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Realização
Fundação Joaquim Nabuco
Recife, 2006
Fundação Joaquim Nabuco
Diretoria de Formação e Desenvolvimento Profissional
3
Copyright© 2006 Agência Condepe/Fidem
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Ministro Márcio Thomaz Bastos
Secretaria Nacional de Segurança Pública · Luiz Fernando Corrêa (secretário executivo)
CDU
351.78(81)
Reservados todos os direitos desta edição. Reprodução proibida, mesmo parcialmente, sem autorização da
Agência Condepe/Fidem.
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CURSO DE FORMAÇÃO DE AGENTES SOCIAIS PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA, PROMOÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS
Apresentação
Este documento apresenta, na íntegra, o articulada à sua teorização, enfatizando-se
conjunto de conceitos e técnicas que foram o movimento da revisão e reconstrução
estudados durante a realização do Curso de coletiva da prática.
Formação de Agentes Sociais para a Preven-
ção da Violência - Promoção e Garantia dos Este documento serve de apoio aos alunos.
Direitos Humanos, realizado pela Fundação Adicionalmente, recomenda-se a leitura dos
Joaquim Nabuco em resposta à demanda livros e textos indicados pelo corpo docen-
apresentada pela Agência Estadual de Pla- te, durante a realização do Curso, além da
nejamento e Pesquisas de Pernambuco - bibliografia aqui apresentada.
Condepe/Fidem no que concerne à execu- O material integra o conjunto de temáticas
ção do Programa de Capacitação Consorcia- estudadas durante o Curso. Cada conteú-
da e Integrada no Âmbito da Prevenção da Vi- do foi concebido por um coordenador te-
olência - Promoção e Garantia dos Direitos mático, apresentado na abertura de cada
Humanos, parte integrante do Plano Metro- temática constante deste trabalho, com re-
politano de Política de Defesa Social e Pre- conhecida experiência profissional na área.
venção da Violência na Região Metropolitana A equipe de coordenadores temáticos, em
do Recife – RMR. conjunto, realizou os ajustes necessários e
O Curso de Formação de Agentes Sociais para validou, sob a orientação da coordenação
a Prevenção da Violência estruturou-se com geral do Curso, a metodologia do processo
base numa linha metodológica construtivis- de capacitação e a grade curricular, garan-
ta, tomando como ponto de partida os co- tindo, dessa forma, o encadeamento dos
nhecimentos e as experiências desenvolvi- módulos e a articulação dos conteúdos, na
das pelos participantes, agregando-se a es- perspectiva da construção do referencial te-
tas o novo referencial a ser construído. órico a que o Curso se propôs.
Dessa forma, o desenho metodológico con- O material está organizado em 6 (seis) par-
cebido para o Curso consistiu no desenvol- tes. Na primeira, são apresentadas algumas
vimento de um processo contínuo de ação/ questões introdutórias e contextuais relati-
reflexão/transformação, compreendendo o vas ao Processo de Capacitação em Direi-
exercício de análise das experiências pro- tos Humanos. Na segunda parte, exami-
fissionais desenvolvidas pelos participantes, nam-se os princípios da Defesa Social e Pre-
5
venção. Na terceira, a abordagem foca o
Atendimento à Violência Sexista/Domésti-
ca. Na quarta parte, a temática trata da
Gestão de Polícia Comunitária e Segurança
Comunitária. Na quinta parte, Prevenção do
Local do Crime e, finalmente, na sexta par-
te, buscando possibilitar aos participantes
as condições necessárias de implantação de
uma cultura pela paz, a temática Relações
Interpessoais e Mediação de Conflitos. Adi-
cionalmente, encerra este documento uma
bibliografia de referência.
6
CURSO DE FORMAÇÃO DE AGENTES SOCIAIS PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA, PROMOÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS
Sumário
Apresentação ................................................................................................................ 5
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Teoria da prevenção situacional e ambiência criminosa .............................................. 27
Fatores predisponentes à violência e conceito de enfrentamento .............................. 27
A interdisciplinaridade como instrumento da defesa social ........................................ 28
A ciência e a tecnologia na produção de um conhecimento na defesa social.............. 29
A nova defesa social ..................................................................................................... 30
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CURSO DE FORMAÇÃO DE AGENTES SOCIAIS PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA, PROMOÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS
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I INTRODUÇÃO AO
PROCESSO DE
CAPACITAÇÃO EM
DIREITOS HUMANOS
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MELBA MEIRELES MARTINS - formada em Direito; Con-
sultora na área da Infância e da Adolescência.
12
Introdução ao
Processo de
Capacitação
em Direitos
Humanos
MELBA MEIRELES MARTINS
13
MELBA MEIRELES MARTINS
14
INTRODUÇÃO AO PROCESSO DE CAPACITAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
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MELBA MEIRELES MARTINS
É oportuno salientar também que, para que Fato recente e abordagem por três perió-
essa liberdade seja exercida com plenitude dicos sobre o mesmo fato.
e responsabilidade, faz-se necessário um Apresentar ao grupo as noções mais ele-
processo de formação da própria consciên- mentares da linguagem jornalística:
cia, para que ela seja um bom guia, buscan-
do sempre a verdade e o bem. 1. Manchete – o que o jornal ressalta, se-
gundo sua velada ou aberta orientação.
Devemos salientar, também, o direito São importantes o seu tamanho e a sua
à objeção de consciência ante regula- inserção na primeira página ou nas inter-
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO DE CAPACITAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
17
MELBA MEIRELES MARTINS
ções faríamos nesses anúncios, para que dos órgãos competentes, com cabal reco-
expressassem realmente nossas necessida- nhecimento dos direitos que correspondem
des e as do povo? ao acusado.
2. Refletir sobre a relação que vêem entre É importante ainda observar, o princípio da
as liberdades desses direitos humanos e o igualdade perante a justiça. A organização
problema da propaganda. judicial dos países deve possuir uma carac-
terística fundamental: a unidade do sistema
4a. AULA judicial. Assim, evita-se que situações iguais
sejam decididas de formas diversas, por tri-
Arts. 6º, 7º, 8º, 9º, 10 e 11 (iguais e bunais diferentes. O sistema judicial deve
com garantias perante a lei e justiça). contemplar a existência de um supremo tri-
bunal que controle e unifique os inferiores,
Esses direitos se referem ao fato de que para assegurar que situações iguais recebam
toda pessoa deve poder defender os seus o mesmo tratamento por parte da justiça.
direitos diante da lei e exigir justiça perante
os tribunais. Além disso, ninguém pode ser Regras comuns aos procedimentos ci-
conduzido à prisão sem uma justa causa e vis e penais:
legalmente provada, nem condenado ou · Direito a julgamento equitativo. Igualdade
considerado delinqüente sem que o fato te- de oportunidade para acusação e defesa..
nha sido previamente provado, segundo a
determinação legal.. · Direito a que o julgamento seja público
(exceção para processos em segredo de
Toda sociedade organizada e justa deve ga- justiça)
rantir aos seus integrantes o direito à justi-
ça. Para conseguir isso, deve possuir juízes · Direito a que a causa seja vista num prazo
de comprovada honestidade, deve existir razoável.
uma pessoa ou grupo de pessoas que se en- · Direito a que o julgamento seja feito e a
carregarão de velar pela administração im- causa vista por um tribunal independen-
parcial da justiça. te, imparcial e estabelecido pela lei.
Nesse conjunto de direitos, salienta-se que
o processo constitui uma das restrições le- Regras para os procedimentos penais:
gítimas ao direito à liberdade e à segurança
pessoal. Mas, mesmo no caso de proces- · Direito à presunção de inocência. Ninguém
sos, são reconhecidas aos processados to- pode ser colocado na situação de ter que
das as garantias penais e processuais cor- provar sua inocência; pelo contrário, a cul-
respondentes para eliminar a arbitrarieda- pabilidade é que tem de ser provada.
de e se restringir às prescrições legais. · Direito de ser informado da natureza e da
Convém ter presente, e com clareza, que é causa da acusação. O acusado não deve
necessário distinguir garantia penal de garan- apenas ser informado da causa (fatos ma-
tia processual. A primeira se refere à neces- teriais que lhe são atribuídos), como tam-
sidade que os possíveis fatos delituosos e as bém, da natureza da acusação (a qualifi-
penas que correspondam aos mesmos este- cação jurídica dos fatos materiais).
jam previstos em uma lei (princípio da lega- · Direito de dispor de tempo e de facilida-
lidade), estabelecida com anterioridade ao des e meios necessários para a prepara-
fato punível (irretroatividade). A segunda, que ção da defesa.
se refere à independência e imparcialidade
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INTRODUÇÃO AO PROCESSO DE CAPACITAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
· Direito de estar presente no processo e que cada indivíduo procure o lucro em con-
de defender-se pessoalmente ou contar corrência com os demais. O socialismo sus-
com a assistência de defensor. tenta que os meios de produção não po-
dem ser de propriedade privada, mas que
· Direito de obter a citação e o interrogató- devem pertencer à sociedade, para que to-
rio das testemunhas de defesa e de inter- dos tenham o necessário. O perigo em que
rogar ou fazer com que sejam caiu é que o coletivo se interpõe às vezes
interrogadas as testemunhas de acusação. aos direitos individuais ou da pessoa. No
· Direito de não ser obrigado a depor con- caso do capitalismo, ocorre o contrário, al-
tra si mesmo ou se confessar culpado. gumas pessoas usurpando para si os bens
comunitários.
· Direito do indiciado absolvido ou conde-
nado por sentença firmada de não ser no- O importante é organizar a sociedade de
vamente julgado e condenado pelos mes- forma que se evite cair nas armadilhas des-
mos fatos. critas anteriormente, de modo que se res-
peitem os direitos das pessoas e
· Direito à indenização para o simultaneamente os direitos da
acusado injustamente. Não se- ...todos estarão comunidade, para que ninguém
ria este o caso da pessoa que é colaborando padeça de necessidades, porque
processada, mas que finalmen- todos estarão colaborando para
para
te é absolvida na sentença. o bem comum, isto é, de todos.
o bem comum...
Dinâmica: Textos para discussão:
I. situação concreta que motiva julgamento · O Pequeno Príncipe, cap. XIII – “O quarto
de ação penal – roubo qualificado. planeta era o do homem de negócios.”
II. situação concreta que motiva julgamen- · O Rei Midas
to de ação civil – pensão alimentícia.
Previdência Social (22,25) – Previdência
5a. AULA social quer dizer proteção social. A falta de
proteção neste campo significa o desampa-
ro e o temor ante o futuro pessoal e o da
Arts. 16, 17, 22, 25, 26,27 (família,
família.
propriedade, previdência social,
educação e cultura). O artigo da Declaração é claro. É impor-
tante recordar que a previdência social im-
Família (16) – O que prevê a Declaração
plica também em responsabilidade. Os que
Universal e o contraponto da atualização a
podem trabalhar devem assegurar com seu
partir da Constituição Federal de 1988 –
trabalho e esforço os que não podem tra-
alargamento do conceito de família.
balhar por alguma razão válida. Sabemos
Propriedade (17) – Conceito de proprie- que a sociedade não poderá distribuir se não
dade houver produção de bens. Daí a responsa-
bilidade de cada um em cooperar para o
Há dois sistemas na nossa época que dispu- bem de todos.
tam entre si a hegemonia mundial: o capita-
lismo e o socialismo.
Problemas: inatividade, saúde,
O primeiro se baseia na propriedade priva- habitação.
da da produção de bens, e na liberdade para
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MELBA MEIRELES MARTINS
Princípios:
· Obrigatoriedade 1.º grau (pré-escola).
· Gratuidade
· Igualdade de oportunidade
· 2.º grau ou ensino técnico acessível para
todos.
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D DEFESA SOCIAL
E PREVENÇÃO
OLGA CÂMARA
21
OLGA CÂMARA é Mestra em Políticas Públicas pela Fundaj,
tem formação jurídica e em comunicação social – Relações Pú-
blicas e Jornalismo. Especialista, formada pela USP-SP, em Estu-
dos contra a Violência à Criança e ao Adolescente. É professora
de Direito Penitenciário, Direito da Criança e do Adolescente,
Direitos Humanos, Criminologia e Defesa Social. Desde 1979,
trabalha com a questão da Criança e do Adolescente no âmbito
nacional e internacional. Livros publicados: O policial Civil e a Lei
nº 8069/90. 2. ed. Recife: Casa do Professor, 1993 (Unicef). De
vítima a infrator: uma nova abordagem policial. Recife, 1998. (Con-
vênio com o Ministério da Justiça)
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Defesa Social
e Prevenção
OLGA CÂMARA
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OLGA CÂMARA
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DEFESA SOCIAL E PREVENÇÃO
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OLGA CÂMARA
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DEFESA SOCIAL E PREVENÇÃO
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OLGA CÂMARA
fenômeno que deve ser definido como “pro- do saber, ressaltando-se o domínio de ca-
blema social”: com incidência massiva na tegorias profissionais nessa produção do
população; que referida incidência é doloro- saber. A evolução das ciências aponta para
sa, aflitiva; com persistência espaço-tempo- um modelo integrado, imposto pela neces-
ral; falta de um inequívoco consenso a res- sidade de se utilizar metodologias interdis-
peito de sua etiologia e eficazes técnicas de ciplinares pela unidade do saber científico.
intervenção no mesmo e consciência social O desenvolvimento das ciências e os avan-
generalizada a respeito de sua negatividade. ços da tecnologia, no século XX, consta-
O crime afeta toda sociedade (não só os ór- taram que o sujeito pesquisador interfere
gãos e instâncias oficiais do sistema legal), isto no objeto pesquisado, que não há neutra-
é, interessa e afeta a todos nós e causa dor a lidade no conhecimento, que a consciên-
todos: ao infrator, que receberá seu castigo, cia da realidade se constrói num processo
à vítima, à comunidade. Somos conscientes, de interpenetração dos diferentes campos
sem dúvida, de que temos que aceitar a rea- do saber.
lidade do crime como inseparável da convi- Uma resposta científica à violência exige um
vência. Que não existem soluções milagro- processo lógico que consta de três fases:
sas nem definitivas. explicativa, decisiva e operativa/instrumen-
É possível concluir que a aplicação do direito tal. A idéia é reunir um núcleo de conheci-
obedece a uma lógica de estruturação e fun- mentos verificados empiricamente sobre o
cionamento de um sistema estratégico-jurí- problema (momento explicativo), transfor-
dico-político-institucional de garantia dos di- mar essa informação sobre a realidade, de
reitos do cidadão, tendo em vista a sua pro- base empírica, em opções, alternativas e
teção. Nessa perspectiva, faz-se mister a ar- programas científicos, a partir de uma ótica
ticulação entre os diversos órgãos públicos, valorativa (momento decisivo): é a ponte
em parceria com a sociedade civil, para es- entre a experiência empírica e as decisões
tabelecer uma rede de proteção que possa normativas.
atuar como um Sistema de Garantia de Di- O termo interdisciplinaridade significa uma
reitos envolvendo diferentes atores, cada relação de reciprocidade, de mutualidade,
uma com sua importância, desempenhando que pressupõe uma atitude diferente a ser
funções específicas, sobretudo imbuídos de assumida diante do conhecimento, ou seja,
fazerem o melhor. A Constituição Federal é a substituição de uma concepção fragmen-
prevê esse sistema, do qual são partícipes o tária para uma concepção unitária de ser
Estado e a Sociedade Civil na formulação, humano. A doutrina humanista de proteção
controle e fiscalização das políticas públicas, social contra o crime, prega a reação social,
exigindo a criação e manutenção de uma rede a análise crítica do sistema existente, e a
de atendimento com ações integradas. Essa valorização das ciências humanas; cabe ao
rede é o Sistema de Garantia dos Direitos, gestor público, no seu pensamento de De-
que é um conjunto de órgãos que devem fesa Social promover os Direitos Humanos
estar articulados e conectados no momento integralmente.
da prestação de serviços à população.
A interdisciplinaridade implica em uma ati-
tude de abertura, não preconceituosa, em
A INTERDISCIPLINARIDADE COMO
que todo conhecimento é igualmente im-
INSTRUMENTO DA DEFESA
portante e o conhecimento individualizado
SOCIAL
anula-se diante do saber universal. É uma
É a integração dos saberes. A tradição aca- atitude coerente, pois é na opinião crítica
dêmica brasileira é de compartimentação do outro que se fundamenta a opinião par-
28
DEFESA SOCIAL E PREVENÇÃO
ticular, supondo uma postura única, engajada crime. Ao se reunir um núcleo de conheci-
e comprometida com os fatos que envol- mentos sobre o delito, o delinqüente, a ví-
vem a questão da violência. tima e o controle social reduzir-se-ão a in-
tuição e o subjetivismo acerca da questão,
“A atitude interdisciplinar nos ajuda a viver
o drama da incerteza e da insegurança. Pos-
submetendo o problema criminal a uma aná-
sibilita-nos darmos um passo no processo lise rigorosa, com técnicas empíricas. As me-
de libertação do mito do porto seguro. Sa- todologias interdisciplinares empregadas
bemos o quanto é doloroso descobrirmos permitem coordenar os conhecimentos ob-
os limites de nosso pensamento, mas é tidos setorialmente nos distintos campos do
preciso que façamos”. (JAPIASSÚ, Hilton, saber pelos respectivos especialistas, elimi-
1976).
nando contradições e suprindo inevitáveis
É fundamental a valorização das ciências lacunas; ou seja, as teorias monocausais, que
humanas, que são chamadas a contribuir, tratam de reconduzir a explicação do deli-
interdisciplinarmente, no estudo e comba- to a um determinado fator em virtude das
te do problema criminal. Urgen- inflexíveis relações de causa e
te repensar os paradigmas apre- efeito e a terminologia conven-
sentados e levados a efeito por ... é na opinião cional, inclinada ao emprego de
todos que exercem funções no crítica do outro conceitos importados das ciên-
sistema de garantia dos direitos, que se cias naturais, como o conceito
para que seja possível implan- de causa.
fundamenta a
tar mecanismos indispensáveis
à concepção da lei.
opinião particular Parece mais realista propugnar
a obtenção de um núcleo de
A base de uma política de De- conhecimentos seguros sobre a
fesa Social moderna é o respeito à dignida- violência, o violador, a vítima e o controle
de do homem, nos seus direitos individuais social, significando um saber sistemático,
e coletivos e a crença no potencial de aper- ordenado, generalizador e não mera acu-
feiçoamento do ser humano. mulação de dados ou informações isoladas
e desconexas. Em outras palavras, o conhe-
O princípio interdisciplinar, portanto, é uma cimento científico obtido com métodos e
exigência estrutural do saber científico im- técnicas de investigação rigorosos, confiá-
posto pela natureza totalizadora deste e não veis e não refutados, que tomem corpo em
admite monopólios, prioridades nem exclu- proposições, depois de contrastados e ela-
sões entre as partes ou setores do seu tron- borados os dados empíricos iniciais. De
co comum. qualquer modo, isso não significa que se
deve estimular a construção de um banco
A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA NA de dados gigantesco centralizado, senão
PRODUÇÃO DE UM uma fonte dinâmica de informações, de
CONHECIMENTO NA DEFESA modo que o estudioso da violência tenha
SOCIAL uma tarefa sempre provisória, inacabada,
aberta aos resultados das investigações in-
Para prevenir e intervir com eficácia e de
terdisciplinares, nunca definitiva.
modo positivo na violência, é muito impor-
tante compreender cientificamente o pro- A obtenção de dados não é um fim, mas
blema criminal. A cientificidade da um meio; os dados são material bruto, neu-
criminologia está em condições de ofere- tro, que têm que ser interpretados de acor-
cer uma informação válida, confiável, não do com uma teoria. Não basta apenas sua
refutável, sobre o complexo problema do obtenção e seu armazenamento.
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OLGA CÂMARA
30
A ATENDIMENTO
À VIOLÊNCIA
SEXISTA/DOMÉSTICA
ANA FARIAS
JANEIDE FRANCA
MARA PEREZ
31
ANA FARIAS - Assistente Social. Diretora de Desenvolvimento
Social da SEDESE (Secretaria Desenvolvimento Econômico e
Social da Prefeitura de Camaragibe).
32
Atendimento
à Violência
Sexista /
Doméstica
ANA FARIAS | JANEIDE FRANCA | MARA PEREZ
33
ANA FARIAS | JANEIDE FRANCA | MARA PEREZ
ÿþýüû ýüû
ÿþýüûúû ýüû ø÷üøö ö õöôöó ýüûô òöú ö÷ ñûü ñüú÷ñ ö üòööû ñû ûñüö ûò üòö ñôû
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34
ATENDIMENTO À VIOLÊNCIA SEXISTA / DOMÉSTICA
VIOLÊNCIA FÍSICA DOMÉSTICA Estudo feito entre 2000 e 2001 pelo De-
partamento de Medicina Preventiva da Fa-
Indicadores orgânicos e na conduta culdade de Medicina da Universidade de São
de crianças e adolescentes Paulo mostrou que os filhos de 5 a 12 anos
criados em famílias em que a mulher é sub-
· contusões corporais com marcas de cin- metida a violência apresentam mais proble-
tos, fivelas, fios elétricos, etc.; mas, como pesadelos, chupar dedo, urinar
· contusões inexplicadas e em lugares na cama, ser tímido ou agressivo.
incomuns como nádegas, boca, olhos e Na cidade de São Paulo, as mães que decla-
peito; raram violência relataram maior repetência
· queimaduras, principalmente as que lem- escolar de seus filhos de 5 a 12 anos; e na
bram pontas de cigarro ou contorno de Zona da Mata de Pernambuco houve maior
objetos; abandono da escola.
· fraturas inexplicadas de nariz, pernas, vér- Como mostram os dados expostos, a prá-
tebras, etc.; tica da violência sexista/doméstica é uma re-
alidade em crescimento no território naci-
· desconfiam dos contatos, estando sempre onal, principalmente aquela praticada con-
alerta e na defensiva; tra crianças e adolescentes, enquanto a
· evitam a sua casa ou fogem dela; Constituição Federal, no seu art. 227, ga-
rante, nos termos da lei, total proteção a
· comportamento agressivo, ou excessiva- essa faixa da população.
mente tímido, passivo, com dificuldades
“É dever da família, da sociedade e do Es-
nos relacionamentos escolares;
tado assegurar à criança e ao adolescente,
· demonstram pouca preocupação e inte- com absoluta prioridade, o direito à vida,
resse pelo filho; à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dig-
· culpam o filho pelos problemas no lar e na nidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
escola, sugerindo aos professores que o vência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negli-
punam de forma física severa;
gência, discriminação, exploração, violên-
· exigem perfeição, e desempenho superi- cia, crueldade e opressão.”
or às possibilidades da criança;
· quando questionados, contradizem-se em
relação aos ferimentos da criança;
· sofreram violência na infância;
· empregam e defendem o disciplinamento
corporal severo como método disciplinador.
Algumas considerações
“A violência doméstica é uma epidemia que
contamina todo o tecido familiar. Estatísti-
cas mostram que homens que espancam
suas parceiras também são violentos com
as crianças dentro de casa.’’ (Maria Luíza
Aboim - psicóloga).
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36
G GESTÃO DE POLÍCIA
COMUNITÁRIA
E SEGURANÇA
COMUNITÁRIA
HUMBERTO VIANNA
37
HUMBERTO VIANNA é Coronel da Polícia Militar, Pós-gra-
duado em Gerenciamento de Cidades pela UPE, Graduado em
Administração de Empresas e Educação Física no Estado do Rio
de Janeiro e Conselheiro Diretor do Fórum Brasileiro de Segu-
rança Pública no Rio de Janeiro.
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Gestão
de Polícia
Comunitária
e Segurança
Comunitária
HUMBERTO VIANNA
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HUMBERTO VIANNA
· É o responsável por criar condições para · uma aproximação habitual dos mem-
que os indivíduos, vivendo harmônica e bros que permita entre eles os contatos
solidariamente em sociedade, desenvol- diretos ou a utilização de serviços básicos
vam suas aptidões físicas, morais e inte- comuns;
lectuais.
· a consciência de interesses comuns, que
· O Estado é o principal responsável em revele aos membros a possibilidade de,
prover a sociedade de serviços públicos unidos, atingirem objetivos que, isolados,
essenciais, promovendo o desenvolvimen- não alcançariam;
to econômico de forma a criar empregos,
· a participação em uma obra comum, que
e assim, gerar e distribuir renda.
é a realização desses objetivos e a força
de coesão interna da comunidade.
g. Você sabe o que é uma
comunidade?
k. Qual o papel da comunidade?
Exemplos que serão trabalhados com o gru-
· Promover o desenvolvimento da comuni-
po:
dade.
· Estado de Pernambuco;
l. Como fazer?
· Região Metropolitana do Recife;
· Trabalho em equipe;
· Município do Recife.
· União dos moradores.
h. O que é uma comuniade?
m. Quais os benefícios?
· Origem da palavra: comunidade vem do
latim communio e quer dizer comunhão, · Diminuição de problemas internos
participação, congregação, união com ou- · Lixo, violência, educação, saúde, etc.
tros.
· Maior atendimento de demandas
· Maior possibilidade para que ruas se-
i. Conceito de Trojanowicz &
jam asfaltadas, creches escolas e pos-
Bucqueroux:
tos de saúde construídos, linhas de
“A comunidade deve encerrar certo núme- ônibus e novas empresas se instalem,
ro de pessoas com interesses, sentimen- um posto de polícia, etc.
tos e atitudes, compartilhados pela parti-
cipação no mesmo grupo social, localiza- · Maior representatividade política:
dos dentro da mesma área geográfica, a · Maior participação nas decisões que
qual é transformada por eles a fim de man- afetam a comunidade, perante a Pre-
ter a vida física e social do grupo; todos feitura, o Governo Estadual;
mantêm relações diretas ou indiretas, uns
com os outros; assim sendo, as relações
· Possibilidade de ter um representante
na Câmara Municipal ou Assembléia
40
GESTÃO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA E SEGURANÇA COMUNITÁRIA
41
HUMBERTO VIANNA
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GESTÃO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA E SEGURANÇA COMUNITÁRIA
h. Homicídios
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HUMBERTO VIANNA
i. Brasil · Pobreza
· Áreas de risco
No Brasil, dados estatísticos indicam que no · Analfabetismo
período compreendido entre 1999 e 2001,
nas capitais dos Estados e no Distrito Fede- m. Cenário Brasileiro (1)
ral, ocorreram mais de 41.000 homicídi-
O cenário da violência que se delineia no
os, 820.965 roubos, excluindo-se os rou- país resulta, em parte, de uma malha soci-
bos de veículos e roubos seguidos de mor- al que salienta as desigualdades, tendo a
te, 266.670 roubos e 317.501 furtos de concentração de renda como um dos seus
veículos, e um aumento de 166% no total maiores problemas, pois 52,9% da popu-
de casos de extorsão mediante seqüestro lação com mais de dez anos de idade e com
(Brasil, 2002). rendimento de trabalho ganha até dois sa-
lários mínimos. Nos municípios mais ricos,
o valor do rendimento aumenta, mas au-
j. Você confia nesses dados? menta também a concentração e renda. A
situação piora ainda mais nas pequenas ci-
Esses dados não correspondem à totalida- dades, onde esse rendimento varia de 160
de dos delitos ocorridos, pois as pesquisas a 210 reais (Góis, 2002).
de vitimização apontam que apenas um ter-
ço dos delitos são notificados à polícia pelas Nessa vertente o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que
vítimas, o que eleva ainda mais os números
das 46.306.278 famílias residentes em do-
oficiais sobre a violência (Kanh, 2002). micílios particulares permanentes, 5,4%
não possuem rendimentos, 43,5% ganham
Fonte: DANTAS, Marcus Leal. Segurança
até um salário mínimo. Dessas, 46,21% ga-
preventiva: conduta inteligente do cidadão. nham até meio salário mínimo (IBGE,
2002). Fonte: DANTAS, Marcus Leal. Segu-
k. Como identficar formas rança preventiva: conduta inteligente do ci-
alternativas de coletas de dados na dadão.
comunidade?
n. Cenário Brasileiro (2)
l. Coletando dados Essas desigualdades contribuem para a for-
mação de verdadeiros bolsões de pobre-
· Pesquisas sobre vitimização local
za, onde a exclusão social favorece o de-
· Entrevistas com: senvolvimento da criminalidade. Nesse
sentido verifica-se que: dos 21 milhões de
· Comerciantes
jovens brasileiros com idade de 12 a 17
· Agentes públicos anos, 8 milhões (38%) vivem em área de
· Agentes comunitários risco. 3 milhões deles não estão na escola.
· Líderes religiosos Apenas 2 milhões, que estão na faixa etária
· Professores de 10 a 14 anos, estudam e trabalham. 3,2
milhões, com idade entre 15 e 17 anos,
· Buscas em: somente trabalham (DIMENSTEIN, 2002).
· Hospitais (postos de saúde) públicos
O Mapa do Analfabetismo no Brasil infor-
· Delegacias de polícia
ma que, na população de 15 anos ou mais,
· Escolas existem mais de 16 milhões de analfabe-
tos, e que são mais de 30 milhões de anal-
· Informações socioeconômicas da comu-
fabetos funcionais (Brasil, 2003). Esses da-
nidade dos, além de mostrarem que parte dos
· Emprego jovens não freqüenta a escola, ficando na
· Renda familiar ociosidade, se refletem na perspectiva de
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GESTÃO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA E SEGURANÇA COMUNITÁRIA
p. Miseráveis
Fonte: Mapa do fim da fome. Ranking dos Municípios pela Proporção de Miseráveis (P0).Pernambuco - Medidas de Miséria - Linha de R$ 79* - FGV
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HUMBERTO VIANNA
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GESTÃO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA E SEGURANÇA COMUNITÁRIA
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HUMBERTO VIANNA
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P PRESERVAÇÃO
DO LOCAL DO CRIME
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MARCELO BARROS CORREIA é Delegado de Polícia, com
especialização em Ciência Política, e Presidente da ONG Dele-
gados pela Cidadania.
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Preservação
do Local
do Crime
MARCELO BARROS CORREIA
Presenciamos todos os dias uma triste cena serem mais desfavorecidos em seus direi-
urbana: programas e jornais policialescos tos.
exploram a tragédia daqueles que perde-
Especula-se que haja também um padrão
ram seus entes mais próximos. A quantida-
de criminosos: grupos de extermínio e tra-
de de casos diários revela que as grandes
ficantes locais.
capitais, sozinhas, conseguem superar o
número de mortos em guerras civis ou Havendo um padrão, não há possibilidade
mesmo entre nações. de ações preventivas? Certamente, mas tais
Embora a tendência seja a da banalização, ações dependem de decisão política. Tais
ou de nos acostumarmos com tal absurdo, decisões dependem de diagnóstico da situ-
diante da freqüência com que ocorre, não ação, estratégia de ação, planejamento e
podemos nos esquecer jamais que isso re- execução da ação e avaliação do que foi fei-
presenta uma anormalidade para qualquer to e quais os resultados alcançados. Isso
país ou região minimamente civilizados. demanda esforço, tempo, dinheiro e com-
promisso do governante. Como muitas co-
Mas há outros fatos que nos chamam a aten- munidades da periferia não são organizadas
ção. Os pesquisadores apontam para um para gritar por soluções, os governantes se
padrão entre as vítimas: os crimes, em ge- dedicam a outras prioridades e o problema
ral, acontecem na periferia, a vítima é po- persiste.
bre e de cor parda ou negra. Por que isso
acontece principalmente com esses grupos? Existe ainda um outro problema que se cha-
Porque eles vivem em áreas com pouco ou ma impunidade. O trabalho da Polícia e da
nenhum policiamento, favorecendo a atua- Justiça consiste em garantir que quem co-
ção livre de grupos criminosos que impõem meteu um crime seja punido. Quando isso
suas leis; porque miséria está estreitamen- não ocorre, acredita-se que as pessoas se
te ligada ao fornecimento de mão-de-obra sentem mais seguras para voltar a cometê-
para os grupos criminosos; porque a polí- lo, e isso contribui para o aumento da cri-
cia prefere atuar contra esses grupos por minalidade.
51
MARCELO B ARROS CORREIA
O que fazer quando o criminoso é um poli- Como a população pode contribuir para
cial? O principal órgão de fiscalização da reverter esse lamentável quadro?
polícia chama-se Corregedoria de Polícia (é Comecemos pelo que mais nos interessa
a polícia fiscalizando a polícia). Mas há ou- neste momento: “a preservação do local de
tros caminhos: a Ouvidoria de Polícia (que crime”.
recebe reclamações sobre o serviço polici-
al); o Ministério Público (cujos Promotores Quando há um homicídio em seu bairro
de Justiça têm obrigação de fiscalizar a atu- (responda marcando verdadeiro ou falso):
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PRESERVAÇÃO DO LOCAL DO CRIME
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R RELAÇÕES
INTERPESSOAIS
E MEDIAÇÃO
DE CONFLITOS
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CARLOS EDUARDO DE VASCONCELOS é Mestre em Di-
reito das Relações Sociais pela PUC/SP. Gerente de Prevenção
e Mediação de Conflitos da Secretaria Estadual de Justiça e Di-
reitos Humanos. Capacitado em Negociação pela FGV e em
Mediação pelo Centro de Mediação e Arbitragem de
Pernambuco – CEMAPE.
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Relações
Interpessoais
e Mediação
de Conflitos
CARLOS EDUARDO DE VASCONCELOS
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CARLOS EDUARDO DE VASCONCELOS
A pessoa que atua como mediadora deve 2º. Construa a empatia. Receba o outro
ser capacitada, independente e imparcial. gentilmente. Deixe-o à vontade. Para tan-
to, procure libertar-se dos preconceitos,
O papel do mediador é o de auxiliar as par- dos estereótipos. Preconceitos e estere-
tes a se comunicarem de modo positivo, ótipos são autoritários e geram antipatia.
identificando os seus interesses e necessi- Pessoas que aprendem a respeitar as di-
dades comuns, para a construção de um ferenças são capazes de se libertar dos
acordo. preconceitos e estereótipos. O precon-
Os mediadores comunitários devem con- ceituoso se apega às suas “verdades” e
tar com o apoio de facilitadores de media- condena o que é diferente. A empatia se
ção. O papel do facilitador é parecido com estabelece entre pessoas que se vêem, se
o do mediador, mas o facilitador atua em aceitam e se respeitam como seres hu-
sua própria comunidade, na fase de pré- manos, com todas as suas diferenças.
mediação, preparando as partes para uma 3º. Aprenda a perguntar. Em vez de acu-
futura mediação ou até mesmo ajudando- sar, pergunte. Perguntar esclarece, sem
as, em casos mais simples, a chegarem a um ofender. A pergunta lhe protege contra a
acordo antecipado. pressa em julgar o outro. Através da per-
Portanto, o facilitador comunitário deve ter gunta você ajuda a outra pessoa a enten-
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RELAÇÕES INTERPESSOAIS E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
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CARLOS EDUARDO DE VASCONCELOS
deroso do que você. Em vez de uma so- A mediação comunitária também pode ser
lução de ganhos mútuos (ganha-ganha), utilizada, especialmente pelos Juizados Es-
passa-se a um jogo de ganha-perde ou de peciais Criminais, como elemento de apoio
perde-perde. Vai-se do conflito ao con- à vítima e à comunidade, na busca de uma
fronto e, até mesmo, à violência. Às ve- reparação que tenha o potencial de restau-
zes cabe advertir a outra pessoa para os rar a relação com o ofensor. Essas media-
riscos que ela está correndo, com base ções penais comunitárias devem contar com
em dados de realidade. Mas nunca em tom a assistência da Defensoria Pública e do
de ameaça. Ministério Público.
Elas são especialmente úteis nos casos em
Quais são as vantagens da mediação que cabe transação penal, antes do julga-
sobre outras formas de solução de mento. Também se recomenda para a fase
conflitos? de execução referente a infrações de baixo
· Na mediação as partes escolhem ou acei- e médio potencial ofensivo, quando, em vez
tam, livremente, o mediador; da reclusão, o juiz pode estabelecer medi-
das alternativas, permanecendo o apenado
· Nas reuniões de mediação o mediador e na comunidade (Lei nº 9.099/95).
as partes se relacionam com respeito e igual-
dade; Exemplos:
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RELAÇÕES INTERPESSOAIS E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
Estão sendo criados Espaços de Mediação · Agradece a presença das partes e destaca
Comunitária nas comunidades, onde os fa- o acerto da opção;
cilitadores atendem as pessoas que neces-
sitam de apoio. Ao receber a parte · Declara a sua independência e imparciali-
solicitante, o facilitador deve criar um clima dade;
de confiança. Atende gentilmente e faz a · Explica as regras da mediação;
entrevista de pré-mediação, verificando se
o caso comporta mediação. · Esclarece a importância do sigilo;
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CARLOS EDUARDO DE VASCONCELOS
coisa a acrescentar. Em não havendo mais Nesta quinta etapa são procuradas as op-
o que expor, conclui-se esta etapa. ções, as alternativas para a solução do pro-
blema. O mediador pode até mesmo utili-
Terceira etapa: resumo do zar cartazes para que sejam anotadas alter-
acontecido: nativas (brain storm).
Quarta etapa: identificação dos reais Dados de realidade (ou critérios objetivos)
interesses: permitem saber quais são os valores eco-
nômicos, morais e jurídicos a serem consi-
· Concluído o resumo o solicitante e o soli- derados para solucionar o impasse.
citado estão mais receptivos ao proble-
ma da outra parte. Começam a se desa- Ao se chegar a um consenso sobre a solu-
pegar das posições rígidas do início da ção do conflito conclui-se mais uma etapa.
mediação.
Sexta etapa: acordo
· Neste momento o mediador fará pergun-
tas que levem as partes a identificarem os Nesta etapa final, redige-se e assina-se o
seus reais interesses; acordo.
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RELAÇÕES INTERPESSOAIS E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
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CARLOS EDUARDO DE VASCONCELOS
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R REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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