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FOTOGRAFIA DE AMBIENTES E DECORAÇÃO

Por Cleber Medeiros

Departamento de Fotografia
Pós –graduação em fotografia publicitária
1° semestre – 2007

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Apresentação

A fotografia de ambientes e decoração serve a um público seleto, geralmente abastado economicamente,


formado por empresários do setor moveleiro ou de decoração, arquitetos e publicações especializadas que
acabam atendendo a um público mais amplo, chegando ao público final que deseja referências na decoração
de suas casas ou empresas.
O fotógrafo que registra tais ambientes é talvez um dos profissionais mais especializados, pois existe uma
concorrência mínima nesta vertente de trabalho, sendo comum que fotografem para revistas como permuta
por espaço de divulgação e depois ainda vendam as fotos para os anunciantes, arquitetos e decoradores.
O nível de conhecimento exigido não chega a ser tão alto, entretanto é muito específico, passando pela
iluminação e suas variáveis, profundidade de campo, fotometria manual e distâncias focais mais adequadas,
até um pouco da produção fotográfica, pois dependendo do cliente, nem sempre é possível a contratação de
um produtor especializado.
Alguns clientes ainda exigem que os trabalhos sejam entregues em cromo de médio ou grande formato, mas
a cada dia o mercado vem sucumbindo ao digital devido principalmente à seu preço mais atraente e
qualidade razoável, atendendo às expectativas quando os trabalhos serão apenas destinados à folders ou
páginas de revistas.

O começo de tudo: A iluminação planejada pelo decorador ou arquiteto


O grande problema encontrado na fotografia de ambientes e especialmente de decoração vem a ser a mistura
de fontes de luz diferentes em um mesmo ambiente.
Geralmente arquitetos e decoradores não fazem a menor idéia do que significa temperatura de cor, que vem
a ser o espectro da luz captado pelo sensor e a predominância de cores que pode apresentar.
A luz apresenta predominâncias de cores conforme suas fontes no caso da luz artificial e no caso da luz
natural estas variáveis dependem do clima e da hora do dia em que as imagens forem captadas.
A luz natural apresenta variações que vão desde um tom bem laranjado pela manhã ao nascer do sol, ficando
logo em seguida frio, meio azulado e depois das 10 da manhã apresenta o que convencionamos chamar de
luz do dia, com cerca de 5600°K de temperatura de cor. Após as 14 horas a temperatura começa a abaixar e
vai gradativamente apresentando tons mais quentes, chegando (em um breve momento de final de tarde) à
temperatura de cor semelhante a que encontramos ao nascer do sol, gerando um tom bem laranjado.
A iluminação artificial tem a vantagem de apresentar uma temperatura de cor constante, sendo possível
executar longas sessões fotográficas sem a necessidade de ajustar frequentemente o balanço de branco da
câmera digital ou a filtragem de cor da analógica. As lâmpadas mais utilizadas são as fluorescentes ou
econômicas, as incandescentes comuns e as dicróicas.
As lâmpadas fluorescentes são utilizadas principalmente em ambientes de trabalho, pois necessitam ficar
ligadas durante muitas horas e são econômicas quanto ao consumo de energia. Atualmente existem
luminárias modernas e elegantes ao contrário das antigas calhas para lâmpadas fluorescentes que eram
horríveis e antiquadas, entretanto ambientes domésticos requintados (hall de hotéis e salões de
recepção/auditórios) praticamente nunca as utilizam. Como seu bulbo é sempre leitoso, a luz é difusa,
obtendo um resultado quase sempre homogêneo.
A grande desvantagem é que a temperatura de cor emite um tom esverdeado quando utilizamos filme ou
balanço de branco ajustado para luz do dia e para que o ambiente fique bem iluminado convém utilizar
várias luminárias, devido à intensidade relativamente baixa.
As lâmpadas econômicas tem características praticamente iguais às encontradas nas fluorescentes,
entretanto são menores e de intensidade ainda mais baixa, sendo necessário utilizar muitas unidades para
iluminar corretamente um ambiente. Existem alguns modelos com temperatura de cor baixa, dando um
resultado muito semelhante às lâmpadas incandescentes comuns, ou seja, apresentam uma tonalidade
amarelada, bem mais agradável em uma cena, transmitindo a sensação de conforto e aconchego.
As dicróicas emitem temperatura de cor amarelada, o que conforme foi citado antes é agradável e não cansa
a vista do expectador. Como elas são direcionáveis, são mais utilizadas para efeitos, complementando a
iluminação principal, que geralmente é planejada com lâmpadas incandescentes ou halógenas.

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As lâmpadas incandescentes e as halógenas produzem uma tonalidade um pouco menos quente que as
incandescentes, mas o tom é bastante semelhante. A grande vantagem é a intensidade da luz
significativamente alta, entretanto o consumo elétrico também é alto e gera um calor no ambiente
considerável, tornando necessário o uso de aparelhos de ar condicionado ou boa ventilação.
Como já foi dito antes, muitas vezes os autores do projeto desenvolvem um ambiente belíssimo devido à
integração entre móveis, obras de arte e acabamentos, mas o mesmo não é harmônico em função de fontes
de luz heterogêneas quanto à temperatura de cor e intensidade.
Cabe ao fotógrafo minimizar estas diferenças com filtros de gelatina colorida nas fontes de luz (raramente
utilizados) ou mesmo o uso de refletores halógenos como luz principal, tomando o cuidado de não intervir
na iluminação de efeito.

Alterando a luz principal com refletores halógenos


O ideal é trabalhar com refletores de 1000w dotados de dimmer de controle de
intensidade ou apenas um bom e alto tripé Cadetão que permitirá regular a
intensidade afastando ou aproximando o refletor de luz do teto claro no ambiente.
Geralmente a maioria dos pequenos ambientes pode ter sua luz equalizada com o
uso de apenas um refletor, mas o ideal é ter no mínimo três unidades prevendo o uso
em ambientes maiores.
O ponto ideal para rebater a luz no teto deve ser descoberto através de testes, sendo
geralmente o mais central possível, desde que o tripé não apareça na cena.
Os refletores dispostos nas extremidades do ambiente podem ocasionar uma
iluminação em degradê no centro, sendo muitas vezes necessário aferir os resultados
no visor da câmera.
A grande vantagem na utilização destes refletores está no fato de permitirem uma
aferição visual, ao passo que com flashes de estúdio dotados de parabólica, os
resultados só poderão ser observados após os disparos do obturador.
A grande desvantagem reside na necessidade de utilizarmos baixas velocidades de
obturação, o que pode ser complicado quando fotografamos o ambiente com
modelos vivos e queremos que os mesmos não saiam tremidos.
Refletor halógeno Mako

O flash de estúdio na iluminação de ambientes


Geralmente o fotógrafo especializado em fotos de ambientes e decoração não registra
estes ambientes em interação com modelos, então a escolha natural são os refletores de
lâmpadas halógenas.
Os flashes de estúdio devem ser utilizados com globos que espalham a luz por igual em
quase 360° ou refletores parabólicos que possam refletir a luz no teto da mesma forma
em que utilizamos os refletores halógenos.
Em alguns casos quando utilizamos modelos, também são utilizadas sombrinhas
difusoras próximas à estes, de forma a chamar atenção para os mesmos com uma intensidade de luz
diferenciada.
Infelizmente os únicos modelos de câmera que medem também a luz de flashes são os Leica R-8 e R-9, de
preço proibitivo.
Nós os usuários de equipamentos nipônicos, devemos utilizar um flash meter, que é um aparelho que mede
a luz do flash indicando qual será a abertura e velocidade que devemos usar na cena.
A grande desvantagem no uso do flash está na temperatura de cor, pois a mesma é de fato igual à luz do dia,
de forma que intensificará em muito as tonalidades das demais fontes de luz. Outra desvantagem reside no
fato de que o resultado final não é visual para aferição antes do momento da foto, requerendo mais
tentativas até que consigamos os acertos (claro que as vezes acertamos na primeira tentativa, mas não é algo
comum).

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Os filtros de correção de cor diretamente sobre os refletores
Existem filtros fabricados em gelatina colorida que são próprios para a correção de cores diretamente sobre
as fontes de luz. Estes filtros são comprados em folhas e se assemelham com papel celofane, ainda que
suportem altas temperaturas sem apresentar alterações de cor ou forma.
Os principais filtros utilizados são:
*Azul – pode ser utilizado em diferentes tonalidades com o intuito de corrigir completamente ou só
amenizar a tonalidade amarelada proveniente das lâmpadas incandescentes ou halógenas.
*Púrpura ou magenta – utilizado sobre as lâmpadas fluorescentes para eliminar a tonalidade esverdeada.
*Amarelo – geralmente utilizado sobre as lâmpadas fluorescentes para tentar imitar uma tonalidade parecida
com a encontrada nas lâmpadas incandescentes, de forma a deixar uma temperatura de cor mais homogênea
no ambiente.

A utilização destes filtros deve ser moderada (ou evitada sempre que possível), pois os mesmos além de
minimizaram a intensidade da luz, podem criar situações de luz pouco prováveis dentro de ambientes
normais. O ideal é só utilizá-los com a intenção de diminuir eventuais aberrações de temperatura de cor.

Os filtros de correção de cor para a câmera analógica e digital


Geralmente os filtros de correção de cor são rosqueados à objetiva da câmera analógica para corrigir
temperaturas de cor homogêneas no ambiente, ou pelo menos a predominante, entretanto, se corrige a cor
oposta (azul/amarelo, magenta/verde), a outra temperatura de cor (quando temos mais de uma na mesma
cena) vai provavelmente reagir de outra forma ficando com uma cor semelhante à utilizada no filtro de
correção.
As câmeras analógicas utilizam filtros coloridos nas mesmas cores descritas acima, ainda que o amarelo
quase nunca seja utilizado, pois apresenta um aspecto excessivamente amarelado em toda a cena.
Nas câmeras digitais a filtragem é feita através do balanço de branco, o qual apresenta vários ícones pré-
definidos de correção (luz fluorescente, luz do dia, luz incandescente, flash, etc) e ainda um modo
personalizado onde apontamos a câmera para algo completamente branco e ela faz o ajuste personalizado
em relação à luz do ambiente.
Os modos pré-definidos atualmente são bastante confiáveis e resultam em fotos muito próximas dos tons
reais (ainda que todas as imagens devam sofrer ajustes finos no laboratório ou Photoshop para que fiquem
perfeitas).

A fotometria
Trata-se da parte mais delicada para a obtenção de uma boa foto de ambiente, a
fotometria deve ser feita com muita calma e em vários pontos do ambiente, de
forma a homogeneizar a luz ao máximo ao longo do enquadramento no ambiente
que desejamos fotografar.
O correto é percorrer o ambiente fotometrando próximo aos objetos e paredes. À
medida em que encontrarmos aferições de aberturas muito diferentes (mais de um ponto
de diferença), devemos procurar utilizar um refletor mais próximo ou com maior
intensidade com a luz incidindo sobre aquele local, de forma a equalizar a luz por todo o
ambiente.
A medição poderá ser feita com o próprio fotômetro da câmera quando utilizamos luz
contínua ou com um flash meter quando utilizamos luz de flash, ainda que o ideal seria
sempre fazê-lo com fotômetro de mão para uma aferição mais precisa.
A velocidade de obturação deverá ser dada em função da abertura, pois necessitamos de profundidade de
campo, principalmente quando usamos luz contínua.
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Trabalhando com Objetivas grande angulares o ideal é utilizar principalmente aberturas médias ou fechadas,
de f.5.6 a f.22, sempre com o uso de um tripé para garantir o enquadramento e que a foto ficará nítida
mesmo em velocidades muito baixas.
Quando trabalhamos com flashes de estúdio podemos priorizar velocidades uma pouco mais altas, como
1/30s ou até 1/60s e desta forma congelamos suaves movimentos de modelos na cena. Neste caso
priorizamos a velocidade e chegamos à abertura de diafragma correspondente.

Objetivas e profundidade de campo


Sem dúvida nenhuma as objetivas mais utilizadas são as grandes
angulares, pois a maioria dos ambientes não possuem recuo
suficiente para serem fotografados com objetivas normais, ainda
que fosse ideal, pois não distorceria as linhas horizontais da
cena.
As grande angulares apresentam também grande profundidade
de campo (mesmo com diafragmas medianos como f.5.6), algo
muito desejável neste tipo de trabalho em que se faz necessário
foco em praticamente todos os planos.
Em fotografias de closets ou banheiros é necessário (ainda que
não seja ideal) utilizar uma objetiva olho de peixe com o intuito
de fotografar uma maior quantidade de elementos em uma
mesma cena, mesmo que não exista recuo para captar tantos
elementos. Tal objetiva provoca distorções enormes, mas fica
patente que as linhas do ambiente não são naturalmente
distorcidas, servindo ao fim a que se propõe, além do aspecto
artístico da imagem vinhetada nas bordas.
Uma opção barata e com resultados semelhantes – com menor
qualidade dependendo do fabricante – é o uso de uma objetiva
auxiliar wide converter rosqueada à frente de uma grande
angular.
Também utilizamos pequenas teleobjetivas ou objetivas macro, como a 100mm para captar detalhes da cena
ou de objetos de decoração.
Quando utilizamos uma objetiva zoom como a 18-55mm, regulamentar na maioria das câmeras digitais,
podemos usá-la como objetiva única,
com wide converter para os
enquadramentos mais abertos ou
retirá-lo para enquadramentos mais
fechados e com melhor qualidade de
imagem. Lembrando que a grande
maioria destas objetivas permitem
uma qualidade de imagem ruim,
devido à própria construção com
corpo e baioneta em plástico.

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A importância do produtor
Geralmente os fotógrafos não são arquitetos ou mesmo decoradores, alguns nem mesmo entendem nada
destas coisas.
Há casos em que nem o cliente entende, o fotógrafo é contratado, faz a foto, o contratante adora, mas
quando mostra a um profissional de decoração são detectados vários defeitos na composição da cena e no
final das contas o responsável acaba sendo o fotógrafo.
Em função disso é recomendável que sempre exista um produtor no local, este profissional tem
obrigatoriamente que entender do produto a ser fotografado e sempre que solicitado deve olhar através do
visor da câmera para saber o que (e como) está sendo (ou será) visto, corrigindo eventuais linhas
desarrumadas em um lençol, ou afastando alguns elementos para que não fiquem na frente de outros mais
importantes, dentre outras coisas de extrema relevância no resultado final da produção fotográfica.
Na falta de verba para contratação de um profissional especializado, convém convidar o próprio contratante
para que ele faça este papel, de forma a isentar a responsabilidade do fotógrafo relacionada a alguma falha
composicional.
Lembre-se, neste caso o fotógrafo é apenas um técnico de imagem, ainda que com o tempo possa ir
adquirindo experiência para agir quase como se fosse um produtor, mas não convém misturar os papéis.

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Esquemas de iluminação como referências

1) Uma fonte de luz

Este esquema de iluminação foi montado de forma a suavizar


as sombras, considerando que os móveis estavam muito
próximos das paredes, o que aumentava a possibilidade de
projeção de sombras.
Observe as sombras abaixo das poltronas. A partir delas pode-
se observar que a única fonte de luz foi colocada ligeiramente
à direita da imagem, sendo rebatida no teto.
Como neste ambiente não havia iluminação planejada e não
havia a necessidade de mostrar parte do teto, por não haver
nenhum adereço junto ao pé direito, não se fez necessário
reduzir a luz do refletor, facilitando assim a execução da foto.
O refletor foi rebatido no teto aproximadamente na altura da
metade da distância entre a fonte de luz e as cadeiras e para
aumentar a intensidade da luz, ele ficou a cerca de 80 cm do
pé direito, conforme ilustração abaixo.

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2) Duas fontes de luz

Este esquema de iluminação já foi bem


mais complicado.
Os fatores que vieram a complicar
foram os detalhes muito próximos ao pé
direito, o tamanho físico ser
relativamente grande com cerca de
35m², o fato de todo o ambiente ter sido
planejado em tons de branco. A
iluminação colorida criada para o
ambiente, que por ser de baixa
intensidade, fez necessário uma
iluminação mais difusa e com menor
intensidade.
Foram usados dois refletores, um em
cada lateral da imagem, ambos ficaram
escondidos atrás das paredes em
primeiríssimo plano, que não aparecem na foto. Os refletores tiveram que ser rebatidos no teto, ficando a
apenas 30 cm do pé direito cada um, pois quanto mais de eleva a altura dos refletores, menos espaço existe
para a projeção de sua luz, desta forma consegue-se reduzir significativamente a intensidade desta.
Outra razão que fez necessário um rebatimento tão próximo ao pé direito foi o fato de parte dele aparecer na
imagem, logo, não seria possível que aparecesse a luz mais intensa refletindo sobre o teto.
Confira o esquema abaixo:

Ambas as fotos foram produzidas para a Sierra-Mainline e foram publicadas na revista Frade n°01.
Autor: Cleber Medeiros

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