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Pintava a lindas cores como um velho artista do passado, que se chamara Douanier Rousseau; simplesmente, 0s seus bichos ndo eram ingénuos nem agressivos mas perigosos. Nao terrivei assustadores: perigosos, embora um pouco engra- gados também. Espreitavam ou estavam alerta ou resfolegavam ‘a0 de leve (cra como se resfolegassem) ao preparar © salto, Havia sempre folhagem a dissimuliclos, a manté-los numa quase ilegalidade graciosa, bonitas flores bojudas, de carne rosada, a tornar por assim dizer impossivel, a ridicularizar, a sua ferocidade, Nio se via o tigre a atacar o biifalo, mordendo-o 44, comecando a dilacerélo. Nao. O tigre, quando tigre havia, estava meio escondido por uma das tais flores, maior do que a sua cabeca. E sentiase que cle ja avistara a presa, que a espiava, que s6 estava a espera da altura mais conveniente, para agir. Era um jovem ledo Agil, esse a que o pintor , nao dava os tiltimos retoques. Um jovem lefio j4 sabedor, a olhar bem de frente para quem o olhava. Tinha uma grande juba redonda e escura de que s6 se via metade, e um corpo amarelado que & primeira vista parecia exiguo. Exiguo porque atrés de si havia um tronco de érvore em cuja largura caberiam sete lees que servia de pano de fundo a uma amél- ‘gama de lianas, de longas folhas gordas, carnosas, de arbustos que se erguiam do chio ou que tomba- ‘vam de cima, em cascata. A juba estava semi-escon- dida por uma dessas folhas, grande ¢ lobada, quase vermella, quase animal,

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