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Evelyn K. A. Silva
RESUMO:
entre as prostitutas Henriqueta e Teresa à normalidade das relações afetivas, acaba por
mulher e sua utilização como forma de controle da subjetividade, através daquilo que lhe é
A prostituição nos degrada; nos agride, nos reifica, nos violenta a cada dia e cada
para as mulheres, a mais antiga das opressões; o que nos faz entender porque, em um
normalidade das relações afetivas, acaba por conduzi-las a um destino trágico e violento.
Talvez inspirado por um episódio acontecido no Porto na segunda metade do séc.
XIX, ou, mais característico, pelo romance de A. J. Duarte Júnior, Henriqueta ou uma
A peça em três atos, conta a história da prostituta Henriqueta, renomada por sua
beleza, sua habilidade em seduzir e pela ausência absoluta de vínculos afetivos, ligações
amorosas para além das prescritas para exercício da profissão. O primeiro ato nos apresenta
a heroína, em seu total esplendor e domínio de seu ambiente; é uma personagem dotada de
certa grandeza, admirada e invejada por seus pares. No segundo ato, revela-se o tormento
do amor por Teresa, sua doença e consecutiva morte. No último e terceiro ato, a loucura de
de humanizar-se através daquilo que lhe é negado. Como mercadoria que é, não é possível
que compartilhe do afeto e das ligações românticas, senão mediados pela relação comercial.
rainha reconhecida pelos pares e clientes. Quando da chegada de Teresa, assaltada por uma
HENRIQUETA (tomando-a nos braços): Venha para o pé de mim, que lhe ensino umas
manhas, cá muito minhas, que nunca falharam, nem hão-de falhar... dê-se com todos, mostre
bons modos, faça-se protegida de um senhor de posição, não se exponha de mais, seja humilde e
graciosa... E seja asseada, sobretudo, não só no seu corpo, mas nas suas amizades, evitando meter-
se com a ralé, que disso é que o Porto anda mais cheio. (1º Ato, Cena I)
Teresa, na mesma cena, como oráculo, profetiza seu destino, “o de acabar, um dia,
numa enxerga, como já vi algumas, doentinha do peito, sem que ninguém olhe por mim.”
Cada uma das mulheres reconhece seu lugar social, seu modo de portar-se e ao que
não gente.
Teresa vá morar na casa, em seu quarto. Dona Carlota, a senhoria, apresenta o primeiro
estranhamento:
D. CARLOTA: Há uma coisa que não entendo, Henriqueta. A menina, que conhece tantas
jovens, que gozam a sua vida e, até, às vezes, a esbanjam, por que motivo, Santo Deus, se lembrou
Tanto Henriqueta, quanto Teresa, agora dedicam-se uma à outra; não mais ao trabalho, seu
sustento, guardando seus corpos para o amor, ao invés da prostituição. Essa mudança é,
ao final, a hybris de Henriqueta, sua desmedida, e sua hamartia, a falha trágica do herói.
A cena termina com a morte de Teresa, tuberculosa, confirmando sua predição e o destino
espírito das personagens e descrições daquilo que é poupado à visão da platéia. Entretanto,
é também nessa cena que Henriqueta se utiliza pela última vez como mercadoria: em troca
empréstimo o que lhe peço, uma certa coisa, muito simples. Em troca, minha senhora, o
COVEIRO: O seu corpo, Henriqueta, nada mais. (2º Ato, Cena II)
O 3º e último ato desenrola-se rapidamente. Inicia –se com uma conversa entre
enlouquecida, mantém conservada “a cabeça de Teresa Maria, num globo de vidro, imersa
tragédia, com a morte e a perda da sanidade das prostitutas que quiseram aproximar-se da
vida e da razão permitida aos outros. Ao deslocarem-se dos lugares sociais que lhes foram
designados, por classe ou gênero, são condenadas ao destino trágico e ao rodapé das
Cláudio, Mário. Henriqueta Emília da Conceição. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Lda.
1997
Miller, Arthur. Tragedy and the Common Man in The Theater Essays of Arthur Miller.
Hirata, Helena; Laborie, Françoise; Le Doaré, Hélène; Senotier, Danièle (Org.), Dicionário