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De
repente, nossa deliciosa espiã internacional
desaparece e deixa a todos desesperados.
Os planos russos para explodir a compota do canal do
Panamá
CAPITULO PRIMEIRO
“Baby” não responde,
e muitas pessoas importantes perdem a paciência
— Nenhuma notícia?
O agente da CIA de plantão no rádio moveu
negativamente a cabeça.
— Nenhuma, senhor.
— O rádio está funcionando bem? Tem certeza de que
não enguiçou?
O agente olhou de soslaio o inspetor Pitzer, cujo
nervosismo era evidente.
— Claro que funciona bem — resmungou.
— E por que não fala?
— Já disse que não veio qualquer mensagem, senhor!
Não recebemos nada! Nossos outros agentes do Panamá
informaram que Brigitte e o “Simão” que a auxilia, Albert
Darrell, desapareceram. Procuraram os dois por toda parte,
recorrendo a todos os meios. Parece que desta vez Brigitte e
seu Simão tiveram uma dificuldade.
O inspetor Pitzer empalideceu.
— Impossível. Impossível, Jess. Não era uma missão
muito difícil. Era coisa que Brigitte podia fazer com os
olhos vendados. Quanto ao Simão que lhe fornecemos desta
vez, Albert Darrell, é um dos nossos melhores homens em
serviço na América Central.
— Tudo o que posso dizer, senhor, é que “Baby” não
responde.
— Não posso acreditar — quase gemeu Pitzer. — Não é
pela missão, Jess. É porque...
Jess se permitiu um sorriso de simpatia.
— Sei, inspetor. Não esqueça de que também conheço
Brigitte. Quantas vezes respondi suas chamadas, do rádio
secreto de seu apartamento. Ela também me chama de
Simão, diz coisas amáveis e faz brincadeiras comigo. E
algumas vezes também veio comprar rosas aqui, para dar a
entender que somos mesmo floristas. Já me disse até que
me acha um sujeito “legal”. Faria qualquer coisa para ajudá-
la, se pudesse. Para conseguir escutar novamente sua voz.
Mas “Baby” não responde, inspetor.
Os dois ficaram muito tempo em silêncio, olhando
sombriamente o rádio transmissor-receptor. De repente,
ouviu-se uma chamada.
Pitzer nem tivera tempo de abrir a boca, já Jess atendia
febrilmente.
— Base do Tio Charlie à escuta! Câmbio.
— Aqui o sobrinho do Panamá, informando Tio Charlie.
— Adiante, adiante, sobrinho.
— O informe é breve: nada.
— Nada?
— Sentimos muito, Tio Charlie. “Baby” não responde.
— Não é possível! Ela tem de estar aí, perto de vocês,
em qualquer lugar.
— Certamente está perto, de nós. Mas não pode
responder. Procuramos por todo o Panamá, nas últimas
trinta horas. Consideramos inútil a continuação das buscas.
Pitzer apanhou furiosamente o microfone, empurrando
Jess e começando a falar.
— Aqui é o Tio Charlie em pessoa! — rugiu.
— Vou dar uma ordem, e quero que seja cumprida com
a máxima urgência.
— Senhor, fizemos o possível!
— Esta é a ordem: encontrem “Baby”! E depressa!
— Senhor, ela não responde...
— Quero que a encontrem, custe o que custar! E isto é
tudo!
Devolveu o microfone a Jess, deixando-o plantado no
rádio e, sem dar atenção aos argumentos de ‘seu “sobrinho
do Panamá”, saiu da sala como um vendaval.
***
Miky Grogan ficou olhando, sobressaltado, o homem
carrancudo, de gênio avinagrado, que entrou em seu
gabinete de trabalho sem se fazer anunciar.
— Pitzer! Que foi que houve? — perguntou o jornalista.
— Perdemos contato com Brigitte! — desabafou o
inspetor. — Será que você aqui no jornal tem alguma
notícia?
— Hum... Brigitte? No Panamá! Está no Panamá. Ë tudo
que sei. Aconteceu alguma coisa?
— Não teve notícias dela?
— Não, nenhuma. Quando. ela sai para alguma dessas
excursões que você lhe encomenda, nunca me dá
explicações. Pelo menos enquanto não considera oportunas.
Mas, aconteceu algo grave?
Pitzer desabou numa poltrona diante da mesa de Miky
Grogan, o diretor do “Morning News”. Acendeu, com mão
nervosa, um cigarro e dirigiu um olhar de brasa ao
jornalista.
— “Baby” não responde — declarou, com um suspiro.
— “Baby”? Não entendo — surpreendeu-se Grogan.
— Brigitte trabalhou muito tempo com seu nome
verdadeiro. Tempo demais, para sua segurança. A maioria
dos agentes da CIA tem nomes supostos, codificados, afim
de que nos dirijamos a eles sem quebrar seu anonimato.
Brigitte apelida todos os auxiliares, em qualquer parte do
mundo, de Simão. Então adotamos um apelido-chave para
ela.
— “Baby”? — murmurou Grogan, evocando na mente a
suave imagem de Brigitte.
— Exatamente. Hoje, qualquer agente secreto conhece o
nome codificado de seus colegas, para poder prestar-lhe
ajuda quando indicado. Pareceu-nos muito apropriado
apelidar Brigitte de “Baby”, dadas suas características.
hum... físicas. Sua doçura, sua beleza. Ela é realmente o que
se costuma chamar de “Baby”1, Grogan.
— Sei disto muito bem — suspirou Miky. — Mas não
entendo...
— Brigitte foi enviada ao Panamá para cumprir missão
rotineira. Estivemos em contato com ela e seu Simão. E de
repente ambos silenciaram.
— E isto significa tragédia? — Grogan empalideceu.
— Temo que sim.
1
Baby: palavra de origem inglesa que designa criança de colo. Também
usada como forma carinhosa ao se dirigir à pessoa muito querida. NA
Miky Grogan levantou-se e rumou para o barzinho que
havia a um canto de seu gabinete. Tirou uma garrafa da
estante e apanhou um copo na bandeja do balcão. Serviu
uma boa dose de uísque, “Cutty Sark”, sem oferecer ao
inspetor. Bebeu-a de um só gole. E pôs-se a olhar para
Pitzer, ambos pálidos.
— Quer um uísque?
— Não — grunhiu o inspetor. — Não quero beber. Vim
apenas saber se Brigitte não entrou em contato com você.
Era uma esperança desarrazoada, pois seria absurdo que ela
se comunicasse com você e nos deixasse de lado. Mas
nunca se sabe o que esperar daquela pequena.
— Pois não telefonou, nem escreveu. Não sei nada sobre
ela. Que foi fazer no Panamá?
— Esperar uma espiã russa e, naturalmente, prendê-la.
Ou matá-la, se fosse necessário. A mulher viria de Cuba,
não sabemos com que intenções. Um de nossos agentes no
Panamá inteirou-se da viagem daquela mulher, por meio de
um informante que nos custou dez mil dólares. Um sujeito
chamado Pancorbo, panamenho. Quando soubemos que a
espiã é russa, resolvemos enviar Brigitte. Ela fala russo
correntemente, e poderia tirar partido da detenção discreta
da mulher. Por outro lado, a russa não desconfiaria de uma
jovem de aspecto inocente... Depois de pagos os dez mil
dólares a Pancorbo, Brigitte viajou para o Panamá,
encontrou-se com nosso agente que logo apelidou de
Simão. A última notícia que nos deu informava que se
dispunham a esperar, na madrugada de ontem, a chegada da
espiã russa. Depois, o silêncio.
Miky Grogan tornou a encher o copo e esvaziá-lo de
uma só vez. Em seguida jogou-se em sua poltrona, abatido.
E os dois homens ficaram silenciosos durante alguns
minutos, pensativos e sombrios.
— Procuraram no hotel onde ela se hospedou, ou na casa
que ocupava?
— Naturalmente — resmungou Pitzer. — Alguns
agentes foram ao Hotel Miraflores, onde estava alojada,
mas não encontraram nem sinal dela. Nem do agente que a
ajudava. Desapareceram. Não respondem...
— E a espiã russa?
— Não tivemos notícia alguma, Grogan.
Miky Grogan engoliu em seco.
— Julga que... Julga que tenham... Tenham apanhado
Brigitte?
— Se entendi bem sua pergunta, a resposta é positiva,
Grogan. Sim, temo que tenham matado Brigitte.
— Meu Deus!
— É um azar que pode acontecer a qualquer espião.
— Sim, eu sei. Mas a Brigitte, nossa Brigitte..
— Alertei o Departamento Central da CIA, e a notícia
causou emoção lá. Asseguro-lhe, Grogan, que esta perda
não abala apenas a você e seus empregados Mas antes de
lamentarmos-nos, creio que devemos certificar-nos. Todos
os agentes no Panamá estão à sua procura. Se estiver viva,
eles a encontrarão.
— E se está...?
— Se está morta, talvez um dia encontrem seu corpo.
— Que opinião tem, realmente, sobre o silêncio dela,
Pitzer?
— Bem, você sabe... Brigitte já trabalha nisso há anos. E
nunca deixou de comunicar-se conosco.
— Mas talvez... Talvez alguma dificuldade passageira...
Pitzer sorriu tristemente.
— Estamos, ambos, querendo nos iludir com hipóteses
tolas. Tenha certeza de uma coisa: se ela está viva, nada no
mundo impedirá que entre em contato com seus colegas no
Panamá.
— Isto quer dizer, então...
Pitzer encolheu os ombros e apagou o cigarro no
cinzeiro. Com mãos tão trêmulas, que algumas fagulhas
queimaram seus dedos. Mordeu os lábios com raiva.
Afundou-se mais ainda na poltrona e ficou olhando o céu
através das persianas graduáveis.
Miky Grogan olhava para o inspetor, mas não o via. No
rosto do diretor do “Morning News” foi aparecendo
lentamente, sem que ele mesmo percebesse, uma profunda
marca de tristeza.
De repente, a porta da sala abriu-se com violência. E
Frank Minello, o redator-esportivo mais brilhante do jornal,
entrou como um tufão. ‘Seus lábios, seu rosto todo, se
abriam num sorriso.
— Chefe, olhe o que...
— Cale-se! — berrou Grogan. — Cale-se, infeliz!
Frank Minello ficou petrificado. O sorriso transformou-
se numa expressão de susto.
— Que diabo, chefe! Só queria mostrar-lhe...
— Cale-se, e suma daqui. Suma daqui, idiota!
Minello piscou, agora confuso. Olhou Pitzer, e franziu o
cenho.
— Alô, inspetor — murmurou a medo. — Como vai o
Tio Charlie?
— O Tio Charlie não vai muito bem, não — respondeu
Pitzer, em tom surdo.
— Então vou alegrá-lo. Transmito-lhe um abraço de
Brigitte. Que é isso, chefe? Ficou louco?
Miky Grogan havia saltado e apanhado Minello pelas
lapelas.
— Diga outra vez! Diga outra vez, meu rapaz. Diga
outra vez que Brigitte mandou um abraço para Tio Charlie!
— Solte-me, chefe. Vá sacudir tapetes, se quer fazer
força!
Empurrou Grogan para o lado. Pitzer, mais controlado
do que o diretor do jornal, estava agora diante de Minello,
como um anão à frente de um gigante musculoso.
— Teve notícias de Brigitte, Minello?
— Sim, senhor.
— De onde?
— Do Panamá. Ela está lá. Mas, que diabo! Eu
gostaria...
— Ela telefonou para você?
— Não, não. Enviou-me um postal. Aqui está.
Grogan arrancou o cartão da mão do repórter, rindo em
tom agudo e nervoso. Leu-o ràpidamente e estendeu o
postal colorido a Pitzer. Dirigiu-se novamente ao bar,
enquanto o homem da CIA olhava fascinado o retângulo de
cartolina.
— Vou tomar uma bebedeira daquelas! — exclamou o
diretor do jornal, alegremente. — Venha cá, Frank.
Convido-o para um gole.
— Enlouqueceu de verdade — murmurou Minello. —
Mas aceitarei o gole, já que não estou louco e sei que você
tem um uísque escocês de primeira.
Miky Grogan não cessava de rir, enchendo os copos.
Olhou para Pitzer, vendo-o encarar pensativamente o postal.
— Venha, Tio Charlie. Vamos festejar.
O inspetor olhou-o com a mesma seriedade e tristeza de
antes.
— Não há nada a festejar, Grogan. Brigitte deixou de
comunicar-se conosco há trinta horas, e este postal foi
enviado há quarenta e oito. Vou indo. Até outro dia.
O copo de Grogan despedaçou-se no chão. Minello, que
estava voltado para o inspetor, vendo-o sair da sala, olhou
então para seu chefe. Viu sua palidez, e outra vez se
assustou.
— Que há com você, chefe?
***
— Aqui fala Frank Minello — disse, quando atenderam.
— Está confirmada minha reserva para o vôo ao Panamá?
— Obrigado. Estarei no aeroporto dentro de vinte
minutos, então.
Desligou. Apanhou a maleta e, pálido e sombrio como
vira seu chefe e o inspetor Pitzer, pouco antes, saiu do
apartamento.
Frank Minello acabou de examinar a pistola. Guardou-a
no coldre sob a axila esquerda e pôs o paletó.
Fechou a maleta e foi até o telefone. Discou.
CAPITULO SEGUNDO
Também os jacarés podem ter segredos
CAPITULO QUARTO
Taça de champanha com cereja dá para identificar uma beleza
— Brigitte! — sussurrou.
O silêncio lhe respondeu.
Depois de uns segundos de espera, Frank Minello pegou
a esferográfica que Brigitte lhe havia presenteado há algum
tempo, e que era também uma lanterna. Diminuta, mas
suficiente para orientá-lo nas trevas daquela série de
luxuosos quartos e salas.
Lentamente, o delgado raio de luz foi percorrendo a
salinha de entrada. Um sofá, poltronas, uma pequena mesa,
espelho, cadeiras, um barzinho.
O pequeno círculo de luz retornou ao barzinho. Era um
pequeno balcão brilhante e limpo, ligeiramente curvo. Sobre
ele, uma taça.
Frank Minello aproximou-se silenciosamente, contendo
o nervosismo, apertando a pistola nos dedos. E o círculo de
luz caiu em cheio sobre a taça, iluminando-a
completamente.
Uma taça de champanha, em cujo fundo se via,
agigantada pela distorção, uma cereja. Minello estremeceu.
Champanha com cereja, a bebida favorita de Brigitte!
Mas no mesmo instante o pesar apertou o coração do
repórter. Aquela taça podia estar ali há dois ou três dias. Ou
até mais. A alegria que o dominara no primeiro momento
não tinha razão de ser.
Apanhou a taça, com a unção que dedicaria a uma
relíquia. Seus dedos logo notaram o frio do champanha.
Imaginação!, pensou. O champanha estava fria, realmente,
mas não gelada.
Havia outra maneira de comprovar-se se a champanha
estava ali há dois dias ou há poucos minutos. Levantou a
taça e provou-a. Estava deliciosa. E era “Perignon 55”!
Sentiu na língua a suave efervescência da bebida fresca e
recentemente vertida na taça.
— Brigitte! — chamou carinhosamente. — Onde está
você? Sei que está aqui, e...
De repente, à sua esquerda, saltou uma língua de fogo
alaranjada. Plop! Exatamente do ponto onde divisara a porta
que devia ligar a sala ao dormitório. E simultaneamente à
chispa e ao ruído, a taça despedaçou-se entre seus dedos,
salpicando-o de cristal e champanha.
Deu um salto para o lado e orientou sua pistola para a
porta. Plop! Sua arma, tão silenciosa como a que o alvejara,
despejou uma língua de fogo semelhante à anterior. E o
ruído característico da bala encravando-se em madeira foi
logo seguido por outro plop, vindo da arma atacante. O
projétil zumbiu por cima de sua cabeça, antes de cravar-se
na parede e borrifá-lo de caliça. Tornou a disparar sua
pistola em direção à porta, enquanto corria para a saída do
apartamento.
Estava a poucos passos desta, quando a porta se abriu
diante dele. E um homem apareceu, como uma sombra
estranha, inquietante.
— Doris, deixe que...
Plop!
A bala passou roçando a manga de Frank Minello e
atingiu o peito do homem que surgira à porta. Este caiu de
bruços, e o jornalista saltou por cima de seu corpo,
tropeçando em sua cabeça, correndo para o corredor. Bateu
a porta atrás de si, fechando-a ruidosamente.
— Ai! Doris! — gemeu o ferido.
A porta do dormitório abriu-se totalmente e uma silhueta
feminina correu para o homem. Ajoelhou-se a seu lado, e
em sua mão esquerda apareceu urna luz, que deu de cheio
no rosto do homem.
— Está louco, Camilo? — resmungou ela.
— Ouvi... os tiros... com silenciador... e quis... ajudá-la...
— Ajudar-me? Você pôs tudo a perder! Aquele homem
estava armado, e por isso adotei tantas precauções. Quando
o tenho de costas para mim e vou atirar contra ele, você
aparece, atrapalhando tudo. Onde é que acertei?
— Num lado... do peito... Não é... grave...
— Precisamos sair daqui imediatamente, Camilo. O
homem pode ser da CIA. Está à procura de Brigitte, como
nós.
— Encontrou... alguma coisa... no dormitório?
— Claro que sim. Chamava-se Brigitte Montfort e
trabalhava para um jornal de Nova Iorque, o “Morning
News”. Mas vi uma curiosa maleta, com algumas coisas
muito interessantes... Evidentemente, essa Brigitte Montfort
era uma agente secreto da CIA. Você poderá caminhar?
— Sim... Tentarei... Creio que poderei...
— Então, vamos indo.
— Ele não terá... fechado a porta com...
— Não se preocupe com a porta. Se esse homem é da
CIA, não deve ter vindo só. Creio que há um batalhão de
agentes americanos lá embaixo. Só podemos sair pela janela
do banheiro, passando para o pátio interno, e dali para a
Avenida Gálvez y Soto. Examinei o local. Conseguirá andar
numa saliência de parede, Camilo?
— Sim...
— Pois vamos logo. Já sabemos tudo o que nos interessa
sobre Brigitte Montfort, de modo que só nos resta sumir
daqui. A esta altura, seria um desastre se a CIA nos
encontrasse.
***
No corredor, Frank Minello consultou mais uma vez o
relógio, enquanto a mão direita permanecia afundada no
bolso, empunhando a pistola Seus olhos escuros não se
afastavam muito tempo da porta do apartamento dezesseis.
Mas ninguém pretendia sair por ali...
Franzindo o cenho, decidiu que já havia esperado
demais. Foi até a porta, empurrou-a suavemente. Ela se
abriu um pouco. Com um empurrão, Frank terminou de
abri-la, saltando para um lado no mesmo instante. Mas nada
aconteceu. Esperou um minuto inteiro, e então jogou-se
ràpidamente para dentro, a pistola pronta para disparar,
embora já estivesse certo de que nada ocorreria.
Pôs-se de pé, pouco depois, sempre vigilante, e tornou a
acender a pequena lanterna. Deixou escapar um grunhido,
correu para o interruptor e acendeu a luz. Fechou a porta
atrás de si.
A primeira coisa que viu foi a taça despedaçada, cujos
cacos se espalhavam pelo solo e sobre o barzinho. A cereja
havia ficado sobre o balcão, abandonada... À frente de seus
pés, aquelas manchas de sangue testemunhavam o ocorrido
minutos antes. Suspirou de satisfação, ao compreender que
a pessoa que disparara de dentro do dormitório ferira
acidentalmente o recém- chegado, e que ele escapara ileso
graças a isso.
Estava claro que o ferido e o companheiro deviam ter
fugido por outra saída. Momentos depois comprovou que a
escapada se dera pela janela do banheiro. Encontrou-a
aberta, e ao debruçar-se para fora viu uma saliência pouco
abaixo e um enorme cano que descia até o pátio.
Regressou à salinha, mal-humorado. E ficou parado,
olhando a cereja sobre o balcão. Apanhou-a, limpou-a com
os dedos para remover qualquer caco de cristal, e jogou-a na
boca. Saiu do apartamento.
Surgiu diante do recepcionista, segundos após. Este
abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Frank Minello foi
mais rápido:
— Quem levou champanha para a senhorita Montfort?
— Champanha? — espantou-se o homem.
— Com cereja. Qual foi o garçom que...
— Há um barzinho nos apartamentos de luxo, senhor
Minello. De modo que os hóspedes não precisam pedir
bebidas. Aconteceu alguma coisa, senhor?
— Não...
— Telefonei há poucos minutos para seu apartamento, e
o senhor não atendeu.
— Eu estive batendo na porta do apartamento dezesseis,
pensando que talvez a senhorita Montfort tivesse voltado...
Que queria de mim?
— Lembrei-me de que ela deixou um envelope...
— Para mim?
— Não, senhor, Bem, não sei. A senhorita Montfort
deixou-o há duas noites, antes de sair. Disse que um amigo
viria apanhá-lo. Mas não foi o seu nome que ela mencionou,
senhor Minello.
— Não importa, não importa. Ela me estava esperando
— mentiu o jornalista. — De modo que esse envelope pode
ser entregue a mim. Dê.. mo, por favor.
O empregado o entregou e Frank apressou-se a abri-lo.
Dentro havia uni papel, cujo conteúdo era simples e
também pouco elucidativo. Dizia apenas: “Luís Pancorbo.
Molhes”.
Isto era tudo. Frank voltou-se para o recepcionista,
decepcionado.
— Não deixou mais nada?
— Não, senhor. Lembrei-me disto faz poucos minutos,
depois...
— Sim, sim. Está bem. Obrigado. Diga: conhece um
homem chamado Luís Pancorbo?
— Pancorbo? Não, senhor. Não me recordo deste nome.
— Bem... Creio que vou sair esta noite. Não sei a que
hora voltarei, mas se perguntarem por mim, especialmente a
senhorita Montfort, diga-lhe que regressarei logo que puder.
— Sim, senhor. Digo que o esperem?
Frank Minello esteve a ponto de soltar uma risada.
— Diga apenas que Frank Minello chegou. Ela saberá o
que deve fazer. E para que não se esqueça do recado, tome
este lembrete.
Entregou uma nota de dez dólares ao recepcionista, que
abriu a boca de espanto. E saiu do Hotel Miraflores.
Desceu à calçada, olhando o ruidoso tráfego, iluminado
pelas cores dos anúncios luminosos. Acendeu um cigarro,
esperando até que um táxi passou vazio diante do hotel.
Fez um sinal e o carro parou. Embarcou, calado, perdido
em seus pensamentos. O motorista voltou-se para trás.
— Aonde, senhor?
— Não sei...
— Não sabe? Turista? Quer que o leve a lugares
interessantes? Posso mostrar-lhe.
— Não vim passear, meu amigo. Sabe onde são os
molhes?
— Mais ou menos — sorriu o homem.
— Pois leve-me lá. E, se lhe interessa, estou disposto a
pagar cem dólares a quem me disser onde se pode encontrar
Luís Pancorbo. Meu nome é Minello, e estou hospedado no
Hotel Miraflores.
— Cem dólares! E uma boa quantia...
CAPITULO QUINTO
Sergei Saborin vem, Sergei Saborin vai
CAPITULO SEXTO
Mensagem para o senhor Frank Minello
CAPITULO SÉTIMO
Um convite à piscina
A seguir:
A FILHA DE GISELLE NUMA VIAGEM DE PRAZER.