influência dos conceitos psicanalíticos é posta de relêvo, por ter
aberto o caminho para a aceitação por parte dos clínicos para os problemas psicossomáticos e organoneuróticos e, também, para a inclusão em sua mente do moderno vocabulário psicodinâmico. A seguir o livro mostra as principais técnicas psicotera- pêuticas utilizáveis pelos médicos gerais, entre as quais citamos a psicoterapia persuasiva e sugestiva, a terapêutica de grupo, a utili- zação da terapêutica pela discussão em família dos problemas do enfêrmo, os procedimentos praxiterapêuticos e, até, os ensinamentos psicoprofiláticos e psico-higiênicos. O estudo de casos acompanha a exposição do tema. O Capítulo n.o II trata da participação do pa- ciente na pesquisa e aponta o fato de que a psicoterapia é em es- sência uma interação de duas pessoas: o médico e o doente. As mais palpitantes questões são postas em relêvo ao tratar dêsse aspecto do problema. O CapítUlo' III trata das questões teóricas da compreensão do homem enfêrmo, da autocompreensão da enfermidade pelo mesmo e das diversas psicoterapias. O Capítulo IV desenvolve o tema da entrevista diagnóstica, analisando suas diferenças técnicas e o que delas pode obter o clínico, finalizando por uma dissertação sôbre as doenças autógenas e iatrógenas, que resultam em grande parte de desconhecimento pelos clínicos de uma série de fatôres, já devidamente estudados pelos psiquiatras, psica- nalistas e psicólogos, fatôres êsses que influem no surgimento e na fixação de preconceitos contra a psicoterapia e de manifestações típicas, que seriam evitadas se tratadas adequadamente, se não fôra êsse desconhecimento. E' livro de grande interêsse para os médicos, em geral, e para aquêles que se dedicam a atividades para-médicas.
Sob êste título apareceu recentemente, em língua caste-
lhana (tradução de Hebe Friedenthal) a obra Introduction of the Work of Melanie Klein. 130 BIBLIOGRAFIA A.B.P,;2
Trata-se de uma clara e sistemática apresentação das
idéias fundamentais da famo~a e controvertida discípula de K. Abraham, radicada na Inglaterra, onde faleceu recentemente, e onde dera origem, a uma escola psicanalítica, que, n.o entender de alguns historiadores, representaria a própria síntese entre as correntes "psicobiológicas", freudianas, e as "psicossociológicas", adlero-culí;U- ralistas. Hanna Segal descura contudo tal problema de uma eventual posição histórica, no âmbito geral da evolução psicanalítica e procura oferecer-nos um quadro sistematizado, claro e bastante acessível de suas teorias, visualizando-as numa apreciação predominantemente analítica, bem coordenada. Falta neste sentido à obra uma síntese conclusiva o que também explica o fato de não ser pôsto em pauta o significado essencial da tese das "relações objetais", que consti- tuiria o cerne da renovação teórico-metodológico de M. Klein. Mesmo assim o sentido desta tese, transparece implicitamente, e impregna a seqüência de aspectos que o livro nos oferece, nos seus oito capítulos, cujo conteúdo nos permite agrupá-los como segue: 1) O capo I, sôbre a Fantasia, - que representa uma pedra fundamental pára a interpretação da vida inconsciente e sua dinâmica dentro da concepção kleiniana; excelente ponto de partid2 portanto para a compreensão e explanação ulterior. 2) Os caps. lI, III, IV, nos quais é analisada de forma pre- cisa e clara a primeira fase da evolução psicodinâmica, nos primeiro-, meses da vida hum2na, a fase "esquizoparanóide" em que o objeto se dá fenomenalmente cindido, ao sujeito, em bom e mau em gra- tificador e perseguidor. De modo particular, é apreciado no capo IH a origem e os efeitos da "inveja", e, no IV cap., a psicopatologia desta fase. 3) Os caps. V, VI, VII e VIII, nos quais é apresentada a evolução da etapa sucessiva com sumj ocorrências básicas; a fase "depressiva" caracterizada pela descoberta da unidade do objeto, com as culpas e depressões que tal descoberta acarreta, as defesas maníacas que suscita (cap. VI) e as necessidades reparadoras que determina (cap. VII). Um assunto estritamente ligado a essa fase, mas que merece uma menção destacada é o que figura no capo VIII ("Estágios precoces do complexo de Édipo"), que como se sabe re- presenta um dos pontos revolucionários da doutrina kleiniana em oposição à freudiana, pelo qual a evolução psicossexual tende a dis~ A.B.P./2 BIBLIOGRAFIA 131
tribuir-se numa seqüência de momentos,. não mais cronológicos, e
sim, dinâmicos. Deixa assim de haver aquela idade específica para o "aparecimento" do'Complexo de Édipo - bem como de outros fatos evolutivos - para dar lugar a uma evolução intrínseca mais do que sucessiva, fazendo assim remontar às etapas cronológicas primor- diais todo o desenvolvimento do indivíduo. 4) Finalmente aparece um "Glossário" de quatro páginas, particularmente útil porque traduz a terminologia técnica kleiniana, dando-nos assim uma constelação de definições quer funcionais, quer, principalmente, descritivas, dos conceitos básicos postulados ou desenvolvidos por M. Klein. O livro está baseado numa série de oito aulas que a autora ministrou, durante vários anos, no Instituto de Psicanálise de Lon- dres, a alunos do terceiro ano do seminário psicanalítico. As oito aulas foram assim transformadas em oito capítulos destinados não mais aos psicanalistas em formação, mas Eim ao público em geral. Consegue realmente a autora tornar claras e acessíveis as idéias fundamentais de M. Klein, mesmo para o leitor escassamente ini- ciado no assunto, desde que êste possua uma noção bastante clara da doutrina de Freud e certa compreensão das teorias psicanalític~.s. Há nesse sentido, uma dupla ressalva da autora: por um lado a obra presume um conhecimento prévio de Freud - com a qual deveria estar o leitor familiarizado - e, por outro lado, pre- tende ser uma iniciação à obra de M. Klein - da qual não quer contudo dispensar ou substituir a leitura posterior. Trata-se, portanto, de uma obra introdutória, que oferece grandes vantagens pela cla- reza e sistematização. Em cada capítulo encontram-se, após uma explanação teórica do assunto, fartos e detalhados exemplos clínicos, particular- mente aproveitáveis para o leitor familiarizado com a metodologia e a técnica psicanalítica. Convém contudo ressalvar que tais exemplos poderão constituir um pequeno impasse para a compreensão dos que não estiveram devidamente entrosados com o lado mais prag- mático da terapia psicanalítica. No seu conjunto, pode-se afirmar que esta obra veio pre- encher uma lacuna na história geral da Psicanálise, dando-nos um quadro global e analítico das doutrinas de um de seus maiores expoentes. FRANCO SEMINÉRIO