Você está na página 1de 4

ENERGIA DA BIOMASSA

Sobre Energia da Biomassa

Mais de um quarto da energia usada no Brasil tem origem vegetal. O Balanço Energético Nacional de 2004
registra que de um uso total de 213 Mtep (milhões de toneladas equivalentes de petróleo), 58 Mtep eram de
biomassa vegetal, distribuídos em partes mais ou menos iguais entre a lenha e a cana de açúcar.

Na maioria dos países, esta forte dependência é um sinal de subdesenvolvimento, pois é a fonte de energia
mais simples e antiga usada pelo homem, ainda hoje, de forma primitiva.

No Brasil, porém, grande parte da biomassa energética é produzida comercialmente: a lenha, que
transformada em carvão vegetal (CV) é usada na siderurgia e a cana de açúcar usada na produção de
açúcar, álcool combustível e energia elétrica.

As transformações da energia da biomassa em energia útil, no entanto, são feitas, técnica e


economicamente, com eficiência muito abaixo do possível. O INEE estima que pelo menos 25 Mtep hoje
desperdiçados poderiam ser transformados em energia útil a partir de um trabalho sistemático que envolve
mais mudanças culturais do que avanços tecnológicos.

Na verdade, as energias com esta origem nunca foram tratadas pelas autoridades como as fontes mais
"nobres", tais como a hidráulica, petróleo, gás natural, carvão mineral e nuclear, para as quais existem
políticas energéticas específicas. Antes de comentar a atuação do INEE para ajudar a reverter este quadro
vale a pena uma breve descrição sobre cada uma das fontes.

Cana de Açucar

No passado, todas as necessidades de energia das usinas de cana eram supridas por terceiros. Para
produzir o calor, inicialmente, era usada a madeira das florestas (lenha), prática que ao longo de séculos foi
a principal causa de destruição da mata atlântica nordestina e do norte do Rio de Janeiro. Mais tarde esta
indústria passou a consumir também óleo combustível. Enquanto isso, eram queimados, nos campos ou
em grandes piras, os resíduos combustíveis da agroindústria, que contêm 2/3 da energia da cana (a
energia restante está no caldo da cana que é transformado em álcool ou açúcar).

Aos poucos, a tecnologia da queima do bagaço foi dominada e a crise do petróleo trouxe uma
modernização tal que as usinas conseguiram chegar ao final dos anos 90 auto-suficientes em energia. No
início deste século, começaram a exportar energia para o setor elétrico, processo ainda em estágio inicial,
mas que deve crescer com a queda de barreiras institucionais do setor elétrico a partir do Marco
Regulatório (2004) que reconhece a Geração Distribuída. O crescimento da demanda pelo álcool deve
aumentar a produtividade e em uma dezena de anos os desperdícios observados devem ser reduzidos
substancialmente e suprir, de 10 a 15%, a energia elétrica do país.

Lenha

O uso do CV na redução do minério de ferro foi substituído pelo carvão mineral quando as florestas da
Inglaterra acabaram no século XVIII. No Brasil, a prática se manteve pela ausência do carvão mineral de
boa qualidade e pela sensação de que as reservas de madeira nativa são infinitas. Isto explica a destruição
de partes importantes da floresta atlântica na região sudeste do país.

Embora algumas florestas tenham sido plantadas para suprir a biomassa das carvoarias, a madeira nativa
ainda continuou importante com a conseqüente degradação ambiental. Sua queima, é hoje das grandes
causadoras da "morte" de diversos rios e do acelerado assoreamento do São Francisco. Na região de
Carajás a produção de gusa, quintuplicada em dez anos, causa uma contínua pressão sobre a floresta
amazônica.

A produção artesanal do CV é feita com baixíssima eficiência porque no carvoejamento tradicional, a


energia original é perdida para a atmosfera sob a forma de gases e voláteis. A produção do CV com
tecnologias mais eficientes e usando biomassa produzida para esta finalidade pode significar um importante
salto para aumento da eficiência energética e para criar as condições econômicas para substituir a
produção de origem extrativa.

Fonte: www.inee.org.br

ENERGIA DA BIOMASSA

O potencial de aproveitamento da energia da biomassa

A biomassa foi, durante milênios e até um passado relativamente recente, a grande fonte de energia
primária da humanidade. Na sua forma forma vegetal - a mais importante -, nada mais é que um artifício da
natureza para armazenar a energia solar: as plantas, através da fotossíntese, combinam o dióxido de
carbono do ar e a água do solo para produzir carboidratos de vários tipos, que constituem os tecidos
vegetais e têm um razoável valor energético (ao contrário de seus formadores - CO2 e água).

Somente no último quarto do século XIX a biomassa foi ultrapassada pelo carvão e depois, já no século XX,
pelo petróleo. Ela ainda é a principal fonte de energia primária em muitos países em desenvolvimento (94%
em Uganda). No Brasil, ela reinou até a década de 1970 e representa, ainda hoje, quase 30% da energia
primária produzida, nas formas de lenha (ou carvão vegetal) e produtos da cana-de-açúcar. Esse valor é
significativo uma vez que a energia hidráulica, nossa principal fonte de geração de eletricidade, contribui
com apenas 14%.

Os cientistas e técnicos dividem a biomassa energética em dois grandes grupos: biomassa tradicional
(essencialmente lenha e outros resíduos naturais) e biomassa moderna (biomassa produzida com
tecnologias adequadas, como florestas plantadas, cana-de-açúcar). Em nível mundial, essa forma de
energia participa com cerca de 11% na matriz de energia primária; mas, quando se faz a separação acima,
a biomassa moderna representa apenas 2% dessa matriz.

O esforço de desenvolvimento tecnológico é centrado na biomassa moderna, enquanto a biomassa


tradicional é preocupação dos ambientalistas e sociólogos, pois está associada ao fornecimento de energia
para as camadas mais pobres do planeta (às vezes a única forma de energia disponível para essa faixa de
população) e é explorada, normalmente, de forma predatória e não-sustentável. Esse esforço é distribuído
entre duas rotas principais para conversão de energia primária contida na biomassa, em formas
secundárias utilizáveis: geração de energia elétrica e produção de combustíveis líquidos. Na primeira
alternativa, é recomendável que se utilize o conceito de cogeração e que se produza calor de processo
associado com a geração de energia elétrica.
A geração de energia elétrica a partir da biomassa já é uma realidade em importantes setores onde
significativo percentual da demanda de energia elétrica das plantas industriais - no sucroalcooleiro (100%) e
o de papel/celulose (50%) - são supridos pelo bagaço e a lixívia negra/resíduos florestais, respectivamente.
As tecnologias para isso estão amplamente desenvolvidas e em estado avançado de maturidade comercial,
utilizando a combustão direta da biomassa em fornalhas adequadamente projetadas e construídas. Porém,
a eficiência energética dessa modalidade de uso da biomassa pode ser aumentada significativamente se,
ao invés da queima direta, a biomassa for submetida inicialmente a um processo de gaseificação, e o gás
produzido for utilizado em um ciclo combinado de geração de eletricidade, através de um conjunto - turbina
a gás/caldeira de recuperação/turbina a vapor. Esta alternativa, que poderia quase dobrar a energia elétrica
gerada por uma certa quantidade de biomassa, quando comparada com a combustão direta está
tecnicamente próxima e economicamente distante de conseguir um lugar no mercado de energia.

Até na escala de planta-piloto o desenvolvimento já está em um nível muito satisfatório, mas o salto para a
escala comercial está difícil de ser viabilizado devido, principalmente, aos vultosos investimentos
necessários para implantar uma planta comercial ou mesmo de demonstração. Talvez o recente
ressurgimento do interesse e investimentos no desenvolvimento da gaseificação do carvão (como uma
forma de reduzir as emissões de CO2 na geração de eletricidade) venha ajudar a tecnologia de
gaseificação de biomassa/ciclo combinado a ocupar o lugar que merece na geração de energia elétrica com
fontes renováveis.

COMBUSTÍVEIS LÍQUIDOS

Na geração de energia elétrica de forma renovável, a biomassa enfrenta a concorrência de várias


alternativas, igualmente renováveis, como as energias eólica, solar, marés, geotérmica e pequenas
hidroelétricas. Porém, para a produção de combustíveis líquidos renováveis a biomassa concorre quase
sozinha e, por isso, essa rota de uso da biomassa vem ganhando importância em P&D sobre a rota de
geração de energia elétrica.

As principais alternativas de fabricação de combustíveis líquidos, para transporte principalmente, a


partir da biomassa são:

Extração e fermentação de açúcares contidos em vegetais como cana-de-açúcar, beterraba e sorgo


sacarino, produzindo etanol.

Extração e sacarificação do amido de vegetais como o milho, trigo e mandioca, seguida de fermentação
dos açúcares resultantes, produzindo etanol.

Extração e transesterificação de óleos vegetais de matérias-primas como a soja, mamona, dendê, girassol,
amendoim e outros, produzindo biodiesel.

Pirólise de materiais lignocelulósicos, como madeira e resíduos agrícolas, produzindo óleo pirolítico.

Hidrólise de materiais lignocelulósicos, como madeira e resíduos agrícolas, seguida de fermentação dos
açúcares produzidos, produzindo etanol.

Gaseificação de materiais lignocelulósicos seguida de processos catalíticos de conversão do biogás para


combustíveis líquidos; etanol ou metanol pode ser produzido.

Das alternativas acima, as três primeiras já chegaram ao estágio comercial e as duas últimas vêm
recebendo grandes quantidades de recursos financeiros para P&D devido à enorme disponibilidade de
materiais lignocelulósicos na forma de resíduos agroflorestais a baixo custo.
É importante salientar que mais de 80% dos quase 40 bilhões de litros de etanol, produzidos anualmente no
mundo, tem a cana-de-açúcar e o milho como matéria-prima. No Brasil, o etanol de cana-de-açúcar já é
produzido a um custo médio estimado em cerca de US$ 0,18/litro, o que o torna competitivo com a
gasolina, desde que o preço do petróleo não caia abaixo de US$ 25 o barril. Mesmo com esse nível de
competitividade, é preciso continuar com programas de P&D buscando reduzir mais os custos e os
impactos ambientais, antevendo que o álcool tem uma posição de destaque no rol de candidatos à
substituição dos combustíveis fósseis e o Brasil deverá estar preparado para ocupar os espaços que se
abrirão no mercado mundial. Imaginando-se que o álcool venha a substituir 10% da gasolina consumida no
mundo, a números de hoje, isto representaria uma demanda de cerca de 130 bilhões de litros de álcool por
ano, ou seja, mais de três vezes a atual produção mundial e 8 vezes a do Brasil; nota-se que essa é uma
meta modesta para as necessidades de um mundo que precisa reduzir as emissões de dióxido de carbono,
e outros gases de efeito estufa, de um modo significativo.

O biodiesel tem ainda um longo caminho a percorrer antes de chegar ao nível de competitividade gozado
pelo álcool nos dias de hoje, mas ele também terá sua oportunidade de contribuir para aliviar os impactos
dos combustíveis fósseis nas mudanças climáticas globais.

INOVAÇÃO AGRÍCOLA

Em se tratando de biomassa, a inovação tecnológica deverá ocorrer não apenas nos processos de
conversão mas, principalmente, na área agrícola. Nesta merecem destaque, o desenvolvimento de novas
variedades de plantas, melhorias nas práticas agrícolas e nas técnicas de colheita, onde a mecanização é
uma tendência, na adubação, no controle de pragas e doenças e na redução e mitigação dos impactos
ambientais.

Em resumo, a biomassa dificilmente conseguirá substituir o petróleo, e muito menos todos os combustíveis
fósseis, mas tem um enorme potencial de auxiliar na redução das emissões de gases de efeito estufa, no
aumento da segurança energética de cada país e no aumento da oferta de empregos e renda no meio rural.
A transição da cultura de biomassa/alimento para biomassa/alimento+energia, para ser bem sucedida, vai
requerer muita criatividade e investimentos em P&D, seja para reduzir os custos das matérias-primas e dos
processos de transformação, seja para reduzir e mitigar os impactos sócio-ambientais do aumento de áreas
cultivadas, de forma a garantir um desenvolvimento sustentável.

MANOEL REGIS LIMA VERDE LEAL

Fonte: inovacao.scielo.br

Você também pode gostar