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0.9.

A ELECTROSTÁTICA DE MEIOS MATERIAIS 47

Meios lineares, homogéneos e isotrópicos


Para campos suficientemente pouco intensos, é válida a aproximação linear, admitindo-se
que as componentes da polarização são simplesmente proporcionais às componentes do
campo eléctrico (o meio diz-se um meio linear se esta aproximação for válida):

3

Pi = 0 χij (r) Ej (145)
j=1

onde a matriz χij (r) representa o tensor susceptibilidade eléctrica. Este tensor traduz
o facto de o comportamento dos materiais poder ser em geral complicado, dependendo a
polarização de ponto para ponto e também da direcção em que aponta o campo eléctrico.
No caso em que a polarização é independente da direcção do campo eléctrico, o material
diz-se isotrópico e a polarização é então simplesmente paralela ao campo eléctrico, o que
permite simplificar a equação anterior:

P = 0 χ(r)E (146)

A dependência da polarização com o campo vem agora limitada a um único parâmetro


χ(r), designado também susceptibilidade eléctrica. Se o material for homogéneo, a sus-
ceptibilidade será a mesma em todos os pontos do meio:

P = 0 χ E (147)

Esta dependência da polarização com o campo cumpre a condição requerida


∇ × P = 0. Note-se que esta condição não se verifica em meios não homogéneos, em que
∇ × P = 0 (∇χ) × E.
No caso de meios lineares, homogéneos e isotrópicos, podemos reescrever o campo D
de uma forma muito conveniente:

D = 0 E + P = 0 E + 0 χ E = (1 + χ)0 E = r 0 E = E (148)

onde definimos a permitividade eléctrica do material, , como:

 = (1 + χ)0 = r 0 (149)
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Partindo da equação (143), a lei de Gauss pode ser assim reescrita como:

ρf
∇ · D = ρf ⇔ ∇ · (E) = ρf ⇔ ∇ · E = (150)

Esta equação é dá-nos uma informação extremamente útil: em meios lineares, ho-
mogéneos e isotrópicos, toda a electrostática se resume às cargas livres e à
substituição da permitividade eléctrica 0 do vazio pela permitividade eléctrica
 do meio (0 → ).
A susceptibilidade eléctrica χ é em geral positiva, pelo que a permitividade eléctrica
do material,  = (1 + χ)0 é superior a 0 . Então, a equação (150) informa-nos que o
campo eléctrico no interio do dieléctrico é equivalente a um campo criado pela densidade
de carga efectiva ρf /r .

Relação entre cargas livres e cargas e polarização

A partir das equações (140) e (147), podemos extrair a relação entre cargas livres e
cargas de polarização:

ρp = −0 χ∇ · E (151)

Donde, considerando ∇ · E = ρ/0 :

ρp = −χρ (152)

Donde, sendo ρ = ρf + ρp e χ = r − 1

ρ
ρf = (1 + χ)ρ ⇔ ρ = (153)
r
conforme já tı́nhamos concluı́do.

Energia electrostática

Na presença de meios dieléctricos lineares, homogéneos e isotrópicos, é possı́vel demon-


strar que a densidade de energia electrostática armazenada no campo eléctrico se escreve
convenientemente como:

 2 1 1
E = E · E = D · E (154)
2 2 2
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Pelo que a energia electrostática total se escreve como:

 
 2 1
E dτ = D · E dτ (155)
τ 2 2 τ

Efeito de um dieléctrico na capacidade: o exemplo do condensador de pla-


cas planas e paralelas

Consideremos um condensador de placas planas e paralelas, de área A, situadas á


distância d uma da outra e carregadas com cargas Q e −Q.
O campo na região entre as placas, conforme se obtém a partir da aplicação da lei de
Gauss é:

σ
E= (156)
0

A diferença de potencial entre as placas é assim:

σ Qd
∆V = d= (157)
0 A0

pelo que a capacidade é:

0 A
C= (158)
d

Quando introduzimos um dieléctrico de permitividade eléctrica  na região entre as


placas, sem que se altere a carga do condensador, a intensidade do campo e a diferença
de potencial entre as placas diminuem do factor r , o que conduz a um aumento da
capacidade do condensador deste mesmo factor.
Historicamente, foi a descoberta do aumento da capacidade dos condensadores quando
preenchidos com um meio dieléctrico que levou à consideração do efeito das propriedades
dieléctricas, mesmo no desconhecimento da estrutura atómica da matéria.
Este aumento da capacidade é devido à formação das cargas de polarização, que con-
trariam o campo aplicado. Então, para se obter a mesma diferença de potencial entre as
placas do condensador, é necessário aumentar a carga das placas. O aumento da capaci-
dade conduz assim a um aumento da energia electrostática armazenada no condensador,
conforme se pode ver da expressão Ep = C V 2 /2.
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Rigidez dieléctrica
Por último, refira-se que, sob a acção de campos eléctricos particularmente intensos, é
possı́vel ionizar os átomos/moléculas que compõem um meio, fazendo com que o meio se
torne condutor. O campo eléctrico máximo suportado por um isolador, acima do qual
ocorre a ruptura dieléctrica do meio, designa-se rigidez dieléctrica. É este fenómeno que
ocorre nas vulgares descargas através do ar, seja nos raios que ocorrem numa trovoada,
seja nas faı́scas observadas quando se desliga um aparelho da tomada. Para o ar, a rigidez
dieléctrica é cerca de 3 MV/m.

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