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INTERPRETAÇÃO ESOTÉRICA DO MITO DE ORFEO E EURIDICE

Orfeu (que representa o iniciado) era aquele que fascinava quem ouvia a sua lira (assim como os profanos gostam de
escutar o saber dos anciãos e iniciados).

Porém ele se apaixonou perdidamente pela bela ninfa Eurídice (que representa a Alma e sua Gnose-conhecimento).

Ele amou tanto Eurídice que decidiu com ela se casar. (casamento alquímico entre a alma e a persona)

Infelizmente, a felicidade deles não durou muito, pois até Aristeo (orgulho), filho do deus Apolo, se apaixonou
perdidamente por Eurídice (conhecimento, saber, Alma, etc...).

É dito que um dia, para escapar Aristeo (orgulho), ela correu fugindo pela floresta e durante a fuga uma serpente
(vaidade) mordia o seu tornozelo até matá-la com o veneno (o iniciado que torna-se orgulhoso e vaidoso perde o
dom da alma, o conhecimento superior que a alma inspira nele desaparece como fumaça).

Desesperado, Orfeu (o iniciado), sem se importar mais nada, decidiu descer ao inferno (processo de reflexão e auto
correção) para resgatar sua amada (recuperar sua sabedoria) e trazê-la de volta ao reino dos vivos.

Assim, ele se apresenta diante de Hades e de Perséfone (consciência punidora), o Rei e a Rainha do reino dos
mortos.

Após contar sua história de amor, teve a permissão de resgatar sua amada Eurídice, desde que, Orfeu suba pelo
caminho sem olhar para trás até estar fora do reino de Hades.

Assim disse Perséfone: “nunca vire para olhar para Eurídice”.

Acontece, porém, que bem próximo de chegar à saída do submundo, Orfeu se preocupou com sua amada, e para se
certificar da presença de Eurídice, que ele segurava pela mão, ao se virar para olhá-la, subitamente ela desapareceu!

Orfeu perdeu sua amada para sempre.

Aqui, o que mais busco fazer o leitor entender é o significado iniciático da virada de Orfeu para ver se o seu amor
ainda estava com ele, pois este fato nos mostra que nenhum mortal ou deus algum pode se rebelar contra um
acordo firmado iniciaticamente.
A descida e subida de Orfeu do submundo também nos indica a jornada que deve ser feita pelo próprio iniciado em
busca do saber que ele um dia possuiu e perdeu. Essa tradição órfica é transmitida até nossos dias através das várias
cerimônias de iniciação.

Basta pensar na iniciação maçônica e na Câmara de Reflexão (símbolo do Hades ou do Purgatório), local onde o
neófito entra antes de nascer para sua nova vida maçônica, e que após assumir um juramento, ascende a uma nova
vida de luz pautada na moral e nos bons costumes.

Mas o que significa então “não poder olhar para trás”?

Não olhar para trás é muito significativo e equivale a não poder voltar atrás na sua decisão, não regredir no caminho
que decidiu percorrer.

Alguns podem afirmar:

Mas nossa, a maçonaria é demoníaca, pois depois que iniciar não pode mais sair! Se sair a pessoa perde sua alma!

Meus irmãos e irmãs.

Isso que falo, Eliphas Levi disse em seu célebre livro “Dógma e Ritual da Alta Magia”, e até mesmo as sagradas
escrituras (bíblia) possui este aviso, que é dito aos imprudentes:

Vejamos por exemplo:

Lucas 9:62 - “Jesus diz: Ninguém que põe a mão no arado e depois se arrepende voltando para trás é digno do reino
de Deus”.

Gênesis 19:26 - "E a mulher de Ló olhou para trás e se tornou numa estátua de sal".

Aqui em gêneses temos o maior o símbolo, a estátua de sal, que representa a cristalização, a imobilidade, o estado
de estagnação, uma parada, onde não se vai nem pra frente e nem para trás; é a morte, caso a vida seja o perpetuo
movimento. Encontramo-nos diante dos personagens da “Divina Comédia” de Dante Alighieri, aqueles que não têm
coragem nem força moral para tomar uma decisão e enfrentar os desafios, não tem personalidade para fazer uma só
escolha, certa ou mesmo errada.

Dante Alighieri também nos conta com o verso abaixo, enquanto ele está na entrada do purgatório:

"Então ele abriu a porta sagrada, dizendo: Entre, mas aviso que voltará para fora quem olhar para trás”.
Os que olham para trás saem, ou seja, voltam ao estado primitivo de sono anterior e perdem o estado de vigília que
haviam conquistado, que em nosso mundo inferior nunca é um estado fixo e eterno.

Dar meia volta e retornar, portanto, pode significar perder o conhecimento, perder o saber, perder os dons ou até
um amor que você achou que possuía, que pensava que era seu, mas que seu ego, seu orgulho e vaidade te fez
perder.

Orfeu perde sua amada Eurídice e isto corresponde ao iniciado nos mistérios que também perde sua alma, caso olhe
para trás e regrida no caminho.

Aqueles que praticam tantra sabem muito bem como é perigoso no momento do ritual somente pensar na tentação
de deixar fluir o prazer sensual do corpo. Isto pode jogar fora longos anos da castidade.

Portanto, aquele que cai, deverá reiniciar a busca desde o início, e jamais se esquecer da seguinte lei:

NO CAMINHO DA INICIAÇÃO, ESTAMOS SEMPRE CAMINHANDO SOBRE O FIO DA NAVALHA.

.’. Filósofo Velado

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