Considerações sobre estatística, pescarias e planejamento
estratégico na construção de unidades habitacionais para a
classe c brasileira. Outro dia, estava almoçando com amigos e discutíamos sobre estratégia das construtoras para a produção de imóveis para a emergente classe c brasileira.
Um contestou a estratégia de se construir apartamentos
de dois quartos em Macaé, citando como argumento a oferta existente para este tipo de imóvel na localidade.
Como alguns dos participantes da conversa eram
espanhóis, os mesmos alegaram o crescimento da cidade em função da indústria petrolífera como forte indicativo para se construir com a certeza de venda das unidades.
A discussão passou então para o déficit habitacional
brasileiro na classe c, que, ao contrário do existente em outros países de primeiro mundo, não necessitava de nenhuma obra para se criar demanda, que já existia na maioria das cidades brasileiras.
Um dos espanhóis então concluiu que se o mercado era
assim, então construir seria como uma pescaria. Só colocar o anzol na água, paralelo com qual nós prontamente concordamos.
Sendo assim, mais fácil se faz explicitar como uma
pescaria deve ocorrer, por depender de menos variáveis que as necessárias para determinar a viabilidade de se empreender um conjunto residencial.
Para tanto, usaremos dois conceitos de estatística como a
média e a moda.
Média é o valor central de uma série de dados. A média
aritmética calcula-se somando as classificações, dividindo este total pelo seu número.
Moda indica a frequência que determinados dados se
repetem dentro de uma faixa determinada. Voltando a pescaria, imagine contratar a maior consultoria do Brasil para definir o peixe médio nas nossas águas.
Se for este o objeto da contratação, a consultoria, depois
de diversos estudos, definiria o peixe médio existente e, com base neste peixe, definiria a vara média, o anzol médio, a linha média e a isca média para se pescar tal peixe médio.
De posse de todos os apetrechos especificados, iríamos a
um lago e não pescaríamos nenhum peixe.
Teríamos desconfiança sobre a competência da
consultoria contratada, mesmo sabedores da definição de razão como capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas e que é a competência mais bem distribuída do universo pois todo mundo acha que têm.
O mais provável, entretanto, talvez fosse que não
existisse o peixe médio em tal lago.
O trabalho da consultoria deveria ter levado em conta a
moda para determinar a qualidade de peixe por categoria e ainda a quantidade de peixe por categoria em cada local.
Vamos detalhar melhor a pescaria.
Peixes tem hábitos distintos e é necessário individualizá-
los para que o mesmo seja pescado em quantidade e com maior facilidade.
Ao se pescar um piau, por exemplo, devemos ter em
mente que sua alimentação tende mais para vegetariana. São encontrados em locais com galhadas finas, margens com bastante capim e até mesmo no meio de rios em pequenas corredeiras e remansos. Eventualmente chega a ter até seis quilos. Tem uma boca pequena que obrigatoriamente deve ser considerada para se especificar o anzol e os outros apetrechos.
Quando se vai pescar um pintado, peixe de couro, de
água doce, com boca grande, carnívoro, que possuem hábitos noturnos, ainda que ocorrendo com menor freqüência também é comum seus ataques durante o dia. Principalmente no começo da manhã e final de tarde quando o sol já não está tão forte. Se alimentam próximo a margem e são carnívoros . Chega a pesar 105 kg e seu tamanho atinge 2 metros de comprimento. Também é conhecido como “surubim-pintado e deve ser pescado com equipamento totalmente diferente, em outro horário.
A principal conclusão que podemos extrair da experiência
é que geralmente o peixe médio não existe e portanto não pode ser pescado. Trata-se de uma construção matemática.
No planejamento estratégico das empresas deve-se ter
muito cuidado para analisar médias pois as mesmas podem levar a grandes distorções, inviabilizando empreendimentos e empresas.
Podemos ainda dar como exemplo, para reduzir ao
absurdo, um grupo de pessoas que contivessem 1000 pessoas com renda de R$1.000,00 e 1000 outras pessoas com renda de R$10.000,00. Temos que ter muito cuidado com média, mas neste caso ela vai ser usada apenas para exemplo e não para decidir investimento. Considerando o citado grupo de 2000 pessoas, rapidamente definiríamos a renda média de R$5.500,00 e projetaríamos um imóvel adequado para esta faixa de renda.
Certamente o empreendimento estaria fadado ao
insucesso por falta do público alvo. Exceções apenas confirmariam a regra.
Caso fosse examinada a moda do conjunto, seriam
projetadas duas unidades diferentes, sendo uma adequada ao grupo da população com renda de R$1.000,00 e outro preparada para o grupo com renda de R$10.000,00, acertando portanto os alvos previstos, por ser tal grupo bimodal.
A matemática pode e deve ser utilizada porém com muito
cuidado. Engenheiro então, adora matemática.
Pergunta-se a eles que, se dois gatos comem 4 ratos em
dois dias, quantos ratos comeria meio gato em um ano? Vamos ver se conseguem acertar.
Na pescaria se observarmos a moda num agrupamento de
peixe, teríamos especificados os anzóis para o peixe encontrado com maior frequência no local dos trabalhos. Não poderíamos esquecer ainda de observar o tipo de vara, a isca, a linha, a temperatura da água, a estação do ano, a existência de correnteza ou não, dentre outros aspectos.
Temos certeza apenas que o sucesso do planejamento
estratégico se dará se for feito com base na moda dos peixes, para atingir somente a eles, sendo as demais definições apenas consequência da definição maior.
Vocábulos rotineiramente utilizado no ramo das
incorporações como VGV alto podem representar um alto risco se não for levado em conta a rentabilidade; lucratividade sobre a exposição máxima de capital leva em conta a exposição somente no mês em que ela é máxima, desconsiderando por quanto tempo ela ocorre; Tir alta pode representar que está sendo considerada a aplicação das sobras de caixa pela mesma taxa de lucratividade do empreendimento; este produto vai ser o carro chefe da empresa pois vendemos por R$ xxx.000,00 o m² em tal cidade, como se o cliente importasse com isto; o custo da unidade é de R$yyy.000,00 por m² desconsiderando o preço de diferentes cômodos; tantos são os jargões do ramo utilizando as médias que podemos parar apenas nestes citados.
Não podemos esquecer também que o peixe sobe para as
cabeceiras do rio na época da reprodução para queimar as gorduras e conseguir reproduzir e depois desce para a foz, e que o planejamento estratégico deve, ou prever tal fato ou mudar rapidamente e acompanhar o peixe, repito, sendo acessórias as demais decisões.
Para terminar, fica aos engenheiros a última dica que