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INSTITUTO PIAGET

Campus Académico de Viseu

Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares (I.S.E.I.T.) /


Viseu Decreto Lei N.º 211/96 de 18 de Novembro

Cadernos de Psicologia Diferencial


N.º

Figura Complexa de Rey

Coordenação Científico-Pedagógica: Preparação e Execução:

Prof. Doutor António Vinhal Ana Almeida nº 86


Margarida Leonardo nº 55

Viseu, 2003
Nota Prévia

O uso de Provas Psicológicas como instrumento de avaliação psicológica está


amplamente generalizado, tanto no mundo de expressão anglo-saxónica como no de
expressão francófona ou mesmo hispânica. E apesar das numerosas e abalizadas
opiniões a favor e contra, o seu uso é imprescindível para emprestar rigor e
cientificidade ao diagnóstico.
Em Portugal, as opiniões têm sobretudo pendido, nos últimos vinte anos, para a
parcimónia na sua utilização. Percebem-se as razões dos militantes do uso parcimonioso
das provas psicológicas. Em primeiro lugar, porque o uso das provas exige preparação e
estudo adequados; em segundo lugar, porque a maioria esmagadora das provas à
disposição dos psicólogos não estão adaptadas e aferidas para a população portuguesa.
Depois ainda, porque a sua preparação criteriosa e aferição acarretam custos mais ou
menos insuportáveis para as instituições que poderiam fazê-lo. Em quarto lugar porque,
não tendo a maioria dos psicólogos sido preparada para as utilizar, corre-se um sério
risco de a sua utilização se transformar em panaceia para iludir outros problemas.
Ultimamente, porém, vem-se reconhecendo a absoluta necessidade de
ultrapassar estes constrangimentos ideológicos, económicos e técnico-profissionais.
Não estamos em condições de nos eximirmos a esses condicionalismos.
Simplesmente achamos conveniente introduzir os alunos do Curso de Psicologia no
conhecimento mais pormenorizado e no uso de algumas das técnicas e provas
psicométricas em contextos de avaliação psicológica.
Estes Cadernos de Psicologia Diferencial são um mero exercício pedagógico que
se justifica exclusivamente no quadro da Cadeira de Psicologia Diferencial. São
trabalhos práticos dos alunos que aceitaram estudar as Provas com maior rigor, preparar
um guião standard das normas de aplicação e fazer um primeiro ensaio no contexto da
sala de aula.

O Professor
TESTE DA FIGURA COMPLEXA DE REY-OSTERRIETH

1 - Autores:
A. Rey
P. A Osterrieth

2 - Utilização:
Utiliza-se como avaliação da percepção, actividade perceptiva analítica e
organizadora e memória visuais. Esta prova é ainda importante para estudar os seguintes
aspectos:
- desenvolvimento mental: através da observação dos diferentes tipos de cópia
e a riqueza ou pobreza de representação gráfica nas diferentes idades, obtêm-
se elementos acerca do grau de desenvolvimento ou de atraso do indivíduo,

- perturbações na estruturação espacial: provocadas por certas lesões


cerebrais ou doenças mentais.

3 - Idades de aplicação:

A partir dos quatro anos de idade. Existe um segundo teste de reprodução visual
e de memória de uma figura geométrica mais simples (Modelo B) que a prova original
(Modelo A) que iremos apresentar. Esta forma “B” destina-se a examinar crianças entre
os quatro e os sete anos. Com o Modelo “B” os progressos tornam-se insignificantes a
partir dos sete anos. A prova “B” pode igualmente ser aplicada aos adultos nos quais se
supõe uma forte deterioração intelectual.

4 - Material necessário:

- Lâmina com o modelo da figura,


- Lápis de cores diferentes (cinco ou seis cores diferentes),
- Duas folhas brancas lisas A4,
- Cronómetro.
5 - Condições de Aplicação:
- Passagem individual
- Mesa com superfície lisa

6 - Tempo de Aplicação:
Não há limite de tempo, nem para a cópia nem para a reprodução de memória.
Deve-se contudo cronometrar e registar o tempo gasto. O próprio examinando dirá
quando terminou.

7 - Normas de Aplicação:
A prova divide-se em duas partes, cópia e memória, que devem ser separadas por
um intervalo de cerca de três minutos. A cópia dá-nos indicações sobre a apreensão e
representação gráfica dos dados visuais - supõe portanto uma visão correcta, certo nível
de estruturação da actividade perceptiva e a capacidade de atenção suficiente. A
reprodução de memória faz apelo à memória imediata - exige uma capacidade mnésica
suficiente e sem perturbações.

A. CÓPIA
A lâmina com o modelo a copiar apresenta-se horizontalmente e com o pequeno
losango terminal para a direita e com a ponta virada para baixo.
Dá-se ao examinando uma folha de papel branco liso e um lápis (por exemplo o
vermelho).
Apresenta-se a figura ao examinando e diz-se:
“Vê este desenho? Vai copiá-lo para esta folha. Não é necessário fazer
uma cópia perfeita, basta prestar atenção às proporções e sobretudo não
esquecer nada. Não é necessário trabalhar à pressa. Comece com este
lápis .”

Começa-se nesta altura a cronometrar. O examinador vai registando as suas


observações:
- se o examinando hesita antes de começar, regista-se esse tempo;
- durante a prova o examinando pode modificar a posição da sua folha, mas
não a do modelo.
Mudança de lápis:
O objectivo é observar a evolução da cópia e a sucessão dos diversos elementos.
O examinador deverá para isso conhecer bem os diversos tipos e estádios de
desenvolvimento da cópia.
Logo que o examinando desenhe um conjunto ou estrutura, dá-se-lhe um lápis de
outra cor, incentivando-o a continuar. Se o examinando começa por um detalhe, deve
fazer-se a mudança de lápis quando passar para outro. Podem aproveitar-se também
paragens mais prolongadas do examinando para trocar de lápis. O examinador vai
marcando na sua folha a sucessão das cores que dá ao examinando.

Verificação:
A prova pode ser completada por uma verificação, nos casos em que o
examinando trabalhou de modo primitivo ou pouco racional. Quando terminar pergunta-
se se não haverá uma forma melhor de copiar a figura. Poderá fazer-se a seguinte
pergunta:
“Para que cada pormenor esteja colocado no seu devido lugar como é
que se deve começar o desenho? Trace aqui as linhas que melhor
possam servir de ponto de partida.” (Esta pergunta deve ser adaptada à
compreensão e vocabulário das crianças, como por exemplo: “Por onde
é que devias ter começado para que este desenho ficasse mesmo bem?”)

São numerosos os sujeitos que descobrem imediatamente o valor do grande


rectângulo e das suas diagonais, e que não compreendem como é que este dado
importante se lhes tenha podido escapar anteriormente.
Para outros trata-se de um problema complicado que resolvem, por vezes, pela
reflexão. Outros, enfim, não modificam o seu método ou substituem-no por outro
equivalente. Quando, de repente, descobrem um método mais racional, a atitude inicial
pode ser considerada como um sinal de falta de atenção, de indiferença, de preguiça
mental, de confusão momentânea ou de precipitação.
Quando o sujeito persevera na maneira defeituosa de copiar, tal facto deverá
relacionar-se, sobretudo com a organização intelectual da sua percepção. Se as
deformações da figura e o processo de cópia fazem supor debilidade intelectual
(relativamente à idade do sujeito), a incapacidade posterior de modificar a forma da
cópia, ao beneficiar de uma primeira experiência, confirmarão esta apreciação.
Esta verificação não deve nunca ser feita imediatamente após a cópia. Passar-se-
á a um segundo tempo para a reprodução de memória e somente no final da prova
completa se convida o sujeito a examinar e a criticar o seu processo de cópia.

B. REPRODUÇÃO DE MEMÓRIA
Depois de uma pausa de três minutos em que se conversou com o examinando
sobre coisas alheias à prova, passa-se à segunda parte.
Sobre uma nova folha o examinando será convidado a desenhar de memória a
figura anteriormente apresentada. Também a técnica dos lápis de cores diferentes é
vantajosa pois permite-nos contactar ou não um melhoramento do processo de
construção em relação à cópia. Marca-se o tempo. Não há limite de tempo para a
reprodução, é o próprio sujeito que indicará quando terminou. No final, escreve-se
memória nesta folha da prova.

8-Correcção e Pontuação:
A correcção da Figura Complexa de Rey, é feita em função de três variáveis,
válidas para a Reprodução Visual e Reprodução de Memória:
1- O tipo de construção
2- A precisão e a riqueza da reprodução
3- A rapidez do trabalho

A- Reprodução Visual (Cópia)

1-TIPO DE CONSTRUÇÃO: o estudo genético do teste permitiu pôr em


evidência vários tipos de construção do desenho:

TIPO I – Construção sobre armação


Desenho iniciado pelo rectângulo central, que serve de armação a toda a
reprodução, o rectângulo grande constitui assim a base que serve de referência e de
ponto de partida para a construção da figura. É o tipo característico e dominante do
adulto. Pode aparecer pelos quatro anos, aumentando de frequência de idade para idade.
TIPO II – Detalhes englobados na armação
O sujeito começa por um detalhe pegado ao grande rectângulo (por exemplo a
cruz da parte superior do lado esquerdo), ou traça o grande rectângulo, incluindo nele
algum dos detalhes (por exemplo, o quadrado exterior contíguo ao ângulo inferior
esquerdo do rectângulo central) e utiliza-o como armação do seu desenho, como no
Tipo I. Assemelha-se, também, a este Tipo II, o processo, pouco frequente, que consiste
em desenhar as diagonais do rectângulo antes do seu contorno, utilizando, de seguida,
este como armação. Este tipo aparece por volta dos seis anos e desenvolve-se
regularmente até aos doze anos. É um tipo secundário, não dominante em nenhuma
idade.

TIPO III – Contorno Geral


O sujeito começa o seu desenho pela reprodução do contorno integral da figura
sem diferenciar nela, explicitamente, o rectângulo central. O sujeito obtém assim uma
espécie de “contentor” onde são depois colocados todos os detalhes interiores.
Raramente este tipo se encontra nos adultos, só em caso de dificuldade de estruturação
espacial.

TIPO IV – Justaposição de detalhes


O sujeito vai desenhando os detalhes uns ao lado dos outros, como se estivesse a
fazer um puzzle. Não existe um elemento director da reprodução. Uma vez terminada,
melhor ou pior, a figura é globalmente reconhecida e pode até estar perfeitamente
conseguida. É o tipo dominante entre os cinco e os dez anos, diminuindo até à idade
adulta.

TIPO V – Detalhes sobre fundo confuso


O sujeito desenha o grafismo, pouco ou nada estruturado, no qual não é possível
identificar modelo, embora existam certos detalhes reconhecíveis, pelo menos na sua
intenção que irão diminuir significativamente e desaparecem por volta dos oito anos.

TIPO VI – Redução da figura a um esquema familiar


O sujeito transforma a figura num esquema que lhe é familiar e que pode por
vezes, recordar vagamente a forma geral do modelo ou de alguns dos seus elementos
(casa, barco, peixe, boneco, etc.). este tipo aparece aos por volta dos quatro, cinco anos,
mas muito raramente, e desaparece a partir dos seis anos.

TIPO VII – Garatujas


O sujeito faz simplesmente garatujas nas quais é impossível reconhecer qualquer
dos elementos do modelo e tão pouco a sua forma global. É típico de crianças antes dos
quatro anos.

TIPO VIII
Poderá falar-se num tipo VIII, ou combinação dos tipos I e II. Baseados sobre o
rectângulo central, servindo de armação ao desenho. O sujeito começa pela cruz e, de
seguida, faz o rectângulo e as diagonais, etc. Presente em todas as idades, esta reacção
mostra um lento crescimento até aos dez anos, passa a ser dominante aos treze, depois
de ter rivalizado com o tipo IV aos onze, doze anos. Continua a progredir para atingir o
seu máximo.

No quando seguinte Osterrieth dá-nos as percentagens (suprimindo os décimais)


que representam as frequências dos diversos tipos de cópia em função da idade dos
sujeitos. Este estudo foi realizado numa amostra de 295 sujeitos, com uma média de 20
casos por cada grupo etário. Os grupos eram compostos por sujeitos que tinham a
mesma idade expressa em anos; assim, por exemplo, o grupo dos quatro anos foi
formado por crianças com idades compreendidas entre os quatro anos e quatro anos e
onze meses.
Idades Tipo de Cópia
I II I+II III IV V VI VII
4 10 -- 10 10 20 50 10 --
5 5 -- 5 30 50 10 5 --
6 4 9 13 31 50 4 -- --
7 5 10 15 15 65 5 -- --
8 10 10 20 10 70 -- -- --
9 5 20 25 20 55 -- -- --
10 - 20 20 35 45 -- -- --
11 20 30 50 5 45 -- -- --
12 -- 42 42 4 52 -- -- --
13 30 25 55 10 35 -- -- --
14 22 36 58 -- 40 -- -- --
15 25 30 55 15 30 -- -- --
Adultos 55 26 81 1 15 -- -- --
Quadro 1: Frequência dos tipos de cópia em função da idade
Os números mostram uma evolução clara que vai desde o predomínio do tipo V
no grupo dos quatro anos ao tipo I no grupo dos adultos, com um grande predomínio
intermédio do grupo IV.
Osterrieth, a partir da evolução dos tipos, determinou três Etapas na Evolução
da Reprodução, estádios caracterizados pelos tipos dominantes e secundários:

Etapa I Tipo V predomina (4 anos)


com o Tipo IV como tipo secundário
Etapa II Tipo IV predomina (5 a 11/12 anos)
a) com o tipo III como tipo secundário (5 a 7 anos)
b)com o tipo I/II como tipo secundário (7 a 11/12 anos)
Etapa III Tipo I/II predomina (11/12 anos a adultos)
com o tipo IV como tipo secundário
Quadro 2: Estádios de evolução do processo de Cópia em função da idade

Etapa I: A percepção é sincrética. Traduz-se numa condensação e


homogeneidade dos elementos, há uma assimilação deformante, por exemplo a
esquemas familiares. Os detalhes são absorvidos no todo, modificados ou não
percebidos.
Etapa II: A justaposição de detalhes prolonga o sincretismo. Não há análise,
mas justaposição, enumeração, sem síntese. A partir dos sete anos a percepção é mais
fiel, evoluindo em direcção à objectivação analítica.
Etapa III: A actividade perceptiva atinge o nível superior bem como o
pensamento operatório. É agora fácil isolar o elemento fundamental, o rectângulo, a
partir do qual os outros elementos se organizam. Há análise imediata, seguida de
reestruturação sintética.

Para uma avaliação prática dos resultados, Osterrieth estabelece uma


tabela(Quadro 3)dos tipos de cópia. Os números mostram que crianças muito pequenas
já podem apresentar um tipo superior e revelar, assim, um avanço. Vê-se, também que o
tipo I, o mais evoluído, corresponde à mediana da distribuição das formas de cópia
encontradas nos adultos. Não é possível pois, nestes últimos, utilizar o teste para
descriminar aqueles que possuem facilidade especial na reprodução do desenho, a não
ser unicamente para detectar a eventualidade de uma insuficiência na apreensão
perceptiva.
Idade Percentis
(anos) 10 25 50 75 100
4 VII VI V III II
5-6 VI/V III IV II I
7-10 VI/V III IV II I
11-12 III IV IV/II II I
13-15 III IV II I I
Adultos III/IV II I I I
Quadro 3: Tabela dos tipos de reprodução visual (cópia)

2-PRECISÃO E RIQUEZA DA REPRODUÇÃO: Ainda que seja muito


interessante identificar o processo de cópia, a exactidão e o grau de perfeição do
trabalho representam outras variáveis que não devem ser desprezadas. Para avaliá-las
correctamente seria necessário ter em conta o número de elementos copiados e suas
relações, uma tarefa difícil pois não se sabe, à primeira vista, o que é que na figura se
deve considerar como sendo elementos.
Osterrieth, fundamentando-se na tendência para reproduzir em continuidade
certas linhas, dividiu a figura em 18 partes, que se podem considerar como outras tantas
unidades, que intervêm tanto na cópia como na reprodução de memória. Com efeito, o
sujeito não percebe, não fixa um a um todos os segmentos que compõem o desenho,
antes capta-os organizados num certo número de estruturas: armação geral, superfícies,
eixos diversos, apêndices externos e detalhes que se repetem simetricamente. Há
somente alguns segmentos que não têm relação com nenhuma destas estruturas e
constituem, assim separados, elementos que frequentemente são descurados na cópia e
esquecidos na reprodução. Convém agrupá-los em unidades, tal como se fez com as
linhas que aparecem agrupadas na figura.
O esquema gráfico mostra a divisão da Figura A em 18 unidades, numeradas de
acordo com a seguinte nomenclatura:
1- Cruz exterior contígua ao ângulo superior esquerdo do
rectângulo grande.
2- Rectângulo grande, armação da figura.
3- Cruz de Santo André, formada pelas diagonais do rectângulo
grande.
4- Mediana horizontal do rectângulo grande 2.
5- Mediana Vertical do rectângulo grande 2.
6- Pequeno rectângulo interior (contíguo ao lado esquerdo do
rectângulo 2, limitado pelas semi diagonais esquerdas deste e
cujas diagonais se cortam sobre a mediana 4).
7- Pequeno segmento colocado sobre o lado horizontal superior
do elemento 6.
8- Quatro linhas paralelas situadas no triângulo formado pela
metade superior da mediana vertical e a metade superior da
diagonal esquerda do rectângulo 2.
9- Triângulo rectângulo formado pela metade do lado superior do
rectângulo 2, pelo prolongamento superior da mediana vertical
5, e pelo segmento que une o extremo deste prolongamento
com o ângulo superior direito ao rectângulo 2.
10- Pequena perpendicular ao lado superior do rectângulo 2,
situada debaixo do elemento 9.
11- Círculo com três pontos inscritos, situado no sector superior
direito do rectângulo 2.
12- Cinco linhas paralelas entre si e perpendiculares à metade
inferior da diagonal direita do rectângulo 2.
13- Dois lados iguais que formam o triângulo isósceles construído
sobre o lado direito do rectângulo 2, exteriormente a este.
14- Pequeno losango situado no vértice extremo do triângulo 13.
15- Segmento situado no triângulo 13 paralelamente ao lado
direito do rectângulo 2.
16- Prolongamento da mediana horizontal e que constitui a altura
do triângulo 13.
17- Cruz da parte inferior, compreendendo o braço paralelo ao
lado inferior do rectângulo 2 e o pequeno prolongamento da
mediana 5 que a une a este lado.
18- Quadrado situado no extremo inferior esquerdo do rectângulo
2, prolongamento do lado esquerdo, compreendendo também a
sua diagonal.
Osterrieth deu o mesmo valor a cada uma das unidades acima referidas, simples
ou compostas. Porém, como podem ser correctamente reproduzidas ou ligeiramente
deformadas, bem colocadas na figura ou mal situadas, propôs a seguinte pontuação:

Por elemento Pontuação


Bem colocada 2
Correcta Mal colocada 1
Bem colocada 1
Deformada ou incompleta, mas reconhecível Mal colocada ½
Irreconhecível ou ausente 0
Quadro 4:critérios de cotação

Assinalam-se as diversas unidades reproduzidas, pontuam-se segundo os


critérios anteriormente referidos e somam-se as pontuações obtidas.
A pontuação máxima é de 36 pontos.
Depois de somados os pontos obtidos, consulta-se o quadro 5 em anexo.

3 – RAPIDEZ DO TRABALHO: A última variável que pode interessar é o


tempo empregue na execução da cópia; é sempre útil saber se um trabalho é bom, mau
ou incompleto, e se foi executado lenta ou rapidamente.
Seguidamente inclui-se a tabela dos tempos de cópia estabelecida por Osterrieth
(quadro 6).

Idade Percentis
(anos) 10 25 50 75 100
4 15 10 8 7 4
5 12 10 8 7 3
6 15 11 9 7 6
7 18 11 9 7 5
8 11 10 7 6 5
9 8 7 6 5 4
10 10 9 8 4 3
11 6 5 4 3 2
12 8 5 4 4 3
13 5 5 4 3 2
14 5 5 4 4 1
15 6 4 4 3 2
Adultos 6 5 4 3 2
Quadro 6:tabela dos tempos de cópia (em minutos)
Põe-se o cronómetro a funcionar no momento em que o sujeito começa a
trabalhar e para-se quando este dá por terminada a prova; o tempo de execução é
arredondado sempre para o minuto seguinte; assim os tempos 2,15 e 2,50 arredondam-
se, em ambos os casos, para 3 e este valor lê-se “entre 2 e 3 minutos”.

B- Reprodução da Memória
Para avaliar os resultados da fase de reprodução posterior à cópia, ter-se-ão em
conta as mesmas variáveis que para a primeira fase da prova, isto é, o tipo de
construção, a exactidão e riqueza da reprodução e a rapidez do trabalho.

1- TIPO DE CONSTRUÇÃO:
Seguidamente incluem-se as tabelas construídas por Osterrieth Quadro 7).

Idade Percentis
(anos) 10 25 50 75 100
4 VII VI III/V II II
5-6 VI V III IV II
7-10 V III IV II II
12-12 V/II IV II I II
13-Adultos III/IV II I I II
Quadro 7:Tabela dos tipos de reprodução de memória

Comparando os tipos de cópia e os tipos de reprodução de memória constata-se


que, a partir dos seis anos, metade dos examinandos, aproximadamente, mantêm o
mesmo processo de elaboração. Esta proporção, com algumas flutuações, aumenta com
a idade.
Na reprodução da memória, observa-se sobretudo nos examinandos até aos sete
anos, regressões de tipo em relação à cópia. Libertos do modelo que os induzia a um
certo tipo de construção, e guiados apenas pela sua recordação, tendem muitas vezes a
revelar a sua tendência para a elaboração irracional e confabulatória da figura.
Nos adultos, metade das pessoas que fazem uma boa cópia fazem uma boa
reprodução de memória. A percentagem piora na reprodução de memória. Os que fazem
uma má cópia, fazem geralmente progressos na reprodução de memória.
Nas crianças as que fazem uma boa cópia fazem também uma boa reprodução de
memória com uma frequência maior do que nos adultos. Das que fazem má cópia, a
maioria permanece estacionária na reprodução da memória.
2- PRECISÃO E RIQUEZA DA REPRODUÇÃO:
O número de elementos reproduzidos, e as suas relações, assim como os critérios
de cotação são idênticos aos estabelecidos para a cópia.
É evidente que o emprego do quadro 8: Riqueza e exactidão da reprodução da
memória (em anexo), permitirá situar o sujeito de acordo com as suas capacidades de
memória.

3- RAPIDEZ DO TRABALHO:
Uma tipificação da duração do processo de reprodução de memória não
apresenta apenas interesse prático; há sujeitos escrupulosos que prolongam o seu
esforço enquanto outros, expeditos, pensam rapidamente que a sua recordação está
esgotada. Basta referir que, dos quatro aos quinze anos, a mediana das distribuições
progride de 6 a 3 minutos para voltar a ser de 4 minutos no grupo dos adultos.

9-Apreciação qualitativa
A- Reprodução Visual(cópia)
1- Processo de Cópia nitidamente Inferior
1.1- tempo de cópia longo:
- sujeito provavelmente pouco evoluído sob o ponto de vista intelectual;
- dispraxia de construção gráfica;
- percepção visual confusa;
- sincretismo;
- dificuldade de análise visuo-espacial.
Nas crianças muito jovens estas dificuldades são normais. Deve-se ter em conta
o meio cultural, o treino escolar, o valor dado pela escola e pela família ao desenho
livre.
1.2- tempo de cópia anormalmente curto:
- incapacidade de análise (provavelmente mais acentuada que no caso
precedente). O pouco tempo resulta da cópia de um só elemento fácil ou em
contentar-se o examinando com um gatafunho rápido.
2- Processo de Cópia nitidamente Superior
2.1 a cópia é precisa e rica (executada num tempo normal, por vezes
um pouco longo):
- neste caso estamos perante um examinando aplicado, preciso e estruturando
racionalmente os dados visuo-espaciais.
2.2- a cópia é pouco precisa (há esquecimentos, o tempo de execução é
muitas vezes curto):
- estaremos em presença de um examinando com tendência a atabalhoar, a não
tomar a prova a sério.
- Por vezes uma certa falta de habilidade gráfica de execução (apesar da
elaboração perceptiva global evoluída)

B- Reprodução de Memória
1- Se o processo de cópia é normal ou superior e apesar disso a
reprodução de memória é nitidamente insuficiente, a percepção e a
organização dos dados a fixar não estão em causa, a pobreza da
reprodução de memória traduz bem a da recordação visual.
Neste caso, pensar-se-á então:
- num bloqueio possível por escrupolosidade exagerada;
- no interesse que poderia ter o sujeito em simular um “déficit mnésico”
2- Se o processo de cópia era nitidamente inferior, a reprodução de
memória é muito pobre:
- neste caso, não se pode esperar mais da recordação que da percepção (a
insuficiência da reprodução de memória confirma o nível inferior da
elaboração visuo-espacial; no entanto, se a pobreza da reprodução de
memória é muito pronunciada, mesmo em vista de uma cópia má, será de
pensar em amnésia. Há casos em que o tipo de cópia melhora quando se
passa à segunda parte da prova. Poderá então tratar-se de uma certa lentidão
do examinando para se orientar num complexo visuo-espacial).

10-Emprego do teste em Patologia


O teste permite fazer, por vezes, algumas observações tendo um valor de sinal:
- reter-se-á como sinal primitivo ou infantil, o endireitamento (mudança de
posição), seja do modelo, seja da cópia, seja dos dois. O examinador porá
novamente o modelo na posição correcta, sempre que tal aconteça. Sendo
frequente nos mais novos, estas mudanças significam nos adolescentes e nos
adultos um estado mental bastante frustre.
- A partir dos doze anos, os tipos de cópia descritos sobre os números V, VI e
VII são de reter como sinais oligifrénicos prováveis.
- Observa-se nos psicopatas, geralmente deteriorados intelectualmente,
adjunções e sobrecargas: existe a tendência a encher as superfícies (sinais de
enchimento e de traço retocado).

A- Crianças atrasadas no desenvolvimento intelectual


Os resultados no teste são nitidamente inferiores. Não ultrapassam o percentil
25. levam muito tempo a reproduzir o desenho.
O tipo dominante é muito inferior ao correspondente à idade real.
Os débeis de 7/8 anos de idade real têm muitas particularidades primitivas. É
preciso distinguir:
1º- as produções dos deficientes mentais simples cujos resultados são fracos,
mas têm um conjunto coerente.
2º- as produções que testemunham uma verdadeira perturbação da estruturação
da percepção: conjunto gráfico confuso e desorganizado, desenhos incoerentes e
inacabados. Estas produções testemunham, além de um atraso mental, perturbações na
estruturação espacial ou lesões orgânicas.

B- Crianças normais
Quando os resultados a este teste são muito inferiores aos dos outros testes de
inteligência, pode ser sinal de dificuldades na estruturação da percepção.
Nas crianças normais de inteligência, mas com dificuldades de carácter, há
resultados e tipos de produção médios. Na reprodução de memória aparecem porém
coisas estranhas, detalhes a mais, espaços vazios preenchidos de traços, etc.

C- Adultos
1- nos afásicos:
- verifica-se pobreza de detalhes na cópia e ainda mais na reprodução de
memória
- chegam a ser incapazes de reproduzir o desenho de memória por terem
perdido o sentido do geométrico que lhes permitia encarar o conjunto da
figura e centrá-la.

2- nos esquizofrénicos catatónicos:


- verifica-se um tempo excessivamente longo na execução
- põe muito zelo em executar bem o traço, mas fazem-no com muita rigidez de
movimentos e maneirismo
- na cópia aparecem numerosos detalhes estranhos que são acrescentados ao
desenho original ou preenchimento dos espaços vazios, que são sintomas
patológicos
- por vezes, há deslocação de elementos para obter uma simetria
- por vezes, há também regresso a esquemas familiares, como nas crianças

3- nos adultos que tiveram traumatismos cranianos (o resultado varia


consoante o traumatismo):
- levam muito tempo a executar o desenho, sobretudo a reprodução de
memória
- os resultados são próximos dos normais, na cópia, mas nitidamente inferiores
na reprodução de memória, sendo por vezes mesmo incapazes de o
reproduzir
- não aparecem elementos bizarros.

11-Bibliografia
- BOURGÊS, S. (1979); Approche Génétique et Psychanalytique de l`Enfant,
Delachaux et Niestlé, Neuchátel, Paris
- REY, A. (1959); Manuel du test de Copie d`une Figure Complex; Centre de
Psychologie Apliqué
- REY, A.; Exame Psicológico nos casos de Encefalografia Traumática,
Arquivos de Psicologia, Vol XXVIII, nº 112
Pe Idade

rc

en

til 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
10 1 3 12 14 19 26 25 28 29 24
20 2 8 18 15 23 25 27 30 29 28
25 2 11 19 17 27 28 27 30 30 29
30 2 12 20 20 29 28 27 30 30 29
40 3 10 22 21 29 28 29 32 31 30
50 8 19 23 22 30 30 30 33 32 30
60 8 19 24 23 31 33 32 34 33 32
70 9 21 24 27 32 34 32 35 34 34
75 10 21 25 27 32 34 32 35 34 34
80 11 22 26 28 33 34 33 35 35 34
90 15 26 26 31 33 34 34 36 35 35
100 19 31 27 31 35 36 36 36 36 36
Médi

a 7,8 17 20,5 22,4 28,7 30,6 30 32,1 31,7 30,6


D.Padrão 4,6 6,4 5 5,19 4,18 2,7 2,6 2,6 2,39 2,6
Mediana 8 19 23 22 30,5 30,5 30,5 33 32 30,5
Moda 2/8 19/ 21 24 22/31 -- 34 32 35 /36 -- 30

Quadro 5:Riqueza e exactidão da cópia (soma dos pontos)


Idade
Percentil 4 5 6 7 8 9 10 11 12
10 0 2 6 2 7 14 12 15 14
20 1 3 7 8 12 16 15 16 15
25 1 4 7 9 16 16 16 17 15
30 1 4 8 10 17 18 16 17 16
40 1 9 11 14 17 19 19 18 17
50 2 10 13 14 18 19 20 20 18
60 3 11 16 17 22 20 21 22 20
70 5 14 16 18 23 22 22 23 23
75 5 14 17 18 23 22 22 23 24
80 6 14 19 18 25 23 22 23 25
90 9 18 21 22 27 26 24 23 28
100 14 23 22 28 29 29 26 27 32
Média 4,2 10,2 13,2 14,4 18,9 20 19,3 20 19,1
D.Padrão 3 5,3 5,2 5,7 5,14 3,5 3,38 3,4 5
Mediana 2,5 10 13 14 19,5 19,5 20 21 18
Moda 1 16 -- 14/ 18 17 19 19 /22 23 15 /17
Quadro 8:Riqueza e exactidão da reprodução de memória

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