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A.B.P.

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influência dos conceitos psicanalíticos é posta de relêvo, por ter


aberto o caminho para a aceitação por parte dos clínicos para os
problemas psicossomáticos e organoneuróticos e, também, para a
inclusão em sua mente do moderno vocabulário psicodinâmico.
A seguir o livro mostra as principais técnicas psicotera-
pêuticas utilizáveis pelos médicos gerais, entre as quais citamos a
psicoterapia persuasiva e sugestiva, a terapêutica de grupo, a utili-
zação da terapêutica pela discussão em família dos problemas do
enfêrmo, os procedimentos praxiterapêuticos e, até, os ensinamentos
psicoprofiláticos e psico-higiênicos. O estudo de casos acompanha a
exposição do tema. O Capítulo n.o II trata da participação do pa-
ciente na pesquisa e aponta o fato de que a psicoterapia é em es-
sência uma interação de duas pessoas: o médico e o doente.
As mais palpitantes questões são postas em relêvo ao
tratar dêsse aspecto do problema. O CapítUlo' III trata das questões
teóricas da compreensão do homem enfêrmo, da autocompreensão
da enfermidade pelo mesmo e das diversas psicoterapias. O Capítulo
IV desenvolve o tema da entrevista diagnóstica, analisando suas
diferenças técnicas e o que delas pode obter o clínico, finalizando
por uma dissertação sôbre as doenças autógenas e iatrógenas, que
resultam em grande parte de desconhecimento pelos clínicos de uma
série de fatôres, já devidamente estudados pelos psiquiatras, psica-
nalistas e psicólogos, fatôres êsses que influem no surgimento e na
fixação de preconceitos contra a psicoterapia e de manifestações
típicas, que seriam evitadas se tratadas adequadamente, se não fôra
êsse desconhecimento.
E' livro de grande interêsse para os médicos, em geral, e
para aquêles que se dedicam a atividades para-médicas.

ELSO ARRUDA

HANNA SEGAL, Introducción a Ia Obra de Melanie


Klein, Editorial Paidos - B. Aires - 124 págs.
- 1965.

Sob êste título apareceu recentemente, em língua caste-


lhana (tradução de Hebe Friedenthal) a obra Introduction of the
Work of Melanie Klein.
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Trata-se de uma clara e sistemática apresentação das


idéias fundamentais da famo~a e controvertida discípula de K.
Abraham, radicada na Inglaterra, onde faleceu recentemente, e onde
dera origem, a uma escola psicanalítica, que, n.o entender de alguns
historiadores, representaria a própria síntese entre as correntes
"psicobiológicas", freudianas, e as "psicossociológicas", adlero-culí;U-
ralistas. Hanna Segal descura contudo tal problema de uma eventual
posição histórica, no âmbito geral da evolução psicanalítica e procura
oferecer-nos um quadro sistematizado, claro e bastante acessível de
suas teorias, visualizando-as numa apreciação predominantemente
analítica, bem coordenada. Falta neste sentido à obra uma síntese
conclusiva o que também explica o fato de não ser pôsto em pauta
o significado essencial da tese das "relações objetais", que consti-
tuiria o cerne da renovação teórico-metodológico de M. Klein.
Mesmo assim o sentido desta tese, transparece implicitamente, e
impregna a seqüência de aspectos que o livro nos oferece, nos seus
oito capítulos, cujo conteúdo nos permite agrupá-los como segue:
1) O capo I, sôbre a Fantasia, - que representa uma
pedra fundamental pára a interpretação da vida inconsciente e sua
dinâmica dentro da concepção kleiniana; excelente ponto de partid2
portanto para a compreensão e explanação ulterior.
2) Os caps. lI, III, IV, nos quais é analisada de forma pre-
cisa e clara a primeira fase da evolução psicodinâmica, nos primeiro-,
meses da vida hum2na, a fase "esquizoparanóide" em que o objeto
se dá fenomenalmente cindido, ao sujeito, em bom e mau em gra-
tificador e perseguidor. De modo particular, é apreciado no capo IH
a origem e os efeitos da "inveja", e, no IV cap., a psicopatologia
desta fase.
3) Os caps. V, VI, VII e VIII, nos quais é apresentada a
evolução da etapa sucessiva com sumj ocorrências básicas; a fase
"depressiva" caracterizada pela descoberta da unidade do objeto,
com as culpas e depressões que tal descoberta acarreta, as defesas
maníacas que suscita (cap. VI) e as necessidades reparadoras que
determina (cap. VII). Um assunto estritamente ligado a essa fase,
mas que merece uma menção destacada é o que figura no capo VIII
("Estágios precoces do complexo de Édipo"), que como se sabe re-
presenta um dos pontos revolucionários da doutrina kleiniana em
oposição à freudiana, pelo qual a evolução psicossexual tende a dis~
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tribuir-se numa seqüência de momentos,. não mais cronológicos, e


sim, dinâmicos. Deixa assim de haver aquela idade específica para o
"aparecimento" do'Complexo de Édipo - bem como de outros fatos
evolutivos - para dar lugar a uma evolução intrínseca mais do que
sucessiva, fazendo assim remontar às etapas cronológicas primor-
diais todo o desenvolvimento do indivíduo.
4) Finalmente aparece um "Glossário" de quatro páginas,
particularmente útil porque traduz a terminologia técnica kleiniana,
dando-nos assim uma constelação de definições quer funcionais,
quer, principalmente, descritivas, dos conceitos básicos postulados ou
desenvolvidos por M. Klein.
O livro está baseado numa série de oito aulas que a autora
ministrou, durante vários anos, no Instituto de Psicanálise de Lon-
dres, a alunos do terceiro ano do seminário psicanalítico. As oito
aulas foram assim transformadas em oito capítulos destinados não
mais aos psicanalistas em formação, mas Eim ao público em geral.
Consegue realmente a autora tornar claras e acessíveis as idéias
fundamentais de M. Klein, mesmo para o leitor escassamente ini-
ciado no assunto, desde que êste possua uma noção bastante clara
da doutrina de Freud e certa compreensão das teorias psicanalític~.s.
Há nesse sentido, uma dupla ressalva da autora: por um
lado a obra presume um conhecimento prévio de Freud - com a
qual deveria estar o leitor familiarizado - e, por outro lado, pre-
tende ser uma iniciação à obra de M. Klein - da qual não quer
contudo dispensar ou substituir a leitura posterior. Trata-se, portanto,
de uma obra introdutória, que oferece grandes vantagens pela cla-
reza e sistematização.
Em cada capítulo encontram-se, após uma explanação
teórica do assunto, fartos e detalhados exemplos clínicos, particular-
mente aproveitáveis para o leitor familiarizado com a metodologia
e a técnica psicanalítica. Convém contudo ressalvar que tais exemplos
poderão constituir um pequeno impasse para a compreensão dos
que não estiveram devidamente entrosados com o lado mais prag-
mático da terapia psicanalítica.
No seu conjunto, pode-se afirmar que esta obra veio pre-
encher uma lacuna na história geral da Psicanálise, dando-nos um
quadro global e analítico das doutrinas de um de seus maiores
expoentes.
FRANCO SEMINÉRIO

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