Resumo:
1. Introdução:
Localizada no Município de Caçapava do Sul (RS), no antigo distrito mineiro
conhecido como Minas do Camaquã, a Mina Uruguai,alvo do presente estudo,
encontra-se a 12 km do centro da cidade e a cerca de 300 km da capital do Estado
Porto Alegre. Suas coordenadas de referência são 30°54’34” Sul e 53°26’37” Oeste
e seu acesso final é através da BR- 153 e estradas vicinais (figura 1).
Esta região é caracterizada por abrigar grandes depósitos de minério de cobre,
zinco, chumbo em associação com ouro e prata, foram descobertas em 1865 por
mineiros ingleses que garimpavam ouro na região (TEIXEIRA; GONZALEZ, 1988) e
estiveram ativas por praticamente um século, tendo sido objeto de intensas
pesquisas e explorações minerais.
Pesquisadores elaboraram várias hipóteses e modelos geológicos para a
compreensão gênese das mineralizações na Mina do Uruguai, na qual, resultaram
em três diferentes modelos: modelo epitermal associado ao hidrotermal, modelo de
percolação de fluidos hidrotermais magmáticos vinculados a atividade vulcânica e/ou
plutônica e o sedimentar, singenético.
As Minas do Camaquã (MC) situa-se na Bacia do Camaquã (BC) está sob a porção
central do Escudo sul-rio-grandense.A BC é de grande importância para esclarecer a
evolução geotectônica do Rio Grande do Sul.Esta unidade assenta-se sobre
terrenos ígneos e metamórficos e tem idade que varia de 620-540Ma (Paim et al.,
2000; Almeida et al., 2009, Oliveira, 2010).
Composta por diferentes associações vulcano-sedimentares representativas do
estágio de transição da Plataforma SulAmericana (Almeida, 1969).A Bacia do
Camaquã está relacionada aos processos tectono-magmáticos tardios do Cinturão
Granítico-Gnáissico Dom Feliciano, e possui uma coluna estratigráfica que vai do
pré- Cambriano ao eo-Paleozóico , definindo suas formações da mais antiga a mais
jovem obtém-se:Fm. Maricá, Grupo Bom Jardim subdividido em Fm. Arroio dos
Nobres (Mb. Mangueirão e Vargas), e Fm. Crespos (Mb. Hilário e Rodeio Velho), e
Grupo Camaquã subdividido em Fm.Santa Bárbara, Guaritas e conglomerado
Coxilha.
Segundo Paim et al.(1999),a sedimentação essencialmente clástica da Bacia
do Camaquã foi contemporânea a uma importante atividade magmática, que
acompanhou o desenvolvimento da bacia, do qual, é registrada no seu interior por
rochas vulcânicas a vulcâno-clásticas de composição básica a ácida. Ela é limitada
por duas grandes falhas de expressão regional (figura 2). Uma dessas falhas, a de
direção N50° - 70°W está associada às mineralizações.
2. Mineralizações:
3. Distribuição do Minério
Foram determinadas ao menos cinco zonas mineralógicas metálicas distintas na
região de direção NE-SW (Ronchi, 2000). Estas zonas evidenciam a ocorrência de
ação fluida hidrotermal. As cinco zonas são: Zona de ocorrência da calcocita e/ou
hematita recristalizada; Zona de predominância da bornita; Zona de igual
predominância da bornita – calcopirita; Zona de predominância da calcopirita e Zona
de predominância da pirita (figura 6).
Figura 6. Zonação dos sulfetos e localização das amostras estudadas. Cada zona
indica o sulfeto predominante, o que não exclui a ocorrência de outros sulfetos.
Ribeiro (1991), em sua tese de doutorado descreve uma distribuição regular dos
sulfetos disseminados na mina Uruguai, em faixas grosseiramente verticalizadas,
discordantes da estratificação, com predominância de calcocita (Cu2S) passando
gradativa e sucessivamente para bornita (Cu5FeS4), calcopirita (CuFeS2) e pirita
(FeS2).
Mostrando a passagem transicional e a coexistência de calcocita com bornita,
bornita com calcopirita e de calcopirita com pirita, o que é uma zonação
classicamente descrita em depósitos minerais de cobre. Essa “zonalidade
mineralógica” de acordo com Ribeiro (1991), é do tipo regressivo onde a base ligada
aos níveis mais finos da sequencia, é predominada por calcocita-pirita e o topo do
conglomerado superior por calcocita, no qual, está associado aos horizontes mais
grosseiros.
Zona da calcosita
Apresenta matriz fina com constituída predominantemente de minerais de quartzo e
feldspato, com grande volume de piritas e calcopiritas. Estes sulfetos algumas vezes
estão preenchendo as fraturas da rocha hospedeira, formando filões.
Zona da Calcopirita
Apresenta uma matriz composta basicamente por minerais de quartzos, pirita e
calcopirita. As piritas apresentam corrosão e alto grau de alteração, e estão em
processo de substituição ou já substituídas pela calcopirita.
4. Metodologia
6. Inclusões fluidas
Figura 15 - Histograma com as temperaturas de homogeneização total na fase
líquida das inclusões fluidas bifásicas presentes na calcita tardia. (Modificado de
Ronchi, 2000).
7. Análise geoquímicas
U9 0,05 8000 5 40 25
U31 0,1 61 5 27 54
U52 0,05 46 6 27 45
U55 0,05 38 6 20 53
U74 0,05 58 5 30 19
U94 0,1 62 5 23 45
U111 0,1 57 5 20 65
8. ETR’S
Os elementos terras raras podem ser considerados como um bom indicador gênese
da rocha fonte, por isso é acabam tornando-se indispensáveis para entender a sua
formação.
A partir dos dados disponíveis Ronchi et al.(2000), foi possível realizar a
normalização pelo condrito como mostra a tabela 2, e como resultado obtém-se um
gráfico para verificação das anomalias de ETR gerado a partir do Excel 2016
(Tabela 2).
Tabela 2- Valores já normalizados pelo condrito.
9. Concusões
Os depósitos de Camaquã podem ser comparados aos depósitos sedimentares
detríticos do tipo Red Bed, que ocorrem em sucessões de conglomerados e arenitos
arcoseanos de ambientes continentais ou transicionais, e do tipo Kupferschiefer,
associado a camadas de folhelhos lagunares e marinhos. No Brasil, o depósito de
cobre-ouro da chapada, do noroeste do estado de Goiás é semelhante aos
depósitos de Camaquã, onde se encontra inserido no Arco Magmático de Goiás, na
porção mais ocidental da faixa brasiliana.
Os padrões presentes nos elementos terras raras dos diversos tipos de minério são
caracteristicamente similares aos normalmente descritos para rochas sedimentares,
sugerindo que que a alteração hidrotermal não foi suficientemente relevante para
mudar de maneira significativa o padrão original da rocha sedimentar
encaixante.havendo, portanto, diversas hipoteses aventadas para a fonte dos
metais.
O modelo mais aceito da sua formação está associado a processos magmáticos
hidrotermais descritos em depósitos de Cu-Au porfirítico, responsáveis por
mineralização singenética, entre 890 e 860 Ma; e outra parte integre a classe dos
depósitos auríferos orogênicos (orogenic gold deposits) (Bredan, 2009). A
mineralização também apresenta características que se aproximam mais daquelas
que são relacionadas aos depósitos controlados por intrusões (intrusion-related Cu-
Au deposits) (Kuyumjiam et. al. 2010). Porém, a mina de Camaquã é um processo
epirogênico.
A deposição dos minerais foi de acordo com a tectônica local, pois as falhas e
brechas presentes nas rochas provavelmente proporcionaram um local de baixa
pressão para uma fácil percolação de fluidos. Supõe-se que houve dois eventos
hidrotermais atuantes nesta região, o primeiro responsável pela precipitação do
sulfeto de ferro; e segundo substituiu o sulfeto de ferro pelo sulfeto de cobre, que
ocasionou a precipitação da bornita e calcosita. A precipitação de minerais de
minério, tanto nas brechas e falhas, como disseminado nos poros das rochas é
devido às zonas de baixa pressão que podem ter facilitado a sua precipitação.
No entanto, não há um consenso comum sobre a origem do fluido hidrotermal
mineralizante rico em cobre, segundo diversos autores, existem duas teorias sobre a
origem do mesmo. Uma defende a circulação de fluidos mineralizantes de filiação
magmática que poderiam ter trazido o cobre ou lixiviá-lo das rochas sedimentares
subjacentes; a outra defende que houve a lixiviação dos sedimentos subjacentes
(Membro Mangueirão) por fluidos diagenéticos ou metamórficos.
De acordo com Ronchi et al.(2000), durante a diagênese a magnetita é quase toda
martirizada e transformada em hematita, com processo de oxidação, na qual, deram
origem a massa avermelhada. Após esse processo, há percolação de um fluído
hidrotermal nas falhas e fraturas do arenito formando a zona da pirita. A zona da
calcopirita é formada com a substituição da pirita pelo sulfeto de cobre, a zona de
bornita formou-se pela mudança de temperatura e alteração da calcopirita com
calcocita. As porosidades do arenito favoreceram a circulação dos fluidos
mineralizada e posteriormente foram preenchidas, formando depósitos de minérios
epigenéticos.Em algumas lâminas é possível observar que houve um movimento
tectônico-magmático, onde fluidos hidrotermais penetraram pelas falhas e brechas,
depositando minério ao longo do caminho. Comprovando a teoria da percolação de
fluidos. Nota-se nas lâminas delgada suma substituição de pirita pela calcopirita
indicando a ocorrência de um evento hidrotermal.Uma possível salinidade do fluido e
posteriormente um resfriamento do sistema póstero, é notório a presença da calcita
nas lâminas.
Referências Bibliográficas
ANGELIi, N., Nogueira Neto, J. A., Souza, J. V., Ribeiro Filho, E., Moreno, R. 1993 .
Minerais de Minério e Paragênese da Jazida de Cobre de Pedra Verde – Viçosa do
Ceará. Revista Brasileira de Geociências, vol. 6, p. 33-45.
ALMEIDA, F. F. M. 1969. Diferenciação tectônica da Plataforma Brasileira.
Congresso Brasileiro de Geolologia., 23, v. 1, p. 29-46.
PAIM, P. S. G.; CHEMALE JR., F. & LOPES, R. C. 1999. A Bacia do Camaquã. In:
M. Holz& L. F. De Ros (Eds.) Geologia do Rio Grande do Sul (no prelo).