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ALAKANTES
-Hum?! Hein?! Ora essa, mas que baita susto você me deu,
jovem! Você não sabia que se esgueirar por de trás de alguém no
meio de um deserto desses é estar pedindo um encontro
antecipado com Ma'aliuwa, a deusa da morte?
-Por mil trovões, rapaz! Que fazes tu andando por essas dunas
nesta tempestade e à noite ainda por cima? És tu algum suicida
ansioso em encontrar os arautos da morte? Você poderia ter
morrido, viu? Por um pouco iria eu acabar com sua vida e...
-Ei! Ei ei ei! Você está bem? Ei, cuidado...
-Sim, sou bardo! E por que a surpresa? Por ventura é assim tão
estapafúrdia a ideia de um bardo sozinho desbravando ao lado
de sua querida lira o tão temido deserto das dunas de Arak
Ja'Raésh? Sim, de fato é! Mas, como bardo que sou, sou um
grande colecionador e apreciador de contos, lendas e mitos, dos
mais excêntricos e fatais, mas é claro que estou aqui por questões
óbvias também, é como eu sobrevivo, he he! Então, mesmo com
certo receio (para não dizer medo) eu percorro por estas bandas
atrás de grandes acontecimentos que os deuses providenciam
aqui para que eu possa ser o bardo que os conte.
-Há! Está vendo, já vejo em teus olhos que após saber de minha
boca que sou bardo, encontras agora solícito em entreter vossa
mente afadigada com alguma poranduba, visto que por sua
aparência suponho que tevês tu um dia difícil e árduo não é
mesmo? Sim, um desejo digno de um aventureiro errante de
Yrhour’Ef. Uhum! De fato!
-Tudo bem, tudo bem, eu sei que disse que lhe contaria acerca
deste conto, mas eu realmente preciso voltar um pouquinho no
tempo, pois não sei até onde estais tu familiarizado com os
contos dos tempos e seu início, onde tudo ainda era um divino
viver; então peço que tome mais uma boa taça desta bebida
quente e me perdoe por não ser direto naquilo que prometi, mas
prometo que serei o mais breve possível (eu acho).
Toda esta gama de seres, a não ser que eles assim desejem o
contrário, não podem ser vistos por nós, pois fazem parte de uma
outra ordem e estrutura de coisas do qual nós, seres menores,
não podemos compreender, ou pelo menos não por hora. São
eles seres etéreos, dos quais não carecem de manifestar-se na
tridimensionalidade para assim existirem, antes pairam em
outras camadas mais sutis da existência que são base para a
nossa realidade, e de lá se tornam criadores e ao mesmo tempo,
espectadores da sinfonia da vida.
“É certo dizer que, os filhos não sabem mais que os pais; mas, é
fato dizer que, os filhos saberão de coisas que seus pais nunca
saberão”.
Esse é um ditado que é muito comum por estas terras, dizem ter
surgido a partir deste fato que ocorrera e dos que ocorreriam
logo após esse. Visto que uma nova reação havia surgido entre as
novas hostes celestiais, como curiosos criadores que são, e
entendendo que aquilo não era algo a se preocupar, muito pelo
contrário, pois era algo fascinante aquilo que observavam e a
cada momento que se passava tomavam aquilo como belo e
puro, decidiram não comunicar isso ao Criador e passarão
apenas a observar o que lhes havia surgido, pois lhes aparentava
talvez que aquilo poderia ser a encarnação da própria
espontaneidade e até perguntavam entre si se o próprio Criador
em sua grandeza e sabedoria não havia lhes concedido a graça
de ver mais uma de suas facetas na criação. Sim, de fato aquele
tal de “sentimento”, como eles haviam nomeado, era como uma
bela tempestade eufônica, um turbilhão ameno de
espontaneidade, que parecia querer si provar ser tão
heterogêneo da normatividade racionalista que movia o coração
de seus pais; mas, assim como a certeza de que o dia espanta o
mal e a noite é o seu covil, assim também nesta certeza, do acaso
surge o inesperado. Ainda sem entender essa novidade, seus
filhos passaram a não mais mostrar a mesma intenção na união
que seus pais tinham, passaram a dizer coisas sem sentido como
Amor, Paixão, Raiva, Felicidade, Euforia, Tristeza e Solidão, coisas
que não tinham o menor sentido para a mente pragmática de um
criador, e isso lhes causaram transtornos que nem mesmo suas
mentes pragmáticas conseguiram calcular, nem naquele
momento e nem sequer agora.
Quando o grande Rei do fogo foi ter com seus pais que a tanto
não os via, abriu-lhes as boas novas e o aturdido fato que
ocorrera, seus pais, sem demonstrarem muita surpresa, disseram
que o nascer de um corpo celeste, quando feito debaixo de bons
preceitos, tornaria um certo tipo de bênção vindoura para os
planos que o criador tinha para aquela dimensão até então sem
vida racional, mas disseram que quando um estrela verte seu
brilho, um agouro chega as dimensões celestes. Ytur, aturdido,
não entendeu de fato o que seus pais disseram, por que até então
não havia tido a grande divisão do bem e do mal e tudo aquilo
que e traria consigo, por isso não compreendeu em totalidade
quando lhe disseram a palavra “agouro".