Mestrado em Informática e Sistemas
IA e Jogos
Sumário. A evolução no domínio dos jogos de computador tem sido grande nos últimos anos, de tal forma que estes
começam a ser considerados formas de arte popular. No entanto, apesar da qualidade visual e sonora ser o principal
rosto dessa evolução, outras áreas têm ainda um longo caminho a percorrer, nomeadamente a Inteligência Artificial.
Se por um lado o sucesso de um jogo começa a ter uma forte dependência da IA, os investigadores de IA começam a
aperceber-se de que os jogos são uma importante base de testes para experimentar novas técnicas e conceitos neste
ramo da ciência computacional.
Palavras chave. Inteligência Artificial, Jogos.
1. Introdução
Enquanto a evolução dos jogos é imensamente
orientada para as áreas gráficas e de efeitos visuais,
outras áreas evoluem a ritmos mais lentos, como é o
caso da Inteligência Artifiicial. Aliás, apesar de
perante certos jogos sermos levados a pensar de que
estamos perante uma IA altamente complexa e eficaz,
a verdade é que os programadores dispõem de um
conjunto de truques que lhes permitem criar essa
percepção nos jogadores, percepção essa que se
revela muitas vezes errónea.
Ao longo dos anos o problema com que se deparam
os programadores de jogos são mais ou menos
semelhantes. Noutros tempos, os jogos mais exigentes
do ponto de vista da IA eram os jogos de estratégia.
No entanto, dado que o avanço do jogo se processava
através de turnos, havia tempo que poderia ser
dispensado para a IA sem que isso se tornasse
problemático para a evolução do jogo. No entanto,
mais tarde surgiram os jogos de estratégia em tempo
real em que também a IA é processada em tempo real
e tem que reagir constatemente aos movimentos do(s)
jogador(es). Aliás, actualmente quase todos os tipos
de jogos se processam de forma mais ou menos
frenética e, a juntar a todo o processamento que é
dedicado aos gráficos, sons, física, efeitos, a realidade
é que muito pouco sobra para o processamento da IA.
Para contornar este problema, os programadores
vêem-se muitas vezes a braços com decisões em que a
IA acabada por ser sacrificada. Nestes casos, a
solução passa por desenvolver um módulo que, apesar
de simples, possa iludir o utilizador final de tal forma
que este pense estar perante o último grito em matéria
de IA.
Neste artigo descreverei em traços gerais qual o
estado da Inteligência Artificial no campo dos jogos,
enumerando os diversos paradigmas que são
actualmente utilizados. De seguida irei apresentar
uma ideia que ganha cada vez mais adeptos: a de que
os jogos de computador são uma das melhores
plataformas para o desenvolvimento e teste de novos
conceitos no campo da Inteligência Artificial.
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SEMINÁRIO 1
por Paulo Ribeiro
Concluiremos com algumas considerações sobre o
possível rumo da IA e dos jogos num futuro próximo.
2. Estado Actual da IA em Jogos
A definição de inteligência directamente retirada de
um dicionário é a “faculdade que tem o espírito de
pensar, conceber, compreender; capacidade de
resolução de novos problemas e de adaptação a novas
situações”. Esta definição descreve aquilo a que
poderíamos chamar inteligência humana ou
inteligência de nível humano. Mas o que dizer da
Inteligência Artificial? Segundo o dicionário é o
“estudo da modelização de funções mentais humanas
por programas de computador”. No entanto, esta
definição não pode ser considerada correcta, já que
muita da pesquisa efectuada no campo da IA não se
refere a processos biologicamente possíveis. Uma
outra definição possível poderá ser a “faculdade de
resolver problemas que necessitariam de inteligência,
caso fossem resolvidos por humanos”. Apesar de
todas as diferenças entre definições, o certo é que o
objectivo da IA passa por perceber e criar entidades
inteligentes.
No que respeita a jogos de computador, a IA tem
percorrido um longo caminho onde já quase
esquecemos aqueles jogos onde era possível derrotar
um oponente recorrendo sempre à mesma estratégia.
Hoje, o esforço dos programadores recai sobre a
criação de personagens e oponentes atractivos, com
comportamentos e reacções semelhantes às de um ser
humano. Um exemplo muito claro desta evolução são
os jogos de corridas de carros. Os primeiros
corredores de IA limitavam-se a seguir uma linha pré-
definida na pista, com pontos de travagem e
aceleração. Raramente se desviavam dessa linha e os
acidentes nunca eram evitados. Num jogo actual, se
estivermos a jogar com oponentes humanos e de IA,
muitas vezes não conseguimos distinguir quem é
quem, até porque os humanos têm geralmente uma
condução mais irregular. Os condutores de IA
conseguem conduzir os seus veículos de forma
realista, recorrendo a técnicas de ultrapassagem e de
abordagem à pista dignas de um profissional. É
estamos apenas a falar de jogos de corridas de
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automóveis, mas a evolução sente-se em qualquer
outro tipo de jogo. A questão que muitas vezes nos
colocamos é a de como é tudo isto possível? Da
leitura das páginas seguintes ficará muito
provavelmente a sensação de que apesar de já muito
se ter conseguido, o certo é que ainda estamos na fase
inicial. Aliás, muitas das técnicas de IA utilizadas e
com utilidade reconhecida no meio académico,
científico e empresarial, começam a ser introduzidas
muito lentamente nos jogos de computador.
Nas secções seguintes iremos apresentar uma breve
descrição das principais técnicas de IA utilizadas em
jogos, e quais as suas possíveis aplicações.
Máquinas de Estados Finitos
De todas as técnicas de IA usadas actualmente em
jogos, as máquinas de estados finitos (FSM, do inglês
finite state machines) passam por ser as mais
utilizadas, não só por serem fáceis de compreender e
programar, mas também porque podem ser aplicadas
a quase todos os tipos de problemas. Esta técnica
pode ser utilizada juntamente com outras técnicas de
IA existentes, tais como redes neuronais ou lógica
difusa, e permite separar cada comportamento
possível de uma entidade ou objecto em diferentes
estados lógicos. A utilização de FSM em jogos,
apesar de simples, consegue produzir resultados em
que a inteligência é, pelo menos, aparente, ou seja,
alcança um dos seus principais objectivos. Outra das
suas vantagens passa pela baixa utilização de recursos
do CPU, pelo que facilmente se torna uma opção em
situações onde a taxa de utilização do processador
disponível para a IA é baixa.
No entanto, a utilização de FSM pode facilmente
revelar-se uma tarefa árdua se não forem tomadas as
devidas precauções durante a fase de concepção e
design, já que uma máquina de estados complexa
pode ser muito problemática de manter. Não é
incomum existirem estados dentro de estados ou
transições aleatórias entre estados, que contribuem
para o aumento da complexidade destas estruturas.
Agentes
Os agentes implementam entidades inteligentes que
analisam e percebem o ambiente que os rodeia,
agindo sobre o mesmo de forma a atingirem os
objectivos para os quais foram programados. Assim,
podemos incluir na categoria de agentes tanto os
robots como os personagens de um jogo de
computador.
Os agentes revelam-se de extrema utilidade quando é
necessário modelar capacidades humanas complexas,
já que permitem representar um conjunto de
características e competências consideráveis, tais
como reacções, objectivos, emoções, linguagem
natural, memória ou inferência.
Nos jogos de computador, os agentes são constituídos
por máquinas de estados finitos que interagem e
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trocam mensagens entre si, trabalhando em diferentes
problemas, mas com um mesmo fim. Não é incomum
os agentes serem desenvolvidos com máquinas de
estados difusos, redes neuronais ou até mesmo
algoritmos genéticos.
Durante a fase de design de um agente é necessário
ter em conta se este vai ter um papel essencialmente
reactivo ou orientado para um determinado objectivo,
já que para ambientes dinâmicos onde não é
necessário ter em conta estados anteriores, como em
first-person shooters ou role-playing games. No
entanto, em jogos de estratégia, os estados anteriores
são de extrema importância para alcançar o objectivo
de derrotar o jogador e, neste caso, a abordagem de
desenvolvimento do agente deverá ser diferente da
primeira.
Apesar de nem sempre serem desenhados ou
desenvolvidos como tal, o certo é que os agentes
estão presentes na IA de quase todos os jogos da
actualidade. Começam por ser implementados como
máquinas de estados finitos e, gradualmente começam
a dispôr das funcionalidades de um agente. No
entanto, por não terem sido arquitectados inicialmente
com a forma de agentes, surgem em formas mais
complexas, mais difíceis de manter, melhorar ou
reutilizar. É, por isso, muito importante que um
agente seja estruturado como tal durante as fases
iniciais de desenvolvimento da IA de um jogo.
Scripting
As linguagens de scripting são linguagens de
programação mais ou menos complexas que
permitem ter controlo sobre o motor de um jogo a
partir do exterior, ou seja, sem que esse controlo
tenha sido explicitamente incluído no código do
motor. Desta forma, é possível alterar o
comportamento ou as funcionalidades do mesmo sem
necessidade de recompilação do jogo. Além disso, as
linguagens utilizadas são, geralmente, não só
potentes, mas também de utilização acessível a não-
programadores. Com as linguagens de scripting,
escondem-se muitos dos detalhes complexos de um
jogo e coloca-se ao alcance de muitos a criação de
conteúdos para esse jogo.
Pelas razões apresentadas, as linguagens de scripting
são utilizadas para os mais diversos fins, incluindo a
IA de um jogo. Aliás, existem jogos no mercado em
que a IA foi quase ou mesmo totalmente desenvolvida
recorrendo a esta técnica, permitindo que mesmo os
utilizadores/jogadores finais possam ter a
possibilidade de programar a IA em diferentes
aspectos do jogo.
Pelo potencial que traz aos jogos de computador,
simplificando muitas tarefas que se poderiam revelar
mais complexas, o scripting é uma das técnicas mais
utilizadas actualmente.
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Lógica Difusa
A lógica difusa difere da lógica boleana na medida
em que permite não apenas dois estádios, mas sim
vários estádios intermédios. Usando um exemplo de
temperatura, na lógica boleana teríamos quente e frio.
Na lógica difusa, além de quente e frio, poderemos ter
ainda muito quente, muito frio, pouco quente ou
pouco frio. Este tipo de lógica revela-se muito útil em
situações onde não é possível utilizar modelos
matemáticos simples ou em problemas não-lineares.
No entanto, sempre que a lógica boleana conseguir
resolver um dado problema, é boa prática não utilizar
a lógica difusa.
A utilização da lógica difusa nos jogos de computador
começa a ter um papel importante na tomada de
decisões e na escolha de comportamentos, já que se
pode comparar a uma extensão da lógica boleana, sem
que a complexidade aumente consideravelmente, uma
vez que utiliza regras e operações muito semelhantes.
Máquinas de Estados Difusos
As máquinas de estados difusos aliam as
potencialidades da lógica difusa à simplicidade das
máquinas de estados finitos. Desta forma os estados
passam a poder encontrar-se não só activos ou
inactivos, mas também muito activos ou pouco
activos, já que podem existir estádios intermédios.
Num ambiente de jogo as vantagens podem ser
inúmeras, já que o determinismo diminui
consideravelmente. Assim, os personagens de um
jogo podem ter comportamentos intermédios como
pouco agressivo ou muito agressivo, incrementando o
grau de interesse e de realismo do jogo. Além disso,
as diferenças existentes nos personagens geridos pela
IA podem diferenciar-se em maior escala cada vez
que se joga. Pelas suas características, as máquinas de
estados difusos são muito utilizadas em situações de
escolha de comportamentos para entidades de um
jogo.
Flocking
O flocking é uma técnica utilizada para simular ou
representar de forma realista o comportamento de um
grupo de entidades, geralmente seres vivos. Usando o
exemplo de um cardume de peixes, em vez de se
programar o comportamento de cada um dos peixes,
cada um deles dispõe de um conjunto de
procedimentos que lhes permitem reger-se pelo
ambiente que os rodeia, utilizando diversos factores
como as leis da física ou a posição dos outros peixes.
Isto permite-lhes manter a sua individualidade
intocada, diminuindo a complexidade e aumentando
em muito o realismo.
Uma particularidade importante do flocking é o facto
de este não contemplar estados, já que cada entidade
avalia o seu mundo de forma reactiva, em cada ciclo.
O flocking é uma técnica de IA muito utilizada em
jogos onde é necessário que um conjunto de animais
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ou outro tipo de seres, como monstros ou inimigos, se
comportem de forma realista.
Árvores de Decisão
As árvores de decisão constituem uma técnica de IA
muito utilizada em data mining como forma de
previsão de ocorrências ou ainda para encontrar
relações em grandes quantidades de dados. A sua
estrutura é análoga à de uma árvore biológica, já que
dispõe de uma raíz que por sua vez se vai
desdobrando em subárvores, terminando em folhas.
Apesar de serem muito úteis em processos de
classificação, a utilização de árvores de decisão em
jogos de computador restringe-se a jogos que
necessitam de alguma forma de classificação ou
predição. Como exemplo, um dado personagem de
um jogo poderia utilizar uma árvore de decisão para
aprender quais as acções que levariam ao melhor
resultado final. Utilizando os exemplos adquiridos
durante o jogo poderia construir a árvore, que mais
tarde utilizaria para seleccionar qual a acção mais
adequada num determinado momento. No entanto,
uma outra abordagem a este problema poderia ser a
utilização de uma árvore pré-construída, que apenas é
consultada no decorrer do jogo. Neste último caso,
não há aprendizagem, já que esta foi realizada
previamente.
As árvores de decisão adequam-se, sobretudo, a
problemas facilmente representáveis por pares
atributo-valor. Além disso, no que respeita a
aprendizagem, são mais fáceis de implementar do que
as redes neuronais, pelo que é natural que a sua
utilização em jogos de computador seja cada vez mais
significativa.
Redes Neuronais
As redes neuronais são simulações computacionais
simplificadas do funcionamento do cérebro humano.
O conhecimento é adquirido a partir do ambiente
envolvente através de um processo de aprendizagem,
e esse mesmo conhecimento é armazenado nas redes.
A utilização das redes neuronais nos jogos de
computador não é tarefa fácil, já que a procura de
variáveis e elementos de input se pode revelar
complexa, tendo em conta a quantidade de
informação existente no mundo virtual de um jogo.
Embora as redes neuronais tenham um grande
conjunto de aplicações no mundo científico e
empresarial, como memória, reconhecimento de
padrões, aprendizagem e predição, é interessante
notar que algumas potencialidades não são totalmente
exploradas no mundo dos jogos de computador.
Exemplo disso é a aprendizagem, já que a rede poderá
aprender algo “estúpido”. Como se procura manter
um certo grau de inteligência aparente por parte dos
NPCs (non-player characters), a solução passa por
fazer a aprendizagem antes do lançamento do jogo,
para que esta possa ser aferida de acordo com as
pretensões e especificidades desse jogo.
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Dada a grande flexibilidade e polivalência das redes
neuronais, é de esperar um aumento da sua utilização
como técnica de IA em jogos.
Algoritmos Genéticos
Os algoritmos genéticos são utilizados em
aprendizagem ou em processos de optimização,
aplicando os conceitos da evolução e da selecção
natural, onde um dado problema evolui até uma
possível solução. É gerada uma população, onde á
avaliada a capacidade de cada indivíduo dessa
população para resolver o problema. O processo
evolui de forma gradual, e a tendência é que as
populações seguintes sejam constituídas por melhores
candidatos à solução do problema. A simulação
continua até que seja atingido o grau desejado de
performance.
Apesar de terem uma utilização muito diversificada
nos mais diversos ramos da ciência, são
exemplarmente eficazes em buscas efectuadas em
espaços de procura de grandes dimensões, onde os
métodos tradicionais se revelam muito lentos. No
entanto, a sua utilização em jogos de computador
ainda não é consensual, em grande parte devido à sua
utilização intensiva de recursos. Tendo em conta que
a fatia de processamento dedicada à IA num jogo não
excede muitas vezes os 10%, facilmente verificamos
que os algoritmos genéticos não são uma primeira
opção. Embora tenham sido utilizados em diversos
jogos comerciais, não se prevê que esta seja uma
tendência crescente. No entanto, tal como as redes
neuronais, podem ser utilizados para aprendizagem
in-house, antes do lançamento do jogo.
IA Extensível
Uma prática que começa a tornar-se corrente, por
parte das empresas de desenvolvimento de jogos, é a
de colocarem à disposição dos utilizadores finais, um
conjunto de ferramentas que lhes permitam fazer
alterações e modificações nos jogos (os chamados
mods), que permitem extender consideravelmente a
longevidade do seu produto, além de promoverem a
criação de grandes comunidades de jogadores
dispostos a trocar estes mods entre si.
Este tipo de abordagem passa não só pelos gráficos e
pelo som, mas também pela IA. Desta forma, os
utilizadores podem programar os seus próprios NPCs
(non-player characters) e desenvolver a sua própria
IA. É, por isso, frequente encontrarmos este tipo de
oponentes (os chamados bots) a circular pela Internet.
Os principais métodos de IA extensível utilizados
actualmente são ferramentas desenhadas
especificamente para esse fim ou as linguagens de
scripting.
Dada a sua aceitação por parte dos utilizadores, é
natural que a IA extensível passe a ser parte
integrante dum grande número de jogos.
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3. Os Jogos como Base de Testes para IA
Se nos perguntarmos quais os principais
representantes do futuro da IA nos filmes de ficção
científica de referência, a probabilidade de nos virem
à cabeça o HAL (2001: Odisseia no Espaço) ou o
CP30 e o R2D2 (Star Wars) é enorme. Talvez isto
aconteça porque eles são, de facto, como que um
sonho concretizado, já que a distância que os separa
dos humanos é pequena em termos de sentimentos,
emoções e capacidades. Estes robots apresentam um
nível humano de inteligência. Apesar destes
elementos de ficção científica continuarem a ser algo
distante da realidade actual, o certo é que poucos se
aventuram nessa direcção, uma vez que a grande
maioria das aplicações da IA não requer uma
inteligência de nível humano. Desenvolvem-se sim,
soluções mais específicas, que acabam por ser de
implementação muito mais simplificada. Porém, se
olharmos para o mundo dos jogos de computador,
verificamos que os últimos desenvolvimentos em
matéria de IA têm produzido personagens e oponentes
que parecem comportar-se e aprender de forma
aparentemente semelhante à dos humanos. E a
tendência revela que este é o caminho a seguir, pelo
que podemos esperar que os jogos sejam cada vez
mais exigentes no que respeita à IA dos oponentes.
Aliás, com o aumento de jogos MMORPG (Massive
Multiplayer Online Role Playing Game), os
utilizadores estão cada vez mais habituados a lidar
com oponentes humanos com um comportamento e
reacções humanas, pelo que é natural que haja uma
necessidade crescentes de que esses os oponentes IA
sejam semelhantes aos seus análogos humanos.
3. Conclusões
É interessante notar que, apesar de todos os
desenvolvimentos efectuados no domínio da IA em
jogos, de forma a criar dinâmicas de jogo cada vez
mais sólidas e realistas, é facto aceite, sobretudo nos
meios académicos, de que ainda se dão os primeiros
passos nesta área. A juntar a este facto, deparamos
com uma atitude muito conservadora e muito
protectora no que respeita a novas tecnologias por
parte dos produtores de jogos. Poucos são aqueles
que, com um espírito aberto, estão dispostos a mostrar
o seu trabalho e a aceitar opiniões de quem trabalha
no ramo. Mas, como qualquer indústria milionária,
onde a competição é acérrima, a indústria dos jogos
de computador não foge à regra e encerra os seus
segredos fora do alcance, não só dos seus
competidores, mas também daqueles que a poderiam
ajudar a evoluir de uma forma diferente.
Durante esta escalada lenta para um objectivo ainda
distante, como o da representação de uma inteligência
de nível humano, os progressos são suficientes para
que acreditemos que esse objectivo ainda é
alcançável. Além disso, com a organização de
conferências internacionais sobre os jogos, onde a IA
tem um papel cada vez mais importantes, assiste-se a
uma progressiva abertura por parte das empresas que
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desenvolvem jogos, que tem permitido ao meio

académico penetrar esse mundo tão restrito. Esta
cooperação começa a traduzir-se na aplicação de
paradigmas e técnicas de IA aos jogos que durante
muitos anos não tiveram qualquer oportunidade de
demonstrar o seu potencial.
Uma das principais razões pela qual certas técnicas
da IA ainda não têm um papel de destaque nos jogos
de computador é o facto de que estes impõem grandes
limitações à utilização dessas técnicas. Por exemplo,
os algoritmos genéticos poderiam ser bastante úteis
para os jogos, caso não fossem tão exigentes em
termos de recursos da máquina. No entanto, tal como
assistimos ao aparecimento de hardware específico
para gráficos e som, poderemos também assitir ao
aparecimento de hardware específico para o
processamento de IA. Se esse não for para já o caso, o
certo é que a tendência é para que a IA tenha cada vez
mais um papel decisivo para o sucesso dos jogos em
geral. Além disso, utilizando os jogos para
desenvolver novas técnicas, leva a que estas sejam
aperfeiçoadas não só em desempenho e performance,
mas também na qualidade e na potencialidades, pelo
que é uma área que merece sem dúvida a nossa
atenção e o nosso empenho.

Referências
1. Anderson, Eike F. (2003) Playing Smart - Artifi-
cial Intelligence in Computer Games, zfxCON03,
Raum.
2. Sidran, D. Ezra (2003) The Current State of Hu-
man-Level Artificial Intelligence in Computer
Simulations and Wargames,
http://www.gilgameshcontrite.com/Computer_AI
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3. Sweetser, P., Johnson, D., Sweetser, J., Wiles, J.
(2003) Creating Engaging Artificial Characters
for Games, Proceedings of the Second Interna-
tional Conference on Entertainment Computing,
Pittsburgh, PA: Carnegie Mellon University.
4. Sweetser, P. (2002) AI in Games: A Review,
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5. Laird, John E., Lent, Michael van (2001) Human-
level AI’s Killer Application: Interactive Com-
puter Games, AI Magazine, Summer 2001.
6. Woodcock, Steven (2002) Game AI: State of the
Industry 2001-2002, Game Developer Magazine,
July 2002.

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Ficha de Caracterização de Trabalho

Título: IA e Jogos

Resumo: A evolução no domínio dos jogos de computador tem sido grande nos últimos anos, de tal forma que
estes começam a ser considerados formas de arte popular. No entanto, apesar da qualidade visual e sonora ser o
principal rosto dessa evolução, outras áreas têm ainda um longo caminho a percorrer, nomeadamente a Inteligência
Artificial. Se por um lado o sucesso de um jogo começa a ter uma forte dependência da IA, os investigadores de IA
começam a aperceber-se de que os jogos são uma importante base de testes para experimentar novas técnicas e
conceitos neste ramo da ciência computacional.
Data: 23 Jan 2004
Esforço: aprox. 20 horas
Motivação: Continuação do trabalho sobre dinâmica em jogos e a utilização dos jogos como
base para experimentar novas técnicas de IA.
Aprendizagem: Quais as principais técnicas de IA utilizadas nos jogos de computador, além
das vantagens da utilização dos jogos para o desenvolvimento da IA e do próprio jogo.
Conteúdos e Processos: Aprendi sobretudo quais as principais aplicações das diferentes
técnicas de IA nos jogos. Fiquei com uma visão mais clara de quais as limitações de certos
paradigmas da IA neste campo e que, muitas vezes, essas limitações não são dos paradigmas
em si, mas das limitações impostas pelos próprios jogos. Poderemos assistir no futuro, ao
aparecimento de novas tecnologias que permitam tirar melhor partido de técnicas já testadas e
reconhecidas noutros domínios que não o dos jogos de computador.
Futuro: O tema do próximo trabalho vai recair sobre a escolha de novas técnicas que possam
melhorar a dinâmica dos jogos, assim como a qualidade e a novidade dos seus conteúdos.

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