entrevista agro sem crise a era das “lives”

Patrick Mendes, CEO da Accor: Real baixo e demanda da Ásia elevam Música sertaneja puxa alta de
“Sem ajuda, o turismo morrerá” exportações de soja da Cargill 4.900% em acessos do YouTube

alimentação
100
a
n at u

e r t ez
de
trab

medo
foco

ida
dól

digitalizaçãoinc
ar
r ez a

frágil criativ
alh vacina
o go
acaso

home office
p r e
resiliência novo em

ideias economia
máscaravirtual histeria
saúde
analytics
consumo
mobilidade
finanças

adaptação
t e n sã o
d e l i ve r y família

para lazer
r comportamento
lives infra
renda

enta estru
digital
aglomeração

e i nv quarentena clie tura

r Estados Unidos orçamento
n te

o Brasil
n to

doações
t e le
Eur
isolamento
empatia
so l i d a r
me

opa
med
esti

iedade
i nv

icina

pos-pandemia
reunimos Lideranças do empresariado, entidades
setoriais e personalidades da cultura para debater
como serão as relações sociais e a economia em
um futuro redesenhado pelo impacto da covid-19
Job: 22533-064 -- Empresa: Produceria Producoes -- Arquivo: AFC-NIS-22533-064-An.REV.Isto E-Resultados 40.4x26.6_pag001.pdf
Registro: 198835 -- Data: 19:30:23 06/05/2020
Job: 22533-064 -- Empresa: Produceria Producoes -- Arquivo: AFC-NIS-22533-064-An.REV.Isto E-Resultados 40.4x26.6_pag001.pdf
Registro: 198835 -- Data: 19:30:23 06/05/2020
Dinheirodaredação 13 de maio de 2020. Edição 1.170
A salvação das empresas
A convicção está se formando em todos os ramos de ativi-
dade. Não há mais como negar o inevitável: a pandemia do
coronavírus está obrigando empresas daqui e do mundo a
remodelarem seus modelos de negócio, cadeias de produção,
métodos operacionais, formas de relacionamento com o
cliente. Em suma, será tudo diferente. E não por um período
curto de tempo. Serão transformações estruturais, para além
das temporadas de isolamento e quarentena. A China vai se
comportar diferente. Os EUA, idem. E quem quiser garantir
seu naco de resultados nas fronteiras da concorrência, inter-
na e externa, terá de rever conceitos. Entre os impactos mais
óbvios, um deles está na garantia de insumos. No mercado
norte-americano, um levantamento revelou que 75% das
empresas vêm tendo problemas de fornecimento. Cerca de
44% delas não apresentavam nenhum plano alternativo e
62% relatavam atrasos de entrega. O que essa realidade de
hoje vai se refletir lá na frente no modus operandi de cada
companhia é claro. A interdependência, via globalização, será
revista. Cada vez mais as corporações, nos novos tempos, irão
precisar de suporte do Estado. E não apenas através de linhas
de crédito auxiliares. Será preciso disseminar novas políticas
de desenvolvimento estruturais, nas quais o avanço do prote-
cionismo venha a ser considerado. No Brasil, o governo pro-
mete, de saída, amenizar o impacto da pandemia na atividade
econômica com uma série de providências cujo potencial de
liquidez sinaliza para uma liberação de até R$ 1,2 trilhão em
recursos. O problema é que a logística tem sido complexa e o
4 Dinheiro 13/05/2020 Foto: istock i Claudio Belli/Valor i Claudio Gatti i SAMUEL K.
planejamento lento. Empresas já estão fechando as portas em
ritmo anormal. Ao menos no universo das micros, pequenas e
médias, as chances de sobrevivência diminuíram pela metade.
Os números de pedidos de recuperação judicial ou de simples
falência triplicaram e a tendência deverá seguir, não apenas
por meses, mas por anos. Quem sobreviver verá uma outra
realidade pela frente com técnicas distintas e postura de
atuação mercadológica remodelada. O tombo recessivo que
se segue – já foi apontado por organismos multilaterais, como
o próprio FMI – será em uma escala imensurável. Analistas
avaliam que a recuperação plena da trombada poderá levar
até uma década. Mais uma década perdida, no caso brasileiro.
No limite do desespero, autoridades financeiras daqui pen-
sam até na possibilidade de “fabricar” dinheiro. Ou seja: gerar
recursos sem lastro para financiar a recuperação. O custo da
tática arriscada pode ser o de uma perda de valor da moeda
ainda mais acentuada. O fluxo de renda se dará de maneira
inflacionária. É um cenário de hecatombe e medidas extre-
mas como essas só entraram no cardápio de discussões pelo
tamanho da confusão que se tem adiante. Nesse contexto, as
empresas aparecem como grandes prejudicadas em seus pla-
nos de desenvolvimento. Pela garantia do PIB e da capacidade
produtiva do parque nacional, seria bom que as autoridades
agissem logo. A salvação empresarial depende disso.
Carlos José Marques,
diretor editorial
Índice
CAPA
Reunimos uma centena
de líderes empresariais,
entidades e artistas em torno
de um propósito: criar cenários
possíveis para o futuro, depois
da pandemia de Covid-19 nos
negócios e nas relações
sociais. Saiba quem são eles
e o que têm a dizer pág. 28

Entrevista SEMANA
Desigualdade avança no País e concentra
CEO do grupo Accor
43% da renda nos 10% mais ricos
na América do Sul,
Patrick Mendes pág. 06
diz que o governo
precisa ajudar o
turismo já — do MOEDA FORTE
contrário, o setor José Galló, das Lojas Renner, prevê
pode morrer recuperação do varejo só no Natal
pág. 12 pág. 10

negócios sustentabilidade
A parceria das grifes de moda Reserva
Alta do dólar e da e Schutz para combater a fome
demanda por soja
na Ásia melhoram pág. 16
as perspectivas
de faturamento da
Cargill, presidida DINHEIRO EM BITS
no País por Mercado de smartphones tem queda histórica,
Paulo Sousa de 25,2% no País, desde o início da pandemia
pág. 36 pág. 46

COBIÇA
Tecnologia Tequila Patrón lança série limitada de 299
Como as lives de garrafas, ao preço de US$ 7.500 cada
artistas brasileiros
se tornaram música pág. 52
para os ouvidos de
Patricia Muratori,
do YouTube, que ARTIGO
viu a demanda O que os dados podem nos dizer
crescer 4.900% sobre o mundo após a Covid-19
pág. 48 pág. 66

Dinheiro 13/05/2020 5
Dinheironasemana por klester cavalcantI

Brasil

10% mais ricos ficam com

43% da renda do Brasil
Na quarta-feira 6, o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) divulgou pesquisa que retrata a
desigualdade de renda no Brasil. Após três anos seguidos
de elevações, a disparidade parou de subir. Por outro lado,
estagnou nos piores patamares da série histórica, que teve
início em 2012. Os dados de emprego trazem algumas boas
e outras preocupantes notícias. Em 2019, o desemprego caiu
para 11%, aumentando em cerca de 2,4 milhões de pessoas a
fatia da população com alguma fonte de renda. Por outro lado,
a renda média mensal do trabalhador caiu de R$ 2.317, em
2018, para R$ 2.308 no ano passado (redução de 0,4%).
A pesquisa também registrou que a metade mais pobre dos
cidadãos brasileiros vive com rendimento médio mensal de
R$ 850, quase 23% abaixo do salário mínimo, que é de
R$ 1.045. Problema muito maior é em relação aos 5% mais
pobres do Brasil. São em torno de 4,5 milhões de indivíduos
com renda média de R$ 165 por mês (cerca de 16% do mínimo).
Na outra extremidade, está a parcela de 1% dos mais ricos,
ocupada por 900 mil pessoas que, em 2019, tiveram
rendimento mensal de R$ 28.659, o equivalente a quase
34 vezes os ganhos da metade mais pobre.

Varejo Saúde
Alta do e-commerce faz Mercado Plataforma monitora equipes com Covid-19 e ajuda
Livre manter investimento de empresas e órgãos públicos a combater a pandemia
R$ 4 bilhões no Brasil Desenvolvido pela Nimbi, empresa de tecnologia especializada em supply
Apesar do abalo econômico causado pelo coro- chain management, em parceria com a Do iT Lean – desenvolvedora de
navírus no mundo, o Mercado Livre anunciou, aplicativos –, a plataforma Monitoramento de Equipes organiza informa-
na terça-feira 5, que pretende manter o plano de ções de funcionários, ajudando a identificar quadros de infecção do coro-
investir R$ 4 bilhões no Brasil este ano. Segundo navírus. A ferramenta é gratuita e permite que empresas privadas e
o comunicado da empresa, a alta no comércio órgãos públicos acompanhem a saúde dos seus colaboradores, ao monito-
eletrônico, gerada justamente pelas medidas de rar sintomas da Covid-19. Por meio de uma interface simples e intuitiva,
isolamento social, deve com- os próprios funcionários registram informações diárias sobre questões
pensar os efeitos negativos como febre, dor de garganta e tosse. Com isso, é possível organizar e ana-
da pandemia. O informe foi lisar todos os dados num único painel. Além disso, a companhia pode
realizado durante a divulga- definir filtros específicos, como quantos colaboradores apresentaram
ção do balanço do primeiro temperatura acima de 37° C em determinado período. Há, ainda, outros
trimestre deste ano. Os recortes capazes de
números foram animadores fornecer um quadro
para o maior portal de completo do estado de
comércio eletrônico da saúde de todo a equipe,
América Latina. A compa- incluindo geolocaliza-
nhia teve receita líquida de US$ 652 milhões, ção, que informa se
alta de 37,6% em relação a 2019. Responsável por alguém está em área
mais de 60% da operação da empresa, o Brasil de risco. “O objetivo
teve crescimento de 31,4% em dólar e de 55% em dessa ação é colaborar
real. “Pode ser que tenhamos de redirecionar com as empresas, para
alguns investimentos para logística, devido ao que elas possam ajudar
aumento da demanda do e-commerce. Mas, no o governo a conter a
momento, a ideia é manter o volume total”, disse pandemia”, afirma
o vice-presidente do Mercado Livre para a Felipe Almeida, CEO
América Latina, Stelleo Tolda. da Nimbi.

6 Dinheiro 13/05/2020 fotos: Cezar Magalhães/Folhapress | Bruno Rocha/AgÊncia O Globo | Istock

 Tecnologia
VP da Amazon sai e
chama empresa de
“titica de galinha”
Terceira empresa mais
valiosa do planeta, com
valor de US$ 1,2 trilhões, a
Amazon já teve dias melho-
res. O ex vice-presidente,
Tim Bray, deixou o cargo
afirmando que não suporta-
Economia va mais trabalhar numa
Leilões em alta na crise
“empresa de titica de gali-
nha” (ele usou a expressão
O segmento de leilões de imóveis parece estar suportando bem “chickenshit”). A insatisfa-
ção de Bray foi tamanha,
a crise causada pelo coronavírus. Pelo menos, para a empresa que ele abriu mão de US$ 1
Zukerman, que tem realizado todos os certames on-line. De milhão, entre salários e
janeiro a abril deste ano, a companhia registrou alta de quase
ações, só para ficar na com-
20% no seu número de ofertas (foram 545 imóveis) e de 11% nas panhia de Jeff Bezos. A
vendas, na comparação com o mesmo período de 2019. E maio
grande crítica do ex VP foi
deve ir no mesmo caminho. Para este mês, a empresa, que tem em relação ao que ele cha-
mais de 30 anos de atuação, espera negociar cerca de 500 imó- mou de “esforço para criar
veis, entre casas, apartamentos, terrenos, galpões, áreas rurais clima de medo entre os fun-
e prédios comerciais. Os bens estão localizados em todas as regi- cionários”, em plena pande-
ões do País, em estados como Bahia, Ceará, Minas Gerais, mia. Ele pediu demissão
afirmando ser contrário às
Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, além do Distrito
Federal. Todos os imóveis entram em leilão com valores bem demissões de funcionários
que protestaram publica-
abaixo do preço de mercado, com descontos que podem chegar
a 70%. Para participar e ofertar lances, os interessados devem mente das condições de tra-
balho dentro dos armazéns
se cadastrar no site da Zukerman Leilões.
da Amazon durante a crise.
NÚMEROS
3%
É a nova taxa básica de juros
(Selic) do Brasil, após corte
de 0,75% realizado pelo Comitê
de Política Monetária (Copom),
do Banco Central, na quarta-feira
6. É o menor valor já registrado
desde o início da série
histórica, em 1996.
R$ 53 mil
Foi o valor alcançado
pelo Bitcoin, na quarta-feira 6.
Com isso, a criptomoeda
registrou alta de 55% em apenas
três semanas. No dia 15 de
abril, a moeda digital
estava cotada a R$ 34.
23%
É o percentual de empresários
brasileiros que dizem acreditar
num desempenho positivo da
economia global em 2020,
segundo o estudo Global Capital
Confidence Barometer, da EY. Em
fevereiro, esse índice era de 64%,
quase o triplo do atual .

bill gates contra a covid-19

o dono da microsoft lista 5 ações para combater o coronavírus
Quando o segundo homem mais rico do mundo, com fortuna de US$ 98
bilhões (quase R$ 550 bilhões), e um dos mais inteligentes do planeta dá
dicas, é bom ficar atento. Em um post no seu blog pessoal, o empresário Rastreamento
americano Bill Gates, fundador da Microsoft, compartilhou sua É fundamental rastrear
visão sobre a crise e definiu estratégias, em cinco áreas, que indivíduos que tiveram
acredita ser necessárias para interromper a contato com pessoas infectadas.
propagação do novo coronavírus. Isso ajudará a impedir o
Eis as dicas do mr. gates: Testes surgimento de novos surtos.
Eles têm papel crucial É preciso contratar mais
para que os países possam gente para realizar
reabrir e precisam estar esse trabalho.
disponíveis para qualquer pessoa
com sintomas da Covid-19.
Reabrir
Vacina O ideal é que as pessoas
Tratamentos a economia
Após a criação de uma façam os testes dentro da
Precisamos arrecadar As regras sobre o que é
vacina contra o coronavírus, sua própria casa.
dinheiro para desenvolver permitido devem mudar
novos tratamentos, que sejam o que deve levar uns 18 meses, as gradualmente. O princípio básico
95% eficazes, para que as autoridades internacionais terão de deve ser permitir atividades que
pessoas se sintam novamente trabalhar unidas, para decidir tenham grande benefício à economia
seguras em eventos o tamanho do banco de dados ou ao bem-estar humano, mas que
públicos. de segurança para aprovar apresentem um pequeno
o seu uso em grandes risco de infecção.
populações.

Dinheiro 13/05/2020 7
CALHAU INSTITUCIONAL_V20.indd 2-3 04/05/2020 17:12:29
CALHAU INSTITUCIONAL_V20.indd 2-3 04/05/2020 17:12:29
Moedaforte por hugo cilo

Muito além
da Covid-19
A multinacional sueca
Elekta quer intensifi-
car sua ofensiva con-
tra o avanço do coro-
navírus no País. A
companhia vai ofere-
cer gratuitamente
para os médicos brasi-
leiros o software
ProKnow, um dos mais
avançados para coleta
e análise de dados de
pacientes em trata-
mento de radioterapia.
Para a vice-presidente
da Elekta para a
América do Sul,
Deborah Telesio, o
combate ao câncer
não pode ser prejudi-
cado pelo combate à
Covid-19. “Os trata-
mentos de radiotera-
pia para pacientes
com câncer não
devem parar. O
ProKnow permite que
o médico nuclear
dedique seus cuidados

Renner acredita em Recuperação

a pacientes fora da
clínica”, afirma. “Com
o melhor planejamen-

do varejo só no Natal
to dos tratamentos,
clínicas e hospitais
também poderão
Um dos mais experientes personagens do varejo brasileiro, o empresário José Galló, chairman da organizar melhor o
Lojas Renner, enxerga a recuperação da economia apenas no Natal – projeção contrária à da fluxo de pacientes em
grande maioria do empresariado do País, que aposta em crescimento já no começo do segundo suas instalações.”
semestre. Galló acredita que a retomada da confiança do público para consumo do varejo virá de
forma gradual, e que as lojas e os shoppings serão fundamentais nesse processo. “Cada um vai
ter que fazer seu papel, proporcionar a infraestrutura para gerar a confiança, ter cuidados de
higienização, adoção do protocolo de segurança e proteção”, afirmou, em live organizada pela
Clear Corretora e pela B3. “Uma seminormalidade deve ocorrer por volta de novembro e certa-
mente o Natal será um momento muito importante para a retomada.” Para Galló, além do desa-
fio do resgate da confiança por parte do consumidor, a volta para as ruas e shoppings exigirá
uma nova forma de atendimento e de receber o cliente, mais humanizada e carinhosa.
O empresário também destacou as vantagens da integração de canais no ambiente que será o
novo normal. “O digital avança de forma importante e relevante em todos os setores. Então, a
gente acelera esse processo da multicanalidade, onde loja física e e-commerce criam um grande
ecossistema”, afirmou. Segundo ele, cerca de 30% das compras feitas no on-line da Renner são
retiradas pelos clientes nas lojas. “Será um novo mundo em que teremos maior participação do
on-line e onde teremos como desafio encantar na loja física e no canal digital.”

10 Dinheiro 13/05/2020 fotos: Claudio Belli/Valor i divulgação

 O auxílio emergencial da Tigre
Enquanto o governo dança miúdo para garantir a ajuda de R$ 600 a cida-
dãos de baixa renda, o Grupo Tigre, líder em canos e acessórios hidráuli-
cos, cria seu próprio auxílio emergencial. Em parceria com a startup Fix,
especializada em manutenção
residencial, vai distribuiu vou-
chers de R$ 100 para ajudar aos
usuários que precisem de servi-
ços de reparos em casa. “O
projeto foi criado para movi-
mentar o setor de construção
civil e manutenção residencial
e, desta forma, gerar mais
oportunidades de trabalho aos
profissionais”, diz Otto von
Sothen, presidente do Grupo
Tigre. A campanha, chamada
de “Construindo o Amanhã” e
desenvolvida pela agência Fillet, também realizará lives de capacitação
conduzidas pelos profissionais da empresa, dicas de conteúdos informati-
vos nas redes sociais e prevê outras parcerias.

As três ondas da crise: do caos à saída

Com mais tempo livre, especialistas em comportamento empresarial começam a
criar fórmulas para compreender a reviravolta da economia. O filósofo e consultor
em ética corporativa Marcio Graf Welter, presidente da Lumen Treinamentos,
desenvolveu a Teoria das Três Ondas: caos e incerteza, adaptação e saída da crise.
“O Brasil já está na segunda onda, enquanto países como China e Alemanha estão
na terceira”, diz. O segredo para sair do buraco psicológico, segundo ele, é exerci-
tar o desapego do passado. “Não podemos mais pensar como antes. Um novo
começo está em curso, entre as pessoas e as empresas”, garante Welter, que
atende companhias como Microsoft, TIM, Basf, CPFL, Volvo e Renault.

Brasileiros caindo na real

Para 71% dos brasileiros, a rotina nunca mais
Sim, estamos contratando
será como a de antes, mesmo depois do fim
O mundo das contratações não está
da pandemia. Essa é a constatação de um
parado. Uma das maiores empresas
estudo realizado pelo Grupo Consumoteca,
de marketing global do mundo, a
instituto de pesquisa que analisa o compor-
SEMrush admitiu mais de 40 pesso-
tamento do brasileiro. Na semana de 27 de
as entre 16 de março e 15 de abril,
abril a 3 de maio, em que o País completa,
um aumento de 38% na compara-
em média, cinco semanas de isolamento
ção com 2019. A empresa mantém
social, o sentimento de medo e preocupação
800 funcionários em sete países.
atingiu os maiores patamares da história. “O
Segundo a vice-presidente Tatiana
futuro está suspenso. Como não há como
Starikova, a contratação e a inte-
programar a vida daqui para frente, fica difí-
gração são feitas pela internet. “É
cil de entender quem a gente é no presente”,
uma forma de garantir um momen-
afirma o antropólogo Michel Alcoforado,
to confortável, eficiente e rápido,
fundador do Consumoteca. “À medida que o
adaptado à nossa nova realidade.”
tempo vai passando, é comum que as pesso-
as comecem a relaxar.”

Dinheiro 13/05/2020 11
Entrevista|Patrick Mendes, CEO da Accor na América do Sul

“O governo precisa
socorrer o turismo
enquanto há tempo.
Dar remédio ao
morto não
adianta”

Na avaliação do executivo, a Medida Provisória 948/2020, que prevê

socorro ao setor, é o início de um diálogo certeiro, mas as empresas
vão precisar de mais ajuda nos próximos meses
Neila CARVALHO

1412 Dinheiro
Dinheiro
28/08/2019
13/05/2020 foto:
fotos: Claudio Belli/Valor i divulgação
O francês Patrick Mendes, CEO da rede Três atitudes são essenciais. A mais fun- como vendas, marketing e TI, acompa-
hoteleira Accor para América Latina, damental é a extensão da Medida nhando a queda nas receitas.
maior grupo hoteleiro do mundo, está no Provisória 948/2020, aprovada no início
Brasil há oito anos – dos quais, segundo ele, de abril. O texto permite que o prestador Por que o setor hoteleiro acredita que deve
gastou três para aprender como funciona o formalize um acordo individual com o ser priorizado nesse cenário de pandemia?
mercado hoteleiro local. No entanto, com a consumidor, como negociar o prazo para Pela importância do segmento. A
pandemia e a crise política, vai precisar vol- a validade de uma reserva ou a devolução Confederação Nacional do Comércio de
tar aos estudos. “O momento do Brasil é do crédito em 90 dias. Assim, o consumi- Bens, Serviços e Turismo (CNC) já regis-
um MBA prático de crise extrema”, define dor fica isento de taxa ou multa. trou perda de R$ 14 bilhões em receita no
o executivo. Com um faturamento global Precisamos, no entanto, de 120 dias no mês de março, uma queda de 84% no
de € 4 bilhões em 2019 – alta de 16% ante mínimo. Afinal, temos de ser reconheci- faturamento quando comparado com o
2018 –, o ano marcou o recorde em número dos como um dos setores mais prejudica- mesmo mês do ano anterior. Somente
de hotéis abertos pela companhia em todo dos pela crise. Se não conseguirmos man- com este dado, podemos expressar o
o mundo e seguiu a mesma toada no Brasil ter os hotéis funcionando e os serviços quanto o setor hoteleiro significa na
e na América do Sul: foram 26 novas unida- prestados, teremos baixas que vão impac- cadeia produtiva do Brasil.
des na região, sendo 20 no País. Dono das tar em demissões, cortes e atrasos de for-
marcas Ibis, Mercure, Pullman e Sofitel, o necedores, além de diversas outras conse- Como será o comportamento no turismo
grupo francês contabiliza queda de até 90% quências negativas. O governo precisa após a crise do coronavírus?
nas receitas a partir da segun- Vai mudar muito. Assim
da quinzena de março até como aconteceu na
agora. Para o ano, Mendes “O confinamento imposto pela quarentena deve China, acredito que,
estima um tombo de 40% a despertar o desejo de viagem e, com o dólar e o euro como resquício da pan-
50% no faturamento, quan- a preços menos acessíveis, o turismo interno demia, as pessoas terão
do comparado com 2019 – mais cuidado ao viajar
será movimentado, com certeza”
resultado preocupante em e, por enquanto, não
um setor que representa buscarão destinos dis-
8% do Produto Interno tantes. O primeiro setor
Bruto (PIB). Confira, a que deve aquecer é o
seguir, sua entrevista. turismo de negócios.
Empresários e executi-
DINHEIRO – Em várias vos que viajam a traba-
partes do mundo, como lho serão os primeiros
na China, os hotéis come- a voltar a viajar. Na se-
çam a retomar as ativida- quência, famílias que
des. Isso também desejam reencontrar
acontece no Brasil? entes que vivem em
PATRICK MENDES – Ainda outras cidades ou
não. Vamos estudar os pla- Estados serão os clien-
nos que o governo brasilei- tes. Por fim, como
ro vai apresentar para a exemplo na China, as
retomada e como o setor pessoas passarão a
consegue se encaixar escolher os hotéis e os
neles. Em um primeiro momento, vejo socorrer o turismo enquanto há tempo. resorts para as estadias prolongadas e
que reabriremos unidades específicas, Dar remédio ao morto não adianta. férias. Com o dólar alto e as possíveis
levando em conta fatores como fluxo, restrições de fronteiras ainda ativas, o
turismo regional e viagens a trabalho. Que medidas foram adotadas pela Accor brasileiro vai priorizar os destinos
Acreditamos que será um retorno tam- para este período? nacionais, lugares que ainda não conhe-
bém positivo, como na China, principal- Começamos a trabalhar nisso no início de ce e pontos turísticos mais inusitados.
mente nos grandes pontos turísticos bra- fevereiro, quando percebemos que preci-
sileiros. O confinamento imposto pela saríamos implementar ações mais agres- A Accor tem caixa para aguentar quanto
quarentena deve despertar o desejo de sivas. Congelamos as contratações, redu- tempo de economia paralisada?
viagem e, com o dólar e o euro a preços zimos horários de trabalho e as licenças Fizemos recentemente uma nova estraté-
menos acessíveis, o turismo interno será para 75% das equipes no segundo trimes- gia de transformação de preservação de
movimentado, com certeza. tre. Também revisamos o plano de inves- caixa. A Accor possui hoje um forte balan-
timento para 2020. Além disso, toda a ço patrimonial, com mais de € 2,5 bilhões
O que o setor hoteleiro espera do governo? companhia está reduzindo outros custos, disponível em caixa, além de uma linha

Dinheiro 13/05/2020 13
Entrevista| Patrick Mendes

de crédito rotativo não utilizada de € 1,2
bilhão. Embora exista muita incerteza
sobre a duração dessa crise, o grupo espe-
ra um forte impacto no desempenho de
2020, mas permanece otimista na pers-
pectiva de longo prazo do setor.
Como a Accor está preparando os
hotéis para a retomada?
A China iniciou a quarentena em feverei-
ro. Então, quando o problema se agravou
no Brasil, nós já estávamos preparados
para o que ia acontecer assim como vimos
em outros países. Esse mesmo movimen-
to nós estamos tentando fazer na América frente no combate à Covid-19.
do Sul, dentro das possibili-
dades. Estamos em conta-
to constante com os órgãos
“A reabertura será gradativa. Dependemos do
de governo para termos afrouxamento do isolamento social de prefeituras
condições para oferecer e governos estaduais. Estudaremos caso a caso,
um mínimo de segurança para que não haja desperdício de esforços”
e higiene no retorno das
atividades. As últimas três
ou quatro semanas foram
de ajustes e gestão desta
crise, com fechamento de
unidades e determinações
para o funcionamento das
que continuariam abertas.
Temos 400 hotéis na
América do Sul, com 300
deles fechados. Só no
Brasil são 340, e 270 estão
sem funcionar. Fechamos
quase tudo no início de
abril e imaginamos que
teríamos as primeiras
aberturas no final de maio,
mas isso não vai acontecer.
A reabertura será gradativa. Dependemos
do afrouxamento do isolamento social de
prefeituras e governos estaduais.
Estudaremos caso a caso para que não
haja desperdício de esforços.
Como saber que é a hora certa para
reabrir e que haverá demanda?
Temos equipes para medir o comporta-
mento das pessoas através de pesquisas
pela internet, analisando quem está que-
rendo viajar e para onde. Se acontecer
como na China, onde fechamos os hotéis
por sete semanas e voltamos com quase
todas as unidades, temos expectativa de Há mais alguma ação prevista?
60% de ocupação quanto tudo voltar. O
Todo o projeto “Planet 21 – Acting Here”
e da “Accor Solidarity”, fundo de doação
exemplo da China, mais uma vez, está nos
que oferece a grupos menos favorecidos
encorajando a passar por estes dias ruins.
acesso ao emprego por meio de treina-
Quais são as iniciativas da Accor no comba- mento profissional, está voltados para a
te aos efeitos na pandemia? “hospitalidade positiva”. A “Accor
São várias. Criamos, por exemplo, a cha- Solidarity” empodera pessoas em situa-
mada tarifa solidária nas unidades que ção vulnerável por meio de treinamentos
estão em funcionamento para parcerias profissionais e acesso ao emprego. Além
com hospitais e órgãos do governo. No disso, estamos lançando um selo projeta-
Brasil, um dos focos desse apoio é volta- do para certificar que os padrões de
do para hospitais que precisam hospedar segurança e protocolos de limpeza sejam
os profissionais que estão na linha de apropriados para permitir que as empre-
sas possam reabrir. Com esse selo, hoje
temos a capacidade de
atender às expectativas
da sociedade em ter-
mos de saúde e segu-
rança, já que ele vai
contribuir para a reabi-
litação e restauração da
indústria de hospitali-
dade com confiança. O
selo cobrirá tanto a
acomodação quanto a
restauração, e definirá
os padrões sanitários
aplicáveis a todos os
hotéis do grupo, bem
como a outras redes e
hotéis independentes.
O projeto foi realizado
em parceria com médi-
cos e epidemiologistas
e será lançado na pró-
xima semana.
O que esperar de 2021?
Recebemos diversas solicitações de hos- Em relação a 2021, nossa previsão é de
pedagem para idosos e pessoas de grupo que, no quarto trimestre, voltaremos a
de risco, que vivem com familiares e um patamar equivalente ao dos últimos
crianças, e necessitam ficar isolados três meses de 2019. Agora, vale destacar
para se protegerem. Há demanda tam- que o resultado do ano passado tinha um
bém de pessoas em trânsito ou que fica- contexto de retomada após uma crise
ram sem poder viajar, além daqueles que pesada, com diárias baixas e em um pro-
estão enfrentando alguma dificuldade de cesso de recuperação da tarifa, além de
convívio em meio ao isolamento social. 55% a 60% de ocupação, em média. Há
Conseguimos valores teto fixos para as duas variáveis importantes para o futuro:
tarifas solidárias, que são valores apenas vacina e remédio. Se saírem logo, acelera
para cobrir custos, de R$ 180 para a cate- esse processo de retomada do mercado. O
goria econômica, e de R$ 250 para a cate- segmento de grandes eventos deve demo-
goria midscale (padrão intermediário). rar um pouco mais para retomar.

14 Dinheiro 13/05/2020 foto: fabio Rossi / AgÍncia O Globo

 entreVis
“O crescime tA: CArlOs
será muito nto das peq melles
forte”, diz uenas O VO
o presiden e médias Final ines O sOlO DA em
te do Seb perado da brAer
rae brasileira aliança com
traçar rota
que pode a Boeing faz
levá-la à
China

fundador: Domingo Alzugaray

Guedes
(1932 - 2017)
prOteger
EDITORA
CARTAS, e-mails
Sem neg O tetO de gaS
tOS
para OS ar reCurSOS
Catia Alzugaray prOgra
gerem emp maS que
inveStime regO e atraia
vencera essa e apóS a ntOS — durantm

e redes sociais batalha?

O deSaFi pandemia. eSSe e
O dO min é
presidente executivo eCOnOmia iStrO da
pela age , preSSiOnadO
dO preSidnda pOlítiCa
CaCO Alzugaray CenáriO ente e pOr um
de reCeSS
ãO

Reportagem de capa

Guedes vencerá essa batalha?

DIRETOR editorial
Carlos José Marques Vê-se claramente que o Guedes tenta
evitar que o Centrão tome conta
DIN1169_Capa exemplar
de aSSina
venda prOiBid nte
.indd 1
a
6 mai/202
0 – anO 20

DIRETOR DE NÚCLEO
– nº 1169
R$ 18,00

celso masson também da política econômica.

4/29/20
10:21:39
PM

Texto Espero que ele tenha sorte

Redator-chefe: Edson Rossi
Editores: Carlos Eduardo Valim , Hugo Cilo, Klester Cavalcanti e
Josione dos Saantos de mão puxado em termos
Paula Cristina
editor-assistente: Sérgio Vieira
econômicos. Quando muito houve um
Reportagem: Angelo Verotti, Beto Silva, Jaqueline Mendes, Guedes é o último no governo com breve e rápido voo de galinha. O que
Marcelo de Paula e Neila Carvalho
competência e ainda aceito pelo precisa é injetar dinheiro no bolso da
Arte Congresso e empresários. Sem dúvida população através da diminuição de
Diretor de Arte: Jefferson Barbato
Designers: Christiane Pinho e Raul Silva ele é o fiel da balança carga tributária
Ilustração: Evandro Rodrigues (chefe), Fabio X
Projeto Gráfico: Ricardo van Steen (colaborou Bruno Pugens) Laertes Lopes Cláudio Silveira Navarro

istoé dinheiro on-line

Editor executivo: Airton Seligman
Falta criatividade no pensamento Até onde o dólar sobe?
Editor: Pedro Souza econômico de Guedes. Não Se ficar desse jeito até 31/12/2020 o
Redatores: Aryel Fernandes e Diego Felix
encontramos ainda soluções novas já dólar pode chegar a R$ 7,50. Pode
fotografia
Pesquisa: Sidinei Lopes Arquivo: Eduar­do A. Con­ceição Cruz
que enfrentamos um problema novo. passar essa cifra se Paulo Guedes
Nord Azuos mandar imprimir dinheiro por causa
cti: Silvio Paulino e Wesley Rocha
da crise. Nesse cenário a inflação pode
Apoio Administrativo Guedes está com a cabeça no voltar e o plano Real vai para o saco…
Gerente: Maria Amé­lia Scarcello Secretária: Terezinha Scarparo
Assistente: Cláudio Monteiro consenso de Washington. O mundo Toninho Cosenza
mudou, as economias mudaram.
Estamos vivendo a maior crise deste A nova onda das fusões
Mercado leitor e logística
Diretor: Edgardo A. Zabala século é preciso repensar conceitos O Warren Buffett está comprando
Diretor de Vendas Pessoais: Wanderlei Quirino
Gerente Geral de Venda Avulsa e Logística: Yuko Lenie Tehan Rafael LAzzeres Cardoso tudo que ele vê barato. Logo logo ele
pode mudar o nome dos estados
Central de Atendimento ao Assinante: (11) 3618-4566 de 2a a 6a
feira das 9h às 20h30. A recuperação das pequenas unidos para “minha terra”.
Outras Capitais: 4002-7334
Outras Localidades: 0800-888-2111 (exceto ligações de celulares)
e microempresas será muito Macduck Avila
Assine: www.assine3.com.br forte (Entrevista com Carlos
Exemplar avulso: www.shopping3.com.br
do Carmo Andrade Melles) Uma indústria em apuros
PUBLICIDADE
Diretor nacional: Maurício Arbex Secretária da diretoria de publici-
Pior crise financeira desde a grande Quanto as montadoras instaladas no
dade: Regina Oliveira Assistente: Valéria Esbano Gerente executivo: depressõ, muito superior à crise de Brasil enviaram às suas matrizes nos
Andréa Pezzuto Diretor de Arte: Pedro Roberto de Oliveira
Coordenadora: Rose Dias Contato: publicidade@editora3.com.br 2008, e já se fala que a recuperação últimos três anos?
ARACAJU – SE: Pedro Amarante • Gabinete de Mídia • Tel.: (79)
3246-4139 / 99978-8962 – BRASÍLIA – DF: Alessandra Negreiros • será forte só para forçar uma alta na Marcio Metzner
Tel.: (61) 3223-1205 / (61) 3223-1207 – BELÉM – PA: Glícia Diocesano
• Dandara Representações • Tel.: (91) 3242-3367 / 98125-2751 – BELO
bolsa! Lembrem-se: bolsa sobre no
HORIZONTE – MG: Célia Maria de Oliveira • 1a Página Publicidade boate e cai no fato” Lá vêm eles de novo pedir ajuda ao
Ltda. • Tel./fax: (31) 3291-6751 / 99983-1783 – Campinas – SP:
Wagner Medeiros • Wem Comunicação • Tel.: (19) 98238-8808 – Marcos FLávio Assunção governo. Fazer chantagem para não
FORTALEZA – CE: Leonardo Holanda – Nordeste MKT Empresarial –
Tel.: (85) 98832-2367 / 3038-2038 – GOIÂNIA–GO: Paula Centini de demitir os empregados.
Faria – Centini Comunicação – Tel. (62) 3624-5570/ (62) 99221-
5575 – PORTO ALEGRE – RS: Roberto Gianoni, Lucas Pontes • RR
Sem crédito e sem dinheiro. Alguém Wilton Cardozo
Gianoni Comércio & Representações Ltda • Tel./fax: (51) 3388-7712 consegue se recuperar da crise só
/ 99309-1626 – INTERNACIONAL: Gilmar de Souza Faria • GSF
Representações de Veículos de Comunicações Ltda • Tel.: 55 (11) com força de vontade? Fale conosco
99163-3062
Leandro Ramos
Dinheiro (issn 1414-7645) é uma publicação semanal da Três Editorial Ltda.
Redação e administração: Rua William Speers, no 1.088, São Paulo-sp, CEP: 05067- Cartas para esta se­ção, com en­de­re­ço, RG e te­le­fo­ne,
900. Tel.: 11 3618 4200 • Fax da reda­ção: 11 3618 4109.
Dinheiro não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados.
Será? Até hoje não recebi meu de­vem ser re­me­ti­das para: Di­re­tor de Re­da­ção, DI­NHEI­
Comercialização e Distribuição: Três Comércio de Publicações Ltda. Rua dinheiro Sou MEI e nada ainda RO, Rua Wil­liam Speers, 1.088, Lapa, São Pau­lo - SP, CEP
William Speers, 1212 – São Paulo-SP.
Gesser Alves 05067-900. Fax: (011) 3618-4109. Internet: Acesse o
Impressão: OCEANO INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA. Rodovia
Anhanguera, Km 33, Rua Osasco, nº 644 – Parque Empresarial – CEP portal www.istoedinheiro.com.br, escreva mensagens
07750-000 – Cajamar – SP.
nas páginas da revista nas redes sociais ou mande
Efeito dominó e-mail para faleconosco@istoedinheiro.com.br. As car-
Tudo normal para um país como o tas e mensagens poderão ser editadas em ra­zão de seu
nosso que sempre viveu com o freio ta­manho ou clareza.

Dinheiro 13/05/2020 15
Sustentabilidade por Neila CARVALHO

Grifes de moda em parceria contra fome

Algumas das maiores empresas
brasileiras estão se unindo em tempos
de distanciamento social e dificuldades
causadas pela Covid-19. Um exemplo
disso é a parceria das grifes Reserva e
Schutz. Com lojas e shoppings fechados,
as marcas uniram o útil ao necessário:
potencializar a divulgação para
aumentar a arrecadação do projeto
1P5P: a cada peça vendida nas marcas
Reserva e Reserva Mini, a empresa
fornece cinco pratos de comida para
pessoas em situação de vulnerabilidade.
Lançado em 2016, a campanha já
viabilizou mais de 36 milhões de
refeições em todo Brasil. A cada venda, a
Reserva faz o repasse financeiro à ONG
Banco de Alimentos e para o Projeto
Mesa Brasil, que coletam excedentes de
alimentos em indústrias, mercados e
hortifrutis, que distribuem a instituições
de apoio a populações carentes. A
Schultz decidiu entrar na campanha
disponibilizando os canais de
comunicação para a ação da Reserva. “O
momento é de união e aproveitamos
para fazer do limão a limonada”, conta
Rony Meisler, CEO da Reserva. “Uniremos
esforços para comunicar aos nossos
clientes e com isso trazer ainda mais
arrecadação para o projeto. Iniciaremos
neste Dia das Mães e a proposta é seguir
com a parceria em Namorados e Pais”,
afirma. Com isso, toda venda feita nos
canais Schutz de 4 a 10 de maio também
contribuirá com o projeto 1P5P.

uma questão de segurança alimentar

Brasil Mundo

2000 2014 2015

18 milhões de Desnutrição: 52 milhões de pessoas se encontram em Brasil é considerado segundo “Novo normal”
pessoas caiu 82% algum estágio de insegurança alimentar de maior fornecedor de alimentos Pós Covid-19 - 265 milhões
passavam fome entre 2002 acordo com a Pesquisa Suplementar de do mundo, segundo a Organização Estimativa: 135 milhões de pessoas
no Brasil e 2013. Segurança Alimentar (PNAD). das Nações Unidas (ONU). entrem em situação de fome em 2020.

16 Dinheiro 13/05/2020 Foto: Istock i divulgação

 filantropia

Tecnologia solidária
A Zoho Corporation vai lançar o Vertical
Relief Plan (VRP) composto por programas
gratuitos, ferramentas e aplictivos para
ajudar as empresas e organizações impac-
tadas pela crise. Entre os programas estão
o Zoho reator Covid-19 App Program, que
permite aumentar a eficiência das iniciati-
vas de organizações sem fins lucrativos,
órgãos governamentais e comunidades
poluição que estejam trabalhando com monitora-
mento de pacientes ou distribuição de ali-
Ozônio ameaçado mentos. Outro será o Zoho Checkout, que
permite a coleta de doações on-line para
No final de março, os cientistas do Serviço de Monitoramento de Atmosfera
entidades filantrópicas engajadas no
Copernicus (CAMS) detectaram o que chamavam de uma grande lacuna, sem prece-
comabte à pandemia.
dentes, na atmosfera, pairando sobre a região do Ártico. O buraco logo se tornou o
maior que eles já haviam monitorado no hemisfério Norte e quase chegou ao tamanho
da Groenlândia, abrangendo a superfície da calota polar. O buraco de rápido cresci-
mento foi resultado de condições climáticas incomuns no Ártico: quando ventos fortes
prendem o ar gelado sobre as calotas polares por várias semanas cria-se o que os cien-
tistas chamam de vórtice polar. Trata-se de uma força poderosa que gira sobre si
mesma e gera impacto suficiente para abrir um buraco no ozônio da estratosfera.
Embora a lacuna esteja agora fechada, os cientistas dizem que ela poderá se abrir
novamente, dependendo das condições meteorológicas. “Esse buraco no ozônio do
Ártico não tem nada a ver com bloqueios relacionados ao coronavírus, mas foi causado
por um vórtice polar incomumente forte e duradouro”, disse o CAMS, no Twitter.

doações
Imposto de Renda para o CovidZero
A Omie, plataforma de gestão em nuvem para PMEs, fechou parceria com a star-
tup Incentiv, que conecta o ecossistema de leis de incentivo, para arrecadar doa-
ções de Imposto de Renda de clientes e contadores. A ideia é direcionar parte do
Imposto de Renda dos cerca de 35 mil clientes da Omie para projetos do Fundo do
Idoso e Fundo para Infância e Adolescência. A ação faz parte do programa
CovidZero, promovido pela Incentiv.me. O
objetivo é arrecadar R$ 25 milhões por meio
das leis de incentivo fiscal para reduzir os
danos causados pelo novo coronavírus. Para
isto, a Incentiv.me conta com a contribuição
da Omie e de sua rede, que reúne milhares de
contribuintes. “Se cada escritório contábil par-
ceiro da Omie conseguir 10 clientes para reali-
zarem essa conversão, podemos chegar em
R$ 200 milhões em doações”, explica Ana
Meneguini, diretora da Omie. “O potencial de
impacto dessa iniciativa é enorme: segundo
dados da Receita Federal, se pudermos contar
com os 12,5 milhões de brasileiros que decla-
ram Imposto de Renda, o montante de doa-
ções poderia chegar a R$ 9,3 bilhões”, diz
Douglas Nicolau, CEO da Incentiv.
meio ambiente
Compensação de carbono
A Farfetch, plataforma de tecnologia global da
indústria de moda de luxo, se compromete a
compensar as emissões de carbono de toda a
logística de entregas e devoluções. A compen-
sação será por meio do novo Climate
Conscious Delivery. A empresa está fazendo
também a expedição de peças a granel por
meio de sua rede de distribuição. O projeto faz
parte da iniciativa de sustentabilidade
Positively Farfetch, lançada no ano passado
com a consultoria EcoAct, para medir e calcu-
lar sua emissão de carbono, em conformidade
com o protocolo internacionalmente reconhe-
cido de gases de efeito estufa. “As emissões
de carbono são a maior causa do aquecimento
global e sentimos que é nossa responsabilida-
de minimizar nosso impacto ao máximo, o
mais rápido possível”, diz Thomas Berry, dire-
tor de negócios sustentáveis Farfetch.

Foto:s Dinheiro 13/05/2020 17

 INTERNACIONAL

Um bloco perto do fim

E
Impasses políticos m conflito quase permanente, o Mercosul vive uma crise sem precedentes, que
ameaça a própria existência do acordo, criado em 1991. Com a decisão do gover-
e ideológicos entre no argentino de abandonar as negociações para novos tratados de livre comér-
cio (TLCs) que os vizinhos tentam promover com Coreia do Sul, Canadá, Índia,
as duas maiores Líbano e Cingapura, começam a surgir dúvidas em relação à longevidade do
grupo. Mesmo que o Paraguai, que detém a presidência temporária do bloco, esteja ava-
economias do liando “medidas jurídicas, institucionais e operacionais contra a Argentina”, os efeitos

Mercosul motivam colaterais da decisão podem causar danos irreversíveis, segundo especialistas.

a Argentina a “Desde sempre, o Mercosul não passa

de uma união aduaneira imperfeita, cria-
abandonar da com objetivo geopolítico, não comer-
cial”, afirma José Niemeyer, coordena-
negociações dor do curso de Relações Internacionais
O impasse sobre a permanência da
Argentina nas negociações sobre os acor-
dos entre o Mercosul e países que não
fazem parte do bloco já engessa o avanço
de várias conversas. Ao mesmo tempo, a

comerciais e podem do Ibmec, no Rio de Janeiro. “Uma even-

tual saída da Argentina é tudo o que o
acabar com a zona Brasil quer, já que o Mercosul tem sido
uma pedra que acorrenta grande parte
de livre comércio da indústria brasileira. A tendência é que
os países olhem mais para dentro do que
Jaqueline MENDES para fora.”
generalizada recessão causada pela pan-
demia da Covid-19 deixa qualquer tenta-
tiva de acordo regional em suspenso. Na
sexta-feira 1, os argentinos chegaram a
anunciar que aceitariam dialogar sobre
os tratados de livre comércio com tercei-
ros mercados, mas condicionaram sua

18 Dinheiro 13/05/2020 FOTOs: Istock i afp

DIN1170_INTER_Argentina1.indd 36 5/6/20 10:29:32 PM

desunião na fronteira A escalada protecionista alimentada pela pandemia da Covid-19 e as divergências entre os governos
de Argentina e Brasil podem condenar o acordo aduaneiro regional ao fracasso. Países buscam novos parceiros mundo afora
participação a um tratamento dife-
renciado às indústrias do país – pro-
posta imediatamente rejeitada, por
unanimidade, pelos outros membros.
“Os entraves entre Argentina e Brasil
têm mais caráter político, com gover-
nos que se apresentam com ideologias
opostas”, diz o economista Gustavo
de Moraes, coordenador de ciências
econômicas da PUCRS, em referência
ao socialista Alberto Fernández e ao
auto-denominado liberal Jair
Bolsonaro. “Soma-se a isso o corona-
vírus, que traz uma perspectiva mais
protecionista em todo o mundo.”
diplomacia No campo diplomáti-
co, o embate tem sido minimizado. “A
Argentina explicou que, por razões
econômicas, não poderia sentar à
mesa das tratativas comerciais neste
momento”, disse Paula Barboza, coor-
denadora geral de negociações comer-
ciais extrarregionais do Itamaraty.
“Os argentinos foram respeitosos e
não quiseram causar constrangimen-
tos aos demais membros do
Mercosul.” O maior entrave na visão
argentina, no entanto, é um possível
acordo com a Coreia do Sul, visto
como a principal ameaça aos empre-
gos industriais no país. “Em relação a
um eventual acordo com a Coreia do
Sul, diversas entidades que represen-
tam os setores produtivos manifesta-
ram formalmente as suas objeções
sobre o impacto no tecido industrial,
sobretudo no contexto da crise global
gerada pela Covid-19”, apontou a
chancelaria argentina, em nota.
Nos próximos dias, novos debates
– por videoconferência – entre os
membros do Mercosul deverão ocor-
rer para definir o destino do tratado
comercial. A pauta principal é se o
bloco seguirá com ou sem a
Argentina. Caso ela saia, os TLCs
poderão ser retomados. Há grande
torcida pelo fim do Mercosul, tanto
dentro do governo brasileiro quanto
no país vizinho. Os argentinos alegam
que sua economia já está em franga-
lhos e que expor as empresas locais à
concorrência mais acirrada pode
gerar uma onda de falências. Além
disso, o presidente Alberto Fernández
está impondo um isolamento social
mais rígido do que em outros países
da região, o que tem fragilizado a ati-
vidade econômica.
protecionismo O presidente argentino,
Alberto Fernández, acredita que novos acordos de
livre comércio do Mercosul podem prejudicar
ainda mais a já fragilizada indústria do país
o mercosul
Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai
* A Venezuela está suspensa desde 2016
Fundação
1991
Território
O bloco representa 72% da área da América do Sul
População
295 milhões de habitantes
Riqueza
US$ 2,8 trilhões
76,2% do PIB da América do Sul
Investimento
O bloco recebeu
48%
de todo o fluxo de IED direcionado à
América do Sul, América Central,
México e Caribe em 2018 (dado mais recente)
Fontes: Banco Mundial e UNCTAD
No lado brasileiro, o rompimento
com a Argentina deixa o País mais à
vontade para negociar com México,
Japão, Vietnã e Estados Unidos, além
das conversas que já estão em curso.
“Com a falta de sintonia entre Brasil e
Argentina, qualquer negociação do
Mercosul com países de fora é apenas
letra morta”, afirma Moraes, da PUC-
RS. Para ele, o único setor da econo-
mia que deve passar incólume pela
crise do Mercosul é a agricultura, dado
o crescimento da demanda por ali-
mentos na Ásia. “O agronegócio vai
ficar de fora de tudo isso com a expan-
são dos embarques de grãos e carnes
para países como Índia e China.”
Dinheiro 13/05/2020 19
economia

O socorro de R$ 120
bilhões aos estados e
municípios colocou em
lados opostos a Câmara
e o Senado. De um lado,
os defensores do Sudeste.
do outro, os do Norte.
Justamente a divisão
das bases eleitorais
dos presidentes
das duas Casas
Paula CRISTINA

A guerra do or
E
nquanto o presidente Jair Bolsonaro
tenta jogar nos governadores e prefei-
tos a responsabilidade pela recessão a
ser enfrentada em decorrência da
pandemia, o Poder Legislativo já deu
sinais claros de que o socorro aos gestores
públicos acontecerá por meio de recursos
federais. A discórdia, no entanto, ficou por
conta de como seriam repartidos os
R$ 60 bilhões destinados aos estados. Por um
lado, a Câmara, sob a face do presidente
Rodrigo Maia (DEM-RJ), queria uma divisão
pautada na incidência de arrecadação de
ICMS e o número de casos confirmados de
Covid-19. No Senado, o presidente Davi
Alcolumbre (DEM-AP) defendia usar de base
o Fundo de Participação dos Estados (FPE),
além da proporção de contágio. A medida da
Câmara, que privilegiaria estados como o
Rio de Janeiro, berço eleitoral de Maia, se
chocou com a de Alcolumbre, que beneficia
seu reduto político, o Amapá. Diante dessa
queda de braço, o martelo final sobre o
Projeto de Lei Complementar 39/2020 foi do
Senado, que enviou o texto para sanção pre-
sidencial e tirou cerca de R$ 3 bilhões do
socorro previsto para o Sudeste.
A briga de interesses começou no final
de abril, quando a Câmara enviou ao Senado
um texto que garantia recursos maiores
para os estados da Região Sudeste, como Rio
de Janeiro e São Paulo. No senado, o texto
passou por grandes mudanças, entre elas a
forma de calcular o repasse. “O texto da
Câmara trouxe para o Senado a responsabi-
lidade de tratar com equidade as diversas
regiões do Brasil”, afirmou Alcolumbre à
DINHEIRO. Ao mudar o texto, o projeto
precisou ser enviado novamente à Câmara,
onde, na terça-feira 5, os deputados reincluí-
ram o cálculo por ICMS. Com essa alteração,
o texto retornou ao Senado, que na quarta-
feira 6 deu a cartada final e manteve a divi-
são pelo FPE. “Restabelecemos o texto e
aprovamos com unanimidade dos senado-
res”, disse Alcolumbre, mencionando que as
mudanças realizadas na Câmara refletiam a
força das bancadas do Sul e do Sudeste.
DEDO DE GUEDES Além de garantir
recursos adicionais para os estados que mais
contribuem para o PIB, o texto da Câmara
continha um dispositivo que poderia elevar
o socorro a R$ 80 bilhões, dependendo da
profundidade da crise. Esse gatilho foi reti-
rado no Senado após aproximação do minis-
tro da Economia, Paulo Guedes, com o sena-
dor Alcolumbre. “Não vou brigar com Davi,
criar conflitos insuperáveis com o Senado.
Nosso papel é criar soluções”, disse Maia.

20 Dinheiro 13/05/2020 FOTO: Andre Coelho/Folhapress

 Queda de braço
Auxílio financeiro às regiões, segundo
as propostas da Câmara e do Senado*.
(Em bilhões de R$)

Câmara Senado

Variação
Norte
51,5%
Câmara 1,9
Senado 2,9
Variação
Nordeste
28%
Câmara 5
Senado 6,4

Centro Oeste Variação

25%
Câmara 2,9
PONTOS Senado 3,6
DE VISTA
Davi Alcolumbre e
Variação
Rodrigo Maia Sudeste
divergem sobre a -17%
forma de repasse do Câmara 14,9
socorro aos estados
Senado 12,3

Sul Variação

çamento
-10,6%
Câmara 5,4
Senado 4,8
Fonte: Câmara dos Deputados
*Ao todo serão quatro parcelas deste valor. O montante total soma R$ 30 bilhões

Ao todo, o projeto aprovado terá um
valor total de R$ 120 bilhões, e envolve tam-
bém repasses para assistência social (R$ 5
bilhões), rolagem de dívida (R$ 49 bilhões) e
valores específicos ao combate pandemia
(R$ 5 bilhões)Mesmo com a derrota sobre a
divisão dos recursos estaduais, a Câmara
conseguiu uma vitória dentro da medida.
No texto orquestrado por Guedes e
Alcolumbre uma das formas de garantir os
recursos era diminuir o gasto público. Para
isso seria necessário cancelar concursos
públicos de setores não-essenciais e conge-
lar aumento salarial de áreas que não envol-
vessem o combate à pandemia.
A mudança na Câmara, e ratificada no
Senado, blindou outras categorias do con-
gelamento, como os policias legislativos e
professores. Como resultado dessas altera-
ções, a economia de governos estaduais,
municipais e federal será de R$ 43 bilhões,
muito abaixo do previsto inicialmente.
"Como vamos enfrentar os desafios depois
da pandemia se deixarmos de lado o equilí-
brio fiscal?", questionou Alcolumbre.
A proposta inicial negociada com o presi-
dente do Senado, que também foi relator
do projeto, oferecia economia de R$ 130
bilhões em 18 meses - R$ 98 bilhões para
Estados e municípios e R$ 32 bilhões para
o governo federal. A conta final, no entan-
to, foi três vezes menor.
SÃO PAULO SAI PERDENDO Epicentro
da Covid-19 no Brasil e estado com maior
participação no PIB brasileiro, o Estado de
São Paulo, com a decisão do Senado, recebe-
rá bem menos recursos do estados menores,
como Roraima. Na prática, enquanto os pau-
listas terão R$ 279 por habitante, Roraima
ficará com R$ 798 per capita. O Amapá rece-
berá R$ 733 por cidadão, enquanto o Rio de
Janeiro ficará com R$ 237.
Em São Paulo, a expectativa do governa-
dor João Doria é de que a queda na arreca-
dação com imposto chegue a R$ 10 bilhões
entre abril maio e junho, ao passo que a des-
pesa estadual mensal gira em torno de R$ 12
bilhões. Segundo o chefe do executivo esta-
dual, o secretário da Fazenda, Henrique
Meirelles, tem feito planos firmes de con-
tenção de gastos, e já conseguiu enxugar o
custo da máquina pública em R$ 2,3
bilhões. Agora, com menos recursos da
União, o governador precisará planejar
ainda melhor os gastos, para que, ao fim de
junho, o estado consiga fechar com um défi-
cit de R$ 2 bilhões, número considerado
baixo para o tamanho do estrago que o vírus
fará na economia paulista.

Dinheiro 13/05/2020 21
Economia

o paradoxo
do Emprego
Com mais jovens diplomados hoje
do que em todas as gerações
anteriores, o Brasil não consegue
oferecer postos de trabalho para
empregar quem possui curso LUTA DIÁRIA
Mesmo durante a
técnico ou superior. E A pandemia pandemia, busca por
colocação profissional
pode enterrar os sonhos dos continua intensa entre
os jovens brasileiros
que lutaram para estudar
Paula CRISTINA

O
s millennials, jovens nasci-
dos entre a segunda metade
da década de 1980 até 1995,
constituem a geração mais
diplomada da história do
Brasil. Cerca de 25% com-
pletaram o ensino superior — e a cifra sobe
para 58% quando são inseridos também os
cursos técnicos e profissionalizantes. Essa
geração tinha tudo para realizar uma proeza:
diminuir a desigualdade social por meio do
fortalecimento de renda com capacitações
mais específicas para o mercado de trabalho.
O que ocorreu foi o contrário: ela se vê mais
vulnerável financeiramente que as gerações
anteriores. Com a expectativa de que o País
encerre 2020 com uma taxa de desemprego
na casa dos 18%, os jovens — principalmente
os negros e periféricos — podem perder para
sempre a chance de trilhar um caminho
profissional promissor.
A mais recente Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua,
divulgada na semana passada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE)
escancara esse cenário. Ao final do primeiro
trimestre, ainda sem levar em conta muitas
das demissões causadas pela pandemia, a
taxa de desemprego ficou em 12,2%, quase a
mesma de igual período em 2019. Agora, com
a ameaça econômica trazida pela Covid-19,
estimativas como a do Instituto Brasileiro
de Economia (Ibre), ligado à Fundação Getu-
lio Vargas (FGV), preveem desocupação
bem maior até o final deste ano. “O cenário
será desafiador, e mais cruel com os jovens
que estão entre os 18 e 30 anos”, afirma o
professor de economia da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos
Augusto Torres.
A avaliação é a mesma do pesquisador
Daniel Duque, que coordenou o estudo
da FGV sobre desemprego. Ele prevê uma
acentuação da desocupação a partir de
abril. Com isso, haverá também diminui-
ção no rendimento familiar, acentuando a
desigualdade social. Segundo a pesquisa,
a queda real no rendimento pode ser de
8,58%. “Com isso, a renda efetiva média
fechará o ano no nível de R$ 2.206 mensais,
frente a R$ 2.413 no ano anterior.”
Caso a previsão se confirme, a Massa
de Rendimentos Efetivos do Trabalho
(MRT) baterá o ponto mais baixo desde o
início da série histórica, em 2012. “Ainda
que o governo federal lance mão de grandes
programas de transferência de renda,
dificilmente seu volume seria capaz de
compensar o montante perdido no período.
Mais de R$ 30 bilhões mensais de perda de
MRT correspondem a cerca de 5% do PIB
de 2019”, diz o coordenador do estudo.
jovens periférico Se os jovens estão
na linha de frente do desemprego, os peri-
féricos são ainda mais vulneráveis. Segundo
a consultoria alemã Roland Berger, 33%
das famílias com renda mensal de até um
salário mínimo no Brasil já possuíam, em
abril, ao menos uma pessoa sem emprego
por causa do novo coronavírus, cifra que cai
para 4% entre as famílias com rendimento

22 Dinheiro 13/05/2020 FOTOs: Ronaldo Silva/Saulo Angelo/Folhapress

 Trocando em miúdos
Retrato da situação do
emprego brasileiro

12,85 é número de
desempregados
registrado no primeiro
milhões trimestre de 2020

1,22 foi o aumento no número

de pessoas desempregadas
no primeiro trimestre ante
milhão ao último de 2019

832 pessoas que trabalhavam

informalmente no setor
privado deixaram de
mil trabalhar

742
pessoas que trabalhavam
informalmente por conta
própria deixaram de
mil trabalhar

entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. Para Edson Salgado, ex-coordenador

núcleo de emprego e renda do Instituto de Pesquisa Aplicada
(Ipea), os jovens brasileiros enfrentarão um período de subutiliza-
ção na informalidade que pode durar até três anos.
Segundo os dados do IBGE relativos ao primeiro trimestre deste
ano, nada menos que 826 mil trabalhadores trocaram, por vontade
ou necessidade, um emprego formal por um informal. A base de
comparação é o último trimestre de 2019. Isso engloba um universo do
qual fazem parte milhares de motoristas de aplicativo, entregadores e
necessidade Apenas no primeiro trimenstre deste ano 826 mil pessoas
ambulantes que não possuem qualquer projeto profissional de longo trocaram emprego formal por uma ocupação como entregador ou ambulante
prazo, ainda que possuam instrução. “Ter a capacidade de montar um
negócio próprio não significa que sua execução será fácil”, diz Salgado.
É preciso levar em conta os desafios que aguardam quem decide em-
preender no Brasil, sem descartar o risco de eventos como a pandemia.
Quem é trabalhador informal?
Para tentar amenizar os efeitos recessivos da paralisia nos
negócios provocada pela Covid-19, o Congresso aprovou, em abril,
uma medida que libera R$ 600 mensais para atender cerca de 38
milhões de trabalhadores informais do País. O valor é insuficiente
Emprego por Emprego sem Emprego Emprego Trabalho
para sustentar uma das engrenagens que mantêm a economia ativa. conta própria carteira de doméstico como familiar como
Para o secretário de Política Econômica do Ministério da Econo- sem CNPJ trabalho no ww auxiliar empregador
mia, Adolfo Sachsida, o que se formará nos próximos meses é um registrado setor privado ajudando em sem CNPJ
motoristas de varejo, negócios registrado
cenário de aumento da pobreza. “Vamos precisar de políticas de
emprego mais adequadas. Sendo bem transparente, o desemprego aplicativos serviços, familiares MEIs
indústria
vai dar um salto no Brasil, infelizmente”.
Fonte: IBGE

Dinheiro 13/05/2020 23
Finanças

O BC Que emerge da crise

“
U
m homem sábio produzirá mais oportunidades do que poderá
A instituição colocou de encontrar”. A frase escrita pelo filósofo e político britânico
pé um pacote de Francis Bacon (1561-1626), pensador considerado o principal res-
ponsável pelo desenvolvimento do método científico, serve bem
estímulos de mais de para um momento de crise como o atual, em que as oportunida-
des são escassas e os desafios, numerosos. Nessas situações, quando cha-
16% do PIB, cortou madas a agir, as pessoas, empresas e instituições também podem aprovei-
fortemente os juros e tar para assumir uma posição especial e de maior responsabilidade, o que
pode garantir mais força e credibilidade para o futuro. Desde que a crise
ganhou liberdade para do novo coronavírus explodiu por aqui, o Banco Central do Brasil parece
seguir esses ensinamentos à risca.
comprar títulos privados. Enquanto surgem críticas quanto a algumas escolhas, forma de execu-
Com tudo isso, fortalece ção e até à velocidade das respostas dadas pelo governo federal aos pro-
blemas decorrentes da pandemia, atuação do BC tem recebido elogios de
os argumentos para a sua economistas, quase unânimes em reconhecer os méritos da atuação do
banco. O único ponto de dissonância vem de observações pontuais quanto
independência formal à velocidade da queda da taxa de juros, a Selic, tema que divide os econo-
mistas. Fora isso, as escolhas da equipe comandada pelo presidente
Roberto Campos Neto são reconhecidas como oportunas. Com elas, a ins-
Carlos Eduardo Valim tituição tem tudo para sair da crise mais sólida, independente e com

24 Dinheiro 13/05/2020 FOTOs: Bruno Rocha/Folhapress i Mateus Bonomi

ainda maior credibilidade, além de
ter adquirido experiência no uso de
novos mecanismos.
Mesmo sem o Brasil ter passado
por uma provação dura e longa como
diversos outros países que enfrenta-
ram a crise financeira global de 2008,
o BC demonstrou ter aprendido com
as lições dos outros e, no desafio
atual, teve rapidez para ajudar os
mercados de crédito. “Nesse sentido,
o BC teve uma atitude muito correta e
abrangente quando lidou com ques-
tões ligadas a liquidez”, afirma Luiz
Fernando Figueiredo, ex-diretor de
política monetária do BC e fundador
da Mauá Capital. “Ele rapidamente
anunciou um pacote cinco vezes
maior do que fez em 2008 e 2009, e
que atinge 16% do nosso PIB. E reali-
zou isso de maneira a canalizar o
dinheiro para o lugar correto, o que é
importante. Tanto que, desde então,
não houve nenhuma discussão sobre
instituições estarem em risco.” O pro-
grama, anunciado em março, prevê
R$ 1,2 trilhão de ajuda, incluindo a
redução de alíquotas de compulsório
sobre depósitos a prazo e a possibili-
dade de empréstimos aos bancos com
lastro em Letras Financeiras (LF).
Na quarta-feira 7, foi a vez do
Comitê de Política Monetária
(Copom) baixar de 3,75% para 3% a
taxa básica de juros. Ao levar a Selic
para um novo nível recorde, deu uma
resposta para parte do mercado que
considerava que o último corte havia
sido modesto frente ao tamanho do
impacto econômico da pandemia. O
BC também revelou, por comunicado,
que “vai acumular mais informações
até sua próxima reunião”, em junho,
mas já prevê um novo corte, que não
deve passar do 0,75 ponto. No dia
seguinte, o Ibovespa abriu em alta,
beirando os 80 mil pontos. O dólar,
contudo, manteve a trajetória de valo-
rização, rompendo a casa dos R$ 5,80
pela primeira vez.
O corte da Selic foi mais agressivo do
Sinais de força que a maioria dos representantes do mer-
As ações e aprovações que envolveram o cado esperavam. Embora já se cogitasse a
Banco Central na crise redução de 0,75 na reunião do Copom do
dia 6, as projeções foram reduzidas após a
saída de Sergio Moro do governo. Após a
queda na bolsa e a disparada do dólar que
vieram automaticamente quando o ex-
ministro da Justiça rompeu com o presi-
Programa de estímulo à liquidez
dos mercados, de dente Bolsonaro, as previsões passaram
para uma expectativa de queda de apenas
R$ 1,2 trilhão meio ponto. O motivo é que juros mais
baixos poderiam afastar o investidor
internacional dos títulos brasileiros, pro-
vocando uma maior fuga de capitais e
ampliou a trajetória de queda da Selic, que
mais depreciação do real.
chegou a 3% ao ano
INFLAÇÃO CONTROLADA O fato de
o BC indicar que continuará cortando os
juros mostra que o Copom não vê risco
aprovação no Congresso de permissão para
inflacionário no momento, em vistas da
comprar títulos de forte queda econômica esperada para o
empresas ano, e também que não está priorizando
em suas escolhas outras questões de mais
longo prazo, como o impacto do ciambio
na inflação de mais longo prazo ou o
viu reforçadas as chances de ter aprovado
pelo Congresso o projeto de aumento de juros futuros. “Tenho exercí-
cios que mostram que a Selic em queda
autonomia formal do BC causa uma pequena depreciação do câm-
MAIS FUNÇÕES
Roberto
Campos Neto,
presidente do
BC, resistiu a
congressistas
que desejavam
ver a instituição
dedicada a não
buscar apenas
o controle da
inflação como
sua meta
prioritária
Dinheiro 06/05/2020 25
Finanças

bio, mas o inverso não garante que o real se valorizaria. Por ção não tem sido tratado como prio-
isso, concordo com a postura do BC”, diz Étore Sanchez, ridade. A expectativa, no entanto, é
economista-chefe da Ativa Investimentos. que ele possa voltar, e de forma mais
O mandato do Banco Central prevê que a sua função é consistente, depois de passada a ins-
perseguir a meta de inflação. Mas há quem deseje que ele tabilidade. “Países que não têm inde-
inclua outras prioridades. Em fevereiro, congressistas do pendencia formal da instituição
Centrão pressionaram para acrescentar no projeto de auto- ficam com perna de pau”, afirma
nomia do Banco Central um duplo mandato, que incluiria Figueiredo, ex-diretor do BC.
também o estímulo do crescimento econômico e a queda do Um último ponto que mostra a
desemprego. Campos Neto afirmou, na época, ser contra a força que tem ganhado a instituição
dupla função. As formas como os cortes de juros vêm sendo foi a PEC do Orçamento de Guerra,
feitos indicam que o BC está firme nessa postura. “Quando cuja sanção estava prevista para a
se tem um choque de demanda como o atual, o estímulo à quinta-feira 7. Ao permitir mais
rapidez e menos burocracia no com-
bate aos efeitos econômicos da pan-
demia, a emenda inclui a possibilida-
INDEPENDÊNCIA
de de que o BC possa comprar títulos
Luiz Fernando de empresas privadas que são nego-
Figueiredo, ciados no mercado secundário (por
ex-diretor de exemplo, as que fazem parte da car-
política teira de fundos e corretoras). Isso
monetária do BC pode garantir liquidez e evitar bai-
e fundador da xas fortes nos preços desses ativos.
Mauá Capital, Esse tipo de ação foi adotado por paí-
afirma que ses desenvolvidos como o Japão nas
países sem um últimas décadas para estimular o
banco central consumo, como os EUA durante a
formalmente crise financeira em 2009 e como a
independente Europa no choque do euro que afe-
ficam mancos tou a Itália e a Grécia em 2014.
em sua política Agora, tem sido considerado por paí-
monetária ses emergentes como uma forma de
enfrentar a nova crise. Algo que era
pouco provável até pouco tempo
atrás, já que essas compras podem
ampliar a base monetária das econo-
inflação e à atividade econômica coincidem”, diz Marcelo mias, a ponto de causar pressões
Kfoury, professor da Escola de Economia de São Paulo, da inflacionárias e dúvidas de que
Fundação Getulio Vargas (FGV EESP). “Em outros momen- seriam usadas, em países menos
tos, quando sobe o preço da gasolina, por exemplo, o olhar é sólidos, para financiar irresponsa-
antagônico, e ao se buscar o controle da inflação acaba-se velmente gastos governamentais.
afetando a economia.” Mesmo que temporariamente, essa
A atuação firme do BC durante a crise também pode aju- permissão passa a ser mais uma fer-
dar em outra discussão de longo prazo e que parece estar ramenta de atuação do BC brasileiro.
madura: a formalização na Constituição de sua independên- O seu uso responsável — ou apenas o
cia. Na prática, o mercado já considera que o órgão está bem fato de ter esse mecanismo à mão —
protegido de interferências políticas. Mas isso poderia deve ajudar a dar mais tranquilidade
mudar com uma guinada eleitoral. Por conta das urgências aos mercados. É um sinal de que, em
da crise a votação do projeto de lei que daria garantia jurídi- crises, quem sabe a fazer a oportuni-
ca à independência dos mandatos dos dirigentes da institui- dade também ganha mais respeito.

26 Dinheiro 13/05/2020 FOTO: Rafael Hupsel/Folhapress

 DELIVERY

Burguers e Shakes preparados e enviados

com todo o cuidado que
você merece!

Peça pelo: 11 4118.7878

www.milkmellow.com.br
 100
capa

SAÍDAS
PARA O
PÓS-COVID-19
DINHEIRO perguntou a uma centena de líderes empresariais,
artistas e entidades de todos os segmentos e tamanhos: como será
O país após a pandemia? Há otimismo, mas a travessia será dura
Ingrid BIASIOLI, Klester CAVALCANTI, Hugo CILO e Edson ROSSI

28 Dinheiro 13/05/2020 FOTO: istock

Dinheiro 13/05/2020 29
capa

O VÍRUS
QUE MATOU schalka, da suzano O mundo
depois da quarentena passará por um
debate sobre o que será o novo normal

UMA ERA
to do consumidor e o de transformação digital. Trata-
se do mais abrangente painel sobre o Brasil depois da
crise de Covid-19 na avaliação das pessoas que ocupam
a linha de frente real – o mundo do trabalho. Um ca-
pital intelectual que aponta muita resiliência. “Deve-
mos discutir a criação de um novo normal pós-pande-

N
mia”, diz Walter Schalka, presidente da Suzano,
companhia de R$ 26 bilhões em receita (2019).
ão será fácil. Nem breve. Nem indolor. Esse novo normal de que trata Schalka é como li-
Na verdade, neste momento o Brasil nha divisória. Uma releitura do a.C e d.C (antes e de-
mergulha no pior estágio da pandemia pois do coronavírus). Pablo Di Si, CEO da Volkswagen,
de coronavírus. O número de casos e concorda e refere-se ao fim de uma Era. “O mundo
mortos cresce (125 mil infectados e 8,5 pré-Covid-19 não existe mais.” O problema é que não
mil óbitos na manhã de quinta-feira 7) e há outro no lugar. Terá de ser construído. Di Si resume
o sistema de saúde está saturado ou também a percepção de todos os entrevistados: a tão
perto de colapsar em diversas grandes aguardada disrupção ocorreu. E não veio da tecnologia.
cidades. Para piorar, de Brasília nunca Mas de um vírus. Marc Reichardt, presidente da Bayer
partiu gestão centralizada e séria para a no Brasil, é igualmente categórico em relação ao cisma.
crise. O oposto. Houve deliberada desobediência oficial “Vivemos hoje momentos sem precedentes.” Na prá-
à quarentena. O que, dado o desgoverno escolhido em tica, as decisões estratégicas e táticas das corporações
outubro de 2018, nem mais é surpresa. Ainda assim, ruíram. E não há qualquer parâmetro usual de previ-
ou exatamente por isso, as lideranças do mundo do sibilidade. “Agora trabalhamos cenários de curto
trabalho precisam olhar para frente. Não se trata de prazo, que são mais analisáveis”, afirma Reichardt. O
opção. “What matters most is how well you walk futuro está suspenso.
through the fire” – resumiria o autor americano Char- Além desse momento turning point da humanida-
les Bukowski. “O que mais importa é quão bem você de, que tirou do eixo as empresas, outra quase unani-
atravessa o fogo.” midade de respostas entre os 100 entrevistados é a de
DINHEIRO ouviu uma centena de lideranças – de que o estrago econômico para 2020 está consolidado.
empresas de todos os segmentos e tamanhos a enti- O que muda nas opiniões é o grau de intensidade, a
dades classistas – sobre o cenário pós-pandemia (veja velocidade e a duração. Mesmo entre aqueles que di-
a lista completa ao fim desta reportagem). Elas cons- zem não ter condições de fazer análise mais aprofun-
truíram três eixos: o econômico, o novo comportamen- dada, pela incerteza dos dados disponíveis. Tornou-se
uma avaliação transversal. João Pedro Paro Neto,
presidente da Mastercard Brasil e Cone Sul, acredita
O BRASIL PÓS-PANDEMIA pODE SER RESUMIDO EM que será difícil ser como antes ainda este ano. “A eco-
UMA única palavra: solidariedade nomia deve voltar devagar, porque nos países em que
CARLOS WIZARD MARTINS, CEO do GRUPO SFORZA a retomada começa a acontecer ela é lenta, não existe

30 Dinheiro 13/05/2020 FOTOs: Zanone Fraissat/Folhapress | EGBERTO NOGUEIRA/imafotogaleria

 COMO SURFAR
abertura total, é uma abertura
restrita, cheia de condições.” Há,
do outro lado, quem vislumbre um
estrago mais acentuado. Robson
Braga de Andrade, presidente da

A ONDA 2021
Confederação Nacional da Indús-
tria (CNI), diz que o mundo en-
frenta a mais grave crise da história
recente. “Os efeitos são devastado-
res, tanto na saúde quanto na

D
economia das nações.”

recuperação Para as lideranças
entrevistadas, as variáveis de recu-
peração da economia só não coin-
cidem em relação ao modelo da
curva de retomada. Se em V (queda
rápida, recuperação igualmente
rápida), em U (queda rápida e re-
cuperação um pouco mais lenta)
ou em L (queda rápida e certa es-
tagnação antes de recuperação no
longo prazo). A única constante
nessa sopa de letrinhas é a queda
abrupta. O que virá depois ainda
está no terreno movediço da incer-
teza. Segundo Miguel Duarte, líder
da EY para o mercado de bens de
consumo e varejo para Brasil e
América Latina, “o desemprego
gerado deverá criar dificuldade
para a recuperação em V.”
É consenso que acelerar a reto-
mada exigirá políticas públicas de
ajuda que precisam ser assertivas
e cirúrgicas, sem empurrar o País
para um novo pântano fiscal, o que
não parece claro até aqui. De toda
forma, uma terceira e última quase
unanimidade apareceu fortemente
nas entrevistas – além da disrupção
e da crise econômica. A de que
sairemos dessa. Não houve sequer
uma resposta que se assemelhasse
a jogar a toalha. “O Brasil é resilien-
te”, diz a esse respeito Glauco
Humai, da Associação Brasileira de
Shopping Centers (Abrasce). “Um
País que mesmo nas adversidades
consegue seguir em frente.”
uas certezas condu-
zem a questão relacio-
nada ao comporta-
mento da economia
para o momento pós-
pandemia e, em espe-
cial, para 2021. Haverá
queda e haverá cresci-
mento. O Bradesco
trabalha com projeção
de redução de 4,0% no PIB deste
ano e alta de 3,5% no do ano que
vem. O Itaú Unibanco projeta res-
pectivamente -2,5% e elevação de
4,7%. Com ambos ressalvando que
são índices que dependem de um
HAVERÁ MAIS amplo leque de variáveis.
PLANEJAMENTO. Fernando Honorato Barbosa,
O PAÍS TERÁ economista-chefe do Bradesco, diz
UMA NOVA que nos próximos 30 a 60 dias vá-
rios países iniciarão formatos dis-
CULTURA, tintos de relaxamento do período
VOLTADA MAIS de quarentena. “O aprendizado das
à saúde e experiências que irão funcionar e
investir em aquelas que não irão deve ser apli-
cado no Brasil. Com isso, espera-
saneamento mos que a economia se recupere
básico será gradualmente a partir de julho.”
visto como Outro ponto destacado por boa
investimento parte dos 100 líderes entrevistados
é que haverá forte heterogeneidade
na saÚDE no comportamento dos diferentes
Pública segmentos empresariais. André
Coutinho, líder de mercados da
paulo
hoff, fernando honorato
presidente, Economista-chefe do Bradesco diz que a
rede d'or forma de sair da quarentena será decisiva
KPMG no Brasil, diz que algumas
áreas não estão experimentando
tanto os efeitos da pandemia. “É
importante setorizar essa crise.”
Marcus Granadeiro, CEO do
Construtivo, companhia focada em
soluções de TI para o setor de en-
genharia e construção, acredita que
o ambiente depois do isolamento
será de um pós-terremoto. “A eco-
nomia, de maneira geral, estará
ruim e a retomada será gradual,
porém com muitas oportunidades.
Quem conseguir enxergar nichos,
se transformar, vai pegar carona
nessas oportunidades”, afirma. Seu
raciocínio tem ecos no de Francis-
co Sant’Anna, presidente do Insti-
tuto dos Auditores Independentes
do Brasil (Ibracon). “As pessoas
dizem que vivemos uma guerra.
Geralmente, o pós-guerra vem
acompanhados de crescimento.”

Dinheiro 13/05/2020 31
capa
Nas conversas — virtuais — de
André Coutinho, da KPMG, diver-
sos clientes e players revelam oti-
mismo para o ano que vem. Se
Brasília deixar, vale ressaltar. “Vou
extrair o debate político e a confu-
são toda, mas para 2021 me parece
existir consenso de que será um
ano bom. Tem gente falando em
crescimento de 5%, 6%.” Para
aproveitar a onda, é preciso que
empresas de todos os portes obser-
vem com minúcia as possíveis
oportunidades.
Carlos do Carmo Andrade Mel-
les, presidente do Serviço Brasilei-
ro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae), diz que na
China já se percebe uma retomada,
ainda que lenta, à normalidade.
“Além disso, existe outro movi-
mento importante, o de grandes
economias mundiais, como Esta-
dos Unidos e Japão, começando a
reduzir sua dependência da China.
Isso certamente vai gerar forte
impacto na economia.”
Outro padrão nas respostas dos
entrevistados é que pegar carona
num potencial crescimento para o
próximo ano exigirá, acima de tudo,
atenção a esse novo mundo. Como
diz Henrique Carbonell, CEO da
F360, plataforma de gestão finan-
ceira, há motivo para se animar
com 2021. “Haverá crescimento e
retomada do consumo”, diz. E um
ponto será decisivo: “Respeitar os
novos hábitos do consumidor e as
novas formas de se relacionar.”
MUDANÇA ACELERADA
Canais digitais Itaú Unibanco. Porcentual de entrantes acima de 60 anos
9%
PRÉ-COVID-19
32 Dinheiro 13/05/2020
CONECTADOS
NA linguagem
Q
uarteto de peso, este.
Fernando Meirelles
(cineasta), Julio An-
drade (ator), Lázaro
Ramos (ator) e Leni-
a informação ne (músico) ajudam a
se tornará compor o painel de
imprescindível 100 lideranças brasi-
leiras que mergulha-
e empresas de ram na questão sobre
marketing e para onde vai o plane-
comunicação ta pós-pandemia. E é na semântica
vão ser que dão o tom e criam a harmonia.
Perguntados sobre quais palavras
essenciais marcam o mundo antes e depois da
para diversos crise de Covid-19 eles apontam
setores para um universo ainda incerto,
chgarem mas em reconstrução. Eliminam os
vocábulos Histeria, Ganância, Po-
aos seus larização e Míope. No lugar esca-
diferentes lam Tensão, Solidariedade, Comu-
públicos nidade e Frágil. Amarram aqui o
cenário construído por todos os
demais 96 entrevistados: a passa-
marcela gem de um mundo adoecendo para
rocha, outro a ser moldado. “Sairei trans-
economista
chefe da formado desta”, diz Meirelles.
claritas O cineasta, aliás, lembra a me-
táfora citada pela ativista ambien-
tal sueca Greta Thunberg — “Nos-
sa casa está pegando fogo” — para
mudar o estilo de vida. “Este vírus
nos mostrou que é possível parar.
Talvez seja a última oportunidade
27% de ao menos retardarmos o que já
está no mapa: a Covid-19 é uma
pulguinha insignificante frente à
NA QUARENTENA crise do clima. É a hora”, afirma.
FOTO: Marcus Leoni/Folhapress
Outro impacto relevante, segundo
ele, virá do trabalho. Meirelles
conta que nos dois últimos meses
sua produtora (a O2) tem filmado
comerciais com sete ou oito pesso-
as, “e não mais 90”. A montagem e
a pós-produção são feitas nas casas
dos profissionais. E as reuniões, por
WhatsApp. Todo o protocolo e ri-
tual de encontros intermináveis
com clientes e agências caiu. “Isso
pode gerar perda de empregos, fato,
mas a eficiência do novo modelo é
espantosa.”
economia solidária Para o ator
Julio Andrade, essa mudança sig-
nificativa se dará não apenas com
profissionais liberais, mas também
pequenos produtores rurais. As
duas categorias vão ganhar mais
espaço. “Justamente por precisa-
rem se reinventar durante a pan-
demia”, diz. “Penso que teremos
uma economia mais solidária, com
um olhar mais voltado às classes
menos favorecidas. O mundo esta-
va vivendo tempo de economia
muito agressiva.” O músico e com-
positor Lenine compartilha da
percepção de uma jornada em
transição. “Os donos do mundo
continuarão os mesmos.” Mas
aposta numa virada. “Sou otimista
e acredito que, depois desse sofri-
mento, o melhor futuro para o
planeta será o conceito da econo-
mia circular.”
 A transformação no modelo econômico é o que
também mais parece próximo de ser revolucionado
após a pandemia de acordo com o ator Lázaro Ramos.
lenine
“A economia vai ter de repensar seu modelo de distri- "Depois desse
buição de renda, do tamanho dos lucros das empresas sofrimento, o
e da relação da sociedade com o consumo”, diz. “Um melhor futuro
para o planeta
novo formato econômico, que não é o socialismo, mas
será o conceito
me parece que vai ser uma transição forte do capita- de economia
lismo atual.” Para os quatro, o coronavírus mostrou-se circular"
agente de um limiar. Um objeto transformador.

SEU NOVO REI:

Customização Dentro das ten-
dências que o varejo deverá viver
de forma mais contundente Nabil
Sahyoun, presidente da Associação
Brasileira dos Lojistas de Shopping

O CONSUMIDOR
(Alshop), aposta na ultrapersona-
lização do atendimento. “A custo-
mização e a experiência do cliente a população
vão mudar.” brasileira
deve

S
ervir sempre para ser-
vir bem. Esse é o novo
mantra. Se há algo que
a Covid-19 ensinou ao
varejo e a empresas de
todos os tipos de pro-
dutos e serviços é que
o atendimento terá de
ser full para ser bom.
Todos os formatos de
pagamento. Todos os formatos de
entrega. Todos os formatos de re-
lacionamento. E acima de tudo,
endereços físicos e virtuais. De
forma cruzada, paralela, sobrepos-
ta. Uma jornada sem fim que pode
começar no Instagram e terminar
com o motoqueiro na porta. Entre
os 100 entrevistados para o painel
pós-pandemia, seis eixos se desta-
carão desse novo consumidor.
esperança é a palavra para o novo mundo. e
acredito na força transformadora do trabalho
rogelio golfarb, vice-presidente da ford américa do sul
Confiança Reinaldo Varela é
fundador e presidente da rede de
restaurantes Divino Fogão, com
mais de 180 lojas no Brasil. Para
ele, a mudança sem volta será o
grau de confiança entre pessoas e
empresas. “O consumidor vai ficar
mais próximo das marcas que se
mostraram solidárias durante a
crise.” E isso se estenderá no rela-
cionamento pós-pandemia.
Stay Home Ficar em casa será o
novo padrão. “Haverá priorização
para o ambiente doméstico, os es-
paços para o home office”, diz Le-
onardo Paz, CEO da ImovelWeb. O
que deve impactar não apenas o
segmento imobiliário ou de deco-
ração, mas todas as cadeias de
produtos e serviços.
‘Delivery’ de serviços Não
apenas o delivery ou e-commerce reconhecer
de produtos irão se sedimentar, o sistema de
segundo André Friedheim, presi- saúde público
dente da Associação Brasileira de
Franchising (ABF). “Irão aumentar
do país e
potencialmente as demandas por
também
serviços a distância.” reconhecer,
de fato, a
Relacionamento Fabio Fossen, importância
presidente da Bridgestone Latin
America South, acredita em novo
da pesquisa
patamar na relação consumidor- e de seus
marca. Uma fronteira ainda nem pesquisadores
de perto resvalada. “A sociedade
observará mudanças na intensida-
de das formas de consumir e de se cristiano
relacionar com as empresas”. teixeira,
diretor-geral
da
Solidariedade Cuidar do outro klabin
será o novo ativo para as marcas
trabalharem. Para Guilherme
Priante, fundador e CEO da
Beyoung, do segmento de beleza, o
autocuidado vai crescer e impul-
sionar o cuidado mútuo. “A onda
da solidariedade vai se enraizar
culturalmente”, diz.

Dinheiro 13/05/2020 33
capa

O DIA EM QUE O
FUTURO CHEGOU. leyla nascimento, abrh

E MUDOU TUDO
Sair da crise pedirá reflexão pessoal

Humanos (ABRH Brasil). “É im-

possível sairmos dessa crise sem
uma reflexão pessoal — nós e o

P
outro, de como juntos podemos
melhorar as relações humanas.”
oucas gerações têm o privilégio, sem dúvida assustador, de Uma linha de raciocínio que se
assistir ao futuro chegar. A má notícia é que ele não vem costura pelos entrevistados. Mas
pronto. A boa: pode ser construído com menos imperfeições. não será um caminho sem chances
As lideranças do mundo do trabalho ouvidas pela DINHEIRO razoáveis de erros e fracasso. “Ao
neste painel permitem, de forma extraordinária, jogar um longo da história as crises nos en-
pouco de luz sobre o que vivemos. E o que virá. Uma coisa é sinaram várias coisas, entre elas a
certa. Não há consenso. Mas outra certeza se impôs: há con- de que nem sempre o período pos-
vergência. Todos afirmam que a melhor saída para a crise terior é dos melhores”, diz Marcel
exige soluções colaborativas. Cheida, professor de jornalismo e
O santo graal do mundo produtivo, a Transformação ética na PUC de Campinas. O aler-
Digital, chegou acelerada por um vírus. “Será uma reinvenção digital que ta faz sentido. O admirável mundo
nos levará à hipercolaboração”, diz Tonny Martins, presidente da IBM novo pode não ser tão admirável.
Brasil. “Conveniência e personalização juntas, com tecnologia humani- Os entrevistados afirmam que não
zada através da Inteligência Artificial.” Um cenário de participação e será pela inércia que a transforma-
comunidade compartilhado por Liel Miranda, presidente da Mondelez ção digital e uma nova cultura
no Brasil. “O período de isolamento despertou nas pessoas, e nas empre- comportamental surgirão. Fernan-
sas, a importância ainda maior de contarem umas com as outras para do Pimentel, presidente-executivo
realizarem algo.” A mesma percepção de Leyla Nascimento, a vice-presi- da Associação Brasileira da Indús-
dente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Recursos tria Têxtil e de Confecção (Abit),

os 100 entrevistados pela dinheiro

DINHEIRO agradece em especial a cada
um de nossos 100 entrevistados, cuja
inteligência coletiva e colaborativa
permitiu a construção deste painel:
Aldo Macri, diretor (Sindilojas),
Alexandre Sgarbi, diretor-executivo (Cosin
Consulting), Alvaro Furtado, presidente
(Sincovaga), Amure Pinho, presidente
(ABStartups), André Coutinho, líder de
mercados (KPMG), André Friedheim,
presidente (ABF), André Zukerman, CEO
(Zukerman Leilões), Andrea Kohlrausch,
presidente (Calçados Bibi), Antônio
Cabrera Mano Filho, presidente (CMLE),
Augusto Lins, presidente (Stone
Pagamentos), Aury Ronan Francisco,
diretor financeiro (Grupo Movile),
Bernardo Gomes, CEO (Sinqia), Beto Filho,
presidente (ABF – RJ), Carlos do Carmo
Andrade Melles, presidente (Sebrae),
Carlos Eduardo Curioni, CEO (Elo7), Carlos
Mira, CEO e fundador (TruckPad), Carlos
Wizard Martins, CEO (Grupo Sforza), Clau-
dia Toledo, general manager (Elsevier),
Cristiano Cardoso Teixeira, diretor-geral
(Klabin), Daniel Domeneghetti, CEO (E-
Consulting), Davi Holanda, CEO (Acesso
Bank), Diogo Lupinari, CEO (Wevo),
Dionaldo Passos, CEO (Navita), Edison
Tamascia, presidente (Febrafar), Eduardo
Fregonesi, CEO (Synapcom), Eduardo
Henrique, CEO (Wavy Global), Eduardo
Sanovicz, presidente (Abear), Eugenio
Singer, presidente no Brasil (Ramboll do
Brasil), Fabio Fossen, presidente Latin
America South (Bridgestone), Fabio Soto,
CEO (Agility Networks), Federico Servideo,
sócio (PwC Brasil), Felipe Calixto, CEO
(Sankhya), Felipe Diz, CEO e fundador
(Zee.Dog e Zee.Now), Felipe Macedo,
co-fundador (Corebiz), Fernando Fleider,
CEO (ICTS Protiviti), Fernando Honorato
Barbosa, economista-chefe (Bradesco),
Fernando Meirelles (cineasta),
Fernando Nekrycz, co-fundador (Xaza),
Fernando Pimentel, presidente-executivo
(Abit), Filippo Di Cesare, CEO Latam
(Engineering), Flávio Menezes, líder do
escritório brasileiro (Bip Brasil), Francisco
Sant’Anna, presidente (Ibracon), Glauco
Humai, presidente (Abrasce), Guilherme
Priante, fundador e CEO (Beyoung),
Henrique Carbonell, CEO (F360), Hugo Ro-
drigues, diretor geral (Printi), Ingrid Barth,
diretora (ABFintechs) e cofundadora
e COO (Linker), Ivone Silva, presidenta
(Sindicato dos Bancários de São Paulo,
Osasco e região), Jacyr Costa Filho, mem-
bro comitê executivo (Grupo Tereos), João
Pedro Paro Neto, CEO (Mastercard Brasil e

34 Dinheiro 13/05/2020 FOTO: Fredy Uehara

define a era pré-pandemia como de “conflito, nacio- didos e assimilados em tempo recorde — e de forma
nalismo e polarização”. O mundo pós-pandemia ele compulsória, com a quarentena. No setor de serviços,
define como de “conflito, nacionalismo, polarização. por exemplo, a modelagem de negócios deve mudar
E solidariedade”. rapidamente. Claudia Toledo, general manager da
Nessas horas entram em cena as pessoas que fa-
zem. Luciano Araújo é um designer paulistano dono
Elsevier Brasil, diz que o setor pensará em receita
recorrente. “As empresas de serviços devem adotar
no médio
da Botões Clássicos, inicialmente uma pequena e ar- um modelo de assinatura.” Só assim sobreviveram a
prazo é
tesanal produção de times de futebol de mesa. A ini- cenários como o da pandemia. E porque assim o novo razoável
ciativa o levou a ser dono de um bar, que sedia cam- consumidor passou a ter e exigir. supor que
peonatos em torno do botonismo, e culminou num Renato Mansur, diretor de Canais Digitais no Itaú mesmo após
projeto de voluntarismo no Capão Redondo, periferia Unibanco, diz que crises como essa impõem mudanças
extrema de São Paulo. No começo da pandemia, ele e de rotina. “E acabam tendo consequências duradouras
o fim das
parceiros do projeto arrecadaram e distribuíram 23 sobre certos comportamentos e padrões de consumo.” medidas de
toneladas de alimentos a 1,5 mil famílias cadastradas. Uma avaliação com a qual Karel Luketic, head de isolamento
Solidariedade. Mas também posicionamento de mar- marketing e conteúdo da XP, concorda. “A pandemia social as
ca em alto nível. “Acredito que identidade e responsa- nos trouxe muitos aprendizados, mas os principais são
bilidade social serão fundamentais para os negócios. o encontro do equilíbrio nas rotinas e na saúde, além
pessoas
As pessoas vão se identificar com empresas que te- de aprendermos a trabalhar de forma mais digital e seguirão
nham em sua essência o envolvimento social.” flexível”, afirma. Isso deverá impactar, inclusive, ins- evitando
tituições públicas. O Estado. Margot Greenman, CEO aglomerações
DIGITAL AGORA Um combo “solidariedade + mun- e cofundadora da Captalys, diz que as administrações
do verdadeiramente digital”. Muitas organizações não públicas serão obrigadas a se digitalizar. “Mudarão
conseguiam cruzar a fronteira, alcançar a plenitude completamente a forma que os cidadãos interagem
renato
digital. As que alcançavam tornavam-se sem estofo como seus governos.” Mudará tudo, enfim. Do varejo mansur,
mundo real. Um limbo. Um espaço em suspenso que aos serviços, da solidariedade às relações do consumi- diretor de
parece ter chegado ao seu fim. Ricardo Balkins, sócio- canais digitais,
dor cidadão com as marcas e os governos.
itaú unibanco
líder da Indústria de Consumer Business da Deloitte Jonah Peretti, fundador do Buzzfeed, sempre
diz que o cenário pré-Covid-19 era definido pela ex- disse que nunca mirou na tecnologia, mas sim no
pressão “o consumo digital é o futuro”, substituída por comportamento. E o novo padrão ensinado pela pan-
“o consumo digital é agora”. Há, no entanto, uma su- demia fez finalmente que a transformação digital
tileza que nem todas as marcas parecem ter percebido surgisse para todos. “Tínhamos um mundo mais tribal,
com a crise. Ser digital não elimina o fator humano. muitas tribos. Com a crise, a gente está passando por
Juntar pitadas generosas de sensibilidade no mundo um processo de maior interesse na coletividade, na
da transformação digital aparenta ser o caminho. comunidade expandida”, diz VanDyck Silveira, CEO
E aqui nasce, junto da transformação digital, o novo da Trevisan Escola de Negócios. “Uma comunidade de
consumidor. Com um pacote de novos hábitos apren- ajuda mútua, de maior harmonia.”

Cone Sul), Jonas Araújo, CEO (Trackmob),
José Marcos Szuster, CEO (Medlevenso-
hn), Julio Andrade (ator), Karel Luketic,
head de marketing e conteúdo (XP Inc.),
Lázaro Ramos (ator), Lenine (músico e
compositor), Leonardo Gonçalves, diretor
de relações institucionais (Certisign),
Leonardo Sesti Paz, CEO (Imovelweb),
Leyla Nascimento, vice-presidente de
relações internacionais (ABRH Brasil),
Liel Miranda, presidente (Mondelēz Brasil),
Luca Cafici, CEO (Instacarro), Luciano
Araujo, sócio-proprietário (Botões
Clássicos), Luiz Augusto Pereira de
Almeida, diretor de marketing (Sobloco),
Luiz Camargo, vice-presidente para a
América Latina (Nice), Luiz Gonzaga,
presidente (Abetre), Luiz Pavão, vice-
presidente de B2C (Infracommerce),
Marc Reichardt, CEO (Bayer do Brasil),
Marcel Cheida, professor de jornalismo e
ética (Puc – Campinas), Marcela Rocha,
economista-chefe (Claritas Investimen-
tos), Marco Stefanini, fundador e CEO
global (Stefanini), Marcus Granadeiro,
CEO (Construtivo), Margot Greenman,
CEO (Captalys), Marina Tumolo,
diretora de operações (Fri.to), Maurício
Salvador, presidente (Abcomm), Miguel
Duarte, líder para o mercado de bens de
consumo e varejo (EY), Nabil Sahyoun,
presidente (Alshop), Natalino Barioni,
CVO (Interplayers), Pablo Di Si, presidente
América Latina (Volkswagen), Paulo Hoff
presidente (Rede d’Or), Pedro Hermeto,
presidente (Abrasel-RJ), Rafael Nasser,
co-fundador (FreeCô), Rafael Salomão,
CEO (Agrofy), Reginaldo Almeida de Me-
deiros, presidente-executivo (Abraceel),
Reinaldo Varela, presidente e fundador
(Divino Fogão), Renan Hoekveld, assessor
da diretoria (Nesp), Renato Mansur,
diretor canais digitais (Itaú Unibanco),
Ricardo Balkins, sócio-líder da indústria
de consumer business (Deloitte), Ricardo
José Alves, CEO (Halipar), Robson Braga
de Andrade, presidente (CNI), Rodolfo
Fücher, presidente (Abes), Rogelio
Goldfarb, vice-presidente América do Sul
(Ford), Sergio Paulo Gallindo, presidente-
executivo (Brasscom), Thierry Fournier,
CEO Brasil Latam (Grupo Saint-Gobain),
Thomas Batt, CEO (Seguros SURA Brasil),
Tirso de Salles Meirelles, vice-presidente
(Faesp), Tonny Martins, presidente (IBM
Brasil), VanDyck Silveira, CEO (Trevisan
Escola de Negócios), Victor Raful, CEO
(Digicarro), Victoria Alonso e Zoë Póvoa,
co-fundadora e fundadora (Ozllo), Walter
Schalka, presidente no Brasil (Suzano)

Dinheiro 13/05/2020 35
negócios

CARGILl
colhe
otimismo
na crise

É chato ver lado

positivo em um uma
crise desse tamanho,
mas tudo isso vai nos
ajudar sim”
paulo sousa,
ceo da cargill no brasil
E
m setembro de 2019,
quando as primeiras
Disparada do dólar, e a Organização das Nações Uni-
das para Alimentação e Agricul-
sementes de soja da
atual safra começa-
safra recorde e aumento tura (FAO) emitiram comunicado
conjunto alertando sobre risco de
vam a ser plantadas
em terras brasileiras,
da demanda por escassez de alimentos no mercado
global, a ministra da Agricultura
nem mesmo os mais alimentos em razão da e Pecuária, Tereza Cristina, se
pessimistas pode- apressou para tranquilizar os paí-
riam prever que o mundo estava pandemia criam um campo ses compradores que não haveria
prestes a ser atingido por uma menor risco de falta de abaste-
das maiores pandemias da histó- fértil para a maior cimento, que todos os contratos
ria, que já matou mais de 260 mil
em todo o planeta. E mais: que o
produtora de grãos seriam cumpridos e que a situação
brasileira seguia favorável.
vírus surgiria na China, o maior
comprador global de alimentos e
do planeta O Brasil, não por acaso,
registrou recorde de volume de
o principal parceiro comercial do envio de soja para todas as partes
Sérgio Vieira
Brasil, destino de 80% de toda soja do mundo, com 16,3 milhões de
que o País exporta, e que a cotação toneladas. No ano, já são, segundo
do dólar – principal fator de custo e rentabilidade – saltaria o governo federal, 34,5 milhões de toneladas embarcadas,
de R$ 4,16 para os atuais R$ 5,70. número histórico no acumulado dos quatros primeiros
Toda essa reviravolta na economia mundial assusta a meses do ano. Em 2019, foram 78,7 milhões de toneladas do
imensa maioria das empresas, mas tem sido vista como grão, metade do que é exportando no mundo, que rende-
uma janela de oportunidades pela gigante americana do ram US$ 28 bilhões – cerca de R$ 160 bilhões. Neste ano,
setor de alimentos Cargill. Líder global em soja e vice- o crescimento dos embarques para China chegou perto de
colocada em milho, a companhia acredita que será uma das 30%. Somente nos três primeiros meses deste ano saí-
beneficiadas com essa mutação internacional do ambiente ram pelos terminais do Porto de Santos, maior complexo
de negócios, com forte crescimento neste ano. A operação portuário da América Latina, 8,9 milhões de toneladas. Em
brasileira, que registrou no ano passado receita de R$ 48,6 termos de produção, também há recordes. A estimativa
bilhões, alta de 7% em relação a 2018, deve fertilizar ainda para a atual safra, que está na fase final de colheita, é de 122
mais seus resultados em 2020, na visão do CEO, Paulo milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de
Sousa. “É chato ver lado positivo em um uma crise desse ta- Abastecimento (Conab). Na anterior, foram colhidas 115
manho, mas tudo isso vai nos ajudar sim”, afirma o execu- milhões de toneladas de soja.
tivo. “A desvalorização do real trouxe ao homem do campo
a vontade de vender sua produção, justamente quando AJUDA A Cargill realizou ações de ajuda no combate ao
nossos clientes de exportação buscavam aumentar níveis coronavírus no Brasil, por meio da Fundação Cargill, com
de compra por conta da Covid-19. E muitos países fizeram doação de R$ 400 mil para compra de alimentos e cestas
mais contratos para garantir a oferta.” básicas para 68 instituições que atendem 17 mil pessoas.
No ano passado, a Cargill ampliou a aposta no Brasil, Também foram destinados R$ 150 mil para o Banco de
aumentando os investimentos de R$ 500 milhões, previstos Alimentos de São Paulo e mais R$ 50 mil para outras orga-
inicialmente, para R$ 656 milhões. Para Sousa, mesmo que nizações sociais.
ainda não esteja no patamar ideal, a infraestrutura logís- A Cargill adaptou a usina de Patrocínio Paulista, no
tica brasileira, como pavimentação da BR-163, ligando o interior de São Paulo, que produz etanol para combustí-
Centro-Oeste ao Pará, foi determinante para o sucesso das veis, para produção de álcool líquido 70% para doação. A
exportações. Soma-se a isso o clima favorável, mais quente companhia não revela a quantidade de frascos distribuídos.
e seco, favorável para o cultivo e transporte de grãos. Com Com 23 fábricas, seis terminais portuários e 11 mil funcio-
essa combinação de fatores, o volume total comercializado nárias, a divisão brasileira da companhia tem hoje cerca de
pela companhia ultrapassou 36 milhões de toneladas em 3,3 mil colaboradores em home office. Os demais estão em
2019, alta de 12% em relação a 2018. fábricas, portos e armazéns. Por enquanto, a empresa não
No início de abril, quando a Organização Mundial de aderiu à medida oferecida pelo governo federal de suspen-
Saúde (OMS), a Organização Mundial do Comércio (OMC) são de contratos de trabalho.

FOTO: Claudio Gatti Dinheiro 13/05/2020 37

negócios

aposta
no brasil
A Cargill aumentou de
R$ 500 milhões para
R$ 656 milhões seus
investimentos no País
em 2019, impulsionada
pela melhoria da
infraestrutura

O presidente da Cargill avalia que NÚMEROS DA CARGILL

o episódio do surto de H1N1 (inicial- (EM 2019)
mente chamada de gripe suína e que
matou mais de 17 mil pessoas entre Receita líquida
2009 e 2010), foi muito mais preju-
dicial para o setor e para a própria R$ 48,6 bilhões
(alta de 7%)
companhia. “O vírus dizimou parte do
plantel suíno chinês à época, e afetou
demais a demanda por farelo de soja. Lucro líquido
Mas também foi uma grande opor-
tunidade para indústria brasileira de R$ 354 milhões
carne para ajudar a repor a oferta para
o público daquele país”, afirma Sousa.
Investimentos

MERCADO Para a analista de merca- R$ 656 milhões

do de grãos da consultoria FCStone,
Ana Luiza Lodi, nem mesmo o recente
acordo pondo fim à guerra comercial
entre Estados Unidos e China, e que
resultará no aumento na compra do
produto americano, irá afetar os
números do Brasil. “O Brasil não foi
afetado porque já tinha parte da safra
comercializada. Estamos no melhor
momento de exportação”, afirma. “A
safra americana ocorre em momento
diferente. Enquanto somos muito for-
tes no primeiro semestre, eles cres-
cem no segundo. O Brasil não perderá
espaço”, garante a economista, indi-
cando que o País é um dos únicos
players do setor que ainda têm área
cultivável para expandir, sem precisar
ocupar espaço de outra cultura.
Tudo isso só é possível porque
o agronegócio brasileiro conseguiu,
DADOS DA SOJA
Produção em 2019 ao longo dos anos, conquistar uma
imagem extremamente positiva, de
115 milhões de toneladas cuidados com toda a cadeia, junto aos
principais mercados consumidores
Produção em 2020 do mundo. O presidente da Cargill, no
entanto, não esconde a preocupação
122 milhões de toneladas com a reputação do Brasil no exterior,
arranhada recentemente em dois
Exportação em 2019 episódios com potencial de custar caro
para a economia do País: a discussão
96,7 milhões de toneladas com grandes líderes mundiais que
apontavam preocupação pelo crescen-
Exportação em abril de 2020 te desmatamento na Amazônia, além, é
claro, da péssima imagem mundo afora
16,3 milhões de toneladas por conta da sinalização de rota total-
mente contrária, no combate ao novo
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia coronavírus, de boa parte dos chefes de

38 Dinheiro 13/05/2020 FOTOs: Steve Niedorf | Ulisses Matandos | ALF RIBEIRO/AE | istock

safra
recorde
A estimativa para a
atual safra, que está
na fase final de
colheita, é de 122
milhões de
toneladas. Na
anterior, foram
colhidas 115 milhões
de toneladas de soja
estado, até mesmo de Donald Trump.
Para Sousa, a condução das auto-
ridades no episódio em que o mundo
falou da floresta amazônica foi muito
desgastante para o País e poderia
resvalar na economia do agronegócio.
Bolsonaro chegou a atacar diretamen-
te o presidente francês, Emmanuel
Macron, e dispensou recursos da Ale-
manha para o fundo de apoio ao meio
ambiente. “Estamos desenvolvendo
reputação muito ruim como destrui-
dores da Amazônia e sem preocupação
com aquecimento global. A responsa-
bilidade de reverter essa visão precisa
ser capitaneada pelo governo federal”,
afirma o presidente da Cargill.
Gado sem vacina acende o alerta
Há exatos 14 anos, o Brasil regis-
trava o último caso de contami-
nação de febre aftosa no reba-
nho, no Mato Grosso do Sul. E
isso, na prática, significava credi-
bilidade, que pode ser lida como
recuo de compradores por falta
de confiança no produto. Em
2018, o Brasil obteve o status de
país livre de febre aftosa com
vacinação, concedido pela
Organização Mundial de Saúde
Animal (OIE). O próximo passo
seria se tornar livre de aftosa
sem vacinação, o que garantiria
exportação de carne com osso. E
se há um setor, além da soja, em
que o Brasil é uma potência mun-
dial, é na exportação de carne.
Mesmo com a pandemia da
Covid-19, a perspectiva é de cres-
cimento, com estimativa de 2
milhões de toneladas, acima do
resultado de 1,8 milhão exporta-
dos pelo Brasil no ano passado.
São 140 países que recebem a
carne brasileira. Em abril, foram
116 mil toneladas, alta de 3% em
relação ao mesmo mês do ano
passado, segundo o Ministério da
Economia.
Por ano, são investidos cerca de
R$ 300 milhões em 325 milhões
de doses para vacinar 200
milhões de cabeças de gado em
duas etapas (em maio o rebanho
total e em novembro, os animais
com até 24 meses). Mas, alguns
estados têm tomado a decisão,
por conta própria, de não vacinar
seus rebanhos, diferentemente
do previsto no plano discutido
pelo Ministério de Agricultura e
Pecuária, que prevê ação em con-
junto. O presidente do Sindicato
Nacional da Indústria de
Produtos para Saúde Animal
(Sindan), Delair Bolis, demons-
trou preocupação com a iniciati-
va. “Sou a favor do programa de
erradicação da aftosa, mas
temos de lembrar que a Colômbia
teve um caso no rebanho no ano
passado e o Sindan chegou a
doar vacinas para a Venezuela,
que não tinha recursos para
garantir a saúde do gado”, diz, ao
citar Acre e Rondônia. “Vírus não
tem fronteira, como estamos
vendo no caso do coronavírus. O
que não podemos é colocar em
risco a venda para 140 países por
conta de algum possível benefí-
cio em um ou outro mercado”,
afirma o dirigente do sindicato.
Em janeiro, o governo federal
concluiu consulta pública sobre
mudanças na legislação para
implementação da retirada gra-
dual de vacinação. A previsão do
ministério é de que o Brasil atinja
o novo status até 2023.
Dinheiro 06/05/2020 43
negócios

Sem
nem
Na reabertura,
vamos operar
com uma
ocupação
menor. Haverá
menos
disponibilidade
de recursos setor de restaurantes
e mais calcula já ter
preocupação
com a saúde” desligado 1 milhão de
cristiano melles,
trabalhadores — e mais
presidente da asssociação
nacional de restaurantes
de 20% dos
estabelecimentos
podem não reabrir
após o fim da
quarentena. Algumas
iniciativas têm ajudado
a manter os quadros
Celso MASSON

A
calma contrastava com a correria
de qualquer restaurante quando
o serviço estava a pleno vapor.
Em vez de cozinheiros se desdo-
brando para atender aos pedidos
dos garçons, o que se via, na véspera do
feriado de 1º de maio, eram preparativos
para testar a saúde da brigada. “Fizemos
o teste de Covid-19 em 119 funcionários˜,
afirmou o empresário Sylvio Lazzarini,
dono da premiada rede Varanda Grill,
com três endereços em São Paulo. Em-
bora tenha mantido o funcionamento de

40 Dinheiro 13/05/2020 fotos: GABRIEL REIS | divulgação

clientes
receitas
forma parcial para atender aos clientes
pelo sistema de entregas, ele aguardava
ansioso a reabertura dos salões, progra-
mada para o dia 11 de maio. “Se permiti-
rem”, ponderou. A data havia sido anun-
ciada pelo governo paulista quase um
mês antes. Na quinta-feira 7, uma nova
previsão seria divulgada. “Confiamos que
as medidas adotadas pelo governo e pela
prefeitura terão o efeito de salvar vidas
e recuperar a atividade econômica no
curto prazo”, disse Lazzarini.
Assim como ele, a maior parte dos
empresários do ramo perderam clientes
e receitas com a adoção do isolamento
social. Agora, temem que os fregueses
não deem as caras tão cedo. “Na reaber-
tura, vamos operar com uma ocupação
menor. Haverá menos disponibilidade
de recursos e mais preocupação com a
saúde”, afirma Cristiano Melles, presi-
dente da Associação Nacional de Res-
taurantes (ANR), e sócio da rede Pobre
Juan. Ele prevê que o setor opere com
prejuízos por um ano. Isso, para os que
sobrevivm aos próximos meses. Segundo
pesquisa da ANR, que representa 9 mil
pontos comerciais no Brasil, um em cada
cinco estabelecimentos poderá sucum-
bir à pandemia (leia mais à página 42).
Com faturamento de R$ 400 bilhões em
2019, o setor de restaurantes empregava
6 milhões de pessoas no Brasil antes do
início do isolamento social.
De acordo com os dados da ANR, um
milhão de trabalhadores foram desliga-
dos apenas em março e abril. O número
tende a crescer. “Nossa primeira preocu-
pação é o emprego. A Medida Provisória
dos salários não deu a ajuda necessária“,
afirma Melles. “Esse é um setor em
que muita gente está em sua primeira
ocupação”. E boa parte está no primeiro
empreendimento, o que significa pouco
capital de giro ou baixíssimas condições
de contrair empréstimos. Sem clientes,
sem receitas. Segundo Melles, nenhuma
folha de pagamento vencida até antes
do dia 5 de maio havia sido coberta pelo
governo, o que obrigou os empresários
do setor a arcar com as despesas de pes-
soal com recursos próprios. Não espanta
que até 15 de abril mais de 10% haviam
encerrado o negócio e demitido todos os
funcionários. Dos que seguem tiran-
do dinheiro do bolso, 75% afirmaram
precisar recorrer à MP dos salários para
honrar a folha de pagamentos. Acordos
sindicais e empréstimos bancários são
alternativas apontadas pelos demais.
Sem a receita das vendas, também não
há dinheiro fácil à disposição nos bancos.
“Eu me qualifiquei para todas as
linhas de crédito que foram anuncia-
das pelos governos estadual e federal,
incluindo a da agência de fomento De-
senvolve SP. Até agora, não recebi nada”,
diz a chef Anouk Migotto, proprietária
do restaurante Donna Pinha, em Santo
Antônio do Pinhal (SP). “Desde o início
do isolamento, dei férias para os fun-
cionários e priorizei os pagamentos aos
voucher
solidário
Com seu
restaurante na
turística Serra
da Mantiqueira
fechado e sem
opção de delivery,
Anouk Migotto
aderiu a um
programa em
que os clientes
antecipam o
pagamento do que
poderão consumir
após a reabertura.
Dez por cento do
valor vai para
entidades
beneficentes
Dinheiro 13/05/2020 41
negócios

fornecedores. Eles dependem de mim

e eu dependerei deles quando puder
reabrir”, afirma. Segundo ela, ainda que
as datas para o recolhimento de impos-
tos tenham sido postergadas, as despe-
sas com aluguel, água e luz continuam à espera da
vencendo. “Preciso escolher que contas freguesia
Na rede paulistana
pagar, porque a minha prioridade agora Varanda Grill,
é colocar comida dentro de casa”. testes para
detectar o novo
EXEMPLO DOS EUA Essa rea- coronavírus foram
aplicados em 119
lidade não é exclusiva do Brasil. Nos funcionários.
Estados Unidos, a National Restaurant “Confiamos que as
Association encaminhou ao presidente medidas adotadas
Donald Trump e aos líderes do Congres- pelo governo e pela
prefeitura terão o
so um documento em que reinvindica efeito de salvar
uma ajuda emergencial para manter vidas e recuperar
viva uma cadeia que, segundo o órgão, a atividade
“representa um dos principais pilares econômica no
curto prazo”, afirma
de cada comunidade”. A previsão da en- o proprietário,
tidade é que vendas diminuam em US$ Sylvio Lazzarini
225 bilhões nos próximos três meses
nos EUA, o que provocaria a perda entre
cinco e sete milhões de postos de tra- Segundo a proposta, o empréstimo libere recursos por meio das empresas
balho. O documento propôs uma série receberia perdão desde que o empre- de adquirência, como são chamadas as
de medidas para atenuar tal impacto, gador mantenha os seus trabalhadores operadoras de maquininhas de paga-
incluindo um fundo de recuperação do na folha de pagamento sem reduzir mento de cartões de crédito e débito.
setor, bancado pelo Tesouro, de US$ 145 salários. A carta serviu de modelo Segundo o presidente da ANR, Cristiano
bilhões, além de outros US$ 100 bilhões para algumas das demandas levadas Melles, a medida poderia irrigar o setor,
na forma de seguros, e a criação de um pela ANR ao governo brasileiro. Para permitindo um fôlego financeiro maior,
programa de “Empréstimos Federais ajudar os restaurantes no curto pra- até que a situação se normalize. “Essa
Iguais à Perda de Receitas”. zo, a associação propôs que o governo atividade é uma das que mais insere

De portas fechadas - Pesquisa com donos de restaurantes entre 9 e 15 de abril mostra que a crise ameaça a sobrevivência
Demitiu funcionários desde o início da crise? Quanto aos salários que vencem em maio*:
Sim: 76,11% Pagará normalmente, sem qualquer recurso externo:
9,82%
*As empresas puderam escolher mais de uma resposta

Não: 28,89% Usará a MP dos salários:

75,89%
Fará valer acordos sindicais:
Conseguiu pagar os salários de março? 26,79%
Sim: 76,99% Pedirá crédito em uma das linhas lançadas após a crise:
14,29%
Não: 23,01% Fechou o estabelecimento e já demitiu todos os functionários:
11,61%
Fonte: Associação Nacional de Restaurantes

42 Dinheiro 13/05/2020 fotos: divulgação

 pessoas de escolaridade média e jovens
no mercado de trabalho. Os restauran-
tes têm bons programas de qualificação
profissional. É importante manter essa
função de formador de mão de obra”,
afirma Melles. Outra demanda da ANR
junto ao poder público é a uniformização
do ICMS, que hoje varia de estado para
estado, entre 2% e 6,5%. “Nossa proposta
é um regime especial de 2% para todos.
Isso aumentaria a arrecadação, protege-
ria as empresas e os empregos”. Segundo
Melles, o impacto para os estados seria
baixa, já que a contribuição do setor com
o ICMS é pequena, comparativamente
ao número de empregos que gera.
TAXAS DE ENTREGA Outro
ponto que preocupa os donos de restau-
rante é a dependência das empresas que
dominam o market place e as entregas.
Enquanto no mundo todo cresce a pres-
são por taxas menores, de no máximo
15%, por aqui há quem cobre até 25%.
Como o setor tem margens pequenas,
esse adicional pode inviabilizar o ne-
gócio. O problema é que o mercado de
entregas de refeições é quase monopo-
lizado no Brasil, com um único opera-
dor respondendo por quase 90% dos
serviços. “Nossa indústria vai mudar e
esse canal será cada vez mais importan-
te. É preciso que as regras favoreçam o
setor. Queremos taxas de entrega mais
justas”, diz Melles. “Estamos tentando
desmistificar a ideia de que o delivery é
a solução”. Em alguns casos, ele sequer
é uma opção. “Estamos em uma cidade
turística. Aqui ninguém pede comida.
Todo nosso movimento depende de
quem vem de fora”, afirma Anouk, do
restaurante Donna Pinha.
Sem delivery, ela criou uma forma de
antecipar receitas futuras por meio da
venda de vouchers. A ideia se baseou em
uma experiência adotada por cervejarias.
Para evitar a falência em massa de bares,
marcas como Stella Artois, Heineken e
Bohemia estimulam clientes a comprar
tíquetes de consumo futuro com descon-
to de 50%. A diferença é coberta pelas
cervejarias. “Aproveitamos essa iniciati-
va e lançamos um movimento de cunho
social, em que 10% do valor pago pelo
cliente é doado para 15 entidades assis-
tenciais da região”, diz Anouk. O voucher
solidário é válido para quatro cidades da
Serra da Mantiqueira e poderá ser usado
em 35 estabelecimentos, da data de rea-
bertura até 31 de março de 2021.
O viés social também está presente
em outra ação colaborativa que une os
restaurantes paulistanos Le Tuscani e
Café Journal e a importadora de vinhos
Grand Cru. Juntos, criaram uma ação de
financiamento coletivo beneficente com
objetivos principais: gerar um mínimo
de faturamento para conseguir manter a
maior quantidade possível de funcioná-
rios em seus quadros de colaboradores
e atender a necessidades básicas de
pessoas em situação de rua, por meio
da entrega de marmitas. O projeto de
crowdfunding (financiamento coleti-
vo) pretende fornecer 8 mil refeições à
população mais afetada pela crise. “É
uma ação temporária, não visa lucro e,
sim, a manutenção de empregos, até que
as casas voltem ao seu nível mínimo de
operação com a reabertura do comér-
cio”, diz Márcio de Paula, do Le Tuscani.
Ao custo de R$ 12,50, cada marmita
traz uma refeição de 600 gramas com
arroz, feijão, legumes e proteína animal.
“Para evitar aglomerações, conforme
recomendação da OMS, as entregas se-
rão feitas em lotes, em pontos indicados
pela Prefeitura e pelo Governo de São
Paulo”, afirma Denios Rezende, do Café
Journal. Ainda que os restaurantes não
estejam conseguindo manter as receitas
usuais de suas operações, muitos estão
usando a criatividade para experimen-
tar novas formas de atuação – algo
que será vital para a sobrevivência dos
negócios após a pandemia.

de um em cada cinco estabelecimentos

Faturamento na segunda quinzena de março em comparação Conseguirá manter o negócio

com a primeira: após a pandemia?

Sim: 78,57%
Queda de até 30%: 7,27%
Não: 21,43%
Queda de 31% a 50%: 9,09%

Queda de 51% a 70%: 18,18%

Queda acima de 70%: 65,45%

Dinheiro 13/05/2020 43
Negócios

O avanço da
Sizmek
Um ano após ter sido aquirida pela
Amazon, empresa de propaganda
digital anuncia nova plataforma para
agilizar campanhas, num mercado
que cresce entre 15% e 25% ao ano
Angelo VEROTTI

O
crescimento do mercado publicitário digital no
Brasil, cuja média anual tem oscilado em torno
de 20%, vem animando as grandes empresas glo-
bais do setor. É o caso da Sizmek, agência de pro-
paganda on-line de origem norte-americana. Um
ano depois de sua aquisição pela gigante Amazon, ela está
lançando uma nova plataforma, a Sizmek Advertising
Suite (SAS). A proposta é dar maior eficiência e agilidade a
todo o processo de criação, publicação, monitoramento e
mensuração dos resultados das campanhas digitais. “O
lançamento da plataforma no mercado brasileiro também
demonstra a aposta da Amazon na região”, diz Allan
Panza, senior client partner da Sizmek.
A novidade passou por modernizações para torná-la
capaz de suportar o dobro da
quantidade de tráfego e para ofe-
recer, tanto a anunciantes quanto
a publishers, recursos avançados
de análise e dados, fluxo de traba-
lho mais inteligente, autoria cria-
tiva, veiculação de anúncios e seg-
mentação. Para se ter uma ideia
de um dos impactos dessas
mudanças, agora é possível subir
uma campanha de vídeo na SAS e
colocá-la no ar com apenas cinco cliques. Em outras plata-
formas, inclusive a antiga da Sizmek, são necessários, no
mínimo, 12 cliques.
Por meio da ferramenta DCO (criativos dinâmicos) –
ainda pouco utilizada no Brasil -, a nova plataforma tam-
bém permite acompanhar o resultado de um anúncio e, de
acordo com alguma resposta negativa, alterar imediata-
mente qualquer detalhe de uma estratégica de marketing
ou de criativos, da imagem ou texto até o logo ou o preço
divulgados. “A SAS traz para o cliente agilidade, inteligên-
cia artificial, machine learning e resultado para melhorar
a performance das campanhas ou
para gerar mais conversões de
vendas”, destaca Panza.
O especialista em marketing
chama a atenção ainda para a
capacidade da plataforma de fazer
a aferição do serviço contratado
no brasil O objetivo da empresa é dar
eficiência e agilidade ao processo de criação
e publicação das campanhas digitais

44 Dinheiro 13/05/2020 FOTOs: Istock | Divulgação


pelos anunciantes junto aos veículos de comunicação digi-
tais. Ele afirma que, após comprar uma campanha, a
empresa não consegue comprovar se o fornecedor entre-
gou tudo o que foi acertado. “O anunciante contrata, por
exemplo, uma diária de 30 milhões de impressões de uma
empresa de serviços de internet para entregar no Sul do
Brasil. Só que o contratado entregou apenas 10 milhões e
na região Norte. O nosso trabalho é fazer essa varredura
para saber se tudo foi cumprido.”
AMBEV E UNILEVER No Brasil, a
Sizmek tem no portfólio clientes como
Unilever e Ambev. São ao menos 25, de
todos os portes, que hoje apostam nos ser-
viços da empresa para criação de insights,
desenvolvimento e acompanhamento das
campanhas. Allan Panza diz que, diferen-
temente de alguns concorrentes, possui
equipe para fazer operação de campanha
com anunciantes e veículos. “Alguns sim-
plesmente têm a tecnologia e fornecem o
login e a senha. Mas são os parceiros que
A ascensão da
publicidade digital
Pesquisa Global de Entretenimento
e Mídia, realizada pela consultoria
PwC em 53 países, prevê
crescimento robusto do setor
US$ 468 bilhões
(R$ 2,6 trilhões) é o gasto global
estimado em mídia digital em 2023
US$ 6 bilhões
(R$ 34 bilhões) é o montante que
deverá ser movimentado no Brasil
US$ 3 bilhões
(R$ 17 bilhões) foi a receita do
segmento no País em 2018
30 %
da verba atual de publicidade no Brasil
é investido em mídias digitais
50 %
é a participação que o segmento deve
alcançar no total da publicidade até 2023
Fonte: PwC
executam o trabalho.” Segundo ele, o primeiro ano de ope-
rações no País sob a chancela da Amazon deve ser conside-
rado de transição, marcado por muitas mudanças e impac-
tado pela crise do coronavírus. “Foi todo mundo afetado
pela pandemia, em maior ou menor escala. Clientes que
tinham programado campanhas grandes pararam. Outros
que não tinham programado, fizeram. É preciso esperar”.
observa o executivo. “Não temos muita noção do que real-
mente vai acontecer. O fato é que, nessa crise toda, muitas
oportunidades também estão sendo geradas.” Apesar de
destacar que a instabilidade política difi-
culta a aceleração digital no País, Panza
afirma que o mercado brasileiro é bas-
tante promissor, a exemplo do asiático.
Prova disso é o provável lançamento do
Amazon Advertising Brasil, o serviço de
venda de anúncios da gigante da tecnolo-
gia, até o fim deste ano.
a hora certa “O fato é que, nessa crise,
muitas oportunidades também estão sendo
geradas”, diz Allan Panza, da Sizmek
Dinheiro 13/05/2020 45
Dinheiroembits por Edson ROSSI

Mercado de celular: queda histórica

Já era esperado. Ainda assim, sur- Somente entre os quatro maiores
preendeu. Pela velocidade. Pelo fabricantes do mundo (Samsung,
volume. O mercado global de celu- Huawei, Apple e Xiaomi) as
lares desabou em termos históricos remessas saíram de 195,6
no primeiro trimestre de 2020 milhões, no começo do ano pas-
(275,8 milhões de remessas) em sado, para 173,5 milhões, no início
relação ao quarto trimestre de deste ano (-11,3%). O resultado é
2019 (368,8 milhões de remessas) efeito do coronavírus, que preju-
– queda de 25,2%. E a previsão é dicou tanto a cadeia de supri-
que a curva descendente continue mentos, com a interrupção de
de abril a junho deste ano. Houve atividades em fábricas na Ásia,
redução mesmo na comparação quanto a ponta varejista e suas
sazonal, entre o primeiro trimestre portas fechadas devido à quaren-
de 2019 e o de 2020, de 11,7%. tena em todo o planeta.

Declínio sem igual

(remessas globais em milhões + variação trimestre a trimestre em %)
+18,5
+8,5 +4,4 +4,2 +4,9 +6,7 +7,5 +2,9
+3,9 +5,0 +1,1 +2,5
0
-20,0 -15,7 -16,3
450

360

270

180

90

0
1ºTri16 2ºTri16 3ºTri16 4ºTri16 1ºTri18 2ºTri18 3ºTri18 4ºTri18 1ºTri20
1ºTri17 2ºTri17 3ºTri17 4ºTri17 1ºTri19 2ºTri19 3ºTri19 4ºTri19

Divisão do bolo entre os grandes

(1tri 2019 x 1tri 2020, em milhões de unidades)
1º TRI 2019 1º TRI 2020

-18,9% -17,1% 0% +6,,1%

71,9
59,1 58,3 49,0
Fonte: Bloomberg/IDC

36,8 36,7
27,8 29,5

SANSUNG HUAWEI APPLE XIAOMI

46 Dinheiro 13/05/2020 INFOGRáfico: evandro rodrigues | fotos: istock | divulgação


Quarentena
Play Game
Segundo pesquisa da Navita, empre-
sa especializada em gestão de mobi-
lidade, 15% dos dispositivos móveis
(smartphones e tablets) para uso
corporativo durante a quarentena
registraram a tentativa de downloa-
ds de aplicativos que fogem do
escopo profissional por parte de
colaboradores. Houve desde instala-
ção de apps de redes sociais (como
Facebook, Instagram e TikTok), de
streaming de música (como Spotify
e Watchmusic) e até mesmo de
jogos (como Modern Combat, NBA e
E-commerce
oscila, mas
pega curva
ascendente
Pesquisa da Associação Brasileira
de Comércio Eletrônico (ABComm)
com a Konduto, especializada em risco
e em prevenção à fraude no e-commerce e
pagamentos digitais, mostra o comportamen-
to do comércio eletrônico brasileiro durante a crise
de Covid-19. O levantamento foi dividido em três está-
gios – Período 1 (1º a 14 de março), Período 2 (15 a 28 de
março) e Período 3 (29 de março a 8 de abril). Foram analisados 20
milhões de pedidos em 4 mil lojas virtuais. Entre o Período 1, primeira quinzena
de março, ainda antes da quarentena, e o Período 2, início da quarentena, houve
queda de 19,2% no volume de transações, mas o tíquete médio subiu 5,4%, passan-
do de R$ 417,8 para R$ 440,5. Em relação ao estágio seguinte (fim de março e início
de abril) houve aumento de 28,83% nas transações realizadas em relação à segunda
quinzena de março. O tíquete médio permaneceu quasee estável, em R$ 441,04.
“A pandemia de COVID-19 era uma situação inesperada em todo o mundo. O isola-
mento pegou varejistas e consumidores despreparados, o que explica a queda
momentânea com a recuperação em seguida”, diz Maurício Salvador, da ABComm.

15
Zombie Infection). O levantamento
foi feito em mais de 2 mil dispositi-
vos móveis e 30 empresas de dife- US$ Previsão da IDC sobre perda de receita
em 2020 do mercado de TI da América Latina,
rentes segmentos. bilhões por causa da pandemia de Covid-19

Plataforma ajuda varejo

a oferecer Cashback
Fazer uso da ferramenta de CRM (Customer Relationship Management) para a gestão integral
O mundo não dos hábitos do consumidor torna-se decisivo também para varejistas de menor porte ou que
pode arcar comandam unidades de franquia, por exemplo. E aliar a isso ações de cashback – quando
com as parte do gasto retorna ao consumidor por meio de cupons, descontos ou mesmo em dinheiro
consequências – tem incrementado a performance, em especial numa era de quarentena. “O cashback é
grande oportunidade para que pequenas e médias empresas possam construir seu CRM e ofe-
impensáveis de
recer produtos e promoções de forma individualizada e assertiva”, afirma Christian Vincent,
uma pandemia
CEO da Izio, startup que conecta varejo, marcas, indústria e consumidor. Sua empresa desen-
de Covid-19 na
volveu a plataforma IZ Pay, que oferece dois tipos de cashback – recarga de celular ou transfe-
África”
rência direta para a conta corrente. Mas é possível também desenvolver projetos customiza-
JACK MA,
Fundador dos. A Izio é residente do Cubo Itaú, maior hub de conexão da América Latina.
do Alibaba

Dinheiro 13/05/2020 47
TECNOLOGIA

Música para os ouv

Puxado por shows de duplas sertanejas,
plataforma reporta aumento de 4.900%
desde março, na demanda por lives desde no
Brasil. A apresentação recordista teve 3,3
milhões de acessos simultâneos. Patrocínio
de empresas passou a ser vital para artistas
Beto Silva

A
plataforma de vídeos YouTu-
be sempre foi terra fértil para
produção de conteúdos exclu-
sivos, experimentações, uso de
linguagens alternativas e fonte
para publicação e consumo de
temas plurais. Um ambiente democrático,
que ganhou adeptos ao surfar ondas gigantes
ao longo dos seus 15 anos de existência. Cada
um com sua propagação e amplitude, os mo-
vimentos mais marcantes foram a explosão
dos youtubers, a disseminação dos games e
a divulgação dos esportes (e aqui incluem-se
os e-sports). Agora, com a quarentena, a mais
nova crista do YouTube são as lives de bandas e cantores, que
fazem a empresa americana controlada pelo Google ganhar
ainda mais popularidade e bater recordes de espectadores,
principalmente no Brasil. Mais usuários significa maior inte-
resse das empresas em divulgar seus produtos nessa mídia e,
consequentemente, mais anúncios para engordar a receita da
empresa, que fechou 2019 com faturamento global de
US$ 15 bilhões, o que representa 9,25% de todos os negócios
da holding Alphabet, conglomerado de todas
as companhias vinculadas ao Google. “É
como música para os ouvidos do Youtube”,
diz à DINHEIRO a diretora do YouTube no
Brasil, Patricia Muratori. Segundo ela, a com-
panhia tem adotado desenvolvimento mais
estratégico na quarentena.

48 Dinheiro 13/05/2020 FOTOMONTAGEM/DIVULGAÇão

idos do YouTube
Patricia afirma que as prioridades não mudaram, apenas
se intensificaram nessa crise. “As pessoas estão vivencian-
do novas experiências”, destaca a executiva. O fato é que, o
começou como simples entretenimento, para saciar a vontade
dos artistas em mostrar seu trabalho e dar calor e conforto
aos brasileiros que estão em casa, virou um grande negócio.
Das cinco lives com maior audiência da história da platafor-
ma no mundo, incluindo todas as modalidades, entre games,
esportes e música, quatro são de artistas brasileiros. E todos
os recordes foram conquistados neste momento de isola-
mento social. A apresentação ao vivo da cantora sertaneja
Marília Marília lidera o ranking, com 3,3 milhões de usuários
simultâneos conectados. Seria o mesmo que lotar 42 estádios
do Maracanã, que tem
capacidade para 78
mil torcedores. Jorge & Mateus (3,1
milhões), Andrea Bocelli (2,8 milhões),
Gusttavo Lima (2,7 milhões) e Sandy
& Junior (2,5 milhões) completam a
lista. O aumento da procura por lives
aumentou 4.900% no YouTube Brasil
desde março, segundo a companhia.
E os recordes alcançados pelo público
brasileiro ocorrem porque é um povo
que já tem vocação para consumo de
material audiovisual e a aproximação
com seus ídolos, que já era forte, se in-
tensificou na busca por opções de diver-
são domiciliar. Além disso, é de graça,
por enquanto. “Juntou a vontade com
a necessidade. E a forma de viver essas
experiências mudou”, afirma Patrícia.
ADAPTAÇÕES O YouTube já tinha
expertise em lives de games e esportes
e afirma já que estava preparado para
grandes audiências. Mas precisou fazer
adaptações para absorver uma multidão
virtual em curto espaço de tempo. Para
atender ao novo território da música, foi
necessário agilizar a aplicação de produ-
tos e soluções que já estavam prontos.
Duas ferramentas entraram em cena:
o superchat, para uma participação
mais ativa dos internautas, em que eles
podem pagar para ter seus comentários
expostos com maior destaque (mais
uma forma de receita do canal), e o Live
Content ID, um scanner de conteúdo
para proteger os direitos autorias das
canções – com ele foi possível derrubar
transmissões clandestinas. De maneira
geral, também houve crescimento na
busca por outros conteúdos na plata-
forma, como “exercícios em casa”, que
aumentou cerca de 200%, e “receitas
caseiras”, com interesse 50% maior.
Dinheiro 13/05/2020 49
 TECNOLOGIA
outra
realidade
“As pessoas
estão
vivenciando
novas
experiências”,
diz Patricia
Muratori,
diretora do
YouTube
Aumentou inclusive a busca por “estude
comigo”, espaço em que os alunos pro-
curam companhias para estudar, ainda
que o internauta do outro lado da tela
fique apenas em silêncio.
Se rendeu visibilidade ao YouTube,
também deu resultados para as marcas
patrocinadoras das lives. A Riachuelo,
que está com todas suas lojas físicas
fechadas, intensificou ações em canais
digitais. Fechou parceria com Marí-
lia Mendonça e Gusttavo Lima nas
apresentações feitas em 8 e 11 de abril,
respectivamente. Não por acaso, no
período de 4 a 12 de abril, a empresa
aumentou em 124% as vendas pelo e-
commerce. Também registrou volume
56% maior no tráfego do site, observou
50 mil novos downloads do aplicativo
e as vendas triplicaram. “Nesse novo
cenário, queremos manter a proximi-
dade com os nossos clientes, algo já tão
presente em nossa história”, diz Elio
Silva, diretor da Riachuelo. “Fomos os
pioneiros do segmento a acreditar que
este formato seria uma bom canal de
comunicação, pois é uma forma natural
de atingir quem está em casa, geran-
50 Dinheiro 13/05/2020 foto: divulgação
As explosão dos
shows virtuais
Ranking de audiência simultânea das
lives do YouTube no mundo
1º Marília Mendonça
3,3 milhões (8 de abril)
2º Jorge & Mateus
3,16 milhões (4 de abril)
3º Andrea Bocelli
2,8 milhões (12 de abril)
4º Gusttavo Lima
2,76 milhões (11 de abril)
5º Sandy & Junior
2,54 milhões (21 de abril)
Fonte: Youtube
do identificação e reforçando nossas
principais mensagens”. Já Ricardo
Dias, CMO da Ambev, patrocinadora de
grandes lives, afirmou, em entrevista
ao canal Meio & Mensagem, especiali-
zado sobre o mercado de comunicação,
que a integração de entretenimento
com produto, com mensagem positiva,
leva “algo diferente para a casa das
pessoas e entrega o propósito de forma
genuína e impactante”.
EXCLUSÃO O YouTube tem como
um de seus pilares a responsabilidade
sobre os vídeos divulgados. O começo
da pandemia foi crítico com relação
a conteúdos em desacordo com o
preconizado pelas autoridades públicas
brasileiras e pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), como a divulgação
de remédios sem eficácia comprovada.
Por isso, houve mudança na política de
uso da plataforma, a primeira altera-
ção realizada desde 2005, quando foi
criada. Tudo o que não respeitava as
definições de órgãos oficiais era exclu-
ído, tanto por robôs, que mapeavam os
algoritmos, quanto pelos colaboradores
da plataforma. “Intensificamos esse
olhar”, diz Patricia Muratori. Passado
o momento mais complicado, agora a
empresa observa aumento de 75% na
procura por informações jornalísticas
e notícias oficiais sobre a Covid-19. O
YouTube, inclusive, tem direcionado os
usuários para acesso mais fácil e direto
a vídeos governamentais.
Com os shows cancelados durante
a quarentena, os artistas mais uma vez
tiveram de se reinventar. Esse coleti-
vo cultural, que enfrentou e superou
num passado recente a proliferação
dos produtos piratas, encontrou nas
lives seu sustento provisório. Mas as
apresentações ao vivo pela internet
vão continuar no pós-pandemia?
Paulo Junqueiro, presidente da Sony
Music Brasil, acredita que sim. Com
ressalvas. “É um momento inédito
e histórico. Estamos construindo o
barco com ele navegando. Estou vendo
as lives com bons olhos, mas tem de
ser estabelecidas regras. Talvez no
formato pay-per-view, com uma maior
gestão cultural”, disse o executivo, em
sua participação na Rio2C, que debate
durante esta semana as tendências e
dinâmicas do mercado musical. Toni
Garrido, cantor, compositor, apre-
sentador e ator, corrobora, ao afirmar
que é preciso rentabilizar o artista. “É
uma vertente a mais que teremos para
trabalhar. Mas os artistas não podem
fazer lives grátis”, disse o vocalista da
banda de reggae Cidade Negra.
tecnologia
DINHEIRO AO VIVO
Com lives, número de novos clientes da PicPay cresce
seis vezes — e plataforma planeja chegar a 100 milhões
Beto Silva
A
pandemia da Covid-19 parece
estar ajudando a fintech PicPay,
plataforma de pagamentos ligada
ao Banco Original. Apenas em
abril, a empresa conquistou 3 milhões
de novos clientes. O número é seis vezes
a média dos meses anteriores. O desem-
penho se deve a uma agressiva ação de
marketing com artistas brasileiros,
patrocínio do Big Brother Brasil, um
projeto de popularização de transações
financeiras digitais em comunidades
carentes e novos canais de pagamentos
para o comércio de entregas. “Com as
pessoas dentro de casa, elas procuram
outras formas de lidar com o dinheiro e,
assim, têm contato com novas tecnolo-
gias”, afirma Gueitiro Genso, CEO do
PicPay. Como resultado, segundo ele, a
empresa atingiu a marca de 19 milhões
de clientes. A meta é chegar a 100
milhões nos próximos cinco anos.
Ainda que o êxito se deva à soma de
todas as estratégias, foram as lives que
deram mais resultado. A fintech atuou
como parceira de 15 grandes shows
musicais, que arrecadaram doações. “A
lives popularizaram o pagamento à dis-
tância”, diz o CEO. Durante as apresen-
tações, cerca de R$ 5 milhões foram
angariados. As taxas das transações
não são cobradas das instituições bene-
ficiadas. E a própria PicPay doou
R$ 500 mil para a Central Única das
Favelas (Cufa) na transmissão ao vivo
do show da dupla Sandy & Júnior, no
dia 21 de abril. Pelo QRCode do PicPay
que aparece na tela, em dois cliques no
FOTO: pauLO VITALe
A calculadora
dA PicPay
100 MILHÕES
de clientes no Brasil é a meta da fintech
19 milhões
de usuários é a marca atual da
companhia
3 milhões
de pessoas passaram a usar
a PicPay apenas em abril
R$ 5,6 bilhões
foram movimentados pela plataforma
PicPay em 2019
R$ 1,2 bilhão
foram movimentados pela carteira
digital apenas em abril
aplicativo instalado no smartphone é
possível fazer a doação — sem a neces-
sidade de transferências bancárias. Em
parceria com a Cufa, a PicPay criou um
processo de entrega do dinheiro das
doações diretamente para as famílias.
Abre-se uma conta na carteira digital no
celular dos beneficiários e os recursos já
estão disponíveis.
CAIXINHA O processo é similar ao do
programa Merenda em Casa, do
Governo de São Paulo, que durante a
suspensão das aulas transfere R$ 55
mensais a alunos da rede pública esta-
dual em situação vulnerável. O valor foi
repassado a 600 mil famílias pelo apli-
cativo PicPay. “Democratizamos e
empoderamos as pessoas ao dar acesso à
população que estava excluída do siste-
ma”, afirma Genso. “Nosso QRCode é
usado até para dar ‘caixinha’ ao músico
que toca no metrô ou comprar um peda-
ço da gravata do noivo na festa de casa-
mento”. É o novo dinheiro vivo.
Dinheiro 13/05/2020 51
Cobiça
por klester cavalcanti

A tequila
das tequilas
Entre os especialistas, ela é considerada, mais do que qualquer outra
marca, a grande responsável por elevar a reputação da tequila à de uma
bebida tão respeitada quanto os melhores uísques e conhaques.
Estamos falando da Patrón, fabricante mexicano apontado
por dez entre dez conhecedores como um dos
melhores do mundo. Essa verdadeira grife de tequilas
já tinha deslumbrado o mercado há 5 anos, ao lançar
a Patrón en Lalique Serie 1. Agora, os mexicanos
resolveram ir ainda mais fundo. A começar pela
garrafa. Para a Patrón Serie 2, repetiram a parceria com
a Lalique – principal escritório de design de cristais finos
da França – e criaram uma jarra elegantíssima, de linhas
retas que lembram um diamante e com um toque Art
Deco. A tampa é de cristal puro, em tons de âmbar.
Mas vamos ao que interessa: o que está dentro da garrafa.
A tequila da Serie 2 é totalmente diferente de qualquer outra
Patrón já lançada. A bebida, criada pelo tequilero Alcaraz, tem
8 anos e foi produzida de forma artesanal na destilaria
Hacienda Patrón, em Jalisco, único estado mexicano no qual,
pelas leis nacionais, a tequila pode ser produzida. Além da
apurada técnica de envelhecimento tradicional – em carvalho
francês e americano –, a Patrón Serie 2 também passou algum
tempo em barris de ex-xerez da Espanha. O resultado é uma bebida
deliciosamente frutada, com notável influência do xerez de laranja
e passas, juntamente com agave, baunilha e mel. Também estão
presentes notas de xerez secas e de carvalho. Para garantir a sua
garrafa de 750 ml, é bom correr. A premiada casa mexicana produziu
apenas 299 unidades, todas numeradas e fabricadas a mão na oficina
da Lalique, na França. Cada uma custa US$ 7.500 (cerca de R$ 40 mil).

52 Dinheiro 13/05/2020
 Estilo contra
o corona
Em tempos de pandemia
global, nenhum acessório
Mesa pra um ganhou tanta importância
quanto as máscaras que nos
Em todo o mundo, donos de restaurantes se perguntam como protegem do coronavírus.
será o futuro do negócio pós-pandemia. Um casal do condado No Brasil, várias cidades
de Värmland, no centro-oeste da Suécia, parece ter encontrado já tornaram seu uso
a solução, ainda que não muito convencional. No domingo 10, obrigatório. E muitos
Rasmus Persson e Linda Karlsson inauguram um restaurante de apenas uma mesa, fincada no meio especialistas garantem que,
de um bucólico prado. E mais: o lugar vai atender a apenas uma pessoa por vez. O nome da casa não mesmo quando o isolamento
podia ser mais apropriado: Bord för En (“mesa para um”, em sueco). O casal reconhece que a ideia é social for relaxado, elas
estranha, sim, mas perfeiramente adequeada a esses dias de distanciamento social. As curiosidades continuarão sendo
não param por aí. O restaurante não terá equipe de garçons. As refeições serão entregues à mesa essenciais. Sendo assim,
por meio de uma charmosa cesta de vime que desliza de uma janela da cozinha (foto maior). O se é para sair nas ruas
cardápio é fixo e tem como prato principal a receita que Rasmus batizou de Black & Yellow: mascarado, que seja com
croquetes de milho doce e cinzas de raiz de serpente. E um negócio assim vai dar lucro? Essa não estilo. A grife americana
é a prioridade do casal. Tanto que o preço da refeição é definido pelo próprio cliente. Você vai lá, tem Tylmen, de moda masculina,
essa experiência única e paga quanto quiser. “Para nós, esse é o conceito ideal para comer. captou perfeitamente essa
Nenhuma distração social do gosto. Apenas você e sua comida”, diz Linda. Para quê mais? ideia e começou a produzir
máscaras com a mesma
qualidade e, em alguns
Leilão de carrões casos, o mesmo tecido das
suas gravatas, principal
Assim como tantos outros, o negócio dos leilões lances a partir de US$ 100 mil (em torno de produto da marca. No caso
foi bastante afetado pela Covid-19. Com a R$ 550 mil). Entre as raridades que devem das máscaras, obviamente,
proibição de eventos públicos, uma das mais aquecer a competição, estão um belíssimo as peças são unissex. Mas,
tradicionais casas dos Estados Unidos, a Corvette 1963 branco, com interior forrado de por ser uma grife voltada ao
Barrett-Jackson, acaba de anunciar que o seu couro vermelho, e um fabuloso Ford Mustang público masculino, a Tylmem
esperado leilão de carros clássicos será relizado GT500 1968. Num sofisticado tom verde- faz questão de destacar
este mês, somente on-line, da sexta-feira 8 ao escuro, a máquina é conversível, com capota que suas máscaras são
domingo 17. Sendo assim, ainda dá tempo para branca, e foi originalmente fabricada pela confeccionadas de tecido
entrar na disputa. Ao todo, serão colocados à Shelby para ser uma versão mais agressiva do que não amassa ao ser
venda 75 carrões de colecionadores, com já famoso bólido da Ford. Nos bastidores, dobrado e que cabem
comenta-se que essas duas belezas não perfeitamente no bolso de
serão arrematadas por menos de US$ 300 um paletó, dando um tom de
mil (cerca de R$ 1,6 milhão). elegância, como se fosse um
lenço. As peças custam
US$ 30 (cerca de R$ 160)
e são produzidas em vinte
e três estampas, das mais
sóbrias às mais coloridas.
Tem para todos os gostos.
O negócio é vencer a
Covid-19. Mas com estilo.

fotos: divulgação Dinheiro 13/05/2020 53

ESTILO

A HORA É DELAS
Apostando na elegância e no luxo,
grandes fabricantes de relógios oferecem
ao público feminino peças que
podem custar até R$ 365 mil
Klester CAVALCANTI

beleza
extrema
A fabulosa atriz
Nicole Kidman e
seu Omega De Ville
Ladymatic. Com
caixa de ouro 18k
e 60 diamantes
circulando o
mostrador, a peça
custa R$ 365 mil

54 Dinheiro 13/05/2020
F
oi-se o tempo em que era
preciso olhar para o relógio
para saber as horas. Hoje, os
celulares cumprem muito bem
essa função — incluindo ou-
tras, como a de cronômetro e
despertador, além de se ajustar
ao fuso horário de cada cidade.
A concorrência dos smartphones não im-
pediu os fabricantes de relógios de seguir
investindo em modelos nos quais o grande
destaque são o luxo e o design. Quando o
público-alvo são as mulheres, então, os re-
lógios se tornam verdadeiras joias. No mais
literal sentido da palavra. Diamante, ouro,
platina, rubi, safira e esmeralda são apenas
alguns dos materiais cada vez mais comuns
nos mostradores de horas femininos. E as
mulheres adoram usar uma preciosidade
dessas numa ocasição especial. Que o diga
Nicole Kidman. Embaixadora da grife
suíca Omega, uma das mais respeita-
das do setor, a atriz australiana sem-
pre exibe um relógio maravilhoso
nos grandes eventos. Foi assim no
Emmy de 2017, no Oscar de 2018
e, mais recentemente, no Golden
Globe Awards, realizado há ape-
nas 4 meses, na cidade de Beverly
Hills, nos Estados Unidos.
Um dos modelos preferidos da
senhora Kidman é o De Ville Lady-
matic que ela usou numa campanha
da Omega ( foto à esq.). Com 5 anos de
garantia e resistência a água de 100 me-
tros de profundidade, a peça tem mostrador
de madrepérola, marcadores de diamante
e vidro de safira resistente a riscos. No bisel
– anel que circula o mostrador –, são nada
menos do que 60 diamantes adornando a
caixa de ouro 18 quilates, mesmo material
da pulseira. Mas não é qualquer ouro. Trata-
se do ouro Sedna, desenvolvido pela própria
Omega, a partir de uma liga obtida por meio
da união de ouro rosa, paládio – que garante
resistência – e um pouco de cobre. A caixa
de elegantes 34 milímetros de diâmetro as-
segura a leveza para os braços femininos. A
efeito de comparação, a maioria dos relógios
masculinos têm caixa com mais de 40 mm.
Elegância e
versatilidade Por tanta sofisticação
A top model e beleza, as interessa-
Josephine Skiver (à das precisarão pagar
esq.) e a atriz Janine cerca de R$ 365 mil
Chang, em campanha
da grife suíça IWC. para usar o relógio da
Desenvolvido estrela de Hollywood.
especialmente para A também suíça IWC
mulheres, o modelo é outra que entrou na onda
Portofino tem sistema
para troca de pulseira, de contratar celebridades para
vidro de safira, 60 divulgar seus relógios de luxo (veja
diamantes e preço quadro na próxima pág.). No final do
sugerido de R$ 88.700 ano passado, a top model dinamarquesa Josephine Skiver, Angel
da Victoria’s Secret, e a atriz taiwanesa Janine Chang tornaram-se
embaixadoras da companhia, numa campanha gravada no char-
moso vilarejo italiano de Portofino, que serviu de inspiração para o
nome da coleção. Desenvolvidos especialmente para as mulheres,
os modelos da linha IWC Portofino têm como um dos diferenciais o
diâmetro da caixa, de 34 milímetros, bem menor do que os da linha
masculina, que têm, em média, 44 mm. Outro ponto que tem atraído
o interesse das moças é o fato de essa nova coleção possuir um práti-
co sistema de troca de pulseira – confeccionada em couro italiano –,
possibilitando customizar a peça, com treze opções de cores. E ainda
há a alternativa de uma pulseira de aço inoxidável. Ou seja, dá para
combinar o relógio com as mais diversas ocasiões, desde uma ida ao
cinema ou à praia a um elegante evento na noite. Um dos modelos
mais belos da nova coleção ( foto acima) tem vidro de safira, sessenta
pedras de diamante no anel da caixa e preço sugerido de R$ 88.700.
Essa cifra é praticamente metade do valor de uma das peças da
nova coleção feminina da Cartier, multinacional francesa fundada
em meados do século 19. O modelo Tank Anglaise é feito com caixa
e pulseira de ouro rosa 18 quilates, coroa ornamentada com uma
safira azul, mostrador prateado e resistente à água até 30 metros
de profundidade. Ultra elegante, custa R$ 165 mil, à vista. Se quiser
fotoS: PETER LINDBERGH i divulgação Dinheiro 13/05/2020 55
 ESTILO

pioneira A top israelense Bar Refaeli

(abaixo) foi a primeira mulher contratada para
divulgar os relógios da Hublot. Feito de ouro
rosa e com 312 diamantes, o modelo Big Bang
White Pavé (à dir.) custa cerca de R$ 230 mil

Embaixadoras
de grife
Não é de hoje que grandes empresas
contratam celebridades – e não só do
mundo artístico – para divulgar seus
serviços e produtos. Na relojoaria, a
onda começou para valer no final dos
anos 1960. Mais precisamente, em
1969, quando o astronauta americano
Buzz Aldrin se tornou o segundo
homem a pisar na Lua, usando um
Omega Speedmaster Professional, o
único com selo de aprovação da
Nasa. Apenas 2 anos depois, o ator
Steve McQueen imortalizou um gastar um pouco menos para ter toda a elegância da Cartier no
modelo Tag Heuer, no filme As 24 pulso, uma excelente opção é o modelo Panthère, que custa
Horas de Le Mans. As mulheres só R$ 130 mil e tem exatamente tudo o que possui seu irmão mais
faziam olhar. Até que elas começaram caro, com uma única diferença: o Tank Anglaise é automático,
a ganhar fama, respeito e espaço. enquanto que o Panthère tem movimento a quartzo. Outra marca
Hoje, são dezenas de grandes estrelas icônica da relojoaria mundial que tem investido cada vez mais no
contratadas por marcas de relógio público feminino é a jovem Hublot, criada há apenas 40 anos, na
para serem não apenas garotas- Suíça. Um dos passos mais firmes que a companhia deu na direção
propaganda, mas embaixadoras, das mulheres ocorreu em 2015, com a contratação da top model
agregando às marcas o valor de seus
israelense Bar Refaeli para ser sua embaixadora.
nomes e imagens. Além da já citada
Nicole Kidman, a lista inclui a tenista
312 DIAMANTES Até aquele momento, a Hublot só tinha homens
Serena Williams, pela grife Audemars
Piguet, a cantora Lady Gaga (Tudor) e na lista de celebridades contratadas para divulgar a marca. E só
as atrizes Uma Thurman (Tag Heuer) e nomes de enorme envergadura internacional, entre eles o velo-
Halle Berry (Michael Kors). Entre tantas cista jamaicano Usain Bolt, o rapper americano Jay Z e o atleta do
estrelas, uma parece ter criado um século 20, Pelé. Da nova coleção da grife, um dos modelos que está
laço especial com a marca que encantando mulheres ao redor do mundo é o Big Bang White Pavé.
representa. Há quase 10 anos, Não é por acaso. O relógio tem nada menos do que 312 diamantes,
a atriz americana Cameron Diaz é sendo 198 na caixa de 41 milímetros e outros 114 no bisel. A caixa e
embaixadora da Tag Heuer. Como dose dupla
o bisel são de ouro rosa polido, de 18k, o vidro é de safira, com tra-
nos demais casos, as cifras envolvidas A grife Cartier lançou
tamento antirreflexo, e os ponteiros são banhados a ouro. Aliando duas novas peças,
nesses contratos são mantidas em
refinamento e modernidade, a pulseira é de borracha branca, com ambas com caixa e
sigilo. Mas estima-se que Cameron
fechos de ouro rosa 18k e aço inoxidável banhado a ouro. E essa pulseira de ouro 18k:
receba, por ano, cerca de US$ 5 o Tank Anglaise (no
milhões (mais de R$ 27 milhões) verdadeira joia ainda resiste a 100 metros de profundidade. Por
alto) custa R$ 165 mil,
para divulgar a grife. tudo isso, o Hublot White Pavé custa US$ 42 mil (cerca de R$ 230 e o Panthère (acima),
mil). Nada que assuste a Nicole Kidman. sai por R$ 130 mil

56 Dinheiro 13/05/2020 FOTO: divulgação

BOLSA E DÓLAR EM ALTA RECORDE
O Ibovespa fechou abril com valorização de 10,35%, a maior para o mesmo mês desde 2009. Também foi o sexto melhor mês desde o
Plano Real. Nenhum outro registrou maior valorização desde janeiro de 2019, quando houve alta de 10,82%. O resultado garantiu uma
recuperação das fortes perdas sofridas pelo índice desde janeiro. Em março, a queda foi de 29,90%. O primeiro quadrimestre trouxe
também a terceira maior alta do dólar frente ao real, com 34,64%. A maior aconteceu no terceiro quadrimestre de 2008,
com 42,99%, e a segunda maior foi nos primeiros quatro meses de 1999, com 37,40%.

R$ 257,3 bilhões Ganho de porte

Quem teve maior valorização de mercado no mês
(em R$ bilhões)
O valor de mercado das empresas brasileiras de Abril Em 2020
capital aberto subiu, em abril, R$ 257,3 bilhões. As Petrobras
281 companhias atingiram valor de R$ 3,2 trilhões, 56,308 -167,306
Magazine Luiza
em 30 de abril, contra R$ 3,02 trilhões ao fim de 17,357 3,299
março, segundo levantamento da Economatica. No
ano, a queda acumulada ainda é de R$ 1,29 trilhão. A
Weg
13.362 11,080
empresa com maior aumento de valor de mercado B2W Digital 13,212 5,437
em abril foi a Petrobras, seguida por Magazine Luiza.
A varejista é uma das quatro empresas que acumula
Natura 11,614 8,705
aumento de valor de mercado em 2020, ao lado de Lojas Americanas 10,590 -0,762
Weg, Natura e B2W Digital. Seis setores colocaram JBS 9,328 -5,223
duas empresas entre as 20 que mais ganharam
valor em abril: o de exploração, refino e distribuição
Vale 8,413 -43,209
de combustíveis (Petrobras e BR Distribuidora), Hapvida 7,459 -8,515
eletrodomésticos (Magazine Luiza e Via Varejo),
produtos diversos (B2W Digital e Lojas Americanas),
Localiza 5,962 -9,990
Fonte: Economatica
carnes (JBS e BRF) e bancos (BTG Pactual e Bradesco).

VIA VAREJO É
Em termos de rentabilidade, nenhum papel tem apresentado
maior valorização do que o da Via Varejo, tanto em abril quanto
no acumulado de um ano. Ele apresentou alta de 73,86%, em
abril, e de 123,9%, em 12 meses. Essa foi também a quarta ação

DESTAQUE
mais volátil do último mês (com 93% de variação), atrás apenas
de empresas relacionadas a viagens e turismo, o setor que foi
drasticamente afetado pelo isolamento social. As líderes foram
Gol (104% de volatilidade), Azul (101%) e CVC (100%).

Dinheiro 13/05/2020 57
investidor

Voo de
As ações das empresas
com a atividade mais
afetada pela

risco
quarentena
experimentaram forte
recuperação no
último mês. Para
especialistas, o
momento ainda não é
de apostar em papéis de

O
êxito do investidor em renda variável depende de encontrar o mo-
companhias aéreas ou mento de baixa no valor de uma ação para ganhar dinheiro
à medida em que o preço vai subindo. Isso não é tão simples quanto
de turismo. O varejo parece. Ainda mais, quando a queda é provocada por uma pan-
inspira mais confiança demia geradora de uma crise global inédita e que torna o cenário
imprevisível para especialistas arriscarem qualquer previsão. A princípio,
bastaria apenas aos investidores aproveitarem as baixas recordes para
adquirir papeis dos segmentos de turismo, aviação e varejo, que precisaram
Marcelo de PAULA parar as atividades e estão entre os mais afetados pela crise.

60
58 Dinheiro 13/05/2020 fotos: Amanda Perobelli/UOL/Folhapress i Henrique Lambiazi
 sobe e
desce
Quem
comprou
ações da Gol
em março
Em recuperação?
obteve quase
10% de
Ações fortemente afetadas pela crise
retorno em
tiveram um mês de alívio
abril. Futuro Desempenho em abril Desempenho em 2020*
do setor traz
incertezas

VAREJO

“
Via Varejo
73,86%
-13,16%
B2W “É preciso
52,60%
também avaliar a
19,09%
saúde da empresa.
C&A
41,04% Analisar uma a uma”
-51,65% Betina roxo,
Magazine Luiza analista da xp investimentos
27,47%
5,32% com papéis ligados aos segmentos de
Vivara viagens. Segundo o economista-chefe do
18,79% ModalMais, Álvaro Bandeira, a melhora
-40,52% de desempenho das ações dessas compa-
Quem teve estômago e audácia para nhias em abril se deveu mais a um ajuste
fazer isso ao fim de março colheu bons Lojas Renner de preços do mercado. Depois do pânico
resultados. Após vertiginosa queda, esses 14,39% em março, quando a B3 precisou lançar
setores da economia promoveram uma -35,27% mão do circuit breaker diversas vezes
reação em abril e reduziram parte de para conter as rápidas desvalorizações
suas perdas no ano. Mesmo com suas dos ativos, todos os setores mostraram
lojas físicas fechadas, a Via Varejo, que AVIAÇÃO algum recuperação no mês seguinte.
controla as redes Ponto Frio e Casas E TURISMO “Melhorou para todo mundo, mas não
Bahia, experimentou uma valorização é um movimento definitivo”, afirma
de 73,9% em abril, o que faz as perdas CVC Bandeira. Analista da gestora ACE, Luiz
do ano estarem agora em 13,2%. Para a 24,32% Fernando Missagia reforça que aviação
CVC, a alta foi de 24,3% no mês passado, -71,70% e turismo são empresas de consumo dis-
apesar da queda em 2020 ainda ser bas- cricionário e, por causa disso, serão as úl-
Smiles
tante forte, de 71,7%. Outras empresas timas a sair da atual crise. “Houve queda
demonstraram a mesma tendência. São
15,62% de 90% no tráfego aéreo e a aviação é um
os casos da Gol (alta de 9,1% em abril, -51,65% setor com estrutura de custo pesada”,
para queda de -68% no ano), da Smiles Gol diz Missagia. “Fica difícil se manter com
(15,6% e -68%, respectivamente) e da 9,06% tamanha queda na receita.”
C&A (41% e -51,7%). -67,98% Essa análise foi corroborada pelo
O movimento, porém, pode ter sido movimento de algumas ações nos pri-
pontual e nada garante que a recupe- Azul meiros dias úteis de maio. A informação
ração será constante. Especialistas de
-0,85% de que a Gol teve prejuízo líquido de
mercado consultados pela DINHEIRO -73,98% R$ 2,3 bilhões, no primeiro trimestre
se mostraram reticentes, principalmente *até 05/05/2020 do ano, contribuiu para que as suas
Fonte: B3

Dinheiro 13/05/2020 59

ações se desvalorizassem mais de 10%
na segunda-feira 4. Em relatório, a XP
Investimentos concluiu que há pontos
positivos no último anúncio da compa-
nhia aérea: por exemplo, a pretensão de
reduzir a taxa de queima de caixa de
R$ 22 milhões por dia para R$ 9
milhões por dia, a partir do segundo
trimestre. No entanto, o impacto mais
forte da pandemia na economia brasi-
leira começou só em meados de março.
Ou seja, que resultado esperar dos ba-
lanços do segundo trimestre que estão
por vir? Além desse questionamento, a
analista de Estratégia de Ações da XP
Investimentos, Betina Roxo, mostra sua
preocupação com aquilo que está sendo
chamado de “novo normal”.
Como muitas empresas estão
fazendo reuniões por meio de videocon-
ferência, ficou claro que o alto gasto com
viagens e hospedagens para a realização
de reuniões de negócios é desnecessário
em boa parte dos casos. Qual o impac-
to que essa percepção pode causar no
turismo de negócios? “Ninguém sabe
como essa normalização vai aconte-
cer”, afirma Betina. “No Brasil, entre
60% e 70% da frequência dos voos são
comerciais.” Para o sócio da Perfin Asset
Management, Alexandre Sabanai, se há
um ponto positivo para as companhias
60 Dinheiro 13/05/2020 fotos: leo Martins i Divulgação
alta
recorde
Valorização de
quase 74% da
Via Varejo em
abril reduziu as
perdas no ano
para 13%.
Ainda assim, o
movimento
pode ter sido
pontual e nada
garante que
ele se manterá
que serão impactadas por isso é que o go-
verno já se prontificou a auxiliar o setor.
“O nível de desvalorização até gerou uma
perspectiva de quebra das empresas”,
destaca. “Isso não deve acontecer e o
BNDES possivelmente vai entrar no cir-
cuito para socorrer as aéreas. Mas ainda
há muitos riscos”, observa.
QUARENTENA Quase tão prejudica-
do quanto a aviação e o turismo, o vare-
jo é visto com mais otimismo pelos es-
pecialistas. O impacto da quarentena no
faturamento das empresas foi também
avassalador, principalmente para quem
tem as lojas físicas como único canal de
venda e precisou baixar as portas.
Roupas e calçados não são itens de
primeira necessidade, como alimentos e
remédios, mas também não são supér-
fluos, como uma viagem a passeio. Além
disso, o e-commerce pode ser uma das
molas propulsoras de negócios para as
redes que desenvolveram plataformas de
vendas bem estruturadas. O desempe-
nho delas na bolsa mostra bem a impor-
tância do comércio eletrônico daqui para
frente. A B2W, por exemplo, teve alta de
52,6% em abril e já está no positivo no
ano, com alta de 19,1% mesmo com toda
a crise. As ações da Magazine Luiza, cujo
e-commerce é considerado referência, se
valorizaram 25,5%, no último mês, e já
sobem 5,3% em 2020.
Para Filipe Villegas, estrategista da
Genial Investimentos, o varejo é um seg-
mento que traz mais previsibilidade do
que o de aviação e de turismo. Segundo
ele, o que fez o varejo cair foi a quaren-
tena. Assim que isso acabar, as vendas
devem voltar ao normal em tempo bem
mais curto. Sua expectativa, porém,
é de que haja menos concorrência no
futuro porque redes menores e menos
estruturadas deverão quebrar, abrindo
mais espaço para o domínio das maiores.
“Lojas consolidadas, como Magazine
Luiza, B2W e Renner, vão ganhar muito
no futuro”, diz Villegas.
Betina Roxo, da XP, avalia que lojas
como C&A, Vivara e Renner vão sofrer
mais por terem suas bases de vendas em
shoppings centers. Mes-
mo assim, o balanço
robusto que elas apre-
sentam as coloca no
receita
rol de boas opções para
menor
Luiz Fernando quem deseja investir a
Missagia, da longo prazo. “É preciso
gestora ACE, também avaliar a saúde
lembra que a
da empresa. Analisar
queda de 90%
no tráfego uma a uma”, diz. Esse
aéreo pode princípio básico que
causar estragos todo investidor deve
no setor, que
seguir é algo que não
tem estrutura
de custo muda, mesmo durante
pesada grandes pandemias.
Investidor Na crise de 2008, o
megainvestidor
Warren Buffett
aproveitou os preços
baixos dos ativos
para ir às compras.
Agora, o caixa da
empresa de
investimentos
só aumentou
Marcelo de PAULA

Com US$ 137 Bi em caixa

N
a cartilha do americano Warren Buffett o momento de comprar ações é velha cartilha, coisas básicas que todo
escolhido de forma cuidadosa. Enquanto os ativos estão valorizados, ele investidor deve fazer e que ficou esque-
não despeja recursos de sua empresa de investimentos, a Berkshire cida em 2019 porque o ano foi muito
Hathaway. Quando encontra empresas subvalorizadas e com capacidade bom para o mercado de ações”, afirma.
de trazer resultados de longo prazo, Buffett ataca. Foi assim que ele aprendeu nos Previsibilidade e fundamento são
anos 1940, com o seu professor Benjamin Graham, considerado o pai da estratégia duas coisas que Buffett não encontra
“buy and hold”, de manter no portfólio ações de empresas sólidas. E foi assim em nas companhias aéreas. Daí o motivo de
2008, no início da crise financeira global, quando Buffett comprar ações preferen- se desfazer de US$ 6,5 bilhões em papeis
ciais de companhias ameaçadas de entrar em colapso. do setor ao longo do mês de abril, prefe-
rindo assumir um prejuízo do que man-
Era de se esperar que ele fizesse o tária. Afetou a todos os setores global- ter os papéis. Segundo ele, as perspecti-
agora, com a crise do novo coronavírus mente e trouxe junto a imprevisibilida- vas para o setor mudaram de forma
derretendo bolsas em todo o mundo. O de — algo que não atrai um conservador drástica com a queda súbita na deman-
caixa de sua empresa, no entanto, só voltado a fundamentos como Buffett. da. “Buffett está cauteloso porque houve
aumentou. O que Buffett viu de diferen- “Ele tem um caixa alto, mas nin- mudança de premissa e podem ocorrer
te desta vez? Em videoconferência com guém sabe qual a verdadeira situação da alterações importantes no turismo de
acionistas da Berkshire, no sábado 2, ele economia, se vai haver uma segunda negócios”, diz Alexandre Sabanai, sócio
fiz que não encontrou papéis com preços onda de contaminação, lockdown ou se da Perfin Asset Management, para
verdadeiramente atraentes. Por isso sua as medidas dos bancos centrais serão quem o que mais chama a atenção é a
holding fechou o primeiro trimestre suficientes. O momento pede cautela”, falta de respostas do investidor que é
com US$ 137 bilhões em caixa. diz o economista-chefe do ModalMais, chamado de Oráculo de Omaha. “Ele
Para Buffett, a crise atual difere de Álvaro Bandeira. Para o estrategista da deixou claro que não tinha respostas
todas as outras. Ela não ocorreu por Genial Investimentos, Filipe Villegas a para tudo. Foi muito transparente. Ter
algum desvio nos fundamentos econô- filosofia do megainvestidor é comprar consciência de que não sabe é importan-
micos e sim por questões de ordem sani- para ser sócio. “Ele está aplicando a te para evitar decisões erradas”.

foto: Nati Harnik/AP Photo Dinheiro 13/05/2020 61

Dinheiroemação Por crlos eduardo valim

regulação
maiores altas da semana*

Cronograma de preparo para open banking vai até 2021 Ação Setor
CEDRO Varejo
%
56,00
ATOMPAR Financeiro 45,04
O Banco Central regulou na segunda-feira 4 como será a implementação do projeto VIA VAREJO Varejo 28,14
POSITIVO TEC Tecnologia 18,13
de open banking no Brasil. O conceito obriga os grandes bancos a compartilhar dados
TAURUS ARMAS Industrial 16,27
de seus clientes com outras instituições financeiras, abrindo a possibilidade de maior
concorrência na oferta de serviços e o avanço das fintechs. A troca de informações, maiores baixas da semana*
no entanto, só pode ser feita com a permissão do cliente pessoa física ou jurídica. O Ação Setor %
projeto ocorrerá em quatro fases. Mesmo com a pandemia, a primeira deverá ser MILLS Construção -12,99
UNIPAR Químico -14,12
cumprida até 31 de novembro deste ano, e contempla a acesso ao público a informa-
TELEBRAS Telecom -17,16
ções sobre canais de atendimento, produtos e serviços. Depois virá a troca de dados SPRINGER Industrial -44,30
dos clientes. A terceira fase inclui serviços de “iniciação de transação de pagamen- TOTVS Tecnologia -65,31
tos” e “encaminhamento da proposta de operação de crédito entre instituições Fonte: Austin Rating * 27/04 a 05/05

financeiras”. Por fim, em outubro de 2021,

haverá a expansão de escopo de dados, para
abranger operações de câmbio, investimentos, Termômetro do mercado
o ibovespa em um ano * pontos
seguros e previdência complementar aberta. O Ibovespa 78.876
BC e o Conselho Monetário Nacional também Mínima
Máxima
63.570
119.528
estabeleceram as regras para a duplicata ele- Fonte: Economática *04/05/2020
trônica, que pode facilitar o compartilhamento
de informações sobre esses recebíveis entre I B OV E S P A em milhares de pontos

detentores de duplicatas e financiadores. É 1200

outra medida que visa a dar mais segurança e
950
transparência ao sistema, além de favorecer a
competição e a redução dos spreads nas ope- 700
rações com esses títulos de créditos. Abr 19 Ago 19 Mai 20
*Até 04/05/2020

Balanço Estímulo

Lucro do Itaú cai 43,1% Fed aporta US$ 51 bi em fundos

Último dos três grandes bancos privados brasileiros a
anunciar o resultado do primeiro trimestre, o Itaú
Unibanco registrou lucro líquido recorrente de R$ 3,912
bilhões no período — queda de 43,1% frente ao primeiro
trimestre de 2019. A carteira de crédito expandida teve
avanço de 18,9% em um ano, para R$ 769,216 bilhões. O
banco também registrou inadimplência de 3,1% ao fim de
março, equivalente a 0,1 ponto acima do fim de 2019. Em
conjunto, os lucros de Itaú, Bradesco e Santander soma-
ram R$ 11,518 bilhões, uma queda de 30,6%. Mas a expec-
tativa é de que os maiores impactos da crise do novo coro-
navírus sejam sentidos no segundo trimestre.
Desde o início da crise da Covid-19, bancos centrais já
direcionaram US$ 93,8 bilhões a fundos para evitar riscos
sistêmicos, segundo a agência de análise de riscos Fitch. A
lista é liderada pelo Federal Reserve, dos EUA, com aporte
de US$ 51 bilhões. Pela primeira vez, o Fed realizou a com-
pra de fundos em bolsa, intermediada pelo BlackRock.
Tailândia (US$ 31,2 bilhões), Índia (US$ 6,6 bilhões) e
Colômbia (US$ 5 bilhões) vêm a seguir. A preocupação
desses países, segundo a Fitch, é o mercado de gestão de
investimentos possuir US$ 55 trilhões em ativos, 64% do
PIB mundial. Em 2008, eram US$ 24 trilhões, o equiva-
lente a 38% do PIB na época da grande crise financeira.

desempenho Melhor Desempenho % 30 dias % 12 meses PIor Desempenho % 30 dias % 12 meses

Consumo e Varejo 16,08 36,03
das empresas Tecnologia e Internet 3,84 25,49
por setor Telecomunicações 5,33 19,34
de atividade Papel e Celulose 11,01 15,42
Mineração 0,43 -7,76
IImobiliário e Construção 1,07 -27,72
Petróleo e Gás 14,16 -33,81
Siderúrgico 17,62 -34,52
Petroquímico 20,98 -44,42
Financeiro -6,27 -44,97
Fonte: Austin Rating de 05/mai/2020

62 Dinheiro 13/05/2020 foto: istock i divulgação

Seguros Resultados Previdência

BB Seguridade Petrobras vai

tem lucro 12,9% parcelar R$ 2 bi
menor da Petros
A BB Seguridade anunciou A Petrobras informou na
queda de 12,9% no lucro do terça-feira 5 que vai pos-
primeiro trimestre em tergar e parcelar paga-
relação ao mesmo período mento de R$ 2,02 bilhões
de 2019, para R$ 882,7 relativo a benefício na
milhões. Segundo a hol- reestruturação dos planos
ding de seguros, previdên- geridos pela Petros, fundo
Porto Seguro espera mais cia e capitalização do
Banco do Brasil, o resulta-
de pensão de seus funcio-
nários. A expectativa ante-
sinistros no segundo semestre do foi impactado por preju- rior era de pagamento à
ízo da Brasilprev e pela vista. Segundo a empresa,
Durante anúncio de resultados do primeiro trimestre, a perda de contribuição rece- o motivo é “a preservação
Porto Seguro indicou que espera um aumento de sinis- bida da resseguradora IRB do caixa da companhia
tros na segunda metade do ano devido aos impactos Brasil, da qual vendeu par- neste momento”, que sofre
econômicos da pandemia. Nos primeiros três meses de ticipação em 2019. A com- com a queda de demanda e
2020, o lucro da seguradora caiu 23,8%, para R$ 228,4 panhia também percebeu, os baixos preços do petró-
milhões, em relação ao mesmo período de 2019. Já as no fim de março, um leo. A Petrobras vai arcar
RISCO-PAÍS
receitas totais subiram 3,7%, para R$ 4,5 bilhões, com aumento dos resgates com contribuições
EMBI + BR (fim de mês)extra-
destaque para o aumento de 19,6% nos prêmios auferi- nos planos de previdência, ordinárias
430.0 ao longo da
dos em saúde. Apenas o seguro de automóvel registrou que subiram para 9,4% no existência
353.3 dos planos, em
queda de prêmios, de 2,8%, reflexo da baixa atividade na trimestre, contra uma valor estimado em R$ 13,6
276.6
venda de automóveis novos e de menos pessoas reno- média de até 8%, antes bilhões, conforme o anun-
vando os seus seguros. da crise. ciado
200.0 em março.

Jun/19
Jul/19
Ago/19
Set/19
Out/19
Nov/19
Dez/19
Jan/20
Fev/20
Mar/20
Abr/19
4/Mai/20
As 10 mais negociadas do Ibo­v es­pa rentabilidade dos títulos públicos (%)
JUROS
*05/mai/20 (inclui JS = Juros Semestrais)
FUTUROS 05/05/2020

Ação Classe Co­ta­ção (R$) *% mês % ano % 12 M % Índice % ao ano

Título Venc. Indexador 3,20Últim. 30 dias ano * 12 meses
Vale ON 43,7 -2,6 -18,0 -11,0 10,021
Tesouro Selic 01/03/2021 Selic
2,96 0,34% 1,01% 5,41%
ItauUnibanco PN 22,7 -0,2 -36,8 -28,6 7,493
Tesouro Prefixado (JS) 01/01/2021 Prefixado 0,87% 1,89% 9,44%
Petrobras PN 17,94 -0,6 -40,6 -31,0 5,649 Tesouro IPCA+ (JS) 15/08/2020 IPCA 2,73 -1,16% -0,94% 5,48%
B3 ON 38,74 0,8 -7,6 18,3 5,522 Tesouro IGPM+ (JS) 01/04/2021 IGP-M 0,03% 0,20% 10,70%
2,50
Bradesco PN 18,3 -4,3 -44,0 -40,6 5,432 Tesouro Prefixado 01/01/2021 Prefixado 0,94% 1,98% 9,91%
Petrobras ON 18,67 0,1 -41,7 -35,8 3,837 Jun/20 Ago/20 Out/20 Dez/20
Ambev S/A ON 11,94 5,3 -36,0 -31,6 3,622
Itausa PN 8,91 -1,0 -34,5 -19,0 2,789 RISCO-PAÍS IBGE/PIM-PF-PRODUÇÃO FÍSICA INDUSTRIAL
Brasil ON 27,8 -2,5 -46,6 -41,6 2,747
EMBI + BR (fim de mês) Var.% no mês contra mês imediatamente anterior
JBS ON 22,76 -4,5 -9,7 13,5 2,570 430.0
Fonte: Economática *05/05/2020 10
353.3
276.6 5

bolsas no mundo 200.0 0

05/05/2020 Cotação (moeda local) Variação (US$)
Jun/19
Jul/19
Ago/19
Set/19
Out/19
Nov/19
Dez/19
Jan/20
Fev/20
Mar/20
Abr/19
4/Mai/20

Mercado Índice Pontos % mês % ano % 12 m. % mês % ano Jan/20 Fev/20 Mar/20
Brasil Ibovespa 79.471 -1,29% -31,28% -16,35% 0,69% -5,63%
BACEN
Brasil IBrX 33.561 -1,31% -31,80% -15,19% 0,66% -6,34%
JUROS FUTUROS 05/05/2020
Relação Dívida Bruta sobre PIB - em %
EUA Dow Jones 23.883 -1,90% -16,31% -9,67% -1,90% -16,31%
% ao ano
EUA Nasdaq 8.809 -0,90% -1,82% 8,44% -0,90% -1,82% 3,20 79
Japão Nikkei 20.194 0,00% -14,64% -7,89% -0,42% -16,21%
2,96
China CSI 300 3.913 0,00% -4,49% 6,19% 0,00% -5,87%
77.5
Alemanha DAX 30 10.729 -1,22% -19,02% -12,68% -0,42% -16,07% 2,73
França CAC 40 4.483 -1,95% -25,01% -18,24% -1,15% -22,28%
2,50 76
Reino Unido UKX 5.849 -0,88% -22,45% -19,43% 0,34% -17,68%
Fonte: Austin Rating Jun/20 Ago/20 Out/20 Dez/20 Jan/20 Fev/20 Mar/20

IBGE/PIM-PF-PRODUÇÃO FÍSICA INDUSTRIAL Dinheiro 13/05/2020 63

Var.% no mês contra mês imediatamente anterior
Dinheiroemfoco por marcelo de paula
indicadores econômicos

nú m eros da s em a n a PIB Crescimento (Fonte: Banco Central) 4° Tri/19 3° Tri/19 1° Tri/19 4° Tri/18

PIB (dessaz.) 0,5% 0,6% 0,5% 0,0%

2018
1,1%

R$ 6,73 bilhões
PIB em US$ bilhões * 1.840,0 1.850,1 1.823,9 1.838,0 1.839,0
Foi quanto o crédito
imobiliário movimentou Atividade ** mar/20 fev/20 jan/20 dez/19 No ano
com recursos da pou- Produção Industrial (IBGE) -0,5% -0,9% -1,3% -1,7% -0,7%
pança em março. O Volume de vendas no varejo restrito (IBGE) 1,4% 1,4% 2,7% 3,1% 1,4%
valor representa alta de 19,3% em relação ao mesmo mês de Taxa de desemprego - PNAD Contínua (IBGE) 11,6% 11,2% 11,0% 11,2% -
Utilização da Capacidade Instalada (CNI) - Dessaz. 78,7% 78,2% 77,6% 78,2% -
2019 e avanço de 5,6% sobre fevereiro de 2020. No mês, foram
Média
financiados 25,7 mil imóveis, alta de 7,5% na comparação anual Inadimplência *** mar/20 fev/20 jan/20 dez/19 em 2020
e de 0,5% na comparação mensal. Em doze meses, entre abril de Pessoa Física até 90 dias 4,7% 4,3% 4,4% 4,6% 4,5%
2019 e março de 2020, os empréstimos para construção e aqui- Pessoa F. acima de 90 dias 5,2% 5,1% 4,9% 5,0% 5,0%
sição de imóveis somaram cerca de R$ 83 bilhões, o que repre- Pessoa Jurídica até 90 dias 2,1% 2,2% 2,1% 1,9% 2,1%
senta alta de 34,9% em relação a igual período anterior. Pessoa J. acima de 90 dias 2,3% 2,3% 2,3% 2,1% 2,3%
Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito mar/20 a fev/20 a jan/20 a dez/19 a nov/19a
Contas públicas (% pib)* (A) abr/19 mar/19 fev/19 jan/19 dez/18
Imobiliário e Poupança (Abecip), a Caixa se manteve na lideran-
ça do setor, com R$ 2,810 bilhões financiados nas modalidades Resultado Nominal 6,24% 6,02% 5,98% 5,91% 6,35%
construção e aquisição em fevereiro. O Bradesco ficou em Resultado Primário 0,86% 0,80% 0,72% 0,85% 1,24%
segundo lugar, com R$ 1,397 bilhão, e o Itaú Unibanco apareceu mar/20 fev/20 jan/20 2019 2018
em terceiro, com R$ 1,302 bilhão. Em nota, a entidade informou Dívida bruta do governo geral 6,24% 6,02% 5,98% 5,91% 6,35%
Dívida bruta interna 0,86% 0,80% 0,72% 0,85% 1,24%
que até março pode ser considerado “pouco expressivo o impac-
Dívida bruta externa 10,25% 9,98% 9,61% 9,61% 9,76%
to da crise do novo coronavírus sobre o crédito habitacional”.
Contas Externas (US$ milhões) abr/20 mar/20 fev/20 jan/20 No ano
Investimento direto estrangeiro - 7.621 5.996 5.618 19.235
Exportações 18.312 19.238 15.732 14.550 67.833
US$ 17,1 bilhões Importações
Saldo comercial
11.611 14.525 13.257 16.176 55.569
6.702 4.713 2.475 -1.626 12.264
Foi o montante investido nos mercados emergentes Saldo em transações correntes - 868 -4.342 -11.768 -15.242
no mês de abril, segundo o Instituto Internacional de Reservas internacionais líquidas - 343.165 362.460 359.394 343.165
Finanças (IIF). Do total, cerca de US$ 15 bilhões Dívida externa total
foram para o mercado de dívidas, distribuídos entre partes da - 318.452 327.008 323.906 318.452
* Acumulado nos últimos 12 meses.
Ásia emergente e da América Latina. O restante teve como ** Em relação ao mesmo período do ano anterior, exceto utilização de capacidade instalada e taxa de desemprego.
*** Em proporção do volume de crédito concedido. - Recursos Livres
destino a compra de ações. Na opinião dos economistas da (a) Superávit = (-) e Déficit = (+), conforme notas econômicas do BACEN
instituição, trata-se de um pequeno sinal positivo depois da
saída recorde, em março, de US$ 83,2 bilhões de portfólios não principais índices
residentes, consequência da pandemia de coronavírus. O Inflação abr/20 mar/20 fev/20 No ano 12 meses
mercado chinês foi o mais beneficiado com o retorno de capital IPC - Fipe - 0,10% 0,11% 0,50% 3,22%
verificado no mês passado. IGP-M (FGV) 0,80% 1,24% -0,04% 2,50% 6,68%
IGP-DI (FGV) - 1,64% 0,01% 1,75% 7,01%
210,5 IPCA (IBGE)
IPCA - núcleo MM suavizado
-
-
0,07%
0,25%
0,25%
0,25%
0,53%
0,89%
3,30%
3,10%
É a pontuação do Indicador de Incerteza da Economia
no mês de abril. Medida pela Fundação Getulio Vargas Juros/Aplicação (em %) abr/20 mar/20 fev/20 No ano 12 meses
(FGV), a pontuação representa alta de 43,4 pontos CDI 0,28% 0,34% 0,29% 1,30% 5,19%
sobre março, que já havia subido 52 pontos em relação a fevereiro. TLP 0,22% 0,20% 0,20% 0,82% 3,04%
Outro índice, o de Confiança Empresarial (ICE), também da FGV, Poupança 0,22% 0,24% 0,26% 0,98% 3,73%
caiu 33,7 pontos em abril, para 55,8 pontos, na comparação com o TJLP 0,40% 0,41% 0,41% 1,66% 5,61%
mês anterior. É o menor nível da série histórica iniciada em 2001. CDB/RDB - Taxa prefixada média 0,22% 0,28% 0,23% 1,07% 4,56%

Câmbio/Petróleo 05/05/2020 No mês No ano 12 meses

US$ 533 mil Reais/US$ (comercial venda)

US$/Euro
5,535
1,085
-1,96%
-0,80%
-27,18% -28,84%
-3,51% -3,07%
É a previsão de valor que o bitcoin pode atingir até Iene/US$ 106,53 0,42% 1,88% 4,46%
agosto de 2021 devido ao halving, ajuste que reduz a Petróleo à vista Brent (US$/barril) 30,97 22,56% -53,08% -56,29%
oferta de novas criptomoedas a cada quatro anos,
agendado para 12 de maio. O valor foi estimado por Dan Morehead, Mercados Futuros 28/04/2020 jun/20 ago/20 out/20 dez/20
fundador e CEO da americana Pantera Capital. Em carta aos Câmbio (R$/US$) 5,585 5,602 5,613 5,621
investidores que examinavam o desempenho do bitcoin antes do jun/20 ago/20 out/20 dez/20
halving, Morehead afirmou que a criptomoeda atingiu a pior 3,08 2,90 2,79 2,73
DI de 1 dia (% a.a.)
cotação 459 dias antes do halving e depois explodiu para um valor
jun/20 ago/20 out/20 dez/20
próximo de US$ 9 mil. Ele diz que a projeção parece ridiculamente
Ibovespa (pontos) 79.630 79.781 79.927 80.067
alto, mas repete a história de outros processos de halving.
MAI/20 SET/20 dez/20 mar/21
Café Arábica (60kg - ICF) 117,80 123,00 126,95 130,45

Material elaborado pela empresa de análise de risco Austin Rating. www.austin.com.br

64 Dinheiro 13/05/2020 FOTO: leonardo Freire

 EN TREVISTA da s em a n a Luiz Henrique Garcia, CEO e cofundador da QuiteJá

“O desconto em uma negociação

hoje pode chegar a 65% ou 70%,
dependendo do perfil da dívida”
O CEO e cofundador da QuiteJá, plataforma digital de recuperação de crédito,
disse, em entrevista à DINHEIRO, que o momento é o melhor para quem deseja
negociar o pagamento de dívidas. E também que a aceleração do processo de
digitalização do mercado proporcionará a fintechs como a dele a assumir uma
fatia maior de um setor que até pouco tempo era operado quase que exclusi-
vamente por call centers.

Por que o momento é propício para negociar
dívidas?
A pandemia de coronavírus afetou praticamente
todos os segmentos da economia e obrigou bancos,
financeiras e outras empresas a serem mais flexí-
veis. Dessa forma, o percentual de descontos tem
sido maior desde que a quarentena começou. Um
credor que oferecia 20% de desconto em uma
negociação pode oferecer 65% ou 70% dependen-
do do perfil da dívida. É claro que cerca de um terço
da população está numa situação muito difícil, mas
para quem tem uma reserva essa é a hora para
negociar dívidas atrasadas.
E as pessoas estão aproveitando para renego-
ciarem seus compromissos?
Sim, estão. Neste período de quarentena o número
de acordos fechados foi, em média, 35% maior do
que nos primeiros dois meses do ano. Se analisar-
mos em separado, algumas de nossas empresas
parceiras atingiram aumento de 60% de acordos.
Como surgiu a fintech e como ela atua?
Eu e meu sócio Rafael Abreu fundamos a QuiteJá
em 2016. Trabalhei oito anos como advogado no
setor de recuperação de crédito. Percebi o desgaste
na relação entre bancos e devedores, e entendi que
poderia criar um negócio que fizesse a ponte entre
os dois lados com uma abordagem diferente do que
é feito pelos meios tradicionais. A nossa política é
propor opções e não impor ao devedor uma deter-
minada condição. A gente sabe que a maioria quer
pagar, mas não tem condições. Então, a primeira
coisa que fazemos é conversar com o credor, discu-
tir as possibilidades de descontos que ele pode ofe-
recer. Feito isso, disparamos SMS com um link infor-
mando sobre as vantagens que o devedor pode ter
se renegociar. Ao abrir o link, ele pode fazer simula-
ções e escolher qual a forma de pagamento se
encaixa em suas condições. Começamos com um
banco de dados com 30 mil CPFs de clientes do
banco Santander.
E como tem sido o desempenho desde então?
Crescemos 180% no segundo ano e 150% no ter-
ceiro. Conquistamos outros clientes como Itapeva,
Porto Seguro e o banco digital Digio. Começamos
com 30 mil CPFs e hoje temos 7 milhões. Nossa
meta é chegar a 10 milhões até o fim de junho e a
20 milhões ainda em 2020. Para atender a deman-
da investimos para quadruplicar nossa capacidade
de atendimento. Só em 2020 já fechamos acordo
com uma base de 600 mil clientes. Nesses primei-
ros quatro meses, o valor recebido e repassado aos
credores foi de R$ 220 milhões. Temos uma média
de 110 mil boletos pagos por mês.
Quem é Luiz Henrique Garcia
Formado em Direito pela PUC-PR
Diretor comercial da Gorillas
Software Design
Cofundador da Quite.Já
Esse é um serviço que compete com os call
centers ou complementa o que eles fazem?
Na realidade, começou como um serviço comple-
mentar e ainda é assim. Mas o serviço digitalizado,
baseado em Inteligência artificial é bem mais ágil.
Um call center com mil funcionários pode fazer mil
telefonemas simultaneamente, enquanto nós
podemos chegar a 2 milhões de clientes em apenas
uma hora porque eu não preciso de atendimento de
banco. As pessoas dão as respostas por meio da
plataforma. A pandemia também nos trouxe um
novo cenário. O call center que não tinha uma ope-
ração home office bem estruturada está sofrendo
muito. Não acho que vão deixar de existir, mas acre-
dito que vamos abocanhar uma boa fatia desse
segmento nos próximos anos.

Telemedicina
Serviços de saúde por R$ 15
A startup financeira de origem britânica alt.bank lançou no
Brasil uma conta digital que oferece serviços na área de saúde:
a alt.bank Saúde+. O cliente faz um cadastro e paga R$ 15 por
mês para ter acesso a consultas de qualquer modalidade pelo
sistema de telemedicina. Os médicos são da empresa parceira
Dr. Consulta, que cobra R$ 40 adicionais, com direito a retorno.
Os correntistas também integram um programa de cashback
para compras online nos cartões de débito e crédito pré-pago
da fintech, que envolve 223 estabelecimentos comerciais. O
percentual de devolução do dinheiro da compra ao correntista
varia entre 2% e 10%, conforme o parceiro.
Financiamento
Crédito imobiliário em alta
A fintech Melhortaxa registrou um crescimento de 70% no
número de acessos à sua plataforma digital de crédito imobiliá-
rio desde o início da pandemia do novo coronavírus. O número
de pedidos de financiamento imobiliário cresceu 4% na com-
paração com o mês de fevereiro. O site permite comparar ins-
tantaneamente as ofertas de todos os grandes bancos e finte-
chs e possibilita ainda o fechamento de contratos diretamente
na plataforma. “Temos cerca de R$ 50 milhões em crédito imo-
biliário sendo contratados em processos já avançados e mais de
R$ 100 milhões em processos entrantes”, afirma Rafael Sasso,
cofundador da Melhortaxa.

Dinheiro 13/05/2020 65
ARTIGO Por Alessandra Montini*
O que os dados revelam no mundo pós-pandemia?
Fomos dormir e acordamos imersos em uma crise que fez o mundo mudar totalmente.
De uma hora para outra, o home office foi implementado de maneira forçada,
ferramentas tecnológicas foram adaptadas às pressas e até o conceito
de telemedicina foi autorizado de forma provisória.
A transformação digital chegou antes do plane-
jado à maioria das organizações, traçando novos
rumos e direções. O coronavírus foi um acele-
rador desse movimento e as empresas precisa-
ram sentir na prática como a tecnologia pode
ser um trunfo para salvar os negócios. O mundo
pós-pandemia vai trazer uma nova realidade em
todos os aspectos, principalmente nos negó-
cios — que se tornarão mais digitais e, cer-
tamente, usarão dados para sobreviver.
O isolamento social mostrou que muitas
empresas não sabiam lidar com o mundo
digital. Os colaboradores precisaram traba-
lhar remotamente, mas todos os insumos e
dados necessários para manter o negócio ro-
dando estavam presos ao escritório. Agora
é preciso acessar os dados em qualquer
local e processá-los rapidamente para
manter a competitividade em um cená-
rio cheio de incertezas. Mais do que
nunca torna-se imprescindível o uso de
ferramentas em cloud computing. As
corporações que melhor se adaptaram são
as que já utilizavam essas soluções.
Dados podem impactar a vida de todas as
pessoas. No início da quarentena foi possível per-
ceber uma queda de 33% no deslocamento das pesso-
as para os locais de trabalho no Paraná, segundo o Google.
Como isso foi possível? A partir da captura de informações
de utilização dos smartphones. Ou seja, informações digitais.
Uma enorme quantidade de dados é gerada e compartilhada
diariamente em todo o mundo. No caso da pandemia há di-
versos conteúdos e análises que podem ser obtidas, como a
eficácia do isolamento social e até a evolução de disseminação
da Covid-19. São informações que precisam ser capturadas,
armazenadas e processadas para gerar inteligência. Trabalhar
com dados é, enfim, uma questão de sobrevivência. Dessa
forma, o cenário atual traz uma reflexão importante para o
mundo corporativo: dados certos são diferenciais importan-
tes para a tomada de decisão. Seja para identificar o avanço
66 Dinheiro 13/05/2020 ilustracão: evandro rodrigues
da doença provocada pelo novo coronavírus ou para
identificar tendências em um segmento, é pre-
ciso ter essas informações em mãos para
obter inteligência competitiva. Em suma: é
preciso adotar uma cultura data driven,
com decisões baseadas em dados.
Evidentemente há desafios importan-
tes neste novo momento. As empresas
precisam lidar com uma grande quanti-
dade de dados não estruturados — e é
neste ponto que entram as soluções de Big
Data Analytics. É necessário apostar na
contratação de profissionais que conse-
guem extrair valor dessas informações. Por
fim, reconhecer que a crise provocada
pelo novo coronavírus exige a trans-
formação e até a criação de muitos
modelos de negócios — o que só é
possível a partir dos dados.
Estar atento a essas informa-
ções para tomar decisões estraté-
gicas, lançar novos serviços e pro-
dutos e aprimorar a comunicação
com os consumidores são tópicos que
irão se impor na pauta de toda empresa nos
próximos meses. Os dados serão os grandes respon-
sáveis pelo sucesso de qualquer negócio.
O mundo pós-pandemia será bem diferente de tudo o que
já vivemos e a tecnologia vai desempenhar um papel central
nas relações sociais. As empresas de todos os portes deverão
passar por uma mudança cultural e estarão mais atentas a
momentos de crise. Sem dúvida, vão dar mais atenção a seus
dados e onde eles ficarão armazenados. Usarão informações
lapidadas para a tomada de decisão e estarão em conformi-
dade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que
entrará em vigor em 2021. Já passou da hora de andarmos
duas casas para frente. Os dados mostraram o caminho.
*Alessandra Montini é diretora do LabData,
da Fundação Instituto de Administração (FIA)
 O SENAI OFERECE CURSOS
EAD GRATUITOS PARA
QUE O CONHECIMENTO
NÃO PARE.
Sabemos que, nessa hora,
o conhecimento e o ensino
não podem ser parados.

Nenhum sonho profissional deve

ser esquecido e nenhuma carreira
deve ser perdida.

Por isso, o SENAI oferece cursos EaD

gratuitos de diversos temas que a
indústria precisa e que o profissional
que quer se qualificar procura.

Qualquer pessoa pode começar

a estudar de qualquer lugar e,
principalmente, de casa.

CNI_Covid19_AN_202x266_modelo4.indd 1 05/05/20 15:55