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O período da vida do sujeito que se dá entre os dois anos e os seis anos é de

importância significativa para o sujeito, tanto para o seu desenvolvimento não-


patológico, quanto para o patológico. Esse processo se dá na fase fálica e é
denominado de complexo de édipo. Na fase fálica, o ego da criança está mais
desenvolvido e integrado. No caso, da criança ter tido um desenvolvimento
normal, ela não mais possuirá relações parciais de objeto. Ou seja, consegue
reconhecer todas as partes da mãe em um único objeto.

As relações de objeto mais importantes nessa fase se dão através do complexo


de édipo. A sexualidade que anteriormente era autoerótica passa a ter um
objeto, sendo ele o pai e a mãe. Para Freud, os acontecimentos que se dão
nessa fase são de extrema importância para a vida do sujeito, os
acontecimentos do período edipiano são cruciais para o desenvolvimento e
maturidade para a maior parte dos indivíduos. É preciso afirmar que o édipo
não se dá apenas na formação das neuroses, mas é um fator significativo para
a sexualidade humana.

A teoria da neurose que afirmava que o trauma advinha da sedução por parte
dos pais se tornou inválida para Freud quando ele começou a estudar a ideia
de fantasia. Além disso, se a teoria do trauma estivesse certa colocaria todos
os pais como perversos, visto que as questões reprimidas sempre eram de
origem sexual e estava quase sempre relacionada aos pais. Os estudos sobre
o inconsciente também mostraram a Freud que no inconsciente não havia
indicações de realidade, ou seja, não era possível distinguir verdade e ficção
(MOREIRA, 2014)

A noção de complexo de édipo foi proposta pela primeira vez no livro A


interpretação dos sonhos, mas o termo só foi usado a partir de 1910. Essa
denominação foi tirada da peça “Édipo Rei” no qual Édipo mata o próprio pai
(sem ter a consciência disso) e se casa com a própria mãe. Resumidamente, o
complexo de édipo de um lado se dá através de um desejo intenso e ciumento
de eliminar o pai e tomar o lugar dele, e a outra forma se dá através do desejo
de eliminar a mãe e tomar o lugar dela junto ao pai.

No início do complexo de édipo, ambos os sexos possuem uma relação intensa


com a mãe, há a presença de desejos de serem o objeto exclusivo de amor e
de afeição da figura materna. Ao mesmo tempo que há esse desejo de ser o
único objeto de amor da mãe, há também os desejos de aniquilação e
destruição de qualquer um que venha ameaçar essa relação. Ou seja, são
considerados rivais, sendo geralmente o pai e os irmãos.

Esses pensamentos destrutivos despertam na criança sentimentos conflituosos


de culpa, pois acreditam que essas fantasias podem se tornar reais. Os
sentimentos de amor e de admiração se chocam com os desejos destrutivos e
homicidas, a criança tanto teme a retaliação por parte do genitor, quanto a
perda do amor por parte dele.

No complexo de édipo do menino, o objeto de amor permanece, sendo essa a


mãe. Já no complexo de édipo feminino, a menina precisa substituir esse
objeto de amor pelo pai. No caso do menino, ele direciona desejos amorosos
para a mãe e hostis em relação ao pai, na menina isso se dá de forma
contrária. Como será falado posteriormente, o complexo de édipo no menino se
encerra na fase final do complexo da castração, já na menina se dá início ao
complexo de édipo logo após o fim do complexo da castração.

Na fase fálica, a criança descobre a manipulação e o prazer com os próprios


órgãos genitais. A descoberta da genitália é um acontecimento responsável
pelas fantasias tanto de prazer, quanto sofrimento na criança. No caso do
menino, ele se dá conta do próprio pênis e percebe a diferença anatômica
entre os sexos.

Inicialmente, o menino acredita que há uma universalidade do pênis. Há um


interesse narcísico pelo próprio genital, para ele é algo extremamente
essencial, por isso há uma constante manipulação autoerótica. Isso leva o pai a
fazer ameaças verbais em relação ao pênis do menino. Ao observar os corpos
femininos ele começa a perceber que não há a universalidade do pênis e que
há pessoas que são desprovidas desse genital.

A partir desse momento, o menino acredita que a sua mãe e irmã foram
castradas já que não possuem pênis. Diante disso, é instaurado na criança o
medo da castração, isso gera uma série de sentimentos conflituosos e
angustiantes. O menino acredita que seus desejos edipianos serão
responsáveis por sua castração, pensa que poderá castrado como a mãe. A
partir daí é inaugurada a angústia de castração.

A partir desse conflito, o menino passa a rejeitar os desejos edipianos


direcionados à mãe, sendo reprimidos para o inconsciente. Através disso, o
desejo do menino será capaz de ser direcionado para outras mulheres,
ocorrendo a separação da mãe e, consequentemente, o fim do complexo do
édipo e do complexo da castração.

Como dito anteriormente, o complexo de édipo na menina se dá apenas após o


fim do complexo da castração. Inicialmente, assim como o menino, a menina
possuí desejos sexuais e amorosos direcionados à mãe.

No primeiro tempo, a menina acredita que há a universalidade do clítoris, mas


com a observação dos corpos masculinos (pai e irmão) a criança se dá conta
da existência do pênis. Ao perceber isso, percebe que falta nela a presença do
pênis, isso gera angústia, vergonha, inveja do pênis, inferioridade e,
principalmente, raiva contra a mãe pois acredita que ela é culpada por nascer
sem pênis.

Por a mãe ser castrada, a menina acredita que é castrada como ela por algum
motivo. Isso gera profundo ódio e desejo de afastamento da mãe. Através
disso, há a separação da menina e a mãe, havendo o direcionamento do
desejo ao pai, sendo ele o novo objeto de amor. Ao ver rejeitado o seu desejo
de ser o único objeto de amor do pai, a menina reprime seus desejos e
direciona a outros homens.

O complexo de édipo pode ser dividido em positivo e negativo. No caso do


positivo, a criança possuí desejos de amor e afeto pelo genitor oposto e
desejos destrutivos pelo genitor do mesmo sexo. Já no negativo, há um desejo
amoroso pelo mesmo sexo e desejos destrutivos para o sexo oposto.
Frequentemente, ambos coexistem no indivíduo, embora um predomine sobre
outro.

De forma bem generalizada, é possível dizer que nas relações afetivas e


sexuais que o sujeito terá posteriormente, ele se identificará com um genitor,
enquanto procura características do outro genitor no processo de busca do seu
objeto de amor.

O complexo de Édipo representa um papel essencial para a organização da


personalidade. Ele é responsável por abrir caminho para a triangulação, ou
seja, permite a entrada de um terceiro (pai) na relação dual mãe-filho,
possibilitando a criança à renúncia da possessividade em relação à mãe. Além
disso, ocorre o processo de reconhecer as diferenças de sexo, como também
compreender que os pais são autônomos e possuem os próprios espaços
(ZINERMAN, 2007).

Essa entrada da figura paterna na relação mãe-filho equivale a entrada da Lei.


Há uma quebra da noção de completude que a criança tinha em relação ao
objeto de amor Mãe, ela percebe que não é possível a satisfação do prazer
sem limites e que sempre haverá algo que impedirá a total satisfação. A
criança que acreditava que ele e a mãe se completavam mutualmente, se dá
conta que existe um terceiro elemento nessa relação que quebra a relação
simbiótica. Através da interdição paterna, o superego começa a se solidificar.

Através do complexo de édipo, a criança se dá conta das próprias limitações.


Como Freud afirmou, o superego é herdeiro direto do complexo de Édipo. É
através dele que a criança internaliza regras, proibições, exigências, padrões
de conduta e o próprio relacionamento dos pais. O complexo de édipo é
essencial para a solidificação do superego e, consequentemente, a introjeção
da lei.

O complexo de édipo é extremamente essencial para a escolha de objetos de


amor que o sujeito terá após a fase genital. Apesar dos desejos destrutivos em
relação ao genitor do mesmo sexo, há também uma profunda identificação com
o mesmo, o que será de extrema importância para um estabelecimento de uma
identidade masculina ou feminina, como também para o desenvolvimento
afetivo sexual do indivíduo.

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