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HISTÓRIA DA LOUCURA

PROFª DRª LILIAN GUIMARÃES


MITOLOGIA GREGA

Hércules foi atacado de


loucura pela deusa Hera e,
no acesso, matou à esposa e
os filhos. Para purificar do
crime cometido. O oráculo
ordenou-lhe que ficasse a
serviço de Euristeu, durante
12 anos.
Encontramos, aqui, a loucura
sendo causada por deuses,
levando à atos de violência
que poderiam ser reparados
(purificados) pelo trabalho.

10/08/2020
MITOLOGIA GREGA
Ulisses, passagem em que o herói,
querendo evitar ser convocado
para à expedição da guerra de
Tróia, simula um acesso de
loucura, atrelando ao arado
animais diferentes, um boi e um
cavalo, e lavrando a areia da
praia, onde semeava sal. A astúcia
foi descoberta quando colocou-se
o filho pequeno de Ulisses,
Telêmaco, no local por onde
passaria o arado, forçando Ulisses
a se desviar da criança e, com
isso, revelar que estava são.
Aqui, temos o entendimento de
que é possível a simulação da
loucura.

10/08/2020
BÍBLIA
No livro de Samuel a seguinte
passagem: "Sempre que o
espírito maligno da parte de
Deus vinha sobre Saul, Davi
tomava a harpa e a tocava.
Então, Saul sentia alívio, e se
achava melhor, e o espírito
maligno se retirava dele"
(Samuel 16:23).
No caso, mais uma vez vemos
possível sintomatologia
psiquiátrica causada por ação
sobrenatural e podendo ser
aliviada pela música.

10/08/2020
VELHO TESTAMENTO

O rei Nabucodonosor foi


castigado com a loucura,
expulso do convívio humano,
e passou a comer grama
como os bois, o que durou
sete anos.
Deparamo-nos, aqui, com
um exemplo de exclusão
social associada à loucura.

10/08/2020
ELOGIO À LOUCURA
"Uma vez por ano, é permitido
bancar o louco".
"Cada um tem o seu método,
como cada um tem sua
loucura”
“ De médico e louco todo
mundo tem um pouco”
Erasmo de Roterdam, em seu
notável Elogio da Loucura
(1509), chega à afirmar ser a
loucura o estado natural do
homem. Diz que não há sábio,
filósofo ou cientista que não
tenha tido seu momento de
loucura.
Nestes casos, estaríamos
diante de formas de loucura
consentida.

10/08/2020
ANTIGUIDADE

Anaxágoras (528-500 a.c.)


concebeu a mente como
algo que consistia num
material fino e mais diluído
do que a matéria ordinária.

10/08/2020
ANTIGUIDADE
Diógenes (412-323 a.c.)
considerou a mente como um
atributo do ar, que era para ele o
elemento básico.
Atribuiu ao ar a capacidade de
produzir pensamentos,
sensações e vida. O intelecto se
manifestaria quando o ar,
misturado com o sangue,
percorresse todo o corpo através
das veias. Diógenes considerou
que seria o cérebro a sede do
intelecto. Quando o ar era
respirado, este iria diretamente
para o cérebro, deixando lá suas
melhores partes.

10/08/2020
ANTIGUIDADE

Galeno (II d.c.) localizou as


“funções Psíquicas” no
cérebro e acreditava que o
seu funcionamento e
atividades resultantes eram
determinados pela secura e
amolecimento dos tecidos
nervosos.

10/08/2020
HISTÓRIA DA LOUCURA

Idade Média Idade Moderna

Século V a XV Meados do Sec XIV a XVI Século XV a XVIII

Fim da Idade Média e Renascença


IDADE MÉDIA

A loucura é
vista como
trágica

10/08/2020
FIM DA IDADE MÉDIA E RENASCENÇA

 A loucura é uma expressividade do sujeito envolta em


mistério, muitas vezes associada a forças místicas de uma
radiância sobrenatural, na qual o louco se apresenta como o
revelador das contradições e hipocrisias sociais e na qual,
mesmo expulso das cidades vagavam ao seu redor.

Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND

10/08/2020
IDADE MODERNA
 O que está em jogo são as renovadas práticas discursivas da internação
enquanto invenção institucional do século XVII e XVIII, com o surgimento de
várias casas de internamento. A partir de então, o internamento veio
ocupar, o vazio deixado pela segregação dos leprosos, de forma que, em
menos de meio século, em Paris, um em cada cem habitantes estava
internado.
 Os internamentos eram efetuados sob as mais diversas formas: através de
cartas régias, de encaminhamentos policiais, de solicitações de familiares
ou por pedido dos curas paroquiais. A multiplicidade de critérios e de
apelos para internação gerava uma internação heterogênea, podendo ser
eles, por exemplo: pobres, desempregados, criminosos, prisioneiros
políticos, prostitutas, crianças órfãs, mulheres viúvas, ateus, vagabundos,
epilépticos, senis, alquimistas, blasfemadores. Dentre eles, apenas dez por
cento eram internados por insanidade. De tal maneira que o internamento
se configurava mais como um dispositivo de exercício de poder, através do
isolamento dos excluídos sociais do que enquanto medida na diferenciação
dos diversos tipos de subjetividades e na constituição diferenciada da
categoria médica do louco.
 O que temos é o surgimento de uma nova sensibilidade social, com o
banimento da loucura da sua liberdade imaginária renascentista.
 Aliás, Foucault considera que foi nesta época que uma nova percepção da
loucura enquanto risco para a sociedade começou a se delinear, sendo
referenciada enquanto fator de "desorganização da família, desordem
social, perigo para o Estado" (FOUCAULT, 1997[1961], p. 80).
Foto do filme Ilha do Medo (2010)
IDADE CONTEMPORÂNEA (FINAL DO SÉCULO XVIII)
 Começa-se a verificar à individualização da loucura, a partir da limitação e
redução do internamento, no sentido de liberar os internados referentes à
imoralidade, a conflito familiar e à libertinagem leve. No entanto, os loucos
eram explicitamente mantidos enclausurados e, em geral, acorrentados.
 "Declaração dos Direitos do Homem", promulgada pela Assembléia Nacional
Constituinte da França revolucionária em 26 de agosto de 1789. Com esta
declaração as Medidas judiciárias é que irão reconhecer à identidade e a
manutenção do louco no internamento, como também em comparação aos
demais enclausurados ou enclausuráveis, quem é criminoso ou não
criminoso.
 Pinel (1792) desamarrou os loucos internados no hospício de Bicêtre.
 A partir de então, é que surge uma psiquiatria positiva de análise e
identificação da loucura, através do seu reconhecimento objetivo e médico.
 Por sua vez, surge a proposição de um internamento não como restrição
absoluta da liberdade mas a partir de uma liberdade organizada, na
administração de uma terapêutica para a sua recuperação.
 Neste sentido, esta forma de aprisionamento terapêutico permite que surja
"uma loucura despojada de todas as reações secundárias - violência, raiva,
furor, desespero" (FOUCAULT, 1997[1961], p. 432), que transforma a
animalidade predatória do desatino em uma "animalidade suave" (FOUCAULT, Filme Coringa (2019)
1997[1961], p. 432), domesticada e suscetível, se não de plena “O século XVIII fez do monstro não somente um objeto, mas um
recuperação, pelo menos de maior controle social do louco. instrumento da doença.” (Canguilhem, 1992. p. 179)
SÉCULO XIX
A loucura, passa ser codificada
em doença mental
Surge a psiquiatria.“Kraepelin
apresentar minuciosas
descrições clínicas de jovens
com doenças mentais.

Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA

10/08/2020
PÓS-GUERRA
1945 - na França a
Psiquiatria de Setor A partir
de 1960, na França, foi
incorporada como política
oficial de saúde mental.
1959 – na Inglaterra a
Comunidade terapêutica
anos 70 - nos Estados
Unidos a Psiquiatria
Preventiva Comunitária,
tornou-se referência para a
América Latina e para a
Organização Mundial de
Saúde (OMS), nas décadas
de 70 e 80.
E também o trabalho de Franco
Basaglia nas cidades italianas
de Gorizia e Trieste.

10/08/2020
BRASIL

 Século XVI ao início do século XIX, a loucura se fez


presente no convívio social
 1852 - Criação do Hospício Pedro II, no Rio de
Janeiro
 década de 40 - surgiu o primeiro ambulatório no
Brasil, alternativa que, na década de 1960, chegou
a compor dezessete unidades
 fim da década de 50 - Nos serviços de
hospitalização integral de longa duração
predominavam os maus tratos

HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA Leia mais em:


https://super.abril.com.br/especiais/um-campo-de-
concentracao-interior-de-minas/
PÓS-GUERRA

 Passou a coexistir a prática higienista com


experiências inspiradas na Psiquiatria preventiva
comunitária ou nas comunidades terapêuticas ou
Psiquiatria de setor.
 Fim da década de 70 - conjuntura da
redemocratização. Podemos destacar três
momentos na trajetória da reforma psiquiátrica
brasileira a partir daí.

10/08/2020
PRIMEIRO MOMENTO

 Últimos anos do regime militar


 fim do “milagre econômico”
 processo de abertura democrática.
 A partir de 1976, são criados:
 Movimento de Renovação Médica (REME)
 Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
(CEBES)
 Movimento de Trabalhadores em Saúde
Mental (MTSM).

10/08/2020
SEGUNDO MOMENTO

 Trajetória sanitarista:

 Início primeiros anos da década de 80

 Movimento de reforma sanitária e psiquiátrica


incorporada como política pública.
 Saúde mental a
racionalização/humanização/moralização dos
hospitais psiquiátricos e a criação de ambulatórios
como alternativa à internação.
 No entanto, essas mudanças surtiram pouco
efeito na atenção dada à saúde mental.

10/08/2020
TERCEIRO MOMENTO

 Trajetória de desinstitucionalização:

 Início na segunda metade dos anos 80

 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986)


 I Conferência Nacional de Saúde Mental (1987)
 II Congresso Nacional dos Trabalhadores de
Saúde Mental (1987) é instituído o dia 18 de
maio como o Dia Nacional da Luta
Antimanicomial

10/08/2020
MARCOS INAUGURAIS DE UMA NOVA PRÁTICA DE CUIDADOS NO BRASIL:

 Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz


da Rocha Cerqueira, em São Paulo
 Intervenção na Casa de Saúde Anchieta,
realizada pela administração municipal de
Santos (SP)

 É neste momento que se cria os CAPS e NAPS

10/08/2020
MARCOS INAUGURAIS DE UMA NOVA PRÁTICA DE CUIDADOS NO BRASIL:

 1990 - Conferência Regional em Caracas para a


reestruturação da atenção psiquiátrica que
resultou em documento estimulador para o
processo de transformação do modelo de atenção
em saúde mental na América Latina e em
particular, no Brasil.
 06 de abril de 2001 - aprovação da Lei da Reforma
Psiquiátrica Brasileira (projeto de lei 3.657/89, de
autoria de Paulo Delgado)
 2000 - portaria 106 "serviços residenciais
terapêuticos"

10/08/2020
VERIFICA-SE COMO O SER HUMANO TEM PROCURADO EXPLICAR E COMPREENDER A VIVÊNCIA TÃO ESTRANHA
E FREQÜENTEMENTE TÃO AMEDRONTADORA DA PERDA DA RAZÃO, QUE, AO MESMO TEMPO QUE ASSUSTA,
SEMPRE DESPERTOU A CURIOSIDADE E O INTERESSE DAS PESSOAS.

 "De perto, ninguém é normal". Caetano Veloso

 “Dizem que sou louco por pensar assim, mas louco


é quem me diz que não é feliz. Eu sou feliz.” (Ney
Matogrosso Balada do Louco)
 https://www.youtube.com/watch?v=yu90Ha1Woiw

Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA

10/08/2020
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LIVRO TEXTO DA AULA: MUCHAIL,SALMA TANNUS, FONSECA, MÁRCIO ALVES E VEIGA-NETO, ALFREDO (ORG.) O
MESMO E O OUTRO: 50 ANOS DE HISTÓRIA DA LOUCURA. BELO HORIZONTE: AUTÊNTICA EDITORA, 2013.
DISPONÍVEL EM: HTTPS://PLATAFORMA.BVIRTUAL.COM.BR/LEITOR/PUBLICACAO/36626/PDF/0

10/08/2020

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