Talvez por eu ser mineiro e mineiro tem fama de ser desconfiado, sempre fui adepto de checar as
informações que me são repassadas. Sempre fui cauteloso e zeloso com informações técnicas, sou
crítico daqueles profissional que possui argumento do tipo “fulano falou” ou do tipo “se não está
escrito pode” ou ainda “se não tem remédio remediado está”. Esse tipo de pensamento leva preguiça
e a estagnação do conhecimento técnico, levando o profissional a tomar decisões erradas em relação
à análise técnica de um problema. Em se tratando de vibração de corpo inteiro deve ser ainda mais
criteriosa, dada a complexidade do agente. Algum tempo atrás fiz uma análise de um material
apresentado em 2014, compartilho com vocês e deixo que vocês tirem suas próprias conclusões acerca
do assunto.
Nos dias 12 e 13 de fevereiro 2014 uma audiência pública referente a revisão dos Anexos 8 (vibração)
e 3 (calor) da NR15 –Atividades e Operações Insalubres, foi realizada em São Paulo. Esse evento
tinha por objetivo, promover o debate com especialistas, representantes governamentais, de
trabalhadores e de empregadores, permitindo ampla participação da sociedade no processo de revisão
dos Anexos. No evento foi apresentado justificativas para adoção dos limites adotados na NHO 09 e
sugeridos no draft das alterações do anexo 8. As justificativas foram apresentadas utilizando trechos
dos relatórios do VIBRISKS (www.vibrisks.soton.ac.uk), essas argumentações foram apresentadas
em um arquivo intitulado “Indicadores para Avaliação da Exposição Ocupacional a Vibrações:
Estudos Envolvendo Limites de Exposição e Relações Dose-Resposta” que se encontra disponível
em http://antigo.fundacentro.gov.br/cursos-e-eventos/detalhe-do-evento/2014/2/nr15-%E2%80%93-
atividades-e-operacoes-insalubres-a-confirmar.
Com base nesta apresentação realizei uma análise entre os trechos apresentados que foram extraídos
dos relatórios do projeto Vibrisks, levei em consideração de que parte do relatório foi retirado e o
contexto em que essas informações estavam inseridas.
Definições:
A(8)max: É a aceleração normaliza calculado como o aren só que utilizado maior valor de aceleração
entre os três eixos.
O relatório também afirma que “Os resultados deste estudo sobre a ocorrência de dor lombar (DL)
nos vários grupos de motoristas parecem ser consistentes com os relatados em outras investigações. ”,
e sita os seguintes estudos:
[22] M. Bovenzi, A. Zadini, Self-reported low back symptoms in urban bus drivers exposed to
whole-body vibration. Spine 17 (1992) 1048-1059.
[23] S. Schwarze, G. Notbohm, H. Dupuis, E. Hartung, Dose-response relationships between
whole-body vibration and lumbar disk disease – a field study on 388 drivers of different vehicles.
Journal of Sound and Vibration 215 (1998) 613-628.
[29] T. Brendstrup, F. Biering-Sørensen, Effect of fork-lift truck driving on lowback trouble.
Scandinavian Journal of Work, Environment & Health 13 (1987) 442-452.
[30] H. Riihimäki, S. Tola, T. Videman, K. Hänninen, Low-back pain and occupation – a cross-
sectional questionnaire study of men in machine operating, dynamic physical work, and sedentary
work. Spine 14 (1989) 204-209.
[31] M. Bovenzi, I. Pinto, N. Stacchini, Low back pain in port machinery operators. Journal of
Sound and Vibration 253 (2002) 3-20.
Comentário 01: Dos estudos acima citados 3 deles investiga a dor lombar em relação à vibração e
dois em destaque utilizam o eixo dominante na direção z.
ANALISE DO SLIDE 8:
Quando analisamos o relatório técnico 19 (Prediction of spinal stress in drivers from field
measurements) vemos que esse trecho no slide 8 foi retirado da introdução deste relatório e
novamente se encontra distorcido. A princípio nem deveria ser referência para a limites discutidos na
ocasião, pois trata da análise do método complementar previsto na parte 5 da ISO 2631, método esse
que não é adotado/utilizado na NHO 09.
O trecho apresentado e destacado no slide 8, compõe um contexto inserido em um raciocínio que faz
parte do conjunto de parágrafos posteriores e anteriores ao trecho. De uma forma resumida, quando
se obtém o entendimento considerando todo o texto anterior e posterior ao trecho apresentado,
podemos afirmar que:
- A introdução do relatório 19 afirma que a dose de compressão para prever falha por fadiga das
placas terminais vertebrais, pode ser baseada em uma única direação.
- Os efeitos das forças de cisalhamento, ou seja, na direção x e y, não podem ser quantificadas.
ANALISE DO SLIDE 9:
Esse slide talvez tenha a pior distorção de informação que encontrei o trecho traduzido se refere a
parte 5 da norma que não é utilizada na NHO 09. O trecho apresentado neste slide foi retirado da
introdução do relatório 19, mais especificamente da página 4. Essa informação está totalmente
distorcida pois o texto original diz “A Diretiva Europeia (2002) estabelece um valor limite
extremamente alto para vibração de corpo inteiro (WBV) na direção z sem qualquer limitação de
uma avaliação de energia equivalente. ”
Comentário 02: O relatório 19 da VIBRIKS e outros estudos foram de extrema importância para
alteração da parte 5 da ISO 2631 em 2018, que adotou os cálculos de compressão e stress R na direção
Z, deixando de lado até o momento o cisalhamento na direção X e Y.