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CARGA ADMISSIVEL lo anterior, vimos que a capacidade de carga (R) de um elemento isolado de fundacao por estaca corresponde {8 maxima resistencia oferecida pelo sistema ou a condicao de ruptura, do ponto de vista geotécnico, e aprendemos a utilizar os métodos semiempiricos para 0 célculo de R, com base em resultados de SPT. Agora, consideremos um estaqueamento com dezenas ou centenas de estacas de mesmo tipo e mesma seco transversal. Por causa da variabilidade do terreno, os valores de capacidade de carga nao resultarfo idénticos, possibilitando 0 tratamento matemé- tico de R como uma varidvel aleatéria e a construgao do grafico da funcao de densidade de probabilidade, f,(R). Considerando que os valores de R obedecem a uma distribuicao normal, a semelhanga do que ocorre com a tensdo de ruptura a compressa de corpos de prova de concreto, apresentamos a Fig. 2.1, com destaque para dois valores particulares de R: 0 valor caracteristico (R,), com 5% de probabilidade de ocorréncia de valores inferiores, e 0 valor médio (Rpua)s Com 50% de probabilidade de ocorréncia de valores menores. Cada um desses dois valores dé origem a uma filosofia de projeto. A primeira & desenvolvida a partir da resisténcia caracteristica (R,), cujo valor, reduzido por um fator de capacidade de carga Fic. 2.1 Distribuicdo normal dos valores de PE For sors vor Estacas % minoracéo (jq), nao deve ser inferior ao valor caracteristico da admissivel. / solicitagéo (S,) aumentado por um fator de majoraco (y), com ry € projeto para 1y denominados fatores de seguranca parciais. No caso de o material tui uma ver ser 0 concreto, empregamos 7, em lugar de y seguranca d Cap. 4, com Na outra filosofia de projeto, utilizamos 0 valor médio de capaci- ‘mos a verific dade de carga (ai), introduzindo o conceito de carga admissivel(P,): Queremos «1 Pa Suet aplicavel a ut a mesma seca em que F, é 0 fator de seguranca global ou, simplesmente, fator de seguranca. O principio dessa filosofia de projeto é garantir que a solicitagdo em cada estaca nao seja superior & carga admissfvel. porque cada fator de segu carga e a cai representa fundacéo po carga admiss Como veremos no Cap. 4, 0 fator de seguranga global é definido pela relagio entre os valores médios de resisténcia (Rr,) © de solicitasao (S44): Fs = Reet / Snes 18 Ocorre que, © que implica a equivaléncia entre P, € Sq. Portanto, nessa filoso- a fia de projeto, bastaria garantir que a solicitagio média nas estacas. ee vel cota de a nao fosse superior & carga admissivel (P, > S,.,), mas a pratica consagrou o procedimento, a favor da seguranga, de verificar todos 0s valores disponiveis de solicitacao (P, > S)). | ©, por isso, c¢ Antigamente a carga admissivel também era denominada carga de © que pode i trabalho. Quanto a simbologia, também ha o emprego de Pj, ¢ de B sivel de uma nao seja clar vex de Ryu) a utilizacao ¢ de carga e ca Ambas as filosofias, a de carga caracteristica (fatores de seguranca parciais) e a de carga admissivel (fator de seguranca global), j4 ‘wanaRsi222010 eram previstas na NBR 6122:1996. Mas elas so correlacio- sess Slosofas: nadas, uma vez que, denominando 7, a relagéo entre os valores de projeto q ae i seco 3.10, p. sto tratadas, médio e caracteristico de resisténcia (jy = Rye / Ry) € Ys & relagdo respectivamente, an : aca Baan entre 08 valores caracteristico e médio de solicitaglo (1, = 5, / Spa) Quanto 20 fa fosvalores ce -« podernos demonstrar facilmente que o fator de seguranga F, pode eae rojeto" e“método . pores Ser expresso como o produto: F; = %5 1 Yn tr a capacidade admissiveis” Neste acordo com a uti ¢incusaa__ Na prética brasileira de projeto de fundagées, em termos geotéc- condicio?, 25, de 2 deve ser nicos, hd preferéncia absoluta pela segunda filosofia, a de carga valor de R). A 2 Canon Abusive admissivel. Adiante, na seco 2.3, veremos trés metodologias de Projeto para a determinacao da carga admissivel, o que consti- tui uma verificacao do estado limite tiltimo (ELU), na andlise de seguranca da fundagio. Essa verificagdo sera complementada no Cap. 4, com o estudo de confiabilidade. Antes, no Cap. 3, incluire- mos a verificacao do estado limite de servico (ELS), Queremos enfatizar que o conceito de carga admissivel no é aplicdvel a uma estaca individuaimente, mas a todas as estacas (de mesma seco transversal) do estaqueamento. A confusio existe Porque cada elemento de fundacao por estaca tem o seu proprio fator de seguranga, dado pela relagio entre a sua capacidade de carga e a carga admissivel, e assim, o fator de seguranca global representa 0 fator de seguranca médio de todos os elementos de fundacao por estaca. £ 0 estaqueamento, porém, que tem uma carga admissivel. Ocorre que, na pratica de projeto, muitas vezes fazemos uma abordagem determinista, ao transformar os resultados de varios faros de SPT numa “sondagem média’, Nesse caso, para cada possi- vel cota de apoio da ponta da estaca, obtemos um tinico valor de R ¢, por isso, costumamos escrever: © que pode induzir ao equivoco de considerar como carga admis- sivel de uma estaca. Portanto, mesmo que a simbologia utilizada nao seja clara quanto ao valor médio de capacidade de carga (Rem ver. de Rygi), no calculo da carga admissivel esté sempre implicita a utilizacdo do valor médio de R. Ha confusio até entre capacidade de carga e carga admissivel, como o faz 0 manual Abef (2004), na segéo 3.10, p. 101, Quanto ao fator de seguranca, a NBR 6122:2010 estabelece que oF, a ser utilizado para determinacao da carga admissivel é 2, quando 2 capacidade de carga é calculada por método semiempirico (de acordo com a definicao de fator de seguranca global, esse minimo de 2 deve ser respeitado para o valor médio de R, e nao para cada valor de R). Além disso, essa norma preconiza que, no caso especi- BE For p sors ror esracas fico de estacas escavadas, no maximo 20% da carga admissivel pode ser suportada pela ponta da estaca, o que equivale a um minimo de 80% para a resisténcia lateral. Assim: Ry 208% ou seja’ Py < 1,25R, ANBR 6122:1996 prescrevia que, quando a estaca tivesse sua ponta em rocha e se pudesse comprovar o contato entre o concreto e a rocha em toda se¢ao transversal da estaca, toda a carga podia ser absorvida pela resisténcia de ponta, adotando-se, nesse caso, um fator de seguranga nao inferior a 3. Daf, | Quanto as recomendagées dos préprios autores, Aoki e Velloso (1975) adotam o mesmo fator de seguranga global normatizado de 2: enquanto Décourt e Quaresma (1978) utilizam fatores de seguranca diferenciados (que néio deve ser confundidos com os fatores de seguranca parciais) para as parcelas de resisténcia de ponta e de atrito: exceto para estacas escavadas a céu aberto, para as quais introduz fatores de seguranca diferenciados: No caso de ocorréncia de atrito negativo (tratado no capitulo anterior), representado por R,(), a NBR 6122:2010 preconiza que 0 seu valor seja descontado da carga admissivel: Em vez de ciente de s¢ dimensior grandezas reservados Uma outre sivamente © aspecto admissive area da se da estaca ( Alguns con admissivel Para evitar de catdlogo, catalogo do transversal Conhecidos para garant geotécnico « nao é neces: em material maneira tal Na pratica d mente, ela admissivel ¢ Até 1995, ti vamos denot conceito de t + ~Ry(-) Em vez de “fator de seguranca” também é usada a expressio coefi- ciente de seguranca. Preferimos “fator de seguranga” porque a anélise dimensional estabelece a indicagao dos termos fator e indice para grandezas adimensionais, enquanto coeficiente e médulo seriam reservados para grandezas dimensionais. 2.1 CARGA DE CATALOGO Uma outra verificacao do estado limite tiltimo contempla exclu- sivamente a estaca, cada tipo em particular, sem levar em conta © aspecto geotécnico. Se considerarmos uma espécie de tensao admissivel® do material da estaca (o,), a sua multiplicagio pela rea da seco transversal do fuste resulta uma carga admissfvel da estaca (P,). Alguns confundem essa carga admissivel da estaca (P,) coma carga admissfvel da fundacdo (P,), a qual considera o aspecto geotécnico. Para evitar esse equivoco, preferimos denominar P, como carga de catélogo, pelo motivo ébvio de ser o valor de carga indicado no catélogo do fabricante ou executor da estaca, em fungéo da secdo transversal do fuste e do tipo de estaca Conhecidos os dois valores (P, ¢ P,), devemos adotar o menor deles para garantir seguranga ao elo mais fraco do sistema (elemento geotécnico ou elemento estrutural). A estaca (elemento estrutural) no é necessariamente o elo mais forte. Podemos ter estaca apoiada em material muito resistente ou estaca demasiadamente longa, de maneira tal que a resisténcia geotécnica seja superior A estrutural. Na pratica de projeto, como a carga de catlogo € definida inicial- mente, ela passa a representar o limite superior para a carga admissivel da fundacdo: ashe Até 1995, tinhamos valores de carga de catdlogo - que agora vamos denominar de valores tradicionais - obtidos com base no conceito de tensdo admissivel. Com 0 advento da NBR 6122:1996, Apuassivet fi 20 conceito de tensio admissive, ue jé foi utlizado fem projetos de cestruturas décadas ates, é dado pela relagio entre 0 ‘valor médio| compressio eum fator de seguranga elobal que, no caso do,conereto, era igual a3, + Bu Fences rom Esracas foi introduzida a filosofia de carga caracteristica, com a prescricao, para os diversos tipos de estaca, de valores do fator de minoragéo de resisténcia e de valores méximos de resisténcia caracteristica (7c€ fan tespectivamente, no caso de estaca de concreto), e definida a carga estrutural admissivel, cujo valor passou a constar dos catélo- gos. Em consequéncia, houve um aumento significative da carga de catélogo, conforme demonstrado na Tab. 2.1, para o caso da estaca escavada a seco, com trado helicoidal, em que o acréscimo médio resultou em 26%. Por prudéncia, alguns autores adotaram a estratégia de mencionar os dois valores, como é o caso de Velloso e Lopes (2002). Taw. 21 Carga de catalogo tradicional e Carga estruturaladmissivl da estaca escavada, ‘mecanicamente com trado helioidal Carga de catélogo (Carga estrutural tradicional P, (kN) admissivel (KN) 200 250 500 360 400 20 Pré-maldads vibra uadrada oem 6a Pré-moldada vibra real 6.29411 Ks re-moldada prot dia circular 6,= 10 14 MPa Prémoldade cen fugada 2921 MP (esa0varads) 810 oni Fon, Souza ioe Fro (988) ‘Trata-se de uma confusao de filosofias de projeto, pois carga admis- sivel corresponde a uma resisténcia média dividida por um fator de seguranca global. Nas Tabs. 2.2 a 2.6, apresentamos as cargas de catdlogo menciona- das na literatura brasileira, para os tipos mais usuais de estacas, em fungio da seco transversal do fuste. Optamos pelos valores decorrentes da NBR 6122:1996, mas citando, quase sempre, a respectiva tensdo admissivel & compressio do material da estaca (c.), que dava origem as cargas de catdlogo anteriores a 1996. Na Tab. 2.2, para estacas pré-moldadas, observamos os valores de o, compreendidos entre 6 ¢ 14 MPa, mas a NBR 6122:1996 limitava 20 méximo de 6 MPa quando nao fosse realizada prova de carga Na subdivisdo dos tipos de estacas constantes dessas tabelas, consideramos como estacas cravadas aquelas constituidas por Fonte: adaptade de Ao Veloso Lopes 2002 rains, elementos pré estacas escava solo, seguida da melhoria do sol resultaram com ‘Taw, 2.2 Estaca pré-moldada de concreto ‘Tas. 2.3 Fstaca de aco Carga de Baa “—_ alee (kn) sua * «00 Pamdainvinte 0 00 vadieds 40x30 00 Tilo usado ,=63 1002 35435 1200 2,2 80% Prémaldadovibrada G22 400 circular 979 500 .=9a 11 MPa a3 a0 Vertcar grau de desgasteeaithamento Pré-moldadsproen 320 380 dda crcular 9% 00 oa ais 238 300) Pests eH 320 300 33 fa Descontar 1.5 mm para an ca conosdoeapliar O33 0 19,120 MPa B38 300 ——— en iso ete Vesa Lopes (200 250 1700 a 60 2300 on 3000 Fonte dpada de Alonso (1908) Velosa e Lopes O02" ‘else Lapes (2002 apresetam também os valores tedionais Prémoldada cent fugada o,=93 11 MPa (Geqao vazade) Tas, 2.4 Estaca de madeira Madeira Didmetro (em) 2"B9 de calogo 320 325 230 035 940 ™Esesvlres represtam apenas uma ordem de 50¢m DSC Ney S35 @ posigao do 7 = : Perfil metdlico BENeop £55 maxima, depe Twhad epoca 20 Fy = _ 3° Metodologia Como vimos na Tab. 27, para cada tipo de estaca hé uma faixa de valores de N,y; que provocam a parada da estaca, por causa da ineficiéncia do equipamento a partir desses valores. Entéo, na sondagem contemplamos os valores de Noy; que esto dentro desses limites (N,), 05 quais indicam as provaveis cotas de parada da estaca ou 0s seus provaveis comprimentos (). Para cada um desses comprimentos, calculamos a capacidade de carga ¢ a carga admissfvel: R Nim 2% +R =k i zB 23.1 Interdependéncia das metodologias Essas trés metodologias de projeto sao interdependentes, ou seja, a preferéncia por uma delas nao significa que ela possa ser seguida até o final. Sempre devemos verificar as outras duas para, se for 0 caso, mudar de metodologia, dada a interdepen- déncia entre elas, Bu Fee ectes ror esmacas 2 tS Quando empregamos a 1" metodologia (P, = P,), pode ocorrer que co comprimento encontrado para a estaca seja superior ao maximo exequivel. Nesse caso, adotamos L = Inj, € Passamos para a 2% metodologia. Ou encontramos um comprimento L que, para ser além dos atingido, exigiria atravessar camadas com valores de Neer limites de eficiéncia do equipamento. Nesse caso, mudamos para a 3* metodologia, Em ambos os casos, a carga admissivel resultaré inferior & carga de catélogo. Se comecamos pela 2* metodologia, pode resultar uma carga | admissivel superior & carga de catdlogo, o que indica a necessi- dade de passarmos para a 1* metodologia. Ou encontramos um comprimento L que, para ser atingido, exigiria atravessar camadas com valores de Noy, além dos limites de eficiéncia do equipamento. Nesse caso, mudamos para a 3* metodologia. Finalmente, se iniciamos pela 3* metodologia, pode resultar uma carga admissivel superior & carga de catélogo, 0 que indica a necessidade de passarmos para a 1° metodologia. Ou pode ocorrer que 0 comprimento encontrado para a estaca seja superior 20 maximo exequivel. Nesse caso, adotamos | = L,,g, © passamos para a 2* metodologia © Quadro 2.1 resume a referida interdependéncia das tés metodologias. Quanno 2.1 Metodotogias Ls Lmix € Nov S Nim > OK! —_L | L> Lis — 2 B | Noer>Nin =m BB | Pas Pee Nsor$ Num > OK) a P,>Pe — i Noor > Num Concluimos temos a libel sabemos qua O fato de o pr conduzir a pr Por exemplo, Gio da carga estaca imprat Para os mesn minar a carge a.consid nivel d emend b.consid Solugées: a. Aopca condi tramos WP, 2 met DL = lpg 3°.25 R= 2-750 kN = 1.500 kN > L» 12m 2" metodologia 28.1 = Luge = 12 mM > Ok! (R < 1.500 KN € Nopp = 14-< Nip) 3%, 25 < Ney $35 + L = 19 2 23m » 12 m > 2 metodologia Prevaleceu a 2*metodologia, com =12meR=950KN. Aplicando © fator de seguranca 2, temos a carga admissivel: R20. 475 =500 kN b.Considerando a possibilidade de emendar as estacas, fica descartada a 2° metodologia, pois, nesse caso, néo hé comprimento maximo preestabelecido. Examinemos as outras duas metodologias, comecando pela primeira. Vamos, por tentativas, procurar 0 comprimento da estaca necessdrio para que P, = P, INDAGOES POR ESTACAS 52 Aproveitando os dados obtidos no Exercicio Resolvido 1, vamos recalcular apenas a iiltima parcela de resisténcia lateral (R,,) ea resisténcia de ponta (R,), € construir a Tab. 2.8: ‘Tas, 2.8 Parcelas de resistencia e carga admissive Cota da Nor Ry (KN) Ry (KN) Rs (KN) R, (KN) R, (KN) RYKN) P, (KN) ponta (mn) i 637510950500 Tee 199 —<505—«SAD «NOS «SSO 5S Bl 6H 6B 600 61S oa 475~—*1201~—~600 1 m6 8501S 18 Co) sis 750 9 6s 1019 1785900 Logo, a estaca deveré ter a ponta na cota ~18 m (L = 17 m), com P, = 750 KN. | Pela 3* metodologia, temos os valores limite de Neer que correspondem a parada da estaca, no caso de pré-moldada com diémetro superior a 0,30 m: 25 < Ney $35 o que levaria a estaca até as cotas -20 ma -24 m (L = 19 ma 23 m). Esses comprimentos de estaca, porém, resultariam em cargas admissiveis bem superiores ao limite maximo imposto pela carga de catélogo (P, = 750). Portanto, prevalece a 1* metodologia, com 17 me P, = 750 KN. Obs.: A verificagao do recalque seré feita nos Exercicios Resolvidos 3.5, no proximo capftulo. t s F desprezar 4 determina¢ que possa vertical P ni we ¢ RR Fro. 3:1 Parcel Toe est rece mat

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