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O AMOR na teoria de JACQUES LACAN O gozo pleno, oriundo da mae, é interditado pelo pai. A partir dai, o homem vive uma busca constante por sanar sua incompletude. Cada mulher é uma tentativa, sempre fracassada, de saciar seu desejo primordial POR WALTER CEZAR ADDEO 16 célobre quanto © desabaio de _—-Do que trata esse didlogo platonico? ; Freud quando perguntouexaspera-__Primeiramente, ele nos é contado em ter- do~"afinal,oquequeremasmulhe- cer: méo. Platéo no estcrva presente res?" (¢ ele realmente no sabic)-, quando os fatos aconteceram. Ele cuve 0 foram duas frases de Jacques Lacan ao relato da boca de Apoledaro que, por swat enunciar que “ct relagéio sexual nd existe” vez, o ouvira de Aristodemo, o qual parti- e. finalmente, que “a mulher nao existe’. _cipara efetivamente do simpésio oferecido Dois paradoxos, aparentemente, uma vez por Agattio, Nese simpésio, falaram Pau- que a humanidade se maniém por inter- _sénias, Eriximaco, Aristéfanes, 0 proprio médio do ato sexual e as mulheres repre- aniitriéo Agatdo e finalmente Sécrates. sentam metade da espécie humana, Para Todos falam sobre o amor que é 0 tema esclarecer essa quesiéo, teremos de refa- escolhido para aquela notte, Alcibiades zer clguns percursos dar teoria lacaniana fez uma entrada tardia e coloca Sécrates colocar alguns personagens ficcionais numa sttuagGo delicada ao revelar a rela- com sou dive a titulo de ilustragdo. G0 amorosa e de admirago que ambos Em seu seminéio inttulade A trans- —teriam um pelo outro, Lacan iré emalisar eréncia, Jacques Lacan (1901-1981) fart cada uma dessas folas, privilegiando o ‘uma belissima exegese do texto conheci- _ditlogo final entre Sécrates © Alcibiades do como © banquete, em que Plaiéo nos. que nos apresentaré 0 termo "Agalma’, presenta Sécraties falando sobre o amor, umer das primeiras formulacSes do que sobre odesejoecndeencontramosagéne- _sertt futuramente 0 “objeto a’. Interessa- se de um dos concettos Jaccnianos funda- nos apenas uma em especial. A fala de fee oo ae Lee mentais para suateoria—“oobjetoa”—este —Sécrates, que na verdade, néo seria pro- Seta enimain estranho dispositive que arrastaréodesejo _priamente dele, pois ele estaria apenas re- Asoc ais de Gigs humamo para uma deriva sem fim, mesmo _latamdo o que ouvira de Diotima de Manti- ne wadbe@ielomlr —_tortemdo ancoré:lo em solugées parciais. _néa, ou soja, apesar de néo estar presento Ruosonstecotide 29 im £9 ek Ge PSICANALISE Em 0 Banquet, Pata + fox una geedaga do enor ait sos iis cua explo dada ele por tina de Moning, que ist uma scedtisogroga 20 Fosorin. “A libertacdo do desejo conduz & paz interior” LAO-TSE a no banquete, ela fala pela boca de Sé- crates. Lacan defender a tese de que & fala, por meio de sua “alma feminina” ¢ que usa esse subterfigio, inclusive, para: néo constran- ger eu aniitriée Agatéo, cujas teses seréo dosconsiderades. E o que fala Diotima de Mantinéa por meio de Sécrates? Um relato psicolégico sobre a génese do amor que espanta pela argiicia e modemidade, co onto de Lacan ¢ recuperar por completo em suc clinica. Vejamos o relato: Diotima conta que Eros, 0 deus do ‘amor, foi gerado no dia em que nasceu ‘Airodite, quando os deuses participa- ‘Sécrates quem realment vam de um banquete. Entre eles estava Poros, filho de Métis, também chamaclo de “o astucioso’, “aquele que tem expe- dione”, que, completamente embriagado com néciar, entrou no jardim de Zeus ¢ adormeceu. Este nome, etimologicamen: te, também remete & ideic de uma abertura, uma passa- gem, uma travessia, enfim, um furo, um vazio, TTerminado 0 jantar dos deu- ses e apesar de néo ter sido convidada, aparece Penia cue velo mendigar restos do fes- tim. Penia @ a personificagéo da pobreza, der caréncia. Ei mologicamente provém de um verbo que significa “afligi-se", ‘rabalhar por necessidade’, ‘esforgar-se com’ e posterior monte também agrega 08 sen- tidos de “estar em dificuldade IS “ser pobre”, Penia em sua mi- }2 sérict ao ver Poros embriagado: 8 © adormecido desejou ter um 8 tho com ele. Deiiouse ao seu 8 lado e concebeu Eros. iotilo wmponsenconit comb Eros traré consigo as marcas dessa dupla génese. De sua mie Penia, cuja pobrezara define como eterna mendican- te, ele herdaré uma falta congénita e se esforgaré sempre para obter aquilo que no tem, ou seja, vive sob o emblema de uma caréncia jamais preenchida, mas que se esforgaré: por compensa. Para isso herdou de seu pai Poros « astticia € 0 expedionto necessérios para tentar conseguir aquilo que néio possui. Dessa Eros, o deus do amor, nasceu de Penia (caréncia, pobreza) e Poros (asticia). Da dialética entre caréncia e astucia move-se o desejo dialética entre caréncia e astiicia move- se 0 desejo, agite-se Eros infinitamente, £ a matriz Iégica, remota, desse futuro "objeto a” teorizado por Lacan, essa le- trai que procura e est sempre no lugar do um “outro” que nunca é aleangado.! Em Lacan, essa incompletude e ca- réncic universalizam-se, atingindo agora toda e qualquer pulsto do desejo. Mas como se veré na aventura da Psicandilise, toda atualizagéo do desejo serd sempre sob uma forma parcial, compensatéria para apederare daquilo que Lacan chameu de “o Nome-do-Pa!", essa nowa formula interpretativa do complexo de Ediipo levadar a efeito pela revolugao laca- nigna que, expandindo seu antigo sentido oo ieetrcos vinci fi ulksodo o Deiontio Miwcatimalgco, sel Ide no Srodao. Ell Vesn. Pe epee, 1998 id Mare de Wiiondbe Bougese Loca fia hover lo ali do suo deseante que le buscar. A resposto sobre o gue sein st ligne ite det, de a pad, decgo que rio mais ete psiquica, Para entendermes um pouco melhor rovidade| da clinica lecaniana, Jembremos que esse simbclo "a", const mo “obje néio'se refere & primeira: ira letra dx letra: do allabeto, mas & pri polavra francesa “autre” (cutro, em portu: niniasculo caiteridade, a que eaié para além do sulel- Assim, gués) © que essa letra “a” en quali pporlanto, sempre um eecjante © que ele quer para ompensatéria, temos de pro- psiquica rar responder sempre quem & Lacan comegaria a pensar este con: Jeitura de Luto e Melan feud, Juan-David Nasio observa 2 bastante je que neste artigo, ‘ao se referir & pessoa que foi perd de quem se faz 0 luto, Froud escreve a pat Javras “objeto”, e ndo "pe Freud, por- uma base parc: Note-se que nesta génese freudiana do conceito Jacaniano j@ se inscreve a de alguma coisa que te mais, de um fontasma do qual ideia de uma per temos de fazer o luo para nos libertar- mos de sua lembranea. Para o homem & o trauma da castragéo, da perda simbdk de de ter ac ca do Salo, dane ao Nome-do-Pai, essa instémcia de poder que precisaré ser recuperada de alguma forma, Portanto instaura-se aqui uma ca: réncia que sé poderé ser preenchida par- cialmente ou tra ormada em ni na clinica psicanalitica, quando, entéic, no proceso de transferéncia, 0 cal assume ser 0 “objeto a’, tornando-se, ele este “outro do desejo” do anal gando para que ele supere, INCONSCIENTE neemes mais de 2 mil anos da ra encontrar Ja cena desse Banquete dos seus semi eques Lacan n inado O desejo e su ceitualizacto interpretc: do que chamou inicialmente de “peque- no objeto ai, tema que além de ser um desdobramento do conceito de “o Nome- do-Pai" remeteu o inconsciente parc uma leitura definitivamente linguistica. Lacan entender 0 inconsciente radi jente © {turade como uma lingua gem, e isso teré consequéncias sérias tanto na prética psicanalitica quanto na teoria linguistica, abrindo duas frentes de batalha. Por corresponder a um in: nsciente entendido como falta, ot lin- ela mesma, seré para sempre significagéo. Entre a guager nomeccéio das coisas e sua significagéo haveré sempre uma sutura mal feita. As- sim, nenhum significante comportaré um significado completo © irredutivel mas d .aré constantemente por uma cadei de significantes arbitrérios, sem nunc ter fim, $6 uma atitude coman: dada pela necessidad pragmética de miotona: 31 wre GP PSICANALISE comunicagéo 6 que pode interromper, barrar esse sentido sempre em aberto do significante e fazé-lo cristalizar-se por algum tempo. Mas 0 desejo sempre conseguiré fazer que os significantes se movam e falaré através das fissuras deixadas descobertas. Essa visada linguistica do incons ciente, inieiada por Lacan quando de suas leituras da obra de Ferdinand de ‘Saussure, iré encontrar sua solugao ma- dura: na leitura que faré de Roman Jako- bson. Nesse momento, introduz em sua teoria dois elementos novos: a metéfora e a metonimia. Elas seréio para Lacan as duas leis fundamentais do incons- ciente. Deslocamentos (metonfmias) condensagées (metéloras) responderao também pela fala do inconsciente, onde estrutura metonimica de justaposigées e acoplamentos sera 0 ponto de refe- réncia para caracterizar @ estrutura do dosejo. No proceso metonimico temos um deslocamento em que uma parte tomada pelo todo, da mesma forma que A maior fantasmagoria eleita pelo masculino ser o do feminino, visado como objeto de gozo total, impossivel de ser completado no “objeto a alguma coisa toma o lugar, parcialmente, do desejo interditado ao sujeito. Igualmente, na metéfora, algu- ma coisa eubstituida em sou sentido por outra, o que se pode flagrar facil- mente na narrativa dos sonhos, sempre metaféricos por exceléncic. Desde © inicio, portanto, é inerente ao concelto lacaniano de “abjeto a” a ideia de que ele também desloca alguma coi- sq, tentando compensar uma “falta-a 32 PLOSOHAsécitvise wom porcini combe ser" (conlorme 0 Jéxico lacaniano), ‘colocarndo no lugar algo sobre o qual. o sujeito pode falar. Assim, 0 sujeito de- sejante desenvol veré corta astticia a0 tentar aprisio- nar — breverente esse astuto objeto *a’ em alguma forma transitéria de satisfagdo, de gozo, Uma astiicia destinada sempre ciser uma compen- sagto e que ins- taura apenas uma satislagéo parcial, § metonimica, diante do desojo. Portan to, uma relacéo de substituigho que © tronsformaré todo “dbjoto a’, escolhido pelo sujelto desejan- te, num fantasma. E ce maior lamtasmago- ria eleita pelo masculino seré 0 do fem nino, visado como objeto de gozo total, impossivel de ser completado. Este gozo total pertenceria ao desejo pela mée, interditado © castrado_sim- bolicaments na estruturagde do Edipo quando a crianga desiste da mée, da relagéo incestuosa com essa mulher que “pertence” ao Pai e que lhe é interditada pela Lei do Pai. Esso instémcic de inter- digdo ~ 0 tabu do incesto — é introjetada simbolicamente pela crianga como uma forma de castragée e, imediciamente, na tese lacaniana, esse interdito que tem ra- izes antropologicas passa a ser denomi- nado de "O Nome-do-Pai. Ao introjetar essa Lel do Pai que protbe o incesto com @ mée ~ seu objeto priméirio de desejo, de gozo total -@ crianga agora se inscre yo na order cultural que emana desse es Aft de Hei (oil Dong, os, is do amor, 6 ho eno, resent do pend, ede Pos, goo asic. Pris & mendes, mas chen de rimonhos Asm sea 0 dsj, soqnd locan Nome-do-Pai, Leis normativas que o de finiréo como um ser social que aceitou essa castragéo para se inserir na ordem da cultura e a quem faltaré parc sempre esse falo simbélico ao qual, miticamente, todas as fémeas pertenceram um dia e que, agora, pertence ao pai que lhe inter dita ¢ o castra com relagtio & mée e cujas fung6es ele procuraré recuperar parcial mente por meio de “objetos a” metonimi- cos. O falo neste contexto seréi sempre 0 significante de uma falta. Nesse sentido 6 que se pode entender a frase de Lacan quando diz que a "relagéo sexual no existe”. Realmente, como “relagéo total”, como recuperagéo de um "gozo total” esta relagéo estaré para sempre inter- ditada ao masculino. Aqui a mulher se presenta, radicalmente, como um “in feiramente outro” para o homem ao qual ele no teria acesso, uma vez que ela nao participa dessa sindrome da castracao original, néio precisou introjetar uma per- stituie da simbélica abissal para se como sujeito. Homens e mulheres real- monte néo so iguais na relagto sexual. Portanto, é essa possibilidade de relacéo simétrica que 6 declarada inexistente. Afinal, como jé se disse, “o Edipo produz ‘© homem, néo produz a mulher”? A MULHER NAO EXISTE E famosa a apropriagtio de Lacan do conto de Edgar Allan Poe intitulado A aria roubada, em que ele mostra que ‘assim como 0 sentido ultimo dos signi ficantes nunca 6 alcangado, esta carta roubada também tem varios destinaté: ios e nenhum; seu contetido nunca pode ser apropriad inteiramente, mantendo- fencialidade de se apenas como um sentido e, no caso do conto de Poe, uma potencialidade de poder para quem a possui, Metéfora certeirat para a palavrer que sempre cerca seu sentido, mas nun- ca oaleanga. Por mais visivel e audivel que as palavras sejam, elas nunca po- dem sor decifradas totalmente nificado sempre de: cou sig pa no conto de Poe, desliza te por varios possui do perfeitamente vi cima dalareira, nunca é vista pelos que a querem encontrar, Bem, a mulher eo de- da s. Mesmo estan: e disponivel em sejo do homem pela mulher teriam tam- bém essa caracteristica. Por mais préxi ma que a mulher esioja do homom, cla é fvel para ele, o que ‘ard La- a frase paradoxal de que a sempre invis can formule: mulher néo existe, Frase aparentemente abesurda e que causou polémica, Como dizer isso se o homem faz sexo com uma mulher desde sempre? Lacan diré que os homens, na verdade, fazem sexo com todas as mulheres e ndo com uma em especial, repetindo no seu inconsciente © tempo da horda primitive, em que to- das as mulheres pertonciam a um Pai mitico, dono do falo, A mulher como individualidade Ihe e ‘apa sempre. Na verdade, ela, como todo objeto de dese} partence a esfera desse “objeto a’, par- rogédia Edipo Re, de Séfocles Na peca, Ep. mnée, Jocasto, © mata © pai, lao. co, Edi 2 seus oho Complexe {iho pela mae e 0 ‘aversGo a0 pi rroson. 33 i PSICANALISE ona do uma stipe, ro fie Clase. A petsonagom exes ua, mos @rnguém revla seu mando ine, 0 qe raprodu 0 idee ocniana de que © mab no este poue home nna 0 v8 amo realmente € 34 mosoraseni cial, metonimico por definigéo, mas que consegue ancorar a pulséedo desejo por algum tempo. A mulher real e individual presente no ato sexual representa, por: possibilidade nessa série infinita que alucina omasculino. (O filme Closer, do diretor Mike Nichols (o rotelro baseado na pega teatral homé- rnima de Patrick Marber) pode ser utlizado tanto, apenas uri i 8 como exemplo. Este texlo parece ter um segundo roteiriste cculto, 0 proprio Lacan. ( titulo na verstio brasileira recebeu um ‘acréscimo, ternou-se Closer ~ Perio de- mals. Lacan concordaria com 0 acrésci mo, Perio demais, amulher toma-se ainda mais inexistente para o masculine. VISIVEL E OCULTO Inicialmente, o roteiro cria profissses embleméticas que j& definem © que aconteceré com o relacionamento dos amantes. Dan é um jornalista encarre gado da segdo de obitudrios. Ele mes- mo conta come os obitudirios sto redigi- dos para esconderem sempre a pessoa real. O que de fato as pessoas foram na vida ndo importa nos obituérios. Mas sim, a-vis&o edulcorade e elegante vn ered come em que todos se transformam em pais ‘amantissimos, esposes fiéis e protissio- nais competentes, mesmo que tenham sido sempre © oposto disso tudo, Ou seja, nem mosmo na morte, revelamos 0 que somos de fato, O falso obituario dos jornais incumbe-se de manter o distan: ciamento necessério da pessoa real. O obitudrio, que deveria revelar finalmen- te a pessoa, a mantém, agora, defin vamente distante. ‘Anna, por suave, 6 fot6grafa especia- lizada em retratos de desconhecidos que ela fotograia em grandes closes. Rostos anénimos, mas ela os exibe em grande imidace, em grandes ampliagves. Mesmo com tal exposigdo ampliada. eles continuam desconhecidos. E uma falsa aproximagéo. Rostos préximos demais. ‘Tao desconhecides quanto os das mu- Iheres quando elas se apresentam para ‘0s homens que pensam que as vém por inteiro e acreditam saber 0 que elas sd08 co que estéo vendo. Larry ¢ médico dermatologista. Perto demais do corpo das pessoas. Préximo da pele, Mas nunca além. O dermatolo- gista se detém na epiderme das pessoas, nunca ultrapassando esse limite externo do corpo. Nunca penetrando realmente no &mago do paciente. Sempre na epi derme, nesta exterioridade que nos deli- mite do exterior. Assim seré também em seus relacionamentos com o feminino. Nunca indo olém da sexualidade explici- ta, Nao € & toa que sore ele quem exigiré tudo dar stripper. Viséo total. Mesmo as- sim, ele néo conseguir ir além da epi derme ginecolégica da mulher. Jane, por eua ver, é a stripper que se dé totalmente co olhar do masculino. Olhar que nunea consegue ir além do eu corpo em exibigéo, da sua epider me. Portos demais do seu corpo mu, os clhares masculinos esto sempre longe demais dela como mulher. Ela é a que ‘encerra, om sua profisstio, o paradoxo dessas relagées intimas que e: osempre & distéincia, Bla é um ‘objeto a" por exceléncia, pois oferece seu corpo como objeto parcial de um desejo nun: lizado. Neste jogo de esp: miradas falsas, ela é um equivoco desde 9 inicio do filme. Jane, desde seu pri ‘encontrocom Dan, usaum nome falso - Alice. O relacionamento dos dois jé inicia com uma Alice que néo existe, E emblematico jue a primeira frase que Alice dirige a Dan, logo no inicio do ‘Olé estranhol” sobre esse eterno estranhamento entre filme serd justamente homens e mulheres dentro da cultura, A relagéio deles sord, portanto, um lo: birinto de aproximagées falsas. Eles es- Go obcecados em fa saber dos detalhes erétic 0 traem. Claro, tudo temperado com 0 O homem esta preso & fantasia original de desejo por todas as mulheres e por aquela mée interditada que pertenceu ao Pai mitico pretexto de que as amam acima de tudo. Isso no impede que deles se nd ossem as traigGes que eles de certa Jorma, in¢ temento, ostimulam? Como Lacan nos ob- servou, hé sempre um terceiro envolvido em toda relagéio sexual, que perience ao imaginario masculir ‘essa fantasmagoria da mulhor e sua se xualidade inesgotavel. Elas sabem que eles sim spondem suas 0 Cosamento de Polos 2 Tei, de Comes Yn Hoe, Vina mle, como set indid, comm desea rmascuin por algun Yeo. Nas é opens internet na posite no numa dessas salas de um tuscasenol que 0 doles finge que 6 uma mulher. © namo- lucia, exp Lacan ro virtual log talhos erét que eles exigem. Eles, en ibem exatamente © a) tretanto, nu elas sto e se 0 6 verdadeirc Como Laces par somo individualidade. que diz dissera, elas néo existem Nesse sentido, 6 lapidar a cena em que 0s dois homens a pécie de sexo virtual, O que prover que para ohomem basta que el 140 de mulher © inexistente). Afinal, tudo néo passa mes Lina. mo de uma fantasmag Portanto, tanto n ele conversa na inter: r real que ele fantasia. jer real néo existe nunca para 0 m, Esté para além de suas poss! bilidades, uma vez que fantasia original de dese) todas as heres e por aquela m que pertenceu ao Pai mitico. Relaciona 88, entéo, com sucedéneos simbélicos ompletos desse poder do pai = dois "S46 ha um principio ot motor: a faculdade de desojar” ARISTOTELES son 35 géneros possam 0 er realmente, Dai a necessidade oc} ov PSICANALISE “ee que eles criem um simulacro de relacio- namento. Mas quando esses diélogos se dao no filme, surgem numa chave cinico-irénico-amorosa paradoxal que corta cirurgicamente a velha retérica ‘amorosa com que os filmes roménticos costurnam anestesiar suas plateias. Re- velam magistralmento o que realmente esta por debaixo dos arrulhos amoro- sos dos casais enamorados. Talvez, a cena em que mais se revele ‘essa fissurc entre homem e mulher seja a do clube notumo onde Alice/Jane fo2 strip-tease. A figura da stripper 6 simbo- licamente carregada. Essa mulher que se despe completamente paras clhares masculinos estaria, portanto, tao proxima fisicamente dele que, finalmente, ele po- derict dela se apropriar inteiramente, En- tretanto, nesse momento de aproximagao maxima @, justamente, quando ela: fica mais distante, constituindo-se em simula- cro inatingivel de desejo e de fantasia. O masculino estara sempre atras de um famtasma idealizado de mulher. Do feminino que sé existe em sua carénciat e vazio. Elas jamais poderdo preencher isso No clube, Larry, um dos lados desse quarieo improvavel, pede para vé-lar totalmente nua e ainda paga para que ola exiba suas partes intimas, da ma- neira mais crua. Aproximacéo visual méxima do corpo feminino que, entre- tanto, ndo preenche as frustragées € desejos do homem. Ele também paga allo para que ela lhe diga seu nome verdadeiro. Ela o diz. Mas ele pensa que ela mente. E ela néo esclarece a confustio dele, Nao é preciso. 36 MosORAdinstie wontpotcklnsonide com be saberér mesmo o que as mulheres sdo, qual o nome certo que elas tém. Tanto faz, portanto, seu nome verdadeiro que ele ponsa ser falso. O seu corpo periel- to de stripper, apesar de cruamente nu e real, também é um velamento, uma alegoria de todas as mulheres poss veis. Endo adianta que ele aveja assim tao de perto e despida, Para ele, a mu: Iher como individualidade, como outro sujeito também ferido pela castragtio narcisistica, sempre estard para longe de suas possibilidades. Agui a visibilt dade total da mulher é indice do eeu to- ial ocultamento, o que nos remete nova mente & simile da “carta roubada"” do conto de Poe, que também esté oculta Casol st, de Mech Diter A multe cferete do homem, no psa pean do deseo anf eno vive ra busca incessant de preencher um raza Paro Locon, homens 9 mulheres ios igus amente por estar totalmente visiv Nuas © perto demais, elas, parc: doxalmente, séo isiveis. O sempre zio. Elas jamais poderao preencher isso. ord mntasmal deles, enca S6 poderiam f em ser © objeto f nando ara.o homem a significago da sastragéo e, assim, transformarem-se num falo compensatério. E ¢ disso. Por isso mos eamam. Que ui essa culpa e impossibilidade ck 10, fingem que sé pensam que vor ntrojete namento real, apenas a faz prisioneira tolal dessa caréncia masculina que na verdade nao concerne ais mulher certo modo, ela é infeliz porque ¢ nfelizes com elas e estéo a empre com mulheres inexistentes. Portanto, « frase de Lacan, ap sua ilustracéio. A mulher r que pe mas que, na verdade, revelav ppelhos falsos na relacd com o feminino, Ambos preonchem momentaneamente @ por pouco temp 10 fantasma que 0 “objeto a” tenta pensar, Desses fantasmas 6 quo norados por algum tempo. Nao ¢ & toa, portanto, que o filme comece e termine com uma mulher nas uas envelvida pelos olhares mascul que passam. Esses olhares fugaze: muito lon e obliquos as reconstro do que elas realmente sto. Perto demais do feminino é sempre muito longe para masculine. Eros nunca preencheré essa caréncia, sous objetos de desejc sempre Ihe esc: algum furo, por algum vazio, por mais asticia que utilize em sua captura, 8 seres de tinados a incompletude, @ do pequeno deu: bia dessa car crates reto pela voz de § mou o tema do amor nos seus seminé: rios. Perto demais do desejo ¢ sem longe demai: ‘REFERENCIAS ‘ies Médicas, 1989 2009 |] $5 Pasi: Cie. dos levas, 1994 OR, Joel ~Intodtso 6 lita de Locan’o inconsclenteexatrado come linguagem Foro Alege: AKOBSON, Roman ~ linguisica e comunicagéo, Sd0 Paulo: Cutie s/d || LACAN Jacques Semindrio 8: A nonsiréncio. Ro de Joneito: lye Zohar Editr, 1992 IDEM — Seminario 18: De um clecuro que nao esse somblant. Rio de Janet: Jorge Zohar Edo, IDEM - Semnindtio 20: Mls, cinda. Rio de Jneir: Zaher Elio, 1982 || toes sets, Soo Rove: tor Perpactva, 1978 || stor, Catherine - Nobodaddy, A histria no sécuo. Rio de Joreito: Jorge Zohar Editor, 1988 PATAO ~ "0 Banquete” in Obros completos, Aguilar, 1972 |] ROUDINESCO, Elzabeth — Jacques locan: esboro de uma vida, histxia de um sistema de pensaments, Porc Loco, «her reo no ete poo obama, (eh 60 projeio que cin em su cobea, Perso, el capa de se real com muberes Vis, lve anos ruosona. 37 FILOSOFIA ¢ BERNARD-HENRI LEVY CADERNO De EXERCICIOS

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