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A Colmeia Uma experiéncia pedagégica Sébastien Faure tradugio: Antonio Bernardo Canellas {\ a Culp Capa: Adviano Skoda Tradugdo: Antonio Bernardo Canellas Revui: Clayton Peron & Paulo Marques Projet gifc: Adtiano Skoda Biblioreca Terra Livre (Caixa Poscl 195 1031-970 Sio Paulo/SP bibliorecaerraltre@gail.com bnaptiblisecateralivr noblgsorg 1 edigso - 1919 (editada por Antonio Bernardo Canela) 24 edigho - 2015 Impresso no Brasil E livnea repradupo para fins ndocomercias, desde ase que esta nota seja include a antoria ej citada SUMARIO Apresentacio . mane A Colmeia, a partir de agora, a escola doamanha 9 01, Breves indicagdes 02. Introdugao 03. Com que fim e como fundei A Colmeia.. 29 04. O comego . 35 05. O que éA Colmeia 49 06. As nossas discusses com a Inspecéo Académica . SL 07. A Direcio .. 57 08. Os colaboradores 61 09. As nossas criangas ro 10. Condigses de admissao .. 85 11. Os pequenos 93, 12. Algumas palavras sobre que chamam« “pré-aprendizagem” .. 13. Seres completos 14, Nossas oficinas 15. Nosso orgamento . 16. Confianga no fucuro .. 17. Nosso festival anual 18. Nossas viagens 19. O Boletim d’A Colmeiz 20. Meios para auxi 21. O impacto social d’A Colmeia 95. . 107 119 131 135 137 143, 149 . 155 161 a cabo uma experiéncia semelhante & de Sébastien Faure em terras tropicais. A estratégia de Canellas era a mesma de Faure: otganizar uma série de palestras, por todo o tertitério brasileiro, afim de sensibilizar as pessoas para a causa ¢ arrecadar fundos para conseguir iniciar 0 projeto educativo, Ao longo desta década de militincia Canellas tomou contato com alguns importantes militantes anarquistas da época como Edgard Leuenroth, Astrojildo Pereira, entre outros. Seria justamente em conjunto com alguns destes companheiros anarquistas que Canellas fundaria, no ano de 1922, 0 Partido Comunista do Brasil (PCB), do qual seria o primeito expulso, no ano seguinte, apés discordancias com Trotsky ¢ outros “camaradas” durante sua participacéo no IV Congtesso da Internacional Comunista, realizado em Moscou (antiga Unido Soviética). Se a atuagio de Canellas em prol da criagio d’A Colmeia no Brasil perdeu forsas apés sua adesio a0 PCB, osesforgos realizados pot ele em seu perfodo de atuagio libertiria ainda seguem dando frucos. A traducio que apresentamos aqui, foi consultada no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), que atualmente se encontra na UNICAMB. © arquivo € fruto de um inestimavel erabalho realizado por Leuenroth ao longo de toda sua vida na busca por preservar a histéria do movimento anarquista no Brasil. Se hoje temos acesso e podemos compartilhar 0 conteiido descelivro. com um piblico maisamplo, isto nao teria sido posstvel sem 0 trabalho de preservagio da meméria do anarquismo téo arduamente realizado por companheiras ¢ companheiros no passado e ainda hoje. Por fim, agradecemos 0 apoio da LaMalatesta Editorial por compartilhar conosco as imagens que ilustram este livro. Descjamos a todas as pessoas uma étima leitura! Biblioteca Terra Livre ACOLMEIA, A PARTIR DE AGORA, AESCOLA DO AMANHA Paulo Marques! Rodriga Rosa da Silva Em tempos de discursos sobre “educagéo integral” ¢ da necessidade de novas metodologias pedagégicas baseadas no “aprender a aprender” e na “interdisciplinaridade” é de se espan- tar como nos meios académicos ocorre uma seletiv le, quer seja ela premeditada, quer seja pura falta de rigor cientifico, so- bre quem foram os pioneiros dessas propostas. Nos referimos 3 ainda persistente omissio da contribuicéo dos anarquistas no campo da educagio. 1 Professor de Faculdade de Educagio/UFPel, integrate do Grupo Eseudos Eduaso Libera Peet coorlenadr do Grupo de esque Meméra, Teoria e Petia de Educago berets do Rio Grande do Sul ‘sie ihsraa do Membro da Biblia Tera Line, pesquisa do Grape de Pee guise Poder Politico, educago, Lute Sociase Professor da Facl- lade de Educagio/USP* rn oe Faeeh PAULO MARQUES & RODRIGO ROSA DA SILVA Mas qual o motivo de nao figurarem ainda em destaque nos programas das disciplinas dos cursos de pedagogia? Podemos imaginar que © pouco acesso aos escritos sobre 0 tema, em sua maior parte produzidos originalmente em francés e ainda nio traduzidos a0 portugues, pode ser um dos motives que dificultam a sua ampla difusio®. Malgrado essa questio € fato que nomes como Proudhon, Bakunin, Paul Robin, Louise Michel, Francisco Ferrer, Sébastien Faure, Elisée Reclus, ou seja, aqueles que foram os pioneiros na elaboracio de teorias sistem ticas e criticas & escola ~ seja ela religiosa, privada ou estatal ~ ¢ os protagonistas de algumas das mais belas ¢ radicais iniciativas pedagégicas inovadoras, permanecem ainda hoje ilustres desco- inhecidos para professores ¢ estudantes. Dentre as fundamentais concribuigées dos anarquistas & educagio na perspectiva “dos de baixo” esto as primeiras ex- periéncias de educagéo popular, de coeducagio entre 0s sexos ede classes, a centralidade do trabalho c seu eardter essencial mente pedagégico, as saidas de campo, a criagio de escolas para eriangas, jovens ¢ adultos aurénomas em seus aspectos pedagégicos, politicos ¢ econdmicos, a producio propria de ‘yasto material didético ¢ de métodos anti-autoritérios de en sino, a fundacio dos centros de cultura, atencus e bibliotecas vinculadas 20s sindicatos, a concomitincia do ensino geral com a educagio profissional, etc. A lista de inovagées ¢ reali- zagées é grande! Conscientes da necessidade de suprir essa lacuna, 0 resgate desse legado tem sido, em grande medida, obra dos préprios 10 A COLMEIA, A PARTIR DE AGORA, A ESCOLA DO AMANIK anarquistas. E com essa perspectiva que militantes e pesquisa dlores, individual ou coletivamente, vémm trabalhando constance- mente no resgate da meméria das praticas libertécias; buscando a reafiemagao de suas ricas experimentagGes em diferentes aspectos dla vida e a partir de variadas éreas do conhecimento ~ geografia, histéria dos trabalhadores, filosofia politica, organizacéo social, critica 20 capitalismo, ete No campo da educacio vemos uum lento e consistence pro cesso de redescoberta dos pensadores e experiéncias anarquistas sendo alimentado por esparsas mas significativas produgoes — pesquisas, organizacao de arquivos, reimpressio de documentos, publicacio de antologias, ete ~ que ampliam as possibilidades de uum (reJencontro com as bandeiras histéricas da classe trabalha- dora ¢ dos explorados pela criagio de uma nova educagéo que atenda a seus interessese seja, 20 mesmo tempo, parte da sua luta pela emancipacio social, politica e econémica. E com 0 objetivo de contribuir com o esforgode resgate desse legado, ¢ 20 mesmo tempo possibilitar aos pesquisadores, edu- cadores ¢ interessados no tema o acesso & histéria da Educacio Libercéria, que comemoramos a reedigio braslsira, quase 100 anos apés a original, da obra que descreve uma das mais ricas experincias educativas ¢ comunitérias jé realizadas pelos anar- quistas: A Colmeia. Escrita ha quase um século por seu funda- dore “diretor”, Sébastien Faure, um dos mais célebres militantes anarquistas da Europa naquele periodo. Com essa nova edigio, cuidadosamence edisada pela Biblio- teca Terra Livre, poderemos finalmente observer se @ auséncia do pensamento educacional anarquista e suas experiéncias nos curriculos oficiais das universidades tem sua origem no desco- nhecimento € na ignorincia de textos em portegués ou em al- gum tipo de silenciamento deliberado e intencional das préticas auténomas ¢ anti-estatais de educacio. a PAULO MARQUES & RODRIGO ROSA DA SILVA ‘Mas afinal, por que a A Colmeia é uma das mais importan- tes experiéncias educacionais de que se tem noticia? Fundamen- talmente porque tornou-se uma referéncia para o pensamento educacional libertitio, 20 colocar em pritica com enorme éxito, por mais de uma década (14 anos!), uma pedagogia baseada nos principios dcratas da Educagio Integral, Autogestio, Coopers- céo, Autonomia Individual e Apofo Maituo. Teve encerradas suas atividades somente por ocasido da eclosio da primeira guerra mundial na Europa. Muico mais que uma “escola”, A Colmeia tornou-se uma cooperativa integral, auto-sustentada, fa qual o saber e 0 conhe- cimento estavam intrinsecamente vinculados & pritica, ou seja, 4 criagio dos proprios meios necessitios para a sua existéncia auténoma, principalmente em relagio ao Estado ou qualquer outta instituigio quea tutelasse Em que consiste, entio, experiéncia de A Colmeia equal sua importancia para para a histéria da educagio e para as priticas pedagégicas contemporineas? A resposta esti nas paginas desta obra cuja historia se confunde com a de seu proprio criador. Sébastien Faure (1858-1942), 0 Fundador ¢ principal impul- sionador de A Colmeia, iniciou sua carreira politica candida- tando-se ao parlamento pelo Partido Socialista em 1885, aban- donando-o alguns anos depois para filiar-se ao ideal anarquista Colaborou com textos em muitas publicagSes anarquistas ¢ foi fandador dos periddicos Le Liberiaire, junto a Louise Michel, © Ce qui ‘il faut dire. Escreveu livros ¢ proferiu conferéncias de propaganda libertiria, idealizou a Encyclopédie Anarchiste na dé- cada de 1920 e foi, sem diivida, um dos grandes militantes ¢ te6ricos do anarquismo francés. Mas foi como diretor da expei que tornou-se conhecide como um importante realizador no campo da pedagogia ¢ da educagio integral. Fundada nos arte- sncia educativa A Colmeia 2 A COLMEIA, A PARTIR DE AGORA, A ESCOLA DO AMANHK dlores de Paris, mais exaramente em Rambouillet, A Colmeia & ‘nusito mais que uma escola libertéria,laicae live. Constituiuse como um espago de vida comunicéria libertétia, onde ctiangas adultos viviam numa propriedade rural, numa verdadeira co- miunidade educativa autogestionada e com orientagao coopera- ‘ivista. Funcionou de 1904 a 1917 numa érea de 25 hectares de bosque e abrigava, aproximadamente, 40 criangas. Nas piginas do presente livro Faure diz que

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