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História Antiga II
Minipaper II
Portanto, a formação inicial dos estudos sobre o Império Romano está embebida em
conceitos que tratam de dar ênfase aos elementos de “progresso” e de “desenvolvimento”
cultural, social e político na formação imperial de Roma, buscando traçar paralelos entre o
imperialismo europeu e a expansão romana na Antiguidade. Daí a necessidade de se teorizar
acerca da assimilação e aculturação de povos nativos, sob a guarda de um império conduzido
por ideais de uma civilização superior e definitiva, que é responsável por guiar os povos
dominados à luz do progresso cultural. Essa é a origem do conceito de “romanização”, ou
seja, ele se aplica ao fenômeno de uma suposta homogeneização cultural passiva e voluntária
de uma sociedade sob o domínio imperial romano: “o pressuposto de que os nativos
desejavam se tornar romanos, ou mais romanos, é defendido como sendo a motivação
subjacente à transformação gradual da cultura material, na província, de nativa a romana,
durante todos os três séculos e meio de dominação romana” (HINGLEY, p. 34).
Como citado no início do presente texto, é em oposição a essa historiografia
tradicional que surgem as críticas aos modelos de homogeneização cultural. Com a
emergência de estudos pós-coloniais na segunda metade do século XX, pode-se se estabelecer
novos paradigmas, como por exemplo em relação a agência dos elementos subalternos nessa
sociedade romana e entre os povos subjugados, como as mulheres e os trabalhadores. Os
movimentos feministas do século XX são um exemplo de como as mudanças sociais
oportunizaram novos olhares críticos a cerca da historiografia:
Apresentado esse resumido cenário, devemos nos atentar para o objetivo principal do
texto. O que se faz necessário é compreender que o processo de interação cultural e social
dentro do Império Romano não é delimitado por níveis de cultura que se estabelecem em uma
“escada progressiva”, na qual a cultura romana se apresenta como superior e sua assimilação
ou não por um povo dentro do Império depende de uma escolha consciente entre aderir a uma
cultura evoluída ou permanecer fiel a sua cultura nativa, sendo, supostamente, a negação da
cultura do dominador e a oposição aberta os únicos meio de resistência de um povo
(HINGLEY, p 42). A incorporação de elementos culturais romanos pertence a uma ordem de
fenômenos que não se define apenas pelo fato em si. A resistência cultural de um povo se
apresenta de maneiras implícitas dentro das dinâmicas de interação social, sendo necessário
um aprofundamento na reprodução e circulação dos elementos forjados nessa interação para
se obter o real significado das manifestações culturais de autoafirmação de um povo. “O que
se deseja é uma compreensão mais refinada do que significam as velhas e novas ideias
dentro da sociedade provincial romana” (HINGLEY, p. 42).
Esse é o legado da crítica pós-colonial aos modelos normativos e homogeneizantes de
sociedade e cultura. O objetivo é a superação de concepções deterministas de herança
imperialista, nas quais são utilizados conceitos enraizados em estudos que priorizaram visões
das classes dominantes, ignorando a complexidade e pluralidade dos processos de formação
da história e da cultura de um povo. Garraffoni e Funari definem muito bem: