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Supremo Conselho do Brasil do Grau 33

para o Rito Escocês Antigo e Aceito


Sublime Capítulo Rosa Cruz
“Regeneração Catarinense”

Liberdade
de
Pensar
Trabalho Preliminar de Décimo Quinto Grau

Ir Cavaleiro do Oriente Renato Moreira de Faria – IME 067887


Vale de Florianópolis, SC, 19 de outubro de 2006 da E V
Supremo Conselho do Brasil do Grau 33 para o Rito Escocês Antigo e Aceito
Sublime Capítulo Rosa Cruz “Regeneração Catarinense”

A Liberdade
A abordagem do tema Liberdade ressalta muitas questões que, indiscutivelmente,
engendram por um universo infinito de discussão, opiniões e vertentes, às vezes,
aparentemente conflitantes mas que, na realidade, não as são. Seria a liberdade uma
condição natural do homem como indivíduo, mesmo dentro do contexto social? Ou seria a
liberdade uma meta a ser arquitetada e conquistada passo a passo? Seria uma condição
inerente e toda criatura, ou noutro plano, do permanente processo de aperfeiçoamento da
pessoa humana? A liberdade é o sistema oposto à escravidão física e material?
A liberdade individual, por si só, contém pelo menos duas variáveis: a do homem
frente a ele mesmo, desde o mais puro e simples naturalismo, passando ao pensamento
complexo de sua personalidade e suas virtudes, e a do homem em contraste com suas
deficiências e inclinações negativas, onde se inclui a escravidão. Entre tantos tipos de
escravidão física e material que o homem inflige a si mesmo, está a dependência aos vícios,
às paixões, à ganância, à cobiça e ao orgulho.
Em nosso íntimo a liberdade de escolher é absoluta; depois da criação mental que
nos pertence é que nos reconhecemos naturalmente sujeitos a ela.
Já o homem inserido no contexto social tem que a liberdade individual termina ou
se estende até os limites da fronteira das desejáveis e semelhantes liberdades dos demais
integrantes da sociedade. A liberdade está ligada ao seu oposto, aos mais variados tipos de
escravidão e servidão.
O Iluminismo, movimento intelectual francês do Século XVIII, também chamado
de Ilustração, que tinha em Montesquieu e no barão de la Bréde dois de seus expoentes
mais significativos, pregava como lemas básicos a Liberdade, o Progresso, o Homem, e
encontrou sua máxima expressão entre os escritores franceses que propagaram tais idéias
rapidamente entre a elite intelectual européia, sendo tal ideologia particularmente sensível à
burguesia, que nela encontrou a justificação para o assalto ao poder nas últimas décadas
daquele Século. Iluminismo esse que teve grande influência sobre a maçonaria francesa,
principalmente, e na européia em grande parte.
Foi contra a escravidão, o cativeiro dos filhos de Israel junto aos babilônios, que
os Cavaleiros do Oriente trabalharam, mesmo sob o risco de não serem compreendidos por
aqueles e que, exatamente por isso, poderiam até tentar impedir o cumprimento de sua
tarefa. Simbolicamente ocorre isso porque a liberdade trazida pelos Cavaleiros do Oriente
exige certa cultura intelectual, sem a qual a razão não saberia desbravar preconceitos e
sofismas nos homens cativos de sua própria ignorância.
Ignorância essa que fez com que o povo de Israel perdesse o amor e, por não ter
sabido se servir da liberdade, permitiu que um tirano calcasse aos pés a ciência e o direito
e, também, permitiu que ele os tornassem ignorantes e covardes e, ainda assim, o adoraram
como seu rei e Deus. Mas esse povo foi liberto pelo príncipe Zorobabel quando, ao cruzar
vitorioso a ponte de Gabara e entrar em Israel, reedificou o Templo e a cidade de
Jerusalém, libertando os Judeus da tirania dos babilônios. A ponte de Gabara ficou sendo o
símbolo da passagem da escravidão para a independência e suas pilastras o da liberdade de
pensar.

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O Pensamento
O pensamento é um processo químico-mental estudado pela Neurofisiologia e
que se processa dentro dos domínios físicos e espirituais de uma pessoa. É também a nossa
capacidade criativa em ação. No campo das atividades, os pensamentos podem se
transformar em ações e os atos praticados refletem o entrosamento das pessoas com o meio
ambiente social em que vivem, o mundo profano, ou seja, o mundo fora do Templo.
A idéia forma a condição; a condição produz o efeito; o efeito cria o destino. A
vida de cada ser humano será sempre o que ele estiver mentalizando constantemente. Em
razão disso, qualquer mudança real em seus caminhos virá, unicamente, da mudança de
seus pensamentos.
No livro O Problema do Ser, do destino e da Dor, Leon Denis nos fala que o
pensamento é criador. Não atua somente em roda de nós, influenciando nossos
semelhantes, para o bem ou para o mal. Atua principalmente em nós. Gera nossas
palavras... nossas ações... e com ele construímos dia a dia o edifício grandioso ou miserável
de nossa vida, presente e futura. “Modelamos nossa alma e seu invólucro com os nossos
pensamentos. Estes produzem formas, imagens, que se imprimem na matéria sutil de que o
corpo fluídico é composto”.
No plano histórico, o horizonte do conhecimento humano se amplia e o processo
ou ato de pensar passou a ser mais complexo porque está sujeito às múltiplas interferências
externas ou o acréscimo de conhecimento, ou ainda, das informações geradas por outras
pessoas.
Em qualquer tempo, é muito importante não nos esquecermos que,
simbolicamente, o pensamento se processa no alto da torre, guardada pelo Guarda da Torre,
que é a nossa consciência. Este controla a entrada do conhecimento e a saída dos nossos
pensamentos. O ato de pensar é um processo interno – Esotérico.

A Liberdade de Pensar
"Que de mais livre, de mais independente, de menos perceptível por sua mesma
essência do que o pensamento?” A liberdade de pensar, por si só, representa o exercício de
um direito inalienável e da inviolabilidade da pessoa humana
O homem não tem direito de pôr embaraços à liberdade de consciência, assim
como à liberdade de pensar. Só ao GADUcabe o direito de julgar a consciência,
pelas leis da Natureza, que regulam as relações entre ele e o homem.
A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do
progresso. Constranger o homem a proceder em desacordo com o seu modo de pensar é
fazê-lo hipócrita. Podemos resumir assim, o uso da razão se constitui de três aspectos:
- liberdade de pensar que nos leva à liberdade de existir;
- liberdade de consciência que nos leva à liberdade de ser
- o livre arbítrio que nos leva à liberdade de evoluir.

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Também o excelso Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda nos legou preciosas


reflexões sobre o tema. Em sua obra "Comentários à Constituição de 1967", Tomo V. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1968, p. 149, onde destacava com maestria que
"Liberdade de pensar significa mais do que pensar só para si, ocultando o pensamento. Tal
liberdade de pensar sem dizer de nada valeria, na ordem social. Tiveram-na os escravos;
tem-na os que vivem sob as formas autocráticas, sob o despotismo...". Até hoje as pessoas
têm a liberdade de pensar, mas não têm a possibilidade de externar seus pensamentos, quer
de forma mitigada nas democracias, quer de forma marcante nas tiranias.
Liberdade de pensar implica em isenção de preconceitos e de cultura embutida,
para permitir um raciocínio, formar um juízo com base na razão, ainda que adequado às
normas da moral e da ética. As limitações do conhecimento afetam o processo de
raciocínio, gerando um pensamento impregnado de erro, o que afeta as relações sociais. O
que deve prevalecer é a inviolabilidade do direito do indivíduo, que até pode ser balizado
pelo direito do grupo. Mas o direito do grupo não pode ultrapassar o direito do indivíduo,
porque este é parte integrante do próprio tecido social. Se a unidade é afetada, o conjunto
também o é.

Conclusões
O ser humano tem a liberdade de pensar e, portanto, tem também a liberdade de
escolher suas ações. Essa liberdade de escolha chamada de livre-arbítrio se manifesta desde
a infância e nos acompanha por toda a existência.
O 15° Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito é o Grau consagrado à
independência política dos povos e à independência religiosa do indivíduo, e, nele, o novo
Cavaleiro do Oriente é envolto pela Luz que emana do GADU e que vai fazer
despontar no Maçom como que um fogo novo, o qual vai transformar a centelha oculta no
fundo de seu ser na chama que o guiará, via meditação e reflexão silenciosa, no caminho da
libertação da consciência, isenção de preconceitos, de fraquezas e de leviandades de
espírito e lhe proporcionará o desenvolvimento da tolerância. E ainda, despertará nele o
interesse pelas coisas gerais, para ativar e fortalecer sua consciência e fomentar suas idéias.
A liberdade de pensar é uma passagem pela ponte simbólica do processo mental
onde e quando um indivíduo atravessa a fronteira do conhecimento embutido pelo meio e
pela cultura que o cerca, para deliberar com independência, livre de paradigmas e de
preconceitos, leis e regulamentos que, se necessários, servem para regulamentar o
comportamento e as ações dos indivíduos em sociedade, mas não servem para limitar o
processo mental de um indivíduo, que deve ser livre.
Impõe-se ao Maçom o dever de trazer ao caminho da verdade aqueles que seguem
doutrinas perniciosas ou que atentem contra a liberdade de consciência. Mas isso deve ser
feito sem temeridade nem intolerância, mas com energia e coragem, por ação calma e
refletida, contínua e sem agitação febril, com brandura e persuasão e não através da força,
como ensinou Jesus, pois, do contrário, seria pior do que a crença daquele a quem desejar-
se-ia convencer. A convicção não se impõe. Devemos, pois, com os conhecimentos
adquiridos na Maçonaria, construir pela segunda vez (com a trolha) e defender (com a
espada), o nosso Templo da Verdade, consagrá-lo à independência política de nosso povo e
à independência filosófica de cada indivíduo.

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Ao Cavaleiro do Oriente cumpre ajudar aos Irmãos a esclarecer sua razão,


respeitar a independência de convicções e o direito de, por elas, pautar sua conduta e
impedir todo e qualquer atentado contra essa independência em sua vida maçônica e
profana.

Referência Bibliográfica
AQUINO, R. S. L.(org.). História das Sociedades, v.2, 2a ed. Rio de janeiro: Livro
Técnico, 1983, p. 106/7.
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Volume I. Rio de Janeiro: Aurora. 1974.
BACELAR, Mário Leal. Os 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito: Agenda
Maçônica - Livro para Anotações. 4a edição. Coleção Maçonaria Universal. Rio
de Janeiro: Mandarino. p. 73, 74.
CASTELLANI, José. Dicionário de Termos Maçônicos. Londrina: Ed. A Trolha, 2a ed.,
1995. DIC. Dicionário Eletrônico Michaelis.
DIAS, Vladimir Duarte. Genealogia da Liberdade. Porto Alegre: AGE, 2004. 109 p.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, Ritos,
Filosofia, História. São Paulo: Pensamento. s.d.
http://www.consciencia.org/docs/materialanderson2.doc, consultado em 25/08/2006.
http://www.cvdee.org.br/est_letexto.asp?id=146, consultado em 07/09/2006
http://www.espirito.org.br/portal/palestras/le270702.html, consultado em 12/09/2006.
JESUS, Marcus Moraes de. Abertura do Livro da Lei: dos Graus 1 ao 33. Londrina: A
Trolha. p. 47-50. 1998.
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários à Constituição de 1967. Tomo
V. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1968, p. 149.
OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de. Comentários aos Graus Inefáveis do REAA.
Londrina: A Trolha. p. 23-37. 1997
SUPREMO CONSELHO DO BRASIL PARA O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO.
Ritual do Grau 15: Cavaleiro do Oriente. Rio de Janeiro: HG. 2004. 56 p.

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