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BRINCADEIRAS INDÍGENAS

As crianças indígenas brincam muito. Muitas brincadeiras tradicionais brasileiras têm


influência indígena.
Vou passar pra vocês algumas dessas brincadeiras.
Compartilhe com seus alunos, eles vão adorar!

Jogo de gavião

Todas as crianças, meninos e meninas, formam uma grande fila, cada um agarrando o corpo do
colega da frente com as mãos. A brincadeira pode começar com a criança mais alta do grupo,
representando o gavião. Este se posta a frente da fila e grita: piu. Esse som representa a
chamada do Gavião que quer dizer “estou com fome”.

O primeiro jogador da fila estende a perna direita depois a esquerda para a frente e pergunta:
quer isso? O gavião responde negativamente, repetindo a brincadeira com cada jogador até
chegar à última criança. A esta o gavião diz sim e parte para sua perseguição, correndo para
qualquer lado da fila. Os demais jogadores tentam impedir que o gavião pegue o último da fila,
contorcendo a “corrente” para a esquerda e para direita. Nesse momento os menores acabam
caindo no chão, criando um grande alvoroço. Se o gavião conseguir atingir o seu objetivo, volta
a seu posto para fazer uma nova tentativa.

Quando conseguir pegar a presa, leva-a para um lugar escolhido como seu ninho, prosseguindo
o jogo até que o último da fila tenha sido pego.

Jogo do peixe pacu

Como na brincadeira anterior, as crianças formam a corrente, enquanto alguém é escolhido para
ser o pescador. A fila começa a se mexer, feito uma serpente e seus integrantes cantam waitá
ma-ge lé ta-pe-wai (este é um pacu). O pescador corre ao longo da fila para tentar tocar o último
jogador com uma vara ou um pedaço de pau, que representa a vara de pescar, enquanto as
crianças que formam a corrente procuram impedir o seu objetivo.

Jogo dos patos marreca “wawin”

É uma brincadeira que simula a caça aos patos. Os participantes formam uma grande fila, cada
um segurando o da frente, com os mais fortes puxando a fila. Estes saem correndo rápido, em
ziguezague, de maneira que o extremo posterior da corrente se agita, fazendo os pequenos
caírem com freqüência. De repente, todos param, simulando o momento em que os patos entram
na água. Um menino entre os maiores vira caçador e começa a disparar com as mãos nos patos
(as crianças menores), fazendo tac-tac-tac. Um a um, os patos que são tocados com as mãos
estendidas do caçador caem no chão, “mortos”, e levados com presas até que não sobre nenhum.

INTRODUÇÃO

As brincadeiras de crianças constituem no nosso entender um dos meios mais fidedignos para se
verificar as práticas corporais de uma determinada sociedade, principalmente no que se refere à
prática de jogos e brincadeiras e sobretudo porque define o quanto ainda existe de tradicional
nessas práticas.
Em nossa estada em algumas localidades Tikunas, povos indígenas que localizam-se na região
do Alto Rio Solimões no Estado do Amazonas, tivemos oportunidade de registrar a utilização de
brincadeiras típicas como o arco e a flecha feitos com ripas e tala da palmeira de buriti, pião,
lançamento de bolinha de barro sobre a ponta de um pau para o rio, peteca plástica, pinchas para
"tecar" como bolinha de gude, dentre outras.

Em conjunto com as crianças Tikunas registramos vários tipos de brincadeiras similares as que
conhecemos, estando aí provavelmente a sua origem. Vimos também outras brincadeiras que
são totalmente localizadas, ou seja, próprias da cultura dos Tikuna.

As brincadeiras envolvem uma boa variedade de formações como colunas, fileiras, rodas, e
ações como corridas, pega-pega e esconde-esconde, utilizando figuras de animais locais como o
gavião e a onça além de figuras mitológicas como o curupira.

DESCRIÇÃO DE ALGUMAS BRINCADEIRAS

SOL E LUA - üacü rü tawemüc’ü

Essa brincadeira também é conhecida em outras localidades com outros nomes como
PASSARÁ DE BOMBARÉ.

Crianças dispostas em coluna por um, segurando na cintura do que está à frente. Duas outras
crianças, representando o SOL E A LUA, fazem uma "ponte", mantendo as mãos dadas acima.
Cantando, as crianças passam sob a ponte várias vezes. Numa das vezes o Sol e a Lua prendem
o último ou os dois últimos. Perguntam-lhe para que lado querem ir. A criança escolhe e vai
colocar-se atrás do Sol ou da Lua. E assim continuam até terminar. Quando todas as crianças
passam, têm-se dois partidos. A duplas mantém os braços dados, e todos mantêm-se segurando
na cintura do colega da frente. Vão puxar-se, para ver que partido ganhará. Ganhará aquele
grupo que conseguir "puxar" o outro. E puxam várias vezes, marcando ponto para quem
consegue derrubar ou desarticular o outro partido.

Nesse jogo vê-se não somente o uso da força. Surge a questão do poder de decisão, que é
colocado em evidência. É dada à criança a opção de escolha do partido ao qual quer pertencer.
Além disso é também trabalhada a noção de equipe, de conjunto, pois é todo um partido
fazendo força para puxar o outro partido.

CABAS - Maë

Essa é uma braincadeira conhecida em todas as comunidades por nós visitadas. As crianças são
divididas em dois grupos: um de roçadores e outro que representa as cabas. Essas sentam-se
frente à frente numa pequena roda, cada uma segurando na parte de cima da mão do outro,
como se fosse o ninho de cabas. Cantam e balançam as mãos para cima e para baixo. Os
roçadores fazem movimentos com os braços, como se estivessem roçando sua plantação até
chegar próximo ao ninho de caba. Um deles, sem perceber bate no ninho e as cabas saem a voar
e a picar os roçadores. É um salve-se quem puder.

As cabas ou marimbondos são insetos muito comuns nas matas. Uma picada de caba pode
ocasionar muita dor, febre e moleza na pessoa, que às vezes fica um dia sem poder trabalhar,
dependendo do local onde foi picado. A moral dessa história é que "quem mexe em casa de
caba acaba picado por ela".

O nosso informante, Senhor João Farias, morador dessa localidade, explicou algumas passagens
da história dos Tikunas, inclusive a origem dessas brincadeiras. Ele disse que "Yoí foi o
primeiro homem que existiu. Ele era só no mundo. Então, perto dele existia essa caba. O nome
dessa caba era MATIE. Mas essa caba não queria que Yoí existisse, nem que ninguém existisse
no mundo. A caba vivia brigando o tempo todo com Yoí. Quando Yoí tirou as crianças do seu
joelho (a origem dos Tikunas conta que Yoí e seus irmãos nasceram do joelho de Nhupata, pai
de todos), a caba continuou querendo matá-lo e as crianças também. As cabas viviam numa
casa, construída no galho da árvore, que balançava ao vento. Então essa história conta essa
briga do Yoí com as cabas".

É exatamente essa a história que as crianças contam nessa brincadeira. Até os movimentos do
ninho balançando na árvore é bem representado pelas mãos colocadas uma sobre a outra.

GAVIÃO E GALINHA - O’ta i inyu.

Uma criança mais forte é escolhida para ser o gavião, ave forte e comedora de pintinhos. Outra
criança representa a galinha, que fica de braços abertos, tendo atrás de si todos os seus
pintinhos. O gavião corre para tentar comer um dos pintos, mas só pode pegar o último. A
galinha tenta evitar dando voltas e mais voltas, impedindo que o gavião pegue seu pintinho. O
gavião só pode pegar o pinto pelo lado. Não pode tocar por cima. Quando ele consegue, come o
pintinho, ou seja, a criança fica de fora da brincadeira. Algumas vezes a criança passa a ser
também gavião.

Essa é uma brincadeira comum entre as crianças. Quase todos conhecem. Em outra localidade
pode até mudar de nome, mas sempre há a figura do gavião como aquela fera que vem para
comer os pequenos animais que não podem se defender.

O Sr. João Farias explica que "essa brincadeira existe desde o tempo de Yoí. Esse mesmo povo,
os Tikunas, existiam e então apareceu uma fera, no caso o gavião, que na gíria se chama
INYU. Essa fera vinha pegar crianças e velhos que não sabiam se defender. Um dia a fera
deixou de aparecer. E para não morrer a tradição, hoje as crianças brincam de gavião e
galinhas, representando a história, que um dia foi verdadeira".

MELANCIA - Woratchia

Crianças representam as melancias, ficando agachadas, em posição grupada, com a cabeça


baixa, espalhadas pelo terreno. Existe o dono da plantação de melancias, que fica cuidando, com
dois cachorros. Existe outro grupo, que representa os ladrões.

Os ladrões vêm devagar, e experimentam as melancias para saber quais estão no ponto de
colheita, batendo com os dedos na cabeça das crianças. Quando encontram uma melancia boa,
enfiam-lhe um saco, e saem correndo com ela. É aí que o cachorro corre atrás do ladrão para
evitar o roubo.

Quer nos parecer que essa brincadeira é representativa do mundo diário e cotidiano dos Tikunas.
A melancia é uma das frutas mais cultivadas por eles na várzea. A figura do ladrão é
representativa daqueles que não trabalham, preferindo roubar o que encontram pronto. E o
cachorro, sempre fiel ao seu dono, é a segurança do dono da plantação.

BRIGA DE GALO - ota arü nü

Crianças aos pares, em apoio numa das pernas, segurando no tornozelo da perna livre
flexionada para trás. A outra mão fica ao peito. Ao sinal, uma criança tenta desequilibrar a
outra, empurrando com o ombro. Ganhará aquele que conseguir ficar mais tempo em equilíbrio,
ou seja, aquele que levar menos tombos.
Vê-se que este é um jogo de disputa acirrada. Entram aqui as qualidades de equilíbrio, força e
atenção. Cada criança quer manter-se de pé, e faz de tudo para derrubar o colega. Um não pode
perder o controle sobre o outro, sob pena de ser derrubado.

O Senhor João nos explica a origem dessa brincadeira: "Havia um Rei, que tinha uma filha. E
foi trabalhar na casa do rei um rapaz chamado João. Este apaixonou-se pela filha do rei e ela
por ele. João roubou a moça. E para ganhar o Rei, sabendo que ele gostava de briga de galo,
João treinou dois galos e levou ao rei para que ele apreciasse a briga".

VIDA

Jogo de bola semelhante à "queimada". Dois partidos, em seus campos. Uma criança lança a
bola e tenta acertar em alguém do outro partido. Se conseguir acertar e a bola cair no solo, a
criança "queimada" sai do jogo.

CURUPIRA

Uma criança fica com os olhos vendados. A outra vem e faz com que aquela dê três voltas
girando. Depois, ela pergunta: "que que tu perdeu"? E ela responde "perdi uma agulha; perdi um
terçado; E todas as crianças fazem suas perguntas. Quando chega a vez da última criança, esta
pergunta-lhe o que o Curupira quer comer. Quando o curupira tira a venda e vê que não tem a
comida que ele pediu, sai correndo atrás das crianças e todos saem em disparada para não serem
apanhados. Quem for apanhado passa a ser presa do curupira ou vai desempenhar o seu papel

Essa brincadeira assemelha-se a algumas do nosso conhecimento, tipo "cabra cega". Não
conseguimos entender por que chama-se Curupira. O Curupira é uma figura lendária
amazônica que tem a cabeça virada para trás. Não há nada na brincadeira que lembre a figura
do Curupira.

PIRARUCU

Em círculo, de mãos dadas, uma criança no centro. Essa criança que está no centro desloca-se e
ao pegar no braço do colega pergunta-lhe "qual é essa madeira?". A outra criança responde pelo
nome de uma madeira da região. A seguir, o "pirarucu" apoia-se e senta-se nos braços de dois
colegas, que o lançam para o ar. Prossegue assim até terminar a roda. Quando termina, começa
a fuga. O pirarucu corre e tenta sair do "lago" simbolizado pela roda. O colegas, de mãos dadas,
tentam impedir a saída com os braços, que representam madeiras fortes. Quem não consegue
evitar a saída vai substituí-lo.

FESTA DE SAPO

Crianças mantêm-se de braços abertos, abraçando o tronco de uma árvore. Cada uma vai
chegando e colocando-se atrás do outro que já lá está, na mesma posição. Quando todos estão
posicionados, iniciam os movimentos para frente e para trás, cantando, imitando a voz do sapo.

TUCUXI

Essa brincadeira é feita dentro d’água. São dois grupo de crianças, representando os botos e os
pescadores. Os botos permanecem mergulhando e boiando. Quando saltam fora d’água, os
pescadores tentam acertá-los com as flechas. Quem for flechado, morre e se quiser, troca de
papel.
O boto Tucuxi é uma figura das mais tradicionais no imaginário popular amazônico. As
histórias de boto são muito contadas e todas remetem ao fato de que o boto aparece nas festas,
como um homem bonito, de branco e usando chapéu. É sempre disputado entre as mulheres,
dada a sua classe e beleza. Mas no final da festa ele some jogando-se nas águas, retornando à
sua condição de boto, deixando moças grávidas, na terra, cujos filhos não terão pais. Talvez por
isso, na brincadeira, o objetivo maior é matar o boto.

CORRENTE

Crianças dispostas em fileira, de mãos dadas. A última será o guia a puxar a corrente, e virá
passar por baixo dos braços das duas primeiras. A penúltima criança da corrente nunca
passa por baixo, ficando com o braço cruzado à frente de corpo. Na continuação, passarão
por baixo dos braços de cada dupla, até terminar. E ao terminar, estarão todos de braços
cruzados à frente do corpo.

BRINQUEDOS CONFECCIONADOS

ARCO E FLECHA E BALADEIRA (estilingue)

Antigamente as crianças brincavam muito de arco e flecha e de baladeira. Porfiavam


principalmente em duas situações: para ver quem "balava" mais passarinho, ou para ver quem
flechava mais calango.

Para confeccionar a baladeira as crianças usavam a seguinte estratégia: apanhavam uma tala de
uma folha de árvore, tipo talo de mamão, que tem um orifício. Tampavam um lado e enchiam
de látex. Deixavam secar e depois retiravam o fio grosso de borracha para fazer o brinquedo.

As flechas e os arcos eram confeccionadas por eles, ensinados pelos pais e avós. Usavam o talo
de buriti para confeccioná-los. As crianças juntavam-se e treinavam, procurando melhorar a
pontaria. Para treinar, matavam os calangos.

COQUITA

A coquita é a semente de uma árvore, tendo a forma de um pequeno sino. Para preparar a
coquita, atrela-se um cabinho de madeira amarrado à parte externa dessa semente, deixando o
fio com um comprimento de pelo menos 30 cm. Para executar o jogo, segura-se pelo cabo com
uma só mão, colocando-o embaixo da coquita . A seguir movimenta-se lançando a coquita para
cima, de forma que execute um giro no ar e caia de boca para baixo, exatamente em cima do
cabo de madeira.

Repete-se contando o número de acertos, até que o jogador erre. Ganha quem fizer o maior
número de pontos. Há quem acerte mais de duzentas vezes.

A coquita parece tipicamente tikuna, e a árvore também é típica da região.

PIÃO

O pião é um tipo de brincadeira muito encontrado em muitas comunidades principalmente em


São Leopoldo e na área de São Paulo de Olivença. As crianças brincam muito de pião e há
várias formas de disputa.

1. Traça-se uma linha no solo e joga-se o pião para ver quem acerta na linha.
2. Trata-se um círculo no solo e joga-se o pião para ver quem acerta mais próximo do centro.

Em ambos os casos, quem está mais perto da linha, retoma seu pião na mão, e joga em cima do
outro pião, tentando colocá-lo mais longe. Às vezes o pião é ferido, partindo-se.

3. Lançar ao ar, e aparar em uma das mãos.

O pião é confeccionado pela própria pessoa.

PETECA (bola de gude)

Antigamente era feita de barro. Confeccionavam 40, 50 bolinhas. Quando secavam, estavam
prontas para uso. Há vários tipos de disputa, inclusive a dinheiro.

1. Colocar bolinhas na linha traçada no chão. A alguns metros, outra linha é traçada. Dessa linha
é que os jogadores vão fazer o jogo. Têm de jogar e acertar as bolinhas que estão na linha.
Quando acertam, ganham uma bolinha.

2. Roda traçada no solo, com as bolinhas dentro. A dois ou três metros traça-se uma linha, que
será o ponto de partida. Desta linha os jogadores jogam as bolinhas para acertar as que estão no
círculo, levando-as para fora. Quem acertar, ganha a bolinha.

3. Outra forma é traçar um triângulo, e colocar uma bolinha em cada vértice. Da mesma linha
distante os jogadores vão jogar, para tentar acertar nas bolinhas, tirando-as do lugar. Quem
acerta, leva.

MOTO-SERRA

É confeccionada pelas crianças e pode ser feita de duas tampinhas de refrigerante, tipo
chapinhas, aplainadas. Furam-se dois buracos no centro das tampinhas, e passa-se um fio por
entre eles, amarrando-se as pontas. Prende-se nos dedos médios e com movimentos de
aproximação e distanciamento dos dedos, a cordinha vai enrolando e desenrolando, e as
tampinhas, parecendo duas rodinhas, giram ora num sentido, ora no outro. A disputa consiste na
tentativa de cortar as linhas do brinquedo do colega. Se tocar no corpo, é possível que corte. Por
isso, moto-serra.

LANÇAMENTO DA BOLINHA DE BARRO

A crianças confeccionam bolinhas de barro, espetando-as na ponta de um espeto. A seguir


lançam ao rio, para ver quem lança mais distante. Hoje já quase não se vê essa disputa.

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