Cisticercose em partes moles - um estudo

de caso
Cysticercosis molds in parts - a case study

Aline Mara Botin Sudário2, Celmara Caldeira Gomes, Ellen Soares de

Moura, Kelle Gomes Cruz1, Thiago Peixoto Aguiar1, Maianna Viana
Almeida Aguiar1, Denise Fonseca Côrtes1.
1
Curso de Medicina do Centro Universitário de Caratinga, Caratinga-MG Brasil. 2 Curso de
Enfermagem do Centro Universitário de Caratinga, Caratinga-MG Brasil.

Resumo
A cisticercose é uma infecção parasitária da larva hospedeira de suínos Ta-
enia solium que acomete tecidos humanos, cuja origem remonta às más
condições socioeconômicas e sanitárias. É uma doença que assume várias
formas de apresentação e evolução clínicas, bem como, a intensidade da
manifestação dos sintomas e da interação parasita-hospedeiro depende da
resposta inflamatória do hospedeiro. O estudo relata apresentação da cis-
ticercose incidindo sobre as partes moles e demonstrando as calcificações
características, na cidade de Caratinga, interior de Minas Gerais.
Palavras-chave: Cisticercose. Taenia solium. Epidemiologia.

Abstract
Cysticercosis is a parasitic infection of the host larva of swine Taenia solium
that affects human tissues, whose origin goes back to bad socioeconomic
and sanitary conditions. It is a disease that assumes various forms of clinical
presentation and evolution, as well as the intensity of the manifestation of
symptoms and the host-parasite interaction depends on the host’s inflamma-
tory response. The study reports the presentation of cysticercosis affecting the
soft tissues and demonstrating the characteristic calcifications, in the city of
Caratinga, in the interior of Minas Gerais.
Keywords: Cysticercosis. Taenia solium. Epidemiology.

Introdução
A proliferação de diversos ti- intensa correlação com as más con-
pos de endemias parasitárias de im- dições socioeconômicas e sanitárias
portância em saúde pública possui dos países1. Dentre essas doenças

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a que mais se destaca é a cisticer-
cose, uma infecção parasitária que
acomete tecidos dos hospedeiros
intermediários (suínos) e dos anô-
malos (homem) pela larva da Taenia
soliu2,3. Pesquisas indicam que as
taxas mais elevadas de prevalência
desta parasitose atingem em maior
número classes com menor poder
aquisitivo, concentrando em países
em desenvolvimentos ou subdesen-
volvidos2,3,4,5.
A Taenia solium é um cestoi-
de hermafrodita que habita o intes-
tino delgado humano que ingeriu
carne de porco crua ou mal cozida
infectada com suas larvas, no entan-
to, o homem ainda pode adquirir
a cisticercose através do consumo
acidental, de ovos de Taenia solium
em vegetais crus que estiveram em
contato com a agua contaminada
ou por autoinfeção relacionada à
falta de higiene pessoal. Na forma
adulta, o parasita contém cerca de
50.000 a 60.000 ovos férteis que
podem permanecer vivedouros por
muito tempo na água, no solo e na
vegetação 5,6.
É uma doença que assume
várias formas de apresentação e
evolução clínicas, bem como, a
intensidade da manifestação dos
sintomas e da interação parasita-
hospedeiro depende da localização,
quantidade de parasitos e da respos-
ta inflamatória do hospedeiro. Os sí-
tios geralmente afetados são os mús-
culos esqueléticos, os olhos, o tecido
subcutâneo e preferencialmente o
sistema nervoso3,7.
Revista e-saúdecasu
No Brasil, a caracterização
da importância epidemiológica da
cisticercose é dificultada pela fal-
ta de padronização do diagnóstico
e do processo de vigilância3,4,8. A
ocorrência de manifestações clínicas
durante a evolução de cisticercose
tem sido constatada em reduzido
número de pacientes, neste sentido,
neste relato apresentaremos caso de
parasitose em partes moles de teci-
do, em que havia características de
imagem compatíveis com cisticercos
calcificados.
Relato do caso
J. P., paciente masculino,
idoso, 85 anos de idade, hiperten-
so, procedente de Caratinga, interior
de Minas Gerais, assistido pela ESF
(Estratégia da Saúde da Família) do
Bairro Anápolis, deu entrada na ESF,
em Fevereiro de 2014 com queixa
de dor nos membros inferiores. Ao
exame físico revelou crepitações
em flexão e marcha sem alterações.
Relatou dor nos joelhos no decorrer
dos últimos 3 anos que aumentou,
significativamente, nos últimos me-
ses. Nesse período o paciente foi
submetido à radiografia simples de
membros inferiores que revelou pe-
quenas áreas radiopacas e alonga-
das, prováveis calcificações da coxa
compatíveis com cisticercos calcifi-
cados (mortos) (Figura 1A). Diante
do achado, em Julho de 2014 foram
solicitados novos exames de imagem
de região lombo sacral e membros
superiores, os quais evidenciavam
na região lombo sacral, múltiplas
lesões calcificadas sem edema adja-
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cente que revelaram prováveis cisti-
cercos na forma nodular calcificada
(Figura 1B). Negava contato em área
endêmica, bem como, nenhum tra-
tamento de cisticercose. Relatou ser
proveniente da zona rural do muni-
cípio de Santa Rita/MG, residiu em
Sapucaia/MG e posteriormente em
Caratinga/MG onde durante anos
manteve criação de porcos, ambien-
te que constitui cenário que possibi-
lita ao individuo a ingestão de ovos
de tênia, tanto pela precária higiene
e contato – direto ou indireto – com
os suínos, quanto pelo hábito de
consumo de carne de porco. Atual-
mente paciente relata dores e fraque-
za muscular nos membros inferiores.

Figura 1: A - Exame de imagem realizado pela

paciente em Março/2014; B - Exame de ima-
gem realizado pela paciente em Julho/2014.
Fonte: Dados da pesquisa.

Discussão
O paciente deste estudo apre-
sentava cisticercose em partes moles
na forma nodular calcificada, sem
implicação clinica na maioria dos
casos. O gênero masculino é o mais
atingido e a procedência é princi-
palmente de zona rural, com faixa
etária prevalente em indivíduos de
40 a 50 anos. Nesta fase os restos de
cisticercos podem ser identificados
consistindo em um nódulo sólido,
mineralizado, rodeado totalmen-
te por tecido conjuntivo denso não
modelado1,9.
As manifestações clínicas
da cisticercose dependem do tipo
morfológico, do número, da fase de
desenvolvimento do parasita, bem
como, das reações imunológicas do

Revista e-saúdecasu 17
hospedeiro11. A infestação muscular
tem sido assinalada menos vezes
na literatura, não só por ser menos
frequente, como por não determinar
sintomas e/ou sinais clínicos. Geral-
mente, é acidentalmente encontrada
em exames radiológicos incidindo
sobre as partes moles e demonstran-
do as calcificações características10.
A literatura relata dores e fraqueza
muscular, dormência dos membros
inferiores e hidrartrose do joelho,
bem como, raras modificações acen-
tuadas da função muscular, com al-
terações evidentes ao exame físico11.
O tratamento da cisticercose é feito
de acordo com a manifestação clí-
nica de cada paciente, um dos prin-
cipais fármacos utilizados no trata-
mento é o Albendazol7.
O desenvolvimento da cisti-
cercose dá-se pela ingestão de ovos,
por seres humanos e suínos, em que
pela ação do ácido gástrico e dos
fluidos intestinais, os embriões liber-
tados atravessam a parede do intes-
tino e entram na corrente sanguínea
encistando nos tecidos e órgãos,
onde formam vesículas larvais ou
cisticercos (Cysticerus cellulosae)5.
Nas regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste diagnósticos de cis-
ticercose têm sido cada vez mais
notificados, devido aos serviços de
neurologia, neurocirurgia e estudos
anatomopatológicos. A baixa ocor-
rência de cisticercose nas regiões
Norte e Nordeste pode ser explicada
pela falta de notificação ou porque
o tratamento dos indivíduos acome-
tidos é realizado em grandes centros,
o que dificulta identificar a proce-
dência do local da infecção12.
Revista e-saúdecasu
Conclusões
A cisticercose ainda, sobretu-
do, representa um grave problema
de saúde pública diante de condi-
ções socioeconômicas e sanitárias
precárias. Visto que o diagnóstico e
tratamento da cisticercose se apre-
sentam como um grande desafio, o
trabalho educativo com a popula-
ção, saneamento básico, educação
sanitária, fiscalização de produtos de
origem vegetal e a inspeção sanitária
da carne compõem medidas impor-
tantes de profilaxia.
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Endereço para correspondência:
Instituto de Ciências da Saúde
UNEC/INCISA
Centro Universitário de Caratinga -
UNEC – Unidade Acadêmica II.
Rua Niterói, S/N CEP - 35359000
Caratinga/MG.
E-mail: pesquisaincisa@unec.edu.br
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