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GRUPO EDUCACIONAL FAVENI

PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ESPECIAL

DEJANIRA FREITAS DA SILVA

A INCLUSÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: uma formação para alunos


surdos

BREVES/PARÁ
2021
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA O PROCESSO ENSINO APRENDIZAFGEM NA
EDUCAÇÃO INFANTIL

Dejanira Freitas da Silva1

Declaro que sou autor (a) ¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial
ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO: Este estudo discute a educação de surdos no âmbito escolar e objetiva-se


suscitar reflexões a respeito da importância Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no
processo de inclusão de crianças surdas e ouvintes dentro da sala de aula. Para tanto,
a metodologia deste é fundamentada em pesquisa de abordagem qualitativa e de
revisão bibliográfica por meio de livros, artigos e sites. Os resultados apontam a
necessidade em se estruturar um atendimento específico onde oportunize ao educando
um trabalho especializado e colaborativo, como forma de contribuir para que este aluno
possa ser inserido de maneira igualitária no ensino regular, bem como conviver
dignamente em sociedade. Muito ainda se tem a conquistar no que cerne a LIBRAS no
processo de ensino aprendizagem, não apenas daqueles que se utilizam deste meio
para se comunicar, mas também para os demais alunos, uma vez que entendemos que
para que aja real inclusão dos alunos surdos, faz necessários que todos os entendam
não dependendo de interpretes para se fazerem entender.

PALAVRAS-CHAVE: Libras; Inclusão; Desafios da Inclusão.

1
deijanirafs@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO

O tema foi escolhido devido à necessidade da adaptação do aluno na sala de


aula regular, bem como a necessidade de comunicação dos demais alunos. Neste
sentido, o que instigou esta pesquisa foi analisar como ocorre a inclusão das crianças
surdas tendo em vista a falta de uma formação continuada dentro da escola. Essa
preocupação em efetivar o ensino e a aprendizagem deve ser de todos: Estado, família
e sociedade. Para tanto, trabalhou-se na construção deste artigo, partindo da seguinte
problemática: como pode haver, de fato, dentro da escola a inclusão de crianças
surdas? Quais metodologias utilizadas pelos professores para o ensino de alunos
surdos? Há realmente uma preparação dos professores para receber esses alunos? De
que forma os demais alunos se comportam ou recebem esses alunos?
Neste artigo, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, com o intuito de fazer um
histórico sobre o tema ”A Inclusão da língua Brasileira de Sinais: uma formação para
alunos surdos”, bem como atualizar conhecimentos. Objetiva-se instigar reflexões a
respeito da importância LIBRAS no processo de inclusão de crianças surdas e ouvintes
dentro do espaço escolar. Fazendo-se uma abordagem acerca de sua origem, estrutura
linguística e enfatizando a importância do estudo da mesma e do seu ensino nas
escolas.
Considerando-se o objeto de estudo, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e
exploratória, Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 57), a pesquisa bibliográfica abrange
toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Sua finalidade é
colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado
sobre determinado assunto, enquanto que, a pesquisa exploratória tem como base de
informações essencialmente fontes literárias, livros, sites, artigos e documentos oficiais,
buscando-se levantar informações sobre o objeto pesquisado de forma a delimitar o
campo de trabalho (GIL, 2010). Desse modo, apreende-se que a metodologia deste
estudo atende às necessidades como percurso metodológico para validação desta
pesquisa. Os métodos escolhidos foram para dar uma maior fluidez e autenticidade ao
trabalho.
2 DESENVOLVIMENTO

Durante a antiguidade e por quase toda a Idade Média, pensava-se que os


surdos não fossem educáveis, ou que fossem “imbecis”. Foi no início do século XVI que
se começou a admitir que os surdos pudessem aprender através de determinados
procedimentos pedagógicos. O médico e matemático Gerolamo Cardomo (1501-1576)
inventou um código para ensinar pessoas surdas a ler e escrever, influenciando o
monge beneditino espanhol, Pedro Ponce de Leon (1520-1584) a desenvolver um
método de educação para pessoa com deficiência auditiva, por meio de sinais, esse
método contrariou o pensamento da sociedade da época que não acreditava que
pessoas surdas pudessem ser educadas.
Seguindo uma escala de evoluções no que cerne a educação de pessoas surdas
elencamos abaixo as fases cronológicas desse contexto: Em 1620, na Espanha, Juan
Pablo Bonet (1579-1633) escreveu sobre as causas das deficiências auditivas e dos
problemas da comunicação, condenando os métodos brutais e de gritos para ensinar
alunos surdos e demonstrou pela primeira vez o alfabeto na língua de sinais.
No início do século XVIII, iniciou-se a separação que levaria às duas correntes
de ensino/aprendizagem de línguas/comunicação dos surdos, que existem até os dias
atuais: a oralista e a gestualista; No século XVIII, na Alemanha, Samuel Heinick (1712-
1789) foi considerado o maior educador de surdos.; Em 1750, Heinick fundou a primeira
escola pública baseada no método oral. Em 1750, o abade Charles Michel de L’Epée
iniciou a instrução formal de duas crianças surdas com grande êxito; em 1760,
transformou sua casa na primeira escola pública para surdos “Instituto de Surdos e
Mudos em Paris”, utilizando uma abordagem denominada “gestualista”; em 1802, o
médico Jean-Marie Garpard Itard foi o primeiro a realizar treinamento auditivo com os
hipoacústicos. A partir desse momento, novos estudos foram desenvolvidos sobre o
treinamento auditivo e a leitura labial, de modo que o método oral passou a ser mais
divulgado e aceito. (Oliveira, Lima, 2010)
Em 1815, Thomas Hopkins Gallaudet visitou o abade L’Epée e juntos fundam a
primeira escola americana para surdos em Connecticut, em 1817. Quase cinco décadas
mais tarde, no ano de 1864, foi criada nesse país a Universidade Nacional para Surdos-
Mudos, hoje Universidade Gallaudet; em 1880, durante o famoso “Congresso
Internacional de Educadores de Surdos” realizado em Milão (Itália), Alexander Grahan
Bell, que inventou o telefone buscando uma forma de ampliar os sons, defendeu que o
ensino dos surdos devia ocorrer exclusivamente pelo método oral.
No Brasil, a educação dos surdos foi fortemente influenciada por um professor
surdo francês, que veio ao país em 1857 a convite de D. Pedro II. Eduard Huet criou,
neste mesmo ano, o “Instituto Nacional dos Surdos-Mudos” (INSM) e começou suas
atividades em uma sala do Colégio Wassiman (centro da cidade do Rio de Janeiro),
atendendo duas crianças surdas. (Oliveira, Lima, 2010)
O atendimento deste Instituto priorizou a educação oralista durante um longo
período, por acreditar que era inútil tentar ensinar os surdos a escrever, já que o
analfabetismo era condição da maioria da população brasileira. Por isso, a fala era o
único modo pelo qual os surdos poderiam integrar-se na sociedade e no mercado de
trabalho. As práticas onde se exercitavam a fala e a leitura labial, em extensos
treinamentos fonoarticulatórios, eram inscritas em um movimento geral de
medicalização das condições vistas como “doenças”. A surdez deixa de ser
considerada irreversível sendo, portanto, passível de tratamento. Assim, na educação
das pessoas surdas, foram feitos inúmeros investimentos para equipar as escolas
especiais com aparelhos de amplificação sonora, possibilitando aos surdos treinarem a
oralidade.
Foi na década de 1960 que começaram a surgir estudos sobre as línguas de
sinais utilizadas pelas comunidades surdas. Apesar da proibição do uso de gestos e
sinais pelos oralistas, raramente se encontrava uma escola ou instituição para surdos
que não tivesse desenvolvido, às margens do sistema, um modo próprio de
comunicação através de sinais. Além disso, como o oralismo não apresentou os
resultados esperados iniciou-se nos anos 70, estudos sobre a proposta pedagógica
denominada “Comunicação Total”, que era uma prática que na qual se utilizava sinais,
leitura orofacial, amplificação e alfabeto digital para fornecer insumo linguístico para os
surdos.
A “Comunicação Total” era uma abordagem educacional idealizada nos Estados
Unidos que permitia a utilização de todos os tipos possíveis de estratégias no processo
de ensino-aprendizagem dos indivíduos surdos: sinais – inclusive alguns criados para
marcar aspectos gramaticais da língua oral – desenhos, dramatizações, treino auditivo,
escrita, expressão corporal. Essa forma de comunicação também não teve êxito.
(Oliveira, Lima, 2010)
Na década de 90, dois outros modelos de educação para as pessoas surdas
começaram a emergir no Brasil: o modelo da Educação Bilíngue e o modelo da Escola
Inclusiva. A Libras foi criada junto com o Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES), a partir de uma mistura entre a Língua Francesa de Sinais e de gestos já
utilizados pelos surdos brasileiros. Ela foi ganhando espaço pouco a pouco, mas sofreu
uma grande derrota em 1880: Um congresso sobre surdez em Milão proibiu o uso das
línguas de sinais no mundo, acreditando que a leitura labial era a melhor forma de
comunicação para os surdos. Isso não fez com que eles parassem de se comunicar por
sinais, mas atrasou a difusão da língua no país. (Oliveira, Lima, 2010). Com todos
esses avanços, a Libras ainda é pouco conhecida e usada entre os ouvintes. Seu status
de língua oficial não é validado na prática. Para mudar essa realidade precisamos tratar
a Língua Brasileira de Sinais como realmente nossa, defendendo-a e procurando
aprender mais sobre ela.
A política de inclusão é baseada em documentos de grande relevância nacional
e internacionais como é o caso da Declaração Universal dos Direitos Humanos que
defende uma sociedade mais justa, de igualdade e sem preconceitos e discriminações.
A política pública de inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais no
ensino regular é sustentada em primeiro momento com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação nacional- LDBEN (Lei 9694/96) dando ênfase à educação como direito de
todos, e o processo de integração da educação especial ao sistema nacional de
educação que até então não se fazia parte ainda.
A Lei 5692/71 veio substituir a LDBEN vigente que também conferiu a
necessidade de se dar uma atenção maior a educação especial. Mas só a partir da
Constituição Federal de 88 que veio fazer a ampliação e criação de leis sobre as
políticas públicas para a inclusão das pessoas com necessidades educacionais
especiais nas escolas regulares.
Nas últimas décadas, importantes avanços nas políticas públicas vêm difundindo
no Brasil a ideia da pessoa surda como alguém diferente e não deficiente. A proteção
social à pessoa com deficiência, no âmbito da política pública de assistência social, é
concebida como direito, configurando-se, portanto, como dever do Estado, devendo ser
assegurada por meio de serviços, benefícios, programas e projetos que promovam
proteção social, nos termos da Constituição Federal de 1988 e Lei Orgânica da
Assistência Social (Lei nº 8.742 de 07/12/1993). (NADER, PIRES, VIETRO, s/p)
A nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e a Norma Operacional
Básica (NOB) reafirmam a atenção à pessoa com deficiência, como destinatário da
Política de Assistência Social na responsabilidade que tem de promover ações, visando
à garantia do atendimento das necessidades básicas, por meio do acesso a um
conjunto de ações que favoreçam as pessoas com deficiências, em especial com
relação aos processos de habilitação, reabilitação e integração a vida comunitária (Art.
2º, IV – LOAS). (NADER, PIRES, VIETRO, s/p)
A atenção à pessoa com deficiência no âmbito de Proteção Social Básica insere-
se no contexto geral das ações deste tipo de proteção e caracteriza-se pelo
desenvolvimento de atividades socioeducativas para o desenvolvimento de
potencialidades e fortalecimento/empoderamento das famílias e seus indivíduos, de
convívio, acesso a renda (BPC) e geração de renda. O campo das políticas públicas é
vasto, não sendo confinado a uma única área de conhecimento. Corresponde a uma
área de investigação e ação, identificados com processos de tomada de decisões e
intervenção na realidade social.
A política pública é a forma de concretizar a ação do Estado, constituinte de uma
mudança social e significante de um investimento de recursos, privilegiando um
instrumento de dominação e mudança no cenário nacional do país.
O espaço da política social é interdisciplinar e como diz Potyara Pereira (2001. p.
82). “à inteligibilidade e a eficácia da política só poderão ser alcançados, mediante a
vinculação orgânica de diferentes achados científicos produzidos por disciplinas
particulares” Também podemos afirmar que a expressão política social “... corresponde
a um campo de investigação e ação muito mais identificado com os processos de
tomada de decisão e de definição de estratégias de intervenção do que, propriamente,
com os temas clássicos da política, como: partidos, eleição, voto, governo, etc... o
assim chamado núcleo duro da política social é o da política como processo ativo e
positivo de decisão com vista à intervenção social; ou em outros termos, é o da política
como linhas de orientação para a ação pública, em resposta a legítimas demandas e
necessidades sociais” (PEREIRA, 2001, p. 80).
Compreende-se que a educação de surdos na contemporaneidade se coloca de
forma relativa à inclusão, visto que, esta é imposta aquela. De forma geral, os alunos
surdos de hoje devem estudar em classe regular presentes nas escolas inclusivas. Com
base no entendimento que os surdos precisam ser respeitados em suas diferenças, é
que reafirmamos não poder reduzir a surdez a uma limitação auditiva, mas sim
considerar um viés cultural que não constitui uma condição de deficiência, pois são
pessoas capazes, que pensam e agem e se comunicam e precisam ser respeitados em
suas diferenças
Na era atual, batizada como a era dos direitos, pensa-se diferentemente acerca
das necessidades educacionais de alunos. A ruptura com a ideologia da exclusão
proporcionou a implantação da política de inclusão, que vem sendo debatida e
exercitada em vários países, entre eles o Brasil. Hoje, a legislação brasileira posiciona-
se pelo atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais
preferencialmente em classes comuns das escolas, em todos os níveis, etapas e
modalidades de educação e ensino.
A Educação de Surdos é pautada em um campo fértil de discussões e
polêmicas, uma vez que faz uso de uma língua diferente da comunidade ouvinte,
esbarrando em práticas predominantemente oralistas que tem na educação formal a
sua forma de expressão, ocasionando um impasse para uma educação de qualidade
voltada para a pessoa surda. Ao se tratar de inclusão de surdo no ensino regular faz-se
necessário levar em consideração os aspectos linguísticos e culturais pertencentes à
comunidade surda como fator de equidade de condições para o desenvolvimento pleno
entre os indivíduos, tendo a Libras como eixo central. A Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, afirma que:

A Lei nº10. 436/02 reconhece a Língua brasileira de Sinais como meio


legal de comunicação e expressão, determinados que sejam garantidas formas
institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da
disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação
de professores e de fonoaudiologia (BRASIL, 2008, p. 9).
Esse direito dos surdos se comunicarem em sua língua natural foi regulamentado
pelo decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005 concedendo a criança surda o direito
de ter uma educação baseada em uma proposta bilíngue, na qual deve haver a
valorização e o reconhecimento da língua a qual o surdo tenha domínio. Contudo,
apesar dos avanços consideráveis referentes à educação em nosso país, as leis em
vigor ainda não são suficientes para garantir ao indivíduo um aprendizado eficaz,
principalmente no que tange a pessoa surda, devido às práticas educativas em sua
grande parte serem voltadas para a maioria ouvinte. Citando Silva (2001):

No currículo há o conflito na compreensão do papel da escola, em uma


sociedade fragmentada do ponto de vista racial, étnico e linguístico. É preciso
assumir em uma perspectiva sociolinguística e antropológica na educação dos
surdos dentro da instituição escolar, considerando a condição bilíngue do aluno
surdo (SILVA, 2001.p.21).
Assim, é notável que as escolas não consideram plenamente a Libras, que é a
língua específica da comunidade surda, de modo que os surdos sofrem as
consequências da falta de comunicação por meio de sua língua materna, cuja
modalidade é diferente das línguas da maioria dos sujeitos envolvidos no processo
educativo. A língua de sinais é de modalidade visual-espacial e a oral é de modalidade
oral-auditiva.
A Libras por ser uma língua de modalidade viso-espacial, forma pela qual o
surdo apreende as informações, já que não tem acesso às influências da parte auditiva
é a maneira mais adequada para garantir com sucesso a sua comunicação. Essa visão
é contrária de ideias que por muito tempo estigmatizaram e afastaram os surdos dos
movimentos sociais, políticos e educacionais, na qual estes sujeitos eram entendidos
pela sociedade majoritária como seres incapazes de aprender e participar de atividades
da vida em sociedade.
Somente depois dos anos 60 a língua de sinais adquiriu status linguísticos, a
partir dos estudos científicos desenvolvidos pelo linguista William Stokoe, que
comprovou sua eficácia para a educação de surdos, confirmando que a língua de sinais
tem todas as características e fundamentos de uma língua autêntica, portanto, o surdo
deve aprender e se comunicar pela experiência visual. Neste sentido, sendo a libras a
língua natural utilizada pela comunidade surda, está, portanto, deve ser adquirida
primeiramente e a partir desta o surdo entrará em contato com a língua da sociedade
majoritária.
Uma concepção clínica que por longos anos determinou a educação dos surdos
foi aquela que nomeou e categorizou os tipos de surdos e de surdez, as quais são
apresentadas nas leis e na literatura da área da saúde até os dias atuais. A concepção
clínica, que se pauta na medicalização da surdez e nos investimentos na normalização,
treinamentos da fala e reabilitação de resíduos auditivos, estão presentes formalmente
desde o século XVI: Girolamo Cardano (1501-1576) era médico filósofo que reconhecia
a habilidade do surdo para a razão, afirmava que “...a surdez e mudez não é o
impedimento para desenvolver a aprendizagem e o meio melhor dos surdos de
aprender é através da escrita... e que era um crime não instruir um surdo-mudo. ” Ele
utilizava a língua de sinais e escrita com os surdos. (STROBEL, 2009, p.20).
Para esse médico e matemático do século XVI, a surdez não era empecilho para
a aprendizagem. Cardano ensinou surdos nobres à leitura e a escrita, buscando por
meio dessas que adquirissem o direito de herdarem bens familiares e outros direitos de
cidadãos, mas como a concepção da época era clínica em sua totalidade, Cardano
acabou por organizar os surdos de acordo com comprovação de níveis de surdez.
Até hoje ainda é comum a preocupação com os níveis destacados em
diagnósticos. Strobel (2008) destaca fatos que a história contada por uma sociedade
excludente busca omitir, segundo registros históricos entende-se que Cardano tinha um
filho surdo e tratava-se de seu primogênito, portanto Schubert (2015) ressalta que para
que sua herança permanecesse no seio da família, se fez necessário reconhecer que a
surdez não era impedimento para aprendizagem ou outros direitos de um cidadão. Com
isso a deficiência auditiva se dividiu em níveis e não se fazia uso do termo surdo, mas
de outros como surdo-mudo, deficiente, o que hoje é compreendido como pejorativo.
Para as áreas da saúde é comum encontrar as definições de deficiência, mas
não de surdez, como encontrado em Ribas (1985), que destaca as deficiências
divididas em três tipos: deficiência física (a qual tem origem motora, podendo se
manifestar pela amputação de um membro, malformação, lesões, sequelas e outros),
deficiência sensorial que se subdivide em auditiva e visual, e a deficiência mental. Para
Ribas a deficiência auditiva pode distinguir-se como total ou parcial.
Segundo Costa (1994), na etiologia da surdez podem ser identificadas pelo
menos três causas: 1) a surdez de origem hereditária, 2) surdez adquirida pré-natal e 3)
surdez adquirida pós-natal. Para o diagnóstico da surdez hereditária deve ser feito um
estudo de genética e genealogia.
A surdez adquirida pré-natal incide de uma infecção ou de um fator traumático
durante a vida intrauterina. A surdez pós-natal é adquirida após o nascimento e pode
ocorrer por diversas infecções como: meningite; otite; rubéola; sífilis; encefalite,
toxoplasmose, gripe. Os pesquisadores da área da saúde ainda têm como critério o
período evolutivo buscando classificar a surdez, evidenciam que ela pode ser pré-
lingual antes de desenvolver a fala ou pós-lingual depois que a fala já está
desenvolvida. A compreensão de que há grande relevância nas categorizações vem de
encontro com a perspectiva clínica, entendida como essencial para os que concentram
seu trabalho na normalização.
Há autores que tratam por meio de uma compreensão socioantropológica da
surdez, ou seja; que ultrapassam a linha traçada pela clínica a qual compreende a
surdez como uma patologia a ser tratada e superada, como destaca Lodi (2005) a qual
destaca que: (...) a linguagem é tida como representação das coisas e, assim, se as
ideias são construídas fora da linguagem (pois lhes são anteriores), toda a atividade
representativa seria considerada válida para a sua simbolização e, portanto, para sua
comunicação. (LODI, 2005, p. 418)
A linguagem na sociedade capitalista evidencia a inteligência e a relação de
poderes, assim a autora Sá (2002, p. 5), nos fala das “as interfaces que a linguagem
tem com o poder, como elementos que se constituem reciprocamente”, fala sobre a
linguagem enquanto instrumento de representação do poder.
3 CONCLUSÃO

A inclusão do aluno com surdez deve acontecer desde a educação infantil e


perpassar todo o processo evolutivo da educação destes alunos, ou seja, até a
educação superior, garantindo-lhes, a utilização precoce de recursos de que necessita
para superar as barreiras no processo educacional. É importante que o professor utilize
também com os alunos surdos ambientes educacionais estimuladores, que explorem
suas capacidades em todos os sentidos e a tecnologia utilizada precisa ser visual. Esse
trabalho pedagógico requer muita flexibilidade e criatividade, sempre reafirmando a
importância da compreensão da cultura surda. Mais do que trazer soluções, espera-se
que este artigo seja um despertar para novos questionamentos dos professores que
trabalham com alunos surdos, pois são estes que fazem a diferença na sala de aula e
na escola.
O objetivo deste artigo foi analisar como ocorre a inclusão de crianças surdas
dentro da escola. Inicialmente abordou-se de maneira breve o histórico da Língua
Brasileira de Sinais, bem como o processo de políticas públicas para educação de
pessoas surdas. Em seguida, caracterizou-se o processo de aprendizagem dos alunos
surdos dentro do ensino regular. E, por fim, elencadas algumas práticas pedagógicas
para trabalhar o processo de formação para alunos surdos e ouvintes.
Acreditamos ter alcançado o objetivo proposto, uma vez que se mostrou de
maneira didática que todos podem estar participando de maneira ativa da inclusão
dentro do âmbito escolar. Portanto, evidenciou-se a necessidade de participação de
formação continuada para por parte dos professores para se trabalhar com os alunos
surdos, e a importância da inclusão tendo em vista as necessidades educacionais na
rede regular de ensino, uma vez que o número de alunos com tais necessidades só
vem aumentando
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educação básica/Secretaria de Educação Especial MEC; SEESP, 2001.
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