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°), 547-574
1
Cf. Franco Nogueira, Salazar, Coimbra Atlântida, 1977, vol. ii, pp. 9 e 11.
2
Novidades de 16 de Novembro de 1933.
3
Carta de 10 de Novembro 1933.
4
Cf. Manuel Braga da Cruz, As Origens da Democracia Cristã e o Salazarismo, Lisboa,
Presença, 1980, p. 369.
5
Entre outros, Diogo Pacheco de Amorim, Pinheiro Torres, José Maria Braga da Cruz,
Joaquim Diniz da Fonseca, Juvenal de Araújo, Mário de Figueiredo, António Sousa Gomes
e o cónego Correia Pinto.
Manuel Braga da Cruz
17
Filho do Prof. Francisco José de Sousa Gomes, dirigente democrata-cristão dos finais
da monarquia. Foi médico e colaborador íntimo de Salazar na pasta das Finanças, seu primeiro
chefe de gabinete na Presidência do Conselho, governador civil de Setúbal e de Coimbra, director
do Diário da Manhã e deputado católico na primeira legislatura da Assembleia Nacional.
Amigo pessoal de Raissa e Jacques Maritain (com quem travou vasta correspondência),
de François Perroux e Emmanuel Mounier (cujo pensamento personalista introduziu em Por-
tugal através dos Estudos do CADC), foi um dos grandes articulistas católicos dos anos 30 e
40 (nas Novidades, em O Trabalhador, etc.) e um dos mais eminentes católicos sociais, tendo
colaborado activamente com os padres Abel Varzim e Joaquim Alves Correia.
18
«Daqui a necessidade de inimigos, como derivativo para o tédio, para a combatividade
exaltada das massas, para a insolência dos dominadores. Mas na Itália rinovatta não há inimi-
gos, porque a intolerância fascista os suprimiu. Eis porque os católicos tiveram de suportar
a necessidade de um derivativo para as massas fascistas em delírio de exaltação, como já nos
velhos tempos de Roma suportaram as necessidades artísticas de Nero, cuja imaginação apete-
cia o espectáculo de uma cidade em chamas, para se inspirar nos seus voos de poeta.» (Novida-
des de 7 de Junho de 1931.) 553
Manuel Braga da Cruz
19
Novidades de 1 de Junho de 1931.
20
Diário de Notícias de 8 de Junho de 1931.
21
Novidades de 8 de Junho de 1931.
22
554 Diário de Notícias de 11 de Junho de 1931.
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
23
Era Nova, n.° 1, de 30 de Janeiro de 1932.
24
Novidades de 15 de A g o s t o de 1931.
25
Novidades de 27 de Março de 1933.
26
Novidades de 29 de Agosto de 1935.
27
Novidades de 26 de Setembro de 1936.
28
Por exemplo, Rudolfo Knapic, « O perigo Hitler», in Era Nova de 30 de Janeiro de 1932
e de 23 de Abril de 1932.
29
Novidades de 18 de Agosto de 1932.
30
Novidades de 18 de Outubro de 1932, artigo de Soares da Fonseca.
31
Novidades de 13 de Janeiro de 1932.
32
Novidades de 7 de Dezembro de 1932.
33
Novidades de 5 de Janeiro de 1932.
34
Novidades de 22 de Julho de 1935.
35
Novidades 22 de Maio de 1936. 555
Manuel Braga da Cruz
36
Novidades de 8 de Março de 1933, de 23 de Setembro de 1933, de 23 de Janeiro de 1934
e de 27 de Julho de 1934 e O Trabalhador de 1 de Abril de 1938.
37
O Trabalhador de 15 de Agosto de 1935.
38
Pastoral Colectiva do Episcopado Português sobre o Comunismo e Alguns Graves Pro-
blemas da Hora Presente, Lisboa, União Gráfica, 1937, também inserta in Lumen, 1937 (i),
pp. 309-326.
39
«Pastoral colectiva a anunciar o cumprimento d o voto colectivo d o episcopado em favor
556 de Portugal», in Lumen, 1938, (i), pp. 261-266.
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
40
Lumen, 1938 (i), pp. 65-75.
41
Lumen, 1938 (ii), pp. 705-719.
42
O seu presidente, Fezas Vital, enumerou solenemente os erros e os desvios sociais e polí-
ticos a combater pelos católicos: «[...] o erro liberalista, que, divinizando o H o m e m e a Liber-
dade, esqueceu o Bem Comum; o erro nacionalista e totalitarista, que, divinizando a Nação
ou a Raça, esquece o H o m e m e a sua dignidade de Pessoa, espiritual e livre; o erro marxista
e comunista, que, divinizando, não o H o m e m ou a Nação, mas a Classe Proletária, vê, em
certos casos, no ódio, não uma paixão condenável, mas uma virtude meritória.» (Fezas Vital,
«Discurso na sessão inaugural», in Semanas Sociais Portuguesas. Primeiro Curso. Aspectos
Fundamentais da Doutrina Social Cristã, Lisboa, União Gráfica, 1940, p. 35.)
43
Novidades de 10 e 12 de Outubro de 1932 e de 4 e 7 de Novembro de 1932.
44
Dutra Faria, Carta ao Director do Diário da Manhã, Lisboa, U P , 1933. 557
Manuel Braga da Cruz
cionais do último século, seja hoje uma ideia morta», rejeitada pelos «auto-
ritarismos de direita» e pelos «partidários duma ditadura comunizante», são
defensáveis as «Assembleias Políticas com poderes de decisão, embora limi-
tados, e de cooperação eficiente ou de reclamação fiscalizador a cercada de
força e de prestígio»53.
Esta defesa das assembleias políticas coincidia com a que Salazar fazia
precisamente em termos teóricos nessa altura e que se tentou corporizar com
a experiência da Assembleia Nacional.
O apoio à pessoa de Salazar e à sua orientação é partilhado, também
ao mais alto nível, pelo próprio episcopado. E o cardeal Cerejeira, um ano
depois, convidava os católicos a colaborar com o governo expressamente:
«Só ele tem a competência, os elementos de informação, a responsabilidade
e a graça de estado para declarar as obrigações, defender os direitos, zelar
os interesses, salvar a honra da Pátria. Todos os portugueses lhe devem aca-
tamento e obediência (em tudo o que não importe ofensa dos direitos impres-
cindíveis de Deus). Aliviemos-lhe o peso das suas responsabilidades perante
Deus e os homens, associando-nos a ele com inteligente cooperação, e
oferecendo-lhe benévola confiança54.»
53
Novidades de 11 de Janeiro de 1936.
54
560 Lumen, 1939 (i), pp. 348-359.
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
55
Cf., nomeadamente, Diário da Manhã de 20 de Maio de 1932 e de 1 e 2 de Outubro
de 1932.
56
Cf. Abel Varzim, «Assistentes eclesiásticos da Acção Católica. A miséria imerecida»,
in Lumen, 1938 (II), pp. 687 e segs., e também artigos em O Trabalhador de 1 de Julho de
1936 e 1 de Agosto de 1936.
57
Cf. Estudos do CADC, 1936 (xiii), n. o s 145-146, p p . 219 e segs.
58
Cf. Novidades de 15 de Janeiro de 1934.
59
O Trabalhador de 1 de Junho de 1939 defendia a compatibilidade entre o corporati-
vismo e o cooperativismo em polémica com o Trabalho Nacional, órgão dos caixeiros de Lis-
boa, que sustentava o contrário.
E em 1945 António de Sousa Gomes polemizará nas páginas do Diário de Lisboa (7 de
Novembro de 1945) c o m França Vigon nos mesmos termos.
60
O Trabalhador de 20 de Agosto de 1940. 561
Manuel Braga da Cruz
61
Abel Varzim, « A missão social da Acção Católica», in Lumen, 1941 (i), p p . 553-568.
62
Surgido n o dia 1 de Maio de 1934 c o m o quinzenário operário de orientação católica,
foi dirigido n o primeiro ano por A . Matos Soares e a partir de Junho de 1935 por Manuel da
Anunciada Soares. Funcionou, na prática, como órgão de acção católica operária (JOC e LOC).
Foram seus principais articulistas e editorialistas o P . Abel Varzim, o Dr. António Sousa Gomes
e o D r . Artur Bívar.
A primeira série vai até 2 0 de Dezembro de 1946. U m a segunda série, já c o m o semanário
e c o m maior dimensão, surgiu e m 1948, a 17 de Janeiro. Mas viria a ser encerrado e m 3 d e
Julho desse mesmo ano. Atacado por uma nota oficiosa da Subsecretaria de Estado das Cor-
porações e m Fevereiro desse ano de usar «estilo marxista», constantemente visado pela cen-
sura, resistiu primeiro a uma tentativa de compra, para sucumbir a uma suspensão oficial n o
dia 9 de Julho de 1948, s o b o pretexto de que «prejudica a alma da N a ç ã o » .
Cf. Domingos Rodrigues, Abel Varzim. Apóstolo português de justiça social, Lisboa, Rei
dos Livros, 1990.
63
A s Novidades de 5 e 6 de Junho de 1932, por exemplo, expõem as reclamações dos ope-
rários católicos da Covilhã entregues a Salazar pelos Sindicatos dos Empregados e dos Operá-
rios da Indústria de Lanifícios e da Construção Civil, bem c o m o da União Social Católica de
Lisboa. E a 9 de Janeiro de 1933 noticiam a exposição a o ministro das Finanças da Associação
Católica dos Operários e Artistas de Loriga, aceitando o horário de trabalho de oito horas,
mas pedindo que o seu cumprimento seja uniforme.
V., nomeadamente, as reclamações sobre a crise d o desemprego enunciadas aos pode-
res constituídos pelo Grupo de Estudos Sociais Democrata-cristão d o Porto, publicadas no Era
Nova de 28 de Maio de 1932, e m 15 pontos.
65
Cf. Novidades de 5 e 6 de A g o s t o de 1933.
66
562 Cf. Novidades de 7 e 13 de Setembro de 1932 e de 9 de Junho de 1935.
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
67
Sobre a política social e laborai desses anos, v. o notável e minucioso trabalho de Maria
de Fátima Patriarca, Processo de Implantação e Lógica e Dinâmica de Funcionamento do Cor-
porativismo em Portugal — Os Primeiros Anos do Salazarismo, Lisboa, 1990 (policopiado).
68
«Temos constatado», denuncia O Trabalhador num editorial sobre «Corporativismo e
catolicismo», «que muitos organismos corporativos se têm deixado dominar pelo egoísmo sór-
dido que caracteriza o regime liberal. Há, segundo nos dizem, alguns grémios e até talvez alguns
sindicatos nacionais que mais merecem a designação de cartéis ou trusts do que o título hon-
roso de organismos corporativos.» (O Trabalhador de 15 de Fevereiro de 1936.)
69
António Sousa Gomes chegou a denunciar com veemência nas páginas de O Trabalha-
dor «o proprietário rico que dá melhor e mais confortável alojamento aos animais do que aos
seus trabalhadores, que são evidentemente os seus melhores colaboradores. E è natural que a
maioria desses proprietários esteja convencida de que são eles os melhores defensores da civili-
zação cristã! Quantos são justamente os que, como eles, têm pouca consideração pela pessoa
humana, quem mais a compromete e estraga.» 563
Manuel Braga da Cruz
E Abel Varzim denuncia igualmente «a grande farsa» dos «miseráveis exploradores de sangue
alheio», «que só sabem ter o coração empedernido», «exercer a violência e a usura», que «só
pretendem enriquecer à custa do suor alheio», perguntando: «Onde está o seu cristianismo?
Onde está a sua fé, onde está o seu amor a Deus?» ( O Trabalhador de 15 de Fevereiro de 1936.)
70
Diário da Sessões, II Legislatura, n . ° 18, de 17 de Janeiro de 1939.
71
Diário das Sessões, n . ° 39, d e 17 d e Fevereiro de 1939.
72
Cf., nomeadamente, os artigos de António Sousa Gomes nos Estudos sobre «Emma-
nuel Mounier e a ideia personalista» (1942, n.os 1 e 2, pp. 6-18 e 49-60), «François Perroux,
paladino das comunidades de trabalho» (1942, n.°s 4 e 5, pp. 145-158 e 209-218), «Etienne Borne,
o jocismo e a evolução da ideia de trabalho» (1942, n.° 6, pp. 266-277), «Comunidade e natu-
reza humana» (1942, n.° 9, pp. 430-438) —onde polemiza com Pacheco de Amorim, que criti-
cara a formação comunitária por levar ao esquecimento do indivíduo e ao comunismo—, e
564 sobre «Jean Lacroix e os perigos que ameaçam a pessoa humana» (1943, n.° 2, pp. 68-73).
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
Mas não era apenas no terreno político e social que os católicos preten-
diam balizar o novo regime, mas também no domínio da liberdade religiosa
e da educação.
Logo em Julho de 1930, os bispos falaram na pastoral colectiva da situa-
ção da Igreja e da crise religiosa, referindo-se particularmente aos proble-
mas da liberdade religiosa, da educação, da família e, em particular, do
divórcio74.
Quanto à liberdade religiosa, reconheciam os bispos a existência de «aten-
ções cativantes» por parte das autoridades civis, cuja presença em solenida-
des da Igreja era, aliás, registada. No entanto, não deixaram de sublinhar
que a Igreja, como tal, continuava sem personalidade jurídica reconhecida,
já que em 1926 o decreto de Manuel Rodrigues apenas a atribuíra às «cor-
porações encarregadas do culto» 75 .
Mais grave continuava a ser o que se passava na educação. Deus fora
expulso da escola pelo laicismo republicano, e apesar de a ditadura haver
já permitido o ensino religioso nas escolas particulares, a partir da publica-
ção desse mesmo decreto de 1926, contudo, continuava de pé a proibição
do ensino da religião nas escolas oficiais. Os católicos tinham, por isso, o
direito e o dever de lutar pela alteração desse estado de coisas, devendo evi-
tar que os seus filhos frequentassem tais escolas laicas, procurando dar-lhes,
E ainda os livros que publicou sobre A Igreja e o Problema Social Português, Braga, Cruz,
1929, sobre Problemas do Trabalho. Juntas de Freguesia ou Comissões Paritárias?, Lisboa,
Sá da Costa, 1934, e ainda sobre Henri de Man e o socialismo personalista, Lisboa, Inquérito,
1940.
73
Diário de Lisboa de 17 de N o v e m b r o de 1945.
74
«Pastoral colectiva d o episcopado português para a publicação oficial d o Concílio»,
op. cit.
75
Decreto n.° 11 887, in Diário do Governo de 15 de Julho de 1926.
Manuel Braga da Cruz
pelo contrário, «ensino católico» em escolas «onde a fé não lhes seja rou-
bada».
Igualmente grave para os bispos era a continuação da «obrigatoriedade
da precedência do acto civil para a recepção dos sacramentos», nomeada-
mente do baptismo e do casamento, bem como a permanência do divórcio
na legislação portuguesa. «Todos os católicos», prescrevia a pastoral,
«o devem combater e trabalhar para a revogação da lei que o sanciona.»
Foi no cumprimento desta expressa ordem do episcopado que, em Feve-
reiro de 1935, logo nos começos da l. a sessão legislativa da Assembleia
Nacional, o deputado católico José Maria Braga da Cruz apresentou um pro-
jecto de lei referente à defesa da instituição familiar, que eliminava a obriga-
toriedade da precedência do registo civil do casamento e do nascimento dos
filhos, revogava a lei do divórcio e isentava de imposto sobre sucessões e doa-
ções os descendentes legítimos. E Alberto Pinheiro Torres, também ele antigo
deputado e dirigente do Centro Católico, corroborava essa proposta com
a apresentação, no mesmo dia, de um «aviso prévio» para «tratar da lei
do divórcio e as suas desastrosas consequências na sociedade portuguesa»76.
A proposta do deputado Braga da Cruz não foi secundada pelo parecer
da Câmara Corporativa, de que foi relator José Gabriel Pinto Coelho, que
insistia na «precedência necessária do casamento civil», admitindo embora
como «perfeitamente legítimo» que se atribuam «efeitos civis ao casamento
religioso».
E quanto ao divórcio, condenando-o embora em princípio, como ele-
mento de dissolução da família, e defendendo o seu desaparecimento a prazo
da legislação, não sustentava, porém, o parecer a abolição pura, simples e
imediata por razões de oportunidade. «Em parte, pelo menos, da popula-
ção a mentalidade afez-se ao casamento dissolúvel — argumentava J. G.
Pinto Coelho. Abolir abruptamente o divórcio traria, pois, naturalmente,
uma perturbação nos espíritos, que só há conveniência em evitar. A medida
seria violenta e os seus resultados duvidosos», pois, «desacompanhada de
uma conveniente campanha de preparação moral, poderia até ter apenas
como efeito» a proliferação de uniões fugazes ou ilegais. Havia, pois, que
criar «o espírito do matrimónio indissolúvel», o que remetia para a educa-
ção moral e religiosa, e restringir ou limitar as possibilidades de divórcio,
eliminando o divórcio por mútuo consentimento e a possibilidade de con-
verter a separação em divórcio, e limitando as causas admissíveis de divór-
cio litigioso77.
Foi no seguimento deste parecer, e na linha das suas sugestões, que nova
proposta foi apresentada à Assembleia Nacional na 2. a sessão legislativa,
em Fevereiro de 1936, pelos deputados Cunha Gonçalves e Ulisses Cortez.
Discordando embora do divórcio, no plano religioso, não eram, contudo,
adeptos, no plano social e político, da revogação da lei que o permitia, por
76
Diário das Sessões, n.° 10, de 7 de Fevereiro de 1935, pp. 175-177.
77
566 Diário das Sessões, suplemento ao n.° 32, de 22 de Março de 1935.
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
não ser a nação só composta de católicos, não devendo, por isso, o Estado
recusar a essa parte da população o recurso ao divórcio78.
Esta proposta, bem como algumas afirmações dos seus proponentes na
Assembleia Nacional, mereceriam a crítica de autorizados sectores católicos,
designadamente da revista jesuíta Brotéria, que, pela pena do P. e António
Durão (que viria a ter papel de relevo na preparação da Concordata), denun-
ciava «o desconhecimento da doutrina da Igreja» e a «ofuscação que os erros
do liberalismo ainda exercem em servidores mui sinceros do Estado Novo»,
ao mesmo tempo que enaltecia como «corajoso e bem intencionado» o pro-
jecto de lei de José Maria Braga da Cruz, considerado como «intérprete
zeloso da consciência católica»79.
De igual modo era criticado o parecer de J. G. Pinto Coelho, como
tímido e ilógico e por ser omisso em relação às duas reclamações da Igreja
contra o princípio do «casamento civil para todos» e do «divórcio facultado
pela lei do Estado aos católicos».
Insistindo na exclusiva validade do consentimento prestado à face da
Igreja, e na nulidade do consentimento prestado perante o funcionário civil,
no matrimónio cristão, António Durão insurgia-se contra o absurdo da dupli-
cidade deste consentimento matrimonial imposto aos católicos, já que,
«segundo a fé católica, contrato e sacramento são inseparáveis e até idênti-
cos para os fiéis». Em sua opinião, a lei do casamento civil obrigatório não
era menos nefasta que a do divórcio: «Este, afinal, é simplesmente uma con-
sequência da primeira.» Por isso, concluía, «é o próprio princípio do casa-
mento civil obrigatório para os católicos que importa eliminar, restaurando
na nossa legislação o reconhecimento dos efeitos civis do matrimónio cris-
tão, abolido, há vinte e sete anos, numa hora aziaga».
Por outro lado, e em relação ao divórcio, depois de recordar a posição
da Igreja expressa no Sylabus, de que «não pode em caso algum ser permi-
tido o divórcio pela autoridade civil», critica o projecto de Cunha Gonçal-
ves e Ulisses Cortez, bem como o parecer da Câmara Corporativa, por «rejei-
tarem o divórcio por princípio, mas recusarem a sua eliminação por razões
de oportunidade, limitando-se a suprimir o divórcio por mútuo consenti-
mento e a restringir os fundamentos do divórcio litigioso». E acaba a suge-
rir, como contraproposta, a abolição pura e simples do divórcio e, caso tal
não se consiga, pelo menos «fosse admitido para todos, católicos ou não,
o pacto explícito da renúncia ao divórcio no acto do casamento civil», ou,
em último caso, «o pacto de renúncia ao divórcio que está implícito em todos
os matrimónios cristãos»80.
As posições da revista jesuíta viriam, de facto, a ter o seu impacto. Desde
logo no novo parecer da Câmara Corporativa sobre a nova proposta de lei,
78
Diário das Sessões, n.° 87, de 24 de Fevereiro de 1936, pp. 668-672 e 682-684.
79
P. c António Durão, «A família cristã na Assembleia Nacional», in Brotéria, xxiv (1937),
pp. 172-190, 241-248 e 361-384.
80
António Durão, «Um parecer da Câmara Corporativa: casamento católico e divórcio»,
in Brotéria, xxiv (1937), pp. 680-689. 567
Manuel Braga da Cruz
81
Decreto n.° 20 613, de 11 de Dezembro de 1931.
82
Projecto de Constituição Política da República Portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacio-
nal, 1933.
83
Novidades de 11 de Junho de 1932. Frisava ainda o jornal que « a o desconhecer ou negar
praticamente o valor educativo do factor religioso, a Constituição revela uma das maiores falhas
de lógica doutrinal e merece portanto uma reserva porque não consagra a tese cristã da verda-
568 deira liberdade e respeito pela consciência humana» {Novidades de 17 de Março de 1933).
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
84
Lei n.° 1910, de 13 de Maio de 1935.
85
Lumen, 1937 (ii).
86
Diário das Sessões, n.° 147, de 27 de Novembro de 1937, pp. 13 e segs.
87
Diário das Sessões, n.° 165, de 5 de Março de 1938, pp. 422-436.
88
Diário das Sessões n.° 175, de 24 de Março de 1938. 569
Manuel Braga da Cruz
89
Diário das Sessões n.° 180, de 1 de Abril de 1938.
90
Carta do cardeal Cerejeira ao ministro da Educação Nacional Carneiro Pacheco, trans-
570 crita in J. Geraldes Freire, Resistência Católica..., cit., pp. 205 e 206-213.
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
1
Cf. Lumen, 1938, (i), p. 265. 571
Manuel Braga da Cruz
92
572 Op. cit
As elites católicas nos primórdios do salazarismo
5. BREVES CONCLUSÕES
574