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STADO DE RONDÔNIA PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
2ª Câmara Especial / Gabinete Des. Roosevelt Queiroz

Processo: 7010890-45.2018.8.22.0005 - APELAÇÃO / REMESSA


NECESSÁRIA (1728)

Relator: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA

Data distribuição: 28/02/2020 14:48:44

Data julgamento: 01/12/2020

Polo Ativo: ESTADO DE RONDÔNIA e outros


Polo Passivo: SEBASTIAO PEREIRA DO NASCIMENTO e outros
Advogados do(a) APELADO: HUDSON DA COSTA PEREIRA - RO6084-
A, FLADEMIR RAIMUNDO DE CARVALHO AVELINO - RO2245-A

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação interposto pela Fazenda


Pública do Estado de Rondônia contra sentença proferida
pela 5ª Vara Cível da Comarca de Ji-Paraná, que, nos autos
de ação de cobrança, julgou procedente o pedido inicial,
condenando o ente público ao pagamento de cinco períodos
de licença-prêmio não gozados pelo servidor.
Ainda, dada a sucumbência, houve condenação em honorários
em valor ainda a ser definido pelo juiz de primeiro grau
(fls. 80/82).

Inconformada, a apelante apresentou suas razões


sustentando, preliminarmente, a sua ilegitimidade
passiva, argumentando que o apelado seria servidor público
federal, pois ocorrida sua transposição em virtude da
Emenda Constitucional n.º 60/2009.

No mérito, afirmou que o art. 89 do ADCT proibiria o


pagamento, a qualquer título, de diferenças
remuneratórias, bem como que essa pecúnia, se devida,
seria devida apenas em caso de falecimento.

Pugnou pelo conhecimento do apelo e, no mérito, pelo seu


provimento (fls. 86/97).

Em contrarrazões, o apelado contra-argumentou pela


manutenção da sentença de primeiro grau, corroborando seus
fundamentos (fls. 117/128).

É o relatório.

VOTO

DESEMBARGADOR ROOSEVELT QUEIROZ COSTA


O recurso preenche os requisitos intrínsecos e
extrínsecos. Assim, dele conheço.

O cerne do recurso reside em verificar se o apelado detém


direito à conversão de licenças-prêmios em pecúnia.
Objetiva a apelante, portanto, a reforma da sentença, nos
termos delineados no preâmbulo do relatório.

Contudo, houve argumentação preliminar de ilegitimidade


passiva, de modo que a analiso em primeiro lugar.

I – Da Preliminar (de Ilegitimidade Passiva)

Narrou a apelante:
O Estado de Rondônia não possui legitimidade para figurar
no polo passivo da presente ação, visto que, a parte autora
pertence ao quadro de servidores federais.
Ocorre que o requerente foi transposto para o quadro
federal, conforme se observa em documentos anexos aos
autos.
Salienta-se que o requerente ingressou com a demanda
quando já pertencia ao quadro de servidores federais.
Esclarece-se que após a transposição do requerente para o
quadro federal, o Estado de Rondônia fica desobrigado a
proceder qualquer pagamento de auxílios ou adicionais que
compõem a remuneração dos servidores, pois, a União torna-
se responsável por todo o ônus do servidor.
Dessa forma, denota-se que o Estado de Rondônia não possui
legitimidade para permanecer como sujeito passivo da ação
bem como se observa a incompetência absoluta da Justiça
Comum para processar e julgar a matéria dos autos. (cf.
excertos de fls. 88/89)
Sem razão. Descabe a tentativa da Fazenda estadual imputar
à Fazenda federal (União) o ônus de responder a essa
cobrança, uma vez que a parte fez parte do quadro de
servidores do Estado até sua transposição, quando somente
então passou para o quadro da União.
Nessa toada, é de fácil vislumbre que o período aquisitivo
do direito do Apelado é anterior a transposição, sendo que
o Estado de Rondônia deve arcar com a conversão em pecúnia
de tal direito, acaso reconhecida a postulação – que é
matéria de mérito.
Assim, rejeito a preliminar.
II – Do Mérito
Sobre o mérito, considerando que a sentença foi precisa
na análise do caso posto e que este Tribunal já emitiu
posicionamento sobre caso idêntico, tenho que a motivação
deve ser simplificada.

A sentença assim se fundamentou:

No mérito, a parte autora não incide em nenhuma das


hipóteses do art. 125 da LC 68/92, ônus que competia ao
réu. De outra forma, observo que há provas documentais de
que a parte requerente não se enquadra nas exceções acima.
Consta dos autos e não é fato controvertido, que o autor
era servidor público estadual, admitido no período
mencionado na inicial, razão pela qual, nos termos da LC
420/08 e LC 68/92, faz jus a cinco períodos de licença
prêmio por assiduidade. Posteriormente, o autor foi
transposto para o quadro de servidores públicos da União,
cessando seu vínculo com o Estado. Demais disso, cabe
mencionar que o pedido de conversão em pecúnia da licença-
prêmio não gozada foi requerido administrativamente,
todavia, o réu se manteve inerte quanto a sua concessão.
[...]

Assim, preenchidos os requisitos legais, o autor faz jus


à conversão, tanto mais porque postulou
administrativamente a fruição e o pedido não foi
concedido, conforme documentação juntada. A omissão
administrativa gera um enriquecimento ilícito, vedado pelo
ordenamento jurídico. Verbere-se que é assente o
entendimento jurisprudencial acerca da conversão da
licença-prêmio não usufruída em indenização, a fim de
evitar o enriquecimento ilícito pela Administração Pública
(AgRg no RESP Nº 1.246.019 – RS (2011/0065205-9)/Julgado
15/03/2012 Rel. Min. Herman Benjamin).

Consigno que somente as verbas remuneratórias da última


remuneração/salário devem compor a base de cálculo da
indenização pleiteada, salvo eventual recebimento
parcial, o que não é o caso, excluídas as verbas de caráter
transitório ou eventual, e aquelas de caráter
indenizatório. Assim, por exemplo, deve ser excluída
eventual gratificação de unidade escolar, auxílio-
alimentação, auxílio-saúde, auxílio-transporte, etc.
Nesse sentido:
Recurso Administrativo. Poder Judiciário. Servidor
Público. Conversão da Licença-prêmio em pecúnia.
Gratificações, Auxílios e Adicionais. Impossibilidade.
Conceito de remuneração integral. Verbas de natureza
meramente indenizatória. Pagamento dos adicionais em
dobro. Novo critério de interpretação. Efeitos para
frente. Não provimento. Os valores devidos na conversão
da licença prêmio em pecúnia são com base no vencimento
básico do servidor, acrescido das vantagens pecuniárias
de caráter remuneratório. Foram excluídos da base de
cálculo, em virtude de sua natureza, os auxílios e
gratificações de natureza indenizatória. […]. (Processo
Administrativo 0004932-52.2017.822.0000, Rel. Des. Renato
Martins Mimessi, Tribunal de Justiça do Estado de
Rondônia, Conselho da Magistratura, julgado em 14/12/2017.
Publicado no Diário Oficial em 08/03/2018.)

Assim, preenchidos os requisitos legais e tendo completado


5 períodos de licença-prêmio, o autor faz jus à conversão
desses períodos.

Como consignado retro, esta egrégia Corte de Justiça já


deliberou:
Apelação em ação de cobrança. Conversão de licença-prêmio
em pecúnia. Férias não gozadas. Indenização.
O servidor adquire o direito à licença prêmio após cada
quinquênio de efetivo serviço público prestado e o
indeferimento do gozo, mesmo motivado, configura a
conversão em pecúnia.
As férias não gozadas pelo servidor público em atividade
deve ser convertida em pecúnia visando evitar o
enriquecimento ilícito da administração. Recurso não
provido.
(TJ-RO. 1ª Câmara Especial. AC 7034184-12.2016.822.0001,
Rel. Des. Oudivanil de Marins, j. em 25/5/2020).
O caso acima tratou de um sujeito que ingressou no quadro
da Polícia Militar do Estado de Rondônia em 1/7/1986,
transferido para a Reserva Remunerada em 12/9/2012 e
transposto para o quadro da União em 10/2013 sem usufruir
de licença-prêmio referente aos terceiro, quarto e quinto
quinquênios e férias relativas ao período aquisitivo de
1999 e proporcional de 2012.
Neste, o apelado foi servidor público estadual, no cargo
de Técnico Educacional, admitido em 1/8/1983 e transposto
para o quadro federal por intermédio da Portaria n.º
769/2012.

Como se sabe, o servidor adquire o direito à licença-


prêmio após cada quinquênio de efetivo serviço público
prestado e o indeferimento do gozo, mesmo motivado,
configura a conversão em pecúnia.

As férias não gozadas pelo servidor público em atividade


deve ser convertida em pecúnia visando a evitar o
enriquecimento ilícito da Administração.

Concludentemente, o caso não comporta outras digressões,


devendo a sentença ser mantida tal como lançada.

Em face do exposto, nego provimento ao recurso de


apelação.

É como voto.

EMENTA

Apelação. Administrativo. Cobrança. Ilegitimidade passiva


do Estado de Rondônia. Rejeição. Licença prêmio. Conversão
em pecúnia. Férias não gozadas. Servidor transposto ao
quadro federal. Aquisição do direito enquanto servidor
estadual. Recurso não provido.

Tratando-se de pedido de conversão em pecúnia de licença-


prêmio não gozada enquanto o sujeito era servidor público
do Estado, deve este ente responder pela cobrança, não
vingando a preliminar de ilegitimidade passiva em virtude
da transposição da parte ao quadro federal.

O servidor adquire o direito à licença-prêmio após cada


quinquênio de efetivo serviço público prestado, e o
indeferimento do gozo, mesmo motivado, configura a
conversão em pecúnia.

As férias não gozadas pelo servidor público em atividade


deve ser convertida em pecúnia, visando a evitar o
enriquecimento ilícito da Administração.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os
Magistrados da 2ª Câmara Especial do Tribunal de Justiça
do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de
julgamentos e das notas taquigráficas, em, REJEITADA A
PRELIMINAR. NO MÉRITO, NEGOU-SE PROVIMENTO AO RECURSO, À
UNANIMIDADE.

Porto Velho, 01 de Dezembro de 2020


Desembargador(a) ROOSEVELT QUEIROZ COSTA
RELATOR

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