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OS CONTOS DE

ALAKANTES

-As Jazidas Gêmeas da Penumbra-


Mesuras de um Húmile Zíngaro
Contos de um bardo errante .

Entremeado em pensamentos de confusão e memórias olvidadas


que se encontram fadigadas sobre os já cansados passos regados
por carrascos sopros gélidos e névoas arenosas de uma
impiedosa tormenta desértica, de repente, torna-se possível ver
um foco de luz ao fundo no horizonte de intermináveis dunas
rubras. O uivo do vento árido junto ao corte fino da brisa
tempestuosa, fantasmagoria a alma de qualquer viajante que se
alista como aspirante à caçador de emoções e faz com que
conceitos e certezas sejam revisados perante as duras provas que
uma aventura pode dar. Ao longe, a luz faz com que, sem muito
pestanejar, o pensamento de se aproximar pareça muito
convidativo e convincente, principalmente para aqueles que
andam em meio a tempestades álgidas de um soturno deserto
iluminado apenas pelo grande astro da noite, a rainha do
crepúsculo e da penumbra. O sibilar dos ventos ao pé do ouvido
impede que se possa compreender melhor o que, ou quem, possa
ser responsável pela minúscula aurora que surgi em meio a
escuridão no horizonte, junto à temerosos pensamentos de tudo
ser uma injusta ilusão de uma mente exaurida ou de um algum
deus fanfarrão que brinca com as vidas inferiores. Uma
cacofonia tempestuosa impede o muito planejar, fazendo com
que aquele pequeno foco de luz comece a se tornar a última
esperança para passos quase definhados, o único pensamento
plausível é se aproximar sem levar muito em consideração os
perigos eminentes que podem ser oferecidos. Achegando-se,
percebe-se uma pequena caverna não muito profunda que, se
olhar bem, pode-se ver o fundo; no cerrar dos olhos devido ao
vento forte e arenoso que persiste em invadir por entre os dedos
de uma mão que já fraqueja no tentar do proteger, é possível ver
a silhueta descontraída de um alguém que cutuca com alguma
espécie de um fino osso talvez, uma fogueira improvisada para
se tornar uma cozinha e por cima do estalar das chamas,
cadáveres de animais que provavelmente se tornarão o jantar de
um alguém. Atrás de uma pequena rocha, em um pequeno
levantar de olhos aos céus, resta agora apenas a dúbia dúvida, o
incerto ou o cômodo. Infelizmente, mediante as circunstâncias, o
cômodo fica em segundo plano quando se tem fome e frio.
-Uaaaaaaaaah! ( Um grande e assustado salto)

-Para trás, para trááás! Afaste-se, fera maldita! (Palavras ditas


entre o balouçar oscilante de uma tocha improvisada de um
moço sem jeito)

-Nãooo meu Criador, eu não quero morrer, não aqui nesse


deserto imundo sem dignidade, uaaaah! (Cômicas e quase
circenses preces gritadas pela boca de um rapaz dono de um par
de olhos, agora, fechados de pavor)

-Hum?! Hein?! Ora essa, mas que baita susto você me deu,
jovem! Você não sabia que se esgueirar por de trás de alguém no
meio de um deserto desses é estar pedindo um encontro
antecipado com Ma'aliuwa, a deusa da morte?

-Por mil trovões, rapaz! Que fazes tu andando por essas dunas
nesta tempestade e à noite ainda por cima? És tu algum suicida
ansioso em encontrar os arautos da morte? Você poderia ter
morrido, viu? Por um pouco iria eu acabar com sua vida e...
-Ei! Ei ei ei! Você está bem? Ei, cuidado...

Numa aguda e repentina perde de forças e sentidos, antes mesmo


de um pronunciar de palavras, o breu toma conta daquilo que se
chamava visão e o som ouvido do baque de um corpo faminto ao
solo junto a um zumbido na cabeça se tornam o último som
antes de um sono forçado de um desmaio, e por um tempo
apenas bons sonhos acompanham uma mente outrora em
pesadelos vividos.

Com a confusão de outrora agora aumentada devido ao


desnorteio que só um pós desmaio oferece com um sorriso
sarcástico, aos poucos, através do breu que se transforma e
silhuetas embaçadas depois de uma meia dúzia de piscada
doloridas, se vê três espetos de carne selvagem frente ao olhos,
agora acomodado em uma cama improvisada. E num subir de
olhar, e possível ver alguém sentado frente a fogueira com uma
espécie de instrumento que tem o som interrompido quando o
portador do mesmo percebe que o desmaiado acordou.
-Hm-hm! SAUDAÇÕES VIAJANTE DAS TERRAS DE
YRHOUR'EF! Em nome de Yrzu, o Excelso, eu lhe recebo em paz
(sinal de prece).

-Que bom que teremos companhia esta noite, eu e minha tão


querida lira ficaremos felizes de, se assim tu quiseres, sermos teu
companheiro. Depois de tanto tempo neste deserto, fico um
pouco eufórico em encontrar novos rostos.

-Sente, sente, havia pouco tempo que havia acendido a


fogueira antes de tu chegar e tentar adiantar meu encontro com
Ma'aluiwa, a embaixatriz da Morte, foi um baita susto que tu me
destes, jovem! Quase que por um pouco não seria meu próprio
coração que estaria sendo preparado sobre esta fogueira, meu
coração quase saiu pela goela, ufa! Mas olhando agora, até que
foi engraçado he he he he, não é mesmo?! Maaas, sobre
aquelaaa, hm-hm, “cena” que vistes, peço que não fales a
ninguém, não cairia bem para meus negócios se alguém
porventura soubesse de uma jocosidade sem tamanho acerca de
minha pessoa.

-Mas vamos, sente-se! Lhe adianto que teremos um “bom"


jantar por assim dizer; quase duas horas antes do sol se por, com
muito esforço, consegui encontrar uma toca de basilíscos das
dunas de cristal e com a muita sorte de a dona da ninhada não
estar lá, consegui pegar uns cinco filhotes que lá estavam, he he
he! Claro, não é algo que se possa dizer “Oh céus, que baquete
meu Criador", mas você se acostuma com o sabor, é meio seco no
início mas uma boa bebida caseira feita por um mestre anão
artesão ajuda muito no engolir da carne, e sim, eu tenho esse
achado aqui comigo he he he!

-Não é sempre que se vê vivas almas andando por aqui, o


açoite do calor da manhã e o castigo das brisas noturnas deste
lugar são bem convincentes quando o assunto é desistir. Foi por
isso a minha enfadonha surpresa em te ver, no mínimo achei que
fosse uma besta fera noturna ou alguma assombração desértica
querendo me importunar, ainda mais tu com essa aparência he
he, nada pessoal!

-Maaas...?! Me diga uma coisa, tu não me parece ser destas


bandas, huum, não mesmo! Estas vestes?! Esta forma de falar?!
Por ventura seria tu algum ser mágico de outra dimensão que
veio abençoar a vida de um pobre andarilho destas pouco
habitadas terras desérticas? Ou seria tu apenas um bravo
aventureiro desbravador de mares e terras atrás de tesouros e
artefatos mágicos? Se for um daqueles quarenta e quatro ladrões
(disse ele olhando de canto com um dos olhos cerrados), digo
que teve grande azar comigo, há há há há! Calma, calma, não se
acanhe meu jovem, é apenas uma brincadeira invasiva e de mal
gosto vinda de um aventureiro, assim como tu, que não vê com
tanta frequência novos rostos.

-Certo, quero dizer que é uma grande satisfação para um mero


contador de histórias como eu, poder encontrar alguém nestas
terras áridas filhas de Yr’Loaná, a deusa da solitude, quanto mais
alguém que me arrisco a dizer ser um alguém que se compraz
em saber de histórias, contos e segredos que um simples bardo
viajante como eu, pode conhecer em sua húmile vida, não é?!

-Sim, sou bardo! E por que a surpresa? Por ventura é assim tão
estapafúrdia a ideia de um bardo sozinho desbravando ao lado
de sua querida lira o tão temido deserto das dunas de Arak
Ja'Raésh? Sim, de fato é! Mas, como bardo que sou, sou um
grande colecionador e apreciador de contos, lendas e mitos, dos
mais excêntricos e fatais, mas é claro que estou aqui por questões
óbvias também, é como eu sobrevivo, he he! Então, mesmo com
certo receio (para não dizer medo) eu percorro por estas bandas
atrás de grandes acontecimentos que os deuses providenciam
aqui para que eu possa ser o bardo que os conte.
-Há! Está vendo, já vejo em teus olhos que após saber de minha
boca que sou bardo, encontras agora solícito em entreter vossa
mente afadigada com alguma poranduba, visto que por sua
aparência suponho que tevês tu um dia difícil e árduo não é
mesmo? Sim, um desejo digno de um aventureiro errante de
Yrhour’Ef. Uhum! De fato!

-Não são poucos os que procuram “caminhos e objetos” que


poderiam mudar as vidas destes pobres filhos de Yrzu’Ef de
inimagináveis formas, formas essas que poderiam mudar, de um
dia para o outro, a vida de um simples plebeu à de um sultão em
um estalar de dedos. Mas quem é que por ventura já viu algo
assim, não é mesmo, he he he! Mas sim, deixando de lado as
enfadonhas opiniões, nisto não posso mentir inesperado
audiente! Essas terras desérticas de Alakantes são sim um
convidativo poço profundo de masmorras e covis, tesouros e
artefatos, azáfamas e aventuras, todas dignas de serem contadas
pelas bocas dos mais excelsos bardos que Yrhour’Ef pode conter,
mas também, poucos são os grandiosos aventureiros que
conseguiram tais feitos, se é que de fato estes tais “heróis”
realmente existiram, não é?! Um outro sim lhe digo, que estas
terras, e não somente essas, são habitações de seres e criaturas
não muito amistosas, muitas delas até são míticas, algumas delas
eu lhe recomendaria não as procurar, e em caso de topar-se
frente a algumas delas (se é que elas de fato também existem),
rezes tuas melhores e maiores preces ao teu deus para que ele se
apiede de ti e intervenha na fatídica morte que por um
infortúnio chegaste a ti; posso até um dia contar, se assim for
estimulado, o que um humilde e cigano bardo destas terras como
eu ouviu acerca destas estórias, mas todas elas são contos para
muitas luas e por consequência, elas ficarão para um próximo e
novo inesperado encontro.

-Alakantes, e não só ela, na verdade toda Yrhour'Ef , é uma


terra mágica e acredito que nem no caso de eu ser abençoado
por algum deus com a imortalidade e ainda sim conseguisse
percorrer todas as terras dos quatro quantos de Yrhour'Ef , seria
eu capaz de reter todas as míticas e divinas estórias que esta
terra, que é dita ser uma terra especialmente querida pelos
deuses e palco de um plano não compreendido pela criação, já
viu.

-Esses desertos, que assombram as vidas dos seres vivos, já foi


um lugar de abundância de vida; os antigos dizem que esta terra
foi o primeiro lugar que os deuses plantaram seus pés quando
desceram dos céus. Aqui há muitas masmorras e tesouros
deixados para trás pelos deuses, o que faz com que grandes
aventureiros arrisquem suas únicas e preciosas vidas atrás de
tais artefatos, mas nenhuma delas se compara ao dois rios
cristálicos que dizem repousar em algum lugar destas terra, as
tais jazidas que são herança de uma triste história do plano
divino, uma história de amor, guerra, ódio e separação. Parece
que os deuses também sofrem por amor, e estas jazidas serão o
testemunho eterno das tristes lagrimas derramadas por um casal
divino que só queria ter vivido seu dom da eternidade juntos.

-Mas vamos lá, achegue-te à fogueira para que aqueças bem


tuas vestes nesta noite de lua crescente, pois ela, por um suposto
bom acaso, além de companheira, virá a calhar em ser a
protagonista deste conto que lhe direi agora. Tome, deleite-se
com esta bebida quente e abra bem os ouvidos, que espero que
estejam limpos, pois nesta noite, por hora, a ti e a todas as
testemunhas não visíveis aqui por nós, contarei o que um
zíngaro bardo sabe sobre o “Conto das Jazidas Gêmeas da
Penumbra”.
Antelóquio Celeste
Uma breve viagem ao início das eras.

-Tudo bem, tudo bem, eu sei que disse que lhe contaria acerca
deste conto, mas eu realmente preciso voltar um pouquinho no
tempo, pois não sei até onde estais tu familiarizado com os
contos dos tempos e seu início, onde tudo ainda era um divino
viver; então peço que tome mais uma boa taça desta bebida
quente e me perdoe por não ser direto naquilo que prometi, mas
prometo que serei o mais breve possível (eu acho).

Houve um tempo nas regiões celestes, onde os habitantes desta


dimensão, unindo-se e dando-se em união, criaram seres e
criaturas um pouco menores do que eles. Todos estes seres
tomaram lugares como habitação e fizeram com estes lugares o
que lhes bem aprouve; ao que se sabe, toda a região celestial foi
habitada e crescia o reino dos céus. Os primeiros seres, os
primogênitos de Arhk Yrzu’Ef, o Excelso, eram chamados de
Construtores ou Engenheiros, não sentiam necessidade ou desejo
libidinoso na união deles, toda atitude e decisão tomada por eles,
inclusive suas uniões, eram primariamente feitas a partir de
tratados para ampliar suas criações, mas por muitas vezes, foram
apenas curiosidades acerca do que ou quem viria resultar em
suas uniões que os motivaram a fazer tal feito; muitas destas
uniões eram validadas, legais e bem vistas por eles, outras nem
tanto, algumas delas eram escondidas e silenciadas, outras
poucas, sórdidas e abomináveis. Mas mesmo assim, às luzes ou às
sombras, houve abundância de seres e criaturas nas ordens
celestiais.

Toda esta gama de seres, a não ser que eles assim desejem o
contrário, não podem ser vistos por nós, pois fazem parte de uma
outra ordem e estrutura de coisas do qual nós, seres menores,
não podemos compreender, ou pelo menos não por hora. São
eles seres etéreos, dos quais não carecem de manifestar-se na
tridimensionalidade para assim existirem, antes pairam em
outras camadas mais sutis da existência que são base para a
nossa realidade, e de lá se tornam criadores e ao mesmo tempo,
espectadores da sinfonia da vida.

Muitos deram nomes ou pelo menos tentaram nomear aquilo


que acharam terem visto ou ouvido ou ao menos sentido, outros
deram nomes a esta celeste região e aos seres que lá habitam,
mas nos tempos de hoje, o nome que nos é ensinado a nomear
este lugar é Arhk Yr’Alakaste, talvez você o conheça por outro
nome, mas por estas terras, é assim que a chamamos.
Neste tempo, nos é dito que as criações deste plano físico ainda
não haviam sido criadas, pois ainda havia paz, concordância e
bonança nas alturas; ao princípio, nos céus, não havia
necessidade de algum tipo de política ou algo desta ordem, pois
todos os seres primários, apesar de ainda não compreenderem as
coisas que eram antes deles, entendiam que vieram de um
mesmo e único pai, e assim todos viviam debaixo da ordem
estabelecida pelo mesmo.

Farei um ponto aqui e falarei brevemente sobre este nome que


somos indignos de pronunciar, e que Yrzu’Ef me perdoe, mas
acho que será mais proveitoso perante a história que tu venhas
saber isso:

Arhk é um termo adjunto de tudo aquilo que é elevado e excelso,


ou que pelo menos se quer elevar, ele maximiza aquilo que
nomeia, servindo como um termo para denotar real, elevado e
verdadeiro sentido do que se pretende dizer após ele; Yrzu, em
nossa língua, significa Soberano, acima de todos, elevado, é um
termo muito usado para a realeza ou grandes figuras nessas
terras, ele já foi um nome e ainda é, mas é muito comum usarem
este termo das mais variadas maneiras, como verbos e adjetivos,
pronomes e nomenclaturas, acostume-se a isso, pois é mais
comum do que se imagina; ‘Ef foi o único som que
aparentemente este Ser disse audivelmente aos Construtores
quando os mesmos perguntaram a Ele quem Ele era, eles não
entenderam de fato o que lhes foi dito naquele momento por Ele,
mas é dito que esse é um termo que significa TOTALIDADE,
COMPLETUDE e UNIDADE, em seu mais puro e profundo
sentido. Então quando dizemos Arhk Yrzu’Ef estamos tentando
exprimir o sentido de alguém que é acima de tudo e todos e
infinito em si mesmo. Você pode tentar entender o sentido disso,
mas acredite amigo, você não seria o primeiro e creio que nem o
último a tentar tal façanha, eu mesmo tentei, mas minha cabeça
não consegue conceber esta ideia, caso tu consiga, diga-me o que
achas.

Bom, o Criador quando os criou, os encarregou de ser uma


expressão Dele mesmo, é dito que Ele, quando cria, sempre
deposita dons de si mesmo em suas criações, esses dons são como
uma centelha, um fractal daquilo que Ele mesmo detêm, e aqui
vai uma ciência; um fractal seja ele psíquico, físico ou metafísico
(no campo das ideias), apesar de ser menor que o original, esse
mesmo fractal tem proporções e capacidades infinitas em si
mesmo assim como o seu maior, quanto mais você entender
acerca disso, melhor será para ti. Aos Primogênitos, lhes foi
concedido e imbuído o dom de criar; o Criador, a partir deles,
iniciou seu projeto de criação.
Eles e seus filhos viviam a partir desta simples ideia, o que lhes
era suficiente, visto que eles não eram seres com ambições muito
distintas das de criar apenas; não sabemos de fato quantos eles
são, mas nos é dito que eles são a essência das energias e pilares
das criações, eles são infinitos a partir de si, mas essa infinidade
pode se multiplicar a partir da união deles, esta então era a única
“ambição” por assim dizer que os criadores tinham e assim foi o
que eles fizeram, criaram a partir de si e criando tudo quanto
lhes coube e aprouve, viram que, unindo-se, conseguiam fazer
muito além do infinito que já outrora haviam criado. Destas
uniões nasceram então os deuses de segunda casta, deuses
considerados mais próximos de nós em diversos aspectos e logo
você entenderá isso.

Os Construtores, eram seres que detinham de um pensamento


crítico e racional apenas, sua sabedoria e sua inteligência eram
baseadas sempre em decisões pragmáticas e racionalistas; seus
filhos porém, ao nascerem, surpreenderam seus pais quando os
mesmos notaram que eles emulavam em si mesmos sensações
que outrora eles, os grandes criadores, agora atarantados e
resolutos e que até então não haviam se encontrado em tal
situação de não entender algo, não sabiam explicar o desenlace.
Então nomearam esta causalidade de “SENTIMENTO”, pois
apesar de não serem capazes de participar das mesmas ideias
que seus filhos diziam sentir, comungaram em dizer que aquilo
fazia parte do racional de cada um deles e que por fim, não
podiam denotar este incidente como uma ádvena.

“É certo dizer que, os filhos não sabem mais que os pais; mas, é
fato dizer que, os filhos saberão de coisas que seus pais nunca
saberão”.

Esse é um ditado que é muito comum por estas terras, dizem ter
surgido a partir deste fato que ocorrera e dos que ocorreriam
logo após esse. Visto que uma nova reação havia surgido entre as
novas hostes celestiais, como curiosos criadores que são, e
entendendo que aquilo não era algo a se preocupar, muito pelo
contrário, pois era algo fascinante aquilo que observavam e a
cada momento que se passava tomavam aquilo como belo e
puro, decidiram não comunicar isso ao Criador e passarão
apenas a observar o que lhes havia surgido, pois lhes aparentava
talvez que aquilo poderia ser a encarnação da própria
espontaneidade e até perguntavam entre si se o próprio Criador
em sua grandeza e sabedoria não havia lhes concedido a graça
de ver mais uma de suas facetas na criação. Sim, de fato aquele
tal de “sentimento”, como eles haviam nomeado, era como uma
bela tempestade eufônica, um turbilhão ameno de
espontaneidade, que parecia querer si provar ser tão
heterogêneo da normatividade racionalista que movia o coração
de seus pais; mas, assim como a certeza de que o dia espanta o
mal e a noite é o seu covil, assim também nesta certeza, do acaso
surge o inesperado. Ainda sem entender essa novidade, seus
filhos passaram a não mais mostrar a mesma intenção na união
que seus pais tinham, passaram a dizer coisas sem sentido como
Amor, Paixão, Raiva, Felicidade, Euforia, Tristeza e Solidão, coisas
que não tinham o menor sentido para a mente pragmática de um
criador, e isso lhes causaram transtornos que nem mesmo suas
mentes pragmáticas conseguiram calcular, nem naquele
momento e nem sequer agora.

Para os Construtores, o conceito de bem e mal não existia, não


fazia o menor sentido para eles visto que eles não poderiam ser
afetados por praticamente nada a não ser pelo o próprio Criador,
e suas mentes racionais conseguiam apenas enxergar resultado e
nada mais que isso, e bem, não sei ao certo se isso é uma dádiva
ou uma maldição; por isso, o que nós dividimos como bem e mal
porquê isso nos afeta, para eles eram apenas ofícios. Então deles
provieram seres que para nós são seres de luz e trevas, bons e
maus, mas para eles eram apenas criações de suas mãos.
Eu sei, eu sei! Você já sabe o que está por vir, pois para nós, seres
dotados desse mesmo “sentimento” por assim dizer, sabemos que
nem sempre o amor, mesmo em toda sua expressão divina da
caridade, escolhe o igual ou semelhante para amar, muitas vezes
ele escolhe aquilo que é totalmente antagônico àquilo que ele é,
sendo que, foi óbvia tão qual a pureza de um clarão de um sol,
que seus filhos se viram envoltos em novas sensações
arremetidas, a partir dali, àquilo que não era ideal para aqueles
abaixo dos criadores. Seus filhos, e os filhos de seus filhos, após a
abarrocada expansão das habitações celestes, tendo em vista a
vasta variedade de seres que dançavam a epopeia da vida,
começaram a perceber que a natureza das coisas já não
acompanhava o ciclo natural de sua essência primordial, isso fez
com que eles, tomados por um sentimento puro de proteção,
fizessem tratados entre si e entre outros para que houvesse
uniformidade nas coisas que, para eles pelo menos, pareciam ser
distintas. A partir disso, foi-se surgindo símbolos de seus acordos
como, lei, tratado, demarcação, regra, cultura, e claro, proibição;
com toda essa sorte de novidade de coisas, aos poucos foi ficando
claro (não para todos, mas pelo menos pela maioria) que além de
estranho, era proibido relacionar-se com seres que não
pertencesse à mesma ordem de sua essência, então a partir dali, e
tão somente a partir daquele ato, houve o que você e eu
entendemos como a divisão de Luz e Treva.
Como eu disse antes, tanto os criadores quanto seus filhos,
uniam-se (mesmo que as motivações entre eles fossem
diferentes) como forma de expressar o dom da criação, e isso não
era só como uma simples vontade, mas também e muito mais
como a razão de sua existência. Toda união gera vida, e isso era
lindo, mas como bem lembrado por mim, algumas dessas uniões,
por razões platônicas talvez, foram consideradas ilícitas, outras
poucas abomináveis, ato que desencadeou uma nova era dentro
de tudo aquilo que se poderia chamar de habitação dos deuses, e
já lhe adianto meu amigo que, esta era, não foi um momento
agradável para aqueles que viviam ali e nem para aqueles ainda
haveriam de vir, especialmente para aqueles que viriam em
longínquos tempos vindouros.
O Nascimento de Yshar e Lau’ Zifér
A Estrela de Prata e o Porfirogênito das Sombras

ALIANÇAS! Claro, há vezes em que outros objetos tão caros


quanto são usados para simbolizar a união de dois seres que se
amam e que nunca mais pretendem ver-se apartados da
presença do outro, mas geralmente são alianças que nós, seres de
Yrhour’Ef, comumente usamos nestas ocasiões, geralmente parte
de um jovem aspirante a pretendente que provavelmente se
encontra irracionalmente apaixonado por uma bela e ninfa
donzela tão linda quanto as deusas, poderia ele dizer em seu
amor visceral e pueril, mas com os deuses não era assim, e aqui
começa o sentido de nosso conto; desculpe a demora, mas
compreenda que, para um bardo que poucas vezes tem a
oportunidade de encontrar alguém por essas terras e que ainda
por cima está desejoso em ouvir seus incríveis contos, é difícil
conter o sair das palavras, he he he!

Como havia dito antes, os deuses e tudo que provém de seu


habitat são seres etéreos, ou seja, são seres que não fazem parte
desta cadeia menor de coisas desta dimensão, são invisíveis aos
olhos dessa dimensão, a não ser que assim desejem o contrário.
Neste período, os corpos materiais do espaço ainda não haviam
sido feitos, pelo menos não todos; não há nada mais belo do que
observar em uma noite de céu límpido o resplandecer dos astro
que permeiam os céus desta dimensão, e aposto que você já se
perguntou: “Como coisas tão lindas poderiam ter sido criadas
para nada se não apenas alumiar as noites sorrateiras dos que
não dormem?” Não é mesmo? E sim, lhe digo que realmente não
foram, pelo menos é o que me disseram. Por despretensiosa
decisão, os deuses acharam que toda decisão no plano etéreo
deveria deter de um símbolo no plano material, tendo em voga
que este plano ainda sem vida era como uma tela nas mãos de
pintores entusiastas; pois foi assim nasceram os astros do céu. É
dito que para cada astro no céu, uma união, um nascimento ou
no mínimo um acordo entre os deuses foi feito, não sei o quanto
disso é verdade, mas só de imaginar que a cada nascer de cintilar
nos céus, um deus decidiu gerar uma vida, nos faz pensar como
é bom estar debaixo das mãos de tais seres bondosos, não é? Sim,
a vida realmente parece se tornar um pouco mais bela, uhum!

Mas meu amigo, eu infelizmente terei que interferir no seu


prematuro alegre viajar e dizer que nem sempre os astros são
símbolos de jucundo viver, alguns destes astros que aqui neste
momento podes deleitar tuas vistas se voltar teus olhos ao céu,
são expressões de tristes ocorridos, selos de ações considerados
infortúnios para os deuses, e um deles está bem perto de nós, ela
é a imperatriz da noite, o astro que banha as bestas feras e
aqueles que escolhem as sombras para fazerem o mal que as
barreiras do dia os impedem de ser o que desejam, sim meu caro
ouvinte, este astro é a lua e lhe direi agora o taciturno conto que
no estender do meu falar tanto lhe incomodei, mas que agora
não tarda mais.

“O Amor, é a neblina aos olhos gélidos do noturno viajante


despido que tem por nome, Razão!”

Quando os filhos decidem quebrar as regras que seus pais


outrora haviam estabelecido por acharem que era necessário que
(para manter a ordem das coisas) fosse proibido que eles
fizessem diferente daquilo que foi proposto, o resultado pode vir
a ser doloroso, e infelizmente, esta dor nem sempre é colhida
apenas por quem à planta; esse foi o melancólico resultado da
união proibida de Yshar –A Estrela de Prata- e Lau’ Zifér –
Porfirogênito das Sombra-, ambos princesa e príncipe dos reinos
das Luzes e das Trevas.

Yshar Rás Haegar, a linda e reluzente princesa do fogo e de


linhagem real, era uma das três formosas filhas de Ytur Rás
Haegar, deus de segunda casta filho de um criador de elemento
fogo; Yshar era a segunda filha de Ytur e a mais amada por seu
pai, pois além de lembrar a sua linda rainha em formosura,
F'Loena Haegar, rainha do fogo da casta da Chama do Recobro,
também havia nascido com um dom especial, uma graça única,
mas que, assim como uma maçã venenosa que à boca desce
suave e aprazível mas que ao ventre torna-se amargo e
mortífero, viria a mudar o rumo de todas as coisas celestes.

Aqui vale dizer rapidamente uma coisa; desde os Primogênitos,


todos os seres são seres inteiramente elementais, cada um deles
tem sua essência baseada em um elemento sendo eles Fogo, Água,
Terra, Vento, Madeira e Metal. No campo material, nem todos
nós temos essa condição de manipular os elementos, nem todos
nós somos seres mágicos, porém, e não sei bem ao certo o porquê
disso, há alguns entre nós que nascem com essa condição; os
mais otimistas chamam esta graça de dom, porquê muito tem
ajudado os seres de Yrhour'Ef os que detêm tais dons, auxiliando
os seres viventes no andar do caminho da bondade até chegarem
aos Vales Plumérios de Yr'Malhur, o deus que cuida das boas
almas; já os mais negativistas acham que isso só pode ser uma
maldição de algum deus rancoroso que gostaria de ver a
discórdia na terra, pois onde há justiça em tão poucos seres, e
somente eles, nascerem com este tão valioso e único dom, não é
mesmo? Bom, à esses seres, no decorrer dos tempos, foram
designados muitos nomes e termos, mas hoje eles são mais
conhecidos como Magos, seres capazes de perceber e manipular
através de alguns critérios o éter que permeia toda a criação,
energia que gera a vida e delibera a morte, que da cor a flor e ao
sangue derramado, que arrebata sorrisos e extrai lágrimas de
rostos vívidos, esta energia é chamado pelos mais estudiosos de
Mana.

Somente os magos são seres elementais aqui na terra, podendo de


criativas maneiras distorcer a natureza das coisa que os
criadores criaram de uma forma limitada por assim dizer, mas
para os seres etéreos não há essa limitação, todos eles são seres
elementais, na verdade são muito mais do que isso, todos eles são
seres formados à partir dos elementos, então não somente eles
detêm o controle de seus respectivos elementos, como também e
na verdade, tem sua existência inteiramente ligada ao seu
elemento, sendo cada parte de seu corpo, por menor que seja,
formado pelo elemento de sua graça, os deuses são manifestações
puras dos elementos que estrutura toda a criação.

A casta da família Rás, progenitores do rei Ytur, eram detentores


da Chama Escarlata, uma chama rubra de um intenso calor que
diziam eles ser comparado à uma assembleia das estrelas
maiores, poder esse que os fizeram serem reconhecidos como
realeza no meio das outras castas, a maioria daqueles que faziam
parte do elemento fogo (não todos, e um pouco mais à frente
explico o porque) acreditavam que tamanho poder seria uma
bênção do próprio Criador e por isso acreditavam que essa
linhagem seria a linhagem que reinaria sobre os demais do fogo;
a família de sua leal e afável rainha e esposa, a família Haegar
era detentores de um já estimado mas diferente poder, eles eram
detentores de um não tão antigo poder, a Chama do Recobro,
uma vicissitude no meio das outras castas do fogo, uma espécie
de chama altamente luminosa mas não tão agressiva diante das
chamas dos Rás e dos demais; apesar de ser entre as demais
chamas a menor em poder e ímpeto, parecia aos olhos dos
demais (e realmente assim o era) que tudo o que as chamas
tocavam, automaticamente se curava e/ou afagava aquilo que
tocava, passava a sensação de um acalentar materno, um
fraterno abraço, o aconchego de um lugar que lhe faz bem e os
Rás viram graça e bênção do Criador nisso, assim pactuaram
entre si concernindo a união de seu príncipes.

Desta ímpar, festiva, memorável e jucunda união da realeza,


surgiu a tão amada Yshar.

Yshar era uma das três princesas filhas de Ytur. Yz'Azuná -O


Quasar Cetrino-, primogênita do grande Ytur, era o orgulho de
seu pai, esta herdou o poder paterno de seu sangue e mostrava
grande aptidão e desenvoltura em tudo aquilo que conotava uma
figura da realeza, sempre cogitada a suceder seu pai, mas
também muito disputada por outras famílias nobres do fogo. Sua
irmã caçula, -A Luminescência de Rás-, era Yu'Daelí, era ela até
aquele dia o ser mais brilhante que as habitações do fogo haviam
visto, e assim como seu brilho, seu intelecto era ímpar, desde da
tenra idade mostrava facilidade para entender as ciências e
compreender a sabedoria dos antigos, muitos apostavam que ela
seria um braço direito auxiliador de sua irmã quando a mesma
herdasse o trono de seu pai, visto a nítida similitude de irmãs
entre elas. Mas nenhuma das duas eram tão amadas por seu pai
(pela sua mãe também, mas o amor de seu pai era inexplicável)
quanto Yshar -A Estrela de Prata- e vou lhes dizer em apenas um
dito o porquê do amor de seu pai e também o nome estrela de
prata; quando Yshar nasceu, a estrela que havia sido criada para
memorar o casamento entre seus pais, espantosamente verteu
seu brilho à uma cor até então não vista pelo seres que ali
viviam, era um lumiar cintilante, ofuscante aos olhos daqueles
que tentavam encarar o brilhar nascente daquela tão importante
e representativa estrela. Seus pais, estupefatos com o ocorrido,
cogitaram diversos porquês de o que aquilo significava, mas por
mais que eles arrazoassem entre si o que aquilo queria dizer, não
chegavam ao senso comum a cerca do acontecido, decidiu então
o rei ir até a presença de seus pais para conseguir algum sentido
sobre aquilo, visto a vasta vivência e sabedoria de seus pais.
Os filhos dos criadores eram tantos que não se podia contar, e
isso nos parece ser verdade visto que é dito que para cada estrela
um deus de segunda ou mais castas nasceu, mas não é assim com
seu pais; os Criadores ou Engenheiros, se assim preferir, foram
criados em quatro seres para cada elemento, sendo dois casais
para cada um deles, um casal representa o que hoje nós
chamamos de luz e por seguinte, o outro representa as trevas por
assim dizer, e lembro-te que apesar de para nós esses termos
representarem tantas coisas boas e más, para eles são apenas
diferenças lógicas porque para eles era óbvio e simples o
entendimento de que para um lado existir um oposto deve
também conjuntamente existir. Mas apesar de entre eles não
haver conflito, não era tão simples tê-los em um mesmo lugar
devido serem formados por energias opostas, assim, os dois
casais habitavam veementemente distantes dentro de suas
regiões, apenas a cada um mil kizag (tempo divino) os pólos se
encontram o mais próximo possível permitindo falar com os pais
rapidamente, e por coincidência ou não, Yshar nasceu naquele
período.

Quando o grande Rei do fogo foi ter com seus pais que a tanto
não os via, abriu-lhes as boas novas e o aturdido fato que
ocorrera, seus pais, sem demonstrarem muita surpresa, disseram
que o nascer de um corpo celeste, quando feito debaixo de bons
preceitos, tornaria um certo tipo de bênção vindoura para os
planos que o criador tinha para aquela dimensão até então sem
vida racional, mas disseram que quando um estrela verte seu
brilho, um agouro chega as dimensões celestes. Ytur, aturdido,
não entendeu de fato o que seus pais disseram, por que até então
não havia tido a grande divisão do bem e do mal e tudo aquilo
que e traria consigo, por isso não compreendeu em totalidade
quando lhe disseram a palavra “agouro".

Ytur, antes mesmo de tornar a falar com seus pais envolvido em


confusão extrema, foi interpelado por eles novamente que
disseram com uma firmeza inexorável: “Filho, grande Rei do
Fogo, sabemos que em nosso viver por muitas vezes queremos
entender o tudo e o todo que nos é apresentado perante nossa
face; sabemos que, e nós teus pais somos os maiores exemplos
disto, por muito nos inquietamos quando por ventura não
compreendemos as esporádicas nuances que esta vida que o
Criador nos deu vem nos proporcionar, é natural esta atitude
visto a perplexidade em que nos encontramos às vezes e
achamos, em nossa extensa vivência, que nos parece que assim
suscitou o Criador em planos que até para nós nos foge o
entender. Nem sempre, filho meu, seremos capazes de entender
todas as coisas que nos sucedem logo de imediato e isso mostra,
mesmo tamanha a glória que detemos, o quão pequenos e
involuidos são os passos que damos no trajeto da vida, por isso,
grande Ytur do fogo, lhe dizemos, vá e vivas bem com aqueles
que lhe são queridos, ande bem e conforme o que o Criador
plantou em seu coração visto que isso é tudo o que podes fazer
perante a vida, pois o futuro é servo do Criador apenas e apenas
a Ele presta contas. Ames bem teus filhos e vivas aquilo que tu e
teus irmãos chamam de Sentimento".

Aquilo não mitigou a turva inquietude em que se encontrava o


coração de Ytur mas as inteligíveis palavras de seus pais lhe
abrandaram a turbulência que pairava seu íntimo, e assim, após
as formalidades perante seus pais voltou Ytur com sua comitiva
real aos braços de sua aprazível família.

Assim, passando vários kizag, cresciam de forma esplendorosa


Yshar e suas irmãs e participavam junto ao seu pai nas
atividades em que competiam à realeza, muitos deles eram sobre
o estudo das ciências dos antigos, a natureza da vida e suas
multiformas em manifestar-se e a compreensão dos caminhos da
vida e das criações no plano material. Muito disso era ensinado
por seu satisfeito e alegre pai em viagens pelo cosmos
apresentando e ensinando às filhas as histórias que cada astro
representava para seu povo, o que significava e os por quês
destes magnânimos símbolos; suas filhas eram todas geniosas,
cada uma em seu aspecto e isso orgulhava seu satisfeito pai, mas
Yshar, de uma forma terna, arrebatava o coração de seu pois
desde muito cedo demonstrava deter de uma graciosidade do
qual encantava a todos que tivessem a ímpar oportunidade de
conhecê-la e seu pai era um desses. Sempre com seu belo
sublime sorriso em seus graciosos lábios, acompanhava neste dia
tão especial seu pai junto à suas irmãs para mais uma viagem
pelo cosmos ao encontro de um astro para conhecer as histórias
que cercavam seu brilho, mas neste dia um astro mais que
especial seria apreciado, o astro que representava a feliz união
de um rei e uma rainha do fogo ímpar, o astro que dava
significado à existência de Yshar e suas lindas irmãs, o antigo
grande astro rubro que vertera seu brilho ao prata, a estrela de
M’tisgarov. Conhecer a história dos astros era algo que
naturalmente deixava Yshar alegre (sua irmãs, quase nada),
mas poder conhecer as historias que cercavam a estrela de seus
pais e com uma incógnita que permeava este astro, gerando
várias lendas e mitos, deixou Yshar afoita em chegar logo ao
destino da viagem.

Quando chegaram ao local, começaram a perambular pelo face


da estrela observando suas formas e ouvindo de seu pai os
significados de cada uma delas, e com muita cautela, foram
previamente instruídas a não se afastarem demais da comitiva
real pois todo astro que paira pelo cosmos pode contém criaturas
irracionais que se alimentam incessantemente da energia
emanada por elas, essas criaturas são chamadas de Kuborgs.

Assim, ia se terminando a viagem quando em um dado momento


um pequena frota informante da guarda real veio ao encontro
do rei e o mesmo, vendo que era necessário atendê-los, foi ao
encontro deles deixando suas filhas com mais um reforço de
cautela.

Mas o óbvio aconteceu, como sempre acontece com jovens


inconsequentes e teimosos; de um forma que só os jovens
conseguem fazer, as três irmãs conseguiram se esgueirar por
entra a guarda para então fazer da viagem uma aventura com
mais “cara" da juventude. E passando por vários destemidos, mas
estúpidos, desafios que apenas jovens propõem a outros jovens
fazer, entre sorrisos eufóricos frente as cômicas “quase” falhas
cometidas por elas, as três chegaram à alguma espécie de um
grande túnel arrojado ao solo e apesar do espírito inconsequente
que todo jovem tem, as três logo perceberam que ali não seria
um viável lugar a se desbravar, e após desafios mútuos que
risonhamente demonstrava a covardia intrínseca a todo coração
jovem, as três resolveram voltar para o local de encontro ao seu
pai, pelo menos foi o que intentaram as jovens deusas donzelas
quando aos primeiros passos que deram um kuborg
descontrolado surgiu perante as princesas quase como se o
próprio kuborg houvesse visto a face de Ma'aluiwa, a
embaixatriz da morte. Naquele momento, sem ter muito tempo
para elaborara um raciocínio, Yz'Azuná armou em combate com
suas poderosas chamas escarlates a modo de defender as irmãs
menores, entrando em combate com a besta estelar que
descontroladamente embatia com tudo e todos que entrasse em
seu caminho e por maior que fora o poder do Quasar Cetrino,
seu poder jovem era parcialmente engolido pelo kuborg que aos
regojitos expelia o poder de Yz'Azuná; as irmãs, da maneira que
podiam, tentaram ajudar ao seu modo juntando-se a irmã
detentora do sentimento protetor que seu pai também tinha, mas
foi em uma das investidas da besta fera que Yu'Daelí sofreu um
dano que a deixou inconsciente, o que fez com que Yz'Azuná, em
um ataque de fúria, emanasse o potencial que até então era
desconhecido pela mesma transformando o kuborg berserker em
borralho cósmico, fazendo com que Yz'Azuná, após alguns
pequenos momentos de respirar com olhar prepotente perante as
cinzas da fera, virasse o rosto em busca de suas irmãs, o que a
deixou surpresa quando apenas encontrou uma, Yu'Daelí semi
acordada sustentando-se sobre seu cotovelo ao chão; o que
Yz'Azuná não tinha visto era que o emanar da energia até então
inerte em seu corpo, criou uma onda que precipitou Yshar ao
túnel que elas haviam decidido evitar. Alguns instantes depois,
visto as energias e ondas que fora emitidas no calor do embate,
celeremente chegou a guarda real comandada por um sôfrego
rei de olhar arregalado ao ver duas de suas tão amadas filhas aos
prantos pela dor do embate e perda da irmã, e ao pai, só coube
elevar suas preces ao Criador esperando misericórdia; o que ele
não sabia é que muito mais que misericórdia, o Criador havia
preparado um destino ímpar para Yshar do qual seu querido pai
ainda não podia mesurar.

Aos sintomas de vertigem, ligeira amnésia e dor de cabeça,


Yshar, que aos poucos ia tomando a visão novamente, percebeu-
se em uma espécie de ante-sala rústica mas que aparentemente
parecia planejada, e quando pode ter total certeza de poder ver
novamente após os maus sintomas, pode ver um desencadeado
florir de cristais que embelezavam o local de uma forma rústica
e belo, notou mais a frente um pequeno portal e enquanto
concernia sobre o portal admirando a beleza única do local,
podia jurar ter ouvido em sua cabeça alguém chamar seu nome
vindo da direção além do portal, era uma voz doce, suave e
convidativa, o que fez com que, por um impulso despretensioso
que apenas os jovens tem, a jovem se visse atravessando o portal,
o que a deixou mais deslumbrada com o que vira depois.
Passando Yshar pelo portal que fazia divisa entre as salas, ficou
encantada com a sala que aparentava ter o triplo do tamanho da
anterior do qual estava tomada, como em um jardim, de formas
cristalinizadas de diversos tamanhos, jardim esse que encantava
os lindos olhos da jovem princesa mas que foi logo esquecido
quando notou no meio deste vislumbre um pequeno rio em
forma de arco fluindo um líquido platinado e uma pequena
ponte de cristal atravessando-a, e no centro deste rio, ligado a
pequena ponte, ela pode perceber flutuando em um punhado de
terra cristalina uma lácrima argenta do tamanho de um punho
fechado de um homem pairando ao centro da pequena ilha,
imóvel, como se esperasse o retorno de seu dono; Yshar sem
compreender direito, sentia-se atraída pelo que estava vendo e,
com certo receio, foi sendo envolvida pela aura que o ambiente
criava de modo que ia se achegando cautelosamente em direção
a lácrima, foi quando que, estendendo a mão à lácrima, uma
entidade sem nome apareceu diante dela tomada de uma glória
que nem ela e nem seus pais, os de segunda casta tinham, de
modo que foi compelida por si mesma, talvez por instinto, a
ajoelhar-se perante a entidade.
A partir disso outro inesperado aconteceu perante os criadores,
confronto, guerra e Morte.

Apresentou-se então perante eles um dos seres primordiais que


antecedem a existência da criação, entidades que antes lhes eram
apenas conceitos; seres que permeiam a existência sem serem
notados, mas que são imutáveis e inevitáveis, e um deles
personificou-se perante eles. Iniciou-se primeiramente como
assobio fúnebre, daquele que só se ouve por entre as árvores de
Murko’yeirr, a floresta eivada do ominoso mago necromante
Azaroth’ ba agnar, O Execrado, e enquanto o som horripilante
soava, pareceu-se ouvir uma sinfonia cacofônica deletéria
daquelas que qualquer besta fera uivaria ao ouvir

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