eterm inação da P o s s e . 1a Sup lente


Não se admite que o 2 9 suplente assuma a vaga decorrente da perda do mandato
por infidelidade partidária, quando existe a figura do l 9 suplente, mesmo que
este não tenha integrado a relação processual ou lide que acarretou a decisão de
perda do mandato. Trata-se de ordem de preferência que se impõe, inclusive pela
contagem dos votos de legenda que foram sufragados ao l s suplente e beneficiaram
o Partido Político.
O C.TSE possui precedente similar, quando assegurou a posse da l 9 suplente da
agremiação partidária (Agravo regimental no Mandado de Segurança n fi 3.736/PI,
rei. Min. Caputo Bastos).

O-IQ
P a r tid o s P o lític o s C a p ít u l o 9

9.2.9. Da Constitucionaiidade da Resolução do TSE n® 22.610/07


0 Supremo Tribunal Federal julgou duas ações diretas de inconstitucionalidade
em face das Resoluções n Qs 22.610/07 e 22.733/08, que tratam sobre a perda do
cargo eletivo em decorrência de desfíliação partidária sem justa causa.
Conforme texto do informativo ne 528 abaixo destacado, é importante frisar que
a decisão tratou de ratificar a posição do próprio STF no julgamento dos mandados
de segurança que ensejaram a edição das Resoluções acima referidas.
Assim sendo, abstraindo-se a questão do conhecimento ou não das Resoluções
em controle abstrato de constitucionaiidade, o mérito reforça a validade desse
instrumento (Resolução ne 22.610/07), que viabiliza o controle judicial dos casos
de infidelidade partidária decorrentes de desfíliação após as eleições.
"PLENÁRIO. 0 Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido
formulado em duas ações diretas de inconstitucionalidade, a
primeira ajuizada contra a Resolução n9 22.610/2007, pelo Partido
Social Cristão - PSC, e a segunda, também contra a Resolução ne
22.733/2008, pelo Procurador-Geral da República, ambas do Tribunal
Superior Eleitoral - TSE, as quais disciplinam o processo de perda de
cargo eletivo em decorrência de desfíliação partidária sem justa causa,
bem como de justificação de desfíliação partidária. Preliminarmente,
o Tribunal, por maioria, conheceu das ações. Vencido, no ponto, o
Min. Marco Aurélio que delas não conhecia por reputar não se estar
diante de atos normativos abstratos e autônomos. No mérito, julgaram-
se válidas as resoluções impugnadas até que o Congresso Nacional
disponha sobre a matéria. Considerou-se a orientação fixada pelo
Supremo no julgamento dos mandados de segurança n9s 26602/DF
(DJE de 17.10.2008), 26603/DF (j. em 4.10.2007) e 26604/DF (DJE de
3.10.2008), no sentido de reconhecer aos partidos políticos o direito
de postular o respeito ao princípio da fidelidade partidária perante
o Judiciário, e de, a fim de conferir-lhes um meio processual para
assegurar concretamente as conseqüências decorrentes de eventual
desrespeito ao referido princípio, declarar a competência do TSE para
dispor sobre a matéria durante o silêncio do Legislativo. Asseverou-
se que de pouco adiantaria a Corte admitir a existência de um dever,
qual seja, a fidelidade partidária, mas não colocar à disposição um
mecanismo ou um instrumental legal para garantir sua observância.
Salientando que a ausência do mecanismo leva a quadro de exceção,
interpretou-se a adequação das resoluções atacadas ao art. 23, IX, do
Código Eleitoral, este interpretado conforme a CF. Concluiu-se que a
atividade normativa do TSE recebeu seu amparo da extraordinária
circunstância de o Supremo ter reconhecido a fidelidade partidária
como requisito para permanência em cargo eletivo e a ausência expressa
de mecanismo destinado a assegurá-lo. Vencidos os Ministros Marco
Aurélio e Eros Grau, que julgavam procedente o pleito, ao fundamento

219
M a r c o s R am ayan a D ir eit o E leitoral

de que as citadas resoluções seriam inconstitucionais, haja vista não


caber ao TSE dispor normas senão tendo em vista a execução do Código
Eleitoral e da legislação eleitoral, que não trataram da perda de cargo
eletivo em razão de infidelidade partidária, e, ainda, porque avançam
sobre áreas normativas expressamente atribuídas, pela Constituição,
à lei.
ADI 3999/DF, rei. Min. Joaquim Barbosa, 12.11.2008 (ADI-3999)
AD1 4086/DF, ReL Min. Joaquim Barbosa, 12.11.2008 (ADI-4086)".

PONTOS FUNDAMENTAIS
1. Como se percebe, o prazo que caracteriza a nova filiação como infidelidade
partidária para os vereadores, deputados estaduais, distritais e federais é o dia
27 de março de 2007, enquanto que para prefeitos, vices, senadores, suplentes,
governadores, vices e o presidente e vice-presidente é o dia 16 de outubro de
2 007.
2. Os legitimados para ingressarem com a ação de decretação da perda do mandato
eletivo em decorrência da desfiliação partidária são: os partidos políticos que
perderam os eleitos; v.g., os suplentes (interessados jurídicos) e o Ministério
Público.
3. A atuação do Ministério Público ocorre pelo pro cu rad or-geral e le ito ra l no
T ribu n al Su p erior E leitoral, nas hipóteses de mandatos federais, tais como:
presidente, vice-presidente, senadores, suplentes de senadores, deputados
federais e suplentes: e, por intermédio dos P rocu rad ores reg ion ais e leito ra is
nos T ribu n ais Regionais E leitorais, "nos demais casos" ou seja, governadores,
vices, deputados estaduais, distritais, suplentes, prefeitos, vices, e vereadores.
4. O mandatário poderá se antecipar à propositura da ação pelos legitimados
e requerer, por ação declaratória da existência de justa causa, que não seja
declarada a perda do mandato eletivo. Nesse caso, a competência é a mesma
para processar e julgar a ação de perda do mandato. Trata-se de uma tutela de
obstáculo, que impedirá a declaração da perda na outra ação, mas nesta não se
declara a perda, apenas a existência da justa causa.
5. O Ministério Público atua nesta ação como parte ou fiscal da lei. Não há intervenção
dos promotores eleitorais, mas é dever do promotor comunicar ao procurador
regional eleitoral as desfiliações que tiver conhecimento nas respectivas zonas
eleitorais em que exerce suas atribuições, após as datas previstas.
6. A questão do ônus da prova segue a regra do art. 8- da Resolução e do art. 333,
inciso II, do Código de Processo Civil. A prova do autor se faz com certidões de
filiação e desfiliação. Quanto ao réu será necessária a prova documental, como
cópias dos estatutos dos partidos políticos, certidões de filiação, indicação do
desvio do programa partidário e a prova testemunhai, cujo máximo é de 3 (três)
testemunhas, art. 3 Qda Resolução.

220
Pa r tid o s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

7. A grave discriminação pessoal se constituiu numa justa causa, que poderá servir
de subterfúgio aos infiéis. Trata-se de prova subjetiva que demandará razoável
análise do órgão julgador para não acarretar a impunidade na aplicação da regra
moralizadora.
Não basta alegar a discriminação pessoal, é necessário prová-la de forma
resoluta.
A ação tem natureza dúplice, porque é do tipo declaratória. Assim, se o mandatário
deflagra ação contra o partido político, é possível na contestação formular-se
pretensão de declaração de perda do mandato eletivo, inclusive por economia
processual.
8. A Justiça Eleitoral passa a ter competência prorrogada para a decretação da
perda do mandato eletivo, sem que seja por ação de impugnação (art. 14, §§ l s e
11 da CF). Não há prazo legal.
9. Os mandatários não podem mudar de partido político, sem que comprovem a
justa causa. Não está prevista a possibilidade de desfíliação 1 (um) ano antes
da próxima eleição. 0 art. 18 da Lei dos Partidos Políticos, sofre, portanto,
substanciosa alteração em relação aos mandatários.
A Resolução demanda urgente alteração dos arts. 17 e 55 da Constituição Federal
para sua adequação aos novos rumos e diretrizes da jurisprudência e preservação
do sistema eleitoral, que se afigura em certa moldagem ao de lista fechada.

9.3. DAS CONVENÇÕES PARTIDÁRIAS


As convenções são espécies de assem bleias intrapartidárias fundadas em critérios
estatutários e legais que objetivam a escolha democrática dos pré-candidatos ao
pleito eleitoral
A denominação dos escolhidos em convenção é de: candidato a candidato ou
pré-candidato, porque somente com o requerimento de registro das candidaturas
o escolhido passa a ter o status cívitatis de candidato. A jurisprudência e a doutrina
entendem que não é necessário que o registro seja definitivo para que o pré-
candidato torne-se candidato, pois basta um registro temporário ou provisório que
ocorre com o requerimento do pedido de candidatura. A partir deste momento,
o candidato já possui legitimidade ativa para propor ações no âmbito da Justiça
Eleitoral, p.ex., a ação de captação ilícita de sufrágio (art. 4 1 -A).
Em função do calendário eleitoral, (art. 11), o prazo final de requerimento de
registro de candidatos se dá até o dia 5 de julho do ano eleitoral, sendo que as
convenções são celebradas entre os dias 10 até 30 de junho (art. 89). Conforme
terminam os atos convencionais de pré-escolha dos futuros candidatos, os Partidos
Políticos cuidam de requerer à Justiça Eleitoral o regular registro das candidaturas.

221
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E leitoral

Como já visto, as coligações são consideradas pessoas formais. As formas das


coligações devem ser estabelecidas nos respectivos estatutos dos partidos políticos,
mas seguem a diretriz fixada no § I a do art. 17 da Constituição da República,
cuja redação foi alterada pela Emenda Constitucional ne 52/96, que afastou a
denominada “verticalização" Sobre o assunto, consultar a decisão do STF na ADIN
3.685-8, de 31.03.2006.
Os estatutos devem tratar das espécies de convenções: nacionais, regionais e
municipais.
O órgão de maior importância da administração partidária é a convenção, que
geralmente é convocada pelo Presidente ou Secreta ri o-Geral do órgão de execução,
bem como pela maioria do órgão de direção por intermédio de edital.
Nos Municípios, as Convenções podem ser convocadas pelo Presidente Regional
do Partido, cuja deliberação pode ser para a eleição do Diretório (em seus diversos
níveis), de acordo com o calendário fixado pela Comissão Executiva Nacional.
Os Partidos Políticos devem disciplinar o aspecto do número de votantes, quorum
mínimo e admissão do voto.
As chapas dos candidatos ao Diretório e de Delegados, assim co m o suplentes são
regidas pelas regras estatutárias.
Geralmente, as Convenções Nacionais são compostas de: I - o Diretório Nacional;
II - os Delegados eleitos pelas Convenções Regionais; III - os Deputados Federais e
os Senadores; e IV - os presidentes das Comissões Regionais Provisórias.
Compete à Convenção Nacional deliberar sobre coligações partidárias nacionais,
assim como escolher os pré-candidatos à Presidência e à Vice-Presidência
da República. Desta forma, em simetria são as competências das Convenções
Regionais e Municipais para escolha dos representantes nos diversos níveis, ou
seja, Governador, Senadores, Deputados Federais, Estaduais, Distritais e, p o r fim, os
Prefeitos, Vices e Vereadores.
A Lei ne 9.504/ 97 adotou critério de delegação sobre a forma de eleição e
escolha dos pré-candidatos dentro de regras disciplinadas nos estatutos. A violação
as regras legais constitui matéria de ilegalidade que pode ser dirimida pelo Poder
Judiciário.
0 § 2 9 do art. 1- da Lei ne 9.504/97 sofreu alteração em sua redação pela Lei
nQ 12.034/2009, sendo suprimida a necessidade das diretrizes serem fixadas em
convenções nacionais com a finalidade de anulação das deliberações de convenções
partidárias inferiores. Assim, o órgão de direção nacional terá mais poderes para
anular deliberações em convenções de níveis inferiores, mas sendo necessária,
também, uma adequação estatutária.
O § 3Qtambém foi alterado em sua redação pela nova lei que estipulou o prazo
de 30 dias, após a data limite para o registro de candidatos com a finalidade de ser
comunicada à Justiça Eleitoral as anulações das deliberações. Essa regra se coaduna

2 2 2
Pa r t id o s P o lític o s C a p ít u l o 9

com a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, ressalvando-se, apenas, que


o prazo de comunicação era até o fim do prazo de impugnação de registro de
candidatos, enquanto que a nova regra legal modifica esse prazo.
É importante salientar que quando a lei faz menção ao prazo de 30 dias para
comunicação à Justiça Eleitoral visando a anulação das deliberações, é evidente que
esse prazo deve ser contado da solicitação ou do pedido do registro da candidatura
(dia 5 de julho do ano da eleição, art. 11 da Lei ne 9.504/97), e não do seu julgamento
final. Isso porque, segundo o calendário eleitoral previsto para as eleições, as
decisões finais sobre registros ocorrem no mês de setembro.
Não se pode imaginar que foi intenção do legislador dificultar o processo de
registro de candidaturas, que é caracterizado pelo princípio da celeridade.
Por fim, o § 4 a fixou o prazo de 10 dias para que seja apresentado à Justiça
Eleitoral os candidatos substitutos, observando-se o art. 13 da mesma lei e o
estatuto dos partidos políticos.
Não é possível afastar sumariamente a tutela jurisdicional (art. 5 9, XXXV, da
CRFB: "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito"), sob o manto de que o assunto se situa sempre na seara interna corporis de
deliberação dos Partidos Políticos.
Se o Poder Judiciário for instado a intervir deverá prestar a jurisdição, desde
que a ação preencha as suas condições, e seja verificada a plausibilidade do direito
violado.
A autonomia dos Partidos Políticos não é do tipo absoluta, porque deve resguardar
os preceitos tratados nos incisos I até IV do art. 17 da Constituição da República,
os direitos políticos ativos e passivos (capacidade de votar e ser votado), as regras
democráticas de eleição, a cidadania e o pluralismo, na forma dos princípios
fundamentais do art. 1-, II e V, da norma constitucional. Assim, os estatutos não
podem afastar estas normas e preceitos.
O art. 14 da Lei dos Partidos Políticos (Lei na 9.096/95), é expresso ao determinar
a observância das disposições constitucionais como ponto de convergência
irremediável que levará à fixação das regras de estrutura interna, organização e
funcionamento.
Assim, as regras devem se pautar por uma certa ordem de valores normativos, a
saber: a Constituição da República e seus preceitos de regência; a Lei ne 9.096/95;
as normas das Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral; e os estatutos partidários,
quando a matéria não for exclusivamente interna corporis, pois, sendo, os estatutos
partidários estarão compreendidos como norma imediatamente abaixo do texto
constitucional e acima da Lei dos Partidos Políticos. Na omissão, delega-se ao órgão
de direção nacional estabelecer o assunto, reservando-se o prazo de 180 dias antes
da eleição para fins de garantir a segurança jurídica das relações por intermédio do
conhecimento dos interessados (art- 7-, § l s). Todavia, o C. TSE possui relevante

223
M arcos R am ay an a D ir e it o E leitoral

precedente que consagra a autonomia partidária em função da norma do § l 9 do


art. 17 da CRFB, nos seguintes termos: "... Quando a matéria tratada nos respectivos
estatutos partidários ou legais conflitarem com as disposições da Lei n 9 5.682/71
(LOPP), devem prevalecer as normas estatutárias..."( Res. TSE n 9 13.966, de
16.12.1993, Rei. Min. José Cândido). Em sentido contrário, destaca-se posição
do relator Ministro Eduardo Ribeiro, TSE, Ac. n 9 97, de 25.8.1998, que reza: "...
Possibilidade de a lei dispor sobre questões que se inserem no processo eleitoral,
estabelecendo critérios para a admissão das candidaturas, tema que não diz com a
matéria interna corporis a que se refere a Constituição e que constitui campo defeso
ao legislador..."
A correta aplicação das normas estatutárias é matéria afeta ao Poder Judiciário,
especialmente quando exercido o direito de ação com base em: violação à ampla
defesa; regras que regem o processo eleitoral; violação às regras do art. 36 da Lei
dos Partidos Políticos e assuntos diversos da organização interna e funcionamento
dos Partidos Políticos. Por fim: "... Cabe ao Poder Judiciário apreciar a legalidade de
norma estatutária, sem interferir na autonomia partidária..." (Ac. TSE n 9 16.873, de
27.09.2000, Rei. Min. Costa Porto).
O § 2 fi consagra norma de diretriz superior, quando permite a dissolução
da convenção partidária por medida de exceção na falta de observância e
descumprimento das normas de decisão das convenções nacionais. Trata-se de
manter de forma interna, o preceito do caráter nacional dos Partidos Políticos.
Em complemento ao assunto destacamos ementa do TSE, in expressi verbis:
"Ementa: Reclamação. Finalidade correcional. Alegações de erros,
abusos e irregularidades na atuação de presidente de TRE. Não
caracterização. Anotação de membros de diretório partidário. Conflito
entre órgão nacional e estadual. Matéria interna corporis, sub judice na
Justiça Comum. Improcedência. A atribuição correcional visa proteger
a legalidade e a legitimidade dos atos que interfiram nos serviços
eleitorais contra erros, abusos ou irregularidades, nos termos dos
arts. 22, V e VI, e 89 II e VI, da Res. - TSE n® 7.651/65. Inviabilizada
a discussão, pela Justíça Eleitoral, de matéria interna corporis dos
partidos, sobretudo sob a pendência de pronunciamento jurisdicional
da Justiça Comum. Ausente a demonstração dos alegados erros, abusos
ou irregularidades, ímpõe-se a improcedência da reclamação (TSE,
Acórdão Ne 338, de 16.12.2004; Reclamação n 9 338/RJ; Rei. Min.
Francisco Peçanha Martins, DJ de 18.3.2005).

O C. TSE já normatizou que: "o Formulário Demonstrativo de Regularidade de


Atos Partidários (DRAP) deverá ser apresentado com cópia da ata de convenção,
digitada ou datilografada e conferida pela Secretaria do Tribunal (Lei ns 9.504/97,

2 2 4
P a rtid o s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

art. 11, § 1 Q, I; Código Eleitoral, art. 94, § l e, I)". Assim, se dá mais autenticidade ao
processo de escolha, especialmente pela fiscalização da Justiça Eleitoral e à pronta
leitura do teor das atas de convenção que antes eram subscritas manualmente.
Nas hipóteses de dissidência interna dos partidos políticos sobre o nome, escolha
e número dos candidatos, a questão será submetida ao relator ou juiz do registro
de candidatos.
0 prazo fixado entre os dias 10 até 30 de junho do ano da eleição deve ser
obedecido pelos Partidos Políticos, ressalvando-se excepcionalmente a possibilidade
de retificação para registrar pré-candidatos pela coligação (Ac. TSE ne 17.325, de
21.9.2000, Rei. Min. Fernando Neves).
As prévias são consultas aos filiados. O TSE decidiu que a divulgação nos meios
de comunicação destas pré-escolhas e indicações internas não são exemplos de
propaganda política eleitoral antecipada (Ac. n 9 20.816, de 19.6.2001, Rei. Min.
Fernando Neves). Todavia, não se pode negar que nas eleições presidenciais os
promitentes candidatos já deflagram verdadeira campanha eleitoral para angariar
simpatizantes realizando sucessivos atos públicos antes mesmo do dia marcado
para as denominadas prévias eleitorais.
Impende frisar que "Na aplicação da lei eleitoral, o juiz atenderá sempre os
fins e resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem
demonstração de prejuízo" (art. 219 do Código Eleitoral). Nesta linha, deve-se
analisar as impugnações sobre a regularidade ou não das convenções.
Cumpre, ainda, estabelecer que a jurisprudência do TSE fixou majoritária
posição no sentido de que as arguições de irregularidades em convenções devem ser
formuladas pelos candidatos não escolhidos. Assim, o legitimado ativo é o filiado ao
Partido Político. Nesse sentido são os acórdãos do TSE n9s 191, de 2.9.1998, Rei. Min.
Eduardo Alckmin; 228, de 3.9.98, Rei. Min. Maurício Corrêa; e, ainda, 18.964/2000,
Rei. Min. Fernando Neves e 12.618, de 19.9.1992, Rei. Min. Sepúlveda Pertence.
O § l 9 tra ta das denom inadas candidaturas natas ou inerentes.
Sobre candidatos natos, o Colendo TSE já reiterou posição atinente ao tema na
Resolução n- 21.778, Consulta 1.060 - Brasília, Distrito Federal, Rela. Min2. Ellen
Gracie, em 27 de maio de 2004, D} de 3.11.2004, fazendo menção ao decidido pelo
Egrégio Supremo Tribunal Federal, que, suspendeu, liminarmente, a eficácia do § 1-
(ADI n 9 2.530-9, de 24.4.2002). Naquela decisão foi reconhecida a plausibilidade
jurídica da ação por maioria de votos, sendo que três votos fundaram-se nos
princípios da isonomia (art. 5 9, caput, da Constituição Federal) e da autonomia
partidária (art. 17 da Carta Magna), e os outros cinco votos apoiaram-se unicamente
neste princípio.
O § l fi permite que determinado parlamentar possa ter assegurado o registro de
sua candidatura para o mesmo cargo pelo Partido a que esteja filiado.

225
M arcos R am ay an a D ir eit o E leitoral

Com a decisão na ADI 2.530-9, o parlamentar deverá subm eter o seu nome em
igualdade de condições com os demais pré-candidatos para a devida escolha em
convenção. 0 registro mencionado na redação do parágrafo não é o de candidaturas
perante a Justiça Eleitoral, porque este exige o preenchimento de condições de
elegibilidade e não incidência em casos de ineíegibilidades, perda ou suspensão
dos direitos políticos. Trata-se de critério interno do próprio Partido Político. Neste
sentido, exige o TSE: "0 fato de tratar-se de candidato nato não impede a apreciação
de inelegibilidade opostas ao registro (...)”, Ac. ne 267, de 10.9.1998, Rei. Min. Néri
da Silveira - precedente
A recandidatura referida no § l e exige prévia manifestação expressa do
interessado e implica na pretensão ao mesmo cargo. Assim, um vereador não poderá
pleitear direito adquirido nato ao cargo de Deputado Estadual, pois não é o exercício
do mandato que autoriza o direito de preferência, mas sim, o exercício do mesmo
cargo. Exemplo: o vereador teria direito nato ao cargo de vereador (reeleição ou
recandidatura).
A candidatura nata não alcança as cargos de senador, considerando a omissão
normativa e posição do TSE neste sentido (Res. n- 20.221/98, DJU 19.6.1998).
Desse modo, com a devida vênia, entendemos que o sistema preconizado é
inconstitucional, porque além de atingir a autonomia partidária, a isonomia e o
livre sistema de escolha por critérios democráticos, implica em frontal violação à
cláusula pétrea do art. 60, § 4 a, II, da Constituição Federal, especialmente no aspecto
da periodicidade das votações e renovações dos mandatos eletivos, considerando
que compete aos Partidos Políticos apresentarem aos eleitores os seus candidatos,
após regular escolha. Trata-se, aqui, de impedir uma alteração do quadro político, o
que certamente resulta em violação ao próprio sistema republicano.
Sob o ângulo da periodicidade dos mandatos eletivos, firmamos posição sobre
a inconstitucionalidade da regra, somada aos demais aspectos jurídicos legais
acolhidos na interpretação da decisão cautelar na ADI nü 2 5 3 0 -9 do C. STF.
No que tange à realização das convenções prevê o § 2 e do a rt, 8 9 da Lei
ne 9 .5 0 4 /9 7 a possibilidade de utilização de prédios públicos para a sua
realização.
Existe regra similar no art. 51 da Lei dos Partidos Políticos, ressalvando-se que
os eventuais danos causados ao patrimônio público devem ser indenizados pelos
responsáveis.
A responsabilidade civil decorrente do dano ao imóvel ou móveis públicos
deverá seguir as regras do direito civil e administrativo, sendo a eventual ação
proposta no âmbito da justiça comum ou federal, independentemente das medidas
administrativas e sanções penais correspondentes.

226
P a r t id o s P o lític o s C a p ít u l o 9

0 art. 7 3 , 1, da Lei ns 9.504/97, prevê as condutas vedadas aos agentes públicos


em campanhas eleitorais, ressalvando a realização de convenções partidárias em
prédios públicos.
A Administração Pública não poderá exigir aluguel ou valores para fins de ceder
temporariamente o espaço solicitado, mas ressalva-se a recusa natural quando o
bem for tombado ou protegido pela legislação ambiental, considerando a tutela
constitucional ao patrimônio urbanístico, tais como: museus, teatros, cinemas, e
outros prédios.
O não atendimento da solicitação poderá caracterizar "em tese", o delito de
desobediência eleitoral previsto no art. 3 4 7 do Código Eleitoral.
É importante notar que o patrimônio público pode sofrer danos irreversíveis e
os abusos do poder político podem ser manifestos. Sob essa ótica inferimos que a
regra de tolerância da utilização dos bens públicos para realização de convenções
camufla uma forma autorizada de propaganda extemporânea com abuso do poder
político. Daí, não assiste razão ao legislador em incluir esta permissão de uso
temporário, quando é sabido que os Partidos Políticos possuem suas sedes próprias
e podem arcar com os ônus dos aluguéis e contratos dos espaços necessários
para a realização de suas convenções, especialmente por serem hodiernamente
consideradas pessoas jurídicas de direito privado e aptas ao ajuste contratual.
Destarte, a Lei n 9 9.096/95, expressamente prevê no art. 44, 1, que os recursos
oriundos do Fundo Partidário devem ser aplicados na manutenção das sedes e
serviços dos partidos. Assim, entendemos que os partidos só poderiam utilizar
os bens públicos para a realização de suas convenções se comprovassem à Justiça
Eleitoral a falta de recursos para arcar com esta despesa em determinado Município.

9 ,4 . A S COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS
A coligação partidária é uma relação estabelecida com um grupo de pessoas por
interesses ou valores políticos e eleitorais, objetivando a coesão para o processo de
ajustamento de integração ideológica partidária.
Os líderes políticos procuram alianças em função da divisão do número de vagas,
horário eleitoral gratuito e rateio do Fundo Partidário, e celebram coligações tendo
a finalidade de priorizar metas políticas comuns.
Como afirmado por Daniel-Louis Seiler “As relações entre partidos podem ser
conflituais ou de cooperação. Realmente, se todos os partidos são concorrentes ~
todos buscam angariar o maior número de votos possível -, as relações que eles
estabelecem entre si podem m ostrar-se conflituais ou cooperativas. De fato, partidos
percebendo uma certa proximidade de objetivos ou diante de um inimigo comum
podem cooperar entre si. Isso pode tomar a forma de uma coalizão pré-eleitoral
com ou sem listas comuns ou unidade de candidaturas e programa comum.

227
D ir eit o E leitoral
M a r c o s R am ayana

A vida política francesa está repleta de exemplos dessetipo: "a União da esquerda"
nos anos 1970, "a União pela França", vinte anos mais tarde e à “direita" Isso pode
levar até a uma federação de partidos, a exemplo da UDF, ou a uma confederação
com grupo parlamentar único, como a CDU-CSU na Alemanha" {Os P artidos Políticos,
Imprensa Oficial, tradução de Renata Maria Parreira Cordeiro, Brasília, Editora
Universidade de Brasília, São Paulo, 2 0 0 0 , pp. 138/9).As coligações são partidos
políticos temporários e estão referidas no art. 6- da Lei n- 9.504, de 30 de setembro
de 1997.
Uma coligação tem denominação própria e possui um representante que terá
atribuições idênticas às do presidente de um partido político, especialmente no
trato das questões eleitorais perante a Justiça Eleitoral.
Os arts. 3 2 e 22 da Lei Complementar n 9 64, de 18 de maio de 1990, estabelecem
a legitimidade ativa das coligações para a propositura de ações de impugnação ao
pedido de registro de candidatos e investigação judicial eleitoral.
Uma coligação é considerada uma superlegenda e, no fundo, retrata uma aliança
de partidos para um determinado pleito eleitoral (a eleição compreende cada um
dos turnos de um pleito, para todos os efeitos, exceto para fins do disposto no
parágrafo único do art. 15 da Resolução ns 21.538/03 (neste sentido, ver a regra do
art. 83, VII, da mencionada norma).
É importante frisar que as alianças ou coligações nascem por deliberações das
Convenções Regionais ou Estaduais em relação aos deputados federais, estaduais
e distritais. Quando se referir às eleições de vereadores, a deliberação será da
Convenção Municipal.
0 registro das convenções é efetuado perante o órgão jurisdicional responsável
pelo exame dos pedidos de candidatura, v.g., juiz eleitoral nas eleições municipais
(vereador).
Os partidos políticos que desejarem se coligar devem respeitar os prazos do
art. 8 e da Lei ne 9.504/97, ou seja, entre os dias 10 a 30 de junho do ano eleitoral,
devem ser realizadas as convenções.
No que tange às coligações, a Lei nQ12,034/ 2009 estabeleceu algumas disciplinas
específicas. O art. 6- da Lei n 9 9.504/97 foi alterado, tendo sido incluídos o § l e-A
e o § 4 e.
O § 1 9-A evita que o nome atribuído à coligação possa fazer referência a um
candidato específico, assegurando, nesse tema, o princípio da impessoalidade. E
ainda, estabelece uma igualdade entre os partidos para que nenhum dos que sejam
coligados possam obter vantagem na propaganda do nome da coligação.
Já o § 4 e disciplina que após a formação de uma coligação entre partidos políticos,
fica vedada a legitimidade para que um desses possa atuar de forma isolada, salvo
na hipótese em que se questiona a validade da própria coligação. No entanto, para
se questionar se é válida ou não a formação de uma coligação, a lei fixou um período,

228
Partid o s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

que vai da data da celebração das convenções (de 10 a 30 de junho do ano da eleição,
conforme art. 8 S da Lei n 5 9.504/97) até o termo final do prazo para a impugnação
do registro de candidatos (5 dias contados da publicação do pedido de registro de
candidatos, segundo o art. 3 - da Lei Complementar ns 64/90).
As coligações têm uma denominação própria, por exemplo, Unidos pelo Rio, e
continuam com legitimidade para as ações eleitorais, como a ação de impugnação
ao mandato eletivo.
Desta forma, a nova lei não alterou o prazo de existência, no processo eleitoral,
da coligação como parte legítima para as ações, mas apenas limitou um prazo para
se questionar a validade da própria coligação.
Todavia, a lei não repetiu os exatos termos da Resolução n 9 22.717/2008, art. 6e
(resolução sobre o registro de candidatos nas eleições municipais de 2008), que
tinha como causa permissiva para o partido atuar isoladamente na hipótese de
dissidência interna. De certo que esta causa está eliminada, ou seja, mesmo que
ocorram desentendimentos que possam levar à dissolução da coligação, eles não
serão suficientes para permitir que o partido político possa atuar no processo
eleitoral de forma isolada. Em outras palavras, formada a coligação, é ela que
deve estar atuando na Justiça Eleitoral, inclusive recorrendo das decisões para os
tribunais.

9.4.1. V erticaiização d as co lig a ç õ e s


A Emenda Constitucional ns 52/2006 alterou a redação do art. 17 da Constituição
da República. Atualmente, a regra constitucional está assim descrita:
“É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua
estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os
critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito
nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos
estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária".
O C. TSE, para as eleições de 2006, editou a Resolução n 9 22.156, Instrução
n9 105, Classe 12a - Distrito Federal, rei. Min. Caputo Bastos, disciplinando o tema
sobre formação das coligações in expressi verbis:

"Art. 3 S, § 1°: Os partidos políticos que lançarem, isoladamente ou em


coligação, candidato à eleição de presidente da República não poderão
formar coligações para eleição de governador de Estado ou do Distrito
Federal, senador, deputado federal e deputado estadual ou distrital
com partido político que tenha, isoladamente ou em aliança diversa,
lançado candidato à eleição presidencial (Lei n9 9.504/97, art. 69;
Res. - TSE ns 21.002, Consulta n^ 715, de 26.2.2002). § 2^ Um mesmo
partido político não poderá integrar coligações diversas para a eleição de

229
M a r c o s R am ayan a D ir eito E leitoral

governador e a de senador; porém, a coligação poderá se limitar à eleição


de um desses cargos, podendo os partidos políticos que a compuserem
indicai; isoladamente, candidato a outro cargo. § 3S Poderá o partido
político integrante de coligação majoritária, compondo-se com outro ou
outros, dessa mesma aliança, para eleição proporcional, constituir lista
própria de candidatos à Câmara dos Deputados, Assembleia ou Câmara
Legislativa (Res. ~ TSE ne 20,121, de 12.3.98). § 4S É vedada a inclusão
de partido político estranho à coligação majoritária, para formar com
integrante do referido bloco partidário aliança diversa destinada a
disputar a eleição proporcional (Res. - TSE na 20.121, de 12.3.1998)."

0 Supremo Tribunal Federal decidiu em ação direta de inconstitucíonalidade


(ADIN n B 3.685-8, de 3 1.03.2006), que as novas regras sobre coligações tratadas
no §1- do art. 17 da Constituição da República, com a redação da EC 52/06, devem
observar o princípio da anuaiidade do art. 16 da norma constitucional.
Desta forma, a nova disciplina que afasta a chamada "verticalização das
coligações, só será implementada nas eleições subsequentes à edição normativa da
emenda constitucional. Não é caso de inconstitucíonalidade, mas sim de se protrair
os efeitos da nova regra para as eleições de 2010 .

9.5. PRESTAÇÃO DE CONTAS


A lei impõe ao partido político o dever de prestação de contas e a fiscalização
pela Justiça Eleitoral.
O envio das contas dos partidos políticos (balanço contábil) é feita de forma anual,
até o dia 30 de abril (art. 32 da Lei ns 9.096/95 e 50 da Resolução n s 19.406/95-
TSE).
O Tribunal Superior Eleitoral recebe o balanço do diretório nacional, os Tribunais
Regionais Eleitorais, o dos órgãos estaduais e os juizes eleitorais, o dos órgãos
municipais.
As sanções pela violação das normas contábeis vão desde a suspensão da
participação do dinheiro oriundo do Fundo Partidário até o cancelamento do registro
civil e do estatuto do partido (ver arts. 4 6 ,5 4 e 55 da Resolução n 9 19.406/95-TSE).
A Resolução ne 21.841-TSE disciplina a prestação de contas e a Tomada de Contas
Especial dos partidos políticos.
Sobre o assunto podemos salientar alguns pontos fundamentais:
1) Os partidos políticos devem: a) prestar contas; b) manter escrituração contábil
de acordo com as normas brasileiras de contabilidade, inclusive com o respaldo
de um profissional habilitado na matéria.
2) O dinheiro depositado no Fundo Partidário deve ser movimentado em
estabelecimentos bancários e s p e c ífic o s.

23 0
P artid o s P o lític o s C a p ít u l o 9

3 } Existem vedações ao recebim ento de recursos, inclusive em campanhas eleitorais


(ver arts. 24 da Lei n 9 9.504/97, 31 da Lei n 2 9.096/95 e 5 9 da Resolução
n 2 21.841/2004-TSE).
4) As doações aos partidos políticos seguem regras de avaliação e comprovação
oficial.
5) O recebimento de recurso de fonte não identificada acarreta a perda do recurso
proporcional distribuído em função dos valores do fundo partidário.
6} As sobras de campanha devem ser contabilizadas, de forma integral e exclusiva;
portanto a lei impõe uma desünação especial aos denominados institutos de pesquisa
e doutrinação e educação política (ver a rt 7- da Resolução ns 21.841/04-TSE).
7 ) A prestação de contas segue um sistema informatizado próprio.
8) A falta de prestação de contas anual acarreta a suspensão automática do Fundo
Partidário. Neste sentido ver o a rt 18 da Resolução n- 21.841/04-TSE.
9} Ojulgamento das contas está baseado em três hipóteses: a) aprovadas, quando regulares;
b) aprovadas com ressalvas, quando não estão comprometidas as regularidades
globais; c) desaprovadas, quando as falhas comprometem a regularidade em sua visão
de conjunto.
1 0 )0 Tribunal Superior Eleitoral pode suspender o repasse do dinheiro do Fundo
Partidário ao diretório nacional; os Tribunais Regionais Eleitorais podem
determinar ao diretório nacional que não faça o repasse aos diretórios regionais,
e os juizes eleitorais podem determinar aos diretórios nacional e regional que
não distribuam as cotas do fundo partidário ao diretório municipal ou zonal.
Nesse sentido, ver a norma do art. 29 da Resolução nQ21.841/04-TSE.
A Lei n 2 12.034/2009, no art. 2 2, incluiu os parágrafos 3 9 a 6 S no art. 37 da Lei
n 2 9.096/95, in verbis:

§ 3 9Asanção de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário,


por desaprovação total ou parcial da prestação de contas de partido, deverá
ser aplicada de forma proporcional e razoável, pelo período de 1 (um) mês
a 12 (doze) meses, ou por meio do desconto, do valor a ser repassado, da
importância apontada como irregular, não podendo ser aplicada a sanção
de suspensão, caso a prestação de contas não seja julgada, pelo juízo ou
tribunal competente, após 5 (cinco) anos de sua apresentação.
§ 4 S Da decisão que desaprovar total ou parcialmente a prestação de
contas dos órgãos partidários caberá recurso para os Tribunais Regionais
Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme o caso, o qual
deverá ser recebido com efeito suspensivo.
§ 5 9 As prestações de contas desaprovadas pelos Tribunais Regionais
e pelo Tribunal Superior poderão ser revistas para fins de aplicação
proporcional da sanção aplicada, mediante requerimento ofertado nos
autos da prestação de contas.
§ 6e O exame da prestação de contas dos órgãos partidários tem caráter
jurisdicional.”

231
M arcos R am ayana D ir eit o E leitoral

Cumpre observar que o § 3 2fixa um prazo de duração razoável do processo (art. 5 a,


LXXVIII da Constituição Federal) de cinco anos para Julgamento dos procedimentos
de prestação de contas e respectiva aplicação de sanção, o que enseja maior atenção
na tramitação desses procedimentos, pois escoado o prazo decadencial de 5 anos
para o julgamento das contas, mesmo existindo uma desaprovação total, elas
restarão convalidadas pelo decurso do tempo.
Na verdade, o Legislador foi omisso em punir os responsáveis pela demora.
0 § 4 S atribui efeito suspensivo aos recursos que versarem sobre decisões de
desaprovação total ou parcial da prestação de contas dos órgãos partidários. Trata-
se de consagração de uma exceção à regra geral dos efeitos dos recursos eleitorais,
pois, como é sabido, o art. 257 do Código Eleitoral não dá efeito suspensivo aos
recursos, ou seja, enquanto não transitar em julgado a sanção de suspensão do
repasse de novas quotas do Fundo Partidário, os respectivos órgãos partidários
continuarão percebendo os valores devidos.
Quanto ao § 5 9, é importante frisar que foi criado um instituto processual sui
gen eris, assemelhado a um pedido de reconsideração sem fixação de prazo, embargos
de declaração ou ação rescisória, pois como se nota, após o trânsito em julgado da
decisão que importa na desaprovação total ou parcial das contas, é possível emergir
um requerimento de oferta nos próprios autos de revitalização da questão decidida.
No entanto, não podemos admitir que esse procedimento incidental de revisão
formulado em requerimento sui g en eris, seja ofertado e revisto a qualquer tempo.
Vê-se, que o legislador não utilizou a expressão "a qualquer tempo". Não fixou prazo.
Assim, por simetria, é possível aplicar-se o disposto no art. 258 do Código Eleitoral,
ou seja, "sempre que a lei não fixar prazo especial, o recurso deverá ser interposto
em 3 (três) dias da publicação do ato, resolução ou despacho”
0 pedido de revisão tem natureza recursal, porque oferta nova proposta incidental
ao julgado para fins de alteração. Caso contrário admitir-se-ia a insegurança jurídica
das relações, pois seria p ossível' a qualquer tempo' a revisão do julgado. Ora, se o
procedimento tem índole jurisdicional aplica-se o disposto no art. 467 do código de
Processo Civil que trata da coisa julgada, considerando ainda que segundo o art. 471
da mesma lei, o juiz não decidirá novamente as questões da mesma lide, exceto se a
relação jurídica for do tipo ' continuativa’, e ainda em casos previsto em lei.
A aceitação do prazo de 3 (três) dias na linha do art. 258 do Código Eleitoral cria
a segurança jurídica com a estabilização das relações, pois a ausência prolongaria
infinitamente a jurisdição eleitoral e quiçá serviria para reabrir procedimentos de
outrora já sedimentados pela coisa julgada.
Como se nota, o § 6- faz questão de frisar o caráter jurisdicional dos procedimentos
de prestação de contas, que importa na possibilidade dos recursos eleitorais
chegarem às instâncias superiores, como por exemplo, ao próprio Tribunal
Superior Eleitoral, alterando a jurisprudência de que esses procedimentos tinham

232
P artido s P o lític o s C a p ít u l o 9

natureza meramente administrativa (TSE, Recurso em mandado de segurança


n9 562, SP, 20/5/2008, D} 16/6/2008). Uma outra conseqüência, é a possibilidade
de oposição de embargos de declaração das decisões, o que não era admitido pela
jurisprudência anteriormente, ao argumento de se tratar de procedimento de
natureza administrativa (TSE, Resolução ne 23.105, de 13.8.2009).

11) Cumpre frisar que a sanção de perda das novas cotas do Fundo Partidário não é
extensível aos diretórios que não sejam responsáveis pela irregularidade.
12) Quando findar o julgamento das contas, os juizes. Tribunais Regionais e Superior
Eleitoral devem informar ao Ministério Público (promotor das Fundações) para
que o mesmo possa pleitear as medidas de sanação, fiscalização e eventual
extinção da fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política. Neste
sentido, ver a norma do art. 30 da Resolução n- 21.841/04-TSE. A hipótese
é inovadora, porque as fundações devem ser entes diferentes dos partidos
políticos, com constituição, receita e despesas próprias e, portanto, estão
sujeitas a regular fiscalizações como qualquer outra espécie de fundação.
1 3 )0 processo de cancelamento do registro de partido político pode ser iniciado
no Tribunal Superior Eleitoral por notícia de qualquer eleitor, de representante
de partido político ou de representação do procurador-geral eleitoral. A
legitimidade foi ampliada a “qualquer eleitor”, ensejando ampla atuação da
cidadania, embora não se tenha adotado a regra geral dos co-legitimados para
as ações eleitorais, por exemplo, partidos políticos, candidatos e Ministério
Público.
14)A lei impõe a recomposição de quantia desviada ao erário, sob pena de
instauração de um procedimento de Tomada de Contas Especial (art. 35 da
Resolução ne 21.841/04-TSE).
1 5 )Encerrada a Tomada de Contas Especial, os autos são remetidos ao Tribunal
de Contas da União, cujas repercussões podem acarretar a improbidade
administrativa e a execução da dívida.

9.6. O FUNDO PARTIDÁRIO


0 Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo
Partidário) é uma concentração de recursos públicos e privados, com natureza mista,
depositados em conta corrente específica, que se insere na proposta orçamentária,
objetivando prestar assistência financeira prevista na lei aos Partidos Políticos.
O Fundo Partidário distribui cotas aos partidos políticos que movimentam os
depósitos em estabelecimentos bancários. A origem das receitas e a destinação das
despesas se sujeitam a controles, escrituração contábil e à prestação de contas.
Os recursos do Fundo Partidário possuem natureza constitucional correlacionada
com o princípio fundamental da República Federativa do Brasil insculpido no art. l s,
inciso V da Carta Magna, que se traduz na garantia e manutenção do pluralismo

233
M a r c o s R a m a ya n a D ir eito E leitoral

político no Estado Democrático. Nessa linha, verifica-se que os partidos políticos


têm direito a receber os recursos oriundos do Fundo Partidário, nos devidos
percentuais legais de suas cotas, assegurando-se o cumprimento do disposto no
art. 17, § 3 - da Constituição Federal.
A Lei ns 12.034/2009, no art. 2-, incluiu os parágrafos 3 2 a 6S no art. 37 da Lei
n B 9.096/95, in verbis:

§ 3e A sanção de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo


Partidário, por desaprovação total ou parcial da prestação de contas
de partido, deverá ser aplicada de forma proporcional e razoável, pelo
período de 1 (um) mês a 12 (doze) meses, ou por meio do desconto,
do valor a ser repassado, da importância apontada como irregular, não
podendo ser aplicada a sanção de suspensão, caso a prestação de contas
não seja julgada, pelo juízo ou tribunal competente, após 5 (cinco) anos
de sua apresentação.
§ 4- Da decisão que desaprovar total ou parcialmente a prestação de
contas dos órgãos partidários caberá recurso para os Tribunais Regionais
Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme o caso, o qual
deverá ser recebido com efeito suspensivo.
§ 5e As prestações de contas desaprovadas pelos Tribunais Regionais
e pelo Tribunal Superior poderão ser revistas para fins de aplicação
proporcional da sanção aplicada, mediante requerimento ofertado nos
autos da prestação de contas.
§ 6- O exame da prestação de contas dos órgãos partidários tem caráter
jurisdicional."

Cumpre observar que o §3 - fixa um prazo de duração razoável do processo (art. 59,
LXXVIII da Constituição Federal) de cinco anos para julgamento dos procedimentos
de prestação de contas e respectiva aplicação de sanção, o que enseja maior atenção
na tramitação desses procedimentos, pois escoado o prazo decadencial de 5 (cinco)
anos para o julgamento das contas, mesmo existindo uma desaprovação total, elas
restarão convalidadas pelo decurso do tempo.
Na verdade, o legislador foi omisso em punir os responsáveis pela demora.
O § 4 9 atribui efeito suspensivo aos recursos que versarem sobre decisões de
desaprovação total ou parcial da prestação de contas dos órgãos partidários. Trata-
se de consagração de uma exceção à regra geral dos efeitos dos recursos eleitorais,
pois, como é sabido, o art. 257 do Código Eleitoral não dá efeito suspensivo aos
recursos, ou seja, enquanto não transitar em julgado a sanção de suspensão do
repasse de novas quotas do Fundo Partidário, os respectivos órgãos partidários
continuarão percebendo os valores devidos.

2 34
P a rtid o s P o lític o s C a p ít u l o 9

Quanto ao § 5 e, é importante frisar que foi criado um instituto processual sui


generis, assemelhado a um pedido de reconsideração sem fixação de prazo, embargos
de declaração ou ação rescisória, pois como se nota, após o trânsito em julgado da
decisão que importa na desaprovação total ou parcial das contas, é possível emergir
um requerimento de oferta nos próprios autos de revitalização da questão decidida.
No entanto, não podemos admitir que esse procedimento incidental de revisão
formulado em requerimento sui g en eris, seja ofertado e revisto a qualquer tempo.
Vê-se, que o legislador não utilizou a expressão "a qualquer tempo". Não fixou prazo.
Assim, por simetria, é possível aplicar-se o disposto no art. 258 do Código Eleitoral,
ou seja, "sempre que a lei não fixar prazo especial, o recurso deverá ser interposto
em 3 (três) dias da publicação do ato, resolução ou despacho".
0 pedido de revisão tem natureza recursal, porque oferta uma nova proposta
incidental ao julgado para fins de alteração. Caso contrário admitir-se-ia a
insegurança jurídica das relações, pois seria possível 'a qualquer tempo’ a revisão
do julgado. Ora, se o procedimento tem índole ju risd icio n al aplica-se o disposto no
art. 4 6 7 do código de Processo Civil que trata da coisa julgada, considerando ainda
que segundo o art. 471 da mesma lei, o juiz não decidirá novamente as questões da
mesma lide, exceto se a relação jurídica for do tipo 'continuativa', e ainda em casos
previsto em lei.
A aceitação do prazo de 3 (três) dias na linha do art. 258 do Código Eleitoral cria
a segurança jurídica com a estabilização das relações, pois a ausência prolongaria
infinitamente a jurisdição eleitoral e quiçá serviria para reabrir procedimentos de
outrora já sedimentados pela coisa julgada.
Como se nota, o § 6° faz questão de frisar o caráter jurisdicional dos
procedimentos de prestação de contas, que importa na possibilidade dos recursos
eleitorais chegarem às instâncias superiores, como por exemplo, ao próprio Tribunal
Superior Eleitoral, alterando a jurisprudência de que esses procedimentos tinham
natureza meramente administrativa (TSE, Recurso em mandado de segurança
nfi 562, SP, 20/5/2008, DJ 16/6/2008). Outra conseqüência é a possibilidade
de oposição de em bargos de d eclaração das decisões, o que não era admitido
pela jurisprudência anteriormente, ao argumento de se tratar de procedimento de
natureza administrativa (TSE, Resolução n- 23.105, de 13.8.2009).

9 .6.1. Fundo partidário. D estin ação


O Fundo Partidário tem sua destinação fixada expressamente no art. 44 da Lei
dos Partidos Políticos, a saber: para a manutenção da sede do partido, investimento
na propaganda doutrinária e política, investimento nas campanhas eleitorais e para
criação de institutos ou fundações educacionais de doutrinação política, cumprindo
à Justiça Eleitoral a fiscalização da aplicação desses recursos.
A recente Lei n 9 12.034/ 2009 aumentou o limite máximo de 20% para 50% no
pagamento de despesas de pessoal, alterando o art. 44, inciso I, da Lei dos Partidos
Políticos.
o '? * ;
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leitoral

Dentre as alterações, foi criado o inciso V que fomenta a participação das


mulheres em programas relacionados à atividade política.
Os valores que integram o Fundo Partidário são previstos no art. 38 da Lei dos
Partidos Políticos, a saber: multas eleitorais, recursos financeiros decorrentes de
lei, doações de pessoas físicas ou jurídicas e dotações orçamentárias da União.
0 art. 39 da Lei dos Partidos Políticos sofreu a inclusão do § 5-, ( alteração da Lei
ne 12.034/ 2009) in verbis:

''§ 5S Em ano eleitoral, os partidos políticos poderão aplicar ou distribuir


pelas diversas eleições os recursos financeiros recebidos de pessoas
físicas e jurídicas, observando-se o disposto no § l g do art. 23, no art. 24
e no § 1- do art. 81 da Lei ne 9.504, de 30 de setembro de 1997, e os
critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas normas
estatutárias."

Percebe-se que fica a critério do partido a distribuição de parcela do Fundo


Partidário para as campanhas eleitorais, mas cumpre lembrar que as pessoas físicas
só podem doar até 10% da renda bruta, na forma do art. 23, § I a, inciso 1 da Lei
n- 9.504/97, e as pessoas jurídicas, até 2% do faturamento bruto do ano anterior
à eleição (art. 81, § 1- da mesma lei). O Partido Político não se escusa da prestação
de contas.
Observa-se que a arrecadação e o recolhimento das multas eleitorais, e as
doações das pessoas físicas ou jurídicas são devidamente processadas através de
formulários (Guia de Recolhimento da União), nos termos da (Res. TSE n s 21.975/04
e Portaria TSE n 9 288/05).

9 .6 .2 . S u sp e n sã o d as c o ta s do fundo partidário
As regras estão previstas nos artigos 30 a 37 da Lei 9.096/95, mas é importante
frisar, que conforme visto acima, o § 5 9 do art. 37 (introdução criada pela Lei
12.034/ 2009) criou critérios proporcionais em razão do tempo ou por descontos,
quando for aplicada a suspensão do repasse de novas quotas.
Por exemplo, no caso de sanção imposta ao diretório municipal, o Juiz Eleitoral
determinará a comunicação da sua decisão aos órgãos de direção estadual e nacional
do partido.
Sobre o assunto, é importante consultar o teor da Resolução TSE n- 21.841/ 2004.
Quando as contas forem declaradas como não prestadas ou ainda for verificada
a irregularidade na aplicação dos recursos do Fundo Partidário, o juiz eleitoral
determinará ao partido que recolha integralmente os valores referentes ao Fundo
Partidário dos quais não tenha prestado contas ou do montante cuja aplicação tenha

236
P a r tid o s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

sido julgada irregular, no prazo de 60 (sessenta) dias, sendo a contagem do trânsito


em julgado da decisão que julgou as contas desaprovadas ou não prestadas (Res.
TSE n 2 21.841/ 04, art. 34, caput).
E ainda: "Não comprovado o recolhimento integral dos valores pelo partido,
serão responsabilizados os dirigentes partidários gestores das contas em exame, os
quais serão notificados para, em igual prazo, proceder ao recolhimento (Res. TSE
n2 21.841/04, art. 34, § l 9). Decorrido o prazo descrito, o juiz eleitoral determinará
a instauração de tomada de contas especial (Res. TSE na 21.841/04, art. 35, capu t)’’.
Destaca-se a atuação do membro do Ministério Público com atribuições para
fiscalizar as fundações, porque, terminado o julgamento definitivo das contas, o juiz
eleitoral o informará, segundo o disposto no art. 44, IV, da Lei n° 9.096/95 e Res.
TSE n- 21.841/04, art. 30. Não é o membro do P arqu et com atribuições eleitorais,
mas o que atua na fiscalização das fundações.

9 .7. CLÁUSULA DE DESEMPENHO OU DE BARREIRA


Sobre o assunto, é importante frisar que o art. 13 da Lei dos Partidos Políticos trata
de um percentual mínimo de votos que os partidos políticos devem conquistar para
obterem os acessos ao fundo partidário, horário eleitoral gratuito e funcionamento
parlamentar.
Destacamos as novas orientações firmadas pelo Supremo Tribunal Federal:
Partidos Políticos e Cláusula de Barreira - 1
O Tribunal julgou procedente pedido formulado em duas ações diretas
ajuizadas, uma pelo Partido Social Cristão - PSC, e outra pelo Partido
Comunista do Brasil - PC do B, pelo Partido Democrático Trabalhista
- PDT, pelo Partido Socialista Brasileiro - PSB e pelo Partido Verde -
PV, para declarar a inconstitucionalidade do art. 13; da expressão
"obedecendo aos seguintes critérios”, contida no caput do art. 41; dos
incisos I e II do art. 41; do art. 48; da expressão “que atenda ao disposto no
art. 13”, contida no caput do art. 49, com redução de texto; e da expressão
"no art. 13”, constante do inciso II do art. 57, todos da Lei ns 9.096/95.
0 Tribunal também deu ao caput dos arts. 56 e 57 interpretação que
elimina de tais dispositivos as limitações temporais deles constantes, até
que sobrevenha disposição legislativa a respeito, e julgou improcedente
o pedido no que se refere ao inciso II do art. 56, todos da referida lei. Os
dispositivos questionados condicionam o funcionamento parlamentar a
determinado desempenho eleitoral, conferindo, aos partidos, diferentes
proporções de participação no Fundo Partidário e de tempo disponível
para a propaganda partidária ("direito de antena"], conforme alcançados,
ou não, os patamares de desempenho impostos para o funcionamento
parlamentar. ADI 1351/DF e ADI 1354/D_F,_Rel. Min. Marco Aurélio.
7.12.2006. (ADI 1351) (ADI 1354)

237
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leitoral

Partidos Políticos e Cláusula de Barreira - 2


Entendeu-se que os dispositivos impugnados vioíam o art. l s, V, que
prevê como um dos fundamentos da República o pluralismo político; o
art. 17, que estabelece ser livre a criação, fusão, incorporação e extinção
de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime
democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
humana; e o art. 58, § 1-, que assegura, na constituição das Mesas e das
comissões permanentes ou temporárias da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, a representação proporcional dos partidos ou dos blocos
parlamentares que participam da respectiva Casa, todos da CF. Asseverou-
se, relativamente ao inciso IV do art. 17 da CF, que a previsão quanto
à competência do legislador ordinário para tratar do funcionamento
parlamentar não deve ser tomada a ponto de esvaziar-se os princípios
constitucionais, notadamente o revelador do pluripartidarismo, e
inviabilizar, por completo, esse funcionamento, acabando com as
bancadas dos partidos minoritários e impedindo os respectivos
deputados de comporem a Mesa Diretiva e as comissões. Considerou-se,
ainda, sob o ângulo da razoabilidade, serem inaceitáveis os patamares
de desempenho e a forma de rateio concernente à participação no Fundo
Partidário e ao tempo disponível para a propaganda partidária adotados
pela lei. Por fim, ressaltou-se que, no Estado Democrático de Direito,
a nenhuma maioria é dado tirar ou restringir os direitos e liberdades
fundamentais da minoria, tais como a liberdade de se expressar, de
se organizar, de denunciar, de discordar e de se fazer representar nas
decisões que influem nos destinos da sociedade como um todo, enfim, de
participar plenamente da vida pública. ADI 1351/DFeADI 1354/DF. Rei.
Min. Marco Aurélio. 7.12.2006. (ADI 1351) (ADI 1354).
Ainda sobre a cláusula de barreira, destacamos noticiário na Folha de São Paulo
(07.12.2006, on-line), repórter Andrezza Matais, sobre a tormentosa questão, que
ao nosso entender é autoexplicativo: “O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu
nesta quinta-feira que a cláusula de barreira é inconstitucional. Por unanimidade,
os ministros presentes acompanharam o voto do Relator, Ministro Marco Aurélio
Mello, que considerou que a legislação provocaria o "massacre das minorias”. Dessa
forma, os ministros do STF acataram a Adin (ação direta de inconstitucionalidade)
promovida pelo PC do B com o apoio do PDT, PSB, PV, PSC, PSOL, PRB e PPS (agora
MD). O argumento dessas legendas é que a Lei n9 9.096, de 1995, que criou as regras
da cláusula, fere o direito de manifestação política das minorias. A regra - prevista na
Lei dos Partidos Políticos - estabelecia que os partidos que não tivessem 5% dos votos
para Deputado Federal ficariam com dois minutos por semestre, em rede nacional de
rádio e de TV, teriam de ratear com todos os demais partidos 1% dos cerca de R$ 120
milhões do Fundo Partidário. Além disso, esses partidos pequenos não teriam direito
a funcionamento parlamentar: seus Deputados e Senadores poderiam falar e votar no
plenário, mas não teriam líderes nem estrutura de liderança.
P a r t id o s P o lític o s C a p ít u l o 9

Aprovada em 1995, a cláusula de barreira seria aplicada pela primeira vez nas
eleições deste ano. Pelo resultado deste ano, só sete dos 29 partidos registrados no
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) conseguiriam atingir os percentuais previstos pela
cláusula de barreira. Outros 22 teriam seus direitos de funcionamento reduzidos
pela nova regra".
Recentemente, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou a
volta da cláusula de barreira. Trata-se de Proposta de Emenda à Constituição (PEC),
que volta a restringir a participação parlamentar dos partidos que não atingirem
5% dos votos válidos para Deputado Federal em todo País, distribuídos em, pelo
menos, nove Estados, com no mínimo 2% em casa.
Por fim, a aludida cláusula atinge o pluralismo político e a máxima eficiência
dentro das casas legislativas, pois aniquila a representação minoritária dos pequenos
partidos políticos e impede numa certa proporção a periodicidade dos mandatos
dentro de sua renovação necessária ao sistema republicano, conforme previsão em
cláusula pétrea do art. 60, § 4 -, II, parte final, da Constituição da República.
Possíveis fraudes detectadas nas legendas de aluguel ou na comercialização do
horário gratuito podem ser combatidas por normas específicas sobre o assunto.
Sobre a repartição do Fundo Partidário, foi editada a Lei ns 11.459, de 21 de
março de 2007, que acresceu o art. 41-A na Lei n 9 9.096/95 (Lei dos Partidos
Políticos), além de revogar o inciso V do art. 56 e o inciso II do art. 57, ambos da Lei
ne 9.096/95.
A "JUSTIFICATIVA" do p ro jeto de Lei foi a segu inte: "0 projeto de lei que ora
submetemos à apreciação deste Parlamento tem por objetivo dar conseqüência
e efetividade à democracia representativa, em consonância com o princípio da
proporcionalidade eleitoral. Assim , necessário determinar critérios de acesso ao
Fundo Partidário a todas as agremiações formalmente registradas no cartório de
registro civil e perante o Tribunal Superior Eleitoral, mas delimitando seu alcance na
proporção de sua representatividade social aferida nas urnas, expressão democrática
posta a revelar o grau de dispêndios para a sua manutenção. Ante a convicção de
que a presente proposta exprime inequívoco aperfeiçoamento do sistema político-
partidário, que exsurge do resultado apurado no processo democrático, rogamos
apoio de todos para essa urgente e relevante alteração legislativa. Sala das Sessões,
em 07 de fevereiro de 2007. Henrique Eduardo Alves. Líder do PMDB e outros".
Com esta nova lei são amenizados os critérios da divisão proporcional do fundo
partidário, ampliando-se para o percentual de 5% do total do Fundo Partidário para
entrega em partes iguais, a todos os partidos que tenham seus estatutos registrados
no TSE, quando a lei anterior fixava no a r t 41, inciso I, o percentual de apenas 1%:
sendo que 95% , ao invés de 99% serão distribuídos aos partidos na proporção dos
votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados.

239
M a r c o s R a m a ya n a D ir eito E leitoral

9.8. MILITAR. DIREITO À P O S S E


0 militar da reserva remunerada deve ter efetivamente filiação partidária
deferida pelos menos 1 (um) ano antes do pleito eleitoral. Aliás, neste sentido está
expresso na resolução temporária do registro de candidatos do TSE/2008, Eleições
Municipais, art. 16, § 2-, Res. ne 22.171/08.
Todavia, em relação ao militar da ativa, a regra é a prevista no art. 16, § l s
da Res. TSE n 9 2 2 .7 1 7 . "A condição de elegibilidade relativa à filiação partidária
contida no art. 14, § 3 -, inciso V, da Constituição Federal, não é exigível ao m ilitar
da ativa que pretenda concorrer a cargo eletivo, bastando o pedido de registro de
candidatura, após prévia escolha em convenção partidária (Resolução n- 21.787,
de is.6 .2 0 0 4 )".
Não se pode excluir da assunção da vaga de vereador o militar da ativa, sob
o argumento de que ele não é filiado a determinado Partido Político, pois a sua
impossibilidade de filiação é imposta pelas normas militares e decorre de imposição
legal. Se ele efetivamente foi votado e aguarda na condição de suplente, deve ter
assegurada a posse no mandato eletivo, acaso seja decretada a perda do mandato
do titular, pois não se pode negar que os votos sufragados neste candidato foram
igualmente computados para a legenda do partido político beneficiado. No entanto,
se ele demonstra, de forma inequívoca, durante o prazo em que se encontra na
condição de suplente, sua vontade de não pertencer ao Partido Político, é evidente
que não se pode atribuir-lhe a vaga decorrente da perda do mandato eletivo.

9.9. RESPONSABILIDADE DO PARTIDO POLÍTICO


A Lei ne 1 1 .6 9 4 de 12 de junho de 2 0 0 8 trouxe a disciplina da responsabilidade
civil dos partidos políticos, alterando a Lei nfi 9.096/95 e o Código de Processo Civil.
A responsabilidade partidária será direcionada ao órgão que deu causa à
responsabilização, seja ele no âmbito municipal, estadual ou nacional, sendo
excluída a solidariedade de outros órgãos de direção.
Para melhor entendimento do assunto, cumpre esclarecer que a organização
básica dos Partidos compreende-se em três níveis: nacional, estadual e municipal.
Em cada nível, há vários órgãos em atuação, cujas atribuições se encontram
delimitadas por regras estabelecidas no estatuto do partido.
Assim, por exemplo, se um órgão partidário estadual vier a cometer um ilícito,
a responsabilidade recairá exclusivamente sobre ele, não havendo que se falar em
responsabilidade solidária que inclua as outras esferas partidárias.
À Lei n 5 9.096/ 95, dessa forma, foi acrescentado o art. 15-A, com o seguinte
texto:

2 4 0
Partid o s P o lític o s C a p ít u l o 9

“Art. 15-A. A responsabilidade, inclusive civil e trabalhista, cabe


exclusivamente ao órgão partidário municipal, estadual ou nacional que
tiver dado causa ao não cumprimento da obrigação, à violação de direito,
a dano a outrem ou a qualquer ato ilícito, excluída a solidariedade de
outros órgãos de direção partidária", (redação alterada pelo art. 22 da
Lei ns 12.034, de 29 de setembro de 2009).

Todavia, o art. 2 a da recente Lei n 9 12.034, de 29 de setembro de 2009 (Lei


da minirreforma eleitoral), incluiu os parágrafos 4 S, 5 e e 6a ao art. 28 da Lei
nB 9.096/95, nos seguintes term os:

"Art. 28...................................................................
§ 4- Despesas realizadas por órgãos partidários municipais ou estaduais
ou por candidatos majoritários nas respectivas circunscrições devem ser
assumidas e pagas exclusivamente pela esfera partidária correspondente,
salvo acordo expresso com órgão de outra esfera partidária.
§ 5ÔEm caso de não pagamento, as despesas não poderão ser cobradas
judicialmente dos órgãos superiores dos partidos políticos, recaindo
eventual penhora exclusivamente sobre o órgão partidário que contraiu
a dívida executada.
§ 62 O disposto no inciso III do caput refere-se apenas aos órgãos
nacionais dos partidos políticos que deixarem de prestar contas ao
Tribunal Superior Eleitoral, não ocorrendo o cancelamento do registro
civil e do estatuto do partido quando a omissão for dos órgãos partidários
regionais ou municipais.’'

Verifica-se na análise dos parágrafos 4 9 e 5 Qque a responsabilidade subsidiária


também foi excluída, porque, em ambos os dispositivos legais, o Legislador
fez questão de mencionar a exclusividade das obrigações na esfera partidária
correspondente, inclusive, no parágrafo 6a, exclui-se a responsabilidade dos órgãos
nacionais dos partidos políticos em razão de falhas e omissões na prestação de contas
dos órgãos regionais ou municipais. Na verdade seccionou-se a responsabilidade
civil, trabalhista, tributária e eleitoral para cada esfera de organização partidária
nos moldes estatutários que devera ser adequados à nova Lei n 2 12.034/2009.
No entanto, consideramos que o novo texto legal está frontalmente antagônico
ao § 2 9 do art. 2 e da Consolidação das Leis do Trabalho, porque o empregado que
for contratado por um órgão de direção municipal de determinado partido político
e não receber seus direito trabalhistas, não poderá ser prejudicado nesta relação,
sob o manto da exclusão da responsabilidade.
0 partido político é um todo orgânico que possui subdivisões departamentais
em seus diretórios, pois não podemos esquecer que a jurisprudência dos Tribunais
Superiores e os próprios estatutos partidários, bem como o § 2- do art. 7- da Lei

241
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leitoral

n 9 9.096/95 (com a redação dada pelo art. 2- da Lei n- 12.034/ 2009), admitem,
por exemplo, que as deliberações de nível inferior que se opuserem às diretrizes
estabelecidas por órgãos superiores, podem ser anuladas. Não se nega o poder de
direção e comando dos órgãos superiores em relação aos inferiores.
Embora os partidos não sejam propriamente gestores de atividades econômicas
ou grupos equiparados aos industriais, conforme previsto no § 2 9 do art. 2S da CLT
(abaixo transcrito), é inegável que existe uma relação de responsabilidade social
e jurídica entre os diversos níveis de organização destas agremiações políticas, a
demandar, no mínimo, uma responsabilidade subsidiária.

"Art. 2e. Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que,


assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige
a prestação pessoal de serviço.
(...)
§2B. Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,
personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou
administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de
qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação
de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada
uma das subordinadas”.

Cumpre enfatizar que não se trata de apontar a invalidade da norma como um


todo, mas de priorizar a aplicação que seja mais favorável ao trabalhador, respeitando
a garantia dos seus direitos, em total prestígio ao princípio do In dúbio p ro op erário .
Logo, embora a norma em questão seja válida quanto as dívidas civis e tributárias, deve-
se priorizar, na interpretação da lei, inclusive, o disposto no art. 17 da Constituição
Federal em que cumpre aos partidos políticos resguardar os direitos fundamentais da
pessoa humana, sendo os direitos sociais como o trabalho e do trabalhador (art. 69 e
7- da Constituição Federal) classificados na escala dos direitos como os de 2 Qgeração,
Na abrangência dos direitos e garantias fundamentais, não se pode desigualar as
normas de regência dos partidos políticos e dos direitos políticos com as normas
dos direitos sociais, afetando o trabalhador na relação contratual.
Desta forma, podemos concluir que, em relação à responsabilidade trabalhista,
deve o partido político responder pelos seus órgãos nacionais e estaduais, por
exemplo, quando o descumprimento da obrigação laborai decorrer de ato do
diretório municipal, pois somente desta forma se estará assegurando a efetividade
dos preceitos constitucionais acima mencionados.
Todavia, em relação à responsabilidade civil, as novas alterações da Lei dos
partidos políticos estão em consonância com o art. 265 do Código Civil brasileiro:
"A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes". Assim, as
P artido s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

novas contratações celebradas entre órgãos de direção municipal e terceiros, já se


fazem sob a égide da nova lei, cientes as partes da limitação na responsabilidade,
na esfera disponível da relação paritária que permeia as negociações na esfera civil.
Para as relações anteriores à vigência da nova lei, vige, inequivocamente, a
responsabilidade subsidiária, ante o respeito à boa-fé objetiva e da irretroatividade
da norma para garantia da segurança jurídica.
No § 4 S do art. 28 da Lei n 9 9.096/95 (já com a nova redação), ressalva-se que,
por acordo, podem as dívidas dos candidatos m ajoritários ou dos próprios órgãos
partidários serem pagas por esfera partidária que tenha maior solvência financeira.
Uma outra questão se refere se refere à impenhorabilidade dos recursos públicos
do fundo partidário recebidos por partido político, a qual vem disciplinada no
art. 649, inciso XI, do Código de Processo Civil, verbis:

"Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: (...) XI - os recursos públicos


do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político".

0 Fundo Partidário a que se refere o dispositivo supra transcrito é constituído


de receitas previstas no art. 38 da Lei n 9 9.096/95, tais como: multas e penalidades,
doações e dotações orçamentárias da União.
Entendemos que a lei só se refere à parcela da receita proveniente de dinheiro público,
ou seja, as dotações orçam entárias da União destinadas ao Fundo Partidário são
impenhoráveis, pois revestidas de caráter público. Caso contrário, todo o dinheiro
aplicado no Fundo Partidário seria impenhorável, o que frustraria a satisfação da
responsabilidade imposta expressamente no próprio art. 15-A da Lei n° 9.096/95.
É importante frisar a redação do art. 655-A do Código de Processo Civil:

''§ 4 e Quando se tratar de execução contra partido político, o juiz, a


requerimento do exequente, requisitará à autoridade supervisora do
sistema bancário, nos termos do que estabelece o caput deste artigo,
informações sobre a existência de ativos tão somente em nome do órgão
partidário que tenha contraído a dívida executada ou que tenha dado
causa a violação de direito ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a
responsabilidade pelos atos praticados, de acordo com o disposto no
art. 15-A da Lei n9 9.096, de 19 de setembro de 1995."

A hipótese se refere à penhora on line, no âmbito de cada nível de organização


partidária ~ nacional, estadual ou municipal - , em que o juízo competente para a
execução da dívida determinará a indisponibilidade daqueles recursos próprios do
órgão especificamente responsabilizado.
M a r c o s R am a ya n a D ir e it o E leitoral

9.10. DUPLICIDADE DE FILIAÇÃO PARTIDÁRIA


Sobre esse tema, remetemos o leitor ao item que trata das questões relevantes
no capítulo sobre o pedido de registro de candidatura.

9.11. PARTIDO POLÍTICO E MANDADO DE SEGURANÇA


A recente Lei n2 12.016, de 7 de agosto de 2009, disciplinou o mandado de
segurança individual e coletivo, e no § 19 do art. I a equiparou às autoridades, para
os fins da lei de mandado de segurança, os rep resen tan te s ou órgãos de partidos
políticos.
A Lei n 9 1533, de 31 de dezembro de 1951 havia sido derrogada no § í - do
art. 1- pela Lei n 9 9259, de 9 de janeiro de 1996, que retirou a configuração como
autoridade coatora dos órgãos partidários.
Destaca-se a atual redação:

“Art. I 9 Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre
que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica
sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-Ia por parte de autoridade,
seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.
§ l e Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os
representantes.oii órgãos de partidos políticos e os administradores
de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas
ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público,
somente no que disser respeito a essas atribuições".
Como se nota, é possível a impetração do mandado de segurança contra
os representantes ou órgãos de partidos políticos.

Os órgãos municipais ou zonais, estaduais e os nacionais, possuem obrigações


previstas na Lei n 9 9.096/95 e nas Resoluções do TSE de n 9 21.841/ 2004 e
19.406/95, bem como definidas nos respectivos estatutos. Assim, se sujeitam ao
writ.
Por exemplo, existem normas sobre finanças e contabilidades que devem estar
previstas nos estatutos dos partidos políticos. Cumpre, dentre as obrigações aos partidos
políticos, manter escrituração contábil, prestar contas à Justiça Eleitoral e outras.
É oportuno salientar a decisão infradestacada, do C. TSE, que já havia admitido o
órgão do partido político como autoridade coatora, numa hipótese especial:
"Mandado de segurança. Recurso ordinário. 2. Ato do Diretório Regional
do PFL de Santa Catarina, consistente na expulsão e cancelamento
da filiação partidária dos deputados estaduais, ora recorrentes.
3. Decisão do TRE que extinguiu o processo sem julgamento do mérito,
por impossibilidade jurídica do pedido, por não se considerarem

2 4 4
Partid o s P o lít ic o s C a p ít u l o 9

autoridades os representantes ou órgãos dos partidos políticos, para


efeito de mandado de segurança - § l 2, art. l e, Lei ne 1.533/51, com a
redação dada pela Lei n2 9.259/96.4. Hipótese especialíssima em que o
órgão partidário afastou a possibilidade de os recorrentes disputarem
a eleição, por não mais haver tempo, antes do pleito, para se filiar a
outro partido político. Caracteriza-se, na espécie, ato de autoridade
pública, impugnável pela via do mandado de segurança. 5. Recurso
conhecido e provido para que o TRE/SC julgue o mérito do mandado
de segurança como entender de direito." (Ac. n- 79, de 9.6.98, rei. Min.
Eduardo Ribeiro, red. designado Min. Néri da Silveira.)
O Egrégio TSE admite, em casos especiais, a impetração do mandado de
segurança na Justiça Eleitoral, conforme abaixo destacado:
"Recurso em mandado de segurança. Filiações partidárias. Cancelamento.
Ato administrativo. Cabimento de mandado de segurança. Recurso
provido." (Ac. nQ59, de 24.6.97, rei. Min. Eduardo Alckmin.)
“Declaração de nulldade de filiação partidária. Mandado de segurança.
Admissibilidade.”(04c. ns 23, de 20.8.96, rei. Min. Nilson Naves, red.
designado Min. Eduardo Ribeiro; no mesmo sentido os acórdãos n9t 15
e 17, de 2.9.96, rei Min. Nilson Naves e 31, de 5.9.96, rei. Min. Francisco
Rezek.)

É importante salientar que o Código Eleitoral já prevê o cabimento do mandado


de segurança em matéria eleitoral nos artigos 2 2 ,1, "e 2 9 ,1, V ’ e 30, III. No entanto,
não são todos os casos que envolvem violações a direitos líquidos e certos por atos
ilegais de representantes partidários que ensejam a competência para o processo e
julgamento do w rit na Justiça Eleitoral,
Nesse sentido, cumpre destacar a decisão do Egrégio TSE:
EmentaEMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO
DE SEGURANÇA. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL. ATO DE
PRESIDENTE DE DIRETÓRIO NACIONAL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO.
1. Assentou a decisão embargada que a Justiça Eleitoral não é competente
para julgar mandado de segurança contra ato de presidente de diretório
nacional que destituiu presidente de comissão executiva estadual.
2. Embargos de declaração não se prestam à reapreciação da causa, não
sendo cabível a inovação de teses.
3. O julgador não está obrigado a se manifestar sobre todos os pontos
suscitados pela parte, mas somente sobre aqueles que sejam suficientes
para fundamentar seu convencimento.
Embargos rejeitados, ante a ausência de omissão.
(Embargos de Declaração em Agravo Regimental em Mandado de
Segurança 3890, ACÓRDÃO SALVADOR ~ BA 21/05/2009, Relator
MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação DJE - Diário
da Justiça Eletrônico, Data 18/06/2009, Página 30).

245
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leitoral

Cumpre ressaltar que a competência para processar e julgar o mandado de


segurança na Justiça Eleitoral é restrita.
Se a autoridade coatora for um representante ou um órgão partidário só caberá
mandado de segurança na Justiça Eleitoral se a questão estiver correlacionada com as
condições de elegibilidade: pois, caso contrário, diversas questões que não atingem as
eleições, ou seja, de natureza interna corporis, afastadas de um nexo causai direto com o
processo eleitoral, seriam inadequadamente dirimidas na Justiça Eleitoral, fazendo com
que esta Justiça especializada ampliasse a sua competência para além das hipóteses
previstas na legislação eleitoral, invadindo temas de direito puramente partidário.
A interpretação deve ser restrita. Quando um ato de um representante partidário
afetar o processo eleitoral, aí sim, incidirá a competência da Justiça Eleitoral.
Significativa é a decisão abaixo elencada do C. TSE sobre a questão dos limites
da competência, no âmbito da Justiça Eleitoral, para o processo e julgamento do
mandado de segurança:
Ementa AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PRESIDENTE.
COMISSÃO EXECUTIVA ESTADUAL DESTITUIÇÃO. DIRETÓRIO NACIONAL.
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL.
1. A Justiça Eleitoral só é competente para conhecer de mandado de
segurança em matéria eleitoral relativa a atos das autoridades indicadas
na letra e do inciso I do art. 22 do Código Eleitoral e, excepcionalmente,
de órgãos de partidos políticos, quando possam afetar direitos
estritam ente ligados a condições de elegibilidade.
2. Foge da competência desta Corte especializada o julgamento de
mandado de segurança contra ato de presidente de diretório nacional
que destituiu presidente de comissão executiva estadual.
3. Agravo regimental desprovido.
(TSE, Agravo Regimental em Mandado de Segurança n9 3890, ACÓRDÃO
SALVADOR - BA 05/03/2009, Relator MARCELO HENRIQUES RIBEIRO
DE OLIVEIRA, Publicação DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data
7/4/2009, Página 26).
P a r tido s P olíticos
j Natureza jurídica, p e s s o a ' • ; j

Hí^íâel|^|^e::;p^rtldíarl^-^jJ:;j;

H Fi !i^ã p : partidári a • ;;:

*iiPresta0o de çontâs v; ^

)rgãos do partido^ ;: acionai •Estadual •Municipal ou Zonal

--------- H* acionais •Estaduais Municipais

Coríiissões executivas íy : ; •)-------- H• Nacionais •Estaduais Municipais ou Zonais j

►jFundação

Diretório \- Nacional •Estadua! ■Municipal

>| Coligações

Capítulo
M arcos Ramayana • D ire iio Eleitoral 10a Edição - Caprtulo 9 - Partidos Políticos

9
C a p ít u lo 10

Inelegibilidades. C on ceito e
CL AS S I F I CAÇÃO. E L E G I B I L I D A D E S

A inelegibilidade é a restrição ou inexistência do direito público político


subjetivo passivo, ao ius honorum .
Os direitos políticos integram o núcleo de proteção fundamental doJus Civitatis,
possibilitando ao cidadão participar na vida política com o exercício do direito
de votar e ser votado. Assim, é indubitável que as inelegibilidades surgem como
exceções constitucionais e infraconstitucionais, dentro do contexto normativo
vigente. A exceção m erece tratamento exegético restritivo, conforme diversos
entendimentos doutrinários e jurisprudenciais (TSE e STF) sobre o assunto.
Os direitos públicos políticos subjetivos passivos significam a possibilidade
jurídica de determinado cidadão ser votado. Nesta análise, são considerados
alguns aspectos: base territorial, relação de parentesco, sanções impostas pela
lei, elegibilidade e desincompatibilizações, além de outros aspectos disciplinados
na Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990).

10.1. CLASSIFICAÇÃO
Os eleitoralistas apresentam classificações que procuramos resumir.
a-Inelegibilidade inata, primária, implícita ou imprópria. É aquela que advém
da ausência de uma ou mais condições de elegibilidade. Ex.: Se determinado
candidato não estiver filiado a um partido político, é carente de uma condição
de elegibilidade constitucional (art. 14, § 3°, V, da CRFB) e, portanto, inelegível.
A classificação é muito criticada, porque equipara a condição de elegibilidade às
inelegibilidades. Nesse sentido, ver as sábias lições de Adriano Soares da Costa,
b -Inelegibilidade cominada, secundária ou própria. É uma restrição sancionatória
aplicada em determinada eleição, em virtude da prática de fato com revestimento
de ilicitude eleitoral. A classificação é fornecida pelo eminente eleitoralista
Adriano Soares da Costa, baseado na teoria do fato jurídico, in expressi verbis:
A inelegibilidade cominada simples é a sanção de perda da
elegibilidade para "essa eleição", vale dizer, para a eleição na qual
foi declarada a prática dò ato reprochado como injurídico. Sua
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leitoral

decretação tem por escopo mondar o ius honorum do candidato,


impedindo a sua candidatura, ou a sua diplomação, ou o exercício
do seu mandato eletivo obtido por meio ilícito (...) A inelegibilidade
cominada potenciada é a sanção aplicada ao nacional pela prática de
algum ilícito, quer de natureza eleitoral, quer de outra natureza, ao
qual a lei atribua efeitos eleitorais.1
0 exemplo seria o disposto no art. l s, I, alínea e, da Lei das
Inelegibilidades, ou seja, o cidadão, após cumprir a pena, ainda será
inelegível por 3 (três) anos (inelegibilidade superveniente à causa
de suspensão dos direitos políticos, decorrente de sentença penal
condenatória transitada em julgado). Não é inconstitucional este
exemplo de inelegibilidade, conforme precedente do TSE.
c -Inelegibilidades constitucionais - são aquelas tratadas diretamente no texto
da Carta Magna, v.g., o § 4 - do art. 14, ou seja, os inalistáveis e os analfabetos
são inelegíveis. Sobre os analfabetos, v er a Súmula nB 15 do TSE, sendo legal a
exigência de comprovação de escolaridade no pedido de registro de candidaturas,
d -Inelegibilidades infraconstiturionais - são as disciplinadas, por exemplo, no art. 1% I,
alínas d e e , da Lei Complementar ne 64/90 (Lei das Inelegibilidades).
e -Inelegibilidades absolutas - referem-se às vedações extensíveis em todo o
território nacional ou a qualquer cargo eletivo. Por exemplo, os analfabetos e
condenados criminalmente com sentença transitada em julgado por crime
eleitoral, no período de 3 (três) anos, após o cumprimento da pena.
O renomado Alexandre de Moraes explica que as inelegibilidades absolutas são
excepcionais e estabelecidas de forma taxativa na Constituição da República. Nesta
análise, apenas haveria as hipóteses dos inalistáveis e dos analfabetos, sendo os
demais casos previstos na Lei das Inelegibilidades, como de inelegibilidade relativa
(página 215 da obra já referida).
f - Inelegibilidades relativas - estão afetas às limitações territoriais geográficas de
uni estado ou município. (Ver lições em José Afonso da Silva e Antônio Carlos
Mendes.) Compreendem-se, no conceito, as inelegibilidades para determinada
eleição, v.g., o cidadão é servidor municipal e não se desincompatibilizou no
prazo de seis meses antes da eleição, ou seja, não se afastou do cargo publico.
Assim, para a eleição que pretende concorrer, é inelegível, mas, para as eleições
futuras, não incidirá a vedação.
Neste tipo de inelegibilidade a previsão normativa está na Constituição da
República ou na própria Lei Complementar n - 64, de 18 de maio de 1990.
A expressão relativa tem o significado específico de restrição ao direito de
ser votado para uma determinada eleição em razão de relações de parentesco,
pela condição funcional do servidor público, seja o militar ou civil, e por motivos
vedatórios do sistema de reeleição e desincompatibilização.

1 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eieitorai. Beio Horizonte: Del Rey, 2000, pp. 149-150.
INELEG1BIHDADES. CONCEITO E
CIASSiFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 1 0

g -Inelegibilidades nacionais - dizem respeito às eleições nos cargos de Presidente


da República e Vice-presidente. A classificação leva em consideração a
circunscrição territorial eleitoral do País,
h - Inelegibilidades estaduais - relacionam-se, exclusivamente, com as eleições de âmbito
estadual (governador, vice-govemador, deputados estaduais e distritais),
i - Inelegibilidades municipais - estão afetas à circunscrição eleitoral do município,
ou seja, da comarca e atingem as eleições de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.
Observação: as inelegibilidades nacionais, estaduais e municipais também levam
em conta o aspecto da relevância temporal,
j - Inelegibilidade reflexa - refere-se ao princípio da contaminação de cônjuge,
parentes, consaguíneos ou afins, até o segundo grau. Atinge o(a) companheiro(a),
os casos de união estável, genros, sogras, cunhados, noras, filhos e netos. Estão
excluídos dos reflexos impeditivos do ius honorum (capacidade eleitoral passiva)
os primos e tios. O art. 14, § 7 q, da CRFB disciplina a hipótese.
Dentro da teorização das inelegibilidades, fala-se ainda em autodesin-
compatibilização (quando é o próprio titular do mandato que se afasta temporária
ou definitivamente) e heterodesincompatibilização, na hipótese de afastamento
do titular do mandato eletivo para não atingir (contaminar a elegibilidade) de um
parente, cônjuge e das pessoas referidas no § 7 9 do art. 14 da CRFB.

10.2 . DESINCOMPATIBIUZAÇÕES
As desincompatibilizaçÕes ou afastamentos podem ser basicamente de duas
espécies: definitivas ou temporárias. A forma definitiva ocorre por renúncia ao
mandato eletivo, pedido de exoneração dos que ocupam funções de confiança, ou,
ainda, a aposentadoria.
O afastamento temporário manifesta-se através da licença especial requerida
por servidores públicos,
A doutrina consagra que a falta de desincompatibilização acarreta a
inelegibilidade. Nesse sentido, Pedro Henrique Távora Niess.2
Leciona Joel José Cândido que a desincompatibilização é a
(...) saída v o lu n tária d e um a p e sso a , em c a rá te r p ro v isório ou p re cário
de d ireito ou de fato, de um cargo, em p reg o ou função, p ú b lica ou
p rivada, pelo prazo exigid o em lei, a fim de e lid ir in eleg ib ilid ad e que,
se rem ovida, im ped e e s s a p e s so a d e c o n c o rr e r a um ou m ais m an d ato s
e letiv o s.3
Na verdade, a incompatibilidade é uma restrição à capacidade eleitoral passiva
(direito deservotado), porque o interessado deixou de providenciar seu afastamento
temporário ou definitivo dentro do prazo legal.

2 Direitos Políticos - Elegibilidade, Inelegibilidade e Ações Eleitorais, 2a ed. São Paulo, Edrpro, p. 165.
3 Inelegibilidades no Direito Brasileiro. 2a ed. São Paulo: Edipro, p. 219.

251
M a r c o s R a m a ya n a D irhíto E leitoral

Tutela-se com a desincompatibilização a isonomia entre os pré-candidatos ao


pleito eleitoral específico, bem como a lisura das eleições contra a influência do
poder político e/ou econômico e a captação ilícita de sufrágio, porque incide uma
presunção ju r e et de ju r e que o incompatível utilizará em seu benefício a máquina
da Administração Pública.
A Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990, disciplina as desincom-
patibilizações como hipóteses de inelegibilidades infraconstitucionais. Desta forma,
as arguições referentes às inelegibilidades estão sujeitas à preclusão ou decadência
de alegação e conhecimento pelos órgãos jurisdicionais. Aplica-se o art. 259 e
parágrafo único do Código Eleitoral.
Registre-se, ainda, que, se a inelegibilidade surgir pela ocorrência de fato
superveniente ao registro do candidato, mesmo não se cuidando de matéria
constitucional, não há que se falar em preclusão da referida inelegibilidade quando
invocada no recurso contra a diplomação. Nesse sentido, Acórdão ns 15.107, Recurso
Especial Eleitoral n- 15.107, Monte Sião - MG. Relator: Ministro Eduardo Alckmin
e Acórdão n 9 11.584, de 14.6.1994, relator o eminente Ministro Pádua Ribeiro. Em
sentido contrário, a inelegibilidade que trata de matéria constitucional pode ser
alegada na diplomação, apesar de não ter sido objeto de impugnação ao registro da
candidatura.
Leciona Pedro Henrique Távora Niess que:
a desincompatibilização evita que se opere a incompossibílidade,
virtualmente existente, da função ou cargo exercido pelo interessado
com a sua candidatura; não a faz cessar, como poderia dar a ideia o
prefixo "des" porque não chegou a incidir.4
É importante salientar que as incompatibilidades de funções previstas no art. 54
da Constituição Federal não dizem respeito às "incompatibilidades" tratadas na Lei
das Inelegibilidades como incapacidades políticas ao deferimento do registro de
candidaturas. Todavia, o termo "desincompatibilização" pode ser utilizado para
designar ambas as hipóteses.
O doutrinador ]osé Afonso da Silva define a desincompatibilização como:
o ato pelo qual o candidato se desvencilha da inelegibilidade a tempo
de concorrer à eleição cogitada. O mesmo termo, por conseguinte,
tanto serve para designar o ato, mediante o qual o eleito sai de uma
situação de incompatibilidade para o exercício do mandato, como para
o candidato desembaraçar-se da inelegibilidade.5
Cumpre frisar, no entanto, que o pré-candidato deve afastar-se temporária ou
definitivamente, através da desincompatibilização.

4 Direitos Políticos - Elegibilidade, Inelegibilidade e Ações Eleitorais. 2a ed. Sáo Paulo: Edipro, p. 164.
5 Curso de Direito Constitucional Positivo. 18a ed. São Paulo: Malheíros, p. 395.

252
in e le g ibilid a d es . c o n c e it o e
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 1 0

Na Espanha, a Lei Orgânica n e 5/ 1 9 8 5 , no art, 155, prevê as incom ­


patibilidades como causas de inelegibilidades. Na Finlândia, a Lei Eleitoral para
o Parlam ento (L k a n s a e d u sta ja in v a a le is ta de 1 3 .6 .1 9 6 9 ), no art. 133, dispõe
que não podem se r eleitos na área dos denom inados círculos eleitorais quem
tenha exercido sua com petência há m enos de seis m eses. Como se vê, estas leis
eleitorais para os Parlam entos dos Países da União Européia disciplinam as
incom patibilidades.
O Tribunal Superior Eleitoral, através de resolução eleitoral, está exigindo nos
formulários de requerimento de registro de candidaturas (RRC) a apresentação da
prova de desincompatibilização, quando for o caso concreto (por exemplo, art. 28,
VIII, da Resolução n 9 21.608, de 5 de fevereiro de 2 004).
Para o eleito, v. g., deputado ou senador ser diplomado ou tomar posse, também
deverá desincom patibilizar-se, conforme previsto no art. 54 da Constituição
Federal, sob pena de perda do mandato eletivo (art. 55, § 2 Q, da Lei Maior). A
mesma regra é repetida nas Cartas Estaduais. No entanto, se um pré-candidato
não deixa de afastar-se e este fato não é alegado no seu pedido de registro, a
questão sim plesm ente ficará preclusa de argumentação (decairá o direito de
invocar-se esta causa de inelegibilidade infraconstitucional). Assim, poderá o
"inelegível” exercer o mandato eletivo, não sendo o caso de ajuizamento de ação
de impugnação ao mandato eletivo ou de recurso contra a diplomação, porque a
m atéria não é considerada de natureza constitucional, incidindo o disposto no
art. 259, parágrafo único, do Código Eleitoral.
P ercebe-se que as "incompatibilidades" podem ser: causas de inelegibilidades
infraconstitucionais ou hipóteses de perda de mandatos eletivos. Assim, o
tratamento legal das desincom patibilizações na ordem jurídica vigente é
diferenciado em relação aos efeitos, pois o term o serve tanto para os casos de
desvencilhamento das inelegibilidades ,6 como pré-requisito para a diplomação ou
o exercício do mandato eletivo. Na prim eira hipótese, o caso será de inelegibilidade
relativa e, na segunda, a sanção é a perda do mandato eletivo. De toda sorte, não
há que se confundir inelegibilidade com incompatibilidade. A inelegibilidade
do candidato é matéria de competência exclusiva do Poder Judiciário (Justiça
Eleitoral), já a incompatibilidade do parlam entar para o exercício de outros
cargos é m atéria de competência do Poder Legislativo, cabendo o posterior e
eventual exame pelo Judiciário quando evidenciada uma violação à ordem jurídica
constitucional.
6 De certo que as inelegibilidades são exceções e formam um direito excepcional e livre da mera dedução.
As inelegibilidades não são presumíveis, mas decorrem de expresso arrimo legrferante, conforme é pacífica a
jurisprudência do egrégio Tribunal Superior Eleitoral. Desta forma, as hipóteses que conduzem à obrigatoriedade de
desincompatibilização defluem da interpretação legal da Lei das inelegibilidades, em consonância com o princípio
da isonomia entre candidatos nos pleitos eleitorais. Nesse sentido, “os objetivos gerais do estabelecimento de
inelegibilidades são, presumidamente, os de repressão às influências corruptoras, no sentido de continuismo pessoal
ou de nepotismo, no exercido do poder. Visa-se assim, portanto, a impedir que determinadas autoridades possam
exercer o seu poder de força e de graça, em benefício de suas próprias candidaturas ou das candidaturas de seus
parentes, para coagir ou corromper o eleitorado” (PACHECO, Cláudio. Tratado das Constituições Brasileiras, 1aed.,
v. IX. São Paulo: Freitas Bastos, 1965, p. 114.)

253
M a r c o s R am ayana D ir eito E leitoral

Como visto, o term o "incom patibilidade” é empregado em duplo sentido, ou seja,


ao obstáculo que surge quanto à apresentação da candidatura, assim como ao que
se opõe à diplomação ou exercício do mandato eletivo. Na doutrina, autores como
Romano e Paolo Biscaretti di Ruffia também fazem expressa menção ao conflito de
interesses ínsito nas incompatibilidades, pois se referem ora à impossibilidade de
ocupação de outro ofício, ora ao pleito das candidaturas.
A toda evidência, o pré-candidato deverá desincompatibilizar-se no prazo fixado
na legislação eleitoral e nos estatutos dos servidores públicos como exigência ao
deferimento do seu registro .7

10.2.1. Contagem do prazo


O prazo alcança o mês completo e deve ser contado segundo preceitua a Lei
n 9 810, de 6 de setem bro de 1949. Nesse sentido são as valiosas lições de Pedro
Henrique Távora Niess.
Leva-se em conta o dia do primeiro turno das eleições, v. g., dia 3 de outubro
de 2 0 0 4 (eleições para prefeito, vice-prefeito e vereadores), primeiro domingo de
outubro. Assim, se o pré-candidato tiver que se desincompatibilizar nos seis meses
que antecedem o dia do pleito eleitoral, deverá afastar-se no máximo até o dia 2 de
abril de 2004, sob pena de tornar-se incompatível e, consequentemente, inelegível
relativamente para a eleição pleiteada.
Nesse sentido:
Data para desincompatibilização de cargo publico - três meses antes do
pleito de 1998 (4 de julho - sábado). Não provimento. 1 .0 candidato ora
recorrido desempenhou as suas funções de agente da Polícia Civil até 3
de julho último, tendo sido afastado a partir do dia 4 subsequente, sendo
forçoso concluir que, efetivamente, afastou-se dentro dos três meses
anteriores ao pleito. 2. O dia 4 de julho (sábado) é a data consignada na
Resolução n9 20.000/97 como sendo de três meses antes do pleito de 4
de outubro próximo. Recurso não provido (Acórdão nfi 252, de 4.9.1998,
Rei. Ministro Maurício Corrêa - TSE).

7 O doutrinador Themfetocles Brandão Cavalcanti ensina que o “registro é exigência de direito forma), interessa ao
Direito Processual Eleitoral e como ele não deve limitar-se o exercício de um direito, mas discipiiná-lo.
Pelo registro, verifica-se a situação do candidato em face da Constituição e das leis eleitorais; apura-se liminarmente
a sua condição.
Por isso mesmo não deve o registro restringir o exercício do direito, mas apenas favorecer e assegurar o seu exercício.
Bem compreendido, é uma garantia para o candidato, cuja elegibilidade se presume pelo registro.
Pretendem alguns que o registro é mero ato administrativo revogável. Entendemos, porém, que é ato administrativo em
sentido matéria! porque constitutivo de direito, e não revogável, senão nos casos e condições em que se revogam os
atos jurídicos - nulidade manifesta, erro, dolo etc.
Muitas vezes é conseqüência de processo contencioso, precedido de contestação. Não há como negar-se ao ato do
Tribunal Eleitoral caráter decisório.
Em todo o caso, o registro cria para o candidato um direito público subjetivo, reconhecendo-lhe qualidade para intervir
no pleito” (A Constituição Federal Comentada. 3a ed., v. III. São Paulo: Editora José Konfino, 1958).

2 54
INELEGIBILIDADES. CONCEITO E
class íf icação . Elegibilidades C a p ít u l o 1 0

10.2.2. Período su sp eito


É o período relativo ao prazo de afastamento que varia entre 6, 4 e 3 meses em
função dos mandatos eletivos que o pré-candidato objetiva conquistar. Dentro do
prazo, o pleiteante ao registro estará em período suspeito.
Os prazos são diferenciados, porque o legislador procurou adotar um critério
relativo à influência política das autoridades no âmbito em que exercem suas
funções. Salienta o eminente doutrinador Themístocles Brandão Cavalcanti que
o mandonismo político é uma tradição enraizada na vida brasileira. De certo que,
a nosso ver, o prazo previsto na Lei das Inelegibilidades deveria de leg e ferendct
ser unificado, pois, na prática, a regra é confusa e cria diferenças entre regras
isonômicas, além de dificultar a aplicação exata da lei.

1 0.2.3. A fastam ento de fato


A averiguação do afastamento efetivo, real ou de fato é suficiente para o
deferimento do registro pela Justiça Eleitoral, pois o que importa não é o formalismo
rigoroso documental da prova da desincompatibilização.
Consagra-se, nesta assertiva, a tutela substancial da preservação da isonomia
entre os aspirantes aos mandatos eletivos.
"(...) Desincompatibilização. Afastamento de fato. Improvimento." Médico
municipal; candidatura a deputado estadual; é suficiente o afastamento de fato; LC
n- 64/90, art. I a, II, 1 (Ac. ns 15.360, de 25 de agosto de 1998, Rei. Min. Costa Porto).
O Tribunal Superior Eleitoral já tem observado, com inteira procedência, que a
comunicação formulada à repartição, após a data limite, é irrelevante para o efeito
da desincompatibilização, pois opera-se no plano fático. A comunicação torna-
se relevante para garantir a percepção de vencimentos. Nesse sentido, Acórdão
ns 12.890, de 11 de setem bro de 1996, Rei. Ministro Eduardo Alckmin. Sobre
a questão do afastamento de fato, ver ainda a decisão no REsp. na 16.595 - PB.
Relator: Ministro Waldemar Zveiter (TSE).
Também não há exigência legal de que o pedido de afastamento seja registrado
em cartório, conforme já decidiu o TSE (Ac. n- 17.406, de 21 de setembro de 2000,
Rei. Min. Fernando Neves).
A contrario sensu, podemos verificar que a fraude ao afastamento factual
acarreta o indeferimento do pedido de registro de candidatura, inclusive, se for o
caso de o beneficiário ser eleito, caberá o recurso contra a diplomação (art. 262, IV,
do Código Eleitoral), ou ainda, a ação de impugnação ao mandato eletivo (art. 14,
§§ 10 e 11, da CRFB), porque, sendo o fato de conhecimento superveniente, poderá
dar margem à deflagração das medidas aludidas, considerando a ilaqueação da
boa-fé da Justiça Eleitoral no exame do pedido de candidatura, com afetação real
ao princípio da isonomia e da lisura do processo eleitoral. Nesta hipótese, não há

255
M a r c o s R a m a ya n a DtRHTO E leitoral

que se falar de preclusão (art. 259, parágrafo único, do Código Eleitoral). Aqui, o
fraudador protocolizou formalmente o seu pedido de afastamento no prazo legal,
mas continuou exercendo suas funções e usando em seu benefício a máquina
administrativa, contaminando e viciando a legitimidade das eleições. Trata-se de
reconhecer, no caso concreto, a inelegibilidade superveniente ao registro como
causa suficiente de nulidade dos votos ao infrator.
Por fim, o pré-candidato deve afastar-se de direito e de fato nos prazos previstos
na legislação, mas a verificação dessa matéria é questão de fato, sendo aplicáveis as
Súmulas n 9 279 do Supremo Tribunal Federal e n e 7 do Superior Tribunal de Justiça.
Assim, o reexame das provas não desafia os recursos extraordinário ou especial.
Sobre o assunto, ver o caso concreto do Acórdão n- 13.488, de 30 de setembro de
1996, Relator Ministro Nilson Naves.
Diferente é a disciplina destinada à desincompatibilização dos candidatos
na eleição complementar. Recentemente, o TSE firmou um precedente que fixou
o prazo de 24h a partir da escolha do candidato pela Convenção Partidária para
a desincompatibilização dos candidatos (Mandado de Segurança n~ 4.171). Tal
decisão foi oriunda da insurgência relativa à fixação, pelo Tribunal Regional, de
prazo diferenciado entre candidatos que concorreram nas eleições anuladas de
outubro e os que só concorreriam na complementar. Para aqueles, o prazo seria
de 24 horas a contar da escolha do candidato pela Convenção; para estes últimos,
o prazo seria o previsto na Lei Complementar ne 64/90, qual seja, meses antes das
eleições de outubro.
0 TSE entendeu que deveria ser fixado um prazo único para todos os candidatos,
em respeito à isonomia, estabelecendo que todos sejam submetidos ao prazo de 24
horas a partir da escolha do candidato em convenção.

256
INELEGIBILIDADES. CONCEITO E
classificação. Elegibilidades C a p ít u l o 10

£
ai oi
T3 CT' *T3 3
4í S- CO^ V5
£ a? <y £Çt *tJ
-n *c5
c S
£O*= í£
fií ;*
£
í. .
5n o -Cí -r-f fií k, A» ss **** o<
S « .5 4, 6!
4) -fl V J>- -O ç 'a_
o
rts *çj
C>^ 5>*a
O«víC 5§ . 2H <M D.CO
a>
^ S2» |Si VT3 I Sd
O
-lí
a>-rj
£ coÈ i r - s £ ro *ST^ Jj OO >41o4»hO
< -o o
£Õ<* .h O
R £ -Ç> <DO ^ O C' j£53 «-g (5 <n O* ,2
'S c 'o •£ *£ *H O ^ £ - *o £ S S «5
^ m .2 5 r? *8.-0 £ *£ « t i•= *õ o ÍS
C TI ■„
<Tj -0)
•a c *3 ^«g £ * 1o3^ '3 -2 S
^ ' 8 -s o &K - C£ o «$:§ ^ £ *v
4^>ze.! ^m = ** s .5S e><tóxT
TABELA REFERENTE ÀS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

>“ S £
O *■* ■*>cí o «, £ M o 'O ,s
"fís -o 2? i2
2£ 2 _r g -a «o —‘< K o .H tf e£ « 3 r*
S*7 -2
o. ■)■ 6
^ <ò.5 s i s > ? s = * i
|tó £ ftí - *t3 _
Cí T3 -*•■§<*>? H * sfl- * vO
^5■j;£ O© ^t 5£ «* £n U o aJ ^ <7v
< £ <o cn < £ c£ < E C£
l - CD O '

ti •ví ó
~S
O ti ,~
<i>
!Ê *’^
*5*0^ £ p«.
-S
O

Xt 4>
8 B <ftVJ
n-s SO

c£ ju
S
x

C>
£t 4
^
3H
H ^
*3<J
S o
O ^3 S 2 oj «
*c «, o ,o
— W
^ so. _c £G -a
<
C 'O o15 <
U
-^3 =>■ 5-1
/.CO £o ^
„ tí 3 2 <3*a fl)
s.S s £ s
a> o* 05
•o -
£|>g. sI
ã-fiS
B s' s< &
01-•
a—
« g:
’ « "2 o>
n 11
t3 1O
*n 4
JS ’ ■a •=
£ —u
t; fí “O S 3
o^c2
A-> oC S £
S o
O a.

257
M arcos
,-/■ PRÉ-CANDIDATO PRAZO o: ; REFERÊNCIA LEGAL .
Art. I 2, 11,5 e Resolução ne 20.623, de 16.5.2000, Relator
4 meses antes da data da eleição para o cargo de prefeito Ministro Maurício Corrêa, Acórdão nB 13.763, de 3.2.1997,
Dirigente síndica!. ou de vereador. Relator Ministro Francisco Rezek, e Resolução nB 19.558, de
16.5.1996, Relator Ministro Diniz de Andrada.

R
a m a y a m a ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6 meses antes da data da eleição para ser candidato a Art. l s, 11, nc 09, e inciso IV, letra a e Acórdão ns 16.947, de
Diretor-técnlco de fundação hospitalar municipal. 21 de setembro de 2000, Relator Ministro Waidemar Zveiter.
prefeito.
6 meses antes da data da eleição para qualquer cargo Resolução na 19.978, de 25 de setembro de 1997, Relator
Magistrado e metnbro do Tribuna! de Contas. eletivo. Trata-se de afastamento definitivo. Ministro Costa Leite.
Não há previsão lega! de afastamento, mas, segundo o
Ator, jogadores de futebol e basquete, árbitro de art. 45, V!, e § l 2, da Lei ns 9.504/97, não podem, a partir
futebol etc. Profissional cujas atividades aparecem na Subsunção legal art. 45, VI, e § 1°, da Lei nfi 9.504/97.
de 1* de agosto do ano eleitora), apresentar ou comentar
mídia. programa.
Art. I 2, inciso IV, a, e Vil, b, da Lei Complementar na 64, de
Secretário executivo da Coordenador ia Municipal de 6 meses antes da data da eleição para a candidatura de 18 de maio de 1990, e Resolução nB 20.631, de 23 de maio de
Defesa Civil. vereador. 2000, Relator Ministro Eduardo Alckmín.
Art. I a, 11, o, 16, da Lei Complementar nB 64, de 18 de maio
4 meses antes da data da eleição para a candidatura de de 1990, e Acórdão ns 13,214, de 18 de dezembro de 1992,
Servidor público. vereador. Relator Ministro Flaquer Scartezzíni.
Servidor público que está nas hipóteses do art. 1°,!!, 6 meses antes da data da eleição para concorrer a Art. I a, ii, a, da Lei Complementar na 64, de 18 de maio de
a, 16, da Lei Complementar n® 64, de 18 de maio de vereador. Não são suficientes os 3 meses exigidos, em 1990, e Acórdão ns 12.761, de 24 de setembro de 1992,
1990. Diretor regional de educação. gera), dos servidores. Relator Ministro Sepúlveda Pertence.
Servidor público que está nas hipóteses do art. I a, II, 6 meses antes da data da eleição para concorrer a Art. I a, II, a, da Lei Complementar na 64, de 18 de maio de
o, 16, da Lei Complementar n4 64, de 18 de maio de vereador. Não são suficientes os 3 meses exigidos, em 1990, e Acórdão na 12.761, de 24 de setembro de 1992,
1990. Diretor regional de educação. geral, dos servidores. Relator Ministro Sepúiveda Pertence.
Art. l s, íí, a, e 16,111, a e IV, o, da Lei Complementar nB 64, de
Coordenador regiona! do lnamps e diretor de 4 meses antes da data da eleição para concorrer a 18 de maio de 1990, e Resolução na 17.974, de 26 de março
programa da LBA. prefeito. de 1992, Relator Ministro Hugo Gueiros.
Art. I a, 11,! da Lei Complementar nfi 64, de 18 de maio
A regra geral é de 3 meses, seja para eleições nacionais, de 1990, e Acórdio n9 14.267, de l fl de outubro de 1996,
Servidor público. estaduais e municipais. Relator Ministro Eduardo Ribeiro.
Art. I a, II, i, da Lei Complementam® 64, de 18 de maio de
Empregado de sociedade de economia mista 3 meses antes da data da eleição para vereador. 1990, e Acórdão nfi 14.392, de 30 de setembro de 1996,
(Petrobrás). Relator Ministro Eduardo Ribeiro.
Servidor público de fato. Empregado de empresa que Acórdão n9 16.723, de 17 de outubro de 2000, Relator
Não está sujeito a prazo de desincompatibilização.
presta serviços ao município. Ministro Fernando Neves.
Art. I 9, ii, 1 e IV, o, da Le! Complementar nfi 64, de 18 de
3 rnteses antes da data da eleição para a candidatura de maio de 1990, e Resolução na 20.611, de 2 de maio de 2000,
Médico do INSS. prefeito ou de vice-prefeito. Relator Ministro Nelson ]obim.

I n e l e g i b i l i d a d e s . C onceito
PRÉ-CANDIDATO REFERÊNCIA LEGAL

3 meses antes da data da eleição para a candidatura de Art. I a, II, d, da Lei Complementar na 64, de 18 de maio
Secretário da junta do serviço militar. de 1990, e Resolução n® 20.618, de 11 de maio de 2000,
vereador ou de prefeito,
Relator Ministro Eduardo Alckmin.

Servidor contratado temporariamente. Agente 3 meses antes da data da eleição para a candidatura de Art. 1B, 11, /, da Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de
censitárlo do IBGE. vereador, 1990, e Acórdão n9 16.759, de 12 de setembro de 2000,
Relator Ministro Garcia Vfeira.

3 meses antes da data da eleição para as candidaturas Art. 1», ii, /, da Lei Complementar na 64, de 18 de maio
Servidor público em cargo de comissão. de 1990, e Resolução nB 20.623, de 16 de maio de 2000,
de prefeito e vereador.
Relator Ministro Maurício Corrêa.

3 meses antes da data da eleição para qualquer Art, 1*, ii, l, da Lei Complementar ne 64, de 18 de maio

e
Assessor especial de ministro. de 1990, e Resolução nB 20.172, de 16 de abri! de 1998,
candidatura.
Relator Ministro Costa Porto,
Servidor do Fisco que tem atribuição para o Art, l fl, 11, d, da Lei Complementar na 64, de 18 de maio de
6 meses antes da data da eleição para os candidatos a
lançamento, arrecadação e fiscalização de impostos, 1990, e Acórdão nB 16.734, de 12 de setembro de 2000,
prefeito e vereador,
taxas e contribuições. Relator Ministro Costa Porto.

3 meses antes da data da eleição para os candidatos a Art. I a, 11, l, da Lei Complementar na 64, de 18 de maio
Titulares de serventias judiciais e extrajudiciais. de 1990, e Resolução n* 14.239, de 10 de maio de 1994,
deputado,
Relator Ministro Pádua Ribeiro.

3 meses antes da data da eleição para as candidaturas Art, I a, II, l, da Lei Complementar na 64, de 18 de maio de
Vogal de Junta Comercial. 1990, e Resolução na 19.995, de 9 de outubro de 1997,
de prefeito e vereador,
Relator Ministro Costa Porto.
Membros de conselhos diretor, fiscal ou consultivo de 4 meses antes do pleito se for para candidaturas de Arts. 1R, iíf, b, 3, fV, a e Vil, b da Lei Complementar ns 64, de
entidade representativa de municípios. prefeito ou vice-prefeito e 6 meses para vereador. 18 de maio de 1990, e Resolução ns 20.643, de 1 B de junho
de 2000, Relator Ministro Maurício Corrêa.
Membros do Ministério Público (Vedação de filiação, 1 ano antes da data da eleição. Adota-se o mesmo prazo ADINs n® 1.377 e nB 1.371 e ADInMC n« 2.084 do Supremo
BC na 45, ver comentários na p. 252). da filiação partidária. Tribunal Federal, e Resolução na 20.836, de 7 de agosto de
2001 (TSE), Relator Ministro Sepúlveda Pertence.
D ireito
E leitoral
260

TABELA REFERENTE ÀS ELEIÇÕES FEDERAIS E ESTADUAIS

Presidente e
Cargo pretendido . Governador c ;
Vice-presidente da Senador Deputado federal Deputado estadual
Função ocupada Vlcc*governador
. . República
6 meses 6 meses
6 meses 6 meses 6 meses
Definitivo Definitivo
Definitivo Definitivo Definitivo
LC n2 64/90, art. 1«, II, a, S LC na 64/90, art. I 2, II,
Advogado-geraS da União LC n2 64/90, art. I», li, o, 5 LCn2 64/90, art. I a, 11, o, 5 LC na 64/90, art. 1*, II, 0,5
c/c III, a a, 5 c/c V!
Não há precedente c/c V, o c/c Vi
Não há precedente Nâo há precedente
específico Não há precedente especifico Não há precedente específico
específico específico
6 meses
6 meses 6 meses 6 meses
6 meses Definitivo
Definitivo Definitivo Definitivo
Definitivo LCn2 64/90, art, 1*, II,
Autarquia Dirigente Res. ns 14.182/94 Res. na 14.182/94 LCn« 64/90, al t, I a, II, o, 9 .
Res. M 14.435/94 a, 9 c/c VI ’
LC n* 64/90, art. 1« II, a, 9 v LC nB 64/90, art. I a, II, o, 9 C / C VI;
LC n2 64/90, art. 1», li, o, 9 Não há precedente ;
c/c III, a c/ c V ,a - Não há precedente específico
especifico
3 meses 3 meses
Chefe de missão Não há precedente Res. n8 14.349/94 Res. nc 14.349/94 Definitivo Definitivo
diplomática específico, LC n® 64/90, art. 1*111, o LC na 64/90, art. l«,V ,o LC n2 64/90, art. 1», II,/ LCna 64/90, art. X», II, /
Res. n2 22.096/05 Res.n« 22.096/05
Chefe do Executivo
6 meses
Reeleição 6 meses 6 meses 6 meses
Definitivo
Desnecessidade Definitivo Definitivo Definitivo
Res. n» 21.053/02 .
Presidente da República ■ Ac. n« 19.178/01 Res. 21.053/02 ■- Res. n2 21.053/02 Res. n» 21.053/02
CF/88, art. 14, § 6a ■
Res. n« 19.952/97 CF/88, art. 14, § 6a CF/88, art. 14, § 62 CF/88, art. 14, § 6a
LC n» 64/90, art. 1®,
CF, art. 14, § 5a LC n* 64/90, art. I 2, § I a LC n« 64/90, art. I a, § I a §12 LC 64/90, art. I 2, § I a

6 meses
6 meses
Definitivo Reeleição 6 meses 6 meses
Definitivo
Res. n2 22.119/05 . Desnecessidade Definitivo Definitivo
Res, n« 22.119/05
Governador. - CF/88, art, 14 § 6a ............ Ac. ne 19.178/01 Res. nE 22,119/05 Res. n2 22.119/05
CF/88, art, 14 § 6®
LC n« 64/90, art, l 2, I!, a, Res. nB 19.952/97 CF/88, art. 14 § 6a CF/88, art. 14 § 6e
LC n2 64/90, art. I a,
10 CF/88, art. 14, § 5a ' LC n« 64/90, art. 12, § 1 2 LC 64/90, art. I a, § 1 *
LC n» 64/90,.a rt 1», § I a
6 meses
Definitivo 6 meses " 6 meses í !->\ . 6 méses
a.
■Definitivo ■ s
Res.n» 21.695/04 Definitivo. Definitivo...................- ' Definitivo’
Res. ns 21.695/04 .
Prefeito CF/88, art. 14, § 6® Res. na 21.695/04, Res. n2 21.695/04
LC n2 64/90, art. 1», ii, a, CF/88,.art. 14, § 6«
Res. na 21.695/04
■CF/88, art,.14i § 6B. , ..
CF/88, art. 14, § 6*
CF/88, art. 14, § 62
§
LC n« 64/90,, art. I a,
LC nfi ,64/90, art. lV § 1® ■' iiC n2 64/90, a rt 1*, § I a LCn2 64/90, art. I a, § I a
LC n« 64/90, art. 1* § I a '

I
Presidente e
Cargo pretendido G overnadore
Vice-presidente da í: i' Senador U ;; ; :, Deputado federal Deputado estadual
Função ocupada Vice-governador í
República
6 meses 6 meses 6 meses
6 meses 6 meses
Chefe dos órgãos de Definitivo Definitivo Definitivo
Definitivo Definitivo
assessoramento direto, LCn2 64/90, art. I a, 11, a, LC nÈ 64/90, art. I a, II, a, LC n» 64/90, art. I a, 11, o,
LC n2 64/90, art. I a, ii, o, 2 LC ns 64/90, art. I 2, II, a, 2
civil e militar, da 2 c/c i II, a 2 c/c V, a 2 c/c VI
Não há precedente c/c VI
Presidência da República Nâo há precedente Não há precedente Nâo há precedente
específico Nlo há precedente especifico
específico especifico específico
6 meses ;.y:y ■fctnes 6s ; ^ ^v; :, 6 meses .
6 meses ■ lyíyí 6 meses. . . . .
Chefe do órgãò de • Definitivo. Definitivo
Definitivo Definitivo
asséssorámentò •. LC n2 64/90, art. 1«, li, a,: LC h2 64/90, art. I a, ii, a; ' ; LC na 64/90, art, l fi, II, o,
LC n2 64/90, art, 1», 11, o,3 LC n« 64/90, árt, l=, II, o,3
de informações da . V • 3 c/c III, a ■ : .• 3 c/c VI. . • .
Não há precedente, c/c Vi .
Presidência da República Nâo há precedente . ' j . Não há precedente ' Não há precedente
específico... . .' . .. Não há precedente específico •'
específico j específico. :. específico
6 meses 6 meses 6 meses
6 meses 6 meses
Definitivo Definitivo Definitivo
Definitivo Definitivo
Chefe do Estado-Maior LCn» 64/90, art. 1* II, a, LC n® 64/90, art. Xa, H, o, LC na 64/90, art. 1®, !!,o,
LC na 64/90, art. 1», II, o,4 LC n* 64/90, art. I a, 11, a, 4
das Forças Armadas 4 c/c III, a 4 c/c V, o 4 c/c VI
Não há precedente c/c Vi
Não há precedente Não há precedente Não há precedente
especifico Não há precedente específico
específico específico específico
6:'m’e ses'^> 'v \ :;;;- 6 meses ; '■/;* í•
'6 mesè i s ^ Wi;ií? 6 meses
Definitivo . Definitivo . : i>efín iti vò'//-".v; ; i :-',yv. v'.!-:•
Chefe do Estado Maior Definitivo ■ Definitivo
L C n*64/ 90,art. I a, II,a,. LC n2 64/90, art. 1», II, o, i LCn2 64/90, art, 1«, I!,o,
da Marinha, Exército e LCn2 64/90, art. l fi, II, o, 6 LCn« 64/90, art. I 2, 11, a, 6
6. c/c 111, a . . 6 c/c V, a
Aeronáutica Nâo há precedente c/c VI ..
Não há precedente . ; Não há.precedente | Não há precedente . i
específico Não há precedeiite específico ;
específico ; ;■-i: e s p e c í f i c o ’■ especifico
6 meses 6 meses 6 meses
6 mèses 6 meses
Definitivo Definitivo Definitivo
Definitivo Definitivo
Comandante da Marinha, LC n« 64/90, art. 1»,!!, o, LC n2 64/90, art. 1«, II, a, LC n« 64/90, art. 1», II, o,
LC n2 64/90, art. 12,H, o,7 LCn2 64/90,art. I a,II, o, 7
Exército e Aeronáutica 7 c/c Hl, o 7 c/c V, a 7 c/c VI
Não há precedente c/cV!
Nâo há precedente Não há precedente Não há precedente
específico Não há precedente específico
específico específico específico
6 meses ■.... 6 meses 6 meses 6 meses
ComandantésdoDistrito
Não há precedente Definitivo i Definitivo ■■'■■■ Definitivo Definitivo ’
Naval, Região Militar e
específico LCn2 64/90, art. 1 « ,III,J. LC n° 64/90, Art. 1*, 111, b, LC n2 64/90, art, I a, Ili, b, LC na 64/90, a r t I a, lfi, i>, 2
Zona Aérea
2 c/c V, b 2 c/c VI c/c VI í;.uí.--V,
Conselho Municipal dos
Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade
Direitos da Criança e do
Res. n° 14.265/94 Res. n2 14.265/94 Res. ne 14.265/94 Res. n« 14.265/94 Res. na 14.265/94
Adolescente

2r-
NJ Presidente e
Cs Cargo pretendido
Vice-presidente da
Governador e '
tsJ Senador Deputado federal Deputado estadual
Função ocupada Vice-governador
República
6 meses 6 meses 6 meses 6 meses
6 meses
Definitivo Definitivo ■ Definitivo • ’’ Definitivo ...
Definitivo
Córisúítór Géral d a; ■: LC n2 64/90, art, I a,. II, LC.n« 64/90, art,1«, II, a, 5 LCn« 64/90, art, 1« II, a, LC n® 64/90, a r t .P , II, o,
LC n2 64/90, art. 1», Ii, a, 5
República /'"■/■ c/c in, a 5 ic /c V, à ' 5 c/c VI
c/c VI
Não há precedente ■■ N5o há precedente . Não há precedente. . . . . Não há precedente
específico específico •: Não há precedente específico
específico específico' .
3 meses 3 meses
Não há precedente Não há precedente Não há precedente
Defensor público Res. 21.074/02 Res. na 21.074/02
específico especifico específico
LC n®64/90, artv I a, II, /c/c VI LC n« 64/90, art. I a, 11, /c/c VI
3 meses .-■■■■
Não há precedente Nâo há precedente • Não há precedente Não há precedente
Delegado de polícia. Ac. n® 210/98
específico • específico especifico específico
LC n® 64/90, art. I a, 11, /c/c VI
6 meses 6 meses 6 meses 6 meses
6 meses
Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo
Definitivo
Empresa pública - LC na 64/90, art, 1», ii, LC n® 64/90, art. 1», 11, a, 9 LC nD64/90, art. 1®, 11, o, LC n® 64/90, art. 1®, 11, a,
LC nfl 64/90, a rt 1°, il, o, 9
Dirigente a, 9 c/c Ul, a 9 c/c V, a 9 c/c VI
c/c V!
Não há precedente Nâo há precedente Não há precedente Não há precedente
Nâo há precedente específico
específico especifico específico específico
Empresas que, pelo
âmbito e natureza de 6 meses ■ -> 6 meses ■ 6.meses . ■

6 meses '-
suas atividades, possam •; :; LCn2 64/90, art. i sj i , e, ; :. LC n« 64/90/art. I 2, H, é • LC ^ 64/90, art, 1», 51, e 6 meses ; - vi
LCn® 64/90, art. 1 E, II, e
influir na economia- c/c III, ít c/ cV ,a \ ;'- ' LC na 64/90, art. 1», II, e c/c VI
Nâo há precedente . ■
nacional - Dirigente (L e i: Nàò há precèdeiite Não há precedente Não há precedente Não há precedente específico
específico'
n2 8.884/94, que révogoú a específico específico . .. específico >
Lei n2 4.137/ 62) • •
Empresas que atuem
<4 no Brasil, em condições
monopolísticas -
6 meses 6 meses 6 meses
Controladores que não 6 meses
IC n* 64/90, art. 1», LC n® 64/90, art. 1», 11,/, LC n® 64/90, a r t 1*, U ,f 6 meses
apresentarem prova da LC n® 64/90, art. 1«, II,/
c/c III, a c/c V, a c/c VI LC m» 64/90, art. 1», II./c/c VI
cessação do abuso do Não há precedente
Não há precedente Não há precedente Não há precedente Não há precedente específico
poder econômico apurado especifico
específico específico específico
ou de que transferiram
o controle das referidas
empresas

. Presidente e
Cargo pretendido. , Governador e Deputado estadual
VJce-prcsidente da Senador Deputado federai
Função ocupada :; Vlce-govemador
. República
Empresas que tenham, v-g
objetivos exclusivos de. ::
m
r- m
operações financeiras é ; ;. 6 ineses ■ . ... .. .i . 6 meses 6 meses • rn *w
façam publicamente ápèlò r 6 meses •• . ■
LC n® 64/90, art. 1®, II, h, LC n» 64/90, art. I 4, ü, h, : LC n* 64/90, art. I a, If,h , 6 meses on
à poupançaèaocrédito, LCn2 64/90, art. 1», !i, h ■
c/ cIII,« : ... c/c V, a ,, , c/c VI LC ns 64/90, art. 1«, 11, ft, c/c VI 52 «z
inclusive cooperativas .' - Nãõ.há precedente . Não há precedente Não há precedente ■. Não há precedente específico Co
Não há precedente
e estabelecimentos q u e.• especifico
específico :. específico ■. específico os
gozem de.v a n ta g en s.. . , èpiS>-
asseguradas.pelo poder; . </>m
público - Dirigente,{ . ;
Entidade de classe {Dirigente, administrador ou representante)
CREA (presidente) 6 meses
Anuidades e taxas que se Não há precedente Não há precedente Não há precedente Não há precedente
Ac, n* 290/98
enquadram no conceito de específico específico específico específico
LC n» 64/90, art. 1», II, d , c/c VI
contribuição parafiscat.
4 meses 4 meses 4 meses
4 meses 4 meses
Res. n» 21.041/02 Res.n0 21.041/02 Res. na 21.041/02
Dirigente sindical Res n« 21.041/02 Res. n® 21.041/02
LC 64/90, art. 1», ii,^r, c/c LC n2 64/90, art. 1«, ii,^, I,C 64/90, art. 1» 11, 0 ,
LC 64/90, art. 1», II, g LC n® 64/90, art. 1«, II, g, c/c Vi
111,0 c/c V, a c/c VI
4 meses 4 meses 4 meses
4 meses 4 meses
Dirigente sindical nâo Ac. 622/02 Ac. n= 622/02 Ac. n» 622/02
Ac. n® 622/02 Ac. n® 622/02
remunerado LC 64/90, art. 1»,H,0, c/c LC n« 64/90, a r t 1», II,g . LC n® 64/90, art. 1», fi,5 <
LC n» 64/90, art. 1 » ,\\,g LC n* 64/90, art. 1», II,g , c/c VI
III, a c/c V, a c/c VI
4 meses 4 meses
4 meses
Não há precedente Nâo há precedente Res. n4 20.15 5/98 Res. n® 20.155/98
Entidade patronal estadual Res. 20,155/98
especifico específico LCn» 64/90, art. l 2,H,jg, LC n® 64/90, art. 1®, 11, g,
LC 64/90, art. I a, 11, 0 , c/c VI
c/c V, a c/c VI
4 meses 4 meses 4 meses
4 meses
4 meses Res. n» 22.168/06 Res. n5 22.168/06 Res. n» 22.168/06
Entidade de classe em geral Res. n® 22.168/06
LC n® 64/90, art, 1°, II, g LC n® 64/90, are. I 2, U,g, LC n® 64/90, art. 1», 11,5 , LC 64/90, art. 1», » ,£ ,
LC n® 64/90, art. 1», 11, 0 , c/c VI
c/c Hi, o c/c, V, a c/cV!
4 meses
4 meses
4 meses Res.n® 21.041/02
Res. n® 21.041/02 4 meses
Entidade patronal nacional Não há precedente Res.n» 21.041/02 Res. n® 20.018/02
Res. n« 20.140/98 Res. n2 20.140/98
(CNI ou CNC) específico LCn» 64/90, art. 1»,II ,g , Res. n« 20.140/98
LC n» 64/90, art. 1», i l,g, LC n» 64/90, art. I a, 11, 0 , c/c VI
c/c III, a LCn» 64/90, art. 1°, 11,g,
c/c VI
c/c V, a

Is5
C'
W
264

M
Presidente e
Cargo pretendido Governador e

a rcos
7 Vlce-presldente da ; Senador Deputado federai Deputado estadual
FnnçSoocupada Vicè-governador
Republica
Não há precedente Não há precedente Não há precedente Não há precedente Desnecessidade
Motorista de sindicato
específico específico especifico específico Ac. n® 181/98

R

a m a y a n a ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4 meses
4 meses 4 meses
4 meses Ac. n® 14.316/96 4 meses
Ac. n® 14.316/96 Ac. n® 14.316/96
Ac. n® 14.316/96 Res. n® 16,551/90 Ac. n® 14.316/96
OAB Res. n® 16.551/90 Res. n® 16.551/90
Res.n» 16.551/90 Ac. n® 11.206/90 Res. n® 16.551/90
LC n® 64/90, art. 1°, )l,g, LC n® 64/90, art. 1®, 11,0,
LC n® 64/90, art. 1», II,g LC n5 64/90, art. I 2, II, g, LC 64/90, art. 1®, 11, g, c/c VI
c /c 111, a c/c VI
c/c V, (i
4 meses
Não há precedente Não há precedente Não há precedente
SESI e SENAI Res. n® 20.018/02 Não há precedente específico
específico específico especifico
LC n® 64/90, art.
6 meses LC n« 64/90, art. 1», II,«, 9, LC ns 64/90, art. 1®, II, a, . LC n« 64/90, art. 1®, 11, a,
LC n* 64/90, art. 1», 11, a, 9,
Eritídãde mantida pelo •', LC na 64/90, art. l« ,H ,a ,9 c/c 111, a 9, c/c V, a 9, c/c V!
c /c VI
Pòder Público - Dirigente7 ■ Não há precedente Não há precedente . Não há precedente Nâo há precedente
Não há precedente especifico
espèdfíçó •^ especifico específico especifico
Entidade que mantenha
6 meses 6 meses 6 meses
contrato com o Poder 6 meses
LC n® 64/90, art. 1», il, i, Res. n® 20.116/98 Res. n® 20.116/98 6 meses
Público ou sob seu LC n® 64/90, art. 1°, II, /
c/c 131, a Ac. n2 20.069/02 Ac. n® 556/02 LC na 64/90, art. 1®, 11, /, c/c VI
controle, salvo contrato Não há precedente
Não há precedente LC 64/90, art. 1®, II, í, c/c LC n* 64/90, a r t . l M U Não há precedente específico
com cláusulas uniformes - específico
específico V, o c/c Vi
Dirigente
Membro de conseiho de 6 meses 6 meses
administração de empresa Não há precedente Não há precedente Res. n® 20.116/98 Res. n® 20.116/98
Não há precedente específico
concessionária de serviço específico específico LC 64/90, art. I 5, II, í, c/c LC n« 64/90, art. 1», IE, í,
público federal V, a c/c VI
6 meses
Sociedade civil que
Ac. n® 20.069/02.
mantém contrato de
Não há precedente Não há precedente Candidatura a suplente de Não há precedente
prestação de serviços Não há precedente específico
específico específico senador específico
de assistência social no
LC n« 64/90, art. 1®, II, í,
município
c/c V, a
6 meses
Não há precedente Não há precedente Ac, n® 19.988/02 Não há precedente
Contrato de publicidade Não há precedente especifico
específico específico LC n® 64/90, art, l * ,l i,í , específico
c/c V, a

r-x
6 meses
Presidente de empresa Não há precedente Não há precedente Não há precedente Ac. na 15.396/98
Não há precedente específico
municipal especifico específico específico LC 64/90, art. 1», II, /,
c/c VI

c
.

i n e l e g i b i l i d a d e s . C onceito
Presidente e
Cargo pretendido Governador e
Vice-presidente da Senador Deputado federal Deputado estadual
Função ocupada Vicc-govemador
República
Fundação de direito
Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade . Desnecessidade
privado não mantida pelo
Res.n® 22,169/06 Res. n« 22.169/06 Res. n«-22,169/06- Res, na 22.169/06 Res. n® 22.169/06
Poder Público - Dirigentes
Fundação de
6 meses 6 meses 6 meses 6 meses 6 meses
direito privado que
Res. rs® 14.153/94 Res.n® 14.153/94 Res. n« 14.153/94 Res. n® 14.153/94 Res. n® 14.153/94
receba subvenções
LC n* 64/90, art. 1», LC n* 64/90, art. 1®, II, a, 9, LC n» 64/90, art. 1®, II, o, LC n« 64/90, art. 1 M l, o, LC n® 64/90, art. 1®, II, a, 9,
imprescindíveis à sua
II, a, 9 c/c II!, a 9, c/c V, a 9, c /c Vi c/c V!
existência - Dirigente
Fundação de direito ..

e
privado vinculada a . ..
Desnecessidade. . Desnecessidade . Desnecessidade ; Desnecessidade .: Desnecessidade
partido político/mantida
Res. n® 20.218/98 Res. n® 20,218/98 Res.n® 20.218/98 Res.n® 20.218/98 Rés. ri® 20.218/98
exclusivamente com v
Res. na 21.060/02 Res.n® 21,060/02.. Res. n® 21.060/02 Res. n® 21.060/02 Res. n® 21.060/02
recursos do Fundo . . Jí;
Partidário Dirigente ■....
6 meses 6 meses 6 meses 6 meses
Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo 6 meses
Fundação pública - LC n® 64/90 art. 1®,Ü, LC n® 64/90 art. 1®, I!, a, 9 LC n® 64/90 art. 1®, II, a, LC n8 64/90 art. 1®, II, a , Definitivo
Dirigente o,9 c/c líi, o 9 c/c V, a 9 c/c VI LCn® 64/90 art. 1®, II,a, 9 c/c VI
Não há precedente Não há precedente Não há precedente Não há precedente Nâo há precedente específico
especifico específico específico específico
6 meses .
Não há precedente ■ Não há precedente . Não há precedente
Gabineteclvil- chefe; Ac. n« 19.987/02 Não há precedente específico '
especifico' específico • específico
LC n® 64/90, art. 1®, III, 6,1
6 meses 6 meses 6 meses 6 meses 6 meses
Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo
Res. n® 20.539/99 Res. n« 20.539/99 Res. n® 20.539/99 Res. n« 20.539/99 Res. n® 20.539/99
Magistrado
Res. n® 19.978/97 Res. n* 19.978/97 Res. n® 19.978/97 Res. n® 19.978/97 Res. n® 19.978/97
LC n® 64/90, Art. 1», LC n® 64/90, Art. 1®, il, a, 8, LC n® 64/90, Art. 1®, li, a, LC n® 64/90, Art. 1®, II, a, LC n« 64/90, Art. 1®, 11, a, 8, c/c
II- a, 8 C/C III, fl 8, c/c V, a 8, c/c VI VI
Ac. n® 20.169/02
Ac. n® 20.318/02 Afastamento règído pe!o art. 14,
Não'há precedente Não há precedente Não há precedente
Militar ■' : ■ Afastamento regido pelo § 8®, da CF/88
específico - r- especifico específico ':
art. 14, § 8®, da CF/88 Inaplicábilidade.do art. 1®, I!, 1,
da LC n« 64/90,
6 meses
6 meses
6 meses Definitivo
6 meses Definitivo 6 meses
Definitivo Res. »® 14.319/94
Ministério Público - Definitivo Res.n® 14.319/94 Definitivo
Res. n® 14.435/94 Ac. n» 647/02
Membros Res. n® 14.435/94 Res.n» 14.435/94 Res.n® 14.319/94
LCn® 64/90, art. 1®, ii Res. n® 14.435/94
LC n® 64/90, art. 1®, li,/ LC n® 64/90, art. 1®, 11,/, LC n® 64/90, art. 1®, 1!,/, c/c V!
c/c III, 0 LCn9 64/90, art. 1®, 11,;,
D

c/c V, o
c/c VI
ireito
265

e leito r a
Presidente e
Cargo pretendido Governador é
Vice-presidente da Senador Deputado federal Deputado estadual
Função ocupada Vice-governador,
República
6 meses - 6 meses 6 meses . .., ■ 6 m ese s: 6 meses
Definitivo , Definitivo . Definitivó Definitivo . .. . Definitivo .
Ministros de Estado
LC n» 64/90, art. I a, II, : LC nB 64/90, art. 1«,H, oj LCn2 64/ 90,art. I a, 11,a, LC ns 64/90, art. 1«, II, a,' LC ns 64/90, art, I a, II, o, 1 ■■■.:
0,1 • 1, c/c 111,0 1 C/C V, 0 ' : 1 c/c VI: c/c V3
Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade
Parlamentar Res. n» 19.537/96 Res. n» 19.537/96 Res. n» 19.537/96 Res. na 19.537/96 Res. nB 19.537/96
Res. n« 21.704/04 Res. na 21.704/04 Res. n» 21.704/04 Res. 21.704/04 Res. na 21.704/04
Desnecessidade . Desnecessidade Desnecessidade . Desnecessidade Desnecessidade
Ac. na 192/98 Ac.n! 192/98 : : Ac, ba 192/98 Ac. na 192/98 . Ac. n* 192/98
Partido político - Dirigente.
Res. n» 20.219/98 . Res. na 20.219/98 Res. n® 20.219/98 ; Res. na 20.219/98 • Res. na 20.219/98
Res, nfi 20.220/98 .. . Res. n* 20.220/98 Res. na 20.220/98 Res. na 20.220/98 Res. na 20.220/98 -
6 meses 6 meses 6 meses 6 meses 6 meses
Poiícla Federal - Diretor- Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo
geral LC na 64/90, art. 1« 11, LC na 64/90, art. 1# II, o, LC n° 64/90, art. 1°, 11, a, LC na 64/90, art. I a, II, a, LC ^ 64/90, art. I a, II, a, 15
0 ,1 5 15, c/c III, o 15 c/c V, o 15 c/c VI c/c Ví
Profissional cuja atividade
é divulgada na mídia . ;
(a exemplo, de atores,; Desnecessidade. Desnecessidade Desnecessidade, . Desnecessidade Desnecessidade ,■ ; . .
Jogadores de basquete y.-'; Rés. ri® 20.243/98 , Res. n« 20.243/98 . . : V ' Res. na 20.243/98 Rés. n» 20.243/98 Res. nfi 20.243/98 ' . '-'V-:::;?
ou futebol/ árbitros de ;' i <
futebòl) . ..
6 meses 6 meses 6 meses 6 meses 6 meses
Reitor de universidade
Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo
pública, federa) ou
Res. n* 22.169/06 Res. na 22.169/06 Res. na 22.169/06 Res. na 22.169/06 Res. n* 22.169/06
estadual, de natureza
LCn» 64/90, art. I a, 11, LC n« 64/90, art. 1», íl,a, LC na 64/90, art. I a, II, a, LC na 64/90, art. I a, íi,c , LC n* 64/90, art. 1», li, o, 9, c/c
autárquica ou fundacional
a, 9 9, c/c III, o 9, c/c V, o 9 , c/c VI VI
6 meses .6 mese ÍUi WÍ S íò i: 6 tnes èsjio': ■í í ^
6 meses • . 'f r m e S ^ í i y ^ ^ ;,c í‘ í;í; ®
Definitivo 0 efi nitívòiííi' iíi'‘-í’ Definitivo. .
Definitivo í:- Definitivo
LC n« 64/90, art. 1», li, LC na 64/90, art. I a, II, a, .- LC IIa 64/90, ai-t. 1«, II, a,
Secretário de Estado Res; n» 20.156/98 LC nB 64/90, art. I a, II,«, 12
a. 12 • 1 2 :c _i2
LC na 64/90, art. I a, II, a,
Nâo há precedente,. . Não há precedente , Não.hápre c« den t e ; - , ; i;
12 c/c III,o Nâo há precedente específico
específico . ■ específico específico -
6 meses 6 meses 6 meses
Secretários-gerais, 6 meses 6 meses
Definitivo Definitivo Definitivo
executivos, nacionais, Definitivo Definitivo
LC ns 64/90, art. 1 M U , LC na 64/90, a rt I a, II, o, LC na 64/90, art. 1», II, o,
federais dos Ministérios e LC n* 64/90, a rt I a, II, LCn» 64/90, art. I a, II, a, 16
16 c/c III,o 16 c/c V, a 16 c/c VI
pessoas que ocupem cargos o, 16 Nâo há precedente c/c VI
Nâo há precedente Não há precedente Nâo há precedente
equivalentes especifico Não há precedente específico
específico específico específico

Presidente e
Cargo pretendido Governador c
Vice-presidente da Senador ' Deputado federal : Deputado estadual
Função ocupada
República
Vice-governador 0£ sr*
6 meses 6 meses 6 meses
Secretários municipais 6 meses- kS
ou membros de órgãos
Não há precedente.
Definitivo
Definitivo, ’ . . Definitivo Definitivo PS
especfflco LCiiD64/90,’a r t l e, 02, b, LC nB 64/90, art. 1*, III, b, LC na 64/90, a r t I a, III, b. 4,
congêneres LC n* 64/90, art. I a, 111, b, 4
4 c/c V, b 4 c/c VI c/c VI oo
Servidores públicos, 3 meses 3 meses 3 meses
3 meses 3 meses ãz
estatutários ou não, dos
Remunerado
Remunerado Remunerado Remunerado
Remunerado cn
órgãos da administração Ac. n« 14,267/96 Ac, na 14.267/96 Ac. nc 14.267/96 OB
direta ou indireta da União,
Ac. na 14.267/96
Res. na 20.623/00 Res. ns 20.623/00 Res. na 20.623/00
Ac, na 14.267/96 H
OO
Res. n8 20.623/00 Res. na 20.623/00
Estados, DP, Municípios e IC ns 64/90,art. I a, li,/, LC n*> 64/90, art. I a, II, /, LC n® 64/90, a r t I a, II, /, C/k frt
LC na 64/90, art. I a, ii, ! LC na 64/90, a r t 1®, II, /, c/c VI
Territórios. c/c III, a c/cV, o c/c VI
3 meses 3 meses 3 meses 3 meses 3 meses
Definitivo (Contrato Definitivo (Contrato Definitivo (Contrato Definitivo (Contrato Definitivo (Contrato
Agente comunitário de
temporário) temporário) temporário) temporário) temporário)
saúde
Remunerado (Efetivo) Remunerado (Efetivo) Remunerado (Efetivo) Remunerado (Efetivo) Remunerado (Efetivo)
Res. n» 21.809/04 Res. na 21.809/04 Res. n« 21.809/04 Res, na 21.809/04 Res. n« 21.809/04
Não há precedente N3o há precedente Nâo há precedente Não há precedente 3 meses
Agente de polícia
específico específico especfflco específico Ac. nfl 252/98
3 meses 3 meses 3 meses 3 meses 3 meses
Agente penitenciário
Ac. na 173/98 Ac. na 173/98 Ac. na 173/98 Ac. na 173/98 Ac. na 173/98
Não há precedente Nâo há precedente Não há precedente Não há precedente 3 meses
Auxiliar de enfermagem
específico específico específico específico Ac. n2 559/02
3 meses 3 meses 3 meses
Empregado de sociedade Não há precedente Não há precedente
Remunerado Remunerado Remunerado
de economia mista específico específico
Ac. n° 15.459/98 Ac. nB 554/02 Ac. na 15.481/98

Não há precedente 3 meses


Não há precedente Não há precedente Nâo há precedente
Médico Ac, na 11.445/90
específico específico específico específico
Ac. na 15.360/98
Presidente de programa de 3 meses 3 meses 3 meses 3 meses 3 meses
desestatização Res. na 20.171/98 Res. na 20,171/98 Res. nfi 20.171/98 Res. na 20.171/98 Res. n« 20.171/98
Afastamento hábil para Afastamento hábil para Afastamento hábil para Afastamento hábil para Afastamento hábil para cumprir
cumprir o prazo de filiação cumprir o prazo de filiação cumprir o prazo de filiação cumprir o prazo de filiação o pra20 de filiação partidária
Servidor da Justiça
partidária (1 ano) partidária (1 ano) partidária (1 ano) partidária (1 ano) (1 ano)
Eleitoral
Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo
Res. na 22.088/05 Res. n« 22.088/05 Res. nB 22.088/05 Res, na 22.088/05 Res. na 22.088/05
Servidor da Secretaria Não há precedente Não há precedente Não há precedente Não há precedente 3 meses
Municipal de Saúde específico específico especifico específico Ac. n® 11.444/90
H
C
tsJ Presidente e
ON Cargo pretendido Governador e
00 Vice-presidente da Senador Deputado federal Deputado estadual
Função ocupada Vice-governador
República

3 meses 3 meses 3 meses 3 meses


3 meses
Servidor de escola ou Remunerado (Efetivo) Remunerado (Efetivo) Remunerado (Efetivo) Remunerado (Efetivo)
Remunerado (Efetivo)
universidade pública Definitivo (Comissionado) Definitivo (Comissionado) Definitivo (Comissionado) Definitivo (Comissionado)
Definitivo (Comissionado)
Res. n8 21.097/02 Res. n* 21.097/02 Res. n® 21.097/02 Res. r>®21.097/02
Res. n® 21.097/02
Ac. n» 646/02
Servidor do Poder Não há precedente Não há precedente 3 meses Nâo há precedente
Legislativo especifico específico Res. n« 20.181/98 Não há precedente específico
específico
Nâo há precedente Não há precedente Não há precedente 3 meses 3 meses
Titular de cartório
específico específico específico Res. n® 14.239/94 Res. n® 14.239/94
6 meses 6 meses
6 meses 6 meses 6 meses
Servidor ptiblico Ocupante Sem remuneração Sem remuneração \ Sem remuneração
Sem remuneração Sem remuneração
de cargo efetivo ou em . Res.n» 19.506/96 Res. n® 19.506/96 Res. ns 19.506/96
Res. n8 19.506/96 Res.n8 19.506/96
comissão relativo a ' Remuneração - 3 meses Remuneração - 3 meses Remuneração - 3 meses
Remuneração - 3 meses Remuneração - 3 meses
arrecadação e fiscalização Res. n® 18.136/92 Res. n® 18.136/92 Res. n« 18.136/92
Res. n® 18.136/92............... Res, n® 18.136/92 . . .
de impostos, taxas.e Remuneração integral . ■; Rés. n® 20.145/98 . Res. na 20;i45/98 Res. n® 20.145/98
Res. n® 20.145/98
contribuições ST/, Resp. n« 58.129/SP Ac. n* 335/98 Ac. n® 1 0 8 / 9 8 ...
Remuneração integral Remuneração integral ■
Remuneração integral Remuneração integral
LÇ nB 64/90, art; 1®, H, rf :í ST}, Resp. n® 58.129/SP. ST), Resp. n® 58.129/SP
STJ, Resp. n® 58.129/SP ; v STJ, Resp. n® 58.129/SP -
» Servidor público ocupante de cargo em comissão
3 meses 3 meses 3 meses 3 meses
Membro de direção escolar Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo Não há precedente específico
Res. n® 21.097/02 Res. n® 21.097/02 Res.n» 21.097/02 Res, nfi 21.097/02
3 meses
Assessoria extraordinária Nâo há precedente Não há precedente Não há precedente
Definitivo Não há precedente específico
do governo específico específico específico
Ac. n® 19.987/02
Ocupante de cargo em 3 meses 3 meses 3 meses 3 meses 3 meses
A comissão por tempo certo Remunerado Remunerado Remunerado Remunerado Remunerado
não demissível ad nutum Res. nB 4.355/94 Res. n® 14.355/94 Res.n® 14.355/94 Res. n® 14.355/94 Res. n® 14.355/94
Assessor especial de 3 meses 3 meses
Não há precedente Nâo há precedente
ministro Definitivo Definitivo Não há precedente específico
específico específico
Res. n» 20.172/98 Res. n® 20.172/98
Servidor público ocupante 3 meses 3 meses 3 meses 3 meses 3 meses
de cargo em comissão em Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo
geral Res. n® 20.623/00 Res. n® 20.623/00 Res. d » 20.145/98 Res.n® 20.145/98 Res.n® 20.145/98
a
i
H
o
tTÍ

Presidente e
Cargo pretendido Governador c
Vice-presidente da Senador Deputado federal Deputado estadual
Função ocupada República
Vlce-govemador Q2
Ocupante de cargo em comissão de nomeação pelo Presidente da República sujeito ã aprovação pelo Senado Federal
3 meses 3 meses 3 meses
So I2
Chefe de missão Não há precedente Não há precedente Definitivo Definitivo ; Definitivo
diplomática especifico. específico Sem remuneração : Sem remuneração. Sem remuneração
Res.nü 22.096/05 Res. ns 22.096/05 ' Res. n® 22.096/05
OQ
c2o ^
2
Cargo comissionado
Definitivo . Definitivo Definitivo . . . . . . Definitivo .. Definitivo ' Cn
por tempo certo, não
Res. n* 14.355/94 Res. n* 14.355/94 Res.n® 14.355/94 Res. n® 14.355/94 Res.ii® 14.355/94 o
>E
demissível a d nutum oo
6 meses 6 meses ■,=. 6 meses ,
6 meses .-v. ■ 6 meses
Conselho Administrativov.; Definitivo Definitivo ; ■: : Definitivo.
Definitivo ■■ Definitivo
de Defesa Econômica Res. n® 14.435/94 Res. n® 14.435/94 Res. n® 14.435/94
Res. n® 141435/94 Res, n« 14.435/94
(membros) LC n» 64/90, art. I a, 11, ii, LCn® 64/90,art. 1 * ,II,b LC n® 64/90, art. 1®, 11, fc
LC n® 64/90, art. 1®, II, b LCn® 64/90, art. 1®, 11, b c/c VI
c/c III, a ■ C /C V .O ' ■c/c
3 meses
3 meses
Remunerado
Não há precedente Não há precedente Não há precedente Remunerado
Vogal de Junta Comercial Res. n» 19.995/97
específico específico específico Res. n® 19.995/97
LCn® 64/90, art. 1®, II,/
LC n® 64/90, art. 1®, II, /c/c VI
c/c Vi
6 meses 6 meses 6 meses ... 6 meses.
Sociedade de assistência a Não há precedente Resolução n® 20.645/00 . Resolução n® 20.645/00' Resoiução n® 20.645/00 ^ Resolução ii® 20.645/00
municípios - Dirigente específico LC n® 64/90, art. 1®, III, : LCn8 64/90, art. 1®, 111,i>, LCn® 64/ 90,art. 1®, 111,b, LC n® 64/90, art. 1®, III, b, 3
b, 3 ' 3 c/c V, fi . 3 c/c VI • c/c vi
6 meses 6 meses 6 meses
6 meses 6 meses
LCn® 64/ 90,art. 1*,U, <7,9 LC n® 64/90, art. 1®, II, c, LC n« 64/90, art. 1®, II, a,
Sociedade de economia LC n« 64/90, art. 1®, 11, o, 9 Res. n® 20.060/02
c/c, III, a 9 c/c V, a 9 c/c V!
mista - Dirigente Não há precedente LC n® 64/90, art. 1®, H,o, 9
Não há precedente Nâo há precedente Não há precedente
específico c/c VI
específico específico específico
6 m eses. 6 meses 6 meses 6 meses . . . . 6 meses . . ; :j
Tribunal de Contas d a,■ Definitivo Definitivo Definitivo Definitivo. Definitivo .
União, dos Estados.e;<io .. . Res. n® 20Í539/99 Res. n® 20.539/99 . Res. n® 20.539/99 Res, n® 20.539/99 Res. n® 20.539/99
Distrito Federal - Membros LC n»:64/90, art. 1®, II, LCn® 64/90, art. 1®, II,a, LC n® 64/90, art. 1®, IX, a, LCn» 64/ 90,art, 1®, II,a, LCn® 64/90,art; 1®, II,a, 14 ;
o, 14 14 c/c III, a 14 c/c V, a 14 c/c VI c/c VI :
Vice-chefe do Executivo
Desnecessidade para
titular
Vice-presidente da Res.n® 20.889/01 Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade Desnecessidade
República que não
substituiu o titular nos 6
Ac. n® 20.144/98
LC n® 64/90, art. 1®, § 2®
Res. n® 20.889/01
Res. n® 20.144/98
Res.n® 20.889/01
Res. n® 20.144/98
Res. n® 20.889/01
Res, n® 20.144/98
Res. n® 20.889/01
Res. n® 20.144/98 o
meses nem o sucedeu Desnecessidade para vice LCn» 64/90, art. I 8, § 2® LC n® 64/90, art. 1®, § 2® LC n® 64/90, art. 1®, § 2® LC n® 64/90, art. 1®, § 2®
Res. n« 20.547/97
CF/88, art. 14, § 5®
to
CN
\D
M a r c o s R am ayana D ir eit o E leitoral

o o ,
*0<J* rt
^3 co '
LO ^
B Q 't V-
í> O o> j,* í/3 to '
^ CO ON o
o <o H ^ (fi o « ^ '-í g Hl ^ CO , \D \0
rA O © Tà zi o* o o o ri ? o £
CM CM N 3 S 5*" N N N ^ *> 5 ^ «
' • b 'b |
s 3 v ü v b.
o ac. \D a

O O O
o * C» _jí CM l/i ^ *o <v m w -í1 f3
co oj ^ CO O ^ co O
th 5* co
Çt O
CD H O O H 2 § g 05 vO W O s s ^ \C\D H
tH o O o d d s , M O O •
N N N M M N t* s s N N N
.& ? í ^
a " c c co . co £ *3 "í «C2 c . CO
«C> w. w. co
^ w a>
\o cí o: u
\
s *§ jjj cíw utu
oQ
w '*-* £<ã u ü <y ía .
Q i

Ç.Ç.W» o o ,
Ç' C' ^ O tfv , CT\ un gj O O çr*
CO O ^ ' r-i ^>eo 3
O sO t~< CO ^ H ° ^ í » . « < 5 rj
r*i O o o o o 2^. N ^ O j HÒÒ
™ <M CvJ o j r* ca ■** r-j c\j cs
« S « ”
w
«> s:. c. CO
co 4j C = ». c 2
C
c m o)fc
</> c/j ^
\D C£ C£ O
s%
v0 Q 1
Q> Q) 41 U
££ c£ c£
£ *
vo O i

Tabela retirada do s/te oficial do Tribunal Superior Eieitorah www.tse.gov.br

•3 g
a o
S 5 O O *J o
£ to ! a\ lt> >-
ro
O ü' 5a o «£ S co Í2 w ^ |CDo •
CO fM CO _-• IO O™
03 ' T
NwO o \q h 2 cq £ t-; «■* * v> k
a ê 4gCN.~
!O ri O O
N N N «S S ” S 00 « o t* O 'O O ^
! fví n
I S (M2* w
> CM
c J~ .co c£ M. d
£ CM N
, ,
C W i 0M{L
>. « p c w -■*. I; ^* tfl> vD
C í) v v o v b<k 4) ^ » ÜÍS. V v v u o
\£>CÉ02 CJ Cl E3Í -J ü cí u D \D Q CÈ U ü C Í Úüí tó

0) «
Ü S a a J5 ** —
, »-t O
a> w .. O 4J ' ° °. tí
^3 ffi «5 os ir> ^ « ■^3 çv trj
fi a •« ^w Si
^ h^ ^
•g E H. ^ ^
h CO O ^
00 V© f« O
' « o o o .* O o
sq vq •
1r? °?
o ^o g
JS
P<- «* * W vrv
g ^ N ffi W
^ Utí w Cl s .
q> N
d d d s .
CM £S} ÍM t í * o N N ^ cm S «
U Qg ^ ^ ^ c* ^O O „ o, VD
<U 0 c co co £ e c* 2 C C Ci C
ss S . co co
w c w> 's >' s . S w c " B .»
V t> O CL, U. « « u c W 0) 5) ÍS. y ti o tu
Q - O f iá U ü Qp: j «Q C Í KU ^ Q1

o
t2 .to • C O
,jg .« . u /<<a
a & « u
iJ2 «3j iS <«
« s
■-g o : C* 1*2 | JS 1
s $>

«•s *0 Er £°í!
P»c" 52 s «| jg5 “S
2s
D.^3 jj o 2 cw
Oil—
S '3 e
s°* g
k% 3 8*5 8
> tu. s > S£
INEiEGIBILIDABES. CONCEITO E
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES ____________________ CAPÍTULO 10

10.3. CASOS ESPECIAIS


1 0.3.1. Servidor da Ju s tiç a Eleitoral
Direito Eleitoral. Servidor da Justiça Eleitoral. Filiação. Candidatura.
Registro. Prazo. Condição de elegibilidade não satisfeita. Recurso
desprovido. I - A filiação partidária com antecedência mínima de
um ano das eleições é condição de elegibilidade sem a qual não
poderá frutificar pedido de registro (art. 18 da Lei ne 9.096/95).
Ii - 0 servidor da Justiça Eleitoral, que não pode "exercer qualquer
atividade partidária, sob pena de demissão", para candidatar-se a cargo
eletivo, deverá afastar-se do serviço público com tempo hábil para
cumprimento da exigência de filiação partidária (Acórdão ne 19.928.
Recurso Especial Eleitoral ne 19.928, Curitiba - PR. Relator: Ministro
Sálvio de Figueiredo).
O acórdão enfrentou a questão em dois focos principais: a ausência de
disciplinamento constitucional da condição de elegibilidade para os servidores
públicos da Justiça Eleitoral e a isonomia entre os servidores públicos em geral.
Todavia, os estatutos dos servidores públicos adotam como regra geral o prazo
de três meses de desincompatibilização. Assim, a r. decisão está a exigir prazo de
um ano de desincompatibilização, considerando o disposto no art. 366 do Código
Eleitoral.
Quanto à percepção da remuneração e dos vencimentos, o r. acórdão não tratou
desta questão, mas os 12 meses de afastamento por licença remunerada importam
em demasiada oneração aos cofres públicos, até porque o prazo para a deliberação
dos pré-candidatos em convenção ocorre entre os dias 10 e 30 de Junho do ano
eleitoral (art. 8 S da Lei n~ 9.504/ 97); e o pedido de registro de candidaturas só será
possível até o dia 5 de julho (art. 11 da Lei n9 9.504/97); portanto, entendemos
que os servidores da Justiça Eleitoral que quiserem candidatar-se deverão pedir
seus afastamentos, no mínimo, no mesmo prazo da filiação partidária, que é de um
ano antes da data do primeiro turno das eleições (primeiro domingo de outubro
do ano eleitoral); no entanto, a remuneração só será percebida nos prazos fixados
estatutariamente, ou seja, em regra geral, três meses antes da data da eleição e após
a escolha em convenção do nome do pré-candidato serventuário.
Não resta dúvida de que essa solução inviabilizará as postulações de candidaturas
eleitorais, pois, na maioria dos casos, os serventuários não possuem outras fontes
de rendimento, mas a regra restritiva Justifica-se em razão da manutenção da lisura
do processo eleitoral, em detrimento da percepção dos vencimentos funcionais.
Por fim, destacamos:
Funcionários de Justiça Eleitoral. Filiação partidária. 1. "Os funcionários
de qualquer órgão da Justiça Eleitoral não poderão pertencer a
diretório de partido político ou exercer atividade partidária, sob pena
de demissão" (Código Eleitoral, art. 366.) Precedentes do TSE. 2. Não

271
M a r c o s R a m a ya n a D ir eit o E leitoral

se lhes aplica o que ficou estabelecido na Consulta ne 353 (Resolução


n2 19.978, de 25/9/1997), quanto aos magistrados. Situações
diferentes. 3. Consulta a que se deu resposta negativa (Cta n9 377, Rei.
Min. Nilson Naves, DJ 2.4.1998).
Na oportunidade, consignou o Ministro Nilson Naves, relator do feito:
(...) As situações são diferentes. No caso dos magistrados, impôs-se
tratamento isonômico em decorrência de preceitos constitucionais,
porquanto o que lhes é vedado pelo art. 95, parágrafo único, inciso III,
também o é aos militares pelo art. 42, § 69, ambos da Constituição.
Daí que se acolheu o seguinte raciocínio do Sr. Procurador-Geral da
República: "(...) opino no sentido de que seja dada resposta positiva
à consulta, para adotar o entendimento de que os magistrados e
membros dos Tribunais de Contas, por estarem submetidos à vedação
constitucional de filiação partidária enquanto em atividade tal como
os militares - estão, assim como estes, dispensados de cumprir o prazo
de filiação fixado em lei ordinária, devendo satisfazer tal condição de
elegibilidade a partir de sua desincompatibilização." No caso presente,
ao revés do paradigma invocado, a situação é diferente, principalmente
por lhe faltar foro constitucional, e também porque, em termos de lei
infraconstitucional, não se está deixando de assegurar aos funcionários
igualdade de tratamento.

1 0 .3 .2 . P refeito e vice-prefeito. D esincom p atibilização


A jurisprudência do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedente no
sentido de que o vice-prefeito não precisa desincompatíbilizar-se para concorrer à
reeleição.
De fato, não seria razoável a exigência da desincompatibilização dos vices dos
Executivos Federal, Estadual e Municipal para a postulação de um segundo mandato
eletivo, quando a Carta Magna prevê esta possibilidade jurídica (art. 14, § 5e, da
CRFB). A solução referente aos titulares dos mandatos do Executivo deve ser
ampliada por princípio isonômico aos vices, considerando que os direitos públicos
políticos subjetivos passivos não podem ser restringidos quando não há expressa
menção constitucional, além da estrita vinculação das eleições realizadas em chapa
una e indivisível. Destaca-se, ainda, a Resolução n 9 19.952, de 2 de setembro de
1997, Relator Ministro Néri da Silveira e, em igual sentido, as de ne 1 9 .9 5 3 ,1 9 .9 5 4 e
19.955, e os acórdãos n e 159/98 e ne 230/98 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral.
O vice-prefeito que substitui ou sucede o prefeito nos seis meses anteriores ao
pleito poderá concorrerão mandato eletivo de prefeito. Neste sentido, são as decisões
do TSE, Acórdão ne 17.568, de 3 de outubro de 2000, e a interpretação dada ao
art. l s, § 2-, da Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990, além do disposto na
Resolução n 9 20.590, de 30 de março de 2000, Relator Min. Eduardo Alckmin.
in eleg ibilíd a d es . C o n c e it o e
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 1 0

Vê-se, na hipótese supra, a possibilidade do vice conquistar o direito de postular


sua candidatura ao mandato do titular, pelo fato de sucedê-lo ou substituí-lo nos
seis meses que antecedem as eleições (período suspeito). A sucessão é a própria
assunção ao mandato principal da chapa "una e indivisível”. A unidade da chapa
permite aos seus integrantes o status civitatis da capacidade eleitoral passiva em
ambos os cargos, constituindo-se numa ampla adoção do princípio da reeleição
tratado no § 5 - do art. 15 da CRFB. No entanto, se o vice sucede, ele estará sendo o
próprio titular, enquanto, se ele substitui, não deixa de perder o mandato de vice,
mas apenas se afasta temporariamente do exercício desta função. Assim, a sucessão
é a assunção definitiva de outro mandato e a substituição é de natureza provisória
ou precária.
0 vice-prefeito que sucede ao prefeito, a rigor, deixou de ser o vice para ser o
próprio titular, mas não perdeu o direito "adquirido” de concorrer a vice, apenas
adquiriu a possibilidade de ser candidato a titular do Executivo. Todavia, esta
questão não deixa de suscitar uma desigualdade em relação aos demais candidatos
interessados no pleito eleitoral, mas a interpretação conforme a Constituição
privilegia a unidade da eleição majoritária dentro do contexto "se pode o mais, pode
o menos".
A norma expressa do § 2 - do art. l e da Lei Complementar n 2 64, de 18 de maio de
1990, veda a hipótese de o vice pretender disputar outro cargo que não o do titular.
Na verdade, trata-se de uma exceção, in expressi verbis.

O vice-presidente, o vice-governador e o vice-prefeito poderão


candidatar-se a outros cargos, preservando os seus mandatos
respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito,
não tenham sucedido ou substituído o titular.

Desta forma, entende-se pela expressão “ou tros cargos" todos os demais
cargos, com exceção do m andato político do titular, assim a regra não é
aplicável, quando o vice p retende ser candidato ao m andato do titular. Nesse
sentido, é a decisão na Resolução n 9 20.889, de 9 de outubro de 2001, Relator
Ministro Fernando Neves.
Destacamos:
Consulta. Vice-candidato ao cargo do titular. 1. Vice-presidente da
República, vice-governador de Estado ou do Distrito Federal ou vice-
prefeito, reeleito ou não, pode se candidatar ao cargo do titular, mesmo
tendo substituído aquele no curso do mandato. 2. Se a substituição
ocorrer nos seis meses anteriores ao pleito, o vice, caso eleito para o
cargo do titular, não poderá concorrer à reeleição. 3. O mesmo ocorrerá
se houver sucessão, em qualquer tempo do mandato. 4. Na hipótese
de o vice pretender disputar outro cargo que não o do titular, incidirá

273
M a r c o s R am ayana D ir eit o E leitoral

a regra do a rt l~, § 2-, da Lei Complementar ne 64, de 18 de maio


de 1990. 5. Caso o sucessor postule concorrer a cargo diverso, deverá
obedecer ao disposto no art. 14, § 62, da Constituição da República.
Deve-se preservar sempre a evitabilidade de burlas ao sistema da reeleição e
das recandidaturas, porque a Carta Magna apenas permite uma única continuidade
político-administrativa, e não a perpetuidade de integrantes da unidade da chapa
em sucessivos mandatos eletivos .8
Na linha deste entendimento, é importante salientar que:
Cidadão eleito vice que sucede o titular, impossibilidade de candidatura
para o exercício de um terceiro mandato. 1. O cidadão eleito vice de
qualquer dos titulares enumerados na CF, art. 14, § 5-, e que vier a
sucedê-los, só poderá candidatar-se ao mesmo cargo para um único
período subsequente" (Resoluções n2 20.510, de 23.11.1999, Relator
Ministro Edson Vidigal, e ne 20.462, de 31.8.1999, Relator Ministro
Maurício José Corrêa). Ocorrendo a morte do titular, é igualmente
possível a reeleição para apenas um mandato subsequente (art. 14,
§ 59, da CRFB). Nesse sentido, Acórdão ne 430, de 19.9.2000, Relator
Ministro Walter Ramos da Costa Porto.
A jurisprudência eleitoral, na verdade, é condutora das mutações do Direito
Constitucional-Eleitoral, especialmente na análise da reeleição (art. 14, § da
CRFB), e os rumos seguem no sentido de que a objetividade jurídica do afastamento
é evitar a interferência direta ou indireta do titular do mandato do Executivo nas
campanhas eleitorais.
Quanto à vedação de um terceiro mandato 9consecutivo, é importante salientar a
r. decisão do Tribunal Superior Eleitoral:
Resolução ne 21.480, de 2.9.03. Consulta ns 897/DF. Relatora:
Ministra Ellen Gracie. Ementa: Consulta. Vice-prefeito reeleito.
Desincompatibilização para concorrer a cargo de deputado federal.
Candidatura a vice-prefeito. Impossibilidade, vice-prefeito reeleito em
2000, ainda que tenha se desincompatibilizado para se candidatar a
deputado federal em 2002, não pode candidatar-se ao cargo de vice-
prefeito novamente em 2004, pois restaria configurado um terceiro
mandato sucessivo, o que é vedado pelo art. 14, § 5e, da Constituição
Federal.
8 Consulta ne 947/DF, Rei. Min. Carlos Madeira, em 30,9.2003.
Consulta. Elegibilidade. Chefe do Poder Executivo. Art. 14, §§ 59 e 75, da Constituição Federal.
Impossibilidade de o vice-prefeito que vive maritalmente com irmã de prefeito reeleito se candidatar ao mesmo cargo
deste, por configurar hipótese vedada pelo art. 14, §§ 5e e 79, da Constituição Federal.
A jurisprudência desta Corte se consolidou no sentido de impedir a perenização no poder de membros de uma mesma
família. Nesse entendimento, o Tribunal respondeu negativamente à consulta. Unânime.
9 Consulta, vice-prefeita reeleita que sucede o cônjuge no segundo mandato. Candidatura ao cargo de prefeito.
Impossibilidade. É vedada nova candidatura de vice-prefeíta que, reeleita com o marido prefeito, a efe sucede no
exercício do segundo mandato, porque isso configura a perpetuação de uma mesma família no exercício do Poder
Executivo, por três periodos sucessivos, o que encontra óbice nos §§ 5S e 7® do art 14 da Constituição Federal. Nesse
entendimento, o Tribunal respondeu negativamente à consulta. Unânime.
Consulta n9 957/DF, Rei. Min. Fernando Neves, em 9.10.2003.

274
in ele g ibilíd a d es . C onceito e
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 1 0

É muito comum, nas eleições municipais, a assunção interina do mandato político


eletivo de prefeito pelo presidente da Câmara Municipal. Neste diapasão, faz-se
ressaltar precedente do TSE no sentido de considerar que o prazo do exercício
da interinidade não é um mandato antecedente que estaria sendo cumprido pelo
presidente da Câmara.
O mandato chamado "tampão", ou seja, que se exaure no período remanescente
da eleição suplementar, integra a mesma fração temporal do mandato interino.
Visando a exemplificar esta temática, salientamos:
Registro de candidatura. Candidato que, presidente da Câmara
Municipal, ocupou interinamente o cargo de prefeito enquanto não
realizada eleição suplementar. Concorreu ao cargo de prefeito na
eleição suplementar. Elegeu-se. Reelegeu-se nas eleições 2000. CF,
art. 14, § 59. A interinidade não constitui um “período de mandato
antecedente" ao período do "mandato tampão". O período de "mandato
tampão” não constitui um "período de mandato subsequente, ao
período de interinidade". O período de interinidade, assim como o
"mandato tampão" constituem frações de um só período de mandato.
Não houve eleição para um terceiro mandato. A reeleição se deu nas
eleições de 2000 (Acórdão n9 18.260, de 21 de novembro de 2000,
Relator Ministro Nelson Azevedo Jobim).
Por fim, a substituição do prefeito pelo vice-prefeito deve sempre ocorrer impelida
pelo ânimo definitivo referente ao exercício pleno do mandato eletivo. Nesta rama,
Acórdãos n 9 18.403/00, Relator Ministro Waldemar Zveiter; ne 18.104/00, Relator
Ministro Maurício José Corrêa; e n2 1 8 .1 8 3 /00, Relator Ministro Waldemar Zveiter.10
A hipótese interessante é a do radialista, pois este não é contemplado na Lei das
Inelegibilídades. No entanto, cumpre destacar precedente do TSE sobre relevante
questão no Acórdão n- 13.173, de 17 de setem bro de 1996, e n 9 13.595, de 22
de outubro de 1996, Relator Ministro Eduardo Alckmin, no sentido de que, nesta
hipótese, ocorre propaganda eleitoral indevida, art. 45, § 1-, da Lei ne 9.504/97 (Lei
das Eleições).
Recentemente, o Egrégio TSE estabeleceu um inovador precedente no que tange
à impossibilidade de reeleição de prefeito, para um terceiro mandato, ainda que em
município diferente daquele no qual havia exercido o cargo de prefeito por duas
vezes. É o que se convencionou chamar de "Prefeito itin era n te". A ementa elucida,
claramente, o posicionamento daquele egrégio Tribunal:
"Ementa: Recurso Especial Eleitoral. Mudança de domicílio eleitoral.
"Prefeito itinerante". Exercício consecutivo de mais de dois mandatos
de chefia do Executivo em municípios diferentes. Impossibilidade.
10 Resolução ne 21.442, de 12.8.2003 Consulta n9 893/DF. Relator: Ministro Barros Monteiro. Ementa: Consulta. Prefeito
reeleito nas eleições de 2000. Candidatura ao cargo de vereador, no mesmo município, no pieito de 2004. Possibilidade,
em face da observância do prazo de seis meses para a desincompatibilização. O prefeito reeleito nas eleições de 2000
pode candidatar-se para o cargo de vereador do mesmo município, no pleito de 2004, desde que se afaste da chefia
do Poder Executivo íocal em período que preceder os seis meses anteriores ao certame.

275
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E leitoral

Indevida perpetuação no poder. Ofensa aos §§ 5e e 69 do art. 14 da


Constituição da República. Nova jurisprudência do TSE. Não se pode,
mediante a prática de ato formalmente lícito (mudança de domicílio
eleitoral), alcançar finalidades incompatíveis com a Constituição: a
perpetuação no poder e o apoderamento de unidades federadas para
a formação de clãs políticos ou hegemonias familiares. O princípio
republicano está a inspirar a seguinte interpretação basilar dos §§ 5e
e 6- do a rt 14 da Carta Política: somente é possível eleger-se para o
cargo de "prefeito municipal" por duas vezes consecutivas. Após isso,
apenas permite-se, respeitado o prazo de desincompatibilização de 6
meses, a candidatura a “outro cargo", ou seja, a mandato legislativo, ou
aos cargos de Governador de Estado ou de Presidente da República; não
mais de Prefeito Municipal, portanto. Nova orientação jurisprudencial
do Tribunal Superior Eleitoral, firmada no REspe. 32.507 (TSE, Recurso
Especial Eleitoral 32.539, Palmeira dos índios - AL 17.12.2008,
Relator Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira, publicado em Sessão,
17.12.2008)".
Como visto, a teoria das inelegibilidades é complexa, pois os conceitos e as
classificações não são uníssonos na doutrina. De toda sorte, o art. 14, § 3 Q, da Lei
Maior c/c o art. 3- do Código Eleitoral tratam das referências às condições de
elegibilidade, que são atributos da capacidade eleitoral passiva e integrantes do
conceito maior de direitos políticos.
As condições de elegibilidade, somadas aos requisitos para o registro eiencados
no art. 11 da Lei n 9 9.504/97 (Lei das Eleições), formam uma compíetude normativa
que deverá ser perscrutada no que tange à possibilidade jurídica do ingresso de um
cidadão no status civitates ou stan d ard jurídico de "candidato” e, somente após o
preenchimento destas "condições de registrabilidade", no dizer do m estre Adriano
Soares da Costa, podemos compreender uma nítida divisão entre as elegibilidades
e as inelegibilidades, ou seja, as primeiras operam como ferram entas de análise
precedentes ao deferimento do registro e obtenção do título civil de candidato.
Já as inelegibilidades são vistas à luz de uma segunda fase de análise jurídica
que obstacularizam determinada candidatura. Trazemos à reflexão a seguinte
comparação: as elegibilidades são os pressupostos processuais para o deferimento
de um candidatura; as inelegibilidades são as condições ou não restrições para o
regular exercício do direito de ser um candidato. As similitudes são bem próximas,
mas, ao abrigo da legislação eleitoral vigente, produzem conseqüências diversas na
órbita dos direitos políticos.
C onceitua-se a elegibilidade como a aptidão ou capacidade de o cidadão receber
votos dos seus eleitores. O eminente doutrinador Antônio Carlos Mendes diz que é
uma "aptidão jurídica".
Quando o cidadão preenche os requisitos constitucionais e infraconstitucionais
exigíveis para pleitear um mandato eletivo, ele adquire o statu s civitatis de elegívei.

276
in e le g ib ilíd a d es . C o n c e it o e
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 10

Ensina Antônio Carlos Mendes, in verbis:


Portanto, ser eleitor é condição de elegibilidade. Porém, não é suficiente.
O elegível é, sempre, eleitor. Todavia, nem todo eleitor é elegível. Por
isso, a elegibilidade é uma aptidão do eleitor e consiste na reunião de
todas as condições Jurídicas que o qualificam candidato, isto é, apto a
concorrer a um cargo eletivo.11
Valiosas as lições do eminente eleitoralista Adriano Soares da Costa, in verbis:
(...) Chama-se inelegibilidade a ausência ou perda da elegibilidade (...)
As chamadas condições de elegibilidade são, no mais estrito rigor
terminológico, verdadeiras condições do direito a registrar a
candidatura. São exigências constitucionais ou legais para a realização
do registro, implicando a ausência de uma delas a inexistência do
direito a registrar (...)*12
De toda sorte, a elegibilidade pressupõe uma manifestação positiva da vontade
do nacional em alistar-se. Sem o alistamento, é impossível pensar no preenchimento
das demais condições de elegibilidade.
As elegibilidades classificam -se em:
a) elegibilidade própria - a previsão está diretamente no texto constitucional,
por exemplo, o § 3- do art. 14 da CRFB (nacionalidade brasileira; exercício dos
direitos políticos; alistamento eleitoral; domicílio eleitoral na circunscrição;
filiação partidária e idade mínima exigível);
b) elegibilidade imprópria - a previsão está em norma infraconstitucional, por
exemplo, a escolha do candidato pelo partido político ou coligação (arts. 8 S e 11 ,
§ i s I, da Lei 9.504/97);
c) elegibilidade plena - permite que o cidadão-eleitor possa disputar qualquer
espécie de mandato eletivo, de vereador a Presidente da República;
d) elegibilidade restrita ou limitada - somente permite ao cidadão-eleitor concorrer
a determinado mandato eletivo. Por exemplo: aos 18 anos de idade, ele pode ser
candidato apenas ao mandato de vereador (art. 14, § 3 e, VI, d, da CRFB).

1 0.3.3. P o s iç õ e s m ais atu ais do Tribunal Superior Eleitoral so b re


reg ras d e in eiegibllidades próprias e reflexas
a) O cônjuge e os parentes referidos no § 7- do art. 14 da Constituição Federal
são inelegíveis para a sucessão do Presidente da República e dos Governadores
de Estado e do Distrito Federal, salvo se estes, não tendo sido reeleitos, se
desincompatibilizarem 6 (seis) m eses antes do pleito. Assim, como se conclui, em
caso de reeleição, a desincompatibilização não afasta a inelegibilidade reflexa.
Se o chefe do executivo estiver no seu primeiro mandato e se desincompatibilizar
6 (seis) meses antes da eleição, libera o seu parente para fins de sucessão ao

11 MENDES. Antônio Carlos. Teoria das Inelegíbilidades.' Editora Malheiros, p. 102.


12 COSTA, Adriano Soares. Instituições de Direito Eleitoral. Beio Horizonte: Editora Del Rey, p. 65.

277
M a r c o s R a m a ya n a D irjeito E leit o k a i

mandato eletivo, caso contrário, não é possível a sucessão. Neste sentido é regra
em precedente do art. 14, § 2-, da Resolução TSE ne 22.156/06.
b) "Para se beneficiar da ressalva prevista no § 7- do art. 14 da Constituição, o
suplente precisa ter assumido definitivamente o mandato (Ac. TSE n- 19.422,
de 23.8.20 0 1 )" texto do art. 14, § 1 -, da Resolução ns 22.156/06 (registro de
candidatos).
c) "Consulta. Elegibilidade. Parentesco. Chefe do Poder Executivo. Art. 14, §§ 5 9 e 7-,
da Constituição Federal. 0 parente do Governador é elegível para o mesmo cargo
do titular, apenas quando este puder ser reeleito para o período subsequente e
tiver renunciado até seis meses antes das eleições. Reeleito o Governador para
o segundo mandato, seu parente não poderá candidatar-se ao cargo de Vice-
Governador, nem mesmo tendo ocorrido o afastamento definitivo, em face da
possibilidade de vir a substituir ou suceder o titular, violando a intenção da
norma constitucional, que tem como objetivo impedir a perpetuação de uma
família na chefia do Poder Executivo."(Res. n- 20.931, de 20.11.2001, Rei. Min.
Garcia Vieira). Fonte Em entário TSE. Temas selecion ados.
d) "(...) 0 descendente até 2 S grau do governador pode candidatar-se ao cargo de
Vice-Governador desde que o Governador esteja no primeiro mandato e tenha
renunciado até seis meses antes da eleição"(Res. n 5 20.949, de 6.12.2001, Rei.
Min. Luiz Carlos Madeira.). Fonte E m en tário TSE. Tem as selecionados.
e) "Inelegibilidade. Viúva de Prefeito. Dissolvida a sociedade conjugal, em virtude
da morte, não subsiste a inelegibilidade da mulher do Prefeito, prevista no art. 14,
§ 7-, da Constituição" (Ac. nâ 14.385, de 29.10.1996, Rei. Min. Eduardo Ribeiro;
no mesmo sentido os acórdãos n*5 12.533, de 15.9.1992, 12.461, de 3.9.1992,
Rei. Min. Américo Luz, e 12.685, de 22.9.1992, Rei. Min. José Cândido.) Fonte
Em entário TSE. Tem as selecionados.
f) "(...) inelegibilidade. Não ocorrência. CF, art. 14, § 7-. Como os afins dos cônjuges
não são afins entre si, pode o concunhado do Prefeito concorrer ao Executivo
Municipal na mesma circunscrição” (Res. na 20.651, de 6.6.2000, Rei. Min. Edson
Vidigal) Fonte E m en tário TSE. Tem as selecion ad os.
g) É interessante notar a questão relativa à separação de fato ocorrendo antes
do primeiro mandato. Em 2004, o TSE entendeu que nestes casos persistia a
inelegibilidade (CTA 977, Relator Ministro Luiz Carlos Lopes Madeira, DJ
18.02.2004: “Consulta. Ex-cônjuge do titular do Poder Executivo reeleito,
elegibilidade. Cargo de Prefeito. Impossibilidade. Precedentes. É inelegível
ex-cônjuge do chefe do Poder Executivo reeleito, na eleição subsequente, se o
divórcio ocorreu durante o exercício do mandato, ainda que a separação de fato
tenha sido reconhecida como anterior ao início do primeiro mandato. Respondida
negativamente.
Todavia, mais recentemente, o Colendo Supremo Tribunal Federal, em 2005,
se pronunciou pelo afastamento da inelegibilidade, quando se verificar que
a separação de fato ocorreu antes do mandato. Neste sentido: 'Registro de

278
in e le g ib ilíd a d es . C o n c e it o e
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p it u l o 1 0

candidatura ao cargo de Prefeito. Eleições de 2 004. Art. 14, § 7-, da CF. Candidato
separado de fato da filha do então Prefeito. Sentença de divórcio proferida no
curso do mandato do ex-sogro. Reconhecimento judicial da separação de fato
antes do período vedado. Interpretação teleológica da regra de inelegibilidade.
A regra estabelecida no art. 14, § 7 9, da CF, iluminada pelos mais basilares
princípios republicanos, visa obstar o monopólio do poder político por grupos
hegemônicos ligados por laços familiares. Precedente. Havendo a sentença
reconhecido a ocorrência da separação de fato em momento anterior ao início
do mandato do ex-sogro do recorrente, não há falar em perenização no poder da
mesma família (...)”J (RE 446.999, Rei. Minista Ellen Gracie, Dj 09.09.2005).
Atualmente, o Supremo Tribunal Federal manteve a inelegibilidade de ex-
cônjuge, conforme decisão abaixo transcrita:
"Dissolução do Casamento no Curso de Mandato e Inelegibilidade
de Ex-Cônjuge
A dissolução da sociedade conjugal, durante o exercício do mandato,
não afasta a regra da inelegibilidade, prevista no art. 14, § 79, da CF
(“São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção,
do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos
seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo
e candidato à reeleição."). Com base nesse entendimento, o Tribunal,
por maioria, desproveu recurso extraordinário interposto contra
acórdão do TSE e cassou liminar, que suspendera os efeitos do recurso
extraordinário, deferida em favor de ex-cônjuge de prefeito (eleito no
período de 1997 a 2000, e reeleito no período de 2001 a 2004), que
fora eleita vereadora, em 2004, para o período de 2005 a 2008. Na
espécie, a separação de fato da vereadora, ora recorrida, ocorrera em
2000, a judicial em 2001, tendo o divórcio se dado em 2003, antes do
registro de sua candidatura. Asseverou-se, na linha de precedentes da
Corte, que o vínculo de parentesco persiste para fins de inelegibilidade
até o fim do mandato, inviabilizando a candidatura do ex-cônjuge ao
pleito subsequente, na mesma circunscrição, a não ser que o titular
se afaste do cargo seis meses antes da eleição. Aduziu-se que, apesar
de o aludido dispositivo constitucional se referir à inelegibilidade de
cônjuges, a restrição nele contida se estende aos ex-cônjuges, haja vista
a própria teleologia do preceito, qual seja, a de impedir a eternização
de determinada família ou clã no poder, e a habitualidade da prática
de separações fraudulentas com o objetivo de contornar essa vedação.
Citou-se, ainda, a resposta à consulta formulada ao TSE, da qual
resultou a Resolução ns 21.775/2004, nesse sentido. Vencido o Min.
Marco Aurélio, que, salientando que o parentesco civil é afastado com a
dissolução do casamento, provia o recurso, por considerar que o vício

279
M a r c o s R am ayana D ir eit o E leitoral

na manifestação da vontade não se presume, devendo ser provado


caso a caso, e que as normas que implicam cerceio à cidadania têm
de receber interpretação estrita. Por fim, o Tribunal determinou o
imediato cumprimento da presente decisão, ficando vencido, neste
ponto, o Min. Marco Aurélio, que averbava a necessidade da tramitação
natural do processo, aguardando-se a confecção do acórdão e a
possível interposição de embargos declaratórios. Precedentes citados:
RE 433460/PR (DJU de 19.10.2006); RE 446999/PE (DJU de 9.9.2005).
RE 568596/MG, rei. Min. Ricardo Lewandowski, 12.10.2008. (RE-
568596)”.

10.3.4. D esincom patibilização de servid or público para co n co rrer à


verean ça
Questão interessante no que se refere à desincompatibilização é o prazo para
afastamento de servidor público para concorrer à vereança.
A Lei Complementar ne 64/90, art. 1-, II, 1 prevê que: "Art. 1 - São inelegíveis:
(...)II. Para Presidente e Vice-Presidente da República: (...) 1) os que, servidores
públicos, estatutários ou não, dos órgãos ou entidades da Administração direta ou
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios,
inclusive das fundações mantidas pelo Poder Público, não se afastarem até 3 (três)
meses anteriores ao pleito, garantido o direito à percepção dos seus vencimentos
integrais;".
Da mesma forma, o inciso VII, letra b disciplina que: "VII. Para a Câmara Municipal:
(...) b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito,
observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização".
A previsão dos inelegíveis para o cargo de Prefeito e Vice-Prefeito a que se refere
o dispositivo acima transcrito, encontra-se no inciso IV, que assim dispõe na letra
a\ “IV. Para Prefeito e Vice-Prefeito: a) no que lhes for aplicável, por identidade de
situações, os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,
Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, observado o prazo
de 4 (quatro) m eses para a desincompatibilização".
Pode-se verificar que a disciplina sobre o tem a em comento exsurge da análise
conjunta de diferentes pontos da norma, pois uma regra se complementa pela outra.
Melhor esclarecendo: O prazo de 6 m eses para desincompatibilização dos que
quiserem concorrer à vereança (Art. 1°, VII, b) aplicável aos inelegíveis para o Cargo
de Prefeito e Vice-Prefeito, que correspondem aos inelegíveis para os cargos de
Presidente e Vice-Presidente da República (art. l s, IV, a), de onde se tem a previsão
dos servidores públicos (inciso II, letra 1).
Assim, pelo que dispõe a Lei Complementar n 9 64/90, o prazo para
desincompatibilização de servidor público para concorrer ao cargo de vereador é
de 6 meses (art. 1-, II, 1 c/c IV c/c VII, letra b). Entretanto, não é assim que vem

2 8 0
In e l e g ib il id a d e s . C o n c e it o e
c l a s s i f ic a ç ã o , e l e g i b i l i d a d e s C a p ít u l o 1 0

entendendo o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, conforme se pode verificar da


decisão abaixo transcrita (grifos não originais):
“Decisão: Vistos etc., Cuida-se de recurso especial eleitoral interposto
pela Coligação Não Pode Parar (PMDB/PDT/PSL/PTC/PMN) e outros
contra v. acórdão proferido pelo e. Tribunal Regional Eleitoral da Bahia
assim ementado (fl. 59): Recurso. Registro de candidatura ao cargo de
vereador. Deferimento. Desincompatibilização no período anterior a 03
meses das eleições. Desprovimento.
Nega-se provimento a recurso quando a candidata requer o afastamento
do exercício de suas funções de servidora em menos de três meses
antes do pleito".
(-)
Todavia, os recorrentes alegam ofensa ao art. l â, VI, a, da Lei
Complementar n2 64/902, ao argumento que o prazo a ser observado
seria de 6 meses, e não de três meses, conforme registrado pelas
instâncias ordinárias.
Sem razão os recorrentes.
A ju risprudência do e. TSE consagrou o entendimento de que
s erv id or p ú blicoju lc queira concorrerjaosargo dsjíers<ad0r.devçzs£.
a fa s ta r do exercício de suas,fu n ç õ es até três meses antes do pleito.
Confira-se:
"Recurso especial. Eleições 2004. Desincompatibilização. Agravo
regimental. Prazo. Contagem. Art. 184 do CPC. Na contagem do prazo
recursal, exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento (art. 184
do CPC).
É de três meses o prazo de desincompatibilização do servidor público.
Nega-se provimento a agravo regimental que não infirma os
fundamentos da decisão impugnada" (g. n.) (REspe. ns 23.331, rei. e.
Min. Humberto Gomes de Barros, publicado em sessão de 28.9.2004).
“Recurso especial Registro de candidatura. Servidor público municipal
Desincompatibilização. Vereador ou prefeito. Prazo. Até três meses antes
do pleito (art. 1-, II, 1, LC nQ64/90)” (REspe. nô 22.164, rei. e. Min. Carlos
Madeira, publicado em sessão de 3.9.2004).
Destaco, mutatis mutandis, a Cta. ne 12.499, rei. e. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ de 9.4.92.
Superado o ponto, remanesce divergência fática entre a conclusão do v.
acórdão regional e o questionamento referente ao efetivo afastamento
da servidora, ora recorrida.
Ficou consignado no v. decisum ora atacado o acerto da sentença de
fl. 31, por prestigiar o afastamento de fa to da servidora, em detrimento
da declaração de fl. 44.

281
M a r c o s R am ayana D ir eit o E leitoral

Nesse sentido, o v. acórdão regional se coaduna com a jurisprudência


deste e. Tribunal que confere prevalência ao afastamento de fa to do
servidor, circunstância aferída, in casu, pelas instâncias ordinárias.
Destaco os seguintes precedentes:
"Eleições 2004. Recurso especial. Registro de candidatura. Prefeito.
Conselho Municipal de Saúde. Desincompatibilização. Prazo. Três meses
antes do pleito (a rt 1-, II, I, da LC no 64/90). Negativa de seguimento.
Agravo regimental.
Para o ten d er à condição, é suficiente qu e n ão ten ha exercício d e
fa t o no carg o " (g. n.) (Respe. ne 22.493, rei. e. Min. Carlos Madeira,
publicado em sessão de 13.9.2004).
"Agravo regimental. Registro de candidatura. Desincompatibilização.
Servidor público. Afastamento, de fato, das funções. Não comprovação.
Não tendo a recorrente comprovado seu afastamento, de fato, das
funções que exerce em escola municipal restou desatendido o disposto
no art. 1-, II, 1, da Lei Complementar n- 64/90. Agravo desprovido" (g.
n.) (REspe. n9 23.089, rei. e. Min. Gilmar Mendes, publicado em sessão
de 13.10.2004).
"Recurso ordinário. Registro de candidatura. Desincompatibilização.
Servidor Público. Cargo demissível ad nutum, Art. 1~, II, 1, c.c. V, a, da
LC nQ6 4 / 90. Pedido de licença. Ausência de exoneração. Afastamento
de fato. Inelegibilidade. Não configuração. 1. O afastam en to d e fa to
é suficien te p a r a a fa sta r a in elegibilidade1’ (RO ne 541, rei. e. Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira, publicado em sessão de 3.9.2002).
"Desincompatibilização. Servidor público. Afastamento de fato, dentro
do prazo, Comunicação feita à repartição, já após a data limite.
Irrelevância.
0 afastamento do servidor de suas funções, para efeito de
desincompatibilização, deve se operarno plano fático, sendo a comunicação
relevante tão somente para garantir a percepção de seus vencimentos.
Assentando as instâncias ordinárias que o afastamento se verificou com
observância do prazo legal, descabe o reexame de matéria em recurso
especial (Súmula-STF ne 279)'' (g. n.) (REspe. n9 12.890, rei. e. Min.
Eduardo Alckmin, publicado em sessão de 11.9.96).
Em resumo, no caso particular, para desconstituir a validade do documento
apresentado pela recorrida, bem como afastar o reconhecido afastamento
de fato, cobra-se o reexame do conjunto probatório dos autos, prática
inviável em sede de recurso especial eleitoral (Súmula STJ n9 7).
Transcrevo, a propósito, o sumário de julgado do e. TSE sobre matéria
similar: “Recurso especial. Eleição 2004. Registro de candidatura.
Desincompatibilização. Reexame de prova. Impossibilidade (Súmulas
nQi 7/ stJ e 279/STF). Apelo não conhecido" (Respe. ns 22.066/PR, rei.
e. Min. Peçanha Martins, publicado em sessão de 31.8.2004).

282
INELEGIBILIDADES. CONCEITO E
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 10

Ademais, os recorrentes não demonstraram a existência de dissídio


jurisprudencial, olvidando-se de proceder ao devido cotejo analítico
entre a tese da decisão tida por paradigma e o entendimento adotado
pela decisão impugnada.
No ponto, destaco os seguintes precedentes desta c. Corte, verbis:
“5. A mera transcrição de ementas não é suficiente para a configuração
do dissenso jurisprudência/" [g. «.) (AI n~ 7.634/RJ, rei. Min. Caputo
Bastos, DJ de 21.9.2007).
“4. Para a configuração do dissídio jurisprudencial não basta a simples
transcrição de ementas, sendo necessária a realização de cotejo analítico
e a demonstração de similitude fãtica entre as decisões tidas como
divergentes” (AI ne 8.398/MG, rei. Min. José Delgado, DJ de 14.9.2007).
Ante o exposto, nego seguimento ao recurso especial eleitoral, nos
termos do art. 36, § 62, do RITSE.
Publique-se. Intimações necessárias.
Brasília, 27 de agosto de 2008. Publicada na sessão de 28.8.2008"
(STF, Recurso Especial Eleitoral ns 29.139/BA, Rei.: Min. Felix Fischer.
Publicado no Informativo do TSE n9 25/2008).
Cumpre observar que tal postura do Colendo Tribunal se afigura um tanto quanto
curiosa. Ora, a Lei Complementar n- 64/90 se encontra em plena vigência. Para
afastar a incidência de suas normas, faz-se necessária a declaração de sua nulidade
em razão de afronta à Constituição da República, o que de fato não ocorreu.
No entanto, ao ler a fundamentação dos precedentes, pode-se perceber que o
referido Tribunal utiliza, unicamente, a norma insculpida na letra /, do inciso II do
art. l e da LC n- 64/90, cuja incidência se destina, apenas, aos concorrentes aos
cargos de Presidente e Vice-Presidente da República. Para vereador, a disciplina é a
do inciso VII, letra b, do mesmo art. l e.
Verifica-se, assim, que se trata de uma interpretação dada pelo Egrégio Superior
Tribunal que simplifica o enleio causado pela redação da lei, mas que, por outro
lado, nega vigência, de lege feren d a , a um dispositivo legal plenamente em vigor.

10.4 . INELEGIBILIDADES PREVISTA S NA LEI COMPLEMENTAR


m 64, DE 8 DE MAIO DE 19 9 0
a) Os inalistáveis e os analfabetos
Na Constituição Federal é prevista esta espécie no art. 14, § 4 e. Trata-se de
inelegibilidade constitucional e de natureza absoluta, pois se refere a qualquer
tipo de eleição.
Como já examinado, o sufrágio é classificado como universal. Todavia, restrito ele
ainda se apresenta, em razão, por exemplo, das seguintes vedações: os inalistáveis;

283
M a r c o s R a m a ya n a D ireito E leitoral

estrangeiros; conscritos e absolutamente incapazes, que não podem votar, pois,


antes de tudo não são aptos ao próprio alistamento eleitoral.
A nossa legislação proíbe que os inalistáveis sejam candidatos a mandatos
eletivos. Na verdade, antes de tudo, a hipótese deveria ser tipificada como falta de
condição de elegibilidade, pois o art. 14, § 3 9, inciso 111, da Constituição Federal,
trata especialmente do alistam ento eleitoral como condição constitucional de
elegibilidade e do próprio exercício do mandato eletivo. Ora, primeiramente se veda
o próprio deferimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE), ou seja, sem
o título não se permite o requerimento de registro de candidaturas.
Como se percebe, na verdade, os inalistáveis, ao contrário dos analfabetos, não
são alistáveis, e, portanto, não possuem uma condição de elegibilidade. Assim, não é
técnico afirmar que eles são classificados como inelegíveis, mas a opção do legislador
constituinte os tipificou nesta outra categoria restritiva ao direito de voto (lu s
h on oru m ), e, dessa forma, em perguntas objetivas, os inalistáveis são inelegíveis
(art. 14, § 4 9, da Constituição Federal), e nessa linha de sentido antagônico, mas que
conduz a resultados práticos similares, “os inalistáveis” classificam-se, para fins de
registro de candidaturas, como se fossem os analfabetos.

Quem são os inalistáveis ?13


Além dos estrangeiros e conscritos, assim definidos pela própria Carta
Magna no § 2 -, do art. 1 4 da CF, os inalistáveis são:
1. Os índios não integrados (art. 5 fi, inciso II, do Código Eleitoral), porque não
sabem exprimir-se na língua nacional;
2. Os estrangeiros, que embora possam se expressar no idioma nacional, são
obrigados a se alistar por nossa legislação, após a regular naturalização (destaca-
se o texto da Resolução ns 21.538/03 do TSE: "Art. 15. O brasileiro nato que não
se alistar até os 19 anos ou o naturalizado que não se alistar até um ano depois
de adquirida a nacionalidade brasileira incorrerá em multa imposta pelo juiz
eleitoral e cobrada no ato da inscrição. Parágrafo único. Não se aplicará a pena ao
não alistado que requerer sua inscrição eleitoral até o centésimo quinquagésimo
primeiro dia anterior à eleição subsequente à data em que completar 19 anos -
Código Eleitoral, art. 8 e c/c a Lei ne 9.504/97, art, 91)".

13 Vide art. 53 da Res. TSE ns 21.538/03: A rt 53. São considerados documentos comprobatórios de reaquisição ou
restabelecimento de direitos políticos: I - Nos casos de perda: a) decreto ou portaria; b) comunicação do Ministério da
Justiça. II - Nos casos de suspensão: a) para interditos ou condenados: sentença judicial, certidão do juízo competente
ou outro documento; b) para conscritos ou pessoas que se recusaram à prestação do serviço militar obrigatório:
Certificado de Reservista, Certificado de isenção, Certificado de Dispensa de Incorporação, Certificado do Cumprimento
de Prestação Alternativa ao Serviço Militar Obrigatório, Certificado de Conclusão do Curso de Formação de Sargentos,
Certificado de Conclusão de Curso em Órgão de Formação da Reserva ou similares; c) para beneficiários do Estatuto
da Igualdade: comunicação do Ministério da Justiça ou de repartição consular ou missão diplomática competente,
a respeito da cessação do gozo de direitos políticos em Portugai, na forma da lei. Ilt - Nos casos de inelegibilidade:
certidão ou outro documento.

284
INELEGIBILIDADES. CONCEITO E
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 10

Quanto aos apátridas ou heim atlos, cum pre enfatizar que esta hipótese
pode se caracterizar com o espécie de situação sim ilar aos estrangeiros,
quando, por exemplo, o co rre o cancelam ento da naturalização nos term os
do art. 12, § 4 2, da CF: "Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
que: I ~ tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de
atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos
casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de
imposição de naturalização, pela forma estrangeira, ao brasileiro residente em
Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis."
Os sem pátria são pessoas nascidas em um determinado país, mas, por razões
territoriais, ou pelos critérios de vínculo de sangue, não são brasileiros. O art. 12 ,
I, c, da Constituição Federal, foi recentemente alterado pela Emenda Constitucional
n- 54, de 20 de setembro de 2007, que amenizou a questão dos sem pátria, assim
tratando: Art. I 9 A alínea c do inciso I do art. 12 da Constituição Federal passa a
vigorar com a seguinte redação:

"Art. 12...
I-...
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

Ora, se não existe registro em repartição brasileira competente, ou opção pela


nacionalidade brasileira, os apátridas permanecem nesta condição, e, portanto, são
inalistáveis, assim como os estrangeiros.
3. As pessoas que estão com os direitos políticos suspensos ou os perderam
nos termos do disposto no art. 15 da Constituição da República Federativa do
Brasil. Destaca-se:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença
transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação
criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV -
recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5e, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos
do art. 37, § 4 9.

Quanto às pessoas portadoras de graves deficiências, resta-lhes a faculdade


de não se alistarem ou de votar, conforme disciplinado no texto da Res. TSE
n- 21.920/2004 que: "Dispõe sobre o alistamento eleitoral e o voto dos cidadãos

285
M a r c o s R am ayan a D ir eit o E leitoral

portadores de deficiência, cuja natureza e situação impossibilitem ou tornem


extremamente oneroso o exercício de suas obrigações eleitorais."
4. Os con scritos14 são os recrutas que servem as Forças Armadas de forma
obrigatória, mas a expressão também está tratada na abrangência do texto da “Res.
TSE n- 15.850/89: a palavra 'conscrito' alcança também aqueles matriculados
nos órgãos de formação de reserva e os médicos, dentistas, farmacêuticos e
veterinários que prestam serviço militar inicial obrigatório."
A restrição ao alistamento eleitoral, por via reflexa ao voto do conscrito, (porque
sem título eleitoral ele não constará do registro da Justiça Eleitoral) é, sem dúvida,
medida que restringe o sufrágio universal e não se justifica na fase contemporânea
da democracia brasileira.
A cidadania não pode ser interpretada restritivamente, mas sim na classe das
ampliações das capacidades de participação na vida política e social do Estado.
Na verdade, o alistamento e o voto não se fazem obrigatórios, pois o conscrito
está temporariamente servindo as Forças Armadas e pode ser amoldado na hipótese
do art. 6 2, inciso II, c, do Código Eleitoral, ou seja, é um servidor que exerce múnus
público e função honorífica relevante, que, por certas contingências funcionais,
não estará presente no dia da votação. Ele estará apenas impossibilitado de votar
por razões de locomoção, mas não por motivos que possam ir contra as raízes
estruturais do sufrágio universal.
A impossibilidade circunstancial física de comparecimento à seção eleitoral
de votação não pode ser comparada a uma forma de sufrágio restrito, como se
estivéssemos na fase do sufrágio censitário ou capacitário.
Por essas razões entendo que o conscrito, seja ele recruta ou pessoa equiparada
(médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários que prestam serviço militar inicial
obrigatório), não pode ser afastado do alistamento e nem tampouco do voto, mas
essa regulamentação deve ser expressa na legislação vigente, o que não é o caso, ou
ainda extraída de uma interpretação sistemática constitucional que possa abrigar o
denominado princípio da eficácia integradora, ou seja, o intérprete deve objetivar
uma unidade política-cidadã do texto normativo constitucional.

b) Os m em bros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da


Câmara Legislativa e das Câm aras Municipais, que hajam perdido os
respectivos m andatos p or infringência do disposto nos incisos I e II do
a rt. 5 5 da Constituição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda
de m andato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e
do Distrito Federal, p ara as eleições que se realizarem durante o período

14 0 insubmisso é aquela pessoa que sendo devidamente convocada para o serviço militar não se apresenta. Já o
desertor cumpre o serviço militar, e em determinado momento, o abandona. Ambos os casos são crimes militares.

2 8 6
in eleg ibilid a d es . C o n c e it o e
classificação . Eleg ibilid ades C a p ít u l o 10

rem an escen te do m andato p ara o qual foram eleitos e nos oito anos
subsequentes ao térm ino da legislatura.
A alínea foi alterada pela incidência da Lei Complementar n- 81, de 13 de abril
de 1994.
0 art. 55, incisos I e II, da Constituição Federal, consagra hipóteses que ensejam
a extinção ou cassação do mandato eletivo em razão de deliberações internas das
Casas Legislativas.
No caso do art. 55, inciso I, diz a Lei Fundamental que perderá o mandato por
decisão de voto secreto e maioria absoluta, os deputados e senadores que praticarem
atos classificados como de incompatibilidades. Neste sentido é o § 1 - do art. 55.
As incompatibilidades são restrições, neste caso, aplicáveis como normas de
condutas éticas e funcionais aos deputados e senadores, que incidem a partir de
marcos estabelecidos: a diplomação e a posse, conforme disciplina o inciso I do
art. 55 da CF.
Como se nota, a diplomação é o último ato formal da Justiça Eleitoral e a posse
não é ato privativo do Poder Judiciário Eleitoral, mas é encargo administrativo das
Casas Legislativas respectivas.
0 legislador constituinte elegeu marcos ou balizas: diplomação (que eqüivale
à nom eação do servidor) e posse como limites finais de celebração de contratos,
aceitação de empregos, funções e cargos por parte dos eleitos, que nessas novas
fases da vida política passam ao status do ius honorum . Não são apenas candidatos,
mas cidadãos especiais cuja missão é resguardar a representatividade partidária e
defender os interesses da sociedade de eleitores e a res publica.
Transcrevemos as lições de José Afonso da Silva sobre as incompatibilidades:
"São regras que impedem o congressista de exercer certas ocupações
ou praticar certos atos cumulativamente com seu mandato. Constituem,
pois, impedimentos referentes ao exercício do mandato. Referem-se ao
eleito. Não interditam candidaturas, nem anulam a eleição de quem se
encontre em situação eventualmente incompatível com o exercício do
mandato."15
O art. 54 , inciso í, a, veda desde a diplomação a contratação com pessoa jurídica
de direito público, autarquia, empresas públicas, sociedades de economia mista
ou empresas do serviço público, salvo quando o contrato estabelecer cláusulas
uniformes. José Afonso da Silva denomina essa hipótese de incompatibilidade
negociai.

O que se entende p or cláusulas uniform es?


Identifica-se essa expressão com os denominados contratos de adesão.

15 Curso de Direito Constitucional Positivo. 28a ed. São Paulo: Malheiros, 2007, pp. 538-9.

287
M a r c o s R am ayan a D ir eito E leitoral

De certo que não é possível ao parlamentar eleito prestar serviços que possam
lhe acarretar vantagens econômicas sem que se estabeleça o padrão típico, ou
seja, o teor ou conteúdo do contrato é estabelecido como direito potestativo pelo
contratante, com cláusulas padrões, independentemente das partes contratadas.
A Constituição Federal procura proteger a ética dos contratos públicos, afastando
o diplomado e empossado pelo voto popular de eventuais manobras de exploração
de prestígio com a obtenção de cláusulas contratuais que lhe favoreçam direta ou
indiretamente em detrimento do interesse da res publica.
Equiparando-se o contrato chamado de cláusulas uniformes com o de adesão,
objetiva-se evitar contratações não éticas e que possam comprometer a lisura
do exercício do mandato eletivo, inclusive com reflexos no financiamento das
campanhas eleitorais, pois o art. 24 da Lei ne 9.504/97 veda que concessionários
e permissionários de bens públicos, dentre outros órgãos, pessoas e entidades
possam direta ou indiretamente dar dinheiro, publicidade ou recursos em geral
para as campanhas eleitorais.
Como casos típicos de contratos de adesão são apontados: os de seguro, de
fornecimento de energia elétrica, água, luz, telefone e cartões de crédito, dentre
outros.
Melhor seria se o legislador proibisse qualquer tipo de contratação do
parlamentar com as pessoas jurídicas de direito público e concessionárias dentre
outras, até porque a questão situa-se no princípio da moralidade administrativa,
cuja tutela tem arrimo constitucional (art. 37, § 4 - da CF). Já se reconheceram como
hipóteses de incompatibilidades, os casos de vereadores eleitos e diplomados que
pretendiam celebrar contrato de serviços advocatícios de Procurador do Município;
e de manutenção de prestação de serviços odontológicos.
Considera-se ainda a Lei ne 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo
Administrativo no setor da Administração Pública Federal, quando no art. 2 ^ exige
padrões éticos do agente público com os negócios da administração. Daí, ser ainda
extremamente relevante a incidência da Lei de Improbidade Administrativa, Lei
ne 8.429/92, que trata a malícia como ato de improbidade.
E ainda, o art. 54, inciso I, b, e inciso II, b, denominados pelo professor José Afonso
da Silva como incom patibilidades funcionais; o 54, inciso II, a e c, como do tipo
profissionais e, por fim, a incom patibilidade política, prevista no art. 54, inciso
II, d, que veda a titularidade simultânea de mais de um cargo ou mandato público
eletivo. V.g., Tício não pode ser deputado estadual e vereador ao mesmo tempo.
É importante frisar que, quando se verificar a ocorrência da incompatibilidade,
não competirá à Justiça Eleitoral o exame dos casos, mais sim, à própria Casa
Legislativa, ensejando um processo regimental de cassação do mandato eletivo, que
em vários casos não chega a um veredicto positivo. Restará apenas à Justiça Comum

2 8 8
IN E L IG IBILID A D ES. C O N C EIT O E
C IA S SI FÍCAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 1 0

o exame da hipótese de improbidade administrativa, que, se julgada procedente, ao


final acarretará a suspensão dos direitos políticos nos termos do art. 15, inciso V, da
Constituição Federal.
Dessa forma, se o mandato eletivo for cassado ocorrerá a inelegibilidade, pois foi
reconhecida pela Casa Legislativa a hipótese de incompatibilidade. Caso contrário,
somente será possível deflagrar-se a ação de improbidade ou o processo penal na
forma da legislação vigente, se o fato for tipificado como crime.
A condenação criminal transitada em julgado acarretará a suspensão dos direitos
políticos na forma do art. 15, inciso III, da CF.
As incompatibilidades deveriam ser analisadas pelo Poder Judiciário em função
de ação promovida pelo Ministério Público e partidos políticos, sendo adotadas
sanções eficazes e imediatas no próprio âmbito da Justiça Eleitoral, que nesses
casos poderia ter sua competência prorrogada para declarar a inelegibilidade na
forma legal.
O atual sistema é ineficiente e acarreta a possibilidade de corrupção.
Por fim, a inelegibilidade deflue na perda do mandato eletivo pelo processo de
cassação, sendo o prazo contado de oito anos após o término da legislatura (que é
sanção significativa, acaso ocorra a cassação), bem como pelo período remanescente
do mandato. Assim, v.^., se o deputado federal estava no início da legislatura, terá
um prazo superior de término da inelegibilidade em relação ao que já estava no
final do prazo de quatro anos.
Pedimos ao leitor que consulte o capítulo sobre a suspensão dos direitos políticos,
quando tratamos da perda do mandato dos parlamentares.

c) O Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito


e o Vice-Prefeitó que perderem seus cargos eletivos por infringência a
dispositivo da Constituição Estadual da Lei Orgânica do Distrito Federal ou
da Lei Orgânica do Município, p ara as eleições que se realizarem durante o
período rem anescente e nos trê s anos subsequentes ao térm ino do mandato
p ara o qual tenham sido eleitos.
Observe-se que a Lei das Inelegibilidades não tratou da perda do mandato eletivo
do Presidente e Vice-Presidente da República, como hipóteses que ensejassem
inelegibilidades.
O caso do Presidente, Vice-Presidente da Republica e ministros de Estado é
classificado como inabilitação.
Essas dignas autoridades ao sofrerem condenação imposta pelo Senado Federal
na análise de crimes de responsabilidade, além de perderem o mandato e cargo que
ocupam, são consideradas inabilitadas para o exercício de função pública (qualquer
tipo de função ou serviço público), pelo prazo de oito anos.

289
M a r c o s R am a ya n a D ir eito E leitoral

Conforme prevê a Constituição Federal,

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - processar e


julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza
conexos com aqueles; II - processar e julgar os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de justiça e
do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da
República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como
Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação,
que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal,
à perda do cargo, com inabílitação, por oito anos, para o exercício de
função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.

Aponta-se a perda do mandato do Presidente e Vice-Presidente da República, no


caso acima, como punitiva, porque demanda um processo de Im peachm ent.
Os agentes políticos, na chefia do poder respondem pelas infrações conhecidas
como político-administrativas. São sanções não penais, que independem da
aplicação da legislação penal (Ver Lei ne 1.079/50, que trata dessas infrações).
Os arts. 51, inciso I, 52, inciso I, e 86, da Constituição da República Federativa do
Brasil consagram de forma sistemática o processo de im peachm en t (impedimento)
do exercício do mandato eletivo do Presidente e Vice-Presidente da República.
O processo de im p each m en t é bifásico ou escalonado: na prim eira etapa a
Câmara dos Deputados analisa a acusação e autoriza a instauração do devido
processo legal. Numa segunda etapa, instaura-se no próprio Senado Federal o
julgamento. Realiza o Senado uma função judicante, atípica e anômala, mas que no
equilíbrio da separação dos poderes na República e nas democracias é de relevante
missão institucional.
Quem preside o julgamento no Senado Federal é o presidente do Supremo
Tribunal Federal, que não tem direito de voto. A condenação só se impõe pelo voto de
2/3 dos Senadores e a c a rre ta a inabílitação por oito anos, sem prejuízo da ação
penal cabível, que, se for julgada procedente, e transitar em julgado, acarretará a
suspensão dos direitos políticos na forma do art. 15, inciso III, da Constituição
Federal.
É possível concluir que a inabílitação engloba a inelegibilidade durante o período
de oito anos, conforme previsto no parágrafo único do art. 52 da Carta Magna.
A inelegibilidade é um minus em relação ao plus da inabílitação, que impede a
nomeação e posse em concursos públicos e o acesso aos cargos de servidor público
em geral. A inabílitação é ampla. A inelegibilidade é restrita.

2 9 0
In eleg ibilid ades . Co n c e it o e
classificação . Elegibilidades C a p ít u l o 10

A perda do mandato eletivo do Presidente e Vice ainda é apontada pela doutrina


como natural, nos casos de extinção, ou seja, morte, perda ou suspensão dos
direitos políticos e renúncia, acresça-se a ação de impugnação ao mandato eletivo
e os casos em que a decretar a Justiça Eleitoral, ou ainda volu ntária (ausência do
país, sem justificação ou não assunção na posse).
É possível que o Presidente pratique crime comum, incluindo os delitos eleitorais.
Nesses casos, a denúncia é oferecida ao Supremo Tribunal Federal pelo Procurador-
geral da República, seguindo-se o rito processual da Lei n9 8.038/90 e as regras do
Regimento Interno do próprio STF.
O presidente se sujeita à prisão, quando sobrevier a decisão condenatória pelo
crime praticado.
Cai a lanço notar que o processo criminal se apresenta em duas etapas: a primeira,
enseja uma licença por parte da Câmara dos Deputados de 2/3 dos membros. A
licença só é solicitada pelo STF para iniciar o processo criminal, não sendo exigível
nos inquéritos e oferecimento da denúncia ou ação penal privada subsidiária da
pública. Com ela, o acusado é notificado para defesa prévia em 15 dias. Na segunda
etapa, o STF recebe a denúncia.
Sobre o relevante tema consultar ainda o art. 84 do Código de Processo Penal,
com as modificações produzidas pela Lei ne 10.628/02.
No caso dos governadores e vices, quando praticarem infrações político-
administrativas, se sujeitarão ao julgamento pela Assembleia Legislativa ou Câmara
Legislativa (Distrito Federal), formando-se uma espécie de Tribunal Especial,
conforme indicado na Lei ns 1.079/50.
No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, diz a Constituição Estadual:

Art. 99. Compete privativamente à Assembleia Legislativa:


XIII - processar e julgar o Governador e o Vice-Governador nos crimes
de responsabilidade e os Secretários de Estado nos crimes da mesma
natureza conexos com aqueles;
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos XIII e XIV, funcionará
como Presidente o do Tribunal de Justiça, limitando-se a condenação,
que somente será proferida por dois terços dos votos da Assembleia
Legislativa, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o
exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.

O parágrafo único deste artigo tratou de ampliar o prazo de inabilitação de oito


anos para os governadores. A regra é inconstitucional, porque compete à União
legislar sobre cidadania (art. 22, inciso XIII, da Constituição Federal bem como sobre
Direito Eleitoral, inciso I do mesmo dispositivo legal). Trata-se de competência
privativa, reservada ou expressa, não cabendo aos Estados tratar deste tema que
afeta a capacidade eleitoral passiva, pois inaplicável o § l 9 do art. 25 da CF.

291
M a r c o s R am a ya n a D ir eit o E leitoral

Essa matéria não é atribuída ao Poder Constituinte derivado decorrente, pois


não se insere no contexto da autonomia político-administrativa de auto-organização
dos Estados, considerando que atinge a cidadania, o voto, o eleitor e os partidos
políticos.
De certo que a cidadania é vista sob dois ângulos: o primeiro é o ativo, que
consiste no atributo de exercício do voto; o segundo é o passivo, ou seja, o ius
honorum, o direito de ser votado. Se a inabilitação é restrição mais drástica aos
direitos da cidadania, inclusive impeditiva de acesso a qualquer cargo público,
conforme já decidiu o STF, no Recurso Extraordinário - caso Fernando Collor de
Mello, ne 234.223/DF, Relator Ministro Octávio Gallotti, 1.9.1998, Informativo
STF nQ 121; não seria exigível uma regra de simples repetição a nível estadual
para consagrar aos governadores e vices, similitude com a sanção de inabilitação,
invadindo competência privativa da União, quando a Lei Complementar n- 64,
de 18 de maio de 1990, no dispositivo acima enaltecido, consagra a sanção de
inelegibilidade durante o período remanescente e nos 3 (três) anos subsequentes
ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos; e a Lei n9 1.079/50 estipula
o prazo máximo de 5 (cinco) anos de inabilitação.
Ressalte-se a douta posição de Pedro Roberto Decomain, em E legibilidades e
In elegibilidades,16 quando sustenta a possibilidade das Constituições Estaduais
tratarem da inabilitação para os Governadores, sem incidir em nenhuma
inconstitucionalidade, in expressi verbis:
"Desta sorte, em caso de perda do mandato do governador de Estado,
pela prática de crime de responsabilidade, a inabilitação para o
exercício de qualquer outro cargo prolonga-se por oito anos, e não
apenas por mais três, após o término do período normal do mandato
perdido, como prevê o presente dispositivo da Lei Complementar
n9 64/90.
Nessa parte, portanto, incidiu ela em inconstitucionalidade. Corrigível,
todavia. O prazo de inelegibilidade é que não corresponderá ao período
que faltasse para o término do mandato perdido, e mais três anos, mas
sim corresponderá a oito anos, contados da data da decisão que haja
proferido a condenação por crime de responsabilidade.”

Em conclusão, podemos afirmar que existem duas posições sobre o tema, a primeira,
entende que as Cartas Estaduais não podem tratar desta regra como repetição da
norma prevista no art. 52, parágrafo único, da Constituição Federal; a segunda, que
a íei das inelegibilidades incidiu em inconstitucionalidade firmando prazo e sanções
diversas. Posicionamos-nos pelá primeira/ data venia das relevantes e jurídicas
posições dã segunda corrente.

16 Elegibilidades e Inelegibilidades. São Pauio: Dialética, 2004, pp. 158-60.

292
IN ELEGIBILÍDADES. C O N C EIT O E
CLASSIFICAÇÃO. ELEG IBILIDA DES C a p ít u l o 10

Em acréscimo ao tema, é possível afirmar que a inelegibilidade e a inabilitação não


são institutos inconciliáveis para incidirem contra determinado cidadão, como no
caso dos chefes do executivo estadual, quando estes praticarem infrações tipificadas
na Lei ne 1.079, de 10 de abril de 1950 (Define os crimes de responsabilidade e
regula o respectivo processo de julgamento). Nesse sentido, o art. 74 da mencionada
lei, amplia suas normas no âmbito estadual aos governadores e secretários de
Estados, in expressi verbis: “Constituem crim es d e respon sabilidade dos govern adores
dos Estados ou dos seus Secretários, quando p o r eles praticados, os atos definidos
com o crim es nesta lei."
Ressalta-se que o art. 2 5 da lei acima mencionada diz: “Os crim es definidos nesta
lei, ainda quando sim plesm ente tentados, sã o passíveis da pen a de perda do cargo,
com inabílitação, a té cinco anos, p ara o exercício de qu alqu er fu n ção pública, im posta
pelo Senado F ed eral nos p rocessos contra o P residente da República ou Ministros de
Estado, contra os Ministros do Supremo Tribunal F ederal ou contra o Procurador
Geral da República/'
Nessa linha, não é possível que o parágrafo único do art. 99 da Constituição do
Estado do Rio de Janeiro, v.g., fixe prazo de oito anos para a inabilitação, quando a
Lei ns 1.079/50 o estipula em cinco anos.
0 Egrégio Supremo Tribunal Federal possui precedente sobre relevante questão
em ação direta proposta pelo Exm9. Governador do Estado de Santa Catarina na
ADIN 1628/SC, Rei. Ministro Eros Grau, em 10.08.2006, in verbis:
''(.•0 Quanto a expressão 'por oito anos', considerou-se que, em razão de
a CF/88 ter se pronunciado, no parágrafo único de seu art. 52, apenas
relativamente ao prazo de inabilitação das autoridades federais,
permanecendo omissa, no que se refere às estaduais, o prazo de cinco
anos previsto na Lei n2 1.079/50 para estas subsistiria. Dessa forma,
não tendo sido a Lei ne 1.079/50 alterada ou revogada, o Estado-
membro, ao majorar esse último prazo, também teria usurpado a
competência legislativa da União para tratar da matéria.”
A competência privativa da União é fremente nos arts. 22, inciso I c/c 85, parágrafo
único da Constituição da República Federativa do Brasil, sendo que o art. 78 ainda
atribui a competência para julgar o governador a um Tribunal Especial.
Diante dessas ponderações, é possível compreender que, se sobrevier a
condenação do governador, ele ficará, durante o período remanescente e nos 3 (três)
anos subsequentes ao término do mandato para o qual tenha sido eleito, inelegível.
A inabilitação (sanção mais drástica), incide junto com a pena de perda do cargo
prorrogando-se pelo tempo, até perfazer o prazo total de cinco anos.
Assim, incidirá de forma concomitante a inelegibilidade e a inabilitação, e esta
última, por ser mais severa abrangerá a outra, até perfazer os cinco anos previstos
na Lei n- 1.079/50, observando-se que durante todo o mandato ele será sempre

293
M a r c o s R a m ayana D ir eit o E leitoral

inelegível, pois a Lei Complementar faz menção ao período remanescente do


mandato eletivo, além de ficar inelegível por mais três anos, após a perda efetiva do
mandato eletivo.
Por exemplo: se um governador foi eleito, diplomado em 2010 e tomou posse
em janeiro de 2011, sendo que em 2013 foi condenado, ele ficará inelegível
e incompatível (concomitantemente) até o término do mandato em 2014.
Observando-se que em relação ao prazo da inelegibilidade não existem problemas,
porque a LC ns 64/90 disciplina que ela perdura até o término do mandato, mas
o prazo da incompatibilidade de cinco anos já está transcorrendo, e, assim, até o
término do mandato (2013 até 2 0 1 4 ) já se passou um ano de incompatibilidade.
Restarão, após o término do mandato (2014), quatro a nos d e incompatibilidade,
e apenas três de inelegibilidade. Conclui-se pela abrangência da inelegibilidade
e a incompatibilidade durante os três anos, após o término do mandato eletivo,
restando, portanto, apenas mais um ano de incompatibilidade, após a cessação do
prazo da inelegibilidade.
Todavia, se no mesmo exemplo, o governador sofreu a condenação ao final do
mandato eletivo, v.g,, em setembro de 2014, ele ficará inelegível até 31 de dezembro
de 2014 (término do mandato eletivo) e por três anos subsequentes, ou seja, até
2017. A incompatibilidade já começa a transcorrer seu prazo de cinco anos durante
o mandato eletivo, e, nesse caso, desconta-se dos cinco anos o prazo de setembro de
2014 até 31 de dezembro de 2015, aplicando-se a incompatibilidade até 2020, mais
precisamente, setembro de 2020, quando terminam os cinco anos.
A Lei ne 7.106, de 28 de junho de 1983, que: "Define os crimes de responsabilidade
do Governador do Distrito Federal, dos Governadores dos Territórios Federais e de
seus respectivos Secretários, e dá outras providências", diz no art. 4 9: "Declarada
a procedência da acusação e suspensão do Governador, a Comissão Especial,
constituída por 5 (cinco) Senadores e 5 (cinco) Desembargadores do Tribunal de
Justiça, presidida pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, no
prazo improrrogável de 90 (noventa) dias, concluirá pela condenação, ou não, do
Governador à perda do cargo, com inabilitação até 5 (cinco) anos p ara o exercício
de qualquer função política, sem prejuízo da ação da justiça comum."
Cumpre ao legislador por lei nacional (especialmente Lei Complementar) fixar
o prazo de inabilitação de oito anos para os governadores do Estado e do Distrito
Federal, alterando a regra dos cinco anos e criando a isonomia nesse instituto
para presidente e governadores, pois não existem motivos de manutenção de
prazos diversos, quando a essência da ilicitude que conduziu à perda do cargo e à
inabilitação são idênticas.
A ação penal por crim e comum (incluindo o eleitoral) contra os governadores é
de competência do Superior Tribunal de Justiça, art. 105, inciso I, a, da Constituição
Federal, após licença concedida pela Assembleia Legislativa ou Câmara Legislativa,
suspendendo-se a prescrição até a concessão da devida licença. A CF não consagrou

294
in e l e g ib il id a d e s . C o n c e it o e
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ítu lo 1 0

aos vices o foro por prerrogativa, e, assim, entendemos que eles são processados e
julgados nos crimes eleitorais pelos juizes eleitorais do local da infração, até porque
as Constituições Estaduais não podem alargar o foro por prerrogativa de função,
sendo a matéria privativa da União.
Em relação aos prefeitos e vices, a regra está prevista no Decreto-Lei n-
201, de 27 de fevereiro de 1967, art. I a, § 2 9, que fixa, também, o prazo de cinco
anos, quando, por similitude à sanção do art. 52, parágrafo único, da Constituição
Federal, referente ao Presidente da República deveria ser de oito anos, conforme já
salientado.
Os prefeitos se sujeitam ao processo por infração político-administrativa,
im peachm en tn o âmbito da Câmara Municipal, mas podem ainda responder por ações
judiciais que acarretam perda do mandato eletivo, inelegibilidade, a suspensão dos
direitos políticos, multa e até inabilitação proveniente da sanção penal condenatória,
como na Lei de Abuso de Autoridade, em que o agente é condenado criminalmente
à perda do cargo e à inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública
por prazo de até três anos (art. 6 a, § 3 e, c).

d) Os que tenham contra sua pessoa rep resen tação julgada procedente pela
justiça Eleitoral, transitada em julgado, em processo de apuração de abuso
do poder econômico ou político, p ara a eleição na qual concorrem ou
tenham sido diplomados, bera como p ara as que se realizarem 3 (três) anos
seguintes.
A hipótese é prevista na alínea d do artigo em comento. Tratamos do tema no
capítulo referente ao abuso do poder econômico, e solicitamos ao leitor consultá-lo.
Essa alínea tem correlação com o inciso XIV do art. 22 da LC na 64/90, e com a
alínea h deste art. I 2, inciso I.
Como se percebe, o termo "representação" se refere à ação de investigação
judicial eleitoral ou à representação por abuso do poder econômico e/ou político; à
ação de impugnação ao mandato eletivo e ao próprio recurso contra a diplomação
(art. 262, inciso IV, do Código Eleitoral), ou seja, às ações ou recursos que apliquem
sanções de inelegibilidade, e, portanto, analisem o abuso do poder econômico ou
político como condutas potencialmente lesivas para desequilibrar a igualdade de
chances e oportunidades em função das campanhas eleitorais.
A decisão deve ter transitado em julgado para produzir o efeito da inelegibilidade
por abuso do poder econômico ou político.
Aponta-se a hipótese da exigência do trânsito em julgado como exceção ao efeito
imediato das decisões da Justiça Eleitoral, conforme disposto no art. 257 e parágrafo
único do Código Eleitoral.

295
M a r c o s R a m ayan a D ir eito E leitoral

Os recursos eleitorais possuem apenas o efeito devolutivo, mas excepcionalmente


a decisão do juiz de primeira instância não é cumprida imediatamente, suspendendo-
se de forma obrigatória com a interposição do recurso do infrator, Uma das
exceções é a sanção de inelegibilidade, que fica suspensa até a decisão transitar em
julgado, permitindo que o infrator possa ter acesso ao mandato eletivo e exercê-lo
normalmente.
Em outras palavras, só se é inelegível por três anos da data da eleição, Verbete
sumular ne 19 do TSE, e art. 22, inciso XIV, da LC nQ64/90, quando ocorrer decisão
transitada em julgado.

e) Os que forem condenados crim inalm ente, com senten ça transitada em


julgado, pela prática de crim e contra a econom ia popular, a fé pública, a
adm inistração pública, o patrim ônio público, o m ercado financeiro, pelo
tráfico de entorpecentes e p or crim es eleitorais, pelo prazo de 3 (três)
anos, após o cum prim ento da pena.
Com relação a essa inelegibilidade do tipo criminal e superveniente à suspensão
dos direitos políticos, a abordagem do assunto foi feita no capítulo sobre a suspensão
dos direitos políticos; pedimos ao leitor que consulte.
Em acréscimo ao tema, destacamos, para a devida remissão, os arts. 15, inciso
III, e 55, inciso VI, da CF, bem como o Verbete sumular ne 9 do TSE, publicado no DJ
de 28, 29 e 30.10.1992.

f) Os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele Incompatíveis,


pelo prazo de 4 (q u atro) anos.
Como se nota, a pena de indignidade para o oficialato é matéria de competência
não eleitoral, mas que acarreta efeitos eleitorais, como a inelegibilidade daí
decorrente.
“(.■■) A indignidade e a incompatibilidade para o oficialato, bem como
a perda do posto e da patente, são expressões que dizem respeito aos
Oficiais, tanto das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica},
quanto das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos
Estados e do Distrito Federal, já que atualmente não temos Territórios
no Brasil (...).
(...) No campo penal militar, o conceito de indigno para o oficialato é
legal, estando previsto no art.100 do Código Penai Militar (CPM). É
pena acessória (art. 98, inciso II, CPM) - imprescritível (art. 130, CPM),
e a ela ficam sujeitos os oficiais condenados, qualquer que seja a pena,
nos crimes de traição, espionagem ou cobardia (arts. 355 a 367 - tempo
de guerra) ou em qualquer dos definidos nos arts. 161 (desrespeito a
símbolo nacional); 235 (pederastia ou outro ato de libidinagem); 240
(furto simples [...] Já a perda do posto e da patente é a conseqüência

296
In eleg ibilíd a des . Co n c e it o e
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ít u l o 1 0

inevitável da declaração de incompatibilidade ou indignidade para com


o oficialato (art. 118, do Estatuto dos Militares), sendo o indigno ou o
incompatível demitido ex officio, sem direito a qualquer remuneração
ou indenização, recebendo a certidão de situação militar prevista na
legislação que trata do serviço militar (art. 119 do mesmo diploma
legal).
De acordo com o a rt 16, § l s, da Lei ne 6.880/80, POSTO é o grau
hierárquico do oficial, conferido por ato do Presidente da República
ou do Ministro da Força Singular e confirmado em CARTA PATENTE.
Já as PATENTES dos oficiais das Polícias Militares e dos Corpos de
Bombeiros Militares, são conferidas pelos respectivos Governadores
(art 42, e seus parágrafos, da Constituição Federal).
(...) A fonte da previsão da perda do posto e da patente situa-se na Carta
Magna, exatamente nos incisos VI e VII do § 39 do art. 142 (acrescidos
pela Emenda Constitucional ne 18, de 05.02.98). Assim, tanto o oficial
que for declarado indigno do oficialato ou com ele incompatível, em
decorrência da aplicação da pena acessória (art. 98, incisos II e III, do
CPM) em processo perante a Justiça Militar, federal ou estadual, como
aquele oficial que for condenado à pena privativa de liberdade superior
a 2 (dois) anos, ficam sujeitos à representação do Ministério Público,
para a declaração da perda do posto e patente.
A nível federal, a previsão está no art. 122, inciso II, e, 123 e §§,
do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar (STM), cuja
competência originária está descrita no art 6e, inciso I, letra h, da Lei
na 8.457/92 - Lei de Organização Judiciária Militar da União.
A nível estadual e do Distrito Federal, em relação aos oficiais das
polícias militares e dos corpos de bombeiros militares, a previsão se
encontra, por igual, no Regimento Interno dos Tribunais Militares
de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e deve estar prevista
igualmente no Regimento Interno de cada um dos Tribunais de Justiça
dos demais Estados e do Distrito Federal, em obediência ao previsto no
art. 42, § l e, e, 125, §§ 3fi e 4 e, da Carta Magna.
Prima fa cie se diga que o Conselho de Justificação é um processo
administrativo militar sui generis, que pode (não necessariamente)
tornar-se híbrido, quando a autoridade nomeante, dentre as várias
hipóteses de solução do processo administrativo (arquivamento;
aplicação de pena disciplinar; efetivação da reserva remunerada;
remessa ao auditor competente) encaminha o Conselho de Justificação
ao Tribunal competente, isto se o fato pelo qual o Justificante foi julgado
culpado refere-se a um dos incisos I, III e V, ou se, em razão do inciso
IV, foi considerado incapaz de permanecer na ativa ou na situação
de inatividade em que se encontra. Os incisos citados referem-se às
várias hipóteses de submissão do oficial ao Conselho de Justificação e
que estão logo abaixo relacionadas. Neste caso, em uma primeira fase,

297
M a r c o s R a m ayan a D ireito E leitoral

de natureza essencialmente administrativa, a Comissão processante


avalia através do processo especial se o oficial (das forças armadas
ou polícias militares e corpos de bombeiros militares) tem ou não
condições de permanecer na ativa, ou sendo da reserva remunerada ou
reformado, se é incapaz de permanecer na situação de inatividade em
que se encontra. Na segunda fase, de natureza essencialmente judicial,
o Tribunal competente (Superior Tribunal Militar, Tribunal Militar do
Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais, ou Tribunal de Justiça)
irá decidir sobre a perda do posto e da patente ou sobre a reforma
compulsória.”
(FONTE: www.cesdim.org.br)
Não se pode perder de vista que os réus condenados por crimes comuns,
militares ou eleitorais ficam com os direitos políticos suspensos durante o prazo
em que cumprem penas, e até que seja extinta a pena na forma legal.
Dessa forma, o prazo de quatro anos da inelegibilidade con ta-se da data do trânsito
em julgado da sentença: não é superveniente à condenação criminal transitada em
julgado, mas, sim, concomitante. Desse modo, a suspensão dos direitos políticos
(sanção mais ampla que impede ao cidadão votar e ser votado) pode abranger por
completo a sanção de inelegibilidade por quatro anos (que impede o cidadão de
ser votado), ou pode terminar antes do prazo de quatro anos da inelegibilidade,
dependendo do prazo de imposição da pena.
A lei deveria ter previsto que a inelegibilidade seria superveniente ao prazo
de cumprimento da pena, porque da forma que está redigida não permite a ilação
de que seriam os réus indignos do oficialato inelegíveis por quatro anos, após o
cumprimento da pena, mas, em contrapartida, cria-se aparente conflito de normas
com a alínea e, da LC ne 64/90, art. l fi, inciso I, conforme acima destacado.
A alínea e trata da inelegibilidade superveniente à suspensão dos direitos
políticos por condenação criminal transitada em julgado. A alínea f não contempla
essa hipótese.
Todavia, a indignidade para o oficialato em sua essência é crime contra a
Administração Pública, e, portanto, gera a inelegibilidade por três anos, após o
cumprimento da pena.
Solução:
Se a pena imposta, por exemplo, for de cinco anos de reclusão por crime militar.
Durante o prazo de cumprimento da pena o réu estará com os direitos políticos
suspensos. Sendo oficial, será declarado indigno, e, assim, ficará inelegível por
quatro anos, mas essa sanção é inócua, porque está compreendida dentro do prazo
da suspensão dos direitos políticos, mas ao nosso pensar não obsta a sanção de
inelegibilidade da alínea e, porque esta é superveniente.

298
IN ELEGIBILIDADES. C O N C E IT O E
CLASSIFICAÇÃO. ELEG IBILID A D ES C a p ít u l o 1 0

Só não se aplica a alínea e quando o prazo da condenação for inferior ao prazo


da inelegibilidade, pois haveria bis in idem . Se os prazos forem coincidentes, não
se pode diminuir a eficácia daquela alínea, que acarreta a inelegibilidade por três
anos, após o prazo de cumprimento da pena (suspensão dos direitos políticos).
Os oficiais declarados indignos são depositários de sanções mais drásticas em
função da atividade miliciana de direção e comando desenvolvida, e que foi violada
nos deveres de regras militares de defesa da sociedade, não sendo possíveis suas
candidaturas de forma mais facilitada que outros não oficiais, que permanecem
inelegíveis por três anos, após o cumprimento da pena.
O renomado Joel José Cândido tem opinião diversa, a saber: "A alínea e, como se
viu nos comentários a ela pertinentes, só incide para pessoas que não estiverem
incursas nas sanções das demais alíneas, que são específicas. A alínea e é genérica.
A não ser assim poderá haver duplo apenamento pelo mesmo fato, o que não é
juridicamente possível, como se sabe. Aqui, não seria possível o duplo apenamento
porque a sanção política a ser aplicada é idêntica."17

g) Os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas


rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível do órgão
competente, salvo se a questão houver sido ou estiver sendo submetida à
apreciação do Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 5 (cinco)
anos seguintes, contados a partir da data da decisão.
Sobre esta questão, solicitamos ao prezado leitor que consulte o capítulo sobre
a ação de impugnação ao requerimento de registro de candidatos, no item que trata
sobre a rejeição de contas.
Na remissão, vide Verbete sumular n9 1 do TSE, publicado no DJ de 23, 24 e
25.09.1992.

h) Os deten tores de cargo na adm inistração pública direta, indireta ou


fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder
econômico ou político apurado em processo, com sentença transitada em
julgado, p ara as eleições que se realizarem nos 3 (três) anos seguintes ao
térm ino do seu m andato ou do período de sua perm anência no cargo.
No caso supracitado, os servidores públicos praticam atos típicos de abuso do
poder político com a finalidade eleitoral.
Na alínea d, do art. l s, inciso I, da LC nQ64/90, os infratores são os candidatos,
cabos-eleitorais e agentes políticos que apoiam os candidatos. Por exemplo, um
prefeito que dá suporte ao deputado estadual durante uma campanha eleitoral,
usando a máquina administrativa.

17 Inelegibilidade no Direito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Edipro, ano 1999, p. 182.

299
M a r c o s R am a ya n a D ir eit o E leitoral

No caso da alínea h, o ato do agente público deve ter nexo de causalidade com
a finalidade eleitoral. Objetíva-se afastar o desequilíbrio das eleições que atingem
os competidores ao pleito eleitoral, por intervenção de agentes administrativos
e políticos, que, praticando atos caracterizadores da improbidade administrativa
(e que se sujeitam também, às sanções da Lei n- 8.429/92, inclusive a suspensão
dos direitos políticos), usam da exploração do seu prestígio para influenciar o
eleitorado e atingir o equilíbrio ideal protegido dentro do binômio: NORMALIDADE
E LEGITIMIDADE DAS ELEIÇÕES (art. 14, § 9*, da CF).
Sobre o assunto transcrevemos relevante decisão, com o brilhante relatório do
Excelentíssimo Ministro César Peluso em julgamento no TSE:
Recurso Especial Eleitoral n5 27120 — São Paulo - SP. Relator: Ministro
Cezar Peluso. Eleições 2006. Registro. Indeferimento. Inelegibilidade.
Recebimento como recurso ordinário. Preliminares rejeitadas. Atos de
gestão municipal. Publicidade. Ofensa ao princípio da impessoalidade.
Improbidade administrativa. Finalidade eleitoral. Não ocorrência. Não
incidência do art. l e, inciso I, h, da Lei Complementar ne 64/90.
Não caracterização. Recurso provido. A jurisprudência firmou-se no
sentido de que a caracterização da inelegibilidade prevista no art. 1^,
inciso I, ft, da LC ns 64/90
(...) Embora a declaração de inelegibilidade prevista no art. 1S, inciso
I, h, da Lei Complementar ne 64/90 possa, eventualmente, projetar-
se como reflexo indireto da condenação irrecorrível em ação de
improbidade administrativa, desde que o ato impugnado pela Justiça
Comum tenha sido praticado com fins eleitorais (REspe. na 13.135-RS/
TSE, Rei. Min. Ilmar Galvão), esta não é a hipótese em discussão nos
autos.
(...) o recorrente foi condenado pela prática de ato de improbidade
administrativa. O TJ/SP entendeu que, quando da publicidade de
atos administrativos durante sua gestão como prefeito municipal,
este veiculou propaganda institucional com afronta aos princípios da
impessoalidade e da moralidade administrativa. Em nenhum momento
aquele Tribunal conferiu finalidade eleitoreira aos atos censurados.
Portanto, essa condenação por improbidade administrativa não
caracteriza a inelegibilidade prevista na mencionada alínea h.
0 Tribunal Superior Eleitoral já decidiu:
Recurso especial. Registro. Candidatura. Condenação. Ação popular.
Ressarcimento. Erário. Vida pregressa. Inelegibilidade. Ausência.
Aplicação. Súmula-TSE ne 13. Suspensão. Direitos políticos. Efeitos
automáticos. Impossibilidade. Ação popular. Ação de improbidade
administrativa. Institutos diversos. Não incidência. Art. I-, inciso I,
alínea h, da LC ns 64/90. Necessidade. Finalidade eleitoral. Art. 1-,
inciso I, alínea g, da LC n9 64/90. Não caracterização.
[...]

3 0 0
IN ELEG IBILID A D ES. C O N C E IT O E
c l a s s if ic a ç ã o . El e g ib il id a d e s C a p ít u l o 1 0

4. A sanção de suspensão dos direitos políticos, por meio de ação de


improbidade administrativa, não possui natureza penal e depende de
aplicação expressa e motivada por parte do juízo competente, estando
condicionada a sua efetividade ao trânsito em julgado da sentença
condenatóría, consoante expressa previsão legai do art. 20 da Lei
8.429/92.
5. Para estar caracterizada a inelegibilidade do art. l e, inciso I, alínea h,
é imprescindível a finalidade eleitoral.
[...] (REspe. ns 23.347/PR, de 22.9.2004, Rei. Min. Caputo Bastos);
Recurso especial. Recurso contra expedição de diploma. Prefeito.
Improbidade administrativa. Inelegibilidade. Art. I 9, inciso I, alínea h,
da Lei Complementar na 64/90; Não configuração.
1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, para
configuração da inelegibilidade prevista no art. I a, inciso I, alínea h,
da LC ne 64/90, é imprescindível que o ato de improbidade possua fins
eleitorais. Precedentes.
(REspe. ne 19.533/SP, de 21.2.2002, Rei. Min. Fernando Neves).
3. Por esses fundamentos, dou provimento ao recurso (art. 36, § 1-, do
RITSE), para deferir o pedido de registro de candidatura. Publique-se.
(Fonte: Consultor Jurídico, 10 de novembro de 2006).
Como se nota, a LC n9 64/90, nesta alínea h, procura evitar que o cargo público
e as funções públicas em geral sejam usurpados para beneficiarem as campanhas
eleitorais. Na alínea d, qualquer pessoa pode ser responsabilizada; aqui não,
a responsabilidade situa-se na figura do detentor do poder que abusa ou desvia
da finalidade rompendo com a moral e os princípios da Administração Pública
transcritos no art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil.
Pune-se o desvio ético na condução do serviço público.
Cumpre destacar, in expressi verbis:
Os serviços públicos podem ser prestados de forma:
• Centralizada ou direta - Quando executados pela Administração direta do
Estado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios);
* D escentralizada ou indireta - Quando executados por terceiros. Nesta
forma, há uma distribuição de competência de uma para outra pessoa, física
ou jurídica, esteja ela dentro ou fora da estrutura da Administração Pública. 0
serviço público pode ser executado por terceiros que se encontram dentro da
estrutura da Administração Pública - são eles as autarquias, as fundações, as
em presas públicas e as sociedades de econom ia mista (e, mais recentemente,
as agências reguladoras e executivas). Quando a execução do serviço público é
transferida para terceiros que se encontram fora da estrutura da Administração
Pública, surgem as figuras das concessionárias e perm issionárias.
Ainda dentro da administração centralizada ou direta, surge a figura da
desconcentração, que é a transferência de competências de um órgão para outro,

301
M a r c o s R am ayan a D ir eíto E leitoral

mas dentro da Administração Pública direta, mediante diversos critérios: territorial,


geográfico (exemplo: administrações regionais ou subprefeituras), hierárquico
(exemplo: departamentos, divisões, unidades), matéria (exemplo: Ministérios da
Administração Federal, Secretarias Estaduais ou Municipais).
(...) As fundações são pessoas jurídicas de direito público ou privado criadas
para a prestação de serviços públicos, contando com patrimônio personalizado
destacado pelo seu instituidor, para a preservação do interesse público.
Ao assumirem personalidade de direito público, as fundações em tudo se
assemelham ao regime jurídico das autarquias, surgindo, aliás, como espécies desse
gênero, sendo rotuladas como autarquias fundacionais.
Aplicam-se às fundações públicas todas as normas, direitos e restrições
pertinentes às autarquias.
É possível cogitar a existência dentro da Administração indireta, de fundações com
personalidade jurídica de direito privado, não se podendo confundi-las, no entanto,
com as chamadas fundações privadas, inteiramente disciplinadas pelo direito privado.
São exemplos de fundações a Fundação Biblioteca Nacional (http:// www.bn.br),
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (http:// www.ibge.gov.br), a
Fundação Nacional do índio - FUNAI (http:// www.funai.gov.br), a Fundação para
a Infância e Adolescência - FIA, do Estado do Rio de Janeiro (http://www.fia.rj.gov.
br) etc." (Fonte: www.licoesdedireito.kit.net/administrativo/adm-admpublica)
Os agentes públicos que agirem de forma abusiva em benefício de um candidato
ou de si próprio, mas com finalidade eleitoral, se sujeitam a sanção de inelegibilidade
que, nesta hipótese, não é contada de três anos da data da eleição em que se verificou
o abuso (Verbete sumular n- 19 do TSE), mas sim, do TÉRMINO DO MANDATO OU
DO PERÍODO DE PERMANÊNCIA NO CARGO.
Esclarece o renomado Joel José Cândido, in expressi verbis:
0 termo “mandato", na alínea, não é o mesmo que "mandato eletivo",
mas sim o designativo da investidura de alguns agentes de direção de
empresas públicas ou sociedade de economia mista - as paraestatais.
Os titulares de "mandatos eletivos" estão sujeitos à alínea d, deste
mesmo artigo, como se viu. São agentes políticos e não detentores de
cargo na administração pública.18

0 agente público beneficiou o candidato. Neste caso cumula-se na ação de


investigação judicial eleitoral as alíneas d eh , ou na ação de impugnação ao mandato
eletivo, e, uma vez transitada em julgada a questão referente ao abuso do poder
político, o candidato fica inelegível por três anos nos termos da Súmula n9 19 do
TSE. Aliás, o próprio inciso XIV do art. 22 da LC nü 64/90, já permite a inclusão no
pólo passivo da ÀIJE ou Representação dos que contribuíram para o evento. :

18 Op. cit., p. 203.

302
INELEGIBILÍDADES. C O N C E IT O E
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ítu lo 1 0

Quanto ao agente público, a lei é confusa em sua redação, e dá ensejo a certas


perplexidades, pois parece que a inelegibilidade só incidiria após o término do
mandato ou cargo, mas não durante o período.
Se o agente está no cargo por mandato não popular, a inelegibilidade só incidirá
quando ele terminar o mandato pelo prazo de três anos. Não vemos outra forma de
interpretar a hipótese, mesmo postergando-se a sanção para data futura, mas certa
no tempo do fim do transcurso do mandato. Neste sentido TSE Resp. n5 13.138, de
28.9.1996, relator Ministro Nilson Naves, Em entário TSE E leições 1996, página 80.
No entanto, se for um servidor público de carreira, não se pode esperar que a
inelegibilidade incida somente quando ele for aposentado, ou pedir exoneração, ou
quiçá for demitido (perder o cargo). Não há prazo, nem possibilidade de fixação de
sanção de inelegibilidade protraída em tempo incerto.
No caso anterior, a solução é fixar na própria decisão, o prazo de três anos
que se inicia com o trân sito em julgado da decisão na ação correspondente, na
forma da alínea d, adotando-se a Interpretação sistêm ica entre as alíneas d e h do
a rt. l e, inciso 1, da Lei Complementar n2 64, de 18 de maio de 1990, porque, não
é possível manter-se durante todo o período do exercício das funções do servidor
público um prazo de inelegibilidade, que poderia chegar a extrapolar o prazo de
suspensão dos direitos políticos fixado na Lei de Improbidade Administrativa, Lei
na 8 .4 2 9 /9 2 , in verbis: “Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e
administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de
improbidade sujeito às seguintes cominações: I - na hipótese do art. 9 e, perda dos
bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do
dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos
de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo
patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos/’

i) Os que, em estabelecim entos de crédito, financiamento ou seguro, que


tenham sido ou estejam sendo objeto de p rocesso de liquidação judicial ou
extrajudicial, hajam exercido, nos 12 (doze) m eses an teriores à respectiva
decretação, cargo ou função de direção, adm inistração ou representação,
enquanto não forem exonerados de qualquer responsabilidade.
Na acepção que nos interessa, a função legal da intervenção é a de terceiro
competente (Banco Central via figura do interventor), suspender o mandato
de administradores, membros do Conselho Fiscal e membros de quaisquer
outros órgãos criados pelos estatutos de instituição financeira em risco de
quebra, com o objetivo de evitar-lhe a liquidação extrajudicial ou mesmo a
falência. (...) Assim, em nosso âmbito de interesse, a liquidação extrajudicial
visa retirar absolutamente o mandato de administradores, membros do

303
M a r c o s R am ayana D ir eito E leitoral

Conselho Fiscal e membros de quaisquer outros órgãos criados pelos


estatutos de instituição financeira em estado de quebra. Como vemos, a
intervenção e a liquidação extrajudicial são institutos que se deslocam do
Direito Comercial para o Direito Administrativo, utilizando-se, todavia, de
soluções e mecanismos do Direito Falimentar, Neste ponto, vale ressaltar
que a intervenção não é pressuposto necessário nem obrigatório da
liquidação extrajudicial. Aintervenção visa tão somente evitar a liquidação
extrajudicial, quando o caso permite. 5. Lei ne 6.024, de 03.03.74 Dispõe
sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de instituições financeiras,
e dá outras providências. Assim, entendidos os conceitos julgados básicos,
fica claro na Lei supra que as instituições financeiras privadas e as públicas
não federais estão sujeitas à intervenção, à liquidação extrajudicial ou à
falência. Que tanto a intervenção como a liquidação extrajudicial dessas
instituições financeiras só poderão ser efetuadas e decretadas pelo Banco
Central do Brasil e que não prejudicam os termos dos arts. 208 e 209 da
Lei das Sociedades Anônimas (Lei ne 6.404, de 15.12.76), que norteiam a
liquidação pelos órgãos da companhia ou a liquidação judicial 6. Quem
está sujeito à intervenção? Estão sujeitos à intervenção as instituições
financeiras privadas, públicas não federais e as cooperativas de crédito.
(Fonte em www.direitobrasil.adv.br. Artigo de UNIFIEO - Centro
Universitário FIEO Intervenção e liquidação extrajudicial das instituições
financeiras. Grupo: Advogados do futuro. Participantes: 07 ~ Andréa
Bérgamo Veja 15 ~ Daniela Rita Spinazzola Santos 22 - Elvio Luciano de
Souza 90 - Marcus Alencar Figueiredo 57 - Maria Cristina Leocádio 61 -
Nádia Lígia Marques Crêem).
E ainda se pode constatar que a situação ensejadora da intervenção decorre de
atitudes ilícitas na gestão da instituição financeira. Os credores e a sociedade em
geral são atingidos pelos desmandos dos responsáveis.
Assim, o Banco Central atua de ofício decretando a intervenção na forma legal. A
intervenção é de seis meses e pode ser prorrogada por igual prazo.
E ainda, em destaque:
(...) Alei determina o prazo de sessenta dias para a liquidação extrajudicial.
Este prazo começa a ser contado a partir da data do primeiro protesto
por falta de pagamento ou da data do ato que decreta a intervenção ou
a liquidação. É por isso que a data em que se caracteriza o estado que
determina a liquidação extrajudicial deverá, obrigatoriamente, constar
do ato do Banco Central que a decreta. (...) A lei determina a cessação da
liquidação extrajudicial nas seguintes hipóteses: a) se os interessados
assumirem o prosseguimento das atividades econômicas da empresa.
Neste caso, deverão apresentar as condições de garantia necessárias, as
quais serão julgadas por critérios do Bacen; b) se a liquidação extrajudicial
se transformar em liquidação ordinária. Neste aspecto, a legislação omite
informações e regulamentações sobre como se daria a transformação de

1 3 0 4
IN ELEG IBILÍD A D ES. C O N C EIT O E
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES C a p ítu lo 1 0

uma liquidação extrajudicial em uma liquidação ordinária. Importante


salientar que a liquidação ordinária de uma sociedade encontra-se
regulamentada pelos arts. 344 a 353 do Código Comercial. Para as
sociedades anônimas, como é o caso das instituições financeiras, a
regulamentação específica sobre a liquidação ordinária encontra-se nos
arts. 208 a 218 da Lei n9 6.404/76 (Fonte em www.direitobrasil.adv.br.
Artigo de UN1FIEO - Centro Universitário FIEO Intervenção e liquidação
extrajudicial das instituições financeiras. Grupo: Advogados do futuro.
Participantes: 07 - Andréa Bérgamo Veja 15 - Daniela Rita Spinazzola
Santos 22 - EIvio Luciano de Souza 90 - Marcus Alencar Figueiredo 57 -
Maria Cristina Leocádio 61 - Nádia Lígia Marques Crêem).
Como se nota, o prazo de tempo de inelegibilidade é de 12 meses anteriores a
decretação até a exoneração de qualquer responsabilidade, o que pode levar meses
e anos de espera.
Sobre este tema, analisou joel José Cândido: "A inelegibilidade aqui cominada
não tem data certa para terminar, também, porque findará, nos termos da lei,
quando houver exoneração de toda e qualquer responsabilidade; vale dizer,
quando ocorrer a coisa julgada na liquidação ou no processo cível ou criminal que
tenha sido eventualmente instaurado, e a data dessa res ju dicata, como se sabe, é
absolutamente incerta no tempo."19
Todavia, pedimos vênia para discordar das doutas e judiciosas fundamentações
referentes à eventual arguição de inconstitucíonalidade da alínea em comento em
face do art. 5-, inciso LV, da Constituição Federal.
O processo de liquidação judicial é a própria falência, e a extrajudicial pode
emergir da intervenção das autarquias controladoras ou de atitude dos próprios
sócios, administradores e controladores.
O fato é que a situação de "quebra" demanda um universo de relações sociais,
comerciais e humanas que, de certa forma, colocam o cidadão numa margem
obrigatória de afastamento da plena cidadania, pois ele não soube tratar dos credores
e das relações sociais, inclusive podendo em certos casos ocasionar a ruína financeira
e empresarial de diversos órgãos e setores de organização social e das instituições.
Os verdadeiros gestores dos estabelecimentos de crédito, financiamento ou seguro
e os empresários em geral, quando chegam ao estágio de liquidação judicial ou
extrajudicial precisam sempre exonerar-se de suas responsabilidades, inclusive
perante a Junta Comercial, setores do empresariado em geral e órgãos públicos para
poderem retomar atividades mercantis e empresariais.
O processo de exoneração é autônomo e rege-se por normas jurídicas, que
demandam uma decisão pelo juiz ou credor. Não é possível se autorizar a candidatura
de um cidadão que não se exonera legalmente de suas responsabilidades, por
intermédio do devido processo legal.

19 Op. cit., p. 214.

305
M a r c o s R am a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

Se, v.g, um empresário no cargo de direção da empresa ocasiona, por má-gestão,


impontualidade e outros ilícitos, a ruína de milhares de trabalhadores, famílias e
das organizações sociais em geral, não é possível que ele se restabeleça, sem antes
se exonerar legalmente por processo especial e legal dos ônus e encargos. Trata-se
de uma conditio sine qua non para a nova formação de uma empresa e, também para
o acesso aos mandatos eletivos.
Concordamos que a hipótese é uma exceção. Trata-se de uma inelegibilidade sem
prazo certo, mas que é imprescindível como mecanismo de proteção do cidadão-eleitor
e dos Partidos Políticos, pois, inclusive o art. 16 da Lei nfi 9.096/95 é bem esclarecedor:
"Só pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos
políticos.” Ora, se o empresário falido não pode nem iniciar outra empresa, sem
antes estar devidamente exonerado de suas responsabilidades, não é imaginável o
deferimento do requerimento de registro de sua candidatura pela Justiça Eleitoral.
Trata-se de causa de inelegibilidade perm anente, ou sem prazo certo para
term inar, ou seja, que se protrai no tempo enquanto durar a situação de não
exoneração da responsabilidade (o crime de seqüestro é delito permanente, que
dura enquanto o seqüestrador não libertar a vítima). A culpa pela não exoneração
das responsabilidades decorre da análise de diversos critérios subjetivos advindos
do processo de liquidação judicial ou extrajudicial, cuja decisão exonerativa deve
ser buscada de forma comprobatória da real reinserção social empresarial.
A omissão do cidadão interessado em deflagrar o processo autônomo de
exoneração ou obter a declaração dos credores, impede-lhe por inelegibilidade
sem prazo certo, anôm ala, de ter acesso a filiação ao Partido Político, art. 16 da
Lei n9 9.096/95, bem como de obter o deferimento do registro de sua candidatura.
Vê-se que a perpetuação no tempo da causa de inelegibilidade decorre de ação
voluntária do interessado cidadão.
Cumpre frisar que a situação de inelegibilidade é uma das restrições impostas ao
falido e pessoas equiparadas, e a jurisprudência não consagra as demais restrições
eventualmente inconstitucionais por impedirem o acesso a empresa, negócios
e atividades econômicas. Ora, se o agente não pode nem ser empresário de um
simples comércio,20 quanto mais ser o representante político da classe empresarial
ou dos setores ligados a classe dos trabalhadores.
O art. 14, § 9-, da Constituição Federal é norma de máxima eficiência constitucional
que impede a fraude e corrupção. Neste contexto a Lei Complementar n- 64, de
18 de maio de 1990, deve ser interpretada, e assim o dispositivo em comento é
plenamente constitucional e atende a norma de proteção social.

20 Em destaque o art. 48, inciso í, da Lei n2 11.101, de 9 de fevereiro de 2005: “Poderá requerer recuperação judicial
o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda
aos seguintes requisitos, cumulativamente: / - n ã o s e r fa lid o e , s e o foi, e s te ja m d e c l a r a d a s e x tin ta s , p o r s e n t e n ç a
tr a n s it a d a e m j u l g a d o , a s r e s p o n s a b ilid a d e s d a í d e c o r r e n t e s . ”

3 06
Constitucionais
IN ELEGIBILIDADES. C O N C EIT O E
CLASSIFICAÇÃO. ELEGIBILIDADES

Marcos Ramayana • Direito F.ieitoral 10a Edição • Capítulo 10 - Inelegibilidade. Conceito e Classificação. Elegibilidade

307
C a p ít u l o 1 0
C apítulo 1 1

P E D I D O DE REGISTRO
DE CA NDI DAT UR A

11.1. DO P R O C E SSO DE REG ISTRO DE CANDIDATURA


A importância do registro de candidatos centra-se no fato de que a competência
da Justiça Eleitoral é dirigida a esta atividade, que buscará da melhor forma
possível evitar, dentro da máxima eficiência e controle da normalidade das eleições,
candidaturas que não possuam requisitos ou condições constitucionais e legais
de elegibilidade ou estejam viciadas por causas de inelegibilídades, conforme se
extrai dos arts. 3 9 do Código Eleitoral e l 9 da Lei Complementar n9 64, de 18 de
maio de 1990, e ainda, casos que estejam inseridos dentro das causas de perda ou
suspensão dos direitos políticos, art. 15 da Constituição da República.
A escolha dos pré-candidatos é feita em convenções partidárias, tema este que
foi explorado no capítulo anterior.

11.1.1. Número de candidatos a serem reg istrad os


O art. 88, caput, do Código Eleitoral não permite o registro de um mesmo
candidato para mais de um cargo eletivo.
Nas eleições majoritárias, cada partido ou coligação só poderá requerer o
registro de um candidato a presidente da República, governador em cada Estado e
no Distrito Federal, prefeito nos Municípios, assim como os seus respectivos vices,
e de 1 ou 2 senadores, conforme a alternância de 1/3 ou 2/3 das vagas por Estado,
além de 2 suplentes de senador. As regras estão nos arts. 28, caput, 46, §§ l 9 a 3e,
e 77, capu t, todos da Constituição da República.
Nas eleições proporcionais, o número de candidatos por partido ou coligação
segue o disciplinado no art. 10.
A lei limita o número de candidatos apresentados por partidos políticos ou
coligações.
M a r c o s R am ayana D ir eito E leitoral

0 art. 10 fixa o percentual de até 150% dos números de lugares a preencher.


Os números de lugares são previstos em lei e resoluções. Assim, a chapa dos pré-
candidatos de um partido isolado pode ser formada por um número igual de vagas
oferecidas e mais a metade destas. No caso de coligação permite-se o dobro.
Para as eleições de 2006, o TSE expediu a Resolução n° 22.144/06, Instrução n°
101 - Classe 12a - Distrito Federal (Brasília), esclarecendo o número de vagas para
a legislatura de 2007, considerando a representação dos Estados e do Distrito Federal
na Câmara dos Deputados, bem como as vagas para as Assembleias Legislativas.
Assim, temos como exemplo: o Estado de São Paulo com 70 vagas de Deputado
Federal e 94 vagas de Deputados Estaduais e o Acre com 8 de Deputados Federais e
24 de Estaduais.
Com base no número de vagas indicado pelo TSE, os partidos e coligações podem
apresentar os seus pré-candidatos com a observância dos limites impostos.
A título de exemplo, no Estado de São Paulo, que possui 70 vagas de Deputados
Federais, o número máximo de candidatos por partido isolado é de 105 (70 + 35
= metade), sendo que havendo coligação o número máximo é de 140 (70 + 70 =
dobro). No Rio de Janeiro, considerando 4 6 vagas de federais, o número máximo de
candidatos por partido isolado é de 69 e, na hipótese de coligação, será de 92.
Quanto aos vereadores, sendo o número de cadeiras de 9, o número máximo de
candidatos por partido isolado é de 14 e, por coligação, será de 18.
Verifica-se que as coligações podem registrar até o dobro do número fixado para
as vagas. Desta forma, não importa o número de coligações proporcionais, mas sim
a existência desta união, quando aumenta a possibilidade do maior número de pré-
candidatos.
O § 2 - permite o registro até o dobro de lugares a preencher em caso de formação
de coligações.
A situação permissiva do § 2 9 favorece duplamente os partidos nanícos e os
grandes partidos, porque todos os dois podem conseguir eleger um maior número
de candidatos, considerando o aproveitamento do quociente partidário para o
cálculo (voto de legenda), enquanto que isoladamente, o partido nanico não teria
como eleger seus candidatos e, em contrapartida, o partido grande terá mais
oportunidades de somar votos de legenda com a apresentação do maior número de
candidatos.
Não de pode olvidar que a diferença de tratamento atribuída na lei entre
os partidos que concorrem isoladamente, e os que estão coligados, acarreta
uma violação ao princípio da isonomia (art. 5 Q da Constituição da República),
possibilitando aos coligados o aumento estratégico para eleger o maior número de
candidatos proporcionais.

310
P e d id o de Reg ist r o de C andidatura C a p ít u l o 1 1

É importante salientar que a diplomação dos eleitos deve seguir os critérios


consolidados na fase de registro das candidaturas, conforme teor de precedente do
C. TSE, (Ac. n- 15.257, de 8.8.2000, Rei. Min. Fernando Neves, e ainda Ac. ne 15.165,
de 3.12.1998, Rei. Min. Eduardo Alckmin).
O § 3 9 procurou disponibilizar percentuais de 30% e 70% para candidaturas de
cada sexo, ao contrário da redação da Lei n- 9.100/95, que discriminava o sexo
feminino. Hodiernamente, a regra enseja a dupla participação dos sexos masculino
e feminino, obrigando as mulheres a participarem das questões políticas.
É importante salientar que os percentuais de 30% e 70%, embora sejam altamente
questionáveis sobre o prisma da isonomia (art. 5 S da CF), devem ser respeitados na
ocasião dos requerimentos de registro de candidaturas, sob pena de não admissão,
pela Justiça Eleitoral, do requerimento dos "candidatos a candidatos"
Existem duas corren tes sobre o tem a: a prim eira, entende que os percentuais
devem ser disponibilizados para ambos os sexos, mas, sobrando lugares dentro do
percentual, é possível completar com pessoas do sexo oposto. Neste sentido Joel
José Cândido (op. cit., página 398). A segunda, nega esta possibilidade (posição
majoritária em Renato Ventura Ribeiro, Lei Eleitoral Comentada, p. 123, Editora
Quartier Latin, São Paulo, 2006; em igual sentido, Adriano Soares da Costa,
Instituições de Direito E leitoral, 6a edição, Editora Del Rey, p. 714, Belo Horizonte:
e jurisprudência do Colendo Tribunal Superior Eleitoral, precedente em destaque:
"(...) Registro. Vagas destinadas a candidatura de mulheres. Interpretação do § 59 do
art. 10 da Lei n9 9.504/97. A análise do § 5 9 deve ser feita sistematicamente com o
disposto no § 3~ da mesma lei. Impossibilidade de preenchimento por candidatura
de homem. (...)” (Ac. n9 16.632, de 5.9.2000, Rei. Min. Costa Porto; no mesmo
sentido os acórdãos n9s 12.834, de 19.8.1996; 13.021, de 28.9.1996, e 13.976, de
21.10.1996, Rei. Min. Francisco Rezek.). Correta a segunda posição. A violação à
regra enseja impugnação ao registro de candidaturas, porque o objetivo da norma
é o de alcançar a participação obrigatória de ambos os sexos. Preserva-se o direito
das minorias.
Verifica-se pela nova redação do § 3 a do art. 10 da Lei ns 9.504/97, que o número
de vagas deverá ser preenchido para candidaturas de cada sexo, não restando opção
facultativa dos partidos e coligações.
Dessa forma, firma-se a segunda posição. 0 legislador determinou o
preenchimento obrigatório das vagas de ambos os sexos, visando estimular a
participação mais ampla da sociedade no acesso aos mandatos eletivos e obrigando
os partidos políticos a diligenciarem na busca do efetivo cumprimento da lei.
Trata-se de norma impositiva e que está intimamente relacionada com o sentido
democrático da Carta Constitucional.
Sem o cumprimento da regra não se registra.

311
M a r c o s R am a ya n a D ir eito E leitoral

A Regra do § 4° do art, 10 da Lei 9.504/97:

A regra possui redação diferente do disposto no art. 106 do Código


Eleitoral (cálculo do quo ciente eleitoral): "... desprezada a fração se
igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior...”Aqui, na Lei das
Eleições, a norma iguala a um, se igual ou superior a meio.

No art. 107 do Código Eleitoral despreza-se a fração para o cálculo do quociente


partidário.
Por fim, o disposto no § 5 - possibilita aos partidos políticos, através dos
seus órgãos de direção, preencherem as vagas do percentual antes referido, sem
necessidade de realização de convenções.
Vê-se que, na hipótese do § 5 S, viola-se o sistema democrático convencional, pois
a decisão do preenchimento das vagas remanescentes fica no âmbito dos partidos
políticos com deliberação estatutária do órgão de direção. Registra-se posição de
Joel José Cândido no sentido de que o percentual das vagas remanescentes não
precisa ser obedecido, porque segundo o renomado autor: “O que se nota é um
esforço do legislador em não deixar o partido sem meios para preencher todos os
lugares, o que reforça nossa tese de que não precisa abrir mão deles nas hipóteses..."
(Direito E leitoral Brasileiro, 11a ed., 3a tiragem, 2005, Editora Edipro, Rio Grande do
Sul, p. 400).
Todavia, a nossa posição é a de que o partido político não está obrigado ao
preenchimento do número total do percentual, porque a lei fala em "poderá"
traduzindo-se numa faculdade de agir e na manifestação unilateral do direito
potestativo dos partidos políticos ou coligações. Desta forma, a opção pelo
preenchimento das vagas de um sexo por outro se afigura como medida ilegal,
Como se nota, em função do disposto no art. 8 - da Lei, o prazo de realização
das convenções entre os dias 10 até 30 de junho do ano eleitoral não poderá ser
reaberto para preenchimento das vagas remanescentes, considerando a falta de
previsão legal sobre este assunto e a aplicação subsidiária do estatuto dos partidos
políticos.
A substituição pelos partidos políticos, referida no § 5e, é diversa da prevista no
art. 13, § 3~, mas o prazo de sessenta dias é idêntico.

11.1.2. Competência para registrar.


A regra está prevista no art. 89 do Código Eleitoral.
Os candidatos a Presidente e Vice-Presidente da República serão registrados
no Tribunal Superior Eleitoral; os candidatos a Governador e Vice-Governador,
Senador e respectivos suplentes, Deputados Federais, Distritais e Estaduais serão

312
P ed id o de R eg ist ro de C an d id atura C a p ít u l o 1 1

registrados nos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais, e os candidatos a


Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores perante os Juizes Eleitorais designados pelos
Tribunais Regionais Eleitorais (designação especial).
A competência é ration e m ateriae, portanto, enseja nulidade absoluta quando
violada a regra especial.
0 registro dos pré-candidatos estabelece o primeiro controle da Justiça Eleitoral
e do Ministério Público sobre a higidez destas postulações, considerando que por
ocasião das convenções realizadas entre os dias 10 até 30 de junho do ano eleitoral
(art. 8 e da lei em comento), apenas os Partidos Políticos realizaram suas escolhas,
mas os requisitos indispensáveis ao deferimento do pedido de registro são de
competência exclusiva da Justiça.

11.1.3. Forma de apresentação dos pedidos de registros


O Tribunal Superior Eleitoral disciplina dois tipos de formulários que devem
ser apresentados por meio magnético pelos partidos e coligações: o DRAP
(Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários) e o RRC (Requerimento de
Registro de Candidatos).
A subscrição do pedido é feita por delegado autorizado, art. 94 do Código
Eleitoral, ou pelo Presidente dos Partidos, inclusive em caso de coligações. No caso
de coligação deve ser indicada a pessoa que exercerá a representação.
Nos pedidos deve constar o número do fac-sím ile e o endereço do correio
eletrônico viabilizando a adoção do princípio da celeridade para fins de intimações
e notificações.
Dentro do contexto normativo das resoluções são exigidos os seguintes
documentos complementares:
a) A declaração de bens do candidato deve ser atualizada, mas não é exigível cópia
idêntica da que foi entregue ao imposto de renda, podendo ser inclusive de
próprio punho, até porque nem todo o pré-candidato possui bens a declarar.
É imprescindível disciplinar a competência ou atribuição sobre a fiscalização
efetiva do batimento dos bens declarados no pedido de registro com os adquiridos
durante o exercício do mandato eletivo, viabilizando-se o controle da moralidade e
possibilitando a fiscalização da hipótese de improbidade administrativa, conforme
norma constitucional, art. 15, V, da Constituição Federal e Lei n9 8.429/92.
b) As certidões criminais são do local do domicílio eleitoral do candidato, constando
as fornecidas pelos Tribunais competentes nos casos de foro por prerrogativa de
função, pois certos candidatos têm foro especial e não são raros os casos em que
respondem criminalmente perante a instância superior.
Todavia, entendemos que a lei deve ser reformulada para exigir a folha de
antecedentes criminais (FAC), quando se poderá verificar, inclusive, a hipótese de

313
M a r c o s R am ayana D ir eito E leitoral

pena cumprida, porque, segundo o art. 202 da Lei de Execuções Penais (Lei ns 7.210,
de 11 de julho de 1984), in verbis: "Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha
corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares
da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo
pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei".
Vê-se, desta forma que, o sigilo sobre as condenações é uma conseqüência
automática da declaração de extinção da pena. Os efeitos da condenação, art. 92
do Código Penal não são alterados, mas não se pode certificar pena cumprida nas
certidões dos distribuidores criminais da comarca do domicílio do candidato.
Trata-se do instituto autônomo da reabilitação, conforme preconiza Julio Fabbrini
Mirabete, em seu Comentários à Lei de Execução Penal, 9â ed., Editora Atlas, São
Paulo, p. 693.
Verifica-se a ineficiência do controle sobre as inelegibilidades, porque o
art. 1-, I, alínea “e" da Lei Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990, Lei das
Inelegibilidades, diz que são inelegíveis por 3 anos após o cumprimento da pena,
quem tiver praticado crime contra a economia popular, fé pública, administração
pública, mercado financeiro, patrimônio público, tráfico de entorpecentes e
eleitorais. Ora, se o pré-candidato Tício cumpriu a pena no dia 15 de maio de 2007 e
foi o distribuidor criminal comunicado por ofício desta decisão do juiz da execução
criminal, sendo Tício traficante de drogas, ele não poderá ser candidato nas eleições
de 2008, porque é inelegível por 3 anos, após o cumprimento da pena, ou seja, até
14 de maio de 2010. Trata-se de causa de inelegibilidade superveniente à causa de
suspensão dos direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal.
Assim, enquanto cumpria a pena, Tício estava com os direitos políticos suspensos,
mas agora é inelegível. No entanto, como no pedido de registro (RRC) não consta
nenhuma obrigação legal de juntada da FAC, a Justiça Eleitoral não tem como saber,
nem o Ministério Público como fiscalizar, a hipótese de inelegibilidade criminal,
sendo possível ocorrer o caso teratológico de um inelegível ter sua candidatura
deferida, até porque a certidão criminal se refere apenas ao domicílio do candidato
que é perfeitamente alterado 1 ano antes da eleição, art. 9S da Lei n- 9.504/97.
Em resumo: É possível normatizar a questão exigindo a folha de antecedentes
criminais no momento do pedido de registro de candidaturas, o que possibilitará
o controle da causa de inelegibilidade do art. 1 S, I, alínea “e” da Lei Complementar
na 64/90.
Os pedidos de registros de candidatos (RRC) são apresentados aos Tribunais
e juizes eleitorais pelos respectivos partidos políticos ou coligações por meio de
formulários em meio magnéticos e gerados em programas desenvolvidos pelo
Tribunal Superior Eleitoral.

314
P ed id o de Rjegistro de C andidatura C a p ít u l o 1 1

11.1.4. Requerimento individual de candidatura


A nova redação do §4S do art. 11 da Lei n52 9.504/97, manteve o prazo de 48
horas para a apresentação pelos próprios candidatos interessados do requerimento
individual de candidatura. No entanto, o prazo conta-se da publicação da lista dos
candidatos pela justiça Eleitoral, seja por edital ou afixação da lista nas zonas
eleitorais, o que amplia, na prática, o prazo final de apresentação dos candidatos
que foram omitidos na relação entregue pelo partido político. Isso porque, antes
o prazo de 48 horas contava-se do dia 5 de julho do ano de eleição e, atualmente,
deve-se aguardar a publicação da lista.

11.1.5. Certidão de quitação eieitoral


Os §§7g a 11 da Lei nQ9.504/97 consagram a importância da certidão de quitação
eleitoral no momento da formalização dos pedidos de registros de candidatos, mas
o §10 ressalva situações supervenientes ao registro que possam afastar causas de
inelegibilidade verificadas num primeiro momento.
É importante ressaltar que a certidão de quitação eleitoral trata dos seguintes
temas: a) o pleno gozo dos direitos políticos, sendo que a Constituição Federal, no
art. 14 §3-, II, trata do "pleno exercício dos direitos políticos", que é uma condição de
elegibilidade. Assim, a expressão "pleno gozo dos direitos políticos" pode abranger
as inelegibilidades, como por exemplo, o analfabeto, na condição de inelegível, não
estará na plenitude dos direitos políticos, visto que não poderá ser votado; b) o
regular exercício do voto, considerando que os direitos políticos compreendem
duas vertentes, votar (capacidade ativa) e ser votado (capacidade passiva). Assim,
o legislador exige que o candidato só possa ser registrado se estiver quite com a
votação, o que já é consagrado na jurisprudência do Colendo Tribunal Superior
Eleitoral; c) o atendimento a convocações da Justiça Eleitoral para auxiliar
os trabalhos relativos ao pleito, como exemplo, temos o serviço dos mesários,
membros da juntas eleitorais e servidores em geral, mas, obviamente, que os
casos de descumprimento dessas convocações são julgados pelos juizes eleitorais
e devidamente anotados nos registros da Justiça Eleitoral; d) a inexistência de
multas aplicadas, em caráter definitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas.
Neste caso, o legislador só considerou que a multa devidamente aplicada tenha
transitado em julgado, o que permite que os recursos eleitorais tenham efeito
suspensivo. Outrossim, se for quitada ou parcelada a multa, afasta-se a restrição
imposta e ainda se a mesma for remitida (anistiada, perdoada). Todavia, o inciso
II do §8- está excluindo a responsabilidade solidária no pagamento das multas; e)
apresentação de contas de cam panha eleitoral (sobre o tema pedimos ao leitor
que consulte o capítulo referente à ação de captação ou gastos ilícitos de recursos).

315
M a r c o s R a m ayana D ir eito E leitoral

0 §10 do art. 11 da Lei n9 9.504/97 consagra que as hipóteses constitucionais


e infraconstitucionais das condições de elegibilidade, bem como das causas de
inelegibilídades, devem ser verificadas no momento da formalização do pedido
de registro de candidatos. Não resta dúvida de que, nesse momento, é feita uma
filtragem pela justiça Eleitoral na análise da aptidão para o deferimento do registro
das candidaturas, mas não se pode olvidar que o efetivo indeferimento ou negativa
do registro só ocorre com o trânsito em julgado da decisão, conforme previsão no
art. 15 da Lei Complementar nÊ 64/90. Nessa linha de entendimento, permite-se
ao candidato sub judice, que ele possa participar da campanha eleitoral e ter o seu
nome inseminado na urna eletrônica.
O art. 16-A da Lei n5 9.504/97 (alteração feita pela Lei n9 12.034/2009) assim
disciplina:

"Art-16-A. O candidato cujo registro esteja sub judice poderá efetuar


todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário
eleitoral gratuito no rádio e na televisão e ter seu nome mantido na urna
eletrônica enquanto estiver sob essa condição, ficando a validade dos
votos a ele atribuídos condicionada ao deferimento de seu registro por
instância superior.
Parágrafo único. O cômputo, para o respectivo partido ou coligação,
dos votos atribuídos ao candidato cujo registro esteja sub judice no dia
da eleição fica condicionado ao deferimento do registro do candidato.’1

Feitas essas considerações, percebe-se que o §10 em comento ressalva


que "alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a
inelegibilidade" possam servir de base para o deferimento final do registro de uma
candidatura.
A interpretação sobre esse assunto deve ser vinculada, tão somente, às causas
de inelegibilidade, e não às hipóteses referentes às condições de elegibilidade, pois
estas últimas foram omitidas do texto da lei.
Nessa seara, é importante verificarmos quais são as causas de inelegibilidade previstas
na Constituição e na Lei Complementar ne 64/90.
Se um pré-candidato tiver a sua candidatura indeferida por uma causa de inelegibilidade,
poderá recorrer da decisão e, até o final do prazo previsto para o julgamento do registro
das candidaturas, ser-lhe-á possível reverter a decisão de indeferimento do requerimento
do registro de candidatura, produzindo provas que possam afastar os motivos e
fundamentos que serviram de base para a decisão que o considerou, naquele momento
do registro como inelegível. No entanto, não se pode descurar do prazo previsto no
calendário eleitoral para o julgamento final dos registros.
Por exemplo, se o pré-candidato X foi considerado inelegível em razão de decisão
que desaprovou as suas contas na forma do disposto no art. I o, inciso I, alínea “g” da Lei
Complementar n° 64/90 e ingressou com uma ação anulatória (súmula n° 1 do TSE) antes

316
P ed id o de R eg istro de C andidatura C a p ít u l o 1 1

da impugnação ao registro de sua candidatura, mas não conseguiu a liminar (atualmente,


pela jurisprudência do Colendo Tribunal Superior Eleitoral, não é suficiente propor a
ação, mas, sim, obter um provimento cautelar ou liminar que suspenda os efeitos da
decisão do Tribunal de Contas), não poderá ter a candidatura deferida por ser inelegível.
Ressalva-se, no entanto, a possibilidade do pré-candidato recorrer ao Tribunal
objetivando ganhar tempo para lograr êxito na ação anulatória antes do julgamento final
previsto no calendário eleitoral do seu registro de candidatura, pois, nesse caso, ele se
enquadrará na moldura do §10, parte final, do art. 11 da Lei n- 9.504/97, ou seja, por
uma alteração jurídica, posterior ao indeferimento do registro de sua candidatura que o
teve por inelegível, ele conseguiu, ao final, ter o registro deferido.
A jurisprudência do Colendo TSE consagra que “A obtenção de liminar ou de tutela
antecipada após o pedido de registro da candidatura não suspende a inelegibilidade”
(Agravos Regimentais no Recurso E special E leitoral n° 32.937/PB, rei. Min. Joaquim
Barbosa, em 18.12.2008).
No entanto, a nova redação do §10 do art. 11 da Lei n9 9.504/97, trazida pela Lei
n° 12.034, de 29 de setembro de 2009, pode permitir o entendimento no sentido de que a
obtenção da liminar ou cautelar na ação anulatória é possível de ser conquistada antes do
prazo final de julgamento de registro de candidaturas, que devem observar a prioridade
prevista no §2° do art. 16 da Lei n9 9.50497. Trata-se de uma interpretação permissiva
que foi adotada pela nova lei eleitoral.
Desse modo, a nova lei (§10 do art. 11) foi mais benevolente na permissibilidade
do afastamento, posterior ao registro, de causas de inelegibilidade que viabilizarão
o deferimento, final, do requerimento do registro de candidatura. Todavia, a
incidência dessa regra é limitada ao prazo final de julgamento dos registros de
candidaturas, pois não é possível a anulação da decisão do registro já transitada em
julgado, uma vez que não se pode, pelo calendário eleitoral, reabrir todo o processo
eleitoral de registro e votação. Permite-se dentro do prazo recursal a discussão da
causa de inelegibilidade, mas não após o julgamento final da questão.
Cumpre asseverar que as situações fáticas ou jurídicas que sejam supervenientes
ao registro e que possam favorecer o pré-candidato no afastamento de sua
inelegibilidade não podem ser alegadas fora do processo de registro de candidatura
e devem obedecer ao devido processo legal eleitoral, inclusive em âmbito recursal,
sofrendo uma interpretação restritiva por ser norma de exceção, sob pena de
criar-se, dentro do processo de registro, uma situação imprevisível e sem limites
temporais de julgamento, afetando o princípio basilar da celeridade inerente às
decisões da Justiça Eleitoral (art. 16 e §§19 e 2 S da Lei n9 9.504/97).
Outrossim, a alteração fática ou jurídica deve ter uma eficácia desconstitutiva
da inelegibilidade, de forma que esta venha a ser desfeita retroativamente, ou
seja, a condição de inelegível ao tempo do registro foi descaracterizada pór uma
decisão posterior que entendeu ser aquela situação não de acordo com a lei. Essa
interpretação se coaduna com o sentido estabelecido pela regra geral, que consta

317
M a r c o s R am ayana D ir eito E leito rai

da primeira parte do §10 em comento. Caso contrário, por exemplo, a situação do


analfabeto (inelegível) poderia ser alterada, por vontade do próprio pré-candidato,
em prejuízo do regular processo eleitoral. Ocorreu erro no julgamento e a decisão
foi revista.
Não se pode perder de vista que as condições de elegibilidade e as inelegibilidades
são restrições à capacidade eleitoral passiva e, portanto, são verificáveis na
formalização do registro das candidaturas, e não em momentos posteriores, mesmo
que favoráveis ao pré-candidato interessado, sob pena de se desnaturalizar essa
etapa do devido processo legal eleitoral.
Em resumo: a fotografia tirada na época do registro da candidatura que
demonstra a inelegibilidade do pré-candidato, não pode sofrer montagem sobre a
realidade fática e jurídica existentes naquela época, exceto se ficar demonstrado
que o julgamento referente a esta causa de inelegibilidade tenha sido contrário à
lei. 0 ato jurídico perfeito caracterizador da inelegibilidade só pode ser afastado se
ficar demonstrada a sua própria nulidade.
As inelegibilidades decorrentes de abuso do poder econômico ou político
só se efetivam com o trânsito em julgado da decisão (art. I 2, I, alínea "d" da Lei
Complementar nQ64/90).
A natureza jurídica da quitação eleitoral enseja o surgimento de duas correntes
de pensamento: a primeira, entende que a quitação eleitoral é uma expressão de
natureza ampla, que compreende, numa certa medida, a ausência do pleno exercício
dos direitos políticos prevista como condição de elegibilidade no art. 14, § 35, inciso
II, da CRFB/88.
A segunda, entende que a quitação eleitoral é uma condição de elegibilidade
infraconstitucional.
Tal discussão possui grande relevância no que tange à possibilidade de se anular
ou não o mandato eletivo, acaso tal condição não tenha sido percebida pelo juiz
eleitoral, ou tribunais eleitorais, no momento do requerimento do registro das
candidaturas, embora o sistema informatizado adotado na análise dos registros
de candidatos, aponte ausência de quitações de multas eleitorais. Isso porque o
art. 259 do Código Eleitoral só permite que sejam tratadas na AIME ou RCD matérias
constitucionais.
Assim, se não for arguida no momento do requerimento de registro de
candidaturas, não poderia ser suscitada na propositura da ação de impugnação ao
mandato eletivo ou da interposição do recurso contra a diplomação, considerando
a preclusão temporal por não ser matéria constitucional.
Desta forma, dispõe o art. 3 e do Código Eleitoral: "Qualquer cidadão pode
pretender investidura em cargo eletivo, respeitadas as condições constitucionais e
legais de elegibilidade e incompatibilidade".

318
P ed id o de R egistro de C andidatura C a p ít u l o 1 1

Entendemos que a falta de quitação eleitoral pode ser tipificada como ausência
de uma condição de elegibilidade constitucional prevista no art. 14, § 3 a, inciso II,
da Constituição da República. Desta forma, o eleitor candidato não estará no pleno
exercício de seus direitos políticos, considerando que a expressão 'pleno exercício'
engloba os atributos da capacidade eleitoral ativa e passiva.
Outrossim, não sendo hipótese de inelegibilidade, porque estas só podem ser
tratadas em lei de natureza complementar (art. 14, § 9e, da CRFB/88), não subsiste
restrições quanto ao seu tratamento para preencher o significado da expressão
'pleno exercício dos direitos políticos', prevista no art. 14, § 39, inciso II, da CRFB/88.

11.1.6. Proposta dos candidatos majoritários do poder executivo


O inciso IX do §1- do art. 11 da Lei n- 9.504/97 obriga que, no exame do registro
da candidatura, os candidatos aos mandatos eletivos de prefeitos, governadores
de estado e presidente da república apresentem suas propostas ou projetos de
campanha, objetivando demonstrar aos eleitores um documento mais solene e
eficaz de mudanças na Administração Pública, estando adequado ao princípio da
transparência.
0 descumprímento total ou parcial da proposta apresentada no curso do mandato
eletivo, não é motivo jurídico para a cassação do mandato, considerando, ainda, que
não adotamos no Brasil o sistema do recall, ou seja, a possibilidade de revogação do
mandato pelos eleitores antes do seu término.
As propostas não possuem uma forma sacramental e podem ser livremente
apresentadas, obedecendo, apenas, a regulamentação pelo Tribunal Superior
Eleitoral,
O objetivo primordial da proposta é permitir o controle pelo cidadão-eleitor da
veracidade e possibilidade de cumprimento das metas contidas nesse programa.
Assim, é inegável que os debates políticos ficarão mais enriquecidos, inclusive,
quanto à elucidação da viabilidade das promessas ofertadas pelos candidatos.
Esses documentos que contêm as propostas de campanha poderão servir para um
melhor embasamento na análise dos pedidos de resposta, bem como para fins dos
crimes contra a honra de natureza eleitoral, especialmente o previsto no art. 323 do
Código Eleitoral, que tipifica a divulgação de fatos que são inverídicos em relação a
candidatos e que possam exercer influência perante o eleitorado.
Por fim, o legislador não contemplou as propostas dos candidatos aos mandatos
do Poder Legislativo (senadores, deputados federais, distritais, estaduais e
vereadores), o que consideramos uma falha, pois é cediço que nas eleições
municipais, por exemplo, os candidatos a vereadores, em diversos exemplos, não
conhecem os limites de suas competências legislativas, prometendo aos eleitores
mudanças que só podem ser concretizadas por leis de outra esfera.

319
M a r c o s R am ayana D ireito E leitoral

11.1.7. Princípio da publicidade e transparência no processo de


registro de candidaturas
Oo legislador consagrou, no §6S do art. 11 da Lei nQ 9.504/97, o que a
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral já tinha consolidado por resoluções
temporárias que tratam do tema de registro de candidatos, ou seja, os interessados,
inclusive o eleitor poderão ter acesso aos documentos que comprovam, por exemplo,
a declaração de bens, a filiação partidária, o domicílio eleitoral e outros, até mesmo
sobre a nova previsão legal quanto às propostas defendidas.
O eleitor interessado deverá formular um pedido por escrito à autoridade
judiciária eleitoral que avaliará e autorizará o acesso às informações, quando não
estiverem protegidas por sigilo em decorrência de outras normas jurídicas.

11.1.8. Considerações genéricas sobre o registro de candidatos


Com visto, o registro é um ato de natureza jurisdicionalizada, servindo de marco
para declarar oficiosamente a condição jurígena de um candidato, que passa a ter
uma situação legal dentro da relação eleitoral estabelecida.
De forma efetiva, é nesse momento que a Justiça Eleitoral deverá estabelecer
os seus critérios jurídico-legais de garantia da higidez do regime democrático
e da observância aos direitos e deveres políticos diante do poder normativo, na
expedição de resoluções e instruções, mediante aplicação da legislação eleitoral e
da ordem jurídico-constitucional vigente.
A discussão jurisdicional dessa questão centra-se basicamente no exame do
direito de votar e do direito de ser votado ius sufragi e ius honorum .
0 pleiteante ao cargo eletivo deve sofrer um minudente exame de sua
condição jurídica, decorrente de preceitos legais e constitucionais concernentes
aos direitos políticos, que são considerados direitos subjetivos públicos
diretam ente ligados aos princípios de soberania popular para a concretização
do regime democrático.
É nessa precípua fase do processo eleitoral (fase pródroma preparatória), que
antecede a votação, apuração e diplomação, que o postulante ao cargo eletivo
apresenta seu stan dard de candidato, sujeitando-se ao exame do preenchimento de
suas condições de elegibilidade, bem como eventuais hipóteses de incidência em
causas de inelegibilidades gerais ou específicas, incompatibilidades, impedimentos,
suspensão e perda dos direitos políticos.
Dessa maneira, perscruta-se que o controle legal do pedido de registro de
candidaturas envolve diretamente uma análise profunda de vários institutos
disciplinados do Direito Eleitoral e Constitucional positivos.
É importante ainda frisar que o art. 60 da resolução acima mencionada consagra
o efeito suspensivo do recurso do "candidato" que teve seu pedido indeferido,

320
P e dido de R eg ist r o de C an didatura
C a pít u l o 11

0 candidato que tiver seu registro indeferido poderá recorrer da


decisão por sua conta e risco e, enquanto estiver sub judice, prosseguir
em sua campanha e ter seu nome mantido na urna eletrônica, ficando
a validade de seus votos condicionada ao deferimento de seu registro
por instância superior,

11.2. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO DE REGISTRO DE


CANDIDATURA
11.2.1. BASE LEGAL
Os arts. 3~ a 17 da Lei Complementar n2 64, de 18 de maio de 1990 (Lei das
Inelegibilidades), disciplinam a ação de impugnação ao pedido de registro de
candidatos.
Para cada eleição, o Tribunal Superior Eleitoral expede uma resolução referente
ao registro de candidatos que forma o arcabouço normativo.
Registrem-se, ainda, os arts. 10 a 16 da Lei n- 9.504, de 30 de setembro de 1997
(Lei das Eleições), que tratam do registro de candidatos, e os arts. 82 a 102 do
Código Eleitoral.

11.2.2. Finalidade
A finalidade desta ação impugnativa é indeferir o pedido de registro de candidatos
que não possuam condições de elegibilidade, sejam inelegíveis (hipóteses de não
desincompatibilização) ou, ainda, estejam privados definitiva ou temporariamente
dos direitos políticos (perda e suspensão dos direitos políticos - art. 15 da CRFB).1
A ação eleitoral tutela a normalidade e legitimidade das eleições, evitando
candidaturas ilegais, v.g., falta de filiação partidária, analfabetismo, condenação criminal
transitada em julgado, rejeição de contas e abusos de poder econômico e político.2

1 “(TSE). Acórdão ne 20.012, de 19.9.2002. Recurso Especial Eleitoral N9 20.012/RO. Relator: Ministro Sepúlveda
Pertence. Recurso especial. Registro de candidatura. Condenação criminal com trânsito em juígado. Ineiegibilidade.
Art. 15,111, da Constituição Federal. Hipótese em que o candidato a deputado estadual foi condenado por sentença com
trânsito em julgado. Patente a sua ineiegibilidade em face da auto aplicabilidade do art. 15, III, da Constituição Federai,
sendo irreievante a ausência de decisão constitutiva da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, prevista no
art. 55 da Constituição Federal. Recurso não conhecido. Vistos etc., acordam os ministros do Tribunal Superior Eleito­
ral, por maioria, em não conhecer do recurso, vencidos os ministros relatores, Fernando Neves e Luiz Carlos Madeira,
nos termos das notas taquigráficas, que ficam fazendo parte integrante desta decisão. Sala de Sessões do Tribunal
Superior Eleitoral. Brasília, 19 de setembro de 2002". O mestre e insigne Professor Joei José Cândido, ao comentar em
sua obra O Direito Eleitoral Brasileiro ensina-nos que “o registro dos candidatos se constitui em etapa jurisdicional den­
tro da fase preparatória do processo eleitoral. Registrados, os candidatos assumem essa condição em caráter oficial,
terminando aqui o que politicamente se convencionou chamar de “candidato a candidato". Antes do registro e após as
convenções, já se pode falar em candidato, de vez que o partido já definiu com quem quer concorrer, mas a condição
de candidato oficial só se adquire com o deferimento do registro” (4* ed., Editora Edipro, 1994, p. 97).
2 “TSE. Recurso Especial Eleitoral ns 20.132/SR Relator: Ministro Sáivio de Figueiredo Despacho: Decisão Direito
Eleitoral. Registro de candidatura. Desistência homologada pelo TRE. Impossibilidade de o candidato postular o pre­
enchimento de vaga remanescente. Negado seguimento. O requerimento de registro apreciado pela Justiça Eleitoral,
e extinto em razão de pedido de desistência homologada, impede que a mesma filiada seja novamente apresentada

321
M a r c o s R a m a ya n a D ir eito E leitoral

11.2.3. Legitimados ativos


O art. 3 2 da Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990, dispõe sobre os
legitimados ativos. 0 rol, segundo a doutrina majoritária, é exaustivo, ou seja, são
legitimados o candidato a candidato, o partido político, a coligação (partido político
temporário) e o Ministério Público.
A legitimidade é concorrente.

11.2.3.1. M inistério Público


0 Ministério Público exerce suas atribuições, através do promotor eleitoral, nas
hipóteses de eleições municipais (prefeito, vice-prefeito e vereadores); quando as
e le iç õ e s são estadu ais (governador, vice-governador, senador, deputados federais,
estaduais e distritais), as atribuições ficam a cargo do procurador regional eleitoral
e, por fim, nas eleições nacionais (presidente e vice-presidente da República), as
atribuições para a ação impugnativa estão afetas ao procurador-geral eleitoral.
Na verdade, quando o Ministério Público atua nas funções eleitorais na ação
de impugnação ao pedido de registro, está a defender os mais sublimes interesses
difusos de ordem pública primária. Age na intervenção da garantia da plena
democracia.
Sobre a intervenção do Ministério Público:
(TSE). Prestação de contas. Processo. Ministério Púbiico. intervenção.
Obrigatoriedade. Art. 72 da Lei Complementar n9 75/93. Anulação
do processo. A decisão regional, por negar a intervenção do Parquet,
violou o art. 72 da Lei Complementar n- 75/93, na medida em que,
nos termos do art. 127 da Constituição Federal, compete ao Ministério
Público a defesa da ordem jurídica e do regime democrático, atribuição
fundamental a ser exercida no processo eleitoral. Nesse entendimento,
o Tribunal deu provimento ao agravo de instrumento. Passando, de
imediato, ao julgamento do recurso especial, dele conheceu e a ele
deu provimento. Unânime. Agravo de Instrumento ne 3.524/RJ, Rei.
Min. Fernando Neves, em 5.11.2002. No mesmo sentido, os Agravos de
Instrumentos n^ 3.478/RI, n9 3.479/RJ, n9 3.480/RJ e ns 3.489/RJ, Rei.
Min. Fernando Neves, em 5.11.2002.

Qual a natureza jurídica da intervenção do Ministério Público, no processo de


registro de candidaturas?

como candidato em vaga remanescente. 1. Trata-se de recurso especiai interposto pelo Diretório Estadual do Partido
Social Democrático (PSD) contra acórdão assim ementado (fl. 53): Registro de candidato. Preenchimento de vaga re­
manescente. Cargo: deputado federal. Eleições 2002. Candidata escolhida em convenção que não requereu o registro
em tempo hábil. Impossibilidade de ocupar vaga remanescente. Registro indeferido”.

322
P ed id o de R egistro de C andidatura C a p ít u l o 1 1

Pode ser parte formal e material, quando propõe a ação de impugnação ao pedido
de registro. Todavia, é sempre órgão interveniente obrigatório, considerando a
matéria eleitoral (matéria de ordem pública primária e indisponível). Trata-se da
intervenção pela natureza da lide, art, 82, III, do Código de Processo Civil e art. 127
da Constituição Federal.

Qual é o suporte legal da intervenção no processo eleitoral?


Aos arts. 127 da Constituição Federal e 72, caput, e parágrafo único, da Lei
Complementam9 75, de 20 de maio de 1993, e, no âmbito dos promotores eleitorais,
aplica-se também o art. 10, inciso IX, alínea h, da Lei Orgânica Nacional do MP, Lei
nô 8.625, de 12 de fevereiro de 1993.
Os candidatos legitimados são, na verdade, candidatos a candidatos, porque
quase todos estão a pleitear seus registros e, na medida em que os pedidos são
deferidos ou indeferidos, as impugnações também vão sendo julgadas. O pré-
candidato deve provar que foi escolhido na convenção partidária e que também
formulou tempestivamente seu pedido de registro. Trata-se de pré-candidato contra
pré-candidato. Eventualmente, se o juiz ou o Tribunal já tiverem deferido o registro
dos candidatos de determinado partido ou coligação, este terá legitimidade ativa
com a prova do registro deferido.3
Aplica-se o art. 36 do Código de Processo Civil: a parte (candidato a candidato)
deverá ser representada por advogado legalmente habilitado. Não há dúvida, na
doutrina e jurisprudência, sobre a nítida diferença entre a capacidade processual e
a capacidade postulatória.
Os partidos políticos e as coligações também são legitimados concorrentes.
De toda sorte, deve-se observar a Súmula na 11 do Tribunal Superior Eleitoral, in
verbis: "No processo de registro de candidatos, o partido que não o impugnou não
tem legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de
matéria constitucional”
Na análise da Súmula n2 11, destaca-se:
(TSE) Matéria processual. Legitimidade. Impugnação (Registro de
Candidato). Registro de candidatura. Impugnação. Partido político
coligado. Ilegitimidade ativa ad causam. 0 partido político coligado
não tem legitimidade para, isoladamente, impugnar o registro de
candidatura, e não é possível à coligação sanar o defeito no recurso

3 “TSE. Recurso Especial Eleitoral n® 20.132/SR Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Despacho: Decisão Direito
Eleitoral. Registro de candidatura. Desistência homologada peio TRE. Impossibilidade de o candidato postular o pre­
enchimento de vaga remanescente. Negado seguimento. O requerimento de registro apreciado peia Justiça Eleitoral,
e extinto em razão de pedido de desistência homologada, impede que a mesma filiada seja novamente apresentada
como candidato em vaga remanescente. 1. Trata-se de recurso especial interposto pelo Diretório Estadual do Partido
Social Democrático (PSD) contra acórdão assim ementado (fl. 53): Registro de candidato. Preenchimento de vaga re­
manescente. Cargo: deputado federal. Eleições 2002. Candidata escolhida em convenção que não requereu o registro
em tempo hábil. Impossibilidade de ocupar vaga remanescente. Registro indeferido”.

323
M a r c o s R am ayana D írjeito E leitoral

para a instância superior, pois isso encontra óbice na Súmula n6 11 do


TSE. 0 poder que tem o juiz de decidir de ofício a causa, independente
de impugnação, não o impede de reconhecer a ilegitimidade da
parte, quando essa se faz presente. Agravo regimental a que se nega
provimento. Acórdão n9 18.708, de 15.5.2001. Agravo Regimental no
Recurso Especial Eleitoral ne 18.708, Ciasse 22a/MT (36aZona Itiquira).
Relator: Ministro Garcia Vieira. Agravantes: Decisão: Unânime em
negar provimento ao agravo regimental.

Sobre a impossibilidade de o partido coligado propor ação de impugnação ao


pedido de registro de candidato, é acertada a decisão:
De qualquer sorte, a coligação é partido temporário, com denominação
própria, com prerrogativas e obrigações de partido político no que
se refere ao processo eleitoral, e funciona como um só partido no
relacionamento com a justiça Eleitoral e no trato dos interesses
interpartidários, e, no que se refere ao processo eleitoral, terão
representante único com atribuições equivalentes às de presidente de
partido político (art. 6e, § l e e § 3a, III). Não podem, por conseguinte,
os partidos que a compõem demandar individualmente em juízo (TSE,
AR ns 12, Rei. Min. Alckmin, DJU 6.6.1997).

No mesmo sentido, destaque-se despacho decisório, da relatoria do Ministro


Sálvio de Figueiredo:
Direitos Eleitoral e Processual. Recurso especial. Partido político coligado.
Ilegitimidade para atuar isoladamente no processo eleitoral (art. 6~, § l e, da
Lei n2 9.504/97). Coligação. Existência desde o momento em que decidem os
partidos políticos constituí-la. Precedentes. Recurso provido. I - Pacífica a
jurisprudência da Corte quanto a ser inviável a atuação isolada, no processo
eleitoral, de partidos políticos coligados. II - As coligações são consideradas
existentes desde o momento em que os partidos que a irão integrar decidem
constituí-la (...) as coligações devem ser tidas como existentes, desde que
efetuado acordo de vontades dos partidos que as integram, consubstanciado em
decisão das respectivas convenções ou do órgão de direção partidária que tiver
recebido poderes para deliberar sobre coligações (REspe. n- 19.314/RN, Rei.
Min. Sálvio de Figueiredo, em 2 1 .8 .2 0 0 1 ).
Outrossim, os partidos políticos são legitimados, quando devidamente
constituídos na forma da Lei dos Partidos Políticos (Lei n9 9.096/95). Não
há necessidade de estarem concorrendo ao pleito eleitoral que trata daquela
impugnação específica.
Por fim, o eleitor não tem legitimidade para a ação de impugnação ao pedido de
registro de candidatos.

324
P ed id o de R eg ist ro de C andidatura C a p ít u l o 1 1

Nesse sentido, destaca-se:


(TSE) Cumpre ressaltar que o art. 97, § 3e, do Código Eleitoral Brasileiro
assegurava ao eleitor a legitimação para impugnar registro de candidatura
com fundamento em alegação de inelegibilidade (...) Contudo, tal
dispositivo acha-se revogado, desde a edição da Lei Complementar
ns 5, de 29 de abril de 1970, que versava sobre as inelegibilídades e que
reservou apenas aos candidatos, aos partidos e coligações e ao Ministério
Público a legitimidade ativa para impugnar registro de candidatura
(art. 5e), previsão legal que restou consagrada pela Lei Complementar
ns 64/90, art, 32, caput. Falece, portanto, legitimidade ao leitor para
impugnar registro de candidatura, conforme pacífica jurisprudência do
egrégio TSE (Acórdão n9 13.257, Relator: Min. Sepúlveda Pertence (...).

Todavia, o cidadão é parte legítima para noticiar as fraudes e inelegibilídades,


através de petição fundamentada (art. 37 da Resolução TSE n9 20.993/02). Neste
caso, a notícia deve ser encaminhada ao membro do Ministério Público (art. 40 do
Código de Processo Penal).4

11,2.4. Legitimados passivos


São os pré-candidatos (candidatos a candidatos). São os cidadãos escolhidos em
Convenção Partidária, pois, somente com o deferimento do registro, o candidato
adquire o status civitatis de candidato.
O Tribunal Superior Eleitoral tem precedente de que não há litisconsórcio
passivo necessário entre o candidato e o partido. Nesse sentido:
ACÓRDÃO Ns 2.158, DE 17/10/2000. AGRAVO DE INSTRUMENTO
Ne 2.158/SP. RELATOR: MINISTRO GARCIAVIEIRA. EMENTA: Agravo de
instrumento. Ação de impugnação de mandato eletivo. Litisconsórcio.
Coligação. Com o julgamento do REspe ne 16.286, o agravo ficou
prejudicado. Ainda assim não fosse, não existe o litisconsórcio
necessário entre o candidato e o partido pelo qual ele concorreu (...).

4 O importante é que a exegese empreendida pela melhor doutrina é a de atribuir à expressão “qualquer candidato”
uma ampliação sem metódico formaüsmo à literalidade do dispositivo, pois, caso contrário, só haveria impugnação,
nessa hipótese, se o registro do impugnante ]á estivesse deferido e preclusas as vias recursais, materializando-se o
trânsito em julgado do registro, situação fática praticamente inviável, em razão de que os pedidos são julgados como
deferidos ou indeferidos, quase que na mesma data, pelo órgáo jurisdicional competente. É certo, porém, que ao eleitor
não é deferida a legitimidade impugnativa, como já bem salientado pela meihor doutrina de Tito Costa, independente­
mente se está ou não filiado a determinado partido político ou se possui militância partidária. Possuir o título eleitorai e
estar no gozo efetivo dos direitos políticos ativos não é requisito suficiente para tornar o eleitor parte legítima nessa ação
ou medida judiciai cabível. Não é suficiente, portanto, possuir o que se denomina ius suffragii, utilizando o pensamento
de Savigny, que fazia a distinção dos direitos políticos em duas categorias. A primeira, compreendendo o jus honorum,
que é a possibilidade de o cidadão ascender aos cargos públicos eletivos; e, a segunda, ao ius suffragii, que defere
apenas ao cidadão o direito de efegeros representantes do povo. Perscruta-se que a Lei das Inelegibilídades, no art. 39,
exige um plus ou standart maior, caracterizado pela expectativa do pleiteante ao deferimento do registro, desde que já
tenha sido corretamente escolhido por convenção partidária regular.

325
M a r c o s R am ayan a D ir eito E leitoral

De todo modo, a matéria, ao nosso pensar, ainda não está sedimentada. Assim,
faz-se necessária a citação do partido político ou coligação. Sobre o assunto, ver
comentários na ação de impugnação ao mandato eletivo.
Nas eleições majoritárias, o vice é listisconsórcio passivo necessário, em razão
da indivisibilidade da chapa única.

11.2.5. Decisão na ação de impugnação ao pedido de registro de


candidatura
0 partido político ou a coligação apresentam, através de seus representantes
legais, o pedido de registro de seus respectivos candidatos. 0 prazo é até as 19 horas
do dia 5 de julho do ano das eleições, mas pode ser prorrogado, quando ocorrer
flagrante omissão.
Outrossim, é esclarecedor o voto do Min. Pádua Ribeiro, proferido na mesma
oportunidade, e constante do acórdão:
(...) não há confundir substituição com reabertura de prazo para
registro. Substituir um candidato por ele próprio ensejaria, em última
análise, uma reabertura de prazo para registro. Por isso é que entendo
que a substituição só pode se fazer por outro candidato que não aquele
que teve seu registro indeferido (TSE).
0 procedimento é de natureza administrativa. Na verdade, o juiz eleitoral ou
o tribunal fazem o exame formal dos requisitos para o deferimento do registro,
analisando os documentos legais apresentados.
Todavia, dependendo da hipótese concreta, um dos legitimados para a ação de
impugnação ao pedido de registro poderá propô-la no prazo legal de cinco dias,
contados da publicação do edital.
A decisão, no processo administrativo eleitoral, é de natureza constitutiva, pois,
a partir do deferimento do registro, o candidato a candidato passa a ser considerado
juridicamente candidato.
Impende observar, no entanto, a natureza da decisão no processo de impugnação
ao pedido de registro que é independente. Na prática, ocorrem autuações diversas.
O procedimento do registro engloba todos os candidatos a candidatos de um
determinado partido político ou coligação, enquanto o processo da ação impugnativa
é autônomo (autos separados).5

5 “TSE. Recurso Especial Eleitoral ne 20.G93/GO, Reiator: Ministro Luiz Carlos Lopes Madeira. Despacho: O Tribunal
Regional Eleitoral de Goiás indeferiu o pedido de registro de Rui Figueiredo de Moraes, candidato substituto ao cargo
de deputado estadual, pela Coligação Tempo Novo para Fazer Mais, em razão da falta de autenticação, pela Justiça
Eleitora), da ata da respectiva convenção, e por considerar insatisfatória a prova de filiação partidária. O acórdão re­
cebeu a seguinte ementa: “Registro de candidatos. Eleições 2002. Documentação irregular. Indeferimento." (Ft. 54.)
Dessa decisão interpôs recurso, alegando que “a feita de autenticação pela Justiça Eleitoral da ata não pode prejudicar
o candidato, pois um erro que nâo foi por eie cometido já mais (s/c) poderá causar restrição a sua candidatura." (Fl.
56.) Afirma que fez a prova de sua regular filiação ao Partido da Frente Liberal (PFL), conforme documentos de fls. 38 e
51. Sustenta incidir o Enunciado ns 20 da Súmula do Tribunal Superior Eleitoral. Pede, ao final, a cassação da decisão

326
P edido de R egistro de C andidatura C apítulo 11

0 art. 15 da Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990, diz que: "Transitada


em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado
o registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já
expedido".6
A hipótese de cassação do registro no a r t 15 refere-se aos casos em que o
candidato recorreu (recurso com efeito suspensivo) e obteve uma decisão provisória,
enquanto a ação de impugnação ainda não foi julgada.
Conclusivamente: se o pedido for julgado procedente, só terá efeitos práticos
quando transitar em julgado. Não havendo o trânsito em julgado, o candidato
poderá realizar sua campanha eleitoral em toda a plenitude. O trânsito em julgado
poderá, em alguns casos, ocorrer no Supremo Tribunal Federal, através do exame do
recurso extraordinário e, enquanto isso, o candidato poderá ser eleito, diplomado,
empossado e exercer o mandato eletivo. No caso da improcedência do pedido na
ação de impugnação, o réu terá o seu registro definitivamente deferido, exceto se a
parte autora recorrer. A decisão é declaratória positiva.7
Observações finais: o art. 15 faz menção à "negativa" e ao “cancelamento".
Entende-se por negação a hipótese concreta de um determinado pedido de registro
não ser deferido cora trânsito em julgado da decisão deste deferimento. Já o
cancelamento pressupõe que o registro foi deferido, mas, por provimento de recurso

regional, para que seja deferido o registro de sua candidatura. (Fts. 55-57.) A Procuradoria-Geral Eleitoral opina pelo
provimento do recurso. (FSs. 69.72.} É o relatório. Decido. O Enunciado n9 20 da Súmula deste Tribunal Superior esta­
belece que a prova da oportuna filiação poderá ser suprida por outros meios, quando ausente o nome do filiado na lista
encaminhada à Justiça Eleitoral. No caso, cumpre fazer a valoração da prova. Os documentos juntados pelo recorren­
te, às fls. 38, 50 e 51, atestam a sua filiação, com data de 6.10.2001, ao Partido da Frente Liberal (PFL). São hábeis a
provar sua filiação ao partido em questão. Quanto à ata de convenção que estabeleceu a substituição de candidatos, o
recorrente fez juntada de cópia devidamente abonada pelo Juiz Eleitoral (Rs. 46-47.) Ante o exposto, dou provimento
ao recurso para deferir o pedido de registro de Rui Figueiredo de Moraes ao cargo de deputado estadual, com base
no art. 36, § 7-, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral. Publique-se em sessão, já que a matéria trata de
registro. Publicado na sessão de 23.9.2002".
6 “(TSE) Acórdão ns 3.414, de 22/8/2002. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento ne 3.414/CE. Relator:
Ministro Sepúlveda Pertence. Agravo regimental. Declaração de ineiegibilidade com conseqüente cassação de
registro de candidatura. Não ocorrência do trânsito em julgado. Execução imediata. Impossibilidade. Art. 15 da LC
n9 64/90.1. O art. 15 da LC n2 64/90 assegura o exercício do mandato do eleito diplomado, enquanto não houver
decisão definitiva acerca de sua elegibilidade. 2. Precedentes. 3. Recurso a que se nega provimento. Vistos etc.,
acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em negar provimento ao agravo regimental
na petição Protocolo n° 8.972/02, nos termos das notas taquígráficas, que ficam fazendo parte integrante desta
decisão. Sala de Sessões do Tribunal Superior Eleitoral. Brasília, 22 de agosto de 2002”.
7 “(TSE). Recurso Especial Eleitoral n9 19.886/SR Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Recurso contra expedição
de diploma. Art. 262, lií, do Código Eleitoral. Preliminares. Ilegitimidade passiva e preclusão. Rejeição. Mérito. Candi­
data que concorreu por força de liminar em mandado de segurança. Registro assegurado. Quociente eleitoral. Votos
válidos. Aplicação do art. 175, § 42, do Código Eleitoral. 1. Alegação de ilegitimidade passiva rejeitada, por falta de pré-
questionamento, na medida em que o fato que a originou foi noticiado perante a Corte de origem, que sobre ele não
se manifestou, permanecendo silentes as partes. 2. Não há que se falar em preclusão da matéria, na medida em que
suposto erro no cálculo do quociente eleitoral e distribuição de vagas pode perfeitamente ser atacado por intermédio
de recurso contra expedição de diploma. Precedentes. 3. Hipótese em que a candidata obteve registro por meto de
liminar, em mandado de segurança, que foi posteriormente revogada e o registro definitivamente cassado após as elei­
ções, motivo por que se consideram válidos os votos a ela atribuídos, aplicando-se a regra do art. 175, § 4-, do Código
Eleitoral, para cálculo do quociente eleitoral. Recurso especial não conhecido. DJ de 7.2.2003”.

327
M a r c o s R a m ayan a D ireito E leitoral

interposto pela parte contrária, a nova decisão transitada em julgado determina


o cancelamento do registro anteriormente obtido pela decisão de grau inferior de
jurisdição.8

11.2.6. Prazo
0 prazo de propositura da ação de impugnação ao pedido de registro de
candidatura é de cinco dias, contados da publicação do edital. Recebidos os pedidos
instruídos com os documentos exigidos nos incisos do § l - do art. 11 da Lei
ne 9.504/97 (Lei das Eleições).
A ação de pedido de registro, como visto acima, não se confunde com a ação de
impugnação ao pedido de registro. A primeira ê de jurisdição voluntária na Justiça
Eleitoral e enseja uma decisão nos próprios autos (análise conjunta de todos os
pleiteantes a candidato). A segunda é proferida em autos independentes, mas com
concomitância de julgamento.
Qualquer legitimado poderá ajuizar a ação de impugnação no prazo de cinco
dias, contados da publicação do edital. Na prática, a legitimação dá-se de forma
concorrente, mas o Ministério Público deverá ter vista pessoal de todos os pedidos de
registro, antes da publicação do edital, pois, caso contrário, haverá nulidade absoluta
do feito (arts. 82, III, e 84 do CPC). A lei eleitoral realmente não trata da vista pessoal
ao Ministério Público. No entanto, já está pacificado, nos Tribunais Superiores,
que a intervenção do órgão do P arquet é obrigatória e sua eficiência pressupõe o
exame antecedente da higidez de todos os pré-candidatos, ou seja, caberá verificar
as condições de elegibilidade, a regularidade dos documentos, o preenchimento
formal dos requisitos, as hipóteses de abuso do poder econômico e/ou político, as
causas de perda e suspensão dos direitos políticos, as desincompatibilizações etc.
O prazo é idêntico aos demais legitimados, ou seja, a partir da publicação do edital,
mas a vista é pessoal e deverá ocorrer, logo após o cartório instrumentalizar os
autos dos pedidos de registro.
0 Ministério Público deverá emitir parecer em todos os pedidos de registro (nos
autos do processo de pedido) e ofertar as impugnações, de forma independente, aos
casos que ensejarem hipóteses típicas de formação do contraditório e ampla defesa,
em razão da matéria constante do pedido.9

8 “(TSE). Agravo no Agravo de instrumento ns 3.370/MG. Reiator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Ementa: Direito Eleito­
ral. Agravo interno no agravo. Eleição proporcional. Ano 2000. Art. 175, § 4® CE. Fundamentos da decisão não ilididos.
Provimento negado. 1—Na eleição proporcionai, são nulos e não se computam para a legenda os votos atribuídos aos
que tiveram indeferido o registro de candidatura por decisão anterior ao pleito. II - É inviável o provimento do agravo
interno, quando não ilididos os fundamentos da decisão agravada. III - Não se mostra a via eleita adequada ao rejulga-
mento da causa. Republicado no DJ de 7.2.2003”.
9 “(TSE) (...) o prazo para recurso começa a contar da data em que o representante do Parquet, indiscutivelmente,
recebeu os autos com vista, pressupondo-se, aí, a ciência inequívoca da decisão. Caso contrário, os prazos, na prática,
seriam estipulados pelo próprio Ministério Público, sem qualquer controle ou critério juridicamente aceitável. (...) (Resp.
ne 251.714/DF, Rei. Ministro Félix Fischer, DJ de 4.2.2002.)”

328
P edido d e R egistro de C andidatura C a p ít u l o 11

Em suma: se o membro do Ministério Público verificar que o candidato não


juntou determinada certidão criminal, deverá manifestar-se por escrito nos autos
do processo de pedido de registro, mas, se, em contrapartida, for caso de abuso do
poder político praticado antes do registro e após a data das convenções, deverá
formular pedido próprio. A legitimidade do partido político, coligação ou candidato
é, portanto, concorrente.10
Registramos, no entanto, posição contrária no TSE, quanto à intimação pessoal
do membro do Ministério Público na ação de impugnação ao pedido de registro, in
verbis:
(TSE). Recurso Especial Eleitoral n- 19.995/R. Relator: Ministro Sálvio
de Figueiredo. Despacho: (...) Não há como prosperar o apelo. Como
apontou a Procuradoria-Geral Eleitoral, o acórdão impugnado foi
publicado em sessão de 13.8.2002 (fl. 103) e a interposição do recurso
deu-se no dia 17/8 (fl. 109), quando já transcorrido o tríduo legal,
uma vez que, em se tratando de registro de candidatura, nos termos da
jurisprudência desta Corte, prevalece a regra da LC n2 64/90, não se
procedendo à intimação pessoal do Ministério Público. No tema, entre
outros, cito os seguintes precedentes:"(...) Oprazo de recurso interposto
pelo Ministério Público, exceto na hipótese de processos de registro de
candidaturas (LC n9 64/90), deverá ser da intimação pessoal de seu
representante. (...) (REspe. ne 15.397/RR, Rei. Min. Costa Porto, DJ
16.4.1999). (...) Não se aplica, nesta matéria eleitoral, o disposto na Lei
Complementar n9 75/93, art. 18, II, letra h, relativamente ao Ministério
Público (RO n2 117/PE, Rei. Min. Nery da Silveira, sessão de 31.8.1998).
(...) No processo de registro, prevalece, por sua especialidade, a regra
da Lei Complementar na 64, não se havendo de proceder à intimação
pessoal. Inelegibilidade. Rejeição de contas. (...) (RO ne 109/PE, Rei.
Min. Eduardo Ribeiro, sessão de 31.8.1998)".

Ocorrendo duplicidade de ações sobre o mesmo legitimado passivo, o juiz deverá


reunir os processos para o julgamento simultâneo. Aplica-se a regra da conexão
probatória (arts. 103 e 105 do Código de Processo Civil).
Publicado o edital, não havendo impugnação e presentes os requisitos previstos
em lei e resolução, defere-se o pedido de registro de candidatura.11

10 “(TSE). Res. TSE n®20.993/02. Art. 45. Na sessão de julgamento, feito o relatório, será facultada a palavra às partes,
pelo prazo de dez minutos, e ao Ministério Público, que falará em primeiro iugar, se for o impugnante. A seguir, o/a
relator/a proferirá o seu voto e serão tomados os dos demais membros (Lei Complementar n9 64/90, art. 11, caput, c.c.
art. 13, parágrafo único). (...) § 39 Reaberta a sessão, far-se-ão a leitura e a publicação do acórdão, passando a correr
dessa data o prazo de três dias para a interposição de recurso, em petição fundamentada (Lei Complementar n2,64/90,
art 11, § 2®”).
11 “TSE. Acórdão n® 20.433, de 30.9.2002. Recurso Especial Eleitoral n® 20.433/PA. Relator: Ministro Fernando Neves.
Ementa: Registro de candidatos. Senador e suplente. Faita de certidão criminai e de fotografe do titular. Arts. 11, § 3°
da Lei n2 9.504/97 e 29 da Resolução 20.993. Regularização. Oportunidade. Ausência Documentação juntada com
o recurso. Admissibilidade. Registro deferido. Decisão condicionada ao deferimento do registro do segundo suplente.

329
M a r c o s R amayana D ireito E leitoral

11.2.7. A ntecipação da tutela


0 doutrinador Adriano Soares da Costa sustenta, com razão, que o pedido de
antecipação da tutela poderá ser deferido pelo juiz ou Tribunal na ação de pedido
de registro. Salienta o eminente eleitoralista que:
Desse modo, para evitar o perigo de dano irreparável à candidatura
do nacional, poderá o juiz eleitoral, mediante requerimento da parte
interessada, antecipar os efeitos da sentença de procedência da ação de
pedido de registro de candidato, outorgando ao nacional um registro
provisório, que possibilite o exercício pleno de sua elegibilidade.
Homologado o registro, o que era provisório torna-se definitivo; sendo
denegado, o registro provisório perde o viço, tornando-se inelegível o
nacional.12
Lembra o doutrinador os arts. 15 da Lei das Inelegibilidades e 216 do Código
Eleitoral que não permitem, nas ações eleitorais, a antecipação da tutela nos moldes
do art. 273 do Código de Processo Civil.13
É impossível a antecipação de tutela na ação de impugnação ao pedido de
registro, mas não o é na ação de pedido de registro, como enfatizou o doutrinador
Adriano Soares da Costa. Concordamos com o autor, mas, na prática, as regras
do art. 15 da Lei Complementar nQ 64/90 e n- 216 do Código Eleitoral possuem
eficácia suficiente para neutralizar a questão, pois o candidato a candidato que
tiver seu pedido de registro indeferido poderá recorrer e obter provisoriamente o
seu registro até decisão final. O candidato que foi registrado e que está sendo alvo
de recurso contra a decisão de deferimento ficará com seu registro deferido até
decisão final transitada em julgado.

11.2.8. Julgamento antecipado da lide


É pacífico o entendimento sobre o julgamento antecipado da lide no processo
eleitoral. Aplica-se, na hipótese, o art. 330 do Código de Processo Civil, desde que
a questão de mérito eleitoral seja unicamente de direito. 0 juiz deverá seguir o
princípio da economia processual.

Pedido de substituição. Pendência de juigamento pela Corte Regionai. Recurso examinado como ordinário (Acórdão
nB20.162) a que se dá provimento. Publicado na sessão de 30.9.2002”.
12 Op. Cit, pp. 388-389.
13 “(TSE). Agravo na Ação Rescisória ne 56/MG. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Direitos Eleitoral e Pro­
cessual. Rescisória. Acórdáo regional. Tribunal Superior Eleitora!. Incompetência. Evolução no entendimento desta Corte.
Precedentes. Extinção. CPC, art. 267, § 3e desprovido. Antecipação de tutela. Possibilidade de sua cassação. Agravo
intemo desprovido. I - Compete ao Tribunal Superior Eleitoral processar e julgar originariamente as ações rescisórias
apenas de seus próprios julgados, segundo evolução do entendimento jurisprudencial. II - Os pressupostos processuais
e as condições da ação, no âmbito da ação rescisória e como requisitos de admissibilidade da M ela jurisdicionai, podem
e devem ser apreciados mesmo de ofício e a qualquer momento. III - Dada a sua natureza jurídica, a antecipação de tu­
tela pode ser revogada se, posteriormente verificada a ausência de seus pressupostos. Vistos etc., acordam os ministros
do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em negar provimento ao agravo, nos termos das notas taquigráficas, que
ficam fazendo parte integrante desta decisão. Sala de Sessões do Tribunal Superior Eleitoral. Brasília, 11 de setembro
de 2001”.

330
P edido de R eg istro de C andidatura C a p ít u l o 11

Os efeitos da revelia não operam na hipótese, pois o litígio eleitoral versa sobre
matéria de ordem pública primária e indisponível da sociedade. Os direitos do
cidadão, do voto, da normalidade e legitimidade das eleições representam a questão
subjacente fundamental no processo eleitoral (aplicam-se os arts. 320, II, e 324 do
Código de Processo Civil).

11.2.9. Competência
0 art, 2- da Lei das Inelegibilidades fixa a competência funcional do pré-
candidato,

Art. 2a Compete à Justiça Eleitoral conhecer e decidir as arguições de


inelegibilidade.
Parágrafo único. A arguição de inelegibilidade será feita perante:.
I - o Tribunal Superior Eleitoral, quando se tratar de candidato a
Presidente ou Vice-Presidente da República;
II - os Tribunais Regionais Eleitorais, quando se tratar de candidato a
Senador, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal,
Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital;
III ~ os juizes eleitorais, quando se tratar de candidato a Prefeito, Vice-
Prefeito e Vereador.

11.2.10, Rito processual


A ação de pedido de registro de candidatura é feita através de formulário
específico, fornecido pela Justiça Eleitoral, complementado por simples petição do
representante partidário ou delegado do partido.14
É um procedimento administrativo de juntada de documentos (ver art. 11 da Lei
ne 9.504/97).
A ação de impugnação ao pedido de registro é de jurisdição contenciosa,
ensejando contraditório e ampla defesa, bem como os recursos inerentes.
0 rito segue o disposto nos arts. 3~ a 17 da Lei das Inelegibilidades (Lei
Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990):
1- petição inicial (art. 3- da LC n9 64/90);
2- citação do candidato, partido político ou coligação para apresentar defesa em
sete dias (art. 4 Ôda LC n- 64/90). O prazo é único;
3 - sem contestação: julgamento antecipado da lide ou designação de audiência
(arts. 330, II, e 324 do CPC);
4 - com contestação (prazo de sete dias);
14 Se o Ministério Público Eleitoral interpuser o recurso inominado na hipótese de decisão sobre o registro aos cargos
de prefeito, vice-prefeito e vereadores, deve obrigatoriamente atuar como custos legis puro, emitindo seu regular pare­
cer sobre a matéria de fato e de direito.

331
M a r c o s R am ayan a D ir eito E leitoral

5- pode ocorrer, ainda, o julgamento antecipado da lide (questão unicamente de


direito). Ver art. 330, II, do CPC e a rt 5S da LC n9 64/90;
6 - realização de audiência para oitiva de testemunhas. No mesmo despacho que
designou a data da audiência, são requisitados os documentos necessários
(arts. 4 9 e 5 9 da LC n9 64/90);
7 - a audiência deverá ser designada para os quatro dias seguintes ao recebimento
da contestação, e após análise, se a matéria importar oitiva de testemunhas.
As testemunhas não são notificadas, pois comparecem independentemente de
notificação. Todavia, cabe ao juiz, em homenagem ao princípio da busca da verdade
material e ao disposto no art. 23 da LC n- 64/90, notificar as testemunhas que julgar
necessárias ao esclarecimento do fato;
8 ~ na audiência, faz-se uma só assentada (primeiro são ouvidas as testemunhas
do autor; depois as da defesa - art. 5 9, § l s, da LC n- 64/90;
9 - realização de diligências nos cinco dias subsequentes. Ver o art. 5-, §§ 2- a
da LC n9 64/90. O crime de desobediência referido no § 5 9 é o do art. 347 do
Código Eleitoral, e não do art. 330 do Código Penal. A norma penal eleitoral é
especial;
10 - apresentação das alegações finais no prazo comum de cinco dias (art. 6a da LC
n9 64/90);
l l - o juiz recebe os autos e decide em três dias. Nesse sentido, também é o prazo
para a decisão do Tribunal Regional Eleitoral ou Tribunal Superior Eleitoral. A
norma do art. 6- é remetida pelo art. 13, ambos da LC n° 64/90;
12 - a decisão importa a conjugação do princípio da persuasão racional na análise
sistêmica dos arts. 7-, parágrafo único, da LC n9 64/ 90,131, 332 e 339 do CPC,
e arts. 156 e 157 do CPP;
13 - recurso com as razões no prazo de três dias, após a apresentação da decisão em
cartório (art. 8 9 da LC n9 64/90);
14 - contrarrazões no mesmo prazo de três dias, após protocolizada a petição do
recurso (art. 8 e, § 2®, da LC ne 64/90);
15 - parecer do Ministério Público (art. 8 3 ,1, do CPC). Sob pena de nulidade do feito
(art. 84 do CPC), embora a lei seja omissa, o prazo é de três dias. Trata-se de
simetria e igualdade;
16 - após as contrarrazões, os autos são imediatamente encaminhados ao Tribunal
Regional Eleitoral (art. 8 9, § 2-, da LC n9 64/90);
17 - recebimento pela Secretaria do Tribunal Regional Eleitoral e despacho do
presidente no mesmo dia. 0 presidente distribui a um relator (art. 10 da LC
n9 64/90);
18 - parecer do Ministério Público, procurador regional eleitoral, no prazo de dois
dias (art. 10 da LC n9 64/90);
19 - com ou sem parecer, os autos vão para o relator que, em três dias, submete o
caso ao plenário (art. 10, parágrafo único, da LC n9 64/90);

332
P ed id o de R egistro de C an didatura C apítulo 11

20 - na sessão, o relator vota primeiro; depois, os demais juizes. Leitura e publicação


do acórdão. Prazo de três dias para recurso (art. 11 e §§); o recurso vai para
o Tribunal Superior Eleitoral, seguindo o aspecto regimental e o art. 12 da LC
ns 64/90.

11.3. PR O C E SSO DE REGISTRO DE CANDIDATURA. PRIORIDADE


DE JULGAMENTO.
Registre-se a regra que impõe o julgamento prioritário dos feitos eleitorais que
tratam sobre registro de candidaturas. Diz o art. 16 da Lei das Eleições:

"Art. 16. Até quarenta e cinco dias antes da data das eleições, os Tribunais
Regionais Eleitorais enviarão ao Tribunal Superior Eleitoral, para fins
de centralização e divulgação de dados, a relação dos candidatos às
eleições majoritárias e proporcionais, da qual constará obrigatoriamente
a referência ao sexo e ao cargo a que concorrem.
§ l e Até a data prevista no caput, todos os pedidos de registro de
candidatos, inclusive os impugnados, e os respectivos recursos, devem
estar julgados em todas as instâncias, e publicadas as decisões a eles
relativas.
§ 29 Os processos de registro de candidaturas terão prioridade sobre
quaisquer outros, devendo a Justiça Eleitoral adotar as providências
necessárias para o cumprimento do prazo previsto no § l 2, inclusive
com a realização de sessões extraordinárias e a convocação dos juizes
suplentes pelos Tribunais, sem prejuízo da eventual aplicação do
disposto no art. 97 e de representação ao Conselho Nacional de Justiça.
Os § § le e 2° do art. 16 da Lei n9 9.504/97 foram incluídos pela Lei
n9 12.034/09.”

Consoante noção cediça, a Justiça Eleitoral sempre imprimiu extrema cautela


e celeridade no processamento dos requerimentos de registro de candidaturas,
observando o calendário eleitoral e os arts. 94 da Lei das Eleições e 16 da Lei
Complementar n9 64/90.
O § 2 9, impõe que a omissão no cumprimento dos prazos de julgamento dos
requerimentos de registro de candidatos enseja a representação ou reclamação para
o Tribunal Regional Eleitoral ou ainda para o próprio Tribunal Superior Eleitoral,
quando remete o intérprete ao art. 97 da Lei das Eleições.
Posta assim a questão, admite-se a adoção de medidas disciplinares nas
respectivas corregedorias para apuração da omissão causada pelos membros da
Justiça e do Ministério Público na delonga do processamento de julgamento dos
requerimentos de registro de candidatos.

333
M a r c o s R am ayana D íreito E leitoral

0 art. 97 faz menção ao delito de desobediência pelo juiz, art. 345 do Código
Eleitoral. No entanto, a regra deve ser vista com cautela, porque o art. 94,§2e da Lei
das Eleições faz menção ao crime de responsabilidade.
De fato, em relação ao crime de responsabilidade em razão da desídia a remissão
traduz-se em tipo suicida ou natimorto, porque, na verdade, não existe previsão de
preceitos primários ou secundários na lei de responsabilidade sobre essa conduta,
sendo a solução extrema obtida apenas na via funcional administrativa.
Quanto ao delito do a r t 345 do Código Eleitoral, desobediência aos prazos e
deveres impostos, impende frisar que deve ser inequívoco o dolo do agente, pois a
conduta culposa é atípica e só en seja rá punição adm inistrativa.
0 delito do art. 345 do Código Eleitoral é de tipicidade porosa e exagerada,
pois pune penalmente a falta de um dever funcional, violando ainda critérios do
direito penal hodierno em relação aos princípios da intervenção mínima e da
proporcionalidade.
Todavia, a regra enseja a adoção de medidas céleres no julgamento dos
requerimentos de registro de candidaturas, inclusive com previsão de providências
(representação do interessado) ao Egrégio Conselho Nacional de justiça, ou seja,
contempla-se na lei eleitoral em comento a intervenção do órgão na questão da falta
de dever funcional eleitoral.

11.4. Q U ESTÕ ES RELEVANTES


11.4.1. Filiação partidária. Ministério Público. Impugnação ao pedido de
registro
0 art. 3 5 da Lei Complementar ne 64/90 assim dispõe:

Art. 3- Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ou ao


Ministério Público, no pra2o de 5 (cinco) dias, contados da publicação do
pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada.
(...)
§ 2- Não poderá impugnar o registro de candidato o representante do
Ministério Público que, nos 4 (quatro) anos anteriores, tenha disputado
cargo eletivo, integrado diretório de partido ou exercido atividade
político-partidária.

Pergunta-se: o art. 80 da Lei Complementar ns 75, de 20 de maio de 1993, que dispõe


sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União, in
v erbis, art. 80. A filiação a partido político impede o exercício de funções eleitorais
por membro do Ministério Público, até 2 (dois) anos do seu cancelamento, revogou
o § 2 e do art. 3 S da LC ne 64/90?

334
P ed id o de R egistro de C andidatura C a p ít u l o 11

0 doutrinador Joel José Cândido sustenta a revogação total, vez que o art. 80 é
posterior ao § 2 2 do art. 3- da LC n9 64/90 e é lei de natureza complementar, além
de ser mais amplo.
De certo que as funções eleitorais exercidas pelo Ministério Público são bem
amplas e abrangem a análise do pedido de registro de candidatos, bem como as
impugnações ofertadas por terceiros legitimados e as propriamente propostas pelo
órgão do Parquet,
O § 2 - do art. 3 9 da LC n9 64/90 faz menção ao prazo de quatro anos, retroativo
da data da análise do pedido de registro de candidaturas até a disputa de cargo
eletivo, integração de diretório de partido ou exercício de atividade político-
partidária. Trata-se de norma moralizadora, que isenta o Ministério Público de
atuações partidaristas.
Concordamos parcialmente com o eminente doutrinador Joel José Cândido,
porque uma determinada pessoa (membro do Ministério Público) pode ter exercido
atividade político-partidária, sem nunca ter se filiado a nenhum partido político,
e o fato ser provado por testemunhas, documentos e outras provas em geral. Por
exemplo: A participou de reiterados comícios políticos em favor de determinada
candidatura ou partido político, no ano de 2000, como membro do Ministério
Público. Ao nosso pensar, prevalece a regra do art. 3 9, § 2S, da LC n9 64/90, estando o
mesmo impedido de exercer as funções eleitorais até 2004. Vejam que, no exemplo,
o membro do P arquet não está filiado.
Quanto às outras duas hipóteses, ou seja, integrar diretório de partido e disputar
cargo eíetivo, ambas pressupõem a filiação partidária. Nestes casos, concordamos
com a revogação do § 2- do art. 3 S da LC n- 64/90, pelo art. 80 da LC n9 75/93. A
revogação, portanto, é parcial, pois subsiste o prazo de quatro anos para a hipótese
relativa ao exercício de atividade político-partidária.
O Tribunal Superior Eleitoral, através da Resolução n9 22.012/05, disciplinou
que os promotores de Justiça que pretendam participar das eleições gerais de 2006
terão que deixar definitivamente os seus cargos no Ministério Público, ou seja, devem
aposentar-se ou pedir exoneração, pois de acordo com a Emenda Constitucional
n9 45, ocorreu uma equivalência na restrição ao acesso dos mandatos eletivos entre
os membros do Ministério Público e da Magistratura.
No caso de desligamento do Ministério Público, o prazo de filiação é de 6 meses,
e não de 1 ano antes da data da eleição, pois antes da Emenda Constitucional n- 45,
o prazo de desincompatibilização mediante licença era idêntico ao da filiação
partidária.
A questão relativa ao direito adquirido dos membros do Ministério Público é
indissociável da análise do disposto no art. 60, § 4 Ô, II e IV, da Constituição Federal,
pois o voto direto e os direitos políticos positivos e negativos conglobam o aspecto
da filiação partidária como condição constitucional de elegibilidade (art. 14, § 39, V,

335
M a r c o s R am ayan a D irjeíto E leitoral

da Constituição Federal). E, nesta atmosfera de invólucro do direito imanente do ius


honorum, não podemos admitir a alteração do status civitatis dos membros do Parquet.
0 direito adquirido deve ser preservado em razão da mudança da capacidade eleitoral
passiva à medida que impossibilita a continuidade da ordem jurídica fundamental
existente anteriormente à promulgação da Emenda Constitucional ns 45/04.
Sobre o cancelamento da filiação partidária, ver os arts. 21 e 22 da Lei dos
Partidos Políticos (Lei n2 9.096/95).
Com a vigência da Emenda Constitucional nfi 45, a atividade política partidária
dos membros do Ministério Público foi vedada de forma absoluta.
As regras vedatórias aplicáveis aos juizes e membros dos Tribunais de Contas
passam a ser extensíveis aos membros dos Ministérios Públicos, sendo-lhes vedado
a filiação (condição constitucional de elegibilidade) e, por via de conseqüência, o
registro de suas candidaturas, exceto nas hipóteses de desincompatibilização por
afastamento definitivo (exoneração ou aposentadoria).
Ressalve-se, no entanto, o disposto no art. 29, § 3 S do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias que trata dos membros do Ministério Público com
ingresso antes da Constituição/88, pois, nestes casos, é possível a opção pelo regime
anterior que permite a filiação partidária e o acesso ao registro das candidaturas.

11.4.2. Improbidade administrativa


Na ação de impugnação ao pedido de registro de candidatos, o juiz ou tribunal poderá
decretar a suspensão dos direitos políticos, em razão da prática de improbidade
administrativa (art. 15, V, da Carta Magna e Lei n9 8.429, de 2 de junho de 1992)?
A Lei de Improbidade possui variações quanto ao prazo da suspensão dos direitos
políticos, ou seja, de três a cinco anos, de cinco a oito anos e de oito a dez anos.
Todavia, a Justiça Eleitoral não tem competência para declarar a improbidade
administrativa,15 mas apenas reconhecer a improbidade administrativa já declarada
em ação popular, civil pública ou ordinária. O juiz do pedido de registro de candidatura
poderá indeferi-lo, com base em decisão anterior transitada em julgado, declarando
a improbidade (causa de suspensão dos direitos políticos). No entanto, se um
dos legitimados ativos propuser um pedido de declaração da inelegibilidade por
improbidade administrativa relativa à rejeição de contas, na forma do art. 1-, 1, alíneas
g e h, da Lei Complementam2 64/90, a inelegibilidade poderá ser declarada e produzir
seus regulares efeitos absolutos durante cinco anos, ressalvada a questão tratada na
Súmula n9 1 do TSE, ou seja, se a questão for submetida a outro juiz (juiz não eleitoral).

15 “(TSE). Inelegibilidade - improbidade administrativa (...) O simples oferecimento de denúncia por improbidade
administrativa não toma inelegível o candidato. (...) Acórdão n9 13.570, de 11.3.1997 - Recurso Especial Eleitoral
n~ 13.570/PI (São João da Canabrava). Relator Ministro ISmar GaSváo".

336
P e d id o de Re g ist ro de C an didatura C a p ít u l o 11

11.4.3. Rejeição de contas


A rejeição de contas prevista na alínea g do art. I 2, 1, da Lei das inelegibilidades
produz efeitos relativos à inelegibilidade absoluta. Pergunta-se: qual o órgão
competente? 0 que se entende por decisão irrecorrivel? 0 que é irregularidade
insanável? Como se conta o prazo da inelegibilidade?
0 art. I 9, 1, letra g, da Lei das Inelegibilidades diz que são inelegíveis:

(...) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou


funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão
irrecorrivel do órgão competente, salvo se a questão houver sido ou
estiver sendo submetida à apreciação do Poder judiciário, para as
eleições que se realizarem nos 5 (cinco) anos seguintes, contados a
partir da data da decisão.

A Lei das Inelegibilidades trata a questão como inelegibilidade absoluta e exige


quatro requisitos básicos, a saber: 1 - o exercício de cargos ou funções públicas;
2 - contas rejeitadas; 3 - irregularidade insanável; 4 - ausência de exame das
contas rejeitadas pelo Poder judiciário.
É importante frisar que a Lei de Improbidade Administrativa (Lei ne 8.429/92)
trata a questão de forma semelhante. De toda sorte, na lei da imoralidade pública
qualificada, a sanção não é a inelegibilidade, mas sim a suspensão dos direitos
políticos (art. 15, V, da CRFB c/c art. 1 2 ,1, II e III, da Lei de Improbidade).
Como se vê, a questão da suspensão dos direitos políticos pela decisão de improbidade
administrativa poderá chegar a tempo, ou não, ao conhecimento da autoridade judiciária.
A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura também é uma forma legal
de a autoridade judiciária eleitoral executar a suspensão dos direitos políticos. Todavia,
a AIPRC poderá levar ao conhecimento da autoridade judiciária a questão da rejeição de
contas por irregularidade insanável de forma autônoma, ensejando a cognoscibilidade
paráa decretação da inelegibilidade por cinco anos na forma da letra g .
Em suma: a Justiça Eleitoral poderá apenas reconhecer e executar a suspensão
dos direitos políticos na AIPRC ou, efetivamente, julgar a AIPRC autonomamente e
decretar a inelegibilidade com sanção diversa da suspensão dos direitos políticos
(decretada na ação popular, na ação civil pública ou na ação ordinária, com base
na Lei de Improbidade Administrativa). Ver comentários no capítulo “Perda e
Suspensão dos Direitos Políticos" - item "Improbidade Administrativa".
Com essas ressalvas, passemos a examinar os quatro requisitos básicos aludidos.

11.4.3.1. Cargos ou funções públicas


0 primeiro, trata do exercício de cargos ou funções públicas.
A própria Lei de Improbidade define o que é servidor público:

337
M arcos R am ayana D ireito E leitoral

Art. 29 Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por
eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
mencionadas no artigo anterior.

A Lei das Eleições, ao tratar das condutas vedadas aos agentes públicos em
campanhas eleitorais, dispõe:

Art. 1- São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as


seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades
entre candidatos nos pleitos eleitorais.

E ainda:

§ 7- As condutas enumeradas no caput caracterizam, ainda, atos de


improbidade administrativa, a que se refere o art. 11, inciso I, da Lei
ne 8.429, de 2 de junho de 1992, e sujeitam-se às disposições daquele
diploma legal, em especial às cominações do art. 12, inciso III.

Impende frisar que o art. 327 do Código Penal define "funcionário público"
Todavia, o tipo em comento exige que ele esteja no exercício da função.
A melhor doutrina leciona que a expressão "funcionário público" não está em
consonância com o texto da Constituição Federal vigente. Leia-se: "servidor público".
Servidores públicos, segundo nos ensina José dos Santos Carvalho Filho, são:
todos os agentes que, exercendo com caráter de permanência uma
função pública em decorrência de relação de trabalho, integram
o quadro funcional das pessoas federativas, das autarquias e das
fundações públicas de natureza autárquica.
0 artigo em comentário abrangeu toda a espécie ou classificação de funcionário
público. Assim, somente não se devem sujeitar às regras de improbidade quem
exerce munuspúblico, v.g., os síndicos na falência, tutores, curadores e inventariantes
judiciais.
O exercício irregular das atribuições sempre revelará o descumprimento de um
dever ou a violação de uma proibição e corresponderá a uma infração disciplinar,
respondendo o servidor no âmbito da responsabilidade administrativa.
A infração disciplinar poderá, também, constituir responsabilidade civil e penal,
sendo certo que aquela tem sempre caráter patrimonial e esta, pela realização de
uma conduta que se amolde a um tipo de crime ou de contravenção.
A responsabilidade civil sempre tem caráter patrimonial, ou seja, incidirá quando
a infração disciplinar acarretar danos à Administração ou a terceiros.
P ed id o de R eg istro de C andidatura C a p ít u l o 11

A responsabilidade administrativa, por relevante, incumbe destacar que


subsistirá, mesmo que se trate de conduta praticada fora do cargo ou da função,
desde que possa comprometer a dignidade ou o decoro da Administração.
De certo que a apuração de cada uma das responsabilidades do servidor faz-se
de forma autônoma e independente, podendo haver, desse modo, cumulação de
sanções, sem que represente um bis in idem.
0 requisito do exercício do cargo ou função pública deve ser visto em consonância
com o poder de prestar contas pelo servidor público, caso contrário, a norma sobre
inelegibilidade é-Ihe inaplicável. Com o dever de prestar contas, entre outros, estão
os secretários de Estado, os prefeitos e presidentes de Câmaras Municipais.

11.4.3.2. Decisão irrecorrívei


0 segundo requisito é o das contas rejeitadas (DECISÃO IRRECORRIVEL).16
Para responder a esta questão, faz-se necessário saber qual é o órgão competente
para apreciar as contas.
A apreciação das contas ocorre pelo órgão do Tribunal de Contas da União (verba
federal), dos Estados (verbas estaduais) e pelo Conselho Municipal ou Tribunal de
Contas dos Municípios (verbas municipais). Assim, a competência tem relação com
a prestação das contas.
Sobre o assunto, destaca-se na Carta Magna:

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional


e patrimonial da União e das entidades da Administração Direta e
Indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação
das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso
Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno
de cada Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica,
publica ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre
dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou
que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

Todavia, não basta o parecer do órgão técnico (Tribunais de Contas), quando


as contas forem prestadas por presidente da República, governadores de estado
e prefeitos municipais. Para alcançarmos a inelegibilidade, é necessária a decisão
como um ato complexo.

18 “(TSE) .Acórdão n9 558, de 17.9.2002. Agravo regimental no recurso ordinário n9 558/mg. Relator: Ministro Luiz
Carios Madeira. Ementa: Agravo regimental. Recurso ordinário. Registro de candidato. Eleições 2002. impugnação.
Rejeição de contas. TCU. Ausência de trânsito em julgado. Fundamentos da decisão agravada. Não infirmados. Para
que se configure a inelegibilidade do art. 1®, I, g, da LC ne 64/90, é necessário o trânsito em julgado da decisão.
Constitui óbice intransponível o agravo regimental não infirmar todos os fundamentos da decisão agravada. Agravo
improvido. Pubücado na sessão de 17.9.2002”.

339
M a r c o s R a m ayana D ir eito E leitoral

No sentido acima, leciona Joeí José Cândido:


Todavia, para definir qual seja o “órgão competente", referido na alínea
g, a jurisprudência tem feito a diferença na atividade do órgão de
contas enquanto julgador e parecerista. No primeiro caso, independe
sua decisão de apreciação da Casa Legislativa; no segundo, só se fala
em decisão írrecorrível, aquela proveniente do Poder Legislativo, que,
em regra, prevalece sobre o parecer. Este último caso ocorre qüando
são examinadas as contas anuais dos cargos executivos (presidente
da República, governador do estado, do Distrito Federal e prefeito
municipal).17
a) Prefeito.
Devem ter parecer do Tribunal de Contas do Estado ou Tribunal ou Conselho
de Contas do Município. Após, as contas serão examinadas pela Câmara Municipal.
Nesse sentido, ver o art. 31 da CRFB. 0 parecer só deixa de prevalecer, ou seja, só
não se efetivará, por decisão de 2/3 dos vereadores. A jurisprudência do Tribunal
Superior Eleitoral é pacífica no sentido de que
(...) compete à Câmara Municipal o julgamento das contas de prefeito,
consistindo o parecer prévio do Tribunal de Contas do Estado em
parecer meramente opinativo. (...) (Acórdãos n2 18.772, de 31.10.2000,
Relator Ministro Fernando Neves, e n2 18.313, de 5.12.2000, Relator
Ministro Maurício Corrêa).
Em igual sentido, TSE - Pleno - Rec. ne 9.745/PB - Classe 4a - Rei. Min. José
Cândido, Diário da Justiça, Seção I, 15 de fev. 1993. Ver ainda o Acórdão n~ 587,
de 10 de setembro de 2002, tendo como Relator o Ministro Fernando Neves, do
Tribunal Superior Eleitoral.
Desta forma, para o egrégio TSE, não é possível a incidência da inelegibilidade
se não houver a perfectibilidade do ato complexo, ou seja, a rejeição das contas
pelo órgão técnico parecerista e o referendum da Câmara Municipal pelo quorum
qualificado de 2/3. Apenas o parecer técnico não gera a inelegibilidade. Registre-se
posição contrária de Joel José Cândido nas seguintes hipóteses: quando não houver
julgamento pela Câmara ou faltar quorum, pois, nestes casos, segundo o mestre, a
decisão técnica basta para a inelegibilidade. De leg e feren d a, concordamos com o
eminente doutrinador.
O prefeito pode defender-se da decisão de natureza administrativa do Tribunal
de Contas perante a Câmara de Vereadores (Inform ativo ns 213 do STF).

b) Presidente da Câmara Municipal.


O órgão competente é o Tribunal de Contas do Estado (Acórdão ne 606, de
10.9.2002, Relator Ministro Fernando Neves). E, ainda:

17 CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no Direito Brasileiro. Editora Edipro, p. 191.

3 40
P ed id o d e Reg ist r o de C andidatura C a p ít u l o 11

Agravo regimental. Recurso especial recebido como ordinário. Eleições


2002. Registro. Inelegibilidade. Art. l e, I, e e g, da LC ns 64/90. Crime
eleitora!. Rejeição de contas. A propositura de revisão criminal
não suspende a inelegibilidade. 0 órgão competente para julgar as
contas do presidente da Câmara Legislativa é o Tribunal de Contas do
Estado. Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento ao agravo
regimental. Unânime. Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral
n9 19.986/ES, ReL: Min. Luiz Carlos Madeira, em 10.10.2002.
Acresça-se;
O julgamento das contas do presidente da Câmara Municipal é da
competência do Tribunal de Contas. Acórdão regional que se reforma
para o fim de reconhecer a inelegibilidade (Ac. TSE n- 14.023/CE, ReL
Min. Diniz de Andrada - 11.1.1996).
Tratando-se de verba oriunda da Uniãó (verba federal), a competência é do
Tribunal de Contas da União (Acórdão ns 595, de 19 de setembro de 2002. Relator
Ministro Sepúlveda Pertence). É inconstitucional decisão do Tribunal de Contas ou
Conselho de Contas Municipais para julgar contas de chefe do Legislativo Municipal
(decisões no TSE).

c) Governadores de Estado.
A Carta Magna estadual do Rio de Janeiro dispõe que:

Art. 99. Compete privativamente à Assembleia Legislativa:


(...) VIII - julgar anualmente as contas do governador, apreciar os
relatórios sobre a execução dos planos de Governo e proceder à tomada
de contas, quando não apresentadas dentro de 60 dias, após a abertura
da Sessão Legislativa.

Portanto, o julgamento é feito após o parecer do Tribunal de Contas do Estado. A


decisão da Assembleia é que será a decisão irrecorrível referida na alínea g, da Lei
das Inelegibilídades.
Outrossim, reza ainda a Carta Magna estadual do Rio de Janeiro que:

Art. 123. O controle externo, a cargo da Assembleia Legislativa, será


exercido com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado, ao qual compete:
(...) II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
dinheiros, bens e valores públicos dos três poderes, da Administração
Direta e Indireta, incluídas as empresas públicas, autarquias, sociedades
de economia mista e as fundações instituídas ou mantidas pelo Poder
Público Estadual, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio
ou outra irregularidade de que resulte prejuízo à Fazenda Estadual.

341
M a r c o s R am ayana D ir eito E leitoral

Como se vê, para os demais administradores, basta a decisão do Tribunal de


Contas transitada em julgado, para acarretar-lhes a inelegibilidade por cinco anos,
na forma da Lei das Inelegibilidades.

d) Presidente da República.
Quanto ao cargo de Presidente da República, o julgamento é realizado pelo
Congresso Nacional, após decisão do Tribunal de Contas da União (aplicam-se os
arts. 49, IX, e 71, I, da Carta Magna). A inelegibilidade só decorre da decisão final
transitada em julgado do Congresso Nacional.
As diretrizes da Carta Magna, em seu art. 71, II, versam:

Art. 7 1.0 controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido


com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
(...) II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
dinheiros, bens e valores públicos da Administração Direta e Indireta,
incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder
Público Federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio
ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao Erário Público.

Em razão do art. 75 da Constituição Federal, aplicam-se também aos Tribunais


de Contas Estaduais:

Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber,


à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de
Contas dos Municípios.

Por fim, o art. 35 da Lei n5 8.443/92 trata do recurso de revisão no Tribunal de


Contas da União. 0 TSE já sedimentou jurisprudência que não afasta a inelegibilidade,
porque não suspende a decisão e é identificado mais como uma ação rescisória do
que recurso (Acórdãos n2 277/02, Relator: Ministro Fernando Neves, e n9 245/98,
Relator: Ministro Eduardo Ribeiro),

II.4 .3 .3 . Irregularidade insanável


O terceiro requisito é a irregularidade insanável.
As hipóteses de irregularidades insanáveis estão previstas nos respectivos
regimentos internos dos Tribunais de Contas, p.ex., no TCE/RJ, o art. 21, inciso
III, diz: "irregulares, quando comprovada qualquer das seguintes ocorrências: a)
grave infração a norm a legal ou regulam entar de natureza contábil, financeira,
orçam entária, operacional ou patrimonial; b) injustificado dano ao erário,
decorrente de ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico; c) desfalque, desvio de
dinheiros, bens e valores públicos. Parágrafo único. O Tribunal poderá julgar

342
P ed id o de R egistro de C andidatura
C a p ít u l o 11

irregulares as contas no caso de reincidência no descumprimento de determinação


de que o responsável tenha tido ciência, feita em processo de prestação ou tomada
de contas anterior”
As contas irregulares são decorrentes de vícios insanáveis. Destaca-se no TSE:
"Considera-se inelegível o pré-candidato cujas contas tenham sido rejeitadas
por prática de atos de improbidade administrativa, enquanto vícios insanáveis"
(Acórdão no Agravo Regimental no Recurso Ordinário ns 1.178, de 16.11.2006 -
Classe 27a/RS (Porto Alegre). Rei. Min. Cezar Peluso).
Todavia, não se pode ignorar que a prática do ato de improbidade que enseja a
irregularidade insanável é pessoal.
Por fim, cumpre à justiça Eleitoral avaliar se certas irregularidades insanáveis
são aptas a ensejar a inelegibilidade, pois é assente na jurisprudência do Egrégio
Tribunal Superior Eleitoral que, p. ex., a violação à Lei de Licitações caracteriza, por
si só, a irregularidade insanável. Cabe à Justiça Eleitoral perquirir em determinados
casos sobre a lesão à gestão pública, a atividade de probidade do agente público
e a economicidade, transparência e responsabilidade na condução dos atos da
Administração Pública.
A jurisprudência do TSE consagra que o descumprimento da Lei de Licitações
configura irregularidade insanável (REspe. n9s 22.704 e 22.609, Rei. Min. Luiz Carlos
Madeira, DJ de 19.10.2004 e 27.9.2004).
Destaca-se: "O descumprimento da Lei de Licitação importa irregularidade
insanável (art. 1-, I, g, da LC n- 64/90)". Acórdão n- 13.856, de 10 de outubro de
1996, Relator: Ministro Francisco Rezek).
Outrossim:
A Justiça Eleitoral pode examinar a natureza das irregularidades das
contas. Necessidade de haver elementos que permitam a declaração de
insanabilidade. Não há na decisão do órgão julgador nenhuma menção
de irregularidade insanável ou nota de improbidade administrativa.
As premissas, para o indeferimento do registro com base no art. I 2,
I, g, da LC n9 64/90, são: rejeição de contas relativas ao exercício de
cargos ou funções públicas, por irregularidade insanável e por decisão
irrecorrível do órgão competente. Agravo regimental a que se nega
provimento. Publicado na sessão de 20.9.2002, Acórdão n- 604, de
20/9/2002. Agravo regimental no Recurso Ordinário nQ 604/T0.
Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira (TSE).
O TSE já reconheceu como irregularidade insanável, a realização de processo
licitatório em desacordo com a legislação aplicável na espécie e aplicação total dos
recursos em apenas metade do objeto do convênio.
Em suma: a irregularidade insanável exige lesividade, dolo do agente e nexo
de causalidade entre a conduta ativa ou omissiva e o resultado. Caberá à Justiça
Eleitoral verificar, diante do caso concreto, se a hipótese é ou não sanável, o que

343
M a r c o s R amayana D ír eito E leitoral

gera larga margem de subjetividade e impunidade, diante dos múltiplos artifícios


contábeis. 0 doutrinador Joel josé Cândido lembra, em sua obra Inelegibilídades
no Direito Brasileiro, alguns casos de insanabilidade, a saber: falta de prestação de
contas, admissão de servidores sem concurso, concessão de diárias sem motivo etc.

11.4.3.4. Contas rejeitadas


0 quarto requisito é a ausência de exame das contas rejeitadas pelo Poder judiciário.
Ressalte-se a Súmula n- 1 do TSE:
Proposta a ação para desconstituír a decisão que rejeitou as contas,
anteriormente à impugnação, fica suspensa a inelegibilidade (Lei
Complementar n9 64/90, art. 1-, l,g).
Leciona Joel josé Cândido que a palavra final é do Poder Judiciário. Na verdade,
a Súmula n9 1 autoriza a Justíça Comum ou Federal (não eleitoral), por exemplo,
Juízo da Vara de Fazenda Pública Estadual ou Federal, a desconstituír a decisão do
Tribunal de Contas, do Conselho de Contas ou do próprio Poder Legislativo.18
Pelo texto da súmula, poder-se-ia concluir que, proposta a ação, principia-se uma
causa de suspensão da inelegibilidade, prevista na alínea g do art. 1~, I, da Lei das
Inelegibilídades (LC n5 64/90). Entretanto, como será mais adiante explanado, o
próprio TSE vem mitigando a aplicação desse enunciado. Não cabe à justiça Eleitoral
apreciar o mérito das contas. A Justiça Eleitoral é incompetente para analisar o
mérito da causa. Todavia, a Justiça Eleitoral, na ação de impugnação ao pedido de
registro de candidatos, deverá analisar a insanabilidade das irregularidades que
causaram a rejeição das contas. Nesse sentido, Acórdão n~ 277/02, Relator Ministro
Fernando Neves. A análise deverá atentar para o princípio da relativa independência
das instâncias comum e eleitoral, sob pena de ocasionar decisões contraditórias.
O exame da insanabilidade deve considerar se o pré-candidato incidiu em
improbidade administrativa. Nesse sentido, Acórdão n9 661/00, Relator Ministro
Nelson Jobim. A questão reside sempre na irregularidade insanável das contas,
que se afirmam se ocorrer a improbidade administrativa. Todavia, não é conditio
sine qua non para o julgamento das contas a simetria com atos de improbidade
administrativa.

18 "Recurso especial recebido como recurso ordinário. Registro de candidatura. Impugnação. Julgamento das contas
de prefeito. Competência da Câmara Municipal. Pronunciamento do Tribuna! de Contas Municipai é mero parecer
prévio. Inelegibilidade afastada. LC 64/90, art. 1° inciso I, alínea g. 1 ,0 julgamento das contas do prefeito municipal
é de competência da Câmara Municipal, constituindo o pronunciamento do Tribuna! de Contas mero parecer opinativo.
2. Precedentes. 3. Recurso a que se nega provimento. Acórdão ne 20.051, de 25.9.2002. Recurso Especia! Eleitora!
ne 20.051 - Classe 22*/ES (Vitória). Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Decisão: Unânime em receber o recurso
como ordinário e negar-lhe provimento". “Inelegibilidade: re]eição de contas (LC ne 64/90, art. 1e, I, g). Tribunal de
Contas do Estado. Competência originária. Convênio. Não se sabendo o motivo da rejeição das contas e não havendo
prova da insanabilidade ou da existência de improbidade, não há como cogitar de inelegibilidade. Recurso provido para
deferir o registro de candidatura. Acórdão ns 20.437, de 25/9/2002. Recurso Especial Eleitoral n9 20.437. Classe 22-/
PA. (Belém). Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Decisão: Unânime em receber o recurso como ordinário e dar-lhe
provimento".

3 4 4
P e d id o de Reg ist r o de C andidatura C a p ít u l o 11

As ações cabíveis são do tipo declaratórias ou anulatórias e seguem o rito


ordinário. A doutrina entende que as ações cautelares não servem para a causa de
suspensão da inelegibilidade. Como se vê, é necessário que o interessado propon
ação, visando ao conhecimento de mérito da causa.19
A propositura da ação segue o disposto no art. 263 do Código de Processo Civil:

Considera-se proposta a ação, tanto que a petição iniciai seja despachada


pelo juiz ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara.
A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos
mencionados no art. 219 depois que for validamente citado.20

0 autor da ação deve citar o órgão julgador das contas, por exemplo, Mesa do
Senado ou da Câmara, Assembleia Legislativa, Câmara Municipal e, se o julgamento
não envolver órgãos do Poder Legislativo, deverá citar o Tribunal de Contas ou
Conselho de Contas.21
A ação de desconstituição das contas rejeitadas por irregularidade insanável22
deve ser proposta antes da ação de impugnação ao pedido de registro de candidato,
pois, ultrapassado o prazo, não há que se falar em causa de suspensão da
inelegibilidade, mas sim na incidência da própria inelegibilidade.23
19 “Recurso especial Eleições municipais. Comissão parlamentar de inquérito. Conclusões. Improbidade
administrativa. Lei ne 8.429/92. Decretação em procedimento de registro de candidatura. Impossibilidade.
Rejeição de contas. Decisão irrecorrívei do órgão competente. Inexistência. Hipótese de elegibilidade.(...) 2. O
reconhecimento da inelegibilidade prevista no art. 1° inciso i, alínea g, da LC nS-64/90, pressupõe a existência
de decisão irrecorrivel do órgão competente. No caso de contas prestadas pelo chefe do Executivo municipal, o
parecer prévio do Tribunal de Contas possui natureza meramente opinativa, devendo ser submetido à apreciação
da Câmara de Vereadores, para que se aperfeiçoe o ato de rejeição. Precedentes. (...) Recurso conhecido e provido.
Acórdão ns 18.313, de 5.12.2000. Recurso Especial Eleitoral ne-18.313. Ciasse 22-/CE (7<P Zona Guaraciaba do
Norte)”.
20 “Recurso Especial Eleitoral n2 20.023/ES, Rei. Min. Fernando Neves, em 18.3.2003. Recurso especial eleitoral.
Rejeição de contas. Inelegibilidade. Nova ação declaratória-que se encontra sob o crivo do Judiciário. Incidência do
verbete ne 1 da Súmula do Tribuna! Superior Eleitoral. Não havendo decisão definitiva de rejeição de contas, mesmo
havendo renovação da ação, estaria o candidato ao abrigo da Súmula n9 1 deste Tribunai Superior Eleitoral- Nesse
entendimento, o Tribuna! conheceu do recurso e deu-lhe provimento. Unânime”.
21 “Recurso ordinário. Registro de candidatura. Inelegibilidade. Rejeição de contas (LC n° 64/90, art 12, I, g). I -
Alegação de incompetência do TCU para rejeitar contas municipais: improcedência, por se tratar de convênio firmado
entre o município e o Ministério da Ação Sociai. il - O recurso ordinário devolve ao TSE toda a matéria de fato e de
direito. III ~ Não se desincumbindo o candidato do ônus de questionamento da natureza das irregularidades detectadas,
mantém-se a inelegibilidade sufragada peio aresto regional. IV - Recurso a que se nega provimento. Acórdão n?-595, de
19.9.2002. Recurso Ordinário ns 595 - Ciasse 27á/MG {Beio Horizonte). Reiator: Ministro Sepúlveda Pertence. Decisão:
Unânime em negar provimento ao recurso".
22 “(TSE). Acórdão n9 588, de 23.9.2002 Recurso Ordinário n° 588/PR. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Ementa:
Rejeição de contas. Despesas. Empenho. Cobertura financeira. Ausência. Vício insanável. Não caracterização. Dano
ao Erário. Perda patrimonial. Desvio de valores. Inexistência. Recurso provido. Publicado na sessão de 23.9.2002".
23 “Agravo regimental. Recurso ordinário. Eleições 2002. Registro. Inelegibilidade. Rejeição de contas (art. 1° I, g, da
LC ne 64/90). Nâo ocorrência. A Justiça Eleitoral pode examinar a natureza das irregularidades das contas. Necessidade
de haver elementos que permitam a declaração de insanabilidade. Não há, na decisão do órgão julgador, nenhuma
menção de irregularidade insanável ou nota de improbidade administrativa. As premissas, para o indeferimento do
registro, com base no art. 1° i, g. da LC n§ 64/90, são: rejeição de contas relativas ao exercício de cargos ou funções
públicas, por irregularidade insanável e por decisão irrecorrívei do órgão competente. Agravo regimental a que se nega
provimento. Acórdão nQ604, de 20.9.2002. Agravo Regimental no Recurso Ordinário n2 604 - Classe 27*/TO (Palmas).
Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira. Decisão: Unânime em negar provimento ao agravo regimental".

345
M a r c o s R am ayan a D ir eito E leitoral

0 Egrégio Tribunal Superior Eleitoral de forma correta e sábia em recente


entendimento para as eleições de 2006 assim firmou posição em defesa da moralidade:
"Agravo regimental. Recurso ordinário. Registro de candidato. Deputado estadual.
Inelegibilidade. Art. 1-, I, g, da LC nfi 64/90. Contas. Convênio. Ação desconstitutiva.
Obtenção. Tutela antecipada. Revogação. Posterioridade do pleito. Nas eleições
de 2006, o Tribunal Superior Eleitoral implementou sua jurisprudência quanto à
inelegibilidade do art. l s, I, g, da LC ns 64/90, passando a exigir pronunciamento
judicial ou administrativo que suspenda os efeitos da decisão de rejeição de contas.
Dada a inovação jurisprudencial sucedida no curso do processo eleitoral, a Corte passou
a admitir, em relação a esse pleito, as decisões obtidas posteriormente ao pedido de
registro de candidatura. A revogação de tutela antecipada que suspendeu os efeitos de
decisão de rejeição de contas, ocorrida após a realização do pleito, à proclamação dos
eleitos e às vésperas da diplomação, não tem o condão de alterar a situação do candidato
que concorreu na eleição já respaldado pela referida tutela. Nesse entendimento, o
Tribunal negou provimento ao agravo regimental. Unânime. Agravo Regimental no
Recurso Ordinário n9 1.239/PB, Rei. Min. Caputo Bastos, em 8.3.2007".
Em função dessa nova diretriz jurisprudencial, foi mitigado o Verbete sumular
ne 01 do TSE em melhor adaptação à exegese do art. 1-, í, letra g, da Lei Complementar
ne 64, de 18 de maio de 1990.
Desta forma, não é suficiente a propositura da ação com a distribuição de medida
judicial, sem que o juiz natural da causa possa ao menos decidir sobre os requisitos
formais da petição da ação de anulação da decisão que rejeitou as contas. E ainda,
as decisões devem ser fundamentadas para gerar a causa de suspensão, pois, caso
contrário, afrontar-se-ia o disposto no art. 93, IX, da Constituição da República, que
exige a fundamentação das decisões judiciais.
Em excelente momento trilhou a sábia jurisprudência do TSE pela não admissão
de causa de suspensão de inelegibilidade por decisão irrecorrível do Tribunal de
Contas, com a simples propositura da ação judicial de anulação dàs contas, sem
que o magistrado possa decidir esta questão de forma cautelar, suspendendo-se
a inelegibilidade. Os inelegíveis aguardavam o momento propício do calendário
eleitoral, ou seja, antes de serem registrados na Justiça Eleitoral e serem
eventualmente acionados por ação de impugnação ao registro ou indeferimento do
próprio registro para, só então, ingressarem com a ação anulatória, que além de
tudo é apreciada por magistrado com competência na Justiça comum.
Outrossim, "o pedido de reconsideração de decisão do Tribunal de Contas da União,
protocolado quando já intentada a ação de impugnação de registro", não serve para
afastar a inelegibilidade. Nesse sentido, Acórdão ns 19.140, de 7 de dezembro de 2000,
Relator: Ministro WaldemarZveiter (TSE). A hipótese do recurso de revisão, disciplinado
no art. 35 da Lei nQ8.443/92 (similar à ação rescisória), não afasta a inelegibilidade.
No TSE, ainda existe entendimento de que, na hipótese de recurso de reconsideração,

346
P ed id o de R egistro de C andidatura C a p ít u l o 11

disciplinado no art. 33 da lei acima referida, ainda que interposto em prazo anterior à
ação de impugnação ao pedido de registro,24 não suspende a inelegibilidade.
Surge uma questão que poderá alterar a posição do egrégio Tribunal Superior
Eleitoral, a saber, a permissão de que uma alteração jurídica que seja posterior à
formalização do pedido de registro de candidatura afaste a inelegibilidade, criando-
se uma situação singular que pode permitir que o candidato sub judice possa obter
uma decisão liminar ou cautelar (situação jurídica posterior), após o indeferimento
do Requerimento de Registro de sua Candidatura em função do reconhecimento de
uma inelegibilidade com base na alínea g do inciso I do art. l s da LC n9 64/90.
Em suma: se o candidato a prefeito foi declarado inelegível pela Câmara
Municipal que se baseou no parecer do Tribunal de Contas, ele poderá propor uma
ação na Justiça não eleitoral e obter uma decisão cautelar ou liminar que afaste
a inelegibilidade. Todavia, neste caso, entendemos que a alteração jurídica não
decorre da mera obtenção de uma decisão cautelar no transcurso do processo de
registro, mas sim da prova robusta de que ocorreu um fundamento jurídico novo
capaz de conduzir a alteração da situação vista anteriormente pela Justiça Eleitoral.
A jurisprudência do Colendo TSE consagra que “A obtenção de liminar ou de
tutela antecipada após o pedido de registro da candidatura não suspende a
inelegibilidade" (Agravos Regimentais no Recurso Especial Eleitoral ns 32.937/PB,
rei. Min. Joaqu im B arbosa, em 18.12.2008).
No entanto, a nova redação do §10 do art. 11 da Lei n- 9.504/97, trazida pela Lei
n- 12.034, de 29 de setembro de 2009, pode permitir o entendimento no sentido
de que a obtenção da liminar ou cautelar na ação anulatória é possível de ser
conquistada antes do prazo final de julgamento de registro de candidaturas, que
devem observar a prioridade prevista no §22 do art. 16 da Lei n5 9.504/97.

11.4.3.5. Fundamentos do ato de rejeição


Cabe à Justiça Eleitoral verificar se foram atacados todos os fundamentos do
ato de re|eição de contas na ação proposta para desconstituír a decisão?
Sobre o tema, formam-se duas posições no Tribunal Superior Eleitoral: a primeira,
entende que a inelegibilidade não se suspende e o ato de rejeição é mantido, se não
foram atacados todos os pontos em que se baseou a decisão de rejeição (Acórdão

24 “Acórdão ns 626, de 10.10.2002. Embargos de declaração no Recurso Ordinário ns 626/RO. Relator: Ministro Barros
Monteiro. Ementa: Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. Decisão recorrida. Fundamentos não
impugnados. Súm. STJ n® 182. Recurso ordinário. Registro de candidatura. Indeferimento. Rejeição de contas. Nota
de improbidade administrativa. Insanabilidade. Pedido de reconsideração no TCE formulado posteriormente à ação de
impugnação. Inocuidade, inelegibilidade do art. 12,1, g, da LC ne 64/90. Agravo desprovido. É inviável o agravo que não
impugna todos os fundamentos da decisão agravada. Enunciado ne 182 da Súmuia do STJ. Rejeitadas as contas com
nota de improbidade administrativa, hão de ser elas consideradas de natureza insanável. Precedentes. O pedido de
reconsideração de decisão que rejeitou as contas, formulado no TCE após o ajuizamento da ação de impugnação de
registro de candidatura, não tem o condão de afastar a causa de inelegibilidade do art. 1e, i, g, da LC n9 64/90. Agravo
a que se nega provimento. Publicado na sessão de 1° 10.2002".

347
M arco s R am ay an a D ir eito E leitoral

n- 14.648/96, Ministro Eduardo Ribeiro); a segunda, entende que não cabe à


Justiça Eleitora] verificar se foram atacados todos os fundamentos. Nesse sentido, o
Acórdão n2 19.300/01, Relator Ministro Garcia Vieira.
Assiste razão à segunda corrente, vez que a hipótese de suspensão da causa de
inelegibilidade é restritiva, não servindo de abrigo ao candidato infrator.
O TSE tem entendido que "a propositura de ação rescisória não tem o condão de
suspender a inelegibilidade decorrente da rejeição de contas" (Acórdão ns 15.107,
de 22 de outubro de 1998, Relator Ministro Eduardo Alckmin).
Por fim, o prazo de cinco anos da inelegibilidade é contado da data da decisão dos
órgãos técnicos (Tribunais de Contas e Conselho de Contas), bem como dos órgãos
do Poder Legislativo. Observe-se que o prazo de cinco anos transcorre normalmente
e independe da suspensão da inelegibilidade.25

11.4.4. Duplicidade de filiação partidária


A filiação partidária efetivada no prazo legal de um ano antes da data da eleição,
art. 14, § 3 S, V, da CRFB c/c art. 18 da Lei n- 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos)
e art. 9 g da Lei ne 9.504/97 (Lei das Eleições), é uma condição de elegibilidade
constitucional (matéria constitucional para fins do art. 223 c/c art. 259, parágrafo
único, ambos do Código Eleitoral) ou propriamente constitucional.
Sendo a matéria de ordem constitucional, não incide preclusão ou
impossibilidade de alegação, quando perdido o prazo de impugnação da ação
de impugnação ao pedido de registro de candidatos. Assim, por ocasião da
diplomação e, após o prazo da diplomação, mas dentro do período de 15 dias, um
dos legitimados para a AIME poderá propô-la, com base na ausência de filiação
partidária.
A falta desta condição de elegibilidade deve ser analisada no momento do pedido
de registro de candidatura. O art. 19 da Lei dos Partidos Políticos (Lei ne 9.096/95)
trata da forma pela qual deve ser comprovada a filiação ao partido político. A Justiça
Eleitoral é competente para exercer o controle certificatório das filiações, mas não
da qualidade pessoal dos filiados.
A lei prevê que, anualmente, nas segundas semanas dos meses de abril e outubro,
os partidos políticos devem encaminhar as listas dos seus respectivos filiados.
Na hipótese de não encaminhamento para a Justiça Eleitoral, a lista anterior dos
filiados será válida para fins de comprovação da filiação tempestiva. Nesse sentido,
art. 19 da Lei dos Partidos Políticos.

25 “(TSE). O termo inicial para contagem do prazo de inelegibilidade na hipótese do art. 1s, I, g, da LC ne 64/90 é a data
da decisáo do órgão competente que rejeitou as contas. Julgado procedente o recurso do candidato e não conhecido o
do diretório municipal. Acórdão ne 15.415, de 2.9.1998 - Recurso Especial Eleitoral n - 15.415 - Classe 22S/PI (Teresina).
Relator: Ministro Costa Porto*.

348
P ed id o de Re g ist r o de C andidatura C a p ít u l o 11

Impende observar que> por descuido ou má-fé, o nome de um dos filiados pode
não ser encaminhado à Justiça Eleitoral. Nesta hipótese, o interessado poderá basear
seus argumentos na Súmula n2 20 do TSE, in verbis: "A falta do nome do filiado ao
partido na lista por este encaminhada à Justiça Eleitoral, nos term os do art. 19
da Lei ne 9 .0 9 6 , de 1 9 .9 .1 9 9 5 , pode ser suprida por outros elementos de prova
de oportuna filiação".
Os outros elementos de prova, referidos na Súmula n2 20, podem ser os registros
cartorários dotados de fé pública. Quanto ao nome em uma das listas anteriores
(abril/outubro] e, ainda, cópia da ficha de filiação partidária do recorrido como
documento idôneo para comprovar a filiação partidária, o TSE já se manifestou em
sentido oposto:
Ademais, se assim não fosse, a ficha de filiação partidária (fl. 19) e o
requerimento do Partido à Justiça Eleitoral, para inclusão do nome do
candidato na relação de filiação anteriormente enviada (fl. 15), não
são documentos aptos a comprovar filiação partidária. Com efeito,
o art. 24, III, da Res. TSE n9 20.993/02 exige certidão expedida pelo
escrivão eleitoral, o que não consta dos autos. Nesse sentido, anotou o
subprocurador-geraí da República, no exercício da função eleitoral, Dr.
Wallace de Oliveira Bastos, no parecer de fls. 79-83 (Recurso Especial
Eleitoral n9 20.207/BA. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo),26
O TSE não vem admitindo documentos sem autenticação, especialmente diante
do reexame de prova que é vedado na instância superior (Súmulas n2 07 do STJ e
n2 279 do STF).27 Em outra decisão, o TSE admite a ficha de filiação como prova
idônea, "Registro de candidato. Filiação partidária. (...) Comprovação da condição
de filiada por ficha de filiação (...)" (Acórdão n2 13.627, de 23 de setembro de 1996,
Relator Ministro Eduardo Alckmin).
O importante é evitar a fraude com filiações inexistentes ou feitas fora do prazo
de um ano antes da data das eleições.28
O art. 8 S da Lei n2 9.504/97 trata do prazo de realização das convenções
partidárias (de 10 a 30 de junho do ano eleitoral). O exame dos pedidos de registro
ocorre até as 19h do dia 5 de julho do ano eleitoral; portanto, deve-se ter atenção
nas listas enviadas pelos partidos políticos no mês de outubro que forem diferentes

26 A jurisprudência do TSE posiciona-se no sentido de que: “O Tribunal a quo, para concluir pela imprestabilidade da
prova de filiação partidária do recorrente procedeu, à evidência, a acurado exame do material probante constante dos
autos. Decidir diversamente demandaria o revolver dessa matéria, o que é vedado em sede de recurso especial, a teor
dos Enunciados ns 7 e n5 279, respectivamente, das Súmulas do STJ e do STF”.
27 Acórdão ne 19.998, de 19.9.2002. Recurso Especial Eleitoral n9 19.998/SR Relator: Ministro Sepúiveda Pertence.
Ementa: Filiação partidária: prova. A autonomia dos partidos assegura-lhes regular os pressupostos e a forma de
filiação aos seus quadros, mas a prova dessa filiação, para os fins constitutivos, é a prevista em lei (Lei n- 9.096/95,
art. 19), que, admite-se, pode ser suprida por prova documental pré-constítuída e inequívoca, nâo, porém, por
simples declaração de dirigente partidário, posterior ao pedido de registro. Publicado na sessão de 19.9.2002”.
28 “(TSE). Recurso Especial Eleitoral ne 20.112/MT, Relatora: Ministra Elten Gracie. Registro de candidatura. Filiação
partidária não demonstrada. Documento sem autenticação. Reexame de prova. Súmula do STF r?e 279 e Súmula do
STF T.

349
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

das listas do mês de abril, pois as de abril do ano eleitoral são mais recentes e
comprovam efetivamente a filiação partidária, ao passo que as do mês de outubro
podem ter sido alteradas por desligamento do pré-candidato, sem observância da
dupla comunicação (partido político e juiz eleitoral).
Quem se filia a outro partido deve fazer comunicação ao partido e ao juiz
de sua respectiva zona eleitoral, para cancelar sua filiação; se não o fizer
no dia imediato ao da nova filiação, fica configurada dupla filiação, sendo
ambas consideradas nulas para todos os efeitos (REspe. ns 16.410/PR,
Rei. Ministro Waldemar Zveiter, pub. em sessão de 13.9.2000).
Se uma pessoa estiver filiada ao partido X e desejar filiar-se ao partido Y, deverá
atentar para alguns cuidados indispensáveis a fim de evitar a dupla filiação. No
caso, deverá fazer uma comunicação por escrito ao partido político (por exemplo,
Diretório Municipal) e ao juiz eleitoral da zona eleitoral respectiva de sua inscrição.
Nesse sentido, ver o art. 21 e parágrafo único da Lei dos Partidos Políticos.
O interessado só poderá filiar-se a outro partido após escoar o prazo de dois dias
da comunicação, mas, na prática, é muito comum o pré-candidato não observar os
prazos de comunicação ao partido e ao juiz.
O pré-candidato que não fizer o seu desligamento de forma correta, ou seja,
com a dupla comunicação (partido e juiz eleitoral) e filiar-se a outro partido estará
duplamente filiado, sendo ambas as filiações consideradas nulas. Todavia, emerge
ainda outra oportunidade, ou seja, o pré-candidato poderá valer-se do disposto
no art. 22, parágrafo único, da Lei dos Partidos Políticos. Neste caso, restar-lhe-á
efetivar ambas as comunicações no dia imediato ao da nova filiação, pois, caso não
realizem estas providências imprescindíveis, estará configurada a dupla filiação.
Nesse sentido, Acórdãos n 2 16.783 e n9 17.208 do TSE.
Nos cartórios eleitorais, é comum a formação de procedimentos relativos à
apuração da dupla filiação e que ensejam recursos aos Tribunais Superiores. Firma-
se a jurisprudência no sentido de que, se o juiz declarou a duplicidade de filiação e a
questão está suj eita a recurso, o pré-candidato é ausente de el egíbilidade constitucional.
Vê-se que o exame da ausência da condição de elegibilidade constitucional faz-se no
momento do registro e se, neste instante, ainda não houver reforma da decisão que
declarou a dupla filiação, não há que se falar em sanabilidade ou elegibilidade.

11.4.4.1. Filiação de m ilitar ao partido político como condição de


elegibilidade
Segundo entendimento pacífico do Tribunal Superior Eleitoral:
A condição de elegibilidade relativa à filiação partidária contida no art.
14, § 3 9, inciso V, da Constituição não é exigível ao militar da ativa que
pretenda concorrer a cargo eletivo, bastando o pedido de registro de
candidatura, após prévia escolha em convenção partidária (Res./TSE
ne 20.993/02, art. 12, § 29).

350
P e d id o d e R e g is t r o d e C a n d id a t u r a C a p ít u l o 11

A Resolução ns 20.993/02 trata do registro de candidatos às eleições de 2002.


Sobre o assunto, consultar ainda o art. 14, § 8 2, da CRFB e os Acórdãos do TSE
n- 11.314, de 30 de agosto de 1990, Relator Ministro Célio Borja, e n9 20.285, de 19
de setembro de 2002, Relator Ministro Sepúlveda Pertence.
Cumpre enfatizar, ainda, que o art. 142, § 3 9, inciso V, da CRFB veda a filiação do
militar a partido político, enquanto estiver em serviço ativo. 0 dispositivo legal foi
acrescentado pela Emenda Constitucional n- 18, de 5 de fevereiro de 1998.

Como in terp retar o § 8 S, I, do a rt. 1 4 da CRFB?


O dispositivo legal exige determinadas condições para o afastamento do militar,
que denomina de elegibilidade, mas o descumprimento das regras acarreta a falta
de desincompatibilização ou incompatibilidade. Nesse sentido, assiste razão ao
doutrinador Adriano Soares da Costa.
Duas hipóteses merecem destaque: o militar com menos de dez anos de serviço.
Neste caso, a Carta Magna obriga-o ao afastamento da atividade.
Algumas premissas básicas podem ser extraídas do “afastamento da atividade".
Em julgados do TSE, constata-se que: a) o militar não pode ser conscrito, pois o
conscrito é inalistável (art. 14, § 2-, da CRFB); b) a filiação só pode ocorrer após a
escolha do seu nome em convenção partidária ou com o registro da candidatura,
mas, como visto, é necessário que ele satisfaça sempre a condição de elegibilidade
constitucional, sendo escolhido em convenção partidária; c) o art. 6 9 do Estatuto
dos Militares (Lei nQ6.880, de 9 de dezembro de 1980) equipara as expressões "na
ativa" "da ativa", "em serviço ativo", "em serviço”, "em atividade" ou "em atividade
militar"; d) o art. 94, V, e o art. 121 do Estatuto dos Militares tratam da licença
ou licenciamento, que pode efetuar-se por duas formas: a pedido ou de ofício.
Outrossim, o § 4 9 do art. 121 diz expressamente que o militar licenciado não tem
direito a qualquer remuneração. A questão já foi decidida pelo STJ em sentido
contrário, garantida a paridade e isonomia com o servidor público civil;29 e) opera-
se o afastamento, mediante demissão ou licenciamento ex officio, na forma da
legislação de que trata o serviço militar e dos regulamentos específicos de cada
Força Armada; f) o afastamento é uma forma de exclusão do serviço ativo; e g) é
vedado o uso de armas da corporação e farda durante o licenciamento, sob pena
de caracterização da inelegibilidade por incompatibüização. Nesse sentido, leciona
Adriano Soares da Costa.
29 “STJ. Tratamento isonômico entre o servidor cíviS e o servidor militar: Inteligência do art. 14, § 8a, II, da Constituição
c/c art. 19, ||, letra /, da Lei Complementar ne 64/90. Segurança concedida. Sargento da ativa do Exército requereu o
afastamento das fileiras da corporação, “sem prejuízo do soldo”, para candidatar-se a deputado estadual. A licença foi
dada, mas sem a remuneração. A Constituição em vigor, diferente da Carta de 1969 (art. 150, § 1e, letra ò). suprimiu
a cláusula “para tratar de interesse particular”, permitindo ao servidor militar, tal como ao servidor dvil, afastar-se,
com remuneração, para candidatar-se a cargo eletivo público. Aberta ficou à legislação infraconstitucional a via de
tratamento paritário entre o servidor civil e o militar (Lei Complementar n9 64/90, art. 15, II, letra i). No caso, o que é
válido para um é válido para outro: legítima representatividade de segmentos sociais cujos integrantes não têm como
disputar cargos eletivos públicos sem receber seus estipêndios" (STJ —3* seção - E m e n tá rio STJ ne 14/47).

351
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

A questão não prescinde da análise dos arts. 59, parágrafo único, e 98,1, II e III,
ambos do Código Eleitoral. Estes dispositivos, especialmente os incisos do art. 98,
tratavam do instituto da exclusão. Diversamente, a Carta Magna trata do afastamento
da atividade. Não entendo as expressões como sinônimas, pois, por isonomia com o
servidor público civil, o militar, pela disciplina imposta pela Constituição, poderia
obter uma licença (afastamento provisório) até a posse e o exercício do mandato
eletivo.
0 termo exclusão, usado no art. 98 do Código Eleitoral, foi substituído pela
norma constitucional (art. 14, § 8 9, 1, da CRFB) por afastam ento. 0 afastamento
ocorre também, por licen ça e, ao nosso entender, remunerada em igualdade de
tratamento com o servidor público civil A remuneração deve estender-se até o
início do exercício do mandato eletivo. Ao término do mandato, poderá o mesmo
retornar à atividade militar.
Registre-se:
Mandado de Segurança. Afastamento de militar para concorrer a
cargo eletivo. Natureza do afastamento, se com menos de dez anos de
serviço. Seja por interpretação lexicológica e sistêmica, seja para evitar
ofensa ao direito de cidadania passiva, o afastamento referido no inciso
I do parágrafo oitavo do art. 14 da CF é afastamento provisório, não
importando em demissão de ofício. Segurança concedida (Mandado de
Segurança n9 596.253.468, Tribunal Pleno, Tribunal de Justiça do RS,
Relator. Desembargador Tupinambá Miguel de Castro do Nascimento,
julgado em 24.5.1999. Comarca de origem Porto Alegre, Seção Cível.
Destacamos, ainda, a Lei n2 3.506, de 27 de dezembro de 1958, que "regula a
situação dos servidores civis e militares candidatos a cargos eletivos ou diplomados
para o exercício de mandato legislativo federal". A norma contempla, no art. t ü, a
igualdade entre os servidores públicos civis e militares para fins de candidatura a
mandatos eletivos, in verbis:

Ofuncionário público, o militar ou o empregado de entidade autárquica,


sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço
público poderá, para dedicar-se à atividade política, requerer licença
sem vencimento, remuneração ou soldo, cargo ou posto, que estiver
ocupando, durante o período que mediar entre a sua escolha em
convenção partidária, para candidato a cargo eletivo e a data em que
forem diplomados os eleitos pelo órgão competente da justiça Eleitoral.

Outrossim, a Portaria n9 043-DGP, de 16 de agosto de 2000, do Ministério da


Defesa do Exército Brasileiro (Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra e
Estrangeiros/1808), estabelece orientações e procedimentos para a Administração
do Pessoal, quanto à situação do militar em cargo eletivo de natureza política.

352
P e d i d o d e R e g i s t r o d e C a n d id a t u r a C a p ít u l o 11

A decisão do Ministro Maurício Corrêa, no Supremo Tribunal Federal é mais


ampliativa ao direito público político subjetivo passivo e, portanto, merece pronta
eficácia, pois dotada de razoabilidade, proporcionalidade e isonomia.
Registramos, ainda, o ajuizamento de ADIn n2 2.934 pelo procurador-geral da
República, Cláudio Fonteles, contra dispositivos da Lei na 8.112/90 (a rt 86, § 22) e
da Lei Complementar n2 64, de 18 de maio de 1990 (art. 1**, I, letra /), que asseguram
aos servidores públicos o direito ao recebimento de vencimentos integrais, quando
afastados para concorrerem ao mandatos eletivos. Argumenta o eminente chefe do
Ministério Público da União que a legislação apontada é discriminatória em relação
ao empregado de empresa particular, que não poderá contar com seus salários,
quando estiver pleiteando o mandato eletivo. A legislação, em suma, teria concedido
privilégios aos servidores públicos.
Por fim, a questão da desincompatibilização do militar deve ser vista por simetria
ao servidor público civil. A licença para tratamento de interesse particular atende
ao requisito do afastamento do cargo. O Tribunal Superior Eleitoral inclusive já
decidiu: “(...) o gozo de licença-prêmio do servidor público pode ser considerado
como afastamento, para os fins do exigido no art. I 9, inciso U, alínea /, da Lei
Complementar n9 64/90 (Resolução n9 18.208, JT S E 4-3/253)".
O afastamento da função (desligamento provisório) é aceito até por pedido de
férias regulares. Nesse sentido, Acórdão n9 12.651/92 do TSE, Ministro Américo
Luz.
A responsabilidade pelo não afastamento atinge diretamente o servidor,
que arcará com a eventual impugnação de sua candidatura, em processo de
inelegibilidade por incompatibilização.
0 prazo de afastamento do militar é de três meses antes da data da eleição. A
eleição ocorre sempre no primeiro domingo de outubro, contando-se o prazo
retroativamente.
O eminente doutrinador joel josé Cândido entende que, se o militar contar com
menos de dez anos de serviço nas Forças Armadas, "deverá afastar-se da atividade,
indo, sem remuneração, para a categoria de militar inativo".30
0 Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedente mais atualizado no
sentido da desnecessidade de desincompatibilização de policiais militares.
conforme Recurso Especial Eleitoral n9 20.169, Classe 22a - Mato Grosso (Cuiabá),
relator à época S. Exa., Min. Sepúlveda Pertence. Neste sentido é a ementa: “Militar:
elegibilidade (CF, art. 14, § 8 9, e Res./TSE ns 20.993/2002), independentemente
da desincompatibilização reclamada pelo art. l s, II, L, da LC ne 64/90, pois só com
o deferimento do registro de candidatura é que se dará, conforme o caso, a
transferência para a inatividade ou a agregação (cf. Respe. 8.963)" -g rifo nosso

30 Inelegibilidades no Direito Brasileiro, 22 ed., Editora Edipro, p. 114.

353
M a r c o s R a m ayana D í r h t o E l e it o r a l

0 aludido acórdão é silente em relação ao inciso IV, alínea “c" do art. I 9 da LC


n9 64/90, que faz menção à desincompatibilização das "autoridades policiais,
civis e m ilita re sr com exercício no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores
ao pleito".
Neste aspecto, portanto, emergem duas correntes de pensamento: a
primeira, salientada acima, ou seja, no sentido de que não há necessidade de
desincompatibilização do policial militar, considerando que o seu afastamento é
feito naturalmente pelo deferimento do registro da candidatura. Neste sentido é a
norma expressa no parágrafo único do art. 98 do Código Eleitoral.
Com relação à p rim eira co rren te, cumpre ainda enfatizar que o § 4 e do
art. 16 da Res. TSE ne 22.717/ 08, que dispõe sobre a escolha e o registro de
candidatos nas eleições municipais de 2 0 0 8 , resolução temporária para as
eleições de 2 0 0 8 , disciplina o caso da seguinte form a: "D eferido o re g istro de
m ilitar can d id ato , o juiz e le ito ral co m u n icará im ed iatam en te a decisão à
au to rid ad e a que o m ilita r e stiv er su b ord inado, cabendo igual ob rigação
ao p artid o p olítico, quando o e sco lh e r can d id ato (Código E leitoral, a rt.
9 8 , p arág rafo único)".
A segunda corren te realiza uma interpretação harmônica entre a Constituição
e os dispositivos infraconstitucionais envolvidos na questão, para considerar a
necessidade de afastamento do militar no mesmo prazo previsto para os servidores
civis, ou seja, 3 meses.
A tal conclusão se chega após a análise conjunta dos arts. 5-, caput; e 14, § 8-,
da CRFB/88; com a Resolução do TSE ns 22.717/08, art. 16, § 49. Assim prevê a
CRFB/88, art. 14, § 8 9:

“O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se


contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; ÍI
- se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade
superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação,
para a inatividade”

0 TSE, na Resolução acima mencionada, de n9 22.717/08, no art. 16, § 4 S, prevê


a comunicação do deferimento do registro à autoridade a que o militar estiver
subordinado.
Entretanto, ao se considerar o texto referido tal como o é, diga-se firmado em Lei
dos idos de 1965 ( Código Eleitoral), sem uma nova leitura da atual Constituição e
da Lei das Inelegibilídades, ter-se-ia o absurdo de o militar poder ser eleito sem que
se concretizasse qualquer afastamento, nos casos em que indeferido o registro e o
candidato venha a se eleger em razão de tutela jurisdicional. Tal conclusão violaria
a própria Constituição, que determina o afastamento do militar.

354
P e d i d o d e R e g i s t r o d e C a n d id a t u r a C a p ít u l o 11

Por outro lado, não se coaduna com a atual ordem jurídica, acabando por violar
o princípio da iamfltmla previsto no art. 5 a, cap u t. da CRFB/88, o tratamento
diferenciado e discriminatório entre servidores civis e militares no que tange ao
prazo de desincompatibilização, previsto na Lei Complementar nQ 64/90, art. l s,
inciso II, letra /.
Daí porque uma interpretação harmônica entre tais dispositivos resultaria no
seguinte: a comunicação à autoridade a que o militar estiver subordinado não
deverá ser feita na data do deferimento do registro, mas na data de seu requerimento
ou solicitação, cujo termo final a lei prevê para o dia 5 de julho (art. 11 da Lei
n- 9.504/97). Tal entendimento trataria os servidores de forma isonômica, pois
ambos teriam o prazo para afastamento de 3 meses antes do pleito.
Assim, o fundamento para o afastamento do servidor civil seria a Lei Complementar
n- 64/90, art. l s, inciso II, letra "I"; enquanto que para os servidores militares o
fundamento legal seria a Resolução do TSE n9 22.717/08 (norma temporária para
as eleições de 2008, que deve ser repetida para as eleições vindouras), art. 16, § 4 9,
numa interpretação conforme a CRFB/88, art. 14, § 89 e art. 59,
Esta segunda corrente de pensamento, à qual nos filiamos, encontra respaldo
também na jurisprudência de alguns Tribunais Regionais Eleitorais, tais como o de
Santa Catarina, verbis:
"Ementa: Mandado de segurança - militar alistável não ocupante de
cargo ou função de comando - servidor com mais de dez anos de serviço
~ prazo de afastamento das atividades funcionais para concorrer a
mandato eletivo - aplicabilidade do disposto no art. 14, § 89, inciso
Ii, da Constituição Federal combinado com a regra geral prevista no
art. 1°, inciso II, alínea "1", da Lei Complementar n9 64/1990 - data
do protocolo do pedido de registro coincidente com os três meses
anteriores ao pleito - aplicabilidade do princípio da isonomia entre
servidores públicos ~ concessão da segurança para que o impetrante se
mantenha afastado de swas funções desde a data da formalização
do pedido de registro de candidatura" (TRE/SC, Mandado de
Segurança n9 276, acórdão 17949 Florianópolis - SC 31.10.2002, Rei.
Rui Francisco Barreiros Fortes, Dl - Diário de Justiça, 18.11.2002,
p. 98). Grifou-se.
Considerando que a Lei Complementar ne 64/90 disciplinou o prazo de
afastamento das atividades funcionais dos servidores militares que exercem
cargo ou função de comando e pretendem concorrer a mandato eletivo (seis
meses anteriores ao pleito), sendo os demais militares servidores públicos lato
sensu, aplica-se a regra geral prevista no art. l s, inciso II, alínea “1", da mesma Lei,
combinado com as disposições do art. 14, § 8-, da Constituição Federal.

355
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Por fim, entendemos que a simples interpretação literal do parágrafo único do art.
98 do Código Eleitoral não está razoável com as novas diretrizes normativas sobre
esta matéria impostas na Constituição da República e na Lei das inelegibilidades,
sob pena do candidato “militar" permanecer na função durante toda a campanha
eleitoral até ser definitivamente julgado o seu registro.

Como in terp retar o § 8 e, II, do art. 1 4 da CRFB?


Será o militar agregado pelo Departamento Geral de Pessoal, tendo direito
à remuneração até a data da diplomação (ST), 6a Turma, Resp. n- 69.744-O/RO -
Rei. Ministro Fernando Gonçalves, Diário da.Justiça, Seção 1,18.8.1997).
A Portaria n- 043/00 faz ainda uma distinção entre o militar com mais de dez
anos de serviço que foi eleito e o não eleito. Para o não eleito, o mesmo receberá a
remuneração integral, a partir do registro de sua candidatura (entenda-se: registro
definitivo. Em igual posição, Joel José Cândido).
A agregação está definida no art. 80 do Estatuto dos Militares, in verbis:

A agregação é a situação na qual o militar da ativa deixa de ocupar vaga


na escala hierárquica de seu Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, nela
permanecendo sem número.

Vê-se que a agregação é uma forma de afastamento temporário (a rt 82 do Estatuto


dos Militares, Lei n- 6.880, de 9 de dezembro de 1980). Sendo assim, o afastamento
temporário permite a remuneração até a data da diplomação, nos termos da Portaria
susomencionada, que ainda obriga o ingresso na reserva remunerada, após dez
anos de serviço. O doutrinador Joel José Cândido entende que:
Diplomado o candidato militar que estava agregado, passará ele
automaticamente para a inatividade. Para nós, isso também só deve
ocorrer com o trânsito em julgado da diplomação. Pendendo contra
o diplomado RCD ou AÍME, não deve ser ele inativado, pois esse ato
administrativo teria que ser refeito se fosse provida uma dessas
medidas processuais contra ele aforada. O que a Constituição Federal
quer, e precisa, é que só mude a situação funcional do militar se e
quando ele se efetivar como titular de mandato eletivo, pois só a partir
dai é que surge, efetivamente, a possibilidade de os interesses da
política influírem e contagiarem os assuntos de caserna, e vice-versa.31
Pensamos que a remuneração deva estender-se até o início do exercício do
mandato eletivo, pois não existe nenhuma n orm a vedatória à percepção da
remuneração integral até o ingresso no cargo (mandato eletivo). As restrições são
normas de exceção e, assim, inaplicáveis por flagrante violação sistêmica com a
paridade dos servidores públicos civis.

31 Op. C/t. p. 115.

356
P e d i d o d e R e g i s t r o d e C a n d id a t u r a C a p ít u l o 11

0 militar na reserva deve filiar-se. A exceção diz respeito à primeira eleição.


Nesse sentido, Acórdão n9 20.052, de 10 de setembro de 2002, Relator Ministro
Fernando Neves. E, ainda, Acórdão ns 13.891, de 8 de outubro de 1996, Relator
Ministro Diniz de Andrada, Ju lg ad os do TSE, n9 10, ÍII, out. 96, p. 27.
Por fim, cumpre frisar que tramita um projeto de emenda constitucional do Exm9
Senador Magno Malta, revogando o § 8 a do art. 14 da Constituição Federal, suprimindo
as restrições de elegibilidade dos militares alistáveis (SF PEC 00064/2003, de 20 de
agosto de 2003).
Firmando interpretação sobre as candidaturas de militares, o Egrégio
Tribunal Superior Eleitoral decidiu que em relação ao militar da reserva
remunerada o prazo de filiação partidária deferida é de um ano antes
da eleição (Res. n° TSE. 22.156/06, art. 12, § 25).
Sobre o assunto, o TSE igualmente decidiu (Res. TSE n° 22.156/06,
art. 12, § 39) que na hipótese do militar passar para a condição de
inatividade, após o prazo de um ano para a filiação partidária, mas
antes da escolha de seu nome em convenção, ele deverá se filiar ao
partido político, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da inatividade.
Não se pode olvidar de que se for deferido o registro de candidatura de
militar, a Justiça Eleitoral (juiz do registro ou Tribunal) deverá comunicar
o fato a autoridade hierarquicamente superior ao militar subordinado,
competindo aos partidos políticos adotar à mesma providência,
conforme preceitua o art. 98, parágrafo único, do Código Eleitoral.

11.4.4.2. Afastam ento do membro do M inistério Público


A prova da filiação partidária é feita mediante certidão expedida pelo escrivão eleitoral
ou chefe de cartório, tendo como base a última relação de eleitores filiados, conferida
e respectivamente arquivada no cartório da zona eleitoral correspondente, exceto na
hipótese de candidatos militares que estejam dispensados da filiação partidária, quando
na ativa. Neste sentido, é a regra expressa nas resoluções eleitorais que tratam do registro
de candidatos, v.g., art. 24, III, da Resolução n5 20.993, de 26 de fevereiro de 2002.
A relação dos eleitores deve ser encaminhada pelos partidos políticos, através
de seus órgãos de direção municipal (diretórios municipais), na segunda semana
dos meses de abril e outubro, conforme disciplinado no art. 19 da Lei dos Partidos
Políticos (Lei n9 9.096/95).
Se o membro do Ministério Público desejar concorrer aos mandatos eletivos de
presidente da República, vice-presidente, governador, vice-governador, senador,
deputado federal, distrital ou estadual e vereador, o prazo de desincompatibilização
será de seis meses, segundo a regra do art. I 9, H, letra j, da LC n- 6 4 /9 0 . Se pleitear
o mandato eletivo de prefeito ou vice-prefeito, o prazo é de quatro meses (art. I 9,
IV, b, da LC n* 6 4 /9 0 ) .

357
M a r c o s R amayana D i r e i t o E l e it o r a l

Pergunta-se: como adequar esses prazos ao prazo de filiação de um ano antes das
eleições e à vedação com o exercício das funções, sendo o membro filiado a partido
político?
Em recente resolução eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu o seguinte:
"Os magistrados, os membros dos tribunais de contas e os do Ministério
Público devem filiar-se a partido político e afastar-se definitivamente de suas
funções até seis m eses antes das eleições” (a rt 13 da Res. TSE ne 22.156/06).

11.5. SUBSTITUIÇÃO DO CANDIDATO. REGISTRO


0 a rt 13 da Lei n- 9.504/97 foi alterado em seu parágrafo § l e pela Lei
ns 12.034/09, especialmente quanto ao tempo de contagem do prazo de 10 (dez)
dias para requerimento do registro do substituto.
0 prazo não é mais contado da 'decisão judicial que deu origem a substituição1,
mas sim da 'notificação do partido da decisão que deu origem à substituição'.
Com a alteração, o legislador procurou afastar dúvidas sobre a ciência inequívoca
do partido político, possibilitando uma maior amplitude de tempo para que o
sistema de auto-organização partidária apresente o substituto na forma legal.
Verifica-se ainda que segundo o disposto no a r t 16,§2- da Lei nô 9.504/97
(redação atribuída pela Lei nQ 12.034/09), os julgamentos dos registros de
candidaturas terão absoluta prioridade em razão da aplicação do princípio da
celeridade que é inerente ao cumprimento dos prazos eleitorais.
Outrossim, o a r t 96-A da Lei n2 9.504/97 ( redação dada pela Lei n- 12.034/09)
prevê a utilização de fac-sím ile para fins de intimação da Justiça Eleitoral aos
candidatos.
E ainda, em destaque:
Deve-se adotar idêntico meio de intimação para os representantes dos partidos
políticos com a finalidade de dar cumprimento ao §12 do a r t 13 da Lei das Eleições.
A nova Lei nfi 12.034/09 não tratou sobre o prazo limite de substituição do
candidato majoritário. Desta forma, admite-se a substituição às vésperas da eleição
ou quiçá no próprio dia.
Em destaque:
Eleições 2008. Agravos regimentais. Recurso especial. Registro
de candidato. Substituição. Possibilidade. Recurso. Pendência.
Prazo. Inaplicabilidade. Fraude. Apuração. Matéria de fato.
Prova. Reexame. Impossibilidade. Agravo. Reiteração. Preclusão
consumativa.

358
P e d i d o d e R e g i s t r o d e C a n d id a t u r a C a p ít u l o 11

A substituição prevista no § l 2 do art. 13 da Lei ns 9.504/97 pode ser


feita..a_qualquer tmp.CLan.tes. da_eleiçãQ, desde que observado o prazo
de dez dias contado do fato ou da decisão judicial que deu origem ao
pedido de substituição. Tal prazo, contudo, não flui enquanto pendente
recurso contra decisão que indeferiu o registro de candidatura.
A verificação da existência de fraude na substituição, consubstanciada
no fato de os candidatos substituídos terem supostamente feito
campanha às vésperas do pleito quando, de fato, candidatos já não
eram, demandaria o revolvimento do conjunto probatório dos autos,
inviável nesta instância especial (súmulas n25 7/STJ e 279/STF). Em
razão da preclusão consumativa, não se conhece de segundo agravo
regimental quando a parte já tenha manifestado sua irresignação
contra a mesma decisão por meio de agravo regimental anteriormente
protocolado. Nesse entendimento, o Tribunal não conheceu do agravo
regimental de fls. 342-352 e negou provimento ao agravo regimental
de fls. 307-327. Unânime. Agravos Regimentais no Recurso Especial
Eleitoral ne 35.384/RJ, rei. Min. Felix Fischer, em 19.5.2009. (Noticiado
no informativo do TSE ns 16/09).

Agravos regimentais. Recurso especial. Princípio da moralidade.


Violação. Descaracterização. Princípio da indivisibilidade da
chapa. Ofensa. Inexistência. Vice-prefeito. Candidato. Manutenção.
TRE. Consignação. Ato fraudulento. Indício. Inocorrência.
Reconhecimento de firma. Ausência. Possibilidade. Prefeito.
Candidato. Substituição. Pedido. Candidato substituído. Renúncia.
Simultaneidade. Tempestividade.
Não caracteriza ofensa ao princípio da moralidade o fato de o
candidato substituto concorrer com o nome, o número e a fotografia do
substituído, no caso de a substituição ocorrer após a geração das tabelas
que alimentam as urnas eletrônicas (Res.-TSE ns 22.717/2008, art. 64,
§ 4 9). Não prospera a alegação de vulneração à indivisibilidade da chapa
quando o pedido de registro do candidato a vice for incontroverso
e expressamente mantido pelas instâncias ordinárias para fins de
composição da chapa de candidato substituto ao cargo de prefeito.
Consignado pelo órgão regional que não houve indícios de renúncia
fraudulenta, a mera ausência do reconhecimento de firma, formalidade
prevista no § l e do art, 64 da Res.-TSE n9 22.717/2008, por si só,
não compromete o teor do documento. 0 pedido de substituição
formulado simultaneamente à apresentação da renúncia do candidato
substituído não pode ser considerado intempestivo, haja vista o dies a
quo contar-se do momento da renúncia, e não da decisão do TRE sobre
o registro da chapa originária. Nesse entendimento, o Tribunal negou
provimento aos agravos regimentais da Coligação o Trabalho Faz a

359
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Diferença e de Manoel Aladir Siqueira. Unânime. Agravos Regimentais


no Recurso Especial Eleitoral ne 35,251/PA, rei. Min. Marcelo Ribeiro,
em 23.4.2009. (ínf.TSE 14/09).
Quanto ao candidato proporcional a regra do §3e do art. 13 permanece
sem alteração.

11.6. RESUMO
11.6.1. P ro cesso de registro de candidatos
1) Os pedidos de registro são publicados no Diário Oficial e afixados em cartórios
das zonas eleitorais do interior (ver art. 97 do Código Eleitoral).
2) No prazo de 5 dias, contados da publicação do pedido de registro de candidatos,
poderão os candidatos, partidos políticos, coligações e Ministério Público
impugná-los (art. 3 S da Lei Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990). Neste
caso, a impugnação é feita por ação de impugnação ao pedido de registro de
candidatos, e não por parecer ou manifestação nos autos da ação de pedido de
registro. Trata-se de uma ação autônoma.
3) O pré-candidato é notificado e poderá apresentar defesa em 7 dias, ou seja,
contestação (art. 4 S da Lei Complementar n9 64/90).
4) Se a matéria for de direito, o juiz julga antecipadamente a lide (art. 5® da Lei
Complementar ns 64/90). 0 Ministério Público é ouvido, a saber: Promotor
Eleitoral nas impugnações de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador;
procurador regional eleitoral, nos pedidos de governador, vice-governador,
senador, deputado federal, estadual ou distrital; e procurador-geral eleitoral nos
de presidente e vice-presidente da República.
5) Se houver necessidade de provas, o órgão jurisdicional abrirá vista para
inquirição de testemunhas arroladas pelo impugnante e impugnado (art. 59 da
Lei Complementar n9 64/90).
6) O juiz ou Tribunal tem 5 dias para proceder a todas as diligências que determinar
de ofício ou a requerimento das partes (art. 5e, § 2 9, da Lei Complementar
n^ 64/90).
7) 0 juiz abre vista no prazo comum de 5 dias para alegações das partes e do
Ministério Público (art. 6 9 da Lei Complementar ne 64/90).
8) Após, restará 1 dia para conclusão ao juiz e 3 dias para sentença e,
consequentemente, 3 dias para recurso e 3 dias para contrarrazões recursais.
Podemos extrair da atual jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral algumas
premissas sobre o registro dos candidatos de forma resumida, a saber:
a) As coligações, como partidos políticos temporários, recebem o mesmo tratamento
de um partido político. Neste sentido, favor verificar a regra do a r t 6 9, § 1-, da
Lei n- 9.504/97.

360
P e d i d o d e R e g i s t r o d e C a n d id a t u r a C a p ít u l o 11

b) "Da decisão da convenção até a diplomação dos eleitos, o partido político coligado possui
legitimidade para agir isoladamente somente na hipótese de dissidência interna, ou
quando questionada a validade da própria coligação" (Acórdão-TSE 18.421, de 28 de
junho de 2001, e Res. TSE ne 22.156/06, art 69}.
c) Os candidatos que gozem de foro especial por prerrogativa de função devem
apresentar certidões criminais pelo Tribunal competente para processar e julgar
os eventuais delitos por eles praticados. Neste sentido, ver precedente na Res.
TSE ns 22.156/06, a r t 25, IL
d) Nos pedidos de registro de candidatos devem ser apresentadas as provas da
desincompatibilização dos agentes públicos.
e) Deve constar do pedido de registro de candidaturas o comprovante de
escolaridade do pré-candidato, ou declaração de próprio punho de que ele
é alfabetizado. Cabem ainda, em caso de suspeita, diligências e testes para se
verificar se o pretendente possui nível de alfabetização.
f) Com o intuito de agilizar a prestação jurisdicional, é possível julgar num só
processo a impugnação (AIRC) e o registro dos demais candidatos. Tudo será
fruto de uma única decisão (Res. TSE. ne 22.156/06, art. 42, parágrafo único).
g) Nas eleições majoritárias, a substituição dos candidatos poderá ser requerida até
24 (vinte e quatro) horas antes da eleição, apenas observando-se o prazo de 10
(dez) dias contados do fato ou da decisão judicial que deu origem à substituição.
Quando as eleições forem proporcionais, "a substituição só se efetivará se o novo
pedido, com a observância de todas as formalidades exigidas para o registro,
for apresentado até dez dias contados do fato ou da decisão judicial que lhe deu
origem à substituição, observado o limite legal de 60 dias antes do pleito (Lei
9.504/97, art. 13, § 3 Q; Código Eleitoral, art. 101, § 1*)" - Res. TSE n9 22.156/06.
h) O cancelamento do registro é automaticamente feito pela justiça Eleitoral,
quando ocorrer o falecimento ou a renúncia.
i) “O candidato que tiver seu registro indeferido poderá recorrer da decisão e,
enquanto estiver sub judice, prosseguir em sua campanha e ter seu nome mantido
na urna eletrônica" (art. 58 da Res. TSE n9 22.156/06). E ainda: "O candidato cujo
registro estiver sub ju d ice poderá efetuar todos os atos relativos à sua campanha
eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito para a sua propaganda, no
rádio e na televisão" (Res. TSE. ne 22.158/06, art. 12).

11.6.2. O bservações finais


a) A competência para processo e julgamento das açdes de impugnação está prevista
no art. 2- da Lei Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990.
b) Na ação de impugnação ao pedido de registro devem ser arguidos fatos até a
data do pedido de registro, ou seja, dia 5 de julho do ano eleitoral (art. 11 da Lei
n- 9.504/97).

361
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

c) Os motivos para impugnar são, por exemplo: falta de condições de elegibilidade,


inelegibilidades, perda e suspensão dos direitos políticos.
d) 0 objetivo primordial da impugnação é impedir que o pré-candidato tenha o
registro definitivo, pois enquanto não houver decisão sobre a impugnação ele
poderá concorrer ao pleito eleitoral.
e) Os efeitos estão no art. 15 da Lei Complementar n2 64, de 18 de maio de 1990, a
saber: negativa do registro, na hipótese do mesmo ainda não ter sido obtido; no
caso da obtenção, caberá o cancelamento e, por fim, se diplomado será declarado
nulo o referido diploma, ocasionando a perda do mandato eletivo.
i
T
PEDIDO DE RJEGISTRO DE CANDIDATURA

363
C à PÍTULO 1 1

Marcos Ramayana • Direito Eleitora! 103 ■ Capítulo 11 - Pedido de registro de candidatura


M a r c o s R a m ayan a D ir e ito E le ito ra l

10a ■ Capítulo
11 - Pedido de registro de

364
P e d i d o d e R e g i s t r o d e C a n d id a t u r a .
C apítulo 11

365
Marcos Ramayana ■ Direito Eteitorai 10a • Capítulo 3i - Pedido de registro de candidatura
C apítulo 1 2

P r o pa g a n d a eleito ral

12.1. CONCEITO E CONSIDERAÇÕES GENÉRICAS


A propaganda pode ser conceituada como forma de difundir, multiplicar e
alargar a atividade política.desenvolvida nas campanhas.
ídentifica-se historicam ente a propaganda dos tiranos, pela formação de três
elementos: a) discurso demagógico; b) embelezamento das cidades, despertando
o sentimento de orgulho do povo da região; e c) atitudes de impacto.
Nota-se que na democracia grega a propaganda estava baseada nas condições
pessoais do orador e nas retóricas.
Em Roma, ela passou a ser exercida de forma mais institucional, originando-
se uma formação de partidos políticos com estatutos e ideologias. As conquistas
territoriais eram divulgadas como formas de propaganda política.
No período da inquisição, foi tratada como verdade religiosa, dando-se
publicidade aos castigos.
Vários fatores sociais, militares, religiosos e econômicos influenciaram as
propagandas políticas ao longo da história, mas não podemos esquecer as sábias
palavras do filósofo jean Baudrillard, ou seja, a propaganda é uma forma de venda,
é uma técnica de influenciar a opinião pública.
Surgem como fatores importantes o slogan e o símbolo, assim como imagens,
cores, retratos e aspectos da publicidade moderna que acabam por formatar a
propaganda política, seja ela eleitoral ou partidária.
Fala-se em contrapropaganda como uma forma de atacar as teses do
adversário, desmontando os temas, utilizando técnicas de pormenores dúbios da
vida privada, o que poderá gerar ofensas à honra e o direito de resposta (art. 58
da Lei n9 9.504/97), inclusive em alguns casos a análise do tipo penal da calúnia,
difamação ou injúria (delitos previstos no Código Eleitoral, arts. 324 até 326).
Alguns elem entos fazem parte da propaganda em geral e também se aplicam
ao tipo eleitoral, tais como: a) superficialidade; b) volubilidade; e c) jogo dos
grandes interesses.
Esses três elementos, quando estão reunidos, podem fraudar as ideologias e os
programas dos partidos, conduzindo o eleitorado ao erro político.
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Toda propaganda é de responsabilidade dos partidos políticos e dos candidatos.


Aqui vige a solidariedade, conforme já visto nos princípios eleitorais.
A propaganda legítima, normal e hígida é aquela que garante as liberdades
políticas e o pluralismo político como formas naturais de alternância do poder dentro
de uma sociedade. Não se manipula a propaganda em busca do poder absoluto,
intangível e vitalício, por ser ele essencialmente transitório e o manipulante ser um
dia o próprio manipulado.
Deve-se garantir ao eleitor uma formação de opinião-eleitoral livre em face dos
assuntos discutidos nas propagandas eleitorais.
As liberdades de expressão e opinião, além de serem direitos fundamentais,
asseguram a plena realização da propaganda regular.

1 2 .2 . PROPAGANDA POLÍTICA ELEITORAL


12.2.1. Conceito
Trata-se de espécie de propaganda que tem a finalidade precípua de divulgar
ideias e programas dos candidatos. É a oportunidade que a legislação eleitoral
atribuiu ao candidato para exteriorizar o símbolo real do mandato representativo
e partidário.
0 Egrégio TSE, assim já decidiu: "... ato de propaganda eleitoral é aquele que
leva ao conhecim ento geral, ainda que de form a dissimulada, a candidatura,
mesmo que apenas postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou
razões que induzam a concluir que o beneficiário é o m ais apto ao exercício da
função pública..." (Ac. 15.732/MA, D] de 7.5.99, Rei. Min. Eduardo Alckmin).
Como se verifica, a propaganda política eleitoral sempre se sujeitou a variações
legislativas que ora traduzem avanços ou retrocessos como foi, por exemplo, a Lei
Falcão - Decreto-Lei n2 1.538, de 14 de abril de 1977. Historicamente esta norma
jurídica foi considerada um retrocesso alterando o Código Eleitoral no capítulo
sobre propaganda.
Atualmente a preocupação de resguardo da igualdade nas eleições por
propagandas não abusivas atinge dimensões de efetivo desgaste ao Poder Público,
especialmente quando o aspirante a mandatos eletivos faz tráfico de influência
e abuso do poder político para se lançar na sucessão política eleitoral, que longe
de ser natural e meramente competitiva, se vale de subterfúgios, dinheiro e
prestígio dentro da Administração Pública caracterizando condutas proibidas não
necessariamente tipificadas pela Lei ns 9.504/97 (art. 73), pois praticadas em anos
anteriores ao pleito eleitoral, mas que, sem dúvida, estimulam e se efetivam em
indevida e até ilícita ingerência na estrutura do Estado para mover-se em prol desta
possível pré-candidatura.

368
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C apítulo 12

As reiteradas violações contam com ineficazes meios de coibição do abuso do


poder político em ano anterior ao da eleição, gerando uma impunidade fomentada
e sedutora, a ponto de estimularem a prática sucessiva do abuso na utilização
indevida da estrutura funcional e administrativa em geral da máquina pública.
Assim que termina uma eleição, já se está prevendo a sucessiva e se utilizando
de meios espúrios de desvio do patrimônio público em prol de possíveis aspirantes
a candidatos.
Neste cenário de ferimento inequívoco do regime democrático, faz-se necessária
a instituição de ferramentas jurídicas capazes de punir e inibir a continuidade
destas práticas, utilizando-se atualmente a representação com base na violação ao
art. 36, § 3 5 da Lei nQ 9.504/97 e medidas inominadas, mas que ainda assim são
insuficientes para efetivar uma verdadeira punição.
A visão de proteção da eleição futura deve ser contemplada pelo legislador de
forma axiológica e dentro de um equilíbrio de proteção máxima da Constituição da
República e do próprio regime republicano que prevê a alternância dos titulares
dos mandatos eletivos e de seu núcleo familiar.
Caminhamos para a interpretação de maior amplitude das normas
constitucionais no universo eleitoral legislativo. As normas infraconstitucionais
não são interpretadas em dissonância ou falta de equacionamento com
a preservação verdadeira de um regime democrático de valorização das
oportunidades e igualdades de candidatos.
Desta forma, podemos concluir que a expansão das práticas de abuso do poder
político fora dos anos de eleição fará emergir na jurisprudência dos Tribunais
Eleitorais a necessidade inadiável de controle eficaz e punitivo como rumo ideal de
tutela da Constituição da República.

12.2.2. Base legal


Arts. 36 até 41-A da Lei n9 9.504/97, e no Código Eleitoral os arts. 240 até 256.

12.2.3. Início
Somente no dia 06 de julho do ano da eleição, quando é possível legalmente serem
veiculados panfletos, faixas e cartazes pelos candidatos. A regra está expressa no
art. 36 da Lei ns 9.504/97. Não se aplica o art. 240 do Código Eleitoral (revogação
tácita).

12.2.4. Gratuidade
O art. 99 da Lei ns 9.504/97 prevê a compensação fiscal pela cedência do horário
gratuito no rádio e televisão. Sobre o assunto, ver as normas do art. 52 da Lei
ns 9.096/95 e do Decreto n9 5.331/2005.

369
M a r c o s R a m ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Assim, na apuração do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (1RPJ), é possível


excluir o lucro líquido para efeitos de lucro real, no valor de oito décimos do
resultado da multiplicação do preço do espaço comercializável pelo tempo que
seria utilizado pela emissora em programação normal.
Considerando que toda a sociedade de forma indireta é solidária no pagamento
desta propaganda, cumpre aos candidatos seguirem as regras eleitorais e extirparem
as ofensas, respeitando o eleitor-telespectador.

12.2.5. Propaganda política eleitoral de ruas e logradouros públicos


Esta espécie de divulgação de propaganda utiliza ruas, praças, avenidas, postes,
vias e o ambiente urbanístico das cidades.
Sobre o assunto destacam-se alguns temas que reputamos essenciais e estão
inseridos no contexto dos arts. 37 até 39 da Lei ns 9.504/97.
A Lei ne 11.300/06, Lei da Minirreforma Eleitoral, alterou a redação do art. 37
da Lei n9 9.504/97, sendo mais protetiva do ambiente urbanístico e restritiva
aos candidatos e partidos políticos que utilizam galhardetes, placas, faixas etc.,
exteriorizando suas campanhas.
Diz o texto legal,

Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do Poder
Público, ou que a ele pertençam, e nos de uso comum, inclusive postes
de iluminação pública e sinalização de tráfego, viadutos, passarelas,
pontes, paradas de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada
a veiculação de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação,
inscrição a tinta, fixação de placas, estandartes, faixas e assemelhados
(Caput com redação dada pela Lei n9 11.300/06).
§ 1° A veiculação de propaganda em desacordo com o disposto no caput
deste artigo sujeita o responsável, após a notificação e comprovação, à
restauração do bem e, caso não cumprida no prazo, a multa no valor de
R$2.000,00 (dois mil reais) a R$ 8.000,00 (oito mil reais) (Parágrafo
com redação dada pela Lei ns 11.300/06).

Dessa forma, ocorrendo violação, segue-se para o ajuizamento da ação de


reclamação ou representação contra a propaganda política eleitoral irregular.
Nas eleições municipais, a reclamação não é apresentada ao Tribunal Regional
Eleitoral, pois em cada comarca o TRE designa um juiz eleitoral com competência
especial e em razão da matéria para processar e julgar estas questões.

370
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C apítulo 12

0 Tribunal Superior Eleitoral tem firmado novo entendimento quanto ao limite


máximo de prazo para a apresentação da reclamação, com base na violação do
art. 37 da Lei n9 9.504/97 (até a realização do pleito). Confere-se/ : : : ■
; Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral nQ28.014/SP. Relator:
Ministro, Caputo Bastos. Ementa: Agravo regimental. Recurso especial. .
Representação. Art. 37 da Lei n2 9.504/97. Perda. , Interesse.de., agir. ;r
Reconhecimento. Precedentes. 1. Conforme jurisprudência consolidada .
no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, a representação fundada em
infração ao art. 37 da Lei das Eleições deverá ser ajuizada até a realização
do pleito, sob pena de reconhecimento da perda do interesse de agir dò
representante. 2. Esse entendimento não implica violação dos p r in ç ip iò s ;
da legalidade, da separação de poderes e do acesso à Justiça, como
sustentado pelo agravante. Agravo regimental desprovido. DJ de 5.10.2007/;

Como se percebe, a propaganda eleitoral cham ada “de rua" enseja a aplicação
de multas e restauração dos bens públicos atingidos, mas, se houver potencialidade
lesiva para desequilibrar as eleições, demandará a propositura da ação de
investigação judicial eleitoral por abuso do poder econômico, na forma do a r t 22
da Lei das Inelegibilídades, o que conduzirá o infrator à sanção da inelegibilidade.
Não se pode esquecer que a soma das reiteradas propagandas políticas eleitorais
irregulares divulgadas sem lastro na prestação de contas, podem caracterizar o
abuso do poder econômico, pois nas ruas tornam-se visíveis os gastos do dinheiro
da campanha eleitoral, especialmente na confecção de impressos coloridos, faixas
luminosas e materiais valiosos.
Nas ruas são resolutas as diferenças entre o poderio econômico dos candidatos,
pois neste palco urbano ou rural se apresentam as forças dos panfletos, galhardetes,
contratação de cabós-eleitorais e de todo o aparato extremamente oneroso que em
certo grau fomenta uma prévia corrupção eleitoral.
Nesse cenário surgem as captações ilícitas de sufrágio como condutas criminosas
e que provocam sanções não penais (cassação do registro, diploma e multa), e os
abusos que descambam para a inelegibilidade.
As eleições não podem ser vistas como atos meramente formais, como se os
eleitores estivessem caminhando para um gesto sem comemoração ou festividade,
mas não é razoável a tolerância com a propaganda sem freios, e que serve apenas ao
descrédito das instituições democráticas e aniquilam a normalidade e legitimidade
das eleições (§ 9 - do a r t 14 da CF). Busca-se, um terceiro gênero, ou alternativa,
para a ponderação e razoabilidade dos interesses em questão.
Diante desse panorama, surge a prudência do juiz, que é um ser supremo ativo
na preservação moral e ética da democracia, e vive e julga as eleições em um quadro
dos mais árduos da missão da magistratura: se de um lado deve preservar o regime
democrático como função que lhe foi destinada pelas regras constitucionais e

371
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

éticas; por outro, se vê inserido no contexto de uma campanha política que aflora
os ânimos e se traduz numa atmosfera de corrupção, fraude e desmandos, inclusive
com a propaganda criminosa, captativa e abusiva.
Nesse prumo navega o juiz, usando da cautela na preservação da nobilíssima
instituição da magistratura e da democracia, anunciando nas sentenças em voz
alta, a profundidade e a qualidade do fundo das campanhas eleitorais e expurgando
da competição eleitoral, os candidatos que não souberam preservar as regras da
igualdade em face da lei eleitoral.
A transferência para o Poder Judiciário Eleitoral do enfrentamento da
judicialização da política se apresenta no estado democrático contemporâneo,
como um desafio dos mais complexos da engenharia social e cultural, com reflexos
na capacidade econômica de subsistência desse precioso regime, cujos sacrifícios
da judicatura certamente serão lembrados para as futuras gerações do nosso Brasil.
A Lei ne 12.034/09 incluiu os parágrafos sexto e sétimo ao art. 37 da Lei
nfi 9.504/97 nos seguintes termos:
"§ 6 - É permitida a colocação de cavaletes, bonecos, cartazes, mesas para
distribuição de material de campanha e bandeiras ao longo das vias públicas, desde
que móveis e que não dificultem o bom andamento do trânsito de pessoas e veículos.
§ 7- A mobilidade referida no § 6 e estará caracterizada com a colocação e a
retirada dos meios de propaganda entre as seis horas e as vinte e duas horas"
Numa leitura do § 6 e do artigo acima aludido, poderíamos compreender que a
mobilidade significa uma ação de mover um bem ou objeto. Assim, um boneco com
rodas, uma mesa de rodinhas, uma bicicleta e outros. No entanto, o legislador criou
outro sentido para a expressão “mobilidade", ou seja, atrelou-se o sentido ao fato do
objeto ser retirado das ruas após um determinado horário (22 horas).

12.2.5.1. Pode uma mesa com propaganda eleitoral fica r apoiada na rua
das 6h às 22h?
Pela leitura do § 7 - acima exposto, não haveria empecilho. No entanto, não se
pode desprezar o interesse público no tráfego e trânsito (veículos e pessoas), sob
pena de violação às posturas municipais e a legislação urbanística, além de causar
graves transtornos que estimulariam a revolta do eleitor.
Não é possível abandonar o objeto na via pública, pois se exige de forma
permanente o controle e fiscalização da propaganda em relação aos circunstantes e
veículos. O poder de vigilância do grupo do candidato sobre bens de seu interesse é
inerente a higidez das campanhas eleitorais.
Se, porventura, o objeto estiver sem vigilância do interessado, independentemente
do horário fixado entre 6h e 22 h, é legítima a sua apreensão e posterior multa na
forma do art. 37, § l 9 da Lei das Eleições.

372
P r o p a g a n d a E l e it o r a l Capítulo 12

Como se depreende, a nova lei eleitoral foi permissiva e de certa forma consagrou
uma maior amplitude na propaganda. É de notar, que caberá ao candidato instruir
seus simpatizantes e empregados a zelar pelos objetos, placas, faixas e instrumentos
em geral.
Percebe-se o aumento das formas de propaganda política eleitoral e se espera,
em contraprestação, uma redução da panfletagem no dia da eleição. Todavia, a
prática eleitoral não demonstra como imperiosa esta correlação.
Na verdade, elevam-se os gastos de campanha eleitoral e o abuso do poder
econômico.

12.2.6. Propaganda política eleitoral em bens particulares. Engenhos


publicitários com limites de 4m2 (quatro metros quadrados). Vedação ao
pagamento em troca do espaço.
A Lei n9 12.034/09 alterou a redação do parágrafo segundo do art. 37 da Lei
ns 9.504/97, restando assim disposto:

"§ 22 Em bens particulares, independe de obtenção de licença municipal


e de autorização da Justiça Eleitoral a veiculação de propaganda eleitoral
por meio da fixação de faixas, placas, cartazes, pinturas ou inscrições,
desde que não excedam a 4m2 (quatro metros quadrados) e que não
contrariem a legislação eleitoral, sujeitando-se o infrator às penalidades
previstas no § l 9

0 novo dispositivo legal limitou nos bens particulares, apartamentos, casas,


terrenos, lojas etc., o tamanho das placas, faixas e assemelhados, sendo significativa
a vedação atinente às pinturas ou inscrições. Não é possível ultrapassar a metragem
de 4m2 (quatro metros quadrados). Consagra-se o poder normativo do Egrégio TSE.
A junção de cartazes ou placas (justaposição) configura propaganda irregular,
pois mesmo que entre eles exista uma distância visível ao eleitor, o contexto da
fixação das placas poderá ensejar a figura de um ou tdoor camuflado, o que não é
permitido pela legislação eleitoral (o art. 4 2 da Lei ns 9.504/97, que disciplinava o
engenho publicitário denominado de o u td oor fo i revogado pela Lei ne 11.300/2006).
Assim, as fixações irregulares destes artefatos publicitários podem caracterizar:
a) as sanções previstas no parágrafo primeiro do art. 37 da Lei das Eleições (multa);
b) um efetivo gasto ilícito ensejando eventual desaprovação das contas (art. 30,
111, da Lei nfi 9.504/97); e c) dependendo do contexto poderá ainda incidir a
representação do art. 30-A da Lei n- 9.504/97.
Quanto ao excesso de metragem das pinturas e inscrições, a lei foi providencial,
pois inexistia uma vedação expressa. A Justiça Eleitoral limitava-se a analisar a
questão sob o enfoque das violações às posturas municipais e à legislação ambiental
genericamente considerada.

373
M arcos R amayana D i r e i t o E l e it o r a l

0 § 2 9 do art. 37, faz ainda menção as contrariedades referentes “a legislação


eleitoral". Por exemplo, o § 5- do art. 37 da Lei das Eleições veda a propaganda
em muros, cercas e tapumes divisórios. Como sè verifica, se o muro ou tapume for
divisório entre propriedades e terrenos, incidirá a proibição da propaganda por
inscrição e outras formas apontadas no dispositivo legal, independentemente de
observar os 4m2 (quatro metros quadrados).
Registre-se que a Resolução TSE nQ 22.717/08 (Eleições Municipais) fazia
menção no parágrafo quinto do art. 13 aos tapumes de obras ou prédios públicos,
sem atrelamento ao tipo de divisa de propriedades.
O § 8 S do art. 37 proíbe o pagamento pelos partidos políticos, candidatos e
terceiros da locação do espaço de bens particulares para a finalidade de veiculação
de propaganda.
Com efeito, diz o § 8 Q :

"§ 8 9 - Aveiculação de propaganda eleitoral em bens particulares deve


ser espontânea e gratuita, sendo vedado qualquer tipo de pagamento
em troca de espaço para esta finalidade."

A espontaneidade referida no texto da lei é medida essencial para preservar a


livre manifestação do eleitor e a higidez das campanhas eleitorais.
Não são raros os casos em que cabos-eleitorais coagem eleitores de regiões
carentes de recursos para subjugá-los a veicular propaganda, inclusive praticando
os crimes dos arts. 299 e 301 do Código Eleitoral (corrupção e coação eleitoral).

Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para


outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou
dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta
não seja aceita:
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-
multa.
Art. 301. Usar de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar,
ou não votar, em determinado candidato ou partido, ainda que os fins
visados não sejam conseguidos:
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-
multa.

Preserva-se com a nova lei, a vontade do eleitor e a livre opção pela escolha
democrática.
Mas não é só. Evita-se o abuso do poder econômico.
A novo dispositivo legal, impõe que seja gratuita a veiculação da propaganda em
bens particulares. Desta maneira, não é possível ao candidato lançar na prestação
de contas de sua campanha eleitoral esse tipo de despesa.

374
P r o p a g a n d a E l e it o r a l Capítulo 12

Com isto, o art. 26, inciso XIV deve ser interpretado de forma sistêmica com o
§ 8S do art. 37, ambos da Lei das Eleições.
Leia-se o art. 26, XIV:

"Art 26. São considerados gastos eleitorais, sujeitos a registro e aos


limites fixados nesta Lei:
XIV - aluguel de bens particulares para veiculação, por qualquer meio,
de propaganda eleitoral;’’
Não há como permitir o lançamento da despesa de locação do espaço
de bens particulares em campanhas eleitorais. 0 § 8 e do art. 37
excepcionou a regra geral do inciso XIV do art. 26.

Por outro lado, o § 7 9 do art. 23, autoriza a utilização de bens móveis ou imóveis
de propriedade particular, quando o valor não ultrapasse R$ 50.000.00 (cinqüenta
mil reais).
0 § 8^ do art. 37 é de relevante interesse à manutenção da isonomia na
propaganda política eleitoral e se constitui em forma essencial de impedir abusos
contra a vontade do eleitor, mas olvidou-sé o legislador de impor uma sanção
específica, por exemplo, a multa.
Trata-se de uma prática ilegal a veiculação em desacordo com a norma acima
enfocada, incidindo o poder de polícia do juiz eleitoral objetivando inibir ou afastar
o ato (art. 41, § 2 S da Lei das Eleições), sendo possível a apreensão do material e
eventual análise do delito de desobediência previsto no art. 347 do Código Eleitoral.
A violação ao § 8 9 do art. 37 da Lei das Eleições é uma forma de propaganda
política eleitoral irregular, que pode em alguns casos tornar-se abusiva e criminosa.
Restará ainda a eventual incidência da representação prevista no art. 30-A da
Lei das Eleições, quando ficar demonstrado por provas coligidas, que o infrator
candidato comprou o espaço (bens particulares), v.g., de fachadas, janelas, muros,
postes de casas etc., dos eleitores.
Veda-se o aluguel de fachadas de prédios para fixação de cartazes que superem
ou não os 4m 2 (quatro metros quadrados). Proibi-se a locação do espaço, mas não
o comodato.
No caso do comodato pode-se em algumas hipóteses identificar a compra e venda
de votos (art. 299 do Código Eleitoral e art. 41-A da Lei n9 9.504/97). Exemplo, se
o eleitor empresta o seu terreno para a colocação de faixas e cartazes do candidato,
não poderá de forma nenhuma condicionar o contrato com alguma prestação futura
- ou emprego. A nova lei exige a espontaneidade e gratuidade do ato de empréstimo
temporário do bem particular.
Saliente-se ainda que o § 5 9 do art. 37 da lei das Eleições, com a inclusão da Lei
ns 12.034/09, assim versa:

375
M a r c o s R a m ayan a D ir e it o E l e it o r a i

"§ 5- Nas árvores e nos jardins localizados em áreas públicas, bem como
em muros, cercas e tapumes divisórios, não é permitida a colocação de
propaganda eleitoral de qualquer natureza, mesmo que não lhes cause
dano."

Como se pode notar, a propaganda, por exemplo, por faixas e cartazes é proibida
nas árvores e jardins de áreas públicas, porque, nestes casos, viola-se a regra do
bem público prevista no caput do art. 37 da Lei n- 9.504/97. A transgressão sujeita
o infrator a sanção de multa, após as providências do art. 40-B da mesma lei.
Todavia, quanto à colocação de uma faixa, por exemplo, num tapume divisório,
a restrição imposta pela lei não nos remete a sanção de multa quando o bem é
particular. No vazio normativo restará a aplicação do poder de polícia da apreensão
do material irregular, após a notificação (art. 40-B da mesma lei), e ainda as sanções
penais do art. 347 do Código Eleitoral (desobediência).

12.2.7. PROPAGANDA POLÍTICA ELEITORAL NA IMPRENSA ESCRITA.


0 art. 43 da Lei n9 9.504/97 passou a ter a seguinte redação, conforme teor da
Lei ne 12.034/09:

"Art. 43. São permitidas, até a antevéspera das eleições, a divulgação


paga, na imprensa escrita, e a reprodução na internet do jornal impresso,
de até 10 (dez) anúncios de propaganda eleitorai, por veículo, em datas
diversas, para cada candidato, no espaço máximo, por edição, de 1/8
(um oitavo) de página de jornal padrão e de 1/4 (um quarto) de página
de revista ou tabloide.
§ l e Deverá constar do anúncio, de forma visível, o valor pago pela
inserção.
§ 2B A inobservância do disposto neste artigo sujeita os responsáveis
pelos veículos de divulgação e os partidos, coligações ou candidatos
beneficiados a multa no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 10.000,00
(dez mil reais) ou equivalente ao da divulgação da propaganda paga, se
este for maior.

Verifica-se a admissão da reprodução pela internet do jornal impresso (versão


on Hné), mas a lei impõe limitações.
De fato, só é possível os anúncios de propaganda eleitoral até o número máximo
de 10 (dez), por veículo, ou seja, cada candidato estará limitado à veicular na
imprensa escrita, o número máximo de 10 (dez) anúncios, e por via da rede mundial
de computadores na reprodução on line, a mesma quantidade. Entende-se, por
veículo, cada meio de comunicação previsto no artigo legal (imprensa e internet on
line- reprodução-).

376
P r o p a g a n d a E l e it o r a l Capítulo 12

A violação do disposto no artigo legal ensejará a aplicação de sanções de multa


na forma do rito procedimental do art. 96 da Lei das Eleições.
No entanto, poderá emergir o abuso do poder econômico, quando de forma
reiterada forem violados os limites por página de revista ou tabloide ou o número
máximo dos anúncios.
É comum que candidatos apoiados pela imprensa local em cidades do interior
veiculem anúncios em desacordo com os limites da paginação, inclusive com
destaques e enaítecimentos que camuflam o evidente abuso do poder econômico.
Caracterizado o abuso do poder econômico é possível a adoção da representação
do art. 22 da Lei das Inelegibilidades, cominando-se as sanções de cassação do
registro e da inelegibilidade, e ainda a ação de impugnação ao mandato eletivo
(art. 14, §§ 10 e 11 da CRFB}, ou o recurso contra a expedição do diploma (art. 262,
IV do Código Eleitoral) É fremente que a violação aos limites impostos pela nova
lei eleitoral podem caracterizar ainda gastos ilícitos de recursos que ensejaram a
adoção da representação do art. 30-A da Lei n9 9.504/97 (conduta proporcional ou
razoável), quando não for o caso da adoção da ação de investigação judicial eleitoral
ou representação do art. 2 2 ,1 a XV da Lei das Inelegibilidades.
Se a conduta for proporcional, sem feição de potencialidade, a medida correta
será a desaprovação das contas de campanha eleitoral (art. 30, III da Lei das
Eleições) e, ainda a representação do art. 30-A da mesma lei.
Não se pode perder de vista que a propaganda na imprensa escrita fomentada
por favorecimento ao candidato poderá caracterizar uma doação indireta ou reflexa,
sujeitando os infratores às sanções acima descritas. Neste sentido, TSE. Ac.n9 759,
de 23.11.2004, rei. Min. Peçanha Martins e Ac nQ24.307, de 10.2.2005, rei. Min. Luiz
Carlos Madeira.
E ainda,
"Investigação judicial. Imprensa escrita. Jornal. Criação. Proximidade.
Eleição. Distribuição gratuita. Notícias. Fotos e matérias. Favorecimento.
Candidato. Uso indevido dos meios de comunicação social. Tiragem
expressiva. Abuso do poder econômico. Lei Complementar n9 64/90.
1. Jornal de tiragem expressiva, distribuído gratuitamente, que em
suas edições enaltece apenas um candidato, dá-lhe oportunidade para
divulgar suas ideias e, principalmente, para exibir o apoio político que
detém de outras lideranças estaduais e nacionais, mostra potencial
para desequilibrar a disputa_ eleitoral, caracterizando uso
indevido dos meios de comunicação e abuso do poder econômico,
nos termos do art. 22 da Lei Complementar ns 64/90.” (TSE, Ac.
ns 688, de 15.4.2004, rei. Min. Fernando Neves.)
Ressalta-se, inclusive, a possibilidade de incidência do art. 36 e parágrafos da
Lei das Eleições, quando ficar caracterizada a propaganda política eleitoral pela
imprensa escrita de forma extemporânea ou antecipada.

377
M a r c o s R am ayana D i r e í t o E l e it o r a l

For fim, a sanção de multa eleitoral pode ser imposta ao candidato beneficiado
e ao órgão da imprensa, mas deve a sentença especificar o valor da multa para cada
corresponsável, pois assim restará facilitado o exame da futura quitação eleitoral,
na forma do a r t 11, § 8 2 , II, da Lei ns 9.504/97. Em destaque:

"Propaganda eleitoral extemporânea. Sujeita-se ao pagamento de multa


não só o candidato em relação ao qual se comprovou a responsabilidade
pela realização da propaganda, mas também a empresa jornalística que
promoveu a divulgação da matéria.”(TSE, Ac. ne 15.383, de 22.2.2000,
rei. Min. Eduardo Ribeiro.)

12.2.8. TRIOS ELÉTRICOS


Conforme se verifica pela leitura do § 10 do art. 39 da Lei n- 9.504/97, in
expressis v erbis:

§ 10. Fica vedada a utilização de trios elétricos em campanhas eleitorais,


exceto para a sonorização de comícios. (Incluído pela Lei ne 12,034, de
2009).

Desta forma, não se pode utilizar os conhecidos trios elétricos, em que cantores
realizam showmício e eventos assemelhados, até porque a regra vedatória do
§ 7 e da mesma lei deve ser aqui interpretada. No entanto, o legislador excepcionou
a possibilidade da utilização do trio elétrico, especialmente, para a sonorização de
um comício, que deverá observar o horário entre 8 e 24 horas, conforme o disposto
no § 4 5 do art. 39 da mesma lei.
Não se pode utilizar o trio elétrico em seu efetivo funcionamento durante o
trecho de deslocamento até o local de realização do comício, pois não foi essa a
intenção do legislador.
A violação a esta regra caracteriza o delito do a r t 347 do Código Eleitoral (crime
de desobediência), além da apreensão do veículo por fiscais da propaganda eleitoral.

12.2.9. PROPAGANDA PERMITIDA ATÉ AS 22 HORAS DO DIA QUE


ANTECEDE A ELEIÇÃO
O § 9 - do a r t 39 da Lei nQ9.504/97 assim dispõe:

§ 9o Até as vinte e duas horas do dia que antecede a eleição, serão


permitidos distribuição de material gráfico, caminhada, carreata,
passeata ou carro de som que transite pela cidade divulgandojingles ou
mensagens de candidatos. (Incluído pela Lei n- 12.034, de 2009).

378
P r o p a g a n d a E l e it o r a l
C a p ít u l o 1 2

Como se nota, a nova regra não estabeleceu sanções para a sua eventual violação.
Aplica-se o disposto no art. 347 do Código Eleitoral (crime de desobediência), após
prévia notificação do infrator, Se a fiscalização da propaganda eleitoral detectar
que o infrator distribui material gráfico após as 22 horas, poderá apreendê-lo,
considerando a violação ao disposto na norma legal, o que vale para impedir a
caminhada, carreata, passeata e os carros de som.
0 art. 41 da Lei n2 9.504/97, com a redação da Lei ne 12.034/09, proíbe o
cerceamento da propaganda com a alegação do poder de polícia. Todavia, se a
própria lei consagra a irregularidade, devem-se adotar os meios legais de coibir o
fato.
Verifica-se que o art. 41, inclusive vai mais longe ao permitir a propaganda
política eleitoral contrariando posturas municipais. Ora, as questões urbanísticas
encontram lastro em normas constitucionais e em vasta legislação ambiental. Neste
sentido o art. 225 da Constituição Federal. Trata-se de bem comum do povo o uso
do espaço público. É uma fruição natural da sociedade, que desfruta das qualidades
da cidade, ensejando o controle estatal e da Justiça Eleitoral. Não existem regras
absolutas contra a normatividade ambiental, que inclui o ambiente artificial,
cultural e urbano.
Como se nota, a regra do art. 41 não poderá ser observada verbum p ro verbo,
pois flui contrária ao texto constitucional.
Observa-se, ainda, que em relação ao carro de som, deve ser observada a regra
do § 3S , incisos I, II e III do art. 39 da Lei na 9.504/97, ou seja, não se pode instalar
ou usar esses equipamentos de som em distância inferior a 200 metros de escolas,
hospitais etc.
E ainda, em relação à distribuição do m aterial gráfico, deve-se atentar para
o disposto no art. 38, §§ l 2 e 2 9 da Lei das Eleições, com as alterações da Lei
n9 12.034/2009. Desta forma, o material terá que conter o número do CNPJ ou CPF,
quem contratou e a respectiva tiragem.
A distribuição de material do tipo panfletos no dia da eleição caracteriza o tipo
penal do art. 39, § 5- , III da lei em comento.

12,3. PROPAGANDA POLÍTICA PARTIDÁRIA


12.3.1. Conceito
A finalidade é divulgar os programas dos partidos, transm itir mensagens aos
filiados sobre certos programas de atividade congressual e divulgar a posição do
partido quanto aos temas de interesse nacional, tais como: educação, saúde, cultura,
segurança pública etc.

379
M a r c o s R am a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

12.3.2. Base legal


Arts. 45 até 49 da Lei n- 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos). Ver ainda a
Resolução TSE n9 19.406/95, art. 57, e Resolução TSE n2 19.481/96.

1 2 .3 .3 . V ed açõ es
Não são permitidas a participação de pessoas não filiadas, nem tampouco a
divulgação de propaganda de candidatos, que, nesse caso, em episódios não raros,
usurpa o horário para divulgar de forma antecipada sua propaganda pessoal.

12.3.4. Gratuidade
São aplicáveis as mesmas regras já referidas para a propaganda política eleitoral.

12.3.5. Desvirtuamento. Sanção proporcional à falta


0 Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedentes de que o tempo de
perda do programa partidário como sanção imposta àquele que utilizou o horário
para veicular propaganda pessoal deve ser proporcional à falta. Confere-se,
Agravo regimental no Agravo de instrumento nfi 8.156/SP. Relator:
Ministro José Delgado. Ementa: Agravo regimental Agravo de
instrumento. Propaganda partidária. Desvirtuamento. Aplicação de sanção
proporcional à falta. Manutenção da decisão agravada. Não provimento.
1. A Corte Regional assentou que houve promoção pessoal da candidata
Marta Suplicy por meio do desvirtuamento da propaganda partidária
do Partido dos Trabalhadores, entendimento que não pode ser revisto
pelo TSE sem a reapreciação do conjunto fático-probatório (Súmula-STJ
n° 7). 2. A penalidade aplicável - perda do tempo de transmissão - deve
ser proporcional à gravidade da falta, e não simplesmente ao tempo da
propaganda indevidamente utilizado. Precedentes: Rp ne 1297/SP, rei.
Min. Cesar Asfor Rocha, D/de 20.3.2007; Rp na 750/PA, rei. Min. Humberto
Gomes de Barros, DJ de l s.12.2005 e Rp no 697/SP, rei. Min. Francisco
Peçanha Martins, DJ de 16.12.2004.3. Decisão agravada mantida por seus
próprios fundamentos. 4. Agravo regimental não provido. DJ de 5.10.2007.

12.3.6. Possibilidade de aplicação da sanção de muita prevista no art.


36, § 3a, quando na propaganda política partidária ficar evidente que
ocorreu desvirtuamento com feição de propaganda política eleitoral
antecipada
Sobre o relevante tema firma-se a jurisprudência do C. TSE, expressamente:
Agravo regimental. Agravo de instrumento. Representação. Art. 36, § 3S,
da Lei ne 9.504/97. Propaganda eleitoral extemporânea. Propaganda

3 8 0
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

partidária. Desvirtuamento. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade.


Reincidência. A jurisprudência do TSE tem assentado que não há
impedimento para, reconhecida a prática da propaganda eleitoral
antecipada decorrente do desvirtuamento do programa político-
partidário gratuito, aplicar-se a sanção prevista no art. 36, § 3e, da
Lei n2 9.5 0 4 /9 7 . Para afastar a conclusão da Corte Regional Eleitoral
que, no caso concreto, entendeu configurada a propaganda eleitoral
antecipada, o fato objeto da apreciação judicial há de ser incontroverso,
não se permitindo o reexame de fatos e provas, o que não é possível
em sede de recurso especial, por óbice da Súmula n2 279 do Supremo
Tribunal Federal. Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento
ao agravo regimental. Unânime. Agravo Regimental no Agravo de
Instrumento n9 7.763/SP, Rei. Min. Caputo Bastos, em 16.10.2007.

Sanções.
TSE. Acórdão n^ 707, de 7.12.2004. Representação n* 707/SC.
Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins. Ementa: Propaganda
partidária. Direito de resposta. Divulgação de informação inverídica.
Parcial procedência. A utilização do espaço destinado à propaganda
partidária cujo teor se distancia da finalidade prevista na lei dá ensejo
à penalidade de cassação do_direito de transmissão do partido
infrator. A divulgação de informações inverídicas com o objetivo de
macular a imagem de terceiros dá ensejo à concessão de direito de
resposta ao prejudicado, a ser exercido em tempo descontado
da propaganda do representado, em termos e forma previamente
aprovados pela Corte. DJ d e 11.2.2005.

12.3.7. Competência para julgamento relativa a propaganda política


partidária veiculada em bioco
Sobre o tema o C. TSE decidiu que a competência é originária dos Tribunais
Regionais Eleitorais,
Agravo regimental. Recurso Especial Eleitoral. Representação.
TRE. Competência. Propaganda partidária em bloco. Desvirtuamento.
Propaganda eleitoral extemporânea. Sanção pecuniária. Decisão
agravada. Fundamentos não afastados. C onform e já decidido pelo
TSE, o Tribunal Regional Eleitoral é competente para julgar
representação por propaganda eleitoral antecipada, proposta
contra diretório regional, ainda que a infração tenha ocorrido
por meio de desvirtuamento de propaganda partidária veiculada
em bloco. A decisão em anterior representação por propaganda
eleitoral antecipada, ajuizada em face de inserções veiculadas pela
agremiação, não pode ser invocada a título de coisa julgada, a fim de

381
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

obstar a apreciação - em nova representação - da mesma infração na


propaganda em bloco (Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral
ns 26.975/SP, rei. Min, Caputo Bastos, em 16.10.2007) (...)”
Registramos ainda.
TSE. Acórdão ns 233, de 31.8.2004. Reclamação ne 233/PA, Relator:
Ministro Francisco Peçanha Martins. Ementa: Propaganda partidária.
Cadeia estadual. Alegação de desvirtuamento. Veículação de ofensas.
Direito de resposta, Competência do Tribunal Superior Eleitoral
para julgamento. Reclamação. Preservação da competência do
Tribunal. Prejudicialidade. Compete ao Tribunal Superior Eleitoral
o julgamento dos feitos relacionados com infrações às normas que
disciplinam a propaganda partidária, quando por ele autorizada a
respectiva-transmissão, o que ocorre nos programas __ein bloco
(nacional e estadual)_e_em inserções de âmbito nacional, inclusive
quando se tratar de direito de resposta. Reconhecida pelo Tribunal
Superior Eleitoral a improcedência da representação na qual se alegara
a veiculação de ofensas, no programa partidário, que dão fundamento
ao presente feito, julga-se prejudicada a reclamação. D} de 15.10.2004.

12.3.8. Vedação de recebimento de contribuições pecuniárias pelos


partidos políticos de titulares de cargos dem issíveis a d nutum da
administração direta ou indireta, quando este s servidores tenham a
condição de autoridades
Exegese dos arts. 45 do Estatuto dos Funcionários; Decreto n- 4.961, de 20 de
janeiro de 2004, publicado no D iário Oficial da União de 21 de janeiro de 2004;
art. 31, e incisos II e III, da Lei ne 9.096/95; inciso III do art. I 2 da Lei ns 9.784/99;
e art. 37 da Constituição Federal
Analisando esta significativa questão, que importa na prática do abuso do poder
econômico nas eleições, o TSE firmou posição na Resolução nfi 22.585, de 6.9.2007 e
Consulta n9 1.428/DF. Relator Originário: Ministro José Delgado. Redator: Ministro
Cezar Peluso, que:
"Partido político. Contribuições pecuniárias. Prestação por titulares
de cargos demissíveis ad nutum da administração direta ou indireta.
Impossibilidade, desde que se trate de autoridade. Resposta à consulta,
nesses termos. Não é permitido aos partidos políticos receberem
doações ou contribuições de titulares de cargos demissíveis ad nutum
da administração direta ou indireta, desde que tenham a condição de
autoridades.
Em destaque:
"(...) O recebimento de contribuições de servidores exoneráveis ad
nutum pelos partidos políticos poderia resultar na parti dar ização
da administração pública. Importaria no incremento considerável

382
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p It u l o 12

de nomeação de Filiados a determinada agremiação partidária para


ocuparem esses cargos, tornando-os uma força econômica considerável
direcionada aos cofres desse partido. Esse recebimento poderia
quebrar o equilíbrio entre as agremiações partidárias. Contraria o
princípio da impessoalidade, ao favorecer o indicado de determinado
partido, interferindo no modo de atuar da administração pública. Fere
o princípio da eficiência, ao não privilegiar a mão de obra vocacionada
para as atividades públicas, em detrimento dos indicados políticos,
desprestigiando o servidor público. Afronta o principio da igualdade,
pela prevalência do critério político sobre os parâmetros da capacitação
profissional. Esses cargos devem ser preenchidos por critérios
técnicos, visando o interesse público e as necessidades da população.
A investidura em cargo público deve ocorrer mediante aprovação
prévia em concurso público, para que todos possam ter acesso a ele em
condição de igualdade. A prática descrita tende a resvalar o princípio
da moralidade administrativa, pelo qual o administrador público deve
atuar segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé. (...) 0 que
quero dizer é que, por consignação, não pode. 0 art. 45 do Estatuto dos
Funcionários dispõe: Art. 45. Salvo imposição legal ou mandado judicial,
nenhum desconto incidirá sobre remuneração ou provento. Parágrafo
único: Mediante autorização do servidor, poderá haver consignação em
folha de pagamento a favor de terceiros, a critério da administração e
com reposição de custos, na forma definida em regulamento. Fui ao
regulamento, o Decreto n9 4.961, de 20 de janeiro de 2004, publicado
no Diário Oficial da União de 21 de janeiro de 2004 e ele, a meu
sentir, não inclui essa possibilidade de desconto para partido político,
mesmo naqueles indicados e listados como descontos facultativos. A
conclusão a que chego é de que, eir» se tratando de autoridade
o sab.s.tantivo é definido em lei, aí estou combinando com_ Vossa
Excelência o d escontanão será permitido. Mas não se proíbe
que o servidor faça doação sem consignacão Aconselhamos
co n su ltar a íntegra do Inform ativo 3 4 do TSE.

12.3.9. Legitimidade ativa para a propositura de representação em face


da propaganda política partidária praticada com desvio de finalidade
Como já visto, a propaganda político-partidária deve observar os requisitos
específicos dos incisos I a IV do art. 45 da Lei n2 9.096/95, já alterados pela Lei
ns 12.034/2009.
É muito comum a prática do desvirtuamento da propaganda político-partidária
pelos futuros candidatos aos cargos eletivos, por exemplo, quando preconizam o
enaltecimento pessoal, objetivando as eleições do ano seguinte. A lei proíbe que
sejam veiculadas no espaço gratuito mensagens pessoais que possam configurar a
divulgação antecipada de propaganda de candidatos.

383
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Na defesa do regime democrático, art. 127 da Constituição Federal, é atribuída


ao Ministério Público a fiscalização da correta aplicação da lei eleitoral (art. 24,
inciso VI do Código Eleitoral e art. 13, alínea f da Resolução n9 4.510/52, Regimento
Interno do Tribunal Superior Eleitoral), por intermédio do Procurador-Geral
Eleitoral ou dos Procuradores Regionais Eleitorais, quando oferecem representações
para coibir a prática ilegal do desvirtuamento da propaganda.
A defesa do regime democrático se dá por medidas judiciais que possam inibir o
abuso dos usos e meios de comunicação social em prol de determinada candidatura,
especialmente quando se nota uma ameaça potencial ao desequilíbrio das eleições.
Nesta linha de entendimento o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral já editou a
Resolução n9 20.034/97, que há anos consagra a legitimidade ativa da instituição
do Ministério Público para a propositura das representações, inclusive que seguem
o rito do art. 22, incisos I a XIII da Lei dás Inelegibilidades (Lei Complementar 64,
de 18 de maio de 1990), quando a propaganda é veiculada na televisão.
Destacamos os artigos abaixo da Resolução n9 20.034/97:

Art. 11. As transmissões não estão sujeitas a prévia censura, por elas
respondendo, na forma da lei, os que as promoverem, sem prejuízo
da responsabilidade pelas expressões faladas ou pelas imagens
transmitidas.
Parágrafo único. As emissoras de rádio e televisão deverão manter sob
sua guarda, à disposição da Justiça Eleitoral, pelo prazo de trinta dias, as
fitas magnéticas para servir como prova de ofensa à lei eventualmente
cometida.
Art. 12. 0 Tribunal Superior Eleitoral e, na hipótese de inserções
estaduais, os Tribunais Regionais Eleitorais, julgando procedente
representação formulada por órgão de direção de partido político,
cassarão o direito à próxima transmissão do partido que contrariar as
normas previstas nestas Instruções (Lei n9 9.096/95, art. 45, § 29).
Art. 13. Caberá à Corregedoria Geral da Justiça Eleitoral ou às
Corregedorias Regionais Eleitorais, conforme a competência dos
respectivos Tribunais Eleitorais, receber e instruir representação do
Ministério Público, partido político, órgão de fiscalização do Ministério
das Comunicações ou entidade representativa das emissoras de rádio
e televisão, para ver cassado o direito de transmissão de propaganda
partidária, bem como as reclamações de partido, por afronta ao seu
direito de transmissão, em bloco ou em inserções, submetendo suas
conclusões ao Tribunal.
Parágrafo único. Na apuração de que trata este artigo, aplicar-se-á o
procedimento previsto nos incisos I a XIII do art. 22 da Lei Complementar
n9 64, de 18 de maio de 1990, no que couber. Parágrafo incluído pela
Resolução TSE n° 22.696/2008.

3 8 4
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

No entanto, a recente Lei ne 12.034, de 29 de setembro de 2009 revogou os


parágrafos segundo e terceiro do art. 45 da Lei dos Partidos Políticos, acrescendo
os parágrafos segundo até sexto nos seguintes termos:

§ 2e O partido que contrariar o disposto neste artigo será punido:


I - quando a infração ocorrer nas transmissões em bloco, com a cassação
do direito de transmissão no semestre seguinte;
II - quando a infração ocorrer nas transmissões em inserções, com a
cassação de tempo equivalente a 5 (cinco) vezes ao da inserção ilícita,
no semestre seguinte.
§ 3e A representação, que somente poderá ser oferecida por partido
político, será julgada peío Tribunal Superior Eleitoral quando se tratar
de programa em bloco ou inserções nacionais e pelos Tribunais Regionais
Eleitorais quando se tratar de programas em bloco ou inserções
transmitidos nos Estados correspondentes.
§ 4 S 0 prazo para o oferecimento da representação encerra-se no último
dia do semestre em que for veiculado o programa impugnado, ou se este
tiver sido transmitido nos últimos 30 (trinta) dias desse período, até o
159 (décimo quinto) dia do semestre seguinte.
§ 5 S Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais que julgarem
procedente representação, cassando o direito de transmissão de
propaganda partidária, caberá recurso para o Tribunal Superior Eleitoral,
que será recebido com efeito suspensivo.
§ 6- A propaganda partidária, no rádio e na televisão, fica restrita aos
horários gratuitos disciplinados nesta Lei, com proibição de propaganda
paga." ________________

Verifica-se que o parágrafo terceiro está limitando, com a expressão "somente",


ao partido político a legitimidade ativa para a propositura da representação no
Tribunal Superior Eleitoral e nos Tribunais Regionais Eleitorais, na contramão da
jurisprudência sedimentada e pacífica, inclusive normatizada, do próprio Tribunal
Superior Eleitoral (Representação n9 641/2004).
É importante salientar que a representação, não apenas proposta pelos partidos
políticos atingidos com a propaganda desvirtuada, é uma ferramenta de equilíbrio
da democracia que é atribuída à Instituição do Ministério Público. A utilização desta
ação baseia-se no precípuo objetivo de assegurar a concretização de um conjunto
de normas constitucionais e eleitorais. Preserva-se a normalidade das eleições, o
equilíbrio entre candidatos e partidos políticos.
Desta forma, embora o § 3- tenha utilizado a expressão "somente", não podemos
entender o uso dessa expressão na lei de forma simétrica com a Carta Magna,
colocando-se contra princípios e valores racionais e proporcionais da utilização

385
M a r c o s R am ayan a D ir je it o E l e it o r a l

dos meios de comunicação nas campanhas político-partidárias, até porque, essa


propaganda é provida por recursos públicos, ensejando a ampla fiscalização,
especialmente do órgão de defesa social nas eleições, que é o Ministério Público.
Impende frisar que qualquer entendimento que possa excluir a legitimidade
ativa do Ministério Público, estará enfraquecendo a própria proteção do regime
democrático, de forma desarrazoada, até porque, se essa representação segue o rito
do art. 22, incisos I a XIII da Lei das Inelegibilidades (lei de natureza complementar,
segundo preceituado no § 9 - do art. 14 da Constituição da República), o caput
compartilha a legitimidade ativa entre o Ministério Público, os partidos políticos,
os candidatos e as coligações. No entanto, no momento da propositura dessas
representações, não há que se falar em candidatos e coligações, mas tão somente
em partidos políticos, pois é sabido que as coligações se formam entre os dias 10
a 30 de junho do ano da eleição (arts. 6 a e 8 e da Lei nQ 9.504/97), que também
compreende a escolha dos pré-candidatos.
Outrossim, o Ministério Público é parte legítima para todas as demandas
eleitorais, conforme previsto no art. 22 da Lei Complementar ne 64/90, arts. 30-A,
41-A e 96 da Lei n9 9.504/97 e diversas resoluções eleitorais.
Não há que se falar, portanto, na exclusão da legitimidade ativa do Ministério
Público para a propositura da representação com base na propaganda política
partidária desvirtuada, pois arrimada em preceito constitucional; até porque o
antigo § 2- do art. 45 da lei dos Partidos Políticos era silente em relação a este
ponto e nem por isso a jurisprudência do egrégio Tribunal Superior Eleitoral seguia
interpretação que pudesse diminuir ou excluir a legitimidade do Parquet.
O § 5 e do art. 45 da Lei ne 9.096/ 95 foi acrescido e trouxe uma regra de
exceção em relação ao efeito do recurso de decisão dos Tribunais Regionais
Eleitorais que julgam procedente a representação. Criou-se o efeito suspensivo
quando recebido o recurso, o que poderá acarretar a inocuidade das decisões.
Isso porque a sanção de cassação do tempo ou do direito de transm issão imposta
aos partidos políticos, só se opera no sem estre seguinte ao da veiculação
desvirtuada e, dificilm ente, ter-se-á o trânsito em julgado a tempo útil de ser
executada essa sanção. Assim, m e s m o que executada a decisão, a inovação quanto
ao efeito suspensivo é uma exceção prejudicial à eficácia das julgados eleitorais,
pois é sabido que as decisões são cumpridas im ediatamente, conforme previsão
do art. 2 5 7 do Código Eleitoral.

As transmissões não estão sujeitas a prévia censura, conforme previsão nos árts. i l . • :i
■ dãRés.TSEne Í9.481/ 96én aL éin -9.50:4 / 97e53d aL éin 2 9.504/97,'cpmpetm
^áJustiçaÈleitoraíírripèdir apfòpagandabféhsivaàhohradécàndidato'Óuàosbdrií^^^;;j
■; costumes!; ’•
•V< : - •••• ’ •v•_ '• ••\i; >'•

386
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ítu lo 12

12.4. PROPAGANDA EXTEMPORÂNEA, ANTECIPADA OU


PREMATURA
12.4.1. Conceito
É uma forma ilegal de veiculação de propaganda antes do prazo previsto no art.
36 da Lei n9 9.504/97, ou seja, a propaganda somente é permitida após o dia 5 de
julho do ano eleitoral, assim, começa oficialmente no dia 6 de julho.
A antecipação da propaganda, além de criar desigualdades entre os candidatos,
pois favorece o candidato que desrespeita as normas jurídicas, viola regras de
arrecadação e de aplicação de recursos nas campanhas eleitorais, subjugando os
comitês financeiros, art. 19 da Lei n9 9.504/97, que são entidades criadas pelos
partidos políticos para arrecadar recursos e aplicá-los mediante controle de
contabilidade especial e contas bancárias.
Como se nota, a propaganda extemporânea pode camuflar o abuso do poder
econômico ou político.
Essa propaganda é um exemplo de utilização indevida de recursos e arrecadação
irregular dos mesmos.
Compete à Justiça Eleitoral coibir esta propaganda. Os partidos políticos atingidos
que primem pelo cumprimento da lei, juntamente com o Ministério Público, devem
oferecer representações ou reclamações para retirar a propaganda.
Exemplos de decisões do Colendo TSE sobre o tema.
1. Recurso Especial. Eleições 2006. Propaganda eleitoral Extemporânea. Instalação
de outáoors. Nome. Fotografia, Deputado federal - Mensagem subliminar -
Procedência. 1. A instalação de outáoors, com mensagem de agradecimento a
deputado federal pelo seu empenho na concretização de determinada obra,
evidencia propaganda extemporânea, a incidir a sanção do § 39 do art. 36 da Lei
n- 9.504/97. 2. O uso de outdoor, por si só, já caracteriza propaganda ostensiva,
pois exposta em local público de intenso fluxo e com forte e imediato apelo visual.
Constitui mecanismo de propaganda de importante aproximação do pré-candidato
ao eleitor. 3. No período pré-eleitoral a veiculação de propaganda guarda, no
mínimo, forte propósito de o parlamentar ter seu nome lembrado. Afasta-se, assim,
a tese de mera promoção pessoal. 4. Consoante jurisprudência firmada pelo TSE,
a propaganda feita por meio de outdoor já sinaliza o prévio conhecimento do
beneficiário (Respe-26262.TSE. D ]-D iário de justiça, 01.06.2007, p. 247).
2. Agravo regimental. Agravo de instrumento. Negativa de seguimento. Recurso
Especial. Representação. Propaganda extem porânea. Art. 36, § 3Q, da Lei
n- 9.504/97. Veiculação. Outdoor. Mensagem. Ano novo. Fotografia. Endereço
eletrônico. Internet. Logomarca. Partido político. Vereador. Ano eleitoral.
Reexame. Ausência. Dissídio. Jurisprudência. Reiteração. Argumentos. Recurso.
Fundamentos não atacados. Agravo regimental que não ataca os fundamentos

00^7
M a r c o s R a m ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

da decisão impugnada. Reiteração de argumentos do recurso. A Corte regional


entendeu que ficou caracterizada a propaganda eleitoral extem porânea por
ter o representado divulgado, de forma maciça, por meio de diversos outdoors,
mensagem de felicitação pela passagem do ano de 2006, acompanhada de
ampla fotografia, menção a partido político e endereço eletrônico (sítio na
Internet). Eventual conclusão em sentido contrário demanda o reexame de
fatos e provas da causa, o que é vedado em sede de recurso especial (Súmulas
nes 279/STF e 7/STJ). A análise dos pressupostos gerais e específicos de
recorribilidade, inclusive o crivo sobre a plausibilidade e a razoabilldade das
alegações pelo Tribunal a quo, não constituem usurpação da competência da
instância superior Precedentes. Na linha da jurisprudência deste Tribunal,
o fato de não se concretizar a candidatura não afasta a imputação de multa
por propaganda eleitoral extem porânea (DJ - Diário de ju stiça, 02.05.2007,
p. 117).
3. Agravo regimental. Recurso Especial Eleitoral. Propaganda partidária
considerada eleitoral extem porânea. Representação fundamentada no
art. 36, § 3 9, da Lei n9 9.504/97. Competência. Juiz auxiliar. Possibilidade
de aplicação de multa. Não provimento. 1. Violação ao art. 275, incisos í e
II, do Código Eleitoral não caracterizada. Os arestos regionais apresentam
clara fundamentação da tese jurídica adotada. 0 magistrado não está
adstrito aos argumentos apontados pelas partes, nem obrigado a responder,
uma a uma, todas as suas alegações, desde que apresente fundamentos
suficientes para justificar seu convencimento. 2. A representação proposta
pelo P arqu et é tempestiva, uma vez que o art. 96, § 5-, da Lei n 9 9.504/97
não fixa prazo para o ajuizamento das representações ali previstas. 3. O
juiz auxiliar é competente para julgar a representação ajuizada, com fulcro
no art. 36, § 3 9, da Lei ns 9.504/97, a fim de examinar desvirtuamento de
propaganda partidária. Também é possível a aplicação da multa prevista
no citado artigo. Precedentes: Rp n9 9 2 7, Rei. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ
de 12.6 .2 0 0 6 ; Ag ns 4.679/PE, ReL Min. Francisco Peçanha Martins, DJ de
1 2 .8 .2 0 0 4 e REspe. n9 19.947/MA, Rei. Min. Luiz Carlos Lopez Madeira,
DJ de 20.3.2 0 0 3 . 4. A Corte Regional entendeu, forte no conjunto fático-
probatório carreado aos autos, que a propaganda partidária em discussão
ultrapassou os limites do art. 4 5 , 1 a III, da Lei n9 9.096/95 e a considerou
como eleitoral extem porânea. A adoção de entendimento contrário
ensejaria o revolvimento de matéria fático-probatória, inadmissível nesta
via especial, em razão do óbice da Súmula n9 7/STJ. 5. Decisão agravada
que se mantém pelos seus próprios fundamentos. 6. Agravo regimental não
provido (DJ - D iário de ju stiça , 1 1 .0 4 .2 0 0 7, p. 199).

38 8
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 1 2

12.4.2. SANÇÃO. PROPAGANDA DOS CANDIDATOS MAJORITÁRIOS


(obrigação do nome dos vices e suplentes). COMPETÊNCIA.
A Lei n55 12.034/09 alterou a redação do § 3 e do art. 36 da Lei ne 9.504/97, além
de acrescentar os parágrafos quarto e quinto. E ainda, criou o art. 36-A, incisos I a
IV nos seguintes termos:

"Art. 36. A propaganda eleitoral somente é permitida após o dia 5 de


julho do ano da eleição.
§ l e Ao postulante a candidatura a cargo eletivo é permitida a
realização, na quinzena anterior à escolha pelo partido, de propaganda
intrapartidária com vista à indicação de seu nome, vedado o uso de
rádio, televisão e outdoor.
§ 2 9 No segundo semestre do ano da eleição, não será veiculada a
propaganda partidária gratuita prevista em lei nem permitido qualquer
tipo de propaganda política paga no rádio e na televisão.
§ 3 2 A violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável
pela divulgação da propaganda e, quando comprovado o seu prévio
conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais) a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), ou ao equivalente ao
custo da propaganda, se este for maior.
§ 4 e Na propaganda dos candidatos a cargo majoritário, deverão constar,
também, o nome dos candidatos a vice ou a suplentes de Senador, de
modo claro e legível, em tamanho não inferior a 10% (dez por cento)
do nome do titular.
§ 5e A comprovação do cumprimento das determinações da Justiça
Eleitoral relacionadas a propaganda realizada em desconformidade
com o disposto nesta Lei poderá ser apresentada no Tribunal Superior
Eleitoral, no caso de candidatos a Presidente e Vice-Presidente da
República, nas sedes dos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais, no
caso de candidatos a Governador, Vice-Governador, Deputado Federal,
Senador da Republica, Deputados Estadual e Distrital, e, no Juízo
Eleitoral, na hipótese de candidato a Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador.
O § 3 fi do art. 36, prevê uma sanção de multa diversa da que constava
na redação anterior, que era de vinte mil a cinqüenta mil UFIR. Agora
o valor mínimo passa a ser de cinco mil e o máximo de vinte e cinco
mil reais, sendo mais benéfico ao infrator mantendo-se a hipótese da
exceção, quando o custo da propaganda for superior aos valores acima
estabelecidos pelo legislador.

Observa-se ainda que o § 4 - do art. 36, consagrou a necessidade de publicidade


dos vices e suplentes na propaganda dos candidatos a cargo majoritário fomentando
maior transparência ao eleitor. Assim, na propaganda do Presidente, Governador,

389
M a r c o s R am a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

Prefeito e Senador devem constar os nomes dos co-candidatos de forma clara e


legível, em tamanho não inferior a 10% (dez por cento) do nome do titular. É salutar
a medida legal, considerando a natureza dúplice do voto.
Na chapa única e indivisível, por exemplo, entre Presidente e Vice-Presidente,
não se faculta a possibilidade do eleitor votar apenas num dos candidatos. O mesmo
se verifica com os Senadores, quando o eleitor elege 2 (dois) suplentes (arts. 91 do
Código Eleitoral e 46, § 3 S da Constituição Federal).
Desta forma, obriga-se aos candidatos cumprirem a inclusão dos nomes dos vices
e suplentes nos cartazes, placas, adesivos e outras formas de propaganda política
eleitoral, sob pena de multa para cada irregularidade que for verificada. Não trata
o § 4 e do art. 36 de uma forma de propaganda antecipada ou extemporânea, mas
sim de regra atinente ao devido método de informação ao eleitor nas campanhas
eleitorais, pois não são raros os casos em que ocorre a vacância do mandato do
titular com a assunção dos vices e suplentes. Cabe ao eleitor ser devidamente
informado de que na verdade o voto é dúplice (principal e vice ou suplente).
O tamanho do nome do vice ou suplente não poderá ser inferior a 10% (dez por
cento) do nome do titular. Neste ponto, o legislador deveria ter fixado um limite
mínimo de 30% (trinta por cento) preservando-se a visibilidade do número e nome
em razão de limites das placas, cartazes, pinturas e inscrições, que não podem
exceder de 4m2 (quatro metros quadrados), segundo o atual § 22 do art. 37 da Lei
n9 9.504/97 (redação da Lei n9 12.034/09).

Quanto à com petência:


0 § 59 do art. 36 da Lei n9 9.504/97, (inserção da Lei n e 12.034/09), acima
destacado, fixou a questão já adotada pela jurisprudência em relação à competência
para o processo e julgamento das representações relativas ao descumprimento do
início do prazo para a propaganda política eleitoral.
Consagra-se no texto legal a orientação jurisprudencial e normativa do Tribunal
Superior Eleitoral. O TSE julgará representações contra candidatos a presidente e
vice-presidente, os Tribunais Regionais cuidam dos candidatos a governador, vice-
governador, senador da república, deputado federal, estadual e distrital, enquanto
os juizes eleitorais previamente designados pelos TREs, por resolução específica e
temporária são competentes para as hipóteses de candidato a prefeito, vice-prefeito
e vereador. Seguem-se, nesse particular, por simetria, os arts. 2 9 da LC n- 64/90 e
89 do Código Eleitoral.
Lembramos que o órgão do Ministério Público que atua no TSE é a Procuradoria-
Geral Eleitoral; nos Tribunais Regionais Eleitorais, a Procuradoria Regional Eleitoral
e, perante os juizes eleitorais, as Promotorias Eleitorais. Observa-se a Resolução
n9 30 do Conselho Nacional do Ministério Público.

390
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 1 2

Saliente-se, ainda, que a competência para as representações firma-se pelo tipo


de candidatura, independentemente do candidato ocupar um determinado cargo
eletivo e se encontrar licenciado do mesmo.
Todavia, a competência para o processo e julgamento dos crimes eleitorais
segue regras relativas ao foro por prerrogativa de função, por exemplo, o prefeito
candidato à reeleição que praticar o crime do art. 299 do Código Eleitoral (corrupção
eleitoral pela compra de votos) estará sujeito ao julgamento pelo Tribunal Regional
Eleitoral (arts. 29, X e 96, III da Constituição Federal). No entanto, pela prática do
ato de captação ilícita de sufrágio, será julgado pelo juiz eleitoral da comarca em
que pretende ser candidato.
Nas comarcas que compreendem mais de uma zona eleitoral, o Tribunal Regional
Eleitoral expede uma resolução específica designandò o juiz eleitoral para processar
e julgar as representações eleitorais.
Sobre o assunto, pedimos ao leitor que consulte os capítulos referentes às
ações eleitorais, quando abordamos outros detalhes processuais sobre o relevante
assunto.
Na verdade, o § 5 Qdo art. 36 da Lei ns 9.504/97 deveria ter sido destacado como
artigo próprio, pois não se refere, tão somente, a desconformidades de cumprimento
da legislação eleitoral sobre propaganda política eleitoral antecipada, mas sim a
violações da lei eleitoral genericamente considerada.
Não se pode perder de vista o disposto no § 2- do art. 97 da Lei n9 9.504/97,
com a redação da Lei n9 12.034/2009, in verbis:

"§ 2e No caso de descumprimento das disposições desta Lei por Tribunal


Regional Eleitoral, a representação poderá ser feita ao Tribunal Superior
Eleitoral, observado o disposto neste artigo”.

Verifica-se que é possível a supressão de instância quando, por exemplo, o juiz


eleitoral não processar e julgar uma representação sobre propaganda irregular.
Neste caso, o legitimado ativo (partido político) poderá renovar a representação no
Tribunal Regional Eleitoral, independentemente de eventuais sanções disciplinares,
conforme dito no § l 2 do art. 97 da lei em comento.
A Lei ns 12.034/09 inseriu na Lei n9 9.504/97 regras abaixo transcritas que,
praticamente, tornam dificílima a caracterização das hipóteses de propaganda
antecipada, conforme se verifica:

Art. 36-A. Não será considerada propaganda eleitoral antecipada:


I - a participação de filiados a partidos políticos ou de pré-candidatos em
entrevistas, programas, encontros ou debates no rádio, na televisão e na
internet, inclusive com a exposição de plataformas e projetos políticos,
desde que não haja pedido de votos, observado pelas emissoras de rádio
e de televisão o dever de conferir tratamento isonômico;

391
M a r c o s R a m ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

II - a realização de encontros, seminários ou congressos, em ambiente


fechado e a expensas dos partidos políticos, para tratar da organização
dos processos eleitorais, planos de governos ou alianças partidárias
visando às eleições;
III - a realização de prévias partidárias e sua divulgação pelos
instrumentos de comunicação íntrapartidária; ou
IV - a divulgação de atos de parlamentares e debates legislativos, desde
que não se mencione a possível candidatura, ou se faça pedido de votos
ou de apoio eleitoral.

No inciso I, a lei está isentando da responsabilidade por atos de propaganda


extemporânea ou antecipada a participação de pré-candidatos, quando já
escolhidos em convenção, nos encontros e debates pelos meios de comunicação
social ali referidos. É possível a exposição ao eleitor das chamadas plataformas e
projetos políticos, mas permite-se que a Justiça Eleitoral possa analisar se durante
a manifestação verbal ou por escrito do pré-candidato restou consumado um
pedido de votos. As regras possuem uma gênese mais permissiva e dificultam a
caracterização da irregularidade.
0 pedido de votos poderá ser explícito ou implícito, até porque o art. 4 1 -A, § 1- da
atualizada Lei n2 9.504/97 diz: “(...) é desnecessário o pedido explícito devotos (...3’'.
Desta forma, na demonstração do projeto político não se pode explanar solicitação
de votos. É inequívoco que esta análise é subjetiva e está vinculada ao contesto
amplo da narrativa do projeto político. Em outras palavras: pratica propaganda
antecipada o pré-candidato que, entrevistado pela emissora de rádio, não se limita a
indicar ao eleitor ouvinte aspectos sobre os temas contidos na proposta, indo além
e deixando a mensagem do pedido de votos.
A divulgação pelos futuros candidatos de livros, peças de teatros, filmes e outras
formas de manifestação artística podem ser aceitas, desde que não contenham
pedidos de votos aos eleitores. A autopromoção não está proibida, quando
vinculada a obras intelectuais, pois a Carta Magna permite, sem censura prévia, a
livre manifestação cultural.
As emissoras de rádio e televisão devem permitir o tratamento igualitário ou
isonômico, considerando que, mesmo que os pré-candidatos não estejam bem nas
pesquisas, não se podem limitar as entrevistas.
0 inciso II do art. 36-A limita ao ambiente fechado os encontros, seminários ou
congressos; mas não consagra restrições à divulgação desses atos partidários, seja
pela imprensa, panfletos, cartazes e outras formas de comunicação. Todavia, não é
possível propagandas de pré-candidatos ou candidatos muito além das cercanias
dos locais escolhidos para a realização destes atos. Nesta linha, entendemos que é
possível ao Colendo Tribunal Superior Eleitoral adequar uma regulamentação do
limite de metragem para a divulgação do evento partidário nas ruas que circundam
o local do evento.

392
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

Outrossim, o inciso ÍII consagra a figura das prévias partidárias, mas limita a
sua divulgação, apenas, ao nível intrapartidário, ou seja, não é possível ao eleitor,
que não seja filiado a partido político, receber convocações ou mensagens para
comparecer ao ato de realização das prévias, pois elas se referem a matéria interna
corporís das agremiações políticas e não podem camuflar uma forma indireta de
divulgação da própria campanha eleitoral do futuro pré-candidato que participa da
prévia.
As prévias partidárias podem ser tratadas nos estatutos dos partidos políticos e
se traduzem em formas amplamente democráticas para o aprimoramento e seleção
do melhor aspirante à pré-candidatura.
Já o inciso IV impede o pedido de votos e apoio eleitoral na divulgação dos atos
parlamentares e debates legislativos, até porque estes atos são públicos e podem
ser certificados a pedido de qualquer eleitor interessado. Assim, na verdade, torna-
se extremamente dificultosa a separação entre o ato da divulgação e o eventual
pedido de votos.
Como se verifica, os incisos I a IV do art. 36-A passam a contemplar regras
permissivas que antecedem o ato das convenções partidárias (art. 8 e da Lei
n5 9.504/97), que ocorrem entre os dias 10 e 30 de junho do ano eleitoral. As
próprias prévias partidárias já vinham sendo adotadas, e agora, encontram expressa
previsão legal.
Não se proíbe que os meios de comunicação social divulguem aos eleitores os
dias, locais e deliberações contempladas nos encontros, seminários ou congressos,
até porque não se veda a liberdade de imprensa, mas, se houver uma parcialidade
que possa ferir o tratamento isonômico entre os pré-candidatos, é possível o
acionamento da Justiça Eleitoral que resguardará o princípio constitucional e a
normalidade do processo eleitoral.

12,5. PROPAGANDA CRIMINOSA


12.5.1. Conceito
As condutas de propaganda criminosa são previstas em tipos penais
incriminadores que atingem a organização e funcionamento das regras de
propaganda fixadas no Código Eleitoral (Lei ns 4.737/ 65) e da Lei das Eleições
(Lei ns 9.504/97), ou seja, o bem jurídico atingido é identificado como a fase da
propaganda eleitoral.
Como exemplos, temos o crime de “boca de urna" previsto no art. 39, § S~,
inciso III, da Lei ns 9.504/97; o delito de usar símbolos, frases e imagens de órgãos
públicos, art. 40 da mesma lei; e o delito de corrupção eleitoral por captação ilícita
de sufrágio, art. 299 do Código Eleitoral.

393
M a r c o s R a m ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

As penas criminais de multa e de privação de liberdade são aplicadas no


devido processo criminal eleitoral, que tramita nas zonas eleitorais e é julgado
pelo juiz eleitoral, cabendo ainda a incidência dos institutos despenalizadores
da Lei ne 9.099/95 (transação penal e suspensão condicional do processo), mas
na competência da Justiça Eleitoral (não existem juizados especiais criminais
eleitorais).
É importante frisar que a prática da propaganda criminosa, além de ensejar a
persecução criminal, dá ensejo ao manuseio das ações eleitorais para cassação do
registro ou diploma, imposição de multa (não penal) e inelegibilidade. Por exemplo,
a ação de captação ilícita de sufrágio prevista do art. 41-A da Lei n- 9.504/97.

1 2 .6 . PROPAGANDA CAPTATiVA ILÍCITA DE VOTOS


12.6.1. Conceito
É espécie de propaganda criminosa e ilegal, porque se pune a compra dos votos
do eleitor por mercadorias, bens de uso pessoal, dinheiro, promessas de emprego
e benfeitorias.
0 art. 41-A da Lei n- 9.504/97 disciplina a matéria e faz alusão às sanções, tais
como: multa e cassação do registro ou do diploma.
Em capítulo próprio tratamos da matéria, mas desde já não podemos esquecer
que a prática de uma captação ilícita de sufrágio pode ensejar a análise de conduta
típica, como as previstas nos arts. 299 e 334 do Código Eleitoral,1
0 candidato2 sempre procurará captar os votos do seu eleitor, mas pelas
promessas de melhoria da educação, saúde, desemprego, segurança pública etc. Não
é disso que trata o tema, pois essas promessas, que infelizmente não conseguem
em sua maioria serem cumpridas, não ensejam sanções eleitorais, embora seja
necessária a adoção do Código de Defesa do Eleitor sobre esse assunto, pois muitas
vezes estamos diante de propagandas enganosas.
O que é considerado crime e dá suporte para a deflagração da ação de captação
ilícita de sufrágio é a mercantilização do voto em troca de bens de primeira
necessidade da população. Exemplos: dentadura em troca de voto, injeção, remédios,
alimentos, materiais de construção e promessas diretas de emprego.
Em acréscimo ao tema, destacam-se significativos exemplos jurisprudenciais, a
saber:

1 TSE “(...) Assim, para caracterizar a captação de sufrágio, três elementos são indispensáveis: (t) a prática de uma
ação (doar, prometer etc.), (2) a existência de uma pessoa física (eleitor) e (3) o resultado a que se propõe o agente
(...) (Acórdão n9 19.176, de 16.10.2001. Recurso Especial Eieitoral ne 19.176/ES. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence).
2 TSE “(...) resta caracterizada a captação de sufrágio prevista no art. 41-A da Lei ne 9.504/97, quando o candidato
praticar, participar ou mesmo anuir explicitamente às condutas abusivas e ilícitas capituladas naquele artigo” (REspe
n9 19.566/MG, relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira).

3 9 4
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

1. “(...) captação de sufrágio, citando integralmente o art. 41-A e indicando


condutas como compra de voto com a quitação irregular de IPTU e taxas
municipais; doação de material de construção; e outras visando a captação
de suftágio." Acórdão n2 1.049. Medida Cantelar n9 1.049. Sonsa - PB. Relator:
Ministro Sálvio de Figueiredo. Redator designado: Ministro Fernando Neves.
2. ''(...} a distribuição de cestas básicas, remédios e cobertores, acórdão
ns 20.008. Recurso Especial Eleitoral n9 20.008. Goianira - GO."
3. Distribuição de medicamentos. Agravo de Instrumento n9 4.727/MG, Rei. Min.
Francisco Peçanha Martins, em 12.8.2004.
4. Bilhetes autorizando distribuição de alimentos. Agravo de Instrumento
ne 3.357/BA, Rei. Min. Luiz Carlos Madeira, em 10.6.2003.
Por fim, o C. TSE entendeu que "(...) a explanação de plano de governo não
caracteriza captação de sufrágio. Acórdão n9 4.168, de 19.8.2003 - Agravo de
Instrumento n- 4.168 - Classe 2 â/MT (Cuiabá). Relator: Ministro Peçanha Martins.

12.7. PROPAGANDA ABUSIVA S O B O PRISMA ECONÔMICO E


POLÍTICO
12.7.1. Conceito
Nesse tipo de propaganda, o candidato, pessoalmente, ou terceiros em seu apoio
político, sejam eles autoridades públicas, agentes políticos (prefeitos, governadores
e outros), ou ainda servidores püblicos, cabos-eleitorais, empresários, jornalistas,
empresas de comunicação, contribuem com dinheiro, publicidade, materiais
de construção, gasolina e bens diversos em favor de uma eleição especial,
desequilibrando a igualdade dos participantes e extrapolando os limites do
financiamento privado das campanhas eleitorais.
Como se nota, o conceito é o de conduta potencialmente lesiva para desequilibrar
as eleições. A conduta não precisa ter desequilibrado com a constatação do aumento
de número de votos em determinadas urnas, ou seja, ter atingido seu objetivo.
Assim, se uma empresa de televisão ou rádio dá todo o apoio ao candidato de sua
preferência, sem franquear a igualdade nos debates e na publicidade, é possível
caracterizar-se a conduta de favorecimento e de grande amplitude a atingir os
eleitores.
Se o candidato favorecido não foi eleito, é um fator sem importância. Não se exige
o resultado material do abuso. Não é necessário comprovar que o candidato tenha
aumentado os votos em determinado estado, município ou região. Basta a prática
onipotente da conduta.
Caracteriza o abuso a prática de condutas que criem desequilíbrio e que estão
exemplificadas nos arts. 24 e 73 da Lei n- 9.504/97, por exemplo: o apoio em dinheiro
de "caixa dois", de empresas concessionárias de serviço público no financiamento

395
M a r c o s R a m ayana D i r je ít o E l e it o r a l

de campanhas eleitorais, a publicidade em larga escala de instituições religiosas, a


publicidade de clubes esportivos e organizações não governamentais que recebam
recursos públicos, o uso de servidores públicos em elevada dimensão, e o uso,
desvio e abuso do dinheiro do município nas campanhas eleitorais.

12.7.2. Sanções
As sanções estão previstas nos incisos XIV e XV do art. 22 da Lei Complementar
n9 64, de 18.05.1990: cassação do registro, inelegibilidade por três anos contados
da data da eleição (Verbete sumular ne 19 do TSE) e, na ação de impugnação ao
mandato eletivo, ou no recurso contra a diplomação, é cabível a cassação do diploma e
conseqüente anulação do mandato eletivo, conforme será visto em capítulo próprio.
O art. 30-A da Lei n2 9.504/97 é novidade instituída pela Lei ne 11.300/2006
(Lei da Minirreforma Eleitoral), que criou uma nova sanção na captação ilícita de
recursos, ou seja, a negação do diploma, como será analisado no capítulo específico.

Para cada tipo de eleição/ riacionais, estaduais ou municipais, 'são designados juizes '
eleitorais que exercem o poder de policia de fiscalização da propaganda política eleitoral.:
Este tipo de jurisdição limita-se ao aspecto administrativo de apreensão da
propaganda e coletânea das provas.

Por exemplo:
Um candidato a deputado estadual colocou um cartaz numa árvore situada em
bem público. Trata-se de propaganda irregular.
O fiscal da propaganda diligencia ao local, lavra o auto de infração, e o juiz fiscal
intima o candidato ou advogado do partido para retirar a propaganda do local em 24
(vinte e quatro) horas, sob pena de serem adotadas as providências legais cabíveis.
O candidato determina a retirada do cartaz, e o caso é arquivado pelo juiz
eleitoral, intervindo o representante do Ministério Público.
Se o candidato não retira a propaganda, o juiz fiscal remete os autos ao juiz
natural da causa, que foi previamente designado para exercer a competência
especial em razão da matéria. Este juiz julgará o feito e aplicará a multa dentro do
devido processo legal do art. 96 da Lei n9 9.504/97.
Ocorrendo propaganda por abuso do poder econômico ou político ou do tipo
compra de votos (captação ilícita de sufrágio), a competência será de um juiz
designado especialmente para esta matéria.

396
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

Deve-se observar o Verbete sumular n2 18 do TSE: "Conquanto investido do poder de


polícia/não tem legitimidade o juiz eleitoral para, de ofício, mstaura:^procediniénto;.
com a finalidade de impor multa pela veiculação de própágándá èleitóraí em '
desacordo com a Lei ne 9.504/97.”

Observe-se que o juiz, o qual exerce o poder de polícia e fiscaliza as propagandas


eleitorais, pode instaurar procedimento administrativo com base em norma de
resolução eleitoral especial (expedida nos anos de eleição) para constatar o fato,
prevenir situações e responsabilidades, mas o processo judicia! que se adequar à
imposição da multa e outras sanções não é de competência daquele juiz, mas, sim,
de outro previamente designado pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Dessa forma, o juiz que fiscaliza não julga o pedido de imposição de sanções.
Os denominados 'Centros Sociais', podem se personificar por sociedades,
entidades e organizações. A forma jurídica camufla o ilícito.
Conceito. Trata-se de uma entidade que garante proteção aos eleitores, de um
determinado partido político ou de mandatário eleitoral, pelo seu estado de pobreza,
miséria e por diversas carências de necessidades básicas e condições econômicas.
O eleitor solicita os serviços de forma permanente ou temporária, sendo a
assistência social de cunho eleitoral efetivada por instituições privadas, vinculadas
a religião ou leigas, mas que podem de alguma forma angariar recursos públicos.
A atividade desenvolvida organiza-se na forma de ações filantrópicas, ocupando
o espaço do Estado e neutralizando-o na fomentação da política social, na medida
em que favorece classes sociais específicas com a finalidade eleitoral manifestada
direta ou indiretamente na conquista de votos, sem compromisso de continuidade
e afetando até mesmo a preservação da isonomia ideal entre os participantes das
campanhas políticas eleitorais.
É importante ressaltar que a Lei n- 12.034/09 foi omissa e no enfrentamento
da questão referente a criação, recursos e veiculação de propaganda nos
estabelecimentos cujos gestores são pretensos candidatos aos mandatos eletivos,
que se utilizam de serviços sociais nos anos não eleitorais e durante o período
eleitoral praticando assístencialismo político e perpetuando-se nos mandatos
eletivos, além de notabilizarem-se nas pesquisas eleitorais. Firmamos a posição
de que o 'Centro Social', é uma forma de manutenção do subdesenvolvimento e a
sagração da incompetência governamental. É uma forma de se negar a efetivação
concreta de melhorias públicas para a população em determinadas regiões que se
constituem em redutos e feudos previamente dominados, inclusive com a criação
oportunista e o desmanche do estabelecimento clientelista nos anos de eleição,
após o desfecho do resultado das urnas.

397
M a r c o s R a m ayan a D ir e it o E l e it o r a i.

0 fato de um candidato efetuar doações e prestar serviços, gerando a dependência


eleitoral da população local através de: medicamentos, serviços de manicure,
serviços da construção civil, prestação odontológico, especialização em cursos de
informática, enfermagem etc., garante-lhe a possibilidade concreta de vitória na
eleição, além de ser um forte meio de manutenção do fiel eleitorado para as eleições
vindouras, sendo inegável o abuso do poder econômico e político pela fomentação
da desigualdade nas campanhas eleitorais associado à captação ilícita de sufrágio.
Transmuda-se a arte da política numa forma de bem -estar dos deserdados e em
visível clientelismo com a compra e venda dos votos previamente ajustados, pois,
mesmo sem a necessidade de uma publicidade mais evidente, o benfeitor feudal
eleitoral já pode se intitular antes da proclamação do resultado das urnas como
dono do corpo social de eleitores. Trata-se de fremente forma de diminuição das
instituições democráticas e da República.
É inegável e realidade dos 'Centros Sociais' e a formação de uma dependência
amargurada do eleitor na troca ilícita do voto, quando se vê compelido sem saber
ao certo a verdadeira razão de sua pobreza, a votar na manutenção do estado de
coisas em que vive. Sem saída. Sem perspectivas. Alimenta-se do próprio voto e
inocentemente abala a República Democrática.
Indicamos certas sugestões legislativas como medidas iniciais preventivas com o
intuito de gradualmente extirpar este tipo de prática eleitoreira.
No art. 11, § l e da Lei nfi 9.504/97, é necessário inserir o inciso com a seguinte
redação:

XI - O pleiteante a cargos eletivos deve informar à Justiça Eleitoral por


declaração e certidão do Registro Civil das Pessoas Jurídicas e da junta
Comercial, se é sócio, proprietário, participante ou dirigente de serviços
prestados por “Centros Sociais", organizações não governamentais que
recebam recursos públicos (ONG) ou organizações da sociedade civil de
interesse público (OSCIP) na circunscrição do pleito.

a) Em caso positivo deve apresentar declaração específica à Justiça Eleitoral


manifestando seu afastamento da aludida organização, entre o dia 05 de julho até a
data das eleições, inclusive do segundo turno se houver;
b) A declaração será feita de próprio punho pelo pleiteante à cargo eletivo
especificando o tempo que exerce a função social, e comprometendo-se de imediato
à não veicular propaganda de qualquer natureza no interior do estabelecimento,
compreendendo a distância inferior à 200 (duzentos) metros do mesmo, inclusive
por fixação de placas, estandartes, faixas e assemelhados, sob pena de incidência da
multa prevista no parágrafo primeiro do art. 37 desta lei, independente de eventual
aplicação do disposto nos arts. 30-A e parágrafos, e 41-A desta lei, e art. 22 da Lei
Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990;e

398
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

c) Não será permitido o registro de candidatos que tenham organizado os


“Centros Sociais" no prazo de 2 (dois) anos anteriores à data da eleição que pretende
concorrer.
A observância é de alta relevância para a criação de um banco de dados
controlado pela justiça Eleitoral, no âmbito da circunscrição do pleito,
considerando a relação das fontes vedadas dos incisos X e XI do art. 24
da Lei n* 9.504/97.
Por fim, a jurisprudência do C.TSE já está enfrentando o tema acima enfocado.
No caso do Recurso Ordinário n9 1.445/RS, TSE, Relator originário Ministro
Marcelo Ribeiro, Redator para o acórdão Ministro Felix Fischer; assim ficou a Ementa:
RECURSO ORDINÁRIO. INELEGIBILIDADE. ABUSO DE PODER ECONÔMICO.
MANUTENÇÃO DE ALBERGUES. CONCESSÃO GRATUITA DE BENS E SERVIÇOS.
ALBERGUES. PROPAGANDA. POTENCIALIDADE. PROVIMENTO. 1. O abuso de
poder econômico concretiza-se com o mau uso de recursos patrimoniais,
exorbitando os limites legais, de modo a desequilibrar o pleito em favor dos
candidatos beneficiários (Rei. Min. Arnaldo Versiani, RO 1.472/PE, DJ de
l fi . 2.2008; Rei. Min. Ayres Britto, REspe 28.387, DJ de 20.4.2007). 2. Não
se desconsidera que a manutenção de albergues alcança finalidade social e
também se alicerça no propósito de auxiliar aqueles que não possuem abrigo.
Entretanto, no caso, não se está diante de simples filantropia que, em si, é
atividade lícita. Os recorridos. então_candidatos. despenderam recursos
patrimoniais privados em contexto revelador de excesso cuja finalidade,
muito além da filantropia, era o favorecimento eleitoral de amhos
(art. 23, § 59 , e art. 25 da Lei ne 9.504/97). 3. A análise da potencialidade
deve considerar não apenas a aptidão para influenciar a vontade dos próprios
beneficiários dos bens e serviços, mas também, seu efeito multiplicativo.
Tratando-se de pessoas inegavelmente carentes é evidente o impacto desta
ação sobre sua família e seu círculo de convivência. 4. Recurso ordinário
provido. DJE de 11.9.2009, (Noticiado no informativo ne 27/09).
Outrossim, conforme a decisão do C.Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro,
Ementa RECURSO ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO PROCEDENTE. PROPAGANDA
ELEITORAL EXTEMPORÂNEA CARACTERIZAÇÃO. INCLUSÃO PO NOMEJPE
CANDIDATO A CARGO ELETIVO EM PROPAGANDA PE CENTRO PE SERVIÇOS
SOCIAIS MANTIDO PELO REPRESENTADO. A SANÇÂQ_PJE£UNIÁRIA DEVE
SER APLICADA AO RESPONSÁVEL PELA REALIZAÇÃO DA PROPAGANDA.
Art. 36, § 3a DA Lei n9 9.504/97. RECURSO DESPROVIDO. (TRE/RJ, RECURSO
ELEITORAL 13-2424 ACÓRDÃO 27.685 RIO DE JANEIRO - RJ 14/10/2004,
Relator MARLAN DE MORAES MARINHO JUNIOR, Publicação SESSÃO -
Publicado em Sessão).
M a r c o s R am ayana D í r e í t o E l e it o r a l

1 2 .8 . PROPAGANDA POLÍTICA ELEITORAL POR MEIO DA


INTERNET. HOSPEDAGEM. MENSAGEM ELETRÔNICA.
CADASTRO. BLO G S, R ED ES SOCIAIS E SÍTIO S DE MENSAGENS
INSTANTÂNEAS. PRO IBIÇ Õ ES.
0 art. 57-A da Lei n- 9.504/97 (inclusão da Lei n- 12.034/09) permite a
realização da propaganda eleitoral pela internet, após o dia 5 de julho do ano de
eleição.
Vê-se, assim, que o dia oficial para se iniciar a propaganda por este meio é o
dia 6 de julho em conformidade com o art. 36 da Lei das Eleições. No dia 5 do ano
eleitoral ainda não é legalmente permitida, pois a lei faz menção ao dia posterior,
ou seja, dia 6 de julho.
O art. 57-B disciplina as formas de realização da propaganda, a saber:

Art 57-B. A propaganda eleitoral na internet poderá ser realizada nas


seguintes formas:
I - em sítio do candidato, com endereço eletrônico comunicado à Justiça
Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço
de internet estabelecido no País;
II - em sítio do partido ou da coligação, com endereço eletrônico
comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente,
em provedor de serviço de internet estabelecido no País;
III - por meio de mensagem eletrônica para endereços cadastrados
gratuitamente pelo candidato, partido ou coligação;
IV - por meio de blogs, redes sociais, sítios de mensagens instantâneas
e assemelhados, cujo conteúdo seja gerado ou editado por candidatos,
partidos ou coligações ou de iniciativa de qualquer pessoa natural.

Os incisos I e II, procuram evitar a hospedagem em provedores situados em


território estrangeiro, pois a punição tornar-se-ia de dificílima possibilidade, até
mesmo considerando-se a localização da empresa e dos responsáveis. No entanto,
se atualmente isto ocorrer é evidente que se trata de propaganda irregular.
Cai a lanço notar que o legislador não consagrou uma pena de multa específica
para o candidato infrator beneficiado por ter hospedado um sítio em território
estrangeiro, ao contrário das multas previstas no § 2 - do art. 57-C, § 22 do
art. 57-D, § 2 fi do art. 57-E, parágrafo único do 57-G e no cap u t do 57-H (todas da
Lei n2 9.504/97).
O art. 57-F faz menção "as penalidades previstas nesta Lei” contra o provedor
que hospeda o sítio, desde que seja comprovado seu prévio conhecimento, mas não
especifica no caso do a r t 57-B, I e II, qual a sanção de multa aplicável.

4 0 0
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

Diante desta omissão em relação a pena de multa, cumprirá a Justiça Eleitoral


julgar a representação com base no art. 96 da Lei das Eleições considerando o
disposto no art. 57-1 da mesma lei.
No pedido da representação consagra-se apenas a determinação da suspensão,
por vinte e quatro horas, do acesso ao sítio, e a duplicação da punição, quando
reiterada for a conduta.
Cumpre assinalar que, os responsáveis pela empresa de hospedagem do sítio no
exterior e os candidatos e beneficiados era geral podem responder pelo delito do
art. 347 do Código Eleitoral, quando, notificados não adotarem no prazo legal de 24
horas, medidas de suspensão do acesso a todo o conteúdo informativo do sítio na
internet.
Convém ponderar que devem ser observadas as regras de direito penal
internacional sobre o tema em relação a imputação penal do crime eleitoral do
art. 347 do Código Eleitoral, nesta hipótese, quando os autores responsáveis estão
fora do território nacional. Sendo inequívoco que eles mantiveram o sítio em
funcionamento, após a ordem da Justiça Eleitoral.
0 crime do art. 347 do Código Eleitoral tem como bem jurídico a Administração
Pública da Justiça Eleitoral. Uma vez violado, incide a regra da extraterritorialidade
incondicionada da lei penal, art. 7 - , I, "c" do Código Penal (princípio da defesa).
Por fim, é indubitável a extrema dificuldade de punição aos agentes ativos do
crime do art. 347 do Código Eleitoral que estejam abrigados fora do território
nacional.
Em resumo: a Justiça Eleitoral deverá notificar o responsável pela empresa
e o candidato (na forma do art. 96 da Lei n- 9.504/97) para que façam cessar
a veiculação do sítio hospedado em território estrangeiro, sendo possível a
responsabilidade penal do candidato pelo crime do art. 347 do Código Eleitoral na
recusa de cumprir a ordem imposta na sentença ou liminar ( adota-se por simetria
o disposto no § 8 9 do art. 58 da Lei das Eleições).
Oportuno se torna dizer que o legislador deveria ter previsto uma pena de multa
específica nesta hipótese.
O inciso III, permite o envio de e-mails (mensagens eletrônicas) aos eleitores que
constem de um cadastro gratuitamente obtido pelo candidato, partido político ou
coligação.
Os cadastros de e-mails constantes dos bancos de dados dos partidos políticos
podem ser repassados aos candidatos.
A regra aqui disposta deve ser interpretada, especialmente com o § 1- do art. 57-E,

Art. 57-E. São vedadas às pessoas relacionadas no art. 24 a utilização,


doação ou cessão de cadastro eletrônico de seus clientes, em favor de
candidatos, partidos ou coligações.

401
M a r c o s R am a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

§JL2 É proibida a venda de cadastro de endereços eletrônicos.


§ 2S A violação do disposto neste artigo sujeita o responsável
pela divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio
conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Neste caso, comprovando-se que o cadastro dos e-mails obtido pelo candidato,
partido político ou coligação não o foi de forma gratuita, mas comprado de terceiros,
que se beneficiaram com a venda, todos respondem pela sanção de multa prevista no
§ 2 a do art. 57-E, inclusive o vendedor do cadastro (terceiro estranho ao processo
eleitoral, pessoa física ou jurídica), mas que compactuou com a prática ilegal do
fato. Trata-se de coautor da empreitada.
A sanção do § 2 e do art. 57-E deve seguir o rito do a r t 96 da Lei das Eleições,
possibilitando-se de forma inequívoca ao Ministério Público, v.g., Promotor
Eleitoral, Procurador Regional Eleitoral ou Procurador-Geral Eleitoral a propositura
da medida judicial, muito embora a lei, no art. 57-1, só tenha feito menção aos
candidatos, partidos políticos e coligação. No entanto, a legitimidade do órgão do
P arqu et sempre encontrará abrigo na preservação do interesse público democrático
das campanhas eleitorais e em norma de perfil constitucional, a r t 127 da Carta
Magna. Trata-se de legitimidade a favor da Constituição que qualifica a instituição
com o indispensável à defesa dos eleitores e da democracia.
A sanção de multa deverá ser especificada para cada um dos infratores
possibilitando-se a limitação de responsabilidade para fins de quitação eleitoral,
a r t 11, § 8 9 , II, da Lei n9 9.504/97.
Outrossim, o a r t 57-E da Lei n9 9.504/97 (introdução da Lei n9 12.034/09), veda
que pessoas físicas, formas e jurídicas dispostas no a r t 24 e respectivos incisos
possam ceder ainda que gratuitamente seus cadastros de e-mails. Não se pode
tolerar que os e-mails das pessoas registradas no pagamento do IPTU no Município
possam ser utilizados pelo candidato a Prefeito, valendo-se, indevidamente deste
banco de dados, pois se o fato restar apurado o candidato responderá pelas sanções
de multa previstas no § 2- do a r t 57-E.
Comprovado o repasse do cadastro pelas pessoas elencadas no a r t 24 da Lei das
Eleições, independentemente da sanção de multa prevista no § 2- do art. 57-E, é
possível a responsabilidade por abuso do poder político/econômico, considerando
que tal fato causa evidente desequilíbrio à isonomia natural entre candidatos aos
mandatos eletivos, inclusive com possível desaprovação das contas de campanha
(a r t 30, III, da Lei n9 9.504/97).
Em consonância com o afirmado, ocorrendo conduta abusiva (potencialidade
lesiva) implicará nas sanções de inelegibilidade e cassação do registro ou diploma,
observando-se o disposto no a r t 22 da Lei Complementar n9 64/90, a r t 14, §§ 10
e 11 da Constituição da República e a r t 262, IV do Código Eleitoral.

4 0 2
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

Se o caso for analisado sob o prisma da violação ao princípio da razoabilidade


ou proporcionalidade, é possível a incidência do art. 30-A da Lei na 9.504/97 com
a sanção de negativa ou nulificação do diploma, além da desaprovação das contas,
art. 30, III da Lei das Eleições.
Em acréscimo ao tema, destaca-se a nova regra do a r t 79 da Lei n9 12.034/2009,

"Art. 7° Não se aplica a vedação constante do parágrafo único do art. 240


da Lei n9 4.737. de 15 de tulho de 1965 —Código Eleitoral, à propaganda
eleitoral veiculada gratuitamente na internet, no sítio eleitoral, blog,
sítio interativo ou social, ou outros meios eletrônicos de comunicação
do candidato, ou no sítio do partido ou coligação, nas formas previstas
no art. 57-B da Lei ng 9.504. de 30 de setembro de 1997."

Verifica-se que não existe a limitação de prazo de 48 (quarenta e oito) horas antes
e 24 (vinte e quatro) horas depois das eleições para a transmissão ou veiculação de
propaganda por esses novos meios eletrônicos de comunicação social.
Assim, a lei é mais liberal e tolera que o eleitor possa receber informações e
acessar os sítios nas campanhas políticas.
Ainda sobre as mensagens eletrônicas, a regra do art. 57-G da Lei ne 9.504/97
(introdução da Lei n9 12.034/09) assim dispõe,

Art. 57-G. As mensagens eletrônicas enviadas por candidato, partido


ou coligação, por qualquer meio, deverão dispor de mecanismo que
permita seu descadastramento pelo destinatário, obrigado o remetente
a providenciá-lo no prazo de quarenta e oito horas.
Parágrafo único. Mensagens eletrônicas enviadas após o término do
prazo previsto no caput sujeitam os responsáveis ao pagamento de multa
no valor de R$ 100,00 (cem reais), por mensagem.

As mensagens remetidas pelos candidatos, partidos ou coligações, não se


excluindo outros rem etentes que sejam especificamente contratados para esta
finalidade, devem possuir mecanismos de descadastramento.
Recebida a mensagem, o eleitor poderá descredenciá-Ia devendo imprimir o
teor da mensagem e a comprovação do descredenciamento, além de aguardar por
48 horas as providências do remetente. Durante o prazo de 48 horas poderá o
remetente utilizar de novas mensagens, mas todas devem ser reunidas e contadas
do prazo inicial em que o receptor eleitor descredenciou a primeira delas.
A sanção de multa de R$ 100,00 (cem reais) só é incidente, após o prazo das 48
horas, quando o remetente insiste em encaminhar outra mensagem.
A multa é imposta ao remetente responsável que pode ser o candidato ou outra
pessoa, inclusive ambos podem coagir.

4 0 3
M a r c o s R a m a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

Na hipótese de terceiro remeter a mensagem, sem o conhecimento do beneficiário,


apenas o terceiro arcará com a multa, mas o ônus da prova do fato impeditivo é do
candidato beneficiado.
0 devido processo legal eleitoral de aplicação da multa é a representação do
art. 96 da Lei ns 9.504/97, sendo os legitimados: Ministério Público, Partido
Político, coligação e candidato (atingido) pelas mensagens. A legitimidade do órgão
do Ministério Público defluiu da preservação do interesse público e democrático,
objetivando a preservação da isonomia nas campanhas eleitorais (art. 127 da Carta
Magna).
Frise-se que a multa eleitoral não é devida ao eleitor que recebeu o e-mail, mais
sim para o Fundo Partidário, art. 3 8 ,1, da Lei nô 9.096/95.
A multa tem natureza pública, não é decorrente de infração que se encontre na
órbita do direito disponível.
O eleitor receptor do e-mail indesejado noticiará o fato à Justiça Eleitoral para
a adoção das providências legais, observando-se o processo do art. 96 da Lei das
Eleições. Todavia ele poderá demandar o remetente por dano moral eleitoral na
Justiça Comum, quando comprovar a ofensa injuriosa, difamatória ou caluniosa.
Assegura-se ainda o direito de resposta na forma do art. 57-D da Lei das Eleições,

Art. 57-D. É livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato


durante a campanha eleitoral, por meio da rede mundial de computadores
- internet, assegurado o direito de resposta, nos termos das alíneas a,
è e c d o inciso IV do § 3e do art. 58 e do 58-A, e por outros meios de
comunicação interpessoal mediante mensagemeletrômea.
§ 2 e A violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável
pela divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio
conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

As formas de propaganda referidas no inciso IV do art. 57-B são bem definidas,


conforme abaixo destacamos da enciclopédia W ikip éd ia , (fonte internet),
"Rede Social é uma das formas de representação dos relacionamentos
afetivos ou profissionais dos seres entre si ou entre seus agrupamentos
de interesses mútuos. A rede é responsável pelo compartilhamento de
ideias entre pessoas que possuem interesses e objetivo em comum e
também valores a serem compartilhados. Assim, um grupo de discus­
são é composto por indivíduos que possuem identidades semelhantes.
Essas redes sociais estão hoje instaladas principalmente na Internet
devido ao fato desta possibilitar uma aceleração e ampla maneira das
ideias serem divulgadas e da absorção de novos elementos em busca
de algo em comum.

4 0 4
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

Segundo Fritjof Capra. “red es sociais sã o red es de com unicação que envolvem a
linguagem sim bólica, os lim ites culturais e a s rela çõ es de p n d o r " São também con­
sideradas como uma medida de política social que reconhece e incentiva a atuação
das redes de solidariedade local no combate à pobreza e à exclusão sorial e na pro­
moção do desenvolvimentoJp_cal As redes sociais são capazes de expressar ideias
políticas e econômicas inovadoras com o surgimento de novos valores, pensamentos
e atitn.de.s- Esse segmento que proporciona a ampla in£onnâ£ãíi a ser compartilhada
por todos, sem canais reservados e fornecendo a formação de uma cnltura de par­
ticipação. é possível, graças ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação e
da Inlox m.a.ç.ãQ, à globalização, à evolução da cidadania, à evolução do conhecimento
científico, sobre a vida etc. as redes unem os indivíduos organizando-os de forma
igualitájriâ e dêm.Q.c.cát.ic.3 e em relação aos objetivos que eles possuem em comum.

Vertentes
As redes sociais podem ser divididas em três vertentes:
• Rede Social P rim ária ou Inform al: São redes de relações entre indivíduos,
em decorrência de conexões preexistentes, relações semiformalizadas que
dão origem a quase grupos. (WARREN,op,cit,p. 168). Ela é formada por todas
as relações que as pessoas estabelecem durante a vida cotidiana, que pode ser
composta por familiares, vizinhos, amigos, colegas de trabalho, organizações etc.
as redes de relacionamento começam na infância e contribuem para a formação
das identidades.
• Rede Social Secu n d ária ou Giobai: é formada por profissionais e funcionários
de instituições públicas ou privadas, por organizações não governamentais.
organizações sociais etc., e fornecem atenção, orientação e informação.
• R ed e S o c ia l In t e r m e d iá r ia ou R ed e A s s o c ia tiv a : é formada por pessoas que
receberam capacitação especializada, tendo como função a prevenção e apoio.
Podem vir do setor da saúde, igreja e até da própria comunidade.
As redes sociais secundárias e intermediárias são formadas pelo coletivo, insti­
tuições e pessoas que possuem interesses comuns. Elas podem ter um grande poder
de mobilização e articulação para que seus objetivos sejam atingidos.
Redes Sociais na In tern et:

• 4.2 Comunidades Virtuais


• 4.3 Comunidades Virtuais para Aprendizagem de Línguas

Verifica-se, portanto, que o conteúdo poderá ser gerado pelo candidato ou


qualquer pessoa natural, conforme previsão legal, que permite a adoção de sanções
penais, eleitorais e cíveis dos divulgadores e beneficiados.

405
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

0 art. 57-1, da Lei das Eleições prevê a adoção do devido processo legal eleitoral
do art. 96 da mesma norma para fins de fazer suspender o acesso ao sítio. Esta
medida poderá ser utilizada no caso dos blogs e redes sociais, observando-se ainda
o disposto no art. 347 do Código Eleitoral, conforme já tratado nos comentários
acima desenvolvidos.
Os organizadores do Orkut e os responsáveis pelas comunidades virtuais não
estão livres de punição, quando veicularem mensagens e textos ofensivos, sendo que
a responsabilidade do candidato ficará demonstrada pela ciência inequívoca do fato,
após a intimação da Justiça Eleitoral para fazer cessar a propaganda irregular, bem
como se as circunstâncias e peculiaridades do caso demonstrar o seu conhecimento
dos fatos inverídicos ou ofensivos (art. 40-B da Lei das Eleições).
Como já visto, assegura-se ainda o direito de resposta com a aplicação do
art. 57-D da Lei nB 9.504/97, que deve observar o art. 58 da mesma lei.
Assim, embora seja livre a manifestação do pensamento por críticas, alusões e
opiniões, especialmente pela rede mundial de computadores, não se pode olvidar
das sanções penais, eleitorais e cíveis (dano moral eleitoral) em razão da prática
abusiva e ilícita que poderá ser manejada por cabos eleitorais, candidatos, partidos
políticos e terceiros.
A multa prevista no § 2 9 do art. 57-D da Lei n- 9.504/97 deverá ser
individualizada na decisão judicial eleitoral em relação aos responsáveis e
beneficiários (candidatos).
Veja-se ainda o art. 57-H da Lei n9 9.504/97,

Art. 57-H. Sem prejuízo das demais sanções legais cabíveis, será punido,
com multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil
reais), quem realizar propaganda eleitoral na internet, atribuindo
indevidamente sua autoria a terceiro, inclusive a candidato, partido ou
coligação.

Desta forma, ressalvando-se as sanções penais, as relativas ao direito de resposta,


abuso do poder econômico pelos meios de comunicação social e outras, o legislador
ainda impõe a multa ao agente que atribui a autoria do fato ilícito a outras pessoas,
objetivando escusar-se ideologicamente da verdadeira responsabilidade.
Trata-se da falsidade nominal e ideológica pela internet, quando o agente ativo
da ilicitude procura ludibriar a Justiça Eleitoral induzindo-a ao erro com a afirmação
de que a propaganda ofensiva veiculada é de autoria de outras pessoas, inclusive
candidatos da oposição, partidos e coligações.
O autor é o próprio falsário. A sua obra é ofensiva, mas ele se escusa em atribuir a
autoria da infâmia a outros inocentes participantes da propaganda política eleitoral.
Na internet é proibida a propaganda eleitoral que seja paga, conforme previsão
do art. 57-C,

4 0 6
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

"Art. 57-C. Na internet, é vedada a veiculação de qualquer tipo de


propaganda eleitoral paga.

A regra impede que o candidato contrate ou exponha de qualquer forma a sua


propaganda direta ou indireta em sítios de empresas (pessoas físicas ou jurídicas).
Limita-se a propaganda apenas no site do candidato, partido político ou coligação
possibilitando-se a melhor fiscalização pela Justiça Eleitoral.
A vedação quanto ao pagamento, deve ser interpretada de forma mais ampla, pois
não significa a remuneração em espécie, considerando que pode haver a burla da lei
pela veiculação aparentemente gratuita que camufla uma doação por publicidade
sujeita ao controle da Justiça Eleitoral.
Os parágrafos do art. 57 ainda proíbem,

§ I a Ê vedada, ainda que gratuitamente, a veiculação de propaganda


eleitoral na internet, em sítios:
I - de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos;
II - oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades da administração
pública direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios.
§ 2 fi A violação do disposto neste artigo sujeita o responsável
pela divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio
conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais)."

Os §§ l 2 e 2 9 acima destacados devem ser interpretados com os arts. 24 e 30-A


da Lei nQ9.504/97, bem como sendo em alguns casos caracterizada a conduta
eventualmente abusiva pelo uso indevido deste meio de comunicação social que é a
internet (art. 22 da Lei das Inelegibilidades).
0 procedimento previsto para fins de aplicação da sanção de multa do § 29 do
art. 57-C é o do art. 96 da Lei das Eleições (art. 57-1), mas não se afasta a análise da
potencialidade ou proporcionalidade lesiva que ensejam as sanções de cassação do
registro, diploma e inelegibilidade, conforme a hipótese.
Por fim, a comprovação do conhecimento do candidato infrator, se dá pela
aplicação da regra do art. 40-B da Lei das Eleições.
E ainda, o art. 5 8 -A, assim dispõe,
"Art. 58-A. Os pedidos de direito de resposta e as representações por
propaganda eleitoral irregular em rádio, televisão e internet tramitarão
preferencialmente em relação aos demais processos em curso na
Justiça Eleitoral.”

4 0 7
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

A regra é especial e abriga o princípio da celeridade em relação aos demais


processos em tramitação na Justiça Eleitoral. Quanto ao registro de candidatos,
existe isonomia de prioridades. Sobre o assunto, favor consultar o disposto nos
arts. 16 da Lei Complementar ne 64/90, 94 e parágrafos, e 97-A e parágrafos da Lei
ne 9.504/97 com as alterações da Lei n- 12.034/09.

12.9. DIREITO DE R ESPO STA


0 Direito de Resposta é uma especial confirmação do princípio da audiência
das candidaturas, porque implica na preservação da igualdade das afirmações
aos competidores durante as campanhas eleitorais, e interessa ao eleitor como
resultado fiel das propostas; e ao complexo de indivíduos que são atingidos pelos
programas por meios de comunicação, tais como: televisões, rádios, jornais, revistas,
e tabloides em geral.
É uma espécie de legítima defesa da honra eleitoral e política.
Surge para o ofendido identificado pelas falsas afirmações, a possibilidade
de ingressar no contencioso eleitoral a fim de pleitear uma resposta verdadeira,
eliminando do universo das informações já propaladas, as palavras, frases e
conjunto de ideias que não correspondem à verdade daquela pessoa ou grupo de
pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas atingidas pelas inverdades.

12.9.1. Competência para a con cessão do pedido de resposta


Sobre este tema, cumpre enfatizar que, nas eleições municipais, a competência
para processar e julgar os pedidos de direito de resposta são dos juizes eleitorais
designados pelo Tribunal Regional Eleitoral. O juiz será o que for igualmente
designado para a propaganda eleitoral, podendo a designação recair em mais de um
juiz eleitoral e ocorrer uma divisão de tarefas. Nesse sentido, como exemplo, foi o
texto do art. 15 da Res. TSE n9 21.575. Instrução n9 71, Classe 125, DF, de 2.12.2003.
As decisões do juiz eleitoral desafiam recurso inominado, que segue o prazo
de 2 4 horas da publicação da decisão. O prazo é diverso do estipulado no art. 258
do Código Eleitoral (3 dias). Aqui, neste aspecto, aplica-se o princípio da celeridade
e da efetividade das decisões, pois, a cada dia que passa e que antecede o dia da
eleição, emerge a necessidade da rapidez das decisões, viabilizando-se a inserção
da resposta na imprensa.
Sustentamos que cumpre ao juiz eleitoral abrir vista ao promotor eleitoral,
membro do Ministério Publico local para manifestação no prazo de 24 horas.
O promotor eleitoral deverá ser designado pelo procurador regional eleitoral
e indicado pelo procurador-geral de justiça, nos termos da legislação vigente e da
posição firmada pelo Tribunal Superior Eleitoral, tendo o promotor, legitimidade

4 0 8
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C a p ít u l o 12

para recorrer e emitir pareceres na condição de fiscal da lei, independentemente da


manifestação em segunda instância do Procurador Regional Eleitoral.
A vista para a intervenção é obrigatória.
As contrarrazões são oferecidas no prazo de 24 horas, tudo conforme disciplinado
em resolução do TSE sobre o tema.
Na Lei n9 9.504/97, o Direito de Resposta, está disciplinado no art. 58 e parágrafos.
Com a oferta das contrarrazões ou pelo decurso do prazo, os autos seguem
ao Tribunal Regional Eleitoral, que, após autuação apresenta-se ao presidente
com posterior distribuição ao relator. O relator abre vista ao procurador regional
eleitoral para parecer no prazo de 24 horas, mas, com ou sem parecer, ao final do
prazo os autos são enviados ao relator, que independentemente de pauta incluiu o
caso para julgamento no Tribunal.
A publicação do acórdão ocorre na própria sessão de julgamento e da decisão
cabe o recurso especial para o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, igualmente no
prazo de 24 horas. Apresentam-se as contrarrazões em igual prazo e dispensa-se,
inclusive o juízo de admissibilidade, seguindo-se no Egrégio TSE.
Nas eleições presidenciais cab erá ao C. TSE, e nas federais, estaduais e
distritais aos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais. Não são os juizes
eleitorais municipais das zonas eleitorais, mas, no âmbito dos TREs, são
designados entre os seus integrantes substitutos, três juizes auxiliares para
a apreciação das reclam ações e das representações (Lei ns 9 .5 0 4 /9 7 , art.
96, § 3 e). E a com petência e atu ação desses m agistrados com ponentes da
Comissão dos juizes auxiliares e n cerrar-se-á com a diplomação dos eleitos.
Significativo, o texto da Res. TSE nQ 00.22.142. Instrução n9 99 - Classe 12a -
Distrito Federal (Brasília). Brasília, 2.03.2006:

Art. 17. Da decisão sobre o exercício do direito de resposta caberá


recurso às instâncias superiores, em vinte e quatro horas, da data de sua
publicação em sessão, assegurado ao recorrido oferecer contrarrazões
em igual prazo, a contar da sua notificação (Lei ne 9.504/97, art. 58, § 52).
§ 1° Oferecidas contrarrazões ou decorrido o seu prazo, serão os autos
imediatamente remetidos ao Tribunal Superior Eleitoral, inclusive por
portador, caso necessário, dispensado o juízo de admissibilidade.
§ 2- A Justiça Eleitoral deverá proferir suas decisões no prazo máximo
de vinte e quatro horas, observando-se o disposto nas alíneas/e g do
inciso III do art. 15 destas instruções para a restituição do tempo em
caso de provimento de recurso (Lei n9 9.504/97, art. 58, § 69).

Como se nota, vige o princípio da celeridade no direito de resposta.

4 0 9
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

12.9.2. Surgimento do direito de resposta no âmbito da com petência da


Ju stiça Eleitoral
É importante frisar o art. 58 da Lei ns 9.504/97:
A partir da escolha de candidatos em convenção, será assegurado
o exercício do direito de resposta ao candidato, ao partido político
ou à coligação atingidos, ainda que de forma indireta, por conceito,
imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente
inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social.
Como se percebe, somente com a escolha dos pré-candidatos nas convenções é
que surge o direito de resposta na Justiça Eleitoral.
As convenções realizam-se entre os dias 1 0 e 3 0 de junho do ano de eleição,
art. 8* da Lei n2 9.504/97.

12.9.3. Desobediência Eleitoral no direito de resposta


Caracteriza crime de desobediência eleitoral, a r t 347 do Código Eleitoral, a
intencional omissão do responsável pela emissora que realizou o programa em
entregar ao juiz ou Tribunal, a mídia da transmissão, bem como a preservação da
gravação até decisão final do processo.
Em regra geral, as resoluções do C. TSE fazem menção ao delito do a r t 347 do
Código Eleitoral para estes casos, pois vige o princípio de preservação da igualdade
nas democracias, além de assegurar-se ao ofendido a pronta e célere reparação da
ofensa na via da resposta.
Os pedidos de resposta devem especificar o trecho, frase ou palavra ofensiva ou
inverídica, porque a resposta é deferida não apenas em relação à prática de ofensas,
mas quando o atingido consegue demonstrar que o fato que lhe foi imputado é
inverídico. As inverdades servem para embasar o pedido da resposta, acompanhado
da degravação, que é feita pelo ofendido.
A resposta deve ser utilizada no tempo concedido, sob pena de subtração de
tempo idêntico ou suspensão de igual tempo em novos pedidos de resposta.

12.9.4. Terceiros atingidos no horário eleitoral gratuito


A hipótese é verificada quando um terceiro, não candidato naquele pleito
eleitoral, por exemplo o atual prefeito, que já está no segundo mandato eletivo, é
ofendido ou recai sobre ele acusações inverídicas no espaço do horário eleitoral
gratuito.

410
P r o p a g a n d a E l e it o r a l C apítulo 12

12.9.5. Não cara cterização do direito de resp o sta


A crítica veemente, ou a utilização de palavras que apontem os erros da
Administração Pública, suas falhas, vicissitudes e ilícitos não ensejam o direito
de resposta, porque é de atribuição dos concorrentes nas campanhas eleitorais
mostrarem aos eleitores, e a toda a sociedade as falhas do atual modelo político ou
do quadro de servidores públicos, indicando as diretrizes estatutárias que devem
ser efetivadas.
Registramos:
TSE. Acórdão n9 21.711, de 2.9.2004. Agravo regimental no Recurso
Especial Eleitoral n2 21.711/SR Relator: Ministro Carlos Velloso.
Ementa: Agravo regimental. Recurso especial. Direito de resposta. Não
ocorrência de veiculação por emissora de rádio de opinião contrária
a candidato a reeleição para prefeito. Críticas ao desempenho do
administrador. Ausência de ofensa à honra. Precedentes (acórdãos
n9s 20.475, rei. Min. Carlos Madeira e 21.272, rei. Min. Fernando Neves).
Não caracteriza ofensa à honra nem enseja direito de resposta a opinião
desfavorável de locutor de emissora que se refere ao desempenho do
administrador por suas desvirtudes e equívocos. Agravo regimental
improvido. DJ de 15.10.2004.

1 2 .1 0 . DIFERENÇA ENTRE PROPAGANDA INSTITUCIONAL E


PROMOÇÃO PESSO A L

QUADRO COMPARATIVO
PROPAGANDA INSTITUCIONAL PROMOÇÃO PESSOAL
D efinição A rtifício que possíveis futuros candidatos usam,
Tem p o r função prom over uma
p o r diversos m eios, para divulgar sua im agem junto
Instituição.
a eleito res f o r a d o p e río d o p e rm itid o e m i e i *
C la ssificação A tividade lícita, desde que tenha
ca r á te r educativo, Inform ativo ou
C onsiderada propaganda eleitoral fora do período
de o rien tação social (isto é, não
legal (p ro p ag an d a antecipada ou extem p o rân ea).
associad a à prom oção pessoal) e
o b serve as restriçõ es legais.
Q uem s e u tiliz a F u tu ro s can didatos. Trabalha-se com a ideia de que
A gentes políticos etc.
qualquer filiado é um pretenso candidato.
P e río d o de Qualquer período, devendo se Janeiro a 0 5 de julho (inclusive) do ano de eleição;
c o n fig u ra çã o o b serv ar a restrição prevista na Lei No caso de governan te, devem s e r consideradas
n2 9 .5 0 4 / 9 7 , a rt. 73, inciso VI, alínea tam b ém as re striçõ e s dos arts. 7 3 e 7 4 da Lei
"b". n e 9 .5 0 4 / 9 7 .
M a r c o s R am a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

E x e m p lo s • Uso de um botom do partido; • outdoors,** c a rta z e s


e pichações** de políticos
com felicitações em d a ta s com em orativas (com o
• Publicidade em que in existen tes
nom es, sím bolos ou im agens que dia d as m ães, dia do trab alh ad or);
possam ca ra cte riz a r p rom oção • m ensagens de su p o sta utilidade pública;
pessoal de autoridades ou • apoio de te rce iro s a o potencial can didato;
serv id o res públicos;
» outdoors** c a rta z e s
e pichações** de políticos
• Pu blicação de boletim com apoio em a çõ e s sociais;
inform ativo sobre as atividades
• adesivos em ca rro s;
de Governo, a não s e r quando
configura propaganda pessoal. • p erió d ico s distribuídos p o r políticos, com o form a
de p resta re m co n ta s ao eleitorado;
• sau d açõ e s e su p o sto s agrad ecim entos a políticos;
• louvores em propaganda tida por institucional,
m esm o indiretos, ao Chefe do Executivo, considerado
pretenso candidato à reeleição (viola os princípios
constitucionais da impessoalidade e da moralidade -
improbidade administrativa - além da configuração
de propaganda eleitoral extem porânea);
• intensa publicidade do Governo Municipal com
dados com parativos referentes às realizações da
Administração anterior (além de tam bém configurar
ato de improbidade adm inistrativa p o r violação aos
princípios da legalidade e m oralidade).
D ispositivo A rt. 3 6 da Lei n* 9 . 5 0 4 / 9 7 ;
leg al A rt. 3 7 , § l 9, da C R F B /88
A rt. 7 4 da Lei n * 9 . 5 0 4 / 9 7 .
F u n d a m e n to
G arantir o resp eito ao princípio constitu cional da
ju ríd ico da ............................. igualdade no pleito de 2 0 0 8 .
re p ressão
Obs .: "Ninguém faz p ro m o ção pessoal sem um in teresse"

* Entre janeiro de 2008 e 05 de julho de 2008 (O Tribunal Superior Eleitoral transformou o conceito de “período eieiforal” em “ano eleitoral” ,
contado já a partir de janeiro).
* ' Outdoors e pichaçôes não serão permitidos nem a partir de 6 de julho de 2008.

HIPÓTESES E AÇÕES CABÍVEIS


AÇÃO AIJE AIME IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
ATRIBUIÇÃO P ro m o to r P ro m o to r de Tutela Coletiva
P ro m o to r Eleitoral
Eleitoral
FUNDAMENTO A rt. 1 4 , § 10, Lei n a 8 .4 2 9 / 9 2
LEGAL da C R F B /8 8
A rt. 2 2 da LC na 6 4 / 9 0 e a rt. 2 2 , snc.
XV, da LC
ne 6 4 / 9 0 .
HIPÓTESES • 0 desresp eito ao princípio • R ealização da propaganda institucional
da im pessoalidade, na em d esaco rd o com o a rt. 3 7 , § 1 B,
propaganda institucional, da C onstituição, constitui qu ebra do
no período de três m eses princípio da im pessoalidade, desvio
a n terio res ao pleito, co m . cujo exam e s e fixa. de ord inário, fora da.
r e fle x o s na d is p u ta * órb ita 4 a j us.tiçíLEleitor.al **
• Propaganda institucional • A propaganda institucional realizada
p erp etrad a em m om ento pelos agentes políticos, cujos ca rg o s
a n te rio r aos três m eses n ã o e ste ja m em disputa n a eleição, é
que an tecedem as eleições, procedim ento autorizado pelo art. 37,
desde que direcionada a § 1 ° da Constituição FederaL Se,
nelas influir, com nítido todavia, houver quebra do principio
propósito de beneficiar da impessoalidade, a infração que daí
determ inado candidato ou decorre é de caráter necessariam ente
p artid o político. administrativo, devendo se r apurada e
julgada p or meio de ação própria, prevista
na Lei ns 8 .4 2 9 /9 2 , não encontrando foro
adequado no âmbito da Justiça Eleitoral

412
P r o p a g a n d a E l e it o r a i C apítulo 12

Ofas.: 0 art. 7 4 da Lei n s 9 .5 0 4 / 9 7


cuida unicam ente da
utilização de propaganda
institucional com fins de
p ro m o ção pessoal, com
violação do art. 3 7 , § l 2, da
C onstituição da República, e
não de ato s de cam panha de
candidato.

* Decisão ns 32.234
São Gonçaio - RJ 27.11.2006
Reiator(a) Vera Lucia Uma da Silva.
Publicação DOE - Diário Oficial do Estado, v. III, t. II, 13.12.2006, p. 02

Ementa: Direito Seitora). AUE. Preliminar de litispendência e coisa julgada. Inocorrência. Competência da Justiça Eleitoral. Abuso de poder
político. Propaganda institucional. Caráter pessoal. Reflexo eleitoral. Potencialidade. Cassação de registro. Recurso parciaimente provido.
Não se vislumbra, irt casu, a ocorrência de litispendência ou mesmo de violação à coisa julgada. Os processos apontados pefos recorrentes
não são aptos a gerar o fenômeno da litispendência, nem tampouco da coisa julgada, em virtude da diversidade de objelivos e alcance
de cada uma dessa figuras processuais.- A jurisprudência do colende TSE orienta-se no sentido de oue a promoção pessoal do
governante, em publicidade institucional da adm inistração (CBFB/88). é passível de apuração em Investigação judicial,- Para a
configuração d o abuso, é irrelevante o fato de a propaganda te r ou não sido veiculada nos trés meses antecedentes ao pleHo. o que
revela a competência da Justiça Eleitoral para apreciar o tema.- A prova carreada aos autos revela, de maneira indubitável, que o primeiro
recorrente utilizou a propaganda Institucional da A dministração m unicipal para fins eieltorals. beneficiando, via de conseqüência, o
segundo recorrente, candidato a vice-prefeito em sua chapa.- Convém salientar que, para a configuração do abuso de poder nas
eleições, não se cogita perciulrir o efetivo reflexo no resultado num érico de votos, mas, ao contrário, basta, consoante a pacífica
jurisprudência d o Earéalo Tribunal Superior Eleitorai. a demonstração de sua potencialidade de Influir no resultado do pieito.- Os
fatos apurados nestes autos revelam potencialidade de Influenciar no pleito, pouco Im portando a circunstância de os recorrentes
não terem obtido êxito nas eleições m unicipais. A cassação de registro da candidatura dos recorrentes revela-se inadequada. In
casa, a sentença fo i exarada em m arço deste ano, ou seja, após as eleições e. com o os recorrentes não venceram o pleito, afioura-
se desnecessária a aplicação da sanção em tela, bastando, tão somente, a decretação da ineieoibUidade.- Recursos parciaimente
providos, tão somente para declarar a perda de objeto em relação ao pedido de cassação do registro da candidatura dos recorrentes.

“ Paia que se admita a apuração dos reflexos de atos dessa natureza no processo eleitoral, mediante investigação judicial, necessária se fez
ao menos a demonstração da existência de indicios ou circunstâncias que evidenciem a intenção de influir nas eleições, com nítido propósito
de beneficiar determinado candidato ou partido político, pressuposto para a representação de que cuida o art. 22 da Lei Complementar
n’s 64/90.
Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10a • Capítulo 12 - Propaganda Eleitoral
415
C a p ítu lo 1 3

PRESTAÇÃO DE CONTAS
REFERENTES À ARRECADAÇÃO
E APLICAÇÃO DE RECURSOS
NAS CAMPANHAS ELEITORAIS

13.1. NOÇÕES GERA IS


Trata-se de um tema de relevantíssima importância nas campanhas eleitorais.
A Lei n2 9,504/97 contempla, nos arts. 17 a 32, a arrecadação e aplicação de
recursos nas campanhas eleitorais. A prestação de contas é especificamente
disciplinada nos arts. 28 a 32 da aludida lei.
A Justiça Eleitoral trata de aprovar ou desaprovar as contas de campanhas
eleitorais analisando a arrecadação e a aplicação de recursos por candidatos e
comitês financeiros,
0 objetivo da prestação de contas é assegurar a lisura e a probidade na campanha
eleitoral, através do controle dos recursos financeiros nela aplicados, com vistas
a viabilizar a verificação de abusos e ilegalidades ocorridos durante a disputa
eleitoral.
Para o alcance de tal finalidade, diversas regras devem ser observadas pelos
candidatos para que tenham suas contas efetivamente aprovadas pela Justiça
Eleitoral; por exemplo, não é possível ao candidato receber recursos de fontes
vedadas, tais como as previstas no art. 2 4 , 1 a XI, da Lei n9 9.504/97.
Cumpre enfatizar que o a rt. 16, parágrafo único, da Resolução ns 22.715 diz que:
"O uso de recursos recebidos de fontes vedadas constitui irregularidade insanável e
causa para a desaprovação das contas, ainda que o valor seja restituído".
A legislação eleitoral impõe que: "Toda doação a candidato ou a comitê financeiro,
inclusive recursos próprios aplicados na campanha, deverá fazer-se mediante recibo
eleitoral (Lei n9 9.504/97, art. 23, § 2 e
As doações de pessoas físicas ou jurídicas também estão sujeitas a limites fixados
nos arts. 23, § l 9 , 1 e II, e 81, § l e , da Lei n9 9.504/97.
M larcos R a m a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

Na verdade, como o financiamento é privado, são admitidas doações de pessoas


físicas e jurídicas, recursos próprios, doações de outros candidatos e partidos,
repasse de recursos do fundo partidário e receitas de comercialização de bens ou
eventos.
Nos anos de eleição, o TSE expede resoluções sobre o disciplinamento da
prestação de contas.
Nas eleições de 2008, o TSE expediu a Resolução n- 22,715, que trata da
arrecadação e aplicação de recursos dos candidatos e prestação de contas.
Cumpre observar que é obrigatória, para o candidato e para o comitê financeiro, a
abertura de conta bancária específica objetivando registrar o movimento financeiro
da campanha, segundo previsto no art. 22 da Lei n9 9.504/97, salvo as exceções
legais.
Outrossim, a movimentação bancária é sempre feita por meio de cheque nominal
ou transferência bancária.
Por outro lado, o art. 22, § 3 9, da Lei nQ9.504/97 e o art. 11 da aludida resolução
determinam que os gastos eleitorais (art. 26 da Lei ne 9.504/97) devem ser
controlados em conta bancária específica, sob pena de desaprovação da prestação
de contas, até porque este fato pode acarretar abuso do poder econômico.
A prestação de contas é uma obrigação indispensável e de responsabilidade dos
candidatos e dos comitês financeiros (art. 29, III, da Lei n- 9.504/97).
O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral já expediu as Resoluções nS£ 21.823,
de 15.6.2004, e 22.715/2008, especificamente, art. 27, § 5a, in verbis: "A não
apresentação de contas impede a obtenção de certidão de quitação eleitoral no curso
do mandato ao qual o interessado concorreu (Resolução ns 21.823, de 15.6.2004)".
Nesse mesmo sentido, foi editada a Lei nB 12.034/09, que, incluindo o § 7- ao
art. 11 da Lei n9 9.504/97, assim disciplinou:

§ 7 B A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente a


plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o
atendimento a convocações da Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos
relativos ao pleito, a inexistência de multas aplicadas, em caráter
definitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, e a apresentação de
contas de campanha eleitoral. (Incluído pela l e i nB12.034, de 2009).

Nesta linha de entendimento, cumpre aos candidatos serem diligentes e


apresentarem sempre suas contas, pois no caso de não serem eleitos existe uma
cultura de negligência em acatar as determinações da Justiça Eleitoral. Já os
candidatos eleitos não podem ser diplomados até que as suas contas sejam julgadas.
Assim, é salutar a regra normatizada, pois cria deveres e responsabilidades.

418
P restação d e C o n t a s Re fe r e n t es à A r r e c a d a ç ã o e
A p l i c a ç ã o d e R e c u r s o s n a s C a m p a n h a s E l e i t o r a is C apítulo 13

Impende frisar ainda, que a sanção é bem severa, considerando que o infrator
fica sem quitação eleitoral, e, portanto, sem condição de elegibilidade durante 4
(quatro) anos, nas eleições em geral, e 8 Coito) anos nas eleições para o Senado
Federal.
A hipótese não é de inelegibilidade não sendo necessária a feitura de lei
complementar, mas tem implicações mais drásticas na capacidade eleitoral passiva,
porque a inelegibilidade por abuso do poder econômico, v.g., é de 3 (três) anos
(art. 22, XIV, da LC n* 64/90 e Súmula n* 19,do TSE). E ainda:
"Agravo regimental. Recurso ordinário. Recebido como especiais. Registro
de candidato. Eleição 2006. Prestação de contas. Extemporaneidade.
Quitação eleitoral. Ausência. Condição de elegibilidade. Dissídio pretoriano.
Inexistência. Precedente. O candidato que renuncia ou desiste também deve
prestar contas do período em que fe z campanha no prazo do a rt 29, III,
da Lei n- 9.504/97. Agravo regimental a que se nega provimento. Acórdão
no Agravo Regimental no Recurso Ordinário n° 1.008, de 26.9.2006 -
Classe 27SL/RS (Porto Alegre). Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha. Decisão:
Unânime em desprover o agravo regimental".
Destaca-se:‘!Aprestação de contas à justiça Eleitoral deve ser apresentada
pelos comitês financeiros dos partidos e candidatos em até 30 dias, contados
da realização do pleito (art. 29, III, da Lei ns 9.504/97). A finalidade de
tal prazo é possibilitar que as contas sejam examinadas em tempo hábil.
4. In casu, as contas das eleições de 2002 foram apresentadas apenas em
4.8.2006. 5. Recurso ordinário recebido como especial eleitoral e provido
para indeferir o pedido de registro de candidatura do recorrido. *Acórdão
no Recurso Ordinário n- 1.055, de 14.9.2006 - Classe 27a/SE (Aracaju).
Relator: Ministro josé Delgado. Decisão: Unânime em prover o recurso.
Por fim, a posição do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, é no sentido
de que estas hipóteses não chegam a caracterizar a falta de condição de
elegibilidade, mas apenas casos de falta de quitações eleitorais Neste
sentido: Acórdão nos Embargos de Declaração no Agravo Regimental
no Recurso Especial Eleitoral ns 26.505, de 17.10.2006 - Classe 22<L/G 0
(Goiânia). Relator: Ministro Caputo Bastos.
O candidato deve ter atenção com os gastos eleitorais e contabilizá-los nas
prestações de contas.
Todavia, existem gastos que são ilícitos e não podem ser contabilizados, sob
pena de desaprovação das contas por irregularidades insanáveis, tais como os
enumerados no art. 2 4 da Lei n9 9.504/97, bem como os afetos às proibições dos
§§ 6e e 7 6 do art. 39 da Lei ns 9.504/97, v.g., confecção de material tipo camisetas,
bonés etc.
Os gastos ilícitos podem ensejar ainda: representação por abuso do poder
econômico (art. 22 da LC ne 64/90) ou representação com base no art. 30-A e
parágrafos da Lei n e 9.504/97.

419
M a r c o s R am a ya n a D ir e i t o E l e it o r a l

1 3 .2 . ART. 30 DA LEÍ N° 9.504/97. REGULARIDADE DAS CONTAS.


O art. 30 da Lei n9 9.504/97 com a atual redação da Lei ne 12.034/09, assim
dispõe:

"Art, 30. A Justiça Eleitoral verificará a regularidade das contas de


campanha, decidindo:
I ~ pela aprovação, quando estiverem regulares;
II ~ pela aprovação com ressalvas, quando verificadas falhas que não
lhes comprometam a regularidade;
III - pela desaprovação, quando verificadas falhas que lhes comprometam
a regularidade;
IV - pela não prestação, quando não apresentadas as contas após a
notificação emitida pela Justiça Eleitoral, na qual constará a obrigação
expressa de prestar as suas contas, no prazo de setenta e duas horas.

ttãorserápublicada-em-sessão, até-oito-drés-antesà&ãiplomaçãOr(Texto
revogado).
§ l õ A decisão que julgar as contas dos candidatos eleitos será publicada
em sessão até 8 (oito) dias antes da diplomação.
§ 2- Erros formais e materiais corrigidos não autorizam a rejeição das
contas e a cominação de sanção a candidato ou partido.
§ 29 -A. Erros formais ou materiais irrelevantes no conjunto da prestação
de contas, que não comprometam o seu resultado, não acarretarão a
rejeição das contas.
§ 39 Para efetuar os exames de que trata este artigo, a Justiça Eleitoral
poderá requisitar técnicos do Tribunal de Contas da União, dos Estados,
do Distrito Federal ou dos Municípios, pelo tempo que for necessário.
§ 4e Havendo indício de irregularidade na prestação de contas, a Justiça
Eleitoral poderá requisitar diretamente do candidato ou do comitê
financeiro as informações adicionais necessárias, bem como determinar
diligências para a complementação dos dados ou o saneamento das falhas.
§ 5a Da decisão que julgar as contas prestadas pelos candidatos e comitês
financeiros caberá recurso ao órgão superior da Justiça Eleitoral, no
prazo de 3 (três) dias, a contar da publicação no Diário Oficial.
§ 6S No mesmo prazo previsto no § 5e , caberá recurso especial para o
Tribunal Superior Eleitoral, nas hipóteses previstas nos incisos I e II do
§ 4 9 do art 121 da Constituição Federal.
§ 79 Odisposto neste artigo aplica-se aos processos judiciais pendentes”.

O procedimento de prestação de contas de campanhas eleitorais é apresentado à


Justiça Eleitoral com a finalidade da verificação dos valores recebidos e dos gastos
efetuados. Desta forma, analisam-se todos os recursos em espécie e bens, inclusive
serviços utilizados nas eleições.

4 2 0
PRESTAÇÃO D E C O N T A S R E FER EN TES À A R R E C A D A Ç Ã O E
A p l i c a ç ã o d e R e c u r s o s n a s C a m p a n h a s E l e it o r a is C a p ít u l o 1 3

13.3. DOAÇÕES PARA AS CAMPANHAS ELEITORAIS.


As doaçoes para as campanhas eleitorais possuem disciplinamento próprio e se
sujeita a controle pela Justiça Eleitoral. Vejamos alguns aspectos fundamentais:
1) As doações de pessoas físicas e jurídicas são limitadas (10% dos rendimentos
brutos auferidos no ano anterior à eleição, no caso de pessoa física e 2% do
faturamento bruto do ano anterior à eleição, no caso de pessoa jurídica - Lei
n9 9.504/97, art. 23, § 1 9 , I e II e art. 81, § l 9);
2) Se for ultrapassado o limite de doação, o candidato poderá responder por abuso
do poder econômico, e as pessoas físicas e jurídicas estarão sujeitas a multas,
além da pessoa jurídica ficar proibida de participar de licitações públicas e
celebrar contratos com o Poder Público pelo período de cinco anos após decisão
da Justiça Eleitoral, conforme art. 81, §§ 2 2 e 3 - da Lei n2 9.504/97;
3) As doações de recursos financeiros devem ser feitas em conta bancária específica
e por cheques cruzados e nominais ou transferência eletrônica de depósitos,
sendo os depósitos identificados com CPF ou CNPJ. O candidato ou comitê
financeiro deve emitir sempre recibos eleitorais;

Foi alterada a redação do art. 23 da Lei n2 9.504/97 pela Lei n2 12.034/09,


conforme abaixo transcrito, sendo suprimida a parte do artigo “A partir do registro
dos comitês financeiros" que estipulava um termo inicial para a realização das
doações.
No entanto, o art. 19 da Lei das Eleições diz que: "Até 10 (dez) dias úteis, após a
escolha dos seus candidatos em convenção, o partido constituirá comitês financeiros,
com a finalidade de arrecadar recu rsos e aplicá-los nas campanhas eleitorais".
Desta forma, não obstante a supressão de parte do texto do art. 23 é necessária
a criação dos comitês, inclusive, tendo o art. 20 da mesma lei feito menção aos
comitês como órgãos que repassam os recursos financeiros aos candidatos, o que
inclui as doações de pessoas físicas.
Diz a lei,

Art. 23. Pessoas físicas poderão fazer doações em dinheiro ou estimáveis


em dinheiro para campanhas eleitorais, obedecido o disposto nesta Lei.
(Redação dada pela Lei nô 12.034, de 2009)
§ 1- As doações e contribuições de que trata este artigo ficam limitadas:
I - no caso de pessoa física, a dez por cento dos rendimentos brutos
auferidos no ano anterior à eleição;
II - no caso em que o candidato utilize recursos próprios, ao valor
máximo de gastos estabelecido pelo seu partido, na forma desta Lei.
f ^ ^oda doação a candidato específico ou a partido deverá fazer-se

do Anexo-(Texto revogado).

421
M a r c o s R a m ayana D ír eito E leitoral

§ 2o Toda doação a candidato específico ou a partido deverá ser feita


mediante recibo, em formulário impresso ou em formulário eletrônico,
no caso de doação via internet, em que constem os dados do modelo
constante do Anexo, dispensada a assinatura do doador. (Redação dada
pela Lei n° 12.034, de 2009)
§ 3- A doação de quantia acima dos limites fixados neste artigo sujeita o
infrator ao pagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia
em excesso.

revogado).

§ 4 oAs doações de recursos financeiros somente poderão ser efetuadas


na conta mencionada no art. 22 desta Lei por meio de: (Redação dada
pela Lei n° 11.300, d e 2006)
I - cheques cruzados e nominais ou transferência eletrônica de depósitos;
(Incluído pela Lei ns 11.300, de 2006)
II - depósitos em espécie devidamente identificados até o limite fixado
no inciso I do § I o deste artigo. (Incluído pela Lei n- 11.300, de 2006)
III - mecanismo disponível em sítio do candidato, partido ou coligação
na internet, permitindo inclusive o uso de cartão de crédito, e que deverá
atender aos seguintes requisitos: (Incluído pela Lei ng 12.034, de 2009)
a) identificação do doador; (Incluído pela Lei ns 12.034, de 2009)
b) emissão obrigatória de recibo eleitoral para cada doação realizada.
(Incluído pela Lei n5 12.034>de 2009)
§ 5o Ficam vedadas quaisquer doações em dinheiro, bem como de
troféus, prêmios, ajudas de qualquer espécie feitas por candidato, entre
o registro e a eleição, a pessoas físicas ou jurídicas. (Incluído pela Lei
ns 11.300, de 2006)
§ 6oNa hipótese de doações realizadas por meio da internet, as fraudes
ou erros cometidos pelo doador sem conhecimento dos candidatos,
partidos ou coligações não ensejarão a responsabilidade destes nem a
rejeição de suas contas eleitorais. (Incluído pela Lei n- 12.034, de 2009)
§ 7° 0 limite previsto no inciso I do § I o não se aplica a doações
estimáveis em dinheiro relativas à utilização de bens móveis ou imóveis
de propriedade do doador, desde que o valor da doação não ultrapasse
R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais). (Incluído pela Lei n- 12.034, d e2009)

A supressão da redação do art. 23 não altera a disciplina da necessidade dos


comitês financeiros serem estabelecidos antes das doações.
O § 2- do art. 23, permite a doação pela internet por formulário eletrônico, e
dispensa-se a assinatura do doador, mas não sua identificação, que está prevista
no § 4 9 , III, aliena "a" do art. 23, até porque se fosse suprimida a possibilidade

422
P restaç ão d e C o n ta s Re f e r e n t e s ã A r r e c a d a ç ã o e
A p l ic a ç ã o d e R e c u r s o s n a s C a m p a n h a s E l e it o r a is C a p ítu lo 1 3

de identificação da pessoa física ou jurídica que efetua uma doação as campanhas


estariam eivadas de abuso do poder econômico, captação e gastos ilícitos e delitos
fiscais.
Desta forma, é necessário criar um programa no sítio do candidato, partido
ou coligação que permita a utilização do cartão de crédito com a identificação do
doador e emissão de recibo eleitoral. A lei faculta a utilização do cartão de crédito,
quando usa a expressão "... inclusive o uso de cartão de crédito..." (art. 23, § 4 e , III,
da Lei das Eleições).
No § 6 9 do art. 23, a lei exclui a responsabilidade do donatário (candidato),
quando ocorrerem fraudes ou erros cometidos pelo doador no ato da doação
realizada através da internet, visto que um ato realizado pelo doador não poderia
ser imputado ao candidato donatário (nem ao partido ou coligação). Como um
exemplo de fraude, poder-se-ia citar a hipótese de uma pessoa doar em nome de
outra, visto que não se exige assinatura para doação eletrônica. Tal conduta não
poderá ter repercussão de responsabilidade ao candidato, especialmente em
relação à prestação de contas.
Todavia, cumpre salientar que, em relação aos limites a serem respeitados
pelo doador quanto ao valor da doação, há de ser aplicada a ele, pessoa física, a
sanção de multa prevista no art. 23, § 3 Qda mesma lei, e, para as pessoas jurídicas,
as sanções de multa e proibição de contratação com o poder público, na forma do
art. 81, §§ 2Qe 3 a da Lei das Eleições.
Verifica-se que o § 7 S do art. 23, excepciona do limite de doação de pessoas físicas
à utilização de bens móveis ou imóveis de propriedade do doador, como terrenos,
casas, salas e outros (desde que o valor não ultrapasse R$ 50.000,00 (cinqüenta mil
reais).
A lei foi mais permissiva nas doações, inclusive de veículos e ensejará o aumento
de gastos nas campanhas eleitorais gerando o abuso do poder econômico.
Nas fontes vedadas do art. 24 da Lei n2 9.504/97, o parágrafo único da nova
lei, permite que as cooperativas façam doações observando o disposto no limite
da pessoa jurídica do art. 81 da lei das eleições, ou seja, 2% (dois) por cento da
renda bruta auferida no ano anterior. Veda-se apenas que os cooperados não sejam
concessionários ou permissionários e que não estejam recebendo recursos públicos.
As sociedades cooperativas possuem disciplina no Código Civil, arts. 1.093 a
1.096 e na Lei ns 5.764/1971, que assim a define:

Art. 3o Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que


reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o
exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo
de lucro.
Art. 4 9 As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza
jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas

423
M a r c o s R a m ayana D ir eito E leitoral

para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais


sociedades pelas seguintes características:
I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo
impossibilidade técnica de prestação de serviços;
II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes;
III ~ limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado,
facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade,
se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;
IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos
à sociedade;
V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações
e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade
de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade;
VI - quorum para o funcionamento e deliberação da Assembleia Geral
baseado no número de associados e não no capital;
VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às
operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário
da Assembleia Geral;
VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica
Educacional e Social;
IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;
X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos
estatutos, aos empregados da cooperativa;
XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de
reunião, controle, operações e prestação de serviços.

Desta feita, a partir da novel legislação, será possível a essa sociedade de pessoas,
voltada à valorização do trabalho pela associação de mão de obra que lhe é peculiar,
realizar doações para campanhas eleitorais.
Ainda sobre as doações para campanha, é importante ressaltar o que decidido
pelo C. TSE, que permitiu ao Ministério Publico requisitar diretamente à Receita
Federal os dados para aferição da regularidade da doação:
Recurso ordinário. Cabimento. Receita Federal. Contribuinte. Rendimento
bruto. Ministério Público. Requisição. Possibilidade. Quebra de sigilo
fiscal. Descaracterização. Campanha eleitoral. Doação. Lei. Sujeição.
Abuso do poder econômico. Eleição. Desequilíbrio. Potencialidade.
Demonstração. Necessidade.
É cabível recurso ordinário quando a decisão recorrida versar matéria
que enseje a perda do mandato eletivo estadual, tenha ou não sido
reconhecida a procedência do pedido.
É lícito ao Ministério Público requisitar diretamente à Receita Federal
dados relativos aos valores dos rendimentos brutos de contribuintes
que tenham feito doação para a campanha eleitoral de candidatos, o

424
P restaç ão d e C o n t a s R e fe r e n t e s à A r r e c a d a ç ã o e
A p l ic a ç ã o d e R e c u r s o s n a s C a m p a n h a s E l e it o r a is C a p ít u l o 1 3

que não configura quebra de sigilo fiscal. Isso porque quem faz doação
para campanha política deve submeter-se a ter revelada, sem maiores
complicações, sua receita, para aferição do cumprimento da norma
legal. 0 abuso do poder econômico exige, para a sua configuração,
potencialidade lesiva da conduta, apta a influir no resultado do pleito,
o que não ficou demonstrado nos autos.
Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento ao recurso.
Unânime.
Recurso Ordinário n9 1.495/SP, rei Min. Marcelo Ribeiro, em 28.10.2009.

13.4. PRESTAÇÃO DE CONTAS E QUITAÇÃO ELEITORAL


Registre-se que o art. 11, § 7 9 da Lei ne 9.504/97 (introduzido pela Lei
ne 12.034/09), disciplina que a não apresentação das contas de campanha
eleitoral acarreta a falta de quitação eleitoral, ou seja, impede que por ocasião do
requerimento de registro de candidatura do próximo pleito eleitoral possa o pré-
candidato ser registrado quando ficar demonstrado que ele não apresentou sua
regular prestação de contas.
Todavia, o § 7 e do art. 11 foi omisso no fato das contas serem julgadas
irregulares, sendo a falta de quitação para esta finalidade prevista apenas em texto
de resolução eleitoral, v.g., art. 41, § 3 9 da Resolução TSE n9 22.715/2008 (dispõe
sobre a arrecadação e a aplicação de recursos por candidatos e comitês financeiros
e prestação de contas nas eleições municipais de 2008).
No entanto, o art. 105 da Lei n- 9.504/97 (redação da Lei n- 12.034/2009)
limitou o poder normativo do Tribunal Superior Eleitoral ao dispor que não se pode
criar san ções distintas das p revistas nesta lei. Assim, as contas julgadas irregulares
não podem servir para caracterizar a falta de quitação eleitoral, o que é um
retrocesso e acarreta a impunidade, considerando que o prazo para a propositura
da representação prevista no art. 30-A da Lei n9 9.504/97 também está limitado,
apenas, a quinze dias da data da diplomação.
Cumpre destacar que a restrição imposta pelo art. 105 da Lei das Eleições só
se aplica para a regulamentação decorrente do próximo pleito eleitoral, ou seja,
de 2010, não tendo efeito retroativo à normatização do C. TSE sobre as eleições
pretéritas de 2008, sob pena de desvirtuamento da segurança jurídica das relações
já disciplinadas em amplo texto normativo eleitoral. Considere-se, ainda, que já
existem centenas de decisões desaprovando as contas de ex-candidatos relativas às
campanhas eleitorais.
Por outro lado, a omissão no § 7- do art, 11 da atualizada Lei ne 9504/97,
quanto à desaprovação das contas é eivada de inconstitucionalidade pelos seguintes
fundamentos:

425
M a r c o s R am ayana D ir eit o E leito r a i

a) as contas de campanhas eleitorais dos candidatos são prestadas para que a


Justiça Eleitoral possa verificar a devida regularidade que compreende a análise
de recursos públicos e privados nos financiamentos das campanhas eleitorais,
até porque a recente Lei n- 12.034/2009, ao acrescer o parágrafo único ao
art. 25 da Lei n5 9.504/97, enseja que a desaprovação total ou parcial da
prestação de contas do candidato influencia na sanção de suspensão do repasse
de novas quotas do Fundo Partidário, e além de tudo, o art. 29, §§ 3 - e 4 S da
Lei n9 9.504/97 (redação da nova lei) permitem que débitos de campanha
de candidatos possam ser assumidos por partidos políticos, e que as dívidas
passam a ser solidárias entre partidos e candidatos. Ora, omitir a inclusão da
desaprovação das contas para fins de quitação eleitoral é inviabilizar o sistema
de controle efetivo do dinheiro público repassado aos candidatos em função dos
seguintes artigos: 3 8 ,1 e IV; 40, § 1- ; 41; 44, inciso III da Lei ne 9.096/95; 25 e
parágrafo único (redação dada pela lei ne 12.034/2009) da Lei n9 9.504/97;
b) se o partido sofre sanções pela desaprovação total ou parcial da prestação de
contas do candidato, não deve se deve excluir a responsabilidade do próprio
candidato na regular prestação de suas contas de campanha, até porque ele
não poderá utilizar recursos ou publicidades oriundas das denominadas fontes
vedadas, previstas no art. 24 da Lei nfi 9.504/97;
c) o art. 30, inciso III da Lei n9 9.504/97 não pode incidir no vazio normativo (não
há infração sem sanção), quando a Justiça Eleitoral conclui, após a ampla defesa
do candidato e da observância do devido processo legal, pela desaprovação em
razão de falhas comprometedoras;
d) a omissão legislativa afronta o devido processo legal eleitoral e o controle efetivo
do financiamento das campanhas eleitorais, atingindo, diretamente, a norma
contida no § 9 S do art. 14 da Constituição Federal, que consagra punições contra
o abuso do poder econômico;
e) a sanção única aplicada aos partidos políticos em relação ao repasse de novas
cotas do fundo partidário por desaprovação total ou parcial da prestação de
contas dos candidatos, pode viabilizar o desrespeito das normas que disciplinam
a regularidade das contas, através do abuso do poder econômico, visto que muitos
candidatos possuem elevado poderio econômico em suas campanhas, de fontes,
muitas vezes, questionáveis e ilegais, as quais poderão suprir a ausência do
repasse do Fundo Partidário, por mera negociação entre as partes (candidato e
partido), afastando o efetivo controle da Justiça Eleitoral e da legislação eleitoral
(art. 241 do Código Eleitoral e art. 17 da Lei ns 9,504/97).
Em suma, tal sanção não será eficaz em relação àqueles que ostentem grande
condição econômica, privilegiando o abuso de poder econômico nas eleições, o que
é frontalmente contrário ao regime republicano, a ordem democrática, além de não
ser proporcional e razoável.

426
P restação d e C o n t a s R efer en t es à A r r e c a d a ç ã o e
A p l i c a ç ã o d e R e c u r s o s n as C a m p a n h a s E l e i t o r a is C a p ítu lo 1 3

Quanto a n ão ap resen tação das contas, depois de transcorrido o prazo de 72


(setenta e duas) horas da notificação (inciso IV, do a r t 30}, a omissão acarretará a
falta de quitação eleitoral prevista no art. 11, § 7 2 da Lei n2 9.504/97 pelo prazo do
mandato pelo qual o candidato concorreu.
Todavia, é latente a omissão legislativa para a devida fixação de um prazo legal
de apresentação das contas de campanha eleitoral A admissão da regularização
a qualquer tempo enfraquece os objetivos moralizadores dos gastos eleitorais e
permite uma conduta de déscaso pelos candidatos não eleitos com as eleições.

13.5. RECURSOS EM PRESTAÇÃO DE CONTAS


O § 5 g do a r t 30, definiu o prazo do recurso acolhendo a regra geral dos arts. 258 e
264 do Código Eleitoral, ou seja, 3 (três) dias, a contar da publicação no Diário Oficial.
Já o § 6 Qprevê o cabimento de recurso especial para o Egrégio Tribunal Superior
Eleitoral, no prazo de 3 (três) dias, das decisões sobre prestação de contas, mas
desde que na forma do art. 121, § 4 S, í e II da Constituição Federal, quando lá
está prevista a violação da Constituição e das leis, ou a divergência sobre o ponto
questionado entre Tribunais Regionais Eleitorais. No entanto, o recurso não terá
efeito suspensivo, pois se aplica a regra geral do art. 257 do Código Eleitoral.
Por fim, o § 7~ consagra a imediata aplicação das regras do art. 30 e parágrafos aos
processos em tramitação na Justiça Eleitoral, desde que ainda aptos à interposição
do recurso.

13.6. RELEVANTES QUESTÕES SOBRE A PRESTAÇÃO DE


CONTAS:
1) A prestação de contas de campanha segue um procedimento que apenas declara
as contas desaprovadas, não possuindo, por si só, o efeito de condenar à cassação
do registro/diploma ou inelegibilidade decorrente de abuso do poder econômico.
Para tanto, se faz necessária a propositura de ação própria como, por exemplo: a
ação de investigação judicial eleitoral ( a r t 22 da LC ne 64/90; ação de impugnação
ao mandato eletivo, a r t 14, §§ 10 e 11 da CRFB, ou ainda, a ação de captação ou
de gastos ilícitos de recursos do art. 3 0 -A e parágrafos da Lei ne 9.504/97).
2) As resoluções temporárias do TSE disciplinam o prazo para a sua apresentação,
dispondo de várias formalidades que devem ser observadas na prestação das
contas. O candidato ou comitê que não prestar contas tempestivamente poderá
ser intimado a fazê4o, sob pena de aplicação do art. 347 da CE e de serem
julgadas não prestadas as contas.
3) A origem dos recursos deve ser identificada para que se possa aferir se
provenientes de fontes vedadas (art. da 16 Res. n9 22.715), bem como se
observam os limites legais (art. 17).

427
M a r c o s R am a ya n a D ir eit o E leitoral

4) Deve prestar contas, também, o candidato que renunciar à candidatura, deia


desistir, for substituído ou tiver seu registro indeferido pela Justiça Eleitoral,
mesmo que não tenha realizado a campanha. A ausência de movimentação
de recursos de campanha pode ser provada através de extratos bancários ou
outras provas que a Justiça Eleitoral entender necessárias.
5} A não apresentação de contas impede a obtenção de certidão de quitação
eleito ra l no curso do mandato ao qual o interessado concorreu, bem como
obsta à diplomação do eleito (art. 30-A da Lei n~ 9.504/97 c/c art. 49, § 2 - da
Res. n9 22.715). Sobre a quitação eleitoral, remetemos o leitor ao capítulo que
trata do Pedido de Registro de Candidatura.
6) Algumas ilicitudes previstas na Lei n9 9.504/97, que não possuem correspondente
sanção podem ser combatidas nesse momento (ex. confecção de camisas, bonés
etc.), através da ação de gastos ilícitos de recursos (art. 30-A, Lei ne 9.504/97),
podendo, ainda, subsidiar a propositura de investigação judicial por abuso do
poder econômico (art. 23 c/c 49 da Res. ne 22.715), sendo que nesta última
deverá estar provada a potencialidade lesiva para desequilibrar a eleição.
7) Se no exame das contas for verificada a hipótese de abuso do poder econômico,
cumpre ao legitimado ativo propor a representação baseada no art. 22 da LC
n9 64/90. Esta ação deve ser proposta até o dia da diplomação para candidatos
não eleitos, mas que abusaram do poder econômico. Em relação aos candidatos
eleitos, deve-se propor a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo com base no
art. 14, §§ 10 e 11 da Constituição Federal.
8) É possível, ainda propor a ação de captação ou de gastos ilícitos de recursos, com
base no art. 30-A e parágrafos da Lei ns 9.504/97, alterada pela Lei nQ 11.300,
de 2006.
9) Se for constatado o abuso do poder econômico em relação aos candidatos eleitos,
a opção correta é propor a AIME, mas, se os gastos forem insuficientes para
gerar a hipótese abusiva, deve-se optar pelo art. 30-A e parágrafos da iei acima
mencionada. Isso porque aquela, além de evitar/cassar a diplomação, também
acarretará a inelegibilidade, o que não será alcançado com a utilização desta.
10) 0 art. 30-A, § 2a só se aplica aos candidatos eleitos, possuindo, portanto, sanção
própria. Embora haja divergência, entendo que a procedência do pedido não está
vinculada a que seja provada a potencialidade lesiva das captações ilícitas ou dos
gastos irregulares no resultado das eleições, já que, se assim não se entendesse,
o artigo seria letra morta, em razão da já existente previsão da AIJE para o abuso
do poder econômico. Entretanto, cumpre salientar que, embora não se exijam
os efeitos da potencialidade lesiva nos resultados do pleito, para a procedência
do pedido há de se considerar os princípios da proporcionalidade e/o u
razoabilidade. Captação irregular de insignificante quantidade de dinheiro não
deve ser considerada para se ter a procedência do pedido.
O efeito dessa ação é o de negar a expedição do diploma ao candidato eleito, ou,
se outorgado, cassá-lo.

4 2 8
C apítulo 14

AÇÃO DE CAPTAÇÃO
OU GASTOS ILÍCITOS
DE RECURSOS

14.1. BASE LEG AL


Art. 30-A da Lei n9 9.504/97, verbis:

Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à


Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando
fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial
para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas
à arrecadação e gastos de recursos. (R edoçãojãaàapela Lei n9 12.034.

§ l s Na apuração de que trata este artigo, aplicar-se-á o procedimento


previsto no a rt 22 da Lei Complementar ng 64, de 18 de maio de 1990.
no que couber. (ln.çMdo,p£l<Llí£Í n L llM Q , Áe.2QQ6)
§ 2 9 Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos, para fins
eleitorais, será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver
sido outorgado. (Im:luído...p£.laleÍMrJ13.0AÃe 2006)
§ 3- 0 prazo de recurso contra decisões proferidas em representações
propostas com base neste artigo será de 3 (três) dias, a contar da
data da publicação do julgamento no Diário Oficial. (Incluído pela Lei

14.2. LEGITIMADOS ATIVOS


O art. 30-A da Lei n9 9.504/97 prevê a legitimação ativa do partido político ou
coligação para a propositura da respectiva ação. Entretanto, deve ser acrescentado
o cabimento da ação pelo Ministério Público, de cuja legitimação possui origem
constitucional, quando lhe é conferida atribuição para a "defesa do regime
democrático" (art. 127, caput, CRFB/88). Esse entendimento é corroborado pelo
TSE, conforme foi disciplinado na Resolução temporária n9 22.715/2008, art. 49.
M a r c o s R a m a ya n a D ir eito E leitoral

14.3. LEGITIM ADOS PASSIVOS


São legitimados passivos o candidato eleito que será empossado, bem como os
suplentes, devendo ser citado o Partido Político correspondente.
Podemos lembrar que segundo a regra do art. 215 do Código Eleitoral, os eleitos e
suplentes recebem seus devidos diplomas. Na prática, é possível que suplente ainda
não tenha solicitado à Justiça Eleitoral este documento. Trata-se de documento
necessário para a formalização do ato de posse junto ao órgão competente, por
exemplo, do vereador na Câmara Municipal.
Desta forma, a contagem do prazo de 15 dias para o suplente (eleições proporcionais)
se dá com a efetiva entrega do diploma solicitado, e não da data da diplomação
dos eleitos e que já estão exercendo o mandato eletivo, pois somente com esta
interpretação se pode alcançar a verdadeira punição pelo art. 30-A da Lei n- 9.504/97,
que resulta na nulificação do diploma do suplente, quando ele é chamado a assumir em
razão da vacância. Outrossim, na hipótese do candidato majoritário, como por exemplo o
Prefeito que teve o diploma anulado em razão de captação ilícita de sufrágio, o segundo
lugar mais votado, que ainda não foi diplomado, poderá ser alvo de uma representação do
art. 30-A da Lei n- 9.504/97, objetivando-se que o diploma lhe seja negado, considerando
a eventual desaprovação de suas contas com características de lesão proporcional.
Nesta linha, verifica-se que o prazo limite de 15 dias da diplomação deve ser
interpretado como sendo da diplomação individual.

14.4. HIPÓTESES DE CABIMENTO


É importante salientar que o oferecimento da representação pelo art. 30-A não
deve ser baseado em erros formais ou materiais irrelevantes na análise do conjunto
da prestação de contas, até porque o art. 30, § 2 S -A da Lei n9 9.504/97 dispõe que
nesses casos, não devem ser rejeitadas as contas.
Nessa linha de raciocínio, o art. 30-A deve ser reservado para condutas com
certa relevância ou proporcionalidade, mas o parágrafo único do art. 25 acima
referido (não sabemos se foi erro material) determinou que a desaprovação total
ou parcial da p restação de contas do candid a to acarre tará uma sanção reflexa
ao partido político quanto ao repasse de novas cotas do fundo partidário.
Verifica-se no referido parágrafo único que existe uma transferência de
responsabilidade das conseqüências oriundas da campanha do candidato para o
partido político, obrigando a este último exercer um controle paralelo e preventivo
sobre a prestação de contas dos candidatos, com vistas a prevenir a suspensão das
cotas do Fundo Partidário.
Em suma: independentemente de ação judicial prevista no art. 30-A, poderá haver
a suspensão das cotas do Fundo Partidário como sanção direta da irregularidade
das contas de campanha do candidato.

4 3 0
A ç ã o d e C a pta çã o o u
G a s t o s I l íc i t o s d e R e c u r s o s C a p ít u l o 1 4

14.5. PRAZO DA REPRESENTAÇÃO DO ART. 30-A DA LEI


N° 9.504/97.
A Lei n2 9.504/97 (alterada pela Lei ns 12.034/09) delimitou o prazo de 15 dias
contados da diplom ação para a propositura da ação da representação baseada no
art. 30-A ou ação de captação e gastos ilícitos de recursos.
0 C. TSE possui relevante julgado no sentido de que o cabimento da propositura
da ação de captação ou gastos ilícitos de recursos, pode ser até a extinção do

A intenção do legislador foi a de criar um impedimento para a propositura da


representação do art. 30-A, durante o curso do mandato eletivo. Fixa-se, assim, um
prazo limite, o dia da diplomação.
Destaca-se um ponto na mencionada decisão do C.TSE, abaixo transcrita na
ementa, que permite o acionamento da representação até a extinção do mandato:
é que tal se refere a candidato não eleito, mas que se encontra na condição de
suplente. Nesses casos, há o interesse de agir em pleitear a perda dessa condição.
Ressaltamos parte da-ementa sobre o relevante tema:
Recurso Ordinário ns 1.540/PA
Relator: Ministro Felix Fischer
Ementa: Recurso ordinário. Ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) com
base no art. 22 da Lei Complementar n3 64/90 e art. 30-A da Lei n8 9.504/97.
Irregularidades na arrecadação egastos de recursos de campanha. Prazo para o
ajuizamento. Prazo decadencial Inexistência. Competência. Juiz auxiliar. Abuso
de poder político. Conexão. Corregedor. Propositura. Candidato não eleito.
Possibilidade. Legitimidade ativa. Ministério Público Eleitoral. Possibilidade.
Sanção aplicável. Negativa de outorga do diploma ou sua cassação. Art 30-A,
§ 2 3 . Proporcionalidade. Provimento.
1. Orito previsto no art. 22 da Lei Complementam3 64/90 não estabelece prazo
decadencial para o ajuizamento da ação de investigação judicial eleitoral. Por
construção jurisprudencial, no âmbito desta c. Corte superior, entende-se que as
ações de investigação judicial eleitoral que tratam de abuso de poder econômico
e político podem ser propostas até a data da diplomação porque, após esta
data, restaria, ainda, o ajuizamento da ação de impugnação de mandato eletivo
(AIME) e do recurso contra expedição do diploma (RCED). (Respe ns 12.531/SP,
rei Min. Ilmar Galvão, DJ d e i 5 .9.95 RO n- 401/ES, rei. Min. Fernando Neves, DJ
de 1~ .9.2000, RPns 628/DF, rei Min. Sálvio de Figueiredo, DJ de 17.12.2002). 0
mesmo argumento é utilizado nas ações de investigação fundadas no a rt 41-A
da Lei n- 9.504/97, em que também assentou~se que o interesse de agir persiste
a té a data da diplomação (REspe ns 25.269/SP, rei. Min. Caputo Bastos, DJ
de 20.11.2006). Já no que diz respeito às condutas vedadas (art. 73 da Lei
n~ 9.504/97), para se evitar o denominado "armazenamento tático de indícios",
estabeleceu-se que o interesse de agir persiste até a data das eleições, contando-

431
M a r c o s R a m ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

se o prazo de ajuizamento da ciência inequívoca da prática da conduta. (QO no


RO n- 748/PA, rei. Min. Carlos Madeira, DJ de 26.8.2005 REspe n3 25.935/SC,
rei. Min. José Delgado, rei designado Min. Cezar Peluso, DJ de 20.6.2006).
2. Não houve a criação aleatória de prazo decadencíal para o ajuizamento
das ações de investigação ou representações da Lei n9 9.504/97, mas sim o
reconhecimento da presença do interesse de agir. Tais marcos, contudo, não
possuem equivalência que justifique aplicação semelhante às hipóteses de
incidência do art. 30-A da Lei n- 9.504/97. Esta equiparação estimularia os
candidatos não eleitos; que porventura cometeram deslizes na arrecadação de
recursos ou nos gastos de campanha, a não prestarem as contas. Desconsideraria,
ainda, que embora em caráter excepcional, a legislação eleitoral permite a
arrecadação de recursos após as eleições (art. 19, Res.-TSE n~ 22.250/2006).
Além disso, diferentemente do que ocorre com a apuração de abuso de poder e
captação ilícita de sufrágio não há outros instrumentos processuais - além da
ação de investigação judicial e representação - que possibilitem a apuração de
irregularidade nos gastos ou arrecadação de recursos de campanha (art 30-A
da Lei n~ 9.504/97). Assim, tendo sido a ação ajuizada em 5.1.2007, não procede
a pretensão do recorrente de ver reconhecida a carência de ação do Ministério
Público Eleitoral em propor a representação com substrato no art. 30-A
da Lei n- 9.504/97. Tendo em vista que a sanção prevista pela violação ao
mencionado dispositivo representa apenas a perda do mandato, sua extinção é
que revela o termo a partir do qual não mais se verifica o interesse processual
no ajuizamento da ação.
3. Durante o período eleitoral, os juizes auxiliares são competentes para
processar as ações propostas com fulcro no a r t 30~A da LeinB 9.504/97(AgRRep
n? 1.229/DF, rei. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 13.12.2006; RO n-9 1.596/MG, rei
Min. Joaquim Barbosa, DJ de 16.3.2009), o que não exclui a competência do
corregedor, pela conexão, quando a ação tiver por objeto a captação ilícita de
recursos cumulada com o abuso de poder econômico.
4. O Ministério Público Eleitoral é parte legítima para propor a ação de
investigação judicial com base no art. 30-A (RO n~ 1.596/MG, rei Min. Joaquim
Barbosa, DJ de 16.3.2009).
5. A ação de investigação judicial com fulcro no a rt 30-A pode ser proposta
em desfavor do candidato não eleito, uma vez que o bem jurídico tutelado
pela norma é a moralidade das eleições, não havendo fa la r na capacidade de
influenciar no resultado do pleito. No caso, a sanção de negativa de outorga
do diploma ou sua cassação prevista no § 2° do art. 30-A também alcança o
recorrente na sua condição de suplente.
6. Na hipótese de irregularidades relativas à arrecadação e gastos de recursos
de campanha, aplica-se a sanção de negativa de outorga do diploma ou sua
cassação, quando já houver sido outorgado, nos termos do § 2° do art. 30-A. No
caso, o recorrente arrecadou recursos antes da abertura da conta bancária, em
desrespeito à legislação eleitoral, no importe de sete mil e noventa e oito reais
(R$7.098,00), para a campanha de deputado estadual no Pará.

432
Aç ã o d e C apta çã o o u
G a s t o s I l íc i t o s d e R e c u r s o s Capítulo 14

7. Não havendo, necessariamente, nexo de causalidade entre a prestação de contas


de campanha (ou os erros dela decorrentes) e a legitimidade do pleito, exigirprova
de potencialidade seria tomar inóqua a previsão contida no art 30-A, limitado-o a
mais uma hipótese de abuso de poder. 0 bem jurídico tutelado pela norma revela
que o que está em jogo é o princípio constitucional da moralidade (CF, art. 14,
§ 9S). Para incidência do art. 30-A da Lei n&9.504/97, necessária prova da
proporcionalidade (relevância jurídica) do ilícito praticado pelo candidato e não
da potencialidade do dano em relação ao pleito eleitoral. Nestes termos, a sanção
de negativa de outorga do diploma ou de sua cassação (§ 2 5 do art. 30-A) deve
ser proporcional à gravidade da conduta e à lesão perpetrada ao bem jurídico
protegido. No caso, a irregularidade não teve grande repercussão no contex­
to da campanha em si. Deve-se, considerar, conjuntamente, que: a) o montante
não se afigura expressivo diante de uma campanha para deputado estadual
em estado tão extenso territorialmente quanto o Pará; b) não há contestação
quanto a origem ou destinação dos recursos arrecadados; questiona-se, tão
somente, o momento de sua arrecadação (antes da abertura de conta bancária)
e, consequentemente, a form a pela qual foram contabilizados.
8. Quanto à imputação de abuso de poder, para aplicação da pena de
inelegibilidade, necessária seria a prova de que o ilícito teve potencialidade para
desequilibrar a disputa eleitoral, ou seja, que influiu no tratamento isonômico
entre candidatos ("equilíbrio da disputa") e no respeito à vontade popular
(Ag nâ 7.069/R0, rei Min. Carlos Ayres Britto, DJ de 14.4.2008, RO n° 781, rei.
e. Min. Peçanha Martins, DJ de 24.9.2004). No caso, não se vislumbra que as
irregularidades na prestação de contas tenham tido potencial para influir na
legitimidade do pleito, desequilibrando a disputa entre os candidatos e viciando
a vontade popular. Assim, como a relevância da ilicitude relaciona-se tão só à
campanha, mas sem a demonstração da potencialidade para desequilibrar o
pleito (afetação da isonomia), não há fa la r em inelegibilidade.
9. Recurso ordinário provido para afastar a inelegibilidade do candidato,
uma vez que não fo i demonstrada a potencialidade da conduta para
desequilibrar o pleito, e reform ar o acórdão e manter hígido o diploma do
recorrido, considerando que as irregularidades verificadas e o montante por
elas representado, não se mostraram proporcionais à sanção prevista no § 2Q
do a r t 30-A da Lei ne 9.504/97.DJE de 1* .6.2009. (TRIBUNAL SUPERIOR
ELEITORAL).
Por fim, o respeitável julgado firma a posição de que é desnecessária que a
conduta ilícita tenha tido potencialidade para desequilibrar a disputa eleitoral
(como é exigido para a AIJE). Entretanto, mister se faz a prova da proporcionalidade
(relevância jurídica) do ilícito praticado em relação à sanção que se pretende. A
sanção perquirida com a ação (perda do diploma) deve ser adequada ao ilícito
praticado, sendo tal proporcionalidade um pressuposto para a cassação do mandato.
Podemos lem brar que segundo a regra do art. 215 do Código Eleitoral, os eleitos e
suplentes recebem seus devidos diplomas: Na prática, é possível que suplente ainda

433
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

não tenha solicitado à Justiça Eleitorai este documento. Trata-se de documento


necessário para a formalização do ato de posse junto ao órgão competente, por
exemplo, do vereador na Câmara Municipal.
Desta forma, a contagem do prazo de 15 dias para o suplente (eleições
proporcionais) se dá com a efetiva entrega do diploma solicitado, e não da data da
diplomação dos eleitos e que já estão exercendo o mandato eletivo, pois somente
com esta interpretação se pode alcançar a verdadeira punição pelo art. 30-A da
Lei ne 9.504/97, que resulta na nulificação do diploma do suplente, quando ele é
chamado a assumir em razão da vacância.
Outrossim, na hipótese do candidato majoritário, como por exemplo o Prefeito
que teve o diploma anulado em razão de captação ilícita de sufrágio, o segundo lugar
mais votado, que ainda não foi diplomado, poderá ser alvo de uma representação
do art. 30-A da Lei nQ9.504/97, objetivando-se que o diploma lhe seja negado,
considerando a eventual desaprovação de suas contas com características de lesão
proporcional.
Nesta linha, verifica-se que o prazo limite de 15 dias da diplomação deve ser
interpretado como sendo da diplomação individual.
Para a propositura da ação prevista no art. 30-A da Lei ns 9.504/97, não é
necessário aguardar o julgamento final do procedimento de prestação de contas
do candidato, desde que se observe o prazo de até 15 dias contados da diplomação.
Desta forma, se o Ministério Público já possuir elementos probatórios indiciários de
que as contas devem ser julgadas irregulares, admite-se a propositura da ação com a
juntada posterior de outros elementos de prova, inclusive do próprio procedimento
de prestação de contas de campanha eleitoral.

1 4 .6 . EFEITO S DA SENTENÇA
Tem efeito imediato, como também ocorre com a ação de captação ilícita de
sufrágio. Nesse sentido:
Ementa: Embargos de declaração. Decisão monocrática. Ação cautelar.
Decisão regional. Investigação judicial. Arts. 30-A da Lei ne 9.504/97; e 22 da
Lei Complementar ns 64/90.
1. Na linha da jurisprudência do Tribunal, recebem-se como agravo regimental
os embargos de declaração opostos contra decisão monocrática.
2. Ainda que em relação à pena de inelegibilidade - em face do reconhecimento
do abuso do poder econômico - incida o disposto no art. 15 da LC n9 64/90,
é certo que quanto à parte da condenação por arrecadação e gastos ilícitos
de recursos de campanha - a que se refere o art. 30-A da Lei das Eleições - o
Tribunal já assentou a possibilidade de execução imediata da decisão.
Embargos recebidos como agravo regimental, a que se nega provimento.

434
A ç ã o d e C apta çã o o u
G a s t o s I l íc i t o s d e R e c u r s o s Capítulo 14

(TSE, Agravo Regimental na Ação Cautelar n5 3.306/MG; Relator:


Ministro Arnaldo Versiani, DJE de 10.11.2009. Noticiado no Informativo
do TSE na 36)

14.7. PRAZO DO R EC U R SO DAS D EC ISÕ ES NAS


REPRESEN TA Ç Õ ES DO ART. 30-A DA LEI N° 9.504/97.
Sobre o tema o § 3 9 do art. 30-A da Lei n- 9.504/97 foi incluído pela Lei
n9 12.034/09 fixando o prazo de 3 (três) dias para interposição e razões recursais
em face das decisões proferidas nas representações. Trata-se de prazo que segue
a regra geral do art. 258 do Código Eleitoral afastando o prazo diferenciado do
art. 98, § 2 9 , da Lei das Eleições (24 horas).
A contagem do prazo defluiu da publicação no Diário Oficial. Confira-se:
"Medida cautelar. Pedido liminar. Recurso. Efeito suspensivo. Ausência de
requisito. Caráter satisfativo. Indeferimento. (...)" "(...) Não obstante seja
cabível a interposição de recurso contra julgado ainda pendente de publicação,
a parte recorrente deverá suportar os ônus de errôneo entendimento quanto
ao que foi decidido ou à sua fundamentação. (...)" (TSE, Ac. n9 1.363, de
29.6.2004, rei. Min. Peçanha Martins.)
No caso da Defensoria Pública, admite-se o prazo em dobro, segundo
precedente do C.TSE: "Eleitoral. Agravo regimental. Agravo de instrumento.
Defensor público. Prazo em dobro. Art. 128, I, da LC n5 80/94. (...) 1. Em
conformidade com o disposto no art. 1 2 8 ,1, da Lei Complementar ns 80, de
1994, ao defensor público do estado contam-se em dobro todos os prazos. (...)"
(Ac. ns 3.941, de 3.2.2004, rei. Mín. Carlos Velloso.)

435
r- ................................. ...

A ção
G astos
Ação de captação ou gastos ilfeitos de recursos (art. 30-A, Lei nQ9504/97)

de
I l íc it o s
C aptação
de

ou
R e c u r so s
Presidente
H Candidatos Julgamento TSE
Vice-Presidente

Impugnantes
Governador ■M P-PG E
Vice-governador •Partido político
Senador Prefeito | julgamento pelo juiz ■Coligação
! Julgamento j Deputado federal -+I • Vice-prefeito \ _^\ eleitoral designado
| TRE í Deputado Estadual Vereadores ! pelo TRE
Deputado Distrital

t..................... ...... \
I Impugnantes !

_____________________________________________________
j ■MP - PRE I
| •R Político | impugnantes
■MP - Promotor Eleitoral
] •Coligação |
■Partido
•Coligação

Rito Processual
(art. 22, incisos 1a XIII, Lei complementar nõ 64/90)
437

Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10* Edição • Capítulo 14 - Ação de captação ou gastos ilícitos de recursos
C apítulo 15

CONDUTAS VEDADAS AOS


AGENTES PÚBLICOS EM
CAMPANHAS ELEITORAIS

15.1. IGUALDADE DE OPORTUNIDADES ENTRE OS CANDIDATOS


QUE ALMEJAM O S MANDATOS ELETIVOS. TIPO S DE GARANTIA
DE NEUTRALIDADE.
A legislação eleitoral objetiva preservar a igualdade entre os candidatos,
na medida em que não autoriza que a Administração Pública possa servir aos
interesses das campanhas eleitorais.
As denominadas "condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas
eleitorais”, servem de obstáculos criados em razão de reiteradas ações ilegais
que fomentavam o abuso do poder. Forma-se um conjunto de regras que procuram
afastar a desigualdade entre os atuais mandatários e os que procuram ocupar os
mandatos eletivos.
A enumeração pelo legislador do rol das condutas vedadas é taxativa. São tipos
de garantias de neutralidade. No entanto, perscrutada outra forma que possa se
equiparar aos tipos ou que atente contra os princípios da Administração Pública é
possível a adoção da representação do art. 22 I a XV da Lei das Inelegibilídades e
do recurso contra a expedição do diploma, art. 2 6 2 ,1, do Código Eleitoral.
E ainda, o art. 74 da Lei das Eleições, faz menção à violação ao art. 37, § 1- da
Constituição Federal (uso de símbolos e imagens oficiais nas propagandas), o
que acarreta a configuração do abuso de autoridade, sujeitando o candidato ao
cancelamento do registro ou do diploma.
Busca-se uma igualdade na lei com o intuito de punir a discrim inação entre
os próximos candidatos que disputarão na circunscrição eleitoral (território) as
futuras eleições.
Diz o art. 73 da Lei das Eleições: "São proibidas aos agentes públicos, servidores
ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades
entre candidatos nos pleitos eleitorais”
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

Como se nota, pune-se uma forma especial de atos preparatórios, quando o


agente guiado pelo interesse eleitoral usa ou desvia do poder da Administração
Pública.
Assim, a legislação traduz formas de equalização das condições das campanhas
eleitorais na trilha do equilíbrio entre os candidatos.
As regras eleitorais são com pen satórias ou retifíca tó ria s, pois em sua gênese,
preservam futuras tend ências, ações e condutas que possam afetar a igualdade na
competição eleitoral. Basta a possibilidade de afetação da igualdade. Nessa linha, o
candidato que pratica os atos ilegais estará sujeito a sanções punitivas que refletem
uma espécie de equalização social eleitoral. 0 candidato que não pode usar a
máquina da administração e sofre uma discriminação poderá recuperar a satisfação
pela tutela protetiva da justiça Eleitoral com a punição do infrator, que não poupou
esforços para usar a coisa pública com objetivos eleitoreiros.
No entanto, mesmo diante do direito compensatório e da busca pela equalização,
a tutela judicial da Justiça Eleitoral é de moral social (mores), considerando o
objetivo da lisura das eleições na interpretação correta das regras de impedimento.
Desta forma, além de punir o infrator restabelecendo uma compensação aos demais
competidores procurando igualar a disputa; a tutela eleitoral demonstra à sociedade,
que os bens e serviços públicos não servem aos propósitos pessoais e eleitoreiros.
Mostra-se a necessidade de que as instituições devem incorporar os primados do
art. 37 da Carta Magna, visando o bem comum de todos os seus membros.

15.2 . SU JEITO ATIVO. AGENTES. CANDIDATOS OU T ER C EIR O S.


Não importa se o ato ilícito é praticado por servidor público ou não. 0 que está em
análise é a manipulação dos serviços, bens e interesses da Administração Pública,
independentemente do agente, seja ele autor ou partícipe do ato apontado pela íei
como proibido para fins eleitorais.
A punição pode abranger, além do candidato, terceiros (servidores públicos ou
não).
0 § 1° do art. 73 da Lei das Eleições assim dispõe:

"Reputa-se agente público, para os efeitos deste artigo, quem exerce,


ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou entidades
da administração pública direta, indireta, ou fundacional".

Verifica-se que a lei não faz distinção entre formas de investidura ou remuneração,
inclusive sendo apontado como responsável o agente da administração direta ou
indireta, mesmo que não seja o próprio candidato, mas que tenha favorecido uma
candidatura.

4 4 0
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
e m C a m p a n h a s E l e i t o r a is C a p ítu lo 15

0 dispositivo legal se coaduna com o art. I 9 , I, alínea "h" da Lei das


Inelegibilidades, quando se pune o agente público que favorece o candidato com
sanção de inelegibilidade.

15.3. PRAZO DE OCORRÊNCIA.


Os prazos de ocorrência das condutas vedadas são especificados na própria lei e
variam entre início do ano eleitoral até a posse dos eleitos.

15.4. NORMAS CORRELATAS.


Sobre o assunto destacam-se: a Lei n9 8.429/92, Lei n9 6.091/74, art. 377 do
Código Eleitoral, arts. 31, II e III e 51 da Lei ns 9.096/95, arts. 312 e 327 do Código
Penal, arts. 98 a 103 do Código Civil, Lei n9 8.112/90, Lei n9 8.666/93, Decreto-Lei
n- 201/67, Lei n9 9.636/98 e Lei n9 101/2000.

15.5. CONDUTAS VEDADAS EM E SP É C IE .


15.5.1. Art. 73, INCISO I DA LEI DAS ELEIÇÕES.

"ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação,


bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária".

A regra se aplica para todos os tipos de eleição (nacional, estadual ou municipal),


independentemente do candidato beneficiado. Assim, qualquer bem móvel ou
imóvel que seja pertencente à Administração Direta ou Indireta não pode ser
servir aos propósitos eleitorais de determinado candidato, exceto com as expressas
ressalvas na legislação.
0 fato do agente 'ceder ou usar, em benefício de candidato, partido ou coligação’,
exige-se certa demonstração de intencionalidade.
O C.TSE já analisou casos como caracterizadores de condutas vedadas: o uso
de máquina xerox da Administração (Ac. ne 5.694, de 25.8.2005, rei. Min. Caputo
Bastos.}, estrutura de metal da polícia militar para palanques (Ac. n9 25.145,
de 25.8.2005, rei. Min. Luiz Carlos Madeira.), escola pública (Ac. n9 25.070, de
21.6.2005, reL Min. Luiz Carlos Madeira.),linha telefônica da Prefeitura (Ac. ns 631,
de 24.5.2005, reL Min. Luiz Carlos Madeira.) e mensagem eletrônica com conteúdo
eleitoral veiculada pela intranet da Prefeitura (Ac. n- 21.151, de 27.3.2003, rei. Min.
Fernando Neves.).

441
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

No entanto, quando o candidato frui ou apenas divulga o bem público de


uso comum (praias, ruas, praças etc.) ou de áreas comuns compartilhadas, a
jurisprudência do TSE não está considerando como violado o preceito legal. Nesse
sentido (Ac. n9 4.246, de 24.5.2005, rei. Min. Luiz Carlos Madeira, e) (Ac. n9 24.865,
de 9.11.2004, rei. Min. Caputo Bastos.)
Todavia, o art. 37 da Lei das Eleições proíbe que nos bens de uso comum sejam
colocadas faixas, placas e assemelhados. É a propaganda irregular.
Registre-se ainda a possibilidade da utilização do bem público sem incidência da
regra de proibição nas dependências do Poder Legislativo, quando a Mesa Diretora
autorizar, segundo permissão do art. 37, § 3 a da Lei das Eleições.
Ressalva-se ainda, o disposto nos arts. 73, § 2 S e 76 da Lei das Eleições, que são
exceções a utilização do bem público.
Não se pode perder de vista que se ressalva o uso dos bens para a realização de
convenções p artid árias, cuja previsão de ocorrência pelo calendário eleitoral é
entre os dias 10 a 30 de junho do ano de eleição (art. 8 9 da Lei li9 9.504/97). Para
essa finalidade é possível a utilização do prédio da Câmara Municipal ou outro.
O art. 36, § l 9 da Lei das Eleições permite a propaganda in trap artid ária com o
objetivo da escolha do pré-candidato na convenção nacional, estadual ou municipal.
Essa propaganda é limitada ao prazo de 15 dias antes da data marcada pelo Partido
Político para a realização das convenções.
Não se tolera que antes do prazo, os aspirantes à pré-candidatura, coloquem
faixas ou placas nas vias públicas.
Durante o período permitido da propaganda intrapartidária é necessário se
estabelecer limites para a colocação das placas, faixas e assemelhados, pois é
comum que o pleiteante à pré-candidatura faça sua propaganda com a distância de
quilômetros do local da convenção. Sugere-se o máximo de 200 (duzentos) metros
em simetria ao art. 39, § 3 9 da Lei das Eleições.
Saliente-se que a nova Lei ns 12.034/09 incluiu o art. 36-A na Lei n9 9.504/97,
mas não autorizou que as prévias partidárias, encontros, reuniões, seminários e
congressos realizados às expensas dos partidos políticos e em ambiente fechado
pudessem usar os bens da Administração, ressalvando-se, por exemplo, o art. 51 da
Lei dos Partidos Políticos (Lei ns 9.096/95), quando possibilita a utilização pelos
órgãos partidários de escolas públicas e casas legislativas com vista à realização de
reuniões ou convenções, responsabilizando-se os mesmos pelos danos causados.

15.5.2. Art. 73, INCISO II DA LEI DAS ELEIÇÕES.

"usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas


Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos
e normas dos órgãos que integram”

4 4 2
C o n d u t a s V ed a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
e m C a m p a n h a s E l e it o r a is Capítulo 15

É importante salientar a vedação de veiculação de propaganda política eleitoral


através de sítios oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades da administração
direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, pois o
art. 57-C, § 1- , II da Lei das Eleições (introduzido pela Lei n9 12.034/09) aponta a
proibição e a respectiva sanção de multa que está prevista no § 2 e . No entanto, por
este meio (sítios na internet), apenas altera-se a pena de multa prevista no § 4 fi do
art. 73, que passa a ser a do § 2® do art. 57-C (regra especial em confronto com a
geral). Assim, as demais sanções estabelecidas no § 5S do art. 73, que são: cassação
do registro ou diploma, podem incidir cumulativamente com a multa especial de
acordo com a proporcionalidade.
Há de se observar que a configuração da conduta vedada em comento por
'exceder as prerrogativas' diz respeito à extrapolação da finalidade lícita relacionada
à atividade fim do agente, no exercício de sua função pública. Nesse diapasão,
cumpre ressaltar que a prática de propaganda eleitoral não se insere dentre as
prerrogativas do agente público, incluindo-se como tais as promoções pessoais
que tentam ocultar a real finalidade eleitoreira com o uso de recursos públicos,
violando, assim, a igualdade entre os candidatos.
É bom salientar, ainda, que as prerrogativas regimentais (constituindo-se
matéria interna corporis) não podem ser livremente estipuladas de forma a
contrariar a legislação em vigor e, assim, permitir a pessoalidade na destinação dos
recursos públicos, de forma a favorecer a pessoa do agente público em detrimento
da isonomia na competição política eleitoral. Desta feita, impende analisar, caso a
caso, as hipóteses do gasto do dinheiro público em consonância com o ordenamento
jurídico, em especial, com os princípios constitucionais que regem a Administração
Pública (art. 37, caput, da CRFB), o que não autoriza o uso de serviços públicos para
fins eleitoreiros.
É de se considerar, ainda, que o 'exceder' previsto no inciso em questão se refere
ao desvio da finalidade de se atender as prerrogativas, o que não engloba o gasto em
excesso da verba pública, que é tratado por outro ramo do Direito.
O C, TSE possui os seguintes precedentes pela configuração da conduta vedada
prevista no inciso II: Distribuição de Cestas básicas e Vales-combustível pela
Prefeitura. (Ac. N&21.316, d e 30.10.2003, r e i Min. Fernando Neves.); Asfaltamento
de área para realização de comício. (Ac. ng 19.417’, de 23.8.2001, r e i Min. Fernando
Neves.); Uso de papel timbrado da Prefeitura na campanha. (Ac. n- 25.073, de
28.6.2005, r e i Min. Humberto Gomes de B arros.); entretanto, se demonstrado o
uso de uma única folha de papel timbrado da administração não pode configurar
a infração do art. 73, II, da Lei n- 9.504/97, dada a irrelevância da conduta (Ac.
nB 25.073, d e 28.6.2005', r e i Min. H um berto Gomes d e Barros.).
Outros precedentes do C. TSE pela não configuração de conduta vedada em
comento: Informativo de feitos do candidato que não faça referência ao pleito em
questão, candidatura ou pedido de voto (Ac. n- 5.719, de 15.9.2005, r e i Min. Caputo

443
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Bastos.); utilização de empresa de ônibus contratada para o transporte de servidores


para transportar correligionários, desde que custeado pelo próprio candidato (Ac.
n- 4.246, de 24.5.2005, r e i Min. Luiz Carlos M adeira.); a divulgação de feitos de
deputado estadual em sítio da internet de Assembleia Legislativa. {TSE - Acórdão
Porto Velho - RO 1 6 /1 1 /2 0 0 6 , R elator JOSÉ GERARDO GROSSI, P ublicação DJ - Diário
de justiça, Data 1 9 /1 2 /2 0 0 6 , Página 225).

15.5.3. Art. 73, INCISO III DA LEI N° 9.504/97.

"ceder servidor público ou empregado da administração direta ou


indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de
seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido
político ou coligação, durante o horário de expediente normal, salvo se
o servidor ou empregado estiver licenciado"

Como se nota, a lei ressalva que o servidor possa trabalhar na campanha eleitoral
de um candidato quando não estiver no horário de expediente ou licenciado.
Algumas legislações procuram conter a influência do servidor público nas
eleições, seja quando age por intervenção ativa, ou ainda nos casos de colaboração.
0 uso do poder do servidor público na propaganda política eleitoral é punido, por
exemplo, na França, como crime no art. 109 do Decreto Presidencial n9 353/1993.
As licenças devem ser concedidas em atenção às normas funcionais e estatutos
dos servidores, pois caso contrário ocorrerá fraude no período de tempo de fruição
das mesmas. O período de férias do servidor não impede que ele possa trabalhar na
campanha.
Esta norma de neutralidade e garantia de equalização, pode ser facilmente
burlada e ensejará a análise administrativa do ato de concessão da licença, até
porque é cediço que não existe um controle legal e rigoroso sobre as nomeações
para as funções de confiança. Não são raros os prefeitos que nomeiam de forma
exagerada os servidores de confiança alcançando o limite do montante estabelecido
pela lei de responsabilidade fiscal com gastos de pessoal. Cria-se um círculo vicioso
que macula os bons préstimos da Administração.
A lei proíbe a atividade laborativa eleitoreira do servidor nos horários de
trabalho fixados pelas normas públicas vigentes, inclusive a cessão dos mesmos
entre os setores da Administração Pública, Os incisos IÍI e V do art. 73 da Lei das
Eleições devem ser interpretados de forma sistêmica.
O comitê de campanha é um organismo interno do partido político criado por
autorização estatutária de órgãos superiores e que objetiva divulgar e deliberar
sobre diversos temas e estratégias políticas. Desta forma, não é permitido ao
servidor federal, estadual ou municipal laborar em prol deste ente quando estiver
intencionado para as campanhas de candidatos.

444
C o n d u t a s V ed a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
e m C a m p a n h a s E l e it o r a is Capítulo 15

Tutela-se a supremacia do interesse público que não pode ser diminuída por
objetivos eleitorais. Atinge-se a legalidade dos atos da administração e a finalidade
pública acarretando efetivo desequilíbrio entre a relação da Administração e dos
administrados. É um desvio de poder de autoridade por ilegalidade explícita ao
texto da lei. Anula-se o ato e é possível punir os responsáveis não apenas na esfera
eleitoral, mas na seara da improbidade administrativa, penal e civil.

15.5.4. Art. 73, INCISO IV DA LEI N° 9.504/97.


Dispõe a regra:

"fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido


político ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de
caráter social custeados ou subvencionados pelo Poder Público”

A norma procura evitar a ação ou permissão de uma promoção direcionada a


uma candidatura especial ou de apoios em regiões eleitorais com os bens públicos
e serviços sociais.
A tutela é dúplice: as eleições e a seguridade social. Os objetivos republicanos em
matéria eleitoral podem ser vistos como eleições sem fraudes, processo eleitoral
periódico, legitimidade da votação e responsabilidade eleitoral, mas também
se direcionam para a gradual erradicação da pobreza e da marginalização com a
redução das desigualdades.
De fato só se constrói uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3 9 da Carta
Magna), quando as políticas públicas não se misturam com as políticas puramente
eleitorais. A primeira é contínua, permanente e se solidifica ao longo de um projeto
mais amplo. A segunda é momentânea, transeunte e não se traduz em objetivos
duradouros.
Podemos estabelecer algumas diferenças entre esta conduta vedada do inciso IV
do art. 73 e a captação ilícita de sufrágio do art. 41-A, a saber: 1) a conduta vedada
não exige o pedido de votos para o candidato, configurando-se a violação pela
promoção ou publicidade em favor do candidato, ou seja, ela é mais abrangente,
genérica; 2) a conduta vedada pode ser punida quando se faz a promoção em favor
do candidato, partido político ou até mesmo de uma coligação. Já a captação ilícita
de sufrágio só pune quando o pedido de votos for dirigido para um candidato
específico; 3} na conduta vedada o bem jurídico tutelado é a igualdade dos
concorrentes. Trata-se de uma garantia de neutralidade. A captação ilícita de
sufrágio resguarda a liberdade do eleitor, a vontade soberana do eleitor votar sem
pressões ou benefícios; 4) a conduta vedada proíbe a distribuição por ação (fazer
ou permitir expressamente) ou omissão (permissão tácita) do agente público ou
não de bens ou serviços que sejam oriundos de custeio público. A captação ilícita de
sufrágio abrange a vantagem de qualquer natureza (pública ou privada), inclusive

445
M a r c o s R a m ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

empregos e funções na próxima gestão do mandatário político, mas se manifesta


em condutas de natureza ativa ou comissiva (doar, oferecer, promoter e entregar);
e 5) na conduta vedada a distribuição é puramente gratuita. Para caracterizar a
captação ilícita de sufrágio pode nem sempre ocorrer a gratuidade da oferta, mas o
preço abaixo do valor de mercado do bem ofertado.
Ambas as condutas podem ser cumulativas, inclusive demandam a análise da
tipicidade penal (por exemplo, o art. 299 do Código Eleitoral) e da improbidade
administrativa.
Cumpre ainda o exame das correlatas vedações dos § 10 e 11 do art. 73 da Lei
Eleitoral, que proíbem nos anos eleitorais a distribuição gratuita de bens, valores
e benefícios e a execução de programas sociais por entidades vinculadas aos
candidatos.

15.5.5. Art. 73, INCISO V DA LEI N° 9.504/97.


Disciplina a norma legal:

"V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa


causa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar
ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir
ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses
que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno
direito, ressalvados:
a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou
dispensa de funções de confiança;
b) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público,
dos Tribunais ou Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da
República;
c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados até
o início daquele prazo;
d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao
funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia e
expressa autorização do Chefe do Poder Executivo;
e) a transferência ou remoção ex officio de militares, policiais civis e de
agentes penitenciários;”

As regras acima tutelam as eleições objetivando a manutenção de uma igualdade


entre os candidatos, bem como procuram resguardar a impessoalidade e a
moralidade no exercício funcional.
No entanto, as formas detalhadas na lei estão vinculadas a uma determinada
"circunscrição do pleito”. Significa que, se as eleições forem municipais, cada
município se sujeita, nos limites do seu território, à observância das regras. Na mesma

4 4 6
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
em C a m p a n h a s E l e i t o r a is C a p ít u l o 1 5

linha de entendimento do legislador, se as eleições forem nacionais (presidente e


vice-presidente) ou estaduais e regionais (governador, vice-governador, senador,
deputado federal, distrital ou estadual), a vedação não atinge os municípios.
A proibição da nomeação, contratação ou admissão de servidor público e outras
formas elencadas na lei, deve se sujeitar a uma análise dos agentes públicos cujos
cargos estejam em disputa, pois omitiu o legislador à inclusão da ampla proibição,
a respeito de uma realidade fremente que se manifesta pela influência e apoio
político de chefes do executivo municipal para as campanhas nas esferas estaduais
e federais.
E ainda, o § 7 9 do art. 14 da Constituição Federal, faz menção ao território da
'jurisdição do titular*. Leia-se: 'território da circunscrição'. Essa regra deveria ser
utilizada como parâmetro para aplicação da conduta vedada do inciso V do art. 73
da Lei das Eleições. Por exemplo, à semelhança do que ocorre com a inelegibilidade
relativa ou reflexa: o filho do Governador não pode ser candidato à Prefeito em
município abrangido pelo território do Estado em que seu pai exerce o mandato,
ressalvada as exceções legais. Assim, com a mesma razão, se a eleição é estadual, nos
municípios que se encontram no território daquele Estado não se deveria admitir as
formas de contratação do inciso V do art. 73. A influência e o apoio político eleitoral
podem ser camuflados pela regra permissiva.
Todavia, a jurisprudência e a doutrina não entendem desta última forma,
preferindo considerar, apenas, como circunscrição do pleito, para fins do inciso V
do art. 73, a esfera federativa em que ocorre a disputa eleitoral.
As normas vedatórias compreendem o seguinte período de tempo: três meses
antes da eleição até a posse dos eleitos, observando-se o calendário eleitoral.
É im portante salientar que, além das sanções previstas nos parágrafos 4 Q e
59 do art. 73 da Lei das Eleições, ou seja, multa suspensão imediata da conduta,
cassação do registro ou do diploma, os atos estão sujeitos à d eclaração da
nuiidade pela própria Administração Pública ou pelo Poder Judiciário. Neste
último caso, a com petência para decretar a nuiidade dos atos administrativos
será da Justiça Eleitoral, considerando a violação das normas jurídicas e sua
natureza, com repercussões nas eleições e nos mandatos eletivos. A via judicial
adequada é o mandado de segurança ou a ação ordinária, de competência dos
juizes eleitorais das respectivas zonas eleitorais que abrangem o local do ato
eivado de nuiidade.
Cabe ao interessado (funcionário prejudicado) impetrar o mandado de segurança,
admitindo-se, inclusive, a formação de um litisconsórcio com a intervenção do
promotor eleitoral que exerça as atribuições na respectiva zona eleitoral do local
do fato. Nada impede que o Ministério Público possa propor a medida judicial para
nulificar o ato administrativo ilegal.

4 4 7
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Cumpre frisar que a Justiça Eleitoral é competente para declarar a nulidade do


ato, e até determinar a reintegração do servidor. Entretanto, em relação aos direitos
trabalhistas, a competência desloca-se para a Justiça Comum ou Trabalhista, a
depender da natureza do contrato de trabalho.
Oportuno colacionar alguns julgados sobre o tema:
(...) 13. 0 art. 73, V, da Lei ns 9.504/97 veda, nos três meses que antecedem
ao pleito, as condutas de nomear, contratar ou, de qualquer forma, admitir,
demitir sem justa causa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros
meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover,
transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito [...], sua
alínea a impõe ressalva quanto a nomeação ou exoneração de cargos em
comissão e designação ou dispensa de funções de confiança. Entretanto, é
necessário que se apure a existência de desvio de finalidade. No caso, por um
lado, estes cargos comissionados foram criados por decreto, com atribuições
que não se relacionavam a direção, chefia e assessoramento, em afronta
ao disposto no art. 37, V, CR/88; por outro, os decretos que criaram estes
cargos fundamentaram-se na Lei Estadual ne 1.124/2000, sancionada pelo
governador anterior, cuja inconstitucíonalidade foi declarada pelo Supremo
Tribunal Federal apenas em 3.10.2008 (ADIn 3.232,3.390 e 3.983, fls. 10.886-
10.911). Abuso de poder caracterizado com fundamento: a) no volume de
nomeações e exonerações realizadas nos três meses que antecederam o
pleito; b) na natureza das funções atribuídas aos cargos que não demandavam
tamanha movimentação; c) na publicidade, com nítido caráter eleitoral
de promoção da imagem dos recorridos, que foi vinculada a estas práticas
por meio do programa Governo mais perto de você,(...) Recurso a que se dá
provimento para cassar os diplomas dos recorridos. (TSE, Recurso Contra
Expedição de Diploma -698, ACÓRDÃO PALMAS - TO 25/06/2009, Relator
FELIX FISCHER, Publicação DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Volume
Tomo 152/2009, Data 12/08/2009, Página 28/30).
(...) 4. A ressalva da alínea d do inciso V do art, 73 da Lei ns 9.504/97
só pode ser coerentemente entendida a partir de uma visão estrita da
essencialidade do serviço público. Do contrário, restaria inócua a finalidade
da lei eleitoral ao vedar certas condutas aos agentes públicos, tendentes
a afetar a igualdade de competição no pleito. Daqui resulta não ser a
educação um serviço público essencial. Sua eventual descontinuidade, em
dado momento, embora acarrete evidentes prejuízos à sociedade, é de ser
oportunamente recomposta. Isso por inexistência de dano irreparável à
“sobrevivência, saúde ou segurança da popuIação".(...) RECURSO ESPECIAL
ELEITORAL (TSE, ACÓRDÃO CUIABÁ - MT 12/12/2006 Relator: CARLOS
AUGUSTO AYRES DE FREITAS BRITTO Publicação DJ - Diário de justiça,
Data 12/02/2007, Página 135).
(...) 1. As disposições contidas no art. 73, V, Lei ne 9.504/97 somente são
aplicáveis à circunscrição do pleito. 2, Essa norma não proíbe a realização de
concurso público, mas, sim, a ocorrência de nomeações, contratações e outras

4 4 8
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
e m C a m p a n h a s E l e i t o r a is C a p ít u l o 15

movimentações funcionais desde os três meses que antecedem as eleições até


a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito. 3. Arestrição imposta
pela Lei ns 9.504/97 refere-se à nomeação de servidor, ato da administração
de investidura do cidadão no cargo público, não se levando em conta a posse,
ato subsequente à nomeação e que diz respeito à aceitação expressa pelo
nomeado das atribuições, deveres e responsabilidades inerentes ao cargo.
(...) CONSULTA (TSE, RESOLUÇÃO 21806 BRASÍLIA - DF 08/06/2004 Relator:
FERNANDO NEVES DA SILVA Publicação DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data
12/07/2004, Página 02, RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume
15, Tomo 2, Página 393).

15.5.6. Art. 73, INCISO VI DA LEI N° 9.504/97.

"VI - nos três meses que antecedem o pleito:


a) realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados
e Municípios, e dos Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de
pleno direito, ressalvados os recursos destinados a cumprir obrigação
formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento
e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situações de
emergência e de calamidade pública;
b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham
concorrência no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos,
programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais,
estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração
indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim
reconhecida pela Justiça Eleitoral;
c) fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário
eleitoral gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se
de matéria urgente, relevante e característica das funções de governo;"

Como se nota, na letra 'a', a finalidade da lei foi impor limitações ao envio de
recursos para os Estados e Municípios nos 3 (três) meses que antecedem as eleições
( julho, agosto e setembro, inclusive outubro) nos anos eleitorais evitando-sé o
abuso do poder político e até econômico. Ê uma norma de precaução que procura
neutralizar o abuso político na utilização eleitoreira dos recursos públicos, mesmo
que sejam necessários à comunidade.
De fato, cumpre ao ente federativo planejar e administrar a destinação e gastos
dos recursos públicos, sem que eles sejam teleguiados por motivos eleitorais e que
possam favorecer uma determinada candidatura.
A competência legislativa sobre o orçamento é concorrente, conforme disposto
no art. 24, 1 e II da Constituição Federal. Nesta linha cumpre ainda observar as
diretrizes legais das despesas e da gestão administrativa.

4 4 9
M arcos R amayan a D ir e it o E l e it o r a l

Sobre o tema orçam ento deve-se consultar a Lei de Diretrizes Orçamentárias


(LDO), arts. 4 4 a 53 e a Lei n e 1 1 .1 7 8 , de 20 de setem bro de 2 0 0 5 , bem como
as lim itações im postas pela Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2 0 0 0 e
em relação ao ente municipal, a Lei n9 1 0.257/ 2001 (Estatuto da Cidade),
sendo ainda observados os princípios da unidade, universalidade, anualidade,
legalidade e exclusividade, que integram a base de interpretação das normas
orçam entárias.
As transferências chamadas de voluntárias são definidas como: "(...) sã o os
recursos fin a n ceiros rep assad os p e la União a o s Estados, Distrito F ed eral e Municípios
em decorrên cia da celeb ra çã o d e convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos
sim ilares cuja fin a lid a d e é a realização de o b ra s e/o u serviços d e interesse comum
e coincidente às três esfera s do Governo. Conforme a Lei de R esponsabilidade
Fiscal enten de-se p o r tran sferên cia voluntária a entrega de recursos correntes
ou de cap ital a outro ente da Federação, a título de coo p era çã o, auxílio ou
assistência fin an ceira, qu e não decorra de determ in ação con stitu cion al legal ou
os destin ados a o Sistem a Único de Saúde" (fonte: www.tesouro.fazenda.gov.br).
Na alínea 'b’, a lei impede a influência do eleitorado por propagandas institucionais
que valorizem a atuação de determinada gestão administrativa, ressalvando-se os
casos de grave e urgente necessidade pública. Não se exige apenas a u rgência da
comunicação, mas também a gravidade do fato ocorrido, sob pena de eventual
representação na forma legal.
0 prazo de 3 (três) meses é insuficiente para afastar a utilização indevida e
abusiva da propaganda institucional, que acaba se desvirtuando e gerando gastos
excessivos ao ente federativo. É importante frisar que a In tern et passa a se constituir
num poderoso veículo de comunicação de propaganda institucional que também é
controlada.
0 dispositivo legal deve ser analisado com os §§ 10 e 11 da Lei n- 9.504/97.
Assim, ressalvado o caso de urgência e gravidade, cuja mensuração se dá por
critérios da análise do local dos fatos, a lei também perm ite a propaganda de
produtos e de serviços que co n co rra m no m ercad o. No entanto, não se pode
camuflar este tipo de propaganda em benefício de determ inada candidatura,
seja ela nacional, estadual ou municipal. Exemplo, um serviço c o m o o sedex do
correio.
É importante frisar que a lei necessita de aprimoramentos, porque ela só se
aplica na esfera de disputa da eleição dentro de determinada circunscrição eleitoral.
Desta forma, a propaganda institucional do ente federal não sofre restrições
quando a eleição é municipal. Todavia, se ficar efetivamente caracterizado o
desvirtuamento doloso é possível a caracterização do abuso político e das sanções
legais.

450
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
e m C a m p a n h a s E l e i t o r a is C a p ít u l o 15

Por fim, a alínea c , veda a utilização do horário eleitoral gratuito no rádio e


televisão para fins eleitorais, pois está limitado aos pronunciamentos com o
somatório da relevância, urgência e de matérias governamentais. Veda-se a utilização
eleitoreira, e ainda, só pode ser veiculado o pronunciamento se for autorizado pela
Justiça Eleitoral.
Os pronunciamentos podem ser de Ministros, Secretários, Chefes do Executivo,
sejam ou não candidatos à eleição ou reeleição. A norma não limita o agente público
que faz o pronunciamento, mas novamente está vinculada a circunscrição eleitoral
em disputa na eleição específica, segundo trata o parágrafo terceiro do art. 73 da
Lei das Eleições.
Sobre propaganda gratuita no rádio e televisão salientam-se os arts. 44 até 57
da Lei das Eleições.
Impende frisar a proibição pela internet de propaganda, ainda que gratuita,
em determinados sítios que tenham conotação pública, como por exemplo, os dos
órgãos oficiais do Município (art. 57-C e § 1- , II, da Lei das Eleições).

15.5.7. Art. 73, INCISO VH DA LEI N° 9.504/97

“VII - realizar, em ano de eleição, antes do prazo fixado no inciso anterior,


despesas com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou
municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta,
que excedam a média dos gastos nos três últimos anos que antecedem
o pleito ou do último ano imediatamente anterior à eleição".

0 tipo vedatório é complementar ao da regra do inciso VI, 'b' do mesmo artigo


legal, além de ter uma natureza preventiva, pois exige um planejamento dos agentes
públicos para evitar o abuso do poder político e até econômico.
0 custo com a propaganda institucional não pode ser mais oneroso ao ente
federativo nos anos eleitorais. Na verdade, não se deveria permitir no ano eleitoral
a propaganda governamental, até porque ela possui regras constitucionais que
devem ser obedecidas, conforme trata o art. 37, § 1- da Carta Magna.
Verifica-se que esta regra incide desde o início do ano de eleição, não se
limitando aos 3 (três) meses anteriores. Assim, é uma norma de complemento que
possui nítido caráter preventivo e tutelar dos gastos públicos. Evitam-se atos de
improbidade administrativa com o desvirtuamento do dinheiro público em prol das
campanhas eleitorais, mesmo que ainda não existam pré-candidatos ou candidatos.
Exige-se a prévia previsão orçamentária e a norma não se sujeita a limitações de
circunscrições em que se disputam as eleições. No ano de eleição é vedado o gasto, seja
ele do orçamento da União, dos Estados ou Municípios, pois é evidente a correlação e
o nexo de afetação política no apoio entre candidatos e Partidos Políticos.

451
M a r c o s R am a ya n a D ir eito E leitoral

A interpretação de maior economicidade na análise da média dos gastos deve


prevalecer na aplicação da norma legal de natureza pública. Desta forma, por
exemplo, são dois critérios que devem ser cumulativos, a saber: primeiro, é a média
dos gastos dos últimos 3 (três) anos e o segundo, é o gasto efetuado no ano anterior
à eleição. Assim, o gasto do ano da eleição não pode ultrapassar aquela média e nem
as despesas do ano anterior.
A lei não cria uma definição muito precisa, mas em razão da prevenção e
economicidade é sempre importante levar em consideração a menor média dos
anos anteriores e o gasto total da publicidade que deve ser limitado no orçamento,
além de não se contabilizar todos os 12 (doze) meses do ano de eleição.
Na jurisprudência:
(...) 1. É automática a responsabilidade do governador pelo excesso de
despesa com a propaganda institucional do estado, uma vez que a estratégia
dessa espécie de propaganda cabe sempre ao chefe do executivo, mesmo
que este possa delegar os atos de sua execução a determinado órgão de
seu governo. 2. Também é automático o benefício de governador, candidato
à reeleição, pela veiculação da propaganda institucional do estado, em
ano eleitoral, feita com gastos além da média dos últimos três anos. (...)
(TSE, RECURSO ESPECIAL ELEITORAL ACÓRDÃO 21307 GOIÂNIA - GO
14/10/2003 Relator: FRANCISCO PEÇANHA MARTINS Relator designado:
FERNANDO NEVES DA SILVA. Publicação DJ - Diário de justiça, Volume 1,
Data 06/02/2004, Página 146, RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE,
Volume 15, Tomo 1, Página 224).

15.5.8. Art. 73, INCISO VIII DA LEI N° 9.504/97.

"VIII - fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração


dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu
poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo
estabelecido no art. 7- desta Lei e até a posse dos eleitos".

A norma deve ser interpretada com a lei de responsabilidade fiscal, Lei


Complementar ne 101/2000, art. 18. No entanto, prevalecem as regras da lei
posterior (lei de natureza complementar).
Previne-se o uso eleitoreiro do dinheiro público, especialmente quando o chefe
do executivo assume despesas com servidores que são inviáveis de serem cumpridas
pelo sucessor político.
A norma somente impede que na esfera da circunscrição eleitoral afeta ao pleito
eleitoral (p.ex., eleições municipais) em disputa possa ocorrer a revisão geral da
remuneração dos servidores públicos, mas é inegável o nexo de influência indireta,

452
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
em . C a m p a n h a s E l e it o r a is C a p ít u l o 15

por exemplo, nos municípios com os aumentos aos servidores estaduais, pois todos
são eleitores e os chefes dos executivos podem formar alianças políticas. No entanto,
a lei não exclui expressamente esta forma de influência nas campanhas eleitorais.
Por fim, importante colacionar alguns julgados sobre o tema:
SUBSÍDIO - REVISÃO. Consoante dispõe o art. 73, inciso VIII, da Lei
ne 9.504/97, é lícita a revisão da remuneração considerada a perda do poder
aquisitivo da moeda no ano das eleições. PROCESSO ADMINISTRATIVO
(TSE, RESOLUÇÃO 22317 BRASÍLIA - DF 01/08/2006. Relator: MARCO
AURÉLIO MENDES DE FARIAS MELLO Publicação DJ - Diário de justiça, Data
28/08/2006, Página 103).
REMUNERAÇÃO - SERVIDOR PÚBLICO - REVISÃO - PERÍODO CRÍTICO.
VEDAÇÃO-Art. 73, INCISO VIII, DACONSTITUIÇÃO FEDERAL. A interpretação
- literal, sistemática e teleológica ~ das normas de regência conduz à conclusão
de que a vedação legal apanha o período de cento e oitenta dias que antecede
às eleições até a posse dos eleitos. CONSULTA (TSE, RESOLUÇÃO n9 22252
BRASÍLIA - DF 20/06/2006 Relator: JOSÉ GERARDO GROSSI. Publicação DJ -
Diário de justiça, Data 01/09/2006, Página 130).
A aprovação, pela via legislativa, de proposta de reestruturação de carreira
de servidores não se confunde com revisão geral de remuneração e, portanto,
não encontra obstáculo na proibição contida no art. 73, inciso VIII, da Lei
n° 9.504, de 1997. (TSE, RESOLUÇÃO 21054 BRASÍLIA - DF 02/04/2002
Relator: FERNANDO NEVES DA SILVA. Publicação DJ - Diário de Justiça, Data
12/08/2002, Página 120, RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume
13, Tomo 3, Página 345).

15.5.9. Art. 74 DA LEI DAS ELEIÇÕES. ABUSO DE AUTORIDADE. Art. 37,


§ 1o DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
A Lei ns 12.034/09 alterou a redação do art. 74 da Lei das Eleições para incluir
a sanção de cancelamento do diploma, vez que se limitava apenas a anulação do
registro do candidato.
O art. 37, § l e da Constituição Federal trata das hipóteses relativas à promoção
pessoal do candidato que exerce o mandato eletivo. Trata-se, na maioria dos casos
do governante que utiliza a publicidade institucional da Administração Pública na
campanha eleitoral.
Objetiva-se com a norma assegurar a isonomia entre os candidatos, considerando
que a prática do ato independentemente da potencialidade lesiva já é suficiente
para atingir o eleitor e a higidez das campanhas eleitorais.
Desse modo sobre o rito processual das condutas do art. 74 da Lei das Eleições,
destacamos o texto da lei abaixo descrito:

453
M a r c o s R a m ayan a D ir e it o E l e it o r a l

"Art. 74. Configura abuso de autoridade, para os fins do disposto no art.


22 da Lei Complementar ne 64. de 18 de maio de 1990. a infringência do
disposto no § 1- do art. 37 da Constituição Federai, ficando o responsável,
se candidato, sujeito ao cancelamento do registro ou do diploma".

Percebe-se que o legislador não exclui a menção ao art. 22 da Lei das


Inelegibilidades. Nessa linha é mantida a posição jurisprudencial do C.TSE sobre o
assunto: "(...) Quanto à violação ao art. 74 da Lei ns 9.504/97, o Tribunal Superior
Eleitoral firmou entendimento de que a promoção pessoal do governante em
publicidade institucional da administração (CF, art. 37, § l e ) é passível de apuração
na investigação judicial ou na representação por conduta vedada. Nesse sentido: Ag
ne 4,271/SP, rei. Min. Fernando Neves, DJ 20.6.2003".
Como se depreende, se o fato abusivo praticado pela autoridade tiver o
condão de causar a potencialidade lesiva ele também gerará a declaração de
inelegibilidade, acarretando a aplicação dos incisos XIV e XV do art. 22 da Lei das
Inelegibilidades (interposição do recurso contra a expedição do diploma, art. 262,
IV do Código Eleitoral, no prazo de três dias). Caso contrário, perscrutada a média
lesão (proporcionalidade do fato no contexto da campanha eleitoral), adota-se o
rito do art. 22, incisos I a XIII, inclusive preservando-se a similitude com o rito
das condutas vedadas do art. 73 da mesma lei. Nesta hipótese não se declara a
inelegibilidade, mas sim as sanções de cassação do registro ou do diploma. Afasta-
se, no entanto, o art. 96 da Lei das Eleições.
A representação arrimada no art. 74 da Lei das Eleições conduz à cassação do
registro ou diploma, sendo que a decisão terá efeito imediato na forma do art. 257
do Código Eleitoral. Neste sentido (TSE Acórdão n e 21.380. Recurso Especial
Eleitoral, relator Ministro Sepúlveda Pertence, Diário da Justiça em 6.8.2004). No
entanto, se houver pedido de declaração de inelegibilidade, neste ponto, aguarda-se
o trânsito em julgado da decisão com a aplicação do art. 1,inciso I, alínea "d", da Lei
Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990.
O § l 9 do art. 37 da Constituição Federal assim versa: "A publicidade dos atos,
programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter
educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos”
Como se nota, a igualdade nas campanhas eleitorais deve ser um norte da tutela
do devido processo legal eleitoral, eliminando-se ao máximo a interferência da
pessoalidade administrativa, que é a uma faceta do abuso do poder de autoridade.
O candidato utiliza ilicitamente da autopromoção pessoal com recursos públicos
auferindo vantagem eleitoreira.
As condutas podem ser praticadas de diversas formas, tais como: sítio na internet,
campanhas esportivas, educativas, temas ligados a prevenção de doenças, eventos
culturais, prêmios anunciados, cartazes referentes às olimpíadas e jogos.

4 5 4
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
em . C a m p a n h a s E l e it o r a is C a p ít u l o 1 5

Ressalva-se a publicação de atos estritam ente oficiais como as leis, observando-


se a absoluta neutralidade eleitoral,
0 exame das questões factuais é bem amplo, mas a linha de punição deve se
amoldar na preservação da igualdade sem o uso indevido dos recursos públicos, até
porque o ato pode ainda configurar o crime do art. 40 da Lei ne 9.504/97.
De certo, que o C. TSE possui jurisprudência que não afasta a permanência de
certas placas de obras públicas, quando não se identificam os futuros pré-candidatos
(TSE. Acórdãos números 19.326 e 24.722).
Por fim, se os fatos forem cumulativos com outros, os legitimados ativos da
representação ( Partido Político, Candidato, Coligação e o Ministério Público) podem
adotar a eventual cumulação de pedidos na forma do art. 22 da Lei Complementar
n2 64, de 18 de maio de 1990.
A competência para o processo e julgamento das representações seguirá
o disposto no art. 2 - da Lei Complementar n- 64/90 e o art. 36, § 5 9 da Lei
n9 9.504/97 (inclusão da Lei n- 12.034/09), abaixo transcrito,

"§ 5- A comprovação do cumprimento das determinações da Justiça


Eleitoral relacionadas a propaganda realizada em desconformidade
com o disposto nesta Lei poderá ser apresentada no Tribunal Superior
Eleitoral, no caso de candidatos a Presidente e Vice-Presidente da
República, nas sedes dos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais, no
caso de candidatos a Governador, Vice-Govemador, Deputado Federal,
Senador da República, Deputados Estadual e Distrital, e, no Juízo
Eleitoral, na hipótese de candidato a Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador".

Tenha-se presente que se o candidato usar de recursos públicos para a sua


campanha eleitoral, inclusive na modalidade de publicidade, tal infração se subsume
em fonte vedada (art. 24 da Lei das Eleições), que acarreta a desaprovação das
contas, art. 30, III da Lei ne 9.504/97 e a possibilidade de propositura da ação de
captação de gastos ilícitos de recursos, art. 30-A da mesma lei. A representação do
art. 30-A segue o mesmo rito do art, 22, incisos I a XIII da Lei das Inelegibilídades,
prevendo-se a sanção de cassação do diploma ou até mesmo a negação em sua
outorga.

15.5.10. SHOWS ARTÍSTICOS PAGOS COM RECURSOS PÚBLICOS.


VEDAÇÃO. REPRESENTAÇÃO. RITO.
A Lei ns 9.504/97 foi alterada pela Lei n9 12.034/09, que incluiu um parágrafo
único no art. 75, nos seguintes termos:

“Art. 75. Nos três meses que antecederem as eleições, na realização de


inaugurações é vedada a contratação de shows artísticos pagos com
recursos públicos.

455
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento do disposto neste


artigo, sem prejuízo da suspensão imediata da conduta, o candidato
beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do registro
ou do diploma".

0 dispositivo legal sanciona os agentes públicos, candidatos ou não que objetivam


a autopromoção eleitoral usando dos recursos públicos na contratação de shows
artísticos.
Não se pode olvidar que o § 1- do art. 39 da Lei das Eleições proíbe a realização
de showmício, e eventos assemelhados para a animação de reuniões eleitorais,
independentemente da regra acima sobre ' as inaugurações'.
Desta forma, se o infrator viola a regra do § 7° do a r t 39 poderá se sujeitar
a sanção de crime de desobediência, art. 347 do Código Eleitoral (após a devida
notificação). Poderá responder por abuso do poder econômico, desde que sua
conduta seja potencialmente lesiva (aplicação dos arts. 22, I a XV da Lei das
Inelegibilidades), e se a conduta não tiver potencialidade, mas proporcionalidade
responderá pelo art. 30-A da Lei das Eleições (negação e cassação do diploma), além
da desaprovação das contas por irregularidade na forma do art. 30, III da mesma
lei eleitoral.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n- 101, de 04 de maio de
2000), nos arts. 22, parágrafo único IV, 32, parágrafo primeiro, I, 32, parágrafo
quarto, I, e 42 possui regras que devem ser observadas em contratações.
Quanto às campanhas eleitorais, veda-se a partir de julho, a aludida contratação
de shows artísticos pagos com recursos públicos para animar inaugurações já
agendadas ou não.
As sanções impostas pelo parágrafo único do art. 75 da Lei das Eleições são: a)
suspensão imediata da conduta (liminar ou cautelar); b) cassação do registro; e c)
cassação do diploma.
Tenha-se presente que o legislador poderia ter inserido o cap u t do a r t 75 como
inciso do art. 73, mas preferiu destacar a regra atribuindo-lhe um caráter autônomo,
quando na essência ela é um ato similar aos demais. Trata-se de uma modalidade de
conduta vedada.
No entanto, ao contrário do a r t 74, o art. 75 não menciona o rito do a r t 22 da
Lei das Inelegibilidades, criando uma distinção indesejada entre os procedimentos
para sancionar as condutas vedadas. O correto seria a apuração da violação do
a r t 75 com o procedimento do art. 22 da Lei Complementar nQ64, de 18 de maio
de 1990.
Em razão destas considerações podemos enquadrar a infração do art. 75 de
duas formas: se o ato analisado na hipótese concreta representar uma conduta
potencialmente lesiva que demandar a ação de investigação judicial eleitoral deve-
se adotar o rito do art. 22, incisos I a XV da Lei das Inelegibilidades, porque, neste

456
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
em C a m p a n h a s E l e i t o r a is C a p ít u l o 1 5

caso, se estará pleiteando a declaração de inelegibilidade cora a sanção de cassação


do registro, trilhando-se com a diplomação a interposição do recurso contra a
expedição do diploma, na forma do art. 262, IV do Código Eleitoral, que objetivará a
inelegibilidade e a cassação do diploma.
Se o ato ilícito for praticado sem os revestimentos fáticos necessários à
caracterização da conduta potencialmente lesiva (não é caso de ação de investigação
judicial eleitoral}, mas restar suficiente a média lesão que acarreta o exame da
proporcionalidade ou razoabilidade, adota-se o rito do art. 96 da Lei das Eleições,
que já é o parâmetro para a conduta do art. 77 da mesma lei eleitoral (TSE:. Acórdão
n9 24.877), inclusive em relação ao prazo recursal de 24 (vinte e quatro) horas
previsto no art. 96, § 8 9 da norma legal. Desconsidera-se, portanto, o procedimento
da lei das inelegibilidades, até porque não se busca nesse momento a declaração da
mesma, mas reservam-se os pedidos na cassação do registro ou diploma. Não há
previsão de multa.
0 rito sumário do art. 96 da Lei das Eleições é sempre a regra geral, que somente
será afastada quando a própria lei ressalvar a sua aplicação, por exemplo, arts. 30-
A, 41-A e 74. Nesse sentido (TSE. Acórdão n- 25.443).
Todavia, nada impede que o juiz eleitoral possa aplicar o rito do art. 2 2 ,1 a XII da
Lei das Inelegibilidades, quando ocorrer média lesão (proporcionalidade), na forma
de previsão regulamentar do C.TSE, conforme já foi adotado nas eleições municipais
de 2008, nos seguintes termos:

“Art. 23. As representações que visarem à apuração das condutas


vedadas pelos arts. 30-A e 41-A da Lei ne 9.504/97 seguirão o rito
previsto nos incisos I a XIII do art. 22 da Lei Complementar n9 64/90.
Parágrafo único. O rito aludido no caput poderá ser adotado pelo juiz
para a apuração das chamadas condutas vedadas aos agentes públicos
em campanha e, nesse caso, isso deverá constar do despacho inicial".

Como visto, nesta hipótese, deverá constar do despacho da petição inicial da


representação a adequação do rito .
O rito do art. 2 2 ,1 a XIII da Lei das Inelegibilidades permite uma maior amplitude
probatória com oitiva de testemunhas e realização pericial.

15.5.11. O RESSARCIMENTO DAS DESPESAS COM O USO DE


TRANSPORTE OFICIAL

Art. 76. O ressarcimento das despesas com o uso de transporte oficial


pelo Presidente da República e sua comitiva em campanha eleitoral
será de responsabilidade do partido político ou coligação a que esteja
vinculado.

457
M a r c o s R am ayan a D ir e i t o E l e it o r a l

§ l s 0 ressarcimento de que trata este artigo terá por base o tipo


de transporte usado e a respectiva tarifa de mercado cobrada no
trecho correspondente, ressalvado o uso do avião presidencial, cujo
ressarcimento corresponderá ao aluguel de uma aeronave de propulsão
a jato do tipo táxi aéreo.
§ 2- No prazo de dez dias úteis da realização do pleito, em primeiro
turno, ou segundo, se houver, o órgão competente de controle interno
procederá ex officio à cobrança dos valores devidos nos termos dos
parágrafos anteriores.
§ 3 e A falta do ressarcimento, no prazo estipulado, implicará a
comunicação do fato ao Ministério Público Eleitoral, pelo órgão de
controle interno.
§ 4° Recebida a denúncia do Ministério Público, a Justiça Eleitoral
apreciará o feito no prazo de trinta dias, aplicando aos infratores pena
de multa correspondente ao dobro das despesas, duplicada a cada
reiteração de conduta.

A regra é uma norma de exceção, porque permite o uso de bem e serviços públicos
nas campanhas eleitorais, quando o Presidente da República é, por exemplo,
candidato a reeleição ou ainda quando apoia determinado sucessor político.
No entanto, o ressarcimento das despesas fica sob a responsabilidade do Partido
Político ou da coligação. Todavia, a lei especificou apenas o reembolso quando se tratar
do próprio Presidente e de sua comitiva, cujo número de integrantes não é previsto na
lei. Assim, indiretamente autoriza-se que a segurança e os servidores de apoio possam
seguir no avião presidencial, sem que essa conduta esteja sujeita a reembolso. No
local de destino todos acabam se confundindo como um grande grupo de servidores e
agentes. Assim, o ressarcimento das despesas ao erário público é de difícil mensuração.
As demais autoridades que pretendem se candidatar aos mandatos eletivos e
que acompanham o Presidente não podem se constituir em agentes da comitiva e
reembolsar o erário púbiico. Neste caso, a análise da hipótese pode ensejar o abuso
do poder político. No entanto, a lei deveria prever um mecanismo similar aos Vices,
Ministros, Governadores, Prefeitos e Secretários, pois não são raros os casos em que
estas autoridades utilizam por questões necessárias à própria segurança veículos,
aeronaves e embarcações, inclusive serviços e agentes, misturando-se a atividade fim
com os interesses eleitorais que camuflam o abuso do poder político. Desta forma,
é evidente que o legislador só se preocupou com a figura do Presidente, olvidando-
se dos demais agentes políticos que exercem relevantes serviços. As regras devem
ser mais específicas, inclusive para se evitar a subjetividade de interpretação e a
fomentação de desigualdades nas campanhas eleitorais.
Quanto ao ressarcimento cabe ao órgão de controle interno cobrar as despesas e
na omissão ao Ministério Público, que adotará o rito do art. 96 da Lei das Eleições
para fins da sanção de multa.

4 5 8
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
e m C a m p a n h a s E l e it o r a is C a p ít u l o 15

15.5.12. COMPARECIMENTO DOS CANDIDATOS NAS INAUGURAÇÕES


DE OBRAS PÚBLICAS. SANÇÕES E RITO PROCESSUAL.
As redações do art. 77 e parágrafo único da Lei n5 9.504/97 foram alteradas
para o seguinte texto:

“Art. 77. É proibido a qualquer candidato comparecer, nos 3 (três) meses


que precedem o pleito, a inaugurações de obras públicas.
Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo sujeita o
infrator à cassação do registro ou do diploma".

O compareeimento nas inaugurações das obras públicas de pessoas que sejam


candidatos está proibido pela norma legal.
A lei alcança todos os candidatos ao Poder Executivo ou Legislativo, ao contrário
da norma anterior que obstaculizava a participação dos candidatos aos mandatos
do Poder Executivo. Não há mais distinção. Correta a norma, pois impede artifícios
de palanques eleitorais que demonstravam em alguns casos a participação indireta
do candidato.
Cumpre observar que a lei compreende o pré-candidato, candidato sub ju d ice ou
0 que já está com registro deferido pela Justiça Eleitoral.
Não se exige mais a participação por discursos e distribuição de propagandas, pois
a expressão comparecer impede a presença no evento. Nessa linha de interpretação
decidiu o C.TSE (RESPE Ns 19.743/SP), analisando a expressão ‘participar'. No
entanto, não se vedam as inaugurações que fazem parte do planejamento da
Administração Pública.
O objetivo da norma é assegurar a isonomia entre os candidatos afastando a
influência marcante da inauguração de obras públicas direcionadas para o ano
eleitoral. Tutela-se o devido processo legal eleitoral das campanhas eleitorais e o
princípio da igualdade.
Desta forma, se o ato causar potencialidade lesiva será adotado o rito da
investigação judicial eleitoral por abuso do poder político ou de autoridade (art. 22,
1 a XV da Lei Complementar n9 64/90), que nos remete ao sistema da interposição
do recurso contra a expedição do diploma (art. 262, IV do Código Eleitoral).
Todavia, se a conduta for perpetrada com lesão proporcional ao pleito eleitoral, o
rito será o sumário do art. 96 da Lei das Eleições. Mais uma vez, o legislador poderia
ter inserido o conteúdo normativo do art. 77 e do seu parágrafo único de forma
topográfica dentre um dos incisos do art. 73 da Lei das Eleições, considerando que
o caso é de uma conduta vedada, cuja aplicação dos parágrafos quarto e quinto
traduziriam as sanções mais adequadas, inclusive com a aplicação da a pena de
multa. 0 prazo recursal seguirá a regra do art. 96, § 8° da Lei n- 9.504/97, ou seja,
24 (vinte e quatro) horas.

4 5 9
M a r c o s R am ayan a D ir h t o E leitoral

0 C.TSE poderá disciplinar o tema seguindo o disposto no art. 23, parágrafo


único da Resolução TSE n9 22.624/ 07 ( resolução para as eleições de 2008), que
assim versa:

"Art. 23. As representações que visarem à apuração das condutas


vedadas pelos arts. 30-A e 41-A da Lei n2 9.504/97 seguirão o rito
previsto nos incisos I a XIII do art. 22 da Lei Complementar n2 64/90.
Parágrafo único. O rito aludido no caput poderá ser adotado pelo juiz
para a apuração das chamadas condutas vedadas aos agentes públicos
em campanha e, nesse caso, isso deverá constar do despacho inicial".

Desta forma, se no despacho inicial da petição da representação para punir a


prática de conduta vedada o juiz aplicar a alteração do rito do art. 96, se aceita
a aplicação do art. 2 2 . I a XH da Lei das In elegibilíd ad es. pois a regra geral é a
adoção do rito sumário do art. 96 da Lei das Eleições. A vantagem do rito previsto
na lei das inelegibilídades é a produção probatória.
Os parágrafos quarto e quinto do art. 73 da Lei das Eleições determinam as
sanções aplicáveis pela Justiça Eleitoral, quando ocorrerem violações aos incisos do
caput e ao § 10 do mencionado artigo da lei.
As sanções são: suspensão im ediata da conduta, m ulta, cassação do registro
ou do diploma.
A violação proporcional ao disposto no art. 73 e incisos ensejará as sanções
acima descritas, mas não é obrigatória a aplicação incondicional da cassação do
diploma. Neste sentido: TSE. Acórdãos ne s 25.770 e 25.994.
Não se pode olvidar da hipótese em que o fato praticado é de elevada gravidade,
quando ocorrerá a potencialidade lesiva, que por sua vez ensejará a declaração de
inelegibilidade com a devida incidência do rito do art. 2 2 ,1a XVda Lei Complementar
n9 64, de 18 de maio de 1990.
O § 5 9 do art. 73 da Lei das Eleições foi devidamente complementado pela
redação da Lei nfi 12.034/09, não fazendo mais a distinção das sanções acima
destacadas em relação aos incisos do mesmo artigo da lei. Assim, se o infrator violar
qualquer dos incisos do art. 73, inclusive o § 10, responderá pelas sanções na forma
legal.
0 C. TSE tem, reiteradamente, decidido pela aplicação proporcional dessas
penalidades, de acordo com a gravidade do ilícito. Nesse sentido:
Agravo regimental. Recurso especial. Conduta vedada. Penalidades.
Fixação. Proporcionalidade. Princípio constitucional. Sujeição. TRE.
Entendimento. Propaganda institucional. Descaracterização. Abuso
de autoridade. Eleição. Resultado. Desequilíbrio. Potencialidade.
Ausência. Matéria de fato. Prova. Reexame. Impossibilidade. Decisão
agravada. Manutenção.

4 6 0
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
e m C a m p a n h a s E l e it o r a is C a p ít u l o 1 5

Na fixação da multa a que se refere o § 4 e do art. 73 da Lei n2 9.504/97, ou


mesmo para as penas de cassação de registro e de diploma estabelecidas no § 5 2 ,
deve ser levada em conta a gravidade da conduta, em atenção ao princípio da
proporcionalidade. Vale dizer:

se a multa cominada no § 4& é proporcional à extensão do ilícito eleitoral


não se aplica a pena de cassação.

Ademais, a adoção da proporcionalidade na aplicação dessas penalidades


mostra-se mais adequada, porquanto, caso exigível potencialidade para todas as
proibições descritas na norma, poderiam ocorrer situações em que, diante de um
fato de somenos importância, não se poderia sequer aplicar uma multa, de modo a
punir o ilícito averiguado.
Concluído pelo TRE não ser aplicável a pena de cassação prevista no § 5o do
art. 73 da Lei das Eleições, por não vislumbrar excesso na propaganda veiculada
no sítio da prefeitura, rever esse entendimento demandaria o reexame de fatos e
provas, o que encontra óbice na Súmula-STF nQ 279.
Quanto à imputação de abuso de autoridade, prevista no art. 74 da Lei das
Eleições, também assentada pela Corte de origem a ausência de potencialidade do
fato para influir no resultado do pleito, revê-la exige o reexame do conjunto fático
probatório, vedado nesta instância especial.
Mantém-se a decisão agravada, pelos seus próprios fundamentos, quando estes
forem insuficientemente infírmados.
Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento ao agravo regimental.
Unânime.
Agravo R egim ental no Recurso E special E leitoral ng 35.456/SP, r e i Min. Arnaldo
Versiani, em 8.9.2009
Os Partidos Políticos beneficiados pelos atos de condutas vedadas ainda são
punidos no valor dos recursos recebidos pelo Fundo Partidário, mas neste caso
deve-se adotar a proporção prevista no § 3 2 do art. 37 da Lei n- 9.096/95, seja
em razão do período de tempo de 1 (um) mês a 12 (doze) meses, ou por meio de
desconto do valor repassado da importância apontada como irregular.
Assim, o § 9 - do art. 73 da lei das Eleições deve ser interpretado com o atual
§ 3- do art. 37 da Lei dos Partidos Políticos (Lei ns 9.096/95).
É importante ressaltar o teor do § 11 do art. 73 da Lei das Eleições em razão da
inclusão da Lei ns 12.034/09, conforme assim disposto:

"§ 11. Nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o § 10


não poderão ser executados por entidade nominalmente vinculada a
candidato ou por esse mantida".

461
M a r c o s R am ayan a D ir eito E leitoral

E diz o § 10,

§ 10. No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição


gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração
Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de
emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução
orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público
poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e
administrativa.

Desta forma, a regra do § 11 veda que os chamados ' Centros Sociais’, entidades
mantidas por candidatos em bolsões de pobreza que objetivam angariar votos
populares pelo assistencialismo político, possam vincular por propagandas e
formas ainda que indiretas de publicidade a pessoa do pré- candidato ou candidato.
Assim, aquelas pessoas que aspiram a pré-candidatura, também se sujeitam a
incidência da norma, ou seja, a vedação já emerge no ano de eleição, não sendo
necessário aguardar a escolha do pré-candidato na convenção e o requerimento de
registro de sua candidatura (arts. 8 e e 11 da Lei das Eleições).
É ilícita a vinculação ao nome do futuro aspirante à candidatura eletiva, bem
como a manutenção financeira da entidade (sociedade civil, fundação, pessoas
jurídicas, organização da sociedade civil de interesse público e organizações não
governamentais) quando estiverem realizando os programas sociais (distribuição
gratuita de remédios, bens em geral, cestas básicas etc.)
Não se pode perder de vista, que além das sanções impostas para as demais condutas
vedadas, ainda é possível analisar a captação ou gastos ilícitos de recursos, a captação
ilícita de sufrágio e o eventual abuso do poder político e econômico (arts. 30-A e 41-A
da Lei n2 9.504/97 e 22 da Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990).
O § 11 do art. 73 da Lei das Eleições é, na verdade, um complemento explicativo
do § 10 do mesmo artigo e poderá ensejar as sanções dos parágrafos quarto e quinto
relativas as condutas vedadas.
Outrossim, mesmo nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou
programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária, os aspirantes
à candidaturas eletivas não podem manter seus nomes vinculados ou custear as
entidades que distribuem bens, valores ou benefícios nos anos de eleição.
A tutela jurídica objetiva resguardar a isonomia entre os candidatos, excluindo
favorecimentos e assistencialismo puramente político nos anos de eleição, afastando
a influência do poder de autoridade com o desvio de recursos e a projeção pessoal
do benfeitor como opção ao eleitor.
Aassistênciasocialnão pode ser desvirtuada daslídimas diretrizes constitucionais
e legais para atender nominalmente uma classe de futuros candidatos em detrimento
de outros igualmente aptos à disputa das eleições.

462
C o n d u t a s V e d a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
em C a m p a n h a s E l e i t o r a is C a p ít u l o 15

Não se nega que os direitos sociais aos programas são prestações necessárias
e positivas de cunho obrigatório dos Poderes Públicos que devem atender aos
hipossuficientes. No arcabouço dos direitos sociais se situa a seguridade e a
assistência social, que não podem servir de moeda eleitoreira para beneficiar
alguns tipos especiais de candidatos desafiando a lisura das eleições e o regime
democrático.
Os serviços públicos e programas sociais devem se tornar operativos e eficazes
independentemente de nomes e manutenção financeira de pessoas que possam
auferir vantagens pessoais e eleitorais.
É importante salientar que as normas sobre condutas vedadas podem seguir
sete vertentes-, que são cuffluiatir n s qu não : a p rim eira é a da punição prevista
na própria lei das eleições, ou seja, suspensão da conduta ilegal, multa, cassação do
registro ou diploma (art. 73, §§ 4 - e 59 da Lei n9 9.504/97); a segunda é a punição
por ato de improbidade administrativa (Lei n9 8.429/92, art. 12, III, não é a ação
de improbidade de competência da Justiça Eleitoral, pois em regra é da Justiça
Comum), por exemplo, suspensão dos direitos políticos, ressarcimento ao erário,
indisponibilidade dos bens, multa e perda do cargo público; a terceira é a hipótese
criminal, pois algumas das infrações podem ensejar a tipificação como peculato,
corrupção eleitoral, etc., a quarta, ensejará a análise das sanções previstas no
art. 1- , I, "h" e inciso XIV do art. 22 da Lei das Inelegibilídades (Lei Complementar
n9 64/90), por exemplo, a inelegibilidade por abuso do poder político e a cassação do
registro; a quin ta é o ajuizamento da ação de captação ilícita de sufrágio, art. 41-A
da Lei das Eleições para certos casos, por exemplo, entrega de cestas básicas; a
sexta é a propositura da representação do art. 30-A da Lei n9 9.504/97 (captação
ou gastos ilícitos de recursos) com a sanção de negação ou cassação do diploma,
pois não haverá a possibilidade de contabilização para a campanha eleitoral de bens
e usos de materiais de origem pública; e a sétim a é a desaprovação das contas de
campanha eleitoral, art. 30, III da Lei das Eleições.
A aplicação destas sanções sempre dependerá da análise do local dos fatos, tipo
de eleição, quantidade dos bens e serviços e das pessoas beneficiadas.
As condutas vedadas são ações Ilícitas autônom as com carga de
proporcionalidade ou razoabilidade, que não necessitam da prova da denominada
'potencialidade lesiva'. A proporcionalidade não é equiparada à potencialidade. A
quantidade e o local podem ensejar a declaração da inelegibilidade que é sempre
um grau maior de magnitude da ação, e aí teremos a potencialidade.
Em simetria com as representações por captação ilícita de sufrágio e captação
ou gastos ilícitos de recursos, não se pode exigir a prova da potencialidade lesiva
para a configuração das condutas vedadas, considerando ainda a possibilidade de a
punição ser aplicada por equalização e compensação, ou seja, nem sempre ocorrerá
a cassação ou nulificação do diploma, por exemplo, poderá incidir apenas a pena de
multa (§ 4 - do art. 73).

46 3
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

1 5 .6 . RITO PRO C ESSU A L DA REPRESENTAÇÃO PARA APLICAR


A S SANÇÕES D ECO RREN TES DA VIOLAÇÃO AO ART. 73 DA LEI
DAS ELEIÇÕ ES.
A Lei ns 12.034/09 acrescentou o § 12 ao art. 73 da Lei ne 9.504/97, nos
seguintes termos:

§ 12. A representação contra a não observância do disposto neste artigo


observará o rito do art. 22 da Lei Complementar ns 64, de 18 de maio
de 1990, e poderá ser ajuizada até a data da diplomação.

Note-se que a menção ao rito do art. 22 da Lei das Inelegibilidades afasta a


aplicação do rito do art. 96 da Lei ne 9.504/97 para as condutas vedadas dispostas
nos parágrafos do art. 73 da lei das eleições (TSE. Acórdão nQ28.158).
Convém ponderar que podem ser defendidas duas posições em relação ao
devido processo legal eleitoral para a aplicação das sanções das condutas vedadas:
a prim eira posição se filiaria ao rito integral do art. 22, ou seja, dos incisos I a
XV, aplicando-se o sistema imposto no inciso XV que nos leva a interposição do
recurso contra a expedição do diploma (art. 262, IV do Código Eleitoral), e nos
casos de abuso do poder econômico ainda se poderá propor a ação de impugnação
de impugnação ao mandato eletivo (art. 14, § 10 e 11 da CRFB).
Os defensores desta posição sempre estariam vinculando o efeito da declaração
de inelegibilidade aos casos de condutas vedadas, pois ao se admitir a incidência
do inciso XIV do art. 22 da Lei das Inelegibilidades não se poderiam desvincular as
sanções da Lei nB 9.504/97 em relação à própria declaração de inelegibilidade por
abuso do poder político ou econômico.
Com efeito, as condutas vedadas passariam a exigir de forma incondicional a
constatação da potencialidade lesiva e a declaração de inelegibilidade.
Uma segunda posição, que estará mais alinhada com a efetiva proteção
proporcional e razoável das campanhas políticas inseridas no cenário da disputa
eleitoral, adotará o rito do art. 22, incisos I a XIII da Lei das Inelegibilidades,
porque, nem sempre as condutas vedadas possuem o perfil fático de
potencialidade lesiva para efetivam ente desequilibrar as eleições é a que obriga
o intérprete a analisar a hipótese concreta e amoldá-la a sanção mais ju sta em
razão do local dos fatos, quantidade dos eleitores e tipo de eleição (proporcional
ou m ajoritária).
Desse modo, a aplicação do rito do art. 22, incisos I a XIII, estaria também
em consonância com o rito adotado para outras representações que remetem ao
rito art. 22 da Lei Complementar ns 64/90, como: a captação ilícita de sufrágio e
representação ou ação de captação e gastos ilícitos de recursos (arts. 30-A da Lei
ns 9.504/97).

4 6 4
C o n d u t a s V ed a d a s a o s A g e n t e s P ú b l ic o s
em C a m p a n h a s E l e it o r a is C a p ít u l o 15

Por outro lado, a Lei n- 12.034/09 que introduziu a regra do §s 12 do art. 73 é lei
de natureza ordinária, sendo que as inelegibilidades só podem estar previstas em
lei complementar, segundo o disposto no art. 14, § 92 da Constituição Federal. Não
se poderia exigir a potencialidade lesiva que é causa geradora de inelegibilidade
com previsão em lei de perfil ordinário.
Como se depreende não se sustenta a primeira posição acima aludida,
considerando que nem sempre as ilicitudes verificadas por violação às regras
do art. 73 e parágrafos se amoldam como atos de potencialidade lesiva capazes
de desequilibrar as eleições. Por exemplo, se um Prefeito candidato à reeleição
usa apenas 2(dois) servidores para a campanha eleitoral, violando o inciso 111
do art. 73 da Lei das Eleições, certamente não terá o seu diploma anulado, mas
poderá se sujeitar a aplicação da pena de multa dentro de parâmetros razoáveis
de interpretação das sanções previstas nos parágrafos quarto e quinto do mesmo
artigo da lei.
Conclusão: podemos ter a incidência das condutas vedadas, que são formas de
desvio ou abuso do poder político ou de autoridade exteriorizadas numa campanha
eleitoral da seguinte forma: a) razoáveis ou proporcionais que são aptas a ensejar
as sanções dos parágrafos quarto e quinto do art. 73 da Lei das Eleições (suspensão
imediata da conduta, multa, cassação do registro ou diploma) e, b) potencialmente
lesivas que deslocam a sanção para a aplicação da inelegibilidade (art. 22, XIV da Lei
Complementar n9 64/90), Neste último caso, deve-se seguir o rito do art. 22, incisos
í a XV da Lei das Inelegibilidades com o sistema que nos remete à interposição do
recurso contra a expedição do diploma (art. 262, IV, do Código Eleitoral), exceto
se for possível identificar a separação dos fatos abusivos durante as campanhas
eleitorais. Por exemplo, o Prefeito candidato à reeleição no dia 10 de agosto distribui
bens e serviços sociais em quantidade abusiva violando o disposto no art. 73, IV da
Lei das Eleições. Um fato. No dia 30 de agosto nomeou servidores em desacordo a
norma do inciso V do art. 73 da mesma lei, mas neste outro fato não se caracterizou
a potencialidade lesiva. Assim, pelo primeiro fato responderá por inelegibilidade,
mas pelo do dia 12 de agosto incidirá apenas nas sanções dos parágrafos quarto e
quinto do art. 73 de forma proporcional.
É possível a cumulação de pedidos na petição inicial da representação, pois se
segue o mesmo rito (art. 22 da Lei das Eleições), mas com relação à nuiidade do
diploma baseada no primeiro fato acima destacado, é necessária após a diplomação,
a interposição do recurso contra a expedição do diploma (art. 262, IV do Código
Eleitoral). Como se nota, é necessário analisar a hipótese concreta, pois se for um
fato único que demande a inelegibilidade atrelada a anulação do diploma, o correto
é trilhar a interposição do recurso contra a expedição do diploma (art. 262, IV, do
Código Eleitoral).
Observe-se que o C. TSE na respeitável decisão abaixo destacada considera com
acerto a gravidade da conduta:

465
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

"Agravo regimental. Recurso especial. Conduta vedada. Penalidades.


Fixação. Proporcionalidade. Princípio constitucional. Sujeição. TRE.
Entendimento. Propaganda institucional. Des caracterização. Abuso
de autoridade. Eleição. Resultado. Desequilíbrio. Potencialidade.
Ausência. Matéria de fato. Prova. Reexame. Impossibilidade. Decisão
agravada. Manutenção.
Na fixação da multa a que se refere o § A- do art. 73 da Lei
n2 9.504/97, ou mesmo para as penas de cassação de registro e de
diploma estabelecidas no § 5e , deve ser levada em conta a gravidade
da conduta, em atenção ao princípio da proporcionalidade. Vale
dizer: se a multa cominada no § 4- é proporcional à extensão do
ilícito eleitoral, não se aplica a pena de cassaçãoAdemaisJ-i*,a.dQ-Çãp.
da proporcionalidade-na-aplicação dessas penalidades mostra-se
mais adequada. porquantQ. caso e^dgiveltiQtguçiaüdadejara tQdas
as proibições descritas na norma, poderiam ocorrer situações em
que, diante de um fato de somenos importância, não se poderia
sequer aplicar uma multa, de modo a Punir o ilícito averiguado.
Concluído pelo TRE não ser aplicável a pena de cassação prevista no § 5a do
art. 73 da Lei das Eleições, por não vislumbrar excesso na propaganda
veiculada no sítio da prefeitura, rever esse entendimento demandaria o
reexame de fatos e provas, o que encontra óbice na Súmula-STF ns 279.
Quanto à imputação de abuso de autoridade, prevista no art. 74 da Lei
das Eleições, também assentada pela Corte de origem a ausência de
potencialidade do fato para influir no resultado do pleito, revê-la exige o
reexame do conjunto fático probatório, vedado nesta instância especial.
Mantém-se a decisão agravada, pelos seus próprios fundamentos,
quando estes forem insuficientemente infirmados.
Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento ao agravo
regimental. Unânime. Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral
n5 35.456/SP, rei. Min. Arnaldo Versiani, em 8.9.2009".

15 .7 . PRAZO FINAL DA REPRESENTAÇÃO PREVISTA NO § 12 DO


ART. 73 DA LEI DAS ELEIÇ Õ ES.
A Lei n- 12.034/09 fixou a data da diplom ação, por exemplo, o dia 17 de
dezembro de 2010 (a depender da data prevista no Calendário Eleitoral), como
sendo o prazo final para a propositura da representação que objetiva apurar as
violações ao art. 73 e parágrafos da Lei das Eleições.
Como se pode notar, o prazo final não é mais o dia da realização do pleito (como vinha
entendendo a jurisprudência, até a edição da nova lei), mas sim o da diplomação dos
eleitos. Não há que se aduzir sobre a falta de interesse de agir, quando a representação
é ofertada após às eleições, mas até a data da diplomação. Assim, não prevalece mais
C o n d u ta s V ed ad as a o s A g en t e s p ú b l ic o s
em C a m p a n h a s E l e i t o r a is C a p ít u l o 15

o entendimento jurisprudencial do C.TSE sobre esse ponto da questão (TSE. Acórdão


na 7978). Nesta linha fica superada a questão do prazo de 5 (cinco) dias do conhecimento
do fato para a propositura da representação (TSE Acórdão n- 873).
Registre-se que se o diplomado praticou atos de m édia gravidade lesiva, ou
seja, analisados dentro de critérios de proporcionalidade, ele estará sujeito as
sanções de multa e cassação do diploma (§§ 4 S e 5 S do art. 73 da Lei n9 9.504/97),
mas nada impede que a Justiça Eleitoral possa aplicar apenas a pena de multa em
razão dos fatos, considerando o local, a quantidade, o abalo na eleição, e a influência
nos eleitores.
Neste caso, o prazo limite será o dia da diplomação, mas se a conduta extrapola
critérios de proporcionalidade e se amolda a atos de potencialidade lesiva por
abuso de autoridade, que acarretam a declaração de inelegibilidade vinculada a
nulidade do diploma, é possível a interposição do recurso contra a expedição do
diploma no prazo de 3 (três) dias contados da diplomação ( art. 262, IV e 264 do
Código Eleitoral). Observe-se, contudo, que para a admissão deste recurso exige-se
prova pré-constituída.

15.8. PRAZO DO REC U RSO


O § 13 do art. 73 da Lei n9 9.504/97 estipula o prazo de 3 (três) dias, a contar da
publicação do julgamento no Diário Oficial para a interposição e razões de recurso
das decisões prolatadas nos autos das representações por condutas vedadas.
Trilhou o legislador a regra geral dos prazos recursais afastando o prazo do
§ 8S do art. 96 da Lei das Eleições, que é de 24 (vinte e quatro) horas. Desta forma,
harmoniza-se o prazo com o disposto nos arts. 258 e 2 6 4 do Código Eleitoral.
C apítulo 16

R epresentação po r violação à
lei Na 9 . 5 0 4 / 9 0

A Lei ns 9.504, de 30 de setembro de 1997, que "Estabelece normas para as


eleições", em seu art. 96 e parágrafos, trata sobre as reclamações ou representações
relativas aos descumprimentos das normas eleitorais (leis eleitorais e resoluções do
Tribunal Superior Eleitoral), ressalvando-se as disposições específicas em contrário.
0 legislador criou uma nova espécie de ação de jurisdição contenciosa eleitoral,
cuja destinação é basicamente coibir a propaganda política eleitoral irregular.
A hipótese legal da reclamação do art. 96 da Lei n9 9.504/97 não se confunde
com as reclamações previstas nos Regimentos Internos dos Tribunais Regionais
Eleitorais e do Tribunal Superior Eleitoral. Nesse sentido, a função básica
deste outro tipo de reclamação é "preservar a competência deste Tribunal ou
para garantir a autoridade de suas decisões" (Reclamação n9 219/RS, Rei. Min.
Fernando Neves, em 16 de setembro de 2003). Destaca-se:
Direito Eleitoral e Processual. Reclamação. Inadmissibilidade na
espécie em face do pedido. Antecipação da tutela. Revogação. Eficácia
no tempo. Liminar indeferida e reclamação inadmitida. Nos termos
do art. 15, parágrafo único, V, do RITSE, somente cabe reclamação
para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade
das suas decisões. Os reclamantes, no caso, não requerem que seja
garantida a autoridade da decisão deste Tribunal na Ação Rescisória
n2 68, mas sim que seja revista a sentença do juiz eleitoral quanto
à aplicação dos §§ 3- e 4° do art. 175 do Código Eleitoral, para que
prevaleça o entendimento de que os votos recebidos pelos candidatos
inelegíveis sejam computados como nulos, e não para a legenda pela
qual disputaram o pleito. Nesse entendimento, o Tribunal indeferiu
a liminar e a própria reclamação. Unânime. Reclamação n9 134/TO,
Rei. Min. Sálvio de Figueiredo, em 18.12.2001.
Como se nota, as reclamações ou representações, em face da propaganda
política eleitoral irregular, são inovadoras formas de obtenção de uma tutela
jurisdicional consentânea com os princípios de Direito Eleitoral, especialmente,
os da celeridade e lisura das eleições.
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

16.1. RITO PRO C ESSU A L


0 processamento das mesmas segue um rito extremamente célere, inclusive em
cotejo com o das Ações de Captação Ilícita de Sufrágio (art. 41-A da Lei ne 9.504/97),
Investigação Judicial Eleitoral (arts. 22 e seguintes da Lei Complementar na 64, de
18 de maio de 1990) e Impugnação ao Mandato Eletivo (art. 14, §§ 10 e 11, da
CRFB).
A toda evidência, as ações que visam ao indeferimento, à perda ou ao cancelamento
do registro de candidaturas ou de diplomas são processadas por ritos específicos
dentro do processo eleitoral. Os arts. 96 e seguintes, portanto, possuem campo de
incidência processual diferenciado.
Consagra-se uma ritualidade sumária na aplicação das multas eleitorais, bem
como no abrigo da prevenção das mais variadas espécies de propaganda política
eleitoral irregular, sendo ainda a via adequada para impedir ou fazer cessar a
propaganda criminosa, independentemente das providências penais relativas à
punição dos autores de crimes eleitorais.
Quanto à necessidade do seguimento estrito do rito processual, o TSE tem
precedente:
Representação por descumprimento de preceito da Lei ne 9.504/97.
Necessidade de obediência ao rito estabelecido nos parágrafos do
art. 96 da citada lei, inclusive o prazo de 24 horas para a decisão.
Possibilidade de o pedido ser dirigido ao órgão superior quando tal
prazo não é cumprido. Hipótese em que o feito aguarda decisão há
quatro meses. Representação acolhida para determinar ao Tribunal
Regional que encaminhe os autos da representação original ao Tribunal
Superior Eleitoral, a fim de que a mesma seja decidida por um de seus
juizes auxiliares. Resolução ne 20,366, de 25.9.1998. Representação
ne 147, Classe ns 30a/MA (Matinha). Relator: Ministro Fernando Neves.
Representante: Ministério Público Federal, por seu vice-procurador-
geral eleitoral. Representado: Tribunal Regional Eleitoral/MA. Decisão:
unânime em julgar procedente a representação. No mesmo sentido, a
Resolução ns 20.367, de 25.9.1998".
O Tribunal Superior Eleitoral em recente interpretação por resolução
disciplinadora das reclamações e representações de que cuida o art. 96 da Lei
na 9.504/97, Res. TSE n9 22.142/06 decidiu que:

" Art. 19. As representações que visarem à apuração das hipóteses


disciplinadas no art. 41-A da Lei ns 9.504/97 seguirão o rito previsto nos
incisos I a XIII do art. 22 da Lei Complementar ne 64/90, sendo facultativa
a adoção do mesmo procedimento no que se refere à apreciação das
chamadas condutas vedadas aos agentes públicos em campanha".

470
R e p r e s e n t a ç ã o p o r V i o l a ç ã o à L e i n ° 9 .5 0 4 / 9 0 C a p ít u l o 1 6

Já havia entendimento de que a prática das condutas vedadas do art. 73 da Lei


ne 9.504/97 seguia o processo do rito sumário do art. 96 da lei de regência.
Com esta nova interpretação, consagrada em norma regulamentar, abre-se novo
precedente para se tentar estabelecer de forma mais consentânea com o devido
processo legal quais seriam as condutas vedadas que estariam tipificadas para fins
de incidência do rito do art. 22 da Lei Complementar n9 64/90.
A norma antes aludida ressalvou de forma facultativa a adoção do rito da Lei das
Inelegibilidades, não alterando, portanto, a posição de que se utilize como regra o
rito do art. 96 da Lei das Eleições.
Podemos concluir que temos dois ritos: um de natureza facultativa, que é o da Lei
das Inelegibilidades; e o outro, de natureza genérica, ou seja, o do art. 96 da Lei das
Eleições. De certo que o trâmite processual do art. 96 é mais célere.
Cumpre observar que em determinadas hipóteses é necessária a oitiva de
testemunhas. O rito previsto no art. 96 da Lei n9 9.504/97 não obriga o juiz à oitiva
de testemunhas, assim, o autor da ação judicial deve optar pelo rito do art. 22 da Lei
Complementar n9 64/90, onde é permitida a dilação probatória.
A jurisprudência possui duas co rren tes sobre a admissão de oitiva de
testemunhas no rito do art. 96 da Lei ns 9.504/97.
A primeira, admite a oitiva. Neste sentido: (TSE-AG. 1717, Campo Grande,
MS, ReL Nelson Azevedo Jobim, publicação 13.08.1999, p. 86, DJ. A segunda, não
aceita a dilação probatória seguindo critério de interpretação literal do art. 96 e
parágrafos da Lei das Eleições e em razão do princípio da celeridade que informa o
procedimento (TSE. Agravo regimental em Recurso Especial Eleitoral 19.611, Cotia,
SP, Diário d a Justiça, vol. 1, 9.8.2002, p. 206).
A nossa posição é favorável à primeira corrente, especialmente em razão da
natureza da matéria eleitoral, dos abusos e condutas ilícitas e do disposto no § 9 S
do artigo 14 da Constituição da República, que dispara um comando eficaz de tutela
jurisdicional à coibição das condutas ilícitas eleitorais. Em igual sentido, adotamos
a norma do a r t 23 da Lei das Inelegibilidades, pois cumpre ao Tribunal formar
sua convicção pela "... livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e
presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que
não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de
lisura eleitoral1'.
Em acréscimo à primeira corrente, podemos ainda salientar que o TRE/SP
possui precedente de que se a representação foi deflagrada após as eleições não
haverá rigor da exiguidade do prazo para julgamento, permitindo-se, desta forma,
a oitiva de testemunhas (TRE/SP AGREG 15582, SP, relator Fernando Antônio Maia
da Cunha, DOE 23.10.2003).

471
M a r c o s R a m ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

Admite-se ainda, excepcionalmente, a oitiva de testemunhas, quando foram


"graves as conseqüências e a natureza dos fatos” (TRE/SC, Representação XI-2409,
Florianópolis-SC Relatora Eliana Paggiarin Marinho, publicado em sessão do dia
18.10.2006).

16.1.1. REPRESENTAÇÃO POR PROPAGANDA ELEITORAL IRREGULAR.


PRÉVIO CONHECIMENTO.
No que tange, especificamente, à representação para reprimir a propaganda
eleitoral irregular, prevê a lei um requisito específico, conforme abaixo explanado.
O art. 40-JB e parágrafo único da Lei nfi 9.504/97 (inclusão da Lei ne 12.034/09),
assim dispõem:

"Art. 40-B. A representação relativa à propaganda irregular deve


ser instruída com prova da autoria ou do prévio conhecimento do
beneficiário, caso este não seja por ela responsável.
Parágrafo único. A responsabilidade do candidato estará demonstrada se
este, intimado da existência da propaganda irregular, não providenciar,
no prazo de quarenta e oito horas, sua retirada ou regularização e, ainda,
se as circunstâncias e as peculiaridades do caso específico revelarem
a impossibilidade de o beneficiário não ter tido conhecimento da
propaganda".

As resoluções temporárias do Egrégio TSE que disciplinam a propaganda


política eleitoral, por exemplo, a Resolução ne 22.718/08 (Eleições Municipais),
art. 65 e parágrafo único, já contemplavam a regra do art. 40-B. No caso, o art. 40-B
incorporou normas regulamentares ao texto da Lei ne 9.504/97.
Primeiro, o juiz da fiscalização eleitoral notifica o infrator para retirar a
propaganda política eleitoral irregular. Com o transcurso do prazo de 48 (quarenta
e oito) horas sem o cumprimento da ordem judicial estará demonstrado o prévio
conhecim ento e a inequívoca insistência na permanência da infração. O retorno ao
local, após o transcurso do prazo sem a retirada do material indevidamente exposto
e sua certificação nos autos, é prova capaz de conduzir a certeza da multa.
A súmula n9 18 do C.TSE assim trata: "Conquanto investido do poder de polícia,
não tem legitimidade o juiz eleitoral para, de ofício, instaurar procedimento com a
finalidade de impor multa pela veiculação de propaganda eleitoral em desacordo
com a Lei n9 9.504/97".
As peculiaridades do caso podem conduzir a presunção da autoria e até mesmo
na formação de um elo seguro de indícios veementes que revelam a inequívoca
ciência da violação da regra da propaganda pelo seu beneficiado.
Assim, restos de placas, testemunhas locais, fotografias em jornais e revistas,
laudos periciais, autos de infração, interesse do candidato em fazer propaganda
numa determinada região, sítios, filmagens, o histórico do candidato em votações

472
R e p r e s e n t a ç ã o p o r V i o l a ç ã o à L e i n ° 9 .5 0 4 / 9 0 C a p ít u l o 1 6

anteriores e outros meiós de prova podem ser elementos seguros ao abrigo da


sentença final. Formata-se um conjunto capaz de conduzir as sanções previstas na
legislação eleitoral.
A representação ou reclamação é utilizada como o devido processo legal para
reprimir condutas em desacordo com os dispositivos da Lei ne 9.504/97, em
especial, a propaganda política eleitoral irregular.
Como exemplo, podemos citar o caso abaixo ementado:
Agravo regimental. Reclamação. Descabimento. Recurso próprio. Substituição.
Impossibilidade. Decisão agravada. Manutenção.
A reclamação de que trata o art. 96 da Lei ne 9.S04/97 diz respeito a matéria
que envolva inércia ou morosidade da Justiça Eleitoral na prática dos atos
necessários ao cumprimento dos dispositivos da Lei das Eleições, e nos casos
de descumprimento da lei pelo órgão judicante eleitoral, desde que não
haja previsão de recurso próprio. Mantém-se a decisão agravada, pelos seus
próprios fundamentos, quando estes forem insuficientemente infirmados.
Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento ao agravo regimental
Unânime.
(TSE, Agravo Regimental na Reclamação n- 545/RN, rei Min. Marcelo Ribeiro,
em 22,4.2009. ~ Noticiado no informativo n5 12/09).

16.2. O BJETIV O
A reclamação objetiva impedir a propaganda irregular e/ou criminosa, através
de decisão mandamental ou, ainda, punir o infrator com a pena de multa eleitoral,
admitindo-se a concessão de liminar.
O Tribunal Superior Eleitoral tem precedente de que a prova produzida nas
reclamações não tem o condão de ser considerada pré-constituída.
"Acórdão ne 19.585, de 16.4.2002. Recurso Especial Eleitoral
nfi 19.585/PR. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Ementa:
I. Recurso de diplomação. Prova pré-constituída para os fins
do art. 262, IV, Código Eleitoral: sua conceituação é questão de
direito probatório, e não de prova. Inidoneidade, para lastrear
recurso contra a diplomação, de prova obtida em reclamação
ou representação fundadas no art. 96 da Lei ns 9.504/97, cujo
procedimento sumarissimo não viabiliza a plenitude da ampla
defesa contra a imputação de fatos complexos. À apreciação dos
fatos se destinou o procedimento amplo do art. 22 da LC ne 64/90.
II. Abuso do poder político ou econômico: não o caracteriza, por si
só, o fato incriminado no art. 40 da Lei ne 9.504/97."
Como se vê, as reclamações, além de terem uma finalidade restrita, não podem,
isoladamente, ser usadas como provas pré-constituídas ao Recurso contra a
Diplomação (art. 262, IV, do Código Eleitoral). De toda sorte servem de prova para

473
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

a propositura das Ações de Impugnação ao Mandato Eletivo ou Captação Ilícita de


Sufrágio, inclusive de suporte probatório para o exame da opinio delicti do Ministério
Público na deflagração da denúncia por crime eleitoral.
Sem dissimetria, as provas produzidas nas reclamações podem ser renovadas
nas Ações de Impugnação ao Pedido de Registro de Candidaturas, Captação Ilícita
de Sufrágio, Investigação Judicial Eleitoral e Impugnação ao Mandato Eletivo.
Admite-se a reclamação para as hipóteses de direito de resposta.
Acórdão ne 197, de 24.10.2002. Reclamação n2 197/DE Relator:
Ministro Gerardo Grossi. Ementa: Reclamação. Propaganda eleitoral.
Horário gratuito. Alegação de descumprimento de ordem judicial (RP
ns 603). Emissora de televisão. Pedido de suspensão de programação
por 24 horas. Efetivo descumprimento, pela emissora, de ordem
do TSE de não veicular inserção. Relevante a explicação trazida
pela reclamada de que em primeira hora recebeu a notificação
verbal, depois a recebeu por escrito, tendo causado confusão nos
procedimentos. Aplicada pena alternativa à emissora: dever de
veicular, às suas expensas, duas vezes, a resposta que o TSE concedeu
ao partido (RP nea603, 607 e 608), por inserções de 15 segundos,
proporcional ao dano causado, por desobediência à ordem judicial;
e dever de veicular, nove vezes, a propaganda institucional do TSE
em prol da campanha do comparecimento de jovens às eleições do
dia 27.10.2002. Reclamação procedente. Publicado na sessão de
24.10.2002.
E, ainda,
Reclamação 192/DR Relator: Ministro Gerardo Grossi. Decisão 1. A
presente reclamação teve a exclusiva finalidade de impedir que os
representados exercessem direito de resposta, que lhes fora dado pelo
TRE/SP, resposta esta que seria veiculada no dia 5.10.2002, às 18h
50min. 2. Concedi a liminar pedida (fls. 24-28); instado a reconsiderar a
decisão que proferira (fls. 42-45), eu a mantive (fls. 66-67) 3, A liminar
concedida teve caráter satisfativo e, cumprida sem interposição de
recurso, exauriu a prestação jurisdicional. 4. Julgo prejudicada, assim,
a presente reclamação. Após, arquivem-se os autos. Publicada na
secretaria, em 16.10.2002.

16.3. COMPETÊNCIA
0 art. 96 da Lei ns 9.504/97 fixa a competência: "I - aos Juizes Eleitorais, nas
eleições municipais; II - aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais,
estaduais e distritais; III - ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial."
O Tribunal Superior Eleitoral fixou entendimento de que “são competentes para
apreciar as reclamações, as representações e os pedidos de resposta o juiz eleitoral

4 7 4
R e p r e s e n t a ç ã o p o r V i o l a ç ã o À L e i n 2 9 .5 0 4 / 9 0 C a p it u l o 1 6

da comarca e, nos municípios com mais de uma zona eleitoral, os juizes eleitorais
designados pelos Tribunais Regionais Eleitorais" (art. 39 da Resolução n9 21.575, de
2 de dezembro de 2 003).
Já se tem observado, com inteira efetividade, a existência da propaganda política
eleitoral antecipada. Nesta hipótese, mesmo ainda não havendo designação de juiz
eleitoral específico, para conhecer, processar e julgar as reclamações, cabe aos
legitimados dirigir a medida ao juiz eleitoral do local do fato. Nesse sentido, é a
posição correta do eminente doutrinador Joel José Cândido.
Todavia' nas eleições federais, estaduais e distritais, o TSE já decidiu que:
Lei eleitoral - Reclamação ou Representação - Competência. Recurso
especial. Representação julgada por juiz eleitoral. Competência de
juiz auxiliar. Os juizes auxiliares exercem competência que é da corte
regional. Se ainda não designados, a matéria não passaria ao primeiro
grau, mas ao colegiado. Não conhecimento. Acórdão n9 15.325, de
31.8.1998 ~ Recurso Especial Eleitoral n9 15.325 - Classe 22a/SC
(Caçador). Relator: Ministro Costa Porto.
Vê-se que, na verdade, os juizes auxiliares exercem espécie de competência
especial, pois não são integrantes dos tribunais, mas designados para auxiliar no
processamento e julgamento. Trata-se de uma forma de otimização da prestação
jurisdicional eleitoral, visando a abrigar o princípio da celeridade.
Assim já decidiu o TSE:
Representação julgada, em sede originária, por juiz eleitoral,
incompetência. Apesar de os juizes das zonas eleitorais exercerem,
com exclusividade, poder de polícia sobre a propaganda eleitoral em
sua jurisdição, tal circunstância não lhes confere competência para
apreciar reclamação ou representação por descumprimento de norma
da Lei ns 9.504/97. Competência do TRE, a ser exercida por intermédio
de juizes auxiliares, consoante faculdade estatuída no art. 96, § 32, da
Lei ne 9.504/97. Acórdão n9 15.334, de 21.9.1998 - Recurso Especial
Eleitoral ne 15.334 - Classe 22a/SC (6a Zona - Caçador). Relator:
Ministro Eduardo Alckmin.
O § 39 do art. 96 da Lei ne 9.504/97 é expresso quanto à designação de três juizes
auxiliares para apreciarem as reclamações relativas à propaganda política eleitoral.
O eminente doutrinador Joel José Cândido aduz que o dispositivo acima salientado
é de constitucionalidade duvidosa, porque cabe à lei complementar dispor sobre
matéria de competência eleitoral (art. 121 da CRFB). A doutrina faz referência a
uma instância especial.
Destacamos exemplifícadamente:

Art. 2a Os tribunais eleitorais designarão, entre os dias l s e 20 de março


de 2002, entre os seus ministros e juizes substitutos, três juizes auxiliares

475
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

para a apreciação das reclamações, das representações e dos pedidos


de resposta que lhes forem dirigidos.
§ l 9 A atuação dos juizes auxiliares encerra-se com a diplomação dos
eleitos.
§ 22 Os juizes auxiliares farão jus ao recebimento de gratificação pelo
exercício de suas funções, na forma disciplinada pelo Tribunal Superior
Eleitoral (Resolução n- 20.591, de 13 de dezembro de 2001, TSE).

Entendemos que, enquanto não for promulgada a lei complementar exigível pelo
art. 121 da Lei Maior, não há ilegalidade por violação do princípio da indeclinabilidade
da jurisdição, na designação dos juizes auxiliares através de resolução decorrente
do poder normativo do TSE (art. l e, parágrafo único, c/c art. 23, IX, ambos do Código
Eleitoral), pois não está o Tribunal Superior Eleitoral criando ura grau intermediário
de jurisdição ou, ainda, negando a jurisdição eleitoral, mas, simplesmente, adotando
postulado similar ao da carta de ordem processual, inclusive cora previsão expressa
em outros diplomas normativos, v. g na Lei ne 8.038, de 28 de maio de 1990, in
expressi verbis:

Art. 9BA instrução obedecerá, no que couber, ao procedimento comum


do Código de Processo Penal.
§ l e 0 relator poderá delegar a realização do interrogatório ou de outro
ato da instrução ao juiz ou membro do Tribunal com competência
territorial no local de cumprimento da carta.

Nesta seqüência de raciocínio, os Códigos de Organização e Divisão Judiciárias


nos Estados adotam premissas que possibilitam aos respectivos presidentes e
corregedores de Justiça designarem juizes que ficam à disposição para decidirem
questões judiciais. Nesse sentido é, v. g., o art. 30, VII, do CODJERJ.
A matéria relativa à competência dos Tribunais, juizes e Juntas Eleitorais está,
inegavelmente, sob a tutela de lei complementar (art. 121 da CRFB).
Não é o caso da admissão da inconstitucionalidade formal superveniente, porque
a Lei Ordinária n- 9.504 é do ano de 1997; portanto, posteriorà Constituição de 1988.
Se a Lei ne 9.504/97 fosse anterior à Lei Maior, o caso seria de simples recepção,
No entanto, resta saber se a Lei n9 9.504/97 seria eivada de inconstitucionalidade
formal, quando tratou dos juizes auxiliares como uma forma de competência, tertium
gen u s interposto entre os juizes eleitorais e os Tribunais Regionais Eleitorais.
De fato, os juizes auxiliares processam e julgam as reclamações monocra-
ticam ente. Nesse sentido, também é a orientação do doutrinador Adriano Soares
da Costa.
Todavia, quando os §§ 3 2 e 4 9 do art. 96 da Lei n9 9.504/97 trataram do julgamento
das reclamações pelos juizes auxiliares com a previsão de recurso para os Tribunais
Regionais Eleitorais que decidem por maioria de votos de plenário, apenas ampliaram

476
R e p r e s e n t a ç ã o p o r V i o l a ç ã o à L e i Na 9 .5 0 4 / 9 0 C a p ít u l o 16

as garantias da ampla defesa e do contraditório, e tornaram célere a prestação


jurisdicional, sem afetar a competência específica destes Tribunais.
A Lei n5 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), é nacional e
ordinária, quando deveria ser complementar naquilo que disciplina os Tribunais,
juizes e juntas Eleitorais, mas antes o preechimento de lacunas normativas do que a
ausência de regra específica para tratar sobre os minudentes aspectos processuais
eleitorais das reclamações.
Sobre o assunto, trazemos as valiosas lições do eminente doutrinador Celso
Ribeiro Bastos (Lei Complementar, Teoria e Com entários, Editora Saraiva, São Paulo,
1985), in expressi verbis:
Leis complementares que não se constituem em pré-requisito à edição
de lei afim.
Neste gênero, conglobamos todas as leis complementares continuáveis
que podem ser antecedidas pelas leis ordinárias que dariam seguimento
ao trato da matéria a ser versada.
Embora apartáveis em duas subespécies, a classificação ora em estudo
reclama algumas considerações de ordem mais genérica, aplicáveis
a ambas. A primeira consiste em observar-se que, sem embargo da
repercussão que possa ter a matéria da alçada da lei complementar
sobre a lei ordinária, esta não fica na dependência de aguardar a
aparição daquela, para, só então, no domínio das soluções por ela
dadas ao tema de sua competência, passar a disciplinar a sua própria
matéria, é dizer, aquela sob reserva da lei ordinária.
0 que há, pois, é um desvencilhamento da lei comum ante a
complementar, de molde tal a assumir aquela uma plena autonomia no
que diz respeito à escolha do momento para sua edição, relegando-se,
em conseqüência, o problema do acatamento que deve prestar à lei de
maior quorum de aprovação, para uma segunda oportunidade. É dizer:
como a lei sem maiores qualificações advém ainda do vácuo deixado
pela lei complementar no campo de sua competência, assume ela
uma plena disposição sobre a matéria, inexistente qualquer problema
atínente à compatibilização entre ambas as espécies normativas (...).
Em síntese, portanto, concluímos que o traço fundamental da categoria
ora em estudo é o de haver uma inversão entre os aspectos lógicos e
cronológicos. Noutro falar, a lei comum, logicamente, tem de amoldar-
se à lei complementar. Cronologicamente, contudo, a Jei complementar
pode ser promulgada depois da lei comum.
Tal subversão da ordem normal suscitará interessantes questões
quanto a saber-se se ocorre revogação, cessação da eficácia ou
inconstitucionalidade da lei ordinária flagrada em contradição com a
lei complementar, quando da aparição desta (pp. 41 a 43)."

477
M a r c o s R am a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

Como visto, os §§ 3 S e 4 - do art. 96 da Lei ns 9.504, de 30 de setembro de 1997,


colmatam o vazio normativo existente sobre a questão relativa ao processamento e
julgamento das reclamações nas eleições nacionais e estaduais, enquanto não advier
a norma complementar exigida pelo art. 121 da Lei Maior, até porque, nos artigos
do Código Eleitoral relativos à competência dos Tribunais Superior e Regionais
Eleitorais, não há dispositivo legal disciplinando o julgamento das reclamações.
Por fim, na sistemática processual vigente, impera a regra do parágrafo único
do art. 219 do Código Eleitoral, in verbis: “A d eclaração de nulidade não poderá
ser requerida pela p arte que lhe deu causa nem a ela aproveitar" (ver ainda,
arts. 565 e 5 66 do CPP e 243 a 2 5 0 ,3 2 7 e 560 do CPC). Assim, o eventual interessado
na arguição de inconstitucíonalidade e nulidade processual nestas designações são
os próprios partidos políticos, coligações e candidatos, beneficiados pela criação
legiferante, pois tiveram ampliadas as suas defesas.
A competência dos juizes auxiliares é absoluta, segundo já decidiu o Tribunal
Superior Eleitoral:
"Recurso especial. Representação por propaganda eleitoral antecipada
em programa partidário. Possibilidade. Competência do juiz auxiliar
para o julgamento de representação com base no art. 36, § 3B, da Lei
ns 9.504/97. O desvirtuamento da finalidade da propaganda partidária
com fins eleitorais permite a aplicação da multa prevista no art. 36,
§ 3e, da Lei ne 9.504/97. A competência dos juizes auxiliares para
o julgamento de representações com base no art. 36, § 3ü, da Lei
n9 9.504/97 é absoluta e, portanto, não se prorroga diante da conexão.
Nesse entendimento, o Tribunal conheceu do recurso. Unânime.
Recurso Especial Eleitoral ns-19.890/AM, ReL Min. Fernando Neves,
em 29.8.2002".
Quanto à competência:
Reclamação n° 189/RS. Relator: Ministro Gerardo Grossi. Decisão:
1. Trata-se de reclamação firmada pelo Diretório Estadual do Partido
Progressista Brasileiro (PPB) do Rio Grande do Sul contra a Central Única
dos Trabalhadores. 2. Nela se alega que, no sítio que a representada
mantém na Internet e, bem assim através de panfletagens e outras
divulgações, vem ela, representada, atingindo as candidaturas de muitos
deputados e, entre eles, os do PPB. 3. É manifesta a incompetência do
Tribunal Superior Eleitoral para examinar a questão proposta. A ele,
com efeito, devem ser dirigidas as representações e reclamações que
digam respeito à eleição presidencial (Lei ne 9.504/97, art. 96, III). 4.
Declaro, assim, a incompetência do Tribunal Superior Eleitoral para
examinar e decidir a presente reclamação. Após, arquive-se. Publicada
na secretaria em 4.10.2002.
Em decisão mais recente, o Colendo Tribunal Superior Eleitoral fixou o entendimento
de que a competência para processar e julgar as reclamações é absoluta em função

478
R e p re s e n ta ç ã o p o r V io la ç ã o à L ei n ° 9 .5 0 4 / 9 0 C a p ít u l o 16

da matéria. Neste sentido é a Rcl. ne 443 (Gerardo Grossi) - Decisão Monocrática em


30.11.2006. Reclamação, decisão, Juiz eleitoral, Município, Buritis, (MG), notificação,
candidato, Presidência da República, retirada, propaganda eleitoral, bens de uso comum,
ônibus, usurpação. Competência, (TSE). Fundamento legal: art. 94 do RITSE c/c art.156
do RISTF. "Conforme expressamente dispõem arts. 2-, I, da Res. TSE nfi 22.142/2006 e
96, III, da Lei n2 9.504/97, a competência para apreciar as representações, fundadas na
Lei ns 9.504/97, relativas à eleição presidencial é do Tribunal Superior Eleitoral".

16.4. LEGITIMADOS ATIVOS


0 art. 96, caput, da Lei n2 9.504/97 faz menção expressa apenas aos partidos
políticos, coligações e candidatos, olvidando-se do Ministério Público.
A omissão legislativa referente ao órgão do Ministério Público com atribuições
eleitorais não desnatura sua legitimidade natural ativa com subsunção no art. 127
da Lei Maior, pois incumbe-lhe a defesa do regime democrático e dos interesses
sociais e indisponíveis do cidadão.
As resoluções do Tribunal Superior Eleitoral decorrentes do poder normativo
corrigiram a omissão apontada, conforme dispõe, v. g., a Resolução n- 21.575/03,
em seu art. 2-.
Quanto ao Ministério Público, nas eleições para presidente, vice-presidente
da República, governadores, vice-governadores, senadores, deputados federais,
distritais e estaduais, o procurador-geral eleitoral designará por indicação dos
procuradores regionais eleitorais nos Estados e no Distrito Federal, os membros do
Ministério Público Federal (procuradores da República) que prestarão auxílio para
a apresentação de pareceres (custos legis) e, ainda, para atuar como legitimados
ativos perante os juizes auxiliares.
O art. 27, § 4~, do Código Eleitoral foi revogado pelo art. 77, parágrafo único,
da Lei Complementar n9 75, de 20 de maio de 1993; portanto, não é possível,
aos membros do Ministério Público Estadual, auxiliar os procuradores regionais
eleitorais nos Estados, sendo de real valia que os procuradores-gerais de Justiça
implementassem Coordenações de Promotorias Eleitorais nos Estados, visando a
equacionar as relações entre as instituições do Ministério Público com atribuições
eleitorais em busca de uma atuação uniforme e eficaz contra as irregularidades e
ilicitudes praticadas, v. g., na propaganda política eleitoral.
No âmbito das eleições municipais (prefeito, vice-prefeito e vereadores), as
atribuições ficam aos cuidados do Ministério Público Estadual, seja sob o prisma da
emissão de promoções em reclamações ajuizadas por outros legitimados, seja como
legitimados ativos (parte).
A atuação do Ministério Público Estadual se dá através de promotores eleitorais,
indicados pelo procurador-geral de Justiça e designados pelo procurador regional
eleitoral nos Estados, perante o juiz eleitoral designado pelo Tribunal Regional

479
M a r c o s R am ayan a D ir e i t o E l e it o r a l

Eleitoral. No Estado do Rio de Janeiro, adota-se a Resolução Conjunta n9 09/03


e cria-se um critério vinculativo, pois o promotor eleitoral com atribuição será o
que for investido temporariamente na zona eleitoral titularizada pelo juiz eleitoral
designado pelo TRE.
Desta forma, o promotor eleitoral não é escolhido como promotor de encomenda,
mas é aquele previamente titular de uma Promotoria Eleitoral que, coincidentemente,
corresponde a uma zona eleitoral. Trata-se de preservar a independência do
Ministério Público Estadual nesta árdua atribuição no ajuizamento e manifestações
de reclamações, em face da propaganda política eleitoral irregular, abusiva ou
criminosa.

16.5. A INTERVENÇÃO DO PROMOTOR ELEITORAL COMO


FISCAL DA LEI
Neste campo de atuação, o promotor eleitoral terá vista para parecer no prazo
máximo de 24 horas, após a defesa do reclamado.
As resoluções do Tribunal Superior Eleitoral normatizaram que, vencido o
prazo, com ou sem manifestação, os autos são imediatamente devolvidos ao juiz.
Abriga-se no tratamento da matéria processual o princípio da celeridade eleitoral,
considerando os prazos exíguos do calendário eleitoral e a data das eleições.
Impende frisar que a vista dos autos é de natureza obrigatória ao Ministério
Público, v. g., promotor eleitoral, mas o parecer é dispensável diante da celeridade
e sumariedade do rito processual da ação de reclamação. Ousamos discordar
desta norma, pois atinge um princípio constitucional básico, ou seja, o dever
imposto ao Ministério Público de defender o regime democrático (art. 127 da Lei
Maior) em toda a sua plenitude. Na verdade, a intervenção do órgão do P arqu et é
absolutamente necessária dentro do processo eleitoral, especialmente neste tipo de
ação, considerando que as testemunhas, os documentos e perícias podem ser usados
como prova emprestada no ajuizamento de outras ações eleitorais, tais como: a Ação
de Impugnação ao Pedido de Registro de Candidatos, Ação de Investigação Judicial
Eleitoral por Abuso do Poder Econômico e/ou Político, Ação de Captação Uícita de
Sufrágio, Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo e o Recurso Contra a Diplomação,
É importante frisar que as reclamações ou representações podem ser ajuizadas
pelos partidos políticos, coligações, candidatos e Ministério Público e devem ser
dirigidas: a) ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial; b) aos Tribunais
Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais e distritais; e c) aos juizes
eleitorais, nas eleições municipais.
O Ministério Público (procurador-geral eleitoral, procuradores regionais
eleitorais e promotores eleitorais) dará parecer, quando não for parte ativa na
propositura da ação. No caso em que for parte, a notificação das decisões judiciais
é determinada por Resoluções do TSE, v.g., art. 9-, parágrafo único da Res.

4 8 0
R e p re se n ta ç ã o p o r V io la ç ã o à L e i n 2 9 .5 0 4 / 9 0 C a p ít u l o 16

xie 22.142/06. Todavia, entendemos que a posição regulamentar deve ser revista
para acrescer a intimação sempre pessoal do órgão do Parquet, seja na condição de
parte ou fiscal da lei.
Por fim, a regra do art. 94 da Lei na 9.504/97 atribui especial preferência aos
feitos eleitorais entre o pedido de registro das candidaturas até cinco dias após a
realização do segundo turno das eleições.
Nas eleições de 2006, o TSE editou a Resolução na 22.158, que trata sobre
condutas vedadas, normatizando a atuação dos juizes eleitorais e dos promotores
eleitorais nas respectivas comarcas, a saber: "Art. 63. A propaganda exercida nos
termos da legislação eleitoral não poderá ser objeto de multa nem cerceada sob
alegação do exercício do poder de polícia (Lei n- 9.504/97, art. 41). § X~ O poder
de polícia sobre a propaganda será exercido exclusivamente pelos juizes eleitorais,
nos municípios, e pelos juizes designados pelos tribunais regionais eleitorais, nas
capitais e municípios cora mais de uma zona eleitoral. § 2 a Compete ao juiz eleitoral,
na fiscalização da propaganda, tomar as providências para impedir práticas ilegais,
não lhe sendo permitido, entretanto, instaurar procedimento de ofício para aplicação
de sanções. § 3 a 0 juiz eleitoral deverá comunicar o fato ao Ministério Público, para
que proceda como entender necessário".
Como se nota, nas eleições nacionais, federais, estaduais e distritais, os
promotores eleitorais legalmente designados para fiscalizar a propaganda política
eleitoral devem atuar. Suas atuações se desenvolvem na investigação e coleta de
provas materiais, vestígios das infrações referentes ao abuso do poder econômico,
político, captação ilícita de sufrágio, propaganda irregular e condutas vedadas aos
agentes públicos. Nesta produção investigatória de provas não lhes cabe ajuizar
medidas para fins de aplicação das sanções, pois esta reserva de atribuição fica com
o procurador regional eleitoral e seus auxiliares (procuradores da República).
Na hipótese, os promotores eleitorais deverão canalizar as provas produzidas
para o Ministério Público Federal (procurador regional eleitoral), que poderá ajuizar
as ações cabíveis (arts. 41-A e 9 6 da Lei n9 9.504/97, art. 22 da Lei Complementar
nfi 64/90 e outras medidas judiciais). Trata-se de atuação compartilhada que visa a
defesa do regime democrático. Neste sentido, conferir o precedente normativo, Res.
TSE ns 22.142, que dispõe sobre as reclamações e representações em 2006, art. 29.

16.6. CANDIDATOS
Os candidatos legitimados ativos para a propositura da ação de reclamação são,
a princípio, os registrados, ainda que provisoriamente, para uma determinada
eleição. No entanto, como a Lei na 9.504/97, em seu art. 96 e §§, não fixou o termo
a quo do prazo para a propositura desta ação, é possível seu ajuizamento por pré-
candidatos (escolhidos em convenção).

481
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

As convenções ocorrem entre os dias 10 e 30 de junho do ano eleitoral (art, 82 da


Lei ns 9.504/97), enquanto o prazo para o pedido de registro de candidatos é até o
dia 5 de julho (art. 11 da Lei das Eleições).
Igualmente, o Ministério Público e os partidos políticos possuem legitimidade
para o ajuizamento da ação de reclamação, quando verificarem a propaganda
política eleitoral antecipada visível em postes, viadutos, logradouros públicos,
jornais, revistas e outras formas, sendo, inclusive, muito comum no final do ano que
antecede as eleições, v. g "Fulano de Tal deseja um bom 2 0 0 4 ”
Como se vê, além da medida cabível cautelarmente para impedir a propaganda
política eleitoral antecipada, entendemos ser perfeitamente admissível a
propositura da ação de reclamação, desde que seja perceptível uma futura
postulação para a escolha na convenção ou, ainda, do pedido de registro de
candidatura.
Cumpre ao órgão jurisdicional competente, por exemplo, juiz eleitoral determinar
a retirada da propaganda antecipada e aguardar a escolha do pré-candidato em
convenção ou seu pedido de registro, quando poderá prosseguir na ação em face
do "candidato"; portanto, como se nota, entendemos possível a utilização da ação
de reclamação com pedido liminar para a retirada da propaganda política eleitoral
antecipada, mesmo que não se possa precisar a legitimidade passiva do infrator,
pois, o valor de preservação da lisura do pleito eleitoral e da isonomia entre os
postulantes aos mandatos eletivos deve ser preservado como bem de principal
tutela jurisdicional eleitoral.

16 .7 . PARTIDOS POLÍTICOS E COLIGAÇÕES


Os partidos políticos devem provar suas regulares constituições com a
apresentação na inicial do estatuto partidário (comprovação da situação jurídica
na circunscrição e a legitimidade do subscritor), mas das coligações, como
são específicas para determ inada eleição (tem porárias), o Tribunal Superior
Eleitoral exige que o pedido seja subscrito, alternativam ente, pelos presidentes
dos partidos políticos coligados, por seus delegados, pela m aioria dos membros
dos respectivos órgãos executivos de direção ou por representante da coligação
designado. Nesse sentido, é a regra, v, g., do art. 23, § 2e, da Resolução
n 9 21.608/ 04 (dispõe sobre a escolha e o registro de candidatos nas eleições
municipais de 2 0 0 4 ).
As coligações não têm legitimidade para a ação de reclamação antes das
convenções e do pedido de registro para determinado pleito eleitoral, mas, ao
contrário, os partidos políticos possuem legitimação permanente, assim como o
Ministério Público.

482
R e p re s e n ta ç ã o po r V io la ç ã o à L eí Nfl 9 .5 0 4 / 9 0 C a p ít u l o 1 6

As punições previstas para os casos de condutas vedadas são: a) suspensão


imediata da conduta, quando for o caso; b)multa; c) cassação do registro e;
d) anulação do diploma.
A tipificação das punições está prevista no art. 73, §§ 4 9 e 5 2 e 77, parágrafo
único da Lei n- 9.504/97.
Em relação à propaganda política eleitoral meramente irregular, a sanção é
apenas a multa que deverá ser fixada dentro de critério valorativo de intensidade
e alcance subjetivo da propaganda. Por exemplo, temos a multa prevista no art. 37,
§ l 9, da Lei ns 9.504/97 em função da veiculação de propaganda em bens públicos.
No caso acima, a multa pode ser fixada entre R$ 2.000,00 (dois mil reais) a
R$ 8.000,00 (oito mil reais), sujeitando-se o infrator a pena de restauração do bem
danificado pela propaganda, se for o caso.
É importante frisar que se as condutas vedadas caracterizarem abuso do poder
econômico ou político (conduta potencialmente lesiva para desequilibrar as
eleições), entendemos que é caso de aplicação do procedimento do art. 22 da Lei
Complementar na 64, de 18 de maio de 1990, e de todos os seus incisos, incluindo o
XV. Assim, se sujeita o caso concreto ao regime da ação de impugnação ao mandato
eletivo ou recurso contra a diplomação (arts. 14, §§ 10 e 11, da CF e 262, IV, do
Código Eleitoral),
No caso acima, busca-se a declaração de inelegibilidade.
Se o agente ativo da infração não for candidato beneficiado pelo fato, ele se
sujeitará apenas à sanção de multa na esfera de competência eleitoral, mas poderá
ser responsabilizado por improbidade administrativa e eventual crime eleitoral, e,
se for servidor público, ainda estará sujeito às punições administrativas previstas
nos respectivos estatutos dos funcionários públicos. Ver o art. 78 da Lei n9 9.504/97,
que expressamente faz menção às sanções constitucionais e administrativas.
Se o agente ativo da infração for candidato, as sanções implicam em cassação do
registro ou diploma.
Na hipótese do agente ser candidato deve-se verificar que a cassação do registro
só poderá ocorrer antes da diplomação, pois uma vez diplomado fala-se em anulação
do diploma.
Com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 3592/DF, referente
à ação de captação ilícita de sufrágio, quando se reconheceu a possibilidade de
nuiidade do diploma, sem declaração de inelegibilidade: é natural a admissão nos
casos de condutas vedadas da anulação do diploma sem vinculação ao abuso do
poder econômico ou político. Adota-se a simetria de situações. Assim, a questão
da inconstitucionalidade do dispositivo legal quando fixa a sanção de cassação do
diploma restará superada.

4 8 3
M a r c o s R am ayana D ir e it o E ih it o r a i

Não podemos esquecer que a sanção de multa pode ser aplicada para servidores
ou não, inclusive para os denominados cabos eleitorais que participam do ato
proibido.
Por fim, o C. TSE possui precedente relativo às eleições de 2006, que desvincula
as sanções de cassação do registro ou do diploma e multa. Em destaque:
"Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral n° 26.941/
RO. Relator: Ministro Caputo Bastos. Ementa: Agravo regimental.
Recurso especial. Representação. Eleições 2006. Deputado Estadual.
Atuação parlamentar. Divulgação. Sítio da Internet. Publicidade
institucional. Conduta vedada. Art. 73, VI, b, da Lei n2 9.504/97. Multa.
Proporcionalidade. Juiz auxiliar. Competência. Decisão. Fundamentos
não afastados. 1. A prática da conduta vedada pelo art. 73, VI, b,
da Lei das Eleições não conduz, necessariamente, à cassação do
registro nem do diploma, cabendo ao magistrado, no uso do juízo de
proporcionalidade, aplicar a pena cooíorme a gravidade do ilícito.
cometido,... (DJ de 6.3.2007)".
Existem duas posições jurisprudenciais e doutrinárias sobre a aplicação
cumulativa das sanções, especialmente da multa e cassação do diploma, a saber:
a prim eira corren te de Adriano Soares da Costa e do TSE, conforme acórdão
acima ementado, e ainda TSE REsp. 24.937/RS, DJ 24.02.2006, Rei. Ministro Gilmar
Mendes, é no sentido de que deve-se adotar o princípio da proporcionalidade, pois
nem sempre será o caso de multar e anular o diplomado, ou seja, aplicar a grave
sanção de nuiidade do diploma; a segunda corrente, do TSE em precedente mais
remoto, é pela aplicação cumulativa da multa e cassação do registro ou diploma
(REsp. 24.862/RS, Rei. Ministro Carlos Madeira, DJ de 16.09.2005).
A interpretação literal pode levar ao entendimento da segunda corrente, porque
o § 5 2 diz: "... sem prejuízo do disposto no parágrafo anterior../’, e assim atrela as
sanções de multa e cassação do registro ou diploma.
Todavia, a interpretação sistemática é mais consentânea, e revendo o assunto
podemos concluir pela adoção do princípio da proporcionalidade, porque a
utilização da máquina administrativa pode em alguns casos ser insignificante
diante do impacto da propaganda política eleitoral e do tipo de eleição em que estão
envolvidos os atores beneficiados pela conduta vedada. Por exemplo: Se o candidato
ao Governo do Estado recebe uma mesa ou cadeira do Prefeito para usar em sua
propaganda política eleitoral, estaria, sem dúvida sujeito às sanções dos §§ 4 - e 52
do art. 73, pois violou o inciso 1. Mas acreditamos que a decisão que anularia o seu
diploma, caso fosse o candidato eleito, seria desproporcional e deveria condená-lo
apenas ao pagamento da multa.
O perigo da interpretação acima enfocada se situa no elevado grau de
subjetivismo da aplicação da lei, mas não se pode adotar regras de responsabilidade
objetiva ou sem que tenha ocorrido um certo impacto na igualdade material entre

4 8 4
R e p m se n ta ç a o p o r V io la ç ã o à L ei 9 .5 0 4 / 9 0
C a p ít u l o 16

os candidatos da disputa eleitoral, sob pena de fragilização do sistema de controle


do uso da máquina administrativa, até porque o capu t do art, 73 diz que são: "...
rondutas tendentes a afetar a igualdade d e oportuniriarips Nesta linha de
interpretação, a igualdade está atrelada aos pleitos eleitorais e às ponderáveis
vantagens que se possa obter acarretando um desequilíbrio médio, que não chega
às raias do abuso do poder econômico ou político.
Correta é a primeira corrente acima aludida,

16.8. PROVAS
A inicial deve apresentar fatos, indícios e circunstâncias. Em regra geral, as
petições iniciais são instruídas com fotografias, autos de infração, filmagens e
outros documentos.
Por outro lado, embora a lei não tenha previsão expressa, entendemos que as
partes podem requerer a oitiva de testemunhas, sendo, o limite máximo de seis,
conforme o art. 3 2, § 3 a, da Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990 (ação
de impugnação ao pedido de registro de candidatos). Sustentamos a adoção da
aplicação subsidiária da AIPRC.
Entretanto, a questão não é pacífica, existindo decisões jurisprudenciais
favoráveis e contrárias à produção de prova testemunhai no rito em tela. O
fundamento para este úítimo entendimento, de contrariedade à admissão da prova
testemunhai, baseia-se na omissão da lei, bem como no fato de ser tal rito mais
célere, o qual não comportaria extensa dilação probatória.
Assim, a favor da utilização da prova testemunhai no rito da reclamação:
Ementa: Agravo de instrumento. Intempestividade. Art. 96 e parágrafos
da Lei n9 9.504/97. Nos processos onde há oitiva de testemunhas não
se pode exigir seja a sentença proferida no prazo de 24 horas, ante a
impossibilidade de realizar todo procedimento neste período. Caso em
que o prazo do art. 96, § 7- da Lei n- 9.504/97 é contado da conclusão ao
juiz auxiliar, apos a produção da prova, e não da apresentação da defesa.
Respeitados os prazos do art. 96 e parágrafos da Lei n9 9.504/97, não
há necessidade de intimação das partes. Agravo provido. Recurso não
conhecido (TSE, Ag - 1717 Campo Grande - MS, Rei. Nelson Azevedo
Jobim. DJ - Diário de Justiça, 13.08.1999, p. 86).
"(...) Propaganda extemporânea. Agravo que não ataca os fundamentos
da decisão agravada. Reexame de matéria fática inviável em sede
de recurso especial. (...)" NE: Embora o acórdão paradigma tenha
considerado regular o indeferimento de prova testemunhai no rito do
art. 96 da Lei n9 9.504/97 não se autoriza a conclusão, a contrario sensu,
de que essa prova não possa ser deferida (Ac, n9 5.088, de 7.12.2004,
rei. Min. Gilmar Mendes).

485
M a r c o s R a m a ya n a D ir je it o E l e it o r a l

Não aceitando a oitiva de testemunhas no rito do art. 96 da Lei n- 9.504/97:


"Ementa: Agravo regimental. Recurso especial. Propaganda eleitoral
irregular. Representação [Art. 96 da Lei ns 9.504/97). Oitiva de
testemunhas. Não previsão. Princípios do contraditório e da ampla
defesa não violados. Revaioração de prova. Não cabimento. Hipótese
de reexame de matéria fática.l. Em face da celeridade que informa
o procedimento das reclamações e representações a que se refere
o art. 96 da Lei ne 9.504/97, inviável a oitiva de testemunhas, o
que não consubstancia violação dos princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa. 2. Não se compadece com a natureza
do recurso especial o reexame de matéria fático-probatória, consoante
os Enunciados Sumulares nS£ 7 e 279, respectivamente, do Superior
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal (TSE, Agravo
Regimental em Recurso Especial Eleitoral, Respe - 19611, Cotia -
SP, Rei. Raphael de Barros Monteiro Filho, Dj - Diário de Justiça, v. 1,
09.08.2002, p. 206)”.
Cabe ao órgão jurisdicional a livre apreciação da prova, especialmente em razão
do disposto no art. 23 da Lei das Inelegibilídades (LC n- 64/90). Assim, como a
prova produzida na ação de reclamação poderá de alguma forma exercer influência
na IJE, Ação de Captação Ilícita de sufrágio, ou ainda, na AIME, é viável a oitiva
de testemunhas nesta ação, mas todas devem ser ouvidas numa mesma assentada.
Limitar a produção da prova é contraproducente ao exercício da jurisdição eleitoral.
Sobre a prova, decidiu o TSE:
Recurso especial eleitoral. Representação. Propaganda irregular não
comprovada (art. 36, § 3fi, Lei ne 9.504/97). Inaplicável o art. 333,
incisos 1 e II, do CPC. Recurso não conhecido. 1. Cabe ao representante
apresentar provas, indícios e circunstâncias que demonstrem os
fatos relatados (art. 96, § l e, da Lei n2 9,504/97). 2. Irregularidade
na propaganda eleitoral. Reexame de fatos e provas (Súmulas ne 7 do
STJ e ne 279 do STF). Recurso não conhecido. Acórdão ne 15.449, de
8.10.1998. Recurso Especial Eleitoral ne 15.449. Classe 22a/RR (Boa
Vista). Relator: Ministro Maurício Corrêa.
E ainda:
Recorrente: especial. Reclamação. Propaganda eleitoral irregular.
Matéria de conteúdo fático probatório (Súmula do STF ne 279).
Recurso não conhecido. 1. A violação do art. 37 do CPC não foi
devidamente pré-questionada (Súmula do STF ne 356). 2. O
Ministério Público possui legitimidade para prosseguir na ação por
desistência da parte ativa, sempre que se defrontar com fatos que
possam comprometer a lisura dos pleitos eleitorais (CF, arts. 127 e
72, parágrafo único, da LC ns 75/93). 3. A comprovação de prévio
conhecimento da propaganda irregular pelo candidato envolve

486
R e p r e s e n t a ç ã o p o r V i o l a ç a o à L e i n ° 9 .5 0 4 / 9 0
C a p ít u l o 16

matéria fático-probatória, insuscetível de reexame nesta fase


recursal [Súmula do STF ne 279). Recurso especial não conhecido.
Acórdão n9 15.329, de 10.11.1998 - Recurso Especial Eleitoral
ne 15.329 - Classe 22a/SE (Aracaju). Relator: Ministro Maurício
Corrêa.
Igualmente, o TSE exige que a citação seja pessoal em relação ao responsável
legal pela propaganda política eleitoral irregular. Nesse sentido:
Acórdão n9 19.196, de 22.5.2001. Recurso Especial Eleitoral
n- 19.196/ES Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Propaganda
institucional. Veiculação em período vedado. Art. 73, VI, b, da Lei
ne 9.504/97. Reclamação oferecida contra a Prefeitura Municipal, na
pessoa de seu representante legal, que foi condenado ao pagamento de
multa. Ausência de citação do responsável pela propaganda irregular.
Ofensa ao art. 5S, LV, da Constituição da República. Preliminar acolhida
para que o agente público seja incluído no polo passivo da demanda.
Recurso conhecido e provido. DJ de 10.8.2001.
Os juizes eleitorais, "Conquanto investidos de poder de polícia, não têm
legitimidade para, de ofício, instaurar procedimento com a finalidade de impor
multa pela veiculação de propaganda eleitoral em desacordo com a Lei n2 9.504/97"
(Súmula n~ 18 do TSE). Assim, os juizes eleitorais responsáveis pelo controle da
fiscalização da propaganda política eleitoral não podem processar e julgar as ações
de reclamação, mas podem encaminhar aos juizes eleitorais competentes para as
ações de reclamação os feitos referentes a propaganda irregular. Trata-se, portanto,
de competência específica regulamentada pelos Tribunais Regionais Eleitorais
dentre os juizes eleitorais titulares de zonas eleitorais do município.
Os casos mais comuns referentes à propaganda política eleitoral irregular dizem
respeito à própria antecipação da mesma, ou seja, à propaganda conhecida como
antecipada.
Nesse sentido, o Tribunal Superior Eleitoral, em algumas hipóteses, reconhece
ou não a propaganda antecipada.
No Recurso Especial n- 15.234, CE, de 19 de agosto de 1998, o TSE, tendo por
relator o ExmQMinistro Eduardo Alckmzn, entendeu não ser exigível a existência de
candidatura para a caracterização da propaganda antecipada.
Igualmente, em outro julgado, decidiu o TSE que a fixação de adesivo em veículo
de propriedade de parlamentar, contendo seu nome e menção ao trabalho social por
ele desenvolvido não é propaganda antecipada (Acórdão n- 1.205, Belo Horizonte,
MG 29.2.2000, Relator Eduardo Andrade Ribeiro de Oliveira, Agravo de Instrumento
ne 1.205, TSE, DJ 24.3.2000, p. 123, RJTSE, v. 1 2 ,1 .1, p. 87). Em outra decisão, o TSE
considerou que:

4 8 7
M a r c o s R am a ya n a D i r e i t o E l e it o r a l

Propaganda eleitoral antecipada. A propaganda realizada antes da


convenção, visando a atingir não só os membros do partido, mas
também os eleitores em geral, atrai a aplicação da multa prevista no
art, 36, § 32, da Lei das Eleições (Recurso Especial Eleitoral ns 15.562,
Mato Grosso [Cuiabá], 29 de fevereiro de 2000).
Impende ainda frisar a questão da propaganda partidária desvirtuada. De certo
que a propaganda política partidária tem assento na Lei ne 9.096/95 e destina-se,
exclusivamente, à divulgação dos programas e atividades partidárias. No entanto,
conforme bem decidiu o TSE, a Exma Ministra Ellen Gracie, se a propaganda
partidária configurar-se em benefício de candidato, poderá ser considerada do
tipo antecipada (Consulta ns 800, Resolução n- 21,116, de 6 de junho de 2002). Na
verdade, deve o intérprete verificar se houve exorbitância dos limites fixados na Lei
nfi 9.096/95, pois, neste caso, o transgressor estará sujeito à pena de multa, além de
o partido perder o direito de transmissão para o semestre seguinte.
É importante frisar que o espaço no horário do partido político deve ser ocupado
por pessoa que integre a agremiação partidária. Deve-se respeitar a vedação do
art. 45, § 1-, II, da Lei nQ9.096/95; assim, admite-se a participação de pré-candidatos
ou futuros postulantes filiados ao partido político dentro de um contexto, cuja
finalidade é a veiculação das ideias do partido político. Caso contrário, a nosso ver,
haverá propaganda política eleitoral antecipada com a usurpação do horário eleitoral
gratuito partidário, ou seja, o desvio de finalidade no uso dos meios de comunicação
(abuso de direito), sujeitando os infratores ao abuso do poder e ao tratamento da
inelegibilidade com a impugnação ao pedido de registro de candidatura na face
processual adequada.
Urge salientar ainda o aspecto da propaganda que ultrapassa os limites da
finalidade intrapartidária. Nesse sentido:
Recurso Eleitoral - Representação por propaganda eleitoral irregular
e antecipada - Comprovação da data e do local de veiculação - prova
inequívoca - procedência. Apropaganda que ultrapassa as fronteiras da
convenção, visando atingir não apenas os convencionais, mas também
os eleitores em geral, não pode ser considerada intrapartidária,
rendendo ensanchas à apenação prevista no art, 36, § 3a, da Lei
ne 9.504/97 (Acórdão n9 15,562/00. TSE).
Por fim, o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, na norma infra-aduzida, está a
exigir, no parágrafo único do art. 5 9, que as fitas de vídeo sejam degravadas.
Considerando as inúmeras dificuldades operacionais de degravação pelo autor
da ação, especialmente quando é o Ministério Público no exercício das atribuições
eleitorais, entendemos ser possível apresentar um resumo da fita degravada com
o ponto principal ensejador da propaganda irregular ou abusiva, bem como que
a transcrição seja feita por servidor do quadro funcional do próprio Ministério
Público. De fato, deve o membro do P arqu et abster-se de certificar a degravação.

4 8 8
R e p re se n ta ç ã o p o r V io la ç ã o à L ei n 2 9 .5 0 4 / 9 0 C a p ít u l o 1 6

0 Tribunal Superior Eleitoral firmou interpretação no sentido de que a


procedência da reclamação ou representação em face da propaganda política
eleitoral irregular enseja prova da materialidade e de requisitos imprescindíveis
da autoria (o beneficiário deve ter prévio conhecimento da irregularidade da
propaganda). Não se admite a pura presunção para a aplicação da sanção prevista
na lei, v.g., a multa.
Nesta linha de consagração da devida responsabilidade civil eleitoral, assim
decidiu por Resolução o Egrégio TSE: "O prévio conhecimento do candidato
estará demonstrado se este, intimado da existência da propaganda irregular, não
providenciar, no prazo de 24 horas, sua retirada ou regularização e, ainda, se as
circunstâncias e as peculiaridades do caso específico revelarem a impossibilidade
de o beneficiário não ter tido o conhecimento da propaganda" (Res. TSE 22.158/06,
art. 67, parágrafo único e acórdão-TSE 21.262, de 7.8.2003).
O Verbete sumular 17 do TSE foi cancelado, sua redação era a seguinte: "Não
é admissível a presunção de que o candidato, por ser beneficiário de propaganda
eleitoral irregular, tenha prévio conhecimento de sua veiculação" O cancelamento
ocorreu em função de exegese complementar cuja solução se encontra mais
aprimorada na regra acima expressada. Desta forma, é mais consentâneo que o
candidato seja notificado.
Por último, "... A multa prevista no § 1- do art. 37 da Lei nQ9.504/97 deve ser
afastada se a propaganda eleitoral irregular for retirada no prazo de 24 horas após
a intimação e se houver a impossibilidade de comprovar-se o prévio conhecimento
do representado..." Neste sentido. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento
ns 6.670/SP, ReL Min. Cesar Asfor Rocha, em 8.3.2007.

16.9. PRAZO
O art, 96, § 5-, da Lei n- 9.504/97 faz menção ao recebimento da reclamação ou
representação, nâo fixando um prazo inicial de propositura da ação.
Os Tribunais Regionais designam juizes eleitorais para apreciação desta ação,
segundo o calendário eleitorai previamente fixado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Com a publicidade do ato designatório já passam os juizes eleitorais a processar
e julgar as ações.
Com efeito, a lei é omissa em relação ao prazo inicial e final de propositura
desta ação, mas o Tribunal Superior Eleitoral possui precedente em matéria
específica atinente ao tratamento privilegiado dado por emissoras de televisão para
determinados candidatos. Neste sentido:
Propaganda partidária. Cadeia estadual. Alegação de desvirtuamento.
Veiculação de ofensas. Direito. Recurso especial. Eleição 2002.
Propaganda eleitoral. Rádio. Horário normal. Afronta à lei (art. 45, III e
IV, da Lei das Eleições). Representação. Intempestividade. O prazo para

4 8 9
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

a propositura de representação (art. 96 da Lei das Eleições), quando se


tratar de propaganda realizada na programação normal das emissoras,
é de 48 horas. Nesse entendimento, o Tribunal conheceu do recurso e
deu-lhe provimento. Unânime. Recurso Especial Eleitoral ne 21.599/
CE, rei. Min. Francisco Peçanha Martins, em 2.9.2004".
Nestes casos, a criação excepcional do prazo de 48 horas atende ao princípio da
celeridade e eficiência e de certa forma está em consonância a regra similar eleitoral
prevista no art. 58, § 1-, II, da Lei n9 9.504/97, que fixa este prazo para o direito de
resposta, quando a ofensa ocorrer em programação normal das emissoras de rádio
e televisão.
Todavia, não é possível ao órgão jurisdicional superlativizar o legislador e
criar prazo inicial peremptório para a propositura da ação, mesmo que possa ser
identificada uma questão política panfletária no ajuizamento inoportuno.
Outrossim, os prazos para processo e julgamento das reclamações são contínuos
e peremptórios, e não se suspendem aos sábados, domingos e feriados.
Convém assinalarmos a aplicação da continuidade dos prazos para processamento
das reclamações e, assim, podemos deduzir que a regra do art. 94 da Lei ns 9.504/97
é inteiramente incidente.
A regra normativa estabelece um termo a quo e ad quem de prioridade para o
julgamento das ações defluentes da propaganda política eleitoral. Os termos são
entre o registro das candidaturas e até cinco dias após a realização do segundo turno
das eleições. Desta forma, a única possibilidade de limitação temporal do prazo se
dá em função do calendário eleitoral entre o pedido de registro (data limite até o dia
5 de julho do ano eleitoral, art. 11 da Lei ns 9.504/97 e o segundo turno se houver,
pois improvável ou não existente, neste último caso nas eleições municipais, quando
o número de habitantes for inferior a 200 mil, art. 3Q, § 2-, da Lei n9 9.504/97). Ver
decisão no TSE em agravo regimental no recurso especial eleitoral ns 20.779/SP,
que especifica a incidência da fatalidade dos prazos no âmbito da reclamações.

Feitas essas considerações, o prazo inicial para a propositura da representação


não é fixado na lei e dependerá da ocorrência do ato ilícito. Por exemplo, se a
propaganda for antecipada, ou seja, ocorrer antes do dia 6 de julho do ano eleitoral,
é admitido o ajuizamento da medida.
Verifica-se, ainda, a possibilidade da propaganda antecipada ser veiculada antes
mesmo do ano da eleição, admitindo-se o cabimento da representação para coibir
a ilicitude.
No dia 6 de julho do ano de eleição, já é admitida a propaganda política eleitoral,
mas, constatada a irregularidade, por exemplo, com a colocação de placas em postes
da via pública, é possível a propositura da representação do art. 96 da Lei das
Eleições.

4 9 0
R e p r e s e n t a ç ã o p o r V i o i a ç ã o à L e i n q 9 .5 0 4 / 9 0
C a p ít u l o 1 6

Como se nota, o prazo inicia) emerge com a ilicitude do ato, não possuindo uma
data fixa.
0 prazo final, segundo a jurisprudência atual do C. TSE, será o dia da eleição.
Nesse sentido:
Eleições 2004. Agravo regimental. Recurso especial. Conduta vedada.
Representação. Eleição, Data. Interesse de agir. Existência. Prazo de decadência.
Criação. Inocorrência. Jurisprudência. Alteração. Direitos e garantias individuais.
Violação. Descaracterização. Decisão agravada. Fundamentos inatacados.
Até o julgamento da questão de ordem no Respe ne 25.935, de 20.6.2006,
o prazo para o ajuizamento da representação, fundada na Lei n9 9.504/97,
era de 5 (cinco) dias, contados da ciência dos fatos. No entanto, após o
referido julgamento, o entendimento desta Corte evoluiu para estender o
prazo e, consequentemente, reconhecer a existência do interesse de agir até
a data das eleições nesses casos. Ressalte-se que não se trata de criação de
prazo decadencial, mas de aferição de condição da ação, que pode ser vista
a qualquer tempo e reconhecida de ofício. Portanto, o entendimento mais
recente se aplica à hipótese dos autos, ainda que se refira às eleições de 2004.
A mutabilidade é própria do entendimento jurisprudencial, o que não implica,
por si só, violação a direitos e garantias consagrados pelo ordenamento
jurídico, tampouco direito adquirido.
Nega-se provimento ao agravo quando insuficientemente infírmados os
fundamentos da decisão impugnada. Nesse entendimento, o Tribunal negou
provimento ao agravo regimental. Unânime.
(TSE, Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral n9 26.030/PB, rei. Min.
Joaquim Barbosa, em 2.6.2009 ~ Noticiado no informativo ns 19/09).

Por fim, cumpre assinalar que a nova Lei n- 12.034/2009, trouxe um prazo
diferenciado para a representação por conduta vedada (art. 73, § 12 da Lei
n9 9.504/97), que será visto adiante no capítulo próprio que trata das mesmas.

16.10. REPRESENTAÇÃO NAS CONDUTAS VEDADAS


Sobre o tema, remetemos o leitor ao capítulo próprio das condutas vedadas.

16.11. RESUMO
1) A ação de reclamação ou representação visa, especialmente, aplicar uma multa
aos candidatos e partidos políticos que tenham descumprido as regras sobre
propaganda política eleitoral regular, ou seja, tenham praticado irregularidades
não sujeitas à sanção de inelegibilidade por abuso do poder econômico ou
político ou por compra de votos, pois, nestes casos, segue-se o disposto nos
arts. 22 da Lei Complementar ns 64/90 ou 41-A da Lei nfi 9.504/97.

491
M a r c o s R a m ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

2) A base legal da representação é o art. 96 e parágrafos da Lei ne 9.504/97, que


é regulamentado por resolução específica do Tribunal Superior Eleitoral para
cada eleição.
3) O autor deve pedir a aplicação de uma multa.
4} As condutas vedadas aos agentes públicos, quando não sejam capazes de, por si
só, desequilibrar as eleições, por não serem potencialmente lesivas, seguem o
rito das representações para aplicação de multa. Ao contrário, sendo as condutas
vedadas (arts. 73 a 78 da Lei ne 9.504/97) abusivas do poder a ponto de atingir
o equilíbrio nas eleições, o autor deve promover a ação de investigação judicial
eleitoral ou a ação de captação ilícita de sufrágio (art. 22 da LC n- 64/90 e 41-A
da Lei n- 9.504/97), neste último caso, quando houver compra de votos.
5) Os legitimados são: Ministério Público, partido político, coligações e candidatos.
6) A competência é dos juizes eleitorais designados pelos Tribunais Regionais Eleitorais
nas eleições municipais. Nas eleições de governador, vice-govemador, senador,
deputados federais, estaduais e distritais, o tribunal designa um juiz eleitoral específico
que funciona por delegação de competência. Nas eleições de presidente, vice-presidente
da república, cumpre ao Tribunal Superior Eleitoral a designação.
7) A inicial deve relatar fatos e ser instruída com provas da propaganda irregular.
8) A defesa deverá ser feita em 48 horas. A celeridade do processo eleitoral enseja
a notificação por fax e meios eletrônicos.
9) O Ministério Público deverá sempre dar o seu parecer em 24 horas.
10) Ojuiz decide em 24 horas e contra a decisão caberá recurso no mesmo prazo, inclusive
as contrarrazões devem ser ofertadas no prazo de 24 horas.
11) 0 rito específico é disciplinado por resolução temporária para cada eleição.
12)A representação do art. 96 da Lei das Eleições também servia para as
condutas vedadas do art. 73 da mesma lei. Atualmente, a Lei ns 12.034/2009,
acrescentando o § 12 ao art. 73, estabeleceu que a repressão às condutas
vedadas de tal artigo segue o rito do art. 22 da Lei Complementar nQ64/90.
Dessa forma, restam excluídas do rito do art. 96 da Lei das Eleições as seguintes
ações: ação de captação ilícita de sufrágio (art. 41-A); ação de captação ou gastos
ilícitos de recursos (art. 30-A) e ação para repressão das condutas vedadas
referentes às violações do art. 73.

492
Representação por Violação à Lei
Representação por violação à Lei n° 9,504/97
(Art. 96, Lei das Eleições)

{............................. i
í julgamento TRE h

*1 Inpugnação
| Julgamentos j • M P-PC E
| •M P-PRE | • P. Político

m
| •Partido Político • Coligação

9.504/90
j

; •Coligação 1 • Candidato
! •Candidato j

| Julgamentos
j . M P- Promotor j

H • Partido Político
Coligação
Candidato

OBS.: Os Juizes eleitorais exercem


o poder de polícia na fiscalização
Rito Processual
de propaganda Política eleitoral,
(Art. 96, Lei das eleições e resolução
sendo previamente designados
específica do TSE para cada eleição)
para todas as eleições pelo TRE em

C a p ítu lo
cada município.
493

16
Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10a • Capítulo 16 - Representação por violação à Lei n“ 9.504/97
C apítulo 1 7

I nvestigação J u d icia l E leitoral


P O R ABUSO DE P O D E R E C O N Ô M I C O
E / O U POLÍTICO

17.1. B A SE LEGAL
0 suporte legal está no art. 22 da Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990
(Lei das Inelegibilídades). Trata-se de uma ação que visa a combater os abusos
do poder econômico e/ou político, praticados por candidatos, cabos-eleitorais,
simpatizantes e pessoas em geral, desde que exista um nexo de causalidade entre
as condutas e a ilicitude eleitoral.
A Lei n2 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), nos arts. 73 a 78,
dispõe sobre as "condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral”.
Se as regras forem violadas, os fatos podem caracterizar abuso do poder.1

1 “TSE. Acórdão n9 404, de 5.11.2002. Representação n9 404/DF. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo.
Ementa: Investigação judicial. Propaganda institucional realizada em período nâo vedado por lei. Aiegação de
infringência ao disposto no art. 37, § 1e, CF. Inexistência de promoção de autoridades ou servidores públicos.
Desvio ou abuso do poder de autoridade não caracterizado. Improcedência da representação. Possibilidade de
ser dispensada a dilação probatória fatos dependentes de prova exclusivamente documental, já produzida. I -
Não obstante prevista dilação probatória no rito da investigação judicial {Lei Complementar n9 64/90, art. 22, l,
a), esta se dará tão somente quando cabívei. Dispensável quando a apreensão dos fatos submetidos ao exame
da Justiça Eieitorai reclamar prova exclusivamente documentai, já produzida nos autos. II - A propaganda
institucional tem autorização prevista no art. 37, § 1s, da Constituição, devendo ter caráter educativo, informativo
óu de orientação sociai. III - Inexistência, no caso concreto, de nomes, símbolos ou imagens que pudessem
caracterizar promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos, a constituir violação ao preceito
constitucional e, portanto, desvio ou abuso do poder de autoridade em benefício de candidato ou partido
político, para os efeitos previstos no art. 22 da Lei Complementar n9-64/90. IV - É admissível, ao menos em
tese, que, em situações excepcionais, diante de eventuai violação ao § 1Bdo art. 37 da Constituição, perpetrada
em momento anterior aos três meses que antecedem as eleições, desde que direcionada a nelas influir, com
nítido propósito de beneficiar determinado candidato ou partido político, seja a apuração dos reflexos daquele
ato no processo eleitoral, já em recurso, promovida pela Justiça Eleitoral, mediante investigação judicial. V -
Inconveniência de impor-se rigidez absoluta à delimitação da matéria a ser submetida, em sede de investigação
judicial, ao exame da Justiça Eleitoral, ante a sofisticação com que, em matéria de eleições, tem-se procurado
contornar os limites da lei, cuja fragilidade é inegável, na tentativa de auferirem-se benefícios incompatíveis com
a lisura e a legitimidade do pleito. DJ de 28.3.2003”.
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

17.2. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA


0 abuso do poder econômico ou político é toda a conduta ativa ou omissiva
que tenha potencialidade para atingir o equilíbrio entre candidatos que almejam
determinado pleito eleitoral.
0 eminente doutrinador Fávila Ribeiro, em sua obra Abuso de P oder no Direito
E leitoral faz menção às lições de Everardo da Cunha Luna e cita o abuso como o uso
ilícito dos poderes, das faculdades, situações e objetos. Trata-se, como bem salientou
o mestre, de “uma corruptela contrária à ordem do direito, desviando o exercício dos
direitos subjetivos dos justos e verdadeiros fins do ordenamento jurídico".2
Ensina-nos o insigne doutrinador Lauro Barreto que os bens tutelados na ação
de investigação judicial eleitoral são de "natureza coletiva, indivisível, do interesse
de todos".3
A potencialidade ou virtualidade lesiva é verificada por exemplos concretos,
casuisticamente, tais como: fornecimento de alimentos, utilização indevida de
servidores, realização de concurso público em período não autorizado por lei,
recebimento de dinheiro de sindicato ou organização estrangeira, uso de material
público, desvio de verbas etc. Geralmente, os atos de abuso também acarretam
conseqüências penais ou à luz da Lei de Improbidade Administrativa (Lei
n- 8.429/92). Todavia, em razão da celeridade do processo eleitoral, pode-se obter
a inelegibilidade na investigação judicial eleitoral antes do julgamento da ação civil
pública que trata da improbidade administrativa, ou até mesmo da ação popular ou
ação civil. De toda sorte, a decisão, na investigação judicial eleitoral, serve de prova
emprestada para a ação que combate a improbidade administrativa,
Na verdade, o abuso do poder político/administrativo importa no reconhecimento
da improbidade administrativa. Trata-se de improbidades especiais, cuja natureza
reflete diretamente no campo da ilicitude eleitoral
Segundo leciona Diógenes Gasparini, o abuso de poder é "toda a ação que torna
irregular a execução do ato administrativo, legal ou ilegal, e que propicia, contra seu
autor, medidas disciplinares, cíveis e criminais".4
A normatividade do Direito Eleitoral lastreia-se numa realidade inafastável, na
medida em que as questões e os litígios eleitorais necessitem ser resolvidos de forma
imparcial, e com intervenção absolutamente independente dos pronunciamentos
exclusivamente partidários e políticos, especialmente quando são atingidos direitos
sociais, difusos e transindMduais, que dizem respeito à lisura do processo democrático.
Tutela-se a normalidade e legitimidade das eleições em razão de: a) influências
do poder econômico; b) influências do poder político; c) abuso do poder político; e
d) abuso do poder administrativo.

2 Op. cit., pp. 19 e 20.


3 Investigação Judicial Eleitoral, Editora Edipro, p. 19.
4 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 6a ed., Editora Saraiva, p. 136.

4 9 6
I n v e s t ig a ç ã o J u d ic i a l E l e it o r a l por Abu so
de P o d e r E c o n ô m ic o e /o u P o l ít i c o C a p ít u l o 17

Quanto à natureza jurídica, a maioria da doutrina entende que é uma ação


cognitiva com carga decisória de consistência desconstitutiva ou constitutiva negativa
(no caso em que cassa o registro) e carga puramente declaratória (no caso em que
declara a inelegibilidade por três anos). A inelegibilidade é contada da data da eleição
(outubro do ano eleitoral). Nesse sentido, é a Súmula n2 19 do Tribunal Superior
Eleitoral: "o prazo de inelegibilidade de três anos, por abuso de poder econômico
ou político, é contado a partir da data da eleição em que se verificou”.

17.3. CAUSA DE INELEGIBILIDADE


Julgada procedente com trânsito em julgado, transforma-se numa causa de
inelegibilidade, classificada como geral, ampla ou absoluta, ou seja, aplicável a
todos os mandatos eletivos, segundo reza o art. I 9, inciso I, alíneas d e h , da Lei das
Inelegibilidades. É hipótese de inelegibilidade absoluta para as eleições que ocorrem
no período de três anos da eleição anterior. Na verdade, a sanção não é completa,
porque só impede o pleiteante a candidato de concorrer à eleição intermediária, não
tendo nenhum efeito para a eleição que ocorrer nos quatro anos posteriores. Por
exemplo: o candidato A foi declarado inelegível com decisão transitada em julgado
nas eleições de 2 002 (candidato a deputado estadual). A sanção de inelegibilidade
absoluta causará efeitos até outubro de 2005, não lhe alcançando para as eleições
de deputado estadual subsequente - ano de 2006 -, mas apenas para as eleições
(intermediárias) de 2004. Chamamos de "intermediárias", porque dificilmente
uma pessoa que programe sua vida política aos mandatos de senador ou deputado
federal também tenha horizontes ao de vereador. Todavia, inversamente, ou seja,
tentativa de ser vereador e, posteriormente, de ser deputado federal é bem mais
comum. Em todo caso, o prazo de apenas três anos clama por urgente elasticidade.
A leitura que se faz desta inelegibilidade é no sentido de sua parcial
aplicabilidade. No fundo, trata-se de uma inelegibilidade de natureza relativa,
aplicável apenas à eleição intermediária, mas a doutrina majoritária reconhece esta
inelegibilidade como absoluta. Assinale-se que a Súmula nQ 19 do TSE analisou a
líteralidade do disposto no art. 22, inciso XIV, da Lei Complementar n9 64, de 18
de maio de 1990, in verbis: "(...) cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as
eleições a se realizarem nos 3 (três) anos subsequentes à eleição em que se
verificou."5Trata-se de interpretação gramatical que consagra a parcial incidência
da inelegibilidade absoluta.6
5 Hodiemamente, a sanção de ineiegibilidade ocorre pelo prazo de três anos, contados da data da eleição. Essa
questão já foi decidida, em outros tempos, pelo Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, em consulta provocada pelo Exm°
Procurador-Geral Eleitoral Aristides Junqueira, na qual a inelegibilidade era contada por três anos da data do trânsito
em julgado da decisão,
6 “TSE. Acórdão n9 531, de 25.2.2003. Agravo regimental no Recurso Ordinário n® 531/DF. Relatora: Ministra EHen
Gracie. Ementa: Agravo regimental. Representação. Art. 73, VI, b, da Lei n9 9.504/97. Campanha eleitoral de 1998.
Acórdão do TRE que declarou a inelegibilidade do representado por três anos contados da data das eleições de
1998. Transcorridos mais de três anos da eleição de 1998, resta prejudicado 0 recurso, em face da perda de objeto
da representação. Agravo improvido. DJ de 28.3.2003”.

497
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

Todavia, destaca-se a respeitável decisão do Tribunal Superior Eleitoral,


interpretando a questão, no que tange à aplicabilidade da sanção de inelegibilidade
em relação às eleições complementares do mandato faltante. As regras de
complementação estão no art, 224 do Código Eleitoral. Trata-se do reconhecimento
de nulidade das eleições por vícios da fraude, corrupção, abusos etc.
Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral nfi 20.683/MA,
Rei. Min. Ellen Gracie, em 25.3.2003. Ação de investigação judicial
eleitoral. Agravo interno. Recurso especial. Fundamentos não
infirmados. Negado provimento. Na linha da atual jurisprudência
deste Tribunal, não há como julgar prejudicada a ação de investigação
judicial, em razão de já terem decorridos dois anos do pleito, no
qual ocorreu o abuso que levou à procedência daquela demanda, ao
fundamento de que no Brasil há eleições apenas a cada dois anos,
uma vez, em tese, ser possível a realização de eleições majoritárias
federal, estadual ou municipal, para a complementação de mandato
(art. 224 do Código Eleitoral). Precedentes. Nega-se provimento ao
agravo interno, quando não afastados os fundamentos da decisão
impugnada. Unânime.
A Resolução TSE n9 22.158/06: "Dispõe sobre a propaganda eleitoral e as condutas
vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral nas eleições", no art. 38, assim
versa: "A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela
não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou servidores públicos (Constituição Federal, art. 37, § 1-).
Parágrafo único. Configura abuso de autoridade, para os fins do disposto no art. 22
da Lei Complementar n9 64, de 1990, a infringência do disposto no capu t deste
artigo, ficando o responsável, se candidato, sujeito ao cancelamento do registro de
sua candidatura (Lei n9 9.504/97, art. 74).

17.4. LEGITIMIDADE ATIVA


a) Partidos políticos
Os partidos políticos7 são disciplinados pela Leí nQ9.096/95 e seus respectivos
estatutos. O delegado do partido pode representá-lo na Justiça Eleitoral, mas
as petições da ação de investigação judicial eleitoral devem ser assinadas por

7 Lei ne 9-504/97. “Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitora! o registro de seus candidatos até as
19 horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições.
§ 1 - 0 pedido de registro deve ser instruído com os seguintes documentos: l - cópia da ata a que se refere o art. 89; il -
autorização do candidato, por escrito; III - prova de filiação partidária; IV - declaração de bens, assinada pelo candidato;
V - cópia do título eleitoral ou certidão, fornecida pelo cartório eleitoral, de que o candidato é eleitor na circunscrição ou
requereu sua inscrição ou transferência de domicílio no prazo previsto no arí. 9a; VI - certidão de quitação eleitoral; VII
- certidões criminais fornecidas pelos órgãos de distribuição da Justiça Eleitoral, Federal e Estadual; Vlli - fotografia do
candidato, nas dimensões estabelecidas em instrução da Justiça Eleitora!, para efeito do disposto no § do art 59.”

498
I n v e s t ig a ç ã o J u d ic í a l E l e it o r a l por A bu so
de Po d e r E c o n ô m ic o e/o u P o l ít ic o C a p ít u l o 1 7

advogados legalmente habilitados. Nesse sentido, é unânime a doutrina e pacífica


a jurisprudência (Joel José Cândido, Adriano Soares da Costa, Fávila Ribeiro, Pedro
Henrique Távora Niess e outros renomados).

b) Coligação8
A natureza jurídica das coligações é de um partido temporário que se forma para
determinada eleição. A regra da capacidade postulatória é a mesma dos partidos
políticos.9

c) Candidatos

d) Ministério Público10
Acreditamos, sem nenhuma manifestação corporativista, que as lições do
doutrinador Rui Franca ainda se fazem presentes, in verbis: “(...) nós, certamente,
não padecemos da moléstia infantil do paroquialismo institucional (.,.)", mas a
efetiva participação do Ministério Público "Eleitoral", durante todas as fases do
processo eleitoral, é uma forma singularmente democrática de extirparem-se os
vícios e manifestações abusivas deflagrados por facções sociais ilícitas, que surgem
de forma organizada, no decorrer do processo eleitoral.
Parece-nos, pois, que o melhor sistema dentro da classificação apresentada por
Fávila Ribeiro é o do controle exclusivo do processo eleitoral pelo Poder Judiciário,
com a fiscalização permanente e dinâmica do Ministério Público "Eleitoral", a quem
cabe, em nome da sociedade, combater os vícios e toda a espécie de fraude eleitoral,
garantindo a lisura das eleições.
0 eminente Barbosa Lima Sobrinho já enfrentou essa questão, tecendo, com o
brilhantismo que lhe era peculiar, as seguintes considerações:
(...) Como se vê, o problema continua a ser hoje o que era há um
século. 0 progresso observado nas leis não corresponde à ação dos
responsáveis pelos resultados eleitorais. 0 facciosismo político dá as
cartas e joga de mão. Por isso a reforma principal, aquela que poderá
influir realmente na melhoria do processo eleitoral, é a que torne
8 Acórdão n- 19.962, de 27.8.2002. Recurso Especial Eleitora! n- 19.962/MS. Reíator: Ministro Fernando Neves. Ementa:
Registro de candidatura. Formação de coligações. Partidos que pediram registro por duas coligações diferentes,
impugnação. Partido isolado. Ilegitimidade. Recurso. Coligação que não impugnou o registro. Impossibilidade. Eleição
majoritária. Coligações diferentes. Não admissão. O partido político coligado não tem legitimidade para, isoladamente,
impugnar registro de candidatura. No processo de registro de candidatura, a parte que não impugnou não tem
legitimidade para recorrer. O art. e2 da Lei ne 9.504/97 veda que um partido participe de coligações diferentes para
governador e senador na mesma circunscrição. Recursos não conhecidos. Publicado na sessão de 27.8.2002".
9 É facultado, pela Lei n9 9.504/97, que os partidos ou coligações substituam seus candidatos, nas hipóteses previstas
em seu art. 13, desde que se trate de pessoa diferente daquela cujo registro foi indeferido. Não é, no entanto, admissível
a substituição pelos mesmos candidatos, os quais já tiveram seus pedidos indeferidos anteriormente. Posição do TSE
pacífica sobre o tema.
10 Incumbe ao Ministério Público “(...) a defesa da ordem'jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis” (art. 127 da Constituição Federai).

4 9 9
M a r c o s R a m ayana D ir e it o E l e it o r a l

efetiva a responsabilidade dos dirigentes, é a que venha a aplicar as


sanções estabelecidas na lei. Não faltam remédios para esses males,
nas prateleiras legais. A questão está em que sejam usados, aplicando-
se as penas existentes e criando-se, contra os fraudadores e coatores,
uma atmosfera de reprovação generalizada, para que eles recebam
também a punição, que venha da própria opinião pública.
Temos a impressão de que há alguma cousa de romantismo nessas
palavras e nessas esperanças. Ninguém irá examinar os títulos dos
vencedores ou os processos de que se valeram para o triunfo. Ninguém
tomará contas aos vencedores. 0 triunfo absolve, ao passo que a derrota
condena. No fundo, é a velha fábula do cordeiro castigado pela sua
temeridade, quando abeberava na corrente comum.
Essa é, de certo, a realidade. Por isso mesmo as reformas eleitorais
não conseguem superar nem a coação, nem a fraude. A necessidade
do triunfo é mais imperiosa que o respeito às leis. E rende muito mais
a vitória eleitoral que a preocupação de fazer prevalecer a verdade do
voto. E, se não há como alterar esse panorama, também não há o que
esperar das reformas eleitorais, num país em que os manipuladores
dos pleitos continuam a receber condecorações e até mesmo os títulos
e louvores das virtudes cívicas.
Não há que esperar muita cousa das reformas eleitorais, mas, por
menores que sejam os resultados, são o bastante para impor a
continuação de uma luta indispensável. Não desejamos que esmoreça
o esforço reformador. Limitamo-nos a querer que a peleja venha a
ser travada com aquela energia e determinação dos que entram no
temporal, atirando ao mar a carga inútil das ilusões ou das esperanças
excessivas".11
Postas estas questões, cumpre frisar aspectos objetivos sobre o Ministério
Público nas eleições. Enfatizamos apenas alguns detalhes que reputamos essenciais,
deixando fora da abordagem outras dezenas de questionamentos que diretamente
envolvem a atuação do promotor eleitoral, em razão da amplitude dos temas: o § l e
do art. 62 da Resolução n9 20.562, de 2 de março de 2000 (Instrução n- 46 ~ Classe
12a - Distrito Federal - Brasília, Relator: Ministro Eduardo Alckmin, regulamenta a
propaganda eleitoral para as eleições municipais de 2000), enseja direta modificação
na fiscalização dos abusos na propaganda eleitoral, porque o juiz não poderá mais
aplicar ex ojficio a multa eleitoral, devendo encaminhar os autos do procedimento
administrativo ao Ministério Público (promotor eleitoral). Aplicam-se, na hipótese,
os princípios da demanda e da inércia.
Cabe ao promotor eleitoral examinar se ocorreu a propaganda irregular,
requerendo a aplicação da multa. Diz o dispositivo legal:

11 LIMA SOBRINHO, Barbosa. Sistemas Eleitorais e Partidos Políticos, Rio de Janeiro: Editora FGV, 1956, pp. 109-
110.

500
I n v e s t ig a ç ã o J u d ic i a l E l e it o r a l por A bu so
de P o d e r Ec o n ô m ic o e /o u P o l ít ic o C a p ít u l o 1 7

Na fiscalização da propaganda eleitoral, compete ao juiz eleitoral, no


exercício do poder de polícia, tom ar as providências necessárias para
coibir práticas ilegais, mas não lhe é permitido instaurar procedimento
de ofício para aplicação das sanções.

Vê-se, portanto, que cabe ao juiz o poder de polícia, podendo retirar dos locais
públicos a propaganda irregular ou criminosa, mas está a depender do ajuizamento
de reclamação ou representação do Ministério Público e outros legitimados
(coligações, candidatos e partidos políticos), para aplicar as sanções legais.
Exemplo: o candidato Tício afixa numa árvore uma faixa de sua propaganda política
eleitoral, 0 juiz da propaganda poderá notificar o candidato para retirar a mesma
num determinado prazo, ou retirá-la m odus proprio. Todavia, caberá ao promotor
eleitoral ajuizar a reclamação ou representação nos moldes legais, pedindo a
aplicação da multa.

17.5. LEGITIMIDADE PASSIVA


a) Partido político12
b) Coligação
c) Candidato13
d) Autoridades
É comum que prefeitos auxiliem seus candidatos a vereador na prática abusiva,
especialmente fomentando condutas vedadas aos agentes públicos durante as
campanhas eleitorais. Desta forma, o prefeito, candidato à reeleição ou não, deve
figurar no polo passivo da investigação judicial eleitoral como corresponsável
pela prática do abuso, quando demonstrada a relação de causalidade.
e) Qualquer pessoa que "haja contribuído para o ato"
O art. 22, inciso XIV, da Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990, engloba,
na legitimação passiva, pessoas que não são candidatas, desde que tenham,
numa relação de causalidade, praticado a conduta abusiva do poder econômico
e/ou político com o candidato infrator. Entendemos que a falta de prova para a
condenação do candidato não implica a descaracterização da conduta dos cabos-
eleitorais e simpatizantes, durante a campanha eleitoral irregular. Não há que se
12 “TSE. Acórdão n9 19.695, de 17.12.2002. Embargos de declaração no Agravo no Recurso Especial Eleitoral
ns 19.695/MG. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Ementa: Embargos de declaração. Direito eleitoral. Citação
de vice-prefeito em investigação judiciai. Não obrigatoriedade. Omissão. Contradição ou obscuridade. Inexistência.
Rejeição. Não existindo omissão, contradição nem obscuridade a ser sanada, impõe-se a rejeição dos declaratórios,
que não se prestam ao rejulgamento da causa, somente tendo efeitos infríngentes nos casos excepcionais admitidos
peia jurisprudência e pela doutrina. DJ de 21.2.2003”.
13 “TSE. Acórdão n- 3.395, DE 13/8/2002. Agravo no Agravo de instrumento n® 3.395/ MG. Relator: Ministro Sálvio de
Figueiredo. Ementa: Direitos Eleitoral e Processual. Citação do vice-prefeito em ação de investigação judiciai eleitoral.
Prescindibilidade. Precedentes. Instrução do agravo. Presentes os elementos necessários ao deslinde da matéria.
Desprovimento do agravo intemo. A desnecessidade da citação do vice-prefeito, quando se discute a cassação do
diploma do prefeito, é matéria já debatida e pacificada na jurisprudência da Corte. Presentes os elementos necessários
ao entendimento da controvérsia, provido o agravo, não há impedimento à apreciação imediata do recurso especial
(art 36, § 49, RITSE). DJ de 22.11.2002".

501
M a r c o s R am a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

aplicar nenhum paradigma com a teoria da acessoriedade limitada adotada no


Código Penal para fins de punição criminal do partícipe.
Quanto à legitimidade passiva do vice-prefeito, já decidiu o Tribunal Superior
Eleitoral que:
Acórdão ne 19.635, de 25.6.2002. Recurso Especial Eleitoral n--19.635
- Classe 22a/SP (60a Zona Ituverava). Relator: Ministro Sepúlveda
Pertence. Decisão: Unânime em conhecer dos recursos e dar-lhes
provimento, para julgar extinto o processo sem julgamento do mérito.
Direitos Eleitoral e Processual. Citação do vice-prefeito em ação
de investigação judicial eleitoral. Prescindibilidade. Precedentes.
Instrução do agravo. Presentes os elementos necessários ao deslinde
da matéria. Desprovimento do agravo interno. I - A desnecessidade
da citação do vice-prefeito, quando se discute a cassação do diploma
do Prefeito, é matéria já debatida e pacificada na jurisprudência da
Corte. II - Presentes os elementos necessários ao entendimento da
controvérsia, provido o agravo, não há impedimento à apreciação
imediata do recurso especial (art. 36, § 4 9, RITSE).
Quanto à coautoria passiva, vigora o princípio da responsabilidade solidária, art. 241
do Código Eleitoral, bem salientado pela doutrina de Joel José Cândido.14 O doutrinador
Emerson Garcia, em sua excelente obra Abuso de Poder nas Eleições, da Editora Lumen
Juris, p. 19, ensina-nos que a punição do praticante e do beneficiado do ato refletem a
aplicação do princípio da impersonalidade, pois a tutela maior reside na normalidade
e legitimidade das eleições. Assiste inteira razão ao renomado autor, pois a punição
do responsável direto ou indireto (beneficiado) emerge da relação causai abusiva,
independentemente de considerações sob a ótica subjetiva da pessoa envolvida.
Lembramos que não estamos tratando de reponsabilidade penal objetiva, mas
sim de corresponsabilidade e benefício auferido da irregularidade eleitoral, que
poderá ensejar crimes, com duplicidade de punição (não penal e penal eleitoral).
Nesse sentido, conferir a regra do art. 73, § 5 e, da Lei n9 9.504/97.
Ex vi do art. 73 da Lei ne 9.504/97: "São proibidas aos agentes públicos, servidores
ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades
entre candidatos nos pleitos eleitorais”. O ponto fundamental da normalidade e
legitimidade das eleições é a tutela do equilíbrio entre as campanhas eleitorais,
sejam ou não servidores as pessoas envolvidas na prática de condutas que afetem a
premissa da isonomia.
Outrossim, para fins de de definição de agente público, segue-se o art. 2a da Lei
n2 8.429, de 2 de junho de 1992, todo aquele que exerce, aindaquetransitoriamente ou
sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra

14 O TSE já decidiu, no sentido de caber contra qualquer pessoa. Acórdão n® 11.884, 5.3.1991. DJU. 6.8.1991, p.
10.174. Relator Ministro Buenos de Souza.

502
I n v e s t ig a ç ã o J u d i c i a l E l e it o r a l por A bu so
de Po d e r Ec o n ô m ic o e /o u P o l ít ic o C a p ít u l o 1 7

forma de investidura oú vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades


enumeradas no art. 1-; portanto, o conceito é amplo e pode ser ainda complementado
pelo disposto nos arts. 327 do Código Penal e 283 do Código Eleitoral.15

17.6. BEM JURÍDICO TUTELADO


Normalidade e legitimidade das eleições e interesse público primário da lisura
eleitoral.16 A tutela jurisdicional subsume-se nos valores fundamentais à eficácia
social do regime representativo.
Para a caracterização do abuso do poder econômico ou político, é necessária a
prova da potencialidade lesiva, mas o Tribunal Superior Eleitoral consagra que não
se exige a prova do nexo de causalidade entre a conduta comissiva do abuso e o
vício do pleito eleitoral. Deve-se provar o comprometimento da lisura das eleições,
à luz do contexto probatório coligido na investigação judicial eleitoral, até porque a
prova do vício das eleições, como, v.g., a modificação do número de votos dados ao
fraudador, pode ser uma prova impossível de ser feita.
Afigura-se, relevante destacar que a sanção da inelegibilidade ou cassação
do registro leva em consideração o desequilíbrio causado com a prática da ação
comissiva por parte do infrator ou de seus cabos-eleitorais e simpatizantes em geral.
Outrossim, a Súmula n9 ,17 do TSE foi cancelada em 16 de abril de 2002, por
decisão em questão de ordem, formulada no julgamento do Resp. n9 19.600-CE.
A Súmula dizia que "não é admissível a presunção de que o candidato, por ser
beneficiário da propaganda eleitoral irregular, tenha prévio conhecimento de sua
veiculação (arts. 36 e 37 da Lei n- 9.504, de 30 de setembro de 1997)". Na verdade,
os candidatos invocam o preceito sumular para eximirem-se dos abusos do poder
praticados durante as eleições, com o singelo e descabido argumento de que não
foram os responsáveis pela prática da irregularidade.
Assim, com Ojcancelamento da Súmula n - 17, restaura-se a presunção no sentido
de que o candidato é responsável pela sua campanha eleitoral e pela propaganda
irregular, mesmo aquela praticada por terceiros. A inversão do ônus da prova
compete ao candidato infrator.

15 A conduta ativa ou omíssiva caracterizadora do abuso de direito possibilita punições administrativas, civis e penais,
conforme expressamente prevê o art. e9 da Lei n- 4.898/65 (Lei de Abuso de Autoridade).
16 Acórdão n9 19.596, de 2.4.2002. Agravo regimental no Recurso Especial Eleitoral n3 19.596/MS. Relator: Ministro Fernando
Neves. Recurso contra a diplomação. Inciso IV do art. 262 do Código Eleitoral. Abuso do poder econômico. Investigação
judicial. Procedência. Manutenção da sentença. Trânsito em juigado. Ausência. 1. Não é necessário que a decisão proferida
em investigação judicial tenha transitado em julgado para embasar recurso contra a diplomação, fundado no inciso IV do art.
262 do Código Eleitoral. 2 .0 recurso contra a diplomação pode vir instruído com prova pré-constituída, entendendo-se que
essaé a já formada em outros autos, sem que haja obrigatoriedade de ter havido sobre ela pronunciamento judicial ou trânsito
em julgado. 3. A declaração de inelegibilidade com trânsito em julgado somente será imprescindível no caso de o recurso
contra a diplomação vir fundado no inciso I do mencionado art 262 do Código Eleitora], que cuida de inelegibilidade. Agravo
regimental a que se negou provimento. Vistos etc., acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade,
em negar provimento ao agravo regimental, nos termos das notas taquigráficas, que ficam fazendo parte integrante desta
decisão. Sala de Sessões do Tribunal Superior Eleitoral. Brasília, 2 de abril de 2002”.

503
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

Por outro lado, as reclamações ou representações pressupõem a notificação


prévia para que o candidato, por exemplo, retire sua propaganda irregular de
determinado local. Se ele cumprir a notificação, o caso será arquivado, mas se por
acaso, após ser notificado, ficar inerte, a responsabilidade pela veiculação irregular
da propaganda lhe será atribuída.
Para cada eleição, o C. TSE expede resolução específica que trata das reclamações
ou representações por propaganda política eleitoral irregular, servindo de base
para os casos de verificação do abuso do poder.
De toda sorte, destaca-se a respeitável decisão do TSE, que considera, no
exame do caso concreto, a relevância da influência no resultado da eleição para a
caracterização ou não do abuso do poder econômico e/ou político:
Pedido de renovação de abertura de investigação judicial eleitoral
(art. 22, II, da LC n9 64/90). Publicação de caderno com feitos da
administração municipal. Caso em que resta apenas a possibilidade,
como conseqüência de eventual procedência da representação, de
aplicação de pena de inelegibilidade. Necessidade da demonstração
de que fortemente provável haja a prática abusiva distorcido
a manifestação popular, com reflexo no resultado das eleições.
Precedente: Ag. ns 1.136. Fatos irrelevantes para candidato cuja
eleição não dependeu dos votos do município, bem como para
aqueles que não foram eleitos. A representação deve prosseguir
em relação àqueles que teriam participado diretamente na edição
dos cadernos. Agravo de instrumento provido. Recurso especial
não provido em relação aos candidatos não eleitos, bem como em
relação ao candidato cuja votação no município é irrelevante para
influir no resultado obtido em todo o Estado. Recurso especial
provido quanto aos candidatos que teriam participado diretamente
na edição dos cadernos. Acórdão n9 1.794, de 5.6.2000. Agravo de
Instrumento n9 1.794 - Classe 2 a/MG (Belo Horizonte). Relator:
Ministro Eduardo Alckmin. Redator designado: Ministro Nelson
Jobim.

17.7. COMPETÊNCIA
a) juiz eleitoral, quando se tratar de candidatos aos mandatos eletivos de prefeito,
vice-prefeito ou vereador.
b) Tribunal Regional Eleitoral, nas hipóteses de candidatos aos mandatos eletivos de
governador, vice-governador, senador, deputado federal, deputado estadual e deputado
distrital.
c) Tribunal Superior Eleitoral, nas hipóteses de candidatos a presidente e vice-
presidente da República.
I n v e s t ig a ç ã o J u d ic i a l E l e it o r a l p o r Abuso

de Po d e r E c o n ô m ic o e /o u P o l ít ic o C a p ít u l o 1 7

Pode o juiz instaurar, nas eleições do tipo nacional ou estadual, as investigações


judiciais eleitorais?
Segundo a doutrina de Joel José Cândido, pode conduzi-las até a fase das alegações
finais e rem etê-las para julgamento das corregedorias, porque não se trata de ação
no sentido processual restrito; é um pedido com coleta de provas judiciais.
Por designação dos TREs, a competência recai sobre um juiz coordenador da
propaganda eleitoral. Se não houver, será competente o juiz da zona eleitoral onde
ocorrer o fato investigado.
Não cabem, nesse procedimento investigatório, alegações sobre foro privilegiado,
assegurado na Constituição Federal.
Havendo conexão ou continência, os autos devem ser remetidos ao grau de
jurisdição mais elevado, diante do candidato que esteja em julgamento. Exemplo: se
o abuso for praticado por um candidato a presidente da República e um candidato a
deputado federal, o julgamento ocorrerá no Tribunal Superior Eleitoral.

17.8. CAUSA DE PEDIR


Uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico (arts. 303 e 304 do CE).
Uso indevido, desvio ou abuso do poder político ou de autoridade (CE, art. 305).
Abuso do exercício de função, cargo ou emprego na Administração Direta,
Indireta ou fundacional de qualquer esfera do Poder Público - União, estados e
municípios (arts. 346 e 377 do Código Eleitoral).17
Utilização indevida de veículos (Lei n9 6.091/74).
Utilização indevida dos meios de comunicação.18
As hipóteses caracterizadoras do abuso do poder econômico ou político devem
ser sempre vinculadas de forma subjetiva e na análise de cada caso concreto.
Por exemplo, na propaganda eleitoral pela imprensa, a lei permite que seja a
mesma paga pelo candidato, apenas limitando em espaços máximos, por edição, ou
seja, 1/8 de página de jornal padrão e de 1/4 de página de revista ou tabloide.

17 “TSE. (...) Impugnação ao registro de candidatura, [neiegibíiidade da alínea f do inc. ! do art. 12 da LC n2 64/90.
indignidade do oficialato. Jurisdição militar, incompetência da Justiça Eleitoral. (...) A indignidade para o oficialato é
pena acessória instituída pelo Código Penal Militar, para apiicaçào aos oficiais militares, cujo processo e julgamento
competem à Justiça Militar, não cabendo, em razão da matéria, à Justiça Eleitorai (Ac. n- 13.461, de 17.12.1996, ReL
Min. Francisco Rezek.).
18 “TSE. Recurso Especial Eleitoral ne 21.095/ES, Rei. Min. Luiz Carlos Madeira, em 25.3.2003. Representação.
Mensagem eletrônica com conteúdo eleitoral. Veiculação. Intranet de Prefeitura. Conduta vedada. Art. 73, I, da
Lei 9.504/97. Caracterização. Para a configuração das hipóteses enumeradas no citado art 73, nâo se exige a
potencialidade da conduta, mas a mera prática dos atos proibidos. Nâo obstante, a conduta apurada pode vir a ser
considerada abuso de poder de autoridade, apurávei por meio de investigação judiciai, prevista no art. 22 da Lei
Complementar n9 64/90. Não há que se falar em vioiaçáo do sigilo de correspondência, com ofensa ao art. 5e, XII,
da Constituição da República, quando a mensagem eletrônica veiculada não tem caráter sigiloso, caracterizando
verdadeira carta circular. Nesse entendimento, o Tribunal não conheceu do recurso. Unânime”.

505
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

Se o candidato violar a regra da limitação de espaço máximo na página do jornal


incidirá as sanções do art. 43 da Lei n- 9.504/97.
A forma processual adequada para multar o candidato é a propositura da ação de
representação ou reclamação prevista no art. 96 da Lei n9 9. 504/97.
Os abusos e excessos traduzidos em condutas reiteradas de publicações que
excedam o espaço máximo ensejam a deflagração da ação prevista no art. 22 da Lei
das Inelegibilidades (Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990). Trata-se de
abuso do poder econômico. Ressalva-se, no entanto, que não ficará caracterizada
a propaganda eleitoral por divulgação de opinião favorável ao candidato, partido
político ou coligação, desde que não seja matéria paga, conforme precedente contido
no § 3- do art. 16 da Res. TSE n® 22.158/06.

17.9. EFEITOS CONDICIONADOS AO MOMENTO


DO JULGAMENTO
1 - Se o julgamento for antes da eleição - INELEGIBILIDADE + CASSAÇÃO DO
REGISTRO (LC n 9 64/90, inciso XIV do art. 2 2 ).19
2 - Se o julgamento for após a eleição:
a) Não ELEITO - segue o processo normalmente para a declaração da
inelegibilidade;
b) ELEITO - impugnação do mandato ELETIVO ou RECURSO CONTRA A
DIPLOMAÇÃO (art. 22, inciso XV, da Lei das Inelegibilidades).20
A questão demanda uma melhor explicação, visto que o inciso XV do art. 22 da Lei
Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990 (Lei das Inelegibilidades) assim dispõe:
“se a representação for julgada procedente após a eleição do candidato, serão
remetidas cópias de todo o processo ao Ministério Público Eleitoral, para os fins
previstos no art. 14, §§ 10 e 11, da Constituição Federal, e art. 262, inciso IV, do
Código Eleitoral"
O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral tinha o antigo entendimento de que era
intempestiva a propositura de representação por abuso do poder econômico ou

19 “TSE. Acórdão n9 1.313, de 18.3.2003. Agravo regimental na Petição nQ 1.313/MS. Relator: Ministro Sepúlveda
Pertence. Ementa: Recurso contra expedição de diploma. Abuso de poder. Declaração de inelegibilidade. Execução
imediata de acórdão. Ausência de trânsito em julgado. Impossibilidade {LC n® 64/90, art. 15). Efeitos da investigação
judicial eleitoral quanto ao momento de julgamento: julgada procedente antes da eleição, há declaração de
inelegibilidade por três anos e cassação do registro; julgada procedente após a eleição, subsiste a dedaração de
inelegibilidade por três anos e remessa de cópia do processo ao Ministério Público Eleitoral, para os fins previstos nos
arts. 14, §§ 10 e 11, da Constituição Federal, e 262, IV, do Código Eleitoral. Agravo a que se nega provimento. DJ de
28.3.2003”.
20 “TSE. Investigação judicial eleitoral. Art. 22 da LC n9 64/90 e 41-A da Lei n2 9.S04. Decisão posterior à proclamação
dos eleitos. Inelegibilidade. Cassação de diploma. Possibilidade. Inciso XV do art. 22 da LC n- 64/90. Não aplicação. 1.
As decisões fundadas no art. 41-A têm aplicação imediata, mesmo se forem proferidas após a proclamação dos eleitos.
Acórdão ne 19.587, de 21.3.2002. Recurso Especial Eleitoral n5 19.587 - Ciasse 22a/GO (Caldazinha - 32» Zona Bela
Vista de Goiás). Relator: Ministro Fernando Neves. Decisão: unânime em não conhecer do recurso de Oguimar José
Vicente e de Joel Pereira de Melo e, por unanimidade, conhecer dos demais recursos e dar-ihes provimento”.

506
I n v e s t ig a ç ã o J u d i c i a i . E l e it o r a l por Ab u so
de P o d e r Ec o n ô m ic o e /o u P o l ít ic o C a p ít u l o 17

político após as eleições. Neste sentido é a decisão do TSE - REsp. 11.524/93,


Relator Ministro Torquato Jardim. E ainda:
TSE. "Ementa. Abuso do poder econômico - Conseqüências.
Ocorrendo o julgamento da Representação após eleição do
candidato, cumpre observar o disposto no inciso XV do art. 22
Da Lei Complementar nfi 64/90, Providenciando-se a remessa de
cópias de todo o processo ao Ministério Público eleitoral, para
os fins previstos no art, 14, §§ 10 E 11, da Constituição Federal e
262, inciso iv do Código Eleitoral. Descabe, a tal altura, a cassação
do mandato. DJ - Diário d e Justiça, 14.10.1994, p. 27.624. RJTSE -
Revista d e Ju rispru dên cia do TSE, volume 7, tomo 1, p. 188".
Em outro momento, a Corte Superior Eleitoral firmou a posição de que o termo
eleição contido no inciso acima aludido deveria ser entendido como “o dia da
proclam ação dos eleitos", ou seja, em data estipulada pelo calendário das eleições,
que obviamente não significava o próprio dia da eleição (primeiro domingo de
outubro do ano eleitoral), nesta linha é a decisão no REsp. 15.061/97, relator
Ministro Eduardo Alckmin, em RJTSE, volume 9, p. 178.
0 Colendo TSE evoluiu para o posicionamento de que o termo final de propositura
desta ação seria até a diplom ação dos eleitos, sob pena de reconhecimento da
hipótese de "decadência” (TSE. Representação 628/2002, relator Ministro Sálvio de
Figueiredo e ainda em data mais antiga, o acórdão 12,531, Relator Ministro limar
Galvão, DJ de 01.09,1995, p. 27.524-5).
Diante desta atmosfera de dúvidas, cumpre esclarecermos que: se o candidato
não foi eleito, o inciso XV não lhe é aplicável, ou seja, ele responderá pelos abusos
de poder praticados na eleição e poderá ser declarado inelegível por intermédio da
representação (art. 22 da Lei Complementar n9 64/90), mas esta ação deverá ser
proposta até a data da diplomação (termo final). Não haverá nulidade do diploma,
mas a declaração da inelegibilidade por 3 (três) anos contados da data da eleição.
Neste sentido, ver a Súmula ns 19 do Tribunal Superior Eleitoral, que consagra o
prazo de inelegibilidade por abuso do poder econômico ou político.21
O prazo final de propositura da representação ou IJE é a data da diplomação. Este
entendimento é válido em relação aos terceiros (autoridades e agentes em geral
que contribuíram para o abuso do poder econômico ou político, porque não são
candidatos mas coautores ou partícipes dos ilícitos abusivos). Registre-se posição
mais consentânea do renomado Joel José Cândido, in expressi verbis:
"(...) 0 termo final do prazo para a propositura da IJE, contra candidato
que não se elegeu ou contra quem não é candidato, é o mesmo prazo
final para a propositura da AIME, ou seja, 15 dias após a diplomação.
A justificativa é a seguinte: se a IJE, quando ajuizada contra candidato

21 Verbete sumular n9 19 do TSE: “O prazo de inelegibilidade de 3 (três) anos, por abuso do poder econômico ou
político, é contado a partir da data da eleição em que se verificou {art 22, XIV, da LC 64, de 18.05.90)”.

507
M arcos R amayan a
D ir e it o E l e it o r a l

eleito, não for julgada até a diplomação, deve ser transformada em


AIME, outro não poderá ser o prazo fatal para a sua propositura (..,}"
(Inelegibilidades no Direito Brasileiro, 2a edição, Editora Edipro, São
Paulo, 2003, p. 376).
Quanto aos eleitos que praticaram o abuso do poder econômico ou político, a ação
deve ser proposta no prazo máximo de referência do dia a n terio r ao recebim ento
dos diplomas, porque com a outorga do diploma (ato solene da Justiça Eleitoral),
emerge evidente necessidade de o legitimado ativo propor a ação de impugnação
ao mandato eletivo com base no art. 14, §§ 10 e 11 da Constituição da República
Federativa do Brasil (AIME), ou interpor o recurso contra a diplomação com
arrimo no art. 262 do Código Eleitoral. Por quê? Só assim, os legitimados ativos
(Ministério Público, Partidos Políticos, Coligações ou Candidatos) poderão obter
processualmente o efeito da nuiidade do diploma axiomado ao da inelegibilidade. Na
verdade, forma-se uma nova relação processual utilizando-se as provas emprestadas
coligidas em procedimento anterior, que pode ser a ÍJE não julgada, mas que servirá
de elemento probatório para o objetivo principal que é anular o diploma conquistado
pelo diplomado infrator. Em outras palavras: com a diplomação, o candidato eleito
não deve mais ser alvo de uma ação de representação por abuso do poder, pois o
instrumento correto é a AIME ou RCD, diante do sistema processual engendrado
pelos incisos XIV e XV do art. 22 da Lei das Inelegibilidades. A ÍJE só poderá declarar
a inelegibilidade, mas não servirá para nulificar o diploma, assim, a inutilidade da
representação é evidente e acarretará a impunidade do infrator, pois o inelegível
permanecerá no mandato eletivo.
Pode-se concluir que os legitimados, para nulificarem o mandato eletivo, devem
utilizar os meios processuais da ação de impugnação ao mandato eletivo ou do
recurso contra a diplomação.
Todavia, não se pode confundir o prazo limite de propositura da ação de
investigação judicial eleitoral com os efeitos decorrentes do julgamento tardio, ou
seja, do julgamento após a data da diplomação, mas antes do prazo final de 15 dias
da AIME.
Os efeitos da IJE alcançam os diplomados em razão do disposto no art. 1 B, I,
letra "d", da Lei Complementar ne 64/90, causando-lhes a nuiidade do diploma e a
inelegibilidade, sem necessidade de propositura da AIME ou interposição do RCD,
quando a IJE for julgada até o prazo máximo de 15 dias contados da diplomação,
ou seja, até o limite do prazo decadencial para retirar o diploma. Diz o dispositivo
acima: "os que tenham con tra sua pessoa rep resen tação julgada procedente
pela Justiça Eleitoral, tran sitad a em julgado, em processo de apuração de
abuso do poder econôm ico ou político, para a eleição na qual concorreram
ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 3 (três)
anos seguintes".

508
I n v e s t ig a ç ã o J u d ic i a l E l e it o r a l po r Abu so
de P o d e r E c o n ô m ic o e /o u P o l ít ic o C a p ít u l o 1 7

Percebe-se que o legislador abriga a procedência da representação com o trânsito


em julgado numa determinada eleição em que o candidato infrator foi diplomado.
Assim, é perfeito o entendimento de que se pode declarar o efeito de nulidade do
diploma na IJE até o prazo limite e fatal de 15 dias contados da data da diplomação,
mas a propositura da ação (IJE) se dá até a diplomação. Na prática, o legitimado que
ajuizar a representação no prazo limite da data da diplomação não lograra êxito no
duplo efeito (nulidade do diploma e inelegibilidade), considerando o curto espaço
de tempo de apenas 15 dias para julgamento (trânsito em julgado) da ação: daí que,
pela lógica sistemática do sistema processual entabulado, deve-se propor a AIME
ou interpor o RCD tão logo ocorra a diplomação evitando a impunidade22.
Medidas mais essenciais de conservação daDemocracia indicam que o legitimado
ativo, v.g., o Ministério Público deve o quanto antes oferecer a representação por
abuso do poder econômico, e ao Poder Judiciário incumbe agilizar a prestação
jurisdicional eleitoral, julgando a questão antes da data da diplomação, pois, desta
maneira, os efeitos são duplos, ou seja, anulam o registro e tornam o candidato
inelegível, já que com a outorga do diploma surgirá um novo panorama processual
criado pelo sistem a anacrônico dos incisos XIV e XV da LC n- 64/90. Quanto à
captação ilícita de sufrágio, favor ver os comentários no capítulo específico,23
considerando que os seus efeitos são diversos, especialmente em função dos
pedidos diferenciados.
Na prática forense eleitoral, costuma-se encaminhar ao Ministério Público os
autos de ação de investigação judicial eleitoral, quando julgada após a eleição, mas
antes da diplomação em relação ao candidato eleito para os fins de impugnação
ao mandato eletivo ou recurso contra a diplomação. Esta providência evita futuros
questionamentos que possam arguir a falta de possibilidade jurídica em anular
diploma sem a adoção dos mecanismos jurídicos legais aludidos (AIME e RCD).
Trata-se de medida mais prudente em razão das divergências jurisprudenciais e
doutrinárias sobre o assunto. Neste sentido:
TSE. "Acórdão n6 19.701, de 12.8.2003. Agravo regimental no Recurso
Especial Eleitoral ne 19.70l/RJ Relator: Ministro Carlos Velloso.
Ementa: Eleitoral. Recurso especial. Agravo regimental. Retorno ao
juízo a quo para exame do mérito. Ação de investigação judicial eleitoral
julgada procedente após as eleições. Cominação da pena de declaração
de inelegibilidade e remessa ao Ministério Público. Embargos de
declaração. Indeferimento do pedido de desistência do recurso. Matéria
22 TSE. “Ementa. Recurso Especial. Representação que, fundada no art. 22 Da LC ne 64/90, foi julgada improcedente
após as eleições em que se verificou o ato impugnado. Perda do objeto. Prejudicado está o recurso de decisão que
julgou improcedente Representação Manifestada nos moldes do art. 22 da LC n- 64/90, quando não surtir mais efeitos
a declaração de inelegibilidade, uma vez ultrapassados mais de três anos da data da eleição em que se verificou o
ato impugnado e por não ser mais possível a impugnação pelo Ministério Público da diplomação ou do mandato do
reclamado. DJ-Diário de Justiça, 16.09.1996, p. 33.649”.
23 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, voíume 13, tomo 2, p. 134. Ementa: Captação ilícita de sufrágio (Lei
n9 9.504/97, art. 41-A) - representação julgada procedente após a eleição - Validade da cassação imediata do diploma:
inaplicável o art. 22, XV, da LC 64/90, Por não implicar declaração de inelegibilidade.

509
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

de ordem pública. Art. 22, XIV, primeira parte, e XV da LC ns 64/90.


Precedentes. 1. Na ação de investigação judicial eleitoral julgada
procedente após as eleições, aplica-se a sanção de inelegibilidade e a
remessa de cópia do processo da representação ao Ministério Público.
2. Desnecessária nova manifestação ministerial após apresentação
de contrarrazões. 3. Embargos de declaração recebidos como agravo
regimental. 4. Inadmissível desistência de recurso que versa matéria
de ordem pública. Agravos regimentais não providos”.

17.10. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE


O Tribunal Superior Eleitoral tem precedente no sentido do não cabimento do
julgamento antecipado da lide. Nesse sentido:
Acórdão ns 19.419, de 16.10.2001. Recurso Especial EleitoralN219.419/
PB. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Ementa: Recurso especial.
Ação de investigação judicial eleitoral. Abuso de poder econômico.
Julgamento antecipado da lide (CPC, art. 330). Impossibilidade.
1. 0 julgamento antecipado da lide, na ação de investigação judicial
eleitoral, impossibilita a apuração dos fetos supostamente ocorridos,
afrontando o princípio do devido processo legal. 2. Recursos providos.
D} de 10.2.2002.

17.11. PRAZO
Já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral24 que:
Ação de investigação judicial. Prazo para a propositura. Ação proposta
após a diplomação do candidato eleito. Decadência consumada.
Extinção do processo. A ação de investigação judicial do art. 22 da Lei
Complementar ne-64/90 pode ser ajuizada até a data da diplomação.
Proposta a ação de investigação judicial após a diplomação dos eleitos, o
processo deve ser extinto, em razão da decadência. Nesse entendimento,
o Tribuna] julgou extinto o processo. Unânime. Representação n- 305/
MG, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo, em 27.3.2003.
Ajurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral está consolidada no entendimento
de que a ação de investigação judicial prescrita no art. 22 da LC ns 64/90 pode
ser ajuizada até a data da diplomação dos candidatos eleitos (Ac. n9 15.099, de

24 Se ocorrer uma hipótese de inelegibilidade entre o lapso temporal do deferimento do registro e a votação eleitoral,
sua arguição deverá ser apreciada pela Justiça Eleitoral, pois se trata de fato posterior e de cognoscibilidade ultra-
registro, com feições próprias de lesividade à ordem jurídica, aplicando-se, nesta rama, a defesa judicial dos direitos
políticos subjetivos, munindo o titular, v.g., o Ministério Público, partidos e candidatos, de mecanismos judiciais para
assegurar a igualdade na disputa eleitoral (a todo o direito corresponde uma ação que o assegura ~ Código Civil,
art. 75).

510
I n v e s t ig a ç ã o J u d i c i a i E l e it o r a l p o r A bu so
de P o d e r E c o n ô m i c o e/ o u P o l í t i c o C a p ít u l o 1 7

7 de maio de 1998, Relator Min. Maurício Corrêa). No mesmo sentido, os REspe


ne 15.263, de 25 de maio de 1999; ns 12.676, de 18 de junho de 1996; e n5 12.531,
de 18 de maio de 1995).2S
A investigação judicial eleitoral não possui, segundo a melhor doutrina, um
marco inicial para o seu ajuizamento, embora seja ofertada, após a publicação do
pedido de registro (mas, com a sua maior amplitude de cognoscibilidade eleitoral,
pode sanar os abusos e desvios de natureza econômica e política, permite seu
ajuizamento durante toda a fase de propaganda eleitoral, votação e apuração,
visando à declaração da sanção de inelegibilidade). Deve-se, antes do pedido de
registro, apurar os fatos abusivos, através da investigação judicial eleitoral, para
subsidiar a ação de impugnação ao pedido de registro. Discordamos, portanto,
de pensamentos contrários que não acolhem a investigação judicial eleitoral em
período anterior ao pedido de registro.26
Não há dúvidas de que os aspirantes a candidatos, antes mesmo de serem
escolhidos em convenções, praticam abusos do poder econômico e/ou político,
condutas vedadas e, enfim, escusam-se da incidência da deflagração de uma ação
de investigação judicial eleitoral.
Por outro lado, uma linha natural de raciocínio nos leva à inevitável conclusão
de que, a ausência de mecanismo punitivo fomenta em elevado grau o estímulo ao
desequilíbrio eleitoral, e os pleiteantes a mandatos eletivos acirram suas condutas
abusivas na certeza da absoluta falta de regras precisas quanto ao prazo inicial da
IJE.
Todavia, no silêncio da legislação em relação ao termo inicial de propositura da
ÍJE, podemos resumidamente destacar algumas correntes de pensamento:
1 - É possível a propositura de ação de impugnação ao pedido de registro de
candidaturas, tendo por fundamento o abuso do poder econômico e/ou político,
acarretando a sanção de inelegibilidade e o indeferimento do respectivo pedido.
Neste sentido, é a posição do eminente doutrinador Adriano Soares da Costa. Na
jurisprudência do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, ver TSE/Resp. n9 16.430
de 14 de setembro de 2000, RJTSE12. t. 2, p. 278, em igual sentido.

25 “TSE. Acórdão n9 20.134, de 10.9.2002. Recurso Especial Eleitora! ne 20.134/SP Relator: Ministro Sepúiveda Pertence.
Ementa: Recurso especial recebido como ordinário. Registro de candidatura, invocação dos princípios da economia
processual e da instrumentalidade das formas a viabilizar o reconhecimento de prática de abuso de poder econômico,
dos meios de comunicação e de captação ilegal de sufrágio em sede de impugnação de registro (precedente TSE.
Acórdão n9 12.676, de 18.6.1996, Redator desig. Min. limar Galvão}: improcedência. i - Ultrapassado o entendimento
adotado no precedente invocado peto recorrente, dado em que se firmou a jurisprudência deste Tribunal, no sentido
de admitir-se a ação de investigação judicial até a diplomação, não sendo a impugnação ao registro via própria para
apurar eventual abuso de poder (RO n- 593, julgado em 3.9.2002, Rei. Min. Sãivio de Figueiredo), li - Recurso a que se
nega provimento. Publicado na sessão de 10/9/2002".
26 Incisivas, a respeito, as considerações sobre a natureza juridica das normas que disciplinam as ineiegibiiidades, no
sentido de que “as inelegibilidades são de direito estrito, descabendo a adoção de forma interpretativa que importe
em elastecer-lhes o teor” (Diário da Justiça ns 235, em 13:12.1994, p. 34.585, Relator Ministro Marco Aurélio, Recurso
n® 12.235 - Classe 4a- Rio de Janeiro).

511
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

2 -Não é a ação de impugnação ao pedido de registro de candidaturas o meio


procedimental adequado para questionar o abuso do poder econômico e/ou
político, pois a matéria enseja procedimento específico (art, 22 e seguintes da
Lei das Inelegibilidades), bem como diiação probatória. Neste sentido é a posição
do eminente doutrinador Emerson Garcia, bem como é a corrente majoritária
na jurisprudência do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral (RO na 8.968/90, Rei.
Ministro Célio Borja, RJTSE vol. 2, n- 3, p. 1X1).
3 -A ação de investigação judicial eleitoral pode ser proposta antes do pedido de
registro de candidatos. Neste sentido, é a posição de José Antônio Fichtner,
[Im pugnação ao Mandato Eletivo, Rio de Janeiro, Renovar, 1998, p. 150).
4 -A ação de investigação judicial eleitoral pode ser proposta somente após o
pedido de registro, mas os fatos questionáveis podem ser anteriores ao prazo
da ação de impugnação ao pedido de registro. Neste sentido é a posição do
eminente doutrinador Joel José Cândido.
5 -Pode ação de investigação judicial eleitoral ser proposta em data anterior ao
pedido de registro de candidaturas, desde que tenha por fundamento fatos
ensejadores de violação ao art. 37, § l s, da Constituição Federal. Neste sentido
é a posição mais ou menos recente do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral
(Acórdão n- 404, de 5 de novembro de 2002. DJ de 28 de março de 2003, Rei.
Ministro Sálvio de Figueiredo).
Como se nota, a questão é polêmica e enseja as controvérsias antes expendidas.
No entanto, entendemos possível a adoção da quinta corrente do Egrégio Tribunal
Superior Eleitoral e, ainda, pensamos que, neste caso, dependendo do resultado
probatório da IJE, é possível subsidiar a propositura da ação de impugnação ao
pedido de registro de candidatos. Por exemplo: Se a prática da conduta abusiva for
o recebimento de dinheiro de entidade estrangeira, de classe, sindical, autoridades,
órgãos públicos etc., (ver arts. 31 da Lei ne 9.096/95 e 24 da Lei ne 9.504/97),
e a prova for evidente através de documentos irrefutáveis, é possível na ação de
impugnação ao pedido de registro, discutir-se a inelegibilidade, ou, antes da data do
pedido de registro de candidaturas, ajuizar a própria ação de investigação judicial
eleitoral, caso contrário haverá uma evidente diminuição da esfera de proteção
pública cerceando-se as possibilidades de contato e de acesso ao Poder Judiciário
em detrimento da redução da cidadania pelo desequilíbrio durante o processo
eleitoral, muitas vezes já deflagrado com antecedência e com recursos do poder
político para uma política assistencialista que visa, no futuro, à legitimação do
poder por meios desonestos e abusivos.
ImpÕe-se registrar, neste ponto, uma última observação: Nas eleições
pretéritas de 2 0 0 4 , o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral expediu a Resolução
ne 21.608, que dispôs sobre a escolha e registro de candidatos, e no art. 44
assim estava expresso: A rt. 4 4 . O re g istro de can d id ato inelegível ou que não

512
I n v e s t ig a ç ã o J u d ic i a l E l e it o r a l por A bu so
de P o d e r Ec o n ô m ic o e /o u Po l ít ic o C a p ít u l o 1 7

atenda às condições dé elegibilidade se rá indeferido, ainda que não tenha


havido im pugnação." Este entendim ento, pode refletír-se, hoje, notadamente,
na admissão da arguição de inelegibilidade por abuso do poder econômico e/ou
político na ação de impugnação ao registro de candidaturas, quando o aspecto
probatório não demandar a oitiva de testem unhas ou maiores complexidades
que possam ensejar o rito específico da ação de investigação judicial eleitoral.
No contexto fático probatório da ação de impugnação ao registro podemos
perceber que determinadas questões sobre o abuso do poder econômico ou
político podem ser emergentes da própria prova documental, sem necessidade
de ampliação probatória. Assim, como as inelegibilídades são matérias de ordem
pública e de interesse primário da sociedade, além de atingirem aspectos restritivos
da capacidade eleitoral passiva e a própria cidadania, sendo ainda inerentes à
estrutura democrática, não podemos concluir por outro rumo, exceto o do pleno
conhecimento pelo Poder Judiciário, quando ao critério do prudente arbítrio do juiz
ou Tribunal se puder julgar esta matéria.
Por fim, o termo final de propositura da ação de investigação judicial eleitoral,
conforme já enfatizado, é até a data da diplomação dos candidatos. Neste sentido
TSE. Resp. 11,994 de 12 de dezembro de 1995, Rei. Ministro Torquato Jardim; TSE.
Acórdão ne 628. DJ de 17 de dezembro de 2002, Rei. Ministro Sálvio de Figueiredo.

17.12. EFEITOS DA DECISÃO NA INVESTIGAÇÃO JUDICIAL


ELEITORAL
Provido o recurso contra a diplomação, são considerados nulos os votos dados a
candidato inelegível, segundo ressalta-se na decisão do TSE:
Acórdão n9 20.008, de 12.11.2002. Recurso Especial Eleitoral
ns-20.008/GC>. Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira. Ementa: Recurso
especial. Recurso contra expedição de diploma. Prefeito municipal.
Candidato inelegível por força da alínea d do inciso Ido art. l e da LC
n9 64/90. A decisão transitada em julgado em ação de investigação
judicial eleitoral, por abuso de poder econômico e político, implica a
inelegibilidade do candidato para os três anos subsequentes ao pleito
a que se referir. Recursos especiais eleitorais conhecidos e providos
com fundamento no inciso 1 do art. 262 do Código Eleitoral. Sendo
nulos mais de 50% dos votos válidos.
Outra questão que merece especial atenção é a renovação da eleição com base na
nulidade decretada no art. 224 do Código Eleitoral.
Porexemplo: o candidato A foi votado para prefeito e seu diploma foi cassado,
em razão de recurso contra a diplomação, sendo a decisão mantida em recurso
especial ou, ainda, sendo julgada procedente em investigação judicial eleitoral, para
apurar abuso do poder econômico com sentença confirmada pelo Tribunal Regional

S13
M a r c o s R a m a ya n a D ir e it o E l e it o r a i

Eleitoral e pelo Tribunal Superior Eleitoral, obtendo o mesmo mais de 50% do votos
válidos, é necessária a realização de nova eleição. Todavia, o inelegível solicitou novo
registro para a eleição extraordinária designada pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Se ocorreu o trânsito em julgado da decisão de inelegibilidade, entendemos
que o solicitante não poderá ser candidato a candidato, nem tampouco candidato
para as eleições suplementares, porque a inelegibilidade é absoluta e atinge estas
eleições. Na hipótese de ausência do trânsito em julgado, subsiste a plenitude dos
direitos políticos, com lastro, inclusive, no art. 14, § 3-, II, da Carta Magna. Incidiria,
ainda, regra do art. 15 da Lei Complementar n- 64/90, mas, quando a ausência do
trânsito em julgado deflui de eleição suplementar, ao nosso pensar, a inelegibilidade
é inteiramente aplicável ao candidato causador direto da nuiidade das eleições.
Trata-se de uma relação linear sobre o nexo de causalidade homogêneo, em relação
ao abuso do poder e à nuiidade da própria eleição. A regra geral não se aplica.
Cuida-se de tutelar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, porque
não é lógico que o prefeito que causou a nuiidade das eleições, pela influência do
poder político, seja candidato a uma reeleição suplementar do período de tempo
remanescente ao cumprimento do mandato eletivo, sob pena de prestigiar-se o
infrator e a impunidade eleitoral, com ferimento à normalidade e legitimidade das
eleições. As decisões judiciais não podem fixar-se em paradoxos que contrariem
os princípios básicos e gerais da orientação do pensamento humano, ou desafiar
uma opinião consabida na coerência da estrutura das causas de inelegibilidade, até
porque as inelegibilidades dão-se nas próprias eleições contaminadas pelo abuso.
Sobre o assunto, deve o leitor consultar o Acórdão n9 19.825, de 6 de agosto de 2002,
Recurso Especial (TSE), Relator Ministro Fernando Neves. Questão polêmica.27,28

27 “TSE. Acórdão ne 614, de 23.9.2002. Agravo regimental no Recurso Ordinário 614/CE. Relatora: Ministra Ellen
Gracie. Ementa: Agravo regimental. Registro de candidato. Lei Complementar ne 64/90, art. 1° f, d. Necessidade
de trânsito em julgado da decisão que julgou procedente ação de investigação judicial por abuso de poder. Agravo
improvido. Publicado na sessão de 23 de setembro de 2002”.
28 “A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de ser imprescindível a comprovação do trânsito em juigado da
decisão que julgou procedente ação de investigação judicial, a fim de que seja considerado inelegível o pré-candidato,
nos termos do art. 12, l, d, da Lei Complementar n- 64/ 90. Colaciono alguns precedentes do TSE sobre a matéria:
“Registro de candidato. Inelegibilidade. Abuso do poder econômico. LC ne 64/90, art. 12,1, alínea d. A impugnação
ao pedido de registro de candidatura, fundada em abuso do poder econômico, deve vir instruída com decisão da
Justiça Eleitoral, com trânsito em julgado, sendo inadmissível a apuração dos fatos no processo de registro. (...)”
(Grifei.) (Acórdão ne 11.346, de 31.8.90, Relator Ministro Célio Borja) “Registro de candidato a governador de Estado.
2. Impugnação. 3. Inelegibilidade da letra d do inciso i do art. 1e da Lei Complementar 64/90. 4. Hipótese em que
os fatos que constituíram o abuso de poder econômico ou político estavam sendo apurados em representações no
Tribunal Regional Eleitoral, à época do pedido de registro. 5. Inexistência de ‘decisão com trânsito em julgado', nas
representações, sendo inviável o acolhimento da inelegibilidade, no instante do registro do candidato. 6. Deferimento
do registro. 7. Decisão do TRE, que, nesta parte, mantém-se, porque, ao ensejo do julgamento, não havia ‘decisão
com trânsito em julgado’ de representações por abuso do poder econômico ou político, ut art. 1®, 1, letra d, da Lei
Complementar n9 64/90, não sendo possível, no processo de registro, a apreciação dos fatos respectivos dele
caracterizado res, objeto das representações. (...)” (Grifei.) (Acórdão n9 93, de 3.9.1998, Redator designado Ministro Néri
da Silveira); “(...) A inelegibilidade de que se cuida supõe trânsito em julgado da decisão que conclui pela procedência
da representação - art. 1° 1, d, da Lei Complementar n9 64/90. (...)" (Acórdão n2 17, de 19.3.1996, Relator Ministro Diniz
de Andrada)".

S14
I n v e s t ig a ç ã o J u d ic ia l E l e it o r a l por A bu so
de P o d e r Ec o n ô m ic o e /o u P o l ít i c o C a p ít u l o 1 7

A Lei Complementar ns 64/90, no art. 1^, inciso I, alínea d, dispõe que são
inelegíveis “os que tenham contra sua pessoa rep resen tação julgada procedente
pela Justiça Eleitoral, transitada em julgado, em processo de apuração de
abuso do poder econôm ico ou político..." Por derradeiro, a atribuição dos efeitos
legais da inelegibilidade se dá com a ocorrência do trânsito em Julgado na ação
de investigação judicial eleitoral ou representação, sendo a regra naturalmente
extensível as ações de captação ilícita de sufrágio (na hipótese de cumulação de
pedidos); ação de impugnação ao mandato eletivo e recurso contra a diplomação
(art. 14, §§ 10 e 11 da CRFB e 262, IV, do Código Eleitoral).
A regra legal acima aludida não vincula ou imbrica o trânsito em julgado para
fins de inelegibilidade com a nulidade ou anulação dos diplomas decorrentes dos
abusos do poder econômico ou político e da captação ilícita de sufrágio. 0 duplo
efeito, ou seja, a inelegibilidade ou a cassação do registro ou do diploma pode se
dar em momentos diferentes no processo das representações eleitorais em razão da
malsinada redação dos incisos XIV e XV do art. 22 da Lei Complementar ns 64/90.
Não é de hoje que se sustenta na doutrina e jurisprudência a inconstitucionalidade
dos incisos XIV e XV do art. 22 da LC n9 64/90, pois acarreta a chamada superposição
de ações e ineficácia do processo eleitoral. Na verdade, se a representação for julgada
após a eleição abusiva, haverá a necessidade de propositura de uma nova ação (AIME)
ou interposição do (RCD) para nulificar o diploma e, por via translativa, o mandato
eletivo.
Como se nota, a letra d do art. 1-, I, da LC n9 64/90 está vinculada aos incisos
XIV e XV do art. 22 do mesmo diploma legai. Quando a lei diz que a representação
é julgada procedente, na verdade, dentro de uma interpretação sistemática
inafastável destas normas jurídicas, significa dizer que, só haverá a produção dos
efeitos da inelegibilidade com o trânsito em julgado. De leg e feren d a , melhor seria
condicionar os efeitos ao julgamento de instância superior, pois a espera do trânsito
em julgado permite aos infratores manobras protelatórias capazes de procrastinar
o julgamento em verdadeira litigância de má-fé.
0 julgam ento da inelegibilidade pela atual sistemática vigente admite que o
Tribunal na instância recursal examine questões não arguidas pelas partes, pois
com a propositura de uma nova ação, por exemplo, a ação de impugnação ao
mandato eletivo com base em autos de ação de investigação judicial eleitoral não
transitada em julgado antes das eleições, é possível que determinadas questões
probatórias não tenham sido dialettcam ente exauridas na instância originária.
Este fenômeno se dá em maior proporção com a interposição do recurso contra o
diploma, quando a parte recorrente instrui como prova pré-constituída os autos
da representação ou IJE por abuso do poder econômico ou político. Nestes casos, a
prova pré-constituída como requisito especial de admissibilidade recursal e de
conhecimento do RCD é examinada pelo Tribunal como questão de ordem pública
prim ária e de in teresse indisponível da sociedade, assim como, no processo civil

515
M a r c o s R a m ayan a D ir e it o E l e it o r a l

(aplicável subsidiariamente no processo eleitoral), o Tribunal conhece de ofício


temas como os dos arts. 267, § 3 e, 301, § 4 a, 515, §§ l 9 até 3 e, e 516, todos do Código
de Processo Civil.
Por fim, o efeito translativo do julgamento das inelegibilídades é consectário
do sistema processual eleitoral hodierno, sem que haja expressa menção em
dispositivo legal, exceto por extensão interpretativa das normas dos arts. 23 da Lei
Complementar ns 64/90 e art. 270 do Código Eleitoral.
Por exemplo, se um partido político propõe uma representação por abuso do
poder econômico praticada por um candidato ao mandato eletivo de prefeito de
partido contrário, não sendo a ação julgada antes da eleição, e o candidato for eleito,
é necessária propositura de uma nova ação (AIME) ou interposição do Recurso
contra diplomação (RCD). Neste caso, se o partido político optar pela interposição
do RCD, usando os autos da IJE como prova pré-constituída, o caso será examinado
pelo Tribunal Regional Eleitoral, sendo o recurso admitido com base em prova pré-
constituída que poderá ser complementada pelo Tribunal nos limites dos arts. 270
do Código Eleitoral e 23 da LC ne 64/90, transferindo-se à instância superior questão
de ordem pública eleitoral não esgotada na ação de investigação judicial eleitoral
(exemplos de provas documentais, periciais e até prova emprestada em depoimentos
de testemunhos de outras ações). Nestes casos, a legislação eleitoral admite que
0 efeito do recurso seja translativo, além dos limites da mera devolutividade, No
entanto, deve-se ter a prudência de evitar a violação ao contraditório, possibilitando
às partes recorrentes questionar em grau recursal as provas complementares que
levarão o Tribunal ao julgamento definitivo da inelegibilidade.
A Justiça Eleitoral em todas as instâncias deve decidir com subsunção no princípio
da lisura e normalidade das eleições (art. 14, § 9°, da CRFB) e punir condutas capazes
de atingir a isonomia entre os candidatos nas campanhas eleitorais (art. 73 da Lei
n- 9.504/97). No fundo, tutela~se a essência do regime democrático de preservação
da intangibilidade da vontade popular nos pleitos eleitorais.

17.13. RITO PRO CESSUAL


1- Petição inicial.
2- Deferimento da petição inicial.
3- Notificação do investigado e intimação obrigatória do Ministério Público
Eleitoral (art. 82, III, do CPC),
4 - Defesa ampla (preliminares e mérito), no prazo de cinco dias.
5 - Realização da instrução, no prazo de cinco dias.
6 - Diligências, no prazo de três dias.
7 - Alegações finais, no prazo comum de dois dias.
8 - Conclusão, no prazo de um dia.

516
I n v e s t ig a ç ã o J u d i c i a l E l e it o r a l p o r Abu so

de P o d e r Ec o n ô m i c o e /o u P o l ít ic o C a p ít u l o 1 7

9 - Decisão, em três dias.29


10 - Recurso, em três dias, art. 265 c/c art. 258, ambos do Código Eleitoral.
Conclusivamente, podemos afirmar que o aprimoramento das eleições no Brasil,
ou seja, do processo eleitoral, englobando as fases de alistamento, votação, apuração
e diplomação dos eleitos, só poderá atingir um nível elevado com a educação do
homem político e a ampla fiscalização das eleições pelo órgão do Ministério Público,
que, juntamente com os partidos políticos e candidatos, formam notavelmente
um mecanismo legal e eficaz na prevenção e repressão das fraudes e corrupção
eleitoral Cumpre, portanto, ao Poder Judiciário a aplicação da tutela jurisdicional
eleitoral despolitizada, vez que a missão da justiça é o maior valor protegido.30

17.14. RESUMO
1) A investigação judicial eleitoral ou representação por abuso do poder econômico
e/ou político só é admitida a partir do pedido de registro de candidatos (ver
observações no resumo final do capítulo sobre a ação de impugnação do
mandato eletivo}. Os fatos abusivos são os cometidos antes do prazo do registro
(art. 11 da Lei n- 9.504/97). O termo final para propositura da ação pode ser até
a diplomação.
2) A legitimidade para a propositura é do Ministério Público (segue-se a mesma
atribuição da ação de impugnação ao pedido de registro de candidatos); dos
partidos políticos, dos candidatos envolvidos naquele específico pleito eleitoral
e das coligações. Trata-se de legitimidade concorrente, mas o Ministério Público
deverá intervir quando a ação for proposta pelos outros colegitimados.
3) A legitimidade passiva é do candidato ou partido beneficiado pelo abuso, além
de qualquer outro contribuinte da conduta abusiva (arts. 19 e 22, XIV da Lei
Complementam 3 64/90).
4) A competência é similar à da ação de impugnação ao pedido de registro de
candidatos: juiz eleitoral (eleições municipais); Tribunal Regional Eleitoral
29 TSE. Acórdão n9 20.243, de 19.12.2002. Recurso Especial Eleitoral ne 20.243/BA Reíator: Ministro Femando Neves.
Ementa: Recurso contra a expedição de diploma. Juntada de cópia de documentação formada em investigação judicial,
julgada improcedente pela Corte Regional, sem trânsito em juígado. Análise. Obrigatoriedade. 1. A decisão proferida
em julgamento de investigação judicial não vincula a Corte no ensejo da apreciação de recurso contra a expedição
de diploma. 2. Prova formada em autos de investigação judicial deve, obrigatoriamente, ser analisada por ocasião do
exame de recurso contra a expedição de diploma. DJ de 7.2*2003”.
30 Os deveres de conteúdo cívico-poiítico são disciplinados infraconstítucionaimente pelo Direito Eleitoral, que ocupa,
no ordenamento jurídico positivo, esse campo normativo, sendo o principal elo entre a representação e a sociedade
de eleitores.
Sendo estas noções, portanto, dignificadoras da precípua missão do Direito Eleitora!, ou seja, instrumentalizar e interligar
o universo de eleitores com o meihor aperfeiçoamento dos mecanismos eletivos, é irreversível o reconhecimento do
proeminente destaque desse ramo do Direito Público no complexo das Ciências Jurígenas, especialmente em razão da
preservação e do controle do processo eleitoral, que não pode ficar a cargo de uma fiscalização meramente política.
O Direito Eleitora! deve ser considerado uma pedra angular na edificação dos regimes democráticos, sendo uma
ferramenta eficaz na defesa da liberdade da votação e da autonomia individual do eleitor, principalmente através
de mecanismos prévios, concomitantes e posteriores das candidaturas e do mandato eletivo, criando-se um senso
eleitoral como meio eficaz de moralização das urnas, escoimando-as dos vilipêndios, das ilegalidades abusivas e da
manipulação do eleitorado com a fabricação de representantes políticos.

517
M a r c o s R am a ya n a D ir e it o E l e it o r a l

(eleições para governador, vice-governador, senador, deputados federais,


estaduais e distritais); e do Tribunal Superior Eleitoral nas eleições de presidente
e vice-presidente da República.
5) A representação deve ser instruída com provas do abuso (documentos,
perícias, fotografias, depoimentos etc.). 0 legitimado só poderá arrolar até seis
testemunhas.
6) 0 órgão jurisdicional pode determinar diligências pleiteadas na petição inicial
que deve seguir os moldes do art. 282 do Código de Processo Civil. Sobre as
diligências, ver o art. 2 2 ,1, b, da LC ne 64/90.
7) O art. 25 da Lei Complementar n- 64/90 refere-se ao conhecimento sobre os
fatos abusivos, mas caberá ao legitimado efetivar a produção das provas.
8) O objetivo principal é demonstrar a potencialidade lesiva para desequilibrar as
eleições em razão da conduta abusiva. O autor deve demonstrar a anormalidade
e ilegitimidade das eleições (arts. 19 e 22 da Lei Complementar n9 64/90).
9) Os efeitos são: se o julgamento for antes da eleição acarreta a inelegibilidade do
candidato e dos infratores e a cassação do registro (art. 22, XIV, da LC ns 64/90);
se for após a eleição só ensejará a inelegibilidade por três anos contados da data
da eleição (ver Súmula ns 19 do TSE). Neste caso, o legitimado poderá utilizar o
recurso contra a diplomação ou a ação de impugnação ao mandato eletivo (ver
arts. 262, IV, do Código Eleitoral e 14, §§ 10 e 11, da Constituição Federal),
Ação de Investigação judiciai eleitora! ou representação
{Art. 22, incisos I a XV/ Lei complementar nQ64/90)

Presidente
Candidatos
Vice-Presidente s
"►i Julgamento TSE

Governador
Vice-governador j Impugnantes
Senador Prefeito Julgamento peio juiz
M P-PG E
Julgamento Deputado federal Vice-Prefeito ■*! eleitoral designado Coligação
TRE Deputado Estadual Vereadores pelo TRE
Candidato
Deputado Distrital
P. Político

Impugnantes
\ Impugnantes
MP - PRE
-MP - PRE
Coligação
Candidato •Coligação
■Candidato
P. Político
•P. Político

Rito Processual
{art. 22, incisos I a XV, Lei complementar nô 64/90)

Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10a Edição • Capftulo 17 - Investigação judicial eleitoral abuso de poder econômico ou político
C apítulo 18

A ção de I m pu g n a ç ã o
ao M a n d a t o E let iv o

18.1. BA SE LEGAL
Até a presente data, os §§ 10 e 11 do art. 14 da Constituição Federal ainda não
foram regulamentados. Seria caso de ajuizamento de ação de inconstitucionalidade
por omissão, visando a tornar efetiva a norma constitucional?
Leciona Alexandre de Moraes, sobre a ação de inconstitucionalidade por omissão:
As hipóteses de ajuizamento da presente ação não decorrem de
qualquer espécie de omissão do Poder Público, mas em relação às
normas constitucionais de eficácia limitada de princípio institutivo e
de caráter impositivo, em que a constituição investe o legislador na
obrigação de expedir comandos normativos. Além disso, as normas
programáticas vinculadas ao princípio da legalidade, por dependerem
de atuação normativa ulterior para garantir sua aplicabilidade, são
suscetíveis de Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão.1
Como se depreende, a hipótese enseja o ajuizamento dos legitimados para a
propositura da ação, incluindo-se o procurador-geral da República e os partidos
políticos com representação no Congresso Nacional.
Considerando que a atuação do Ministério Público, investido das funções
eleitorais, é sempre suprapartidária, nas valiosas lições dos doutrinadores Fávila
Ribeiro e Joel José Cândido, não se compreende, ao nosso sentir, a efetiva demora
na adoção dessa medida judicial.
A falta de regramento subconstitucional sobre o rito processual, legitimados
os recursos cabíveis, enseja toda sorte de descrédito, tornando extremamente
dificultosa a declaração de nulidade do mandato eletivo, obtido pelo abuso do poder
econômico ou político, pelas fraudes eleitorais e pela corrupção (art. 299 do Código
Eleitoral).

1 MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 5a ed., revista, ampliada e atualizada.
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

O Projeto de Lei n9 3.781/97 (PLS ne 88/97) do Senado Federal "Dispõe sobre


a ação de impugnação de mandato eletivo a que se refere o art. 14, §§ 10 e 11, da
Constituição Federal, e dá outras providências". Todavia, o projeto, de autoria do
Senador Antônio Carlos Magalhães, de 24 de outubro de 1997, que, até a presente
data não foi concretizado, apenas trata do prazo máximo de julgamento da AIME,
que seria de 150 dias, além de estipular licença para o prosseguimento da ação de
impugnação ao mandato eletivo, equiparando-a aos casos criminais.
Havendo projeto de lei, não é possível a ação de inconstitucionalidade por
omissão.
De certo que, no sistema eleitoral brasileiro, o pré-candidato ou aspirante a
candidato, num primeiro momento, deve lograr êxito numa escolha puramente
política, que é a convenção partidária. Vencida essa etapa, deve obter o registro de
sua candidatura, onde se envolve na análise de uma questão jurídica formal, que
pode refletir-se no desafio de uma questão judicial extremamente controvertida,
através de debates judiciosos, numa ação de impugnação ao pedido de registro de
candidatura (art. 3Qda Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990). For último,
submete-se à disputa eleitoral, obtendo o voto popular, sendo, consequentemente,
proclamado eleito e diplomado pela Justiça Eleitoral.
Vencidas essas três etapas, ou seja: a) a escolha em convenção; b) o deferimento
do registro eleitoral; e c) a consagração da vontade popular pelo voto, o candidato
passa a ter a expectativa de direito em assumir o seu mandato eletivo, ocorrendo
ainda a proclamação dos resultados, diplomação e posse do eleito nos termos da
Constituição Federal, Constituições Estaduais, Leis Orgânicas dos Municípios e
Regimentos Internos dos órgãos legislativos respectivos, tais como Senado Federal,
Congresso Nacional e Câmaras Municipais.
Portanto, só haverá a possibilidade de ajuizamento dessa ação com a diplomação
do eleito. A diplomação, portanto, é o termo a quo da ação de impugnação ao
mandato eletivo.

18.2. CABIMENTO
É uma ação puramente eleitoral, onde a diplomação, como última fase do processo
eleitoral, é requisito jurígeno constitucional, sendo o termo a quo do prazo legal de
propositura da ação,
Outrossim, vale ressaltar que, se antes da diplomação não houver qualquer
questionamento judicial sobre possíveis vícios de falsidade, fraude, coação ou
emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios por meios vedados
por lei (arts. 222, 299 e 315 do Código Eleitoral), acionados os dispositivos legais do
art. 22 da Lei das Inelegibilidades - Lei Complementam3 64, de 18 de maio de 1990
entende o Tribunal Superior Eleitoral que a diplomação não pode ser impugnada

522
A ção de Im pug n açã o ao M and ato E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

com base, por exemplo, no inciso IV do art. 262 do Código Eleitoral (Processo
ne 183/93, Classe VII/39 - Recurso na 39, p. 10.546, procedência Juízo da 53a Zona
Eleitoral/RJ - Duas Barras, em 20.10.1993, ReL Juiz Jalcyr Sader).
Quando a ação de impugnação de mandato eletivo estiver assentada no art. 41-A
da Lei ne 9.504/97 (Lei das Eleições), o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral está
exigindo que seja feita uma análise da potencialidade lesiva do ato no resultado
do pleito para impor a nulidade do diploma, por exemplo, de candidatos eleitos
aos mandatos de prefeito e vice-prefeito (Recursos Especiais Eleitorais números
28.420/SP e 28.594/SP).
Como se nota, os instrumentos jurídicos processuais a serem adotados para punir
a corrupção decorrente da compra de votos são os seguintes: a) ação de captação
ilícita de sufrágio; b) ação de impugnação ao mandato eletivo; c) recurso contra a
expedição do diploma; e d) ação penal eleitoral, em razão da tipificação do art. 299
do Código Eleitoral.
Somente em relação à ação de impugnação ao mandato eletivo (AIME) é que se
deve avaliar a existência de potencialidade lesiva do ato para influenciar no pleito.
Nesse sentido, o TSE, recentemente, decidiu que: A declaração de procedência da
AIME com fundamento em captação ilícita de sufrágio requer a demonstração da
potencialidade lesiva.
De fato, o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, antes exposto, vale para
o recurso contra a diplomação, mas não para a ação de impugnação ao mandato
eletivo, onde se discutem, de forma ampla, as provas (questões fáticas e de direito),
sejam supervenientes à diplomação ou intercorrentes entre o alistamento eleitoral
e as eleições, especialmente no período da propaganda político-eleitoral, quando
já superadas as questões preclusas no exame do pedido de registro de candidatos.
O cabimento é amplo, podendo discutir-se questões fáticas e jurídicas,
concernentes às inelegibilídades absolutas ou restritas, condições de elegibilidade,
suspensão e perda dos direitos políticos, abuso do poder econômico, desde que,
sobre determinados aspectos dessas questões, não tenha ocorrido a preclusão
temporal, lógica ou consumativa. Sobre a preclusão temporal, o parágrafo único do
art. 259 do Código Eleitoral diz expressamente que: "O recurso em que se discutir
matéria constitucional não poderá ser interposto fora do prazo. Perdido o prazo
numa fase própria, só em outra que se apresentar poderá ser interposto"; em
harmônico sentido, é o art. 223, §§ 1-, 2- e 3 S, do Código Eleitoral, in verbis:

Art. 223. A nulidade de qualquer ato, não decretada de ofício pela Junta,
só poderá ser arguida quando de sua prática, não mais podendo ser
alegada, salvo se a arguição se basear em motivo superveniente ou de
ordem constitucional.
§ l fi Se a nulidade ocorrer em fase na qual não possa ser alegada no ato,
poderá ser arguida na primeira oportunidade que para tanto se apresente.

523
M a r c o s R a m a yan a D ir e it o E l e it o r a l

§ 2 2 Se se basear em motivo superveniente, deverá ser alegada


imediatamente, assim que se tornar conhecida, podendo as razões do
recurso ser aditadas no prazo de 2 (dois) dias.
§ 3a A nulidade de qualquer ato, baseada em motivo de ordem
constitucional, não poderá ser conhecida em recurso interposto fora do
prazo. Perdido o prazo numa fase própria, só em outra que se apresentar
poderá ser arguida.

Portanto, a matéria, de natureza constitucional, não preclui. Resta ao intérprete


pesquisar, nas hipóteses concretas, se a matéria é de natureza constitucional,
havendo alguns pontos que servem de bússola para a questão,
0 primeiro ponto nodal da questão reside na assertiva de que as questões
compreendidas nos §§ l s, 2- e 3 - do art. 14 da Constituição Federal são de natureza
materialmente constitucional, em razão de reiteradas decisões do Tribunal Superior
Eleitoral.
Outro aspecto é a "matéria constitucional" que se identifica com os direitos
públicos políticos subjetivos ativos e passivos, refletindo-se nas hipóteses
enumeradas no art. 15, incisos I, II, III, IV e V, da Constituição Federal,
Não se pode olvidar ainda de que se compreende como matéria constitucional
a questão da criação e extinção dos partidos políticos (art, 17 da Constituição
Federal).
Todavia, nem todas as questões tratadas na Lei das Inelegibilidades, como
as desincompatibilizações, são consideradas matéria constitucional pela
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.
Sobre matéria constitucional, vale enfatizar o Recurso Extraordinário ne 179.986-
2, Mato Grosso do Sul, Relator Ministro Néri da Silveira, STF, sessão plenária, votação
unânime, publicado no DJ de 4 de outubro de 1996:
Recurso extraordinário. Matéria eleitoral. Recurso de diplomação.
Candidato a vereador que instruiu o pedido de registro com prova falsa
de quitação com o serviço militar, apresentando certificado falsificado
que se expedira originariamente em favor de irmão do candidato. OTRE/
MS acolheu o recurso, reconhecendo a inelegibilidade do candidato e
declarando, em conseqüência, a nulidade da votação, com a cassação
do diploma. O TRE afastou a alegação de preclusão (Código Eleitoral,
art. 259), afirmando tratar-se, no caso, de matéria constitucional.
Recurso especial não conhecido: recusada a preclusão, porque se cuida
de matéria constitucional posta no recurso de diplomação; provada
a falsidade do documento que instruiu o pedido de registro, deciara-
se a inelegibilidade do candidato, com a cassação de sua diplomação.
Recurso extraordinário, alegando-se ofensa aos arts. 59, II e XXXVI, 14,
§ 3 S, inciso II, e 15, todos da Constituição, sendo certo que o tema da
preclusão discutiu-se, tão só, no plano do art. 259 do Código Eleitoral.

524
A ção de I m pug n açã o ao M an d ato E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

Incidência das Súmulas ne 282 e ns 356. Afastada a preclusão, por


fundamentos diversos, nos quatro votos que compuseram a maioria no
TSE, a questão concernente à falsidade do documento apresentado pelo
recorrente para satisfazer exigência do registro da candidatura esteve
na base comum desses votos, como fundamento não constitucional,
mas suficiente, qual seja, a inviabilidade de prevalecer o registro de
candidato e, desse modo, a possibilidade de decretar a nuiidade dos
votos, em virtude da falsidade do documento de registro do candidato,
quanto à quitação do serviço militar, o que o acórdão, com o apoio em
fatos e provas, assentou existente. Essa base jurídica do acórdão não
atenta contra os arts. 14, § 3S, inciso II, e 15, IV, da Constituição Federal.
Desses dispositivos, não resulta autorização para que prevaleça registro
de candidato amparado em prova falsa. Inviabilidade de reexame, em
recurso extraordinário, da matéria concernente a fatos e provas sobre
a falsidade do documento, reconhecida no acórdão. Aplicação das
Súmulas n9 279 e n9 283. Recurso extraordinário não conhecido.
0 Tribunal Superior Eleitorai, em diversos acórdãos, já admitiu como matéria
constitucional os seguintes temas: a) filiação partidária; b) domicílio eleitoral;
c) idade mínima para concorrer aos mandatos eletivos; d) reeleição, número de
vagas no legislativo; e) algumas hipóteses de inelegibilidades; f) perda e suspensão
dos direitos políticos; g) o princípio da moralidade pública para o exercício dos
mandatos eletivos. Sobre a moralidade, ver Verbete Sumular n9 13 do TSE: "Não
é autoaplicável o § 9 e do art. 14 da Constituição, com a redação da Emenda
Constitucional de Revisão ne 4/94".
A questão gera sempre controvérsias, merecendo aperfeiçoamento jurisprudencial
e doutrinário.
Ê importante ressaltar que o TSE não tem admitido como causa de pedir na AIME
a apreciação de conduta vedada e nem de abuso do poder político, mas, apenas, o
econômico. Nesses casos, a ação cabível é o recurso contra a expedição do diploma.
Segundo o TSE, "o conceito de fraude, para fins desse remédio processual, é aquele
relativo à votação, tendente a comprometer a legitimidade do pleito, operando-se,
pois, a preclusão” (AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO 888, ACÓRDÃO
888 SÃO PAULO - SP 18/10/2005, Relator CARLOS EDUARDO CAPUTO BASTOS,
Publicação DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 25/11/2005, Página 90).
Tais conclusões exsurgem da análise das seguintes ementas:
Ementa RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE
MANDATO ELETIVO. § 10 DO Art. 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:
CAUSAS ENSEJADORAS.
1. O abuso de poder exclusivamente político não dá ensejo ao
ajuizamento da ação de impugnação de mandato eletivo (§ 10 do art. 14
da Constituição Federal).

525
M arcos R a m a y a n a __________________ D ir e it o E l e it o r a l

2. Se o abuso de poder político consistir em conduta confíguradora de


abuso de poder econômico ou corrupção (entendida essa no sentido
coloquial e não tecnicamente penal], é possível o manejo da ação de
impugnação de mandato eletivo.
3. Há abuso de poder econômico ou corrupção na utilização de empresa
concessionária de serviço público para o transporte de eleitores, a título
gratuito, em benefício de determinada campanha eleitoral.
Recurso desprovido.
(TSE, RECURSO ESPECIAL ELEITORAL 28040, ACÓRDÃO UMBURANAS -
BA 22/04/2008, Relator CARLOS AUGUSTO AYRES DE FREITAS BRITTO,
Publicação DJ - Diário da Justiça, Volume 1, Data 01/07/2008, Página 8).
“f..,) não se valendo a p a rt e in te re s sa d a , ou o M inistério Público, do
liso do instrum ento legal adequado (rep resen tação, de que trata
o a rt. 9 6 da Lei ng 9 .5 04/9_7).o_fato oiL_a_CQnduta tida por ilícita
sjDL4?oderá se r objeto de_ enquadram ento e capitulação legal no
recu rso con tra expedição de diploma ou na investigação judicial,
na. m odalidade de abuso do poder político ou de autoridade, na
form a do referido inciso IV do a rt. 2 6 2 . c,c, o art. 2 3 7 do Código
Eleitoral e a r t . 22 da Lei Com plem entar ng 6 4 /9 0 . (RCEd
n9 608, de relatoria do Min. Barros Monteiro, DJ de 24.9.2004).

18.3. NATUREZA JURÍDICA


A doutrina majoritária, nas lições dos eminentes doutrinadores Joel José Cândido,
Fávila Ribeiro, Torquato Jardim, Tito Costa, Pedro Henrique Távora Niess (este último
possui trabalho de real valia sobre a ação de impugnação ao mandato eletivo, em
sua obra A ção de Im pugnação ao M andato Eletivo, Editora Edipro), Adriano Soares
da Costa e José Antonio Fichtner (este último também possui importante estudo
sobre a ação de impugnação ao mandato eletivo, Editora Renovar), é uníssona em
conceber essa ação como de natureza constitucional.
Trata-se de uma ação verdadeiramente constitucional eleitoral, puramente
eleitoral, extraindo dos §§ 10 e 11 da Constituição Federal sua essência jurígena,
sua razão de existir, sua fonte primária e seus genéricos balizamentos legais, tais
como prazo, termo a quo de ajuizamento e hipóteses de cabimento.
Ensina-nos José Antônio Fichtner:
(...) Por ser norma constitucional, ela é que estabelece os parâmetros
que irão balizar a aplicação do instituto, transferindo-se às regras
infraconstitucionais o preenchimento que for necessário dos espaços
deixados pelo texto constitucional com a finalidade de tornar o instituto
mais eficaz e efetivo (...)-2

2 FICHTNER, José Antônio. Impugnação de Mandato Eletivo. Editora Renovar, p. 12.

526
A ção de I m pug n ação ao M a n dato E l e t iv o C a p ítu lo 1 8

É, portanto, uma ação de Direito Constitucional Eleitoral, cuja tutela reside na


defesa dos direitos públicos políticos subjetivos ativos, protegendo-se as eleições
contra a influência direta ou indireta dos abusos econômicos, corrupção e fraudes.
A principal finalidade dessa ação, ao nosso sentir, reside na defesa dos interesses
difusos do eleitor, que foram manipulados no exercício do voto, votando num
processo eleitoral impregnado por fraude, corrupção e abusos, onde o mandamento
nuclear do voto, como princípio fundamental da soberania popular e político-
constitucional, é nulo de pleno direito, conforme dispõe o art. 175, § 3 e, do Código
Eleitoral, porque o responsável pelas práticas ilícitas é considerado inelegível, e
os votos atribuídos aos candidatos inelegíveis são essencialmente nulos de pleno
direito.
0 Ministério Público exerce a defesa do regime democrático contra a ilicitude
eleitoral, devendo propor esta ação na preservação da tutela dos interesses difusos
e indisponíveis do eleitor, estando plenamente legitimado em razão do disposto no
a rt 127 da Constituição Federal e no art. 82, inciso III, do Código de Processo Civil,
onde há o interesse público evidenciado pela natureza da lide.
Identifica-se essa ação como uma ação civil pública à proteção de interesses
difusos, porque o bem público tutelado subsume-se na normalidade e legitimidade
das eleições (art. 14, § 9 2, da CF), bem como no interesse público de lisura eleitoral
(art. 23, in fin e , da Lei Complementar n5 64/90).

18.4. O BJETIV O
Atingir a perda do mandato pelo reconhecimento judicial de fraude, corrupção,
abuso do poder econômico, produzindo ainda a declaração judicial da inelegibilidade,
segundo as lições doutrinárias de Pedro Henrique Távora Niess e Joel José Cândido,
com a aplicação do art. l s, inciso I, alínea d, da Lei Complementar n9 64, de 18 de
maio de 1990.
Todavia, o Tribunal Superior Eleitoral, em determinados casos, adota o
posicionamento que permite a declaração de inelegibilidade como um dos efeitos
que devem ser reconhecidos na procedência do pedido de ação de Impugnação ao
Mandato Eletivo. No entanto, em outras hipóteses, mais recentes, já decidiu:
Inelegibilidade: deve ser arguida em Impugnação ao pedido
de registro ou em recurso contra a expedição de diploma (Ag.
ne 12.363, limar Galvão, DJU de 7.4.1995). Ação de impugnação de
Mandato Eletivo (CF, art. 14, § 10): não substitui o recurso contra a
expedição de diploma (Ag. ne 12.363, limar Galvão, DJU de 7.4.1995;
RE n9 12.679, Diniz de Andrada, DJU de 1.3.1996). Recurso especial
conhecido e provido. (Acórdão n9 12.59 - Recurso Especial Eleitoral
ns 12.595. Assaí-PR. Relator Ministro Torquato Jardim, DJ de
29.3.1996.

527
M a r c o s R a m a yan a D ir e it o E l e it o r a l

Destacamos acórdão do TSE sobre a relevante questão, in verbis:


Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Abuso de poder. Eleições
de 1998. Governador e vice-governador. Fatos que, em seu
conjunto, configuram o abuso de poder econômico e político com
potencialidade para influir no resultado das eleições. Recurso
ordinário provido para: cassar os mandatos do governador e do
vice-governador (art. 14, § 10, da CF);, declarar a inelegibilidade
do governador para as eleições que se realizarem nos três anos
seguintes ao pleito (LC ns 6 4 /9 0 , art. I a, I, d e fe). Acórdão ne 510,
de 6.11.2001. Recurso Ordinário n” 510 - Classe 27a/PI ( I a Zona
Teresina). Relator: Ministro Nelson Jobim. Decisão: unânime em
dar provimento ao recurso.
Um outro questionamento de real importância reside em torno do reconhecimento
da preclusão temporal, caso não seja alegada a inelegibilidade no momento da ação de
impugnação ao pedido de registro de candidato ou no Recurso Contra a Diplomação,
não podendo aparte interessada - na visão da doutrina e jurisprudência majoritária
na ação de impugnação ao mandato eletivo, questionar matéria pretérita.
Na verdade, se a matéria é de natureza constitucional, inexiste a preclusão,
conforme já expendido acima, diante do disposto nos arts. 223, §§ 2S e 3 e, e 259,
parágrafo único, do Código Eleitoral.
De fato, não podemos deixar de registrar a fundada questão acima exposta, até
porque, se fosse admissível o reconhecimento da declaração da inelegibilidade nas
Ações de Impugnação ao Mandato Eletivo, com a permissibilidade de sua decretação
pelo prazo de três anos, na forma do art, 22, inciso XIV, da Lei Complementar
ns 64, de 18 de maio de 1990, estar-se-ia atribuindo efeito jurídico normativo à
ação, que ainda não foi infraconstitucionalmente normatizada, restringindo-
se direitos públicos políticos subjetivos passivos, o ius honorum , por decisão do
órgão judicial competente, sem base legal, e valorizando-se, de forma equivocada,
a interpretação sistemática e subsidiária. Por outro lado, a alínea d do inciso I do
art. I 9 da Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990, faz menção à hipótese
de inelegibilidade geral ou absoluta, quando ocorrer o trânsito em julgado de
representação, englobando-se, no sentido técnico-jurídico da "representação", a
própria Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo.
Sobre o tema, existem trê s co rren tes d ou trin árias: a) segundo Tito Costa,
somente parcialmente pode-se conseguir a inelegibilidade, ou seja, somente quando
a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo tiver como pressuposto a representação
do art. 22 da Lei das Inelegibilidades. Se a ação não tiver como pressuposto a
representação, ou seja, for proposta sem antecedência da investigação judicial
eleitoral, não terá o efeito de declarar a inelegibilidade; b) para as tintas do eminente
doutrinador Joel José Cândido, sempre ocorrerá a inelegibilidade, seja qual for o
fundamento da propositura; c) nas sábias lições de Pedro Henrique Távora Niess,

528
A ção de I m pu g n a çã o ao M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 18

a inelegibilidade decorre do reconhecimento do abuso do poder econômico, com


base na alínea d do art. 1-, inciso I, da Lei Complementar n9 64/90.
Assiste razão à terceira corrente.
Valiosas são as lições de Adriano Soares Costa, in verbis:
Dessarte, a eficácia da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo e da
sentença que lhe der procedência terá importante elemento constitutivo
da inelegibilidade cominada simples do candidato eleito, de modo a
perder o mandato obtido iniquamente. Com isso, já fica clarificado
que a AIME tem por escopo a declaração da ocorrência de fatos ilícitos
eleitorais (de natureza penal ou não}, os quais viciaram o resultado das
eleições, com a conseqüente decretação da inelegibilidade do candidato
eleito. Tal inelegibilidade, portanto, é efeito da sentença, que é o seu
título jurídico originante (daí o porquê da relevância da constitutividade
nesse caso). Com a inelegibilidade decretada, mondam-se ex nunc os
efeitos declaratórios do diploma de candidato eleito.3
A parte, a d cautelam , se ingressou com a investigação judicial eleitoral, pode
prosseguir, independentemente do ajuizamento da ação de impugnação ao mandato
eletivo, o que gera perplexidades e possíveis decisões contraditórias entre órgãos
jurisdicionais eleitorais diversos, v.g., juiz eleitoral e TRE, na inexistência da lei que
regulamente a ação de impugnação ao mandato eletivo.
Os direitos limitativos ao ius honorum devem ser interpretados, segundo lição de
José Afonso da Silva, restritivamente:
O princípio que prevalece é o da plenitude do gozo dos direitos políticos
positivos, de votar e ser votado. A pertinência desses direitos ao indivíduo,
como vimos, é que o erige em cidadão. Sua privação ou a restrição do
seu exercício configura exceção àquele princípio. Por conseguinte, a
interpretação das normas constitucionais ou complementares, relativas
aos direitos políticos, deve tender à maior compreensão do princípio, deve
dirigir-se ao favorecimento do direito de votar e de ser votado, enquanto as
regras de privação e restrição hão de entender-se nos limites mais estreitos
de sua expressão verbal, segundo as boas regras de hermenêutica.4
Nessa medida, cumpre ao julgador verificar a concomitância de uma AIME e uma
IJE sobre o mesmo fundamento fático e reunir ambos os processos pela conexão
(art. 10 4 do Código de Processo Civil).
Ressalte-se que, se, na investigação judicial eleitoral, o pedido é a declaração da
inelegibilidade por três anos da data da eleição, segundo hodierna jurisprudência,
e, dependendo da fase do processo eleitoral, também a decretação desconstitutiva
ou constitutiva negativa do registro do candidato, ocorrendo o ajuizamento da
Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo, com a diplomação, a ação de investigação

3 Teoria da Inelegibilidade e o Direito Processual Eleitoral, 1aed.( Del Rey, p. 317.


4 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 16a ed., Malheiros, p. 383.

529
M a r c o s R a m a y an a D ir e it o E l e it o r a i

judicial eleitoral ainda não julgada não possui o condão de cassar o registro nessa
fase, existindo apenas o mecanismo jurídico do recurso contra a diplomação ou da
própria Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo.
Portanto, ajuizada a impugnação ao mandato eletivo, o pedido subsume-se na
decretação da perda do mandato eletivo (arts. 14, §§ 10, e 55, inciso V, da Constituição
Federal). Todavia, essa perda decorre do reconhecimento da nuiidade dos votos atribuídos
ao infrator, existindo, necessariamente, um reconhecimento judicial na fundamentação da
sentença, relativo a uma hipótese de inelegibilidade (abuso do poder político, econômico,
corrupção ou fraude), inclusive, em determinados casos, não se pode fugir da análise de
eventuais crimes praticados, tais como os do a r t 299 e do a rt 315 do Código Eleitoral.
Outrossim, o art. 175, § 3 e, do Código Eleitoral afirma que: “serão nulos, para
todos os efeitos, os votos dados a candidatos inelegíveis ou não registrados". Assim,
a sentença na ação de impugnação ao mandato eletivo examina a inelegibilidade
e poderá decretá-la pelo prazo de três anos da data da eleição, sem que a decisão
seja restritiva dos direitos políticos passivos, como já expendido acima, cingindo-
se o acolhimento do pedido na decretação da perda do mandato eletivo que foi
conquistado por fraude, corrupção e abusos econômicos. Trata-se, na verdade, de
uma regra de compatibilização entre o art. 14, §§ 10 e 11, da Lei Maior e o art. 1 ,1, d,
da Lei das Inelegibilidades, ou melhor, de colmatação infra constitucional. Em suma:
pode o juiz decretar a perda do mandato eletivo e a inelegibilidade na mesma ação,
ou seja, na AIME ou em ações separadas reunidas pela conexão (AIME e IJE).
De fato, é recomendável, de leg e feren d a , que o legislador discipline o
reconhecimento da inelegibilidade na própria Ação Impugnativa ao Mandato
Eletivo, mas, enquanto não surge a lei específica, não vislumbramos outra solução
e corremos o risco permanente de decisões contraditórias, gerando descrédito
incomensurável à Justiça Eleitoral.
Por fim, cumpre registrar que tramita Projeto de Lei n9 3.781/97, do Senado
Federal, o PLS n9 88/97, dispondo sobre a ação de impugnação de mandato eletivo.
O projeto, em síntese, diz que a ação deverá ser julgada, em primeira e segunda
instância, no prazo de 150 dias, contados da propositura da petição inicial e,
transcorrido o prazo, o processo só poderá prosseguir com prévia licença do órgão
legislativo correspondente (Câmara dos Deputados, Senado Federal, Assembleia
Legislativa ou Câmara Municipal).

18.5. DIPLOMAÇÃO. PRÉ-REQUISITO PARA IMPUGNAÇÃO


Reza o art. 215 do Código Eleitoral:

Os candidatos eleitos, assim como os suplentes, receberão diploma


assinado pelo presidente do Tribunal Superior, do Tribunal Regional
ou da Junta Eleitoral, conforme o caso.

530
A ção de I m pug n açã o ao M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 18

A diplomação é um ato revestido de solenidades que traduz uma declaração


emanada do órgão jurisdicional competente, além de constituir uma nova relação
jurídica eleitoral entre o diplomado e a Justiça Eleitoral.
0 ato da diplomação eqüivale ao da nomeação do servidor público e expressa o
termo a quo do prazo para a interposição do recurso contra a diplomação - prazo
de 3 (três) dias (art. 2 6 2 ,1 a IV, do Código Eleitoral), ou da propositura da ação de
impugnação ao mandato eletivo - prazo de 15 (quinze) dias (art. 14, §§ 10 e 11 da
Constituição Federal). Os prazos contam-se da diplomação.
Outrossim, é importante destacar o fato de ser o ato da diplomação um pré-
requisito da efetiva prestação jurisdicional eleitoral. Na verdade, é a diplomação
um pressuposto processual de existência válida para a admissão de viabilidade
do exercício do direito de ação, ou ainda, um pressuposto de admissibilidade
recursal, pois cabe ao juiz ou Tribunal, antes de ingressar no mérito da AIME ou do
RCD, observar se a parte constante do polo passivo foi diplomada.
A prestação jurisdicional na AIME e no RCD subordina-se ao exame da diplomação
como pressuposto processual e, em conseqüência, sem a devida constatação do pré-
requisito, ocorrerá a extinção prematura do processo sem julgamento do mérito
aplicando-se, subsidiariamente, o disposto no art. 267 do Código de Processo Civil.
O art. 262, inciso IV, do Código Eleitoral prevê como hipótese especial de cabimento
do recurso contra a diplomação, a concessão ou denegação do diploma, quando a
eleição for viciada por falsidade, fraude, coação, abuso do poder econômico, e ainda,
a captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei ns 9.504/97).
No caso da denegação do diploma ao candidato que efetivamente agiu com
lisura no pleito eleitoral, lhe é facultado como um dos legitimados para a AIME ou
RCD, adotar a medida judicial mais adequada a respeito do them a decidendum , por
exemplo, RCD ou AIME.
A expressão denegação, não significa a falta da outorga de um diploma específico
para determinado candidato, e, portanto, eventual exceção à regra geral, mas, sim,
que o legítimo e verdadeiro vencedor das eleições foi preterido em detrimento do
uso e abuso de mecanismos ardilosos, falsos e corruptos, e o diploma foi concedido
contra legem , vez que baseado numa eleição viciada pela fraude. De leg e feren d a , a
expressão deveria cingir-se apenas na palavra outorga.
Na realidade, porém, a causa litigiosa posta em juízo pela propositura da AIME
não visa diretamente à nulidade do ato do diploma, conforme já decidiu o Egrégio
Tribunal Superior Eleitoral no acórdão n- 10.873, rei. Ministro Otávio Galloti, mas
ao contrário, a providência de direito material lastreada no pedido mediato tem
seu foco na invalidade das eleições para o autor da ilicitude eleitoral atingindo o
exercício do mandato eletivo e, em conseqüência, por via declaratória, a nulidade
do diploma.

531
M a r c o s R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Já se firmou regulamentação pelo Tribunal Superior Eleitoral de que: a) a


expedição do diploma ficará na dependência da prova de que o eleitor está em dia
com o serviço militar; b) existindo recurso contra a diplomação (RCD - art. 262 do
Código Eleitoral, o diplomado poderá exercer o mandato eletivo, art. 216 do Código
Eleitoral e Res./TSE n9 21.159/02; e c) para a ação de impugnação ao mandato
eletivo não vale a regra do art. 216 do Código Eleitoral, ou seja, o efeito é imediato.
Neste sentido ver arts. 169 e 171, § 2 2, da Res. TSE n9 22.154/06.

18.6. EXERCÍCIO DO MANDATO ELETIVO


O art. 216 do Código Eleitoral dispõe que:

“Enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra


a expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o mandato em
toda a sua plenitude”.

Em razão desta norma processual, o recurso contra a diplomação previsto no art.


262 do Código Eleitoral só produz seus efeitos naturais, após a solução definitiva da
prestação jurisdicional.
No caso, um dos legitimados para o RCD, ao interpô-lo não tem assegurado de
forma antecipada ou liminarmente os argumentos deflagrados, pois apenas devolve-
se ao Tribunal o exame do pedido. Não se admite a tutela de urgência ou diferenciada,
pois o direito subjetivo do sufrágio já se exteriorizou e existe uma natural aceitação
da vocação da vontade popular concebida pelos votos contidos nas urnas.
No fundo, o diplomado inserido no campo da plenitude de sua cidadania passiva,
ius honorum, e respaldado pelo princípio da presunção da legitimidade das eleições
poderá usufruir o exercício de seu mandato eletivo.
0 efeito do recurso contra a diplomação é apenas devolutivo. Neste caso, é a
coisa julgada que, em consonância ao devido processo legal, impede o acolhimento
prematuro dos motivos da irresignação recursal.
O candidato diplomado poderá investir-se na posse do mandato eletivo e exercê-
lo em toda a sua potencialidade.
0 ato de execução manifesta-se no exercício do mandato eletivo. A decisão da
outorga do diploma é imediata, o que significa a certeza de realização, ao menos
parcial do futuro mandato eletivo, através da ulterior posse.
Caberá ao Tribunal julgar o caso, subsumido na tutela constitucional-eleitoral
de preservação do interesse público de lisura eleitoral, art. 25 da Lei das
Inelegibilidades, além do relator deferir as provas indicadas, emprestadas e que
possam ser produzidas, quando o them a decidendum carecer de maior amplitude
da busca da verdade material, conforme disposição expressa do art. 270 do Código
Eleitoral. Sobre o RCD, ver ainda comentários no item 20.11.

532
A ção de I m pug n açã o ao M andato E l e t iv o C a p ítu lo 1 8

Desta forma, o diplomado ficará no pleno exercício de seu mandato eletivo, acaso
venha a tomar posse na forma legal, até decisão final transitada em julgado, inclusive
do próprio Supremo Tribunal Federal, na hipótese de recurso extraordinário. Nesse
sentido:
Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (CF, art. 14, § 10). No silêncio
da lei, tem aplicação o art. 216 do Código Eleitoral, quanto aos efeitos
da decisão judicial. Precedentes: Ag. MC ne 15.216 e MS ns 2.362.
Agravo não provido. Relator: Ministro Marco Aurélio. D] de 1.3.1996.
Residiu a questão de fundo sobre se haveria a aplicação do art. 15 da Lei
Complementar ns 64/90, exigindo-se o trânsito em julgado da sentença para perda
do mandato, como entendia o Ministro Marco Aurélio, com o voto do Ministro
ílmar Galvão, ou, se para outra corrente (vencida), defendida pelo Ministro Carlos
Velloso, a aplicação era imediata, com base no parágrafo único do art. 257 do Código
Eleitoral.
Registramos, ainda, decisão do TSE sobre a não aplicação da regra do art. 216 na
Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo, in verbis:
Medida cautelar em que se pleiteia efeito suspensivo a recurso especial
contra decisão de Tribunal Regional, que nega liminar para suspender
eficácia de decisão que julga procedente Ação de Impugnação de
Mandato Eletivo pela prática da conduta descrita no art. 41-A da Lei
nB 9.504, de 1997. São imediatos os efeitos da sentença que julga
procedente ação de impugnação de mandato eletivo pela prática da
conduta descrita no art. 41-A da Lei n2 9.504, de 1997. Pertinência da
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral relativa às representações.
Situação em que não se aplica o art. 216 do Código Eleitoral. Embora
seja admitida a concessão de efeito suspensivo a recurso manifestado
contra tai decisão, o acórdão recorrido, examinando as circunstâncias
do caso concreto, não entendeu presentes os pressupostos necessários
ao deferimento de tal medida cautelar. Inviabilidade de, em novo juízo
cautelar, modificar essa decisão e suspender os efeitos da sentença.
Conveniência de evitarem-se sucessivas alterações no comando da
Administração Municipal. Cautelar indeferida. Acórdão n9 1.049, de
21.5.2002. Medida Cautelar ns 1.049 - Classe 15a/PB (Sousa). Relator:
Ministro Sálvio de Figueiredo. Redator designado: Ministro Fernando
Neves. Decisão: por maioria, em indeferir a cautelar, vencidos o
Ministro Relator Barros Monteiro e a Ministra EUen Gracie.
Em considerações finais sobre esta tormentosa questão, não deixo de trazer à
baila valiosa lição do Ministro Fernando Neves:
(...) Quanto à aplicação do art. 216 do Código Eleitoral às Ações de
impugnação de Mandato Eletivo, após refletir sobre o tema, provocado
pelas preocupações destacadas pelo eminente ministro relator em seu
voto, estou tendente a divergir dos últimos julgados sobre o assunto

533
M a r c o s R a m a y an a D ir e it o E l e it o r a l

para acompanhar a opinião inicia! do eminente Ministro Torquato


Jardim, exposta por ocasião do julgamento do agravo regimental na
Medida Cautelar ne 15.216.
Parece-me, assim como à época pareceu à Sua Excelência, que depois se
curvou à orientação vencedora, que tal regra aplica-se exclusivamente
ao caso específico do recurso contra a expedição do diploma, assim
como o art. 15 da Lei Complementar ne 64/90 cuida apenas dos
casos de impugnação de registro de candidatura, conforme pacífica'
jurisprudência e doutrina.
Isso porque há uma diferença entre o recurso de diplomação e a Ação
de Impugnação de Mandato Eletivo, que, segundo pude apurar, não foi
considerada nos julgados citados pelo eminente ministro relator.
É que, enquanto o recurso contra a expedição de diploma é julgado
originariamente pelos tribunais regionais, a Ação de impugnação de
Mandato Eletivo obtido em pleito municipal, como é o caso dos autos,
começa em primeira instância e segue o rito ordinário. Isso significa
que, muito provavelmente, não será apreciada pelo Tribunal Superior
Eleitoral antes da segunda parte do mandato e, talvez, sequer antes de
seu término. Ela, então, perderia sua finalidade.
Assim, não me parece possível que determinada interpretação de
dispositivo do Código Eleitoral possa servir para tirar a eficácia de
regra expressa da Constituição.
Uma coisa é assegurar o exercício do mandato até o julgamento de
um recurso de tramitação célere e a confirmação dessa decisão pela
instância superior. Outra, bem diferente, é condicionar a eficácia de
uma ação constitucional, destinada a preservar a lisura das eleições,
ao pronunciamento da terceira instância, em processo de tramitação
infelizmente demorada.
Repito que não excluo, em tese, a possibilidade de que seja atribuído
efeito suspensivo a este ou aquele recurso, em razão da peculiaridade de
determinada situação concreta, mas o que não me parece possível, data
venia, é impor como regra aguardar-se, sempre, a palavra deste Tribunal
Superior para que uma sentença que tenha julgado procedente Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo possa ser executada. (Informativo do
TSE n9 28, Ano IV, 9 a 15 de dezembro de 2002. DJ de 6.9.2002).
A posição sustentada pelo eminente Ministro Fernando Neves foi regulamentada no
art. 90, § 2 9, da Resolução n9 21.635, de 19 de fevereiro de 2004 (resolução referente
ao pleito municipal de 2004 - eleições de prefeito, vice-prefeito e vereadores).
Como se vê, a regra decorreu do legítimo poder normativo previsto para o
Tribunal Superior Eleitoral, conforme expressas normas dos arts. l s, parágrafo
único, e 23 do Código Eleitoral, e art. 105 da Lei ns 9.504, de 30 de setembro de
1997 - Lei das Eleições.

534
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

0 poder regulamentar de expedir instruções é deferido ao Egrégio Tribunal


Superior Eleitoral, e a norma assim dispõe:

"§ 2q À ação de impugnação de mandato eletivo não se aplica à regra do


art. 216 do Código Eleitoral”.

Diante da incidência da norma jurídica integradora da legislação eleitoral,


passou-se a admitir para a ação de impugnação ao mandato eletivo o efeito
imediato, segundo disposto no parágrafo único do art. 257 do Código Eleitoral e, por
via reflexa o efeito devolutivo em relação ao recurso interposto pelo réu na AIME,
quando o juiz ou o Tribunal julgarem procedente o pedido mediato formulado na
inicial com base, v.g,, na inelegibilidade decorrente de abuso do poder econômico,
fraude, coação e vícios eleitorais.
Assim, a nova diretriz jurisprudencial e normativa do Egrégio Tribunal Superior
acabou por consagrar uma diferenciação especial no tratamento de diplomas
outorgados, quando sejam alvos de questionamentos jurígenos. A diferenciação
será escalonada com lastro no tipo de procedimento escolhido pelo legitimado ativo
dentro dos critérios de cabimento do RCD e das causas de pedir na AIME, bem como
na análise de delimitação do âmbito normativo da própria Constituição Federal.
Para o RCD, o recurso do legitimado ativo em face do diplomado só produzirá
efeitos definitivos de anulação do diploma, quando ocorrer a preclusão pro iudicato
ou coisa julgada.
Se, por exemplo, o legitimado ativo optar pela adoção da propositura da ação de
impugnação ao mandato eletivo, e na hipótese do juiz ou Tribunal julgar procedente
o pedido, o réu sairá imediatamente do mandato eletivo, e, enquanto não for julgado
(coisa julgada), o recurso interposto contra a decisão que guerreia o efeito imediato
da AIME, o diplomado não terá mais diploma, pois não poderá usufruir em toda a
sua plenitude do mandato eletivo.
É imperioso firmar posição no sentido de que irremediavelmente surgirão
situações complexas na assunção temporária do mandato eletivo, ou seja, será o vice;
o segundo lugar mais votado ou, por exemplo, o presidente da Câmara Municipal,
quando estivermos diante de eleições majoritárias municipais. No item denominado
de conseqüências, ainda neste capítulo, abordamos alguns temas sobre o assunto.
De toda sorte, ainda restará a questão de legalidade da resolução em cotejo com
o art. 2 2 , 1, da Constituição Federal, pois compete, privativamente, à União legislar
sobre direito eleitoral e processual.
Por fim, o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, de forma exemplar deu uma
resposta normativa à ação de impugnação ao mandato eletivo extraindo a eficácia
total dos §§ 10 e 11 do art. 14 da Constituição Federal com a integração do art. 257
e parágrafo único do Código Eleitoral, e a colmatação sistêmica destas normas
jurídicas.

535
M a r c o s R amayana D i r e i t o E l e it o r a l

No vácuo normativo da AIME, o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, através do


§ 2- do art. 90 da Resolução 21.635/04, adotou o princípio da m áxim a eficiência da
norm a constitucional e consagrou a força normativa do dispositivo constitucional
na extensão de seus efeitos imediatos.
O alcance valorativo da ação de impugnação ao mandato eletivo passou a ser
diferenciado, e foi dispensado um tratamento específico e delimitado ao âmbito do
recurso contra a diplomação (arts. 216 e 262 do Código Eleitoral).
Vislumbra-se, portanto, o rompimento do sistema da intangibilidade da
diplomação em face da plena efetividade da regra genérica dos recursos eleitorais
disposta no art. 257 e parágrafo único do Código Eleitoral, que interpretada
conforme a Constituição (art. 14, §§ 10 e 11) foi eleita como norma compatível com
o texto.
Em resumo: no caso da adoção da ação de impugnação ao mandato eletivo,
sendo o pedido julgado procedente, o diplomado deixará temporariamente de
exercer o mandato, até julgamento final (coisa julgada), não se aplicando a regra
neutralizadora do art. 216 do Código Eleitoral. Todavia, acaso interposto o recurso
contra a expedição do diploma, o diplomado é mantido no exercício do mandato
eletivo, enquanto não transitar em julgado.
Não podemos deixar de esclarecer que uma mesma hipótese factual poderá
ter tratamento jurídico diferenciado. A contradição deve ser superada de forma
proporcional e com prioridade ao princípio da eficaz tutela da "norm alidade
e legitim idade das eleições contra a influência do poder econôm ico ou o
abuso do exercício de função, cargo ou em prego na adm inistração direta
ou indireta", conforme matriz principiológica do § 9 S do art. 14 da Constituição
Federal. Assim, entre assegurar a validade de uma eleição até a sedimentação do
julgamento final da causa e, optar por uma paralisação temporária do mandato
eletivo, com o julgamento de procedência do pedido na AIME, adotou-se a última
hipótese e a consagração da utilidade e necessidade do verdadeiro significado desta
ação constitucional eleitoral.

18.7, PRAZO
A partir da diplomação, possui o autor 15 dias para a propositura da Ação de
Impugnação ao Mandato Eletivo.
Segundo o doutrinador Pedro Henrique Távora Niess, o prazo é de natureza
decadencial, em razão da natureza constitutiva (o direito nasce junto com a ação),
citando as valiosas lições de Agnelo Amorim Filho e Câmara Leal.
Controvérsia: a) o termo final do prazo, se recair em dia não útil, é prorrogado,
aplicando-se a regra do a rt 184 do CPC, segundo entendimentos do STF e TSE, Ac.
ne 12.516 (Min. Ilmar Galvão), publicado no DJU de 26.5.1995; e b) deve a parte
despachar diretamente com juiz, mesmo fora do horário do expediente. A primeira

536
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

corrente é válida. O prazo é de 15 dias. Ex.: dia 8 é a diplomação + 15 dias do prazo


limite para a propositura da AIME; desta forma, o termo a d quem do prazo é o dia 23.
Leciona José Antonio Fichtner:
Ajuizada a ação constitucional apenas contra umdos iitisconsortes passivos,
necessários e unitários, se a deficiência na constituição do litisconsórcio
no polo passivo não for percebida dentro do prazo decadencial pelo juiz,
a decadência operará por inteiro, de modo que atingirá, por definição,
todos os ocupantes do polo passivo da relação processual, mesmo aqueles
posicionados tempestivamente, como réus, pelo autor.5
A posição do TSE é no sentido de que o prazo de 15 dias, mesmo de natureza
decadencial, não exclui a regra em que se despreza o dia do começo e inclui-se o do
vencimento. Destacamos:
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL AÇÃO DE
IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO (AIME). PRAZO. DECADENCIAL. Art. 184
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. APLICAÇÃO. RECESSO FORENSE. PLANTÃO.
1. Esta c. Corte já assentou que o prazo para a propositura da Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo submete-se às regras do art. 184 e § l 9 do
CPC, prorrogando-se para o primeiro dia útil seguinte se o termo final cair em
feriado ou dia em que não haja expediente normal no Tribunal.
2. Aplica-se essa regra ainda que o tribunal tenha disponibilizado plantão para
casos urgentes, uma vez que plantão não pode ser considerado expediente
normal. Precedentes: STJ: EREsp 667.672/SP, Rei. Min. José Delgado, CORTE
ESPECIAL, julgado em 21.5.2008, DJe de 26.6.2008; AgRg no RO n9 1.459/
PA, de minha relatoria, DJ de 6.8.2008; AgRg no RO ne 1.438/MT, Rei. Min.
Joaquim Barbosa, DJ de 31.8.2009.
3. Agravo regimental não provido.
(Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral ne 35.916/AM,
Relator: Ministro Felix Fischer, DJE de 3.11.2009).

Sobre o tema, vale destacar ainda o Acórdão n9 14.979, originário do Processo


n- 14.979 - Classe 10a - Agravo Regimental. Brasília - DF, Relator Ministro Mãrco
Aurélio:
Ação de impugnação a mandato. Litisconsórcio. Natureza. Prazo
de decadência. Nas eleições em geral, o voto atribuído ao candidato
beneficia, automaticamente, o vice que com ele compõe a chapa.
Evocado na ação de impugnação ao mandato - § 10 do art. 14 da
Constituição Federal - vício capaz de contaminar os votos atribuídos
à chapa, impõe-se a observância do litisconsórcio necessário unitário,
devendo a ação, dirigida contra ambos os mandatos, estar ajuizada
no prazo decadencial de 15 dias. Litisconsórcio necessário unitário.

5 FiCHTMER, José Antonio. Impugnação de Mandato Eletivo. Editora Renovar, p. 83.

537
M a r c o s R a m a y an a D i r e i t o E l e it o r a l

Citação dos litisconsortes. Atuação de órgão investido do ofício


judicante. Decadência. 0 que previsto no parágrafo único do art. 47 do
Código de Processo Civil - determinação no sentido de o autor vir a
promover a citação de todos os litisconsortes necessários - pressupõe
que não esteja consumada a decadência. Deixando o autor para ajuizar
a ação no último dia do prazo fixado, fazendo-o de modo incompleto,
descabe a providência, no que jungida à utilidade. 0 preceito não tem o
condão de ressuscitar prazo decadencial já consumado.6
Deve-se adotar a interpretação sistemática do disposto nos arts. 47, parágrafo
único, 263, 282, 283 e 2 8 4 do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente,
porque as hipóteses de litisconsórcio em chapa una e indivisível ensejam sentença,
que atingirá a situação jurídica do vice, que também foi eleito, independentemente
da regra estipulada no art. 18 da Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990.
Prazo decadencial:
(TSE). Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Ilegitimidade ad causam.
Pedido de aditamento da inicial. Preclusão. Encontra-se precluso
o pedido de aditamento à ação de impugnação de mandato eletivo,
objetivando a inclusão no polo ativo do segundo recorrente, uma vez que
formulado após o prazo decadencial de 15 dias, previsto na Constituição
da República. Os eleitores não têm legitimidade ativa ad causam para
propor a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. 0 Tribunal não
conheceu do recurso de Anderson Eduardo Gomes da Silva e negou
provimento ao recurso de Joaquim Lima da Silva. Unânime. Recurso
Ordinário ne 498/MG, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, em 25.10.2001.
Quanto ao prazo da contestação, o TSE já firmou entendimento de que é de 15 dias.
(TSE). A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, ressalvadas apenas
as peculiaridades inerentes à sua natureza e ao próprio processo
eleitoral, submete-se ao rito ordinário, sendo, portanto, de 15 dias
o prazo de resposta. Precedentes. 3. Recurso parcialmente provido.
Acórdão na 4, de 17.3.1998 - Recurso Ordinário n2 4 - Classe 27a/DF
(Brasília). Relator: Ministro Maurício Corrêa. Recorrida: Procuradoria
Regional Eleitoral/DF. Decisão: por maioria de votos, vencido o ministro
presidente, em conhecer e prover, em parte, o recurso.

18.8. INDEPENDÊNCIA ENTRE A AÇÃO PENAL E A AÇÃO DE


IMPUGNAÇÃO AO MANDATO ELETIVO
A questão referente à relativa independência entre as instâncias penal, civil,
administrativa e eleitoral é relevante diante do caso concreto, pois o Tribunal
Superior Eleitoral já reconheceu o fato de que a improcedência da AIME não acarreta
a absolvição criminal. Assim consiste, em linhas gerais, o fenômeno da relativa

6 Publicado no DJU de 26.5.95.

538
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

independência da coisa Julgada, especialmente quando a valoração probatória


pode conter elementos não coligidos na AIME, que retratem a tipicidade, ilicitude e
culpabilidade. Nesse sentido:
(TSE). Acórdão n9 2.577, de 12,3.2001. Agravo de instrumento n9 2.577/
SP. Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Eleitoral. Penal. Recurso
especial. Juízo de admissibilidade. 1. Ao juízo de admissibilidade
compete examinar a presença dos pressupostos de cabimento do
recurso especial, ou seja, se houve demonstração de divergência com
julgados aptos para sua caracterização e a plausibilidade da alegação de
infração à norma legal. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo julgada
improcedente. Inexistência de obstáculo à condenação criminal. 2. A
circunstância de ter sido julgada improcedente Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo acerca dos mesmos fatos não constitui obstáculo à
condenação criminal, desde que fundada no que apurado no curso da
instrução do processo-crime. DJ de 16.3.2001.

18.9. GRATUIDADE DA AÇÃO


A Lei ne 9.265, de 12 de fevereiro de 1996, "regulamenta o inciso LXXVII do art. 5-
da Constituição, dispondo sobre a gratuidade dos atos necessários ao exercício da
cidadania"
No inciso IV do art. l s, tratou a lei de conceder a gratuidade dos atos de exercício
da cidadania, incluindo as Ações de Impugnação de Mandato Eletivo por abuso do
poder econômico, corrupção ou fraude.
O princípio da cidadania não se resume apenas aos direitos públicos políticos
subjetivos ativos e passivos, possuindo um conceito mais amplo, que envolve a
própria dignidade da pessoa humana, a infância, a velhice, os direitos sociais e
individuais, a ordem econômica etc.
A Constituição Federal tratou do princípio da cidadania como um princípio matriz
ou "núcleo de condensação", nas lições de Vital Moreira e J.J. Gomes Canotilho.
De certo que a cidadania está ligada à soberania popular (art. 14 da Lei Maior).
Na medida em que o legislador permite a gratuidade de Justiça nos atos necessários
ao exercício da cidadania, incluindo nesse rol as Ações de Impugnação ao Mandato
Eletivo, ao nosso pensar, abriu caminho, para que a lei que venha a regulamentar
a ação pulverize a legitimidade ao cidadão, desobrigando a adoção de similar
legitimidade ativa, como, por exemplo, a legitimidade disposta no art. 22 da Lei
Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990 (Ministério Público Eleitoral, partidos
políticos, candidatos e coligações).
Sendo a ação de Direito Constitucional Eleitoral, são substanciosas as premissas
de raciocínio que ensejam a pulverização de legitimação ativa ao cidadão, o que,
inevitavelmente, causará irreversíveis prejuízos à boa administração da Justiça, com

539
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

ações infundadas, temerárias e impregnadas de espírito de emulação, servindo de


palco para as mais variadas exteriorizações da vaidade alheia, além de encobrirem
eventuais interesses politiqueiros.
De assento, caberá ao legislador subconstitucional atentar para essa questão,
mantendo, p ari passu, os mesmos legitimados já existentes na representação por
abuso do poder p olítico e /o u eco n ô m ico e nas ações impugnativas de pedidos de
registros de candidaturas.

18.10. A QUESTÃO DA PROVA


Não se exige prova pré-constituída, apenas um "razoável indício probatório",
manifestado pelo fum us boni iitris, ou seja, prova testemunhai, documental, fitas
de vídeo, gravações, confissões, documentos públicos ou particulares em geral,
lastreados em critérios razoáveis e plausíveis, que possibilitem a apreciação
jurisdicional, evitando-se a temeridade ou a má-fé.
Sobre a temática da prova, considere-se a posição do TSE, segundo a qual a Ação
de Impugnação ao Mandato Eletivo não pode servir para a recontagem de votos:
Eleitoral. Ação de impugnação de mandato. CF, art. 14, § 10. Prova:
início. Recontagem de votos: impossibilidade. I ~ A ação de impugnação
de mandato não exige, para a sua propositura, a apresentação, com
a inicial, de toda a prova da fraude, dado que o impugnante poderá
demonstrá-la na instrução da causa (CF, art. 14, § 10). Com a inicial,
entretanto, deverá o impugnante produzir, pelo menos, um começo de
prova da fraude ou indicar a ocorrência de indícios sérios, não sendo
possível a utilização de ação de impugnação de mandato para o fim de
obter recontagem de votos. II - Precedente do TSE: Recurso ne 8.715/
AL (Acórdão ne 11.046). III - Agravo provido. Recurso especial
conhecido e provido. (Acórdão na 11.919 - Forquilha - CE - Relator:
Ministro Carlos Velloso. DJU de 10.2.1995).
A prova pré-constituída é exigível para a interposição do Recurso Contra a
Diplomação (art. 262, incisos I a IV, do Código Eleitoral).
0 suporte probatório para o Recurso Contra a Diplomação pode ser a investigação
judicial eleitoral ou representação, na hipótese de que a mesma não tenha sido
julgada em tempo oportuno para decretar a cassação do registro (art. 14, inciso XIV,
da Lei das Inelegibilidades), quando servirá para essa finalidade em grau recursal,
aproveitando-se o arcabouço probatório existente.
Deve o legitimado ativo da representação valer-se do mesmo instrumental
probatório para promover a interposição do Recurso Contra a Diplomação, pois a
jurisprudência e a doutrina são unânimes em inadmitir a produção de prova em
grau recursal; ao contrário, quando manejada a Ação de Impugnação ao Mandato
Eletivo, onde se poderá renovar toda a prova trazida à baila na investigação judicial

5 4 0
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

eleitoral, além de outras eventuais provas supervenientes ou de conhecimento


posterior dos interessados na solução da lide.
No sentido da prova pré-constituída para o recurso contra a diplomação:
Ementa: Recurso contra a expedição de diploma (Cód. Eleitoral, art 262,
IV): indispensável a prova pré-constituída, conforme a jurisprudência
consolidada desta Corte (Ac. n2 8.933. Rei. Min. Rosas; Ac. ne 11.061,
Rei. Min. Vilas Boas; Ac. n2 11.946, Rei. Min Jardim). DJU de 7.8.1995,
p. 22.987 Rei. Ministro Torquato Jardim.
Cumpre destacar:
Recurso Contra a Diplomação (Código Eleitoral, art. 262, IV). Prova
pré-constituída contida em autos de investigação judicial por abuso
de poder econômico. Exame obrigatório pela Corte Regional quando
do julgamento do recurso contra a diplomação. Recurso provido para
anular o acórdão regional para que outro se profira à luz da prova
pré-constituída na investigação (Acórdão na 11.946, Santo Antônio de
Pádua/RJ, Rei. Ministro Torquato Jardim. DJU de 3.2.1995).
Vê-se, portanto, que o exame das provas que servem aos critérios de razoabilidade
e proporcionalidade faz com que sejam cotejadas pelo órgão judiciário competente
(juiz eleitoral, TRE ou TSE), em consonância ao preceituado no art. 23 da Lei
das Inelegibilídades, aplicável subsidiariamente, dentro de uma interpretação
sistemática para as ações de impugnação ao mandato eletivo. Assim, cabe ao
órgão judicial, dentro dos critérios da persuasão racional ou livre convencimento
motivado, decidir com base nos indícios e presunções (mesmo que não trazidos aos
autos pelas partes diretamente interessadas na solução da demanda).
A regra do art. 23 da Lei das Inelegibilídades é de real valia porque demonstra
que a matéria de fundo, debatida nos pedidos mediatos, permite que o órgão judicial
eleitoral competente para o julgamento requisite todas as diligências, perícias etc.,
independentemente da manifestação da parte, pois a tutela jurisdicional transcende
aos interesses privados das partes, subsumindo-se na ordem pública democrática e
na preservação da intangibilidade dos votos.
Outrossim, o art. 351 do Código Eleitoral equipara o filme cinematográfico e o
disco fonográfico aos documentos para fins penais, ao contrário do Direito Penal
comum, que exige forma escrita, autor determinado, manifestação de vontade e
relevância jurídica.
Sobre a prova documental, vide, nos arts. 364 a 389 do Código de Processo
Civil e 232 a 238 do Código de Processo Penal, dispositivos que são aplicáveis
subsidiariamente na Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo.
A ação de impugnação ao mandato eletivo, que segue o rito especial do art. 39
e seguintes da Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990 (ver comentários
no item 13.10. Rito processual), na ausência de lei disciplinando-a, em razão do
disposto nos arts. 271, 272, parágrafo único, e 282 do Código de Processo Civil -

541
M a r c o $ R am ayan a D ir j e i t o E l e it o r a l

portanto, cabe todo o exame instrutório, com ampla produção de provas, perícias
etc., servindo aos legitimados ativos como melhor opção, quando não possuírem
provas capazes de autorizar a interposição do recurso contra a diplomação, cuja
celeridade é muito mais eficaz, até porque, pelo calendário eleitoral, trazido nas
resoluções que minudenciam a lei anual eleitoral, o órgão jurisdicional (TRE ou
TSE) possui prazo peremptório para julgamento dos recursos.
Na verdade, questionamos a posição adotada pela jurisprudência, no que pertine
à exigência de prova pré-constituída para a interposição do recurso contra a
diplomação, pois, em reiteradas decisões, até por meio de embargos de declaração,
é possível a admissão de provas supervenientes e complementares, emergindo
verdadeiro contraditório em grau recursal.
Outrossim, a natureza jurídica do Recurso Contra a Diplomação não é, ao nosso
pensar, de um recurso, porque, de acordo com o art. 162 do Código de Processo Civil,
os atos do juiz, na verdade, são sentenças, decisões interlocutórias e despachos, que
fazem parte de uma categoria compreendida como atos decisórios, e nem todos
desafiam os recursos, como os despachos de mero expediente (art. 504 da Lei
Instrumental Civil).
Não conseguimos identificar o ato formal da diplomação, arts. 40 e 215 do
Código Eleitoral, consitente na confecção de um diploma ao candidato eleito, como
um ato decisório judicial, enquadrando-se na verdade como um ato administrativo
complexo, que desafia uma ação distinta, como, por exemplo, a Ação de impugnação
ao Mandato Eletivo.
Não resta dúvida de que a diplomação encerra a última fase do processo eleitoral,
mas, sendo um ato administrativo complexo, deveria apenas desafiar uma ação
própria, como a impugnativa do mandato eletivo.
Sendo o recurso, pela doutrina dominante, um desdobramento ou seqüência
natural do próprio direito de ação, exteriorizado no processo, nas valiosas lições
de Barbosa Moreira, Humberto Theodoro Júnior, Carnelutti, Ugo Rocco etc., resta
descaracterizada sua natureza jurídica recursal, porque inexiste, com o ato formal
da diplomação, uma lide ou um conflito de interesses.
Na verdade, a diplomação é apenas um marco, termo ad quem do processo
administrativo eleitoral, incapaz de conter conflitos ou discórdias. Trata-se de
ato certificatório formai, ou seja, apenas uma etapa admínistrativa-eleitoral. Em
idêntico sentido é a posição do doutrinador Adriano Soares da Costa.
Os vícios que maculam o processo eleitoral não estão contidos num processo
judicial de diplomação, mas durante a fase da propaganda eleitoral, da votação ou
da apuração dos votos, onde se fizeram presentes a corrupção, fraude ou abusos
políticos ou econômicos.

542
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

Assim, ousamos trazer à discussão a posição pacífica da doutrina e jurisprudência,


que limitam a produção de prova no Recurso Contra a Diplomação, fazendo da prova
pré-constituída uma linha divisória com a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo,
na hipótese do art. 262, inciso IV, do Código Eleitoral, onde se discutem matérias
que, no fundo, dizem respeito às hipóteses fáticas de incidência do abuso do poder
político ou econômico, e não, puramente, a aspectos formalísticos do ato próprio da
diplomação dos eleitos.
A questão merece, de leg e fe r e n d a , profunda alteração, pois, da forma como se
apresenta lege lata, causa restrição ao princípio da liberdade dos meios de prova e
do devido processo legal, englobando~se o contraditório, partindo-se da premissa
falsa de que o Recurso Contra a Diplomação, na hipótese do inciso IV do art. 262 do
Código Eleitoral, é recurso e, portanto, não é cabível prova em grau recursal, onde
já está finda a instrução probatória.
Essa instrução probatória, cumpre frisar, não ocorrerá nunca no processo
adrainistrativo-formal de diplomação, tão somente na investigação judicial eleitoral
ou representação, que serve de base ao Recurso Contra a Diplomação.

18.11. PROVA DO NEXO DE CAUSALIDADE NO ABUSO DO


PODER ECONÔMICO
É necessária a prova do nexo de causalidade no abuso do poder econômico,
além da prova robusta e incontroversa, com o comprometimento da lisura e
normalidade das eleições?
I a) Provas inconcussas, incontroversas + nexo casual entre provas e o vício da eleição
(Min. Vilas Boas).
2a) 0 que importa é a existência objetiva da corrupção ou fraude, mais a prova,
ainda que indiciária, de sua influência no resultado eleitoral (TSE, Ac. n9 12.030
Sepúlveda Pertence).
Observações: a) a dúvida favorece o eleito ou suplente; b) a fraude não se
presume, deve ser comprovada; c) não há critério pródromo, inicial ou delimitador
para o abuso do poder econômico; d) é importante diligenciar, sempre que possível,
com o intuito de obterem-se informações anteriores sobre o passado político
do candidato naquela circunscrição judicial eleitoral ou, especificamente, em
determinadas zonas eleitorais, ou seja, se o candidato obteve votação expressiva
e diferente das anteriores, inclusive se realizou campanha eleitoral naquele local
onde obteve expressivo número de votos; e e) é sempre do autor da ação o ônus
da prova sobre a existência do vício e sua influência indiciária no pleito eleitoral.
Toda eleição reveste-se do princípio da normalidade e legitimidade, até prova em
contrário, aplicando-se a regra processual civil sobre o ônus da prova - art, 333,
incisos I e II, do Código de Processo Civil.

543
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Não se pode contemplar o entendimento de que a caracterização do abuso do


poder econômico esteja essencialmente relacionada com o viciamento dos votos em
determinada região ou zona eleitoral.
0 candidato que abusou do poder econômico, v.g., poderá ter efetuado elevados
gastos financeiros na campanha eleitoral, sem, todavia, conseguir êxito na votação
popular. Mesmo nessa hipótese, poderá ser réu numa representação ou investigação
judicial na forma do art. 22 da Lei Complementar n2 64, de 18 de maio de 1990,
emergindo, ao final, a declaração de inelegibilidade por três anos, contados da data
da eleição.
Como ressaltou o eminente Ministro Relator, Flaquer Scartezzini, nos autos do
Acórdão n- 11.725, Rosário/M A, publicado no DJU de 28.4.1995, a questão do abuso
do poder é intrigante. A saber, trechos do acórdão:
(...) Para que possa ter êxito a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo,
é indispensável a prova, ainda que indiciaria de que o resultado
do pleito decorreu do abuso do poder econômico (...) Iterativa
jurisprudência do Tribunal tem exigido, para a configuração da
inelegibilidade por abuso do poder econômico, não somente a prova
robusta e incontroversa, mas, também, o nexo de causalidade entre os
atos praticados e o compromisso da lisura e moralidade das eleições
(Precedentes: Acórdãos n- 6.526, ns 8.283 e n9 9.081) (...) Saber se
há relação causai entre um comportamento e seu resultado constitui
matéria eminentemente probatória, cujo reexame refoge do âmbito do
recurso especial (Súmula do STF ne 279) (...) Registre-se que o poder
econômico apurado nos autos em exame é aquele que se convencionou
chamar de clientelismo político, que, embora seja crime eleitoral, é
largamente usado pelos políticos brasileiros, de sobremaneira nas
áreas rurais (...) A prevalecer o entendimento de que um candidato
pode praticar abuso do poder econômico e político, se os demais
agirem da mesma forma, jamais se chegará à moralização dos pleitos.
Por isso, a jurisprudência deste egrégio Tribunal Superior Eleitoral tem
avançado no rigor à repressão a tais abusos, dando revelo cada vez mais
à legitimidade das eleições e ao interesse público de lisura eleitoral
(ver, e.g., Recurso Eleitoral n~ 11.241, Bagé/RS, Relator o eminente
Ministro Torquato Jardim, in DJ de 12.11.1993, fl. 24.103, Acórdão
n5 13.434, citado pelos recorrentes). Além disso, o que está em jogo,
na verdade, é a liberdade de voto, i.e„ a livre manifestação política do
eleitorado, na escolha dos seus candidatos. Se o que houve foi a compra
de votos ou troca destes por vantagens econômicas, de uma maneira
generalizada, não houve verdadeiramente manifestação política
autêntica do eleitorado, mas, sim, uma farsa. Logo, deve ser invalidado
o mandato eletivo, porque não houve verdadeira eleição. E se o abuso
foi também praticado pelos demais candidatos, devem ser invalidados
seus votos. Admitir que um empate no abuso do poder econômico ou

54 4
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

político neutralize a Ação de Impugnação do Mandato Eletivo é realizar


má avaliação da prova (ver, e.g., Recurso Eleitoral ne 8.732, Classe 42,
Areial/PB, Relator o eminente Ministro Vilas Boas, in DJ de 5.11.1991,
p. 15.752) (...) "A perda do mandato, que pode decorrer da ação de
impugnação - disse-o o eminente Ministro Sepúlveda Pertence - “não
é uma pena, cuja imposição devesse resultar da apuração de crime
eleitoral de responsabilidade do mandatário, mas, sim, conseqüência
do comprometimento da legitimidade da eleição, por vício de abuso de
poder econômico, corrupção ou fraude” (m TSE, AC. n9 12.030, DJU de
16.9.1991).
0 bem jurídico tutelado, portanto, mediante a ação constitucional, é a normalidade
e legitimidade das eleições (CF, art. 14, § 9 2) e o interesse público de lisura eleitoral
(LC ne 64/90, art. 23, in fin e), enquanto pressupostos de legitimidade política e
validade jurídica do mandato democrático representativo.
Postas essas premissas, não há que se falar em efeitos contábeis ou aritiméticos
que evidenciem lucro ou vantagem oxpressa em votos obtidos com a conduta abusiva;
nem em prova inconcussa, cabal ou incontroversa de prejuízos, como se se tratasse
do devido processo constitucional penal ou constitucional processual penal, quando
em jogo a liberdade de ir e vir ou ônus à propriedade. A tão só conduta abusiva, ou
benefício decorrente de conduta abusiva de terceiro, já configura a ofensa ao bem
jurídico tutelado.
Nos precedentes Pirapora, Boscardim, Aristimunha, Athos, Nova
Friburgo e Lucena, para citar apenas os mais recentes, não perquíriu
esta Corte sobre a "contabilidade dos votos”. A tão só distribuição de
material de construção e de cestas básicas; o tão só uso de gráficas
particulares ou públicas para edição de material de propaganda
eleitoral; a tão só “contratação" de servidores públicos para "servirem"
em comitê eleitoral, durante o expediente de trabalho, foi suficiente
para fazer incidir a sanção de inelegibilidade, e isto porque da
tão só conduta resultaram ofendidos a letra da lei eleitoral, como,
principalmente, o sentido da Constituição em assegurar a isonomia de
oportunidades entre os candidatos (...)"
Sobre a questão atinente ao nexo causai, destacamos:
I - Recurso ordinário. Utilização indevida de veículos oficiais. Art. 22,
XIV, da LC n2 64/90. Comprometimento da liberdade de voto. Nexo
de causalidade. A configuração do abuso do poder econômico ou
político, hábil a ensejar a inelegibilidade prevista no art. 22, XIV, da LC
n9 64/90, exige prova do nexo de causalidade entre os atos praticados
e o comprometimento da lisura e normalidade do pleito. Recurso
desprovido. Acórdão ns 5, de 10.2.1998 - Recurso Ordinário ne 5 -
Classe 27a/MT (Cuiabá). Relator: Ministro Maurício Corrêa. Recorrente:
Coligação Frente Cidadania e Desenvolvimento. Advogados: Dr. Túlio
Aurélio Campos Fontes e outros. (Recorrido: Jonas Pinheiro da Silva,

545
M a r c o s R amayana D i r e i t o E l e it o r a l

candidato a senador. Advogados: Dr. Zaid Arbid e outros. Recorridos:


Coligação União por Mato Grosso e outros. Decisão: unânime em
negar provimento ao recurso. II - Abuso do poder econômico. Inexigível
demonstre-se a existência de relação de causa e efeito entre a prática
tida como abusiva e o resultado das eleições. Necessário, entretanto,
que se possa vislumbrar a potencialidade para tanto. Não reconhecendo
o acórdão regional que esteja suficientemente provado tenha havido
a distribuição de bens, prática que se pretende confíguradora do
abuso do poder econômico, não se pode afirmar que esse se tenha
verificado pelo fato de terem sido apreendidas cestas de alimentos no
comitê eleitoral. 0 fato, mesmo, da apreensão impediu que houvesse a
influência capaz de comprometer a legitimidade das eleições. O abuso
não resulta de atos simplesmente preparatórios. Acórdão ne 15.161,
de 16.4.1998 - Recurso Especial Eleitoral ne 15.161 - Classe 22a/
SP (344a Zona - Campo Limpo Paulista). Relator: Ministro Eduardo
Ribeiro. Recorrentes: Roque José Agostinho e outro. Advogados: Dr.
Torquato Lorena Jardim e outros. Recorridos: Luiz Antônio Braz e
outro. Advogados: Dr. Antônio Vilas Boas Teixeira de Carvalho e outros.
Recorrida: Marilda de Fátima Amâncio Araújo, candidata a vereadora.
Advogado: Dr. Alcimar Alves de Almeida. Decisão: unânime, recurso
não conhecido.
Não haverá necessidade de propositura de Ação de Impugnação ao Mandato
Eletivo, quando a investigação judicial eleitoral for julgada antes das eleições.
(TSE). Acórdão ns 233, DE 3.9.2002. Recurso em Mandado de Segurança
ns 233/MG. Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Recurso em
mandado de segurança. Decisão que determinou o afastamento dos
impetrantes dos cargos. Acórdão regional que denegou a ordem.
Investigação judicial julgada procedente antes das eleições. Cassação de
registro e declaração de inelegibilidade. Recurso Contra a Diplomação
e Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Não necessidade. Inciso
XIV do art. 22 da LC ne 64/90. Embargos de declaração meramente
protelatórios. Art. 275, § 4 9, do Código Eleitoral. Determinação de
imediato cumprimento da decisão. Recurso a que se nega provimento.
DJ de 25.10.2002.
Na doutrina, não registramos divergência.
Desconstituição do diploma ou cassação do mandato eletivo só podem ocorrer
por Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo ou Recurso Contra a Diplomação. Ver
capítulo sobre "Captação de Sufrágio"
É majoritário na doutrina (Joel José Cândido, Pedro Henrique Távora Niess e
outros renomados autores) que o RCD e a AIME são os únicos meios possíveis de
retirar o mandato eleito.
Nesse sentido, na jurisprudência:

5 4 6
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

Agravo Regimental no Recurso Ordinário n9 529/PI, Rei. Min. Ellen


Gracie, em 27.8.2002. Reclamação. Cumprimento de decisão que
declarou inelegibilidade. LC ne 64/90, art. 22, XV. A desconstituição
do diploma expedido ou a cassação do exercício do cargo hão de ser
perseguidos, mediante recurso contra a diplomação (CE, art. 262, IV)
ou ação de impugnação de mandato eletivo (CF, art. 14, § 10). Nesse
entendimento, o Tribunal julgou improcedente a reclamação. Unânime.
Reclamação ne 152/ES, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, em 27.8.2002.
Recurso especial eleitoral. Abuso de poder nas eleições 98. Candidato
eleito prefeito nas eleições 2000. Decisão do TSE transitada em julgado
durante o exercício do mandato. Efeitos. Impossibilidade de cassação
do diploma. Subsistência da pena de inelegibilidade por três anos.
(LC n9 64/90, art. 22). Se a decisão que decreta a inelegibilidade tem
trânsito em julgado após a diplomação e não for proposta AIME ou RCD
nos prazos estabelecidos, subsiste somente a pena de decretação de
inelegibilidade que retroage à data da eleição.
Se o art. 41-A da Lei n9 9.504/97 alterou a regra acima estabelecida, ver o capítulo
específico sobre a "Captação de Sufrágio"
Destacamos:
Representação. Art. 41-A da Lei n9 9.504/97. Captação de sufrágio
vedada por lei. Comprovação. Aplicação de multa. Decisão posterior à
diplomação. Cassação do diploma. Possibilidade. Ajuizamento de ações
próprias. A decisão que julgar procedente representação por captação
de sufrágio vedada por lei, com base no art. 41-A da Lei ne 9.504/97,
deve ter cumprimento imediato, cassando o registro ou o diploma, se já
expedido, sem que haja necessidade da interposição de recurso contra
a diplomação ou de ação de impugnação de mandato eletivo. Nesse
entendimento, o Tribunal conheceu do recurso e deu-lhe provimento.
Unânime. Recurso Especial Eleitoral ne 19.739/BA, Rei. Min. Fernando
Neves, em 13.8.2002.
São imediatos os efeitos da sentença que julga procedente Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo pela prática da conduta descrita no
art. 41-A da Lei ne 9,504, de 1997, não se aplicando o art 216 do Código
Eleitoral. São imediatos os efeitos da sentença que cassa diploma pela
prática da conduta descrita no art. 41-A da Lei n9 9.504, de 1997.
Jurisprudência firme do Tribunal Superior Eleitoral. Precedentes:
é admitida a concessão de efeito suspensivo a recurso manifestado
contra tal decisão, se no caso concreto estiverem presentes os
pressupostos necessários ao deferimento de medida cautelar.
Conveniência de evitarem-se sucessivas alterações no comando da
Administração Municipal, que trazem incerteza e instabilidade ao
município, em prejuízo da população local. Nesse entendimento, por
maioria, o Tribunal indeferiu a liminar. Vencidos os Ministros Sálvio de

547
M a rc o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Figueiredo, relator, Barros Monteiro e a Ministra Ellen Gracie. Medida


Cautelar ne 1.049/PB. Redator para o acórdão, Ministro Fernando
Neves, em 21.5.2002.
0 Tribunal Superior Eleitoral tem decidido reiteradaraente no sentido de que,
transcorrido o pleito, não se pode mais cassar o registro do candidato, devendo a
matéria ser apreciada em Ação de Impugnação de Mandato Eletivo e Recurso de
Diplomação. No entanto, em razão do art. 41-A da Lei das Eleições, introduzido pela
Lei dos Bispos, dúvidas emergem da significativa questão proposta que tentamos
melhor analisar em capítulo próprio (Captação de Sufrágio).

18.12. DESNECESSIDADE DE PRÉVIA INVESTIGAÇÃO JUDICIAL


ELEITORAL
A doutrina e a jurisprudência eram resolutas no entendimento de que a Ação
de Impugnação ao Mandato Eletivo, por seguir o rito ordinário (ver comentários
no item 13.10. Rito processual), admite ampla produção de prova. Outrossira, não
é condição de procedibilidade ou especial condição para o regular exercício do
direito de ação a prévia propositura de investigação judicial eleitoral, prova pré-
constituída. Nesse sentido:
(TSE). A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo é autônoma, não
necessitando de julgamento ou de ajuizamento anterior de ação de
investigação judicial. 0 então Ministro Torquato Jardim assim se
pronunciou, relativamente ao tema: (...) também é insufragável o
argumento de que julgamento da Ação de Impugnação de Mandato
Eletivo estaria subordinado à prévia decisão das representações, que
se constituiriam, então, em autênticas questões prejudiciais. Não é essa
a sistemática legal. A ação de impugnação, que se assenta na própria
Constituição, pode ou não ser conseqüência de anterior investigação
judicial. Nada impede seu ajuizamento sem o prévio processamento
de representação por abuso de poder econômico ou de autoridade. Os
eventos que a autorizam não precisam ser obrigatoriamente apurados
na investigação de que trata o art. 22 da Lei Complementar n2 64/90.
Esta não constitui o antecedente lógico daquela (Acórdão ne 11.841,
17.5.1994).
Destacamos:
(TSE). Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - Prova pré-constituída.
Recurso ordinário. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Inexigência
de prova pré-constituída. Necessidade de razoável indício de prova. 1.
O ajuizamento de Ação de Impugnação de Mandato Eletivo independe
de exigência de prova pré-constituída e reclama procedimento
ordinário, de conformidade com o disposto no art. 272 do Código de
Processo Civil. 2. Tendo em vista a seriedade da demanda, que tem
força para cassar até a manifestação de vontade do eleitor, a inicial há

548
A çã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o
C a p ít u l o 1 8

de ser instruída com razoável indício de provas do alegado, indicativo


da certeza do fumus boni juris, de natureza documental, indispensável
à sua propositura (art. 396 do CPC), sem prejuízo da juntada de outras
provas novas, nos casos permitidos em lei (CPC, arts. 397 e 399), e
dilação probatória. Recurso ordinário não provido. Acórdão n- 9, de
5.5.1998 - Recurso Ordinário n9 9 - Classe 27a/DF (Brasília). Relator:
Ministro Maurício Corrêa. Decisão: unânime em negar provimento ao
recurso.

18.13. INEXISTÊNCIA DE COISA JULGADA MATERIAL.


POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO DA IMPUGNAÇÃO AO
MANDATO ELETIVO
A coisa julgada, nas lições de Frederico Marques, “é a qualidade dos efeitos da
prestação jurisdicional entregue com o julgamento da res in judicium deducta, em
virtude da qual esses efeitos tornam-se imutáveis entre as partes”7
A autoridade da coisa julgada material, na investigação judicial eleitoral, não
ficará prejudicada pelo julgamento subsequente do recurso contra a diplomação ou
da ação de impugnação ao mandato eletivo.
Nesse sentido:
(TSE). Recurso Especial Eleitoral n9 19.552/MS, Rei. Min. Sálvio de
Figueiredo, em 13.12.2001. Recurso: questões de tempestividade.
Ação de Impugnação de Mandato Eletivo: coisa julgada inexistente.
Recurso ordinário: devolução. Ação de Impugnação de Mandato
Eletivo: improcedência. I - Recurso: questões de tempestividade.
í. Não se conhece, porque extemporâneo, de recurso interposto após
o julgamento de embargos de declaração considerados protelatórios
(CE, art. 275, § 4e). 2, Reputa-se, porém, tempestivo o recurso para
o TSE, interposto simultaneamente aos embargos de declaração,
quando a decisão desses reputados protelatórios, nada acrescentou
ao acórdão recorrido. II - Ação de Impugnação de Mandato Eletivo:
coisa julgada inexistente. A improcedência da investigação judicial
(LC n9 64/90, art. 22), julgada após as eleições, assim como o
improvimento do recurso contra a diplomação (CE, art. 262, IV) ainda
quando se fundem, um e outro, nos mesmos fatos em que se alicerce
a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (CF, art. 14, § 10), não são
oponíveis à admissibilidade desta a título de coisa julgada material.
III - Recurso ordinário: devolução. 0 recurso ordinário de decisão que
decrete a perda de mandato eletivo federal ou estadual devolve ao TSE
as questões de fato suscitadas e discutidas na instância a quo, ainda
quando delas não se hajam ocupado as razões do recorrente. IV - Ação
de Impugnação de Mandato Eletivo: improcedência. Além de duvidosa,

7 MARQUES. José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. Editora Bookseller, volume lli, p. 78.

549
M a r c o s R a m ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

a prova da prática corruptora, atribuída a um comitê de promoção da


candidatura do recorrente, não seria bastante a lastrear a procedência
da ação de impugnação, se o autor sequer alegou e muito menos
demonstrou a probabilidade de sua influência no resultado eleitoral
a ele favorável. Nesse entendimento, o Tribunal deu provimento ao
primeiro recurso ordinário e não conheceu do segundo. Unânime.

18.14. SEGREDO DE JUSTIÇA


Transita em segredo de justiça, segundo reza o art, 14, § 11, primeira parte, da
Constituição Federal.
Várias críticas devem ser deflagradas contra o segredo, pois o "interesse
público da publicidade dos atos é superior ao segredo e privacidade de quem se
lança na vida pública", na medida em que cumpre ao eleitor ser informado das
anfractuosidades de seu candidato, possibilitando uma escolha sem vícios de
vontade ou de consentimento, exercendo em sua plenitude a cidadania, através
da plena capacidade eleitoral ativa. Todavia, o legislador infraconstitucional não
poderá disciplinar a matéria de forma diversa.
0 homem público não possui o privilégio de esconder segredos, que sejam
atinentes aos vícios do abuso do poder político, econômico, relativos à corrupção
ou fraude, sob pena de frontal violação aos princípios da publicidade, moralidade
e impessoalidade, dispostos no art. 37 da Constituição Federal. Além de tudo, é
da essência do regime democrático ampla abertura da vida privada e pública dos
candidatos aos eleitores, possibilitando a livre escolha, dentre o rol dos pleiteantes
aos mandatos eletivos.
Resolução n9 21.283, de 5.11.2002. Processo administrativo n9 18.961/
TO. Relatora: Ministra Ellen Gracie. Ementa: Consulta TRE. Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo. Segredo de justiça. O trâmite da Ação
de Impugnação de Mandato Eletivo deve ser realizado em segredo de
justiça, mas o seu julgamento deve ser público. Precedentes. DJ de
7.2.2003.

18.15. INAPLICABILIDADE DE HONORÁRIOS


E CUSTAS PRO CESSUA IS
A ação é constitucional eleitoral e visa a coibir os abusos do poder econômico,
corrupção e fraude. Trata-se de lídimo exercício da defesa da democracia e dos
interesses indisponíveis da soberania popular; portanto, a cobrança de honorários
e custas processuais é absolutamente incompatível com a m ens legislatoris
constitucional. Nesse sentido:
A çã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o
C a p ít u l o 1 8

(TSE). Advogado - Honorários - Ação de Impugnação de Mandato


Eletivo. Recurso especial eleitoral. Ação de Impugnação de Man­
dato Eletivo, Condenação em verba honorária. CF, art. 14, § 11. Lei
n9 9.265/96, art. 10, IV. 1. Salvo em caso de Htigância de má-fé, não há
que se falar em condenação, em honorários, em Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo. 2. Precedentes. 3. Recurso provido. Acórdão
na-14.995, de 18.8.1998 - Recurso Especial Eleitoral n9 14.995 -
Classe 22a/MG (112a Zona - Extrema). Relator: Ministro Edson Vidigal.
Decisão: unânime em conhecer do recurso e dar-lhe provimento.

18.16. COMPETÊNCIA
Aplica-se, quanto à regra de competência jurisdicional eleitoral, o art. 29,
parágrafo único, incisos I, II e III, da Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990
(Lei das Inelegibilidades), e arts. 40, inciso IV, e 215, ambos do Código Eleitoral.
Se for diplomado prefeito, vice-prefeito ou vereador, a ação deve ser ajuizada
perante o juiz eleitoral, designado pelo Tribunal Regional Eleitoral para presidir o
ato formal da diplomação ou, onde houver mais de uma junta eleitoral, a expedição
dos diplomas será feita pela que for presidida pelo juiz eleitoral mais antigo,
aplicando-se a regra do parágrafo único do a r t 40 do Código Eleitoral.
No caso de serem diplomados governador, vice-governador, senadores, deputados
federais, deputados estaduais e distritais, a competência é dos respectivos Tribunais
Regionais Eleitorais.
Na hipótese de serem diplomados presidente e vice-presidente da República, a
competência é do Tribunal Superior Eleitoral.
Por fim, por questões de simetria, perscruta-se que a divisão de competências
e atribuições é estabelecida pela jurisprudência, em consonância ao disposto para
as ações de impugnação ao pedido de registro de candidatos e representação por
abuso do poder econômico ou político.

18.17. LEGITIMIDADE ATIVA


O Ministério Público, através do promotor eleitoral, poderá propor a ação, se for
diplomado prefeito, vice-prefeito ou vereador; pelo procurador regional eleitoral,
no caso de diplomação de governador, vice-governador, senador, deputado federal,
deputado estadual e deputado distrital, e pelo procurador-geral eleitoral, nas
hipóteses de os diplomados serem o presidente da República e o vice-presidente da
República. Os partidos políticos, coligações e os candidatos também são legitimados.
A legitimidade ativa "restrita" é defendida, dentre outros renomados autores,
por Joel José Cândido.

551
M a r c o s R amayana D i r e i t o E l e it o r a l

Em oposição, preconizando uma legitimação ativa de natureza ampla, em


homenagem ao princípio do exercício efetivo da cidadania, admitem-se o cidadão,
associações e sindicatos, como leciona o doutrinador Tito Costa, Em sua defesa,
temos as valiosas lições do doutrinador Pedro Henrique Távora Niess:
(...) pensamos que, se não há nenhuma limitação específica de origem
constitucional ou legal, deve prevalecer a possibilidade genérica
que emerge da lei processual civil. As normas restritivas de direito
não aceitam aplicação analógica com a ampliação de seu alcance: a
legitimidade particularmente prevista para outras ações eleitorais não
se impõem sobre a ação de impugnação de mandato eletivo (,..)8
Com razão o doutrinador Pedro Henrique Távora Niess, pois, inexistindo lei
infraconstitucional sobre a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo, os direitos
políticos negativos interpretam-se limitativamente, incidindo amplamente o
disposto no inciso 11 do art. I 9 da Constituição Federal - princípio da cidadania
até porque a Lei ns 9-265, de 12 de fevereiro de 1996, ao nosso sentir, sinalizou
favoravelmente à admissão da pulverização no polo ativo da relação processual,
ao permitir a gratuidade para os atos necessários ao exercício da cidadania nesses
casos, art. l fi, inciso IV.
Os princípios fundamentais servem de norte na interpretação e integração
sistemática da ordem jurídica vigente, sendo um atributo inerente à cidadania o
exercício das ações de natureza constitucional, enquanto não sujeitas a regramento
próprio pelo legislador subconstitucional.
0 Tribunal Superior Eleitoral não admitiu o eleitor como legitimado ativo, a
saber:
1. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (Constituição Federal,
art. 14, § 11). Legitimidade ad causam (Lei Complementar ns 64/90,
art. 22). Não têm legitimidade ad causam os apenas eleitores. Recurso
conhecido e provido nesta parte (...) (Acórdão nfi 11.835, Santo Antônio
da Platina/PR, publicado no DJU de 29.7.1994, Relator Ministro
Torquato Jardim).
É perfeitamente admissível o litisconsórcio ativo entre quaisquer dos legitimados,
atuando sempre o Ministério Público Eleitoral como fiscal da lei.
Sobre a legitimidade ativa das coligações, destacamos:
TSE. Ação de investigação judicial. Coligação. Legitimidade ativa ad
causam. Representação judicial. Presidentes de partidos coligados.
Presunção. Lei ne 9.096/95, art. 10, parágrafo único. As coligações
partidárias estão legitimadas a propor Ação de Impugnação de Mandato
Eletivo nos pleitos em que participaram. (...) Recursos conhecidos e
providos. Acórdão ne 19.663, de 21.5.2002. Recurso Especial Eleitoral
n2 19,663 - Classe 22a/GO (41a Zona Niquelândia). Relator: Ministro

8 NIESS, Pedro Henrique Távora. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Editora Edipro, p. 54.

552
A ç ã o d e I m p u g n a ç a o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

Luiz Carlos Madeira. Decisão: unânime em conhecer dos recursos


e dar-lhes provimento. No mesmo sentido, o Acórdão n9 19.664, de
21.5.2002.
Em igual sentido, a coligação é parte legítima para propor Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo (Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral n- 20.683/
MA, Rei. Min. Ellen Gracie, em 25 de março de 2003):
No sistema eleitoral brasileiro, após o pleito, contra candidato eleito
e diplomado é admissível o ajuizamento de Ação de Impugnação de
Mandato Eletivo (art. 14, § 10, da Constituição Federal) e recurso contra
expedição de diploma (art. 262 do Código Eleitoral), visando à cassação
do mandato ou do diploma, respectivamente. São legitimados para a
propositura das referidas ações os partidos políticos, as coligações,
o Ministério Público Eleitoral e os candidatos. Nesse entendimento,
o Tribunal não conheceu do pedido e determinou o arquivamento da
petição. Unânime (Petição n9 1.301/MG, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo,
em 6.3.2003).

18.18, LEGITIMIDADE PASSIVA


O diplomado infrator que abusou do poder econômico, corrompeu, fraudou de
qualquer forma ou meio a fase da propaganda eleitoral, votação ou apuração dos
votos deve figurar no polo passivo.
Como já analisamos, ao nosso entender, diante da ausência da lei sobre a Ação
de Impugnação ao Mandato Eletivo, não é cabível figurarem no polo passivo da
relação processual os que "hajam contribuído para a prática do ato" diante da
inaplicabilidade do inciso XIV do a r t 22 da Lei Complementar n5 64, de 18 de maio
de 1990 (ver comentários no item 13.10. Rito processual).
Considere-se, ainda, a circunstância de que os contribuintes do diplomado
infrator, os coagentes de empreitada, partícipes da ilicitude eleitoral, podem
ou não ser candidatos. Se forem candidatos não eleitos, contra os mesmos pode
ser ajuizada a representação por abuso do poder econômico. Se, eleitos, forem
diplomados, passam a figurar no polo passivo da Ação de Impugnação ao Mandato
Eletivo, deixando de ser meros auxiliares da prática ilícita para transformarem-se
em protagonistas da cena infracional eleitoral.
Ensina-nos o eminente doutrinador Pedro Henrique Távora Niess, em valiosas
lições, inclusive em consonância com a jurisprudência do Tribunal Superior
Eleitoral, que os suplentes do diplomado senador e os vices, dos mandatos
majoritários, presidente, governador e prefeitos, devem, necessariamente, figurar
no polo passivo da relação processual, em suma:
Sendo os vices e os suplentes aludidos litisconsortes passivos
necessários, não há como se entender que possa a ação ser
considerada corretamente ajuizada apenas contra o titular. Neste caso,

553
M a r c o s R a m a yan a D i r j e i t o E l e it o r a l

a propositura da Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo dar-se-ia


incompletamente, tanto que o Código de Processo Civil, no preceito
citado, ordena a extinção do processo sem Julgamento do mérito,
quando os íitisconsortes imprescindíveis não forem chamados a
integrar a demanda. Um processo com parcela de partes não se instaura
validamente; se a relação jurídica processual exige, obrigatoriamente,
mais de um réu no seu polo passivo, a presença de um só deles será
insuficiente para fazer o processo cumprir sua finalidade. 0 autor não
tem ação com relação ao presidente, ao governador ou ao prefeito,
isoladamente, mas necessariamente, apenas em face de qualquer deles
e seu vice, em conjunto, ou do senador e seus suplentes. Intentada
em face apenas do titular, portanto, a ação somente será considerada
completamente proposta uma vez superada a apontada falha, o que a
torna inviável se à época da determinação do juízo tendente a suprir a
omissão da inicial, a decadência já tiver operado, mostrando-se tardia
a intervenção.9
Sobremais, merece destaque o Acórdão ns 11.640, Curitiba-PR, TSE, sendo
relator o Ministro Flaquer Scartezzini, publicado no DJU de 8 de abril de 1994, onde
não foi reconhecido o litisconsorte passivo necessário:
Mandato eletivo. Cassação. Governador de Estado. Ação de impugnação.
Constituição Federal, art. 14, §§ 10 e 11. Autoaplicabílidade.
Procedimento. Julgamento. Competência. 1. Justiça Eleitoral.
Competência: é da competência da Justiça Eleitoral, por seus órgãos,
conforme se trate de mandato eletivo municipal, estadual ou federal, o
conhecimento e julgamento de Ação de Impugnação de Mandato Eletivo
fundada no art. 14, §§ 10 e 11, da Constituição de 1988. In casu, em se
tratando de mandato eletivo de governador de Estado, a competência
originária é do respectivo Tribunal Regional Eleitoral. 2. Inicial. Inépcia:
a inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo deve conter os
elementos de convicção que permitam revelar, de imediato, que a
pretensão deduzida está apoiada em situação fática, que será apurada
no curso do procedimento, mediante adoção do rito ordinário previsto
no Direito Processual Civil. Não é inepta, portanto, a inicial que indicou
os elementos essenciais caracterizadores da fraude que teria viciado
o processo eleitoral, influenciado na livre manifestação da vontade do
eleitor. 3. Preclusão: a notícia de ocorrência de fraude, corrupção ou
abuso do poder econômico praticado no curso do processo eleitoral
deve ser levada ao conhecimento do órgão jurisdicional competente
no prazo previsto no art. 14, § 10, da Constituição Federal, não se
podendo falar de preclusão se proposta a tempo. 4. Vice-governador.
Litisconsorte passivo necessário. Inexistência: na Ação de Impugnação
ao Mandato Eletivo proposta contra o governador de Estado, o vice-
governador com ele eleito não se torna litisconsorte passivo necessário,

9 NIESS, Pedro Henrique Távora. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Editora Edipro, p. 60.

554
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

porquanto, cora a diplomação, cada um torna-se dono do produto


de sua eleição, mormente quando a inicial não pediu a cassação de
ambos os mandatos eletivos. Inexiste, no caso, identidade de causa de
pedir, pelo simples fato de não ter havido nenhum pedido. 5. Devido
processo legal. Contraditório. Prova emprestada. É nulo o processo a
partir do momento em que foram juntados aos autos documentos de
provas colhidos em processo outro, do qual o impugnado não foi parte.
0 contraditório alí observado não exclui nem substitui o que deve ser
garantido no curso da ação de impugnação, mormente quando essa
prova serviu de fundamento à decisão final.
Registre-se, ainda, posição contrária do TSE, no sentido da não integração do
vice-prefeito como litisconsorte passivo necessário na Ação de Impugnação ao
Mandato Eletivo, in expressi verbis;
1 - Agravo. Recurso especial. Citação do vice-prefeito em recurso
contra expedição de diploma. Não obrigatoriedade. Precedentes.
Desprovimento. A desnecessidade da citação obrigatória do vice-
prefeito, quando se discute a cassação do diploma do prefeito, é
matéria já debatida nesta Corte, que se encontra pacificada na
jurisprudência. Acórdão ne 19.695, de 13.8.2002. Recurso Especial
Eleitoral ne 19.695 - Classe 22a/MG (282a Zona Viçosa). Relator:
Ministro Sálvio de Figueiredo. Decisão: unânime em negar provimento
ao agravo. No mesmo sentido, o Acórdão ne 19.792, de 13.8.2002. 2 -
Agravo regimental. Recurso especial. Ação de Impugnação de Mandato
Eletivo. Citação do vice-prefeito como litisconsorte passivo necessário.
Dispensabilidade. Precedentes. A teor de iterativa jurisprudência
do TSE, não se impõe, para a completude da relação processual, na
Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, a citação do vice-prefeito
para integrar a lide na condição de litisconsorte passivo necessário.
Acórdão n9 19.765, de 22.8.2002. Agravo Regimental no Recurso
Especial Eleitoral na 19.765 - Classe 22a/CE (21a Zona Ipu). Relator:
Ministro Barros Monteiro. Decisão: unânime em negar provimento ao
agravo regimental.
Destaca-se, ainda:
Acórdão n9 19.765, de 22.8.2002. Agravo regimental no Recurso
Especial Eleitoral n9 19.765/CE. Relator: Ministro Barros Monteiro.
Ementa: Agravo regimental. Recurso especial. Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo. Citação do vice-prefeito como litisconsorte
passivo necessário. Dispensabilidade. Precedentes. A teor de iterativa
jurisprudência do TSE, não se impõe, para a completude da relação
processual, na ação de impugnação de mandato eletivo, a citação do
vice-prefeito para integrar a lide na condição de litisconsorte passivo
necessário. DJ de 22.11.2002.

S55
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Adotamos o mesmo entendimento do doutrinador Adriano Soares da Costa, que


reconhece que o vice sofre evidente prejuízo.
0 art. 91 do Código Eleitoral faz menção à eleição do vice na mesma chapa una
e indivisível com o titular do mandato eletivo. Ora, uma vez eleitos o prefeito, o
governador e o próprio presidente da República, estará eleito o vice. Neste diapasão,
não podemos negar a existência de uma comunhão de interesses e identidade de
partes na relação eleitoral processual, estabelecida pela propositura da Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo.
Ocorrendo a decretação da perda do mandato na ação de impugnação, v.g., do
prefeito, afetará a chapa com um todo diante da impossibilidade de substituição em
razão do momento processual (art. 13 da Lei ne 9.504/97). Vê-se, portanto, que a
inelegibilidade é individual (art. 18 da Lei das inelegibilidades); no entanto, a chapa
(una e indivisível) é atingida em sua totalidade.
Trazemos à baila precedente, no sentido da afetação de ambas as candidaturas
(prefeito e vice-prefeito).
(TSE) Acórdão n9 184, de 26.3.2002. Recurso em Mandado de
Segurança nfi 184/MT. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Ementa:
Recurso em mandado de segurança. Inelegibilidade. Rejeição de contas
do Prefeito. Legitimidade. Diplomação do vice. Impossibilidade. 1. Não
há como diplomar o vice-prefeito da chapa vencedora em conjunto
com o Prefeito da segunda chapa mais votada (§ l e do art. 3S da Lei
ne 9.504/97). 2. A inelegibilidade, em decorrência de rejeição de
contas do candidato a prefeito declarado eleito (LC n2 64/90, art. I a,
I, g ), e a conseqüente cassação do registro contaminam o registro do
candidato a vice-prefeito da mesma chapa. 3. Recurso a que se nega
provimento. DJ de 31.5.2002.
Registramos, por fim, posição contrária do TSE, no sentido da falta de necessidade
de citação do vice, in verbis:
Acórdão ne 19.782, de 27.6.2002. Recurso Especial Eleitoral ne 19.782/
SP. Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Representação. Captação
ilegal de sufrágio. Oferta. Pagamento. Formaturas. Art. 41-A da Lei
ne 9.504/97. Art. 22 da LC n- 64/90. Prefeito candidato à reeleição.
Vereador. Extinção sem julgamento de mérito. Falta de citação do
vice-prefeito. Litisconsórcio necessário. Inexistência. Decadência. Não
ocorrência. 1. Em representação em que se imputa a prática de ato
ilegal apenas ao prefeito, não é necessária a citação do vice-prefeito.
Inexistência de litisconsórcio necessário. 2. Por se tratar de uma
relação jurídica subordinada, o mandato do vice-prefeito é alcançado
pela cassação do diploma do prefeito de sua chapa. DJ de 9.8.2002.
Nesse sentido, Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n9 3.365/
SP, Rei. Min. Ellen Gracie, em 27.6.2002.

556
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

Como visto, diante das duas correntes acima apontadas, é importante ao


intérprete não olvidar da citação do vice na inicial das ações de impugnação de
mandato eletivo, até porque a inserção de candidato a vice-prefeito, no polo
passivo da ação instaurada contra o candidato a prefeito, não acarreta flagrante
ilegitimidade, em razão da unicidade da chapa e do reflexo eventual dos benefícios
da ilicitude eleitoral, considerando ainda que o órgão Judicial está apreciando uma
relação jurídica subordinada, o mandato do vice-prefeito é alcançado pela cassação
do diploma do prefeito de sua chapa.
Impende frisar que não podemos confundir a questão da nuiidade dos votos dados à
chapa, com a inelegibilidade individual do titular do mandato (presidente, governador,
prefeito e senador). A chapa desintegra-se como um todo, mas a inelegibilidade para
as eleições nos três anos seguintes à data da eleição em que se verificou é individual
(a rt 18 da Lei Complementar ne 64/90 e Súmula n9 19 do TSE).
Outrossim, o Tribunal Superior Eleitoral não nega que a chapa sempre estará
eivada de vícios e não poderá prosperar, independentemente da integração do vice
no polo passivo. Assim sendo, é fremente a necessidade de citação do vice, para
garantir o contraditório e a ampla defesa em toda sua plenitude. Destaca-se:
Acórdão ns 19.541, de 18.12.2001. Recurso Especial Eleitoral
nô 19.541/MG. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Ementa:
Recurso especial. Litisconsórcio. Não obrigatoriedade. Exceção.
Inelegibilidade, art. 18 do CE. Representação. Art. 73, VI, b, da Lei
n2 9.504/97. Cassação de registro e diploma. Recurso provido. I -
Nos casos em que há cassação do registro do titular, antes do pleito, o
partido tem a faculdade de substituir o candidato. Todavia, se ocorrer
a cassação do registro ou do diploma do titular após a eleição, seja
fundada em causa personalíssima ou em abuso de poder, maculada
restará a chapa, perdendo o diploma tanto o titular como o vice,
mesmo que este último não tenha sido parte no processo, sendo então
desnecessária sua participação como litisconsorte. II - Na hipótese
de decisão judicial que declara inelegibilidade, esta só poderá atingir
aquele que integrar a relação processual. III - Institutos processuais
muitas vezes ganham nova feição no âmbito do Direito Eleitoral, em
face dos princípios, normas e características peculiares deste ramo da
Ciência Jurídica. DJ de 8.3.2002.

18.19. POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DE SUPLENTE DE


CANDIDATO AO SENADO
(TSE). Com efeito, já decidiu essa egrégia Corte Maior Eleitoral pela
possibilidade de complementação da chapa para o Senado, ainda que
já esgotado o prazo previsto na lei ordinária, como (s/c) se vê pelo
Acórdão do TSE ne 172, assim ementado: Recurso ordinário. Registro
de candidatura ao cargo de senador. Não indicação de suplente.

557
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Complementação da chapa. Possibilidade. 1. É de ser assegurada ao


partido político a possibilidade de complementação do pedido de
registro de candidato para o Senado Federal, ainda que decorrido
o prazo previsto na lei ordinária. 2. Precedentes do STF e do TSE.
Recurso ordinário conhecido e provido. No mesmo sentido, o Acórdão
do TSE ne 15.419 e o Recurso Extraordinário do STF ns 128.519-4/DF.
E, ainda, STF (Recurso Extraordinário ne 128.518-4/DF).
Quanto aos suplentes dos mandatos eletivos proporcionais, vereadores,
deputados federais, estaduais e distritais, não se perscruta qualquer exigência
referente à obrigatoriedade da citação, visando à eventual formação de intervenção
de terceiros, afastando-se qualquer alegação de nulidade da relação processual
nesse sentido. Nada obsta que o suplente intervenha espontaneamente no caso em
julgamento, se demonstrar direto interesse na solução da lide.
0 partido político do diplomado infrator, a d cautelam , deve figurar no polo passivo
da relação processual ou ser, ao menos, notificado, para manifestar seu interesse na
solução da lide, na qualidade de assistente (art. 50 do Código de Processo Civil)
ou litisconsorte simples, conforme precedentes em decisões jurisprudências.
Ressaltamos os precedentes estudados, para fins de eleições majoritárias.
Entendemos, em acréscimo à questão, que o partido político pode intervir na
qualidade de assistente, nos moldes do processo civil, mas essa intervenção não é
relativa à assistência simples, quando estivermos diante de eleições proporcionais,
mas, sim, verdadeira assistência litisconsorcial, na qual o partido político pode
assumir uma postura defensiva, direta de seu interesse próprio, não sendo apenas
um coadjuvante do interesse defensivo do diplomado infrator. Sustentamos a
posição de que o partido político poderá apresentar defesa ligada a outros aspectos
da matéria de fundo, ou de preliminares não salientadas, porque o partido político
defende relação jurídica própria, além de coadjuvar eventualmente a defesa do
diplomado infrator.
0 partido político, na ação de impugnação de mandato eletivo, é, na verdade, um
litisconsorte, possuindo status processual de parte.
Para corroborar essa posição, cumpre enfatizar alguns pontos: 1) segundo
dispõe o art. l fi da Lei ne 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos), os partidos políticos
destinam-se a defender os direitos fundamentais; 2) o art. 4 S da supramencionada
lei garante iguais direitos aos filiados de determinado partido político; 3) já o art. 15,
inciso V, da lei em comento prevê a figura da disciplina partidária, com processo de
apuração das infrações e aplicação das penalidades aos filiados; 4) uma das hipóteses
de cancelamento da filiação é a perda dos direitos políticos e os casos de expulsão,
previstos nos respectivos estatutos; 5) as hipóteses dos incisos 1 a IV do art. 28
da Lei dos Partidos Políticos são atribuídas às pessoas ou a eventuais diplomados
infratores, causando direto prejuízo, inclusive através do cancelamento do registro
civil do partido. Além de tudo, determinadas condutas praticadas, que acarretem a

558
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

ausência da prestação de contas, geram prejuízos efetivos aos interesses do próprio


partido político, constituindo-se em causas de inelegibilidade por abuso do poder
econômico, que servem de base para Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo.
Urge salientar, no que concerne à legitimação do partido político, o próprio
Verbete Sumular n2 11 do TSE, que dignifica o interesse do partido nas questões
referentes ao registro, podendo ocorrer reflexos evidentes na Ação de Impugnação
ao Mandato Eletivo. Diz o Verbete n- 11:
No processo de registro de candidatos, o partido que não o impugnou
não tem legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se
se cuidar de matéria constitucional.
Salientamos, ainda:
(TSE) (...) Registro de candidatura. Votos nulos. Art. 175, §§ 3S e 49,
do Código Eleitoral. Aproveitamento para o partido político. Eleição
proporcional. Os votos recebidos por candidato que não tenha obtido
deferimento do seu registro em nenhuma instância ou que tenha tido
seu registro indeferido antes do pleito são nulos para todos os efeitos.
Se a decisão que negar o registro ou que o cancelar tiver sido proferida
após a realização da eleição, os votos serão computados para o partido
do candidato. Nesse entendimento, o Tribunal negou seguimento
ao agravo. Unânime. Agravo de Instrumento ns 3.319/SP, Rei. Min.
Fernando Neves, em 18.6.2002.
É certo que os votos obtidos pelo candidato eleito e, posteriormente, declarado
inelegível são nulos em relação ao candidato, mas o partido político não perde
estes votos para fins de cálculos dos quocientes eleitoral e partidário. Com
este posicionamento, o eminente doutrinador Adriano Soares Costa entende
que não haverá prejuízo e interesse, por parte do partido político, nas eleições
proporcionais, em formar o litisconsórcio com o candidato (ver art. 175, § 4 a, do
Código Eleitoral).
Todavia, trazemos à reflexão, é sabido que (...) o partido político que não
lança candidato a algum dos cargos não participa do rateio do tempo destinado à
propaganda eleitoral no rádio e na televisão, relativo a tal eleição. Nesse entendimento,
o Tribunal julgou prejudicada a consulta. Unânime. Consulta n- 787/DF, Rei. Min.
Fernando Neves, em 7.11.2002; e o art. 47, §§ 2 a a 6 Q, da Lei ne 9.504/97 distribui o
tempo dos horários reservados à propaganda de cada eleição, proporcionalmente,
ao número de representantes na Câmara dos Deputados.
Considerando que o horário eleitoral gratuito obedece à divisão proporcional,
em relação ao número de representantes dos partidos e coligações (1/3,
igualitariamente, e 2/3, proporcionalmente ao número de representantes), além
do que a representação é verificada no início de cada legislatura, não podemos
deixar de firmar posição do interesse do partido ou coligação na defesa das
candidaturas proporcionais, especialmente quando os candidatos já foram eleitos,

559
M a r c o s R a m a y an a D i r e i t o E l e it o r a i.

diplomados e estão investidos no mandato eletivo. Em suma, o partido político


deverá obrigatoriam ente figurar no polo passivo da AIME con tra deputados e
vereadores (litisconsórcio n ecessário), sendo que, nas eleições m ajoritárias,
assum e a qualidade de assistente simples.

18.20. PROCEDIMENTO
0 rito processual adotado para a ação de impugnação ao mandato eletivo era o
ordinário do processo civil, segundo entendimento unânime do Tribunal Superior
Eleitoral e da majoritária doutrina.
Destaca-se:
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, ressalvadas apenas as
peculiaridades inerentes à sua natureza e ao próprio processo eleitoral,
submete-se ao rito ordinário, sendo, portanto, de 15 dias, o prazo de
resposta. Precedentes. Recurso parcialmente provido. Acórdão na 4, de
17.3.1998 - Recurso Ordinário ns 4 - Classe 27a/DF (Brasília). Relator:
Ministro Maurício Corrêa.
Cumpre frisar que, de forma inovadora e expressiva de valiosos anseios
doutrinários e sociais, o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral em recente decisão,
tendo por relator Sua Excelência o eminente Ministro Fernando Neves, entendeu
que o rito para a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo deve ser o mesmo da
Lei das Inelegibilidades, tendo como paradigma a aplicação subsidiária de processo
tipicamente eleitoral, ou seja, o rito será o da ação de impugnação ao registro de
candidaturas, Resolução nfi 21.634/04.
A referida decisão do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral torna célere a
prestação jurisdicional sem violar a intangibilidade da plenitude da defesa, pois ela
estará cabalmente assegurada através da ritualidade especial prevista para a ação
de investigação judicial eleitoral por abuso do poder econômico e/ ou político. Na
verdade, a nova ritualidade atende aos postulados vigorosamente defendidos pelos
eminentes doutrinadores Pedro Henrique Távora Niess e Joel José Cândido.
Não restam dúvidas de que as decisões, nas ações de impugnação aos mandatos
eletivos, serão eficazes e cumprirão o disposto no art. 257, parágrafo único, do
Código Eleitoral. No entanto, o próprio Tribunal Superior Eleitoral tem precedente
sobre a questão atinente ao Poder Normativo e seus limites (arts. I a, parágrafo
único, e 23, IX, do Código Eleitoral, e 105 da Lei n9 9.504, de 30 de setembro de
1997), especialmente no brilhante voto do Ministro Sepúlveda Pertence ao analisar
tema referente à verticalização das coligações, in expressí verbis:
"(...) dispõe o art. 23, IX, do Código Eleitoral competir ao TSE expedir
as instruções que julgar convenientes à execução deste código. Cuida-
se de competência normativa, mas de hierarquia infralegal. 0 juízo
de conveniência, confiado ao TSE, tem por objeto a expedição ou

560
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

não da instrução, não o seu conteúdo. Este, destinado à execução do


código e, obviamente, a todo o bloco da ordem jurídica eleitoral, está
subordinado à Constituição e à lei, É verdade, além de explicitar o que
repute implícito na legislação eleitoral, viabilizando a sua aplicação
uniforme pode o Tribunal colmatar-lhe lacunas técnicas, na medida das
necessidades de operacionalização do sistema gizado pela Constituição
e pela lei. Óbvio, entretanto, que não as pode corrigir, substituindo pela
de seus juizes a opção do legislador: por isso, não cabe ao TSE suprir
lacunas aparentes da Constituição ou da lei, vale dizer, o silêncio
eloqüente de uma ou de outra.
A Constituição da Costa Rica de 1949, ao que suponho, o primeiro país
depois do Brasil em 1932, a entregar a um Tribunal o comando do
processo eleitoral, foi mais longe que nós: não criou para o mister um
Tribunal Superior sujeito, portanto, à jurisdição da Suprema Corte mas,
sim, o Tribunal Supremo de Blecciones (arts. 99 e ss.), cujas decisões,
por conseguinte, no tienen recurso, salvo ia acción por prevaricato
(art. 103).
Ao seu TSE, supremo, a Constituição da Costa Rica outorgou também
poder normativo, competindo-lhe interpretar en form a exclusiva
y obligatoria las disposiciones constitucionales y legales referentes
a la matéria electoral (arts. 102, 103): porque adstrito, porém, à
interpretação da Constituição e das leis, esse poder normativo embora
supremo na órbita judicial não obstante, também não é primário,
mas secundário, posto que subordinado às normas superiores que
interpreta, mas não pode alterar.
Certo, quando se confere a determinado órgão estatal o poder de
interpretar as normas superiores e, consequentemente, de criar
a norma inferior com força obrigatória e Incontrastável, é norma
inferior corresponder à norma superior, e que, portanto, a decisão
de um Tribunal de última instância não pode ser considerada como
sendo antijurídica, na medida em que tem de ser considerada como
uma decisão de Tribunal. É fato que decidir se existe uma norma geral
que tem de ser aplicada pelo Tribunal e qual é o conteúdo dessa norma
são questões que só podem ser respondidas juridicamente por esse
Tribunal (se for um Tribunal de última instância); mas adverte em
seguida o mestre da Escola de Viena que não justifica a suposição de
que não existem normas gerais determinando as decisões dos tribunais,
de que o Direito consiste apenas em decisões de tribunais.
É dizer que, da incontrastabilidade de sua interpretação da qual dispõe
o TSE costarriquenho e de que, em grau inferior, dispomos nós, sujeitos
unicamente à censura constitucional da Suprema Corte, não se extrai
a dispensa do dever de fidelidade à norma superior à qual estamos
vinculados.

561
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

Fidelidade, é certo, quenão exonera os juizes da triste responsabilidade


de errar por último, a que aludiu Ruy, porque podem errar sem
sanção: o que, entretanto, não escusa o erro consciente (...)”
Vê-se ainda um aspecto relevante na questão da alterabilidade ritual
por decisão confluente do poder normativo do Tribunal Superior
Eleitoral, pois registre-se precedente quanto à interpretação do
art. 22, í, da CRFB. “TSE - Legislar sobre matéria de inelegibilidade é da
competência privativa da União Federal e somente pode ser regulada
por lei complementar federai (Constituição Federal, art. 14, § 9a
c/c art. 22, I), Consulta ns 397, Classe 5a, Distrito Federal (Brasília),
Resolução n9 20.144, Relator Ministro Eduardo Alckmin, Diário da
Justiça, Seção I, 9 de abril de 1998, p. 4."
É importante ressaltar que o art. 90, §§ 1- e 2a, da Resolução ns 21.635,
de 19 de fevereiro de 2004, dispõe:
"Art. 90. O mandato eletivo poderá, também, ser impugnado perante
a Justiça Eleitoral após a diplomação, no prazo de 15 dias, instruída a
ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude
(Constituição Federal, art. 14, § 10).
§ l e A ação de impugnação de mandato eletivo, até a conclusão para
sentença, observará o procedimento previsto na Lei Complementar
ne 64/90 para o registro de candidaturas e tramitará em segredo
de justiça, respondendo o autor na forma da lei, se temerária ou de
manifesta má-fé, aplicando-se as disposições do Código de Processo
Civil apenas subsidiariamente (Constituição Federal, art. 14, § 11).
§ 2e A ação de impugnação de mandato eletivo não se aplica à regra do
art. 216 do Código Eleitoral."
O dispositivo legal aplicável ao pleito municipal de 2004, na verdade,
traduz duas premissas absolutamente inovadoras: a modificação do
rito processual, sem a aplicação da regra do art. 282 do Código de
Processo Civil; além de dar efeito imediato à decisão do juiz eleitoral
ao julgar procedente a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo,
independentemente do trânsito em julgado, conforme tradição
processual eleitoral disposta na letra do art. 216 do Código Eleitoral,
"Enquanto o Tribunal Superior nâo decidir o recurso interposto
contra a expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o
mandato em toda a sua plenitude".
As inovações irremediavelmente causarão efeitos concretos nas eleições
considerando a imediata suspensão do mandato eletivo dos diplomados eleitos e
ensejando as eventuais medidas judiciais cabíveis para a permanência no exercício
do mandato até o trânsito em julgado da decisão.

562
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ítu lo 1 8

0 art. 2 1 6 do Código Eleitoral deve ser interpretado sistematicamente com


o disposto no art. 15 da Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990, pois é
prevista a nulidade do diploma com o trânsito em julgado da decisão. Todavia, a
regra foi excepcionada, conforme consagração de precedentes anteriores do próprio
TSE (Acórdãos n - 1.293/03, Relator Ministro Fernando Neves e n9 1.271/03).
O efeito imediato disciplinado no art. 257 do Código Eleitoral já vem sendo
adotado em reiteradas decisões, inclusive na ação de captação ilícita de sufrágio
(art. 41-A da Lei n- 9.504/97). Nesse sentido, são as decisões na Medida Cautelar
na 1.181, de 2 de outubro de 2002, Relator Ministro Fernando Neves e Acórdão
n- 1.049, de 21 de maio de 2002, Relator Ministro Sáívio de Figueiredo (TSE).
A norma aviventada supra (resolução eleitoral) constitui-se em normatividade
integrante do direito positivo eleitoral e, portanto, terá plena aplicabilidade nas
eleições vindouras, mas não estará imune ao controle pelo Egrégio Supremo
Tribunal Federal.

18,21. CAUTELAR PREPARATÓRIA


0 Tribunal Superior Eleitoral já adotou precedente, no sentido de não possibilitar
o ajuizamento de medida cautelar preparatória da Ação de Impugnação ao Mandato
Eletivo, com o fito de sustar a diplomação de candidato eleito.
Nesse sentido:
Mandado de segurança. Liminar. Possibilidade de o Relator submeter a
sua concessão à Corte, em razão da relevância. Ação de impugnação de
mandato. Cautelar preparatória, sustando a diplomação de candidato
eleito. Impossibilidade de concedê-la. I - Pode o Relator, a seu critério,
submeter à Corte a apreciação de liminar, em razão da relevância
da matéria. II - Não é possível conceder-se cautelar preparatória da
Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, sustando a diplomação de
candidato, pois pressuposto daquela demanda é a diplomação. Sustada
esta, torna-se impossível o ajuizamento daquela ação. A cautelar visa a
assegurar a eficácia da decisão a ser proferida na ação de impugnação
do mandato. Não há como acautelar-se decisão a ser proferida em
ação, impedindo-se o ajuizamento desta. III - Cautelar concedida para
suspender a eficácia da decisão do Tribunal a quo, a fim de que sejam
diplomados os candidatos eleitos, dentre eles o impetrante (Acórdão
ne 2.351, Rio de Janeiro. Relator Ministro Antônio de Pádua Ribeiro,
publicado no DJU de 9.6.1995).
Vê-se que o ponto-chave da questão reside na constatação de que, se não é
possível ajuizar a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, porque ainda não
verificada a diplomação, não é crível o ajuizamento de cautelar preparatória.

563
M a r c o s R a m a y an a D i r e i t o E l e it o r a l

Outra questão: o diploma só pode ser declarado nulo, quando transitar em


julgado a decisão na Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo, diante da norma
expressa no art. 15 da Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990.
De outro lado, o art. 216 do Código Eleitoral possui regra expressa:

Enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra a


expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o mandato em toda
sua plenitude.

Ao nosso pensar, o acórdão está correto, porque acolheu os dispositivos legais


vigentes sobre o tema.
Por último, cumpre frisar que, deferida a liminar, não haveria previsão para a
diplomação do infrator, ensejando significativa redução no período do seu futuro
mandato eletivo, com diversos reflexos econômicos, políticos, partidários e sociais.
Quanto à integral aplicação do art. 216 do Código Eleitoral, é a posição do TSE:
Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (CF, a rt 14, § 10). No silêncio
da lei, tem aplicação o art. 216 do Código Eleitoral quanto aos efeitos da
decisão judicial. Precedentes: Ag MC n9 15.216 e MS n9 2.362. Agravo
não provido (Acórdão n~ 11.831. Marianópolis-TO. Relator: Ministro
Marco Aurélio. Publicado no DJU de 1.3.1996).
Em igual sentido:
Ação de Impugnação de Mandato Eletivo; efeitos da condenação. A
jurisprudência do TSE aplica a essa ação o art. 216 do Código Eleitoral
porque coincidentes seu objeto e aquele do recurso contra a expedição
do diploma, qual seja, a desconstituição do mandato (Leadin case: Ag
MC ne 15.226, Rei. desig. Min. Andrada, DJU 18.8.1995). Segurança
denegada (MS n6 2.362, Rei. Min. Torquato jardim, DJ 15.12.1995).
Agravo regimental. Ação de impugnação de mandato. Os diplomas
expedidos são intocáveis até pronunciamento do TSE. A regra do
art. 216 do Código Eleitoral é de ser aplicada nas hipóteses de recursos
contra a diplomação como nas de ação impugnatória de mandato,
porque é a desconstituição deste que se visa a obter em ambos os casos.
Votos vencidos. Provimento (AMC n9 15.216, Red. desig. Min. Diniz de
Andrada, DJ 18.8.1995).
Argumenta-se, com razão, que não interessa à sociedade a ocorrência de
pródromo afastamento do candidato, quando esse só poderia ocorrer legalmente
com o trânsito em julgado da decisão. Todavia, de leg eferen d a , tornamos a repetir
que já é o momento do legislador regulamentar a Ação de Impugnação ao Mandato
Eletivo, inclusive com a criação de eficaz mecanismo jurídico-processual para evitar-
se a diplomação de candidatos-infratores, quando é fremente a probabilidade de
êxito na ação principal, adotando-se, analogicamente, as linhas básicas da tutela
antecipada, mas compatibilizando-a com o disposto no art. 216 do Código Eleitoral.

564
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

18.22. R E C U R SO S
Sendo a decisão proferida por juiz eleitoral, nas hipóteses em que decretar a
perda do mandato eletivo de prefeito, vice-prefeito ou vereador, é cabível o recurso,
com o prazo do art, 258 do Código Eleitoral, ou seja, de três dias.
Parte da doutrina entende que o recurso cabível é o inominado, não havendo
controvérsias quanto ao prazo de três dias para interposição e razões. Nesse sentido:
Ação de impugnação de mandato. Recursos. Prazo. A aplicação
subsidiária do Código de Processo Civil, com a adoção do procedimento
ordinário nele previsto, não afasta a incidência do disposto no art. 258
do CE. O prazo para interposição de recursos será de três dias. Acórdão
n- 15.163, de 24.3.1998 - Recurso Especial Eleitoral ne 15.163 - Classe
22a/PR (14a Zona - Ponta Grossa). Relator: Ministro Eduardo Ribeiro.
Recorrente: Joselito Canto, Prefeito.
Cabe, ainda, contra decisões dos juizes eleitorais no julgamento das Ações de
impugnação de Mandato Eletivo: o recurso de agravo de instrumento na forma do
Código de Processo Civil, obedecendo, também ao prazo de três dias.
Quando a decisão é proferida no TRE, o recurso é o ordinário para o TSE, no
prazo de três dias, conforme preceitua o art. 276, § l fi, do Código Eleitoral.
São cabíveis os embargos de declaração, na moldura do art. 275, no prazo de
três dias e o agravo regimental, quando ocorrerem hipóteses em que o relator
monocraticamente decide sobre diligências, provas em geral e outras medidas.
Quando o TRE decidir sobre o recurso de apelação ou inominado interposto
contra a decisão do juiz eleitoral, portanto, cabível será o recurso especial, na forma
do art. 276, inciso I, alíneas a e b, do Código Eleitoral. Não sendo admitido pelo
presidente, caberá agravo de instrumento, na forma do art. 279 do Código Eleitoral.
No TSE, as decisões definitivas sobre a perda do mandato eletivo em ações de
impugnação desafiam o recurso extraordinário, na forma do art. 102, inciso III,
alíneas a, b e c , da Constituição Federal.
É cabível, também, o embargo de declaração, na linha do art. 275 do Código
Eleitoral, preservando-se o disposto no art. 15 da Lei das Inelegibilidades e no
art. 216 do Código Eleitoral.

18.23. EFEITO
O recurso contra a decisão que julgar procedente a Ação de Impugnação de
Mandato Eletivo tinha efeito suspensivo, podendo o titular do mandato exercê-lo
em toda sua plenitude, enquanto não transitada em julgado a decisão, segundo
as valiosas lições do doutrinador Joel José Cândido, dentre outros renomados
doutrinadores, e da antiga jurisprudência do TSE. Aplicava-se, aqui, o art. 216, e
não o art, 257, ambos do Código Eleitoral,

565
M a r c o s R a m a y an a D i r e i t o E l e it o r a l

Conclusão: da decisão que decreta a perda do mandato eletivo, cabe o recurso com
duplo efeito, respeitada a diplomação. Recibo no duplo efeito, ou seja, devolutivo e
suspensivo. Essa era a posição do TSE e da doutrina.
Admitia-se o cabimento de mandado de segurança ou de cautelar inominada para
garantir o efeito suspensivo, nas hipóteses de decretação de perda do mandato pelo
julgamento da procedência do pedido na Ação de Impugnação do Mandato Eletivo,
quando o órgão jurisdicional eleitoral executa a decisão, na forma do parágrafo
único do art. 257, sem aguardar o regular trânsito em julgado.
Por fim, em relação ao efeito suspensivo do diplomado infrator, a hodierna
jurisprudência caminha no sentido de adm itir o efeito imediato de nulificação
do diploma, sem que haja o trânsito em julgado. Nesse sentido, pedimos ao leitor
que consulte os com entários nos itens 16.6 e 16.21 deste capítulo. De certo que
a regra geral do art. 2 5 7 do Código Eleitoral (efeito imediato da nulidade do
diploma na ação de impugnação ao mandato eletivo) está prevalecendo de forma
correta em relação à regra excepcional do art. 2 1 6 da lei de regência, situando-se
este último nos lim ites do recurso contra a diplomação (art. 262, IV, do mesmo
diploma legal).

18.24. COMUNICAÇÕES
A decisão deve ser comunicada: I) Mesa da Casa respectiva - Parlamentar; II)
Congresso Nacional - presidente e vice-presidente; III) Assembleia Legislativa -
governador e vice-governador; e IV) Câmara Municipal - prefeito, vice-prefeito e
vereador.

18.25, CONSEQÜÊNCIAS
0 Código Eleitoral, em seu art. 175, § 3 S, determina que os votos atribuídos aos
candidatos inelegíveis sejam nulos.
Por outro lado, o art. 224 do Código Eleitoral dispõe que, se a nulidade atingir
mais da metade dos votos, por exemplo, nas eleições municipais, será marcada nova
eleição.
Em contrapartida, a declaração de inelegibilidade é personalíssima, não atingindo
os vices, na forma do art. 18 da Lei Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990.
Entendemos que, se a nulidade não atingir mais da metade dos votos, ou seja, se o
diplomado infrator perder o mandato, em razão do reconhecimento de hipótese de
abuso do poder econômico, v.g., mas os votos nulos que se lhe atribuíram não forem
superiores à metade, aplica-se, in totum, a regra do art. 18 da Lei das Inelegibilídades,
assumindo o vice, eleito em chapa única e indivisível. Caso contrário, se a nulidade
for superior à metade, a regra incidente é a do art. 2 2 4 do Código Eleitoral.

566
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

0 Tribuna] Superior Eleitoral já julgou precedente nesse sentido, num caso


do Estado do Paraná, origem 103a ZE, da Cidade de Saudade de Iguaçu, quando o
presidente da Câmara Municipal assumiu a Prefeitura local, de forma temporária,
até que o juiz eleitoral pudesse perscrutar sobre a necessidade ou não de novas
eleições.
Significativas, portanto, são as conseqüências que podem advir da procedência
do pedido com trânsito em julgado da decisão impugnativa de mandato eletivo.
Registramos, ainda, o voto do Ministro Luiz Carlos Madeira, do TSE, no sentido
da não aplicação do art. 224 na procedência da Ação de Impugnação ao Mandato
Eletivo, in verbis:
Sr. Presidente, irreparável a decisão agravada. Não assiste razão ao
agravante, quando afirma que reside seü direito líquido e certo de
assumir o cargo de prefeito na Lei Orgânica do Município e no Regimento
Interno da Câmara Municipal de Bayeux, assim como da aplicação do
disposto no art. 224 do CE. Esta Corte já firmou entendimento de que
o art. 224 do Código Eleitoral incide nos casos de nulidade de votos,
em virtude de cancelamento de registro ou dos próprios votos, não nos
casos de procedência de Ação de Impugnação de Mandato eletivo (CF,
art. 14, § 10), que têm por objeto a desconstituição do mandato, e não a
anulação dos votos. (Precedentes: AMC n9 1.024, de 21.3.2002, Rei. Min.
Nelson jobim; REspe. n9 9.347/MG, Rei. Min. Diniz de Andrada, DJ de
6.5,1993; Despacho na MC n9 1.G46/GO, Rei. Min. Luiz Carlos Madeira,
DJ de 7.5.2002; ARMS ne 3.030/PB, Rei. Min. Luiz Carlos Madeira,
julgado em 6.8.2002). Também melhor sorte não teria o requerente
quanto ao seu suposto direito de ocupar a chefia do Executivo Municipal,
tendo por apoio lei municipal e regimento interno da Câmara, uma vez
que se trata de vacância, havendo assumido o segundo colocado no
pleito, como de direito. Assim, mantenho a decisão agravada e nego
provimento ao agravo. É o voto. DJ de 22.11.2002 (Informativo do TSE,
25.11,2002).
O TSE também já se pronunciou, no sentido de que o art. 224 não se aplica à
questão do mandato eletivo, in verbis;
Matéria Processual. Cabimento. Ação de Impugnação (Mandato
Eletivo) - Agravo regimental em mandado de segurança. Código
Eleitoral, art. 224. Inaplicabilidade. Ação de Impugnação de Mandato
Eletivo. 1, A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (CF, art. 14, § 10)
tem por objeto a desconstituição do mandato, e não a anulação dos
votos. 2. O art, 224 do Código Eleitoral incide nos casos de nulidade de
votos, em virtude de cancelamento de registro ou dos próprios votos.
3. Decisão que nega liminar, mantida. Acórdão n9 3.032, de 20.8.2002.
Agravo Regimental no Mandado de Segurança n- 3.032 - Classe 14a/
PB (61a Zona Bayeux). Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira. Decisão:
unânime em negar provimento ao agravo regimental.

567
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a l

Diante do quadro exposto, vê-se que a questão é complexa. Todavia, cumpre


analisarmos o Acórdão ng 15.146, Recurso Especial Eleitoral, Serraria, Paraíba, tendo
como relator o Ministro Costa Porto. A decisão está publicada na jurisprudência do
TSE, volume 1 0 ,1 9 9 9 , pp. 210-216.
Na decisão, ficou vencido o Ministro Néri da Silveira que, em nosso pensar, tinha
razão. A decisão foi por maioria de votos e foi publicada no DJ de 20 de março de 1998.
A conclusão do decisum foi no sentido de que os arts. 175, § 3S, e 224 do Código
Eleitoral complementam-se e a conseqüência é que o vice-prefeito é atingido, pois
toda a chapa (una e indivisível) é nulificada pela inelegibilidade.
A respeitável decisão não se olvidou da análise do art. 18 da Lei Complementar
n9 64, de 18 de maio de 1990 (Lei das Inelegibilidades), mas, acolhendo parecer
do Ministério Público, entendeu-se que a incomunicabilidade da inelegibilidade
de prefeito, em relação ao vice-prefeito, tem tempo certo, ou seja, dá-se em fase
anterior à data da eleição, até o limite da substituição dos candidatos inelegíveis.
A questão reside no limite temporal da substituição do candidato considerado
inelegível para determinada eleição.
O art 13 da Lei n- 9.504/97 trata da substituição do candidato inelegível, mas é
evidente sua relação com a investigação judicial eleitoral julgada antes das eleições ou
com a ação de impugnação ao pedido de registro de candidatos, Não há que se falar em
substituição, após o prazo de 60 dias antes do pleito (o prazo é decadencial, nas lições de
Joel J. Cândido). A substituição também segue as regras do a rt 101 do Código Eleitoral.
A decisão comentada decretou a anulação total da chapa, sem ressalva ao vice-prefeito.
O voto vencido do Ministro Néri da Silveira, sem dúvida, foi o mais acertado,
porque o vice-prefeito já estava empossado no cargo eletivo. O vice-prefeito deve
assumir o cargo de prefeito, até porque é a vocação natural nas hipóteses de morte,
renúncia ou perda do mandato.
Cumpre enfatizar que, ocorrendo a hipótese de diplomação do prefeito com o
vice-prefeito, ambos foram eleitos e a norma do a r t 18 da Lei das Inelegibilidades é
de cunho protetivo aos direitos públicos políticos subjetivos passivos, ius honorum.
Sendo norma que beneficia a capacidade eleitoral passiva, deve ser preservada pela
Justiça Eleitoral.
Conclui o Ministro Néri da Silveira:
(...) Portanto, havendo uma decisão sobre a inelegibilidade do candidato
a Prefeito, no curso do mandato, não pode ela repercutir de forma a
desconstituir a situação jurídica do vice-prefeito (...).
Vê-se, ainda, que o TSE, na decisão em Ação de Impugnação de Mandato Eletivo,
de 25 de abril de 2002, Relator Ministro Nelson Jobim, Processo nB 1.024, decidiu
cassar os mandatos do governador e vice-governador, determinando que o TRE
convocasse a segunda chapa eleita para a cerimônia de diplomação, expedindo
ofício à Assembleia Legislativa do Estado.

568
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

Por fira, registre-se que o TSE ainda não sedimentou posição, segundo a qual
sempre devam ser realizadas novas eleições, quando os votos nulos somarem mais
da metade dos votos apurados nas eleições, pouco importando a causa da nulidade
(absoluta - art. 220 - ou relativa - art. 221, ambos do CE).
Algumas premissas podem ser extraídas do tema proposto: a) a lei eleitoral deve
resguardar a aferição da vontade popular; b) se o vice concorreu para a prática
abusiva, seu mandato está contaminado pela inelegibilidade; c) o TSE, em alguns
julgados, entende que o art. 224 não se aplica à Ação de Impugnação ao Mandato
Eletivo e, em outros, que se aplica; d) entre o primeiro e segundo turnos, ainda não
existem diplomados, portanto não é possível a propositura de Ação de Impugnação
ao Mandato Eletivo; e) o art. 81 da Carta Magna trata da vacância e aplíca-se nas
hipóteses de chefes do Poder Executivo Estadual e Municipal. Ocorrendo a hipótese
de vacância dos cargos de prefeito e vice-prefeito, nos dois últimos anos do mandato,
aplica-se analogicamente a regra do § 1- do art. 81 da Carta Magna, com a realização
de novas eleições. Nesse sentido, Acórdão nQ2.133, de 6 de junho de 2000 do TSE;
f) a dupla vacância (art. 81 da CF) não é matéria propriamente afeta à Justiça
Eleitoral; ela decorre de falecimento, renúncia, desincompatibilização e cassação
do mandato pelo Poder Legislativo; g) os votos dados a candidatos inelegíveis são
nulos - art. 175, § 3 2, do CE; h) adotada a corrente majoritária da nulidade integral
da chapa - contaminação do vice, sem nenhuma participação efetiva do mesmo no
abuso do poder econômico, é forma de consagração do princípio da intranscendência
da pena e de responsabilidade objetiva; i) adotada a corrente minoritária de que a
regra do art. 18 da Lei da Inelegibilídades é manto protetor da capacidade eleitoral
passiva, ius honorum, restará fortalecida a segurança nas relações entre o cidadão
e o voto; j) o Enunciado n9 8 da Jurisprudência do TSE, publicado pelos ilustres
assessores do TSE, no livro Direito E leitoral Contem porâneo, Editora Del Rey, sob a
coordenação do Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, é claro ao afirmar que:
Nas eleições majoritárias, julgado procedente o pedido na ação proposta
com fundamento no art. 41-A da Lei ne 9.504/97 ou no art. 262 do
Código Eleitoral, caso o representado tenha sido eleito, com a cassação
do diploma, poder-se-á ter mais da metade dos votos nulos, aplicando-
se, aí, o disposto no art. 224 do Código Eleitoral, com a realização de
novo pleito.10
Registramos posição contrária à aplicação do art. 224:
Acórdão ns 3.030, de 6.8.2002. Agravo regimental no Mandado de
Segurança ne 3.030/PB. Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira. Ementa:
Agravo regimental em mandado de segurança. Código Eleitoral,
art. 224. Inapíicabilidade. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. 1.
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (CF, art. 14, § 10) tem por
objeto a desconstituição do mandato, e não a anulação dos votos. 2. O

1 0 P á g in a 5 6 6 .

569
M a r c o s R amayana D ir e i t o E l e it o r a l

art. 224 do Código Eleitoral incide nos casos de nulidade de votos, em


virtude de cancelamento de registro ou dos próprios votos. 3. Decisão
que concede liminar, mantida. DJ de 6.9.2002.
Em conclusão, podemos resumir a complexa questão da seguinte forma:
a) Se a Justiça Eleitoral declarar a cassação do mandato eletivo de um prefeito ou
governador, mas os votos atribuídos aos eleitos forem inferiores ou iguais a
50% (art. 224 do Código Eleitoral, a con trario sensu), não haverá necessidade
de ser realizada uma nova eleição denominada de eleição complementar ou
suplementar. Nesse caso, deve assum ir o segundo colocado. 0 vice também
será afetado em razão da unidade e indivisibilidade da chapa (art. 91 do
Código Eleitoral). Excepcionalmente, o vice não será atingido se a causa de
cassação do mandato eletivo for personalíssim a (art. 18 da Lei Complementar
ns 64/90). Geralmente, quando a nulidade decorre de abuso do poder econômico,
materializa-se a contaminação integral da chapa, pelo benefício auferido peío
vice.
b) Se a Justiça Eleitoral declarar a cassação do mandato eletivo de um prefeito ou
governador, mas os votos atribuídos aos eleitos forem superiores a 50% (art. 2 24
do Código Eleitoral), restará prejudicada a legitimidade da eleição popular e deverá
ser realizada uma nova eleição, denominada de suplementar ou complementar,
sendo que os causadores da nulidade da eleição não podem concorrer nesta nova
eleição, pois não são beneficiários de nulidades a que deram causa (art. 219,
parágrafo único, do Código Eleitoral). Todavia, o TSE está entendendo que, por
critérios de economicidade e para evitar o entrelaçamento de eleições regulares
com suplementares, quando "declarada a nulidade de mais da metade dos votos
válidos no pleito majoritário, a realização de novas eleições municipais, nos
últimos dois anos do quadriênio mandatício, deve ocorrer na forma indireta, por
aplicação do § 1- do art. 81 da CF/88"
Nesse ponto, cumpre esclarecer que à nulidade dos votos atribuídos a candidatos
inelegíveis, não se somam os votos nulos por expressa vontade do eleitor.

18.26. CONEXÃO ENTRE A AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO AO


MANDATO ELETIVO E O RECURSO CONTRA A DIPLOMAÇÃO
Como ressalta o eminente jurista Joel José Cândido, não é cabível o Recurso
Contra a Diplomação e a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo pelo mesmo
fundamento, sob pena de "contrariedade da coisa julgada".
Nas sábias lições doutrinárias de Pedro Henrique Távora Niess, perscruta-se
que será admissível a concomitância dos dois mecanismos de controle da higide 2
democrática, quando as partes ativas forem diversas, a saber:
Nesse cenário, não aceita o processo civil eleitoral a utilização conjunta,
por um mesmo legitimado, do recurso contra a expedição do diploma e

570
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

da ação de impugnação de mandato, sendo réu o recorrido, coincidindo


a causa petendi que alimenta ambos, senão até que um deles seja
admitido.11
Urge salientar que a utilização concomitante do recurso e da ação ocorre, por
enfoque temático-jurídico, nas hipóteses dos incisos 1 e IV do art. 262 do Código
Eleitoral, pois os incisos II e III são específicos do recurso.
A inelegibilidade, portanto, é o ponto-chave da questão comum, que permite a
deflagração dos dois mecanismos jurídico-eleitorais.
A título de exemplo, podemos ter, durante uma campanha eleitoral, práticas
abusivas diversas e duas ou mais hipóteses de inelegibilidades incidentes sobre o
mesmo diplomado infrator. Basta imaginar o diplomado que distribui dinheiro aos
eleitores e fraudou sua certidão tempestiva de filiação partidária ou as informações
referentes ao seu correto domicílio eleitoral.
Nesse caso, a questão do abuso do poder econômico, pela entrega de dinheiro em
troca de votos, será deflagrada pela Ação de Impugnação ao Mandato Eleito, mas o
aspecto da fraude na filiação ou do domicílio eleitoral poderá ser alvo do Recurso
Contra a Diplomação, inclusive por legitimado diverso.
Diante desse exemplo, entendemos ser perfeitamente possível a utilização
concomitante dos mecanismos jurídicos, importando o prosseguimento de ambos
para uma decisão final com trânsito em julgado.
Entretanto, se o pedido mediato for idêntico, como, por exemplo, na hipótese
de o diplomado infrator ter abusado do poder econômico, utilizando funcionários
públicos da Prefeitura para sua campanha pessoal de reeleição naquele município,
a questão pode ensejar a interposição do Recurso Contra a Diplomação, mais
célere, diante dos prazos do calendário eleitoral, considerando, inclusive, que, pelo
Direito Processual Eleitoral, é um recurso, e não uma Ação, como pode desafiar o
ajuizamento da Ação Impugnativa de Mandato Eletivo, sob o prisma de identidade
relativa à inelegibilidade apontada pelas provas dos autos.
É muito comum que a parte legitimada, nesses casos, interponha o recurso e
ajuíze a ação, gerando, na prática, possíveis contradições entre órgãos judiciários
eleitorais diversos, v.g., o juiz eleitoral e o Tribunal Regional Eleitoral.
Dispõe o art. 103 do Código de Processo Civil que:

Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o


objeto ou a causa de pedir.

A verdadeira natureza jurídica do Recurso Contra a Diplomação, já analisamos,


é uma ação, embora tenha sido tratado pelo legislador eleitoral como recurso.
No entanto, deve o réu alegar, na contestação da ação impugnativa, a questão da
conexão, como determina o art. 301, inciso VII, do Código de Processo Civil.
11 NiESS, Pedro Henrique Távora. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Editora Edipro, p. 98.

ç-71
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

A conexão enseja, outrossim, a mudança de competência, conforme preceítua o


art. 102 do Código de Processo Civil, havendo a previsão, inclusive, da distribuição
por dependência, na forma do art, 253 da Lei Processual Civil,
Como ressaltado, deverá o intérprete procurar compatibilizar esses dispositivos
legais com o art. 40, inciso IV, do Código Eleitoral, diante do órgão, no caso do
exemplo acima, juiz eleitoral, que é o responsável pelo ato da diplomação.
Entendemos que o Tribunal Regional Eleitoral deverá suspender o julgamento,
evitando decisões contraditórias, cabendo ao juiz eleitoral, julgar a Ação Impugnativa
de Mandato Eletivo, porque é o competente para a diplomação do eleito.
O Tribunal Regional Eleitoral não poderá unificar os autos da impugnação com
o do recurso, para um julgamento simultâneo, na medida em que, no exemplo
expendido, o juízo competente é o juiz eleitoral, pela especialização da diplomação,
considerando que o pedido mediato é idêntico.
0 doutrinador Pedro Henrique Távora Niess adota posição contrária:
Se o acórdão que decidiu o recurso contra a expedição do diploma
transitar em julgado antes da prolação da sentença, o juiz deverá
extinguir o processo da ação impugnatória sem julgamento de
mérito.12
Admite-se, portanto, o processamento simultâneo entre a ação e o recurso, numa
espécie de corrida contra o tempo, objetivando-se o trânsito em julgado do recurso
ou da ação impugnativa.
Por outro lado, urge ratificar o que já foi expendido, no sentido de que as questões
que são alvo de preclusão não podem, de forma alguma, servir ao ajuizamento
da Ação Impugnativa de Mandato Eletivo ou à interposição do Recurso Contra a
Diplomação. Nesse sentido, destacamos a Ementa do Acórdão ns 531:
Recurso Contra a Diplomação. Va2ante~MG. Relator: Ministro Antônio
de Pádua Ribeiro. TSE. Decisão publicada no DJU de 23.2.1996:
Recurso Contra Diplomação. Violação ao art. l s, 1, g, da LC ne 64/90.
Ilegitimidade. Preclusão. Descabimento. I - Não demonstrado o proveito
direto do recorrente no cancelamento do diploma expedido, falta-lhe
legitimidade para figurar como impugnante (LC ne 64, de 18.5.1990,
art. 39). II - Tratando-se de inelegibilidade infraconstitucional e
preexistente ao registro do candidato, não pode ser arguida em
Recurso Contra a Diplomação, por se tratar de matéria preclusa (Código
Eleitoral, art. 259). III ~ Não conhecimento.
De fato, a posição do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, aplicável ao Recurso
Contra a Diplomação ou a Ação Impugnativa de Mandato Eletivo, está manifestada
em reiteradas e pacíficas decisões, no sentido de: 1) inelegibilidade anterior ao
registro está preclusa (ex.: questão concernente à rejeição de contas pretéritas),

1 2 Op. cit., p . 9 9 .

572
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

exceto se superveniente ao registro; 2) se a questão da inelegibilidade for debatida


na ação de impugnação ao pedido de registro, mas foi, ao final, inacolhida, v.g., com
o desprovimento do recurso com trânsito em julgado, não é mais viável ou possível
reapreciar a mesma matéria em recurso contra o diploma.

18.27. MATÉRIA CONSTITUCIONAL NÃO “PRECLUl”. AUSÊNCIA


DE DECADÊNCIA
A questão sobre a matéria constitucional é de significativa relevância para o
processo eleitoral. Se o julgador seguir o entendimento de que a matéria arguida
é de natureza constitucional, ela poderá ser examinada na Ação de Impugnação ao
Mandato Eletivo ou no Recurso Contra a diplomação.
Na verdade, não se trata propriamente de preclusão, mas sim de decadência,
pois inocorre o perecimento do direito. Na decadência, o direito potencialmente
assegurado não poderá ser mais exercido, vez que não foi efetivado no prazo legal,
até porque a decadência está relacionada às ações constitutivas, sendo a AIME de
natureza constitutiva negativa.
Desta forma, a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo poderá trazer ao exame
do julgador a matéria identificada como de natureza constitucional, pois a falta
do seu exercício no interregno assinalado pela legislação eleitoral não afeta sua
cognoscibilidade.
A matéria constitucional está tratada nos arts. 223 e 259, parágrafo único, do
Código Eleitoral. 0 parágrafo único do art. 259 ressalva que, nos recursos que tratam
de matéria constitucional, a mesma poderá ser apreciada, mas o recurso deverá ser
interposto no prazo legal Por exemplo: no Recurso Contra a Diplomação (RCD), o prazo
de interposição é de três dias, contados da diplomação; assim, o legitimado deverá
observar o prazo legal, mas a matéria poderá ser provida pelo Tribunal competente
se versar sobre questão constitucional. A mesma regra aplica-se à AIME. 0 prazo da
AIME é de 15 dias, contados da diplomação e, consequentemente, os legitimados
não poderão perder o prazo para que a matéria constitucional sejá examinada. Os
esclarecimentos são necessários, pois a redação do parágrafo único é confusa.

O que se entende por m atéria constitucional?


O tema é de relevante pertinência, pois, dependendo do caso concreto, poderá
levar ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal o deslinde do processo
eleitoral através de recurso extraordinário.
Destaca-se:
Decisão judicial que determina o registro de candidato por coligação
deve ser impugnada no momento próprio. Violação ao art. 259 do
Código Eleitoral ("Art. 259. São preclusivos os prazos para interposição

573
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a i

de recurso, salvo quando neste se discutir matéria constitucional.").


Nesse entendimento, o Tribunal conheceu do recurso e deu-lhe
provimento. Unânime. Recurso Especial Eleitoral n9 I9.304/G0, ReL
Min. Costa Porto, em 26.4.2001.
Embargos de declaração. Recurso especial. Alegação de violação do
art. 19 do Código Eleitoral. Não ocorrência. Aplicação subsidiária dos
§§ l 9 e 2- do art. 134 do RISTE I Reiniciado julgamento de matéria
constitucional, não há necessidade de convocação de ministro para
completar quorum se, em outras chamadas do feito, o voto de seu
antecessor já houver sido proferido. (...) III - Embargos rejeitados.
Acórdão n9 15.992, de 4.4.2002. Embargos de Declaração no Recurso
Especial Eleitoral na 15.992 - Classe 22a/PB (João Pessoa). Relator:
Ministro Sepúlveda Pertence. Decisão: unânime em rejeitar os
embargos de declaração.
Se a inelegibilidade surgir pela ocorrência de fato superveniente
ao registro do candidato, mesmo não se cuidando de m atéria
constitucional, não há que se falar em preclusão da referida
inelegibilidade, quando invocada no recurso contra a diplomação.
Inelegibilidade oponível a candidato eleito, mediante Recurso Contra a
Diplomação. Recurso não conhecido. Acórdão n9 15.107, de 24,3.1998 -
Recurso Especial Eleitoral n9 15.107 - Classe 22/MG. Relator: Ministro
Eduardo Alckmin. Decisão: unânime, recurso não conhecido.
Recurso especial. Recurso contra expedição de diploma (art. 262,
1, do CE). Cassação do diploma pela corte regional. Inelegibilidade
constitucional. Parentesco (art. 14, § 7 da CF). Recurso não conhecido.
Acórdão nfi 15.119, de 3.2.1998 - Recurso Especial Eleitoral nfi 15.119.
Relator: Ministro Eduardo Alckmin. Decisão: unânime, recurso não
conhecido."
Registro de candidato. 2. Inelegibilidade prevista no art. l e, I, g,
da LC n9 64/90. 3. Impugnação do Ministério Público apresentada,
intempestivamente, à vista do art. 3e da LC ne 64/90. 4.
Inelegibilidades previstas na Constituição e inelegibilidades definidas
em lei complementar. Quanto às últimas, invocável faz-se a preclusão.
5. Recurso desprovido. Acórdão nô 113, de 10.9.1998 - Recurso
Ordinário n9 113. Relator: Ministro Néri da Silveira. Decisão: unânime
em negar provimento ao recurso.
Recurso Contra Diplomação. Inelegibilidade infraconstitucional.
Desincompatibilização. Preclusão. I. O não cumprimento do
prazo de desincompatibilização, por tratar-se de inelegibilidade
infraconstitucional e preexistente, à época do registro, não enseja
Recurso Contra a Diplomação. II. Recurso especial não conhecido.
Acórdão n9 15.305, de 10.12.1998 - Recurso Especiai Eleitoral
na 15.305. Relator: Ministro Edson Vidigal. Decisão: unânime em não
conhecer do recurso.

574
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

Amatéria constitucional é aquela diretamente tratada pelo legislador constituinte,


mas colmatada pelo legislador infraconstitucional. Por exemplo: a filiação partidária
é uma condição de elegibilidade própria ou propriamente constitucional (art. 14,
§ 3e, V, da CRFB). No entanto, o legislador infraconstitucional, na Lei n9 9.096/95
(Lei dos Partidos Políticos), regulamentou os aspectos da filiação partidária,
inclusive o prazo de l(um ) ano antes antes das eleições como o prazo legal (art. 18)
para o preenchimento desta condição.
O eminente doutrinador Adriano Soares Costa aborda muito bem o assunto, em
sua excelente obra Instituições de D ireito E leito ra l
De toda sorte, percebe-se que a m atéria constitucional, pela jurisprudência do
TSE e por ensinam entos doutrinários, pode ser resumida nos seguintes tópicos,
entre outros: a) todas as condições de elegibilidades do art. 14 da CRFB; b) as
inelegibilidades reflexas do art. 14, § 7 -, da CRFB; c) reeleição; d) a questão do
analfabetism o (art. 12, § 4 9, da CRFB e Súmula n9 15 do TSE); e) as hipóteses
de perda e suspensão dos direitos políticos (art. 15 da CRFB); f) a moralidade
pública para o exercício dos mandatos eletivos (art. 14, § 9 S, da CRFB); g) as
questões referentes aos arts. 54 e 55 da CRFB, especialmente com os reflexos
que atingem o mandato eletivo; h) a inabilitação (art. 52, parágrafo único, da
CRFB).
Se o promotor eleitoral deixar de impugnar o pedido de registro de um candidato
que não esteja filiado a partido político, a questão é constitucional e pode ser
discutida na Ação de Impugnação de Mandato Eletivo.
As desincompatibilizações não são matérias constitucionais, exceto o afastamento
definitivo do art. 14, § 6 a, da CRFB.
Se o promotor eleitoral não impugnar o pedido de registro de um servidor
público que deixou de pedir licença (afastamento temporário), ou seja,
desincompatibilizar-se no prazo legal, a questão não poderá ser renovada na Ação
de Impugnação ao Mandato Eletivo. 0 fato poderá ser discutido pelo abuso do
poder político e/ou econômico, mas não terá como fundamento a inelegibilidade
infraconstitucional.

18.28. MINISTÉRIO PÚBLICO. SU BSTITUTO PROCESSUAL.


VIABILIDADE JURÍDICA
A Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo é ação constitucional eleitoral de
defesa do regime democrático.
O Ministério Público é o guardião efetivo da ordem jurídica democrática e deve
pautar sua atuação sempre suprapartidariamente, com o fim de coibir os abusos do
poder, a fraude e a corrupção, especialmente a captação de sufrágio eleitoral.

575
M a r c o s R am ayan a D i r e i t o E l e it o r a i

A responsabilidade social do Ministério Público, no processo eleitoral, diz


respeito à preservação do alistamento eleitoral, propaganda política eleitoral,
votação, apuração e diplomação dos candidatos eleitos. A defesa da cidadania é
notadamente exercida na Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo, especialmente
em virtude do interesse indisponível das capacidades eleitorais ativas e passivas.
0 doutrinador Fávila Ribeiro13 refere-se ao Ministério Público como substituto
processual, in verbis:
A condição de substituto processual confere qualidade ao órgão
do Ministério Público para assumir o patrocínio judicial de certos
interesses que merecem a tutela estatal. Quando assim se apresenta,
não está a cumprir uma representação, agindo em nome próprio, em
defesa de interesse de terceiro, pelo empenho da sociedade em que
seja defendida. Verifica-se que, na representação, a participação do
representante na relação processual é feita em nome de terceiro,
enquanto na substituição está a exercitar a defesa de terceiro, mas em
seu próprio nome.
0 Tribunal Superior Eleitoral, em decisão, entendeu que o Ministério Público é
substituto processual:
(TSE). Ministério Público Eleitoral. Substituição processual. Recurso
ordinário. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Legitimidade do
Ministério Público. Prazo de resposta. Rito ordinário. 1. 0 Ministério
Público, por incumbir-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis
(art. 127 da CF), é parte legítima para, em face da desistência da
Ação de Impugnação de Mandato Eletivo pelo autor, assumir a sua
titularidade e requerer o prosseguimento do feito. (...) Acórdão ne 4, de
17.3.1998 - Recurso Ordinário nfi 4 - Classe 27a/DF (Brasília). Relator:
Ministro Maurício Corrêa. Recorrida: Procuradoria Regional Eleitoral/
DF. Decisão: por maioria de votos, vencido o Ministro Presidente, em
conhecer e prover, era parte, o recurso.
A substituição processual está definida no art. 6a do Código de Processo Civil
e pressupõe, nos casos expressos em leí, a demanda de interesse alheio por uma
legitimidade especial. A parte dita p rocessu al seria diferente da titular do direito
material violado.
Entendemos que ocorre uma mera substituição de parte, mas não a substituição
processual propriamente considerada, pois o Ministério Público assume a defesa
própria de interesse próprio (guardião do regime democrático). Haverá, apenas,
uma alteração no polo ativo da relação processual, quando o Ministério Público

13 Direito Eleitoral. Editora Forense, pp. 122-123-

576
A ç ã o d e I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 1 8

exercerá, até o fim, a defesa contra abusos, corrupção e fraude. Se entender, ao final
do processo, que não existem provas, deverá pleitear a improcedência do pedido;
também poderá requerer o julgamento antecipado da lide, com a concordância da
defesa.

18.29. RESUMO
1) A ação de impugnação ao mandato eletivo é assentada no texto do art. 14, §§ 10
e 11 da Constituição Federal. Não existe lei específica sobre o tema.
2) O prazo de propositura é de 15 dias contados da diplomação.
3) A competência é a mesma da ação de investigação judicial eleitoral, ou seja, o
art. 2 e da Lei Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990. Cabe ao juiz eleitoral
nas eleições de prefeito, vice-prefeito e vereador, ao Tribunal Regional Eleitoral
nas eleições de governador, vice-governador, senador, deputados federal, estadual
e distrital, e ao Tribunal Superior Eleitoral nas eleições de presidente e vice-
presidente da República.
4) O objetivo da ação é desconstituir o mandato eletivo que foi conquistado na
base da corrupção, fraude, abuso do poder econômico e, assim, a decisão anula
o diploma.
5) Os efeitos são: a perda do mandato eletivo e a inelegibilidade por 3 anos contados
da data da eleição (ver Súmula n2 19 do TSE e art. 22, XIV, da LC 64/90).
6) O rito processual era o ordinário, mas o Tribunal Superior Eleitoral, por intermédio
da Resolução nQ21.635/04 (eleições municipais), no art. 90, § l s, determinou o
mesmo rito da ação de impugnação ao pedido de registro de candidatos. A posição
já é pacifica.
7) O fundamento do pedido é a ocorrência do abuso do poder econômico, corrupção,
fraude e vícios.
8) O recurso da decisão tinha efeito suspensivo (art. 216 do Código Eleitoral),
ou seja, o eleito podia exercer o mandato eletivo. Todavia, o Tribunal Superior
Eleitoral, no art. 90, § 2- da Resolução n9 21.635/04, disciplinou sobre a não
aplicabilidade do art. 2 1 6 do Código Eleitoral. Desta forma, o diplomado sairá
do mandato, independentemente do trânsito em julgado da decisão que julgou
procedente o pedido impugnativo reconhecendo o abuso do poder. Adota-se
o disposto no art. 257, parágrafo único, do Código Eleitoral que versa sobre a
execução imediata das decisões eleitorais, sem que os recursos tenham efeito
suspensivo.
9) Por fim, lem bre-se que a m atéria constitucional está imune à preclusão ou
decadência de arguição, desde que ventilada dentro do recurso contra a diplomação
ou da ação de impugnação ao mandato eletivo (ver o art. 259 e parágrafo do Código
Eleitoral).

577
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

18.30. RESUMO DO CABIMENTO DAS AÇÕ ES ELEITORAIS


Ação de pedido de registro de candidatos (art. 11 da Lei nQ9.504/97).
Ação de Impugnação ao pedido de registro de candidatos (art. 35 da Lei
Complementar n s 64, de 18 de maio de 1990).
Atenção: dia 5 de julho do ano eleitoral é o último dia para os partidos políticos
requererem o registro de seus pré-candidatos.
A propaganda política eleitoral só pode iniciar-se a partir do dia 5 de julho do
ano da eleição (art. 36 da Lei ns 9.504/97).
Durante o período de propaganda política eleitoral (6 de julho até o dia da
eleição) pode ocorrer:
1) propaganda política eleitoral irregular. Nesta hipótese, o remédio jurídico
para fazer cessar e/ou multar o candidato infrator é a Ação de Reclamação ou
Representação contra a propaganda política eleitoral irregular. A base legal
é o art. 96 e segs. da Lei n9 9.504/97 e Resolução específica que é expedida
para cada pleito eleitoral pelo Tribunal Superior Eleitoral (art. 105 da Lei
n9 9.504/97);
2) propaganda captativa ilícita de votos. Trata-se da compra e venda de votos.
Exemplos: oferecer materiais de construção, dentaduras, remédios, empregos
etc. Nesta hipótese, é cabível a Ação de Captação Ilícita de Sufrágio com base
no art. 41-A da Lei n9 9.504/97;
3) Propaganda política eleitoral abusiva do poder econômico e/ou político. Por
exemplo, oferecer centenas de materiais de construção numa favela, prometer
centenas de remédios à população carente, usar bens públicos nas campanhas
eleitorais e praticar condutas vedadas aos agentes públicos durante as
campanhas de forma potencialmente lesiva à desequilibrar o pleito (art. 73 da
Lei nfi 9.504/97). Nestas hipóteses, é cabível a Ação de Investigação judicial
Eleitoral ou Representação com base no art. 22 da Lei Complementar ne 64,
de 18 de maio de 1990 (IJE);
A finalidade do pedido é obter a inelegibilidade por três anos, contados da data
da eleição e a cassação do registro do candidato, mas deve-se ter atenção para os
incisos XIV e XV do art. 22 da Lei Complementar n9 64/90, porque, o julgamento
após a eleição implica a interposição do Recurso Contra a Diplomação (RCD,
art. 262, IV, do Código Eleitoral) ou na propositura da Ação de Impugnação ao
Mandato Eletivo (AIME, art. 14, §§ 10 e 11, da Constituição Federal).
4) Ação de representação em face de condutas vedadas aos agentes públicos em
campanhas político-eleitorais. Sobre este assunto, cumpre fazer uma distinção.
As condutas vedadas, que possam traduzir pedido de votos “captação de
sufrágio", devem, ao nosso pensar, seguir o rito do art. 22 da Lei n9 9.504, de 30
de setembro de 1997, porque são formas indentificáveis da própria captação
ilícita de sufrágio. Exemplo. Distribuição gratuita de alimentos "cestas básicas"

578
A ç ã o dh I m p u g n a ç ã o a o M a n d a t o E l e t iv o C a p ít u l o 18

custeadas peio Poder Público (União, Estado ou Município). Se esta conduta


vedada for potencialmente lesiva para desequilibrar uma eleição retratando a
hipótese de abuso do poder econômico e/ou político, a solução jurídica será a
propositura da Ação de Investigação Judicial Eleitoral com os efeitos possíveis
em razão dos incisos XIV e XV do art. 22 (cassação do registro e inelegibilidade
por três anos da data da eleição, ou somente inelegibilidade), trabalhando o
autor com a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo ou com o Recurso contra
a Diplomação (arts. 14, §§ 10 e 11, da CF e 262, IV, do Código Eleitoral).
É preciso, sob essa perspectiva, ap artar as hipóteses distintas. O caso
exemplificado acima refere-se à conduta vedada e captativa com abuso do
poder econômico e/ou político, concentrando-se o ponto fundamental nos
pressupostos da inelegibilidade.

APÓS A ELEIÇÃO
1) A Justiça Eleitoral deverá analisar e julgar a prestação de contas de campanha
eleitoral. Neste sentido, destacamos os artigos da Lei ns 9.504/97:

Art. 30. Examinando a prestação de contas e conhecendo-a, a Justiça


Eleitoral decidirá sobre a sua regularidade.

DIPLOMAÇÃO
(data fixada pelo calendário eleitoral)
1) Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo (art. 14, §§ 10 e 11, da CF). Prazo de 15
dias da diplomação. Não precisa de prova pré-constituída, mas recomenda-se usar
as provas da IJE ou de procedimentos referentes à aplicação de multas eleitorais.
2.) Recurso Contra a Diplomação. O cabimento encontra-se no art. 2 6 2 ,1, II, III e IV. 0
abuso deverá basear-se no inciso IV. O prazo é de três dias, contados da diplomação.
A ção
Ação de impugnação ao mandato eletivo

de
(Art. 14, § 10 e 11, CF)

I m pugnação
• Governadores e
vice-governadores

ao
• Senadores 4--------- 1

M
• Deputado Federal

andato
i Inpugnantes
■ Deputado Estadual
Inpugrtantes • M P-PG E
■ Deputado distrital
• M P-PRE ■ P. Político
E lbtívo

• Partido Político • Coiígação


• Coligação • Candidatos
• Candidato

inpugnantes ]
MP - Promotor \
Partido Político í
Coligação |
________

Candidato !

Rito Processua
j (Art. 3fl até 14 da Lei Complementar na 64/90)
C

Marcos Ramayana • Direito Eleitoral 10a Edição • Capítulo 18 - Ação de Impugnação do mandato eletivo
apítulo

oo
18
C a p it u l o 19

V o ta çã o e A p u ração

A votação é considerada a segunda ampla fase do processo eleitoral.


Relembrando:
A I a fase = alistamento; 2a fase = votação; 3a fase = apuração e 4a fase = diplomação.
Identificamos ainda subfases, e, dessa forma, assim se apresentam a seguir,
inseridas dentro das quatro fases básicas apontadas pela construção doutrinária
e jurisprudencial, a saber:

I - ALISTAMENTO
1. Convenção para escolha dos pré-candidatos (art. 8 2 da Lei ns 9.504/97, entre
os dias 10 e 30 de junho do ano eleitoral).
2. Requerimento de Registro de Candidaturas (RRC, a rt 11 da Lei n9 9.504/97, período
até o dia 5 de julho do ano de eleição).
3. Propaganda Política Eleitoral (art. 36 da Lei n- 9.504/97, período oficial inicial
dia 6 de julho do ano de eleição).

II - VOTAÇÃO
Às 8 horas do primeiro domingo de outubro (dia da eleição) se inicia a votação
(Código Eleitoral, art. 144), Às 17 horas é o encerramento da votação (Código
Eleitoral, arts. 144 e 153). Depois das 17 horas se dá a emissão do boletim de
urna e início da apuração e da totalização dos resultados. Ver o art. I 2 da Lei
ne 9.504/97.

III - APURAÇÃO
4. Proclamação dos eleitos.
Lembramos a valiosa lição do eminente doutrinador Tito Costa, a saber: "A
proclamação é um ato que contempla todo o processo eleitoral, mas não comporta
qualquer tipo de recurso. Eventuais reclamações contra esse ato só poderão ser
M arcos R a m a y a n a __________________ D ir e it o E l e it o r a l

apresentadas, sob a forma de recurso adequado, ao ensejo da diplomação" (C o s t a ,


1996, p. 122). Ver, ainda, o capítulo sobre a ação de impugnação ao mandato eletivo
que ainda não está regulamentada no Brasil.
0 a r t 200 e §§ l s e 2~ tratam das impugnações e reclamações contra o relatório da
Comissão Apuradora dos Tribunais Regionais Eleitorais. As irresignações contra falhas
no relatório da apuração podem ser questionadas pelos candidatos, partidos políticos,
Ministério Público e coligações, e, depois, serão proclamados os eleitos na forma legal.
Eventuais impugnações e/ou recursos contra a proclamação dos eleitos não estão a
impedir ou obstaculizar a diplomação, pois no Recurso Contra a Diplomação podem ser
questionados os temas pertinentes ao cabimento deste recurso.
O doutrinador joel José Cândido leciona sobre as hipóteses em que se pode arguir
a nulidade da solenidade de diplomação, a saber:
a) quando realizadas por autoridade incompetente; b) quando o
diplomado, por qualquer razão, não devia receber o diploma (parcial);
c) quando o diploma não se originar da eleição válida (parcial); ou d)
quando o diploma for expedido em manifesta desconformidade com os
resultados da apuração (parcial) ( C â n d i d o , 2000, p. 232).

5. Prestação de contas das campanhas eleitorais (art. 29, incisos Iíí e IV da Lei
n2 9.504/97, encaminhamento até o trigésimo dia posterior à realização das
eleições.

IV - DIPLOMAÇÃO
Observa-se:. Os itens 1, 2, 3, 4 e 5 correspondem às subfases, que só existem com
as fases de votação, apuração e diplomação, ou seja, nos anos eleitorais. Nos anos
sem eleição, a regra é que a Justiça Eleitoral exerce mais propriamente a aplicação
rotineira da fase e elementos do alistamento eleitoral, competindo-lhe ainda o
julgamento das ações eleitorais defluentes da eleição que já ocorreu.
A competência da Justiça Eleitoral vai até a fase da diplomação dos candidatos e
prolonga-se no exame das ações propostas durante a fase do processo de propaganda
política eleitoral e votação, bem como em relação à ação de impugnação ao mandato
eletivo e ao recurso contra a diplomação.
0 ato da posse dos diplomados escapa à competência da Justiça Eleitoral, porque
demanda análise regimental e é de feição típica da esfera do Poder Executivo ou
Legislativo, controladores da atividade funcional do representante político. No
entanto, os atos de improbidade administrativa do mandatário político não estão
imunes ao controle jurisdicional, v.g., mandado de segurança, ação popular e ação
civil pública (Lei ne 8.429/92).
Como se percebe, o sistema de votação conjuga o voto por cédula e meio
eletrônico.

58 4
V otaçao e A pu ra ç ã o
C a p ít u l o 19

O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral disciplina por resolução os sistemas de


votação (cédula e eletrônico), organizando as regras eleitorais previstas nos arts.
114 a 156 do Código Eleitoral e nos arts. 59 a 72 da Lei nQ9.504/97, cuja leitura é
necessária.
A apuração é conceituada como a terceira máxima fase do processo eleitoral, que
se conecta de forma imediata com a votação.
Os arts. 158 até 214 do Código Eleitoral e 87 e 88 da Lei ns 9.504/97 disciplinam
a fase metodológica da apuração dos votos (leitura necessária), que deve sempre
traduzir a normalidade e legitimidade das eleições.
Sobre a apuração, trata o art. 158 da divisão de competências na Justiça Eleitoral,
in expressi verbis:

Art. 158. A apuração compete:


I. às Juntas Eleitorais quanto às eleições realizadas na Zona sob sua
jurisdição;
Ii. aos Tribunais Regionais a referente às eleições para Governador,
Vice-Governador, Senador, Deputado Federal e Estadual, de acordo com
os resultados parciais enviados pelas Juntas Eleitorais;
III. ao Tribunal Superior Eleitoral nas eleições para Presidente e Vice-
Presidente da República, pelos resultados parciais remetidos pelos
Tribunais Regionais.

19.1. REGRA S PRÁTICAS S O B R E O DIA DA ELEIÇÃO


1. A preferência para o eleitor votar encontra-se disciplinada no art. 143, § 2 a do
Código Eleitoral. Quais são os casos?
Terão preferência para votar os candidatos, os juizes, seus auxiliares e servidores
da Justiça Eleitoral, os promotores eleitorais e os policiais militares em serviço e,
ainda, os eleitores maiores de 60 anos, os enfermos, os portadores de necessidades
especiais e as mulheres grávidas e lactantes (Resolução TSE n9 22.712, art. 48,
§ 2^).
Atenção: as preferências também constam em resoluções específicas do Tribunal
Superior Eleitoral, decorrentes do poder normativo (art. 105 da Lei ns 9.504/97).
2. Quais os documentos oficiais de comprovação da identidade do eleitor?
a) título eleitoral; b) carteira de identidade ou documento de valor idêntico
(oficial de órgão público ou profissional, ex.: Cremerj, OAB etc.; c) carteira de
trabalho; d) modelo novo da carteira de habilitação.
Atenção: não são aceitas as certidões de nascimento ou casamento.
3. Se o eleitor se recusar a votar?
O presidente da seção eleitoral suspende a liberação da votação através de um
código especial, retendo ainda o comprovante de votação. Deve consignar o fato
em ata e assegurar o direito de voto ao eleitor até o término da votação.

585
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

4. Se o eleitor não concluir os votos em todos os candidatos?


Na hipótese de o eleitor deixar de confirmar um dos votos, cabe ao presidente da
seção admoestá-lo e solicitar que ele retorne para a cabine e conclua o voto.
Se o eleitor se recusar a concluir o voto, o presidente usará um código especial e
liberará a urna para votação de outro eleitor que estiver na fila. Neste caso, o voto é
nulo por não conclusão, mas deve1se entregar ao eleitor o comprovante de votação,
5. Qual o tempo de votação?
Não há definição precisa, mas subjetivamente é pelo prazo estritamente
necessário para indicar os números dos candidatos de sua preferência.
6. Qual o eleitor apto a votar?
Somente aquele de que constar o nome na folha de cotação ou caderno de votação
de determinada urna eletrônica da seção eleitoral.
7. Qual o eleitor impedido de votar?
0 eleitor que não figure no caderno de votação ou no cadastro de eleitores da
seção. Nesta hipótese, é retido o título e o eleitor é orientado a encaminhar-se à
zona eleitoral para regularizar sua situação.
8. O eleitor analfabeto pode lançar sua assinatura de que forma?
Impressão digital ou assinatura no caderno de votação.
9. O que é eleitor com deficiências especiais?
Por exemplo, o eleitor sem braços ou o cego que não saiba ler pelo sistema Braille.
Nestes casos e em outros similares, é possível que o eleitor possa usar recursos
que o possibilitem a votar ou ser auxiliado por terceira pessoa de sua confiança,
10. Como agir na dúvida quanto à identidade do eleitor?
0 mesário ou juiz eleitor deverá seguir a regra do art. 147 do Código Eleitoral:

Art 147.0 presidente da mesa dispensará especial atenção à identidade


de cada eleitor admitido a votar. Existindo dúvida a respeito, deverá
exigir-lhe a exibição da respectiva carteira, e, na feita desta, interrogá-lo
sobre os dados constantes do título, ou da folha individual de votação,
confrontando a assinatura do mesmo com a feita na sua presença pelo
eleitor, e mencionando na ata a dúvida suscitada.
§ l 9 A impugnação à identidade do eleitor, formulada pelos membros da
mesa, fiscais, delegados, candidatos ou qualquer eleitor, será apresentada
verbalmente ou por escrito, antes de ser o mesmo admitido a votar.

O promotor eleitoral poderá impugnar, mas raramente atuará na seção eleitoral,


até porque, no dia da eleição, costuma-se fiscalizar o delito do art. 39, § 5 e, II, da Lei
ne 9.504/97.
A identificação do eleitor pode ser feita, segundo posição do Tribunal Superior
Eleitoral através de título eleitoral ou de documento público de identificação
(carteira de identidade, identidade funcional, carteira profissional - OAB, CRM etc. -,
carteira de trabalho, certificado de alistamento militar, certificado de reservista,
carteira nacional de habilitação ou outro documento que comprove sua identidade).

58 6
V otação e A puração
C a p ít u l o 19

O importante é a apresentação de documento idôneo e comprobatório da


identidade, mas o nome deve constar do caderno de folhas de votação e da urna
eletrônica.
11. Quais as proibições dentro da seção eleitoral?
a) Uso de aparelhos celulares.
b) Os servidores da Justiça Eleitoral, os mesários e os escrutinadores não podem
vestir ou pôr objetos que contenham propaganda de partido político, coligação
ou candidato.
Quanto aos fiscais e delegados de partidos políticos, permite-se a utilização
de vestes e crachás com o nome e sigla dos respectivos, mas é vedado o uso de
vestes que peçam votos aos eleitores.
0 eleitor pode usar camisas do candidato ou partido, inclusive portar bandeira
ou flâmula (permite-se o adesivo em veículos ou objetos). Todavia, é vedada
a aglomeração que possa caracterizar aliciamento ou manifestação coletiva,
cabendo aos órgãos policiais sob determinação judicial admoestarem o eleitor
e evitarem esta prática de coação e aliciamento e de manifestação tendente a
influir na vontade do eleitorado.
12. Quanto ao transporte de eleitores, quais são as regras?
Neste sentido, destacamos o art. 5 9 da Lei n9 6.091/74:

Art. 5S Nenhum veículo ou embarcação poderá fazer transporte de


eleitores desde o dia anterior até o posterior à eleição, salvo:
I. a serviço da Justiça Eleitoral;
II. coletivos de linhas regulares e não fretados;
III. de uso individual do proprietário, para o exercício do próprio voto
e dos membros da sua família;
IV. o serviço normal, sem finalidade eleitoral, de veículos de aluguel não
atingidos pela requisição de que trata o art. 2~.

13. E a deficiência no transporte, qual a regra?


A resposta está no art. 69 da Lei n- 6.091/74:

Art. 6e A indisponibilidade ou as deficiências do transporte de que trata


esta Lei não eximem o eleitor do dever de votar.
Parágrafo único. Verificada a inexistência ou deficiência de embarcações
e veículos, poderão os órgãos partidários ou os candidatos indicar à
Justiça Eleitoral onde há disponibilidade para que seja feita a competente
requisição.

14. Pode-se fornecer refeições a eleitores em zonas rurais?


A resposta encontra-se nos artigos infra indicados da Lei n° 6.091/74,

587
M a r c o s R am ayam a D ir e it o E l e it o r a l

Art. 9S É facultado aos Partidos exercer fiscalização nos locais onde


houver transporte e fornecimento de refeições a eleitores.
Art, 10. É vedado aos candidatos ou órgãos partidários, ou a qualquer
pessoa, o fornecimento de transporte ou refeições aos eleitores da zona
urbana.

15. E quanto à Lei Seca?


Na verdade, o secretário de Segurança Pública nos Estados deve publicar portaria
suspendendo a venda de bebidas alcoólicas de qualquer espécie pelo período de
24 horas, a partir das 18h do dia anterior até às 18h do dia da eleição.
Sobre o assunto, o fato penalmente relevante pelo descumprimento da ordem
pode ser amoldado na figura do art. 347 do Código Eleitoral:

Art. 347. Recusar alguém cumprimento ou obediência a diligência,


ordens ou instruções da Justiça Eleitoral ou opor embaraços à sua
execução:
Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e pagamento de 10 (dez)
a 20 (vinte) dias-multa.

O tipo penal é norma penal em branco em sentido restrito, cuja fonte de


colmatação é heterogênea; portanto, as instruções do Tribunal Superior Eleitoral,
na verdade, preenchem o vazio da ordem. Admite-se até que as ordens estejam
em portarias do Secretário de Segurança Pública, como no caso da proibição
de venda de bebidas alcoólicas na véspera e no dia da eleição. Particularmente,
entendemos que estas portarias não podem colmatar o tipo penal, exceto se
foram expedidas pela própria Justiça Eleitoral. Impõe-se o reconhecimento da
atipicidade, podendo o bêbado responder pelo delito do art. 297 do Código
Eleitoral e a contravenção penal do art. 62 da LCP.
De toda sorte, a ordem deve ser direta e revestir-se de legalidade formalística e
substancial, sendo o agente mandante da ordem juiz eleitoral ou servidor público
eleitoral.
A ordem genérica não é típica.
O crime de desobediência (CP, art. 330) só se configura se a ordem
legal é endereçada diretamente a quem tem o dever legal de cumpri-la
( STJ - 5a T. - HC n9 10.150 - Rei. Edson Vi diga! - j. 7.12.1999 - RSTJ
^ 128/431).
16. Quais as regras de instalação da seção eleitoral?
Sobre o assunto, disciplina o art. 142 do Código Eleitoral:

Art. 142. No dia marcado para a eleição, às 7 (sete) horas, o presidente


da mesa receptora, os mesários e os secretários verificarão se no lugar
designado estão em ordem o material remetido pelo juiz e a urna
destinada a recolher os votos, bem como se estão presentes os fiscais
de partido.

588
V o tação e A pu ração C a p ít u l o 19

0 presidente da mesa imprime a zerézima, que é assinada por ele e pelo primeiro
secretário, bem como pelos que desejarem, inclusive o fiscal do partido político.
Se o presidente não comparecer até às 7h e 30min, assumirá a presidência o
primeiro mesário; na sua falta ou impedimento, o segundo mesário, um dos
secretários ou suplente ( art. 123, § 2 q, do CE).
17. Qual o prazo de dispensa do serviço público ou particular, em relação aos
mesários, membros da Junta Eleitoral e pessoas que trabalharam nas eleições?
0 art. 98 da Lei ns 9.504/97 disciplina que não haverá prejuízo ao salário e a
dispensa é pelo dobro dos dias de convocação.
18. Qual o horário de início da votação?
O art. 1 4 4 do Código Eleitoral diz que o seu início é às 8h e término, às 17h,
sendo entregues senhas numeradas a todos os eleitores presentes, começando
pelo último da fila, sendo que os títulos ficam retidos.
Só podem votar os eleitores que estiverem liberados com os nomes no caderno
de votação da própria seção (Lei n9 9.504/97, art. 62).
19. Qual o procedimento de votação?
a) O eleitor posta-se na fila organizada pelo secretário.
b) O eleitor apresenta o título quando ingressa. Neste momento, o fiscal poderá
impugnar a identidade do mesmo, consígnando-se em ata.
c) Estando em ordem a conferência do nome com o número do título no caderno
de votação, o presidente da seção solicita que o eleitor aponha sua impressão
digital (analfabeto) ou assine.
d) Autoriza-se o eleitor a votar.
e) Observa-se na tela de votação o disposto no art. 59, § l s, da Lei n9 9.504/97,
ou seja, aparece a fotografia do candidato(a), a sigla do partido e o número do
mesmo.
f) É exibida na tela, primeiramente, o candidato da eleição proporcional e, em
seguida, da eleição majoritária (art. 59, § 3 2, da Lei n2 9.504/97).
20. Iniciada a votação, pode-se dar nova carga na urna?
Não, salvo se for urna de contingência.
21. Se a urna falhar durante a votação, o que deve ser feito?
0 presidente da mesa, à vista dos candidatos e fiscais, deve desligar e religar a
urna com chave própria.
Persistindo a falha, deve-se solicitar a presença de técnico da equipe do Tribunal
Regional Eleitoral, que deverá: a) desligar a um a e romper os lacres do disquete e
do cartão de memória da votação; b) abrir os compartimentos da urna eletrônica
e retirar o disquete e o cartão de memória com os dados da votação e inseri-los
na urna substituída (contingência).
Em seguida, liga-se a urna substituída, digitando-se o código de reinicio e
fechando-se os compartimentos.
Logo após, colocam-se os lacres pelo juiz eleitoral, componentes da mesa e fiscais
presentes.

589
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Por fim, lacra-se a urna defeituosa e rem ete-se a mesma à junta eleitoral.
22. E se falhar a urna de contingência?
A equipe técnica deverá: a) com a urna eletrônica desligada, recolocar o disquete
na urna original e substituir o cartão de memória de votação pelo cartão de
memória de contingência, verificando o envelope sem violações na presença de
fiscais e mesários; b) ligar a urna original, digitar o código de reinicio da votação
e, se operar corretamente, fechar os compartimentos com lacre previamente
assinado pelo juiz eleitoral ou, na impossibilidade, pelo presidente da seção
eleitoral com a presença de fiscais de partidos; c) colocação do cartão de
memória de votação danificado em envelope específico e inviolável, que deverá
ser lacrado e encaminhado à junta eleitoral; d) lacra-se a urna de contingência,
remetendo-se a mesma à junta eleitoral.
ATENÇÃO:-não tendo êxito os procedimentos de contingência, deve-se:
a) colocar o cartão de memória de votação original na urna defeituosa;
b) a urna eletrônica original deve ser lacrada e remetida, ao final da votação, à
junta eleitoral;
c) o presidente deverá seguir a votação por cédulas (sistema tradicional}. Este
sistema vai até a conclusão final dos trabalhos de votação na seção eleitoral;
d) a urna de contingência é lacrada e fica sob a guarda da equipe de técnicos;
e) o cartão de memória é colocado em envelope específico e remetido para a junta
eleitoral.
Observação: todo o incidente deverá ser registrado em ata.
23. Como se dá o voto do primeiro eleitor?
Ele é convidado a aguardar, junto à mesa receptora, que o segundo eleitor
conclua a votação. Se o eleitor não concluir o voto, ocorrendo falha impeditiva de
continuidade do sistema eletrônico, o primeiro eleitor votará por cédula, e o voto
eletrônico é considerado insubsistente.
24. E se falhar a urna eletrônica, faltando apenas um eleitor?
A votação será encerrada, entregando-se ao eleitor o comprovante de quitação e
o fato constará em ata.
25. Quais as regras quanto ao encerramento da votação?
a) Utiliza-se código próprio para encerrar a urna;
b) emissão do boletim de urna em cinco vias e um de justificativa;
c) assinatura de todos os boletins pelo primeiro secretário e por fiscais de partidos
políticos, estes últimos se estiverem presentes;
d) em issão de até dez cópias extras de Bus, entregando-se oito cópias aos
fiscais de partidos políticos, uma cópia para eventual jornalista e uma para o
representante do Ministério Público;
e) retirada do disquete da urna e relacre do compartimento do disquete, colocando
o mesmo numa embalagem própria;
f) desligar a chave da urna e a tomada;

590
V ota çã o e A pu ra ç ã o C a p ít u l o 19

g) id entificar os eleitores faltosos, anotando no caderno de votação com a


observação “não compareceu";
h) lavrar a ata da eleição com as seguintes observações;
1. nomes dos membros da mesa que compareceram e estiveram presentes
até o fina! da votação, inclusive eventuais nomeados ad h oc;
2. nomes dos fiscais que compareceram;
3. relatar a causa do retardamento no início da votação, acaso tenha
ocorrido o fato;
4. registrar os protestos e impugnações;
5. registrar a causa eventual de interrupção da votação;
6. entregar ao presidente da junta eleitoral (juiz de Direito), ou pessoa
designada pelo mesmo, mediante recibo, a ata da eleição, os boletins
de urna, o disquete acondicionado e lacrado, o relatório da zerézima,
o boletim de justificativa eleitoral, o caderno de votação e demais
documentos;
7. devolver a urna acondicionada em embalagem própria.
26. Como se dá a distribuição dos boletins de urna?
a) Um deles fica afixado na seção;
b) três outras vias são encaminhadas com o disquete à junta eleitoral;
c) o outro boletim é entregue ao representante do partido político, se estiver
presente.
No total, são cinco boletins de urna.
27. Qual é a destinação dos três boletins entregues à junta eleitoral?
a) Um deles é entregue ao representante do comitê interpartidário; se ele não
estiver no local, guarda-se no cartório;
b) outro é afixado na sede da junta eleitoral (cartório) para que os interessados
possam fazer as anotações;
c) o outro fica em cartório com o disquete.
Atenção: a não expedição de boletim de urna é crime eleitoral (art. 313 do
Código Eleitoral e art. 179, § 9 9, do mesmo diploma legal, e art. 68, § 2 Ü, da Lei
ne 9.504/97).
O boletim eleitoral é um meio de prova que serve de comparação entre o número
de votos e eleitores constantes do caderno de votação que efetivamente votaram.
As vias dos boletins de urna são assinadas, inclusive pelos promotores eleitorais.
28. Os partidos políticos podem credenciar fiscais?
Sim, a base legal está nos arts. 131 do Código Eleitoral e 65 da Lei nô 9.504/97.
Neste caso, podem nomear dois delegados para cada município.
Perante as mesas receptoras, podem fiscalizar os próprios candidatos, os fiscais
de partidos políticos e os advogados dos candidatos.
O fiscal só pode votar na seção eleitoral de inscrição do seu título.
Os fiscais podem participar da auditoria das urnas, através do sistema de
amostragem ( art. 66, § 6-, da Lei n- 9.504/97).

59 1
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

29. Polícia dos trabalhos eleitorais.


É incumbência do presidente da mesa receptora e do juiz eleitoral a polícia dos
trabalhos eleitorais, não podendo nenhuma autoridade estranha à mesa intervir,
sob pretexto algum, no seu funcionamento.
0 presidente da mesa, durante os trabalhos, é a autoridade superior, podendo retirar
do recinto ou do edifício quem não guardar a ordem e a compostura devidas ou estiver
praticando qualquer ato atentatório à liberdade eleitoral.
A força pública ficará a cem metros da seção eleitoral, não podendo se aproximar
do lugar de votação ou nele ingressar sem ordem do presidente da mesa.

19.2. REGRAS GENÉRICAS S O B R E ATOS PREPARATÓRIOS,


RECEPÇÃO DE VOTOS, GARANTIAS ELEITORAIS, TOTALI2AÇÃO,
FISCALIZAÇÃO, AUDITORIA E ASSINATURA DIGITAL
a) É vedada a nomeação para serem mesários na mesma seção eleitoral de:
a) parentes em qualquer grau; b) servidores da mesma repartição pública; e
c) pessoas da mesma empresa privada. No entanto, o TSE firmou em devido
precedente (Res. ne 22.154/06), que não estão incluídos na vedação, os servidores
de dependências diversas do mesmo ministério, secretaria de estado ou de
município, autarquias, fundação pública de qualquer dos entes federativos, nem
os de sociedade de economia mista ou empresa pública, e, ainda, os serventuários
de cartórios judiciais e extrajudiciais.
b) O TSE fixou entendimento pela Res. ns 22.154/06, no art. 19, que, até 30 (trinta)
dias antes da eleição, os portadores de necessidades especiais podem solicitar à
Justiça Eleitoral o desejo de votar em seção mais adequada às suas necessidades e
restrições físicas, podendo, dentro do possível, serem providenciadas instalações mais
adequadas, por exemplo, evitando aos deficientes físicos o exercício do voto em seções
que sejam situadas em andares de prédios, cujo acesso tenha que ser por escadas, sem
elevadores.
c) Com o julgamento dos pedidos de registro de candidatos, e visando à preparação das
urnas eletrônicas, os partidos políticos, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados
do Brasil poderão acompanhar a geração das mídias (cartões de memória para carga
das urnas e votação e disquetes das urnas). Trata-se de regra já adotada pelo TSE,
visando dar ampla transparência ao processo eletrônico de votação e apuração dos
votos.
Neste procedimento de geração das mídias, lavra-se uma ata circunstanciada e de
acordo com as especificações técnicas tratadas pela resolução específica do TSE.
A participação do Ministério Público e demais entidades é medida que visa a
garantir uma conferência por critério de amostragem dos dados constantes das
urnas eletrônicas, especialmente em função da carga dos dados inseridos e da
lacração oficial.
d) Os documentos oficiais para a comprovação da identidade do eleitor,
independentemente do título eleitoral, são: 1) carteira de identidade ou

592
V ota çã o e A puração C a p ít u l o 19

documento de valor equivalente (identidades funcionais); 2) carteira de trabalho;


3) carteira de reservista; 4 ) carteira nacional da habilitação com a devida
fotografia. O TSE não admite o uso de certidões de nascimento ou casamento.
e) 0 eleitor só é admitido a votar se seus dados figurarem no cadastro de eleitores da seção,
constante da correspondente urna eletrônica Havendo dúvida sobre a identidade, os
mesários podem reter o título eleitoral apresentado e orientar o eleitor no sentido de
comparecer ao cartório da zona eleitoral
f) É admitido o uso de instrumentos que possam de alguma forma auxiliar o eleitor
analfabeto a votar, mas a Justiça Eleitoral não é obrigada a fornecê-los. Exemplo,
o normógrafo.1
g) O Tribunal Superior Eleitoral possui precedente permitindo ao eleitor portador
de necessidades especiais, contar com o auxílio de pessoa de sua confiança para
exercer o voto. Neste caso, o presidente da seção autoriza que o terceiro ajudante
ingresse com o eleitor na cabine de votação, inclusive para digitar os números.
Neste sentido, Res. TSE n9 22.154/06, art. 52.
Na hipótese, o eleitor não pode ser auxiliado por pessoas que estejam trabalhando na
Justiça Eleitoral, ou ligadas a partidos políticos e coligações.
h) Os fiscais de partidos políticos, no dia da votação, estão impedidos de usar
vestimentas em geral que caracterize pedido de voto, mas podem portar o nome
e a sigla do partido político em suas vestes e crachás.
i) Os boletins de urna são assinados pelo presidente e integrantes da junta eleitoral,
e, se presentes, pelos fiscais dos partidos políticos, coligações e representante do
Ministério Público.
j) As resoluções eleitorais permitem a ampla fiscalização pelos partidos políticos,
coligações, Ordem dos Advogados do Brasil e Ministério Público dos trabalhos de
transmissão e totalização dos dados, inclusive a garantia de acesso antecipado
aos programas de computador desenvolvidos pelo Tribunal Superior Eleitoral e,
ainda, os pedidos de verificação das assinaturas digitais dos sistemas instalados
nas urnas.
k) As decisões das juntas eleitorais sobre anulações, apuração em separado, e da
não apuração dos votos de determinada seção eleitoral, devem ser registradas
em opção especial do sistema de totalização.

19.3. VOTO.2 E S P É C IE S
19.3.1. Voto censitário
É espécie de voto que se baseia no statu s econômico do cidadão. No Brasil, no
século XIX, se exigia prova de renda mensal para votar.
Atualmente não é adotado.

1 Régua própria para inserção de letras.


2 O voto é um instrumento do sufrágio. Ferramenta do exercício da democracia, constitui-se em um tipo especial de
procuração que o eleitor aciona a favor do candidato que escolheu dentro da organização política franqueada

593
M a r c o s R a m a y an a D ir e it o E l e it o r a l

19.3.2. Voto capacitário


Tipo de voto que só pode ser exercido por pessoas com certos níveis de instrução.
0 analfabeto está excluído. Este não é adotado, mas o foi na época da Constituição
Imperial de 1824.

1 9.3.3. Voto fem inino


Sobre o assunto é relevante o destaque: "A aceitação do voto feminino foi outra
grande vitória do direito eleitoral, que só veio a se generalizar no século XX, com
o grande movimento, que ainda prossegue, da liberação social da mulher. Apesar
de nos E.UA. e na Inglaterra se ter processado desde cedo (início do séc. XIX)
um movimento em favor do direito de voto para as mulheres, só tardiamente
esse direito foi alcançado, e não primeiramente em nenhum desses países: Nova
Zelândia (1893), Austrália (1902), Finlândia (1906) e Noruega (1913). Nos E.U.A.,
foi a participação das mulheres nas campanhas pela abolição da escravatura que
fez surgir o movimento em favor do sufrágio feminino. Elizabeth Cady Stanton
(18 1 5 -1 9 0 2 ) e Lucretia Mott (1 7 9 3 -1 8 8 0 ) propugnavam que, tal como os negros,
os direitos da mulher deveriam ser reconhecidos”3

1 9.3.4. Voto se creto


É o adotado pelo Código Eleitoral, art. 103, sendo considerado pelo nosso sistema
constitucional vigente como cláusula pétrea, art. 60, § 4 Ô, inciso II, da Constituição
Federal. Não é permitido a terceiros observar em quem o eleitor vota, nem tampouco
exigir-lhe a revelação de sua preferência, sob pena de nuiidade da votação.
Diz o art. 103 do Código Eleitoral:

O sigilo do voto é assegurado mediante as seguintes providências:


I. uso de cédulas oficiais em todas as eleições, de acordo com modelo
aprovado pelo Tribunal Superior;

O Tribunal Superior Eleitoral, ao elaborar o Manual para Juizes e Promotores


Eleitorais, assim disciplinou para garantir o sigilo do voto durante a instalação da
urna eletrônica:
Durante a instalação, observar os seguintes procedimentos:
- retirar a urna eletrônica da caixa, guardando-se a embalagem;
- verificar se a urna eletrônica corresponde à zona e à seção. Para isso, deve-se
conferir o número da etiqueta na caixa com o que está impresso no relatório
sobre o terminal do eleitor. Caso esses números não sejam os mesmos, o
presidente comunicará a irregularidade imediatamente ao juiz eleitoral;

3 Cf. vasto ensinamento resumido nas páginas 3.695-96 da Enciclopédia Mirador Intemacionai. São Paulo: Antonio
Houaiss (Editor), 1976.

5 94
V ota çã o e A pu ração C apítulo 19

-
posicionar o microterminal sobre a mesa do presidente;
-
posicionar o terminal do eleitor e a cabina sobre uma mesa, de tal forma que
seja resguardado o sigilo do voto;
- conectar a urna eletrônica na tomada da sala, independentemente da voltagem
do local, ou, se for o caso, conectá-la à bateria externa.
Para garantir o sigilo do voto, o primeiro eleitor a votar na seção deverá ser
convidado a permanecer no local até que o segundo eleitor conclua sua votação.

II. isolamento do eleitor em cabina indevassável para o só efeito de


assinalar na cédula o candidato de sua escolha e, em seguida, fechá-la;

0 isolamento é conditio sin e qua non para a lisura do processo de votação.


Os mesários ou os fiscais não podem ajudar o eleitor a votar, entrando na cabine
de votação. Se o isolamento for violado, a arguição deve constar em ata para fins de
declaração de nulidade da votação. Admite-se auxílio apenas aos deficientes.
0 art. 312 do Código Eleitoral considera crime a tentativa ou violação ao sigilo
de voto. Trata-se de delito de atentado em que a pena da tentativa é igual à do crime
consumado.
Embora o inciso faça menção à votação manual, o princípio do isolamento é
garantido como cláusula pétrea na Carta Magna (art. 60, § 4 9, inciso II).
O sistema eletrônico estipula um prazo limite para o exercício do voto após a
habilitação do eleitor.

III. verificação da autenticidade da cédula oficial à vista das rubricas;

No voto manual as cédulas devem conter as rubricas dos mesários (duas


rubricas). A falta de uma rubrica é nulidade relativa do voto que será apurado.

IV. emprego de urna que assegure a inviolabilidade do sufrágio e seja


suficientemente ampla para que não se acumulem as cédulas na ordem
em que forem introduzidas.

O artigo veda o uso de urna de lona inapropriada para o número de votantes. Os


votos devem ficar acondicionados de forma a evitar sua visibilidade para o lado de
fora da urna.

19.3.5. Voto indireto


O eleitor é dividido em categorias: por exemplo, um primário que escolhe e confere
a outro eleitor secundário a potencialidade de exercer o voto na eleição final.
Destacamos: "O que se chama no Brasil voto indireto, processo que serviu para
a eleição de alguns presidentes da república, como Deodoro da Fonseca, Getulio
Vargas e os eleitos a partir de 1964, de fato não corresponde àquela denominação.

595
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Nos casos brasileiros referidos, trata-se, na verdade, de voto direto oriundo de um


colégio eleitoral especializado. Existe pelo menos um caso de voto direto em dois
graus, que é aquele que rege as eleições de presidente da república nos E.U.A. 0 voto
é direto, porque o eleitor presidencial não pode alterar a comissão que recebeu do
eleitor primário, mas é em dois graus, porque, formalmente, a eleição presidencial
só se completa com a reunião e votação do grupo dos eleitores eleitos pelo voto
primário."4
Em suma: os cidadãos, primeiramente, escolhem os representantes dos diversos
Estados que integram a Federação (União), e são eles que, em um segundo momento,
formando uma espécie de colégio eleitoral, elegem o presidente dos E.U.A.

19.3.6. Voto m ajoritário


Prioriza-se a pessoa do candidato. Trata-se de voto personalíssimo, sendo eleito
o candidato que obtiver o maior número de votos em relação aos competidores.
Aconselhamos que o leitor consulte a abordagem sobre o sistema eleitoral
majoritário no capítulo especial.

19.3.7. Voto proporcional


Objetiva contemplar as minorias na disputa eleitoral, bem como valorizar mais
o quociente partidário e, por via direta, os próprios partidos políticos. Serve para
as eleições de deputados e vereadores. Indicamos consulta ao capítulo específico
sobre os sistemas eleitorais.
Um dos pioneiros na idealização desse voto no século XIX foi o inglês Stuart Mill,
sendo esse o tipo de sistema eleitoral adotado no Brasil. Ver arts. 106 a 109 do
Código Eleitoral.

1 9.3.8. Voto de lista aberta


L ista a b e r t a - "O eleitor pode alterar a ordem dos candidatos, incluir nomes
existentes noutras listas e até introduzir novos nomes, compondo a que será a 'sua
lista' a partir das que lhe foram propostas {p an och ag e). Estas variantes possibilitam
diferentes formas de voto: m ú ltip lo - o eleitor tem vários votos ou tantos quantos
os deputados a eleger; m ú ltip lo lim ita d o - tem menos votos do que o número
de deputados a eleger; a lte r n a tiv o - pode indicar 2a*, 3a* ou 4a5 preferências;
cu m u lativ o - dispõe de vários votos juntando-os num só candidato; d u p lo - tem
dois votos, sendo um para o candidato do seu partido no círculo eleitoral e outro
para a lista de partido a nível nacional ou regional."5

4 Op. cit., pp. 3.696-7.


5 Dicionário de Legislação Eleitoral. Lisboa: Comissão Nacional de Eleições, 1995, p. 380.

596
V otação e A pu ração C a p ít u l o 19

19.3.9. Voto em lista fechada


Por exemplo. "Em Portugal, o voto é expresso e m lis ta s fe c h a d a s e b lo q u e a d a s ,
o mesmo é dizer que limitam o eleitor a assinalar o quadrado da sua preferência. A
opção por listas fechadas decorre não do texto constitucional, mas da lei ordinária,
que corporiza conseqüência do monopólio partidário da representação política. As
direções partidárias escolhem e ordenam os candidatos. Ao eleitor não é facultada
a intervenção nessa fase, ficando limitado a posterior mera ‘ratificação'. Existem
outras modalidades de listas de partidos. Permitem ao eleitor expressar a sua
preferência na seleção dos candidatos: a) L ista f e c h a d a e n ão b lo q u e a d a - 0
eleitor pode alterar a ordem dos candidatos, o que possibilita a expressão mais fiel
das suas opções..."6

19.3.10, Voto eletrônico


0 Egrégio Tribunal Superior Eleitoral disciplina que: "0 conjunto da urna
eletrônica é formado pelo terminal do eleitor e pelo microterminal. Convencionou-
se denominar o terminal do eleitor de urna eletrônica."
Registramos algumas conclusões de estudos realizados pela Unícamp, sobre a
urna eletrônica.
Segundo a fonte apontada, o sistema eletrônico de votação é seguro e confiável;
complexo; é construído em um microcomputador de arquitetura da IBM-PC; possui
matriz de partidos, candidatos e eleitores; armazenam-se dados em memória não
volátil, fla s h cards, que permite, em caso de falhas, a retomada da aplicação do
ponto de interrupção sem perda de informações; e não são armazenados dados que
vinculem o eleitor ao voto.
Vê-se, portanto, que no Brasil o sistema é confiável e seguro, mas é necessário o
aprimoramento de técnicas científicas para a consolidação do processo de votação.

1 9 .4 . DAS S E Ç Õ E S ELEITORAIS
Disciplina o a rt. 1 1 7 do Código Eleitoral:

Art. 117 As seções eleitorais, organizadas à medida que forem sendo


deferidos os pedidos de inscrição, não terão mais de 400 (quatrocentos)
eleitores nas capitais e de 300 (trezentos) nas demais localidades, nem
menos de 50 (cinqüenta) eleitores.

As seções eleitorais são os locais de votação. Não são órgãos da Justiça Eleitoral,
uma vez que o art. 118 da Carta Magna considera órgãos o Tribunal Superior
Eleitoral; os Tribunais Regionais Eleitorais; os juizes eleitorais e as juntas eleitorais.

6 Ibidem, p. 380.

597
M a r c o s R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Segundo o art. 11, parágrafo único, da Lei n9 6.996, de 7 de junho de 1982: "Cada
seção eleitoral terá, no mínimo, duas cabinas.”
Compete ao juiz eleitoral titular da zona eleitoral dividi-la em seções eleitorais,
conforme preceitua o art. 35, inciso X, do Código Eleitoral. Somente o juiz eleitoral,
mediante prévio estudo das peculiaridades locais, poderá melhor avaliar a
aproximação do eleitor com a seção eleitoral levando em consideração a residência
ou moradia.
Dentre as competências administrativas do juiz eleitoral, encontra-se a
designação dos locais das seções eleitorais [CE art. 35, inciso XIII). 0 prazo fixado
para a publicação dessas designações é de 60 (sessenta) dias antes do pleito eleitoral
(primeiro turno).
Conforme visto anteriormente: “Cada Seção Eleitoral terá, no mínimo, duas
cabinas" (Lei n9 6.996/85, art. 11, parágrafo único).
O Código Eleitoral instituído pelo Decreto ns 21.076, de 24 de fevereiro de 1932,
no art. 64, tinha idêntica redação. Por mesa receptora entende-se o local em que o
eleitor vai votar, sendo formada pelo conjunto de servidores públicos temporários
da Justiça Eleitoral (mesários).
No dia da votação, às sete horas e trinta minutos, a mesa receptora de votos efetua
uma operação nas urnas eletrônicas, ou seja, a zerésima, emitindo um relatório.
Para este ato são convocados fiscais e delegados dos partidos e coligações. Com a
presença das partes envolvidas; caso alguma falha seja detectada, será apontada
através de apresentação de impugnação, propiciando a sua correção ou, até mesmo,
a substituição das urnas eletrônicas. Assim é o entendimento do Tribunal Superior
Eleitoral (Acórdão n9 2.943, de 22.11.2001. Agravo de Instrumento n~ 2.943/SP.
Relator: Ministro Fernando Neves).

19 .5 . IMPUGNAÇÃO AOS MESÁRIOS


O art. 121 do Código Eleitoral disciplina esta questão, a saber:

Art. 121. Da nomeação da mesa receptora qualquer partido poderá


reclamar ao juiz eleitoral, no prazo de 2 (dois) dias, a contar da audiência,
devendo a decisão ser proferida em igual prazo.
§ l 9 Da decisão do juiz eleitoral caberá recurso para o Tribunal Regional,
interposto dentro de 3 (três) dias, devendo, dentro de igual prazo, ser
resolvido.

Entende-se que o recurso é o inominado. As razões devem ser apresentadas


dentro do mesmo prazo de interposição (prazo comum).
A legitimidade recursal abrange também as coligações, o Ministério Público
(Promotor Eleitoral) e os candidatos que disputam as eleições.

598
V ota çã o e A pu ra ç ã o C a p ít u l o 1 9

O recurso inominado não tem efeito suspensivo.


0 artigo foi modificado pelo art. 63 da Lei n2 9.504/97, alterando o prazo para
cinco dias de impugnação, sendo a decisão proferida nas 48 horas seguintes.

19.6. SA N ÇÕES AOS M ESÁRÍOS FALTOSOS


A contumácia dos mesários é verificada de forma reiterada em todas as eleições.
Na condição de agentes honoríficos, os mesários devem cumprir um múnus
público obrigatório e sem remuneração, sob pena de responderem por infração
administrativa e penal.
Sobre este tema disciplina o art. 124 do Código Eleitoral que:

Art. 124. O membro da mesa receptora que não comparecer no local, em


dia e hora determinados para a realização de eleição, sem justa causa
apresentada ao juiz eleitoral, até 30 (trinta) dias após, incorrerá na multa
de 50% (cinqüenta por cento) a 1 (um) salário mínimo vigente na zona
eleitoral, cobrada mediante selo federal inutilizado no requerimento em
que for solicitado o arbitramento ou através de executivo fiscal.
§ l 9 Se o arbitramento e pagamento da multa não for requerido pelo
mesário faltoso, a multa será arbitrada e cobrada na forma prevista no
art. 367.
§ 2e Se o faltoso for servidor público ou autárquico, a pena será de
suspensão até 15 (quinze) dias.
§ 39 As penas previstas neste artigo serão aplicadas em dobro se a mesa
receptora deixar de funcionar por culpa dos faltosos.
§ 4 S Será também aplicada em dobro, observado o disposto nos §§ l 9 e
2S, a pena ao membro da mesa que abandonar os trabalhos no decurso
da votação sem justa causa, apresentada ao juiz até 3 (três) dias após
a ocorrência.

O artigo trata do aspecto administrativo-eleitoral quanto à ausência do mesário


no dia da eleição. Cada turno eletivo deve ser analisado sob o aspecto da contumácia
voluntária.
A multa administrativa deve ser imposta, independentemente da análise do tipo
penal do art. 344 do Código Eleitoral. O art. 3 44 é crime de menor potencial ofensivo
e enseja a aplicação da transação penal (instituto despenalizador previsto no art. 76
da Lei n9 9.099/95).
Dessa forma, a multa administrativa, e a de origem penal (transação penal) são
sanções diversas. Não se confundem. São aplicáveis de forma autônoma. O juiz
eleitoral deverá instruir o cartório a autuar separadamente o procedimento penal e
o administrativo, pois o processo penal terá seguimento por rito próprio (CE, arts.
359 e seguintes).

599
M a r c o s R am a yan a D ir e it o E l e it o r a l

Existe corrente na jurisprudência que considera o fato apenas como infração


administrativa, sob o fundamento de que o Direito Penal deve ser aplicado residualmente,
quando existe sanção administrativa.7
A norma do art. 344 do Código Eleitoral não está revogada.
Não se pode olvidar que a contumácia de um mesário torna-se rapidamente motivo
de divulgação para os demais eleitores da comarca acarretando reiteradas faltas
nas eleições subsequentes e, por conseqüência, dificultando o trabalho da Justiça
Eleitoral.
Sobre muita eleitoral, vide Resolução TSE ns 21.975/ 04 nesta edição. Na
interpretação sistemática, ver os artigos: CE, art. 344; Res. TSE n~ 21.538/03,
a r t 85; e a Lei n- 5.143/66, que tratou da abolição do imposto do selo.

19.7. LOCAIS DE VOTAÇÃO. IMPUGNAÇÕES


Diz o art. 135 e §§ 7 9 a 9 9 do Código Eleitoral:

Art. 135. Funcionarão as mesas receptoras nos lugares designados pelos


juizes eleitorais 60 (sessenta) dias antes da eleição, publicando-se a
designação.
§ 7- Da designação dos lugares de votação poderá qualquer partido
reclamar ao juiz eleitoral, dentro de 3 (três) dias a contar da publicação,
devendo a decisão ser proferida dentro de 48 (quarenta e oito) horas.

O doutrinador Pinto Ferreira entende que a hipótese é de reclamação. Não há


dúvida, trata-se de reclamação.
Os legitimados são: Promotor Eleitoral e partido político. Os aspirantes a
candidato podem noticiar o fato aos partidos políticos, assim como qualquer eleitor.
A notícia poderá ser encaminhada ao juiz eleitoral, através do chefe de cartório ou
serventuário da Justiça Eleitoral, que deverá autuar o procedimento e submeter ao
exame do juiz eleitoral. O procedimento administrativo enseja promoção prévia do
promotor eleitoral.

89 Da decisão do juiz eleitoral caberá recurso para o Tribunal Regional,


interposto dentro de 3 (três) dias, devendo, no mesmo prazo, ser
resolvido.

O artigo adotou o prazo geral dos recursos eleitorais (art. 258 do Código
Eleitoral). O recurso é o inominado,

7 Ausência de comparecimento para compor mesa receptora de votos. Não configuração do crime previsto no art. 344do
Código Eleitoral, uma vez que prevista sanção administrativa, no art. 124 do mesmo código, sem ressalva da incidência
da norma de natureza penal. Entendimento reiativo ao crime de desobediência que também se aplica no caso, já que
constitui modalidade especial daquele. Acórdão n9 21, de 10.11.1998 - Recurso em Habeas Corpus 21 - Ciasse 23a/SP
(São Paulo). Relator: Ministro Eduardo Ribeiro. Recorrente: Dagmar de Oliveira. Advogados: Dr. Arnaldo Malheiros Filho
e outros. Recorrida: Procuradoria Regional Eleiíoral/SR Decisão: Unânime em dar provimento ao recurso.

600
V otação e A pu ra ç ã o
C a p ít u l o 1 9

9° Esgotados os prazos referidos nos §§ 72 e 8a deste artigo, não mais


poderá ser alegada, no processo eleitoral, a proibição contida em seu § 5a.

A matéria é sujeita à preclusão temporal. Não é questão constitucional (CE,


art. 259, parágrafo único). A alegação deve ser feita no prazo legal, sob pena de
preclusão.
Sobre preclusão incide a in terp retação do a rt, 2 5 9 do Código Eleitoral.
Significativa é a vedação da localização de seção eleitoral na propriedade
particular do candidato. Neste sentido é expresso o § 4 a do art. 135 do CE, in expressi
verbis:

§ 4 S É expressamente vedado o uso de propriedade pertencente a


candidato, membro do Diretório de partido, delegado de partido ou
autoridade policial, bem como dos respectivos cônjuges e parentes,
consanguíneos ou afins, até o 2a grau, inclusive.

Entendemos que o rol não é numerus clausus, pois tutela-se a lisura das eleições
e a igualdade de oportunidade nas campanhas eleitorais. A norma, primeiramente,
protege o princípio da igualdade material ou substancial. Assim, deve-se evitar a
instalação de seções eleitorais em igrejas, templos ou cultos que tenham celebrações
religiosas fomentadas por candidatos. Nesse sentido, destacamos:
Representação formulada pela Congregação Cristã do Brasil contra a
instalação em seus templos, de seções eleitorais. 0 Tribunal acolheu
a representação, determinando que os imóveis reservados a cultos
religiosos não sejam requisitados pela Justiça Eleitoral (TSE, Res.
ns 9.863, Peçanha Martins, BE 290, p. 430).
Atualmente a Lei n9 11.330/06, que alterou a Lei n9 9.504/97, expressamente,
no art. 24, inciso VIII, proibiu os partidos e candidatos de receber recursos ou
publicidade de "entidades beneficentes e religiosas".
Dessa forma, a localização de seção eleitoral em Igreja ou Templo de qualquer
culto, enseja a nuiidade da votação, pois é modalidade de vedação quanto à
aplicação de recursos nas campanhas eleitorais, considerando a inegável influência
do ambiente na diretriz do voto.
E ainda, significativa é a vedação do § 5 Qdo art. 135 do Código Eleitoral, confere-
se,

§ 5 S Não poderão ser localizadas seções eleitorais em fazenda, sítio ou


qualquer propriedade rural privada, mesmo existindo no local prédio
público, incorrendo o juiz nas penas do art. 312, em caso de infringência.

601
M a r c o s R a m a y an a D i r e i t o E leitoral

0 Tribunal Superior Eleitoral tem precedente de que a localização da seção


eleitoral em propriedade privada deve ser alvo de impugnação no prazo legal, sob
pena de ficar caracterizada nulidade de cunho relativo. Incide, portanto, a preclusão
temporal. Nesse sentido, Acórdão n- 10.780, de 8 de junho de 1989.
O art. 312 tipifica o crime de violação ao sigilo do voto. O sigilo do voto é
assegurado pelas regras dispostas no art. 103 do Código Eleitoral, além dessa
norma vedatória.
A localização da seção (local físico de instalação das urnas - mesa receptora)
deve ser criteriosamente escolhida, pois, em municípios do interior, os políticos
inescrupulosos se valem do expediente ilícíto, conseguindo a instalação de seções
em fazendas, sítios e propriedades dos próprios candidatos ou de cabos eleitorais.
O art. 73, inciso 1, da Lei nQ 9.504/97, veda que o servidor público ceda, em
benefício de candidato, partido político ou coligação, bens imóveis pertencentes
à administração, ressalvando-se o ato de convenção partidária. A violação a esta
regra enseja ato de improbidade administrativa eleitoral, cassação do registro ou
do diploma com a adoção da ação de investigação judicial eleitoral com base no
art. 22 da Lei-Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990; ação de impugnação ao
mandato eletivo (Lei Maior, art. 14, §§ 10 e 11) e recurso contra a diplomação (CE,
art. 262); além da questão atinente à análise da própria captação ilícita de sufrágio
(Lei n~ 9.504/97, art. 41-A).
Dessa forma, a arguição da ilegalidade deve ser feita no prazo legal, mas os
efeitos da conduta podem ser questionados nas ações acima aviventadas, pois a lei
deve proteger os abusos do poder econômico e/ou político e a lisura das eleições.
Normas de interpretação; CE, art. 299 - Dispõe sobre o crime de corrupção
eleitoral; Lei ns 6.091/74 - Veda o fornecimento de transporte e alimentação a
eleitores; e a Lei ne 9.504/97, art. 41-A - Trata da captação ilícita de sufrágio.

1 9 .8 . DOCUMENTOS EXIGIDOS PARA A VOTAÇÃO. PROIBIÇÃO


DE USO DE TELEFONE CELULAR E OUTROS APARELHOS NA
CABINE DE VOTAÇÃO.
A Lei 12.034/2009 inclui o art. 91~Ae o parágrafo único na Lei 9.504/97, tratando
do caráter obrigatório dos documentos no momento da votação e da proibição do
uso de aparelhos.
Ressaltamos.

"Art. 91-A. No momento da votação, além da exibição do respectivo título,


o eleitor deverá apresentar documento de identificação com fotografia.
Parágrafo único. Fica vedado portar aparelho de telefonia celular,
máquinas fotográficas e filmadoras, dentro da cabina de votação1'.

6 0 2
V ota çã o e A puração C a p ít u l o 1 9

A determinação legal é importantíssima, porque alcançará o objetivo de reduzir


a fraude do título falso.
No Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 2008 (Municipais) o Ministério
Público e a Justiça Eleitoral apreenderam 3 (três) títulos falsos na Cidade de Belford
Roxo, ou seja, a falsidade ideológica se materializava na existência de um título
formalmente verdadeiro mas com dados inseridos de eleitor inexistente em outros
cadastros de identidade.
O autor do crime falsificou a identidade e conseguiu obter o alistamento eleitoral.
No momento da votação o eleitor deverá apresentar o título e outro documento
oficial de identidade com fotografia, por exemplo, IFP, Certificado de Reservista,
carteira de motorista etc., não sendo aceitos documentos privados.
O parágrafo único do art. 91-A proíbe o uso de aparelhos que possam violar o
sigilo da votação, art. 103 do Código Eleitoral.
De fato, o sigilo no momento da votação se constitui em garantia firmada em
cláusula pétrea, art. 60,§4S, II, da Constituição Federal.
Assim, qualquer forma de controle por parte de terceiros (candidatos, cabos-
eleitorais e simpatizantes de campanha) quanto à manifestação de vontade do
eleitor, se caracteriza em nulidade dos votos da seção eleitoral (art. 220, IV, do
Código Eleitoral).
Saliente-se ainda sobre a possibilidade do agente que obriga o eleitor a fotografar
seu foto e mostrá-lo fora da seção ao cabo eleitoral interessado. Neste caso, sendo
o fato praticado por violência ou grave ameaça incide a figura típica do art. 301
do Código Eleitoral. Sem violência, pode-se enquadrar o agente ativo no delito do
art. 312 do Código Eleitoral. Se ocorrer compra de votos, ainda incide o art. 299 da
mesma lei.
O C.TSE já havia regulamentado a proibição contida no parágrafo único do
art, 91-A por resolução temporária, mas agora firma-se a necessidade de instrução
aos mesários da nova regra que objetiva evitar a influência na seção eleitoral.

19.9. VOTO DO ELEITOR EM TRÂNSITO PARA PRESIDENTE E


VICE-PRESID EN TE DA REPÚBLICA.
O Código Eleitoral foi acrescido do art. 233-A com a seguinte redação,

"Art.-233-A. Aos eleitores em trânsito no território nacional é igualmente


assegurado o direito de voto nas eleições para Presidente e Vice-
Presidente da República, em urnas especialmente instaladas nas capitais
dos Estados e na forma regulamentada pelo Tribunal Superior Eleitoral."
O eleitor em trânsito é aquele que se encontra fora do domicílio eleitoral,
ou seja, do local de votação. Por exemplo, Maria vota na Cidade do Rio
de janeiro, mas está no dia da eleição na Cidade de São Paulo. Ela não

603
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a i

precisará justificar ou pagar a multa, abrindo-se a possibilidade de


exercer o voto para Presidente e Vice-Presidente.

Com a nova regra não é restabelecido o voto chamado de 'em separado'. O art. 145
do Código Eleitoral permitia que determinados eleitores votassem em seções em
que não estivessem incluídos os seus nomes (voto em separado), por exemplo, o
Presidente da República poderia votar em qualquer seção eleitoral. Todavia, com o
surgimento da urna eletrônica inviabilizou-se esta possibilidade.
A nova determinação legal transfere ao C.TSE o poder regulamentar para
a expedição de resolução que contemple esta nova forma de voto que será
informatizada.
Na verdade, o voto em trânsito só é possível para as eleições de Presidente e
Vice-Presidente e desde que as urnas estejam instaladas nas capitais dos Estados.
Não contemplou a lei a possibilidade de seções no interior do Estado, assim, os
eleitores em trânsito devem estar habilitados nas respectivas urnas das Capitais.
A quantidade de eleitores que estarão em trânsito e exercerão o voto para
Presidente e Vice Presidente, só será previamente conhecida pela Justiça Eleitoral,
após a inseminação dos dados do eleitor nas urnas eletrônicas, até porque ocorrerão
ausências justificadas ou não nos dias das eleições (12 e 2 - turnos).
Esta nova modalidade de voto está vinculada à prévia habilitação do eleitor na
qualidade de eleitor em trânsito, o que significa que ele deverá procurar a Justiça
Eleitoral dentro do prazo fixado em lei (art. 91 da Lei das Eleições), transferindo
o seu título até 151 dias antes da eleição ( l e turno) para o cadastro especial do
Tribunal Regional Eleitoral em determinada Capital do Estado. Outro prazo
poderá ser fixado pelo TSE através de resolução específica. Cada Estado terá o seu
arquivo especial dos eleitores que se enquadram nesta qualidade. Não se trata de
transferência definitiva, mas provisória.
A finalidade da lei em permitir o voto para os eleitores em trânsito enseja
aprimoramentos na área da informática, mas dificilmente este tipo de voto poderá ser
verificado por sistema de batimento, porque mesmo que o eleitorvote em duas Capitais,
por exemplo, Rio de Janeiro e São Paulo, o voto não será desconsiderado, mas apenas
o eleitor poderá ser punido. Assim, torna-se mais adequada o sistema que programe a
prévia transferência do título para a seção da Capital criada especialmente para esta
finalidade, como se dá por similitude com a urna de justificação.
Não se trata propriamente do voto em separado, mas de um voto de circulação
tem porária que compreende uma tran sferên cia provisória do título p ara a urna
especial. Terminada a eleição, o eleitor retorna para a sua zona e seção eleitoral de
origem. Ele não abre mão de forma definitiva da sua inscrição na origem, mas apenas
por um período de tempo suficiente para exercer o voto fora de sua zona eleitoral.
Faculta-se ao eleitor, transferir o título temporariamente. 0 voto é obrigatório para
o eleitor neste tipo de transferência.

604
V ota çã o e A pu ração C a p ít u l o 1 9

Por fim, nada impede que o eleitor do Ceará que esteja em circulação pelo Rio
Grande do Norte possa votar na seção localizada na cidade de Natal, e ainda se
na véspera da eleição ele viajar para o Rio de Janeiro poderá apenas justificar a
ausência, mas não votar nesta última cidade, porque a transferência provisória
do título ocorreu dentro do calendário eleitoral (prazo legal) e em obediência às
normas expedidas pela Justiça Eleitoral.
Como se nota, a lei objetivou alcançar eleitores em circulação pelo País e que
por diversas razões apenas se limitavam a justificar a ausência no dia da eleição ou
em momento posterior. Agora, os novos eleitores viajantes ou temporários podem
votar, mas não é possível o exercício do voto sem a prévia previsão da transferência
do título ainda que em caráter estritamente provisório, pois só assim assegura-se o
sigilo do voto e o impedimento de fraudes com duplicidade de votação.
Para as eleições de 2010, o C. TSE expedi a Resolução n9 23.215, de 02 de março
de 2010, que estabeleceu o voto em trânsito para as eleições presidenciais, sendo
que, de 15 de julho até 15 de agosto o eleitor devera habilitar-se a qualquer cartório
eleitoral para votar em trânsito indicando a Capital do Estado onde estará presente
de passagem ou em deslocamento.

19.10. VOTO IM PRESSO. IDENTIFICAÇÃO BIOMÉTRICA DO


ELEITOR.
A Lei ne 12.034/09, no art. 5 9 e seus parágrafos primeiro a quinto, trataram
do voto impresso que ocorrerá nas eleições de 2 0 1 4 (Eleições para Presidente,
Vice-Presidente da República, Governadores e Vice-Governadores Senadores,
Deputados Federais, Estaduais e Distritais) com a confirmação final do voto
do eleitor, quando a urna eletrônica imprimirá o chamado 'núm ero único de

Diz a lei:

"Art. 5 - Fica criado, a partir das eleições de 2014, inclusive, o voto


impresso conferido pelo eleitor, garantido o total sigilo do voto e
observadas as seguintes regras:
§ 1- A máquina de votar exibirá para o eleitor, primeiramente, as telas
referentes às eleições proporcionais; em seguida, as referentes às
eleições majoritárias; finalmente, o voto completo para conferência
visual do eleitor e confirmação final do voto.
§ 2S Após a confirmação final do voto pelo eleitor, a urna eletrônica
imprimirá um número único de identificação do voto associado à sua
própria assinatura digital.
§ 3e O voto deverá ser depositado de forma automática, sem contato
manual do eleitor, em local previamente lacrado.

605
M a r c o s R am a y a n a D ir e it o E l e it o r a l

§ 4 S Após o fim da votação, a Justiça Eleitoral realizará, em audiência


pública, auditoria independente do software mediante o sorteio de 2%
(dois por cento) das urnas eletrônicas de cada Zona Eleitoral, respeitado
o limite mínimo de 3 (três) máquinas por município, que deverão ter seus
votos em papel contados e comparados com os resultados apresentados
pelo respectivo boletim de urna.
§ 5 3 É permitido o uso de identificação do eleitor por sua biometria ou
pela digitação do seu nome ou número de eleitor, desde que a máquina
de identificar não tenha nenhuma conexão com a urna eletrônica".
As novas regras devem ser regulamentadas pelo C.TSE para as eleições de
2014.

É oportuno lembrar, que já existiu nos idos de 2002, e foi extinto em 2004, o
sistema de voto impresso em razão dos seguintes argumentos: elevado custo da
impressão do voto; treinamento especial para os mesários; demora na votação;
defeitos nas urnas eletrônicas; trava do papel impresso na urna; desinteresse do
eleitor em verificar a autenticidade do processo de votação; saída do eleitor da
cabine de votação sem confirmar o voto; e falhas na correção do voto, além de
outros problemas apresentados.
Ressurge na nova lei, a ideia já abolida de que é possível alcançar pelo voto
impresso uma maior segurança contra as fraudes, além de se ter uma maior
transparência do processo eleitoral de votação e apuração. No entanto, restará aos
técnicos e especialistas em informática criarem novos programas e sistemas capazes
de enfrentar as dificuldades acima elencadas e manter a agilidade do processo
eleitoral, sob pena da demora e falhas, por si só, comprometerem a segurança já
existente na celeridade das informações da apuração e na lisura das eleições.
Registre-se que são raras ou inexistentes as informações sobre a apresentação de
números diferentes do boletim de votação com os dados armazenados na memória
das urnas eletrônicas.
O §4® do art. 5 9 da Lei acima referida, prevê um sorteio de dois por cento das
urnas eletrônicas de cada Zona Eleitoral "respeitado o lim ite mínimo de 3 (três)
máquinas p or município". Assim, o Município que tenha apenas uma zona eleitoral
sorteará três urnas para a realização da audiência pública com o comparecimento
dos representantes de partidos políticos interessados, membros do Ministério
Público, candidatos e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil.
Na referida audiência pública será feita uma auditoria independente do softw are,
ou seja, do conteúdo dos votos armazenados na urna. Desta forma, cada zona eleitoral
terá que sortear dois por cento da quantidade total de suas urnas eletrônicas
objetivando a finalidade do novo diploma legal. Todavia, é inegável que esse fato
atrasará o processo final de apuração e a assinatura da ata de encerramento, até

606
V otação e A puração C a p ít u l o 1 9

porque já existe a previsão da emissão dos boletins de urna após a votação, bem
como da impressão da zerézima (comprovante de que na urna não tem votos) antes
do primeiro eleitor votar na urna eletrônica.
A nova medida legal se preocupa com a possibilidade de fraude durante o
processo de votação, quando verificada a falta de compatibilidade entre o número
de votantes com o de votos, mas mesmo que ocorra uma eventual falha, a nuiidade
se restringe a seção apurada (urna eletrônica), não tendo o condão de contaminar
todo o processo de votação, considerando ainda que pequenas divergências não
acarretam nulidades( art. 219 do Código Eleitoral),
A nuiidade pode ser decretada de ofício pela Junta Eleitoral e deve constar da
ata, sendo que as impugnações devem ser apresentadas no momento da apuração,
sob pena de preclusão (art. 223 do Código Eleitoral).
0 §59 do art. 5 Qda Lei n - 12.034/2009, ainda tratou da nova forma de identificação
do eleitor, ou seja, pela biometria. Significa a garantia da personalidade individual
do eleitor por características próprias com o uso da tecnologia moderna.
O armazenamento das informações biométricas dos eleitores será catalogado ao
longo de mais ou menos 10 (dez) anos, segundo atuais estimativas técnicas.
As imagens capturadas da impressão digital se constituem em valioso banco
de dados sigiloso da Justiça Eleitoral, que poderá servir de base para outros
órgãos públicos. Junta-se a impressão digital, por exemplo, com o reconhecimento
fotográfico e dos números do cadastro eleitoral.
A identificação pela impressão digital (biométrica) já foi pioneiramente utilizada
pelo C.TSE nas seguintes cidades: Colorado do Oeste-RO, Fátima do Sul-MS e em São
João Batista-SC, além de Armação de Búzios-RJ e outras.
Busca-se com a identificação biométrica evitar que um eleitor vote em nome de
outro, considerando a ausência da fotografia no atual título eleitoral. Objetiva-se a
redução da fraude na fase de votação (art. 309 do Código Eleitoral).
Durante o amplo período de tempo do novo tipo de cadastramento pela impressão
digital, os eleitores votarão pelo sistema atual.
O art. 91-A da Lei ns 9,504/97 (acrescido pela Lei n- 12.034/09) prevê a votação
com o uso da identidade oficial, além do próprio título. Aliás, deve-se aceitar a
identidade oficial com fotografia, pois tal medida evitará à prática de crime eleitoral
e a mudança fraudulenta do resultado real das eleições.
Cuida a nova lei de não aceitar a conexão entre a máquina de identificação
biométrica com a urna eletrônica, evitando a quebra do sigilo da votação pela
identificação do voto do eleitor. De fato, o comprometimento do sigilo do voto afeta a
garantia insculpida em cláusula pétrea (art. 60§4a, II, da Constituição Federal), além
de norma prevista no art. 103 do Código Eleitoral, implicando na nuiidade da eleição.

607
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

19.11. DIA DAS ELEIÇ Õ ES. MANIFESTAÇÃO DO ELEITOR.


O art. 39-A da Lei n9 9.504/97 e seus parágrafos, assim dispõem:

“Art. 39-A. É permitida, no dia das eleições, a manifestação individual


e silenciosa da preferência do eleitor por partido político, coligação ou
candidato, revelada exclusivamente pelo uso de bandeiras, broches,
dísticos e adesivos.
§ l 9 É vedada, no dia do pleito, até o término do horário de votação, a
aglomeração de pessoas portando vestuário padronizado, bem como os
instrumentos de propaganda referidos no caput, de modo a caracterizar
manifestação coletiva, com ou sem utilização de veículos.
§ 2S No recinto das seções eleitorais e juntas apuradoras, é proibido aos
servidores da Justiça Eleitoral, aos mesários e aos escrutinadores o uso
de vestuário ou objeto que contenha qualquer propaganda de partido
político, de coligação ou de candidato.
§ 3B Aos fiscais partidários, nos trabalhos de votação, só é permitido
que, em seus crachás, constem o nome e a sigla do partido político ou
coligação a que sirvam, vedada a padronização do vestuário.
§ 4 e No dia do pleito, serão afixadas cópias deste artigo em lugares
visíveis nas partes interna e externa das seções eleitorais".
As regras contidas nos dispositivos legais acima elencados, no
fundo, já traduzem a normatização das resoluções do C. TSE sobre a
manifestação do eleitor no dia das eleições (I a e 2- turnos). São formas
de permissibilidade ao eleitor de comemorar e participar da democracia.

No entanto, verifica-se que não são raros os casos em que cabos eleitorais e
simpatizantes das campanhas dos candidatos formam grupos portando bandeiras
e utilizando vestuário padronizado e outros instrumentos de propaganda, gerando
uma evidente manifestação coletiva.
Verifica-se que o art. 39-A acima transcrito restringiu a utilização, pelo eleitor,
de determinados instrumentos e objetos, pois a lei utiliza a seguinte expressão:
revelada exclusivamente". Nesse sentido, o eleitor só pode utilizar bandeiras,
broches, dísticos e adesivos, não sendo contemplado o uso de camisas ou de
bonés, como estava disciplinado, por exemplo, no art. 70 da Resolução do TSE
n9 22.718/ 2008 (Eleições de 2008).
Outrossim, no art. 70 daquela resolução, permitia-se a utilização de adesivos
em veículos particulares, mas o atual texto legal permite o uso de adesivos, não
fazendo esta expressa menção. Todavia, quanto a este aspecto, é proibido usar
adesivos em veículos públicos, tais como ônibus, vans e táxis, considerando que são
concessionários e permissionários do serviço público, incidindo a regra do art. 24, III
da Lei n9 9.504/97, uma vez que é inequívoca a publicidade do candidato por meio
de fonte vedada. Cumpre salientar que o art. 39-A restringiu a utilização pelo eleitor

608
V otação e A pu ra ç ã o
C a p ít u l o 1 9

de certos objetos, e não autorizou o uso de camisas e bonés, o que é mais comum de
ser visto no dia da eleição. Não entendemos o propósito exato da lei, até porque as
bandeiras ostentadas pelos eleitores no dia da eleição, mesmo não caracterizada a
aglomeração, são formas de mais ampla divulgação do que a própria camisa ou boné.
No entanto, resta ao Tribunal Superior Eleitoral regulamentar esse fato, ou
seja, a utilização das camisas e bonés pelos eleitores no dia da eleição. Todavia,
se a resolução específica do TSE contemplar o uso da camisa e do boné no dia da
eleição, estará exercendo o seu poder normativo contra legem , pois foi intenção do
Legislador excluir qualquer outra forma de propaganda no próprio dia da eleição,
evitando a influência do eleitor por condutas de cabos eleitorais que os assediam.
Não se olvida de que o art. 105 da Lei n - 9.504/97 restringe o poder regulamentar
do Tribunal Superior Eleitoral apenas quando estabelecer s a n ç õ e s d istin ta s d a s
p r e v is ta s n e s ta lei, o que poderia ensejar interpretação favorável no sentido de
que o uso de bonés e camisetas é uma liberdade conferida ao eleitor, e não uma
forma de restrição à propaganda. Entretanto, embora não se trate de uma sanção
a ser fixada por resolução do TSE, o legislador, no art. 39-A fez questão de excluir,
ou seja, restringir, limitar o uso dos materiais ali, literalmente, descritos. Trata-se
de rol taxativo referente às formas permissivas de propaganda no dia da eleição,
até porque o art. 39, §5a, III da Lei ns 9.504/97 trata como crime "a divulgação
de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de seus candidatos".
Desta forma, o uso de camisas e bonés pelo eleitor será, a principio, uma conduta
penalmente típica, vez que não ressalvada pelo art. 39-A; mas o Colendo Tribunal
Superior Eleitoral, por jurisprudência e em razão do próprio art. 70 da Resolução
nQ22.718/2008, consagrou que a utilização do boné e camiseta, sem uma divulgação
mais ampla pelo eleitor, é uma forma legítima de exteriorização da vontade
individual do cidadão, ou seja, não é crime.
Em conclusão: embora o uso do boné e camiseta, no dia da eleição, não sejam
condutas amoldadas ao tipo penal do art. 39, § 5 S, III da Lei na 9.504/97, ao nosso
pensar, em razão da limitação imposta pela redação do art. 39-A da mesma lei,
sua utilização pelo eleitor é uma forma irregular de propaganda eleitoral, mas não
criminosa.
Todavia, se os simpatizantes políticos formarem uma aglomeração ou assediarem
o eleitor para uma boca de urna, restará configurado o crime do art. 39, §5a, II da
Lei ne 9.504/97.
Saliente-se que o legislador não estipulou uma sanção específica para a violação
ao art. 39-A em comento. Nessa linha de raciocínio, poderão ocorrer as seguintes
hipóteses: a) o caso enquadra-se numa hipótese penal do art. 39, §5- e seus
incisos; b) o eleitor estará praticando uma propaganda irregular sem sanção na
lei, mas, neste caso, o eleitor poderá ser notificado, previamente, pelo juiz eleitoral
responsável pela fiscalização da propaganda eleitoral para abster-se de utilizar a
forma irregular de propaganda, sob pena de incidir no crime do art. 347 do Código

609
M arcos R a m ayana D ir e it o E l e it o r a l

Eleitoral (desobediência eleitoral), e, ainda, ter o material devidamente apreendido.


Na análise do caso, poderá a Justiça Eleitoral concluir que o material apreendido é,
na verdade, um gasto ilícito de recurso que ensejará a medida judicial do art. 30-A
da Lei n2 9.504/97 e, além de tudo, por ocasião da prestação de contas da campanha
eleitoral do candidato, o aludido material poderá ensejar a desaprovação das contas
por irregularidade insanável, nos termos do art. 30, III da Lei n2 9.504/97.
Por fim, a quantidade das camisetas e bonés apreendidos pode ensejar a
análise do abuso do poder econômico, em razão das peculiaridades locais e das
circunstâncias examinadas pelas provas produzidas no processo.
É cediço que a fiscalização da propaganda política eleitoral procura, juntamente
com o apoio dos órgãos policiais, impedir e afastar os grupos formados em esquinas
e pontos estratégicos das ruas nas proximidades das seções eleitorais; mas, durante
o período de votação (das 8 às 17h), tais aglomerações perambulam e fogem da
repressão, dificultando o trabalho da Justiça Eleitoral.
O § 2 fi do artigo acima aludido consagra a proibição da utilização de vestuário e
objetos referentes à propaganda de partido político, coligação ou candidato pelos
mesários, escrutinadores (os que contam os votos) e servidores da Justiça Eleitoral
Trata-se de norma já consagrada em resolução do TSE (art. 70, §22 da Resolução
do TSE ns 22.718/ 2008) e que objetiva garantir o sigilo da votação e a liberdade do
eleitor em escolher o seu candidato.
Destaca-se, ainda, no §3Q do artigo em comento, que os fiscais partidários
que se encontram previamente escolhidos pelos partidos políticos e coligações,
ao transitarem pelas seções eleitorais, portem os seus devidos crachás e estão
limitados a utilizar, nestes documentos de identificação, o nome e a sigla do partido
ou coligação. Veda-se, portanto, a utilização de vestuário padronizado que possa
conter nome e números indutores de pedido de votos.
O dispositivo legal proibiu a padronização do vestuário, que é uma técnica
ostensiva adotada pelos fiscais de partido político quando utilizam camisas e bonés
com o número do partido político que corresponde, nas eleições majoritárias, ao
mesmo número do candidato a prefeito, governador, senador ou presidente.
A nova lei eleitoral procura, nos dispositivos enfocados, tutelar a garantia
democrática da verdadeira liberdade de manifestação do voto, sem influências,
objetos, vestuários e outras formas de propaganda que possam alterar a vontade do
eleitor, pois é sabido que uma grande quantidade de pessoas, ao se dirigirem para
as seções eleitorais, ainda não têm a noção exata dos candidatos de sua preferência.
O § 4 Q do art. 39-A da lei em comento prevê uma forma salutar de divulgação
das regras proibidas no dia da eleição quanto ao uso dos objetos e materiais acim a
aludidos. Desta forma, cópias do art. 39-A serão devidamente afixadas em lugares
de ampla visibilidade externa e interna de cada seção eleitoral.

610
] Prefèrêricias '{Art; 143 §2°ce) : ! | * tftulo eleítoraí j
í ' carteira de Identidade ou í
W i I documento de valor idêntico |
IDÓtümentós^neceãsârio oficial de órgão público ou j
\ profissional !
^ . catteira de trabalho !
[Dúvidas quanto à identidade} | • modelo novo de carteira de |
j dò eleitor (Art; 147 cê ::: .; •V;_._ j | habilitação |

jjProibições dentro da ‘ uso de aparelhos celulares j Feminino


í seçãb eleitoral | I * servidores da justiça eleitoral, j
Vb&tçioi ■f1-;-"- | mesários, não podem vestir ou j Secreto
j; lf f iP ^ á llí3 S S ® l] | Por objetos que contenham j
|(Art;.sVíei'6.091/74}, # j Pr0Pa§anda de Part,do Po1flic° ' ) Indireto
:v:;>l: j | coligação ou candidato. j

j Lei Seca (Alt 347 /; Majoritário

j InstaiaÇâo dà seção ; ■..] -►j Proporcional :


|elèitorál (Art. 142 ce) 'SI
V o to fb Em lista aberta
---*j:)h'ÍGÍO::daíVOtáÇâÒ^rt. 144tE).;:
Em lista fechada i
........................ >;l
i Impugnação aos rriesários ! ...........;..... ......... ..........i
1{Art.121 CÉ)- ••; /.: j Eletrônico ■1

Ch Marcos Ramayana ■ Direito Eleitoral 10a Edição • Capítulo 19 - Votação e Apuração


C ap ítu lo 2 0

A ção de C aptação ilícita


de Su frá g io

O art. 41 da Lei n9 9.504, de 30 de setembro de 1997, que "Estabelece normas


para as eleições" foi acrescentado pelo art. 41-A, em virtude do disposto pelo
art. 1- da Lei ns 9.840, de 28 de setembro de 1999.
Diz o art. 41-A:

Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de


sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer ou
entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem
pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública,
desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob
pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufirs, e cassação do registro
ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei
Complementar ne 64, de 18 de maio de 1990.

Algumas questões emergem do novo dispositivo legal, a saber.

O art. 41-A alterou aspectos da tipicidade do crime do art. 299 do Código Eleitoral?
In verbis:

Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem,


dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto
e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja
aceita. Pena: reclusão até 4 (quatro) anos e pagamento de 5 (cinco) a
15 (quinze) dias - multa.

O crime do art. 299 do Código Eleitoral é conhecido na doutrina como o crime de


corrupção eleitoral (definição atribuída pelo eminente penalista Nelson Hungria).
O tipo penal tutela, como bem jurídico protegido, a liberdade de sufrágio. Nesse
sentido, Pedro Henrique Távora Niess e Suzana de Camargo Gomes. Evita-se o
comércio dos votos, o "toma lá dá cá" entre candidatos e eleitores. A lei criminaliza
o aspecto mercantil da votação.
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

A doutrina, especialmente nas lições de Suzana de Camargo Gomes e Joel José


Cândido, entende que o art. 41-A em nada alterou a tipicidade penal do art. 299 do
CE.
Ensina Suzana de Camargo Gomes que:
(...) Na verdade, esse dispositivo em nada alterou a disciplina penal
pertinente ao crime de corrupção eleitoral, que continua incólume,
pelo que incide, no delito tipificado no art, 299 do Código Eleitoral,
tanto o candidato como qualquer outra pessoa que realize as figuras
típicas ali descritas. A mudança está que, sendo o autor da infração
um candidato, além de responder criminalmente, nos termos do art.
299 do Código Eleitoral, submete-se, também, às penas previstas no
art. 41-A da Lei n9 9,504/97, com a redação dada pela Lei ne 9,840/99,
sendo que o procedimento para a apuração é o previsto na LC ne 64,
de 18 de maio de 1990, em seu art. 22, denominado de investigação
judicial.1
0 eleitoralista Tito Costa leciona que o art. 41-A não tem conotação na esfera
penal eleitoral, mas apenas no aspecto do registro e do diploma do candidato.
Verificar a obra Crimes Eleitorais e P rocesso P enal E leito ra l Editora Juarez de
Oliveira, pp. 55-56.
Assiste razão à doutrina. O tipo do art. 2 9 9 do Código Eleitoral não retrata
uma norma penal em branco, ou seja, não é carecedor de complemento normativo
da mesma fonte legislativa (normas penais em branco em sentido amplo), nem
tampouco de fonte legislativa diversa (norma penal em branco em sentido
restrito).
Não partilhamos de eventual posição sobre o entendimento de que o art. 299 do
Código Eleitoral seja uma norma penal em branco em sentido amplo, e, portanto, o
art. 41-A colmatar-lhe-ia aspectos jurídico-eleitorais.
Na verdade, o tipo do art. 299 do Código Eleitoral contém elementos objetivos
normativos que são preenchidos por juízo de valoração, v.g., "outra vantagem", "e
prometer abstenção", além de elementos objetivos como "oferecer", "prometer"
etc.
As formas em que se apresentam os elementos normativos fazem-se sobre os
injustos ou termos jurídicos. Vê-se que não estamos, e podemos afirmar sem receio
de errar, diante de norma penal em branco em sentido amplo.
Assim sendo, não há complementação do art. 299 do Código Eleitoral pela
norma do art. 41-A da Lei n9 9.504/97, mas apenas duplicidade de incidência sobre
as hipóteses de captação de sufrágio, com reflexos na esfera penal e não penal
(puramente eleitoral).

1 GOMES, Suzana de Camargo. Crimes Eleitorais. Revista dos Tribunais, p. 203.

614
A ção de C a p t a ç ã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

20.1. CONCEITO DE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO


A captação lícita diz respeito à própria disputa eleitoral, faz parte da essência da
propaganda político-eleitoral. Todavia, a ilicitude é que merece reprimenda.
Não são alvos da captação ilícita de sufrágio promessas de melhorias em
educação, cultura, lazer etc. 0 que a lei pune é a artimanha, o "toma lá dá cá", a
vantagem pessoal de obter voto. 0 pedido certo, determinado e específico faz parte
da petição inicial e deve ser cotejado sob a ótica da pessoalidade, do clientelismo e
do amesquinhamento do voto.
Os meios de consumação podem ser por escrito, gestos, palavras etc. 0 ato ilícito
está caracterizado, quando existe a violação de um dever legal ou contratual com
danos a outrem. A ação ou omissão ensejam o dano a terceiro.
0 resultado danoso na captação ilícita é exatamente manifestado na conduta do
candidato infrator, ou seja, o candidato, ao captar sufrágio ilicitamente, vale-se de
expediente desautorizado pela ordem jurídica eleitoral, v.g., distribui remédios,
dentaduras, tijolos, sapatos etc., em troca de votos. Negocia os votos com o cidadão
e causa danos ao processo eleitoral e à democracia.
A conduta do agente (candidato) é dolosa, intencional e geradora de uma
responsabilidade com conseqüências penais e eleitorais, especialmente por abalar,
em sua razão de ser, a normalidade e legitimidade das eleições com a finalidade
especial de obter o voto do eleitor.
Saliente-se:
(TSE). Agravo regimental na Medida cautelar ne 1.229/CE. Relatora:
Ministra Ellen Gracie. Redator. Designado: Ministro Sálvio de Figueiredo.
Ementa: Medida cautelar. Liminar concedida. Agravo interno. Art. 41-A
da Lei ne 9.504/97. Autoria. Precedente. Provimento do apelo. Cassada
a liminar. Indeferida a cautelar. Caracteriza-se a captação de sufrágio
prevista no art. 41-A da Lei na 9.504/97 quando o candidato pratica as
condutas abusivas e ilícitas ali capituladas, ou delas participa, ou a elas
anui explicitamente. DJ de 7.3.2003.
O doutrinador Joel José Cândido critica veementemente a nova lei, pois a mesma
estipulou períodos de captação de sufrágio, além de apenas estipular a pena de
multa.
0 eleitoralista Adriano Soares da Costa diz que, para caracterizar a captação de
sufrágio, o agente tem que ser somente o candidato.
Não poderá ser ele acusado de captação de sufrágio se outrem, ainda
que, em seu nome e em seu favor, estiver aliciando a vontade do eleitor.
Para que a norma viesse ter esse alcance, haveria de estar prescrevendo
que o candidato ou alguém por ele captasse ilicitamente o sufrágio.2

2 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. Editora Dei Rey, p. 483.

615
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Como se pode notar, a captação ilícita de sufrágio, trazida na redação do art. 41-A
da Lein9 9.504/97, está acarretando o efeito inverso ao desejado pelo legislador,
que era exatamente coibir a nefasta prática da compra de votos.
Assim, para caracterizar a captação de sufrágio, três elementos são
indispensáveis: (1) a prática de uma ação (doar, prometer, etc.), (2)
a existência de uma pessoa física (eleitor) e (3) o resultado a que se
propõe o agente (TSE, DJ de 22.2.2002).
Resta caracterizada a captação de sufrágio, prevista no art. 41-A da
Lei n9 9.504/97, quando o candidato praticar, participar ou, mesmo,
anuir explicitamente com as práticas abusivas e ilícitas capituladas
naquele artigo. Para a configuração do ilícito previsto no art. 22 da
LC ns 64/90, as condutas vedadas podem ter sido praticadas antes ou
após o registro da candidatura. Quanto à aferição do ilícito previsto
no art. 41-A, esta Corte já decidiu que o termo inicial é o pedido do
registro da candidatura (TSE. Recurso Especial Eieitoral n2 19.541/
MG, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo, em 18.12.2001).

A Lei 12.034/09 acrescentou o § 2 fi ao art. 41- A nos seguintes termos:

§ 2S As sanções previstas no caput aplicam-se contra quem praticar atos


de violência ou grave ameaça a pessoa, com o fim de obter-lhe o voto.

Vê-se que o conceito da captação ilícita de sufrágio foi ampliado para incluir
fatos da realidade das campanhas eleitorais, porque é cediço que os cabos eleitorais
e candidatos em alguns momentos praticam atos de violência ou de grave ameaça
contra a pessoa dos eleitores ou terceiros (familiares) objetivando o voto.
O art. 301 do Código Eleitoral trata do delito de coação eleitoral que é similar
como tipo penal a nova moldura do §2e do art. 41-A. Desta forma, a conduta do
corruptor poderá encontrar capitulação penal eleitoral, além do procedimento não
penal do art. 2 2 , 1 a XIII da Lei Complementar ns 64/90,
Na verdade, o legislador pune a vis com pulsiva (violência moral) e a vis absoluta
(violência física) como formas de obtenção do voto, seja para candidato ou partido
político. Trata-se de uma modalidade especial de constrangimento ilegal, quando o
eleitor é compelido for força bruta, armas e ameaças em votar ou deixar de votar em
determinado candidato ou partido político.
Por exemplo, cabos eleitorais ligados ao tráfico de drogas apoiam o candidato
X e coagem eleitores a votar por ameaça de emprego de arma de fogo. A violência
não precisa ser direta contra o próprio eleitor, mas poderá ser contra os parentes e
familiares.
No caso da violência ser física contra o eleitor coagido excluiu-se a tipicidade
deste, quanto ao delito do art. 299 do Código Eleitoral, pois ele não solicitou
benefícios para votar.

616
Ação de C a p t a ç a o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

Na hipótese da coação ser moral e irresistível exclui-se a culpabilidade do coagido


em relação ao crime do art. 299 do Código Eleitoral. Todavia, quando a coação é moral
resistível ambos respondem, o coator e o coato, aplicando-se a agravante do art. 62, II do
Código Penal para o coator, e a atenuante do art. 65, III, "c" I a parte do CP para o coato.
As sanções aplicáveis ao agente coator e captador de votos podem ser penais,
como acima mencionadas ou não penais. As penais serão processadas de acordo com
o processo penal eleitoral previsto nos artigos 355 e seguintes do Código Eleitoral.
As não penais observam o procedimento do art. 2 2 ,1 a XIII da LC n9 64/90. Neste
caso, o agente pode ser: a) o candidato (que responderá com cassação do registro
ou diploma e multa); b) o terceiro (que responderá apenas pela multa, não há que
se falar em cassação do registro ou diploma de quem não é candidato numa eleição
específica; e c) candidato ju nto com te rc e iro (autoridade pública ou não, cada um
respondendo pelas sanções respectivas).
É interessante observar, que o legislador poderia ter punido os terceiros
(autoridades ou não) que praticassem atos de compra de votos em favor do candidato
[caput do art. 41-A), sem que usassem de violência (os que contribuíram para o fato,
nos moldes do disposto no inciso XIV do art. 22 da LC n9 64/90), mas esta hipótese
não foi contemplada. Por exemplo, o candidato a Prefeito distribui cestas básicas
junto com o ex-prefeito, sem usar de violência. Não estará o ex~prefeito sujeito as
sanções do art. 41-A da Lei n9 9.504/97, pois se analisando, neste caso, somente a
eventual imputação penal do art. 299 do Código Eleitoral poderá incidir.
Assim, também podemos estabelecer um paralelo entre o art. 41-A, capu t da Lei
das Eleições com o art. 299 do Código Eleitoral; bem como o art. 41-A, §29 da Lei das
Eleições com o art. 301 do Código Eleitoral.
Por fim, não se pode olvidar de que o crime eleitoral (art. 301 do Código
Eleitoral) praticado em conexão com um crime comum enseja a vis atrativa para a
justiça Eleitoral, ressalvando-se os casos de competência funcional e previstas no
texto constitucional (art. 35, II do Código Eleitoral), o que ensejará a adequação em
concurso de crimes (formal, material ou continuado) com leis penais não eleitorais,
v.g., arma de fogo, quadrilha ou bando etc., tendo-se especial atenção a diversidade
de bens jurídicos atingidos (liberdade de voto e outros).

20.2. MOMENTO PARA O CO RRER A CAPTAÇÃO ILÍCITA DE


SUFRÁGIO
A lei estipulou termos a quo e a d quem , “desde o registro" até o "dia da eleição". 0
autor Adriano Soares Costa sustenta que, antes do registro, só poderá haver o crime
do art. 299 do Código Eleitoral.
A questão é interessante, porque oTribunal Superior Eleitoral registra entendimento
de que o termo a quo é a partir do requerimento do registro de candidatura, e não do
M a r c o s R a m a y an a D ir e it o E l e it o r a l

deferimento do mesmo (Acórdãos n- 19.229/01, Relator Ministro Fernando Neves, e


n- 19.566/02, Relator Ministro Sáívio de Figueiredo).
Significativa é a observação de Alexandre Afonso Barros de Oliveira, em artigo
publicado na Revista Direito E leitoral Contem porâneo, p. 225, em que o autor critica
o lapso temporal adotado pelo legislador. De certo, deveria o legislador não firmar
prazo inicial ou final para a captação ilícita de sufrágio, pois sabemos que, nos anos
não eleitorais, esta também poderá ocorrer, mas, agora, diante da criação dos lapsos
temporais, apenas restará o exame da tipicidade penal do art. 2 9 9 ou do abuso do
poder econômico ou político na investigação Judicial eieitoral. Em assonância, as
lições de Suzana de Camargo Gomes e do autor Alberto Lopes Mendes Rollo, na
mesma revista acima referida (p. 189), segundo os quais, para o crime eleitoral, não
haverá limites temporais.
O doutrinador Adriano Soares da Costa alerta para o absurdo da norma em
fixar este lapso temporal, porque o juiz pode negar o registro de um aspirante a
candidato e ele poderá fazer propaganda eleitoral, enquanto estiver a questão sub
ju dice. E, assim, como poderia perder o registro se ele não o tem?
Por fim, não foi de boa técnica redacional o critério de fixação de prazo inicial
e final da captação de sufrágio, pois é cediço que, nos anos não eleitorais, existe
prática de clientelismo político, com oferta de vantagens, dádivas etc. A ocorrência
destas ilicitudes ensejam, na visão hodierna, apenas a análise do crime do art. 299
do Código Eleitoral e a preparação para uma futura impugnação ao pedido de
registro de candidatura, por abuso do poder econômico ou político.

2 0 .2 .1 . Prazo finai para propor a ação


Até o advento da Lei n 9 1 2.034, de 29 de setem bro de 2009, o term o final para
a propositura da ação de captação ilícita de sufrágio vinha sendo disciplinado
pela jurisprudência do TSE. Este egrégio Tribunal firmou entendimento de que
o prazo lim ite para o ajuizam ento da referida ação é até a data da diplomação.
Nesse sentido: R ecurso O rdinário n g 1.369/RS, rei. Min. M arcelo R ibeiro, em
10.3.2009; R ecu rso O rdinário n3 1.369/R S R elator: M inistro M arcelo R ibeiro, DJE
d e 1*4.2009.
Corroborando com esse entendimento, foi editada a Lei n9 12.034/2009, que
passou a disciplinar a diplomação como termo final para a propositura da referida
ação, verbis:

Art. 41-A. (...)


§ 3oA representação contra as condutas vedadas no caput poderá ser ajuizada
até a data da diplomação.

618
A ção de C a p t a ç ã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ítu lo 2 0

20.3. PROCEDIMENTO JU D IC IA L C A BÍVE L PARA APLICAR AS


SANÇÕES DECORRENTES DA CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO
A doutrina firma duas posições sobre o tema: a primeira entende que deverá
ser através de uma representação, que seguirá o rito do art. 22 e seguintes da Lei
Complementar n9 64/90 (Alberto Lopes Mendes Rollo); a segunda, que a ação deverá
seguir a própria Ação de Investigação Judicial Eleitoral (art. 22 da Lei Complementar
ne 64/90). Nesse sentido, Adriano Soares da Costa. Com razão, a segunda corrente.
A lei diz que será "observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei
Complementar na 64, de 18 de mato de 1990", mas, efetivamente, não esclarece se
é um procedimento autônomo ou integra um pedido dentro da Ação de Investigação
Judicial Eleitoral.
Impossível, pois, olvidar que a investigação judicial eleitoral é uma ação com rito
definido e é o devido processo legal do pedido de captação ilícita do sufrágio.
É possível a admissão da hipótese de cumulação de pedidos referentes ao fato
caracterizador da captação ilícita de sufrágio e do abuso do poder econômico.
0 artigo 289 do Código de Processo Civil é aplicável a estes casos que ensejam a
eficaz prestação jurisdicional eleitoral.
A cumulação de pedidos é admissível e representa, no caso estudado, o somatório
de pretensões num só processo.
Sobre o assunto, trazemos as valiosas lições de Humberto Theodoro Júnior, in
expressi verbis:
Não há necessidade de conexão para justificar a cumulação de pedidos
na inicial. Os requisitos legais de cumulação são os do § l 9 do art. 292,
ou seja:
I - os pedidos devem ser compatíveis entre si: na cumulação
subsidiária, sucessiva ou eventual, os pedidos podem ser até opostos
ou contraditórios, porque um exclui o outro. Mas, se a cumulação
é efetiva, a sua admissibilidade pressupõe que todos os pedidos
sejam compatíveis ou coerentes. Isto é, juridicamente, há de existir
conciliação entre eles;
II - o juízo deve ser competente para todos os pedidos. A competência
material ou funcional é improrrogável e afasta a admissibilidade da
cumulação de pedidos. De ofício, caberá ao juiz repeli-la.
Mas, se a incompetência para algum pedido for relativa (em razão de foro
ou de valor da causa), não deverá o juiz repelir ex officio a cumulação,
pois a ausência de exceção declinatória levará à prorrogação de sua
competência para todos os pedidos (art 114);
III - o tipo de procedimento deve ser adequado a todos os pedidos,
quando houver uniformidade de procedimento para todos eles.3

3 THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Volume i. 37a ed., Editora Forense, pp. 322-323.

619
M a r c o s R a m a y an a D ir e it o E l e it o r a l

A espécie é de cumulação simples, pois o acolhimento, ou não, do pedido


de inelegibilidade por três anos, contados da data da eleição (art. 22, XIV, da LC
ne 64/90 e Súmula n2 19 do TSE), na hipótese de procedência ou improcedência do
pedido, não afeta o pedido de cassação do registro (pedido cumulativo) por captação
ilícita de sufrágio. Reconhecemos que não é, nem de longe, a solução ideal para o
problema aviventado, mas é a maneira mais equânime de enfrentar a dicotomia
criada pela norma do art. 41-A, em cotejo com o art. 22, XIV, da Lei Complementar
n9 64/90.
Caberá ao autor legitimado para a Ação de Investigação Judicial Eleitoral
(Ministério Público, partido político, coligação e candidato) cumular os pedidos de
inelegibilidade e cassação do registro (se for o caso). A cassação do registro (art. 22,
XV) poderá ocorrer independentemente da inelegibilidade.
Vejamos um exemplo: o candidato X utilizou din h eiro püblico na cam panha
eleitoral e, durante um com ício, distribuiu p arte d este din h eiro em troca de
votos.
O exemplo trata de abuso do poder econômico e de captação ílícita de sufrágio,
além do aspecto penal e da probidade administrativa.
No caso, caberá a um dos legitimados propor a Ação de Investigação Judicial
Eleitoral que, sendo julgada antes das eleições, terá duplo efeito: a cassação do
registro e a declaração de inelegibilidade por três anos, contados da data da eleição.
No entanto, se for julgada após as eleições, cumpri ao legitimado interpor o recurso
contra a diplomação ou propor a ação de impugnação ao mandato eletivo (se o
candidato infrator for eleito).

Captação ilícita. Como fica a análise deste caso à luz do art. 41-A da Lei
n° 9.504/97?
O legitimado deverá cumular os pedidos, na petição inicial, da própria Ação de
Investigação Judicial Eleitoral. Se a ação for julgada procedente antes das eleições,
ela continuará tendo o seu natural dupío efeito, ou seja, cassar o registro e declarar
a inelegibilidade por três anos, contados da data da eleição.

20.3.1. Efeitos do julgamento


E se a ação for julgada após as eleições ou a diplomação, é necessária a interposição
do recurso contra a diplomação ou a propositura da Ação de Impugnação ao Mandato
Eletivo? É suficiente a procedência da Ação de Investigação Judicial Eleitoral para
cassar o diploma?
A resposta a essa questão é o ponto fundamental.
O doutrinador Adriano Soares da Costa ensina-nos que:

620
A ção db C a pta çã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

Assim, enquanto perdurar esse entendimento do TSE, acerca da


imediata executividade da decisão que determina a cassação do
registro, em razão da captação ilícita de sufrágio, penso que devam os
candidatos, o Ministério Público e os partidos políticos ou coligações
ajuizar a IJE contra a captação ilícita de sufrágio, nunca - muita
atenção a esse ponto - nunca pedindo a sanção de inelegibilidade, mas
apenas o cancelamento do registro ou diploma. Com isso, se afastará a
incidência do art. 15 da LC n2 64/90, e a decisão será imediatamente
executada (isso se não for aplicado o parágrafo único do art. 56 da
Resolução ne 20.993, de 2002).4
O art. 15 da Lei Complementar n2 64/90 dispõe que:

Transitada em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do


candidato, ser-Ihe-á negado o registro, ou cancelado, se já tiver sido
feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido.

O doutrinador Joel José Cândido leciona que:


Destarte, temos por resolvida a primeira dificuldade do art. 15, ou seja,
que ele se refere à AIPRC, somente, e às inelegibilidades que nela são
atacadas. Os efeitos decorrentes do trânsito em julgado da IJE, da AIME
e do RCD estão disciplinados em regra própria, diversa deste art. 15.5
Como se nota, entendemos que a única forma plausível de compatibilizar
o art. 41-A da Lei n9 9.504/97 com o art. 22, XV, da Lei das Inelegibilidades é a
cumulação de pedidos simples. Devemos pensar o seguinte: se a ação for julgada
após a diplomação, poderá cassar o diploma com base, exclusivamente, no pedido
de captação ilícita de sufrágio (impossível a declaração da inelegibilidade); se a
ação for julgada após a diplomação, mas visar também (cumulativamente) à
inelegibilidade, o legitimado deverá interpor o Recurso Contra a Diplomação ou
propor a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo, pois só na via destes mecanismos
jurídico-eleitorais de controle da higidez do processo democrático é que se poderá
obter a cassação do diploma. Em resumo, o diploma poderá ser cassado de três
formas: pela procedência do pedido de captação ilícita de sufrágio (sem declaração
de inelegibilidade) ou pelo provimento do RCD ou procedência da AIME, com base
no abuso do poder econômico/político, fraude ou corrupção.
Se o autor da IJE, AIME ou RCD visar à inelegibilidade, não poderá alcançá-la no
pedido de captação ilícita de sufrágio (não haverá efeito imediato).
O efeito imediato do pedido de cassação do registro ou do diploma na ação de
captação ilícita de sufrágio é medida de ponderação eficaz do interesse constitucional
em preservar as lisuras das eleições.

4 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. Editora Del Rey, p. 504.
5 CÂNDIDO, Joel José. inelegibilidades no Direito Brasileiro. Editora Edipro, p. 293.

621
M a r c o s R am ayana

"... A decisão regional ajusta-se à jurisprudência deste Tribunal, firmada


no sentido de que a decisão que julga procedente representação
para apuração de captação vedada de sufrágio, prevista no art. 41-A
da Lei n- 9.504/97, deve ter cumprimento imediato, cassando o
registro ou diploma, se já expedido, bem como aplicando multa.
Logo, é desnecessária a interposição de recurso contra expedição de
diploma ou de ação de impugnação de mandato eletivo, uma vez que
o dispositivo mencionado não versa sobre inelegibilidade. TSE. (Ac.
n9 21.022, rei. Min. Fernando Neves, DJ de 7.2.2003; Ac. n9 19.644, rei.
Min. Barros Monteiro, DJ de 14.2.2003; Ac. n9 21,169, Relâ. Mina. Ellen
Gracie, DJ de 26.9.2003) (REspe. ne 3.941/AP)".
Cumpre ainda destacar,
“... A cassação do diploma não depende, ao contrário do que afirma
o agravante, de ação própria após a investigação judicial eleitoral (LC
n9 64/90, art. 22, XV), por não se tratar de declaração de inelegibilidade.
(Ag n9 3.042 - MS) ”
"... Entretanto, por não versar o art. 41-A da Lei n9 9.504/97 sobre
inelegibilidade, não há que se aplicar o art. 22, XV, da LC nfi 64/90.
Por essa razão, o TSE entende que, cassado registro, com fundamento
no art 41-A da Lei n9 9.504/97, para que a diplomação se torne
insubsistente, desnecessária a posterior interposição de recurso
contra expedição de diploma ou o ajuizamento da ação de impugnação
de mandato eletivo (REsp. ne 21.169 - RN}".
Conforme bem ensina Daniel Sarmento em sua obra (4 P on deração d e Interesses
na Constituição, Editora Lumen Juris, pp. 193 e ss.),
(...) no regime pluralista, a Constituição deve manter-se aberta à
sociedade, dotando-se de elasticidade material suficiente para abrigar,
sob sua égide, ideologias e projetos diferentes. Os intérpretes da
Constituição não são só os juristas, mas toda a sociedade que a vivência.
Ao ponderar interesses, o juiz deve tentar uma decisão que consiga
lograr adesão da sociedade (...).
A ponderação dos interesses reside entre o atrelamento da inelegibilidade ao
trânsito em julgado e o acolhimento da nuiidade do diploma sem vinculação à
inelegibilidade, ou seja, por corrupção eleitoral sem potencialidade lesiva.
Como se vê, a Carta Magna, em seu art. 14, §§ 9-, 10 e 11, e a Lei Complementar
ns 64, de 18 de maio de 1990, tratam da inelegibilidade como conseqüência do
abuso do poder econômico e/ou político, mas em nenhum momento impedem a
aplicação do princípio da concordância prática ou harmonização na preservação
dos direitos fundamentais da cidadania na declaração de eventual nuiidade do
diploma ou cassação de registro relativo a candidato que não chegou a abusar
de nenhum poder, no entanto, agiu de forma dolosa na captação de sufrágio
comercializando a democracia e atentando contra os postulados dos direitos

622
A ção de C a p t a ç ã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

públicos políticos ancorados no próprio texto constitucional. Não há, a nosso ver,
nenhuma inconstitucionalidade material na aplicação do efeito imediato (art. 257,
parágrafo único, do Código Eleitoral).
Por fim, registramos que, no mês de maio de 2004, o Senador César Borges, do
PFL da Bahia, retirou projeto de lei de sua autoria que exigia o trânsito em julgado
para os efeitos do art. 41-A da Lei n- 9.504/97. Esta medida está a consagrar o
rumo seguro das recentes decisões do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral sobre
esta tormentosa questão.
Concluindo: O diploma pode ser anulado (desconstituído) de forma imediata,
sem que sejam deflagrados o RCD ou AIME, mesmo quando a ação de captação
ilícita de sufrágio for julgada cumulativamente com a ação de investigação judicial
eleitoral. A única restrição deve ser quanto à declaração de inelegibilidade, pois esta
atinge a cidadania passiva e só pode ser prevista em lei de natureza complementar
(art. 14, § 9 e, da Constituição Federal): a Lei n9 9.840/99, que institui a captação
de sufrágio, é lei ordinária. Neste sentido, "Ao con trário do que acontece com as
decisões que declaram inelegibilidade, quando há que se aguardar o trânsito
em julgado, os efeitos da decisão que cassa diploma com base no art. 41-A da
Lei na 9 ,5 0 4 , de 1 9 9 7 , perm item execução im ediata (MC n- 9 9 4 - MT)".
Ê importante salientar que a pena de multa, a princípio, não se sujeita a prazo.
Todavia, entendemos que se sujeita à prescrição qüinqüenal, após o trânsito em
julgado. Nesse sentido, destaca-se:
“(...) captação ilícita de sufrágio. Procedência. Recurso prejudicado com
relação às penas de cassação do mandato e inelegibilidade. Cominação
de multa. (...) Findo o mandato, o recurso fica prejudicado com relação
às penas de cassação e de inelegibilidade por três anos, contados da
eleição para chefe do Poder Executivo Municipal. Subsiste, porém, a
pena de muita, que não está sujeita ao marco temporal. (...)" [NE: 0
acórdão se refere à multa prevista no art. 41-A da Lei n- 9.504/97 (Ac.
ne 21.726, de 30,6.2005, Rei. Min. Luiz Carlos Madeira.)".

20.3.2. Deflagração do pedido de captação ilícita. O pedido de captação


ilícita de sufrágio poderá ser deflagrado de forma isoiada (única) na IJE
ou, ainda, cumulativamente,com o pedido de inelegibilidade por abuso
do poder econôm ico, político, fraude ou corrupção.
0 art. 41-A da Lei n- 9.504/97, infelizmente, criou casos em que se pode cassar o
registro ou o diploma, mas não se pode declarar a inelegibilidade. Para as próximas
eleições, o candidato infrator não será inelegível e poderá reincidir em todas as
práticas de captação. Desta forma, a impunidade aumenta, na medida em que
o infrator descobre as falhas da legislação e aproveita-se das lacunas legais para
aumentar os votos comprados.

623
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Hodiernam ente,teremosqueidentificartrêshipótesesdistintas:a) inelegibilidade


sem captação ilícita de sufrágio; b} inelegibilidade com captação ilícita de sufrágio;
c) captação ilícita de sufrágio sem inelegibilidade.
Em resumo: para o caso da letra a, o remédio jurídico processual será a IJE, AIME
ou o RCD, com os efeitos já conhecidos pela doutrina e jurisprudência; no caso da
letra b, a IJE terá que ter pedido cum ulativo sim ples, e o juiz ou tribunal poderá
acolher ambos ou apenas um deles. Nesta hipótese, obrigatoriamente, deverá ser
interposto o RCD ou a AIME para a obtenção dos efeitos da perda do mandato
eletivo, exceto se o juiz não acolher o pedido de declaração da inelegibilidade; por
último, pela letra c, o juiz ou tribunal poderá decretar a perda do mandato eletivo,
sem necessidade de interposição do RCD ou propositura da AIME. A execução é
im ediata. A regra contida no inciso XV do art. 22 da LC na 64/90 não é aplicável
quando se tratar de decisão fundada no art. 41-A da Lei ne 9.504/97.
Os riscos inerentes à execução im ediata da decisão foram bem observados pelo
doutrinador Adriano Soares da Costa, em sua obra Instituições de Direito Eleitoral
(ver pp. 499 a 502).
Um dos problemas criados pela execução imediata é que ocorre violação à regra
do art. 216 do Código Eleitoral, que dispõe:

Enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra a


expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o mandato em toda
a sua plenitude.

O Tribunal Superior Eleitoral e a doutrina preservam a manutenção do candidato


eleito no mandato, enquanto não ocorre o trânsito em julgado da decisão que
decreta a perda do mesmo, seja pelo RCD ou AIME. Com a introdução do art. 41-A
da Lei das Eleições, o efeito imediato gera flagrante antinomia com o a r t 216 do
Código Eleitoral.6 A intenção do legislador ao atribuir efeito imediato às decisões
que reconhecem a captação ilícita de sufrágio é afastar liminarmente o captador
das campanhas eleitorais. Neste sentido: (Resp. n- 19.644 ~ SE). A decisão há de ser
executada de forma imediata.
Em recentes decisões, o Eg. TSE, vem adotando a execução imediata do julgado,
mesmo após a proclamação dos eleitos ou da diplomação. Neste sentido, Ag. Reg.
ne 1.282-CE e RespE. n9 19.587-GO.
Alguns autores entendem que o art. 41-A seria inconstitucional, porque: a) ele
trata de inelegibilidade para determinada eleição e essa matéria só pode ser tratada
por lei complementar (art. 14, § 9 e, da CRFB); b) não há revogação do art, 22, XV,
da Lei Complementar n9 64/90; c) o art. 41-A em nada alterou as regras sobre a
necessidade de interposição do RCD ou ajuizamento da AIME.

6 Antinomia é “situação que se verifica entre duas normas incompatíveis, pertencentes ao mesmo ordenamento jurídico
e tendo o mesmo âmbito de validade” (BOBBIO, Norfaerto. Teoria do Ordenamento Jurídico, p. 88).

624
A ção de C apta çã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 2 0

Registramos, ainda, a posição da doutrinadora Maria Lúcia Siffert Faria Silvestre,


em valioso artigo publicado no livro D ireito E leitoral Contemporâneo, organizado
pela Escola Judiciária Eleitoral, p. 233, in verbis:
Por essas razões, o Tribunal resolveu questão de ordem na Instrução
ns 55, por meio da Resolução n9 21.051, de 26.3,2002, e também
a Consulta ne 786, Resolução ne 21.087, de 2.5.2002, deixando bem
claro que a permanência, na urna eletrônica, do nome do candidato
que tenha seu registro cassado, com base no art. 41-A da Lei n9 9.504,
de 1997, bem como o prosseguimento de sua propaganda eleitoral, o
que se dá por conta e risco do candidato e/ou de seu partido político,
em virtude da interposição de recurso, não significa retirar o efeito
imediato da mencionada decisão, que, entretanto, não pode ser tida
como definitiva, antes de seu trânsito em julgado.
A autora trata da questão entre a diferença dos efeitos da execução imediata com
o condão de definitividade da decisão que decreta a captação ilícita de sufrágio.
Lembra a autora que, nos processos de registro de candidatura e nas
representações com base no art. 41-A da Lei n9 9.504/97, o candidato permanece
no pleito eleitoral com o seu nome na urna eletrônica. Ele não é afastado. Isto é
efeito imediato, mas não é definitivo.
No caso concreto, poder-se-ia pensar em captação de sufrágio, mas
captação de sufrágio não leva à inelegibilidade; leva à cassação de
registro ou à cassação de diploma. Está se pretendendo trazer uma figura
que, hoje, está disciplinada pela Lei n9 9.504/97, mediante a alteração
feita pela Lei n5 9.840, que é a captação do sufrágio, atribuindo-se a
esta uma conseqüência que não lhe pode ser atribuída, qual seja a da
inelegibilidade, que exige o risco de perturbação da livre manifestação
popular. Esta é a diferença fundamental (TSE, DJ de 22.6.2001).

20.3.3. Prova da potencialidade lesiva. É necessária a prova da


potencialidade lesiva para a caracterização da captação ilícita de
sufrágio?
O art. 41-A da Lei n9 9.504/97 retrata uma ação de mera conduta, sem nenhuma
necessidade de prova da potencialidade lesiva, pois basta o "fim de obter o voto".
A potencialidade lesiva é necessária para a prova do abuso do poder econômico,
mas não para a comprovação da captação ilícita de sufrágio. É suficiente que o
candidato pratique o ato ilícito eleitoral definido na norma jurídica.
"... Em representação para apuração de captação vedada de sufrágio
não é cabível a decretação de inelegibilidade, mas apenas multa e
cassação de registro ou de diploma, como previsto no art. 41-A da Lei
ne 9.504/97. TSE. (REspE n^ 21.120 - ES), e ainda: (REspE 19.878 -
MS).

62S
M arcos R a m a y a n a __________________ D ir e it o E l e it o r a l

É prescindível, portanto, a prova do desequilíbrio do pleito ou da quantidade da


doação, promessa, oferta ou entrega. Todavia, vige na hipótese, ao nosso pensar, o
princípio da fragmentaridade aplicável ao Direito Penal moderno, ou seja, apenas
uma parcela de bens interessa diretamente ao Direito Eleitoral, somente aquela
capaz de afetar a moralidade das eleições, a ética eleitoral, Esse princípio liga-se
ao da intervenção mínima. Por exemplo: não interessa ao Direito Eleitoral punir
a distribuição, por um candidato, de um ticket refeição, ou a distribuição de um
sapato, em troca de voto. A orientação jurisprudencial de vários Tribunais Regionais
Eleitorais, e do Eg.TSE, é seguida nos destaques infradescritos:
"Para a configuração do ílícito previsto no referido art, 41-A, não
é necessária a aferição da potencialidade de o fato desequilibrar a
disputa eleitoral, porquanto a proibição de captação de sufrágio visa
resguardar a livre vontade do eleitor e não a normalidade e equilíbrio
do pleito, nos termos da pacífica jurisprudência desta Corte (Acórdão
ne 3.510) (REspe. n9 21.248 - SC)”.
Desnecessário, por outro lado, apurar a potencialidade do fato no
resultado da eleição, na linha firme da jurisprudência desta Corte
(REspe. ne 19.739,13.8.2002, de que fui relator, e REspe. n9 19,553, de
21.3.2002, rei. Ministro Sepúlveda Pertence) (REspe. nfi 21.022 - CE),
Em se tratando de ação de impugnação de mandato eletivo, assente a
jurisprudência deste Tribunal no sentido de que, para a sua procedência,
é necessária a demonstração da potencialidade de os atos irregulares
influírem no pleito. Precedentes. Por outro lado, para a configuração da
captação ilícita de sufrágio, prevista no art. 41-A da Lei ne 9.504/97, e
para a tipificação do crime de corrupção (art. 299, CE), desnecessário
aferir a potencialidade do ilícito para influir na eleição (Ag 4033 - MG).
Em se tratando de captação ilegal de sufrágio, esta Corte já assentou
ser desnecessário o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado
do pleito (AgReREspe. nfi 20.312 - MG).
''(...) no caso de captação de votos vedada por lei, não há que se
indagar sobre a potencialidade de o fato influir no resultado da eleição,
conforme já decidiu este Tribunal no julgamento do Recurso Especial
ns 19.553, na sessão de 21.3.2002, que teve como relator o Ministro
Sepúlveda Pertence". (REspe. 19.739 - BA).
A aplicação desse princípio, que também deriva do princípio da lesividade, não
pode servir à impunidade, merecendo criteriosa análise, sob pena de infinitesimal
desprestígio às normas de Direito Eleitoral, mas servirá de âncora segura à aplicação
suprapartidária da norma eleitoral em comento, especialmente pela evitabilidade
de amesquinhamento da função eleitoral.
De toda sorte, ficará a critério do juiz e do tribunal analisar a hipótese concreta
diante do caso eleitoral, coma efetividade plena darazoabilidade e proporcionalidade
na aplicação da lei eieitoral.

626
A ção de C apta çã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 2 0

20.3.4. Participação do candidato. É necessária a participação direta do


candidato no fato caracterizador da captação ilícita de sufrágio?
A jurisprudência do TSE evoluiu no sentido de que não é necessária a comprovação
da participação direta do candidato no evento captatlvo.
Admite-se a participação indireta do candidato. No entanto, ainda é muito
dificultosa a prova dessa participação, porque o autor direto do fato, geralmente,
é um cabo eleitoral que assume inteiramente a responsabilidade pela prática do
ilícito.
Destacamos significativa decisão do TSE no sentido da admissão da participação
indireta:
"(...) para a caracterização da infração ao art. 41-A da Lei das Eleições,
é desnecessário que o ato de compra de votos tenha sido praticado
diretamente pelo candidato, mostrando-se suficiente que, evidenciado
o benefício, haja participado de qualquer forma ou com ele consentido”
(RespE. 21.792, Rei. Min. Caputo Bastos - 15.09.2005]".

Confirmando a jurisprudência que já se encontrava sedimentada, foi editada a Lei


ne 12.034/2009, que, expressamente, afirma ser desnecessário o pedido explícito
de votos para a configuração da captação ilícita de sufrágio, in verbis:

§ l 9 Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido


explicito de votos, bastando a evidência do dolo, consistente no especial
fim de agir.

Desta feita, com uma simples análise do fato, pode-se, por diversas vezes,
concluir pela finalidade implícita, mas evidente, na finalidade perquirida com o
suposto ato de benevolência, no sentido de se estar objetivando angariar votos.
Assim, essa lei vem ao encontro da real necessidade para a qual deva incidir a sua
eficácia, albergando tanto os pedidos expressos de votos como os implícitos, que
não são menos lesivos do que aqueles. O conjunto da prova formará a convicção
adotando-se a regra de interpretação do art. 23 da Lei das Inelegibilidades, que
permite ao juiz investigar a notoriedade e indícios formadores de elos razoáveis
de prova.
Afasta-se a culpa na ação do agente, considerando a afirmação do dolo especial.
No entanto, a conduta penal do art. 299 do Código Eleitoral também não tratava
do crime culposo. Aqui, a punição não penal é vinculada a comprovação, por
exemplo, da doação do bem com fins eleitoreiros. Firma-se a posição já adotada
pelos Tribunais.
M a r c o s Ram ayana D ir e it o E l e it o r a l

20.3.5. Captação ilícita de sufrágio e inelegibilidade. O art. 41-A da Lei


nc 9.504/97 não trata de inelegibilidade.
Ao contrário do que sustentam algumas judiciosas correntes de pensamento, o
art. 41-A, não contemplou a hipótese de inelegibilidade, pois no sistema eleitoral
vigente é possível desvincular os efeitos da nulidade ou anulação dos registros e
diplomas da questão relativa à causa de inelegibilidade.
As inelegibilidades decorrentes do abuso do poder econômico e político recebem
um tratamento especial da Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990, quando
no art. 22, os incisos XIV e XV fomentam uma superposição de ações em consonância
ao momento em que é satisfeita a prestação jurisdicional eleitoral. Na verdade, o
abuso do poder em matéria eleitoral conduz ao nexo causai da inelegibilidade, mas
a ação de captação ilícita de sufrágio foi especialmente criada para a defesa da pura
compra de votos, sem que desta ação decorresse a hipótese abusiva. Não há nesta
premissa, nenhuma contradição evidente, mas apenas efeitos diversos decorrentes
da hipótese fática de incidência. Por exemplo, se um determinado candidato comprou
votos sem potencialidade lesiva na análise factual daquela eleição, deverá responder
pelas sanções do art. 41-A, sem nenhuma incidência da Lei das Inelegibilidades.
Este é o sistema da instrumentalidade eleitoral para contemplar fatos diversos.
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI 3592) pedindo a suspensão da expressão: "cassação do registro ou do diploma"
referidas no texto do art 41-A da Lei ne 9.504/97. As argumentações podem ser resumidas
na violação ao art. 14, § 9 e, da CRFB, porque a Lei n9 9.840/99 que acrescentou o a rt 41-A
é do tipo ordinária, enquanto que as inelegibilidades devem ser regulamentadas por lei
complementar. No direito pátrio, Lei Complementar n- 64, de 18 de maio de 1990.
As judiciosas argumentações, não tornam a norma atacada inconstitucional:
não há inconstitucionalidade nesta matéria, pois como já enfatizado, o sistema de
anulação do registro ou diploma pode se dar de forma independente da causa de
inelegibilidade decorrente do abuso do poder econômico ou político.7
7 “Informativo do STF n° 412 {Brasília, 5 a 9 de dezembro de 2005). A declaração a que se refere o § 3o do art 55 da CF
independe do trânsito em julgado da decretação, pela Justiça Eleitoral, da perda de mandato parlamentar por prática de
captação ilícita de sufrágio. Com base nesse entendimento, e ressaltando a pacífica jurisprudência do TSE no sentido
de que a decisão, fundada no art. 41-A da Lei ne 9.504/97, deve ter cumprimento imediato, o Tribunal, por maioria,
concedeu mandado de segurança para determinar que a Mesa da Câmara dos Deputados proceda à declaração da
perdas do mandato do deputado federai e da conseqüente posse peío impetrante, primeiro supíente do parlamentar *
Lei ne 9.504/97:” Art 41-A.... constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei,..., sob pena d e ... cassação do registro
ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar n° 64, de 18 de maio de 1990.”; CF:
“Art. 55. Perderá o mandato o deputado ou senador:... V - quando o decretar a Justiça EleitoraJ, nos casos previstos nesta
Constituição;... § 3oNos casos previstos nos incisos lil a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de oficio
ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.” Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Eros Grau, que, fazendo distinção entre as hipóteses
de cassação do registro e do diploma a que alude o art. 41-A da Lei n9 9.504/97, e, tendo em conta os arte. 15 e 22, XV,
da Lei Complementa- n2 64/90, que estabelecem, respectivamente, que a declaração de insubsistência do diploma ocorre
somente com o trânsito em julgado da declaração de inelegibilidade do candidato, e que, se a representação for julgada
procedente após a eleição do candidato, serão remetidas cópias do processo ao Ministério Público Eleitoral para os fins
previstos no art 14, §§ 10 e 11, da CF, e no art. 262, IV, do Código Eleitoral (ação de impugnação de mandato), denegavam
a ordem por considerar incongruente conferir à Lei na 9.504/97 alcance mais rigoroso do que o previsto na citada Lei
Complementar. MS 25458/DF, rei. orig. Min. Marco Aurélio, rei. p/acórdão Min. Carlos Velloso, 7.12.2005".

628
A ção de C a p t a ç ã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

0 art. 262, incisos I, II, e III, do Código Eleitoral, trata de casos de cabimento
do Recurso contra a Diplomação, sendo o diploma anulado sem necessariamente
emergir uma hipótese de inelegibilidade. Outrossim, a Lei ns 9.504/97, nos arts. 73,
§ 5-, e 74, ao disciplinar a anulação do registro e diploma, não vincula o efeito do
abuso ao liame da inelegibilidade.
Como se nota, a ação de reclamação ou representação baseada em determinadas
condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais (ver arts. 73 e 96
da Lei ne 9.504/97), em razão do disposto nos §§ e 59 do art. 73, tratam de
sanções do tipo: imediata suspensão da atividade; multa; cassação do registro ou do
diploma. Se houver uma conduta vedada que seja potencialmente lesiva para afetar a
normalidade e legitimidade das eleições (art. 14, § 9 9, da CRFB), neste caso, deve-se
coibir o abuso do poder econômico ou político por intermédio da representação ou
ação de investigação judicial eleitoral prevista no art. 22 da Lei das Inelegibilidades,
cujas conseqüências resultam na cassação do registro ou do diploma, observando-
se a regra dos incisos XIV e XV (AIME ou RCD).
Assim, na representação baseada no art. 96 da Lei n9 9.504/97 foi instituída por
lei ordinária a cassação do registro ou do diploma, quando a hipótese fática não for
abusiva, mas refletir uma conduta vedada tipificada nos incisos I, II, III, IV e VI do
art. 73, por força do § 5- (Lei das Eleições).
O exercício do mandato eletivo é preservado pela vontade popular manifestada
de forma livre e soberana, sem coação, fraude, abusos, captações ilícitas e condutas
vedadas.
Complementando a assertiva, o art. 15 da Lei Complementar n2 64, de 18 de maio
de 1990, permite que o diploma seja declarado nulo, por causas não relativas ao
evento factual da inelegibilidade. Por exemplo: por falta de condição de elegibilidade
ou superveniente suspensão dos direitos políticos.
Vê-se ainda que, na própria ação de impugnação do mandato eletivo (art. 14,
§§ 10 e 11, da Constituição da República Federativa do Brasil), o diploma pode
ser declarado nulo, sem que tenha sido a ação proposta com base numa questão
de abuso do poder econômico ou político, pois basta imaginarmos a declaração
de nuiidade do diploma com base nas causas de perda ou suspensão dos direitos
políticos (art. 15 da CRFB), quando incidentes no curso de uma eleição.
Destacamos as lições do Ministro Carlos Velloso no Agravo regimental em Recurso
Especial n2 21.312, Acórdão ns 21.312, de sua relatoría, de 2 de dezembro de 2003,
que explica a diferença entre a compra de votos e o abuso do poder econômico:
"Há que se distinguir captação ilícita de sufrágio e abuso do poder
econômico. Conforme a jurisprudência da Corte, a captação ilícita
de sufrágio, tipificada no art. 41-A da Lei ns 9.504/97, configura-se
por conduta isolada daquele que venha a doar, oferecer, prometer ou
entregar ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem
pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública.

629
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

e visa resguardar a vontade do eleitor (Res.-TSE ne 20.531/99, rei.


Min. Maurício Corrêa, e Ac. ne 21.248/03, rei. Min Fernando Neves). O
abuso do poder econômico, por sua vez, se caracteriza pela ‘utilização
do poder econômico com a intenção de desequilibrar a disputa
eleitoral, o que ocorre de modo irregular, oculto ou dissimulado', e
exige potencialidade tendente a afetar o resultado de todo o pleito (Ac.
ns 4.410, rei. Min, Fernando Neves)".
Sobre o assunto, é importante salientar o disposto no § 5e do art. 73 da Lei
ns 9.504/97. Este dispositivo legal permite a cassação do diploma, quando houver
violação de determinadas condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas
eleitorais, sem que seja necessária a prova do abuso do poder econômico como
potencialmente lesiva para desequilibrar uma eleição, ou seja, sem que o resultado
seja a constituição da inelegibilidade, inclusive com um rito sumário e especial
do art. 96 da Lei n9 9.504/97. Por exemplo: quando o servidor público (prefeito)
usar em benefício de um candidato a deputado estadual, bens móveis ou imóveis
pertencentes ao município (inciso I, do art. 73 da aludida lei).
Além disto, o art. 78 da Lei n9 9.504/97 é expresso:

"A aplicação das sanções cominadas no art. 73, §§ 4e e 5S, dar-se-á


sem prejuízo de outras de caráter constitucional, administrativo ou
disciplinar fixadas pelas demais leis vigentes".

Como visto, a própria iei ressalva outras penalidades, dentre as quais se insere
a inelegibilidade emergente do abuso do poder econômico ou político nas eleições,
cuja coibição se desenvolve no âmbito da representação ou ação de investigação
judicial eleitoral com lastro na Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990 (Lei
das Inelegibilidades).
Como se nota, a cassação do diploma não está vinculada ao nexo da potencialidade
lesiva.
O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedente sobre o assunto, in
expressi verbis:
Acórdão n9 24.739, de 28.10.2004 Recurso Especial Eleitoral
N9-24.739/SP. Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins Ementa:
Recurso especial. Propaganda institucional. Período vedado. Afronta a
lei e dissídio. Configuração, Inconstitucionalidade. Afastada. Aplicação
de multa e cassação do registro de candidatura. Recurso provido. I - A
penalidade de cassação de registro ou de diploma prevista no § 5e do
art. 73 da Lei ns 9.504/97 não constitui hipótese de inelegibilidade.
Precedente. II - Na linha da atual jurisprudência é irrelevante a data em
que foi autorizada a publicidade institucional, pois a sua divulgação nos
três meses que antecedem o pleito é conduta vedada ao agente público,
ficando o responsável sujeito à pena de multa no valor de cinco a cem
mil Ufirs (art. 73, § 4-, da Lei n9 9.504/97) e o candidato beneficiado

630
A ção de C a pta çã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

pela conduta vedada sujeito à cassação do registro ou do diploma e


à pena de multa (art. 73, §§ 5e e 8e, da Lei das Eleições). III - Como
também assentado na jurisprudência do TSE, tem-se como configurado
o ilícito previsto no art. 73 da Lei das Eleições independentemente
da demonstração da potencialidade de o ato influir no resultado do
pleito e da comprovação do prévio conhecimento do beneficiário ou da
intimação para a retirada da publicidade (REspe. nea 21.151/PR, DJ de
27.6.2003; 21.167/ES, DJ de 12.9.2003; 21.152/PA, DJ de 12.08.2003,
todos da relatoria do Ministro Fernando Neves). IV - Igualmente,
é certo que a representação fundada em violação ao art. 73 da Lei
na 9.504/97 segue o rito previsto no art. 96 do mesmo diploma legal
(REspe. nfi 20.353/RS, Rei. Min. Barros Monteiro, DJ de 8/8/2003; Ag
nSs 3.363/SP, Rei. Min. Carlos Velloso, DJ de 15.8.2003, e 3.037/SP, Rei.
Min. Luiz Carlos Madeira, DJ de 16.8.2002; Res.-TSE ns 21.166/SP, Rei.
Min. Sálvio de Figueiredo, DJ de 6.9.2002). Não ocorre daí afronta ao
art. 52, LV, da CF, em face de o rito adotado ser aquele expressamente
previsto em lei. Publicado na sessão de 28.10.2004”.
De certo que a intenção do legislador (Lei n- 9.840/99) foi voltada para ampliar
o rol da proteção infraconstitucional da democracia e da cidadania brasileira
punindo os candidatos infratores de forma desvinculada dos casos mais graves de
inelegibilidade por abuso do poder econômico ou político. Todavia, não podemos
ignorar o fato de que numa visão restrita do princípio da proporcionalidade das
sanções, quem pratica uma pura compra de votos, sem abuso do poder econômico
ou político, é apenado mais severamente em comparação com os infratores de
potencialidade lesiva ao pleito eleitoral, na medida em que o processo de nulificaçao
do registro ou diploma é de exemplar celeridade processual.
Por fím, a celeridade processual decorrente da ação de captação ilícita de
sufrágio é hodiernamente elevada à ordem jurídica constitucional como princípio
fundamental da cidadania, democracia e respeito ao eleitor, pois a Emenda
Constitucional nô 45/2004, que entrou em vigor no dia 31 de dezembro de 2004, no
art. 5-, LXXVIII, assim acrescentou: "a todos, no âm bito judicial e administrativo,
são assegurados a razoável duração do processo e os m eios que garantam a
celeridade de sua tram itação". Na verdade, a Carta Magna abrigou neste aspecto
o art. 8 B, I, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que assim diz: "toda
pessoa tem direito de ser ouvida com as devidas garantias dentro de um prazo
razoável".
Na verdade, o desejo da sociedade e dos eleitores em geral deve ser protegido em
face da morosidade do sistema ultrapassado dos incisos XIV eXV do art. 22 da Lei das
Inelegibilidades, que atrelam em extremada morosidade a prestação jurisdicional
eleitoral, inclusive por manobras flagrantemente protelatórias. Desta forma,
navegando no sentido normativo do atual texto constitucional, a Lei ne 9.840/99,

631
M a rc o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

mesmo sujeita a críticas e ao devido aperfeiçoamento, traduziu antecipadamente os


anseios de um projeto de iniciativa popular voltado para a pronta eficácia da tutela
jurisdicional eleitoral dos direitos fundamentais.
Recentemente, o Egrégio Supremo Tribunal Federal decidiu a questão do rito
processual na Ação de Captação Ilícita de Sufrágio, na ADI 3592/DF. Relator:
Min. Gilmar Mendes: "Ementa: Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 41-A
da Lei n9 9.504/97. Captação de sufrágio. 2. As sanções de cassação do registro
ou do diploma previstas pelo art. 41-A da Lei ns 9.504/97 não constituem novas
hipóteses de inelegibilidade. 3. A captação ilícita de sufrágio é apurada por meio
de representação processada de acordo com o art. 22, incisos I a XIII, da Lei
Complementar ne 64/90, que não se confunde com a ação de investigação judicial
eleitoral, nem com a ação de impugnação de mandato eletivo, pois não implica a
declaração de inelegibilidade, mas apenas a cassação do registro ou do diploma. 4.
A representação para apurar a conduta prevista no art. 41-A da Lei n9 9.504/97 tem
o objetivo de resguardar um bem jurídico específico: a vontade do eleitor. 5. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada improcedente" (Inform ativo 446 do STF).
A questão é que a ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida
liminar, foi proposta pelo Partido Socialista Brasileiro - PSB, em face da expressão
"cassação do registro ou do diploma”, constante do art. 41-A da Lei ns 9.504, de
30 de setembro de 1997, sob o fundamento de que foi criada nova hipótese de
inelegibilidade, sem que se tenha observado a reserva da Lei Complementar, na
forma do preconizado no art. 14, § 9 9, da Constituição da República.
Os argumentos na ADI também seriam de afronta aos §§ 10 e 11 do art. 14 da
Constituição, porque seria hipótese de perda de mandato eletivo em conseqüência do
abuso de poder econômico, corrupção ou fraude, sem atendimento ao rito da ação de
impugnação ao mandato eletivo, que, aliás, é o mesmo do art. 22 da Lei Complementar
ns 64, de 18 de maio de 1990. Ora, a arguição já tinha neste aspecto motivo suficiente
para não ser acolhida, como bem fez Sua Excelência o Ministro Gilmar Mendes, que em
brilhante relatório esclareceu que diversos precedentes do Tribunal Superior Eleitoral
já tinham desvinculado a cassação do diploma da declaração de inelegibilidade. Neste
sentido fez menção o relator aos seguintes precedentes:
(Ac. ns 25.241, de 22.9.2005, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros; no
mesmo sentido o Ac. ns 882, de 8.11.2005, Rei. Min. Marco Aurélio; Ac.
nfi 25.295, de 20.9.2005, Rei. Min. Cesar Asfor Rocha; Ac. n9 5.817, de
16.8.2005, Rei. Min. Caputo Bastos; Ac. ne 25.215, de 4.8.2005, ReL Min.
Caputo Bastos; no mesmo sentido o Ac. ne 25.289, de 25.10.2005, do
mesmo Relator; Ac. ns 25.227, de 21.6.2005, Rei. Min. Gilmar Mendes;
Ac. ns 4.659, de 19.8.2004, ReL Min. Peçanha Martins; Ac. n9 612, de
29.4.2004, Rei. Min. Carlos Velloso; Ac. n9 21.221, de 12.8.2003, Rei.
Min. Luiz Carlos Madeira; Ac. n9 21.169, de 10.6.2003, Rei. Min. EUen
Gracie; Ac. ne 21.248, de 3.6.2003, Rei. Min. Fernando Neves; Ac.
n9 19.644, de 3.12.2002, Rei. Min. Barros Monteiro).

632
A ção d e C a p t a ç ã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

Na fundamentação do voto, diz o sábio Ministro: "... A sanção de cassação de


registro ou do diploma cominada pelo art. 41-A da Lei n2 9.504/97 não se confunde
com a declaração de inelegibilidade diante da ocorrência de alguma das hipóteses
definidas no art. 14 da Constituição e na Lei Complementar n- 64/90. Assim, quanto
à constitucionalidade do art. 41-A, da Lei n2 9.S04/97, em face do § 9 S do art. 14
da Constituição, o parecer do Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando
Barros e Silva de Souza, bem esclarece a questão, verbis:
"Não procedem as alegações de inconstitucionalidade da expressão
‘e cassação do registro ou do diploma’ contida no art. 41-A da Lei
ne 9.504/97, com a redação que lhe foi conferida pela Lei ne 9.840/99.
Em primeiro, é preciso observar que, ao contrário do sustentado
pelo requerente em sua petição inicial, o aludido dispositivo não
cria nova hipótese de inelegibilidade, razão pela qual não se observa
a sustentada violação ao art. 14, § 9° da Constituição Federal. Em
verdade, o dispositivo sob análise se refere, especificamente, à
captação ilícita de sufrágio, impondo como sanções a pena de multa
e a cassação do registro ou do diploma, não se confundindo estas
hipóteses com a inelegibilidade. Com efeito, ao discorrer sobre o
tema das inelegibilidades, o Ministro Moreira Alves destacou que
estas se caracterizam como 'impedimentos que, se não afastados
por quem preencha os pressupostos de elegibilidade, lhe obstam
concorrer a eleições ou - se supervenientes ao registro ou se de
natureza constitucional - servem de fundamento à impugnação de
sua diplomação, se eleito'. Verifica-se, portanto, que distintas são as
situações de inelegibilidade e de captação ilícita de sufrágio, porquanto
esta impõe uma sanção que decorre de prática de corrupção eleitoral,
enquanto aquela impõe um impedimento, um obstáculo que não se
caracteriza como sanção, embora dela possa resultar. Dessa forma,
não se pode concluir que a disposição insculpida no art. 41-A, da Lei
n2 9.504/97, se apresenta como obstáculo à cidadania passiva, isto é,
como espécie de inelegibilidade, porquanto, na realidade, o que fez
o legislador foi impor uma forma de sanção ao candidato que vicia
a vontade do eleitor, através da doação, oferecimento, promessa ou
entrega de bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive
emprego ou função pública, e a punição é restrita ao pleito em que
ocorreu a captação ilícita. Tal diferença resta evidenciada no acórdão
ne 16.242, do Tribunal Superior Eleitoral, no qual o Ministro Nelson
Jobim, Relator, destacou em seu voto:
'(...) Mas lembro que a lei complementar exige, para efeito da prática de
abuso de poder econômico, o risco de perturbação da livre manifestação
popular. É isso que tem que ser demonstrado. Ou seja, quando a
captação de sufrágio foi criada pelo art. 41-A da Lei ne 9.840/99, não
se falou de inelegibilidade, e sim em captação do sufrágio com o fim
de obter o voto. No caso concreto poder-se-ia pensar em captação de

633
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

sufrágio, mas captação de sufrágio não leva à inelegibilidade, que exige


o risco de perturbação da livre manifestação popular. Esta é a diferença
fundamental. Ou seja, se estivéssemos perante a captação de sufrágio,
sim, porque estaríamos discutindo o problema com o fim de obter o
voto do art. 41-A; todavia, não é a hipótese.'
Assim sendo, resta claro que não se pode atribuir à sanção decorrente
da captação ilícita de sufrágio a natureza de inelegibilidade, de sorte
que não procede o argumento do requerente no sentido da necessidade
de previsão em lei complementar." (fls. 221-222}
No mesmo sentido manifestou-se o Advogado-Geral da União, nos seguintes
termos:
"Em que pesem os argumentos colacionados à inicial, percebe-se que o
autor parte da equivocada premissa de que o disposto no art. 41-A da
mencionada lei estaria criando uma nova hipótese de inelegibilidade.
Todavia, isso não ocorreu, conforme se demonstrará a seguir. A
Constituição Federal traça em seu bojo condições de elegibilidade
(art. 14, §§ 3S e 8 -), bem como hipóteses de inelegibilidades (art.
14, §§ 4 e a 7-). Por fim, possibilita ao legislador complementar criar
novas hipóteses de inelegibilidade, com o fito de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada
a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder econômico ou do abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração pública direta
ou indireta (art. 14, § 9 S). Dessa forma, para que um cidadão comum
possa pretender ocupar algum cargo eletivo deverá possuir condições
de elegibilidade (nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos
políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição,
filiação partidária e idade mínima), bem como não poderá se enquadrar
em qualquer das hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14
da Carta Maior e na Lei Complementar ns 64/90. Nesse diapasão, o
autor afirma, com acerto, que, afora as hipóteses de inelegibilidades
elencadas na Constituição Federal e na legislação complementar, não
poderia o legislador ordinário inovar. Cabe asseverar que, no caso dos
autos, não houve tal inovação ao introduzir o art. 41-A no bojo da Lei
na 9.504/97. Em nenhuma passagem da lei em apreço há menção à pena
da inelegibilidade como conseqüência jurídica do descumprimento
dos preceitos nela contidos. Ao revés disso, as sanções previstas no
art. 41-A são expressas, quais sejam, a pena de multa e a cassação do
registro ou do diploma. Não se menciona inelegibilidade, porquanto
de inelegibilidade não se trata. Na realidade, as sanções correlatas ao
cometimento da captação de sufrágio pelo eventual candidato - pena
de multa ou cassação do registro ou do diploma - não impõem, por
si mesmas, a sua inelegibilidade. 0 sentido do preceito sob análise é
o de afastar, de imediato, o candidato da disputa eleitoral. Assim, ele

6 3 4
A ção d e C a pta çã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ítu lo 2 0

não incidirá em qualquer condição de inelegibilidade, mas tão somente


restará proibido de participar de um pleito eleitoral específico" (fls.
204-205).
Deve ser levado em conta também que, em recente julgamento (ADI 3.305/DF,
Rei. Min. Bros Grau, julgado em 13.9.2006), o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionaiidade do art. 77 da Lei ne 9.504/97, entendendo que tal dispositivo,
ao co minar a sanção de cassação de registro da candidatura, não trata de nova
hipótese de inelegibilidade. Retiro as referências deste julgado do Inform ativo STF
n- 440, verbis:
"0 Tribunal julgou improcedente pedido formulado em ação direta
de inconstitucionalidade ajuizada pelo Partido Liberal - PL contra
o art. 77 e seu parágrafo único da Lei Federal ns 9.504/97, que,
respectivamente, proíbe os candidatos a cargos do Poder Executivo
de participar, no trimestre que antecede o pleito, de inaugurações de
obras públicas, e comina, ao infrator, a pena de cassação do registro
da candidatura. Sustentava-se, na espécie, ofensa ao art. 14, § 99, da
CF, por se ter estabelecido, sem lei complementar, nova hipótese de
inelegibilidade, bem como a inobservância do princípio da isonomia, já
que a norma alcançaria exclusivamente os candidatos a cargo do Poder
Executivo. Entendeu-se que a referida vedação não afronta o disposto
no a r t 14, § 9fi, da CF, porquanto não consubstancia nova condição
de elegibilidade, destinando-se apenas a garantir igual tratamento a
todos os candidatos e a impedir a existência de abusos. Além disso,
concluiu-se pela inocorrência de violação ao princípio da isonomia,
por se considerar haver razão adequada para a diferenciação legal,
qual seja, a de exercer o Poder Executivo função diversa da do Poder
Legislativo, de gerir a Administração Pública e de, consequentemente,
decidir sobre a realização de obras. Precedente citado: ADI 1062 MC/
DF (DJU d e 1-.7.94).”
Assim, tendo em vista que a sanção de cassação de registro ou do diploma não
implica declaração de inelegibilidade, não vislumbro inconstitucionalidade no
art. 41-A da Lei n9 9.504/97 em face do disposto no § 9 9 do art. 14 da Constituição.
Da mesma forma, não vejo qualquer inconstitucionalidade em relação aos § § 1 0
e 11 do art. 14 da Constituição.
É certo que a captação de sufrágio, definida pelo art. 41-A, da Lei n9 9.504/97,
deverá ser apurada de acordo com o procedimento da ação de investigação judicial
eleitoral, previsto no art. 22 da LC n9 64/90, o qual dispõe, em seus incisos XIV e
XV, o seguinte:

"XIV - julgada procedente a representação, o Tribunal declarará a


inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a
prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições
a se realizarem nos três anos subsequentes à eleição em que se verificou,

635
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

além da cassação do registro do candidato diretamente beneficiado


pela interferência do poder de autoridade, determinando a remessa
dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo
disciplinar, se for o caso, e processo-crime, ordenando quaisquer outras
providências que a espécie comportar;
XV - se a representação for julgada procedente após a eleição do
candidato serão remetidas cópias de todo o processo ao Ministério
Público Eleitoral, para os fins previstos no art, 14, §§ 10 e 11, da
Constituição Federal, e art. 262, inciso IV, do Código Eleitoral."

Tais incisos, no entanto, não se aplicam ao procedimento da representação para


apuração da conduta descrita no art. 41-A da Lei n- 9.504/97, como já decidiu o
Tribunal Superior Eleitoral (Ac n- 19.587, de 21.3.2002, Rei. Min. Fernando Neves;
Ag. nB 3042, de 19.3.2002, Rei. Min. Sepúlveda Pertence).
O procedimento do art. 22, a ser observado na aplicação do art. 41-A, é aquele
previsto nos incisos I a XIII. Isso porque, diferentemente da ação de investigação
judicial eleitoral, a representação para a apuração da captação de sufrágio não implica
a declaração de inelegibilidade, mas apenas a cassação do registro ou do diploma.
Por isso, a decisão fundada no art. 41-A da Lei n- 9.504/97, que cassa o registro
ou o diploma do candidato, tem eficácia imediata, não incidindo, na hipótese, o que
previsto no art. 15 da LC ne 64/90, que exige o trânsito em julgado da decisão para
a declaração de inelegibilidade do candidato. Os recursos interpostos contra tais
decisões são regidos pela regra geral do art. 257 do Código Eleitoral, segundo a qual
os recursos eleitorais não têm efeito suspensivo. Assim, não há necessidade de que
seja interposto recurso contra a diplomação ou ação de impugnação de mandato
eletivo para o fim de cassar o diploma.
Estabelece-se, dessa forma, a distinção entre (a) a ação de impugnação de
mandato eletivo, instaurada para a apuração de abuso de poder econômico,
corrupção ou fraude, a seguir o rito previsto no art. 14, §§ 10 e 11, da Constituição
e no art. 3 9 da LC n° 64/90; (b) a ação de investigação judicial eleitoral, instaurada
para apurar uso indevido, desvio ou abuso de poder econômico ou do poder de
autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em
benefício de candidato ou de partido político, que deve seguir o procedimento do
art. 22, incisos I a XV da LC ns 64/90; (c) e a representação para apurar a conduta
descrita no art. 41-A da Lei n 9 9.504/97, que segue o procedimento dos incisos I a
XIII do art. 22 da LC n^ 64/90.
Com esses fundamentos, não vislumbro qualquer inconstitucíonalidade no
art. 41-A da Lei ns 9.504/97 em face do art. 14, §§ 9a, 10 e 11, da Constituição...”
Cumpre ainda esclarecer que atualmente está em tram itação um projeto
de lei no Senado Federal, que altera o art. 41-A da Lei n2 9.504/97, dispondo o
seguinte: a) o prazo da captação é ampliado para o dia da escolha dos candidatos

636
A ção de C a pta çã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

em convenção partidária até o dia da eleição; b) fixação do prazo de propositura


final da ação de captação ilícita de sufrágio, ou seja, para 60 (sessenta) dias após
o pleito; c) manutenção das penas de cassação do registro e diploma; d) ressalva
de que as sanções penais do art. 2 9 9 são aplicáveis independentemente da medida
não penal; e) eficácia das sanções se dará com a publicação da decisão judicial,
independentemente do trânsito em julgado (efeito imediato); f) na hipótese de
recurso, o relator terá o poder de ao examinar medida cautelar incidental diante
de fato que possa resultar em lesão grave e de difícil reparação, após relevante
fundamentação, suspender o efeito imediato da decisão que cassou o registro ou
diploma até pronunciamento definitivo do Tribunal, cabendo desta decisão agravo
de instrumento, no prazo de 5 (cinco) dias, com possibilidades de juízo de retratação,
devendo o relator apresentar o processo para julgamento na sessão imediatamente
seguinte.
De certo que o projeto é um avanço no estabelecimento de regras mais céleres
na tramitação da ação de captação ilícita de sufrágio, sem descurar das garantias
da ampla defesa e contraditório. Nesta linha de renovação processual eleitoral, é
de real valia a fixação do termo a d quem do prazo de propositura da ação, bem
como a manutenção dos atuais efeitos com o alargamento da incidência temporal
da captação, além de fixar-se o efeito imediato nos moldes do art. 257 do Código
Eleitorai, pois os recursos eleitorais não têm efeito suspensivo, no entanto, devem
proporcionar à parte lesada a possibilidade excepcional de modificação temporária
da decisão no juízo de admissibilidade pelo relator do recurso interposto nos
moldes do agravo de instrumento do processo civil, bem como a correta previsão
do juízo de retratação.

20.3.6. Pedido Explicito de votos.Para a caracterização da conduta de


captação ilícita de sufrágio é n ecessário o pedido explícito de votos?
O TSE possui precedentes no sentido da desnecessidade da referência explícita
ao pedido de votos. O importante é analisar o contexto dos fatos durante a
campanha eleitoral, tais como: o tipo de eleitores, o local do fato e as necessidades
da população. Destacamos:
"(...) Representação. Captação ilícita de sufrágio. Art. 41-A da Lei n?
9.504/ 97. Desnecessidade de nexo de causalidade. Anuência do
candidato. 1. Manutenção em período eleitoral de ‘cursinho pré-
vestibular’ gratuito e outras benesses, às vésperas da eleição, revelam o
intuito do candidato em obter votos. 2. Para caracterização da conduta
ilícita é desnecessário o pedido explícito de votos, basta a anuência
do candidato e a evidência do especial fim de agir. (...)(Ac. n- 773, de
24.8.2004, rei. Min. Humberto Gomes de Barros, red. Designado Min.
Carlos Velloso)"

637
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

E ainda:
"Recurso especial. Representação com base nos arts. 41-A e 73 da Lei
n9 9.504/97. (...) Oferta feita a membros da comunidade. A pluralidade
não desfigura a prática da ilicitude. (...)” NE: Candidato dava a entender
aos eleitores que obras públicas deveriam ser a ele creditadas (Ac.
n3 21,120, de 17.6.2003, Rei Min. Luiz Carlos Madeira)".

Confirmando a jurisprudência que já se encontrava sedimentada, foi editada a Lei


n9 12.034/ 2009, que, expressamente, afirma ser desnecessário o pedido explícito
de votos para a configuração da captação ilícita de sufrágio, in verbis:

Art. 41-A (...)


§ l e Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido
explícito de votos, bastando a evidência do doío, consistente no especial
fim de agir.

Desta feita, com a análise do fato, pode-se, por diversas vezes, concluir pela
finalidade implícita, mas evidente, na finalidade perquirida com o suposto ato de
benevolência, no sentido de se estar objetivando angariar votos. Assim, essa lei vem
ao encontro da real necessidade para a qual deva incidir a sua eficácia, albergando
tanto os pedidos expressos de votos como os implícitos, que não são menos lesivos
do que aqueles.
Afasta-se a culpa na ação do agente, considerando a afirmação do dolo especial.
No entanto, a conduta penal do art. 299 do Código Eleitoral também não tratava do
crime culposo. Aqui, a punição não penal é vinculada a comprovação, por exemplo, da
doação do bem com fins eleitoreiros. Firma-se a posição já adotada pelos Tribunais.

2 0 .4 . PRAZO DO REC U RSO CONTRA D EC ISÕ E S DO ART. 41-A DA


LE! DAS E L E IÇ Õ ES.
0 legislador adotou a regra geral do art. 258 do CE, que prevê ser de três dias o
prazo para a interposição de recurso eleitoral. Até o advento da lei em comento, a
jurisprudência vinha adotando o prazo de 24 horas para a interposição de recurso
da sentença que julgava a ação de captação ilícita de sufrágio, conforme se pode
verificar do precedente abaixo:
Agravo regimental. Ação cautelar. Representação. Prazo recursal.
Lei das Eleições. Aplicação.
Conforme reiterada jurisprudência desta Corte, o prazo para recurso
contra decisão de juízo eleitoral em representação por captação
ilícita de sufrágio é de 24 horas (Lei ne 9.504/97, art. 96, § 82), não
se aplicando o de 3 (três) dias, previsto no art. 258 do CE. Nesse

638
A ção dh C a p t a ç ã o I l íc it a de S u f r á g io C a p ít u l o 20

sentido, não obstante a parte final do art. 41-A da Lei das Eleições
estabelecer que deva ser observado o procedimento previsto no art. 22
da LC ns 64/90, essa disposição é aplicada apenas ao rito. Nesse
entendimento, o Tribunal negou provimento ao agravo regimental.
Unânime.
Agravo Regimental na Ação Cautelar n9. 3.222/RS, rei Min. Arnaldo
Versiani, em 10.3.2009. (Noticiado no Informativo n9 6/09).

2 0 .5 . RESUMO
1) Os pedidos na ação são: cassação do registro ou do diploma e multa. Se julgada até
antes da eleição acarreta a cassação do registro e a aplicação da multa eleitoral;
se for julgada após enseja a cassação do diploma e multa. Não é necessário propor
o recurso contra a diplomação ou a ação de impugnação ao mandato eletivo.
Não se aplica o disposto nos incisos XIV e XV do art. 22 da Lei Complementar
ng 64/90, pois nesta ação não se discute conduta abusiva do poder econômico
ou político ensejadora de inelegibilidade, mas apenas a compra e venda de votos.
2) Se houver cumulação de pedidos numa mesma ação em que se pede o
reconhecimento do abuso do poder econômico e/oupolítico e a compra e venda
de votos, o autor deverá propor o recurso contra a diplomação ou a ação de
impugnação ao mandato eletivo, pois, neste caso ele pretende uma decisão de
inelegibilidade.
3) O rito processual é idêntico ao da ação de investigação judicial eleitoral, exceto
pela não incidência dos incisos XIV e XV do art. 22 da Lei Complementar ns 64/90.
Assim, a competência e legitimidade seguem a mesma orientação já expendida
era relação à lei das inelegibilídades.
4) O efeito da decisão é imediato (art 257, parágrafo único, do Código Eleitoral, não
sendo aplicável o disposto no art. 216 do mesmo diploma legal).
5) O Egrégio Tribunal Superior Eleitoral não tem admitido o reexame de matéria
probatória e fatos no âmbito do recurso especial. Aplica-se o teor do verbete
sumular n9 279 do Supremo Tribunal Federal (Agravo Regimental no Agravo de
Instrumento nQ 7.162/SP, Relator Ministro Caputo Bastos, Diário da ju stiça de
01.02.2007).

639
A ção
C de
aptação
I lícita
Julgamento
TRE

de
S ufrágio
__________________________________________________________
Rito Processual
(art. 22, incisos I a XI!I, Lei complementar ne 64/90)

Marcos Ramayana - Direito Eieitorai 10J Edição • Capítulo 20 - Ação de captação ilícita de sufrágio
C apítulo 21

A ção r esc isó r ia eleito ral

21.1. B A SE LEGAL
A ação rescisória eleitoral está disciplinada na alínea j do art. 22, inciso 1, do
Código Eleitoral.
A alínea j foi introduzida pela Lei Complementar n9 86/96.

21.2. LEGITIMIDADE ATIVA


a) Partidos políticos;
b) candidatos;
c) coligações;
d) Ministério Público.

21.3. CABIMENTO
A Jurisprudência do TSE tem restringido a admissão da ação rescisória em âmbito
eleitoral. Só é cabível de acórdão oriundo do próprio Tribunal Superior Eleitoral
que tenha transitado em julgado e que verse sobre inelegibilidade. Nesse sentido:
"Ação rescisória. Hipótese de cabimento. Inexistência. No âmbito da Justiça
Eleitoral, a ação rescisória somente é cabível para desconstituir decisão
do Tribunal Superior Eleitoral e que, ademais, contenha declaração de
inelegibilidade (art. 22, l,j, CE), o que não ocorre na espécie. (...)"
(Ac. nfi 225, de 6.9,2005, rei. Min. Cesar Asfor Rocha; no mesmo sentido o Ac.
de 17.10.2006 no AgRgAR ne 250, do mesmo relator.)
Existe divergência doutrinária referente à abrangência do termo “inelegibilidade”
constante do art. 22, inciso I, alínea 'J' do Código Eleitoral, visto que, para alguns,
abrangeria, também, as condições de elegibilidade. Entretanto, esse entendimento
não encontra guarida na jurisprudência dos nossos Tribunais, conforme se pode
verificar abaixo:
"Ação rescisória. (...) Inelegibilidade. Cabimento. Não cabe rescisória de
acórdão que proclamou a elegibilidade de candidato."
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

(Ac. nB 207, de 14.4.2005, rei. Min. H um berto Gomes d e B arros.]


É certo que a ação rescisória deve ser aceita como uma medida excepcional
na Justiça Eleitoral, que tem peculiaridades que sobrelevam a importância da
celeridade e da segurança jurídica das decisões. Nesse diapasão, quanto mais
restritas as hipóteses de seu cabimento, mais estável restará o processo eleitoral,
favorecendo o alcance de sua finalidade. Assim, não se deve implementar
interpretações ampliativas da abrangência do vernáculo para além do seu real
alcance.
No ano de 2009, o Supremo Tribunal Federal foi questionado sobre a validade
dessa restrição normativa constante do Código Eleitoral, bem como quanto à
interpretação que lhe é conferida pelo Colendo TSE. A Reclamação não foi conhecida,
mas o voto do Eminente Ministro abordou a controvérsia acima exposta. Tal decisão
foi noticiada no informativo do STF ne 569, nos seguintes termos:
Ação Rescisória Eleitoral - TSE - Opção Hermenêutica - Reclamação -
Descabimento (Transcrições)
Rcl 8989 - MC/PI*
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: AÇÃO RESCISÓRIA ELEITORAL. CONSTITUCI.QNALIDADJS DE SUA
INSTITUIÇÃO MEDIANTE LEI (jL£Ne 86/96). VALIDADE CONSTITUCIONAL
DESSE DIPLOMA LEGISLATIVO (Art. 1* ) CONFIRMADA PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL (ADIN 1.459/DF). ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL
SUPERIOR ELEITORAL NO SENTIDO DE QUE A ADMISSIBILIDADE DA
AÇÃO RESCISÓRIA ELEITORAL SOMENTE OCORRE NOS CASOS EM QUE A
DECISÃO DESSA ALTA CORTE JUDICIÁRIA (TSE), &ESDE QUE TRANSITADA
EM JULGADO, HAJA DECRETADO .AJMELEglBILIDADE DE CANDIDATO.
OPÇÃO HERMENÊUTICA DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL POR
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA DA REGRA LEGAL QUE INSTITUIU A AÇÃO
RESCISÓRIA ELEITORAL (CE. Art. 2 2 ,1, "J")- POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA
DE OFENSAÀ AUTORIDADE DO JULGAMENTO VINCULANTE QUE OSUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL PROFERIU NA ADIN 1.459/DF. RECLAMAÇÃO DE QUE
NÃO SE CONHECE.
- A orientação firmada pelo Tribunal Superior Eleitoral - no sentido de que
a ação rescisória eleitoral somente se revela admissível quando ajuizada
para desconstituír decisões por ele próprio proferidas (quer em sede
originária, quer em âmbito recursal) ê jju ê , além de transitadas em julgado,
hajam declarado a inelegibilidade. de qualquer candidato - nãn desrespeita
nem transgride a autoridade do julgamento que o Supremo Tribunal Federal
proferiu, com efeito vinculante. no exame da ADIN 1.459/DF.
- Solução hermenêutica adotada pelo TSE que traduz opção por
determinada corrente de interpretação da norma inscrita no art. 22, I, “i’’>
do Código Eleitoral, na redação dada pela Lei Complementar ns 86/96 ê

644
A ç ã o R j e s c is õ r ia E l e it o r a l C a p ít u l o 21

a possibilidade de utilização da ação rescisória eleitoral como


instrumento de imposição, a qualquer candidato, da sanção jurídica da
inelegibilidade.
- Existência de controvérsiadoutrinária em torno da exegese desse preceito
normativo constante do Código Eleitoral. Inocorrência de transgressão à
autoridade da decisão emanada do STF no julgamento da ADÍN 1.459/DF.
Conseqüente inadmissibilidade de utilização, no caso,
da Reclamação.

DECISÃO: Trata-se-AexeclamaçãQ, com pedido de medida liminar, najqpaal


se sustenta que o ato judicial ora questionado - emanado do E. Tribunal
Superior Eleitoral - teria desrespeitado a autoridade da decisão que o
Supremo Tribunal Federal proferiu na ADI 1.459/DF. em julgamento que
restou consubstanciado em acórdão assim ementado:

"DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL


AÇÃODIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
AÇÃO RESCISÓRIA ELEITORAL (LEI COMPLEMENTAR Ns 86, DE 14.05.1996,
QUE ACRESCENTOUA ALÍNEA 'J'AO INC. I DOArt. 22 DO CÓDIGO ELEITORAL).
SUSPENSÃO DA EFICÁCIA DA COISA JULGADA SOBRE INELEGIBILIDADE.
EFICÁCIA RETROATIVA DA LEI: INADMISSIBILIDADE.
1. Não ofende a Constituição Federal a instituição de uma Ação Rescisória
Eleitoral como prevista na alínea '}" do inc. 1 do art. 22 do Código Eleitoral
{Lei ns 4.737, de 15.07.1965), acrescentada pelo art. 1- da Lei Complementar
ns 86, de 14.05.1996. (...)." (grifei)
Eis o teor da decisão de que ora se reclama (fls. 15):
"ELEIÇÕES 2008. ACÃO RESCISÓRIA. AGRAVO REGIMENTAL. COMPETÊNCIA
DO TSE PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DE RESCISÓRIAS DE SEUS
PRÓPRIOSJULGADOS EM CASOSDE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE.
I - É competente o Tribunal Superior Eleitoral para o processamento
e. julgamento de ação rescisória de seus próprios julgados que tenham
declarado inelegibilidade (art. 2 2 ,1, j] do Código Eleitoral).
II - Provimento negado." (grifei)
0 reclamante, para justificar o suposto desrespeito ao julgamento proferido
nos autos da ADI 1.459/DF, alega, em síntese, que o fato de o Supremo
Tribunal Federal haver confirmado “(...) a constitucionalidade da ação
rescisória na Justiça Eleitoral'' impediria o Tribunal Superior Eleitoral
de considerar admissível mencionada ação autônoma de impugnação tão
somente na hipótese de declaração de inelegibilidade de candidato, não
sendo lícito, por isso mesmo, ao TSE - consoante sustentado nesta sede
reclamatória -, excluir, do juízo de revisão, os julgados confirmatórios da
elegibilidade dos candidatos em geral (fls. 09).

645
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Sendo esse o contexto, cabe assinalar, preliminarmente, que o exam e dos


fundamentos subjacentes à presente causa leva-me a reco n h ecer a inexistência
na espécie, de situação caracterizadora de desrespeito à autoridade da decisão
proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADI 1 .4 5 9 /D F , ReL Min.
SYDNEY SANCHES.
É que o Tribunal Superior Eleitoral, ao não conhecer da ação rescisória ajuizada
pela parte reclamante, destacou, na decisão ora impugnada, que, nos term os
da iterativa jurispru dên cia desta Corte, a p r e v is ã o do art. 22, l , d o Código E leitoral
tem p o r f i n a lid a d e p e r m it ir a prop ositu ra d e a çã o rescisória de a có rd ã o q u e ten h a
d e c la r a d a a i n e l e g ib il i d a d e de can didato a ca rg o eletivo” (fls. 24 - grifei).
Vê-se. daí, que a decisão ora reclamada não infringiu a autoridade do julgamento
em anado desta Suprema Corte, proferido no exame da ADI 1.459/DF, pois, no
caso em análise, o Tribunal Superior Eleitoral não recusou validade constitucional
à regra legal que instituiu a a çã o rescisória e le ito r a l
Se tal houvesse ocorrido, ê o Tribunal Superior Eleitoral tivesse declarado,
"inciden ter tantum", a inconstitucionalidade da alínea "J” do inciso I do art. 22
do Código Eleitoral, introduzida pela Lei Complementar n9 86/96, a í sim, ter-
se-ia registrado claro desrespeito à autoridade da decisão em anada do Supremo
Tribunal Federal no julgam ento da ADI 1.459/DF.
Na realidade, o E. Tribunal Superior Eleitoral, em in terp retação restritiva
do alcance processual da a ç ã o rescisória e le ito r a l lim itou-se - fundado no
reconhecimento da legitimidade constitucional desse meio autônomo de impugnação
(em plena harm onia, portanto, com o julgam ento do Supremo Tribunal Federal na
ADI 1 .4 5 9 /DF) - a proclam ar a inadm issibilidade de mencionada ação rescisória,
quando ajuizada contra decisões que hajam confirm ado a elegibilidade (e não a
inelegibilidade) do candidato.
Essa orien tação jurisprudencial firmada pelo Tribunal Superior Eleitoral
rep resen tou solução hermenêutica ad otad a por essa Alta Corte judiciária, que
optou - p resen te dissídio doutrinário a resp eito do tema ~ p o r exegese restritiva
quanto à pertinência da m encionada a çã o rescisória eleitoral, limitando-lhe
o cabimento à hipótese única de reconhecimento, pelo julgado rescindendo, de
inelegibilidade do candidato.
Em uma palavra: o Tribunal Superior Eleitoral, ao assim in te rp re ta r a regra
legal, enfatizou que a rescindibilidade do julgado dar-se-á, unicam ente, “secundum
eventum litis", consoante resulta claro de sucessivas decisões em anadas do órgão
de cúpula da Justiça Eleitoral:
"Ação Rescisória, E leições 2004, lnslegihílidad& Cabimento.,
Não cabe rescisória de acórdão que proclamou a elegibilidade de
candidato."
(AR 207/PA. Rei. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS - grifei)

6 4 6
A ç ã o R e s c i s ó r i a E l e it o r a l C a p ít u l o 2 1

"ACÃQRESCISÓRIA. HIPÓTESE DE CABIMENTO. INEXISTÊNCIA


No âmbito da Justiça Eleitoral, a ação rescisória somente é cabível
para desconstituír decisão do Tribunal Superior Eleitoral e gnt>
ademais, contenha declaração de inelegibilidade (art. 2 2 ,1, % CE), o
que não ocorre na espécie.
Agravo improvido.”
(AR 225-AgR/MG. ReL Min. CESAR ASFOR ROCHA - grifei)
'ELEIÇÕES 20QB. Agravo, regimental em açãD.Tüscisória. Registro
de candidatura ao cargo de prefeito. Ausência de declaração de
inelegibilidade. Não cabimento de a çã a r£js.cisária. Precedentes.
Fundamentos da decisão monocrática não infirmados. Mera reiteração
das razões da petição inicial. Inviabilidade. Agravo regimental a que se
nega provimento."
(AR 370-AgR/BA. Rei. Min. CÁRMEN LÚCIA - grifei)
Como an teriorm en te ressaltado, registra-se. no plano doutrinário, dúíergêncla
quanto ao alcance da a çã o rescisória eleito ra l, pois há autores que a admitem
tanto nos casos de proclamação de elegibilidade quanto nos de inelegibilidade
de candidatos (VERA MARIA NUNES MICHELS, "Direito Eleitoral", p. 129, item
n® 7,5, 5a ed., 2006, Livraria do Advogado; PEDRO HENRIQUE TÁVORA NIESS, "Ação
Rescisória Eleitoral", p. 24, item n5 6, e p. 27, item n9 7 ,1 9 9 7 , Del Rey; ROGÉRIO
CARLOS BORN, “Ação Rescisória no Direito Eleitoral - Limites", p. 30 e p. 39,
I a ed./2a tir.f 2003, Juruá; RODRIGO NÓBREGA FARIAS, "Ação de Impugnação
de Mandato Eletivo", p. 205, item n Q 7.4.1, 2005, Juruá), enquanto que outros
doutrinadores ~ como EMERSON GARCIA ("Abuso de Poder nas Eleições -
Meios de Coibição", p. 232, item 65, 3a ed., 2006, Lumen Juris), PEDRO ROBERTO
DECOMAIN ("Elegibilidade e Inelegibilídades", p. 386, 2a ed., 2004, Dialética),
LEONEL TOZZI ("Ações, Impugnações e Procedim entos Recursais no Direito
Eleitoral", p. 121, item n^ 5.4, 2a ed., 2008, Verbo Jurídico) £ JOSÉ JAIRO GOMES
(“Direito Eleitoral", p. 412, item ns 2.2.23, 32 ed., 2008, Del Rey) - som ente a
reputam cabível na hipótese única em que o acórdão rescindendo haja declarado
a inelegibilidade do candidato.
Esse dissídio registrado no magistério da doutrina - que oscila en tre um a
interpretação de índole extensivas ou tra de caráter restritivo - foi bem apreendido
por PEDRO ROBERTO DECOMAIN ("Elegibilidade e Inelegibilídades" p. 386/387,
2a ed., 2004, Dialética), que, perfilhando a orientação restritiva, assim expõe a
controvérsia existente sobre a matéria:
"A ação rescisória prevista pelo dispositivo do Código em referência
tem cabimento apenas das decisões que hajam decidido pela
inelegibilidade de algum candidato; ou poderá ser intentada também
nos casos em que a decisão transitada em julgado haja decidido pela
elegibilidade, rechaçando a présença de causa de inelegibilidade?

6 4 7
M a r c o s R am ayana D ir h t o E l e it o r a l

Em tese, o dispositivo da letra % do inciso I, d o art. 22 d o Código poderia receber


àuaK interpretações: uma extensiva e outra restritiva. Pela interpretação
extensiva, a expressão ‘nos casos de in eleg ibilid ad e', n ele contida , seria interpretada
com o abrangente d e quaisquer d ecisões p ro ferid a s acerca de elegibilidade,
qu er tenham recon h ecid o , quer não, a presença d e cau sa de inelegibilidade. Já a
interpretação restritiva importaria em entender o dispositivo literalm ente,
para fazê-lo abranger apenas aquelas decisões que efetivamente houvessem
proclam ad o a inelegibilidade de algum candidato.
Aparentemente, ao decidir pela inconstitucionalidade da parte final do inciso
(aquela qu e assegu rava o exercício do m an dato a té o trânsito em ju lg a d o da decisão
p roferid a na a çã o rescisória), o próprio Suprem o Tribunal F ed eral optou pela
interpretação restritiva do dispositivo. Sim, p o is qu e sâ tem cabim en to dizer da
inconstitucionalidade da ressalva, quando se conclui qu e a a çã o rescisória se acha
voltada contra d ecisão que reconheceu a presença de causa de inelegibilidade. $£
a hip ótese fosse de afirmação da elegibilidade. claro qu e o exercício do m andato
n ão p od eria s e r tolhido p ela propositu ra da a çã o rescisória, pois, en tão sim, nesse
caso, tolhendo-se-o, é qu e se esta ria a violar a coisa ju lg a d a indevidam ente.
Aliás, talvez esse houvesse sido mesmo o pensamento do legislador, ao
instituir essa a çã o rescisória eleitoral. Permitir que fosse manejada em todos
os casos em que s e tivesse p roferid o decisão definitiva sobre elegibilidade, quer
reconhecendo, quer não, a presença de causa d e in elegibilidade. Nesse caso,
inclusive, a parte final do dispositivo não seria inconstitucional, como se disse,
eis que estaria resguardando o exercício do m andato, mesmo proposta a ação
rescisória, quando esta tivesse p o r o b jeto d ecisão q u e n ão recon h eceu inelegibilidade
de can didato qu e a ca b o u eleito.
Todavia, com o restou dito, a interpretação dada ao dispositivo pelo STF, até p o r
fo r ç a do recon hecim en to da inconstitucionalidade da parte final do dispositivo, parece
haver sido a restritiva. Desta sorte, a ação rescisóría terá cabim en to apenas em
f a c e de decisão transitada em ju lg a d o que tenha reconhecido a presença de causa
de inelegibilidade, a tanto eqü ivalen do tam bém o recon hecim en to de ausência de
condição de elegibilidade. Apenas quando a inelegibilidade haja sido proclamada
é que a ação rescisória terá cabimento. Não assim, portanto, quando a decisão
transitada em ju lg a d o haja reconhecido a elegibilidade do can d id ato" (grifei)
O fato é que o Tribunal Superior Eleitoral, ao p ro ferir a decisão de que ora
se reclama, neia veiculou julgamento que não dfssentlu daquele em anado do
Supremo Tribunal Federal no exam e da ADI 1.459/DF, pois, no acórdão objeto
da presente reclamação, o TSE, ao op tar por determinada solução hermenêutica,
não desconsiderou nem desrespeitou o juízo de constitucionalidade da norma
inscrita na alínea “j" do inciso I do art. 22 do Código Eleitoral, introduzida pela
Lei Com plem entam 2 86/96.

6 4 8
A ç ã o R e s c i s ó r i a E l e it o r a l C a p ít u l o 21

Conclui-se. desse modo, que o acórdão de que ora se reclama cuidou de matéria
de todo estranha à controvérsia examinada no julgamento da ADI 1.4-59/nF.
Rei. Min. SYDNEY SANCHES, e is que - insista-se - o Tribunal Superior Eleitoral,
ao p roced er à interpretação da regra legal mencionada, não dissentiu do juízo
afirm ativo de validade constitucional que esta Suprema Corte formulou a propósito
de referida norma legal.
Daí inexistir qualquer situação de conflito en tre o acórdão em anado do TSE,
objeto da presente reclamação, e o julgamento do Supremo Tribunal Federal, ora
invocado como paradigma de confronto, circunstância essa que desautoriza, por
completo, a utilização do instrumento constitucional da reclamação.
É im portante rem em orar, bem por isso, quando se tra ta r de alegação de
desrespeito à autoridade de decisão do Supremo Tribunal Federal, que os atos
em processo de reclamação, quaisquer que sejam, considerado
o respectivo contexto, hão de se aju star, com exatidão e p e r tinêmcia, aos
julgamentos desta Suprema Corte invocados como paradigmas de confronto, em
ordem a perm itir, pela análise comparativa, a verificação da conform idade, ou
não, da deliberação estatal impugnada em relação aos parâmetros de controle
em anados deste Tribunal (ADI 1.459/DF, n ojcaso), como reiterad am en te tem
advertido a jurisprudência desta Corte:
"C■■■) ~ ° s fitos qu estion ad os em qualquer reclam ação ~ nos ca so s em que
se sustenta d esresp eito à autoridade de decisão do Supremo Tribunal

d esta Suprema Corte in v ocad os como paradigmas de confronto, em ordem


a perm itir, pela análise comparativa, q verificação da j con form idade. ou
não, da deliberação estatal impugnada em rela çã o ao parâm etro de controle
em a n a d o deste Tribunal P receden tes.
(Rcl 6,5-34-AgR/iym, Rei. Min. CELSO DE MELLO, Pleno.)
Reconheço, desse modo, a inviabilidade jurídico-processual da utilização,
nesta causa, do instrumento da reclamação.
Não custa relem b rar, por necessário, em face da ausência, na espécie, dos
pressupostos que poderiam legitimar o ajuizamento da reclamação, que este
remédio constitucional não pode se r utilizado como um (inadmissível) atalho
processual destinado a permitir, por razões de caráter meramente pragmático, a
subm issão im ediata do litígio ao exame direto desta Suprema Corte.
É que a reclam ação - constitucionalmente vocacionada a cumprir a dupla
função a que alude o art. 102, 1, ‘T , da Carta Política (RTJ 134/1033) - não se
qualifica como sucedâneo recursal nem configura instrumento viabilizador do
reexam e do conteúdo do ato reclamado, além de não constituir - considerado
o contexto em exame - m eio de revisão da jurisprudência eleitoral, eis que tal
finalidade revela-se estran h a à destinação constitucional subjacente à instituição
dessa medida processual, con soan te ad verte o Supremo Tribunal Federal:

6 4 9
M a r c o s R amayana D ir e it o E l e it o r a l

"(...) - O remédio constitucional da reclamação não pode ser utilizado


como um ( inadmissível) atalho processual destinado a permitir, por razões
de caráter meramente pragmático, a submissão imediata do litígio ao exame
direto do Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
- A reclamação, constitucionalmente vocacionada a cumprir a duplafunção a
que alude o a r t 102,1, T, da Carta Política ( RTJ134/1033) - embora cabível.
em tese, quando se tratar de decisão revestida de efeito vinculante ( como
sucede com osjulgamentos proferidos em sede de arguição de descumprimento
de preceito fundam ental de ação direta de inconstitucíonalidade q il de ação
declaratória de constitucionalidade) -, nâo se qualifica como sucedâneo
recursal nem configura instrumento viabilizador do reexame do conteúdo
do ato reclamado, além de não constituir meio de revisão da jurisprudência
eleitoral eis que tal finalidade revela-se estranha ã destinação constitucional
subjacente à instituição dessa medida processual. Precedentes
(Rcl 6.558-AgR/PR. Rei. Min. CELSO DE MELLO)
"AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. A RECLAMAÇÃO NÃO É
SUCEDÂNEO DE RECURSO PRÓPRIO. RECURSOIMPROVIDO.
I - A reclamação constitucional não pode ser utilizada como sucedâneo
de recurso próprio para conferir eficácia à jurisdição invocada nos autos da
decisão de mérito.

III - Reclamação improcedente.


IV - Agravo regimental improvido."
(Rcl 5.684-AgR/PE. Rei. Min. RICARDO LEWANDOWSKI - grifei)
"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECLAMAÇÃO. CONVERSÃO EM AGRAVO
REGIMENTAL. AUSÊNCIA DEARGUMENTOSNOVOS. RECLAMAÇÃO UTILIZADA
COMO SUCEDÂNEO RECURSAL INEXISTÊNCIA DE AFRONTA AO Art. 93, INC.
IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

3. Oinstituto da Reclamação não se presta para substituir recurso específico


que a legislação tenha posto à disposição do jurisdicionado irresignado com a
decisão judicial proferida pelo juízo 'a quo’.

5. Agravo regimental não provido.'"


(Rcl 5.46S-ED/ES. ReL Min. CÁRMEN LÚCIA - grifei)

"CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO: NÃO É SUCEDÂNEO


DE RECURSO OU DE AÇÃO RESCISÓRIA.
I. - A reclamação não pode ser utilizada como sucedâneo de recurso ou de
ação rescisória.
II. - Reclamação não conhecida
(RTI 168/718. Rei. Min. CARLOS VELLOSO, Pleno - grifei)

650
A ç ã o R e s c i s ó r i a . E l e it o r a l C a p ít u l o 2 1

"Não c a b e recla m a ção destinada a in v alid ar decisão de outro Tribunal, que


haja porventura divergido da jurisprudência do Supremo Tribunal firm ada
no julgamento de causa diferente, m esm o em s e tratan do de controvérsias de
porte constitucional
Tam bém n ão é a reclam ação instrumento idôneo de uniformização de
jurisprudência, tam pouco su ced ân eo d e recu rso ou rescisória, não utilizados
tempestivamente pelas partes"
ReL Min. OCTAVIO GALLOTTI, Pleno - grifei)
"AGRAVO REGIMENTAL RECLAMAÇÃO. AFRONTA À DECISÃO PROFERIDA NA
ADI 1662-SP. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE OU SIMILITUDE DE
OBJETOS ENTRE OATO IMPUGNADO EA EXEGESE DADA PELO TRIBUNAL

A questão da responsabilidade do Estado pelas dívidas da instituição financeira


estatal revela tema afeto ao processo de execução que tramita na Justiça do
Trabalho, não guardando pertinência com o objeto da presente ação. A
recla m a ç ã o n ão p o d e serv ir d e su ced ân eo d e ou tros recu rsos ou a çõ es
cabíveis”
(Rcl 1.8S2-AgR/RNr Rei. Min. MAURÍCIO CORRÊA - grifei)
"0 despacho acoim ad o de ofender a a u to rid a d e da decisão do Supremo
Tribunal Federal negou seguimento, por razões processuais suficientes, ao
recurso ordinário interposto contra acórdão em mandado de segurança. Por
esse fu n d am en to n ão é cab ív el reclam ação, eis que a decisão da Corte Maior
não cuida da matéria.

A recla m a çã o n ão p o d e serv ir d e su ced ân eo d e recu rsos e a çõ es cabíveis.


como decidiu esse Plenário nas Rcl Ag.Rg 1852, relator Maurício Correa e Rcl
Ag.Rg. 724, rei Min. Octávio Gallotti.
(Rcl 1.591 /RN. Rei. Min. ELLEN GRACIE - grifei)
Em conclusão, não se acham presentes, na espécie, as situações
da utilização do instrumento reclamatório.
elas razões expostas, não conheço, por incabível, da presente
reclamação, restando prejudicada, em conseqüência, a apreciação do
pedido de medida liminar.
Arquivem-se os presentes autos.
Publique-se.
Brasília, 06 de outubro de 2009.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
* decisão publicada no DJE de 13.10.2009

6S1
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

2 1 .4 . COMPETÊNCIA
A competência é exclusiva do Tribunal Superior Eleitoral (art. 2 2 , 1,j, do CE, c.c.
arts. 1 0 2 ,1, j, e 1 0 5 ,1, e, da CF).
A Corte Superior já pacificou o entendimento:
Ação rescisória. Sentença de primeiro grau. Indeferimento de registro
de candidatura. Trânsito em julgado. Não cabe ao TSE julgar ação
rescisória de sentença de primeiro grau, mas apenas de seus julgados.
A remessa dos autos ao Tribunal Regional não se justifica, pois esse
órgão não é competente para o julgamento desse tipo de ação, ainda
menos de sentença de primeiro grau. A Lei Complementar ne 86/96,
ao introduzir a ação rescisória no âmbito da Justiça Eleitoral, incumbiu
somente a esta Corte Superior o processo e julgamento. Agravo
regimental não provido. DJ de 20.4.2001. Agravo na Ação Rescisória
ne 89/MG. Relator: Ministro Garcia Vieira. E ainda: Acórdão ne 3.632,
de 17.12.2002. Agravo de Instrumento ns 3.632/SP. Relator: Ministro
Fernando Neves; Acórdão n2 144, de 20.9.2002. Ação Rescisória
ne 144/GO. Relator: Ministro Fernando Neves.
Em outro julgado:
Acórdão ns 53, de 6.9.2001. Agravo regimental na Ação Rescisória
ne 53/SE. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Ementa: Ação
rescisória. Cassação de tutela antecipada e seguimento obstado por
manifesto confronto com jurisprudência dominante do TSE. RITSE,
art. 36, § 6 e, em consonância com a alteração do art. 557 do CPC pela
Lei ne 9.756/98. Alegações de ter o pedido sofrido duplo juízo de
admissibilidade nesta Corte e usurpação da competência do Plenário
para julgamento da matéria: improcedência. I - A aplicação da regra
da revogabilidade do juízo de admissibilidade não gera preclusão. II
- Pedido manifestamente inviável, em confronto com jurisprudência
dominante, no sentido de falecer ao TSE competência para apreciar
ação rescisória contra decisão com trânsito em julgado dos tribunais
regionais. Agravo regimental não provido. DJ de 15.10.2001.

2 1 .5 . PROCEDIMENTO
A ação é de competência do TSE, A petição inicial deve conter os requisitos legais
dispostos nos arts. 282/3 do Código de Processo Civil. 0 pedido deve estar em consonância
com o art. 4 8 8 ,1, do CPC. Outrossim, o indeferimento da inicial desafia o agravo regimental,
mas o prazo decadencial de 120 dias continua transcorrendo normalmente.
No TSE, destaca-se:
Direitos Processual e Eleitoral. Ação rescisória. Matéria não eleitoral.
Cabimento. Aplicação do Código de Processo Civil. Recurso a que se
dá provimento. Em matéria não eleitoral, admissível a ação rescisória

652
A ç ã o R e s c is ó r ia E l e it o r a l C a p ítu lo 2 1

de julgado de Tribunal Regional Eleitoral, aplicando-se, na espécie, a


legislação processual civil. (Acórdão n9 19.618, de 20.9.2002. Recurso
Especial Eleitoral n9 19.618/PB. Relator: Ministro Sáivio de Figueiredo).

21.6. R E C U R SO S
Vige o princípio da irrecorribilidade das decisões do TSE. Admite-se, no entanto,
o recurso extraordinário, desde que preenchidos os seus pressupostos legais, no
prazo de três dias.

21.7. SU SPEN SÃ O DAS CONTAS R EJEITA D A S POR


IRREGULARIDADE INSANÁVEL
Não é possível, na ação rescisória, suspender a incidência da inelegibilidade da
alínea $ do art. I 9,1, da Lei Complementar n9 64/90. Nesse sentido, destacamos:
Quanto à interposição rescisória, esta Corte tem entendido que "a
propositura de ação rescisória não tem o condão de suspender a
inelegibilidade decorrente da rejeição de contas (Acórdão ns 15.107,
de 22.10.1998, Relator Ministro Eduardo Alckmin).
Outrossim, verifica-se que o próprio recurso de revisão, no âmbito do Tribunal
de Contas, não afasta a inelegibilidade por rejeição na prestação das contas
(irregulares). Ver capítulo sobre a ação de impugnação ao pedido de registro.
Destacamos:
O recurso de revisão perante o TCU pressupõe a existência de decisão
definitiva daquele órgão (art. 35 da Lei n9 8.443/92). O recurso de
revisão, embora assim denominado, tem características que mais
o aproximam da ação rescisória que de um recurso, seja em virtude
do longo prazo facultado para sua interposição, seja pelos requisitos
especialíssimos necessários a fazê-lo admissível. O recurso de revisão
não afasta a inelegibilidade, salvo se a ele tiver sido concedido efeito
suspensivo pela Corte, a quem incumbe seu julgamento. (...) (grifei)
(Acórdão ns 577, de 3.9.2002, Relator Ministro Fernando Neves). No
mesmo sentido, os Acórdãos ns 18.205, de 17.10.2000, Relator Ministro
Costa Porto; n9 245, de 4.9.1998, Relator Ministro Eduardo Ribeiro;
ns 124, de 4.9.1998, Relator Ministro Eduardo Alckmin; n9 127, de
4.9.1998, Relator Ministro Néri da Silveira.
Esta Corte já firmou entendimento de que o chamado recurso de revisão
das decisões do Tribunal de Contas da União, previsto no art. 35 da Lei
ns 8.443/92, visa a desconstituír uma decisão definitiva, transitada em
julgado, não possuindo efeito suspensivo, tal como ocorre, no processo
civil, com a ação rescisória, e no processo penal, com a revisão criminal.
Entretanto, para que o candidato seja declarado inelegível, não basta

653
M a r c o s R am ayana D i r e i t o E l e it o r a l

somente a rejeição das contas peio TCU e o trânsito em julgado da


decisão; é necessário, ainda, que a irregularidade seja insanável, com a
comprovação dessa insanabilidade.

2 1 .8 . TUTELA ANTECIPADA
Quanto à tutela antecipada, decidiu o TSE que:
Ação rescisória. Questão de ordem. Tutela antecipada. Concessão.
Impossibilidade, ressalvados casos excepcionais. Não é admissível a
concessão de tutela antecipada em ação rescisória na Justiça Eleitoral,
salvo em situações teratológicas que causam dano grave e evidente,
de impossível reparação, ou nos casos em que pode ser comprometido
o processo eleitoral como um todo. Acórdão n2 60, DE 5.9.2000. Ação
Rescisória ne 60/PE. Relator: Ministro Fernando Neves. D] de 5.6.2001.
C apítulo 22

R ecurso c o n t r a a d iplo m a çã o

2 2 .1 . B A SE LEGAL
A base legal do Recurso Contra a Diplomação está no art. 262 do Código Eleitoral,
in v erbis:

0 recurso contra expedição do diploma caberá somente nos seguintes


casos: I - inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato; II - errônea
interpretação da lei quanto à aplicação do sistema de representação
proporcional; III - erro de direito ou de fato na apuração final, quanto
à determinação do quociente eleitoral ou partidário, contagem de votos
e classificação de candidato, ou a sua contemplação sob determinada
legenda; IV - concessão ou denegação do diploma em manifesta
contradição com a prova dos autos, nas hipóteses do art. 222 desta Lei,
e do art, 41-A da Lei ns 9.504, de 30 de setembro de 1997.

2 2 .2 . CONCEITO
A diplomação é a última fase do processo eleitoral e, portanto, representa a
certificação ou declaração oficial da Justiça Eleitoral, outorgando aos proclamados
eleitos o respectivo documento formal em cerimônia revestida das solenidades
legais. O Recurso Contra a Diplomação é a forma jurídica destinada à anulação das
eleições, em razão de fraudes, abusos, captações e erros de quociente eleitoral.

2 2 .3 . NATUREZA JURÍDICA
A diplomação é vista pela doutrina como um ato certificatório e simplesmente
declaratório. Não há julgamento nem, tampouco, coisa julgada formal ou material. É
importante salientar que a diplomação não transita em julgado, mas apenas atesta
a conclusão da última etapa do processo eleitoral (alistamento, votação, apuração
e diplomação).
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

0 doutrínador Adriano Soares da Costa ensina-nos que a diplomação é comparada


à nomeação de um servidor público. No âmbito dos mandatos eletivos, não se fala
em nomeação do deputado ou senador, mas em diplomação, assim como se outorga
o diploma ao formando da faculdade de Direito.
A diplomação é referida, no texto constitucional, como marco para determinadas
obrigações e garantias, v.g., no art. 53, § l e, “Os deputados e senadores, desde a
expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal
Federal"; o § 2°, "Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse
caso, os autos serão remetidos dentro de 24 horas à Casa respectiva, para que,
pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão"; o § 3 9, "recebida
a denúncia contra senador ou deputado, por crime ocorrido após a diplomação,
o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de
partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá,
até a decisão final, sustar o andamento da ação”; e ainda o art. 54, que impede os
deputados e senadores, “desde a expedição do diploma: firmar ou m anter contrato
com pessoa jurídica de Direito Público, autarquia, empresa pública, sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o
contrato obedecer a cláusulas uniformes"
Como se nota, a diplom ação é um marco fundamental na análise das imunidades
e incompatibilidades constitucionais, além de representar a etapa final do processo
eleitoral.

2 2 .4 . O REC U RSO CONTRA A DIPLOMAÇÃO É UM R E C U R SO ?


O tratamento dispensado pelo Código Eleitoral é, na verdade, de um recurso.
Entendemos que a posição bem fundamentada do doutrinador Adriano Soares
da Costa, no sentido de que a natureza do "recurso" contra a diplomação é, no fundo,
de uma verdadeira ação eleitoral de cunho impugnativo, está a m erecer acolhida.
Trata-se de uma ação, porque: a) não há coisa julgada form al ou m aterial;
b) não existe lide ou conflito resistido; c) não existe contraditório ou ampla
defesa, mas apenas uma impuganação contra os abusos do poder econôm ico e/
ou político, fraudes, corrupção etc., ocorridos durante a disputa das eleições,
especialm ente na fase da propaganda político-eleitoral, ou fatos não preclusivos
ou supervenientes que podem ser aduzidos no prazo de três dias, contados da
diplomação.
0 Ministério Público, os candidatos, partidos políticos e coligações não recorrem
diretam ente contra o ato certificatório da diplomação, mas sim em relação ao
suporte jurígeno ilícito ou irregular que levou à m aterialização deste ato formal
e de cunho administrativo. Nada impede que o eleitor leve ao conhecim ento do

656
R e c u r s o C o n t r a ,a D ip l o m a ç ã o C a p ít u l o 22

Ministério Público a notícia de fato ou circunstância que autorize a deflagração


do RCD.1
Outrossim, aplica-se ao processo eleitoral, de forma subsidiária, o Código de
Processo Civil. Os arts. 162 e 163 do CPC apresentam uma classificação dos atos que
desafiam recursos, v. g., sentenças, decisões interlocutórias, despachos e acórdãos.
Percebe-se, desde já, que o ato da diplomação não se insere dentre os atos judiciais
sujeitos ao recurso.
0 art. 59, LV, da Lei Maior, assim reza: "aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes" Assim, o recurso, em sua essência,
é uma forma pela qual o Estado defere aos jurisdicionados o controle dos atos
judiciais com a finalidade de melhor assegurar a eficiência da prestação jurisdicional.
0 recorrente pleiteia uma melhor oportunidade de tratamento jurígeno, e, em
contrapartida, o Estado cumpre o seu dever de fornecer a jurisdição. 0 perfil do
ato da diplomação certamente não está vinculado ao ato judicial ensejador da
interposição de um recurso.
Malgrado a natureza de tratamento que foi atribuída pelo Código Eleitoral, em
seu art. 262, ao "recurso" contra a diplomação, algumas observações devem ser
enfatizadas, como a seguir dispusemos.

2 2 ,5 . QUEM EX ERC E O JU ÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO


REC U RSO CONTRA A DIPLOMAÇÃO?
0 juízo de admissibilidade positivo ou negativo de cunho declaratório será
variável de acordo com a natureza do mandato eletivo.
Nas eleições municipais (prefeito, vice-prefeito, vereadores e suplentes), a
diplomação é um ato de competência da ju n ta e leito ra l (art. 40, IV, do Código
Eleitoral), mas nada impede que os Tribunais Regionais Eleitorais transfiram a
cerimônia para o recinto apropriado. Fica a cargo do juiz mais antigo da comarca
diplomar os proclamados eleitos.
Em relação às eleições estaduais (governador, vice-governador, senador (e
suplentes), deputados federais, distritais, estaduais (e suplentes), a diplomação é
ato privativo dos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais (arts. 89, 1 5 8 e 2 1 5 d o
Código Eleitoral e art. 2 S, parágrafo único, I a III, da Lei Complementar n9 64/90);
nas eleições nacionais (presidente da República e vice-presidente da República),
a diplomação é exclusiva do Tribunal Superior Eleitoral. Os dispositivos acima
elencados formam uma interpretação sistêmica, em relação aos órgãos judiciários
competentes para a realização da diplomação.
Lembramos a valiosa lição do eminente doutrinador Tito Costa, a saber:
1 A jurisprudência orienta-se na prova do benefício direto ou eventual, em relação ao provimento do recurso (Acórdão
n^ 592, de 15.6.1999).

657
M a r c o s R a m a y a n a ___________________ D i r e i t o E l e it o r a l

A proclamação é um ato que contempla todo o processo eleitoral,


mas não comporta qualquer tipo de recurso. Eventuais reclamações
contra esse ato só poderão ser apresentadas, sob a forma de recurso
adequado, ao ensejo da diplomação.2
Ver, ainda, o capítulo sobre a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo, que ainda
não está regulamentada no Brasü.
0 art. 200 e os §§ í - e 2- tratam das impugnações e reclam ações contra o relatório
da Comissão Apuradora dos Tribunais Regionais Eleitorais. As irresignações contra
falhas no relatório da apuração podem ser questionadas por candidatos, partidos
políticos, Ministério Público e coligações e, após, serão proclamados os eleitos
na forma legal. Eventuais impugnações e/ou recursos contra a proclamação dos
eleitos não estão a impedir ou obstaculizar a diplomação, pois, no RCD, podem ser
questionados os temas pertinentes ao cabimento deste recurso.
O doutrinador Joel José Cândido leciona sobre as hipóteses em que se pode
arguir a nulidade da solenidade de diplomação, a saber: a) quando realizadas por
autoridade incompetente; b) quando o diplomado, por qualquer razão, não deveria
receber o diploma (parcial); c) quando o diploma não se originar da eleição válida
(parcial); ou d) quando o diploma for expedido em manifesta desconformidade com
os resultados da apuração (parcial).3

22.5.1. Quanto ao juízo de admissibilidade, cabe:


1 -Ao Tribunal Regional Eleitoral, o exame em relação às eleições municipais. O
recurso é endereçado ao juiz eleitoral, que o encaminhará à instância superior para
análise das questões prévias, formadas pelas questões preliminares e prejudiciais.
0 doutrinador Barbosa Moreira já salientava que a lei, às vezes, defere a órgão
diverso do endereçamento do recurso a análise da admissibilidade. Os requisitos
são: cabimento, legitimidade para recorrer, interesse no recurso, tempestividade,
regularidade formal e a falta de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer.
Não há preparo neste recurso.
A decisão do Tribunal Regional Eleitoral enseja a interposição de recurso especial para
o Tribunal Superior Eleitoral (art. 276,1, do Código Eleitoral).
2 -Ao Tribunal Superior Eleitoral, em relação à diplomação nas eleições estaduais.
Caberá o recurso ordinário, com base no art. 276, II, a, do Código Eleitoral,
admitindo-se jurisprudencialmente o nome de Recurso Contra a Diplomação da
decisão do Tribunal Regional Eleitoral.
3 -Ao Supremo Tribunal Federal, em relação à diplomação nas eleições nacionais pelo
Tribunal Superior Eleitoral. A admissão é restrita, sendo cabível apenas o recurso
extraordinário, desde que preenchidos os seus pressupostos legais ou, ainda, a
propositura da ação de mandado de segurança, originário do próprio STF. O
2 COSTA, Trto. Recursos em Matéria Eleitoral. 7â ed., Editora Revista dos Tribunais, p. 122.
3 CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 8a ed., Editora Edipro, p. 232.

658
R ec u r so C o n tr a a D ip l o m a ç ã o
C a p ít u l o 2 2

doutrinador Tito Costa enfatiza o teor da Súmula n5 276 do STF como fundamento,
in verbis: "Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de
recurso ou correição", assim como não cabe, a rigor, recurso nenhum, é possível a
propositura de mandado de segurança.4 0 disciplinamento do RCD está a merecer
urgente reforma, inclusive com a previsão expressa de recurso ao STE
Registramos controvérsia a respeito do cabimento, ou não, do recurso
extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, em razão da diplomação do
presidente e vice-presidente da República. Uma primeira corrente entende incabível
a interposição deste recurso. 0 fundamento é do doutrinador Emerson Garcia, no
sentido de que "o ato de diplomação tem natureza eminentemente administrativa,
inexistindo causa para efeito de interposição do referido recurso (art. 102, 111, da
CR/88)".5
A segunda corrente é dos doutrinadores Joel José Cândido e Tito Costa, que
entendem cabível o recurso extraordinário.
Como se nota, o juiz eleitoral não julga o Recurso Contra a Diplomação. Por
força disto, reforça-se o argumento quanto à natureza jurídica do Recurso Contra
a Diplomação, pois não existe nenhuma relação processual precedente que
comporte reexame, exceto relações jurígenas como: propaganda eleitoral, fatos
supervenientes, abusos de poder, captação de sufrágios e matéria constitucional.
Outrossim, fincando a procedência desta afirmação, vê-se que o processo eleitoral
é falho, pois olvidou-se de um grau de jurisdição (supressão de instância),
transferindo a cognoscibilidade temática para o Tribunal Regional Eleitoral. Em
suma: o juiz eleitoral apenas diploma o prefeito, vice-prefeito, vereadores e seus
suplentes,6 sem contudo penetrar na análise de mérito processual sobre questões
constitucionais ou infra constitucionais que afetem a normalidade e legitimidade
das eleições. Cumpre, ao juiz eleitoral, uma tarefa puramente formal.

4 “TSE. Acórdão nS 19,851, de 20.8.2002. Agravo regimental no Recurso Especial Eleitoral n9 19.851/SR Relator Ministro
Fernando Neves. Ementa: Agravos Regimentais. Decisão que nega seguimento a recurso especiai. Fundamento
diverso daquele contido na inicia! do recurso contra a expedição de diploma. Nulidade. Não ocorrência. Prova pré
constituída. Exame na investigação judiciai. Nova análise. Desnecessidade. Pedido de imediata cassação de diplomas
por esta Corte Superior. Impossibilidade. 1. Compete ao juiz apontar a norma jurídica incidente sobre a espécie, além
de que os requeridos defendem-se dos íatos que ihes são imputados, e não de eventual qualificação jurídica, que pode
perfeitamente ser alterada nas instâncias ordinárias e especial. 2. Não tendo o Tribunal Regional apreciado a matéria de
fundo do Recurso Contra a Diplomação, impossível que esta Corte Superior proceda à imediata cassação dos diplomas
dos recorridos, ainda que as provas usadas já tenham sido examinadas por aquele Tribunal em investigação judicial,
visto que implicaria invasão de competência e supressão de instância. Agravos não providos. DJ de 8.11.2002”.
5 GARCIA, Emerson. Abuso de Poder nas Eleições. Editora Lumen Juris, 2000, p. 176.
6 “TSE. Acórdão ne 19.809, de 13.2.2003. Embargos de declaração no Recurso Especial Eleitoral n® 19.809/SR Relator:
Ministro Fernando Neves. Ementa: Embargos de declaração. Suplentes de vereador anteriormente diplomados. Acórdão
que determinou a diplomação de mais sete vereadores. Pedido de ingresso na lide. Utisconsórcio necessário. Não
caracterização. Assistência. Nulidade. Inexistência. 1. Não há como reconhecer a nulidade arguida petos embargantes,
ao fundamento de que não foram chamados nas instâncias ordinárias para integrar a relação processual, uma vez que
a presença deles não é obrigatória nem por disposição legal nem pela natureza da relação jurídica, podendo, contudo,
ser admitidos na condição de assistentes. Embargos acolhidos para prestar esclarecimentos. DJ de 28.2.2003”.

659
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

A crítica que fazemos reside na ratificação das exemplares lições de Adriano


Soares da Costa sobre esta tormentosa questão, pois o prejuízo maior é da própria
candidatura, na medida em que o juiz não conhece da questão eleitoral ilícita ou
irregular. Salientamos, ainda, a flagrante violação aos princípios da ampla defesa e
da simetria, v.g., como a diplomação dos governadores, que fica a cargo do Tribunal
Regional Eleitoral. Assim, seria muito melhor que a diplomação do prefeito, vice-
prefeito, dos vereadores e suplentes ficasse a cargo direto do Tribunal Regional
Eleitoral, com a possibilidade de recurso especial para o Tribunal Superior Eleitoral.

2 2 .6 . LEGITIMADOS ATIVOS
Os partidos políticos, coligações, candidatos registrados especificamente para
a eleição e o Ministério Público (guardião do regime democrático e dos interesses
difusos eleitorais). Nada impede que o eleitor noticie argumentos favoráveis à
interposição do RCD. 0 doutrinador Emerson Garcia sustenta, em sua excelente
obra Abuso d e P oder nas Eleições, da Editora Lumen Juris, a legitimidade de lege
feren d a do eleitor.

2 2 .7 . LEGITIMADOS PA SSIV O S
Os candidatos diplomados, partidos políticos ou coligações.
Destacamos as valiosas lições de Adriano Soares da Costa quanto à natureza da
legitimidade dos partidos políticos, a saber:
Resumindo, temos duas possibilidades em tais casos: litisconsórcio
necessário passivo, nas hipóteses do art. 262, incs. II e III, do Código
Eleitoral; assistência litisconsorcial passiva, nas hipóteses do art. 262,
incs. 1 e IV, do Código Eleitoral.7
A diferença deve ser observada, não em razão da regra do art. 175, § 4S, do Código
Eleitoral, ou do sistema eleitoral (majoritário ou proporcional), mas, sim, em relação
à inelegibilidade do candidato recorrido (natureza subjetiva, pessoal). Quando o RCD
basear-se nos incisos I e IV, estará tratando de inelegibilidade e o interesse do partido
é secundário, porque os votos serão computados para a legenda. No entanto, quando
tiver arrimo nos incisos II e III, a questão envolve direto interesse do partido político,
pois perderá o mesmo votos da legenda cora alteração do quociente partidário,
ou seja, do número de cadeiras cabíveis ao partido prejudicado. Percebe-se que o
fato desloca-se da análise puramente individual de uma candidatura, para atingir o
próprio partido político. 0 tema é muito bem colocado na obra antes referida. De toda
sorte, seguimos a mesma posição do Professor Adriano Soares da Costa.
Por fim, destaca-se decisão do TSE sobre a necessidade de formação de
litisconsórcio necessário com o vice na chapa una e indivisível (eleição m ajoritária):

7 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 5a edição, Editora Dei Rey, p. 450.

660
R ec u r so C o n t r a a D ip l o m a ç ã o
C a p ít u l o 22

“Agravo regimental no Recurso Contra Expedição de Diploma n9


754/RO. ReL: Min. Caputo Bastos. Ementa: Agravo regimental.
Recurso contra expedição de diploma. Senador. Determinação.
Emenda da inicial. Art. 284 do Código de Processo Civil. Necessidade.
Citação. Suplentes. Cargo majoritário. Litisconsortes necessários.
1. No julgamento do Recurso contra Expedição de Diploma ne 703,
esta Corte assentou a necessidade de citação do vice para integrar
relação processual em recurso contra expedição de diploma proposto
contra o titular de cargo majoritário, entendimento que se aplica,
via de conseqüência, ao cargo de senador e respectivos suplentes.
2. Considerando que, à época do ajuizamento do presente feito, a
jurisprudência do Tribunal entendia pela desnecessidade da referida
citação, não há como se pretender que essa providência fosse, na
ocasião, requerida na inicial. 3. Esse entendimento foi adotado pelo
Tribunal no julgamento dos embargos no RCED n9 703, relator para
acórdão Ministro Carlos Ayres Britto, em que se assentou que "Em
homenagem ao princípio da segurança jurídica, não é de se causar
maiores surpresas aos jurisdicionados, tampouco fulminar processos
que foram pautados por entendimento então prevalecente no Tribunal
Superior Eleitoral". Agravo regimental a que se nega provimento”. DJ
de 16.6.2008.

22 .8 . QUAL O RITO PR O C ESSU A L QUE DEVE SEGUIR O


R EC U RSO CONTRA A DIPLOMAÇÃO?
0 rito é o do art. 267 do Código Eleitoral.

22.9. O QUE SE ENTENDE POR PROVA PRÉ CONSTITUÍDA COMO


REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE ESPECÍFICO DO RECURSO CONTRA
A DIPLOMAÇÃO?
A prova chamada de pré constituída é, na verdade, uma prova emprestada ou de
eficácia extraprocessual (art. 526 do Código de Processo Civil Português). Permite-
se transpor para outro processo a prova que foi produzida no primeiro processo.8
A jurisprudência, em matéria eleitoral, adota o princípio maior da comunhão
da prova para transpor, como requisito de admissibilidade específico do RCD, a
denominada prova pré constituída.
Consideram-se provas pré constituídas: autos de ações penais, investigações
judiciais eleitorais, ações de captação de sufrágio, ações civis públicas, populares

8 “(TSE.) O Recurso Contra a Diplomação pode, também, vir instruído com prova pré constituída, entendendo-se que
essa é a já formada em outros autos, sem que haja obrigatoriedade deter havido sobre ela pronunciamento judicial, ou
seja, a prova nâo tem que ter sido previamente julgada. Antè afalta de juízo definitivo por parte da Justiça Eleitoral sobre
as provas, essas podem ser analisadas nos autos do Recurso Contra a Diplomação. Precedente: Acórdão n9 19.506".

661
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

e documentos.9 A análise será sempre subjetiva e os ônus da inadmissibilidade do


RCD podem ser irreversíveis, o que enseja a propositura, a d cautelam , da Ação de
Impugnação ao Mandato Eletivo (ver comentários ao Capítulo 17].10
Saliente-se, ainda, a diferença da prova judicial para a pré constituída, segundo
bem lembra o mestre Joel José Cândido. A judicial é obtida dentro de uma relação
processual e serve ao cabimento do RCD, com base no art. 262, IV, do CE; já a
pré constituída é preexistente ao processo (natureza documental) e autorizará a
interposição com finco no inciso I do art. 262 do CE. Seja uma ou outra, o certo
é que a jurisprudência e a doutrina só admitem o RCD com lastro em material
probatório suficiente11 para o amadurecimento da causa na instância superior,
mas excepcionalmente algumas decisões permitem a juntada de outras provas
e a cognição probatória nos autos do próprio Recurso Contra a Diplomação. Em
homenagem ao princípio da verdade material e considerando que democracia,
normalidade e legitimidade das eleições é m atéria de interesse difuso e primário da
sociedade, é perfeitamente possível a admissão e produção de provas no RCD, desde
que avaliadas quanto à conveniência e oportunidade pelos Tribunais Superiores.

22 .1 0 . CABIMENTO
a) Inelegibilidade.
As inelegibilidades podem decorrer de abusos do poder político ou econômico,
praticados durante a campanha eleitoral (propaganda político-eleitoral). Nesta
hipótese, incide o teor da Súmula n- 19 do Tribunal Superior Eleitoral, ou seja, o
candidato fica inelegível por três anos, contados da data da eleição (Ver o Capítulo 9).

9 (TSE). Acórdão n- 19.596, de 2.4.2002. Agravo regimental no Recurso Especial Eleitoral ne 19.596/MS. Relator:
Ministro Fernando Neves. Recurso Contra a Diplomação. Inciso IV do art. 262 do Código Eleitoral. Abuso do poder
econômico. Investigação judicial. Procedência Manutenção da sentença. Trânsito em julgado. Ausência. 1. Não é
necessário que a decisão proferida em investigação judicial tenha transitado em julgado para embasar recurso contra a
diplomação fundado no inciso IV do art. 262 do Código Eleitoral. 2 . 0 Recurso Contra a Diplomação pode vir instruído
com prova pré constituída, entendendo-se que essa é a já formada em outros autos, sem que haja obrigatoriedade de
ter havido sobre ela pronunciamento judicial ou trânsito em julgado. 3. A declaração de inelegibilidade com trânsito em
julgado somente será imprescindível no caso de o Recurso Contra a Diplomação vir fundado no inciso I do mencionado
art. 262 do Código Eleitoral, que cuida de inelegibilidade. Agravo regimental a que se negou provimento".
10 “(TSE). Acórdão n9 19.592, de 6.8.2002. Recurso Especial Eleitoral n2 19.592/P1. Relator: Ministro Fernando Neves.
Ementa: Recurso contra a diplomação. Prefeito candidato à reeleição. Abuso do poder. Distribuição de dinheiro a
eleitores, na véspera da eleição, pessoalmente, pelo prefeito, na sede da Prefeitura. Apreensão da quantia remanescente
pelo juiz eleitoral. Documentos. Juntada com a inicial. Provas não contestadas. Fatos incontroversos. Prova. Produção.
Possibilidade. Arts. 222 e 270 do Código Eleitoral. Redação. Alteração. Lei n&4.961/66.1. Possibilidade de apurarem-se
fatos no recurso contra a diplomação, desde que o recorrente apresente prova suficiente ou indique as que pretende
ver produzidas, nos termos do art. 270 do Código Eleitoral. 2. A Lei n9 4.961/66 alterou os arts. 222 e 270 do Código
Eleitoral, extinguindo a produção da prova e apuração de fatos em autos apartados, passando a permitir que isso se
faça nos próprios autos do recurso. DJ de 20.9.2002”.
11 “(TSE). Agravo regimental contra decisão que negou seguimento a agravo de instrumento. Investigação judicial sem
trânsito em julgado. Prova pré constituída. Admissão. Não procede a alegação de ofensa à ampla defesa, na medida
em que o agravante defendeu-se no curso da investigação judicial, na qual se reconheceu o abuso de poder e que foi
utilizada como prova pré constituída no Recurso Contra a Diplomação, não havendo que se falar em qualquer prejuízo.
Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento ao agravo. Unânime. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento
n9 3.356/MT, Rei. Min. Fernando Neves, em 3.9.2002. No mesmo sentido, Agravo Regimental no Agravo de Instrumento
n9 3.359/MT, Rei. Min. Fernando Neves, em 3.9.2002".
R ec u r so Con traa D ip l o m a ç ã o C a p ít u l o 22

Existem duas correntes sobre admissão das condições de elegibilidades


constitucionais (art, 14, § 3 9, da Lei Maior) no âmbito do Recurso Contra a
Diplomação: a primeira, de natureza mais restrita, não a admite, pois interpreta
literalmente a expressão "inelegibilidade". Por exemplo: para esta corrente, fica de
fora a filiação partidária extemporânea. Nesse sentido, decisões jurisprudenciais. A
segunda corrente, mais consentânea com a eficiência da tutela jurisdicional eleitoral,
entende que estão abrangidas as condições de elegibilidade constitucional. Nesse
sentido, Adriano Soares da Costa e Emerson Garcia.
Entendemos que, no RCD, podem-se aduzir não apenas as hipóteses de
inelegibilidade, pois o legislador adotou a expressão em sentido lato; portanto,
abrange também as hipóteses de perda e suspensão dos direitos políticos, a
inelegibilidade reflexa do art. 14, § 7~, da Lei Maior, a falta de condições de
elegibilidade constitucional. A preclusão (a r t 259, parágrafo único, do Código
Eleitoral) deve servir de rumo seguro ao cabimento do RCD. Matéria constitucional
não está sujeita à decadência (preclusão).12
Destacamos precedente sobre o fato superveniente que pode ser alegado no
RCD, in expressi verbis:
Recurso Contra Diplomação. Inelegibilidade. Fato superveniente.
Alegação de preclusão afastada. Ausência de contrariedade à disposição
de lei. Dissídio jurisprudencial não demonstrado. O teor da jurisprudência
desta Corte, a matéria atinente à inelegibilidade resultante de fato
superveniente ao processo de registro pode ser suscitada em recurso
contra a diplomação. É inadmissível o recurso especial, fundado em
divergência jurisprudencial, quando não mencionadas as circunstâncias
que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados e, além disso, os
paradigmas não dizem respeito à situação fática enfocada pelo acórdão
recorrido. Nesse entendimento, o Tribunal deu provimento ao agravo.
Passando, desde logo, ao julgamento do recurso especial, dele não
conheceu. Unânime. Ausente, ocasionalmente, o Ministro Nelson Jobim.
Agravo de Instrumento ne 3.174, Rei. Min. Barros Monteiro, em 23.4.2002.

b) Incom patibilidades.
A lei refere-se à falta de desincompatibilização nos prazos fixados pela Lei das
Inelegibilidades (Lei Complementar na 64, de 18 de maio de 1990). Os prazos variam
de três, quatro e seis meses. O afastamento ou desincompatibilização manifesta-se
pela licença, exoneração ou renúncia, dependendo dos cargos públicos, mandatos
eletivos ocupados ou funções especiais.
12 (TSE) “Recurso contra expedição de diploma. Art. 2 6 2 ,1, do Código Eleitoral. Faita de condição de elegibilidade.
Filiação partidária. Registro deferido sob condição. Decisão contra a quai não houve recurso. Duplicidade. Não
caracterização. Decisão com trânsito em julgado, anterior ao julgamento do recurso contra a expedição de diploma
Ofensa ao art. 5° XXXVI, da Constituição. O Recurso Contra a Diplomação, baseado no inciso I do art. 262 do Código
Eleitoral, exige trânsito em julgado da decisão que assentar a inelegibilidade ou a falta de condição de elegibilidade
do candidato. Nesse entendimento, o Tribunal conheceu do recurso e deu-lhe provimento. Unânime. Recurso Especial
Eleitoral n9 19.889/SP, Rei. Min. Fernando Neves, em 18.3.2003”.

663
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Impende frisar que todas as hipóteses de falta de desincompatibilização,


portanto, as incompatibilidades, ensejam a preclusão referida no parágrafo único
do art. 259 e 223 e §§, ambos do Código Eleitoral (decadência), exceto as questões
tratadas no § 7 S do art. 14 da Lei Maior (inelegibilídades reflexas). Por exemplo: no
caso de cunhado do prefeito, no mesmo município, que pretende ser candidato a
prefeito, quando já é o segundo mandato do titular, a incompatibilidade é latente e
pode ser questionada no RCD, caso não tenha sido tratada na ação de impugnação
ao pedido de registro.

c) E rrôn ea in terp retação da lei, quanto à ap licação do sistem a de rep resen ­


tação proporcional.
0 cabimento só ocorre para as eleições de deputados federais, distritais, estaduais
e vereadores. 0 sistema proporcional no Brasil é o de lista aberta e está tratado nos
arts. 106 e 107 do Código Eleitoral.
A determinação do quociente eleitoral dá-se junto com o cálculo do quociente
partidário (ver capítulo sobre o assunto nesta obra). O art. 186 do Código Eleitoral
estipula a fase certa dentro do calendário eleitoral, ou seja, os cálculos antecedem
à proclamação dos eleitos.
O programa de computador que calcula os quocientes do Tribunal Superior
Eleitoral é disponibilizado de forma padrão aos Tribunais Regionais Eleitorais.
Hodiernamente, o cabimento do RCD, com base nesta errônea interpretação, é
muito raro.

d) Erro de direito ou de fato na ap u ração final, quanto à determ inação do


quociente eleitoral ou partidário, contagem de votos e classificação de
candidato, ou a sua contem plação p ara determ in ada legenda.
A hipótese é de ocorrência de erros dolosos (fraudes) ou culposos na contagem
dos boletins de urna e na transferência do resultado das urnas eletrônicas para os
Tribunais Superiores.13
O art. 72 da Lei ns 9.504/97 trata a questão como crime, in verbis;

Constituem crimes, puníveis com pena de reclusão, de 5 (cinco) a 10


(dez) anos: I ~ obter acesso a sistema de tratamento automático de

13 (TSE)' Acórdão nS 19.887, de 17.12,2002. Recurso Especial Eieitorai ne 19.887/SR Relator: Ministro Fernando Neves.
Ementa: Recurso contra expedição de diploma. Empate. Erro matéria! na certidão de nascimento apresentada no
momento do pedido de registro da candidatura. Não configuração de alguma das hipóteses do inciso Ilido art 262
do Código Eleitorai.1. O Recurso Contra a Diplomação, fundado no inciso III do art. 262 do Código Eleitoral, é cabível
contra o erro de direito ou de fato ocorrido na apuração do resultado final da eleição proporcional, o que pode alterar o
quociente eleitoral ou partidário, a contagem de votos e a classificação de candidato, ou a sua contemplação sob deter­
minada legenda, não se prestando para corrigir eventual erro existente na documentação apresentada pelo candidato.
Recurso conhecido e provido. DJ de 7.2.2003.”

664
R ec u r so C on tra a D ip l o m a ç ã o C a p ít u l o 2 2

dados usado pelo serviço eleitoral, a fim de alterar a apuração ou a


contagem de votos.

0 art. 315 do Código Eleitoral dispõe que:

Alterar nos mapas ou nos boletins de apuração a votação obtida por


qualquer candidato ou lançar nesses documentos votação que não
corresponda às cédulas apuradas. Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e
pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze) dias-multa.

Geralmente o agente ativo da empreitada delitiva não age isoladamente, mas em


formação de coautoria ou quadrilha, destinada a adulterar o resultado das eleições,
beneficiando determinado candidato.
De toda sorte, além do aspecto penal da conduta lesiva, é possível o cabimento do
recurso contra a diplomação do candidato infrator beneficiado pelo mapismo eleitoral.
A regra do art. 169 do Código Eleitoral deve ser observada, porque, à medida
que os votos forem sendo apurados, os fiscais e delegados de partido político ou
de coligação, assim como os candidatos ou seus advogados, poderão apresentar
impugnações sobre as quais, após manifestação oral do Ministério Público, a junta
apuradora decidirá imediatamente. A impugnação do voto só poderá ocorrer antes
de declarado o conteúdo do voto seguinte. A preclusão da impugnação com relação
ao voto da última eleição existente na cédula ocorrerá quando for comandada a
confirmação final de todo o seu conteúdo.
A decisão da junta apuradora sobre a impugnação desafia recurso imediato,
podendo ser este apresentado por escrito ou verbalmente, e deve ser fundamentado
no prazo de 4 8 horas, para que tenha seguimento.
Havendo recurso, a cédula será colocada em envelope lacrado e emitida a certidão
da decisão.
Mesmo iniciando uma apuração pela forma normal, é possível transformá-la em
"apuração em separado" por meio da opção 5 "Anular a seção xxxx e apurar em separado",
que aparece no menu de encerramento. Esta transformação poderá ser realizada em
qualquer momento de apuração dos votos da eleição (majoritária ou proporcional).
Impugnações e recursos
As impugnações poderão ser apresentadas verbalmente, no momento da
apuração, por candidatos, delegados ou fiscais, devidamente identificados.

Impugnações da urna
A impugnação de urna poderá ser feita até o momento de sua abertura, por motivo
de irregularidade havida junto à mesa receptora, durante a votação, de violação da
urna ou de rasuras nos documentos (ata e folha de votação).14

14 Dados extraídos do Manual dos Juizes e Promotores, elaborado pelo TSE.

665
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

A jurisprudência não admite o RCD quando pendentes recursos parciais relativos


à apuração ou não tenha havido impugnação durante a votação e apuração.
Destacamos:
TSE. Acórdão ne 19.809, de 5.12.2002. Recurso Especial Eleitoral
nfi 19.887/SP. Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Recurso
contra a diplomação. Número de cadeiras de vereadores. Redução.
Justiça Comum. Liminar. Decisão de primeira instância. Reforma
pelo Tribunal de Justiça. Recurso que visa a aumentar o número
de diplomados. Inexistência de intenção de desconstituir diploma
específico. Questionamento sobre o número de cadeiras a serem
preenchidas. Possibilidade. Lei Orgânica do Município. Fixação do
número de edis. Competência. Decisão que alterou o número de vagas
que foi reformada pelo Tribunal de Justiça. Recurso conhecido e
provido. Republicado no DJ de 7.2.2003.
A questão sobre a redução do número de cadeiras não é propriamente de natureza
eleitoral, mas inegavelmente produz reflexos no quociente partidário. Sobre o
assunto, trazemos à baila notícia das recentes decisões nos votos dos eminentes
Ministros do STF, Gilmar Mendes e Maurício Corrêa, no Recurso Extraordinário
ne 197.917-8, originado no Estado de São Paulo, Relator: Min. Maurício Corrêa,
recorrente o Ministério Público Estadual e recorridos a Câmara Municipal de Mira
Estrela e outros. O referido feito versa sobre a questão.
O Ministro Gilmar Mendes iniciou seu voto no mencionado RE, sintetizando o
voto do ilustre Ministro Relator, Maurício Corrêa, in verbis:
O senhor Ministro Gilmar Mendes:
0 voto do eminente Relator pode ser assim resumido:
"a) as disposições do art. 29, IV, da Constituição possuem conteúdo
normativo, de modo a concretizar os princípios constitucionais da
razoabilidade e da proporcionalidade da representação política;
b) propõe adoção de regra de três simples para a realização do
mandamento constitucional (v.g., 1.000.0000 dividido por 21 etc.) o
que resulta:
1 - quanto à alínea a do inciso IV: a cada grupo de 47.619 habitantes,
há de se acrescentar um vereador, observado o referencial mínimo de
9 (nove);
II - quanto à alínea b do inciso IV: a partir de 1.000.001 habitantes,
a cada grupo de 121.951, soma-se mais um vereador, observado o
referencial mínimo de 33 (trinta e três);
III - quanto à alínea c do inciso IV: a cada grupo de 119.047 munícipes, a
representação será acrescida de um vereador, até o limite máximo de 55."
Tal como sintetizado no ilustrado voto, a questão está restrita ao significado
normativo da expressão "proporcional" no art. 29, IV da CF. E as opções
R e c u r so C o n t r a a D ip l o m a ç ã o
C a p ít u l o 22

são radicais e inconciliáveis: ou ela tem algum sentido normativo ou ela


quase ou nada significa do ponto de vista jurídico-normativo.
Nessa linha, também entendo, como o nobre Relator, que a
consideração segundo a qual "(...) a proporcionalidade está mitigada
pela determinação de observância de limites (MS ne 1.949} não pode
mais prosperar, pois sua aplicação prática provoca, conforme já dito,
resultados que violam de maneira frontal a Constituição, tornando
inócua a relação população/ vereadores, além de situar-se em
descompasso com a isonomia e o devido processo legal substantivo".
Parecem igualmente irretocáveis as seguintes passagens do aludido
voto:
Da mesma forma, a afirmação de que "da própria Constituição
não é possível extrair outro critério aritmético de que resultasse
a predeterminação de um número certo de vereadores para cada
município” (MS 1.945) não pode mais subsistir, uma vez que, como se
viu, o anseio expresso na Carta Federal encontra forma de realizar-se e
compor-se por equação aritmética determinável, de sorte a concretizar
os princípios constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade
da representação política.
53. Nem se diga que possa haver qualquer ofensa à autonomia municipal
(CF, arts. 1-, 18 e 29), já que na espécie fala mais alto o princípio maior
resultante da própria Constituição, que submeteu os municípios à
regra da proporcionalidade entre o número de vereadores e o de seus
habitantes.
54. Se assim admito, claro está que o acórdão recorrido discrepou
da Constituição, ao afirmar que seu art. 29, IV, “não estabeleceu
de forma explícita nenhum critério rígido e pertinente sobre essa
proporcionalidade; muito menos adotou, de modo claro e induvidoso, a
exata fórmula matemática que, com puro subjetivismo, veio preconizada
na inicial e resultou acolhida pelo MM. Juiz'1 (fl. 187). Com efeito,
conforme ficou demonstrado, a inicial e a sentença de primeiro grau
apoiaram-se em dados objetivos e demonstraram, à saciedade, que o
número de vereadores fixados pelo Município de Mira Estrela ofende os
parâmetros definidores da proporção exigida pela Carta de 1988.
55. Correta, portanto, a sentença do juiz de primeiro grau, no ponto
em que considerou inconstitucional o parágrafo único do art. 69 da Lei
Orgânica do Município de Mira Estrela, por ofensa ao art. 29, inciso
IV, alínea a, da Constituição Federal. Com apenas 2.651 habitantes, o
referido município somente poderia ter nove representantes, e não 11,
como fixado pela norma legal sub examine.
É verdade que o relator percebeu, com peculiar argúcia, que a declaração
de inconstitucionalidade a ser proferida nos presentes autos haveria
de ter limitação de efeitos.

667
M a rc o s R am ayana D ír je it o E l e it o r a l

É o que se lê nos seguintes parágrafos do douto voto:


"57. Assim sendo, repito, bem agiu o magistrado de primeiro grau ao
declarar, íncidenter tantum, a inconstitucionalidade do parágrafo único
do art. 6a da lei orgânica em causa. Não poderia, entretanto, alterar o
seu conteúdo, fixando de pronto o número de vereadores, usurpando,
por isso mesmo, competência constitucional específica outorgada tão
só ao Poder Legislativo do município (CF, art. 29, caput, IV). Agindo
dessa forma, o Poder Judiciário estaria assumindo atribuição de
legislador positivo, que não lhe foi reservada pela Carta Federal para
a hipótese.
58. Oficiado à Câmara Legislativa local acerca da inconstitucionalidade
do preceito impugnado, cumpre a ela tomar as providências cabíveis
para tornar efetiva a decisão judicial transitada em julgado.
59. Registro que, nas razões do extraordinário, o recorrente impugnou
tão só a inconstitucionalidade da Lei Orgânica Municipal, ratificando
a pretensão de reduzir o número de vereadores de 11 para nove,
nada aduzindo, porém, quanto aos demais consectários requeridos na
inicial, como o afastamento dos vereadores excedentes e a devolução
dos subsídios por eles recebidos, questões, por esse motivo, aqui não
enfrentadas.
60. Assinale-se que, a despeito de a legislatura a que se refere a decisão
de primeiro grau - quadriênio 1993/97 - já ter se exaurido, o presente
recurso não se acha prejudicado. Com efeito, a ação promovida pelo
Parquet questionou a composição da Câmara Legislativa do município
por entendê-la contrária à Carta da República, em face do excesso de
representantes. Tal situação persiste, porquanto os eleitores de Mira
Estrela elegeram para o quadriênio 2001/2004 o mesmo quantitativo
de 11 (onze) vereadores. Remanesce, portanto, o interesse em
reduzir esse número e a conseqüente declaração incidental de
inconstitucionalidade da norma municipal.
(...)
62. Observo, por fim, obiter dictum, que a declaração de cassação dos
mandatos, em situação como a presente, deveria ser precedida de
reavaliação do quociente eleitoral, tendo em vista os partidos políticos
que participaram das respectivas eleições, o que demandaria prévio
exame da Justiça Eleitoral"
Essas considerações demonstram que, de forma hábil, o eminente
relator tentou limitar os efeitos da declaração de inconstitucionalidade,
que, como se percebe, não poderá ser dotada de eficácia ex tunc.

e) Concessão ou denegação do diplom a em m anifesta con trad ição com a prova


dos autos, nas hipóteses do a rt. 2 2 2 desta Lei e do a rt. 4 1 -A da Lei ns 9 ,5 0 4 ,
de 3 0 de setem bro de 1 9 9 7 .

668
R ec u r so C on tra a D ip l o m a ç ã o C a p ít u l o 22

0 inciso teve a redação ampliada pelo art. 3 2 da Lei ns 9.840, de 29 de setembro


de 1999 (Lei dos Bispos). Sobre o assunto, ver os capítulos específicos sobre a
Captação de Sufrágio e a Ação de Investigação Judicial Eleitoral.
O TSE tem precedente sobre o tema, in verbis:
Representação. Art. 41-A da Lei n- 9.504/97. Captação de sufrágio
vedada por lei. Comprovação. Aplicação de multa. Decisão posterior à
diplomação. Cassação do diploma. Possibilidade. Ajuizamento de ações
próprias. A decisão que julgar procedente representação por captação
de sufrágio vedada por lei, com base no art. 41-A da Lei ne 9.504/97,
deve ter cumprimento imediato, cassando o registro ou o diploma, se já
expedido, sem que haja necessidade da interposição de recurso contra
a diplomação ou de ação de impugnação de mandato eletivo. Nesse
entendimento, o Tribunal conheceu do recurso e deu-lhe provimento.
Unânime. Recurso Especial Eleitoral ne 19.739/BA, Rei. Min. Fernando
Neves, em 13.8.2002.
Impende frisar que não é admitida a interposição de RCED com base no art. 30-A
da Lei ns 9.504/97, visto se tratar de rol taxativo as hipóteses de cabimento desse
recurso, Nesse sentido:
Eleições 2006. Recurso contra expedição de diploma. Descabimento.
Previsão legal. Ausência. Relator. Presidência. Redistribuição.
Regularidade. Prestação de contas. Prova emprestada. Possibilidade.
Doação. Irregularidade. Prova. Inocorrência. Abuso do poder
econômico. Eleição. Desequilíbrio. Potencialidade. Demonstração.
Necessidade.
Não é cabível a propositura de RCED com fundamento no art. 30-A da Lei das
Eleições, por ausência de previsão legal, uma vez que as hipóteses de cabimento
previstas no art. 262 do CE são num erus clausus.
Ocorrendo assunção do relator original à presidência da Corte, é regular a
redistribuição do feito ao seu sucessor, por aplicação subsidiária do RISTF.
A prestação de contas de campanha pode ser admitida como prova emprestada.
Para justificar o suposto recebim ento de doações irregulares, devem ser
demonstradas, com a certeza necessária, a doação de valores não contabilizados e
a utilização de "laranjas".
Para a configuração do abuso do poder econômico, faz-se necessário demonstrar
a potencialidade da conduta para gerar desequilíbrio no pleito.
Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento ao recurso. Unânime.
Recurso contra E xpedição d e D iplom a ns 731/MG, r e i Min. Ricardo Lew andowski,
em 28.10.2009.

669
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

2 2 .1 1 . EFEITO S
0 art. 216 do Código Eleitoral garante o diploma, posse e exercício do mandato
eletivo, enquanto não for provido o Recurso Contra a Diplomação. Significa que
o infrator poderá permanecer durante razoável período de tempo exercendo
o mandato eletivo. A norma obriga a adoção de um efeito suspensivo, ou seja, o
diplomado fica até o trânsito em julgado do recurso contra a sua diplomação. 0 RCD
só é recebido no efeito devolutivo. 0 art. 2 5 7 do Código Eleitoral, que é a regra geral,
disciplina que os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.
Cumpre destacar as valiosas lições de joel José Cândido, ao analisar o art. 15
da Lei das Inelegibilídades, que, na prática, é correlacionado aos efeitos do RCD, in
expressi v erbis:
Talvez não se trate de nulidade do diploma, mas sim de sua inexistência.15
0 art. 15 diz:

Transitada em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do


candidato, ser-lhe-á negado o registro, ou cancelado, se já tiver sido
feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido.

Salienta o renomado autor Joel José Cândido que o art. 15, por sua topografia
e direcionamento, está atrelado à ação de impugnação ao pedido de registro de
candidatos, não sendo aplicável ao Recurso Contra a Diplomação que tem regramento
diverso. Assiste razão ao autor.

15 5.119.047 + 119.047 = 5.238.094

670
C a p ít u lo 23

C on sid erações gerais sobre


OS CRI MES ELEITORAIS E O PROCESSO
PENAL ELEI TORAL

Os crimes eleitorais estão disciplinados nos arts. 289 até 354 do Código Eleitoral
e em outras leis que integram a legislação eleitoral em sentido amplo, tais como: a
Lei ns 7.021, de 6 de setembro de 1982, que estabelece o modelo de cédula única;
Lei ns 6.091, de 15 de agosto de 1974, que disciplina o fornecimento gratuito de
transporte, em dias de eleições, a eleitores residentes em zonas rurais, e dá outras
providências; Lei n~ 6.996, de 7 de junho de 1982, que disciplina o processamento
eletrônico de dados nos serviços eleitorais; Lei Complementar n9 64, de 18 de maio
de 1990, que estabelece casos de inelegibilidade e disciplina outras matérias; e a
Lei n s 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições.
Cai a lanço notar que, para cada eleição, seja de cunho nacional, estadual ou
municipal, existe uma lei especial disciplinadora. Esta lei trata de tipos penais, cuja
aplicação é temporária, seguindo o art. 16 da Constituição Federal, que disciplina o
princípio da anualidade em matéria eleitoral.
A Constituição Federal, em seu art. 16, consagra o princípio da anualidade
em matéria eleitoral, quando textualmente diz que: "A lei que alterar o processo
eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que
ocorra até um ano da data de sua vigência". A alteração foi operada pela redação da
Emenda Constitucional n9 4, de 14 de setem bro de 1993. A redação anterior era a
seguinte: "A lei que alterar o processo eleitoral só entrará em vigor um ano após sua
promulgação”.
Assim, as leis específicas para as eleições que ocorrem de dois em dois anos,
alternadamente, em observância ao princípio da periodicidade (art. 60, § 4 2, II, da
Lei Maior) para prefeito, vice-prefeito, vereadores, presidente da República, vice-
presidente, governador, vice-governador, senadores, deputados federais, distritais
e estaduais, são leis de natureza temporária.
M arcos R a m ayana D ir e it o E l e it o r a l

Em suma: as eleições de 1 9 9 2 ,1 9 9 4 ,1 9 9 6 ,1 9 9 8 e 2000 possuem leis específicas,


que trazem tipos penais incriminadores. No entanto, a Lei n- 9.504, de 30 de
setembro de 1997, que estabeleceu normas para as eleições, perdeu o sentido
da especificidade para determinada eleição, rompendo uma tradição legiferante,
sendo, portanto, aplicável para todas as eleições municipais, estaduais e federais,
até que seja eventualmente revogada ou sofra modificações.
É sabido, portanto, que os tipos penais incriminadores disciplinados em leis
penais temporárias possuem vigência "previamente fixada pelo legislador”.
As leis de natureza temporária são ultra-ativas, ou seja, são aplicáveis aos fatos
praticados durante sua vigência, mesmo ocorrendo sua autorrevogação. Aplicável
sobre essa matéria, o a r t 3 e do Código Penal. Em suma: se o candidato Tício, durante
a fase apuratória das eleições de 2000, de forma consciente e voluntária, agindo
dolosamente, obtém acesso ao sistem a de dados usado pelo serviço eleitoral, a fim
de alterar a apuração ou a contagem de votos, responde pelo crime do art. 72, I,
da Lei ne 9.504/97, mesmo que seja julgado no ano de 2004, em razão da ultra-
atividade da Lei Penal especial.
A autorrevogação das leis especiais materializam-se no Direito Penal Eleitoral,
pelo simples decurso do prazo de sua duração. Esse prazo, embora não venha
expresso nas referidas leis, coincide com o término das eleições ou do período de
apuração.
As leis específicas para as eleições, portanto, consagram o fenômeno das leis
temporárias, que vigem para disciplinar circunstâncias jurígenas criminais,
além de várias outras matérias indiferentes ao Direito Penal Eleitoral, mas que o
complementam como norma penal em branco em sentido lato ou ampío (provenientes
da mesma fonte formal homogênea, in casu, o Congresso Nacional). Como exemplo,
as normas que tratam de regras de doações em campanhas eleitorais podem, v.g.,
caracterizar delitos eleitorais. O caso mais comum é quando o candidato recebe
dinheiro não contabilizado na sua prestação de contas com a finalidade de corromper
o eleitor em busca de votos, incidindo, "em tese”, na prática do crime do art. 2 9 9 do
Código Eleitoral, nominado por Nelson Hungria como “crime de corrupção eleitoral",
estando sujeito, ainda, à sanção de inelegibilidade pela prática do abuso do poder
econômico ou político, conforme disciplina o art. 22 da Lei Complementar nQ64, de
18 de maio de 1990, cognominada de Lei das Inelegibilidades, porque disciplina as
causas de inelegibilidade infraconstitucional, as hipóteses de desincompatibilização
e a representação ou investigação judicial eleitoral.
Frise-se, ainda, que essas leis tipificam condutas que só podem ocorrer diante de
certas peculiaridades próprias do calendário eleitoral, pois possuem elementares
penais objetivas, descritivas e normativas, exigindo-se um juízo de valoração. Como
exemplo: a danificação dolosa do aparelho de computador utilizado na apuração
dos votos, a prática do aliciamento de eleitores, a distribuição de material de
propaganda eleitoral no dia da eleição.

672
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r i m e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Convém ponderar a existência de controvérsias doutrinárias sobre o caráter


permanente da Lei ne 9.504/97, na medida em que são disciplinadas regras
referentes às eleições municipais, estaduais e nacionais. A mutabilidade das
regras eleitorais faz-se presente, hodiernamente, apenas em razão da expedição
de resoluções do Tribunal Superior Eleitoral, ou seja, para cada eleição, deverão
estar expedidas, até o dia 5 de março do ano eleitoral, as respectivas resoluções de
caráter disciplinador e complementar.
De fato, o Tribunal Superior Eleitoral exerce uma atividade normativa ou, no
fundo, o exercício de um poder atípico, pois, por expressa determinação legal,
cabe-lhe regulamentar as eleições através de resoluções específicas que acabam
alterando dispositivos do próprio Código Eleitoral.
Os arts. I 9, parágrafo único, e 23, IX, do Código Eleitoral obrigam o Tribunal
Superior Eleitoral a normatizar as eleições, expedindo resoluções para regular
diversas matérias, tais como: propaganda eleitoral, votação, apuração, prestação de
contas e outras.
0 poder normativo do Tribunal Superior Eleitoral regulamenta o próprio
calendário eleitoral, v.g., a Resolução n9 20.506, de 18 de novembro de 1999.
E algumas decisões tratam, inclusive, de questão atinentes à competência na
apreciação de certas matérias, por determinado órgão jurisdicional eleitoral.
Juizes auxillares. Competência. A competência dos juizes auxiliares
está limitada aos temas de violação das normas da Lei ns 9.504/97.
Descabe-lhes examinar questões pertinentes à Lei Complementar
n9 64/90 ouàLein98.429/92. Uso indevido de bens e serviços públicos
não caracterizado. Recurso a que se nega provimento. Acórdão ne 158,
de 20.10.1998 - Recurso na Representação ns 158 - Classe 30a/DF
(Brasília). Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira.
Sobre a força legal das resoluções em matéria eleitoral, leciona o eminente
doutrinador Torquato Jardim que:
Força legal impositiva têm as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral,
tanto que a ofensa ao que nelas se dispõe é fundamento para recurso
ou mandado de segurança quando dela surtem efeitos concretos
contra os impetrantes, causando-lhes prejuízo (TSE, Ac. n9-10.859, Rei.
Min. Sanches, DJU 13.10.1989; Ac. ne-10.871, Rei. Min. Vilas Boas, DJU
6.10.1989).
Com elas, expede o Tribunal as instruções que julgar convenientes à execução
do Código Eleitoral, ou julga os litígios e controvérsias de natureza judicial (Cód.
Eleitoral, arts. 23, IX, e 22). Os Tribunais e Juízos inferiores devem-lhe cumprimento
imediato (Código Eleitoral, art. 21).

673
M arcos R a m a y a n a __________________ D ir e it o E l e it o r a l

As resoluções são decisões, administrativas ou judiciais, que têm por função


dar eficácia legal e eficácia social às normas constitucionais e legais eleitorais,
(a) explicando os seus fins e traduzindo, em linguagem acessível ao eleitorado, aos
candidatos e aos partidos políticos, os requisitos e os procedimentos adequados ao
exercício da cidadania, ou (b) pondo termo ao processo judicial.1
Outrossim, a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que as
resoluções integram a ordem jurídica eleitoral e equiparam-se à lei ordinária,
ensejando a interposição de recurso especial previsto no Código Eleitoral, na
hipótese de descumprimento.2
Como visto, as resoluções disciplinam várias matérias, servindo para preencher
as normas penais em branco em sentido estrito ou restrito, cuja definição
complementativa encontra-se em fonte heterogêna, ou seja, in casu, o próprio
Tribunal Superior Eleitoral.
0 eminente doutrinador joel José Cândido apresenta a melhor classificação
sobre os crimes eleitorais:
Crimes contra a organização administrativa da Justiça Eleitoral,
arts. 305, 306, 310, 311, 318 e 340, todos do Código Eleitoral.
Crimes contra os serviços da Justiça Eleitoral, arts. 289 a 293,296,303,
304, 341 a 347; art. 11 da Lei n9 6.091/74; art. 45, §§ 99 e 11; art. 47,
§ 4 9; art. 68, § 2S; art. 71, § 39; art. 114, parágrafo único, e art. 120,
§ 5e, todos do Código Eleitoral.
Crimes contra a Fé Pública Eleitoral: arts. 313 a 316, 348 a 354, art. 15
da Lei n9 6.996/82 e art. 174, § 3-, do Código Eleitoral.
Crimes contra a Propaganda Eleitoral: arts. 323 a 327; 330 a 332; e 334
a 337, todos do CE.
Crimes contra o sigilo e exercício do voto: arts. 295, 297 a 302, 307
a 309, 312, 317, 339; art. 5~ da Lei ns 7.021/82; art. 129, parágrafo
único; e art. 135, § 5 e, do Código Eleitoral.
Crimes contra os partidos políticos: arts. 319 a 321 e 338 do Código
Eleitoral e art. 25 da Lei Complementar n9 64/90.
Os tipos penais eleitorais disciplinam condutas ativas e omissivas praticadas
desde a fase do alistamento eleitoral até a diplomação dos eleitos.
A classificação procura situar o bem jurídico atingido nas fases do processo
eleitoral. A lesão ao bem jurídico é o norte da classificação apresentada.

2 3 .1 . QUAL A NATUREZA JURÍDICA DOS C RIM ES ELEITO RA IS?


I a corren te. São os crimes eleitorais objetivamente políticos, pois atingem
a personalidade do Estado e ofendem o interesse político do cidadão. Posição de
Vincenzo Manzini.

1 JARDIM, Torquato. Direito Eleitoral Positivo. Editora Brasília Jurídica, 1996, p. 98.
2 Acórdão n- 823. Rec. 1,943-RS, irai, Boletim Eieitorai, 13:16.

674
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r i m e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P hnal E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Para as doutrinas de Ortolan e Maggiore, os crim es eleitorais também são crimes


políticos, porque atingem o interesse público das instituições representativas do
Estado.
0 eminente doutrinador Fávila Ribeiro também comunga dessa corrente.
2a co rren te. Joe! José Cândido, Desembargador Camargo Aranha e Ministro Celso
de Mello, do STF, afirmam que os crimes eleitorais são crimes comuns.
Os crimes eleitorais são crimes comuns, pois estes são todos os delitos, com
exceção dos impropriamente chamados crimes de responsabilidade, definidos na
Lei na 1.079, de l â de abril de 1950.
Essa lei, que define os crim es de responsabilidade, trata no Capítulo III, Dos
Crimes Contra o Exercício dos Direitos Políticos, Individuais e Sociais, definindo,
no art. 7-, dez itens típicos crim inais, tais como: obstar o livre exercício das
funções de m esário, u tilizar o poder federal para impedir a livre execução da
Lei Eleitoral e impedir, por violência, am eaça ou corrupção, o livre exercício do
voto.
O crime político é definido por três teorias.
1) TEORIA OBJETIVA - Cuja autoria se identifica com os doutrinadores Prins, Haus,
Garraud e ImpallomenL Originária da Alemanha.
São crimes políticos os que atentam contra as condições de existência
do Estado como organização política.
2) TEORIA SUBJETIVA - Seus defensores são Lombroso, Ferri e Jimenez de Asuá.
Originária da Espanha.
São crimes políticos, quando o dolo do agente tiver motivação
puramente política, ou seja, o seu objetivo fica limitado a destruir, por
exemplo, o regime democrático.
3) TEORIA MISTA - A mais aceita, sustentada por Florian e Sebastian Soler. Originária
da Itália.
São crimes políticos quando o bem jurídico lesado é a existência do
Estado, além de se considerar a motivação puramente política.
No Brasil, foi adotada a te o ria m ista, defendida, principalmente, pelo doutrinador
Nelson Hungria.
A Lei de Segurança Nacional, Lei n9 7.170/83, consagrou, em seu art. 2S, a teoria
mista.
A classificação, no Brasil, sobre crimes políticos ainda merece aprimoramento,
mas se apresenta com o:
1) CRIMES POLÍTICOS PRÓPRIOS - ofendem a organização do Estado, a organização
política.
2) CRIMES POLÍTICOS IMPRÓPRIOS - ofendem a um interesse político do cidadão.
Outra classificação, lembrada pelo doutrinador Damásio E. Jesus, é a seguinte:

675
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

1) crimes políticos puros - de exclusiva natureza política;


2) crim es políticos relativos - são os delitos políticos mistos ou complexos que
ofendem simultaneamente a ordem política e um interesse privado;
3) crimes comuns conexos a delitos políticos.
Existem, ainda, os chamados crimes sociais, ou seja, alguns autores distinguem
os crimes sociais como os que atingem a organização social, e os crimes políticos
como os que atingem diretamente a personalidade do Estado. Entretanto, os crimes
sociais, no Brasil, são englobados no conceito jurídico dos crimes políticos próprios,
segundo valiosa lição de Damásio de Jesus.
Todavia, os crimes eleitorais são crimes comuns, especialmente, diante das
regras eleitorais específicas, das normas de caráter temporário e da incidência
típica delimitada pelo calendário eleitoral entre o alistamento e a diplomação dos
candidatos eleitos, pois, fora dessas fases, o crime perde sua natureza jurídico-
eleitoral e passa a atingir bens jurídicos diferenciados.
Ao ensejo da conclusão desse item, podemos afirmar que os crimes eleitorais
atingem não a organização política do Estado de forma direta, mas a organização do
processo democrático eleitoral, atingindo os direitos públicos políticos subjetivos
ativos e passivos e a ordem jurídica da relação pública da legitimidade política dos
mandatos eletivos.
Conclusivamente, os crimes eleitorais não são crimes políticos, sendo inaplicável
aos mesmos a regra do art. 64, inciso II, do Código Penal, ou seja, essa regra diz que
não é considerada a condenação anterior para fins de reincidência, se for decorrente
de crime militar próprio e político.
Impende observar ainda que, segundo o disposto no art. 12 do Código Penal e
no art. 288 do Código Eleitoral, aplicam-se aos crimes eleitorais várias regras e
institutos jurídicos disciplinados na parte geral do Código Penal.
Neste sentido, deve-se dizer que se aplica aos crim es eleitorais as regras
referentes ao princípio da anterioridade da lei, lei penal no tempo, lei
excepcional ou tem porária, tempo do crim e, territorialidade, lugar do crime,
extraterritorialidade, pena cumprida no estrangeiro, eficácia da sentença
estrangeira, contagem de prazo, frações não com putáveis na pena, relação de
causalidade, crim es consumados e tentados, desistência voluntária, crime
impossível, crim e doloso e culposo, erros de tipo e de proibição, legítim a defesa,
estado de necessidade, inimputabilidades, concurso de pessoas, algumas
espécies de penas e regimes, fixação de pena, circunstâncias agravantes e
atenuantes, cálculo da pena, concurso m aterial, form al e continuado, suspensão
da pena, efeitos da condenação, reabilitação, medidas de segurança e algumas
hipóteses de extinção da punibilidade.
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So br e os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

23.2. COMENTÁRIOS A OS CRIM ES ELEITO RA IS TIPIFICADOS NO


CÓDIGO ELEITORAL
23.2.1. Art. 283 - Fu n cio n ário s da Ju s tiç a Eleitoral

Art 283 Para os efeitos penais são considerados membros e funcionários


da Justiça Eleitoral:
I. os magistrados que, mesmo não exercendo funções eleitorais, estejam
presidindo Juntas Apuradoras ou se encontrem no exercício de outra
função por designação de Tribunal Eleitoral;

Trata-se de regra desnecessária em razão dos arts. 327 do Código Penal, que
define funcionário público para fins penais, e 287 do Código Eleitoral, que trata,
ainda, da aplicação subsidiária do Código Penal. Outrossim, o art. 12 do Código Penal
remete à legislação especial as regras gerais do Código Penal. Por fim, o art. 337-D
do CP inclui nova modalidade típica, "funcionário público estrangeiro".
O artigo contempla os juizes designados em auxílio aos titulares das zonas
eleitorais. Para determinadas eleições, os Tribunais Regionais Eleitorais costumam
designar juizes para presidir juntas apuradoras, sendo que estes juizes não são os
titulares da zona eleitoral que as abrange.
Na Espanha, v.g., a Lei Orgânica ne 5/85, de 19 de junho, do Regime Eleitoral
Geral (BOE 147, de 20 de junho de 1985), no art. 135, número 1, define funcionário
público dizendo que são os definidos pela regra geral do Código Penal Espanhol,
acrescendo os que desempenhem alguma função pública relacionada com as
eleições, e particulariza o caso dos vogais das juntas eleitorais, os presidentes e
interventores de mesa.
Outrossim, na República Grega, v.g., o Decreto Presidencial na 92/94, "Codificação
em texto uniforme das disposições da Lei Eleitoral para a Assembleia da República"
(Diário do Governo, 6 9 a/1994), no art. 109, número 5, pune, com pena de prisão
entre 3 (três) meses e 3 (três) anos e pena de multa (ambas cumulativamente),
o funcionário público que dolosamente atuar antes das eleições a favor ou contra
candidato ou partido, além daquele que é utilizado como mandatário de qualquer
candidato ou partido.

II. os cidadãos que temporariamente integram órgãos da Justiça Eleitoral;

O doutrinador Joel José Cândido entende que o dispositivo legal diz respeito
aos juizes classistas, ou seja, da classe dos advogados. É cediço que nos Tribunais
Regionais Eleitorais a composição é híbrida e envolve a nomeação pelo Presidente
da República de 2 (dois) advogados indicados pelo Tribunal de Justiça. Outrossim,
no Tribunal Superior Eleitoral, o Presidente da República também nomeia 2 (dois)
juizes eleitorais, após indicação do Supremo Tribunal Federal (CF arts. 118 a 121).
Assiste razão ao eminente doutrinador.

677
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a i

III. os cidadãos que hajam sido nomeados para as mesas receptoras ou


Juntas Apuradoras;

0 artigo engloba os mesários, secretários e escrutinadores eleitorais.

IV. os funcionários requisitados pela Justiça Eleitoral.

Nesta hipótese, a regra compreende os policiais militares, civis, guardas


municipais e toda espécie de servidor público. Se um desses agentes pratica crime
eleitoral, o caso será processado e julgado pela Justiça Eleitoral (Justiça Especial).

Remissões:
CP, art. 327.
Lei ne 8.666/93 - Lei de Licitações Públicas - art. 84, § l e.

§ l s Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, além dos


indicados no presente artigo, quem, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 2 6 Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou
função em entidade paraestatal ou em sociedade de economia mista.

23.2.2. Art. 284 ~ Fixação da Pena

Art. 284. Sempre que este Código não indicar o grau mínimo, entende-se
que será ele de 15 (quinze) dias para a pena de detenção e de um ano
para a de reclusão.

A regra contempla a tipicidade remetida no que tange ao preceito secundário


da norma incriminadora. Trata-se de dispositivo que, na prática, acarreta maior
dificuldade na aplicação das regras penais eleitorais. De leg e feren d a , o legislador
deveria inserir no próprio preceito secundário a sanção penal, pois a técnica de
tipicidade remetida nesta hipótese é sujeita a críticas.

23.2.3. Art. 285 - Aumento e diminuição de pena

Art. 285. Quando a lei determina a agravação ou atenuação da pena sem


mencionar o quantum, deve o juiz fixá-lo entre 1/5 (um quinto) e 1/3
(um terço), guardados os limites da pena cominada ao crime.

Como bem lembrado por Joel José Cândido, o artigo não está tratando de
agravante ou atenuante. Na verdade, estamos diante de causa especial de aumento
ou de diminuição da pena. Subsidiariamente aplica-se o Código Penal.

678
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s El e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Remissão:
CP, arts. 59 e 68,

23.2.4. Art. 286 - Pena de muita

Art. 286. A pena de multa consiste no pagamento ao Tesouro Nacional


de uma soma de dinheiro, que é fixada em dias-multa. Seu montante é,
no mínimo, 1 (um) dia-multa e, no máximo, 300 (trezentos) dias-multa.

Trata-se de regra especial. Não incide o art. 49 do Código Penal; portanto, a multa
penal eleitoral é receita para o Tesouro Nacional. Todavia, transitada em julgado a multa
é considerada dívida de valor e se sujeita à incidência do art. 51 do Código Penal.
Outrossim, o juiz poderá valer-se da regra do art. 50 do CP, parcelando
mensalmente o pagamento.

§ l 9 O montante do dia-multa é fixado segundo o prudente arbítrio do


juiz, devendo este ter em conta as condições pessoais e econômicas do
condenado, mas não pode ser inferior ao salário mínimo diário da região
nem superior ao valor de um salário mínimo mensal.
§ 29 A multa pode ser aumentada até o triplo, embora não possa exceder
o máximo genérico (caput), se o juiz considerar que, em virtude da
situação econômica do condenado, é ineficaz a cominada, ainda que no
máximo, ao crime de que se trate.

O Tribunal Superior Eleitoral em matéria administrativa eleitoral normatizou o


valor para o pagamento da multa eleitoral, servindo a base de cálculo como fator
relevante na exegese para aplicação da multa penal.
Resolução n2 21.538, de 14.10.2003. Processo Administrativo 18.463/DF.
Relator: Ministro Barros Monteiro. Interessada: Corregedoria-Geral da
Justiça Eleitoral. Dispõe sobre o alistamento e serviços eleitorais mediante
processamento eletrônico de dados, a regularização de situação de eleitor,
a administração e a manutenção do cadastro eleitoral, o sistema de
alistamento eleitoral, a revisão do eleitorado e a fiscalização dos partidos
políticos, entre outros. Art 85. Abase de cálculo para aplicação das multas
previstas pelo Código Eleitoral e leis conexas, bem como das de que trata
esta resolução, será o último valor fixado para a UFIR, multiplicado pelo
fator 33,02, até que seja aprovado novo índice, em conformidade com as
regras de atualização dos débitos para com a União.

Rem issão:
CP, art. 51.

679
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

2 3 .2 .5 . Art. 287 - A plicação su bsid iária do Código Penai

Art. 287. Aplicam-se aos fatos incriminados nesta Lei as regras gerais
do Código Penal.

Exemplificadamente podemos salientar a regra do concurso de pessoas, as


hipóteses de erro, excludentes de tipicidade, iíicitude e culpabilidade, imputabilidade
penal, penas, regime especial, fixação da pena, agravantes, atenuantes, reincidência,
cálculo da pena, suspensão condicional da pena, concurso de crimes, livramento
condicional, efeitos da condenação, medidas de segurança e causas de extinção da
punibilidade.
Adotou o legislador a remissão taxativa.

Remissões:
CE, art. 364.
CP, art. 12.

2 3 .2.6 . Art. 288 - Crim es eleito rais p raticad os p elo s m eios de


co m u n icação so cia l

Art 288. Nos crimes eleitorais cometidos por meio da imprensa, do rádio
ou da televisão, aplicam-se exclusivamente as normas deste Código e as
remissões a outra lei nele contempladas.

0 dispositivo legal estabelece regra de competência ration e m ateriae.


Quando o agente ativo da empreitada criminosa pratica crime através da
imprensa (rádio, televisão, jornais, revistas e, inclusive, a In tern et), o delito poderá
ser de natureza eleitoral.
É oportuno frisar o fato de que os crimes contra a honra (calúnia, difamação
ou injúria) podem ser praticados por intermédio da imprensa. Nesses casos, ela é
apenas um instrumento ou mecanismo de execução da ação delitiva cuja amplitude
de alcance é demasiadamente extensiva e o resultado naturalístico é fragmentário,
pois atinge um número incomensurável de pessoas (cidadãos-eleitores).
Dessa forma, é necessário ao intérprete distinguir entre delitos praticados através
da imprensa e os delitos tipificados na própria Lei de Imprensa (Lei nâ 5.250/67),
até porque os terceiros que não são candidatos, partidos políticos e coligações,
ofendidos através dos meios de comunicação, ao almejarem alguma reparação de
natureza penal, devem valer-se da Lei de Imprensa, exceto se as ofensas forem
praticadas durante o horário eleitoral gratuito. Nesse sentido, a norma expressa
na Res.-TSE n- 21.575/03, que "Dispõe sobre as reclamações e representações

6 8 0
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e o s C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a i E l e it o r a l C a p ít u l o 23

relativas ao descuraprimento da Lei n9 9,504/97 e sobre os pedidos de direito de


resposta, previsto no art. 58 da mesma lei", serve de base legal para a solução da
questão apresentada, conforme o art. 18:

Art. 18. Os pedidos de resposta formulados por terceiro, em relação


ao que veiculado no horário eleitoral gratuito, serão examinados pela
Justiça Eleitoral.
Parágrafo único. Quando o terceiro se considerar atingido por ofensa
ocorrida no curso de programação normal das emissoras de rádio e de
televisão ou veiculada por órgão da imprensa escrita, deverá observar
os procedimentos previstos na Lei nfi 5.250/67.

Como se vê, uma vez identificado o crime praticado pela imprensa como sendo
de natureza eleitoral, a tipicidade deverá ser subsumida nos delitos contra a honra
da legislação eleitoral. Os crimes ofensivos contra a honra estão nos arts. 323 a 327
do Código Eleitoral.

23.2.7. Crime eleitorai praticado pela imprensa


Como identificar um crim e eleitoral praticad o p or meio da im prensa?
O intérprete deverá verificar o dolo específico (doutrina causalista), ou seja,
a intenção do agente em denegrir a imagem privada ou pública dos ofendidos
(candidatos, partidos políticos ou coligação), além do objetivo de alcançar o
eleitorado, o colégio eleitoral com a redução do valor moral e da reputação.
Outrossim, o crime eleitoral contra a honra praticado durante a propaganda
política eleitoral incide no curso do calendário eleitoral do ano da eleição.
Oficialmente, a propaganda principia-se no dia 6 de julho do ano eleitoral (Lei
nü 9.504/97 art, 36). A ofensa desvirtuada da finalidade eleitoral é crime de
competência da Justiça Comum (TRE/SP, Ac. 135.065, em 23.5.2000).
Entendemos que a propaganda política partidária que ofenda a honra de
um partido político ou de pré-candidato não é crime de competência da Justiça
Eleitoral, pois os tipos referidos nos arts. 3 2 4 a 326 do Código Eleitoral incidem
como normas temporárias dentro do cronograma do calendário eleitoral destinado
à propaganda política eleitoral. Ambas as propagandas são diversas: a propaganda
política partidária tem assento no art. 45 da Lei nQ9.096/95 e destina-se a difundir
programas, transm itir mensagens aos filiados e ideias dos partidos, sendo vedada a
divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos e a defesa de interesses
pessoais ou de outros partidos (art. 45, § 1-, íí).
Os crimes contra a honra praticados durante a propaganda política partidária
devem ser tipificados em norma penal não eleitoral, como é o caso do art. 20, § 2S,
da Lei nfi 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que "Define os crimes resultantes de
preconceitos de raça ou de cor”

681
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Assiste razão ao doutrinado Fávila Ribeiro:


O reconhecimento do caráter eleitoral da infração é determinado em
primeiro lugar pelo momento em que for cometida, isto é, durante ato de
propaganda eleitoral, ou então, em virtude da finalidade contemplada em
poder influir no comportamento do eleitorado ( R i b e i r o , 1988, p. 522).
E ainda completa o eminente doutrinador que o "crime de calúnia previsto no
art. 3 2 4 é resultante de transplantação de legislação penal comum, adicionado de
aspectos peculiares às atividades eleitorais".
Cumpre ainda firmar posição no sentido de que as lesões e ofensas à honra
tipificadas nos delitos de calúnia, difamação e injúria eleitorais são originárias das
campanhas eleitorais.
Por fim, o legislador dos crimes eleitorais tipificou a conduta fazendo menção
ao elemento objetivo normativo comum aos delitos contra a honra, ou seja,
"propaganda eleitoral" e não "propaganda política"; portanto, referiu-se à espécie
e não ao gênero. A exegese seria outra, caso o legislador tivesse usado a expressão
propaganda política, porque só então englobaria ambas as espécies: a partidária e
a eleitoral. Em matéria de tipicidade penal a interpretação quanto à valoração ética
ou jurídica do conceito de propaganda eleitoral é só aquela praticada durante o
curso do calendário eleitoral e no ano eleitoral.

Liberdade de Imprensa
Eleitoral. Recurso. Agravo. Direito de resposta (art. 5e, V, e X/CF e 58 da Lei
n9 9.504/97). Liberdade de imprensa (art. 2 2 O/CF). Matéria jornalística
em claro desabono a candidato. Coexistência dos dois valores que não
são exciudentes. Concessão do direito de resposta. Não há cogitar de
direitos absolutos quando confrontadas garantias fundamentais, não se
podendo deixar de reconhecer o direito à proteção da honra e da imagem,
e o próprio direito de resposta, ambos emberçados na Constituição, a
pretexto de dizê-los incompatíveis à liberdade de imprensa e informação.
Absolutizar a liberdade de imprensa, em detrimento de valores também
fundamentais do indivíduo, significa estabelecer um sobrepoder, acima
do bem e do mal, irresponsável por seus atos, com potencial, todavia, de
destruir, ou mitificar, homens e instituições. Concessão de resposta que se
justifica em face da conduta atribuída a candidato que confronta lídimos e
urgentes interesses da população. Precedentes do TSE. Agravo improvido.
Recurso Especial Eleitoral 20.944/BA. Relator: Ministro Barros Monteiro.

Im prensa escrita : livre de quaisquer re striçõ es. Radiodifusão ou televisão:


sujeitas a concessões, tratam en to rigoroso
Medida cautelar. Respe. Acórdão TRE/DF: Proibição de divulgação de
conteúdo de fitas e CDs na imprensa escrita: conteúdo depreciativo à

6 82
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So b r e os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

imagem pública de candidato à reeleição. Loteamento irregular. Censura


prévia. Segredo de justiça. Sindicato dos Jornalistas. Legitimidade. É
sedimentada a jurisprudência da Justiça Eleitoral quanto à validade de
restrições legais à liberdade constitucional de informação, na medida
necessária à vedação de interferências indevidas no processo eleitoral.
Limites diferenciados a partir da Constituição Federal, conforme o
meio de comunicação social de que se cuide: diversidade de regimes
jurídicos. Imprensa escrita: livre de quaisquer restrições. Radiodifusão
ou televisão: sujeitas a concessões, tratamento rigoroso. Arts. 220, § 6°
e 223 da CF, e art. 43 da Lei n9 9.504/97. Solução de direito substancial
que há de ser buscada nas vias adequadas da Justiça Comum. Questão
que não se trata de propaganda eleitoral. Nesse entendimento, o
Tribunal deferiu a medida cautelar para sustar a eficácia da decisão
liminar da sentença e do acórdão recorrido. Unânime. Medida Cautelar
n9 1.241/DF, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, em 25.10.2002.

Remissões:
CE, arts. 243, § 3 5 e 364.
CP, art. 12.

2 3 .3 . DOS C RIM ES ELEITORAIS EM E SP É C IE


23.3.1. Art. 289 - inscrição fraudulenta

Art. 289. Inscrever-se, fraudulentamente eleitor:


Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa.

Bem jurídico
A tutela penal reside na proteção relativa à fase do alistamento eleitoral.
O alistamento eleitoral se dá através da qualificação e inscrição do eleitor. Nesse
sentido, dispõe o art. 42 do Código Eleitoral. A Resolução TSE n9 21.538, de 14 de
outubro de 2003, disciplina o alistamento eleitoral.
Outrossim, o Requerimento de Alistamento Eleitoral - RAE deve ser preenchido
pelo interessado e servirá como documento de entrada de dados, cujo processamento
se dá por meios eletrônicos e informatizados.
O alistamento importa na aceitação do interessado dentro do rol de eleitores
de uma zona eleitoral. Com a emissão do título eleitoral, o alistado passa a ser
considerado cidadão; portanto, qualquer fraude referente à certificação dos dados
pessoais do alistado atinge a regularidade do cadastro de eleitores, afetando o

683
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

contingente de cidadãos legalmente habilitados ao exercício do voto. Trata-se de um


crime não transeunte, pois os vestígios materiais da infração penal são verificáveis
na folha do RAE.

Sujeito ativo
É crime comum e de mão própria ou atuação pessoal. O pretenso eleitor não
pode pedir a terceiro que assine o Requerimento de Alistamento Eleitoral.

Sujeito passivo
0 Estado que é atingido na organização do eleitorado, Trata-se de crime principal,
porque independe da prática de outros.

Tipo objetivo
A inscrição ocorre com o preenchimento do Requerimento de Alistamento
Eleitoral, sendo que o agente ativo da empreitada delitiva preenche dados
falsos exigidos no formulário próprio do requerimento. Inserir é incluir dados e
informações não verdadeiras no documento.
Incrimina-se a inscrição fraudulenta. A fraude ocorre através do artifício ou
ardil, com o ilaqueamento da boa-fé do servidor público que recebe o requerimento
de alistamento eleitoral e da própria Justiça Eleitoral.
A elem entar normativa "fraudulentamente eleitor" exige juízo de valoração
jurídica da qualidade ou não do eleitor e da própria fraude. Geralmente a fraude é
praticada com a informação falsa do nome, filiação ou endereço da residência. Os
casos mais comuns dizem respeito à migração de eleitores de uma comarca contígua
para alistarem -se no local que não residem.
Pré-candidatos com a antevisão das eleições, e contando com o contingente de
possíveis eleitores de outras cidades, organizam verdadeiras caravanas e promovem
o auxílio material na execução do delito em comento.
O crime em comento ocorre com maior intensidade nas eleições municipais
(prefeitos, vice-prefeitos e vereadores). Em uma cidade do Rio de Janeiro, certa
feita, havia 220 eleitores residindo no endereço de um poste da via pública, pois,
fraudulentamente, informaram no requerimento de alistamento eleitoral endereço
fictício. Na hipótese, a Justiça Eleitoral e o Ministério Público conseguiram punir o
pré-candidato responsável, os cabos eleitorais e os próprios "eleitores",
Para a consumação do delito basta a inserção de dados e informações no
documento de forma fraudulenta, pois não é necessário que o juiz eleitoral, servidor
público eleitoral ou o promotor eleitoral verifiquem o local de residência informado
falsamente no documento. O crime é formal. Nesse sentido também é a posição da
eminente doutrinadora Suzana de Camargo Gomes, em sua obra Crimes E leitorais

6 8 4
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

(2000). Todavia, existe entendimento contrário no sentido de que é crime impossível


(CP art. 17), quando o documento sujeita-se à verificação pelo juiz da causa (Juiz
Eleitoral). O entendimento refere-se à análise do crime de falsidade ideológica.
Cumpre frisar que o servidor da Justiça Eleitoral digitará as inform ações
no sistem a com base nos dados constantes do documento apresentado pelo
eleitor. Se na digitalização ocorrer erro culposo, não haverá crime por parte do
servidor, mas se o servidor in serir dados falsos pode-se, nesta hipótese, adm itir
a coautoria na prática delitiva e o delito não será de mão própria ou atuação
pessoal. Os servidores são previamente habilitados a praticar atos reservados
de cartório.
Outrossim:
(Respe. 14.104, Costa Porto; Respe. 13.614, Costa Leite; Respe. 14.242;
Al 2.228/PI, Nelson Jobim) e conclui-se fl. 661: (...) é entendimento
pacífico desse eg. TSE, que o eleitor que se amolde a um dos vínculos,
quais sejam, patrimonial, familiar, político e comunitário, deve ser
deferida a transferência de domicílio eleitoral. Assim, o TSE tem dado
interpretação mais ampla ao disposto no art. 42, parágrafo único, do
CE, no que tange à residência.
O crime não é de menor potencial ofensivo e, portanto, não se sujeita aos
institutos despenalizadores da Lei n2 9.099/95.

Tipo subjetivo
Dolo. Não há forma culposa.

Conflito a p a re n te de norm as
Reside controvérsia com o disposto no art. 350 do Código Eleitoral, ou seja, com
o crime de falsidade ideológica eleitoral, pois o agente faz inserir no documento
publico informação falsa.
O eminente doutrinador Joel José Cândido entende que a inscrição nova ou
a transferência com a inserção falsa de endereço é crime do art. 350 do Código
Eleitoral.
Em sentido contrário é a posição do doutrinador Tito Costa, entendendo que a
inscrição originária e o pedido de transferência de uma zona eleitoral para outra é
conduta tipificada no art. 289 do Código Eleitoral (Costa, 2002).
Não resta dúvida que o pedido de transferência feito de forma fraudulenta com
a indicação falsa do domicílio eleitoral (CE, art. 55) é delito tipificado no art. 289
do Código Eleitoral. Nesse sentido, TSE-RHC 200, Acórdão 13.224, Relator Ministro
Torquato Jardim, DJ 19.2.1993, p. 2.051.

685
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

A solução para o conflito aparente de normas resolve-se pelo princípio da


especialidade, porque a norma do art. 289 é direcionada a uma fase específica do
processo eleitoral (alistam ento) e protege o cadastro oficial de eleitores de uma zona
eleitoral. Trata-se, na verdade, de delito de dupla objetividade jurídica (alistamento
eleitoral e fé pública), na medida em que se protege a declaração verdadeira das
informações.

Providências
Os servidores da Justiça Eleitoral, juizes eleitorais e membros do Ministério
Público devem exigir provas de contas de luz, gás, telefone, locação e documentos
outros que possam identificar a residência no local. Outrossim, havendo suspeita de
que os requerentes foram conduzidos para o cartório eleitoral e declararam idêntico
endereço, caberá diligenciar no endereço para a confirmação da veracidade das
informações. Ver comentários aos arts. 42 e 55 do Código Eleitoral.

Jurisprudência
Recurso em habeas corpus - Transferência Fraudulenta - art* 289
do CE. Impossibilidade de exame das alegações de serem verídicas
as declarações por demandarem incursão aprofundada da matéria
probatória. Transferência que não se concretizou ~ Tentativa passível
de punição - art. 14, II do Código Penal. Precedentes TSE. Recurso não
provido. Recurso em habeas corpus - Acórdão 27 - SP 19.10.1999 -
art. 289 CE. José Eduardo Rangel de Alckmin: Relator designado. DJ ~
Diário de Justiça, 9.11.1999, p. 151.
Ação Penal pelo crime do art. 289 do Código Eleitoral. Falta de justa
causa. Em sendo certo o entendimento, na espécie, de que a alistanda
tinha mais de uma residência ou moradia, poderia ela, licitamente,
optar entre a capital e o interior, quando do seu alistamento eleitoral.
Recurso ordinário provido. Ação Penal - Acórdão 8-SE 5.8.1997 -
art. 289 CE. Relator Nilson Vital Naves. Relator designado. DJ - Diário
de Justiça, 22.8.1997, p. 38.864. RJTSE ~ Revista de jurisprudência do
TSE, v. 9, t. 3, p. 11.

Rem issões:
CE, arts. 4 2 -6 1 ; 2 8 4 ; 350,
Lei ns 6.996/82 - Dispõe sobre a utilização de processamento eletrônico de
dados nos serviços eleitorais.
Lei ns 7.444/85 - Dispõe sobre a implantação do processamento eletrônico de
dados no alistamento eleitoral e a revisão do eleitorado.
Res.TSE n- 2 1 .5 3 8 /0 3 .

686
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r i m e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l ________ __________________ C a p ít u l o 23

23.3.2. Art. 290 - indução à inscrição fraudulenta

Art. 290. Induzir alguém a se inscrever eleitor com infração de qualquer


dispositivo deste Código:
Pena: reclusão até 2 (dois) anos e pagamento de 15 (quinze) a 30 (trinta)
dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se o alistamento eleitoral.

Sujeito ativo
Crime comum. Qualquer pessoa pode praticar o delito. Admite-se a conduta do
servidor público.

Sujeito passivo
0 Estado atingido na organização do cadastro eleitoral.

Tipo objetivo
0 legislador adotou uma exceção pluralista à teoria monista ou unitária do
concurso de pessoas. A conduta é punida como forma de participação, pois, na
verdade, quem induz outrem a inscrever-se fraudulentamente deveria ser punido
pelo crime do art. 289 do CE c/c art. 29 do CP. No entanto, preferiu-se destacar a
figura da participação moral elevando-a à categoria de infração penal autônoma.
0 intérprete deve estar atento ao fato de que se o agente leva o eleitor
até a zona eleitoral, não estará sim plesm ente induzindo-o a inscrever-se
fraudulentam ente, mas sim auxiliando-o. A participação m aterial é conduta
subsumida no artigo an terior (CE, art. 2 8 9 ). Outrosssim, na análise da adequação
típica de subordinação im ediata deve o intérprete verificar se ocorreu coautoria
do candidato ou de cabos eleitorais, pois na m aioria dos casos estes não se
limitam a apenas auxiliar o pretenso eleitor, mas a fornecer-lhe todos os meios
para fraudar o alistam ento, v.g., atribuindo certificados de residência nos bairros
abrangidos pela zona eleitoral.

Tipo subjetivo
Crime doloso. Não há modalidade culposa. Ocorrendo culpa, o fato é atípico em
razão do princípio da excepcionalidade do crime culposo.

687
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Jurisprudência
Recurso Especial - Crime eleitoral - Induzimento à transferência
fraudulenta - Decisão regional que assentou que a conduta não se
subsume à figura típica prevista no art. 290 do CE - Recurso conhecido
e provido. Relator josé Eduardo Rangel de Alckmin. Relator designado.
DJ - Diário de Justiça, 21.5.1999, p. 107.
A jurisprudência da Corte é no sentido de que a expressão “inscrição'',
contida no art. 290 do Código Eleitoral, e gênero do qual a “transferência"
e espécie. Recurso Especial Eleitoral - Acórdão 15.321/RS.l 1.05.1999
- art. 290 CE.
Ementa: Recurso Especial. Pressupostos. Transgressão à norma
eleitoral: Induzimento. Inscrição eleitoral: Transferência. Tipicidade:
arts. 284 e 290, CE. 1. Não se conhece de recurso especial que não
indica o preceito legal que reputa violado ou a divergência de julgados.
2. Induzimento de terceiros para transferência de título eleitoral, sob
promessa de vantagens. Arts. 289 e 290, CE. 2.1. A jurisprudência da
Corte é no sentido de que a expressão "inscrição", contida no art. 290 do
Código Eleitoral, é gênero do qual a "transferência" é espécie. Tipicidade
da conduta. 2.2. A ação típica de induzir corresponde à caracterização
de crime unissubsistente, de modo que a prática dessa conduta, por
si só, é capaz de acarretar a sua consumação, independentemente do
fato de ter sido deferida a inscrição ou transferência. Relator Maurício
José Corrêa. Relator designado. DJ - Diário de Justiça, 22.5.1998, p. 72.
RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, v. 10, t. 1, p. 241. Recurso
Especial - Acórdão 15.177/RN2 16.4.1998 - arts. 284 e 290 CE.
Recurso especial não conhecido. Recurso Especial - Acórdão 12.485/
SC. 30.9.1997 - art. 290 CE. Relator José Eduardo Rangel de Alckmin.
Relator designado. DJ - Diário de Justiça, 17.10.1997, p. 52.583. RJTSE
- Revista de Jurisprudência do TSE, v. 9, t. 4, p. 101.
Ementa. Recurso Especial - Criminal ~ art 290, do Código Eleitoral -
Crime que se consuma com o induzimento à inscrição ou transferência
eleitoral fraudulenta ~ Recurso não conhecido. Habeas corpus. Acórdão
298/MG 18.6.1996-art. 290 CE. Relator José Eduardo Rangel de Alckmin.
Relator designado. Publicação. RJTSE ~ Revista de jurisprudência do TSE,
v. 8, t. 2, p. 56. DJ ~ Diário de Justiça, data 1.7.1996, p. 23.963.
Ementa. Habeas corpus. Induzimento de transferência de eleitor
com infração à lei. Pretensão de trancamento da ação penal com
fundamento no art. 8 e, III, da Lei n9 6.996/82. Ordem denegada. O fato
de a transferência do título de eleitor se dar pela declaração, feita pelo
próprio interessado, sob as penas da lei, de estar no novo domicílio
por mais de três meses, não impede a caracterização do crime eleitoral
de induzimento de transferência de eleitor com infração à lei (CE,
art. 290). Ordem denegada.

688
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Habeas corpus - Acórdão 291/MG. 7.5.1996 - art. 290 CE. RelatorWalter


José de Medeiros. Relator designado. DJ - Diário de Justiça, 24.5.1996,
p. 17.460, Ementa. Habeas corpus. Acórdão do TRE/MG que entende
caracterizado o tipo do art. 290 do Código Eleitoral: "Induzir alguém a
se inscrever com infração de qualquer dispositivo deste Código". Crime,
no caso, que se consumou a partir do momento em que os eleitores
fizeram tentativa hábil junto à Justiça Eleitoral, de transferirem seus
títulos, induzidos pela paciente, cujo filho era candidato à edilidade
de Tuatuba (MG). Alegação de nulidade do acórdão em habeas corpus,
meio impróprio a nova perquirição das provas, inexistentes ademais
error in procedendo ou error in indicando, Ordem denegada.

Remissões:
CE, art. 284.
Nesta edição, Res.TSE n9 21.538/03.
CP, arts. 29-31.

23.3.3. Art. 291 - Fraude no alistam ento

Art 291. Efetuar o juiz, fraudulentamente, a inscrição de alistando:


Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa.

Bem jurídico
O dispositivo legal protege o alistamento eleitoral.

Sujeito ativo
É um crime próprio que exige uma condição jurídica especial, ou seja, ser juiz
eleitoral investido na titularidade temporária de uma zona ou cartório eleitoral,
sendo ainda o responsável para assinar os títulos eleitorais e promover a inscrição
do alistando. Trata-se de crime personalíssimo. No entanto, admite-se que o crime
seja praticado por juiz eleitoral designado. Nesse sentido é a posição da eminente
doutrinadora Suzana de Camargo Gomes, que fundamenta corretamente o tema,
com base na interpretação sistêmica, com o art. 283,1, do Código Eleitoral.
Admite-se a comunicabilidade da elementar “juiz" aos participantes, desde que
tenham ingressado na esfera de seu conhecimento. O partícipe deve conhecer a
qualidade pessoal do autor "juiz eleitoral". A elementar só se comunica se integra o dolo
do partícipe. Aplica-se, subsidiariamente, a regra do a r t 30 do Código Penal. Se o agente
desconhece a qualidade pessoal, poderá praticar os delitos dos arts. 289 ou 290.

689
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Sujeito passivo
0 Estado e o alistando que age de boa-fé.

Tipo objetivo
A elem entar normativa do tipo "fraudulentamente" exige o ardil, o engano ou
a iiaqueação da boa-fé. 0 crime só é punido se o juiz, agindo por conta própria ou
em concurso com terceiros, extran eu s ou intraneus, insere nome ou dados falsos,
inexistentes ou inverídicos no cadastro dos eleitores da zona eleitoral.
Admite-se a tentativa, pois não é necessária a expedição do título eleitoral. É
crime formal.

Tipo subjetivo
0 dolo. Não há forma culposa.

Rem issões:
CE, arts. 4 2-61; 284; 350.
Lei n e 6.996/82 - Dispõe sobre a utilização de processamento eletrônico de
dados nos serviços eleitorais.
Lei ne 7.444/85 - Dispõe sobre a implantação do processamento eletrônico de
dados no alistamento eleitoral e a revisão do eleitorado.

23.3.4. Art. 292 - Omissão judiciai

Art. 292. Negar ou retardar a autoridade judiciária, sem fundamento


legal, a inscrição requerida:
Pena: pagamento de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se o cadastro eleitoral. Trata-se de crime contra a fase do alistamento
eleitoral.

Sujeito ativo
É crime próprio e personalíssimo. Só a autoridade judiciária é a responsável pela
negativa ou retardamento. Aplica-se a regra do art. 30 do Código Penal, conforme
comentários ao tipo anterior. Outrossim, é possível que o delito possa ser praticado
por juiz do Tribunal Regional ou Tribunal Superior Eleitoral, quando ocorra a
interposição de recurso (Lei n9 6.996/82, art. 7 a).

690
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o bre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Sujeito passivo
0 alistamento eleitoral é feito em todo o território brasileiro, através de regras
da Lei n 9 7.444/85 e da Resolução do TSE n- 21.538, de 14 de outubro de 2003;
portanto, o delito afeta diretamente o Estado e o alistando, pois nega-se ou retarda-
se a inscrição e, consequentemente, protela-se o exercício legítimo do direito de
voto e da cidadania.

Tipo objetivo
A legislação eleitoral indica quais documentos o alistando deve apresentar: prova
da nacionalidade brasileira (Lei na 7.444/85, art. 5 a, § 2 9); carteira de identidade
ou outra emitida por órgão de categoria profissional; certificado de quitação com o
serviço militar; e certidão de nascimento ou casamento. A negativa ou retardamento
são condutas que prejudicam a regular emissão do título eleitoral e o pleno exercício
do voto pelo alistando interessado.
Outrossim, é facultado o alistamento, no ano das eleições, ao menor que completar
16 (dezesseis) anos até a data do pleito, mas o título emitido só surtirá efeitos com o
implemento da idade de 16 (dezesseis) anos. Nesse sentido, Res.-TSE na 19.465/96.

Tipo subjetivo
0 dolo. Não admite forma culposa.

Rem issões
CE, arts. 4 2-61.
Lei ne 6.996/ 82 - Dispõe sobre a utilização de processamento eletrônico de
dados nos serviços eleitorais.
Lei n9 7.444/85 - Dispõe sobre a implantação do processamento eletrônico de
dados no alistamento eleitoral e a revisão do eleitorado.

23.3.5. Art. 293 - Impedimento ao alistam ento

Art. 293. Perturbar ou impedir de qualquer forma o alistamento:


Pena: detenção de 15 dias a seis meses ou pagamento de 30 (trinta) a
60 (sessenta) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se o alistamento eleitoral.

691
M arcos R amayana D ir e i t o E l e it o r a l

Sujeito ativo
É crime comum. Admite-se o concurso com servidores públicos.

Sujeito passivo
0 Estado e o alistando.

Tipo objetivo
A perturbação ou o impedimento devem ocorrer em qualquer das efetivas etapas do
processo de alistamento eleitoral. Primeiramente, o alistando preenche o requerimento
de alistamento eleitoral com a ajuda do servidor público da zona eleitoral que digitará
as informações e, depois do documento assinado, o servidor ainda preencherá outros
dados nos espaços que lhe são reservados para submeter ao juiz eleitoral o pedido.
Assim, qualquer ato que possa atentar contra o bom funcionamento desta formalização
do alistamento eleitoral caracterizará o crime. Vê-se, portanto, que o delito é formal.
Admite-se tentativa em ambas as modalidades (perturbar ou impedir).
0 crime também incide nos pedidos de transferência, revisão, segunda via e
restabelecimento da inscrição cancelada.
Os partidos políticos, por seus delegados, podem fiscalizar os pedidos de
alistamento, transferência, revisão e segunda via, mas não podem os agentes
perturbar ou impedir o atendimento nas filas das zonas eleitorais e em relação aos
documentos relativos a estes pedidos.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, arts. 4 2 -6 1 ; 296.
Lei ns 6.996/82 - Dispõe sobre a utilização de processamento eletrônico de
dados nos serviços eleitorais.
Lei ne 7.444/85 - Dispõe sobre a implantação do processamento eletrônico de
dados no alistamento eleitoral e a revisão do eleitorado.

23.3.6. Art. 295 - Retenção do título eleitoral

Art. 294. (Revogado pela Lei ne 8.868/94.)


Art. 295. Reter título eleitoral contra a vontade do eleitor:
Pena: detenção até 2 (dois) meses ou pagamento de 30 (trinta) a 60
(sessenta) dias-multa.

692
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Bem jurídico
Tutela-se o legítimo exercício do direito de voto. O tipo penal protege a fase da votação.

Sujeito ativo
Trata-se de crime comum. Admite-se a prática do delito pelo mesário ou servidor
requisitado pela Justiça Eleitoral para atender nas filas e na seleção dos eleitores
aptos a votar, inclusive nos cartórios e zonas eleitorais. Nesta última hipótese
emerge um conflito aparente de normas com o delito do art. 91, parágrafo único, da
Lei ns 9.S04/97 (Lei das Eleições):

Parágrafo único. A retenção de título eleitoral ou comprovante de


alistamento eleitoral constitui crime, punível com detenção, de um a
três meses, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade
por igual período, e multa no valor de cinco mil a dez mil UFIRS.

Em razão da norma insculpida no art. 91, parágrafo único, da Lei n9 9.504/97,


entendemos que ocorreu a revogação tácita do artigo em comento em razão do
princípio da especialidade. A vontade ou não do eleitor na hipótese não altera a
incidência do tipo. O art. 91, parágrafo único, foi mais amplo do que o art. 295 do CE.
As circunstâncias peculiares de cada caso prescindem da vontade do eleitor, pois
uma vez retido o título ou o comprovante de alistamento eleitoral o delito já está
consumado. A norma posterior produziu a ab-rogação do art. 295.
Registramos a posição da doutrinadora Suzana de Camargo Gomes no sentido
da coexistência da norma do art. 295 do CE e do art. 91, parágrafo único, da Lei
ne 9.504/97.

Sujeito passivo
O Estado. A democracia.

Tipo objetivo
A retenção é ato criminoso, exceto se ocorrer fundada suspeita de falsidade
do título eleitoral apresentado ao mesário ou servidor apto a habilitar o eleitor a
votar. O juiz eleitoral de forma fundamentada poderá apreender o título eleitoral
falsificado e encaminhar ao promotor eleitoral para a adoção das providências
legais cabíveis, como oferecer denúncia, ou instaurar inquérito. Aplica-se a regra do
art. 40 do Código de Processo Penal.
É delito formal que independe da produção de resultado naturalístico tenha ou
não o eleitor conseguido votar. O delito é de lesão ou mera conduta, pois basta o ato
de retenção para afetar e colocar em risco a liberdade de voto e o pleno exercício da
cidadania. A questão referente ao fato do eleitor ter conseguido votar pelo seu nome

693
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

constar na lista de eleitores e por ele ter exibido um outro documento de identificação
não desautoriza a incidência da norma penal do art. 91, parágrafo único, da Lei
n2 9.504/97. A lei presume ju re e t de ju re que, se o agente retiver o título, o eleitor ficará
impossibilitado de votar ou apresentará dificuldades em exercer o direito de voto.
O crime não é qualificado como do tipo acessório; portanto, não fica na
dependência do exercício efetivo do voto.

Tipo subjetivo
O dolo.

Rem issões:
CE, arts. 114, parágrafo único; 146, V; 147; 148.
Lei ne 9.504/97 art. 91, parágrafo único.
Lei ne 5.553/68 - Dispõe sobre a apresentação e uso de documentos de
identificação pessoal.
Lei n5 9.049/95 - Faculta o registro, nos documentos pessoais de identificação,
das informações que especifica.
Decreto-Lei na 3.688/41 - LCP - art. 68.

23.3.7. Art. 296 - Desordem

Art. 296. Promover desordem que prejudique os trabalhos eleitorais:


Pena: detenção até 2 (dois) meses ou pagamento de 60 (sessenta) a 90
(noventa) dias-multa.

Bem jurídico
A conduta ativa atinge os regulares serviços eleitorais. Trata-se de delito que
afeta a higidez e a segurança das relações entre partidos, coligações, candidatos,
membros do Ministério Público, eleitores e a Justiça Eleitoral.

Sujeito ativo
É crime comum.

Sujeito passivo
O Estado e as pessoas envolvidas nos trabalhos eleitorais. Pode ser considerado
delito de dupla subjetividade passiva.

694
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r i m e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Tipo objetivo
A desordem deve prejudicar os trabalhos realizados na fase do alistamento,
votação, apuração ou diplomação dos eleitos, inclusive nas etapas da propaganda
política partidária ou eleitoral, registro de candidatos, prestação de contas, direito
de resposta e pesquisas eleitorais.
0 crime é absorvido pelos delitos dos arts. 39, § 5 S; e 72 da Lei ns 9.504/97.

Tipo subjetivo
O dolo.

Rem issões:
CE, art. 293.
Decreto-Lei n- 3.688/41 - LCP - arts. 4 2 ; 62; 65.

23.3.8. Art. 297 - impedimento ao sufrágio

Art. 297. Impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio:


Pena: detenção até 6 (seis) meses e pagamento de 60 (sessenta) a 100
(cem) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a plena liberdade de votar. É delito referente à fase da votação.

Sujeito ativo
É crime comum.

Sujeito passivo
A conduta afeta o Estado, a democracia e o eleitor.

Tipo objetivo
0 impedimento pode ocorrer através de ações concretas voltadas à manutenção
do eleitor em cárcere privado, seqüestro, tortura etc. É possível o concurso de
crim es nestas hipóteses. Ocorrendo violência ou grave ameaça direcionada a
votar ou não votar em candidato específico, o delito será o do art. 301 do Código
Eleitoral.

695
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

O embaraçar se dá pela colocação de obstáculos e dificuldades. O empregador


poderá praticar este crime impondo ao empregado a realização de diversos serviços
no dia da eleição.
Trata-se de crime material na modalidade de impedir, e formal na hipótese de
embaraçar ou obstaculizar a votação.
Assiste inteira razão à doutrinadora Suzana de Camargo Gomes fazendo menção
à decisão do TRE/SP, em que não fox considerada típica a conduta de manifestantes
envolvidos na campanha pelo voto em branco.
Conflito. Emerge conflito com o disposto na Lei ne 4.898, de 9 de
dezembro de 1965: "Regula o Direito de Representação e o processo de
Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de
autoridade. Art. 3 9 Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;"
A aplicação do dispositivo legal da lei especial de abuso de autoridade é correta
para os atentados ocorridos em eleições plebiscitárias, regimentais do Congresso
Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
A norma penal tutela os atentados ocorridos durante a fase de votação de eleições
que não sejam para vereadores, prefeitos, vice-prefeitos, deputados estaduais,
distritais, federais, senadores, suplentes, governadores, vices, presidente e vice-
presidente.
Outrossim, a norma da Lei de Abuso de Autoridade exige sujeito ativo especial,
ou seja, qualquer autoridade que exerça função pública. A jurisprudência admite
a aplicação do concurso de pessoas (comunicabilidade das elementares - art. 30
do Código Penal); assim, o extraneus pode ser sujeito ativo do crime de abuso
de autoridade, desde que pratique o fato em coautoria ou participação. Trata-se
da incidência e consagração da teoria monista. A absolvição do intraneus pode
acarretar a atipicidade absoluta ou relativa.
A votação atingida e tutelada pela norma do art. 297 é uma fase do processo
eleitoral. O processo eleitoral (referente às eleições municipais, estaduais e federais)
possui quatro fases doutrinariamente consideradas, a saber: alistamento, votação,
apuração e diplomação.
É possível a incidência do crime do art. 297 do Código Eleitoral em relação
às eleições que não são para presidente, governadores e prefeitos, ou seja, as
propriamente eleitorais, desde que o sujeito ativo não seja uma autoridade.
Registramos posição contrária no sentido de que os crimes eleitorais não se aplicam
às eleições plebiscitárias. Ver Joel José Cândido e Torquato Jardim.
Tipo subjetivo
Dolo.

6 9 6
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Remissão:
CE, arts. 234; 301.

23.3.9. Art. 298 —Abuso de autoridade

Art. 298. Prender ou deter eleitor, membro de mesa receptora, fiscal,


delegado de partido ou candidato, com violação do disposto no art. 236:
Pena: reclusão até 4 (quatro) anos.

Bem jurídico
A conduta atinge a liberdade de votação. 0 sufrágio é direito público subjetivo
tutelado por norma constitucional (CF, art. 14).

Sujeito ativo
O crime é próprio. Não se deve admitir a prática por não autoridades, ou seja,
pessoas comuns do povo que podem deter um eleitor fora das hipóteses de flagrante
delito. Nesta hipótese, faz-se necessária a comprovação da coautoria ou participação
com as autoridades, porque o tipo penal em comento é remissivo e integrado pela
norma do art. 236 do próprio Código Eleitoral. Ora, se o particular detém o eleitor,
poderá responder por seqüestro ou cárcere privado do Código Penal, ou, ainda, o
deíito do art, 297 do Código Eleitoral.
A remissão ao art. 236 limita o sujeito ativo às autoridades (juizes, delegados de
polícia, agentes da Polícia Federal, Civil ou Militar) responsáveis pela prisão dos eleitores.
Trata-se de crime funcional denominado delicta in officio. A ausência da elementar
remitida “autoridade" poderá acarretar a atipicidade relativa para o delito de cárcere
privado ou seqüestro do Código Penal, ou, ainda, a atipicidade absoluta; portanto, o
crime pode ser tanto funcional impróprio como propriamente funcional.
A autoridade responsável pela prisão pode ou não estar exercendo funções
eleitorais. Pune-se, inclusive, as autoridades militares. Não há crime similar no
Código Penal Militar, assim, a tipicidade está afeta ao Código Eleitoral e enseja o
julgamento pela Justiça Eleitoral.
As autoridades, em regra, são processadas e julgadas pelo juiz eleitoral investido
na função eleitoral da zona correspondente ao local da prática do crime. Aplica-se a
regra do locus crim inis delicti. Todavia, ressalva-se as autoridades que tenham foro
por prerrogativa de função.
0 juiz e o promotor de Justiça são processados e julgados por crimes eleitorais
no Tribunal Regional Eleitoral. Incide a regra do art. 29, X, c/c art. 96, III, em
atendimento ao princípio da simetria; natureza da matéria eleitoral; especialidade;

697
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

interpretação sistêmica e amplitude de defesa, pois da decisão dos Tribunais


Regionais Eleitorais cabe recurso para o Tribunal Superior Eleitoral no prazo de 3
(três) dias. Assim, consagrou a jurisprudência que qualquer autoridade que tenha
foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça se praticar crime eleitoral
será processada e julgada pelo Tribunal Regional Eleitoral.

Sujeito passivo
0 Estado e o eleitor preso ou detido por ação abusiva da autoridade.

Tipo objetivo
Vê-se que a hipótese poderá desafiar um conflito aparente de normas com o
disposto no art. 4 9 da Lei nQ4.898/65: "Constitui também abuso de autoridade: a)
ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades
legais ou com abuso de poder;"
Sobre o assunto, destacamos tema enfrentado no livro Abuso d e A utoridade e
Tortura ( R a m a y a n a , 2 0 0 3 , p . 1 1 2 ) .
Conflito com os incisos do parágrafo único do art. 350 do Código Penal. Relevante
questão.
Emerge ainda controvérsia pertinente ao art. 350 do Código Penal. Sobre o
assunto, trazemos à baila os ensinamentos de Cezar Roberto Bitencourt, in expressi
verbis:
São duas correntes que se digladiam, cada uma delas se posicionando
da seguinte forma: 1} Entendem que ocorreu ab-rogação, com a
revogação completa do art. 350 do CP pela Lei n9 4.898/65, arts. 39
e 4 e. Gilberto Passos de Freitas e Vladimir Passos de Freitas, Abuso
de autoridade, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1993, pp. 35-6. Na
jurisprudência, ver RT, 489:354, 504:379, 520:466, 394:267 e 556:322.
2) Defendem a existência de derrogação, com a revogação do art. 350,
caput e inciso III, pelo art. 4 a, a e b, da Lei ne-4.898/65: Damásio E.
de Jesus, Código Penal anotado, pp. 846-7; Paulo José da Costa Jr.,
Direito Penal objetivo, São Paulo, Forense Universitária, 1989, p. 710.
Na jurisprudência ver: RT, 592:344, 472:392 e 537:299; RTj, 54:304,
56:131 e 62:266; JTACrimSP, 81:182. Segundo esclarece Rui Stoco, a
tendência jurisprudencial é no sentido de que o art. 350 está absorvido
pela Lei ne 4.898/65 (Código Penal e sua interpretação jurisprudencial
São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995, t. 2, p. 48) ( B i t e n c o u r t , 2002,
pp. 1.155-1.156).
Sustentando a revogação total do art. 350 do Código Penal são os ensinamentos
de Guilherme de Souza Nucci que, seguindo posição majoritária, entende que a Lei
de Abuso de Autoridade engloba todos os subtipos do art. 350 do Código Penal. 0

6 9 8
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

inciso I está envolto no art. 4 2, a; o inciso II, no art. 4 e, i; o inciso III, no art. 4 S, b; e o
inciso IV se amolda caso a caso diante das hipóteses da Lei de Abuso de Autoridade,
uma vez que a generalidade disposta no tipo do art. 350, por si só, é inaplicável.
Impende assinalar ainda, por necessário, que o entendimento do doutrinador
Damásio Evangelista de Jesus é no sentido de vigência dos incisos I, II e IV, do
parágrafo único, do art. 350 do Código Penal. Na hipótese do inciso I, leciona o mestre
que não basta receber o preso, mas, sim, recolhê-lo à prisão sem as formalidades
legais, v.g., ausência de carta de guia ou de mandado de prisão. O inciso II trata do
prolongamento ilegal da execução da medida privativa de liberdade e, por fim, o
inciso IV, de natureza mais ampla, espelha qualquer diligência abusiva. Diante do
caráter genérico do inciso IV, ousamos discordar apenas dá manutenção ainda em
vigência desse inciso, pois o abuso de poder, em qualquer diligência, encontrará
âncora típica na Lei de Abuso de Autoridade ou nos incisos I e III, do parágrafo único,
do art. 350 do Código Penal; portanto, entendemos que ainda estão em vigência os
incisos I e II.
Impende frisar que o delito do art. 298 é especial, além de exigir, dentro do prazo
do calendário eleitoral, um momento de incidência específica. Trata-se, portanto, de
norma temporária e que possui ultra-atividade.

Espécies de p risões cautelares


As prisões cautelares são: preventiva, decorrente de sentença condenatória
recorrível, por pronúncia e temporária (o doutrinador Afrânio Silva Jardim
entende que a prisão temporária não se reveste dos mesmos requisitos da cautela
preventiva). As prisões civis são para: devedor de alimentos, síndico na Lei de
Falências, depositário infiel e prisão do falido. Cabe ainda destacar a prisão disposta
no art. 69 do Estatuto do Estrangeiro (Lei ne 6.815/ 80), decretada pela autoridade
judiciária competente e a referente aos crimes militares (CF art. 5-, LXI - ordem
administrativa).
As prisões praticadas fora das hipóteses anteriormente mencionadas são ilegais
e sujeitam seus ordenadores e executores às sanções do abuso de autoridade,
inclusive as prisões para averiguações.
Cumpre enfatizar ainda a remissão ao art. 236 do Código Eleitoral, in verbis:

Art. 236.Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até


48 (quarenta e oito) horas depois do encerramento da eleição, prender
ou deter qualquer eleitor, salvo em flagrante delito ou em virtude de
sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou, ainda, por
desrespeito a salvoconduto.
§ l e Os membros das mesas receptoras e os fiscais de partido, durante
o exercício de suas funções, não poderão ser detidos ou presos, salvo o

6 99
M arcos R a m ayana D ir e it o E l e it o r a l

caso de flagrante delito; da mesma garantia gozarão os candidatos desde


15 (quinze) dias antes da eleição.
§ 2S Ocorrendo qualquer prisão o preso será imediatamente conduzido à
presença do juiz competente que, se verificar a ilegalidade da detenção,
a relaxará e promoverá a responsabilidade do coator.

0 dispositivo acima trata de uma garantia eleitoral e protege o eleitor, os fiscais


de partidos e os membros das mesas receptoras, além dos candidatos devidamente
registrados pela Justiça Eleitoral. 0 descumprimento dessa regra é crime específico
tipificado no art. 298 do Código Eleitoral. Trata-se de hipótese que incide durante
o calendário eleitoral e reserva sanção penal mais elevada, pois, além de a pessoa
(cidadão) ser atingida em sua liberdade ambulatorial, a maior lesão é sobre o
processo eleitoral da votação (fase eleitoral) e, consequentemente, atinge o regime
democrático vigente.
A prisão para averiguações é ilegal; portanto, o policial que, a pretexto de
esclarecer crimes, conduz menor inimputável à delegacia e o retém por várias
horas, praticando constrangimento físico à liberdade sem amparo legal, viola as
garantias constitucionais. Descabe a alegação de estrito cumprimento do dever
legal (CP, art. 23, III).
Por fim, conclui-se: se a autoridade dentro dos prazos referidos no art. 236 viola
as regras e pratica este abuso de autoridade especial, estará incurso no art. 298 do
Código Eleitoral. Fora do período, a incidência se dá na tipicidade da Lei de Abuso
de Autoridade.

Críticas
0 art. 2 98 do Código Eleitoral, ao rem eter ao art. 236, trata de tipicidade remetida
e que deixa margem à insegurança jurídica.
Outrossim, os prazos para prisão dos eleitores e candidatos são exagerados e
acarretam situações práticas geradoras de impunidade.

Salvo-conduto
0 art. 647 do Código de Processo Penal diz textualmente que: "Dar-se-á h a b ea s
corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ha iminência de sofrer violência ou
coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.’'
Consagra o dispositivo duas formas de h a b e a s corpus:
a) o remediativo ou liberatório, tendo por finalidade a cessação de uma violência
ou coação ilegal exercida contra determinada pessoa; e
b) o preventivo, que visa impedir a consumação da violência ou coação. Neste caso,
a tutela serve para salvaguardar a ameaça da liberdade, e o pedido deve pleitear
a expedição de “salvo-conduto" quando detectado o perigo iminente para a

700
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

liberdade de locomoção do indivíduo. Por exemplo: um determinado policial está


ameaçando a liberdade de uma pessoa quando inexiste ordem legal de prisão.
0 art. 298 do Código Eleitoral pune a violação ao salvoconduto. Nesta hipótese,
o delito é personalíssimo, porque o agente ativo que efetua a prisão é exatamente
aquele referido no salvoconduto e, ao efetuar a prisão pelos motivos que não poderia
efetuar, desrespeita a autoridade judicial (juiz ou tribunal, eleitoral ou não).

Tipo subjetivo
Dolo. Não admite forma culposa. Princípio da excepcionalidade do crime culposo,
art. 18, parágrafo único, do Código Penal. A imprudência ou negligência, portanto,
acarretam a atipicidade da conduta.

Remissões:
CE, art. 284.
CF, art. 5 Ô, LVIH, LXI, LXIX.
Lei n- 6.015/73 - Lei dos Registros Públicos.
Decreto-Lei n- 3.688/41 - LCP - art. 68.

23.3.10. Art. 299 - Corrupção eleitoral

Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para


outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou
dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta
não seja aceita:
Pena: reclusão até 4 (quatro) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
días-multa.

Bem jurídico
Tutela-se o livre exercício do voto afastando-se o comércio ilícito eleitoral.

Sujeito ativo
É crime comum. O delito pode ser praticado por: cabos eleitorais, pré-candidatos,
eleitores, pessoas comuns do povo, autoridades, servidores públicos etc. Admite-se
a coautoria e participação em todas as modalidades.
Sujeito passivo
0 Estado e o cidadão-eleitor. É delito de dupla subjetividade passiva.

701
M arcos R a m ayana D ir e it o E l e it o r a l

Tipo objetivo
0 delito é apontado pelos doutrinadores Nelson Hungria, Tito Costa, Joel José
Cândido, Pedro Henrique Távora Niess e Suzana de Camargo Gomes com o nome
iuris de "corrupção eleitoral".
Pune-se no mesmo tipo as corrupções ativa (dar, oferecer e prometer) e passiva
(solicitar ou receber),
A promessa de abstenção é delito formal.

Não alteração da tipicidade penal


0 art. 41 da Lei n- 9.504, de 30 de setembro de 1997, que "Estabelece normas
para as eleições" foi acrescentado pelo art. 41-A, em virtude do disposto no art. l e
da Lei nfi 9.840, de 28 de setembro de 1999.
Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui
captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer,
prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou
vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função
pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive,
sob pena de multa de mil a cinqüenta mil UFIRS, e cassação do registro
ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei
Complementar nfi 64, de 18 de maio de 1990.

O a rt, 41-A alterou aspectos da tipicidade do crim e do art. 2 9 9 do Código


Eleitoral?
O tipo penal tutela, como bem jurídico protegido, a liberdade de sufrágio. Nesse
sentido, Pedro Henrique Távora Niess e Suzana de Camargo Gomes. Evita-se o
comércio dos votos, o "toma-lá-dá-cá" entre candidatos e eleitores. A lei criminaliza
o aspecto mercantil da votação.
A doutrina, especialmente nas lições de Suzana de Camargo Gomes e Joel José
Cândido, entende que o a r t 41-A em nada alterou a tipicidade penal do art. 299 do CE.
Ensina Suzana de Camargo Gomes que,
... Na verdade, esse dispositivo em nada alterou a disciplina penal pertinente
ao crime de corrupção eleitoral, que continua incólume, pelo que incide
no delito tipificado no art. 299 do Código Eleitoral tanto o candidato
como qualquer outra pessoa que realize as figuras típicas ali descritas.
A mudança está que, sendo o autor da infração um candidato, além de
responder criminalmente, nos termos do art. 299 do Código Eleitoral,
submete-se, também, às penas previstas no art. 41-A da Lei n9 9.504/97,
com a redação dada pela Lei ne 9,840/99, sendo que o procedimento para
a apuração é o previsto na LC ne 64, de 18 de maio de 1990, em seu art. 22,
denominado de investigação judicial ( G o m e s , 2000, p. 209).

702
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

0 eleitoralista Tito Costa (2002, pp. 5 5 -5 6 ) leciona que o art. 41-A não tem
conotação na esfera penal eleitoral, mas apenas no aspecto do registro e do diploma
do candidato.
Assiste razão à doutrina.
O tipo do art. 299 do Código Eleitoral não retrata uma norma penal em branco,
ou seja, não é carecedor de complemento normativo da mesma fonte legislativa
(normas penais em branco em sentido amplo), nem tampouco de fonte legislativa
diversa (norma penal em branco em sentido restrito).
Não partilhamos de eventual posição sobre o entendimento de que o art. 299 do
Código Eleitoral seja uma norma penal em branco em sentido amplo, e, portanto, o
art. 41-A lhe colmataria aspectos jurídico-eleitorais.
Na verdade, o tipo do art. 2 9 9 do Código Eleitoral contém elementos objetivos
normativos que são preenchidos por juízo de valoração, v.g., "outra vantagem", "e
prometer abstenção", além de elementos objetivos como "oferecer", "prometer" etc.
Âs formas em que se apresentam os elementos normativos se fazem sobre os
injustos ou termos jurídicos. Vê-se que não estamos, e podemos afirmar sem receio
de errar, diante de norma penal em branco em sentido amplo.
Assim sendo, não há complementação do a r t 299 do Código Eleitoral pela
norma do art. 41-A da Lei ne 9.504/97, mas apenas duplicidade de incidência sobre
as hipóteses de captação de sufrágio, com reflexos na esfera penal e não penal
(puramente eleitoral).
O crime do art. 299 é similar ao tipificado no art. 334 do Código Eleitoral.
O art. 3 3 4 do CE vincula a distribuição de mercadorias aos sorteios, bingos,
rifas e outras práticas de jogos, pois é, na verdade, um tipo especial de corrupção
eleitoral cujas elementares normativas "distribuição de mercadorias, prêmios e
sorteios” estão interligadas.

Tipo subjetivo
O delito só pode ser praticado por dolo.

Rem issões:
CE, arts. 284; 334.
CF, art. 14, §§ 1 0 ,1 1 .
LC ne 64/90 - Lei das Inelegibilídades - art. 22.
Lei ne 9.504/ 97, art. 41-A.
CP, arts. 317; 333.

703
M arcos R am ay an a D ir e it o E l e it o r a l

23.3.11. Art. 300 - Coação pelo servidor público

Art. 300. Valer-se o servidor público da sua autoridade para coagir


alguém a votar ou não votar em determinado candidato ou partido:
Pena: detenção até 6 (seis) meses e pagamento de 60 (sessenta) a 100
(cem) dias-multa.
Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário da Justiça Eleitoral
e comete o crime prevalecendo-se do cargo, a pena é agravada.

Bem jurídico
Liberdade de voto.

Sujeito ativo
Trata-se de crime próprio. Delicta in officio que pode ser ou não praticado por
servidor público dos quadros da Justiça Eleitoral (CE, art, 283). Qualquer servidor
público poderá praticar o delito, mesmo que particularmente não esteja envolvido
com funções afetas ao serviço eleitoral.
Por fim, como já foi feita menção em com entários anteriores, os crim es
tipificados na Lei de Abuso de Autoridade são crim es funcionais próprios, d elicta
in o fficio , o servidor age invocando a função pública ou na m anifestação fática
de exteriorização dessa função. O crim e funcional próprio ou propriam ente
funcional significa que a elem entar “funcionário público", se for retirada, opera
a atipicidade absoluta (exemplo da prevaricação). O crime funcional impróprio,
im propriam ente funcional ou m isto, acarreta na inoperância da elem entar
"funcionário público" a atipicidade relativa (exemplo: o peculato x apropriação
indébita).
Na Espanha, Grécia e Alemanha acolhe-se similar tipo penal, evitando-se a prática
do voto coagido ou da coação eleitoral.

Sujeito passivo
O Estado e a vítima coagida. Delito de dupla subjetividade passiva.

Tipo objetivo
A doutrinadora Suzana de Camargo Gomes exemplifica o delito de coação, como
nas hipóteses em que um servidor público hierarquicamente superior ameaça com
pena de demissão o inferior para que o mesmo vote ou não em determinado candidato.
É delito subsidiário do art. 301 do Código Eleitoral.

7 0 4
C o n s i d e r a ç õ e s G e r a i s S o b r e o s C r im e s E l e i t o r a i s e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Tipo subjetivo
Dolo.

Causa especial de aum ento de pena


0 parágrafo único, embora faça menção ao agravamento, na verdade é uma
causa especial de aumento de pena. Aplica-se a regra do art. 285 do próprio Código
Eleitoral.

Remissões:
CE, art. 103.
CF, art. 60, § 4 9, II.
Lei n2 4.898/65 - Lei de Abuso de Autoridade - a r t 5 Q, g.

23.3.12. Art. 301 - Violência ou grave am eaça

A rt 301. Usar de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar,


ou não votar, em determinado candidato ou partido, ainda que os fins
visados não sejam conseguidos:
Pena: reclusão até 4 (quatro) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa.

Bem jurídico
Liberdade de voto.

Sujeito ativo
É crime comum.

Sujeito passivo
0 Estado e o coato (vítima). Delito de dupla subjetividade passiva.

Tipo objetivo
A violência ou grave ameaça referidas no tipo penal podem se dar: de forma
física, vis a bsolu ta ou moralmente, vis com pulsiva. O agente, usando de força física,
brutalidade, por exemplo, é relacionado ao especial fim de agir, ou seja, obrigar a
votar ou evitar votar em determinado candidato ou legenda.

705
M arcos R a m a y a n a D ir e it o E l e it o r a l

A coação moral impõe à vítima o emprego de grave ameaça para a realização ou


não do ato de votar. Não se refere o tipo penal ao alistamento (CE, art. 300).
Se a vítima é coagida a fraudar o seu voto, a assinar documento não verdadeiro
e a coação for moral irresistível, exclui-se a culpabilidade por inexigibilidade de
conduta diversa. A hipótese será tratada no art. 22 do Código Penal. Dessa forma, só
responderá o coator, e não o coato, pelo crime praticado.
No entanto, se a violência é física, deve-se analisar a hipótese como sendo de
exclusão da tipicidade por ausência de conduta voluntária.
Se a coação moral for resistível, ambos respondem, o coator e o coato, aplicando-
se a agravante do art. 62, II do CP para o coator, e a atenuante do art. 65, II, c, l 3
Parte, do CP, para o coato.
0 coator poderá prenunciar o mal contra familiares do coato.
O delito em comento é modalidade especial do crime de constrangimento
ilegal. Assim, o agente não responderá em concurso de crime com o tipificado no
art. 146 do Código Penal. Não ocorrendo as demais elem entares "votar", “não votar",
"candidato" ou "partido" e ausente a finalidade específica eleitoral, o delito poderá
ser subsidiariamente o tipificado no art. 146 do CP.
A coação de eleitores no dia da eleição é conduta típica do art. 39, § 5-, II. Trata-
se de norma especial que revogou tacitamente o artigo em comento. Todavia, o
elemento temporal do tipo penal deve ser visto à luz do calendário eleitoral (dia da
eleição). As eleições ocorrem sempre no primeiro e no último domingos do mês de
outubro do ano eleitoral.

Tipo subjetivo
Dolo.

Rem issão:
CE, arts. 284; 302.

23.3.13. Art. 302 - Impedimento, em baraço ou fraude ao exercício do


voto

Art. 302. Promover, no dia da eleição, com o fim de impedir, embaraçar


ou fraudar o exercício do voto a concentração de eleitores, sob qualquer
forma, inclusive o fornecimento gratuito de alimento e transporte
coletivo:
Pena: reclusão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e pagamento de 200
(duzentos) a 300 (trezentos) días-multa. (artigo com redação dada pelo
Decreto-lei ne 1.064/69.)

706
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r i m e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Bem jurídico
Liberdade de voto.

Sujeito ativo
Crime comum.

Sujeito passivo
0 Estado.

Tipo objetivo
A coação e o aliciamento estão previstos no art. 39, § 5 9, II, da Lei ne 9.504/97.
Outrossim, o uso de violência ou grave ameaça é crime tipificado no art. 301 do
Código Eleitoral.
Entendemos que, se houver o simples impedimento, o delito será o do art. 297
do CE, desde que não seja o dia da eleição, pois, se o for, o delito do art. 302 é mais
especial e, portanto, prevalece no conflito aparente de normas.
A conduta de em baraçar m erece enquadramento neste tipo penal, assim como a
fraude (engano, ardil ou artifício) ao exercício do voto. Todavia, a concentração de
eleitores é fato previsto no art. 39, § 5 9, II, sob o manto do aliciamento. Assim, dentro
desse tipo múltiplo alternativo, esta última conduta foi revogada tacitamente.
Outrossim, no que pertine ao delito de fornecimento de alimentos e transporte,
o artigo foi revogado tacitam ente pelo disposto no art. 11, II, da Lei n9 6.091/74. A
norma é mais ampla e especial neste aspecto, além de poder coexistir com o delito de
corrupção eleitoral (CE, art. 299), ambos na forma do concurso material de crimes,
mas dependerá da hipótese concreta. Sustenta a revogabilidade, o doutrinador Joel
José Cândido.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, arts. 297; 301.
Lei ne 6.091/74, arts. 10; 11, III.
CP, art. 29.

707
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

23.3.14. Art. 303 - Majoração de preços

Art. 303. Majorar os preços de utilidades e serviços necessários à


realização de eleições, tais como transporte e alimentação de eleitores,
impressão, publicidade e divulgação de matéria eleitoral:
Pena: pagamento de 250 (duzentos e cinqüenta) a 300 (trezentos)
dias-multa.

Bem jurídico
A tutela reside sobre as relações de consumo de natureza eleitoral. Não é crime
tipificado no Gódigo de Defesa do Consumidor, mas não deixa, de atender aspectos
relativos ao consumidor em geral.

Sujeito ativo
É crime próprio. Somente os comerciantes podem praticar o delito. Admite-se o
concurso de pessoas.

Sujeito passivo
0 Estado e o consumidor. Delito de dupla subjetividade passiva.

Tipo objetivo
É um delito formal. Nesse sentido, Suzana de Camargo Gomes. A majoração dos
preços e serviços é crime de mera conduta ou lesão, pois mesmo que o consumidor
pague pelos aumentos abusivos já haverá o rebaixamento do nível de igualdade nas
relações de consumo.
Se o agente aumenta o preço do transporte, atinge não apenas o eleitor, mas
todos os envolvidos na relação de consumo.
O doutrinador Fávila Ribeiro diz que o crime reprime a exploração econômica.
É comum o aumento dos preços nas gráficas destinadas a imprimir santinhos,
folhetos e material de propaganda. Nesse aspecto, o candidato e os partidos são
sujeitos passivos deste crime.

Tipo subjetivo
Dolo.

Rem issões:
CE, art. 299.

7 08
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o br je os C r i m e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Lei ns 6.091/ 74 - Dispõe sobre o fornecimento gratuito de transporte, em dias


de eleição, a eleitores residentes nas zonas rurais - art. 11.
Lei nQ8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor.
Lei n9 8.137/90 - Define os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra
as relações de consumo.

23.3.15. Art. 304 - Ocultação de alimentos e transportes

Art. 304. Ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no dia da eleição o


fornecimento, normalmente a todos, de utilidades, alimentação e meios
de transporte, ou conceder exclusividade dos mesmos a determinado
partido ou candidato:
Pena: pagamento de 250 (duzentos e cinqüenta) a 300 (trezentos)
dias-multa.

Bem jurídico
Relações de consumo no dia da eleição.

Sujeito ativo
É crime próprio. Somente os comerciantes podem praticar o delito. Admite-se o
concurso de pessoas.

Sujeito passivo
0 Estado e o consumidor. Delito de dupla subjetividade passiva.

Tipo objetivo
A elementar "açam barcar” diz respeito a chamar para si, monopolizar es serviços
na relação de consumo.
O agente responde pelo delito, independentemente da obtenção da vantagem
econômica, profissional ou de emprego. Nesse sentido o crime é formal.
O autor do crime, na verdade, é um corruptor passivo, porque, de certa forma,
receberá uma vantagem qualquer para praticar esta conduta. Poderá ocorrer o
concurso material com o delito do art. 299 do Código Eleitoral.
É possível o concurso de crimes com o delito do art. 59 da Lei ne 6.091/74.

Tipo subjetivo
Dolo.

709
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Remissão:
Nesta edição, Lei n- 6.091/74 - Dispõe sobre o fornecimento gratuito de
transporte, em dias de eleição, a eleitores residentes nas zonas rurais.

23.3.16. Art. 305 - Intervenção indevida nos trabalhos da seção eleitoral

Art. 305. Intervir autoridade estranha à mesa receptora, salvo o juiz


eleitoral, no seu funcionamento sob qualquer pretexto:
Pena: detenção até seis meses e pagamento de 60 (sessenta) a 90
(noventa) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a regularidade do processo de votação.

Sujeito ativo
Crime próprio. Somente a "autoridade estranha” é agente ativo da empreitada
delitiva. Admite-se a comunicabilidade da elementar normativa (CP, art. 30} e,
assim, o concurso de pessoas. 0 particular que intervém estará sujeito aos crimes
dos arts. 296 ou 297 do Código Eleitoral.

Sujeito passivo
O Estado.

Tipo objetivo
O legislador usa o verbo intervir A intervenção se dá verbalmente ou por escrito
e através de atos concretos (ações intencionais). Não basta o agente perguntar ou
indagar sobre o funcionamento, o tipo exige a intervenção, ou seja, atrapalhar os
trabalhos da mesa receptora que são conduzidos pelo juiz eleitoral titular da zona
eleitoral ou designados para determinada zona eleitoral, bem como os mesários e
secretários. Ver as regras contidas nas resoluções eleitorais expedidas pelo TSE, de
acordo com o art, 105 da Lei ne 9.504/97, para cada eleição. Poder normativo (CE,
art. 1-, parágrafo único). Conferir a regra do art. 127 do Código Eleitoral.
A Força armada não pode intervir (CE, art. 141). Distância mínima de 100 (cem)
metros da seção eleitoral.
O juiz eleitoral de outra zona eleitoral poderá ser sujeito ativo, assim como os
promotores eleitorais não designados, defensores públicos, militares e policiais em geral.

710
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r i m e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Cabe aos membros do Ministério Público (promotores eleitorais) regularmente


designados e fiscais de partidos políticos intervirem, por exemplo, na questão da identidade
do eleitor, mas não no funcionamento cartorário dos trabalhos da mesa receptora, exceto
se integrantes da mesa estiverem praticando crimes eleitorais, como, por exemplo: voto
formiguinha, habilitação de eleitores que não são votantes, coação eleitoral etc.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, arts. 139; 140, §§; 284.

23.3.17. Art. 306 - Desordem na votação

Art. 306 Não observar a ordem em que os eleitores devem ser chamados
a votar:
Pena: pagamento de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se o salutar desenvolvimento dos trabalhos da fase de votação.

Sujeito ativo
Crime próprio. Somente os mesários ou secretários podem praticar o crime. Não
se aplica aos fiscais de partido nem a outras autoridades, exceto o juiz eleitoral
investido da competência eleitoral, que poderá dar ordem inversa. Admite~se o
concurso de pessoas.

Sujeito passivo
O Estado e o cidadão-eleitor. É crime de dupla subjetividade passiva.

Tipo objetivo
0 tipo faz menção à ordem de votação. Na prática, este crime é de diminuta
aplicabilidade, porque durante a votação costuma-se, pelo calor dos acontecimentos,
de forma culposa ignorar a ordem de preferência.
A ordem de preferência é elem entar normativa e de valoração jurídica eleitoral;
portanto, caberá ao intérprete consultar os arts. 143 e 146 do Código Eleitoral e
resolução específica do Tribunal Superior Eleitoral (norma penal em branco).

711
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Segundo orientações do Tribunal Superior Eleitoral, cumpridos os procedimentos


de instalação, o presidente da mesa observará a prioridade dos candidatos e a
seguinte preferência para votar:
- Juiz eleitoral e juizes dos Tribunais Eleitorais;
- funcionários a serviço da Justiça Eleitoral;
- Promotores eleitorais;
- Policiais militares em serviço;
- fiscais e delegados de partido ou coligação;
- idosos, enfermos, portadores de necessidades especiais, grávidas e lactantes.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, arts. 1 4 6 ,1-XIV; 284.

23.3.18. Art. 307 - Cédula marcada

Art. 307. Fornecer ao eleitor cédula oficial já assinalada ou por qualquer


forma marcada:
Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa.

Bem jurídico
Resguarda-se a higidez do processo de votação. Assegura-se ao eleitor o sigilo da
votação (CE art. 103). Conferir a regra do art. 60, § 4 S, II, da Carta Magna.

Sujeito ativo
É crime comum. Um particular poderá ter subtraído uma cédula e, posteriormente,
fornecê-la ao eleitor visando a deflagração do voto formiguinha ou carreirinha.
Todavia, em sua essência, o crime é próprio. Trata-se de delicta in officio, porque
somente o juiz, mesário e servidor público eleitoral, a princípio, têm acesso à cédula
oficial. Admite-se, de toda sorte, a coautoria ou participação.
Com a adoção do sistema informatizado, qualquer alteração ou fraude encontra
tipicidade no art. 72 da Lei n- 9.504/97. Nesse sentido, também é a posição da
renomada doutrinadora Suzana de Camargo Gomes.

712
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

A cédula não oficial fornecida ao eleitor é fato atípico eleitoral. Pode-se operar a
atipicidade relativa para o delito de estelionato (CP, art. 171).

Sujeito passivo
0 Estado e, secundariamente, o eleitor prejudicado por não ter legitimamente
votado em candidato ou legenda de sua preferência. 0 interesse maior não é do
eleitor, mas da guarda do regime democrático e regularidade da votação.

Tipo objetivo
É crime material de resultado naturalístico. 0 fornecimento significa entregara cédula
verdadeira, oficial, ao eleitor, além de estar previamente assinalada pelo fraudador.
A cédula falsa não preenchida por terceiros poderá ser crime do art. 171 do
Código Penal, ou do art. 297 do Código Eleitoral, ou ainda do art. 308 do CE.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, arts. 1 0 3 ,1, III; 104; 2 8 4 ; 350.

23.3.19. Art. 308 - Entrega a destempo da cédula oficial

Art. 308. Rubricar e fornecer a cédula oficial em outra oportunidade que


não a de entrega da mesma ao eleitor:
Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 60 (sessenta) a 90
(noventa) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a regularidade do processo de votação.

Sujeito ativo
Ver comentários ao crime anterior.

Sujeito passivo
Ver comentários ao crime anterior.

713
M a r c o s R a m a y a n a __________________ D ir e ito E le ito r a l

Tipo objetivo
0 tipo é diferente daquele do art. 307, que trata do fornecimento de cédula
marcada. Aqui, o delito é do fornecimento de cédula marcada ou não ao eleitor fora
do momento reservado para o ato formal da entrega.
0 Tribunal Superior Eleitoral costuma redigir manuais específicos para os
mesários, sendo este o último, in expressi verbis:
Os mesários deverão votar no decorrer da votação, após o voto dos
eleitores que estiverem presentes no momento da abertura dos
trabalhos.
Identificação do eleitor
0 eleitor será identificado com a apresentação do título eleitoral
ou de documento público de identificação (carteira de identidade,
identidade funcional, carteira profissional - OAB, CRM etc. carteira de
trabalho, certificado de alistamento militar, certificado de reservista,
carteira nacional de habilitação ou outro documento que comprove sua
identidade).
Mesmo sem a apresentação do título, o eleitor poderá votar, desde que
apresente documento que comprove sua identidade e seu nome conste
do caderno de folhas de votação e da urna eletrônica.
Não poderá votar o eleitor cujo nome não conste do caderno de folhas
de votação nem da urna eletrônica. Neste caso, o título apresentado,
se for daquela zona e seção, deverá ser retido, e o eleitor, orientado a
procurar o cartório eleitoral, no prazo de até 60 dias, para regularizar
sua situação.
Haverá, no fim do caderno de foihas de votação, lista dos eleitores
impedidos de votar.
Em caso de dúvida quanto à identidade do eleitor, o presidente da
mesa deverá solicitar a apresentação de outro documento público de
identificação. Na falta deste, irá interrogá-lo sobre os dados constantes
do título ou da folha de votação e confrontar a assinatura do documento
com aquela feita pelo eleitor na presença do presidente.
Impugnação à identidade do eleitor
A impugnação à identidade do eleitor será aceita quando persistir
dúvida quanto à sua identificação. Essa impugnação poderá ser
apresentada por mesários, fiscais, delegados, candidatos ou qualquer
eleitor, verbalmente ou por escrito, antes de o eleitor ser habilitado a
votar. Então, o eleitor será convidado a aguardar até que o juiz eleitoral
compareça à seção para decidir sobre o problema. Enquanto isso, a
votação prosseguirá normalmente.
Registrar em ata o número de impugnações, os motivos alegados e as
decisões tomadas.

714
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r i m e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Fiscalização
Poderão fiscalizar a votação:
- candidatos registrados e seus advogados, desde que estes estejam
portando procuração;
- delegados: dois de cada partido ou coligação por município, os quais
deverão se identificar pela credencial do partido ou da coligação,
atuando um de cada vez, podendo ser substituídos. Quando o município
abranger mais de uma zona eleitoral, poderão ser nomeados dois
delegados para cada uma delas;
- fiscais: dois de cada partido ou coligação por mesa receptora, os
quais deverão se identificar pela credencial do partido ou da coligação,
atuando um de cada vez, podendo ser substituídos. Os fiscais poderão
atuar em mais de uma seção do mesmo local de votação.
Propaganda eleitoral no recinto da seção
- Aos mesários é proibido o uso de vestuário ou objeto que contenha
qualquer propaganda de partido, coligação ou candidato.
- Aos delegados e fiscais só é permitido, nas vestes utilizadas, trazer o
nome e sigla do partido ou da coligação a que sirvam.
- Aos eleitores somente é permitida a manifestação individual e
silenciosa da preferência por partido, coligação ou candidato, inclusive
a contida no próprio vestuário e em bandeira, flâmula ou objeto de que
tenha posse.
Polícia dos trabalhos eleitorais
Cabe ao presidente da mesa receptora e ao juiz eleitoral a polícia dos
trabalhos eleitorais, não podendo nenhuma autoridade estranha à
mesa intervir, sob pretexto algum, no seu funcionamento.
O presidente da mesa, durante os trabalhos, é a autoridade superior,
podendo retirar do recinto ou do edifício quem não aguardar a ordem
e a compostura devidas ou estiver praticando qualquer ato atentatório
à liberdade eleitoral.
Somente podem permanecer na seção os componentes da mesa, os
candidatos, seus advogados, um fiscal e um delegado por partido
ou coligação e o eleitor durante o tempo necessário à votação ou à
justificação.
A força pública ficará a cem metros da seção eleitoral, não podendo
se aproximar do lugar de votação ou nele ingressar sem ordem do
presidente da mesa.
0 eleitor não poderá ingressar na seção com telefone celular ou
equipamento de radio-comunicação ligado.
Fluxo de votação (passo a passo)

71S
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Este tópico apresenta, de forma resumida e sequenciada, as etapas do


processo de votação, desde a chegada do eleitor à seção até a sua saída,
destacando-se as principais atribuições de cada um dos componentes
da mesa receptora.
O segundo secretário orienta os eleitores na fila e controla a entrada
na seção.
0 primeiro e o segundo mesários recebem do eleitor o título ou o
documento de identificação, localizam o nome dele no caderno de
folhas de votação, colhem a assinatura ou a impressão digital do eleitor
e destacam o comprovante de votação.
O primeiro secretário recebe dos mesários o título ou o documento de
identificação e o comprovante de votação e, em seguida, dita o numero
do título do eleitor ao presidente da mesa.
0 presidente da mesa digita o número do título do eleitor no
microterminal e o autoriza a votar.
0 suplente controla a movimentação dos eleitores na seção.
0 eleitor vota na urna eletrônica apertando as teclas correspondentes
ao número de seu candidato.
0 primeiro e o segundo mesários devolvem ao eleitor o título ou
o documento de identificação, juntamente com o comprovante de
votação.
0 segundo secretário, à saída do eleitor, verifica se ele recebeu de volta
o documento apresentado.

Tipo subjetivo
Dolo.

Rem issão:
CE, arts. 103, III; 284; 307.

23.3.20. Art. 309 - Falsa identidade na votação

Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem:
Pena: reclusão até três anos.

Bem jurídico
A lei protege a fase da votação e a democracia.

716
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Sujeito ativo
Qualquer pessoa. Crime comum. Admite-se a participação de terceiros, mas não
a coautoria. Trata-se de crime de mão própria ou de atuação pessoal.

Sujeito passivo
O Estado.

Tipo objetivo
0 delito é classificado como do tipo de atentado, pois a pena da tentativa é
idêntica à do crime consumado.
Questionam-se os delitos de atentado no Direito Penal hodierno, pois a igualdade
de tratamento punitivo entre a conduta tentada e consumada viola o princípio da
individualização da pena, culpabilidade e razoabilidade. Imagine-se que a tentativa
imperfeita terá a mesma sanção do que a conduta consumada.
0 agente poderá praticar o delito do art. 311 do Código Eleitoral.
0 tipo evita o voto múltiplo ou familiar, ou seja, procura-se criminalizar formas
já adotadas no direito pátrio e alienígena referentes ao sufrágio desigual ou
iniqualitário.
Votar em lugar de outrem. Este tipo penal proíbe que o mesário possa habilitar
outro eleitor para votar durante o processo de votação no lugar de outrem. No último
pleito eleitoral, um mesário, por descuido, habilitou o eleitor José Maria no lugar do
eleitor José Mário. Assim, no momento em que chegou o eleitor José Mário para
votar, já constava como se tivesse votado. Nestes casos, mediante autorização do
juiz eleitoral, recomenda-se que o eleitor José Mário vote por último, habilitando-
se no lugar de eleitor faltoso, Mas, para que esta providência possa ser efetivada, o
eleitor José Mário deverá aguardar até o término da votação dos demais eleitores.

Tipo subjetivo
Dolo, Não poderá o mesário ser penalmente responsabilizado por descuido na
habilitação do eleitor em lugar de outrem.

Remissão:
CE, arts. 103, II; 1 1 7 ; 131; 142; 146; 284.

717
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

23.3.21. Art. 310 - Anulação da votação

Art. 310. Praticar, ou permitir o membro da mesa receptora que seja


praticada, qualquer irregularidade que determine a anulação de votação,
salvo no caso do art. 311:
Pena: detenção até 6 (seis) meses ou pagamento de 90 (noventa) a 120
(cento e vinte) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a fase da votação.

Sujeito ativo
Crime comum. Os mesários podem praticar ou tolerar a prática de terceiros.
Admite-se a coautoria ou participação.

Sujeito passivo
O Estado e o regime democrático.

Tipo objetivo
0 delito é material. Exige-se a anulação da votação. Significa que a conduta
praticada pelo agente deverá estar correlacionada com a causa de anulabilidade
dos votos na seção eleitoral.
Cumpre ao intérprete examinar se o mesário, v.g., agiu deliberadamente com a
finalidade de causar a anulação dos votos. A anulação deverá ser decretada por
decisão da Junta Eleitoral, mas a responsabilidade penal do mesário ou terceiros é
decorrente de processo e julgamento perante o juiz eleitoral (juízo monocrático).
Vê-se que o órgão julgador é diverso e a anulação da votação, por si só, não é causa
que faz emergir a tipicidade, ilicitude ou culpabilidade na conduta do agente. É
necessário investigar se o acusado agiu dolosamente, além de verificar-se o nexo de
causalidade entre a ação e o resultado naturalístíco.
0 art. 171 do Código Eleitoral exige a formulação de impugnação perante a Junta
para o conhecimento do recurso contra a apuração. Percebe-se que as causas de
anulação da eleição devem ser restritivas, até porque vige o princípio da legitimidade
da votação e das eleições,
O art. 175 do CE enumera hipóteses de nulidade das cédulas eleitorais.
Alguns casos ensejam a anulação: defeito proposital na urna eletrônica que não
é substituída e impossibilita os eleitores de votar; fraudes na votação; abandono da
seção pelos mesários; permissão de invasão de cabos eleitorais etc.

71«
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r i m e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

O crime do art. 310 poderá estar correlacionado com outros crimes, como os dos
arts. 297, 300 e 301.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, arts. 119-121; 124; 125; 127; 130; 284.

23.3.22. Art. 311 - Votação em seção diversa

Art. 311. Votar em seção eleitoral em que não está inscrito, salvo
nos casos expressamente previstos, e permitir o presidente da mesa
receptora, que o voto seja admitido:
Pena: detenção até 1 (um) mês ou pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa para o eleitor e de 20 (vinte) a 30 (trinta) dias-multa para
o presidente da mesa.

Bem jurídico
Resguarda-se o processo de votação.

Sujeito ativo
0 crime é de natureza mista. Comum em relação à conduta do eleitor que vota em
local em que não está inscrito, e funcional em relação ao presidente da seção que se
omite e permite o voto ilícito.

Sujeito passivo
O Estado.

Tipo objetivo
A lei protege a fidelidade da lista dos eleitores de uma determinada seção
eleitoral e, assim, o cadastro eleitoral, ou seja, a relação de eleitores.
0 doutrinador Joel José Cândido ensina que, se o mesário admite o voto em
separado, não haverá crime, porque o voto nestes casos é legalmente permitido
pela legislação eleitoral.
0 voto em separado permanece em .relação à votação que não segue a urna
eletrônica, porque o art. 62 da Lei ne 9.504/97 diz que:

719
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Art. 62. Nas Seções em que for adotada a urna eletrônica, somente
poderão votar eleitores cujos nomes estiverem nas respectivas folhas
de votação, não se aplicando a ressalva a que se refere o art. 148, § l 9,
da Lei n9 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral).

Assim, se o mesário permite que um eleitor seja habilitado sem que o nome dele
conste da folha de votação, estará praticando a conduta delituosa, desde que tenha
agido dolosamente.
0 art. 309 do CE poderá ocorrer em concurso material com o delito em comento.
Nesse sentido, Joel José Cândido.

Tipo subjetivo
Dolo

Remissão:
CE, arts. 145, parágrafo único, incisos; 284.

23.3.23. Art. 312 - Sigilo no voto

Art. 312. Violar ou tentar violar o sigilo do voto:


Pena: detenção até 2 (dois) anos.

Bem jurídico
Tutela-se o sigilo do voto e sua liberdade. 0 art. 60, § 4 e, da CF (cláusula pétrea)
garante o sigilo do voto. O art. 103 do Código Eleitoral diz quais as formas de
proteção ao sigilo.

Sujeito ativo
É crime comum. Os eleitores ou não eleitores podem praticar o delito, inclusive
os mesários e funcionários públicos em geral.

Sujeito passivo
O Estado e o regime democrático. Atinge-se a lisura do processo eleitoral de
votação.

Tipo objetivo
A elem entar normativa de valoração jurídica é complementada pelo art. 103 do
Código Eleitoral.
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r i m e s E l e it o r a is e
o P ro cesso P en al E le ito r a l C a p ít u l o 23

Se, por exemplo, o eleitor estiver votando e a cabine de votação não for colocada
de forma a proteger o sigilo do voto, podemos estar diante da figura típica eleitoral,
desde que tenha havido dolo do agente.
Os mesários rotineiram ente são chamados pelos eleitores para explicar como
votar na urna eletrônica. As explicações não podem atingir o sigilo do voto. Desta
forma, não pode o mesário penetrar no interior da cabine de votação, sob pena de
violar o tipo penal.
Não há que se aduzir em erro de proibição invencível, pois todas as instruções
são fornecidas em reuniões dos juizes eleitorais com os mesários.
Questiona-se o delito em comento como sendo flagrantemente violador do
princípio da individualização da pena ou culpabilidade, pois nivela a conduta de
ampliação temporal da figura típica (tentativa) ao mesmo patamar dosimétrico da
consumação. Trata-se de crime de atentado em que a pena da tentativa é igual à do
crime consumado.
0 doutrinador Joel José Cândido entende que a divulgação do voto é conduta
atípica.
De fato, a divulgação do voto pelo próprio votante é conduta atípica, mas a
divulgação feita por terceiros, sem a prévia divulgação do titular, é exaurimento do
delito, pois, nesta hipótese, o sigilo foi quebrado e ainda foi o voto divulgado.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, arts. 103; 175; 284.
CF, art. 60, § 4 e, II.

23.3.24. Art. 313 - Om issão na expedição de boletins de apuração

Art. 313. Deixar o juiz e os membros da Junta de expedir o boletim de


apuração imediatamente após a apuração de cada urna e antes de passar
à subsequente, sob qualquer pretexto e ainda que dispensada a expedição
pelos fiscais, delegados ou candidatos presentes:
Pena: pagamento de 90 (noventa) a 120 (cento e vinte) dias-multa.
Parágrafo único. Nas seções eleitorais em que a contagem for procedida
pela mesa receptora, incorrerão na mesma pena o presidente e os
mesários que não expedirem imediatamente o respectivo boletim.

721
M a rc o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Bem jurídico
Tutela-se a regularidade dos trabalhos de apuração dos votos. A fase protegida
é a da apuração.

Sujeito ativo
Trata-se de d elicta in officio. Crime próprio e personalíssimo. O juiz e os membros
da Junta Eleitoral é que respondem penalmente. Admite-se a comunicabilidade da
elementar (CP art. 30).

Sujeito passivo
0 Estado e o regime democrático.

Tipo objetivo
0 artigo consagra um princípio de ordem pública eleitoral, como bem assinalou
a doutrinadora Suzana de Camargo Gomes, ou seja, não é possível apurar uma urna
sem a finalização da apuração da urna anterior.
0 art. 68 da Lei ne 9.504/97 refere-se ao boletim de urna que segue o modelo
aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral. O boletim original é a prova do vestígio
material da infração penal (CPP, arts. 158; 167).
Outrossim, o art. 68, §§ 1- e 2 e, da Lei ne 9.504/97, tipifica como crime a conduta
do presidente da mesa receptora que deixa de entregar cópia do boletim de urna.
Vê-se que o doutrinador Tito Costa está pleno de razão quando faz menção à
incriminação de condutas administrativas eleitorais, O legislador, visando garantir
a lisura do processo eleitoral, passou a tipificar condutas de natureza administrativa
eleitoral, excedendo-se nos tipos penais.
Convém ponderar que a seleção dos bens jurídicos com a proteção do Direito Penal
em matéria eleitoral deve ser consentânea aos princípios da intervenção mínima
e adequação social. A fragmentaridade na escolha dos tipos penais eleitorais seria
reservada a condutas especialmente perigosas, pois as multas administrativas e a
punição não penal servem na maioria dos casos como sanções proporcionais e razoáveis.
O delito é omissivo. É crime material. Não se admite a tentativa.

Tipo subjetivo
DoJo.

Remissões;
CE, arts. 179, §§; 187; 196.
Lei n a 9.504/97, art. 68, § l 9.

722
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

23.3.25. Art. 314 - Omissão no recolhimento das cédulas

Art 314. Deixar o juiz e os membros da Junta de recolher as cédulas apuradas


na respectiva urna, fechá-la e lacrá-la, assim que terminar a apuração de cada
seção e antes de passar à subsequente, sob qualquer pretexto e ainda que
dispensada a providência pelos fiscais, delegados ou candidatos presentes:
Pena: detenção até 2 (dois) meses ou pagamento de 90 (noventa) a 120
(cento e vinte) dias-multa.
Parágrafo único. Nas seções eleitorais em que a contagem dos votos for
procedida pela mesa receptora, incorrerão na mesma pena o presidente
e os mesários que não fecharem e lacrarem a urna após a contagem.

Bem Jurídico
A norma protege o sigilo do voto e os serviços relativos à apuração. A tutela reside na
preservação do resultado oficial das eleições para fins de eventual recontagem de votos.

Sujeito ativo
O delito é funcional. Crime próprio dos membros da junta eleitoral e do juiz.
Admite-se a comunicabilidade da elem entar funcional (CP art. 30) desde que tenha
ingressado na esfera de conhecimento do extraneus.

Sujeito passivo
O Estado e o regime democrático.

Tipo objetivo
A lei protege a apuração pelo sistema tradicional. 0 tipo não incide no sistema
informatizado. Nesse sentido é a lição de Suzana de Camargo Gomes.
Ver comentários anteriores, inclusive ao art. 68 da Lei ne 9.504/97.
Resguarda-se a fidedignidade dos votos apurados em determinada urna
convencionai. Ver o art. 72 da Lei ne 9.504/97.

Tipo subjetivo
Doio.

Remissão:
CE, arts. 183, parágrafo único; 284.
M a r c o s R am ayana D ir e it o E ie it o r a l

23.3.26. Art. 315 - Mapismo

Art. 315. Alterar nos mapas ou nos boletins de apuração a votação obtida
por qualquer candidato ou lançar nesses documentos votação que não
corresponda às cédulas apuradas:
Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a regularidade do processo de votação e apuração dos votos,
especialmente o valor original dos votos contabilizados pela Justiça Eleitoral.

Sujeito ativo
Crime comum. Em regra o delito exige uma qualidade especial do agente, ou seja,
geralmente quem pratica mapismo é o escrutinador ou membros da junta eleitoral
e os servidores da Justiça Eleitoral.

Sujeito passivo
0 Estado e o candidato, partido político ou coligação atingidos pela fraude. Trata-
se de delito de dupla subjetividade passiva.

Tipo objetivo
0 delito refere-se ao sistema convencional por cédulas. Se a fraude ocorrer
através da urna eletrônica, o delito será o do art. 72 da Lei n- 9.504/97. O tipo do
art. 315 fez menção às “cédulas"; portanto, quando os votos são decorrentes da
urna eletrônica, aplica-se a lei posterior, já de acordo com a elem entar normativa do
tipo penal. Nesse sentido é a posição correta da doutrinadora Suzana de Camargo
Gomes.
Os mapas pelo sistema tradicional são preenchidos após a confecção dos
boletins de urna, que resumem os votos totais de cada seção e da zona eleitoral. A
alteração se dá pela inserção inverídica de votos para outra legenda ou candidato,
mas também pode ocorrer pelo aumento do número de votos em branco ou nulos.
Percebe-se que o delito é uma espécie de falsidade ideológica em que se altera o
conteúdo do documento oficial. No confronto com o delito do art. 350 do Código
Eleitoral prevalece a regra especial do art. 315.
O conjunto total da urna eletrônica é constituído pelo terminal do eleitor e pelo
microterminal.

724
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Tipo subjetivo
Dolo.

Rem issões:
CE, arts. 158; 218; 284; 299.
Lei n9 6.996/82 art. 15.
Lei ng 9.504/97 a r t 72.

23.3.27. Art. 316 - Omissão de protestos na ata de eleição

Art. 316. Não receber ou não mencionar nas atas da eleição ou da


apuração os protestos devidamente formulados ou deixar de remetê-los
à instância superior:
Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se o regular exercício do direito de fiscalização em relação às fases de
votação e apuração das eleições. 0 Ministério Público, partidos políticos, coligações
e candidatos podem fiscalizar todo o processo eleitoral. A norma resguarda também
a fiel observância e autenticidade das atas eleitorais.

Sujeito ativo
É crime próprio, d elicta in officio . Somente os mesários, membros das Juntas
Eleitorais e juizes eleitorais podem praticar esta conduta. Admite-se o concurso de
pessoas, como na hipótese de o servidor não rem eter os autos à instância superior.

Sujeito passivo
O Estado e o candidato, eleitor, partido político ou coligação que foram cerceados
em suas irresignações, pois não consignados os protestos legais.

Tipo objetivo
O art. 70 da Lei ns 9.504/ 97 diz que:

Art. 70. O presidente da Junta Eleitoral que deixar de receber ou de


mencionar em ata os protestos recebidos, ou ainda, impedir o exercício
de fiscalização, pelos partidos e coligações, deverá ser imediatamente

72S
M a rc o s Ram ayana D ir e it o E l e it o r a l

afastado, além de responder pelos crimes previstos na Lei n2 4.737, de


15 de julho de 1965 (Código Eleitoral).

Segundo orientações do TSE (Manual dos Juizes Eleitorais):


A impugnação à identidade do eleitor será aceita quando persistir dúvida
quanto à sua identificação. Essa impugnação poderá ser apresentada por
mesários, fiscais, delegados, candidatos ou qualquer eleitor, verbalmente
ou por escrito, antes de o eleitor ser habilitado a votar. Então, o eleitor será
convidado a aguardar até que o juiz eleitoral compareça à seção para decidir
sobre o problema. Enquanto isso, a votação prosseguirá normalmente.
E ainda, poderão fiscalizar a votação: candidatos registrados e seus
advogados, desde que estes estejam portando procuração; delegados:
dois de cada partido ou coligação por município, os quais deverão se
identificar pela credencial do partido ou da coligação, atuando um de
cada vez, podendo ser substituídos. Quando o município abranger mais
de uma zona eleitoral, poderão ser nomeados dois delegados para cada
uma delas; fiscais: dois de cada partido ou coligação por mesa receptora,
os quais deverão se identificar pela credencial do partido ou da coligação,
atuando um de cada vez, podendo ser substituídos. Os fiscais poderão
atuar em mais de uma seção do mesmo local de votação.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, arts. 132; 171; 186, § I a, IV.

23.3.28. Art. 317 - Violação do sigilo da urna

Art. 317. Violar ou tentar violar o sigilo da urna ou dos invólucros:


Pena: reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos.

Bem jurídico
Preserva-se a liberdade de voto e a sua autenticidade. 0 sigilo do voto tem
assento constitucional (CF, art. 60, § 4 Q, II).

Sujeito ativo
Crime comum. Admite-se a coautoria com servidores da zona eleitoral ou dos
Tribunais Regionais Eleitorais (CP, art. 30).
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r i m e s E l e i t o r a is e

o P ro c e s s o P e n a l E le ito r a l C a p ít u l o 23

Sujeito passivo
0 Estado. Reflexamente, o candidato, partido político ou coligação que são
devassados com a quebra do sigilo.

Tipo objetivo
0 art. 312 assegura o sigilo da votação. O art. 317 trata do sigilo das informações
contidas na urna convencional, porque se a devassa se der na urna eletrônica o
crime será o do art. 72 da Lei ns 9.504/97.
É delito de atentado. Ver comentários ao art. 312 do Código Eleitoral.
A urna de lona é protegida por um lacre que, se for rompido, permite ao criminoso
o acesso aos votos.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão
CE, arts. 156; 163-165; 168; 185; 284.

23.3.29. Art. 318 - Contagem de votos sob impugnação

Art. 318. Efetuar a mesa receptora a contagem dos votos da urna quando
qualquer eleitor houver votado sob impugnação (art. 190):
Pena: detenção até 1 (um) mês ou pagamento de 30 (trinta) a 60
(sessenta) días-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a regularidade da prestação dos serviços eleitorais na fase da apuração
dos votos.

Sujeito ativo
Os mesários. Admite-se a participação de terceiros (CP, art. 30).

Sujeito passivo
O Estado.

727
M a rc o s R am ayana D ir e it o E ie it o r a l

Tipo objetivo
O tipo penal é remetido (CE, art. 190). É possível a contagem dos votos pela mesa
receptora. É necessária norma eleitoral (resolução do Tribunal Superior Eleitoral
normatizando a contagem). Ver ainda o art. 188 do CE.
A ordem, ou melhor, a seqüência dos trabalhos de apuração é tratada como norma
supervalorativa de proteção penal. Entendemos que há um exagero neste elenco
de bens penalmente protegidos, o que desmerece a razão de ser da sanção penal
prevista no preceito secundário da norma incriminadora. Deve-se descobrir formas
não típicas para a sanação destas questões administrativas eleitorais evitando-se a
fomentação legiferante de tipos penais incriminadores eleitorais.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão
CE, art. 284.

23.3.30. Art. 319 - Su bscrição de fichas de registro de partido

Art. 319. Subscrever o eleitor mais de uma ficha de registro de um ou


mais partidos:
Pena: detenção até 1 (um) mês ou pagamento de 10 (dez) a 30 (trinta)
dias-multa.

Bem jurídico
Resguarda-se a organização dos partidos políticos. A norma é de direito partidário
e, portanto, rege-se pelos princípios elencados na Lei ne 9.096/95.

Sujeito ativo
Crime comum. 0 eleitor. Trata-se de crime de atuação pessoal ou de mão própria,
pois somente o eleitor poderá subscrever a ficha de registro de um determinado
partido. Se terceiros subscrevem ao invés do eleitor, o delito será o de falsidade
ideológica eleitoral (CE, art. 350).
O agente que colhe a assinatura do que subscreve responde pelo delito do art. 321
do Código Eleitoral. Adota-se a exceção pluralista à teoria monista ou unitária do
concurso de agentes.

728
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im .e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Sujeito passivo
O Estado e os partidos políticos em sua auto-organização legal. É delito de dupla
subjetividade passiva.

Tipo objetivo
A Lei n- 9.096/95 trata os partidos políticos como pessoas jurídicas de direito
privado e, no art. 8 S, faz menção expressa à subscrição dos fundadores, em número
nunca inferior a 101, com domicílio eleitoral em, no mínimo, 1/3 (um terço) dos
Estados, ou seja, 9 (nove) Estados, englobando na contagem o Distrito Federal.
O tipo procura evitar que um mesmo eíeitor assine como se fosse fundador de
2 (dois) ou mais partidos políticos, pois esta farsa ou fraude atinge diretamente a
regularidade formal de constituição dessas pessoas jurídicas. Na verdade, o delito é
uma espécie de falsidade ideológica (CE, art. 350).
0 crime é material. Admite-se singularmente a tentativa.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, art. 284.

23.3.31. Art. 320 - Dupla filiação


Art. 320. Inscrever-se o eleitor, simultaneamente, em 2 (dois) ou mais
partidos:
Pena: pagamento de 10 (dez) a 20 (vinte) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se o controle pela Justiça Eleitoral da condição de elegibilidade manifesta
na filiação partidária. Ver arts. 14, § 3-, V, da CF; 9 a da Lei n- 9.504/97; e 18 da Lei
ne 9.096/95.

Sujeito ativo
É crime de atuação pessoal ou de mão própria. O eíeitor poderá ser ou não titular
de mandato eletivo, candidato ou pré-candidato.

729
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Admite-se a aplicação do art. 30 do CP.


0 funcionário do partido político que, dolosamente, instiga ou induz o eleitor à
inscrição poderá ser responsabilizado como partícipe moral.

Sujeito passivo
O Estado e os partidos políticos.

Tipo objetivo
O tipo penal exige a simultaneidade. A simultaneidade é a filiação no mesmo dia.
Nesse sentido é a posição correta de Joel José Cândido. O doutrinador Tito Costa
lembra que deve existir a coincidência temporal.
A doutrinadora Suzana de Camargo Gomes entende que a consumação do crime
se dá com a segunda filiação sem que o filiado opere o desligamento anterior.
Impende frisar que assiste razão à doutrinadora Suzana de Camargo Gomes.
A intenção do legislador foi criminalizar conduta administrativa eleitoral. Dessa
forma, se o agente dolosamente agir com a caracterização da duplicidade de filiação,
responderá pelo delito do art. 320 do Código Eleitoral.
A responsabilidade enseja incidência em duas esferas diferenciadas: uma
administrativa eleitoral, com conseqüências na prova da condição de elegibilidade
constitucional; outra de natureza penal.
O legislador procurou evitar a figura do filiado de aluguel ou do fraudador da
filiação partidária.
Impende observar que, por descuido ou má-fé, o nome de um dos filiados pode
não ser encaminhado à Justiça Eleitoral. Nessa hipótese, o interessado poderá
basear seus argumentos na Súmula na 20 do TSE, in verbis:
Súmula ne 20-A falta do nome do filiado ao partido na lista por este
encaminhada à justiça Eleitoral, nos termos do art. 19 da Lei ne 9.096,
de 19.9.1995, pode ser suprida por outros elementos de prova de
oportuna filiação.
Os outros elementos de prova referidos na Súmula 20 podem ser os
registros cartorários dotados de fé pública. Quanto ao nome em uma
das listas anteriores (abril/outubro) e ainda, cópia da ficha de filiação
partidária do recorrido como documento idôneo para comprovar a
filiação partidária, o TSE já se manifestou em sentido oposto, "Ademais,
se assim não fosse, a ficha de filiação partidária (fl. 19) e o requerimento
do Partido à Justiça Eleitoral, para inclusão do nome do candidato na
relação de filiação anteriormente enviada (fl. 15), não são documentos
aptos a comprovar filiação partidária. Com efeito, o art. 24, III, da Res.­
TSE ne 20.993/02 exige certidão expedida pelo escrivão eleitoral, o
que não consta dos autos. Nesse sentido, anotou o subprocurador-

730
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

geral da República, no exercício da função eleitoral, Dr. Wallace de


Oliveira Bastos, no parecer de fls. 79-83 (Recurso Especial Eleitoral
20.207/BA. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo)" 0 TSE não vem
admitindo documentos sem autenticação, especialmente diante do
reexame de prova que é vedado na instância superior (Súmulas STF 7
e 279). Em outra decisão o TSE admite a ficha de filiação como prova
idônea, "Registro de candidato. Filiação partidária. (...) Comprovação
da condição de filiada por ficha de filiação (...)" (Acórdão 13.627, de
23.9.1996, Relator Ministro Eduardo Alckmm).
0 importante é evitar a fraude com filiações inexistentes ou feitas fora do pra 2o
de um ano antes da data das eleições.
0 art. 8 2 da Lei na 9.504/97 trata do prazo de realização das convenções
partidárias (de 10 a 30 de junho do ano eleitoral). O exame dos pedidos de registro
ocorre até às 19 horas do dia 5 de julho do ano eleitoral; portanto, deve-se ter
atenção para as listas enviadas pelos partidos políticos no mês de outubro que
sejam diferentes das listas do mês de abril, pois as de abril do ano eleitoral são
mais recentes e comprovam efetivamente a filiação partidária, ao passo que as do
mês de outubro podem ter sido alteradas por desligamento do pré-candidato, sem
observância da dupla comunicação (partido político e juiz eleitoral).
Quem se filia a outro partido deve fazer comunicação ao partido e ao
juiz de sua respectiva zona eleitoral, para cancelar sua filiação; se não o
fizer no dia imediato ao da nova filiação, fica configurada dupla filiação,
sendo ambas consideradas nulas para todos os efeitos (Respe. 16.410/
PR, Rei. Ministro Waldemar Zveiter, pub. em sessão de 13.9.2000).
Se uma pessoa está filiada ao partido X e deseja se filiar ao partido Y, deve atentar
para alguns cuidados indispensáveis para evitar a dupla filiação. No caso, deverá fazer
uma comunicação por escrito ao partido político (por exemplo, diretório municipal) e
ao juiz eleitoral da zona eleitoral respectiva de sua inscrição. Nesse sentido é o art. 21
e parágrafo único da Lei dos Partidos Políticos. O interessado só poderá se filiar a
outro partido após escoar o prazo de 2 (dois) dias da comunicação, mas, na prática,
é muito comum o pré-candidato não observar os prazos de comunicação ao partido
e ao juiz. 0 pré-candidato que não faz o seu desligamento de forma correta, ou seja,
com a dupla comunicação - partido e Juiz Eleitoral e se filia a outro partido estará
duplamente filiado, sendo ambas as filiações consideradas nulas. Todavia, emerge
ainda outra oportunidade, isto é, o pré-candidato poderá se valer do disposto no art. 22,
parágrafo único, da Lei dos Partidos Políticos. Nesse caso lhe restará efetivar ambas as
comunicações no diaimediatoao da nova filiação, pois, caso não realize estas providências
imprescindíveis, estará configurada a dupla filiação. Nesse sentido, Acórdãos 16.783 e
17.208 do TSE. Nos cartórios eleitorais é comum a formação de procedimentos relativos
à apuração da dupla filiação e que ensejam recursos aos Tribunais Superiores. Firma-
se a jurisprudência no sentido de que se o juiz declarou a duplicidade de filiação e a
questão está sujeita a recurso, o pré-candidato é ausente de elegibilidade constitucional.

731
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Vê-se que o exame da ausência da condição de elegibilidade constitucional se faz no


momento do registro e se, neste instante, ainda não há reforma da decisão que declarou
a dupla filiação, não se pode falar em sanabilidade ou elegibilidade. A Súmula n9 14 do
TSE deve ser interpretada em razão da primeira lista enviada pelos partidos políticos
à Justiça Eleitoral, a partir da vigência da Lei n2 9.096, de 19 de setembro de 1995.
Trata-se de regra de natureza temporal. Nesse sentido, Acórdão ns 3.280/2002, Relator
Ministro Sálvio de Figueiredo. Possibilidade de comunicação única ao juiz eleitoral já foi
reconhecida pelo TSE por motivo de força maior.
Recurso especial. Registro de candidatura. Filiação partidária.
Duplicidade. Lei ns 9.096/95, art. 22, parágrafo único. 1. Aquele que se
filia a outro partido deve comunicarao partido ao qual era anteriormente
filiado ao juiz de sua respectiva zona eleitoral o cancelamento de
sua filiação no dia imediato ao da nova filiação, sob pena de restar
caracterizada a dupla filiação. 2. Impossibilitado de localizar o diretório
municipal da agremiação política, ou presidente, a comunicação do
desligamento poderá ser feita ao juiz eleitoral. 3. Recurso provido
(Respe. 16.477/SP, Rei. Min. Waldemar Zveiter, DJ 23.3.2001).

Tipo subjetivo
Dolo. A culpa (negligência na informação correta da desfiliação acarreta efeitos
em relação ao pedido de registro de candidatura ou ingresso e permanência no
serviço público ou o exercício de atribuições de natureza eleitoral).

Remissão:
Lei ne 9.096/95 ~ Lei dos Partidos Políticos - art. 22, parágrafo único.

23.3.32. Art. 321 ~ Coletânea indevida de assinatura em ficha de


registro de partido

Art. 321. Colher assinatura do eleitor em mais de uma ficha de registro


de partido:
Pena: detenção até 2 (dois) meses ou pagamento de 20 (vinte) a 40
(quarenta) dias-multa.

Bem jurídico
Resguarda-se a auto-organização dos partidos políticos.

Sujeito ativo
Crime comum.

732
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Sujeito passivo
0 Estado e os partidos políticos, É crime de dupla subjetividade passiva.

Tipo objetivo
0 delito é uma forma de participação material ou autoria do crime do art. 319
do Código Eleitoral. 0 legislador adotou técnica confusa separando a conduta do
partícipe e do autor.
Pune-se o agente coletor da assinatura do eleitor.
Topograficamente, o legislador deveria ter inserido o artigo após o art. 319 do
Código Eleitoral ou como parágrafo único.

Tipo subjetivo
Doío.

Remissões:
CE, art. 284.
Lei n9 9.096/95 - Lei dos Partidos Políticos - art. 8 e.

23.3.33. Art. 323 - Divulgação de fatos inverídicos

Art. 322. (Revogado pela Lei n2 9.504/97).


Art. 323. Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inverídicos, em relação
a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o
eleitorado:
Pena: detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou pagamento de 120
(cento e vinte) a ISO (cento e cinqüenta) dias-multa.
Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é cometido pela imprensa,
rádio ou televisão.

Bem jurídico
Tutela-se a verdade dos fatos divulgados durante a propaganda. 0 doutrinador
Joel José Cândido ensina que o tipo protege a honra e a ética na propaganda. A
doutrinadora Suzana de Camargo Gomes diz que o tipo tutela a veracidade e a
autenticidade da propaganda eleitoral.

733
M arcos R a m ayana D ir e it o E l e it o r a l

Sujeito ativo
Crime comum. Os candidatos, cabos eleitorais, partidos políticos e coligações
através de seus representantes legais, o eleitor e qualquer pessoa do povo.

Sujeito passivo
0 Estado e indiretamente o candidato, partido político, coligação, pré-candidatos
e qualquer pessoa que tenha pretensões futuras para lançar determinada
candidatura. Admite-se a coautoria e participação dos jornalistas e terceiros.

Tipo objetivo
Ensina a doutrinadora Suzana de Camargo Gomes que
é possível precisar, no mínimo, três diferentes espécies de propaganda
eleitoral, sendo a primeira a chamada de "propaganda eleitoral
partidária", a segunda a denominada “propaganda pré-eleitoral ou
intrapartidária”, e, por fim, a terceira, que compreende a propaganda
eleitoral propriamente dita, ou seja, a propaganda stricto sensu ( G o m e s ,
2000, p. 149).
Diferentemente dos delitos contra a honra (calúnia, difamação e injúria
eleitorais), entendemos que o crime em comento aplica-se em relação às três
espécies de propaganda política (partidária, intrapartidária e eleitoral), pois o
legislador utilizou a elem entar "propaganda" em sentido amplo.
Cai a lanço notar a amplitude do alcance da norma penal eleitoral, pois atinge
indubitavelmente a propaganda política partidária com arrimo na Lei n2 9.096/95.
0 agente ativo valendo-se do horário eleitoral gratuito ou através da imprensa
escrita ou panfletagem poderá propalar fatos inverídicos capazes de exercer
influência perante o eleitorado. Ora, o eleitorado existe e se faz presente de forma
difusa ou transindividual dentro ou fora do tempo do calendário eleitoral reservado
à propaganda política eleitoral.
A propaganda política partidária deve ser reservada para: difundir programas
partidários; transm itir mensagens aos filiados; tratar da execução de programas;
informar sobre eventos; informar sobre as atividades congressuais do partido
político e divulgar a posição do partido quanto aos temas políticos da atualidade.
Nesse sentido é a norma expressa do art. 45 da Lei n2 9.096/95.
É vedada na propaganda política partidária a "divulgação da propaganda
de candidatos a cargos eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros
partidos" (Lei dos Partidos Políticos, art. 45, § l ô, III). Vê-se, portanto, que,
além do impedimento da utilização do horário eleitoral gratuito para difundir
inverdades capazes de exercer influência no eleitorado, é proibido o uso egoístico
ou personalista deste horário.

734
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r jm .e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

0 tipo penal alcança as três espécies de propaganda antes aviventadas


pela eminente doutrinadora. Ver comentários das “Disposições Preliminares"
(observações gerais sobre os crimes eleitorais).
Outrossim, a elementar "capazes de exercerem influência" é de alta subjetividade,
cuja valoraçao normativa não pode ser mensurada pelo juiz sem uma análise das
pesquisas eleitorais naquela comunidade, pois a presunção não é suficiente para
um decreto condenatório. As pesquisas seguem estritamente as normas eleitorais
disciplinadas na Lei ns 9.504/97 e nas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral.
Como há de se verificar, o crime será sempre sujeito a uma tipicidade aberta
que dependerá de uma rigorosa investigação pelo juiz quanto à "capacidade de
influência", pois a influência, como bem assinalou a doutrinadora Suzana de Camargo
Gomes, poderá ser negativa ou positiva (a primeira se dá através de conceitos morais
desabonadores, e a segunda por intermédio de elogios e menções desprovidas de
veracidade). Todavia, o legislador não se contentou com a prova da inveracidade
das divulgações. Indo além, mergulha-se em questionamento nebuloso e sujeito a
inseguranças na análise da completude da tipicidade e da eficaz aplicação da lei
penal ao caso concreto. Em suma: o agente poderá divulgar fato inverídico que não
exerce nenhuma influência perante a sociedade politicamente esclarecida, mas, nas
camadas sociais mais humildes e desprovidas de maiores informações, o impropério
poderá cair como uma premissa de efeito.
O eminente doutrinador Damásio de Jesus, em sua obra Direito Penal, faz menção
às lições de Asúa quanto aos tipos anormais, que obrigam o juiz a transpassar para
o juízo de valor. 0 juízo de valor da situação fática eleitoral deverá ficar provado. Em
igual sentido são as lições de Mezger.
Lembrado por Damásio de Jesus, Anibal Bruno já se preocupava com o crescente
aumento dos elementos normativos, pois eles diminuem a precisão típica.
O parágrafo único tratou de causa especial de aumento de pena. Aplica-se a regra
do art. 285 do Código Eleitoral.
Entendemos que o parágrafo único aplica-se para quaisquer meios de informação
ou divulgação que possam caracterizar-se como “imprensa”

Tipo subjetivo
Dolo.

Rem issão:
Lei ne 5.250/67 - Lei de Imprensa - arts. 15; 16.

735
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

23.3.34. Art. 324 - Cafúnia

Art. 324. Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de


propaganda, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena: detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e pagamento de 10
(dez) a 40 (quarenta) dias-multa.
§ l e Nas mesmas penas incorre quem, sabendo falsa a imputação, a
propala ou divulga.
§ 2fi A prova da verdade do fato imputado exclui o crime, mas não é
admitida:
I. se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido
não foi condenado por sentença irrecorrível;
II. se o fato é imputado ao presidente da República ou chefe de governo
estrangeiro;
III. se do crime imputado, embora em ação pública, o ofendido foi
absolvido por sentença irrecorrível.

Bem jurídico
Tutela-se a honra objetiva. A proteção é em relação à reputação pessoal ou
conceito que o indivíduo usufrui dentro da sociedade, especialmente perante o
eleitorado.

Sujeito ativo
Crime comum. Candidatos, terceiros, cabos eleitorais, pessoas comuns do povo.
Admite a legislação a prática do crime pela pessoa jurídica (partido político), ver
o art. 336 do Código Eleitoral.

Sujeito passivo
Estado, candidatos, partidos políticos, coligações, terceiros, inclusive doentes
mentais e menores. Admite-se a calúnia contra os mortos, v.g., na hipótese de
um candidato atingir a honra objetiva de outro candidato fazendo menção a um
parente já falecido. No entanto, o artigo em comento não possui regra similar ao art.
138, § 2 e, do Código Penal. Todavia, a hipótese seria de uma calúnia reflexa cujos
parentes vivos é que são ofendidos.
O crime é de dupla subjetividade passiva, pois o legislador consagrou o princípio
do interesse público e da verdade dos fatos durante as campanhas eleitorais.
Assim, o Estado é o sujeito passivo imediato, e a pessoa física ou jurídica, o sujeito
passivo mediato. Existe forte controvérsia na jurisprudência e doutrina quanto à

736
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r i m e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P enal E l eit o r a l __ _____________ C a p it u l o 2 3

possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito passivo do crime de calúnia. 0 STF


entendeu que não (RHC 64.860, DJU 30.4.1987, p. 7.650), admitindo a possibilidade
apenas no crime de difamação.

Tipo objetivo
A redação do tipo eleitoral é similar ao do crime de calúnia do art. 138 do Código
Penal. A imputação falsa se dá através de inculpação, incriminação ou arguição.
O termo "falsamente" deve ser referente a crime (eleitoral ou não), desde que
decorrente de lei em plena vigência ou que possua ultra-atividade (leis penais
temporárias).
A propagação ou divulgação (§ l 9) refere-se ao espalhar, assoalhar, difundir
ou apregoar. A doutrina entende que é suficiente que apenas uma pessoa tome
conhecimento da ofensa, pois já teria ocorrido o verbo "divulgar"
O crime de calúnia se dá em relação ao fato ou à autoria falsa do crime imputado.
Esta imputação deve ser falsa e outra pessoa sem ser o ofendido precisa saber.
Trata-se de crime comissivo. Pode o delito ser praticado por cartas, imprensa,
documentos, internet, verbalmente ou por qualquer outro meio.
Sustentamos a posição de que o delito só pode se aplicar aos crimes praticados
durante a propaganda política eleitoral. 0 elemento normativo do tipo "propaganda
eleitoral” refere-se à espécie, e não ao gênero "propaganda política ou simplesmente
propaganda", até porque o regramento penal eleitoral tem um propósito específico
que é a eleição (ver comentários ao tipo anterior).
Com efeito, a Lei n- 9.096/95, no art. 45, § 1-, 01, diz que a propaganda não
pode ser para divulgar interesses pessoais ou de outros partidos, nem tampouco
promover candidatos. Assim, o desvirtuamento da propaganda política partidária
encontra assento em norma de Direito Partidário, e não de Direito Penal Eleitoral.
Registramos posição da eminente doutrinadora Suzana de Camargo Gomes em
que admite que a calúnia eleitoral ocorra em qualquer tipo das três propagandas.
O STJ (CC 3.619-PR, ano 1992, 3a Seção, Relator Ministro José Dantas, julgado em
22.10.1992, p, 2 1 .0 8 5 ) entendeu pela não aplicação da calúnia eleitoral em período
diverso do calendário eleitoral, ou seja, no sentido anteriormente afirmado.
Acresça-se, além do já expendido, o fato de que durante a propaganda política
eleitoral, que se inicia a partir do dia 5 de julho do ano eleitoral (Lei ne 9.504/97
art. 36), os juizes eleitorais são designados para conhecer e processar as questões
referentes a propaganda irregular e conhecem, por extensão, os feitos de natureza
penal. Ora, a competência em primeiro grau de jurisdição é definida dentro do
calendário eleitoral. Terminada a propaganda política eleitoral, cessa a competência
dos juizes designados. Pergunta-se: quem julgaria os casos de calúnia na propaganda

737
M a r c o s R a m a w ja D ir e it o E l e it o r a l

intrapartidária ou partidária? Certamente que não seria o juiz eleitoral designado,


mas, sim, o juiz penal da Justiça Comum do local do fato. Obviamente que o local do
delito seria definido pelo art. 42 da Lei n2 5.250/67.
Por fim, os delitos de calúnia não se encontram apenas definidos no Código
Eleitoral ou Código Penal. A Lei nõ 7.170, de 14 de dezembro de 1983, que define
os crimes contra a segurança nacional no art. 26, trata do delito de calúnia contra
o presidente da República e parlamentares do Senado Federal e da Câmara dos
Deputados. Nesta hipótese, o crime é político, mas não eleitoral. Ou seja, pelo
art. 2 - da Lei, leva-se em conta a motivação do agente e a lesão real ou potencial aos
bens jurídicos (teoria mista implementada pelo eminente Nelson Hungria, sendo
originária do Direito Penal italiano).
Como se vê, o delito em apreço também encontra arrimo no Código Penal Militar.
E, ainda, a representação por ato de improbidade, sabendo que o representado é
inocente, enseja o crime tipificado no art. 19 da Lei n- 8.429/92.
Saliente-se ainda a falta de previsão do delito de denuncíação caluniosa eleitoral.
Ocorrendo a denunciação caluniosa, a capitulação dar-se-á no art. 339 do Código
Penal. No entanto, o juízo competente não é eleitoral. Assim, se porventura o juiz
penal desclassificar o fato para o delito de calúnia eleitoral, também deverá declinar
da competência para a Justiça Eleitoral (juiz da zona eleitoral do local do fato,
aplicando-se a regra do art. 70 do Código de Processo Penal de forma subsidiária,
segundo prevê expressamente o art. 3 6 4 do Código Eleitoral).
Faz-se mister ressaltar que as ofensas decorrentes de acirrada discussão nâo são
consideradas dolosas, conforme decisões jurisprudenciais (RT, 5 4 4 :3 8 1 ; JTACrímSP,
6 1 :294 ).

Exceção da verdade
Significa que o autor da calúnia poderá provar o que alegou (imputou).
O doutrinador Magalhães Noronha (2000, p. 118) leciona que não é possível
na exceção da verdade que se "... devasse, esquadrinhe ou vasculhe toda a vida do
ofendido...".

Não adm issão da exceção da verdade


No § 2-, I, se o ofendido estiver respondendo a uma ação penal privada, o ofensor
não poderá utilizar a exceção da verdade. Justifica-se a não admissão em razão do
princípio da disponibilidade da ação penal privada, pois cabe ao ofendido ajuizá-la
mediante queixa-crime.

738
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r i m e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

O eminente doutrinador Alberto Silva Franco esclarece:


Nos crimes de ação privada, deixa a lei ao arbítrio do ofendido a
iniciativa da ação penal, considerando que o strepitus judiai, ou seja, a
publicidade do processo judicial pode ser-lhe ainda mais danosa. Seria
evidente contradição permitir a lei a prova da verdade relativamente a
um crime, cuja investigação e processo faz depender dos interesses da
vítima ( F r a n c o , 1995, p. 1.773).
Ao ensejo da conclusão deste item, percebemos que o legislador, no § 2-, I,
não atentou para o fato de que as ações penais são públicas incondicionadas nas
hipóteses de crimes de calúnia, difamação e injúria eleitorais (CE, art. 355). Dessa
forma, entendemos que a alínea refere-se apenas às ações penais privadas do
Código Penal e da legislação extravagante que não disponha de modo contrário
quanto à legitimidade. Por exemplo, se Zeca é ofendido por uma difamação eleitoral,
o legitimado para a ação penal é o promotor eleitoral, sendo possível a prova da
verdade, caso João seja processado por crime de calúnia por ter imputado falsamente
o fato a Zeca. A exceção do inciso I não terá aplicabilidade em relação aos crimes
contra a honra de natureza eleitoral.
Quanto ao inciso II, protege a lei as funções e não as pessoas do presidente da
República ou do chefe de governo estrangeiro.
A eminente doutrinadora Suzana de Camargo Gomes, em sua obra Crimes
E leitorais, entende com total razão que,
Na atualidade, em que é admissível a reeleição do presidente da
República, é discutível se ainda deve persistir essa ordem de proibição
quanto à prova da veracidade dos fatos.
Ora, sendo atribuída ao presidente da República a responsabilidade
no que concerne a determinado fato criminoso, durante a propaganda
eleitoral ou visando fins de propaganda, se o fato imputado é
verdadeiro, tem-se que em nome do interesse público dominante
e da transparência, que devem nortear a atividade administrativa, a
verdade deve vir a lume, não sendo de se negar a possibilidade de ser
realizada essa prova, ainda mais porque em jogo está um cargo eletivo,
cujo titular é passível de reeleição (Gomes, 2000, p. 162).
De fato, conclui-se que a norma não foi recepcionada pelo instituto da reeleição
(CF, art. 14, § 5 S). Nesse sentido, Suzana de Camargo Gomes tem inteira razão, pois,
sendo possível ao presidente da República ser reeleito e participar dos programas
eleitorais e de toda a propaganda política eleitoral, deverá competir em igualdade
de condições com os demais candidatos, inclusive com a exposição de fatos de sua
vida pública e privada, sujeitando-se à admissão e ao processamento de exceções
da verdade com a preservação da isonomia subsumida na Carta Magna e em todo o
arcabouço legiferante eleitoral, como se vê, v.g., através das condutas vedadas aos

739
M a rc o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

agentes públicos (Lei n- 9.504/97, arts. 73 a 78). O sistema igualitário é a âncora


segura das disputas pela legítima contabilização dos votos e constitui-se na razão
primordial dos direitos públicos políticos subjetivos da cidadania.
Quanto ao chefe de governo estrangeiro, não sendo possível ao estrangeiro
ser candidato, uma vez que o art. 14, § 2-, da CF, veda-lhe o alistamento, ele
irremediavelmente estará sem uma condição de elegibilidade constitucional (CF,
art. 14, § 3 9, III) e, assim, a regra do inciso II é plenamente aplicável.
O inciso III tutela o valor e respeito à coisa julgada.

Questão processual
O Código Eleitoral, no art. 364, admite a aplicação subsidiária do Código de
Processo Penal. Trata-se de matéria de com petência quando o querelante tenha
foro por prerrogativa de função. Por exemplo, Zeca afirma falsamente no horário
eleitoral gratuito, durante o período da propaganda política eleitoral, que Ubaldo,
Deputado Federal, é corrupto, pois no dia 10 de maio de 2 0 0 5 desviou verba
pública destinada à construção de escolas municipais. Ubaldo provoca por notícia
criminal o promotor eleitoral com atribuições na zona eleitoral do iocal do fato
(CPP, art. 70) para denunciar Zeca. Zeca é denunciado (CE, a r t 355, ação penal
pública por crime eleitoral de calúnia), e a denúncia é recebida pelo juiz eleitoral
do local do fato (CPP, art. 70). Zeca poderá propor a exceção da verdade, que será
julgada pelo Tribunal Regional Eleitoral (órgão jurisdicional competente para
julgar deputado estadual por crime eleitoral, art. 96, III, da CF, embora o crime
imputado não seja de natureza eleitoral. Pode-se admitir, inclusive, posições no
sentido de que a exceção deveria ser julgada pelo Tribunal de Justiça). Todavia,
o Tribunal com petente é apenas para o julgamento (ver a regra do art. 102, I, b,
da CF). Dessa forma, o processamento da exceção e o juízo de admissibilidade
da mesma são do juiz eleitoral que está processando a denúncia recebida do
promotor eleitoral. Nesse sentido é o entendimento do STF e do STJ em julgados
não eleitorais, mas que ao nosso pensar são aplicáveis à hipótese (exceção da
verdade 541/DF, Rei. Ministro Sepúlveda Pertence, plenário 22.10.1992, DJU de
2.4.1993 - RTJ 151/17 e STJ, 5 a T., HC 3.458-1 PE, Rei. Ministro Assis Toledo, DJU
de 25 de setem bro de 1 9 9 5 , p. 3 1 .0 5 7 ).
Ainda quanto ao processamento, quando o acusado for responder a ação penal
(art. 359 do Código Eleitoral, após o interrogatório), deverá apresentar a exceção
de verdade. A apresentação ocorre nos autos principais e dentro de 2 (dois) dias
é oferecida a resposta do excepto (CPP, art. 523), e cabe ao excipiente a prova dos
fatos, seguindo o processo o seu rito. Observe-se que, se não for feita a prova, a
exceção é rejeitada. Nesse sentido, recairá uma presunção ju ris tantum quanto ao
delito de calúnia (STF, RTJ 145/546).
A exceção da verdade julgada procedente é causa de exclusão da tipicidade.

7 4 0
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r i m e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Tipo subjetivo
Dolo. O agente deve ter o propósito de ofender.

Jurisprudência
Habeas corpus - Acórdão 473 - Duas Estradas-PB 06.11.2003 - art. 324
CA. Relator Francisco Peçanha Martins. Relator designado. DJ - Diário de
Justiça, v. I, 28.11.2003, p. 139. Emente: Habeas corpus. Calúnia. Eleição
2000. Denúncia. Competência. Justíça eleitoral. Ordem denegada. Para
caracterização do delito previsto no art. 324 do Código Eleitoral, não se
impõe que o registro de candidatura tenha sido definitivamente deferido.
Habeas corpus ~ Acórdão 386. Porto Alegre-RS 28.3.2000 - art. 324
CA. Relator Maurício José Corrêa. Relator designado. DJ - Diário
de Justiça, 12.5.2000, p. 87. Ementa: Habeas corpus. Veiculação
de publicidade caluniosa. Delito tipificado no art. 324 do Código
Eleitoral. Materialidade. Autoria. Comprovação. 1. 0 rito especial do
habeas corpus não comporta revolvimento de fatos que, analisados
durante a fase instrutória, comprovaram a materialidade e autoria do
delito. 2. Esta corte é incompetente para apreciar questão relativa a
exacerbação da pena, que não foi debatida pelo tribunal a quo. Habeas
corpus parcialmente conhecido e, nesta parte, indeferido.
Agravo de Instrumento. Acórdão 1.251/MS 20.4.1999 - art. 324 CA.
Relator Eduardo Andrade Ribeiro de Oliveira. Relator designado. DJ -
Diário de Justiça, 14.5.1999, p. 132. Ementa: Crime Eleitoral. Calúnia.
Divulgação. Constatando da denúncia que o acusado procedeu à
distribuição de publicação, atribuindo falsamente a prática de crime à
vítima, justifica-se a condenação com base no art. 324, § I a do Código
Eleitoral, embora não demonstrado que tivesse ele providenciado a
feitura dos impressos, como também consignado na inicial. Incidência
do disposto no caput do art. 384 do Código de Processo Penal.

Remissões:
CP, art. 138.
Lei ne 5.250/67, art. 20.
Lei ns 7.170/83, art. 26.
Lei n- 8.429/92, art. 19,

23.3.35. Art. 325 - Difamação

Art. 325. Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de


propaganda, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

741
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Pena: detenção de 3 [três) meses a 1 (um) ano e pagamento de 5 (cinco)


a 30 (trinta) dias-multa.
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se o ofendido
é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

Bem jurídico
Tutela-se a honra objetiva, a reputação do sujeito no meio político, social e
familiar.

Sujeito ativo
Crime comum. Candidatos, terceiros, cabos eleitorais, pessoas comuns do povo.
Admite a legislação a prática do crime pela pessoa jurídica (partido político), ver
o art. 336 do Código Eleitoral.

Sujeito passivo
Ver comentários ao delito da calúnia. A pessoa jurídica é sujeito passivo na
medida em que goza de reputação. Assim, os partidos políticos podem ser atingidos.
Na hipótese de coligação são ofendidos todos os partidos que a integram.

Tipo objetivo
Imputar tem o significado de atribuir. É importante verificar que o fato imputado
pode ser falso ou verdadeiro. 0 crime não exige a falsidade da imputação como no
caso da calúnia.
A doutrina e jurisprudência admitem a imputação ofensiva referente à infração
penal, consequentemente, englobando a contravenção. Nesse sentido, Luiz Regis
Prado.
Quanto à propaganda, ver comentários ao delito anterior (calúnia).

Tipo subjetivo
Dolo. Exige-se a finalidade propagandista eleitoral e o anim us diffam andi.

Exceção da verdade
0 parágrafo único admite a exceção quando se tratar de funcionário público. O
conceito de funcionário público é atribuído pelos arts. 327 do Código Penal e 283
do Código Eleitoral (ver comentários ao art. 283).

742
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Na difamação, a exceção de verdade julgada procedente é causa de exclusão da


antijuridicidade. A falsidade da afirmação não é elementar do tipo. Seja o fato falso ou
verdadeiro não terá modificação na análise do tipo. Na calúnia é excludente de tipicidade.
Algumas observações devem ser aviventadas:
a) 0 agente deve ser funcionário público. O fundamento da admissão da exceção é que
os cidadãos podem fiscalizar o Poder Público e o exercício das funções públicas.
b) A admissão da exceção deve ser restrita ao exercício da atividade pública.
Lecionam Magalhães Noronha e Fernando Capez que se Zeca fala que o
servidor se embriaga no serviço é um feto ofensivo e que tem correlação com
as funções públicas, mas se a afirmação é referente à vida privada do servidor
não admite-se a exceção.
c) Na hipótese de o servidor ter deixado o cargo público. Os eminentes
doutrinadores Nélson Hungria e Magalhães Noronha entendem não ser
admissível a exceção. Em sentido contrário, admitindo a exceção é a posição de
Cezar Roberto Bittencourt. Alerta o mestre que deve-se verificar se a imputação
é referente a fato praticado à época em que o servidor estava no exercício de
suas funções, porque subsiste o direito à demonstração da verdade.
d) A exceção de verdade por delito de difamação é julgada pelo juiz da causa,
mesmo que tenha o excepto foro privilegiado. Nesse sentido, STF, RTJ 152112.
Em matéria eleitoral o juiz da causa pode ser o juiz eleitoral ou o Tribunal
Regional Eleitoral.

Rem issões:
CP, art. 139.
Lei n- 5.250/67, art. 21.
Lei ne 7.170/83, art. 26.

23.3.36. Art. 326 - Injúria

Art. 326. Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de


propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena: detenção até 6 ( s e i s ) meses, ou pagamento de 30 (trinta) a 60
(sessenta) dias-multa.

Rem issão:
CE, art. 284.

§ 1° O juiz pode deixar de aplicar a pena:


I. se o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
7 A?
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

II. no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.


§ 2- Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua
natureza ou meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e pagamento de 5 (cinco)
a 20 (vinte) dias-multa, além das penas correspondentes à violência
prevista no Código Penal.

Bem jurídico
Tutela-se a honra subjetiva, a dignidade do indivíduo. O conceito que o indivíduo
faz de si mesmo é atingido pelo ofensor.

Sujeito ativo
Crime comum. Candidatos, terceiros, cabos eleitorais, pessoas comuns do povo.
Admite a legislação a prática do crime pela pessoa jurídica (partido político), ver
o art. 336 do Código Eleitoral.

Sujeito passivo
Somente a pessoa física. A ofensa contra os partidos ou coligações é reputada
como sendo feita em relação ao presidente, delegado ou representante do comitê
partidário, ou seja, quem representa o partido político ou a coligação.

Tipo objetivo
A dignidade é a estima individual. É o valor social ou moral que o indivíduo
conquistou dentro do partido político, coligação, sociedade e família. O decoro é o
respeito.

Tipo subjetivo
Dolo de menosprezar. Dolo específico segundo a doutrina tradicional.

Perdão judicial
No § 1-, I, existe um revide à ofensa. Luiz Regis Prado diz que a razão de ser do
dispositivo é a justa causa. A provocação deve ser direta (na frente do agente) e
reprovável, ou seja, censurável.
O § 1-, II, trata da retorsão. O agente ofendido replica, retorna ou retruca a ofensa
por outra ofensa injuriosa, A doutrina não admite a reciprocidade de injúrias.
Destaca-se:

7 4 4
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Enquanto na retorsão a resposta ultrajante deve ser imediata (sme intervallo)


e motivada pela primeira injúria, na reciprocidade as injúrias não precisam ser
sucessivas, além de dispensarem o nexo causai. Ademais, se a retorsão exige que os
agentes se encontrem presentes, a reciprocidade prescinde deste requisito ( P r a d o ,
2002, p. 488).

Injúria real eleitoral


0 § 2 - tratou da injúria real eleitoral. É uma injúria especial, porque neste caso
o ofensor agride a integridade física ou a saúde do ofendido para ofender-lhe a
honra subjetiva. Vê-se que o agente ativo usa de tapas, socos, armas, facas etc. para
agredir o ofendido, mas com a finalidade de injuriá-lo, ou seja, visando ainda fins de
propaganda eleitoral ou na própria propaganda eleitoral.
Se o agente agride outra pessoa injuriando-a, mas sem finalidade eleitoral, mesmo
durante o período do calendário eleitoral, certamente não estará incurso no crime
eleitoral. Poderá responder por vias de fato (LCP, art. 21) ou lesão corporal (CP, art.
129). O crime de injúria real eleitoral exige a concomitância entre a ação de agredir
e ofender com o dolo específico de exteriorizar uma propaganda negativa sobre
a pessoa, menosprezando-a ou ultrajando-a durante o embate eleitoral. Se estes
elementos não forem detectados, não haverá este crime de injúria real eleitoral.
Cai a lanço notar o fato de que o legislador eleitoral utilizou tipicidade remetida no
preceito secundário da norma do § 2 Ü, “além das penas correspondentes à violência
prevista no Código Penal" A técnica da tipicidade remetida causa confusão, porque
sugere a incidência de concurso m aterial (CP, art. 69) entre o crime de injúria e o
crime de lesão corporal ou a contravenção de vias de fato.
Leciona Cezar Roberto Bitencourt que:
Tanto a violência quanto as vias de fato necessitam ter sido empregadas
com o propósito de injuriar, caso contrário subsistirá somente a ofensa
à integridade ou à incolumidade pessoal. A distinção entre uma figura
delituosa e outra reside exatamente no elemento subjetivo do tipo que
distingue uma infração da outra, ainda que o fato objetivo seja o mesmo
( B it e n c o u r t , 2 0 0 2 , p . 5 5 0 ) .

Registre-se, ainda, a inexistência no Código Eleitoral da denominada injúria


preconceituosa do art. 140, § 3®, do Código Penal. Se durante a propaganda política
eleitoral, e com a finalidade eleitoral, o agente atinge a raça, cor, etnia, religião ou
origem de outro candidato, responderá pelo crime do Código Penal comum. Nessa
hipótese, se a ofensa injuriosa for através dos meios de comunicação, inclusive a
internet, deverá responder pelo delito do art. 20, § 2 S, da Lei ne 7.716, de 5 de janeiro
de 1989 (Lei de Preconceito Racial). Nestes casos, o dolo específico ou finalidade
de atingir a honra na propaganda política eleitoral deve ser absorvido (princípio
da absorção) pelo delito de maior gravidade social, ou seja, o preconceito racial.

745
M a r c o s Ram ayana D ir e it o E l e it o r a l

Não há como adotar o concurso entre a injúria do capu t ou a real e mais o crime de
injúria real do Código Penal, sob pena de bis in idem, nem tampouco sugestionar-se
pela atipicidade da conduta se subsiste na ordem jurídica outro bem jurídico moral
diretamente violentado pela conduta discriminatória. De toda sorte, a competência
para o processo e julgamento do caso concreto não será da Justiça Eleitoral.

Rem issões:
CP, art. 140.

2 3 .3 .3 7 . Art. 327 - C au sas de aum ento de pena

Art. 327. As penas cominadas nos arts. 324, 325 e 326 aumentam-se de
1/3 (um terço), se qualquer dos crimes é cometido:
I. contra o presidente da Republica ou chefe de governo estrangeiro;

Ensina Magalhães Noronha, in v erbis:


Tem o dispositivo em consideração, em primeiro luga£ a pessoa do
presidente da República. Desnecessário, por certo, ressaltar a razão
fundamental do aumento de pena. Trata-se do supremo magistrado
da Nação, cuja honra deve ser ciosamente resguardada. Tutela-se
não só sua vida funcional, como a particular, conquanto leis outras,
como a da Imprensa, se ocuparem igualmente desse objeto. Por sua
qualidade, pelas elevadas funções que exerce o presidente, pode dizer-
se que a ofensa à lei irrogada não deixa de refletir em todos os cidadãos
( M a g a l h ã e s N o r o n h a , 2000, pp. 132-133).

Nos comentários ao a r t 324, § 2 -, II, do Código Eleitoral exteriorizamos em


comum acordo o entendimento da não recepção da norma em razão do instituto da
reeleição.
Desta forma, em harmonia com o que já foi dito, a presente causa especial de
aumento de pena também não foi recepcionada pelo art. 14, § 5fi, da CF (reeleição),
exceto quando o presidente da República em exercício for atingido pela ofensa
e não for candidato à reeleição, pois, caso contrário, violaria-se o princípio da
culpabilidade e razoabilidade na aplicação da pena, especialmente desigualando
candidatos durante as campanhas eleitorais.
Em relação ao chefe de governo estrangeiro, a norma eleitoral seguiu o Código
Penal comum protegendo não a pessoa da autoridade, mas as relações internacionais
e a higidez do processo democrático com a evitabilidade do rompimento da
cooperação entre os povos, aliás princípio com subsunção constitucional.

II. contra funcionário público, em razão de suas funções;

7 4 6
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o bre os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Tutela-se a função pública, e não simplesmente a pessoa do servidor público.


Se o delito for praticado na presença do funcionário o crime não será eleitoral,
mas, sim, de desacato, previsto no art. 331 do Código Penal, pois a legislação eleitoral
não tipifica este crime. Neste caso, o agente está atingindo a Administração Pública.
A competência para processo e julgamento do crime de desacato não é da }ustiça
Eleitoral, além de ser delito de menor potencial ofensivo, segundo nova definição da
Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei nô 10.259/ 01).
O doutrinador Heleno Fragoso salienta que o delito subsiste se a ofensa for em
razão da função pública.

III. na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação


da ofensa.

O legislador faz menção à ofensa que foi propalada para um número indeterminado
de pessoas. Trata-se de tipicidade porosa, pois o alcance da elementar "várias
pessoas" é de ampla subjetividade.
Com esta causa de aumento de pena, tutela a lei o fato de a ofensa causar maior
dano social ao interessado na disputa do pleito eleitoral.
A causa especial de aumento de pena aplica-se aos crimes cometidos por qualquer
meio de comunicação, inclusive Internet.

23.3.38. Art. 330 - Reparação do dano

Art. 328. (Revogado pela Lei n9 9.504/97).


Art. 329. (Revogado pela Lei n9 9.504/97).
Art. 330. Nos casos dos arts. 328 e 329, se o agente repara o dano antes
da sentença final, o juiz pode reduzir a pena.

O artigo é inaplicável diante da revogação dos arts. 328 e 329 pelo art. 107 da Lei
ne 9.504, de 30 de setembro de 1997.

23.3.39. Art. 331 - Jnutüização da propaganda

Art. 331 Inutilizar, alterar ou perturbar meio de propaganda devidamente


empregado:
Pena: detenção até 6 (seis) meses ou pagamento de 90 (noventa) a 120
(cento e vinte) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a igualdade e equilíbrio da exteriorização da propaganda.

747
M arcos R am ayana
D ir e it o E l e it o r a l

Sujeito ativo
Crime comum. Os candidatos, pré-candidatos, eleitores, servidores públicos
eleitorais ou não. Ver o art. 283 do Código Eleitoral.

Sujeito passivo
0 Estado, candidatos, pré-candidatos, partidos políticos ou coligações, inclusive
terceiros contratados para confeccionar ou produzir os elementos necessários ao
acondicionamento ou fabricação dos produtos empregados na propaganda.
Se um empresário responsável pela exploração e aluguel de espaços de ou tdoors
aluga para um partido político seu painel, a eventual inutilização do m esm o acarreta
a responsabilidade civil contra o infrator causador do dano.

Tipo objetivo
0 crime é uma espécie de dano especial eleitoral, pois além de ser violada a
propaganda legal empregada (a propaganda irregular não é tutelada pela norma), o
agente inutiliza ou altera o meio empregado, ou melhor escolhido para a divulgação
da propaganda. 0 meio empregado poder ser: outdoors, painéis eletrônicos, cartazes,
faixas, tabuletas, fitas de vídeo etc.
0 verbo "perturbar" atinge mais a propaganda sonora, usada através de alto-
falantes, microfones e em comícios.
A inutilização ou alteração podem ocorrer por pichação ou qualquer forma que
inviabilize a divulgação da propaganda.
A elem entar "propaganda" refere-se à propaganda política partidária,
intrapartidária ou política eleitoral. Ver o art. 36 da Lei n~ 9.504/97 (início do prazo
da propaganda política eleitoral).

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, art. 284.

23 .3 .4 0 . Art. 332 - Impedir a propaganda

Art. 332. Impedir o exercício de propaganda:


Pena: detenção até 6 (seis) m eses e pagamento de 30 (trinta) a 60
(sessenta) dias-multa.

74 8
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ítu lo 23

Bem jurídico
Tutela-se a igualdade e equilíbrio da exteriorização da propaganda.

Sujeito ativo
Crime comum. Os candidatos, pré-candidatos, eleitores, servidores públicos
eleitorais ou não. Ver o art. 283 do Código Eleitoral.

Sujeito passivo
É idêntico ao tipo anterior.

Tipo objetivo
O impedimento é um embaraço, oposição, tolhimento, vedação, obstrução ou
proibição da propaganda.
A propaganda referida no tipo penal está no sentido amplo, genérico e, portanto,
abrange a partidária, intrapartidária e eleitoral.
O art. 41 da Lei nfi 9.504/97 veda a aplicação de multa ou o cerceamento da
propaganda, sob a alegação do poder de polícia. Ambos os dispositivos devem ser
interpretados de forma sistêmica, pois a propaganda irregular não pode ser tolerada
ou admitida, especialmente a propaganda criminosa.
O poder de polícia deve ser exteriorizado para impedir a propaganda irregular
ou criminosa, muitas vezes camuflada sob o manto da legalidade e plena liberdade
de vinculação.
O poder de polícia eleitoral cabe aos juizes da propaganda eleitoral, aos mesários
e ao promotor eleitoral.
A propaganda não pode ser abusiva do poder econômico ou político, nem
tampouco refletir captação ilícita de sufrágio. Tenha-se presente que no âmbito
do processo eleitoral contencioso os legitimados (Ministério Público, partidos
políticos, coligações e candidatos) podem valer-se da ação de investigação judicial
eleitoral, da ação de captação de sufrágio, das representações e reclamações, do
direito de resposta e medidas cautelares.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, art. 284.
Lei nQ9.504/97, art. 41.

749
M arcos R a m a y a n a __________________ D ir e it o E l e it o r a l

2 3 .3 .4 1. Art. 334 - Prêm ios e so rteio s. “ Bingo eleitoral '

Art. 333. (Revogado pela Lei n2 9.504/97).


Art. 334. Utilizar organização comercial de vendas, distribuição de
mercadorias, prêmios e sorteios para propaganda ou aliciamento de
eleitores:
Pena: detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e cassação do registro se
o responsável for candidato.

Bem jurídico
Tutela-se a igualdade na propaganda política partidária, intrapartidária ou
eleitoral. A proteção se dá em relação à propaganda lícita com a preservação da
lisura eleitoral

Sujeito ativo
Trata-se de crime comum. Candidatos, pré-candidatos, aspirantes ao pleito
eleitoral, pessoas comuns do povo, empresários etc.

Sujeito passivo
Estado, eleitor, partido político, coligação ou o candidato.

Tipo objetivo
A utilização é o aproveitamento, o lucro significa levar uma vantagem ou ganhar
alguma coisa.
A organização comercial de vendas abrange as entidades filantrópicas,
assistenciais, fundações, desde que realizem a captação ilícita de votos através da
distribuição de mercadorias (rádios de pilha, brindes diversos, ventilador, material
de construção), prêmios e sorteios diversos. A hipótese mais comum é promoção
de bingos em cidades, quando os candidatos distribuem números aos eleitores
e, em seguida, sorteiam os números distribuindo as mercadorias e prometendo
melhorias de vida e condições sociais. Nesta conduta, o candidato poderá ainda ser
responsabilizado pelo abuso do poder econômico (LC ne 64/90, art. 22).
Reconheceu-se o delito nos seguintes casos: distribuição de cupons para
sorteio de cesta de alimentos (TRE/SP-RC 103.855, Rei. Maurício Ferreira Leite);
distribuição de bicicletas (TRE/SP-RC 111.150, Rei. Celso Pimentel em 7.11.1991);
e distribuição de camisetas para motociclistas com o custeio de combustível (TRE/
SP-RC 117.779, Rei. Ney de Mello Almada).

750
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r i m e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ítu lo 23

0 delito tem correlação direta com a captação ilícita de sufrágio (Lei n° 9.504/97,
art. 41-A) e enseja as sanções administrativas eleitorais como a multa, cassação do
registro e diploma, na forma legal.
Se as empresas doarem aos candidatos mercadorias para a realização de um
bingo, estarão contribuindo para a prática do ilícito penal e sujeitando-se às sanções
da Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990 (art. 22 e ss.), além de o fato
caracterizar irregularidade na prestação de contas da campanha e constituir-se em
ato de improbidade administrativa eleitoral.
O delito tem correlação com o crime do art. 299 do Código Eleitoral. Poderá
haver concurso material ou formal de crimes quando o agente, além de promover
o bingo, distribui a mercadoria em troca do voto. O delito do art. 334 é de lesão
ou mera conduta, bastando a realização do evento para a sua consumação, pois o
tipo prevê a modalidade de aliciar. Se o agente alicia as pessoas para o bingo e,
depois, ainda distribui a mercadoria, responde também pelo delito do art. 299 do
Código Eleitoral, pois captou sufrágio de forma ilícita em troca de votos. Todavia,
pode-se entender que o delito do art, 334, na modalidade de distribuir, absorveria o
delito do art. 299. No entanto, apenas a hipótese concreta propiciará o exame mais
adequado da tipicidade.

Tipo subjetivo
Dolo. O erro de proibição invencível poderá excluir a culpabilidade pela ausência
da potencial consciência da ilicitude.

Pena de cassação do registro


0 eminente doutrinador Joel }osé Cândido entende que:
A pena de cassação do registro, quando o agente for candidato, não
é possível de ser aplicada após a eleição, porquanto a partir dessa
fase, não existe mais registro, mas eleitos ou não eleitos, além de real
expectativa de assunção ao mandato dos primeiros. Ademais, lei penal
incrimínadora não autoriza interpretação extensiva ( C â n d i d o , 2000,
p. 310).
A pena de cassação do registro é sanção, também obtida no âmbito das ações
de impugnação ao registro (LC n- 64/90, art. 3a); ação de captação de sufrágio (Lei
n9 9.504/97, art. 41-A); e na ação de investigação judicial eleitoral (LC n- 64/90, art. 22).

Transação penal
Quanto à aplicação do instituto despenalizador da transação penal para este
crime eleitoral que possui sistema punitivo diferenciado e especial, destacamos o
respeitável acórdão do Ministro Sálvio de Figueiredo,

751
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Resolução ns 21.294, de 7.11.2002. Processo Administrativo 18.956/


DF. Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Ementa: Infrações penais
eleitorais. Procedimento especial. Exclusão da competência dos juizados
especiais. Termo circunstanciado de ocorrência em substituição a
auto de prisão. Possibilidade. Transação e suspensão condicional do
processo. Viabilidade. Precedentes. I. As infrações penais definidas no
Código Eleitoral obedecem ao disposto nos seus arts. 355 e seguintes
e o seu processo é especial, não podendo, via de conseqüência, ser
da competência dos juizados especiais a sua apuração e julgamento.
II. O termo circunstanciado de ocorrência pode ser utilizado em
substituição ao auto de prisão em flagrante, até porque a apuração de
infrações de pequeno potencial ofensivo elimina a prisão em flagrante.
III. O entendimento dominante da doutrina brasileira é no sentido de
que a categoria jurídica das infrações penais de pequeno potencial
ofensivo, após o advento da Lei ns 10.259/01, foi parcialmente
alterada, passando a ser assim consideradas as infrações com pena
máxima até dois anos ou punidas apenas com multa. IV. É possível, para
as infrações penais eleitorais cuja pena não seja superior a dois anos,
a adoção da transação e da suspensão condicional do processo, salvo
para os crimes que contam com um sistema punitivo especial, entre
eles aqueles a cuja pena privativa de liberdade se cumula a cassação
do registro se o responsável for candidato, a exemplo do tipificado no
art. 334 do Código Eleitoral. DJ de 7.2.2003.
Em contrapartida, enfrentamos esta questão no livro Abuso de Autoridade e
Tortura. Ao nosso pensar:
Os crimes dispostos nessa lei se sujeitam ao Juizado Especial Criminal,
em razão da incidência da Lei n9 10.259, de 12.7.2001, que trouxe
nova definição de infração de menor potencial ofensivo para o âmbito
da Justiça Federal, Vários juristas entendem que é aplicável essa lei
(10.259/01) na esfera da Justiça Estadual, v.#., Luiz Flávio Gomes,
Alberto Silva Franco, Fernando Capez, Damásio de Jesus e César
Roberto Bittencourt.
- A Comissão Estadual dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Rio de
Janeiro) entendeu que: “Enunciado 01 ~ Aplica-se ao juizado Especial
Criminal Estadual o conceito de infração de menor potencial ofensivo,
definido no art. 2-, parágrafo único, da Lei ne 10.259/01 (delitos a que
a lei comine pena não superior a dois anos).”
- Outrossim, entendeu a douta Comissão que: "Não estão mais
excluídos da definição de infração de menor potencial ofensivo os
crimes para os quais a lei preveja procedimento especial, facultado
que é ao juiz agir de acordo com os arts. 77, § 2e, e 66, parágrafo
único, da Lei n9 9.099/95."

752
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C apítulo 2 3

-A s novas regras dispostas na Lei n2 10.259/01 são retroativas, art. 52,


XL, da Carta Magna, pois inegavelmente possuem natureza penal e seus
reflexos são benéficos.
- Na hipótese de conexão com crimes mais graves, o caso deve ser
julgado fora do âmbito dos juizados Especiais Criminais. Nesse sentido,
o Enunciado 04 (Enunciado Jurídico consolidado - Diário Oficial do
Estado do Rio de Janeiro - Poder judiciário ~ 18 de janeiro de 2002, p.
2) ( R a m a y a n a , 2003),
Sobre o assunto são valiosas as lições de Ada Pellegrini Grinover, Antonio
Magalhães Gomes Filho, Antonio Scarance Fernandes e Luiz Flávio Gomes, in
expressi verbis:
Haverá discussão, com certeza, sobre se tais delitos entram ou não no
novo regime jurídico das infrações de menor potencial ofensivo.
Aliás, já se salientou a incompatibilidade entre o sistema punitivo da lei
de abuso de autoridade (Lei ne 4.898/65, art. 6°) e a transação penal.
Impõe-se considerar a seriedade e a gravidade dos delitos de abuso de
autoridade, que afetam os direitos humanos mais fundamentais.
Mão é fácil conciliar uma ofensa grave à liberdade (ou ius libertatis)
ou ao domicílio alheio com a noção de infração de menor potencial
ofensivo.
Antes do advento da Lei ne 10.259/01, o sistema dos juizados não se
aplicava aos crimes de abuso de autoridade em razão de contarem com
o procedimento especial (STF, HC 11.216, Rei. Sepúlveda Pertence, DJU
de 21,8.1998, p. 4); agora, depois da citada lei, continuaria impossível
essa incidência, porque â Lei ne 4.898/65 prevê um específico sistema
punitivo (inconciliável com os juizados).
Os argumentos que acabam de ser lançados impressionam, mas não
seriam absolutamente inabaláveis pelo seguinte: por força do § 4S do
art. 62 da Lei ne 4.898/65, “as penas previstas no parágrafo anterior -
multa, detenção, perda de cargo e inabilitação - poderão ser aplicadas
autônoma ou cumulativamente".
Como se vê, o sistema punitivo previsto para os delitos de abuso de
autoridade é especial (não se pode questionar), mas não é inflexível.
Leia-se: a pena de perda do cargo não deve ser imposta sempre. Cabe
ao juiz, em cada caso concreto, decidir qual ou quais penas irá fixar.
Rege aqui o princípio da suficiência (e o da proporcionalidade). Cada
um deve ser punido na medida de sua culpabilidade.
Ora, se na própria cominação legal nada existe de inflexível, isto é, se
cabe ao juiz, em cada caso concreto, decidir qual a resposta ou quais
as respostas penais mais adequadas, então impõe-se concluir que,
doravante, dentre todas as possibilidades com as quais ele conta, nos
delitos que estamos examinando, uma delas (ou, melhor, mais uma

753
M arcos R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

delas) é a transação penal, afastando-se, evidentemente, a possibilidade


de se transacionar com a perda do cargo (que, repita-se, é uma pena
que nem sempre deve ter incidência).
Em fatos graves, gravíssimos, certamente o juiz refutará a transação
penal (nos termos do art. 76, § 2-'), por não ser ela suficiente para
reprovar a culpabilidade do agente. Isso ocorrendo, instaura-se o
processo criminal e no final o juiz imporá as sanções cabíveis.
De outro lado, observe-se que o Código Penal (art. 92) pode servir de
parâmetro para o juiz e este diploma legal só permite a pena de perda
do cargo quando a privativa de liberdade alcance pelo menos um ano
( G r i n o v e r et al, 2002, pp. 379-380).

Percebe-se pelas lições acima expendidas que no delito do art. 334 do Cóáigo
Eleitoral, mesmo sendo delito de menor potencial ofensivo, não é cabível a transação
penal, porque adotou o legislador eleitoral a regra da cumulatividade com a pena
de cassação do registro; portanto, ao contrário da Lei de Abuso de Autoridade,
o sistema punitivo especial deste tipo eleitoral obriga a imposição da norma. O
questionamento pode residir na seara da violação dos princípios da razoabilidade
ou proporcionalidade e da culpabilidade.
A pena de cassação do registro é sanção obtida no âmbito das ações de impugnação
ao registro (LC n- 6 4 /9 0 , art. 3 e); ação de captação de sufrágio (Lei n~ 9.504/97,
art. 41-A); e na ação de investigação judicial eleitoral (LC ne 64/90 art. 22). Ou seja,
nas ações não penais eleitorais, podendo coexistir interdependências de provas
comuns, resvalando-se a questão para a seara das prejudiciais, com a aplicação da
regra do art. 92 do Código de Processo Penal.
Em conclusão: é incabível a transação penal em relação ao delito do art. 334
do Código Eleitoral, pois, embora seja dotado de sistema punitivo especial e este
fato, por si só, não seja um óbice intransponível à aplicação da transação penal
nos moldes legais, resvala-se para a cumulação da pena privativa de liberdade "e”
cassação do registro.

Jurisprudência
Acórdão 317 - Habeas corpus 317 - Jateí/MS. DJ de 22.5.1998. Relator
Ministro Maurício Corrêa. Impetrante Alice Teruya Marques. Pacientes
José Dias e outros. Órgão coator - Tribunal Regional Eleitoral/MS.
Ementa: Habeas corpus. Lei n9 9.099/95, art. 89: suspensão condicional
do processo. Lex mitior. Retroatividade. 1. A norma do art. 89 da Lei
ne 9.099/95 introduziu no sistema jurídico a suspensão condicional do
processo, instituto que se traduz na utilização da providência de ordem
processual que pode conduzir à conseqüência penal material - extinção
da punibilidade. 2. Eventual conseqüência faz surgir a configuração
de superveniência da lex mitior, aplicável retroativamente ao agente

7S4
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r i m e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C apítulo 2 3

ex vi do art. 5S, XL, da Constituição Federal. 2.1. A retroatividade da


Lei n5 9.099/95 está limitada aos processos em curso à época da sua
entrada em vigor. Habeas corpus deferido para, anulando o acórdão
condenatório, permitir que o Ministério Público se manifeste sobre o
sursis processual.
Respe. - Recurso Especial Eleitoral - Acórdão 13.509/SP. 29.6.1993
- art. 334 CA. Relator Marco Aurélio Mendes de Farias Mello. Relator
designado. DJ - Diário de Justíça, 9.8.1993, p. 15.215. RJTSE - Revista
de Jurisprudência do TSE, v. 5, t. 4, p. 194. Ementa: Crime Eleitoral.
Propaganda ou aliciamento de eleitores - art. 334 do Código Eleitoral.
Abrangência. O art. 334 do Código Eleitoral encerra quatro tipos
penais, todos ligados à utilização de meios objetivando a propaganda
ou o aliciamento de eleitores: A) valer-se de organização comercial
de vendas; B) Distribuir mercadorias; C) Distribuir prêmios e D)
Proceder a sorteios. Os três últimos não pressupõem necessariamente,
o envolvimento de organização comercial de vendas, podendo resultar
de atividade desenvolvida por qualquer outra pessoa jurídica ou
natural, como ocorre quando a distribuição de mercadorias seja feita
por entidade assistencial, colocando-se nas cestas a fotografia de certo
candidato. Habeas corpus. Concessão de ofício. Recurso especial não
conhecido. Efeito. 0 fato de o Tribunal Superior Eleitoral não conhecer
do recurso especial, no que interposto por dissenso de julgados ou
por violência à lei, não afasta a observância do § 29 do art. 654 do
Código de Processo Penal: "Os juizes e os tribunais têm competência
para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de
processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer
coação ilegal."

Remissões:
CE, art. 299.
Lei n9 9.504/97, art. 41-A.

2 3 .3.42. Art. 335 —Propaganda em iíngua estrangeira

Art. 335. Fazer propaganda, qualquer que seja a sua forma, em língua
estrangeira:
Pena: detenção de 3 (três) a 6 (seis) meses e pagamento de 30 (trinta)
a 60 (sessenta) dias-multa.
Parágrafo único. Além da pena cominada, a infração ao presente artigo
importa na apreensão e perda do material utilizado na propaganda.

755
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Bem jurídico
Tutela-se a soberania nacional. Nesse sentido, dispõe o art. I 9,1, da CF:

Art. 1- A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
1. a soberania;

A proteção impõe-se em razão da evitabiíidade da influência do financiamento


das campanhas eleitorais por entidade ou governo estrangeiro. Os arts. 3 1 ,1, da Lei
n- 9.096/95, e 2 4 ,1, da Lei n9 9.504/97, vedam o recebimento direto ou indireto de
doação, ou dinheiro, ou estimável em dinheiro, inclusive publicidade de qualquer
espécie.

Sujeito ativo
Qualquer pessoa, não apenas o estrangeiro (CF, art. 14, § 29 - o estrangeiro não
pode alistar-se). É crime comum.

Sujeito passivo
Estado e os partidos políticos, coligações e candidatos atingidos pelo
desvirtuamento do uso da língua nacional (CF, art. 13): além do perigo existente
quanto ao financiamento estrangeiro nas campanhas eleitorais.

Tipo objetivo
Os eminentes doutrinadores Fávila Ribeiro J o e l José Cândido e Suzana de Camargo
Gomes entendem que o delito atinge a soberania nacional e a independência do país.
Na verdade, o delito é uma modalidade especial de crime político, e não de crime
eleitoral, pois sua tipicidade deveria ser subsumida na Lei de Segurança Nacional
(Lei dos crimes políticos no Brasil), Lei n9 7.170/83, pois o art. I 9 diz: "Esta Lei
prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão: I. a integridade territorial
e a soberania nacional; (...)" Como se vê, a legislação penal eleitoral disposta no
Código Eleitoral é anterior ao diploma tipificador dos crimes políticos, e reflete
uma época histórica em que a construção pátria de uma teoria diferenciadora entre
delito político e eleitoral era extremamente tênue. Dessa forma, permanece na lei
eleitoral como fato ilícito de atentado contra a propaganda política, intrapartidária
ou eleitoral o crime do art. 335.
Prevê a lei como sanção penal cumulativa a perda do material usado. Trata-se,
nesta hipótese, de delito não transeunte (que deixa vestígios) e enseja o exame de
corpo de delito, com base no art. 158 do Código de Processo Penal.

756
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C apítulo 2 3

Destaca-se, ainda, vedação expressa no Estatuto do Estrangeiro, Lei n2 6.815/80,


em relação ao exercício de atividade política por estrangeiro.

Art. 107.0 estrangeiro admitido no território nacional não pode exercer


atividade de natureza política, nem se imiscuir, direta ou indiretamente,
nos negócios públicos do Brasil, sendo-lhe especialmente vedado;
I.organizar, criar ou manter sociedade ou quaisquer entidades de caráter
político, ainda que tenham por fim apenas a propaganda ou a difusão,
exclusivamente entre compatriotas, de ideias, programas ou normas de
ação de partidos políticos do país de origem;
II.exercer ação individual, junto a compatriotas ou não, no sentido de
obter, mediante coação ou constrangimento de qualquer natureza,
adesão a ideias, programas ou normas de ação de partidos ou facções
políticas de qualquer país;
Í1L organizar desfiles, passeatas, comícios e reuniões de qualquer
natureza, ou deles participar, com os fins a que se referem os itens I e
II deste artigo.
Parágrafo único. 0 disposto no caput deste artigo não se aplica ao
português beneficiário do Estatuto da Igualdade ao qual tiver sido
reconhecido o gozo de direitos políticos.

Tipo subjetivo
Dolo.

Jurisprudência genérica sobre a propaganda


Acórdão 348 - Representação 348 - Brasília/DF. DJ de 1.4.2002. Relator:
Ministro Garcia Vieira. Representante - Diretório Nacional do PSDB.
Representado: Diretório Nacional do PSC. Ementa: Propaganda partidária.
A veiculação de críticas, ainda que contundentes e consideradas
pessoalmente ofensivas, à atuação do governante, ao modelo de
administração ou à forma de condução da política governamental,
materializando a posição do partido em relação a esses, segundo a
orientação que fundamenta o ideário da agremiação política, não
caracteriza desvio das finalidades impostas para a propaganda partidária,
a ensejar a aplicação da sanção prevista no art. 45, § 22, da Lei n9 9.096/95.
Afirmações tidas como de cunho antidemocrático e de discriminação
religiosa. Não caracterização. Improcedência da representação.

Remissão:
Lei n- 6.815/80 - Estatuto do Estrangeiro.

757
M a r c o s R am ayana D ir e i t o E l e it o r a l

23.3.43. Art. 336 - S u sp en são de atividade eleitoral

Art. 336. Na sentença que julgar ação penal pela infração de qualquer
dos arts. 322, 323, 324, 325, 326, 328, 329, 331, 332, 333, 334 e 335,
deve o juiz verificar, de acordo com o seu livre convencimento, se o
Diretório local do partido, por qualquer dos seus membros, concorreu
para a prática de delito, ou dela se beneficiou conscientemente.
Parágrafo único. Nesse caso, imporá o juiz ao Diretório responsável
pena de suspensão de sua atividade eleitoral, por prazo de 6 (seis) a 12
(doze) meses, agravada até o dobro nas reincidências.

A regra adotada foi bem analisada pela doutrinadora Suzana de Camargo Gomes
(2000, pp. 183-185). Destacou a autora que o legislador criou uma responsabilidade
penal da pessoa jurídica, ressaltando que o Código Eleitoral "nasceu avançado para
a época, pois, em 1965, ao entrar em vigor, já continha em seu bojo uma hipótese
de responsabilidade penal da pessoa jurídica, fato esse que em outras áreas conta,
ainda hoje, com uma resistência quanto à sua aceitação”
O eminente doutrinador Édis Milaré (2001), ao tratar da responsabilidade penal da
pessoa jurídica, salienta que outros países admitem esta responsabilidade: Austrália,
Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia e Venezuela. Refere-se o autor aos crimes contra
o meio ambiente ou ambientais. A CF foi expressa (art. 225, § 39) e a Lei n- 9.605/98
tratou, inclusive, das espécies de sanção penal, como multa e interdição das atividades.
Cumpre enfatizar que, ao admitir-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica
(partido político), esta não se estende à coligação partidária, mas apenas a cada partido
integrante da coligação, sob pena de exegese extensiva, vedada em matéria penal.
Outrossim, a responsabilidade da pessoa jurídica deve emergir da constatação
da vantagem obtida pela mesma, pois a lei condiciona esta responsabilidade ao
benefício consciente. Ora, se ficar provado que o partido político cuja amplitude
é de nível nacional (Lei nQ 9.096/95, art. 5 9) não foi beneficiado, a pena só
poderá ser individualizada em relação aos membros do Diretório, porque a mens
legislatoris, certamente, foi a de atingir a responsabilidade do partido político,
e não, simplesmente, a do órgão do partido, ou seja, o Diretório. Dessa forma, o
delito deverá satisfazer o interesse do partido político globalmente considerado,
separando-se o benefício individualmente auferido pela pessoa física (autora
do crime) e pela pessoa jurídica (autora do crime), sob pena de admitir-se uma
coautoria lastreada em pura responsabilidade penal objetiva com a violação do
princípio da culpabilidade, pois é impossível a aplicação de pena em relação a
associação meramente causai. O resultado imputado ao agente deve ser consectário
de dolo ou culpa, o que a atmosfera da responsabilidade penal da pessoa jurídica,
por si só, não abrange. Assim, frisamos renomados autores que não admitem a
responsabilidade penal da pessoa jurídica, a saber: Rogério Greco, René Ariel Dotti,

758
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r h os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ítu lo 23

Nilo Batista e Heleno Fragoso. Contra: Édis Milaré e Gilberto Passos de Freitas (em
relação aos crimes ambientais).
A admissão da regra da responsabilidade penal dos partidos políticos tornou-se,
ao nosso entender, de rarefeita sustentação, especialmente diante do disposto no
art. 90, § l 9, da Lei n9 9 .5 0 4 /9 7 : "Para os efeitos desta Lei, respondem penalmente
pelos partidos e coligações os seus representantes legais". Portanto, o legislador, em
norma posterior, tratou de individualizar a responsabilidade penal, adequando-a ao
princípio da culpabilidade. Dentro de uma interpretação sistêmica, não podemos
conviver com a antinomia "situação que se verifica entre duas normas incompatíveis,
pertencentes ao mesmo ordenamento jurídico e tendo o mesmo âmbito de validade"
(Bobbio, 1983, p. 88). Assim sendo, a opção trilha pela revogação do artigo quanto à
regra da responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Remissões:
Lei ns 9.096/95 - Lei dos Partidos Políticos - art. 28, § 3 e.
Lei nB 9.504/97, art. 107.

23.3.44. Art. 337 - Participação de estrangeiro em atividades partidárias

Art 337. Participar o estrangeiro ou brasileiro que não estiver no gozo


dos seus direitos políticos de atividades partidárias, inclusive comícios
e atos de propaganda em recintos fechados ou abertos:
Pena: detenção até 6 (seis) meses e pagamento de 90 (noventa) a 120
(cento e vinte) dias-multa.

Remissões:
CE, art. 284.
Leins 6.815/80, art. 107.

Parágrafo único. Na mesma pena incorrerá o responsável pelas emissoras


de rádio ou televisão que autorizar transmissões de que participem os
mencionados neste artigo, bem como o diretor de jornal que lhes divulgar
os pronunciamentos.

Bem jurídico
Tutela-se os direitos públicos políticos subjetivos passivos e a lisura da
propaganda.

759
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Sujeito ativo
Candidatos, pré-candidatos e inclusive os estrangeiros que não estão no gozo
dos direitos políticos. Ver comentários ao art. 335.

Sujeito passivo
Estado e a soberania nacional. Ver art. 335.

Tipo objetivo
A participação empregada no tipo penal não é no sentido da ampliação temporal
da figura típica (partícipe). Impõe-se o "tomar parte". Isso significa ter uma
ingerência direta nos comícios, atividades partidárias e na propaganda partidária,
intrapartidária ou eleitoral.
Aos estrangeiros é vedada a participação política, conforme norma do art. 107
referida nos comentários ao art. 335. Outrossim, o português que goze de
reciprocidade, na forma do art. 12, § l e, da CF, não será sujeito ativo.
A doutrinadora Suzana de Camargo Gomes lembra que a incapacidade civil
absoluta decorrente de inimputabilidade (CP, art. 2 6), sendo uma causa de suspensão
dos direitos políticos, poderá ter reflexos na órbita penal.
De fato, se o agente teve a interdição decretada em decisão transitada em
julgado pelo juízo da Vara de Família e, posteriormente, envolveu-se em atividades
partidárias, comícios e atos de propaganda, deverá ser declarado inlmputável
ou semí-imputável com as conseqüências penais relativas à causa excludente de
culpabilidade.
É sobremodo importante assinalar que a base legal das causas de perda e
suspensão dos direitos políticos estão subsumidas no art. 15 da Carta Magna. No
entanto, o legislador usou a elementar normativa "gozo dos direitos políticos"
ensejando a amplitude do alcance das hipóteses de perda e suspensão. Nesse
sentido, o eminente doutrinador Joel José Cândido, que considera abrangidas as
causas de inelegibilidade. Tem razão o respeitável autor, e, na verdade, são ainda
abrangidos os casos da inabilitação (a pena de perda do cargo ou função pública
e da inabilitação não são penas acessórias, pois hodiernamente passaram a ser
consideradas efeitos da condenação, conforme art. 9 2 ,1, do Código Penal).
Alegislação vigente a consagra nos seguintes dispositivos legais: art. 52, parágrafo
único, da Constituição Federal; arts. 104 e 106 do Código Penal Militar; art. 4 Ô da
Lei ne 7.106, de 28.6.1983; arts. 2^, 31, 33 e 34 da Lei n9 1.079, de 10.4.1950; art.
29 da Lei n^ 3.528, de 3.1.1959 e art. I 9, § 2 a, do Decreto-Lei ns 201, de 27.2.1967.
Qual a natureza jurídica da inabilitação? a) Para Dalmo de Abreu Dalari, é
suspensão dos direitos políticos; b) para Godofredo da Silva Teles, é perda dos direitos
políticos; c) para Antônio Carlos Mendes, é inelegibilidade; e d) a inabilitação não

760
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ítu lo 23

gera, pela maioria da doutrina, a suspensão nem a perda dos direitos políticos, pois
estas hipóteses estão no art. 15 da Constituição Federal. Outrossim, a inabilitação
não se confunde com a inelegibilidade, segundo Joel José Cândido, porque não está
prevista no art. 14 da Constituição Federal. Para o doutrinador, é um impedimento
ou restrição especial, de natureza administrativa, que só impossibilita o exercício
de qualquer cargo, emprego ou função pública, não eletiva. Ainda, segundo ele,
o presidente da República, governador e prefeito podem ser candidatos, mesmo
julgados inabilitados, porque a inabilitação não é instituto de Direito Eleitoral,
mas de Direito Administrativo. Mas o autor admite que, na hipótese do prefeito, o
Decreto-Lei n9 201/67 veda a eleição por 5 (cinco) anos e, portanto, a inabilitação é
confundida com a inelegibilidade, sendo nesse ponto bem controvertida a matéria.
Para Joel Cândido, o inabilitado pode votar e ser votado.
O Presidente Fernando Affonso Collor de Mello foi inabilitado pelo
Senado Federal em 30.12.1992, por 8 anos, sua sanção política para
o exercício do novo mandato terminará em 29.12.2000. Qualquer
mandato que se iniciar após 29.12.2000 não lhe será mais vedado.
A inabilitação, no caso, foi aplicada pela Resolução ne 101, de 1992,
do Senado Federal, publicada no Diário do Congresso Nacional de
30.12.1992, p. 2.934.
O STF decidiu:
A inabilitação para o exercício de função pública, decorrente da perda
do cargo de presidente da República por crime de responsabilidade (CF,
art. 52, parágrafo único), compreende o exercício de cargo ou mandato
eletivo. Com esse entendimento, a turma manteve o acórdão da tese
que julgou procedente a impugnação do pedido de registro do ex-
Presidente Fernando Collor (Relator Ministro Otávio Gallotti, Decisão
l 9 de setembro de 1998 - Informativo STF 121, setembro de 1998).
Com o entendimento do Egrégio Supremo Tribunal Federal, podemos sustentar
que a inabilitação é restrição de cunho não meramente administrativo, mas de
natureza política e atinge o íushonorum , ou direito de ser votado (capacidade eleitoral
passiva). Trata-se de medida de natureza mista e multifária, compreendendo o
âmbito das restrições estatutárias de cunho administrativo e as políticas pertinentes
ao direito de ser votado.
Por fim, o tipo faz menção a atividades partidárias. É necessário que o agente se
integre, tome parte destas atividades que compreendem: participar com votos em
reuniões, organizar passeatas, falar em comícios, exteriorizar rotineiramente uma
militância partidária etc.

Tipo subjetivo
Dolo.

761
M a r c o s R am ayana D ir e i t o E l e it o r a l

23.3.45. Art. 338 - Prioridade postai. Violação

Art. 338. Não assegurar o funcionário postal a prioridade prevista no


art. 239:
Pena: pagamento de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a isonomia da propaganda política eleitoral entre os partidos políticos.

Sujeito ativo
Crime próprio. O funcionário dos Correios e Telégrafos e as pessoas que prestam
serviços por delegação. Neste sentido, Suzana de Camargo Gomes.

Sujeito passivo
Estado e os partidos políticos durante a propaganda política eleitoral.

Tipo objetivo
Ensina Suzana de Camargo Gomes que "visa assegurar recepção do material de
propaganda pelo seu destinatário em tempo hábil, ou seja, antes da realização das
eleições, daí porque determina ao funcionário postal dê prioridade nessa remessa"
( G o m e s , 2000, p. 132).

A prioridade postal tem tempo certo para ocorrer, ou seja, 60 (sessenta) dias
antes do primeiro domingo de outubro do ano das eleições, pois, caso incida o
segundo turno, o intervalo de tempo será menor.
O elemento temporal do tipo faz com que a norma seja ultra-ativa e aplique-se ao
servidor da Empresa de Correios e Telégrafos.
É possível a alegação do erro de proibição inevitável como causa excludente de
culpabilidade, ou ainda, o evitável como fator de redução da dosimetria punitiva.
Cabe ao diretor ou responsável pela empresa informar aos carteiros sobre a norma,
inclusive aos agentes que prestam serviços por delegação.
A prioridade não poderá impor gastos superiores à empresa, sob pena de
inviabilizar-se os serviços. A norma deve ser compatível com os critérios de
economicidade.
A tipicidade adotada é do tipo remetida expressa (CE, art. 239).

Tipo subjetivo
Dolo.
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r i m e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P enal E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

23.3.46. Art. 339 - D estruição de votos e docum entos

Art. 339. Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo votos, ou


documentos relativos à eleição:
Pena: reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15
(quinze) dias-multa.
Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário da Justiça Eleitoral
e comete o crime prevalecendo-se do cargo, a pena é agravada.

Bem jurídico
Tutela-se o direito público subjetivo ativo instrumentalizado pelo voto. Joel José
Cândido e Suzana de Camargo Gomes referem-se à incolumidade das urnas.

Sujeito ativo
Crime comum. Candidatos, servidores públicos, cidadãos e pessoas em geral.

Sujeito passivo
Estado.

Tipo objetivo
0 delito deve ser compatibilizado com o do art. 72, III, da Lei n- 9.504/97, pois
entendemos que está revogado parcialmente por este dispositivo legal.
O art. 72 diz: "causar, propositadamente, dano físico ao equipamento usado na
votação ou na totalização dos votos ou a suas partes"; portanto, englobou a norma
posterior o dano especial aos disquetes, flash cards, memórias de computador e
periféricos, inclusive os votos acondicionados nas urnas eletrônicas.
Todavia, o delito do art. 339 subsiste ainda em relação às urnas eletrônicas
na modalidade do verbo "ocultar", ou seja, uma espécie de receptação própria de
natureza permanente; e, ainda, em relação à votação manual.
O parágrafo único faz menção ao agravamento da pena. Leia-se: causa especial de
aumento de pena que deverá seguir a regra contida nas Disposições Preliminares,
art. 285 do Código Eleitoral.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, arts. 133; 134.
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

Lei n9 7.021/82 - Estabelece o modelo da cédula oficial única a ser usada nas
eleições de 15 de novembro de 1982.

23.3.47. Art. 340 - Fabricação. Subtração de o b jeto s

Art. 340. Fabricar, mandar fabricar, adquirir, fornecer, ainda que


gratuitamente, subtrair ou guardar urnas, objetos, mapas, cédulas ou
papéis de uso exclusivo da Justiça Eleitoral:
Pena: reclusão até 3 (três) anos e pagamento de 3 (três) a 15 (quinze)
dias-multa.
Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário da Justiça Eleitoral
e comete o crime prevalecendo-se do cargo, a pena é agravada.

Bem jurídico
Tutela-se os bens da Justiça Eleitoral. A norma protege o conjunto patrimonial que
fica sob a responsabilidade da Justiça Eleitoral, conferindo a lisura e legitimidade
das eleições.

Sujeito ativo
Crime comum. Candidatos, pessoas em geral, estrangeiros, servidores públicos.

Sujeito passivo
0 Estado.

Tipo objetivo
0 tipo refere-se ao fabricar, cujo sentido é de produzir, engendrar, maquinar,
forjar ou urdir. Adotou o legislador outros verbos típicos. Trata-se de tipo múltiplo
alternativo.
Pune-se o fornecimento gratuito que pode advir de fabricantes ou empresários
em geral, inclusive sob a forma de doação para determinada candidatura.
A subtração da urna manual ou eletrônica é crime de competência da Justiça
Eleitoral.
A lei sanciona a guarda do material (urnas, papéis etc.). A guarda punida como
crime é a irregular, ou seja, não se pune a guarda do material dentro do recinto das
zonas eleitorais e das edificações forenses, nem tampouco a guarda do material que
é entregue ao mesário às vésperas do pleito eleitoral com base em instruções do
próprio Tribunal Superior Eleitoral. Na modalidade de guarda o crime é permanente.

764
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l
C a p ít u l o 2 3

Outrossim, a lei refere-se ao material exclusivo da Justiça Eleitoral. Dessa forma


não é este crime, quando o agente fabrica por conta própria uma urna eletrônica
semelhante àquela exclusivamente utilizada pela Justiça Eleitoral, pois a lei só pune
a fabricação não autorizada de uso exclusivo; assim, somente quem pode fabricar
material de uso singular ou exclusivo é o mesmo fabricante que fornece as umas
oficiais. Admite-se a tentativa.
Se o agente subtrai um bem de uso não exclusivo com outro de uso exclusivo,
poderá ocorrer a conexão probatória, aplicando-se a regra do art. 364 do Código
Eleitoral, ambos os fatos serão processados e julgados pela Justiça Eleitoral.
Quanto ao agravamento da pena referido no parágrafo único, na verdade, é a
causa especial de aumento de pena que se situa no patamar entre 1/5 (um quinto)
e 1/3 (um terço), conforme art. 285 do Código Eleitoral.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, arts. 129, parágrafo único; 284.
CP, art. 155.
Lei ne 7.021/82 ~ Estabelece o modelo da cédula oficial única a ser usada nas
eleições de 15 de novembro de 1982.

23.3.48. Art. 341 - Desídia nas pu blicações

Art. 341. Retardar a publicação ou não publicar, o diretor ou qualquer


outro funcionário de órgão oficial federal, estadual, ou municipal, as
decisões, citações ou intimações da Justiça Eleitoral:
Pena: detenção até 1 (um) mês ou pagamento de 30 (trinta) a 60
(sessenta) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a regularidade dos serviços da Justiça Eleitoral. O retardamento atinge
o princípio da celeridade processual eleitoral.

Sujeito ativo
Trata-se de delito próprio. Diretor ou funcionário da imprensa oficial responsável
pela edição dos avisos, editais e intimações da Justiça Eleitoral. Pode-se admitir

765
M a r c o s R am ayana D ir b i t o E l e it o r a l

a comunicabilidade das elementares "diretor" ou “qualquer outro funcionário"


com o servidor da Justiça Eleitoral que retarda o encaminhamento das citações
e intimações, pois ambos os agentes violam a celeridade do processo eleitoral,
especialmente porque os prazos em determinado período do calendário eleitoral
correm aos sábados, domingos e feriados.

Sujeito passivo
0 Estado. Poder Judiciário Eleitoral.

Tipo objetivo
0 verbo "retardar" é no sentido de demorar, adiar, diferir ou procrastinar. Pune-
se a não publicação. 0 delito é do tipo omissivo impróprio, pois os sujeitos passivos
são aqueles que têm o dever legal e contratual de publicar as citações e intimações.
É crime formal.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, art. 284.

23.3.49. Art. 342 - O m issão no oferecim ento da denúncia

Art. 342. Não apresentar o órgão do Ministério Público, no pra20 legal,


denúncia ou deixar de promover a execução de sentença condenatória:
Pena: detenção até 2 (dois) meses ou pagamento de 60 (sessenta) a 90
(noventa) dias-multa.

Bem jurídico
Protege-se o bom andamento dos serviços eleitorais.

Sujefto ativo
0 delito é crime próprio, funcional e personalíssimo, pois somente os membros
do Ministério Público designados legalmente para o exercício das atribuições
eleitorais podem ser sujeitos ativos.

766
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Dirige-se a norma ao promotor eleitoral, procurador regional eleitoral ou


procurador-geral eleitoral.
Considerando que os crimes eleitorais são considerados crimes comuns à luz
do texto constitucional, porque, embora especiais, pois previstos em legislação
extravagante, na verdade, apenas diferenciam-se dos de responsabilidade.
Os crimes de responsabilidade podem ser: impróprios, ou seja, as infrações
político-administrativas previstas nas Leis n -s 1.079/50 e 7.106/83 e, ainda, no
Decreto-lei n2 201/67; próprios, que são delitos iguais aos crimes funcionais.
No Código Penal, v.g., os arts. 312 a 326, 150, § 2-, 300 e 301. Nos impróprios se
restar ausente a elementar referente ao funcionário público dar-se-á a atipicidade
relativa (peculato x apropriação indébita), enquanto nos próprios a ausência desta
elementar acarreta a atipicidade.
Vê-se que o delito em comento pode ser considerado comum, mas não deixa de
ser uma modalidade de delito de responsabilidade próprio, pois, retirando-se a
elementar Ministério Público, é patente a atipicidade absoluta da conduta.
O art. 94 e §§, da Lei ns 9.504/97, impõem ao membro do Ministério Público
que deixar de dar prioridade aos feitos eleitorais entre o período do registro das
candidaturas até 5 (cinco) dias após a realização do segundo turno (último domingo
de outubro), o crime de responsabilidade próprio ou funcional. A norma remete
ao crime de responsabilidade sem definir tipicidade objetiva, além de inexistir o
próprio preceito secundário da norma incriminadora. Na verdade, o tipo penal é
suicida, pois nasceu morto, sem nenhuma incidência.
Quanto ao artigo em comento, o sujeito ativo deve ser, exclusivamente, o designado
para as atribuições eleitorais. É crime de mão própria ou atuação pessoal.

Sujeito passivo
O Estado.

Tipo objetivo
Sustentamos que o tipo penal é inconstitucional, porque atinge diretamente
a independência funcional dos membros do Ministério Público com atribuições
eleitorais.
A independência funcional é princípio de ordem constitucional e inerente aos
atributos finais da preservação da cidadania. Na CF está subsumido no art. 127,
§ 2~. Na Lei n9 8.625/93 é previsto no art. I 9, parágrafo único. Na Carta Estadual
do Rio de Janeiro, consagra-se no art. 170, § I a. 0 art. 4 Q da Lei Complementar
ne 75/93, também agasalha o princípio e várias leis orgânicas estaduais.

767
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

A hipótese não é de mera prevaricação especial eleitoral, pois não há nenhuma


elementar no tipo incriminador que enseje o exame subjetivo da intenção do
agente, como, por exemplo, para satisfazer interesse pessoal; ao contrário, o tipo
simplesmente foi edificado sob a égide na Carta Magna anterior a 1988, sem que
a instituição do P arquet tivesse o perfil de proteção constitucional aos interesses
difusos eleitorais do regime democrático e da cidadania.
0 membro do Ministério Púbiico, ao receber peças de informação, autos de
inquérito policial ou processo para fins de execução, poderá: denunciar, arquivar,
propor a transação penal e requerer diligências. Impossível, pois, olvidar do papel
institucional da defesa do regime democrático e da ordem jurídica ao fiscal e órgão
interventor eleitoral.
0 prazo legal mensurado no tipo penal, caso excedido, ensejará a ação penal
privada subsidiária da pública, na forma do Código de Processo Penal e subsumida
na Carta Magna; portanto, o mecanismo de controle popular do princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública eleitoral está garantido.
Percebe-se que o legislador autoritariamente erigiu ao patamar penalmente
relevante conduta de natureza puramente administrativa funcional, extrapolando
os limites do sistema de controle do princípio da obrigatoriedade da ação penal,
inclusive hodiernamente mitigado pela possibilidade da propositura da transação
penal perante os juizes eleitorais e tribunais superiores.
Outrossim, a inconstitucíonalidade deve ser analisada sob o prisma formal, pois a
iniciativa de leis que tratem da organização do Ministério Público, segundo determina
o art. 61, § l e, d, é de atribuição reservada ao Presidente da República. Ora, a hipótese
de impor-se a denúncia ou execução como conduta penal rompe a auto-organização
da instituição do Ministério Público, cujo princípio da unidade também é quebrantado
com a atuação do Ministério Público Federal e Estadual. 0 Código Eleitoral, em razão
do art. 121 da CF, foi recepcionado, em parte, como Lei Complementar. Ou seja, a sua
recepção apenas refere-se aos órgãos da Justiça Eleitoral, juizes e juntas eleitorais.
Dessa forma, por lei ordinária, não pode o legislador criar tipicidade cujo sujeito ativo
seja um membro do Ministério Público invadindo a reserva da Lei Complementar e da
atribuição referente à iniciativa da lei.
Em sentido contrário, registramos a posição dos eminentes doutrinadores
Suzana de Camargo Gomes, Joel José Cândido e Tito Costa.
0 artigo em comento é fruto de uma época em que o procurador de Justiça nos
Estados era nomeado pelo governador, sem o voto interno da instituição e sem
lista tríplice democraticamente organizada. Ê natural, portanto, a preocupação do
legislador em transmudar em crime conduta funcional e correcional, em atenção
às eventuais suspeitas de favorecímento para determinado candidato ou partido
político, até porque a atuação suprapartidária do Ministério Público na matéria

768
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os G r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

eleitoral ainda não era revestida de mecanismos eficazes e legais a ponto de


escoimar ingerências externas nesta magna atribuição.

Tipo subjetivo
Dolo,

Remissão:
CE, arts. 284; 357-363.

23.3.50. Art. 343 - C ondescendência do juiz

Art. 343. Não cumprir o juiz o disposto no § 3Qdo art. 357:


Pena: detenção até 2 (dois) meses ou pagamento de 60 (sessenta) a 90
(noventa) dias-multa.

Bem jurídico
Protege-se o bom andamento dos serviços eleitorais.

Sujeito ativo
O delito é crime próprio, funcional e personalíssimo, pois somente os membros
do Poder Judiciário legalmente investidos para o exercício das atribuições eleitorais
podem ser sujeitos ativos.

Sujeito passivo
O Estado.

Tipo objetivo
O artigo em comento é eivado de inconstitucionalidade, considerando os motivos
elencados nos comentários anteriores, pois o delito é acessório ou parasitário do
delito do art. 342.
Vislumbramos ainda a inconstitucionalidade em razão da violação ao princípio
da imparcialidade que:
é inseparável do órgão da jurisdição. O juiz coloca-se entre as partes e
acima delas: esta é a primeira condição para que o juiz possa exercer
sua função dentro do processo. A imparcialidade do juiz é pressuposto
para que a relação processual se instaure validamente ( C i n t r a ;
G r i n o v e r ; D i n a m a r c o , 1993, p. 38).

769
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

A lei está obrigando o juiz a violar o princípio da imparcialidade. 0 tipo remete ao


§ 39, do art. 357 do Código Eleitoral, obrigando o juiz eleitoral a representar contra
o membro do Ministério Público como se fosse um fiscal absoluto do princípio da
indisponibilidade ou obrigatoriedade da ação penal pública.
A representação subtrai o princípio da obrigatoriedade do exame do Ministério
Público Federal. Por exemplo: se o promotor eleitoral não denunciar no prazo, o juiz
eleitoral é obrigado a representar, sob pena de praticar crime contra o promotor. Ora,
a própria legislação eleitoral possui regra similar ao art. 28 do Código de Processo
Penal e no art. 357, § l s, do próprio Código Eleitoral. A antinomia é evidente entre os
§§ l 9 e 3 S, preferindo-se a posição topográfica do § 1 - que está correlacionada, dentro
de uma interpretação sistêmica, com toda a ordem jurídica processual e eleitoral.
Por fim, a independência funcional dos membros do Poder Judiciário é
flagrantemente violada na redação remetida do tipo penal, até porque se o juiz
representar na hipótese do promotor não denunciar no prazo, estará em evidente
suspeição ou impedimento para o julgamento do crime eleitoral quando receber a
denúncia apresentada por outro promotor eleitoral.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, art. 284.

23.3.51. Art. 344 - R ecu sa ou abandono do serviço eleitoral

Art. 344. Recusar ou abandonar o serviço eleitoral sem justa causa:


Pena: detenção até 2 (dois) meses ou pagamento de 90 (noventa) a 120
(cento e vinte) dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a regularidade da prestação dos serviços eleitorais, especialmente
durante a fase de votação. Resguarda-se a Administração Pública Eleitoral.

Sujeito ativo
Crime próprio. As pessoas incumbidas do serviço eleitoral são os servidores
públicos elencados no a r t 283 do Código Eleitoral. O delito é muito praticado por
mesários e nas eleições manuais pelos escrutinadores.

770
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e o s C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C apítulo 2 3

Sujeito passivo
0 Estado, que é afetado pela regular e eficaz prestação do serviço eleitoral.

Tipo objetivo
A recusa tem o mesmo significado que a rejeição, oposição, negativa ou repulsa.
0 abandonar é desproteger, desprezar, largar ou deixar os serviços eleitorais.
0 agente deve ter o dever jurídico de prestar os serviços recusados ou
abandonados. Em um primeiro momento, o servidor é designado, investido ou
lotado na função de prestador de serviços eleitorais e, posteriormente, em conduta
omissiva, deixa de lado os deveres assumidos. Trata-se de delito comissivo por
omissão.
Neste crime o servidor público viola uma norma mandamental (norma de
comando e imperativa), causando danos à Administração Pública Eleitoral com a
não realização do dever funcional.
A justa causa é elemento normativo que enseja exame de possível causa de
justificação. Dessa forma, se o agente age com justa causa a conduta é atípica por
ser elementar do tipo.
As hipóteses de justa causa podem ser: dificuldade de acesso aos meios de
transporte; doença própria, ou em pessoa da família; caso fortuito ou força maior.
Não se admite a tentativa, porque se o agente recusa ou abandona o serviço,
omite-se; o crime está consumado. Não omitindo-se, ele realiza o mandamento legal
que lhe foi imposto como dever funcional, não praticando crime.
Reconheceu-se o crime no comparecimento tardio à mesa receptora de votos
(TRE/SP-RC 107.826).
Se o empregador constrange o empregado a não comparecer, além do delito do
art. 146 do CP, poderá ainda responder como partícipe deste crime.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CE, arts. 120, § 4®; 122; 134; 189; 284; 313; 379, §§.

23.3.52. Art. 345 - Descumprimento dos prazos

Art. 345. Não cumprir a autoridade judiciária, ou qualquer funcionário


dos órgãos da }ustiça Eleitoral, nos prazos legais, os deveres impostos
por este Código, se a infração não estiver sujeita a outra penalidade:

771
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Pena: pagamento de 30 (trinta) a 90 (noventa) dias-multa. (artigo com


redação dada pela Lei ne 4.961/66.)

Bem Jurídico
Tutela-se a regularidade da prestação dos serviços processuais e cartorários
afetos à Justiça Eleitoral. Resguarda-se a Administração Pública Eleitoral.

Sujeito ativo
Crime próprio. Os servidores e os juizes das zonas eleitorais, Tribunais Regionais
Eleitorais e do Tribunal Superior Eleitoral.

Sujeito passivo
0 Estado e a prestação de serviços da Justiça Eleitoral.

Tipo objetivo
O delito enseja tipicidade porosa e exagerada, pois pune criminalmente a falta de
um dever funcional. Trata-se de flagrante violação aos princípios da culpabilidade,
intervenção mínima, razoabilidade e proporcionalidade. Ver comentários anteriores
que têm certa correlação (CE, arts. 342 e 343).
Sobre o assunto, ver ainda a regra do art. 94 da Lei ns 9.504/97 (norma com
tipicidade penal suicida, pois remete a tipo inexistente na ordem jurídica vigente
“crime de responsabilidade").

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, art. 30.
Lei n2 9.504/97, arts. 58, § 7 9; 94.
Lei n9 4.410/64, art. 2K

23.3.53. Art. 346 - Uso indevido de bens públicos

Art. 346. Violar o disposto no art. 377:


Pena: detenção até 6 (seis) meses e pagamento de 30 (trinta) a 60
(sessenta) dias-multa.

772
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e
o P ro c e sso P e n a l E le ito r a l C a p ít u l o 2 3

Parágrafo único. Incorrerão na pena, além da autoridade responsável,


os servidores que prestarem serviços e os candidatos, membros ou
diretores de partido que derem causa à infração.

Bem jurídico
Resguarda-se a probidade administrativa eleitoral.

Sujeito ativo
Crime comum. Candidatos, aspirantes a candidatos, pessoas comuns do povo,
eleitores, empresários, políticos e servidores públicos em geral.

Sujeito passivo
O Estado e a Administração Pública Eleitoral.

Tipo objetivo
0 artigo adotou a técnica da tipicidade remetida que preenche no art. 377 o
preceito primário da norma incriminadora.
0 tipo penal é norma em branco em sentido amplo, pois o complemento é da
mesma fonte homogênea (Código Eleitoral).
Tutela-se os desvios e abusos do poder em favorecimento de determinado
partido político ou candidatura, pois o agente serve-se dos serviços públicos (sedes
de repartições ou prédios, máquinas, servidores públicos e bens em geral) para
direcionar o uso da máquina administrativa em seu favor.
Aconduta é bifronte, porque reflete-se nas normas dos arts. 73 a 78 da Lei n- 9.504/97 -
"Condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais". Dessa forma, o agente
poderá ser alvo de ações de investigação judicial eleitoral; captação ilícita de sufrágio;
impugnação ao pedido de registro de candidatura; reclamação; impugnação ao mandato
eletivo ou recurso contra a diplomação, pois o fato enseja a análise da improbidade
administrativa eleitoral. Por fira, o agente ainda poderá ser responsabilizado pela Lei
ne 8.625/93 (Lei de Improbidade Administrativa) com as conseqüências e sanções legais,
tais como: ressarcimento ao erário, perda do cargo público, indisponibilidade dos bens e,
inclusive, a suspensão dos direitos políticos (CF art. 15, V).
Ensina Joel José Cândido que o crime é espécie de corrupção eleitoral.
Suzana de Camargo Gomes salienta que o delito atinge a moralidade administrativa
e o patrimônio público, aduzindo que: "o benefício referido no tipo penal pode ser de
qualquer ordem, material ou moral, dotado de expressão econômica ou meramente
aferível em termos de prestígio, de melhor posicionamento no meio social" ( G o m e s ,
2000, p. 134).

773
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, art. 284.
LC n9 101/00 - Finanças públicas.
Decreto-Lei nB 201/67 ~ Crime de Prefeitos.

23.3.54. Art. 347 - Desobediência eleitoral

Art. 347. Recusar alguém cumprimento ou obediência a diligência,


ordens ou instruções da Justiça Eleitoral ou opor embaraços à sua
execução:
Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e pagamento de 10 (dez)
a 20 (vinte) dias-multa.

Bem jurídico
Resguarda-se a autoridade da Justiça Eleitoral e a Administração Pública Eleitoral.

Sujeito ativo
É crime comum. Candidatos, eleitores e não eleitores.
Quanto ao funcionário público, citamos as lições expendidas pelo doutrinador
Damásio Evangelista de Jesus.
Há três correntes: I a) pode ser sujeito ativo de desobediência: RT,
418:249, 656:334 e 726:600; 2â) não pode: RT, 487:289 e 395:315;
JTACrimSP, 83:143; STJ, RHC 4.546, 5a T., DJU, 5 jun 1995, p. 16.675;
3a) se o funcionário desobedece a ordem como particular; se dentro
de suas funções: não há crime de desobediência, podendo existir
prevaricação (RTJ, 103:139 e 92:1095; RT567:397,519:417 e 527:408;
JTACrimSP, 78:386 e 12:96) (J e s u s , 2002, p. 997).

Sujeito passivo
O Estado e a Administração da Justiça Eleitoral.
Incide o princípio da inevitabilidade da jurisdição, ou seja:
significa que a autoridade dos órgãos jurisdicionais é uma emanação
do próprio poder estatal soberano, impõe-se por si mesma,
independentemente da vontade das partes ou de eventual pacto para

774
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l Capítulo 23

aceitarem os resultados do processo; a situação de ambas as partes


perante o Estado-juiz (e particularmente a do réu) é de sujeição, que
independe de sua vontade e consiste na impossibilidade de evitar que
sobre elas e sobre sua esfera de direitos se exerça a autoridade estatal
(C i n t r a ; G r i n o v e r ; D i n a m a r c o , 1993, p. 120).

Tipo objetivo
O delito aplica-se a todas as fases do processo eleitoral: alistamento; propaganda
política partidária; propaganda intrapartidária; registro de candidatos; propaganda
política eleitoral; votação; apuração e diplomação.
A recusa é a própria rejeição, denegação ou repulsa. Recusar é negar, total ou
parcialmente, a determinação das ordens legalmente emanadas da Justiça Eleitoral.
O tipo não apenas refere-se à recusa propriamente dita, mas também ao embaraço
à execução das ordens. 0 embaraço caracteriza-se pelo incômodo, a complicação,
as dificuldades colocadas pelo sujeito ativo, ou seja, tolher de qualquer forma o
exercício da jurisdição.
O delito é uma modalidade de desobediência eleitoral.
Se a ordem não estiver relacionada com a matéria eleitoral, o crime poderá ser
o de desobediência do art. 330 do Código Penal ou de prevaricação (CP, art. 319).
Ocorrendo violência, através da resistência, o delito será o do art. 329 do CP. E,
ainda, tratando-se de decisão judicial desobedecida (suspensão de direitos), ver
a r t 359 do CP.
Consuma-se o crime no momento em que o sujeito ativo deveria agir em razão
da ordem recebida ou, ainda, tolhe de alguma forma o completo exercício da ordem
legalmente expedida pela autoridade (juizes eleitorais, TRE, TSE e STF).
O tipo exige a ordem. Não pratica o crime quem não atende a uma solicitação.
O tipo penal é norma penal em branco em sentido restrito, cuja fonte de
colmatação é heterogênea, portanto, as instruções do Tribunal Superior Eleitoral,
na verdade, preenchem o vazio da ordem. Admite-se até que as ordens estejam em
portarias do Secretário de Segurança Pública, como no caso da proibição de venda
de bebidas alcoólicas na véspera e no dia da eleição. Particularmente, entendemos
que estas portarias não podem colmatar o tipo penal, exceto se foram expedidas
pela própria Justiça Eleitoral. Impõe-se o reconhecimento da atipicidade, podendo
o bêbado responder pelo delito do art. 297 do Código Eleitoral e a contravenção
penal do art. 62 da LCP.
De toda sorte, a ordem deve ser direta e revestir-se de legalidade formalística e
substancial, sendo o agente mandante da ordem Juiz Eleitoral ou servidor público
eleitoral.
A ordem genérica não é típica.

775
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

0 crime de desobediência (CP, art. 330) só se configura se a ordem legal é


endereçada diretamente a quem tem o dever legal de cumpri-la (STJ, 5aT., HC 10.150,
Rei. Edson Vidigal, j. 7.12.1999, RSTJ 128/431).

Tipo subjetivo
Dolo.

jurisprudência
AERP - Agravo Regimental em Embargos de Declaração em
Representação. Acórdão 439 Brasília-DF 19.9.2002, art. 347 CA. Relator
Carlos Edüardo Caputo Bastos. Relator designado. Publicação: PSBSS -
Publicado em Sessão, data 19.9.2002. Ementa: Representação. Agravo.
Veiculação de propaganda eleitoral sem identificação do partido ou
coligação. Sanção. Inexistência. Aplicação do nullum crimen, nulla poena,
sine lege. Advertência. Verificando-se, na propaganda eleitoral gratuita,
que o partido político ou a coligação não observa o que prescreve o
art. 242 do Código Eleitoral ou o que determina o § 2a do art. 6e da Lei
ne 9.504/97, deve o julgador - à falta de norma sancionadora ~ advertir
o autor da conduta ilícita, pena de desobediência (CE art, 347).
Propaganda eleitoral. Horário gratuito. Utilização. Montagem.
Trucagem. Uso de recurso eletrônico que importe em alteração
de material videográfico. Desde que a utilização dos recursos de
montagem e trucagem não importe em degradação ou ridicularização
de candidato, partido político ou coligação, a simples inexatidão do
original não se presta a configurar a hipótese vedada no inciso I do art. 45
da Lei ne 9.504/97, inviabilizada a aplicação da sanção estabelecida
no parágrafo único do art. 55 do mesmo diploma legal. Agravo a
que se dá provimento. - Agravo de Instrumento - Acórdão n9 3.384
Brasília-DF 25.6.2002 - art. 347 CA. Relatora: Ellen Gracie Northfleet.
Relator designado José Paulo Sepúlveda Pertence. Publicação: DJ ~
Diário de Justiça, v. 1, Data 6.9.2002, p. 206. Ementa: Crime eleitoral:
desobediência à ordem de remoção de propaganda eleitoral: fluxo do
prazo prescricional desde a omissão do cumprimento do mandado
judicial. 0 crime de desobediência à ordem judicial de remoção de
propaganda eleitoral julgada irregular não tem por objetividade
jurídica as regras que a disciplinam, mas, sim, a autoridade das decisões
judiciais. Não se trata, pois, de crime permanente, mas de delito cuja
consumação se exaure com a ação proibida ou com a omissão do ato
determinado pelo mandado judicial, não a elidindo a sua observância
extemporânea. Corre, em conseqüência, o prazo prescricional do
momento de sua consumação instantânea.

776
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r i m e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l Capítulo 23

RHC - Recurso em habeas corpus - Acórdão 42 Americana-SP 2.4.2002


- art. 347 CA. Relator Ellen Gracie Northfleet. Relator designado.
Publicação: DJ - Diário de Justiça, v. 1, data 24.5.2002, p. 144. RJTSE
- Revista de Jurisprudência do TSE, v. 13, t. 3, p. 17. Ementa: Recurso
ordinário em Habeas corpus. Trancamento de ação penal. Crime de
desobediência. Improvimento. 1. 0 descumprimento de ordem judicial
direta e individualizada é suficiente para caracterizar o crime de
desobediência previsto no art. 347 do Código Eleitoral. 2. Hipótese
em que, advertido, expressamente, mais de uma vez, a não veicular
programa de candidato à eleição majoritária em horário exclusivo dos
candidatos às eleições proporcionais, o partido político reiterou sua
conduta. 3. Censura prévia. Inocorrência. 0 que caracteriza a censura
prévia é o exame do programa antes de sua veiculação. 4. Código
de Processo Penal, art. 252, III. Impedimento do juiz e do promotor
eleitoral. A instância penal somente se instaura com o recebimento
da denúncia; não houve, por conseguinte, in casu, dupla atuação por
parte do juiz eleitoral. Quanto ao promotor, este não desempenhou seu
mister na fase pré-processual da representação. Recurso improvido,
determinando o prosseguimento da ação penal.
AG - Agravo de Instrumento - Acórdão 2.956. Salvador-BA 2.10.2001 -
art. 347 CA. Relator José Paulo Sepúlveda Pertence. Relator designado.
Publicação: DJ - Diário de Justiça, 1.2.2002, p. 248. RJTSE - Revista de
Jurisprudência do TSE, v. 13, t. 2, p. 122. Ementa: Agravo de instrumento.
Recurso especial. Propaganda partidária política. Veiculação de
imagens de pessoas estranhas ao quadro da agremiação. Lei ne 9.096,
art. 45, § l s. Violação do art. 347 do Código Eleitoral. Inocorrência.
1. Para se caracterizar ofensa ao art. 45, § l 9, inciso I, nâo é suficiente
a exibição de imagem de pessoa filiada à agremiação diversa da do
responsável pelo programa, fazendo-se necessária a demonstração do
benefício, com repercussão eleitoral, a outro partido político. 2. Não
há violação do art. 347 do Código Eleitoral por reiteração da conduta
ilícita uma vez que a propaganda veiculada não desrespeita a legislação
atinente à matéria. 3. Recurso não conhecido.
HC - Habeas corpus - Acórdão 240/PR 6.9.1994 - art. 347 CA. Relator
Marco Aurélio Mendes de Farias Mello. Relator designado. Publicação:
DJ - Diário de Justiça, 23.9.1994, p. 22.372. RJTSE - Revista de
Jurisprudência do TSE, v. 7 ,1.1, p. 29. Ementa: Desobediência - Crime -
Resoluções da Justiça Eleitoral. Ofato de se ter como olvidada Resolução
da Justiça Eleitoral não revela o tipo do art. 347 do Código Eleitoral,
que pressupõe ordem ou instrução formalizadas de maneira específica,
ou seja, direcionadas ao agente. O teor abstrato das resoluções gera,
no caso de inobservância, simples transgressão eleitoral, longe ficando
de alcançar a prática do crime de desobediência, no que como tipo
subjetivo o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de desobedecer

777
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

ordem legal direcionada - Precedentes: Recurso em Habeas Corpus


233, Acórdão publicado no DJ de 17.6.1994, p. 15.759, Relator Ministro
Torquato Jardim e Acórdão 13.429, do Recurso 9.415, publicado no DJ
de 10.12.1993, p. 27.155, Relator Ministro Carlos Velloso.
Acórdão 42 - Recurso em Habeas Corpus 42 - Americana-SP. DJ de
24.5.2002. JTSE.v. 13, n9 3, pp. 11-312, jul./set. 2002. Relatora Ministra
EUen Gracie. Recorrente Marcos Cardosos dos Santos. Ementa: Recurso
ordinário em habeas corpus. Trancamento de ação penal. Crime de
desobediência. Improvimento. 1. O descumprimento de ordem judicial
direta e individualizada é suficiente para caracterizar o crime de
desobediência previsto no art. 347 do Código Eleitoral. 2. Hipótese
em que, advertido, expressamente, mais de uma vez, a não veicular
programa de candidato à eleição majoritária em horário exclusivo dos
candidatos às eleições proporcionais, o partido político reiterou sua
conduta. 3. Censura prévia. Inocorrência. O que caracteriza a censura
prévia é o exame do programa antes de sua veiculação. 4. Código
de Processo Penal, art. 252, 01. Impedimento do juiz e do promotor
eleitoral. A instância penal somente se instaura com o recebimento
da denúncia; não houve, por conseguinte, in casu, dupla atuação por
parte do juiz eleitoral. Quanto ao promotor, este não desempenhou seu
mister na fase pré-processual da representação. Recurso improvido,
determinando o prosseguimento da ação penal.
Acórdão 3.384 - Agravo de Instrumento 3.384 ~ Brasília - DF. DJ de
6.9.2002. JTSE, v. 13, n9 4, p. 11-423, out./dez. 2002. Relatora Ministra
Ellen Gracie. Redator designado Ministro Sepúlveda Pertence. Agravante
Cristovam Ricardo Cavalcante Buarque. Agravada Procuradoria
Regional Eleitoral do Distrito Federal. Ementa: Crime eleitoral.
Desobediência à ordem de remoção de propaganda eleitoral. Fluxo
do prazo prescricional desde a omissão do cumprimento do mandado
judicial. 0 crime de desobediência à ordem judicial de remoção de
propaganda eleitoral julgada irregular não tem por objetividade
jurídica as regras que a disciplinam, mas, sim, a autoridade das decisões
judiciais. Não se trata, pois, de crime permanente, mas de delito cuja
consumação se exaure com a ação proibida ou com a omissão do ato
determinado pelo mandado judicial, não a elidindo a sua observância
extemporânea. Corre, em conseqüência, o prazo prescricional do
momento de sua consumação instantânea.

Remissões:
Lei n9 6.091/74, art. 11.
Lei ns 1.079/50 - Crimes de responsabilidade - art. 1 2 ,1.
Lei n9 6.815/80 - Estatuto do Estrangeiro - art. 125.
Lei n- 7.716/89 - Preconceito racial - art. 20, § l s.

778
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l Capítulo 23

23.3.55. Art. 348 - Falsidade de documento público

Art. 348. Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar


documento público verdadeiro, para fins eleitorais:
Pena: reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e pagamento de 15 (quinze)
a 30 (trinta) dias-multa.
§ 1- Se o agente é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se
do cargo, a pena é agravada.
§ 2- Para os efeitos penais, equipara-se a documento público o emanado
de entidade paraestatal, inclusive fundação do Estado.

Bem jurídico
Protege-se a fé pública eleitoral.

Sujeito ativo
Crime comum. Eleitores, não eleitores, candidatos ou cabos eleitorais. Se o
agente for servidor público eleitoral ou não eleitoral, a pena é aumentada. Quanto
ao aumento, ver o art. 285 do Código Eleitoral.

Sujeito passivo
Estado e, secundariamente, a pessoa prejudicada pela falsificação (eleitor ou não
eleitor).

Tipo objetivo
A falsificação pode ser total ou parcial do documento público. Trata-se da
contrafação.
Quanto à alteração, o agente transforma ou modifica letras ou sinais característicos
do documento.
Entende-se que se a falsificação for visível prim o occuli, não haverá o crime em
razão da carência de potencial lesivo.
É crime não transeunte e, portanto, exige prova pericial (CPP, art. 158).
Os documentos mais falsificados para fins eleitorais são as carteiras de identidade
ou certidões de nascimento. Nesse sentido, não se aplica o art. 297 do Código Penal
quando o agente visa, por exemplo, alistar-se eleitoralmente. Sobre o alistamento
eleitoral, ver a Res.-TSE n9 21.538/03. Poderá haver concurso material com o delito
dos arts. 289 e 290 do Código Eleitoral diante da diversidade de bens jurídicos
(fé pública e alistamento eleitoral).
0 objeto material deste crime é o próprio documento falsificado ou alterado.

779
M a r c o s R am ayana D ir jb it o E l e it o r a l

Os documentos autenticados são objeto material deste crime.


A lei puniu o uso no art. 353 do Código Eleitoral,
0 § 2 e tratou dos denominados documentos públicos por equiparação. No âmbito
eleitoral estes documentos não são necessários ao alistamento eleitoral.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CP, arts. 297; 337-A ~ Documento previdenciário.

23.3.56. Art. 349 - Falsidade de documento particular

Art. 349. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular, ou alterar


documento particular verdadeiro, para fins eleitorais:
Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 3 (três) a 10 (dez)
dias-multa.

Bem jurídico
Tutela-se a fé pública eleitoral.

Sujeito ativo
Crime comum.

Sujeito passivo
O Estado e, secundariamente, a pessoa prejudicada pela falsificação (eleitor ou
não eleitor).

Tipo objetivo
Acresça-se, além do expendido aos comentários ao art. 348 do Código Eleitoral,
que o objeto material deste crime é o documento caracterizado como particular.
O documento deve ser em regra geral: escrito; ter autor determinado; conter
manifestação volitiva; e possuir relevância jurídica. Para fins eleitorais, o art. 351
equiparou a fotografia, filme, disco e fita de ditafone. Vê-se que o legislador foi além
da conceituação legal de documento, inclusive ao contrário do disposto no art. 298
do Código Penai.

780
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r i m e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Os documentos particulares podem ser: os confeccionados sem a intervenção


oficial do servidor público eleitoral ou não, ou os desprovidos dos requisitos formais
públicos, v,g., contrato de locação.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
CE, art. 284.
CP, art. 349.

23.3.57. Art. 350 - Falsidade ideológica

Art. 350. Omitir, em documento púbiico ou particular, declaração que


dele devia constar ou nele inserir ou fazer Inserir declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais:
Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa, se o documento é público, e reclusão até 3 (três) anos e
pagamento de 3 (três) a 10 (dez) dias-multa, se o documento é particular.
Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental é funcionário
público e comete o crime prevalecendo-se do cargo ou se a falsificação
ou alteração é de assentamento de registro civil, a pena é agravada.

Bem jurídico
Fé pública eleitoral.

Sujeito ativo
Crime comum.

Sujeito passivo
0 Estado e, secundariamente, a pessoa prejudicada pela falsificação (eleitor ou
não eleitor).

Tipo objetivo
A falsidade ideológica ou intelectual é aquela definida por Puglia (Manual
de Direito Penal, v. 2, p. 218) como não revelada por sinais exteriores, porém
concernente ao seu conteúdo, assim exemplificada: a) atestar como verdadeiros e

781
M arcos R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

feitos em sua presença fatos ou declarações não conformes à verdade; b) omitir


declarações feitas pela parte; e c) alterar essas declarações.
Todavia, quando as declarações forem provenientes de mera desatenção,
esquecimento, sem intenção fraudulenta ou possibilidade de prejuízo público ou
privado, não haverá crime. Nesse sentido, Garraud em sua obra Tratado de Direito
P enal
A declaração inverídica deve ser essencial ao documento. É importante que tenha
relevância jurídica para modificar o alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral, o
local de votação, a filiação partidária e seja potencialmente lesiva.
A assinatura de atestados ou declarações de domicílio eleitoral caracteriza este
crime quando exibidas como documento essencial ao pedido de transferência de
títulos eleitorais.
Se o documento está sujeito à verificação pelo juiz eleitoral ou chefe de cartório,
como, por exemplo, as declarações inverídicas de domicílio eleitoral na comarca,
uma corrente de pensamento entende que não há crime de falsidade intelectual.
Trata-se de dever atribuído à autoridade. Uma segunda corrente entende que é
crime, porque a declaração traduz uma presunção ju ris tantum de ser verdadeira.
De toda sorte, cumpre ao juiz eleitoral determinar a realização de diligências no
local de residência ou moradia (CE, art. 42, parágrafo único) para perscrutar sobre
a veracidade do endereço informado. Nos casos mais evidenciado res de fraude,
deve-se requerer a revisão do eleitorado na forma legal. A revisão é requerida no
Tribunal Regional Eleitoral.
Sendo o agente ativo servidor público eleitoral ou não, a pena é aumentada,
desde que invoque a função pública ou esteja exercendo suas funções.
Aumenta-se a pena se for falsidade de registro civil (Lei ne 6.015, de 31 de
dezembro de 1973). Nesta hipótese, o agente deve ter o dolo voltado para a
finalidade eleitoral. Não é progressão criminosa, mas crime progressivo e, sendo
assim, o agente responde pela falsidade ideológica e por outro crime que venha a
praticar, especialmente diante da diversidade de bens jurídicos.

Tipo subjetivo
Dolo.

Jurisprudência
Agravo de instrumento-Acórdão 1.913 Bragança Paulista/SP 22.2.2000
- art. 350 CE. Relator Edson Carvalho Vidigal. Relator designado. DJ -
Diário de Justiça, 7.4.2000, p. 125. RJTSE - Revista de Jurisprudência do
TSE, v. 12,1.1, p. 120. Ementa: Agravo de instrumento. Matéria de direito.
Provimento. Recurso Especial Eleitoral. Lei n9 9.099/95, art. 89. Código

782
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Eleitoral art. 350. Violação não configurada. 1.0 instituto da suspensão


condicional do processo está condicionado a pena do crime imputado
ao réu na denúncia. 2. Meras irregularidades na prestação de contas
de candidato devem ser apuradas no momento de seu julgamento, não
configurando o crime previsto no Código Eleitoral, art. 350.
Recurso Especial Eleitoral - Acórdão I5.033/G0 30.9.1997 - art. 350
CE. Relator Maurício José Corrêa. Relator designado. DJ - Diário de
Justiça, 24.10.1997, p. 54.234. RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE,
v. 9, t. 4, p. 163. Ementa: Recurso Especial. Crime Eleitoral. Falsidade
Ideológica. Art. 350.
Para a adequação do tipo penal previsto no art. 350 do Código Eleitoral
é necessário que a declaração falsa prestada para fins eleitorais seja
firmada pelo próprio eleitor interessado, e não por terceiro. Recurso
especial conhecido e provido.
Recurso Especial Eleitoral - Acórdão 12.799/DF 2.9.1997 - art. 350 CE.
Relator José Eduardo Rangel de Alckmin. Relator designado. DJ - Diário
de Justiça, 19.9.1997, p. 45.647. RJTSE - Revista de Jurisprudência do
TSE, v. 9, t. 3, p. 74. Ementa: Recurso Especial - Crime eleitoral - art. 350
do Código Eleitoral - Declaração incompleta de bens por ocasião do
registro de candidatura não tipifica delito de falsidade ideológica -
dissídio jurisprudencial não configurado - recurso não conhecido.

Remissões:
CE, art. 284.
CP, art. 299.

23.3.58. Art. 351 - Equiparação de documentos

Art. 351. Equipara-se a documento (348, 349 e 350), para os efeitos


penais, a fotografia, o filme cinematográfico, o disco fonográfico ou fita
de ditafone a que se incorpore declaração ou imagem destinada à prova
de fato juridicamente relevante.

Trata-se de tipo penal explicativo.


Os documentos para fins penais, a princípio, são apenas os escritos; mas o
legislador eleitoral tratou de ampliar o objeto material equiparando filmes, fitas e
declarações de imagens.
Se o agente realiza foto montagem de um candidato em cena degradante,
desabonadora ou criminosa, a foto apresentada é periciada e comparada a
documento. Vê-se que essa prova não será apenas valorada, mas constitui-se na
própria falsidade documental.

783
M arcos R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

23.3.59. Art. 352 - Falso reconhecimento de firma ou letra

Art. 352. Reconhecer como verdadeira, no exercício da função pública,


firma ou letra que o não seja para fins eleitorais;
Pena: reclusão até 5 (cinco) anos e pagamento de 5 (cinco) a 15 (quinze)
dias-multa, se o documento é público, e reclusão até 3 (três) anos e
pagamento de 3 (três) a 10 (dez) dias-multa, se o documento é particular.

Bem jurídico
Tutela-se a falsidade ideológica eleitoral.

Sujeito ativo
Crime próprio. Funcionário público no exercício da função de reconhecimento de
firmas (escreventes, tabelião e oficial de registro civil).

Sujeito passivo
0 Estado e, indiretamente, a pessoa atingida pelo falso reconhecimento.

Tipo objetivo
0 reconhecimento ocorre na firma da pessoa. Assim, o escrevente, v>gA>verifica se
a assinatura é verdadeira. Não há crime na conduta negligente.

Tipo subjetivo
Dolo. Não há punição por culpa. O agente poderá pleitear a responsabilidade civil.

Remissão:
CP, art. 300.

23.3.60. Art. 353 - Uso de documento falso

Art. 353. Fazer uso de qualquer dos documentos falsificados ou alterados,


a que se referem os arts. 348 a 352:
Pena: a cominada à falsificação ou à alteração.

Bem jurídico
Tutela-se a fé pública eleitoral.

784
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Sujeito ativo
Crime comum.

Sujeito passivo
0 Estado e, indiretamente, a pessoa eventualmente atingida.

Tipo objetivo
0 verbo "usar" deve ser entendido como empregar, exercer ou aplicar o documento.
A conduta usar é punida de forma comissiva.
0 agente pode usar na vida pessoal, privada ou exibir em repartições públicas.
A jurisprudência não tem admitido o crime quando o agente usa o documento
xerocopiado (STJ, RHC 1.499, DJU, 4 de maio de 1992).
0 delito consuma-se com o uso e não é exigível a produção do resultado.
Se o agente exibe o documento em razão de determinação da autoridade,
emergem duas correntes: I a) não há crime (RT, 579: 302); e 2a) é crime (STJ, Respe.
4.655, 5 a T., DJU, 22 de outubro de 1990).
Qüando o agente falsifica, existem três correntes: I a) É concurso material (STF,
RTJ 72:672; 2a) é apenas o crime de falsidade (RT 530: 395); e 3a) o agente pratica
apenas o crime de uso (RT, 4 8 1:310). Assiste razão para a segunda corrente, pois
o uso atinge o mesmo bem jurídico tutelado pelo falso. Evita-se a duplicidade de
punição quanto ao mesmo bem jurídico.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissão:
CP, art. 304.

23.3.61. Art. 354 - Obtenção de documento falso

Art, 354. Obter, para uso próprio ou de outrem, documento público ou


particular, material ou ideologicamente falso para fins eleitorais:
Pena: a cominada à falsificação ou à alteração.

Bem jurídico
Tutela-se a fé pública eleitoral.

785
M a r c o s R am a yan a D ir e it o E l e it o r a l

Sujeito ativo
Crime comum.

Sujeito passivo
0 Estado e, secundariamente, a pessoa atingida.

Tipo objetivo
A obtenção é conduta comissiva simiiar ao adquirir, apanhar, lograr ou conseguir.
A obtenção é própria ou para terceiros. Na verdade, o agente apodera-se do
documento e o usa ludibriando a Justiça Eleitoral. A lei pune o assenhorear~se dos
documentos públicos e particulares analisados nos tipos penais anteriores.
0 legislador criou uma exceção pluralista à teoria monista do concurso de
pessoas, porque, na verdade, o agente deveria responder pelo uso (CE, art. 353).

Tipo subjetivo
Dolo.

23.4. ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS ELEITORAIS


23.4.1. Art. 355 - Ação Penal

Art. 355. As infrações penais definidas neste Código são de ação pública.

Todos os crimes eleitorais são de ação penal pública incondicionada.


Convém repetir:
A ação penal pública apresenta-se, no Direito pátrio, sob duas
modalidades: incondicionada e condicionada. Em ambas, como se
deduz do § l s do art. 100 do CP e do art. 24 do CPP, quem a promove é
o órgão do Ministério Publico.
Na incondicionada, o órgão do Ministério Público a propõe, sem que
haja manifestação de vontade de quem quer que seja. Desde que
provado o crime, quer a parte objecti, quer a parte subjecti, o órgão do
Ministério Público deve promover a ação penal, sendo até irrelevante
contrária manifestação de vontade do ofendido ou de quem quer que
seja ( T o u r i n h o F i l h o , 1986, v. 1, p. 140).
Embora o legislador tenha usado a expressão ação penal pública em seu gênero,
não há previsão em nenhum tipo penal eleitoral do Código Eleitoral e da legislação
especial penal eleitoral, v.g., Lei ns 9.504/97, da ação penal pública condicionada.

786
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Percebe-se que não existe menção em nenhum artigo ao instituto da representação


ou da requisição do ministro da Justiça.
Princípios da ação penal pública incondicionada: oficialidade (cabe somente
ao Ministério Público, órgão do Estado, a propositura da ação); índísponibilidade
(o Ministério Público não pode desistir, transigir ou acordar); obrigatoriedade
(propor a ação penal sem basear-se em motivos políticos ou sociais) deve propor,
desde que existam condições mínimas (autoria, fato típico, inexistência de causa
de extinção de punibilidade, pressupostos gerais e suporte probatório mínimo);
indivisibilidade (a ação deve abranger todos os agentes que cometeram a infração
penal); e intranscendência (a ação penal é proposta apenas contra as pessoas
imputadas).
Note-se que inclusive os crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria
eleitorais) são de ação penal pública incondicionada. 0 legislador adotou o critério
de lesão ao bem jurídico "Estado", "democracia", “fé pública eleitoral” "votação",
"alistamento", "propaganda" etc.

Crítica
Nos crimes que ofendem a honra de candidatos e partidos políticos, como é
o caso da calúnia, difamação e injúria eleitorais, cumpre ponderar que, embora
exista o interesse do Estado e, portanto, do órgão da persecutio criminis eleitorais
(Ministério Público) na apuração destes delitos que ofendem interesses soberanos
da democracia e da higidez das campanhas eleitorais, não resta dúvida que são
delitos dotados de dupla subjetividade passiva, sendo as pessoas físicas e jurídicas
igualmente ofendidas. Nesses casos, então, o Estado devia condicionar o seu poder
repressivo à manifestação volitiva do ofendido e, ante essa situação, as ações seriam
públicas condicionadas, evitando-se a pecha ou insinuação de que o Ministério
Público seria partidário, quando sua atuação no processo eleitoral é suprapartidária
e voltada para a defesa dos interesses indisponíveis da cidadania.
Admite-se a ação penal privada subsidiária da pública (CF, art. 59, LIX) quando
o Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo de 10 (dez) dias, segundo
a regra especial do art. 357 do Código Eleitoral. Trata-se de prazo genérico, seja
para acusado preso ou solto, assim como é o prazo, v.g., fixado na Lei n- 9.099/95.
A regra especial não enseja aplicação subsidiária (posição em sentido contrário
encontramos nas lições da doutrinadora Suzana de Camargo Gomes, que entende
que o prazo para denúncia de acusado preso por crime eleitoral é de 15 dias).
Considerando os crimes eleitorais que permitem a ação privada do ofendido,
apenas indicamos os seguintes: arts. 292, 295, 298, 299, 300, 301, 303, 304, 323,
324, 325, 326, 331, 332 e 334 do Código Eleitoral; porque podemos verificar de
alguma forma ofendidos secundários (pessoas físicas ou jurídicas). Nos demais
delitos eleitorais do Código Eleitoral, não vislumbramos a possibilidade da

787
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

propositura desta ação penal, pois o ofendido é o Estado. Outrossim, o legislador


não criou nenhum critério semelhante ao disposto no art. I 9, §§ l e e 29, do Decreto-
Lei n9 201, de 27 de fevereiro de 1967, que "Dispõe sobre a responsabilidade dos
prefeitos e vereadores, e dá outras providências":

Art. í~ São crimes de responsabilidade dos prefeitos municipais,


sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do
pronunciamento da Câmara dos vereadores: (...)
§ 1- Os órgãos federais, estaduais ou municipais, interessados na
apuração da responsabilidade do prefeito, podem requerer a abertura de
inquérito policial ou a instauração da ação penal pelo Ministério Público,
bem como intervir, em qualquer fase do processo, como assistente de
acusação.
§ 2 e Se as providências para a abertura do inquérito policial ou
instauração da ação penal não forem atendidas pela autoridade
policial ou pelo Ministério Público estadual, poderão ser requeridas ao
procurador-geral da República.

A regra é apontada como exemplo de ação penal pública subsidiária da pública.


Todavia, trata-se de regra eivada de inconstitucionalidade por permitir que o
Ministério Público Federal proponha ação penal perante o Tribunal de Justiça ou
juiz de direito por crime praticado por prefeito no exercício de suas funções.
A ação penal privada subsidiária da pública, em tese, poderia ser admitida para
todas as infrações penais eleitorais tendo por ofendido o cidadão, sim ili m odo aos
casos da ação popular. Nesse sentido, destaca-se a posição de Frederico Marques
quanto ao crime do art. 295 do CE, retenção indevida do título eleitoral do eleitor.
Assiste razão ao eminente doutrinador. Em uníssono, é a decisão do TSE,
Acórdão 21.295, de 14.8.2003. Recurso Especial Eleitoral 21.295/SP.
Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Recurso especial. Crime
eleitoral. Ação penal privada subsidiária. Garantia constitucional.
Art. 5e, LIX, da Constituição Federal. Cabimento no âmbito da Justiça
Eleitoral. Arts. 29 do Código de Processo Penal e 364 do Código
Eleitoral. Ofensa. 1. A ação penal privada subsidiária à ação penal
pública foi elevada à condição de garantia constitucional, prevista no
art. 5e, LIX, da Constituição Federal, constituindo cláusula pétrea. 2.
Na medida em que a própria Carta Magna não estabeleceu nenhuma
restrição quanto à aplicação da ação penal privada subsidiária, nos
processos relativos aos delitos previstos na legislação especial, deve
ser ela admitida nas ações em que se apuram crimes eleitorais. 3. A
queixa-crime em ação penal privada subsidiária somente pode ser
aceita caso o representante do Ministério Público não tenha oferecido
denúncia, requerido diligências ou solicitado o arquivamento de
inquérito policial, no prazo legal. 4. Tem-se incabível a ação supletiva

788
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

na hipótese em que o representante do Ministério Público postulou


providência ao juiz, razão pela qual não se pode concluir pela sua
inércia. Recurso conhecido, mas improvido.
Quanto à ação penal privada subsidiária da pública ver o art. 29 do Código de
Processo Penal.

Lei n9 1 0 .2 5 9 /0 1 . Sursis processual


Acórdão 60, de 18.9.2003. Recurso em Habeas Corpus 60/PR. Relator:
Ministro Luiz Carlos Madeira. Ementa: Habeas corpus. Art. 299 do Código
Eleitoral. Sursis processual. Art. 89 da Lei n9 9.099/95. Pressupostos não
satisfeitos. A suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei
na 9.099/95, é inaplicável aos crimes em continuidade, se a pena mínima,
acrescida da majorante mínima de um sexto, ultrapassar o quantum de um
ano. A Lei n9 10.259/01 não alterou o patamar para o sursis processual
(aplicação da Súmula-STJ 243). Em processo penal eleitoral, para se
declarar nulidade processual, é necessário que se evidencie o possível
prejuízo ou a influência na apuração da verdade substancial ou na decisão
da causa (CPP, arts. 563 e 566, CE, art. 219). Recurso não provido.

Remissões:
CF, art. LIX.
CPP, art. 24.

2 3 .4 .2 . Art. 3 5 6 - Notícia da infração penai

Art. 356. Todo cidadão que tiver conhecimento de infração penal deste
Código deverá comunicá-la ao juiz eleitoral da zona onde a mesma se
verificou.
§ l s Quando a comunicação for verbal, mandará a autoridade judicial
reduzi-la a termo, assinado pelo apresentante e por duas testemunhas,
e a remeterá ao órgão do Ministério Público local, que procederá na
forma deste Código.
§ 2 9 Se o Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e
documentos complementares ou outros elementos de convicção, deverá
requisitá-los diretamente de quaisquer autoridades ou funcionários que
possam fornecê-los.

A expressão "cidadão" é empregada pelo legislador em sentido amplo e abrange


"qualquer pessoa do povo”, conforme a regra geral do Código de Processo Penal
(art. 27). Não há razão nenhuma para límitar-se a notitia criminis apenas ao

789
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

cidadão. A notícia da infração penal pode se dar por cognição imediata (decorrente
das atividades de investigação da polícia e do Ministério Público); mediata (quando
qualquer pessoa do povo leva ao conhecimento da autoridade a notícia do crime
eleitoral) e por coerção (nas hipóteses de prisão).
0 caput traduz, de certa maneira, uma regra de competência em razão do local,
porque, ao obrigar a comunicação da notitia criminis ao juiz da zona eleitoral em que
se verificou, procurou o legislador adotar a competência territorial (CPP, art. 70),
ressalvando-se a regra do foro por prerrogativa de função e as hipóteses de conexão.
Outrossim, no a r t 5 9, § 3 â, do Código de Processo Penal é prevista a delatio
criminis, quando qualquer pessoa poderá levar ao conhecimento da autoridade
policial a comunicação de crime. Trata-se de mera faculdade do eleitor ou não eleitor.
No entanto, poderá o agente ter o dever de comunicar e praticar contravenção penal
do art. 66 da LCP, nas hipóteses em que teve conhecimento no exercício da função
pública eleitoral ou não eleitoral (CE, art. 283).
0 § l 9 trata da remessa pelo juiz da notícia criminal ao Ministério Público. Não é o
caso do ofício requisitório (CPP, art, 39, § 4 S), porque não se trata de representação.
Quanto ao § 2 e, caberá ao órgão do Ministério Público com atribuições eleitorais,
(promotor eleitoral, procurador regional eleitoral ou procurador-geral eleitoral -
PGR) verificar os elementos mínimos e indispensáveis para formular a exteriorização
da opinio delicti.

Regras gerais sobre competência


l 9)Os vereadores são processados e julgados por crimes eleitorais perante o
juiz da zona eleitoral (vereador só possui imunidade material nos limites da
circunscrição);
O STF entende ser cabível a fixação, pela Constituição Estadual, do foro por
prerrogativa de função do vereador, no Tribunal de lustiça. com o respaldo no
disposto na Constituição da República, art. 125, § l 9:

"Art. 125. Os Estados organizarão sua justiça, observados os princípios


estabelecidos nesta Constituição.
§ l s A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado,
sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de justiça”.

Alguns julgados seguem o entendimento, de que a competência das Justiças


especializadas não pode ser ampliada para julgar o vereador em foro por
prerrogativa de função, pois tal fato implica em verdadeira inovação jurídica que
não possui respaldo constitucional, já que o fundamento da competência prevista na
Constituição Estadual possui limites antecedentes que não permitem sua extensão
para além dos limites da competência do Tribunal de Justiça Estadual.

790
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Nesse sentido:
"Ementa:
Recurso Criminal. Foro especial por prerrogativa de função. Vereador.
Constituição Estadual. Pretensão punitiva. Prescrição. Recebimento
da denúncia. Interrupção. Sentença. Art. 332 do Código Eleitoral
Condenação. Substituição da pena. Multa. 1 - Deve-se aplicar o
dispositivo da Constituição Estadual que contempla o foro especial
por prerrogativa de função aos vereadores, somente _jqQ_que diz
respeito aos crimes comuns, em processo e julgamento q.u.e.jntão
sejam de competência da justiça da União, ou seja, da Justiça Federal,
Justiça Eleitoral e Auditoria Militar Federal; 2 - 0 recebimento da
denúncia interrompe o prazo prescricíonal e reabre para o juiz prazo
para oferecer a prestação jurisdicional; 3 - No mérito, a conduta
dos recorrentes subsume-se ao tipo penal incriminador do art. 332
do Código Eleitoral, razão pela qual deve-se-lhes aplicar o preceito
secundário da norma em questão, que estatui pena de detenção de até
seis meses; 4 - Não há qualquer erro na quantidade de dias-multa fixada
pelo juiz, já que a pena de multa aplicada pelo magistrado nada tem a
ver com a multa prevista no art. 332 do Código Eleitoral, e sim com a
substituição prevista no art. 44, § 2-, do Código Penal, e quantificada
pelo art. 49 do mesmo diploma. Recurso improvido (TRE/PI, Acórdão
36C Padre Marcos - PI 10.06.2005, Rei. Bernardo de Sampaio Pereira,
DJE - DIÁRIO DEJUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ, vol. 5427, 23.06.2005,
p. 22).
E ainda:
Verifica-se que mesmo os Ministros que entendem ser
constitucional a criação de foro por prerrogativa de função por
Constituição de Estado-membro, afirmam que não prevalece o foro
especial em causas de competência da Justiça Federal, vez que não
pode a Constituição do Estado derrogar a competência atribuída pela
Constituição Federal aos Juizes Federais,
O Ministério Público traz à colação arestos do STJ (HC ne 11939/RJ.
Rei. Min. Gilson Dipp, DJ 23/10/2000) e do próprio Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro (HC proc. n9 2000.059.02382 Rei2. Desa.
Fátima Clemente, j. 19/09/2000), no sentido da inconstitucíonalidade
do art. 158, IV, letra “d" da Constituição deste Estado.
Ademais, já tendo sido procedida a quebra do sigilo bancário requerida,
e colhidas as informações requeridas nestes autos, exauridas estão
as diligências, devendo ser acolhido o pleito para remessa dos autos
ao Juízo de I a instância onde tramita o inquérito policial destinado
a averiguar a possível ocorrência de infração penal (3a Vara Federal
Criminal de Teresópolis).

791
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Frente ao exposto, meu voto é no sentido de remeter os autos ao Juízo


da Vara Federal Criminal de Teresópolis, como requerido pelo MPF. Des.
Fed. Ney Fonseca”(TRF 2a Região, Medida Cautelar ne 99.02.06543-0,
Rei. Desembargador Federal Ney Fonseca, julgado em 1~ de julho de
2002 ).
Em 04.09.2008, o pleno do TRF da 2a Região entendeu não ser competente para
julgar, originariamente, vereador municipal no âmbito do Estado do Rio de Janeiro,
determinando a remessa dos autos ao juízo de I a grau. Decisão publicada em
18.09.2008, no DJ, nos seguintes termos:
"Ementa. Penal. Processual Penal. Constitucional. Inquérito para
apuração de responsabilidades tramitando pelo trf 2a Região.
Competência originária por prerrogativa de função. Cassação de
mandato de parlamentar estadual. Reconhecimento da não aplicação
do princípio da simetria em relação a vereador. Declínio de competência
para a Justiça Federal de Primeiro Grau.- Trata-se de Inquérito Policial
para a apuração de responsabilidades em tramitação pelo Tribunal
Regional Federal da 2a Região, por constar entre os denunciados um
deputado estadual.- Cassação de mandato do parlamentar estadual,
com perda de imunidade e do direito a foro especial por prerrogativa
de função.- Permanência temporária da competência por constar entre
os codenunciados um vereador de Município do Estado do Rio de
Janeiro, cuja Constituição atribui ao Tribunal de Justiça a competência
originária para processar vereadores pela prática de crimes comuns e
de responsabilidade.- Deliberação do Tribunal Pleno, em questão de
ordem em outro processo, com decisão estendida a este quanto à não
aplicação do princípio da simetria com relação a vereadores, por ser
restrita a competência do Tribunal Regional Federal, determinada pela
Constituição Federal.
- Declínio de competência para a Justiça Federal de primeiro grau,
devendo ser remetido o feito no estado em que se encontra"
Para uma corrente de pensamento, não seria possível olvidar o princípio da
simetria, pois para todas as autoridades que têm foro por prerrogativa de função no
âmbito dos Tribunais de Justiça, a regra é de extensão para a Justiça Eleitoral, como
é o caso do Prefeito.
Verifica-se que o Prefeito responde pelo Tribunal de Justiça em crimes comuns,
mas a própria CRFB nada diz sobre os crimes eleitorais. Não há esta previsão na
Constituição Federal.
O TSE ao longo do tempo firmou entendimento de que todas as autoridades que
tenham foro no Tribunal de Justiça, por simetria, devem responder no Tribunal
Regional Eleitoral.

792
C o n s i d e r a ç õ e s G e r a i s S o b r e o s C r im e s E l e i t o r a i s e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p it u l o 23

A extensão da regra em relação ao Prefeito foi captada da Constituição Estadual,


e nem por este motivo na ocasião se arguiu uma indevida extensão de foro, até
porque o tema é interpretado de forma sistêmica e simétrica, adotando-se, inclusive
a especialização das Justiças.
0 Prefeito, na verdade, responde por crimes eleitorais no Tribunal Regional
Eleitoral em função da interpretação sistemática dos arts. 29, X, e 96, III, da CRFB.
Ora, no art. 96, III, da CRFB não existe expressa menção ao Prefeito na ressalva dos
crimes eleitorais, mas, por simetria e aplicação da Constituição Estadual, acabou
o Prefeito tendo que responder por crimes eleitorais nos Tribunais Regionais
Eleitorais.
Os Secretários de Estado também respondem por crimes eleitorais nos Tribunais
Regionais Eleitorais, e esta competência é firmada nás Cartas Estaduais. Assim,
subsistiria neste assunto, evidente regra simétrica, que, no fundo, preservaria o
princípio da igualdade da jurisdição, até porque em casos de conexão entre crimes
comuns e eleitorais, ambos são julgados pela Justiça Eleitoral.
Destacamos trecho do parecer do culto Promotor Eleitoral Tiago Gonçalves Veras
Gomes, in expressi verbis:
“(...) Apesar de a Constituição do Estado do Rio de Janeiro estabelecer
que Vereadores gozam de foro especial por prerrogativa de função
(art. 161, IV, "d”, ne 3), tradicionalmente o Tribunal de Justiça
fluminense vinha entendendo que tal dispositivo era inconstitucional.
Ocorre que, recentemente, a Suprema Corte Constitucional alterou o
entendimento até então vigente, passando a declarar constitucionaisdispositivos
das Cartas Estaduais que estabelecem foro especial para Vereadores.
Neste sentido, veja-se o aresto abaixo colacionado, in verbis:
. Ementa; Competência Criminal. Originária. Ação penal. Crime comum. Réu
en«ão v e r^ d o n ^ i t o dò TribUnal-de^ ^
"d” rig 3 . da Constituição do Estado do Rio de janeiro. Forit» especial por • .
- prerrogativa de função. Constitucionalidade reconhecida. Precedentes
do Supremo. Processo anulado. Recurso extraordinário improvido. Réu .
que perdeu o cargo de vereador. Retorno dos autos' aa iúízo, de,"primeiro
grau. Prejuízo do recurso neste ponto. Inteligência dos artsV 22, I, e ;Í25,
§ IS do art. 2 2 ,1, dá CF. Não a&onta á Constituição da Repúbliçá. á norma
de Constituição estadual que, disciplinando competência originária do
Tribunal de Justiça, lha atribui pára processar e julgàr verèador. (STF, RE ‘
464935 / R J-R io de Janeiro; ^ í V ' •.;
Recurso Ejriraordiháriò, Relator: Miii. Ceziár Péliisò; jJ 03.06.2008, Órgão
JuigadorrSé^ridaTúrmà).: : :V' -'/O : •' ":r:í
Neste sentido, veja-se que Julio Fabbrini Mirabete, em sua obra Código de Processo
Penal Com entado, Ed. Atlas, 10a ed., p. 331, cita jurisprudência do STF no seguinte
sentido, in verbis:

793
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

Crimés Eieitóráis de Secretários de Estados. Competência do TRE-STF: "Habeas


corpús. Coinpetêiicia para o processo è julgamento de Secretário do Estado
acusado dá prática de crime eleitoral. Constituição de 1988. Compete
originariamente aos Tribunais ReeionaisJEleitorais processar e julgar, pòr
c r i m e s eleitorais, as autoridades estaduais que, em crimes comuns tenham
no Tribunal de Tustiça o foro por prerrogativa de função. Recurso Ordinário a
que se nega provimento (/STF 175/327)."
Recentemente, diante de conflito de atribuição suscitado pela então Procuradora
Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, Dra. Silvana Battini, em relação a um
Promotor Eleitoral Fluminense, o Excelentíssimo Procurador-Geral Eleitoral, Dr.
Roberto Monteiro Gurgel Santos decidiu pela atribuição do Promotor Eleitoral, ao
entendimento de que o edil não tem foro por prerrogativa de função em âmbito
eleitoral. Assim, adotou-se o primeiro entendimento acima esposado, no sentido de
que a Constituição da República não permite à Constituição Estadual disciplinar a
competência das justiças Federais (o que inclui a eleitoral), visto que o disposto no
art. 125 da CRFB é expresso ao definir que “Os Estados organizarão sua Justiça" o
que restringe tal possibilidade à própria esfera estadual.
29)0 s prefeitos são processados e julgados por crime eleitoral no Tribunal Regional
Eleitoral; porque vige o princípio da simetria com o Tribunal de Justiça dos Estados;
além da matéria ser de competência de uma justiça Especializada (não comum) e
de cunho federativo; sendo o prefeito julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral, terá
maiores garantias de defesa, pois caberá recurso ao Tribunal Superior Eleitoral
da decisão do TRE e, portanto, o princípio constitucional da amplitude de defesa
tornar-se-á mais efetivo; não se aplica aos prefeitos a regra do art. 29, I, d, do
Código Eleitoral e, por fim, a regra deve ser de interpretação sistêmica entre os
arts. 29, X c/c 96, III, e 121, todos da CF, ressalvando-se a competência da Justiça
Eleitoral (ocorrendo conexão com crime comum, ambos devem ser processados
e julgados na Justiça Eleitoral - art. 364 do Código Eleitoral). A interpretação
para o processo e julgamento dos prefeitos pelo TRE cria regra harmônica entre
a competência por prerrogativa de função e em razão da natureza da matéria (ver
ainda, as decisões STJ CC 1.265, DJU 174, de 10 de setembro de 1990, pp. 9.111 e
1.447, DJU 235, de 10.12.1990, p. 14.791);
39) 0 vice-prefeito não teve o mesmo tratamento legislativo do prefeito e, portanto,
a competência para o processo e julgamento do mesmo é do juiz eleitoral;
4®)Os deputados estaduais são processados e julgados pelo Tribunal Regional
Eleitoral, porque todas as autoridades que tenham foro por prerrogativa de
função no Tribunal de Justiça, quando praticam crimes eleitorais, respondem no
TRE (CF, art. 96, III); outrossim, as Constituições Estaduais costumam ressalvar
a competência da Justiça Eleitoral (TRE) em relação aos crimes praticados por
juizes estaduais, promotores de Justiça e secretários de Estado;

7Q A
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

55) 0 s deputados federais, senadores, presidente e vice-presidente da República são


originariamente processados e |ulgados no Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102,
I, b) ;
6a)Os governadores são julgados no Superior Tribunal de justiça (CF, art. 1 0 5 ,1, a);
e
7S) Os vice-governadores devem ser processados e julgados pelo juiz eleitoral, porque
as Constituições Estaduais não podem legislar sobre foro por prerrogativa de
função atribuindo competência reservada à matéria da Carta Magna. No entanto,
não é o que se verifica nas Cartas Estaduais, v.g., no Estado do Rio de Janeiro (CERJ,
art. 158, IV, c), quando diz que o Vice-governador será processado e julgado pelo
Tribunal de Justiça. Ao admitir-se esse entendimento, o vice-governador seria
processado e julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral por crime eleitoral.
Destacamos:
O entendimento dominante, repetimos, no entanto, é no sentido de que
as pessoas que têm o Tribunal de Justiça como seu foro privativo, se
vierem a cometer infrações de alçada das Justiças Especializadas, serão
processadas e julgadas pelos Órgãos Superiores dessas Justiças.
Não obstante, continuamos entendendo que na CF não há nenhuma
regra, explícita ou implícita, atribuindo aos Tribunais Regionais
Federais e Tribunais Regionais Eleitorais competência para processar
e julgar outras pessoas além daquelas expressamente listadas em lei.
Mais: se a CF, no seu art. 125, § l e, atribui às Constituições Estaduais
poderes para definirem a competência dos Tribunais de Justiça, não nos
parece estejam estes impossibilitados de processar e julgar as pessoas
sujeitas à sua jurisdição, se cometerem crimes federais ou eleitorais.
Certo que a competência das Justiças Especializadas é fixada na Lei
Maior. Não é menos certo, também, que a Lei Maior pode excepcionar a
si própria. É como se ela dissesse: os crimes federais e eleitorais devem
ser processados e julgados pelas respectivas Justiças, salvo se o agente
dever ser processado pelo Tribunal de Justiça. E, ao que nos parece, foi
o que ela fez. (...)
Insta acentuar que o Código Eleitoral dispõe, no art. 29 ,1, d, competir ao
Tribunal Regional Eleitoral processar e julgar, nos crimes eleitorais, os
juizes eleitorais. Indaga-se: e se o agente do crime eleitoral for um juiz
que não exerça função eleitoral? Quid inde? Não podendo ser julgado
por outro juiz, sê-Io-á pelo Tribunal de Justiça ( T o u r i n h o F i l h o , 1986,
v. 2, p. 143).
O foro por prerrogativa de função não protege a pessoa do Promotor de Justiça,
mas sim a magnitude das dimensões jurídicas, sociais e constitucionais das funções
exercidas pelo representante da sociedade. O art. 96, III, da Constituição Federal
disciplina quis

795
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

III. aos Tribunais de Justiça julgar os juizes estaduais e do Distrito


Federal e territórios, bem como os membros do Ministério Púbiico, nos
crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral.

Como se depreende, se um promotor de Justiça ou procurador de Justiça praticar


um crime comum ou de responsabilidade será julgado originariamente pelo
Tribunal de Justiça.
O art. 96, III, da Constituição Federal, excepciona a regra geral para permitir
que o Tribunal Regional Eleitoral processe e julgue os crimes eleitorais e conexos
praticados por essas autoridades. Dessa forma, se um promotor de Justiça praticar,
v.g., o crime de mapismo (CE, art. 315) conexo com o delito de quadrilha (CP,
art. 288) será processado e julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Ver, ainda, o art. 40, IV, da Lei n- 8.625/93.

Remissões:
CP, art. 269.
CPP, arts. 27; 40.

23.4.3. Art. 357 - Prazo da denúncia

Art. 357. Verificada a infração penal, o Ministério Público oferecerá a


denúncia dentro do prazo de 10 (dez) dias.

A regra é especial. No art. 46 do Código de Processo Penal o prazo é de 5 (cinco)


dias para réu preso e de 15 (quinze) dias para solto, contado o prazo da data em
que o Ministério Público receber os autos. 0 art. 800, § 2S, do CPP diz que o prazo é
contado do termo de vista.
Os doutrinadores Fernando da Costa Tourinho Filho e Suzana de Camargo Gomes
entendem que se pode aplicar ao réu preso, subsidiariamente, o prazo de 5 (cinco)
dias para oferecer a denúncia.
Como referimos em linhas anteriores, o prazo da lei eleitoral é especial e, ao
que parece, o legislador fez uma opção intermediária, pois não remeteu a regra da
subsidiariedade, nem tampouco adotou o prazo geral de 15 (quinze) dias para o réu
solto. Na verdade, a norma ficou no meio termo dos prazos: nem 5 (cinco), nem 15
(quinze), mas 10 (dez) dias. A opção legiferante engloba o réu preso ou solto, sendo
que as hipóteses de réu preso são raras, até porque a maioria dos crimes eleitorais
é de menor potencial ofensivo devendo a autoridade policial lavrar o termo de
compromisso com a posterior proposta de transação penal.

796
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r i m e s E l e it o r a is e

o P ro c e sso P en al E le ito r a l C a p ít u l o 2 3

Leis especiais
Outras leis especiais fixara prazos diferenciados e não se utiliza a regra da
aplicação subsidiária do CPP como, por exemplo, nos crimes de abuso de autoridade
(48 horas), art, 13 da Lei n9 4.898/65.

Contravenção
Não há contravenção penal eleitoral. 0 eminente doutrinador Frederico Marques
salienta que as infrações penais eleitorais sancionadas apenas por multa são
contravenções penais. Na verdade, o prazo é único e o rito idêntico.
A lei eleitoral federal da Alemanha (Bundeswahlgeset - BWahlG), no art. 49-A,
trata de contravenções penais eleitorais.
Um exemplo é o caso do mesário faltoso ou de qualquer agente de cargo honorífico.
No Brasil, esta conduta é tipificada como crime no art. 344 do Código Eleitoral.
Na Espanha, v.g., toda infração às normas obrigatórias estabelecidas pela legislação
eleitoral que não constitua crime é sancionada pela Junta Eleitoral competente
(art. 153 da Lei Orgânica n9 5/85, de 19 de Junho do Regimento Eleitoral Geral).

§ l 9 Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,


requerer o arquivamento da comunicação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa da comunicação
ao procurador regional, e este oferecerá a denúncia, designará outro
promotor para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao
qual só então estará o juiz obrigado a atender.

A regra é similar à do art. 28 do Código de Processo Penal. 0 legislador, ao invés


de referir-se ao inquérito policial, fez menção ao arquivamento da comunicação
salientada acima.
Como se nota, "a comunicação” poderá ensejar a instauração de inquérito
policial ou ser formalizada apenas como peças de informação registradas no âmbito
da Promotoria Eleitoral, das Procuradorias Regionais Eleitorais ou Geral Eleitoral.
De toda sorte, o arquivamento será do órgão do Ministério Público em decisão
fundamentada.
0 juiz no exercício de função anômala, ao discordar das razões, encaminha os
autos ao os autos ao Ministério Público Federal, e prevê a lei que o procurador
regional eleitoral poderá oferecer denúncia ou designar outro promotor

Ministério Público "Eleitoral"


Pelo princípio da obrigatoriedade (legalidade ou necessidade) da ação penal
pública, o Ministério Público possui o dever legal de promover a ação penal quando
verificados elementos que indiquem a ocorrência de um fato delituoso e a sua

797
M a r c o s R a m a y an a D ir e it o E l e it o r a l

autoria. Em razão da relevância desse princípio, o Legislador dispôs, no art. 28 do


Código de Processo Penal, uma forma de fiscalização de seu cumprimento, através
do Poder Judiciário.
Assim, o arquivamento deverá ser requerido pelo membro do P arqu ete submetido
à análise do Juízo quanto à sua efetivação. Se o magistrado concordar, promoverá o
arquivamento requerido; caso contrário, remeterá ao Procurador Geral de Justiça
para que este aprecie a questão, definindo sobre a ocorrência do arquivamento, ou
não.
No Direito Eleitoral, conforme disposto no a r t 357, § l 2 , verbis:

"Art. 357. (...)

§ 1- . Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,


requerer o arquivamento da comunicação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa da comunicação ao
Procurador Regional, e este oferecerá a denúncia, designará outro pro­
motor para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual
só então estará o juiz obrigado a atender”.

Assim, o arquivamento requerido pelo Promotor Eleitoral e não aceito pelo Juízo
Eleitoral, era submetido à apreciação do Procurador Regional Eleitoral para decisão
definitiva sobre a questão.
Ocorre que, recentemente, a 2a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério
Público Federal, especializada em matéria penal deliberou emitir o Enunciado 29,
a seguir transcrito:
Enunciado ng 29: Compete à 2a Câmara de Coordenação e Revisão do
Ministério Púbiico Federal manifestar-se nas hipóteses em que o Juiz
Eleitoral considerar improcedentes as razões invocadas pelo Promotor
Eleitoral ao requerer o arquivamento de inquérito policial ou de peças
de informação, derrogado o art. 357, § l 9 do Código Eleitoral pelo
art. 62, inc. IV da Lei Complementar ns 75/93.
Com isso, a opinião definitiva sobre o arquivamento caberá à Câmara de
Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, e não mais a Procuradoria
Regional Eleitoral. Conforme entendimento da Instituição Federal o art. 357,
§ 1- do Código Eleitoral (acima transcrito) restará derrogado pelo art. 62, IV da Lei
Complementar ne 75/93, verbis:

“Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão:


(...)
IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito
parlamentar ou peças de informação, exceto nos casos de competência
originária do Procurador-Geral;"

798
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a i E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Trata-se de manifestação da autonomia administrativa e funcional da Instituição


em âmbito federal, que, por ser recente, ainda demandará melhor sedimentação
quanto à movimentação prática dos procedimentos.
Algumas questões básicas podemos extrair da regra singular aqui exposta:
1) 0 mesmo promotor eleitoral que arquivou não poderá ser designado para oferecer
a denúncia. Como no CPP, a lei faz menção a outro promotor.
2) 0 outro promotor designado estará agindo por delegação. É obrigado a propor
a ação penal ou prosseguir nas diligências, age como longa manus. Exerce suas
atribuições por delegação interna de atribuições.
3) O juiz atende ao princípio da devolução, remetendo os autos remetendo os autos
à 2a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal para exame e
decisão final quanto ao oferecimento ou não da peça acusatória. A função anômala
do juiz ocorre porque ele está fiscalizando o princípio da obrigatoriedade. No
entanto, o verdadeiro fiscal deste princípio é o próprio Ministério Público.
4) Se o a 2a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal insistir
no pedido de arquivamento, o juiz é obrigado a atender.
5) A lei não faz menção ao procurador-geral de Justiça.
Diante deste panorama, verificamos determinadas questões de relevante
interesse institucional, a saber: l 9) o art. 77 da Lei Complementar n9 75/93 atribui
ao procurador regional eleitoral dirigir; n os Estados, a atividade do setor. Entende-
se por setor as atividades eleitorais como, v.g., expedir instruções, recomendações
e efetivamente coordenar as Promotorias Eleitorais. Numa interpretação mais
ampla, a direção dessas atividades engloba a solução dos conflitos de atribuição
positivos ou negativos entre membros do Ministério Público Estadual no exercício
das atividades e atribuições eleitorais no mesmo Estado, e a fiscalização final do
princípio da obrigatoriedade da ação penal pública incondícionada; 22) a autonomia
administrativa dos Ministérios Públicos Estaduais engloba o poder hierárquico e,
em conseqüência, o poder de designação. Essa autonomia tem assento na Carta
Magna (art. 127, § 2e) e ria legislação infraconstitucional (Lei n9 8.625/93 art. 3S),
bem como em diversas leis orgânicas estaduais. Vê-se, portanto, que o procurador
regional eleitoral (membro do Ministério Público Federal) não poderá designar
membro do Ministério Público Estadual, em nenhuma hipótese legal, sob pena
de quebrantar o princípio da unidade do Ministério Público Estadual, dignificado
no poder hierárquico administrativo do procurador-geral de Justiça. Admite-se
na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral que a perfectibilidade do ato
de designação deve ser de natureza complexa (manifestação de duas vontades
autônomas para o interesse comum), envolvendo a indicação do nome do promotor
eleitoral pelo PGJ e a designação pelo PRE; 3-) o sistema correto é o procurador
regional eleitoral solicitar ao procurador-geral de Justiça a indicação com a
designação de um promotor eleitoral para agir por delegação interna (nesta matéria,
em especial, a delegação é interna); assim, quando o PRE designa um promotor

799
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

eleitora] está a quebrantar a própria unidade do Ministério Púbiico Federal, ao


delegar questão interna para o Ministério Público Estadual, ou seja, o oferecimento
da denúncia; 4 a) o Código Eleitoral é de natureza jurídica híbrida (parte é lei
ordinária, e outra parte lei complementar - fenômeno da recepção). Assim, pelo
art. 121 da CF, a regra do art. 357, § I a, do CE não é de natureza complementar,
quando o art. 29 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias está a exigir lei
de natureza complementar relativa ao Ministério Público e, portanto, somente por
lei desse patamar legiferante é possível tratar de assunto dessa relevância jurígena
(autonomia administrativa); 5 a) é de iniciativa privativa do Presidente da República
as leis que tratam de organização do Ministério Público (CF, art. 61, § I a, II, d) e,
assim, a norma em comento estaria evidentemente eivada de inconstitucíonalidade
formal em razão do vício de iniciativa; 6 a) por fim, o sistema hodiernamente adotado
é da designação pelo PRE com a indicação do nome do designado pelo PGJ (matéria
administrativa interna de cada Ministério Público Estadual), sendo a questão
resolvida protocolarmente e em homenagem ao princípio da respeitabilidade entre
as instituições do Parquet visando a solução do interesse público comum. Esta
solução é apresentada no Estado do Rio de Janeiro através da Resolução Conjunta
ne 10, de 16 de junho de 2009 (PRE e PGJ). A solução apresentada no texto da
resolução contempla a posição jurisprudencial do Tribunal Superior Eleitoral, mas,
de leg e feren d a, os sistemas adotados no Código Eleitoral e na Lei Complementar
n9 75/93, art. 79, parágrafo único, devem ser revistos.

Remissão:
CPP, art. 28.

§ 29A denúncia conterá a exposição do fato criminoso com todas as suas


circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais
se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o
rol das testemunhas.

O dispositivo trata dos requisitos formais da denúncia. A denúncia por crime


eleitoral deve ser dirigida ao juiz eleitoral da zona eleitoral do local do fato. Aplica-
se a regra do art. 70 do Código de Processo Penal, exceto se o réu tiver foro por
prerrogativa de função.

Remissão:
CPP, art. 41.

§ 39 Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo


legal, representará contra ele a autoridade judiciária, sem prejuízo da
apuração da responsabilidade penal.

8 0 0
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Remissões:
Ver comentários ao art. 342 do Código Eleitoral.

§ 4- Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior, o juiz solicitará


ao procurador regional a designação de outro promotor, que, no mesmo
prazo, oferecerá a denúncia.

0 artigo é flagrantemente inconstitucional Ver comentários aos arts. 342 e 343


do Código Eleitoral.

§ 5a Qualquer eleitor poderá provocar a representação contra o órgão do


Ministério Público se o juiz, no prazo de 10 (dez) dias, não agir de ofício.

O dispositivo deve ser visto como norma de amplitude da cidadania. A


representação aqui referida não é do direito de representação na ação penal pública
condicionada. O artigo trata do direito de petição ao órgão correcional do promotor.
0 dispositivo legal trata do direito de petição. Segundo leciona Léon Duguit (1911,
v. II p. 95), o direito de petição é o que autoriza qualquer indivíduo a dirigir aos órgãos
públicos ou agentes do poder público um escrito no qual exponha opiniões, pedidos
ou queixas. É uma conseqüência da liberdade individual em geral, e de opinião, em
particular. Cada um tem o direito de expor o que pensa a respeito dos negócios públicos
e o de não ser vítima silenciosa e resignada de atos arbitrários de agentes de autoridade.
A origem do direito de petição é focalizada na Declaração de Direitos, Bill o f
rights, Inglaterra, em 1688.
A base constitucional do direito de petição está no art. 59, XXXIV, alínea a, da
Carta Magna.

Considerações gerais sobre o direito de petição


As petições podem versar sobre diversos assuntos, sejam eles de natureza
pública ou particular. A lei, portanto, prevê a notícia criminal.
- "O direito de petição, presente em todas as Constituições brasileiras,
qualifica-se como importante prerrogativa de caráter democrático. Trata-
se de instrumento jurídico-constitucional posto à disposição de qualquer
interessado - mesmo aqueles destituídos de personalidade jurídica - com a
explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante as instituições estatais, de
direitos ou valores revestidos tanto de natureza penal quanto de significação
coletiva” (STF. Min. Celso Mello, 1995, ADIN 1.247/PA. Medida cautelar).
- Se o noticiante dá causa à instauração de investigação policial ou processo
contra alguém, sabendo ser inocente, pratica, “em tese", o delito do art. 339
do Código Penal. A objetividade jurídica do art. 339 é o interesse na salutar
administração da Justiça.

801
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

- Como leciona o doutrinador Ricardo Lobo Torres, a dimensão processua! da


cidadania “envolve processos jurídicos através dos quais se atualizam direitos
e deveres" (T o r r e s , 2001, p. 252).

23.4.4. Art. 358 - Rejeição da denúncia

Art. 358. A denúncia será rejeitada quando:


I. o fato narrado evidentemente não constituir crime;
II. já estiver extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra causa;
III. for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição exigida pela
lei para o exercício da ação penal.
Parágrafo único. Nos casos do número III, a rejeição da denúncia não
obstará ao exercício da ação penal, desde que promovida por parte
legítima ou satisfeita a condição.

A recente Lei nfi 11.719, de 20 de junho de 2008, que: “Altera dispositivos do


Decreto-Lei ns 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos
à suspensão do processo, em endatio íibelli, m utatio libelli e aos procedimentos",
produz novidades no processo penal eleitoral.
A Lei nfi 11.719, de 20 de junho de 2008, entrou em vigor 60 (sessenta) dias
após a data de sua publicação, conforme previsão no art. 2a, havendo a mesma sido
publicada no dia 23.06.2008. Assim, em conformidade com o disposto no § l e do
art. 8 a da Lei Complementar 95 de 1998, a Lei em comento entrou em vigor na data
de 22 de agosto de 2008.
Resumidamente podemos elencar mudanças no processo penal eleitoral, a saber:
0 art. 394 do Código de Processo Penal passa a consagrar espécies de
procedimentos, tais como: o comum e o especial, sendo o comum dos tipos
ordinário, sum ário e sumaríssimo. Assim destaca-se:

"Art. 394.0 procedimento será comum ou especial, § 1 - 0 procedimento


comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo: I - ordinário, quando
tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior
a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; II - sumário, quando
tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4
(quatro) anos de pena privativa de liberdade; III - sumaríssimo, para as
infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei".

No âmbito do processo penal eleitoral, o procedimento é especial, porque


previsto no Código Eleitoral (Lei na 4.737/65, arts. 3 5 5 a 3 6 4 ) .

802
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

0 procedimento c o m u n ié aplicável a todas os-processos, mas ressalva-se no


§ 2 9 do art. 394 do CPP (lei nova) as disposições contrárias do próprio CPP ou de let
especial. Conclui-se que as regras sobre processo penal eleitoral, à primeira vista,
por possuírem disciplina própria, não estariam sujeitas às alterações da nova lei.
Não é assim.
A nova lei mantém a aplicação su bsid iária do procedim ento ordinário (espécie
do comum) a todos os procedimentos especiais, inclusive o eleito ral. Neste sentido
é expresso o § 5 Qdo art. 394;

"Art. 394.
(...)
§ 5a Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário
e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário”.

Não obstante o teor do § 2° do art. 394, in verbis:" Aplica-se a todos os processos


o procedimento comum, salvo disposições em contrário deste Código ou de lei
especial"; o § 4 9 trouxe uma regra específica para todos os procedimentos, inclusive
o de natureza eleitoral, nos seguintes termos: "As disposições dos arts. 395 a 398
deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau,
ainda que não regulados neste Código” (grifou-se).
De fato, a norma geral não revoga a especial, mas, no caso, tal regra foi ressalvada,
o que enseja o complemento da norma específica (Código Eleitoral) com a regra
geral (Código de Processo Penal), não incidindo, neste ponto, o princípio da
especialidade. Em outras palavras: o Código Eleitoral e s tá preservado no que
não foi alterad o expressam en te pelo § 4 Qdo art. 3 9 4 do CPP.
Desta forma, o § 2 - resguarda o processo penal eleitoral previsto nos arts. 355 a
364 do Código Eleitoral, mas o § 4 2 determina a aplicação de regras processuais do
CPP de forma específica, inclusive, no processo penal eleitoral.
Dentre as inovações, pergunta-se:
O art. 3 9 5 do CPP (lei nova) revogou o art. 35J3 do Código Eleitoral?
Sim, quanto ao artigo e seus incisos. A Lei de Introdução ao Código Civil, art. 2-,
§ 1~, prevê que a lei posterior revoga a anterior, quando regule inteiramente a
matéria por esta tratada.
Percebe-se, desta forma, que a nova lei é mais abrangente e técnica do que a lei
revogada (Código Eleitoral) tratando integralmente da mesma disciplina, qual seja,
a hipótese de rejeição da denúncia ou queixa.
Diz o texto antigo (art. 358 do Código Eleitoral):

"Adenúncia será rejeitada, quando: I - o fato narrado evidentemente não


constituir crime; íí - já estiver extinta a punibilidade, pela prescrição

803
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

ou outra causa; III - for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar


condição exigida pela lei para o exercício da ação penal".

Diz o texto novo (art. 395 do Código de Processo Penal):

"A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente


inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício
da ação penal; ou III - falta justa causa para o exercício da ação penal".

A nova lei abrange outras formas já consagradas pela doutrina e jurisprudência


de rejeição da ação penal. Assim, no inciso I do art, 3 9 5 é prevista a rejeição da
denúncia no caso de ser manifestamente inepta.
Conforme leciona o autor Marcellus Polastri Uma, na sua obra intitulada Manual
de Processo Penal (Ed. Lumen Juris, 2007, p. 185), a inépcia da inicial acusatória se
configura pela ausência dos requisitos legais essenciais da denúncia, quais sejam, a
qualificação do acusado e a exposição do fato criminoso. Tais requisitos se encontram
previstos no art. 41 do CPP, e são classificados como essenciais, enquanto os demais
nele previstos configuram-se como não essenciais, isto ê, não são capazes de gerar
a inépcia da inicial acusatória.
0 inciso II engloba a falta de p ressu p ostos pm cessuais, o que é uma desejada
mudança que se coaduna com a teoria geral do processo penal. Os pressupostos
processuais podem ser divididos em pressupostos processuais de existência e de
validade. 0 Autor acima mencionado ensina que: "São três os cham ados pressupostos
de existência: 1. N ecessidade de dem an da; 2. N ecessidade de órg ão dotado de
jurisdição, e 3. N ecessidade de p artes que possam fig u ra r no p rocesso”.
De outra forma, os pressupostos de validade "são identificados no próprio decorrer
da relação processual, e dizem respeito à regularidade dos atos processuais, sem vícios
ou defeitos, e, assim, deve haver legitim idade da parte para aquele processo flegitimatio
ad processumj, não deve ser o ju iz suspeito ou incom petente p a ra aqu ele caso em
concreto e não podem estar presentes a litispendência, a coisa ju lgada ou a perem pção,
além de hipóteses outras que maculem a relação processual" (apud, p. 162).
Já as condições da ação são esclarecidas pela teoria geral do processo como
legitimidade ad causam, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido.
Verifica-se que a lei não definiu o que seriam as condições da ação e os
pressupostos processuais, tarefa esta atribuída à doutrina.
O inciso III trata da ju sta causa, colocando-a à parte da previsão das condições
da ação, o que acaba por reforçar a corrente doutrinária que não a compreendia
como uma condição da ação. De qualquer forma, trata-se de uma condição de
admissibilidade.
A definição clássica de ju sta causa se refere à existência de prova do fato
criminoso e indícios suficientes de autoria.

8 0 4
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Cumpre ainda frisar que, no segundo grau de jurisdição, segue-se o procedimento


da Lei ns 8.038/90, que disciplina os processos de competência originária do
STJ e STF. Nas palavras do renomado Marcellus Polastri, já antes citado: "... ao
procedimento de ação penal originária dos tribunais de justiça dos Estados e do
Distrito Federal, bem como aquele dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Federal, bem como aquele dos Tribunais Regionais Federais, passou a ser aplicado
sempre a Lei ne 8.038/90, obviamente com normas complementares, via de regra,
dos respectivos Regimentos Internos dos Tribunais" (apud, p. 683).
Outra questão que se apresenta é a seguinte: o parágrafo único do a r t. 3 5 8 do
Código Eleitoral está revogado tacitam ente pela lei nova?
O art. 43 do CPP, que tratava das hipóteses de rejeição da denúncia, possuía
uma previsão em seu parágrafo único semelhante ao que consta, atualmente, no
parágrafo único do art. 358 do Código Eleitoral, in verbis:

"Parágrafo único. Nos casos do número III, a rejeição da denúncia não


obstará ao exercício da ação penal desde que promovida por parte
legítima ou satisfeita a condição”.

Ocorre que o art. 358 e seu parágrafo único, do Código Eleitoral, não foram
expressamente revogados, o que pode suscitar dúvidas sobre se tal disciplina teria
sido ou não tacitamente revogada.
O que se pode perceber é que o parágrafo único do art. 395 do CPP (lei nova) não
foi vetado, mas surgiu nesta lei nova como já tendo sido revogado, sendo que, de
fato, nunca existiu.
É necessário frisar que as hipóteses de rejeição da denúncia eram tratadas pelo
art. 43, e não pelo art. 395, que tem um parágrafo único que já surgiu como revogado.
Com isso, verifica-se que o parágrafo único do art. 358 do Código Eleitoral, a
princípio, também teria sido revogado tacitamente pela Lei ne 11.719/08. Todavia, a
lei nova errou ao fazer menção ao parágrafo único do art. 395 do CPP. Desta forma, não
é possível ampliar um equívoco do legislador de forma a atingir o dispositivo do Código
Eleitoral, até porque ele contém normas inerentes à teoria geral do processo, quando
permite que satisfeita uma condição da ação o processo seja aproveitado. Não subsiste
nenhum sentido na revogação desta regra já imanente na prática do processo penal.
Todavia, há de se considerar que tal dispositivo faz menção ao antigo inciso III,
que trata da ilegitimidade da parte ou da falta de uma condição da ação, e estas
hipóteses já estão previstas no inciso II do atual art. 395. Assim, não obstante deva
ser tal regra ainda aplicável, não subsiste nenhuma razão para manutenção da
referência contida no parágrafo único do art. 358 do atual Código Eleitoral.
Desta forma, podemos concluir que o art. 3 5 8 e seu parágrafo único estão
revogados tacitam ente pela nova moldura processual penal adotada no
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

art. 3 9 5 da lei nova. Entretanto, isso não significa que o seu teor não incida nos
casos atuais, pois, como dito acima, é imanente à teoria geral do processo.
O novo perfil da Defesa Prévia ou Alegação Prelim inar
No que concerne áo procedimento específico do processo penal eleitoral, há de
se acrescentar um novo perfil para a defesa prévia ou alegação prelim inar.
A defesa prévia ou alegação preliminar não deverá estar restrita ao arrolamento
de testemunhas, simples requerimento de diligências ou mera indicação da
inocência do réu. Caberá ao advogado de defesa abordar "prelim inares e tudo o
que in teresse à defesa do seu clien te" (art. 396-A do CPP), ou seja, mérito.
Antes da alteração legislativa, a defesa prévia não se prestava a argumentações
profundas de teses defensivas, pois estas eram reservadas para as alegações finais,
como tática defensiva.
Agora, em razão da possibilidade de absolvição sumária, surge um novo sistema
defensivo nas alegações preliminares, quando compete, nos moldes do processo
moderno, a adoção da ampla defesa e de todas as teses possíveis, inclusive da
contrainvestigação que poderá obstaculizar a acusação penal levando à absolvição
sumária do acusado.
Assim, o juiz da causa terá três momentos para a absolvição do réu: com a
rejeição da denúncia, com a absolvição sumária prevista no art. 397 do CPP, e com a
sentença final, após o término do procedimento em I a instância.
A ju stificação, nos moldes do processo civil (art. 861 do CPC), poderá ser
utilizada na defesa prévia, quando o acusado terá a oportunidade de protestar
por documentos essenciais, provas emprestadas e oitiva de testemunhas. Tudo no
intuito de impedir o seguimento da ação penal e objetivar a absolvição su m ária.

23.4.4.1. Ritos processuais no processo


Nos casos de crim es eleitorais de m enor potencial ofensivo. (PROCEDIMENTO
SUMARÍSSIMO), ou seja, quando a pena máxima não for superior a 2 (dois) anos,
antes do Ministério Público oferecer a denúncia, caberá a transação penal no âmbito
da competência da Justiça Eleitoral. Por exemplo: se um cabo eleitoral for detido
fazendo "boca de urna" (art. 39, 5 e, II, da Lei n~ 9.504/97 - pena de detenção de
6 meses a 1 ano e multa no valor de 5.000 a 15.000 UFIR), cumprirá ao Promotor
Eleitoral com atribuições na Zona Eleitoral do local do crime (art. 70 do CPP, aplicável
subsidiariamente conforme art. 364 do Código Eleitoral) propor a transação penal
ao autor do fato, antes de oferecer a denúncia ao juiz eleitoral.
Não sendo aceita a transação penal ou mesmo inviabilizada, segue-se no rito
especial do Código Eleitoral, arts. 3 5 7 a 3 6 2 . conforme entendimento do TSE e
I a turma do STF, (respectivamente, PA - 18956, publicação em 7.2.2003, rei. Sálvio
de Figueiredo Teixeira; e HC 88587-SP, publicação em 9.6.2006, rei. Min. Cézar

806
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o brje os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Peluso). Registram os posição contrária na 2a Turma do STF, no sentido de que


se deve seguir o rito da Lei dos Juizados Especiais Criminais (HC n- 85694 - MG,
publicada em 01.7.2005, rei. Min. Ellen Gracie). Desta forma, entendemos que está
correta a posição majoritária e será oferecida a denúncia, mas caberá a suspensão
condicional do processo observando-se os termos do art. 89 da Lei n9 9.099/95.
Cabe destacar que o rito especial dos crimes eleitorais previsto nos arts. 357 a
362 do Código Eleitoral se sujeita às novidades introduzidas pelos arts. 395 a 398
do Código de Processo Penal.
Nos casos de crimes eleitorais punidos com pena privativa de liberdade igual ou
superior a quatro anos (procedimento ordinário), e nos casos de penas privativas
de liberdade, cuja sanção máxima seja inferior a quatro anos e superior a dois anos
(procedimento sumário), adotar-se-á o seguinte rito processual penal eleitoral do
Código Eleitoral.
Ressalte-se que deve ser observado o cabimento da suspensão condicional do
processo, na forma do art. 89 da Lei n9 9.099/95, porque em crimes cuja pena
mínima seja de l(u m ) ano poderá incidir tal dispositivo.
1 - OFERECIMENTO DA DENÚNCIA - PRAZO DE 10 DIAS. Acusado solto ou preso.
O prazo conta-se do recebim ento do inquérito policial concluído e apto à
exteriorização da opinio delicti. Art. 357 do Código Eleitoral.
2 ~ Em casos de arquivamento do inquérito, havendo discordância do juiz eleitoral
(art. 357, § 1-, do Código Eleitoral), os autos são encaminhados à 2a Câmara de
Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, cabendo ao Procurador
Regional Eleitoral designar, com a indicação do Procurador-Geral de Justiça,
outro P rom otor Eleitoral, adotando-se, por similitude, o disposto no art. 28 do
* Código de Processo Penal.
3 - REJEIÇÃO LIMINAR DA DENÚNCIA - arts. 395 e 396 do Código de Processo Penal.
A rejeição ocorre pela análise do art. 395 do CPP, pois cabe ao juiz expor as razões
de fato e de direito de admissibilidade da acusação. O juiz recebe a denúncia e
ordena a citação do acusado, até porque o fato de a denúncia ser recebida, não
inibe o contraditório logo no início da ação penal para fins da absolvição sumária.
O art. 399 do CPP não se aplica ao processo penal eleitoral, porque o § 4 a do
art. 394 limitou a aplicação dos arts. 395 a 398.
• Assim sendo, a controvérsia referente ao momento inicial do recebimento da
denúncia instituída pela redação dos arts. 396 e 399 do CPP, não atinge o processo
penal eleitoral.
Nesse diapasão, entendemos que o momento inicial de interrupção da prescrição
ocorre com o recebimento da denúncia na forma do art. 396 do CPP, que se
l coaduna, neste aspecto, com o art. 359 do Código Eleitoral.
4 - RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - art. 359 do Código Eleitoral. Com a nova
alteração, especialmente dos arts. 396 e 396-A do CPP, entendemos que os juizes
eleitorais não devem mais designar o interrogatório, mas, sim, determinar a

807
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

citação do acusado para responder à acusação no prazo de 10 dias (defesa prévia


ou alegação preliminar).
Após o oferecimento da defesa prévia, o juiz deve analisar se é caso ou não
de absolvição sumária, cuja previsão está no art. 397 do CPP. Somente após a
decisão fundamentada sobre a absolvição sumária é que o juiz deverá dar impulso
processual com a designação do interrogatório.
Podemos concluir que o interrogatório foi postergado para uma data que sucede
à análise da absolvição sumária.
Cumpre salientar que a ampla defesa estará assegurada ao acusado, pois no
processo penal eleitoral o interrogatório somente foi introduzido com a Lei
n 9 10.732/03.
O TSE tem precedentes no sentido de que no processo penal eleitoral não há
necessidade de interrogatório (Recurso Especial Eleitoral 12658, Classe 22a,
rei. Min. Eduardo Ribeiro). Os precedentes são anteriores à vigência da Lei
n- 10.732/03, mas já sob a égide da Constituição da República de 1988.
Como se nota, em razão das novas mudanças, não haverá prejuízo ao acusado,
porque ele não deixará de ser interrogado, mas apenas será realizado este ato
após a análise do novo instituto da absolvição sumária, não havendo que se
falar em condenação antes de ser ouvido o réu, observando-se, assim, os pactos
internacionais referentes à ampla defesa e contraditório.
5 - DEFESA PRÉVIA OU ALEGAÇÃO PRELIMINAR - Prazo de 10 dias. Arguição de
todas as matérias de defesa (mérito) e das preliminares (art, 396-A do CPP). Rol
de testemunhas, aplicação subsidiária do CPP, máximo de 8 (oito) em casos de
procedimento ordinário, e de 5 (cinco) nas hipóteses de procedimento sumário.
Requerimento de diligências.
6 - ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA - Trata-se de nova regra prevista no art. 397 do Código
de Processo Penal. Desta forma, o acusado tentará objetivar o encerramento da
ação penal utilizando os fundamentos legais,
0 art. 397 do CPP consagra um rol taxativo. Os fundamentos da absolvição
sumária previstos nos incisos I a IV do art. 397 do CPP, ao nosso pensar, também
são aptos a viabilizar a rejeição liminar da denúncia. Como exemplo, uma das
causas é a prescrição (hipótese de extinção da punibilidade do agente), porque
não se pode receber denúncia por crime já prescrito, até porque tal fato configura
constrangimento ilegal e dá ensejo à impetração de h a b eas corpus.
Não sendo caso de absolvição sumária, o juiz eleitoral se pronunciará sobre
as provas requeridas na defesa prévia, pois as da denúncia já podem ter sido
deferidas na decisão de recebimento da denúncia.
7 - RECURSO CONTRA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA - A absolvição sumária desafia
recurso de apelação, pois se trata de sentença terminativa de mérito, similar
ao art. 593, inciso I, do CPP. Assim sendo, o recurso cabível desta decisão é o
previsto no art. 362 do próprio Código Eleitoral ("Art. 362. Das decisões fin a is d e
conden ação ou absolvição cab e recurso p a ra o Tribunal Regional, a ser interposto

8 0 8
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

no prazo de 10 (dez) dias"), denominado de apelação criminal eleitoral, sendo o


prazo, de interposição e de apresentação de razões, de 10 dias. Não se aplica a
regra geral dos recursos eleitorais cuja previsão de prazo recursal é de apenas
3 dias (art. 258 do Código Eleitoral), até porque o art. 5S, inciso LV, da CRFB/88,
garante o contraditório e a ampla defesa, não subsistindo nenhuma dúvida de
que o prazo de 10 dias favorece à defesa.
8 - Oitiva das testemunhas de acusação e defesa numa só assentada (art. 360 do
Código Eleitoral). Requerimento de diligências complementares e apreciação
pelo juiz eleitoral para deferi-las ou não.
9 - Alegações finais do Ministério Público no prazo de 5 (cinco) dias, art. 360 do
Código Eleitoral.
1 0 -Alegações finais da defesa em 5 (cinco) dias, art. 360 do Código Eleitoral. Prazo
único independente do número de acusados.
1 1 -Sentença. Prazo de 10 dias, art. 361 do Código Eleitoral.
1 2 -Recurso Inominado ou Apelação Criminal Eleitoral. Prazo de 10 dias. Art. 362
do Código Eleitoral. Prazo único para interpor e arrazoar.
13 -Contrarazões do apelado. Prazo de 10 dias. Art. 5 S, inciso LV, da Constituição
da República, considerando que não há previsão expressa no Código Eleitoral,
mas em garantia ao princípio do contraditório adota-se prazo idêntico para
as partes.
1 4 -Autos ao Tribunal Regional Eleitoral seguindo-se na forma regimental.

23.4.5. Art. 359 - Citação

Art. 3S9 Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para o


depoimento pessoal do acusado, ordenando a citação deste e a notificação
do Ministério Público (Caput com redação dada pela Lei na 10.732/03).

Parágrafo único. O réu ou seu defensor terá o prazo de 10 (dez) dias


para oferecer alegações escritas e arrolar testemunhas (Parágrafo
acrescentado pela Lei ne 10.732/03).

A redação anterior era: "Recebida a denúncia e citado o infrator, terá este o prazo
de 10 (dez) dias para contestá-la, podendo juntar documentos que ilidam a acusação
e arrolar as testemunhas que tiver". A Lei nQ 10.732, de 5 de setembro de 2003,
tratou do interrogatório do acusado, embora faça menção ao depoimento pessoal.
O Supremo Tribunal Federal já havia decidido quanto à desnecessidade de
interrogatório no processo eleitoral, pois com a contestação estava assegurado o
princípio da ampla defesa.

8 0 9
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

No processo eleitoral impera o princípio da celeridade. Joel José Cândido (2000)


já enfrentou esta questão adotando a posição de que a ampla defesa está garantida
com o rito especial.
Note-se, contudo, que, na prática, vários juizes interrogavam os acusados sem
a expressa previsão no rito do Código Eleitoral. Sempre entendemos que esta
modificação procedimental em nada afetava a acusação penal, até porque o princípio
da verdade real ou material é da maior importância para a sentença penal.
Destaca-se:
Segundo o STF já decidiu, a falta de interrogatório no curso da ação
penal, quando possível, é nulidade relativa. Mas a supressão desse
termo essencial do processo configura prejuízo presumido e o próprio
Pretório Excelso, como outros Tribunais, se manifestou também pela
ocorrência de nulidade absoluta ( M i R A B E T E , 2000, p. 278).
Aplica-se, ao nosso entender, as regras do a r t 366 e seguintes do Código de
Processo Penal, pois é inequívoco o novo perfil moldado ao processo penal eleitoral
com a introdução do interrogatório. Dessa forma, o juiz suspenderá o processo e a
prescrição, determinando ainda a realização das provas urgentes, quando o acusado
for citado por edital e não comparecer, podendo ainda, se o caso ensejar a medida,
decretar a prisão preventiva na forma legal.
Quanto ao número de testemunhas: arts. 398 ou 539 do CPP c/c art. 364 do CE.
Como se vê, o legislador preferiu tornar o rito processual muito similar ao comum
ou ordinário do processo penal, abolindo o princípio da celeridade processual.
O eminente doutrinador Joel José Cândido sustenta que:
O interrogatório do acusado, em audiência, dar-se-á nos exatos termos
do art. 185 e seguintes do Código de Processo Penal, que aqui passa a
incidir sem reservas. Após esse ato, o rito do processo penal eleitoral
retoma o seu rumo próprio, nos termos do parágrafo único de seu novo
art. 359 e seguintes ( C â n d i d o , 2004, p, 346).
Como se nota, a introdução do instituto jurídico do interrogatório no processo
penal especial eleitoral foi omisso no que diz respeito às providências que o juiz
deve adotar. Desta forma, aplicam-se como regra subsidiária (CE art. 364) as normas
dos arts. 185 a 196 do Código de Processo Penal.
Impende frisar que o interrogatório passou a ser contraditório, conforme prevê
o art. 188 do CPP, cabendo ao juiz indagar das partes se restou algum fato para ser
esclarecido, inclusive formulando perguntas, caso a autoridade judiciária entenda
pertinente e relevante.
Entendemos que o Juiz Eleitoral, assim como o Juiz Comum, não está obrigado
a formular perguntas apresentadas pelas partes. Trata-se de uma faculdade
processual, pois o critério quanto à pertinência e relevância é subjetivo, mas as

810
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r i m e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

partes interessadas podem pedir para consignar em ata seus protestos e perguntas,
considerando que o interrogatório é meio de prova e de defesa.
Outrossim, cabe ao juiz eleitoral indagar ao promotor eleitoral se ele tem
perguntas e, por último, à defesa, pois a inversão da ordem, ao nosso entender,
não pode ser adotada, considerando que a defesa sempre será exercida com maior
amplitude quando tiver uma visão completa do panorama probatório apresentado.
No entanto, a inversão da ordem de perguntas é causa, apenas, de nulidade relativa
do ato processual
0 interrogatório continua sendo um ato personalíssimo, no sentido de que só o
acusado pode ser interrogado, mas a judicialidade foi mitigada ou temperada pela
participação das partes na formulação de perguntas.
Outrossim, a presença do defensor ou advogado é obrigatória, sob pena de
nulidade absoluta do feito (aplicação dos princípios do contraditório e ampla
defesa).
Por fim, quando existirem corréus, os mesmos devem ser interrogados
separadamente, devendo o juiz eleitoral tomar o cuidado de evitara intercomunicação
entre os acusados após serem os mesmos devidamente interrogados (CPP, a r t 191).
A Lei ns 10.732, de 5 de setembro de 2003, que introduziu o interrogatório no
processo penal especial eleitoral é anterior à Lei n9 10.792, de l 9 de dezembro
de 2003, que modificou as regras anteriores do Código de Processo Penal sobre o
mesmo; portanto, não há dúvidas de que se aplica subsidiariamente todo o novo
disciplinamento.

Jurisprudência
Nulidade processual. Processo penal eleitoral. Citação. A citação há
de se fazer com obediência das determinações constantes do CPP,
consignando-se no mandado o prazo para defesa de que cuida o art.
359 do CE. Acórdão 12.658, de 30.6.1998 - Recurso Especial Eleitoral
12.658 - Classe 22a/RJ (54a Zona - Mangaratiba). Relator: Ministro
Eduardo Ribeiro.
Acórdão 286 - Habeas corpus 286 - São Paulo-SP. Relator: Ministro
Antonio de Pádua Ribeiro. Impetrante: Antonio Carlos Braga de Araújo.
* Paciente Manoel Pereira de Araújo. Impetrado Tribunal Regional
Eleitoral/SP. DJ de 10.05.1996. Ementa: Processual penal eleitoral.
Interrogatório do acusado. Desnecessidade. Inocorrência de ofensa
aos princípios do contraditório e da ampla defesa. I. Interrogatório
não é previsto no processo eleitoral (Código Eleitoral, art. 359), não
I implicando a sua ausência ofensa aos princípios do contraditório ou
| da ampla defesa. Precedentes. II. Habeas corpus indeferido, com a
cassação da liminar concedida.

811
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

23.4.6. Art. 360 - Oitiva de testemunhas

Art. 360 Ouvidas as testemunhas de acusação e da defesa e praticadas as


diligências requeridas pelo Ministério Público e deferidas ou ordenadas
pelo juiz, abrir-se-á o prazo de 5 (cinco) dias a cada uma das partes -
acusação e defesa - para alegações finais.

0 prazo de diligência requerida pelo Ministério Público pode ser formulado na


cota da denúncia ou na assentada do interrogatório do acusado. O juiz, adotando o
princípio da busca da verdade real ou material, em qualquer momento processual,
antes da sentença, poderá ouvir outras testemunhas.
O acusado, como regra geral, deverá requerer sua diligência na petição de defesa
prévia (alegações escritas antes referidas), ou na assentada desta audiência, após a
oitiva das testemunhas. Cabe ao juiz sanar o processo deferindo ou indeferindo as
diligências requeridas e determinar as que entender necessárias ao julgamento da
causa.
Não é necessário que o juiz determine de imediato a abertura de prazo para
as alegações finais, pois poderá reputar necessária a juntada aos autos de um
documento ou perícia técnica. Deve-se em contrapartida evitar a procrastinação dos
feitos, repudiando-se diligências inúteis ao julgamento da infração penal praticada.
O indeferimento do requerimento de oitiva de testemunha referida pelas partes
que depuseram não caracteriza cerceamento de defesa, pois é uma faculdade do juiz
(RJDTACR1M 26/197). 0 indeferimento do pedido de oitiva de testemunha desafia a
reclamação ou correição parcial admitida também no âmbito do processo eleitoral.
Pode o juiz determinar a oitiva de testemunha por carta precatória (CPP, art. 222 c/c
CE, art. 364). As partes devem ser intimadas pela carta precatória, pois, caso contrário,
ocorrerá a nulidade relativa do processo (súmula n9 155 do STF). Assim, não há
nenhuma nulidade, quando o advogado ou defensor público deixam de ficar cientes do
dia da audiência no juízo deprecado, pois pode ficar a cargo do juiz deprecado marcar a
data da audiência. Cabe ao juiz deprecado nomear defensor para o ato.
Impõe-se no processo eleitoral (princípio da celeridade) que o acusado leve as
testemunhas para a audiência, mas nada impede, e às vezes recomenda-se, que o juiz
notifique as mesmas para o ato, sendo que o não comparecimento poderá ensejar
a decisão pela condução, caso seja a mesma indispensável ao julgamento da causa.
Os militares e funcionários devem ser requisitados (CPP, art. 221, § 2° c/c CE,
art. 364).
O Ministério Público deverá ter vista pessoal para apresentar as alegações finais.
Quanto ao advogado, o prazo transcorre em cartório.
Definição jurídica - Alteração. Processo penal. Cingindo-se o juiz a dar
aos fatos contidos na imputação outra qualificação jurídica, incide o
disposto no art. 383 do Código de Processo Penal, não sendo mister

812
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a i E l e it o r a l C a p ít u l o 23

qualquer das providências previstas no art. 384 e seu parágrafo único.


Acórdão 11.908, de 26.2.1998 - Agravo de Instrumento 11.908 - Classe
2a/MG (Ouro Preto).

23.4.7. Art. 361 - Prazo de sentença

Art. 361. Decorrido esse prazo, e, conclusos os autos ao juiz dentro de


48 horas, terá o mesmo 10 (dez) dias para proferir a sentença.

Quando a lei faz menção ao prazo decorrido, refere-se ao prazo das alegações
finais. 0 servidor eleitoral deverá levar os autos conclusos ao juiz eleitoral no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas e o juiz decidirá em 10 (dez) dias.

23.4.8. Art. 362 - Decisão final. Recurso

Art 362. Das decisões finais de condenação ou absolvição cabe recurso


para o Tribunal Regional, a ser interposto no prazo de 10 (dez) dias.

O prazo para interposição e apresentação das razões é comum. Trata-se de regra


especial, sendo inaplicável o prazo do Código de Processo Penal.
Outrossim, a parte (acusação ou defesa) terá o mesmo prazo de 10 (dez) dias
para as contrarrazões recursais.
Os doutrinadores Tito Costa e Joel José Cândido lecionam que é possível a
admissão do assistente de acusação no processo penal eleitoral. Têm razão os
renomados autores, pois pode-se, mesmo no processo penal eleitoral, identificar
a figura do assistente (partido político ou, nos crimes contra a honra, o ofendido
indireto). Todavia, como é cediço, o assistente pode ser admitido no curso do
processo enquanto não passar em julgado a sentença (CPP, arts. 269 e 598 c/c CE,
art. 364). Nesse caso, o Ministério Público (promotor eleitoral) deve ser ouvido
antes dos autos serem encaminhados ao Tribunal Regional Eleitoral, inclusive
abrindo-se nova vista para as contrarazões do réu. Ver a Súmula na 210 do STF que
prevê a possibilidade de o assistente recorrer extraordinariamente.
Quanto ao prazo para recorrer, a Súmula ns 448 diz que: "O prazo para o assistente
recorrer supletivamente começa a correr imediatamente após o transcurso do prazo
do Ministério Público". É de 10 (dez) dias. Admite-se o recurso do assistente, mesmo
havendo sentença condenatória. É possível em razão do interesse civil do ofendido
na ação de reparação de danos, inclusive para majorar a pena imposta. Entendemos
não ser possível a admissão do assistente na qualidade de cidadão-eleitor, pois o
interesse genérico não deve prevalecer na órbita do processo penal eleitoral, já que

813
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a i

cabe ao Ministério Publico a propositura privativa da ação penal, além da defesa do


regime democrático.
A decisão absolutória ou condenatória também desafia o recurso de embargos
de declaração. Ver comentários ao art. 275 do Código Eleitoral.
A doutrina denomina o recurso aqui visto como o de apelação criminal eleitoral.
Nesse sentido, Joel José Cândido.

23.4.9. A rt 363 - Execusão da sentença

Art. 363. Se a decisão do Tribunal Regional for condenatória, baixarão


imediatamente os autos à instância inferior para a execução da sentença,
que será feita no prazo de 5 (cinco) dias, contados da data da vista ao
Ministério Público.
Parágrafo único. Se o órgão do Ministério Público deixar de promovera
execução da sentença, serão aplicadas as normas constantes dos §§ 3e,
4e e 5S do art. 357.

A ação penal no Tribunal Regional Eleitoral segue o rito da Lei n9 8.038, de 28


de maio de 1990. O doutrinador Joel José Cândido, em sua obra Direito Eleitoral
Brasileiro, sustenta que não deveria ser este o rito próprio, mas, sim, o diretamente
tratado no Código Eleitoral, aduzindo brilhantes fundamentos legais sobre o
tema. No entanto, firmou-se ao longo dos anos firme jurisprudência nos Tribunais
Superiores, que passaram a adotar o rito da lei aplicável aos tribunais.
É princípio do processo eleitoral que as decisões devem ser cumpridas
imediatamente. Nesse sentido, art. 257, parágrafo único, do Código Eleitoral.

Remissão:
Ver comentários ao art. 357 do Código Eleitoral.

23.4.10. Art. 364 - Aplicação subsidiária do código de processo penai

Art. 364. No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns


que lhes forem conexos, assim como nos recursos e na execução que
lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei subsidiária ou supletiva, o
Código de Processo Penal.

A regra da subsidiariedade aplicar-se-á quando as leis especiais não dispuserem


de modo diverso.

814
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

23.4.11. Crime doloso contra a vida e crime eleitoral


Ocorrendo um crime de competência do Tribunal do Júri (homicídio, infanticídio,
instigação, induzimento ou prestação de auxílio ao suicídio e aborto) com um delito
eleitoral, ao nosso entender, deverá ocorrer a cisão do processo e julgamento,
cabendo ao Tribunal do Júri o julgamento do crime doloso contra a vida, e à Justiça
Eleitoral, o crime eleitoral.
Os doutrinadores Fernando da Costa Tourinho Filho e Suzana de Camargo Gomes
entendem que a regra do art. 35, II, do Código Eleitoral foi recepcionada como lei
de natureza complementar (Carta Magna, art. 121). A norma só excepciona da
competência do juiz eleitoral as hipóteses referentes à competência do foro por
prerrogativa de função, ou seja, a competência originária dos Tribunais Superiores
(TRE, TSE e STF). E, portanto, caberia à Justiça Eleitoral processar e julgar o crime
doloso contra a vida e o crime eleitoral (conexos).
A competência para o processo e julgamento dos crimes dolosos contra a vida
tem assento na Lei Maior, além de o processo ser escalonado ou bifásico, envolvendo
um órgão colegiado, heterogêneo e temporário. A soberania dos veredicta é de
ordem constitucional, garantindo-se maior amplitude de defesa. Outrossim, o juiz
eleitoral não pode realizar nas zonas eleitorais (unidades de jurisdição eleitoral) o
julgamento bifásico, nem tampouco aplicar o rito especial do processo eleitoral para
condenar réus acusados de homicídio e crime eleitorais na hipótese de conexão.
Ao admitir-se o processo e julgamento de crimes dolosos contra a vida por
juizes titulares ou designados para zonas eleitorais (juizes eleitorais), certamente
suprimiria-se o Conselho de Sentença, a soberania dos veredictos, a pronúncia, o
libelo, os debates, o protesto por novo júri e outras garantias à amplitude defesa,
além do que o rito processual pelos crimes eleitorais é especial, pois não há prova
de acusação e defesa, mas todas as testemunhas são ouvidas numa só audiência
lavrando-se uma única assentada.
Impende frisar ainda que ambas as competências (Júri e eleitoral) são de
natureza constitucional.
Outrossim, o art. 78, IV, do CPP diz que "no concurso entre a jurisdição comum e
especial, prevalecerá esta”. De certo que havendo um crime eleitoral conexo com um
crime de competência da Justiça Comum, seja ela estadual ou federal, prevalecerá a
competência da Justiça Eleitoral (RT 550/375, 553/462, 557/310, 587/411, Súmula
n9 30 do extinto TFR). No entanto, quando o crime for de competência do Júri não
haverá unidade de processo e julgamento nem no Júri, nem na Justiça Eleitoral (juiz
eleitoral), porque ambos são competências constitucionais que a lei ordinária ou
complementar não poderá tratar de forma diversa. Nesses casos, deverá haver a
separação dos processos. Vê-se ainda que, no Tribunal do Júri, o revel não poderá ser
julgado (CPP, art. 414). Nesse sentido: "A unidade do processo não importará a do

815
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

julgamento, se houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer
a hipótese do art. 461" (CPP, art, 79, § 29). 0 art. 461 trata das recusas dos jurados,
A exceção às regras de competência do Tribunal do Júri deve ter base
constitucional. Destacamos:
Gozando o autor de crime doloso contra a vida de foro por prerrogativa
de função estabelecido na Constituição Federal, a competência para
processá-lo e julgá-lo será deste foro especial e não do júri, já que a própria
Carta Magna estabelece a exceção à competência do Tribunal Popular.
Entretanto, se o foro especial for estabelecido pela Constituição estadual,
por lei processual ou de organização judiciária, o autor do crime doloso
contra a vida deve ser submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri uma
vez que tais preceitos jurídicos não podem exduír a competência do Juízo
instituído pela Carta Magna (M ir a b e t e , 2001, p. 188-189).
Por fim, qualquer alteração de regra de competência do Tribunal do Júri (CF,
art. 52, XXXVIII) afeta diretamente os direitos e garantias individuais, não sendo
nem admitida modificação por emenda constitucional (CF, art. 60, § 4 9, IV). Trata-se
de cláusula pétrea ou núcleo imodificável.
Conexão:
a) intersubjetiva por simultaneidade (CPP, art. 7 6 ,1);
b) intersubjetiva por concurso (CPP, art. 7 6 ,1, 2a parte);
c) intersubjetiva por reciprocidade (CPP, art. 7 6 ,1, última parte);
d) conexão material, lógica ou teleológica (CPP, art. 76, II);
e) conexão probatória ou instrumental (CPP, art. 76, III).
A continência não foi referida no artigo em comento (CPP, art. 77). No entanto,
é consectário legal que, se o agente pratica o crime com concurso de pessoas ou
ocorrendo ainda concurso de crimes (formal, material e continuado), os fatos devem
ser julgados num simultaneus processus, sendo a Justiça Eleitoral o forum attractionis.

Remissões:
CE, art. 288.
CP, art. 12.

2 3 .5 . CRIMES ELEITORAIS TIPIFICADOS NA LEI N& 9 .5 0 4 , DE 30


DE SETEM BRO DE 1997 (LEI DAS ELEIÇÕ ES)
23.5.1. Art. 33

Das Pesquisas e Testes Pré-Eleitorais


Art. 33. As entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião
pública relativas às eleições ou aos candidatos, para conhecimento

816
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obre os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

público, são obrigadas, para cada pesquisa, a registrar, junto à Justiça


Eleitoral, até 5 (cinco) dias antes da divulgação, as seguintes informações:
I - quem contratou a pesquisa;
II - valor e origem dos recursos despendidos no trabalho;
III - metodologia e período de realização da pesquisa;
IV - plano amostrai e ponderação quanto a sexo, idade, grau de instrução,
nível econômico e área física de realização do trabalho, intervalo de
confiança e margem de erro;
V - sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização
da coleta de dados e do trabalho de campo;
VI - questionário completo aplicado ou a ser aplicado;
VII - o nome de quem pagou pela realização do trabalho.
§ I a As informações relativas às pesquisas serão registradas nos órgãos
da Justiça Eleitoral aos quais compete fazer o registro dos candidatos.
§ 2e AJustiça Eleitoral afixará imediatamente, no local de costume, aviso
comunicando o registro das informações a que se refere este artigo,
colocando-as à disposição dos partidos ou coligações com candidatos ao
pleito, os quais a elas terão livre acesso pelo prazo de 30 (trinta) dias.
§ 3a A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações de
que trata este artigo sujeita os responsáveis a multa no valor de 50.000
(cinqüenta mil) a 100.000 (cem mil) UFIR.
§ 4- A divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime, punível com
detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa no valor de 50.000
(cinqüenta mil) a 100.000 (cem mil) UFIR (grifos nossos).

Bem jurídico
A esfera de proteção da norma jurídica é de alta relevância, pois quaisquer
informações inverídicas durante as pesquisas de intenção de votos afetam o resultado
da eleição, especialmente quando os candidatos disputam mandatos eletivos pelo
sistema majoritário (prefeito, governador, senador e presidente da República).
0 desenvolvimento de técnicas cada vez mais sofisticadas de sedução e
persuasão define o famoso sentido do "marketing eleitoral" como o conjunto de
meios publicitários efetivados na divulgação das mensagens e intenções de voto
mediante pesquisas que reflitam a verdadeira vontade popular.
O bem jurídico afetado é a propaganda política eleitoral.

Sujeito ativo
Trata-se de crime comum. A princípio, o agente é responsável pela elaboração
de uma pesquisa nos moldes imperativos fixados no capu t e parágrafos do art. 33;
não é o agente ativo. No entanto, se os dados foram manipulados com a finalidade

817
M a rc o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

objetiva de serem posteriormente vinculados para terceiros, os sócios das empresas


elaboradoras das pesquisas podem ser autores ou partícipes. Neste caso, o raciocínio
é similar quando a pesquisa é feita por órgão sem idoneidade e até mesmo sem o
registro e obediência às regras formais.
Em geral, o agente ativo é o que divulga o teor de uma pesquisa fraudulenta,
tendo a sabedoria de que o conteúdo integral ou parcial dos dados ali contidos é
fraudulento, burlado ou espoliado.

Sujeito passivo
0 delito é de plurissubjetividade passiva, pois atinge o eleitor, os candidatos
contrários ao beneficiado pela pesquisa fraudulenta, os partidos políticos e a
democracia.

Tipo objetivo
0 crime pode ser classificado como de impressão, porque causa alteração na
vontade do eleitor redirecionando a opinião pública eleitoral e violando o hígido
direito de informação.
Pode o delito ter o caráter plurilocal, pois, dentro do mesmo país ou circunscrição
eleitoral, a conduta de divulgação é realizada em um Estado e a produção do
resultado se dá em outro Estado ou Município.
A hipótese é de delito transeunte, porque deixa vestígios formais contidos em
documento específico cujo conteúdo é ideologicamente falso. Trata-se de documento
fraudulento que ganha publicidade em dimensões pulverizadas.
A violação atinge o verdadeiro direito de informação cujo arrimo está em
norma constitucional (art. 5 Q, inciso XIV, da CR/88); além de afetar a igualdade dos
candidatos perante as normas de propaganda política eleitoral.
Como se nota, o crime só pode ser praticado na fase da propaganda política
eleitoral. Não se aplica à propaganda política partidária. No entanto, a pesquisa
fraudulenta pode ocorrer em período pretérito ao do dia oficial de início da
propaganda (art. 36 da Lei ne 9.504/97).
As pesquisas eleitorais devem informar, por intermédio das empresas
especializadas, qual foi a empresa ou pessoa física que contratou os serviços, o
valor pago e a metodologia, que geralmente consiste em entrevistas pessoais com
a aplicação de questionários estruturados e padronizados junto a uma amostra
representativa do eleitorado.
Um dos dados fundamentais é o plano amostrai, que consiste em identificar o
público pesquisado, ou seja, o Município ou Estado, até mesmo bairro ou região
de pesquisa; o tipo de amostra em relação a sexo, idade, função e posição social
ocupada pelo eleitor entrevistado.

818
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Outro dado de real identificação é o tamanho da amostra, que consiste em saber


quantas entrevistas foram realizadas apresentando-se ao Tribunal Superior Eleitoral
ou aos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais o conteúdo dos questionários e
dos demais dados por meio de registro prévio da pesquisa.
Quanto maior a repercussão dos dados fraudados e divulgados, deve-se adotar
uma sanção maior na aplicação da pena. Todavia, o crime é considerado de menor
potencial ofensivo incidindo os institutos despenalizadores da Lei ns 9.099/95, tais
como: transação penal e suspensão condicional do processo, incide neste caso a
Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei ne 10.259, de 12.07.2001, com a revogação
tácita do art. 61 da Lei ne 9.099/95).
As pesquisas fraudulentas podem ser praticadas de forma livre, seja alterando
dolosamente os dados de uma pesquisa regularmente feita, seja enganando terceiros
dizendo que foram feitas determinadas sondagens que na verdade quiçá existiram.
Exemplo: se uma empresa de pesquisa é corretamente contratada, registra as
técnicas de abordagem do eleitor nos moldes da lei eleitoral, mas frauda o conteúdo
afirmando que foram entrevistadas 1.300 pessoas, quando se prova que só foram
100, ou ainda, quando os dados são preenchidos sem identificação de origem,
certamente se estará na moldura do tipo penal, quando houver a divulgação.
O delito é tipicamente de opinião, ou seja, consiste no abuso da liberdade de
pensamento, pois o eleitor passa a ser condicionado a votar no vitorioso, e de
certa forma redireciona sua intenção de voto. Classifica-se ainda como crime vago,
considerando que atinge toda uma coletividade de eleitores e a população em geral.

Tipo subjetivo
A conduta de divulgar fatos pesquisados de forma fraudada ou a própria
divulgação sem lastro ou idoneidade pressupõe o dolo. Não há modalidade culposa.
Havendo erro ou culpa, o agente responde apenas pela sanção de multa fixada no
§ 3- do art, 34.

Remissões:
Vide Lei nQ 11.300, de 10 de maio de 2006, art. 3 5 -A, que veda a divulgação de
pesquisas 15 dias antes do dia anterior ao dia da eleição.

23.5.2. Art. 34

Art. 34. (Vetado).


§ l 9 Mediante requerimento à Justiça Eleitoral, os partidos poderão ter
acesso ao sistema interno de controle, verificação e fiscalização da coleta
de dados das entidades que divulgaram pesquisas de opinião relativas
às eleições, incluídos os referentes à identificação dos entrevistadores

819
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

e, por meio de escolha livre e aleatória de planilhas individuais, mapas


ou equivalentes, confrontar e conferir os dados publicados, preservada
a identidade dos respondentes.
§ 2S O não cumprimento do disposto neste artigo ou qualquer ato que
vise a retardar, impedir ou dificultar a ação fiscalizadora dos partidos
constitui crime, punível com detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano,
com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo
prazo, e multa no valor de 10.000 (dez mil) a 20.000 (vinte mil) UFIR
(grifos nossos).

Bem jurídico
O delito atinge o controle sobre os atos administrativos de organização da
Justiça Eleitoral, bem como o direito de fiscalização pelos partidos políticos das
informações sobre pesquisas eleitorais.

Sujeito ativo
O crime é comum. Não se exige uma qualidade especial do agente ativo da
infração penal, embora o art. 35 inclua na responsabilidade penal os representantes
das empresas ou entidades de pesquisas e dos órgãos de veiculação.

Sujeito passivo
0 delito é vago, pois atinge o público eleitor e a sociedade em geral, mas o tipo
penal incluiu apenas os partidos políticos, deixando de fazer menção a coligações
e candidatos. Se um partido político estiver coligado não terá legitimidade para
agir sem toda a coligação nas questões eleitorais não penais. No âmbito penal
cabe ao partido político atingido noticiar o fato ao Ministério Público (promotor
eleitoral, procurador regional eleitoral ou procurador-geral eleitoral) visando à
exteriorização da opinio deücti pelo órgão.

Tipo objetivo
O trecho "O não cumprimento do disposto neste artigo” estava condicionado ao
caput do artigo. No entanto, considerando o veto atribuído ao dispositivo legal, ele
perdeu sua incidência jurídica penal.
Como se nota, a figura penal restringe-se a punir atos retardatários, impeditivos
ou dificultosos da atividade essencial de fiscalização pelos partidos políticos.
A título de exemplificação, nas eleições de 2006, o Egrégio Tribunal Superior
Eleitoral expediu a instrução/Resolução ne 22.143/2006 sobre pesquisas eleitorais,
assim disciplinando o tema:

820
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S obrje os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Art. 10. Após tornarem pública a pesquisa, as entidades e empresas


colocarão à disposição dos interessados as informações registradas
na Justiça Eleitoral e outras que possam ser divulgadas, bem como os
resultados completos; esses dados serão fornecidos por meio magnético
ou impresso, ou encaminhados por correio eletrônico.
§ l e Mediante requerimento, os interessados poderão ter acesso ao
sistema interno de controle, verificação e fiscalização da coleta de
dados das entidades e das empresas que divulgaram pesquisas de
opinião relativas aos candidatos e às eleições, incluídos os referentes à
identificação dos entrevistadores, e, por meio de escolha livre e aleatória
de planilhas individuais, mapas ou equivalentes, confrontar e conferir
os dados publicados, preservada a identidade dos respondentes (Lei
ne 9.504/97, art. 34, § 1«).
§ 2 9 O não cumprimento do disposto no § l fi deste artigo ou qualquer
ato que vise a retardar, impedir ou dificultar a ação fiscalizadora dos
partidos constitui crime, punível com detenção de seis meses a um ano,
com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo
prazo, e multa no valor de R$10.641,00 (dez mil seiscentos e quarenta e
um reais) a R$21.282,00 (vinte e um mil duzentos e oitenta e dois reais)
(Lei ne 9.504/97, art. 34, § 2*).
§ 3 9 A comprovação de irregularidade nos dados publicados sujeita
os responsáveis às penas mencionadas no parágrafo anterior, sem
prejuízo da obrigatoriedade da veiculação dos dados corretos no
mesmo espaço, local, horário, página, caracteres e outros elementos
de destaque, de acordo com o veículo usado (Lei n9 9.504/97,
art. 34, § 3 e).
§ 4- O acesso às informações a que se refere o § l 2 deste artigo dar-
se-á no local em que as entidades e empresas centralizam a compilação
dos resultados de suas pesquisas; quando o local não coincidir com o
município em que efetuada a compilação, serão colocados à disposição
dos interessados, na sede desse município, o relatório entregue ao cliente
e o modelo do questionário aplicado, para facilitar a conferência dos
dados publicados (grifos nossos).

Bem Jurídico
Como se nota, o tipo penal em vigor protege o livre acesso dos partidos políticos
às pesquisas e à origem verdadeira dos dados para que sejam comprovados os fatos.
O delito é de menor potencial ofensivo se for aplicada a transação penal prevista
na Lei nQ9.099/95 em razão do disposto na Lein2 10.259/2001, e o sursis processual.
A competência deve ser firmada no local onde se deu o retardamento ou embaraço
que dificultou o acesso aos dados da pesquisa, não sendo necessariamente o mesmo
local de coleta dos elementos pesquisados.

821
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Confronto
Se existe precedente ordem judicial descumprida, o fato desloca-se para a
incidência do tipo do a r t 347 do Código Eleitoral.
Durante a fase de votação pode incidir o tipo especial do a r t 87, § 4 - da Lei
n9 9.504/97, quando o agente (mesário) não faz a entrega da via do boletim de urna
ao fiscal do partido, ou não é observada a distância mínima para a fiscalização dos
votos em apuração pela Junta Eleitoral.

Tentativa
A tentativa não é possível, pois o agente que dificulta já incide na prática delitiva,
não sendo necessário o impedimento, considerando que pode se dar a figura do
obstáculo parcial ao acesso das fontes e dos dados reais que nutriram o campo
pesquisado.

Tipo subjetivo
O delito só pode ocorrer dolosamente. O agente deve manifestar em gestos,
atos ou por escrito uma forma de dificuldade ou impedimento ao amplo direito de
fiscalização pelos partidos políticos.

Remissões:
Arts. 347 do Código Eleitoral e 87, § 4- da Lei n9 9,504/97.

23.5.3. Art. 35
Art. 35. Pelos crimes definidos nos arts. 33, § 4e e 34, §§ 2- e 3e, podem
ser responsabilizados penalmente os representantes legais da empresa
ou entidade de pesquisa e do órgão veiculador.

A norma é autoexplicativa e enseja a aplicação da transação penal ou o


oferecimento da denúncia e regular instauração do processo criminal eleitoral
contra os sócios da empresa responsável, que dolosamente fraudou a veracidade
das informações ao público eleitoral.
Como se nota, a empresa contratante pode ser uma concessionária, rádio,
televisão ou jornal, sendo possível se identificar a coautoria com o órgão de pesquisa.

822
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P enal E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

23.5.4. Art. 39

Art. 39. A realização de qualquer ato de propaganda partidária ou


eleitoral, em recinto aberto ou fechado, não depende de licença da polícia.
§ 59 Constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis
meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade
pelo mesmo período, e multa no valor de cinco mil a quinze mil UFIR:
í - o uso de alto-falantes e amplificadores de som ou a promoção de
comício ou carreata;
II - a arregimentação de eleitor ou a propaganda de boca de urna;
(Redação dada pela Lei n9 11.300, de 2006)
III - a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos
ou de seus candidatos. (Redação dada pela Lei n9 12.034, de 2009)

Pedimos ao leitor que consulte o capítulo sobre propaganda política eleitoral,


quando abordamos o tipo penal acima destacado.
Ressaltamos, no entanto, que a lei coíbe a utilização de aparelhagens de som,
comícios em praças públicas, locais públicos e estabelecimentos de acesso ao
público em geral.
Para caracterizar, o transporte como "carreata” é necessário que se adote uma
espécie de analogia com o delito de quadrilha ou bando, art. 288 do Código Penal.
Assim, pensamos que a tipicidade só se perfaz com no mínimo quatro veículos,
sejam eles automotores ou não, desde que direcionados à divulgar a campanha
eleitoral de um determinado candidato ou o voto de legenda.

23.5.5. Art. 40

Art. 4 0 .0 uso, na propaganda eleitoral, de símbolos, frases ou imagens,


associadas ou semelhantes às empregadas por órgão de governo,
empresa pública ou sociedade de economia mista constitui crime,
punível com detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, com a alternativa
de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no
valor de 10.000 (dez míl) a 20.000 (vinte mil) UFIR.

Bem Jurídico
A norma protege contra a prática da improbidade administrativa.
A base legal constitucional está no art. 37 da Constituição Federal, especialmente
nos princípios da impessoalidade e moralidade pública.

823
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

0 objetivo da norma penal é coibir o uso da "máquina administrativa" do Estado


nas campanhas eleitorais, procurando igualar as chances de competição entre os
candidatos, obstaculizando os que almejam a reeleição ou aqueles que de alguma
forma utilizam símbolos, frases ou imagens públicas para penetrarem na subliminar
vontade do eleitor.
Tutela-se o bem imaterial da Administração Pública.
A sanção penal não inibe a ação de improbidade com base na Lei n2 8.429/92,
nem a adoção da ação de representação por abuso do poder econômico (art. 22 da
Lei Complementar ns 64, de 18 de maio de 1990).
A norma proíbe a utilização do dinheiro público nas campanhas eleitorais,
porque se o prefeito, por exemplo, criou um símbolo X no seu mandato com recursos
públicos de uma propaganda institucional, não os poderá utilizar na reeleição, por
evidente desvio de poder de autoridade.
Não é vedado o uso de dinheiro próprio do mandatário na criação e confecção do
bem imaterial, mesmo que o reutilize durante sua reeleição em campanhas eleitorais.
A norma não proíbe o direito autoral de criação do slogan, mas o desvio do dinheiro
público, ou seja, do uso deste material em proveito individual ou partidário do candidato.

Sujeito ativo
É crime comum, a princípio qualquer pessoa poderá praticar o delito utilizando
o bem imaterial (símbolo, frase ou imagem), mas admite-se a participação ou
coautoria com o candidato infrator.
O servidor público poderá praticar o crime em concurso de pessoas com os
representantes dos partidos políticos.

Sujeito passivo
O Estado, a Administração Pública direta ou indireta da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios.

Tipo objetivo
A norma penal evita condutas ilícitas de agentes públicos em campanhas
eleitorais. Trata-se de uma especialidade penal do rol das condutas vedadas do
art. 73 e incisos da Lei n9 9.504/97, bem como uma forma de preservação da
igualdade nas campanhas eleitorais.
Protege-se a propaganda política eleitoral dos desvios e da lavagem de dinheiro
público, pois não se admite que o candidato se locuplete direta ou indiretamente do
valor pago com recursos públicos a artistas, criadores, publicitários e "marketeiros”
políticos.

824
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P en a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

0 art. 74 da Lei ne 9.504/97 é aplicável no caso, pois a conduta é típica de abuso


político, ensejando a sanção de inelegibilidade e o cancelamento do registro e quiçá
do diploma, adotando-se a AIJE (art. 22 da LC 64/90), ou a AIME (art. 14, §§ 10 e 11
da CF) ou o RCD (art. 262, inciso IV do Código Eleitoral).
A lei procura evitar o desequilíbrio dos competidores nas campanhas eleitorais.
Não se pode impedir a criação e utilização de um símbolo ou uso de uma cor, imagem
e outras formas de publicidade legalmente aceitas pelo público e a sociedade, mas
é vedado usar esses meios estratégicos de obtenção do voto, quando os gastos de
criação, publicidade, divulgação são públicos.
O art. 24, inciso II, da Lei ne 9.504/97, proíbe formas de doação por publicidade
para as campanhas eleitorais, quando provenientes de pessoas jurídicas de direito
público, ou seja, não pode o prefeito usar uma cor, símbolo ou imagem custeada
como característica de seu governo e gestão pública na campanha de sua reeleição,
especialmente se for razoavelmente significativa a quantidade da exibição de cores
e imagens na época da atuação como Chefe do Executivo. Uma coisa é criar uma
imagem de sua gestão, outra é utilizá-la na campanha como se fosse o dono, senhor
absoluto e proprietário imaterial, exceto se os custos de criação, exibição, divulgação
e utilização em geral foram arcados pelo próprio dinheiro do Chefe do Executivo.
Considerando a extrema dificuldade de comprovar-se o dolo do agente neste
fato, a tendência do tipo penal na prática forense eleitoral é ser residual, não ser
aplicado como se fosse cultivada uma descriminalização da conduta, cujas sanções
se buscam alcançar na esfera da improbidade administrativa por violação à
moralidade e impessoalidade ou no próprio abuso do poder político e econômico
na esfera eleitoral.
Destacamos decisões do Egrégio TSE sobre o relevante assunto.
1 - Recurso especial. Agravo regimental. Registro de candidatura.
Ação popular. Condenação. Inelegibilidade. Art. l e, inciso I, alínea h,
da LC n9 64/90.1. Ê vedado o uso de nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos
(art. 37, caput, e § 1- da Constituição Federal). 2. A utilização indevida
de publicação oficial para promoção pessoal, apurada em ação popular
transitada em julgado, revela desvio de função no exercício do cargo
público, sendo suficiente à declaração de inelegibilidade do candidato.
Precedentes. Agravo regimental desprovido. (Acórdão n9 17.653, de
21.11.2000, Agravo Regimental no Recurso Especial ne 17.653, rei.
Ministro Maurício Corrêa).
2 - Acórdão ne 21.290, de 19.8.2003. Recurso Especial Eleitoral
n2 21.290/SP. Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Recurso
especial. Ação penal. Símbolos, frases ou imagens associadas à
administração direta. Uso em propaganda eleitoral. Art. 40 da Lei
ne 9.504/97. Programa de prestação de contas à comunidade. Uso do
brasão da Prefeitura. 1. Para configurar o tipo penal do art. 40 da Lei

825
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

n2 9.504/97, é imprescindível que o ato praticado seja tipicamente de


propaganda eleitoral. 2. A utilização de atos de governo, nos quais seria
lícito o uso de símbolos da Prefeitura, com finalidade eleitoral, pode,
em tese, configurar abuso do poder político, a ser apurado em processo
específico. 3. Recurso conhecido e provido.
3 - Acórdão n9 404, de 5.11.2002. Representação n9 404/DF.
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo. Ementa: Investigação judicial.
Propaganda institucional realizada em período não vedado por lei.
Alegação de infringência ao disposto no art. 37, § l s, CF. Inexistência
de promoção de autoridades ou servidores públicos. Desvio ou
abuso do poder de autoridade não caracterizado. Improcedência da
representação. Possibilidade de ser dispensada a dilação probatória,
fatos dependentes de prova exclusivamente documental, já produzida.
I Não obstante prevista dilação probatória no rito da investigação
judicial (Lei Complementar n2 64/90, art. 22, I, a), esta se dará tão
somente quando cabível. Dispensável quando a apreensão dos fatos
submetidos ao exame da justiça Eleitoral reclamar prova exclusivamente
documental, já produzida nos autos. II A propaganda institucional tem
autorização prevista no art. 37, § l s, da Constituição, devendo ter caráter
educativo, informativo ou de orientação social. III Inexistência, no caso
concreto, de nomes, símbolos ou imagens que pudessem caracterizar
promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos, a constituir
violação ao preceito constitucional e, portanto, desvio ou abuso do
poder de autoridade em benefício de candidato ou partido político,
para os efeitos previstos no art. 22 da Lei Complementar ne 64/90. IV
É admissível, ao menos em tese, que, em situações excepcionais, diante
de eventual violação ao § 1- do art. 37 da Constituição, perpetrada em
momento anterior aos três meses que antecedem as eleições, desde
que direcionada a nelas influir, com nítido propósito de beneficiar
determinado candidato ou partido político, seja a apuração dos reflexos
daquele ato no processo eleitoral, já em curso, promovida pela Justiça
Eleitoral, mediante investigação judicial. V Inconveniência de se impor
rigidez absoluta à delimitação da matéria a ser submetida, em sede de
investigação judicial, ao exame da Justiça Eleitoral, ante a sofisticação
com que, em matéria de eleições, se tem procurado contornar os limites
da lei, cuja fragilidade é inegável, na tentativa de se auferir benefícios
incompatíveis com a lisura e a legitimidade do pleito. DJ de 28.3.2003.

Tipo subjetivo.
Crime doloso.

Remissões:
Ver art. 37 da CF, Lei ns 8.429/92 e art. 73, inciso II, e 74 da Lei n9 9.504/97.

826
CONSIDERAÇOES GERAIS SOBRE OS CRIMES ELEITORAIS E
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

23.5.6. Art. 58

Art. 58. A partir da escolha de candidatos em Convenção, é assegurado


o direito de resposta a candidato, partido ou coligação atingidos, ainda
que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa,
difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por
qualquer veículo de comunicação social.
§ 3e Observar-se-ão, ainda, as seguintes regras no caso de pedido de
resposta relativo à ofensa veiculada:
II - em programação normal das emissoras de rádio e de televisão:
a) a Justiça Eleitoral, à vista do pedido, deverá notificar imediatamente
o responsável pela emissora que realizou o programa para que entregue
em vinte e quatro horas, sob as penas do art. 347 da Lei ng 4.737. de 15
de juiho de 1965 (Código Eleitoral), cópia da fita da transmissão, que
será devolvida após a decisão;
§ 7- A inobservância do prazo previsto no parágrafo anterior sujeita a
autoridade judiciária às penas previstas no art. 345 da Lei ng 4.737. de

§ 89 O não cumprimento integral ou em parte da decisão que conceder


a resposta sujeitará o infrator ao pagamento de multa no valor de 5.000
(cinco mil) a 15.000 (quinze mil) UFIR, duplicada em caso de reiteração
de conduta, sem prejuízo do disposto no art. 347 da Lei ng 4.737. de 15
de julho de 1965 (Código EleitoraI)(grifos nossos).

As regras são remissívas aos crimes tipificados nos arts. 345 e 347 do Código
Eleitoral.

23.5.7. Art. 68

Art. 68. O boletim de urna, segundo o modelo aprovado pelo Tribunal


Superior Eleitoral, conterá os nomes e os números dos candidatos nela
votados.
§ 1- O presidente da mesa receptora é obrigado a entregar cópia do
boletim de urna aos partidos e coligações concorrentes ao pleito cujos
representantes o requeiram até uma hora após a expedição.
§ 2 - 0 descumprimento do disposto no parágrafo anterior constitui
crime, punível com detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, com a
alternativa de prestação de serviço à comunidade pelo mesmo período,
e multa no valor de 1,000 (um mil) a 5.000 (cinco mil) UFIR

827
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Bem Jurídico
0 Estado. Tutela-se a fé pública do resultado das eleições, 0 tipo protege a
autenticidade ou fidedignidade da votação nos partidos políticos e candidatos
especificamente votados naquela eleição.

Sujeito ativo
0 crime é próprio. Trata-se de crime funcional, ou delicta in officio praticado pelo
presidente da mesa ou mesários, mas como a lei eleitoral permite a nomeação de
mesário ad h oc entre eleitores que estejam aptos a votar, na falta do coraparecimento
do mesário oficial é possível a extensão para esses mesários temporários, que se
investem plenamente da função em razão da urgente necessidade de composição
da seção eleitoral.
É crime que é processado e punido no âmbito da competência do juiz eleitoral
responsável pela seção eleitoral. Aplica-se o critério territorial do art. 70 do CPP, de
forma subsidiária.
Punem-se os agentes honoríficos que exercem funções de mesários, mas somente
a título de dolo.

Sujeito passivo
Os partidos políticos, coligações e candidatos, que não recebem o boletim
expedido.

Tipo objetivo
A Justiça Eleitoral, por resolução temporária, expede regras cautelosas sobre o
processo de votação e apuração, as quais servem de compreensão sistemática do
exame do tipo penal, que é uma norma penal em branco.
Exemplificando o assunto, destacamos parte do teor da Res. TSE n- 22.154/06,
que nas eleições de 2006 regulou o assunto, Como a questão se repete para as
demais eleições, com apenas específicas alterações, cumpre ao aplicador da lei
utilizar estas regras para colmatar o assunto.

Art. 42. Compete, ainda, ao presidente da mesa receptora de votos e, na


sua falta, a quem o substituir: I - encerrar a votação e emitir as cinco vias
do boletim de urna e a via do boletim de justificativa; II - emitir, mediante
solicitação, até cinco vias extras do boletim de urna para o representante
do Ministério Público e representantes da imprensa; III - emitir o boletim
de justificativa, acondicionando-o, juntamente com os requerimentos
recebidos, em envelope próprio, caso a mesa haja funcionado apenas
para este fim; IV - assinar todas as vias_d_o_bQletim de urna e o boletim
de justificativa com o primeiro se-cretárLQ_e fiscais dos partidos políticos

828
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

e coligações presentes: V - afixar uma cópia do boletim de urna em locai


visível da secão e entregar outra, assinada, ao representante do comitê
interpartidário (...) XII - remeter à junta eleitoral, mediante recibo em duas
vias, com a indicação da hora de entrega, o disquete gravado pela urna,
acondicionado em embalagem específica lacrada, três vias do boletim Hp
urna, o relatório zerésima. o boletim de justificativa, o caderno de votação,
o envelope contendo a ata da mesa receptora de votos e o envelope
contendo as vias recebidas de requerimentos de justificativa eleitoral,
caso a seção tenha funcionado também para esse fim (grifos nossos).

Verifica-se que, na prática, os fiscais não solicitam as suas cópias de boletins


de urna, e os gastos de impressão desses Bus são elevados. Quando o candidato
ou partido político já sabe que foi derrotado na eleição, a tendência é sobrarem
muitas vias de boletins de urna sem que eles as solicitem, devendo o material ser
aproveitado para reciclagem industrial.
Cumpre ao Ministério Público solicitar a sua cópia ou via de boletim, além de
subscrever as demais vias.
Outrossim, o boletim é o documento oficial que permite a confrontação com o
verdadeiro resultado da eleição, o que garante a lisura do pleito e normalidade das
eleições.

Art. 227. Às 17 horas será encerrada a votação, mesmo que a totalidade


das cédulas não tenha sido digitada, e, em seguida, serão adotadas as
seguintes providências: I - digitação do código de encerramento da
votação, emissão dos boletins de urna e gravação do disquete pela
urna; II - emissão do relatório de votação do sistema de apoio à votação
paralela; III - emissão do boletim do voto digital: IV - recepção do arquivo
do registro digital do voto pelo sistema de apoio à votação paralela;
V - emissão, pelo sistema de apoio à votação paralela, do relatório de
verificação comparativo do arquivo do registro digital dos votos e das
cédulas digitadas.
Art. 228. Verificada a coincidência dos resultados obtidos nos boletins
de urna com os dos relatórios emitidos pelo sistema de apoio à votação
paralela e entre cédulas de votação paralela e registro digital dos votos,
será lavrada ata de encerramento dos trabalhos.
Art. 229. Na hipótese de divergência entre o boletim de urna e o relatório
emitido pelo sistema ou entre o registro digital dos votos e as cédulas
de votação paralela, serão adotadas as seguintes providências: I -
localização, no relatório de verificação, dos candidatos e das cédulas que
apresentaram divergência; II - conferência da digitação da respectiva
cédula, por intermédio da fita de vídeo, com base no horário de votação
(grifos nossos).

829
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Tipo subjetivo
0 dolo. Não há crime culposo. Se o mesário esqueceu-se de entregar a via, o fato
é atípico. Durante a fase de votação e seu regular encerramento podem ocorrer
fatores externos imprevisíveis, que impliquem na não entrega da via, até porque
não solicitada.
De toda sorte, cumpre ao mesário ou presidente da seção levar em envelope
o material fornecido pela Justiça Eleitoral até a sede da zona eleitoral prestando
contas das vias de boletim de urna e outros documentos.

Remissões:
Ver o crime de mapismo previsto no art. 315 do Código Eleitoral e o delito
do art. 72 da Lei ne 9.504/97, bem como as resoluções temporárias do TSE que
disciplinam o processo de votação e apuração dos votos.

23.5.8. Art. 70

Art. 70. 0 presidente de Junta Eleitoral que deixar de receber ou de


mencionar em ata os protestos recebidos, ou ainda, impedir o exercício
de fiscalização, pelos partidos ou coligações, deverá ser imediatamente
afastado, além de responder pelos crimes previstos na Lei n9 4.737, de
15 de julho de 1965 (Código Eleitoral).

0 tipo penal é de remissão aos arts. 87 da Lei n- 9.504/97, 316 e 347 do Código
Eleitoral.
Em complemento ao tema, verifica-se que a hipótese é de rara aplicação, pois,
com o sistema eletrônico de votação se preserva a transparência e ampla fiscalização
das aplicações, inserções e inseminações de dados nas urnas eletrônicas; e, além
de tudo, no próprio processo de transmissão de dados pelas zonas eleitorais aos
Tribunais Regionais Eleitorais e destes ao Tribunal Superior Eleitoral existe a
obrigação da fiscalização do Ministério Público e de fiscais (delegados) de partidos
políticos.
No voto manual ou no "cantado” - quando não se consegue extrair da urna
eletrônica o seu conteúdo, e os servidores da Justiça Eleitoral com base no boletim
de urna impresso passam para outra urna os dados de votação para posterior
transmissão - é possível incidir o tipo penal.
O tipo é mais remissivo ao art, 87 da Lei n- 9.504/97.

830
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im .e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ítu lo 2 3

23.5.9. Art. 72

Art. 72. Constituem crimes, puníveis com reclusão, de 5 (cinco) a 10


(dez) anos:
í - obter acesso a sistema de tratamento automático de dados usado pelo
serviço eleitoral, a fim de alterar a apuração ou a contagem de votos;
II - desenvolver ou introduzir comando, instrução ou programa de
computador capaz de destruir, apagar, eliminar, alterar, gravar ou
transmitir dado, instrução ou programa ou provocar qualquer outro
resultado diverso do esperado em sistema de tratamento automático
de dados usado pelo serviço eleitoral;
III - causar, propositadamente, dano físico ao equipamento usado na
votação ou na totalização de votos ou a suas partes.

Bem jurídico
A conduta atinge a regular Administração Eleitoral, a fé pública das eleições,
além de, no inciso III, caracterizar um dano (bem material) ao patrimônio da Justiça
Eleitoral. Trata-se de tipo penal de múltipla lesão, porque ainda pode ofender a
paz pública das eleições na proteção de bens imateriais informatizados que possui
componentes intangíveis, como o softw are.

Sujeito ativo
É crime comum, porque permite sua prática por qualquer pessoa, mas é inegável
que o agente ativo tenha uma especial condição profissional na modalidade dos
incisos I e II do artigo, sendo classificado como um h ach er (expressão designativa de
estudantes de computação que pesquisam em laboratórios de informática). Trata-
se de um especialista do computador. Existe ainda, o hacher ético que se diferencia
do cracher, que é um não ético. Fala-se ainda em guru, que é na escala hierárquica
de informática um ser supremo do conhecimento informatizado. Temos ainda
outros adjetivos, tais como: carders (fraudadores de cartões de crédito usando a
informática); Òlack hats (utilizam a informática para o crime) e p h rea k er (utilizam
o sistema eletrônico e telefônico),
O agente especialista pode con tar com outros partícipes ou coautores que não
tenham conhecimento de informática, inclusive na formação do delito de quadrilha
(art. 288 do Código Penal); neste caso, o delito comum é julgado pela Justiça Eleitoral
(art. 35, inciso II, do Código Eleitoral).

831
M arcos R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Sujeito passivo
0 Estado. A Administração da Justiça Eleitoral 0 bem imaterial ou material
da União e o eleitor, bem como o sistema eleitoral. Trata-se de delito de múltipla
subjetividade passiva, especialmente nos casos dos incisos I e II.
A conduta lesa a credibilidade do sistema eleitoral de votação e apuração dos
votos, causando uma demonstração de ineficiência dos serviços públicos e atingindo
o sentimento de proteção social e fidedignidade das eleições.
A pena é elevada em função da diversidade de lesões causadas não apenas ao
erário público, ao eleitor, à Administração da Justiça Eleitoral, mas principalmente
ao sistema eleitoral cuja confiabilidade foi depositada ao Estado.

Tipo objetivo
A ação envolve dois tipos básicos de lesões: uma ao hardw are (que são coisas
alheias móveis, ou seja, equipamentos que ensejam a prática de ações, por exemplo,
o monitor, o mouse etc.); e outra, ao softw are, que é o programa de dados da Justiça
Eleitoral na medida em que o agente altera a apuração e contagem dos votos
eletrônicos, pois o tipo se difere, por exemplo, do crime de mapismo do art. 315 do
Código Eleitoral.
0 softw are é uma criação intelectual, um bem imaterial. Trata-se de uma obra de
natureza intelectual que incide a proteção do Direito Autoral.
Como se nota, o tipo penal é subdividido em três espécies, a saber: no inciso
I, o agente consegue o acesso, a senha e os códigos, e invade o sistema privativo
de criação do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral. 0 objetivo do agente ativo da
empreitada criminosa é delineado no tipo penal, ou seja, alterar a apuração (fase
específica) ou a contagem dos votos.
0 acesso pode ter sido obtido por corrupção do servidor ou de agente da empresa
responsável pela senha e códigos. Outra forma de acesso se dá pela manipulação dos
comandos e meios técnicos. É uma espécie de furto ou estelionato, quando a pessoa
responsável pela guarda e proteção do sistema é enganada e o delinqüente invade o
sistema. 0 infrator ultrapassa as limitações impostas pelo equipamento e senhas. É
uma verdadeira manipulação oculta, que pode ou não contar com a colaboração de
terceiros integrantes do próprio sistema operacional.
0 autor do delito é um verdadeiro "pirata" da informática, e ofende o direito
pelo abuso das técnicas. Há invasão de privacidade do sistema eletrônico com o
monitoramento do tráfego de informações, alterando a quantidade dos votos e
modificando a apuração. Ao final, elege-se ilicitamente um mandatário político, que
é o responsável pela engenharia criminosa.

832
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Se o mesário dolosamente vota pelo eleitor, digitando código de habilitação


diverso, a hipótese se amolda ao inciso I do art. 72, porque ele acessou ilicitamente
o sistema de votação, e com esta conduta ocorreu alteração na contagem dos votos,
exceto se estiver agindo negligentemente, quando o fato é atípico.
No inciso II, o tipo é múltiplo alternativo. Quaisquer das condutas caracterizam
a consumação do delito. A hipótese de tentativa é de rara aplicação, pois, se o agente
desenvolve o comando capaz de destruir, o ato que seria preparatório já restará
consumado. 0 tipo não ameniza os atos preparatórios e os universaliza para fins de
incidência criminal.
Se o invasor do sistema introduz vírus e dados que impedem o funcionamento
regular ou até atrasam a apuração, ele estará sujeito ao tipo penal.
Trata-se de um delito especial de espionagem profissional, em que o agente
contratado serve ao político fraudulento, valendo-se os coautores da corrupção.
A destruição é a própria eliminação ou demolição do sistema, seja de forma
parcial ou total.
O resultado diverso do esperado pode ocorrer por aumento ou diminuição do
número de votos, inclusive em apenas uma das seções eleitorais ou no conjunto da
votação e das seções de uma zona eleitoral. A fraude pode abranger diversas zonas
eleitorais do município, estado ou do território nacional.
0 crime é plurilocal.
Atualmente, o modelo da urna eletrônica é um microcomputador IBM-PC, que
possui matrizes armazenadas sobre dados de partidos políticos, candidatos e
eleitores e uma memória chamada "não volátil", em flash cards.
As urnas são inseminadas por sistemas padronizados de instalação e segurança,
são também usados algoritmos públicos e resumo criptográfico para fins de aferição
da integridade do softw are.
Dessa forma, o agente criminoso pode ser ou não servidor público, inclusive
servidor requisitado ou que presta um múnus público.
0 controle do sistema é feito por agentes privados e públicos, e sofre fiscalização
dos partidos políticos e do Ministério Público, além da própria Justiça Eleitoral, que
zela cuidadosamente pela confiabilidade e integridade do sistema.
No caso do inciso III, verifica-se um tipo especial de delito de dano, sendo a
conduta dolosa. Por exemplo, certa feita o eleitor colocou cola no número 2 da tecla
de votação, obstruindo que outros eleitores pudessem votar. Em outro caso, o agente
dolosamente destruiu o acesso de energia elétrica na seção eleitoral, impedindo o
funcionamento da urna eletrônica.

833
M arcos R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

Tipo subjetivo
Dolo especial de agir. Não há previsão culposa.

Remissões:
Vide arts. 5 9, inciso X, da CF; 155, § 3 do Código Penal; e Lei n2 9.296/96
(Interceptação telefônica).

23.5.10. Art. 87

Art, 87. Na apuração, será garantido aos fiscais e delegados dos partidos
e coligações o direito de observar diretamente, à distância não superior
a um metro da mesa, a abertura da urna, a abertura e a contagem das
cédulas e o preenchimento do boletim.
§ l 2 0 não atendimento ao disposto no caput enseja a impugnação do
resultado da urna, desde que apresentada antes da divulgação do boletim.
§ 2a Ao final da transcrição dos resultados apurados no boletim, o
presidente da Junta Eleitoral é obrigado a entregar cópia deste aos
partidos e coligações concorrentes ao pleito cujos representantes o
requeiram até uma hora após sua expedição.
§ 3e Para os fins do disposto no parágrafo anterior, cada partido ou
coligação poderá credenciar até 3 (três) fiscais perante a Junta Eleitoral,
funcionando um de cada vez.
§ 4 e 0 descumprimento de qualquer das disposições deste artigo
constitui crime, punível com detenção de 1 (um) a 3 (três) meses, com a
alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período
e multa, no valor de 1.000 (um mil) a 5.000 (cinco mil) UFÍFL

Bem jurídico
O Estado. Tutela-se a fé pública das fases de votação e apuração.

Sujeito ativo
Trata-se de crime próprio. É ainda crime funcional, ou delicta in officio praticado
pelos membros da Junta Eleitoral (arts. 36 a 41 do Código Eleitoral) que exercem
abuso de autoridade, impedindo ou diminuindo as chances de igualdade de
fiscalização do processo de votação e apuração.

8 34
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So bre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

Sujeito passivo
Os partidos políticos, coligações e candidatos, que são impedidos de fiscalizar
as eleições (votação ou apuração dos votos), sendo obstaculizados no acesso,
observação e verificação em geral da abertura das urnas de lona ou eletrônicas (estas
por mecanismos e ferramentas informatizadas), a fiel contagem dos votos, inclusive
os chamados "cantados" e a digitação ou lançamento do resultado verdadeiro nos
boletins de urna.
0 delito é de dupla subjetividade passiva. 0 Estado Democrático e os atores e
participantes do processo eleitoral, especialmente quando estes são fiscais, tais
como: o próprio Ministério Público, delegados de partidos políticos, fiscais de
partidos, candidatos (fiscais naturais da própria eleição) e os representantes das
alianças políticas (coligações).

Tipo objetivo
Na cabeça do art. 87, é assegurado ao fiscal a observância direta, sem a utilização
de instrumentos manuais ou informatizados, da abertura da urna, contagem das
cédulas e preenchimento do boletim.
A visualização é direta e deve respeitar a distância da junta Apuradora “não
superior a um metro".
0 tipo penal é remissivo, pois sua completude está no art. 70 da Lei n9 9.504/97.
O § l s consagra a impugnação ao cerceamento do direito de fiscalização, mas não
se pode utilizar esta defesa como tentativa fraudulenta de anulação das eleições.
A regra não é absolutamente cogente se a metragem superar em centímetros a
distância mínima de um metro. Veda-se, na verdade, a essência da fiscalização, e
apenas a fotografia da cena fática local será capaz de moldar a correta incidência da
norma penal.
Já o § 2 a consagra a entrega do boletim de urna aos partidos políticos, por
intermédio de seus representantes. Se a entrega foi feita ao representante ou fiscal
eleito por todos os partidos naquela zona eleitoral, ou em determinadas seções, o
fato será atípico.
O ato é bilateral, pois cumpre ao representante solicitar o boletim, o que é fato
raro de ocorrer.
0 § 3 - prevê o credenciamento de fiscais, que é ato de atribuição dos
próprios partidos políticos, pois a justiça Eleitoral não está obrigada a fazer este
credenciamento, mas apenas lhe compete a conferência dos nomes de acordo com a
relação fornecida pela própria agremiação política (art. 65, § 2 S, da Lei ns 9.S04/97).

835
M arcos R am ayan a D ir h t o E l e it o r a l

Assim, fica difícil imaginar a aplicação do § 3 S, exceto se o membro da Junta Eleitoral


negar ou impedir o acesso dos fiscais desobedecendo-se naturalmente a ordem de
alternância. É uma hipótese de singular aplicação.
Cabe a transação penal e a suspensão condicional do processo previsto na Lei
ne 9.099/95.

Tipo subjetivo
0 tipo penal só ocorre por dolo. Em razão do princípio da excepcionalidade
do crime culposo; não prevê a lei a punição por negligência ou imprudência nas
atitudes e atos dos membros da Junta Eleitoral.

Remissões:
Arts. 36 a 41 do Código Eleitoral, e 65, § 2-, e 70 da Lei n- 9.504/97.

Disposições Finais

2 3 .5 .1 1 . Art. 90

Art. 90. Aos crimes definidos nesta Lei, aplica-se o disposto nos arts. 287
e 355 a 364 da Lei n9 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral).
§ l e Para os efeitos desta Lei, respondem penalmente pelos partidos e
coligações os seus representantes legais.
§ 2e Nos casos de reincidência, as penas pecuniárias previstas nesta Lei
aplicam-se em dobro.

O art. 287 do Código Eleitoral faz menção à aplicação subsidiária do Código


Penal, assim como já previsto no próprio art. 12 do Código Penal.
Na falta de regras sobre concursos de pessoas, de crimes e outras atinentes ao
Direito Penal Eleitoral, o intérprete deve utilizar as normas gerais do Direito Penal,
arts. l e a 120 do Código Penal, ressalvando-se as normas dos arts. 283 a 288 do
Código Eleitoral.
A menção da aplicação dos arts. 355 a 364 diz respeito ao Processo Penal
Eleitoral, que incide em relação aos crimes eleitorais da Lei n- 9.504/97, bem como
as tipificados na legislação eleitoral. Por exemplo, o prazo de 10 dias para oferecer
denúncia; a fiscalização do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública pela
2a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal nos casos de
discordância pelo juiz eleitoral do arquivamento do promotor eleitoral (art. 357,
§ l e, do Código Eleitoral).

836
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ítu lo 2 3

Cumpre, ainda, observar que em matéria processual penal eleitoral se aplica a


Lei n9 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Criminais); bem como a Lei ne 8.038/90
- ações penais de competência originária dos Tribunais.
Dessa forma, no caso da ação penal, se proposta contra pessoas que gozem de
foro por prerrogativa de função nos Tribunais Regionais Eleitorais, por exemplo,
os prefeitos, quando praticarem crimes eleitorais, seguir-se-á a norma abaixo
destacada.

CAPÍTULO í
AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA.
Art. I 9 Nos crimes de ação penal pública, o Ministério Público terá o
prazo de 15 (quinze) dias para oferecer denúncia ou pedir arquivamento
do inquérito ou das peças informativas. (...)
Art. 4 e Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a
notificação do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias.
(...)
Art. 69 A seguir, o relator pedirá dia para que o Tribunal delibere sobre
o recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência
da acusação, se a decisão não depender de outras provas. (...)
Art. 1- Recebida a denúncia ou a queixa, o relator designará dia e hora
para o interrogatório, mandando citar o acusado ou querelado e intimar
o órgão do Ministério Público, bem como o querelante ou o assistente,
se for o caso.
Art. 89 O prazo para defesa prévia será de 5 (cinco) dias, contado do
interrogatório ou da intimação do defensor dativo.

O § l s é tipo penai explicativo, que indica a responsabilidade dos autores e


partícipes (art. 29 do Código Penal), quando se utilizam os partidos políticos
(pessoa jurídica de direito privado) ou as coligações (pessoas formais).
É importante ainda verificar a regra do art. 336 do Código Eleitoral, pois, nos
crimes ali remetidos é possível a identificação da autoria ou participação de
fiscais, delegados, membros, filiados e agentes dos partidos políticos no âmbito
dos respectivos diretórios. Por exemplo, se um tesoureiro indicado na forma
estatutária, falsifica ideologicamente a prestação de contas do partido político à
Justiça Eleitoral, responderá dentre outros delitos pelo art. 350 do Código Eleitoral.
Assim, ainda que não feita uma referência no art. 336, a análise da participação ou
coautoria do agente ativo da empreitada delitiva será investigada.
Ver ainda, as remissões aos arts. 6-, inciso III, § 3 2, da Lei ne 9.504/97 e 15, inciso
IV,da Lei n- 9.096/95, que tratam da figura dos representantes legais dos partidos
e coligações.

837
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Quanto ao § 2-, já vimos, a n terio rm en te, que os crim es eleitorais não


são crim es políticos, sendo inaplicável aos m esm os a reg ra do a rt. 6 4 ,
inciso II, do Código Penal, ou seja, essa reg ra diz que não con sid era a
condenação a n te rio r p ara fins de rein cid ên cia se esta for de crim e m ilitar
próprio e p olítico. Os crim es eleito rais são crim es com uns, pois englobam
todos os delitos, com exceção dos im p rop riam ente cham ados crim es de
responsabilidade, definidos na Lei n - 1 .0 7 9 , de I a de abril de 1 9 5 0 (grifos
nossos).
A diferença entre crimes comuns e políticos deve ser feita sob o prisma da
Constituição da República Federativa do Brasil e por exclusão, ou seja, o que não
é crime de responsabilidade é crime comum, sendo que os crimes políticos são os
assim definidos apenas na LEI DE SEGURANÇA NACIONAL, em destaque:

LEI Ne 7.170, DE 14 DE DEZEMBRO DE 1983


Define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e
social, estabelece seu processo e julgamento e dá outras providências
0 PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO
NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I
Disposições Gerais
Art. I 9 Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão:
I - a integridade territorial e a soberania nacional;
II - o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de
Direito;
III - a pessoa dos chefes dos Poderes da União.
Art. 22 Quando o fato estiver também previsto como crime no Código
Penal, no Código Penal Militar ou em leis especiais, Ievar-se-ão em conta,
para a aplicação desta Lei:
I - a motivação e os objetivos do agente;
II - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo
anterior.

Os crimes eleitorais não são delitos contra a ordem política, mas delitos que
atentam contra as eleições e a normalidade das etapas e fases do Direito Eleitoral.
Não se pode confundir os agentes ativos e passivos da infração penal e os bens
jurídicos atingidos, e por via direta ampliar-se para os delitos eleitorais uma natureza
própria dos delitos políticos, quando as sistemáticas legislativas e constitucionais
fazem a diferença axiológica entre ambos os bens valorados.

838
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a pít u l o 2 3

Os delitos políticos atingem uma natureza mista que é formada pelo elemento
subjetivo (intenção de subversão do regime político) e o elemento real, objetivo,
que a própria lesão à pessoa ou bem material do Estado, conforme exegese do art.
2 - da lei acima referida.
Em conclusão: os delitos eleitorais acarretam a reincidência.
Dessa forma, se o réu foi condenado agindo em nome do partido político, e a
sentença transitou em julgado, estará durante cinco anos sujeito à reincidência; e
voltando a delinquir, a pena abstrata eventualmente prevista no novo tipo penal
praticado será contada em dobro para aquele réu reincidente, sendo a contagem
feita concretamente no preceito secundário da nova norma incriminadora, mas
exclusivamente sobre a sanção de multa.
No cálculo da pena abstrata, o juiz deverá levar em conta o preceito abstrato,
e, em uma segunda operação, aplicará a multa concreta e a elevará ao dobro em
razão desta regra, alcançando a pena pecuniária definitiva, que serve de elemento
de inibição, pois o réu agiu se valendo da condição de confiança depositada pelo
partido político.

23.5.12. Art. 91

Art. 91. Nenhum requerimento de inscrição eleitoral ou de transferência


será recebido dentro dos 150 (cento e cinqüenta) dias anteriores à data
da eleição.
Parágrafo único. A retenção de título eleitoral ou do comprovante de
alistamento eleitoral constitui crime, punível com detenção, de 1 (um) a
3 (três) meses, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade
por igual período, e multa no valor de 5.000 (cinco mil) a 10.000 (dez
mil) UFIR.

Bem jurídico
O alistamento eleitoral e a fase de votação.

Sujeito ativo
A princípio será o servidor da Justiça Eleitoral. Crime próprio, mas admite-se
que um extraneus pratique o crime.

Sujeito passivo
O Estado. A Democracia. O cidadão, alistando ou eleitor.

839
M arcos R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

Tipo objetivo
Neste aspecto pedimos ao prezado leitor que consulte os comentários ao art. 295
do Código Eleitoral, na parte dos CRIMES ELEITORAIS TIPIFICADOS NO CÓDIGO
ELEITORAL, quando abordamos a questão do bem jurídico e os demais itens do
crime aqui tratado, indicando a revogação do art. 295 pela norma do art. 91.

23.5.13. Art. 94

Art. 94. Os feitos eleitorais, no período entre o registro das candidaturas


até 5 (cinco) dias após a realização do segundo turno das eleições, terão
prioridade para a participação do Ministério Público e dos juizes de
todas as Justiças e instâncias, ressalvados os processos de habeas corpus
e mandado de segurança.
§ l 9 É defeso às autoridades mencionadas neste artigo deixar de cumprir
qualquer prazo desta Lei, em razão do exercício das funções regulares.
§ 2a 0 descumprimento do disposto neste artigo constitui crime de
responsabilidade e será objeto de anotação funciona! para efeito de
promoção na carreira.

Bem jurídico
0 Estado. A Justiça Eleitoral e o processo de registro de candidatos, propaganda
política eleitoral e votação.

Sujeito ativo
Crime próprio. Trata-se de delito de qualidade ativa especial.

Sujeito Passivo
A Justiça Eleitoral e a qualidade célere da prestação jurisdicional.

Tipo objetivo
0 tipo penal é norma em branco, que exige complementação com a Resolução do
Calendário das Eleições.
0 art. 11 da Lei n9 9.504/97 dispõe que o dia 5 de julho do ano de eleição é
a data limite para o requerimento de registro de candidatos; a partir desta data
começa a contagem do prazo, que se prolonga no tempo até o dia das eleições, ou
seja, primeiro turno, no primeiro domingo de outubro, e se houver o segundo turno,
o último domingo de outubro.

8 4 0
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e it o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Durante os espaços temporais anteriormente referidos existem diversos prazos


previstos pela legislação eleitoral. Por exemplo, os arts. 52, 58, § l e, e incisos I, II e
III, 63 e 96, § 72 da Lei n9 9.504/97.
0 tipo penal é natimorto ou suicida, porque a única sanção possível de aplicação
é a administrativa, que ficará sob o encargo funcional das respectivas Corregedorias
de Justiça e do Ministério Público, considerando que a lei faz apenas menção
remissiva a outro tipo pena! que seria um "crime de responsabilidade". Só que, na
Lei n9 1.079/50, que é formada por infrações político-administrativas e penais, não
há complemento ao tipo aqui mencionado.
Na verdade, a remissão é inexistente e a norma é pedagógica, pois suas repercussões
atingem a conduta funcional das autoridades desidiosas sem ter nenhuma sanção
pré-fixada no âmbito de preceito secundário de norma incriminadora.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
A Lei n^ 4.410, de 24 de setembro de 1964 está revogada pelo artigo em comento.

23*6. CRIMES TIPIFICADOS EM OUTRAS LEIS ELEITORAIS


2 3 .6 .1 . Art. 11 T ran sp orte de eleitores
LEIS ESPECIAIS ELEITORAIS.

PRIMEIRA LEI.
Lei ne 6.091, de 15 de agosto de 1974.
(Dispõe sobre o fornecimento gratuito de transporte, em dias
de eleição, a eleitores residentes nas zonas rurais e dá outras
providências)
Art. 11. Constitui crime eleitoral:
I - descumprir, o responsável por órgão, repartição ou unidade do
serviço público, o dever imposto no art. 3e, ou prestar informações
inexatas que visem a elidir, total ou parcialmente, a contribuição de
que ele trata:
Pena: detenção de quinze dias a seis meses e pagamento de 60 a 100
dias-multa.

841
M a r c o s R am ayana D ir e i t o E l e it o r a l

Bem jurídico
A Administração Pública da Justiça Eleitoral.

Sujeito ativo
É crime especial ou próprio. Quem desobedece a ordem é o responsável pela
cedência dos veículos ou da correta prestação de informação.

Sujeito passivo
0 Estado. A organização da Justiça Eleitoral.

Tipo objetivo
0 bem jurídico protegido é a organização da Justiça Eleitoral, porque sem os
veículos necessários ao transporte das urnas e mesários, simplesmente não haverá
a própria eleição.
Se o infrator omite informações ou as falseia, o tipo consagra uma espécie da
falsidade ideológica, inclusive podendo ocorrer a incidência do art. 350 do Código
Eleitoral.
Trata-se de um crime de desobediência especial, que no conflito aparente de
normas prevalece sobre o tipo penal do art. 347 do Código Eleitoral.
0 descumprimento é o próprio desatendimento total ou parcial da ordem do
juiz eleitoral da zona eleitoral, ou dos próprios juizes dos Tribunais, inclusive do
presidente do TSE.
0 agente pratica o crime se informa um número insuficiente de veículos para
atender os serviços eleitorais.
O tipo penal permite a transação penai. Assim, no caso de desobediência, não
cabe prisão em flagrante delito, mas apenas a lavratura de termo circunstanciado
na Polícia Federal.

Tipo subjetivo
Não se admite a modalidade culposa. Dolo.

Remissões:
Vide arts. 347 do Código Eleitoral e 330 do Código Penal.

II - desatender à requisição de que trata o art 2-:


Pena: pagamento de 200 (duzentos) a 300 (trezentos) dias-multa, além
de apreensão do veículo para o fim previsto.

842
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is So b r e os C r im e s E l e i t o r a is e

o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

Bem Jurídico
A Administração Pública da Justiça Eleitoral.

Sujeito ativo
É crime especial ou próprio. Quem desobedece a ordem é o responsável pela
cedência dos veículos ou da correta prestação de informação. Admite-se a conduta
do particular, p.ex., o proprietário do veículo.

Sujeito passivo
0 Estado. A organização da Justiça Eleitoral.

Tipo objetivo
Trata-se de tipo similar e remissivo ao do inciso I. Aqui, a norma prolonga a
punição até o agente que é empresário, proprietário comum ou particular dos
veículos, incluindo as embarcações.

Tipo subjetivo
Dolo.

Rem issões
Vide arts. 347 do Código Eleitoral e 330 do Código Penal.

III ~ descumprir a proibição dos arts. 52, 8e e 10:


Pena: reclusão de quatro a seis anos e pagamento de 200 a 300 dias-
multa (art. 302 do Código Eleitoral).

Bem ju ríd ico


A Administração Pública da Justiça Eleitoral.

Sujeito ativo
Qualquer pessoa. Crime comum. A lei pune o agente que utiliza veículos
particulares ou públicos para obter vantagem eleitoral transportando eleitores
para as seções eleitorais, seja no trajeto de ida ou volta do locaí da votação.
Pode haver coautoria com o candidato e incidência em concurso de crimes como
o crime de corrupção eleitoral (art. 299 do Código Eleitoral].

843
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Sujeito passivo
0 Estado. 0 eleitor. É delito pluriofensivo.
Tipo objetivo. Como se nota, o tipo pune diversas condutas pela técnica da
remissão. Mão é apenas um crime, mas vários que podem acarretar a incidência
do concurso formal ou material. Não se trata de tipo múltiplo alternativo, mas de
condutas individuais e autônomas.
0 agente pode violar os arts. 5 9, 8 e ou 10 da lei em comento.
Na espécie, vê-se que, no art. 5-, o infrator age dolosamente utilizando seu
veículo; veículo público: embarcações, carroças e qualquer tipo de locomoção para
transporte de eleitores, inclusive trens e outros. Não precisa ser veículo automotor.
A lei impõe um limite temporal: o dia anterior ao domingo de outubro e o
posterior à eleição. Trata-se de um delito especial de corrupção eleitoral, porque
não se fornecem mercadorias, mas veículos.
Na hipótese do art. 8 5, se o candidato fornece alimentos, refeições, ele estará
sujeito a esta sanção, ressalvando-se os alimentos dados aos membros do próprio
partido político. A "boca de urna" é crime, não se justificando o fornecimento de
alimentos nos Comitês, pois seria um simulacro de estímulo aos infratores que vão
panfletar e se alimentar, com o apoio financeiro e ilícito do candidato ou do próprio
partido político. É possível cumular-se o tipo com o art. 299 do Código Eleitoral,
quando na hipótese factual for adequada a cumulação.
No caso do art. 10, a norma consagra uma tipicidade especial para as zonas
rurais. Quando a localização for urbana, o tipo desloca-se para o do art. 299 do
Código Eleitoral.
Se o agente em plena área urbana transporta eleitores estará sujeito as penas do
artigo em comento. Se ele ainda fornece alimentos, incidirá cumulativamente o tipo
do art. 299 do Código Eleitoral.
Multiplicam-se os casos em eleições municipais, quando o candidato contrata o
transporte de veículos, como vans, para transportar eleitores. Cabe aqui a prisão em
flagrante delito.
Impossibilidade de aplicação do art. 89 da Lei ne 9.099/95. Incabível a transação
penal.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
Vide art. 299 do Código Eleitoral.

8 4 4
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is Sobre os C r im e s E l e i t o r a is e
o P r o c e s s o P e n a i E l e it o r a l C a p ít u l o 23

IV - obstar por qualquer forma a prestação dos serviços previstos nos


arts. 4- e 8 e desta Lei, atribuídos à Justiça Eleitoral:
Pena: reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Bem jurídico
A Administração Pública da Justiça Eleitoral.

Sujeito ativo
Qualquer pessoa. Crime comum. Pode ser praticado pelo eleitor, cabo-eleitoral
e candidato, incide o concurso de pessoas, bem como o delito de formação de
quadrilha (art. 288 do Código Penal). Ver art. 35, inciso II, do Código Eleitoral.

Sujeito passivo
0 Estado. 0 eleitor. É delito pluriofensivo.

Tipo objetivo
0 tipo nos remete aos arts. 4 - e 8-. 0 art. 4 - disciplina o trajeto ou quadro geral
de percursos das urnas eletrônicas no itinerário de ida e volta das zonas eleitorais,
ou dos locais de guarda e armazenamento.
O material necessário à votação deve ser transportado, sendo que os partidos
políticos e candidatos devem saber o itinerário, inclusive podem formular protestos
ou reclamações em relação ao quadro definitivo dos percursos.
Se o agente obsta a prestação do serviço, impedindo o transporte do material de
votação, inclusive dos mesários, incide no tipo penal. A ação é dolosa.
Trata-se de crime de obstáculo parcial ou total.
Pune-se ainda conduta do agente que obsta parcial ou totalmente o fornecimento
de alimentos pela Justiça Eleitoral aos eleitores quando imprescindível ao bom
exercício do voto nas comunidades distantes das seções eleitorais.
É um crime de impedimento.
Impossibilidade de aplicação do art. 89 da Lei n9 9.099/95. Incabível a transação penal.

Tipo subjetivo
Dolo.

Remissões:
Vide art. 299 do Código Eleitoral.

845
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

V - utilizar em campanha eleitoral, no decurso dos 90 (noventa] dias


que antecedem o pleito, veículos e embarcações pertencentes à União,
Estados, Territórios, Municípios e respectivas autarquias e sociedades
de economia mista:
Pena: cancelamento do registro do candidato ou de seu diploma, se já
houver sido proclamado eleito.
Parágrafo único. Oresponsável pela guarda do veículo ou da embarcação
será punido com a pena de detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses,
e pagamento de 60 (sessenta) a 100 (cem) dias-multa.

Bem jurídico
A Administração Pública da Justiça Eleitoral,

Sujeito ativo
Especial. O candidato ou pessoa responsável pela guarda do veículo. Admite-se a
coautoria com cabos eleitores.

Sujeito passivo
0 Estado. O eleitor. É delito pluriofensivo.

Tipo objetivo
A lei protege o patrimônio público. 0 agente pratica o crime, porque se vale de
bens públicos móveis, veículos e embarcações pertencentes ao patrimônio da União,
Estados ou Municípios, inclusive as autarquias e sociedades de economia mista,
A utilização dos veículos é para transporte próprio ou de eleitores, visando a fins
eleitorais.
É uma conduta similar a atos de improbidade administrativa e enseja sanções
no âmbito da Lei n9 8.429/92; além de ser conduta vedada ao agente público em
campanha eleitoral, art. 73, inciso i, da Lei n~ 9.504/97. É modalidade de abuso do
poder político, que pode acarretar a cassação do registro, diploma e inelegibilidade.
0 delito prevê pena de cassação do registro ou diploma. Trata-se de modalidade
especial de sanção restritiva de direitos, que independe da ação de representação por
abuso do poder econômico ou político, art. 22 da Lei Complementar n2 64/90, bem como
da própria ação de impugnação ao mandato eletivo, art. 14, §§ 10 e 11 da Constituição
Federal, ou Recurso Contra a Diplomação, art. 262, inciso IV, do Código Eleitoral.
A sanção prevista no preceito secundário da norma incriminadora é autônoma
das sanções administrativas civis eleitorais. Não há inconstitucionalidade ou
ilegalidade neste regramento legal.

8 4 6
C o n s id e r a ç õ e s G e r a is S o b r e os C r im e s E l e it o r a is e
o P r o c e s s o P e n a i E l e it o r a l C a p ít u l o 2 3

A utilização deve estar comprovadamente vinculada por nexo de causalidade à


campanha eleitoral, que se inicia oficialmente no dia 6 de julho do ano da eleição,
art. 36 da Lei n^ 9.504/97.
No parágrafo único, a conduta também é dolosa. Assim, se o responsável pela
guarda do veículo agiu por negligência o fato é atípico.
Admite-se em relação ao agente ativo do parágrafo único, a transação penal e o
sursis processual da Lei nQ9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Criminais). Quanto
ao autor da própria utilização do veículo, o tipo aparentemente veda a transação
penal, assim como o art. 334 do Código Eleitoral, porque possui sistema punitivo
especial, que é antagônico com a transação penal. Todavia, é possível de ser aplicada
com a concordância do autor do fato e em função da qualidade do agente ativo
quanto a sua culpabilidade analisada pelo elementos do art. 76, § 2e, da Lei dos
Juizados Especiais Criminais.

Tipo subjetivo
Dolo especial.

Remissões:
Lei n- 8.429/92 e art. 15, inciso III, da CF.

23 .7 . LEI COMPLEMENTAR N® 64
23.7.1, Art. 25 Impugnações temerárias

SEGUNDA LEI.
Lei Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990.
Lei das Inelegibilidades
Art. 25. Constitui crime eleitoral a arguição de inelegibilidade, ou a
impugnação de registro de candidato feito por interferência do poder
econômico, desvio ou abuso do poder de autoridade, deduzida de forma
temerária ou de manifesta má-fé:
Pena: detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa de 20 (vinte)
a 50 (cinqüenta) vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN) e,
no caso de sua extinção, de título público que o substitua.

Bem jurídico
Tutela-se a Administração da Justiça Eleitoral.

847
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Sujeito ativo
Crime próprio. Somente os legitimados para as ações eleitorais, tais como: candidatos,
representantes dos partidos políticos, das coligações e do Ministério Público.
As ações são: de representação ou investigação judicial eleitoral (art, 22 da Lei
Complementar n9 64, de 18 de maio de 1990); de recurso contra a diplomação
(art. 262 do Código Eleitoral); de impugnação ao mandato eletivo (art. 14, §§ 10 e
11, da CF); e de impugnação ao requerimento de registro de candidatos (art. 3 - da
Lei Complementar nfi 64, de 18 de maio de 1990).

Sujeito passivo
O Estado. A Justiça Eleitoral e, secundariamente, o ofendido que pode ser o pré-
candidato, candidato, diplomado eleito ou qualquer pessoa que tenha contribuído
para a prática do abuso do poder econômico (a rt 22, inciso XIV da Lei das
inelegibilidades).

Tipo objetivo
A lei tutela a Administração da Justiça Eleitoral. A conduta se dá pela arguição.
Trata-se da propositura das ações judiciais acima referidas ou da alegação no
processo judicial eleitoral.
O tipo penal é natimorto, ou suicida, porque exige para sua completude a
condenação na forma do art. 18 do Código de Processo Civil do litigante de má-fé. A
condenação é conditio sine qua non para a deflagração de eventual ação penal.
Na verdade, a litigância de má-fé no âmbito das sanções processuais já é eficaz de
repressão, pois não são necessários a investigação criminal ou o processo criminal.
Adota-se, nesse campo, o princípio da intervenção mínima, até a condenação na
litigância de má-fé no âmbito não penal por já demandar juízo da valoração subjetiva,
que dificulta a análise do tipo penal.
A norma é de rara aplicação.
0 eleitor poderá ser partícipe na modalidade de instigação ou induzimento,
aplicando-se o art. 29 do Código Penal.

Tipo subjetivo
Exige-se dolo especialíssimo do ânimo do agente ativo.
A imprudência ou negligência não são punidas criminalmente.

Remissões:
Vide o art. 18 do CPC; Lei Complementar n9 64/90 e art. 14, §§ l 9 e 11 da
Constituição Federal.

8 4 8
C o n s i d e r a ç õ e s G e r a i s S o b r e o s C r im e s E l e i t o r a i s e
o P r o c e s s o P e n a l E l e it o r a l C a p ít u l o 23

23.8. LEI NQ 6.996, DE 7 DE JUNHO DE 98 - CRIMES ELEITORAIS

TERCEIRA LEI.
Lei ne 6.996, de 7 de junho de 1982
[Dispõe sobre a utilização de processamento eletrônico de dados nos
serviços eleitorais e dá outras providências)
Art, 15. Incorrerá nas penas do art. 315 do Código Eleitoral quem, no
processamento eletrônico das cédulas, alterar resultados, qualquer que
seja o método utilizado.

O art. 315 do Código Eleitoral prevê o crime de mapismo referente à adulteração


de boletins de apuração manual. Pedimos ao prezado leitor que faça a consulta em
tópico anterior sobre os crimes do Código Eleitoral.
A fraude eletrônica está tipificada no art. 72 da Lei n2 9.504/97.
Sobre crimes atinentes ao boletim de urna, vide, ainda, o art. 87 da Lei ns 9.504/97.

2 3 .9 . LEI m 7 .0 2 1 , DE 06 DE SETEM BRO DE 98 - CRIMES


ELEITORAIS

QUARTA LEI.
Lei ne 7.021, de 06 de setembro de 1982
(Estabelece o modelo da cédula oficial única a ser usada nas eleições
de 15 de novembro de 1982 e dá outras providências)
Art. 5e, Constitui crime eleitoral destruir, suprimir ou, de qualquer modo,
danificar relação de candidatos afixada na cabina indevassável.
Pena - detenção, até seis meses, e pagamento de sessenta a cem dias-multa.

Bem jurídico
O Estado. A Justiça Eleitoral. O direito de informação ao eleitor.

Sujeito ativo
É crime comum. Pode ser praticado pelo eleitor, cabo-eleitoral, candidato e
qualquer pessoa interessada em danificar a lista que possui a relação dos candidatos.

Sujeito passivo
A Justiça Eleitoral. 0 Estado. E secundariamente o(s) candidato(s) atingido(s)
pela supressão do seu nome da relação de candidatos.

849
M arcos R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

Tipo objetivo
A norma protege o acesso do eleitor às informações relativas aos nomes e
números de candidatos, bem como dados referentes ao partido político.
Não importa se o eleitor já tinha previamente anotado o nome ou número do
candidato, mas o que é penalmente relevante é o fato do agente ativo violar o acesso
fidedigno da informação sobre a qualificação dos dados do candidato.
A norma penal aplica-se para todo o tipo de eleição popular, não estando restrita
ao âmbito das eleições de 1982.
Vide norma do art. 129 do Código Eleitoral que trata da preservação das listas de
candidatos afixadas dentro das cabines de votação.
A lista oficial é propaganda essencial. Assim, sua destruição, mesmo que parcial,
é forma de atentado ao eleitor e ao lídimo exercício do voto.
De fato, muitos eleitores precisam consultar as listas para saberem o número
correto dos seus candidatos, o que evita o voto nulo.
0 crime permite a aplicação da transação penal e da suspensão condicional do
processo na forma da Lei ne 9.099/95.
Pode existir concurso material ou formal com os crimes dos arts. 297 e 339 do
Código Eleitoral, bem como com o do art. 72 da Lei n9 9-504/97.

Tipo subjetivo
Dolo. Se o eleitor culposamente rasgou a lista de forma total ou parcial, ou se ela
sofreu danificação por fatores externos, o fato é atípico.

Remissões:
Ver o s arts. 129, 297 e 339 do Código Eleitoral.

850
o

C onsiderações G erais S obre os C rimes E leitorais e


Processo Eleitoral Penaí

P rocesso
Possibilidade de absolvição

P ehal E leitoral
Crime sumária e extinção do processo

| Oitiva de Testemunhas |
Investigação j {Acusação e Defesa) I
Juiz recebe a denúncia j e Divergências j
e notifica para a defesa
em 10 dias

Inquérito Policial ou
Termo Circunstanciado Alegações Finais do
Ministério Público
e Defesa
Não sendo caso de
Transação Penaí
Polícia Federal é oferecida a denúncia

_________________________________________________________
(RES. TSE. 22.376/2006)
j Sentença

; Sendo delito de
| Remessa ao Juiz Eleitoral | Menor Potencial i Recurso para TRE
Promotor
| da Zona Eleitoral do -*■{ ofensivo é proposta
Eleitoral
í íocaí do fato i a Transação Penai

00
........................................................................................................................................
H* Marcos Ramayana • Direito Eleitora! 10a Edição •Capítulo 23 - Considerações gefais sobre crimes eleitorais e processo penai eleitoral
C apítulo 24

R ecu rso s E leitorais

24.1, R EC U R SO S
1 - A Carta Magna disciplina os recursos em matéria eleitoral no art. 121, §§ 3 S e
4 9. Destacam-se, para o tema, as exceções recursais das decisões do Tribunal
Superior Eleitoral, que, em regra geral, são irrecorríveis. A doutrina caracteriza
o dispositivo legal, como princípio da irrecorribilidade. Na prática, o princípio
sofre mitigações.
Os recursos eleitorais são tratados no Título III, Capítulos I, II, III e IV, arts. 257 a
282 do Código Eleitoral. 0 Capítulo I trata das "Disposições preliminares" atinentes
aos recursos; o Capítulo II disciplina os recursos perante as juntas e os juízos
eleitorais; o Capítulo III, os recursos nos Tribunais Regionais; e o Capítulo IV, os
recursos no Tribunal Superior.
Os dispositivos legais não esgotam o tema recursal, porque nada impede que
as leis disciplinadoras das eleições criem outros mecanismos recursais específicos,
em razão do poder normativo do Tribunal Superior Eleitoral, desde que não haja
alteração das regras do próprio Código Eleitoral.
Impende observar ainda que doutrina e jurisprudência são unânimes em admitir
a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil e Código de Processo Penal, para
os recursos eleitorais.
Algumas regras básicas incidem sobre o disciplinamento dos recursos eleitorais:
a) o prazo comum dos recursos é de três dias (interposição com razões), como
determina o art. 258 do Código Eleitoral, sendo que, no período eleitoral, estipulado
na Lei das Eleições e na resolução do Tribunal Superior Eleitoral, os prazos
correm aos sábados, domingos e feriados (art. 16 da Lei Complementar n9 64/90);
b) outrossim, os recursos eleitorais não possuem efeito suspensivo, o que significa
dizer que as decisões são aplicáveis desde já, tendo ampla executoriedade, até
porque o parágrafo único do art. 257 reza que: "A execução de qualquer acórdão
será feita im ediatam ente (...}''
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

0 efeito suspensivo só ocorre na hipótese do art. 216 do Código Eleitoral, m


verbis:” Enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra a
expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o mandato em toda a sua
plenitude". A regra é complementada pelo art. 15 da Lei Complementar ns 64/90
(Lei das Inelegibilídades).
Desta forma, enquanto não transitar em julgado o Recurso Contra a Diplomação
ou a Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo, o diplomado exerce, em absoluta
plenitude, o mandato eletivo. Trata-se de regra superprotetiva do mandato eletivo
e que merece urgente reforma, viabilizando a facultatividade do efeito suspensivo,
em razão do caso concreto.
Outra regra de fundamental importância, atinente aos recursos em matéria
eleitoral, é o disposto no art. 259:

São preclusivos os prazos para interposição de recurso, salvo quando


neste se discutir matéria constitucional.
Parágrafo único. 0 recurso em que se discutir matéria constitucional não
poderá ser interposto fora do prazo. Perdido o prazo numa fase própria,
só em outra que se apresentar poderá ser interposto.

Em síntese: não preclui uma questão constitucional, por exemplo, filiação


partidária. No entanto, se não for arguida na ação de impugnação ao pedido
de registro, só poderá ser arguida na ação de impugnação ao mandato eletivo,
observando os prazos de 15 dias da AIME e de três dias do RCD. Sobre o assunto,
ver o capítulo que trata da Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo.
Outrossim, o Verbete Sumular n9 11 do Tribunal Superior Eleitoral aduz que:

No processo de registro de candidatos, o partido que não o impugnou


não tem legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se
se cuidar de matéria constitucional.

Vê-se que, sendo a matéria constitucional, qualquer partido pode recorrer da


sentença que deferiu o registro maculado pelo vício da nulidade, não se operando o
instituto da preclusão.
Sucintamente, pode-se concluir, ainda, que a vedação restringe-se apenas à
interposição de recurso ou propositura de ação fora do prazo legal, contendo ou
não a causa de pedir matéria de natureza constitucional. Nesse sentido, cumpre
enfatizar a regra do art. 368 do Código Eleitoral:

Os atos requeridos ou propostos em tempo oportuno, mesmo que não


sejam apreciados no prazo legal, não prejudicarão aos interessados.

854
R e c u r s o s E l e it o r a is C a p ítu lo 2 4

Em matéria eleitoral, a regra do art. 260 é observada, tanto nos Tribunais


Regionais Eleitorais como no Tribunal Superior Eleitoral, pois a distribuição do
primeiro recurso gera a prevenção do relator para os demais recursos, sendo que,
especificamente, no Tribunal Superior Eleitoral, existe previsão legal, disciplinando
as divisões por relator, em razão da divisão por circunscriçÕes judiciárias eleitorais.
Assim, o Estado do Rio de Janeiro e o do Espírito Santo pertencem a uma mesma
divisão para fins de prevenção do relator.
0 art. 263 do Código Eleitoral trata da hipótese dos prejulgados. Foi declarada a
inconstitucionalidade do dispositivo legal, mas a questão deverá ser alvo de reexame
diante do novo parâmetro legal enfocado, com o efeito vinculante das decisões.

24.1.1. Decisões dos Ju izes Eleitorais


Das decisões dos juizes eleitorais, cabem os recursos seguintes:
Em matéria criminal, cabe o recurso tratado no art. 362 do Código Eleitoral.
A doutrina denomina esse recurso Apelação Criminal. Nesse sentido, conferir as
lições de Joel José Cândido e Tito Costa.
0 prazo de ajuizamento e oferecimento das razões é simultâneo, sendo de dez
dias. A regra é similar ao dos Juizados Especiais Criminais, pois o prazo é comum. 0
prazo para apresentação de contrarrazões também é de dez dias.
Esse recurso possui o efeito suspensivo. Significa dizer que, enquanto o Tribunal
não julgar a apelação, o réu poderá pleitear o registro de sua candidatura e não se
poderá ingressar com a AIRC, AIME ou RCD, pois é inaplicável o art. 15, III, da Carta
Magna (suspensão dos direitos políticos, em razão de sentença criminal condenatória
e, tampouco, o disposto no art. 1-, I, letra e, da Lei das Inelegibilidades).
0 Código Eleitoral não prevê o recurso em sentido estrito ou restrito, mas seu
cabimento é admitido pela doutrina e jurisprudência (Joel José Cândido, Adriano
Soares da Costa, Tito Costa, Pedro Henrique Távora Niess, Lauro Barreto e outros
renomados mestres) de forma pacífica, aplicando-se subsidiariamente o Código de
Processo Penal, como, por exemplo, na hipótese em que o juiz eleitoral rejeita a
denúncia oferecida pelo promotor eleitoral. 0 promotor eleitoral poderá recorrer
em sentido estrito da decisão, no prazo de cinco dias, na forma do disposto nos
arts. 586 do Código de Processo Penal e 364 do Código Eleitoral.
0 art. 364 do Código Eleitoral ressalta regra de fundamental importância:

No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhes


forem conexos, assim como nos recursos e na execução, que lhes digam
respeito, aplicar-se-á, como lei subsidiária ou supletiva, o Código de
Processo Penal.
i *~
I\

855
M arcos R amayana D ir e it o E l e it o r a l

Portanto, a defesa também disporá do prazo de cinco dias para contrarrazões,


havendo possibilidade de retratação na forma do art. 589 do Código de Processo
Penal.
Não se pode perder de vista o cabimento da ação de revisão criminal, aplicando-
se o art. 364 do Código Eleitoral. A simples propositura de ação de revisão criminal
não assegura ao seu autor o deferimento do pedido de registro de sua candidatura,
com o afastamento da causa de suspensão dos direitos políticos, porque milita na
hipótese a intangibilidade da coisa julgada.
0 recurso inominado está previsto no art. 265 do Código Eleitoral:

Dos atos, resoluções ou despachos dos juizes ou juntas eleitorais caberá


recurso para o Tribunal Regional.

Esse recurso é cabível, quando a matéria não for penal, porque, para as questões
penais, as previsões recursais encontram-se na apelação, recurso em sentido estrito,
h a b ea s corpus e mandado de segurança criminal.
0 Ministério Público sempre terá vista dos autos, possuindo o prazo de 48 horas
para parecer ou promoção.
2- Nas lições da doutrina, especialmente de Joel José Cândido, e da jurisprudência,
o cabimento do recurso inominado dá-se nas seguintes matérias:
decisões que julgam inelegibilídades, tais como ações de impugnação
ao pedido de registro, investigação judicial eleitoral e impugnação
ao mandato eletivo; decisão que julgar impugnação à designação de
escrutinadores e auxiliares (art. 39 do CE); decisão que julgar pedido
de inscrição eleitoral processada pelo Código Eleitoral (CE, art. 45,
§ 7S); decisão que julgar pedido de inscrição eleitoral processado
pela Lei ne 6.996, de 7.6.1982 (art 7-, § l e); decisão que julgar pedido
de transferência de domicílio eleitoral (CE, art. 57, § 29); decisão
que julgar impugnação à indicação de preparador (CE, art. 62, § 4e);
decisão que julgar pedido de cancelamento de inscrição e/ou exclusão
do eleitor (CE, art. 80); decisão que julgar ligação de impedimento de
mesário para o serviço eleitoral (CE, art. 120, § 4e); decisão que julgar
reclamação à designação de mesário (art. 121, § l s, do CE); e decisão
que julgar reclamação à designação das seções eleitorais (CE, art. 135,
§ 82), dentre outras.

24.1.2. Decisões da Junta Eleitoral


Os recursos contra as decisões das Juntas Eleitorais
As decisões das juntas eleitorais também desafiam recursos.
As juntas eleitorais são órgãos colegiados, compostos por juizes de fato e um juiz
eleitoral, que é o presidente da junta Eleitoral.

856
R e c u r so s E l e it o r a is C a p ít u l o 2 4

As competências das juntas eleitorais estão tratadas no art. 4 0 ,1 a IV, do Código


Eleitoral.
Cabe a interposição imediata do recurso do § 3 g do art. 165 e do art. 169 do
Código Eleitoral, sob pena de preclusão instantânea.
É admissível, ainda, o recurso parcial, com base no art. 261, e parágrafos, do
Código Eleitoral.
Registre-se, ainda, o recurso contra a diplomação, com base no art. 262 do Código
Eleitoral, interposto e arrazoado no prazo de três dias.

24.1.3. Decisões do TRE


Recurso contra as decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais
No Estado do Rio de Janeiro, o Regimento Interno do Tribunal Regional Eleitoral
disciplina os recursos em matéria eleitoral, in expressi verbis:
REGIMENTO INTERNO 0 0 TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO
RIO DE JANEIRO.
RESOLUÇÃO N2 561, de 28 de abril de 2003, DOS PROCESSOS CRIMINAIS
DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO TRIBUNAL.
Art. 104. Nos processos criminais de competência originária do
Tribunal, serão observadas as disposições do art. l s ao art. 12 da Lei
n -8.038/90, na forma do disposto pela Lei n9 8.658, de 26.5.1993.
Capítulo VHl - DA AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DO MANDATO ELETIVO.
Art. 105. A ação de impugnação de mandato eletivo, prevista na
Constituição da República, terá seu trâmite realizado em segredo de
justiça, mas seu julgamento será público.
Capitulo IX - DAS REPRESENTAÇÕES, DAS INSTRUÇÕES, DAS
CONSULTAS E DOS REQUERIMENTOS.
Art. 106. As consultas, representações, assim como outros expedientes
sobre os quais, a juízo de qualquer dos membros, deva pronunciar-se o
Tribunal, serão distribuídos a um relator.
Art 107. O Tribunal somente conhecerá de consultas feitas em tese,
sobre matéria de sua competência, por autoridade pública ou diretório
regional de partido político, quando protocolada antes de iniciado o
processo eleitoral.
Art. 108. Tratando-se de instruções a expedir, a secretaria providenciará,
antes da discussão do assunto e deliberação do Tribunal, sobre a
entrega de uma cópia das mesmas a cada um dos membros.
Art. 109. Os requerimentos que não mereçam, por sua forma e natureza,
ser levados à apreciação do plenário serão decididos pelo presidente,
independentemente de distribuição.

857
M a r c o s R am ayana D ir e i t o E l e it o r a l

Capítulo X - DA REPRESENTAÇÃO POR EXCESSO DE PRAZO E DA


RECLAMAÇÃO CONTRA MEMBRO DO TRIBUNAL.
Art. 110. A representação por excesso injustificado de prazo legal ou
regimental contra membro do Tribunal poderá ser formulada por
qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo presidente do
Tribunal, nos termos dos arts. 198 e 199 do Código de Processo Civil.
Capítulo XI - DO AGRAVO REGIMENTAL.
Art. 111. A parte que, em processo judicial ou administrativo,
considerar-se agravada, por decisão do presidente, do vice-presidente
ou do relator, e não caiba outro recurso, poderá, no prazo de 5 (cinco)
dias, contados de sua intimação por publicação no órgão oficial,
requerer a apresentação do feito em mésa, a fim de que o plenário
conheça da decisão, confirmando-a ou reformando-a. Parágrafo único.
Relatará o recurso regimental o prolator da decisão agravada, com
voto, dispensada a lavratura de acórdão quando o órgão julgador
não conhecer do recurso ou não lhe der provimento, casos em que
ficarão consignados na ata os motivos ou os fundamentos básicos e se
certificará nos autos o que foi decidido; provido o recurso, a redação
do acórdão caberá ao membro que primeiro houver votado no sentido
vencedor.
Art. 112. 0 agravo regimental será apresentado por petição
fundamentada, ao prolator da decisão agravada que, no prazo de
48 (quarenta e oito) horas, poderá reconsiderá-la ou submetê-la à
apreciação do plenário na primeira sessão seguinte à data de sua
interposição.
Art. 113. 0 agravo regimental não tem efeito suspensivo.
(...) Art. 131. Aplicam-se, quanto aos prazos previstos neste Regimento,
as regras do Código de Processo Civil.
a) Recurso Parcial: art. 261, § l fi, do Código Eleitoral.
b) Recurso contra a Diplomação. No caso, a diplomação de senadores,
suplentes, governador, vice-governador, deputados e suplentes (arts.
89, 215 e 262 do Código Eleitoral).
c) Recurso Inominado: art. 264 do Código Eleitoral. Os regimentos
internos disciplinam o julgamento desses recursos.
d) Embargos de Declaração: art. 275 do Código Eleitoral. Somente
matéria civil eleitoral. Se a matéria for criminal, incidem os arts. 619
e 620 do Código de Processo Penal c/c art. 364 do Código Eleitoral.
Nesse sentido, ver as lições de Joel José Cândido. Assim, o prazo em
matéria criminal é de 2 (dois) dias. Assiste total razão ao eminente
doutrinador. E, em matéria civil eleitoral, é de 3 (três) dias.

858
R e c u r s o s E l e it o r a is C a p ítu lo 2 4

e) Recurso Especial: art. 121, § 4S, da Constituição Federal, que


produziu alteração no art. 2 7 6 ,1, alínea a, do Código Eleitoral. 0 prazo
é de 3 (três) dias ao Tribunal Superior Eleitoral.
Cabimento:
a) modificar decisão que verse sobre inelegibilidade; e
b) decisões administrativas dos TREs.
f) Recurso Ordinário: art. 276, II, alíneas a e b, do Código Eleitoral.
Cabimento:
a) julgarem ações de impugnação de pedido de registro de candidatos;
b) julgarem investigações judiciais eleitorais;
c) julgarem impugnações de mandatos eletivos;
d) denegarem habeas corpus e mandado de segurança; e) habeas data
ou mandado de injunção.
Prazo: 3 (três) dias. Procedimento: art. 277 do Código Eleitoral.
g) Agravo de Instrumento (art. 279 e parágrafos do Código Eleitoral).
Prazo: 3 (três) dias.
Cabimento: só no TRE, quando as decisões denegarem o recurso
especial. Mesmo que interposto fora do prazo legal, a lei obriga ao
presidente do TRE a dar-lhe seguimento, conforme disciplina o § 59 do
art. 279 do Código Eleitoral.
h) Revisão criminal nos moldes do Código de Processo Penal.

24.1.4. D ecisões do TSE


Recursos contra as decisões do Tribunal Superior Eleitoral
Cabem os embargos de declaração, art. 281 do Código Eleitoral, a revisão
criminal (que não é recurso), o agravo de instrumento, quando for denegado o
recurso extraordinário ou negado seguimento ao recurso ordinário, nos termos do
art. 282 do Código Eleitoral e, ainda: 1) recurso extraordinário, cujo cabimento dá-
se tanto em matéria civil como nas questões penais, desde que a pena cominada seja
de reclusão (art. 325, inciso H, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).
Base legal, arts. 121, § 3 S c/c 102, III, alíneas a . b e c , da Constituição Federal e Lei
n- 6.055/74. Prazo de três dias, aplicando-se nos processos criminais a regra dos
arts. 637 e 638 do Código de Processo Penal. Neste sentido, são as lições de joel José
Cândido e Tito Costa.
É cabível, ainda, o recurso ordinário, art. 281 do Código Eleitoral. Prazo de
três dias. Cabimento: decisão do TSE que denegar h a b ea s corpus ou mandado de
segurança. Sendo negado seguimento, cabe agravo de instrumento, art. 282 do
Código Eleitoral, proposto nos moldes do art. 279 e seus parágrafos (Ver Súmula
ne 288 do STF).

859
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

24.2. ALGUMAS OBSERVA ÇÕ ES SO B R E OS R EC U R SO S


ELEITORAIS
Os recursos implicam no reexame ou revisão do pronunciamento jurisdicional e
nas lições de José Frederico Marques, dilatam e ampliam a relação processual,
0 art. 265 do Código Eleitoral dispõe que: "Dos atos, resoluções ou despachos dos
juízos ou juntas eleitorais caberá recurso para o Tribunal". Assim, o direito subjetivo
à rediscussão da matéria é previsto não apenas em relação aos "despachos" e
neste sentido, complementa-se a norma com o disposto no art, 162 do Código de
Processo Civil, “ Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias
e despachos".
Outrossim, o art. 264 do CE, diz que: "Para os Tribunais Regionais e para o
Tribunal Superior caberá dentro de 3 (três) dias, recurso dos atos, resoluções ou
despachos dos respectivos presidentes”.

24.2.1. Resoluções
Na interpretação dos artigos acima mencionados, vê~se a menção expressa ao
termo resoluções, pois estas podem gerar efeitos concretos e desafiar os recursos
legais cabíveis. Neste sentido, por exemplo, tivemos o caso Mira Estrela que
normatizou o número de vereadores, e ensejou a seguinte ementa do Pretório
Excelso:
Resolução do TSE e Fixação do Número de Vereadores. 0 Tribunal,
por maioria, julgou improcedentes os pedidos formulados em duas
ações diretas de inconstitucionalidade propostas pelo Partido
Progressista - PP (ADI 3345/DF) e pelo Partido Democrático
Trabalhista - PDT (ADI 3365/DF) em face da Resolução 21.702/04,
editada pelo Tribunal Superior Eleitoral - TSE, que estabeleceu
instruções sobre o número de vereadores a eleger segundo a
população de cada município. Inicialmente, reconheceu-se inexistir,
em relação aos Ministros Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso e
Ellen Gracie, que subscreveram, no TSE, o ato impugnado, qualquer
hipótese de impedimento ou suspeição para julgamento das ações
diretas em questão, haja vista o entendimento predominante do
Supremo no sentido de não se aplicarem, em regra, ao processo
de controle normativo abstrato, os institutos do impedimento e da
suspeição. Em seguida, rejeitando a preliminar de não conhecimento
da ação, suscitada pelo procurador-geral da República, reputou-
se dotada de suficiente densidade normativa a Resolução em
causa, revelando-se, assim, suscetível de fiscalização abstrata de
constitucionalidade. ADI 3345/DF e ADI 3365/DF, rei. Min. Celso de
Mello, 25.8.2005 (ADI-3345) (ADI-3365)”

8 6 0
R e c u r s o s E l e it o r a is C a p ít u l o 24

As resoluções dão sentido regulamentar as leis em vigor, como a Lei n9 9.504/97,


e na verdade, devem disciplinar apenas de forma a ratificar em caráter pospositivo
ou prepositivo as leis primárias vigentes, nunca invadindo esfera de competência
privativa do Congresso Nacional defluente do poder legiferante.
No tratamento do princípio da anualidade, verificamos a incidência das resoluções.
Assim, não há dúvida de que as resoluções, como atos normativos secundários, não
estão sujeitas ao aludido princípio. Todavia, não podem disciplinar o processo
eleitoral (alistamento, votação, apuração e diplomação), com a finalidade de suprir
a vacância ou vazio da lei, ou seja, o interregno. Devem, portanto, tratar apenas de
complementar a lei, pois a atividade criativa é de competência do Poder Legislativo
(art. 48 da CRFB).
Assim como os decretos e demais regulamentos, as resoluções podem ser
gerais (normativas), cuja admissão se dá por força do art. I 9, parágrafo único do
Código Eleitoral, ou até mesmo com perfil de execução (autônomo), nos moldes do
paradigma do art. 84, VI, a e b, da Carta Magna e art. 17 do Decreto n- 4.176/02.
Em ambos os casos, as resoluções podem ser reexaminadas pelo duplo grau de
jurisdição, especialmente quando excedem ou invadem os limites da explicitação
e aclaramento das disposições legais. Sobre o assunto, favor conferir o item sobre
poder regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral, no Capítulo 4.

24.2.2. Duplo grau de Jurisdição


É importante frisar que os recursos efetivam a garantia do duplo grau de
jurisdição e, portanto, asseguram o binômio: justiça - segurança, pois devem evitar
a perpetuação da lide e resolver o conflito de interesses nos moldes da Justiça
Constitucional.
O eminente Nelson Nery Junior em seu livro: Teoria Geral dos Recursos nos ensina
que o duplo grau de jurisdição é princípio constitucional, em razão do disposto no
art. 102, II, da CRFB. Todavia, com acerto conclui: “Ocorre que a Constituição Federal
limita o âmbito de abrangência desse princípio, como, por exemplo, ao enumerar
casos em que cabe o recurso ordinário ou extraordinário, ao dizer que as decisões
do Tribunal Superior Eleitoral são irrecorríveis, salvo quando contrariarem a CF
(CF, 121, § 3 S), entre outras hipóteses" (6a ed., RPC, Editora Revista dos Tribunais,
p. 41).
Outrossim, o art. 281 do Código Eleitoral também disciplina o princípio da
írrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior Eleitoral, com a ressalva dos
recursos extraordinário e ordinário ao Supremo Tribunal Federal.1

1 TSE. “Agravo regimental. Representação. Duplo grau de jurisdição plenamente observado pela Res.-TSE n2 20.951.0
fato de o mesmo juiz auxiliar, que decidiu monocraticamente a representação, levar a Plenário o agravo como reiator não
contraria o dispositivo constitucional. Nesse entendimento, o Tribunal negou provimento ao agravo regimental. Unânime.
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n5 3.675/SP, Re!3. Mina. Ellen Gracie, em 10.10.2002”.

861
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E l e it o r a l

Cabe ressaltar que, diante da incidência do princípio do duplo grau de


jurisdição, não pode o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral realizar cognição
sobre os fatos que não foram submetidos ao exame do Tribunal Regional, nem
sobre fatos a respeito dos quais não houve pronunciamento judicial. No entanto,
os arts. 222 e 270 do Código Eleitoral permitem, por exemplo, no recurso
contra a expedição do diploma que verse sobre abuso do poder econômico e/ou
político, a produção de prova complementar indicada pelas partes, desde que na
avaliação judicial sejam as mesmas pertinentes na busca da verdade m aterial da
lisura das eleições.
Insta esclarecer que cabe ao interessado, na hipótese excepcional de inércia
quanto ao cumprimento do prazo razoável de julgamento pelo juiz eleitoral, dirigir
a ação de representação ou reclamação prevista do art. 96 da Lei ns 9.504/97,
diretamente ao Tribunal Regional Eleitoral do respectivo Estado. Nestes casos,
admite-se uma exceção ao princípio do duplo grau de jurisdição.
Assim decidiu o Tribunal Superior Eleitoral:
Eleições 2004. Representação. Alegação. Morosidade. Processo e
julgamento. Representações eleitorais. Descumprimento. Prazos
legais. Não comprovação. Providências. A regra do art. 96, § 10, da Lei
ns 9.504/97 prevê a possibilidade de exame pelo órgão superior de
representação eleitoral que não for julgada, nos prazos legais, pela
autoridade competente. Não há como ser invocada tal regra, quando
não se evidencia na espécie a morosidade arguida pelo representante,
constatando-se que, na realidade, a maior parte dos processos foram
ajuizados próximos às eleições. Poderá a representante, averiguando
eventual inércia do juiz eleitoral, pleitear a adoção das medidas
previstas no mencionado § 10 do art. 96 da Lei das Eleições ou do art.
22, III, da Lei de Inelegibilídades, o que, in casu, deverá ser postulado
ao Tribunal de origem, instância superior àquela competente ao
processamento das demandas que tratam das eleições municipais.
Nesse entendimento, o Tribunal julgou improcedente a representação.
Unânime. Representação ne 732/AM, rei. Min. Caputo Bastos, em
10.2.2005".
O problema da dilação da prova em grau de recurso contra a diplomação deve
ser evitado, pois, caso contrário, haverá violação ao duplo grau de jurisdição e
ao devido processo legal com a supressão de instância. Na verdade, a admissão
singela destas provas só pode ser feita, quando guardarem pertinência probatória
com o princípio de resguardo do Estado Democrático, bem como da lisura e
intangibilidade das eleições, caso contrário abrir-se-ia nova dialética em grau
recursal. A admissão é subjetiva, mas é limitada ao uso de renovação da prova.
No fundo devem os Tribunais admitir apenas provas complementares ou
supervenientes.

862
R ec u r so s E l e it o r a is C a p ítu lo 2 4

A Lei ne 9.504/97, no art. 69, permite excepcional supressão de instância,


quando a impugnação sobre os votos não for recebida pela Junta Eleitoral,
autorizando ao Tribunal Regional Eleitoral decidir sobre a impugnação. Trata-se
de hipótese excepcional, cuja solução atende ao primado da celeridade e economia
processual.
Há, ainda, o aspecto criado pelo § 3 9 do art. 96 da Lei n9 9.504/97, que trata da
designação pelos Tribunais Regionais Eleitorais de juizes auxiliares que apreciam
as reclamações e representações. Nestes casos, a jurisprudência pacífica do TSE
firmou-se no sentido da não violação do duplo grau de jurisdição, pois os juizes
auxiliares exercem competência cuja delegação está inserida por força de lei aos
Tribunais.2 Neste sentido, TSE, Acórdão n2 12.374, Rei. Min. Torquato Jardim, em
10.11.1994; Acórdão n- 12.523, Rei. Min. Eduardo Alckmin, em 25.3.1997; Acórdão
ne 15.325, Rei. Min. Costa Porto, em 31.8.1998 e Acórdão n2 15.840, Rei. Min. Edson
Vidigal, em 17.6.1999.
Tema relevante destaca-se na incidência do art. 5 1 5 , § 3 â, do Código de
Processo Civil, de forma subsidiária aos recu rso s eleito rais, ou seja, nos ca so s d e
extinção do processo sem julgamento do mérito, a Lei nQ 10.352/01, que incluiu
o § 3-, permite ao Tribunal julgar “desde logo a lide, se a causa versar questão
exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento". Vê-se a
admissão pela doutrina e jurisprudência no processo civil, no sentido de consagrar
o exam e da cau sa m adura. O exemplo é fornecido pelo eminente Nelson Nery
Junior:
"Exemplo disso ocorre quando é feita toda a instrução mas o juiz
extingue o processo por ilegitimidade de parte (CPC, 267, VI). O
Tribunal, entendendo que as partes são legítimas, pode dar provimento
à apelação, afastando a carência e julgando o mérito, pois essa matéria
já terá sido amplamente debatida e discutida no processo, Esse é
o sentido teleológico da norma: economia processual" (Código de
Processo Comentado e Legislação Processual Civil Extravagante em
Vigor, 6a ed., São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, p. 859).
Em virtude do princípio da causa madura, especialmente na disciplina eleitoral,
deve o Tribunal julgar desde logo a lide, pois estará em consonância com os princípios
da celeridade e economia processual, sem descuidar de suprimir grau de jurisdição,
com a análise de prova nova sem debate entre as partes na dialética natural do
contraditório (oitiva da testemunhas, perícias etc). Aliás, o juiz de primeiro grau
pode decidir a lide antecipadamente, nos moldes do art. 273 do Código de Processo
Civil, desde que respeitados os requisitos legais.
O TSE não aceita reexame probatório em recurso especial. Conferir ainda:

2 O tema foi abordado no capítulo sobre a ação de reclamação, nesta obra.

863
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Acórdão n2 5.024/SP, de 30.11,2004. Agravo regimental no Agravo de


instrumento ne 5.024/SP Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins.
Ementa: Agravo regimental. Agravo. Reexame de fatos e provas.
Impossibilidade. Súmulas n-s 7/STJ e 279/STF. Fundamentos não
infirmados. Negado provimento. DJ de 11.2.2005.
Por fim, a regra do art. 475 do Código de Processo Civil tem aplicação no âmbito
das decisões eleitorais (duplo grau necessário ou obrigatório de jurisdição), como
no caso de mandados de segurança concedidos em face de autoridades como o Exm-
procurador-geral de Justiça ou do município.3

24.2.3. Prazos
Os prazos recursais são peremptórios e decorrem do princípio da celeridade.
O art. 97 da Lei n2 9.504/97 prevê a representação em face do órgão jurisdicional
que descumprir prazos processuais, e o art. 94 da mesma lei, estipula uma
prioridade de participação dos juizes e membros do Ministério Público para fins de
processamento dos feitos eleitorais.
O TSE já decidiu que o prazo exíguo de 24 horas, previsto no art. 96 da Lei
ne 9.504/97 justifica-se pela solução imediata da lide (Ac. n- 3.055, de 5.2.2002,
Rei. Min. Fernando Neves).
O Ministério Público, como já visto no capítulo específico, deve ser intimado
pessoalmente, inclusive nos casos que julgam ações atinentes às multas eleitorais
sobre propaganda eleitoral e o prazo só passa a fluir de sua efetiva intimação. Neste
sentido (Acórdão TSE 15.750/99, Rei. Min. Edson Vidigal e no mesmo sentido,
Acórdão TSE 16.412/01, de 15.5.2001. Rei. Min. Costa Porto).
Em matéria de prazos recursais, ainda podemos destacar: É de três dias, na forma
do art. 276, § l 2, do CE, o prazo do recurso especial contra a representação que julga
o descumprimento da Lei n- 9.504/97, segundo TSE, Acórdão 1.386, de 27.4.1999,
Rei. Min. Eduardo Alckmin; no mesmo sentido os Acórdãos nas 2.022, de 21.10.1999
e 1.619, de 13.4.1999, Rei. Min. Nelson Jobim.
O art. 258 do Código Eleitoral fixa o prazo de três dias como regra genérica para
os recursos eleitorais. As exceções defluem de outras normas expressas, como é
o caso do art. 96, § 8 9, da Lei ns 9.504/97, que prevê o prazo de 24 horas para o
recurso da decisão nas ações de reclamação em face da propaganda política eleitoral
irregular (decisões sobre multas eleitorais). Neste sentido:
Representação. Propaganda eleitoral antecipada. Recurso eleitoral.
Prazo. Art. 96, § 8e, da Lei ne 9.504/97. Observância. As representações
por descumprimento da Lei nfi 9.504/97 regulam-se pelo procedimento
3 TSE. Recurso em mandado de segurança. Promotores eleitorais. Rodízio. Justiça Eleitoral. Competência. Ao Tribuna)
Superior Eleitoral não cabe examinar a legalidade de atos do procurador-geral de Justiça e do procurador regional
eleitoral que adotavam sistema de rodfeio de promotores eleitorais. Nesse entendimento, o Tribunal não conheceu do
recurso. Unânime. Recurso em Mandado de Segurança n® 234/MG, Re!. Min. Fernando Neves, em 10.9.2002.

8 6 4
R e c u r s o s E l e it o r a is C a p ít u l o 24

estabelecido no art. 9 6 dessa lei. É de 24 horas o prazo para recurso


contra sentença proferida em sede de representação eleitoral, nos
term os do art. 96, § 8 9> da Lei das Eleições, não sendo aplicável o
tríduo previsto no art. 2 5 8 do Código Eleitoral. Nesse entendimento,
o Tribunal manteve a decisão agravada e negou provimento ao agravo
regimental. Unânime. Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral
n9 24.600/RS, Rei. Min. Caputo Bastos, em 10.2.2005".
Com efeito, impende frisar sobre a questão relativa à preclusão temporal
de determinadas matérias eleitorais, cujo tratamento se positiva nas normas
infraconstitucionais. 0 art. 259 do Código Eleitoral, assim disciplina: “São preclusivos
os prazos para interposição de recurso, salvo quando neste se discutir matéria
constitucional". Sobre o assunto, pedimos ao caro leitor que consulte o item 17.28:
Matéria Constitucional não "preclui”. Ausência de decadência, cuja abordagem está
no capítulo da ação de impugnação ao mandato eletivo.
A preclusão defluiu do princípio da celeridade dos processos eleitorais. Na
verdade, o Código Eleitoral adotou o princípio da consumação em relação ao ato
judicial.
0 art. 16 da Lei Complementar ns 64/90 expressamente estabelece que os prazos
relativos aos processos de registro de candidatura são peremptórios e contínuos e
correm em secretaria ou cartório, não se suspendendo, durante o período eleitoral,
aos sábados, domingos e feriados. No entanto, o Tribunal Superior Eleitoral possui
precedente de que “Não se aplicam ao recurso contra expedição de diploma os
prazos perem ptórios e contínuos do art. 16 da Lei Complementar n5 6 4 /9 0
(Acórdão ns 648, DE 18.11.2004. Recurso Contra Expedição de Diploma n- 648/SP
Relator: Ministro Caputo Bastos)".
De sorte que a parte recorrente não pode ficar exercitando o direito de recorrer,
quando o momento certo já transcorreu. Sobre o assunto, consultar os arts. 169 e 171
do Código Eleitoral, como exemplos da consumação ou preclusão. Todavia, o Código
Eleitoral admite os embargos de declaração (art. 275), e neste ponto, a decisão dos
embargos poderá integrar, modificar ou elucidar algum ponto do caso concreto
de forma a complementar a decisão embargada. Quando este fato ocorrer deve-se
admitir outra exceção ao princípio da preclusão, mesmo não sendo a matéria de
natureza constitucional, pois haverá total possibilidade da parte recorrente aditar
o recurso: complementá-lo. Se uma das partes tiver sua situação processual piorada
com o acolhimento dos embargos de declaração, é possível o recurso da decisão
complementada nos embargos.
Por exemplo: Se o Partido A ingressa com a ação de impugnação ao mandato
eletivo do diplomado B e a decisão acolhe apenas o pedido de nulidade do diploma,
pode ser interposto recurso de embargos do Partido A para que o juiz ou Tribunal

865
M a r c o s R am a yan a D ir e it o E l e it o r a l

d eclare a ineiegibilidade p elo abu so d o poder eco n ô m ico. Neste caso, o réu B, p od erá
recorrer da decisão que acolheu os embargos, pois lhe é pior do ponto de vista legal
e para sua futura possibilidade de eleição. Haverá a complementaridade do recurso.
Quanto aos efeitos dos recursos eleitorais, o art. 257 do Código Eleitoral trata
da regra genérica, ou seja, os recursos não têm efeito suspensivo. A matéria foi
enfatizada no Capitulo 2, item 2.3.4 "Princípio da devoiutividade dos recursos”.
Cumpre ressaltar o disposto no art. 15 da Lei Complementar n9 64, de 18 de
maio de 1990. A regra aplicável ao registro de candidatos implica o cancelamento
do mesmo, ou do diploma, quando houver o trânsito em julgado da decisão
impugnativa do aludido registro. Assim, o recurso da parte (candidato), enquanto
pender decisão definitiva, permite a participação dele nas eleições, inclusive sua
diplomação e posse. Trata-se de uma exceção ao efeito devolutivo, pois na verdade
o recurso passa a ter, neste caso, o efeito suspensivo. Sobre o assunto, conferir o
item 13.5: decisão na ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura,
no Capítulo 13 sobre a ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura,
neste livro.
O art. 362 do Código Eleitoral prevê o recurso de apelação criminal eleitoral,
sendo pacífico na doutrina e jurisprudência que o seu efeito é suspensivo, pois
no silêncio da lei eleitoral aplica-se de forma subsidiária o art. 594 do Código de
Processo Penal.
Por fim, o art. 216 do Código Eleitoral abriga o efeito suspensivo da decisão do
juiz ou Tribunal, quando for interposto o recurso contra a expedição do diploma nos
moldes do art. 262 do mesmo diploma legal. Sobre o assunto, pedimos ao estimado
leitor a consulta ao item 20.11, efeitos referentes ao recurso contra a diplomação.

24.2.4. Prevenção especial


O art. 260 do Código Eleitoral disciplina uma particular espécie de prevenção
especial:

“Art. 260. A distribuição do primeiro recurso que chegar ao Tribunal


Regional ou Tribunal Superior prevenirá a competência do relator para
todos os demais casos do mesmo município ou estado".

A regra é regimentalmente prevista no Tribunal Superior Eleitoral e Tribunais


Regionais Eleitorais, mas a prevenção ao relator diz respeito apenas aos recursos
das fases da votação e apuração dos votos (o exemplo seria do cabimento do recurso
parcial do art. 261 do Código Eleitoral).
Nestes casos, a competência do relator é extensível nas eleições para todos
os demais casos da mesma circunscrição. No fundo deve existir um liame fático
idêntico, pois a Finalidade da regra é evitar decisões contraditórias e proporcionar
uma visão global da situação vista a mesma circunscrição municipal ou estadual.

866
R e cu r so s E leito ra is C a p ít u l o 24

Por exemplo, se a junta eleitoral anulou os votos por determinado defeito da urna
eletrônica, e outras juntas adotaram o mesmo procedimento anulatório, todos os
casos devem ser distribuídos ao mesmo relator por prevenção.
0 art. 21, § 2-, do CE, complementa a eficiência da regra, quando dispõe:
"As decisões, com os esclarecimentos necessários ao seu cumprimento, serão
comunicadas, de uma só vez, ao juiz eleitoral ou ao presidente do Tribunal Regional
Eleitoral", ou seja, o TSE ou TREs darão cumprimento imediato.
A regra da prevenção especial está em perfeita consonância com os princípios da
celeridade e eficiência da prestação jurisdicional (art. 5S, LXXVII1, da Carta Magna).

24.2.5. Consultas
As consultas estão previstas nos arts. 23, XII, e 30, VIII, do Código Eleitoral.
Trata-se de instituto jurídico de alta relevância, porque permite aos consulentes
uma prévia resposta sobre tema relevante na disciplina eleitoral.
O consulente poderá indagar sobre matéria eleitoral, inclusive atinente às
questões sobre plebiscito4 e referendo.
É importante frisar que os Tribunais não têm admitido pedidos de consultas
durante o processo eleitoral. Neste sentido podemos entender que o processo se
inicia com as convenções, art. 8 a da Lei n9 9.504/97, e finda com a diplomação dos
candidatos.3
As consultas são encaminhadas aos presidentes dos Tribunais, e, não sendo
matéria afeta às decisões da presidência, vice-presidência ou corregedoria, devem
ser distribuídas a um relator.6
Nos ensina o eminente jurista Torquato Jardim que as consultas atendem à
celeridade eleitoral e à redução de conflitos, sem antecipação de julgamento
ou supressão de grau de jurisdição. Nesta linha, de forma regimental, não se
admite a sustentação oral nos pedidos de consultas, além da possibilidade de não
conhecimento por decisão liminar do relator, quando for formulada por parte
ilegítima ou versar sobre caso concreto.

4 Mandado de segurança. Consulta plebiscitária. Emancipação de distrito. Decisão regionai que indeferiu a realização
de plebiscito, inobservância dos requisitos previstos em lei complementar estadual. Ordem denegada.
Compete à Justiça Eleitoral, diante de processo administrativo visando à emancipação de distrito, perquirir a observância
dos requisitos constitucionais e iegais indispensáveis a tanto. Precedentes do TSE.
Acórdão n2 2.776, de 14.9.99- Mandado de Segurança n2 2.776 - Classe 14a/SG (Rorianópolis).
Relator: Ministro Eduardo Aickmin. Impetrante: Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, por seu presidente.
5 Consulta, não conhecimento. Existe óbice ao conhecimento de consuita formulada no transcurso do período
de realização das convenções partidárias para a escolha de candidatos e deliberação sobre coligações. Nesse
entendimento, o Tribuna! não conheceu da consulta. Unânime. Consulta n° 812/DF, rei. Min. Barros Monteiro, em
27.6.2002.
6 Consulta. Possibilidade de instalação de seções eleitorais especiais em estabelecimentos penitenciários a fim de
que os presos provisórios tenham assegurado o direito de voto. Consulta respondida afirmativamente. Resoiução
ne 20.471, de 14.9.99 - Processo Administrativo n9 18.352 - Classe ISVCE (Fortaleza). Relator: Ministro Eduardo
Aickmin. interessado: Tribunal Regional Eleitcral/CE. Decisão: Unânime em responder afirmativamente à consulta.

867
M a r c o s R am ayan a D ir e it o E leito ra l

Cumpre ainda enfatizar o não conhecimento de consulta que é formulada,


quando a lide decorre de processo cognitivo sobre o mesmo assunto, ou em razão de
competência para que a resposta seja do Tribunal Superior Eleitoral. Não é possível
ao Tribunal Regional Eleitoral responder sobre matéria de competência do Tribunal
Superior Eleitoral e vice-versa.
Destacamos algumas premissas básicas sobre as consultas: a) não podem
suprimir instâncias; b) não geram respostas de efeitos concretos; c) traduzem
recomendações; d) são atos normativos "em tese"; e) são efetivadas em sessões
administrativas dos Tribunais; f) não fazem coisa julgada material; g) apenas os
legitimados nos arts. 23, XIÍ, e 30, VIII, do Código Eleitoral; h) as respostas dos
Tribunais vinculam os juizes eleitorais; e i) não está trancada a via própria dos
recursos para reexame da matéria pelo próprio Tribunal, mas a resposta demonstra
antecipadamente a posição normativa sobre um tema de direito eleitoral.
Nas precisas lições de Pedro Roberto Decomain e Pérícies Prade (Código Eleitoral
Comentado, São Paulo, Editora Dialética, 2004, p. 40), ao comentarem sobre
consultas, assim dizem;
"Em lugar de aguardar que se instale a lide, o Tribunal, respondendo às
consultas que lhe são dirigidas, evita que as lides cheguem a surgir, eis
que a resposta permite a todos que organizem a sua conduta de acordo
com o que for respondido em cada consulta".
O eminente jurista Tito Costa ao comentar sobre as consultas em seu magnífico
livro (Recursos em M atéria Eleitoral, 8a ed., São Paulo, Editora Revista dos Tribunais,
p. 73, nos explica que;
"As decisões da justiça eleitoral, mormente as consubstanciadas nas
consultas, têm força normativa. Outro não foi o sentido da decisão
proferida pelo TSE, em 7 de novembro de 1968, ao interpretar o art.
147, quanto à inelegibilidade de parente de governador.
Esse caráter normativo está para a justiça eleitoral como a Súmula
do STF está para as decisões deste (...) Há a normatividade nessas
respostas. A Justiça Eleitoral deve impor suas decisões".
O Tribunal Superior Eleitoral possui precedente no sentido de que as respostas
das consultas não são vinculantes. Neste sentido;
Consulta ao TSE: Natureza Administrativa. Não se conhece de ação
direta ajuizada contra resposta do TSE, à consulta prevista no art. 23,
inciso XII, do Código Eleitoral (“competem ainda, privativamente, ao
Tribunal Superior ... XXII - responder, sobre a matéria eleitoral, às
consultas que lhe forem feitas em tese por autoridades com jurisdição
federal ou órgão nacional de partido político") por tratar-se de ato
de caráter administrativo, sem eficácia vinculativa, insusceptível de
controle abstrato de constitucionalidade. Com esse fundamento, o
Tribunal não conheceu em parte de ação direta de inconstitucionalidade
R e cu r so s E leito r a is C a p ít u l o 24

ajuizada por diversos partidos políticos - PDT, PT, PC do B e PL - no


ponto em que impugnam as Resoluções n9s 19.952, 19.953., 19.954
e 19.955, todas de 1997, do TSE, que responderam a consulta sobre
a necessidade de desincompatibilização do presidente da República,
governadores e prefeitos, candidatos à reeleição. ADInMC 1, 805 - DF,
rei. Min. Néri da Silveira, 26.3.98".
O disciplinamento do trâmite procedimental da consulta é regulamentado pelo
respectivo Tribunal, por intermédio do regimento interno.
As consultas são registradas e conclusas ao relator que encaminhará ao membro
do Ministério Público (procurador-geral eleitoral ou procuradores Regionais
Eleitorais) para emissão de parecer. Admite-se a dispensa do parecer escrito,
quando a matéria ou assunto já tiver precedente do TSE ou TREs (conforme o caso).
Nestas hipóteses, a consulta é apresentada "em mesa", na primeira sessão que se
seguir ao recebimento dos autos, sendo emitido o parecer de forma oral, visando
a adoção da celeridade eleitoral. Todavia, o membro do Ministério Público (PGE ou
PRE) poderá pedir vista pelo prazo regimental (24 ou 48 horas, até 5 dias).
As respostas são comunicadas de forma imediata aos interessados, com a adoção
do disposto no parágrafo único do art. 257 do Código Eleitoral.
Como já visto, os Tribunais não conhecem de consultas sobre casos concretos,
pois haveria a supressão de graus de jurisdição e violação ao devido processo legal
cuja tramitação deflui na via cognitiva natural.
Os legitimados em regra são: Diretório de Partido Político registrado no Tribunal,
por seus delegados e autoridades públicas, quando a consulta se dirigir ao Tribunal
Regional Eleitoral, sendo que ao Tribunal Superior Eleitoral, só é possível ao
consulente que seja: autoridade com "jurisdição" federal ou o órgão nacional do
partido político.
Os juizes eleitorais não têm competência para responder a consultas. Todavia
são partes legítimas para formulá-las, inclusive os membros do Ministério Público
Estadual, incluindo-se os promotores eleitorais e os procuradores de Justiça. O
próprio Procurador-Geral de Justiça poderá formular um pedido de consulta, pois
todos são autoridades públicas.
No Tribunal Superior Eleitoral, as consultas só podem ser formuladas por
autoridades com ju risd ição federal. A expressão é extensiva aos deputados
federais, senadores e ao presidente da República, pois o sentido não é restritivo ao
membro do Poder Judiciário que exerce jurisdição, e sim, a todos os que tenham a
qualidade de autoridade pública federal.
O cidadão não pode formular consultas, nem tampouco os candidatos. A restrição
alcança até mesmo os juizes dos Tribunais Regionais Eleitorais, que não podem
formular consultas ao Tribunal Superior Eleitoral, exceto o juiz federal integrante

869
M a r c o s R am ayana D ir e it o E leitoral

do TRE, cuja jurisdição é nacional, bem como, o próprio procurador regional


eleitoral (não está impedido, mas deverá encaminhar a pergunta por intermédio de
seu chefe, ou seja, o procurador-geral eleitoral),
Como salutar exercício da jurisdição e fiscalização do processo eleitoral, o Poder
Judiciário tem uma dupla missão: preventiva quando responde as consultas e
expede instruções para regulamentar as eleições e sancionatória, quando julga as
lides eleitorais.

2 4 .2 .6 . R ecla m a çõ e s
A reclamação (correição parcial) ou representação como sucedâneo de recurso
pode ser utilizada para enfrentar as seguintes questões: i) violação de regras
de competência, ou melhor, usurpação; ii) restabelecer o controle de prazos;
iii) avocar recursos não encaminhados à instância superior; iv) cassar decisão
exorbitante de juiz eleitoral em face de decisão de Tribunal Superior; v) determinar
a preservação da jurisdição do Tribunal; e vi) corrigir a inversão tumultuária do
processo.
Na verdade, como bem salientou Tito Costa, a reclamação anda junta com o
direito de petição, visando coibir abusos. Todavia, a reclamação não é extensível ao
cidadão na condição de legitimado, pois as regras regimentais dos Tribunais não
outorgam esta legitimidade.
Segundo leciona Léon Duguit em seu ( Traité de Droit Constitutionnel, vol II, 1911,
p. 95), o Direito de petição é o que autoriza qualquer indivíduo a dirigir aos órgãos
públicos ou agentes do poder público um escrito no qual exponha opiniões, pedidos
ou queixas. É uma conseqüência da liberdade individual, em geral, e de opinião,
em particular. Cada um tem o direito de expor o que pensa a respeito dos negócios
públicos e o de não ser vítima silenciosa e resignada de atos arbitrários de agentes
de autoridade.
A origem do direito de petição é focalizada na Declaração de Direitos, BiU o f
rights, Inglaterra, em 1688.
A base constitucional do direito de petição está no art. 5e, XXXIV, alínea a , da
Carta Magna. Sobre o assunto ver, ainda, a Lei n9 4,898/65, art, 1-.
"0 direito de petição, presente em todas as Constituições brasileiras,
qualifica-se como importante prerrogativa de caráter democrático.
Trata-se de instrumento jurídico-constitucional posto à disposição de
qualquer interessado - mesmo aqueles destituídos de personalidade
jurídica - com a explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante
as instituições estatais, de direitos ou valores revestidos tanto de
natureza penal quanto de significação coletiva" (STR Min. Celso Mello,
1995, ADIN 1,247-PA, Medida Cautelar).

870
R e c u r so s E leito rais C a p ít u l o 24

Como se nota, por intermédio da reclamação (cujas previsões legais se encontram


em termos regimentais) a parte lesada com a decisão poderá restabelecer a rota
processual e a intangibilidade de seus direitos.
No rol dos legitimados para reclamar se encontram: o procurador-geral eleitoral
e os procuradores regionais eleitorais, candidatos, partidos políticos, coligações e o
promotor eleitoral.
A reclamação deve ser instruída com os documentos e será distribuída a um
relator que requisitará informações à autoridade reclamada. A resposta é fixada em
prazo regimental. Em geral em cinco dias.
Outrossim, é possível ao relator suspender o trâmite processual quando
perscrutada a certeza do ato alvo da reclamação.
É possível aos candidatos, partidos políticos, coligações e ao Ministério Público
impugnar ou contra-arrazoar o pedido do reclamante, sendo que o processo
receberá ainda parecer do procurador-geral eleitoral (caso seja no TSE), ou do
respectivo procurador regional eleitoral (competência do TRE).
A decisão nos autos da reclamação poderá ser: i) avocativa nos casos de usurpação
de competência, por exemplo, juiz eleitoral processando e julgando prefeito por
prática de crime eleitoral; ii) saneatória, v.g., a ordenação da remessa de autos
de recurso interposto; e iii) anulatória da decisão por ser a mesma frontalmente
contrária a julgado da instância superior.
Com efeito, a decisão deverá ser efetivada de forma imediata na forma do disposto
no parágrafo único do art. 257 do Código Eleitoral.
Por fim, as reclamações formuladas contra juizes eleitorais em razão de violação
de regras disciplinares devem ser encaminhadas ao corregedor regional eleitoral.
Quanto aos promotores eleitorais, a reclamação deve ser dirigida ao corregedor-
geral do Ministério Público Estadual, pois cumpre ao órgão estadual o poder de
imporsanções disciplinatórias, decorrentes de regras expressas na Lei n- 8.625/93
e na legislação estadual específica.

24.2.7. Recurso ordinário


0 cabimento do recurso ordinário se dá quando as decisões versarem: sobre
inelegibilidade ou expedições de diplomas nas eleições federais ou estaduais;
denegarem h a b ea s corpus, mandado de segurança, h ab ea s data ou mandado de
injunção; e anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais
ou estaduais.
A base legal do recurso ordinário é arrimada nos arts. 276, II, letras a e b, do
Código Eleitoral e 121, § 4°, III, IV e V, da Constituição da República Federativa do
Brasil.

871
M a r c o s R am ayana D ir e it o E leito ra l

Os incisos III, IV e V, do § 4~ do art. 121 da Carta Magna modificaram as alíneas a


e b. As hipóteses de cabimento devem ser vistas à luz do texto constitucional. Desta
forma, o novo texto constitucional recepcionou e ampliou o rol de cabimento.
0 a r t 276 faz expressa menção às decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais.
Nesta linha, o objeto de juízo de admissibilidade intrínseco (aproveitando a
classificação apresentada pelo eminente Barbosa Moreira), atinente ao cabimento
deste recurso, diz respeito a uma decisão de natureza não monocrática,7 mas sim
do colegiado.
Com efeito, o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral possui precedente sobre o
assunto, in expressi verbis:
Recurso em Mandado de Segurança n9 307/RJ. Relator: Ministro
Carlos Velloso. Decisão: Vistos. Trata-se de recurso ordinário, fundado
no art. 276, II, b, do Código Eleitoral e art. 55, LXIX, da Constituição
Federal, contra decisão monocrática proferida pelo juiz Paulo Espírito
Santo, do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de janeiro, que negou
seguimento a mandado de segurança impetrado contra ato de juiz
eleitoral que indeferiu o pedido de registro da candidatura de (...),
sobre o fundamento de analfabetismo (fls. 36-37). Alega, o recorrente,
divergência jurisprudencial e requer seja o presente recurso recebido
no efeito suspensivo (fls. 43-51). Parecer da Procuradoria-Geral
Eleitoral pelo não conhecimento do recurso. Decido. 0 recurso
ordinário não tem condições de admissibilidade, porquanto não se
inclui na competência do Tribunal Superior Eleitoral apreciar decisões
monocráticas de juizes dos tribunais regionais eleitorais, ainda que de
seus presidentes ou corregedores, a teor dos arts. 22 e 276 do Código
Eleitoral. Nesse sentido as decisões proferidas nas medidas cautelares
n95 1.346, de 7.5.2004, e 1.312, de 12.12.2003, ambas da relatoria do
Min. Carlos Madeira. Isso posto, nego seguimento ao recurso ordinário
(RITSE, art. 36, § 69). Publique-se em sessão. Brasília, 27 de setembro
de 2004. Publicado na sessão de 27.9.2004.”
A interposição do recurso ordinário em face da decisão do Tribunal enseja a
apresentação das contrarrazões em igual prazo com a adoção da regra do art. 277
do Código Eleitoral.
0 prazo é de três dias (razões e contrarrazões) contados da publicação do
acórdão, mas havendo intimação pessoal flui desta data. Nas hipóteses de declaração
de inelegibilidade e nos casos de registro de candidatos, o prazo para recurso
começará a correr da publicação da decisão em sessão, conforme precedentes

7 Acórdão ne 286, de 9.12.2004. Agravo regimental no recurso em Mandado de Segurança n9 286/RR. Relator:
Ministro Carlos Velloso. Ementa: Mandado de segurança Recurso ordinário. Acórdão ns 323, de 23.11.2004. recurso
em Mandado de Segurança ne 323/RJ. Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins. Ementa: Recurso em mandado
de segurança. Intempestividade. Decisão de relator. Não cabimento do recurso ordinário. É intempestivo o recurso
interposto quando já ultrapassado o tríduo legal. Demais disso, contra decisão monocrática de relator, em mandado de
segurança impetrado no TRE, íncabívei recurso ordinário para o TSE. DJ de 4.2.2005.

872
R e c u r s o s E l e it o r a is C a p ít u l o 24

legais e regimentais. Ver a regra do art. 276, § 1-, do Código Eleitoral. E ainda, no
caso de recurso contra a diplomação, o prazo conta-se a partir da sessão solene de
diplomação.
Com a juntada das razões do recorrido, os autos são encaminhados ao Egrégio
Tribunal Superior Eleitoral, na forma do art, 277, parágrafo único, do Código Eleitoral.
Mesmo sem a apresentação das contrarrazões, os autos serão encaminhados ao TSE.
A letra a do art. 276 trata da decisão que versar sobre inelegibilidade, conforme
nova redação do art. 121, § 4 fi, III, da Constituição Federal.
A inelegibilidade referida na alínea a não é defluente de eleições municipais, pois
o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral firmou precedentes no sentido de fazer uma
distinção. Assim, quando as eleições forem referentes aos mandatos de prefeitos,
vice-prefeitos e vereadores, o recurso cabível será o especial. O recurso ordinário
destina-se para as eleições de governadores, vice-govemadores, senadores,
deputados federais, estaduais e distritais.
Como se nota, a lei limita o cabimento do recurso ordinário aos mandatos
processados e julgados pelo Tribunais Regionais Eleitorais (ver o art. 29 da Lei
Complementar na 64, de 18 de maio de 1990). Em relação aos mandatos municipais,
o recurso será o especial. Todavia, na prática forense eleitoral se perscruta diversos
erros de interposição do recurso ordinário, quando seria caso do especial.
Em relação à admissibilidade do recurso ordinário como especial, o Egrégio
Tribunal Superior Eleitoral nem sempre segue o princípio da fungibilidade . Neste
sentido;
"(...) II ~ Inaplicável o princípio da fungibilidade quando das razões do
apelo não se pode aferir alegação de violação a norma nem dissídio
jurisprudencial” (Acórdão n2 814, Recurso Ordinário n9 814, rei.
Ministro Francisco Peçanha Martins, de 31.8.2004.)
E ainda, diz a jurisprudência da Egrégia Corte Eleitoral (TSE):
(...) III - A não demonstração de violação a preceito legal impede o
conhecimento do recurso especial fundado no art. 276, a, CE. IV ~ A
divergência, para se configurar, requer a realização de confronto
analítico entre as teses do acórdão impugnado e dos paradigmas.
(...) II - A divergência, para se configurar, requer a demonstração da
similitude fática entre os paradigmas e a tese albergada pelo acórdão
recorrido. III - Não se presta o recurso especial para promover reexame
de matéria fática, a teor das súmulas números 279/ STF e 7/STJ. Neste
sentido TSE. Processo n9 Ag 4.242/MG, rei. Min. Francisco Peçanha
Martins, DJ 17.10.2003. 2 TSE. Processo ne Ag 4.375/MG, ReL Min.
Francisco Peçanha Martins, DJ 21.11,2003.
De fato, um dos requisitos para a incidência do princípio da fungibilidade é o
da dúvida objetiva. Nos ensina Nelson Nery Júnior que a dúvida objetiva surge
por conflitos de pensamentos da jurisprudência e doutrina (fundamento destas

873
M a r c o s R am ayana D ir e it o E leitoral

opiniões), ou ainda, sobre a natureza de pronunciamentos judiciais. 0 outro


requisito é o do erro grosseiro, cujas limitações já são evidentes na processualística
moderna.
A investigação sobre a interposição de um recurso impróprio ocorre em função
de sua tempestividade. Outrossim, em matéria eleitoral, ao nosso pensar, o princípio
da instrumentalidade das formas (art. 250 do Código de Processo Civil) somado
ao da indisponibilidade dos interesses democráticos (lisura e legitimidade das
eleições), art. 14, § 9 a, da CRFB, impõem a admissibilidade do recurso ordinário
como se fosse o especial, observando-se o prazo legal, mas se o recorrente não usa
dos fundamentos legais do recurso especial (art. 2 7 6 ,1, a ou b, do Código Eleitoral),
tampouco os refere nas razões, ou ainda procura apenas obter uma reforma por
análise factual, não deve o Tribunal admitir este recurso, sob pena de afronta
ao princípio da unirrecorribilidade ou singularidade recursal, pois a parte não
pode pretender a revisão do ato judicial por outra via, exceto a prevista pela lei,
ressalvando-se uma decisão objetivamente complexa.

24.2.8. Embargos de declaração


O a r t 275 do Código Eleitoral assim versa:

Art. 275 São admissíveis embargos de declaração: I - quando há no


acórdão obscuridade, dúvida ou contradição; II - quando for omitido
ponto sobre que devia pronunciar-se o Tribunal. § l 2 Os embargos
serão opostos dentro em 3 (três) dias da data da publicação do acórdão,
em petição dirigida ao relator, na qual será indicado o ponto obscuro,
duvidoso, contraditório ou omisso,§ 2fi 0 relator porá os embargos em
mesa para julgamento, na primeira sessão seguinte proferindo o seu
voto. § 3e Vencido o relator, outro será designado para lavrar o acórdão.
§ 4 e Os embargos de declaração suspendem o prazo para a interposição
de outros recursos, salvo se manifestamente protelatórios e assim
declarados na decisão que os rejeitar.

0 inciso 1 do art. 275 faz menção ao "acórdão". A referência ao "acórdão" tem


conduzido ao cabimento dos embargos de declaração a uma interpretação literal.
Nesse sentido, para parte da doutrina, não seria possível a interposição de embargos
em face de sentenças.
O doutrinador Tito Costa admite o cabimento de embargos de declaração das
decisões dos juizes eleitorais, Tribunais Regionais Eleitorais e do Tribunal Superior
Eleitoral, pois não há razão de limitações, especialmente pela aplicação subsidiária
do Código de Processo Civil e em homenagem aos princípios da ampla defesa e da
busca da verdade material eleitoral.

874
R e c u r so s E leito ra is C a p ít u l o 24

Outrossim, o Tribunal Superior Eleitoral não tem admitido embargos de


declaração contra decisão monocrática. Nesse sentido,
Acórdão n9 3.721, de 10.8.2003. Embargos de Declaração no Agravo de
Instrumento n9 3.721/PB. Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins.
Ementa: Embargos de declaração opostos contra decisão monocrática.
Recebidos como agravo regimental. Pesquisa eleitoral. Requisitos
não atendidos. Fato superveniente. Recurso especial. Prova. Exame.
Impossibilidade. Negado provimento. I. Na linha da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, não são cabíveis embargos de declaração
contra decisão monocrática, devendo eles ser recebidos como agravo
regimental. II. Não se presta o recurso especial para promover reexame
de provas (súmulas nfi 279/STF e 7/STJ).
Reconhecemos que a matéria é polêmica, mas existe um maior número de decisões
admitindo a juntada de documentos em embargos de declaração interpostos em
face de decisões monocráticas. Adotamos a posição restritiva do cabimento, e a
interpretação literal da expressão "acórdão".
Por fim, os embargos de declaração não devem ser utilizados para rejulgamento
da causa. Nesse sentido, destacamos:
Acórdão n- 20.779, de 19.8.2003. Embargos de Declaração no Agravo
Regimental no Recurso Especial Eleitoral ne 20.779/SP. Relator:
Ministro Luiz Carlos Madeira. Ementa: Embargos de declaração. Agravo
regimental. Recurso especial Propaganda irregular. Intempestividade.
Aplicação do art. 19 da Res.-TSE ne 20.951/01. Efeitos infringentes.
Excepcionalidade. Não ocorrência. Não tendo o embargante apontado
omissão, contradição ou obscuridade a ser sanada, impõe-se a rejeição
dos declaratórios, que não se prestam ao rejulgamento da causa.
Embargos rejeitados.
O prazo dos embargos de declaração é de 3 (três) dias.
0 doutrinador Joel José Cândido ensina que, se a questão é de natureza penal,
o trâmite dos embargos de declaração deve seguir os arts. 619 e 620 do Código de
Processo Penal, pois aplica-se o art. 364 do Código Eleitoral.
Entendemos que o recurso de embargos de declaração que trata de matéria
penal ou não penal eleitoral deve seguir o prazo e rito do Código Eleitoral porque
a regra de aplicação subsidiária do Código de Processo Penal, referida no art. 364
do Código Eleitoral, só tem cabimento na ausência de norma expressa em contrário.
Ora, se em matéria eleitoral existem os embargos de declaração com rito específico
e mais amplo quanto ao prazo de defesa, não há razão para a adoção de norma
subsidiária, especialmente em razão das peculiaridades do processo eleitoral.
Os embargos de declaração suspendem o prazo. Não é caso de interrupção. Não
se aplica neste aspecto subsidiariamente o Código de Processo Civil.

875
M a r c o s R am ayana D ir e i t o E l e it o r a l

24.2.9. Recurso especial


0 art. 276 do Código Eleitoral assim disciplina:

"As decisões dos Tribunais Regionais são terminativas, salvo os casos


seguintes em que cabe recurso para o Tribunal Superior: I. especial: a)
quando forem proferidas contra expressa disposição de lei; b) quando
ocorrer divergência na interpretação de lei entre 2 (dois) ou mais
Tribunais Eleitorais.

0 art. 2 7 6 ,1, a foi alterado pelo art. 121, § 4 S, I, da Constituição Federal, in verbis:
"forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou da lei”. 0 inciso
II, do art. 121, § 4-, é idêntico ao disposto na alínea b, do inciso I, do art. 276 em
comento.
É importante frisar que o processo e julgamento dos recursos eleitorais,
inclusive do recurso especial, deve obedecer à legislação eleitoral que engloba as
resoluções do Tribunal Superior Eleitoral e o regimento interno. Os doutrinadores
Pinto Ferreira e Tito Costa lembram que as resoluções eleitorais têm força de lei
ordinária e desafiam recurso especial quando forem violadas em decisões dos
Tribunais Regionais Eleitorais.
0 prazo de interposição e razões é de 3 (três) dias. Idêntico prazo é o das
contrarrazões, com a preservação dos princípios da igualdade e ampla defesa. Nesse
sentido é a regra do art. 278, § 2-, do Código Eleitoral. Destaca-se:
Acórdão ne 4.046, de 4.9.2003. Agravo Regimental no Agravo de Instru­
mento ns 4.046/PA. Relator: Ministro Carlos Velloso. Ementa: Eleitoral.
Agravo regimental em agravo de instrumento. Intempestividade do
recurso especial. 1. O prazo recursal começa a fluir do julgamento
quando o acórdão é publicado em sessão e, para efeito de contagem,
exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do vencimento, prorrogando-
se para o primeiro dia útil subsequente quando findo em dia feriado. 2.
Agravo regimental a que se nega provimento.
O processamento segue o disposto no art. 278 do Código Eleitoral.
OTribunal Superior Eleitoral admite o cabimento de recurso especial concernente
à matéria que não seja estritamente administrativa.
Servidor público da Justiça Eleitoral. Recurso contra resolução de TRE.
Filiação partidária. Impossibilidade. Pedido indeferido. O apelo não
pode ser apreciado por este Tribunal, uma vez não ser cabível o recurso
interposto, fundado no art. 107 da Lei n- 8.112/90, contra resolução
regional que trata da matéria administrativa. Contra resolução regional,
em matéria que não seja estritamente administrativa, cabe recurso
especial (Respe. 11.310/MG, Rei. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ
6.10.1995, e Ag. 8.723/PB, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 11.3.1994).
Entretanto, esta Corte já assentou sobre o tema na Resolução 20.921/

876
R e c u r s o s E l e it o r a is C a p ít u l o 2 4

DF, Rei. Min. Fernando Neves, D] de 22.2.2002. Nesse entendimento,


o Tribunal indeferiu o pedido. Unânime. Processo Administrativo
19.089/MA, Rei. Min. Francisco Peçanha Martins, em 25.11.2003.
Em outra decisão não admitiu que a matéria administrativa seja tratada no
recurso especial (TSE, Boletim E leitoral, 182:322).
O doutrinador Tito Costa lembra que atualmente o TSE admite a matéria
administrativa no recurso especial (por exemplo, vencimentos e interesses de
funcionários). Nesse sentido, TSE-BE 100/171.
A divergência referida na alínea b exige, segundo precedente do TSE, a
demonstração da semelhança dos fatos:
Acórdão 4.375, de 28.10.2003. Agravo de Instrumento 4.375/MG.
Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins. Ementa: Agravo de
instrumento. Eleição 2000. Art. 7 3 ,1, CE. Fundamentos não infirmados.
Dissídio não caracterizado. Prova. Reexame. Impossibilidade. Não
provimento. I. Não comporta provimento o agravo que deixa de
infirmar os fundamentos da decisão impugnada. II. A divergência,
para se configurar, requer a demonstração da similitude fática entre
os paradigmas e a tese albergada pelo acórdão recorrido. III. Não se
presta o recurso especial para promover reexame de matéria fática, a
teor das Súmulas nô* 279/STF e 7/STJ.
Não se conhece do recurso pela divergência, quando a decisão recorrida estiver
em sintonia com a jurisprudência do TSE. Aplicação das súmulas n9s 286 do STF e
83 do STJ.
Impende notar que o TSE não conheceu de recurso especial em razão de despacho
do juiz referente à comunicação protocolar à Câmara Municipal. Nesse sentido:
Acórdão n9 21.328, de 4.11.2003. Recurso Especial Eleitoral ns 21.328/
MG. Relator: Ministro Fernando Neves. Ementa: Recurso especial. Ato de
juiz eleitoral. Comunicação de suspensão de direitos políticos à Câmara
Municipal. Recurso. Art. 265 do Código Eleitoral. Não cabimento. Mero
despacho. Conteúdo decisório. Ausência. Prejuízo. Inexistência. 1. Os
despachos a que se refere o art. 265 do Código Eleitoral são aqueles
que têm algum conteúdo decisório e que podem ensejar eventual
prejuízo à parte e possibilitar a interposição de recurso. 2. O ato de
juiz eleitoral que determina a comunicação da suspensão de direitos
políticos de vereador ao Poder Legislativo Municipal constitui mero
despacho, sem reflexos diretos sobre o mandato desse parlamentar.
Recurso conhecido, mas improvido.
Outrossim, o TSE admite o recebimento de recurso especial como ordinário
quando o caso concreto pode resultar na perda do mandato eletivo. Destaca-se:
Pedido de reconsideração recebido como agravo regimental. Agravo
regimental provido para, em razão de estar o agravo de instrumento
suficientemente instruído, sendo plausível o que nele alegado, passar

877
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

ao julgamento do especial que, a sua vez, recebe-se como ordinário, na


linha de precedentes do TSE. Mérito. Inexistência de prova inconcussa,
cabal, de que os representados tenham incorrido nas vedações
constantes do art. 73, I a III, da Lei n2 9.504/97. Provê-se o agravo
regimental, e por estar o agravo de instrumento suficientemente
instruído, além de ser plausível o que ali sustentado, passa-se ao
julgamento do recurso especial que, a sua vez, é recebido como
ordinário, na linha de precedentes do TSE (RO 696/TO e Ag 4.029/
AP), tendo em vista a possibilidade de a ação resultar na perda do
mandato do recorrido. No mérito, não merece acolhida o recurso, por
não existir, in casu, prova inconcussa, cabal, de que os representados
tenham incorrido nas vedações constantes do art. 73, I a III, da Lei
ne 9.504/97. Agravo regimental acolhido para, provendo-se o agravo
de instrumento, conhecer do especial como ordinário, a este negando-
se provimento. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento na 4.000/
PA, Rei. Min. Barros Monteiro, em 30.10.2003.
O recurso especial não é a via adequada para o reexame de questões fáticas e
probatórias. Nesse sentido,
Acórdão ne 1.291, de 2.10.2003. Agravo Regimental na Medida
Cautelar ne 1.291/CE. Relator: Ministro Barros Monteiro. Ementa:
Agravo regimental. Medida cautelar. Reiteração das razões
anteriormente alegadas pela ora agravante. Alegação de pretensão à
correta qualificação jurídica das provas. Aresto regional que tem como
consistentes as provas relativas ao aliciamento de eleitores, com a
captação de sufrágios devidamente comprovada. Hipótese a demandar,
efetivamente, ampla reapreciação do material fático-probatório coligido
aos autos. Agravo desprovido. A despeito de as razões do regimental
consistirem em mera reiteração daquelas anteriormente alegadas pela
agravante, tendo em vista que o aresto regional teve como consistentes
as provas relativas ao aliciamento de eleitores, com a compra de votos
devidamente comprovada, ausente a alegada plausibilidade jurídica
do recurso especial, por demandar este, para o seu julgamento, ampla
reapreciação do material fático-probatório coligido aos autos. Agravo
regimental ao qual se nega provimento.
E ainda:
Acórdão ne 3.721, de 10.8.2003. Embargos de Declaração no Agravo de
Instrumento n2 3.721/PB. Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins.
Ementa: Embargos de declaração opostos contra decisão monocrática.
Recebidos como agravo regimental. Pesquisa eleitoral. Requisitos
não atendidos. Fato superveniente. Recurso especial. Prova. Exame.
Impossibilidade. Negado provimento. I. Na linha da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, não são cabíveis embargos de declaração

878
R e c u r so s E leito r a is C a p ít u l o 24

contra decisão monocrática, devendo eles ser recebidos como agravo


regimental. II. Não se presta o recurso especial para promover reexame
de provas (Súmulas 279/STF e 7/STJ).
0 recurso especial exige o pré-questionamento. Destaca-se:
Acórdão ns 21.340, de 11.9.2003. Agravo Regimental no Recurso
Especial Eleitoral n- 21.340/SP. Relator: Ministro Barros Monteiro.
Ementa: Agravo regimental. Recurso especial. Arts. 30, da Lei
ns 9.504/97, e 29, da Res.TSE nâ 20.987/02, não pré-questionados.
Movimento financeiro da campanha eleitoral que não fora registrado,
na conta bancária específica, na sua totalidade. Alegação de ofensa ao
princípio da inafastabilidade da jurisdição. Improcedência. Agravo
regimental desprovido. Não tendo sido discutidos, pelo aresto
regional, os arts. 30, da Lei ne 9.504/97, e 29, da Res.TSE ne 20.987/02,
inviável o recurso quanto à alegação de ofensa a esses dispositivos
à falta do indispensável pre-questionamento. Com a revogação da
Súmula-TSE na 16, prevaleceu o disposto no art. 89, caput, da Res.­
TSE na 20.987002, no qual se exige, em síntese, ao candidato e ao
comitê financeiro a abertura de conta bancária específica para registrar
todo o movimento de campanha. É improcedente a sustentada ofensa
ao princípio da inafastabilidade da jurisdição, em razão de todas as
questões aventadas no especial terem sido apreciadas no decisório
agravado. Agravo regimental a que se nega provimento.
Recurso Especial. Divergência. Confronto analítico. Precedente do TSE
Acórdão ne 4.242, de 10.8.2003. Agravo de Instrumento n9 4.242/
MG. Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins. Ementa: Agravo de
instrumento. Eleição n2 2000. Representação. Litispendência. Ausência.
Ofensa a texto legal e dissídio não demonstrados. Fundamentos
da decisão impugnada não infirmados. Negado provimento. I. 0
reconhecimento da litispendência impõe, além da identidade de partes,
a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. II. Não prospera o agravo
que deixa de infirmar especificamente os fundamentos da decisão
impugnada. IIL A não demonstração de violação a preceito legal impede
o conhecimento do recurso especial fundado no art. 276, "a", CE. IV.
A divergência, para se configurar, requer a realização de confronto
analítico entre as teses do acórdão impugnado e dos paradigmas.
Recurso Especial. Valoração das provas. Reexame dos fatos
Acórdão n9 19.697, de 07.08.2003. Agravo Regimental no Recurso
Especial Eleitoral n9 19.697/MG. Relator: Ministro Carlos Velloso.
Ementa: Eleitoral. Propaganda irregular. Pichação de passeio
público. Prévio conhecimento. Multa aplicada individualmente a cada
responsável. Reexame de provas. Precedentes. 1. Possibilidade de
aplicação de multa, por propaganda irregular, quando as evidências
levam à conclusão de que houve o prévio conhecimento. 2. A pena de

879
M a r c o s R am ayana D ir e it o E leitoral

multa, pela propaganda em bem público, deve ser aplicada a cada um


dos responsáveis. 3. Não se confunde reexame de fatos com valoração
de provas. Agravo regimental improvido.

24.2.10. Agravo de Instrumento


O agravo de instrumento está previsto nos arts. 279 e 282 do Código Eleitoral,
sendo interposto no prazo de 3 (três) dias. Todavia, mesmo que esteja fora do prazo,
o presidente do Tribunal Regional Eleitoral não lhe pode negar o seguimento. Cabe
ao recorrente formar o instrumento do agravo (certidão da intimação, traslado
da decisão recorrida e outros documentos indispensáveis ao exame da questão).
Aplica-se, subsidiariamente, o Código de Processo Civil.
O RITSE disciplina o recurso de agravo de instrumento nos §§ 2S a 10 do art. 36.
É indispensável a formação das peças. Os autos são conclusos ao presidente
do TSE, que determina a subida se mantiver o despacho recorrido e, se o Tribunal
Superior der provimento ao agravo de instrumento, poderá, desde já, julgar o mérito
do recurso denegado. O agravo de instrumento não suspende o processo principal.
Desta forma, se o TSE der provimento ao agravo, passa ao exame do recurso, O
procurador regional eleitoral deve se manifestar por parecer antes da decisão, sob
pena de nulidade do feito.
Impende observar que da decisão do relator caberá agravo regimental no
prazo de 3 (três) dias, sendo processado nos próprios autos. O agravo regimental
é submetido ao relator que poderá exercer o juízo de retratação ou submeter ao
julgamento do TSE. Nesta última hipótese, independe de inclusão em pauta. Sobre o
assunto, ver o RITSE (Res.-TSE ne 4.510/52).
Formação do agravo. Peças
Acórdão ne 3.185, de 25.9.2003. Agravo Regimental no Agravo de
Instrumento n9 3.185/SP. Relator: Ministro Carlos Velloso. Ementa:
Eleitoral. Agravo regimental em agravo de instrumento. Eleição ne 2000.
Formação do agravo de instrumento. Ausência de peças. 1. Incumbe
ao agravante a correta formação do agravo, solicitando o traslado de
peças indispensáveis à perfeita compreensão da controvérsia, devendo
estar, entre elas, necessariamente, o acórdão recorrido e a petição do
recurso especial (art. 2e da Res.-TSE 21.477, DJ de 05.09.2003, Rei. Min.
Fernando Neves). 2. Agravo regimental a que se nega provimento.
Agravo de instrumento interposto para o julgamento do recurso especial.
Finalidade
Acórdão ne 4.399, de 30.9.2003. Agravo de Instrumento ne 4.399/GO,
Relator: Ministro Luiz Carlos Madeira. Ementa: Agravo de instrumento
e recurso especial eleitoral providos. Agravo regimental em mandado
de segurança. Liminar. Preliminar de falta de condições da ação pela
ausência de procuração. Rejeitada. Não faz diferença a procuração

8 8 0
R e c u r s o s E l e it o r a is C a p ít u l o 2 4

outorgada pela Câmara Municipal representada por seu presidente


da que o presidente, nessa qualidade, outorga para o mesmo fim.
Homenagem ao formalismo incompatível com o processo eleitoral.
Dá-se provimento a agravo de instrumento para julgar recurso
especial eleitoral contra decisão que, em agravo regimental, confirma
indeferimento de liminar em mandado de segurança. Configurada a
violação legal em tese e o dissídio jurisprudencial. Recurso especial
provido para que o Tribunal Regional julgue o mandado de segurança,
mantendo-se sustados os efeitos de diplomação de candidato
classificado em segundo lugar.
A nova Lei n - 11.187, de 19 de outubro de 2005, alterou a Lei nâ 5.869/73 (Código
de Processo Civil], conferindo nova disciplina ao recurso de agravo de instrumento,
revogando o § 4 2 do art. 523 do CPC.

881
R ecursos E leitorais

| •recurso especia! j
i •recurso ordinário j
I•embargos de declaração j
|•contra a diplomação |
[•agravo de instrumento |
_________ C
apítulo

j •recurso extraordinário
I * recurso ordinário
24
883

Marcos Ramayana • D ireito Eleitora! 10a • Capítulo 24 - Recursos Eleitorais


B iblio g rafia

ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Nova Lei dos P artidos Políticos Anotada. São Paulo: Ed.
Jurídica Brasileira, 1996.
AIRES FILHO, Durval. O M andado de Segurança em M atéria Eleitoral. São Paulo: Ed.
Brasília Jurídica, 2002.
AMADO, Gilberto. Eleição e R ep resen tação. Coleção Biblioteca Básica Brasileira.
Brasília: Senado Federal, 1999.
AMARAL, Roberto e CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Manual das Eleições. 2a ed. São Paulo:
Ed. Saraiva, 2002.
AMARAL, Roberto. Legislação E leitoral Comentada. Rio de Janeiro: Ed. Revan, 1996.
BACELLAR, Rui Portugal. Teoria e Prática da Nova Lei Eleitoral. Curitiba: Ed. Juruá,
1994.
BARBOSA, Ruy e LINS, Manuel Joaquim. Excursão Eleitoral ao Estado da Bahia. 1910.
BARBOSA, Ruy. Uma Campanha Política. Rio de Janeiro: Ed. Livraria Acadêmica -
Saraiva & CIA, 1932.
BARRETO, Lauro e CASTANHEíRA, Denise. M anual d e F iscalização E leitoral e
Partidária. Rio Grande do Sul: Ed. Edipro, 1998.
BARRETO, Lauro. As Pesquisas de Opinião Pública no Processo Eleitoral Brasileiro. Rio
de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 1997.
_____. Com entários à Lei Orgânica dos P artidos Políticos. Rio Grande do Sul: Ed.
Edipro, 1995.
_____. Direito E leitoral - Comentários à Lei n- 8.713/93. Eleições de 1994. Rio Grande
do Sul: Ed. Edipro, 1994.
_____. E leições 1998. I a ed. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris.
_____. Escrúpulo e Poder. O Abuso de Poder nas E leições Brasileiras. Rio Grande do
Sul: Ed. Edipro, 1995.
_____. Investigação Judicial Eleitoral e Ação de Im pugnação de M andato Eletivo. Rio
Grande do Sul: Ed. Edipro, 1994.
_____. Manual de Propaganda Eleitoral. Rio Grande do Sul: Ed. Edipro, 2000.
____ . Prefeitos e Vereadores. Comentários à Lei n- 9.100/95. Rio Grande do Sul: Ed. Edipro,
1996.
M a r c o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

_____ R eeleição e Continuísmo. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 1998.


BASTOS, Celso Ribeiro. Lei Complementar, Teoria e Comentários. I a ed. São Paulo,
Editora Saraiva, 1985.
BISPO SOBRINHO, José. Comentários à Lei Orgânica dos Partidos Políticos. Rio de
Janeiro: Ed. Brasília Jurídica, 1996.
____ . E leições M unicipais de 1996. Rio de Janeiro: Ed. Sugestões Literárias, 1996.
BITENCOURT, Antônio Carlos dos Santos. E leições Municipais - Breves an otações à
Lei n^-9.100/95. Rio de Janeiro: Ed. Ciência Jurídica, 1995.
_____. Eleições Municipais. Rio de Janeiro: Ed. Edições Ciência Jurídica, 1996.
BOMFIM, Benedito Calheiros. A Visão Prospectiva do Direito na Obra de Pontes de
Miranda. Rio de Janeiro: Ed. Destaque, 2003.
BUENO, Cassio Scarpinella. Liminar em M andado de Segurança. 2a ed. São Paulo: Ed.
Revista dos Tribunais, 1994.
CABRAL, João C. da Rocha. Código E leitoral da República dos Estados Unidos do Brasil.
Volume II. Rio de Janeiro: Ed. Livraria Editora Freitas Bastos, 1932.
____ . Código Eleitoral da República dos Estados Unidos do Brasil. 3a ed. Rio de Janeiro:
Ed. Livraria Editora Freitas Bastos, 1934.
CAMBI, Eduardo. Reform a do Poder Judiciário, prim eiras reflexões sobre a Em enda
Constitucional ng 4 5 /0 4 . I a ed. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2005.
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 6a ed. Rio Grande do Sul: Ed. Edipro,
1995.
_____. Direito E leitoral Brasileiro. 8a ed. Rio Grande do Sul: Ed. Edipro, 2000.
____ . In elegibilídades no Direito Brasileiro. 2a edição. Rio Grande do Sul: Ed. Edipro,
2003.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. S ^ d . Rio de
Janeiro: Ed. Lumen Juris, 1999.
CARVALHO, Orlando M. Ensaio de S ociologia Eleitoral. Brasília: Ed. Revista Brasileira
de Estudos Políticos, 1958.
CARVALHO, Vladimir Souza. Competência d a ju stiça F ed era i 4a éd. Curitiba: Ed. Juruá,
2 00 1 .
CERQUEIRA, Manfredi Mendes. M atéria Eleitoral. 2a ed. São Paulo: Ed. Cejup, 1986.
CERQUEIRA, Thales Tácito Luz de Pádua. P releçõ es de D ireito E leitoral. Direito
Material. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006.
CITADINI, Antonio Roque. Código E leitoral A notado Comentado. 4a ed., São Paulo:
Ed. Max Limonad Ltda., 1986.
CONEGLIAN, Oliva. P ropaganda Eleitoral. Curitiba: Ed. Juruá, 1992.
_____. Lei d as E leições Comentada. 4 - ed., Curitiba: Ed. Juruá, 2006.
COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 5a ed. Belo Horizonte: Ed.
Del Rey, 2002.
_____. Teoria da In elegibilidade e o Direito Processual Eleitoral. Belo Horizonte: Ed.
Del Rey, 1998.

886
B ib l io g r a f ia

COSTA, Elcias Ferreira. Direito Eleitoral, Legislação, Doutrina e Jurisprudência. Rio


de Janeiro: Ed. Forense, 1992.
COSTA, Jorge José da. Técnica Legislativa - Procedim entos e Normas. Rio de Janeiro:
Ed. Destaque, 1994.
COSTA, Tito. Crimes E leitorais e Processo Penal Eleitoral. São Paulo: Ed. Juarez de
Oliveira, 2002.
. Recursos em M atéria E leitoral 7aed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1998.
D'ALMEIDA, Noely Manfredini; SANTOS, Fernando José dos e RANCIARO, Antonio
Júlio. Crimes E leitorais e Outras infringências, Curitiba: Ed. Juruá, 1994.
DECOMAIN, Pedro Roberto. Eleições Municipais de 1996 - Comentários à Lei n° 9.100,
de 29 d e setem bro de 1995. São Paulo: Ed. Obra Jurídica, 1996
____ . Eleições. Com entários à Lei ng 9.504/97. São Paulo: Editora Dialética, 2004
____ . Elegibilidade e Inelegibilidades. São Paulo: Editora Dialética, 2004.
____ . Com entários a o Cádigo E leitoral São Paulo: Editora Dialética, 2004.
Dí PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 13a ed. São Paulo: Ed. Atlas,
20 01 .
ECKARDT, Hans V. Fundam entos de la Política. Barcelona, Buenos Aires: Ed. Editorial
Labor S.A., 1932.
FERREIRA, Pinto. As E leições Municipais e o Município na Constituição de 1998. São
Paulo: Ed. Saraiva, 1992.
____ . Código Eleitoral Comentado. 4a ed. ampliada e atualizada. São Paulo: Ed. Saraiva,
1997.
. Com entários à Lei Orgânica dos Partidos Políticos. São Paulo: Ed. Saraiva, 1992.
____ . Manual Prático de Direito E leitoral São Paulo: Ed. Saraiva, 1973.
FERREIRA, Pinto. Código Eleitoral Comentado. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1976.
FERREIRA, Rodrigues Manoel. A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro. Coleção
Biblioteca Básica Brasileira. Brasília: Senado Federal, 2001.
FITCHNER, José Antonio. Im pugnação de M andato Eletivo. São Paulo: Ed. Renovar.
FRANCO SOBRINHO, Manoel de Oliveira. Regimes Políticos. Rio de Janeiro: Ed. Forense,
1984.
GARCIA, Emerson. Abuso de P oder nas Eleições. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2000.
GASPAR, Hélio. Legislação E leitoral na Prática. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 1996.
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 6a ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2001.
GOMES, Luiz Flávio. Direito P en a l São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2003.
GOMES NETO, A. F. O Direito Eleitoral e a R ealidade D em ocrática. Rio de Janeiro: Ed.
José Konfmo, 1953.
GOMES, Suzana Camargo. AJustiça Eleitoral e sua Competência. São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 1998.
____ . Crimes Eleitorais. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2000.
HOLTZENDORFF, Franz Von. Princípios de Política. Rio de Janeiro: Ed. Laemmert &
C. Livreiros - Editores, 1885.

887
M a rc o s R am ayana D ir e it o E l e it o r a l

Inform ativos do Tribunal Superior Eleitoral. Brasília: TSE, 2000 a 2003.


JARDIM, Torquato, Direito Eleitoral Positivo, São Paulo: Ed. Brasília Jurídica, 1996.
_____. Introdução ao Direito E leitoral Positivo. Brasília - DF: Ed. Livraria e & Editora
Brasília Jurídica Ltda., 1994.
JATAHY, Carlos Roberto de Castro. Curso de Princípios Institucionais do Ministério
Público. I a ed. Rio de Janeiro, Editora Roma Victor,2005,
JESUS, Damásio E. de. Direito P en a i Vol. 1. 2 3 a ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 1999.
_____. Prescrição P en ai 13a ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 1999.
JOBIM, Nelson e PORTO, Walter Costa. L egislação Eleitoral no Brasil do Século XVI aos
Nossos Dias. Volumes 1, 2 e 3. Brasília: Ed. Senado Federal.
JUNIOR, Nelson Nery. Código de Processo Com entado e L egislação Processual Civil
Extravagante em Vigor, 6a ed. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2005.
LEÃO, José Anis. Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Ed. Del Rey, 1994,
LIMA SOBRINHO, Barbosa. Sistem as E leitorais e Partidos Políticos, Rio de Janeiro: Ed.
Fundação Getulio Vargas, 1956.
LÔBO, Edilene Julgam ento de Prefeitos e Vereadores. Belo Horizonte: Ed. Del Rey, 2003.
LYRA, Romero Lallemant e MORAES, Marcos Ramayana Blum. Legislação E leitorai
Rio de Janeiro: Ed. Destaque, 1994.
MANZZANT1, Manlio. 1 R eati Elettorali. Ed. Milano Dott. A. Giuffrè - Editore, 1966.
MARQUES, José Frederico. Instituições de Direito Processual Civil Ed. Milênio, 2000.
MASSENA, Nestor. Direito Político. Rio de Janeiro: Ed. Imprensa Oficial, 1929.
MEIRELLES, Lopes Hely. M andado de Segurança. São Paulo: Ed. Malheiros Editores,
2000 .
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14a ed. São Paulo:
Ed. Malheiros, 2002.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Revista Boletim do Centro
de Apoio O peracional das P rom otorias d e Ju stiça E leitoral n- 03, junho de 2002.
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional I a ed, São Paulo: Ed. Saraiva,
2007.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. E leiçõ es2000. Manual.
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2002.
MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1967, com Em enda n^Ol/1969.
Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1987,
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada. Rio de Janeiro: Ed. Atlas,
2 002 .
____ . Direito Constitucional Administrativo. Rio de Janeiro: Ed. Atlas, 2002.
_____. Direito Constitucional Rio de Janeiro: Ed. Atlas, 2003.
_____. Direitos Humanos Fundam entais. 3a ed. Rio de Janeiro: Ed Atlas, 2000.
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito da Participação Política. Rio de Janeiro:
Ed. Renovar.
_____. Teoria do P oder - Parte 1. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1992.
MOTTA, Sylvio e DOUGLAS William. Controle de Constitucionalidade. 2a ed. Rio de
Janeiro: Ed. Impetus, 2002.

888
B ib l io g r a f ia

MOURA, Francinira Macedo de. Direito Parlam entar. Brasília: Ed. Brasília jurídica
Ltda., 1992.
NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do. Lineam ento de Direito Eleitoral. São
Paulo: Ed. Síntese, 1996.
NEGRÃO, Perseu Gentil. Recurso E special. Doutrina. Ju risp ru d ên cia. Prática e
Legislação. São Paulo: São Paulo: Ed. Saraiva, 1997.
NICOLAU, Jairo Marconi. Multipartidarismo e Democracia. Rio de janeiro: Ed. Fundação
Getulio Vargas, 1964.
_____. Sistem a E leitoral e Reform a Política. Ed. Foglio, 1993.
_____. Sistem as Eleitorais. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999.
NIESS, Pedro Henrique Távora. A ção de Im pugnação de M andato Eletivo. Rio Grande
do Sul: Ed. Edipro, 1996.
____ . Condutas Vedadas aos Agentes Públicos em Campanhas Eleitorais. Rio Grande
do Sul: Ed. Edipro, 1998.
_____. Direitos Políticos - Elegibilidade, Inelegibilidade e Ações Eleitorais. 2â ed. Rio
Grande do Sul: Ed. Edipro, 2000.
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual Prático de Direito Eleitoral. Rio de Janeiro: Ed Forense,
1987.
OLIVEIRA, Alexandre Afonso Barros de. Revista Direito Eleitoral Contemporâneo.
I a ed. Belo Horizonte, Del Rey, 2003.
OLIVEIRA, Marco Aurélio Bellizze. Abuso do Poder nas Eleições. A inefetividade da
Ação d e Investigação ju dicial Eleitoral. Rio de Janeiro: Editora Lumen juris, 2005.
PACHECO, José da Silva. O M andado de Segurança e Outras Ações Constitucionais
Típicas. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1990.
PEREIRA NETO, Domingos e CASTRO, Robson Gonçalves. Direito Eleitoral. Brasília:
Ed. Vesticom, 1995.
PESSÔA, Eduardo. Dicionário Jurídico. Rio de Janeiro: Ed. Ideia Jurídica, 2003.
PIMENTA, Joaquim. Enciclopédia de Cultura, Sociologia e Ciências Correlatas. I a ed.
Rio de Janeiro: Freitas Bastos S/A, 1995.
PINTO, Djalma. Direito Eleitoral - Temas Polêmicos. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1994.
PORTO, Walter Costa. Reform a da L egislação Eleitoral ~ proposta do TSE. Brasília:
1996.
RAMAYANA, Marcos. Ab uso de Autoridade e Tortura. Rio de Janeiro: Ed. Destaque, 2003.
_____. Código Eleitoral. Série Legislação. 3a ed. Rio de Janeiro: Ed. Ideia Jurídica, 2003.
_____. Código E leitoral Comentado, Editora Roma Victor. Rio de Janeiro: 2004.
_____. Estatuto do Idoso Comentado. Editora Roma Victor. Rio de Janeiro: 2004.
RIBEIRO, Fávila. Abuso de Poder no Direito Eleitoral. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1998.
_____. P ressupostos Constitucionais do D ireito E leitoral. Porto Alegre: Ed. Sérgio
Antônio Fabres, 1990.
RIBEIRO, Renato Ventura. Lei E leitoral Comentada. São Paulo: Editora Quartier Latin,
2006.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Suspensão de Segurança. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais,
2000 .
RODRIGUES, Maria Stella Villela Souto Lopes. Recursos da Nova Constituição. 3a ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.

889
M a r c o s R am ayana D ir e ít o E leito ra l

ROLLO, Alberto e BRAGA, Enir. Comentários à Lei nQ 9.100, de 1995. I a ed. Rio de
Janeiro: Ed. Fiusa Editores, 1996.
____ . Com entários à s E leições de 1992. São Paulo: Ed. Saraiva, 1992.
____ . Inelegibilidade à Luz da Jurisprudência. Rio de Janeiro: Ed. Fiusa Editores, 1995.
ROLLO, Alberto e ta lii. P ropaganda Eleitoral - Teoria e P rática. São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 2002.
SAFFI, Aurélio. O P oder Legislativo Municipal. Rio Grande do Sul: Ed. Edipro, 1995.
SALOMÃO, Paulo Cesar. Legislação Eleitoral Compilada. Rio de Janeiro: Ed. Forense,
1994.
SANTANA, Jair Eduardo. Competências Legislativas Municipais. 2a ed. Belo Horizonte:
Ed. Del Rey, 1997.
SERVA, Mario Pinto. A Reform a Eleitoral. São Paulo: Ed. Livraria Zenith, 1931.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 16a ed. São Paulo:
Ed. Malheiros, 1999.
SOARES, Antonio Carlos Martins. Direito E leitoral Questões Controvertidas. Rio de
Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2006.
SOARES, Oscar de Macedo. Consultor Eleitoral. Reform a a L egislação Eleitoral. Lei n-
1.269, de novem bro de 1904. Ed. H. Garnier, Livreiro - Editor, 1909.
STARLING, Leão Vieira. E leições Federais e E staduais: Com entário Com pleto das
Instruções do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral. Belo Horizonte: Ed. Gráfica
Queiroz Breyner Ltda., 1937.
STOCO, Rui. L egislação Eleitoral Interpretada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
STOCO, Rui e OLIVEIRA, Leandro de. L egislação E leitoral Interpretada. Doutrina e
Jurisprudência. 2a ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2006.
TAVARES, José Antônio Giusti. Sistemas Eleitorais nas D em ocracias Contemporâneas.
Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará, 1994.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de D ireito Processual Civil. 37a ed. Rio de
Janeiro: Ed. Forense, 2001.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA. Resenha E leitoral Nova
Série. Volume 4® n^ 2 ,1 9 9 7 .
VALENTE, Luiz Ismaelino. Crimes na P ropaganda Eleitoral. E leições de 1994. 2a ed.
São Paulo: Ed. Cejup, 1994.
____ . Das Condutas Vedadas aos Agentes Públicos em Campanhas Eleitorais. 2a ed.
Belém do Pará: 2002.
VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Ed. Livraria Del
Rey, 1996.
VELOSO, Zeno. Controle Jurisdicional de Constitucionalidade. Belo Horizonte: Ed. Del Rey,
2002 .
WAMBIER, Terese Arruda Alvim. R epertório d e Ju rispru dên cia e Doutrina sob re
Liminares. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1995.

890

Você também pode gostar