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Resumo
O presente artigo propõe-se a analisar a obra chave de um dos artistas representativos da Pop Art,
Richard Hamilton, entre sua concepção na segunda metade da década de 1950, portanto no Pós-
Guerra imediato e nascente ênfase na produção e consumo de um número crescentemente maior de
produtos, ao cenário marcadamente consumista das primeiras décadas do século XXI. As interfaces
existentes, a colagem de Hamilton e sua apreensão do universo da Publicidade e Consumo tornam-na
especialmente contemporânea, sinalizando como que o nascedouro de uma sociedade caracterizada
pela ampla oferta de itens consumíveis, oferecidos por meio de uma incessante cadeia de estímulos
disponíveis nos meios de comunicação de massa. Paradoxalmente ou não, a Arte Pop terminou por
apontar os excessos que se encontravam, eles próprios, no interior de uma cultura marcada pelo
consumo desenfreado, um dos símbolos mais fortes oferecidos pelos artistas que abraçaram esta
estética.
Palavras-chave: Arte Pop, Publicidade, Consumo.
Ariús, Campina Grande, v. 20, n.2, pp. 212-224, jul./dez. 2014 213
Abstract
This article aims at analyzing the main work of one of the representative artists of Pop Art, Richard
Hamilton, from his conception in the second half of the 1950s, so in the immediate post-War,
beginning the expansion of the production of a number progressively larger product would result in
hyper consumerist scenario of the first decades of the twenty-first century. The interfaces between the
bonding of Hamilton and his perception of the world of Advertising and Consumption make it
distinctly contemporary, signaling the beginning of a society characterized by a wide range of
consumer items, offered through a ceaseless chain of stimuli available in the media mass
communication. Paradoxically or not, Pop Art ended by pointing out the excesses that were in a
culture marked by conspicuous consumption, one of the strongest symbols offered by the artists who
embraced this aesthetic.
Key words: Pop Art, Advertising, Consumption.
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A reprodução da colagem de Richard Hamilton foi retirada do seguinte endereço online.
<http://www.apollo-magazine.com/pop/> Acesso em 30/08/2014.
Ariús, Campina Grande, v. 20, n.2, pp. 212-224, jul./dez. 2014 214
IMAGEM 1: “O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?” (HAMILTON, 1956).
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O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? O quê?
Aquilo que Hamilton, à época, considerava vital e determinante no mundo Pós-
Guerra, isto é, a felicidade acessível a todos pela via da produção industrial, do
consumo de massa, da informação através das redes de comunicação e do
hedonismo como filosofia de vida. O pôster, como já ressaltado, mostra um casal
jovem, o homem de tanga a exibir o físico atlético bem cultivado, a mulher esguia e
seminua em pose sensual, os dois numa sala atulhada de objetos, desde
eletrodomésticos a presunto enlatado. O que celebrava esse cartaz? A cultura de
consumo, a sociedade de mercado e a nova “concepção das fontes de prazer”
(BARBOSA, 2004, p. 50).
De acordo com McCarthy (2002, p.6):
exposições, para o cotidiano. Essa perda da aura clássica da arte será promovida
deliberamente pela estética Pop, que traz o cotidiano do consumo e do universo da
comunicação de massa para o território da arte, elementos que até então lhe eram
estranhos. A obra-marco desse movimento mostra justamente um exemplo máximo
do cotidiano da classe média: um lar moderno de um casal moderno.
Para Strickland (2004), o retorno aos temas figurativos, como realizado pela
Arte Pop, estava longe de significar um retorno à tradição, pois o que esta arte fez foi
elevar os mais grosseiros objetos de consumo a verdadeiros ícones. Em 1962, os
artistas pop surgiam no estrelato e o gosto pelo pop se dava de maneira fácil. “As
cores brilhantes, os desenhos dinâmicos (...) e a qualidade mecânica lhe davam uma
lustrosa familiaridade. Da noite para o dia, o pop se tornou um fenômeno de
marketing tanto quanto um novo movimento artístico” (Strickland, 2004, p. 174).
Esta tendência em recuperar imagens disponíveis e retrabalhá-las, iniciada no
início das vanguardas do século XX e substancialmente desenvolvida no período da
Arte Pop, culminou com a apropriação e citação de símbolos caros à cultura do
período, e sua representação de forma fragmentada e frequentemente irônica. Em
linhas gerais, portanto, a Pop Art foi um movimento diretamente ligado ao universo
da publicidade e do consumo. Em seu contexto histórico e cronológico vemos isso:
os anos 1950 e o começo dos anos 1960 deram o pontapé inicial no boom celebrado
em torno do consumo.
De acordo com McCarthy (2002, p. 28), "economistas, políticos, críticos e
artistas explicavam, debatiam e celebravam esse novo mundo de abundância de
mercadorias". Ele ainda explica que os norte-americanos eram muito estimulados
pela propaganda (consumida através de revistas populares - como Life e Times -,
cinema, música, televisão etc.) e, por isso, o consumo acabou se tornando uma
unidade de medida de sucesso financeiro e bem-estar psicológico. Os artistas desse
movimento acabavam promovendo seu trabalho e, ao mesmo tempo, as marcas dos
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funções informativas para ter um apelo ideológico mais forte, como no discurso
político na Alemanha, que têm força através do rádio e da cinematografia. Depois, a
modernidade dos eletrodomésticos ganha vez nos anúncios, inaugurando a era do
consumo de novidades.
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A reprodução da colagem de Richard Hamilton foi retirada do seguinte endereço online:
<http://www.tate.org.uk/art/artworks/hamilton-just-what-is-it-that-makes-todays-homes-so-different-
p11358> Acesso em 30/08/2014.
Ariús, Campina Grande, v. 20, n.2, pp. 212-224, jul./dez. 2014 222
IMAGEM 2: Just what is it that makes today’s homes so different? (HAMILTON, 1992).
Considerações finais
Referências
Autora
Maria Stella Galvão Santos
Mestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É professora e
pesquisadora da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Potiguar (UnP).
E-mail stellagalvao@unp.br