Você está na página 1de 4

SONETOS - O AEON PARMENIDIANO

(POETA FELIPE AMARAL)


1
Não há coisa nenhuma! E o afirmar
Tal ideia é um nada sem noção!
Se algo É SER, não teria precisão
De afirmar, pois SERIA sem falar!

SOMENTE É, não se faz particular


Nem geral, nem no espaço tem ação,
Nem no tempo, que é mais uma ilusão
Que esta vil condição insta pensar!

Percepção não é causa deste estado;


Concepção, cognição e assemelhado
Julgamento que digam nos prender.

Buscar formas de expor qual a cabida


E evidente resposta pretendida
É vergar-se ao domínio do NÃO-SER!

2
Cala! Pára! Não busques compreender!
Não há nada a visar e a despedida
Dessa busca é também ação vivida
Na ilusão de partir, de parecer!

Eu não falo! Você julga poder


Escutar-me a falar sobre a devida
Coisa QUE É! Entretanto a nossa vida
Não é vida, se explica o que é viver!

É um jogo! E o SER não tem se achado


Nesse jogo ilusório que tem dado
Azo a tal frenesi de O procurar.

Não é autoevidente essa visão


Que tu juras ser óbvia ! E a razão
De o dizer não é nada elementar!

3
Se eu dissesse que estou a explicar
O que seja explicar, a condição
De NÃO-SER, por visar explicação,
Deporia em confronto ao meu julgar.

Nem mesmo isso que digo pode dar


O QUE É SER ao que pede explanação,
Pois O QUE É não se impõe limitação,
Já que isso é o NÃO-SER do anunciar!

Não que esteja na fala o limitado!


O limite NÃO É e, ao ser pautado,
Ilusório se mostra, ao parecer.

Não é caso que faças pretendida


Troca de áreas de estudo pra que a vida
Venha SER, por da mesma depender!

4
Matemática é vã pra descrever
O QUE É SER, pois abstrai pra ver contida
A "essência das coisas" que, sem vida,
Aparenta viver, mas não vem SER!

Não adianta gritar ao defender


Tal visão que limita pra ter ida
Pela senda existente presumida,
Que não passa de um "nada conhecer".

Se começo por ter-te perguntado


"O real é real?", sou humilhado
Pelo SER, num silêncio basilar.

É que tudo o que julgo refletida


Evidência demanda-me na lida
Seu princípio causal e elementar!

5
Ao voltar pra buscar solucionar
O problema causal, faço menção
Do que é outro problema e, sem razão,
Perco a vida, tentando me firmar.

Só que, mesmo essa tão peculiar


Teoria causal, que a intuição
Tanto aventa, não passa de invenção,
Pois requer o que julga procurar!

Não é mente, bom siso ou bem treinado


Raciocínio que têm solucionado
O que pensa pensar ao conceber!

O critério é vazio; e a luz, que é crida


Como luz, é a noite enegrecida
Do NÃO-SER que parece aparecer!

Você também pode gostar