novos caminhos
diferentes dificuldades
Colagem "O que se passou e não se viu nem se vê" de Júlia Paris dos Santos (estudante de Psicologia da PUC-Campinas)
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
FALE CONOSCO
jornaldoCA27@gmail.com
Nesta Edição
Editorial....................................................................3
Homenagem ao Quino.....................................4
Grupos de Pesquisa............................................5
Iniciação Científica.............................................10
Refrata Indica.......................................................17
Reflexões de um Prounista...........................34
Contribuições......................................................38
REFRATA PÁGINA 2
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
Editorial
Nesta edição trataremos de temas super
interessantes como o movimento estudantil e seus
lá, esta é a segunda edição do Refrata: jornal desdobramentos históricos nos campus, entrevistas
do Centro Acadêmico 27 de agosto de com profissionais de diversas áreas da Psicologia,
Psicologia da Puc-Campinas. É importante projetos desenvolvidos em centros de pesquisa,
ressaltar que nossa equipe editorial não é contendo relatos pessoais, matérias que
composta apenas por membros do C.A., mas, contextualizam o momento em que estamos vivendo
e permitem reflexões ampliadas e críticas sobre
sim, por membros do corpo estudantil da
nossa atuação, indicações de textos e livros, dentre
graduação e da pós-graduação de Psicologia, os
outras coisas que julgamos ser interessantes para os
quais compõem a Comissão do Jornal.
estudantes de Psicologia.
É fundamental compreender que essa
Sinta-se à vontade para expressar sua opinião,
comissão, assim como o C.A. e suas demais
crítica, ou sugestão para nós. Lembramos que esse é
comissões, estão sempre abertas para a
um jornal feito por alunos e para os alunos, sendo
participação de novos membros. Assim, se você
assim, a participação de todos é fundamental para
gostaria de contribuir, entre em contato
sabermos se estamos indo no caminho correto.
conosco e faça parte dessa nova proposta de
comunicação com os estudantes.
Assinado, Equipe Editorial.
QUEM
SOMOS
Graduação
Camila Gomes Garcia
5º ano
Júlia Paris dos Santos
4º ano
Giovana Molina
2º ano
Marcel Delfino Carvalho de Souza
5º ano
Maria Luiza Nascimento
2º ano
Fotografia de Maria Luiza Nascimento
Pós-Graduação (estudante de Psicologia da PUC-Campinas)
Letícia Gonzales Martins
REFRATA PÁGINA 3
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
HOMENAGEM AO QUINO
Criador de uma personagem de personalidade, Dentre algumas curiosidades sobre a pequenina
Joaquín Salvador Lavado Tejón, nasceu em está o fato de ter sido criada pelo argentino para
Mendoza, Argentina, em 17 de julho de 1932. um projeto publicitário de eletrodomésticos, mas
Quino, como ficou conhecido, deu vida a uma que não foi levado adiante. Mafalda ficou guardada
jovem garota chamada Mafalda e um universo de até que Quino foi convidado para publicar no jornal
personagens protagonistas de histórias em Primera Plana em 1964.
quadrinhos que foram um marco na cultura latina
A personagem chegou a representar os
e internacional. Em meio a um contexto de
pensamentos de Quino, já que em seu escritório,
mudanças políticas e cenários de grande tensão, o
por anos, uma placa que dizia “por motivos de
cartunista criou uma obra irreverente e de
timidez, não se aceita reportagem de qualquer
importância histórica.
tipo.” ficou pendurada. Quino falava através de
A pequena Mafalda é definitivamente uma ótima Mafalda e admitia isso, “optei pelo desenho porque
imagem representativa do pensamento crítico. falar é difícil para mim”.
Suas conclusões e observações afiadas acerca de
O cartunista argentino não se resumia à Mafalda,
um mundo tão caótico, mesmo que com a
mas sua personagem de maior sucesso é a mascote
simplicidade de uma criança e com frases curtas,
deste jornal universitário, cuja equipe editorial
mal cabiam nos balões dos quadrinhos. A
busca, com o mesmo entusiasmo e perspicácia,
personagem inspira a repensar a realidade que
relatar o que vivemos de maneira crítica, mas sem
nos cerca e da luta diária para alcançar cada
deixar de lado a simplicidade dos pensamentos por
conquista.
si próprios. Escrever, relatar, contar o que acontece
Fosse a paz mundial, política ou a desigualdade, vai muito além de registrar meros fatos, é um
as histórias criadas por Quino serão eternamente processo de aprendizado, crescimento e
lembradas por falarem sobre humanidade. Por autoconhecimento.
décadas Mafalda resumiu realidades em poucas A pequena personagem argentina que ficou tão
palavras e em diálogos com seus amigos, pais e grande, acabou por se tornar símbolo da luta pela
professores. Com aguçada noção do mundo, igualdade, pela educação e pela liberdade. Quino se
comentou desde alguns dos maiores foi, mas Mafalda fica como lembrete atemporal do
acontecimentos da história até reflexões sobre a mundo que queremos construir e da luta que
existência humana. travamos todos os dias contra a opressão.
Nosso eterno
agradecimento a Quino.
¡Adiós maestro!
REFRATA PÁGINA 4
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
GRUPOS DE PESQUISA
Psicologia e Trabalho: Abordagem Experiencial: Grupo coordenado pelo
Prof. Dr. João Carlos Caselli Messias
Eduardo Henrique Tedeschi Como tem sido sua experiência nesse grupo
Mestrando em Psicologia na PUC-Campinas, tem de pesquisa?
Especialização em Psicologia Fenomenológico
Tem sido bastante transformadora. A princípio
Existencial: Existere (Campinas), Aperfeiçoamento
pensei que não faria sentido para mim estar no
em Orientação Profissional e de Carreira - Instituto
de Psicologia USP. Graduado em Psicologia pela grupo, ou mesmo entrar na pesquisa naquele
UNIP Campinas, em 2016. momento, mas o professor João Carlos Messias me
acolheu, assim como acolhe a todos e todas que
Sobre o que você está pesquisando desejam conhecer o grupo, e isso fez com que
atualmente? crescesse meu desejo de estar neste grupo e poder
Atualmente pesquiso o tema do trabalho de desenvolver a minha pesquisa. Tenho aprendido
pessoas com deficiência intelectual, mais mais a cada momento com meus colegas. O grupo
especificamente o papel da família no apoio ao é bastante heterogêneo, o que provoca a
desenvolvimento do sentido e construção de pluralidade de ideias e o enriquecimento de todos.
identidade para o trabalho destes indivíduos.
REFRATA PÁGINA 5
GRUPOS DE PESQUISA
REFRATA PÁGINA 6
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
JUNTOS
Essa matéria surge da necessidade de falarmos É, portanto, ter de lidar com a responsabilidade de
sobre lutos e perdas, enquanto psicólogas em encarar sua própria história, não como um produto
formação, uma vez que estamos inseridos em uma final, mas como um processo que ainda está sendo
cultura que não costuma falar sobre a morte. Dessa significado. O que vivi? Gostaria de ter feito algo
forma, inicialmente, falar sobre esse tema também diferente? O que é realmente significativo para
pode ser (e foi) um desafio para nós, enquanto mim? Ao pensar na morte, também podemos
sujeitos. ressignificar o momento presente. Mas morrer, para
além de um processo de existência, causa dor a
O contexto atual nos faz encarar a morte
quem fica.
cotidianamente. Além da perda de entes queridos,
também fomos forçados a alterar Você já deve ter ouvido falar das famosas “fases do
significativamente muitas de nossas tarefas luto”: negação, raiva, barganha, depressão e
cotidianas e evitar o contato presencial com aqueles aceitação. Compreendemos que esse “modelo”
que amamos. De início, tendemos a acreditar que deve ser repensado, uma vez que traz uma visão
somente a morte de alguém próximo gera um linear, ao invés de abordá-lo enquanto processo.
processo de luto, no entanto, todos esses aspectos Nele, dá-se a impressão de que basta seguir esses
podem exigir um processo de luto para que passos, nessa respectiva ordem, que o luto está
possamos superá-los. Mas como assim todos? O elaborado. No entanto, é preciso lembrar que o luto
processo de luto não é restrito à morte, mas a é um processo experienciado de diferentes formas
perdas significativas que enfrentamos ao longo da por diferentes sujeitos. Cabe refletir: Quem
vida, sendo assim, perder o contato presencial com determina o que é um processo de luto e o que é
sua família, perder um emprego ou perder uma depressão?
rotina, também podem despertar sentimentos de
perda. Não pretendemos aqui desenvolver um
trabalho teórico sobre as definições de luto para Título inspirado no Livro:
cada abordagem ou manual, mas despertar
reflexões sobre esse tema tão latente em nosso
cotidiano atual.
REFRATA PÁGINA 7
VIVER E MORRER ANDAM JUNTOS
REFRATA PÁGINA 8
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
REFRATA PÁGINA 9
estudante de psicologia na PUC-Campinas
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
Fotografia de Maria Luiza Nascimento
INICIAÇÃO CIENTÍFICA
A EXPERIENCIA DE UM ESTUDANTE
Esse texto foi escrito a partir de um projeto da equipe editorial que buscava dar alguma luz sobre os
caminhos na vida acadêmica e suas possibilidades na nossa universidade. Escrevi o seguinte relato
querendo mostrar a relação com os estudos que me levou a Iniciação Científica, não ressaltando outros
aspectos mais críticos e objetivos desta. Ao leitor ou leitora que busca por informações a esse respeito,
sugiro consultar o Manual dos calouros 2020, confeccionado pelo C.A. de Psicologia
(https://drive.google.com/file/d/1PMQEecwAGS1BFqIa70Axdg_twOAX3SZQ/view?usp=sharing).
REFRATA PÁGINA 10
INICIAÇÃO CIENTÍFICA A EXPERIÊNCIA DE UM ESTUDANTE
Eu mais queria saber do que sabia quando eu lia Eu, morando no centro, fico à distância de um
esses textos. Em certa medida, é assim até hoje. ônibus do Campus II e um ônibus do Campus I. As
reuniões do grupo são quinzenais, então não fica
Foi em uma aula de Antropologia Teológica B que
muito corrido, mas exige um pouco de esforço e,
eu ouvi falar, pela primeira vez, dessa Psicologia
também, mais gastos com passagens de ônibus.
que eu via, enquanto estava na universidade,
somente na biblioteca: a professora, Ceci Baptista, O grupo RELINC é formado por graduandos,
citou durante uma aula o nome de Simone Weil. mestres e doutores de diversas áreas, da
Quando eu ouvi, não pude deixar de externar Sociologia, da Filosofia, da Ciências da Religião e
minha alegria para ela em, depois de 1 ano e meio Teologia e, não somente eu, da Psicologia
na universidade investigando um caminho entre a também. No grupo, organizamos juntos nosso
sala de aula e a biblioteca, ouvir pela 1º vez um cronograma de atividades, lemos textos, assistimos
rastro legítimo daquilo que me fascinou lendo e gravamos as apresentações de trabalhos,
aquelas autoras, mesmo sem eu entender ao certo discutimos estética, literatura, dança, teatro,
sobre o que elas falavam. cinema e uma série de outros assuntos que
vinculam Religião, Linguagem e Cultura.
Fui até a professora, ao fim da aula, e perguntei se
existia algum grupo de pesquisa do qual ela Enfim, os caminhos criados ou descobertos entre a
participava ou se ela sabia de algum em que, de sala de aula e a biblioteca foram possíveis no
alguma forma, era possível estudar Simone Weil. exercício de uma leitura sincera e um percurso que
Ela me disse que fazia parte do grupo “Religião, não se resume a sair da biblioteca em direção a
Linguagem e Cultura” (RELINC), lá no Centro de sala de aula e vice-versa; envolve, na verdade, a
Ciências Humanas Sociais e Aplicadas (CCHSA), no vida do estudante em uma realidade social, onde
Campus I, me entregou, na semana seguinte, o seu muitas vezes o caminho se dá em meio a um não
projeto de pesquisa impresso e me disse para ler e saber inflexível, sobre o qual a vontade se fortalece
pensar em algo que eu gostaria de estudar na e encontra apoio firme para ir mais adiante.
Iniciação Científica, escrever um texto sobre esse
No final de 2019, conversei com minha orientadora
tema e enviar à ela por e-mail.
sobre a possibilidade de dar continuidade a
Lembro que cheguei em casa, nesse dia, dei uma aproximação ao pensamento de Simone Weil e ela
olhada na descrição do grupo no site da PUC- me solicitou, novamente, que eu escrevesse um
Campinas e, depois disso, me dediquei a escrever o novo projeto. Agora, com ele aprovado, estudo essa
texto para a Ceci, que gostou da ideia. Um tempo Psicologia que eu queria conhecer, mas que ainda
depois, ela me pediu para que eu escrevesse um mais quero do que sei algo ao certo.
projeto. Tive que escrever o projeto sozinho e as
aulas de Pesquisa em Psicologia com a professora
Cristina Dib me ajudaram bastante. “Simone Weil e
o estudar: a experiência mística da atenção”, esse
foi meu primeiro projeto. Foi feito sozinho e sei que Matéria redigida por:
não ficou como, hoje, imagino que deveria ficar, Marcel Delfino Carvalho de Souza
mas fui contemplado com a bolsa da nossa reitoria Graduando em Psicologia no 9º semestre e
e segui muito feliz conhecendo o mundo da membro do grupo de pesquisa “Religião
pesquisa. Linguagem e Cultura” (RELINC).
Desde de 2018 participo das reuniões do RELINC,
onde encontrei novas companhias de pesquisa -
muitos desses, próximos dos meus companheiros
de estudo, Simone e Benjamin -, o que certamente
favoreceu minha formação no campo das Ciências
Humanas, almejada desde que comecei a ler
aquelas autoras no inicio da graduação. Esses
encontros aconteciam no Campus I, ao menos
antes da quarentena, ultimamente têm ocorrido
online.
REFRATA PÁGINA 11
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
ENTREVISTAS COM
PROFISSIONAIS
Profissional: Luana Maria de Oliveira CRP 06/130492
Conclusão do curso: 2015
Área de atuação: Psicologia Hospitalar
Como você avalia a relação entre sua
formação e as atividades que você
Descreva um dia comum do seu trabalho: desempenha atualmente?
O dia a dia no hospital é muito dinâmico. A rotina
Durante a graduação, algumas disciplinas foram
inicial é levantar os pacientes que estão
essenciais para minha área, como, Psicologia na
internados. Posteriormente, atendo os pacientes a
Saúde, Políticas públicas e os estágios na área da
partir de busca de demandas ativa ou por
saúde. Além disso, as disciplinas eletivas,
solicitação da equipe Multiprofissional. Os
auxiliaram para ampliar meu conhecimento sobre
pacientes são atendidos beira leito e seus
a área. Direcionei minhas escolhas e realizei as
familiares, quando presentes também recebem
disciplinas de Psico-oncologia e Clínica Ampliada.
apoio psicológico. Após cada atendimento
No momento dos estágios pude escolher pela área
realizado é feita uma evolução em prontuário,
em que daria ênfase, escolhi o estágio de
respeitando as questões éticas do sigilo. Outra
Psicologia Hospitalar, pois já tinha optado por
atividade que faz parte da rotina no hospital, são as
tentar a residência multiprofissional. Essa
Visitas Multiprofissionais, nas quais, os profissionais
possibilidade de escolha enriquece a nossa
se reúnem para discussão de caso, decisão de
formação e preparação para a prática e o estágio
condutas e compartilhamento de saberes. Ao final
realmente nos insere na prática do dia a dia da
do dia, é realizado uma marcação dos pacientes
profissão. Destaco, que no início da vida
atendidos e demais informações relevantes para
profissional senti falta, e acredito que em nossa
gerar indicadores dos atendimentos psicológicos.
formação pudéssemos ter mais disciplinas e
É necessário um planejamento dos atendimentos,
estágios que favorecessem a formação com a
quais as prioridades, entretanto, como tudo é
integração multiprofissional e aprofundar mais nas
muito dinâmico, pode haver uma urgência
práticas e realidades do Sistema Único de Saúde
psicológica em outra unidade do hospital, um
(SUS). Posteriormente, realizei a Pós-graduação,
chamado para acolher e acompanhar uma
Residência Multiprofissional, e experimentei uma
comunicação de óbito, etc. Por isso há uma
inserção integral na área da Psicologia Hospitalar.
flexibilidade e mudanças na rotina de
atendimentos.
Como considera seu trabalho importante?
O que despertou seu interesse pela área? Trabalhando como Psicóloga Hospitalar consigo
Quando tive a disciplina Psicologia na saúde, na enxergar a importância do meu trabalho, pois
graduação, a Professora, Dra Nely Nucci, despertou acolho o paciente e seu familiar, talvez no maior
em mim o interesse ainda maior pela Psicologia momento de fragilidade de sua vida. Consigo
Hospitalar. Ela contava suas experiências, falava avaliar o alívio proporcionado aos pacientes, ao
sobre a rotina, vivências dentro do hospital e eu trabalhar para um melhor enfrentamento e
identifiquei que era nesse contexto em que adaptação à dificuldade vivida. Além disso,
gostaria de atuar. Queria realizar atendimentos enquanto Psicóloga Hospitalar, apresentamos para
pontuais, trabalhar em equipe, conhecer sobre os demais profissionais o lado emocional do
diversos adoecimentos físicos e poder amenizar o paciente, os sintomas psicológicos e as relações
sofrimento, cuidando da parte emocional. Sem importantes para sua vida, ampliamos o olhar da
dúvida foi um grande despertar tê-la ouvido e equipe e possibilitamos uma visão integral da
desejar ter experiências como as que ela contava. pessoa, não apenas um corpo adoecido.
REFRATA PÁGINA 12
ENTREVISTAS COM PROFISSIONAIS
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ENTREVISTAS COM PROFISSIONAIS
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ENTREVISTAS COM PROFISSIONAIS
O que despertou seu interesse pela área? Qual a diferença entre assistente técnico e
perito e qual o papel que cada um cumpre?
Durante a minha graduação aconteceram duas
coisas que me despertaram a curiosidade do O profissional que tem uma graduação
campo jurídico. Primeiro foi uma professora que eu reconhecida pelo MEC e um respectivo conselho
conheci da PUC-Campinas que é a Maria Fátima de classe eles podem atuar como perito.
Franco dos Santos. Ela mostrou a forma de Compreende-se que o perito é um expert em um
trabalho dela e mesmo eu estando interessado em determinado assunto. No caso do psicólogo, ele
clínica eu me importei na forma como ela pode ter essa atuação em perícia psicológica. A
trabalhava, aquilo foi me chamando atenção. atuação de um psicólogo perito acontece quando
Vendo uma mulher, psicóloga, perita, professora dentro de um processo judicial houver a
que conseguiu seu espaço no mercado de trabalho necessidade de uma matéria que possa ser
e se fazer respeitada em toda sua competência explicada por um profissional que é um expert
como profissional e pessoa, e aquilo serviu de neste assunto e então este profissional é chamado.
inspiração para mim. No começo da minha carreira No caso da Psicologia, envolve também a
eu tive muita dificuldade na área em que eu estava realização de exames e avaliações de pessoas,
exercendo, que era a clínica, por questões de então o profissional que é reconhecido como
emprego então, eu resolvi me tornar autônomo, eu perito no caso judicial, não é um título nem fica
tinha uma identificação muito grande na questão classificado como um período para sempre e nem
social, tinha trabalhos em ONGs, trabalhei também um cargo, mas sim alguém que é chamado para
com capoeira pois, era uma formação que eu exercer aquela função naquele momento (a
investi antes da Psicologia o que me ajudou na perícia). Como perito, ele vai saber responder
área social. Apesar disso, eu senti uma dificuldade aquilo que precisa ser respondido, vai saber
para eu sobreviver enquanto psicólogo, cheguei a articular a demanda necessária naquela tarefa.
pensar que não daria certo se eu continuasse Essa é a atuação do psicólogo como perito, o qual
trabalhando daquela forma. Ao mesmo tempo, eu é convidado pela justiça para atuar, seja como
estava dando início a um mestrado para trabalhar autônomo ou concursado.
com a área acadêmica, e depois disso comecei a
pensar em outras formas de trabalho e foi aí que Quando isso ocorre, cada uma das partes
cogitei na área jurídica, uma possibilidade. envolvidas no processo tem o direito de contratar
um profissional da mesma expertise do perito para
Então fui realizar o curso de capacitação daquela ser assistente técnico naquela matéria. É como se
professora, e a partir de então eu passei a me ele fosse um “perito particular”, que também pode
inserir nesse mercado. Compreendi que eu fazer avaliações, entrevistas. Ele também pode
poderia sobreviver melhor e fiquei feliz em saber dialogar com o perito, questionar, manifestar e
que poderia ajudar as pessoas e servir o judiciário. complementar o trabalho do perito.
O processo começou comigo agregando cursos
dessa área, passei a fazer supervisões, e de
sequência o fluxo dessa atividade foi aumentando,
até que se tornou o meu principal foco, deixando
de ser algo complementar à clínica. Após um
tempo eu me dediquei também a capacitação de
passar esse conhecimento para outros
profissionais, pois ensinando e passando essa
informação para outras pessoas contribuiria para
área.
REFRATA PÁGINA 15
ENTREVISTA COM PROFISSIONAIS
REFRATA PÁGINA 16
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
REFRATA INDICA
Texto de Pedro Misailidis Antonini*
Mas isso coloca uma questão no livro: o autor é Sendo um livro tão abrangente, passando por
britânico, então as referências que ele passa pra questões que não são tão simples e com um pano
gente na maioria das vezes não são daqui, o que de fundo complexo (o de denunciar o caráter
torna difícil a tarefa de achar elas. A maioria das ideológico da psicologia), não seria uma surpresa
que dá pra achar são em inglês, o que é ruim pra se ele tivesse uma leitura difícil. Mas, pelo
quem não fala a língua - como é o meu caso -, contrário, é uma leitura muito fácil. Não exige
além de que na edição em que o livro foi publicado muito conhecimento prévio sobre temas da
não são indicados os textos que possuem tradução psicologia; na realidade, senti que exige a mesma
para o português (o que normalmente é feito familiaridade com a psicologia que com as
referenciando pela tradução existente), ou seja, discussões do marxismo, e essa familiaridade seria
você tem que ir atrás para ver se ela existe só para não simplesmente comprar as coisas que
traduzida ou não. ele fala.
REFRATA PÁGINA 17
REFRATA INDICA
Possui alguns erros de tradução, de edição, de Por fim, por uma questão de gosto pessoal, senti
pontuação, de concordância verbal, uma ou duas também que ele poderia ter falado mais de
vezes falta uma palavra, mas nada que tire o psicanálise. Ele é psicanalista, então tem um amplo
mérito do livro e que dificulte sua fluidez. estudo na área. Faz críticas muito boas à
psicanálise e aos psicanalistas, coisa que não é
Acredito que seja um livro muito bom para quem
comumente bem feita por pessoas de dentro da
se interessa por qualquer nível de crítica ao
própria psicanálise, então acho que ele poderia ter
pensamento ocidental hegemônico (e ele também
explorado mais esse ponto.
dá muita ênfase àqueles que se supõe críticos, mas
não fazem nada além de reproduzir as mesmas
groselhas, como já falei no começo), por ser de fato
claro, fluido, com ótimas críticas e completo (de O LIVR
O SE
novo, dentro dos limites que ele se propõe). ENCON
TRA NO
ACERV
O DA
Outro ponto que chamou muito a minha atenção BIBLIO
TECA D
foi que, na leitura que fiz, tive a impressão de que a UNIVER A
SIDADE
proposta do Ian Parker é mais próxima de algo no CAMPU , NO
S II (NÚ
sentido de implodir a psicologia (e uso ‘implodir’ DE CHA M ERO
MADA:
não para ficar mais bonito no texto, mas porque 150
P238R)
ele é psicólogo, então ele argumenta pelo fim da .
psicologia sendo de dentro da psicologia), do que
de melhorar ela. Inclusive, o título me enganou:
achei que ele falaria de revolução na psicologia
próximo do sentido que o Kuhn[1] trabalha com
revolução científica, mas no fim percebi que o uso
é mais próximo do sentido de uma revolução *Pedro Misailidis Antonini é estudante do
anticapitalista. Não é à toa que ele fala, em outros nono período de Psicologia na PUC-
textos (mas não nesse livro), em antipsicologia.
Campinas.
[1] Nota da equipe editorial: Thomas Kuhn, físico e filósofo da ciência,
publicou em 1962 o livro "Estrutura das Revoluções Científicas", onde ele
introduz suas compreensões a respeito do progresso da ciência e do
conhecimento que ganharam notoriedade nos debates da época e
ainda hoje permanecem em questão.
REFRATA PÁGINA 18
JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
PUC-CAMPINAS [1]
Autor: Marcel Delfino Carvalho de Souza
Co-autora: Júlia dos Santos Paris
Talvez você já tenha se perguntado "por que razão Aqui vão alguns:
a Psicologia se encontra no Centro de Ciências da 1. Ela não esteve no Campus II desde sempre. Na
Vida (CCV)?". Por mais que muitos já estejam verdade, mais da metade da sua história, 35
entediados dessa questão e se satisfaçam anos, ela esteve em outro campus, o Campus
repetindo por aí a frustrante resposta com a qual Central;
resolveram se contentar, "porque é o centro onde 2. Houve um momento em que ela poderia ter ido
estão as ciências da saúde, junto da Biologia e, para o Campus I;
também, da Psicologia, que na nossa universidade 3. Há professores que falam de um projeto (com
está mais voltada para esse campo", por mais que planta arquitetônica) construído por eles,
essa seja a resposta de praxe (e, de certa forma, juntamente a universidade, de uma Psicologia
entendida como óbvia), ainda há, sim, motivos do Campus I;
completamente razoáveis para insistir em levantar 4. Não há nenhum relato oficial encontrado sobre
a questão: por que a Psicologia está no Campus II? como aconteceu a transposição do curso de
Psicologia, do seu antigo campus para o seu
atual, ou seja, sobre o porquê da Psicologia estar
no Campus II;[2]
REFRATA PÁGINA 19
ALGUNS MOTIVOS PARA SE PERGUNTAR PELA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NA PUC-CAMPINAS
REFRATA PÁGINA 20
ALGUNS MOTIVOS PARA SE PERGUNTAR PELA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NA PUC-CAMPINAS
REFRATA PÁGINA 21
ALGUNS MOTIVOS PARA SE PERGUNTAR PELA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NA PUC-CAMPINAS
[4] Ao longo do artigo e do dossiê utilizamos a Entretanto, isso não significa que nos abstemos de
palavra “pesquisa” para designar nosso trabalho qualquer cuidado necessário à participação dos
realizado. Não se deve, no entanto, entender entrevistados, às entrevistas e com o material
que essa palavra remete a uma “pesquisa delas colhido. Todos os procedimentos da
científica”. A palavra “pesquisa” não pesquisa foram esclarecidos aos professores e
necessariamente remete a isso e seu uso professoras via e-mail além de outras conversas
informal é comum - além de que substituir a em redes sociais. Nenhuma articulação feita com
palavra pesquisa por qualquer outra apenas os materiais elaborados a partir das entrevistas foi
para evitar a atribuição de um sentido específico publicada ou alterada sem a sugestão ou
a essa palavra seria mais uma preocupação autorização dos participantes. Portanto, não é pela
moralista e pouco objetiva com esse sentido ausência de respaldo de um Comitê de Ética que
específico, quase tratando-o de forma sagrada, o presente trabalho se fez na ausência de um
e, ainda mais, prejudicando a fluidez da leitura compromisso ético com seus participantes.
do texto. Essa nota deve ser, sobretudo, Deixamos claro que, para salvaguardá-los de
considerada pelo fato de, também, no nosso qualquer risco ou prejuízo, permanecemos
trabalho, entrevistarmos alguns de nossos abertos a suas considerações antes e depois das
professores e professoras, ou seja, por se tratar entrevistas e da publicação do presente material.
de uma pesquisa que envolveu pessoas. Mais informações a respeito das entrevistas
Sabemos que, se fosse o caso de uma pesquisa realizadas podem ser encontradas no nosso
científica, seria fundamental que tivéssemos acervo de entrevistas, onde deixamos esclarecido,
respaldo de um Comitê de Ética devidamente na abertura do material, as questões levadas em
vinculado ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) consideração a metodologia e os procedimentos
e ao Conselho Nacional de Ética em Pesquisa das entrevistas.
(CONEP).
Sobre esta votação, segundo a maior parte dos professores entrevistados[6] seu resultado teria sido uma
maioria de votos pela transposição da Psicologia para o Campus I, ao contrário do que acabou
acontecendo, sua ida para o Campus II.
Há professores, também, que
dizem terem participado
dessa votação e afirmam não [6] Referir-se a maioria da nossa amostra de dados levantada na entrevista
saberem qual peso tiveram os não é o mesmo que dizer que temos qualquer evidência objetiva e
votos ou se foram, de fato, significativa dos resultados ou sequer da existência dessa votação. No
considerados; e há entanto, consideramos válido ressaltar esse dado da nossa amostra pois
evidencia a existência de uma contradição, uma tensão entre o relato da
professores que dizem, por
maioria dos entrevistados e o relato oficial encontrado nos materiais
outro lado, que a votação
institucionais. É fundamental compreender, com isso, que o objetivo deste
ocorreu e pela maioria dos trabalho não consiste em julgar se foi justo ou não a transposição do curso,
votos foi decidido que a ou julgar as justificativas da deliberação dessa transposição. Nós sabemos
Psicologia iria para o Campus que não temos os dados objetivos para realizar tais procedimentos e, assim,
II. É certo que há não nos propomos a fazê-los, nem o fazemos. Não faltam considerações
contradições e não foi nossas a respeito do caráter inconclusivo deste trabalho, o que certamente foi
possível consultar as ATAs da feito para esclarecer nosso empreendimento de, simplesmente, dar forma
escrita a histórias que permaneciam no âmbito oral da tradição do curso.
instituição para averiguar a
Com isso, indicamos que existem mais pessoas que devem ser entrevistadas
natureza das deliberações
para poder responder a essas questões, além de materiais a serem
que estiveram em jogo
consultados. Ressaltamos, assim, que nossa amostra é limitada tendo em
nesses eventos. No entanto, já vista os objetivos de estabelecer esses julgamentos e, sabendo disso, o texto
é significativo que tenhamos não endereça seus argumentos para esse fim.
descoberto essas
contradições com as histórias
levantadas nas entrevistas.
REFRATA PÁGINA 22
ALGUNS MOTIVOS PARA SE PERGUNTAR PELA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NA PUC-CAMPINAS
"Nós fomos convidados a votar, como um tipo [7] Pelo que se pôde entender, os diretores dos cursos
de um plebiscito, não sei que peso teve esse e institutos da universidade, no Conselho
Universitário (CONSUN - cf. nota seguinte), elegiam
voto, mas nós fomos convidados a optar e essa
três pessoas candidatas ao cargo de reitor, sendo
transposição se deu de uma forma cuidadosa,
que uma delas, por fim, seria escolhida pelo Grão-
na minha opinião". (Acervo de entrevistas,
Chanceler para o cargo.
Tatiana Slonczewski) [8] O Conselho Universitário é uma organização
deliberativa da universidade que deve incluir todos
"O Campus Central deixaria de existir e a gente representantes dos segmentos que a constitui,
teria que migrar para algum campus, ou inclusive o corpo discente. No entanto, sabe-se que,
Campus I ou Campus II. E houve uma votação hoje, pela inatividade do DCE, esse espaço no
sim". (Acervo de entrevistas, Karina Magalhães) CONSUN encontra-se desocupado.
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Porém, sob o novo regime da universidade, a do curso, na verdade, essa discussão deve
votação antes feita pelos departamentos da contemplar outros aspectos, como a importância
Congregação da Psicologia, entidades legítimas dos serviços da Psicologia e suas pesquisas no
até um ano antes da decisão final do CONSUN, espaço em que seu campus se insere e, inclusive,
acabaria por ser desconsiderada na deliberação da de que modo essa participação contribui para a
mudança do curso para o novo campus. formação dos estudantes da faculdade.
Contudo, por outro lado, também, pode-se pensar Tatiana Slonczewski, nesse sentido, expande a
no que significou para o curso de Psicologia sua ida discussão a respeito da localização do curso e o
para o Campus II, quando poderia ter ido para o seu campus, para questões que estão além de
Campus I. A professora Tatiana Slonczewski ressalta uma ideia de identidade interna do curso.
que a questão sobre o campus para o qual a Também encontramos esse discurso no que
Psicologia veio a ser transposta e onde comenta Karina Magalhães, ao ressaltar a
continuou sua trajetória não apenas importância do trabalho da Psicologia para a
deve ser discutida tendo em região noroeste de Campinas, no hospital,
vista somente uma noção da identidade vinculado ao SUS.
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"No meu olhar, enquanto psicóloga, eu achava que o fato de ir para o Campus II seria muito
importante para criar um serviço de Psicologia que tivesse uma facilidade de inserção nas
outras áreas, em outras profissões da saúde (...), abrir um serviço naquele local podia abranger
[o acesso] à população mais carente de Campinas, que é a região noroeste e que eu atendia
no hospital da PUCC". (Acervo de entrevistas, Karina Magalhães)
Mas também deve-se assinalar, como outras professoras relatam, que mesmo a discussão a respeito
dessa identidade interna do curso no seu campus, ainda implica outras questões. Raquel Guzzo, ao
comentar o processo de transição, diz:
Houve muita discussão, reuniões envolvendo professores e estudantes. Foi um tempo de muito
debate e participação no Instituto de Psicologia que ficava no centro de Campinas. (...)
Entendi que [os] estudantes não avaliavam muito a dimensão de estarmos vinculados às
profissões da saúde.
Porque psicologia não é DA saúde é uma profissão das humanidades que se aloja em distintos
campos - então está NA saúde, assim como NO judiciário, NAS organizações, NAS escolas, NAS
comunidades, etc... A compreensão desse processo impacta definitivamente na formação - por
exemplo, não temos UMA disciplina que introduza o campo das comunidades para o trabalho
da psicologia e ainda assim temos psicólogos atuando na assistência social sem terem um
preparo específico para esse campo... e outros muitos exemplos que poderia dar aqui". (Acervo
de entrevistas, Raquel S. L. Guzzo)
Uma ex-aluna e ex-professora[9] do curso traça alguns outros questionamentos, relacionados a essa
noção de identidade, que foram debatidos no momento em que se discutia qual tipo de Psicologia viria a
ser construída com a sua transposição para outro campus. Ela escreve:
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[10] Que fique explícito o caráter inconcluso deste trabalho que convida outros a tanto dar continuidade aos estudos aqui desenvolvidos,
quanto a realizar uma leitura crítica do levantamento e análise apresentada.
Esclarecemos também que o presente estudo não se deteve em analisar as grades curriculares e as transformações advindas dos
processos de reestruturação que levaram a Psicologia ser o que agora ela é, no Campus II. Isso seria valiosíssimo para as próximas
gerações, imaginamos. Ainda assim, fazemos o convite ao leitor para conhecer o levantamento feito, na pesquisa, com os relatos e os
materiais colhidos, a partir dos quais outras histórias do passado narrado nos documentos oficiais consultados, além da transposição da
Psicologia, foram reencontradas. As buscas realizadas acerca da ausência de relatos oficiais sobre a chegada da Psicologia no Campus II
levou-nos a conhecer outras lacunas da sua história oficial, sobretudo, a respeito do conturbado início da Psicologia da PUC-Campinas, no
macabro período da Ditadura Militar brasileira. A fim de expor os resultados desse trabalho, na presente edição do jornal, da forma menos
extensa e mais formadora possível, restringimos a exposição dos resultados a apenas alguns recortes da totalidade dos achados.
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-a abundância de espaço ocioso no Campus II, Assim, conseguimos perceber que a universidade,
no período vespertino, o que, pelo visto, na 7ª mesmo sendo comunitária, nesse contexto, não
reestruturação de 2001, escrita no Plano deixa de ter de corresponder à situação, o que,
Pedagógico, era um importante requisito para inclusive, podemos ver com a considerável
o curso, com três turmas no período integral, expansão do curso de Psicologia, na 7ª
usando o período vespertino com todas elas, reestruturação, feita à procura de
duas matutinas-vespertinas e uma vespertina-
noturna;
-além de que, no momento da transposição da "atender as duas maiores necessidades do curso,
Psicologia, também seria feita a transposição naquele momento: a primeira referente a
das Engenharias, que ainda estavam em um redução do número de alunos por turma (...) e, a
antigo prédio da instituição: como já haviam segunda, com respeito a competitividade do
sido instalados os cursos das Exatas e curso. O curso de Psicologia da PUC-Campinas é
Tecnológicas no Campus I, foi feita, assim, a reconhecido como um dos pioneiros e mais
opção de se transpor as Engenharias para este, tradicionais no cenário nacional e, durante mais
enquanto a Psicologia seria transposta para o de 30 anos configurou-se como única ou, pelo
Campus II, permanecendo junto dos cursos das menos, como a mais atraente opção aos
áreas biológicas e da saúde; candidatos da cidade e região. Entretanto, o
crescimento de inúmeros outros cursos,
Como o próprio professor e ex-diretor Júlio analisa, oferecidos por outras universidades na cidade e
tendo em vista essas justificativas, deve-se dizer região (...) criou a necessidade de uma
que a decisão que levou a Psicologia ao Campus II alternativa que viabilizasse um bom curso, (...)
não foi subsidiada por discussões teóricas, para candidatos que, por necessidades
metodológicas, pedagógicas, como fora na antiga econômicas, precisassem trabalhar enquanto
Congregação, mas, sim, "administrativa", cursavam o 3º grau". (Plano Pedagógico, 2013;
puramente "técnica". Acervo de entrevistas e materiais).
[12] O que, evidentemente, não conseguimos fazer com a devida precisão neste artigo.
[13] CARVALHO, Cristina Helena Almeida de. A mercantilização da educação superior brasileira e as estratégias de mercado das
instituições lucrativas. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 18, n. 54, p. 761-776, Sept. 2013. Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782013000300013&lng=en&nrm=iso>. access on 01 Mar. 2021.
https://doi.org/10.1590/S1413-24782013000300013.
[14] Como se pode notar, a aquisição do Campus II ocorreu, nesse período, com auxílio do Ministério da Educação, na época
representado por Jarbas Passarinho – digno de nota, um dos signatários do macabro AI-5. A política econômica do regime
militar era marcada pela privatização que, apesar de não ser uma característica única da sua economia, como destaca Saviani
(2008), se aprofundou sob o seu governo; além de que, como escreve Machado (2002, p. 29), que analisou o perfil institucional da
PUC-Campinas ao longo dos anos de 1968 a 1981, a "política de privatização do ensino superior empreendida pelo regime militar"
parece "justificar o projeto megalômano" da nossa "universidade, revelando o comprometimento da instituição com a política
educacional do governo militar, cujo objetivo proclamado era o desenvolvimento e modernização do país".
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Vista aérea de onde, hoje, se situa o CCV. Fotografia de 1977 retirada do acervo do Museu Universitário PUC-Campinas, em exposição na página
comemorativa dos 80 anos da universidade (www.puc-campinas.edu.br/nossa-historia/)
Destacamos ainda, com relação ao contexto, que enunciadas por Tatiana Slonczewski e Karina
essas alterações realizadas na 7ª reestrutura Magalhães.
curricular do curso, aparentemente, concomitante Enfim, é evidente que esses levantamentos não
a sua transposição, foram elaboradas em resposta chegam nem perto de elucidar as muitas nuances
a uma avaliação do MEC da época. Portanto, a desse passado do curso. Importante ponderar,
transposição do curso de Psicologia para o também, que o nosso trabalho, ao priorizar as
Campus II, para ser lida em termos de entrevistas e a investigação pelos documentos da
mercantilização da educação precisa ter como instituição,[15] acaba não conseguindo realizar
base uma avaliação dessas exigências do MEC, uma análise mais detida de como as tensões
juntamente de uma avaliação da normativa de políticas e sociais macro-estruturais atravessaram
1998, ambas condições objetivas que implicaram a as articulações estatutárias da universidade e
transposição do curso - e que, no presente também as decisões tomadas para que viesse a se
trabalho, não conseguimos nos deter com o constituir uma Psicologia do Campus II.[16]
devido rigor. Por fim, ainda vale ressaltar a importância do
Nesse sentido, sem averiguar as ATAs das reuniões reconhecimento dessas outras histórias aqui
de deliberação do CONSUN, apesar destas levantadas sobre a formação da estrutura atual da
evidências aqui expostas virem do relato do diretor instituição. Entendemos que isso pode contribuir
do curso, no período da sua entrada no novo para o movimento estudantil da nossa época,
campus, não é possível estabelecer um julgamento recobrando a importância de se pensar em formas
com consistência sobre as justificativas dessa de organização institucional mais inteligentes e
transposição, ainda mais sabendo de justas para a construção da universidade como um
outras razoáveis justificativas possíveis, como as todo.[17]
[15] Essas que, claramente, foram limitadas por oportunas ou inoportunas decisões nos recortes da pesquisa, pelo curto espaço de tempo
para investigação (que foram dois meses de férias) e, é claro, nossa inexperiência nesse tipo de trabalho, que comporta seus erros e faltas
de iniciantes. Talvez os leitores possam ajudar nesse aspecto, criticando e elaborando novos estudos que sejam pertinentes às
necessidades sociais e políticas que envolvem as ações da universidade como um todo.
[16] A esse respeito deixamos uma lista de sugestões de leitura, ao final deste texto para facilitar o acesso dos que tiverem o interesse de
estudo.
[17] O DCE, certamente, é uma dessas formas e precisa, urgentemente, estar nas pautas principais de discussão e trabalho dos
movimentos estudantis da PUC-Campinas.
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A chegada da Psicologia, pelo que os nossos enquanto indefinida, isto é, a ser definida, em
levantamentos indicaram, aparece como algo que constante movimento.
ainda hoje é uma questão não bem acabada. Isso
Agora, na comemoração dos 80 anos da
pode ser, de certa forma, entendido como um
universidade, além do fim de uma gestão de
problema a ser resolvido, o que talvez não seja a
diretores e reitores e da elaboração de uma nova
forma mais profícua de entender a questão. Pois,
estrutura curricular para Psicologia,
pensando de outra forma, um passado não bem
experimentamos a interdição do seu espaço físico,
acabado talvez seja a revelação da sua forma mais
devido às medidas de distanciamento social no
fidedigna, quando ele se mostra não acabado,
período da pandemia. Trata-se de uma interdição
indefinido, que exige ser retomado, pois está ainda
no espaço em que, há 19 anos, o curso de
em construção, no presente.
Psicologia se estabelecia.
E um passado não acabado, indefinido,
Nessa situação, as formas de relação social que
certamente, não deve servir de fonte de
nesse espaço se organizavam são postas em
pretensões saudosistas. Eleger uma espécie de
suspenso, passando a se movimentar sob outras
pauta da volta ao Campus I seria criar um ideal a-
condições de organização, até então inéditas, nos
histórico, mera projeção da nossa necessidade de
espaços virtuais, sem deixar de esperar a
estabilidade em uma história que,
possibilidade de botar, novamente, os pés no chão.
fundamentalmente, só poderá ser transformada
Fotografia tirada pelos próprios autores sobre uma passagem interditada para manutenção no Campus I, em 2020.
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ALGUNS MOTIVOS PARA SE PERGUNTAR PELA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NA PUC-CAMPINAS
Com o fim da gestão técnico-administrativa neste ano, a mudança curricular do curso e com novas
turmas entrando a cada ano que se passa nessa suspensão, o espaço do campus torna-se cada vez mais
inédito, nos aproximando do que poderia ser uma nova chegada da Psicologia. Sobre esse evento de
2002, Nilton Júlio Faria conta:
Por um lado, podemos pensar: "normal, em uma mudança para um novo campus é esperado que
ninguém saiba onde, ao certo, seria". Porém, por outro lado, olhando para as histórias que aqui foram
lembradas, a ideia de não "saber onde ia ser" pode nos dizer mais do que objetivamente essa frase parece
aludir.
Ao relê-la, podemos
lembrar do verdadeiro
desafio que
enfrentamos, nesses
últimos tempos de
pandemia: vencer o
fascismo que ameaça a
construção de uma
civilização mais justa,
que ainda não sabemos
ao certo onde vai ser,
onde vai dar, isto é,
uma construção ainda
por vir. No que diz
respeito à prática, pode
ser que isso não sirva à
construção de uma
nova Psicologia ou
mesmo uma nova
Universidade, mas
certamente dá alguma
luz à importância das
perguntas e suas
respostas indefinidas,
que podem sustentar
um cuidado definitivo
com o passado e ações
atentas e realmente
transformadoras no
presente.
Fotografia dos próprios autores sobre uma passagem interditada para manutenção no Campus II, em 2018.
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ALGUNS MOTIVOS PARA SE PERGUNTAR PELA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NA PUC-CAMPINAS
Se pensarmos que o passado da Psicologia já está definido, acabado, qualquer pergunta sobre as
razões dela ser o que hoje ela é, perde o seu sentido, torna-se desnecessária. Com ela, vão todas
outras histórias que não puderam ser contadas nos registros oficiais e, assim, vai-se uma
multiplicidade de formas possíveis de se reconhecer o presente. Por isso, é preciso não ignorá-las, ter
o cuidado de ouvi-las para conseguirmos enxergar no passado, não mais o fim, não mais uma história
acabada e, sim, um começo oportuno.
Fotografia da construção do Campus II, na década de 70, disponível no site da universidade (www.puc-campinas.edu.br/80anos/).
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Cristina Helena Almeida de. A mercantilização da educação superior brasileira e as estratégias de mercado das
instituições lucrativas. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 18, n. 54, pp. 761-776, Sept. 2013. Disponível em
<www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782013000300013&lng=en&nrm=iso>.
JORNAL DO C.A., Acervo de entrevistas e materiais. 2021. Disponível em:
https://drive.google.com/drive/folders/1s37nMT_50KzhlP30fRAsaeVpQRClQfOQ?usp=sharing
MACHADO, Vera Lucia de Carvalho. A identidade institucional da Puc-Campinas: estudo dos projetos pedagógicos (1968-1981).
2002. 219 p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP. Disponível em:
<www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/250870>.
PUC-Campinas. Projeto pedagógico do curso de Psicologia. Campinas, 2013.
SAVIANI, Dermeval. O legado educacional do regime militar. Cad. CEDES, Campinas, v. 28, n. 76, p. 291-312, Dec. 2008. Disponível
em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622008000300002&lng=en&nrm=iso>.
SUGESTÕES DE LEITURA
CASTELAR, Marilda. A Presença da Psicologia na Saúde Pública em Campinas-História e Memórias. Conselho
Regional de Psicologia de São Paulo. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/memoria/servico/artigo.aspx
TANGERINO, Marcio Roberto Pereira. Pontificia Universidade Catolica de Campinas: vicissitudes historicas e busca
de uma identidade. 2004. 203 p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação,
Campinas, SP. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/252872
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JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
REFLEXÕES DE UM BOLSISTA
Para aqueles que não conhecem, o Programa A pandemia oferece uma combinação única de
Universidade para Todos (PROUNI), foi criado pelo crise sanitária, econômica e claro, política. Há
governo federal em 2004 e oferece bolsas quem diga que estamos todos no mesmo barco, o
integrais e parciais (50%) em universidades que discordo; podemos estar sob a mesma
particulares do Brasil. Ao observar o nome do tempestade, mas alguns sequer têm um barco -
Programa, a primeira coisa que se questiona é: o ou meio necessário para navegar. E se outrora as
PROUNI é realmente para todos? Ou ainda, quem dificuldades incidiam sobre as condições de
são os sujeitos beneficiados pelo programa, quem transporte, moradia e alimentação, durante o
ensino à distância as dificuldades são de natureza
são todos?
de conexão. De um dia para o outro foi necessário
Através desse questionamento são colocadas as para ter acesso às aulas uma boa internet, um
condições de acessibilidade ao ensino superior de computador ou um bom celular - além de ter um
pessoas de baixa renda. Condições estas que são espaço reservado em casa destinado aos estudos.
atravessadas por inúmeras despesas antes de se E quem paga por essa conta?
falar do custo da graduação em si. O aluno
O Núcleo de Atenção Solidária (NAS), responsável
bolsista, assim como os demais alunos de uma
pela administração e manutenção das bolsas de
universidade particular, tem de arcar com sua
estudo chegou a enviar um questionário via
alimentação, transporte e moradia. Houve uma
Google Forms perguntando se os alunos tinham
época em que havia um auxílio de R$400,00
condições de permanência estudantil e de acessar
(quatrocentos reais) por mês para alunos bolsistas
as aulas online em junho de 2020 – quando já
arcarem com esses custos – atualmente, somente
havia se passado quase 3 meses de aulas online.
alunos de Medicina e Odontologia podem
Mas nada além disso. Não houve retorno desse
requisitar esse auxílio, uma vez que somente
formulário. Além disso, a aferição documental
esses cursos são considerados de período Integral
anual foi mantida e, no mês seguinte, o NAS
devido à carga horária; logo, cursos como a
encaminhou as instruções para que se enviassem
Psicologia, apesar de serem integrais, não
os documentos via Microsoft Teams comprovando
garantem o direito a esse auxílio. Todo esse
renda e outras condições necessárias para se
panorama reduz o alcance do programa e
manter a bolsa. Nós, alunos bolsistas, nos
desmente seu próprio nome, já que não beneficia
mobilizamos e fizemos um abaixo assinado contra
a todos, mas apenas uma parcela de baixa renda -
as aferições documentais abusivas que exigiam
que nem sempre é a mais baixa.
diversos documentos com firma reconhecida em
Não bastasse a situação delicada em tempos cartório, o que expôs alunos e seus familiares ao
habituais, a ausência de auxílios ou políticas de risco da contaminação pelo Coronavírus devido à
permanência de alunos de baixa renda na necessidade desse deslocamento. Ao todo foram
universidade, durante uma pandemia há um 347 assinaturas de alunos PROUNIstas e 396
agravamento da situação daqueles que assinaturas de alunos pagantes que
enfrentam barreiras econômicas para dar demonstraram seu apoio, além de mais de 180
continuidade nos estudos em nível superior. relatos expondo todas as dificuldades para o
atendimento desses requisitos do NAS.
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REFLEXÕES DE UM BOLSISTA PROUNI DURANTE A PANDEMIA
Apesar de toda a mobilização, não houve retorno Houve um tempo que afirmavam que o PROUNI era
novamente. A reitoria da Universidade e o NAS um erro, pois alunos de escolas públicas não teriam
simplesmente ignoraram as reivindicações e capacidade para acompanhar o ensino privado.
mantiveram o sistema de aferição documental Hoje, mais do que desmistificado, é comprovado
como se a pandemia não existisse. É interessante através do sucesso acadêmico de alunos bolsistas
notar como ao afirmar que um sistema que essa afirmação não passava de preconceito. Por
responsável pela manutenção de um direito outro lado, atualmente os questionamentos são
assegurado por lei, a bolsa de estudos, é intitulado outros, não sobre as capacidades dos bolsistas e não
mais regido pelo preconceito, mas sobre as
de solidário, desloca-se o verdadeiro papel do
condições objetivas que estes têm para alcançar um
núcleo. Solidariedade e assistencialismo, mas não
bom desempenho.
deveres. O que o NAS supostamente faz pelos
bolsistas é um gesto de caridade, É necessário ter em mente que a Universidade
descompromissado - é como se fosse um favor. Se privada não foi pensada para alunos de baixa
o que se presta aos alunos é um favor, não se deve renda. O acesso à educação dessa população,
reclamar; cabe a nós, apenas aceitar as aferições subverte uma lógica elitista da qualificação
documentais abusivas e rezar a ladainha da profissional que perpetua o domínio de classes
solidariedade. Até porque, nenhum aluno deseja subalternas e mantêm o capital social e intelectual
ter sua bolsa cortada porque não enviou dezenas nos perímetros daqueles que podem pagar para
de documentos exigidos com um prazo muito ocupar esse espaço. A desigualdade e o descaso
curto e claro, durante uma pandemia. suscitam uma necessidade urgente de mudança
nesse ambiente para que haja uma maior
O descaso sistemático da Universidade que incidiu
visibilidade dos percalços de alunos bolsistas para
sobre os pagantes durante as revogações de
se manterem na faculdade e conquistarem
redução da mensalidade incide apenas de
igualdade de condições para continuarem seus
maneira diferente – e intensificada – sobre alunos
estudos. Como outrora disse o movimento do
bolsistas. Antes mesmo da pandemia já não havia
Centro Acadêmico por melhores condições de
condições alimentares a preço popular dentro do
alimentação no campus “a gente não quer só
campus, com restaurantes a preços altíssimos, não
comida”, - acrescento aqui, como bolsista –
havia desconto no xerox e sequer o mínimo auxílio
queremos também condições de permanência,
para a permanência estudantil. Acontece que
menos aferições documentais abusivas e
crises como a que enfrentamos não
visibilidade das demandas de nossa população
necessariamente produzem novas desigualdades,
estudantil.
mas antes, escancaram estas que já existiam.
Diante desses percalços, os alunos seguem, se
mantendo como podem – porque trancar o curso
também não parece uma boa opção quando já se
garantiu a bolsa por mais um ano. Não parece
Miguel José Camargo de Jezus
ainda uma boa opção, quando a necessidade de
Graduando em Psicologia na Pontifícia
entrar no mercado de trabalho e ter
Universidade Católica de Campinas (PUC-
independência financeira é premente e a
Campinas)
realidade de muitos alunos de nível
Bolsista de iniciação científica do CNPq e
socioeconômico baixo.
membro do grupo de pesquisa: Psicologia da
Espero apenas que essas reflexões sirvam de apelo saúde e do desenvolvimento da criança e do
àqueles que devem dar atenção, ainda que adolescente.
solidária, e dar o devido suporte para que se
compreenda que políticas de ações afirmativas
não são meramente a implementação de um
sistema de bolsas ou de cotas; é necessário
suporte continuado para oferecer o mínimo de
condições para que alunos bolsistas continuem
seus estudos.
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JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
POSICIONAMENTO DO
CENTRO ACADÊMICO
O ano de 2020 começou e terminou sendo um De maneira alguma o Movimento Estudantil deve
desafio, até o último momento. Muitos dos planos enxergar os últimos acontecimentos como
foram adiados e a manutenção da luta do derrotas. Foi durante o ensino remoto, imposto
movimento estudantil se mostrou como uma sem diálogo algum, com mensalidades cobradas
tarefa difícil de ser cumprida. Cenário que não se integralmente, que o corpo estudantil se
fez diferente do encontrado no curso de Psicologia mobilizou e o curso de Psicologia se fez presente
e enfrentado pela atual gestão e todo o corpo nessa luta. Foi durante esse momento que
estudantil. Como se mobilizar e se articular sem o entidades de base de tantos cursos se uniram e
contato, sem a presença, sem os estudantes? nos permitiram ter um vislumbre do que seria ter
Todos os acontecimentos, respostas e posturas da um DCE novamente e a falta que nosso Diretório
faculdade indicavam que nada seria como Central dos Estudantes faz.
imaginávamos em 2020. Surpresas negativas
No posicionamento publicado na edição anterior
atingiram o corpo estudantil em cheio, a falta de
do Jornal Refrata enumeramos, com detalhes, as
comunicação e transparência por parte da PUC, o
ações tomadas pelo C.A. de Psicologia. A gestão
desamparo referente às evidentes dificuldades
(Re) Uni deu o melhor para cumprir com seu papel
financeiras, estruturais, sociais, psicológicas,
e planos estabelecidos durante as eleições de 2019.
enfrentadas diariamente pelos estudantes, a
Sua contribuição para a história desse Centro
censura e negligência diante de movimentos
Acadêmico ficará marcada. Muito aprendemos,
legítimos, a interrupção de tantas trajetórias no
celebramos e nos organizamos pela
ensino superior pela falta de compreensão e ação.
representatividade do corpo estudantil, que se fez,
A sensação era de estarmos com as mãos atadas.
em igual medida, fundamental para o
enfrentamento desse período que vivemos.
Mas foi igualmente surpreendente o fato de que
conseguimos nos articular e realizar um O Movimento Estudantil e entidades de base
movimento com tamanha adesão. Algo que não como o C.A. de Psicologia são essenciais para que
era visto há algum tempo no cenário do, a voz dos estudantes seja ouvida, para que sua
tradicionalmente forte, movimento estudantil da mensagem seja ecoada dentro de instituições que
PUC Campinas. O C.A. 27 de Agosto de Psicologia, insistem em fingem que nada está acontecendo e
em um ano acometido por uma pandemia, que faz com que as injustiças sejam colocadas
articulou junto a tantas outras entidades de base, como meros desafios que teriam como resultado
lutando pela redução das mensalidades, por uma imediato a união. Os desafios dos últimos meses
comunicação democrática e efetiva entre a realmente nos uniram, mas as questões,
instituição, docentes e discentes, pela demandas e necessidades nos diferenciam
transparência financeira e pela consideração das daqueles que se aproveitam da narrativa de
demandas estudantis nas decisões a serem companheirismo quando estão de olhos fechados
tomadas. Lutamos e a PUC manteve seu para a realidade. É pela existência e resistência de
posicionamento negligente, em busca do organizações de alunos com posicionamento
enfraquecimento do movimento estudantil, já político e linhas de ação coerentes com a
sendo de conhecimento geral que essa é sua realidade da comunidade acadêmica e local que
forma de agir diante das demandas trazidas pelos podemos sonhar com um cenário em que a
estudantes. permanência estudantil, o diálogo democrático e
construção conjunta de uma universidade para
todos sejam parte do nosso cotidiano.
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POSICIONAMENTO DO CENTRO ACADÊMICO
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JORNAL DO CA 27 DE AGOSTO DE PSICOLOGIA
REFLEXÕES
DE SÁBADO A TARDE
Sabemos que os estudos nos exigem muita energia e muito foco, e com isso, às vezes não
temos tempo de pensar em todas as possibilidades para escolher um bom filme ou série,
ou pensar em um bom livro para ler. Dessa forma, vamos iniciar aqui, uma coluna de
indicações do Refrata, para divulgar o entretenimento e a possibilidade de olhares e
sabedorias que a arte pode nos oferecer, e te poupar de cair na indecisão, facilitando
algumas escolhas para curtir um bom momento de descanso!
SÉRIE: MANIAC
Maniac se passa em uma distopia próxima, onde
a trama gira em torno de dois personagens,
Owen Milgrim um jovem solitário e frustrado e
Annie Landsberg uma dependente química com
alguns problemas familiares, e ambos buscam
alguma forma de sanar suas dores de perdas e
frustrações que a vida adulta proporcionou. O
desenrolar da série se inicia quando os dois
personagens aceitam participar de um
experimento para um medicamento, este
prometendo acabar com todas as dores humanas
consideradas (arbitrariamente pela sociedade)
“desnecessárias”. O interessante da série, além da
sacada de questionar o que é o sofrimento
humano e até que ponto podemos extingui-lo, é
a maneira que a narrativa se coloca e como ela se
aprofunda na subjetividade dos personagens,
que no desenvolver da história, descobrem mais
de si mesmos ao lidar com seus próprios
sentimentos, algo que vai muito além de uma
receita de remédio.
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